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<p>INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS</p><p>AULA 4</p><p>Profª Paula Leticia</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta etapa, falamos sobre o contexto da criação do livro A interpretação</p><p>dos sonhos, a visão nos dias atuais das neurociências sobre o sonhar e a visão</p><p>psicanalítica sobre os sonhos, acrescentando o umbigo do sonho e a importância</p><p>da interpretação dos sonhos na psicanálise.</p><p>Anteriormente, desenvolvemos os conceitos do primeiro tópico,</p><p>inconsciente, pré-consciente, consciência, recalque e figuração. Também</p><p>desenvolvemos o famoso sonho do Freud sobre a injeção de Irma.</p><p>Nesta etapa, o objetivo será investigar a função do sonho, os sonhos de</p><p>angústia e os afetos nos sonhos. Na próxima etapa, pesquisaremos sobre os</p><p>símbolos e o desejo no sonho. Por fim, na próxima etapa, não menos importante,</p><p>os sonhos a partir de 1915.</p><p>TEMA 1 – AS TEORIAS E A FUNÇÃO DO SONHO</p><p>As etapas anteriores possibilitaram construir uma base sólida que</p><p>norteiam o aluno nos conteúdos que aqui serão examinados. E nesse tema sobre</p><p>as teorias do sonho e a sua função, o leitor poderá usar sua capacidade de</p><p>argumentar com o conteúdo apresentado no primeiro capítulo do livro A</p><p>Interpretação dos Sonhos, conteúdo desenvolvido por Freud por sugestão de</p><p>Fliess.</p><p>A teoria dos sonhos antes de Freud era de que os sonhos eram enviados</p><p>por deuses para orientar os homens e informar tudo o que se precisava saber</p><p>sobre o sonho, ou seja, o sonho reduzido ao signo. Na Bíblia, encontramos uma</p><p>série de sonhos como revelação para tempos difíceis. O maior sonhador da</p><p>Bíblia foi José do Egito.</p><p>Aos 17 anos de idade, José teve dois sonhos que fomentam a inveja e</p><p>ciúmes dos irmãos mais velhos. Ele era o filho preferido do seu pai e foi o único</p><p>que ganhou uma túnica colorida e feita exclusivamente para ele. Seus irmãos ao</p><p>constatarem o favoritismo de seu pai Jacó por José, ficaram mais enciumados e</p><p>o ódio era tanto que não conseguiam conter a agressividade nas palavras</p><p>dirigidas a ele. Neste contexto, José teve um sonho. Segue o texto na integra:</p><p>Certa vez, José teve um sonho e, quando o contou a seus irmãos, eles</p><p>passaram a odiá-lo ainda mais. Ouçam o sonho que tive, disse-lhes.</p><p>Estávamos amarrando os feixe de trigo no campo, quando o meu feixe</p><p>3</p><p>se levantou e ficou de pé, e os seus feixes se ajuntaram ao redor do</p><p>meu e se curvaram diante dele. (Gênesis 37: 5-7)</p><p>Os irmãos interpretaram o sonho como uma provocação e uma ameaça.</p><p>Depois disso teve outro sonho e dessa vez o sol, a lua e 11 estrelas se curvaram</p><p>diante de dele (Gênesis 37:9). O pai, ao saber do sonho, repreende José, talvez</p><p>para conter a ira dos demais herdeiros, porém, continua refletindo no conteúdo</p><p>onírico de seu filho.</p><p>Fazendo uma breve análise, José se vingou dos irmãos no sonho, se</p><p>mostrando bastante fálico com o símbolo dos feixes de trigo. Não cabe aqui</p><p>duvidar se José recebeu ajuda divina ou não na sua vida. Mas encontramos</p><p>fortes indícios do desejo de José, que depois se tornou o governador do Egito.</p><p>Parece que José entendeu que os sonhos são realização de desejos, projeta</p><p>como desejo de Deus e se utiliza desse conhecimento para interpretar os sonhos</p><p>do faraó.</p><p>Fazendo um salto agora, para 1800 (d.C.), Freud realiza pesquisas</p><p>bibliográficas sobre as teorias dos sonhos e as classifica em grupos: o primeiro</p><p>grupo é representado pela teoria de Delboeuf que veem o sonho como uma</p><p>continuação da atividade psíquica da vida de vigília. Aqui, a psique não dorme e</p><p>seu aparelho permanece intacto.