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<p>Roberto Bartolomei Parentoni</p><p>ADVOCACIA</p><p>CRIMINAL</p><p>A ARTE DE DEFENDER</p><p>ROBERTO BARTOLOMEI PARENTONI</p><p>ADVOCACIA CRIMINAL</p><p>A ARTE DE DEFENDER</p><p>© 2017 - Editora Canal Ciências Criminais</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>É  proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos</p><p>direitos do autor (Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.</p><p>Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004.</p><p>Direção Editorial</p><p>Bernardo de Azevedo e Souza</p><p>Conselho Editorial</p><p>André Peixoto de Souza Diógenes V. Hassan Ribeiro</p><p>Fábio da Silva Bozza Fauzi Hassan Choukr</p><p>Fernanda Ravazzano Baqueiro Maiquel A. Dezordi Wermuth</p><p>Capa e projeto gráfico</p><p>CreativeTeam.co</p><p>Diagramação</p><p>Caroline Joanello</p><p>Impressão e acabamento</p><p>Gráfica Evangraf</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>Xxxxx Parentoni, Roberto Bartolomei.</p><p>Advocacia criminal: a arte de defender / Roberto Bartolomei</p><p>Parentoni. — Porto Alegre : Canal Ciências Criminais, 2017.</p><p>70 p.</p><p>ISBN 978-85-92712-14-3</p><p>1. Advogado — Brasil. 2. Advogado — Formação Profissional.</p><p>3. Advogado — Emprego — Brasil. 4. Carreira — Planejamento. I.</p><p>Parentoni, Roberto Bartolomei. II. Título.</p><p>CDD xxx.xxx</p><p>Bibliotecária Responsável: Elisete Sales de Souza (CRB 10/1441)</p><p>ÍNDICE</p><p>Introdução 7</p><p>Capítulo I A arte de defender 11</p><p>1 O que é ser advogado criminalista? 13</p><p>2 Em defesa da advocacia criminal 17</p><p>3 A diferença entre o advogado militante e o não militante 21</p><p>4 A defesa criminal e os embargos auriculares 23</p><p>Capítulo II A preparação dos criminalistas 25</p><p>5 Os 3 primeiros livros que adquiri na área criminal 27</p><p>6 O Advogado não requer, reivindica 31</p><p>7 Todo advogado criminalista deve estudar Criminologia 33</p><p>8 A redação como instrumento de trabalho dos criminalistas 35</p><p>Capítulo III O Tribunal do Júri 39</p><p>9 Os advogados no Tribunal do Júri 41</p><p>10 Meu primeiro caso de defesa no Tribunal do Júri 43</p><p>11 A escolha dos jurados no Tribunal do Júri 47</p><p>Capítulo VI Reflexões 51</p><p>12 Por que aceitei defender Marcola? 53</p><p>13 O que aprendi em 26 anos de Advocacia Criminal 55</p><p>Capítulo V Apêndices 59</p><p>14                                     Os 50 livros que todo advogado deve ler para atuar no Tribu-</p><p>nal do Júri 61</p><p>15 As 50 teses defensivas que todo advogado criminalista deve</p><p>conhecer 65</p><p>Considerações finais 69</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A escolha da profissão de advogado deve ser, como qualquer ou-</p><p>tra, pautada pela análise e reflexão saudáveis e sensatas das habilida-</p><p>des e desejos profundos da alma, pois que nascemos com uma missão</p><p>a cumprir, o que torna a escolha da profissão uma decisão árdua, mas</p><p>dignificante. Ou seja, há que se ter vocação, talento e predestinação.</p><p>A contribuição dos pais, amigos e principalmente das dificul-</p><p>dades encontradas para essa escolha, das quais as financeiras é uma</p><p>das mais difíceis, devem ser colocadas em lugares derradeiros e, de</p><p>incontáveis formas, serem dissolvidas.</p><p>A profissão de advogado é controvertida. Muitos a elogiam e</p><p>muitos a condenam. É, porém, a única que consta em nossa Consti-</p><p>tuição Federal (conforme o art. 133) como um dos pilares da Justiça e</p><p>indispensável à sua administração.</p><p>Quem escolher a profissão de advogado deverá estar prepara-do</p><p>para não ter reconhecida sua competência, mesmo “dando seu</p><p>sangue” por uma causa – o cliente sempre achará que, afinal, era um</p><p>direito dele! – e, não obtendo o sucesso esperado, saber que “a culpa</p><p>sempre será do advogado”, não importando a dificuldade da própria</p><p>causa e os elementos que a compõem. Portanto, terá que ter</p><p>desprendimento.</p><p>Essa “ingratidão” não deverá, no entanto, ser motivo de desgos-</p><p>to. Deve constar nas habilidades deste profissional o saber lidar com</p><p>esta situação e sempre fazer o melhor. Haverá sempre as exceções que</p><p>trarão a satisfação e o orgulho de ser um advogado.</p><p>Não se nega que muitos profissionais contribuem para a má visão</p><p>que muitos têm do advogado, pois agem irresponsavelmente,</p><p>pensando apenas em auferir lucros e sem se importar com a mo-</p><p>ralidade ou a integridade dos seus atos. Isso, porém, não interessa</p><p>7</p><p>àqueles que tomam sua profissão, e a tudo, como a expressão da</p><p>manifestação do que há de melhor em si, pois dentro da sua atuação</p><p>profissional ou de suas habilidades em qualquer atividade está a ma-</p><p>nifestação da própria vida.</p><p>Assim, é necessário que se defenda a honra e a importância da</p><p>profissão de advogado, o que é feito pela Ordem dos Advogados do</p><p>Brasil – OAB e pelos profissionais que a compõem. Temos, pois, o</p><p>Có-digo de Ética, que norteia os desavisados, não sendo tão</p><p>necessário aos que cumprem com suas obrigações e têm dentro de si a</p><p>percep-ção e a consciência dos requisitos dignificantes que são</p><p>necessários à sua atuação. Estes, além de bons advogados, são bons</p><p>homens.</p><p>Levemos em consideração que depende de cada advogado a ma-</p><p>nutenção da boa fama e reputação de toda a classe. Apesar de toda a</p><p>balbúrdia e intenções contrárias, a advocacia é dignificante e possui</p><p>tradição, já que há uma história da advocacia, ordem social e jurídica</p><p>no país.</p><p>Aquele que escolhe ser advogado deve saber que a partir do</p><p>momento em que estiver apto a exercer sua profissão, ou seja, após</p><p>aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, obrigatório</p><p>em todo o País, estará imbuído de responsabilidades.</p><p>Ao falar, ao comportar-se, ao agir, ao escrever, ao opinar, ao</p><p>atuar, não poderá mais portar-se como o estudante que, anos atrás,</p><p>ingressou nas lidas dos estudos jurídicos em uma Faculdade ou Uni-</p><p>versidade. Nem mesmo como o mesmo homem. Já terá de ter-se</p><p>adaptado ao mundo jurídico, moldando-se às suas exigências, fato que</p><p>será fator de sucesso na sua profissão.</p><p>Se você detesta usar terno, gravata ou desgosta de leituras, se é</p><p>impaciente demais, ou se aborrece facilmente, terá vida curta dentro</p><p>da advocacia. A menos que uma das suas qualidades seja a capacida-</p><p>de de se adaptar.</p><p>E que sempre se denomine carteira, e não “carteirinha”, o do-</p><p>cumento que o identifica como advogado. “Carteirinhas” são as de</p><p>clubes.</p><p>8</p><p>O advogado estará sempre contrariando interesses e expectati-</p><p>vas. A seara será um lugar de muita luta. O ambiente será difícil. O</p><p>espírito do Advogado deverá ser sempre combativo e deverá estar</p><p>sempre atualizado com as leis vigentes e as notícias em geral.</p><p>Os mestres espirituais ensinam que toda crítica, condenação e</p><p>julgamento são empecilhos à manifestação da perfeição que é ine-</p><p>rente a todo espírito que habita o ser humano. O advogado tem na</p><p>advocacia a chance de aprender a deixar de realizar todo ato de crí-</p><p>tica, condenação e julgamento, uma vez que assim deverá olhar para o</p><p>cliente que o procurar. Quem sabe não aprende também a utilizar essa</p><p>mesma visão com toda pessoa humana que o acompanha em sua</p><p>evolução no planeta Terra.</p><p>No presente livro, analisarei toda questão partindo da Constitui-</p><p>ção Federal, dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos e dos</p><p>princípios constitucionais e infraconstitucionais.</p><p>Afinal, com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, fi-</p><p>cou expressamente consignado que “as normas definidoras dos direi-</p><p>tos e garantias fundamentais têm aplicação imediata” e que “os tra-</p><p>tados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem</p><p>aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por</p><p>três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às</p><p>emendas constitucionais”, conforme art. 5º, §§ 1º e 3º, da Carta</p><p>Magna de 1988.</p><p>Dessa forma, ao interpretar as disposições processuais penais, o</p><p>operador do Direito deverá sempre partir da Constituição Federal,</p><p>passando pelos Tratados Internacionais de Direitos Humanos e, por</p><p>fim, chegar à lei adjetiva penal.</p><p>9</p><p>10</p><p>I</p><p>A ARTE DE DEFENDER</p><p>12</p><p>1.</p><p>O QUE É SER ADVOGADO CRIMINALISTA?</p><p>Ser advogado criminalista é defender, utilizando a legislação,</p><p>razões e argumentos, todo cidadão chamado a responder em Juí-zo</p><p>por acusação que lhe é feita, devendo este, por poder da nossa</p><p>Constituição Federal, lei maior, ser considerado inocente até senten-</p><p>ça transitada em</p><p>julgado.</p><p>São os advogados e advogadas tão importantes para a materiali-</p><p>zação da Justiça, ordem social, cidadania e democracia quanto os ju-</p><p>ízes e os promotores de acusação, não havendo qualquer hierarquia</p><p>entre eles, ou melhor, entre nós.</p><p>A ignorância graça entre muitos, mas cabe aos representantes do</p><p>povo, e assim esperamos (muitas vezes em vão), o conhecimento, a</p><p>sensatez e a sabedoria para fazer com que a Justiça, a ordem social, a</p><p>cidadania e a democracia sejam efetivadas num país que se diz de-</p><p>mocrático e republicano.</p><p>Assim repetimos: os advogados e advogadas são insubstituíveis e</p><p>absolutamente necessários para a efetivação da Justiça, a ordem</p><p>social, a cidadania e a democracia.</p><p>Venho falar dos advogados e advogadas que advogam. Venho</p><p>dizer que é inadmissível nossa classe ter que estar sempre sendo acu-</p><p>sada de soltar bandidos que a polícia prende, de estar ao lado do</p><p>crime, de servir de mensageiro de traficantes.