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<p>Neste livro excelente, Barbara Duguid combina seu</p><p>amor pela história da igreja, seu entusiasmo por</p><p>John Newton, suas inteligentes percepções como</p><p>esposa de pastor e, acima de tudo, seu amor por</p><p>Cristo e sua igreja. Nesta obra, o leitor encontrará</p><p>percepções acuradas sobre a psicologia do pecado e</p><p>conselhos práticos e saudáveis a respeito de como a</p><p>Bíblia aborda as rebeliões comuns do dia a dia da</p><p>existência humana. O coração é, de fato, a mais</p><p>inquieta de todas as coisas. Barbara Duguid nos guia</p><p>habilmente para onde podemos encontrar descanso:</p><p>somente em Cristo.</p><p>— Carl R. Trueman, professor de História</p><p>da Igreja no Westminster Theological</p><p>Seminary, na Filadélfia, e pastor da</p><p>Cornerstone Presbyterian Church, em</p><p>Ambler, Pensilvânia.</p><p>Considerem isto: ‘E se crescer na graça tiver mais a</p><p>ver com humildade, dependência e exaltação a</p><p>Cristo do que com derrotar o pecado?’ Não, isto não</p><p>é heresia, é um cuidado pastoral arrojado e</p><p>amoroso. Se você está convicto em seu desejo de</p><p>seguir Jesus, porém se pergunta por que ainda se</p><p>sente tão pecador, este é o livro perfeito para você.</p><p>— Edward T. Welch, membro do corpo</p><p>docente da Christian Counseling and</p><p>Education Foundation</p><p>John Newton foi um pastor muito bom porque</p><p>compreendeu muito bem o pecado, o sofrimento e a</p><p>maravilhosa graça de Jesus Cristo. Ouvir daqueles</p><p>que estão familiarizados com seu trabalho,</p><p>resumindo-o à luz de sua própria jornada na fé, é de</p><p>grande ajuda. Barbara Duguid fez à igreja de hoje</p><p>um grande serviço ao compartilhar conosco sua</p><p>visão precisa acerca do entendimento que Newton</p><p>tinha da alma cristã. Banqueteie-se; seja encorajado</p><p>e edificado.</p><p>— Eric Johnson, professor de Cuidado</p><p>Pastoral no Southern Baptist Theological</p><p>Seminary, em Louisville, Kentucky.</p><p>Se, pelo menos, houvesse algum segredo — uma</p><p>estratégia, uma resposta, uma verdade, uma solução</p><p>— para findar toda a batalha desagradável da vida!</p><p>Há, porém, um jeito de viver que nos ensina a lutar</p><p>contra os erros em nosso interior e ao nosso redor.</p><p>Barbara Duguid luta bem. Ela aprendeu com um</p><p>outro antigo guerreiro, John Newton. Ambos</p><p>aprenderam muito bem com o Homem de dores e</p><p>graça.</p><p>— David Powlison, membro do corpo</p><p>docente da Christian Counseling and</p><p>Education Foundation</p><p>Barbara é qualificada para lhe trazer uma mensagem</p><p>sobre a graça extravagante, porque ela mesma bebeu</p><p>abundantemente dessa graça. Ela sabe que, como</p><p>John Newton, é uma grande pecadora que possui</p><p>um grande Salvador. E é essa mensagem da</p><p>misericórdia de Deus a pecadores indignos que irá</p><p>encorajá-lo a viver à luz da mais doce boa-nova já</p><p>ouvida: “Ele morreu em favor de um miserável</p><p>como eu!”</p><p>— Elyse Fitzpatrick, autora de Vencendo</p><p>Medos e Ansiedades e coautora de Pais</p><p>Fracos, Deus Forte.</p><p>Entretecendo as encantadoras percepções de John</p><p>Newton com sua própria experiência e a de muitas</p><p>pessoas que ela aconselhou ao longo dos anos,</p><p>Barbara conta, com profunda sabedoria, a história</p><p>da incansável compaixão de Deus para com</p><p>pecadores como nós. Quão maravilhosa é a graça?</p><p>Assim como Newton, Barbara aprendeu bem, com</p><p>o maior de todos os contadores de histórias, a</p><p>resposta para essa pergunta.</p><p>— Michael S. Horton, professor de Teologia</p><p>Sistemática e Apologética no Westminster</p><p>Seminary, na Califórnia. Autor de Bom</p><p>Demais Para Ser Verdade e Simplesmente</p><p>Crente.</p><p>Graça Extravagante: A Glória de Deus Revelada em Nossa</p><p>Fraqueza Traduzido do original em inglês: Extravagant Grace:</p><p>God’s Glory Displayed in Our Weakness Copyright ©2013 por</p><p>Barbara Duguid ■</p><p>Publicado por P&R Publishing Company, P.O. Box 817,</p><p>Phillipsburg, New Jersey 08865, USA Copyright ©2015 Editora</p><p>Fiel Primeira Edição em Português: 2016</p><p>Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel</p><p>da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro</p><p>por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo</p><p>em breves citações, com indicação da fonte.</p><p>■</p><p>Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho</p><p>Coordenação Editorial: Renata do Espírito Santo Tradução:</p><p>Translíteris Revisão: Translíteris, Francisco Wellingtom Ferreira</p><p>Diagramação: Wirley Corrêa - Layout Capa: Rubner Durais</p><p>Ebook: Yuri Freire</p><p>ISBN: 978-85-8132-308-4</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)</p><p>D868g Duguid, Barbara R.</p><p>Graça extravagante : a glória de Deus revelada em</p><p>nossa fraqueza / Barbara Duguid – São José dos</p><p>Campos, SP : Fiel, 2016.</p><p>2Mb ; ePUB</p><p>Inclui referências bibliográficas.</p><p>Tradução de: Extravagant grace.</p><p>ISBN 978-85-8132-308-4</p><p>1. Newton, John, 1725-1807. 2. Graça (Teologia).</p><p>3. Vida cristã. 4. Fracasso (Psicologia) – Aspectos</p><p>religiosos – Cristianismo. I. Título.</p><p>CDD: 234/.1</p><p>Caixa Postal, 1601</p><p>CEP 12230-971</p><p>São José dos Campos-SP</p><p>PABX.: (12) 3919-9999</p><p>www.editorafiel.com.br</p><p>http://www.editorafiel.com.br/</p><p>Para Wayne,</p><p>meu querido e amado filho,</p><p>que ama Newton, precisa de Jesus tanto quanto eu</p><p>e me persuadiu a escrever este livro.</p><p>Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de</p><p>tropeços e para vos apresentar com exultação,</p><p>imaculados diante da sua glória, ao único Deus,</p><p>nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor</p><p>nosso, glória, majestade, império e soberania,</p><p>antes de todas as eras, e agora, e por todos os</p><p>séculos. Amém!</p><p>JUDAS 1.24-25</p><p>sumário</p><p>Prefácio</p><p>Agradecimentos</p><p>Apresentação</p><p>1. Bem-vindo ao seu coração</p><p>2. Crianças em Cristo</p><p>3. Amadurecendo na fé</p><p>4. Maduros na fé</p><p>5. A ilusão da Disney</p><p>6. Santos e pecadores</p><p>7. Descobrindo a sua depravação</p><p>8. Graça para cair</p><p>9. Permanecendo em Cristo somente</p><p>10. Pecadores que sofrem</p><p>11. Amor constrangedor</p><p>12. As jubilosas implicações da maravilhosa graça</p><p>13. Daqui à eternidade</p><p>prefácio</p><p>Este livro esteve em preparo por muito tempo. Suas</p><p>raízes foram lançadas na época de nosso seminário</p><p>na Filadélfia, quando Tim Keller recomendou à</p><p>Barbara a leitura de The Letters of John Newton (As</p><p>Cartas de John Newton) como recurso para</p><p>entender a vida cristã. Especificamente, a</p><p>preocupação de Barbara era o fato de que as áreas</p><p>de sua vida em que buscava lutar com mais vigor</p><p>contra o pecado eram precisamente as áreas em que</p><p>parecia estar obtendo menos progresso. Desde</p><p>então, o afável entendimento pastoral de John</p><p>Newton sobre a santificação, centrado na graça de</p><p>Deus, teve um impacto tremendo e crescente no</p><p>modo de pensar de Barbara (e no meu também).</p><p>Ainda assim, este assunto nunca foi um campo de</p><p>investigação intelectual e abstrato para Barbara.</p><p>Como uma das pessoas mais honestas que conheço,</p><p>ela tem se esforçado na aplicação prática destas</p><p>verdades às suas batalhas contra o pecado que habita</p><p>o seu interior, como você lerá nestas páginas. Além</p><p>disso, quando cresceu em seu entendimento,</p><p>Barbara foi capaz de compartilhar suas percepções</p><p>com outras pessoas no gabinete de aconselhamento,</p><p>em pequenos grupos de estudo bíblico e em retiros</p><p>da igreja. Muitos têm sido abençoados por meio de</p><p>seu ministério com um novo entendimento sobre a</p><p>dinâmica da graça de Deus que opera em meio aos</p><p>nossos pecados.</p><p>Para a maioria dos cristãos, o fato de que o</p><p>evangelho da graça de Deus é uma boa notícia e de</p><p>que precisamos crescer em nossa santidade não é</p><p>algo novo. O desafio é conciliar estas duas verdades</p><p>de maneira bíblica. Alguns enfatizam tanto a graça</p><p>de Deus, que pessoas perdem de vista o esforço em</p><p>direção ao alvo da santidade; enquanto outros</p><p>colocam tanta ênfase na necessidade de santidade</p><p>que, para aqueles que lutam com seus pecados,</p><p>parece difícil o cristianismo ser boas-novas. Para</p><p>muitos, nosso entendimento de como Deus pensa a</p><p>nosso respeito é baseado naquele antigo hino</p><p>infantil:</p><p>Jesus me ama quando sou bom, quando faço as</p><p>coisas que devo.</p><p>Jesus me ama quando sou mau, embora isso o</p><p>entristeça muito.</p><p>Como resultado, somos levados a crer que o favor</p><p>de Deus está sobre nós quando obedecemos, mas,</p><p>quando desobedecemos (o que, para a maioria de</p><p>nós, ocorre em grande parte do tempo), Deus fica</p><p>profundamente decepcionado conosco. Isso leva</p><p>muitos a lutarem com uma sensação predominante</p><p>de fracasso e culpa</p><p>— por sua conta e risco! Isso significa dizer que</p><p>neste exato momento você se encontra exatamente</p><p>tão santo e tão maduro em sua fé quanto o próprio</p><p>Deus deseja que você seja hoje. Ele não pode estar</p><p>decepcionado ou surpreso com você, se ele mesmo</p><p>está controlando todo o seu processo de crescimento</p><p>desde o início até o fim. Mais do que isso, todas as</p><p>pessoas que você ama e deseja que fossem mais</p><p>maduras também estão, precisamente, onde Deus</p><p>deseja que elas estejam neste exato momento. Ele</p><p>sempre age da maneira que lhe apraz, e você não</p><p>pode impedi-lo.</p><p>Louve a Deus por essa boa notícia! Ao contrário</p><p>do senso comum, nosso crescimento espiritual não</p><p>depende de nós ou do crescimento espiritual das</p><p>pessoas ao nosso redor. Esse entendimento errado</p><p>pode nos levar a muita ansiedade e até mesmo a um</p><p>comportamento abusivo, se tentarmos forçar as</p><p>pessoas a entenderem as verdades que elas não estão</p><p>prontas para ouvir. Precisamos ouvir</p><p>cuidadosamente as histórias das pessoas e procurar</p><p>discernir o que Deus está e não está fazendo nelas,</p><p>ao invés de tentarmos forçá-las a alcançar uma</p><p>maturidade instantânea.</p><p>Quando procuro ensinar princípios bíblicos a um</p><p>grupo de pessoas, inevitavelmente algumas se</p><p>agarram à nova verdade e parecem chegar à vida,</p><p>enquanto outras continuam olhando para mim com</p><p>descrença e dúvidas estampadas em cada aspecto.</p><p>Isso não se deve ao fato de algumas serem</p><p>inteligentes, enquanto outras são limitadas</p><p>intelectualmente. Também não é porque algumas</p><p>são mais dispostas a aprender e a se submeter a</p><p>Deus do que outras. Somos todos ovelhas teimosas</p><p>e rebeldes que insistem em exigir as coisas do nosso</p><p>modo, mesmo depois de termos sido salvos. Antes,</p><p>é porque Deus age de forma diferente em cada um</p><p>de nós, trabalhando de acordo com a programação</p><p>dele e não a minha — ou a deles. Cada pessoa é</p><p>igualmente dependente do Espírito Santo para ter</p><p>discernimento, assim como para obter o desejo</p><p>específico de obedecer a Deus e a capacidade de</p><p>efetivamente fazer isso. Não conseguimos mudar o</p><p>nosso próprio coração, mas também não</p><p>conseguimos resistir à mudança que Deus está</p><p>determinado a cumprir em nós.</p><p>Eu sempre tive o maravilhoso privilégio de ouvir,</p><p>anos mais tarde, as mulheres que um dia acharam</p><p>que eu era louca. Elas falam algo assim: “Eu ouvi</p><p>você dizer isso no estudo bíblico há dois anos e,</p><p>naquela época, não fazia nenhum sentido para mim.</p><p>Pensei que você fosse tola ou estivesse enganada,</p><p>mas agora entendo o que você estava dizendo, pois</p><p>Deus me revelou isso recentemente”. Embora eu</p><p>seja frequentemente tentada a me sentir punida por</p><p>minha incapacidade de ensinar nesses momentos, sei</p><p>que outro princípio de Deus estava sendo trabalhado</p><p>também. O Senhor estava esperando por um</p><p>momento futuro para ensinar a esta mulher aquela</p><p>verdade em particular, e ele escolheu lhe mostrar</p><p>isso de uma maneira diferente. Tudo depende dele,</p><p>todo tempo.</p><p>Essas são verdades que levam à alegria e à</p><p>liberdade. Pode parecer muito bom acreditar que</p><p>nosso crescimento depende de nós quando as coisas</p><p>estão indo bem em nossa vida espiritual, entretanto,</p><p>um pensamento aterrorizante nos invade quando</p><p>nosso conforto é retirado e nos encontramos</p><p>fracassando e sucumbindo ao pecado, mesmo</p><p>tentando a cada momento obedecer tão arduamente</p><p>como tentávamos antes. Quando estamos, de fato,</p><p>desesperados, esse é o momento em que estamos</p><p>prontos para aprender algo novo sobre nós mesmos</p><p>e sobre Deus.</p><p>Como Newton deixa claro, o ritmo de nosso</p><p>crescimento espiritual repousa totalmente nas mãos</p><p>do Espírito Santo. Longe de nos fazer passivos ou</p><p>displicentes em relação ao nosso progresso</p><p>espiritual, essa verdade de fato nos revitaliza para as</p><p>lutas. Afinal, se você, como crente, é habitado pelo</p><p>Espírito Santo do Deus vivo, não tem escolha, a não</p><p>ser mudar e crescer de acordo com a boa vontade</p><p>dele. Isso sim é boa notícia!</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Como as circunstâncias de sua conversão</p><p>afetaram seu crescimento como cristão? Quais</p><p>“graças” especiais ou doces dons Deus lhe concedeu</p><p>quando você era uma criança na fé?</p><p>2. Você já sentiu alguma mudança em sua</p><p>caminhada com o Senhor, de modo que a leitura da</p><p>Bíblia, a oração e a ida aos cultos tenham se tornado</p><p>difíceis ou até mesmo indesejáveis para você?</p><p>Descreva quando e por que isso aconteceu.</p><p>3. O que você pensa que Deus sente em relação a</p><p>você quando não lê a Bíblia nem ora, ou quando até</p><p>lê e ora, mas seu coração está distante?</p><p>4. O que Deus pensa a seu respeito quando você se</p><p>esforça sobremaneira para lhe obedecer e ser bem-</p><p>sucedido?</p><p>5. Você acha que Deus está decepcionado com</p><p>você e espera que esteja bem à frente em seu</p><p>crescimento espiritual? Por quê?</p><p>6. Você conhece muitas pessoas que são crianças</p><p>em Cristo conforme a descrição de Newton? Como</p><p>elas são? Como você se sente em relação a elas?</p><p>3. John Newton, “Grace in the Blade”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 4. Neste</p><p>capítulo, a descrição do crente imaturo se baseia grandemente</p><p>nesta carta.</p><p>4. John Newton, The Life and Spirituality of John Newton</p><p>(Vancouver: Regent College Publishing, 2003), 17.</p><p>5. Ibid., 50.</p><p>6. Ibid., 36.</p><p>7. Ibid., 56.</p><p>8. Newton, “Grace in the Blade”, Select Letters of John Newton, 4.</p><p>9. Ibid., 6.</p><p>10. John Newton, “The Full Corn in the Ear”, Select Letters of</p><p>John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 17.</p><p>11. Newton, “Grace in the Blade”, Select Letters of John Newton,</p><p>6.</p><p>capítulo três</p><p>amadurecendo na fé</p><p>A característica do estado do [crente que está</p><p>amadurecendo na fé] é conflito. — John Newton12</p><p>O que marca verdadeiramente o nosso crescimento</p><p>como cristãos?</p><p>Ao reconhecer que a obra de Deus na vida dos</p><p>seus filhos é diferente e única, Newton afirma que</p><p>Deus trabalhou muito em cada um e que o fruto</p><p>resultante seria perceptível. Motivado pelo modo</p><p>como a Escritura frequentemente compara o</p><p>crescimento do reino ao processo de maturação de</p><p>plantas, Newton fez uma extrapolação das</p><p>características físicas do crescimento das plantas em</p><p>relação ao crescimento espiritual dos crentes.</p><p>Utilizando a parábola de Jesus em Marcos 4.26-28,</p><p>ele compara o cristão imaturo a uma semente nova,</p><p>ainda na erva, o cristão em amadurecimento a um</p><p>grão que está começando a se formar na espiga e o</p><p>cristão maduro ao grão totalmente desenvolvido.</p><p>Essa é a analogia perfeita para descrever a</p><p>santificação, pois o amadurecimento das plantas,</p><p>assim como o das pessoas, é geralmente lento e</p><p>progressivo e, no final, sempre produz frutos.</p><p>Embora às vezes possamos ficar confusos a respeito</p><p>de como esse fruto deve ser.</p><p>Para Newton, esse fruto notável não era</p><p>necessariamente para ser visto no campo da</p><p>obediência externa, e sim em termos de “segurança</p><p>de fé”, uma certeza para os crentes de que Cristo</p><p>morreu por eles, por seus pecados específicos e não</p><p>simplesmente por pecados em geral. Newton</p><p>concluiu que embora a certeza não fosse necessária</p><p>para provar que a salvação ocorrera, ela era a</p><p>evidência-chave de uma fé crescente e mais estável.</p><p>A partir de sua longa experiência pastoral, ele</p><p>observou que uma marca da mudança do cristão, de</p><p>criança na fé para uma maior maturidade, era a obra</p><p>do Espírito Santo em seu interior, capacitando-o a</p><p>parar de duvidar de sua salvação quando pecasse e a</p><p>confiar mais plenamente na obra consumada de</p><p>Cristo em seu favor.13 Ele também acreditava que o</p><p>fruto mais precioso da obra de Deus em nosso</p><p>coração seria evidenciado no aumento de humildade</p><p>e de dependência em Cristo para tudo e não em uma</p><p>“vida cristã vitoriosa”.</p><p>Por essa razão, Newton não aponta para o próprio</p><p>desempenho dos cristãos como forma de obter</p><p>consolo e segurança. Embora fosse a favor de</p><p>identificar a obra do Espírito Santo e ansiasse</p><p>comemorar o fruto obtido, ele apontava</p><p>constantemente aqueles a quem ele aconselhava para</p><p>Cristo como sua única esperança na vida e na morte.</p><p>Esperava e confiava no fato de que uma pessoa que</p><p>é habitada pelo Espírito Santo do Deus vivo mudará</p><p>inevitavelmente de acordo com a vontade de Deus.</p><p>Como Martinho Lutero antes dele, Newton</p><p>reconhecia que a verdadeira fé</p><p>é sempre “uma coisa</p><p>viva, criativa, ativa e cheia de poder”.14 Quando o</p><p>Espírito Santo traz uma alma à vida, também</p><p>começa a transformar aquela alma e, embora ele não</p><p>opere seguindo qualquer programação, exceto a sua</p><p>própria, sua obra deve se tornar e se tornará</p><p>evidente com o decorrer do tempo. A opinião de</p><p>Newton a respeito de como seria esse fruto difere de</p><p>muitos pensamentos modernos acerca do assunto,</p><p>como veremos mais adiante.</p><p>A visão de Newton sobre a santificação repousa</p><p>completamente no poder sustentador de Deus.</p><p>Como Jesus diz na parábola da videira e dos ramos,</p><p>em João 15.5: “Sem mim nada podeis fazer”.15</p><p>Todo cristão, qualquer que seja a sua idade ou fase</p><p>de crescimento espiritual, permanece completamente</p><p>dependente do Espírito Santo, tanto para a vontade</p><p>quanto para a capacidade de obedecer a Deus, como</p><p>um novo convertido o é para a fé em si. No entanto,</p><p>ao mesmo tempo, todo ramo verdadeiro não pode</p><p>evitar dar fruto, uma vez que a vida da videira flui</p><p>através dele, e o agricultor divino o poda e cuida</p><p>dele (João 15.1). Na verdade, uma parte</p><p>fundamental desse amadurecimento do fruto é a</p><p>própria consciência cada vez mais profunda da total</p><p>dependência do ramo em relação à videira a todo o</p><p>instante.</p><p>Como resultado dessa dupla perspectiva — de que</p><p>nada podemos fazer sem o poder fortalecedor de</p><p>Deus e de que Deus está sempre trabalhando de</p><p>forma soberana na vida do crente — Newton não</p><p>tinha problema em exortar fortemente os cristãos à</p><p>obediência, ao mesmo tempo que reconhecia que</p><p>sem a obra específica do Espírito Santo, dando-lhes</p><p>a vontade e o poder para obedecer, eles fracassariam</p><p>sempre.</p><p>O PAPEL DO CONFLITO</p><p>Como Deus nos liberta de um espírito legalista e</p><p>imaturo que se orgulha de seu desempenho? Como</p><p>ele nos capacita a firmar nossos corações cada vez</p><p>mais na obra consumada de Cristo? A resposta de</p><p>Newton foi que Deus ordenou que aprendêssemos</p><p>sobre a depravação de nosso coração e a imensidão</p><p>de sua graça por meio da experiência. Ele lamenta</p><p>que, se pudéssemos verdadeiramente entender e</p><p>manter uma visão adequada a respeito de nós</p><p>mesmos a partir do que lemos na Escritura, seríamos</p><p>poupados de grande quantidade de sofrimento e dor.</p><p>Todavia, Newton comenta que “a experiência é a</p><p>escola do Senhor, e aqueles que são ensinados por</p><p>ele aprendem geralmente que não têm nenhuma</p><p>sabedoria, haja vista os erros que cometem, e</p><p>nenhuma força, a julgar pelos escorregões e quedas</p><p>com os quais se deparam”.16</p><p>Certamente, essa foi a experiência dos israelitas.17</p><p>Tal como a descrição de Newton acerca do novo</p><p>crente, os israelitas devem ter experimentado um</p><p>período de emoção e aventura quando viram Deus</p><p>infligir pragas sobre os egípcios e abrir o Mar</p><p>Vermelho diante de seus olhos. Eles experimentaram</p><p>a presença de Deus no meio deles, de maneiras</p><p>dramáticas e inquestionáveis. Deus poderia</p><p>facilmente tê-los guiado diretamente à terra</p><p>prometida, dando-lhes a fé e o coração de que</p><p>precisavam para adentrá-la e conquistá-la. Ao invés</p><p>disso, passaram quarenta longos e dolorosos anos</p><p>vagueando pelo deserto. Jamais poderiam esperar</p><p>que passariam por tal experiência depois de Deus tê-</p><p>los guiado através do Mar Vermelho e destruído o</p><p>exército de Faraó, mas agradou ao Senhor guiá-los</p><p>por caminhos de adversidades a fim de mostrar-lhes</p><p>o que realmente estava em seus corações. Este</p><p>período ilustra perfeitamente a descrição de Newton</p><p>acerca da vida do crente que está amadurecendo:</p><p>um deserto de conflitos no qual a pecaminosidade</p><p>de seu coração está sendo exposta repetida e</p><p>amavelmente por Deus.</p><p>Quando Deus nos leva para o deserto de tentações</p><p>e pecado, descobrimos quem realmente somos. Por</p><p>causa de nossa natureza depravada, somos</p><p>igualmente capazes de distorcer os melhores dons do</p><p>Espírito com nossas idolatrias e desprezá-lo em</p><p>tempos de aridez estéril. Experiências de deserto são</p><p>tempos de necessidade, aflição, sofrimento e dor</p><p>genuínos que nos tentam a murmurar contra Deus e</p><p>a nos afastar dele. Quando as dificuldades nos</p><p>esmagam, temos dificuldade de nos lembrar daquilo</p><p>que o Senhor fez por nós no passado e de confiar</p><p>nele no presente e quanto ao futuro.</p><p>MARA</p><p>Os israelitas enfrentaram problemas muito</p><p>rapidamente quando chegaram ao deserto. Apenas</p><p>três dias após a grande libertação do Egito, o povo</p><p>ficou sem água (Êxodo 15.22). Isso não era algo de</p><p>pouca importância para um grande grupo de pessoas</p><p>que procurava atravessar um deserto. Qualquer</p><p>pessoa se abalaria com tal dilema, principalmente</p><p>quando a vida de um número considerável de</p><p>pessoas estava em jogo. O alívio deve ter inundado</p><p>suas mentes e corações quando avistaram as águas</p><p>de Mara. Eles devem ter se regozijado e agradecido</p><p>a Deus à medida que corriam em direção à agua e</p><p>começavam a bebê-la sedentos. Porém, quando</p><p>sentiram o gosto daquelas águas de Mara,</p><p>descobriram que, para seu horror, eram amargas e</p><p>não potáveis. Qual deve ter sido a sensação de estar</p><p>tremendamente sedento e beber um enorme gole de</p><p>água intragável, suja e amarga?</p><p>Como você acha que teria reagido? Sei como eu</p><p>teria reagido: ficaria furiosa com Moisés, por sua</p><p>péssima liderança, e zangada com Deus, por me</p><p>provocar e atormentar, por fracassar em suprir as</p><p>minhas necessidades na hora e do jeito que eu</p><p>queria. Convivo com meu coração há muitos anos e</p><p>conheço bem os seus caminhos. Os israelitas</p><p>também resmungaram contra Moisés, mas Deus</p><p>respondeu aos seus pecados de forma graciosa,</p><p>dando a Moisés a solução (Êxodo 15.25). Deus</p><p>queria que os israelitas, e nós também, percebessem</p><p>quão rápido eles se esqueceriam de seu amor</p><p>milagroso e libertador e se voltariam para o Senhor</p><p>com medo.</p><p>Imagine, por um momento, que pudéssemos levar</p><p>uma equipe de câmeras para a beira do Mar</p><p>Vermelho e entrevistássemos alguns israelitas, logo</p><p>após os egípcios terem sido afogados. “Com licença,</p><p>senhor”, diríamos, “como este episódio miraculoso</p><p>mudou a sua visão a respeito de Deus?” Certamente</p><p>alguns, ou até mesmo a maioria, teriam dito algo</p><p>assim: “Pensei que Deus havia nos esquecido e nos</p><p>abandonado, mas agora sei que ele está conosco”.</p><p>Talvez ousássemos um pouco mais, perguntando:</p><p>“Você acha que algum dia, em muito tempo, você</p><p>conseguiria se esquecer desse evento incrível?” E</p><p>eles com certeza responderiam: “Como poderei me</p><p>esquecer do que Des fez por nós esta noite?” Mas</p><p>eles se esqueceram bem rapidamente. E nós também</p><p>nos esquecemos!</p><p>Em Mara, Moisés atirou uma árvore nas águas.</p><p>Elas se tornaram doces, e tudo voltou a ficar bem</p><p>mais uma vez. Essa história se encerra com as</p><p>promessas de Deus de não infligir as pragas do Egito</p><p>sobre Israel se eles ouvissem diligentemente a sua</p><p>voz e fizessem o que é reto, guardando os seus</p><p>mandamentos: “Pois eu sou o SENHOR, que te sara”</p><p>(Êxodo 15.26). Nós nos maravilhamos com a</p><p>paciência e o amor de Deus à medida que ele</p><p>conduz os israelitas de Mara até Elim, o</p><p>extraordinário lugar de doze fontes de água e setenta</p><p>palmeiras (Êxodo 15.27). Ao invés de puni-los por</p><p>suas murmurações e falta de fé, Deus lhes deu férias</p><p>de luxo.</p><p>Contudo, apenas poucas semanas após deixarem o</p><p>extravagante e exuberante oásis de Elim, os israelitas</p><p>já estavam novamente murmurando contra Moisés e</p><p>Aarão, desejando ardentemente a comida que</p><p>haviam deixado para trás no Egito (Êxodo 16). A</p><p>situação seria quase cômica, se não fosse tão triste e</p><p>verdadeira em relação a nós também. Deus havia se</p><p>movido poderosamente para libertar os israelitas do</p><p>cativeiro cruel e opressivo, onde eram escravos e</p><p>seus bebês estavam sendo mortos. Todavia, eles se</p><p>esqueceram rapidamente da miséria de sua</p><p>escravidão, lembrando-se apenas do que desejavam</p><p>naquele instante e não tinham. Deus lhes deu o</p><p>maná, alimento do qual gostaram muito por um</p><p>tempo, até se enjoarem e começarem a reclamar</p><p>(Números 11.4). Em seguida, Deus enviou-lhes</p><p>codornizes em abundância, as quais eles amaram até</p><p>se enjoarem delas (Números 11.19-20).</p><p>Algumas vezes, Deus nos revela o nosso coração</p><p>dando-nos o que desejamos. Eu mesma sempre quis</p><p>uma grande família. Sempre tive uma obsessão por</p><p>bebês desde muito jovem e, até mesmo quando era</p><p>uma missionária solteira, adotava temporariamente</p><p>bebês abandonados e cuidava deles até que as</p><p>famílias definitivas pudessem ser encontradas. Assim</p><p>que me casei, queria desesperada e imediatamente</p><p>ter filhos e com frequência atormentava meu marido</p><p>com a questão do “deixe Deus decidir”. Como boa</p><p>presbiteriana, eu sabia como as coisas funcionavam!</p><p>Naquela ocasião, meu marido estava no seminário e</p><p>queria esperar um tempo antes de ter filhos, mas,</p><p>após dois anos, ele reconsiderou carinhosamente o</p><p>assunto, e não passou muito tempo até que eu</p><p>engravidasse. Eu adorava ter bebês! Estava</p><p>profundamente satisfeita com a maternidade, à</p><p>medida que minhas idolatrias iam sendo abençoadas</p><p>vez após vez. Adorava ser o centro do universo para</p><p>meus filhos. Era boa em descobrir os mistérios da</p><p>alma de um recém-nascido e adorava ver o processo</p><p>de crescimento acontecer. Eu amava cada detalhe da</p><p>maternidade, por isso tive um bebê atrás do outro,</p><p>num ritmo rápido. Na verdade, cheguei até a</p><p>planejar outra gravidez, poucas horas após dar à luz</p><p>um de meus filhos. Definitivamente, isso foi</p><p>loucura!</p><p>Foi somente após o nosso quinto e mais novo filho</p><p>iniciar seus estudos, que comecei a sentir a</p><p>gravidade da situação e a me perguntar o que</p><p>havíamos feito. Eu estava sobrecarregada com a</p><p>quantidade de filhos que tinha para educar em casa,</p><p>pois as escolas públicas de nossa região não eram</p><p>satisfatórias, e não tínhamos condições financeiras</p><p>para pagar uma educação particular. Estava</p><p>sobrecarregada com as roupas para lavar, a comida</p><p>para fazer e as necessidades emocionais, espirituais e</p><p>educacionais de tantas crianças em fase de</p><p>crescimento. Comecei a perceber quão tola, ridícula,</p><p>arrogante e excessivamente confiante eu fora ao</p><p>imaginar que seria capaz de cuidar bem de tantos</p><p>filhos. O deserto das exigências exaustivas estava</p><p>revelando o meu egoísmo, tolice, orgulho e</p><p>fraqueza, e eu não tinha alegria em acampar. De</p><p>uma maneira amorosa, Deus esmagou meu orgulho</p><p>e excesso de confiança ao me dar, em abundância, o</p><p>que eu tinha desejado desesperadamente e me</p><p>mostrou como eu precisaria de sua graça, a cada</p><p>momento, para sobreviver à sua generosa resposta</p><p>aos meus pedidos.</p><p>Em outros momentos, como os israelitas em Mara,</p><p>Deus revela o nosso coração negando aquilo que lhe</p><p>pedimos. Eu tinha uma amiga que desejava ter bebês</p><p>tanto quanto eu. Seu único objetivo na vida era se</p><p>tornar uma verdadeira mãe e dona de casa, porém</p><p>seu mundo foi lançado ao caos quando lhe disseram</p><p>que ela jamais conceberia um bebê. Tínhamos a</p><p>mesma idolatria, mas Deus trabalhou em nossos</p><p>corações de maneiras diferentes. Ao negar o que ela</p><p>queria, Deus lhe revelou a raiva que ela era capaz de</p><p>sentir em relação a ele. Ela aprendeu que podia ser</p><p>amarga, ressentida, invejosa e odiosa para com</p><p>mulheres que pareciam ter facilidade em ter filhos,</p><p>enquanto ela não podia. Aprendeu o quanto de sua</p><p>identidade estava sendo investida em um sonho e</p><p>como ela era tentada a adorar o ídolo da</p><p>maternidade de diversas maneiras.</p><p>Eu aprendi as mesmas lições. Com tremenda</p><p>vergonha e tristeza, aprendi que era capaz de odiar</p><p>aquelas pequenas e preciosas crianças quando</p><p>interrompiam meus planos ou revelavam meu</p><p>pecado. Também era capaz de muita amargura,</p><p>ressentimento, ciúme e raiva quando ficava</p><p>sobrecarregada com as necessidades de meus</p><p>pequenos pecadores que andam, respiram e fazem</p><p>birras. Todos nós pecamos de maneiras conhecidas,</p><p>porém há muitos caminhos aos quais Deus nos</p><p>levará para nos revelar, de forma gradual, o nosso</p><p>coração e nos trazer à humilhação e ao</p><p>arrependimento. Em sua bondade, Deus equilibra</p><p>doses variadas de deserto e oásis, dificuldades</p><p>esmagadoras e paz que cura, até que venhamos a</p><p>crer, por experiência, que, de fato e acima de tudo,</p><p>o nosso coração é realmente enganoso e</p><p>desesperadamente corrupto.</p><p>Nas experiências de vida no deserto, aprendemos</p><p>que, como Jack Miller costumava dizer, somos mais</p><p>pecadores do que jamais imaginamos ser e mais</p><p>amados do que jamais ousaríamos esperar. Nosso</p><p>pecado pode nos surpreender imensamente,</p><p>contudo, jamais será uma surpresa para Deus. O</p><p>pecado nos deixa cegos em relação a nós mesmos,</p><p>levando-nos a acreditar que somos melhores do que</p><p>realmente somos e melhores do que os outros. De</p><p>uma forma amorosa, Deus abre os nossos olhos para</p><p>que possamos nos arrepender e nos maravilhar com</p><p>o fato de Cristo ter desejado deixar as glórias do céu</p><p>para sofrer e morrer por grandes pecadores como</p><p>nós. Quando estamos no deserto, a obediência de</p><p>Cristo em nosso favor pode se tornar uma doutrina</p><p>estimada. Quanto mais profundamente</p><p>compreendemos o nosso pecado, tanto mais</p><p>agradecidos somos pela perfeita obediência de nosso</p><p>Salvador creditada a nós.</p><p>O QUE DEUS ESTÁ FAZENDO?</p><p>Quais as intenções do Senhor em nossas</p><p>experiências no deserto? John Newton as via como</p><p>características da fase de amadurecimento da vida</p><p>cristã. Neste período, Deus nos impulsiona adiante,</p><p>utilizando nossos conflitos externos e internos para</p><p>nos ajudar a compreender a realidade de nosso</p><p>pecado interior. Assim que a nossa fé cresce e fica</p><p>mais forte e temos mais experiência da bondade e do</p><p>cuidado provedor de Deus, ele começa a nos guiar</p><p>por experiências com nosso próprio coração que, em</p><p>um estágio inicial de crescimento, nos teriam</p><p>aniquilado.</p><p>Deus é bondoso demais para nos revelar todos os</p><p>nossos pecados de uma única vez ou quando ainda</p><p>somos imaturos demais para suportar tal visão. Em</p><p>vez disso, nessa fase de amadurecimento, ele dosa</p><p>cuidadosamente medidas de clareza, à medida que</p><p>nos guia a uma maior compreensão do que Cristo</p><p>fez por nós. Certamente, o crente em fase de</p><p>amadurecimento vivencia muitas experiências de</p><p>pecado antes desse estágio. A grande diferença nesse</p><p>momento é o discernimento. Em um momento mais</p><p>remoto, ele deve simplesmente ter tido um acesso de</p><p>raiva ou depositado toda a culpa nas circunstâncias.</p><p>Agora, todavia, o Espírito Santo está trabalhando no</p><p>contexto de pecados específicos, abrindo os olhos</p><p>cegos do crente para ver um relance de sua alma. E</p><p>não é uma visão bonita.</p><p>Em tudo isso, Newton mantinha uma certeza</p><p>absoluta na soberania específica de Deus na vida de</p><p>cada crente. Ao nos levar a situações nas quais</p><p>pecamos e revelamos a verdade de nosso coração, o</p><p>nosso amoroso Pai celestial está nos ensinando. Ele</p><p>não está nos testando para descobrir o que faremos.</p><p>Ele sabe de todas as coisas e conhece o nosso</p><p>coração melhor do que nós mesmos. Deus nos guia</p><p>para essas situações, pois quer que nós aprendamos</p><p>algo sobre nós mesmos. Oh! há muitos anos sei que,</p><p>em termos gerais, sou uma pecadora, mas estou</p><p>propensa a viver em uma cegueira nebulosa de mim</p><p>mesma, dia após dia. A Bíblia nos diz que, acima de</p><p>tudo, tenho um coração enganoso e</p><p>desesperadamente corrupto (Jeremias 17.9),</p><p>portanto, eu não deveria me surpreender ao</p><p>descobrir as formas específicas como peco —</p><p>repetidamente.</p><p>A Bíblia também me diz que, entregue a mim</p><p>mesma, sou propensa a trocar a verdade de Deus</p><p>por mentiras, a suprimir a verdade sobre Deus e</p><p>sobre mim mesma e a viver intencionalmente cega</p><p>para meu próprio pecado, enquanto adoro as coisas</p><p>criadas ao invés de adorar o criador (Romanos 1.18-</p><p>25). Por meio dessas situações de conflito e</p><p>fracasso, Deus revela claramente essa realidade a</p><p>nós e aos outros, a fim de nos tornar mais</p><p>profundamente dependentes dele para obtermos</p><p>graça e força diárias.</p><p>UM DILEMA ENIGMÁTICO</p><p>A partir daqui, as percepções de Newton sobre os</p><p>propósitos de Deus — e sobre o amadurecimento</p><p>cristão — começam a divergir da visão</p><p>predominante entre os cristãos evangélicos hoje.</p><p>Qual o propósito de Deus para nós enquanto</p><p>amadurecemos na fé? É apenas que pequemos cada</p><p>vez menos ou, em vez disso, que enxerguemos cada</p><p>vez mais o nosso próprio pecado? Se o objetivo de</p><p>Deus é que tomemos cada vez mais consciência do</p><p>nosso pecado, então ele está ordenando que uma</p><p>grande quantidade de pecados sejam permitidos e</p><p>tolerados em nós para seu propósito maior. Visto</p><p>que Deus odeia o pecado e ensina seus filhos a odiá-</p><p>lo, deveria nos parecer lógico que ele nos livraria</p><p>do</p><p>poder do pecado que habita em nós no próprio</p><p>instante em que nos livrou do poder do pecado de</p><p>nos mandar para o inferno. Se o Senhor tivesse feito</p><p>isso, nós teríamos nos tornado completamente</p><p>perfeitos no momento da salvação e poderíamos</p><p>viver o restante de nossas vidas na terra em um</p><p>estado sem pecado. Sua vontade, contudo, designou</p><p>o contrário.</p><p>Em vez disso, no momento da conversão, Deus</p><p>nos liberta do poder espiritual que o nosso pecado</p><p>tinha de nos condenar, mas nos deixa com uma</p><p>natureza pecaminosa que travará guerra contra a</p><p>nossa nova natureza pelo resto de nossas vidas.</p><p>Quando Deus nos levar para junto de si no céu, o</p><p>poder do pecado sobre nós será destruído de forma</p><p>completa e definitiva. Nesse meio tempo, o pecado</p><p>vencerá frequentemente. Muitos crentes subestimam</p><p>ingenuamente o poder deste homem pecador que é</p><p>deixado em nós para guerrear contra a nossa nova</p><p>natureza.</p><p>Um de nossos problemas hoje é que, embora</p><p>percebamos corretamente que Deus odeia o pecado,</p><p>falhamos com frequência em perceber nas Escrituras</p><p>a soberania de Deus sobre o pecado e seu desejo de</p><p>tolerá-lo em grandes quantidades desde o Jardim do</p><p>Éden, com a finalidade de cumprir seus propósitos</p><p>santos.18 Pode parecer chocante o pensamento de</p><p>que Deus ordena o pecado! Sabemos pelas</p><p>Escrituras que “Deus não pode ser tentado pelo mal</p><p>e ele mesmo a ninguém tenta” (Tiago 1.13).</p><p>Contudo, é evidente que um Deus que poderia deter</p><p>o pecado, mas escolheu, em vez disso, utilizá-lo para</p><p>seus próprios fins, intentou isso claramente sem</p><p>jamais tê-lo causado. Posteriormente, discutiremos</p><p>essa ideia com mais profundidade. Por enquanto,</p><p>vamos apenas notar que é muito importante o que</p><p>você crê sobre Deus e pecado.</p><p>Se você pensa que, por odiar o pecado, Deus deve</p><p>ficar frustrado e decepcionado toda vez que você</p><p>peca, então, você se sentirá desencorajado nessa</p><p>fase do crescimento cristão. Talvez essa seja a fase</p><p>em que você se encontra ao ler isso. Você espera</p><p>muito mais de si como cristão e tem certeza de que</p><p>Deus também espera. Contudo, você ainda se</p><p>encontra pecando bastante, mesmo quando tenta ao</p><p>máximo não fazê-lo. Na verdade, é nesse ponto que</p><p>eu me uno à maioria dos crentes em minha</p><p>experiência de aconselhamento. Eles estão confusos</p><p>e arrasados pela batalha contínua e por não</p><p>progredirem em santidade e temem, por</p><p>consequência, que Deus desista deles.</p><p>Entretanto, se você acredita que Deus é totalmente</p><p>soberano sobre o seu pecado e está sempre usando-</p><p>o para seu próprio bem, a fim de lhe ensinar mais</p><p>sobre si mesmo e sobre a graça dele, você está livre</p><p>para odiar seus pecados e amar o que Deus está</p><p>operando através deles. Isso não nos leva ao</p><p>desencorajamento, medo, ansiedade e depressão.</p><p>Pelo contrário, isso nos leva à paz, à alegria e a uma</p><p>maior confiança na obra do Espírito Santo que</p><p>habita em nós. Como Newton observou, “Cada</p><p>novo dia traz alguma nova corrupção que antes era</p><p>pouco observada ou, pelo menos, descobre-a sob</p><p>uma luz mais intensa do que antes. Assim, aos</p><p>poucos, eles são afastados de se apoiarem em</p><p>qualquer pretensa sabedoria, poder ou bondade que</p><p>existam neles mesmos. Sentem a verdade das</p><p>palavras de nosso Senhor: ‘Sem mim nada podeis</p><p>fazer’”.19</p><p>Se o objetivo da santificação é, na verdade, o</p><p>crescimento em humildade e uma maior</p><p>dependência de Cristo, então o Espírito Santo está</p><p>fazendo um excelente trabalho. Através de suas lutas</p><p>contínuas contra o pecado que habita em seu</p><p>interior, o cristão em processo de amadurecimento</p><p>percorrerá vários anos de sua vida aprendendo que é</p><p>mais pecador do que jamais pudera imaginar, a fim</p><p>de descobrir que é, de fato, muito mais amado do</p><p>que jamais ousaria esperar.</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. O que faz você duvidar da sua salvação? O que</p><p>seria capaz de convencê-lo de que Deus está sempre</p><p>ao seu lado e nunca o abandonará?</p><p>2. Como você imagina que deveria ser o</p><p>crescimento na fé? Qual a diferença entre o imaturo</p><p>na fé e o cristão em fase de amadurecimento?</p><p>3. Qual é o papel do Espírito Santo em seu</p><p>crescimento espiritual?</p><p>4. Houve algum momento em sua vida em que</p><p>Deus o privou de algo que você queria</p><p>desesperadamente e pelo qual orou? Houve tempos</p><p>em que ele respondeu às suas orações de forma</p><p>abundante? O que você aprendeu sobre Deus e</p><p>sobre si mesmo?</p><p>5. O que você considera ser um deserto em sua</p><p>vida hoje? Seu coração tem respondido a Deus de</p><p>forma semelhante a Israel no deserto? Como Deus</p><p>tem usado sua escola de experiências para ensiná-lo</p><p>mais sobre o seu coração e o amor dele?</p><p>6. Você acredita que Deus é soberano sobre todos</p><p>os seus pecados? Por quê?</p><p>12. John Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 9. Neste</p><p>capítulo, a descrição do crente que está amadurecendo na fé se</p><p>baseia grandemente nesta carta.</p><p>13. Ibid., 9.</p><p>14. Martin Luther, “Preface to St. Paul’s Epistle to the Romans”,</p><p>em John Dillenburger ed., Martin Luther: Selections from His</p><p>Writing (New York: Anchor, 1962). Ver também os comentários de</p><p>Newton em “The Practical Influence of Faith”, Select Letters of</p><p>John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 91.</p><p>15. John Newton, “Advantages From Remaining Sin”, Select</p><p>Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011),</p><p>153.</p><p>16. Ibid., 153.</p><p>17. Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John Newton, 9.</p><p>18. John Newton, “Difference Between Acquired and Experimental</p><p>Knowledge”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh:</p><p>Banner of Truth, 2011), 138.</p><p>19. Newton, “Advantages From Remaining Sin,” Select Letters of</p><p>John Newton, 153.</p><p>capítulo quatro</p><p>maduros na fé</p><p>Seu grande negócio é contemplar a glória de</p><p>Deus em Cristo; e, pela contemplação, ele é</p><p>transformado. — John Newton20</p><p>O cristão maduro se distingue, de várias maneiras</p><p>perceptíveis, daquele que é criança na fé e do crente</p><p>em processo de amadurecimento. No entanto,</p><p>Newton inicia sua discussão a respeito desse assunto</p><p>observando as diversas maneiras em que o cristão</p><p>maduro se assemelha ao novo na fé. Ele ainda se</p><p>encontra em estado de total dependência de Jesus,</p><p>como o neófito. É tão incapaz de ter atitudes</p><p>espirituais ou de resistir à tentação que o assola</p><p>quanto o era no dia em que foi salvo. Também é</p><p>verdade que sem Cristo ele nada poderá fazer e,</p><p>entregue a si mesmo, não fará nada além de pecar.</p><p>Entretanto, em alguns aspectos, o cristão maduro é</p><p>muito mais forte do que antes, pois tem um senso</p><p>mais profundo e constante de sua própria fraqueza.</p><p>Deus vem lhe ensinando essa lição por um longo</p><p>tempo e, através da amorosa graça do Pai celestial,</p><p>seu sofrimento não foi em vão! Seu coração o</p><p>enganou tantas vezes que ele aprendeu a desconfiar</p><p>de si mesmo mais prontamente e a prever sua</p><p>própria fraqueza. Como o cristão maduro sabe que</p><p>pode cair facilmente, ele evita situações que sejam</p><p>difíceis e que o tentem a pecar. Ele é cauteloso com</p><p>as trapaças de Satanás e pede rapidamente a ajuda</p><p>de outros cristãos e de Deus. O orgulho não o</p><p>impede de admitir seus fracassos, confessando-os e</p><p>arrependendo-se rapidamente quando cai. Ele</p><p>também não se decepciona consigo mesmo e com os</p><p>outros tão facilmente, pois suas expectativas</p><p>mudaram, e agora ele entende que ambos, tanto ele</p><p>como seus irmãos, são muito fracos e não podem</p><p>fazer nada sem Cristo. Ironicamente, em toda a sua</p><p>fraqueza, ele está crescendo mais firme em Cristo,</p><p>porque aprendeu a correr rapidamente para o trono</p><p>da graça em seus momentos de necessidade. Como</p><p>o Senhor disse ao apóstolo Paulo: “A minha graça te</p><p>basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na</p><p>fraqueza.” (2 Coríntios 12.9). Ele é mais forte em</p><p>Cristo e não em si mesmo.</p><p>A superioridade do cristão maduro em relação a</p><p>seu companheiro mais novo na fé se deve</p><p>principalmente ao fato de que Deus tem abençoado</p><p>sua ida à igreja, suas orações, as pregações bíblicas</p><p>que ouviu e sua participação na Ceia do Senhor e</p><p>lhe tem dado uma visão mais clara da grandeza e da</p><p>majestade de Cristo. Ele conhece bem seu próprio</p><p>coração e já experimentou o amor de seu Salvador</p><p>de maneiras mais ricas e mais profundas. Seu</p><p>conhecimento teológico</p><p>é mais sólido, sua mente é</p><p>mais estável, e seus pensamentos são mais focados</p><p>na obra e na pessoa de seu Redentor. Ele vê a</p><p>excelência do Senhor Jesus Cristo, tanto em sua</p><p>pessoa quanto no ministério que ele realizou em</p><p>favor de sua igreja como profeta, sacerdote e rei. Ele</p><p>se apega aos grandes mistérios de um amor redentor</p><p>e adora aquele que tomou sobre si as fraquezas</p><p>humanas, a fim de expiar seus pecados. Ele se</p><p>maravilha na estabilidade, unidade, beleza e</p><p>segurança das Escrituras e medita frequentemente na</p><p>altura, largura, comprimento e profundidade do</p><p>amor de Deus por ele em Cristo. Na verdade, sua</p><p>maior alegria é contemplar a glória de Deus em</p><p>Cristo e, à medida que vislumbra seu Salvador, ele é</p><p>transformado gradualmente à semelhança daquele a</p><p>quem adora. Quanto mais se regozija em Cristo,</p><p>tanto mais constantemente manifesta os frutos de</p><p>justiça pelo poder do Espírito Santo, para a glória e</p><p>o louvor de Deus.</p><p>Os pensamentos do cristão maduro a respeito de</p><p>Deus não são mais meras ideias teológicas</p><p>arrogantes ou especulações filosóficas vazias. Ao</p><p>invés disso, as doutrinas que ele tanto ama agora</p><p>migraram de sua mente para o coração e começaram</p><p>a transformá-lo de dentro para fora, de três maneiras</p><p>principais. Ele está se tornando alguém que é</p><p>humilde, espiritual e tem paixão por ver a glória de</p><p>Deus revelada em todas as coisas.</p><p>HUMILDADE</p><p>Aquele que é criança na fé e o cristão em fase de</p><p>amadurecimento sabem que devem ser humildes.</p><p>Começam a notar como o orgulho invade cada</p><p>fenda de seus pensamentos e começam a tentar ser</p><p>humildes, embora frequentemente fracassem. O</p><p>cristão maduro, todavia, é verdadeiramente humilde.</p><p>Tem o hábito de olhar para trás e ver o caminho no</p><p>qual Deus o guiou com fidelidade e pode ver as</p><p>inúmeras vezes que Deus lhe retribuiu com bem o</p><p>mal que lhe fizeram. Ele tem a prática de lembrar,</p><p>em seu coração, tanto a bondade de Deus quanto a</p><p>sua própria perversidade. No Antigo Testamento,</p><p>Israel erigiu um memorial de pedra à fidelidade do</p><p>Senhor após uma batalha, em um lugar que</p><p>chamaram de “Ebenézer” (1 Samuel 7.12). Do</p><p>mesmo modo, Newton sugere que, à medida que o</p><p>cristão piedoso relembra cada vez que pecou</p><p>grandemente contra o Senhor, particularmente de</p><p>maneira arrogante, ele deve construir um</p><p>“Ebenézer” — um memorial mental à sua própria</p><p>fraqueza e pecaminosidade.21 Mas o crente maduro</p><p>nunca se detém no memorial de sua própria</p><p>pecaminosidade com o propósito de lamentar e se</p><p>desesperar. Ele está triste com seu pecado, mas</p><p>prossegue para construir em sua mente outro</p><p>monumento, ainda maior, à fidelidade de Deus,</p><p>apesar de seu pecado.</p><p>Deste modo, assim como o apóstolo Paulo, o</p><p>cristão maduro atravessa a vida sempre se</p><p>entristecendo, mas também sempre se alegrando (2</p><p>Coríntios 6.10). Ele sofre por causa do seu próprio</p><p>pecado, pois sabe que Deus odeia o pecado e</p><p>percebe como o seu pecado prejudica a si mesmo e</p><p>aos outros. Entretanto, ele se regozija ainda mais do</p><p>que se entristece, porque também vê a paciência e a</p><p>fidelidade de Deus em seu favor no contexto de sua</p><p>desobediência contínua. Compreende que Deus é</p><p>soberano sobre o seu pecado e que até mesmo o</p><p>usará para moldar e fortalecer as pessoas de sua vida</p><p>contra as quais habitualmente peca. Ele se maravilha</p><p>com o amor que se recusa a abandoná-lo e celebra o</p><p>poder de Deus em usar até mesmo o seu pecado</p><p>para guiá-lo a uma compreensão mais profunda da</p><p>graça de Deus. Lamenta a própria falta de justiça,</p><p>mas se alegra e se regozija na perfeita retidão dada a</p><p>ele por Cristo. Newton comparou essas ações a uma</p><p>melodia cuja linha do baixo retrata a auto-</p><p>humilhação quanto ao pecado, e a linha melódica</p><p>retrata o regozijo na fidelidade de Deus. Quando</p><p>tocadas juntas, a música é de tirar o fôlego.22</p><p>Embora seu comportamento externo possa ser mais</p><p>moral, o cristão maduro, na verdade, se sente</p><p>frequentemente mais pecador do que em seus</p><p>primeiros anos de fé, pois agora ele enxerga o</p><p>próprio pecado com mais clareza, precisão e</p><p>frequência. Descobriu que sua obediência o tenta a</p><p>pecar tanto quanto os seus desejos pecaminosos ou</p><p>até mais. Aprendeu sobre a natureza traiçoeira de</p><p>seu próprio orgulho e, embora não consiga escapar</p><p>dela, odeia verdadeiramente a voz interna da</p><p>autoglorificação que narra constantemente a história</p><p>de sua vida em seu momento de maior obediência.</p><p>Seus dias estão, portanto, cheios de oração, pois ele</p><p>aprendeu que precisa desesperadamente de Deus e</p><p>recorre com frequência ao auxílio do Senhor.</p><p>Ele planeja contra sua própria fraqueza,</p><p>antecipando situações de lutas e fazendo tudo que</p><p>está ao seu alcance para se proteger da tentação.</p><p>Não tenta ser mais esperto que Satanás. Sabe que</p><p>Satanás é um especialista em sua área e encontra-se</p><p>muito além dele em força e astúcia. Então, ele se</p><p>lança repetidamente à graça do Senhor e suplica por</p><p>misericórdia em tempos de necessidade. Aprendeu a</p><p>viver uma vida de contínuo arrependimento diante</p><p>de Deus, confessando seus pecados livremente e</p><p>repetidas vezes, vivendo aos pés da cruz, onde é</p><p>lavado em perdão e esperança todos os dias, tão</p><p>frequentemente quanto peca.</p><p>Outro aspecto da humildade do crente maduro é</p><p>sua rapidez em se submeter à vontade de Deus. Ele</p><p>errou tantas vezes no passado que já não se atreve</p><p>mais a presumir a vontade de Deus, mas, ao</p><p>contrário, busca ansiosamente saber o que Deus fará</p><p>em cada situação. Já tentou prever quais deveriam</p><p>ser as respostas às suas orações, apenas para</p><p>descobrir que a resposta de Deus foi uma completa</p><p>surpresa e muito superior a qualquer coisa que</p><p>pudesse imaginar. Já antecipou que algumas pessoas</p><p>foram direcionadas a um final triste, apenas para</p><p>descobrir que a graça de Deus em preservá-las e</p><p>transformá-las superou em muito suas expectativas.</p><p>Previu um futuro glorioso para outras pessoas,</p><p>apenas para vê-las humilhadas e sendo repreendidas</p><p>sob a poderosa mão de Deus. Ele lutou bastante</p><p>para impor sua própria vontade sobre os outros,</p><p>somente para se deparar com um desastre quando</p><p>Deus lhe permitia triunfar. Ele viu Deus usar o</p><p>sofrimento intenso para abençoar a vida de alguns</p><p>de seus amigos, ao mesmo tempo que viu a</p><p>prosperidade arruinar outros. Portanto, o</p><p>conhecimento de si mesmo e da majestade de Deus</p><p>faz com que ele seja reduzido ao pó. Ele crê</p><p>verdadeiramente que Deus é mais sábio e amoroso</p><p>do que ele jamais poderia ser; por isso, em cada</p><p>provação, ele procura a mão divina de cuidado</p><p>amoroso, para si mesmo ou para pessoas ao seu</p><p>redor.</p><p>TERNURA</p><p>O cristão maduro possui também um espírito</p><p>amoroso para com seus companheiros cristãos. Ele</p><p>deve, às vezes, avaliar a conduta deles, mas o</p><p>conhecimento que tem a respeito da fraqueza e da</p><p>pecaminosidade de seu próprio coração faz com que</p><p>seja gentil e tenha toda a tolerância possível com a</p><p>fraqueza dos outros. Em outras palavras, ele está</p><p>mais consciente da trave em seu próprio olho do que</p><p>do argueiro nos olhos de seus irmãos e irmãs</p><p>(Mateus 7.3-4). Sabe que, assim como ele, todos os</p><p>seres humanos são fracos e feitos do pó.</p><p>Compreende que vivemos em um mundo repleto de</p><p>tentações que constantemente nos atraem para</p><p>satisfazermos, saborearmos, provarmos e nos</p><p>saciarmos com prazeres pecaminosos. Entende que</p><p>há um poderoso inimigo espiritual que é um perito</p><p>em tentação e experimenta frequentemente o</p><p>tormento da fúria de Satanás. Ele também conhece</p><p>seu próprio histórico de erros, e isso o qualifica a</p><p>admoestar e a restaurar outros com um espírito de</p><p>mansidão e benignidade.</p><p>Nesta área, Newton observa que o novo na fé é</p><p>frequentemente propenso a pecar. O impulso de</p><p>seus sentimentos acalorados, ainda não equilibrados</p><p>por um verdadeiro senso de suas próprias</p><p>imperfeições, leva-o a repreender os outros com um</p><p>espírito orgulhoso e de censura. Porém, o cristão</p><p>maduro pode tolerar pacientemente o cristão mais</p><p>novo porque ele mesmo já passou por isso e não</p><p>espera que o fruto fique maduro antes da estação</p><p>adequada.</p><p>Na verdade, Newton compara o novo crente a um</p><p>pêssego ainda verde.23 Seria ridículo ir até um</p><p>pessegueiro no início do inverno e colher seus</p><p>frutos, simplesmente porque eles ainda</p><p>estão todos</p><p>verdes. Sabemos que com apenas mais alguns dias</p><p>de chuva e outros de sol, este fruto amadurecerá,</p><p>tornando-se deliciosamente doce. Isso também se</p><p>aplica ao cristão que é novo na fé. Hoje, seu fervor</p><p>mal orientado pode ser irritante e até mesmo nocivo</p><p>para si mesmo e para os outros ao seu redor, mas o</p><p>Senhor conhece aqueles que são seus e jamais os</p><p>abandonará. Não poderão escapar da poda e da</p><p>formação do Senhor e alcançarão inevitavelmente a</p><p>maturidade — se não nesta vida, sem dúvida na</p><p>vindoura.</p><p>Esse é um dos motivos pelos quais eu sei que não</p><p>sou uma cristã madura. Cada vez que tento</p><p>parabenizar a mim mesma a respeito de quanto</p><p>cresci, esquecendo-me completamente de que todo</p><p>o crescimento é obra de Deus, ele envia um cristão</p><p>novo na fé para cruzar o meu caminho, e logo eu</p><p>fico muito irritada. Há dois meses, uma jovem</p><p>mulher, cheia de alegria e entusiasmo para ler as</p><p>Escrituras, passou um tempo conosco. Ela amava ler</p><p>a Bíblia e amava falar para todo mundo o quanto</p><p>gostava de fazer isso e que momentos maravilhosos</p><p>e tranquilos ela tinha. E quanto a mim? Você acha</p><p>que comemorei, com e por ela, regozijando-me com</p><p>o fato de que Deus lhe havia dado tão doce dom</p><p>nesse ponto de sua caminhada com ele? Não! Fiquei</p><p>muito irritada, porque acho difícil ler a Palavra de</p><p>Deus e raramente quero fazê-lo. Tenho um apetite</p><p>tão pequeno pela Escritura que preciso programar</p><p>atividades em minha semana que me forcem a lê-la</p><p>ou jamais a teria em minhas mãos. Então, dou aulas</p><p>de estudos bíblicos, preparo cultos de louvor e,</p><p>conforme vou fazendo essas coisas, sou sempre</p><p>abençoada pela Escritura e, com frequência, sou</p><p>levada às lágrimas. Contudo, ainda acho difícil</p><p>querer ler a Bíblia.</p><p>Como resultado, eu quis fazer aquela neófita cair</p><p>na realidade e ouvir umas verdades. Mas depois, por</p><p>mais irônico que pareça, um de meus filhos refletiu</p><p>sobre o zelo dessa jovem e mencionou quão doce e</p><p>maravilhoso era o fato de que ela se regozijava na</p><p>leitura da Bíblia. Isso piorou ainda mais as coisas!