</p><p>Freud faz a seguinte crítica a essa teoria: “No caso dessas teorias,</p><p>perguntamos se são capazes de deduzir das condições do estado de sono todas</p><p>as diferenças entre o sonho e o pensamento desperto” (1900, p. 105).</p><p>O segundo grupo de teorias se opõem à visão da primeira, “supõe no</p><p>sonho uma diminuição da atividade psíquica, um afrouxamento das correlações</p><p>e um empobrecimento do material acessível” (1900, 105). O sono influencia</p><p>grandemente na psique, entra no seu mecanismo e o paralisa.</p><p>Em comparação com as duas teorias, Freud declara que a primeira teoria</p><p>constrói o sonho como uma paranoia e a segunda teoria como um modelo de</p><p>debilidade mental.</p><p>Essa segunda teoria é a preferida entre os médicos e o mundo científico</p><p>e é sustentada pela ideia da psique paralisada pelo sono. O estado de vigília é</p><p>incompleto e parcial.</p><p>O estudante interessado na teoria dos sonhos encontrará os fisiológicos</p><p>e filósofos do período de Freud influenciados por essa teoria. Freud (1900) cita</p><p>o médico e farmacologista Karl Binz (1878):</p><p>4</p><p>Esse estado (de torpor) se aproxima de seu fim apenas gradativamente</p><p>nas primeiras horas da manhã. Os produtos da fadiga acumulados na</p><p>albumina cerebral diminuem sempre mais, uma quantidade cada vez</p><p>maior deles é decomposta ou levada pela incessante corrente</p><p>sanguínea. Aqui e ali alguns grupos de células, já despertos, se</p><p>destacam, enquanto tudo em sua volta ainda permanece em estado de</p><p>torpor. Agora se apresenta à nossa consciência turvada o trabalho</p><p>isolado dos grupos individuais, faltando-lhe ainda o controle de outras</p><p>partes do cérebro que governam a associação. É por isso que as</p><p>imagens criadas, que, na maioria das vezes, correspondem às</p><p>impressões materiais do passado recente, se encadeiam de forma</p><p>irregular e caótica, Aumentam constantemente o número de células</p><p>cerebrais liberadas, e diminui cada vez mais a insensatez do sonho.</p><p>(Freud, 1900, p. 106 citado por Binz 1878, p. 43)</p><p>Karl Binz foi um importante médico e pesquisador de quinino. Ele</p><p>estudava experimentalmente os sonhos, pela administração de venenos. Sob</p><p>essa ótica o estímulo para os sonhos fica para o plano do somático. Seguindo a</p><p>mesma linha de raciocínio, um corpo com zero estímulo ao dormir (se fosse</p><p>possível) não teria motivos para sonhar.</p><p>Mas os estímulos surgem de todos os lugares, seja de fora ou de dentro</p><p>do próprio corpo, estímulos que em vigília não fazem sentido algum. Nessa</p><p>teoria, “o sonho é a reação a uma perturbação do sono ocasionada pelo</p><p>estímulo, uma reação, aliás, completamente supérflua” (Freud, 1900, p. 108).</p><p>Aqui o sonho não tem lugar como processo psíquico, apenas somático. Um outro</p><p>autor, Robert, faz uma importante definição do sonho, visão essa difundida até</p><p>os dias atuais, e sustentada pela psicologia:</p><p>O sonho se apresenta como processo somático de excreção, que</p><p>chega ao conhecimento em nossa reação mental a ele. Sonhos são</p><p>excreções de pensamentos sufocadas em germe. Se privássemos</p><p>uma pessoa de sua capacidade de sonhar, ela ficaria, no devido tempo,</p><p>mentalmente perturbada, pois em seu cérebro se acumularia uma</p><p>grande massa de pensamentos incompletos, irrefletidos e de</p><p>impressões superficiais, cujo grande peso sufocaria aquilo que a</p><p>memória