</p><p>Bandidos há de todos os lados. Temos a certeza de que qualquer</p><p>um pode servir de mensageiro de presos: advogados, advogadas,</p><p>funcionários do presídio, governadores, prefeitos, juízes, promotores</p><p>da acusação, policiais, repórteres, familiares, amigos, etc. Todos que</p><p>tenham a menor possibilidade de estar em contato com eles.</p><p>É    segredo para alguém que pessoas honestas, corretas, sensatas</p><p>existem em qualquer lugar, sendo o contrário também uma verdade?</p><p>1</p><p>3</p><p>Por que a pecha de bandidos é sempre voltada aos advogados e ad-</p><p>vogadas?</p><p>Por que sempre a irresponsabilidade dessas pessoas que vão para</p><p>a televisão colocar toda uma classe – imprescindível à manu-tenção</p><p>da Justiça, da ordem social, da cidadania e da democracia – como</p><p>cúmplice de meliantes?</p><p>Nós, assim como tantos outros colegas, somos profissionais do</p><p>Direito, defendemos os direitos que pertencem aos nossos clientes.</p><p>Seguimos as leis, trabalhamos com os recursos que nelas encontra-</p><p>mos, lutamos pela manutenção e cumprimento dessas leis.</p><p>Poucos dos que vão para a televisão sabem a dificuldade que en-</p><p>contramos para fazer isso, porque os direitos dos cidadãos são cons-</p><p>tantemente desrespeitados, inclusive dos nossos clientes execrados</p><p>pela sociedade.</p><p>Eles, por acaso, deveriam ser excluídos dos benefícios da legis-</p><p>lação que é para todos? Não deveríamos lutar para defender os seus</p><p>direitos (e não os seus crimes, como pensam muitos)?</p><p>Mobilizem-se para que se mudem as leis e os princípios demo-</p><p>cráticos, todos esses. Vão para a televisão, com argumentos e razões,</p><p>cientes de conhecimento filosófico, social, humanístico, político, eco-</p><p>nômico, e tracem seus argumentos.</p><p>Parem de mal falar da classe dos advogados e advogadas, ao</p><p>menos em prol dos que advogam, e tenham a paciência para ver jul-</p><p>gados os que forem acusados.</p><p>Temos instrumentos de luta numa democracia, e dois deles não</p><p>são a língua e a ignorância, capazes de desestabilizar um povo, uma</p><p>sociedade, fazendo com que uma parte dela pense – porque não sabe</p><p>pensar por si mesma – que os advogados e advogadas são cúmplices</p><p>de criminosos.</p><p>Eu sou advogado criminalista, militante desde 1991 e fundador</p><p>do escritório Roberto Parentoni e Advogados. Nunca fui parceiro de</p><p>14</p><p>meus clientes, mas sempre fui defensor de seus direitos especificados</p><p>em lei, sem constrangimentos, já que vivemos num Estado Democrá-</p><p>tico de Direito.</p><p>1</p><p>5</p><p>16</p><p>2.</p><p>EM DEFESA DA ADVOCACIA CRIMINAL</p><p>A advocacia criminal, a qual muitos se referem como “o mais</p><p>apaixonante ramo do direito”, é uma área muito importante e exige de</p><p>seus profissionais muitas habilidades que diferem das exigidas pelos</p><p>profissionais de outras áreas, como a cível e a trabalhista.</p><p>Algumas das habilidades que os criminalistas devem possuir,</p><p>além da vocação, são os conhecimentos científicos sobre Crimino-</p><p>logia e Medicina Legal, além de oratória, caso desejem atuar no Tri-</p><p>bunal do Júri. Não podemos esquecer, ainda, que as habilidades de</p><p>Psicologia também são bem-vindas, uma vez que os criminalistas tra-</p><p>tarão sempre com pessoas e os problemas que as afligem, geralmente</p><p>graves.</p><p>Algumas qualidades são essenciais e, segundo Manoel Pedro Pi-</p><p>mentel, ao advogado criminalista cabe “coragem de leão e brandu-ra</p><p>do cordeiro; altivez de um príncipe e humildade de um escravo;</p><p>fugacidade do relâmpago e persistência do pingo d’água; rigidez do</p><p>carvalho e a flexibilidade do bambu”.</p><p>O estudo, conhecimento da alma humana, leitura de bons livros</p><p>fora de temas jurídicos – que agreguem valores, ajudem no aumento</p><p>do vocabulário –, conhecimento das leis, jurisprudências e arestos dos</p><p>Tribunais, perspicácia na análise das provas, exercício da orató-ria,</p><p>atenção a tudo e a todos, boa impressão pessoal, tato, diploma-cia,</p><p>capacidade de convencimento, de forma agradável e precisa, são</p><p>ações indispensáveis ao advogado criminalista.</p><p>O próprio curso de Bacharel em Direito está incurso na área de</p><p>Ciências Humanas. É impossível, pois, que uma pessoa que nada</p><p>compreenda da natureza humana, tampouco tenha um espírito ca-paz</p><p>de se sensibilizar com a tragédia humana, possa servir nos bal-cões da</p><p>advocacia, especialmente a criminal.</p><p>1</p><p>7</p><p>Aquele que escolhe esta área para atuar deverá sempre ter em</p><p>mente que estará defendendo a pessoa e seus direitos e não o crime do</p><p>qual o cliente é acusado. O advogado criminalista é a voz, cabeça e</p><p>mãos dos direitos que cabem a qualquer pessoa.</p><p>O processo criminal sempre trará em seu seio histórias trágicas,</p><p>da vítima e do acusado, pois que não é menos trágico o cometimento</p><p>de um crime, apesar de parecer, num primeiro plano, que a vítima é a</p><p>que mais “perde”.</p><p>O advogado criminalista tem a função e obrigação de analisar as</p><p>provas diligentemente, além de verificar se o processo tramita em</p><p>plena conformidade com a lei processual penal e a Constituição Fe-</p><p>deral, pois disso depende que seja feita a justiça e é a garantia de que</p><p>a defesa dos direitos de seu cliente foi realizada de forma primorosa e</p><p>eficaz.</p><p>Os advogados criminalistas precisam “ter estômago”, como di-</p><p>zem, serem combativos, guerreiros e corajosos, trazerem consigo um</p><p>espírito de luta, não só para lutar, dentro do processo criminal a favor</p><p>de seu cliente, contra as cotas da acusação ou eventuais injustiças das</p><p>sentenças, mas também para enfrentar a oposição ainda maior da</p><p>sociedade que muitas vezes não compreende suas ações.</p><p>Os desavisados e ignorantes têm em mente que o advogado cri-</p><p>minalista “defende bandidos”, solta os criminosos que a polícia se</p><p>esforça para prender, o que não é verdade.</p><p>O advogado criminalista defende os direitos de toda pessoa hu-</p><p>mana, garantidos pela Constituição Federal, em seu art. 5º, assim</p><p>como pugna, como um bom e combativo advogado, para que todos os</p><p>procedimentos e leis sejam cumpridos quando uma pessoa sofre uma</p><p>acusação ou é recolhida à prisão.</p><p>Não cogitam os mesmos desavisados que muitos inocentes so-</p><p>frem a prepotência da ação policial, que às vezes agem fora das nor-</p><p>mas e preceitos legais, consciente ou inconscientemente, não impor-</p><p>ta. Importa que o advogado esteja ali para lutar pelos direitos da</p><p>pessoa. Todos os desavisados com certeza gostariam que assim se</p><p>procedesse com eles próprios, caso a “água batesse em suas costas”.</p><p>18</p><p>O advogado criminalista lida com a liberdade das pessoas, com a</p><p>repercussão das ações criminosas praticadas e as agruras da alma</p><p>humana. Quão difícil e complicada a alma humana com todas suas</p><p>subjetividades e relatividades!</p><p>A fama que leva o advogado criminalista de abrir as portas das</p><p>cadeias para os clientes criminosos é absolutamente maldada, uma</p><p>vez que o advogado é uma das peças da constituição judiciária, não</p><p>tendo esse poder, nem age injustamente, pois outras peças agem den-</p><p>tro do processo, com igual ímpeto de realizar bem as suas obrigações.</p><p>Se, por muitas vezes, o advogado criminalista sofre as agruras</p><p>da profissão, muitas recompensas ele também agrega, principalmen-te</p><p>quando consegue, agindo com integridade e esforço, evitar uma</p><p>injustiça, salvar da prisão um inocente, abrandar uma pena severa</p><p>demais.</p><p>Aquele que escolhe a profissão de advogado, e criminalista,</p><p>deve, pois, orgulhar-se das habilidades que possui, de ter escolhido</p><p>uma profissão digna e de ajudar a manter a ordem social e jurídica de</p><p>seu país, auxiliando na manutenção da ordem e da paz.</p><p>Não por menos, os nomes lembrados e laureados são nomes de</p><p>criminalistas consagrados através do tempo, que entram para a</p><p>História, não ocorrendo o mesmo com grandes civilistas. Aqueles</p><p>ganham o direito a esta posteridade exatamente por ousar agir em</p><p>uma causa impopular, enfrentando toda uma sociedade indignada, na</p><p>defesa do acusado.</p><p>Coloca-se, naquele momento, ao lado do mais fraco e desafor-</p><p>tunado, não porque defende a ação da qual o cliente é acusado, mas</p><p>por dever ético, profissional e humano. É preceito Constitucional que</p><p>ninguém pode ser condenado sem defesa. Ainda que o crime seja</p><p>nefasto, em nenhum momento o conceito atribuído ao cliente deve se</p><p>confundir com a reputação do advogado.</p><p>Ainda assim, os advogados criminalistas sofrerão muitas vezes</p><p>com os abusos de poder e a pressão da sociedade, que têm início jun-</p><p>to aos seus clientes e se mistura à personalidade do defensor, o que</p><p>1</p><p>9</p><p>resulta em situações em que os profissionais se veem forçados a vio-</p><p>lar o sigilo profissional, através de buscas ilegais em seus escritórios.</p><p>Há, no entanto, a jurisprudência a garantir que os advogados</p><p>tenham o direito de exercer com liberdade a profissão em todo o</p><p>território nacional, na defesa dos direitos ou interesses que lhe forem</p><p>confiados; fazer respeitar, em nome da liberdade de defesa e do sigilo</p><p>profissional, a inviolabilidade do seu domicílio, do seu escritório e</p><p>dos seus arquivos, como coisas intocáveis.</p><p>O art. 7º, II, do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advoga-</p><p>dos do Brasil (Lei Federal nº 8.906/1994) garante o direito do advo-</p><p>gado de ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo</p><p>profissional, a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho,</p><p>de seus arquivos e dados de sua correspondência e de suas comunica-</p><p>ções, inclusive telefônicas ou afins, salvo caso de busca e apreensão</p><p>determinada por magistrado.