</p><p>Eu me considerava muito mais madura</p><p>espiritualmente do que meu filho, mas lá estava ele,</p><p>comportando-se de uma forma muito mais madura</p><p>do que eu! Embora eu possa me classificar como</p><p>uma cristã em fase de amadurecimento e tenho</p><p>estado nesse processo há alguns anos, a facilidade</p><p>com que retrocedo a esse tipo de legalismo crítico é</p><p>preocupante. Tenho hoje a mesma carência da graça</p><p>de Deus para permanecer em obediência ao Senhor</p><p>que tinha aos seis anos de idade, quando aceitei</p><p>Cristo pela primeira vez. Deus é tão bondoso e</p><p>misericordioso, que toda vez que começo a roubar a</p><p>glória de sua obra, ele me deixa cair, apenas para eu</p><p>me lembrar de quão fraca e falha realmente sou.</p><p>ESPIRITUALIDADE</p><p>Outra característica dos cristãos maduros é que eles</p><p>compreendem o perigo de estarem muito vinculados</p><p>aos prazeres mundanos. Sabem que, em razão de</p><p>nossa natureza humana, “nos apegamos ao pó</p><p>desafiando os ditames de nosso melhor</p><p>julgamento”24 e somos impelidos ao uso excessivo e</p><p>impróprio dos excelentes dons de Deus. O cristão</p><p>maduro não é perfeito em relação a isso, mas as</p><p>coisas do mundo não serão a sua escolha</p><p>predominante. Newton reconheceu que vemos</p><p>frequentemente cristãos mais novos na fé enredados</p><p>em tolerâncias mundanas. Ele observou que</p><p>raramente Deus concede a seus filhos vitórias</p><p>significativas sobre esse mal, até que lhes tenha</p><p>revelado quão profundamente enraizado ele está em</p><p>seus corações. Percebemos esse princípio atuar com</p><p>frequência em nossas igrejas hoje. Chamamos isso</p><p>de vício.</p><p>Eu aconselho muitos novos cristãos sinceros que</p><p>estão lutando com o vício. As substâncias nas quais</p><p>estão viciados variam muito, porém os desejos do</p><p>coração que dirigem esses vícios são os mesmos.</p><p>Eles são viciados em comida, saúde, drogas,</p><p>pornografia, boas notas, exercícios físicos, magreza,</p><p>sexo, trabalho, álcool e, até mesmo, aprovação dos</p><p>pais. A lista de possibilidades é tão longa quanto a</p><p>lista de coisas boas que Deus criou — coisas que</p><p>usamos na tentativa de nos sentir bem. Quando um</p><p>cristão luta com um pecado assediador na forma de</p><p>um vício, é tentador procurar mudar o</p><p>comportamento, enquanto se perde de vista o</p><p>contexto mais abrangente daquilo que Deus está</p><p>fazendo no coração. A maior parte dos vícios</p><p>divertem por um tempo, mas no fim perdem a</p><p>atratividade e deixam os que lutam odiando o</p><p>comportamento e tentando tudo que podem para</p><p>detê-lo.</p><p>Entretanto, Deus pode mudar a vontade deles</p><p>muito antes de lhes dar o fruto espiritual do domínio</p><p>próprio em uma determinada área, e Newton nos</p><p>fala que o Senhor tem um grande propósito nisso.</p><p>Quando Deus muda a vontade de alguém e lhe</p><p>concede um grande desejo de obedecer, mas não dá</p><p>a força para resistir à tentação, está colocando seu</p><p>filho numa posição difícil e dolorosa. Entretanto, ele</p><p>faz isso com amor e não com julgamento ou castigo</p><p>em mente. Está humilhando esse filho de uma forma</p><p>poderosa e esmagando a autoconfiança desse filho.</p><p>Isso pode parecer uma maldição, quando, na</p><p>verdade, é um grande presente.</p><p>Newton afirma que muitos cristãos maduros já</p><p>lutaram contra o assédio do pecado de uma forma</p><p>ou de outra, pois Deus raramente os livra dele antes</p><p>de usá-lo para lhes ensinar lições valiosas. Os seres</p><p>humanos são criaturas toxicamente autoconfiantes e</p><p>orgulhosas, que tendem a acreditar que podem fazer</p><p>qualquer coisa que cogitem. Nos primeiros dias de</p><p>complacência, a maioria dos viciados acreditam que</p><p>podem parar tal comportamento quando quiserem.</p><p>No entanto, antes de terem essa consciência, eles</p><p>são habitualmente impelidos ao alívio que o vício</p><p>lhes oferece, sendo incapazes de se afastar dele. Em</p><p>sua bondade, Deus revela a seu povo quão fracos</p><p>eles são por entregá-los ao objeto de seu desejo e</p><p>deixá-los debaterem-se nele, às vezes por um longo</p><p>período de tempo. Deus é um bom pai que permite</p><p>que seus filhos caiam para protegê-los no final.</p><p>AFASTANDO-SE</p><p>Nossa filha mais velha, Hannah, nasceu com um</p><p>brilho nos olhos. Ela se mostrou uma menina</p><p>determinada desde cedo e escolheu declarar guerra</p><p>no campo de batalha das escadas. Era a nossa única</p><p>andarilha precoce e ficava alucinada para se mover</p><p>desde o momento em que se levantava, apoiando-se</p><p>em suas mãos e joelhos. Também era muito</p><p>observadora e percebia que seus dois irmãos mais</p><p>velhos subiam e desciam as escadas de pé. Ela</p><p>queria ser igual a eles. Assim como fizemos com</p><p>seus irmãos mais velhos, ensinamos Hannah a</p><p>descer as escadas deslizando com o bumbum. Ela</p><p>era pequena, e seu equilíbrio ainda era fraco e</p><p>instável, e sabíamos que deixá-la descer as escadas</p><p>de pé seria muito arriscado. Ela sequer podia</p><p>alcançar o corrimão! Mas bastava que nos</p><p>descuidássemos por um minuto, e lá estava ela,</p><p>engatinhando escada acima e, e depois levantando-</p><p>se e virando-se para descer em sua posição favorita:</p><p>vertical. Então, colocamos um portão de bebê e a</p><p>observávamos atentamente, mas isso não a impedia</p><p>de procurar cada momento de descuido nosso para</p><p>tentar novamente, especialmente na casa de outras</p><p>pessoas.</p><p>Então, decidimos deixá-la cair. Não a deixamos</p><p>escalar muito alto ou cair muito longe e nos</p><p>certificamos de que o percurso da queda era seguro,</p><p>mas paramos de resgatá-la. Não deu outra, nossa</p><p>pequena acrobata foi direto para as escadas</p><p>novamente. Dessa vez, quando subiu alguns degraus</p><p>e se virou para fazer sua pequena travessura, não</p><p>reagimos. Nós a advertimos, mas o brilho da</p><p>estripulia em seus olhos revelou sua determinação</p><p>em nos vencer nesse jogo. Quer dizer, até ela cair</p><p>várias vezes. Não demorou muito para ela descobrir</p><p>que cair é algo assustador e dói muito! Então, ela</p><p>parou de tentar, até que fosse muito mais forte e</p><p>firme. No final, ela ficou mais segura do que quando</p><p>a observávamos como falcões, pois fora convencida</p><p>de algo por experiência própria. Essa experiência de</p><p>dor a protegeu, quer estivéssemos perto ou longe,</p><p>em casa ou em qualquer outro lugar. Bons pais às</p><p>vezes permitem que seus filhos vivam experiências</p><p>dolorosas a fim de lhes ensinar lições importantes,</p><p>até mesmo lições que salvam vidas.</p><p>Deus é um pai muito melhor</p><p>do que qualquer ser</p><p>humano jamais poderia ser. Como o pai na parábola</p><p>do filho pródigo, ele deixa seus filhos partirem, às</p><p>vezes por longos períodos. E espera pacientemente</p><p>por eles até que fiquem exaustos do pecado, e</p><p>cheguem ao limite. Então, amorosamente, os recebe</p><p>de volta, enquanto se encaminham para casa. Eles</p><p>precisam aprender onde encontrar a alegria e o amor</p><p>verdadeiros e precisam aprender a respeito de suas</p><p>próprias fraquezas e incapacidade de mudar, até que</p><p>saibam valorizar a salvação e o poder de Deus.</p><p>Por consequência de suas muitas quedas, os</p><p>cristãos maduros são prudentes e atentos. Conhecem</p><p>a perigosa decepção dos prazeres mundanos e sua</p><p>própria tendência de serem apanhados por eles.</p><p>Estão completamente cientes dos males associados a</p><p>tais prazeres, são mais cautelosos contra eles e,</p><p>portanto, são mais frequentemente libertos deles.</p><p>Sabem que são fracos e, portanto, são mais</p><p>cuidadosos em não se colocarem em situações que</p><p>sejam perigosas e tentadoras.</p><p>NA SAÚDE E NA DOENÇA...</p><p>ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE</p><p>Cristãos maduros também são capazes de manter</p><p>seus olhos fitos em Jesus, ainda que a terra se</p><p>transtorne ao seu redor (Salmos 46.1-3). Sua alegria</p><p>não está fundamentada nas circunstâncias de sua</p><p>vida, mas naquilo que Cristo fez por eles. Deste</p><p>modo, eles não duvidam do amor de Deus quando</p><p>as dificuldades e o sofrimento lhes sobrevêm.</p><p>Também não se desviam ou pensam que não</p><p>precisam mais de Deus, se ele lhes der prosperidade</p><p>e riquezas. Seguram suavemente suas riquezas e</p><p>posses, sabendo que o Deus que hoje os agraciou</p><p>com tais coisas, poderá também subtraí-las no</p><p>futuro. Não creem que Deus lhes deve uma vida</p><p>fácil, antes recebem todas as circunstâncias como</p><p>vindas das mãos amorosas do Pai. Por isso, são</p><p>firmes, estáveis e não se abalam facilmente com os</p><p>desastres da vida. Lamentam quando a tristeza e a</p><p>morte lhes sobrevêm, mas lamentam com uma forte</p><p>certeza de fé e uma esperança firme nas promessas</p><p>de Deus.</p><p>Os cristãos maduros também tendem a encarar a</p><p>morte de uma maneira diferente de seus irmãos mais</p><p>novos em Cristo. Newton observa que somos seres</p><p>terrenos e que não somos muito inclinados a passar</p><p>muito tempo pensando sobre o céu. O cristão</p><p>maduro é muito diferente. Ele anseia pelo céu e</p><p>escolheria prontamente a vida eterna a esta vida aqui</p><p>na terra, se não tivesse outras pessoas com quem se</p><p>importar. Anseia por partir e estar com Cristo, assim</p><p>como o apóstolo Paulo (Filipenses 1.23), mas ainda</p><p>tem noção dos aspectos egoístas desse desejo. Sabe</p><p>que ainda há muitas pessoas para amar e servir na</p><p>terra. Por isso, ele sonha com a vida eterna, mas</p><p>mantém os pés enraizados firmemente no ministério</p><p>que Deus lhe deu para cumprir na terra. Sua mente</p><p>está focada no céu, mas seu desejo é fazer muitas</p><p>coisas boas na terra.</p><p>O cristão maduro mal pode esperar para ver seu</p><p>Salvador face a face e atirar-se a seus pés. Está</p><p>cansado do seu eu pecaminoso e anseia por</p><p>abandonar o corpo de morte e adentrar a</p><p>eternidade.25 De tempos em tempos, quando Deus</p><p>se agrada em lhe conceder um vislumbre do céu, seu</p><p>coração explode de gratidão e alegria. Isso pode</p><p>acontecer enquanto ele louva ao Senhor, lê as</p><p>Escrituras, ouve música ou, às vezes, sem qualquer</p><p>motivo aparente. De repente, ele é transportado e</p><p>encontra seu coração ardendo de amor por Deus e</p><p>um senso quase insuportável do amor de Deus por</p><p>ele.</p><p>Ele não exige que tais momentos aconteçam, nem</p><p>os prolonga, nem os procura. Mas sabe que esses</p><p>momentos são um sinal do que está por vir, uma</p><p>amostra do dia em que cairá de joelhos diante do</p><p>cordeiro de Deus, completamente maravilhado,</p><p>perdido em amor e adoração. Então, em um</p><p>instante, ele será transformado e, com júbilo e</p><p>clareza, verá o objeto do seu desejo. Depois, ele</p><p>tocará nas mãos, com cicatrizes, estendidas para</p><p>recebê-lo, e o que era fé se tornará visível de uma</p><p>vez por todas. Esses vislumbres do céu abastecem</p><p>seu coração com energia e determinação, pois o</p><p>recordam de que Cristo voltará para reivindicá-lo e</p><p>levá-lo para sua morada. Embora poucos de nós</p><p>atinjam a maravilhosa maturidade espiritual nesta</p><p>vida, não há motivos para nos desesperarmos. Por</p><p>meio da rica e amorosa graça de Deus, todos nós</p><p>chegaremos lá, no final; seremos transformados</p><p>instantaneamente em sua imagem, pois o veremos</p><p>com os nossos próprios olhos!</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. De que maneiras Deus o tem transformado à</p><p>medida que você caminha com ele ao longo da vida?</p><p>Que ferramentas têm sido poderosos instrumentos</p><p>de crescimento em sua vida?</p><p>2. Que verdades espirituais transformam um cristão</p><p>que está em fase de amadurecimento? Essas mesmas</p><p>verdades estão impactando sua vida neste momento</p><p>ou parecem distantes e irrelevantes? Por quê?</p><p>3. Você é mais humilde agora do que era quando se</p><p>converteu? De que maneiras você percebe que o</p><p>orgulho ainda afeta sua relação com Deus? E com</p><p>os outros?</p><p>4. Que monumentos à sua própria perversidade</p><p>marcam o caminho de sua vida? Você pensa sobre</p><p>eles com frequência ou prefere esquecê-los e</p><p>escondê-los dos outros? Que monumentos à</p><p>fidelidade de Deus você já ergueu em sua vida?</p><p>Você medita neles com frequência? Por que seus</p><p>pensamentos vagueiam? E para onde eles vão na</p><p>maioria das vezes?</p><p>5. Que impacto haveria em sua vida se você</p><p>habitasse na montanha de seu pecado, mas não visse</p><p>a montanha mais alta da fidelidade de Deus por</p><p>você, apesar do seu pecado? Que impacto haveria se</p><p>você visse apenas a bondade de Deus e nunca se</p><p>lembrasse do seu pecado? Que bons frutos podem</p><p>vir da coexistência frequente dessas verdades?</p><p>6. Newton descreve o nosso pecado como a linha</p><p>do baixo na música de nossas vidas e o evangelho</p><p>como a linha melódica. Com que se parece a música</p><p>de sua vida? É pesada no baixo e suave na melodia?</p><p>É totalmente melódica e sem harmonia? Por quê?</p><p>20. John Newton, “The Full Corn in the Ear”, Select Letters of</p><p>John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 15. Neste</p><p>capítulo, a descrição do crente maduro na fé se baseia grandemente</p><p>nesta carta.</p><p>21. Ibid., 16.</p><p>22. “Introduction”, Select Letters of John Newton (repr.,</p><p>Edinburgh: Banner of Truth, 2011), xii. A referência é à “Letter 7 to</p><p>Mr. B___”, The Works of John Newton (repr., Edinburgh: Banner</p><p>of Truth, 1985), 631.</p><p>23. John Newton, “The Causes, Nature and Marks of a Decline in</p><p>Grace”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner</p><p>of Truth, 2011), 133.</p><p>24. Newton, “The Full Corn in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton, 17.</p><p>25. Ver John Newton, “Difference Between Acquired and</p><p>Experimental Knowledge”, Select Letters of John Newton (repr.,</p><p>Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 139.</p><p>capítulo cinco</p><p>a ilusão da Disney</p><p>Senhor, atualmente ouvimos falar muito sobre a</p><p>dignidade da natureza humana. — John Newton26</p><p>A maioria de nós é especialista em esconder suas</p><p>fraquezas. Não é divertido ser fraco, e nos</p><p>esforçamos muito para negar as nossas fraquezas e</p><p>escondê-las dos outros. Esse é um enorme problema</p><p>para nós como cristãos e provoca caos e dor em</p><p>nossa vida e na vida dos outros.</p><p>Estamos profundamente confusos sobre o que</p><p>Deus espera de nós e o que realmente somos</p><p>capazes de alcançar nesta vida. Essa confusão,</p><p>apesar de trágica, não é nenhuma surpresa.</p><p>Particularmente nós, americanos, vivemos em uma</p><p>cultura na qual se ensina, desde os primeiros dias da</p><p>pré-escola, que apenas acreditar em algo faz com</p><p>que esse algo seja verdade e que ninguém nos</p><p>impedirá de alcançar nossos sonhos. Se Newton se</p><p>preocupava, em sua época, com tanta discussão</p><p>acerca da dignidade da natureza humana ao ponto</p><p>de obscurecer nossa condição caída, o que ele diria</p><p>sobre os nossos dias? Histórias de pessoas que</p><p>passam da pobreza para a riqueza são anunciadas</p><p>pela mídia como prova de que qualquer um pode se</p><p>tornar o que bem quiser. Isso resulta em que</p><p>esperanças e aspirações tolas são nutridas muito</p><p>além do que as duras realidades desse mundo</p><p>poderiam aceitar.</p><p>Eu amo Walt Disney, mas também me preocupo</p><p>com o impacto poderoso de seus filmes. Este fato</p><p>aconteceu em nossa casa há alguns anos, quando o</p><p>líder de louvor da nossa igreja decidiu</p><p>oferecer, em</p><p>nossa casa, um lanche inspirado em um tema da</p><p>Disney, apenas por diversão. A magia dominou</p><p>aquela noite na medida em que nossa decoração</p><p>tradicional foi transformada em um espaço elegante</p><p>e iluminado, brilhando com luz de velas e inundado</p><p>com um aroma de café e leite espumoso.</p><p>Sempre gostamos de assistir aos filmes da Disney</p><p>com os nossos filhos, quando eram crianças, embora</p><p>fôssemos sempre prontos e diligentes a criticá-los</p><p>biblicamente e a ajudar nossos filhos a assistirem a</p><p>esses filmes sob uma perspectiva cristã. Meu filho</p><p>mais velho diz que até hoje não consegue assistir a</p><p>um filme da Disney sem ouvir minha voz na sua</p><p>cabeça: “Ora, Jamie, você concorda com o Grilo</p><p>Falante? Você acha que a Bíblia nos ensina a</p><p>deixar a nossa consciência ser o nosso guia?”</p><p>Tenho certeza de que saturamos os nossos filhos</p><p>com nossas tentativas mais sinceras de ensiná-los a</p><p>desfrutar o mundo que Deus lhes deu, com</p><p>sabedoria e discernimento. No entanto, contos como</p><p>Pinóquio, A Bela Adormecida, Cinderela, Mogli e</p><p>Mary Poppins nutriram em nossas crianças os dons</p><p>de imaginação e de criatividade dados por Deus.</p><p>Com suas mensagens idealistas e humanistas sobre</p><p>o desenvolvimento de nossos potenciais, esses filmes</p><p>pairavam no pano de fundo da vida de nossos filhos,</p><p>e, às vezes, eu me preocupava com as expectativas</p><p>que esses filmes estavam criando no coração de</p><p>pessoinhas facilmente impressionáveis. Minhas filhas</p><p>brincavam sempre de princesa e se deslumbravam</p><p>visivelmente com grandes palácios, joias e, é claro,</p><p>um belo príncipe. Minha filha Hannah ainda era</p><p>pequena quando, certa vez, retrucou a uma</p><p>repreensão minha, informando-me que eu não era</p><p>sua verdadeira mãe; que ela era, na verdade, uma</p><p>princesa; que, um dia, eu me arrependeria quando</p><p>seus verdadeiros pais viessem buscá-la e que ela me</p><p>colocaria numa prisão pelo resto de minha vida.</p><p>Você poderia dizer que essa é evidentemente uma</p><p>fantasia muito comum — pela qual todos nós já</p><p>passamos em algum momento da vida. Porém,</p><p>naquela noite do café temático da Disney, comecei a</p><p>suspeitar de que o reino de fantasia tinha se fundido</p><p>perigosamente à realidade, para toda uma geração</p><p>de crianças.</p><p>O PODER DO FAZ DE CONTA</p><p>Nossa casa estava abarrotada de jovens estudantes</p><p>entusiasmados, vestidos como personagens da</p><p>Disney. A música era cativante, e suas</p><p>interpretações, fascinantes. No entanto, o que mais</p><p>chamou a minha atenção naquela noite foi o</p><p>engajamento desses jovens com as histórias e</p><p>músicas dos contos de fada. Esses estudantes não</p><p>apenas assistiam aos filmes da Disney de tempos</p><p>em tempos; durante a infância, eles cresceram com</p><p>Disney. Sabiam a letra de todas as canções, e alguns</p><p>deles eram capazes de repetir roteiros inteiros, com</p><p>diálogos completos. Eles eram apaixonados pelos</p><p>personagens, estavam encantados com as travessuras</p><p>e ações dos heróis e heroínas e se identificavam</p><p>profundamente com os amados personagens de seus</p><p>contos incríveis. Esses jovens inteligentes, prósperos</p><p>e de nível elevado sofriam de uma séria devoção a</p><p>esse mundo de faz de conta, e, a partir daquela</p><p>noite, comecei a me perguntar o quanto do estilo</p><p>“Disney de ser” já havia se infiltrado em suas vidas</p><p>espirituais também. A noção de que você pode ser</p><p>tudo que quiser, bastando apenas acreditar nisso,</p><p>pode ser bastante prejudicial nos jardins de infância</p><p>desse mundo, mas, quando transportada para a</p><p>igreja, essa noção é mortal.</p><p>A Disney nos chama a que nos identifiquemos com</p><p>os personagens oprimidos das histórias, cuja</p><p>grandeza interior, velada por algum tempo, revela-se</p><p>de maneira gloriosa através da superação das</p><p>adversidades. Em nossos pequenos mundos</p><p>centrados no eu, nos voltamos para o nosso interior</p><p>a fim de nos imaginar mais fortes, mais inteligentes e</p><p>bem melhores do que realmente somos. Como é</p><p>delicioso mergulhar no mundo da fantasia e fingir</p><p>ser o que não somos ou não ser o que na verdade</p><p>somos. É claro que, mais cedo ou mais tarde, a</p><p>maioria de nós percebe que essa fantasia não nos</p><p>leva muito adiante na vida real, e encaramos a difícil</p><p>empreitada de aceitar a realidade e trabalhar apenas</p><p>com o que nos foi dado. Em vez de nos tornarmos</p><p>astronautas, bombeiros, dançarinas de balé ou</p><p>princesas, como sonhávamos no jardim da infância,</p><p>a maioria de nós se torna engenheiro, encanador,</p><p>professor ou contador.</p><p>FAZ DE CONTA CRISTÃO</p><p>Todavia, quando a mensagem da Disney é</p><p>proclamada amplamente nos púlpitos de igrejas bem</p><p>intencionadas e bíblicas, ela é devastadora para o</p><p>povo de Deus. Essa mensagem nos diz que, se</p><p>possuirmos fé suficiente, poderemos fazer ou ser o</p><p>que quisermos. Não podemos sucumbir à forma</p><p>mais grosseira dessa crença que infecta tantas</p><p>igrejas, a qual ensina que a nossa fé pode nos tornar</p><p>saudáveis e ricos. Contudo, muitas vezes, aderimos</p><p>a uma forma mais sutil da mesma doença.</p><p>Acreditamos realmente que, se tivermos fé suficiente</p><p>e tentarmos bastante, bastante mesmo, deixaremos</p><p>de pecar e nos tornaremos iguais a Jesus. Somos</p><p>ensinados que está em nosso poder o permitir ou o</p><p>inibir a obra de Deus de santificação em nossas</p><p>vidas, de modo que nosso progresso na santificação</p><p>pessoal dependa de nós. Se nos esforçarmos mais e</p><p>cooperarmos com Deus, poderemos ser bem</p><p>sucedidos e adquirir uma perfeição efetiva,</p><p>tornando-nos príncipes ou princesas espirituais.</p><p>Porém, se escolhermos não nos comprometer</p><p>totalmente com Deus, ele não terá poder para nos</p><p>mudar e, talvez, não poderá nos abençoar como</p><p>gostaria.</p><p>Esse tipo de visão atribui muito poder às pessoas</p><p>que, na verdade, são muito fracas e cheias de</p><p>pecados. Deus planejou desta maneira, lembra-se?</p><p>Ele poderia ter-nos feito fortes ou mesmo perfeitos</p><p>no momento em que salvou cada um de nós, mas</p><p>não o fez. Em vez disso, enviou seu Espírito para</p><p>habitar naqueles que ainda estão sujeitos à carne</p><p>pecaminosa e cheios de pecados remanescentes. Ao</p><p>nos chamar à obediência, ele nos recorda que somos</p><p>apenas pó, mas continuamos a nos esquecer disso.</p><p>Achamos que com apenas um desejo, uma pitada de</p><p>pó mágico, um bom tempo em silêncio e um pouco</p><p>de oração, todos nós podemos ser heróis espirituais</p><p>e realizar grandes coisas para Deus. Não poderíamos</p><p>estar mais errados, e, como resultado, somos</p><p>devastados quando a realidade se choca com a</p><p>fantasia, dia após extenuante dia.</p><p>Toda semana, eu aconselho jovens de sólidos lares</p><p>cristãos que estão arruinados por seus pecados.</p><p>Como pais, às vezes, investimos mais em proteger</p><p>nossos filhos das influências pecaminosas deste</p><p>mundo do que em prepará-los para enfrentar a</p><p>profunda pecaminosidade de seu próprio coração.</p><p>Achamos que, se conseguirmos evitar que eles</p><p>pequem demasiadamente enquanto são novos e</p><p>vulneráveis, eles não terão que lutar tanto contra o</p><p>pecado quando se tornarem adultos. É claro que</p><p>bons pais não permitem que seus filhos pequem</p><p>muito. Eles disciplinam, ensinam, refreiam e</p><p>intervêm. Porém, tais ações, por si só, não preparam</p><p>bem os jovens para a realidade das fortes tentações</p><p>que encontrarão no futuro, quando os seus pais não</p><p>estiverem por perto. Levantar um muro entre a</p><p>criança e a tentação não é a mesma coisa que</p><p>prepará-la para encarar a vida.</p><p>Se formos honestos e sábios, lembraremos aos</p><p>nossos filhos que eles são pequenos pecadores</p><p>depravados desde o início, que ser desobediente é</p><p>fácil e natural para as crianças, as mamães e os</p><p>papais e que a obediência está muito além de nossa</p><p>capacidade. Se negarmos essa realidade, agindo</p><p>como se estivéssemos terrivelmente espantados cada</p><p>vez que eles pecarem, dizendo “como você pôde</p><p>fazer isso?”, não seria surpresa nenhuma se os</p><p>nossos filhos ficassem confusos. Não é de se</p><p>admirar que as escolas estejam repletas de jovens</p><p>cristãos, homens e mulheres, que sabem que são</p><p>pecadores de uma maneira geral e por alto, mas que</p><p>desmoronam e são destruídos pela ansiedade e</p><p>depressão quando caem em um pecado específico.</p><p>Eles ficam chocados com seus próprios desejos e</p><p>comportamentos e se veem recorrendo a vícios</p><p>nocivos ou à busca maníaca da disciplina cristã, a</p><p>fim de amenizar seus sentimentos desesperados de</p><p>fracasso e inadequação.</p><p>A FRAQUEZA</p><p>DA FORÇA E A FORÇA DA</p><p>FRAQUEZA</p><p>Acho que temos medo de acreditar que somos</p><p>fracos (ou de ajudar nossas crianças a reconhecerem</p><p>que são fracas), porque tememos que admitir uma</p><p>fraqueza seja o mesmo que aceitar um pecado.</p><p>Contudo, em minha experiência, admitir nossas</p><p>fraquezas nos leva, na verdade, a pecar menos. Mas</p><p>primeiro devemos entender o que a Bíblia diz sobre</p><p>força e fraqueza. Na Bíblia, os mais fortes são</p><p>aqueles que reconhecem suas próprias fraquezas,</p><p>enquanto os mais fracos são aqueles que se</p><p>impressionam mais com sua própria força. A história</p><p>do próprio povo de Deus dá testemunho desse fato.</p><p>Em nenhum lugar do Antigo Testamento vemos</p><p>Israel como um povo obediente e justo, guardando</p><p>alegremente as leis de Deus. Pelo contrário, logo</p><p>após Deus ter dado ao seu povo as leis no Monte</p><p>Sinai, num cenário que incluiu raios, trovões e</p><p>efeitos sonoros tenebrosos, esse mesmo povo</p><p>acabou por quebrar a aliança que fizera com Deus</p><p>por criar um bezerro de ouro (Êxodo 32). Desde o</p><p>início, o povo de Deus se envolveu num constante</p><p>padrão de pecado que resultaria em seu exílio da</p><p>terra que Deus lhe havia dado. A história do povo</p><p>escolhido de Deus é um relato exaustivo,</p><p>desmoralizador e desencorajador marcado por</p><p>desobediência, pecado, rebelião e ódio a Deus. Mas</p><p>é também uma história fascinante de amor e resgate,</p><p>já que Deus preservou um remanescente para si,</p><p>apesar de todo o pecado e desobediência de seu</p><p>povo.</p><p>Até mesmo os maiores heróis do Antigo</p><p>Testamento foram frequentemente enredados pelo</p><p>pecado da idolatria e tiveram grande necessidade do</p><p>Salvador quando menos esperavam. Abraão mentiu</p><p>sobre Sara ser sua esposa (Gênesis 12) e se permitiu</p><p>ser persuadido a tomar uma concubina (Gênesis 16).</p><p>Davi foi um adúltero e assassino (2 Samuel 11),</p><p>enquanto Salomão multiplicou cavalos e carruagens,</p><p>bem como adquiriu muitas esposas estrangeiras,</p><p>para as quais acabou construindo templos idólatras</p><p>(1 Reis 11). Como resultado de toda essa fraqueza e</p><p>pecado, no entanto, o Antigo Testamento também é</p><p>uma história impressionante sobre a paciência, a</p><p>longanimidade, a bondade e o amor de Deus para</p><p>com aqueles que escolheu redimir. Sem a vastidão</p><p>de pecados do povo, não haveria contexto para se</p><p>revelar a grandeza da graça de Deus.</p><p>A situação não é diferente quando chegamos ao</p><p>Novo Testamento. Os apóstolos não foram os</p><p>exemplos mais brilhantes de santidade: Tiago e João</p><p>queriam que descesse fogo do céu para consumir</p><p>uma aldeia de samaritanos (Lucas 9.54); Pedro</p><p>queria impedir que Cristo fosse para a cruz (Mateus</p><p>16.21-23) e teve medo de enfrentar os judeus na</p><p>Galácia (Gálatas 2.12); Paulo e Barnabé não</p><p>conseguiram chegar a um acordo sobre dar uma</p><p>segunda chance a João, chamado Marcos, depois</p><p>que este os desapontou em sua primeira viagem</p><p>missionária (Atos 15.37-39); e Paulo ainda chama a</p><p>si mesmo de o principal dos pecadores (1 Timóteo</p><p>1.15) e explica, em detalhes, sua incapacidade de</p><p>obedecer a Deus em Romanos 7 e Gálatas 5. Jesus,</p><p>porém, reservou suas repreensões mais severas para</p><p>os fariseus, um grupo que estava mais</p><p>comprometido em encenar atos de justiça do que</p><p>qualquer um de nós (Lucas 11.42-44).</p><p>Dado este contexto, não é surpresa alguma ler no</p><p>Novo Testamento os ensinamentos de Paulo sobre a</p><p>fraqueza. Se a história da redenção diz respeito a</p><p>nos tornarmos cada vez mais sem pecado, então, o</p><p>gloriar-se de Paulo em sua fraqueza não faz sentido</p><p>algum (2 Coríntios 11.30). Mas, se a história da</p><p>redenção é sobre Jesus e sua justiça, então, a nossa</p><p>contínua fraqueza faz resplandecer os holofotes</p><p>sobre Jesus com toda a intensidade. A descrição de</p><p>Paulo como o principal dos pecadores (veja 1</p><p>Timóteo 1.15-16) não é nenhuma tentativa</p><p>charmosa de humildade e autodegradação; ela é a</p><p>mais absoluta e gloriosa verdade. Somos todos</p><p>crianças fracas e delicadas, que pecam muito em sua</p><p>desobediência, mas que também conseguem pecar</p><p>muito em seus melhores momentos de obediência.</p><p>Descobrir essa verdade e amadurecer para amá-la</p><p>pode ser uma das mais poderosas e alegres</p><p>motivações para a mudança que Deus já inventou,</p><p>mas parece que hoje poucos cristãos conseguem</p><p>chegar até lá. Eles têm grande dificuldade para abrir</p><p>mão de suas grandes expectativas em relação a si</p><p>mesmos e aos outros e são deixados sem rumo,</p><p>girando em ciclos de medo e vergonha, enquanto</p><p>tentam desesperadamente impor essas expetativas ao</p><p>recalcitrante mundo à sua volta.</p><p>Pode ser proveitoso parar um momento e examinar</p><p>suas próprias expectativas sobre si mesmo e sobre</p><p>aqueles ao seu redor. O que você acha que Deus</p><p>espera de você como um pecador redimido? Essas</p><p>expectativas estão moldadas por todo o conselho da</p><p>Palavra de Deus? Você tende a se deter nas</p><p>passagens bíblicas que o chamam a tentar obedecer</p><p>com afinco e se esquece das passagens que o</p><p>lembram de que Deus é paciente com seus filhos</p><p>que são fracos? Suas expectativas foram moldadas</p><p>por pais exigentes cuja aprovação dependia do seu</p><p>desempenho? Você foi influenciado por pregações</p><p>exageradamente esperançosas a respeito de</p><p>mudanças e que estavam ligadas a ideias de</p><p>perfeccionismo? O estilo Disney possui tão grande</p><p>controle sobre sua mente e coração, que você não</p><p>consegue abrir mão de seus sonhos cristãos de</p><p>agradar a Deus por meio de sua bondade própria?</p><p>Se você é pai ou mãe, está ajudando seus filhos a</p><p>entenderem a respeito de seus corações pecaminosos</p><p>e a voltarem-se para Cristo quando falharem ou</p><p>teme que a compaixão pela condição pecaminosa</p><p>deles poderá fazê-los pecar ainda mais? Você</p><p>demonstra compreensão e graça a seus amigos</p><p>quando pecam contra você e contra os demais ou</p><p>você é frio e inflexível em sua condenação contra</p><p>eles?</p><p>UM MOTIVO DE ALEGRIA</p><p>Você nunca será capaz de encontrar alegria perene</p><p>nesta vida até que entenda, se sujeite e abrace o fato</p><p>de que você é fraco e pecador. Isso parece</p><p>chocante? A verdade é que apenas as pessoas fracas</p><p>e pecadoras realmente precisam de um redentor.</p><p>Paulo se gloriou em sua fraqueza e se regozijou no</p><p>fato de ser o principal dos pecadores, porque</p><p>acreditava, sem sombra de dúvida, que Deus havia</p><p>ordenado toda aquela fraqueza e quebrantamento</p><p>para seu próprio bem e para a glória de Deus. Você</p><p>talvez pense que, na verdade, traria mais glória a</p><p>Deus por meio da sua força e obediência do que por</p><p>meio do seu fracasso. Porém, o Senhor soberano do</p><p>universo parece discordar de você. O interesse</p><p>supremo de Deus é a glória de seu Filho, e ele se</p><p>agrada da maneira como essa glória é revelada em</p><p>seu amor por pessoas ímpias que precisam</p><p>constantemente de sua graça e misericórdia, dia após</p><p>dia. Aceitar sua fraqueza abre novas caminhos de</p><p>regozijo em seu Salvador — novos corredores de</p><p>adoração e reverência, enquanto você contempla</p><p>tudo o que ele é para você, mesmo você sendo</p><p>quem realmente é, por dentro e por fora.</p><p>Podemos ir além da aceitação de nossa fraqueza e</p><p>alegrar-nos com ela? Como seria possível chegarmos</p><p>a apreciar a nossa própria fraqueza? Deixe-me</p><p>responder a essa questão com uma história. Passei</p><p>décadas desprezando minha fraqueza, e o fruto</p><p>desse ódio em minha vida não era atraente. Fiquei</p><p>muito gorda por quinze longos e dolorosos anos. E,</p><p>por “muito gorda”, me refiro a clinicamente obesa:</p><p>63 quilos acima do peso normal. Eu teria feito</p><p>qualquer coisa e, realmente, tentei tudo para superar</p><p>esse obsessão pecaminosa pela comida. Eu era</p><p>membro fiel e, por vezes, muito bem-sucedida do</p><p>programa “Vigilantes do Peso”. Participava de todos</p><p>os grupos cristãos de perda de peso que podia</p><p>encontrar, lia todos os livros, orava, fazia</p><p>planejamentos, jejuns e pagava conselheiros</p><p>caríssimos para me ajudarem a superar esse</p><p>problema.</p><p>Pela graça de Deus, eu sabia que meu hábito de</p><p>comer em excesso era pecado e o chamava de</p><p>pecado — e isso me causava muito mais tristeza do</p><p>que se eu fingisse ser um problema hormonal. Isso</p><p>também me fazia ficar com muito mais vergonha e</p><p>constrangimento; apenas uma olhada rápida e todos</p><p>poderiam ver que a esposa do pastor era uma</p><p>“grande e imensa” pecadora atrapalhada tentando se</p><p>equilibrar. Todos os dias, eu acordava com</p><p>determinação para mudar</p><p>e, todos os dias, comia de</p><p>maneira compulsiva em resposta a toda e qualquer</p><p>emoção. Comia quando estava triste, chateada,</p><p>entediada, temerosa e ansiosa. Também comia</p><p>quando estava feliz, empolgada, esperançosa e</p><p>alegre com minha vida. Eu estava com um grande</p><p>problema, pois passava o dia inteiro comendo</p><p>compulsivamente, todos os dias, apesar do ódio que</p><p>sentia por esse pecado e do desejo desesperado de</p><p>mudar. Mais do que qualquer coisa, eu odiava o fato</p><p>de não poder simplesmente decidir mudar quando</p><p>quisesse. Existe algo neste mundo mais humilhante</p><p>do que isso?</p><p>Com meu grande orgulho, eu estava determinada</p><p>que venceria esse pecado. Mas Deus simplesmente</p><p>não me deixou fazer isso. Eu possuía muito</p><p>conhecimento teológico na época e entendia que, se</p><p>ele quisesse que eu mudasse, eu mudaria. Contudo,</p><p>meu ódio por Deus apenas aumentava quando</p><p>pensava no fato de que ele poderia ter detido meu</p><p>pecado, mas decidiu não fazê-lo. Que Deus cruel e</p><p>irritante ele deve ser para brincar com minhas</p><p>emoções desse jeito? Afinal de contas, o que eu</p><p>queria era algo bom ou mesmo algo ótimo. Eu</p><p>queria o fruto do Espírito — ou pelo menos um</p><p>pouco dele! Queria domínio próprio, mas, com toda</p><p>a sinceridade, eu o queria por razões pecaminosas.</p><p>De fato, o que eu queria era o “fruto da Barbara” e</p><p>não o fruto do Espírito. Queria escolher mudar e</p><p>queria o crédito quando a mudança viesse. E, claro,</p><p>eu queria contar a todos que Deus havia me dado</p><p>forças para parar de comer, mas até mesmo a minha</p><p>vida fantasiosa era permeada pelo elogio e pelo</p><p>respeito que eu receberia quando perdesse todo</p><p>aquele peso e me mantivesse no peso ideal para</p><p>sempre. Em minha frustração e tolice, estava cega</p><p>para todo o verdadeiro fruto do verdadeiro e</p><p>poderoso Espírito do Deus vivo, fruto que ele estava</p><p>trabalhando em mim por meio desse pecado.</p><p>Sem nem saber, eu estava me tornando mais</p><p>compassiva para com os outros. Ao invés de julgá-</p><p>los e de rejeitá-los pelos seus problemas, estava</p><p>começando a ter novos pensamentos como: bem,</p><p>eles podem ser fracos em uma determinada área</p><p>em que sou forte, mas olhe pra mim! Se eu não</p><p>consigo simplesmente vencer a minha luta contra a</p><p>comida, talvez eles estejam experimentando algo</p><p>parecido e simplesmente não consigam mudar. A</p><p>crítica e a censura passaram a dar espaço à empatia</p><p>e à tristeza: eu aposto que deve ser realmente difícil</p><p>e constrangedor lutar contra aquilo... Pergunto-me</p><p>como poderia ajudá-los e encorajá-los. Eu estava</p><p>me tornando mais paciente com meu marido e meus</p><p>filhos. Se eu ainda estava falhando tantas vezes com</p><p>uma coisa tão simples como comer, deveria dar aos</p><p>outros a permissão de fazerem o mesmo em suas</p><p>próprias áreas de fraqueza. Estava me tornando mais</p><p>amável com pessoas difíceis e mais gentil com</p><p>pessoas desagradáveis. Estava me tornando mais</p><p>gentil no relacionamento com todos e mais disposta</p><p>a me comprometer a amá-los fielmente a longo</p><p>prazo, mesmo quando não mudavam em</p><p>absolutamente nada. Acima de tudo, eu estava me</p><p>regozijando mais em Cristo e estava me tornando</p><p>muito mais tranquila em relação à ideia de que ele</p><p>me amava exatamente do jeito que eu era, com</p><p>pecado e tudo.</p><p>À medida que o ódio por Deus extravasava do meu</p><p>coração, eu conseguia enxergar meu pecado mais</p><p>claramente e confessá-lo a Deus e aos outros. Então,</p><p>ele me concedeu bondosamente o arrependimento.</p><p>A glutonaria foi o pecado que me revelou tantos</p><p>outros pecados menos visíveis que se abrigaram</p><p>silenciosamente em meu coração por tantos anos,</p><p>sem que fossem notados por mim. O</p><p>arrependimento e a mudança, no entanto, não</p><p>vieram juntos, como nos dizem tão frequentemente</p><p>que devem vir. Deus me deu graça para me</p><p>entristecer com meu pecado de gula e odiá-lo antes</p><p>de me conceder a graça para crescer nessa área.</p><p>O QUE DEUS QUER</p><p>Alegria em Cristo talvez seja o maior desejo de</p><p>Deus para seus filhos. Ele não quer que admiremos</p><p>a nós mesmos; quer que apreciemos e desejemos</p><p>seu Filho amado. Seu objetivo é nos tornar mais</p><p>humildes e nos mostrar a grande necessidade que</p><p>temos do presente encantador que ele nos deu. A</p><p>fraqueza pecaminosa é uma das ferramentas mais</p><p>preciosas que ele usa para nos ajudar a chegar lá.</p><p>À medida que Deus me fazia experimentar meu</p><p>profundo fracasso ano após ano, comecei a valorizar</p><p>algo que até então era apenas uma vaga e misteriosa</p><p>noção em minha mente. Eu cresci em um lar cristão</p><p>e fui ensinada diligentemente acerca da doutrina da</p><p>imputação, mas fui ensinada que esse era um acordo</p><p>de mão única. Meu pecado fora imputado a Cristo,</p><p>e ele morreu no meu lugar. Essa era uma grande</p><p>verdade, porém não era o evangelho completo, e</p><p>isso foi, de alguma forma, desprovido de poder em</p><p>minha vida.</p><p>Quando meu marido fazia seminário, comecei a</p><p>aprender sobre a doutrina da dupla imputação — a</p><p>qual significa que não somente meu pecado fora</p><p>imputado a Cristo, mas também sua justiça fora</p><p>imputada a mim. Deus não apenas removeu meus</p><p>trapos de imundícia, mas também me vestiu com as</p><p>roupas limpas e perfeitas de outra pessoa. Que legal,</p><p>eu pensei. Que conceito claro e maravilhoso! Porém</p><p>isso permaneceu somente um conceito, até eu</p><p>começar a lutar contra um pecado que não</p><p>conseguia derrotar. Ah! aquelas promessas que havia</p><p>feito a Deus e não conseguira cumprir! Ah! a</p><p>completa desgraça da derrota, da apatia, da raiva e</p><p>do desânimo dos quais eu não conseguia me livrar!</p><p>Ah! o angustiante desencorajamento de ciclos</p><p>viciosos que prendiam tão fortemente meu coração e</p><p>minha mente! Nesses momentos de desespero</p><p>intenso, Deus começou a colocar um novo</p><p>pensamento em minha mente.</p><p>Apesar do bom trabalho que Deus estava</p><p>realizando em mim por meio dessas incansáveis</p><p>derrotas, fiquei temerosa e imobilizada. Olhei para o</p><p>futuro e imaginei como seria a vida para mim: uma</p><p>mulher gorda envelhecendo, e essa era uma</p><p>perspectiva desagradável. Já estava me tornando</p><p>uma espectadora da vida dos meus filhos. Estava</p><p>ficando mais difícil para eu me locomover, de forma</p><p>que, com bastante frequência, meu magro, saudável</p><p>e ativo marido levava as crianças para os passeios,</p><p>caminhadas e visitas ao parque, enquanto eu ficava</p><p>sentada em casa, comendo ainda mais, levada pela</p><p>culpa e pela tristeza de estar fazendo aquilo com a</p><p>minha família e comigo mesma. Houve muitas vezes</p><p>que desejei morrer, e alguma outras que me imaginei</p><p>matando a mim mesma, completamente convencida</p><p>de que todos ficariam bem melhor sem mim.</p><p>Minha decepção comigo mesma era impossível de</p><p>suportar. Como eu havia chegado a esse ponto? Eu</p><p>nunca fui violada, de forma alguma, em minha</p><p>infância. Fui criada em um maravilhoso e amável lar</p><p>cristão e não tinha absolutamente nenhuma desculpa</p><p>para meu comportamento negligente e compulsivo.</p><p>Eu usava a comida como um remédio e uma arma,</p><p>embora não fosse muito eficiente nem de uma</p><p>maneira nem de outra. E ainda não havia aprendido</p><p>que você não precisa ter sido maltratado para ser um</p><p>fracasso; basta que seja um ser humano!</p><p>Nessa fase da minha vida, eu estava acostumada a</p><p>ouvir sermões enquanto trabalhava na cozinha,</p><p>como uma forma de ter um tempo com Deus. Não</p><p>gostava realmente de ler a Bíblia por conta própria,</p><p>mas adorava ouvir os sermões centrados no</p><p>evangelho, de pastores reformados. Eu estava</p><p>sempre exausta, com cinco crianças pequenas para</p><p>cuidar e poderia inventar um milhão de desculpas</p><p>para não fazer a temida “devocional”, mas os</p><p>sermões eram prazerosos para minha alma.</p><p>Enquanto eu ouvia o sermão, o assunto da justiça de</p><p>Cristo começou a envolver meu coração. Eu era</p><p>uma bagunça fora de controle, mas Cristo se</p><p>alimentara de maneira perfeita por mim, e sua</p><p>benignidade fora dada a mim. Que pensamento</p><p>impressionante foi esse! Até aquele momento, eu</p><p>estava certa de que Deus me amava mais quando eu</p><p>cumpria minhas promessas de dieta a ele, comia de</p><p>forma saudável e perdia peso. Agora estava</p><p>começando a entender que Deus me amava em</p><p>todos os momentos, como amava seu Filho, Jesus.</p><p>Se meu pecado foi colocado sobre Jesus na cruz,</p><p>então, ele foi levado para sempre.</p><p>Isso tinha que ser verdadeiro em relação a todos os</p><p>pecados que eu ainda não cometera, bem como</p><p>que resulta numa falta de alegria</p><p>e paz, sobre as quais tanto lemos na Bíblia.</p><p>Neste livro, você lerá a respeito de como a graça de</p><p>Deus para nós em Cristo é a melhor de todas as</p><p>notícias, precisamente quando a nossa luta contra o</p><p>pecado é mais intensa. A graça extravagante e</p><p>soberana de Deus é realmente maior do que todos</p><p>os nossos pecados!</p><p>Iain Duguid</p><p>agradecimentos</p><p>Devo a John Newton cada um dos pensamentos</p><p>brilhantes que você encontrará neste livro. Onde não</p><p>o citei de maneira direta, eu o parafraseei</p><p>livremente. Não posso, portanto, receber o menor</p><p>crédito nem pela imensa profundidade das verdades</p><p>bíblicas, nem pelas aplicações saturadas de graça</p><p>dessas doutrinas. Por vezes, levei os pensamentos de</p><p>Newton além do que ele mesmo o fez, aplicando-os</p><p>à vida de um modo que ele não o fez. Contudo,</p><p>acredito que Newton concordaria com o que fiz e</p><p>acrescentaria seu amém.</p><p>Tim Keller foi o primeiro a me apresentar as cartas</p><p>de John Newton há vinte e oito anos. Estou em</p><p>grande dívida para com ele e Kathy, por todo seu</p><p>amor e apoio durante nossos anos de seminário e</p><p>por nos servirem como exemplos vivos do</p><p>evangelho naquela época de formação.</p><p>Há muitas pessoas a quem preciso agradecer a</p><p>ajuda para escrever este livro. Meus pais, Sam e Pat</p><p>Befus, que plantaram pela primeira vez em meu</p><p>coração a semente da fé, regando-a fielmente. Eu</p><p>lhes agradeço a devoção a Cristo, a sua ajuda</p><p>editorial e o fato de terem sido verdadeiros</p><p>animadores de torcida em todo o processo. Meu</p><p>marido, Iain, foi meu herói e apoiador no processo</p><p>de escrita. Ele pegou meus pensamentos confusos,</p><p>colocou ordem no caos e ganhou minha admiração e</p><p>gratidão incessantes ao longo do caminho.</p><p>Quero também agradecer a meus filhos: Wayne,</p><p>Jamie, Sam, Peggy, Hannah, Rob e Rosie. Vê-los</p><p>crescer na graça tem sido o maior prazer e honra de</p><p>minha vida. Quando os ouço me confortarem com</p><p>as palavras de John Newton, meu coração estremece</p><p>e se regozija em louvor Àquele que prometeu ser o</p><p>Deus deles, bem como o meu Deus. Ele certamente</p><p>tem cumprido essa promessa.</p><p>Gostaria de agradecer a Matt Harmon, a Ralph</p><p>Davis e a Eric Johnson os comentários proveitosos</p><p>sobre os manuscritos. Agradeço também à Amanda</p><p>Martin a sua ajuda editorial. Agradeço a Bryce Craig</p><p>e à sua equipe da P&R a oferta desta grande</p><p>oportunidade e a Aaron Gottier, meu gerente de</p><p>projeto, a sua paciência para com meu nervosismo.</p><p>Sou grata à Louise Schimidtberger e à Kim Ware</p><p>pelo grande entusiasmo e orações fervorosas,</p><p>especialmente quando fiquei paralisada e pensei que</p><p>jamais terminaria. Também estou em dívida para</p><p>com todas as jovens mulheres que comigo têm</p><p>estudado John Newton ao longo dos anos e amado</p><p>as verdades que ele ensina. Elas me tem aprimorado</p><p>com suas perguntas e me maravilhado com sua fome</p><p>por crescimento. Agradeço de modo especial à Kat</p><p>Kuciemba, Michelle Bowser, Larissa Lisk e Carolyn</p><p>Wise o fato de beberem profundamente desta fonte</p><p>comigo. Agradeço à Elyse Fitzpatrick a sua amizade</p><p>e o encorajamento à escrita. Sou grata também à</p><p>Kathy Daane, editora da revista Anchor, por me</p><p>conceder a primeira chance de explorar estas ideias</p><p>em forma impressa.</p><p>Louvo a Deus pelo fato de que todos os princípios</p><p>explorados neste livro são totalmente verdadeiros e</p><p>dados gratuitamente a cada um de seus filhos</p><p>amados, que ele uniu a seu Filho, Jesus Cristo. Quer</p><p>tropecemos ou permaneçamos de pé, quer corramos</p><p>a corrida ou tenhamos fé apenas para olhar na</p><p>direção correta, ele é fiel a nós. E usará toda a</p><p>criação, por meio de seu poderoso Espírito Santo,</p><p>para sua própria glória e para o bem eterno e</p><p>espiritual de seus filhos. Louvado seja Deus, porque</p><p>não estamos sob a lei, antes, temos o privilégio de</p><p>progredir sob a sua rica graça extravagante.</p><p>apresentação</p><p>Para onde quer que eu vá, encontro cristãos que são</p><p>depressivos, ansiosos e desencorajados porque ainda</p><p>pecam. De fato, os pecados que eles mais se</p><p>esforçam para vencer são frequentemente os</p><p>mesmos que não conseguem derrotar. Muitos desses</p><p>cristãos frequentam igrejas que pregam a Bíblia,</p><p>creem nela e amam apaixonadamente a Palavra de</p><p>Deus. Eles leem suas Bíblias desejando viver em</p><p>obediência crescente. Oram intensamente, pedindo a</p><p>Deus, sinceramente, que os transforme. De vez em</p><p>quando, vão a um retiro ou ouvem um sermão e,</p><p>com energia e determinação renovadas, fazem um</p><p>plano para vencer esse pecado de uma vez por</p><p>todas. Oram e jejuam, memorizam as Escrituras,</p><p>participam de grupos de oração e refletem sobre seu</p><p>progresso. Por um tempo, isso parece funcionar, e</p><p>as coisas melhoram. Mas logo seu antigo pecado</p><p>reaparece furtivamente e, mais uma vez, os vence –</p><p>só que desta vez, pior do que antes. Agora, o</p><p>desencorajamento os atinge como um tsunami de</p><p>vergonhas, enquanto a esperança de uma mudança</p><p>real se desfaz novamente.</p><p>Muitos cristãos sofrem desse ciclo incansável de</p><p>condenação, arrependimento, esforços, tentativas de</p><p>mudança e derrotas completas. Leem a respeito de</p><p>uma vida cristã alegre e vitoriosa e pensam que Deus</p><p>deve estar muito decepcionado com eles, pois esses</p><p>relatos não descrevem a sua experiência. Talvez até</p><p>concluam que nem mesmo são salvos.</p><p>Então, por que cristãos verdadeiros ainda pecam</p><p>tanto, mesmo após terem sido salvos há décadas?</p><p>Por que não conseguimos firmar nossas atitudes e</p><p>prosseguir melhorando? O que Deus quer ao</p><p>permitir que tanta desobediência e desgraça</p><p>permaneçam nas igrejas e na vida de seu povo</p><p>amado? Se a santificação se resume em pecarmos</p><p>cada vez menos, então, devemos concluir que o</p><p>Espírito Santo não está fazendo muito bem o seu</p><p>trabalho. Até mesmo o apóstolo Paulo chamou a si</p><p>mesmo de o principal dos pecadores (1 Timóteo</p><p>1.15), ao final de sua carreira apostólica. Em vez de</p><p>crescer liberto de seus pecados, parece que Paulo se</p><p>deparava cada vez mais com eles.</p><p>Talvez nosso maior problema não seja a realidade</p><p>de nosso pecado, mas a nossa expectativa antibíblica</p><p>a respeito do que, supostamente, deve ser o</p><p>crescimento cristão. E se crescer na graça tiver mais</p><p>a ver com humildade, dependência e exaltação a</p><p>Cristo do que com derrotar o pecado? Como isso</p><p>impactaria nossa luta contra o pecado e nosso gozo</p><p>em Cristo, enquanto continuamos a viver como</p><p>pecadores fracos em um mundo caído? Certamente</p><p>isso faria toda a diferença do mundo!</p><p>Este livro busca recuperar uma teologia mais</p><p>bíblica quanto à santificação e ao pecado, uma</p><p>teologia que era querida e familiar aos pastores que</p><p>escreveram a Confissão de Fé de Westminster e seus</p><p>sucessores. Em particular, examinaremos com uma</p><p>nova perspectiva os escritos de John Newton, aquele</p><p>que fora um comerciante de escravos e se tornou</p><p>um ministro anglicano, que escreveu o famoso hino:</p><p>Amazing Grace (Maravilhosa Graça). Esse pastor</p><p>do século XVIII delineou uma teologia do fracasso</p><p>na luta contra o pecado, uma teologia que, além de</p><p>tornar os pecadores fracos em pessoas mais</p><p>humildes, magnifica a obra consumada de Jesus</p><p>Cristo e conforta pessoas que parecem não</p><p>conseguir parar de pecar, direcionando-as para</p><p>Cristo em seus piores momentos de derrota. Essa é</p><p>uma verdade que foi grandemente perdida pela</p><p>igreja contemporânea, maravilhada pelo triunfalismo</p><p>individual e pelo mito da vida cristã vitoriosa. Como</p><p>resultado, muitos cristãos vivem uma vida de</p><p>desencorajamento e angústia profundos, escondendo</p><p>suas lutas vergonhosas uns dos outros.</p><p>É um pensamento radical e quase assustador saber</p><p>que Deus opera em nossos piores momentos de</p><p>pecado, tanto quanto em nossos melhores momentos</p><p>de obediência. Longe de nos conduzir a pecar ainda</p><p>mais, esse conceito nos atrai a uma dependência</p><p>mais profunda das promessas de Deus e de seu</p><p>poder. Se aquele que começou a boa obra em nós</p><p>prometeu ser fiel para completá-la, estamos seguros.</p><p>Se as Escrituras nos apresentam um Deus que é</p><p>absolutamente soberano sobre o pecado de todas as</p><p>pessoas, inclusive o de seus próprios filhos,</p><p>podemos ser confortados. Se Deus utiliza nossos</p><p>pecados reincidentes para nos revelar a beleza</p><p>estarrecedora de nosso Salvador, seremos cativados</p><p>por ele. Se nosso pecado atual nos mantém aos pés</p><p>em</p><p>relação aos pecados que eu já tinha perpetrado</p><p>contra Deus. Se a justiça de Cristo me fora dada,</p><p>integral e completamente, Deus me via realmente</p><p>como uma pessoa que se alimenta de maneira</p><p>perfeita, com um histórico de obediência e</p><p>autocontrole que eu nunca poderia alcançar.</p><p>Enquanto essa doutrina penetrava profundamente</p><p>em minha mente e alma, uma revolução começou a</p><p>acontecer. Meu pecado se tornou uma oportunidade</p><p>para a maravilhosa celebração da verdade de que,</p><p>em Cristo, eu já estava justificada, santificada e</p><p>glorificada, apesar de meus miseráveis e persistentes</p><p>fracassos aqui e agora.</p><p>Eu não desisti de tentar mudar, mas comecei a</p><p>descansar em relação à minha persistente</p><p>incapacidade de mudar. Já possuía aquilo de que</p><p>tanto precisava: o inabalável amor do Deus do</p><p>universo e a bendita perfeição do seu Filho, que</p><p>viveu a vida por mim e também morreu pelos meus</p><p>pecados. Meu coração foi tomado por essa verdade,</p><p>enquanto eu me deleitava e me alegrava na perfeição</p><p>que tinha em Cristo. Isso parecia um amor louco,</p><p>audacioso e inacreditavelmente generoso que levara</p><p>Jesus a ir a tais extremos pela alegria de ter-me. Eu</p><p>sabia que não era digna de ser dele, mas pela alegria</p><p>que lhe estava proposta, Jesus escolheu me amar e</p><p>sofrer em meu lugar, sabendo plenamente que eu</p><p>continuaria a ser esta pessoa fraca, pecaminosa,</p><p>idólatra e rebelde, tão enroscada na teia de meus</p><p>próprios desejos.</p><p>Esse novo entendimento não me fez querer pecar</p><p>mais. Pelo contrário, moveu meu coração a querer</p><p>obedecer. Essa era a graça divina que um</p><p>conselheiro havia descrito a mim muitos anos antes,</p><p>um tipo de graça que eu ainda não podia sequer</p><p>imaginar ou entender. A graça de ficar muito fraca e</p><p>lutar diariamente contra o pecado e, ainda assim,</p><p>dançar e me alegrar na plena certeza do amor de</p><p>Deus por mim. Isso era estar em Cristo, unido a ele</p><p>em sua morte e em sua obediência, e deleitar-se com</p><p>o mesmo amor que o Pai tem por ele. A graça de se</p><p>obter uma alegria fora do comum na presença da</p><p>derrota dolorosa: a graça de não apenas sobreviver a</p><p>um grande fracasso, mas de crescer diante dele. Essa</p><p>era uma graça incrível, extravagante e inexplicável,</p><p>em que o orgulho próprio fora amorosamente</p><p>estilhaçado, de modo que tudo que eu poderia fazer</p><p>era olhar para Cristo, admirar sua perfeição e me</p><p>maravilhar em seu amor por uma pessoa tão</p><p>profundamente problemática.</p><p>Deus não é fascinado por nossas tentativas de</p><p>agradá-lo. Ele está totalmente focado na obediência</p><p>de seu Filho e satisfeito com a benignidade de Jesus</p><p>Cristo. Deus ama quando ficamos maravilhados com</p><p>a brilhante glória de seu Filho; portanto, ele não</p><p>permitirá que fiquemos exageradamente</p><p>impressionados com nossas próprias obras, por</p><p>muito tempo. Em amor, ele quebra o mito da</p><p>Disney, a fim de nos direcionar para uma alegria</p><p>ainda maior do que jamais poderíamos imaginar.</p><p>Em contraste com as errôneas concepções</p><p>modernas, John Newton nos apresenta, em seu hino</p><p>“Quão Doce é o Nome de Jesus”, uma visão mais</p><p>precisa e jubilosa da vida cristã:</p><p>Fraco é o esforço de meu coração</p><p>E frio meu pensamento mais quente</p><p>Mas, quando te vir como tu és,</p><p>Eu te louvarei como devo.27</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. O que você acha que torna alguém um cristão</p><p>forte? O que você acha que torna alguém um cristão</p><p>fraco? Você é forte? Como você sabe?</p><p>2. Quando foi a última vez que você sentiu grande</p><p>alegria em sua salvação? Descreva o que aconteceu,</p><p>o que você estava pensando e o modo como se</p><p>sentiu.</p><p>3. Que grandes obras você pretende fazer para</p><p>Cristo? Com o que você deseja parecer-se? De que</p><p>maneiras você é tentado a pecar quando está sendo</p><p>obediente a Deus e permanecendo forte?</p><p>4. Você tende a esconder sua fraqueza e derrotas</p><p>pecaminosas? Como o evangelho pode libertá-lo,</p><p>para que você possa apreciá-las, em vez de ser</p><p>esmagado por elas?</p><p>5. Por que viver sob a lei pode parecer mais seguro</p><p>e confortável do que viver sob a graça? O que</p><p>significa estar sob a graça e não sob a lei?