Prévia do material em texto
<p>981</p><p>C164h</p><p>HISTóRIA DO BRASIL</p><p>VOLUME III</p><p>SÉCULOS XVII e XVIII</p><p>PLANO GERAL DA</p><p>HISTóRIA DO BRASIL</p><p>de PEDRO CALMON</p><p>Professor Catedrático de História do Colégio Pedro Il, Rio,</p><p>Professor Catedrático da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil,</p><p>Professor da Pontifícia Universidade Cató!lca do Rio de Janeiro.</p><p>7 VOLUMES-COM 970 ILUSTRAÇõES</p><p>(Gravuras, fotografias e mapas, inclusive 59 desenhos de J. Wasth Rodrigues</p><p>feitos especialmente para a obra.)</p><p>8 ILUSTRAÇõES COLORIDAS</p><p>VOLUME I</p><p>Introdução</p><p>SÉCULO XVI-AS ORIGENS</p><p>Ilustração a côres: "A Primeira Missa no Brasil"</p><p>(QUADRO DE VíTOR MEIRELES)</p><p>VOLUME II</p><p>SÉCULO XVI-AS ORIGENS (Conclusão)</p><p>SÉCULO XVII-FORMAÇÃO BRASILEIRA</p><p>Ilustração a côres: "A Batalha dos Guararapes"</p><p>(QUADRO DE VíTOR MEIRELES)</p><p>MAPA DO BRASIL NO SÉCULO XVI</p><p>VoLUME UI</p><p>SÉCULO XVII-FORMAÇÃO BRASILEIRA (Conclusão)</p><p>SÉCULO XVIII-RIQUEZAS E VICISSITUDES</p><p>Ilustração a côres: "A Partida da Monção"</p><p>(QUADRO DE ALMEIDA JúNIOR)</p><p>MAPA DO BRASIL NO SÉCULO XVII</p><p>VoLUME IV</p><p>SÉCULO XVIII-RIQUEZAS E VICISSITUDES (Conclusão)</p><p>SÉCULO XIX-O IMPÉRIO E A ORDEM LIBERAL</p><p>Ilustração a côres: "A última Ceia"</p><p>(ESCULTURA EM CEDRO DE ANTôNIO FRANCISCO LISBOA, 0 ALEIJADINHO)</p><p>MAPA DO BRASIL NO SÉCULO XVIII</p><p>VOLUME V</p><p>SÉCULO XIX-O IMPÉRIO E A ORDEM LIBERAL (Conclusão)</p><p>Ilustração a côres: "Independência ou Morte"</p><p>(QUADRO DE PEDRO AMÉRICO)</p><p>MAPA DO BRASIL NO SÉCULO XIX</p><p>VOLUME VI</p><p>SÉCULO XX-A REPúBLICA E O DESENVOLVIMENTO NACIONAL</p><p>Ilustração a côres: "A Transfiguração"</p><p>(TELA DE CÂNDIDO PORTINARI na igreja-matriz</p><p>de Bata tais, Est. de São Paulo)</p><p>VOLUME VII</p><p>SÉCULO XX-A REPúBLICA E O DESENVOLVIMENTO NACIONAL</p><p>(Conclusão)</p><p>MAPA COLORIDO DO BRASIL REGIONAL NO SÉCULO XX</p><p>íNDICE REMISSIVO (ONOMASTICO E DE ASSUNTOS)</p><p>BIBLIOGRAFIA</p><p>TEXTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1946</p><p>PEDR O CALMO N</p><p>(DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS)</p><p>I</p><p>HISTORIA</p><p>DO</p><p>BRASIL</p><p>COM 970 ILUSTRAÇõES</p><p>' 1}</p><p>SÉCULO XVII - CONCLUSÃO</p><p>FORMAÇÃO BRASILEIRA</p><p>SÉCULO XVIII</p><p>RIQUEZAS E VICISSITUDES</p><p>VOLUME UI</p><p>2.a EDIÇÃO</p><p>LIVRARIA JOSÉ OL YMPIO EDITôRA</p><p>RIO DE J ANEIR0-1963</p><p>A</p><p>P</p><p>A</p><p>R</p><p>1</p><p>'l</p><p>D</p><p>A</p><p>D</p><p>A</p><p>M</p><p>O</p><p>N</p><p>Ç</p><p>,I</p><p>O</p><p>.</p><p>Q</p><p>U</p><p>A</p><p>D</p><p>R</p><p>O</p><p>A</p><p>ó</p><p>L</p><p>E</p><p>O</p><p>D</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>M</p><p>E</p><p>ID</p><p>A</p><p>J</p><p>ú</p><p>N</p><p>IO</p><p>R</p><p>,</p><p>P</p><p>IN</p><p>T</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>E</p><p>M</p><p>18</p><p>9</p><p>7.</p><p>(J</p><p>O</p><p>S</p><p>t</p><p>F</p><p>E</p><p>R</p><p>R</p><p>A</p><p>Z</p><p>D</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>M</p><p>E</p><p>I</p><p>D</p><p>A</p><p>J</p><p>ú</p><p>N</p><p>I</p><p>O</p><p>R</p><p>:</p><p>X</p><p>A</p><p>S</p><p>C</p><p>E</p><p>U</p><p>N</p><p>A</p><p>C</p><p>I</p><p>D</p><p>A</p><p>D</p><p>E</p><p>D</p><p>E</p><p>IT</p><p>U</p><p>,</p><p>E</p><p>S</p><p>T</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>Ã</p><p>O</p><p>P</p><p>A</p><p>L'</p><p>L</p><p>O</p><p>,</p><p>A</p><p>8</p><p>-5</p><p>-1</p><p>8</p><p>50</p><p>E</p><p>M</p><p>O</p><p>R</p><p>R</p><p>E</p><p>U</p><p>E</p><p>M</p><p>P</p><p>IR</p><p>A</p><p>C</p><p>I</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>A</p><p>,</p><p>S</p><p>A</p><p>O</p><p>P</p><p>A</p><p>U</p><p>L</p><p>O</p><p>,</p><p>A</p><p>13</p><p>-1</p><p>1-</p><p>18</p><p>9</p><p>9</p><p>).</p><p>D</p><p>IM</p><p>E</p><p>N</p><p>S</p><p>õ</p><p>E</p><p>S</p><p>D</p><p>A</p><p>T</p><p>E</p><p>L</p><p>A</p><p>:</p><p>3m</p><p>,8</p><p>7</p><p>x</p><p>6m</p><p>,3</p><p>8</p><p>.</p><p>P</p><p>E</p><p>R</p><p>T</p><p>E</p><p>N</p><p>C</p><p>E</p><p>A</p><p>O</p><p>M</p><p>U</p><p>S</p><p>E</p><p>U</p><p>P</p><p>A</p><p>U</p><p>L</p><p>IS</p><p>T</p><p>A</p><p>,</p><p>S</p><p>A</p><p>Q</p><p>P</p><p>A</p><p>U</p><p>L</p><p>O</p><p>.</p><p>íNDICE REMISSIVO</p><p>E</p><p>BIBLIOGRAFIA GERAL</p><p>ATENÇÃO, LEITOR!</p><p>In!ormaciin nn ��:•--</p><p>com</p><p>caliza</p><p>arizado</p><p>ser lo</p><p>u per-</p><p>Nêle encontrará a indicação do assunto ou</p><p>nome procurado e, ao lado, o número da pági</p><p>na que lhe dará todos os esclarecimentos a</p><p>propósito da sua consulta.</p><p>Ainda no volume final, o leitor tem à sua dis</p><p>posição, para consulta, a</p><p>BIBLIOGRAFIA GERAL,</p><p>que é o levantamento de tôdas as obras e do</p><p>cumentos aqui citados pelo Autor e classifica</p><p>dos, como de praxe, em ordem alfabética-e o</p><p>texto da</p><p>CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL</p><p>(1946)</p><p>Nota da Edltõra.</p><p>*</p><p>LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO EDITÔRA S. A.</p><p>GUANABARA: Av. Nilo Peçanha, 12, 6.• andar - RIO DE JANEmO</p><p>Flllals:</p><p>SÃO PAULO: Rua dos Gusmões, 100, SÃO PAULO</p><p>PERNAMBUCO: Rua Gerváslo Pires, 218, RECIFE</p><p>MINAS GERAIS: Rua São Paulo, 684, BELO HORIZONTE</p><p>RIO GRANDE DO SUL: Rua dos Andradas, 717, PORTO ALEGRE</p><p>MAPA DO BRASIL</p><p>NO SÉCULO XVII</p><p>DESENHO DE RONALDO G. VIANA SANTOS SOB A ORIENTAÇÃO</p><p>DO PROF. MANUEL MAURíCIO DE ALBUQUERQUE, CUJA</p><p>COOPERAÇÃO AGRADECEMOS.</p><p>(MAPA ORGANIZADO DE FORMA A DAR IDÉIA</p><p>RESUMII)A DO POVOAMENTO E CONHECIMENTO</p><p>GRADATIVOS DO TERRITóRIO BRASILEIRO DU</p><p>RANTE O SÉCULO XVII. NA NOMENCLATURA ES</p><p>COLHIDA TEVE-SE EM VISTA CONCILIAR A IM</p><p>PORTÂNCIA GEOGRÁFICA E A HISTóRICA.)</p><p>&BC A L A</p><p>C O N V E N Ç Õ � S</p><p>CIO.-.OE</p><p>NOMENCLATURA:</p><p>NOME ANTIGO:</p><p>Cuchiguará</p><p>Caiari</p><p>Paranaíba</p><p>Paraupaba</p><p>Vicente Pinzón</p><p>Jenipapo</p><p>Grande</p><p>Iguaí</p><p>Piraí</p><p>a) RIOs:</p><p>b) CIDADES E VILAS:</p><p>NOME ATUAL:</p><p>Purus</p><p>Madeira</p><p>Xingu</p><p>Tocantins</p><p>Oiapoque</p><p>Paru</p><p>Jequitinhonha</p><p>Jacuí</p><p>Apa</p><p>NOME ANTIGO: NOME ATUAL:</p><p>N. s.a de Belém Belém</p><p>S. Luís do Maranhão S. Luís</p><p>S. Maria Madalena da Alagoa do Sul</p><p>Penedo do Rio S. Francisco</p><p>Guarapari</p><p>S. João da Barra</p><p>S. Salvador dos Campos dos Goitacases</p><p>Angra dos Reis da Ilha Grande</p><p>Exaltação da S. Cruz de Ubatuba</p><p>N. s.a da Ponte de Sorocaba</p><p>S. Francisco das Chagas de Taubaté</p><p>N. s.a do Destêrro do Campo Alegre de Jundiaí</p><p>S. Antônio de Guaratinguetá</p><p>N. s.a da Candelária de Itu Guaçu</p><p>N. s.a das Neves de Iguape</p><p>N. s.a da Luz dos Pinhais de Curitiba</p><p>N. s.a do Rosário de Paranaguá</p><p>S. Francisco do Sul</p><p>Marechal Deodoro</p><p>Penedo</p><p>Guarapari</p><p>S. João da Barra</p><p>Campos</p><p>Angra dos Reis</p><p>Ubatuba</p><p>Sorocaba</p><p>Taubaté</p><p>Jundiaí</p><p>Guaratinguetá</p><p>Itu</p><p>Iguape</p><p>Curitiba</p><p>Paranaguá</p><p>São Francisco do Sul</p><p>NoTA: Não repetimos os nomes das vilas e cidades do século anterior.</p><p>Os nomes que não foram citados, nos rios, correspondem aos que mantêm</p><p>a designação atual.</p><p>FERNÃO DIAS PAIS-SíMBOLO</p><p>DAS BANDEIRAS. Escultura de</p><p>Luís Brizzolara. Museu Paulista</p><p>( Ipiranga) , São Paulo.</p><p>íNDICE GERAL</p><p>DA</p><p>HISTóRIA DO BRASIL-VOLUME III</p><p>SÉCULO XVII-FORMAÇÃO BRASILEIRA ( Conclusão)</p><p>XV-RECUPERAÇÃO DO NORDESTE</p><p>O Preço das Esquadras, 693-Transes Diplomáticos, 694-0 General, 695</p><p>-Guararapes, 699-Conseqüências, 701-Na Europa, 701-Retomada de An</p><p>gola, 703.</p><p>XVI-A EXPULSÃO</p><p>Novas Esperanças, 708-A Segunda Batalha, 708-A Companhia de Co</p><p>mércio, 711-A Primeira Esquadra, 712-A Aliança Inglêsa, 713-0perações</p><p>Finais, 713-A Capitulação, 714-Entrada no Recife, 715-Feudalismo Con</p><p>denado, 718.</p><p>XVII-O GOVÊRNO-GERAL E o SERTÃO</p><p>O Conde de Castelo Melhor, 720-Restabelecimento da Relação, 721-0 Conde</p><p>de Atouguia, 722-Paulistas no Nordeste, 723-Segrêdo da Guerra, 725-Me</p><p>lhorias, 725-Dote e Paz, 726-"0s Quatro Artigos", 728-Nova Separação</p><p>do Sul, 730-Paraíba do Sul, 731-Campos, 733-Motins do Rio de Janeiro,</p><p>735-Mulatos e Mamelucos, 736-Reincorporação do Sul, 739-Vice-Rei, 739</p><p>-Conspiração Obscura, 742-Alexandre de Sousa Freire, 743-Afonso Fur</p><p>tado, 747.</p><p>XVIII-CICLO NORDESTINO</p><p>Credulidade, 749-Minas Fabulosas, 749-A Casa da Tôrre, 751-Descobri</p><p>mento do Piauí, 752-Missões do São Francisco, 754-Penetração, 756-D.</p><p>Rodrigo de Castelo Branco, 757.</p><p>XIX-BANDEIRAS DO PLANALTO</p><p>Outros Tempos, 759-Comércio de Buenos Aires, 760-Rapôso Tavares, 761</p><p>-Vacaria, 763-Agostinho Barbalho, 764-Norte e Oeste, 766.</p><p>XX-DOIS MITOS PROVIDENCIAIS</p><p>A Ilusão do Governador, 769-A Costa do Sul, 771-Paranaguá, 772-La</p><p>guna e Santa Catarina, 776-Curitiba, 776-Sabarabuçu, 777-Capitania do</p><p>Espírito Santo, 779-Esmeraldas de Fernão Dias, 780-Fim de D. Rodrigo,</p><p>783 .</p><p>XXI-A COLÔNIA DO SACRAMENTO</p><p>Contra o Tratado de Tordesilhas, 788-0 Uti Possidetis, 789-As Duas Em</p><p>prêsas, 791-A Expedição, 791-Nova Colônia, 792-Buenos Aires, 794-A</p><p>Queda, 794-Restituição, 795-Governos do Rio de Janeiro, 796.</p><p>XXII-A BAHIA - CAPITAL</p><p>Triunvirato Patrício, 799-Roque da Costa, 800-0 Regimento, 800-Sé</p><p>Arquiepiscopal, 802-Conventos, 804-0bras Urbanas, 806-Higiene e De</p><p>fesa, 811.</p><p>XXIII-PROSPERAM AS CAPITANIAS</p><p>Sergipe, 814-As Alagoas, 815-Recife e Olinda, 816-Restauração da Vila</p><p>Antiga, 817-Luta de Jurisdições, 818-Brito Freire, 819-0 "Xumberga",</p><p>821-Paraíba, 824-Rio Grande, 826-Ceará, 827.</p><p>XXIV-Os JEsuíTAS oo NoRTE</p><p>A Área Amazônica, 831-Em Favor do índio, 833-Vieira no Maranhão,</p><p>835-A Voz da Catequese, 837-Florescem as Missões, 839-0 Caso de Ma</p><p>rajó, 841-A Retirada dos Padres, 842-Partidos da Côrte, 846-Economia</p><p>Primitiva, 848-Rebelião dos Maranhenses, 851-A Fronteira Setentrional ,</p><p>853-0 Caminho da Bahia, 855.</p><p>XXV-NEGROS E TAPUIAS</p><p>Brasil em África, 856-Negros</p><p>como general : desta feita ses</p><p>senta e quatro navios mercantes e treze de guerra.</p><p>Surgiu em 20 de dezembro de 1653 em frente ao Recife.</p><p>Mandou-lhe avisos Francisco Barreto, para que o general da ar</p><p>mada fôsse ter com êle em Olinda, a fim de combinarem as operações.</p><p>Ali desembarcou Pedro J aques com Francisco de Brito Freire, seu</p><p>almirante15-recebido pelo "governador da guerra" e os três Mestres</p><p>de-Campo João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros e Fran</p><p>cisco de Figueiroa.16</p><p>Barreto falou-lhe com firmeza : o momento era único para inves</p><p>tirem as fortificações, enquanto a marinha obstruía o pôrto. Aceito</p><p>o plano, Pedro Jaques tomou, com os seus barcos, as águas do Recife,</p><p>e o exército, à ordem dos cabos veteranos, marchou sôbre as posições</p><p>holandesas. Capitulou o forte do Rêgo ( 15 de janeiro de 54) . À mar</p><p>gem esquerda do Capibaribe rendeu-se, quatro dias depois, o de "Al</p><p>tenar" (com o Major Berghen e 180 homens) . O têrço de André Vidal</p><p>prosseguiu em direção ao forte de Cinco Pontas, cuja queda seria fatal</p><p>à defesa do pôrto. Comandava-o Waulter van Loo, que, na tarde de</p><p>nos corsários, que lograram apresar quatro navios da segunda frota da Compa</p><p>nhia Geral do Comércio, quando os principais esforços de Holanda se concentra</p><p>vam na guerra com os inglêses. Leia-se como informação do que ocorria no</p><p>Recife sitiado, Conferência sôbre as lndias Ocidentais, de H. OVERMEER, notas de</p><p>CLADO RIBEIRO LESSA, Rio ; e a síntese de C. R. BOXER, op. cit., págs. 226-227.-</p><p>15. A relação de Francisco de Brito Freire, divulgada por VIRGÍNIA RAU, vem</p><p>in Brasília, IX, págs. 1 93-205, Coimbra, 1955. Entre os �apitães dessa frota restau</p><p>radora estava João Caimão (sic ) , ibid., pág. 196, que em 1655 também figurou</p><p>entre os passageiros da armada de Brito Freire ( Viagem da Armada da Compa</p><p>nhia do Comércio e Frotas do Estado do Brasil, Lisboa, 1655, edição de Santos,</p><p>1950, por COSTA E SILVA SOBRINHO, pág. 19 ) -a mesma que trouxe, exilado, D.</p><p>Franci sco Manuel de Melo, e é tronco da família dêste apelido no Brasil.-0 autor</p><p>da História da Guerra Brasílica, FRANCISCO DE BRITO FREIRE, seria encarregado</p><p>pelo Príncipe D. Pedro 11 de levar prêso à ilha Terceira o rei deposto, D. Afonso</p><p>VI. Vid. biografia por M. LOPES DE ALMEIDA, in Brasília, IX, pág. 137. Não deve</p><p>confundiJ·-se êsse ilustre cabo-de-guerra com o homônimo (aliás M. LoPES DE</p><p>ALMEIDA indica a duplicidade de nomes, in Brasília, IX, pág. 133 ) neto de Estêvão</p><p>de Brito Freire, doc. in vol. cit., pág. 179. No Catálogo Genealógico de FR. JABOA</p><p>TÃO, tít. "Britos Freires", desfaz-se a dúvida. É a respeito da dilapidação dos</p><p>bens dêste, na Bahia, pelo filho Gaspar, que transcreve PEGAS, Comment. ad Ord.,</p><p>XIII, lib 3, págs. 41-42, a carta régia que fêz jurisprudência, determinando o</p><p>processo de pagamento aos credores sem prejuízo da movimentação dos engenhos</p><p>de açúcar ( Também Anais da Bibl. Nac., Rio, V, pág. 227 ) .-16. D. FRANCISCO</p><p>MANUEL, Epanáfora Triunfante ( ed. de 1676 ) noticia com primores de estilo as</p><p>714 Pedro Calmon</p><p>23, saiu com uma carta para Francisco Barreto. Era o pedido de ar</p><p>mistício. A campina diante do forte, onde o general ouviu van Loo,</p><p>chamava-se "do Taborda" ( nome dum pescador que ali morara) . Dis</p><p>cutiram o aj uste, do lado dos portuguêses o Auditor-Geral Francisco</p><p>Alvares Moreira, Capitão-Secretário Manuel Gonçalves Correia e o</p><p>Capitão reformado Afonso de Albuquerque ; pelos contrários, o Con</p><p>selheiro Gilbert de With, o presidente dos escabinos (vereadores)</p><p>Huybrecht Brest e van Loo. Uma capitulação que honra o cavalhei</p><p>rismo dos vencedores e dos vencidos pôde ser assinada na noite de 26</p><p>de janeiro de 1654 ; encerrando civilizadamente êste prolixo episódio,</p><p>reintegrou Pernambuco na comunidade portuguêsa.</p><p>Estendeu-se em vinte e sete artigos.</p><p>Em primeiro lugar estipulava-se uma como anistia, para tôdas as</p><p>queixas e nações. Os holandeses, a quem se reconhecia a propriedade,</p><p>ficavam com três meses para vender os imóveis e retirar-se. Durante</p><p>quatro meses os navios de Holanda não seriam hostilizados. Teriam</p><p>alimento e condução, indispensáveis ao repatriamento.17 Entregaram,</p><p>os fortes, as praÇas, a artilharia, as munições.</p><p>Comentou o Padre Vieira-essa maravilha : "Apareceu a frota mer</p><p>cantil do Brasil defronte do Recife, a que por sua fortaleza poderemos</p><p>justamente chamar a Rochela da América, e à ostentação somente do</p><p>número de seus vasos, sem morte de um homem, se renderam dezessete</p><p>fortes reais, guarnecidos de sobeja infantaria, abastecidos de munições</p><p>de bôca para dois anos, e de guerra para muitos, e em espaço de três</p><p>dias se recuperou o que se não podia caminhar pacificamente em muitos</p><p>meses, e se tinha ganhado a palmos em vinte e quatro anos."18</p><p>ENTRADA NO RECIFE-Assim se cumpriu.</p><p>A 28 de janeiro apresentou-se a cavalo Francisco Barreto para re</p><p>ceber as chaves da cidade : rodeavam-no os oficiais formando um luzido</p><p>estado-maior, em vistosa cavalgata que contrastou com a modéstia de</p><p>Segismundo von Schkoppe e dos seus ajudantes que, a pé, foram encon</p><p>trá-lo.</p><p>Então o general se apeou e recebeu as chaves, ao som de salvas e</p><p>clarins ; a que se seguiu a entrada na povoação. Para acentuar as suas</p><p>disposições corteses Barreto visitou na sua casa Segismundo e foi alo</p><p>jar-se nas do Conselho, preparadas para hospedá-lo. Levou a sua cor</p><p>dura ao requinte de conceder a von Schkoppe e à espôsa que carregas</p><p>sem o pau-brasil correspondente aos bens que deixavam em terra-o</p><p>que aumentou a suspeita de venalidade que, na Holanda, atormentou o</p><p>confabulações de Olinda e os sucessores subseqüentes. Leia-se, como documento</p><p>base, a relação citada, de FRANCISOO DE BRITO FREIRE.-17. De Pernambuco pas</p><p>saram-se muitos à Guiana, Antilhas, Nova Amsterdã. Imitaram em Surinam os</p><p>processos industriais do Brasil. Vid. J . LúciO D'AZEVEDO, História dos Cristãos</p><p>Novos Portuguêses, pág. 434, Lisboa, 1921, MIGUEL ACOSTA SAIGNES, Historia de</p><p>los Portugueses en Venezuela, Caracas, 1959 ; J. H. PARRY e P. M. SHERLOCK,</p><p>A Shore-History of the West Indies, pág. 66, Londres, 1957.-18. " Sermão de</p><p>História do Brasil - Século XVII 115</p><p>MESTRE-DE-CAMPO ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS. Desenho de J. Wasth Rodrigues.</p><p>guerreiro infeliz. Determinou que os flamengos ficassem em Olinda,</p><p>dando-se-lhes 480 réis a cada um. Incorporou às suas próprias fileiras</p><p>os negros e índios, que até aí os acompanhavam. A tomadia cifrava-se</p><p>em quase quinhentas casas, logo concedidas ou alugadas a quem as re</p><p>quereu-trezentos canhões/9 38 mil balas, 5 mil mosquetes, 2 mil</p><p>arrôbas de pólvora . . .</p><p>A restauração dos demais distritos foi imediata.</p><p>Filipe Bandeira de Melo20 teve o govêrno dos fortes do Sul. Fran</p><p>cisco de Figueiroa despachado para a Paraíba, já a encontrou em poder</p><p>dos portuguêses, pois o Tenente-Coronel Claes, fugindo do Recife, per</p><p>suadira o Coronel Houthain a abandoná-la, largando tudo. Os índios,</p><p>avaliados em 4 mil, acreditaram nas notícias terríficas que corriam</p><p>sôbre a vingança dos católicos,21 e correram a refugiar-se nas serras</p><p>do Ceará. Itamaracá foi ocupada pelo Capitão Manuel de Azevedo e</p><p>Álvaro de Azevedo Barreto, por mar, reconheceu o abandono do Rio</p><p>Grande pelo inimigo e ocupou o Ceará-que o Major Garstman não</p><p>teve dúvida em entregar-lhe.</p><p>Melhor comissão ganhou André Vidal : a de levar ao reino as alvís</p><p>saras do triunfo. Chegou a 19 de março ; e logo na manhã seguinte fêz</p><p>D. João IV cantar na capela real solene Te Deum. Não lhe ficou nisto</p><p>o júbilo : no outro dia foi dar público testemunho do seu agradecimento</p><p>a Deus na Sé, a que se juntou a côrte, em procissão grande. Não re</p><p>gateou os prêmios merecidos aos heróis, sobretudo Barreto, Vidal, Viei</p><p>ra, que tiveram os governos de Pernambuco, Maranhão e Angola. Ofi</p><p>ciais e soldados lucraram mercês pecuniárias e sesmarias.</p><p>Consumara-se o "milagre". Expulso o estrangeiro, a economia co</p><p>lonial normalizada, restabelecida a unidade da América Portuguêsa,</p><p>depressa esqueceria esta o quarto de século consumido naquela</p><p>guerra</p><p>feroz. Cicatrizaram-lhe as feridas recuperando a prosperidade que se</p><p>lhe interrompera : em 1655 afiançava com o seu comércio a restauração</p><p>da metrópole.</p><p>Mas já não era igual ao Brasil de há trinta anos.</p><p>Uma profunda modificação moral fôra o vestígio deixado pela</p><p>campanha, na marca dos seus ásperos trabalhos, o seu legado : no ir</p><p>e vir das marchas, ao calor das refregas, na paixão dos levantes, na dor</p><p>dos êxodos, na continuidade dos sacrifícios e na exaltação das vitórias</p><p>se compusera-em linhas inconfundíveis-um espírito nativista capaz</p><p>São Roque", Sermões, VIII, págs. 79-80.-19. Um dêsses canhões, com as iniciais</p><p>da Companhia das índias Ocidentais, e o dístico de Middleburg, está no Museu Histó</p><p>rico Nacional ( Rio ) . Conhecem-se mais dois, no Instituto Arqueológico e no Museu do</p><p>Estado, Recife, vid. Inventário das Armas e Petrechos Bélicos, etc., Recife, 1940</p><p>(reimpressão de opúsculo de 1838) .-20. Natural de Pernambuco, serviu 15 anos</p><p>na Armada Real e veio, como dissemos, adido à pessoa de Francisco Barreto</p><p>(patente de 20 de dezembro de 1646) , BoRGES DA FONSECA, Nobiliarquia Pernam</p><p>bucana, I, pág. 185. Com êle foi prêso e fugiu, dando-nos, com sua carta de 19</p><p>de maio de 1648, a mais palpitante notícia dessas peripécias, ms. no Arq. Hist.</p><p>Col. , Lisboa, Papéis Avulsos. Sua irmã Maria de Melo foi mulher de Jerônimo</p><p>Cadena Vilhasanta, de quem diremos.-21. Cabedelo foi tomado por Ambrósio</p><p>História do Brasil - Século XVII 717</p><p>de independência, de reivindicações inesperadas, de afirmações defini</p><p>tivas. Pondo-se fora o holandês metera-se no Brasil o brasileiro : é a</p><p>sutil resultante de uma campanha aparentemente concluída. " . . . Por</p><p>que estando estas capitanias bem fortificadas e povoadas, tem V. A.</p><p>nelas um grande império", dizia em 1675 João Fernandes Vieira.22</p><p>FEUDALISMO CONDENADO-Mas a</p><p>vitória não deixara de ser das ar</p><p>mas reais, sem o auxílio, ou a ativa</p><p>participação dos donatários incapazes</p><p>de defenderem contra uma potência es</p><p>trangeira as pobres capitanias. Era na</p><p>tural que D. João IV as quisesse para a</p><p>coroa, acabando, nesta oportunidade,</p><p>com o sistema obsoleto da administração</p><p>particular, agravado pela incúria, pela</p><p>decadência, senão pelo abandono dos</p><p>que deviam mantê-las.</p><p>"Pelo mal que os donatários acodem a</p><p>socorrer as capitanias que têm no Bra</p><p>sil, desejo dando-lhes equivalente satis</p><p>fação no reino incorporar as capitanias</p><p>na coroa ; o conselho trate com êles esta</p><p>matéria, entendendo a satisfação que</p><p>querem, tomando por notícia o que a ca</p><p>pitania de cada um valerá no reino, aba</p><p>tidos os custos iníquos, com advertência</p><p>que não aceitando o que fôr justo (ave</p><p>riguando-se que são obrigados a provê</p><p>las e socorrê-las nas ocasiões ) se toma</p><p>rá para isso de suas fazendas o que fôr</p><p>necessário . . . "-ordenou el-rei em des</p><p>pacho de Alcântara, 9 de junho de 1649.23</p><p>Motivou esta declaração o socorro pe</p><p>dido à coroa para a defesa do Espírito</p><p>Santo, dois anos antes. Aliás eram</p><p>então arroladas como capitanias de do</p><p>natário apenas essa ( já em nome do</p><p>filho de Ambrósio de Aguiar Coutinho,</p><p>Antônio Luís Coutinho da Câmara) ,</p><p>Pôrto Seguro (do Marquês de Pôrto</p><p>IMAGEM DE SANTO ANTôNIO</p><p>(século XVII ) que pertenceu a</p><p>bandeirantes paulistas. Fotogra-</p><p>fia da D. P. H. A. N.</p><p>Seguro) , Ilhéus (de D. Jerônimo de Ataíde) , São Paulo e São Vicente</p><p>(do Marquês de Cascais ) , além das quatro do Maranhão (sic ) : Ilha do</p><p>Luís de Lapenha, Does. Hist., XXI, pág. 20.-22. Carta ao rei, 26 de junho de</p><p>1675, Bol. do Arq. Hist. Mil., XIII, pág. 9 .-23. Ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa,</p><p>Papéis Avulsos, ms. inéd.</p><p>718 Pedro Calmon</p><p>Sol (Alvaro de Sousa) , Cumã (Antônio Coelho de Carvalho) ; Cabo do</p><p>Norte (Bento Maciel Parente) ; Cumutá ( Francisco Coelho de Car</p><p>valho ) .</p><p>A guerra, pois, produzira o efeito, de eliminar a propriedade dos</p><p>grão-senhores que não tinham podido proteger as suas terras e-pa</p><p>gando o que custava ao reino-anexá-las aos reais domínios. Deveras,</p><p>extremando o escrúpulo em negociações prolixas, não formalizaria el-rei</p><p>a anexação sem um arremêdo de compra, cuj o processo terminou um</p><p>século mais tarde. Em 1649, porém, dissera a grande palavra de cen</p><p>tralização. Terminava aí o tipo quinhentista da exploração privada da</p><p>colônia. Acabava o regime dos capitães independentes. Começava o</p><p>sistema da direta administração.</p><p>NO SSA SENHORA DO</p><p>BRASIL. Quadro pertencen</p><p>te à Igreja Nossa Senhora</p><p>do Brasil, na capital</p><p>paulista.</p><p>História do Brasil - Século XVII 719</p><p>íNDIOS no preparo da refeição. Desenho de Rugendas, op. eit.</p><p>XVII - O GOVÊRNO-GERAL</p><p>E O SERTÃO</p><p>O CONDE DE CASTELO MELHOR</p><p>As principais providências que notabilizaram o govêrno do Conde de</p><p>Castelo Melhor foram de ordem militar.</p><p>Obediente ao que determinara a carta régia de 10 de maio de 1651,</p><p>procedeu à reforma dos três Terços da Bahia (Mestre-de-Campo João</p><p>de Araúj o, Nicolau Aranha Pacheco e Teodoro Hoogstraten) , supri</p><p>mindo o último em proveito dos primeiros e reduzindo a duas compa</p><p>nhias a artilharia, no reajuste próprio da paz, que se esperava. A</p><p>guarnição do "presídio" limitou-se a 2.134 praças, cujo sustento cabia</p><p>à Câmara.1 Reforçou a defesa da capitania, provendo os cargos mili</p><p>tares referentes às vilas e distritos e, em resguardo do Recôncavo, in</p><p>vestido havia pouco por quatro naus holandesas, mandou estabelecer</p><p>plataformas ou trinheiras nas bôcas dos rios.2 Não faltou com os so</p><p>corros de gados e farinhas ao exército de Pernambuco ( incumbindo</p><p>1. MIRALLES, op. eit., pág. 146 ; e Does. Hist., III, pág. 178.-2. " . . . Plataforma</p><p>da Camboa, no distrito da Patatiba, uma das de mais importância que mandei</p><p>fazer na bôca dos rios do Recôncavo", patente de 20 de março de 1651, Does.</p><p>720 Pedro Calmon</p><p>disto o capitão-mor do Rio de São Francisco, Belchior Alves Camelo ) .3</p><p>Na cidade criou uma companhia "de todos os Estudantes desta Univer</p><p>sidade (sic ) da Bahia", sob o comando de Francisco Barbosa, segundo</p><p>o estilo do reino.4 E expediu tropa, confiada a Gaspar Rodrigues Adôrno,</p><p>para bater os índios que, no Aporá, ameaçavam as povoações até o</p><p>pôrto de Cachoeira (provisão de 16 de setembro de 5 1 ) .5</p><p>O Sargento-Mor Diogo de Oliveira Serpa ( cabo de uma "entrada"</p><p>em maio de 51 ) 6 teve o cargo de capitão-mor das Entradas dos Mo</p><p>cambos ( 14 de maio de 53 ) : correspondia à necessidade de dissolver os</p><p>agrupamentos de negros fugidos, cada vez mais freqüentes. Destarte</p><p>fazia-se policiamento rural e normalizavam-se as comunicações, de co</p><p>mêço indispensáveis para o abastecimento da guerra de Pernambuco,</p><p>depois para a expansão povoadora em que a Casa da Tôrre se subs</p><p>tituiria aos Adornos do Paraguaçu. A "bandeira" dêstes, de 1651, não</p><p>foi decisiva : tanto que, em 1654, o Conde de Atouguia os mandou de</p><p>novo, com dobradas fôrças, limpar o vale do J equiriçá e afastar do</p><p>litoral o perigo dos selvagens.</p><p>RESTABELECIMENTO DA RELAÇÃO-O restabelecimento da Re</p><p>lação do Brasil, por êsse tempo, restituiu à Bahia a dignidade de capi</p><p>tal judiciária da América Portuguêsa.</p><p>O Regimento da Relação foi aprovado em 30 de março de 1651, quase</p><p>um ano depois de consultado a respeito o Conselho Ultramarino, e</p><p>assinado em 12 de setembro de 52-o que evidencia o propósito de</p><p>procrastiná-lo, até a expulsão dos holandeses.7 Em 3 de março de 1653</p><p>empossaram-se o chanceler Francisco de Figueiredo e os Desembar</p><p>gadores Luís Salema Carvalho, já no Brasil em sindicâncias,8 Simão</p><p>Alvares de Lapenha, Francisco Barradas de Mendonça e Simão da Maia</p><p>Furtado.</p><p>No ano imediato, em 22 de janeiro, teve assento nesse tribunal o pri</p><p>meiro desembargador natural do Brasil, não havia muito formado em</p><p>Coimbra : Cristóvão de Burgos Contreiras.9</p><p>Entrou no lugar de Simão Alvares de Lapenha, apesar da "pru</p><p>dência, zêlo e talento" dêste, no elogio do Conde de Atouguia, que o</p><p>recomendou para ouvidor-geral.1°</p><p>Hist., XXXI, pág. 89.-3. Ibid., pág. 69.-4. Patente de 14 de fevereiro de 1651, ibid.,</p><p>pág. 85.-5. Gaspar Rodrigues Adôrno</p><p>é filho de Afonso Rodrigues de Cachoeira,</p><p>o herói das lutas de 1624-25, JABOATÃO, op. cit. , pág. 77. Os índios mataram-lhe</p><p>um irmão em 1639, PEDRO CALMON , Hist. das Bandeiras Baianas, pág. 85. Nasceu</p><p>Gaspar em 24 de junho de 1624, ARISTIDES MíLTON, "Efemérides Cachoeiranas",</p><p>in Rev. do Inst. Hist. da Bahia, n.0 27, pág. 73.--6. Does. Hist., III, pág. 108.-</p><p>7. B. DO AMARAL, notas a AcciOLI, Memórias Históricas e Políticas, II, pág. 111.</p><p>Vid. integra nos Anais do Arq. Públ. da Bahia, XV, págs. 5-21.-8. Carta de</p><p>Castelo Melhor, 6 de abril de 52, Does. Hist., III , págs. 155 e 160.-9. RocHA</p><p>PITA, op. cit., 2.a ed., pág. 459. Foi homem de grande fortuna, Does. Hist., XXIII,</p><p>pág. 126.-10. Carta de 24 de jan. de 1656, Códice Atouguia, ms. na Bibl. Nac.</p><p>Como ouvidor foi Simão Álvares ao Rio de Janeiro apurar as responsabilidades</p><p>do levante contra Salvador Correia, V ARNHAGEN, III, pág. 255. Mõrreu no mar,</p><p>indo para o reino com a mulher ( irmã de Antônio Vieira) e seus filhos, como</p><p>História do Brasil - Século XVII 721</p><p>Não deixou Castelo Melhor o govêrno sem dar início a duas tarefas</p><p>consideráveis : a reforma da Ribeira, para que se construísse, talvez</p><p>anualmente, um galeão de 700 a 800 toneladas (conforme ordem régia</p><p>de 2 de dezembro de 50) 11 e o prosseguimento das obras do Forte do</p><p>Mar, paralisadas desde 1625 (carta régia de 4 de outubro de 50) 12 e</p><p>que eram pagas pela renda do Contrato das Baleias.</p><p>A Ribeira da Bahia tornou-se em breve uma das melhores oficinas</p><p>náuticas da América.</p><p>O CONDE DE A TO UG UIA-0 22.0 governador-geral foi D. Jerôni</p><p>mo de Ataíde, Conde de Atouguia, que governara j á os Trás-os-Montes,</p><p>se batera no Alentejo e era general da armada.l3 Empossou-se em 14</p><p>de dezembro de 1654 : presidiu, pois, às festas que na Bahia comemo</p><p>raram a capitulação da "campina do Taborda".</p><p>Se podemos caracterizar a administração anterior como altamente</p><p>militar, esta será sertanista. O grande problema que quis resolver foi</p><p>o da pacificação dos índios em ordem a apontar os rumos do povoa</p><p>mento para o Nordeste.</p><p>Realmente, a expansão colonial, facilitada pelas comunicações ter</p><p>restres com as capitanias vizinhas durante as lutas holandesas, a</p><p>partir de 1630 tivera um objetivo con�tante : o rio de São Francisco.</p><p>Os Ávilas, da Casa da Tôrre, entre 1632 e 51 arredondaram ai um do</p><p>mínio de muitas dezenas de léguas, ora obtidas na capital, ora em Ser</p><p>gipe, a cujo capitão-mor, num requerimento de 1646, dizia o Padre An</p><p>tônio Pereira, tio de Francisco Dias de Ávila : "que êles têm descoberto</p><p>escreveu o jesuíta, em 1671 : "Outro cunhado e outra irmã com cinco filhos que</p><p>ficaram sepultados no mar", Cartas, I, pág-. 140. E em 14 de setembro de 1655,</p><p>defendendo do confisco, a título de empréstimo, os bens deixados pelo mag-istrado,</p><p>ibid., pág-. 341.-11. Há uma consulta do Conselho da Fazen da, de 1636, que nos</p><p>revela "fragatas de guerra que estavam fabricando os senhores de engenhos e</p><p>lavradores" da Bahia, Anais da Bibl. Nac., LVIII, pág. 210. Sempre estiveram</p><p>ativos os estaleiros do Recôncavo. Mas, em carta de 26 de abril de 51, mandou o</p><p>governador ao capitão-mor de São Vicente que lá fizesse o galeão, Does. Hist., Til,</p><p>pág. 104. O primeiro mestre "da Ribeira que ora se forma" foi Pedro Gonçalves,</p><p>31 de julho de 1655, ibid .. XVIII, pág. 405. Ensinou a sua arte aos hábeis operá</p><p>rios baianos. Cantou GREGÓRIO DE MATOS "o famoso gal eão São João de Deus" ali</p><p>construído, Obras, II, pág. 83.-12. No forte de São Marcelo (do Mar) há a lápide</p><p>comemorativa do fim das obras, no govêrno de Vasco Fern andes César de Meneses,</p><p>1728. Conserva a arquitetura primitiva. Chamava-se então Nossa Senhora dei</p><p>Popolo, "que novamente se fundou no surgidouro dos navios", como diz o têrmo</p><p>do Capitão Francisco Monteiro Bezerra em 1665, Livro de Posses, ms. no Arq.</p><p>Públ. do Estado da Bahia. Em 1664 o rendimento das Baleias já podia ter outra</p><p>ap!icação, B. DO AMARAL, nota a AcciOLI, II, pág. 121. Vid. pág. 1036.-</p><p>13. 8.° Conde de Atouguia, vid. P. ANTÔNIO CARVALHO DA COSTA, op. cit., 111,</p><p>pág. 105. Foi um dos filhos da heroína D. Filipa de Vilhena : pela mãe armado</p><p>para a Restauração, em 1640. Regressando ao reino tomou o partido de D. Afonso</p><p>VI. com o Conde de Castelo Melhor (filho) e o Bispo D. Sebastião César :---o</p><p>célebre "triunvirato", de 1662. Ao favor em que estava deveu certamente a carta</p><p>régia de 23 de j aneiro de 1665, que lhe mandou pagar 1:200$000 "de propinas</p><p>dos contratos que deixara de receber como governador-geral . . . ", Does. Hist.,</p><p>XXII, pág. 90.-0 Regimento que trouxe para o govêrno era idêntico ao de Antônio</p><p>722 Pedro Calmon</p><p>o rio de São Francisco lá em cima no sertão onde chamam as aldeias</p><p>de Rodelas a qual terra êles suplicantes descobriram com muitos tra</p><p>balhos que passaram de fomes e sêdes, por ser todo aquêle sertão falto</p><p>de águas e mantimentos, abrindo novos caminhos por paragens onde</p><p>nunca houve". Aliás a sesmaria que tiveram em 13 de abril de 51 in</p><p>dica a visita dêsses pioneiros ao Geremoabo em 1636.14 A conquista</p><p>do Piauí foi uma resultante de tais avanços . Mas não se podia pensar</p><p>em descobrir o alto São Francisco, além de Rodelas, antes da quietação</p><p>dos cGffiris que ameaçavam Jaguaripe, quase às portas da cidade. Gas</p><p>par Rodrigues Adôrno voltou a acossá-los (Regimento de 14 de dezembro</p><p>de 54 ) levando os melhores cabos, como o Sargento-Mor Pedro Gomes,l5</p><p>Elias Adôrno, Luís da Silva (prático dos sertões de Itapicuru) , mestiços</p><p>e caboclos da Casa da Tôrre, 16 num total de 600 índios, 50 infantes e</p><p>230 soldados do RecôncavoP</p><p>"Entrou pelo J equiriçá acima (dirá mais tarde o Governador Ale</p><p>xandre de Sousa Freire fazendo-lhe a história ) , descobriu as primeiras</p><p>duas aldeias inimigas, pelej ou aquêle dia com os bárbaros, lhe não ma</p><p>tou mais que quatro ; e pondo êles mesmo fogo às suas aldeias se me</p><p>teram pelo mato e o capitão-mor se retirou."18 Em nova investida os</p><p>paiaiases (eram os ditos tapuias) o receberam em som de guerra, mas,</p><p>em lugar de combates, houve combinação de pazes, com o que voltou</p><p>Gaspar Rodrigues sem os destruir.</p><p>Em substituição dêste mandou Atouguia um sertanista veterano,</p><p>Tomé Dias Lassos (Regimento de 9 de outubro de 56) -que não foi</p><p>mais violento, limitando-se a confirmar as pazes afiançadas por uma</p><p>rapariga, filha de principal, tomada como refém.19</p><p>O governador que sucedeu a D. Jerônimo de Ataíde, o General Fran</p><p>cisco Barreto, que acabava de restabelecer em Pernambuco a nor</p><p>malidade econômica, após a expulsão do estrangeiro-cogitou de</p><p>remédio decisivo : apelou para os paulistas. Eram os rastreadores, os</p><p>dominadores do deserto por excelência : e parecia-lhe melhor serviço</p><p>destiná-los a prender tapuias, contra quem se aprovara guerra justa</p><p>(j unho de 1655) , do que lhes permitir a ronda pelas "missões" dos</p><p>jesuítas.</p><p>PA ULISTAS NO NORDESTE-Transportara-se Barreto por terra de</p><p>Pernambuco à Bahia, onde entrou no exercício de seu cargo em 20 de</p><p>junho de 1657.</p><p>Escreveu em 20 de setembro à Câmara de São Paulo, que lhe de</p><p>feriu o pedido em sessão de 8 de maio de 58.20 Mandou uns quinhentos</p><p>Teles da Silva e datado de 30 de outubro de 1653.-14. Vid. P. CALMON, Hist.</p><p>da Casa da Tôrre, cit.-15. Dirigiu Pedro Gomes, tendo às suas ordens Gaspar</p><p>Adôrno, a abertura de uma estrada para o Orobó em 1657, P. CALMON, Hist. das</p><p>Bandeiras Baianas, pág. 86.-16. Does. Hist., III, pág. 108 e 228.-17. Ibid., pág.</p><p>225.-18. Ibid., V, pág. 209.-19. Dias Lassos entrou ainda o sertão em 1662,</p><p>1668, 1672 e 1676.-20. Registro Geral da Câmara de São Paulo, li, págs. 505-509.-</p><p>História do Brasil- Século XVII 723</p><p>BANDEIRANTES PAULISTAS, de couraças acolchoadas (usuais no século XVI ) em luta</p><p>com os botocudos. Desenho de Debret, in Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.</p><p>homens, dos quais uma centena de índios auxiliares, sob o comando de</p><p>Domingos Rodrigues Calheiros.21</p><p>O fracasso da "entrada" deve-se em parte às prevenções que encon</p><p>trou. Os da terra receberam de má sombra os paulistas.</p><p>Destacou-se</p><p>um crioulo da Casa da Tôrre, "guiando-os ao redor por terras inúteis</p><p>e montanhosas" (por mais de sessenta dias . . . ) sem poderem alcançar</p><p>os paiaiases. Dois anos foram desperdiçados em jornadas estéreis.</p><p>Certo, "queimaram uma aldeia e degolaram muita gente" :22 porém</p><p>as tribos rebeldes continuavam intactas. Lamentou Barreto (em carta</p><p>ao governador do Maranhão, 3 de novembro de 62) : Que "com a</p><p>sua vinda se desvaneceu o conceito que se tinha dêles, porque deixando</p><p>à sua disposição o maior acêrto (por serem práticos no modo de fa</p><p>zerem guerra ao gentio ) vieram a mostrar suas ações que por falta dela</p><p>perderam o melhor sucesso que se podia esperar da fortuna que lhe</p><p>21. Chegou em 14 de outubro de 58. Calheiros era sujeito de sessenta anos, vid.</p><p>TAUNAY, Hist. Geral das Bandeiras Paulistas, IV, pág. 325. Seus segundos foram</p><p>Fernando de Camargo e Bernardo Sanches de Aguiar. Sôbre o Regimento que lhe</p><p>deu o governador, Anais do Mus. Paul., III, pág. 294 ; e P. CALMON , op. cit.,</p><p>pág. 88. Antes de Barreto, o Conde de Castelo Melhor-carta de 22 de maio de</p><p>1651-quisera os serviços do paulista Francisco Fernandes Prêto "que em São</p><p>Paulo foi muitas vêzes ao sertão e é grande língua" e se achava em Boipeba,</p><p>Does. Hist., III, pág. 110.-22. Patente do ajudante Antônio de Matos, Does. Hist.,</p><p>724 Pedro Calmon</p><p>pôs nas mãos a ocasião que podiam desejar, e por sua culpa a deixaram</p><p>perder, deixando suas vidas entregues ao desprêzo dos índios" .23</p><p>O desengano não durou muito. Com o recrudescimento das hosti</p><p>lidades não houve senão chamá-los de novo, para empregarem nos</p><p>campos do Aporá e em Cairu a sua peculiar arte da guerra ao tapuia.</p><p>SEGRÊDO DA GUERRA-O segrêdo no-lo revela o Regimento, que</p><p>em 1727 se deu a Pedro Leolino Mariz, por que observasse as "regras</p><p>paulistas" na campanha contra os índios do Jequitinhonha. Em primei</p><p>ro lugar, consistia na distinção entre "gentio de boa língua", que cos</p><p>tumava admitir pombeiros, ou "intérpretes" que os "desciam" em paz, e</p><p>de "línguas travadas", ou tapuias, sumàriamente considerados inimigos.</p><p>A aproximação dava-se com cautelas indígenas: "e pela frase dos pau</p><p>listas é dar albarrada", acercando-se de rastos, "sem tosse nem es</p><p>pirros", até junto do inimigo, quando de repente, com rim grito</p><p>medonho, para apavorá-los, o assaltavam.24 Reduzia-se a luta a uma</p><p>caçada hábil, cujo momento decisivo resultava da surprêsa, a mostrar</p><p>o agressor qualidades "mateiras" superiores ao adversário. Ós euro</p><p>peus jamais lograriam fazer cousa parecida. Usavam de tantos ru</p><p>môres, como se marchassem ao encontro dum inimigo disposto a en</p><p>frentá-los-que os caboclos25 lhes fugiam, com a presteza de bichos</p><p>assustados . . . Zombavam dêles. Sentenciou o Padre Antônio Vieira:</p><p>" .. . e esta guerra só a sabem fazer os moradores que conquistaram</p><p>isto, e não os que vêm de Portugal."26</p><p>MELHORIAS-Atouguia e Barreto dedicaram tôda a sua atenção aos</p><p>melhoramentos da Bahia. Estranhara o primeiro a deficiência de suas</p><p>fortificações. Dir-se-ia que até aí fôra tudo provisório, feito ao sabor</p><p>de ameaças que não deixavam tempo para mais. Em 1655 confessou</p><p>que era a praça incapaz de manter bandeira real, como em cidades</p><p>dignas do nome: devendo ser abaluartado o pôrto, mal defendido e in</p><p>seguro.27 Mandou por isto continuar o forte do Mar28 ("o forte de</p><p>São Marcelo fiz eu no meio da baía", escreveria Barreto) 29 e acabar</p><p>o de São Pedro, que lhe protegia um dos acessos. Fêz reconstruir com</p><p>grandeza o Paço dos Governadores.3° Com igual decência ampliou o</p><p>XXI, pág. 301.-23. lbid., V, pág. 170. Das "proezas" dos paulistas trata o PADRE</p><p>VIEIRA, Cartas, 11, pág. 630. Os jesuítas conseguiram aldear os paiaiases logo</p><p>depois, P. SERAFIM LEITE, Hist. da Comp. de Jesus, V, pág. 279 : aldeia de Camamu.-</p><p>2.4. Cap 28 do Regimento de 1727, in Códice Galveias, ms. na Bibl. N ac., Rio de</p><p>Janeiro, inédito.-25. Já nas Epanáforas, pág. 612 ( edição de 1676) explicou o</p><p>vocábulo D. FRANCISCO MANUEL: "caboclos", "assim chamam uns a outros os</p><p>índios da terra, e nós usamos o mesmo nome". Alvará de 4 de abril de 1775 proibiu</p><p>que se chamasse caboucolos aos mestiços.-26. Cartas, I, pág. 114.-27. ":ltstes</p><p>fortes da Bahia (que são umas plataformas mal fechadas e os melhores como são</p><p>os do Terreiro do Paço de Lisboa, e os costumam guardar esquadras de seis e</p><p>quatro soldados) não são capazes de se arvorarem nêles semelhantes estandartes",</p><p>Dr,cs. Hist., IV, pág. 253.-28. lbid., pág. 225. Vid. também VALDEMAR MATOS, A</p><p>Fortaleza de Nossa Senhora del Popolo, Bahia, 1954.-29. Doc. de 1667, ms. no</p><p>Arq. Hist. Col. , Papéis Avulsos, n.0 2.215, inéd.-30. O palácio conservou a pri-</p><p>História do Brasil - Século XVII 725</p><p>da Câmara, que ficou sendo o mais importante do pais.31 Reedificou o</p><p>forte de Santo Antônio, no lugar da trincheira inexpugnável de</p><p>1638.32</p><p>Êsses trabalhos devem ser em parte atribuídos ao engenheiro fran</p><p>cês, Capitão Pedro Gracin, que viera na armada restauradora do Re</p><p>cife, e introduziu em Pernambuco e na Bahia os sistemas de construção</p><p>militar que então se generalizavam na Europa. O seu primeiro ofício</p><p>era de prático de minas, incumbido de descobrir as de esmeraldas "que</p><p>se dizia haver em São Paulo".33 Aplicou-se com êxito àquele tipo de</p><p>engenharia. Tornara-se urgente aparelhar a praça para receber o</p><p>agressor, se reaparecesse, agora que Portugal temia perder o apoio</p><p>de França ( conciliada com a Espanha ) sem ter ainda o de Inglaterra.</p><p>E continuava a defender no Alentej o a independência-com o vigor</p><p>tenaz das fôrças que lhe restavam.</p><p>DOTE E PAZ-O "Tratado dos Pireneus" (7 de novembro de 1659 )</p><p>uniu de novo França e Espanha-com o abandono de Portugal à sua</p><p>sorte.</p><p>Diz Monsieur d'Ablancourt, nas Memórias, que debalde Luís XIV</p><p>quisera convencer Filipe IV da conveniência de reconhecer a indepen</p><p>dência portuguêsa. Dada a obstinação de Madri, e para não perder</p><p>aquelas pazes, sacrificou o aliado. Aliás, isto mesmo resume o artigo</p><p>mitiva arquitetura, que lembra a do palácio dos Condes de Almada, em Lisboa,</p><p>até 1890. A construção atual seguiu-se ao incêndio de 1912.-31. A nova arqui</p><p>tetura do Paço Municipal data de 1882 e o desfigurou. Na fachada, a lápide :</p><p>"Reinando El-Rei D. Afonso VI mandou fazer êste edifício à custa da cidade</p><p>Francisco Barreto do Cons. de Guerra e G. G. do Estado do Brasil. 1660". Indício</p><p>de um período de grandes construções urbanas é outra pedra numa fachada à</p><p>ladeira do Pau da B andeira, ali perto : "Louvado seja o Santíssimo Sacramento e</p><p>a Imaculada Conceição da Virgem Senhora Nossa Conceb ·ida sem Pecado Original.</p><p>Ano 1658". Provém esta inscrição da carta régia de 30 de junho de 1654, que</p><p>mandou pôr em tôdas as portas e entradas das cidades tal oferenda à Senhora</p><p>da Conceição, P. MOREIRA DAS NEVES, Revista dos Centenários, n.0 19, julho de</p><p>1940, Lisboa-invocação predileta de D. João IV na sua igrej a de Vila Viçosa.-</p><p>32. No local pedra comemorativa : "Reinando El-Rei D. Afonso VI se reformou</p><p>êste forte por mandado do Capitão-General dêste Estado Francisco Barreto . Ano</p><p>1659". O engenheiro foi provàvelmente o francês Pedro Gracin, que o governador</p><p>mandara vir do Recife em 1657, Does. Hist. , XIX, pág. 246, e serviu como enge</p><p>nheiro do Estado do Brasil até 1660 (vid. nota seguinte ) .-33. Na relação inédita</p><p>de FRANCISCO DE BRITO FREIRE sôbre a restauração de Pernambuco, 1654, se lê :</p><p>" . .. Vinha Pedro Gracin, francês de nação, em que concorriam tôdas aquelas par</p><p>tes, com intento de passar a descobrir as minas de esmeraldas que se dizia haver</p><p>no sertão de São Paulo", Brasília, doc. comentado por VIRGÍNIA RAU, IX, pág.</p><p>197, Coimbra, 1955. " . . . O Capitão Pedro Garcim (sic) que serve de engenheiro"</p><p>"porquanto não tem esta Praça engenheiro de profissão que possa suprir sua</p><p>falta continuando com a obra do forte do Mar que está principiada, porque a</p><p>não ser esta de tanta importância a êste pôrto tivera concedido licença ao dito</p><p>engenheiro para se ir para França donde é natural". 3 de setembro</p><p>de 1659,</p><p>Does . Hist., XX, pág. 107. Serviu até 1660, ibid., pág. 309. Outro francês, Filipe</p><p>Gitão ( 1647-1657) , vindo com o Conde de Vila Pouca de Aguiar, foi seu anteces</p><p>sor na função. Pedro de Lescolles fizera em 1650 a planta do Rio de Janeiro.</p><p>A presença dêsses engenheiros inclui-se entre os auxílios dados pela França a</p><p>726 Pedro Calmon</p><p>LX do "Tratado dos Pireneus" .34 O Marquês de Turenne tomou então</p><p>a si proteger Portugal, não, é claro, pelo interêsse direto, da libertação</p><p>dêste, porém para não permitir que a Espanha, esmagando-o, reno</p><p>vasse, com a união ibérica, o poderio que, sem demora, dirigiria contra</p><p>a França. Luís XIV não podia receber mais o embaixador de D. João</p><p>IV, Conde de Soure (D . João da Costa ) : pois Turenne o recolheu</p><p>à casa ; escolheu, para chefiar um socorro, de seiscentos oficiais e sol</p><p>dados, o Conde-Duque de Schomberg, um dos melhores generais do</p><p>tempo ;35 e, com a indulgência do rei, que lhe aprovava a intenção,</p><p>não regateou ao emissário e ao govêrno de Lisboa todos os auxílios.36</p><p>A crise dissipou-se no ano seguinte.</p><p>Luís XIV facilitou a aproximação anglo-portuguêsa e o acôrdo com</p><p>Holanda. Consumou-se a renovação da aliança tradicional com o casa</p><p>mento da irmã de D. Afonso VI, Infanta D. Catarina de Bragança, com</p><p>o Rei Carlos 11, reposto no trono de Inglaterra. Em 23 de junho de</p><p>1661 assinou-se em Whitehall a escritura nupcial, em que a infanta</p><p>levava de dote, com dois milhões de cruzados, as praças de Tânger e</p><p>Bombaim. Correspondia a entrega de Bombaim de presente aos in</p><p>glêses à cessão da índia, pela qual entrariam de rompida. Mas tirava</p><p>à Holanda a ilusão de poder obter maiores compensações de Portugal.</p><p>Selara-se definitivamente a solidariedade luso-britânica, a que o laço</p><p>dinástico dava uma realidade estridente.37 Em 6 de agôsto pactuou-se</p><p>enfim a paz de Holanda à custa de quatro milhões pagos folgadamente</p><p>em dezesseis anos.</p><p>Bom negócio, sem dúvida. Serenando a América, fazia esquecer o</p><p>prejuízo do Oriente. Mas dando-lhe em cheio o pêso do resgate. Fi</p><p>cou-lhe o encargo de entrar todos os anos com 120 mil cruzados para a</p><p>paz e 20 mil para o dote, durante dezesseis anos . A Bahia respondia</p><p>por 80 mil, Pernambuco por 25, a Paraíba por 3, Itamaracá por 2, Espí</p><p>rito Santo por mil, o Rio de Janeiro por 26, São Vicente por quatro,</p><p>"reservando-se as capitanias do Espírito Santo, Pôrto Seguro e Ilhéus</p><p>D. João IV, na luta com a Espanha, em que, por sinal, punha o maior interêsse,</p><p>desde o seu início, vid. I. S. RÉVEH, Le cardinal de Richelieu et la Restauration</p><p>du Portugal, pág. 45 e segs., Lisboa, 1950.-34. Vid. EDUARW BRASÃO, A Restau</p><p>ração, pág. 143.-35. Sôbre Schomberg em Portugal, vid. também HENRY BoRDEAUX,</p><p>Marianna, La Religieuse Portugaise, pág. 71 e segs., Paris, 1934. Veremos, a</p><p>propósito do governador de Pernambuco alcunhado de "Xumberga", a notoriedade</p><p>do general tedesco.