</p><p>Por fim, a advocacia criminal é personalíssima e não se organiza</p><p>em grandes escritórios ou empresas. Não há clientela, como no caso</p><p>dos advogados civilistas e trabalhistas.</p><p>20</p><p>3.</p><p>A DIFERENÇA ENTRE O</p><p>ADVOGADO MILITANTE E O NÃO</p><p>MILITANTE</p><p>Durante toda minha caminhada profissional dentro da advoca-</p><p>cia, desde 1991, sempre afirmei a minha condição de advogado mili-</p><p>tante, pois, para o cliente, isso representa frequentemente a diferen-ça</p><p>entre o sucesso e o fracasso de sua causa ou, no mínimo, percalços</p><p>que poderão ser transponíveis, gerando atraso no resultado dentro de</p><p>um Judiciário que já caminha a passos de tartaruga, ou até mesmo</p><p>intransponíveis, gerando prejuízos ao cliente e consequentemente ao</p><p>advogado.</p><p>Temos profissionais que se encontram habilitados ao exercício da</p><p>advocacia, porém não exercem a profissão. São advogados, mas não</p><p>militam ou trabalham na área. Outros há que são advogados de</p><p>“gabinete” ou são oriundos de funções que exerciam como operado-</p><p>res do Direito. Muitos não sabem sequer o que quer dizer “conclu-</p><p>sos”, “o réu encontra-se em L. I. N. S.” ou “certidão de objeto e pé”.</p><p>Muitas outras expressões existem que só os que militam conhecem.</p><p>Uma interessante definição que encontrei na internet para a pa-</p><p>lavra militante foi:</p><p>Pessoa que milita; quem defende uma causa ou</p><p>busca transformar a sociedade através da ação e</p><p>não da especulação. Que milita ativamente, de-</p><p>fendendo uma causa.</p><p>Portanto, podemos definir advogado militante como aquele que</p><p>se encontra na ativa, que trabalha como advogado, que conhece os</p><p>fóruns, os cartórios e os tribunais, suas rotinas, trâmites, embaraços e</p><p>percalços. Além disso, vive intensamente experiências específicas</p><p>com cada um de seus clientes, passando a adquirir conhecimentos</p><p>também específicos.</p><p>2</p><p>1</p><p>Eu, como criminalista na militância desde 1991, já vivi expe-</p><p>riências extraordinárias e também peculiares dentro da rotina dos</p><p>fóruns, com despachos, com sentenças, com problemas a resolver,</p><p>assim como no Tribunal do Júri, com os clientes, seus familiares,</p><p>com os Delegados de Polícia, Promotores e Juízes que não poderia ter</p><p>se não fosse a militância.</p><p>Por isso, entendo que “Na prática... a teoria é outra”.</p><p>22</p><p>4.</p><p>A DEFESA CRIMINAL E OS</p><p>EMBARGOS AURICULARES</p><p>Em 1991, início de minha militância como advogado criminal,</p><p>atendi um caso que chegou até mim por indicação. O cliente estava</p><p>preso. Um advogado experiente e conceituado na cidade já havia im-</p><p>petrado a seu favor pedido de liberdade provisória e habeas corpus,</p><p>porém sem sucesso.</p><p>Era, portanto, um desafio para mim. Estudando o processo, ve-</p><p>rifiquei o excesso de prazo. Peticionei ao Juízo com essa alegação e</p><p>fui despachar com o Magistrado. Como de praxe, forneceu vistas ao</p><p>Ministério Público, que discordou obviamente e, depois, negou o</p><p>meu pedido de liberdade.</p><p>Ainda no Fórum, logo após esse fato, conversando com carto-</p><p>rários, vim a saber que em caso semelhante, mas tecnicamente com</p><p>um histórico mais difícil, um outro acusado, cujo defensor era pes-</p><p>soa reconhecida e conceituada, havia tido resposta positiva do Juízo</p><p>quanto ao deferimento de seu pedido de liberdade.</p><p>Neste momento entendi que deveria interpor o chamado em-</p><p>bargos auriculares. Fui falar com o Juiz novamente e expliquei-lhe</p><p>que ele havia negado meu pedido, mas que eu tinha conhecimento de</p><p>um caso semelhante no qual o acusado, conforme citado acima, havia</p><p>sido liberado.</p><p>Disse-lhe, ainda, que se fosse o caso eu pediria para meu cliente</p><p>contratar o outro advogado reconhecido e conceituado, pois eu es-</p><p>tava iniciando minha carreira e poderia estar fazendo algo errado e</p><p>não queria prejudicar o meu cliente.</p><p>O Juiz, estupefato, disse-me que não, de forma alguma e pediu--</p><p>me que fizesse um pedido de reconsideração. Fui até a sala da Or-</p><p>dem dos Advogados do Brasil (OAB) e escrevi uma petição de duas</p><p>23</p><p>linhas reafirmando meu pedido. E o meu cliente foi solto com o de-</p><p>ferimento do Magistrado de ofício.</p><p>Assim, descobri a importância dos embargos auriculares muito</p><p>cedo. Há Juristas que criticam firme e convictamente esse recur-so.</p><p>Há momentos e momentos, mas principalmente na Advocacia</p><p>Criminal deve ser feito. Cabe somente ao advogado decidir quando</p><p>utilizar os embargos auriculares.</p><p>Como dizem, nós, Advogados, somos os primeiros juízes da cau-</p><p>sa.</p><p>Depois de algum tempo, tive a felicidade de adquirir o livro de</p><p>Maurice Garçon, O Advogado e a Moral, quando pude constatar que</p><p>desde o começo eu agi de acordo com suas lições. Entendo que não</p><p>podemos ter medo de “cara feia”. Compartilho esse trecho do livro:</p><p>A verdadeira coragem do advogado consiste,</p><p>essencialmente, em dizer o que tiver por neces-</p><p>sário, sem olhar às críticas que possa sofrer ou</p><p>aos inconvenientes que lhe possam advir. Porque</p><p>não é a sua própria pessoa que está em causa,</p><p>deve desprezar os descontentamentos que a sua</p><p>atitude possa provocar. Não deve hesitar em de-</p><p>sagradar, se o que desagrada lhe parece justo ou</p><p>necessário.</p><p>A advocacia criminal é personalíssima e, desde 1991, quando</p><p>comecei a militância, especializando-me logo em seguida na área cri-</p><p>minal, atendo pessoalmente os meus clientes e acompanho todos os</p><p>processos, dando atenção especial e segurança jurídica na defesa dos</p><p>direitos de cada cliente e sua causa.</p><p>Hoje chamam isso de Boutique Jurídica.</p><p>24</p><p>II</p><p>A PREPARAÇÃO DOS CRIMINALISTAS</p><p>26</p><p>5.</p><p>OS 3 PRIMEIROS LIVROS QUE</p><p>ADQUIRI NA ÁREA CRIMINAL</p><p>Mesmo que não gostem muito de leitura, os advogados des-</p><p>cobrirão que ela será necessária. E até irão começar a gostar, pois</p><p>aprendemos coisas importantes, interessantes e legais com ela.</p><p>Entramos na faculdade e nos são apresentados os primeiros li-</p><p>vros técnicos indispensáveis, os Códigos e de legislação em geral.</p><p>Necessariamente, os Códigos foram os primeiros livros que adquiri,</p><p>em realidade. Descobrimos no decorrer do tempo, porém, outras lei-</p><p>turas, seja por gosto, necessidade de aprimoramento ou por “sermos</p><p>levados” (há isso também) a elas: menos técnicas, históricas,</p><p>práti-</p><p>cas, biográficas, entre outras.</p><p>Assim, quando iniciei na advocacia criminal, em 1991, os três</p><p>primeiros livros que comprei, fora os Códigos, foram:</p><p>1.</p><p>Advocacia Criminal na Segunda Instância,</p><p>de Vitorino Prata Castelo Branco (3. Ed, 1983</p><p>– Sugestões Literárias);</p><p>2.</p><p>Grandes Advogados, Grandes Julgamentos,</p><p>de Pedro Paulo Filho (2. Ed, 1991,</p><p>Departamento Editorial OAB-SP);</p><p>3.</p><p>Teoria e Prática do Júri, de Adriano Marrey,</p><p>Alberto Silva Franco e Rui Stoco (4. Ed.</p><p>1991, Revista dos Tribunais).</p><p>Quando iniciei, claramente não havia muito trabalho a fazer, pelo</p><p>menos não a ponto de negar a um colega mais experiente a</p><p>companhia e colaboração em suas viagens para São Paulo. Além dis-</p><p>so, eu ganhava experiência. Nessas viagens eu ia e voltava dirigindo e</p><p>ele podia adormecer tranquilamente no banco ao lado, penso que</p><p>2</p><p>7</p><p>um pouco para recarregar as energias antes e depois de cumprir seu</p><p>trabalho na capital, nos Tribunais, e junto à OAB, a qual era ligado</p><p>por um cargo.</p><p>Outra atividade comum para ele, e que acabou sendo para mim</p><p>também, era a visita aos sebos. Não era época de Internet, de Google</p><p>ou de sebos virtuais. Garimpávamos os livros nessas lojas especiais</p><p>que são os chamados “sebos”, palavra de origem controversa até</p><p>hoje, que oferecia, entre tantas opções, livros raros e com preço</p><p>acessível.</p><p>Acompanhando-o, então, assistia às sustentações orais que o</p><p>colega muito bem realizava nos Tribunais de Segunda Instância. Na</p><p>faculdade, esse assunto, a Segunda Instância, era citado muito teori-</p><p>camente. Minha visão prática iniciou-se com essas viagens e a opor-</p><p>tunidade de assistir às sustentações orais.</p><p>Assim, numa de nossas visitas ao sebo, deparei-me com o pri-</p><p>meiro livro citado, Advocacia Criminal na Segunda Instância, de</p><p>Vito-rino Prata Castelo Branco. Com ele obtive uma visão prática da</p><p>Ad-vocacia Criminal na segunda Instância, o que muito me ajudou.</p><p>Essa foi uma aquisição por necessidade de aprimoramento no</p><p>assunto.</p><p>Em uma nova oportunidade, estávamos na OAB/SP e bati os</p><p>olhos no segundo livro que citei, Grandes Advogados, Grandes Jul-</p><p>gamentos, de Pedro Paulo Filho. Era um livro editado pelo Departa-</p><p>mento Editorial da OAB/SP. Com esse livro, tive a oportunidade de</p><p>conhecer várias personalidades jurídicas envolvidas nas histórias do</p><p>Brasil e do mundo relatadas de maneira prática pelo autor. Descobri,</p><p>por exemplo, que Tancredo Neves era Promotor de Justiça. Penso que</p><p>fui “levado” a essa aquisição.</p><p>Sobre o terceiro livro citado, foi uma aquisição “por gosto”.</p><p>Quando fui realizar meu primeiro Júri, um caso muito complicado,</p><p>procurei um colega advogado que eu acreditava poder me ajudar</p><p>muito com sua experiência e por sempre ter se mostrado solícito a</p><p>mim em público. Afinal, era meu primeiro Júri e tinha dúvidas que eu</p><p>creditava que poderiam facilmente ser elucidadas com uma boa</p><p>conversa e entendimento com este colega.