deveria incorporar como um todo completo. O sonho presta</p><p>ao cérebro sobrecarregado os serviços de uma válvula de escape. Os</p><p>sonhos possuem o poder de curar e aliviar. (Freud, 1900, p. 109 citado</p><p>por Robert, 1886, p. 32)</p><p>A teoria de Robert também nega o sonho como um processo psíquico,</p><p>mas acrescenta que os impulsos do dia são elaborados e inseridos na memória</p><p>como uma pintura imaginária inofensiva. Em resumo, o sonho é como se retirar</p><p>o esterco da psique. Delage (1891), citado por Freud, constata que os sonhos</p><p>podem ser restos diurnos, assim como de tempos remotos.</p><p>Tudo o que se apresenta em nosso sonhos, aquilo que tendemos a</p><p>identificar inicialmente como a criação da vida onírica, revela-se, a um</p><p>exame mais minucioso, como reprodução não reconhecida, como</p><p>5</p><p>“souvenir insconscient” [lembrança inconsciente]. Esse material de</p><p>representações, porém, mostra uma característica comum; ele provém</p><p>de impressões que, muito provavelmente, tiveram um impacto maior</p><p>sobre os nossos sentidos do que sobre os nossos sentidos do que</p><p>sobre o nosso espírito, ou das quais a nossa atenção foi desviada logo</p><p>após sua ocorrência. Quanto</p><p>menos consciente e, ao mesmo tempo,</p><p>mais poderosa for sua impressão, maior é a sua chance de</p><p>desempenhar um papel no próximo sonho. (Freud, 1900, p. 111 citado</p><p>por Delage, 1891)</p><p>Delage, segundo Freud, se une à teoria predominante da época,</p><p>resumindo o sonho a um pensamento errante, sem objetivo e sem direção. Freud</p><p>descreve um terceiro grupo e o chamou de psique sonhadora com capacidades</p><p>de desempenho psíquicos especiais, que, no estado de vigília, é incapaz de</p><p>exercer. Burdach descreve o sonho como atividade natural da psique, que não</p><p>sofre influência da autoconsciência. Burdach, de uma forma poética, usa o poeta</p><p>Novalis para falar da atividade dos sonhos:</p><p>O sonho é um baluarte contra a regularidade e a monotonia da vida,</p><p>um repouso livre da imaginação presa, onde ela confunde todas as</p><p>imagens da vida e interrompe a seriedade constante da pessoa adulta</p><p>com uma alegre brincadeira infantil; sem os sonhos, certamente</p><p>envelheceríamos mais cedo, e assim podemos ver os sonhos, se não</p><p>como dádiva direta do céu, com a certeza como tarefa deliciosa, como</p><p>companhia amigável na peregrinação para o tumulo. (Freud, 1900, p.</p><p>113 citado por Burdach, 1838, p. 512)</p><p>Essa é uma teoria sustentada pelos psicólogos como Wundt e Scherner.</p><p>A preocupação com o somático ocupa Scherner e esse aponta que a imaginação</p><p>onírica brinca com os estímulos somáticos e utiliza de alguns simbolismos</p><p>plásticos para representar a fonte orgânica dos estímulos como a figura da casa</p><p>para o corpo e figuras compridas, como um cachimbo, para o órgão masculino</p><p>que são quase a mesma ideia dos livros populares de sonhos.</p><p>Mas “é muito importante que, no fim desse tipo de sonho provocado por</p><p>um estímulo somático, a imaginação onírica se desmascara, por assim dizer,</p><p>mostrando claramente o órgão excitador ou sua função” (1900, p. 117).</p><p>Um sonho com fonte somática pode ser provocado, como já citado,</p><p>quando alguém que come algo muito salgado no jantar provavelmente sonhará</p><p>com água. Já alguém que dorme com fome poderá sonhar com comida. Freud,</p><p>um tanto preocupado com essas questões, afirma que essas informações de</p><p>Scherner não podem ser entendidas como uma generalização, pois a teoria do</p><p>sonho é oposta a isso.