-36. Mémoires, de Monsieur d'Ablancourt, envoyé de S. M.</p><p>tres-chrétienne Louis XIV en Portugal, pág. 6, Amsterdã, 1701. "A despesa que</p><p>el-rei de França fazia com sua gente naquele ano de 664 chegava a 400 mil cru</p><p>zados", diz o autor de D. Afonso VI, pág. 218 ( ed. de E. BRASÃO), que assim</p><p>confirma VOLTAIRE, Siecle de Louis XIV, pág. 87, Paris, 1845. tste manuscrito</p><p>(D. Afonso VI) publicado em 1940 por EDUARW BRASÃO, como sendo de Antônio</p><p>de Sousa de Macedo (que com tal atribuição estava na Biblioteca da Ajuda ) é</p><p>de PEDRO SEVERIM DE NORONHA, cf. AFONSO PENA JÚNIÓR, Crítica de Atribuição de</p><p>um Manuscrito da Biblioteca da Ajuda, pág. 71, Rio, 1943, e no mesmo sentido em</p><p>Portugal, GASTÃO DE MELO DE MATOS, Panfletos do Século XVII, págs. 89, 130, 132.-</p><p>37. ARMANW MARQUES, Aliança Inglêsa, pág. 204; E. BRASÃO, op. cit . , pág. 373;</p><p>VARNHAGEN, op. cit. , lll, págs. 261-262; CARLOS AZEVEW, in Rev. da Faculdade de</p><p>História do Brasil - Século XVII 727</p><p>..</p><p>por muito tênues" a</p><p>completar "as faltas</p><p>da contribuição desta</p><p>Cidade". 38</p><p>Saiu o tributo de</p><p>2% sôbre a importa</p><p>ção ( excetuados vi</p><p>nhos e azeites ) e um</p><p>cruzado por escravo</p><p>da África. E perpe</p><p>tuou-se ! Continuou</p><p>indefinidamente a ser</p><p>cobrado. Até o século</p><p>XIX . . .</p><p>ENTRADA D O FORTE DE MONSERRATE, Bahia, com</p><p>lápide comemorativa da morte do governador holandês João</p><p>Van Dorth. Arquivo da Prefeitura do Salvador.</p><p>"OS QUATRO AR</p><p>TIGOS"-Era vexa</p><p>tório o monopólio dos</p><p>"quatro artigos" dado</p><p>à Companhia do Co</p><p>mércio. Queixaram-se</p><p>amargamente os po</p><p>vos dos rigores do</p><p>contrato, bem leves,</p><p>por sinal, se por êle</p><p>se livrara Pernambu</p><p>co. Exprobrou Atou</p><p>guia, por exemplo, as</p><p>omissões da Compa</p><p>nhia, que, em 1655,</p><p>obrigada a mandar 3</p><p>mil pipas de vinho,</p><p>das quais saía o im</p><p>pôsto que sustentava</p><p>a infantaria do pre</p><p>sídio, se limitara a</p><p>fornecer 182.39 Revogado o monopólio, em seu lugar foram aumentadas</p><p>as taxas de comboio e de seguro dos açúcares.</p><p>Definhou a Companhia por outras causas : a principal, a mudança</p><p>política que se seguiu ao advento del-Rei D. Afonso VI-em 23 de ju</p><p>nho de 1662.</p><p>Letras Univ. de Lisboa, tomo XXII, 1956, pág. 262 e segs.-38. Prov. de Francisco</p><p>Barreto às capitanias, 1662, Does. Hist. , IV, págs. 97-99. Fato curioso, o impôsto</p><p>não deixou mais de ser cobrado, e persistia, depois na independência, em 1830,</p><p>VARNHAGEN, III, pág. 264. O Senado da Câmara da Bahia queixou-se em 8 de</p><p>julho de 1693 de j á ter pago a Cidade . . . 1.280.000 cruzados da Paz de Holanda,</p><p>Livr. de Atas, ms., no arq. municipal da Bahia.-39. Does. Hist., VI, pág. 229.</p><p>728 Pedro Calmon</p><p>Atingira o primogênito de D. João IV dezenove anos e a rainha</p><p>mãe não pensava em entregar-lhe o govêrno. Protelava a maioridade</p><p>do filho desconfiada de sua incapacidade, atenta à importância de sua</p><p>missão, de defender o reino no Alentej o, e talvez inclinada a uma so</p><p>lução futura, que o afastasse do trono, para o qual lhe faltavam pendor</p><p>e fôrças. A solução só podia ser em favor do Infante D. Pedro, filho</p><p>mais novo, ao contrário do rei, vigoroso como um hércules, ambicioso e</p><p>inteligente. Dois acontecimentos precipitaram o incidente : a depor</p><p>tação para o Brasil dos validos de Afonso VI, os irmãos Conti40 e a</p><p>nomeação de grandes fidalgos para a casa do infante, cuj o professor</p><p>passava a ser o Padre Antônio Vieira. Ligaram-se em defesa do rei o</p><p>jovem Conde de Castelo Melhor, que j á se revelava político de alto espí</p><p>rito, o de Atouguia, desgostoso pelo comando das armas que se lhe</p><p>tirara, e o Bispo D. Sebastião César de Meneses, autor da Suma Política,</p><p>há oito anos prêso por implicado em conversações com a Espanha. Con</p><p>seguiram que saísse Afonso VI da capital, e em Alcântara, j untando</p><p>se-lhes a nobreza, o reconheceram como investido no govêrno. O resto,</p><p>correu tranqüilamente. A rainha e o infante não se opuseram ao "gol</p><p>pe". Os adeptos da situação caída foram afastados de Lisboa, entre</p><p>êstes o Padre Vieira e o secretário Pedro Vieira. A Inquisição "logo</p><p>que el-rei morreu", "condenava o Alvará passado à Companhia do</p><p>Br·asil em favor dos cristãos-novos" : quis o novo ministro, Castelo</p><p>Melhor, revogar tal disposição, reintegrando dois magistrados demi</p><p>tidos em virtude daquela condenação ;41 mas o auto-de-fé que houve em</p><p>17 de j ulho, de quarenta homens e 25 mulheres, assistido pelo rei, que</p><p>"os foi ver queimar rebuçado", indicava bem diversa orientação. A</p><p>Companhia não lhe escapou. Foi reorganizada em 29 de novembro,</p><p>dêsse ano de 1662. "Formou-se ela da corrução e extinção da outra</p><p>antiga dêste título que havia formado E l-Rei D. João o 4.0 de homens</p><p>de negócio os quais tinham seu Tribunal nas casas que o Marquês de</p><p>Castelo Rodrigo fizera no sítio a que chamam Côrte Real para onde</p><p>depois se mudou o Infante D. Pedro por el-rei seu pai lhas haver dado.</p><p>Houve queixas da ruim administração da Fazenda com que os depu</p><p>tados se governavam esperdiçando ( segundo diziam) grandes somas</p><p>em ordenados e propinas desnecessárias, de modo que deixaram de</p><p>pagar os réditos e avanços de dinheiro que naquela bôlsa comum tinham</p><p>metido os interessados,</p><p>uns por sua vontade e obrigados por fôrça todos</p><p>os homens da Nação Hebréia do reino. Com esta causa se formam</p><p>várias vêzes diferentes juntas para examinarem os livros da razão da</p><p>Companhia e a última se fêz depois de el-rei tomar o Govêrno presidin-</p><p>Outra representação de Atouguia, ibid., pág. 242.-40. Na Bahia foram de início</p><p>presos os Conti, o clérigo Bernardo Taveira e João de Matos, ibid., VII, pág. 92</p><p>e LXVI, 196; mas em seguida, beneficiados com 2 mil cruzados e tratamento</p><p>obsequioso, ibid., XXI, pág. 8. Matos morreu aí assassinado, GARCIA, nota a V ARNHA</p><p>GEN, III, pág. 296. "Foi morto à traição por Jorge Sêco de Macedo", Does. Hist. ,</p><p>LXVI, pág. 289, que veremos implicado na conjura de 1666, sobrinho do chanceler</p><p>da Relação, ibid., pág. 227.-41. JJ. Afonso VI, de PEDRO SEVERIM DE NORONHA,</p><p>História do Brasil - Século XVII 729</p><p>do nela o Visconde de Vila Nova, D. Diogo de Lima. Contudo antes se</p><p>abrigavam o que neste particular se poderia descobrir, se mandou à</p><p>Junta parar com seu exercício e na Alfândega depositar os direitos do</p><p>comboi que se lhe pagavam. Assim se executou em breves dias esque</p><p>cendo os serviços que a Junta havia feito de ser a principal causa da</p><p>restauração de Pernambuco e capitanias do Brasil, de vários emprésti</p><p>mos consideráveis com que havia acudido aos apertos do reino com</p><p>120 mil cruzados que deu para dote da rainha de Inglaterra e outros, se</p><p>extinguiu a Junta e em seu lugar se criou outra, derrogando o contra</p><p>to."42 Mas a Companhia continuou : "que havendo mais de quarenta</p><p>anos cessou a causa por que foi instituída, é tão útil, importante e neces</p><p>sária, que ainda se conserva, e conservará por muitos anos" .43 Conser</p><p>vou-se até 1720.</p><p>NOVA SEPARA ÇÃO DO SUL-Os descobertos de Paranaguá, a paci</p><p>ficação do Norte e a conciliação com os j esuítas de São Paulo, obstáculo</p><p>à renovação das "bandeiras" apresadoras do gentio manso, propicia</p><p>ram um ciclo novo de expedições, trabalhos e govêrno : o ciclo mineiro.</p><p>A expulsão dos holandeses impelira o povoamento para os sertões</p><p>inçados de tapuias, aliados do inimigo, nos itinerários mais conhecidos</p><p>através de vinte anos de guerra. Movimento semelhante começa a des</p><p>locar os ralos núcleos sociais do Sul.</p><p>Até 1658 as viagens dos paulistas tinham sido episódicas, desco</p><p>nexas, na maioria clandestinas, e por terras dos tupis aldeados. Que</p><p>ria-se agora reproduzir a política de D. Francisco de Sousa e explorar</p><p>os veios de ouro cuj as notícias continuamente chegavam a Portugal.</p><p>A separação enfim das três capitanias-São Paulo, Rio de Janeiro e</p><p>Espírito Santo-para que Salvador Correia os governasse com po</p><p>dêres idênticos aos que tivera "o das Manhas" ( 17 de setembro de</p><p>1658) ,44 importava a declaração de ser êste o período das minas.</p><p>Os céticos desenganavam-se, como o Padre Antônio Vieira, que, a</p><p>falar dos índios, aduzia : "são as minas certas dêste estado, que a fama</p><p>das de ouro e prata sempre foi pretexto com que daqui se iam buscar</p><p>as outras minas, que se acham nas veias dos índios e nunca as houve</p><p>nas da terra".45 Salvador Correia, porém, não perdeu tempo. De</p><p>passagem, do reino para a sede de sua larga autoridade, nela se em</p><p>possou na Bahia, a 2 de setembro de 1659.46 Parou no Espírito Santo,</p><p>pág. 53.-42. D. Afonso VI, pág. 81. A nova junta foi presidida pelo Conde de</p><p>Atouguia, Deputado Antônio de Miranda Henriques e Des. João Leite de Aguilar,</p><p>pela nobreza, e João Guterres, Manuel Martins Medina, Gaspar Gonçalves de</p><p>Souto, pelo comércio, além de Manuel Ferreira, pelo povo ( dec. de 23 de novem</p><p>bro de 1662 ) .-43. VIEIRA, " S ermão de São Roque", Sermões, VIII, pág. 80. A</p><p>Companhia foi dissolvida por D. João V, em 1720.-44. Patente in Does. Hist., XX,</p><p>pág. 93 e doc. in Luís NoRTON, op. cit. , pág. 62.-45. Cartas, I, pág. 144.-46.</p><p>BRÁS DO AMARAL, nota a ACCIOLI, li, pág. 120; Does. Hist., XX, pág. 98. 0 mi</p><p>neiro Jaime Comere a êsse tempo fêz pesquisas em São Paulo, porém teve morte</p><p>desastrada, que os rebeldes do Rio, em 1660, imputaram aos Correias. Quando</p><p>escrevia as Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil, diz o P. SIMÃO</p><p>DE VASCONCELOS, pág. 60, Lisboa, 1668, Salvador Correia preparava a expedição</p><p>730 Pedro Calmon</p><p>Dara mandar o filho, João Correia de Sá ( com o título de governador</p><p>para a descoberta das minas ) , à busca das esmeraldas de que tanto</p><p>ali se murmurava4'-e pôde subir a São Paulo,"8 onde fôra temido e</p><p>odiado.</p><p>Venceu a sua constância : uma disciplina, algo incoerente, desar</p><p>mou por enquanto os moradores que acolhiam, esperançados, o gover</p><p>nante respeitável que até aí lhes parecera nefasto.</p><p>O caso dos Campos dos Goitacases e a revolta do Rio de Janeiro</p><p>desenvolveram-se quase simultâneamente.</p><p>PARAíBA DO SUL-Entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro houve</p><p>espaço para duas capitanias, Paraíba do Sul, que no século anterior</p><p>se malograra com o donatário Pêro de Góis, e Cabo Frio, que consistia</p><p>em dois fortes construídos por Constantino de Menelau em 1615. Esta</p><p>segunda não cresceu.49 A outra exerceu larga influência sôbre a vida</p><p>econômica dos moradores do Rio de Janeiro, graças aos campos e pas</p><p>tagens onde podiam ter gados inumeráveis-à semelhança dos de Ser</p><p>gipe e do São Francisco.</p><p>Os herdeiros de Pêro de Góis renunciaram à Paraíba do Sul, que</p><p>reverteu à coroa.</p><p>Em 1627 alguns colonos ( "sete capitães" ) alegando serviços na de</p><p>fesa do litoral, pediram sesmarias entre o rio Macaé e o cabo de</p><p>São Tomé, que lhes concedeu Martim de Sá.50 Entraram essas terras,</p><p>partindo de Cabo Frio, em 1632-33 ; deram nome às lagoas e rios ; to</p><p>maram posse ; e lançaram no "Campo Limpo" o primeiro gado que</p><p>aí medrou, três vitelas, uma vaca e um touro, sob a guarda de um índio</p><p>de São Vicente (Valério Corsunga) . Logo outro curral foi estabelecido</p><p>na ponta de São Tomé, aos cuidados do índio Miguel, também de São</p><p>Vicente. Começou destarte o povoamento dos Campos dos Goitacases,</p><p>com a riqueza pecuária que primeiro os notabilizou, seguida após a</p><p>do Espírito Santo. -4 7. Capitão da companhia que formou em Lisboa para acom</p><p>panhar o pai, 16 de setembro de 1658, foi nomeado governador para a descoberta</p><p>das Minas do Espírito Santo, 11 de março de 1660, Does. Hist., XXI, pág. 41.</p><p>T!lmbém PAULO PRADO, Paulística, pág. 127. Estêve mais tarde na índia, donde</p><p>voltou prêso, e homiziou-se em casa do Núncio, VIEIRA, op. cit,, 111, pág. 319.-48.</p><p>O Conde de óbidos, prov. de 15 de dezembro de 1663, notou que não se sabia do</p><p>rendimento dos quintos do ouro, em São Paulo, nem de sua escrita, Does. Hist.,</p><p>XXI, pág. 256. Os rebeldes do Rio , em novembro de 1661, disseram que o admi</p><p>nistrador-geral das minas, Pedro de Sousa Pereira, com os estancos de várias</p><p>mercadorias, comprava ouro, para mandá-lo a el-rei "com título de que era ren</p><p>dimento dos quintos", Registro da Câmara de São Paulo, 111, pág. 9.-49. Em</p><p>24 de setembro de 1658 escreveu o governador-geral : "As do Cabo Frio (donde</p><p>também houve uma cidade, que ou pelo clima, ou por outros acidentes, se não</p><p>conservou) são hoje da coroa", Does. Hist., IV, pág. 346. E em 1664, o Conde de</p><p>óhidos: " nela houve uma cidade de que não existem mais que as poucas casas</p><p>que V. �.a diz, tem, ruína a que chegou pela invasão dos franceses e vizinhança</p><p>dos bárbaros goitacases . . . , e houve omissões em edificar", ibid., V, pág. 27-28.</p><p>Bernardo Vieira Ravasco foi alcaide-mor de Cabo Frio, 1664, ibid., XXI, pág. 282.</p><p>Continuaram a ser nomeados os capitães de infantaria da ordenança da cidade</p><p>de Assunção do Cabo Frio, por exemplo, ibid., XII, pág. 184.-50. A. LAMEGO, A Ter-</p><p>História do Brasil- Século XVII 731</p><p>TóRRE DA IGREJA DO T:mRÇO, Campos,</p><p>Est. do Rio, cujo pináculo recorda a ourive</p><p>saria das custódias. ( Final do século XVIII. )</p><p>expulsão dos tapuias VIZI</p><p>nhos, da próspera lavoura de</p><p>canas até hoj e característica</p><p>desta fecunda planície.</p><p>A notícia dessa fertilidade</p><p>impressionou os habitantes</p><p>do Rio de Janeiro e, mais</p><p>precisamente, Salvador Cor</p><p>reia de Sá e Benavides.</p><p>Em 1644 um dos</p><p>sete capi</p><p>tães povoadores fêz doação</p><p>de sua parte ao convento do</p><p>Carmo. Em 1648 curiosa "es</p><p>critura de composição" foi</p><p>lavrada, com a divisão dos</p><p>"campos" em doze quinhões,</p><p>ficando 41/2 para os pioneiros</p><p>e seus sucessores, três para</p><p>Salvador Correia, três para</p><p>os j esuítas (tão estimados</p><p>dêle) , um para seu parente</p><p>Pedro de Sousa Pereira e</p><p>meio para os monges de São</p><p>Bento, também protegidos do</p><p>general.51 Tal revisão dos tí</p><p>tulos dados importava a rei</p><p>vindicação, pelos Sás, do ter</p><p>ritório descoberto, e provocou</p><p>um choque inicial, com a</p><p>gente que já apascentava aco</p><p>lá os seus rebanhos e não se</p><p>dispunha a reconhecer o</p><p>usurpador. Esta, para eximir-se à dependência, criou uma vila-em</p><p>1650-com o beneplácito do Ouvidor Dr. João Velho de Azevedo, que,</p><p>premido pelos Sás, voltou atrás, e o negou.</p><p>O mais animoso dos "setenta moradores dos Campos" era o Ca</p><p>pitão André Martins da Palma, veterano da "recuperação de Angola".</p><p>Foi assassinado por quatro curraleiros, da parcialidade oposta à fun</p><p>dação da vila. Correu o sogro da vítima à Bahia-chamava-se Gaspar</p><p>da Vide de Alvarenga-e obteve fôsse o aj udante João Gomes Barroso</p><p>com 25 soldados prender os criminosos-como determinou o Gover</p><p>nador-Geral Francisco Barreto.52</p><p>ra Goitacá, I, pág. 35.-51. Idem, ibid., pág. 44. Vid. VIEIRA FAZENDA, Rev. do lnst.</p><p>Bras., LXXI, pág. 20.-52. Alv. de 23 de maio de 1658, Does. Hist., IV, págs.</p><p>84-92. Os matadores eram Manuel Pinheiro Caldeira, Antônio da Silva, Hierônimo</p><p>Dias, Antônio Fernandes, Francisco de Arruda, cf. regimento que levou o aju-</p><p>732 Pedro Calmon</p><p>Fêz-se justiça, mas não inteiramente. Achava-se na Bahia que o</p><p>direito estava com os "campistas". "Êles descobriram ali os campos que</p><p>ocupava a nação dos goitacases, que eram os mais bárbaros e formi</p><p>dáveis do Brasil : domesticaram muitos, facilitaram aquêle trânsito por</p><p>terra, enriqueceram a cidade do Rio de Janeiro com os gados que entre</p><p>êles se apascentam hoje e fizeram engrossar a Fazenda de Vossa Ma</p><p>jestade naquela praça."53 Francisco Barreto explicou, em 1658 : "As</p><p>do Cabo Frio ( donde também houve uma cidade, que ou pelo clima,</p><p>ou por outros acidentes, se não conservou ) são hoj e da coroa. E destas</p><p>dos goitacases foram dando várias sesmarias Martim de Sá, governa</p><p>dor do Rio de Janeiro, e Diogo Luís de Oliveira, sendo-o dêste Estado.</p><p>Naqueles campos há vários currais dos religiosos da Companhia e outros</p><p>moradores do Rio de Janeiro ; mas a maior parte de Salvador Correia</p><p>de Sá, e frades Bentos. A povoação é capaz de ser Vila : e o pôrto só</p><p>de patachos, e êsses tão pequenos, que hão mister águas vivas para en</p><p>trar. Ali foi ouvidor-geral daquela repartição João Velho de Azevedo,</p><p>e pelos respeitos que lhe pareceu fêz eleição de oficiais da Câmara,</p><p>levantou pelourinho e nomeou a Povoação Vila. Pouco depois mandou</p><p>que se não chamasse mais Vila, nem houvesse oficiais da Câmara."54</p><p>CAMPOS-Os filhos de Salvador, Martim e João, o primeiro Visconde</p><p>de Asseca, alcançaram, em 15 de setembro de 1674, vinte léguas e dez</p><p>léguas respectivamente, a título de capitania da Paraíba do Sul, com a</p><p>obrigação de formar duas vilas com as suas instalações condignas.1"'</p><p>Em 29 de maio de 1677 foi realmente fundada a vila de São Salvador e,</p><p>a 18 de junho, a de São João da Praia.</p><p>É de pouco interêsse a história da capitania até 1710.56 Subia a</p><p>14 mil o número de reses, já alguns engenhos moíam e escravos da</p><p>África, importados pelos Sás, davam um alento forte à agricultura das</p><p>margens do rio. A vila-que seria cidade de Campos-arrastou-se</p><p>por um século com "três casas de telha e cinco de palha, sendo a cadeia</p><p>um tronco com um telheiro por cima e a igrej a uma capela feita pelos</p><p>Irmãos do Santíssimo". 57 Mas floresceram fazendas opulentas-como</p><p>a do Colégio, que os j esuítas construíram no estilo das "missões" do</p><p>dante. Tais documentos completam a narrativa de A. LAMEGO. Aliás o Conde de</p><p>Castelo Melhor, em carta de 25 de novembro de 1650, se referia à fundação da</p><p>vila e fazia votos "venha a ser uma muito grande cidade", Does. Hist., V, pág.</p><p>26. O Conde de Atouguia nomeou o Capitão Palma, "capitão dos Campos dos</p><p>Guytacazes", 7 de dezembro de 1655, ibid., XXXI, pág. 180. Confirmou-o Fran</p><p>cisco Barreto, 18 de setembro de 57, ibid., pág. 214.-53. Carta do Conde de Atou</p><p>guia, 25 de j aneiro de 1656, ibid., IV, pág. 282.-54. lbid., pág. 346. Em carta de</p><p>1.0 de dez. de 1674, Afonso Furtado mar..dava libertar o ouvidor da Paraíba (sic)</p><p>prêso no Rio, ibid., X, pág. 434. A capitania do Cabo Frio compreendia os Cam</p><p>pos de Goitacases, ibid., pág. 435. Pertencia-lhe também o distrito de Saquarema</p><p>que teve capitão de infantaria em 1671, ibid., XII, pág. 185.-55. O 1.0 donatário,</p><p>Visconde de Asseca, faleceu em 1674, sucedendo-lhe o filho, 2.0 visconde, Salvador</p><p>Correia, cujo tutor foi o general seu avô, A. LAMEGO, op. cit., I, pág. 122. A</p><p>êste se seguiu, em 1692, o 3.o visconde, Diogo Correia, que vendeu a capitania,</p><p>em 1710, ao Prior Duarte Teixeira Chaves.-56. A. LAMEGO, op. cit. , I, pág. 183.-</p><p>57. ALBERTO RIBEIRO LAMEGO FILHO , A Planície do Solar e da Senzala, pág. 34,</p><p>História do Brasil - Século XVII 733</p><p>Sul, o convento em quadrilátero com a capela, de São Pedro, num dos</p><p>ângulos, a modo dos "quadrados", em que se defendiam, nos seus acam</p><p>pamentos do sertão, os paulistas desconfiados do gentio.</p><p>MOTINS DO RIO DE JANEIRO-O eixo da desordem deslocara-se</p><p>para o Rio de Janeiro--onde a prosperidade se acentuou, com 150 en</p><p>genhos de açúcar.58</p><p>As alterações que aí sucederam só podiam surpreender os desaten</p><p>tos ao que se passava nesses domínios de Salvador Correia desde</p><p>1640.59 Formara-se, crescente, a oposição aos Sás. Na ausência da</p><p>quele governava o primo Tomé Correia de Alvarenga, cuj o cunhado,</p><p>Pedro de Sousa Pereira, 60 era provedor da Fazenda real, e o irmão,</p><p>Martim Correia Vasques, sargento-mor da praça.61 Pràticamente a</p><p>dinastia do 1 .0 Salvador de Sá monopolizava o govêrno : impopular e</p><p>poderosa. Defendera os padres ; cobrava os tributos de que se queixa</p><p>vam os colonos ; fazia ouvidos de mercador às reclamações dêstes,</p><p>cuj o representante mais considerado era Francisco da Costa Barros,</p><p>escrivão em 1633, procurador da cidade j unto de D. João IV em 1644,</p><p>agora disposto a derrubar a "oligarquia", como se depreende da carta</p><p>que mandou a Francisco Barreto ( 17 de outubro de 1657) pedindo</p><p>desembargador que devassasse as acusações feitas. O governador res</p><p>pondeu estranhando o tom sibilino ( se tinha mêdo de escrever claro,</p><p>que o fizesse em cifra) -em 26 de fevereiro seguinte.62 Parece que</p><p>foi a sua condenação à morte. Um belo dia, ao entrar em casa, dispa</p><p>raram-lhe um tiro de espingarda, de que morreu.63 Em 9 de abril de</p><p>Rio, 1934.-58. " . . . Rio de Janeiro, que com a retirada dos moradores de Per</p><p>nambuco se fizeram à beira-mar e pelos rios e donde se acharam mais comodidades,</p><p>engenhos de açúcar com quE' aquela capitania se fêz maior e mais opulenta que</p><p>tôdas as dêste Estado, que tem hoje 150 engenhos, e se fôra melhor governada</p><p>fôra mais grandiosa", Petição de Pessoas da Bahia, 20 de junho de 1662, ms. in</p><p>Arq. Hist. Col. , Lisboa. Respondendo a êste exemplo, retrucou Bernardo Vieira Ra</p><p>vasco : " . . . Pois basta . . . a experiência dos do Rio de Janeiro, donde enquanto</p><p>não houve mais de 60 ou 70 engenhos se embarcavam daquela capitania cada ano</p><p>para Portugal 14 a 15 mil caixas de açúcar e depois que houve 150 ou 170 pouco mais</p><p>ou menos, não chegaram a fazer todos 9 mil". Porque os canaviais não atendiam</p><p>ao número de fábricas, ms. no mesmo Arq., Papéis Avulsos, inéd.-59. Por morte</p><p>de Salvador de Brito Pereira (1651) , pai do beato João de Brito, hoj e santo da Igreja</p><p>-assumira o govêrno Antônio Galvão, Does. Hist., XXXIII, pág. 256: cuidou da</p><p>defesa da praça, pois voltara a falar-se de ataque holandês. Sucedeu-lhe D. Luís</p><p>de Almeida (1653) e em 1656 Tomé Correia de Alvarenga "na substituição de</p><p>Lourenço de Brito Correia" que não tomou posse, ibid., pág. 275.</p><p>Assim interino,</p><p>o primo de Salvador Correia (escreveu-lhe Francisco Barreto, em 26 de fevereiro</p><p>de 1658: "Com a falta de provisões de Lourenço de Brito Correia me resulta não</p><p>alterar êsse govêrno até nova ordem de S. M.") passou a êste o govêrno, em 1659,</p><p>ibid,, pág. 285. Em 1656 revoltou-se o povo contra o aumento dos impostos, Rev. do</p><p>Inst. Hist., tomo especial, I, pág. 27 (1956) .-60. Pedro de Sousa Pereira foi</p><p>provedor da Misericórdia em 1675. Teve morte violenta, carta de 1693, Does. Hist.,</p><p>XXXIV, pág. 188.-61. Sargento-mor por prov. de 7 de fevereiro de 1656, ibid.,</p><p>XXI, pág. 67 .-62. Does. Hist., V, págs. 92-94.-63. Os amotinados de 1660 atri-</p><p>�CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO (meado do século XVII ) . Planta de João</p><p>Teixeira Albernás, inédita. Arquivo do Itamar a ti, Rio de Janeiro.</p><p>História do Brasil- Século XVII 735</p><p>59 recomendou Francisco Barreto ao ouvidor da repartição do Sul :</p><p>"Sôbre a morte do clérigo natural de Santos, e Francisco da Costa</p><p>Barros deve V. M.cê devassar (se o não tiver feito ) as j ustiças para</p><p>que conste o nome dos culpados, e se possa proceder contra êles."64</p><p>Não apareceram. Salvador Correia, de passagem para São Paulo,</p><p>agravou a situação com um aumento de taxas, que acabou por deses</p><p>perar o comércio. Mas não foi somente o comércio que se rebelou ; tam</p><p>bém a nobreza dos arredores, indisposta com Tomé Correia, que</p><p>continuava a governar. Valeu-se de estar longe o herói de Angola : de</p><p>zoito dias depois de sua partida explodiu a revolta, em São Gonçalo,</p><p>do outro lado da baía.</p><p>Em 8 de novembro ( 1660) senhores de engenho, soldados e povo</p><p>investiram as ruas, a aclamar por governador Agostinho Barbalho Be</p><p>zerra,65 j urando morte aos Correias. Esconderam-se êstes no mosteiro</p><p>de São Bento. Barbalho quis recusar; coagido, teve de aceitar o go</p><p>vêrno ; moderou os ânimos, protegeu os primos de Salvador de Sá, alo</p><p>j ando-os nas fortalezas da barra, e, por fim, tanto para atender aos</p><p>sublevados como para resguardá-los, os embarcou num patacho desti</p><p>nado à Madeira.oo</p><p>Francisco Barreto, em carta a êsse "governador eleito pelo povo do</p><p>Rio de Janeiro" (25 de j aneiro de 1661 ) , concitou-o a "sacrificar-nos</p><p>antes do que faltar à observância" das ordens del-rei.67</p><p>Na verdade, aquêles tumultos degeneravam inequivocamente em re</p><p>volução.</p><p>MULA TOS E MAMELUCOS-Como se perdeu a memória dos fatos</p><p>que fizeram Salvador Correia ( no bando que fêz apregoar em São</p><p>Paulo, ao som de caixas, em 1 de j aneiro de 61) usar pela primeira</p><p>vez o grave nome de "inconfidentes", para os rebeldes à sua autoridade,</p><p>é indispensável pormenorizar-lhes o caráter popular, a arrogância nati</p><p>vista, o espírito agressivo, o alcance político. Não se pense que foi uma</p><p>agitação superficial que se extinguia com a deposição dos Sás . Tomou</p><p>logo o aspecto de um rompimento com as leis do reino, pois, não con</p><p>tentes de eleger governador (Agostinho Barbalho) os insurretos consti</p><p>tuíram "forma de Parlamento" (disse no bando, indignadamente, Salva-</p><p>buíram o crime a Tomé Correia de Alvarenga e seu cunhado, que supliciaram</p><p>Jerônimo Camelo, portador das cartas de Costa Barros para um desembargador</p><p>da Relação da Bahia, A. LAMEGO, op. eit., I, pág. 75, Bruxelas, 1913. A luta eviden</p><p>temente travara-se em tôrno da permanência do governador interino, que os adver</p><p>sários dos Sás queriam afastar : sabiam que êle guardava o lugar para o primo,</p><p>ainda mais temido.-64. Does. Hist., V, pág. 112.--65. Agostinho Barbalho era o</p><p>primogênito do Mestre-de-Campo Luís Barbalho, JABOATÃO, op. eit., pág. 311.</p><p>Soldado desde 1633, acompanhara o pai ao Rio de Janeiro, e nos episódios de</p><p>1660-61, se mostrou homem de honra, leal a el-rei, motivo por que o Conde de</p><p>óbidos o recomendou ao governador do Rio de Janeiro, em 4 de abril de 1665,</p><p>como pessoa da confiança de S . M., Does. Hist., V, págs. 48-49. Recebeu como</p><p>prêmio a capitania da ilha de Santa Catarina (provisão de 4 de fevereiro de 1664),</p><p>como diremos.-66. Carta de Agostinho Barbalho ao governador-geral, 15 de dezem</p><p>bro de 1660, ibid., pág. 124. --67. Ibid., XXXIII, pág. 286 ; descrição da "bernarda"</p><p>736 Pedro Calmon</p><p>dor Correia ) com quatro pessoas da nobreza, à frente destas Jerônimo</p><p>Barbalho Bezerra, e quatro oficiais,68 assumindo essa j unta deliberativa</p><p>a direção da revolta, enquanto (contaram os oficiais da Câmara, em</p><p>abril ) o "vulgacho", sem perdoar "igrej as nem ministros eclesiásticos",</p><p>"descompondo o Prelado e a religião de São Bento e a Companhia", so</p><p>bretudo . . . "mulatos e mamaluquos"-se descomedia em atrozes ex</p><p>cessos.69 Isso de mamelucos e mulatos, em conjunção com a nobreza</p><p>(Govêrno Aristocrático, indica Salvador no Bando de 1 .0 de janeiro)</p><p>atesta a generalização da desordem, que começava pelo desrespeito às</p><p>casas religiosas mais ligadas à "oligarquia" (beneditinos e j esuítas ) .</p><p>Ia porém mais longe. Lourenço de Brito Correia escreveu da Bahia</p><p>(27 de abril de 61 ) que . . . "sendo-lhes necessário para sua conservação</p><p>fazerem-se mouros o hão de fazer"; e que se falava de comunicação</p><p>dêles com Buenos Aires, num possível movimento que importaria a</p><p>perda do Rio de Janeiro, entregue a castelhanos !7° Ignora-se onde a</p><p>realidade dos sentimentos e a intriga se cruzavam nessa revelação as</p><p>sustada ; mas é visível, da alarmada epístola ao rei, a dimensão peri</p><p>gosa que aparentava o motim, transbordando (como em 1645 o levante</p><p>pernambucano) de um pronunciamento ocasional, para tomar a feição</p><p>de . . . inconfidência. Inconfidentes ao Serviço real-denunciou Salva</p><p>dor Correia.</p><p>Também não passou às crônicas (e os documentos informam) o modo</p><p>inesperado da sua debelação.</p><p>Chegara a armada de Portugal, sob o comando de Manuel Freire</p><p>de Andrada. Velej ou para o Rio, a proteger a praça. Foi quando Sal</p><p>vador (conciliados os paulistas ) , dela se aproximou, desembarcando</p><p>na Ilha Grande71 com o refôrço de criados e índios das aldeias.72 Os</p><p>amotinados opuseram-se à intervenção de Freire de Andrada, pedindo</p><p>que deixasse a bordo os homens de armas. Valeu-se porém Salvador da</p><p>situação, e de súbito, ao amanhecer com a sua gente tomou sem alarido</p><p>os fortes do Castelo e de Santiago, a Casa da Câmara, onde se reuniam</p><p>os sublevados, e os quartéis; e acabou de dominar a cidade com a in</p><p>fantaria da frota. Sem demora cumpriu a ameaça, que fizera em 1</p><p>de janeiro, de castigar de morte os cabeças e deportar os outros, man</p><p>dando prender os principais. Não perdoou a Jerônimo Barbalho. Con</p><p>denou-o; e ordenou que o degolassem no cadafalso .73 Com o exemplo</p><p>em VIEIRA FAZENDA, Rev. do lnst. Hist., CXLII, pág. 498.-68. PEDRO TAQUES,</p><p>Informação Sôbre as Minas de São Paulo, pág. 92 ( ed. de TAUNAY); Registro Geral</p><p>da Câmara de São Paulo, III, pág. 5.-69. Doc. transcrito por Luís NoRTON, op.</p><p>oit., págs. 333-334.-70. Doc. in Luís NORTON, op. oit ., pág. 336.-71. Salvador dera</p><p>como pretexto ir ver umas madeiras para o galeão que mandara fazer para el-rei</p><p>na Ilha do Governador (onde ficou o nome de Ponta do Galeão ) : o Padre Eterno,</p><p>no depoimento do inglês Barlow o maior do mundo, conforme O Mercúrio Português.</p><p>-72. Carta dos Oficiais da Câmara do Rio, 26 de abril de 1661, citada.-73. Vid.</p><p>LAMEGO, op. oit. e TAUNAY, Hist. Ger. das Band. Paul., V, pág. 302. FR. JABOATÃO,</p><p>confundindo Jerônimo e Agostinho Barbalho, op. oit., pág. 311, diz que o degolado</p><p>foi êste. Se parentes, era distante o parentesco, vid. BORGES DA FONSECA, op. oit.,</p><p>História do Brasil - Século XVII 737</p><p>dessa cabeça caída (regozij ou-se Francisco Barreto ) 74-e a remessa</p><p>para a Bahia de vários réus-voltou o Rio, oprimido pela reação impla</p><p>cável, à anterior quietude.</p><p>Era tarde, para o poderio irritado de Salvador Correia.</p><p>Exterminara a desordem, não as queixas. Além disto, desgostara</p><p>o rei essa insurreição que lembrava a Catalunha (na frase de Lourenço</p><p>de Brito ) e se envenenara de desaforos inesperados. Deu ouvidos à</p><p>prudência, enviando governador que o substituísse-Pedra de Melo</p><p>com a recomendação de compor as cousas.75 E</p><p>retirou o seu favor a</p><p>Correia de Sá. Não volveriam ao velho prestígio, 76 à iracunda e larga</p><p>autoridade neste Rio que fôra como seu feudo e província !</p><p>Salvador recolheu-se ao reino na frota de 1663-para não mais</p><p>tornar ao Brasil. Chegou a Lisboa em 24 de j unho. Comandava a</p><p>frota-de oitenta e cinco navios-Francisco Freire de Andrade. "Achou</p><p>ordem para o levarem prêso para a Tôrre de São Gião, e a mesma</p><p>esperava também a Salvador Correia de Sá e Benavides conselheiro</p><p>dos Conselhos de Guerra e Ultramarino, para ser levado para</p><p>a Tôrre Velha, como ambos o foram, por culpas dizem de se deter no</p><p>Brasil a frota que houvera de vir o ano antecedente, e esta carregava</p><p>mais ao general e a Salvador Correia, outra que se lhe impunha de</p><p>permitir subornado a quatro navios holandeses que fôssem ao Rio de</p><p>Janeiro onde era governador, carregassem ali de açúcares, vendidas as</p><p>mercadorias que traziam, e com o retôrno se voltassem a Holanda, per</p><p>dendo el-rei todos os direitos, e os portuguêses os seus interêsses : e</p><p>que por esta causa não tivera a frota bastante carga para vir para o</p><p>reino, por não achar saída no Brasil as fazendas que levara por estar</p><p>aquêle Estado provido das que trouxeram os holandeses."77</p><p>I, pág. 38 ; e VARNHAGEN, V, pág. 319.-74. Carta de 10 de maio de 1661, Does.</p><p>Hist., V, pág. 131. Em 10 de abril (tardiamente ) escrevera Salvador ao rei pedindo</p><p>que se abrisse devassa, ms. na Bibl. Pública do Pôrto, inéd. Agostinho Barbalho</p><p>estava na Bahia em 29 de abril, Does. Hist., V, pág. 129. O governador-geral temia</p><p>que a justiça da Bahia fôsse parcial, ibid., pág. 136.-75. Empossou-se Melo em</p><p>29 de abril de 62, R. GARCIA, nota a VARNHAGEN, V, pág. 319 ; Does. Hist., V, pág.</p><p>170. Em Lisboa, "Luís da Silva Teles fôra desterrado por ter tirado do navio</p><p>em que viera do Brasil prêso a um parente de seu sogro Salvador Correia de Sá</p><p>e Benavides", D. Afonso VI, pág. 45, ed. de E. BRASÃO. Era Tomé Correia, cf. doc.</p><p>in Luís NORTON, op. cit., pág. 331. ltste retornou ao Rio e foi em 1671 provedor</p><p>da Misericórdia, cf. FÉLIX FERREIRA, A Santa Casa da Misericórdia Fluminense,</p><p>pág. 112. Sôbre os sucessos de 1660, VIEIRA FAZENDA, Rev. do Inst. Hist., CXLIII,</p><p>págs. 20 e segs.-76. Prova o desfavor em que ficou Salvador Correia a dissolução da</p><p>companhia de infantaria de seu filho João Correia, Does. Hist., V, pág. 170.-</p><p>77. D. Afonso VI, págs. 147-148. Outro incidente que indica a prevenção Del-Rei</p><p>Afonso VI com os Sás foi o que sucedeu ao se travarem de razões criados de João</p><p>Ccnti e do próprio soberano e os de Martim Correia de Sá, 1.0 Visconde de Asseca,</p><p>filho do velho Salvador Correia, Catástrofe de Portugal na Deposição de D. Afonso</p><p>VI, 1669, vid. LAMEGO, op. cit., I, pág. 84. Sobreviveu-lhe o general. Faleceu em 1688.</p><p>Sepultado na sacristia dos carmelitas de Lisboa, a lápide do seu túmulo dizia : "Aqui</p><p>jaz Salvador Corrêa de Sá e B enavides, senhor do couto de Pena Boa e das vilas</p><p>de Tanquinhos, Arripiada e Asseca, restaurador da fé e de XPTO nos reinos de</p><p>Angola Congo B enguela São Tomé vencendo os holandeses e comprou essa sacristia</p><p>738 Pedro Calmon</p><p>REINCORPORAÇÃO DO SUL-Salvador Correia não foi mais feliz</p><p>do que o pai e o avô no empreendimento das minas que viera administrar.</p><p>A êste respeito resultou-lhe infrutífera a subida ao planalto. Demitido</p><p>do govêrno do Rio de Janeiro, ressonância, como se disse, das alte</p><p>rações que não soubera evitar, ao mesmo tempo acabava a separação</p><p>das três capitanias. Não houve ato régio que as mandasse reincorporar.</p><p>O governador-geral tomou a destituição de Salvador Correia como fim</p><p>disto. Já em 15 de j ulho de 1661 lamentara : "Desta última carta de</p><p>V. s.a fico com o último desengano de não haver mais minas que as</p><p>de que V. s.a me dá notícia : porque se as houvera se não esconderiam à</p><p>diligência, ao zêlo e à despesa com que V. s .a se empenhou em seu des</p><p>cobrimento.78 Em 3 de j unho de 1662 foi peremptório : "Por haverem</p><p>expirado, com o govêrno do Sr. Salvador Correia de Sá e Benavides,</p><p>todos os provimentos que fêz enquanto durou a separação das capita</p><p>nias do Sul que teve fim com não surtir efeito o descobrimento das</p><p>minas, em que ela se fundou : me pareceu prover o cargo de capitão-mor</p><p>dessa do Espírito Santo na pessoa de Joseph Rebêlo Leite."79 Avisou</p><p>também a Pedro de Melo que devia propor-lhe as nomeações militares,</p><p>que assinaria . . . Exatamente como fizera com André Vidal-numa</p><p>definição de sua autoridade superior.80</p><p>VICE-REI-Para substituir a Francisco Barreto81-ansioso por voltar</p><p>à pátria, que deixara em 1648-foi nomeado o Conde de óbidos.82 Tra</p><p>zia título novo : vice-rei do Brasil (a modo do Marquês de Montalvão</p><p>em 1640 ) , igual ao que tivera na fndia.</p><p>Nomeação e elevação explicam-se-segundo um cronista-pelos ser</p><p>viços prestados a D. Afonso VI no ato de tomar o poder à rainha</p><p>regente D. Luísa. "Quarta-feira 28 de j unho se declarou a eleição do</p><p>Conde de óbidos, D. Vasco Mascarenhas, nomeado vizo-rei do Estado</p><p>do Brasil e deu-se-lhe o tal govêrno com êste título contentando-se êle</p><p>no tempo que a rainha regia só com o de governador como tiveram todos</p><p>os seus antecessores naquela conquista. Parece que lhe satisfizeram o</p><p>ser lançado da fndia onde estava sendo vizo-rei. Antes de entrar el-rei</p><p>no govêrno o favorecia muito (por ser seu gentil-homem da Câmara)</p><p>na pretensão. Agora lho despachou com maiores vantagens."83 Tinha</p><p>outro fundamento : a definitiva unificação administrativa.</p><p>com missas e sufrágios perpétuos pede a quem ler êste letreiro o encomende a</p><p>Deus." ALBERTO RANGEL em 1910 procurou em vão essa pedra, desaparecida com</p><p>tantas outras reliquias dêsse tempo. Vid. também JosÉ MARIA ANTÔNIO NoGUEIRA,</p><p>Esparsos, págs. 518-530.-78. Does . Hist., V, pág. 136.-79. Ibid., pág. 160.-80.</p><p>Carta de 29 de abril de 1662, ibid., pág. 148.-81. Chegou a Lisboa a 14 de no</p><p>vembro de 1663, com "cinco navios cuj a principal carga de açúcar, tabaco e outras</p><p>dwgas se dizia ser sua contando-se-lhe o cabedal por centos de mil cruzados e</p><p>havendo ido servir àquela conquista como soldado particular", D. Afonso VI, pág.</p><p>187. Ainda em 1687 era Francisco Barreto presidente da Junta do Comércio Geral,</p><p>T. do Tombo, Chanc. de D. Pedro li, liv. 64, f. 230.-82. O palácio do Conde de</p><p>óbidos em Lisboa, sôbre a rocha do seu nome, diz bem do fausto de D. Vasco.</p><p>Vid. Portas Brasonadas de Lisboa, desenhos de Alberto Sousa, pref. de JÚLIO DANTAf:.</p><p>-83. D. Afonso VI, págs. 52-53. O Conde de óbidos empossou-se em 26 de junho de</p><p>História do Brasil - Século XVII 739</p><p>Em 21 de julho de 1663 o Conde de óbidos declarou : "Porquanto com</p><p>a separação das capitanias do Sul concedidas a Salvador Correia de</p><p>Sá e Benavides, e intento que alguns governadores de Pernambuco</p><p>tiveram de subordinar a sua obediência às do Norte interpretando muito</p><p>como não deviam as suas patentes, se deixaram, e perverteram as ordens</p><p>que os capitães-generais meus antecessores mandaram a umas e outras</p><p>capitanias . . . convém que antes de outra disposição me sejam presentes</p><p>todos os postos, cargos, ofícios, e mais ocupações políticas e militares</p><p>que há em todo o Brasil."8•</p><p>Ato contínuo, expediu o Regimento que deviam seguir os capitães</p><p>mores das diversas capitanias do Brasil ( com a reafirmação de que,</p><p>independentes umas das outras, "são imediatas e suj eitas a êste geral :</p><p>por cuj o respeito só dêle (govêrno) há de aceitar o capitão-mor as</p><p>ordens" ) .85</p><p>Formava o primeiro código, ou esbôço de constituição dos podêres</p><p>regionais, dando-lhes uniformidade, método e hierarquia. Intervinha</p><p>nos assuntos municipais, para corrigir os abusos : e estranhou que a</p><p>Câmara de Olinda "dá na sua conta dois mil cruzados em festas cada</p><p>ano (não tendo a desta cidade mais que 80$000 para a da aclamação</p><p>por provisão real) e 150$000 cada mês ao Hospital", "modo confuso</p><p>de se desbaratar a Fazenda real e do povo".86</p><p>Inspirou-se talvez na opinião do Padre Vieira, sôbre a conveniência</p><p>de desenvolver no Brasil as culturas que faziam a riqueza</p><p>das índias</p><p>do Oriente e de Castela : e teve pressa em propagá-las na Bahia. Co</p><p>meçou pelo cacau.</p><p>1663. Vice-rei da fndia, 1652-53 fôra "lançado e embarcado pelos moradores de</p><p>Goa a título de descontentamentos", carta do rei, 18 de agôsto de 1654, in Um</p><p>Diplomata Português da Restauração, Antônio da Silva e Sousa, pág. 25, Bibl.</p><p>Nac., Lisboa, 1940 ; e TEIXEIRA DE ARAGÃO, Descrição Geral e História das Moedas,</p><p>III, pág. 234, Lisboa, 1880.-84. Does. Hist., IV, pág. 115. Lembrava a decisão do</p><p>Marquês de Montalvão e depois de Antônio Teles da Silva, para que nenhuma</p><p>patente, provisão ou alvará del-rei ou donatário se executasse antes do "cumpra</p><p>se" dado pelo govêrno-geral na Bahia. Em carta ao governador do Rio de Janeiro,</p><p>de 23 de outubro, explicou : "Achei as cousas dêste Estado tão demasiadamente</p><p>confusas e a jurisdição dêste govêrno tão sem limite despedaçada ; que para se</p><p>tornar a unir e restituir o govêrno a aquêle ser em que se deve conservar e que</p><p>el-rei meu Senhor quer que o Brasil tenha, etc.", ibid., V, pág. 465.-85. Regi</p><p>mento de 1.0 de outubro de 1663, ibid., IV, págs. 118-124 ; e Registo Geral da Câmara</p><p>de São Paulo, III, págs. 137-41 . Seguiu-se a 24 de outubro o Regimento para a co</p><p>brança do donativo do dote da rainha de Inglaterra e paz de Holanda : consolidação</p><p>das normas relativas à contabilidade do fisco no Brasil. Veio em seguida o Desem</p><p>bargador João de Góis de Araújo, aliás natural da Bahia, "encarregado da arreca</p><p>dação das dívidas da Fazenda real", prov. de 5 de abril de 1667, Does. Hist.,</p><p>XXIII, pág. 231.-86. lbid., XI, pág. 216, carta de 30 de dez. de 64 a D. João</p><p>+.-FRANCISCO BARRETO TOMA POSSE DA CIDADE DO RECIFE ( 28 de j a</p><p>neiro de 1654 ) , transmitida pelo General von Schkoppe e autoridades holandesas</p><p>na porta sul de Santo Antônio. Desenho de J. W asth Rodrigues.</p><p>História do Brasil - Século XVII 741</p><p>"Dizem-me-escreveu a D. Fradique da Câmara, governador do</p><p>Maranhão, em 22 de abril de 1665-que há nesse Estado cacau, e que</p><p>fàcilmente poderá vir ao Ceará, e do Ceará a Pernambuco, em forma</p><p>que se possa plantar ou semear nesta terra, donde parece se dará tão</p><p>bem como nessa . . . Como natural quase que sou do Brasil, lhe de</p><p>sejara deixar em todo caso êste princípio de nova felicidade sua."B7</p><p>CONSPIRAÇÃO OBSCURA-Os acontecimentos do reino impressio</p><p>navam a êste tempo os mais prestantes moradores da Bahia. Houve</p><p>uma tentativa de rebelião coincidente com as exéquias da rainha de</p><p>Portugal, D . Luísa de Guzman-em 29 de maio de 1666. A viúva de</p><p>D. João IV terminara os seus dias no convento das carmelitas, ao Grilo,</p><p>a que se acolhêra depois que o filho D. Afonso VI-aj udado do mesmo</p><p>Conde de óbidos-tomara em 1662 violentamente o poder. Metera-se</p><p>num silêncio sem testemunhas, e morrera, abençoada de longe pelos</p><p>bons servidores de Portugal cuja independência tanto lhe devia. No</p><p>Brasil eram muitos os veteranos de 1640, indignados com o que suce</p><p>dera em Lisboa e porventura esperançosos ( como o Padre Antônio</p><p>Vieira) de melhores tempos, com a elevação ao trono do Infante D.</p><p>Pedro, capaz e forte. Na mesma data das exéquias baixou o vice-rei</p><p>uma portaria : "Porquanto estando hoj e na Santa Sé desta cidade para</p><p>se celebrarem as exéquias da Sereníssima Rainha Nossa Senhora (que</p><p>está no Céu ) houve uma Revolução ; e convém averiguar-se quem foram</p><p>os culpados para se proceder contra êles. Ordeno ao Doutor Afonso</p><p>Soares da Afonseca Ouvidor-Geral do Cível dêste Estado, que tire logo</p><p>uma informação jurídica do caso : e tudo o que obrar me dará conta</p><p>para o ter entendido."88 Sete culpados pelo menos apareceram : o chan</p><p>celer da Relação Dr. Jorge Sêco de Macedo, o velho Coronel Lourenço</p><p>de Brito Correia89 e seu filho Lourenço de Brito Figueiredo, os capitães</p><p>Francisco Teles de Meneses, Antônio de Queirós Cerqueira e Paulo de</p><p>Azevedo Coutinho, e o secretário de Estado Bernardo Vieira Ravasco.90</p><p>de Sousa.-87. Does. Hist., IX, pág. 221. No mesmo sentido, carta ao Capitão</p><p>João Batista Pereira, ibid., pág. 226. E para o capitão-mor do Pará : " Sou afei</p><p>çoado do chocolate ; e sôbre esta razão menos importante assenta a principal de ser</p><p>útil ao Brasil transplantar-se a êle a fruta do cacau", ibid., pág. 227, prova de</p><p>que j á então se conhecia no Pará e no Maranhão, e possivelmente é dêsse tempo</p><p>o início da plantação na Bahia, onde se realizou a profecia do vice-rei : "felicidade</p><p>sua". Histórico da respectiva lavoura, in LEO ZEHNTNER, Le Cocaoyer dans</p><p>l'État de Bahia, pág. 34, Berlim, 1914. O P. João Filipe Betendorf levou em</p><p>1674 sementes do Pará para o Maranhão e tinha três anos depois 2 mil pés de</p><p>cacau, P. SERAFIM LEITE, op. cit., IV, pág. 159.-88. Does. Hist., VII, pág. 248.</p><p>Pregara nas exéquias o prior dos carmelitas, Fr. Joseph do Espírito Santo e diri</p><p>gira a música o licenciado P. Francisco Luís, ibid., pág. 252. Sôbre as ocorrências</p><p>da metrópole, DAMIÃO PERES, História de Portugal, VI, pág. 106, Barcelos, 1934.</p><p>Morreu a rainha em 27 de fevereiro de 1666.-89. Portaria de 8 de julho de</p><p>1666 : " . . . foi recluso e prêso (o Des. Jorge Sêco ) pela culpa que resultou da</p><p>devassa que pelo Juízo Eclesiástico se havia mandado tirar, em que saiu culpado</p><p>na conjuração que Lourenço de Brito Correia intentava", Does. Hist., VII, pág.</p><p>254. Em carta de 6 de agôsto, Arq. Hist. Ultr., Papéis Avulsos, deu o conde</p><p>notícia a el-rei do sucedido, enviando seis pessoas prêsas.-90. Portaria de 1.0 de</p><p>7 42 Pedro Calmon</p><p>Não se sabe se a agitação foi um protesto-contra o homem que</p><p>fazia grande cerimonial em homenagem à rainha que auxiliara a depor</p><p>-ou movimento mais extenso.91 O delator, Capitão Damião Lençóis</p><p>de Andrade, do têrço do Mestre-de-Campo Alvaro de Azevedo ( que não</p><p>seria estranho à intriga ) , teve de prêmio a patente de sargento-mor e</p><p>a transferência para a metrópole.92 Dois anos depois-com a queda de</p><p>Afonso VI e a ascensão do Príncipe D. Pedro-ganhou Lourenço de</p><p>Brito a provedoria da Fazenda ( 1 .0 de março de 1668 ) .93</p><p>Sobreveio a epidemia das bexigas que de Pernambuco se alastrou</p><p>então até o Rio de Janeiro. Faltam cálculos aceitáveis da mortandade</p><p>que fêz. Foi a primeira moléstia contagiosa que infestou estas terras</p><p>onde não se estranhava a longevidade, de indígenas e forasteiros.94</p><p>Pretende Rocha Pita que a lavoura quase se aniquilou, com a perda de</p><p>tantos braços.</p><p>ALEXANDRE DE SO USA FREIRE-Ao Conde de óbidos sucedeu</p><p>Alexandre de Sousa Freire, que se empossou em 13 de j unho de 1667 e</p><p>completou um quatriênio ( até 8 de maio de 71 ) .95 Não fêz govêrno no</p><p>tável ; e se nêle se retardou a razão foi deplorável : o naufrágio em que</p><p>j aneiro de 1667 : "Porquanto o Capitão Bernardo Vieira Ravasco . . . está impe</p><p>dido e prêso há mais de oito meses", P. CALMON, O Crime de Antônio Vieira,</p><p>poíg. 111. O desfavor em que caíra o irmão do Padre Vieira é sensível em vários</p><p>documentos, Does. Hist., LXVI, pág. 166.-91. Vid. pág. 842, "Partidos da</p><p>Côrte". FREI JABOATÃO, op. cit., pág. 228, diz que a conjura era para prender</p><p>o conde, e nela figuraram Francisco Teles de Meneses, Lourenço de Brito, "o</p><p>Queirós e Álvaro de Azevedo". Meneses, mandado prêso para o reino, voltou</p><p>em companhia do Governador Alexandre de Sousa Freire, em 1668. A provisão</p><p>com que o rei o integrou na patente de capitão, de 3 de março de 1667, disse :</p><p>"desapossado dela sem culpa alguma o Conde de óbidos pela presunção de um</p><p>chamado motim contra sua pessoa que se não provou", Does. Hist., XXIII, pág.