</p><p>6. Como você se sente quando não consegue</p><p>mudar? Como Deus se sente quando você não</p><p>consegue mudar?</p><p>7. De que forma sua vida mais glorifica a Deus e a</p><p>Jesus? Quando glorifica mais a você mesmo?</p><p>26. Ver John Newton, “Man in His Fallen Estate (1)”, Select Letters</p><p>of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 117.</p><p>27. John Newton, “How Sweet the Name of Jesus Sounds,” The</p><p>Works of John Newton, vol. 3 (repr., Edinburgh: Banner of Truth,</p><p>1985), 370.</p><p>capítulo seis</p><p>santos e pecadores</p><p>Desafiando meu melhor julgamento e meus</p><p>melhores desejos, encontro em mim algo que</p><p>acalenta e se apega àqueles males com os quais eu</p><p>deveria, na verdade, espantar-me e fugir, como</p><p>deveria fazer se um sapo ou uma serpente fossem</p><p>colocados na minha comida ou na minha cama. —</p><p>John Newton28</p><p>Minha mente estava repleta de bons pensamentos</p><p>quando parei, apressadamente, no estacionamento</p><p>do supermercado. Ignorando tanto os sinais de</p><p>“pare” quanto as faixas de pedestres, encontrei uma</p><p>vaga e espremi meu carro, sem qualquer cuidado,</p><p>entre as linhas pintadas no chão. Estava com pressa</p><p>e odeio estar atrasada para o que quer que seja. Dei</p><p>uma olhada rápida em minha lista de compras,</p><p>enquanto me dirigia às portas automáticas; todavia,</p><p>coisas mais importantes roubavam totalmente a</p><p>minha atenção.</p><p>Eu havia passado a manhã ouvindo palestras sobre</p><p>aconselhamento bíblico e lendo livros sobre a</p><p>dignidade humana. Minha alma fora arrebatada pelo</p><p>evangelho de uma forma nova e emocionante; e eu</p><p>estava vivendo numa verdadeira nuvem de glórias.</p><p>Dei uma olhada em volta, enquanto enchia minha</p><p>cesta, e pensamentos maravilhosos invadiram a</p><p>minha mente. Somos portadores da imagem de</p><p>Deus, feitos para refletir a sua glória; mesmo em</p><p>nosso estado caído, carregamos a sua assinatura, a</p><p>marca do divino, corrompida e destorcida pelo</p><p>pecado, mas nunca completamente apagada.</p><p>Eu estava apreciando esse estado de ser docemente</p><p>alterado, enquanto achava, de modo rápido e</p><p>eficiente, cada item de que precisava. Tudo estava</p><p>indo bem, e eu não me atrasaria no final das contas.</p><p>Ao me posicionar em segundo lugar na fila do caixa,</p><p>uma conversa próxima me chamou a atenção,</p><p>tirando-me do estado de devaneio em que estava.</p><p>Embora o funcionário do caixa fosse rápido e</p><p>eficiente, as compras foram se acumulando na</p><p>extremidade da esteira, e o funcionário responsável</p><p>por ensacar as compras parecia falar muito mais do</p><p>que trabalhar. Levei um momento para absorver a</p><p>cena e perceber que o empacotador, um rapaz</p><p>chamado Edward, parecia ser, de algum modo,</p><p>deficiente. Agora o ouvia dizer, pela terceira vez, ao</p><p>cliente à minha frente: “Eu acho importante ir ao</p><p>dentista, você não acha?” O cliente concordou, e</p><p>Edward prosseguiu: “Eu tenho medo de meu</p><p>dentista. Tenho medo de que ele fique bravo</p><p>comigo. Então, disse para a moça que eu havia</p><p>usado fio dental quando, na verdade, não tinha. Não</p><p>quero que meu dentista fique bravo comigo”. O</p><p>cliente concordou com a cabeça e começou a</p><p>empacotar suas próprias compras. Edward não havia</p><p>terminado ainda: “Você acha que eu deveria usar fio</p><p>dental? Acho que eu deveria, mas não uso e tenho</p><p>medo de que meu dentista fique bravo comigo”.</p><p>Assim que o cliente à minha frente pegou suas</p><p>sacolas e desapareceu rapidamente, Edward</p><p>direcionou sua atenção para mim. Meu coração</p><p>ficou pesado ao ouvir pela quarta vez: “Eu acho</p><p>importante ir ao dentista, você não acha?”</p><p>Uma série de pensamentos rápidos passou pela</p><p>minha mente. Eu não estava de bom humor para</p><p>aquilo; estava com pressa! Tinha coisas importantes</p><p>a fazer e pessoas importantes a encontrar. Estava</p><p>prestes a dispensar esse jovem rapaz com um sorriso</p><p>e um mero aceno de cabeça, quando, de repente,</p><p>lembrei-me de que Edward também era um portador</p><p>da imagem de Deus. Ferido por tragédias da vida e</p><p>marcado com imperfeições físicas e mentais, ele,</p><p>ainda assim, era feito à imagem de Deus e</p><p>merecedor do meu respeito e minha honra. Eu sabia,</p><p>naquele momento, que Deus havia posto aquele</p><p>pensamento em minha mente, porque não era, de</p><p>maneira alguma, um pensamento característico meu.</p><p>O Espírito Santo estava agindo,</p><p>conectando à vida</p><p>real o que eu tinha aprendido em aula, de maneira</p><p>maravilhosa. Parei para olhar para o Edward e</p><p>observá-lo, antes de sorrir e concordar, de todo o</p><p>meu coração, que era muito importante ir ao</p><p>dentista. Perguntei-lhe se havia ido ao dentista</p><p>recentemente, e ele me disse exatamente o que havia</p><p>dito ao homem antes de mim: que havia ido ao</p><p>dentista e havia mentido. Imaginei, por um</p><p>momento, como eu poderia entrar em seu mundo</p><p>naqueles poucos segundos em que nossas vidas se</p><p>encontravam. Concordei com ele em como os</p><p>dentistas podem parecer assustadores e que eu</p><p>também me sentia tentada a mentir quando estava</p><p>com medo de algo. A conselheira que havia em mim</p><p>queria tocar seu coração, mas eu não conhecia</p><p>Edward e não tinha tempo para isso. Demorei-me</p><p>por um momento e lhe fiz mais perguntas, realmente</p><p>desejando amá-lo naquele curto espaço de tempo</p><p>que dividíamos. Então, aquele momento chegou ao</p><p>fim, e, ao me dirigir para a saída, ouvi-o dizer à</p><p>mulher atrás de mim: “Eu acho importante ir ao</p><p>dentista, você não acha?” Segui meu caminho,</p><p>agradecendo a Deus por aquele momento, no qual</p><p>fui resgatada de minha aspereza típica por tempo</p><p>suficiente para abençoar alguém com atenção e</p><p>palavras gentis.</p><p>Ao entrar no carro e colocar o cinto de segurança,</p><p>continuava apreciando aqueles pensamentos</p><p>espirituais maravilhosos. Quando olhei para o</p><p>relógio e me dei conta de que, afinal, eu me</p><p>atrasaria, um sentimento alarmante inundou meu</p><p>corpo com adrenalina e fez meu coração acelerar.</p><p>Apressada, dei ré, corri pelo estacionamento e me</p><p>joguei em um fluxo de tráfego contínuo. Pelo</p><p>menos, se eu me apressasse, não chegaria tão</p><p>atrasada.</p><p>Tudo estava indo bem, até que um motorista</p><p>entrou à minha frente e passou a dirigir lentamente,</p><p>sem qualquer motivo aparente. Minha agitação</p><p>aumentou, e decidi acelerar e me aproximar dele, só</p><p>um pouco, a fim de lhe dar um bom incentivo. Ele</p><p>não acelerou, e maus pensamentos começaram a</p><p>voar pela minha mente: Qual o seu problema, seu</p><p>idiota? Você doou seu cérebro para a ciência? Não</p><p>tem sequer uma pessoa na sua frente, que tipo de</p><p>imbecil é você? Foi aí que a pessoa atrás de mim</p><p>decidiu, por sua vez, acelerar e se aproximar de</p><p>mim, buzinando incessantemente para que eu</p><p>corresse mais e fazendo com que eu explodisse. Que</p><p>cara de pau, esse rapaz! Eu estava furiosa e decidi</p><p>que precisava dar uma lição nele. Comecei a dirigir</p><p>ainda mais devagar e adorei observar sua agitação e</p><p>desespero ao se ver preso atrás de mim e</p><p>impossibilitado de ultrapassar. Inúmeros</p><p>pensamentos perversos e palavras de ódio passavam</p><p>pela minha cabeça enquanto me entregava, o quanto</p><p>podia, a essa birra infantil. Finalmente, o homem à</p><p>frente dobrou a esquina e, mais uma vez, pude me</p><p>concentrar em chegar à reunião o mais rápido</p><p>possível.</p><p>Não demorou muito para que a natureza ridícula</p><p>do que havia acabado de acontecer me fizesse</p><p>pensar. No período de poucos minutos, eu fui de um</p><p>extremo a outro. Em um momento, estava repleta de</p><p>pensamentos espirituais maravilhosos, que</p><p>resultaram em atos incomuns de amor e bondade</p><p>direcionados a Edward. Logo em seguida, havia me</p><p>tornado outra coisa totalmente diferente. Certamente</p><p>os homens à frente e atrás de mim também eram</p><p>portadores da imagem de Deus e igualmente dignos</p><p>de meu respeito e honra, mas não houve bons</p><p>pensamentos para me resgatar da minha raiva e</p><p>agressividade para com eles. Todo o inferno havia se</p><p>libertado em minha mente, e fui entregue ao limite</p><p>da minha raiva e do meu desejo de punir e me</p><p>vingar. O que estava acontecendo? Como eu poderia</p><p>ser tão piedosa em um momento e tão diabólica em</p><p>outro?</p><p>Isso pode parecer um relato benigno e ligeiramente</p><p>humorístico de algo que muitos de nós</p><p>experimentamos quase frequentemente no trânsito.</p><p>Talvez você não esteja alarmado com o meu pecado,</p><p>mas deveria estar. Sou cristã há quarenta e seis anos</p><p>e ainda sou capaz de sentir intenso ódio e amargura</p><p>pelos outros, até mesmo pelas pessoas que mais</p><p>amo. Minhas atitudes externas podem ser lavadas e</p><p>mantidas sob controle na maior parte do tempo, mas</p><p>meu coração está cheio de pensamentos e</p><p>sentimentos de rebeldia, que revelam a minha</p><p>profunda capacidade para o egoísmo, o ódio, a</p><p>inveja, o orgulho e quaisquer outros pecados</p><p>imagináveis.</p><p>Posso ler os Dez Mandamentos e me sentir</p><p>orgulhosa e presunçosa em relação à minha</p><p>obediência externa, mas, quando contemplo o modo</p><p>como Jesus aplica esses mandamentos no Sermão</p><p>do Monte, fico arrasada. Quando Jesus me mostra</p><p>que o pecado não é apenas um fenômeno externo e</p><p>que a verdadeira obediência deve ser proveniente do</p><p>coração e se manifestar exteriormente, percebo que</p><p>estou com grandes problemas. Não posso controlar</p><p>o meu coração.</p><p>John Newton entendeu bem esse dilema. Ele</p><p>escreveu a seguinte frase, não como um crente novo</p><p>na fé e imaturo, mas como um pastor respeitado e</p><p>cristão maduro: “Este mal está comigo: meu coração</p><p>é como uma estrada, como uma cidade sem muros</p><p>ou portões. Nada é tão falso, tão frívolo, tão</p><p>absurdo, tão impossível ou tão horrível que não</p><p>consiga obter acesso a mim em qualquer tempo e</p><p>lugar: nem mesmo o estudo, o púlpito ou até mesmo</p><p>a Ceia do Senhor são capazes de me eximir de tal</p><p>intrusão”.29</p><p>Você está chocado com a alarmante honestidade</p><p>desse homem? John Newton está dizendo que é</p><p>capaz de pensamentos horrendamente pecaminosos,</p><p>mesmo quando está no meio de suas atividades mais</p><p>santas, como quando está escrevendo seus sermões,</p><p>pregando e até ministrando a Ceia do Senhor. Na</p><p>verdade, ele destaca o contraste entre suas palavras,</p><p>comparando-as com a linha aguda de uma música, e</p><p>seus pensamentos, semelhantes à chocante e</p><p>dissonante linha do baixo. As pessoas que ouvem</p><p>apenas a linha aguda podem ficar impressionadas</p><p>com a sua santidade, todavia, o Senhor ouve a</p><p>música como um todo, em toda a sua horrível</p><p>confusão.</p><p>Pare, sente-se por um momento com esse</p><p>pensamento chocante em mente e considere suas</p><p>implicações. Newton passa a exclamar como era</p><p>surpreendente que alguém que conhece tanto da</p><p>graça e da misericórdia de Deus, como ele, pudesse</p><p>valorizar e se apegar a males pelos quais se sentia</p><p>atraído. Ele devia se afastar de tais tentações, do</p><p>mesmo modo alguém se afastaria, se colocassem um</p><p>sapo ou uma cobra em sua cama. Contudo, ele se</p><p>via continuamente abraçando-as, o que naturalmente</p><p>o levou a concluir que: “Certamente o indivíduo que</p><p>se vê capaz disso pode, sem a menor inclinação à</p><p>humildade (por melhor que sua conduta exterior</p><p>possa parecer), descrever a si mesmo como o menor</p><p>dos menores de todos os santos e o maior dos</p><p>pecadores”.30</p><p>A VIDA CRISTÃ NÃO VITORIOSA</p><p>Essa luta pode parecer familiar para você, enquanto</p><p>luta com seu próprio coração. Se assim for, você</p><p>não está sozinho. Newton sugere a oração e a leitura</p><p>da Bíblia como exemplos comuns a todos nós.31</p><p>Cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus e</p><p>admiramos a grande profundidade das doutrinas</p><p>contidas nela, a graça dos preceitos, a riqueza das</p><p>promessas e a beleza que ela contém. Como o rei</p><p>Davi, podemos dizer, com honestidade, que a</p><p>Palavra é mais doce do que o mel e muito mais</p><p>desejável do que a prata e o ouro. Ao mesmo</p><p>tempo, encontramos frequentemente o nosso</p><p>coração e a nossa mente muito mais atraídos a um</p><p>bom romance ou a uma revista do que às Escrituras.</p><p>O grande privilégio de ler a Bíblia se resume, com</p><p>frequência, a uma tarefa que temos prazer em ver</p><p>cumprida ou que podemos nos sentir extremamente</p><p>satisfeitos por tê-la realizado!</p><p>Do mesmo modo, acreditamos que a oração é um</p><p>privilégio grandioso e sublime. É uma honra</p><p>maravilhosa e prazerosa que o grande Criador do</p><p>universo desça tão baixo para dar ouvidos, de modo</p><p>tão gentil e atencioso, às preocupações de suas</p><p>criaturas rebeldes e pecadoras. Entretanto, embora</p><p>amemos a ideia da oração e a recomendemos</p><p>intensamente aos outros, nós mesmos passamos</p><p>pouquíssimo tempo colocando-a em prática. Muitas</p><p>vezes, ao longo do dia, nos esquecemos</p><p>completamente de Deus e lembramos apenas que ele</p><p>está lá quando nos encontramos em uma situação de</p><p>extrema necessidade. Quando conseguimos reservar</p><p>tempo</p><p>para orar, nos distraímos facilmente, nossa</p><p>mente fica à deriva e nos perdemos em pensamentos</p><p>sobre coisas triviais e listas intermináveis do que</p><p>queremos que Deus faça por nós. Às vezes, nossa</p><p>maior alegria nessa tarefa será a de sermos capazes</p><p>de riscá-la de nossa lista de obrigações diárias e</p><p>podermos dizer que a fizemos. Caso Deus nos</p><p>conceda o desejo e a capacidade de orar, é provável</p><p>que nos sintamos superiores aos que confessam</p><p>fraqueza nessa área.</p><p>Essa mesma batalha constante contra o pecado é o</p><p>que o apóstolo Paulo descreve em Romanos 7, onde</p><p>afirma que as coisas que deseja fazer, ele não</p><p>consegue fazer, e as coisas que ele não deseja fazer,</p><p>ele as faz (Romanos 7.19). Seus desejos foram</p><p>transformados, de modo que ele ama a lei de Deus e</p><p>quer obedecer-lhe, mas há outra coisa operando nele</p><p>que o faz sentir-se como se fosse escravo do pecado</p><p>(Romanos 7.23). Paulo conclui essa passagem com</p><p>um brado de desespero mesclado com esperança:</p><p>“Desventurado homem que sou! Quem me livrará</p><p>do corpo desta morte?” e responde a si mesmo:</p><p>“Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”</p><p>(Romanos 7.24-25). Paulo é livre para ser</p><p>assustadoramente honesto a respeito de sua</p><p>fraqueza, porque confia de modo radical no poder e</p><p>no amor de seu Salvador. A esperança do céu jamais</p><p>poderia estar nele, mesmo depois de muitos anos</p><p>como cristão; ela teria de vir pela obediência de</p><p>outra pessoa em seu favor. Ao enfrentar a</p><p>perturbadora realidade de seus pecados, Paulo não</p><p>conclui: “Eu tenho apenas que ler mais a minha</p><p>Bíblia e me esforçar mais”. Embora, como fariseu,</p><p>ele tivesse apresentado anteriormente muito mais</p><p>força de vontade do que qualquer um de nós. Em</p><p>vez disso, ele se submete à misericórdia de Deus e</p><p>olha para seu Salvador, a fim de que o livre de sua</p><p>própria carne pecaminosa — se não completamente</p><p>nesta vida, certamente na vindoura.</p><p>Muitos cristãos pensam que os crentes não devem</p><p>lutar contra o pecado contínuo desse modo.</p><p>Entendem corretamente que o Espírito Santo passa a</p><p>habitar em todos os crentes no momento de sua</p><p>regeneração. Contudo, eles não têm um</p><p>entendimento exato a respeito do que é a obra do</p><p>Espírito e como ela se dá na vida real. Imaginam o</p><p>Espírito Santo como algum tipo de kit de</p><p>ferramentas santo, implantado em sua alma a fim de</p><p>ser usado apropriadamente para o propósito de</p><p>santificação. Então, ouviremos pessoas dizerem</p><p>coisas como: “Você deve permitir que o Espírito</p><p>opere em você”, como se houvesse uma opção.</p><p>Outros dirão: “Você deve se submeter ao Espírito,</p><p>para que ele o abençoe e o faça crescer” ou: “Você</p><p>deve ‘aplicar’ o Espírito Santo em sua luta ou</p><p>problema particular”, como se houvesse um botão</p><p>em seu coração cuja função fosse ativar o Espírito</p><p>ou estimulá-lo e dependesse de você estar apto e</p><p>disposto a pressioná-lo cada vez mais a cada dia.</p><p>Todos essas afirmações refletem a visão comum</p><p>entre muitos cristãos de que a santificação deve ser</p><p>um esforço de cooperação entre Deus e cada crente.</p><p>Mesmo entre os que acreditam que Deus faz tudo</p><p>que é necessário para a nossa salvação, muitos</p><p>parecem pensar que ele deixa o nosso crescimento</p><p>em santificação sob a nossa responsabilidade.</p><p>Progrediríamos tanto quanto nos dispuséssemos a</p><p>obedecer e iniciar esse crescimento, mas</p><p>permaneceríamos imaturos se fôssemos fracos e</p><p>desobedientes ou não estivéssemos dispostos a</p><p>cooperar ou nos esforçar em nossa santidade.</p><p>E se a verdade sobre nós crentes for muito pior e,</p><p>ao mesmo tempo, muito mais maravilhosa do que</p><p>você imaginou? E se Deus deixou você em um</p><p>estado tão fraco aqui na terra que você não poderia</p><p>nem querer acionar aquele “botão” do Espírito</p><p>Santo (se existisse), sem a ajuda e a permissão dele?</p><p>E se ele fez exatamente isso para o nosso próprio</p><p>bem e para a sua glória? E se o caminho para a</p><p>imensa, impressionante e abundante alegria em</p><p>Cristo não nos leva a contornar o nosso pecado, mas</p><p>nos leva direto ao encontro dele?</p><p>Essa visão, que é a visão de santificação que</p><p>Newton sustentava, é bem contrária à visão da “vida</p><p>cristã vitoriosa”, que é ensinada em muitas igrejas</p><p>hoje e que nos descreve como soldados vitoriosos,</p><p>dominando os nossos pecados e nos tornando</p><p>melhores a cada dia. Porém, à medida que nos</p><p>aprofundamos nas Escrituras, vemos que a visão de</p><p>Newton sobre a fraqueza cristã é absolutamente</p><p>bíblica e ensinada consistentemente em toda a</p><p>Bíblia. Além disso, ela tem sido sustentada</p><p>historicamente por muitos grandes teólogos e</p><p>pastores da história da igreja e flui através das</p><p>confissões de fé reformadas e dos escritos de muitos</p><p>puritanos piedosos.</p><p>Talvez essa verdade não esteja presente nos</p><p>púlpitos e nos livros de autoajuda da atualidade</p><p>porque ela exalta o poder e a obra do Deus todo-</p><p>poderoso e representa um golpe mortal no orgulho</p><p>espiritual do ser humano. No entanto, é verdade que</p><p>ela conforta os crentes cansados e problemáticos</p><p>que, como Newton, são capazes de admitir que</p><p>muitas vezes amam seu pecado e realmente não</p><p>querem desistir dele. Também conduz os crentes a</p><p>uma vida de alegria e paz, que, de outro modo, seria</p><p>inimaginável. Essa alegria e paz se fazem presentes</p><p>porque nos lembram que Deus fará sua vontade em</p><p>nós, apesar de nossa fraqueza e da força de nossos</p><p>desejos pecaminosos recorrentes. A alegria nunca</p><p>virá de negarmos a nossa profunda pecaminosidade;</p><p>ao contrário, ela deve vir de enxergarmos quão</p><p>imenso nosso pecado realmente é e quão</p><p>completamente tratado ele foi em Cristo. Mais</p><p>adiante neste livro, veremos porque é tão importante</p><p>entender a nossa fraqueza e o nosso pecado, como a</p><p>aceitação da nossa fraqueza pode, realmente, nos</p><p>fazer mais fortes e qual a conexão entre a fraqueza e</p><p>a alegria.</p><p>Entretanto, por enquanto, você precisa saber que</p><p>sua alma ainda é muito doente, mas você tem um</p><p>grande médico que prometeu curá-lo e está</p><p>trabalhando em você a cada momento do dia. Você</p><p>é muito fraco, mas tem um forte e perfeito campeão</p><p>que venceu a batalha contra o pecado por você e</p><p>que agora luta ao seu lado contra ele. Você ainda</p><p>está propenso a vagar, mas tem um grande pastor</p><p>que sempre o acompanha e o traz de volta,</p><p>carregando-o para casa em braços amorosos. Tem</p><p>um Pai celestial que nunca deixaria que esse pecado</p><p>e essa fraqueza permanecessem em você, se não</p><p>houvesse planejado dominá-los para seu bem e para</p><p>a glória dele. Louvado seja Deus, pois você tem o</p><p>perfeito Sumo Sacerdote advogando por você,</p><p>orando por você e amparando-o com uma mão</p><p>segura, firme e amorosa.</p><p>DEUS USA O QUE ODEIA PARA REALIZAR O</p><p>QUE AMA</p><p>Todos sabem que Deus odeia o pecado.32 Na</p><p>verdade, essa pode ser a única coisa que algumas</p><p>pessoas sabem sobre Deus. O primeiro capítulo de</p><p>Romanos nos lembra que Deus está irado com o</p><p>pecado e tem todo o direito de estar. Ele deu a cada</p><p>ser humano prova irrefutável de sua própria</p><p>existência, do seu eterno poder e natureza divina,</p><p>tornando-se claramente visível à humanidade na</p><p>criação (Romanos 1.18-20). Não temos</p><p>absolutamente nenhuma desculpa para não nos</p><p>ajoelharmos perante ele, todos os dias, em louvor e</p><p>adoração. No entanto, não só deixamos de adorá-lo</p><p>devidamente, como também suprimimos ativamente</p><p>o que sabemos ser verdadeiro sobre ele. Isso não é</p><p>uma omissão passiva, mas uma decisão determinada</p><p>e resoluta de trocar a verdade de Deus por uma</p><p>mentira e de adorar as coisas criadas em vez de</p><p>adorar o Criador (Romanos 1.25). Pode não ser</p><p>uma decisão óbvia e consciente para nós no dia a</p><p>dia, pois, ao encobrir a verdade, nós a levamos às</p><p>profundezas de nossa mente, até que nossos pecados</p><p>não representem mais uma rebelião. Porém, esteja</p><p>certo, há uma alta traição envolvida. Não somos</p><p>crianças encantadoras e inocentes que fazem birras</p><p>de vez em quando. Somos mendigos a quem foram</p><p>dadas riquezas além da imaginação, os quais</p><p>agarram avidamente tais presentes, enquanto se</p><p>recusam a agradecer ou mesmo a reconhecer o</p><p>Doador; em vez disso, afrontamos Deus. Em nosso</p><p>vício do pecado, nos assemelhamos muito mais a</p><p>Satanás e não revelamos a imagem de Deus. Como</p><p>Satanás, não somente nos desviamos, mas também</p><p>seduzimos outros a se juntarem à nossa rebelião.33</p><p>Além disso,</p><p>adoramos e idolatramos as coisas boas</p><p>que Deus nos deu como se fossem deuses e</p><p>entregamos nossas vidas a tais coisas (Romanos</p><p>1.25). Isso é feio, sem sentido, destrutivo, e a Bíblia</p><p>chama isso de pecado. Desde o início dos tempos, o</p><p>nosso Criador nos disse que ele é o autor de todas as</p><p>coisas e que somente ele tem o direito de determinar</p><p>o que é certo e o que é errado e de dizer-nos como</p><p>devemos viver em seu mundo. O pecado, portanto,</p><p>não se resume apenas aos nossos maus pensamentos</p><p>e ações, que violam as leis de Deus; não é apenas</p><p>falhar em atender às expectativas de Deus sobre nós;</p><p>é uma postura e um compromisso de se afastar do</p><p>Deus vivo para buscar outras coisas e se prostrar em</p><p>adoração a elas. Deus odeia o pecado e disse a Adão</p><p>que a consequência do pecado seria a morte</p><p>(Gênesis 2.17).</p><p>As Escrituras usam uma linguagem vívida e</p><p>aterrorizante para descrever o ódio de Deus ao</p><p>pecado e sua divina e justa determinação de punir</p><p>aqueles que o cometem. Episódios do Antigo</p><p>Testamento, como a destruição de Sodoma e</p><p>Gomorra (Gênesis 19) e a destruição dos habitantes</p><p>de Canaã da terra prometida, por causa de sua</p><p>iniquidade (Gênesis 15.16), servem como lembretes</p><p>vívidos do poder de Deus e de sua disposição para</p><p>julgar o mal. Os próprios israelitas sentiram essa</p><p>mesma ira quando se rebelaram no deserto</p><p>(Deuteronômio 9.7-8), e seu extenso histórico de</p><p>pecados os levou ao exílio da terra que Deus lhes</p><p>dera. De acordo com o Êxodo (34.6-7), a ira de</p><p>Deus é parte de seu caráter, assim como o são sua</p><p>graça e sua misericórdia. E isso não é simplesmente</p><p>uma perspectiva do Antigo Testamento; o próprio</p><p>Jesus falou da ira de Deus que recai sobre todos</p><p>aqueles que não creem no Filho (João 3:36). Deus</p><p>odeia o pecado, e nada do que dissermos a respeito</p><p>da graça de Deus pode enfraquecer ou contradizer a</p><p>veracidade deste fato.</p><p>A VONTADE DE DEUS SEMPRE PREVALECE</p><p>Deus também é completamente soberano sobre o</p><p>pecado do homem. Desde o primeiro pecado no</p><p>Éden, as Escrituras nos mostram um Criador que</p><p>odeia o pecado, mas que nunca foi surpreendido ou</p><p>pego desprevenido pela maldade de sua criação. Se</p><p>Deus escolheu crentes para pertencerem a ele em</p><p>Cristo antes da criação do mundo (Efésios 1.4),</p><p>então, muito antes de Adão e Eva entrarem em</p><p>cena, o evangelho já havia sido escrito. Deus não</p><p>está no céu lutando para consertar as más escolhas</p><p>das pessoas que ele criou. A vontade de Deus</p><p>sempre prevalece, em todos os lugares e em tudo.</p><p>Não há uma molécula neste universo que opere fora</p><p>da sua vontade, nem uma célula que se divida sem a</p><p>sua permissão, e nenhum pensamento humano o</p><p>surpreende ou escapa à sua percepção ou à sua</p><p>vontade. Deus fez Adão moralmente perfeito, mas</p><p>capaz de pecar e permitiu a intrusão da serpente no</p><p>jardim para tentar o primeiro homem e a primeira</p><p>mulher. Nada nessa história estava fora do controle</p><p>de Deus. Ele não olhou do céu para baixo, torcendo</p><p>as mãos e se perguntando quais escolhas Adão e Eva</p><p>fariam. A queda faz parte dos decretos de Deus.</p><p>Nós também sabemos, sem sombra de dúvida, que</p><p>Deus não é o autor ou o criador do mal. Tudo o que</p><p>Deus criou no início era bom (Gênesis 1). Deus não</p><p>criou o pecado, mas permitiu que o pecado entrasse</p><p>no mundo. O que quer que um Deus soberano</p><p>permita, ele, de fato, o ordena. Isso pode ser um</p><p>pensamento perturbador para algumas pessoas, mas</p><p>não há como escapar dessa verdade. Se Deus pode</p><p>impedir que algo aconteça e não o faz, então, ele</p><p>ordenou que aquilo acontecesse.</p><p>Vemos essa verdade operando em toda a Escritura.</p><p>Observe, no livro de Jó, quem inicia a discussão que</p><p>leva às perdas catastróficas de Jó (ver Jó 1). A cena</p><p>é chocante: todos os anjos estão se apresentando</p><p>perante o Senhor. A apresentação se parece com</p><p>uma prestação de contas dos anjos ou um momento</p><p>de inspeção, à medida que se apresentam ao chefe</p><p>para lhe responderem. Não há nada de</p><p>surpreendente nisso, até que lemos que Satanás está</p><p>entre eles! Espere um momento — o que ele está</p><p>fazendo no céu? O que ele está fazendo ao falar</p><p>com Deus? A resposta é que ele também é um dos</p><p>anjos — certamente um anjo perverso, distorcido e</p><p>mau, mas um ser criado, que também precisa se</p><p>apresentar diante do chefe. O Senhor lhe pergunta</p><p>de onde veio, e ele responde que veio de rodear a</p><p>terra e passear por ela. Então, Deus faz uma</p><p>observação, aparentemente casual, que introduz o</p><p>cerne da questão: “Observaste o meu servo Jó?</p><p>Porque ninguém há na terra semelhante a ele,</p><p>homem íntegro e reto, temente a Deus e que se</p><p>desvia do mal” (Jó 1.8). Parece que Satanás não</p><p>havia notado especificamente Jó até esse momento,</p><p>mas, quando Deus o menciona, ele se torna o centro</p><p>das atenções e tem início a ação. Em cada</p><p>reviravolta da história, Satanás precisa ter a</p><p>permissão de Deus para agir (Jó 1.12; 2.6). Em cada</p><p>ponto, Deus decide e decreta exatamente até aonde</p><p>Satanás pode ir. Deus não está causando o</p><p>sofrimento de Jó, mas está permitindo-o,</p><p>ordenando-o e medindo-o em doses cuidadosamente</p><p>prescritas, de acordo com sua vontade.</p><p>Também vemos a soberania de Deus sobre o</p><p>pecado do homem na história de José (Gênesis 37-</p><p>50). Essa trágica história chama a nossa atenção por</p><p>causa de todo o profundo sofrimento resultante da</p><p>pecaminosidade de uma família: um pai insensato</p><p>que favorece abertamente um filho em detrimento</p><p>dos outros, um jovem orgulhoso que gosta de</p><p>chamar atenção, irmãos invejosos levados por seus</p><p>próprios desejos malignos. Essa história está pronta</p><p>para ser uma novela de horário nobre, com uma</p><p>mulher sedutora e um marido ciumento! Há também</p><p>muitos eventos aparentemente coincidentes que</p><p>contribuem para a forma como a história se</p><p>desenrola: o homem desconhecido em Siquém, que</p><p>sabia inexplicavelmente para onde os irmãos de José</p><p>tinham ido (Gênesis 37.15-17); a caravana</p><p>programada convenientemente que descia para o</p><p>Egito (Gênesis 37.25), entre muitos outros. Por</p><p>muito tempo, essas coincidências pareciam estar</p><p>trabalhando contra José, de modo que toda a</p><p>esperança parecia perdida, diversas vezes.</p><p>No entanto, no extraordinário desfecho da história,</p><p>quando José faz o impensável e perdoa seus irmãos</p><p>pela traição, ele afirma de maneira corajosa e</p><p>audaciosa: “Vós, na verdade, intentastes o mal</p><p>contra mim; porém Deus o tornou em bem”</p><p>(Gênesis 50.20). A cada momento, os maus</p><p>pecadores estavam escolhendo pecar livremente, de</p><p>acordo com a sua própria natureza e desejo, mas</p><p>Deus era soberano sobre tudo. Era soberano sobre</p><p>os pensamentos que surgiram e tomaram lugar na</p><p>mente dos irmãos de José, soberano sobre os</p><p>homens que abusaram de seu irmão, soberano sobre</p><p>a programação dos guias da caravana e sobre os</p><p>desejos sexuais da mulher de Potifar. No processo,</p><p>Deus permitiu que uma grande quantidade de</p><p>pecados acontecesse — pecado que ele odiava, mas</p><p>que prevaleceria para o bem no final. Como diz Joni</p><p>Erickson Tada: “Deus decidiu usar o que ele odeia</p><p>para cumprir o que ele ama”.34 Vamos continuar</p><p>vendo a verdade dessa afirmação revelada em toda a</p><p>Escritura. Deus é completamente soberano sobre o</p><p>pecado do homem e o usa para realizar sua vontade</p><p>santa e perfeita. Que Deus poderoso, surpreendente</p><p>e maravilhoso nós servimos!</p><p>Em nenhum lugar essa verdade é mais poderosa e</p><p>surpreendentemente exposta do que na cruz, na qual</p><p>o amado e adorado Filho de Deus foi crucificado e</p><p>morto. Você acha que Deus odiou ver Jesus</p><p>escarnecido, brutalmente espancado e pregado à</p><p>cruz por crimes que ele nunca cometeu? Eu lhe</p><p>garanto que sim. Você imagina quanto domínio</p><p>próprio foi necessário para impedi-lo de intervir?</p><p>Quanto sofrimento você acha que dilacerou seu</p><p>coração e quanta raiva e fúria Jesus deve ter sentido</p><p>por homens pecadores? Mas Deus não interveio na</p><p>história para acabar com a insanidade. Em vez disso,</p><p>ele ordenou e permitiu que as ideias perversas de</p><p>homens pecadores prosperassem e fossem bem-</p><p>sucedidas. As pessoas tentaram prender e ferir Jesus</p><p>em muitas vezes ocasiões anteriores, mas não</p><p>puderam, porque sua hora ainda não havia chegado</p><p>(João 10.31-39). Esses foram momentos em que</p><p>Deus restringiu o pecado humano. Ele não deixou</p><p>aquelas</p><p>pessoas pecarem como desejavam. Não</p><p>somos informados exatamente do que aconteceu ou</p><p>como Jesus escapou, mas Deus interveio, porque</p><p>ainda não era o momento de Jesus padecer. Mas,</p><p>finalmente, amanheceu o dia infernal que levaria</p><p>incontáveis almas redimidas para uma eternidade</p><p>segura no céu. Nesse dia, Deus se afastou e não</p><p>restringiu aqueles que buscavam crucificar seu</p><p>Criador, pois, como disse Pedro aos judeus, em</p><p>Atos 2.23: “Sendo este entregue pelo determinado</p><p>desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,</p><p>crucificando-o por mãos de iníquos”. Deus ordenou</p><p>algo indescritível e horrível para si mesmo e para seu</p><p>precioso Filho — a execução de propósitos</p><p>pecaminosos — porque ambos amavam o que se</p><p>cumpriria.</p><p>DEUS USA O NOSSO PECADO PARA</p><p>REALIZAR A SUA VONTADE</p><p>O que discutimos até agora pode ser algo novo</p><p>para você ou podem ser doutrinas velhas e</p><p>conhecidas. Porém, a soberania de Deus sobre o</p><p>pecado não é meramente uma interessante</p><p>especulação filosófica para se contemplar. Podemos</p><p>ver como Deus agiu nos grandes eventos de</p><p>redenção para salvar seu povo de e por meio de atos</p><p>pecaminosos de seus inimigos. Essa também é uma</p><p>doutrina poderosa para você hoje. Você percebe</p><p>que, assim como Satanás precisa da permissão de</p><p>Deus para pecar, você também precisa? Deus nunca</p><p>o tenta a pecar (Tiago 1.13), mas não deixa de estar</p><p>no controle total dos pecados que você comete ou</p><p>não e certamente os usará para cumprir o que ele</p><p>ama — seu crescimento espiritual. Pense na semana</p><p>que passou ou mesmo nas últimas horas. Pense</p><p>especificamente nos pecados que você cometeu e</p><p>nas razões que o levou a cometê-los. Você</p><p>certamente tomou decisões e seguiu seus próprios</p><p>desejos pecaminosos, mas, em cada momento, Deus</p><p>permitiu que você pecasse.</p><p>Uma das maneiras de enxergar isso é pensar em</p><p>alguns momentos da sua vida nos quais você quis</p><p>pecar, mas Deus não lhe permitiu. Talvez você teve</p><p>desejos pecaminosos em seu coração, porém Deus o</p><p>restringiu, garantindo que lhe faltasse a oportunidade</p><p>de pecar do modo como procurava fazer. No</p><p>entanto, em outros momentos, quando Deus poderia</p><p>facilmente tê-lo impedido de pecar por meio de</p><p>circunstâncias diferentes, ele permitiu que você</p><p>caísse. Deus tem escrito a história da sua vida e, em</p><p>escala maior, a história do próprio povo dele,</p><p>permitindo e restringindo o pecado. Você não é um</p><p>agente livre, capaz de fazer o que quiser no reino</p><p>espiritual, assim como não é capaz de voar</p><p>simplesmente por desejar um par de asas. Você vive</p><p>sob o governo de Deus, e nada concernente a você</p><p>escapa à percepção ou à vontade de Deus. É um</p><p>pensamento transformador olhar para trás em sua</p><p>vida e perceber que em cada ponto em que você</p><p>pecou — e isso seria muitas vezes a cada dia —</p><p>Deus permitiu que você o fizesse para os bons</p><p>propósitos dele. Ele não ama o seu pecado, não o</p><p>tenta a pecar, nem causa o seu pecado de alguma</p><p>maneira, mas, ao permiti-lo, ele o ordena para o seu</p><p>bem e a glória dele.35</p><p>Talvez você esteja se perguntando como Deus pode</p><p>utilizar o nosso pecado para a glória dele e para o</p><p>nosso bem. Como algo tão mau e odioso pode ter</p><p>um bom resultado? Iremos discutir tais questões</p><p>com mais detalhes nos próximos capítulos. Por</p><p>enquanto, perceba isto. No dia em que eu conheci</p><p>Edward no supermercado e soube de suas aventuras</p><p>dentárias, experimentei tanto a alegria sublime pelo</p><p>que Deus pode fazer em minha vida, como a feiura</p><p>ridícula do que eu sou à parte dele. À medida que</p><p>eu corria atarefada pelo meu dia, pensando apenas</p><p>em mim e no que desejava, Deus interveio. Ele</p><p>invadiu a minha mente com novas verdades da sua</p><p>Palavra e me deu ouvidos para ouvi-la. Depois, ele</p><p>me fez passar por uma experiência em meu mundo</p><p>caído e, de maneira contrária aos meus padrões</p><p>normais de raiva e egoísmo, me deu um momento</p><p>de amor por alguém que eu normalmente evitaria e</p><p>desprezaria. Assim, para que eu não me tornasse</p><p>orgulhosa ou cheia de mim mesma, Deus me fez</p><p>olhar para dentro de mim a fim de descobrir, mais</p><p>uma vez, o que sou à parte de sua graça salvadora.</p><p>Aquele minuto de amor por Edward foi um presente</p><p>de Deus para mim e seu trabalho em mim. No</p><p>minuto seguinte, recebi outro presente de Deus: o</p><p>claro e inegável conhecimento de que, a menos que</p><p>eu receba sua graça renovada, a cada minuto e a</p><p>cada dia, pecar é o que eu ainda faço melhor.</p><p>De que modo essa verdade glorifica a Deus e me</p><p>beneficia? Se eu penso que estou cooperando com</p><p>ele nessa busca conjunta por santidade, como posso</p><p>não levar algum crédito por meu progresso? No</p><p>entanto, se reconheço que sou uma santa em um</p><p>minuto e uma miserável pecadora em outro, posso</p><p>ver mais claramente que toda a minha obediência</p><p>vem dele e que sem ele não posso fazer,</p><p>literalmente, nada. O Espírito Santo não é um</p><p>interruptor que você pode ligar ou desligar; não é</p><p>uma ferramenta que você pode optar por utilizar ou</p><p>ignorar; não é um copiloto sentado a seu lado,</p><p>pronto para ajudar se você realmente precisar dele.</p><p>Ele é o santo, poderoso e ativo Espírito do Deus</p><p>vivo, e a vontade dele sempre prevalecerá em sua</p><p>vida. Ele está sempre trabalhando em você, com ou</p><p>sem a sua cooperação ou permissão, moldando-o de</p><p>acordo com a vontade e os desígnios dele mesmo.</p><p>Às vezes, Deus lhe concede graça e poder</p><p>renovados para obedecer, a fim de lhe mostrar o que</p><p>ele pode fazer em você, e, às vezes, ele faz com que</p><p>você olhe para si, a fim de descobrir quão fraco,</p><p>desamparado e pecador você ainda é. Em ambos os</p><p>modos, ele está sempre agindo ativamente em você</p><p>para a glória dele e seu próprio bem, assim como</p><p>para o bem do seu corpo, a igreja. Agora, se essa</p><p>não é uma nova e gloriosa razão para cair de joelhos</p><p>e adorá-lo mais uma vez, não sei o que poderia ser!</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Quando foi a última vez que você se comportou</p><p>como um santo? O que você estava fazendo e</p><p>pensando? Quando foi a última vez que você se</p><p>comportou como um pecador? Descreva essa</p><p>situação também. O que fez a diferença?</p><p>2. Leia Romanos 7.14-25. A luta de Paulo contra o</p><p>pecado remanescente lhe soa familiar? Você se sente</p><p>incapaz de fazer as coisas que quer e se encontra</p><p>fazendo as coisas que não quer? Descreva como isso</p><p>funciona em sua vida. A honestidade de Paulo o</p><p>conforta ou o perturba? Por quê?</p><p>3. Leia o Salmo 139. Você acredita que a vontade</p><p>de Deus sempre prevalece no universo? Esse</p><p>pensamento o conforta ou o incomoda?</p><p>4. O que Deus usou recentemente para transformá-</p><p>lo? De que maneiras ele tem usado os pecados que</p><p>você comete ou os pecados de outras pessoas para</p><p>lhe ensinar coisas novas e ajudá-lo a crescer?</p><p>5. Quando foi a última vez que Deus o impediu de</p><p>cometer um pecado que você desejava cometer?</p><p>Como isso o fez sentir-se?</p><p>6. Neste momento, de que modo inesperado e</p><p>confuso Deus tem realizado sua divina vontade em</p><p>sua vida? Em que você está tentado a acreditar sobre</p><p>Deus como resultado disso?</p><p>7. Olhando para o curso da sua vida, como Deus</p><p>tem usado o seu pecado e o de outros para</p><p>direcionar o caminho da sua vida? E com relação à</p><p>vida de seus amigos e familiares?</p><p>28. John Newton, “Evil Present with the Believer,” Select Letters</p><p>of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 147.</p><p>29. Ibid., 146.</p><p>30. Ibid., 147.</p><p>31. Newton, “The Believer’s Inability on Account of Remaining</p><p>Sin”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of</p><p>Truth, 2011), 142.</p><p>32. Newton, “Difference Between Acquired and Experimental</p><p>Knowledge”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh:</p><p>Banner of Truth, 2011), 138.</p><p>33. Newton, “Man in His Fallen Estate (1),” Select Letters of John</p><p>Newton, (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 120.</p><p>34. Joni Eareckson Tada e Steven Estes, When God Weeps: Why</p><p>Our Sufferings Matter to the Almighty (Grand Rapids: Zondervan,</p><p>1997), 69.</p><p>35. Newton, “Difference Between Acquired and Experimental</p><p>Knowledge”, Select Letters of John Newton, 138.</p><p>capítulo sete</p><p>descobrindo a sua depravação</p><p>O fato de sermos totalmente depravados é uma</p><p>verdade que ninguém jamais aprendeu apenas por</p><p>ouvir falar. — John Newton36</p><p>Eu mal podia acreditar nas palavras que tinham</p><p>acabado de sair da minha</p><p>boca! Se antes deste</p><p>episódio você tivesse me perguntado se eu era</p><p>racista, eu teria ficado profundamente ofendida.</p><p>Nasci em Jos, na Nigéria, filha de pais missionários,</p><p>e cresci em vários países diferentes, cercada de</p><p>pessoas de todas as cores e nacionalidades. Eu sabia</p><p>que poderia ser acusada justamente por qualquer</p><p>tipo de crime, mas racismo não era um deles.</p><p>Entretanto, enquanto marchava furiosa e atordoada</p><p>pela charmosa rua de paralelepípedos, comecei a</p><p>refletir.</p><p>Nesse momento específico de nossas vidas, meu</p><p>marido estava plantando uma igreja em Oxford, na</p><p>Inglaterra, e eu estava à procura de um alojamento</p><p>com café da manhã, onde pudéssemos hospedar</p><p>uma grande equipe de uma das igrejas que nos</p><p>apoiam nos Estados Unidos. Eu tinha visitado, sem</p><p>sucesso, vários alojamentos naquele dia e estava me</p><p>sentindo desencorajada. Se não encontrasse um</p><p>lugar, nós mesmos teríamos que hospedar quinze</p><p>pessoas. Que pensamento assustador!</p><p>Bati numa belíssima porta de madeira com vitral no</p><p>meio e olhei esperançosa para o prédio e seu jardim</p><p>bem cuidado. A porta foi aberta por uma mulher</p><p>vestindo um sári e um véu, ostentando um ponto</p><p>negro no meio de sua testa. Ela sorriu educadamente</p><p>e me acompanhou em um tour pelas suas</p><p>encantadoras instalações. Era um local limpo, bem</p><p>decorado, com um preço razoável e estava vago. Ao</p><p>olhar para os quartos, percebi que, se essa senhora</p><p>colocasse uma cama a mais em um dos cômodos, o</p><p>local cairia como uma luva para as nossas</p><p>necessidades. Esse me pareceu ser um pedido</p><p>perfeitamente plausível, mas a anfitriã protestou.</p><p>Isso não poderia ser feito. Fiz algumas perguntas</p><p>para entender seus motivos, mas ela foi categórica e</p><p>inflexível. Ofereci-me para ajudá-la a mover a cama,</p><p>imaginando que ela talvez estivesse preocupada com</p><p>a dificuldade em movimentá-la. Ela sacudiu a cabeça</p><p>negativamente e ficou um pouco agitada. Agora eu</p><p>estava ficando nervosa. Mostrei-lhe as óbvias</p><p>vantagens financeiras da minha oferta, uma vez que</p><p>seu estabelecimento estava completamente vazio, e</p><p>traríamos grande lucro por duas semanas de</p><p>hospedagem em uma época de baixa temporada.</p><p>Então, ela começou a levantar a voz para mim e</p><p>falar em uma língua que eu não conseguia entender.</p><p>Tentei acalmá-la, mas ela estava enfurecida, e sua</p><p>raiva transbordava ao me conduzir em direção à</p><p>porta. Essa senhora estava me chutando para fora de</p><p>sua casa! Não podia acreditar nisso! Minha</p><p>frustração se transformou em fúria, enquanto ela me</p><p>empurrava para fora da porta. Então aconteceu. Em</p><p>minha indignação, olhei para ela e gritei com toda a</p><p>minha força: “Ora, volte para seu país!”, antes de</p><p>bater a porta em seu rosto com tanta força quanto</p><p>eu podia. E foi assim que descobri que sou uma</p><p>racista.</p><p>Minha raiva se transformou em vergonha amarga e</p><p>alegria surpreendente, enquanto voltava para casa</p><p>naquele dia, a fim de recomeçar minha busca. Eu</p><p>estava vivendo nesse país com o propósito de ajudar</p><p>a construir uma igreja, porém, em vez de ser um</p><p>referencial do amor de Deus, tinha derramado ódio</p><p>e amargura na face dessa senhora. Em um momento</p><p>de emoção extrema e raiva descontrolada, meu</p><p>coração foi revelado, e direcionei toda a minha fúria</p><p>para a cor de sua pele, para o estilo de suas roupas e</p><p>para aquele ponto no meio de sua testa. Em meu</p><p>íntimo, eu havia decidido que essa mulher era</p><p>estúpida e irracional, porque era estrangeira. Sabia</p><p>que eu não poderia me desculpar com chavões</p><p>como “não foi isso que eu quis dizer”. Eu quis dizer</p><p>cada palavra. Eu sabia que as palavras que escapam</p><p>de nossa boca em momentos de fraqueza e estresse</p><p>demonstram o que realmente somos e pensamos. Eu</p><p>era uma intimidadora — uma pessoa arrogante e</p><p>rude.</p><p>O riso me surpreendeu quando percebi que essa</p><p>mulher provavelmente vivia no Reino Unido há</p><p>muito mais tempo do que eu. Ela era como uma</p><p>cidadã britânica, e eu, uma americana com visto de</p><p>turista, havia gritado para ela: “Volte para seu país!”</p><p>Quem eu pensava que era?</p><p>Envergonha-me admitir que nunca tive coragem de</p><p>voltar lá e pedir perdão àquela mulher. Queria ter</p><p>pedido. No entanto, Deus me deu a graça para lutar</p><p>com meu coração diante dele, para confessar meu</p><p>pecado repugnante e encontrar perdão em meu</p><p>Salvador, que deixou seu lar maravilhoso e se tornou</p><p>um maltratado e ignorado estrangeiro nesta terra, a</p><p>fim de me resgatar do pecado e me dar um lar</p><p>eterno. Passei a agradecer-lhe cada vez que me</p><p>lembrava desse incidente vergonhoso!</p><p>A EXPERIÊNCIA É A ESCOLA DE DEUS</p><p>O que o Senhor planejava com tudo isso? Por que</p><p>Deus ordenou um dia desses para mim? John</p><p>Newton não seria surpreendido por esse</p><p>acontecimento. Ele teria interpretado minha</p><p>explosão como mais uma lição no que chamou “a</p><p>escola de experiência do Senhor”, em que</p><p>aprendemos sobre a nossa falta de sabedoria por</p><p>meio de nossos erros e sobre a nossa falta de força</p><p>por meio de nossas quedas e deslizes no pecado.</p><p>Esse é o modo, John Newton nos lembra, pelo qual</p><p>Deus nos afasta da ilusão de que temos sabedoria,</p><p>poder ou bondade em nós mesmos. É assim que</p><p>aprendemos a verdade das palavras de Jesus:</p><p>“Porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).37</p><p>Meu amado Pai celestial quis que eu visse em</p><p>minha própria vida a verdade da afirmação bíblica</p><p>de que sou inclinada a trocar a verdade de Deus por</p><p>mentiras e a viver em cegueira voluntária em relação</p><p>a meu próprio pecado, enquanto adoro coisas</p><p>criadas em vez do Criador (Romanos 1). Meu</p><p>coração estava perdido em idolatria naquele dia, e eu</p><p>não sabia. Eu adorava o ídolo do conforto: não</p><p>queria fazer todo o trabalho duro de hospedar</p><p>aquela equipe. Adorava o ídolo do dinheiro: queria</p><p>conseguir o negócio mais barato para que coubesse</p><p>em nosso orçamento. Adorava os valores</p><p>consumistas da minha cultura e procurei despejá-los</p><p>sobre uma pessoa que via como inferior e menos</p><p>inteligente. Eu adorei o poder ao tentar constranger</p><p>aquela mulher a fazer a minha vontade. Muitos</p><p>ídolos estavam agarrados firmemente ao meu</p><p>coração naquele momento, e eu não tinha ideia disso</p><p>até aquelas palavras maldosas jorrarem da minha</p><p>boca. Eu não sei quanto a você, mas sou bem</p><p>resistente a ter uma visão precisa de mim mesma, até</p><p>que o Espírito Santo me conduza por um dia como</p><p>esse — até que ela faça a profundidade do meu</p><p>pecado visível para mim mesma por meio de minhas</p><p>emoções, palavras e ações.</p><p>NO DESERTO</p><p>Como os israelitas do Antigo Testamento, sou cega</p><p>à depravação do meu próprio coração, até que Deus</p><p>me leve ao deserto. Que experiência incrível deve ter</p><p>sido passar pelo êxodo e ver o poder e o amor de</p><p>Deus revelados em favor de seu povo! Imagine a dor</p><p>e a opressão horríveis da escravidão e do genocídio</p><p>que suportaram nas mãos dos egípcios e, depois, os</p><p>acontecimentos intrigantes ligados a todas aquelas</p><p>pragas. Como os israelitas devem ter se regozijado</p><p>ao ver seus perseguidores serem afligidos por seu</p><p>Deus poderoso e vingador! Que montanha-russa de</p><p>emoções deve ter acompanhado aquelas preparações</p><p>apressadas para a primeira Páscoa: alegria pela ideia</p><p>de uma libertação; medo ante a demonstração de</p><p>tamanho poder e autoridade; esperança de um</p><p>futuro melhor e terror por pensar em tudo que</p><p>poderia dar errado.</p><p>Então, houve a noite sombria e fatídica, quando os</p><p>primogênitos do Egito morreram, e o povo escolhido</p><p>de Deus realizou sua aterrorizante e apressada fuga,</p><p>tendo sido depois perseguido pelo poderoso exército</p><p>de Faraó. O drama atingiu seu auge quando Deus</p><p>disse a Moisés que estendesse seu cajado, e uma</p><p>nação inteira assistiu, maravilhada de alegria e com</p><p>espanto, Deus abrir o mar e conduzi-los em</p><p>segurança pelo meio das mesmas águas que, em</p><p>seguida, ele usou para esmagar seus inimigos. Talvez</p><p>os israelitas pensassem que a partir daquele</p><p>momento suas dificuldades haviam chegado ao fim e</p><p>que teriam apenas de seguir confiantemente para a</p><p>terra prometida e viver felizes para sempre. O que</p><p>poderia impedi-los agora? Contudo, ainda havia um</p><p>deserto a ser atravessado — um deserto físico de</p><p>sofrimento e dificuldade e o deserto ainda maior de</p><p>seus corações pecaminosos.</p><p>Ficamos perplexos com o fato de que, apenas</p><p>alguns dias depois</p><p>de testemunharem esses grandes</p><p>milagres, os israelitas reclamaram de sede e ficaram</p><p>temerosos de que Deus os houvesse levado ao</p><p>deserto para morrerem. Apenas três meses depois,</p><p>eles mesmos fizeram um bezerro de ouro aos pés do</p><p>Monte Sinai e escolheram adorá-lo, em vez de</p><p>adorar o único e verdadeiro Deus, que os libertara</p><p>tão poderosamente. No deserto, os israelitas foram</p><p>confrontados, ao vivo e em cores, com seus próprios</p><p>pecados e fraquezas.</p><p>Quando Deus os levou ao sofrimento e à</p><p>dificuldade, eles não conseguiram se lembrar dos</p><p>atos miraculosos que o Senhor havia realizado por</p><p>eles. O medo os cegou, levando-os a esquecerem-se</p><p>da bondade de Deus e a acusá-lo do mal. No</p><p>deserto, seus corações pecaminosos e idólatras</p><p>foram expostos para que eles os vissem e para que</p><p>nós aprendêssemos a partir dessa experiência.</p><p>Quando Moisés não retornou da montanha em um</p><p>razoável período de tempo, os israelitas confiaram</p><p>em sua própria sabedoria e criaram um deus para si</p><p>mesmos. Não compreendiam que a coluna de fogo e</p><p>fumaça que os levara à vitória seria a mesma que os</p><p>conduziria às provas e às dificuldades, a fim de lhes</p><p>mostrar o que havia em seus corações. Eles</p><p>seguiram o Deus da força, da libertação e da</p><p>promessa, porém rejeitaram completamente o Deus</p><p>que também os conduziria pelo vale da morte.</p><p>Eu também tenho um coração igualzinho a esse.</p><p>Amo a Deus profundamente e o adoro</p><p>fervorosamente quando ele me leva por caminhos</p><p>agradáveis de paz e de alegria. Todavia, eu me viro</p><p>contra ele rápida e repetidamente quando contraria a</p><p>minha vontade e me ordena caminhos áridos,</p><p>assustadores e desconfortáveis. Se ele nunca tivesse</p><p>me levado para o deserto, eu nunca descobriria o</p><p>que realmente existe em meu coração. Eu me</p><p>enganaria facilmente, ao acreditar que o amo muito</p><p>e que estou ansiosa para me submeter à sua vontade.</p><p>UM DESERTO DE DOR</p><p>Certa manhã, Deus me ensinou poderosamente</p><p>essa lição, em um momento de inquietação, pouco</p><p>antes do amanhecer. Eu estava debaixo do chuveiro,</p><p>mais uma vez, às três horas da manhã. A enxaqueca</p><p>havia durado por várias horas e não mostrava sinais</p><p>de melhora. O tempo que passei vomitando tinha me</p><p>deixado exausta e impediu que eu digerisse todos os</p><p>analgésicos que havia tomado. Em um esforço</p><p>desesperado para escapar daquela dor latejante e</p><p>enlouquecedora, arrastei-me até o chuveiro para</p><p>sentir a água caindo em minha cabeça. Isso não</p><p>serviu para tirar a dor, mas trouxe alguns momentos</p><p>de distração e alívio. O problema é que, cada vez</p><p>que eu saía do chuveiro e voltava para cama, a dor</p><p>retornava. Essa já era minha terceira ida ao</p><p>chuveiro, e senti uma tensão crescente em minha</p><p>cabeça e em meu corpo, ao perceber que a dor</p><p>estava piorando e as náuseas, recomeçando. Estava</p><p>no meu limite, e, ao voltar para o chuveiro, o mundo</p><p>desabou em mim. Uma raiva poderosa contra Deus</p><p>brotou dentro de mim, e acusações jorravam,</p><p>enquanto as lágrimas começavam a cair. “Deus, já</p><p>implorei repetidas vezes que você dê um fim nestas</p><p>dores de cabeça, NESTA dor de cabeça, mas você</p><p>não a tirou de mim. Por quê? O que eu tenho que</p><p>fazer? Por que você não me ouve e por que não se</p><p>importa?” A grande teologia que aprendi ao longo</p><p>dos anos apenas alimentou meu desdém. Eu sabia</p><p>que Deus tinha o poder de realizar toda a sua santa</p><p>vontade. Ele poderia remover facilmente todas as</p><p>minhas dores de cabeça, e fui levada a lutar com o</p><p>fato de que ele não iria fazê-lo, apesar de quanto eu</p><p>implorasse, suplicasse ou ameaçasse.</p><p>De repente, um pensamento invadiu a minha</p><p>mente, e eu sabia que não vinha de mim. Se Deus</p><p>faz todas as coisas para sua própria glória e para</p><p>o bem dos eleitos, então, de algum modo, essa dor</p><p>de cabeça deve cumprir esses dois objetivos. Ela</p><p>tem que glorificar a Deus e, de algum modo</p><p>misterioso, ser boa para mim. Um pensamento</p><p>levou ao outro, quando o Espírito Santo invadiu a</p><p>minha mente, resgatando a minha alma: Se Deus me</p><p>ama — e sei que ele me ama, pois provou isso na</p><p>cruz — então, é o amor que o compele a não fazer</p><p>a minha vontade neste momento. Por que um Pai</p><p>amável e celestial planejaria isto para mim hoje?</p><p>Eu sabia que esses pensamentos não eram meus,</p><p>pois eram atípicos e alheios a mim. Meu padrão</p><p>habitual de respostas às dores de cabeça se resumia</p><p>a queixas e acusações amargas, mas esses</p><p>pensamentos eram algo completamente diferente:</p><p>eram verdades sobre verdades que me levariam a</p><p>uma forma totalmente nova de pensar. Comecei a</p><p>orar e a confessar a minha raiva grosseira a Deus.</p><p>Essa experiência no deserto de dor constante levou-</p><p>me a me levantar diante de Deus e a erguer o punho</p><p>com raiva infantil. Por que ele toleraria um</p><p>comportamento tão irreverente, orgulhoso e</p><p>pecaminoso? Eu estava fazendo isso há anos e,</p><p>ainda assim, sobrevivi! Ele não havia me destruído</p><p>por causa da minha audácia ou me castigado pelo</p><p>meu desaforo. Meus olhos foram repentinamente</p><p>abertos para a enxurrada de pecados que jorrava de</p><p>meu coração contra Deus pelo fato de ele não fazer</p><p>a minha vontade ou me deixar fazer as coisas como</p><p>eu quisesse; então, fui quebrantada. Meus</p><p>pensamentos mudaram de acusação amarga para</p><p>contemplação e adoração, à medida que eu me</p><p>maravilhava com a incrível paciência de Deus para</p><p>comigo. Deus nunca havia me prometido uma vida</p><p>sem dores, mas eu achava que ele me devia</p><p>exatamente isso e o odiava quando ele não cumpria</p><p>a minha vontade ou não agia como meu empregado.</p><p>Desliguei o chuveiro, e, enquanto a água escoava</p><p>pelo ralo, algo imenso e escuro começou a sair de</p><p>minha alma. Deus utilizou o deserto desta</p><p>enxaqueca e de muitas outras antes dela para abrir</p><p>meus olhos para algo que eu não enxergava havia</p><p>muitos anos. Minha postura diante de Deus havia</p><p>sido a de uma pessoa que se julgava merecedora e</p><p>cheia de exigências sem fim. Essa informação era</p><p>nova para mim, mas não era nova para Deus. Ele</p><p>sempre viu meu coração e sabia o que havia dentro</p><p>dele, mas esperou amorosamente até esse dia para</p><p>abrir meus olhos e me mostrar a profundidade de</p><p>meu pecado.