</p><p>6</p><p>TEMA 2 – AFETO NO SONHO</p><p>As manifestações afetivas dos sonhos não sofrem a ação depreciativa,</p><p>como o conteúdo do sonho. Após o despertar, o afeto continua na mesma</p><p>intensidade do sonho. “O conteúdo afetivo do sonho requer ser incluído entre as</p><p>vivências reais da nossa psique” (Freud, 1900, p. 506).</p><p>Um exemplo apresentado na clínica é a esposa que sonha que seu marido</p><p>está a traindo e no sonho sente ódio e deseja matá-lo. Ao acordar, ainda sob</p><p>influência do afeto do sonho, fica angustiada e odiosa com a presença do seu</p><p>companheiro.</p><p>Uma questão importante: Será que esse afeto é só uma produção onírica</p><p>ou foi sentido em vigília? Freud (1900) responde à questão da seguinte maneira:</p><p>“Comparando os afetos nos pensamentos oníricos com os afetos no sonho, algo</p><p>se torna imediatamente claro: quando um afeto se acha no sonho ele também</p><p>se acha nos pensamentos oníricos, mas não o contrário” (p. 514).</p><p>Os impulsos afetivos que surgem dos pensamentos oníricos são</p><p>considerados fracos assim como os impulsos que chegam até o sonho. A</p><p>supressão dos afetos nos sonhos acontece pelo próprio estado do sono. E os</p><p>sonhos mais complexos acontecem pelo conflito entre os poderes psíquicos. Os</p><p>pensamentos inconscientes estão vinculados a uma série de pensamentos</p><p>opostos contraditórios.</p><p>Como todas essas séries de pensamentos são capazes de afetos,</p><p>dificilmente nos equivocaremos, em termos gerais, se entendermos a</p><p>supressão de afetos como conseqüências da inibição exercida pelos</p><p>opostos entre si e pela censura sobre os impulsos que reprime. A</p><p>inibição dos afetos seria então o segundo resultados da censura</p><p>onírica, assim como a deformação onírica foi o primeiro. (Freud, 1900,</p><p>p. 515)</p><p>Segundo a teoria de realização de desejo, “o sonho não quer representar</p><p>o que é penoso, as coisas penosas de nosso diurnos podem entrar no sonho</p><p>apenas quando ao mesmo tempo emprestam seu disfarce à realização de um</p><p>desejo” (Freud, 1900, p. 518).</p><p>O trabalho do sonho, além de admitir e anular os afetos, também é poder</p><p>transformá-los em seu oposto. O estudante atento já sabe que cada elemento</p><p>do sonho pode representar não só a si mesmo, mas também o oposto e o que</p><p>orienta sobre o verdadeiro afeto é o contexto do sonho. A supressão e inversão</p><p>de afeto também servem para dissimular na vida social.</p><p>7</p><p>Os sonhos também podem realizar o desejo de punição, ou seja,</p><p>sadomasoquismo, e quem quiser saber mais sobre esse tema pode se debruçar</p><p>sobre o texto “bate-se numa criança”.</p><p>“No trabalho do sonho, fontes afetivas capazes de promover o mesmo</p><p>afeto se unem para formá-lo” (1900, p. 528). É como um brinquedo lego que</p><p>busca peças semelhantes para formar uma imagem. Os afetos, no sonho, se</p><p>apresentam como a mesma origem que vem da influência dos pensamentos</p><p>oníricos.</p><p>Para falar sobre os seus sonhos e os afetos contidos neles, é preciso</p><p>coragem para ver dentro de si seus fantasmas. Freud nomeia da seguinte</p><p>maneira: “o indivíduo acaba se revelando o único malvado, entre os muitos</p><p>nobres com os quais compartilhamos a vida” (1900, p. 533).</p><p>Para finalizar esse tema, Freud acrescentou que a psique da pessoa</p><p>dormindo, também sofre influência do estado de ânimo, com interferência dos</p><p>pensamentos do dia ou de fonte somática.