</p><p>5. O Capitão Antônio de Queirós Cerqueira foi restituído em 1668, ibid., pág. 203.</p><p>-92. Doc. in BRÁS DO AMARAL, nota a ACCIOLI, 11, pág. 129.-Haveria qual</p><p>quer ligação entre o motim da Bahia e as predições do Padre Vieira, recluso</p><p>então em Coimbra e a responder perante o Santo Ofício-quanto ao ano de</p><p>666, vid. J. LúciO D'AZEVEDO, Hist. de Antônio Vieira, 11, pág. 58.-Damião de Len</p><p>çóis teve, por sua mulher, filha do Coronel Francisco Pereira do Lago, o famoso mor</p><p>gado de Santa Bárbara, na Bahia, JABOATÃO, op. cit., tít. "Pereiras</p><p>Fugidos, 857-A Lutá Infindável, 861- Do</p><p>mingos Jorge Velho, 862-A Guerra do Açu, 864-Pazes Inesperadas, 867-</p><p>A Derrota dos Quilombolas, 870-Como Acabou o Zumbi, 872.</p><p>XXVI-Os "MALES DO BRASIL"</p><p>O "Braço de Prata", 874-0 Caso do Alcaide, 875-Marquês das Minas, 876</p><p>-A Epidemia Grande, 877-Matias da Cunha, 879-Câmara Coutinho, 881-</p><p>Alterações da Moeda, 884-Moeda Provincial, 886-Alimentos e Justiça, 887</p><p>-Viagem e Morte do Arcebispo, 887-D. João Franco, 889.</p><p>XXVII-O GRANDE GOVÊRNO DE D. JOÃO DE LENCASTRO</p><p>O Preferido da Terra, 891-A Casa da Moeda, 893-0 Salitre, 895-Vilas</p><p>e Juízes, 895.</p><p>XXVIII-MAGISTRADOS E GOVERNOS</p><p>Predomínio do Bacharel, 899-Marcha para o Absolutismo, 900-Vereadores,</p><p>900-Centralização , 902-0rdem Sertanej a, 903-0s Irmãos Vieira, 905-</p><p>1700, 905.</p><p>XXIX-INÍCIO DO CICLO DO OURO</p><p>Minas Gerais, 907-Artur de Sá, 910-0s Arraiais, 911-0 Guarda-Mor,</p><p>913.</p><p>XXX-FôRÇAs EcoNÔMICAS</p><p>Suficiência, 915-0 lnterêsse de Portugal, 916-Pau-Brasil, 918-Açúcar,</p><p>919-A Escravatura, 924-Tabaco, 929-Criação de Gado, 931-Especiarias,</p><p>932-Dízimos do Estado, 934.</p><p>XXXI-A CULTURA NO SÉCULO XVII</p><p>Iniciação Literária, 935-A Língua, 936-0 Ensino, 936-Mazombos, 938-</p><p>Frei Vicente, 939-As Três Características, 940-Autores, 941-Antônio</p><p>Vieira, 944-Gregório de Matos, 945-Poetas Menores, 948-Estudantes ,</p><p>951-Frades, 952-Escolas e Livros, 954-Ciência, 955.</p><p>XXXII-ARTE SEISCENTISTA</p><p>Originalidade Impossível , 957-0 Barroco, 958-Arquitetos, 959-Síntese do</p><p>2.o Século, 963.</p><p>SÉCULO XVIII-RIQUEZAS E VICIS SITUDES</p><p>I-EMBOABAS E PAULISTAS</p><p>Avidez de Fortuna, 969-0 Impôsto del-Rei, 971-Contrastes, 972-Luta Ine</p><p>vitável, 973-0 "Caminho Novo", 975-0 Conflito e Seus Chefes, 975-Pro</p><p>cessos de Mineração, 977-Nunes Viana, 977-Intervenção e Recuo, 980-</p><p>Reação Paulista, 982-Capitania de São Paulo e Minas, 983.</p><p>!I-OS FRANCESES ATACAM O RIO DE JANEIRO</p><p>Interêsse Estrangeiro, 986-Acontecimentos da Europa, 987-A Aliança</p><p>Inglêsa, 987-A Aventura de Duclerc, 988-Estudantes, 992-A Morte do</p><p>Corsário, 993-Duguay-Trouin, 995-A Surpreendente Invasão, 996-A Ci</p><p>dade Salva e Resgatada, 999-Repercussão na Bahia, 1000.</p><p>!!I-PRIMEIRAS REVOLTAS</p><p>Governadores-Gerais, 1002-Primeiro Motim, 1003-0 Segundo Levante,</p><p>1005-Autonomia Perdida, 1007-Aristocratas e Negociantes, 1008-A Vila</p><p>do Recife, 1009-Antes República, 1011-A "Capitulação" Atrevida, 1013</p><p>-Reação dos Mercadores, 1016-A Luta, 1018-0 Castigo, 1019.</p><p>IV-SÃO PAULO E MINAS GERAIS</p><p>Pacificação, 1022-As Três Comarcas, 1023-D. Brás Baltasar, 1024-Co</p><p>brança dos Quintos, 1024-0 Conde de Assumar, 1026-Dragões das Minas,</p><p>1028-Separação das Capitanias, 1030-0 Levante de 1720, 1030-0nde se</p><p>Fala em República, 1034-D. Lourenço de Almeida, 1036-Moeda Falsa,</p><p>1037-Capitação, 1037.</p><p>V-Os MILHÕES DO BRASIL</p><p>Alexandre de Gusmão, 1039-A Volta aos Quintos, 1041-Quantos Milhões,</p><p>1041-Descobrimento de Diamantes, 1044-Contratos do Tijuco, 1045-Re</p><p>sultados, 1047.</p><p>VI-VICE-REIS NA BAHIA</p><p>O Título, 1049-0 Marquês de Angeja, 1049-0bras Urbanas, 1051-Conde</p><p>de Vimieiro, 1053-Conde de Sabugosa, 1053-A Academia dos Esquecidos,</p><p>1056-0 Donativo de 1727, 1057-0 Conde das Galveias, 1057-Atouguia,</p><p>1059-Conde dos Arcos, 1059-1.0 Marquês de Lavradio, 1059.</p><p>VII-GOVERNADORES DO RIO</p><p>Praça Forte, 1061-Francisco de Távora, 1062-0 Santo Ofício, 1063-Fim</p><p>da Inquisição, 1065-"0 Onça", 1066.</p><p>VIII-No TEMPO DE GOMES FREIRE</p><p>O Homem, 1068-Concentração do Poder, 1068-Rio de Janeiro, 1069-Bis</p><p>pos Fluminenses, 1073-Visão de Conjunto, 1075-0 Brigadeiro Alpoim,</p><p>1076-A Relação no Rio de Janeiro, 1077.</p><p>íNDICE DE ILUSTRAÇõES</p><p>DA</p><p>HISTóRIA DO BRASIL-VOLUME III</p><p>MAPA DO BRASIL NO SÉCULO XVII . .</p><p>FERNAO DIAS PAIS - SíMBOLO DAS BANDEIRAS</p><p>PREPARAÇAO DE FARINHA DE MANDIOCA</p><p>íNDIOS NAS FAZENDAS . . . . .</p><p>MARCO DE PEDRA DATADO DE 1758 .</p><p>RETRATO DE SALVADOR CORREIA DE SA</p><p>BATALHA DAS TABOCAS . . . .</p><p>RECIFE (MAURITZSTADT) NO DOMíNIO HOLANDÉS</p><p>PASSAGEM DO RIO SAO FRANCISCO POR UMA EXPEDIÇAO HOLANDESA</p><p>BRASAO DO BRASIL HOLANDÉS</p><p>SEGUNDA BATALHA DOS GUARARAPES</p><p>NOSSA SENHORA DA ASSUNÇAO .</p><p>MESTRE-DE-CAMPO ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS</p><p>IMAGEM DE SANTO ANTONIO</p><p>NOSSA SENHORA DO BRASIL</p><p>íNDIOS NO PREPARO DA REFEIÇAO</p><p>BANDEIRANTES PAULISTAS</p><p>ENTRADA DO FORTE DE MONSERRATE, BAHIA</p><p>TORRE DA IGREJA DO TÉRÇO</p><p>CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO (MEADO DO SÉCULO XVII)</p><p>FRANCISCO BARRETO TOMA POSSE DA CIDADE DO RECIFE .</p><p>BANDEIRANTES FAZENDO UMA CANOA</p><p>MASCARA DE DANÇA DE íNDIO UANANA</p><p>CHEFE INDíGENA CAMACA</p><p>ASSINATURA DE BELCHIOR DIAS MORÉIA</p><p>íNDIA CAMACA</p><p>íNDIO COROADO DANDO SINAL DE COMBATE</p><p>FORTALEZA DE SANTO ANTONIO DA BARRA .</p><p>RELíQUIA DO TEMPO DOS BANDEIRANTES: IGREJA DE SAO MIGUEL</p><p>ROTEIRO DAS MAIS IMPORTANTES BANDEIRAS DE FIXAÇAO .</p><p>MONUMENTO DAS BANDEIRAS, NO ffiiRAPUERA, EM SAO PAULO</p><p>FORTE DO MORRO DE SAO PAULO, NA BAHIA</p><p>CASA DO BANDEIRANTE, NA CIDADE DE SAO PAULO</p><p>LAPIDE DO TúMULO DE FERNAO DIAS PAIS .</p><p>ANTIGO COLÉGIO DOS JESUíTAS, PARANAGUA</p><p>VELHA CASA DE LAGUNA, SANTA CATARINA</p><p>RETRATO DO MARQUÉS DAS MINAS</p><p>FALECIMENTO DE FERNAO DIAS</p><p>CHEFE GUAICURU</p><p>MANUEL DE BORBA GATO</p><p>GRADE DO CORO DA IGREJA DAS CLARISSAS NA BAHIA</p><p>IMAGEM SEISCENTISTA . . . . . .</p><p>LADEIRA E CONVENTO DE SANTA TERESA, BAHIA</p><p>RUíNAS DA IGREJA DE SAO MIGUEL DAS MISSõES</p><p>BASíLICA DO SENHOR DO BONFIM . . . . .</p><p>Págs.</p><p>VIII-IX</p><p>XI</p><p>XIX</p><p>XX</p><p>693</p><p>696</p><p>698</p><p>704</p><p>707</p><p>708</p><p>710</p><p>713</p><p>716</p><p>718</p><p>719</p><p>720</p><p>724</p><p>728</p><p>732</p><p>734</p><p>740</p><p>745</p><p>748</p><p>749</p><p>750</p><p>753</p><p>755</p><p>758</p><p>759</p><p>762</p><p>765</p><p>767</p><p>768</p><p>769</p><p>771</p><p>775</p><p>777</p><p>781</p><p>784</p><p>786</p><p>787</p><p>788</p><p>790</p><p>793</p><p>797</p><p>MOEDA DO BRASIL COLONIAL</p><p>FORTE DO MAR, SALVADOR</p><p>SINGULAR CHAMINÉ DO CONVENTO DE SANTO ANTôNIO DE CAffiU, BAHIA</p><p>TECTO DA IGREJA DOS JESUíTAS DO SALVADOR, BAHIA</p><p>ALTAR DE SANTO INACIO, DA IGREJA DOS JESUíTAS, BAHIA</p><p>SOBRADOS BAIANOS (SÉCULOS XVII e XVIII) , SALVADOR</p><p>CASA NOBRE DA BAHIA (SÉCULO XVII)</p><p>NEGRA MONJOLO</p><p>A SÉ DE BELÉM DO PARA .</p><p>R:I!:DE DE TRANSPORTE, DE USO EM PERNAMBUCO E BAHIA</p><p>TABA INDíGENA: DANÇA DE MULHERES</p><p>RAINHA D. CATARINA DE INGLATERRA</p><p>MúMIA DE UM CHEFE COROADO</p><p>IGREJA FRANCISCANA DO CONVENTO DE S. ANTôNIO, JOAO PESSOA, PARAíBA</p><p>FORTALEZA DOS REIS MAGOS, NATAL</p><p>PLANTA DO MERCADO DE SANTA BARBARA, BAHIA</p><p>MOEDA DO BRASIL COLONIAL: PATACA</p><p>RUA DO MARANHÃO, SAO LUíS</p><p>FAMíLIA DE íNDIOS BOTOCUDOS EM MARCHA</p><p>VISTA DE SAO LUíS DO MARANHãO</p><p>IGREJA DE S. JOSÉ DO JENIPAPO, BAHIA</p><p>EXECUÇãO DE MANUEL BEQUIMAO E JORGE SAMPAIO EM SAO LUíS</p><p>ASPECTOS DO MARANHãO, SAO LUíS</p><p>CASA TíPICA DE ALCâNTARA</p><p>CASA NOBRE DA BAHIA</p><p>DESEMBARQUE DE ESCRAVOS NO RIO DE JANEIRO</p><p>NEGROS DE MOÇAMBIQUE</p><p>MERCADO DE ESCRAVOS, RIO</p><p>TAPUIA DO NORDESTE</p><p>ALDEIA DOS TAPUIOS</p><p>O GOVERNADOR DE PERNAMBUCO D. PEDRO DE ALMEIDA</p><p>MAPA DA COSTA DA AFRICA (GUINÉ)</p><p>FUGA E MORTE DO REI ZUMBI</p><p>HOMEM DO RIO GRANDE DO SUL</p><p>ALTAR DO SANTíSSIMO SACRAMENTO, DA SÉ DA BAHIA</p><p>PAÇO MUNICIPAL DE MARAGOGIPE, BAHIA</p><p>ALTAR DE SANTANA, CATEDRAL DA BAHIA</p><p>CONVENTO DO DEST:I!:RRO, BAHIA</p><p>CONVENTO DE S. ANTôNIO DE PARAGUAÇU</p><p>INTERIOR DE VELHO CEMIT:I!:RIO SECULAR, NA MATRIZ DO PILAR, BAHIA</p><p>FORTALEZA DO BARBALHO, BAHIA</p><p>MOEDA DO BRASIL COLONIAL: PATACA</p><p>PORTA DA CASA DE JOAO DE MATOS, BAHIA</p><p>CASA SEISCENTISTA DA BAHIA</p><p>ADMIRAVEL TALHA BARRôCA DO FINAL DO SÉCULO XVII: CAPELA DE SAO FRAN-</p><p>CISCO XAVIER, SALVADOR</p><p>PANORAMA DA BAHIA ATUAL</p><p>IGREJA SEISCENTISTA DE PARANAGUA</p><p>SECULAR ·TEMPLO PAULISTA: IGREJA DE N. S.• DO ROSARIO DO EMBU</p><p>PORTA DO CONVENTO DE CABO FRIO</p><p>O REI D. PEDRO 11, DE PORTUGAL</p><p>BRAÇO QUE SERVIA DE SUPORTE</p><p>ALTAR SEISCENTISTA</p><p>PúLPITO DE MARMORE POLICROMO DA IGREJA DOS JESUíTAS DA BAHIA</p><p>ALTAR-MOR DE IGREJA SEISCENTISTA-CONVENTO DO DEST:I!:RRO</p><p>CASA DO TREM, SANTOS, ESTADO DE SAO PAULO</p><p>ENGENHO DE AÇúCAR</p><p>Pé.gs.</p><p>798</p><p>799</p><p>801</p><p>803</p><p>805</p><p>807</p><p>810</p><p>812</p><p>813</p><p>814</p><p>816</p><p>818</p><p>820</p><p>823</p><p>825</p><p>828</p><p>830</p><p>831</p><p>834</p><p>838</p><p>843</p><p>847</p><p>850</p><p>852</p><p>854</p><p>856</p><p>858</p><p>860</p><p>862</p><p>865</p><p>866</p><p>869</p><p>871</p><p>873</p><p>874</p><p>878</p><p>880</p><p>881</p><p>883</p><p>885</p><p>888</p><p>890</p><p>891</p><p>894</p><p>896</p><p>898</p><p>899</p><p>901</p><p>903</p><p>904</p><p>907</p><p>909</p><p>910</p><p>912</p><p>914</p><p>915</p><p>IGREJA DE N. ·S.• DA GUIA . . . .</p><p>PORMENOR</p><p>do Lago".</p><p>Sôbre a sua carreira militar, Does. Hist., 111, pág. 196 e XXII, págs. 135-136.</p><p>Anais da Bibl. Nac., IV, pág. 55 ; MIRALLES, op. cit., pág. 45.-93. Anais da</p><p>Bibl, Nac., IV, pág. 405. Bernardo Ravasco alcançou então justiça e favores, um</p><p>dos quais a promessa de que lhe sucederia no cargo de secretário seu filho</p><p>Gonçalo Ravasco. ll:: sse transtôrno da fortuna indica a existência da parcia</p><p>lidade, contrária à situação caída, e particularmente ao valido, Conde de Castelo</p><p>Melhor. PADRE VIEIRA, no panegírico da rainha, em 1668, Sermões, XIV, pág.</p><p>359, dissera com severidade : "Então governava-nos quem não era rei ; e agora ?</p><p>Quem é mais que rei."-94. ROCHA PITA, op. cit., pág. 260.-95. MIRALLES, op. cit.,</p><p>pág. 149 ; AcciOLI, op. cit ., 11, pág. 131 . Sousa Freire fôra governador da praça</p><p>de Beja, mestre-de-campo-general e ultimamente governador de Mazagão, cf. pa</p><p>tP-nte que o nomeou governador-geral do Brasil, de 15 de maio de 1667, Does. Hist.,</p><p>XXIII, pág. 7, Lisonj eou-o o poeta da Música do Parnaso, ed. da Academia, pág.</p><p>165 : " . . . Em paga do valor sempre aplaudido I América governa venturosa . . . "</p><p>História do Brasil - Século XVII 743</p><p>morreu o General Francisco Correia da Silva que, em princípios de 1669,</p><p>devera substituí-lo.96</p><p>Delicado era o momento internacional. Luís XIV intentava a</p><p>conquista de províncias holandesas (reivindicando o que dizia ser a</p><p>herança de sua mulher, filha de Filipe IV) ; a Inglaterra prontificava-se</p><p>a unir as suas fôrças com as de Holanda, para combater a França ; e</p><p>Portugal tinha pressa em ultimar as pazes com Espanha, que afinal,</p><p>por mediação inglêsa, se celebraram honrosamente na própria Lisboa.97</p><p>Foi quando se falou de uma esquadra holandesa que viria atacar a</p><p>Bahia. Alexandre de Sousa Freire convocou os moradores aptos para</p><p>o serviço das armas e criou quatro regimentos de ordenanças, em cujas</p><p>coronelias proveu Ascenso Silva ( capital e arrabaldes ) , Baltasar dos</p><p>Reis Barrenho (Rio Vermelho até Itapicuru ) , Lourenço Barbosa da</p><p>Franca ( Passé, Matuim, até Pirajá ) , Francisco Gil de Araúj o ( Sau</p><p>bara, Patatiba, Sergipe do Conde, Monte, Socorro) .98</p><p>Os estrangeiros não apareceram. Problema urgente, que desviou</p><p>dêles a atenção do governador, foi-próximo e grave-o do gen</p><p>tio rebelde. O descuido dos antecessores, esquecidos de reprimi-los,</p><p>redobrara-lhes a insolência. Como que o insucesso dos paulistas ao</p><p>tempo de Barreto os incitara para maiores tropelias. Deram simultâ</p><p>neamente em Ilhéus e Cairu, roubando e trucidando os moradores que</p><p>não puderam fugir para as vilas ; invadiram o distrito de J equiriçá, e</p><p>os campos de Cachoeira,99 queimaram os currais de João Peixoto Vie</p><p>gas em Itapororocas, e, numa sortida em Cairu, "mataram o alferes,</p><p>cinco soldados e alguns moradores que com êles se puseram em defen</p><p>sa". 100 Parecia uma insurreição de grandes proporções-combinada</p><p>ademais com os surtos de tapuias ferozes no São Francisco, e nas</p><p>outras "fronteiras" da colonização.</p><p>Convocou o governador junta geral, em 4 de março de 1669, e se</p><p>assentou a "guerra justa", que seria feita sem desfalecimentos àqueles</p><p>bárbaros. Começou mal. Disse que mandara oitenta homens para a</p><p>-96. Em carta de 25 de maio de 1668, Alexandre de Sousa Freire avisou ao</p><p>governador de Pernambuco : " . . . com grande sentimento pela morte do General</p><p>Francisco Correia da Silva que miseràvelmente se perdeu com a sua nau em um</p><p>baixo uma légua desta cidade entrando os mais navios diante dêle a salvamento</p><p>e se afirma que se perderam mais de 500 pessoas escapando só 70 homens os mais</p><p>dêles marinheiros e um capitão aqui da terra. Morreu o Capitão Cristóvão da</p><p>Costa e os mais capitães e oficiais e pilotos e mestres", Does . Hist., IX, pág. 294.</p><p>O naufrágio ocorreu nos parcéis do Rio Vermelho, ibid., VI, pág. 92. O corpo</p><p>do general foi recolhido pelo Mestre-de-Campo Antônio Guedes de Brito e sepultado</p><p>na igreja de São Francisco. RocHA PITA, que no-lo informa, engana-se, cha</p><p>mando João Correia da Silva o governador nomeado, op. eit., pág. 274.-97. Vid.</p><p>sermão de VIEIRA sôbre a paz, Sermões, XIV , pág. 342.-98. Patentes in Does.</p><p>Hist. , XXXI, pág. 400, passim. Cartas do Conde de óbidos com as mesmas pre</p><p>venções, ibid., VI, passim.-99. Em 25 de outubro de 1668 Francisco Barbosa</p><p>Leal fôra nomeado capitão do "distrito dos Campos do mesmo rio da Cachoeira",</p><p>ibid., XII, pág. 5.-100. Assento tomado na reunião de 4 de março de 1669,</p><p>AcciOLI, op. eit., 11, pág. 32. O alferes chamava-se João de Uzeda e Góis, P.</p><p>7 44 Pedro Calmon</p><p>BANDEIRANTES FAZENDO UMA CANOA. Desenho de J. Wasth Rodrigues.</p><p>região do Sul ; todavia o Capitão Manuel Barbosa de Mesquita101-</p><p>teve à sua disposição em Cairu apenas sete soldados na mais furiosa</p><p>arremetida que os tapuias lá fizeram. Aconteceu no dia da festa anual</p><p>-Nossa Senhora do Rosário-quando os habitantes, o capitão e os</p><p>soldados estavam na Matriz. Em tropel, a tapuiada invadiu o povoado</p><p>e cercou a igreja. Os fiéis acharam prudente fechar-lhe as portas. Mas</p><p>o capitão, impetuosamente, seguido de alguns, se atirou ao inimigo, dis</p><p>parando as suas pistolas, e de espada e rodela os atacou, até cair morto,</p><p>varado pelas flechas, com dois soldados. Essa morte heróica salvou a</p><p>vila, pois os bárbaros, atemorizados, se retiraram, e os moradores tra</p><p>taram de prevenir-se contra outras acometidas. O próprio governador</p><p>geral foi a Cairu, a observar essa inquietação.102</p><p>O j eito era apelar-se de novo para o concurso paulista.</p><p>Em 20 de maio de 1670 perante a Câmara de São Paulo compareceu</p><p>Estêvão Ribeiro Baião Parente, antigo vereador e sertanista de nome,103</p><p>declarando aceitar a chefia da expedição. Esta foi por mar à Bahia,</p><p>retardando-se o barco de Estêvão Baião, a ponto de o julgarem perdido,</p><p>na cidade, onde se apresentara o seu Sargento-Mor Brás Rodrigues de</p><p>Arzão (companheiro de Barbosa Calheiros em 1658) com a maioria</p><p>dos sertanistas. Havia urgência na campanha e por isso ( em 18 de</p><p>j ulho de 1671 ) foi nomeado capitão-mor-na ausência do primeiro</p><p>para iniciá-la sem demora. Levava Brás Rodrigues famosos cabos como</p><p>João Amaro Maciel Parente (filho de Estêvão ) , Manuel Vieira Sar</p><p>mento, e índios das fazendas de Fernão Dias Pais : 104 tiveram por guia</p><p>experientes soldados da terra como o Capitão Manuel de Hinoj osa.105</p><p>A luta divide-se em dois períodos : o primeiro, a punição do gentio</p><p>rebelado ; o outro, a entrada pelos campos do A porá até as matas do</p><p>Orobó e a região dos maracás.</p><p>Estêvão Ribeiro Baião Parente chegou à Bahia quando o seu ime</p><p>diato j á se achava "nos campos do Aporá", "com mais de 400 pes</p><p>soas",106 "entre brancos e índios, parte dos conquistadores de São</p><p>Paulo", "e parte que lhes uni da Bahia" . Lá se juntaram e foi terrí</p><p>vel a batida : assim também ao sul. Não ficou nos sertões de Ilhéus</p><p>ou do Paraguaçu, donde desciam para Cairu, agrupamento indígena</p><p>CALMON, A Conquista, pág. 96.-101. ROCHA PITA, op. eit., pág. 276. O Capitão</p><p>Manuel Barbosa de Mesquita, Fidalgo da Casa del-Rei, acabava de servir na</p><p>fortaleza de Nossa Senhora dei Popolo ( 1666) , Does. Hist., XXII, pág. 270. Foram</p><p>mortas com o capitão 21 pessoas, ibid., XXXI, pág. 35.-102. Portaria de 21 de</p><p>julho de 1670, Does. Hist., VIII, pág. 4.-103. Era do Pôrto, como sua filha</p><p>Cecília Ribeiro, cf. P. ROQUE Luís PAIS LEME DA CÂMARA, Nobiliarquia, ms. na</p><p>Bibl. N ac. O governador-geral mandou dois barcos em que viesse de Santos, carta</p><p>de 19 de set. de 1670, Does. Hist. , VI, pág. 1 .488.-104. Cf. carta de Lisboa,</p><p>1682, sôbre os serviços de Fernão Dias, Rev. do Arq. Públ. Mineiro, XIX, pág. 12.</p><p>A Câmara da Bahia, em ofício para el-rei, de 14 de agôsto de 1671, comunicou</p><p>a chegada dos paulistas, com quem despendera 10 : 724$800 até a partida para</p><p>Cairu, AcciOLI, op. eit., II, pág. 132. Aliás cumpria o assentado em junta de 18</p><p>de julho de 1670, Does. Hist,, VIII, pág. 135.-105. B. DO AMARAL, nota a</p><p>AcciOLI, 11, pág. 234.-106. Does. Hist., VI, pág. 189. Partiram em 27 de agôsto</p><p>de 71 , ibid.,</p><p>IX, pág. 434.-107. Em 18 de setembro de 1672 o governador retirou</p><p>746 Pedro Calmon</p><p>hostil ou suspicaz.107 Recolheram-se os paulistas à cidade com centenas</p><p>de prisioneiros aí "vendidos por tão inferior preço que os de melhor</p><p>feição não passavam de 20 cruzados".108 A sua ação acolá era de re</p><p>presália, portanto mais cruel. Pelo Paraguaçu acima já se tratava de</p><p>conquista, com lisonjeiras promessas de terras pastoris, escravaria e</p><p>outros benefícios.</p><p>AFONSO FURTADO-Governava então o Brasil Afonso Furtado de</p><p>Castro do Rio de Mendonça, Visconde de Barbacena, que fôra</p><p>mestre-de-campo-general da Beira : chegara a 8 de maio de 1671.109 Não</p><p>se parecia com o antecessor .11° Era animoso, persistente, autoritário ;</p><p>e lhe sobrava imaginação. Não deixou que perdessem tempo na cidade</p><p>os paulistas. Teve o bom senso de organizar, antes da guerra, o abas</p><p>tecimento, que a mantivesse. Mandou que os moradores de Cachoeira</p><p>e adjacentes lhes prestassem auxílio de gente e alimentos e, a trinta</p><p>léguas daquele pôrto, fêz levantar uma casa-forte para armazém das</p><p>farinhas, de que se valeria a tropa. Aconselhou o mesmo sistema para</p><p>a conquista dos Palmares : "Por êste meio, ainda que custoso, se per</p><p>petuou o concurso das farinhas, e com elas a guerra, de maneira que</p><p>os bárbaros ficaram destruídos."111 Gaspar Rodrigues Adôrno e João</p><p>Peixoto Viegas-com os paiaiases aldeados além do Aporá-receberam</p><p>ordem para seguir os paulistas. Em carta de 6 de fevereiro de 72 infor</p><p>mava o governador j á estarem todos naqueles campos.112 Era a "segun</p><p>da tomada a que agora mandava os paulistas". "Destruíram as nações</p><p>dos tapuias, bandaios e maracás."</p><p>É provável que Estêvão Parente fizesse centro de suas operações</p><p>a casa-forte da ponta do Gurgueia ( reconstrução talvez do primitivo</p><p>acampamento de Gabriel Soares ) 113 e batesse o gentio em várias dire</p><p>ções, limpando a terra "infestada de maracases" até "a serra do Oro</p><p>bó".114 O governador da Conquista voltou à Bahia triunfante, em 1 .0</p><p>de fevereiro de 1673 : trazia 750 prisioneiros. "Haviam sido 1 .500 ; o</p><p>resto morrera pelo caminho de uma quase peste", escrevia a 9 de fe</p><p>vereiro o visconde ao capitão-mor de Sergipe João de Munhoz. Extin</p><p>tas ficavam as aldeias principais dos bárbaros que tanto haviam atemo-</p><p>a pequena guarnição de Cairu, ibid., VIII, pág. 109.-108. RocHA PITA, op. cit.,</p><p>pág. 281.-109. À partida e à chegada de Afonso Furtado dedicou sonetos</p><p>MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA, Música do Parnaso, ed. da Acad. Bras., págs.</p><p>121-122. Trouxe Instruções, com 13 capítulos, datadas de 4 de março de 1671,</p><p>códice ms. no arq. do Conde dos Arcos, Lisboa, inéd.-1 10. Sousa Freire ficou</p><p>mais um ano na Bahia, pois obteve, em 5 de agôsto de 72, que se preferisse para</p><p>carregar uma sua fragata, Does. Hist., VIII, pág. 102. Patente do novo governador,</p><p>ibid., XXIV, pág. 155. Tomou posse em 18 de maio, cf. Livro de Posses, ms. no</p><p>Arq , Públ. da Bahia.-111. Carta de 23 de fev. de 1675, Does. Hist. , X, pág. 135.</p><p>-1 12. TAUNAY, op. cit., V, pág. 25.-113. O Sr. Herman Kruse achou em se</p><p>tembro de 1939 a casa-forte da ponta do Guareiru cuj as dimensões coincidem</p><p>com a de Gabriel Soares, descrita por FREI VICENTE DO SALVADOR. Em 6 de</p><p>novembro de 1671 o governador mandara Gaspar Dias, do Aporá, fintar os mo</p><p>radores, para que dessem cem alqueires de farinha "à gente da Conquista" na</p><p>"casa-forte", Does. Hist., VIII, pág. 68. Precedera, pois, à "bandeira" de Es</p><p>têvão Parente.-114. Cf. documento citado por TAUNAY, op. cit., V, pág. 22.-</p><p>História do Brasil - Século XVII 747</p><p>rizado os moradores do Recôncavo.115 Outras três aldeias de maracás</p><p>tomou o paulista, com mil e cem cativos, no mês de j ulho-enquanto</p><p>Brás Rodrigues de Arzão prosseguia noutros sítios a mesma guerra.H6</p><p>Aberta a estrada de carros de Cachoeira ao Aporá, Estêvão Baião fun</p><p>dou a vila de Santo Antônio da Conquista117 como seu ponto extremo</p><p>e o governador-geral deu a campanha por concluída nessa fronteira.</p><p>Ihidia:.se . . . Os índios voltaram três anos depois.</p><p>Mas a temporada das expedições descobridoras prometia admirá</p><p>veis sucessos : a Casa da Tôrre tomou a si o São Francisco .</p><p>1 15. TAUNAY, op. cit., V, pág. 34. A prova da conquista está na sesmaria dada a</p><p>Manuel de Hinojosa, "no boqueirão de Guareiru até entestar no rio de Paraguaçu",</p><p>1673, Does. Hist., VIII, pág. 164.-1 16. Ibid., pág. 167. Arzão voltou a São Vicente</p><p>"a uma diligência de grande importância", em fins de ' 1674, ibid., pág. 205.-117.</p><p>É a vila de João Amaro, ROCHA PITA, op. cit., pág. 282. O senhorio dela coube</p><p>ao filho de Estêvão. "Pouco povoada pela grande distância em que fica", vendeu-a</p><p>aquêle ao Coronel Manuel de Araújo de Aragão, que obteve alvará del-rei para</p><p>ser capitão-mor a 7 de fevereiro de 1688, Does. Hist., XXIX, pág. 289.</p><p>7 48 Pedro Calmon</p><p>MAS CARA DE DANÇA DE íNDIO</p><p>UANANA, na Amazônia (zona do</p><p>Rio Negro ) , feita de líber. Da co</p><p>leção do Museu Nacional. Desenho</p><p>de Hilda Veloso, reproduzido da Hi</p><p>léia Amazônica, de Gastão Cruls.</p><p>CHEFE INDíGENA CAMACà ( TRIBO DE SCENDENTE DOS TAPUIAS ) , prepa</p><p>rando-se para o festim. Desenho de Debret, in Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.</p><p>XVIII - CICLO NORDESTINO</p><p>CRED ULIDADE</p><p>O GOVERNADOR Afonso Furtado teve o mérito de sua obsessão, que</p><p>era achar as minas que transformariam o Brasil de colônia de</p><p>povoamento em novo Potosi.</p><p>Não limitou o otimismo a uma certa região. Pagou o seu tributo</p><p>às lendas velhas mandando ver a prata do Muribeca, baldadamente ras</p><p>treada por três gerações. Mas acreditou nas possibilidades do Norte,</p><p>do centro, do Sul do país, do litoral e do sertão, de todos os seus climas ;</p><p>e deu a tais descobrimentos um entusiasmo às vêzes pueril. A cre</p><p>dulidade perdeu-o . . .</p><p>MINAS FABULOSAS-Começou pelo vale do São Francisco. Diziam</p><p>lhe haver ouro na serra do Picaraçá, além do salitre que convinha ar</p><p>recadar à beira do caudal cuj as origens talvez estivessem no Peru.1</p><p>Nas incertezas da geografia, ou na facilidade com que admitia as</p><p>histórias do "Dorado", corriam outros estímulos para uma ação vasta,</p><p>em busca das encantadas paragens. Foram explorar as j azidas do Pi</p><p>caraçá (e as nitreiras ) João de Castro Fragoso e Manuel da Silva</p><p>Pacheco (Carta de 1 .0 de agôsto de 1671 ) . Porque se demorassem, José</p><p>I. "O São Francisco, escreveu em pleno século XVIII D . DoMINGOS DO LORETO</p><p>CouTO, nasce das vertentes das grandes serranias do Chile e Peru", "Desagravos</p><p>do Brasil e Glórias de Pernambuco", in Anais da Bibl. Nac., XXIV, pág. 22. Uma</p><p>consulta do Cons. Ultram., 1698, era mais cautelosa : "vai continuando o mesmo</p><p>rio pelos sertões acima . . . que ainda hoj e se ignora aonde pára ou aonde prin-</p><p>História do Brasil - Século XVII 749</p><p>de Barros lhes saiu ao encontro ( Carta de 20 de j aneiro de 72) . Es</p><p>creveu em seguida o governador a Antônio Correia de Morais ( 17 de</p><p>j aneiro de 72 ) para que investigasse as minas que um homem da casa</p><p>do Padre Antônio Pereira descobrira no Sento-Sé.2</p><p>Em 3 de j unho do ano anterior contava o governador-geral ao de</p><p>Pernambuco, o "excesso que o Padre Antônio Pereira tivera com Bento</p><p>Surrei tomando-lhe as amostras de salitre que havia descoberto, despre</p><p>zando as ordens que levava, havendo passado do reino a êste Estado</p><p>só àquela diligência por ordem de Sua Alteza".3 A patente dada ao</p><p>Capitão Bento Surrei (5 de abril de 72 ) para o "descobrimento das</p><p>minas do São Francisco", voltando com êle Manuel da Silva Pacheco,4</p><p>liga-se tanto ao caso do "homem do Padre Pereira", que atualizara a</p><p>lenda da prata de Belchior Dias, cuj o segrêdo possuía a Casa da Tôrre,</p><p>como à investigação do salitre.</p><p>Foram baldadas as pesquisas de prata apesar dos velhos mamelucos</p><p>e vaqueiros que guiaram os sertanistas entre Sergipe, Itiúba, Jacobina</p><p>e o rio Salitre.5 Descobriram-se, isto sim, ametistas e muito cristal de</p><p>rocha que, embora sem valor comercial, teve grande consumo na Bahia</p><p>(segundo Rocha Pita ) para pequenos presentes e enfeite das casas.</p><p>A CASA DA TôRRE-0 fracasso</p><p>da "prata" pouco valia em face de</p><p>tais alvíssaras : o interêsse pelas "entradas", a todo custo, repelindo</p><p>a indiada e fixando, ao longo de caminhos definitivos, núcleos estáveis</p><p>de povoamento.</p><p>Francisco Dias de Ávila, sucessor do Padre Antônio Pereira e se</p><p>nhor da Tôrre, teve o encargo, em fevereiro de 73, de remover os índios</p><p>"reduzidos" para as aldeias que se lhes destinara.</p><p>Resolveu, em complemento à ordem, entrar o nordeste, indo sur</p><p>preender, entre Sento-Sé e o rio Verde, a agitação de "gurgueias",</p><p>"guaisquais", "galaches", que tomara o aspecto duma revolta geral</p><p>de tapuias.6 Na aparência o obj etivo da "bandeira" era o castigo des-</p><p>cipia", Anais da Bib l. Nac., XXIX, pág. 24.-2. Anais do Arq. Públ. da Bahia,</p><p>VIII, pág. 13.-3. Does. Hist. , pág. 418 . " . . . V. M .cê me escreve que foi o pri</p><p>meiro descobridor das mesmas minas a que vou", escreveu D. João de Lencastro</p><p>a Bento Surrei, 1694, ibid., XXXVIII, pág. 328.-4. lbid., XII, pág. 210. É curioso</p><p>lembrar que um tio de Afonso Furtado casou com a filha de D. Francisco de</p><p>Sousa, o "das manhas", P . ANTÔNIO CARVALHO DA COSTA, op. cit., li, pág. 369 ;</p><p>evidentemente trouxera uma opinião formada, sôbre as minas. Veremos como lhe</p><p>foi fatal ; mas decisiva para os progressos do povoamento. Na Bahia teve a de</p><p>voção de N. s.a de Monserrate, como D. Francisco de Sousa : " . . . uma erisipela</p><p>que me deu estando em Monserrate e me não deixou acabar uma novena", Does.</p><p>Hist., X, pág. 1 67 . É o "Monserrate antártico" dos Apólogos, de D. FRANCISCO</p><p>MANUEL.-5. Dizia o Regimento de Roque da Costa, 1677, cap. 29 : "0 Gover</p><p>nador Alexandre de Sousa Freire . . . me deu conta terem-se descoberto as Minas</p><p>de Salitre", Does. Hist., VI, pág. 380.-6. PEDRO CALMON, Hist. da Casa da</p><p>Tôrre, pág. 81. Podemos distinguir dos cariris do litoral (janduís do Rio Grande</p><p>�ASSINATURA DE BELCHIOR DIAS MORÉIA. Documento de 26 de abril</p><p>de 1619, que trata do descobrimento das minas de prata. Autógrafo, inédito,</p><p>no códice de D. Luís de Sousa. Arquivo do Jtamarati.</p><p>História do Brasil - Século XVII 751</p><p>sas tribos. Mas o salitre e as minas lendárias continuavam a preocupar</p><p>o governador. Devia confirmar ou desmentir o que delas se dizia. Fêz</p><p>mais : desoobriu um amplo sertão entre o baixo São Francisco, o Piauí,</p><p>o Maranhão . . .</p><p>DESCOBRIMENTO DO PIA Uí-Aquelas terras não eram estranhas</p><p>aos sertanistas baianos.</p><p>Por lá andara Francisco Dias d'Ávila com o tio Padre Antônio</p><p>Pereira. De 1651 foi a sesmaria que tiveram o Padre e Garcia d'Ávila,</p><p>"desde a primeira cachoeira que o rio de São Francisco faz indo por</p><p>êle acima até a última aldeia dos cariguaçus", onde viviam os "rode</p><p>las".7 Em 1659 vários moradores da Bahia obtinham sesmarias no</p><p>Pajeú.8 Distinguira-se Domingos Rodrigues de Carvalho-antes de</p><p>1669-pelas relações "com os 'rodelas', 'tamaquins' e outras tribos</p><p>do São Francisco", como se vê de sua patente de capitão da ordenança</p><p>do distrito da Tôrre.9 Os "caiapós" estavam de pazes oom os brancos,</p><p>tanto que se passara patente de alferes ao principal dêles, Pedro de</p><p>Barros.10 E um português de Mafra, Domingos Afonso Sertão, se es</p><p>tabelecera quarenta léguas acima de Juàzeiro, na fazenda do "Sobrado".</p><p>Grande criador, ambicionava para os seus rebanhos novas e extensas</p><p>terras.</p><p>Francisco Dias d' Á vila combinou com êsses pioneiros a entrada que</p><p>fôsse também guerra de extermínio aos tapuias. Ficaram Domingos</p><p>Afonso e Francisco Rodrigues de Carvalho com o comando, cada um,</p><p>de metade da fôrça (patentes de 9 de julho e 28 de agôsto de 1674) ,</p><p>cuja chefia assumiu Ávila, aj udado (no pôsto de sargento-mor) por</p><p>Domingos Rodrigues de Carvalho (patente de 5 de junho de 74) . Com</p><p>punha-se a expedição de cem brancos, armados à custa do senhor da</p><p>Tôrre, e um corpo de "rodelas" (cariris) com o seu Capitão Francisco</p><p>(patente de 24 de agôsto ) . Investiram pela margem direita do São</p><p>do Norte ou rodelas do baixo São Francisco) os jês do Piaui, a que pertenciam</p><p>jeicós (vistos por Martius ) , entre os rios Gurgueia e Itaim, e guegués (vale do</p><p>alto Parnaíba ) , que parece serem os mesmos gurguéis ou gurgueias, do ramo</p><p>Acroá, vid. ROBERT H. LOWIE, in Handbook of South American lndians, I, pâgs,</p><p>477-517 ( 1946 ) e mapa, por Curt Nimuendajú. Que não eram cariris os do Piauí,</p><p>prova a hostilidade aos do São Francisco, aldeados sob a guarda da Casa da</p><p>Tôrre. Na conquista do novo território, como alhures, prevaleceu-manobrada</p><p>pelo sertanista-a rivalidade natural das tribos incompatíveis.-7. Anais do</p><p>Arq Públ. da Bahia, XXI, pâg. 161.-8. Does. Hist., XX, pâg. 124.-9. Does. Hist.,</p><p>XII, pâg. 337.-10. Em 23 de março de 1669, ibid., pâg. 22 : " . . . Os distritos desde</p><p>o Xangô até o Sento-Sé e Jacobina estão sem capitão e os moradores sem disci</p><p>plina alguma", foi a consideração exarada na patente do Cap, Domingos Rodri</p><p>gues de Carvalho, 4 de dez. de 1669, ibid,, pâg. 70. Eram 45 os moradores de</p><p>Jacobina ; e um j esuíta fundou "aldeia de nação Sapoia", que em 1674 "com</p><p>grande temor das tropas dos paulistas", tendo por isto capitão, ibid., pâg. 306.</p><p>Somente no século seguinte, com os descobrimentos auríferos, Jacobina teria</p><p>dignidade de vila. Jacobina . . . " S erra da Jacuabina", diz a Patente de Capitão</p><p>de moradores naquelas "terras fronteiras do gentio bárbaro", de 5 de abril de</p><p>1674, ibid., o que abona a etimologia proposta por TEODORO SAMPAIO, Rev. do</p><p>Inst. Hist. da Bahia, vol. 54, pág. 389 : ya-cuâ-apina, lugar de cascalho limpo . . . -</p><p>752 Pedro Calmon</p><p>I</p><p>íNDIA CAMACà ( Tribo dos Mongoiós) - , descendente dos lendários</p><p>tapuias. Desenho de Debret, in Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.</p><p>Francisco. O sargento-mor destroçou logo uma frota de sessenta canoas</p><p>e 400 índios. Deixou para trás o rio Verde, e, já por terreno virgem,</p><p>alcançou, em fatigantes j ornadas, os campos do Piauí-prêmio e ob</p><p>jetivo da arrancada.</p><p>Os "gurgueias" foram lançados sôbre o baixo Piauí. O "gentio de</p><p>corso" refugiou-se no litoral. Tiveram os acroás de correr para o</p><p>oeste. Francisco Dias d' A vila podia gabar-se, um ano depois, de</p><p>ter pacificado o médio São Francisco e os sertões que separam do Ceará</p><p>o Maranhão. Foi, em conseqüência, nomeado coronel das companhias</p><p>de ordenanças (24 de dezembro de 75) . 1 1 Tão vasta era a região con</p><p>quistada que se achou prudente dividi-la, em Companhia do rio de São</p><p>Francisco (o Canindé por linha divisória) , 12 e de Jacobina-Rio</p><p>11. P. CALMON, op. cit., pág. 86.-12. Patente de 8 de agôsto de 1675, Does. Hi3t,,</p><p>História do Brasil - Século XVII 753</p><p>Verde,l3 dependentes do senhor da Tôrre ; e a "do sertão do São Fran</p><p>cisco nas cabeceiras do Maranhão e rio de Parnaguá" que se concedeu</p><p>ao paulista Francisco Dias de Siqueira, pacificador "das nações Gua</p><p>cupê e Ananás".14 A terra entre o Gurgueia e o vale do Parnaíba coube</p><p>à Casa da Tôrre ( sesmaria dada pelo governador de Pernambuco, em</p><p>12 de outubro de 76) , a Domingos Afonso Sertão15 e outros sertanis</p><p>tas. A que seria capitania do Piauí recortava-se agora, na vastidão</p><p>da "terra ignota". Criou Domingos Afonso "a povoação· de Môcha,</p><p>depois ligada ao núcleo de Cabrobó (antigo Quebrobó ) , do qual só em</p><p>1696 se desligou para formar freguesia independente".16 Por aí entrou</p><p>a colonização, de sul a norte, guiando-se pelos roteiros do gado-sua</p><p>riqueza originária, única17-sem interêsse pela orla marítima, distante</p><p>e deserta. No mapa do Piauí retrata-se essa formação (para um litoral</p><p>de 85 quilômetros, há 900 de N. a S . ) . O sertanista achou-lhe as vastas</p><p>pastagens e a sua história, dois séculos, foi a de um pastoreio solicitado</p><p>pelos grandes mercados da Bahia, de Pernambuco e das Minas Gerais .</p><p>.. ...</p><p>MISSõES DO SÃO FRANCISCO-Por êsse tempo a colonização ga-</p><p>nhou o vale do São Francisco e embargou a ferocidade das "bandeiras".</p><p>Os capuchinhos franceses, vindos de Pernambuco, tiveram-lhe a</p><p>iniciativa, antecipando-se aos jesuítas.</p><p>Os frades Anastácio d' Audierne, Francisco Donfronte e Martim de</p><p>Nantes estabeleceram-se (fins</p><p>de 1671 ) nas ilhas de Pambu e Ara</p><p>capá, acima das aldeias dos rodelas, e por terras convizinhas dos "ara</p><p>murus".1s Cuidaram de excluir os "aldeados" da sorte dos outros ta-</p><p>XII, pág. 350.-13. Patente de Lourenço de Matos, 16 de dez. de 75, ibid., pág.</p><p>375 : teve também a companhia de Jacobina, 17 de j an. de 1677, ibid., pág. 421. O</p><p>morgado da Tôrre, em 1679, abrangia a margem do São Francisco entre o rio</p><p>Verde e Penedo, Anais do Arq. Públ. da Bahia, XXI, pág. 158.-14. Pat. de 1.0</p><p>de fevereiro de 1667, Does . Hist., XII, pág. 428. Diz o P. ROQUE Luís : "Cap.-Mor</p><p>Francisco Dias de Siqueira, natural e n.° Cid. de S. P., chamado o Surdo, pene</p><p>trou o sertão até a cidade do Maranhão, abriu a estrada para a Bahia, e con</p><p>quistou o Piauí com a Pat. dita. Potentado em arcos, fal. na Bahia com muito</p><p>cabedal que herdou o juízo dos ausentes", Nobiliarquia, ms. na Bibl. Nac.-</p><p>15. As grandes fazendas de Domingos Afonso passaram aos jesuítas e dêstes</p><p>ao patrimônio nacional. O pioneiro construiu ( 1704-1711 ) o edifício do Noviciado</p><p>da Companhia, hoj e Colégio de São Joaquim. Sôbre a participação de Domingos</p><p>Jorge Velho na conquista do Piauí, vid. nota 19, ( cap . XXV, "Negros e Tapuias",</p><p>século XVII ) . Leia-se também CARLOS EUGÊNIO PôRTO, Roteiro do Piauí, pág. 53</p><p>e segs., Rio, 1955.-16. Vid. descrição das capitanias, etc., Rev. do Inst. Hist.,</p><p>LXII, 1.a parte, pág. 83. Surgiu Môcha na fazenda Cabrobó, de Julião Afonso</p><p>Serra, irmão de Domingos Afonso que a obteve por sesmaria de 10 de outubro</p><p>de 1676. Um sobrinho do sesmeiro reivindicou em 1736 a propriedade das terras</p><p>que se julgava serem da igrej a local. A sentença que lhe deu ganho de causa</p><p>( 1745 ) comprova que a vila foi edificada naquela fazenda.-17. ROCHA PITA, op,</p><p>cit., pág. 279 : " . . . sendo do Piagui a maior parte do gado, que se gasta entre</p><p>aquêles inumeráveis habitadores e mineiros".-18. Vid. Relation succinte et sin</p><p>ce·re de la mission du Pere Martin de Nantes, prédicateur capucine, missionaire</p><p>apostolique dans le Brésil parmi les indiens appellés cariris. A Quimper chez</p><p>Jean Perier, 1707, e edição fac-similar de FREDERICO EDELWEISS, Bahia, 1952.</p><p>Aracapá dista 29 léguas de Juàzeiro e é eqüidistante da Cachoeira de Rodelas.</p><p>754 Pedro Calmon</p><p>puias e reclama</p><p>ram repetidamente</p><p>contra as atrocida</p><p>des dos sertanis</p><p>tas.</p><p>Deveras a guer</p><p>ra não terminara.</p><p>No Paj eú, em</p><p>fevereiro de 76,</p><p>Domingos Rodri</p><p>gues de Carvalho,</p><p>com duas compa</p><p>nhias e 130 índios,</p><p>repelira um assal</p><p>to em regra : tive</p><p>ra o socorro do</p><p>p r ó p r i o Padre</p><p>Martim de N antes,</p><p>com gente e man</p><p>timentos.l9 Perse</p><p>guiram em seguida</p><p>os rebeldes, para</p><p>além do Salitre.</p><p>Renderam-se seis</p><p>centos (a fôrça de</p><p>Domingos Rodri</p><p>gues constava de</p><p>sessenta escopetei</p><p>ros) . Consta que</p><p>quatrocentos fo</p><p>ram degolados.20</p><p>M a s Francisco</p><p>Dias de A vila não</p><p>se contentou com o</p><p>território tomado.</p><p>Procurou desalo-</p><p>íNDIO COROADO ( MATO GRO S S O ) DANDO SINAL</p><p>DE COMBATE. O chefe toca o instrumento de guerra</p><p>até o momento em que desej a cesse a luta. O silêncio é</p><p>sinal de retirada. Desenho de Debret, op. cit.</p><p>jar de suas missões os frades, ora tirando-lhes os catecúmenos, ora</p><p>soltando em suas roças cavalhada e gado. Com energia indomável resis</p><p>tiu-lhe o Padre Martim de Nantes, que a pé fêz a viagem até a Bahia e</p><p>obteve do governador-geral (Roque da Costa Barreto ) as providências</p><p>apaziguadoras que requereu.</p><p>l!:sses aramurus ajudaram os portuguêses, contra os holandeses. Um documento</p><p>de 1794, relativo ao morgado de Antônio Gomes Ferrão, atesta que o seu bisavô,</p><p>o Mestre-de-Campo Pedro Gomes, os comandara naquela guerra.-A aldeia</p><p>dos aramurus foi mandada respeitar, a pedido do P. Audierne, em 23 de outubro</p><p>de 1672, Does. Hist., VIII, pág. 117.-19. P. CALMON, op. cit., pág. 86.-20. Patente</p><p>de Manuel Homem de Almeida, F. BORGES DE BARROS, Bandeirantes e Sertanistas</p><p>História do Brasil - Século XVII 755</p><p>Os capuchinhos não deram tréguas aos grão-senhores. Continua</p><p>ram a defender as suas capelas e os índios mansos. Frei Audierne levou</p><p>em 1680 a sua queixa ao Conselho Ultramarino, que mandou devassar</p><p>a respeito.21 Resultado definitivo da pendência foi a carta régia de 16</p><p>de fevereiro de 1698-que quis dar ordem e polícia ao extenso sertão</p><p>recém-descoberto :</p><p>"Havendo mandado ver o que se me representou em uma consulta</p><p>da Junta das Missões sôbre o remédio temporal que se deve dar no</p><p>sertão dos rodelas e suas povoações, para se evitarem repetidos crimes</p><p>e atrozes casos que ali sucedem, que ordinàriamente ficam impunes,</p><p>assim por se não ter notícia dêles pela distância em que são cometidos,</p><p>como por não haver modo de j ustiça naquelas partes me pareceu di</p><p>zer-vos que sendo êstes distritos da j urisdição dêsse govêrno da Bahia,</p><p>ordeneis que de cinco em cinco léguas haja um j uiz ordinário com a</p><p>j urisdição de tirar devassas, tomar denunciações e querelas nos delitos</p><p>que aí se fizerem e remetê-las por treslados ao ouvidor da comarca dessa</p><p>cidade, para se proceder nesta matéria como fôr de justiça. Escrita</p><p>em Lisboa, a 16 de fevereiro de 1698. Rei."22</p><p>PENETRAÇÃO-Os paulistas continuaram à disposição do govêrno</p><p>geral. A um dêles, Domingos de Freitas de Azevedo, que passara de</p><p>São Paulo ao São Francisco pelo sertão e lá fôra desbaratado, se deu</p><p>patente "de capitão-mor do descobrimento do rio Paraguaçu", pois afir</p><p>mara distarem as nascentes dêste rio sessenta léguas de Itaporocas.23</p><p>Então de novo se sublevaram os tapuios ( 1677) . O Capitão-Mor Agos</p><p>tinho Pereira Bacelar, enviado à aldeia de Natuba, dos jesuítas, "a</p><p>reconduzir os índios que eram necessários para a j ornada do sertão</p><p>a que enviamos o governador da Conquista Estêvão Ribeiro Baião Pa</p><p>rente"-foi morto "às frechadas atrozmente" : Domingos Rodrigues</p><p>de Carvalho teve de levar pronto e exemplar castigo às aldeias "do Ita</p><p>picuru-Mirim, Massacará e Natuba".24</p><p>Estêvão Baião--em 1675-recebeu comissão mais importante : era</p><p>quando grandes esperanças se ligavam à entrada de Fernão Dias Pais</p><p>em busca do Sabarabuçu. João Amaro informa-nos : indo então "por</p><p>ordem do mesmo governador à vila de Pôrto Seguro 50 léguas pelo</p><p>sertão dentro a descobrir a serra das esmeraldas e fazendo a dita j or</p><p>nada foi cercado de bárbaros vinte e dois dias de maneira que não</p><p>Baianos, pág. 140.-21. Consultas do Cons. Ultram., Bahia, ms. na Bibl. Nac.</p><p>Em 1691 queixou-se o governador da decadência dessas missões, que não aumen</p><p>tavam, Rev. do Inst. Hist., LXXI, pág. 43.-22. Ord. Reg., liv. 6, págs. 1 .698-9,</p><p>no Arq. Públ. da Bahia, ms. No século seguinte as aldeias dividiam-se : com os</p><p>franciscanos, Unhambu, Juàzeiro, Pontal, Curral de Bois, Coripes, Sorobebé ; e</p><p>com os barbadinhos : Axará, Rodelas, Pacatuba, Pambu, Varge, Uracapá, São</p><p>Félix, Iraperá, São Pedro. O mesmo manuscrito, n.0 3.757, de Marinha e Ultra</p><p>mar (no Arq. Hist. Col. , Lisboa ) , descreve as condições da navegação do São</p><p>Francisco, com a indicação de que se tomava pilôto na fazenda do Sobrado, que</p><p>foi de Domingos Afonso.-23. Pat. de 6 de julho de 1677, Does. Hist., XIII,</p><p>págs. 6-7.-24. Pat. de 20 de outubro de 1677, ibid., pág. 17. A aldeia de Natuba</p><p>756 Pedro Calmon</p><p>se podendo defender de mais de 1 .500 arcos se retirou por correr muito</p><p>risco sua vida, padecendo muitas fomes e sêdes e trabalhos".25</p><p>D. RODRIGO DE CASTELO BRANCO-Em Portugal percebera-se que</p><p>era chegado o momento das intensivas explorações das minas que, um</p><p>pouco por tôda parte, se anunciavam no Brasil.</p><p>Não quis o príncipe repetir o êrro de separar do Norte as capitanias</p><p>do Sul : seguiu o alvitre de Francisco de Brito Freire, mandando um</p><p>administrador-geral que visse as minas de Itabaiana. Foi D. Rodrigo</p><p>de Castelo Branco, "única pessoa" que se achou no reino em que con</p><p>corressem as qualidades necessárias para se fiar dela negócio de tanta</p><p>importância", como se explicara da côrte a Afonso Furtado e êste ao</p><p>capitão-mor de Sergipe ( 17 de março de 1674 ) .26</p><p>"Foi Deus servido trazer a êle D. Rodrigo de Castelo</p><p>Branco que</p><p>havia muitos anos assistia nas minas do Peru e delas tem tôda a inte</p><p>ligência . . . pessoa única que do Peru veio ao reino."27 Mas "ainda que</p><p>tivera engenho nas índias nem por isso era descobridor de minas, pene</p><p>trador de bêtas, nem temperador de prata", declarou quem o conheceu</p><p>Antônio Pais de Sande.28 Pedro Taques viu-o "fazer diferentes ensaios</p><p>em várias pedras que tirou da serra de Tabaiana", e "dos ditos ensaios</p><p>tirou prata que mostrava bastante entendimento"-para confirmar a</p><p>autoridade que lhe atribuíam.</p><p>Eram seus companheiros o Capitão Jorge Soares de Macedo, seu</p><p>primo-irmão, que devia fazer a "fortificação no sítio das Minas, dese</p><p>nhando-a por sua experiência", portanto com as honras de engenheiro ;29</p><p>João Vieira de Morais, provido na capitania de Sergipe, Bento Surrei,</p><p>Sebastião Lopes Grandio e Manuel Gomes Cardoso. A presença de</p><p>Bento Surrei na comitiva do administrador mostra que a sua tarefa se</p><p>ligava às anteriores pesquisas, em que lhe aparece o nome.30</p><p>Dois anos, porém, baldadamente D. Rodrigo bateu os sertões entre</p><p>os rios Real e São Francisco, à procura de prata que lá não havia .</p><p>Gorou-se-lhe o trabalho, como sucedera aos outros investigadores do</p><p>roteiro de Belchior Dias Moréia.</p><p>não devia ser perturbada, pat. de 9 de abril de 1678, ibid., pág. 32.-25. Reque</p><p>rimento de João Amaro, 12 de jan. de 1696, Rev. do Inst. do Ceará, XXXVII,</p><p>pág. 46 ( aí a fôlha de serviços de pai e filho ) .-26. Vid. TAUNAY, op. cit., V,</p><p>pág . 330. A carta do príncipe informando sôbre a missão de D. Rodrigo é de</p><p>28 de junho de 1673. Da mesma data o alvará de nomeação, Does. Hist., XXV,</p><p>pág 258. PEDRO TAQUES dá o início dos trabalhos em Itabaiana : 11 de julho</p><p>de 1674, TAUNAY, op. cit., V, pág. 330. De 28 do mesmo mês foi o Regimento</p><p>que se lhe deu, códice ms. no arq. do Conde dos Arcos, Lisboa, inéd. D. Rodrigo,</p><p>fidalgo da casa real, era português, diz um dos testemunhos arrolados na documen</p><p>tação publicada por CARLOS CORREA LUNA, Campana del Brasil, I, pág. 78. Cha</p><p>mava-se sua mãe D. Catarina Correia Galveia.-27. Carta do príncipe, 28 de</p><p>junho de 1673, Does. Hist., LXVIII, págs. 222-223.-28. Carta de 1693, TAUNAY,</p><p>op. cit., V, pág. 335 .-29. Does. Hist., XXV, pág. 264.-30. Venceu Bento Surrei</p><p>o sôldo depois, de 1678 a 1685 , Does. Hist., XXV, pág. 263. Vivia na Bahia</p><p>João Alvares Coutinho, "com exercício de mais de vinte anos no reino do Peru" :</p><p>mandou o príncipe acompanhasse a D. Rodrigo, carta ao governador, 7 de</p><p>Hist6ria do Brasil - Século XVII 757</p><p>Jorge Soares de Macedo passou-se ao reino em meado de 1676,</p><p>"para dar a Sua Alteza a certeza das Minas". Daí a patente de 29</p><p>de novembro de 1677 para que fôsse D. Rodrigo exercer na "Repartição</p><p>do Sul como administrador", em Paranaguá ou Sabarabuçu, as ati</p><p>vidades que não mais deviam repetir-se no Nordeste.31</p><p>Informou Pedro Barbosa Leal (em 1725 ) : da Bahia se transferiu</p><p>para São Paulo, "ambicioso então das notícias que corriam das esme</p><p>raldas, do ouro e da prata de Sabarabuçu, onde o mataram, deixando</p><p>na Bahia o Tenente-Coronel Jorge Soares de Macedo, seu cunhado, para</p><p>ir examinar as minas de Jacobina".