</p><p>28</p><p>Tomei a liberdade de procurá-lo em seu escritório. Recebeu-me</p><p>friamente, nem mesmo convidou-me a sentar. Fiz a pergunta que</p><p>precisava saber, esperando sua interação e reciprocidade. Ele virou--</p><p>se e pediu-me para pegar um livro que ele tinha na estante, e a</p><p>resposta à minha dúvida foi: “Leia este livro”. Agradeci. Mas a</p><p>leitura daquele livro, no momento, não era exatamente o que esperava</p><p>do colega. Eu sabia que não tinha tempo nem entendimento para a</p><p>lei-tura e sua prática naquele momento crucial.</p><p>Sai do escritório claramente decepcionado. Na primeira opor-</p><p>tunidade, fui até Campinas, cidade próxima e onde havia grandes</p><p>livrarias, e adquiri, “por gosto”, o terceiro livro que citei: Teoria e</p><p>Prática do Júri, de Adriano Marrey, Alberto Silva Franco e Rui</p><p>Stoco.</p><p>Estava certo quanto a minha imaturidade para compreender</p><p>perfeitamente a teoria e sua prática no Júri. Não me ajudou muito</p><p>para amenizar minhas preocupações quanto ao caso naquele mo-</p><p>mento, mas tudo correu bem, felizmente. Hoje o considero um livro</p><p>técnico essencial para a prática. A partir desse livro, outros foram</p><p>entrando para minha lista de leitura. Um leva a outro, ou outros.</p><p>Digo a você uma coisa muito simples, porém muitas vezes igno-</p><p>rada pelos leitores, especialmente iniciantes: ao comprar seus livros</p><p>sobre Direito, observe a profissão do autor. Ele é um Advogado, um</p><p>Promotor, um Juiz, um Delegado? O assunto abordado certamente</p><p>terá o ponto de vista adquirido com suas experiências. Isso serve para</p><p>compreender a opinião desse ou daquele autor sobre certo assunto.</p><p>Por isso digo e reafirmo: “Na prática... a teoria é outra”.</p><p>29</p><p>30</p><p>6.</p><p>O ADVOGADO NÃO REQUER, REIVINDICA</p><p>O artigo 133 da nossa Constituição Federal diz: “O advogado é</p><p>indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus</p><p>atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.</p><p>No livro O Advogado não pede, Advoga, de Paulo Saraiva, o au-</p><p>tor, em seu esclarecimento, que compartilho, diz: “o Advogado é ne-</p><p>cessário à administração da Justiça, e não apenas do Judiciário”.</p><p>Diz ainda: “a Justiça é sempre um valor, um princípio a ser realizado</p><p>con-cretamente”.</p><p>E, como afirma o mestre Paulo Bonavides, “os princípios valem;</p><p>as normas vigem”. Não se admite mais, a nosso ver, que o Estatuto da</p><p>OAB consagre a palavra postulação como uma das formas de agir do</p><p>Advogado. Cremos que a atividade advocatícia não se circunscreve</p><p>mais ao ato de pedir, mas de instaurar o processo judicial.</p><p>Portanto, inexiste o direito de postular – o jus postulandi – de</p><p>vez que o Advogado ou a Advogada, no seu mister cotidiano, instau-</p><p>ram o processo judicial, por meio do que denomino Termo de Instau-</p><p>ração do Processo Judicial e não petição inicial.</p><p>Sem dúvida, nada temos que pedir ao Juiz, pois ele não nos vai</p><p>dar coisa alguma. O Advogado, o Juiz e o Promotor de Justiça com-</p><p>põe a tríade para a produção da decisão judicial; exercem funções</p><p>coordenativas e não subordinativas. Temos, sim, de provocar a pres-</p><p>tação judicial, por meio de um termo inaugural, no exercício do jus</p><p>instaurandi ou jus reivindicandi.</p><p>Quero dizer que concordo com as explanações de Paulo Saraiva.</p><p>Valendo-me da perspectiva do autor, devo dizer que sempre achei</p><p>desnecessário informar, no final da petição inicial, ou como bem ele</p><p>disse, “Termo de Instauração do Processo Judicial”, e demais mani-</p><p>festações, o número de meu registro na OAB, apenas assinando e</p><p>registrando a denominação de advogado, abaixo do meu nome.</p><p>3</p><p>1</p><p>Lembrem-se que em nenhuma manifestação, denúncia, despa-</p><p>cho ou sentença vemos o Promotor de Justiça ou o Magistrado ano-</p><p>tando seus números de registros nas suas respectivas instituições de</p><p>classe. Eles repetem o mesmo processo e anotam Promotor de Justiça</p><p>e Juiz de Direito, depois de seus nomes.</p><p>Advogados e Advogadas, atentem e avante, sempre!</p><p>32</p><p>7.</p><p>TODO ADVOGADO</p><p>CRIMINALISTA DEVE ESTUDAR</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>É   certo que o bom operador do Direito deverá se dedicar não só</p><p>ao estudo da ciência do Direito, mas também ter o devido con-tato</p><p>com as matérias que englobam outros campos, principalmente os</p><p>ligados ao ser humano, para obter a eficiência e eficácia em suas</p><p>atividades, tais como a Psicologia e a Criminologia.</p><p>Assim, a Psicologia, por exemplo, é matéria de atenção do cri-</p><p>minalista, como a Criminologia também deve ser. Obviamente que o</p><p>crime não pode ser considerado uma ação normal, especialmente</p><p>quando falamos de crimes de homicídio, ou qualquer crime contra a</p><p>integridade física das pessoas. Estes atos trazem medo e intranquili-</p><p>dade à sociedade.</p><p>Tendo em vista que na história humana desde sempre esta foi</p><p>uma grande preocupação, como é comum acontecer em outros seg-</p><p>mentos, viu-se a necessidade de se criar um mecanismo de estudo das</p><p>ações, meios utilizados e dos motivos, entre outras coisas, desses</p><p>agentes e do próprio crime. Era o nascimento da ciência da Crimi-</p><p>nologia.</p><p>A Criminologia trata da análise do perfil biopsicossocial do cri-</p><p>minoso. Pode-se determinar a causa e origem do ato criminoso, um</p><p>perfil da pessoa que cometeu o delito e de sua conduta, identificar os</p><p>fatores que impulsionam a realização do ato criminoso –</p><p>ou seja,</p><p>porque o crime aconteceu de tal modo e sob tais circunstâncias – e</p><p>até onde este crime afeta a sociedade. E, como muitos não sabem, a</p><p>Criminologia propõe também meios para prevenir o crime e também</p><p>ressocializar o criminoso, através de tratamento e readequação do</p><p>delinquente ao seu meio social.</p><p>Ambas as disciplinas, Direito e Criminologia, estão dentre as</p><p>ciências humanas, também denominadas sociais ou culturais. Lidam</p><p>33</p><p>com a diversidade das personalidades, suas complexidades e singu-</p><p>laridades. A Criminologia tem um objeto de estudo abrangente e uti-</p><p>liza uma metodologia bastante sofisticada, indo muito além, como</p><p>podemos perceber, da determinação da causa e do agente criminoso.</p><p>A Criminologia pode ser importante fonte de subsídios nas in-</p><p>vestigações policiais e durante todo o processo criminal em Juízo. Os</p><p>estudos da Criminologia ajudam a melhor entender e aplicar ins-</p><p>titutos como o do interrogatório e confissão em juízo, intervenção da</p><p>vítima como assistente da acusação, delação premiada, inciden-te de</p><p>insanidade mental, transação penal, suspensão condicional do</p><p>processo, medida cautelar de afastamento do agressor na hipótese de</p><p>violência doméstica etc.. E, mormente no segmento da execução</p><p>penal, a Criminologia é importante elemento para a concessão de</p><p>benesses previstas na lei específica.</p><p>A lei leva-nos ao subjetivismo no caso da transação penal e da</p><p>suspensão condicional do processo, onde os requisitos subjetivos pre-</p><p>vistos pela legislação são preenchidos por critérios e opiniões pura-</p><p>mente pessoais do agente ministerial. Aqui, entendo que a análise</p><p>deveria se submeter a elementos próprios que possibilitassem ou não</p><p>o enquadramento nas hipóteses legais, através da Criminologia.</p><p>Acredito que o criminalista deveria contar com um criminólogo</p><p>para subsidiar a defesa dos direitos de seus clientes, inclusive tendo o</p><p>Poder Judiciário a obrigação de ter estes profissionais nomeados para</p><p>todos os casos criminais no caso de o acusado não poder cons-tituí-lo.</p><p>Enfim, saliento a relevante contribuição que a Criminologia pode</p><p>trazer para normatizar e regular os fenômenos da criminalida-de em</p><p>todas as suas modalidades.</p><p>34</p><p>8.</p><p>A REDAÇÃO COMO INSTRUMENTO</p><p>DE TRABALHO DOS CRIMINALISTAS</p><p>Escrever bem é uma arte? Sim, é considerada uma arte, mas é</p><p>também técnica, uma habilidade que se pode, e se deve, desenvolver</p><p>através do exercício, da prática da redação e do estudo da gramática e</p><p>de estilística (além de muita leitura). É de extrema importância:</p><p>significa comunicação, sucesso profissional e pessoal, cidadania.</p><p>Na Advocacia, o uso da escrita está presente na maior parte dos</p><p>momentos, já que o princípio da oralidade, característica, por exem-</p><p>plo, do sistema Judiciário Estadunidense, não predomina na Justiça</p><p>Brasileira, ainda que possamos perceber que se tenta caminhar nesse</p><p>sentido, haja vista os juizados especiais adotaram claramente o cami-</p><p>nho da oralidade. Mas este é um outro assunto.</p><p>Para que escrever bem? No caso da Advocacia Criminal, princi-</p><p>palmente para se fazer entender bem, para ser compreendido. Espe-</p><p>cificamente no caso do defensor, podemos nos arriscar a dizer que a</p><p>importância de uma escrita correta é tão grande a ponto de significar</p><p>o sucesso ou não da defesa de seu cliente.</p><p>Fazer-se entender de maneira simples e correta pelo Juízo é, em</p><p>última instância, realizar uma boa defesa. O profissional conhece a</p><p>matéria, sabe o procedimento a ser adotado e finaliza seu trabalho</p><p>expondo, através da escrita clara, objetiva e correta, seus argumen-tos</p><p>em favor do seu cliente perante a Justiça. Esta, diante do bom</p><p>trabalho realizado, poderá, então, fazer a sua parte, e esperamos, com</p><p>termos também claros e corretos. Devemos destacar também o</p><p>vocabulário característico da área Jurídica, além das citações em</p><p>latim, apreciadas e utilizadas.