</p><p>Mais uma vez, eu não fora apenas deixada a sentir-</p><p>me miserável e péssima. A imensidão de meu</p><p>pecado tinha que revelar algo maravilhoso sobre</p><p>meu Salvador. Jesus foi crucificado exatamente por</p><p>esse fardo de iniquidade, e ele me amou ao fazer</p><p>isso. Ele escolheu sofrer a ira, literalmente, de tirar o</p><p>fôlego, de seu amado Pai celestial em meu lugar,</p><p>para que eu não tivesse que morrer pelo meu</p><p>pecado.</p><p>Uma imagem se formou em minha mente ao me</p><p>visualizar diante da cruz do meu Salvador,</p><p>agonizando, enquanto eu o afrontava por não ter</p><p>parado a minha dor de cabeça. As implicações</p><p>absurdas dessa visualização derreteram meu coração</p><p>com um doce arrependimento e uma profunda</p><p>gratidão. Percebi que eu certamente era capaz de</p><p>atos tão maliciosos, egoístas e imaturos, e, no</p><p>entanto, nada do que eu pudesse fazer jamais me</p><p>afastaria do amor de Jesus Cristo. Além disso, Cristo</p><p>não somente morreu a minha morte, como também</p><p>viveu de modo perfeito por mim, sofrendo com as</p><p>doenças e dores de um ser humano, existindo em</p><p>um corpo limitado, sem murmurar contra Deus ou</p><p>acusá-lo e sem pecar de qualquer outra forma.</p><p>Então, ele apagou meu histórico de ressentimento e</p><p>ira e me deu a sua justiça.</p><p>Certa vez, Jesus também pediu algo a Deus, mas a</p><p>sua vontade não prevaleceu. No jardim do</p><p>Getsêmani, ele pediu a Deus que afastasse dele o</p><p>cálice de sua ira, que o removesse. Porém, Deus não</p><p>respondeu àquela oração (Mateus 26.39). Jesus, no</p><p>entanto, não reagiu com acusações amargas e</p><p>ameaçadoras. Em vez disso, ele orou: “Todavia, não</p><p>seja como eu quero, e sim como tu queres” e</p><p>levantou-se para dar início a uma caminhada de dor</p><p>que eu nunca conhecerei ou poderia suportar. Sem</p><p>ira ou acusações, ele escolheu sofrer grande agonia,</p><p>para que a minha ira direcionada constantemente a</p><p>Deus não me destruísse. Agora, a retidão de Jesus</p><p>era minha, embora eu ainda lutasse com pecados</p><p>como ira e amargura. Que amor maravilhoso Cristo</p><p>demonstrou por mim ao sofrer voluntariamente!</p><p>Que amor incrível o Pai demonstrou ao permitir que</p><p>Jesus sofresse em meu lugar! Que alegre surpresa</p><p>descobrir como ele continua</p><p>me sustentando,</p><p>conduzindo-me através dos desertos que planejou</p><p>para mim e sofrendo pacientemente a injustiça das</p><p>minhas reações pecaminosas, a fim de revelar-me o</p><p>meu coração e ensinar-me sobre o seu amor!</p><p>O QUE APRENDI</p><p>Gostaria de poder lhe dizer que as minhas dores de</p><p>cabeça acabaram naquele dia. Seria ainda mais</p><p>maravilhoso poder dizer que nunca mais fiquei com</p><p>raiva de Deus! Contudo, nenhuma dessas coisas</p><p>aconteceu. Em vez de minha raiva para com Deus</p><p>ter desaparecido completamente, comecei a ver que</p><p>dentro de mim havia muito mais dessa raiva do que</p><p>pude observar naquela noite. Deus é bondoso e</p><p>misericordioso e não nos mostra a verdade sobre nós</p><p>mesmos de uma só vez. Em vez disso, ele determina</p><p>épocas e momentos em que abre nossos olhos pouco</p><p>a pouco, para que possamos suportá-la. A maravilha</p><p>de contemplar a medida da minha raiva é que, uma</p><p>vez conhecida, eu poderia confessá-la a Deus e</p><p>suplicar pelo dom do arrependimento. Quando</p><p>vivemos negando o pecado e não nos vemos com</p><p>exatidão, não podemos crescer verdadeiramente.</p><p>Estamos paralisados até que o Espírito Santo nos dê</p><p>visão e nos conceda o arrependimento em seu</p><p>tempo.</p><p>Naquela noite, uma benção mais surpreendente</p><p>chegou com o dom daquela minha dor de cabeça.</p><p>As dores de cabeça não terminaram naquele dia,</p><p>mas mudaram drasticamente. Enxaquecas somadas à</p><p>raiva são mais severas e dolorosas do que</p><p>enxaquecas sem ela! Descobri que minhas emoções</p><p>fortes e negativas alimentavam meu coração</p><p>pulsante e minha cabeça latejante, tornando as dores</p><p>muito piores. Quando a atitude de meu coração para</p><p>com Deus e sua vontade mudou, as dores de cabeça</p><p>se tornaram menos severas e mais suportáveis.</p><p>O Espírito Santo também começou a me mostrar</p><p>muitas maneiras pelas quais as enxaquecas eram, na</p><p>verdade, boas para minha alma. As enxaquecas me</p><p>tornaram mais humilde e me lembraram que sou</p><p>apenas carne e osso. Elas me mostraram, repetidas</p><p>vezes, que Deus não precisa da minha ajuda para</p><p>governar o universo. Ele pode fazê-lo muito bem</p><p>comigo deitada em minha cama. Em alguns dias, eu</p><p>achava que meus afazeres eram de suma</p><p>importância, porém Deus me mostrou o contrário.</p><p>Eu pensava comigo mesma que Deus queria que eu</p><p>fizesse, em determinado dia, isso, aquilo e aquilo</p><p>outro — somente coisas boas, como servir meus</p><p>filhos e trabalhar no ministério. Então, descobri que</p><p>o que Deus havia realmente decidido ser melhor</p><p>para aquele dia era que eu tivesse uma enxaqueca.</p><p>Comecei a refletir com mais frequência que, se</p><p>uma enxaqueca era a boa vontade de Deus para</p><p>mim, também era a sua boa vontade para meus</p><p>cinco filhos e meu marido. Por meio de minhas</p><p>dores de cabeça, Deus estava ensinando a meus</p><p>filhos a serem mais compassivos com pessoas que</p><p>sofrem e estava treinando meu marido a servir sua</p><p>família fielmente, mesmo quando o trabalho exigia</p><p>muito dele e era muito mais gratificante do que</p><p>cuidar da esposa e dos filhos. A minha luta ainda</p><p>revelou as idolatrias de outras pessoas em nossa</p><p>casa. Essa revelação levou à confissão e ao</p><p>arrependimento delas. Em outras palavras, minhas</p><p>enxaquecas não diziam respeito somente a mim!</p><p>Deus as usou para cumprir seu bom propósito em</p><p>muitas vidas e de muitas maneiras. Esse sofrimento</p><p>nunca me pareceu uma boa ideia, mas a perfeita</p><p>vontade de Deus havia mostrado o contrário. Ele me</p><p>concedeu gradualmente mais graça para que me</p><p>submetesse à sua vontade e cresse que ele é mais</p><p>bondoso e sábio do que eu jamais poderia ser.</p><p>Comecei a aprender e a crer que essa era sua</p><p>vontade amorosa para mim, não sua vontade má e</p><p>vingativa.</p><p>Se diminuir o número total de pecados que</p><p>cometerei fosse o principal objetivo de Deus, ele</p><p>teria me mantido longe do deserto. No entanto,</p><p>Deus me levou ao deserto para me revelar meus</p><p>pecados, porque enxerga-los é bom para mim e</p><p>glorifica a ele. Ver nosso próprio pecado é algo bom</p><p>para nós, pois, quando fazemos isso, nosso Salvador</p><p>torna-se mais estimado por nós. Quando estamos</p><p>firmes e fortes, não costumamos olhar para Cristo</p><p>— não precisamos dele. Porém, quando caímos,</p><p>derrotados pelo pecado e pela fraqueza, não há para</p><p>quem olharmos a não ser para aquele que morreu a</p><p>nossa morte e viveu a vida que deveríamos ter</p><p>vivido. Deus ama corações quebrados e contritos; e</p><p>não os adquirimos por meio de uma vida cristã</p><p>vitoriosa.</p><p>É justamente no contexto de toda essa fraqueza e</p><p>pecado que o nosso Deus nos convida a nos</p><p>apoiarmos em seu poderoso braço e promete guiar-</p><p>nos com olhos que não dormem e um coração</p><p>amoroso. Ele nos diz: “Não temas, porque eu sou</p><p>contigo; não te assombres, porque eu sou o teu</p><p>Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a</p><p>minha destra fiel.” (Isaías 41.10). Todavia, esse</p><p>fortalecimento não é sempre força para a</p><p>obediência; algumas vezes, é também aquele poder</p><p>extraordinário para sobrevivermos à nossa fraqueza</p><p>e para adorarmos a Cristo com mais alegria por</p><p>causa disso. Nosso Deus vai à nossa frente, e, por</p><p>meio de sua poderosa Palavra, o torto se faz reto, e</p><p>a luz brilha na escuridão. Em meio a todo o nosso</p><p>fracasso e pecado, as promessas de Deus para seus</p><p>filhos permanecem firmes e verdadeiras: ele será o</p><p>nosso sol, nosso escudo e nossa grande recompensa</p><p>(Salmos 84.11).</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Ultimamente, de que modo você tem sido</p><p>surpreendido por seu pecado? O que você tem</p><p>aprendido sobre sua capacidade de cometer pecados</p><p>que nunca pensou que poderia cometer?</p><p>2. Qual é o maior deserto de sua vida neste</p><p>momento? De que maneiras você é tentado a pecar</p><p>contra Deus, enquanto ele o mantém nesse deserto?</p><p>O que você está aprendendo por meio das</p><p>experiências no deserto de sua vida?</p><p>3. Como sua vida seria diferente se você pudesse</p><p>sempre se lembrar da bondade e da fidelidade de</p><p>Deus para com você no passado?</p><p>4. Como você tende a pensar sobre Deus e a</p><p>responder-lhe nos momentos bons ou quando ele</p><p>responde às suas orações? Como você reage quando</p><p>as respostas de Deus são negativas e sua vontade</p><p>parece ser dolorosa e insuportável? Por quê?</p><p>5. Que pecados você comete repetidamente? Como</p><p>você se sente a respeito de ser um ofensor</p><p>frequente? Como Deus tem sido paciente com você</p><p>apesar do seu pecado?</p><p>6. De que maneiras você está irado com Deus?</p><p>Como você expressa a sua ira? Por que você está</p><p>irado?</p><p>7. Seu pecado tende a levá-lo ao desespero ou a</p><p>uma adoração exultante? Por quê?</p><p>36. John Newton, “The Advantages of Remaining Sin”, Select</p><p>Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011),</p><p>153.</p><p>37. Ibid.</p><p>capítulo oito</p><p>graça para cair</p><p>O mui sábio, justo e gracioso Deus deixa muitas</p><p>vezes, por algum tempo, seus filhos entregues a</p><p>muitas tentações e à corrupção de seus próprios</p><p>corações. — Confissão de Fé de Westminster, 5.538</p><p>Sentei-me na sala de estar da minha conselheira,</p><p>imaginando como eu havia chegado àquele ponto</p><p>em minha vida. Quando comecei a me encontrar</p><p>com Margaret, vivíamos em Cambridge, na</p><p>Inglaterra, e eu tinha dois problemas enormes, que</p><p>me incomodavam muito. Estava muito acima do</p><p>peso e era uma mulher irada.</p><p>Meu peso era o que mais me incomodava, talvez</p><p>porque era o que mais me envergonhava. Eu havia</p><p>lutado com problemas de peso durante toda a minha</p><p>vida, mas agora estavam fora de controle, e eu</p><p>estava à beira da obesidade real. Lembro-me do dia</p><p>em que decidi entregar-me à adoração à comida. Há</p><p>muito tempo, encarei com honestidade o fato de que</p><p>era gorda porque comia grandes quantidades de</p><p>comida todos os dias. Eu poderia enganar outras</p><p>pessoas ao comer em segredo, mas não poderia me</p><p>enganar. Tive problemas de tireoide durante a maior</p><p>parte da minha vida, mas, como técnica em</p><p>medicina, eu sabia que não era essa a fonte de meu</p><p>problema. O medicamento estava funcionando</p><p>muito bem, mas a minha alma estava doente. Orei</p><p>mais pela minha glutonaria do que por qualquer</p><p>outro pecado em minha vida. Eu era membro fiel de</p><p>grupos como “vigilantes do peso”, tanto cristão</p><p>quanto secular, e, mesmo assim, eu comia sem</p><p>parar. Estava fora de controle e muito irada com o</p><p>fato de que Deus não atendia às minhas orações</p><p>desesperadas e não me dava autocontrole.</p><p>Um dia, ao caminhar</p><p>pelo corredor de biscoitos do</p><p>supermercado, senti grande amargura em minha</p><p>alma. Estava com raiva por estar solitária e viver em</p><p>um país estrangeiro. Eu estava com raiva porque</p><p>meu marido parecia tão satisfeito com seu PhD,</p><p>enquanto eu trabalhava em casa, cuidando de</p><p>crianças pequenas no anonimato. Estava com raiva</p><p>até por ter de fazer compras, quando, na verdade,</p><p>estava cansada e preferia estar em casa, lendo um</p><p>bom livro e comendo biscoitos. Estava com mais</p><p>raiva ainda, pois tudo que eu queria fazer era comer.</p><p>E foi ali, no magnífico corredor de biscoitos, que</p><p>uma raiva intoxicante irrompeu em meu coração.</p><p>Lembro-me, especificamente, do momento em que</p><p>disse a Deus: “Certo, se você não vai me ajudar a</p><p>me controlar e perder peso, então comerei até</p><p>morrer”. Não havia lugar melhor para fazer aquela</p><p>ameaça infantil do que naquele corredor em</p><p>particular. Se você nunca experimentou a enorme</p><p>diversidade e criatividade dos biscoitos britânicos,</p><p>pode ser difícil para você imaginar. Havia tantas</p><p>guloseimas crocantes, deliciosas, fáceis de comprar e</p><p>de se esconder para devorar secretamente! Mantive</p><p>a minha palavra ao levar minha ameaça viciosa</p><p>adiante e, em apenas dois anos, fui diagnosticada</p><p>com obesidade e me senti pior do que nunca.</p><p>Minha ira também me preocupava. Ela parecia tão</p><p>desproporcional à minha história de vida e à</p><p>bondade e generosidade incríveis de Deus para</p><p>comigo! Eu cresci em um maravilhoso e amável lar</p><p>cristão. Fui amada desde meus primeiros dias de</p><p>vida, disciplinada com firmeza, mas sem abusos, e</p><p>instruída na Palavra de Deus por pais que viveram a</p><p>verdade das Escrituras diante de mim, todos os dias</p><p>de sua vida. Nunca sofri abusos físicos, sexuais ou</p><p>emocionais, mas encontrava-me cheia de problemas.</p><p>Muitas pessoas que conheço dariam tudo para</p><p>crescer no tipo de família maravilhosa em que nasci.</p><p>Éramos todos pecadores, porém nada fora do</p><p>comum. Não havia segredos velados entre nós,</p><p>apenas as influências modeladoras profundas dos</p><p>pecados comuns.</p><p>Além disso, havia me casado com um homem que</p><p>eu amava e respeitava profundamente. Ele era gentil</p><p>e atencioso, um excelente pai para nossos</p><p>pequeninos e um teólogo e pregador em pleno</p><p>desenvolvimento. Eu estava morando em um dos</p><p>lugares mais lindos do mundo, e, na época em que</p><p>conheci Margaret, já tinha três charmosos, saudáveis</p><p>e adoráveis filhos. Todos os meus ideais de vida já</p><p>haviam se realizado por volta dos meus trinta e dois</p><p>anos, mas a ira fervia dentro de mim e entrava em</p><p>erupção assustadoramente de tempos em tempos.</p><p>Quando aquela ira começou a afetar meus dois</p><p>filhos mais novos, fiquei desconcertada. Eu não</p><p>sabia por que estava me comportando daquela</p><p>forma. Em minha ira, eu puxava seus bracinhos com</p><p>um pouco mais de força ou gritava com eles numa</p><p>intensidade muito além do que o momento pedia.</p><p>Ainda não havia contusões ou fraturas, mas</p><p>certamente haveria se eu não conseguisse ajuda.</p><p>Sentei-me na casa de Margaret e abri meu coração</p><p>para ela. Falei por um bom tempo, enquanto ela</p><p>ouvia com compaixão e anotava algumas</p><p>informações. Quando a nossa primeira sessão</p><p>terminou, ela olhou calmamente em meus olhos</p><p>inchados e avermelhados e me deu um tipo peculiar</p><p>de esperança. Ela disse: “Barbara, Deus derramará</p><p>sua graça sobre você. Ele lhe dará graça para mudar</p><p>e crescer nessas duas áreas de grande luta com o</p><p>pecado ou lhe dará graça para permanecer a mesma</p><p>e sobreviver ao fracasso”.</p><p>Fui pega de surpresa pela declaração confiante de</p><p>Margaret. Eu não sabia que havia opções no</p><p>departamento da graça, mas, se houvesse, sabia com</p><p>certeza que tipo de graça eu queria. Não tinha</p><p>qualquer interesse em permanecer na mesma</p><p>situação e sobreviver ao meu fracasso, o que quer</p><p>que isso significasse. Eu estava determinada a mudar</p><p>e certa de que isso era o que Deus queria para mim.</p><p>Afinal, eu havia memorizado uma série de versículos</p><p>sobre despojar-se e revestir-se, sobre obedecer à lei</p><p>de Deus e correr a carreira com todas as minhas</p><p>forças. Deus não quer que eu me torne melhor a</p><p>cada dia? A santificação não se resume a pecar cada</p><p>vez menos?</p><p>Naquela época, eu não conhecia muito bem o meu</p><p>coração nem conhecia o coração de Deus. Eu não</p><p>tinha ideia de que poderia querer obedecer a Deus</p><p>por razões pecaminosas. Tudo que eu sabia era que</p><p>a minha gordura me envergonhava e revelava a</p><p>todos o caos da minha alma. Eu odiava esse pecado</p><p>por não conseguir escondê-lo. Ele me encarava toda</p><p>vez que eu me olhava no espelho. Ele me seguia</p><p>aonde quer que eu fosse, aprisionando-me num</p><p>sufocante caixão de carne. Eu queria impressionar as</p><p>pessoas com minha inteligência e sagacidade, com</p><p>meu conhecimento e sabedoria, mas minha gordura</p><p>impedia que as pessoas me vissem como eu era,</p><p>levando-as a me julgar como a fracassada que eu me</p><p>sentia. Também sabia que não queria fazer mal aos</p><p>meus meninos. Eu os amava muito e temia que meu</p><p>pecado os arruinasse para sempre. Estava</p><p>absolutamente certa de que Deus queria que eu</p><p>parasse de pecar, mas sentia-me completamente</p><p>impotente para lutar com esses dois poderosos</p><p>pecados recorrentes.</p><p>SANTIFICAÇÃO COOPERATIVA</p><p>Como eu, muitos cristãos crescem na fé</p><p>acreditando que Cristo morreu para pagar pelos seus</p><p>pecados e que, na prática, a santificação depende</p><p>amplamente deles mesmos. Recentemente, um</p><p>pastor escreveu em um site que a santificação é</p><p>constituída 100% de Deus e 100% de nós, refletindo</p><p>não só uma matemática pobre, mas também (e mais</p><p>importante) uma teologia pobre. Nesta visão, uma</p><p>vez que Deus está, obviamente, fazendo seus 100%</p><p>com perfeição, o motivo de você estar obtendo</p><p>sucesso ou fracassando deve ser inteiramente seu.</p><p>Não é surpreendente que cristãos cometam esse</p><p>engano. O homem caído é, por natureza, alguém</p><p>que deseja ser independente de Deus, e essa</p><p>independência aparece em nossa vida na forma de</p><p>inúmeras estratégias de autossalvação. Nosso modo</p><p>natural de agir é orientado pela lei, mesmo após a</p><p>nossa conversão. Essa estratégia acaba sendo o</p><p>nosso padrão, em vez de nos prostrarmos diante de</p><p>Deus e implorarmos por sua graça e misericórdia.</p><p>Ao mesmo tempo, tememos frequentemente que, se</p><p>contarmos aos outros que a santificação é</p><p>inteiramente uma obra de Deus, não haverá razão</p><p>para eles tentarem. E isso não é um medo</p><p>infundado, pois houve muitas pessoas na história da</p><p>igreja que erraram ao ensinar que o esforço humano</p><p>é irrelevante na santificação, o que ocasionou</p><p>consequências devastadoras.</p><p>Ao crescer, agarrei-me firmemente ao conceito de</p><p>“Kit de Ferramentas do Espírito Santo”. Acreditava</p><p>que, se pudesse encontrar a técnica correta ou</p><p>tivesse força de vontade suficiente, poderia usá-la ou</p><p>aplicá-la eficazmente em meus piores pecados. No</p><p>entanto, minha sensação crescente de vergonha e</p><p>frustração em relação ao meu peso e à minha ira foi</p><p>o início de uma nova obra em minha vida e de uma</p><p>nova compreensão da vontade de Deus para mim.</p><p>Eu pensava que Deus amava um coração vitorioso e</p><p>triunfante, mas comecei a aprender que Deus ama</p><p>um coração humilde e contrito (Salmos 51.17; 66.2)</p><p>e tem muitas maneiras surpreendentes de formar</p><p>esses atributos em seus filhos.</p><p>Tenho ouvido muitos cristãos dizerem que Deus</p><p>nunca ordenaria algo de nós que não</p><p>conseguíssemos realizar, mas acredito que estejam</p><p>seriamente (embora sinceramente) enganados.</p><p>Afinal, Deus chama todos os homens e mulheres a</p><p>crerem no Senhor Jesus Cristo para salvação, mas</p><p>nenhum de nós pode realmente fazê-lo, a menos que</p><p>ele nos dê o dom da fé, que precisamos tão</p><p>desesperadamente (Efésios 2.8-10). Ele ordena que</p><p>sejamos perfeitos como ele é perfeito, mas nenhum</p><p>de nós o será enquanto não alcançarmos o céu</p><p>(Mateus 5.48). Deus manda que os maridos amem</p><p>sua esposa como Cristo amou a igreja, o que é,</p><p>certamente, um objetivo que se encontra muito além</p><p>do alcance de qualquer um (Efésios 5.25). Do</p><p>mesmo modo, ele ordena às esposas que sejam</p><p>submissas a seu marido, como a igreja deve ser</p><p>submissa a Cristo (Efésios 5.22), mas não há</p><p>nenhuma esposa que possa afirmar ter feito isso com</p><p>qualquer proximidade da perfeição. Portanto, olhar</p><p>para todos os imperativos contidos nas Escrituras</p><p>em</p><p>busca de santificação, como se estivesse em nosso</p><p>poder alcançar tal santidade, é um erro mortal. Não</p><p>é surpreendente que existam tantos cristãos</p><p>desencorajados por suas fraquezas e devastados por</p><p>seus pecados recorrentes.</p><p>Se os cristãos acreditam que podem realmente</p><p>viver de acordo com os padrões de Deus e que</p><p>devem alcançar esse objetivo cada vez mais a cada</p><p>dia, então, uma destas duas coisas vai acontecer em</p><p>face da realidade teimosa de nossos corações: ou</p><p>teremos que reescrever os padrões de Deus, de</p><p>modo a torná-los mais acessíveis — um conjunto de</p><p>regras externas que estejam (pelo menos, em teoria)</p><p>em nosso poder alcançá-las — ou, se mantivermos a</p><p>intensidade da busca pela verdade bíblica, teremos</p><p>que aceitar que Deus ficará desapontado conosco.</p><p>Ah! podemos também apelar à necessidade da graça</p><p>e do poder de Deus, mas isso é apenas um apelo ao</p><p>poder divino para sermos bem-sucedidos em superar</p><p>a tentação e não à graça para encontrarmos imensa</p><p>alegria e deleite no Senhor, apesar das montanhas de</p><p>pecado que não reagem aos nossos melhores</p><p>esforços. Muitos cristãos jamais ouviram falar de</p><p>uma graça suficiente para sobreviver ao terrível</p><p>fracasso em nosso desempenho e que nos capacita a</p><p>encontrar profunda alegria e paz na justiça de</p><p>Cristo.</p><p>UMA PERSPECTIVA DIFERENTE</p><p>No entanto, o apóstolo Paulo descreve exatamente</p><p>esse tipo de graça e seu lugar em um paradigma de</p><p>vida cristã bastante diferente. Em 2 Coríntios, Paulo</p><p>diz:</p><p>E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das</p><p>revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro</p><p>de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.</p><p>Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de</p><p>mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o</p><p>poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais</p><p>me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o</p><p>poder de Cristo.</p><p>2 Coríntios 12.7-9</p><p>Paulo tinha um problema e queria que Deus o</p><p>livrasse dele. Não sabemos exatamente qual era o</p><p>problema, mas estava ligado à sua carne — quer isso</p><p>signifique sua natureza pecaminosa, ou meramente</p><p>sua humanidade, ou alguma combinação de ambas.</p><p>Também sabemos que, o que quer que fosse, isso</p><p>veio por meio de Satanás e veio de Deus. Paulo</p><p>suplicou três vezes a Deus para que lhe tirasse esse</p><p>espinho e, por três vezes, Deus não fez como ele</p><p>suplicou. Isso nos lembra Jesus no jardim do</p><p>Getsêmani. Ele também suplicou três vezes para que</p><p>o cálice do sofrimento fosse afastado de si (Mateus</p><p>26.39-44) e, três vezes, recebeu a resposta que não</p><p>queria ouvir. É notável que, após três pedidos, tanto</p><p>Jesus quanto Paulo concluíram que Deus havia, de</p><p>fato, lhes respondido, e a resposta fora “não”. Em</p><p>vez de continuar a orar, jejuar, fazer promessas ou</p><p>se comprometer a uma maior disciplina, cada um</p><p>deles aceitou, em silêncio, a resposta de Deus. Jesus</p><p>se levantou e caminhou rumo às horas de tortura e</p><p>abandono por parte de Deus, sabendo que a força</p><p>de Deus se aperfeiçoaria em sua fraqueza e morte.</p><p>Ele confiou que Deus anularia os pecados horríveis</p><p>de muitas pessoas e usaria a morte de seu Filho para</p><p>a sua própria glória, a glória de seu Filho e o bem de</p><p>todo o seu povo.</p><p>Do mesmo modo, Paulo concluiu, serenamente,</p><p>que Deus tinha um bom propósito em recusar seu</p><p>pedido, pois veria claramente que: “A minha graça te</p><p>basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2</p><p>Coríntios 12.9). Ele compreendeu que a história de</p><p>sua vida jamais fora planejada para exaltar e</p><p>glorificar a si mesmo; ela fora planejada a fim de</p><p>apontar para outro. Se Deus houvesse respondido a</p><p>todas as orações de Paulo e o tivesse feito forte e</p><p>triunfante em todos os sentidos, ainda estaríamos</p><p>nos maravilhando com a ótima pessoa que Paulo</p><p>era. Ao contrário, Deus o deixou fraco e pecador.</p><p>Em vez de remover o espinho de Paulo, ele disse:</p><p>“Não, Paulo, prefiro você com o espinho”.39 Agora,</p><p>não podemos simplesmente nos sentar e admirar</p><p>Paulo. Ele era um grande apóstolo, mas, em suas</p><p>próprias palavras, ele era o principal dos pecadores</p><p>(1 Timóteo 1.15). E, de acordo com sua própria</p><p>descrição em Romanos 7, Paulo resistiu em</p><p>obedecer a Deus e pecou repetidamente. Em nos</p><p>maravilharmos com Paulo, ficamos maravilhados</p><p>com Jesus Cristo, que livrou Paulo de seu corpo de</p><p>morte ao morrer em lugar dele. Cristo é aquele por</p><p>quem devemos nos apaixonar, aquele cuja beleza</p><p>nos fascina.</p><p>Os escritos de John Newton nos presenteiam com</p><p>esse paradigma paulino de crescimento cristão por</p><p>meio da fraqueza, enraizado, de modo prático e</p><p>teológico, na vasta doutrina da soberania absoluta de</p><p>Deus. Certamente, Newton não é a única pessoa na</p><p>história da igreja que notou esse paradigma; é o</p><p>paradigma encontrado nas grandes confissões e</p><p>catecismos que resultaram da Reforma nos séculos</p><p>XVI e XVII. Entretanto, talvez por seu histórico</p><p>pessoal de pecados, Newton explica o paradigma</p><p>mais claramente do que qualquer um que eu</p><p>conheça.</p><p>Como mencionos no capítulo 3, Newton começa</p><p>observando que Deus poderia nos ter salvado e nos</p><p>feito instantaneamente perfeitos, visto que todas as</p><p>coisas são igualmente fáceis para Deus, e ele cumpre</p><p>toda a sua santa vontade.40 Mas Deus escolheu nos</p><p>salvar e deixar um pecado habitando em nossa alma</p><p>para guerrear com nossos novos desejos. Por que</p><p>um Deus amoroso e gentil faria uma coisa dessas?</p><p>Como isso funciona para a sua glória e o nosso</p><p>bem? Se Deus estivesse interessado em</p><p>simplesmente diminuir a totalidade de pecados</p><p>cometidos no universo, ele nunca teria tomado tal</p><p>decisão. Por mais que odeie o pecado, deve haver</p><p>outra coisa que ele valorize tão grandiosamente que</p><p>valha a pena o custo do poder de destruição do</p><p>pecado. Newton argumenta que esse valor supremo</p><p>é a formação de corações humildes e contritos no</p><p>povo escolhido de Deus, à medida que, por meio da</p><p>fraqueza contínua e do pecado, eles passam a</p><p>confiar cada vez menos em si mesmos e a depender,</p><p>cada vez mais, de Jesus Cristo e a deleitar-se nele.41</p><p>LIÇÕES DE UMA BONECA</p><p>Pense comigo por um momento numa boneca</p><p>Barbie. Ela é linda e cheia de talentos, perfeita além</p><p>da possibilidade ou da realidade. Seu cabelo é louro</p><p>e brilhante, seus atributos faciais são esculpidos em</p><p>proporções perfeitas, e seu corpo é bastante</p><p>atraente. Ela busca carreiras emocionantes como as</p><p>de astronauta, veterinária e dançarina de balé,</p><p>enquanto encontra tempo para surfar nos fins de</p><p>semana com o Ken. Ela é toda deslumbrante, mas</p><p>tem uma fraqueza fatal: seus pés deformados! Ela</p><p>não consegue ficar de pé por conta própria e deve</p><p>ser amparada ou apoiada o tempo todo. Seus</p><p>criadores tiveram uma razão importante para</p><p>projetá-la de tal forma — a necessidade de ela ter</p><p>que usar salto alto sempre (não existem chinelos da</p><p>Barbie). Seus criadores a produziram de um modo</p><p>determinado, com uma fraqueza específica, devido a</p><p>seus próprios propósitos para a vida da Barbie.</p><p>Obviamente, a relação de Deus com sua criação</p><p>não é exatamente como a de um designer e suas</p><p>bonecas. No entanto, de modo semelhante, Deus</p><p>escolheu nos deixar significativamente deformados e</p><p>imperfeitos após nossa conversão, porque valoriza</p><p>algo além de nossa impecabilidade. Espiritualmente,</p><p>permanecemos fracos e impotentes, incapazes de</p><p>ficar em pé por conta própria, exatamente como a</p><p>Barbie. Mesmo que nossos pés não sejam</p><p>deficientes e deformados, nossa alma é pecaminosa</p><p>e rebelde. Somos nova criação e velha carne</p><p>pecaminosa juntas — duas naturezas competindo</p><p>por nossos afetos e lealdade. Sem dúvida, essas duas</p><p>naturezas em oposição não são iguais. Somos</p><p>habitados pelo Espírito do Deus vivo, e sua vontade</p><p>é sempre soberana. Nosso coração pecaminoso não</p><p>é páreo, de modo algum, para seu poder e</p><p>habilidade de trabalhar em nós, com ou sem a nossa</p><p>permissão.</p><p>Observamos essa verdade mais nitidamente em</p><p>relação à salvação. Se o Deus do universo escolheu</p><p>você antes da fundação do mundo, a fim de que o</p><p>adorasse (Efésios 1.4), então, você não será capaz</p><p>de resistir à vontade dele. Aqueles que o Pai deu ao</p><p>Filho são suas ovelhas, e ninguém pode impedi-los</p><p>de vir a Cristo ou arrebatá-los posteriormente</p><p>da cruz, desesperadamente carentes de um refúgio e</p><p>de um Redentor, a festa começa aqui e agora, e o</p><p>meu pecado diário se torna o canal para uma</p><p>surpreendente alegria e celebração. Por isso, deixem</p><p>que as comemorações comecem.</p><p>Neste livro, estou demonstrando, através de</p><p>histórias, um trabalho progressivo da graça. As</p><p>histórias são todas verdadeiras, embora em alguns</p><p>lugares nomes tenham sido mudados para proteger</p><p>os culpados! A maior parte dessas histórias</p><p>envolvem a mim mesma — não porque eu esteja</p><p>tentando proclamar quão maravilhosa pessoa eu sou.</p><p>Na verdade, trata-se exatamente do contrário.</p><p>Muitas delas falam de mim, pois o meu coração é o</p><p>único que realmente conheço, e o meu pecado é o</p><p>único a respeito do qual posso falar com algum grau</p><p>de conhecimento.</p><p>As histórias que você encontrará aqui têm como</p><p>objetivo fazer a conexão de grandes e poderosas</p><p>verdades doutrinárias com os minutos e as horas da</p><p>vida cotidiana. É maravilhoso estudar as verdades a</p><p>respeito de Deus. Todavia, ainda mais maravilhoso é</p><p>revestir-se delas dia após dia: trabalhar revestido</p><p>delas, alegrar-se nelas, dormir descansando nelas,</p><p>festejar baseado nelas e, inclusive, morrer acolhido</p><p>seguramente nelas. Espero que este livro o abençoe</p><p>e que o entusiasmo com o qual escrevo mova seu</p><p>coração a um grande desejo de perseverar em</p><p>descobrir a abundante alegria que é sua herança em</p><p>Cristo Jesus.</p><p>capítulo um</p><p>bem-vindo ao seu coração</p><p>O espírito de escravidão está indo embora</p><p>gradualmente, e a hora da liberdade, pela qual ele</p><p>tanto anseia, se aproxima. — John Newton1</p><p>Eu me remexia inquieta no banco da igreja,</p><p>enquanto aguardava meu grande momento chegar.</p><p>Pensamentos passavam rapidamente em minha</p><p>mente, e meu coração batia acelerado, cheio de</p><p>empolgação, conforme ouvia os murmúrios</p><p>intermináveis da preletora. Eu estava interessada em</p><p>apenas uma coisa, e estava difícil esperar por isso.</p><p>A preletora era uma grande amiga minha, uma</p><p>jovem com quem eu fizera amizade no trabalho. Eu</p><p>estava empolgada por ela ter sido convidada a dar</p><p>seu testemunho na igreja. O testemunho de Heather</p><p>era uma história excepcional de transformação, na</p><p>qual eu tive grande participação. Quando conheci</p><p>Heather, como colega de trabalho no laboratório de</p><p>um grande hospital da cidade, ela era quase</p><p>invisível. Falava baixo e de maneira hesitante, e suas</p><p>expressões faciais eram quase sempre as mesmas e</p><p>indiferentes em uma conversa. Heather andava</p><p>vagarosamente, cada passo era arrastado, cada ação</p><p>era feita de forma penosamente lenta, como se as</p><p>tarefas mais simples da vida fossem um fardo</p><p>pesado. Eu sentia pena dela. Heather era alvo de</p><p>fofocas entre os funcionários, e alguns a</p><p>maltratavam. Desde que se mudara para aquela</p><p>cidade a fim de assumir seu trabalho, ela não tinha</p><p>nenhum amigo, e sua vida parecia triste e solitária.</p><p>Heather precisava de ajuda: precisava de Jesus; e,</p><p>evidentemente, ela precisava de mim!</p><p>Havendo crescido em um lar de missionários, forte</p><p>e entusiasta, eu sabia exatamente o que Deus queria</p><p>que eu fizesse. Queria que eu amasse Heather, me</p><p>tornasse sua amiga e compartilhasse com ela o</p><p>evangelho. Comecei a trabalhar imediatamente.</p><p>Tinha acabado de voltar para os Estados Unidos,</p><p>após trabalhar como missionária na África, e era</p><p>recém-casada com um homem que havia sido</p><p>chamado para o ministério e estudava num</p><p>seminário.</p><p>O evangelismo estava no topo da lista de coisas que</p><p>eu sabia que Deus requeria de mim, e, sendo</p><p>honesta, a África não tinha sido uma experiência</p><p>muito boa nessa área. Eu havia trabalhado por dois</p><p>anos no laboratório de um hospital, esforçando-me</p><p>para testemunhar do evangelho a algumas pessoas e</p><p>discipulá-las, mas sem conseguir levar ninguém ao</p><p>Senhor. Na verdade, comportara-me bem mal como</p><p>uma jovem missionária imatura de vinte e um anos</p><p>de idade, que tinha uma suspeita irritante de que</p><p>muitas pessoas boas haviam desperdiçado muito</p><p>dinheiro ao investir em mim. Ninguém mais sabia</p><p>que eu pensava essas coisas sobre mim mesma, mas</p><p>eu era atormentada pelo meu fracasso em ser uma</p><p>boa missionária. Ministrar à Heather seria minha</p><p>chance de redimir minha reputação.</p><p>Heather acabou sendo um projeto ainda melhor do</p><p>que eu poderia ter imaginado. Ela correspondeu</p><p>maravilhosamente a todas as minhas tentativas de</p><p>tornar-me sua amiga. Em pouco tempo, Heather já</p><p>fazia parte da casa e começou a frequentar a igreja</p><p>conosco. Quando mudei de emprego, Heather nos</p><p>acompanhou e mudou-se para perto de nós e da</p><p>igreja que frequentávamos. Ela fez sua confissão</p><p>pública de fé e parecia ter uma nova vida bem diante</p><p>de nossos olhos.</p><p>A história de Heather era muito dramática, pois</p><p>envolvia todos os piores pecados que os bons</p><p>cristãos não podiam sequer imaginar, pecados como</p><p>promiscuidade sexual e aborto. A culpa e a vergonha</p><p>haviam revestido o corpo e a vida de Heather, e ela</p><p>vivia a vida no modo zumbi, perambulando em seu</p><p>mundo, blindada dos olhares dos outros por um</p><p>invisível e portátil caixão de silêncio. À medida que</p><p>sua culpa era aliviada, seu semblante começava a</p><p>mudar. Heather falava mais, ficava mais animada e</p><p>começou a sorrir e a gargalhar. Após alguns anos,</p><p>começou a namorar um cristão afável e decente que</p><p>a pediu em casamento. Uma nova vida tomou conta</p><p>dela e transformou aquela garota invisível de dentro</p><p>para fora. Essa foi uma história dramática, e eu era a</p><p>protagonista no palco da nova vida de Heather.</p><p>No entanto, à medida que eu ouvia a interminável</p><p>narrativa de Heather, comecei a ficar irritada. Sua</p><p>versão da história parecia altamente imprecisa. Ela</p><p>continuava falando sobre Deus e o que ele havia</p><p>feito em sua vida, mas não mencionou meu nome</p><p>uma única vez. Minha irritação desabrochou em</p><p>uma profunda raiva quando comecei a me perguntar</p><p>se ela iria ou não mencionar meu nome. Como ela</p><p>poderia explicar toda a sua história sem agradecer e</p><p>dizer a todos como eu havia dado minha vida para</p><p>alcançá-la com o evangelho? Ministrar à vida de</p><p>Heather havia sido custoso para mim, e com certeza</p><p>eu merecia algum crédito! E, além disso, aquele</p><p>grupo de pessoas em particular não ficara</p><p>impressionado com a minha biografia missionária.</p><p>Eles não se importaram com o fato de eu ter ido</p><p>para as zonas mais profundas e sombrias da África.</p><p>Na verdade, não repararam de maneira alguma em</p><p>mim, por isso eu precisava de uma pequena ajuda</p><p>no departamento de notoriedade. A história de</p><p>Heather estava chegando ao fim, e minha raiva</p><p>profunda se transformou em fúria quando percebi</p><p>que ela não tinha absolutamente nenhuma intenção</p><p>de mencionar meu nome. Pensamentos amargos</p><p>inundaram minha mente, ao passo que eu ensaiava o</p><p>que diria para puni-la por sua repugnante ingratidão.</p><p>Eu a odiei desesperadamente naquele momento.</p><p>UM MOMENTO DE DISCERNIMENTO</p><p>De repente, do nada, um pensamento surgiu em</p><p>minha mente: Barbara, você é uma farejadora de</p><p>glória e amante de holofotes, não é? Essa história</p><p>não é sua; é minha, e todo o crédito e glória</p><p>pertencem a mim. Nunca em minha vida eu tivera</p><p>um pensamento como esse. Não foi uma voz; foi</p><p>um pensamento, mas um pensamento tão poderoso</p><p>e emocionante que repentinamente me senti tomada</p><p>por uma luz que me expunha à essência de minha</p><p>alma.</p><p>Quatro anos antes, eu tinha ouvido palavras como</p><p>essas, vindas da boca de minha colega de quarto da</p><p>faculdade, quando, no campus, competíamos</p><p>descaradamente pela posição de presidente de um</p><p>dos grupos evangélicos de comunhão cristã. Ela</p><p>tinha visto em mim coisas para as quais eu estava</p><p>completamente cega e escolheu um momento na</p><p>escadaria do refeitório para me bombardear. Ela me</p><p>disse: “Barbara, você ama os holofotes e sempre tem</p><p>de ser o centro das atenções”. Naquele dia, eu não</p><p>fui detida por nenhum pensamento repentino. Ao</p><p>invés disso, a ira cresceu dentro de mim como uma</p><p>tempestade violenta, e dei um empurrão maldoso em</p><p>minha colega que quase a fez cair escada abaixo.</p><p>Não houve nenhuma luz que deteve meus</p><p>pensamentos; houve apenas ódio amargo e</p><p>repugnante para com uma garota que não gostava de</p><p>mim e ameaçou a elevada visão que eu tinha a</p><p>respeito de mim mesma.</p><p>Com Heather, porém, o caso</p><p>de</p><p>suas mãos (João 10.27-29). Deus realiza esse</p><p>trabalho transformador de salvação, fazendo com</p><p>que Cristo lhe seja tão belo e irresistível, que seu</p><p>maior desejo passa a ser adorá-lo, e você pode até</p><p>acreditar que fazer isso tenha partido inicialmente de</p><p>você mesmo. Não existe conflito entre a nossa</p><p>vontade e a de Deus na salvação, porque Deus altera</p><p>soberanamente a vontade daqueles a quem escolhe</p><p>salvar, de modo que desejemos livremente ir até ele,</p><p>algo que nunca desejaríamos por conta própria.</p><p>INCAPAZ DE FICAR EM PÉ</p><p>A mesma coisa acontece no que diz respeito à</p><p>nossa santificação. No momento de nossa salvação,</p><p>Deus começa em nós um novo trabalho que</p><p>prometeu terminar e sobre o qual é soberano em</p><p>cada passo do caminho (Filipenses 1.6). Jesus Cristo</p><p>não inicia um novo trabalho em alguém e deixa ao</p><p>encargo do crente individual que ele determine como</p><p>esse trabalho será concluído. Jesus Cristo está</p><p>ordenando e cumprindo todos os detalhes e meios</p><p>pelos quais sua vontade se realiza. O Espírito Santo</p><p>está dando fé, graça e dons espirituais, segundo a</p><p>medida que lhes atribui (Romanos 12.3-6), e</p><p>produzindo frutos de acordo com sua vontade e</p><p>cronograma (Gálatas 5.22-23). A vida do crente é a</p><p>história de Deus e não a sua própria.</p><p>Deus ordenou que, assim como a Barbi, você não</p><p>possa se manter espiritualmente de pé por conta</p><p>própria. Você nunca descobrirá o “segredo” de ficar</p><p>em pé ou terá uma experiência espiritual que o torne</p><p>capaz de ficar em pé sozinho por muito tempo.</p><p>Quando Jesus diz: “Sem mim nada podeis fazer”</p><p>(João 15.5), ele o quer dizer de forma bem literal. O</p><p>Espírito Santo de Deus, amável e poderoso que vive</p><p>em você, decide, a todo o momento, se você</p><p>permanece de pé ou cai. A não ser que o Espírito</p><p>Santo lhe permita permanecer de pé, você</p><p>continuará fazendo aquilo que faz melhor, mesmo</p><p>como um cristão — continuará a pecar. Às vezes, o</p><p>Espírito Santo o mantém de pé e lhe mostra as</p><p>coisas incríveis e maravilhosas que é capaz de</p><p>realizar em você. Outras vezes, sem tentá-lo, ele o</p><p>deixa sozinho para cair em pecado.</p><p>Muitos de nossos pais e mães espirituais</p><p>compreenderam esse princípio muito melhor do que</p><p>nós. Por exemplo, a Confissão de Fé de</p><p>Westminster descreve esse trabalho em suas</p><p>discussões sobre a providência de Deus:</p><p>O mui sábio, justo e gracioso Deus muitas vezes deixa, por</p><p>algum tempo, seus filhos entregues a muitas tentações e à</p><p>corrupção de seus próprios corações, para castigá-los pelos</p><p>seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder</p><p>oculto da corrupção e dolo de seus corações, a fim de que</p><p>sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais íntima</p><p>e constantemente do apoio Dele e torná-los mais vigilantes</p><p>contra todas as futuras ocasiões de pecar, para vários outros</p><p>fins justos e santos.</p><p>CFW 5.5</p><p>Observe o ponto central desta afirmação: seu</p><p>gentil, amoroso, gracioso e compassivo Pai celestial</p><p>deixa frequentemente — não só eventualmente —</p><p>seus próprios filhos, por um período de tempo,</p><p>entregues a muitas tentações. O Espírito Santo que</p><p>habita em você certamente é capaz de evitar que</p><p>enfrente tentações. Na verdade, somos instruídos a</p><p>pedir exatamente isso na oração do Senhor: “Não</p><p>nos deixeis cair em tentação” (Mateus 6.13). Do</p><p>mesmo modo, o Espírito Santo também é capaz de</p><p>levá-lo à tentação e fazê-lo suportá-la vitoriosamente</p><p>(Judas 24), como veremos no próximo capítulo. No</p><p>entanto, a Confissão de Westminster salienta que,</p><p>com o intuito de torná-lo mais humilde e mais</p><p>consciente de sua total dependência divina, Deus o</p><p>deixa frequentemente exposto à tentação e não</p><p>intervém para resgatá-lo. Deus o deixa prosseguir, e</p><p>você faz o que ainda lhe é natural como pecador</p><p>depravado — dá com a cara no chão.</p><p>Em tudo isso, Deus não o tenta a pecar, não faz</p><p>com que você peque e não o abandona de modo</p><p>alguma. Ele não precisa fazer isso. Ele apenas não</p><p>intervém para segurá-lo. Como a Barbie, você não</p><p>consegue se manter de pé sem a poderosa ajuda de</p><p>Deus. E certamente fracassará, a não ser que ele, de</p><p>forma ativa, conceda-lhe a vontade e o desejo de</p><p>obedecer a ele e o poder de seguir adiante nesse</p><p>desejo. Uma vez que tudo o que Deus permite, ele</p><p>já ordenou, esse é um aspecto de sua soberania</p><p>específica sobre cada minuto da sua vida. Deus está</p><p>no controle dos pensamentos que são permitidos</p><p>voarem em sua mente. Ele está no controle daqueles</p><p>pensamentos que começam a enraizar em sua alma a</p><p>fim de tentá-lo. Às vezes, Deus intervém com uma</p><p>verdade poderosa e o resgata de si mesmo, como fez</p><p>por mim naquele dia, no supermercado. Às vezes,</p><p>ele retira seu poder divino de você — sem deixá-lo</p><p>sozinho por um minuto sequer — e lhe permite ser</p><p>você mesmo, como eu fui com os motoristas que me</p><p>irritaram. Somos completamente responsáveis por</p><p>nosso pecado, porém toda a nossa obediência vem</p><p>de Deus.</p><p>EXEMPLOS BÍBLICOS</p><p>Se essa perspectiva sobre nossa santificação é</p><p>verdadeira, devemos esperar que encontremos</p><p>muitos exemplos disso nos textos bíblicos.</p><p>Certamente é isso o que vemos. Por exemplo, foi o</p><p>Espírito Santo que conduziu Jesus Cristo ao deserto</p><p>para ser tentado por Satanás (Mateus 4.1). Deus não</p><p>somente ordenou que seu Filho enfrentasse a</p><p>tentação e depois se afastasse para ver o que Satanás</p><p>poderia arquitetar, mas também acompanhou</p><p>ativamente e observou todas as circunstâncias</p><p>relativas a essa tentação. Ao contrário de Adão e</p><p>Eva, que pecaram num belíssimo jardim, repleto de</p><p>comida e companheirismo, Jesus, o segundo Adão,</p><p>enfrentaria a tentação sozinho, faminto, exausto e no</p><p>meio de um deserto estéril. Ele tinha toda a razão</p><p>humana para se deslumbrar com a riqueza, o poder</p><p>e a glória que lhe eram oferecidos, mas resistiu a</p><p>investida e permaneceu perfeitamente obediente. A</p><p>vontade soberana de Deus era que seu Filho</p><p>resistisse à tentação, cumprindo a lei em nosso lugar,</p><p>para que os infratores e insolentes, como você e eu,</p><p>recebessem seu legado impecável de retidão como se</p><p>fosse nosso.</p><p>Em outras situações, a vontade soberana de Deus é</p><p>que os homens pequem, como é ilustrado em</p><p>Ezequiel 38, quando o Senhor descreve o ataque do</p><p>inimigo final, Gogue e seus aliados, contra seu</p><p>próprio povo restaurado. A passagem delcara:</p><p>Assim diz o SENHOR Deus: Naquele dia, terás imaginações</p><p>no teu coração e conceberás mau desígnio; e dirás: Subirei</p><p>contra a terra das aldeias sem muros, virei contra os que</p><p>estão em repouso, que vivem seguros, que habitam, todos,</p><p>sem muros e não têm ferrolhos nem portas; isso a fim de</p><p>tomares o despojo, arrebatares a presa e levantares a mão</p><p>contra as terras desertas que se acham habitadas e contra o</p><p>povo que se congregou dentre as nações, o qual tem gado e</p><p>bens e habita no meio da terra.</p><p>Ezequiel 38.10-12</p><p>As Escrituras identificam os planos de Gogue como</p><p>“mau desígnio”, mas, isto também faz parte do</p><p>plano soberano de Deus para o mundo. Todos os</p><p>pecados começam com um pensamento, e Satanás é</p><p>certamente habilidoso em nos apresentar</p><p>pensamentos tentadores. Ele pode usar vários</p><p>aspectos do mundo atraente que nos rodeia, e suas</p><p>sugestões encontram livre acesso à nossa carne</p><p>depravada e corrompida. No entanto, essa passagem</p><p>nos lembra que, seja qual for a origem imediata das</p><p>nossas tentações (o mundo, a carne ou o Diabo), os</p><p>pensamentos que nos tentam de modo efetivo estão</p><p>inteiramente sob o controle soberano de Deus. A</p><p>soberania de Deus sobre os pensamentos de Gogue</p><p>condiz com a soberania do Senhor sobre os</p><p>pensamentos individuais que temos todos os dias e</p><p>que nos levam aos nossos próprios “maus</p><p>desígnios”.</p><p>TENTADO, PROVADO E FREQUENTEMENTE</p><p>FRACASSADO</p><p>Vemos esse princípio em ação na história de Davi e</p><p>Bate-Seba (2 Samuel 11-12). O pecado de Davi não</p><p>surgiu do nada. Seu pecado surgiu de seu fracasso</p><p>em cumprir o dever de conduzir seu povo à batalha.</p><p>Esse era, afinal, o motivo pelo qual Israel havia</p><p>pedido um rei (1 Samuel 8.20). O narrador dessa</p><p>história bíblica nos diz que esse incidente ocorreu</p><p>“na época em que os reis saíam para guerra”. Nessa</p><p>ocasião, Davi mandou Joabe em seu lugar (2</p><p>Samuel 11.1). E por que Davi estava no terraço de</p><p>seu palácio no exato momento</p><p>em que Bate-Seba se</p><p>banhava? Deus poderia muito facilmente ter</p><p>intercedido e orquestrado as coisas para que Davi</p><p>nunca tivesse que enfrentar tal tentação. Afinal,</p><p>poderia ter chovido ou Deus poderia ter lhe causado</p><p>um forte resfriado!</p><p>Mesmo depois de tê-la visto, Deus poderia ter</p><p>agido para evitar que a tentação se concretizasse e</p><p>desse seu fruto amargo. Quando Davi teve a chance</p><p>de matar Saul na caverna, Deus deu a Davi força de</p><p>resistir à tentação (1 Samuel 24.3-7). No capítulo</p><p>seguinte, quando foi tentado a se vingar de toda a</p><p>casa de Nabal por causa da loucura de seu mestre,</p><p>Deus enviou Abigail para evitar que ele pecasse (1</p><p>Samuel 25.26). Davi foi impedido de ceder à</p><p>tentação muitas vezes em sua vida. Porém, na</p><p>ocasião de Bate-Seba, ele não foi salvo de si mesmo.</p><p>Ele viu algo belo e o desejou. Naquela noite em</p><p>particular, esses pensamentos pecaminosos se</p><p>enraizaram firmemente em sua alma e tornaram-se</p><p>desejos incontroláveis. Tiago nos diz que “cada um é</p><p>tentado pela sua própria cobiça quando esta o atrai e</p><p>seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido,</p><p>dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado,</p><p>gera a morte” (Tiago 1.14-15).</p><p>Havia morte no ar naquela noite. Muitos males</p><p>vieram a partir do pecado de Davi: uma mulher foi</p><p>tomada, um marido foi assassinado e um bebê</p><p>indefeso foi deixado fraco e moribundo. Que bem</p><p>poderia vir de todos este mal, traição e falsidade das</p><p>mãos de alguém que havia provado tão plenamente</p><p>da bondade de Deus? O Salmo 51 nos dá uma pista.</p><p>Esse Salmo, que Davi escreveu a partir de sua</p><p>fracassada experiência pessoal com o pecado, dá a</p><p>todos nós uma visão rica a respeito de como Deus</p><p>produz em nós o coração quebrantado e contrito</p><p>que ele tanto ama (Salmo 51.17). Davi poderia tê-lo</p><p>escrito de maneira abstrata. Entretanto, muito do</p><p>poder desse Salmo vem de suas raízes na própria</p><p>experiência de Davi.</p><p>Naquela noite de pecado e morte, havia também</p><p>vida eterna em gestação silenciosa, pois o Messias, o</p><p>Salvador do mundo, viria da união que começara</p><p>nesse mesmo relato. O poderoso redentor, que</p><p>derrotaria o pecado e a morte para sempre, nasceria</p><p>de uma linhagem de pecadores miseráveis, adúlteros</p><p>e assassinos, descendentes de Davi e Bate-Seba.</p><p>Deus determinou a ocorrência do pecado naquela</p><p>noite escura e o usaria para a sua glória e para o</p><p>benefício de todos os seus escolhidos.</p><p>Podemos observar o mesmo padrão em operação</p><p>no Novo Testamento. Em Lucas 22, Jesus e seus</p><p>discípulos se retiraram para uma ampla sala, no</p><p>andar superior de uma casa, a fim de celebrar a ceia</p><p>de Páscoa. Enquanto comiam e bebiam juntos, Jesus</p><p>alterou o roteiro milenar daquele ritual com o</p><p>propósito de falar de seu sofrimento iminente, na</p><p>condição do próprio Cordeiro Pascal. Jesus</p><p>ofereceu-lhes o pão, dizendo: “Isto é o meu corpo</p><p>oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.</p><p>Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice,</p><p>dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu</p><p>sangue derramado em favor de vós” (Lucas 22.19-</p><p>20). É provável que a mente dos apóstolos foi</p><p>tomada por medo e confusão, enquanto seu herói</p><p>persistia em falar sobre sua própria morte e</p><p>sofrimento. Depois, Jesus falou sobre a traição,</p><p>devastando a todos com a notícia de que um deles</p><p>era o traidor! Em meio à narrativa solene e sombria,</p><p>um embate irrompeu. O Rei da glória havia servido</p><p>humildemente a esses homens e, em breve, morreria</p><p>por eles, mas tudo o que eles conseguiam pensar</p><p>naquele momento era quem seria o maior nesse</p><p>novo reino sobre o qual Jesus continuava a falar.</p><p>Então, Jesus se virou para Pedro e lhe disse, de</p><p>maneira chocante, que Satanás o havia reivindicado,</p><p>para peneirá-lo como trigo (Lucas 22.31).42 Pedro</p><p>declarou, confiante, sua própria capacidade de</p><p>permanecer ao lado de Jesus, ainda que todos os</p><p>outros o abandonassem (Lucas 22.33). No entanto,</p><p>logo em seguida, Jesus disse a Pedro que ele o</p><p>negaria naquela mesma noite (Lucas 22.34).</p><p>Observe o mesmo padrão que vimos anteriormente.</p><p>Vemos Satanás aparecendo diante de Deus para</p><p>fazer suas exigências audaciosas e, novamente, Deus</p><p>dando a Satanás uma medida real, mas limitada, de</p><p>poder. No caso de Pedro, Jesus disse: “Eu, porém,</p><p>roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu,</p><p>pois, quando te converteres, fortalece os teus</p><p>irmãos” (Lucas 22.32). Que declaração espantosa</p><p>do propósito soberano de Deus para trazer o bem</p><p>por meio do pecado! Jesus sabia que Deus não</p><p>salvaria Pedro de si mesmo naquela noite. Apesar de</p><p>sua demonstração de fervor, Pedro fracassaria. O</p><p>poderoso, valente e corajoso discípulo, que pegaria</p><p>em armas contra os soldados que viriam para</p><p>prender Jesus e deceparia a orelha de um dos</p><p>homens, se reduziria a um covarde em frente de</p><p>uma garota serviçal, negando conhecer seu mais</p><p>querido amigo (João 18.10-27).</p><p>Observe também que quando Jesus orou por</p><p>Pedro, não orou para que ele não pecasse. Pelo</p><p>contrário, Jesus orou para que, depois que Pedro</p><p>pecasse, sua fé não lhe faltasse e que, por sua vez,</p><p>fortalecesse seus irmãos (Lucas 22.32). Mentir e</p><p>abandonar o Cordeiro precioso de Deus em sua hora</p><p>de maior sofrimento foi, certamente, um pecado</p><p>terrível para Pedro. Contudo, mais uma vez, Deus</p><p>usaria o que odiava para obter algo que amava.</p><p>Deus tinha grandes planos para Pedro, usando-o de</p><p>um modo dramático, com o intuito de edificar sua</p><p>igreja, mas Pedro não estava pronto. Era muito</p><p>orgulhoso, imprudente, seguro de si mesmo, muito</p><p>áspero e arrogante para pregar suave e</p><p>amorosamente a ovelhas fracas e pecadoras.</p><p>Pensava ser melhor do que os outros discípulos ao</p><p>declarar: “Ainda que venhas a ser um tropeço para</p><p>todos, nunca o serás para mim” (Mateus 26.33).</p><p>Pedro precisava conhecer seu próprio pecado e sua</p><p>própria necessidade, antes que pudesse cuidar do</p><p>rebanho de Deus com mansidão e humildade.</p><p>Por meio daquele pecado, Deus estava planejando</p><p>algo grandioso na vida de Pedro. Ele precisava</p><p>conhecer a profundidade incrível do perdão de que</p><p>ele próprio precisava e receberia em Cristo para que</p><p>pudesse, depois, estender a mesma compaixão e</p><p>perdão aos outros. Certamente Deus poderia ter</p><p>fortalecido Pedro para obedecer naquele momento,</p><p>mas, se o tivesse feito, a lição maior seria perdida.</p><p>Isso também é verdade no que diz respeito a você e</p><p>a mim. Será que o relato da minha experiência de</p><p>compras no supermercado e as histórias do rei Davi</p><p>e do apóstolo Pedro se conectam de algum modo à</p><p>narrativa de sua vida? Você se vê, em certos</p><p>momentos, repleto de pensamentos maravilhosos</p><p>sobre Deus e capaz de fazer coisas magníficas por</p><p>ele, somente para se ver, pouco tempo depois, cheio</p><p>de raiva, amargura, pensamentos ruins e novamente</p><p>pecando? Acho que isso ocorre com frequência nas</p><p>manhãs de domingo, que deveriam ser os momentos</p><p>mais sagrados da minha semana! Eu as começo em</p><p>um estado de completa distração e mau humor,</p><p>correndo de um lado para o outro, procurando</p><p>ajudar nos preparativos em nossa igreja e nos ajustes</p><p>de som da equipe de música. Realmente não quero</p><p>fazer essas coisas, mas, por enquanto, sou chamada</p><p>a servir e ajudar desse modo. Por isso, me dedico às</p><p>tarefas mais frequentes com o coração irritado.</p><p>Quando o culto começa, meu coração frio e</p><p>endurecido é comumente aquecido e amolecido,</p><p>logo que sou chamada a adorar e confessar meu</p><p>pecado diante de Deus, tendo certeza de seu perdão</p><p>e de seu amor. Lágrimas de alegria e gratidão são</p><p>frequentes — sempre contra a minha vontade — e</p><p>minha alma é renovada, fortalecida e investida de</p><p>poderes quando terminamos a Ceia do Senhor,</p><p>regozijando-se na celebração do amor surpreendente</p><p>de nosso maravilhoso Salvador!</p><p>No entanto, muitas vezes, não consigo nem sair do</p><p>ginásio onde nosso culto é realizado sem que meu</p><p>coração fique pesado e minha alma esteja em</p><p>ebulição. No minuto em que tiro meus olhos de</p><p>Cristo e olho novamente para mim, torno-me</p><p>suscetível a lutar contra todos os tipos de pecado.