</p><p>As bandeiras do planalto enchiam então com os ruídos de suas</p><p>armas as fronteiras remotas-que se deslocavam com elas, sempre</p><p>para além . . .</p><p>dezembro de 1677, ibid., XLVII, pág. 247.-31. Apostila in Does. Hist., XXV,</p><p>pág 266. Registada na Bahia em 17 de março de 1678. Jorge Soares levou como</p><p>ajudante-de-ordens João Carvalho Freire, patente de 22 de abril de 78, ibid.,</p><p>XXVI, pág. 388 ; e seguiu por terra, desde a Bahia, ibid., pág. 291, em abril,</p><p>enquanto D. Rodrigo só saiu em 24 de setembro do mesmo ano. É do PADRE</p><p>ANTÔNIO VIEIRA o comentário : "para as de Paranaguá se tem mandado novos</p><p>ministros, que nada entendem daquele mister, mas para si têm já descoberto e</p><p>embolsado muita prata, pelos grandes salários que levam, com podêres sôbre</p><p>tudo quanto há naquele Estado", Cartas, III, pág. 324.</p><p>F ORTALEZA DE SANTO ANTôNIO DA BARRA, Bahia.</p><p>758 Pedro Calmon</p><p>RE LíQUIA DO TEMPO D O S BANDEIRANT E S : Igrej a de São Miguel, arredores de</p><p>São Paulo, reconstruída em 1622. Foto de Igrejas de São Paulo, de LeoRardo Arroyo.</p><p>XIX - BANDEIRAS DO PLANALTO</p><p>O UTROS TEMPOS</p><p>As incursões dos paulistas na zona j esuítica do Sul e do sudoeste</p><p>esperaram sete anos-após a derrota de 1641-para reproduzir</p><p>as façanhas que tanto atemorizavam missionários e catecúmenos.</p><p>Complicavam-se com uma intenção política que não estivera nos cálculos</p><p>dos sertanistas-instintivos e rebeldes-da fase anterior. Em 1629, em</p><p>33 e 38, unidas as coroas, os paulistas que destruíam as "missões"</p><p>eram apenas corsários do sertão sem lei e sem fé, como diziam os pa</p><p>dres : fugiam ao castigo, afrontavam-no, faziam a "Rochela da Améri</p><p>ca", na frase de Brito Freire. �sse estilo ilícito de conquista atormentara</p><p>o govêrno hispano-luso e zombara, até aí, de ameaças e proibições.</p><p>Mas a guerra subseqüente à Restauração mudara a fisionomia das</p><p>cousas. De Madri veio ordem para interromper-se o comércio entre o</p><p>Rio da Prata e o Brasil. Sentiram os mamelucos chegada a oportuni</p><p>dade de corridas mais extensas : e pensaram no Paraguai, nos Andes,</p><p>no Peru, donde recebiam notícias freqüentes dos cristãos-novos portu</p><p>guêses que, através de Córdoba e de Buenos Aires, nunca deixaram de</p><p>negociar com os de São Vicente, do Rio de Janeiro e da Bahia.</p><p>História do Brasil - Século XVII 759</p><p>COMÉRCIO DE B UENOS AIRES-É preciso notar a importância</p><p>daquele comércio suspenso em 1641.</p><p>Até essa data tinham sido íntimas e vantaj osas as relações entre</p><p>as praças brasileiras e Buenos Aires. Corria-lhes o comércio, aliás, por</p><p>conta dos portuguêses que às centenas se tinham instalado na foz do</p><p>Prata.1 Entre êstes destaca-se-em 1607-12-Melchior Maciel, que fêz</p><p>várias viagens redondas, levando para a Bahia farinhas e couros</p><p>(além da prata peruana que naturalmente não aparece nos papéis adua</p><p>neiros) e voltando com açúcares e escravos africanos.2 Mandara Diogo</p><p>Botelho, em 1602, "se não tomasse dinheiro a mercador nem a peruleiro</p><p>e homens que vinham da índia e do Peru"3-sinal de que eram muitos.</p><p>" . . . Soma grande de patacas de quatro e oito reales, e assim prata la</p><p>vrada" transportavam, de Buenos Aires, muitos peruleiros, escreveu</p><p>em 1618 o autor dos Diálogos das Grandezas.4 Não admira a quantidade</p><p>de prata amoedada que na Bahia achou, em 1610, François Pyrard.5</p><p>A "principal cópia de moeda do Brasil, informou o governador-geral</p><p>em 1652, é da fábrica antiga do Peru, donde veio quando os navios</p><p>desta coroa tinham o comércio do Rio da Prata".6</p><p>A baixa da moeda ( 1642) com as dificuldades da Restauração deu</p><p>novo interêsse ao contrabando de Potosi, por intermédio do Prata, até</p><p>do Amazonas. Divergiram a êsse tempo os dois governos : o de Lisboa</p><p>quis que os súditos americanos não acompanhassem as metrópoles, na</p><p>sua luta. Guardariam uma paz lucrativa. O de Espanha tratou de im</p><p>pedir o comércio que lhe afetava os monopólios, abrindo os rumos da</p><p>cordilheira ao adversário sagaz.</p><p>Com efeito, expediu D. João IV, em 1642, duas ordens a Antônio</p><p>Teles da Silva : "uma para se abster de todo ato de hostilidade contra</p><p>os castelhanos do Rio da Prata, e outra para procurar a introdução de</p><p>seu comércio."7 Para cumpri-las saiu da Bahia o navio de Davi Ven</p><p>tura, para Buenos Aires : "não logrou a jornada". Os alvarás de 18</p><p>de março e 14 de abril de 1646 reforçaram a autorização, ampliada</p><p>aos navios espanhóis que quisessem ir à Africa Portuguêsa, em busca</p><p>de escravos. Valeu-se dela Domingos Vieira Veijão : foi de Angola ao</p><p>Prata, daí ao Brasil, em 1656 ;8 exultou o governador-geral com a espe-</p><p>1. Em 1622, para 1.200 habitantes, Buenos Aires tinha 370 portuguêses, R. LA</p><p>FUENTE MACHAIN, Los Portugueses en Buenos Aires, pág. 86. Vid. vol. 2 .0, cap.</p><p>XXII, nota 39.-2. Os navios San Antonio, San Mateo, San Juan, Nuestra Senora</p><p>de N azareth ocupavam-se então dêsse tráfico, vid. LUIS ENRIQUE AZAROLA GIL,</p><p>Los Maciel en la Historia</p><p>del Plata, pág. 28, Buenos Aires, 1940.-3. Rev. do</p><p>lnst. Hist. , LXXIII, parte 1.a, pág. 47.-4. Ed. de R. GARCIA, pág. 144.-5. Voyage,</p><p>etc., pág. 545 : "Je n'ai j amais vu pays ou l 'argent soit si commun qu'il est en cest</p><p>endroit du Brésil, et y vient de la riviere de la Plata".-6. Does. Hist., III, pág. 11 .</p><p>Tôda essa moeda espanhola foi mandada contramarcar pelo alvará de 26 de fev.</p><p>de 1643. Nova contramarca se pôs à moeda do Peru, em 1652. A lei de 6 de junho</p><p>de 1651 proibiu a circulação de patacos peruanos, então muito falsificados.-</p><p>7. Prov. de 1656 e 59. Salvador Correia propôs no ConS€lho de Guerra, em 17 de</p><p>outubro de 1643, a abertura do comércio com Buenos Aires, Luís NORTON, in Bra</p><p>sília, li, pág. 605 e segs.-8. Does. Hist. , IV, pág. 286.-9. Does. Hist., IV, pág.</p><p>760 Pedro Calmon</p><p>rança "de se encher por aquela via Brasil e Portugal de prata".</p><p>Em 1659 surgiu na Bahia o castelhano João Tomás Brum, a pedir li</p><p>cença para o mesmo tráfico.9 A Portugal importava o afluxo da moeda</p><p>de que carecia. O govêrno de Madri não voltou atrás : insistiu na sua</p><p>negativa. Os colonos, irritados, apelaram para a violência. Já em</p><p>1643 (21 de outubro ) , lembrava Salvador Correia de Sá a conveniência,</p><p>para segurar tal negócio, de "construir um forte próximo a Buenos</p><p>Aires, na Chácara da Catalina, a cavaleiro do riachuelo e da cida</p><p>de".10 O Padre Antônio Vieira, mais franco : "Também se pode</p><p>intentar a conquista do Rio da Prata de que antigamente recebíamos</p><p>tão consideráveis proveitos pelo comércio, e se podem conseguir ainda</p><p>maiores, se ajudados dos de São Paulo marcharmos ( como é muito</p><p>fácil ) pela terra dentro, e conquistarmos algumas cidades em defensa,</p><p>e as minas de que elas e Espanha se enriquecem, cuja prata por aquêle</p><p>caminho se pode trazer com muito menores despesas . . . e para ver se</p><p>êste comércio se pode renovar, uma das ordens que levou Salvador</p><p>Correia foi tomar aquêle pôrto."1 1</p><p>A ocupação far-se-ia, não de Buenos Aires, porém da margem es</p><p>querda do Prata-trinta anos depois.</p><p>O ciclo da "Colônia do Sacramento" antecipava-se na trama e na</p><p>decepção dos mercadores.</p><p>Os jesuítas das "missões" do Paraguai acusaram com energia : os</p><p>mamelucos não caçavam somente os índios batizados, contra as pres</p><p>crições da Igreja ; experimentavam os caminhos do Peru-como ini</p><p>migos rapaces.</p><p>RAPôSO TAVARES-Reaparece Antônio Rapôso Tavares em 1648.12</p><p>O cabo da razzia de 1629 não mais procura os campos do Sul-a</p><p>terra dos tapes e o Uruguai. Vai direto ao rio Paraná, visando às re</p><p>duções de Mboimboi e Maracaju de modo a sair no Paraguai e talvez</p><p>"conquistar estas terras e fazer caminho para o Peru" (avisara o Padre</p><p>Barnabé Bonilha ao governador de Assunção ) . Os seus principais au</p><p>xiliares eram André Fernandes,t3 Antônio Pereira de Azevedo, experi</p><p>mentado cabo das lutas contra os holandeses, Gaspar Vaz Madeira :</p><p>compunha-se a bandeira de 200 brancos e mamelucos ( 180 armas de</p><p>fogo, disse o Padre Mansilla) e mais de mil índios. O ataque dirigiu-se</p><p>ao Itatim. Em Mboimboi o Padre Cristóvão de Arenas, que lhe re</p><p>sistiu, foi aprisionado, em seguida libertado por um trôço de gua-</p><p>362.-10. JôNATAS R�GO MoNTEIRO, A Colônia do Sacramento, I , pág. 34, Pôrto</p><p>Alegre, 1937.-11. Cartas, 20 de jan. de 1648, I, pág. 39, ed. de 1886.-12. A pri</p><p>meira notícia da invasão, que foi a 2 de novembro de 48, é do P. Mansilla, TAUNAY,</p><p>op. cit., III, pág. 175. Does. in Anais do Mus. Paul., V, pág. 6 e segs., referem-se</p><p>às invasões de 1647 e 48. "No ano de 649 partiram os moradores de São Paulo",</p><p>disse VIEIRA, Cartas, I, págs. 408-409, ed. de J. Lúcio, que se referiu à bandeira</p><p>de Antônio Rapôso Tavares. Dela fêz completo estudo JAIME CORTESÃO, Rapôso</p><p>Tavares e a Formação Territorial do Brasil, Rio, 1958, atribuindo-lhe planos</p><p>transcendentes, conforme acreditava o P. Cristóvão de Arenas, idem, ibid., pág. 285,</p><p>e insinuara VIEIRA.-13. Acha CARVALHO FRANCO que não é André Fernandes</p><p>fundador da Paraíba, que fêz testamento em 1641, Bandeiras e Bandeirantes de</p><p>História do Brasil - Século XVII 761</p><p>CAMINHOS AN TIGOS INDI</p><p>CANDO AS PRINCIPAIS PE</p><p>NETRAÇÕES DE BANDEIRAS</p><p>DE FIXAÇÃO.</p><p>- ITINERÁRIO POR TERRA</p><p>----- ITINERÁRIO POR ÁGUA</p><p>ROTEIRO DAS MAIS IMPORTAN T E S BAN D E IRAS DE F IXAÇÃO. Reproduzido</p><p>de Curso de Bandeirologia, de vários autores, Departamento Estadual de Informações,</p><p>São Paulo, 1946.</p><p>ranis, ocas1ao em que morreu o Padre Arias.14 Os paulistas devas</p><p>taram as aldeias ao longo do vale, como Teracani, Maracaju, Bolafios,</p><p>Xerez : e forçaram missionários e catecúmenos a um "êxodo igual ao de</p><p>Guairá e do Tape". A reação, porém, não demorou. Tendo contra si</p><p>fôrças regulares, Rapôso Tavares mudou inesperadamente de rumo, e</p><p>empreendeu a viagem mais extensa de que há memória nos anais</p><p>dêsse sertanismo : subiu o Paraguai, alcançou o Guaporé, divagou pela</p><p>região ignota de Mato Grosso convizinha dos Andes, e desceu em canoas</p><p>( "como dos argonautas contam as fábulas" ) o Rio Amazonas, quando</p><p>já não havia esperanças do seu regresso.15</p><p>Em 1651 quatro colunas de paulistas desenvolveram o ataque ao</p><p>Itatim e às reduções do Uruguai, de !ta pua, no Paraná, a Santo Tomé :</p><p>comandava-as Domingos Barbosa ( Calheiros ) , tendo por tenentes</p><p>Brás de Arzão, Francisco Ribeiro . . . Fracassou a investida. O índio</p><p>Inácio Abiaru derrotou o cabo da bandeira em Pinhais de Santa Te</p><p>resa, arrebatando-lhe a munição e um estandarte com a efígie de Santo</p><p>Antônio. Um tupi aprisionado confessou, que o intento era Buenos</p><p>Aires, tomando o gentio aos padres e ficando "sefiores de la tierra</p><p>toda". O governador do Paraguai expediu em socorro daqueles os sol</p><p>dados que pôde juntar. Desencoraj ados pela resistência e prevendo com</p><p>bates mais duros, os agressores bateram em retirada. Graças a isto</p><p>a série de aldeias dos dois vales, do Paraná e do Uruguai, e os agrupa</p><p>mentos da região do Itatim, volveram à tranqüilidade antiga.</p><p>VACARIA-Sucessivas expedições asseguraram o domínio português</p><p>na região da Vacaria, e por vêzes puseram em perigo a própria cidade</p><p>de Assunção do Paraguai.</p><p>A designação genérica-Vacaria-ligava-se aos campos do Rio</p><p>Grande entre a serra e os Tapes, cujo roteiro não era mais segrêdo em</p><p>São Paulo . Partia-se de Sorocaba. De São Miguel do Paranapanema</p><p>se seguia para as ruínas de São Xavier e Santo Inácio, donde se na</p><p>vegava-em vinte dias de percurso-para o rio Paraná. Descia-se êste</p><p>até o Ivinheima. Remontava-se o Ivinheima e, nas vertentes, varadas as</p><p>canoas, os sertanistas rompiam por terra, à procura dos gados bravos</p><p>ou "cimarrões", espalhados, aos milhares, pelas planuras : Vacaria. Em</p><p>1694 diria D. Francisco Naper de Lencastro que era inesgotável, essa</p><p>reserva de gados, e, com apenas dez cavalos, recolhera 700 reses.16 No</p><p>século imediato o itinerário fluvial seria abandonado graças à abertura</p><p>do caminho que une o rio Pelotas aos "campos gerais" (caminho de</p><p>tropas, cuj os acampamentos se transformaram em cidades ) indo ter</p><p>minar em Sorocaba, principal feira de muares do Brasil durante du</p><p>zentos anos. O vazio produzido por essas incursões devia preencher-se</p><p>São Paulo, pág. 86.-14. Carta do P. Mansilla, Anais do Mus. Paul., V, pág. 7 .-</p><p>15. TAUNAY, /ndios ! Ouro ! Pedras !, pág. 12. Em carta de 1675, confirmou João</p><p>Fernandes Vieira : "um capitão maior fulano Rapôso, que entrou em São Paulo</p><p>e saiu no Grão-Pará", Bol. do Arq. Hist. Mil., XIII, pág. 9.-16. Anais da Bibl.</p><p>Nac., doc. do Arq. Ultram., n.0 1 .888. Vacaria aparece nas "notícias utilíssimas</p><p>História do Brasil - Século XVII 763</p><p>com a colonização efetiva, subseqüente à reinstalação da Colônia do</p><p>Sacramento. Os paulistas não pensavam em povoar : conquistavam. A</p><p>Vacaria era como um depósito comum, de rebanhos sem dono, acessível</p><p>a todos os preadores, portuguêses e castelhanos. Importava-lhes mais o</p><p>contacto com os guaranis, as "missões" e o contrabando que baixava do</p><p>Peru. Ao alto dos Andes vão ter Lourenço Castanho, Pedro V az de</p><p>Barros . . . Manuel Dias da Silva e</p><p>Francisco Pedroso Xavier encurta</p><p>ram o raio de ação, batendo os sertões entre a margem direita do</p><p>Paraná e Vila Rica do Espírito Santo. Êste último-em 1675-76-re</p><p>novou os assaltos, não mais às missões do Uruguai, porém do rio Pa</p><p>raguai, entrou em Vila Rica e iria mais longe se não acudissem tropas</p><p>castelhanas, que o forçaram a retirar, transpondo a serra de Maracaju,</p><p>até as divisas de São Paulo.U</p><p>" . . . En el de 1676, salindo en 14 de febrero de la Capitania de San</p><p>Pablo en tropas, cuyo caudillo se llamava Francisco Pedroso Xavier,</p><p>saquearon la Villa Rica dei Espíritu Santo, acrecentando a estas hos</p><p>tilidades los demás excesos"-queixaram-se os castelhanos, admirados</p><p>aliás da extensão das tropelias. " . . . Discorriendo con gente armada</p><p>hasta Santa Cruz de la Sierra, se han estendido por espacio de mas</p><p>de ochocientas leguas hasta el rio Maraiíon."18</p><p>AGOSTINHO BARBALHO-Agostinho Barbalho Bezerra administra</p><p>dor das minas de Paranaguá e São Paulo, ofereceu-se para averiguar</p><p>as de ouro e esmeraldas de . . . Sabarabuçu. Escreveu el-rei a Fernão</p><p>Dias Pais ( 27 de setembro de 64 ) para que o auxiliasse com a sua ex</p><p>periência e os seus índios.19 No poema sôbre o "governador das esme</p><p>raldas", diz Diogo Grasson Tinoco que a carta o impressionou :</p><p>Lendo-a Fernando, achou que el-rei mandava</p><p>Dar-lhe ajuda, e favor para esta emprêsa,</p><p>E em juntar mantimentos se empenhava</p><p>Com zêlo liberal, rara grandeza :</p><p>Mas porque exausta a terra então se achava,</p><p>E convinha o socorro ir com presteza,</p><p>Mandou-lhe cem negros carregados</p><p>À custa de seus bens, e seus cuidados.</p><p>à coroa de Portugal e suas possessões", f. 695, ibid., doc. 1 . 981.-17. A expedição</p><p>de Pedroso Xavier constitui a mais avançada tentativa de aproximação portuguêsa</p><p>dos núcleos castelhanos do Paraguai, e encareceu-a o capitão-general de São Paulo,</p><p>em 1771, escrevendo ao governador do Paraguai D. Carlos Morphy, ANTÔNIO</p><p>PEREIRA PINTO, Apont. Para o Direito Internacional, III, pág. 472, Rio, 1866 ; e</p><p>HILDEBRANDO AcCIOLl, Limites do Brasil (A Fronteira com o Paraguai ) , pág. 14,</p><p>São Paulo, 1938.-18. Queixa anexa à carta do principe para D. Manuel Lôbo, 23</p><p>de março de 1679, Documentos Interessantes, Arq. do Estado de São Paulo, XLVII,</p><p>pág. 25. Dessa incursão em Santa Cruz não nos fala ENRIQUE DE GANDIA na sua</p><p>Historia de Santa Cruz de la Sierra, Buenos Aires, 1935. Mas o vice-rei do Peru</p><p>confirmou : " . . . y con este ejercito llegando hasta la población de Santa Cruz de</p><p>la Sierra", Does. Interessantes, cit., pág. 27. Segundo o linhagista P. ROQUE Luís,</p><p>Xavier "trouxe cinco sinos da cidade da Concam, do Paraguai para S. P. e fal. a</p><p>19 de j aneiro de 1680".-19. Foi despachado em 21 de maio de 1664, PEDRO TAQUES,</p><p>Informações Sôbre as Minas de São Paulo, pág. 97. O Conde de óbidos, em carta</p><p>764 Pedro Calmon</p><p>M</p><p>O</p><p>N</p><p>U</p><p>M</p><p>E</p><p>N</p><p>T</p><p>O</p><p>D</p><p>A</p><p>S</p><p>B</p><p>A</p><p>N</p><p>D</p><p>E</p><p>IR</p><p>A</p><p>S</p><p>.</p><p>E</p><p>sc</p><p>u</p><p>lt</p><p>u</p><p>ra</p><p>d</p><p>e</p><p>V</p><p>ic</p><p>to</p><p>r</p><p>B</p><p>re</p><p>ch</p><p>er</p><p>et</p><p>n</p><p>o</p><p>P</p><p>a</p><p>rq</p><p>u</p><p>e</p><p>Ib</p><p>ir</p><p>a</p><p>p</p><p>u</p><p>er</p><p>a</p><p>,</p><p>n</p><p>a</p><p>C</p><p>a</p><p>p</p><p>it</p><p>a</p><p>l</p><p>p</p><p>a</p><p>u</p><p>li</p><p>st</p><p>a</p><p>.</p><p>M</p><p>ed</p><p>e</p><p>4</p><p>2m</p><p>, 1</p><p>5</p><p>d</p><p>e</p><p>co</p><p>m</p><p>p</p><p>ri</p><p>m</p><p>en</p><p>to</p><p>,</p><p>7</p><p>d</p><p>e</p><p>la</p><p>rg</p><p>u</p><p>ra</p><p>m</p><p>éd</p><p>ia</p><p>,</p><p>5</p><p>d</p><p>e</p><p>a</p><p>lt</p><p>u</p><p>ra</p><p>m</p><p>é</p><p>d</p><p>ia</p><p>,</p><p>e</p><p>p</p><p>es</p><p>a</p><p>1</p><p>.0</p><p>0</p><p>0</p><p>t</p><p>on</p><p>el</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>s.</p><p>O</p><p>im</p><p>p</p><p>on</p><p>en</p><p>te</p><p>c</p><p>on</p><p>ju</p><p>n</p><p>to</p><p>,</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>cu</p><p>st</p><p>ou</p><p>n</p><p>a</p><p>ép</p><p>oc</p><p>a</p><p>se</p><p>is</p><p>m</p><p>il</p><p>h</p><p>õe</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>cr</p><p>u</p><p>ze</p><p>ir</p><p>os</p><p>e</p><p>ex</p><p>ig</p><p>iu</p><p>15</p><p>a</p><p>n</p><p>os</p><p>d</p><p>e</p><p>tr</p><p>ab</p><p>a</p><p>lh</p><p>o,</p><p>a</p><p>li</p><p>n</p><p>h</p><p>a</p><p>t</p><p>od</p><p>os</p><p>o</p><p>s</p><p>sí</p><p>m</p><p>b</p><p>ol</p><p>os</p><p>d</p><p>a</p><p>a</p><p>u</p><p>d</p><p>a</p><p>z</p><p>p</p><p>en</p><p>et</p><p>ra</p><p>çã</p><p>o</p><p>p</p><p>a</p><p>u</p><p></p><p>li</p><p>st</p><p>a</p><p>:</p><p>o</p><p>ín</p><p>d</p><p>io</p><p>,</p><p>o</p><p>n</p><p>eg</p><p>ro</p><p>e</p><p>o</p><p>b</p><p>ra</p><p>n</p><p>co</p><p>(f</p><p>a</p><p>tô</p><p>re</p><p>s</p><p>ra</p><p>ci</p><p>a</p><p>is</p><p>),</p><p>o</p><p>b</p><p>a</p><p>te</p><p>lã</p><p>o,</p><p>a</p><p>s</p><p>b</p><p>ot</p><p>a</p><p>s,</p><p>o</p><p>s</p><p>in</p><p>st</p><p>ru</p><p>m</p><p>en</p><p>to</p><p>s</p><p>(f</p><p>a</p><p>tô</p><p>re</p><p>s</p><p>fí</p><p>si</p><p>co</p><p>s)</p><p>,</p><p>a</p><p>s</p><p>es</p><p>m</p><p>er</p><p>a</p><p>ld</p><p>a</p><p>s</p><p>(f</p><p>at</p><p>ôr</p><p>es</p><p>m</p><p>it</p><p>ol</p><p>óg</p><p>ic</p><p>os</p><p>)</p><p>e</p><p>o</p><p>p</p><p>a</p><p>d</p><p>re</p><p>(f</p><p>at</p><p>or</p><p>es</p><p>p</p><p>ir</p><p>it</p><p>u</p><p>al</p><p>)</p><p>.</p><p>In</p><p>au</p><p>g</p><p>u</p><p>ra</p><p>d</p><p>o</p><p>em</p><p>2</p><p>5</p><p>d</p><p>e</p><p>ja</p><p>n</p><p>ei</p><p>ro</p><p>d</p><p>e</p><p>19</p><p>53</p><p>.</p><p>Fracassou a bandeira com o falecimento de Agostinho Barbalho. O</p><p>próprio Fernão Dias completou-a : mas dez anos depois.</p><p>NORTE E OESTE-Não tiveram a mesma notoriedade as bandeiras</p><p>que se lançaram para os Goiases, para o norte em direção do Amazonas,</p><p>ou para o médio São Francisco através dos serros que Fernão Dias</p><p>Pais transpôs em 1675-81 .</p><p>A pasmosa travessia de Rapôso Tavares ( São Paulo-missões meri</p><p>dionais-Tocantins-Pará) não é sem exemplo.</p><p>A primeira leva que partiu do planalto para o oeste e o norte, como</p><p>à procura dos contrafortes dos Andes ou das cabeceiras do Araguaia</p><p>e do Tocantins, parece ter sido-em 1613-a de Pêro Domingues, de</p><p>que há informação escrita pelo Padre Antônio de Araúj o.2° Cêrca de</p><p>trinta paulistas "foram dar às cabeceiras de um rio cheio de raios, a</p><p>que chamaram por isso Iabeberi", alguns dos quais formam o leque</p><p>do alto Tocantins (Urubu, Almas, Maranhão ) ; e, descendo por êle</p><p>até à confluência do Araguaia, descobriram o baixo Tocantins, "fer</p><p>moso braço do grande e afamado Pará". Então, deixando o Iabeberi ou</p><p>Tocantins à mão esquerda, voltaram, subindo o Araguaia, rumo de São</p><p>Paulo. Acharam acolá o gentio em tratos com uns franceses (tinham</p><p>"grande número de camisas de Ruão" ) cuja fortaleza ficava a onze</p><p>j ornadas rio abaixo. Conseguiram arrebanhá-los (umas 3 mil almas ) ;</p><p>mas os índios se rebelaram em caminho, mataram dezesseis e fugiram</p><p>-tornando de mãos vazias a São Paulo os demais sertanistas. Que</p><p>estiveram no vale amazônico e reconheceram, no regresso, a ilha de</p><p>Bananal, bem se infere do relato do jesuíta.</p><p>Sebastião Pais de Barros, êmulo de Rapôso Tavares, realizou via</p><p>gem semelhante ganhando, pelo Tocantins, o Amazonas, até alcançar</p><p>Belém do Pará com grave desgôsto do governador do Maranhão e dos</p><p>missionários alarmados. É de 1673 a surprêsa do Governador Pedro</p><p>César de Meneses, que logo mandou Francisco da Mota Falcão com uma</p><p>fôrça a expulsar os intrusos que "reduziam" o gentio guajará em sa</p><p>crifício da catequese e da Igrej a. Para evitar o choque interveio o</p><p>clérigo Antônio Rapôso, que trouxera instruções de Lisboa para que</p><p>se pesquisassem as minas com o auxílio dos paulistas. Mais tarde ale</p><p>gou : "passando pelo sítio onde se tinha aloj ado o cabo da tropa de São</p><p>Paulo achou a notícia que por seu descuido ou ambição de cativar o</p><p>gentio, o tinha êste morto e aos demais da tropa e eram duas nações,</p><p>ao governador do Rio, 4 de abril de 65, recomendou a emprêsa do "descobrimento</p><p>das minas das capitanias do Sul", que se cometera a Barbalho, Does. Hist., VI,</p><p>pág. 48. Noutra ( 18 de dez. de 65, ao provedor da Fazenda no Rio ) : ":mie ( Bar</p><p>balho ) me escreve que de longe se haviam descoberto já pelos seus exploradores</p><p>as serras das esmeraldas, mas eu creio mais os desenganos que V. M. me dá de</p><p>não haver no Brasil mais minas que o açúcar com as esperanças com que eu fico de</p><p>as descobrir", ibid., pág. 63. " . . . Porque tudo isto de Agostinho Barbalho é um</p><p>embelêco", carta de 23 de fevereiro de 64, ibid., pág. 65. Por PEDRO TAQUES sabemos</p><p>que morreu no sertão do Espírito Santo , op. cit . , pág. 99.-Vid. também Rev. do</p><p>lnst. Hist., tomo especial, I, pág. 30, 1956.-20. P. SERAFIM LEITE, "Uma Grande</p><p>766 Pedro Calmon</p><p>FORTE DO MORRO DE SÃO PAULO ( século XVI I ) baluarte da defesa costeira, na Bahia.</p><p>a dos aruaqueres, de língua geral e melhor gentio, e a dos bilreiros,</p><p>cruel e belicosa."</p><p>O Padre Antônio de Araúj o escreveu uma Relação dada pelo mesmo</p><p>( Pêro ) Domingues sôbre a viagem que de São Paulo fêz ao rio de São</p><p>Francisco, chamado tamb ém Pará--bastante vaga para que se lhe per</p><p>ceba a insegurança do roteiro, porém suficiente para que se saiba que</p><p>por 1630 os mamelucos tinham descoberto o itinerário dos "amoipiras",</p><p>e o São Francisco na sua parte média. "Pelo que se pode agora ter</p><p>por alvitre dado do céu achar-se que da vila de São Paulo se podia ir em</p><p>canoa até aos portos dos amoipiras."21</p><p>"Das vilas de São Paulo para o rio de São Francisco descobriram</p><p>os paulistas antigamente um caminho a que chamavam Caminho Geral</p><p>do Sertão", diz um papel do</p><p>princípio do século seguinte : "pelo qual</p><p>entravam e cortando os vastos desertos que mediam entre as ditas Vilas</p><p>e o dito Rio nêle fizeram várias conquistas de tapuias, e passaram a</p><p>outras, para os sertões, de diversas j urisdições, como foram Maranhão,</p><p>Pernambuco e Bahia". Assim sucedera-em 1677-a Domingos de</p><p>Freitas de Azevedo, "que veio de São Paulo pelo sertão do rio de São</p><p>Francisco donde foi desbaratado pelas nações bárbaras, com que pele</p><p>j ou", a contar "que da nascença do rio Paraguaçu distante 60 léguas</p><p>das Itapororocas havia algumas aldeias" .22 Uma vez chegados ao</p><p>grande vale procuravam algum dos caminhos que abrira a Casa da</p><p>Tôrre. Exatamente para castigar os anaiós do São Francisco escreveu</p><p>o triunvirato da Bahia em fevereiro de 1677 a alguns paulistas : "Che</p><p>gou-se ao tempo em que é necessário rogar a V. M.cê para o mesmo que</p><p>em outro tempo se lhe proibia, que passar ao rio de São Francisco . . .</p><p>havendo êles (anaiós ) degolado e desbaratado j á tão várias bandeiras</p><p>de paulistas."23 Para acabar com os maus índios tinham plena liber-</p><p>Bandeira Paulista Ignorada", in Jornal do Comércio, 5 de maio de 1 9 3 5 .-2 1. CAR</p><p>VALHO FRANCO, op. cit., pág. 103.-22. Does. Hist. , XIII, pág. 7 .-23. Does. Hist.,</p><p>História do Brasil - Século XVII 767</p><p>CASA DO BANDEIRANTE, NA CIDADE DE SÃO PAULO. Restaurada sob a</p><p>orientação do D. P. H. A. N. , essa residência setecentista é um monumento rústico</p><p>que lembra a modéstia e a severidade dos pioneiros, afazendados no interior paulista,</p><p>com a sua mansão térrea, "tôda construída de grossas paredes de taipa, isto é, terra</p><p>socada entre tábuas", como informa o conservador da Casa, Paulo Camllller .it'!orençano,</p><p>"com doze cômodos distintos em suas funções domésticas : alpendre ou pretório, quarto</p><p>de hóspede, capela, quarto do dono da casa, sala social, quarto das rêdes, quarto de</p><p>donzela, sala de j antar, quarto de trabalho (gineceu ) , alpendre dos fundos, quarto</p><p>de ferramentas e dos arreios e ucharia ou despensa". Na parte externa ficavam as</p><p>Casas da Farinha e da Moenda. O patriarcado sertanista aí morava, preparando-se para</p><p>o assalto aos desertos do Oeste. Fotografia de Paulo Florençano.</p><p>dade de cruzar aquelas terras. Andava por aí Domingos Jorge Velho.</p><p>Igual roteiro serviu a Francisco Dias de Siqueira, para subir ao Piauí</p><p>e Maranhão, e a Matias Cardoso, em 1690, para passar-se ao Apodi</p><p>e Piranhas.24</p><p>Aos Goiases-depois de 1670-foram Bartolomeu Bueno de Siqueira,</p><p>Luís Castanho de Almeida,25 que lá morreu às mãos dos índios ( 1671 ) ,</p><p>Antônio Soares Pais, que o vingou, Manuel de Campos Bicudo e Bar</p><p>tolomeu Bueno da Silva, o maior dêles,26 por antonomásia o Anhangüe</p><p>ra ( 1670-73 ) . Descobriu Bicudo a serra dos Martírios e explorou parte</p><p>do atual Mato Grosso : foi o trajeto que, em 1716, procurou de novo</p><p>seu filho (e companheiro em 73 ) Antônio de Campos Bicudo.27</p><p>XI, pág. 71.-24. Sôbre Dias de Siqueira, TAUNAY, no Jornal do Comércio, 1 1 de</p><p>maio de 1936. Vid. carta do governador-geral, 1693, Does. Hist., XXXIV, pág. 86.-</p><p>25. PEDRO TAQUES, Nobiliarquia, ed. de TAUNAY, págs. 297 e 317.-26. Vid. BASÍLIO</p><p>DE MAGALHÃES, Expansão Geográfica do Brasil Colonial, págs. 128-129. O Anhan</p><p>güera mereceu o apelido ( diabo velho ) pelo ardil de que se valeu com os goiases.</p><p>Para amedrontá-los derramou aguardente no rio e ateou-lhe fogo. Mas a primazia</p><p>do embuste, segundo PEDRO TAQUES, cabe a Francisco Pires Ribeiro .-27. WA</p><p>SHINGTON Luís, in Rev. do lnst. Hist. de São Paulo, VIII, pág. 98.</p><p>768 Pedro Calmon</p><p>LAPIDE</p><p>DO TúMULO DE</p><p>FERNÃO DIAS PAIS</p><p>na igreja do Mosteiro</p><p>de São Bento, São Paulo.</p><p>XX - DOIS MITOS PROVIDENCIAIS</p><p>A IL USÃO DO GOVERNADOR</p><p>D rz Rocha Pita : "Veio à cidade da Bahia um morador do sertão,</p><p>cujas experiências e procedimentos puderam abonar as suas ates</p><p>tações. Informou ao Governador Afonso Furtado ter descoberto gran</p><p>diosas minas de prata, em parte muito diversa da em que se presumia</p><p>as achara Robério Dias, e com a abundância que êste as prometera em</p><p>Castela. Assegurava o descobrimento, mostrando umas barretas, que</p><p>dizia fundira das pedras que delas tirara, afirmando ser o rendimento</p><p>igual ao das mais ricas minas das índias de Espanha." Tomado de</p><p>entusiasmo, mandou logo o filho, João Furtado de Mendonça ( o que</p><p>seria governador do Rio de Janeiro, 1685-88 ) "com algumas pessoas</p><p>de distinção que em aplauso da novidade quiseram naquela ocasião</p><p>passar à côrte a diversos fins", dar conta a el-rei do achado e das amos</p><p>tras. Naufragou porém o patacho, na costa de Peniche ; salvou-se João</p><p>Furtado, sem as cartas e as barretas de prata ; e chegou a Lisboa</p><p>pondo em refôrço das palavras a emoção da catástrofe-como porta</p><p>dor de uma notícia que ninguém mais poderia discutir. Apressou-se o</p><p>govêrno em remeter para a Bahia as cousas necessárias para a ex-</p><p>História do Brasil - Século XVII 769</p><p>ploração do tesouro, ao tempo, entretanto, em que no sertão morreu o</p><p>suj eito que o revelara, não se sabendo mais nada de suas primícias . . . 1</p><p>Afonso Furtado foi iludido na boa-fé e castigado na precipitação .</p><p>O cronista escreveu certo : mas de memória ; e não localizou o episódio.</p><p>O autor da burla era nada menos do que o provedor de Paranaguá,</p><p>Manuel de Lemos Conde. Em 28 de novembrO. de 1674 respondeu-lhe</p><p>o governador : "Recebi a carta que V. M.cê me escreveu em 10 de maio</p><p>dêste ano com a nova do descobrimento das minas de Pernaguá e as</p><p>duas barretas de prata que eram amostra de sua fineza." "Assim que</p><p>a vi aprestei logo um patacho e mandei a levá-la a S. A. meu filho</p><p>João Furtado de Mendonça que daqui partiu em 4 de agôsto e daí a 15</p><p>dias despachei outro patacho com segundo aviso. Em ambos represen</p><p>tei a S. A. (a quem remeti os papéis e carta original que V. M .cê me</p><p>enviou para tudo lhe ser mais particularmente presente e as duas bar</p><p>retas de prata ) o muito que V. M.cê merecia."2 É verdade que man</p><p>dara pelos ourives da terra examinar as pedras brutas, que acompanha</p><p>vam as barretas, e o resultado fôra negativo. "E porque suponho haver</p><p>sido isto falta de ciência nos ourives", preferia ficar com a alegria</p><p>da certeza, sem o trabalho de prová-la. Expediu sem demora o enge</p><p>nheiro Antônio Correia Pinto "a reconhecer tôda essa costa" do Sul</p><p>-não fôssem rondá-la corsários atraídos pelas minas !-e Brás Rodri</p><p>gues de Arzão,3 para cuidar do gentio necessário à eventual defesa.</p><p>O engenheiro pesquisou ativamente e só achou ouro de lavagem, en</p><p>contradiço um pouco por tôda parte, entre o Iguape e Paranaguá. De</p><p>volta, sucedeu-lhe no Rio de Janeiro curiosa aventura. O ouvidor,</p><p>Pedro de Unhão Castelo Branco, estranhou que o ouro das amostras</p><p>não tivesse pago os quintos del-rei, e não somente o prendeu, como lho</p><p>confiscou, e aos bens que levava-com escândalo do govêrno da Bahia</p><p>que disso se queixou a Ma tias da Cunha, governador do Rio de J a</p><p>neiro.4</p><p>Mas não havia prata ! Esta procedia do Peru, donde os próprios</p><p>paulistas a traziam, nas suas viagens que duravam anos. O engôdo</p><p>pôsto à calva pelo engenheiro5-e o naufrágio de João Furtado,6 en</p><p>cerraram melancolicamente o período do crédulo governador-geral.</p><p>1. RocHA PITA, op. cit., págs. 282-284. O doc. seguinte mostra o equívoco de CA</p><p>LÓGERAS, As Minas do Brasil, pág. 449, Rio, 1904 (vid. TAUNAY, Hist. Ger. das</p><p>Bandeiras Paulistas, V, pág. 327 ) , que atribui a Melchior da Fonseca Saraiva o caso</p><p>do capitão-mor de Paranaguá.-2. Does. Hist., VI, pág. 282. Reforçava a crença . . .</p><p>"por me haver escrito isto também Fernão Dias Pais que de uma libra de pedra</p><p>de Pernaguá que lhe fôra à mão tirara trinta réis de prata do valor antigo.</p><p>Mas ainda que não duvido da certeza". É possível que a pressa em mandar o</p><p>filho fôsse o seu propósito de mostrar à côrte que sem D. Rodrigo de Castelo</p><p>Branco as minas iam sendo descobertas. Quando partiu João Furtado, o adminis</p><p>trador-geral minerava em Sergipe ! Outra carta, dizendo que Paranaguá seria o</p><p>novo Potosi, foi do capitão de Santos, Sebastião Velho de Lima, de 30 de maio</p><p>de 1674,</p><p>PAULO PRADO, op. cit., pág. 123.-3, Does. Hist., X, pág. 449.-4, lbid.,</p><p>XI, pág. 65.-5. Antônio Correia Pinto, que morreu heroicamente na Colônia do</p><p>Sacramento-servira primeiro, como engenheiro, no Alentejo, e em 1670 em Per-</p><p>770 Pedro Calmon</p><p>ANTIGO COLÉGIO DOS JE SUíTAS, Paranaguá, Paraná. Construção iniciada c. 1708 e con</p><p>cluída c. 1750 ; feita pelos próprios padres. Fotografia da Diretoria do Patrimônio Histórico</p><p>e Artístico N acionai.</p><p>Importa considerar o território incorporado na coroa portuguêsa.</p><p>A COSTA DO SUL-A ocupação da costa, ao sul das três vilas, foi</p><p>vagarosa e desordenada.</p><p>Pedro de Cáceres obteve licença do govêrno-geral em 1619 para</p><p>povoar o rio de São Francisco e a ilha de Santa Catarina, com a con</p><p>dição de não escravizar o gentio/ como faziam, por mar, os traficantes</p><p>nambuco, tendo a patente de capitão ad honorem em 16 de outubro de 1674, Does.</p><p>Hist., XXVI, pág. 265. A exaltação do governador documenta-se com êste trecho</p><p>de carta, para Frei João de Granica : "E será justo que assim como muitos portu</p><p>guêses deram muitos milhões nas minas do Potosi, aos príncipes de Castela, dê</p><p>também um castelhano, muitos nas de Pernaguá ao de Portugal", ibid., X, pág. 454.</p><p>-6. De Roma, 14 de novembro de 1674, escreveu VIEIRA : " . . . obrigado dos</p><p>corsários de Argel dera à costa um patacho da Bahia, em que vinha o filho do</p><p>Governador Afonso Furtado, o qual, com alguns outros, escapara do naufrágio,</p><p>havendo-se perdido as cartas, e tudo o mais que traziam, que eram principalmente</p><p>as amostras de três minas novamente descobertas naquele Estado, uma de ouro,</p><p>outra de prata, e a terceira de esmeraldas . . . . Parece que se pode assim coligir de</p><p>o governador, que é homem sisudo, mandar seu filho com êste alvitre", Cartas, III,</p><p>pág. 120. Vid. a carta do governador a Agostinho de Figueiredo, Does. Hist., X,</p><p>págs. 446-44 7. " . . . Fizeram dar à costa na altura da Ericeira e milagrosamente</p><p>saiu à praia (João Furtado de Mendonça) com vida para dar notícia a S. A. que</p><p>seu pai por êle mandava de se descobrirem . . . . minas de prata e de esmeraldas",</p><p>Monstruosidades do Tempo e da Fortuna, IV, pág. 26.-7. Rev. do Inst. Hist. de</p><p>São Paulo, V, pág. 184. Em 30 de março de 1622 protestou a Câmara de São</p><p>Vicente contra a ordem de Martim de Sá, para descer "certa cópia de gente da</p><p>Laguna e vila de Santa Catarina", "limites desta capitania", ibid., pág. 186.-</p><p>. História do Brasil - Século XVII 771</p><p>de São Vicente e do Rio de Janeiro. Segunda concessão para êsse po</p><p>voamento foi dada pelas autoridades de São Paulo, em 1642, a Antônio</p><p>Fernandes,8 mas em vão Salvador Correia de Sá pleiteou para si uma</p><p>capitania de cem léguas, abrangendo a lagoa dos Patos.9 Ganharam-na</p><p>seus filhos quando se tratou de preparar a conquista do Rio da Prata.</p><p>A inclusão da baía de Paranaguá na jurisdição do Sul data de</p><p>1646, quando Gabriel de Lara, natural de lguape, manifestou em São</p><p>Paulo o descobrimento de ouro de lavagem, assim à beira-mar como</p><p>no planalto além da serra, ali tão próxima da praia.</p><p>PARANAGUA-à mágica palavra, Duarte Correia Vasqueanes, que</p><p>substituía o irmão no govêrno, enviou do Rio de Janeiro Eleodoro</p><p>Ébano como comissário das minas, e depois Pedro de Sousa Pereira,</p><p>provedor da Fazenda real, e Mateus de Leão-para lhe dizerem da</p><p>importância das jazidas.1° Foi então-1648-fundada a vila de Nossa</p><p>Senhora do Rosário de Paranaguá.11</p><p>Pediu el-rei amostras do minério (carta de 28 de novembro de 1651).</p><p>Foi buscá-las Pedro de Sousa Pereira em março de 53 (descreve a</p><p>viagem em carta de 20 de maio) : "por terra de Cananéia àquela vila",</p><p>onde "tomando na povoação ao Capitão Gabriel de Lara, e com o</p><p>mesmo escrivão da fazenda e 30 trabalhadores fui ao sertão da cha</p><p>mada mina da pedra de ouro, e reconhecendo o sítio vi que era o lugar</p><p>a fralda de um sêrro, cujas pontas estão de leste, oeste, regado com</p><p>um pequeno ribeiro que vem do mesmo sêrro, e neste lugar achei cavado,</p><p>em partes, espaço de 40 braças em quadra de onde se haviam tirado as</p><p>pedras que se manifestaram, e outras muitas", sendo Lara "o que se</p><p>intitula descobridor desta chamada mina, e houvera pedra de mais de</p><p>um quintal, cujo rendimento foi excessivo" .12 Por uma relação de 1711</p><p>sabemos que era "uma grandiosa mina de ouro de bêta"; e que não</p><p>fôra mais explorada porque da expedição de Pedro de Sousa Pereira</p><p>resultara a morte trágica do mineiro espanhol que podia averiguá-la.</p><p>É o episódio misterioso de D. Jaime, ou apenas Jaime Commere, que</p><p>8. Vid. BASÍLIO DE MAGALHÃES, op. cit., pág. 132.-9. Vid. OSVALDO R. CABRAL,</p><p>Laguna e Outros Ensaios, pág. 16, Florianópolis, 1939 ; ALBERTO LAMEGO, op. cit.,</p><p>I, pág. 62.-10. ROMÁRIO MARTINS, História do Paraná, pág. 258. Eleodoro mo</p><p>rava no Rio de Janeiro, "cidadão desta cidade", aí juiz ordinário em 1637, Acór</p><p>dãos e Vereanças, cit. , págs. 13-14. Segundo a Nobiliarquia de P. ROQUE Luís, ms.</p><p>na Bibl. Nac., era genro do famoso Cap.-Mor João Pereira de Sousa Botafogo, e</p><p>natural de Viana, no reino. A viúva e filhos de Duarte Correia Vasqueanes obti</p><p>veram sesmaria de dez léguas da barra de Paranaguá para o sul, em 3 de outubro</p><p>de 1658, Rev. do lnst. Hist. de São Paulo , V, pág. 191, e 30 léguas abaixo das</p><p>capitanias do Conde de Monsanto e Condêssa de Vimieiro, em 30 de outubro do</p><p>mesmo ano.-1 1. PEDRO TAQUES, Hist. da Capitania de São Vicente, pág. 141 ;</p><p>TAUNAY, op. cit., VIII, pág. 325 e segs. Vid. "Informação de Ébano", 1650, Rev.</p><p>do Inst. Hist., tomo especial, I, pág. 20. A sua nomeação foi de 10 de setembro de</p><p>1648.-12. Doc. do Arq. Ultram., cit. por Dímo CosTA, Subsídios Para a História</p><p>Marítima do Brasil, II, pág. 258. É a êsse ouro que alude VIEIRA, na carta ( LXVI,</p><p>da edição de J. LúciO, I ) , datada do Maranhão : " . . . O ouro que se tira das</p><p>minas de São Paulo se põe todo em barretas em que se vai a cunhar, e dizem êles</p><p>que, em fazendo barretadas a êstes mesmos ministros com estas barretas".-</p><p>772 Pedro Calmon</p><p>(foi voz pública) ali acabou para não revelar o segrêdo: lançou-o de</p><p>um despenhadeiro um criado do provedor . . . Pelo menos imputaram-lhe</p><p>o crime em 1660, por ocasião do motim do Rio de Janeiro, informando a</p><p>Câmara de São Paulo : "Enquanto à morte do mineiro Jaime Commere</p><p>suposto que a princípio a fama, como em outras cousas, publicou fôra</p><p>violenta, todavia em contrário se praticou . . . indo a mudar, com o passo</p><p>mais largo, o dito mineiro, de uma para outra pedra. . . escorregara e,</p><p>caindo se despenhara na cata ou alta cova que se fazia."13</p><p>Embora infrutífera, a viagem de Pedro de Sousa Pereira forneceu</p><p>as amostras pedidas.</p><p>Levou-as Francisco de Brito Freire, ao voltar com a frota da Com</p><p>panhia erri 1654 : "Mui considerável é já a quantidade que se tira do</p><p>ouro de lavagem. Dêste me mandaram para a Rainha Nossa Senhora</p><p>dois quintos que V. M. lhe concedeu mais de nove arráteis. Puderam</p><p>passar de arrôbas pagando-se os direitos sem os descaminhos que ouvi</p><p>murmurar. Ouro de bêta não se busca por necessitar de mais indústria</p><p>e cabedal; mas asseguram haver dêle, e de prata muitas minas : princi</p><p>palmente nos Serros descobertos de novo em Pernaguá dos quais me</p><p>mostraram com diferentes veias várias pedras que trago para V. M.</p><p>mandar ver."14 Mantinha, porém, a descrença antiga: "Porém eu de</p><p>pois de tôdas aquelas diligências feitas por D. Francisco de Sousa, por</p><p>el-rei de Castela; e das notícias e particularidades que agora soube no</p><p>Rio de Janeiro das pessoas mais bem vistas e desinteressadas nesta</p><p>matéria, não acabo de persuadir-me a que na realidade haja tais minas."</p><p>Concitava o rei a enviar autoridade "sem dependência de outro mi</p><p>nistro" para "atrair com o agrado ou com a fôrça os ânimos daqueles</p><p>moradores, sediciosos e turbulentos. Porque é a Rochela do Sul a capi</p><p>tania de São Paulo".lll</p><p>Esta desconfiança do almirante (sem acreditar nos "quintos" que</p><p>levava) parece justificar a acusação dos revoltosos fluminenses em</p><p>1660 : "Queremos com tôda a verdade representar a Sua Majestade</p><p>entre outras</p><p>cousas o procedimento com que o administrador-geral</p><p>Pedro de Sousa Pereira se tem havido nelas em razão dos es</p><p>tanques que há mandado fazer de água ardente e vinho e outras fazen</p><p>das, para com elas comprar ouro e mandar a Sua Majestade a título</p><p>de que é rendimento dos quintos."16</p><p>13. Vid. A. LAMEGO, op. cit., 11, pág. 473 ; TAUNAY, op. eit., pág. 221 .-14. 0 exame</p><p>das pedras levadas por Brito Freire foi negativo (o que menos justifica o lôgro em</p><p>que caiu depois o Governador Afonso Furtado ) . Parece que se refere ao mesmo</p><p>assunto a comunicação do Marquês Almirante para que não se mandasse mais amos</p><p>tra, 1656, Does. Hist., XXI, pág. 285. Um marinheiro português ouvido em Assunção,</p><p>em 1657, disse que a 7 léguas de São Paulo, em Ibiturum, e no pôrto de Paranaguá,</p><p>"se labra y saca oro por todos los que quieren ir a sacarlo porque son minas</p><p>comunes para todos", TAUNAY, op. eit., III, pág. 213.-15. Ms. " Sôbre o Bom</p><p>Govêrno e Guerra do Brasil", de FRANCISCO DE BRITO FREIRE, na Bibl. da Ajuda,</p><p>publ. por EDUARDO BRASÃO, Ocidente, IX, pág. 259, maio de 1940.-Em 1663</p><p>foi nomeado administrador das minas de Parnaguá o provedor da Fazenda do</p><p>Rio de Janeiro, Diogo Carneiro, Does. Hist., XXI, pág. 345.-16. TAUNAY, op. cit.,</p><p>História do Brasil-Século XVII 773</p><p>Em 1660 há uma capitania de Paranaguá. Resulta da posse que dá</p><p>a Câmara a Gabriel de Lara, procurador do Marquês de Cascais</p><p>donatário de São Vicente, em sucessão do Conde de Monsanto, e a</p><p>disputar os domínios do título de Vimieiro (em mãos do Conde da Ilha</p><p>do Príncipe) . Os vereadores desempataram em favor de Lara, "Po</p><p>voador da Vila de N. s.a do Rosário da Capitania de Paranaguá em</p><p>nome de Sua Alteza e com os mesmos podêres Lugar-Tenente e Pro</p><p>curador do Marquês de Cascais nas Vilas de 40 léguas da parte do</p><p>Sul"P Vários moradores já tinham algum gado ou exploravam ouro</p><p>de lavagem nos "campos de cima", entre a serra de Paranaguá e os</p><p>pinhais, que em tupi chamavam-Curitiba. Dezesseis ( o principal</p><p>Mateus Leme, da nobreza paulista ) pediram em 1668 a criação ali de</p><p>uma vila. Gabriel de Lara não somente a autorizou, como presidiu</p><p>à instalação do pelourinho.l8 Fôsse, porém, porque o número de habi</p><p>tantes não satisfizesse à condição da lei ( exigia oitenta, no mínimo) ,</p><p>fôsse porque os hábitos rurais não tolerassem ainda tal luxo, a "vila</p><p>de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais" (ou de Curitiba, equivalente</p><p>indígena que prevaleceu ) só foi fundada em 1693.</p><p>O capitão-mor de São Vicente, Agostinho de Figueiredo, 19 passa</p><p>ra a Paranaguá para cuidar das minas-e não mais deixou a região.</p><p>Foi, com quarenta anos de residência na praia ou no planalto, um dos</p><p>fundadores de Curitiba. Em 1674 era provedor das minas Manuel de</p><p>Lemos Conde. Manuel Veloso da Costa acumulava os cargos de ca</p><p>pitão da Ordenança e escrivão20 e o tesoureiro se chamava Roque Dias</p><p>Pereira. C om Frei João de Granica2 1-que tinha experiência das minas</p><p>do Peru-fizeram "o particular serviço do descobrimento delas", como</p><p>agradeceu o governador-geral, em 26 de novembro daquele ano, man</p><p>dando-lhes 200$000 em dinheiro e 220 fardos em gêneros, para recom</p><p>pensar as barretas de prata e a certeza de outro Potosi .22</p><p>O lôgro não podia ter sido maior.</p><p>A prata não era de Paranaguá. Como vimos, Afonso Furtado pagou</p><p>duramente o seu otimismo ; e caberia a D. Rodrigo de Castelo Branco</p><p>a punição do principal culpado do engôdo.</p><p>Mas a intruj ice teve o condão de atrair os portuguêses para a costa</p><p>além das "três vilas" e atualizou o seu antigo propósito de dominá-la</p><p>até a embocadura do Prata, antes que os castelhanos voltassem a algum</p><p>dos portos intermediários.</p><p>O ludíbrio-a prata de Paranaguá-provocou uma larga expansão</p><p>territorial-a Colônia do Sacramento.</p><p>V, pág. 220, e A. LAMEGO, op. cit.-11. ANTÔNIO VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histó</p><p>rica da Cidade de Paranaguá, pág. 15, Curitiba, 1922 ; ROMÁRIO MARTINS, op. cit.,</p><p>pág. 243.-18. ROMÁRIO MARTINS, Curitiba de Outrora e de Hoje, pág. 95,</p><p>São Paulo, 1923; TAUNAY, op. cit., VIII, pág. 333.-19. Vid. patente, Does.</p><p>Hist., XXV, pág. 142. Era soldado desde 1641. Entrou no govêrno de São</p><p>Vicente em 1666, ibid., VI, pág. 68 ; e Rev. do Inst. Hist., tomo esp. , I , pág.</p><p>37, 1956.-20. Does. Hist., XII, pág. 287 ; e LXVII, pág. 95.-21. Ibid., X,</p><p>pág. 442.-22. Na mesma data mandou o governador entregar a Agostinho</p><p>774 Pedro Calmon</p><p>VELHA CASA DE LAGUNA, Santa Catarina. Construção iniciada em 1747.</p><p>Fotografia da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.</p><p>Em 1691 j á era Gaspar Galete de Andrade provedor das minas "de</p><p>ouro" "de Pernaguá com jurisdição nas que de novo se descobriram no</p><p>rio de São Francisco, Campos de Guaratuba e tôdas as mais circun</p><p>vizinhas que estão desoobertas e se descobrirem".23</p><p>Dez anos antes andara pela praia e pelo planalto o Padre Belchior</p><p>de Pontes . Viu os campos de Curitiba, fazendeiros isolados, com os</p><p>gados, entre pinhais, e o Capitão Salvador Jorge desenganado de des</p><p>oobrir ouro e sem poder voltar à sua vila da Parnaíba pelas dívidas que</p><p>deixara.</p><p>Profetizou que24 "naquele Pinhão ( assim explicam os naturais o seu</p><p>outono) se havia de recolher. Acabada a missão, voltou o padre para a</p><p>Vila de Pernaguá, e saindo nesse tempo dois criminosos a refugiar-se</p><p>de Figueiredo "para benefício das minas de Pernaguá uma arrôba de azou</p><p>gue, dois quintais de ferro, dez libras de aço, dúzia e meia de picaretas,</p><p>uma dúzia de pás, etc.", ibid., VIII, págs. 202-203. Era êste um antigo sol</p><p>dado da Restauração, no reino, e recebera a patente de capitão-mor de São</p><p>Vicente, São Paulo e Sant'Ana (sic) em 17 de agôsto de 1671, ibid., XXV, pág. 144.</p><p>"Em seu testamento, aberto a 22 de junho de 1711, declarou ser morador em</p><p>Curitiba há 40 anos, fato confirmado pelo Ouvidor Pardinho", FRANCISCO NEGRÃO,</p><p>Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba, VII, pág. 29, Curitiba, 1924. Quanto</p><p>ao ludíbrio da prata, fizera os primeiros ensaios dela Fr. João de Granica, Does.