</p><p>A boa e correta escrita não serve, porém, somente à estética, mas</p><p>à clareza e objetividade, à correta grafia das palavras, à lógica</p><p>expressão das ideias. E você poderá perguntar: por que eu sofro desse</p><p>35</p><p>mal, dessa defasagem, dessa dificuldade em escrever bem? Ora, saiba</p><p>que isso é um problema de um outro sistema – o educacional – histo-</p><p>ricamente comprometido, e que você não está sozinho. A culpa não é</p><p>sua.</p><p>Convidamos você, então, a vir estudar conosco para que possa</p><p>exercitar ou desenvolver sua habilidade de escrita e redação. Uma</p><p>necessidade que, esperamos, se torne um prazer, lembrando que pra-</p><p>zer aqui não está desligado do sacrifício, do sofrimento, da necessi-</p><p>dade de esforço, realizados com desejo de superação e aprendizado.</p><p>O prazer vem depois, quando você perceber que consegue ser melhor</p><p>entendido, ser um profissional mais capacitado, que realiza com mais</p><p>propriedade sua função de comunicar, correta, clara o objetivamente</p><p>suas ideias.</p><p>Suas ideias. Quais são elas? Aprenda a dizer “eu penso”, no lu-</p><p>gar de “eu acho”. Assim deve ser. Ao transmitir uma ideia, um pensa-</p><p>mento, uma opinião – ainda que oralmente – precisamos ter funda-</p><p>mentos para apoiá-los.</p><p>E onde buscar esses fundamentos? Hoje em dia, temos uma fa-</p><p>cilidade muito grande para encontrarmos ou obtermos informações.</p><p>Abundam bancas de jornais e revistas, livrarias, instituições, ONGs,</p><p>que disponibilizam a todos a oportunidade de saber sobre os assun-</p><p>tos mais variados quantos aqueles que leem sobre eles.</p><p>O advento da Internet, então, pode fazer com que nos percamos</p><p>no emaranhado de informações que coloca a nosso alcance. Livros,</p><p>artigos, opiniões, resenhas, palpites, previsões do futuro e toda sorte</p><p>de textos estão aí para nos (des)orientar. Todo cuidado é pouco. Ter</p><p>ideias e opiniões, ao sujeito responsável, implica pensar, refletir e</p><p>fundamentar seu pensamento, expondo-o de maneira ética e mais</p><p>verdadeira possível.</p><p>O operador do direito, em particular o defensor – objeto pri-</p><p>meiro de nosso trabalho – não pode se privar da reflexão, do emba-</p><p>samento jurídico nas suas manifestações na Justiça e de colocar-se do</p><p>lado de fora das situações, fazendo uso de seu olhar clínico de</p><p>defensor, especialmente, cito, diante das manifestações da mídia te-</p><p>levisiva.</p><p>36</p><p>Entendo que a postura crítica é uma característica do defensor e a</p><p>capacidade de “olhar de fora”, ou seja, colocar-se à margem da</p><p>situação, sem mistura-se a ela, sem ser parte dela, é fundamental para</p><p>o sucesso nessa profissão de advogado e, principalmente, para o</p><p>criminalista.</p><p>Nesse sentido, passo a explorar o fato de que devemos decidir se</p><p>somos “achólogos” – abundantes por aí – ou se pensamos. Nas</p><p>petições, assim como em supostos artigos que você possa vir a escre-</p><p>ver, a defesa ou a exposição de um fato devem ter fundamentos que</p><p>embasarão sua fala. Este é um outro fator para se escrever bem.</p><p>A principal fonte de embasamento para o advogado serão as leis,</p><p>a jurisprudência, teóricos, juristas, artigos científicos, podendo--se</p><p>avançar para fontes menos científicas, desde que devidamente</p><p>observadas.</p><p>Suas ideias são claras e coerentes? É difícil manter a clareza num</p><p>texto. Depende de técnica e exercício. No entanto, se elas não forem</p><p>claras, ou seja, se os interessados não conseguem entender o que você</p><p>está querendo dizer, fatalmente isso prejudicará a defesa de seu</p><p>cliente e a sua carreira profissional, além do aspecto pessoal.</p><p>Concatenar a história a ser contada, narrá-la de forma coerente,</p><p>com começo, meio e fim, é um processo que pode parecer difícil, mas</p><p>que deve ser buscado sempre. A clareza pode ser efetivada, por</p><p>exemplo, quando conseguimos definir claramente os personagens e</p><p>suas funções na história. No caso de alegações finais, por exemplo,</p><p>conseguimos definir quem é exatamente o autor, a vítima, as teste-</p><p>munhas, o que cada um disse, em que páginas, etc.</p><p>A coerência pode ser efetivada, por sua vez, quando você, por</p><p>exemplo, divide a narrativa em parágrafos pequenos, iniciando pelo</p><p>começo a narrativa e estabelecendo ligações entre eles de modo que</p><p>um leve ao entendimento do próximo, até a sua finalização.</p><p>Tentar reduzir o texto ao tamanho necessário à exposição de seus</p><p>argumentos, sem</p><p>se deixar levar por incrementá-lo demasiada-mente,</p><p>sem objetivo útil, servirá à boa educação, ao aceleramento da Justiça,</p><p>à sábia utilização do tempo (tão escasso) e à boa redação.</p><p>3</p><p>7</p><p>A correção do texto com atenção e esmero é também uma tarefa</p><p>importante. Por fim, compartilho que sem a “fiscalização” e orienta-</p><p>ção da Diretora Pedagógica do Instituto Jurídico Roberto Parentoni</p><p>(Idecrim), Débora Parentoni, este texto não seria escrito.</p><p>38</p><p>III</p><p>O TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>40</p><p>9.</p><p>OS ADVOGADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>Advogados são presença quase frequente nos filmes de</p><p>Hollywood. E não é de se estranhar, pois estes profissionais têm pa-</p><p>pel importante na sociedade norte-americana. Sei que a parte mais</p><p>apreciada de muitos destes filmes é aquela do advogado em ação no</p><p>plenário do júri.</p><p>De fato, impressiona o gestual dramático e o discurso enfático,</p><p>por vezes com leve dose de humor. Muitos jovens optam pela carreira</p><p>de advogado depois de assistir a uma destas películas. Querem, é cla-</p><p>ro, repetir na vida real a performance dos astros do cinema. Porém,</p><p>vale frisar, nem todos os advogados conseguem atuar no plenário do</p><p>júri. Aquele pequeno “tablado” não é para todos.</p><p>No entanto, o fato de um advogado não conseguir atuar no ple-</p><p>nário do júri não significa, de maneira alguma, que não seja um bom</p><p>profissional ou, então, que seja um profissional menor. É que nem to-</p><p>dos os advogados são talhados para esta função que, de fato, requer</p><p>algumas habilidades. Nem todas, porém, se aprende nos bancos da</p><p>academia. Elas pertencem ao indivíduo, ou seja, são pessoais, mas,</p><p>não raro, precisam ser aperfeiçoadas.</p><p>Nesse sentido, temos como exemplos Cícero, que era um orador</p><p>nato, tinha o dom, e Demóstenes, com sua perseverança para aper-</p><p>feiçoar a dicção e se tornar um grande orador, chegando a colocar</p><p>pequenas pedras na boca enquanto falava.</p><p>A boa oratória é sem dúvida um requisito importante, no en-</p><p>tanto, o Júri não é local para exibicionismos. É, como aprendemos</p><p>com os mestres, para exposição, discussão persuasiva e técnica. Além</p><p>disso, haverá momentos que vão requerer a improvisação. Por isso,</p><p>precisará o advogado estar preparado, por meio do estudo do proces-</p><p>so, da figura da acusação, ou seja, do Promotor, e dos aspectos que</p><p>envolvem o processo em geral. O discurso não pode ser decorado.</p><p>4</p><p>1</p><p>Ao atuar no Tribunal do Júri, o criminalista não pode abdicar de</p><p>forma alguma de um roteiro e um plano de ação. A causa deve ser</p><p>estudada e, a partir daí, planejada a defesa. Há, ainda, toda uma</p><p>técnica da abertura ao fechamento da atuação do advogado no Tri-</p><p>bunal do Povo.</p><p>Poucos são os advogados e criminalistas que atuam no Plenário</p><p>do Júri e um número ainda menor atua com qualidade. Muitos fazem</p><p>a defesa inicial nos autos do processo e, sendo o cliente pronunciado</p><p>para ser julgado pelo Tribunal do Júri, deixam a causa ou a transfere</p><p>para outro colega. Esta é uma situação delicada e que ocorre com</p><p>frequência, um ponto importante para análise. Certamente, a decisão</p><p>mais apropriada nesse caso é que o advogado que não tiver a habili-</p><p>dade para o júri deixe a causa ou se associe a um colega experiente,</p><p>já que a liberdade do cliente é que está em jogo.</p><p>No entanto, nesse ponto, toda uma estratégia foi utilizada na</p><p>defesa e esta estratégia pode não ser positiva para a defesa no Tribu-</p><p>nal do Júri, já que o advogado anterior, por não realizar o Júri, não</p><p>olha para o processo pensando na defesa desde seu início até o fim,</p><p>numa provável pronúncia, para compô-la. O advogado que assumir o</p><p>processo poderá ter dificuldades para elaborar a defesa no Júri. Ou</p><p>seja, é uma situação que pode prejudicar muito o cliente.</p><p>Existem, ainda, muitos que se aventuram no Tribunal do Júri</p><p>sem o conhecimento desses aspectos e sem a habilidade necessária,</p><p>acabando por prejudicar o cliente, muitas vezes de maneira irrever-</p><p>sível.</p><p>Afirma-se que o criminalista atinge o ápice quando atua no Tri-</p><p>bunal do Júri. Não concordo, pois entendo que o colega, seja em que</p><p>área for, atinge o ápice quando realiza satisfatoriamente seu traba-lho,</p><p>quando usa a técnica aliada à prática diária, quando consegue êxito na</p><p>defesa de seu cliente.</p><p>Especialmente falando da área criminal, sabemos o quanto lu-</p><p>tamos pelos direitos frequentemente negados aos cidadãos; quantas</p><p>vezes temos que recorrer a instâncias superiores por direitos consti-</p><p>tucionais. Um habeas corpus deferido, um recurso provido, uma cau-</p><p>sa ganha é motivo de imensa satisfação e realização.</p><p>42</p><p>10.</p><p>MEU PRIMEIRO CASO DE</p><p>DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>Foi em 1991, seis meses após ter-me habilitado como advogado,</p><p>que recebi em meu escritório a nomeação como advogado dativo para</p><p>defender o meu primeiro caso de Júri na Comarca de Itapira (SP).