</p><p>É indiferente para a formação do sonho que esse conteúdo</p><p>representacional dos pensamentos oníricos determine primariamente</p><p>a tendência de afetos, ou seja, secundariamente pela disposição</p><p>afetiva de base somática. Em todo o caso, a formação do sonho está</p><p>sujeita à limitação de só poder representar o que é a realização do</p><p>desejo a sua força motriz psíquica. (1900, p. 535)</p><p>TEMA 3 – O SONHO COM FEZES, DE FREUD</p><p>O sonho de Freud (1900),</p><p>Uma colina, sobre a qual há uma espécie de privada ao ar livre, um</p><p>banco muito comprido com um grande buraco no final. Toda a borda</p><p>de trás está densamente coberta de pequenos montes de fezes de</p><p>todos os tamanhos e estágios de frescor. Atrás do banco há um</p><p>arbusto. Eu urino sobre o banco; um longo jato de urina limpa tudo, os</p><p>bolos de fezes se desprende facilmente e caem na abertura. No fim, é</p><p>como se algo ainda restasse. (Freud, 1900, p. 516)</p><p>O resto diurno que serviu de material para o sonho é muito interessante,</p><p>pois revela o início da psicanálise e o percurso de Freud. Segue o relato do</p><p>sonhador:</p><p>E agora a causa efetiva do sonho: Tinha sido uma tarde quente de</p><p>verão, e naquela noite eu havia dado uma conferência sobre a relação</p><p>entre a histeria e as perversões. Nada do que dissera me havia</p><p>agradado; me parecera desprovido de qualquer valor. Eu estava</p><p>cansado, não sentia prazer com meu trabalho duro, queria estar longe</p><p>dessa atividade de revirar a sujeira humana, sentia saudades dos meus</p><p>filhos e das belezas da Itália. Nesse ânimo, saí do auditório e fui a uma</p><p>8</p><p>cafeteria para tomar um lanche modesto ao ar livre, pois o apetite havia</p><p>me abandonado. Mas um de meus ouvintes veio atrás de mim. Pediu</p><p>permissão apara sentar à minha mesa, enquanto eu tomava o café e</p><p>tentava comer o croissant, e começou a me lisonjear: o quanto havia</p><p>aprendido comigo e como agora via tudo com olhos diferentes, que eu</p><p>havia limpado o estábulo de Áugias dos equívocos e preconceitos na</p><p>teoria das neuroses, resumindo, que eu era um grande homem. Meu</p><p>ânimo não combinava bem com aquele hino de louvores; lutei com a</p><p>repugnância, fui para casa logo, a fim de livrar-me dele, e, antes de</p><p>dormir, ainda folheei o Rabelais e li uma novela de C. F. Meyer: Die</p><p>Leiden einens Knaben [Os sofrimentos de um garoto]. (Freud, 1900, p.</p><p>517)</p><p>3.1 Análise do sonho</p><p>Freud associa o estábulo a Áugias de Hercules onde Hercules é o próprio</p><p>Freud. A colina e o arbusto são de Aussee, onde</p><p>os filhos do Freud estavam</p><p>passando as férias. O banco é uma imitação fiel a um móvel que Freud ganhou</p><p>de uma paciente. Esse móvel lembra o pai da psicanálise e a consideração que</p><p>os pacientes têm por ele.</p><p>O jato de urina que tudo limpa é uma inequívoca alusão à grandeza onde</p><p>Gulliver apaga o grande incêndio na ilha de Lilliput e isso provoca o desafeto da</p><p>rainha. Antes de dormir, Freud leu um folhetim.</p><p>Também relembra do seu lugar favorito em Paris, onde escalava as torres</p><p>das igrejas e faz uma associação entre as fezes desaparecerem tão rápido sob</p><p>o jato de urina com a vontade de escrever o capítulo sobre a histeria.</p><p>TEMA 4 – ANGÚSTIA</p><p>O conceito de angústia no decorrer da obra se modifica, por conta das</p><p>descobertas freudianas. Como esta etapa é baseada no início da psicanálise e</p><p>o livro é a interpretação dos sonhos, o norte para o conceito de angústia será</p><p>esse texto.