</p><p>Luto para amar as pessoas que reclamam de meu</p><p>trabalho ou depositam grandes expectativas sobre</p><p>mim, por eu ser esposa de pastor. Tenho dificuldade</p><p>em perdoar as pessoas que não mantêm sua palavra</p><p>e aquelas que assumem</p><p>compromissos e os</p><p>abandonam facilmente. Uma vez que o ginásio está</p><p>sempre repleto de pessoas, é comum a presença de</p><p>tais pecadores, dentre os quais, tenho plena certeza,</p><p>sou a maior. Conforta minha alma, no entanto, saber</p><p>que em minha fraqueza e pecado, não sou algum</p><p>tipo de aberração terrível — não sou um monstro</p><p>espiritual. De acordo com a vontade soberana de</p><p>Deus, a vida cristã deve ser assim. Deus é capaz de,</p><p>quando lhe agrada e para seus próprios fins, dar-me</p><p>a graça para permanecer firme e resistir à tentação.</p><p>Mas, em vez disso, Deus escolhe muitas vezes, por</p><p>seus próprios bons desígnios e para me mostrar</p><p>graça através de minhas quedas, humilhar-me e</p><p>ensinar-me a tremenda necessidade que tenho dele.</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Em quais áreas da sua vida Deus tem lhe dado</p><p>graça para mudar e para superar o pecado? Em</p><p>quais áreas da sua vida você tem permanecido o</p><p>mesmo? Como Deus lhe mostra sua graça quando</p><p>você não vence o pecado?</p><p>2. Você acredita que cabe a você mesmo cooperar</p><p>com Deus em sua santificação para que possa</p><p>crescer? Por que acredita nisso? Por que, em</p><p>determinados momentos, você não cooperará com</p><p>Deus?</p><p>3. De que maneiras você tentou fazer com que o</p><p>Espírito Santo fizesse o que você queria, esperando</p><p>que ele o ajudasse a mudar?</p><p>4. Você possui algum “espinho na carne” como o</p><p>apóstolo Paulo? Como ele o faz se sentir? Quantas</p><p>vezes você orou para que Deus o tirasse? Por que</p><p>você continua orando? Que coisas, especificamente,</p><p>Deus tem feito em você nas áreas em que sua</p><p>resposta ainda é “não”?</p><p>5. De que modo Deus fez você permanecer firme</p><p>ultimamente e o fez vitorioso sobre pecados que</p><p>normalmente o enganavam? Quais pecados você é</p><p>tentado a cometer quando Deus o faz permanecer</p><p>firme? Por quê?</p><p>6. De que modo Deus o tem feito virar-se contra si</p><p>mesmo e o tem deixado cair?</p><p>7. Quais são os pecados aos quais você é tentado</p><p>quando Deus permite que você caia novamente? Por</p><p>quê?</p><p>8. Descreva um momento em sua vida quando</p><p>Deus mudou seu coração e sua mente, de modo a</p><p>fazê-lo sentir-se disposto a fazer algo que não</p><p>queria. O que isso lhe ensina sobre Deus?</p><p>38. Disponível em: www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm.</p><p>Todas as citações da CFW neste livro estão baseadas nessa fonte.</p><p>39. Nate Larkin, Samson and the Pirate Monks: Calling Men to</p><p>Authentic Brotherhood (Nashville: Nelson, 2006), 73.</p><p>40. John Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 9.</p><p>41. John Newton, “Advantages of Remaining Sin”, Select Letters</p><p>of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 152.</p><p>42. De fato, o texto grego aqui está no plural: Satanás havia</p><p>demandado peneirar todos os discípulos, não somente Pedro.</p><p>Jesus ora por nós também, para que nossa fé não desfaleça em</p><p>meio aos nossos maiores fracassos. Sou devedora a Dale Ralph</p><p>Davis por este discernimento.</p><p>http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm</p><p>capítulo nove</p><p>permanecendo em Cristo somente</p><p>Embora possamos cair por nós mesmos, não</p><p>podemos</p><p>levantar-nos sem a ajuda dele. — John Newton43</p><p>Acho que a maioria dos cristãos acredita,</p><p>corretamente, que toda a nossa força para seguir na</p><p>vida cristã precisa vir de Cristo. Entretanto,</p><p>podemos querer dizer coisas diferentes quando</p><p>falamos isso. Alguns acreditam que o Espírito Santo,</p><p>que passa a habitar em nós no momento da</p><p>salvação, também nos capacita constantemente a</p><p>sermos obedientes. Em outras palavras, a graça</p><p>recebida na conversão inclui uma força permanente</p><p>para escolhermos obedecer a Deus, sempre que</p><p>estamos dispostos a fazê-lo. Portanto, a vontade e a</p><p>força para permanecermos em obediência vêm de</p><p>nossa própria diligência e esforço árduo, enquanto</p><p>caminhamos pela vida.</p><p>John Newton possuía uma visão diferente sobre a</p><p>obediência cristã — uma visão que colocava toda a</p><p>culpa do pecado no pecador, mas dá todo o crédito</p><p>pela obediência unicamente a Deus. Newton uniu a</p><p>essa ideia o conceito de autoglorificação e concluiu,</p><p>acertadamente, que se não houvesse nenhuma</p><p>jactância humana diante de Deus pelas boas obras, a</p><p>santificação teria de ser totalmente da graça e</p><p>dependeria completamente de Deus.44 Longe de</p><p>colocar a culpa em Deus por nossos pecados,</p><p>Newton via a presença permanente de nossa</p><p>natureza pecaminosa decaída e a atividade constante</p><p>de Satanás como explicação suficiente para nosso</p><p>contínuo pecado interior.45 Ele ponderou também</p><p>que, se isso for verdade, somente Deus pode obter o</p><p>crédito quando seu Espírito se move, em um novo</p><p>ato da graça, para engajar a vontade dos crentes, de</p><p>modo que eles queiram obedecer, e quando, depois,</p><p>provê a verdadeira força para seguirem em</p><p>obediência.</p><p>Nisto, John Newton repercute a percepção das</p><p>históricas confissões de fé reformadas. Por exemplo,</p><p>a Confissão de Westminster diz:</p><p>O poder de fazer boas obras não é, de modo algum, dos</p><p>próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de</p><p>Cristo. A fim de que sejam para isso habilitados, é</p><p>necessário, além da graça que já receberam, uma influência</p><p>positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e</p><p>o perfazer segundo o seu beneplácito; contudo, não devem</p><p>por isso tornar-se negligentes, como se não fossem</p><p>obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos</p><p>especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por</p><p>estimular a graça de Deus que há neles.</p><p>CFW 16.3</p><p>De modo semelhante, a Confissão Belga declara</p><p>Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo.</p><p>Pois, que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a</p><p>Deus pelas boas obras que fazemos e não Ele a nós. Pois,</p><p>“Deus é quem efetua em” nós “tanto o querer como o</p><p>realizar, segundo sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Então,</p><p>levemos a sério o que está escrito: “Assim também vós,</p><p>depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei:</p><p>Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que</p><p>devíamos fazer” (Lucas 17:10).46</p><p>Assim como Newton, os elaboradores destas</p><p>confissões reformadas acreditavam que cada ato</p><p>específico de obediência exige uma influência real</p><p>do Espírito Santo em nosso coração. A graça que</p><p>recebemos no momento de nossa salvação não é um</p><p>tipo de poder capacitador geral que precisamos</p><p>descobrir como acessar e ativar para que possamos</p><p>crescer e ser abençoados. Pelo contrário, é a</p><p>presença pessoal e poderosa do Espírito do Deus</p><p>vivo, que governa sobre nossa alma e decide, em</p><p>cada momento, se nos dará graça para nos fazer</p><p>querer obedecer e se dará graça adicional para</p><p>sermos bem-sucedidos na obediência.</p><p>Esse tipo de cuidado, específico e minucioso por</p><p>nós, como indivíduos, não deveria surpreender-nos.</p><p>Quando Jesus disse que os fios de cabelo de nossa</p><p>cabeça estavam contados, estava se referindo a um</p><p>tipo de amor vigilante tão compreensível que nem</p><p>um único fio de cabelo pode cair de nossa cabeça</p><p>sem sua permissão (Mateus 10.30). Então, como é</p><p>que podemos chegar a imaginar que Deus deixaria a</p><p>grande e poderosa função de guiar nosso espírito ao</p><p>encargo de pessoas fracas e pecadoras como nós?</p><p>Certamente, o assunto a respeito de quais pecados</p><p>cometeremos ou não é muito mais importante para</p><p>Deus do que o número de fios de cabelo que</p><p>podemos chamar de nossos cada dia.</p><p>De modo semelhante, até a morte de um pequeno e</p><p>frágil pardal sob as garras de um gato da vizinhança,</p><p>algo que dificilmente nos causaria preocupação, é</p><p>objeto da vontade soberana de Deus (Mateus</p><p>10.29). Quanto mais, então, o Senhor exercerá sua</p><p>soberania e cuidado amoroso na santificação de seus</p><p>filhos? Aqueles que Deus criou à sua imagem e</p><p>redimiu com o sangue de seu precioso e único Filho</p><p>são muito mais valiosos para ele do que pequenos</p><p>pardais (Mateus 10.31)!</p><p>Outras Escrituras também falam da atenção pessoal</p><p>de Deus sendo manifestada em profusão sobre cada</p><p>um de nós em cada momento de nossos dias. Ele</p><p>sabe as palavras que estão em nossa língua, antes</p><p>que as falemos (Salmo 139.4); é ele quem decide se</p><p>elas sairão ou não de entre nossos lábios. Deus</p><p>conhece nossos pensamentos (Salmo 139.2), bem</p><p>como as características intrínsecas da nossa carne</p><p>pecaminosa. Deus está escrevendo a história da</p><p>redenção</p><p>do seu povo, mantendo-o longe de</p><p>pecados que ele não permite e entregando-o a</p><p>pecados que planejou vencer para sua glória e nosso</p><p>bem. O que planejamos para o mal Deus usa para o</p><p>bem, apesar de nossas piores intenções.</p><p>NÃO HÁ NADA QUE POSSAMOS FAZER?</p><p>Embora a obediência exija, a cada momento, um</p><p>novo ato do Espírito Santo, a Confissão de fé de</p><p>Westminster nos lembra que não devemos usar isso</p><p>como desculpa para desistirmos da luta. Este é um</p><p>lembrete sábio e necessário. Talvez seja inevitável</p><p>que, quando seres humanos caídos se depararam</p><p>com a notícia desanimadora de que não conseguem</p><p>“fazer as coisas”, alguns concluam que seus pecados</p><p>são, na verdade, culpa de Deus e, por isso, não</p><p>precisam tentar levar sua vida de maneira obediente.</p><p>Parece que o apóstolo Paulo estava acostumado a</p><p>ser indagado sobre esta mesma questão —</p><p>“Permaneceremos no pecado, para que a graça seja</p><p>mais abundante?” (Romanos 6.1) — e sua resposta</p><p>era “NÃO!” Pode fazer sentido à sabedoria humana</p><p>que, se o pecado abre, de algum modo, as</p><p>comportas da misericórdia de Deus e libera as fontes</p><p>de graça, então devemos pecar mais, para obtermos</p><p>mais graça. A palavra de Deus, porém, diz:</p><p>“Absolutamente não!” Um dos erros mais tristes que</p><p>podemos testemunhar é crentes usarem a paciência e</p><p>a bondade de Deus, bem como a sua misericórdia e</p><p>graça, como pretexto para pecarem de maneira</p><p>escandalosa e flagrante. Ainda assim, não</p><p>precisamos entrar em pânico ou desespero. Uma vez</p><p>que o Espírito Santo governa completamente que</p><p>pecados serão ou não serão cometidos, até os</p><p>pecados de seus filhos imaturos e mal orientados</p><p>serão usados para a glória de Deus e o bem deles</p><p>mesmos.</p><p>Só Deus sabe por que tolera as “travessuras</p><p>abomináveis” (como Newton as chamava) daqueles</p><p>que resgatou. Contudo, está claro nas Escrituras que</p><p>a beleza do evangelho foi planejada para nos fazer</p><p>querer obedecer cada vez mais a Jesus e não cada</p><p>vez menos. O perdão radical que temos em Jesus</p><p>nos permite viver a nossa vida com confiança e</p><p>ousadia, embora ainda pequemos em grande medida</p><p>todos os dias. Entretanto, o perdão de Deus não tem</p><p>o propósito de servir como autorização para</p><p>cedermos à libertinagem, à linguagem torpe, ao</p><p>alcoolismo e à imoralidade sexual. Quando Martinho</p><p>Lutero disse a Filipe Melanchthon que “pecasse</p><p>ousadamente”, ele tinha em mente que Melanchthon</p><p>reconheceria a realidade do seu pecado interior, de</p><p>modo que também orasse com ousadia em busca da</p><p>graça de Deus, em vez de buscar ativamente seus</p><p>desejos pecaminosos.47 Eu me entristeço quando</p><p>ouço cristãos anunciarem seus pecados audaciosos</p><p>em nome da graça e de Martinho Lutero. O</p><p>evangelho nos leva a uma profunda tristeza por</p><p>nosso pecado, combinada com uma grande alegria</p><p>em nosso Salvador, mas nunca a uma apreciação</p><p>ousada e exagerada do pecado.</p><p>John Newton não teve problema algum em</p><p>examinar e proclamar a total incapacidade do crente</p><p>para obedecer e, ao mesmo tempo, exortar cada</p><p>crente a se esforçar por santificação. Ele disse, por</p><p>exemplo:</p><p>É mandamento de Deus e, portanto, dever deles; sim, com</p><p>base na nova natureza que ele nos deu, o desejo deles é</p><p>vigiar e empenharem-se contra o pecado; disporem-se à</p><p>mortificação de todo o corpo do pecado e ao avanço da</p><p>santificação em seu coração como seu alvo principal e</p><p>constante, para o qual devem ter consideração habitual e</p><p>perseverante.48</p><p>Em outro local, Newton escreveu:</p><p>É um privilégio do crente andar com Deus no exercício da fé</p><p>e, pelo poder do Espírito Santo, mortificar todo o corpo de</p><p>pecado, para obter vitória crescente sobre o mundo e sobre</p><p>si mesmo e fazer progresso diário em conformidade com a</p><p>mente de Cristo. E nada que professamos saber, acreditar ou</p><p>esperar, merece o nome de privilégio além do fato de que</p><p>somos influenciados a morrer para o pecado e viver para a</p><p>justiça. Todo aquele que possui a verdadeira fé não limitará</p><p>suas indagações ao simples ponto de sua aceitação com</p><p>Deus, nem se satisfará com a esperança distante do céu</p><p>vindouro. Ele será solícito a respeito de como glorificar a</p><p>Deus no mundo e desfrutará daquelas antecipações do céu</p><p>que são alcançáveis enquanto ele ainda está na terra.49</p><p>Embora permaneçamos nesta vida presos à carne</p><p>pecadora, repletos de fraquezas e totalmente</p><p>dependentes de Deus, e embora façamos apenas</p><p>“pequenos começos em obediência” (conforme</p><p>elucida o Catecismo de Heidelberg, Pergunta 114),</p><p>também somos novas criaturas (2 Coríntios 5.17). O</p><p>Espírito de Deus cria novos desejos em nosso</p><p>coração e, enquanto nos revela gradualmente a</p><p>beleza fascinante de nosso Salvador, ele nos garante</p><p>um anseio crescente de sermos como ele. Por isso,</p><p>Newton nos chama a trabalhar com afinco em</p><p>direção a nosso crescimento, enquanto, ao mesmo</p><p>tempo, mantemos em mente o fato de que sem</p><p>Cristo nada podemos fazer. O que pode parecer</p><p>humanamente contraditório se encaixa de modo</p><p>encantador no plano divino de redenção e de</p><p>santificação.</p><p>Neste assunto, Newton ficava contente em ecoar as</p><p>notas ressoadas pela Bíblia. As Escrituras nos</p><p>chamam a correr com toda nossa força (1 Coríntios</p><p>9.24) e a enfrentar a luta com todo o nosso vigor (1</p><p>Coríntios 6.12). Não precisamos compreender todas</p><p>as razões pelas quais Deus nos chama a tentar tão</p><p>arduamente e, apesar disso, nos permite fracassar</p><p>tão frequentemente. Mas precisamos nos submeter à</p><p>sabedoria de Deus e, por amor e gratidão a ele,</p><p>procurar obedecer a seus mandamentos. Jesus disse:</p><p>“Se me amais, guardareis os meus mandamentos”</p><p>(João 14.15). De fato, quanto mais conhecemos o</p><p>evangelho, tanto mais crescemos em amor e gratidão</p><p>a Cristo e tanto mais firmemente esse desejo nos</p><p>atrai e nos motiva.</p><p>A BELEZA DE TENTAR COM TODAS AS</p><p>SUAS FORÇAS</p><p>Certamente, eu não sei todas as razões pelas quais</p><p>Deus ordenou que nos esforçássemos com afinco e</p><p>fracassássemos, em vez de não fazermos</p><p>absolutamente nada. Newton argumenta que Deus</p><p>vê como gloriosas as tentativas mais simplórias de</p><p>cada cristão.50 Deus adora admirar seu trabalho em</p><p>nós e ver em nós o reflexo de seu Filho. Se não</p><p>tentamos com afinco e falhamos, podemos nos iludir</p><p>pensando que, se tivéssemos escolhido nos esforçar,</p><p>teríamos conseguido obedecer a Deus. Mas, quando</p><p>tentamos com afinco e falhamos, e tentamos com</p><p>afinco e falhamos novamente, aprendemos a atribuir</p><p>toda nossa salvação somente à obra de Cristo.</p><p>Eu sei um pouco sobre o que significa esforçar-se</p><p>ao máximo. Quando o assunto é lutar contra o</p><p>pecado, posso muito me enganar facilmente.</p><p>Existem alguns pecados que, pela graça e bondade</p><p>de Deus, não considero tentadores... pelo menos,</p><p>não no presente momento. Parece que consigo</p><p>derrotar esses pecados sem tentar. Um exemplo</p><p>disso na minha própria vida vem da área da fantasia.</p><p>Quando era jovem, lutava frequentemente contra a</p><p>fantasia sexual e a luxúria. E isso, é claro, me</p><p>incomodava muito. Certa vez, ouvi um sermão</p><p>sobre despojar-se e vestir-se em que fui encorajada a</p><p>despojar-me do pecado por vestir-me de algum tipo</p><p>de obediência. Então, percebi que em meu arsenal</p><p>cristão possuía um antídoto poderoso contra</p><p>fantasias sexuais — as memórias dos dias em que</p><p>dei à luz a cada um dos meus filhos. Isso pode até</p><p>soar engraçado para você — mas existe alguma</p><p>maneira de evitar pensamentos sexuais pecaminosos</p><p>que seja melhor do que a lembrança da insuportável</p><p>dor do parto? No entanto, não foi exatamente assim</p><p>que a coisa funcionou. Os dias de nascimento de</p><p>meus filhos são as lembranças mais felizes que</p><p>tenho. Enchem-me de alegria incrível, gratidão e</p><p>verdadeiro deleite. É esse tipo de alegria e prazer</p><p>que funciona como remédio poderoso contra o</p><p>pecado.</p><p>Rosie, minha filha caçula, quase morreu no dia em</p><p>que nasceu. Ela sofreu uma privação de oxigênio e</p><p>chegou ao mundo com um tom arroxeado na pele.</p><p>Quando os médicos conseguiram que respirasse</p><p>corretamente, descobriram que ela havia sofrido</p><p>danos durante o parto, e o lado direito do seu corpo</p><p>estava paralisado. Fomos advertidos de que ela</p><p>poderia não ter uma vida saudável. Havia uma</p><p>grande possibilidade de a paralisia persistir e de que</p><p>viesse a ter o cérebro danificado. Algumas</p><p>horas</p><p>antes, outro bebê havia falecido na sala ao lado da</p><p>minha. Ela nasceu morta, seu batimento cardíaco</p><p>sumira de repente, sem nenhuma explicação. Por</p><p>que meu bebê sobreviveu enquanto aquela criança</p><p>faleceu? Minha filha não apenas sobreviveu, ela</p><p>continuou a progredir — duas semanas mais tarde,</p><p>sua paralisia já havia desaparecido; e ela se tornara</p><p>uma recém-nascida cheia de energia e vitalidade.</p><p>Hoje, ela é uma jovem linda e esperta. E,</p><p>frequentemente, sinto-me desconcertada pela</p><p>lembrança do que poderia ter acontecido. Não</p><p>merecia que meu bebê sobrevivesse e se</p><p>recuperasse, mas Deus foi extremamente piedoso</p><p>comigo. Nessa poderosa lembrança da alegria de</p><p>meus filhos, em especial, da Rosie, Deus me deu um</p><p>forte auxílio contra esse tipo de pecado.</p><p>Obviamente, não havia notado que esse mecanismo</p><p>era um dom. Parecia que tudo que eu tinha de fazer</p><p>era apertar um botão e passar um vídeo em minha</p><p>mente, e, assim, os pensamentos sexuais dariam</p><p>lugar a pensamentos melhores. Parecia que nem</p><p>precisava me esforçar muito. Entretanto, em sua</p><p>bondade, Deus me deu outros campos de batalha</p><p>onde não haveria essa ilusão. Ele é um pai amoroso</p><p>que sabe que somos fracos e somos apenas pó, mas,</p><p>apesar disso, ele é gentil conosco. Se cada área da</p><p>nossa vida fosse um campo de batalha, morreríamos</p><p>de desânimo. Em seu amor, Deus faz questão de</p><p>que cada um de nós tenha pelo menos um ou dois</p><p>campos de batalha pessoais, nos quais, não</p><p>importando quanto nos esforcemos para obedecer,</p><p>não podemos obter sucesso.</p><p>Como já mencionei, lutar contra meu peso tem</p><p>sido uma das batalhas mais difíceis e dolorosas de</p><p>minha vida. Fui clinicamente obesa por quinze anos.</p><p>Tentei tudo que era possível para ser fiel e</p><p>obediente, e algumas vezes parecia estar no caminho</p><p>da vitória por algum tempo. Em quatro ocasiões</p><p>distintas, cheguei a perder mais de 40 quilos fazendo</p><p>dietas. No entanto, a cada tentativa, voltava a ganhar</p><p>ainda mais do que havia perdido, até que fui</p><p>derrotada pela vergonha e pelo desânimo. A graça</p><p>para nos reerguer pode vir de muitas maneiras</p><p>surpreendentes. Por muitos anos, estive decidida a</p><p>vencer essa batalha, enquanto imaginava como as</p><p>pessoas me admirariam pelas minhas realizações e</p><p>como eu poderia vir a ensinar outras pessoas a</p><p>fazerem o mesmo.</p><p>Porém, isso não estava exatamente nos planos de</p><p>Deus. Ao contrário, ele passou quinze anos me</p><p>provando que eu não conseguiria, antes de agir em</p><p>meu favor. O orgulho me levou a tentar fazer isso</p><p>por conta própria, mas meus fracassos constantes</p><p>abriram meu coração e minha mente para os</p><p>caminhos da ajuda que, até então, me pareciam</p><p>vergonhosos. Finalmente, em 2002, enfrentando</p><p>diabetes e pressão alta, vergonha e orgulho já não</p><p>me preocupavam mais; e comecei a pesquisar sobre</p><p>as possibilidades da cirurgia bariátrica. Eu era uma</p><p>pessoa doente e uma espectadora na vida dos meus</p><p>filhos; por isso, quando meu seguro permitiu pagar</p><p>por essa cirurgia, eu aceitei. Nesta cirurgia</p><p>específica, o estômago é grampeado até ao ponto</p><p>em que tudo o que sobra é uma pequena bolsa. Os</p><p>intestinos também são encurtados para reduzir a</p><p>capacidade de absorção de calorias do trato</p><p>gastrointestinal, à medida que o alimento passa por</p><p>eles. A partir daí, uma perda dramática de peso</p><p>acontece. Acho que você poderia dizer que meu</p><p>estômago me ofendeu, por isso tive de tirá-lo da</p><p>jogada. Desde então, tenho tido muitas e muitas</p><p>razões para agradecer a Deus o fato de meu</p><p>tamanho atual não ter quase nada a ver com o que</p><p>sou. É uma bênção valiosa e da qual sou indigna e</p><p>agradeço a Deus todos os dias. Às vezes, sorrio alto</p><p>ao pensar como meu Pai celestial fez o impossível</p><p>para permitir que eu me vangloriasse por perder 63</p><p>quilos. Não posso aconselhar a ninguém mais,</p><p>apenas agradecer a Deus sua bondade.</p><p>Um dos maiores problemas que encontro na sala</p><p>de aconselhamento é o orgulho natural humano que</p><p>impede que as pessoas busquem e aceitem ajuda. Às</p><p>vezes, isso vem da noção enganosa de que Deus</p><p>espera que organizemos nossa própria vida e</p><p>obedeçamos por conta própria. É tão difícil</p><p>compreender que Deus ama o coração humilde e</p><p>contrito daqueles que não se gloriam em nada,</p><p>exceto no amor de Jesus Cristo. O orgulho nos</p><p>mantem isolados de outras pessoas e nos desvia</p><p>frequentemente dos auxílios que estão disponíveis,</p><p>sejam médicos, sejam benefícios comunitários.</p><p>Contudo, uma longa batalha contra o pecado</p><p>geralmente nos leva a nosso próprio fim e, somente</p><p>então, estamos prontos para clamar a Deus por</p><p>libertação e para procurar ajuda. Com muita</p><p>frequência, Deus nos esmagará com nossas</p><p>fraquezas antes de nos dar graça para</p><p>permanecermos firmes — e ele demonstra amor</p><p>para nos esmagar. Quando nossas batalhas contra o</p><p>pecado são passageiras e leves, podemos ser gratos</p><p>quando acabam, mas somente em proporção à</p><p>extensão de tempo de nosso sofrimento e do esforço</p><p>que dispendemos. Então, quando nos reerguemos,</p><p>buscamos tomar o crédito por isso. Afinal de contas,</p><p>foi como se tivéssemos feito tudo sozinhos. Nessas</p><p>horas, não perdemos muito tempo nos lembrando de</p><p>Jesus, porque não precisamos tanto dele. Nossos</p><p>olhos permanecem principalmente em nós mesmos e</p><p>ficamos ansiosos para contar aos outros como fomos</p><p>capazes de superar aquele pecado.</p><p>Mas, quando lutamos com um mesmo pecado por</p><p>muitos anos e fracassamos, as coisas se tornam mais</p><p>claras. Quando recebemos graça para obedecer,</p><p>existe muito menos confusão a respeito de quem fez</p><p>o quê. Se tentei com todas as minhas forças e</p><p>fracassei, sou finalmente convencido de que sem</p><p>Cristo não existe esperança de vitória. E, se a vitória</p><p>chegar nessa altura, é mais provável que eu entenda,</p><p>do fundo de minha alma, que foi Cristo quem fez</p><p>toda a diferença e me libertou, apesar de mim.</p><p>John Newton observou que Deus raramente nos</p><p>liberta de um pecado inquietante antes de nos</p><p>mostrar quão enraizada está, em nossa alma, a nossa</p><p>incapacidade de nos livrarmos de tal pecado. Se essa</p><p>obra for cooperativa, em que Jesus e eu trabalhamos</p><p>juntos, no final da apresentação haveria duas</p><p>pessoas no palco, curvando-se para a plateia, em</p><p>agradecimento. Todavia, entender minha</p><p>incapacidade me leva a uma postura muito diferente.</p><p>Não estou no palco ao lado de Jesus, curvando-me</p><p>em agradecimento. Em vez disso, estou prostrada no</p><p>chão, com o rosto no pó e as mãos em minha boca</p><p>insensata, adorando aos pés de meu querido</p><p>Salvador, cuja força e graça me resgataram.</p><p>Newton compara a batalha contra o assédio do</p><p>pecado inquietante a um navio perdido no mar</p><p>durante uma tempestade. Se a tempestade durasse</p><p>várias horas ou dias, os marinheiros ficariam</p><p>apavorados e aceitariam o fato de estarem perdidos.</p><p>Seu alívio seria grande quando a tempestade</p><p>acabasse e eles navegassem seguros rumo ao porto.</p><p>Porém, quando um marinheiro se perdeu no mar</p><p>por mais de um mês e se considera perdido por dias</p><p>sem fim, quão grande não será seu alívio quando</p><p>navegar em direção ao porto? Quão diferente seria a</p><p>sua alegria, em magnitude e intensidade, se tivesse</p><p>passado apenas um ou dois dias em perigo?51 Assim</p><p>são as nossas lutas contra o pecado. Algumas serão</p><p>breves, e Deus nos garante alívio imediato. Algumas</p><p>duram por anos e anos, e aprenderemos quão é</p><p>desagradável precisarmos de perdão tantas vezes. A</p><p>maior parte desses pecados permanecerá de alguma</p><p>forma em nós até que vejamos a Deus face a face e</p><p>nos maravilhemos de que podemos estar diante</p><p>desse Deus santo e de seu Filho fascinante. No</p><p>entanto, embora continuemos a pecar nesta vida</p><p>terremos, sabemos que somos abundantemente</p><p>perdoados, e nosso amor e apreciação pela natureza</p><p>de nosso Deus se torna mais clara. Newton declara</p><p>que, exceto por batalharmos muito contra o pecado,</p><p>não há outra maneira de possuirmos um coração</p><p>quebrantado e contrito em relação ao nosso pecado</p><p>ou um coração amoroso e cheio de compaixão para</p><p>com os outros.</p><p>Portanto, tentarmos com afinco andar em</p><p>obediência glorifica a Deus e é bom para nós. Os</p><p>resultados de nossos esforços estão nas mãos de</p><p>Deus. Às vezes, nos esforçaremos muito e teremos</p><p>sucesso, porém, com muito mais frequência, nos</p><p>esforçaremos muito</p><p>e fracassaremos. Na verdade, às</p><p>vezes não teremos a força nem o desejo de tentar.</p><p>Então, a glória de Deus será revelada no fato de que</p><p>ele se apega incondicionalmente a nós e continua</p><p>sua obra em nós, capacitando-nos, se não para</p><p>corrermos na direção correta, ao menos para</p><p>engatinharmos ou simplesmente olharmos para a</p><p>direção certa.52 Ainda neste caso, a sua graça é</p><p>suficiente para a nossa fraqueza.</p><p>O SOBERANO DEUS E O DOM DA FÉ</p><p>Antes de nos colocarmos diante de Deus face a</p><p>face, não conseguimos escolher quão forte será a</p><p>nossa fé ou o quanto progrediremos na santificação.</p><p>Em Romanos 12, Paulo une, de maneira admirável,</p><p>o esforço por crescimento e obediência à soberania</p><p>de Deus:</p><p>Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que</p><p>apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e</p><p>agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos</p><p>conformeis com este século, mas transformai-vos pela</p><p>renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja</p><p>a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Porque, pela</p><p>graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não</p><p>pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com</p><p>moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a</p><p>cada um. Porque assim como num só corpo temos muitos</p><p>membros, mas nem todos os membros têm a mesma função,</p><p>assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo</p><p>em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém,</p><p>diferentes dons segundo a graça que nos foi dada.</p><p>Primeiro, observe como Paulo faz um forte</p><p>chamado à obediência enquanto insta que os crentes</p><p>ofereçam seus corpos como sacrifícios vivos,</p><p>sagrados e aceitáveis a Deus (Romanos 12.1). Aqui,</p><p>os imperativos são fortes e potencialmente</p><p>impactantes. Temos de ser transformados, dotados</p><p>de discernimento e apaixonados em nossa busca de</p><p>uma vida consagrada, mortificando nossos próprios</p><p>desejos neste processo. Porém, ao mesmo tempo,</p><p>Paulo nos lembra duas coisas. À medida que nos</p><p>empenhamos arduamente, precisamos ter nossas</p><p>mentes renovadas, em um processo em que somos</p><p>passivos e Deus é ativo. Além disso, existe um forte</p><p>apelo à humildade e um lembrete de que não</p><p>pensemos a nosso respeito além do que convém e</p><p>que nos avaliemos com julgamento sóbrio</p><p>(Romanos 12.3). Temos de ponderar</p><p>cuidadosamente o fato de que é Deus quem</p><p>determina que tipo de fé teremos. Não temos de</p><p>tomar essa decisão! Deus concede a alguns uma fé</p><p>forte e a outros uma fé fraca, de acordo com sua</p><p>sabedoria e seu plano. Cabe a nós considerar nossa</p><p>própria fé e a dos outros, enquanto vivemos juntos</p><p>em um só corpo. Deus distribuiu quantidades</p><p>variadas de dons e graça, de acordo com sua</p><p>vontade e não como gostaríamos que ele fizesse.</p><p>Isso é tão contrário à ilusão da Disney! Não</p><p>podemos tentar arduamente e sermos mais fortes;</p><p>não podemos nem mesmo “apenas crer”! Em vez</p><p>disso, devemos nos submeter à vontade de Deus e</p><p>trabalhar com a fé e com os dons que ele designou</p><p>para nós.</p><p>É extremamente doloroso ser um cristão fraco na</p><p>igreja evangélica americana de nossos dias. Coloca-</p><p>se tanta ênfase na leitura, na oração, no crescimento</p><p>e na vitória, que sobra pouco espaço para se falar</p><p>daqueles que Deus segura com braço forte e talvez</p><p>conheçam pouco da alegria da plena certeza de fé e</p><p>da satisfação de crescimento em graça e em</p><p>obediência — pelo menos nesta vida. O que</p><p>devemos fazer com aqueles que possuem fé</p><p>suficiente apenas para serem contados como</p><p>pertencentes a Cristo, mas que, em meio à</p><p>severidade de circunstâncias da vida que Deus lhes</p><p>designa e ao efeito devastador de influências</p><p>moldadoras, mal podem recordar o evangelho dia a</p><p>dia?</p><p>Estou convencida de que estes crentes — aos quais</p><p>alguns podem se referir como “os menores deles” —</p><p>talvez sejam, de fato, os verdadeiros campeões da</p><p>nossa fé. Eles vacilam ao longo da vida, mal</p><p>conseguem recordar a verdade ou conectar as</p><p>poderosas doutrinas da fé às suas batalhas, para</p><p>acalmar seus medos e aquietar seu coração. Eles são</p><p>informados de que devem correr na direção de Deus</p><p>com toda a sua força, mas se encontram</p><p>frequentemente quase incapazes de permanecer no</p><p>chão e olhar na direção certa. Apegam-se</p><p>desesperadamente a Deus, mas sem nunca sentirem</p><p>a garantia de sua presença ou serem capazes de</p><p>descansar sob o amor que os rodeia. Vamos</p><p>organizar mais estudos bíblicos para eles? Vamos</p><p>discipliná-los quando se arrependem repetidas vezes,</p><p>mas pareçam não poder se libertar de padrões de</p><p>pecado profundamente enraizados.</p><p>Estou convencida de que esses preciosos santos</p><p>estão entre aqueles pelos quais Cristo morreu e são,</p><p>à sua maneira, heróis da fé que se apegam a Deus,</p><p>apesar da fraqueza e da fé instável. “Não esmagará a</p><p>cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega,</p><p>até que faça vencedor o juízo” (Mateus 12.20). Em</p><p>face de suas próprias lutas contra a incredulidade,</p><p>eles são aqueles que creem (Marcos 9.24). Devemos</p><p>amá-los, suportar seus fardos gentilmente e ajudá-</p><p>los a levar suas cargas, porque eles pertencem a nós</p><p>(Gálatas 6.2). São nossa família no Senhor.</p><p>Aconselho muitas pessoas que lutam contra a</p><p>incerteza e sofrem com uma fé fraca. Mal posso</p><p>esperar para ver o júbilo em sua face quando</p><p>finalmente chegarem ao céu! Aqueles que são</p><p>abençoados com uma fé vigorosa nesta vida</p><p>despertarão para estarem na glória como haviam</p><p>esperado. Sabem que tudo isso é verdade, acreditam</p><p>em Deus e talvez raramente experimentam um</p><p>momento de dúvida. No entanto, para outros, valerá</p><p>a pena assistir ao seu momento de despertar. Você</p><p>pode imaginar a surpresa e o prazer de estarem</p><p>realmente no céu depois de tudo? Na terra, eles mal</p><p>podiam esperar que a promessa de vida eterna fosse</p><p>verdadeira ou que Deus os salvaria e nunca sentiram</p><p>a alegria deste fato em toda a sua vida. Mas, quando</p><p>chegarem ao céu, tudo mudará. E imagino que</p><p>talvez eles passem seus primeiros milênios no céu</p><p>surpresos e felizes simplesmente por estarem ali.</p><p>“Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do</p><p>teu senhor” (Mateus 25.21). A alegria deles no céu</p><p>será igualada somente à alegria do Pai em provar,</p><p>mais uma vez, que o evangelho do seu Filho é</p><p>suficiente para salvar até o mais fraco e o mais</p><p>quebrado entre os homens. Os anjos já estão se</p><p>regozijando, e a orquestra já está tocando para eles,</p><p>mas eles ainda não sabem disso (Lucas 15.7, 9, 22-</p><p>24). A graça de Deus realmente é suficiente para</p><p>todos eles.</p><p>UMA PALAVRA AOS FRACOS</p><p>Se você está lendo isto e se sente fraco, por favor,</p><p>encoraje-se. Estou falando aqui para pessoas que</p><p>lutam desesperadamente contra o medo, a</p><p>ansiedade, a depressão e a dúvida e para pessoas</p><p>que lutam constantemente contra pecados que elas</p><p>pensam estar além do alcance de Deus. Pecadores</p><p>sexuais se sentem frequentemente assim, em especial</p><p>cristãos que lutam contra sentimentos de atração por</p><p>pessoas do mesmo sexo e contra a tentação de se</p><p>entregarem ao pecado de homossexualidade.</p><p>Embora Deus não tenha criado essa sua luta nem</p><p>tente você a isso, ele o chamou para caminhar com</p><p>ele. Deus lhe designa esta luta e lhe mostra seu amor</p><p>quando o chama a passar através dela. Deus sente</p><p>desgosto de você. Não existe nenhum pecado</p><p>debaixo do sol que surpreenda a Deus ou o afaste de</p><p>você. Você não é o pior entre os piores ou mais</p><p>depravado do que aqueles que lutam contra pecados</p><p>socialmente mais aceitos, como a gula, o orgulho ou</p><p>a ostentação. Pecado é pecado, e estamos todos no</p><p>mesmo barco, não importando o foco de nossos</p><p>desejos pecaminosos. As raízes do pecado em nosso</p><p>coração são iguais, ainda que as manifestações</p><p>exteriores variem imensamente. Muitas vezes, Deus</p><p>realiza seus mais magníficos trabalhos naqueles que</p><p>consideram seus pecados os mais vergonhosos.</p><p>Muitos dos homens mais piedosos que conheço são</p><p>cristãos que lutam contra a atração por pessoas do</p><p>mesmo sexo e buscam viver em obediência a Deus.</p><p>Se você está em Cristo, você é querido, é lavado, é</p><p>limpo e está envolvido com as vestes perfeitas de sua</p><p>bondade. Onde quer que você tenha pecado e</p><p>continue pecando, Jesus obedeceu em seu lugar. Isso</p><p>significa que você é livre para lutar e fracassar, livre</p><p>para crescer lentamente, livre,</p><p>às vezes, para não</p><p>crescer, livre para se entregar à misericórdia de Deus</p><p>por toda a vida. Derrotas repetidas não significam</p><p>que você não foi salvo ou que Deus esteja cansado e</p><p>desapontado com você. Significa que ele o chamou</p><p>para uma batalha dura e o segurará quando estiver</p><p>caindo e o trará em segurança para casa.</p><p>Você tem uma grande razão para ter esperança.</p><p>Deus está trabalhando fielmente em você, e ele</p><p>muda realmente o seu povo. Deus pode mudar seus</p><p>desejos ou amenizar sua batalha ou pode lhe dar paz</p><p>e alegria em meio a pensamentos e desejos que não</p><p>mudam. Ele o ama da mesma maneira como ama a</p><p>Jesus e está sempre a seu favor, nunca contra. Você</p><p>também é um troféu da graça e brilhará por toda a</p><p>eternidade na divina vitrine celestial, como um dos</p><p>ornamentos que decorarão os corredores do céu</p><p>para trazer glória a Deus para sempre. Como Tullian</p><p>Tchividjian disse:</p><p>Porque Jesus foi forte por mim,</p><p>Sou livre para ser fraco.</p><p>Porque Jesus venceu por mim,</p><p>Sou livre para perder.</p><p>Porque Jesus era Alguém,</p><p>Sou livre para ser ninguém.</p><p>Porque Jesus era extraordinário,</p><p>Sou livre para ser ordinário.</p><p>Porque Jesus venceu por mim,</p><p>Sou livre para fracassar.53</p><p>UMA PALAVRA AOS FORTES</p><p>Deus abençoou você amplamente com dons, como</p><p>estabilidade emocional e saúde mental? Se isto é</p><p>verdade, talvez você não passe por situações de</p><p>ansiedade, depressão ou vergonha com muita</p><p>frequência e talvez seja habilidoso em prosseguir</p><p>pela vida com propósito e sucesso. Provavelmente,</p><p>não é sua intenção ser descuidado com aqueles de</p><p>coração mais frágil ao seu redor, mas há uma boa</p><p>chance de que o seja e não saiba disso. Fui culpada</p><p>disso ao longo da minha vida e me entristeço</p><p>quando penso que aumentei os fardos de outros com</p><p>minha severidade e orgulho. Figuradamente, eu</p><p>poderia dizer que quebrei diversas canas e apaguei</p><p>muitas tochas cintilantes. Agradeço a Deus por ele</p><p>não ter me dado o poder de arruinar ninguém, caso</p><p>contrário, certamente seria culpada desse pecado.</p><p>Não sou muito forte, mas sou mais forte do que</p><p>alguns e já cheguei a usar essa força de maneira</p><p>destrutiva. Louvo a Deus por sua graça também ser</p><p>suficiente para todos os meus pecados.</p><p>Você é uma pessoa forte e destrutiva? Existe</p><p>inúmeras almas feridas atrás de você? Pessoas que</p><p>você culpa por serem demasiadamente sentimentais,</p><p>que você despreza ou ignora por serem fracas?</p><p>Pense com cuidado sobre a sua força e de onde ela</p><p>veio. Você cresceu numa casa cheia de graça e</p><p>saúde? Esse foi um presente que Deus lhe deu, pois</p><p>você não teve chance de escolher que família iria</p><p>criá-lo. Embora as circunstâncias que nos moldam</p><p>quando crianças não determinem nosso futuro, Deus</p><p>ordenou que elas tenham forte influência nos tipos</p><p>de problemas teremos que encarar ao longo de</p><p>nossas vidas. Você cresceu ao redor de</p><p>circunstâncias difíceis e superou muitas</p><p>adversidades, por isso espera que os outros o</p><p>acompanhem e façam o mesmo? Se isso é verdade,</p><p>talvez você tenha esquecido quem lhe deu esse</p><p>desejo e habilidade para superar seus obstáculos.</p><p>Não importando o que você faça, sua força não é</p><p>realmente sua, e se você acha que é, pode causar</p><p>grande quantidade de tristeza nos outros com suas</p><p>expectativas de que sejam fortes como você.</p><p>Se você suspeita que isto o descreve, não se</p><p>desespere. Infelizmente, esta é a descrição de muitos</p><p>cristãos, alguns deles pastores e líderes em nossas</p><p>igrejas. Ainda assim, a graça de Deus é suficiente</p><p>para você. Em cada situação que você possa ter</p><p>destruído e machucado, Jesus já lidou e cuidou</p><p>pacientemente de outros em seu lugar. Perceba a</p><p>bondade de Jesus para com a pouca fé dos</p><p>discípulos no barco. Pense no amor pela mulher</p><p>pecadora em Lucas 7. A obediência de Jesus</p><p>também permanece em seu lugar e as feridas dele</p><p>advogam por você diante do Pai. Peça-lhe que abra</p><p>seus olhos e o humilhe e, depois, celebre o</p><p>extravagante amor de Deus tanto para corajosos</p><p>quanto para temerosos.</p><p>Ainda que seus pecados sejam como uma</p><p>montanha, a justiça de Cristo se eleva acima de</p><p>todos eles e alcança o trono da graça para desarmar</p><p>a ira de Deus e obter para você a eterna alegria de</p><p>seu Pai celestial. Louve a Deus! Não estamos sob a</p><p>lei, mas sempre banhados pela fonte que jorra sua</p><p>maravilhosa graça.</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Você tende a se sentir orgulhoso quando</p><p>permanece forte como um cristão? Você ficaria</p><p>decepcionado se descobrisse que sua obediência não</p><p>é realmente sua? Por quê?</p><p>2. De que maneira pode ser uma boa notícia o fato</p><p>de que você, mesmo como cristão, não pode gerar</p><p>obediência a Deus sem a intervenção ativa dele para</p><p>lhe dar desejo e capacidade para obedecer? Por que</p><p>você não é livre para tentar obedecer a Deus? Como</p><p>você acha que seria continuar tentando obedecer a</p><p>Deus, sabendo que você não tem em si mesmo o</p><p>poder para obedecer-lhe?</p><p>3. Que pecados de sua vida pareceram fáceis de</p><p>superar? Já parou para pensar por que outras</p><p>pessoas não conseguem parar de pecar como você</p><p>conseguiu? Que pecados o derrotaram, apesar de</p><p>seus maiores esforços em querer mudar? Por quê?</p><p>4. Caso você se considere alguém dotado de</p><p>julgamento sóbrio, responda que tipo de fé Deus lhe</p><p>concedeu até agora? Que dons ele lhe deu? Quanta</p><p>graça para mudar Deus está lhe dando neste</p><p>momento?</p><p>5. Visto que costumamos ser profundamente cegos</p><p>em relação a nós mesmos, que tipo de ajuda</p><p>devemos buscar enquanto tentamos avaliar essas</p><p>coisas?</p><p>6. Como as Escrituras nos encorajam a agir para</p><p>com outros crentes que lutam com dúvidas e</p><p>medos?</p><p>7. De que maneira você feriu outras pessoas ao seu</p><p>redor com sua força? Que verdades o ajudarão a</p><p>reconhecer suas próprias falhas nesta área?</p><p>43. John Newton, “Causes, Nature and Marks of a Decline in</p><p>Grace”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner</p><p>of Truth, 2011), 134.</p><p>44. Newton, “The Believer’s Inability on Account of Remaining</p><p>Sin”, Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of</p><p>Truth, 2011), 144.</p><p>45. Ver “Letter 15” em “Twenty-six letters to a Nobleman”, The</p><p>Works of John Newton, vol. 1 (repr., Edinburgh: Banner of Truth,</p><p>1985), 490.</p><p>46. Confissão Belga, Artigo 24: “A Santificação de Pecadores”,</p><p>disponível em:</p><p>www.monergismo.com/textos/credos/confissao_belga.htm.</p><p>47. A citação completa está desta forma: “Se você é um pregador</p><p>da graça, pregue a graça verdadeira e não uma graça fictícia; se a</p><p>graça é verdadeira, você deve tolerar um pecado de verdade e não</p><p>um pecado fictício. Deus não salva pessoas que são apenas</p><p>pecadores fictícios. Seja um pecador e peque ousadamente, mas</p><p>creia e se regozije em Cristo ainda mais ousadamente, pois ele é</p><p>vitorioso sobre o pecado, a morte e o mundo. Enquanto</p><p>estivermos aqui [neste mundo], havemos de pecar. Esta vida não é</p><p>a morada da justiça, mas, como disse Pedro, aguardamos novos</p><p>céus e nova terra, nos quais habita a justiça. É suficiente que, pelas</p><p>riquezas da glória de Deus, chegamos a conhecer o Cordeiro que</p><p>tira o pecado do mundo. Nenhum pecado nos separará do</p><p>Cordeiro, embora cometamos fornicação e assassinato mil vezes</p><p>por dia. Você acha que o preço pago pela redenção de nossos</p><p>pecados por um Cordeiro tão grande é pequeno demais? Ore</p><p>ousadamente – você também é um imenso pecador”. Ver Martinho</p><p>Lutero, “Letter to Melanchthon, 1 August de 1521”, in Gottfried</p><p>Krodel, trans., Luther’s Works, vol. 48 (Philadelphia: Fortress,</p><p>1963), 281-82.</p><p>48. John Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 10.</p><p>49. John Newton, “The Practical Influence of Faith”, Select Letters</p><p>of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 91.</p><p>50. John Newton, “What the Believer Can Attain to in This Life”,</p><p>Select Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth,</p><p>2011), 159.</p><p>51. John Newton, “Advantages from Remaining Sin”, Select</p><p>Letters of John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011),</p><p>152.</p><p>52. Ver David Powlison, “Making All Things New: Restoring Pure</p><p>Joy to the Sexually Broken”, em John Piper e Justin Taylor, eds.,</p><p>Sex and the Supremacy of Christ (Wheaton, IL: Crossway, 2005),</p><p>81.</p><p>53. Tullian Tchividjian, Jesus + Nothing = Everything</p><p>(Wheaton,</p><p>IL: Crossway, 2011), 24.</p><p>capítulo dez</p><p>pecadores que sofrem</p><p>Um homem verdadeiramente iluminado não</p><p>desprezará os outros, assim como Bartimeu, depois</p><p>de abertos seus próprios olhos, não pegaria uma</p><p>vara e agrediria todos os cegos que encontrasse.</p><p>— John Newton54</p><p>O pecado, quase sempre, nos torna miseráveis. Pode</p><p>parecer uma boa ideia no momento e promete todo</p><p>tipo de satisfação e prazer, mas, no fim, o pecado</p><p>sempre complica nossa vida, fere a nós mesmos e</p><p>aos outros, fazendo que nos sintamos culpados,</p><p>envergonhados e afastados do amor de Deus. No</p><p>livro de Provérbios, aprendemos que o caminho</p><p>perverso do transgressor é cheio de espinhos e</p><p>armadilhas (Provérbios 22.5). Tal fato corresponde à</p><p>nossa própria experiência de vida. Sofremos</p><p>intensamente devido ao fruto amargo de nossa</p><p>própria estupidez, apetites tolos, desejos</p><p>desordenados e desejos excessivos de coisas boas.</p><p>Contudo, muitos de nós achamos difícil reagir com</p><p>piedade e compaixão ao nosso próprio pecado e ao</p><p>de outros. Pensamos que, se não lidamos</p><p>severamente com o pecado ou se celebrarmos muito</p><p>o modo como Deus foi severo com o pecado ao</p><p>punir Cristo em nosso lugar, estamos tolerando e</p><p>permitindo o pecado em nós e nos outros. Como</p><p>resultado, nossa postura é, frequentemente, de</p><p>exasperação e julgamento para com os reincidentes,</p><p>em vez de uma postura compassiva, amorosa e</p><p>compreensiva. Podemos ser pacientes com o viciado</p><p>enquanto ele estiver se esforçando para se recuperar.</p><p>Podemos reagir com graça quando ele cai nas</p><p>primeiras vezes, mas o amor e a ternura se acabam</p><p>rapidamente diante do fracasso persistente.</p><p>No entanto, quando Jesus interagia com pecadores</p><p>graves — alguns deles reincidentes —, sua postura</p><p>era sempre gentil e encorajadora. Ele se referia ao</p><p>pecado como este realmente é e nunca o perdoou,</p><p>mas, ao mesmo tempo, nunca humilhou os</p><p>pecadores com a verdade e nunca lançou em rosto</p><p>seus fracassos. Ele proferiu muitas palavras ásperas</p><p>e graves para os fariseus hipócritas, mas o pecador</p><p>reincidente e contrito achava nele acolhimento gentil</p><p>e perdoador.</p><p>A HISTÓRIA DE JIM</p><p>Se a apresentação da vida cristã feita por John</p><p>Newton é verdadeira e fiel às Escrituras, há grande</p><p>razão para que tenhamos compaixão amorosa para</p><p>com os outros quando são apanhados em padrões de</p><p>pecado dos quais não conseguem se libertar. Se eles</p><p>são completamente dependentes da graça específica</p><p>e poderosa de Deus para verem com clareza seus</p><p>pecados e se arrependerem deles, pode haver longos</p><p>períodos de tempo em que saberão que devem se</p><p>arrepender, mas serão incapazes de fazê-lo.</p><p>Foi isso que aconteceu com Jim, um homem</p><p>amável e hospitaleiro, bem versado na Bíblia e na</p><p>teologia, que era e presbítero na igreja em que meu</p><p>marido servia como pastor temporário. Desfrutamos</p><p>de muitos almoços e conversas agradáveis sobre o</p><p>Senhor na cada de Jim; e nunca sonhávamos que ele</p><p>cairia tão drasticamente. Jim não se considerava um</p><p>homem de boa aparência e, por isso, achava seguro</p><p>aconselhar algumas das mulheres da igreja. Por estar</p><p>acima do peso e ter aparência razoável, ele julgava</p><p>que nenhuma mulher o acharia atraente. Estava</p><p>errado. Começou a aconselhar uma bela mulher,</p><p>casada com um marido irresponsável e alcoólatra. E</p><p>ela achou muitas coisas atraentes naquele homem</p><p>religioso que trabalhava zelosamente para sustentar a</p><p>família. Não demorou muito para que Jim e Valerie</p><p>se envolvessem sexual e emocionalmente. Quando</p><p>meu marido foi informado da situação, Valerie</p><p>estava grávida de Jim e duas famílias haviam sido</p><p>destruídas.</p><p>O pecado pareceu divertido por um tempo. Jim e</p><p>Valerie estavam apaixonados e completamente</p><p>absortos em sua nova vida juntos. Deixaram seu</p><p>cônjuge e pareciam despreocupados com o impacto</p><p>devastador que isso teve sobre os sete filhos, cujas</p><p>vidas e lares foram destruídos. Meu marido, com os</p><p>outros presbíteros da igreja, confrontou ou Jim e se</p><p>esforçava para argumentar com ele, mas não</p><p>adiantava. Ele concordou que o que estava fazendo</p><p>era errado, mas havia se encantado por Valerie e</p><p>estava resoluto em sua determinação de tê-la para si.</p><p>Então, depois de receber um tempo razoável para se</p><p>arrepender, Jim foi excluído da igreja — não por</p><p>cometer esse pecado, mas por não se arrepender.</p><p>Ficamos todos entristecidos por essa guinada de</p><p>eventos horrivelmente dolorosa.</p><p>À medida que a vida voltava ao normal e todos</p><p>lutávamos para viver com a nova realidade,</p><p>imaginávamos o que fazer com Jim. Ele possuía</p><p>muito conhecimento teológico e, nos meses</p><p>seguintes, se encontrou em uma situação que o</p><p>surpreendeu. Sabia que a igreja tinha feito a coisa</p><p>certa ao excluí-lo, mas isso o irritava muito. Sabia</p><p>que o que fizera e estava fazendo era errado e</p><p>pecaminoso, mas seu coração permanecia inflexível</p><p>como pedra. Perguntou se poderia nos visitar, e</p><p>concordamos em nos encontrar com ele novamente,</p><p>embora nos perguntássemos o que poderíamos dizer</p><p>ou fazer para causarmos diferença. Também</p><p>estávamos fortemente tentados a ficar com raiva</p><p>dele. Vimos a devastação que suas ações causaram e</p><p>nos perguntamos como um homem poderia ser tão</p><p>egoísta a ponto de arruinar seus filhos na busca de</p><p>um novo amor. Ele estava completamente cego à</p><p>dor dos filhos e cheio de razões pelas quais suas</p><p>ações faziam sentido.</p><p>Os ensinos de Newton nos ajudaram a amar Jim</p><p>em sua cegueira. Compreendemos que, se todos</p><p>somos dependentes do Espírito Santo para nos</p><p>capacitar a ver nosso pecado e se somente ele pode</p><p>nos dar um coração contrito e arrependido, Deus</p><p>deve ter deixado Jim nessa situação por um longo</p><p>tempo. Lembro vividamente o dia em que Jim se</p><p>sentou em nossa sala de estar e disse: “Eu sei que</p><p>deveria pedir perdão por tudo isso e que deveria me</p><p>arrepender, mas não consigo. Estou feliz por ter</p><p>feito isso e faria tudo outra vez”. Lembramos Jim</p><p>que ele deveria se arrepender, mas que não poderia</p><p>fazê-lo sem a ajuda de Deus. Como 2 Timóteo 2.25</p><p>nos mostra, o arrependimento é um dom que Deus</p><p>concede, não algo que podemos operar dentro de</p><p>nós. Dissemos a Jim que o amávamos e que não</p><p>pararíamos de orar para que Deus movesse seu</p><p>coração e lhe desse o dom do arrependimento.</p><p>Não ouvimos falar de Jim por quase dois anos, mas</p><p>finalmente o telefonema veio. Deus tinha sido fiel e,</p><p>por causa de seu grande amor por dois grandes</p><p>pecadores, havia amolecido dois corações com</p><p>arrependimento. Jim e sua nova esposa foram</p><p>inundados de admiração, espanto, alegria e gratidão</p><p>pelo fato de que Deus estenderia seu amor e perdão</p><p>a pessoas tão cegas e teimosas como eles. Ele não</p><p>conseguia parar de louvar a Deus e sua alegria o</p><p>levou a querer fazer as coisas da maneira mais</p><p>correta possível, à luz de tudo o que havia ocorrido.</p><p>Quando Deus finalmente abriu seus olhos e lhe</p><p>mostrou a enormidade de seus pecados e o impacto</p><p>devastador que teve em muitas vidas, Jim ficou</p><p>quase perdido. Todavia, algo mais estava</p><p>acontecendo em seu pecado e por meio dele. Jim</p><p>começou a construir dois monumentos em sua vida.</p><p>Um deles era um memorial à enormidade de seu</p><p>pecado atroz e destrutivo. O outro, próximo a esse,</p><p>era um belo santuário para comemorar o incrível</p><p>amor do Deus que, em vez de destruí-lo por seu</p><p>pecado, escolheu morrer numa cruz e pagar por ele,</p><p>para reconquistá-lo. Jim voltou à sua antiga igreja e</p><p>fez uma confissão completa diante da congregação.</p><p>Foi restaurado à comunhão e à Ceia do Senhor e</p><p>ainda está cantando louvores a Deus e dizendo a</p><p>todos que, embora tenha sido e continue sendo um</p><p>grande pecador, ele tem um Salvador muito maior.</p><p>Eu gostaria de acreditar que nunca poderia fazer o</p><p>que Jim e Valerie fizeram, mas é claro que posso e,</p><p>na primeira oportunidade, eu o farei. Se Davi, o rei</p><p>ungido de Israel, o homem segundo o coração de</p><p>Deus, pôde cometer adultério e assassinato, então,</p><p>eu também poderei, se Deus me deixar entregue a</p><p>mim mesma, por um momento, e me der a</p><p>oportunidade. Quanto mais Deus me ajuda a</p><p>acreditar nisso, tanto mais sou capaz de amar os</p><p>pecadores arrogantes e sentir compaixão por toda a</p><p>miséria que o pecado traz. Jim e Valerie passarão o</p><p>resto de sua vida vivendo com os efeitos de seu</p><p>pecado em seus filhos. A graça de Deus será</p><p>suficiente para isso, e ele usará o pecado deles</p><p>também para o bem de seus filhos, mas isso não será</p><p>fácil. Conhecerão tristeza e arrependimento ao</p><p>mesmo tempo que se regozijarão na fidelidade de</p><p>Deus por eles. Terão muitas oportunidades para</p><p>odiar seu pecado e amar o que Deus fez em seu</p><p>coração por meio dele.</p><p>Antes de cair, Jim era um homem orgulhoso e justo</p><p>a seus próprios olhos, que conhecia bem sua</p><p>doutrina, mas encontrava dificuldade em amar os</p><p>outros e suportar os que tinham doutrina defeituosa.</p><p>Ele era um espectador da graça. Admirava o</p><p>conceito e gostava de falar sobre suas implicações</p><p>teológicas, mas ele mesmo não sentia profunda</p><p>necessidade pessoal da graça. Hoje, ele é um</p><p>homem diferente, um recipiente feliz da graça que</p><p>outrora só admirava à distância. Como resultado,</p><p>agora ele exerce diariamente um ministério de</p><p>aconselhamento compassivo para trabalhadores e</p><p>clientes no lado de fora de uma clínica de aborto. O</p><p>caminho do transgressor é árduo e humilhante, mas</p><p>é cheio de admirável doçura e gozo para aqueles a</p><p>quem Deus chama ao arrependimento.</p><p>PACIÊNCIA COM O NOSSO PRÓPRIO</p><p>PECADO</p><p>A compreensão de como Deus trabalha na vida de</p><p>seus filhos não somente nos ajuda a saber como</p><p>amar os outros, mas também nos ensina a vermos a</p><p>nós mesmos com mais exatidão, quando estamos</p><p>presos a padrões de pecado dos quais sabemos que</p><p>devemos nos livrar mas não conseguimos. Deus</p><p>planeja algo bom até por meio de nossos piores</p><p>pecados – de fato, especialmente por meio deles.</p><p>Quando compreendemos e experimentamos nossa</p><p>profunda incapacidade de obedecer ou de</p><p>arrepender-nos, podemos nos tornar pessoas mais</p><p>pacientes e meigas e, por fim, vemos as traves, em</p><p>nossos próprios olhos, mais claramente do que</p><p>vemos o argueiro nos olhos dos outros (Mateus 7.3-</p><p>4). Nosso pecado pode nos moldar em pessoas que</p><p>exortam amorosamente os outros ao</p><p>arrependimento, sem um espírito de superioridade e</p><p>julgamento, mas com tremendo amor e gentileza</p><p>(Gálatas 6.1).