</p><p>Hist., XI, pág. 20 e no reino D. Rodrigo de Castelo Branco, examinando as amos</p><p>tras, achou prata. Roque Dias Pereira era dado como descobridor, ibid., pág. 24. O</p><p>provedor do Rio em 1675 quis suspender dos cargos os nomeados pelo governador</p><p>geral : a carta régia de 19 de março de 1676 mandou reintegrá-los, ibid., XXX,</p><p>pág 242.-23. lbid., pág. 243.-24. P. MANUEL DA FONSECA, Vida do Padre Belchior</p><p>de Pontes, 2.a ed., pág. 100 (a 1 .a ed. é de 1752) ; aí a primeira descrição do pia-</p><p>História do Brasil - Século XVII 775</p><p>nos desertos da Curitiba, entraram pelos matos com tal felicidade, que,</p><p>convertendo-se a desgraça em ventura, descobriram ouro. Com esta</p><p>notícia acudiu o Capitão Salvador Jorge, e em breve tempo tirou tanto,</p><p>que, voltando para sua casa no tempo sinalado, pôde não só satisfazer</p><p>aos seus acredores, mas ainda ornar a sua casa com várias peças de</p><p>ouro".</p><p>LAG UNA E SANTA CA TARINA-Abaixo de Paranaguá, São Fran</p><p>cisco e a ilha de Santa Catarina-onde a ocupação espanhola, do pri</p><p>meiro século, quase não deixara vestígios-se povoaram igualmente</p><p>com pessoas de São Vicente e Santos ; porém a largos intervalos.</p><p>Em 1658 Manuel Lourenço de Andrade, com procuração do Mar</p><p>quês de Cascais, que o habilitava a distribuir terras em sesmarias, ins</p><p>talou-se em São Francisco. Ficava sendo a mais avançada povoação</p><p>portuguêsa da costa.25 Somente em 1675 surge nesse litoral Francisco</p><p>Dias Velho, à frente duma bandeira : fundou adiante o arraial de Nossa</p><p>Senhora do Destêrro.26 Domingos de Brito Peixoto, com filhos e gen</p><p>ros, foi mais longe, e fundou Laguna.27</p><p>CURITIBA-A êsse tempo Curitiba-com a fama do ouro de lavagem</p><p>-ganhava a condição de vila.28 Em 29 de março de 1693 os moradores</p><p>-que somavam noventa-pediram que se lhes confirmasse a criação</p><p>da vila, proclamada em 4 de novembro de 1668 por Gabriel de Lara e</p><p>que não tivera efeito até aí : atendidos pelo "capitão povoador" (Ma</p><p>teus Martins Leme ) , estabelecido em São José dos Pinhais, elegeram</p><p>logo a Câmara e levantaram pelourinho. Mas não</p><p>DE TALHA DOURADA DO MOSTEIRO DE SAO BENTO,</p><p>PORTA MONUMENTAL DO PAÇO DO SALDANHA, BAHIA</p><p>PRENSA MANUAL DE CUNHAR MOEDA</p><p>TRANSPORTE DE UM COMBOIO DE ESCRAVOS</p><p>CENAS DA ESCRAVIDAO-NEGROS NOVOS</p><p>NEGRO E NEGRA DA BAHIA</p><p>TALHA DE JACARANDA DA IGREJA DA MISERICóRDIA, BAHIA</p><p>IMAGEM DE SAO JOAO EVANGELISTA</p><p>SOLAR DO COLÉGIO DOS JESUíTAS, CAMPOS . .</p><p>CADEIRAL DO MOSTEIRO DE SAO BENTO, BAHIA</p><p>CASA JESUíTICA DATADA DE 1694, BAHIA . . .</p><p>RIO DE JANEIRO</p><p>PORMENOR DA TALHA DA PORTA DA PRIMITIVA RESID:I!:NCIA DE JOAO DE MATOS,</p><p>BAHIA . . . . . . . .</p><p>ASPECTO DA CIDADE DO SALVADOR</p><p>CASA DE GREGóRIO DE MATOS, SALVADOR</p><p>EXPULSAO DOS JESUíTAS DE BELÉM DO PARA</p><p>PAÇO MUNICIPAL DE CACHOEIRA, BAHIA</p><p>ANTIGA MESA DE JACARANDA, ESTILO MANUELINO</p><p>MOSTEIRO DE SAO BENTO, OLINDA</p><p>IMAGEM DO SENHOR, DE UM DOS SETE POVOS</p><p>ARCO INTERIOR DA CLAUSURA DO CONVENTO DO DEST:I!:RRO, SALVADOR</p><p>ASPECTO DO RIO DAS VELHAS</p><p>MONUMENTO ARQUITETONICO DO SÉCULO XVITI: IGREJA DE SAO PEDRO DOS</p><p>CLÉRIGOS, RECIFE . . . . . . . .</p><p>UM DOS MEIOS DE TRANSPORTE NO SÉCULO XVIIT : LITEIRA</p><p>ATLANTE, NO PúLPITO DA IGREJA N. S.• DO CARMO, BABARA .</p><p>VILA RICA</p><p>SECULAR TEMPLO PAULISTANO: IGREJA DE SAO JOAO BATISTA DE CARAPICU1BA</p><p>ANTONIO DIAS E OS PAULISTAS AVISTAM O ITACOLOMI</p><p>MATRIZ DE BABARA</p><p>CONVENTO DE SANTO ANTONIO, NO RIO DE JANEIRO</p><p>OS FRANCESES ATACADOS PELOS ESTUDANTES, NO RIO DE JANEIRO</p><p>ASSASSíNIO DE DUCLERC NO RIO DE JANEIRO</p><p>ANTONIO DE ALBUQUERQUE, GOVERNADOR DE MINAS</p><p>SAQUE DO RIO DE JANEIRO . . . . . .</p><p>CASA SEISCENTISTA, COM BALCAO CARACTERíSTICO</p><p>PORTARIA DO CONVENTO FRANCISCANO DA BAHIA</p><p>O CARMO DO RECIFE</p><p>CAPELA DO ENGENHO VELHO, CACHOEIRA, BAHIA</p><p>CAPELA DE N. 8,• DA CONCEIÇÃO, JAQUEIRA, RECIFE</p><p>GUERRA DOS MASCATES</p><p>PERNAMBUCO AO TEMPO DO DOMíNIO HOLAND:I!:S .</p><p>N. S.• DA CONCEIÇÃO, IMAGEM NO MUSEU ARQUIEPISCOPAL DE MARIANA</p><p>VISTA DE BABARA</p><p>MON1JMENTO HISTóRICO DE SAO JOÃO DEL-REI, MINAS GERAIS: IGREJA DE</p><p>S. FRANCISCO DE ASSIS</p><p>DOIS COMPONENTES DOS DRAGõES DAS MINAS</p><p>IGREJA DE N. S.• DO CARMO, OURO PR:I!:TO .</p><p>RUíNAS AINDA EXISTENTES DO ARRAIAL DE OURO PODRE, MINAS</p><p>ENFORCAMENTO DE FILIPE DOS SANTOS, EM VILA RICA .</p><p>VELHA PRENSA DE CUNHAGEM DE MOEDA</p><p>VELHA CASA DE BABARA, MINAS GERAIS</p><p>O GRANDE DIPLOMATA ALEXANDRE DE GUSMÃO</p><p>BARRA DE OURO FUNDIDA E CUNHADA NA CASA DA INTEND:I!:NCIA, BABARA</p><p>MINERAÇAO DE DIAMANTES NO TIJUCO (HOJE DIAMANTINA), MINAS GERAIS</p><p>MODO DE LAVAR DIAMANTES, NO TIJUCO, MINAS</p><p>Pâgs.</p><p>916</p><p>918</p><p>920</p><p>922</p><p>925</p><p>928</p><p>931</p><p>933</p><p>935</p><p>937</p><p>939</p><p>941</p><p>943</p><p>947</p><p>949</p><p>953</p><p>956</p><p>957</p><p>959</p><p>960</p><p>962</p><p>965</p><p>966</p><p>969</p><p>971</p><p>973</p><p>976</p><p>981</p><p>985</p><p>986</p><p>989</p><p>994</p><p>997</p><p>1001</p><p>1002</p><p>1005</p><p>1007</p><p>1012</p><p>1014</p><p>1017</p><p>1021</p><p>1022</p><p>1025</p><p>1027</p><p>1029</p><p>1031</p><p>1033</p><p>1035</p><p>1038</p><p>1039</p><p>1040</p><p>1041</p><p>1043</p><p>1045</p><p>PEÇA DE BRONZE, DE GUARDAR PESOS . . . . .</p><p>MONUMENTO AS MONÇõES (DETALHE), DE VICTOR BRECHERET</p><p>PALACIO DO ARCEBISPO DA BAHIA . . . . . .</p><p>CLAUSTRO DO CONVENTO DE SAO FRANCISCO DA BAHIA</p><p>CAPELA-MOR DA IGREJA DE SAO FRANCISCO DA BAHIA</p><p>ORATóRIO OU CRUZ DO PASCOAL, BAHIA .</p><p>CENA DO RIO ANTIGO . . . .</p><p>O IMPONENTE CHAFARIZ DA PffiAMIDE DO RIO DE JANEIRO</p><p>DECORATIVO AZULEJO SETECENTISTA DA IGREJA DE N. S.• DA GLóRIA DO</p><p>Págs.</p><p>1047</p><p>1048</p><p>1049</p><p>1052</p><p>1054</p><p>1056</p><p>1060</p><p>1061</p><p>OUTEffiO, RIO • . . . . . . . . 1062</p><p>PONTE COBERTA SOBRE O RIO PARAIDUNA 1064</p><p>CASA NOBRE EM PARATI, EST. DO RIO . . 1065</p><p>IGREJA E CONVENTO DE SANTO ANTONIO DE CAffiU, BAHIA 1067</p><p>TRECHO DOS ARCOS DE SANTA TERESA, RIO DE JANEffiO 1068</p><p>LAVABO JESUíTICO, JACAREPAGUA, RIO . . . . 1069</p><p>PRIMEffiA IMPRESSAO FEITA NO RIO DE JANEIRO (1747) . . . . 1070</p><p>CONSTRUÇAO FLUMINENSE DO SÉCULO XVIII: IGREJA DA LAPA, CAMPOS 1072</p><p>PALACIO DOS VICE-REIS, RIO DE JANEffiO, 1743 1074</p><p>PALACIO DOS GOVERNADORES, OURO PRJl:TO, 1741 . 1075</p><p>CABEÇA DO PROFETA OSÉIAS 1077</p><p>SANTUARIO DO SENHOR BOM JESUS DE MATOZINHOS, CONGONHAS DO CAMPO 1079</p><p>P</p><p>R</p><p>E</p><p>P</p><p>A</p><p>R</p><p>A</p><p>Ç</p><p>Ã</p><p>O</p><p>D</p><p>E</p><p>F</p><p>A</p><p>R</p><p>IN</p><p>H</p><p>A</p><p>D</p><p>E</p><p>M</p><p>A</p><p>N</p><p>D</p><p>IO</p><p>C</p><p>A</p><p>.</p><p>D</p><p>es</p><p>en</p><p>h</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>u</p><p>g</p><p>en</p><p>d</p><p>a</p><p>s,</p><p>l</p><p>it</p><p>og</p><p>ra</p><p>fi</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>E</p><p>n</p><p>g</p><p>el</p><p>m</p><p>a</p><p>n</p><p>n</p><p>(P</p><p>ar</p><p>is</p><p>).</p><p>HISTóRIA DO BRASIL</p><p>SÉCULO XVII</p><p>FORMAÇÃO BRASILEIRA</p><p>(Conclusão)</p><p>BRANCA, NEGRA, GENTIA, MOÇA E VELHA</p><p>TODA SE ESPANTA, E TODA SE APARELHA.</p><p>BRAS GARCIA DE MASCARENHAS</p><p>In Viriato, pág. 171 .</p><p>MARCO DE PEDRA ( datado de</p><p>1758 ) da Quinta dos Padres,</p><p>onde o Padre Vieira viveu parte</p><p>do seu retiro. Do livro Relíquias</p><p>da Bahia, de Edgar Falcão.</p><p>XV</p><p>RECUPERAÇÃO</p><p>DO NORDESTE</p><p>O PREÇO</p><p>DAS ESQUADRAS</p><p>ESTAVA o Padre Vieira a</p><p>convalescer em Carcave</p><p>los, quando el-rei o chamou,</p><p>para dar a notícia de "ficar</p><p>Segismundo fortificado em</p><p>Taparica".</p><p>É êle quem relata :</p><p>-0 remédio, Senhor, é</p><p>fácil. Não disseram os minis</p><p>tros a V. M. que aquêle ne</p><p>gócio estava mui cru ? Pois os</p><p>que então o acharam cru,</p><p>cozam-no agora.</p><p>Demoveu-o a ansiedade do soberano. Saiu à procura do mercador</p><p>Duarte da Silva, cristão-novo que conhecera na Bahia, e êste, associado</p><p>a Antônio Rodrigues Marques, ofereceu 300 mil cruzados (garantidos</p><p>pelo tributo de um tostão em arrôba de açúcar) para armar com ur</p><p>gência uma frota.1 Sempre se conseguiram treze barcos . . . "E ficou</p><p>o pôrto de Lisboa ( diria Vieira) sem um patacho, os armazéns sem</p><p>uma âncora nem uma peça de artilharia."2 Foram postos sob o comando</p><p>de Antônio Teles de Meneses, Conde de Vila Pouca de Aguiar (vete</p><p>rano de navegações e batalhas do Oriente) ,3 também nomeado governa</p><p>dor da Bahia em substituição do atribulado Antônio Teles da Silva.</p><p>I. Carta ao Conde de Ericeira, 23 de maio de 1689, e J. LúciO, História de Antônio</p><p>Vieira, I, págs. 113-114. Aliás a capitania da Bahia prometeu 200 mil cruzados</p><p>para a armada, carta de Vila Pouca, fevereiro de 1648, Does. Hist., III, pág. 20.</p><p>:ll:ste dinheiro foi tomado aos moradores de porta em porta, Atas da Câmara da</p><p>Bahia, III, pág. 10, e o bispo emprestou 58 mil cruzados para os aprestos do</p><p>regresso, quantia que se mandou pagar à sua sobrinha D. Micaela da Silva, em</p><p>1665, Does. Hist., XXII, pág. 321.-2. Carta de 1648, Cartas, I, pág. 46.-3. Filho</p><p>do mordomo-mor de Filipe III, Luís da Silva Teles e neto materno do Conde de</p><p>Vimieiro, pertenceu o de Vila Pouca ao. Conselho de Guerra, P. ANTÔNIO CAR-</p><p>História do Brasil- Século XVII 693</p><p>Embarcou o conde em Setúbal com alguma tropa tirada ao exér</p><p>cito de Alentej o. Francisco de Figueiroa foi levantar nas ilhas quatro</p><p>companhias de refôrço. Bem petrechada e com tais disposições de luta,</p><p>podia a esquadra ( que só se destinava a rebater na Bahia os ataques</p><p>de Segismundo) aproejar sôbre o Recife-aproveitando a dispersão</p><p>das fôrças holandesas. O Alto Conselho, alarmado com esta possibi</p><p>lidade, instou para que von Schkoppe, largando ltaparica ( já sem in</p><p>terêsse) fôsse acudir-lhe com os seus navios. Decidiu-se, queimando</p><p>os acampamentos na ilha, uma quinzena antes da chegada do Conde de</p><p>Vila Pouca. Largou a Bahia de Todos os Santos a 15 de dezembro e</p><p>a 22 lá entrou-sem ter encontrado o inimigo ao longo do mar-a ar</p><p>mada salvadora.</p><p>Recaía a guerra na anterior indecisão. Precisava de novo elemento</p><p>de desempate: foi a frota do Almirante De With ( nove navios grossos,</p><p>quatro patachos e 28 transportes, com uns seis mil soldados) -cuja</p><p>partida o embaixador português procurou desesperadamente impedir.</p><p>TRANSES DIPLOMATICOS-0 essencial era obstar a remessa de</p><p>material e gente de Holanda, o que (pensava D. João IV) o seu em</p><p>baixador, Francisco de Sousa Coutinho, conseguiria dos Estados</p><p>Gerais, protestando o seu desej o de j ugular a rebelião, ao tempo em</p><p>que os indenizaria de todos os danos sofridos. Para auxiliar o diplomata</p><p>na negociação, despachou quem lhe penetrara o pensamento, e se</p><p>habituara a j ustificá-lo com hábeis razões: o Padre Antônio Vieira.</p><p>Tinha além disto a vantagem de ser bem recebido dos judeus (pois os</p><p>defendera na côrte com a sinceridade com que os cultivara na Bahia) ;</p><p>e a condição implícita de intermediário-entre êles, grandes capita</p><p>listas receosos de maiores prej uízos, e Portugal, que dêles necessitava.</p><p>Embarcou</p><p>se iludiam sôbre a</p><p>pobreza da vila : padeceria as dificuldades e as angústias de São Paulo,</p><p>nalto paranaense. Salvador Jorge (Velho) minerou em 1678-80, ROMÁRIO MARTINS,</p><p>História do Paraná, pág. 298. Diz o linhagista P. ROQUE Luís : "Salvador Jorge</p><p>Ve!ho, natural de São Paulo, em 1642, fal. na Parnaíba em 1705. Descobridor das</p><p>minas da Curitiba."-25. TAUNAY, Anais do Mus. Paul., VII, pág. 586. Em 1665</p><p>Agostinho Barbalho Bezerra mandara o licenciado Clemente Martins de Matos</p><p>tomar posse de Santa Catarina, Rev. do Inst. Hist., tomo esp., I, pág. 36, 1956.-</p><p>26. OsvALDO R. CABRAL, op. cit., págs. 18-19, 1939. Dias Velho foi morto num desem</p><p>barque de corsários holandeses em 1692, diz PEDRO TAQUES ; e TAUNAY, Hist. Ger.</p><p>das Bandeiras Paulistas, VIII, pág. 374, corrigindo a data : 1689. Defendeu de</p><p>espada e broquei no templo (matriz do Destêrro ) as sagradas imagens, é o que</p><p>comemora o genealogista, cf. does. do Cart. de órfãos de São Paulo. A versão de</p><p>PEDRO TAQUES é convincente : que antes ( 1687 ) rendera Dias Velho um navio cor</p><p>sário que arribara a Santa Catarina, tomando-lhe os valores, e matando alguma</p><p>gente. Neste caso, o segundo vingou o primeiro, desembarcando na praia de fora</p><p>os ladrões do mar.-27. Carta régia para o gov. do Rio, 15 de março de 1689,</p><p>mandou informar a respeito da expedição que Domingos de Brito ia novamente</p><p>empreender. Fracassara a primeira, quatorze anos antes. Dizia : " . . . a conquista</p><p>da Laguna, terra muito fértil e abundante de pescados e carnes e para a mais</p><p>lavoura, com a vizinhança de Buenos Aires onde entendia haveria muitos desco</p><p>brimentos", Does. Interessantes, XLVII, pág. 33 . A povoação foi posta sob a pro</p><p>teção de Santo Antônio, e a igreja começada em 1696, OsvALDO R. CABRAL, op. cit.,</p><p>pág. 37. A primeira referência à pescaria na Laguna é de 1675, Does. Hist., X,</p><p>pág. 446.-28. Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba, VII, pág. 36, 1924 ; e</p><p>776 Pedro Calmon</p><p>RETRATO DO</p><p>MARQU:@:S DAS</p><p>MINAS, em azu</p><p>lejo, do seu palácio</p><p>de Lisboa. Foto</p><p>grafia do Secreta</p><p>riado da Informa-</p><p>ção, Lisboa.</p><p>sem população sedentária, os fazendeiros espalhados pelo planalto, re</p><p>duzida a dignidade municipal a pouco mais do que o culto divino, nas</p><p>missas paroquiais, que, aos domingos, congregavam os sitiantes, os ca</p><p>rijós mansos e os raros negros ocupados na mineração magra dos ri</p><p>beiros.</p><p>SABARABUÇU-Os acontecimentos, à roda das minas, entrosavam-se</p><p>providencialmente. O lôgro da prata de Paranaguá atraíra a colonização</p><p>para a costa, entre São Vicente e a lagoa dos Patos. Mas atualizara</p><p>outro mito das bandeiras : Sabarabuçu.</p><p>O governador crédulo que mandara depressa o engenheiro Antônio</p><p>Correia à busca da prata no Sul, quis que Fernão Dias Pais a procurasse</p><p>Consulta do Conselho Ultramarino, 24 de dezembro de 1694 ( Rev. do Inst. Hist.,</p><p>História do Brasil - Século XVII 777</p><p>nos sertões do Espírito Santo, onde a lenda das esmeraldas desafiara</p><p>até aí a iniciativa dos pioneiros .29</p><p>Começa outro ciclo de penetração, pesquisas e conquistas : o das serras</p><p>além do Paraíba, entre as escarpas da Mantiqueira e a região da mata</p><p>paralela ao mar, maciço êsse onde vinte anos depois foram descobertas</p><p>as minas gerais.</p><p>O suj eito escolhido para a emprêsa era dos principais de São Paulo .</p><p>Filho de Pedro Dias Leme e Maria Leite, desde 1638 Fernão Dias</p><p>devassava o deserto. Naquele ano entrara os campos do Sul até as</p><p>"missões". Com índios arrebanhados adiante do Paranapanema fundara</p><p>uma aldeia ( eram quatro ou cinco mil ) à margem do Tietê (1661 ) .</p><p>Essa experiência-afora a sua autoridade entre os paulistas-explica</p><p>a recomendação que se lhe fêz, em 1664, para auxiliar Agostinho Bar</p><p>balho Bezerra, incumbido de achar as minas tão faladas ; e a comissão,</p><p>para revelar as de Sabarabuçu.30</p><p>O topônimo (itaberá-uçu, serra reluzente) não se referia a ponto</p><p>certo : era vago e conj etura! como a lagoa Manoa, do "Dorado", Vapa</p><p>buçu ou matriz dos rios, a "serra do rei branco", dos conquistadores do</p><p>Rio da Prata, muitos outros nomes da geografia fabulosa. Já Gan</p><p>davo indicara, no sertão de Pôrto Seguro, "serra . . . mui formosa e res</p><p>plandecente".3 1 Continuou, cem anos, a preocupar governos e sertanis</p><p>tas. Confundia-se com a montanha de esmeraldas, que os Azevedos e</p><p>os j esuítas tanto procuraram no Espírito Santo. Escreveu o go</p><p>vernador-geral a Fernão Dias (20 de outubro de 1671 ) aceitando-lhe</p><p>os serviços ( "a grande estimação que fiz de ver o que V. M.cê escreveu</p><p>a êste govêrno sôbre o descobrimento que. . . . sua custa das minas de</p><p>Sabarabuçu e esmeraldas" ) e o informe : "que estão da altura da ca</p><p>pitania do Espírito Santo, que serão ambas vizinhas".32 Completou-o</p><p>em 19 de fevereiro de 72 : "E porque aqui se me disse que do pé das</p><p>serras do Sabarabuçu há um rio navegável que se vai meter no de São</p><p>Francisco e que por êle abaixo se poderá conduzir mais brevemente a</p><p>prata até junto a estas serras que ficam no distrito da Bahia, cha</p><p>madas J acuabinas, e delas descer a esta praça."33 O tal afluente seria</p><p>"o das Velhas" ; e assim a Sabarabuçu da lenda a mesma Sabará de</p><p>trinta anos depois. Em 30 de outubro de 72 expediu Afonso Fur</p><p>tado a patente de "Governador de tôda a gente" que levasse ao "des</p><p>cobrimento das minas de prata e esmeralda"-para o honrado pau</p><p>lista34 a quem_ o príncipe escreveu, encarecendo a expedição.35 Saiu</p><p>tomo esp. , I , págs. 53 e 272, 1956) .-29. Pretendemos provar, O Segrêdo das Minas</p><p>de Prata, que o ciclo das esmeraldas ( Minas Gerais ) se liga ao do nordeste ( Bel</p><p>chior Dias ) , quando o Governador Afonso Furtado encarregou Fernão Dias Pais</p><p>de pesquisar a prata que houvesse ao sul da Jacobina, na direção de São Paulo,</p><p>ou em Sabarabuçu. Em 1664 Sabarabuçu ficava nos sertões de Paranaguá . . . (Rev.</p><p>do lnst. Hist., tomo especial, I, pág. 30, 1956) .-30. CARVALHO FRANCO, op. cit.,</p><p>págs. 140-141.-31. Tratado da Terra do Brasil, ed. da Acad. Bras., pág. 59.-</p><p>32. Does. Hist., VI, pág. 201; TAUNAY, op. cit., VI, pág. 69.-33. Does . Hist.,</p><p>VI, pág. 222.-34. lbid., XII, pág. 250.-35. lbid., LXVII, pág. 88.-36. TAUNAY,</p><p>778 Pedro Calmon</p><p>êle da vila a 21 de julho de 1674 : tinha então 66 anos de idade36 e sacri</p><p>ficava na grande aventura os seus bens de fortuna. Gastara nos pre</p><p>parativos seis mil cruzados. Levava "40 homens brancos", um filho,</p><p>quatro tropas de "moços" com a carga. Mandara na frente o Capitão</p><p>Mor Matias Cardoso, para o esperar "no sêrro" com as roças neces</p><p>sárias.37 Tinha a certeza de achar o tesouro, capaz de fazer o rei de</p><p>Portugal o mais rico, senão o mais poderoso do mundo . . . Deu a vida</p><p>por essa idéia.</p><p>CAPITANIA DO ESPíRITO SANTO-Se no Espírito Santo ficavam</p><p>as minas, por que tão pouco valia então essa capitania, decadente e</p><p>muito 'PObre ? Coube a um opulento morador da Bahia38 estimá-la devi</p><p>damente : o Coronel Francisco Gil de Araúj o ( ferido em 1638 na defesa</p><p>da Bahia, fidalgo de fartos haveres a quem o Padre Simão de Vascon</p><p>celos dedicou a Vida do Venerável P. Joseph de Anchieta) -bastante</p><p>inteligente para lhe prever a prosperidade e suficientemente rico para</p><p>comprá-la.39 Em 1674 deu por ela 40 mil cruzados ao donatário, o Al</p><p>motacé-Mor Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho (depois go</p><p>vernador-geral ) , transação que foi confirmada pela carta régia de 18</p><p>de março de 1675. O obj etivo imediato da compra não podia ser senão</p><p>a pesquisa dos metais : "Foi S. A. servido encarregar ultimamente ao</p><p>donatário e governador da capitania do Espírito Santo, Francisco Gil</p><p>de Araúj o, que mandasse fazer o descobrimento das minas das esme</p><p>raldas, querendo êle aceitar e fazer êste serviço com as mesmas cláu</p><p>sulas e mercês que S. A. havia passado a José Gonçalves de Oliveira."40</p><p>Não lhe faltaram índios do Rio de Janeiro, Cabo Frio e Pôrto Seguro</p><p>para a entrada : realmente nela "despendeu muito dinheiro, pois só nas</p><p>entradas pelo Rio Doce se gastaram mais de 12 mil cruzados e nas</p><p>doze experiências que mandou fazer mais de 2 mil".41 Andou nisso pre</p><p>liminarmente</p><p>o entusiasmo de Afonso Furtado. O Espírito Santo</p><p>graças a Fernão Dias e Francisco Gil-devia ser explorado do sertão</p><p>para a costa e do litoral para o interior, de modo a tomarem contacto</p><p>no alto rio Doce as duas bandeiras, paulista e baiana. Desta pouco se</p><p>op. cit., VI, pág. 85.-37. Diz TAUNAY : "Nos 40 homens brancos, afora eu e meu</p><p>filho" que partiram com Fernão Dias não há referências a seu genro Manuel</p><p>de Borba Gato e aos sertanistas conhecidos que o acompanharam como Antônio</p><p>Gonçalves Filgueira e Antônio do Prado Cunha, Francisco Pires Ribeiro. Talvez</p><p>tivessem seguido antes, com o Capitão Matias Cardoso, ibid., pág. 87. Sôbre êste</p><p>e a bandeira, PEDRO TAQUES, Nobil. Paul., I, pág. 396.-38. ROCHA PITA, up. cit.,</p><p>pág. 59.-39. Does. Hist., XVII, pág. 333 ; BRITO FREIRE, Hist. da Guerra Brasílica,</p><p>pág. 545 ; GARCIA, nota a VARNHAGEN, III, pág. 299. Era filho de Pedro Garcia,</p><p>rico mercador, fornecedor do engenho do Conde, a quem uma bala holandesa ma</p><p>tara em 1624, e de sua mulher D. Maria de Araújo, viúva de Baltasar de Aragão,</p><p>o Bangala. Herdou de duas opulentas famílias, cujas terras abrangiam boa parte</p><p>do Recôncavo. Soldado desde 1635, faleceu em 1685. Na Catedral, a pedra tumular :</p><p>"Hic jacet Franciscus Gil de Araujo Praefecturae spes sancte Domine guber</p><p>nator . . . " Grande protetor dessa igreja, dedicou-lhe SIMÃO DE VASCONCELOS a Vida</p><p>de Anchieta ( 1674 ) .-40. Carta do triunvirato da Bahia, 12 de junho de 1676,</p><p>Does. Hist., XI, págs. 61-62.-41. A. LAMEGO, op. cit., I, págs. 148-51; GARCIA, nota</p><p>História do Brasil - Século XVII 779</p><p>sabe. O negócio feito pelo novo donatário não lhe remunerou o capital</p><p>empregado : é verdade que mandou fundar engenhos, localizou muitos</p><p>casais de colonos, desenvolveu a agricultura na sua capitania. Falharam</p><p>os seus planos de "ouro e esmeraldas". Fernão Dias teve sorte diferente.</p><p>ESMERALDAS DE FERNÃO DIAS-Escreveu o governador-geral a</p><p>Fernão Dias Pais, ainda em 19 de março de 75-impaciente, com a notí</p><p>cia do naufrágio do filho e as esperanças, de que a prata que achasse de</p><p>moveria a incredulidade da côrte.42 A êsse tempo (13 de agôsto seguinte)</p><p>investiu o capitão-mor do Espírito Santo, José Gonçalves de Oliveira, na</p><p>chefia do descobrimento das esmeraldas.43 Iludia-se : Fernão Dias não</p><p>poderia com facilidade mandar amostras do minério colhido. O seu</p><p>itinerário varava escabrosas regiões, por montes e vales, em direção</p><p>ao norte, depois ao oriente, até o "mesmo morro donde as levou Marcos</p><p>de Azevedo", isto é, na cordilheira espírito-santense. "Não achando</p><p>quem o quisesse acompanhar foi Matias Cardoso uma das pessoas que</p><p>mais prontamente se lhe ofereceram com 120 escravos seus, armas e</p><p>munições à sua custa indo adiante a plantar mantimentos naquele ser</p><p>tão onde teve vários encontros com os bárbaros e uma batalha em que</p><p>houve muitos feridos"-alegou depois êste cabo.44 As roças da primeira</p><p>espera foram talvez no Sumidouro do Rio das Velhas ; os outros ar</p><p>raiais, progressivamente fundados, Roça Grande, Tacambira, ltame</p><p>rendiba, Esmeraldas, Mato das Pedrarias e Sêrro Frio-segundo o</p><p>depoimento de Pedro Dias Pais Leme, em 1757.4 5 Durou-lhe a viagem</p><p>oito anos. Abrangeu, em arco, largo trecho do atual território das Minas</p><p>Gerais, o vale do Jequitinhonha, contra-escarpas da serra do Mar, pos</p><p>slvelmente as cabeceiras do rio Doce. Não deixava balizas, senão ta</p><p>peras, dos acampamentos abandonados. Dilatava a conquista do</p><p>solo sem os resultados apetecidos, da pedraria ou da prata. Arrostou a</p><p>perfídia dos índios esparsos ( os puris ) , as canseiras e a monotonia do</p><p>sertão, o desgôsto e a infidelidade de companheiros enfurecidos pelo</p><p>insucesso.</p><p>Conta Pedro Taques o caso do filho bastardo do "Governador das</p><p>esmeraldas", José Pais, despeitado com a predileção em que êste tinha</p><p>o legítimo, Garcia Rodrigues Pais : conspirou contra a vida do pai, para</p><p>assim dissolver a bandeira. Sabendo disto, pela denúncia de uma índia</p><p>goianá, o velho sertanista não hesitou : prendeu os culpados e após</p><p>breve inquirição fêz enforcar, à vista de todos, o perj uro-afirmando,</p><p>com o castigo, a sua autoridade severa e ilimitada.</p><p>Esgotados os recursos, Fernão Dias pediu à mulher, em São Paulo</p><p>que vendesse tudo, contanto que lhe enviasse o indispensável para a</p><p>continuação da j ornada-com o filho Garcia Rodrigues e o genro46</p><p>a VARNHAGEN, III, pág. 300. -42. Does. Hist., XI, pág. 6.-43. lbid., XII, pág. 352.</p><p>-44. lbid., XXX, pág. 8.-45. CARVALHO FRANCO, op. cit., pág. 143.-46. Regres-</p><p>FALE CIME NTO DE FE RNÃO DIAS ( 1681 ) , no Sumidouro, Minas. Desenho�</p><p>de J. W asth Rodrigues.</p><p>780 Pedro Calmon</p><p>Manuel Borba Gato. Os parentes exprobraram-lhe o devaneio ("gas</p><p>tando nestas anos el caudal con que se hallaba, era uno de los más ricos</p><p>daquella villa, sin que nadie le quisiese ayudar a este servido en cosa</p><p>alguna, antes a embaraçarle y decir que estaba loco, pues gastaba los</p><p>afios y el caudal de sus hij os y muj er en locuras, que no habian fin" ) .47</p><p>Mas a fiel matrona não lhe faltou. Prosseguiram as diligências nas</p><p>montanhas de Marcos de Azevedo ( achando "os almocafres e mais fer</p><p>ramentas de que se servira o dito para extrair as tais pedras</p><p>que lá tinha deixado" ) .48 Munido de "pedras verdes transparentes"</p><p>voltou ao Sumidouro do Rio das Velhas : aí, "desamparado e sem con</p><p>fissão" ( como atestou D. Rodrigo ) morreu "de peste, e muita parte</p><p>dos seus índios e escravos", imaginando ter em mãos esmeraldas finas,</p><p>o tesouro suspirado, a recompensa da sua terrível obstinação . . . Tam</p><p>bém se ignora a data do falecimento : entre 27 de março de 26 de junho</p><p>de 1681. Em Paraovuipeba D. Rodrigo de Castelo Branco reconheceu</p><p>o mérito de seus serviços, ao mesmo tempo tomando posse das roças</p><p>do Sumidouro e de Tacambira e das amostras de pedras verdes, que</p><p>honradamente lhe entregou Garcia Rodrigues : em 8 de outubro se</p><p>guinte. Insiste na dúvida : " . . . y me truj o a manifestar unas piedras</p><p>verdes transparentes, decindo ser esmeraldas y que el dicho su Padre</p><p>habia falecido longas j ornadas deste Arraial traziendo en su compafiia</p><p>las dichas piedras."49 Seguro é que os restos mortais do "Governador"</p><p>foram trasladados piedosamente para São Paulo e, com as devidas ho</p><p>menagens, sepultados na igreja dos beneditinos, que aj udara a recons</p><p>truir. 50</p><p>De fato, as pedras verdes não valiam a pena : porém o êxito da</p><p>bandeira-exatamente a que mais impressionou a imaginação dos</p><p>brasileiros-não estava nesse tesouro enganoso. Consistia na aber</p><p>tura do caminho geral, para as montanhas das Cataguás, além da Man</p><p>tiqueira ( "descoberto igualmente por êle todo o país pelo sêrro de Sa</p><p>barabuçu" ) . 51 Descortinara o maciço central. Revelara as cabeceiras</p><p>dos caudais que se atiram para a costa, serpeando entre as barreiras</p><p>e os espigões ; as terras florestais que as altas serras delimitam ; os</p><p>saram Matias Cardoso e outros cabos, deixando o "Governador" com os parentes,</p><p>TAUNAY, op. cit., VI, pág. 107. Matias declarou, em 1688 : " . . . depois de assistir</p><p>6 an os com o dito "Governador" se retirou com licença sua a livrar a vida do pe</p><p>ríodo em que se achava gravem ente enfêrmo, etc.", Does. Hist., XXX, pág. 9.-</p><p>47. Atestado de D. Rodrigo, cf. A. LAMEOO, Mentiras Históricas, pág. 89.-48. Doc.</p><p>in LAMEGO, ibid., pág. 84.-49. Idem, ibid., págs. 88-89.-50. Em 1910, ao demolir-se,</p><p>para a grande reconstrução, a igreja de São Bento, foram exumados os restos de</p><p>Fernão Dias Pais, achando-se com êles uma funda de ferro, para hérnia, apoiada</p><p>a uma cinta também de ferro, TAUNAY, op. cit., VI, pág. 120. Observe-se que o</p><p>processo usado para o transporte do corpo (reduzido a ossos pelo fogo aplicado</p><p>sôbre a sepultura) foi o dos filhos de Luís Castanho de Almeida, cf. PEDRO</p><p>TAQUES, op. cit., pág. 297.-51. Informação de Pedro Dias, 1756, cf. A. LAMEOO,</p><p>op. cit., pág. 8. PEDRO TAQUES identifica : Sabarabuçu, "hoje se chama Sabará, que</p><p>é Minas Gerais", op. cit., pág. 396. Garcia Rodrigues Pais teve a patente de capit ão</p><p>da entrada das</p><p>esmeraldas em 23 de dezembro de 1683, Registro Geral da Capi</p><p>tania de São Paulo, 111, pág. 430, e SILVA LEME, Genealogia Paulistana, 11, pág.</p><p>782 Pedro Calmon</p><p>montes ferruginosos, as imprevistas formações geológicas, os cristais</p><p>de rocha e as cascalheiras de uma zona rica de todos os minérios. As</p><p>Minas Gerais estavam descobertas. O estóico capitão das esmeraldas</p><p>revolucionou as abusões e as tradições do sertanismo paulista : subs</p><p>tituiu a "marcha para o sul", rumo das missões abundantes de gentio</p><p>dócil, pela "marcha para o norte", através dos campos de Taubaté,</p><p>passando o Paraíba e as gargantas da Mantiqueira. Puxou aquêles in</p><p>saciáveis andarilhos para as terras dobradas e ínvias dos puris, indi</p><p>cou-lhes a Sabarabuçu, que prometia incríveis riquezas, e autorizou a</p><p>lenda, de que prata e pedras finas fariam daquilo outro Peru.</p><p>A popularidade da bandeira documenta-se com o primeiro poema</p><p>épico que no Brasil se teria escrito : o autor, oculto no pseudônimo de</p><p>Diogo Grasson Tinoco, dedicou-o a Fernão Dias Pais.</p><p>Parte enfim para os serros pertendidos,</p><p>Deixando a pátria transformada em fontes</p><p>Por têrmos nunca usados, nem sabidos,</p><p>Cortando matos e arrasando montes,</p><p>Os rios vadeando, mais temidos,</p><p>Em jangadas, canoas, balsas, pontes,</p><p>Sofrendo calmas, padecendo frios,</p><p>Por montes, campos, serras, vales, rios.</p><p>Consta ser de 1689 a poesia, de rima camoniana, que se perdeu,</p><p>salvando-se apenas as quatro estâncias reproduzidas no século seguinte</p><p>por Cláudio Manuel da Costa, no "Fundamento histórico que serve de</p><p>prólogo ao poema da Vila Rica". 52 Fala Pedro Taques de Domingos</p><p>Cardoso Coutinho, natural de Lamego (faleceu em São Paulo em se</p><p>tembro de 1683 ) , "excelente poeta e autor da Relação Panegírica em</p><p>Oitava Rima da Vida e A ções do Governador Fernão Dias Pais, Des</p><p>cobridor das Esmeraldas". Será êste o nome-e Diogo Grasson Ti</p><p>noco pseudônimo ? 53 Dois cantores, contemporâneos da memorável</p><p>jornada ?</p><p>FIM DE D. RODRIGO-D. Rodrigo de Castelo Branco não fôra mais</p><p>feliz no Sul-à procura de minas que não se achavam, e de quem lhas</p><p>indicasse.</p><p>455 .-52. TAUNAY, op. cit., VI, pág. 122. AFRÂNIO PEIXOTO reivindicou para DroGo</p><p>GRASSON o título de "primeiro épico" do Brasil, Ensaios Camonianos, pág. 391,</p><p>Coimbra, 1932, pois Bento Teixeira nasceu em Portugal. Também na Revista da</p><p>Academia Brasileira, n. O 105, set. de 1930. Aliás, Luís DOS SANTOS VILHENA cita</p><p>uma estrofe do mesmo poema, Cartas Soteropolitanas, II, pág. 677, ed. de B . DO</p><p>AMARAL. "O Caçador de E smeraldas", de OLAVO BILAC, tem precursor, de 1689!-</p><p>53. O nome do poeta ( Drooo GRASSON) não figura na documentação divulgada,</p><p>da vida paulista no século XVII. É possível que fôsse pseudônimo : como Andreoni</p><p>se chamou Antonil, Coutinho quis ser Tinoco . . . E onde a Relação em oitava rima,</p><p>de DOMINGOS CARDOSO COUTINHO? Desconheceu-a ROCHA PITA, que talvez alu</p><p>disse a Fernão Dias na confusa notícia do descobridor de minas que morrera no</p><p>sertão, levando para o túmulo o segrêdo, op. cit., pág. 283. Joseph Cardoso</p><p>Coutinho (filho de Domingos ? ) era capitão-mor das entradas no E spírito Santo</p><p>História do Brasil - Século XVII 783</p><p>C</p><p>H</p><p>E</p><p>F</p><p>E</p><p>G</p><p>U</p><p>A</p><p>IC</p><p>U</p><p>R</p><p>U</p><p>:</p><p>ín</p><p>d</p><p>io</p><p>d</p><p>a</p><p>t</p><p>ri</p><p>b</p><p>o</p><p>d</p><p>os</p><p>g</p><p>u</p><p>a</p><p>ic</p><p>u</p><p>ru</p><p>s</p><p>,</p><p>h</p><p>a</p><p>b</p><p>it</p><p>a</p><p>n</p><p>te</p><p>s</p><p>de</p><p>G</p><p>oi</p><p>á</p><p>s</p><p>e</p><p>M</p><p>a</p><p>to</p><p>G</p><p>ro</p><p>ss</p><p>o.</p><p>H</p><p>á</p><p>b</p><p>ei</p><p>s</p><p>ca</p><p>v</p><p>a</p><p>le</p><p>i</p><p>ro</p><p>s,</p><p>sã</p><p>o</p><p>d</p><p>om</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>re</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>ca</p><p>v</p><p>a</p><p>lo</p><p>s</p><p>se</p><p>lv</p><p>a</p><p>g</p><p>en</p><p>s.</p><p>D</p><p>es</p><p>en</p><p>h</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>D</p><p>eb</p><p>re</p><p>t.</p><p>Representava a coroa, portanto o fisco, a lei severa, o interêsse do</p><p>Estado pelo trabalho dos sertanistas, que o acolhêram suspeitosos, e</p><p>de mau modo. Passou primeiro pelo Rio de Janeiro (abril de 1678 ) .</p><p>Despachou aí João de Campos e Matos a descobrimentos no sertão.</p><p>Seguiu para Santos e subiu a São Paulo, recebido respeitosamente pelos</p><p>"homens bons" e resolvido a proibir novas expedições a Sabarabuçu</p><p>enquanto lá não fôsse, para ver a maravilha. Enviou com efeito vários</p><p>sertanistas para fazerem as roças de que devia sustentar-se a tropa,</p><p>no ano seguinte ; deu o auxílio necessário a D. Manuel Lôbo, para a</p><p>fundação da Colônia do Sacramento ; e partiu para as vilas do Sul, ao</p><p>longo da costa.</p><p>Alcançou destarte os campos de Curitiba e desceu para Paranaguá,</p><p>têrmo de sua j ornada.54 "Por portaria de 28 de agôsto de 1679 man</p><p>dou que o mineiro João Alvares Coutinho, Manuel de Lemos Conde,</p><p>Roque Dias Pereira e Manuel Veloso da Costa ( êstes respectivamente</p><p>provedor, tesoureiro e escrivão dos quintos) fôssem com o Padre João</p><p>Granica examinar os serros onde se dizia haver prata." 5 5 Tais pes</p><p>quisas provaram exatamente o contrário : e averiguou D. Rodrigo a</p><p>intrujice dos pregões anteriores . . . Encolerizado, demitiu e prendeu</p><p>Manuel de Lemos, confiscou-lhe os bens ( deram 793$860) e o processou.</p><p>Não resistiu, o visionário : suicidou-se na prisão ( 1681 ) . 56 Selou com</p><p>a morte êsse desastroso caso da prata que enganara Afonso Furtado.</p><p>Outras pesquisas ordenou o administrador no planalto de Curitiba</p><p>e voltou a São Paulo, para a larga caminhada atrás de Fernão Dias.</p><p>Matias Cardoso serviu-lhe de guia, com um pequeno exército de índios ;</p><p>e em maio ( 1681 ) se pôs em campo. Encontrou "nos matos de Pa</p><p>raibipeva e arraial de São Pedro" Garcia Rodrigues Pais, que voltava</p><p>(outubro do mesmo ano) . O atestado que em benefício dêle passou</p><p>D. Rodrigo, a entrega das pedras verdes e das roças do Sumidouro e</p><p>Tacambira testemunham a simpatia que logo se estabeleceu entre o</p><p>representante régio e o môço paulista . Não eram êstes os sentimentos</p><p>dos parentes que lhe ficavam em São Paulo-e a quem D. Rodrigo</p><p>alude com acrimônia queixando-se do abandono em que deixaram o</p><p>velho Governador. O irmão, Padre João Leite da Silva-em setembro</p><p>-denunciava "a Dom Rodrigo Castelo Branco os intentos que consta</p><p>tem de mandar apoderar-se das esmeraldas que o dito meu irmão des</p><p>cobriu". Porventura mais o irritara a presença de Matias Cardoso na</p><p>expedição. Sem êle, aliás, que partira adiante, a plantar as roças para</p><p>o abastecimento da tropa, não seria exeqüível. 57 Lavrou uma intriga</p><p>extensa. Não devia surpreender a vila-em 21 de outubro de 1682-</p><p>em 1701, Does. Hist., XI, pág. 287.-54. Vid. TAUNAY, op. cit., VI, pág. 170. E</p><p>PEDRO TAQUES, op. eit., págs. 400-401 .-55. BASÍLIO DE MAGALHÃES, op. cit., pág. 104.</p><p>-56. TAUNAY, op. eit., VI, pág. 181. Manuel de Lemos fôra contratador da renda</p><p>da aguardente na vila de Santos, em 1644, Anais do Arq. Públ. da Bahia, XXI,</p><p>pág. 196 : " . . . e fazendo ausências às minas de Pernaguá", se lhe concedera isenção</p><p>de subsídio devido.-57. Does. Hist., XXX, pág. 9. Outro companheiro de D. Rodrigo</p><p>História do Brasil - Século XVII 785</p><p>MANUEL DE BORBA</p><p>GATO, o grande bandeiran</p><p>te, genro de Fernão Dias</p><p>Pais. Estátua, Museu Pau</p><p>lista. Obra de Nicolau Rollo.</p><p>a notícia de que "na pa</p><p>ragem chamada do Su</p><p>midouro, distante desta</p><p>vila mês e meio de via</p><p>gem", fôra assassinado</p><p>D. Rodrigo.</p><p>Aconteceu o crime em</p><p>28 de agôsto : "lhe de</p><p>ram três tiros do mato</p><p>e logo caíra morto", se</p><p>gundo a versão que o</p><p>governador do Rio co</p><p>municou à côrte. 58</p><p>Correu que o crimino</p><p>so fôra o genro de</p><p>Fernão Dias. Não há</p><p>dúvida que-para exi</p><p>mir-se ao processo ou</p><p>por motivo correlato</p><p>se recolheu Borba Gato</p><p>à região de Guaratin</p><p>guetá, onde, em homí</p><p>zio que se lhe não per</p><p>turbou, viveu silenciosa</p><p>mente quase vinte anos.</p><p>Ressurgiu, limpo de culpa, para juntar-se aos descobridores das Minas</p><p>Gerais, rico e lisonj eado, como fidalgo de grandes préstimos e experiên</p><p>cia. Serviu de liame pessoal entre o sonho das esmeraldas e o ciclo do</p><p>ouro. Foi dos primeiros que arrancaram ao sertão das Cataguás o seu</p><p>segrêdo : provou que andava seguro de si, e não errara-apesar de sua</p><p>crença nas pedras verdes-o estóico paulista que lá deixara a vida.</p><p>foi o Capitão João Carvalho Freire, Does. Hist., XXX, pág. 323.-58. P</p><p>-</p><p>AULO PRADO,</p><p>op, cit., pág. 117 ; e TAUNAY, VI, pág. 181 . É tradição arraigada que D. Rodrigo mor</p><p>reu em Sabará, no morro que domina</p><p>a cidade. PEDRO TAQUES divulgou a versão duma</p><p>queda : teria sido empurrado no abismo, após troca de insultos com Borba Gato.</p><p>Vimos que D. Jaime, morto em Paranaguá ( 1653 ) , caiu, ou foi empurrado, de</p><p>uma cata ou penhasco. É evidente que esta última história, autêntica, gerou a</p><p>outra, lendária. D. Rodrigo foi vítima dos bacamartes de alguns sertanistas : três</p><p>tiros. Sua mãe, Catarina Correia Galveia ( "mãe herdeira de seu filho D. Ro</p><p>drigo de Castelo Branco" ) , requereu em 26 de março de 1688 : "que lhe mandara</p><p>êle amostras de ouro", códice do Cons. Ultram., ms. no Arq. Hist. Ultr. , Lisboa, inéd.</p><p>786 PedTo Calmon</p><p>G</p><p>R</p><p>A</p><p>D</p><p>E</p><p>D</p><p>O</p><p>C</p><p>ô</p><p>R</p><p>O</p><p>D</p><p>A</p><p>IG</p><p>R</p><p>E</p><p>J</p><p>A</p><p>D</p><p>A</p><p>S</p><p>C</p><p>L</p><p>A</p><p>R</p><p>IS</p><p>S</p><p>A</p><p>S</p><p>n</p><p>a</p><p>B</p><p>a</p><p>h</p><p>ia</p><p>(s</p><p>eg</p><p>u</p><p>n</p><p>d</p><p>a</p><p>m</p><p>et</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>sé</p><p>cu</p><p>lo</p><p>X</p><p>V</p><p>II</p><p>)</p><p>.</p><p>F</p><p>oi</p><p>o</p><p>co</p><p>n</p><p>v</p><p>en</p><p>to</p><p>d</p><p>e</p><p>fr</p><p>ei</p><p>ra</p><p>s</p><p>m</p><p>a</p><p>is</p><p>.</p><p>im</p><p>p</p><p>or</p><p>ta</p><p>n</p><p>te</p><p>d</p><p>a</p><p>co</p><p>lô</p><p>n</p><p>ia</p><p>.</p><p>IMAGEM SEISCENTISTA, das</p><p>Missões Jesuíticas do Sul. Mu</p><p>seu das Missões, Rio Grande do</p><p>Sul. Fotografia da Faculdade</p><p>N acionai de Arquitetura.</p><p>XXI</p><p>A COLÔNIA DO</p><p>SACRAMENTO</p><p>CONTRA O TRATADO DE</p><p>TORDESILHAS</p><p>A PAZ com Espanha con-</p><p>sumou-se pelo tratado</p><p>de 12 de fevereiro de 1668-</p><p>conseqüência feliz de mais de</p><p>vinte anos de guerra encar</p><p>niçada, de ativa diplomacia,</p><p>de acontecimentos que ti</p><p>nham destruído, uma após</p><p>outra, as veleidades castelha</p><p>nas de unificação da penín</p><p>sula ibérica.</p><p>Uma das disposições do</p><p>tratado ( art. 2.0) exigia a</p><p>recíproca restituição das pra</p><p>ças tomadas "durante a guer</p><p>ra" . . . Aparentemente eqüi</p><p>tativa, a cláusula beneficiava</p><p>com largueza Portugal e o</p><p>Brasil. A expansão sertanista</p><p>fora do meridiano de Torde</p><p>silhas amparava-se, já aí, a</p><p>um diploma internacional.</p><p>Reconhecia-se ( sem se pensar</p><p>muito nisto de parte de Cas</p><p>tela) a ilegitimidade da ocupação apenas na vigência da guerra, ou de</p><p>1641 por diante. Não se discutiria, portanto, a da Amazônia ( 1639 ) , ao</p><p>longo do Tietê, e para o sul e oeste ( 1627) , incorporada destarte, tácita</p><p>e formalmente, no patrimônio português. 1</p><p>1. CARLOS CORREA LUNA, Campana del Brasil-Antecedentes Coloniales-I,</p><p>XXXVII. Leia-se JAIME CORTESÃO, A lexandre de Gusmão e o Tratado de Madri,</p><p>788 Pedro Calmon</p><p>O princípio supremo da diplomacia de Lisboa quanto à América no</p><p>século XVIII-do uti possidetis-aparecia com timidez, porém, inequi</p><p>vocamente, nesse reaj ustamento das monarquias vizinhas.</p><p>Portugal definia um interêsse que não devia mais relegar, por</p><p>inerente à sua política de colonização e império : qual o de tirar da</p><p>posse o direito ( o claro direito de primeiro ocupante) em vez de estri-.</p><p>bá-lo nos papéis de chancelaria, serôdios e controvertidos.</p><p>O UTI POSSIDETIS-Alexandre de Gusmão daria forma no Tratado</p><p>de Madri ( 1750 ) , a êsse realismo português. Mas o de 1668 o predeter</p><p>minara. Circunstância curiosa : pacificadas as metrópoles, após uma</p><p>guerra que os colonos quase ignoraram, o dissídio se transportou para</p><p>aquém-mar através de uma conquista que surpreendeu os castelhanos</p><p>do Prata. A da margem esquerda do rio com a fundação da Colônia</p><p>do Sacramento-cem anos pomo de discórdia entre as duas coroas.</p><p>A Espanha, é certo, não se apressara em assenhorear-se do terri</p><p>tório entre Patos e a bôca do Prata.</p><p>Em 1675-78 ainda era aquilo domínio dos charruas intratáveis, os</p><p>portos vagamente conhecidos, o litoral sem vestígio de gente branca,</p><p>e acessível, a região do São Francisco do Sul até a "banda oriental",</p><p>às incursões e aventuras de quem quisesse tomá-la.</p><p>Por que o longo descuido, de ambos os países, em anexar êsse trecho</p><p>do continente, que correspondia aliás a um sertão percorrido pelas</p><p>bandeiras, trilhado pelos missionários, balizado pelas reduções dos j e</p><p>suítas e sem mistérios-àquela altura do século-para os homens de</p><p>São Paulo e do Paraguai ?</p><p>O Peru-é a explicação-atraíra o povoamento espanhol ; e o ca</p><p>minho de Córdoba, até Buenos Aires, servia de escoadouro da "prata"</p><p>dos Andes. Exatamente a procurá-la ( com o ouro de que se falava</p><p>desde 1598) na costa abaixo de São Vicente a colonização portuguêsa</p><p>atingira Paranaguá e as escarpas do planalto. Para prosseguir pre</p><p>cisava de um estímulo imediato-de que careciam os castelhanos de</p><p>Buenos Aires entretidos com a criação de gado, o comércio e a reco</p><p>vagem peruana. A "prata" que enganou Afonso Furtado-sem con</p><p>vencer a côrte de Lisboa, incutiu-lhe a idéia2 de precipitar uma ocupação</p><p>que tinha lógica e oportunidade. A oportunidade era a salvaguarda das</p><p>minas, caso existissem ; e a lógica-a expansão do Brasil até um "limite</p><p>geográfico", simétrico do Amazonas ao norte, a "fronteira natural" do</p><p>Prata. Ao engenheiro Antônio Correia em 1675 se cometera a tarefa de</p><p>"reconhecer aquela costa, sondar . . . fortificações que seriam necessá-</p><p>I, Rio, 1952.-2. O govêrno espanhol disse em 31 de dezembro de 1679: "preven</p><p>ciones que hacia el Gobor. dei Rio Janeiro para fundar una población . . . para Ia</p><p>seguridad de beneficiar una mina de plata", C. CoRREA LUNA, op. cit., pág. 86.-</p><p>História do Brasil - Século XVII 789</p><p>LADEIRA E CONVENTO DE SANTA TERESA ( século XVII ) , Bahia. Fotogra</p><p>fia do arquivo da Prefeitura do Salvador.</p><p>rias para segurança das minas".3 Foi o engenheiro da nova Colônia.</p><p>O Príncipe Regente D. Pedro estabeleceu sem ênfase a doutrina :</p><p>pertencia a Portugal tôda a terra até o estuário, defronte de Buenos</p><p>Aires.</p><p>Faltava um argumento recente a esta reivindicação : deu-lho a Bula</p><p>de 22 de novembro de 1676, que, criando o bispado do Rio de Janeiro,</p><p>declarava estender-se-lhe a jurisdição até a embocadura do Rio da</p><p>Prata. A palavra pontifícia-êxito diplomático português-sufragava</p><p>o pensamento oficial em Lisboa e no Brasil : em 5 de março do mesmo</p><p>ano, atendendo ao pedido do velho Salvador Correia, concedera o prín</p><p>cipe 30 léguas de terra "sem donatário até a bôca do Rio da Prata" aos</p><p>irmãos Visconde de Asseca e João Correia de Sá. Afirmava assim o</p><p>domínio, o que era preliminar ; mandou assegurá-lo, em seguida, por D.</p><p>Manuel Lôbo.4</p><p>3. Does. Hist., XI, pág. 65. Com o tenente do Mestre-de-Campo-General João</p><p>Tavares Roldão, o engenheiro foi incorporar-se à entrada de D. Rodrigo, cf. carta</p><p>de 10 de março de 1679, ibid., XXXII, pág. 122.-4. D. Manuel Lôbo foi nomeado</p><p>em 8 de outubro de 1678, ibid., XXVII, pág. 335 ( ai a sua fé de ofício ) . Vid.</p><p>também P. ANTÔNIO CARVALHO DA COSTA, op. cit., I, pág. 368. 0 governador de</p><p>790 Pedro Calmon</p><p>A nomeação de D. Manuel Lôbo para governador do Rio de Janeiro</p><p>deu comêço à série de providências militares para a criação da</p><p>Colônia.</p><p>AS D UAS EMPRÊSAS-Inicialmente as duas emprêsas-entabula</p><p>mento das minas de Paranaguá (e Sabarabuçu ) e fortificação dum</p><p>lugar na foz do Prata ( ilha de São Gabriel ) -foram confiadas às mes</p><p>mas pessoas.</p><p>Jorge Soares de Macedo recebera decerto em Lisboa instruções</p><p>especiais para o serviço que se lhe confiara, de fazer um forte na ilha</p><p>de São Gabriel. É de 17 de março de 1678 o registo, na Bahia, de sua</p><p>patente de tenente do mestre-de-campo ad honorem : 5 aí embarcou, para</p><p>o Rio de Janeiro, em 21 de abril seguinte. D. Rodrigo de Castelo Bran</p><p>co (para "de uma vez" averiguar as minas ) seguiu em 24 de setembro.6</p><p>A 5 de agôsto escrevia o primeiro, anunciando partir do Rio de J a</p><p>neiro para a diligência a que fôra. Logo mandou o príncipe a D. Ma</p><p>nuel Lôbo, em 12 de novembro (também de 1678 ) : "depois de tomar</p><p>conta do govêrno do Rio de Janeiro desça ao Rio da Prata e na ilha</p><p>de São Gabriel forme as fortificações necessárias, e uma nova Colônia</p><p>para que meus vassalos possam residir nela, e nas mais que se fizerem</p><p>nas terras êrmas de meu domínio."7</p><p>A EXPEDIÇÃO-Desenganados das minas de Paranaguá, D. Rodrigo</p><p>e Jorge Soares de Macedo empenhavam-se a êsse tempo em preparar</p><p>a esquadra que conduziria o governador ao Prata.</p><p>Foi Jorge Soares reconhecer a costa até Buenos Aires, mas não</p><p>pôde desembarcar nas ilhas de São Gabriel, tal a violência dos ventos ;</p><p>dali tornou para Santos, e de novo</p><p>desceu para Santa Catarina, com</p><p>ordem de esperar D. Manuel Lôbo. A êste auxiliou grandemente no</p><p>Rio de Janeiro o Desembargador João da Rocha Pita, nomeado "sin</p><p>dicante das províncias do Sul às maiores diligências que até aquêle</p><p>tempo se tinham oferecido", como diz o historiador seu sobrinho.8 "Em</p><p>bargou 14 barcos e sumacas que estavam nos portos de Santos e São</p><p>Buenos Aires em 13 de junho de 1673 comunicara à sua côrte ter notícia do projeto</p><p>de ocupação de Maldonado pelos portuguêses, C. CoRREA LUNA, op. cit., pág. 32.</p><p>P. SIMÃO DE VASCONCELOS, Notícias das Cousas do Brasil, n.0 65, alude aos marcos</p><p>portuguêses que tinham sido deixados em Malóonado-e à posse atf. o Prata .