</p><p>Um sonho é o despertar que começa. O sonho é o guardião do sono e</p><p>não se pode acusá-lo como perturbador deste. O sonho acontece nesse intervalo</p><p>de dormir e de despertar. A primeira parte do trabalho do sonho se inicia durante</p><p>o dia, ainda sob o domínio do pré-consciente. Freud aponta que esse trabalho</p><p>necessita de mais de um dia e uma noite para ser produzido, para perder o</p><p>caráter assombroso. Assemelha-se à festa de réveillon, que demora dias para</p><p>serem organizados os fogos com segurança e é lançado num instante.</p><p>Freud questiona se todo sonho é a realização de um desejo e por que</p><p>alguns causam angústia e o despertar do sujeito no meio do sono. Os pesadelos</p><p>9</p><p>não são uma contradição da realização de desejo nos sonhos. Segundo Garcia-</p><p>Roza (2004),</p><p>Temos que considerar também que o trabalho do sonho nem sempre</p><p>obtém sucesso no seu empreendimento de realizar desejos</p><p>inconscientes. Pode ocorrer que parte do afeto ligado aos</p><p>pensamentos oníricos latentes fique excedente no sonho manifesto,</p><p>provocando o sentimento de desagrado. (Garcia-Roza, 2004, p.179)</p><p>Freud faz a seguinte explicação:</p><p>Explicamos deste modo o que sucede: o desejo pertence a um sistema,</p><p>n o Ics, enquanto outro sistema, o Pcs, rejeitou e suprimiu esse desejo.</p><p>A subjugação do Ics pelo Pcs não é completa nem mesmo quando há</p><p>plena saúde psíquica; a medida dessa supressão indica o grau da</p><p>nossa normalidade psíquica. Sintomas neuróticos nos mostram que os</p><p>dois sistemas se acham em conflito um com o outro, são os resultados</p><p>de compromissos desse conflito, que o encerram temporariamente.</p><p>Por um lado, proporcionam ao Ics uma saída para a descarga de sua</p><p>excitação, servem-lhe como válvula de escape, e por outro, dão ao Pcs</p><p>a possibilidade de dominar o Ics em alguma medida. (Freud, 1900, p.</p><p>635)</p><p>Os sonhos de angústia e pesadelos são penosos para o Pcs/Cs., mas, ao</p><p>mesmo tempo, realizam o desejo da primeira instância, o Ics. Os sonhos</p><p>começam sua produção no inconsciente. Já o Pcs funciona como defesa do</p><p>aparelho.</p><p>Freud no texto do Projeto (1886) afirmou que a angústia tem sua fonte</p><p>sexual e reafirmou que “a angústia neurótica vem de fontes sexuais, posso</p><p>submeter à análise os sonhos de angústia, para demonstrar o material sexual</p><p>dos pensamentos oníricos” (1900, p. 636). “A angústia remete, por meio da</p><p>repressão, a um desejo inconsciente, claramente sexual, que encontrou uma boa</p><p>expressão no conteúdo visual do sonho” (1900, p. 637).</p><p>A angústia no sonho foi um tema que interessou Freud em todas as fases</p><p>de sua obra e, no fim de sua vida, retoma a temática e declara que não é fácil</p><p>desvendar as forças instintuais inconscientes, pois encontra muita incredulidade.</p><p>Os sonhos que mais são lembrados são os penosos e, até mesmo, os que fazem</p><p>despertar angustiado, seno assim, fora os pesadelos, os sonhos frequentes não</p><p>possuem um tom afetivo definido no dia a dia.</p><p>Não se deve esquecer, de que o sonho, em todos os casos, é o</p><p>resultado de um conflito, uma espécie de formação de compromisso.</p><p>O que é uma satisfação para o Id inconsciente pode ser, justamente</p><p>por isso, motivo de angústia para o Eu. (Freud, 1938, p. 223)</p><p>“Os sonhos angustiados são, geralmente, aqueles cujo conteúdo sofreu</p><p>menor deformação” (1938, p. 224) Por isso, causam o horror quando se acorda.</p><p>10</p><p>Quando o inconsciente se torna muito exigente e não deixa o Eu dormir, é</p><p>chamado de estado de insônia ou vigia do sono, o qual toca o sino e faz</p><p>despertar, pois corre perigo da excitação do consciente.