</p><p>Existem várias áreas de minha vida em que gostaria</p><p>de mudar; e tenho pedido a Deus que me</p><p>transforme, mas eu mesma ainda não cresci. Por</p><p>exemplo, luto para ser uma amável esposa de pastor</p><p>para as mulheres em nossa igreja. Tenho uma amiga</p><p>estimada que é o tipo de esposa de pastor que eu</p><p>gostaria de ser: ela é amorosamente interessada na</p><p>vida das pessoas em sua igreja, preocupa-se com</p><p>elas e as serve com paciência; lembra-se de todos os</p><p>aniversários e dos detalhes importantes e menos</p><p>importantes da vida das pessoas e de seus filhos;</p><p>planeja estrategicamente receber em sua casa</p><p>pessoas para uma refeição e tem comunhão fiel com</p><p>as mulheres de sua igreja, por meio de estudos</p><p>bíblicos e eventos sociais. Esse é o tipo de esposa de</p><p>pastor que eu gostaria de ser, mas Deus não me</p><p>escolheu para me tornar no docinho de coco que eu</p><p>gostaria de ser, que transborda amor para todos ao</p><p>seu redor.</p><p>Em vez disso, sou inclinada a avaliar as pessoas</p><p>com base no que elas fazem ou deixam de fazer pela</p><p>igreja (e numa igreja sempre há muito a ser feito!).</p><p>Favoreço pessoas que valorizo, mas sou igualmente</p><p>propensa a julgar e a não favorecer outras pessoas,</p><p>bem como a ter um coração que se ira facilmente se</p><p>acho que elas têm expectativas injustas a meu</p><p>respeito. Neste exato momento, há uma pessoa em</p><p>minha vida a quem deveria perdoar por uma ofensa</p><p>seríssima, e não quero fazê-lo. Na verdade, mal</p><p>posso olhar para essa mulher. Sei que não tenho</p><p>motivo algum para guardar tamanho rancor. Deveria</p><p>perdoá-la livremente, assim como fui perdoada, mas</p><p>não quero fazer isso. O que devo fazer comigo</p><p>mesma? De certo modo, esta frieza em meu coração</p><p>se opõe a cada coisa que escrevi neste livro sobre as</p><p>maravilhas do evangelho. Ainda assim, acho que</p><p>não consigo amolecer o coração nem renuir desejo</p><p>necessário para que ele seja amolecido.</p><p>Estou presa, mas, ao mesmo tempo, posso estar em</p><p>paz com minha incapacidade de fazer como deveria.</p><p>Entendo que nunca serei capaz de querer perdoar</p><p>sem um ato de Deus em meu coração. Na verdade,</p><p>em outro sentido, tudo que sinto em meu coração</p><p>neste momento confirma tudo que aprendi. Não</p><p>existe um interruptor que eu possa ligar para me</p><p>fazer querer amar esta senhora, nenhuma disciplina</p><p>espiritual que eu possa exercer para colocar meu</p><p>coração rebelde em ordem. Ao lutar, sem sucesso,</p><p>com meu coração, Satanás zomba de mim</p><p>regularmente com e Evangelho, dizendo: “Como</p><p>você ousa ensinar outros sobre a graça e o perdão de</p><p>Deus quando não consegue nem mesmo olhar para</p><p>esta senhora sem desprezá-la!” De fato, ele está</p><p>certo; eu não tenho direito nenhum de abrir minha</p><p>boca, mas, antes de tudo, o evangelho não se</p><p>focaliza em mim; pelo contrário, o evangelho diz</p><p>respeito à maravilhosa graça de Deus que se</p><p>manifestou em Jesus — a boa-nova que agora é</p><p>declarada por meio de mensageiros imperfeitos, que</p><p>precisam desesperadamente da mesma graça sobre a</p><p>qual falamos aos outros.</p><p>Portanto, assim como posso ter compaixão dos</p><p>outras pessoas quando seus pecados tornam sua vida</p><p>tremendamente difícil, posso confiar que Deus usará</p><p>o pecado delas, que ele odeia, para realizar coisas</p><p>boas que ele ama na vida delas. Posso ter compaixão</p><p>de mim mesma — confiando que Deus usará meu</p><p>próprio pecado para sua glória e para meu benefício.</p><p>Afinal, mesmo agora, Jesus olha para o meu coração</p><p>imperdoável e manchado de pecado e declara</p><p>“nenhuma condenação” (Romanos 8.1). Eu não</p><p>deveria concordar com a avaliação de Deus quanto</p><p>ao meu status diante dele mesmo, em vez de</p><p>concordar com a avaliação de Satanás?</p><p>PACIÊNCIA COM O PECADO Dos OUTROS</p><p>Em seus escritos, John Newton expressou</p><p>tremenda compaixão para com os pecadores fracos</p><p>e reincidentes. Ele argumenta desta maneira:</p><p>Um grupo de viajantes cai num fosso: um deles pega o outro</p><p>a fim de puxá-lo para fora. Agora, este não deve ficar</p><p>irritado com os demais por haverem caído no fosso, nem por</p><p>não terem saído, como ele. Ele não puxou a si mesmo para</p><p>fora. Portanto, em vez de reprová-los, deve mostrar-lhes</p><p>compaixão... Um homem verdadeiramente iluminado não</p><p>desprezará os outros, assim como Bartimeu, depois de</p><p>abertos seus próprios olhos, não pegaria uma vara e</p><p>agrediria todos os cegos que encontrasse.55</p><p>William Cowper, poeta e compositor de hinos, foi</p><p>originalmente educado para ser um advogado, mas</p><p>teve de desistir dessa ambição por causa de sua</p><p>depressão. Ele tentou o suicídio três vezes e foi</p><p>internado por um tempo numa clínica psiquiátrica,</p><p>devido à depressão severa. Foi nessa clínica que, por</p><p>meio da influência de um médico evangélico, sua fé</p><p>em Cristo teve início. Cowper começou a frequentar</p><p>a igreja de Newton quando se mudou para Olney e</p><p>logo se tornaram amigos íntimos, colaborando nos</p><p>projetos de composição de hinos. Entretanto, suas</p><p>lutas com a depressão retornaram ao ponto em que</p><p>Cowper já não era nem mais capaz de ir à igreja.</p><p>Newton continuou a cuidar de Cowper e a encorajá-</p><p>lo, fazendo grandes caminhadas com ele e</p><p>ajudando-o em meio ao terrível desespero.56</p><p>Que maravilhosa providência de Deus levou esses</p><p>dois homens a serem ricamente abençoados um pelo</p><p>outro! Newton viu a glória de Deus em Cowper e,</p><p>com grande gentileza e paciência, procurou aliviar</p><p>seu sofrimento e fazer com que seus dons</p><p>estivessem à disposição do corpo de Cristo. Ele não</p><p>repreendeu Cowper por sua fé fraca ou por sua luta</p><p>contínua com a depressão, mas caminhou</p><p>amorosamente com ele. Embora nunca tenha sido</p><p>curado, Cowper viveu a restauração de sua</p><p>depressão por cerca de nove anos, que coincidiram</p><p>com sua descoberta da doutrina da graça. Esse fato</p><p>aliviou sua consciência e o convenceu, em seus</p><p>melhores momentos, de que sua segurança</p><p>repousava nas mãos de Deus e não na força de sua</p><p>própria fé. A compreensão de Newton quanto ao</p><p>sofrimento que o pecado e a fraqueza causam fez</p><p>com que ele se tornasse um homem cheio de</p><p>misericórdia e graça para com os que permaneciam</p><p>incapazes de prosperar emocionalmente sob os</p><p>fardos que Deus os chamou a carregar.</p><p>A análise cuidadosa de Newton sobre o estado do</p><p>crente o fez, como o cristão</p><p>maduro que ele</p><p>descreveu em suas cartas, a levar em contra as falhas</p><p>de outros crentes.57 Sua resposta àqueles que lhe</p><p>escreviam em estado de desespero, devido a seus</p><p>pecados recorrentes, nunca teve o tom de “Como</p><p>você pôde fazer isso?” Ao contrário, sua resposta</p><p>habitual era: “Mas é claro que você fez isso; você é</p><p>um pecador, e é isso que os pecadores fazem”.58 Ele</p><p>ponderava que existem tantas coisas agindo contra</p><p>os pecadores neste mundo, que nunca devemos ficar</p><p>chocados quando eles caem. Pelo contrário,</p><p>devemos ficar constantemente admirados quando</p><p>não o fazem!</p><p>O primeiro desses enormes obstáculos que se</p><p>colocam entre os crentes e a vida santificada é a</p><p>realidade poderosa da corrupção ainda existente em</p><p>nós. É algo triste e desagradável conhecer o</p><p>evangelho, experimentar a incrível e poderosa graça</p><p>de Deus e, ainda assim, pecar e querer pecar</p><p>novamente contra ela. Pecar contra a lei de Deus é</p><p>bastante desagradável, porém, muito pior é pecar</p><p>contra Deus em face de seu amor excepcional e de</p><p>sua provisão sacrificial em favor de todo o nosso</p><p>pecado.59 No entanto, apesar disso, pecamos</p><p>repetidamente.</p><p>Lembro-me da época em que nosso segundo filho,</p><p>Sam, perturbava minha paz e alegria. Ele era um</p><p>bebê encantador – pelo menos até começar a sentar</p><p>em uma cadeirinha alta para comer suas refeições.</p><p>Isso era uma aventura para ele. Logo ele começou a</p><p>se divertir e a brincar com a comida. Às vezes,</p><p>colocava comida em sua cabeça; em outros</p><p>momentos, jogava-a tão longe quanto podia. Eu</p><p>sabia que não podia deixar que esse mau hábito se</p><p>transformasse em um estilo de vida; por isso, decidi</p><p>cortar o mal pela raiz imediatamente. Disse: “Sam,</p><p>NÃO! Você não pode fazer isso. A mamãe vai ter</p><p>que lhe dar umas palmadas se você fizer isso de</p><p>novo”. Esse discurso não teve impacto algum; ele</p><p>me olhava nos meus olhos com dengo e fazia de</p><p>novo. Dessa vez tive que seguir com minha ameaça,</p><p>por isso, tomei sua pequenina mão, dei-lhe uma</p><p>palmada e o avisei novamente. Esse pequeno e</p><p>audacioso querubim mal acabou de chorar, olhou-</p><p>me nos olhos e repetiu suas ações.</p><p>A batalha continuou. Logo depois de arremessar</p><p>sua comida, levantou a mão para que eu lhe desse a</p><p>palmada, enquanto se encolheu e esperou pelo tapa.</p><p>Assim era o seu compromisso com a inacreditável</p><p>rebelião! Ele não parava para pensar, nem por um</p><p>minuto, em nossa provisão ao dar-lhe comida, vesti-</p><p>lo ou amá-lo compreensivamente. Só estava</p><p>determinado a vencer a batalha. Pela graça de Deus,</p><p>Sam desistiu finalmente dessa batalha e cresceu,</p><p>tornando-se um rapaz alegre e um cristão dedicado</p><p>que ama o Senhor. Deus foi misericordioso com ele</p><p>e conosco ao convencê-lo de que esse tipo de</p><p>rebeldia não valia realmente o esforço! Entretanto,</p><p>por alguns meses, parecia que sua perseverança</p><p>poderia nos derrotar!</p><p>Que benção saber que nosso apego obstinado ao</p><p>pecado nunca poderá derrotar o amor de Deus por</p><p>seus filhos! Como o meu pequeno garoto, parece</p><p>que atingimos níveis cada vez mais profundos de</p><p>feiura quando perseveramos em nosso pecado,</p><p>apesar dos oceanos da graça de Deus que jorram em</p><p>nossa direção diariamente. Somos realmente muito</p><p>ruins e, quando Deus abre nossos olhos para que</p><p>vejamos as profundezas de nossa rebelião, ela é uma</p><p>coisa difícil de superar. Não é surpresa que muitos</p><p>crentes vivam envergonhados e deprimidos em face</p><p>dessas revelações, especialmente se o sistema</p><p>doutrinário que eles seguem não os prepara para a</p><p>verdade de que é assim que as coisas devem ser.</p><p>Deus planejou tudo dessa maneira para que</p><p>pudéssemos ver a grande necessidade que temos</p><p>dele e valorizássemos tudo o que ele fez por nós,</p><p>descobrindo que, não importando quão mau</p><p>verdadeiramente sejamos, sua graça é ainda maior.60</p><p>Esta verdade reconfortante raramente é ouvida.</p><p>Além disso, os cristãos possuem um adversário</p><p>muito poderoso. Satanás é antigo e experiente em</p><p>seu ofício. Ele tem tentado as pessoas por séculos e</p><p>se deleita com sua habilidade e com o poder que</p><p>Deus lhe permite exercer sobre os que não consegue</p><p>derrotar definitivamente. É interessante explorar os</p><p>pecados característicos contra os quais lutamos e ver</p><p>quão eficaz Satanás é em atrair-nos para uma</p><p>cascata de pensamentos que acabam por nos levar</p><p>ao pecado. Podemos até para e avaliar isto,</p><p>diagnosticando-o e esclarecendo-o, mas, apesar</p><p>disso, somos atraídos de volta a ele no momento</p><p>seguinte e cambaleamos, impotentes, em direção à</p><p>sua conclusão inevitável. É ridículo, mas poderoso e</p><p>cativante ao mesmo tempo.</p><p>Satanás conhece as influências modeladoras de</p><p>nossa vida e os padrões habituais em que caímos e</p><p>se aproveita muito bem disso. Falei sobre minha</p><p>grande luta contra a comida. Você pode pensar que,</p><p>por não ser mais obesa, devo ter conquistado certo</p><p>autocontrole nesta área. No entanto, vejo-me</p><p>atraída, outra vez, a uma luta poderosa contra este</p><p>velho e eterno inimigo. Neste momento, encontro-</p><p>me travando um combate mortal com os nuggets de</p><p>frango do McDonald’s. Até dois meses atrás, havia</p><p>trinta anos que eu comia um nugget de frango nem</p><p>me sentia tentada a fazê-lo. No entanto,</p><p>recentemente, enquanto esperava meu carro ser</p><p>consertado em uma loja de automóveis, acabei</p><p>assistindo a um programa de televisão, em que dois</p><p>cardiologistas foram convidados a encontrar as</p><p>opções mais saborosas e saudáveis de restaurantes</p><p>fast food. Um deles proclamou louvores sobre essas</p><p>delícias crocantes. Desde então, não consigo parar</p><p>de ficar indo ao drive-through e me entregar a esses</p><p>tesouros tentadores, com churrasco e molho</p><p>agridoce, certamente.</p><p>Esta situação é engraçada e triste ao mesmo tempo.</p><p>Deus está me conduzindo para algo contra o que</p><p>nunca sonhei ter de lutar, e Satanás é um especialista</p><p>em me atrair a um padrão de pensamento que faz</p><p>com que isso pareça a melhor ideia em todo o</p><p>mundo... até eu acabar de comer todos os dez</p><p>pedaços e não me sentir tão bem. Sozinha não sou</p><p>páreo para o poder de Satanás em me atrair para o</p><p>pensamento pecaminoso; po isso, é claro, eu peco, a</p><p>menos que seja resgatada.</p><p>Finalmente, vivemos em um mundo tão cheio de</p><p>tentações e oportunidades que é uma milagre</p><p>crescermos em obediência. Aconselho muitos</p><p>rapazes e moças que são viciados em pornografia e</p><p>que se sentem profundamente envergonhados por</p><p>seu pecado. Mesmo aqueles que lutam contra o</p><p>orgulho, a ganância e a autoglorificação, sem muita</p><p>culpa, sentem geralmente muita vergonha deste</p><p>pecado sexual e trilharão um longo caminho até a</p><p>reforma. Entretanto, esta é uma luta particularmente</p><p>resistente aos esforços para mudar. A poderosa</p><p>natureza viciante de todas as substâncias químicas</p><p>que produzem o bem-estar, liberadas no processo de</p><p>assistir pornografia e se masturbar, é difícil de</p><p>superar. A combinação de vergonha e incapacidade</p><p>de parar, normalmente, chama a atenção de uma</p><p>pessoa.</p><p>Quando é que a pornografia foi algo tão fácil de se</p><p>conseguir como agora, com o advento da Internet?</p><p>Você costumava arriscar algo para obtê-la, quando</p><p>era vendida em lojas, mas agora você pode se</p><p>entregar a ela secretamente e não deixar nenhum</p><p>rastro. Quando algum jovem é despedaçado por essa</p><p>batalha e vem pedir ajuda, espera ouvir um pastor</p><p>ou conselheiro dizer algo do tipo: “Como você</p><p>pôde?”, quando o que eles devem ouvir é: “Como</p><p>não poderia?” Vivemos numa sociedade altamente</p><p>sexualizada, em que mensagens audiovisuais nos</p><p>assediam constantemente. Temos corpos preparados</p><p>para o prazer do sexo. E, no caso de estudantes</p><p>universitários, que estão constantemente adiando o</p><p>casamento pelo bem de suas carreiras, a batalha é</p><p>intensa contra hormônios e desejos absolutamente</p><p>normais. Colocamos a nós mesmos e aos outros</p><p>numa posição de prontos para o fracasso e, depois,</p><p>agimos com surpresa quando as pessoas fracassam.</p><p>Um crente maduro estuda todos os aspectos da luta</p><p>de uma pessoa contra o pecado e faz muitas</p><p>concessões. Ele não deixa de se referir ao pecado</p><p>como a coisa horrorosa e má que ele é, mas entende</p><p>quão profundamente enraizado o pecado está em</p><p>nossa natureza humana e quão impotente todo</p><p>cristão é em se posicionar contra o pecado. Isso,</p><p>juntamente com a profunda compreensão</p><p>foi completamente</p><p>diferente. Senti-me como o apóstolo Paulo</p><p>provavelmente se sentiu na estrada para Damasco,</p><p>quando Jesus o confrontou e lhe disse: “Saulo,</p><p>Saulo, por que me persegues?” (Atos 9.4). Foi</p><p>como se tivesse sido jogada mentalmente ao chão e</p><p>cegada por uma glória tão reluzente que eu não</p><p>podia suportar. Agora o Senhor estava me</p><p>perguntando: “Barbara, Barbara, por que você está</p><p>roubando a minha glória?” Imaginei Jesus pregado à</p><p>cruz, esmagado e sangrando, olhando para mim,</p><p>conhecendo meus pensamentos e indagando-me:</p><p>“Como você poderia receber crédito por aquilo que</p><p>eu fiz? Você morreu pela Heather? Você lhe deu fé e</p><p>vida? Abriu os olhos dela para que enxergasse?” Por</p><p>um breve instante me senti profundamente</p><p>condenada; e a repugnância desses pecados</p><p>ameaçavam me consumir. Estava chocada e</p><p>arruinada pela feiura dos meus pensamentos, uma</p><p>vez que eu não tinha ideia de que era capaz de</p><p>crimes tão nojentos contra Deus e contra a</p><p>humanidade! Ainda que fosse verdade o tempo</p><p>todo! Eu vinha pecando desse modo havia anos,</p><p>pois minha colega de quarto tinha visto isso</p><p>claramente muitos anos antes.</p><p>Aos poucos, entretanto, outro pensamento</p><p>despontou em minha mente. Em vez de sentir</p><p>desespero e rejeição, comecei a me sentir ricamente</p><p>estimada. Deus não estava sequer surpreso com a</p><p>minha alma que ama glória e busca atenção. Eu</p><p>estava cega sobre a verdade acerca de mim mesma,</p><p>mas Jesus foi pregado naquela cruz por mim, por</p><p>causa desse pecado específico. Enquanto visualizei a</p><p>mim mesma diante de Jesus sangrando, nu,</p><p>envergonhado e exposto, eu esperava e merecia</p><p>repreensão, rejeição e desapontamento da parte do</p><p>meu Salvador. Mas não era isso que eu estava</p><p>recebendo. Em vez disso, ele estendeu amor,</p><p>compaixão e infinita paciência sobre a minha</p><p>fragilidade e fraqueza. Eu me senti amada e</p><p>valorizada por Deus, embora nada em mim</p><p>houvesse mudado ainda. Eu era como um fariseu</p><p>orgulhoso naquele momento e ainda o sou de muitas</p><p>maneiras. Naquele dia, tristeza e gratidão</p><p>percorreram juntas meu coração como se fossem</p><p>alegres companheiras pela primeira vez. Respondi:</p><p>“Senhor, perdoa-me por apressar-me em querer</p><p>roubar a tua glória; verdadeiramente esta é quem eu</p><p>realmente sou. Obrigada por me amar e me perdoar</p><p>diante de tamanha traição”. Até aquele momento,</p><p>sempre acreditei que Deus tinha sorte em me ter do</p><p>lado dele. Agora, eu finalmente me via como uma</p><p>inimiga amarga a quem Deus escolhera para amar e</p><p>receber como uma filha preciosa. Pela primeira vez</p><p>na minha vida, a graça me pareceu maravilhosa, de</p><p>uma maneira completamente inesperada à luz de</p><p>meu comportamento rebelde para com Deus.</p><p>Muitos anos se passariam até que eu pudesse</p><p>entender o que aconteceu naquele dia. O Espírito</p><p>Santo estava começando a abrir meus olhos para</p><p>que eu visse mais claramente a mim mesma, a fim</p><p>de me libertar da escravidão do meu eu! A verdade</p><p>estava começando a substituir a frustração, e o sabor</p><p>da condenação começava a se tornar doce, em vez</p><p>de simplesmente amargo e humilhante.</p><p>No entanto, esses pensamentos bons e verdadeiros</p><p>ficaram para um momento posterior, pois vergonha</p><p>e humilhação reinaram naquela noite em particular,</p><p>enquanto minha compreensão do amor paciente de</p><p>Deus desapareceu. Minha companheira de quarto</p><p>estava certa a meu respeito, e eu estava</p><p>envergonhada. Como pude não perceber? Como</p><p>pôde uma garota cristã de uma família com forte</p><p>tradição missionária ser tão egoísta em busca de</p><p>glória pessoal? Como fui capaz de tamanho ódio</p><p>para com pessoas que eram meus irmãos e irmãs em</p><p>Cristo? Como pude ser assim tão pecadora, mesmo</p><p>sendo cristã há mais de vinte anos? Que sujeira era</p><p>essa que brotava de mim, e como eu sobreviveria a</p><p>ela?</p><p>ANATOMIA DA ALMA</p><p>Alguma vez você já se fez essas perguntas</p><p>perturbadoras? Talvez já tenha visto os pecados</p><p>secretos e interiores de seu coração, que ninguém</p><p>mais vê, e tenha se perguntado como pode ser um</p><p>cristão tão mau ou, até mesmo, se você é, de fato,</p><p>um cristão. Talvez fique alarmado com os novos</p><p>padrões de comportamento pecaminoso que você vê</p><p>emergindo atualmente e sua própria incapacidade de</p><p>vencê-los. Você se pergunta a respeito daqueles</p><p>velhos pecados que estão por aí há muito tempo e</p><p>que você não consegue dominar, não importando o</p><p>quanto se esforce? Espero que seja confortado ao</p><p>saber que não está sozinho. Na verdade, todos os</p><p>cristãos têm esse problema, quer estejam</p><p>dolorosamente conscientes dos pecados secretos que</p><p>os mantêm cativos, quer ainda estejam cegos para</p><p>eles, como eu estive por muitos anos.</p><p>A difícil situação que todos nós compartilhamos é</p><p>que, mesmo sendo novas criaturas em Cristo (2</p><p>Coríntios 5.17) e tendo recebido corações vivos para</p><p>conhecermos e adorarmos a Deus (Ezequiel 36.26-</p><p>27), ainda somos pessoas altamente pecaminosas.</p><p>Permanecemos fracos, rebeldes e inclinados a nos</p><p>afastar de Deus até o dia em que o veremos face a</p><p>face. Junto com o escritor do hino, cada um de nós</p><p>pode dizer: “Propenso a vaguear, Senhor, eu sei,</p><p>propenso a me afastar do Deus que amo”.2</p><p>Talvez você não ouça muitos ensinamentos sobre</p><p>esse problema em nossas igrejas. Poucas pessoas, e</p><p>especialmente talvez poucos pastores, estão</p><p>dispostas ou são capazes de abrir suas vidas e</p><p>corações para serem expostos e analisados</p><p>publicamente. A maioria de nós prefere esconder</p><p>seu pecado e sua fraqueza em vez de revelar a</p><p>própria vida e experimentar vergonha e humilhação.</p><p>Como resultado, nossas igrejas se tornaram lugares</p><p>onde demonstramos aos outros uma boa</p><p>performance e falamos muito mais sobre as nossas</p><p>vitórias do que de nossas lutas. Consequentemente,</p><p>muitos cristãos lutam contra a agonia do fracasso</p><p>pecaminoso, isolados e em desespero. A mensagem</p><p>silenciosa é ensurdecedora: cristãos são pessoas que</p><p>crescem e são transformadas rapidamente. Se você</p><p>está fraco e enfrentando lutas, não deve ser um</p><p>crente ou, quem sabe, ainda pior, deve ser um</p><p>cristão particularmente mau, com quem Deus está</p><p>muito, muito decepcionado.</p><p>Este silêncio nem sempre foi a regra. Em particular,</p><p>houve um pastor do século XVIII que foi</p><p>notoriamente sincero em relação aos pecados</p><p>secretos de seu coração — John Newton. Talvez</p><p>você o conheça como o autor do famoso hino</p><p>“Maravilhosa Graça”.</p><p>John Newton nasceu em 1725 e, nos primeiros seis</p><p>anos de sua vida, beneficiou-se do amor e dos</p><p>ensinos de sua mãe. Ela era uma cristã devota que,</p><p>com muita fé, lhe ensinou a Palavra de Deus,</p><p>enchendo a sua jovem mente com salmos, hinos e</p><p>ensinamentos de catecismos históricos. Quando ela</p><p>morreu, John foi deixado aos cuidados de seu pai,</p><p>que era um homem íntegro, mas não tinha fé em</p><p>Deus nem interesse em religião. Na tenra idade de</p><p>onze anos, Newton se viu trabalhando em um navio</p><p>pela primeira vez, na companhia de rudes</p><p>marinheiros.</p><p>Newton logo se tornou um jovem capaz de xingar</p><p>e blasfemar como o restante da tripulação.</p><p>Desenvolveu um gosto perverso por profanar o</p><p>nome de Deus e instigar encrencas e caos onde quer</p><p>que pudesse. Apesar de muitas tentativas de reforma</p><p>moral, mais onze anos se passariam até que ele fosse</p><p>convertido. Ele prosseguiria em descrever-se como</p><p>um homem que fora resgatado por Deus contra sua</p><p>própria vontade.</p><p>Ao longo de sua carreira de marinheiro, Newton se</p><p>envolveu com o tráfico de escravos, tornando-se o</p><p>capitão de vários navios em viagens para a África</p><p>com o propósito de buscar carga nova. Embora não</p><p>tenha sido condenado de imediato pela perversidade</p><p>da prática de tráfico de escravos na ocasião de sua</p><p>salvação, Newton nutria desgosto por sua ocupação,</p><p>que envolvia correntes e algemas. Por fim,</p><p>problemas de saúde o forçaram a abandonar a vida a</p><p>bordo de navios e se estabelecer em um trabalho</p><p>mais estável de inspetor de embarques em</p><p>Liverpool. Sua mãe havia predito e tinha esperança</p><p>de que, um dia, ele seria separado para ser um</p><p>ministro ordenado da Palavra de Deus, mas Newton</p><p>sequer ousou esperar que tal privilégio pudesse,</p><p>algum dia, ser dado a alguém que fora tão pecador e</p><p>perverso como ele. No entanto, foi exatamente isso</p><p>que Deus fez.</p><p>Após vários anos de crescimento e treinamento aos</p><p>pés de piedosos</p><p>de seu</p><p>próprio coração, torna o crente maduro brando e</p><p>compassivo para com cristãos que pecam e o torna</p><p>capaz de encorajar e restaurar com compaixão e</p><p>humildade. Esta expectativa realista sobre si mesmo</p><p>e sobre os outros, combinada com uma visão forte e</p><p>gloriosa da excelência do evangelho, forma uma</p><p>estabilidade na alma que não é abalada pelo pior que</p><p>os homens ou Satanás podem fazer. O pecado não</p><p>deveria nos chocar ou nos surpreender quando o</p><p>descobrimos em nós mesmos e nos outros.</p><p>Deveríamos esperá-lo.</p><p>E AGORA?</p><p>Tenho tido a grande alegria e o privilégio de ver a</p><p>verdade mudando pessoas. É inevitável. Deus está</p><p>trabalhando na vida de seu povo, e, como a maior</p><p>parte de meu ministério na igreja tem sido com</p><p>mulheres, eu as tenho visto crescer. Quando ensino</p><p>esse material para um novo grupo de mulheres, algo</p><p>começa a acontecer automaticamente. Podemos não</p><p>abordar o casamento diretamente, mas eles</p><p>começam a mudar. Quando alguém se torna um</p><p>recipiente da graça, esta começa a fluir para fora</p><p>daquela pessoa em direção aos outros. E ver isso</p><p>acontecendo não tem preço. Ao chegarmos ao</p><p>terceiro ou quarto estudo, as senhoras começam a</p><p>comentar e a dizer: “Sabe, agora que comecei a</p><p>entender como sou incapaz de mudar a mim mesma,</p><p>vejo que meu marido também está na mesma</p><p>situação. Não importa quanto eu o importune, ele</p><p>não consegue se organizar e mudar, assim como eu</p><p>não consigo”. Elas começam a importunar menos e</p><p>a orar mais. Na verdade, quando você começa</p><p>realmente a acreditar que somos incapazes e</p><p>dependentes de Deus para toda mudança, começa a</p><p>orar muito mais, não por achar que deve, mas</p><p>porque quer. Você vê que é a única forma de</p><p>transformação real.</p><p>A humildade muda muito nossos relacionamentos.</p><p>Entender a fraqueza muda o modo como criamos</p><p>nossos filhos também. É tão tentador palestrar para</p><p>nossos jovens e dizer-lhes como devem pensar,</p><p>sentir e agir. É tão difícil colocar-se ao lado deles,</p><p>como um “pecador como eles” e dizer-lhes como a</p><p>obediência é impossível. Podemos forçar uma</p><p>obediência externa sobre eles, porém somos</p><p>incapazes de mudar o coração deles. Não podemos</p><p>nos tornar arrependidos, entristecidos ou</p><p>compassivos, mas, de algum modo, nos parece justo</p><p>exigir essas coisas deles. Nós os envergonhamos até</p><p>que fiquem sobrecarregados com a pressão e</p><p>aprendam a fazer as coisas para nos agradar;</p><p>contudo, os resultados de longo prazo desta</p><p>abordagem nunca são bons. Tantas crianças cristãs</p><p>crescem e saem de casa completamente</p><p>despreparadas para entender e lutar com seu próprio</p><p>coração pecaminoso, porque nunca tiveram a</p><p>chance de entender e confessar a verdade de sua</p><p>própria fraqueza. São ensinados a confiar, obedecer</p><p>e marchar como um soldado no exército</p><p>conquistador de Deus, até que tudo se desintegre e</p><p>eles caiam em pecados que nunca pensaram que um</p><p>cristão poderia cometer.</p><p>Do mesmo modo, muitos pais temem admitir sua</p><p>própria fraqueza para seus filhos porque temem que</p><p>isso lhes dará autorização para pecar. Então,</p><p>trancamos todos numa situação impossível. Na</p><p>realidade, certamente nossos filhos conseguem ver</p><p>nosso pecado! Eles nos observam o tempo todo. Se</p><p>não confessarmos nossos pecados abertamente e o</p><p>explicarmos aos nosso filhos, corremos o risco de</p><p>perder toda a credibilidade diante deles.</p><p>Talvez pareça assustador confiar ao Espírito Santo</p><p>o desenvolvimento espiritual de nossos filhos, porém</p><p>ele é muito mais capaz e mais disposto a fazê-los</p><p>crescer espiritualmente do que poderíamos ser. Se</p><p>você se preocupa que, ao dizer aos filhos como eles</p><p>são incapazes de obedecer sem a ajuda de Deus,</p><p>lhes dará uma desculpa para continuarem pecando,</p><p>talvez deva experimentar fazê-lo e observar o que</p><p>acontece. Nos momentos em que você deve exigir</p><p>obediência exterior da parte deles, diga-lhes que não</p><p>podem mudar seu próprio coração. Em vez de punir</p><p>imediatamente a raiva deles, ponha-se no lugar deles</p><p>e procure entender. É claro que eles se sentem</p><p>impotentes, rebeldes e zangadas. A vontade deles</p><p>está sendo contrariada. Explique-lhes como você</p><p>também sente raiva com frequência. Provavelmente,</p><p>eles lhe diriam tudo sobre isso. Mostre-lhes como</p><p>seu coração também é incapaz e o que todos vocês</p><p>precisam fazer com corações assim.</p><p>Explique a seus filhos do que eles realmente</p><p>precisam. Precisam de Deus para fazer com que seu</p><p>coração seja mais brando e para fazê-los querer</p><p>obedecer; diga-lhes que precisam de Deus para lhes</p><p>dar força para obedecer. Em seguida, celebre com</p><p>eles tudo que eles têm em Cristo. Seus pecados</p><p>foram pagos pelo sangue de Cristo e são cobertos</p><p>por sua bondade obediente, como um manto</p><p>brilhante em torno deles. Celebre Cristo, ore por</p><p>seus filhos e espere que Deus faça sua obra, por</p><p>meio do Espírito Santo, a longo prazo.</p><p>Compreender sua própria incapacidade ajudará você</p><p>e seus filhos a aprenderem a lidar com a realidade de</p><p>seu coração caído e a valorizarem as maravilhosas</p><p>boas-novas do evangelho. Isso o ajudará a sentir</p><p>mais compaixão e entendimento, bem como menos</p><p>frustração e irritação. Afinal, eles são pecadores</p><p>como você.</p><p>Algumas vezes, compaixão e humildade também</p><p>nos levarão a permitir espontaneamente que outros</p><p>pequem contra nós. Há momentos, é claro, em que</p><p>essa não é a abordagem de devemos utilizar. Uma</p><p>mulher que está sendo espancada pelo marido não</p><p>deve se mostrar espontânea para sofrer esse abuso e</p><p>deixá-lo pecar contra ela. Ela precisa se proteger e</p><p>ajudar seu marido, saindo dessa situação de agressão</p><p>e achando ajuda para ambos. No entanto, há</p><p>momentos em que é espiritual deixar que outros</p><p>pequem contra você, colocar-se na brecha e suportar</p><p>a dor de permitir que outros o tratem mal. Não sei</p><p>quanto a você, mas, quando alguém peca contra</p><p>mim, há um clamor que aumenta no meu coração e</p><p>grita: “Como você ousa me tratar desse jeito!”</p><p>Permitir que outros me tratem com desrespeito e</p><p>falta de consideração é a coisa mais difícil do mundo</p><p>para mim .</p><p>No entanto, Jesus se ofereceu para sofrer</p><p>exatamente esse tipo de tratamento. Seu amor</p><p>cobriu uma multidão de pecados, tanto em relação</p><p>àqueles por quem morreu, quanto no caso daqueles</p><p>com quem interagiu aqui na terra. Ele nunca pediu</p><p>que fosse tratado como merecia, e, no final, se</p><p>ofereceu para ser espancado, abusado, odiado e</p><p>desprezado, a fim de resgatar seu povo. Somos</p><p>chamados a nos tornar como ele.</p><p>Recentemente, quando senti um senso de justiça</p><p>própria aumentando em mim e as palavras “Como</p><p>se atreve?” reverberando em minha mente, fui</p><p>resgatada pelo pensamento precioso de que, na</p><p>verdade, era eu que me atrevia. Sou aquela que se</p><p>atreveu a pisar no Filho de Deus e a tratá-lo como se</p><p>ele fosse irrelevante ou um capataz perverso. Eu me</p><p>atrevo frequentemente a acusá-lo de não se importar</p><p>e, com frequência, atrevo-me a reclamar de sua</p><p>vontade. Como é possível ele tolerar uma rebelião</p><p>tão ridícula e ultrajante de minha parte? Ele tolera</p><p>um comportamento desse tipo porque já pagou o</p><p>preço por tudo isso e está comprometido com meu</p><p>crescimento espiritual e minha bem-aventurança.</p><p>Quanto mais eu reconhecer a mim mesma como a</p><p>maior pecadora e a pior transgressora, tanto mais</p><p>serei apta a me aproximar dos outros e amá-los,</p><p>mesmo quando pecarem repetidas vezes contra</p><p>mim. Estes momentos são preciosos, quando tenho</p><p>um pequeno vislumbre de como seria estar no lugar</p><p>de Jesus. Não consigo imaginar como foi para o</p><p>impecável Filho de Deus, o Criador de todas as</p><p>coisas, ver-se pendurado numa cruz, impotente,</p><p>enquanto as suas próprias criaturas o desprezavam e</p><p>o matavam. Ele poderia ter-se libertado a qualquer</p><p>momento com um cósmico “como ousam?”, que os</p><p>teria destruído para sempre, vindicando-o em toda a</p><p>sua glória e justiça. Entretanto, por amor, Jesus se</p><p>ofereceu para ficar na cruz e sofrer indignidade,</p><p>humilhação e a dor de aceitar a zombaria de seres</p><p>tão inferiores a ele que nos deixa perplexos.</p><p>No entanto, quando me ofereço para deixar que os</p><p>outros me tratem mal por amor, participo daquele</p><p>sofrimento por apenas um momento. Ao fazer isso,</p><p>estou mais uma vez preenchida com respeito e</p><p>admiração pelo fato de que Jesus Cristo iria</p><p>depositar seu</p><p>amor sobre mim para o seu próprio</p><p>prazer e escolheu sofrer e morrer por mim. Como</p><p>Charles Wesley colocou, “Amor surpreendente,</p><p>como pode ser que tu, meu Deus, morrerias por</p><p>mim?”61</p><p>E VOCÊ?</p><p>Você tem medo de que, ao ter compaixão por si</p><p>mesmo, suas lutas com o pecado o levem a pecar</p><p>cada vez mais? Essa não é a minha experiência</p><p>como cristã, como mãe ou conselheira bíblica. O</p><p>que acontece quando as pessoas se tornam ansiosas,</p><p>deprimidas e desanimadas devido ao seu pecado?</p><p>Começam a se sentir muito mal, e essa sensação as</p><p>leva a procurar o alívio desses sentimentos terríveis.</p><p>Aconselhei pessoas que se voltaram para comida,</p><p>álcool, pornografia, prostitutas, superação, boas</p><p>notas, aprovação dos pais, limpeza, organização,</p><p>leitura da Bíblia, jejum e oração. Há muitos</p><p>comportamentos, bons e maus, aos quais podemos</p><p>nos voltar para emudecer o batuque do fracasso</p><p>pessoal contínuo. Os maus comportamentos trazem</p><p>o prazer momentâneo e, depois, mergulham o</p><p>sofredor ainda mais profundamente em vergonha e</p><p>angústia, perpetuando, assim, o ciclo. Os bons</p><p>comportamentos trazem, por um minuto, uma</p><p>espécie de bondade espiritual, mas logo</p><p>decepcionam, porque não duram. Deus nos ama</p><p>muito para nos permitir encontrar paz duradoura em</p><p>qualquer comportamento, mesmo nos bons.</p><p>Podemos ser duros com nós mesmos de uma</p><p>maneira que Deus não o é, e nos castigamos e nos</p><p>punimos de modos errados por nossa impiedade.</p><p>Deus é muito paciente conosco e sempre lembra</p><p>que somos pessoas frágeis, feitas do pó. Não</p><p>queremos ser pessoas fracas, feitas de pó; por isso,</p><p>lutamos contra essa verdade por insistir que somos</p><p>fortes quando, na verdade, não o somos. Deus é</p><p>glorificado em nossa fraqueza de muitas maneiras.</p><p>Como conheceríamos a paciência de Deus se não</p><p>pecássemos repetidamente? Como poderíamos</p><p>sondar as profundezas de seu amor se não</p><p>pecássemos contra ele continuamente, para</p><p>descobrir que seu perdão é ilimitado e seu amor,</p><p>inabalável? Como Newton diria:</p><p>Bem, quando dissermos tudo que pudermos sobre a</p><p>abundância do pecado em nós — a graça será ainda mais</p><p>abundante em Jesus. Não podemos ser tão maus quanto ele é</p><p>bom. Seu poder é um bom desafio à nossa fraqueza. Suas</p><p>riquezas são um bom desafio à nossa pobreza. Sua</p><p>misericórdia é um bom desafio à nossa miséria. Somos maus</p><p>em nós mesmos — mas somos completos em Jesus. Em nós</p><p>mesmos, temos motivo para sermos humilhados — mas nele</p><p>podemos nos regozijar. Bendito seja Deus por Jesus</p><p>Cristo!62</p><p>É possível você odiar seu pecado e, ao mesmo</p><p>tempo, ser compassivo com sua própria fraqueza.</p><p>Às vezes, agimos como se houvesse apenas duas</p><p>opções: ou odiamos nosso pecado e nos punimos</p><p>por ele, ou nos permitimos negligência, o que leva a</p><p>quantidades imprudentes e crescentes de pecado. Há</p><p>outra maneira. Como o apóstolo Paulo, podemos</p><p>odiar o nosso pecado e planejar não praticá-lo,</p><p>entendendo a nossa fraqueza, aceitando-a e nos</p><p>lançando à misericórdia de Deus. Paulo está certo</p><p>quando exclama: “Desventurado homem que sou!”</p><p>(Romanos 7.24) Somos todos pecadores</p><p>desventurados no decorrer de nossa vida. Paulo não</p><p>rejeita este pensamento com um plano melhor de ler</p><p>a Bíblia e orar mais. Ele brada: “Quem me livrará do</p><p>corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo,</p><p>nosso Senhor” (Romanos 7.24-25). Ele já havia sido</p><p>libertado pela morte de Cristo e agora sabe que será</p><p>libertado ampla e eternamente na vida por vir.</p><p>Paulo não parece se preocupar com o fato de que a</p><p>afirmação de sua própria luta contra o pecado pode</p><p>incentivar todos nós a pecarmos mais. Ele sabe que</p><p>é fraco, e nos diz isto repetidas vezes, e até se</p><p>vangloriar de sua fraqueza. Paulo não parece</p><p>enredado com o problema do pecado recorrente,</p><p>mas segue fácil e imediatamente à doxologia. É</p><p>deslumbrante. Paulo não passa horas, dias, meses e</p><p>anos agonizando quanto ao seu pecado, como o</p><p>fazemos tão frequentemente. Este tipo de miséria</p><p>mórbida não nos ajuda a pecar menos; apenas nos</p><p>leva a mais e mais ciclos de pecado.</p><p>Considere minha luta atual para perdoar outro</p><p>pecador fraco que sei eu deveria amar e cuidar. Há</p><p>uma maneira correta e saudável em que eu deveria</p><p>sentir vergonha por isto. Tenho bebido</p><p>profundamente na fonte da graça, então, como ouso</p><p>me recusar a mostrar essa mesma graça a outra</p><p>pessoa? Mas, apesar disso, ainda me vejo fazendo</p><p>isso. Eu poderia ficar arruinada por causa de meu</p><p>pecado e, no processo, acrescentar muitos outros</p><p>pecados. Às vezes, meu pecado me faz querer</p><p>insistir em que meu marido deixe o ministério. “Já</p><p>que não consigo fazer isso direito”, eu pondero,</p><p>“seria melhor não fazê-lo de modo algum”. Às</p><p>vezes, eu como para me anestesiar da culpa que</p><p>sinto, ou apresento desculpas e culpo os outros, ou</p><p>desconto minha raiva em meus filhos. O desespero</p><p>por causa de meu pecado age como uma porta de</p><p>entrada para mais e mais pecados, nunca para</p><p>menos pecados.</p><p>Agora imagine o que aconteceria se, como Paulo,</p><p>eu corresse imediatamente para a cruz. Suponha</p><p>que, em lidar com meu pecado, eu caísse de joelhos</p><p>diante de meu Pai misericordioso, para confessar</p><p>meu pecado em toda a sua profundeza e horror,</p><p>admitindo que meu pecado é, verdadeiramente, uma</p><p>medida exata da enfermidade e da corrupção de</p><p>meu coração, e pedindo a graça abundante de que</p><p>preciso no momento. Neste caso, embora eu mesma</p><p>fosse humilhada cada vez mais por meu pecado,</p><p>estaria, ao mesmo tempo, aprendendo a me</p><p>regozijar na obra consumada de Cristo em meu</p><p>lugar, enquanto exultaria nas vestes festivais da</p><p>justiça que Cristo ganhou para mim e que me são</p><p>dadas gratuitamente pela fé. É assim que o</p><p>desespero se transforma em alegria, e ciclos de</p><p>pecado são cortados pela raiz gradualmente.</p><p>DUETO DINÂMICO</p><p>Adoração e introspecção de coração podem ser um</p><p>time poderoso. Se nos tornamos competentes em</p><p>entender e celebrar nossa união com Cristo de um</p><p>modo que leve à alegria, mas nunca tomamos tempo</p><p>nem usamos coragem para examinar nosso coração,</p><p>então, ficamos presos. Talvez desfrutemos</p><p>intensamente de nossa salvação, mas não temos o</p><p>privilégio de ver a Deus destruindo as idolatrias de</p><p>nosso coração e nos levando à adoração mais</p><p>profunda e mais pura. Por outro lado, se</p><p>examinamos nosso coração e não aprendemos a nos</p><p>alegrar e a celebrar a justiça de Cristo que nos foi</p><p>imputada, corremos o risco de cair num tipo</p><p>mórbido de introspecção que nos rouba a alegria</p><p>que devemos experimentar em nosso Salvador. No</p><p>entanto, quando Deus nos capacita a nos</p><p>conectarmos profundamente com a verdade de que</p><p>ele nos ama como somos, mesmo quando não</p><p>podemos mudar, nossa alegria em resposta à</p><p>adoração pode ser o combustível que nos impulsiona</p><p>a realizar o árduo e potencialmente desanimador</p><p>trabalho de sondar o nosso coração e descobrir</p><p>maneiras criativas para tentar mudar.</p><p>A boa notícia do evangelho é precisamente o que</p><p>nos dá a coragem para sermos honestos quanto ao</p><p>nosso pecado, sem nos arruinarmos por causa dele.</p><p>É possível e agradável engajar-se em sondar a alma</p><p>quando confiamos que Deus não se envergonha de</p><p>nós e nunca nos abandonará, não importando que</p><p>pecados acharemos escondidos em nosso coração. A</p><p>confissão se torna um alívio, enquanto o</p><p>arrependimento só é possível quando sabemos do</p><p>que precisamos nos arrepender. Quando entendemos</p><p>o evangelho, não precisamos temer o que acharemos</p><p>em nosso coração, pois a graça de Deus é muito</p><p>maior do que nosso pecado.</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. De que maneiras você tende a sofrer com seu</p><p>próprio pecado? Tende a se julgar com rigor por</p><p>causa de seu pecado ou a se olhar com piedade?</p><p>2. Já houve em sua vida uma situação da qual você</p><p>sabia que deveria se arrepender, mas não conseguiu?</p><p>Como isso aconteceu? O que você fez?</p><p>3. Como seus sentimentos e ações seriam</p><p>diferentes se você acreditasse que o arrependimento</p><p>é um dom de Deus?</p><p>4. O que significa pecar contra a lei de Deus? O</p><p>que significa pecar contra o amor de Deus? De que</p><p>maneiras você ainda faz isso?</p><p>5. De que modo característico você tende a</p><p>continuar pecando? Como sua própria carne</p><p>pecaminosa o leva a pecar? De que maneiras</p><p>Satanás é habilidoso em atraí-lo ao pecado? De que</p><p>maneiras o</p><p>fazer coisas mundanas o atrai ao pecado?</p><p>6. Como você se sente após ter pecado? Como</p><p>tende a lidar com esse sentimento?</p><p>7. Como a sua vida seria diferente se você não se</p><p>sentisse ansioso ou deprimido pelo fato de que</p><p>continua pecando, mas, em vez disso, se movesse</p><p>diretamente para a adoração?</p><p>54. Citado em Richard Cecil, “Memoirs of the Rev. John Newton”,</p><p>The Works of John Newton, vol. 1 (repr., Edinburgh: Banner of</p><p>Truth, 1985), 105.</p><p>55. Ibid.</p><p>56. Ver John Piper, “Insanity and Spiritual Songs in the Soul of a</p><p>Saint”, January 29, 1992, biographiesinsanity-and-spiritual-songs-</p><p>in-the-soul-of-a-saint.</p><p>57. John Newton, “The Full Corn in the Ear” Select Letters of</p><p>John Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 16. Ver</p><p>também Grant Gordon, ed., Wise Counsel: John Newton’s Letters</p><p>to John Ryland Jr. (Edinburgh: Banner of Truth, 2009), 34-35.</p><p>58. Ver John Newton, “Temptation”, Select Letters of John Newton</p><p>(repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 102–10.</p><p>59. John Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 11.</p><p>60. John Newton, “Letter 16 to Rev. Mr. S”, The Works of John</p><p>Newton, vol. 6 (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 1985), 195.</p><p>61. Charles Wesley, “And Can it Be?”, 1738.</p><p>62. Newton, “Letter 16 to Rev. Mr. S”, The Works of John Newton,</p><p>vol. 6, 195.</p><p>capítulo onze</p><p>amor constrangedor</p><p>Os repetidos e múltiplos perdões que você recebeu</p><p>aumentam sua admiração e o senso de suas</p><p>obrigações para com a rica, abundante e soberana</p><p>misericórdia da aliança. — John Newton63</p><p>Eu vinha temendo este momento por vários meses.</p><p>Sabia que tinha de falar a verdade, mas as palavras</p><p>simplesmente não saíam de minha boca. Então, em</p><p>vez de dizer o que deveria, achei outras maneiras de</p><p>preencher o estranho e doloroso silêncio. “Bem, eu</p><p>nunca me droguei nem roubei nada de muito</p><p>valor...”</p><p>“Isso é bom!”, ele disse com paciência, esperando</p><p>que eu revelasse a informação importante que eu</p><p>havia dito que precisava contar-lhe.</p><p>Eu continuava hesitante e não conseguia olhar para</p><p>ele. “Nunca fiquei bêbada... bem, talvez uma única</p><p>vez, mas depois nunca mais!”</p><p>Desta vez, ele não me respondeu de imediato, mas</p><p>deixou minhas palavras suspensas no ar por um</p><p>momento. Então, me envolveu em seus braços e</p><p>disse: “Acho que sei o que você está tentando me</p><p>dizer”.</p><p>Finalmente chegamos ao momento da verdade, do</p><p>qual eu tinha certeza que arruinaria tudo. “Você</p><p>sabe?”, perguntei, enquanto lágrimas enchiam meus</p><p>olhos e o medo apertava meu coração. “E... o que</p><p>você acha de mim agora?”, continuei.</p><p>Ele disse: “Acho que se tivesse tido a mesma</p><p>oportunidade, eu faria a mesma coisa. A única</p><p>diferença entre mim e você é que Deus não me</p><p>deixou ter essa oportunidade”. Foram palavras</p><p>realmente simples, mas, com essas poucas palavras,</p><p>ele mudou minha vida para sempre.</p><p>MINHA VIDA DUPLA</p><p>A verdade é que por muitos anos vivi uma vida</p><p>dupla. Comecei a namorar um rapaz quando tinha</p><p>14 anos; e nos primeiros seis anos desse</p><p>relacionamento fomos um exemplo de virtude e</p><p>decência. Eu me orgulhava de muitas coisas.</p><p>Entretanto, aquilo de que eu mais me orgulhava era</p><p>a nossa castidade e determinação para não cair no</p><p>pecado sexual, apesar de muitas oportunidades e um</p><p>coração cheio de desejos e fantasias. Não era fácil,</p><p>mas estávamos indo muito bem — até que um dia,</p><p>achei pilhas e pilhas de revistas pornográficas no</p><p>quarto dele.</p><p>Eu devia tê-lo confrontado com amor e ajudado a</p><p>buscar bom aconselhamento, mas não foi o que fiz.</p><p>Em vez disso, olhei para aquelas revistas e escolhi</p><p>mergulhar naquele mundo de engano e satisfação.</p><p>Enganei a mim mesma de várias maneiras,</p><p>convencendo-me de que o problema dele era culpa</p><p>minha, porque eu estava frustrando-o com minha</p><p>determinação de permanecer virgem até que nos</p><p>casássemos. Meu coração perverso e pecador o</p><p>desejava e se tornou claro que eu faria qualquer</p><p>coisa para segurá-lo. Eu também tinha certeza de</p><p>que, se ele não se casasse comigo, ninguém o faria.</p><p>Acreditava que era melhor casar com um derrotado</p><p>do que ficar sozinha para sempre. Falava para mim</p><p>mesma que Deus ficaria satisfeito se dormíssemos</p><p>juntos, contanto que nos casássemos. Dizia a mim</p><p>mesma muitas mentiras e me convencia de que</p><p>vinham de Deus. Mentir se tornou algo fácil e</p><p>natural no decorrer dos quatro anos seguintes.</p><p>Nesse tempo, eu era um líder de um ministério</p><p>cristão no campus de minha faculdade e liderava</p><p>nosso pequeno grupo de estudos bíblicos. Mentia</p><p>para os meus amigos e para os líderes de ministério.</p><p>Enganei meus pais e menti para o meu pastor, que</p><p>demonstravam preocupação com meu</p><p>relacionamento amoroso. Deixava as pessoas</p><p>acreditarem que eu era pura e casta, quando na</p><p>verdade não era nem uma coisa nem outra. Com o</p><p>passar dos anos, ficou evidente para mim que meu</p><p>namorado não era um bom candidato para ser meu</p><p>marido e pai de meus filhos, mas eu tinha que</p><p>corrigir aquilo. Tendo dormido com ele, achava que</p><p>podia consertar as coisas diante de Deus e de todos</p><p>ficando com ele até nos casarmos. Era a única</p><p>maneira que achava para lidar com a culpa enorme</p><p>de tanto pecado.</p><p>Perceba como eu estava presa à tolice da minha</p><p>própria mente! Nunca pedi ajuda, nunca procurei</p><p>um conselho ou aconselhamento espiritual. Era</p><p>orgulhosa demais para deixar alguém saber que tinha</p><p>cometido um pecado que julgava ser o pior de</p><p>todos. Estava determinada a pagar o preço sozinha e</p><p>corrigir as coisas diante de Deus. À medida que o</p><p>relacionamento esmorecia e desmoronava, comecei</p><p>a ficar cada vez mais desesperada. Tinha acabado de</p><p>me formar e tinha sido solicitada a aceitar um</p><p>trabalho missionário de curto prazo no laboratório</p><p>de um hospital na Libéria, na África Ocidental.</p><p>Pensei que isso me ajudaria a pagar pelo meu</p><p>pecado e, ao mesmo tempo, seria algo divertido por</p><p>um tempo.</p><p>Talvez nunca houve na história do mundo uma</p><p>missionária mais confusa e indevidamente motivada</p><p>do que eu quando tinha 21 anos. Atormentada pela</p><p>culpa e pelo medo de nunca me casar, segui em</p><p>frente com todos os desafios exigidos para ser aceita</p><p>como missionária, editando cuidadosamente minha</p><p>história para satisfazer meu público. Parti para a</p><p>Libéria com uma tímida promessa de casamento da</p><p>parte de meu namorado, que estava terminando a</p><p>faculdade, e com um anel de compromisso no dedo.</p><p>Eu era uma mentira ambulante.</p><p>Uma coisa interessante aconteceu quando cheguei</p><p>à África. Encontrei uma jovem que havia</p><p>frequentado a mesma igreja que eu e meu namorado</p><p>frequentávamos quando nos conhecemos. Ela tinha</p><p>ouvido falar muito da gente, mas não era nada bom.</p><p>Ela sabia que minha família não aprovava meu</p><p>noivo. Na verdade, ninguém que me conhecia e me</p><p>amava aprovava o relacionamento. Com amor e</p><p>grande determinação, ela não parava de conversar</p><p>comigo sobre o assunto. Relutantemente,</p><p>compartilhei um vislumbre da verdade com ela, que</p><p>me disse graciosamente que eu não tinha obrigação</p><p>espiritual de me casar com ele e que, em vez disso,</p><p>deveria terminar o relacionamento. “Mas eu o</p><p>amo!”, solucei. “E daí?”, ela perguntou. “Amar é</p><p>fácil, e você pode amar qualquer um. Mas você não</p><p>o respeita e não deve se casar com um homem que</p><p>não consegue respeitar”.</p><p>E lá estava ele: o veredito que, pela graça de Deus,</p><p>atingiu meu coração endurecido e conseguiu o que</p><p>anos de apelo dos meus pais e de muitos outros não</p><p>haviam conseguido. Dois dias depois, escrevi a carta</p><p>que terminaria dez anos de luta e rebelião, mas</p><p>também destruiria toda minha esperança e meus</p><p>sonhos de casar e ser mãe. Estava absolutamente</p><p>certa de que agora ficaria solteira para sempre. Que</p><p>homem decente desejaria casar comigo depois de</p><p>tantos anos de dissimulação e pecado?</p><p>GRAÇA IMERECIDA</p><p>Três meses depois, Ian chegou do Reino Unido à</p><p>nossa unidade para trabalhar como engenheiro</p><p>elétrico. Nossa amizade teve um começo difícil por</p><p>causa da diferença cultural entre britânicos e</p><p>americanos. Contudo, um ano depois me apaixonei</p><p>por um homem que eu respeitava profundamente.</p><p>Eu sentava ao lado deste homem piedoso, e suas</p><p>palavras de compaixão, humildade, graça e bondade</p><p>eram revigorantes para minha alma.</p><p>Esperava</p><p>desgosto. Esperava repreensão e rejeição. Mas, em</p><p>vez disso, fui recebida com um perdão que</p><p>dificilmente eu podia compreender. Eu sabia o que</p><p>merecia! Merecia estar presa, pelo resto de minha</p><p>vida, em um casamento infeliz com um homem que</p><p>eu não respeitava nem amava mais. No entanto, em</p><p>vez disso, parecia que Deus estava me oferecendo o</p><p>melhor dos melhores, o melhor de todos, um</p><p>príncipe entre os homens! Não era para as coisas</p><p>acontecerem assim. A Bíblia não diz que colhemos o</p><p>que plantamos (Gálatas 6.7)? Não recebemos o que</p><p>merecemos? Então, como as coisas poderiam estar</p><p>sendo assim? Parecia que Deus estava me dando</p><p>exatamente o oposto do que eu merecia; e eu estava</p><p>seriamente confusa.</p><p>Naquele dia, o chão pareceu desaparecer sob meus</p><p>pés, quando velhas fortalezas de justiça própria</p><p>começaram a se desfazer. Foi naquele dia que</p><p>comecei a entender o evangelho. Sempre acreditara</p><p>que podia ser salva somente pela fé em Cristo, mas,</p><p>ao estilo típico de um cristão imaturo, havia</p><p>transformado isso em uma barganha com Deus. O</p><p>combinado era que, se eu tivesse fé e obediência, ele</p><p>me daria salvação, bênçãos e benevolência. Nas</p><p>palavras daquele hino clássico, acreditava que, se</p><p>cresse e obedecesse, Deus me deveria felicidade por</p><p>meio de Jesus. Contudo, se eu não fizesse a minha</p><p>parte, estaria à minha própria mercê. Eu ainda não</p><p>sabia que a própria fé para crer nele era um dom</p><p>concedido por Deus a mim ou que teria de depender</p><p>dele em cada momento de obediência ao longo de</p><p>toda a minha vida. Certamente, eu não tinha</p><p>cumprido minha parte no acordo e, por isso, estava</p><p>certa de que Deus me repreenderia em algum</p><p>momento e me faria pagar por todos esses pecados.</p><p>É importante acrescentar a observação de que, se</p><p>Deus tivesse permitido que eu recebesse as</p><p>consequências do meu pecado até essa altura de</p><p>minha vida, ele continuaria sendo completamente</p><p>bom e justo. Nem sempre Deus nos livra das</p><p>consequências de nossos pecados. Apesar de haver</p><p>removido, de uma vez por todas, o castigo eterno</p><p>que eu mereço por meu pecado, lançando-o em</p><p>Jesus, muitas vezes Deus me deixa sofrer os</p><p>amargos efeitos colaterais de meus erros e de meu</p><p>pecado aqui na terra, a fim de me tornar mais</p><p>humilde, ensinar-me dependência e treinar-me na</p><p>retidão.64</p><p>Existem princípios gerais nas Escrituras que se</p><p>aplicam no decorrer de nossa vida. É bem verdade</p><p>que colhemos o que plantamos: se trabalharmos</p><p>duro, colheremos prosperidade, enquanto, por outro</p><p>lado, se formos preguiçosos, passaremos fome. No</p><p>entanto, há momentos na vida da maioria dos</p><p>crentes em que Deus faz uma grande reversão,</p><p>como se a intenção dele fosse impressioná-los e</p><p>mostrar-lhes a profunda generosidade de seu</p><p>coração. Existem momentos assustadores nos quais</p><p>compreendemos que estragamos tudo de tal modo</p><p>que, certamente, Deus deveria nos expor e nos</p><p>castigar para o nosso próprio bem. Então, algo</p><p>completamente diferente acontece. Deus não</p><p>somente se recusa a nos dar o castigo que tanto</p><p>merecemos, mas também nos inunda com amável</p><p>bondade e nos surpreende com alegria.</p><p>John Newton experimentou essa generosidade</p><p>surpreendente de Deus muitas vezes em sua vida.</p><p>Durante um ano, ele passou por um período</p><p>desesperadamente miserável na África Ocidental,</p><p>onde foi um verdadeiro escravo de seu empregador.</p><p>Chegou a um estado lastimável por anos de</p><p>imaturidade e rebelião contra Deus e contra aqueles</p><p>que, durante a viagem marítima, tinham autoridade</p><p>sobre ele. Em determinado momento, Newton</p><p>adoeceu e quase morreu. Em outros momentos, ele</p><p>quase morreu de fome. Depois de algum tempo, um</p><p>navio com instruções de procurá-lo chegou</p><p>providencialmente ao lugar em que ele estava</p><p>trabalhando. Se o navio tivesse chegado alguns dias</p><p>depois, ele teria estado em terra firme numa viagem</p><p>de negócios. Houvesse chegado mais cedo, ele</p><p>estaria trabalhando numa fábrica em algum outro</p><p>lugar.