</p><p>Havia me inscrito recentemente como advogado dativo no con-vênio</p><p>entre a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo e a Ordem dos</p><p>Advogados do Brasil (OAB) à época. Hoje este convênio é feito com</p><p>a Defensoria Pública do Estado de São Paulo.</p><p>Era um caso muito complicado. Um jovem rapaz havia tirado a</p><p>vida do próprio pai e fora denunciado com três qualificadoras. Dian-</p><p>te do imenso desafio, tomei uma decisão. Chamei o acusado em meu</p><p>escritório e expliquei a ele a situação seguinte: eu era um iniciante na</p><p>advocacia e aquele seria meu primeiro Júri; apesar de confiar que po-</p><p>deria fazê-lo, eu poderia declinar da nomeação e um novo advogado,</p><p>quiçá mais experiente, poderia ser admitido para realizar o seu Júri.</p><p>Naquele momento, aquele rapaz já havia se convertido a uma</p><p>religião evangélica e foi nesse sentido que ele me respondeu à minha</p><p>proposição:</p><p>Se Jeová colocou o senhor na minha vida, que vá.</p><p>Certo, então, de que haveria de realizar aquele Júri, tomei uma</p><p>segunda decisão, que foi procurar orientação de um colega advogado</p><p>experiente para que elucidasse minhas dúvidas quanto às qualifica-</p><p>doras, mormente sobre o motivo torpe.</p><p>Eu realmente acreditava que o colega poderia me ajudar; além do</p><p>mais, sempre havia mostrado solicitude a mim em público. To-mei a</p><p>liberdade de procurá-lo em seu escritório e ele recebeu-me friamente.</p><p>Não fui convidado a sentar. Ainda assim, fiz o questiona-mento sobre</p><p>o que me preocupava e fiquei aguardando sua resposta.</p><p>43</p><p>Ele apontou-me um livro que tinha em sua estante, eu o peguei e ele</p><p>disse-me:</p><p>Leia este livro.</p><p>Agradeci e sai. Até hoje não sei que ele iria me emprestar o</p><p>livro. Só sei que saí com as mesmas dúvidas que entrei. O livro em</p><p>questão era Teoria e Prática do Júri, de Adriano Marrey, Alberto</p><p>Silva Franco e Rui Stoco. Sinceramente, fiquei decepcionado e não</p><p>entendi o mo-tivo da frieza e indiferença com que me tratou.</p><p>A leitura daquele livro, naquela hora, não era exatamente o que</p><p>precisava. Eu precisava de uma orientação e discussão prática so-bre</p><p>as qualificadoras do caso. No entanto, sai do escritório e assim que</p><p>tive a oportunidade, dirigi-me até a cidade de Campinas, cidade</p><p>maior e próxima, e adquiri o livro. E ao longo de minha militância na</p><p>advocacia criminal desde 1991, adquiri outros mais.</p><p>Estava correto ao constatar a minha imaturidade para compre-</p><p>ender perfeitamente a teoria e sua prática no Júri contidas no livro e</p><p>ele não colaborou muito para diminuir as minhas preocupações</p><p>quanto ao caso naquela época, mas hoje o considero um livro essen-</p><p>cial para os advogados e advogadas que militam na área criminal, em</p><p>especial no Tribunal do Júri.</p><p>Passado algum tempo, esse mesmo colega a quem eu havia re-</p><p>corrido para me ajudar no meu primeiro embate no Tribunal do Júri</p><p>estava realizando um Júri na Comarca e eu fui vê-lo defender seu</p><p>cliente, como é costume, para aprender e prestigiar os colegas de</p><p>profissão. Assim que adentrei ao recinto do Tribunal, o promotor de</p><p>Justiça falava (o mesmo que havia atuado no meu primeiro Júri),</p><p>voltou-se na mesma hora para mim e apontando-me, dirigiu-se ao</p><p>colega que fazia a defesa e disse:</p><p>Lembra-se Dr. Fulano, o senhor que se diz um</p><p>pa-ladino da Justiça, quando foi até o meu</p><p>gabinete falar sobre o Dr. Parentoni aqui</p><p>presente, dizen-do-me quem seria ele para fazer</p><p>um Júri na</p><p>Co-marca?</p><p>44</p><p>É    certo que o Dr. Fulano não desmentiu o Promotor e nunca,</p><p>depois daquilo, dirigiu-se a mim para falar a respeito. Descobri, ca-</p><p>ros, naquele momento a motivação daquela má vontade inicial desse</p><p>colega a quem eu considerava.</p><p>Quanto ao meu 1º Júri, dos 300 plenários já realizados até hoje,</p><p>apesar do caso complicado, formado de uma denúncia de homicídio</p><p>doloso e três qualificadoras, entendo que, de acordo com a verdade</p><p>processual naqueles autos, chegamos a uma condenação justa: homi-</p><p>cídio simples, com seis anos de pena.</p><p>Quero dizer, em conclusão, que o aqui relatado é um exemplo de</p><p>que não podemos nos deixar abater por nada e nem ninguém. O que</p><p>importa é como reagimos ao que nos acontece. Outra coisa, é que,</p><p>como sempre afirmo, nós, advogados e advogadas, devemos lu-tar</p><p>bravamente pelos direitos dos nossos clientes e por uma sentença</p><p>justa, e isso não quer dizer sempre absolvição.</p><p>45</p><p>46</p><p>11.</p><p>A ESCOLHA DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>Com atuação desde 1991 na advocacia criminal, no Tribunal do</p><p>Júri e mais de 300 júris concluídos, nunca encontrei uma literatu-ra</p><p>aprofundada sobre as particularidades do Conselho de Sentença,</p><p>principalmente acerca do procedimento de escolha dos jurados. Va-</p><p>mos falar aqui um pouco sobre o assunto.</p><p>A atual redação do art. 447 do CPP descreve a composição do</p><p>Tribunal do Júri. Um juiz togado será seu presidente e 25 (sorteados</p><p>de uma lista prévia) deverão comparecer ao Tribunal no dia apra-</p><p>zado. Desses 25, sete constituirão o Conselho de Sentença em cada</p><p>sessão em que houver julgamento.</p><p>A defesa e a acusação farão a escolha, dentre os vinte e cinco</p><p>presentes, de sete jurados, chamados de juízes leigos, que serão os</p><p>responsáveis pela decisão da causa, após os debates. Havendo menos</p><p>de 15 jurados presentes, a sessão do Plenário do Tribunal do Júri será</p><p>adiada.</p><p>A escolha efetiva dos sete jurados para o Conselho de Sentença</p><p>ocorre com os nomes dos 25 listados para aquela sessão depositados</p><p>em uma urna e, sorteado um nome, primeiro a defesa, e depois a</p><p>acusação, responde se aceita ou recusa tal pessoa. Defesa e acusação</p><p>têm o direito de recusar três nomes sem justificativa. E se houverem</p><p>outras com justificativa, o pedido será analisado e decidido pelo Juiz</p><p>Presidente da sessão do Tribunal do Júri.</p><p>Vale aqui uma importante observação: ainda que no CPP conste a</p><p>palavra “recusar” ao tratar da recusa do jurado sorteado, é de bom</p><p>alvitre que se diga em seu lugar a palavra “dispenso”.</p><p>Como se opera a escolha dos jurados? A escolha dos jurados não</p><p>é  feita aleatoriamente, nem pela defesa, nem pela acusação. Diferen-</p><p>temente do que ocorre nos Tribunais dos Estados Unidos, não pode-</p><p>4</p><p>7</p><p>mos aqui entrevistar os jurados e, dessa forma, avaliar suas opiniões,</p><p>gostos e reações a determinados assuntos.</p><p>No entanto, quando o jurado é sorteado pode e deve o advogado</p><p>confirmar os dados pessoais que constam na lista de jurados (como</p><p>profissão, estado civil, etc.), dirigindo-se ao cidadão diretamente, já</p><p>que nem sempre as informações referentes a esses dados estão atua-</p><p>lizadas. Isso dará robustez à sua decisão de aceitar, dispensar (entre</p><p>os três sem justificativa) ou até mesmo dispensar com justificativa.</p><p>A estratégia a ser usada consiste em analisar a lista dos 25 ju-</p><p>rados sorteados para aquela sessão: suas profissões, suas religiões,</p><p>suas afiliações partidárias, regiões onde moram, idade, sexo, a forma</p><p>de se vestir e se comportar, por exemplo. Qualquer investigação que</p><p>puder ser feita é de grande valia para se determinar o jurado mais</p><p>propício à causa e à tese que será apresentada, até mesmo a busca por</p><p>registros na polícia.</p><p>Avalia-se, por exemplo, que engenheiros e contadores são cal-</p><p>culistas e não dão margem à desvios de seus pensamentos metódicos</p><p>e que sociólogos, psicólogos, filósofos seriam mais maleáveis devido</p><p>ao seu convívio com as realidades sociais, vivências pessoais e</p><p>pensa-mentos mais abertos. Cristãos seriam benevolentes pelo</p><p>exemplo de Jesus que perdoou pecados.</p><p>Advogados são (especialmente os criminalistas), obviamente,</p><p>dispensados pela acusação. Professores, pelo papel de educador, e</p><p>funcionários públicos, mais técnicos, seriam mais rígidos. Médicos</p><p>são tidos como humanizados, mas não seria prudente numa causa em</p><p>que críticas a procedimentos médicos e periciais fossem questio-</p><p>nados.</p><p>Em questão de idade, um jurado mais jovem pode ser inexpe-</p><p>riente e impetuoso, enquanto o de meia idade ou idoso pode, por sua</p><p>experiência de vida, ser mais compreensivo. Tudo, no entanto, são</p><p>análises subjetivas e, assim, vão se fazendo avaliações, tanto pela de-</p><p>fesa, quanto pela acusação, da melhor composição para o Conselho</p><p>de Sentença, tentando moldar um júri favorável.</p><p>48</p><p>Literalmente falando, cada caso é um caso. Deve-se avaliar con-</p><p>forme a tese (ou teses) de defesa levadas ao Plenário do Júri. Um</p><p>engenheiro poderá ser útil se a defesa do advogado se basear em um</p><p>laudo ou outra questão técnica, por exemplo.</p><p>Nunca poderemos saber o que ocorre definitivamente na mente</p><p>dos homens e mulheres que estarão compondo esse Conselho. Por</p><p>isso, ainda que muito importante as avaliações dos componentes do</p><p>Júri, a convicção, preparo, técnica e experiência do advogado deve-</p><p>rão constituir a sua melhor “estratégia da defesa”.</p><p>Por fim, o Conselho de Sentença estará formado por pessoas do</p><p>povo, poderá conter pessoas com capacidade técnica ou não, mas de</p><p>forma alguma se deve subestimar sua capacidade para a função que</p><p>ali irão desempenhar, especialmente em cidades maiores, nas quais a</p><p>ocorrência de julgamentos são cotidianas. Estas pessoas adquirem</p><p>experiência, conhecimento e compreensão dos procedimentos, do</p><p>agir dos promotores e advogados. Tornam-se peritos no que fazem.</p><p>49</p><p>50</p><p>VI</p><p>REFLEXÕES</p><p>52</p><p>12.</p><p>POR QUE ACEITEI DEFENDER MARCOLA?