</p><p>O investimento que do Pcs vai ao encontro do sonho tornado</p><p>percepção, porque foi dirigido para lá pela excitação da consciência,</p><p>ata a excitação da inconsciente do sonho e neutralização a</p><p>perturbação. (1900, p. 631)</p><p>É como o prisioneiro que sai em liberdade condicional e não respeita as</p><p>regras do judiciário, e o guarda vai buscá-lo por descumprimento das leis.</p><p>4.1 A angústia no final da obra de Freud</p><p>O tema da angústia para Freud foi caro e difícil de elaborar e, em vários</p><p>textos, ele aponta que se faz necessário escrever sobre o tema, mas, se fosse</p><p>possível, pularia essa etapa. Em 1926, publicou o texto da “Inibição, sintoma e</p><p>angústia”. Aqui declara que o Eu é a sede da angústia!</p><p>Construiu-se a ideia de um Eu impotente e fragilizado diante do Id, mas</p><p>quando ele se opõe a um processo, precisa dar apenas um sinal de desprazer</p><p>para conseguir o que quer e ganha reforço com o princípio do prazer. E de onde</p><p>vem a energia para a produção do desprazer?</p><p>O Eu toma a mesma linha de defesa tanto contra o perigo interno como</p><p>contra o externo. No caso do perigo externo o organismo empreende</p><p>uma rota de fuga, retira o investimento da percepção do que é</p><p>perigoso, depois enxerga um meio mais eficaz: realizar ações</p><p>musculares tais que a percepção do perigo se torne impossível mesmo</p><p>que não haja a recusa de percebê-lo, ou seja, subtrair-se ao campo de</p><p>ação do perigo. A repressão equivale a essa tentativa de fuga. (Freud</p><p>1926, p. 22)</p><p>Se pensou que o Eu “sai de cena”, acertou, pois ele foge de encrenca. E</p><p>para isso ele libera o desprazer e a angústia. Em resumo, “o Eu retira o</p><p>investimento (pré-consciente) do representante do instinto a ser reprimido e o</p><p>aplica na liberação de desprazer (angústia)” (1926, p. 22).</p><p>Freud em um tom de arrependimento declara que é preciso “rejeitar a</p><p>concepção anterior de que a energia de investimento do impulso reprimido é</p><p>transformada automaticamente em angústia” (1926, p. 22). De forma clara e</p><p>didática, questiona sobre como é possível uma simples retirada de investimento</p><p>do Eu produzir a angústia?</p><p>A angústia não é gerada como uma repressão, e sim produzida como</p><p>um estado afetivo, segundo uma imagem mnêmica já existente... Os</p><p>estados afetivos incorporam-se à psique como precipitados de</p><p>11</p><p>antiquíssima vivências traumáticas, e são despertados como símbolos</p><p>mnêmicos quando situações análogas acontecem. (Freud, 1926, p. 23)</p><p>No ser humano, o ato do nascimento é a primeira vivência individual de</p><p>angústia e aí se encontra um traço característico à expressão de angústia.</p><p>Também podemos pensar no traço mnêmico de satisfação na qual o bebê a</p><p>busca na primeira mamada, sonha que está se alimentando e</p><p>experimentalmente é possível ver o bebê mexendo a boquinha e alucinando o</p><p>seio materno e buscando a satisfação que o alimento lhe traz. Ao acordar se</p><p>angustia e chora na busca do leite materno.</p><p>TEMA 5 – CASO DE UM SONHO DE ANGÚSTIA</p><p>Um analisante desafia Freud sobre o sonho ser o desejo disfarçado. “O</p><p>senhor vai dizer, segundo suponho, que este é um sonho de realização de</p><p>desejo”. Um jovem solteiro relata o seguinte sonho para Freud:</p><p>Sonhei que, assim que chegava em casa com uma mulher, eu era</p><p>preso por um policial, que me mandou entrar numa carruagem. Pedi-</p><p>lhe tempo, a fim de colocar meus assuntos em ordem, e assim por</p><p>diante. Isso foi de manhã, depois de eu ter passado a noite com essa</p><p>mulher.</p><p>Freud o questiona se ele teve medo no sonho. Ele nega. Na investigação,</p><p>é perguntado se sabia sobre o que era</p><p>acusado, afirmando que o motivo era ter</p><p>matado uma criança. Isso tem alguma conexão com a realidade?