-</p><p>5. A patente foi passada em Lisboa, 30 de outubro de 1677, Does. Hist., XXVI,</p><p>pág 376. Partia "para o descobrimento e entabulamento das minas de Pernaguá</p><p>e Sabarabuçu", ibid., pág. 387. As minuciosas instruções dadas a D. Manuel</p><p>Lôbo são de 18 de novembro de 1678, C. CORREA LUNA, op. cit., pág. 64.--6. Does.</p><p>Hist., XXVI, pág. 401.-7. Does. Hist., XXVII, pág. 340. O engenheiro Antônio</p><p>Correia Pinto, que havia de construir a Nova Colônia, foi chamado de Paranaguá,</p><p>pela carta régia de 4 de agôsto de 1676, Livro 2.0 de Cartas Régias, ms. no Arq.</p><p>Públ. da Bahia. Sôbre os antecedentes, vid. Luís ENRIQUE AZAROLA GIL, La Epopeya</p><p>de Manuel Lobo, págs. 29-30, Buenos Aires, 1931.-8. RocHA PITA, op. cit., pág.</p><p>332 : " Era êste ministro natural de Pernambuco, das principais famílias daquela</p><p>província ; fôra enviado por el-rei, sendo ainda príncipe regente, por sindicante das</p><p>províncias do Sul às maiores diligências que até aquêle tempo se tinham oferecido</p><p>História do Brasil - Século XVII 791</p><p>Vicente",9 e que serviram para as viagens de Jorge Soares e do go</p><p>vernador. Da gente para o refôrço da expedição e provisões necessárias</p><p>se encarregou, em São Paulo, o ativo D. Rodrigo. O próprio D. Manuel</p><p>visitou a vila de São Paulo com êsse desígnio. Compôs-se afinal o</p><p>comboio de cinco embarcações, três charruas de fabrico holandês, uma</p><p>fragatinha e um patacho. A tropa regular não passava de duzentos</p><p>homens ;10 porém muitos índios das aldeias paulistas a acompanhavam,</p><p>formando tudo uma fôrça apreciável, proporcional à que poderia ata</p><p>cá-la, saindo de Buenos Aires. Largou de Santos em 8 de dezembro de</p><p>1679.</p><p>Em 20 de janeiro aportou às ilhas de São Miguel. D . Manuel Lôbo</p><p>estudou ràpidamente as condições do rio e de suas barrancas, e preferiu</p><p>instalar o acampamento em terra firme, numa península pequenina</p><p>fronteira à cidade de Buenos Aires, onde, em 7 de fevereiro seguinte,</p><p>um castelhano avistou uma "tienda blanca de lienzo armada y dos gal</p><p>pones de paja cubiertos".11 Surgiu assim a Colônia do Sacramento.</p><p>NOVA COLôNIA-A situação do fortim ali feito era aparentemente</p><p>mais vantaj osa que uma das ilhas do estuário. Porém estava a indicar</p><p>-ao mais despercebido da arte da guerra-a precariedade da praça</p><p>que se fundava. Fàcilmente podia ser assediada pelo lado do continente,</p><p>e varrida pela artilharia que se postasse na praia à direita e. à esquerda,</p><p>pois nenhuma elevação a defendia ou isolava. Os portuguêses aí se</p><p>agüentariam enquanto tivessem a proteção duma esquadra. Entregue</p><p>aos seus próprios recursos a guarnição, não demoraria a resistência.</p><p>Faltar-lhe-ia sempre o domínio da terra adjacente-plana e ilimitada ;</p><p>e um anteparo natural a que se apoiasse. Compreensível, o sítio; para</p><p>uma feitoria de comércio, só um excesso de confiança explica que o eri</p><p>gissem em cidadela. D. Manuel Lôbo começou mal a sua penosa tarefa :</p><p>cometeu o êrro (mais estranhável porque os portuguêses aproveitaram</p><p>admiràvelmente a topografia americana para as suas povoações e for</p><p>talezas ) de meter numa ponta de terra chã e escassa a sorte de sua</p><p>conquista, bem outra se a localizasse em Maldonado ou Montevidéu,</p><p>como aliás presumiam os espanhóis. �sse êrro agravou-se com o tempo.</p><p>�rro militar e psicológico : porque à inconveniência topográfica se alia</p><p>va a proximidade de Buenos Aires, donde teriam de partir as expedições</p><p>punitivas. Uma das duas povoações havia de desaparecer-desafian-</p><p>naquela região e com o poder mais amplo, que nela se concedera a ministro algum ;</p><p>três anos e meio se empregou naquele serviço e el-rei o elegeu por governador do</p><p>Rio de Janeiro, cargo que não exerceu por se ter recolhido para a Relação da</p><p>Bahia." Também não aceitou o de conselheiro do Conselho Ultramarino por não</p><p>lhe permitir a idade passasse ao reino. Tomara posse na Relação em 17 de maio</p><p>de 1678 : na Bahia faleceu em 1702. O historiador era filho de uma sua irmã,</p><p>D. Brites.-9. Carta do governador do Paraguai ao de Buenos Aires, 22 de outubro</p><p>de 1679, C. CORREA LUNA, op. cit., pág. 78. Uma charrua, de mercador francês</p><p>domiciliado na Bahia, foi tomada por D. Manuel Lôbo no Rio, Does. Hist., XXIX,</p><p>pág. 240.-10. J. R�GO MONTEIRO, op. cit., págs. 44-45.-11. Doc. in C. CORREA</p><p>792 Pedro Calmon</p><p>RUíNAS DA IGREJA DE SÃO MIGUEL DAS MISSõES ( 1635-1645 ) . No pri</p><p>meiro plano o Museu das Missões, Rio Grande do Sul. Reparadas pelo Serviço do</p><p>Patrimônio Histórico ( eng.0 Lucas Meyhofer ) . Fotografia do mesmo Serviço.</p><p>do-se, com a amplidão do Prata de permeio, Buenos Aires j á poderosa,</p><p>a Colônia do Sacramento como uma experiência que dependia inteira</p><p>mente dos socorros marítimos.12</p><p>B UENOS AIRES-O governador de Buenos Aires, D. José de Garro,</p><p>receava a comunicação dos adventícios com portuguêses velhos e novos</p><p>que lá havia, e isto prevenira ao vice-rei do Peru : "esta ciudad, Sefíor,</p><p>por la mayor parte se compone de Portugueses, sus hifos y descendien</p><p>tes."13 Homem resoluto e inteligente, convocou as fôrças possíveis, de</p><p>Santa Fé, Tucumã, Corrientes, a que uniu os índios das aldeias do Pa</p><p>raná enviados pelo Padre Altamirano. Formou um exército de trezen</p><p>tos cavalos e 3 .000 índios, que confiou ao Mestre-de-Campo Antônio de</p><p>Vera Muxica. E intimou por um emissário D. Manuel Lôbo a abando</p><p>nar aquelas paragens. Desdenhou êle das represálias prometidas. Dis</p><p>cutiu com o parlamentário o problema dos limites, dizendo que a ju</p><p>risdição portuguêsa ia até ali. Deixou que o engenheiro Antônio Correia</p><p>Pinto levantasse as estacadas que faziam o arcabouço da fortaleza.14</p><p>E esperou por Jorge Soares de Macedo, a quem, não podendo encon</p><p>trar-se em Santa Catarina, expedira ordem para, com duas sumacas</p><p>de farinha, ir abastecer a praça.</p><p>A Q UEDA-Sucedeu então o primeiro duma série de desastres. O ad</p><p>junto de D. Rodrigo numa sumaca rumou para o Prata, mas tão desa</p><p>j eitadamente que naufragou nas pedras do cabo de Santa Maria. Sal</p><p>vou-se com uma trintena de companheiros e pretendeu, por terra,</p><p>ganhar a Colônia do Sacramento. Caiu em poder duma tropa de índios,</p><p>que dois jesuítas comandavam. Os padres, indignados com os paulistas,</p><p>tomaram por cúmplice dêles o infortunado capitão e o conduziram prêso</p><p>à redução de Iapeiu, donde o trasladaram, apesar dos seus protestos,</p><p>para Buenos Aires.</p><p>A guerra desenvolveu-se morosa e metódica. Os castelhanos aper</p><p>taram o cêrco entre março e agôsto, dispostos a reduzir à fome os de</p><p>fensores. Mas como tardasse êsse efeito e os índios se mostrassem im-</p><p>LUNA, op. cit., pág. 104. Vid. os nomes dos principais companheiros de D. Manuel</p><p>Lôbo in J. RÉiGO MONTEIRO, op. cit., pág, 45.-12. A impossibilidade da defesa</p><p>da Colônia do Sacramento (hoje cidade uruguaia de Colônia) é patente à primeira</p><p>vista, de quem a observe do Real de San Carlos, o lugar aliás onde acampou</p><p>Ceballos no último dos cinco assédios que sofreu a praça (como pudemos perceber</p><p>visitando-a em 1936 ) . Razão tinha o Ouvidor-Geral Tomé de Almeida e Oliveira</p><p>ao propor a ocupação de Maldonado, Luís ENRIQUE AZAROLA GIL, Los Orígenes</p><p>de Montevideo, pág. 53, Buenos Aires, 1933. O autor da "Informação do Estado do</p><p>Brasil" ( fins do séc. XVII ) : "Para se conservar a povoação do Sacramento hou</p><p>vera Sua Majestade ter mandado fazer outra no Montevidéu e outra no cabo</p><p>Negro", Rev. do Inst. Hist., XXV, pág. 473. E os insucessos</p><p>explicam o desânimo</p><p>de Cunha Brochado, em 1725 : "Não temos mais remédio que largar a Colônia que</p><p>não vaiE> nada e não tem utilidade e serventia", CAETANO BEIRÃO, Cartas da Rainha</p><p>D. Marian a Vitória, I, pág. LXXVIII , Lisboa, 1936.-13. J. RÊGO MONTEIRO,</p><p>op. cit., pág. 57 .-14. Vid. o plano da "fortaleza de San Gabriel", FERNANDO CA-</p><p>794 Pedro Calmon</p><p>pacientes, o Mestre-de-Campo Muxica dirigiu o assalto final na madru</p><p>gada de 7 de agôsto. Adoecera D. Manuel Lôbo e, de cama, passara o</p><p>comando ao Capitão Manuel Galvão. A batalha feriu-se de surprêsa,</p><p>encarniçada e decisiva. Atacaram os espanhóis e os índios as estacadas,</p><p>levaram de vencida a resistência, e ao amanhecer do dia, após uma luta</p><p>heróica, obrigaram os remanescentes da guarnição a capitular na igre</p><p>ja e no corpo da guarda, seus últimos redutos. Morreram com a espa</p><p>da na mão os Capitães Galvão, Manuel Aquila, João Lopes da Silveira</p><p>e Antônio Correia Pinto, o engenheiro em quem pusera as suas espe</p><p>ranças Afonso Furtado ; e 112 subalternos. O próprio Muxica salvou a</p><p>vida a D. Manuel Lôbo, a quem os índios queriam trucidar : enviou-o</p><p>prisioneiro, com D. Francisco Naper de Lencastro, o capelão, Padre</p><p>Durão, os dois jesuítas de sua companhia e o Capitão Simão Farto,</p><p>para Buenos Aires.</p><p>Não convinha a D. José de Garro ter tantos portuguêses juntos em</p><p>cidade onde seus patrícios eram maioria. Despachou logo para o Chile</p><p>Jorge Soares de Macedo e desterrou o infeliz governador para Córdoba.</p><p>Os achaques, a melancolia e a idade de D. Manuel Lôbo não toleraram</p><p>o clima e a penúria do destêrro. Voltou para Buenos Aires e aí faleceu,</p><p>em 7 de janeiro de 1683.15</p><p>RESTITUIÇÃO-Um navio de reforços mandado da Bahia chegou dias</p><p>depois da queda da Colônia ; e regressou, com as comunicações e notí</p><p>cias do acontecimento. Foi profunda a impressão que causaram em Por</p><p>tugal. Irritou-se D. Pedro li. Correu o rumor de uma guerra, que não</p><p>convinha à Espanha, enfraquecida então, e a vésperas da sucessão ( do</p><p>seu pobre Rei Carlos li) que conflagraria a Europa. O Duque de</p><p>Giovenazzo foi a Lisboa dar as satisfações pedidas e subscrever um tra</p><p>tado de provisória acomodação : concluiu-se em 7 de maio de 1681. Os</p><p>ministros castelhanos solicitaram-e tiveram-a mediação do repre</p><p>sentante de Inglaterra, tais as notícias de uma possível surprêsa do</p><p>exército português.l6 Venceu a severa energia de Lisboa. O tratado</p><p>cominava a restituição da Colônia, com tudo o que nela se achava,</p><p>libertados simultâneamente os prisioneiros, enquanto em Badajós co</p><p>missários de ambas as coroas discutiriam, em têrmos definitivos, a</p><p>questão de direito, em tôrno da demarcação territorial.</p><p>É claro que os eruditos delegados não chegaram, nos seus debates</p><p>logo travados, a conclusão alguma. Dir-se-ia que o debate era para</p><p>isto mesmo. Em 12 de fevereiro de 1683-o que mais importava-re</p><p>cebeu o governador do Rio de Janeiro Duarte Teixeira Chaves a Colô-</p><p>PURRO, La Colonia deZ Sacramento, pl. n.0 4, Montevidéu, 1928.-15. J . RÊGO</p><p>MONTEIRO, op. cit. , pág. 89. Quanto a Jorge Soares de Macedo, em 26 de janeiro</p><p>de 1700 foi nomeado governador da fortaleza de Santos ; em 2 de junho de 1701</p><p>mestre-de-campo na mesma vila ; e em 1707 ainda os seus serviços eram lem</p><p>brados para ir às minas gerais, CARVALHO FRANCO, op. cit., pág. 170.-16. CoM</p><p>TESSE D 'AULNOY, Mémoires de la Cour d'Espagne, ed, revue par MME C. CAREY,</p><p>História do Brasil - Século XVII 795</p><p>nia, em nome de Portugal17 e a fortificou,18 com quatro baluartes e</p><p>baterias, a ponto de, em Buenos Aires, se predizer ( em 1699 ) : "será</p><p>em breve como uma das maiores povoações, e de pequena centelha não</p><p>apagada nos princípios, passará a raio que incendeie e devore tôda a</p><p>América."19</p><p>A política européia soprava os panos à ambição portuguêsa. Apro</p><p>veitando a luta pela sucessão de Carlos II, obteve D. Pedro II o tratado</p><p>de 18 de j unho de 1701, em que o pretendente francês lhe cedia a Co</p><p>lônia do Sacramento e adjacências. Até 1703 prosperou em paz, e au</p><p>mentou a mais meridional das feitorias lusas, a vigiar, com seus barcos</p><p>e seus canhões, a navegação do Rio da Prata !</p><p>GOVERNOS DO RIO DE JANEIRO-Acrescera-se o govêrno do Rio</p><p>de Janeiro com a responsabilidade dos provimentos da Nova Colônia.</p><p>Em seguida teve, com Artur de Sá e Meneses, a das minas realmente</p><p>descobertas nos Cataguases. A importância crescente do cargo então se</p><p>revela pelo renome-e experiência-dos nomeados. Sucedeu a Duarte</p><p>Teixeira Chaves aquêle primogênito de Afonso Furtado cujo naufrágio</p><p>-com as amostras da prata de Paranaguá-tanto afligira os últimos</p><p>dias do governador : João Furtado de Mendonça.20 Estêve no pôsto de</p><p>19 de abril de 1686 até findar o triênio. Substituiu-o D. Francisco</p><p>Naper de Lencastro, veterano da Colônia do Sacramento e prático das</p><p>cousas da terra. Luís César de Meneses empossou-se em 17 de abril de</p><p>1690 e governou até 25 de março de 93 : "um dos melhores governado</p><p>res que passaram àquela praça e se fêz merecedor de tôdas as honras</p><p>e mercês" .21 Em 25 de março de 93 investiu-se no cargo Antônio Pais</p><p>de Sande, que fôra Secretário do Estado da fndia em 1666, Conselheiro</p><p>Ultramarino em 1682 e influ�nte personagem da côrte, com quem se</p><p>carteava o Padre Vieira.22 Doente e velho, teve de passar o govêrno ao</p><p>pág. 376, Paris, 1876.-17. A carta régia de 7 de janeiro de 1682 mandou que, no</p><p>Brasil, Duarte Teixeira Chaves fôsse auxiliado com todo o necessário para ir</p><p>receber a Colônia do Sacramento, Does. Hist., XXIX, pág. 442. A rigorosa cobrança</p><p>dos tributos atrasados, no Rio de Janeiro, permitiu o melhor equipamento da expe</p><p>di�ão, distinguindo-se o Sargento-Mor Luis Carneiro Filho, que, na Colônia, em</p><p>três dias construiu os armazéns, ibid., pág. 65. Persistiu a proibição de comércio</p><p>entre a Colônia e Buenos Aires, corno lamentava VIEIRA em 1692, Cartas, III,</p><p>pág. 639, mas que não impediu o contrabando ou o comércio clandestino ; vid.</p><p>Luís ENRIQUE AZAROLA GIL, Historia de la Colonia del Sacramento, pág. 65,</p><p>Montevidéu, 1940.-18. Vid. JosÉ TORRE REVELLO, in Hist. de la Nación Argentina,</p><p>Ill, pág. 548, Buenos Aires, 1937, dirigida por RICARDO LEVENE.-19. FERNANDO</p><p>CAPURRO, op. cit., pág. 19, Em 1686 o Vigário Francisco de Almeida Lara pro</p><p>punha-se a mandar povoar o "lugar da Vacaria" por um mineiro e 60 infantes</p><p>"para se averiguar a prata", Does. Hist., XI, pág. 126.-20. GARCIA, nota a</p><p>VARNHAGEN, V, pág. 320. Vid. PIZARRO E ARAÚJO, Memórias Históricas do Rio</p><p>de Janeiro, IV, pág. 52 e segs., ed. do Inst. Nac. do Livro.-21. Luís César foi</p><p>governador da Angola e governador-geral do Brasil. Seu filho foi o 1 .0 Conde</p><p>de Sabugosa. Deportou do Rio para Angola o poeta TOMÁS PINTO BRANDÃO, a</p><p>quem em seguida protegeu, Pinto Renascido, Empenado e Desempenado, etc., pág.</p><p>410, Lisboa, 1732 .-22. VIEIRA, op. cit., III, pág. 489. Quis o governador ir ver as</p><p>minas de prata perto de Santa Cruz de la Sierra, o que desaconselhou o governador-</p><p>796 Pedro Calmon</p><p>Mestre-de-Campo André Cusaco ( 7 de outubro de 94) . Não pôde cum</p><p>prir a ordem del-rei de averiguar as minas de São Paulo .23 Faleceu em</p><p>22 de fevereiro de 95. Em 19 de abril dêsse ano tomou posse do govêrno</p><p>interino Sebastião de Castro e Caldas ( até 1697 ) , antecessor de Artur</p><p>de Sá, que foi mais feliz do que os outros porque no seu período os</p><p>paulistas desvendaram as "minas gerais". Para as conhecer visitou duas</p><p>vêzes a capitania de São Paulo ( 1697 e 1699 ) .</p><p>Por essa ocasião (novembro-dezembro de 1695) escalou no Rio</p><p>de Janeiro a frota de De Gennes . Escreveu Froger a relação da viagem</p><p>sem esquecer essa "grande cidade bem construída e de excelente aspecto,</p><p>estendendo-se pela praia desde o magnífico mosteiro de São Bento até</p><p>ao não menos monumental colégio dos j esuítas",24 tão diversa da po</p><p>voação mesquinha e diminuta do tempo de Martim de Sá.25 1694 . . . É</p><p>a data da retorcida talha dourada da igreja dos beneditinos. Documenta</p><p>a opulência da terra e, com a pompa do culto, a perícia dos seus artí</p><p>fices . Cento e vinte</p><p>engenhos de açúcar enriqueciam-lhe o recôncavo.</p><p>Um comércio denso ocupava a Rua Direita e ruas transversais, até</p><p>a Vala ( núcleo urbano traçado pelo Sr. de Lescolles ) . As ermidas do</p><p>Livramento ( 1670 ) , no V alongo, e da Glória ( 1671 ) , na antiga praia</p><p>do Leripe, sôbre o escarpado monte, espécie de atalaia na · cenografia</p><p>deslumbrante do Rio de Janeiro, eram os extremos da zona habitada.</p><p>geral, Does. Hist., XI, pág. 196. Ressentiu-se-lhe a saúde depois das duas via</p><p>gens a São Paulo. Morreu de apoplexia, ibid., pág. 203.-23. lbid., pág. 196.-24.</p><p>TAUNAY, Rev. do Inst. Hist., CXLIV, pág. 405, resume o livro de FROGER. A primeira</p><p>descrição estrangeira do Rio ? O Prof. Charles Boxer (conf. no Rio, 1949) mostrou</p><p>a precedência do j esuíta inglês Richard Flecknor, que chegou a esta terra em</p><p>1648 : "the pleasantest place in the world for natural landscape". Com êste</p><p>começa o elogio universal à paisagem "maravilhosa".-25. Ainda em 1659 Bento</p><p>da Rocha Gondim, contratador dos dízimos, por ter feito no Rio casas nobres,</p><p>pedia ao governador lhas garantisse, contra ocupação dos governadores da capi</p><p>tania . . . Does. Hist., XIX, pág, 468.</p><p>MOEDA DO BRASIL COLONIAL : anverso e reverso do dobrão de</p><p>Rs. 20$000 ( hoje Cr$ 20,00 ) , que valia Rs. 24$000, por fôrça da Lei</p><p>de 4 de agôsto de 1688. Reproduzido dos Anais do Museu Histórico</p><p>Nacional, vol. VI, Rio de Janeiro.</p><p>798 Pedro Calmon</p><p>FORTE DO MAR,</p><p>Salvador, em constru</p><p>ção quando os holan</p><p>deses o atacaram</p><p>(1624) . Estado atual.</p><p>XXII</p><p>A BAHIA - CAPITAL</p><p>TRIUNVIRATO PATRÍCIO</p><p>FALECEU Afonso Furtado na Bahia-de enfermidade que se lhe agra-</p><p>vou com a dor moral, de seus insucessos-em 26 de novembro de</p><p>1675.1 Determinou in articulo mortis, lhe sucedessem em triunvirato</p><p>o chanceler da Relação ( Des. Agostinho de Azevedo Monteiro ) , o mes</p><p>tre-de-campo mais antigo (Alvaro de Azevedo) e o juiz mais velho do</p><p>Senado da Câmara (Antônio Guedes de Brito ) . Pela primeira vez em</p><p>junta de govêrno predominaram os naturais do Brasil,2 que foram to</p><p>dos três-quando, meses depois, morreu o chanceler Monteiro, subs</p><p>tituído pelo Desembargador Cristóvão de Burgos, a quem já aludimos.</p><p>Estiveram no poder até 15 de março de 78. Entregaram-no ao Gover-</p><p>I. Foi sepultado no convento dos franciscanos, ROCHA PITA, op. cit., pág. 284.</p><p>Seu filho Jorge Furtado casou na familia de Hohenlohe "que em título de conde</p><p>tl'm soberania em Alemanha". GREGÓRIO DE MATOS, Satírica, 11-11, 15, comemorou</p><p>em sonetos laudatórios o governador falecido.-2. MIRALLES, op. cit., pág. 151. A</p><p>Verl'ação obteve que se não fizesse a eleição anual, a fim de que Antônio Guedes</p><p>de Brito continuasse, até a nomeação do governador-geral, RocHA PITA, op. cit.</p><p>Sôbre Alvaro de Azevedo, baiano, que combateu em Flandres e Portugal, P. CAL</p><p>MON, Hist. da Casa da Tôrre, pág. 93. Antônio Guedes acumulou imenso patri</p><p>mônio, depois da Casa da Ponte, rival da Casa da Tôrre na expansão nordestina.</p><p>A Câmara da Bahia representou em 14 de agôsto de 1671, AcciOLI, Mem., 11,</p><p>pág. 1 34, contra a proibição, que constara ter sido decretada, de serem desembar</p><p>gadores no Brasil os filhos da terra. A conservação da junta "baiana" prova que</p><p>o príncipe a ouviu ! " . . . O Governador Afonso Furtado deixou nomeados os gover</p><p>nadores que S. M. aprovou", carta de Matias da Cunha, Does. Hist., X, pág. 304.</p><p>Esta informação deve combinar-se com a de Bernardo Vieira Ravasco : que o</p><p>Provedor Antônio Lopes Ulhoa quisera ser o sucessor, com a intervenção do con</p><p>fessor do enfêrmo, porém o Secretário, unido ao sobrinho do governador, Capitão</p><p>Antônio de Sousa Meneses (não confundir com o futuro governador-geral ) obteve</p><p>que se fizesse junta, de que resultou o triunvirato, A. LAMEGO, op. cit., pág. 65.-</p><p>História do Brasil - Século XVII 799</p><p>nador-Geral Roque da Costa Barreto (Regimento de 23 de janeiro de</p><p>77 ; posse naquele dia ; e governou até 23 de maio de 1682 ) .</p><p>De uma carta do Padre Vieira percebemos a novidade da situação</p><p>e, com a afluência de candidatos, a demora do despacho. "Morreu o</p><p>governador do Brasil, e achou-se aquêle Estado sem vias nem forma de</p><p>sucessão em semelhante caso. Deviam de se julgar por imortais os</p><p>governadores do Brasil, porque êste foi o primeiro que lá morreu, não</p><p>sendo a vida de quase todos mais necessária que para a ruína. Há</p><p>mais de quinze pretensores ao pôsto e entende-se que o levará quem</p><p>menos é para êle."3 Nisto se iludiu. Foi nomeado Roque da Costa.</p><p>ROQ UE DA COSTA-Sargento-mor de Batalha da Estrematura, mes</p><p>tre-de-campo-general, comandara Roque da Costa um dos terços</p><p>de Lisboa no reinado de D. Afonso VI, de quem foi valido, a ponto de</p><p>pôr o tio na reitoria de Coimbra.</p><p>O depoimento é de um grande da época : "Segunda-feira 21 do pró</p><p>prio mês de abril ( 1664 ) , que foi dia de N. s.a dos Prazeres, saiu de</p><p>Lisboa para Coimbra Manuel Côrte Real nomeado reitor daquela Uni</p><p>versidade. Alcançou-lhe esta dignidade o valimento com el-rei, de seu</p><p>sobrinho Roque da Costa Barreto que se empenhou grandemente para</p><p>o conseguir."4 Era da súcia real : " . . . ia ( el-rei ) a Alcântara aos sá</p><p>bados à noite : no domingo, depois de jantar retirado só com Henrique</p><p>Henriques, Roque da Costa e alguns criados seus chamados pelo vulgo</p><p>Valentes de El-Rei se partia para Odivelas e assistia à freira até a</p><p>noite."11 A idade fêz dêle um militar de verdade e um administrador</p><p>excelente. O elogio de Rocha Pita ( "Govêrno tão admirável" ) repro</p><p>duz conceito comum de contemporâneos e pósteros, avivado pelos con</p><p>trastes, entre êsse quatriênio e o infausto período que se lhe seguiu.</p><p>Sentenciou Vieira : "inteireza, desinterêsse e exemplo de vida e cons</p><p>tância de Roque Barreto, deixará canonizada para sempre sua me</p><p>mória."8</p><p>O REGIMENTO-Começava pela importância do Regimento dos Go</p><p>vernadores-Gerais que trouxe ( datado de 20 de março de 1677) e vigo</p><p>rou por mais de um século.7 Assegurava a unidade de govêrno quanto</p><p>à subordinação hierárquica dos capitães-generais ao da Bahia ; estipu</p><p>lava as faculdades que a êste cabiam ; marcava-lhe a jurisdição e in-</p><p>3. Cartas, 1.0 de junho de 1676, 111, pág. 221 .-4. D. Afonso VI, publ. por E. BRASÃO,</p><p>pág. 216.-5. Ibid., págs. 250-251. Roque da Costa era de Serpa, P. ANTÔNIO</p><p>CARVALHO DA CosTA, op. cit., II, pág. 316. A patente de nomeação de mestre-de</p><p>campo-general do Brasil com a mesma autoridade de governador-lhe enumera</p><p>os serviços de guerra, 22 de junho de 1677, B. DO AMARAL, nota a AcciOLI, II,</p><p>pág. 236. A viúva de Roque da Costa, filha do Almirante D. Pedro de Almeida,</p><p>casou com o secretário da guerra João Pereira da Cunha Ferraz, GUSTAVO DE</p><p>MATOS SEQUEIRA, O Carmo e a Trindade, li, pág, 17.-6. Op. cit., 111, pág. 454.-</p><p>7. O Governador D. Fernando José de Portugal anotou êsse Regimento reparando</p><p>nas alterações sobrevindas a várias disposições, em 1804-5, Does. Hist., VI,</p><p>págs. 312-466. Em 1655 tivera Regimento mais simples André Vidal, nomeado</p><p>800 Pedro Calmon</p><p>S</p><p>IN</p><p>G</p><p>U</p><p>L</p><p>A</p><p>R</p><p>C</p><p>H</p><p>A</p><p>M</p><p>I</p><p>N</p><p>É</p><p>D</p><p>O</p><p>C</p><p>O</p><p>N</p><p>V</p><p>E</p><p>N</p><p>T</p><p>O</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>A</p><p>N</p><p>T</p><p>O</p><p>A</p><p>N</p><p>T</p><p>ô</p><p></p><p>N</p><p>IO</p><p>D</p><p>E</p><p>C</p><p>A</p><p>IR</p><p>U</p><p>,</p><p>B</p><p>a</p><p>h</p><p>ia</p><p>(s</p><p>éc</p><p>u</p><p>lo</p><p>X</p><p>V</p><p>II</p><p>)</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>le</p><p>m</p><p>b</p><p>ra</p><p>a</p><p>s</p><p>d</p><p>o</p><p>P</p><p>a</p><p></p><p>lá</p><p>ci</p><p>o</p><p>de</p><p>S</p><p>in</p><p>tr</p><p>a</p><p>(l</p><p>u</p><p>so</p><p></p><p>á</p><p>ra</p><p>b</p><p>e</p><p>)</p><p>,</p><p>P</p><p>o</p><p>r</p><p>t</p><p>u</p><p>g</p><p>a</p><p>I.</p><p>F</p><p>ot</p><p>og</p><p>ra</p><p>fi</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>D</p><p>ir</p><p>e</p><p>to</p><p>ri</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>P</p><p>a</p><p>tr</p><p>im</p><p>ôn</p><p>io</p><p>H</p><p>is</p><p>tó</p><p>ri</p><p>co</p><p>e</p><p>A</p><p>rt</p><p>ís</p><p>ti</p><p>co</p><p>N</p><p>a</p><p>ci</p><p>on</p><p>a</p><p>l.</p><p>dicava as soluções para os problemas administrativos que tinham até</p><p>então suscitado dúvidas e conflitos. Saberia como proceder nos casos</p><p>previstos e nas relações com os provedores, a magistratura, as Câma</p><p>ras, os escrivães, a Religião, os estrangeiros adventícios, os índios al</p><p>deados, donatários, contratantes, senhores de engenho . . . Quisera o</p><p>Conde de óbidos organizar os serviços do govêrno-geral : o Regimento</p><p>de Roque da Costa deu-lhes forma. Ganhava a colônia uma pequena</p><p>"constituição"-restrita, é certo, ao mecanismo da administração,</p><p>porém capaz de limitar o arbítrio dos funcionários,</p><p>que estariam contra.</p><p>a lei se infringissem o Estatuto, explícito e sensato . Tirara-se-lhes tam</p><p>bém a permissão para negociar, abuso que vinha dos primeiros tempos</p><p>( com Mem de Sá) e enriquecera vários antecessores de Roque da Costa.</p><p>O governador devia governar. Êste o fêz, e perfeitamente.</p><p>SÉ ARQ UIEPISCOPAL-Êsse período do triunvirato e do novo go</p><p>vernador assinalou-se por felizes acontecimentos.</p><p>Em atenção ao crescimento da colônia o príncipe regente em 1676</p><p>elevou a Sé da Bahia a categoria metropolitana, e a catedrais as igre</p><p>j as de Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. A paz de Espanha e</p><p>a conciliação com a Santa Sé permitiam que melhorasse a organização</p><p>eclesiástica. Confirmado pela Bula de 11 de maio de 70-primeiro</p><p>bispo depois do dissídio provocado pela Restauração-D. Estêvão dos</p><p>Santos chegara à Bahia em 15 de abril. Morreu em 6 de julho de 1672,</p><p>com tempo apenas de impressionar os colonos com as suas heróicas</p><p>virtudes.8 Prosseguiu vaga a prelazia até o provimento-que a</p><p>Bula de 16 de novembro de 76 confirmou-de D. Gaspar Barata de</p><p>Mendonça : êste não veio ao Brasil. Tomou posse por procuração (3 de</p><p>julho de 77) e faleceu nove anos mais tarde, no reino,9 depois de ter</p><p>renunciado à mitra, que foi dada a um bom franciscano, D. Fr. João</p><p>da Madre de Deus ( 1683 ) .</p><p>O bispo de Pernambuco foi D . Estêvão Brioso de Figueiredo ; do</p><p>Rio de Janeiro, D. Fr. Manuel ' Pereira ; do Maranhão, o capucho D.</p><p>Fr. Antônio de Santa Maria.</p><p>Em função da dignidade primaz, teve a Bahia relação Eclesiástica</p><p>(provisão de 30 de março de 78 ) .10</p><p>para o Maranhão.-8. A lápide na capela-mor da Sé comemorava : "Sepultura</p><p>de D. Estêvão dos Santos, do Conselho de Sua Majestade e Bispo dêste Estado do</p><p>Brasil falecido em 6 de julho de 672 em circunstâncias tão miraculosas em sua</p><p>morte que qualificaram a grande opinião das muitas virtudes que teve em sua</p><p>vida."-Em 11 de maio daquele ano pagara-se-lhe a ajuda de custo de um conto</p><p>de réis, Does. Hist. , XXV, pág. 59. Vid. Monstruosidades do Tempo e da Fortuna,</p><p>111 , pág. 43.-9. Prior da igreja de Santa Engrácia e desembargador da Relação</p><p>Eclesiástica, como um dos juízes nomeados pelo cabido, em 1668, para anular o</p><p>casamento de D. Afonso VI e D. Maria Francisca, figurou assim nos fatos que</p><p>culminaram no destronamento do rei, vid. CAMILO, op. cit,, pág. 103.-10. VAR-</p><p>TRCTO DA IGREJA DOS JE SUíTAS ( Catedral ) do Salvador, Bahia (fim do�</p><p>século XVII ) cujo motivo central é o trigrama da Companhia de Jesus. Fotografia</p><p>da D. P. H. A. N.</p><p>802 Pedro Calmon</p><p>Ganhou ainda o seu primeiro convento de freiras .</p><p>"Havia muitos anos, que os senadores, Nobreza e Povo dela o pre</p><p>tendiam, assim por acomodar as mulheres principais, que não tinham</p><p>dotes equivalentes para casarem conforme o seu nascimento, como por</p><p>satisfazer aos suspiros de outras, que pretendendo conservarem o es</p><p>tado virginal, e florescerem em santas virtudes, desejavam servir a</p><p>Deus nos votos e claustros da Religião". É verdade que a concessão res</p><p>tringia a cinqüenta o número das religiosas professas, tanto se temia</p><p>que acabassem os casamentos nas classes ricas, correndo as raparigas</p><p>para a paz do mosteiro cobiçada pela devoção, pela prudência e pelo in</p><p>terêsse.</p><p>CONVENTOS-Os carmelitas descalços acabavam de fundar o seu con</p><p>vento grande de Santa Teresa, à Gameleira.H Com franciscanos, j esuí</p><p>tas, beneditinos, formavam uma clerezia opulenta. Era justo amparar</p><p>também as vocações femininas, em proveito da terra, que, de outro</p><p>modo, as famílias abastadas continuariam a mandar as filhas a profes</p><p>sarem em Portugal. Quatro clarissas de Évora (a abadêssa Soror Mar</p><p>garida da Coluna, e as Madres Maria de São Raimundo, J erônima do</p><p>Presépio e Luísa de São José com duas servas ) chegaram à Bahia pela</p><p>frota de 1677. Esperadas com ansiedade, acharam principiados os tra</p><p>balhos de sua vasta casa do Destêrro, onde existia uma igrej inha em</p><p>sítio tranqüilo, entre roças de denso arvoredo, desde muito consagrado</p><p>àquela fundação.12 Agasalharam ali a sua fé ; receberam logo-em ja</p><p>neiro de 78-muitas noviças recrutadas na aristocracia da cidade e seu</p><p>Recôncavo ; e construíram igrej a e convento, que nada ficaram a dever</p><p>aos melhores do reino.</p><p>Dois anos depois os capuchinhos italianos ( Fr. João Romano e Fr.</p><p>Tomás de Sora) fundaram o Hospício de Nossa Senhora da Piedade,</p><p>NHAGEN, op. eit., UI, pág. 281. Um dos desembargadores nomeados foi o poeta</p><p>Gregório de Matos, que pouco tempo exerceu o cargo, PEDRO CALMON, pref. às</p><p>Obras Completas, de GREGÓRIO DE MATOS, VI, pág. 37, ed. da Acad. Bras.-11.</p><p>Does. Hist., VIII, pág. 158.-12. RocHA PITA, op. eit., pág. 290. Os carmelitas</p><p>em 1655 haviam "desistido do sítio e ermida de N. s.a do Destêrro", Does. Hist.,</p><p>VII, pág. 273. Sôbre esta, vid. FR. AGOSTINHO DE SANTA MARIA, Santuário Ma</p><p>riano, IX, pág. 74. Ai fêz VIEIRA o seu primeiro sermão em 1633. E em 1639,</p><p>o de Nossa Senhora da Conceição, para "os que vêm de tão longe a êste deserto</p><p>trazidos pela devoção da Senhora do Destêrro", Sermões, X, pág. 218. Diz-nos</p><p>RocHA PITA que havia começos de convento e, ao saber-se na cidade da chegada</p><p>das freiras, todos os pedreiros foram convocados, e em três dias puseram em ordem</p><p>a clausura, a que se recolheram. As primeiras baianas que entraram no Destêrro</p><p>foram Soror Marta de Cristo e sua irmã Soror Leonor de Jesus. A primeira</p><p>substituiu no abadessado Soror Margarida da Coluna que, com suas companheiras,</p><p>voltou para Portugal em 1686, deixando próspero o convento. Eram filhas de</p><p>Salvador Correia Vasqueanes e Margarida da Franca, FR. JABOATÃO, op. eit.,</p><p>pág. 246. Morreu Soror Marta aos 88 anos, em 1738, "com fama de virtude",</p><p>FREI JABOATÃO, Novo Orbe Seráfieo, III, pág. 657. D edicou-lhe GREGÓRIO DE</p><p>ALTAR DE SANTO INACIO ( século XVII ) , da igreja dos j esuítas da Bahia�</p><p>( Catedral ) , apogeu do barroco de influência italiana. Fotografia de Voltaire Fraga.</p><p>804 Pedro Calmon</p><p>transferido em seguida para os capuchinhos franceses, j á conhecidos</p><p>na capitania.13</p><p>É uma fase de obras vultosas.</p><p>Resultara do incremento mercantil, da pacificação, da regularidade</p><p>das frotas, também da carta régia para que escalassem na Bahia as</p><p>naus da fndiaH ( 1 672 ) -motivo duma animação urbana que se com</p><p>binou com a riqueza e a iniciativa de moradores faustosos.</p><p>OBRAS URBANAS-As gravuras holandesas da Bahia em 1624 já</p><p>assinalam, em paralelas, unindo as cidades alta e baixa, os guindastes</p><p>que a serviam. Conhece-se o aforamento de um dêles, em 1627, a Diogo</p><p>Lopes de Évora. Em 1643 o antigo mestre-de-obras Pedro Gonçalves de</p><p>Matos teve licença para concluir o que construíra com dois pilares mais</p><p>para a praça ( sic ) , e que, pelo visto, seria grande máquina.111 O dos</p><p>jesuítas deu nome à rua : do Guindaste dos Padres. Começam por êsses</p><p>aparelhos de alçar mercadorias, numa brava tentativa de reduzir as</p><p>dificuldades topográficas da cidade, a sua transformação no século</p><p>XVII. Estendeu-se aos paredões de arrimo e às ladeiras empedradas.</p><p>As chuvas de 1671 tinham causado vários desabamentos nas La</p><p>deiras da Conceição e Misericórdia. Apelou a Câmara para a coroa,</p><p>pedindo-lhe concedesse fazer os muros necessários. Começaram assim</p><p>êsses trabalhos de sustentação, que só se concluiriam século e meio</p><p>mais tarde.</p><p>Em 1637 tinha sido arrematada a construção das calçadas.16 Então</p><p>-par� obviar à alta do peixe-se decidira fôsse vendido em tuju</p><p>pares (palhoças ) , a preço fixo, no Terreiro de Jesus.n É imaginar a</p><p>humildade da Praça por êsse tempo. Quarenta anos depois já se</p><p>espalhava pelas colinas adj acentes, sem respeito às "portas" ( São</p><p>Bento e Carmo ) do limite antigo. Chamou-se da Pólvora o campo junto</p><p>do Destêrro, porque aí mandou Roque da Costa edificar, com quartel</p><p>anexo, a Casa da Pólvora. Povoou-se com isto o caminho da igrej a nova</p><p>MATOS um romance, Obras, Graciosa, III, pág. 60.-13. RocHA PITA, op. cit.,</p><p>pág. 294. Em 1705 foi mandado entregar o hospício aos capuchinhos italianos,</p><p>titulares da missão</p><p>permanente instituída pela Sagrada Congregação da Pro</p><p>paganda Fidei, em 1709.-14. Does. Hist,, VIII, pág. 93. A ordem foi revogada</p><p>em 1691, ibid., XXXII, pág. 338.-15. Do aforamento a Diogo Lopes de Évora</p><p>não tratam as Atas da Câmara. Consta do !nderx: das Notas de Vários Tabeliães</p><p>de Lisboa, tomo 3.o, pág. 207, Lisboa, 1944 (Bibl. Nac. ) , revelando a data, 1627,</p><p>o nome dos vereadores, Marcos da Costa, Jerônimo de Burgos, etc. A licença do</p><p>mestre Pedro Gonçalves de Matos ( cf. Atas da Câmara, I , pág. 79) vem no</p><p>livr. de Atas, li, pág. 201, referente ao ano de 1643. Dêste foi sobrinho e her</p><p>deiro o famoso João de Matos Aguiar, cuja fortuna passou a constituir, em 1700,</p><p>por verba testamentária, o patrimônio das recolhidas da Santa Casa, A. J. DA</p><p>MÁSIO, Tombamento dos Bens Imóveis da Santa Casa da Bahia, pág. 30,-16.</p><p>AcciOLI, op. cit., li, pág. 131 .-Calçadas ou ladeiras. Em Portugal ficou a pri</p><p>meira designação : calçadas. Lembra o tempo em que só se pavimentavam as</p><p>rampas, Atas da Câmara da Bahia, 1637, ms. no Arq. Municipal.-17. Ata de</p><p>SOBRADOS BAIANO S ( séculos XVII e XVIII ) na cidade de Salvador ......</p><p>806 Pedro Calmon</p><p>de São Pedro ao arrabalde de Nazaré. Aí a Rua da Poeira, mencionada</p><p>num sonêto de Gregório de Matos. Abre-se a "de Baixo de São Bento"</p><p>como definitiva saída da cidade dos seus muros quinhentistas.1s</p><p>A Francisco de Brito Freire, escreveu Vieira em 1691, que, se como</p><p>"noutro tempo, governando alguma armada, entrara no seu formoso</p><p>pôrto, não a conhecera. Eu a desconheci, quando depois de 40 anos de</p><p>ausência a tornei a ver muito acrescentada e enobrecida de casas".I9</p><p>E Gregório de Matos :</p><p>Haverá duzentos anos</p><p>Nem tantos podem contar-se</p><p>Que éreis uma pobre aldeia,</p><p>Hoje sois rica cidade.</p><p>Então vos pisavam índios,</p><p>E vos habitavam cafres,</p><p>Hoje chispais fidalguias,</p><p>E arrojais personagens.20</p><p>Solares, que figurariam bem em Lisboa, ostentavam altas portadas,21</p><p>linhas clássicas, como o de João de Matos à Ladeira da Praça ( data :</p><p>1674 ) .22 O arcebispo D. Frei João de Madre de Deus mudou-se "para</p><p>o novo Palácio que comprara",23 substituído, no comêço do século se</p><p>guinte, pela mansão construída por D. Sebastião Monteiro da Vide.</p><p>Faz-se, por êsse tempo, em pedra portuguêsa ( segundo o desenho</p><p>de São Vicente de Fora em Lisboa e da igrej a dos j esuítas de Santa</p><p>rém ) , a igrej a da Companhia, a cuj as "capelas doiradas e corredores</p><p>azulej ados" aludiu Vieira.24 Ao maj estoso templo corresponde uma</p><p>sacristia em estilo e beleza comparável às melhores do século, ador</p><p>nada de retábulos "qu'ils m'ont dit être des meilleurs Maítres d'ItaUe"</p><p>(segundo um viajante de 1702 ) .25 Reedificam-se o Carmo e São Ben-</p><p>15 de julho de 1637, códice, cit.-18. Vid. RocHA PITA, op. cit., pág. 453.-19. Cartas,</p><p>li, pág. 323.-20. Obras, IV, pág. 119.-21. " . . . Fiz eu algumas doutrinas em</p><p>casas de portadas bem altas", VIEIRA, Sermões, XIII, pág. 174.-22. Vej a-se cap.</p><p>XXXII, "Arte Seiscentista". Edifício notável, porque aí funcionou a Assembléia</p><p>Provincial, tinha soberba porta (e portais de granito com a data, 1674) que</p><p>hoj e se vê no palácio da Saúde Pública, à Vitória ( Bahia) .-23. GREGÓRIO DE</p><p>MATOS, op. cit., li, pág. 73, sonêto em homenagem a essa mudança. Provirá daí</p><p>o nome de "Rua do Bispo", à que fica perpendicular à Rua do Colégio ? Longos</p><p>anos residiriam os bispos em Santo Antônio da Barra, cenóbio com bela igreja,</p><p>que pertencia à Mitra (como aliás se vê em mapa de BARLEO : domus episcopalis ) .</p><p>O palácio definitivo foi feito ao começar o século seguinte, quando os Guedes</p><p>de Brito construíram o "Paço do Saldanha" e o Chantre João Calmon o solar a</p><p>que alude RocHA PITA : "Aposentou-se (o Patriarca, em 1722 ) na casa do Re</p><p>verendo Chantre João Calmon, uma das mais suntuosas e bem paramentadas da</p><p>cidade", op. cit., pág. 459.-24. "Exortação Doméstica", Sermões, IX, pág. 301.</p><p>As pedras de Alcântara vinham como lastro dos navios e várias foram as igrejas</p><p>lav1adas em Lisboa e armadas na Bahia : Colégio (hoje catedral ) , Ordem 3.a</p><p>de São Francisco ( 1704) , Conceição da Praia ( 1747 ) . Na portaria velha de São</p><p>Bento da Bahia é visível a numeração das pedras, que vinham aparelhadas.-</p><p>25. Journal d'un voyage sur les costes d'Afrique, etc., pág. 240, Amsterdã, 1730.-</p><p>808 Pedro Calmon</p><p>to,26 a Misericórdia ( concluída no principio do século seguinte) , a</p><p>Sé27-da qual disse o mesmo estrangeiro : "je n'en sache en France qui</p><p>puisse lui être comparée."28 Referia-se certamente ao tamanho e à im</p><p>ponência barrôca dos seus altos balcões, dos seus vastos altares. A ca</p><p>pela de São Pedro Velho transforma-se em suntuosa matriz.29 As do</p><p>Rosário ( dos soldados) 3° e da Palma ( cedida em 1693 aos agostinia</p><p>nos ) 31 têm arte e nobreza. No campo do Destêrro, Roque da Costa</p><p>Barreto manda construir a Casa da Pólvora-que deu o nome a êsse</p><p>arejado lugar.</p><p>Até aí o luxo se limitara a roupagem, sêdas e enfeites com que se</p><p>afidalgavam os colonos-como lhes exprobrou, no Maranhão, o pre</p><p>gador : "Todos a trabalhar tôda vida, ou na roça, ou na cana, ou no</p><p>engenho, ou no tabacal : e êste trabalho de tôda a vida, quem o leva ?</p><p>Não o levam os côches, nem as liteiras, nem os cavalos, nem os escudei</p><p>ros, nem os paj ens, nem os lacaios, nem as tapeçarias, nem as pinturas,</p><p>nem as baixelas, nem as jóias ; pois em que se vai e despende tôda a</p><p>vida ? No triste farrapo com que saem à rua e para isso se matam todo</p><p>o ano."32 A vida correra sóbria, desataviada, rústica : e pelas ruas es</p><p>treitas em vez de carruagens ( que não havia na Bahia em pleno século</p><p>XVIII ) desfilavam as "serpentinas", ou rêdes suspensas de uma</p><p>vara em ombros de negros, ao gôsto indiano.33 As mulheres saíam</p><p>a furto, às madrugadas, para ouvir missa ; e os sujeitos de prol só eram</p><p>vistos naquelas "tipóias", seguidos de escravos. À noite os encapuçados,</p><p>de espada sob o braço e guitarra, pervagavam, perigosos, com os guar</p><p>da-costas.34 "Estas e outras muitas cousas que por experiência conhe</p><p>ço, que são perdição de quase todo mundo, me crucificou com um grande</p><p>e ardente desejo ( sendo o pior de todos) de poder clamar e gritar a</p><p>todos que me cercam como eu me vi perdido" escreveria um dêles, já</p><p>26. Foi arquiteto d e São Bento, d a Misericórdia, e talvez d e Santa Teresa, o</p><p>beneditino Frei Macário de São João, que na Bahia faleceu em 3 de abril de 1676,</p><p>cf. Dietário, ms. comentado por D. CLEMENTE MARIA DA SILVA NIGRA.-27. Vid.</p><p>FREI AGOSTINHO DE SANTA MARIA, op. cit., IX, pág. 23 ; Does. Hist., VIII, pág. 141.</p><p>Foi D. João de Lencastro quem "acabou o Templo da Matriz", ROCHA PITA, op.</p><p>cit., pág. 330.-28. Em 1691 a "igreja de São Pedro Velho sita no arrabalde</p><p>desta cidade" estava por concluir, visto "serem muito pobres os fregueses dela" :</p><p>deu el-rei o auxílio preciso para a terminação da obra, Does. Hist., XXXIII,</p><p>pág. 410.-29. Journal d'un voyage, cit., pág. 241.-30. É de 1621, cf. FREI</p><p>AGOSTINHO DE SANTA MARIA, op. cit., André Cusaco, mestre-de-campo, irlandês</p><p>de origem, reconstruiu-a ( 1691) como capela predileta dos soldados.-31. Iniciada</p><p>em 1630 pelo Alferes Francisco da Cruz Arrais, transformada em igreja por</p><p>seus filhos ( 1670) , cf. FREI AGOSTINHO DE SANTA MARIA, ibid. Sôbre a instalação</p><p>dos agostinianos, Anais do Arq. Públ. da Bahia, XIII, pág. 176.-32. " Sermão de</p><p>Santo Antônio", no Maranhão, 1654, Sermões, VII, pág. 243, Pôrto, 1908.-</p><p>33. "Os da Europa andam em liteiras e carroças ; os da Ásia em palanquins ; os</p><p>da América em serpentinas . . . Os da Ásia e da América deitados e jazendo ; os</p><p>da Europa tirados por animais ; os da Ásia e da América levados em ombros de</p><p>homens", VIEIRA, " Sermão da 2.a Dominga da Quaresma", 1652, Sermões, III,</p><p>pág. 103, ed. de 1907.-34. " . . . É notável o desafôro que hoje aqui há em matar</p><p>com bacamartes e só com a demonstração exemplar do suplício que se der aos</p><p>culpados se poderá reprimir", 1674, carta de Afonso Furtado, Does. Hist., X,</p><p>História do Brasil - Século XVII 809</p><p>C</p><p>A</p><p>S</p><p>A</p><p>N</p><p>O</p><p>B</p><p>R</p><p>E</p><p>D</p><p>A</p><p>B</p><p>A</p><p>H</p><p>IA</p><p>(s</p><p>é</p><p>c</p><p>u</p><p>lo</p><p>X</p><p>V</p><p>II</p><p>)</p><p>,</p><p>c</p><p>o</p><p>n</p><p>st</p><p>r</p><p>u</p><p>çã</p><p>o</p><p>ti</p><p>p</p><p>ic</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>te</p><p>m</p><p>p</p><p>o</p><p>.</p><p>F</p><p>o</p><p>to</p><p>g</p><p>r</p><p>a</p><p>f</p><p>ia</p><p>d</p><p>o</p><p>a</p><p>r</p><p>q</p><p>u</p><p>iv</p><p>o</p><p>d</p><p>a</p><p>P</p><p>r</p><p>ef</p><p>ei</p><p>tu</p><p>r</p><p>a</p><p>do</p><p>S</p><p>a</p><p>lv</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>r</p><p>.</p><p>purificado e religioso, Frei Antônio das Chagas.35 Mas os tempos mu</p><p>davam.</p><p>Em 1685 espanta-se François Coréal : "O fausto religioso se mostra</p><p>em tôda a sua exterioridade. Não vi lugar onde o Cristianismo se apre</p><p>sentasse mais pomposo do que nesta cidade, seja quanto à riqueza e mul</p><p>tidão das igrej as, dos conventos e religiosos, ou quanto à feição devota</p><p>dos fidalgos."36 Outro francês, Froger, que passou pela Bahia em 1696,</p><p>gabou-lhe a opulência dos edifícios, sobretudo a Igreja do Colégio, mos</p><p>teiros, sobrados e capelas.37 " • • • Casas de dois e três andares, paredes</p><p>grossas, fachadas de cantaria, quase sempre enfeitadas por lar</p><p>gas sacadas ; telhas por tôda parte ; não se viam tectos de ma</p><p>teriais pobres . Largas as principais ruas, bem calçadas de pedras</p><p>pequenas"-admirou, em 1699, William Dampier.38 "Grande entrepos</p><p>to comercial", notou ainda o viaj ante inglês : "fazendas finas e gros</p><p>seiras em abundância ; roupas feitas, farinhas, óleo, vinhos, queijos e</p><p>manteiga, ferro, obj etos manufaturados, sobretudo em estanho. As</p><p>carnes salgadas tinham grande procura".</p><p>Um engenheiro hábil, João Coutinho, vindo de Pernambuco em</p><p>outubro de 1684,39 planej ou a melhoria ou reconstrução das fortalezas,</p><p>que completasse o sistema defensivo da Bahia, o mais importante destas</p><p>Américas. As suas plantas-aprovadas pelo Conselho Ultramarino</p><p>-serviram de base às obras realizadas no decênio seguinte, pelo</p><p>Governador D. João de Lencastro.</p><p>A civilização, porém, segue de perto a conquista do solo. Não bas</p><p>taram os conventos de Sergipe do Conde, São Francisco do Paraguaçu</p><p>e Cairu.</p><p>O Padre Alexandre de Gusmão ousou levantar, perto de Cachoeira,</p><p>um seminário e a sua igrej a ( de Belém) com o aparato e o primor das</p><p>melhores da capital ( 1686 ) .'0 Logo depois os carmelitas, chamados ao</p><p>pôrto de Cachoeira pelo Coronel João Rodrigues Adôrno, lançaram os</p><p>fundamentos ao seu amplo hospício ( 1688 ) . n</p><p>HIGIENE E DEFESA-A epidemia de 1686 obrigou govêrno e verea</p><p>dores a cuidarem da limpeza e higiene urbana. "Dizem-me que são pou</p><p>cos os ( lugares ) que nesta cidade há donde não haj a monturos, sendo o</p><p>pág. 134. Sôbre as missas da madrugada, vol, li, eap. X, nota 10.-35. MARIA</p><p>DE LOURDES BELCHIOR PONTES, Frei A n tônio das Chagas. Um Homem e um Estilo</p><p>no Século XVTT, pág. 28, Lisboa, 1953.-36. TAUNAY, "Na Bahia Colonial", in</p><p>Rev. do Inst . Hist. , CXLIV, pág. 272. Observa TAUNAY, que êsse francês pode</p><p>ter sido um recopilador de notícias, ou pseudônimo . . . O livro é de 1722.-37. Idem,</p><p>ibid., pág. 291. A frota de De Gennes ancorou no pôrto da Bahia em 20 de</p><p>junho de 1696.-38. Idem, ibid., pág. 301 .-39. Does. Hist . , XXXII, pág. 229.</p><p>Câmara Coutinho, em 1691, queixou-se da falta de engenheiro e quis provar que</p><p>a praça não era susceptível de assédio, devendo confiar nos peitos dos soldados,</p><p>não em fortalezas, inúteis, Rev . do Inst. Htst., LXXI, pág. 42. Previu que, cortado</p><p>o abastecimento do mar e do sertão, não poderia manter-se.-40. Vid. NUNO</p><p>MARQUES PEREIRA, O Peregrino da Amérwa, I, pág. 62, ed. da Academia Bra</p><p>sileira, notas de AFRÂNIO PEIXOTO, RODOLFO GARCIA e PEDRO CALMON .-41. Vid.</p><p>História do Brasil - Século XV li 8 1 1</p><p>Terreiro o maior dêles-declarou à Câmara D. Fr. Manuel da Ressurrei</p><p>ção, em 30 de outubro de 1688. A corrução de todos infecciona os ares,</p><p>e sendo antes benignos são hoje os que pervertem a saúde, e ajudam</p><p>mais eficazmente a malignidade que quase faz contagiosas as</p><p>doenças."42</p><p>Contribuía para a insalubridade a grossa importação de negros da</p><p>África com tôdas as mazelas e febres que os consumiam nos seus climas</p><p>doentios. Eram tantos que os j esuítas se aplicavam a estudar-lhes a</p><p>língua : "a etiópica, com que só nesta cidade se doutrinam e catequizam</p><p>vinte e cinco mil negros, não falando no infinito número dos de</p><p>fora".43</p><p>FR. TOMÁS MARGALW, Rev. do lnst. Hist, da Bahia, n.0 54, pág. 28.-42, Anais</p><p>do Arq. Públ. da Bahia, VIII, pág. 11. Foi a epidemia da "bicha" que induziu</p><p>à criação da vigilância sanitária dos portos ( inspeção dos navios no Brasil e em</p><p>Portugal ) e outros trabalhos que preconizam a higiene nestes climas.