</p><p>Em 2009 iniciei o trabalho de defesa nos processos de Júri, en-</p><p>tre outros, em que Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como</p><p>Marcola, figurava como réu.</p><p>Para a frustração de muitos, devo dizer que tal incumbência foi</p><p>dada a mim por uma dinâmica muito simples na teoria e trabalhosa na</p><p>prática: experiência (pela atuação em mais de 300 júris, muitos deles</p><p>dativo, desde 1991) e as concepções e ideais de defesa trans-mitidos</p><p>por meio de nossos cursos de pratica penal, onde as pesso-as podem</p><p>me ver falando com sinceridade sobre essas experiências, concepções</p><p>e ideais.</p><p>Para representá-lo, cumpri a tarefa da defesa criminal como fa-</p><p>ria, e faço, a qualquer cliente: ingressei nos autos, analisei as condi-</p><p>ções em que se encontrava o processo, ou seja, sua história (fatos), as</p><p>provas; analisei as atitudes da acusação, as do Juízo, e entrei com a</p><p>defesa DOS DIREITOS que lhe cabiam mediante o processo, in-</p><p>clusive com vários recursos que foram necessários para garantir tais</p><p>DIREITOS.</p><p>Em um dos casos, em que Marcola foi acusado de ser mandan-te</p><p>da morte de um Juiz de Direito, acompanhado pela imprensa e</p><p>conhecido nacionalmente, em minutos tive que tomar a decisão de</p><p>abandonar a sessão do Júri, pois DIREITOS do meu cliente foram</p><p>descumpridos.</p><p>O meu dever de defender esses DIREITOS, exigia que eu assim</p><p>procedesse. Inicialmente, tive que me apropriar do conteúdo de 20</p><p>volumes do processo em poucos dias; deram-me 30 minutos para</p><p>conversar com Marcola na prisão. Impetrei vários recursos para exer-</p><p>cer minhas (nossas) prerrogativas.</p><p>Aos que desconhecem, não há previsão de tempo para conversa</p><p>entre advogado e cliente.</p><p>53</p><p>Abandonei o Júri e em nova data consegui dois votos a favor do</p><p>meu cliente, sendo que ainda hoje afirmo a fraqueza das provas</p><p>contra ele admitidas, estando o processo em recurso. Em alguns pro-</p><p>cessos de júri que Marcola responde, a tese da defesa foi acatada,</p><p>sendo impronunciado.</p><p>Quero dizer que nunca nutri nenhuma preocupação quanto a esta</p><p>defesa ou qualquer outra e explico, a título de compartilhamen-to aos</p><p>jovens advogados e antigos, que a fiz cumprindo o meu ofício de</p><p>criminalista, com consciência, habilidade e responsabilidade, com o</p><p>pensamento precípuo de que defendo DIREITOS.</p><p>Ademais,</p><p>parto do pressuposto de que a acusação zela, da mes-</p><p>ma forma, ou seja, com consciência, habilidade e responsabilidade,</p><p>pelo trabalho de provar a culpa do acusado, seja ele quem for.</p><p>Na época em que assumi a defesa de Marcola, ele era considera-</p><p>do, senão o maior, um dos maiores infratores do Brasil. Hoje vemos</p><p>sendo processados e presos políticos, como exemplo, Sérgio Cabral,</p><p>ex-Governador do Rio de Janeiro, e empresários, como Eike Batista,</p><p>que já foi considerado o homem mais rico do Brasil.</p><p>Não preciso dizer muito como cidadão, mas como advogado cri-</p><p>minalista militante desde 1991 eu e os defensores dessas pessoas, se</p><p>me permitem, temos o dever e a obrigação de garantir um julga-</p><p>mento justo, dentro da lei. Ninguém se engane achando que sem a</p><p>presença do Advogado ou Advogada se pode fazer justiça.</p><p>A quem se prestou a estudar Direito e escolheu ser criminalista,</p><p>não cabe conflitos se compreende que a sua tarefa é defender DI-</p><p>REITOS. Se houver, não assuma a causa. O cliente tem direitos, e se</p><p>estes estão sendo violados, seu trabalho é resgatá-los e fazer com que</p><p>sejam respeitados.</p><p>Assim somos Advogados e Advogadas, fortalecemos o estado</p><p>democrático de Direito e a Justiça no nosso querido Brasil.</p><p>54</p><p>13.</p><p>O QUE APRENDI EM 26</p><p>ANOS DE ADVOCACIA</p><p>CRIMINAL</p><p>Num presente agora distante, há 26 anos, em 1991, iniciava-se a</p><p>minha militância na advocacia. Antes, porém, em 1990, já forma-do,</p><p>para que eu estivesse legitimidade para assumir essa tarefa, pre-cisei</p><p>tomar a difícil decisão de me demitir da atividade que exercia na</p><p>Prefeitura, onde era Fiscal de Rendas, incompatível com o exercí-cio</p><p>profissional.</p><p>Na época, aguardei por um tempo minha transferência para o</p><p>departamento jurídico e, vendo que aquilo não aconteceria, esperei</p><p>ser dispensado de minhas funções, tendo direito às verbas rescisórias,</p><p>que muito me ajudariam no início da militância na advocacia, mas</p><p>também foi em vão. Restou-me a “cara e a coragem”, como dizem.</p><p>Iniciei há 26 anos, em 1991, abrindo sozinho um pequeno es-</p><p>critório no interior de São Paulo, sem telefone (objeto caro à época),</p><p>fato que rendia piadinhas na sala da OAB, onde um colega insistia</p><p>em me perguntar, em voz alta, como ele poderia fazer para entrar em</p><p>contato comigo. Ora, respondia que ele poderia facilmente ligar na</p><p>farmácia, minha vizinha, que eles, de forma solidária, me chama-</p><p>riam.</p><p>Há 26 anos, para iniciar na advocacia e adquirir experiência,</p><p>inscrevi-me num convênio que a OAB mantinha com a Procuradoria</p><p>(hoje é feito com a Defensoria Pública) para atendimento de pessoas</p><p>hipossuficientes, como advogado dativo. Quando adquiri uma má-</p><p>quina de escrever elétrica, foi uma realização. Depois, quando quase</p><p>todos já tinham um computador, o famoso PC, eu continuei por um</p><p>bom tempo utilizando minha máquina elétrica até ter condições de</p><p>comprar um.</p><p>Outro luxo eram as RT`s (Revista dos Tribunais). Elas conti-</p><p>nham as jurisprudências. Era “bonito” tê-las na estante do escritório.</p><p>55</p><p>Todo tipo de pesquisa era trabalhosa. A aquisição de livros também</p><p>era mais complicada, especialmente para nós do interior. Recorría-</p><p>mos às cidades maiores, como Campinas ou São Paulo ou esperáva-</p><p>mos um vendedor de livros passar em nossa porta.</p><p>Como é de praxe, comecei advogando em várias áreas, especial-</p><p>mente porque, em início de atividade e numa cidade pequena, torna--</p><p>se mais difícil especificar uma área de atendimento logo de início. No</p><p>entanto, desde o princípio, antes mesmo que eu me convencesse</p><p>disso, colegas e outras pessoas já me viam como um criminalista.</p><p>Um fato talvez tenha colaborado para isso: com seis meses de</p><p>formado, fui nomeado como advogado dativo para defender, no Ple-</p><p>nário do Júri, um rapaz que havia matado o próprio pai, e assim o fiz,</p><p>como já narrado anteriormente.</p><p>Depois de alguns anos advogando no interior, um pouquinho</p><p>mais experiente, tomei a decisão, difícil, de buscar o sonho de ad-</p><p>vogar em São Paulo, cidade onde nasci, onde estou até hoje. Em um</p><p>certo momento, assumi o fato de que era criminalista. Outra decisão</p><p>difícil, mas acertada. É o que eu sou.</p><p>Sem condição financeira confortável, tradição familiar ou uma</p><p>formação adquirida em uma tradicional faculdade de Direito, estive-</p><p>mos, lá no início, e estamos na frente de batalha. Se posso dizer algo</p><p>aos que cursam Direito, mediante minha experiência, é que os fatos</p><p>que me acompanharam dificultam, mas não impedem o sucesso e a</p><p>vitória.</p><p>Faça estágios, coisa que não fiz. Não aconselho seguir a minha</p><p>coragem e iniciar advogando sozinho. Se tiver a oportunidade, ins-</p><p>creva-se em um convênio como o que havia na minha época. Espe-</p><p>cialize-se em uma área, a que mais goste, e assuma que o escritório, e</p><p>não você, atende a várias áreas. A aquisição de um telefone e com-</p><p>putador hoje é mais fácil.</p><p>As pesquisas são infinitamente mais fáceis. Um fato quase ina-</p><p>creditável é: eu sempre sobrevivi e vivi da advocacia; se você</p><p>resolver fazer dela um “puxadinho” de uma outra atividade, não vai</p><p>dar certo.</p><p>56</p><p>Infelizmente abundam faculdades de Direito como negócio lucrativo</p><p>e que não oferecem uma formação adequada.</p><p>Por isso, esses formandos terão que se esforçar muito por si mes-</p><p>mo para superar as faltas, mas não podem desistir se o plano for ser</p><p>um advogado ou advogada. Sempre teremos desafios. Desejo que</p><p>você possa superar todos e ser um ótimo advogado ou advogada.</p><p>5</p><p>7</p><p>58</p><p>V</p><p>APÊNDICES</p><p>60</p><p>14.</p><p>OS 50 LIVROS QUE TODO ADVOGADO DEVE</p><p>LER PARA ATUAR NO TRIBUNAL DO</p><p>JÚRI</p><p>Com militância na Advocacia Criminal e no Tribunal do Júri des-</p><p>de 1991, tendo participado de mais de 300 Plenários, destaco alguns</p><p>títulos sobre o assunto, que possuo e recomendo a leitura:</p><p>1)  A Arte de Acusar, por JB Cordeiro Guerra</p><p>2)  A Beca Surrada, por Alfredo Tranjan</p><p>3)  A Defesa em Ação, por Laércio Pellegrino</p><p>4)  A Defesa Tem a Palavra, por Evandro Lins e Silva</p><p>5)  A Espada de Dâmocles, por Valda O. Fagundes</p><p>6)  A Instituição do Júri, por Frederico Marques</p><p>7)  A Lógica das Provas em Matéria Criminal, por Malatesta</p><p>8)  A Matemática nos Tribunais, por Schneps e Colmez</p><p>9)  A Mentira e o Delinquente, por Sousa Neto</p><p>10)   A Revolução das Palavras, por Pedro Paulo Filho</p><p>11)   Advocacia Criminal, por Manoel Pedro Pimentel</p><p>12)   Agenda Literária para Júri, por Lilia A. Pereira da Silva</p><p>13)   As Alterações no Processo Penal, por Roberto Parentoni</p><p>14)   As Misérias do Processo Penal, por Carnelutti</p><p>15)   Como Julgar, Como Defender, Como Acusar, por Roberto</p><p>6</p><p>1</p><p>Lyra</p><p>16)  Crimes e Criminosos Celebres, por Raimundo de Menezes</p><p>17)   Defesas Penais, por Romeiro Neto</p><p>18)   Defesas que Fiz no Júri, por Dante Delmanto</p><p>19)   Discurso do Método/Meditações, por Descartes</p><p>20)   Discursos de Acusação, por Henrique Ferri</p><p>21)   Discursos de Defesa, por Henrique