</p><p>Declarou que foi responsável pelo aborto de uma criança, em decorrência</p><p>de um caso amoroso. É um assunto que não o agrada falar. Freud como um</p><p>detetive minucioso verifica o que ocorreu na manhã antes do sonho. Confirma</p><p>que ao acordar teve relação sexual com a moça com as devidas precauções de</p><p>ejacular para fora.</p><p>A breve análise de Freud é que o jovem rapaz solteiro</p><p>estava com medo de ter gerado um filho e o sonho lhe mostra a</p><p>realização de seu desejo de que não acontecesse nada e de ter</p><p>arrancado o filho pela raiz. Ele utilizou como material para o seu sonho</p><p>o sentimento de angústia que surge após uma relação desse tipo.</p><p>(Freud, 1896)</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Um sonho de inversão de afeto, comunicado por Ferenzi (1916):</p><p>12</p><p>Um senhor já de certa idade é acordado por sua esposa durante a</p><p>noite, a qual se assustou porque ele ria alto e bastante sono. Mais</p><p>tarde, o homem relatou ter tido o seguinte sonho: Eu estava deitado na</p><p>cama, entrou um senhor conhecido, eu queria ligar a luz, mas não</p><p>consegui, tentei repetidas vezes – em vão. Então, minha esposa saiu</p><p>da cama para me ajudar, mas ela também não teve sucesso; porém,</p><p>como se incomodava de estar apenas de négligé na frente do homem,</p><p>finalmente desistiu e voltou para a cama. Tudo isso era tão cômico que</p><p>eu tinha de rir terrivelmente. Minha mulher dizia: Por que está rindo?</p><p>Mas eu continuei rindo até acordar. No dia seguinte, o homem estava</p><p>abatido e com dor de cabeça, por causa de toda aquela risada, que me</p><p>abalou, disse ele. (Freud, 1900, p. 520)</p><p>Em uma breve análise, o sonho divertido pode ser assustador! O senhor</p><p>conhecido que entra no quarto é a morte, que também é o grande desconhecido</p><p>da humanidade, produto do pensamento onírico latente. O senhor idoso que</p><p>sofre de problemas cardíacos tinha motivos para pensar de forma recorrente na</p><p>morte. O riso “frouxo” sustenta o ditado popular “rindo para não chorar”.</p><p>A luz que não consegue mais ascender é o da própria vida. Esse</p><p>pensamento triste também pode estar relacionado às recentes tentativas</p><p>malsucedidas de fazer sexo, e mesmo a esposa usando uma camisola sensual</p><p>não foi suficiente para manter a ereção. O trabalho do sonho conseguiu</p><p>transformar a triste ideia de impotência e morte em uma cena cômica.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta etapa, foi discutido sobre as teorias da função dos sonhos e</p><p>possibilitado o raciocínio crítico sobre elas. Bem como aparece os afetos nos</p><p>sonhos e as suas contradições.</p><p>De uma forma simples e fascinante, como era a escrita de Freud, foi</p><p>possível encontrar uma linha imaginária entre o conceito de angústia no início de</p><p>sua obra e no final de sua vida. Um tema caro e importante para Freud e todos</p><p>os seus discípulos.</p><p>13</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BÍBLIA. Bíblia sagrada. Tradução de Neyd Siqueira. São Paulo: NVI 2009.</p><p>Edição Stormie Omartian.</p><p>FREUD, S. A interpretação dos Sonhos. São Paulo. Ed. Companhias das</p><p>Letras. (1900 – 2019)</p><p>_____. Compêndio de psicanálise. São Paulo. Ed. Companhias das Letras,</p><p>1938 – 2019.</p><p>_____. Inibição, sintoma e angústia. São Paulo: Ed. Companhias das Letras,</p><p>1926 – 2019.</p><p>GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro:</p><p>Jorge Zahar, 1995. v. 1, v. 2 e v. 3.</p>

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