-43. VIEmA,</p><p>Sermões, V, pág. 349.</p><p>812 Pedro Calmon</p><p>NEGRA MONJOLO</p><p>Desenho de Rugendas.</p><p>A SÉ DE BELÉM DO PARA. ( Risco de Alexandre Rodrigues Ferreira, 1787 ) ,</p><p>estado atual. Fotografia do arquivo da Faculdade Nacional de Arquitetura.</p><p>R:ll:DE DE TRANSPORTE, D E USO EM PERNAMBUCO E BAHIA (século</p><p>XVII ) . Reprodução de gravura de Zacarias Wagener ( 1643 ) . Do arquivo da</p><p>Prefeitura Municipal do Recife.</p><p>XXI I I - PROSPERAM AS C APITANIAS</p><p>SERGIPE</p><p>As guerras holandesas destruíram o melhor do esfôrço português</p><p>entre o rio Real e o cabo de São Roque. Mais sofreram Sergipe e</p><p>Rio Grande do Norte, cuj a riqueza pecuária foi dissipada ou remo</p><p>vida, com a depredação dos ralos núcleos de povoamento duplamente fla</p><p>gelados, pelos invasores e pelos defensores da terra. A zona de criação</p><p>aquém do São Francisco tivera a maior importância até o período agudo</p><p>daquelas lutas. Currais numerosos, "de que se sustenta a mesma Bahia</p><p>e Pernambuco",1 ocupavam a região em pouco tempo devastada, e prà</p><p>ticamente sem povoação alguma de pé, em 1650, quando o govêrno-geral</p><p>se decidiu a auxiliar a reconstrução da "cidade" de São Cristóvão. Es</p><p>creveu o Conde de Castelo Melhor ao Capitão-Mor Baltasar de Queirós :</p><p>"Desej ando eu que essa cidade se reedifique e a capitania se aumente</p><p>de maneira que brevemente se restitua a seu antecedente ser, e felici</p><p>dade'? o limite desta devia ser ao sul o rio Japaratuba, e ao norte</p><p>a capitania do rio de São Francisco.3 Os moradores de Sergipe queriam</p><p>cobrar as fintas de passagem do São Francisco, o que se lhes impediu,</p><p>por caberem já à vila de Penedo. Deu-se-lhes em compensação as do</p><p>rio Real, cuj o produto tinham de aplicar às obras da cidade.4 A nda</p><p>vam então exaltados os munícipes de São Cristóvão. Expulsaram o</p><p>vigário, amotinaram-se, prometeram outras violências acaudilhados</p><p>pelo Capitão Manuel Pestana de Brito. Foi aquietá-los um sindicante</p><p>I. Patente do Capitão Francisco de Góis, Does. Hist., XX, pág. 119.-2. lbid.,</p><p>111 , pág. 61 .-3. Carta de 26 de maio de 1651, ibid., pág. 111 .-4. Carta de 1 .0</p><p>de julho de 1651, ibid., pág. 124. A êsse tempo cabia a Sergipe a obrigação de</p><p>814 Pedro Calmon</p><p>enérgico, o Desembargador Bento Rebêlo ( 1656) . Estranhava o go</p><p>vernador-geral que tanta fôsse ali a "ambição de tabaco que se esque</p><p>cessem as roças",5 "pois o lucro das malhadas de fumo", para atenuar</p><p>a perda dos gados, causara, com a falta de farinhas, a escassez de ali</p><p>mentos . . . Acomodados em 1657, os sergipanos voltaram a rebelar-se</p><p>em 1671, pondo fora da vila o Capitão José Rebêlo Leite, que foi subs</p><p>tituído por João Munhoz, o primeiro a levar da Bahia instruções pelas</p><p>quais devia reger a capitania.6 Viu-a Gregório de Matos ( 1690 ? ) e</p><p>descreveu a "cidade de Sergipe del-Rei".</p><p>Três dúzias de casebres remendados,</p><p>Seis becos de mentrastos entupidos,</p><p>Quinze soldados rotos e despidos,</p><p>Doze porcos na praça bem criados.</p><p>Dous conventos, seis frades, três letrados,</p><p>Um juiz com bigodes sem ouvidos,</p><p>Três presos de piolhos carcomidos,</p><p>Por comer dous meirinhos esfaimados.</p><p>Farinha de pipoca, pão que greta,</p><p>De Sergipe del-Rei esta é a cidade.7</p><p>AS ALAGOAS-A capitania de São Francisco, as Alagoas e o rio de</p><p>São Miguel formavam três distritos unidos na j urisdição de um coronel</p><p>das Ordenanças, Luís do Rêgo Barros, em 1674.8 A primeira abrangia</p><p>Penedo e o sertão da margem esquerda, que voltara a encher-se de cur</p><p>rais, a ponto de serem inumeráveis os gados-de ordinário transportados</p><p>para a Bahia-ao começar o século XVIII. Pelo São Francisco acima,</p><p>"até as povoações dos Rodelas, e pelo rio Panema acima, Comunati, Cam</p><p>pos</p><p>para a França ( 1 . 0 de fevereiro de 46) e daí, com cartas</p><p>valiosas, para Haia, onde gastou três meses em conversações sutis.</p><p>É quando entra em cena o astuto Gaspar Dias Ferreira, cristão-novo</p><p>que enriquecera no Recife durante o domínio de Nassau e, seu amigo,</p><p>o acompanhara à Holanda.</p><p>Deve-se ao seu entusiasmo pelo príncipe a obra de Barleo, Rerum</p><p>per octennium . . . Naturalizado holandês, a 4 de fevereiro de 45, em</p><p>20 de j ulho do mesmo ano-inquieta e sagaz-encaminhou a D. João</p><p>IV, como se fôra um milagroso remédio, a sua fórmula comercial de</p><p>matar a questão do Brasil: comprando-o. Raciocinava em têrmos con</p><p>tábeis. Em perigo de perder tudo, a Companhia acabaria cedendo, por</p><p>dinheiro. O problema consistiria no preço. Coube ao Padre Vieira</p><p>opinar a respeito. Que sim ; que se dessem 3 milhões de cruzados em</p><p>VALHO DA COSTA, Corografia Portuguêsa, II, pág. 212. Passara à índia duas vêzes.</p><p>Foi capitão de Diu e general das armadas de alto bordo ; e goYernou a fndia após</p><p>a morte do Vice-Rei Pedro da Silva, até a chegada do Cond-:J d'Aveiras. Depois</p><p>do govêrno do Brasil, D. ANTÔNIO CAETANO DE SousA, História Genealógica da</p><p>Casa Real, V, pág. 231, Lisboa, 1745, foi alferes-mor na coroação de Afonso VI</p><p>e vice-rei da índia em terceira viagem. Faleceu a bordo, em 1657. O título de</p><p>694 Pedro Calmon</p><p>prestações de 500 e 600 mil, a trôco de tudo aquilo.4 Nem se dissesse</p><p>que faltava moeda. Bastava perdoar aos judeus . . . O subôrno de Ho</p><p>landa começaria com a aliança da sinagoga. "Naquela república tudo</p><p>é venal."5</p><p>Os sucessos de 1647, entretanto, animaram os flamengos para maio</p><p>res exigências ; e em vez de se deixarem enganar com essa tentação,</p><p>trataram de socorrer Segismundo com outra esquadra (que fizesse fren</p><p>te à do Conde de Vila Pouca) . Para governar Pernambuco, manda</p><p>riam de novo Nassau.</p><p>Entrou aí o ardil de Gaspar Dias. Por seu intermédio logrou o</p><p>embaixador falar ao conde. E tais promessas fêz, que êste exagerou</p><p>as condições que impunha à Companhia, a ponto de não poder ela</p><p>retomá-lo a seu serviço. Satisfez-se, com a nomeação de von Schkoppe</p><p>para o supremo comando-e aquela esquadra, que lhe custou enormes</p><p>sacrifícios. Conta-nos Vieira: "Ajuntaram-se a isto as despesas de</p><p>muitos socorros particulares e de duas grandes armadas, a de Segis</p><p>mundo que custou melhor de trinta e três tonéis de ouro, e a de Wit</p><p>Wits6 que custou quarenta e sete, que fazem da nossa moeda a soma</p><p>de quatro milhões de cruzados." 7</p><p>D. João IV, por sua vez (não podendo expedir mais navios, além</p><p>dos que levara o Conde de Vila Pouca) mandou um general : Francisco</p><p>Barreto.</p><p>O GENERAL-Empossou-se Vila Pouca no govêrno da Bahia em 26 de</p><p>dezembro.</p><p>Antônio Teles voltou a Portugal no galeão Santa Margarida-que</p><p>se perdeu ( e com êle o grande político dos acontecimentos que vimos</p><p>descrevendo) na costa de Boarcos, num naufrágio memorável.8</p><p>Fizera o rei constar que o castigaria. Talvez o próprio Teles via</p><p>jasse com o pêso dêsse desgôsto ( apregoado pelos conselheiros que,</p><p>como o Padre Vieira, lhe atribuíam as calamidades, esquecendo os su</p><p>cessos) . Mas que se tratava de uma comédia-cuj o segrêdo possuíam</p><p>os embaixadores na Haia e em Paris-não deixa dúvida a correspon</p><p>dência de Sousa Coutinho.9 Seria condenado, para que corressem</p><p>conde é de 1647, SANCHES DE BAENA, Famílias Titulares e Grandes de Portugal,</p><p>11, pág. 757.-4. GARCIA, nota a VARNHAGEN, História Geral do Brasil, III , págs.</p><p>84-85, resumindo a Correspondência de Sousa Coutinho, edição de E. PRESTAGE,</p><p>Coimbra, 1926. Sôbre Gaspar Dias Ferreira, o amigo de Nassau ( e de Barleo) ,</p><p>curiosa figura de tratante internacional, vid. PEREIRA DA COSTA, Anais Pernam</p><p>bucanos, IV, págs. 388-389. Lisboeta, em Pernambuco em 1618, casou com a filha</p><p>da viúva D. Isabel Cardoso, senhora de engenho, e aderindo aos holandeses, se</p><p>beneficiou com o confisco de várias propriedades, entre estas a do mosteiro de</p><p>São Bento da Paraíba. Condenado na Holanda como traidor, em 1646, fugiu da</p><p>prisão e foi acolher-se a Portugal, sob a proteção de D. João IV. Aí se achava em</p><p>1652.-5. J. Lúcio D'AZEVEDO, Hist. de Antônio Vieira, I, pág. 107.-6. Witte</p><p>Corneliszoon de With.-7. Op. cit., I, pág. 245.-8. JosÉ DE MIRALLES, "História</p><p>Militar do Brasil", in Anais Bibl. Nac., XXII, pág. 145 ; e D. FRANCISCO MANUEL,</p><p>Epanáforas, pág. 592.-9. Correspondência, pág. 160-161. Veja-se, aliás, a de An</p><p>tônio Teles para D. João IV, ainda em dezembro de 47 e j aneiro de 48, em que</p><p>História do Brasil - Século XVII 695</p><p>melhor as negociações : e de fato premiado, tanto que se restaurasse</p><p>Pernambuco. Sepultou-se no oceano o seu mistério.</p><p>Varias queixas recebera, entretanto, o Conselho Ultramarino, de</p><p>desacertos e parcialidades de Fernandes Vieira.</p><p>Temeu-se que se dividissem os rebeldes em grupos inconciliáveis.</p><p>O jeito era enviar para "aquela campanha mestre-de-campo-general e</p><p>um auditor que governassem a guerra e justiça". Despachou o rei :</p><p>"Parta Francisco Barreto." Nomeado em 12 de fevereiro de 47, partiu</p><p>com o Dr. Simão Álvares de Lapenha, pernambucano e cunhado do</p><p>Padre Vieira.1 0 Conhecia o país, soldado que fôra da armada do Conde</p><p>da Tôrre, alistado na retirada de Luís Barbalho ; e portara-se brilhan</p><p>temente no Alentej o, "ilustre em sangue e espírito" ( elogiou-o D. Fran</p><p>cisco Manuel ) P-com a vantagem de saber a sua arte. Era, no rigor</p><p>da palavra, um general.</p><p>Representaria enfim o rei na guerra de que sistemàticamente se</p><p>omitira.12</p><p>A viagem foi que não lhes correu feliz.</p><p>Tomado pelos holandeses o patacho em que vinham, conduziram-nos</p><p>ao Recife, onde ficaram presos. O auditor pôde ser resgatado. Nove</p><p>meses esperou Barreto por sua oportunidade. Um belo dia fugiu com</p><p>o filho do carcereiro, Francisco de Brá13 e o francês Jean Voltrin.</p><p>mostra a sua alegria pelo insucesso de Segismundo, obrigado a largar Itaparica</p><p>(Cartas de João IV ao Marquês de Niza, citadas ) -e não deixam supor o falado</p><p>ressentimento do rei, contra o governador.-10. Filho de Manuel Alves, nasceu</p><p>em Pernambuco, formou-se em 1633, FRANCISCO MoRAIS, Estudantes da Universi</p><p>dade de Coimbra Nascidos no Brasil, pág. 15, Coimbra, 1949, casou com a irmã</p><p>do Padre Vieira, D. Leonarda, e em sua companhia, de um filho e quatro filhas,</p><p>desapareceu num cruel naufrágio em 1663, Cartas, li, pág. 247. Acrescentou ao</p><p>nome Deus-Dará, Does. Hist., IV, pág. 220.-11. Op. cit., pág. 592. Sôbre o motim</p><p>que precipitou a nomeação do general ( contra Fernandes Vieira ) , DIOGO LOPES</p><p>DE SANTIAGO, História da Guerra de Pernambuco, pág. 542.-12. Nasceu em</p><p>Callao, Peru, 1616, e faleceu em Lisboa em 1688, GARCIA, nota a VARNHAGEN, III,</p><p>pág. 108. "Havendo ido servir àquela conquista (Brasil ) como soldado particular</p><p>e com as poucas assistências de um filho natural de pai não demasiadamente</p><p>rico", diz PEDRO SEVERIM DE NORONHA em D. Afonso VI, ed. de E. BRASÃO, pág.</p><p>187. Reivindicou porém a quinta da Quarteira alegando "foi sempre brasão maior</p><p>de meus pais e avós", Does. Hist., IV, pág. 403. Não assinava Meneses, como</p><p>aparece no nome paterno, Anais da Bibl. Nac., LVIII, pág. 119. Há retrato seu</p><p>na Galleria degli Uffizi, Florença, cuja cópia o Visconde de Paraguaçu ofereceu</p><p>à Câmara da Bahia. Vid. também P. CALMON, Francisco Barreto, Lisboa, 1940.-</p><p>13. Em carta de 19 de maio de 48 conta FILIPE BANDEIRA DE MELO ( que viera</p><p>com o general ) a detenção e a fuga, dizendo que o filho do carcereiro roubou as</p><p>chaves ao pai, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Tomou-o Barreto sob a sua proteção.</p><p>Subiu Francisco de Brá aos maiores postos da hierarquia militar e casou na</p><p>aristocracia baiana, JABOATÃO, Cat. Geneal., tít. "de Brá". Era "de Roterdã, filho</p><p>de Jaques de Brá natural da mesma cidade e D. Ana de Brá, da cidade de Nantes",</p><p>Livro de Irmãos da Mis. da Bahia, têrmo de 24 de julho de 1674, ms. inéd. Barreto</p><p>proclamou-o "instrumento da minha liberdade", Does. Hist., XIX, pág. 176. Foi</p><p>alferes no arraial de Bom Jesus, patente de 26 de outubro de 1652, capitão em</p><p>�RETRATO</p><p>do Buíque, Campos de Garanhuns'',9 se distanciavam os vaqueiros</p><p>dos núcleos agrícolas de Pôrto Calvo e Serinhaém, incluídos no</p><p>ambiente social da "várzea". Os engenhos de açúcar sofreram o flagelo</p><p>da "guerra dos Palmares" : só se libertaram da vizinhança e influência</p><p>dos Mocambos em 1694. A criação da comarca das Alagoas-separada</p><p>de Olinda-justificou-se em seguida pelo povoamento do território en</p><p>tre as Alagoas do Norte e Pôrto Calvo e o pôrto de Penedo.10 Perto,</p><p>socorrer a guarnição da Bahia com trezentas reses, ibid., pág. 139.-5. Ibid.,</p><p>pág. 380. No mesmo volume estão as peças documentais relativas às alterações</p><p>de 1656.-6. Ibid., IV, pág. 158. As instruções são de 18 de julho de 1671.-</p><p>7. Op, cit., IV, pág. 70. É comparar com o sonêto sôbre o Rio Grande do Sul</p><p>no século XVIII : "tectos de erva, paredes de pântano". No códice de Évora, o</p><p>sonêto sôbre Sergipe é atribuído a GONÇALO SOARES, Brasília, I, pág. 561, e tem</p><p>versos diferentes, lembrando glosas ao mesmo tema.-8. ANTÔNIO JOAQUIM DE MELO,</p><p>Biografia de João do Rêgo Barros, págs. 32-35. Em 1654 deixou o cargo de ca</p><p>pitão-mor das Alagoas André Gomes, substituído por Luís dos Santos, Does. Hist.,</p><p>XVIII, pág. 255.-9. CRAVEIRO COSTA, História das A lagoas, pág. 63, São Paulo,</p><p>1928.-10. ROCHA PITA, op. cit., pág. 352. Já em 1671 Alagoas podia fornecer</p><p>4 mil sírios de farinhas para a Bahia, Does. Hist., IX, pág. 428. O convento</p><p>franciscano de Penedo, projetado em 1657, oratório em 1660, começou a ser</p><p>História do Brasil - Século XVII 815</p><p>TABA INDíGENA : DAN ÇA DE M ULHERES, sacrifício de prisioneiros, em gra</p><p>vura do livro de Léry ( 1592 ) .</p><p>no São Francisco, dando nome à cachoeira, havia em 1704 a "Tapera de</p><p>Paulo Afonso" ; e uma barca, no Juàzeiro, servia aos viajantes.</p><p>RECIFE E OLINDA-Pernambuco refez-se depressa dos estragos e da</p><p>miséria que atrás de si deixaram os holandeses.11</p><p>Teria Olinda de renascer-de suas ruínas tostadas de vários incên</p><p>dios. Reduzira-se o Recife a alguns bairros de mercadores terrivelmen</p><p>te depredados, que não dariam idéia da prosperidade de outrora. Da</p><p>levantado em 1682 e em 94 já podia abrigar os religiosos ; tornou-se, à imagem do</p><p>São Francisco um marco de civilização, vid. FREI JABOATÃO, Novo Orbe Seráfico,</p><p>2.a parte, 11, págs. 603-605, Rio, 1861. Da tapera de Paulo Afonso trata Does.</p><p>Hist., XL, pág. 125.-1 1. Os holandeses, desistindo do Brasil, agasalharam-se</p><p>em outros climas. Não pôde Portugal evitar que lhe tomassem Malabar e Co</p><p>ramendel, na índia. Muitos judeus holandeses saíram de Pernambuco com escravos</p><p>e sócios para se estabelecerem na Guiana e nas Antilhas-onde criaram uma</p><p>indústria açucareira semelhante à que tinham abandonado. Com igual sistema de</p><p>trabalho, o mesmo tipo de exploração rural, da várzea pernambucana, cf. LIPP-</p><p>8 16 Pedro Calmon</p><p>Mauricéia, pouco ou nada restava. "Arrasaram êles ( os holandeses )</p><p>aquela parte da mesma cidade que edificaram, que podia ser útil às</p><p>armas de Vossa Maj estade, só por conservarem o Recife."12 De pé,</p><p>ficavam as igrejas profanadas . O primeiro trabalho consistiu em rea</p><p>parelhá-las, fazendo-se simultâneamente outras para as exigências do</p><p>culto, agora que o exacerbava o triunfo sôbre o "herege". Instalou-se</p><p>na do Corpo de Deus, transformada pelos invasores em templo protes</p><p>tante, a matriz do Recife. Nela fôra sepultado em 1639 o sobrinho de</p><p>Nassau, João Ernesto. Seu primeiro vigário chamou-se Manuel Dias</p><p>de Carvalho. Ganharam os jesuítas ( ordem régia de 26 de abril de 55)</p><p>bom sítio para o novo colégio : onde houvera a igrej a de calvinistas</p><p>franceses. Voltaram os franciscanos ao convento de Santo Antônio,</p><p>fundado na sua ilha em 1606.13 Os capuchinhos franceses, tolerados</p><p>pelos flamengos, começaram a estabelecer-se ( 1656 ) no terreno doado</p><p>pelo Capitão Belchior Alves Camelo. É possível que êste benfeitor, ca</p><p>pitão-mor do São Francisco, os atraísse às missões no grande rio. Tais</p><p>obras,14 por outro lado, asseguravam ao Recife a continuidade. Em</p><p>detrimento de Olinda, protestaram os senhores de engenho, a quem re</p><p>pugnava a povoação do pôrto, com a ganância dos mercadores e a sua</p><p>tradição flamenga, em contraste com a largueza (e o ar nobre) da sua</p><p>vida rural . Não tardou o conflito-à roda dêsse problema-entre o Go</p><p>vernador-Geral Francisco Barreto, partidário da conservação do Re</p><p>cife, e André Vidal de Negreiros, homem de sua classe, que preferia a</p><p>restauração de Olinda.15</p><p>RESTA URAÇÃO DA VILA ANTIGA-Aprovou el-rei a mudança "do</p><p>dito governador (Vidal) para a vila de Olinda, sem embargo de se fazer</p><p>sem aprovação minha e encomendar-vos muito, como ora faço, que com</p><p>todo cuidado mandeis tratar da conservação do Recife", onde ficava</p><p>a alfândega, com a infantaria.16 Pode ler-se o seu nome no fragmento</p><p>MANN e SOMBART, J. LÚCIO D'AZEVEDO, Épocas de Port1tgal Econômico, pág. 273.</p><p>No Museu Britânico : memoriais de Manuel Martins Domido ( David Abramanel )</p><p>judeu espanhol, arruinado com a capitulação do Recife, de 1654, em que pedia</p><p>a Cromwell acolhesse os judeus na Inglaterra, OLIVEIRA LIMA, Relação dos Ma</p><p>nuscritos, pág. 33.-12. FERNANDO PIO, O Convento de Santo Antônio do Recife,</p><p>pág. 45, Recife, 1939.-13. Vid. PEREIRA DA COSTA, op. cit., 111 , pág. 401.-Se</p><p>guiram-se : 1672, hospício de São Filipe Néri ; 1678, convento do Carmo ; 1689,</p><p>igreja do Espírito Santo, dos jesuítas, junto do Colégio ; 1708, Conceição dos</p><p>oratorianos, SEBASTIÃO DE VASCONCELOS GALVÃO, Dicionário Corográfico, His</p><p>t6rico e Estatístico de Pernambuco, 2.a ed., pág. 30. A excelente capela dos Ter</p><p>ceiros é de 1696, FERNANDO PIO, A Ordem a.a de São Francisco do Recife e</p><p>Suas Igrejas, pág. 11, Recife, 1938. Em Olinda, a restaurada igreja dos jesuítas,</p><p>hoje do Seminário, ostenta a data, sôbre o altar-mor : 1667. O palácio dos gover</p><p>nadores, como diremos, foi de 1666.-14. Leia-se PEREIRA DA COSTA, op. cit., ' 111,</p><p>pág. 382 e segs.-15. Carta de Barreto a Vidal de Negreiros, 15 de julho de</p><p>1657, Does. Hist., IV, pág. 12. Dizia que a mudança para Olinda destruiria o</p><p>Recife, pois só havia gente para uma cidade. Aos "meios cavilosos" de Vidal</p><p>aludiu em carta ao Mestre-de-Campo D. João de Sousa, ibid., pág. 17, e submeteu</p><p>o caso ao rei, ibid., pág. 308, que o resolveu conciliatoriamente : aprovou a mu</p><p>dança, mas sem abandonar o Recife.-16. lbid., LXVI, pág. 288. Interpretamos as</p><p>Hist6ria do Brasil - Século XVII 817</p><p>RAINHA D. CATARINA DE INGLATER</p><p>RA, FILHA DE D. JOÃO IV. Retrato de I.</p><p>Haysmans. Lima Library, Catholic Univer-</p><p>sity, Washington, U. S. A.</p><p>da pedra comemorativa da</p><p>construção da casa do govêr</p><p>no em O linda (que se guarda</p><p>no Instituto Arqueológico</p><p>Pernambucano ) . Como outra</p><p>lápide provinda do mesmo</p><p>edifício tem a data de 1666,</p><p>entre ambas, 1657 e 1666, se</p><p>situa o reerguimento da velha</p><p>capital de Duarte Coelho, da</p><p>Nova Lusitânia de Bento Tei</p><p>xeira. Ali e não no Recife en</p><p>frentou André Vidal a cólera</p><p>do seu general das passadas</p><p>batalhas-e o povo descon</p><p>tente depôs Jerônimo de Men</p><p>donça Furtado, como se dirá.</p><p>L UTA DE J URISDIÇõES</p><p>Desavindos a propósito da</p><p>transferência da sede do go</p><p>vêrno, entraram Barreto e</p><p>Vidal em luta aberta quanto</p><p>às nomeações para os lugares</p><p>da tropa. Competiam ao go</p><p>vernador-geral na Bahia, sus</p><p>tentava o primeiro ; e queria,</p><p>obstinado, o segundo que</p><p>continuasse isso na sua j urisdição. Como não se entendessem, decidiu</p><p>abruptamente Barreto suspender das suas funções André Vidal ; e</p><p>remeteu para substituí-lo ( com ordem de recorrer às armas se</p><p>necessário) o Mestre-de-Campo Nicolau Aranha Pacheco (o mesmo que</p><p>lhe servira de alferes no comêço da guerra patriótica) . O Desembargador</p><p>Cristóvão de Burgos foi encarregado de instaurar o respectivo processo.</p><p>Prudente, o paraibano reconheceu a autoridade do governador-geral,</p><p>antes que a desinteligência descambasse para a rebelião ; e por sua vez</p><p>a côrte reprovou duramente a energia descompassada de Francisco</p><p>Barreto. Serviu o episódio para reafirmar a hierarquia administrativa,</p><p>que sobrepunha aos capitães-generais</p><p>das capitanias o governador-geral</p><p>do Brasil.17</p><p>letras que restam na pedra do palácio de Olinda conservada no Instituto Arqueológi</p><p>co : "Aedif . . . as Vida! . . . ".-17. FERNANDES GAMA, Memórias Históricas da Provín</p><p>cia de Pernambuco, IV, pág. 18 ; MIRALLES, op. cit., págs. 147-148, Does. Hist., IV,</p><p>pág. 369 ( ordem para a retirada dos ministros mandada por Barreto ) , Anais do Arq.</p><p>Púb l. da Bahia, XIII, pág. 99 (patente de Nicolau Aranha ) , Does. Hist., LXVI,</p><p>pág. 161 ( estranheza da rainha ) , narração de Barreto (Boletim do Arquivo His</p><p>tórico Militar, VI, págs. 148-155, Vila Nova de Famalicão, 1936 ) . O governador-</p><p>BIS Pedro Calmon</p><p>BRITO FREIRE-A André Vidal, nomeado governador de Angola,</p><p>sucedeu no govêrno de Pernambuco ( 26 de janeiro de 166 1 ) o ilustre</p><p>Francisco de Brito Freire. Na qualidade de segundo e primeiro coman</p><p>dante da frota de 1653 e de 1655 estivera no Brasil. Tinha missão</p><p>complementar e secreta, como lhe recordaria o Padre Antônio Vieira.</p><p>"Lembro-me agora de quando a rainha-mãe, por conselho dos Condes</p><p>de Cantanhede e Soure, enviou a V. s .a não só a governar Pernambuco,</p><p>mas para prevenir a seus filhos uma retirada segura no caso em que</p><p>algum sucesso adverso, que então muito se temia, necessitasse dêste úl</p><p>timo remédio. E também V. s .a estará lembrado de que S. M. me mandou</p><p>passar do Maranhão, onde então estava, para assistir a V. s .a e se</p><p>seguir o roteiro que el-rei, que Deus tem, tinha prevenido, como tão</p><p>prudente, para o caso de semelhante tempestade, e se achou depois de</p><p>sua morte em uma gaveta secreta rubricada de sua real mão com três</p><p>cruzes . . . v. s .a me guardará segrêdo."18</p><p>Nesta precaução se ocultava uma idéia, espécie de talismã da di</p><p>nastia de Bragança : o Brasil, se faltasse Portugal. Acariciou-a D.</p><p>João IV, como nos revela o seu confessor ; alimentou-a D. José I ; rea</p><p>lizou-a D. João VI. Estava na "gaveta secreta" da família . . . Que</p><p>de admirar, pois, se na sua administração pernambucana Francisco de</p><p>Brito exorbitou, subordinando a ela as capitanias vizinhas, como lhe</p><p>estranharam os governadores-gerais, empenhados depois em que estas</p><p>se conservassem desligadas do Recife e submetidas à sede do Estado,</p><p>que era a Bahia ? O vice-rei Conde de óbidos nisto se mostrou intran</p><p>sigente. Em carta ao governador de Pernambuco (26 de abril de 1664 )</p><p>-Francisco de Brito deixou o poder em 5 de março-acentuou que</p><p>na jurisdição dêle cabiam apenas "as capitanias anexas", "Pôrto Calvo,</p><p>Serinhaém, Lagoas e Rio de São Francisco, porém, teriam capitães</p><p>mores". Itamaracá, cuj o donatário era o Marquês de Cascais, passara</p><p>à coroa após a restauração de Pernambuco : portanto fugia àquele do</p><p>mínio. "A j urisdição que Francisco de Brito Freire (a quem Vossa</p><p>Mercê sucedeu ) quis ter na Paraíba e Rio Grande, fundado também</p><p>nessa palavra comum, das mais capitanias anexas, ocasionou mandar</p><p>el-Rei meu Senhor escrever a Francisco Barreto a carta, cuj a cópia</p><p>enviou a V. Mercê, estranhando-lhe deixar perder a sua j urisdição e</p><p>consentir que um súdito seu pretendesse entrar nela."19</p><p>geral manteve a sua competência de prover os postos da fôrça paga.-18. Carta</p><p>de 24 de junho de 1691, Cartas, li, pág. 323. FRANCISCO DE BRITO FREIRE ilus</p><p>trou-se com a História da Guerra Brasílica (por êle testemunhada no seu último</p><p>episódio ) , decalcada aliás das Memórias Diárias da Guerra do Brasil, de DUARTE</p><p>DE ALBUQUERQUE COELHO. Recusou-se a obedecer ao Príncipe Regente D. Pedro</p><p>quando o mandou conduzir o rei deposto, D. Afonso VI, ao castelo da ilha Ter</p><p>ceira, e desgostoso se recolheu ao Colégio dos Jesuítas, onde o prendeu a justiça.</p><p>Mas por um mês apenas. Viveu em silêncio o resto da honrada existência. Faleceu</p><p>em 8 de novembro de 1692, EDGAR PRESTAGE, D. Francisco Manuel de Melo, pág.</p><p>273, Coimbra, 1914.-19. Does. Hist., XI, pág. 165. Carta da rainha, 26 de janeiro</p><p>de 1662, declarou que Paraíba e Rio Grande "não podiam ser nunca da juris</p><p>dição de Pernambuco", ibid., LXVI, pág. 179. O Conde de óbidos era primo do</p><p>História do Brasil - Século XVII 819</p><p>MúMIA DE UM CHEFE COROADO. Os índios coroados habitavam nas planícies</p><p>às margens do rio Paraíba ; eram quase todos civilizados. Enterravam os caciques</p><p>em grandes vasos de barro chamados camucis ou igaçabas, com suas insígnias e de</p><p>cócoras, parecendo conservar a posição do índio que descansa. Desenho de Debret.</p><p>Bem governara, porém, o honrado fidalgo.</p><p>O "XUMBERGA"-Não foi assim Jerônimo de Mendonça Furtado.2o</p><p>Impopularizou-se, malquisto dos personagens da terra ; ofendeu os</p><p>melindres da Câmara de O linda ; alienou a simpatia dos militares</p><p>veteranos, como os chefes dos dois terços, Antônio Dias Cardoso e D.</p><p>João de Sousa.</p><p>É compreensível a conspiração que o pôs fora do govêrno : traduzia</p><p>o sentimento nativista, no orgulho da gente pernambucana ainda pró</p><p>xima dos gloriosos acontecimentos de 1645. As cóleras que explodiram</p><p>em 1710, na "guerra dos mascates", esboçam-se, prévias, na agitação</p><p>de 1666. André Vidal, imbuído do espírito dos senhores de engenho da</p><p>região, recuara com prudência na sua política de "autonomia" : e cedera.</p><p>Os olindenses foram mais longe : prenderam o mau governador, que</p><p>lhes fizera o serviço de instalar novamente na sua vila, coberta de</p><p>destroços, a sede da capitania.21</p><p>O pretexto foi a permanência no pôrto de uma frota francesa de</p><p>doze navios, procedente da ilha de São Lourenço, do mando do Mar</p><p>quês de Montevergue. Jerônimo de Mendonça tratou bem os viajantes,</p><p>com muitas festas, ao gôsto do tempo e do lugar, isto é, banquetes,</p><p>cavalhadas e serenins . Vereadores e militares tomaram a cordialidade</p><p>por traição, vendo o propósito-ao que se espalhou-de meter estran</p><p>geiros na terra, e se conluiaram, para depor o "Xumberga", o j uiz</p><p>novo Governador Jerônimo de Mendonça Furtado, e escreveu-lhe várias cartas,</p><p>proibindo intervenção sua em Itamaracá. Note-se que ambos exprimiam a política</p><p>do reino (D . Afonso VI ) e do Conde de Castelo Melhor, contrária à orientação</p><p>da rainha-mãe e seus ministros, cujo homem de confiança fôra Francisco de</p><p>Brito Freire. Mas o conde se queixou das desobediências do parente e pediu o seu</p><p>castigo, quando êle prendeu, e fêz embarcar, o Ouvidor Manuel Dinis da Silva,</p><p>cartas de outubro de 1664, Anais do Arq. Públ. da Bahia, VIII, págs. 4-7.-</p><p>20. Sôbre Jerônimo de Mendonça Furtado, apelidado o "Xumberga", por usar</p><p>bigodes tufados à maneira do General Schomberg, comandante das fôrças fran</p><p>cesas que auxiliaram Portugal em 1660, vid. RODOLFO GARCIA, art. in Revista do</p><p>Brasil, julho de 1938, e de quem RACINE nos dá a biografia, L'Oeuvre Historique,</p><p>"Oeuvres Completes", 11, págs. 270-274, Paris, 1952. "M. de Schomberg . . . était</p><p>le meilleur général qu'il y eut dans l 'Europe", Mme DE LA FAYETTE, Mémoires,</p><p>pág. 296, Paris, Ed. Flammarion. Diz-nos que o próprio Fernandes Vieira não</p><p>devia estimar o governador, porque o irmão dêste o processava pelo pagamento de</p><p>grossa quantia em mercadorias tomadas em Angola ; e D. João de Sousa o abor</p><p>recia, por sua interferência para que saldasse um compromisso em dinheiro.-</p><p>0 apelido "Xumberga" pode referir-se ao seu "francesismo". O Conde de óbidos</p><p>escreveu em 1664 : "me agradam mais os costumes da têmpera velha que os que</p><p>o vulgo chama de "xumberga", Does. Hist., XI, pág. 215 . E MONSIEUR D' ABLAN</p><p>COURT, M émoires, pág. 382, tanto se imitara o forasteiro que houve aviso : "Que</p><p>personne n'eut plus à l'avenir à vêtir ni à parer les Saints ni les Saintes à la</p><p>Schombergue."-21. Os padres da Companhia, carmelitas, beneditinos e francis</p><p>canos aprovaram muito a mudança e trataram de reerguer os seus conventos, cf.</p><p>R. GARCIA, Rev. cit. O "Xumberga" alegou que, por sua vez, levantara de novo</p><p>o recolhimento para mulheres, fundado outrora por Maria Rosa, viúva do Capitão</p><p>Pedro Leitão. É o repovoamento de Olinda. O Conde de óbidos, em carta de 29</p><p>de janeiro de 1664, deu à Câmara de Olinda parabéns por ter el-rei aprovado "a</p><p>mudança do Govêrno' . de Recife para aquela</p><p>vila, Does. Hist., IX, pág. 147. Avisou</p><p>História do Brasil - Século XVII 821</p><p>ordinário André de Barros Rêgo, Lourenço Cavalcanti e João Ribeiro,</p><p>membros da Câmara de Olinda, Domingos Dias Soeiro, procurador</p><p>desta, o secretário do govêrno Manuel Gonçalves Correia, João Batista</p><p>Accioli e João Gomes de Melo.</p><p>O golpe foi engenhoso.</p><p>Costumava o governador acompanhar o Viático, que, processional</p><p>mente, ia à casa dos enfermos cuja agonia se anunciava. Saiu na tarde</p><p>de 31 de agôsto ( 1666) o Santíssimo Sacramento às mãos do vigário</p><p>para um doente simulado ; e à volta, ao deixar a igrej a Jerônimo Fur</p><p>tado, lhe deram voz de prisão os conspiradores, e o transferiram para</p><p>o forte do Brum, donde foi remetido, na frota seguinte, para o reino .22</p><p>Depredaram além disso várias casas, e detiveram os amigos do gover</p><p>nador, a modo de expurgo, cuj a responsabilidade tomaram os dois mes</p><p>tres-de-campo de Pernambuco.</p><p>O vice-rei não mandou castigar o delito. Tendo a Câmara de Olin</p><p>da tomado o govêrno, à espera de quem fôsse provido nêle, nomeou An</p><p>dré Vidal de Negreiros ( empossou-se em 24 de janeiro de 1667) 23-</p><p>como filho do país, que se faria obedecer dos revoltosos. Aquietaram-se</p><p>êstes. Seis meses durou a administração apaziguadora do herói parai</p><p>bano, substituído por Bernardo de Miranda Henriques (que governou</p><p>até 28 de outubro de 1670) .</p><p>A época do "Xumberga" assinalou-se por outros males : a epidemia</p><p>de bexigas ( chamou-lhes o vulgo "xumbergas") , "e foi tão grande a</p><p>mortandade que o Pároco só não bastava para administrar os Sacra</p><p>mentos, sendo necessário que os Religiosos o coadjuvassem nesta piedosa</p><p>obrigação".24 O contágio andou por todo o Norte e fêz na Bahia</p><p>disto o governador em igual data, ibid., pág. 156.-22. RODOLFO GARCIA reporta-se</p><p>ao livro de SoucHu DE RENNEFORT, Histoire des Indes Orientales, Leide, 1688, que</p><p>descreve a passagem de Montevergue pelo Brasil e a deposição do governador.</p><p>:l!:ste continuou prêso em Portugal, donde fugiu para Espanha. Em 1674 entrou</p><p>na conjura em favor do deposto Rei Afonso VI, e, condenado à morte, teve comu</p><p>tada a pena em destêrro na índia, fim obscuro de sua carreira atribulada, FER</p><p>NANDES GAMA, op. eit., IV, pág. 20. Seu irmão, Luís de Mendonça Furtado, estivera</p><p>no Brasil em 1664, Does. Hist., VI, pág. 17 , e foi vice-rei da índia, 1671 a 77.</p><p>Morreu em trânsito pela Bahia, VIEIRA, Cartas, III, pág. 407 . Vid. também Mons</p><p>truosidades, II, pág. 127 e IV, pág. 78. A importância de Fernandes Vieira pode</p><p>aquilatar-se da carta que lhe mandou o Conde de óbidos em 1664, Does. Hist.,</p><p>XI, pág. 220. Era chefe natural da reação : "Da carta de João Fernandes Vieira . . .</p><p>se deixa bem ver", Anais do Arq. Públ. da Bahia, VIII, pág. 6. Possuía então 16</p><p>engenhos de açúcar ( 1668 ) , Does. Hist. , XXII, pág. 291 .-23. Em 30 de agôsto,</p><p>véspera da deposição do "Xumberga", escrevera-lhe o Conde de óbidos : "que o</p><p>que Vossa Mercê me diz de estar com as esporas calçadas esperando por sucessor,</p><p>creio que lhe não virá com a brevidade que Vossa Mercê o espera, senão quando</p><p>fôr gôsto de Vossa Mercê", Does. Hist. , IX, pág. 258 . Nomeou André Vidal em</p><p>10 de novembro de 1666 : "pois é minha esta escolha e nomeação"-comunicou-Ihe.</p><p>E à Câmara de Olinda : "terão Vossas Mercês entendido a eleição, que fiz em</p><p>André Vidal de Negreiros, para o govêrno dessa capitania e das mais anexas ;</p><p>porque fio dêle, que em tudo o que tocar ao serviço del-rei, etc.", ibid., págs. 264-</p><p>265 ; e PEREIRA DA COSTA, op. eit., IV, pág. 9 .-24. FERNANDES GAMA, op. eit.,</p><p>822 Pedro Calmon</p><p>UMA DAS MAIS IMPONENTES IGREJAS FRANCISCANAS : a do Convento de S. An</p><p>tônio, João Pessoa, Paraíba. Construção iniciada em 1591 e terminada em 1639. Fotogra</p><p>fia de Mareei Gautherot.</p><p>grande estrago.25 É compreensível isto-até pela ausência de medicina.</p><p>Ainda em 1670 o governador-geral escreveu ao do Rio de Janeiro :</p><p>"Vejo o que V. s.a diz sôbre o médico, quatro há nesta cidade, são poucos</p><p>para tão grande povo. Em Pernambuco havia um, e por lhe não pa</p><p>garem se veio também para a Bahia onde morreu."26</p><p>PARAÍBA-Mais depressa se reergueu a Paraíba, porque não a fla</p><p>gelaram, na zona litorânea, tapuias e escravos fugidos, como no Rio</p><p>Grande, no Ceará, nas Alagoas. Participava além disto da dupla van</p><p>tagem de ter engenhos de açúcar que voltaram a moer ( dezessete antes</p><p>da guerra e em 1666 "dezessete, se não forem mais" ) 27 e campos exce</p><p>lentes para os gados que os supriram-e a Pernambuco.</p><p>Um morador da Bahia, João Peixoto Viegas, logo em seguida à</p><p>restauração obtivera seis léguas em sesmaria e introduziu "grande</p><p>quantidade de gado que mandou levar desta capitania da Bahia" (por</p><p>não haver naquela) "pela distância de 180 léguas", "no que fêz notável</p><p>serviço e aumento às rendas de S. M. porque logo lhe ficou possível</p><p>pelos bois dêle suplicante a lavoura e fábrica dos engenhos d'açúcar</p><p>que se foram fazendo".28 Aos paraibanos não faltava orgulho nati</p><p>vista, com o sentimento da vitória recente. Para premiá-los mandara</p><p>Francisco Barreto a André Vidal, governador de Pernambuco, que en</p><p>viasse por guarnição à Paraíba duzentos soldados, mas naturais dela29</p><p>-numa homenagem feita às suas tradições e aos seus sacrifícios. Go</p><p>vernou-a em 1655 João Fernandes Vieira. Para suceder-lhe foi um</p><p>filho da terra, o velho Matias de Albuquerque Maranhão80- ( 1657-</p><p>1663) . Substituiu-o outro capitão-mor brasileiro, João do Rêgo Barros</p><p>( 1663-70) . Prosperou assim a capitania. Os beneditinos tornaram</p><p>para o seu convento com Frei Paulo do Espírito Santo, em 9 de junho</p><p>de 1655.81 Os j esuítas fundaram a missão do Pilar, de índios cariris,</p><p>em 1670. Dez anos depois criou a coroa a ouvidoria da Paraíba, com</p><p>j urisdição sôbre o Rio Grande e Itamaracá.32</p><p>IV, pág. 21 .-25. AcciOLI, op. cit., li, pág. 28. Morreram mais de 3 mil pessoas,</p><p>NUNO MARQUES PEREIRA, op. cit., li, pág. 112.-26. Does. Hist., VI, pág. 163.-</p><p>27. Carta do Conde de óbidos, 10 de outubro de 1666, ibid., IX, pág. 261, estra</p><p>nhando que os dízimos, que tinham caído de 11 a 3 mil cruzados, continuassem</p><p>assim reduzidos.-28. Does. Hist., XXI, pág. 459, prov. de 1664. Descobrimos na</p><p>Tôrre do Tombo o seu processo de habilitação no Santo Ofício, de que foi fa</p><p>miliar, a 2 de novembro de 1648, filho confirmado por S. M. do abade da Meadela,</p><p>Fernão Peixoto Viegas. Era genro do rico Cosme de Sá Peixoto.-29. Ibid., IV,</p><p>pág. 60.-30. Matias de Albuquerque casara no Rio, donde seguiu para a Paraíba,</p><p>empossando-se a 17 de outubro de 1657, FR. JABOATÃO, Cat. Geneal., tít. "Albu</p><p>querques". Depois se retirou o velho soldado para o seu engenho de Cunhaú, no</p><p>Rio Grande, onde morreu. Seus filhos Afonso e Lopo de Albuquerque Maranhão</p><p>foram sertanistas valorosos e quiseram-sem resultado-descobrir ainda uma</p><p>vez a prata de Belchior. Vid. JABOATÃO, op. cit., quanto à prole que lhe ficou.-</p><p>31. Cf. códice ms. no arq. do mosteiro de São Bento de Olinda, publicado pelo</p><p>Inst. Hist. Pern. em 1949. Em 1666 tomou posse da administração do convento</p><p>da Paraíba Frei João Gondim, Luís PINTO, Síntese Histórica da Paraíba, pág. 36,</p><p>Paraíba, 1939. Vid. em R. GABciA, nota a VABNHAGEN, V, pág. 325, a nominata</p><p>dos capitães-mores.-32. Does. Hist., XXIX, pág. 200.-33. Carta do Conde de</p><p>824 Pedro Calmon</p><p>F</p><p>O</p><p>R</p><p>T</p><p>A</p><p>L</p><p>E</p><p>Z</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>S</p><p>R</p><p>E</p><p>IS</p><p>M</p><p>A</p><p>G</p><p>O</p><p>S</p><p>,</p><p>N</p><p>a</p><p>ta</p><p>l</p><p>R</p><p>io</p><p>G</p><p>ra</p><p>n</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>N</p><p>or</p><p>te</p><p>.</p><p>A</p><p>o</p><p>a</p><p>lt</p><p>o,</p><p>o</p><p>b</p><p>ra</p><p>sã</p><p>o</p><p>d</p><p>a</p><p>ca</p><p>p</p><p>it</p><p>a</p><p></p><p>n</p><p>ia</p><p>,</p><p>ou</p><p>to</p><p>rg</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>p</p><p>o</p><p>r</p><p>N</p><p>a</p><p>ss</p><p>a</p><p>u</p><p>.</p><p>G</p><p>ra</p><p>v</p><p>u</p><p>ra</p><p>d</p><p>o</p><p>l</p><p>iv</p><p>ro</p><p>d</p><p>e</p><p>B</p><p>a</p><p>rl</p><p>eo</p><p>,</p><p>R</p><p>er</p><p>u</p><p>m</p><p>p</p><p>er</p><p>O</p><p>ct</p><p>en</p><p>n</p><p>iu</p><p>m</p><p>(1</p><p>64</p><p>7</p><p>).</p><p>RIO GRANDE-Ao largarem os holandeses o Rio Grande, pouco mais</p><p>do que a fortaleza dos Reis Magos ( "a melhor que tem o Estado" ) 33 aí</p><p>ficou de pé. Devastados ou desertos os currais, os tapuias de novo na</p><p>costa, as aldeias abandonadas, convidavam a um largo esfôrço de repo</p><p>voamento antes que os corsários estrangeiros se misturassem uma vez</p><p>mais com os janduís, seus aliados históricos.</p><p>"Para povoar essa</p><p>capitania com mais brevidade", mandou Fran</p><p>cisco Barreto que permanecessem junto à fortaleza oitenta casais de</p><p>índios descidos do Ceará.34 Em 1655 ainda não se lhes dera sacer</p><p>dote.35 Os jesuítas voltaram.36 Saíram do vale do São Francisco alguns</p><p>pioneiros, Antônio d'Oliveira Ledo, irmãos e sócios37-seduzidos pelos</p><p>campos do Rio Grande onde os gados tinham mercado próximo (Paraí</p><p>ba e Pernambuco ) e pastagens incomparáveis. Descobriram o sertão .</p><p>Fizeram os seus arraiais. Também o Capitão Bento da Costa "se trans</p><p>portou para esta capitania do Rio Grande com grande cópia do gado</p><p>o qual tem sitiado em um sítio que está devoluto nos ribeiros de uma</p><p>lagoa chamada Papissara do sertão".38 Ao findar o século o governador</p><p>geral lembrou ao de Pernambuco : "Sei eu (e vós me haveis de confes</p><p>sar) que dos gados do Rio Grande39 se sustentam os povos dessa</p><p>capitania e das outras duas ( Itamaracá e Paraíba ) ; que da sua</p><p>carne resulta o impôsto que se paga para a infantaria ; e de seu</p><p>serviço a permanência de todos os engenhos e canaviais de Pernambuco ;</p><p>e que dos açúcares que nela se lavram depende a carga de frotas e o</p><p>comércio mercantil ; sem o que não se pode conservar essa praça : logo</p><p>por precisa conclusão vem essa capitania a ser a mais empenhada, ainda</p><p>que as duas vizinhas se não percam, em se defender e conservar a do</p><p>Rio Grande, de que tão essencial dependência têm essas do N orte."40</p><p>Razão havia para êsse zêlo. A guerra do Açu, ou revolta geral dos</p><p>janduís ( de que damos notícia em capítulo à parte) fêz supor a cum</p><p>plicidade de piratas franceses, coincidente aliás com o surto da colo</p><p>nização européia nas Guianas ameaçando as balizas portuguêsas da</p><p>Amazônia. Exigiu uma concentração de reforços a lembrar a guerra</p><p>aos petiguares do Ouvidor Fernão da Silva e de Frutuoso Barbosa .</p><p>óbidos, 10 de maio de 1664, ibid., IX, pág. 170.-34. Carta de 5 de abril de 1659,</p><p>ibid., IV, pág. 23. O Capitão Antônio Vaz, cinco anos no govêrno da capitania,</p><p>logrou que voltassem 150 moradores, ibid., XXV, pág. 189.-35. lbid., III, pág.</p><p>264. Em 1658 havia navios holandeses a carregar pau-brasil, ibid., IV, pág. 353,</p><p>motivo de renovada vigilância.-36. O Marquês das Minas, em 1684, mandou não</p><p>fôssem perturbadas as missões dos jesuítas, ibid., X, pág. 207.-37. Sesmaria con</p><p>cedida em 1664 ao Alferes Sebastião Barbosa, sua irmã Maria, Antônio d 'Oliveira</p><p>Ledo, Alferes Baltasar da Mota e Custódio de Oliveira Ledo, ibid., XXI, págs .</p><p>429-433. O Conde de óbidos mandou ao capitão-mor da Paraíba que os auxiliasse,</p><p>ibid., IX, pág. 242.-38. Em 1 664, ibid., XXI, pág. 445.-39. Escreveu Matias</p><p>da Cunha à Câmara de São Paulo, em 10 de março de 1688 : "Acha-se a capitania</p><p>do Rio Grande tão oprimida dos bárbaros, que nela mataram o ano passado mais</p><p>de cem pessoas, entre brancos e escravos, destruindo mais de 30 mil cabeças de</p><p>gado", ibid., XI, pág. 139. Os dízimos da capitania, 800$000, em 1682, baixaram</p><p>a 550$000, ibid., X, pág. 197, e em 1684 não passavam de 700$000, ibid., X, pág. 200 .</p><p>-40. Carta de 5 de junho de 1694, ibid., XXXVIII.-41. Carta de D. João de</p><p>826 Pedro Calmon</p><p>Valeu por uma reconquista-1687-94-que abreviou as distâncias</p><p>entre Pernambuco, ainda o centro da irradiação militar e espiritual do</p><p>N ardeste, e o Ceará e o Maranhão, até aí desligados do resto do Brasil.</p><p>Achou-se ( 1603 ) que os tapuias não serenariam sem a distribuição</p><p>de arraiais de índios de várias tribos-vindos do Ceará Grande-pelas</p><p>margens do Jaguaribe e do Açu. Custódio de Oliveira Ledo fundou o</p><p>primeiro, Mamanguape, com cariris e piancós .U Seu irmão Teodósio</p><p>de Oliveira Ledo, incumbiu-se de outra "aldeia das Piranhas".42 Infor</p><p>mou então o mestre-de-campo dos paulistas, Morais Navarro :</p><p>" . . . esta capitania é tão miserável que de Pernambuco lhe vai</p><p>todos os anos farinha para o presídio que nela tem."43 O Governador</p><p>Geral D. João de Lencastro mandou-lhe da Bahia o Padre João Guinzel,</p><p>da Companhia, para aldear os tapuias do Açu44 protegendo-os dos</p><p>paulistas em franco dissídio com o Capitão-Mor Bernardo Vieira</p><p>de Melo. Essa rusga, j unta às privações que arrostou o têrço de Matias</p><p>Cardoso e Morais Navarro, epilogou a ação valorosa dos mamelucos de</p><p>São Paulo naquela fronteira do Rio Grande.45 Revelou também a per</p><p>sonalidade do "potentado" pernambucano, cuj o nome de guerra, adqui</p><p>rido na destruição dos palmares, havia de ligar-se à primeira explosão</p><p>nativista do século seguinte : o conflito "dos mascates" ( 1710) .</p><p>CEARA-Expulsos os flamengos-do Ceará de Martim Soares</p><p>(depois disto submetido à j urisdição de Pernambuco ) , restava somente</p><p>o forte arruinado. Aí novamente se aloj ou uma guarnição. A sombra</p><p>dêsse baluarte vegetou-durante o século XVII-uma escassa popula</p><p>ção de brancos e índios sem forma de cidade (a vila de Fortaleza é de</p><p>1725) e sem igreja além da capela do presídio onde oficiava o capelão</p><p>da tropa. Em 1696 escreveu el-rei : "Viu-se a vossa carta ( do ouvidor</p><p>da Paraíba ) de 20 de abril dêste ano em que representais ser conve</p><p>niente o criar-se na capitania do Ceará Grande, Câmara com j uízes,</p><p>vereadores e escrivão pela falta que faz".46 E em 1697 : "O capitão da</p><p>capitania do Ceará Pedro Lelou me deu em conta em carta de 30 de</p><p>agôsto do ano passado em como aquela capitania em seu princípio não</p><p>Lencastro, 21 de maio de 1695, ibid., pág. 337.-42. Does. Hist., cit., pág. 341. Su</p><p>cedeu a Constantino de Oliveira, também seu irmão, cf. patente de 3 de novembro</p><p>de 1694, Anais do Arq. Públ. da Bahia, I, pág. 164, confirmada em 23 de agôsto</p><p>de 1698, Tôrre do Tombo, Chanc. de D. Pedro li, liv. 52, f. 58.-43. Anais do</p><p>Arq. Públ. da Bahia, I, pág. 139.-44. Carta do padre, 29 de out. de 1699, Rev.</p><p>do Inst. do Ceará, XXXVII, pág. 133 .-45. O Sargento-Mor Pedro Lelou ( que aca</p><p>bara de governar o Ceará) , disse Bernardo Vieira, induzira o Janduí a unir-se</p><p>aos paiacós, para irem à guerra contra os icós, porém o tuxaua revelou a intriga</p><p>a Morais Navarro e com êste combinou um assalto aos paiacós, destruindo-os de</p><p>surprêsa . . . , carta de 17 de dez. de 1699, ibid., pág. 139. O bispo de Pernambuco</p><p>excomungou o paulista. Defendeu-o José Barbosa Leal, carta de 20 de dez., di</p><p>zendo que os paiacós mortos eram inimigos, e não se confundiam com a tribo do</p><p>mesmo nome "do rancho do tapuia Maticas Paca que o P. João da Costa está</p><p>instruindo na fé", ibid,, pág. 143. Curioso é que Pedro Lelou faz a apologia do</p><p>extermínio dos bárbaros citando exemplos do México e do Peru.-46. STUDART, Rev.</p><p>do Inst. do Ceará, XXXVII, pág. 51. Por falta de oficiais de justiça os dízimos</p><p>História do Brasil - Século XVII 827</p><p>P</p><p>L</p><p>A</p><p>N</p><p>T</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>M</p><p>E</p><p>R</p><p>C</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>A</p><p>N</p><p>T</p><p>A</p><p>B</p><p>Á</p><p>R</p><p>B</p><p>A</p><p>R</p><p>A</p><p>(o</p><p>b</p><p>ra</p><p>ta</p><p>lv</p><p>ez</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>e</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>d</p><p>o</p><p>sé</p><p>cu</p><p>lo</p><p>X</p><p>V</p><p>II</p><p>I</p><p>)</p><p>,</p><p>S</p><p>a</p><p>lv</p><p>a</p><p>d</p><p>or</p><p>.</p><p>A</p><p>qu</p><p>a</p><p>re</p><p>la</p><p>,</p><p>M</p><p>u</p><p>se</p><p>u</p><p>d</p><p>o</p><p>E</p><p>st</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>d</p><p>a</p><p>B</p><p>a</p><p>h</p><p>ia</p><p>.</p><p>carecia de quem lhes administrasse j ustiça por não haver nela mais</p><p>que gentios domésticos e soldados de guarnição de fortaleza e como</p><p>hoj e estava povoada com mais de 200 moradores e êsses não tinham</p><p>ministro nem oficiais que lhes dissessem as dúvidas e sentenciassem as</p><p>causas."47 O campo à volta pertencia à catequese prudente e tenaz dos</p><p>jesuítas, a partir de 1656. " . . . Os padres da Companhia haviam redu</p><p>zido uma grande quantidade de índios que habitavam as terras da</p><p>costa do Ceará, sôbre o Rio Grande e mais de 200 léguas de distân</p><p>cia."48 O paulista Morais Navarro contou-lhes as aldeias, em 1694-</p><p>"Ceará Grande tem Cabucaíva ( Caucaia) , Parangava, Paupina,49 Pe</p><p>ramirim, duas aldeias de Jaguaribaras tôdas estas bem cheias de</p><p>índios." Três anos antes morrera o Padre Pedro Pedrosa, após ter aco</p><p>modado os tabaj aras da serra do Ceará : 50 dêsses estabelecimentos irra</p><p>diaria a colonização metódica e pacífica.