Ferri</p><p>22)   Do Espírito das Leis, por Montesquieu</p><p>23)   Dos Delitos e das Penas, por Beccaria</p><p>24)   Ensaios sobre a Eloquência Judiciária, por Maurice Gar-</p><p>çon</p><p>25)   Famosos Rábulas no Direito Brasileiro, por Pedro Paulo</p><p>Filho</p><p>26)    Grandes Advogados, Grandes Julgamentos, por Pedro</p><p>Paulo Filho</p><p>27)   Grandezas e Misérias do Júri, por José Aleixo Irmão</p><p>28)   Júri, por Firmino Whitaker</p><p>29)    Júri: As Linguagens Praticadas no Plenário, por Thales</p><p>Nilo Trein</p><p>30)   No Plenário do Júri, por João Meireles Câmara</p><p>31)    O Advogado e a Defesa Oral, por Vitorino Prata Castelo</p><p>Branco</p><p>32)   O Advogado e a Moral, por Maurice Garçon</p><p>62</p><p>33)   O Advogado não pede, Advoga, por Paulo Lopes Saraiva</p><p>34)   O Advogado no Tribunal do Júri, por Vitorino Prata Cas-</p><p>telo Branco</p><p>35)   O Delito de Matar, por Olavo Oliveira</p><p>36)   O Dever do Advogado, por Rui Barbosa</p><p>37)   O Direito de Calar, por Serrano Neves</p><p>38)   O Direito de Defesa, por LA Medica</p><p>39)   O Júri sob todos os aspectos, por Roberto Lyra</p><p>40)   O Salão dos Passos Perdidos, por Evandro Lins e Silva</p><p>41)   Orações, por Marco Túlio Cícero</p><p>42)   Os Grandes Processos do Júri, por Carlos de Araújo Lima</p><p>43)   Prática da Advocacia Criminal, por Roberto Parentoni</p><p>44)   Princípios de Direito Criminal: O Criminoso</p><p>e o Crime,</p><p>por Ferri</p><p>45)   Psicologia Judiciária, por Enrico Altavilla</p><p>46)   Reminiscências de um Rábula Criminalista, por Evaristo</p><p>de Morais</p><p>47)   Sermões: A Arte da Retórica, por Padre Antônio Vieira</p><p>48)   Tática e Técnica da Defesa Criminal, por Serrano Neves</p><p>49)   Tratado da Prova em Matéria Criminal, por Mittermaier</p><p>50)   Tratado de Argumentação: a nova retórica, por Perelman</p><p>e Olbrechts-Tyteca</p><p>EXTRA: Bíblia</p><p>63</p><p>64</p><p>15.</p><p>AS 50 TESES DEFENSIVAS QUE TODO</p><p>ADVOGADO CRIMINALISTA DEVE</p><p>CONHECER</p><p>Quantas e quantas vezes a assistência se pergunta: qual vai ser a</p><p>tese da defesa? O que é que vai dizer o criminalista? Isso depen-de da</p><p>imaginação criadora do advogado, alimentada pelos fatos da causa,</p><p>processuais e extraprocessuais. Teses defensivas novas não são</p><p>apresentadas todos os dias, mas todo processo apresenta sempre algo</p><p>que pode ser explorado pela defesa. Abaixo relaciono algumas teses</p><p>defensivas:</p><p>1) Falta de tipicidade;</p><p>2)  Causas de exclusão da antijuridicidade, da culpabilidade ou de</p><p>isenção de pena;</p><p>3) Desclassificação para crime de natureza diversa;</p><p>4) Causas de extinção da punibilidade;</p><p>5)  Motivos de relevante valor moral e social que impulsionaram</p><p>o agente;</p><p>6) Coação irresistível da sociedade;</p><p>7) Tentativa impossível;</p><p>8) Arrependimento eficaz;</p><p>9) Preterintencionalidade;</p><p>10)  Inimputabilidade do agente;</p><p>11)  Inépcia da denúncia, das provas e da perícia;</p><p>12)  Falta de confirmação dos depoimentos em juízo;</p><p>65</p><p>13)  Palavra de corréu como única base para a acusação;</p><p>14)  Confissão forçada;</p><p>15)  Falta de exame adequado de corpo de delito;</p><p>16)    Interesses familiares, políticos, sociais ou outros, que pre-</p><p>tendem fazer da condenação injusta um exemplo de falso moralis-mo,</p><p>ou uma justificação das omissões de autoridade ou da própria</p><p>sociedade;</p><p>17)  Circunstâncias atenuantes;</p><p>18)  Preconceitos explorados pela imprensa contra o réu;</p><p>19)  Concurso de normas e crime continuado;</p><p>20)  Falta de segurança para uma defesa livre e tortura;</p><p>21)  Desaforamento;</p><p>22)   Incompetência, suspeição e impedimento (do juiz e do Mi-</p><p>nistério Público);</p><p>23)  Nulidades e questões prejudiciais;</p><p>24)  Caso fortuito ou força maior;</p><p>25)  Contradições entre as provas;</p><p>26)  Denegação de provas requeridas ou oficiais;</p><p>27)  Demora do julgamento como forma agônica de punição su-</p><p>ficiente para o acusado;</p><p>28)  Existência de um ilícito apenas de natureza civil;</p><p>29)  Negativa de autoria e falta de provas;</p><p>30)  Desejo de participar de crime menos grave;</p><p>66</p><p>31)  Participação secundária ou irrelevante do agente;</p><p>32)  Inexistência do fato, de dolo ou de culpa;</p><p>33)  Formação religiosa, moral, filosófica ou política do agente;</p><p>34)  Influência da multidão;</p><p>35)  Fanatismo de toda ordem, emoção e paixão;</p><p>36)  Embriaguez fortuita;</p><p>37)  Não exigibilidade de outra conduta;</p><p>38)    Induzimento habilidoso exercido sobre o acusado por pes-</p><p>soas ausentes do processo, e que seriam os verdadeiros autores do</p><p>crime;</p><p>39)  Erro de fato e erro de direito;</p><p>40)  Boa-fé e exemplo de superiores;</p><p>41)  Putatividade;</p><p>42)   Falta de consciência do ilícito e incapacidade moral para</p><p>delinquir;</p><p>43)    Impunidade generalizada de pessoas que cometeram os</p><p>mesmos atos;</p><p>44)  Falta de curador, quando for o caso;</p><p>45)  Falta de cuidado na redação das respostas do acusado;</p><p>46)  Falta de intérprete em se tratando de acusado estrangeiro;</p><p>47)  Conduta da vítima, seu caráter, tipo de vida e culpa da pró-</p><p>pria vítima;</p><p>48)  Erro culposo e erro determinado por terceiro;</p><p>6</p><p>7</p><p>49)  Culpa em vez de dolo;</p><p>50)  Pequeno valor do produto do crime.</p><p>É    inesgotável o campo dos argumentos que a defesa pode usar.</p><p>A defesa tem uma vantagem, pelo menos em tese, imensa sobre a</p><p>acusação: esta tem de se limitar rigorosamente aos termos da denún-</p><p>cia, ao passo que aquela não tem limite algum, a não ser o grau de</p><p>compatibilidade dos argumentos entre si, robustecidos pela prova ou</p><p>falta de prova dos autos.</p><p>Por outro lado, a acusação leva uma vantagem muito grande: é</p><p>sempre mais fácil acusar do que defender. Para uma acusação basta</p><p>um fato, uma autoria e uma prova. Para a defesa é necessária uma</p><p>justificação. Justificação que nem sempre é de um ato à luz da lei,</p><p>mas muitas vezes de um destino à luz da vida.</p><p>68</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Este é meu terceiro livro. Ele se junta agora aos outros dois que</p><p>escrevi anteriormente: “Prática da Advocacia Criminal” (2007) e</p><p>“Al-terações no Processo Penal” (2008).</p><p>Neste livro foram reunidos vários textos que escrevi e que foram</p><p>publicados anteriormente em diversas mídias, e tratam de algumas</p><p>das minhas experiências de vida e nesses 26 anos de militância na</p><p>Advocacia Criminal, inclusive no Tribunal do Júri, desde 1991. Além</p><p>disso, são assuntos tratados no nosso curso de Prática da Advocacia</p><p>Criminal que ministramos regularmente e para o qual convidamos</p><p>todos a participar.</p><p>Além de tudo que foi neste livro considerado, aos iniciantes nes-</p><p>sa seara do Direito e a todos que não militam na área, reafirmo,</p><p>incansavelmente, que na prática, a teoria é outra. Por isso, considero</p><p>que estudar muito para concursos públicos, não passar e pensar “se</p><p>não conseguir, vou advogar” não é uma boa estratégia.</p><p>Espero que tenha sido uma boa leitura, pois o sentimento é o de</p><p>compartilhar essas experiências, que remetem à prática da advo-</p><p>cacia, ao dia a dia do advogado, em especial do criminalista, quem</p><p>sabe colaborando e ajudando a muitos que escolheram esta difícil,</p><p>mas dignificante, profissão.</p><p>Estamos vivendo momentos complicados no Brasil e, para nós</p><p>Advogados e Advogadas, estes são tempos de esforços redobrados</p><p>pela manutenção da Ordem, do Estado Democrático de Direito, da</p><p>Constituição Federal, da Democracia.</p><p>Não podemos esmorecer nunca. Os desafios são muitos, sempre.</p><p>Mas encontramos na Fé, na família, nos amigos, a força necessária</p><p>para vencer.</p><p>69</p><p>Agradeço à minha esposa, Débora, minha colaboradora sempre,</p><p>aos meus filhos Luca e Bruno, estudantes de Direito, aos Advogados</p><p>e Advogadas que de uma forma direta ou indireta trabalham comigo e</p><p>ao Canal Ciências Criminais, na pessoa do Bernardo, pela publicação</p><p>desta obra.</p><p>Essas são minhas considerações finais, que nunca são finais, en-</p><p>tretanto.</p><p>Convido você a conhecer nosso site, se ainda não conhece:</p><p>www.parentoni.com . Lá encontrará todos os meus contatos telefôni-</p><p>cos e de mídia social. Quem quiser entrar em contato comigo, esteja à</p><p>vontade.</p><p>Fraternal abraço,</p><p>Roberto Parentoni</p><p>70</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>I A ARTE DE DEFENDER</p><p>1. O QUE É SER ADVOGADO CRIMINALISTA?</p><p>2. EM DEFESA DA ADVOCACIA CRIMINAL</p><p>3. A DIFERENÇA ENTRE O ADVOGADO MILITANTE E O NÃO MILITANTE</p><p>4. A DEFESA CRIMINAL E OS EMBARGOS AURICULARES</p><p>II A PREPARAÇÃO DOS CRIMINALISTAS</p><p>5. OS 3 PRIMEIROS LIVROS QUE ADQUIRI NA ÁREA CRIMINAL</p><p>6. O ADVOGADO NÃO REQUER, REIVINDICA</p><p>7. TODO ADVOGADO CRIMINALISTA DEVE ESTUDAR CRIMINOLOGIA</p><p>8. A REDAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO DOS CRIMINALISTAS</p><p>III O TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>9. OS ADVOGADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>10. MEU PRIMEIRO CASO DE DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>11. A ESCOLHA DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>VI REFLEXÕES</p><p>12. POR QUE ACEITEI DEFENDER MARCOLA?</p><p>13. O QUE APRENDI EM 26 ANOS DE ADVOCACIA CRIMINAL</p><p>V APÊNDICES</p><p>14. OS 50 LIVROS QUE TODO ADVOGADO DEVE LER PARA ATUAR NO TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>15. AS 50 TESES DEFENSIVAS QUE TODO ADVOGADO CRIMINALISTA DEVE CONHECER</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p>

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