</p><p>Na viagem para casa, o navio quase afundou várias</p><p>vezes — na verdade, se não estivesse carregando</p><p>uma carga de cera de abelha e madeira, que são</p><p>mais leves que a água, certamente teria afundado. A</p><p>certa altura, durante a tempestade, o capitão mandou</p><p>Newton buscar uma faca, e o homem que assumiu o</p><p>lugar de Newton acabou sendo varrido</p><p>imediatamente para fora do barco, rumo à morte.</p><p>Todas essas extraordinárias libertações aconteceram</p><p>quando ele ainda era um furioso blasfemador contra</p><p>Deus. Nem sempre ganhamos o que merecemos</p><p>nesta vida. Na verdade, às vezes ganhamos</p><p>exatamente o oposto.65</p><p>A HISTÓRIA DE DAVI</p><p>O rei Davi sabia muito bem o que era sentir esse</p><p>tipo de amor insuportável e totalmente imerecido.</p><p>Houve muitas vezes em sua vida em que ele</p><p>experimentou o amor e a proteção de Deus; e</p><p>podemos ler sobre esses momentos nos Salmos que</p><p>Davi nos legou. Existe, porém, uma história na vida</p><p>de Davi em que Deus o abençoou ricamente, apesar</p><p>de seu pecado voluntarioso e de sua rebelião.</p><p>Davi queria construir um templo para o Senhor (2</p><p>Samuel 7). Afinal de contas, isso era o que os reis</p><p>bem-sucedidos da antiguidade deviam fazer. Quem</p><p>melhor para fazê-lo do que este rei específico, um</p><p>homem segundo o coração de Deus? Além disso,</p><p>Deus lhe havia dado descanso dos inimigos que</p><p>estavam ao seu redor, o que Davi alegou ser o</p><p>motivo para a construção do templo (veja</p><p>Deuteronômio 12.10). Todavia, Deus disse “não” ao</p><p>desejo de Davi, não porque fosse um desejo mau,</p><p>mas porque havia escolhido o filho de Davi,</p><p>Salomão, para ser o construtor do templo (2 Samuel</p><p>7.13).</p><p>Foi depois dessa rejeição e dessa promessa que</p><p>Davi cometeu adultério com Bate-Seba e assassinou</p><p>seu marido, Urias (2 Samuel 11). Como</p><p>consequência de seu pecado, sua própria família</p><p>desmoronou: seus filhos cometeram estupros,</p><p>assassinatos e se rebelaram contra ele (2 Samuel 13-</p><p>18). Se antes Davi era desqualificado para construir</p><p>o templo (2 Samuel 7), agora ele era duplamente</p><p>desqualificado.</p><p>Mas lemos uma surpreendente história em 2</p><p>Samuel 24. Somos informados de que Deus incitou</p><p>Davi a contar o número de homens aptos para o</p><p>serviço militar em Israel e em Judá. Um</p><p>recenseamento talvez pareça para nós hoje como</p><p>algo prudente a fazer; mas o comandante de Davi,</p><p>Joabe, lhe rogou que não tomasse essa medida. Isso</p><p>é algo admirável, visto que Joabe não era muito</p><p>conhecido como alguém de consciência sensível —</p><p>antes disso, ele havia assassinado seu comandante</p><p>rival, Abner (2 Samuel 3.27), e levado a cabo as</p><p>instruções de Davi, sem questionar, para garantir</p><p>que Urias, marido de Bate-Seba, não voltasse vivo</p><p>da batalha (2 Samuel 11.14-15). No entanto, até</p><p>mesmo Joabe sabia que contar as tropas seria um</p><p>ato impensado de rebelião contra Deus. Os reis de</p><p>Israel deviam confiar em Deus quanto a seu</p><p>livramento das mãos de inimigos e não no número</p><p>de carros e de homens de guerra (veja Salmos 20.7).</p><p>Surpreendentemente, enquanto em 2 Samuel</p><p>somos informados de que Deus incitou Davi a</p><p>contar o número de tropas, na passagem paralela em</p><p>1 Crônicas 21 a culpa por incitar Davi é atribuída a</p><p>Satanás. Qual delas é verdadeira? Na verdade, não</p><p>há contradição aqui, assim como não há no livro de</p><p>Jó. Deus é absolutamente soberano sobre todas as</p><p>coisas, e, portanto, foi ele quem permitiu que</p><p>Satanás se aproximasse de Davi e o tentasse a pecar.</p><p>Davi não podia nem ao menos recusar-se a confiar</p><p>no Senhor sem a permissão expressa do Senhor.</p><p>As consequências do pecado de Davi foram</p><p>desastrosas para Israel. O rei, que devia ter</p><p>protegido seu povo de seus inimigos, se tornou a</p><p>causa de morte e destruição deles. Deus ofereceu a</p><p>Davi uma escolha entre os castigos pelo seu pecado:</p><p>sete anos de fome em sua terra, três meses fugindo</p><p>dos seus inimigos ou três dias de peste na sua terra</p><p>(2 Samuel 24.13). Em resposta, Davi pediu que</p><p>Deus eliminasse da lista a segunda opção — aquela</p><p>que o teria afetado mais diretamente — e escolhesse</p><p>somente entre as duas restantes. Então, Deus</p><p>mandou uma peste sobre seu próprio povo, e Davi</p><p>teve de assistir enquanto setenta mil pessoas</p><p>morriam por causa da transgressão dele. Somos</p><p>informados que Davi ficou em grande angústia (2</p><p>Samuel 24.14). Estou certa de que isso</p><p>foi uma</p><p>afirmação abrandada.</p><p>Então, algo surpreendente aconteceu. O anjo do</p><p>Senhor estava atingindo pessoas na eira de Araúna,</p><p>o jebuseu, que ficava, naquele tempo, do lado de</p><p>fora das muralhas de Jerusalém. “E vendo Davi ao</p><p>Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu</p><p>é que pequei, eu é que procedi perversamente;</p><p>porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua</p><p>mão contra mim e contra a casa de meu pai” (2</p><p>Samuel 24.17). Deus respondeu à oração de Davi, e</p><p>a matança cessou imediatamente. Então, o anjo do</p><p>Senhor disse a Davi que comprasse a eira de Araúna</p><p>e edificasse ali um altar.</p><p>A confissão de Davi é preciosa e comovente,</p><p>especialmente em face de seu passado sórdido.</p><p>Quando pecou com Bate-Seba, Davi se manteve frio</p><p>e impenitente, até que Natã, o profeta, foi até ele e</p><p>explicou o que tinha feito. Desta vez, o coração de</p><p>Davi o convenceu antes que ele se encontrasse com</p><p>o profeta (2 Samuel 24.10). Davi tinha crescido um</p><p>pouco, e ver isso é encorajador para nós. Mas a</p><p>glória real vem no final da passagem. A terra de</p><p>Araúna, que Davi comprou com a finalidade de</p><p>edificar o altar e oferecer sacrifícios para expiação</p><p>dos seus próprios pecados, seria mais tarde o lugar</p><p>onde Salomão construiria o seu templo. O homem</p><p>proibido de edificar o templo do Senhor por ter</p><p>derramado sangue foi guiado por Deus, por meio de</p><p>sua própria experiência de pecado, a comprar o</p><p>mesmo pedaço de terra em que o templo seria</p><p>construído! Não somente lhe foi dado o incrível</p><p>privilégio de comprar a terra e os bois, mas ele</p><p>oficializou pessoalmente os primeiros sacrifícios</p><p>oferecidos naquele lugar! Apesar de seu pecado ter</p><p>causado um desastre, foi dado a Davi o maravilhoso</p><p>privilégio de fazer a mediação entre Deus e seu</p><p>povo.</p><p>Não sei se Davi sabia as ramificações dos eventos</p><p>daquele dia, mas com certeza esse privilégio foi um</p><p>ato inacreditável da bondade e da misericórdia de</p><p>Deus para com ele, apesar do seu pecado. Não</p><p>sabemos se o coração de Davi foi abalado pela</p><p>chocante natureza do amor e da bondade de Deus</p><p>para com ele, mas nossos corações deveriam ser</p><p>abalados. Isto é uma bondade e um amor</p><p>inacreditáveis.</p><p>A HISTÓRIA DE PEDRO</p><p>O apóstolo Pedro vivenciou muitos momentos de</p><p>humilhação quando seu entusiasmo e seu excesso de</p><p>autoconfiança o levaram a pecar. No monte da</p><p>transfiguração, ao sugerir a tolice de que fossem</p><p>construídas três tendas — uma para Jesus, uma para</p><p>Elias e outra para Moisés —, seu balbucio infantil</p><p>foi silenciado por uma mensagem forte vinda do</p><p>céu: “Este é meu Filho amado... a ele ouvi” (Mateus</p><p>17.5). Era como se Deus estivesse dizendo: “Pare de</p><p>falar, Pedro! Isso não lhe diz respeito, diz respeito a</p><p>Jesus!” Houve outro momento em que Pedro</p><p>sugeriu a Jesus que ir para a cruz não era</p><p>exatamente uma boa ideia. Jesus o chamou de</p><p>“Satanás”, disse-lhe que se retirasse e parasse de</p><p>tentar sabotar a obra trabalho para a qual ele viera</p><p>(Mateus 16.23). Pedro recebeu, em seu tempo,</p><p>algumas repreensões fortes e constrangedoras em</p><p>público e as mereceu!</p><p>No entanto, nada pode ser comparado à ocasião no</p><p>pátio do sumo sacerdote, quando, pressionado pela</p><p>criada, mesmo conhecendo Jesus, Pedro o negou</p><p>(Mateus 26.69-74). Depois, o galo cantou, e Pedro</p><p>irrompeu em lágrimas, certo de que, em seu medo,</p><p>havia cometido um pecado imperdoável ao negar</p><p>Jesus (Mateus 26.75). Como você acha que Pedro</p><p>se sentiu quando se encontrou novamente com o</p><p>Cristo ressurreto, face a face? Com certeza, a</p><p>vergonha que eu senti por cometer um pecado</p><p>sexual foi quase nada comparada ao que Pedro deve</p><p>ter sentido naquele momento. Quando Cristo mais</p><p>precisou, Pedro o rejeitou e o abandonou para sua</p><p>terrível morte.</p><p>Talvez você também conheça esse sentimento forte</p><p>e terrível de imundícia e vergonha quando seu</p><p>pecado é descoberto, em toda a sua feiura, e não há</p><p>nada a dizer, nem lugar algum para onde correr.</p><p>Apesar disso, o glorioso Jesus, a quem Pedro havia</p><p>traído, ressuscitou e esteve em pé diante dele. Quão</p><p>terrível deve ter sido! Pedro deve ter esperado raiva,</p><p>repreensão e até castigo. Mas, em vez disso, Jesus</p><p>fez algo tão inesperadamente amável e generoso,</p><p>que chegou a ser quase insuportável. Levando Pedro</p><p>à parte, Jesus lhe disse: “Pedro, apascenta as minhas</p><p>ovelhas”. Três vezes Jesus perguntou a Pedro se ele</p><p>o amava e lhe repetiu a mesma comissão, como se</p><p>estivesse dando simbolicamente a Pedro a</p><p>oportunidade de desfazer as três negações que ele</p><p>havia feito (João 21.15-17). Quão amável e</p><p>generoso! Pedro não somente foi perdoado e</p><p>recebido de volta na comunidade dos discípulos,</p><p>mas também foi recebido de volta ao coração</p><p>daquele que havia traído. Foi até comissionado de</p><p>novo por aquele que o conhecia totalmente para ser</p><p>um dos apóstolos fundadores sobre os quais a igreja</p><p>seria edificada.</p><p>Certamente, Pedro não era digno de tanta honra.</p><p>Era um covarde, mentiroso e desertor! Mesmo</p><p>depois de Jesus tê-lo restaurado, Pedro lutaria</p><p>novamente contra seu medo de pessoas, quando</p><p>esteve na Galácia, de uma maneira que pareceu</p><p>colocar o evangelho em risco (Gálatas 2.11-14).</p><p>Ainda assim, Jesus não somente reteve o castigo que</p><p>Pedro merecia, mas também o perdoou livremente e</p><p>o encheu de ricas bênçãos e uma missão gloriosa. Se</p><p>isso não faz o seu coração tremer de espanto e</p><p>admiração, o que fará?</p><p>A FORÇA EXPULSIVA DE UMA NOVA</p><p>AFEIÇÃO</p><p>Um pregador do século XVIII, chamado Thomas</p><p>Chalmers, escreveu certa vez um sermão intitulado</p><p>“A força expulsiva de uma nova afeição”.66 Neste</p><p>sermão, ele argumentou que Deus é o agente de</p><p>mudança em nossa vida, e, se ele não agir em nosso</p><p>coração, não desejaremos obedecer-lhe e, ainda que</p><p>desejemos, não seremos capazes de fazê-lo. Deus</p><p>usa muitos meios ou formas de operar mudanças em</p><p>nós. Afinal de contas, o universo todo está à</p><p>disposição dele, e o grande Criador pode ser bem</p><p>criativo em suas maneiras de nos convencer do</p><p>pecado e nos fazer querer obedecer-lhe.</p><p>Certa vez, fui profundamente convencida pelas</p><p>palavras de uma judia ortodoxa, apresentadora de</p><p>entrevistas de rádio, que me persuadiu, por suas</p><p>palavras dirigidas a um ouvinte, de que eu era uma</p><p>nora egoísta. Deus a usou para me motivar a pedir</p><p>perdão à minha sogra pelo meu péssimo</p><p>comportamento. Naquele tempo, não sabia que seria</p><p>a última vez que a veria, pois ela morreu poucos</p><p>anos depois.</p><p>Chalmers escreveu de uma maneira profunda que</p><p>Deus trabalha para nos transformar em melhores</p><p>adoradores. Ele vai direto ao cerne da questão, por</p><p>discutir o papel da idolatria que há em nosso</p><p>coração em moldar os comportamentos que fluem</p><p>de nós. Deus observa que um jovem é geralmente</p><p>cativado pela idolatria do conforto e do prazer e, por</p><p>isso, passa noites pela cidade e dorme em sua cama</p><p>até a tarde do dia seguinte. Esse jovem está perdido</p><p>na adoração do prazer e não vê nenhuma</p><p>necessidade de levantar cedo e trabalhar com</p><p>empenho, pois quer satisfazer a si mesmo. Porém,</p><p>ao amadurecer, outros amores podem cativar seu</p><p>coração. Talvez ele se apaixone por uma mulher,</p><p>então, novas e mais fascinantes idolatrias podem</p><p>achar morada em seu coração. Para ganhar a</p><p>mulher, seu prêmio mais recente, ele mudará</p><p>drasticamente seu comportamento. Ele se vestirá e</p><p>se arrumará melhor, a fim de parecer mais atraente</p><p>para ela. Será mais gentil e educado, mais sociável,</p><p>apresentável e atencioso.</p><p>Se o poder ou o dinheiro forem os ídolos desse</p><p>jovem, talvez um novo trabalho o fará levantar cedo</p><p>e o tirará da cama pela manhã.</p><p>Ele vê o trabalho como um meio de satisfazer seus</p><p>anseios e, de repente, a fim de manter o trabalho e</p><p>obter sucesso, é transformado e torna-se capaz de</p><p>fazer o que na semana anterior era completamente</p><p>incapaz. Assim, as afeições do coração governam o</p><p>comportamento.</p><p>Jesus disse a mesma coisa quando nos ensinou que</p><p>todo nosso comportamento flui do coração (Mateus</p><p>12.34-35); portanto, todas as nossas tentativas de</p><p>mudança devem passar pelo caminho do coração. O</p><p>coração é o centro da adoração e a sede dos desejos,</p><p>e somente Deus pode mudar nosso coração. Alguma</p><p>vez você já tentou mudar seu próprio coração? Já</p><p>tentou se tornar menos irritado, menos amargo, mais</p><p>paciente ou mais bondoso? Não dá muito certo.</p><p>Podemos mudar nosso comportamento exterior por</p><p>breve períodos de tempo, mas só Deus pode mudar</p><p>nosso coração.</p><p>Isso foi verdadeiro também quanto a Israel no</p><p>Antigo Testamento. Sua longa história de pecado</p><p>demonstrou claramente a incapacidade total de</p><p>mudarem a si mesmos e de guardarem a lei de Deus.</p><p>O que eles precisavam para agradar a Deus era nada</p><p>menos que um coração novo. E foi exatamente isso</p><p>o que Deus lhes prometeu dar.</p><p>Então, aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados</p><p>de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos</p><p>vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de</p><p>vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos</p><p>darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e</p><p>farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos</p><p>e os observeis</p><p>Ezequiel 36.25-27</p><p>Chalmers demonstra que a maneira pela qual Deus</p><p>muda nossas afeições e nossa adoração é fazendo</p><p>Cristo ser cada vez mais atraente para nossas almas.</p><p>Ele amolece nosso coração com sua infinita</p><p>paciência, amor e perdão, até que nos tornemos</p><p>pessoas que perdoam os outros prontamente. O</p><p>Espírito Santo nos mostra Cristo em toda a sua</p><p>glória, e com o passar do tempo nos tornamos mais</p><p>cativos dele do que de nossos ídolos tolos e</p><p>incapazes. Quanto mais o contemplamos, tanto mais</p><p>somos transformados à sua imagem, até aquele dia</p><p>maravilhoso em que seremos como ele é, pois o</p><p>veremos face a face (1 Coríntios 13.12).</p><p>A BONDADE TRANSFORMADORA DE DEUS</p><p>O apóstolo Paulo também sabia tudo sobre esse</p><p>tipo de amor insuportável. Ele não era apenas um</p><p>fariseu em sua juventude. Pelo contrário, o seu</p><p>objetivo de vida era extinguir os cristãos do mundo!</p><p>Esteve presente na morte de Estêvão e se mostrou</p><p>determinado a perseguir os seguidores de Jesus</p><p>Cristo (Atos 7.58-8.1). O que estava passando em</p><p>sua mente no dia em que foi lançado ao chão por</p><p>uma luz brilhante e ficou face a face com aquele a</p><p>quem mais odiava? As palavras de Jesus “Saulo,</p><p>Saulo, por que me persegues?” podem não ter soado</p><p>como palavras alegres de boas-vindas, quando a</p><p>cegueira caiu sobre ele e sua vida foi mudada para</p><p>sempre (Atos 9.5-8). A cegueira deve ter parecido</p><p>um castigo apropriado por todas as suas tentativas</p><p>de extinguir a luz do mundo.</p><p>Apesar disso, mais uma vez, nessa grandiosa e</p><p>surpreendente transformação, Paulo não somente foi</p><p>chamado e perdoado por seus crimes atrozes, mas</p><p>também lhe foi dado o privilégio de ver a Cristo face</p><p>a face e de se tornar um dos apóstolos da fé que ele</p><p>perseguira tão vigorosamente. Os seus escritos</p><p>predominam no Novo Testamento e sua alegria no</p><p>evangelho é indiscutível. Ele não conseguia parar de</p><p>pensar no contraste entre o que merecia como</p><p>alguém havia odiado a igreja e o que lhe fora dado</p><p>em Cristo — pensar em como a graça de Deus</p><p>transbordara sobre ele com a fé e o amor que estão</p><p>em Cristo, embora tivesse sido um blasfemador,</p><p>perseguidor e opositor da fé (1 Timóteo 1.12-14).</p><p>Não é surpreendente que Paulo tenha sido um</p><p>homem que possuía grande entusiasmo e força</p><p>diante de todos os tipos de provações e dificuldades</p><p>(2 Coríntios 4.16-18). A gratidão é a motivação mais</p><p>poderosa que existe para a adoração.</p><p>A bondade de Deus é transformadora de vidas.</p><p>Esse foi sempre o seu propósito. Você já foi</p><p>transformado por um momento como esse? Não é</p><p>necessário que você tenha cometido um pecado</p><p>grosseiro e visível para saber exatamente o que é</p><p>sentir-se assim. Newton comenta que Deus faz, de</p><p>alguns dos seus filhos, exemplos e alertas para</p><p>outros, deixando-os cair em graves pecados</p><p>públicos.67 Para outros, seus piores pecados serão</p><p>conhecidos somente por Deus e por eles mesmos,</p><p>mas seu próprio coração testemunhará as trágicas</p><p>profundezas de sua depravação. Às vezes, o Espírito</p><p>Santo encherá você com tão profundo senso de</p><p>convicção de pecado interior – até de um “pequeno”</p><p>pecado – que você começará a perceber quão</p><p>terrível é essa ofensa diante de um Deus tão santo e</p><p>amável. Tudo se torna muito pessoal, fazendo-o ver</p><p>claramente como odiou e ofendeu Aquele que o</p><p>criou e o redimiu, e você se sente destroçado por</p><p>duas coisas: “a maravilha do amor redentor e sua</p><p>indignidade”.68</p><p>Há alguns meses, recebi um telefonema</p><p>interessante de meu filho mais novo, Wayne. Nós o</p><p>conhecemos quando era um aluno na faculdade</p><p>onde meu esposo ensina, e nos últimos seis anos ele</p><p>se tornou o nosso bem-amado, quase adotado filho.</p><p>É um rapaz admiravelmente talentoso, que</p><p>desenvolveu pelos escritos de Newton um amor que</p><p>chega a ser quase tão profundo quanto o meu.</p><p>Wayne foi realmente a pessoa que Deus usou para</p><p>me convencer a escrever este livro. Ele estava me</p><p>telefonando para dizer que tinha acabado de receber</p><p>uma promoção no trabalho. Essa foi uma notícia</p><p>maravilhosa e festejei com ele. Contudo, o que</p><p>ainda mais me cativou foi o que ele me disse em</p><p>seguida. Wayne é um rapaz que deseja sinceramente</p><p>crescer e mudar, mas que, às vezes, se sente</p><p>desencorajado por seu próprio pecado. Ele me disse</p><p>que teve uma semana péssima no departamento da</p><p>santificação. Apesar de seus desejos sinceros de não</p><p>pecar mais, havia cometido muitos pecados e estava</p><p>sentindo o peso disso. Foi então que ganhou o</p><p>aumento. Ele se admirou com o fato de que Deus</p><p>planejou esse presente para ele após uma péssima</p><p>semana de fracasso e não depois de uma boa</p><p>semana de obediência. Concluiu que Deus foi</p><p>amável em fazer isso, pois ele é propenso a pensar</p><p>que deve receber o favor de Deus por obediência e</p><p>que Deus fica com raiva quando ele peca. Desta</p><p>maneira, Wayne não poderia se confundir ou se</p><p>sentir merecedor daquilo. Por seu próprio prazer e</p><p>para alegria de seu filho redimido, Deus havia dado</p><p>gratuitamente este presente a Wayne quando ele se</p><p>sentia fraco e pecador. Quanta bondade de nosso Pai</p><p>celestial em harmonizar tão cuidadosamente suas</p><p>provisões com as nossas necessidades!</p><p>A ATITUDE DE GRATIDÃO</p><p>Acho que se existe uma palavra que descreve esta</p><p>poderosa transformação, essa palavra é gratidão.</p><p>Gratidão é uma emoção forte e poderosa que acalma</p><p>o espírito e restaura a ordem no universo. Para ser</p><p>grato, é claro, você precisa primeiro ser necessitado</p><p>ou querer muito alguma coisa. Se você acha que</p><p>merece, seja lá o que for que você queira, não ficará</p><p>agradecido quando o receber; em vez disso, se</p><p>sentirá ressarcido ou remunerado por seu esforço.</p><p>Raramente nos sentimos agradecidos quando nosso</p><p>chefe deposita na nossa conta do banco o valor</p><p>combinado de nosso pagamento. Nós nos sentimos</p><p>em nosso direito. Se você quer realmente algo que</p><p>não tem condições de ter e alguém lhe dá, sua</p><p>gratidão é real. Mas, se a coisa que você quer e</p><p>deseja for o contrário do que merece e você estiver</p><p>tremendamente desesperado para obtê-la? E se, de</p><p>fato, quanto mais você tenta obter, tanto mais</p><p>distante ela fica de você? Qual é a sensação de</p><p>merecer amargura, desprezo e ódio e, em vez disso,</p><p>receber aceitação e amor avassalador?</p><p>Em Lucas 7, lemos sobre uma mulher que foi</p><p>verdadeiramente agradecida. De fato, ela se sentiu</p><p>tão agradecida a Jesus e tão envolvida no amor e</p><p>louvor a ele, que se comportou de maneira estranha</p><p>e até constrangedora. Afinal de contas, ela era uma</p><p>prostituta. E nesta passagem nós a vemos ungindo</p><p>os pés de Jesus com um perfume caro, enquanto</p><p>chorava copiosamente e com seus cabelos enxugava</p><p>os pés dele (Lucas 7.38). Nenhuma mulher</p><p>respeitável jamais agiria assim em público.</p><p>Quando os fariseus, presunçosos e justos a seus</p><p>próprios olhos, julgaram tanto ela quanto Jesus por</p><p>este insulto, Jesus respondeu por contar uma história</p><p>de perdão. Pensar em a nossa dívida em termos</p><p>financeiros parece deixar tudo mais claro. Fica óbvio</p><p>para todos nós que, em referência a dívidas</p><p>perdoadas, quanto mais dinheiro alguém deve, tanto</p><p>mais agradecido ele fica quando a dívida é</p><p>completamente perdoada. Jesus disse que aquela</p><p>mulher o amava muito porque muito lhe fora</p><p>perdoado (Lucas 7.41-48). Como Newton escreveu</p><p>à senhorita Medhurst:</p><p>Se obediência for o que está em questão, olhar para Jesus é o</p><p>objeto que funde a alma em amor</p><p>e gratidão! Aqueles que</p><p>amam abundantemente e são profusamente agradecidos</p><p>acham a obediência fácil. Quando Jesus está em nossos</p><p>pensamentos – ou em sua humilhação, ou em sua condição</p><p>exaltada; ou sangrando na cruz, ou sendo adorado por todas</p><p>as hostes celestiais –, podemos fazer a pergunta do apóstolo</p><p>com desdém apropriado: “Permaneceremos no pecado para</p><p>que a graça seja mais abundante? De modo nenhum!” O</p><p>quê? Pecarei contra meu Senhor, meu amado, meu amigo —</p><p>aquele que morreu por meus pecados e agora vive e reina</p><p>em meu favor! O quê? Pecaria contra meu Redentor, que me</p><p>sustenta, me guia, me conduz e me alimenta todos os dias?</p><p>De modo nenhum!69</p><p>Eis a nossa conclusão em palavras simples: nunca</p><p>devemos pecar para que a graça seja mais</p><p>abundante; porém, sempre que pecamos, a graça é</p><p>superabundante. É surpreendente e impressionante</p><p>pensarmos que o Deus contra quem pecamos tão</p><p>fácil e frequentemente usa esse mesmo pecado para</p><p>nos abençoar e revelar seu coração amoroso e</p><p>perdoador a pecadores detestáveis. Isso é o que é tão</p><p>admirável a respeito da graça!</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. De que maneiras você colheu o que plantou</p><p>nesta vida? Como tem colhido o que não plantou,</p><p>tanto positiva como negativamente?</p><p>2. Quais são as grandes transformações de sua</p><p>história? Descreva aquelas ocasiões em que pecou e</p><p>sabia que merecia ser exposto e castigado, mas, em</p><p>vez disso, Deus o cobriu de bênçãos e amor. Como</p><p>você se sentiu?</p><p>3. De que maneiras você tem tentado mudar seu</p><p>comportamento exterior? De que maneiras tem</p><p>procurado mudar seu próprio coração? Quão bem-</p><p>sucedido você tem sido?</p><p>4. Como você tem experimentado o poder</p><p>transformador de Deus de dentro para fora? Quais</p><p>os sentimentos e pensamentos que o levaram a</p><p>mudar e crescer?</p><p>5. Você sente muitas vezes imensa gratidão a</p><p>Deus? Por quê?</p><p>6. Quais são algumas das histórias de sua vida que</p><p>resultaram em sentimentos de profunda gratidão?</p><p>Como a gratidão tende a impulsioná-lo a agir?</p><p>7. Você tende a se sentir culpado por falta de</p><p>gratidão a Deus? Qual é o remédio para isso?</p><p>63. John Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 13.</p><p>64. Ver Confissão de Fé de Westminster, 5.5.</p><p>65. Ver John Newton, Life and Spirituality, The Life and</p><p>Spirituality of John Newton (Vancouver: Regent College</p><p>Publishing, 2003), 38-55.</p><p>66. Thomas Chalmers, “The Expulsive Power of a New Affection”,</p><p>Sermons and Discourses (New York: Robert Carter & Brothers,</p><p>1877), 2.271-77.</p><p>67. Newton, “Grace in the Ear”, Select Letters of John Newton, 11.</p><p>68. Elizabeth Clephane, “Beneath the Cross of Jesus”, 1872.</p><p>69. Newton, “Letter 1 to Miss M____”, The Works of John Newton,</p><p>vol. 6 (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 1985), 6.</p><p>capítulo doze</p><p>as jubilosas implicações da</p><p>maravilhosa graça</p><p>Embora o pecado guerreie, jamais reinará;</p><p>embora ele quebre a nossa paz, não nos separará</p><p>do amor de Deus. — John Newton70</p><p>Recentemente, uma amiga minha foi à sua primeira</p><p>sessão de aconselhamento bíblico. Ela sentou-se e,</p><p>com um suspiro, começou a explicar ao conselheiro</p><p>como havia sido a sua semana. Estivera lutando com</p><p>uma culpa significativa a respeito de seus desejos</p><p>pecaminosos e de sua fraqueza e incapacidade de</p><p>mudar ou mesmo de querer mudar. Porém, alguns</p><p>dias atrás, Deus a abençoou com uma rica e</p><p>profunda sensação de necessidade de descansar seu</p><p>espírito na obra consumada de Cristo e desistir de</p><p>suas tentativas frenéticas de se esforçar bastante para</p><p>fazer melhor.</p><p>O conselheiro sorriu para ela e disse: “Ah! não vou</p><p>deixar você escapar desta facilmente!” É sério? Eu</p><p>teria elogiado a garota e até preparado uma festa</p><p>para celebrar a bondade de Deus para com ela e a</p><p>obra poderosa do Espírito Santo no coração dela!</p><p>Eu a convenceria de que os anjos no céu estariam</p><p>vibrando e desejando entender a graça maravilhosa e</p><p>impressionante de Deus para com uma pecadora</p><p>como ela. Por que fazemos isso uns com os outros?</p><p>Por que temos tanto medo da graça?</p><p>Existem poderosas implicações da mensagem do</p><p>evangelho a respeito das quais raramente falamos ou</p><p>ouvimos. Elas são como uma fonte de conforto, paz</p><p>e alegria inimagináveis, mas hesitamos em</p><p>mencioná-las, bem como não nos alegramos nem</p><p>temos prazer nelas. Ficamos aterrorizados com o</p><p>fato de que muita graça seja equivalente à libertação</p><p>de esforços humanos e que essa liberdade conduza,</p><p>invariavelmente, à libertinagem, a um viver</p><p>licencioso e a uma perda de interesse em buscar a</p><p>santidade. Estas são coisas importantes para</p><p>pensarmos a respeito, mas não deveriam nos privar</p><p>de imergir nos dons que nos foram dados em Cristo.</p><p>O medo não é uma bom fundamento para conselhos</p><p>espirituais. De fato, nosso medo pode nos afastar da</p><p>única verdade que é o mais poderoso motivador de</p><p>mudança que Deus nos deu. E se eu disser que ser</p><p>lembrados de que você não precisa mudar para</p><p>receber o favor de Deus libera tanta alegria e senso</p><p>de segurança em sua alma, que a mudança se torna</p><p>a coisa que você mais deseja, apenas devido a</p><p>gratidão por tão fascinante aceitação e amor? Se isso</p><p>é verdade, então, impedir as pessoas de se dirigirem</p><p>a tão grande alívio e alegria pode ser um obstáculo</p><p>enorme no caminhos delas rumo à santidade.</p><p>SEUS PECADOS SÃO FINITOS EM NÚMERO</p><p>E FORAM TOTALMENTE PAGOS</p><p>No círculo religioso que também chamo de lar,</p><p>amamos conversar a respeito das “doutrinas da</p><p>graça”. Amamos particularmente as últimas palavras</p><p>de Jesus na cruz: “Está consumado!” (João 19.30).</p><p>Essas duas palavras que saíram dos lábios de nosso</p><p>Salvador, na hora de sua morte, nos garantem que</p><p>sua obra redentora foi completada na cruz. Todos os</p><p>pecados de seu povo, desde a criação até à</p><p>eternidade, foram totalmente pagos naquele</p><p>momento inclusivo, grandioso e único de expiação</p><p>sacrificial. Essa doutrina é muito mais do que um</p><p>conceito teológico sofisticado para ser admirado ou</p><p>discutido. É uma verdade fascinante e</p><p>transformadora que se conecta diretamente a cada</p><p>momento de nossa vida. Ela deveria embasar, com</p><p>grande relevância, toda discussão que temos sobre</p><p>mudanças. Há verdades surpreendentes que</p><p>devemos apreciar aqui — verdades nas quais os</p><p>cristãos raramente se regozijam, mesmo em meus</p><p>círculos teológicos favoritos.</p><p>A primeira é verdade o fato de que, se estamos</p><p>unidos com Cristo hoje, o número de pecados que</p><p>cometeremos ao longo da vida é finito e já foram</p><p>pagos por completo, antes mesmo de sairmos do</p><p>útero de nossa mãe. Muitos de nós têm se</p><p>emocionado com as palavras do hino “Sou feliz com</p><p>Jesus”, que é bastante conhecido. A terceira estrofe</p><p>diz:</p><p>Meu pecado – oh! bendito e glorioso pensamento!</p><p>Meu pecado, não em parte, mas no todo,</p><p>Está cravado na cruz, e eu não o carrego mais.</p><p>Louva o Senhor, louva o Senhor, ó minh’alma.71</p><p>Pare por um instante e envolva-se com esse</p><p>pensamento. Você conhece a felicidade plena desta</p><p>verdade? Ela se apossa regularmente de seu coração,</p><p>trazendo doce paz e alegria, especialmente quando</p><p>você está lutando contra um pecado? Sua alma foi</p><p>comprada antes mesmo de você ser concebido. Seus</p><p>pecados podem lhe parecer incontáveis e</p><p>desencorajadores, mas eram todos conhecidos, um a</p><p>um, por Deus, antes de você existir. Cada um deles</p><p>foi pago individualmente antes de você pensar nele</p><p>ou querer cometê-lo. Os pecados que você ainda</p><p>não cometeu já foram cancelados, expiados e pagos</p><p>por completo. Jesus pagou por todos eles!</p><p>Esta é uma notícia extraordinariamente boa, em</p><p>especial quando o Espírito Santo começa a lhe</p><p>mostrar quanto você peca mesmo em seus melhores</p><p>momentos. Isso acontece porque, mesmo quando</p><p>somos crentes, a inclinação natural de nosso coração</p><p>é contrária a Deus, e o pecado permanece como o</p><p>contexto permanente para o nosso crescimento em</p><p>obediência. Com disse Robert Robinson, somos</p><p>todos propensos a vaguear, propensos a abandonar o</p><p>Deus que amamos.72</p><p>Contudo, não temos de agonizar por causa de todo</p><p>e qualquer pecado, como se cada nova transgressão</p><p>cravasse um novo prego nas mãos do nosso</p><p>Salvador. Está consumado! A sua obra foi</p><p>completada quando ele entregou seu espírito e foi</p><p>aceito por Deus</p><p>como a nossa morte. Cada pecado</p><p>de cada um dos filhos de Deus foi expiado naquele</p><p>instante. E, quando o Pai ressuscitou o Filho, ele o</p><p>fez como demonstração irrefutável de que o</p><p>pagamento foi por completo.</p><p>Essa realidade livra você da necessidade mórbida</p><p>de afundar-se em tristeza e sofrimento por causa de</p><p>seu pecado. Jesus não está sofrendo diariamente por</p><p>seus pecados. Ele está sentado triunfante à direita de</p><p>Deus e garantiu a você uma vitória final e decisiva.</p><p>Se lamentar constantemente o seu pecado o</p><p>ajudasse, de algum modo, a expiá-lo, isso seria um</p><p>ato nobre. No entanto, visto que não há nada a ser</p><p>acrescentado à sua salvação, e sua agonia não</p><p>contribui nada para a salvação ou para a</p><p>santificação, você está livre para seguir pela vida</p><p>com confiança em seu perdão. Tristeza piedosa em</p><p>relação ao pecado não leva à autocondenação e a</p><p>tentativas de expiar seus pecados por meio de atos</p><p>de penitência. Tristeza piedosa leva ao</p><p>arrependimento, que, por sua vez, nos leva à cruz.</p><p>Ali, vemos, outra vez, a magnífica suficiência de</p><p>nosso maravilhoso Salvador. Tristeza piedosa nos</p><p>conduz a uma grande festa, outra celebração</p><p>gloriosa da verdade do evangelho.</p><p>Enquanto esperava a decisão da P&R quanto a me</p><p>oferecer ou não um contrato referente a este livro,</p><p>pude compreender, de uma nova maneira, a</p><p>realidade constante de meu próprio pecado.</p><p>Enquanto decidia como orar e qual seria a coisa</p><p>certa a pedir a Deus nesta situação, deparei-me com</p><p>um dilema. Tentando ser reverente, pensei que</p><p>talvez devesse começar pedindo a Deus um</p><p>desfecho que me levasse a pecar menos. Eu sabia</p><p>que a rejeição faria com que me sentisse furiosa,</p><p>ressentida, temerosa e deprimida. E, visto que o</p><p>contrato era o que eu realmente queria, orei muitas</p><p>vezes para que a P&R pensasse favoravelmente</p><p>sobre a minha proposta, e o conselho votasse em</p><p>favor da publicação do livro.</p><p>Este pensamento levou a outro. Como eu me</p><p>sentiria se a resposta fosse “sim”? Bem, exultante e</p><p>alegre, é claro! No entanto, só porque estes são</p><p>sentimentos positivos, não significa que não são</p><p>pecaminosos. Eu sabia que sentiria alegria, porque</p><p>ansiava por glória e notoriedade: eu realmente quero</p><p>ser alguém. Comecei a perceber que uma resposta</p><p>positiva à minha oração me conduziria,</p><p>inevitavelmente, a um caminho de pecado, assim</p><p>como uma resposta negativa o faria. Eu sou</p><p>pecadora e pecaria de qualquer maneira. Haveria</p><p>pecados de raiva e desespero, se eu ficasse</p><p>desapontada, e pecados de orgulho, impulsividade,</p><p>medo e defesa, se eu conseguisse o que queria. Isto</p><p>é o que significa estar ligada à carne pecaminosa</p><p>enquanto eu viver neste corpo: pecarei</p><p>independentemente do caminho pelo qual Deus me</p><p>conduza.</p><p>Isso poderia facilmente ser um dilema paralisante;</p><p>e, às vezes, eu fiquei realmente paralisada apenas</p><p>pela consciência da presença do pecado em todos os</p><p>meus pensamentos e razões. Talvez, pensei, eu</p><p>devesse retirar a proposta completamente. Mas não</p><p>seria apenas procurar um caminho mais fácil?</p><p>Haveria também um milhão de tentações à</p><p>autocompaixão e à autodepreciação, ao longo do</p><p>caminho. Se eu levar meu pecado muito a sério,</p><p>poderei ficar parada em um deserto que é</p><p>completamente focado em mim mesma, numa</p><p>inquietação repleta de medos, egoísmo e de boas</p><p>intenções equivocadas. Não devo querer pecar nem</p><p>planejar pecar. Entretanto, como uma pecadora que</p><p>vive num mundo caído, é inevitável que eu peque</p><p>frequentemente.</p><p>No entanto, existem alternativas à paralisia, e</p><p>pensar mais claramente poderia me levar a um</p><p>caminho totalmente diferente. Se todos os meus</p><p>pecados são conhecidos por Deus e foram pagos por</p><p>Cristo, sou livre para seguir em frente confiando que</p><p>Deus planejou contra quais pecados eu lutarei. Ele já</p><p>sabe como me conduzirá através deles e como os</p><p>usará para me ensinar e me fortalecer. Sou liberta de</p><p>uma inesgotável computação de erros para seguir</p><p>para onde quer que Deus tenha decidido seja o</p><p>próximo ponto para mim, confiante de que sua</p><p>graça é sempre maior do que todo o meu pecado.</p><p>Há uma liberdade em viver a vida com alegria, certa</p><p>de que sou uma pecadora que pecarei tantas vezes</p><p>cada dia que não poderei identificar todos os meus</p><p>pecados, mas também certa de que meu Pai celestial</p><p>é soberano sobre cada um desses pecados e de que</p><p>fui liberta da vasta e enorme punição que cada</p><p>pequeno pecado merece com justiça. Tal liberdade e</p><p>prazer em Deus é impressionante demais para eu</p><p>descrever ou explicar. E me faze querer cair de</p><p>joelhos em adoração, maravilhada pelo fato de ser</p><p>tão bem amada e cuidada pelo meu Criador!</p><p>Há um sentido agradável em que o evangelho nos</p><p>ajuda a não levarmos a nós mesmos muito a sério.</p><p>Embora o pecado seja feio, e nossa insensatez,</p><p>profunda, também somos livres para nos</p><p>admirarmos de nossa tolice e sorrirmos de quão</p><p>ridículos somos muitas vezes. John Newton era um</p><p>homem cheio de humor e inteligência que nunca</p><p>saiu de uma sala sem deixar para trás a rica</p><p>fragrância do evangelho de um modo comovente.</p><p>Você pode obter um vislumbre deste aspecto de</p><p>Newton em uma carta que ele escreveu para</p><p>Thomas Scott, o ministro que assumiu sua igreja</p><p>quando ele se mudou de Olney para Londres:</p><p>Parece que até consigo vê-lo sentado no meu velho canto no</p><p>escritório. Vou avisá-lo de uma coisa. Aquele cômodo —</p><p>(não comece) — costumava ser assombrado. Não posso</p><p>dizer que já vi ou ouvi nada com meus órgãos físicos, mas</p><p>estou certo de que havia espíritos malignos nele e bem perto</p><p>de mim, um espírito de tolice, um espírito de indolência, um</p><p>espírito de descrença e muitos outros — na verdade, o nome</p><p>deles é legião. Mas por que eu deveria dizer que eles estão</p><p>em seu escritório quando me seguiram até Londres e ainda</p><p>me incomodam aqui?73</p><p>SOMOS DECLARADOS</p><p>INOCENTES</p><p>A doutrina de nossa união em Cristo é outra</p><p>verdade que tem implicações que transformam a</p><p>vida. A doutrina da imputação é fabulosa. O fato de</p><p>que nossos pecados foram imputados a Cristo e</p><p>resolvidos por completo na cruz é</p><p>inimaginavelmente maravilhoso. Mas não é o</p><p>suficiente. A imputação é apenas metade do</p><p>evangelho, oferecendo grande conforto em relação</p><p>aos pecados que você já cometeu, mas faz</p><p>deixando-o sentir-se desanimado e desesperançado</p><p>por continuar pecando. Ela quase piora toda a coisa.</p><p>Saber que Jesus desceu do céu para viver na terra e</p><p>sofrer tamanha crueldade em seu lugar é uma carga</p><p>emocional muito pesada para ser levada em face de</p><p>tamanha fraqueza e incapacidade contínua. Os</p><p>verdadeiros crentes devem lutar contra a tristeza</p><p>trágica de que “Foi meu pecado que o colocou lá”,74</p><p>e essas emoções comoventes levam muitas vezes a</p><p>promessas extremas de mudança de vida e</p><p>obediência.</p><p>No entanto, corações tristes e culpados não</p><p>costumam achar a obediência alcançável; de fato,</p><p>eles a acham mais evasiva. Somos pessoas que</p><p>querem se sentir bem, e sentimentos reais de</p><p>verdadeira incapacidade raramente nos levam à</p><p>adoração. Em vez disso, nos levam a idolatrias e</p><p>vícios favoritos, a fim de encontrarmos um pouco de</p><p>conforto antes de iniciar novamente todo o processo</p><p>de culpa. Isto não é a alegria transbordante do</p><p>evangelho de Jesus Cristo.</p><p>A verdade emocionante de nossa vindicação</p><p>espiritual salta, com clareza, das páginas das</p><p>Escrituras, remontando ao livro de Zacarias. Com o</p><p>benefício da retrospectiva no Novo Testamento,</p><p>podemos obter um vislumbre cintilante da direção</p><p>em que a história está seguindo, mesmo nas sombras</p><p>da antiga aliança. Em Zacarias 3, deparamo-nos com</p><p>a cena de um tribunal em que o juiz é o Anjo do</p><p>Senhor, e o promotor é o próprio Satanás. O réu é</p><p>Josué, o sumo sacerdote, mediador entre Deus e seu</p><p>povo, que acabara de retornar do exílio na</p><p>Babilônia. A acusação contra Josué é de que o</p><p>homem que deveria ser justo e limpo está na</p><p>verdade coberto de imundícia.75 O povo de Deus</p><p>está em sérios apuros. Se o sumo sacerdote é uma</p><p>bagunça desastrosa e culpado, como será capaz de</p><p>implorar por misericórdia em nome de seu povo</p><p>extremamente culpado? A culpa de Josué é tão</p><p>evidente que podemos sentir o cheiro dela sobre ele.</p><p>Satanás não precisa dizer nada!</p><p>O veredito é igualmente óbvio: o</p><p>sumo sacerdote é</p><p>claramente culpado das acusações. Josué precisa de</p><p>ajuda e rápido! No entanto, naquele silêncio tenso e</p><p>dramático, palavras de graça e misericórdia</p><p>outorgadoras de vida são proferidas: “Não é este um</p><p>tição tirado do fogo?…Tirai-lhe as vestes sujas... Eis</p><p>que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade e te</p><p>vestirei de finos trajes” (Zacarias 3.2-4).</p><p>Você entendeu isso? Sem que fosse permitido a</p><p>Satanás proferir uma única palavra, o Anjo do</p><p>Senhor falou em favor de Josué. Satanás tinha um</p><p>caso legítimo contra este, mas nem ao menos teve</p><p>um momento para descrever a acusação antes de ser</p><p>totalmente silenciado e Josué, resgatado. Josué não</p><p>foi apenas absolvido por falta de provas claras ou de</p><p>uma acusação incompetente. Não, ele tinha sido</p><p>escolhido para ser salvo e resgatado do fogo, de um</p><p>modo que nunca precisaria enfrentar as</p><p>consequências mortais de seu pecado. Suas vestes</p><p>imundas foram removidas, o que significa a</p><p>remoção de todo o seu pecado e toda a sua culpa.</p><p>Mas a história surpreendente continuou! Josué foi</p><p>vestido de roupas limpas que ele não possuía nem</p><p>merecia.</p><p>Assim como a roupa imunda representava seu</p><p>pecado, a roupa limpa que recebeu representa a</p><p>justiça de Cristo que nos foi dada pela fé. Não</p><p>somente a culpa e o pecado de Josué foram</p><p>removidos, mas também ele foi vestido com as</p><p>roupas perfeitas e impecáveis de uma bondade</p><p>ganhas para ele por outro. Com esse acontecimento,</p><p>a história passa de maravilhosa para</p><p>espetacularmente feliz. Tullian Tchividjian chama</p><p>isso de “a hilaridade da graça incondicional”.76 É</p><p>inimaginável e além da razão o fato de que Deus</p><p>possa amar dessa maneira pecadores imundos.</p><p>Todos nós somos exatamente como Josué,</p><p>culpados e fedendo uma podridão tão profunda e</p><p>abrangente que ameaça constantemente nos dominar</p><p>e nos enterrar vivos. Não pecamos somente um</p><p>pouco, dia após dia; pecamos constantemente em</p><p>nossos pensamentos, nas coisas que fazemos e nas</p><p>incontáveis coisas que deveríamos fazer mas não</p><p>fazemos. Devemos a Deus amor perfeito,</p><p>obediência e adoração, cada minuto de cada dia. No</p><p>entanto, até o cristão mais maduro é incapaz de</p><p>aproximar-se deste tipo de bondade por um minuto</p><p>sequer de qualquer dia. Nosso problema é</p><p>abrangente e sem esperança, porque precisamos não</p><p>somente de um registro criminal parcialmente limpo,</p><p>precisamos de uma história de perfeita bondade para</p><p>satisfazer às exigências das leis de Deus. Zacarias 3</p><p>nos mostra uma visão da verdade espiritual que</p><p>possuímos em Cristo. Ele pagou o preço por todos</p><p>os nossos pecados, ao morrer na cruz, e agora nos</p><p>envolve a cada momento com toda a sua justiça, que</p><p>nos foi dada. Ele é tudo que precisamos, não apenas</p><p>para a nossa salvação, mas também para todos os</p><p>dias de nossa vida.</p><p>Então, o que isso significa para você e para mim</p><p>dia após dia? Significa que, embora pequemos a</p><p>cada momento, ao mesmo tempo possuímos em</p><p>Cristo toda a perfeição que precisamos para agradar</p><p>a Deus. Jesus teve sucesso em todas as maneiras em</p><p>que fracassamos. E, embora fiquemos</p><p>tremendamente aquém da obediência que</p><p>precisamos e desejamos, ele obedeceu em nosso</p><p>lugar e nos deu sua bondade para substituir nossa</p><p>maldade. No final de um dia em que posso olhar</p><p>para trás e ver os muitos momentos específicos em</p><p>que pequei por fraqueza ou por rebelião intencional,</p><p>também posso ver Jesus obedecendo por mim e me</p><p>dando sua justiça perfeita em cada uma dessas áreas</p><p>específicas. Não há outra maneira de sobreviver ao</p><p>meu fracasso. Eu fui resgatada, os meus pecados</p><p>foram pagos decisivamente na cruz, e agora Deus</p><p>me vê como vê o seu próprio Filho, como alguém</p><p>que cumpriu a lei perfeitamente. Essa não é uma</p><p>graça extravagante e prazerosa?</p><p>Desfrute essa verdade doutrinária. Mergulhe nela.</p><p>Delicie-se e deleite-se nela. É maravilhosa demais</p><p>para ser acreditada, mas é absolutamente verdadeira.</p><p>Vou avisá-lo de que é improvável que você pense</p><p>nisso com tanta frequência quando está firme e forte</p><p>na fé. Você não pensará que precisa dela nesses</p><p>momentos. Quando estiver severamente</p><p>desencorajado pelo seu pecado e pela falta de</p><p>crescimento, pense nos acontecimentos daquele dia</p><p>e lembre-se dos pecados que cometeu. Confesse-os</p><p>a Deus e peça-lhe o maravilhoso dom do</p><p>arrependimento e da fé. Em seguida, celebre.</p><p>Embora cada um desses pecados seja digno de</p><p>morte, você ainda está vivo! Deus não o destruiu.</p><p>Em vez disso, ele esmagou o Filho em seu lugar.</p><p>Você ainda está aqui, ainda é bem-vindo e querido</p><p>por seu pai, apesar de todo o seu pecado. Você está</p><p>seguro, e ele está preparando um lugar para você ao</p><p>lado dele, para toda a eternidade.</p><p>Às vezes, quando você olha para a história da vida</p><p>de Jesus, pode vê-lo ou ouvi-lo obedecendo em seu</p><p>lugar. Por exemplo, eu tenho problemas alimentares.</p><p>Uso a comida para me sedar pecaminosamente e</p><p>anestesiar meus sentimentos dolorosos e raivosos.</p><p>Apesar de já ter crescido substancialmente nessa</p><p>área, ainda sou uma glutona e propensa a me</p><p>medicar com alimentos. Hoje comi muitas coisas de</p><p>maneira pecaminosa — duas tigelas de cereal,</p><p>quando uma seria suficiente; uma enorme barra de</p><p>chocolate Cadbury; um lanche que eu não precisava;</p><p>e a lista não termina. Tenho vergonha de mim</p><p>mesma, e, como resultado, sinto-me horrível,</p><p>inclinada a ser má com as pessoas ao meu redor e a</p><p>comer ainda mais! Mas a verdade da bondade de</p><p>Cristo que me foi dada tem poder real para me</p><p>salvar em meio aos meus vergonhosos sentimentos</p><p>de fracasso. Cristo foi um exemplo de perfeição à</p><p>mesa, e essa perfeição é minha. Ele nunca usou</p><p>comida pecaminosamente, mesmo quando Satanás</p><p>tentou induzi-lo a transformar pedras em pães</p><p>(Mateus 4:3-4.). Ele comia em casamentos e jejuava</p><p>em oração, agradecendo a seu Pai pela boa comida</p><p>que lhe fora dada. Agora, hoje, a sua obediência</p><p>substituiu o meu pecado, e eu permaneço diante de</p><p>Deus limpa e pura. Como nenhuma outra, esta</p><p>doutrina tem o poder de transformar a vergonha e o</p><p>fracasso em adoração. Não há nada parecido com</p><p>isso.</p><p>A GENEROSA PACIÊNCIA DE DEUS</p><p>Todos nós amamos a história do filho pródigo ou</p><p>mais precisamente, como está na Bíblia, a Parábola</p><p>dos Dois Filhos (Lucas 15:11-32). Ficamos</p><p>admirados e impressionados com o pai amoroso que</p><p>espera o retorno de seu filho e corre para saudá-lo,</p><p>exalando perdão por todos os poros, quando, na</p><p>verdade, ele tinha todo o direito de estar com raiva.</p><p>Ficamos ainda mais admirados quando entendemos</p><p>que é uma história sobre Deus e sobre nós. Somos</p><p>os filhos, por vezes arrogantes, orgulhosos e cheios</p><p>de obediência egoísta, destroçados pela extensão de</p><p>nosso próprio pecado e rebelião (Isaías 1:2-9). Sim,</p><p>nosso Pai celestial sempre recebe de volta os</p><p>pródigos em sua casa, vez após vez.</p><p>No entanto, há um aspecto notável da história que</p><p>jamais ouvi alguém comentar. Como o filho foi</p><p>capaz de fugir e ser tão mau? Foi o pai quem lhe</p><p>deu o dinheiro, em primeiro lugar! Essa é uma</p><p>verdade surpreendente por muitos motivos! Dada a</p><p>natureza da cultura em que a história se passou, a</p><p>resposta do pai à exigência ousada e arrogante do</p><p>filho, de vender a herança da família, é totalmente</p><p>inesperada. No entanto, sou fascinada com o fato de</p><p>que o pai ao filho o que lhe pertencia por direito,</p><p>sabendo muito bem que ele usaria o dinheiro para o</p><p>pecado!</p><p>Há muitos pecados que o filho não poderia</p><p>cometer se não tivesse os recursos. Ele não teria sido</p><p>capaz de viajar para um país distante ou, muito</p><p>menos, de se envolver em abuso de álcool,</p><p>comilança e prostitutas. No entanto, na parábola, o</p><p>pai permite, de certo modo, que o filho persiga os</p><p>seus pecados.</p><p>Precisamos ter cuidado em aplicar esse</p><p>discernimento ao nosso relacionamento com Deus,</p><p>mas as semelhanças são inegáveis. Sabemos que</p><p>Deus é santo e despreza todos esses pecados, mas,</p><p>apesar disso, como o pai na história, ele nos dá os</p><p>meios que nós, seus filhos e filhas, usaremos para</p><p>pecar! Certamente, se Deus, o Pai, estivesse</p><p>determinado a manter o número total de nossos</p><p>pecados tão baixo quanto possível, uma maneira de</p><p>fazer isso seria restringir os meios para nosso</p><p>pecado. Contudo, não é isso o que o bom pai faz na</p><p>história ou em nossas vidas. Deus nunca tenta</p><p>ninguém a pecar, mas nos entrega ao pecado</p><p>repetidas vezes. De fato, visto que somos</p><p>dependemos dele para tudo, até para respirarmos,</p><p>podemos dizer que é ele quem provê os meios pelos</p><p>quais cairemos. O que vemos retratado nessa</p><p>parábola e em nossa própria vida é Deus usando o</p><p>que ele odeia para obter o que ama.</p><p>Pense no bom fruto que resultou da atitude do pai</p><p>em dar ao filho os recursos necessários para que ele</p><p>vivesse suas ambições pecaminosas. Se o filho mais</p><p>novo tivesse sido forçado a ficar em casa por falta</p><p>de recursos, seu comportamento exterior poderia ter</p><p>sido contido, mas seu coração não teria mudado. Ele</p><p>teria se tornado mais irritado e amargo, convencido</p><p>de que seu pai era na verdade um obstáculo entre ele</p><p>e a chance de aproveitar a vida. Ao liberá-lo para</p><p>seguir seus desejos pecaminosos, o pai o colocou,</p><p>paradoxalmente, no caminho que o libertaria do</p><p>poder do pecado, quando percebesse seu vazio e os</p><p>resultados amargos. Deste modo, o filho mais novo</p><p>aprenderia que aquele que é muito perdoado</p><p>certamente amará muito. Em última análise, a</p><p>grandeza de seu pecado serviu para amolecer seu</p><p>coração endurecido e exaltar o caráter paciente e</p><p>amoroso de seu pai.</p><p>Enquanto isso, o irmão mais velho, cujos elevados</p><p>padrões morais o mantiveram longe das aventuras</p><p>devassas de seu irmão, nunca aprendeu essa</p><p>verdade. Sua obediência procedia exatamente do</p><p>mesmo tipo de coração endurecido e amargo que</p><p>seu irmão manifestara e o convencia de que seu pai</p><p>era o principal obstáculo entre ele e sua felicidade</p><p>(cf. v. 29). No entanto, seu egoísmo o cegou em</p><p>relação a seu próprio coração, endurecido e</p><p>arrogante. Aqui há uma advertência séria para os</p><p>cristãos mais fervorosos: em toda a nossa</p><p>obediência, podemos pecar mais profundamente do</p><p>que os outros fazem em sua rebelião e ser os únicos</p><p>que perdem a festa da graça, porque não queremos</p><p>participar dela se os “pecadores” estiverem</p><p>presentes.</p><p>Talvez haja aqui uma lição para pais cristãos, que</p><p>também lutam com filhos rebeldes. Às vezes, em</p><p>nosso desejo de proteger nossos filhos do pecado,</p><p>nós os impedimos de entender a depravação de seu</p><p>coração. Podemos ensinar-lhes sobre isso e citar</p><p>versículos bíblicos relevantes, mas a teoria é</p><p>diferente da prática. Talvez eles precisem ver a</p><p>depravação profunda que se esconde em sua própria</p><p>alma para, assim, valorizarem profundamente a</p><p>salvação.</p><p>Como o pai na parábola, talvez seja necessário que</p><p>os deixemos partir e se voltarem a seu próprio</p><p>pecado por algum tempo, para que também</p><p>descubram sua grande necessidade do Salvador. Isto</p><p>parece ser um pensamento horrível para nós, pois</p><p>sabemos que eles podem se ferir gravemente, ferir</p><p>outros e a nossa reputação. Os nossos receios não</p><p>são infundados. O pecado leva à morte, e nossos</p><p>filhos podem causar danos graves e críticos a si</p><p>mesmos e a outros ao seu redor. Podem até gerar</p><p>filhos que levarão as marcas de seu pecado por toda</p><p>a vida. Mas, assim como Deus era soberano sobre</p><p>os pecados dos dois irmãos, assim também podemos</p><p>confiar que a proteção de Deus está ao redor de</p><p>nossos filhos. Ele definirá limites para a</p><p>desobediência e os limites para o mal que nossos</p><p>filhos podem praticar, bem como andará com eles</p><p>para protegê-los ao longo do caminho. Eles não</p><p>podem pecar fora da vontade de Deus, que</p><p>certamente caminhará com eles e conosco através</p><p>dos vales de morte que ele nos chama a atravessar,</p><p>orientando e confortando todos nós ao longo do</p><p>caminho. Deus prometeu usar todas as coisas para o</p><p>bem deles, para o nosso bem e para a sua própria</p><p>glória. E podemos nos agarrar a essa promessa,</p><p>mesmo quando a vida de nossos filhos parece fora</p><p>de controle.</p><p>O PRAZER PERMANENTE</p><p>DE DEUS</p><p>Muitas das pessoas que eu aconselho querem</p><p>saber, desesperadamente, como Deus se sente em</p><p>relação a elas quando pecam. Geralmente, elas</p><p>presumem que Deus fica satisfeito quando</p><p>obedecem e desejariam poder viver mais de acordo</p><p>com o padrão do irmão mais velho. No entanto,</p><p>quando a obediência exterior parece estar além do</p><p>alcance delas, convencem-se de que devem passar a</p><p>maior parte do tempo sob o justo desprazer de</p><p>Deus. Se você está muito consciente de seu pecado</p><p>e acha que Deus fica bravo toda vez que você peca,</p><p>então, a vida se torna verdadeiramente miserável. Eu</p><p>me sensibilizo com a tristeza destas pessoas. Visto</p><p>que também peco constantemente com meu coração</p><p>explodindo muitas vezes ao longo de cada dia, se a</p><p>maneira de pensar delas estivesse correta, eu seria</p><p>condenada a uma vida de depressão. Esta</p><p>perspectiva está expressa claramente no hino</p><p>“Confiar e Obedecer”.77</p><p>Quando andamos com o Senhor à luz de sua</p><p>Palavra,</p><p>Que glória ele derrama em nosso caminho!</p><p>Enquanto fazemos sua boa vontade, ele permanece</p><p>conosco</p><p>E com todos que confiarão e obedecerão.</p><p>Confiar e obedecer, pois não há outro meio</p><p>De ser feliz em Jesus, senão confiar e obedecer.</p><p>Mas nunca podemos provar as delícias do seu</p><p>amor</p><p>Até que sobre o altar tudo coloquemos;</p><p>Pois o favor que ele mostra, e a alegria que outorga</p><p>É para aqueles que confiarão e obedecerão.</p><p>Canções como esta ecoam certas ideias</p><p>profundamente em nossa alma torturada pela lei.</p><p>Esta canção foi escrita provavelmente para ser um</p><p>belo hino sobre as alegrias da obediência a Deus —</p><p>e a obediência é, de fato, uma coisa cheia de alegria</p><p>quando flui de um coração repleto de gratidão.</p><p>Todavia, é verdade que Jesus derrama sua glória em</p><p>nosso caminho somente quando caminhamos com</p><p>ele? Deus permanece conosco somente se fizermos</p><p>sua boa vontade? Certamente somos chamados a</p><p>caminhar com Cristo (Colossenses 2:6) e a</p><p>permanecer nele (João 15:4), mas a boa notícia do</p><p>evangelho está no fato de que, mesmo quando</p><p>somos infiéis, ele é fiel (2 Timóteo 2:13).</p><p>Em razão dessa fidelidade ao infiel, o Senhor</p><p>derrama sua glória em nosso caminho, mesmo</p><p>quando estamos fugindo dele. Assim como o profeta</p><p>Jonas, é uma glória descobrir-se perseguido</p><p>inescapavelmente pelo Deus amoroso do céu e da</p><p>terra. Ele ainda permanece conosco e jamais nos</p><p>abandonará, estejamos fazendo a sua boa vontade</p><p>ou não, como descobriu o salmista (Salmos 139:8-</p><p>12). Se não há, realmente, nenhuma outro meio de</p><p>alguém ser feliz em Jesus, exceto confiar e</p><p>obedecer, então, eu também posso desistir de toda</p><p>esperança de alegria agora, porque, apesar de meus</p><p>melhores esforços, há muitos momentos, cada dia,</p><p>em que eu não estou confiando ou obedecendo,</p><p>mesmo quando minha vida parece muito limpa do</p><p>lado de fora. Jamais poderemos provar as delícias</p><p>do amor de Cristo enquanto não colocarmos tudo</p><p>sobre o altar? Não podemos dizer que as delícias do</p><p>amor de Cristo são ainda mais evidentes quando</p><p>pecamos contra ele e que jamais poderão nos</p><p>separar do amor de Deus? De qualquer modo, em</p><p>toda a história da humanidade, quem já chegou</p><p>perto de colocar tudo no altar? Mesmo os maiores</p><p>heróis da Bíblia não o fizeram, e eu estou longe de</p><p>estar na categoria deles.</p><p>Há esperança para pessoas como eu, que olham</p><p>para o próprio coração e veem que são pessoas que,</p><p>muitas vezes, não conseguem confiar e,</p><p>frequentemente, nem querem obedecer? Se o favor</p><p>que ele mostra e a alegria que dá são apenas para</p><p>aqueles que confiam e obedecem, então, a minha</p><p>vida será constituída de miséria e frustração,</p><p>enquanto eu continuar tentando e não conseguindo</p><p>colocar tudo sobre o altar. Se esse é o único meio</p><p>para eu ser feliz em Jesus, terei de me dispor a ser</p><p>infeliz em Jesus até que eu morra ou ele venha para</p><p>mim.</p><p>No entanto, o evangelho me fala de maneira</p><p>diferente a respeito de ser feliz em Jesus — uma</p><p>maneira que se fundamenta no que realmente</p><p>significa estar em Jesus e que, portanto, traz alegria</p><p>e paz aos pecadores mais profundamente falhos em</p><p>meio a seu fracasso. Não importando a nossa atual</p><p>situação no departamento de obediência, há grande</p><p>alegria e prazer a serem encontrados no fato de que</p><p>Jesus confiou e obedeceu em nosso lugar; agora, a</p><p>confiança e a obediência dele são creditadas</p><p>perfeitamente a nós, a cada momento de cada dia.</p><p>Estar em Cristo significa que, sempre que o Pai olha</p><p>para nós,</p><p>ministros evangélicos, dentro e fora</p><p>da Igreja da Inglaterra, Newton foi aceito como</p><p>ministro de uma igreja local e, posteriormente,</p><p>tornou-se vigário na igreja de Olney, onde serviu por</p><p>vários anos antes de se mudar para Londres. Ficou</p><p>conhecido por seu coração de pastor e sua enorme</p><p>habilidade em aconselhar um grande número de</p><p>pessoas que vinham até ele — ou escreviam para ele</p><p>— em busca de conselhos. Ao longo de anos</p><p>ministrando pessoas em diversas fases da vida,</p><p>Newton se tornou um especialista em “anatomia da</p><p>alma”, desenvolvendo um interesse e um gosto</p><p>particular em estudar a obra progressiva do</p><p>crescimento espiritual dos crentes, aquilo que os</p><p>teólogos chamam de “santificação”. Newton foi</p><p>cativado pelo que Deus ensina a seus filhos por meio</p><p>do complexo processo de amadurecimento de</p><p>pecadores pela graça, do momento da salvação em</p><p>diante.</p><p>Livros excelentes foram escritos sobre o tema da</p><p>santificação, mas, ainda assim, o trabalho de</p><p>Newton se destaca dos demais por um simples e</p><p>(para nós) chocante motivo: John Newton era</p><p>transparente sobre o fato de ainda ser um miserável</p><p>pecador, mesmo anos depois de tornar-se um</p><p>cristão. Muitos crentes estão dispostos e ansiosos</p><p>para falar a respeito de quão grandes pecadores</p><p>eram antes da conversão, mas poucos nos convidam</p><p>a adentrar seus corações para vermos quão grandes</p><p>pecadores eles ainda são hoje. Isso é muito</p><p>arriscado. As pessoas poderão olhar para você com</p><p>recriminação e rejeitá-lo caso você faça isso. Elas</p><p>talvez não venham mais à sua igreja nem ouçam</p><p>seus sermões. Elas podem destruir sua reputação e</p><p>fofocar a seu respeito. Esses perigos são de fato</p><p>reais. Entretanto, Newton tinha tamanha confiança</p><p>no amor de Deus para com ele e um amor tão</p><p>grande por aqueles que aconselhava, que se recusou</p><p>a participar dessa conspiração silenciosa. Ele não</p><p>permitia que outros crentes tivessem pensamentos a</p><p>seu respeito mais elevados do que deveriam ter.</p><p>Por seu tremendo conhecimento da Escritura, sua</p><p>vasta experiência pessoal como pecador e seu</p><p>ministério como pastor de pecadores, John Newton</p><p>percebeu que Deus planeja coisas específicas para o</p><p>coração daqueles que ele salva. Se você tivesse que</p><p>perguntar aos cristãos ao redor do mundo o que</p><p>Deus quer daqueles a quem salvou, a maioria</p><p>provavelmente responderia “obediência”. Há muita</p><p>verdade nessa resposta, porém isso não é tudo. Se o</p><p>objetivo principal do Deus soberano na santificação</p><p>dos crentes é simplesmente nos tornar mais santos, é</p><p>difícil explicar por que a maioria de nós experimenta</p><p>apenas “pequenos começos” na estrada da santidade</p><p>pessoal ao longo da vida, conforme descreve o</p><p>catecismo de Heidelberg (ver Catecismo de</p><p>Heidelberg - Pergunta 113). Na verdade, Deus quer</p><p>algo muito mais precioso em nossas vidas do que a</p><p>mera conformidade exterior à sua vontade. Afinal de</p><p>contas, obediência é uma questão confusa para nós e</p><p>pode até mesmo ser traiçoeira. Podemos ser</p><p>obedientes por fora e, ao mesmo tempo, pecar</p><p>loucamente por dentro, como nos ensina, de forma</p><p>clara, o exemplo dos fariseus. Mais do que isso,</p><p>posso dizer que muitos dos meus piores pecados</p><p>ocorreram no contexto de minhas melhores</p><p>obediências. Antes da noite em que Heather prestou</p><p>seu testemunho à igreja, eu via minha relação com</p><p>ela como a de um discipulador amável para com seu</p><p>novo convertido. Muito do meu comportamento</p><p>para com Heather era exatamente conforme deveria</p><p>ser. Entretanto, eu também era um fariseu julgador e</p><p>hipócrita, que ansiava por reconhecimento por tudo</p><p>que fazia. Minha obediência exterior realmente se</p><p>tornou a moldura e o contexto para meu pecado</p><p>interior.</p><p>Da mesma maneira, quando testemunhamos para</p><p>descrentes, estamos obedecendo a Deus. Se ficamos</p><p>cheios de orgulho ao fazê-lo, desprezando aqueles</p><p>que encontram dificuldade em fazê-lo e não o</p><p>fazem, podemos estar pecando mesmo quando</p><p>estamos obedecendo. Se pensarmos que aquele que</p><p>rejeita o evangelho o faz porque é menos inteligente</p><p>ou moralmente inferior a nós, pecamos. Se ficarmos</p><p>com o crédito pela nova vida de fé que só Deus</p><p>pode dar, pecamos. Portanto, nós cristãos nos</p><p>encontramos em uma situação delicada e muito</p><p>perturbadora: quanto mais bem sucedidos somos em</p><p>obedecer a Deus, tão mais frequentemente ouvimos</p><p>aquele sussurro de autopromoção e superioridade.</p><p>Não conseguimos fugir disso. Se isso se aplica a nós</p><p>como verdade até em nossos melhores momentos,</p><p>que esperança há para nós na corrida em direção à</p><p>verdadeira santidade que nos transforma de dentro</p><p>para fora?</p><p>John Newton nos ensina, porém, que o objetivo de</p><p>Deus em nossa santificação não se trata</p><p>simplesmente de uma melhor obediência e redução</p><p>de pecados. Ele observa que, se Deus quisesse fazer</p><p>isso, poderia nos fazer instantaneamente perfeitos no</p><p>momento de nossa salvação. Afinal, sabemos que</p><p>Deus nos fará instantaneamente perfeitos quando</p><p>morrermos ou quando ele voltar; e, já que todas as</p><p>coisas são igualmente fáceis para o Deus todo</p><p>poderoso, ele poderia prontamente nos santificar</p><p>completamente no momento em que somos salvos.</p><p>Sejamos honestos: se a principal obra do Espírito</p><p>Santo na santificação é tornar os cristãos cada vez</p><p>mais livres do pecado, então, ele não está fazendo</p><p>um bom trabalho. A igreja ao longo do tempo e por</p><p>todo o mundo não tem sido muito conhecida por sua</p><p>pureza e bondade. Em vez disso, ela é combalida</p><p>por uma história constante de contenda, violência e</p><p>hipocrisia. As pessoas não conseguem diferenciar</p><p>um crente de um descrente por sua bondade</p><p>aparente. Na verdade, há muitos descrentes que são</p><p>superiores moralmente em relação aos cristãos, e</p><p>vivem vidas de muito mais nobreza, generosidade e</p><p>propósito do que nós que professamos a fé em</p><p>Cristo.</p><p>Deus poderia nos ter salvado e nos feito perfeitos</p><p>instantaneamente. Em vez disso, ele escolheu nos</p><p>salvar, deixando um pecado remanescente, em</p><p>nossas vidas e corpos, que trava guerra contra os</p><p>nossos novos desejos de agradar a Deus, os quais</p><p>florescem com a salvação. Essa é uma batalha</p><p>acirrada que frequentemente perdemos e que quase</p><p>sempre nos faz sentir derrotados e sem alegria em</p><p>nossa caminhada com Deus. Contudo, Newton</p><p>também destaca que, uma vez que sabemos que</p><p>Deus faz tudo visando à sua própria glória e ao bem</p><p>de seu povo, sua decisão de deixar os cristãos</p><p>viverem com muitas lutas contra o pecado deve, de</p><p>alguma forma, servir igualmente para glorificá-lo e</p><p>beneficiar seu povo. Essa é uma notícia chocante,</p><p>não é?</p><p>Pense no que isso significa. Deus pensa que você</p><p>de fato o conhecerá e o amará melhor na condição</p><p>de pecador, desesperado e fraco, em contínua</p><p>necessidade da graça, do que você o faria como um</p><p>guerreiro cristão triunfante que ganha toda e</p><p>qualquer batalha contra o pecado. Isso dá sentido à</p><p>nossa experiência como cristãos. Se a obra do</p><p>Espírito Santo é nos tornar mais humildes e</p><p>dependentes de Cristo, mais gratos por seu sacrifício</p><p>e mais dispostos a adorá-lo como um Salvador</p><p>maravilhoso, ele deve estar fazendo um trabalho</p><p>muito, muito bom, embora você ainda peque dia</p><p>após dia.</p><p>POR QUE ISSO IMPORTA</p><p>Que diferença faz se você acredita que os cristãos</p><p>devem caminhar de força em força e viver vidas</p><p>vitoriosas de obediência ou se você acredita que os</p><p>cristãos permanecerão na terra em um estado de</p><p>grande fraqueza e total dependência de Deus em</p><p>cada bom pensamento que tiverem? Isso faz toda a</p><p>diferença do mundo. Aquilo que você acredita sobre</p><p>si mesmo e sobre Deus é imensamente importante.</p><p>É importante que você tenha uma avaliação</p><p>verdadeira e exata de quem você é como crente</p><p>diante de Deus, o que Deus espera de você, e o que</p><p>você deveria esperar de si mesmo. É muito</p><p>importante que você compreenda o que o Espírito</p><p>Santo está fazendo em sua vida e de que forma ele</p><p>faz a sua obra. Jesus nos convidou a viver uma vida</p><p>de alegria e descanso, ao mesmo tempo que</p><p>seguimos o árduo trabalho de lutar para obedecer a</p><p>Deus e crescer em santidade (Mateus 11.28-30).</p><p>Conheço muitos cristãos que estão se esforçando</p><p>tremendamente para se tornarem santos, mas são</p><p>poucos os que conseguem equilibrar, ao mesmo</p><p>tempo, esse trabalho árduo com o descanso</p><p>ele nos vê envolvidos na justiça de seu</p><p>Filho e se deleita com isso.</p><p>Como Deus se sente a respeito de seu próprio</p><p>Filho? Comecei a entender um pouco do amor de</p><p>Deus por seu filho quando segurei meu próprio</p><p>primogênito em meus braços. Os sentimentos que</p><p>encheram a minha alma e ameaçavam explodir em</p><p>todo o meu redor não eram simplesmente um afeto</p><p>carinhoso. Eu amava aquela criatura com todo o</p><p>meu corpo, alma, coração e mente e sabia que daria</p><p>minha vida por ele num piscar de olhos. O</p><p>nascimento de Jamie me ensinou sobre o amor de</p><p>Deus por seu Filho e, por conseguinte, sobre como</p><p>Deus se sente em relação a mim, como alguém que</p><p>agora está em seu Filho. Não foi o fato de que Jamie</p><p>era um bebê adorável, sereno e agradável que</p><p>ganhou meu coração. Nem mesmo seus grandes</p><p>olhos azuis ou seu sorriso cativante. Foi o fato de</p><p>que ele era meu. Sentime desta maneira e continuo a</p><p>me sentir em relação a todos os meus filhos —</p><p>incluindo o mais velho e “quase adotado” filho —</p><p>porque eles pertencem a mim. Se eu, que sou uma</p><p>mãe pecaminosa e caída, posso amar desta maneira,</p><p>quanto amor deve ter Deus, o Pai perfeito, para com</p><p>todos aqueles a quem ele escolheu e adotou em sua</p><p>família? Esse é um amor tão poderoso que desafia</p><p>toda a lógica humana, um amor que iria a distâncias</p><p>insondáveis para resgatar, proteger e defender seus</p><p>amados. Isto é exatamente o que Deus fez: ele foi a</p><p>distâncias inimagináveis a fim de nos ter para si. Isto</p><p>é amor insuportável, incompreensível e</p><p>transformador de vidas.</p><p>Deus não é mutável ou excêntrico. Ele não nos diz</p><p>em um momento que estamos vestidos da bondade</p><p>de seu Filho e profusos de seu amor, somente para,</p><p>toda vez que cairmos, seu sorriso ser substituído por</p><p>um rosto zangado. Deus não pode ficar irado</p><p>conosco. Sua ira foi satisfeita em seu Filho, em</p><p>nosso lugar, e somos informados de que agora não</p><p>há nenhuma condenação; portanto, nenhuma gota</p><p>da ira de Deus restou para nós (Romanos 8:1). Ele</p><p>também resolveu que agora devemos andar na terra</p><p>como pessoas fracas e pecaminosas. Por isso é</p><p>incoerente com a sua natureza pensar que, depois de</p><p>haver ordenado a nossa fraqueza, em seguida ele</p><p>fique com raiva de nós, sempre que caímos.</p><p>A Bíblia usa a expressão “entristecer o Espírito</p><p>Santo” para descrever como Deus se sente sobre nós</p><p>em nosso pecado (Efésios 4:30). Mais uma vez, a</p><p>parábola do filho pródigo pode esclarecer esta</p><p>linguagem. Apesar de bons pais humanos poderem</p><p>se irritar quando seus filhos se rebelam</p><p>deliberadamente, o pai referido na parábola não é</p><p>descrito nem mesmo com uma pitada de raiva. Pelo</p><p>contrário, há tristeza e saudade, conjugados com</p><p>uma alegria imensa quando o filho é visto ao longe</p><p>(Lucas 15:20-24). Não somente não há raiva da</p><p>parte do pai, como também não há recriminações no</p><p>retorno do filho. Em vez disso, a raiva e a</p><p>indignação pertencem ao irmão mais velho.</p><p>Esta é mais uma maneira pela qual podemos</p><p>concluir que não somos parecidos com Deus.</p><p>Aconselhei pais cristãos amorosos que se achavam</p><p>em tal situação, e, na condição de pecadores, era</p><p>quase impossível eles ignorarem a raiva e a</p><p>indignação para com o comportamento de seus</p><p>filhos. Entendo esse sentimento, porque ficaria com</p><p>raiva também. Mas neste aspecto, Deus não é como</p><p>nós.</p><p>De modo semelhante, em Hebreus 12:5-11 lemos</p><p>que Deus disciplina os filhos que ama, e isto é uma</p><p>bênção preciosa. No entanto, nosso coração</p><p>esmagado pela lei associa rapidamente a disciplina a</p><p>desprazer e raiva. Na realidade, Deus sente tristeza</p><p>singular pela dor que teremos de suportar na hora da</p><p>disciplina. Quando deixamos nossa filha Hannah</p><p>cair da escada, não apreciamos aquilo, nem</p><p>tínhamos qualquer vingança em mente. Não</p><p>estávamos com raiva ou descontentes com ela,</p><p>embora sua persistência pudesse ser irritante!</p><p>Apenas reconhecemos que ela precisava aprender</p><p>algo importante e que uma pequena dose de dor</p><p>seria a mais rápida e melhor maneira de ela aprender</p><p>algo que a protegeria de um dano maior. Nós nos</p><p>afastamos, por mais difícil que tenha sido para nós,</p><p>e corremos para consolá-la quando ela caiu.</p><p>Assim também, quando lemos que nosso pecado</p><p>pode entristecer o Espírito Santo, muitos cristãos</p><p>presumem imediatamente que a dor equivale a raiva.</p><p>Mas a dor é diferente da raiva. Deus é</p><p>profundamente compassivo conosco em nossa</p><p>fraqueza e se lembra de que somos feitos do pó.</p><p>Somos os únicos que continuam a esquecer essa</p><p>verdade. Assim como vemos Jesus sofrer por causa</p><p>do pecado durante seu ministério terreno, o Pai</p><p>também sofre por nós e conosco, mesmo quando</p><p>nos conduz a experiências dolorosas. Mas, neste</p><p>caso, ele não está nos punindo por causa de nosso</p><p>pecado, nem está com raiva de nós. Interpretar o</p><p>coração de Deus como sendo irritado,</p><p>decepcionado, impaciente ou exasperado com seus</p><p>filhos redimidos significa não compreender</p><p>profundamente seu caráter. Em vez disso, ele está</p><p>nos treinando em justiça e nos fazendo crescer nele</p><p>mesmo.</p><p>Deus não está no céu imaginando como nos</p><p>comportaremos e como reagiremos à tentação. Ele</p><p>está governando todas as circunstâncias para o nosso</p><p>crescimento e benefício. Quando nos entrega ao</p><p>nosso próprio pecado, para que vejamos a grande</p><p>necessidade que temos de nosso Senhor, Deus está</p><p>nos treinando em humildade e dependência. Isto é a</p><p>mão amorosa de nosso Pai celestial, infinitamente</p><p>paciente, que nos conduz calmamente pelos</p><p>caminhos que determinou para nós. Ele odeia o</p><p>pecado e sofre com a tristeza que causamos a nós</p><p>mesmos, mas não fica perturbado, irritado,</p><p>descontente, surpreso ou exasperado conosco. Por</p><p>que não? Porque Jesus obedeceu perfeitamente por</p><p>nós e, agora, estamos escondidos, envoltos e ocultos</p><p>nas vetes luxuosas de sua perfeição.</p><p>O Pai pode sentir qualquer dessas emoções</p><p>negativas em relação a seu Filho, Jesus Cristo? É</p><p>claro que não! E, já que estamos unidos a seu Filho,</p><p>Deus pensa em nós do mesmo modo como que</p><p>pensa sobre ele — mesmo quando pecamos. Esse</p><p>amor surpreendente pode mudar nossas vidas e nos</p><p>dar uma alegria profunda e duradoura em meio a</p><p>nossa fraqueza e pecado contínuos. E mais, em</p><p>lugar de induzi-lo a aprofundar-se no pecado,</p><p>conhecer este tipo de amor fará você querer</p><p>obedecer cada vez mais a seu Pai celestial.</p><p>AS VANTAGENS DO PECADO</p><p>REMANESCENTE</p><p>Magnificar a glória de Deus</p><p>Newton afirma categoricamente que nem o nosso</p><p>estado de segurança como crentes, nem a honra e a</p><p>glória da reputação de Deus são diminuídos pelo</p><p>pecado remanescente nos cristãos, visto que eles são</p><p>ensinados a combatê-lo.78 As implicações desta</p><p>afirmação nos fazem refletir de muitas maneiras.</p><p>Deus não vinculou sua própria glória ao nosso</p><p>desempenho e sim ao desempenho de seu Filho</p><p>amado. O acordo feito dentro da Trindade, antes</p><p>dos tempos eternos, visava revelar a glória da</p><p>Divindade, e ao homem nunca foi dado o poder de</p><p>diminuir essa glória com seu pecado. Pelo contrário,</p><p>a pecaminosidade implacável do homem só poderia</p><p>ampliar o imenso, maravilhoso, determinado e</p><p>inabalável amor que Deus fixou em seu povo para</p><p>seu próprio prazer. A glória não foi planejada para</p><p>residir na criatura, e sim, totalmente, na bondade e</p><p>santidade do Criador.</p><p>Embora haja um sentido em que cristãos que usam</p><p>o evangelho como desculpa para desfrutar do</p><p>pecado trazem desonra ao nome do Senhor aqui na</p><p>terra (Romanos 2:23), esse fato não se aplica</p><p>àqueles que odeiam seu pecado e continuam a lutar</p><p>contra ele, dia após dia. Pelo contrário, Newton</p><p>afirma que há uma glória única na luta deles, e cada</p><p>tentativa é preciosa para Deus, independentemente</p><p>do sucesso ou fracasso que ele tenha atribuído a</p><p>isso.79 Deus ensina seu povo a lamentar seu pecado</p><p>e a lutar contra ele. No entanto, eles são chamados a</p><p>fazer isso com a certeza de que, embora o pecado</p><p>guerreie contra os crentes, ele nunca reinará.</p><p>Embora o pecado possa abalar a paz e a alegria</p><p>deles, nunca poderá separá-los de Deus ou arrancá-</p><p>los de seu coração ou de sua mão. Em pouco tempo,</p><p>quando os cristãos estiverem livres da fraqueza por</p><p>meio da morte, eles serão completamente perfeitos.</p><p>As boas razões que Deus tem para nos fazer sentir</p><p>a nossa própria depravação</p><p>prazeroso.</p><p>Se você é um cristão desencorajado, surpreendido</p><p>pelo seu pecado e certo de que Deus está</p><p>decepcionado com você, então precisa da verdade</p><p>da palavra de Deus para libertá-lo dessas voltas de</p><p>montanha-russa emocional de seus sucessos e</p><p>fracassos. Se você é um cristão orgulhoso, que se</p><p>sente melhor do que os outros por causa de seus</p><p>muitos pontos fortes e triunfos, precisa do Espírito</p><p>de Deus para lhe mostrar a verdade sobre seu</p><p>coração e humilhá-lo. Se sua paz agora repousa no</p><p>que você é capaz de fazer, para onde você se voltará</p><p>quando cair e cometer pecados que jamais sonhou</p><p>ser capaz de cometer? Nesse dia, você precisará</p><p>conhecer essa verdade para sobreviver ao seu</p><p>fracasso e se regozijar em meio a ele. Quem quer</p><p>que você seja e qualquer que seja o estado espiritual</p><p>em que se encontre, suplico que jamais desista de</p><p>buscar a sua alegria em Cristo nesta vida. A</p><p>perfeição livre do pecado e a plenitude de paz e</p><p>alegria devem esperar pelo céu, mas a alegria</p><p>abundante em Cristo aqui e agora é seu direito e</p><p>herança, ainda que você peque e fracasse</p><p>miseravelmente em ser um bom cristão.</p><p>John Newton nos mostra através da Escritura que a</p><p>verdadeira santificação significa basicamente crescer</p><p>em humildade, dependência e gratidão. A alegria</p><p>desabrocha em nosso coração, não à medida que</p><p>nos esforçamos mais e mais para crescer, e sim à</p><p>medida que percebemos mais claramente as</p><p>profundezas de nossos pecados e entendemos mais</p><p>plenamente a nossa total impotência. Só então</p><p>tiraremos os nossos olhos de nós mesmos e</p><p>olharemos em direção a Cristo para tudo que</p><p>precisamos na vida e na morte. Só então</p><p>estimaremos verdadeiramente o nosso Salvador e</p><p>acreditaremos que precisamos dele em cada minuto</p><p>de cada dia e que sem ele não conseguimos fazer</p><p>nada (João 15.5).</p><p>Newton também demonstra que Deus tem</p><p>maneiras surpreendentes de livrar seu povo da</p><p>escravidão de suas próprias ações, direcionando-o</p><p>para a alegria e a liberdade de descansar somente em</p><p>Cristo. Se é verdade que “o coração é mais</p><p>enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é</p><p>incurável” (Jeremias 17.9) e que continuaremos</p><p>lutando contra o nosso coração depravado ao longo</p><p>da vida, o nosso pecado mais recorrente pode</p><p>realmente ser o recurso utilizado por Deus para</p><p>glorificar a si mesmo, até quando nos humilha.</p><p>E se Deus escolher glorificar a si mesmo tanto em</p><p>nossos fracassos pecaminosos, suportando-nos</p><p>pacientemente, quanto ele o faz ao demonstrar seu</p><p>poder para nos transformar e fortalecer para a</p><p>obediência? E se o pecado continuar vencendo as</p><p>nossas melhores intenções muitas vezes a cada dia?</p><p>É possível termos alegria profunda mesmo quando</p><p>nos encontramos pecando muito? Investigaremos</p><p>essas importantes questões neste livro, a fim de</p><p>entendermos a nós mesmos e a forma como Deus</p><p>trabalha neste mundo e, individualmente, em nossos</p><p>corações. Iniciaremos essa investigação observando</p><p>os três estágios do crescimento cristão descritos por</p><p>John Newton, e analisando o que Deus faz em cada</p><p>uma das fases e como ele faz isso.</p><p>Apertem os cintos, meus amigos — há muita</p><p>alegria por vir!</p><p>PARA REFLEXÃO</p><p>1. Como você esperava e gostaria que fosse o</p><p>crescimento cristão quando se converteu? Como</p><p>você descreveria a forma como aconteceu o seu</p><p>crescimento?</p><p>2. Em seu interior, você se considera melhor ou</p><p>pior que outros cristãos? Por quê?</p><p>3. Você está chocado com o pecado que percebe</p><p>ainda existir em seu coração e em suas atitudes? Por</p><p>quê?</p><p>4. De que novas maneiras você tem visto padrões</p><p>de pecado que têm, realmente, feito parte da sua</p><p>vida há muito tempo?</p><p>5. Você costuma compartilhar seus fracassos</p><p>pecaminosos com outros crentes ou os esconde e os</p><p>acoberta? Por quê?</p><p>6. Em sua opinião, qual é o objetivo de Deus em</p><p>santificá-lo?</p><p>1. John Newton, “Grace in the Blade” Select Letters of John</p><p>Newton (repr., Edinburgh: Banner of Truth, 2011), 6.</p><p>2. Robert Robinson, “Come Thou Fount of Every Blessing”, 1758.</p><p>capítulo dois</p><p>crianças em Cristo</p><p>“Enquanto ele é dessa maneira novo no</p><p>conhecimento do evangelho... o Senhor se agrada</p><p>em favorecê-lo com graça de modo que ele não</p><p>seja tragado por demasiada aflição.” — John</p><p>Newton3</p><p>John Newton expressava frequentemente uma</p><p>afeição e amor especial por novos crentes em Cristo.</p><p>Observava a paixão e o zelo deles por Deus e</p><p>lembrava-se de sua própria história e dos</p><p>sentimentos mais calorosos que acompanharam os</p><p>primeiros dias de sua caminhada espiritual. Ao</p><p>contrário da maioria de nós, John Newton lembrava-</p><p>se claramente do dia em que o Senhor lhe abrira os</p><p>olhos, presenteando-o com o dom da fé. Ele era um</p><p>jovem marinheiro de apenas vinte e três anos de</p><p>idade, mas já havia experimentado vários anos de</p><p>flagrante rebelião contra Deus. Em sua infância,</p><p>Newton foi criado por uma mãe piedosa, que lhe</p><p>ensinou doutrinas bíblicas, demonstrando um amor</p><p>por Deus genuíno e profundo. Sobre sua mãe, ele</p><p>dizia: “Ela armazenou em minha memória muitos</p><p>valiosos fragmentos, capítulos e porções da</p><p>Escritura, catecismos, hinos e poemas”.4 Entretanto,</p><p>depois que ela morreu, quando ele tinha seis anos de</p><p>idade, Newton foi deixado aos cuidados de seu pai</p><p>que, apesar de lhe ensinar uma boa moral, não deu</p><p>prosseguimento à sua educação cristã. Muitos anos</p><p>se passariam até que Deus tomasse as doutrinas que</p><p>sua mãe lhe tinha ensinado e as gravasse</p><p>profundamente em seu coração.</p><p>Entre a morte de sua mãe e o seu novo nascimento,</p><p>Newton se tornou um marinheiro e um rebelde</p><p>descarado contra Deus. Ele se referia a si mesmo</p><p>como um pecador insensível que se deliciava na</p><p>farra, na blasfêmia e naquilo que ele mesmo</p><p>chamava de “brincadeiras abomináveis”.5 Entregava-</p><p>se a todo tipo de prazeres carnais, com apenas uma</p><p>exceção. Embora se divertisse incitando os outros a</p><p>se embriagarem, ele mesmo não gostava de beber.</p><p>Durante todos esses anos selvagens e libertinos,</p><p>Newton fez várias tentativas de mudança, mas elas</p><p>se concentravam principalmente em esforços</p><p>extremos para controlar seu comportamento</p><p>externo. Chegava a passar horas lendo a Bíblia e</p><p>outros livros religiosos e se abstendo de prazeres</p><p>mundanos. Entretanto, seus esforços para mudar</p><p>nunca duravam muito tempo, e cada tentativa era</p><p>seguida de uma recaída em um pecado ainda mais</p><p>profundo do que o anterior. Às vezes lutava contra o</p><p>desespero e a depressão, e em várias ocasiões ele</p><p>tentou até mesmo tirar a própria vida. Muitos anos</p><p>mais tarde, Newton concluiria que, contra sua</p><p>própria vontade, Deus o poupara e o resgatara</p><p>amorosamente. Ele chegou a descrever a si mesmo</p><p>como um “monumento à graça” e um troféu do</p><p>poder de Deus em mudar corações. Newton estava</p><p>convencido de que uma das razões para Deus tê-lo</p><p>salvado era simplesmente provar que ele podia fazê-</p><p>lo!6</p><p>O dia 21 de março de 1748 era uma data que</p><p>Newton sempre comemorava. Ele escreveu em sua</p><p>autobiografia: “Naquele dia, Deus desceu das alturas</p><p>e me resgatou das águas profundas”.7 Foi o dia em</p><p>que o navio no qual viajava como passageiro</p><p>encontrou segurança, após quatro semanas de</p><p>intensas tempestades correndo risco de morte. Foi</p><p>nesse dia também que seus olhos espirituais foram</p><p>abertos e lhe foi dada fé suficiente para crer que</p><p>Deus poderia amá-lo e salvá-lo. Embora muito</p><p>tempo tivesse que passar até que viesse a se alegrar</p><p>com a certeza de sua salvação, Newton relembrava</p><p>essa época de sua vida com muita emoção.</p><p>Pouco tempo depois, foi concedido a ele um</p><p>enorme desejo de orar, ler as Escrituras e ouvir a</p><p>pregação da Palavra de Deus. Essa é a “graça” ou os</p><p>dons especiais que ele acreditava serem sempre</p><p>dados por Deus aos novos convertidos, a fim de</p><p>encorajá-los a prosseguir. Porque são imaturos e</p><p>temerosos, o Senhor “entre os seus braços recolherá</p><p>os cordeirinhos e os levará no seio” (Isaías 40.11),8</p><p>garantindo-lhes uma medida extra de desejo</p><p>entusiasmado, sucesso na disciplina espiritual e</p><p>proteção contra Satanás. Enquanto Newton crescia</p><p>na graça, tornando-se um habilidoso pastor,</p><p>conselheiro e escritor de hinos, refletiu que, apesar</p><p>de suas muitas fraquezas, a paixão e o zelo dos</p><p>novos convertidos eram atributos que deviam ser</p><p>admirados</p><p>e respeitados.</p><p>CORAÇÃO QUENTE, FÉ FRACA</p><p>Durante seus muitos anos de ministério pastoral,</p><p>Newton percebeu que a vida do novo convertido em</p><p>Cristo é experimentada principalmente no campo</p><p>dos sentimentos, ao invés de se dar no campo do</p><p>conhecimento: sua “fé é fraca, mas seu coração é</p><p>quente”.9 O novo crente tende a se equivocar acerca</p><p>da natureza desses dons que provêm de Deus,</p><p>pensando que são seus. Embora tenham sido dados</p><p>por Deus para o seu conforto, o novo convertido em</p><p>Cristo se acomoda nesses sentimentos iniciais e nos</p><p>sucessos, achando que sempre os terá. Ele acredita</p><p>que é justo e forte porque os tem, mas é propenso a</p><p>se sentir superior aos cristãos que não os têm.</p><p>Newton observou que, à semelhança de a Israel às</p><p>margens do Mar Vermelho, o cristão imaturo acha</p><p>que seus problemas agora se acabaram. A destra</p><p>poderosa do Senhor dividiu o mar para ele e o guiou</p><p>rumo à segurança, e ele presume que será sempre</p><p>assim. Pensa que agora não resta mais nada além de</p><p>caminhar pela vida com a vitoriosa mão de Deus ao</p><p>seu lado e, depois, entrar no céu e viver</p><p>eternamente. Ele não sabe ainda que,</p><p>semelhantemente a Israel, há um enorme deserto</p><p>para atravessar antes de entrar na terra prometida.</p><p>Esse deserto que ele ainda tem de ver e enfrentar</p><p>com propriedade é o deserto de seu próprio coração</p><p>pecaminoso.</p><p>Em todos os seus ensinos acerca do crescimento</p><p>cristão, Newton enfatiza o fato de que não existem</p><p>duas pessoas que tenham exatamente a mesma</p><p>história. O método e os meios específicos do Senhor</p><p>para chamar as almas à fé, bem como a realização</p><p>da subsequente obra da graça em suas vidas, são tão</p><p>variados quanto únicos em cada cristão. No entanto,</p><p>ele argumenta que o conteúdo do que Deus está</p><p>ensinando e o processo pelo qual ele lhes ensina são</p><p>os mesmos para todo cristão. Todos precisamos</p><p>aprender nossa completa dependência em Cristo,</p><p>pois sem ele nada podemos fazer. Mais do que isso,</p><p>Deus nos ensina essa verdade através de</p><p>experiências. Discutiremos mais profundamente</p><p>esses dois tópicos mais tarde. Por enquanto, vamos</p><p>considerar somente o impacto que a inexperiência e</p><p>a falta de conhecimento têm sobre um novo cristão.</p><p>Newton defende que, para se tornar um verdadeiro</p><p>cristão, o indivíduo deve primeiramente entender</p><p>que é um pecador. No entanto, ele não compreende</p><p>isso e nem pode fazê-lo de imediato. A compreensão</p><p>da maldade de seu próprio ser é algo que vem com o</p><p>tempo. Assim, ele acaba por criar uma enorme</p><p>expectativa acerca de si mesmo ao buscar a</p><p>obediência. Para que tenha certeza, às vezes Deus</p><p>dá à pessoa uma graça e uma força extraordinária no</p><p>momento da salvação. Eu sei a respeito de pessoas</p><p>que aceitaram Jesus e, imediatamente, venceram</p><p>vícios como o álcool e o cigarro, o linguajar torpe, a</p><p>promiscuidade sexual e a glutonaria. John Newton</p><p>parou de blasfemar e de usar linguajar chula</p><p>imediatamente após haver sido salvo. Contudo, é</p><p>fácil perceber como tais experiências podem ser</p><p>confusas. Os novos convertidos em Cristo tendem a</p><p>ficar totalmente maravilhados diante de tamanho</p><p>poder e concluem que, se pedirem ou tentarem com</p><p>afinco suficiente, Deus sempre fará algo por eles.</p><p>Mesmo porque, se Deus pôde libertá-los de coisas</p><p>que os aprisionaram por tantos anos, coisas que eles</p><p>haviam tentado vencer em vão muitas vezes, seria</p><p>natural achar que Deus iria continuar</p><p>disponibilizando esse tipo de graça em suas vidas, o</p><p>tempo todo.</p><p>Novos crentes também podem se tornar propensos</p><p>a pensar que tiveram algum tipo participação</p><p>significativa no processo de mudança em suas vidas.</p><p>Talvez raciocinem que Deus lhes deu esse dom</p><p>porque oraram muito, leram a Bíblia ou</p><p>participaram da igreja fielmente. Uma vez que Deus</p><p>odeia o pecado e ensina seus filhos a odiarem-no</p><p>também, eles podem presumir que Deus removerá</p><p>rapidamente o pecado de suas vidas. Tais</p><p>experiências os deixam esperançosos, alegres e</p><p>extremamente confiantes.</p><p>Esses crentes imaturos também podem se tornar</p><p>verdadeiros juízes em relação a outros cristãos.10</p><p>Posto que uma atitude legalista ainda se agarra a eles</p><p>e que ainda não entendem o caráter de Deus, eles</p><p>tendem a repreender e a censurar as pessoas que</p><p>demonstram fraqueza e lutam contra pecados.</p><p>Conheceram a vitória e não conseguem imaginar</p><p>nada diferente, até que Deus, em sua bondade, inicie</p><p>a próxima fase de crescimento na graça em suas</p><p>vidas. Esse crescimento não acontece</p><p>instantaneamente, nem há um prazo preestabelecido</p><p>para cada fase. Na verdade, mesmo pessoas</p><p>maduras em Cristo voltam a esse comportamento</p><p>infantil às vezes.</p><p>Contudo, existe uma progressão geral pela qual o</p><p>Senhor guia seu povo. O zeloso novo convertido um</p><p>dia descobre que seu conforto lhe é subtraído;</p><p>percebe que não tem mais coração para orar, perdeu</p><p>o apetite pela leitura da Palavra e o desejo de</p><p>frequentar a igreja. O pecado que habita o seu</p><p>interior renasce com força renovada, e Satanás tem</p><p>permissão para retornar e tentá-lo com mais fúria e</p><p>vigor. Como resultado, o novo convertido se sente,</p><p>com frequência, desencorajado e abatido, pensando</p><p>que Deus o abandonou e que talvez ele não seja</p><p>realmente um cristão. Algumas pessoas podem</p><p>chamar isso de “recaída”, mas Newton afirma que</p><p>Deus está, na verdade, guiando o cristão adiante em</p><p>sua caminhada com Cristo. Isso acontecerá para o</p><p>seu próprio bem e para a glória de Deus, a fim de</p><p>que esse novo cristão descubra a sua própria</p><p>fraqueza e a necessidade que tem da justiça de</p><p>Cristo. Com amor, Deus esmagará seu crescente</p><p>orgulho espiritual e o guiará a uma compreensão</p><p>mais profunda e rica da aliança da graça.</p><p>Uma vez que a lei de Deus está escrita em seu</p><p>coração, mas o evangelho ainda não penetrou</p><p>profundamente, o novo convertido gravita ao redor</p><p>de textos bíblicos que lhe digam o que fazer, e há</p><p>muitos. Ele ama a Deus, sabe que aqueles que</p><p>amam a Deus lhe obedecem (João 14.15) e deseja</p><p>ansiosamente saber como agradar a Deus com suas</p><p>ações. Ele não conhece os conselhos da Palavra de</p><p>Deus por completo, nem entende que os grandes</p><p>heróis da Escritura foram profundamente</p><p>imperfeitos ao longo de suas vidas. Ele lê sobre as</p><p>fraquezas de Paulo, mas ainda não sabe</p><p>compreendê-las. Semelhante a um bebê que</p><p>engatinha em direção ao mundo para descobrir o</p><p>que pode e o que não pode fazer, o que deve e o</p><p>que não deve fazer, o novo crente começa com</p><p>entusiasmo e otimismo, enquanto lê a Bíblia e</p><p>planeja obedecer a Deus corretamente.</p><p>Outra característica desses novos convertidos é sua</p><p>inclinação a enormes altos e baixos espirituais.</p><p>Aqueles que são crianças em Cristo sentem mais do</p><p>que pensam, e seus sentimentos frequentemente</p><p>dependem do quão bem estão se saindo no campo</p><p>da obediência. O espírito de julgamento com o qual</p><p>avaliam os outros frequentemente remete à maneira</p><p>com a qual avaliam a si mesmos. Quando são bem</p><p>sucedidos em sua disciplina religiosa, acham que</p><p>Deus se alegra neles mais do que quando fracassam.</p><p>Quando começam a vislumbrar a fraqueza em sua</p><p>própria vida, respondem com estratégias elaboradas</p><p>para virar a página e tentar com afinco combater o</p><p>que quer que os esteja afligindo.</p><p>Meu marido pastoreia muitos alunos universitários,</p><p>e, quase toda semana, ouvimos estratégias novas e</p><p>extremistas para o problema do fracasso espiritual.</p><p>Há vigílias de oração que duram a noite toda e uma</p><p>extensa variedade de jejuns de purificação feitas</p><p>para garantir a vitória e o crescimento espiritual. Há</p><p>programas de leitura bíblica, retiros e estudos</p><p>devocionais que promovem a autonegação e uma</p><p>maior disciplina como caminhos para melhor</p><p>obediência. Esses jovens, homens e mulheres,</p><p>desejam se sentir bem consigo mesmos e saber que</p><p>Deus está feliz com eles.</p><p>Sempre chamei Robbie, meu quarto filho, de meu</p><p>garoto raio de sol. Ele nasceu com um cabelinho</p><p>loiro avermelhado, covinhas na bochecha e uma</p><p>afinidade por pessoas. Seu sorriso podia deixá-lo</p><p>boquiaberto. Parecia que toda vez que olhávamos</p><p>para ele, ele sorria radiante, com prazer e pura</p><p>alegria em conectar-se olho no olho com alguém.</p><p>Seu sorriso era irresistível e, como resultado, atraía</p><p>muitos admiradores. Ele nasceu no meio do caos</p><p>da</p><p>implantação de nossa primeira igreja, e foi uma</p><p>bênção porque muitas pessoas fizeram fila para</p><p>segurá-lo e se alegrar com ele aos domingos.</p><p>Rob tornou-se uma criança sensível, que ansiava</p><p>pela aprovação de seus pais. Isso era fantástico, pois</p><p>significava que eu raramente tinha que discipliná-lo.</p><p>Ele era um garotinho que precisava saber que nós o</p><p>amávamos, e as poucas vezes que me lembro de dar</p><p>algumas palmadinhas em seu bumbum pareceram</p><p>terrivelmente dolorosas para ele. Em certa ocasião,</p><p>tive que bater nele e, como eu estava habitualmente</p><p>pressionada pelas demandas e travessuras de quatro</p><p>outras crianças, mandei-o para o quarto para que se</p><p>sentasse em sua cama até que eu pudesse falar com</p><p>ele. Não demorou muito para que eu ouvisse uma</p><p>vozinha comovente, clamando em desespero : “Vou</p><p>me comportar de agora em diante! Vou me</p><p>comportar de agora em diante!” Esse pequeno</p><p>homem queria desesperadamente que fossem</p><p>restabelecidos aqueles sorrisos de aprovação que o</p><p>alegravam tanto, e a solução encontrada por ele foi</p><p>prometer obedecer se eu o deixasse livre de sua cela</p><p>de prisão.</p><p>Os novos convertidos são muito semelhantes a esse</p><p>garotinho, que desejava desesperadamente saber que</p><p>era amado apesar de suas travessuras. Eles ainda não</p><p>conseguem conceber que seu Pai celestial esteja</p><p>sempre satisfeito com eles por causa da obediência</p><p>de Cristo em seu lugar (uma ideia que abordarei</p><p>com maior profundidade no capítulo 12), então</p><p>procuram ansiosamente ganhar a aprovação de Deus</p><p>através de suas próprias ações. Percorrem grandes</p><p>distâncias em busca de um sentimento de segurança</p><p>por saberem que podem agradar a Deus e lhe fazem</p><p>promessas de obediência que nunca serão capazes</p><p>de cumprir. Mas Deus é bondoso demais para deixá-</p><p>los encontrar descanso em seu próprio desempenho</p><p>por muito tempo.</p><p>Em suas reflexões acerca dessa fase inicial do</p><p>crescimento espiritual, John Newton a chama de</p><p>“primavera” do novo convertido, o qual está em</p><p>pleno desabrochar.11 Ele ainda não está dando os</p><p>frutos do outono, como o arrependimento e a</p><p>dependência somente em Deus para a salvação, mas</p><p>está florindo, e esses frutos certamente virão na</p><p>estação devida. Seu conhecimento sobre Deus e</p><p>sobre si mesmo é pequeno, mas está crescendo a</p><p>cada dia. O Senhor está libertando-o lentamente do</p><p>amor ao pecado e levando-o a desejar Jesus Cristo</p><p>acima de tudo. Embora suas emoções estejam sendo</p><p>mantidas cativas pelo seu desempenho espiritual, a</p><p>hora da libertação está próxima. Ele anseia</p><p>corretamente pela alegria em Deus, que está a</p><p>caminho. Através de uma descoberta mais profunda</p><p>do evangelho, ele logo confiará mais plenamente no</p><p>fato de que Deus o aceita e descansará na obra</p><p>consumada de Cristo.</p><p>IMPLICAÇÕES PRÁTICAS</p><p>A análise perspicaz de Newton acerca das</p><p>características do novo convertido é extremante útil.</p><p>Olhar para trás e ver como Deus nos transformou e</p><p>nos firmou na fé pode ser um marco de crescimento</p><p>encorajador. Eu mesma consigo olhar para trás e</p><p>recordar como é estar extremamente confiante e</p><p>presunçosa em relação a meu próprio crescimento</p><p>espiritual. Talvez eu tenha passado mais tempo do</p><p>que a média nessa fase inicial de crescimento! Na</p><p>época do ensino médio, eu testemunhava de forma</p><p>ousada para alunos e professores, sem distinção.</p><p>Achava que Deus ficaria orgulhoso de mim e estava</p><p>determinada a ganhar algumas estrelas para a minha</p><p>coroa. Não consegui levar muitas pessoas a Cristo,</p><p>mas tomei ansiosamente o crédito por aqueles que</p><p>consegui. Eu tinha pouco entendimento e acreditava</p><p>verdadeiramente que persuadir as pessoas a crer</p><p>dependia de mim. Como você talvez possa imaginar,</p><p>isso me levou a um comportamento agressivo,</p><p>detestável e desesperado. Eu levava a mal quando os</p><p>outros rejeitavam o que eu dizia e ficava depressiva</p><p>quando fracassava em minha missão. Achava</p><p>honestamente que era culpa minha o fato de aquelas</p><p>pessoas estarem a caminho do inferno. Tinha certeza</p><p>de que Deus estava profundamente decepcionado</p><p>com os meus fracassos, por isso me esforçava</p><p>muito. Agora consigo olhar para trás e perceber que</p><p>eu não conhecia muito a respeito de Deus ou das</p><p>motivações pecaminosas que tinha para evangelizar.</p><p>Ao longo desse e de muitos outros caminhos rumo</p><p>à obediência, meu humor subia e descia, de acordo</p><p>com os meus sucessos e fracassos. Isso só mudou</p><p>em minha vida no meu primeiro ano de casada,</p><p>quando Deus começou gentilmente a abrir os meus</p><p>olhos. Pode ser emocionante e esperançoso olhar</p><p>muitos anos para trás e ver que Deus trabalhou</p><p>intensamente e que eu não sou mais a mesma</p><p>pessoa.</p><p>Também é muito útil compreendermos em que fase</p><p>outros crentes estão em sua caminhada com o</p><p>Senhor. Quando dou estudos bíblicos para mulheres,</p><p>ministro a todas as faixas etárias. É muito comum</p><p>haver pessoas no grupo confessando suas lutas e</p><p>fraquezas em determinada área e sendo repreendidas</p><p>e criticadas por uma irmã recém-convertida em</p><p>Cristo, que compartilha avidamente três maneiras</p><p>fáceis para superarem seus problemas. O espírito</p><p>legalista de um novo crente é revelado em frases</p><p>como estas: “Se eu consegui perder peso, então</p><p>qualquer um consegue. Apenas faça o que eu fiz!”;</p><p>“Parar de fumar é fácil quando você acredita em</p><p>Deus!”; “Basta pedir a Jesus que o ajude toda vez</p><p>que você sentir raiva, e ele removerá de você esse</p><p>sentimento”. Uma jovem achou que estava me</p><p>ajudando em minha luta contra a obesidade ao dizer:</p><p>“Tudo que eu fiz foi orar toda vez que colocava</p><p>comida em minha boca, e perdi 45 kg! Tenho</p><p>certeza de que isso funcionará com você também, se</p><p>simplesmente se disciplinar a fazer isso”. Ao invés</p><p>de me sentir encorajada, sentia-me mais derrotada</p><p>do que nunca! Sabia que agora teria que dar um</p><p>jeito de me lembrar de orar toda vez que comesse; e</p><p>eu tinha certeza de que não estava preparada para</p><p>fazer isso.</p><p>Respostas simplistas para problemas complexos</p><p>podem ser extremamente desencorajadoras para</p><p>aqueles que estão cansados de lutar e, às vezes,</p><p>completamente irritantes. Por causa disso, às vezes</p><p>tenho sido culpada por desencorajar novos crentes</p><p>ao estourar suas bolhas de sabão e esfregar seus</p><p>narizes na longa e difícil estrada que os aguarda à</p><p>frente, em vez de procurar entender seus corações e</p><p>encorajá-los naquilo que Deus está fazendo em suas</p><p>vidas hoje. Se Deus tem lhes dado sucesso em</p><p>determinada área da vida, isso é algo maravilhoso</p><p>que deve ser celebrado e não escarnecido. Pode ser</p><p>que, em alguns meses ou anos, todo esse conforto</p><p>lhes seja tirado. Se isso acontecer, Deus os</p><p>conduzirá ao longo do caminho, em seu tempo, e ele</p><p>não precisa de mim para menosprezar suas ações do</p><p>presente, a fim de adverti-los sobre o que ele</p><p>provavelmente fará no futuro. O cronograma de</p><p>Deus não me pertence; é melhor do que o meu!</p><p>Compreender a visão de Newton sobre as fases do</p><p>crescimento espiritual me ajudou a ser mais paciente</p><p>com os novos crentes e mais gentil em meu discurso</p><p>com eles.</p><p>Não conseguimos deixar de nos comparar com os</p><p>outros e de comparar os outros entre si.</p><p>Infelizmente, utilizamos com frequência essas</p><p>observações para nos sentir superiores ou inferiores</p><p>às pessoas ao nosso redor. Por isso, deveríamos</p><p>exercer o uso de muita cautela ao avaliarmos a</p><p>maturidade espiritual daqueles que nos rodeiam.</p><p>Podemos usar, e às vezes usamos, essas informações</p><p>para julgar e desprezar os outros ou podemos usar</p><p>tais informações para amá-los e encorajá-los.</p><p>Todavia, as circunstâncias e as influências</p><p>modeladoras que acompanham a profissão de fé de</p><p>um indivíduo têm grande importância no processo</p><p>de seu crescimento espiritual em Cristo. Deus não</p><p>somente determina quem ele atrairá para si, mas</p><p>também governa todas as circunstâncias e situações</p><p>em que chamará cada um, assim como os contextos</p><p>em que irão crescer.</p><p>A HISTÓRIA DE DOIS CRISTÃOS</p><p>Temos visto o controle soberano de Deus</p><p>trabalhando na vida de dois indivíduos que vieram à</p><p>fé por meio de igrejas nas quais trabalhamos. Ginny</p><p>se tornou uma cristã através de nossa primeira igreja</p><p>plantada em uma comunidade pobre no subúrbio de</p><p>Oxford, na Inglaterra. Como a maioria das pessoas a</p><p>quem ministrávamos, Ginny</p><p>era analfabeta</p><p>funcional, desempregada e, antes de nos conhecer,</p><p>nunca havia estado em uma igreja ou tido contato</p><p>significativo com outros cristãos. Morava sozinha</p><p>com suas duas crianças e dependia de assistência</p><p>social para seu sustento, além de ser muito</p><p>introvertida e tímida. Talvez Ginny nunca seja capaz</p><p>de ler a Bíblia por conta própria, ou de estudar</p><p>teologia sozinha, ou de explorar as maravilhosas e</p><p>profundas doutrinas sobre Deus. Contudo, ela é</p><p>certamente um troféu da graça, tão seguramente</p><p>salva quanto o mais entendido pastor ou teólogo.</p><p>Embora Ginny possa viver muitos anos como crente</p><p>e, ainda assim, permanecer imatura na fé, ela é um</p><p>farol reluzente, brilhando intensamente em um</p><p>mundo de trevas, proclamando veementemente o</p><p>poder de Deus para salvar e preservar todos aqueles</p><p>a quem ele escolheu por meio de diversas</p><p>circunstâncias de vida.</p><p>Outros vêm à fé cercados por muitas das mais ricas</p><p>bênçãos que há na vida. Há alguns meses, um jovem</p><p>rapaz começou a participar dos cultos de nossa</p><p>igreja porque estava apaixonado por nossa filha.</p><p>Assim que ela retribuiu seus sentimentos,</p><p>presumimos que seu interesse em estar conosco aos</p><p>domingos era mais romântico do que espiritual.</p><p>Todavia, sempre orávamos por ele e o</p><p>observávamos atentamente. Este jovem admirável</p><p>era academicamente brilhante e altamente motivado</p><p>pela busca do sucesso. Era um dos primeiros da</p><p>turma e planejava estudar engenharia química em</p><p>uma grande faculdade. Ele era bonito, articulado,</p><p>cativante e muito talentoso em diversas áreas.</p><p>Quando começou a frequentar a nossa igreja,</p><p>deparou-se com uma congregação repleta de jovens</p><p>universitários inteligentes, os quais estavam cheios</p><p>de desejo de conhecer e servir a Deus. Eram como</p><p>modelos a serem seguidos. A maioria dos pregadores</p><p>a quem ele ouvia eram pastores e professores de</p><p>estudos bíblicos e teológicos, todos altamente</p><p>instruídos e extremamente capacitados em explicar e</p><p>aplicar a Palavra de Deus. Conforme o</p><p>observávamos a cada semana, pudemos notar que</p><p>ele cantava com entusiasmo e estava profundamente</p><p>tocado pela confissão de pecado e a certeza do</p><p>perdão em cada culto.</p><p>Após alguns meses, nossa filha e esse jovem</p><p>perderam o interesse um pelo outro, e ficamos</p><p>temerosos de que ele fosse se afastar completamente</p><p>e de que nunca mais o veríamos. Porém, ele</p><p>retornava semana após semana. Lia sua Bíblia com</p><p>voracidade e devorava qualquer livro que meu</p><p>marido recomendasse. Ele nos questionava em suas</p><p>dúvidas e refletia profundamente sobre as nossas</p><p>respostas. Não demorou muito para ele fazer uma</p><p>clara e vibrante profissão de fé em Jesus Cristo, e no</p><p>domingo de páscoa daquele ano, foi batizado, se</p><p>uniu à igreja e participou da ceia pela primeira vez.</p><p>Lágrimas de admiração e gratidão corriam pelo meu</p><p>rosto, enquanto meu filho lhe entregava os</p><p>elementos da ceia, dizendo alegremente: “Chris, o</p><p>corpo de Cristo foi partido por você; o sangue de</p><p>Cristo foi derramado por você”.</p><p>Agora imagine como deve ser o crescimento na</p><p>graça desse jovem, se comparado ao de nossa amiga</p><p>na Inglaterra. Ele é instruído, cheio de dons e não</p><p>somente é capaz de ler, mas ama ler mais do que</p><p>quase qualquer outra coisa. Ele tem fácil acesso a</p><p>pregações inteligíveis e participa fielmente de um</p><p>ministério cristão no campus de sua universidade.</p><p>Como resultado, é provável que ele cresça mais</p><p>rapidamente na fé, progrida mais em maturidade e</p><p>que, ainda jovem, ultrapasse meus amigos menos</p><p>privilegiados que já conhecem Cristo há mais tempo.</p><p>A educação jamais garantirá piedade, contudo, é</p><p>certamente um recurso maravilhoso para aqueles nos</p><p>quais o Espírito está aprofundando o conhecimento</p><p>de Deus e o entendimento de sua Palavra.</p><p>Ao mesmo tempo, Newton explica que todo crente</p><p>é igualmente dependente do Espírito Santo para o</p><p>entendimento e o crescimento espiritual. E mais, o</p><p>Espírito Santo não faz sempre as mesmas coisas, na</p><p>mesma ordem, na vida de todos os cristãos. Os</p><p>cristãos crescem espiritualmente em ritmos</p><p>diferentes e em áreas distintas, mesmo que venham</p><p>de experiências parecidas e ouçam exatamente os</p><p>mesmos sermões. O Espírito Santo está trabalhando</p><p>à sua vontade perfeita na santificação de cada um de</p><p>nós; e isso nem sempre acontece da maneira que</p><p>achamos deveria acontecer.</p><p>Qual é a história da sua salvação? Nossas histórias</p><p>são tão diversas e únicas quanto nós. Alguns de nós</p><p>foram criados em lares cristãos, recebendo os</p><p>ensinamentos da Bíblia desde os primeiros dias de</p><p>vida. Eu aceitei Jesus ainda jovem e, embora tivesse</p><p>“decidido seguir Jesus” umas cem vezes, antes de</p><p>estar confiante de que pudesse parar de ir à frente na</p><p>igreja, mal consigo lembrar qualquer momento de</p><p>minha vida em que não cresse e confiasse em Jesus</p><p>de alguma maneira. Meus irmãos e eu crescemos na</p><p>mesma casa, e, ainda assim, cada um tem sua</p><p>própria história sobre o trabalhar de Deus em sua</p><p>vida, em idades diferentes e de maneiras diferentes.</p><p>Talvez alguns de vocês tenham nascido em lares sem</p><p>religião alguma ou em lares religiosos onde a Bíblia</p><p>foi empunhada como uma arma e a lei de Deus</p><p>usada para amedrontar e intimidar. Deus usa todas</p><p>as circunstâncias da vida para moldar a trajetória de</p><p>nosso crescimento na graça, incluindo as doutrinas</p><p>que adotamos e as igrejas que frequentamos. Ele é</p><p>soberano sobre todo e qualquer detalhe que moldará</p><p>a trajetória de cada curva de crescimento individual.</p><p>Não alcançaremos o mesmo nível de maturidade em</p><p>Cristo, nem todos acreditaremos em coisas idênticas</p><p>nesta vida, mas todos nós viveremos e cresceremos</p><p>sob o cuidado amoroso e a lei soberana de Deus.</p><p>De fato, Deus não promete em lugar algum que</p><p>todos os crentes alcançarão determinada medida de</p><p>crescimento espiritual enquanto vivemos aqui nesta</p><p>terra. Ele não apenas dá diferentes dons a diferentes</p><p>cristãos, como também é soberano sobre a</p><p>quantidade de fé que possuímos (Romanos 12.3).</p><p>Alguns viverão e morrerão desfrutando de uma</p><p>grande fé, enquanto outros — igualmente filhos</p><p>amados de Deus — lutarão por toda a vida com</p><p>uma fé fraca e pálida. Em sua grande sabedoria,</p><p>Deus escolheu glorificar a si mesmo ao salvar uma</p><p>igreja composta por crentes de todas as idades, em</p><p>todos os níveis de maturidade e imaturidade, que</p><p>vivem diante dele com uma fé que pode ser forte ou</p><p>fraca, de acordo com a porção que ele mesmo deu a</p><p>cada um.</p><p>Para resumir, portanto, os que são crianças em</p><p>Cristo geralmente têm afeições calorosas e vívidas</p><p>pelo Senhor, mas são desprovidos de um</p><p>entendimento profundo da pecaminosidade de seus</p><p>corações e do caráter de Deus. São inclinados ao</p><p>orgulho espiritual quando estão indo bem e a</p><p>repreender e corrigir aqueles que não estão indo tão</p><p>bem assim. São propensos ao desespero e à dúvida</p><p>quando sucumbem ao pecado. A força de sua alegria</p><p>repousa em grande parte em seus sentimentos e não</p><p>ainda em sua razão e em seu entendimento da</p><p>verdade. Sua visão acerca da graça de Deus é</p><p>bastante estreita, e eles são persuadidos pela ideia de</p><p>que Deus os ama e se orgulha deles quando</p><p>permanecem fortes, mas temem que Deus os puna e</p><p>os abandone quando pecam.</p><p>BOAS NOTÍCIAS PARA OS QUE SÃO</p><p>CRIANÇAS EM CRISTO</p><p>O que fazer, então, se, ao ler estas páginas, você</p><p>começar a suspeitar que ainda é uma criança em</p><p>Cristo e não tão maduro quanto imaginava ser?</p><p>Deveria ficar desencorajado? E se este capítulo</p><p>descreveu perfeitamente alguém que você discipula</p><p>ou parece com seu cônjuge, seus filhos, seus pais ou</p><p>até mesmo seu pastor? Você deveria entrar em</p><p>pânico? A resposta de John Newton é:</p><p>“Absolutamente não!” Sua afirmação serena e firme</p><p>de que o Deus que começou a boa obra em cada</p><p>cristão vai completá-la até o dia de Jesus Cristo</p><p>(Filipenses 1.6) é uma enorme fonte de conforto e</p><p>alívio. O crescimento espiritual rumo à maturidade é</p><p>obra de Deus, do começo ao fim, e a glória deverá</p><p>ser somente dele. O mesmo Deus que do nada criou</p><p>o universo e que pode contar os fios de cabelo de</p><p>sua cabeça agirá em sua vida do modo que lhe</p><p>aprouver em todas as coisas. Ele não ordena o</p><p>começo e o fim da sua história apenas para deixar a</p><p>parte do meio — sua vida como crente aqui na terra</p>