</p><p>Em 1698 queixou-se o bispo de Pernambuco do virtual abandono</p><p>das aldeias pelos jesuítas, nelas substituídos pelos padres da Congre</p><p>gação de São Filipe Néri, tendo à frente "o Padre</p><p>João Álvares servo</p><p>de Deus", "e ainda ao presente continua, tendo duas a seu cargo, cor</p><p>rendo as outras por conta de dois clérigos, que mandei para elas logo</p><p>que tive notícia do desamparo em que estavam. Cresceram os mora</p><p>dores e aumentou-se a povoação ( informa o prelado) de sorte que se</p><p>instituiu paróquia dando-se-lhe por matriz a mesma capela da forta</p><p>leza, em que se conserva até o presente ; ficando o mesmo capelão sendo</p><p>vice-vigário nomeado pelo bispo."51</p><p>Não era bem assim.</p><p>Os j esuítas, atormentados nas aldeias da costa pelos soldados e</p><p>capitães que lhes tiravam os catecúmenos, expostos, além disto, à luta</p><p>com os tapuias que lhas rondavam, em intermitentes investidas ( a</p><p>"guerra d o caj u" ) -preferiram limitar a área d e seus trabalhos à</p><p>populosa Ibiapaba.52 Aí construíram o primeiro hospício que se lhes</p><p>concedeu no Ceará (mandando el-rei, em 1721, dar-lhes para isto 6 mil</p><p>cruzados ) . O segundo foi Aquiraz-no século imediato, quando a capi</p><p>tania se beneficiou de um progresso geral.</p><p>A guerra dos j anduís aproveitou ao vale do Jaguaribe : porque foi</p><p>invadido pelos gados do Rio Grande tangidos pelos vaqueiros que fu-</p><p>eram arrematados no Rio Grande, Does. Hist., X, pág. 211.--47. Re11., cit., vol.</p><p>cit., pág. 76. O forte foi reconstruido em 1697, ef. STUDART, Datas e Fatos, pág.</p><p>111. A fortaleza, cujos restos ainda podem ser vistos, esta é de 1812, vid. AFONSO</p><p>oo PAÇO, Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção da Capitania do Ceará Grande,</p><p>pág. 15, Coimbra, 1950.--48. Carta del-rei, 29 de janeiro de 1691, Rev. do lnst.</p><p>do Ceará, eit., pág. 23. Mandava que se desse aumento às Missões.--49. Caucaia,</p><p>depois de 1759, chamou-se Soure ; Parangava, Arronches ; Paupina, Mecejana.-</p><p>50. Carta de Câmara Coutinho, Re11. do lnst. Hist., LXXI, pág. 43.-51. Re11. do</p><p>lnst. do Ceará, vol. cit., pág. 95.-52. Câmara Coutinho escreveu a el-rei, em 4</p><p>de julho de 1692 : "Na Missão da serra do Ceará está assistindo nela o Padre</p><p>Manuel Pedroso, há tempos que não tenho noticias suas", Does. Hist., XXXIV,</p><p>pág. 63 . Por êsse tempo o P. Estanislau de Campos "chegou à provincia do Ceará,</p><p>criada junto aos limites do Maranhão . • • os companheiros que naquela região ti-</p><p>História do Brasil - Século XVII 829</p><p>giam à ferocidade do tapuia e à brutalidade dos outros "senhores do</p><p>sertão". 53</p><p>Vale dizer que as fazendas de criação-depois que se aquietaram</p><p>os índios-tiveram acolá uma dupla origem : resultaram do êxodo dos</p><p>moradores do Apodi, Piranhas, Cunhaú ; e, em progressão do sul para</p><p>o norte, da expansão sertanista que, pelo rumo de Paj eú e serra entre</p><p>Pernambuco e Paraíba, partira do rio de São Francisco com a Casa da</p><p>Tôrre.54</p><p>Os missionários catequizaram j aguaribaras e cariris. Os catecúmenos</p><p>fizeram-se pastôres. Duas gerações mais-e os sertões quentes, onde</p><p>a água rareia, ao longe bordados de colinas verdejantes, começaram a</p><p>ser cortados pelos rebanhos.</p><p>nham um hospício de estreitas proporções", Rev. do Inst. Hist., LII, pág. 14. O</p><p>hospício de Ibiapaba é de 1698-1721, e o de Aquiraz, de 1727.-53. Rev. do Inst.</p><p>do Ceará, vol. cit., pág. 75.-54. P. HELIODORO PIRES, in Anais do Arq. Públ. da</p><p>Bahia, I, pág. 250. A infiltração, proveniente da Bahia, teria seguido da serra</p><p>limítrofe ( Pernambuco-Paraíba) o Piancó e alcançado o Piranhas, na década de</p><p>1680. A êste movimento pertencem os Oliveira Ledo, os vaqueiros de João Peixoto</p><p>Viegas, etc. Sabemos agora que o gado do Rio Grande, com a guerra do Açu, se</p><p>deslocou para o Ceará. Mas outra penetração se deu pelo sul, com os gados do</p><p>São Francisco tangidos para melhores pastagens, como informa Antonil. Se disser</p><p>mos que do Piauí os rebanhos também passaram ao Ceará, teremos que por três</p><p>lados essa capitania se beneficiou da metódica expansão pastoril, entre 1680 e</p><p>1725.</p><p>830 Pedro Calmon</p><p>MOEDA DO BRASIL COLONIAL : PA</p><p>TACA. Reverso. Valor em prata : 320</p><p>réis. Cunhada de 1699 a 1700 na Casa</p><p>Monetária do Rio de Janeiro. Reproduzida</p><p>de Anais do Museu Histórico Nacional,</p><p>vol. VI.</p><p>RUA DO MARANHÃO,</p><p>São Luís, com seus tra</p><p>dicionais sobradões. Fo</p><p>tografia de Mareei Gau-</p><p>therot.</p><p>XXIV</p><p>OS JESUÍTAS</p><p>DO NORTE</p><p>A ÁREA</p><p>AMAZôNICA</p><p>EM 1652 começa uma grande época da colonização religiosa.</p><p>Os missionários realizam entre o Maranhão e o Amazonas ta</p><p>refa equivalente à dos sertanistas entre o Tietê e o Paraguai, quanto</p><p>à dilatação das fronteiras e à expansão portuguêsa : porém única, no seu</p><p>propósito de aliar à civilização o índio e catequizá-lo, salvando-o.</p><p>Em 1652 os pólos da geografia política do Brasil são o Pará e São</p><p>Paulo.</p><p>Os pioneiros no planalto meridional destroem as massas indígenas,</p><p>abrindo espaço ao domínio do mamaluco e do branco ; mas os padres</p><p>na Amazônia defendem o selvagem, restringindo as atividades dos co</p><p>lonos, ávidos de braços escravos.</p><p>Ao Norte forma-se com isto uma sociedade que, a alguns aspectos,</p><p>· lembra o Paraguai j esuítico, e em que prepondera a influência tapuia,</p><p>do gentio domesticado ; enquanto no Sul êste vai desaparecendo, na</p><p>eliminação gradual das "nações" dissolvidas .</p><p>Certo, a região amazônica, densamente ocupada por inúmeras tri</p><p>bos dóceis,1 de ágeis canoeiros protegidos pela vastidão do rio corren</p><p>toso e ignoto, jamais poderia ser investida por homens de guerra, en-</p><p>I. "Não há gentios no mundo que menos repugnem à doutrina da fé, e mais</p><p>fàcilmente a aceitem e recebam que êstes Brasis", VIEIRA, " Sermão do Espírito</p><p>História do Brasil - Século XVII 83 1</p><p>carniçados contra o nativo. A posse do vale ex1g1a, preliminar, o seu</p><p>apoio. Não se concluiria sem a sua amizade. Requeria-lhe o préstimo</p><p>de guia, de conhecedor da natureza que assombrava o forasteiro, de</p><p>dono dos seus segredos-no labirinto dos igarapés serpeando pela selva</p><p>inextricável. Bento Maciel e os companheiros, na hora primeira da</p><p>história do Pará, trucidaram, um pouco por tôda parte, tapuias espan</p><p>tadiços. O resultado foi limitar-se então a penetração portuguêsa ao</p><p>curso do rio, onde as caravelas com facilidade destroçavam almadias</p><p>indígenas : para desembarcar e infiltrar-se pelas margens, tateando</p><p>terra firme, necessitou da ajuda do padre e da persuasão dos naturais,</p><p>logo dispostos à conversão e serviço dos adventícios. A um aceno</p><p>do franciscano que acompanhava Luís Aranha de Vasconcelos,2</p><p>centenas dêles se apresentaram-e, combatendo os aruãs, expulsaram</p><p>de seus fortes e tabacais holandeses e inglêses. Os europeus são sem</p><p>pre em número diminuto. A desproporção dos povoadores para a</p><p>largueza da conquista lembra os portuguêses na 1ndia, em tempo de</p><p>Albuquerque : um trôço de bravos em face de populações compactas e</p><p>espantadas. A pretensiosa cidade do Maranhão, sede do Estado, em 1636</p><p>( segundo Bento Maciel Parente) tinha 250 moradores e 60 soldados.</p><p>Em 1660 não contava mais de seiscentos habitantes. E Belém, com</p><p>oitenta moradores e 50 soldados em 1636, trinta anos depois era cidade</p><p>de apenas 400 almas.3</p><p>"Tudo quanto há na capitania do Pará-testemunhou Vieira-ti</p><p>rando as terras, não vale dez mil cruzados, como é notório.""</p><p>Os nomes são grandíloquos : Maranhão, Pará . . . ; porém a realidade</p><p>mesquinha (povoações de palhoças, rala guarnição, meia dúzia de sa</p><p>cerdotes e alguns funcionários ) diante de um mundo estranho e sem</p><p>medida.5 De j esuítas são os olhos que o vêem e avaliam.</p><p>Exploram-lhe a imensidade, estudam-no ( com o senso das ciências</p><p>naturais de Nóbrega, Anchieta, Cardim) e o descrevem nos seus mapas</p><p>-os que se conhecem da Amazônia até a excursão de La Condamine,</p><p>no meado do século seguinte.6 Melhor : aprendem o falar dos índios,</p><p>Santo" ( 1657 ) , Sermões, V, pág. 330.-2. Vid. Ementas de Habilitações, Bibl. Nac.</p><p>de Lisboa, pág. 37.-3. Vid. Anais da Bibl. Nac., XXVI, pág. 349. MAURÍCIO DE</p><p>HERIARTE, Descrição do Estado do Maranhão, etc. ; GARCIA, nota a VARNHAGEN,</p><p>III, págs. 211-217. A igreja dos mercedários, começada em 1640, inaugurou-se em</p><p>tempo do P. VIEIRA (havia então em Belém as da Senhora das Vitórias, do Carmo,</p><p>do Destêrro e da Luz ) ,</p><p>que aí fêz o "Sermão de São Pedro Nolasco" : "Não sei se</p><p>notais o maior primor da arquitetura desta igreja . . . é ter por correspondência</p><p>aquelas choupanas de palha em que vivem os Religiosos", op. cit., VI, pág. 350.-</p><p>4. P. ANTÔNIO VIEIRA, Cartas, I, pág. 112. Em 1657, Sermões, IV, pág. 69 : "É</p><p>possível que numa cidade tão nobre e cabeça de um Estado ( Maranhão) não haja</p><p>um hospital e que a Misericórdia não sirva mais que de enterrar os mortos?"-</p><p>5. "Outros lhe chamem rio das Almazonas ; mas eu lhe chamo rio das Almazi</p><p>nhas", "Sermão da Primeira Oitava da Páscoa", 1656, ibid., V, pág. 232, àquele</p><p>"grande mar do rio das Amazonas", ibid., pág. 350. " . • . Verdadeiramente é um</p><p>mar doce, maior que o mar Mediterrâneo", ibid., pág. 376.-6. "Desde o mapa</p><p>que, segundo a informação do cronista BETTENDORF, Antônio Vieira tinha no colégio</p><p>do Pará, até o de SAMUEL FRITZ, publicado em 1707 em Quito, os jesuítas foram</p><p>832 Pedro Calmon</p><p>e os doutrinam. "Na antiga Babel houve setenta e duas línguas ; na</p><p>Babel do rio das Amazonas já se conhecem mais de cento e cinqüenta,</p><p>tão diversas entre si como a nossa e a grega : e assim quando lá che</p><p>gamos, todos nós somos mudos e todos êles surdos. Vêde agora quanto</p><p>estudo e quanto trabalho será necessário, para que êstes mudos falem,</p><p>êstes surdos ouçam."7 Quatro anos depois exultava o Padre Vieira :</p><p>"O estado da missão, em suma, é ser ela a maior em número de almas e</p><p>a mais disposta a receber os meios da salvação, de quantas hoje tem a</p><p>Igreja."8 " • • • A maior emprêsa que tem a Companhia e porventura</p><p>a mesma Igrej a, onde só o número das nações bastaram para assombrar</p><p>o mundo."9</p><p>EM FA VOR DO tNDIO-A côrte de Lisboa decidiu-se a dar impulso</p><p>novo às missões do "Estado do Maranhão", graças a dois incidentes :</p><p>a rivalidade entre os religiosos seculares, que já lá estavam, e os j esuí</p><p>tas (tão protegidos de D. João IV) ; e as queixas de Inácio do Rêgo</p><p>Barreto, capitão-mor do Pará suspenso pelo Governador Luís de Ma</p><p>galhães. Fôra também demitido o Vigário-Geral Mateus de Sousa</p><p>Coelho. Pediram j ustiça..:...._e os j esuítas com êles-tanto por que se ob</p><p>viasse de futuro à arbitrariedade da administração, como para que de</p><p>vez se organizasse a catequese.</p><p>O Padre Antônio Vieira empregou o seu valimento para que assim</p><p>se fizesse.</p><p>Foi o Pará separado do Maranhão (provisão de 25 de fevereiro de</p><p>1652 ) . Voltou Inácio do Rêgo para Belém. Para substituir Magalhães</p><p>veio Baltasar de Sousa Pereira. Traziam instruções para obstarem</p><p>aos resgates, impedindo a opressão dos índios pacíficos.</p><p>Nessa política-de suprimir a escravidão do gentio-definiam os</p><p>jesuítas uma atitude franca, corajosa em face da impiedade reinante</p><p>no Brasil, previamente heróica. Teriam de lutar ; e lutaram.10 De resto,</p><p>amparados pela coroa, continuavam a tarefa encetada pelo Padre Luís</p><p>Figueira. Di-lo Vieira : " . . . Seguindo os desígnios do Padre Luís Fi</p><p>gueira e as ordens de S. M., em que manda que edifiquemos casas e</p><p>igrejas nas três capitanias do Maranhão, Pará e Gurupá."11</p><p>O destemido missionário que vimos, em 1607, dar sepultura em</p><p>Ibiapaba ao primeiro mártir do Norte, seu companheiro Antônio Pinto,</p><p>prosseguira o apostolado no Maranhão e no Pará, até 1637. Recolhe</p><p>ra-se então à metrópole, para angariar subsídios, sacerdotes e ordens</p><p>régias, indispensáveis à ampliação das missões.12 Voltou em 1643 com</p><p>os únicos cartógrafos do Amazonas", J . Lúcio D'AZEVEDO , Hist6ria de Antônio</p><p>Vieira, I, pág. 311. A carta definitiva das missões é de 1753.-7. VIEIRA, "Sermão</p><p>da Epifania", 1662. Vid. também a "Exortação Primeira", Sermões, V, 357, e</p><p>"Sermão do Espírito Santo", cit.-8. Carta de 1 .0 de junho de 1656, P. SERAFIM</p><p>LEITE, Novas Cartas Jesuíticas, pág. 254.-9. Idem, ibid., pág. 260.-10. Vid.</p><p>VARNHAGEN, III, pág. 200 ; J. LúciO D'AZEVEDO, op. cit., pág, 53.-11. Cartas, I,</p><p>pág. 83. "Temos repartido o novo Estado do Maranhão em dois governos iguais,</p><p>e debaixo de suas cabeças, ambas naturais da mesma terra", VIEIRA, Sermões,</p><p>VI, pág. 114.-12. Diz VIEIRA, carta cit., P. SERAFIM LEITE, op. cit., pág, 257,</p><p>Hist6ria do Brasil - Século XVII 833</p><p>F</p><p>A</p><p>M</p><p>íL</p><p>IA</p><p>D</p><p>E</p><p>íN</p><p>D</p><p>IO</p><p>S</p><p>B</p><p>O</p><p>T</p><p>O</p><p>C</p><p>U</p><p>D</p><p>O</p><p>S</p><p>E</p><p>M</p><p>M</p><p>A</p><p>R</p><p>C</p><p>H</p><p>A</p><p>:</p><p>fe</p><p>ro</p><p>z</p><p>tr</p><p>ib</p><p>o</p><p>d</p><p>es</p><p>ce</p><p>n</p><p>d</p><p>en</p><p>te</p><p>do</p><p>s</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>g</p><p>os</p><p>a</p><p>im</p><p>or</p><p>és</p><p>,</p><p>d</p><p>a</p><p>r</p><p>áç</p><p>a</p><p>do</p><p>s</p><p>ta</p><p>p</p><p>u</p><p>ia</p><p>s,</p><p>o</p><p>s</p><p>b</p><p>ot</p><p>oc</p><p>u</p><p>d</p><p>os</p><p>v</p><p>iv</p><p>ia</p><p>m</p><p>n</p><p>a</p><p>s</p><p>p</p><p>ro</p><p>x</p><p>im</p><p>id</p><p>a</p><p>d</p><p>es</p><p>d</p><p>o</p><p>ri</p><p>o</p><p>D</p><p>oc</p><p>e,</p><p>M</p><p>in</p><p>a</p><p>s</p><p>G</p><p>er</p><p>a</p><p>is</p><p>e</p><p>E</p><p>.</p><p>S</p><p>a</p><p>n</p><p>to</p><p>.</p><p>U</p><p>sa</p><p>v</p><p>a</p><p>m</p><p>co</p><p>m</p><p>o</p><p>a</p><p>d</p><p>ôr</p><p>n</p><p>o</p><p>n</p><p>a</p><p>s</p><p>or</p><p>el</p><p>h</p><p>a</p><p>s</p><p>e</p><p>n</p><p>o</p><p>lá</p><p>b</p><p>io</p><p>in</p><p>fe</p><p>ri</p><p>or</p><p>p</p><p>ed</p><p>a</p><p>ço</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>ei</p><p>r</p><p>a</p><p>.</p><p>O</p><p>ch</p><p>ef</p><p>e</p><p>(d</p><p>e</p><p>co</p><p>st</p><p>a</p><p>s)</p><p>tr</p><p>a</p><p>z</p><p>m</p><p>a</p><p>n</p><p>to</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>el</p><p>e</p><p>d</p><p>e</p><p>ta</p><p>m</p><p>a</p><p>n</p><p>du</p><p>á</p><p>;</p><p>lo</p><p>g</p><p>o</p><p>d</p><p>ep</p><p>oi</p><p>s</p><p>v</p><p>em</p><p>se</p><p>u</p><p>fi</p><p>lh</p><p>o</p><p>e</p><p>a</p><p>se</p><p>g</p><p>u</p><p>ir</p><p>a</p><p>m</p><p>u</p><p>lh</p><p>er</p><p>.</p><p>D</p><p>es</p><p>en</p><p>h</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>D</p><p>eb</p><p>re</p><p>t.</p><p>quatorze padres. Naufragou o barco, nos baixios à entrada de Belém.</p><p>Parte da tripulação (e o Governador Pedro de Albuquerque ) salvou-se</p><p>em botes. Figueira e onze religiosos valeram-se de uma j angada feita</p><p>com os destroços da embarcação. Mas a correnteza os lançou à ilha de</p><p>Joanes (Maraj ó) onde os ferozes aruãs os mataram a todos. Com essa</p><p>chacina se interrompeu um largo proj eto de colonização espiritual :</p><p>retomou-o nove anos depois Antônio Vieira.</p><p>VIEIRA NO MARANHÃO-Não seguiu em 22 de setembro ( 1652 ) com</p><p>a primeira turma de religiosos, solicitado pelos interêsses que ainda o</p><p>prendiam a Lisboa, mas em 25 de novembro, contra a vontade, premido</p><p>pela ordem dos superiores e deixado ir por el-rei.13 "Deus quis que com</p><p>vontade ou sem ela eu viesse." "Venceu Deus ! Eu agora começo a ser</p><p>religioso !" Chegou Vieira a São Luís em 26 de j aneiro de 53. Ato con</p><p>tínuo fizeram os padres o seu colégio, com a invocação de N. s .a da</p><p>Luz, perto da fortaleza-dominando escrúpulos e hostilidades dos mo</p><p>radores, que os receberam em tom de revolta. Iniciou-se a luta-com</p><p>os escravizadores de índios-no instante em que lá puseram o pé : "no</p><p>mesmo dia em que cheguei a ela, ouvindo os Roncadores, e vendo o seu</p><p>tamanho, me moveram a riso, como a ira".14 Vieira não receou ou</p><p>evitou o conflito. Logo a 22 de maio assomou ao púlpito para definir</p><p>a doutrina : perdiam as almas os detentores de índios que os exploravam</p><p>na roça ou portas adentro. "Não há maior maldição numa casa, numa</p><p>família, que servir-se com suor e com sangue injusto. Tudo vai para</p><p>trás : nenhuma cousa se logra, tudo leva o diabo." Nem valeria per</p><p>missão régia em contrário : "El-rei poderá mandar que os cativos sejam</p><p>livres ; mas que os livres sejam cativos, não chega lá sua jurisdição. Se</p><p>tal proposta fôsse ao reino, as pedras da rua se haviam de levantar</p><p>contra os homens do Maranhão." Exprobrou-lhes : "Ah fazendas do</p><p>Maranhão, que se êsses mantos e essas capas se torceram, haviam de</p><p>lançar sangue !" E pediu que os colonos se acomodassem à regra de</p><p>fazerem aprovar por uma junta as entradas que fôssem ao sertão buscar</p><p>índios "em corda" ou "tomados em guerra j usta", os quais seriam dis</p><p>tribuídos ( "de sorte que nesta forma todos os índios dêste Estado ser</p><p>virão aos portuguêses") mediante bem humilde salário : "duas varas</p><p>dêste pano" de algodão, "que valem dois tostões !"15</p><p>D. João IV entretanto, às primeiras reclamações dos maranhenses,</p><p>expediu a provisão de 17 de outubro de 53, por que se considerassem</p><p>que a Província do Brasil não consentiu na separação do Maranhão : "suspeitando</p><p>se que o Padre Luís Figueira a queria desunir, pelos impedimentos das guerras</p><p>de Pernambuco, a Província acudiu a isso em Roma e não o consentiu ; e suposto</p><p>que o Maranhão é tão parte da Província como São Paulo, Espírito Santo,</p><p>Ilhéus, Pernambuco e Rio de Janeiro e como a mesma Bahia, por que se não há</p><p>de acudir ao provimento destas casas ?" É que não havia na Bahia missionários</p><p>disponíveis, como a S. M. respondeu, a 12 de setembro de 1660, Francisco Bar</p><p>reto, Does. Hist., IV, pág. 388.-13. J. LúciO n'AZEVEDO, op,</p><p>cit., I, pág. 206.</p><p>A missão "fêz-se por ordem do P.-Geral Francisco Piccolomini", P. SERAFIM LEITE,</p><p>op. cit,, pág. 304.-14. VIEIRA, "Sermão de Santo Antônio", 1654.-15. "Sermão</p><p>História do Brasil - Século XVII 835</p><p>cativos os índios apanhados em guerra j ustificada ou resgates ;16 e</p><p>mesmo o Padre João de Sotto Maior, reitor do novo colégio, teve de</p><p>assinar nos livros da Câmara um têrmo, de como os missionários não</p><p>se envolveriam na questão de escravos e libertos.H Em Belém, onde</p><p>chegou em 5 de outubro, assumiu Vieira compromisso idêntico. Era</p><p>compreensível : " . . . fundados todos em serem os índios o único re</p><p>médio e sustento dos moradores, que sem êles pereceriam." Mas fremia</p><p>em irritação incontida : "O remédio que isto tem (e não há outro ) é</p><p>mandar V. M. que nenhum governador ou capitão-mor possa lavrar</p><p>tabaco nem outro algum gênero, nem por si nem por interposta pessoa,</p><p>nem ocupem nem repartam os índios."18 Não transigia além do</p><p>razoável : cativeiro justificado pela guerra, ou fôsse de tribos adver</p><p>sas . . . E enveredou rio acima com a bandeira chefiada pelo ferreiro</p><p>Gaspar Cardoso-seu primeiro contacto com a selva e o selvagem.</p><p>"Partimos para o rio dos Tocantins, eu e outros três religiosos, to</p><p>dos sacerdotes teólogos e práticos na língua da terra, e dois dêles in</p><p>signes nela. Navegamos pelo rio acima duzentas e cinqüenta léguas ;</p><p>chegamos ao lugar onde estavam os índios que íamos buscar ; e Gaspar</p><p>Cardoso foi o que conforme o seu regimento governou sempre tudo."19</p><p>Desceram uns mil caboclos, em parte divididos pelos soldados, reunidos</p><p>os restantes na aldeia de Morajuba, certamente-insinua Vieira</p><p>para trabalhar nas roças do capitão-mor. Indispensável era proibir aos</p><p>não religiosos a entrada aos sertões, reservado o trato do gentio aos</p><p>padres, que cuidariam de juntá-los sem os maltratar ou corromper, e</p><p>de modo que fôssem entregues aos lavradores apenas "os de corda", ou</p><p>condenados à morte salvos pela intercessão dos missionários .20</p><p>Os da terra não pensavam assim. Em 13 de junho de 54 fustigou-os</p><p>o pregador-no Maranhão-com b sutil Sermão de Santo Antônio, em</p><p>que figurou o padroeiro a falar aos peixes, se não o ouviam os homens,</p><p>imagem que lhe permitia dizer verdades duras. "Cuidais que só os</p><p>tapuias se comem uns aos outros : muito maior açougue é o de cá,</p><p>muito mais se comem os Brancos." " . . . Importa que daqui por d iante</p><p>sej ais mais Repúblicas e zelosos do bem comum e que êste prevaleça</p><p>contra o apetite particular de cada um." "Todos a trabalhar tôda a</p><p>vida, ou na roça, ou na cana, ou no engenho, ou no tabacal : e êste tra</p><p>balho de tôda a vida, quem o leva ? . . . No triste farrapo com que saem</p><p>à rua e para isso se matam todo o ano." Chasqueou dos recalcitrantes,</p><p>invectivou os pecados e concluiu, como quem fulmina o anátema : "Como</p><p>não sois capazes de Glória, nem Graça não acaba o vosso sermão em</p><p>Graça e Glória."21</p><p>da Primeira Dominga da Quaresma", 1653, Sermões , III, pág. 21, da ed. do Pôrto,</p><p>1907.-16. Escreveu VIEIRA em 1657 : "No ano de 1654 (aliás 53) por informação</p><p>dos procuradores dêste Estado, se passou uma lei com tantas larguezas, na ma</p><p>téria do cativeiro dos índios, que sendo Sua Majestade melhor informado se serviu</p><p>mandá-Ia revogar", Cartas, I, pág. 149.-17. BERREDO, Anais Históricos do Maranhão,</p><p>§ 972 ; VARNHAGEN, op. cit., UI, pág. 200.-18. Carta de São Luís, 20 de maio</p><p>de 53, Cartas, I, pág. 107.-19. Ibid., pág. 121 .-20. Ibid., pág. 127.-21. Esta</p><p>836 Pedro Calmon</p><p>A VOZ DA CA TEQ UESE-Três dias depois embarcou Vieira oculta</p><p>mente (diz na epígrafe do sermão ) a advogar no reino as medidas sem</p><p>as quais fracassaria a missão, ou, mais claramente : "fui a Portugal a</p><p>buscar a dita administração dos índios".22 " • • • E apertou tanto êste</p><p>ponto o P. Manuel Nunes, que estando eu duvidoso da jornada, me foi</p><p>intimar ao cubículo que tinha obrigação de o fazer sub peccato gravi.</p><p>Assim o tinha também entendido o P. Luís Figueira, que foi buscar,</p><p>e trazia a dita administração. E assim o entenderam no Brasil tantos</p><p>Superiores, tantos homens Santos, e o tem confirmado, desde S. Inácio,</p><p>todos os Padres-Gerais."23</p><p>Não errou com a viagem. Deu-lhe o prestígio de outro sermão, na</p><p>Capela Real, "vindo da Missão do Maranhão onde achou as dificuldades</p><p>que nêle se apontam" : o da Sexagésima. "Não me queixo, nem o digo,</p><p>Senhor, pelos semeadores : só pela seara o digo, só pela seara o sinto."</p><p>E comparou-se ao que, "mal logrados seus primeiros trabalhos", "fôsse</p><p>muito depressa à casa a buscar alguns instrumentos, com que alimpar</p><p>a terra das pedras e dos espinhos".24</p><p>Ouviu-lho el-rei com reverência e emoção. Começara, aliás, a aten</p><p>dê-lo ao decretar a união, novamente, de Maranhão e Pará ( provisão</p><p>de 25 de agôsto de 1654) , confiados a um só govêrno, e de brasileiro</p><p>(Vieira pedira : "para o político basta a Câmara e para a guerra um</p><p>sargento-maior, e êsse dos da terra e não de Elvas nem de Flandres" ) ,25</p><p>o Mestre-de-Campo André Vidal de Negreiros, amigo dos jesuítas e</p><p>então em Lisboa.</p><p>Reuniram-se "em conferência o mesmo Vieira, André Vidal de Ne</p><p>greiros e os dois procuradores que se achavam ainda em Lisboa", Mar</p><p>tim Moreira ( do Maranhão ) e Manuel Guedes Aranha ( do Pará) , em</p><p>penhados êstes em esclarecer os votos dos moradores. "Aí se concer</p><p>taram várias disposições relativas à maneira de proceder com os índios,</p><p>assim livres como cativos, cujas cláusulas se inscreveram no Regimento</p><p>do governador. Ao mesmo tempo se organizou o Tribunal ou Junta</p><p>de Missões e Propagação da Fé que, funcionando a princípio na casa</p><p>soberba oração incluiu-a AFRÂNIO PEIXOTO entre Os Melhores Sermões de Vieira,</p><p>págs. 131-167, Rio, 1933. Da quinta dominga da Quaresma dêsse ano é a em que</p><p>VIEIRA acusou : "de Maranhão, de murmurar, de verberar, de maldizer, de mal</p><p>sinar, de mexericar, e sobretudo de mentir", Sermões, IV, pág. 146, ed. de 1908,-</p><p>22. Vid. J. LúCIO n'AZEVEDO, Os Jesuítas no Grão-Pará, pág. 68. No Sermão da</p><p>Epifania, 1662, esclareceu : "Consta autênticamente nesta côrte que no ano de</p><p>1655, vim eu a ela, só a buscar o remédio desta queixa, e a estabelecer (como levei</p><p>estabelecido por Provisões Reais) que todos os índios sem exceção servissem ao</p><p>mesmo povo e o servissem sempre : e o modo, a repartição e a igualdade, com o</p><p>que o haviam de servir."-23. Carta de 24 de março de 1661, que agora divulga o</p><p>P. SERAFIM LEITE, op. cit., pág. 304.-24. O da Sexagésima é o primeiro escolhido</p><p>por AFRÂNIO PEIXOTO, para a coletânea d'Os Melhores Sermões, citada. Referiu-se</p><p>a êle VIEIRA, Cartas, III, pág. 135, c. de 18 de dezembro de 1674, para dizer :</p><p>" . . . como se o servirmos aos indios fôra servirmo-nos dêles. "-25. Carta de 4</p><p>de abril de 1654, ibid, I, pág. 114. Continuava o padre a sua prédica nativista,</p><p>do sermão de 1640, "tudo o que se tirar do Brasil, com o Brasil se há de gastar",</p><p>História do Brasil - Século XVII 837</p><p>!\</p><p>f</p><p>f'�/�'</p><p>.fJ</p><p>td.t</p><p>V</p><p>IS</p><p>T</p><p>A</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>Ã</p><p>O</p><p>L</p><p>U</p><p>íS</p><p>D</p><p>O</p><p>M</p><p>A</p><p>R</p><p>A</p><p>N</p><p>H</p><p>Ã</p><p>O</p><p>.</p><p>G</p><p>ra</p><p>vu</p><p>ra</p><p>d</p><p>o</p><p>li</p><p>v</p><p>ro</p><p>d</p><p>e</p><p>B</p><p>a</p><p>rl</p><p>eo</p><p>,</p><p>op</p><p>.</p><p>ci</p><p>t.</p><p>B</p><p>ib</p><p>li</p><p>ot</p><p>ec</p><p>a</p><p>N</p><p>a</p><p>ci</p><p>on</p><p>a</p><p>l,</p><p>R</p><p>io</p><p>d</p><p>e</p><p>J</p><p>a</p><p>n</p><p>ei</p><p>ro</p><p>.</p><p>professa de São Roque, pertencente aos j esuítas, foi em todo o tempo</p><p>na mão dêstes um valioso elemento de fôrça."26</p><p>FLORESCEM AS MISSõES-Embarcaram em navios diferentes</p><p>Vieira e o capitão-general. Chegaram em j unho de 1655 a São Luís,</p><p>entre demonstrações de aprêço que significavam temor-do padre-e</p><p>obediência-ao glorioso soldado da Restauração pernambucana. En</p><p>quanto êste governou, não houve embaraços à ação, à disciplina e à</p><p>influência dos missionários.</p><p>Tomaram à sua conta os j esuítas onze aldeias de catecúmenos no</p><p>Maranhão e Gurupá ; seis perto de Belém, sete no Tocantins, vinte e</p><p>oito no Amazonas.</p><p>De resto, tinham agora o virtual monopólio das missões, cuj o cé</p><p>rebro era Vieira, apaixonado pelo seu ideal e disposto a realizá-lo sem</p><p>demora. Apenas em Gurupá soldados se amotinaram e expulsaram dois</p><p>padres : André Vidal desterrou</p><p>os culpados e libertou numerosos índios.</p><p>Um dos castigados-Capitão Antônio Lameira da Franca-havia de</p><p>desforrar-se no reino, denunciando à Inquisição ( quando se voltou ela</p><p>contra o grande pregador ) o Padre Antônio Vieira. �ste louvava o go</p><p>vernador : "Tem V. M. mui poucos no seu reino que sejam como André</p><p>Vidal . . . muito cristão, muito executivo, muito amigo da j ustiça e da</p><p>razão, muito zeloso do serviço de V. M. e observador das suas reais</p><p>ordens, e sobretudo muito desinteressado, e que entende mui bem tôdas</p><p>as matérias, pôsto que não fale em verso, que é a falta que lhe achava</p><p>certo ministro grande da côrte de V. M."27 E não limitava à Amazônia</p><p>as suas vistas largas : "Da volta que faço para o Maranhão, determino</p><p>de enviar missão aos índios do Camuci e do Ceará, que estão para a</p><p>parte do sul, e é tanto o número dêles como a necessidade que têm de</p><p>doutrina."28</p><p>Em 1657 resumiu os sucessos maiores : os moradores, não podendo</p><p>exercer as suas opressões sôbre os índios mansos, quiseram valer-se da</p><p>licença que tinham para resgatar os de "guerra j usta". Daí a entrada</p><p>"a dar guerra à nação dos aruãs e nheengaíbas, de que se deu conta a V.</p><p>M., querendo antes escravos tomados que comprados ; mas saiu-lhes</p><p>tanto pelo contrário, que indo a esta emprêsa cento e dez portuguêses, e</p><p>todos os índios do Maranhão e Pará, voltaram de lá com perda de gente</p><p>e reputação, e sem escravos".</p><p>Não se fêz a entrada no Amazonas aconselhada pelo padre, "por</p><p>que o governador e os do govêrno do Maranhão e Pará quiseram que as</p><p>Sermões, III, pág. 635 .-26. J. LúciO D'.AzEVEDO, op. cit., pág. 74.-27. Carta</p><p>do Pará, 6 de dezembro de 1655, Cartas, I, pág. 134.-28. Do Pará, 8 de dezembro</p><p>de 1655, ibid., pág. 138. E em 14 de dezembro, escrevendo ao secretário Pedro</p><p>Vieira : " . . . Foi contudo necessária a autoridade do Governador André Vidal junta</p><p>com algum rigor para que seculares e eclesiásticos desistissem de alguns movi</p><p>mentos populares, com que queriam inquietar a paz e escurecer a verdade." O</p><p>sermão da primeira oitava da Páscoa de 1656, Sermões, V, pág. 204, dedicou-o</p><p>VIEIRA à decepção dos moradores, com a volta da expedição que debalde procurara</p><p>História do Brasil - Século XVII 839</p><p>entradas se fizessem a outras partes, donde esperavam maiores inte</p><p>rêsses". Aos pacajás foi o Padre João de Sotto Maior, com quarenta</p><p>brancos e duzentos caboclos, gastando dez meses na viagem. "Dêstes</p><p>morreram a maior parte pela fome e excessivo trabalho ; e também</p><p>morreu o Padre João de Sotto Maior, tendo já reduzido à fé em obe</p><p>diência de V. M. quinhentos índios, que eram os que naquela paragem</p><p>havia da nação pacajá, e muitos outros da nação dos pirapés, que tam</p><p>bém estavam abalados para se descerem com êle." Não importava o</p><p>martírio-se a messe era abundante : "São mui poucos já os que não</p><p>tenham notícia dos principais mistérios da nossa santa fé."29</p><p>Do Padre Pedro Barbosa sabemos foi "o primeiro português que</p><p>penetrou o sertão dos índios tacanhapes, navegando o formidável rio</p><p>dos Juruunas na capitania do Pará em que gastou dois meses, sem</p><p>dispêndio algum da fazenda real, entrando as aldeias mais remotas da</p><p>quela nação, que praticou e induziu a se passarem para o Pará sendo</p><p>causa das pazes que celebraram com os tapuias j uruunas, as quais se</p><p>conservaram até o presente, deixando na viagem descobertas grandes</p><p>quantidades de cravos de que resultou conveniência para a fazenda</p><p>real". Outra primazia : " . . . sendo o primeiro que abriu caminho por</p><p>terra para a comunicação do Estado do Maranhão com o Ceará a cuj o</p><p>exemplo o fêz também o Governador André Vidal de Negreiros des</p><p>cendo o dito padre a socorrê-lo e acompanhá-lo com os seus índios</p><p>e mantimentos até a mesma capitania, instruindo e batizando os índios</p><p>tabajaras e por sua direção j uraram vassalagem a V. M. no ano de 660</p><p>nas mãos do Padre Antônio Vieira."80</p><p>O progresso era consolador e evidente. Em 1659 regozij ava-se</p><p>Vieira : "Trabalharam êste ano nas missões desta conquista vinte e</p><p>quatro religiosos da Companhia de Jesus, os quinze dêles sacerdotes,</p><p>divididos em quatro colônias principais do Ceará, do Maranhão, do</p><p>Pará e do rio das Amazonas. Nestas quatro colônias, que se estendem</p><p>por mais de quatrocentas léguas de costa, tem a Companhia dez resi</p><p>dências, que são como cabeças de diferentes cristandades a elas anexas,</p><p>a que acodem os missionários de cada uma em contínua roda, segundo</p><p>minas de ouro . . . Proféticas palavras !-29. Cartas, I, pág. 145. Das cartas trans</p><p>critas por J. LúCIO, Cartas, III, pág. 730, passim, se vê que VIEIRA lutou muitas</p><p>vêzes com a incompreensão de companheiros seus e os excessos do visitador,</p><p>Padre Francisco Gonçalves, tais "como de dar bastões e ginetas, e até hábitos de</p><p>Cristo, publicamente na igreja em presença de portuguêses". O propósito de VIEIRA</p><p>era obstar a novos conflitos com o Estado.-Sôbre a ocupação da terra, vid.</p><p>também P. HAFKEMEYER, Revista do lnst. Hist., Congr. lnst. de Hist. da Amé</p><p>rica, V, 56, passim.-30. STUDART, "Documentos", in Rev. do lnst. do Ceará,</p><p>XXXVII, pág. 21. O mesmo Padre Barbosa foi em 1675 "o que empreendeu na</p><p>vegar em canoa a costa do Maranhão até o Ceará facilitando-a de sorte que</p><p>está hoje corrente, indo dali à Bahia donde enviou missionários", ibid., pág. 22.</p><p>Dela dissera VIEIRA em 1660 : "Faço esta na serra de lbiapaba onde vim acabar</p><p>de visitar a missão. Levo comigo ao Padre Antônio Ribeiro e deixo em seu lugar</p><p>ao Padre Pedro Pedrosa, que já sabe bem a língua", Cartas, III, pág. 729.-</p><p>840 Pedro Calmon</p><p>a necessidade e disposição que se lhes têm dado. O trabalho, sem en</p><p>carecimento, é maior que as fôrças humanas, e, se não fôra aj udado</p><p>de particular assistência divina, já a missão estivera sepultada com os</p><p>que nela por esta mercê do céu conservam e continuam as vidas . O fru</p><p>to corresponde abundantemente ao trabalho, porque é grande o núme</p><p>ro de almas inocentes e adultos, que de entre as mãos dos mis</p><p>sionários por meio do batismo estão quotidianamente voando ao céu."</p><p>"O Padre Francisco Gonçalves, provincial que acabou de ser da pro</p><p>víncia do Brasil, foi em missão ao rio das Amazonas e rio Negro, que</p><p>de ida e volta é viagem de mais de mil léguas, tôda por baixo da linha</p><p>Equinocial, no mais ardente da Zona Tórrida." "E j á o ano passado</p><p>se fêz outra missão dêste gênero aos mesmos rios pelo Padre Francisco</p><p>Veloso, em que se resgataram e desceram outras tantas peças em</p><p>grande benefício e aumento do Estado."</p><p>O maior benefício-acentua-era só poderem ir a resgates os por</p><p>tuguêses com os missionários, o que evitara de vez os assaltos crimi</p><p>nosos, dando-se honestidade à venda dos cativos resgatados : "depois</p><p>de examinados e julgados por legitimamente cativos, os recebem e pa</p><p>gam os compradores, conseguindo os povos por esta via o que se tinha</p><p>por impossível neste Estado, que era haver nêle serviços de cons</p><p>ciência". 31</p><p>Um Império em formação !</p><p>"E assim como nas nossas primeiras conquistas se levantaram pa</p><p>drões das armas de Portugal em tôda parte onde chegavam os nossos</p><p>descobridores ; assim aqui se vão levantando os padrões da sagrada</p><p>cruz, com que se vai tomando posse destas terras por Cristo e para</p><p>Cristo." Enumera a seguir a missão a que foi o Padre Manuel Nunes,</p><p>teólogo notável, "mui prático e eloqüente na língua geral da terra",</p><p>com 45 soldados e 450 índios "de arco e remo", para castigar os fero</p><p>zes "inheiguaras" : trouxe prisioneiros duzentos e quarenta . . . E as</p><p>que se fizeram às regiões dos poquiguaras, dos tupinambás, reduzidos</p><p>todos, com proveito da gente do Pará, pois foram aldeados perto da</p><p>cidade, culminadas pela pacificação do terrível gentio da ilha de</p><p>Marajó.</p><p>O CASO DE MARAJó-Os nheengaíbas de Marajó zombavam há vinte</p><p>anos dos portuguêses, espalhados na ilha, trucidando quantos ousavam</p><p>explorá-la e talvez ligados a franceses e holandeses, cuj os navios ronda</p><p>vam o cabo Norte.a2 Bem quisera André Vidal exterminá-los. Debalde</p><p>os padres tentaram convertê-los . Por último ( 1655</p><p>) o Padre Sotto</p><p>Maior deixara com o principal dêles um crucifixo, e disse seria Jesus</p><p>"o missionário e apóstolo dêle e que os havia de converter à sua fé".</p><p>3 1. VIEIRA, op. cit., I, págs. 550-552. Vid. também do P. MANUEL RODRIGUEZ, El</p><p>Maraiíon y Amazonas, Historia de los Descubrimientos, Madri, 1684.-32. De</p><p>1654 é Relation de voyage des françois fait au cap de Nord en Amérique . • . sous</p><p>História do Brasil - Século XVII 841</p><p>Em 1658 o Governador Pedro de Melo (que sucedera a André Vidal</p><p>despachado para governar Pernambuco ) entendeu que, na iminência</p><p>de guerra com Holanda, de que se falava no reino, constituíam os nheen</p><p>gaíbas um sério perigo. Cumpria matá-los todos. Interveio Vieira, a</p><p>pedir que se tentasse uma vez mais a catequese. Mandou com efeito, na</p><p>quele Natal, dois índios, com a notícia de que as leis vigentes proibiam</p><p>o cativeiro e já não havia razão para os ódios antigos. Voltaram com</p><p>sete nheengaíbas, prontos para fazer as pazes, em atenção ao "papel</p><p>do padre grande", de quem lhes tinha antes chegado a fama. Trocadas</p><p>palavras de amizade, tornaram os embaixadores, dizendo que chama</p><p>riam os padres quando tivessem concluído uma povoação decente com</p><p>a sua igrej a ; e não faltaram à promessa. Em agôsto, dezenas de</p><p>canoas levaram Vieira e outros portuguêses a Marajó e ali viram o</p><p>crucifixo do Padre Sotto Maior, a par da alegria do gentio, que em</p><p>festas ("tocando buzinas e levantando pocemas, que são vozes de ale</p><p>gria" ) mostraram a "igrej a que tinham feito de palma".</p><p>Concebeu Vieira um modo impressionante de lhes fixar a lealdade :</p><p>foi alinhar todos os índios depois da missa, e fazê-los repetir, em côro,</p><p>o j uramento de fidelidade ao rei de Portugal.</p><p>Em 1665 a ilha de Joanes ( esta Marajó) era elevada a capitania e</p><p>dada a Antônio de Sousa de Macedo, tão conhecido por sua inteligente</p><p>diplomacia como por seus agudos pensamentos.33</p><p>A RETIRADA DOS PADRES-Não se lograra ainda um êxito assim.</p><p>Coisa parecida aconteceu na serra do lbiapaba, onde se agasalha</p><p>vam "por espaço de 24 anos em que estêve tomado Pernambuco" os</p><p>tobaj aras, "não só aliados mas vassalos dos holandeses e ainda cúm</p><p>plices de suas heresias".34</p><p>Os caboclos ali eram "tão calvinistas como se nascessem em Ingla</p><p>terra e Alemanha".35 Do trato dos flamengos conservavam singular</p><p>prevenção contra os católicos, e ódio a Portugal. Mantinham na serra</p><p>o último reduto de aliados dos flamengos no Brasil. Poderiam atirar-se</p><p>-como outrora o cruel J anduí-sôbre as povoações convizinhas ; ou</p><p>comunicar-se com os navios estrangeiros que, por vêzes, se abeiravam</p><p>la conduite de Monsieur De Royville . . . , Paris.-33. Carta de 23 de dez. de 1665.</p><p>O filho do donatário, Luís Gonçalo Sousa de Macedo, foi feito barão da dita</p><p>ilha, título transformado em 1754, quando da incorporação dela à coroa, em vis</p><p>condado de Mesquitela, em favor do bisneto de Sousa de Macedo. :ll:: ste notável</p><p>escritor ganhou ultimamente justa evidência com a tese que sustenta AFONSO</p><p>PENA JR., A "Arte de Furtar" e o seu Autor, 2 vols. , Rio, 1946, de que saiu</p><p>de sua pena sutil êste livro erradamente atribuído ao PADRE VIEIRA no século</p><p>seguinte. Graças à douta controvérsia a atenção da crítica se voltou ainda uma</p><p>vez para um dos espíritos mais audazes do Portugal seiscentista, levemente li</p><p>gado ao Brasil por essa doação de Marajó.-34. Cartas, I , pág. 169. No " Sermão</p><p>da Epifania", 1662, voltou VIEIRA a encarecer êstes triunfos : "De maneira que</p><p>a estrêla dos Magos em dois anos trouxe a Cristo três homens, e as nossas</p><p>(missões) em meio ano quatro nações."-35. VIEIRA, "Relação da Missão da Serra</p><p>de lbiapaba", Obras Várias, 11, pág. 84 ; e J. LÚCIO n'AZEVEDO, Hist. de Antônio</p><p>842 Pedro Calmon</p><p>IG</p><p>R</p><p>E</p><p>J</p><p>A</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>.</p><p>J</p><p>O</p><p>S</p><p>É</p><p>D</p><p>O</p><p>J</p><p>E</p><p>N</p><p>IP</p><p>A</p><p>P</p><p>O</p><p>,</p><p>m</p><p>u</p><p>n</p><p>ic</p><p>íp</p><p>io</p><p>d</p><p>e</p><p>C</p><p>a</p><p>st</p><p>ro</p><p>A</p><p>l</p><p>v</p><p>es</p><p>,</p><p>B</p><p>a</p><p>h</p><p>ia</p><p>.</p><p>N</p><p>o</p><p>p</p><p>o</p><p>rt</p><p>a</p><p>l</p><p>in</p><p>te</p><p>rn</p><p>o</p><p>es</p><p>tá</p><p>a</p><p>da</p><p>ta</p><p>d</p><p>a</p><p>co</p><p>n</p><p>st</p><p>ru</p><p>çã</p><p>o-</p><p>1</p><p>7</p><p>0</p><p>4</p><p>.</p><p>E</p><p>st</p><p>a</p><p>é</p><p>u</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>s</p><p>ra</p><p>ra</p><p>s</p><p>ig</p><p>re</p><p>ja</p><p>s</p><p>d</p><p>o</p><p>B</p><p>ra</p><p>si</p><p>l</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>tê</p><p>m</p><p>co</p><p>p</p><p>ia</p><p>r</p><p>o</p><p>u</p><p>a</p><p>lp</p><p>e</p><p>n</p><p>d</p><p>re</p><p>n</p><p>a</p><p>fr</p><p>en</p><p>te</p><p>.</p><p>O</p><p>u</p><p>tr</p><p>a</p><p>p</p><p>ec</p><p>u</p><p>li</p><p>a</p><p>ri</p><p>ed</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>es</p><p>ta</p><p>ig</p><p>re</p><p>ja</p><p>,</p><p>co</p><p>m</p><p>o</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>P</p><p>a</p><p>d</p><p>re</p><p>F</p><p>a</p><p>ri</p><p>a</p><p>s</p><p>em</p><p>O</p><p>u</p><p>ro</p><p>P</p><p>rê</p><p>to</p><p>,</p><p>M</p><p>in</p><p>a</p><p>s</p><p>G</p><p>er</p><p>a</p><p>is</p><p>:</p><p>a</p><p>en</p><p>tr</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>p</p><p>a</p><p>ra</p><p>o</p><p>p</p><p>ú</p><p>lp</p><p>it</p><p>o</p><p>é</p><p>p</p><p>el</p><p>a</p><p>p</p><p>a</p><p>rt</p><p>e</p><p>ex</p><p>te</p><p>ri</p><p>or</p><p>,</p><p>se</p><p>rv</p><p>id</p><p>a</p><p>p</p><p>or</p><p>u</p><p>m</p><p>a</p><p>e</p><p>sc</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>.</p><p>da costa cearense. Cumpria doutriná-los . Vieira não deixou a outrem</p><p>os riscos dessa j ornada. Os selvagens provocaram-na mandando ao</p><p>Maranhão mensageiros à procura do "padre grande". Mostravam-se</p><p>inclinados à paz, porém queriam o "padre grande". Em 3 de março de</p><p>1660 saiu êste, com dois j esuítas ( Pedrosa e Antônio Ribeiro) , o índio</p><p>de lbiapaba, a quem se dera o nome de D. Jorge da Silva, e mais cin</p><p>qüenta de escolta, cuj o cabo era Brás do Couto de Aguiar.36 Fêz via</p><p>gem fatigante-por areias, vales e montes-e feliz, tal a acolhida que</p><p>lhe dispensaram os bárbaros. Chegou ao alto da serra, onde moravam</p><p>os principais, em quarta-feira de trevas : logo encenou os atos da Pai</p><p>xão, e, com música e cânticos exerceu sôbre êles a influência irresistível</p><p>que havia nessas cerimônias. Os antigos discípulos dos padres lembra</p><p>vam-se comovidos, do ensino que se lhes dera. Os outros, subjugados</p><p>pela magia do espetáculo, também pelo sentimento dos primeiros, se</p><p>rendiam à fé e à obediência. E todos j uraram fidelidade aos jesuítas</p><p>e ao rei, como os índios de Marajó. Vieira passou um mês entre êles.</p><p>Mandou os índios provenientes de Pernambuco ( exatamente os amigos</p><p>dos holandeses ) para o Maranhão onde se aldearam à parte ; e deu aos</p><p>da serra, confiantes agora, e pacíficos, missionários que os fixassem nos</p><p>seus povoados.37</p><p>Não seria possível-a série de triunfos tranqüilos do "grande padre"</p><p>-sem a ajuda incondicional de governos enérgicos.38 D. Pedro de</p><p>Melo mereceu-lhe os mesmos elogios feitos a André Vidal. Temia que</p><p>outro de diverso estôfo desse ouvidos aos descontentes, impedisse a</p><p>liberdade de ação à Companhia e de novo-o que seria pior !-lan</p><p>çasse a dúvida em meio aos índios dóceis. Enganou-se. D. Pedro de</p><p>Melo não teve pulso para conter a revolta, latente todo êsse tempo, e</p><p>que afinal explodiu com uma fúria explicável.</p><p>Alçaram-se os moradores de São Luís contra o ditador religioso.</p><p>Queriam mais do que a retirada, das mãos dos jesuítas, do domínio</p><p>temporal dos índios : a expulsão dêles, à maneira do que fizeram os</p><p>Vieira, I , pág. 320.-36. " . . . Capitão de infantaria indo por cabo da Tropa que</p><p>o Governador e Capitão-Geral daquele Estado (Maranhão) mandou na Missão</p><p>que o Padre Antônio Vieira Religioso da Companhia de Jesus Visitador-Geral das</p><p>Missões daquela Cristandade fêz na era de mil e seiscentos e sessenta à Serra de</p><p>lbiapaba, a dar forma à mesma Cristandade e aquietar os ânimos dos principais</p><p>que andavam alterados e se temia que com os índios pernambucanos que tinham</p><p>seguido o serviço dos holandeses e na Restauração de Pernambuco se haviam aco</p><p>lhido à mesma serra se separassem da obediência da Igrej a e de Sua Majestade",</p><p>patente de Brás do Couto de Aguiar, 1666, Anais do Arq. Públ. da Bahia, VIII,</p><p>pág. 34. Não há referência a êste soldado nos livros citados.-37. J. LúciO D'AZE</p><p>VEDO, op. cit., I, pág. 325. O Padre Pedro Pedrosa em 1661 aquietou de novo</p><p>êsses índios, levantados, "conduzindo para o Maranhão o principal, André Co</p><p>roatai, com 400 almas de que se formou uma aldeia", STUDART, op. cit . , pág. 21.-</p><p>38. El-rei mandara-lhe os decretos pedidos pelos jesuítas, para que os entregasse</p><p>ao governador e aos prelados das outras religiões, escreveu VIEIRA (ao P.-Geral )</p><p>em 1658, P. SERAFIM LEITE, op. cit. , pág. 273 .-39. "Comigo tem o governador</p><p>mais confiança, e tanta, que vindo ao Pará, me deu fôlhas de papel assinadas</p><p>844 Pedro Calmon</p><p>paulistas. Estava Antônio Vieira no Pará. Acendera a cólera dos ma</p><p>ranhenses a divulgação de uma carta que escreveu ao bispo confessor</p><p>da rainha, a preveni-lo contra as queixas dos colonos. Caíra a carta</p><p>em poder de um frade do Carmo-pois naufragara o navio em que</p><p>ia-e o resultado não se fêz esperar. Tentou o governador apenas com</p><p>quatro criados-pois os soldados desapareceram-obstar à invasão</p><p>do Colégio. Não o respeitaram, ou acabou concordando (pensou Viei</p><p>ra ) .39 O Colégio foi varej ado, e os padres arrastados à prisão ( 17 de</p><p>maio de 1661 ) .40 Em Belém, ao saber disto entabulou Vieira negociações</p><p>com os vereadores, para os apartar da rebelião. Era tarde. Em 17 de</p><p>julho ( 1661 ) os paraenses elegeram um j uiz do povo, à semelhança</p><p>do que se praticara no Maranhão, investiram o Colégio, tomaram os</p><p>padres e, entre vexames e inj úrias, os embarcaram, para que fôssem</p><p>contar em Lisboa as indignações da colônia.41</p><p>O coração magoado, ansioso por dizer como costumava, e em asso</p><p>mos de eloqüência, os agravos sofridos, foi que o Padre Vieira entrou o</p><p>Tej o com os companheiros desterrados .42 O "Sermão da Epifania"-pe</p><p>rante a rainha regente que o estimava, lembrada da confiança em que</p><p>o tivera o marido-deu-lhe a oportunidade do desabafo.</p><p>"Levantou o demônio êste fumo ou assoprou êste incêndio entre as</p><p>palhas de quatro choupanas, que com nome de cidade de Belém, pu</p><p>deram ser pátria do Anticristo." "Quem havia de crer que houvessem</p><p>de arrancar violentamente de seus claustros aos religiosos e levá-los</p><p>presos entre beleguins e espadas nuas pelas ruas públicas e tê-los afer</p><p>rolhados e com guardas até os desterrarem ?" "Não se envergonhe já</p><p>a barra de Argel, de que entrem por ela os sacerdotes de Cristo cativos</p><p>e presos, pois o mesmo se viu em nossos dias na barra de Lisboa."</p><p>"Quanto aos interêsses, não tenho eu que dizer : porque todos os· nossos</p><p>haveres êles os têm em seu poder. Assim como nos prenderam e des</p><p>terraram, assim se apoderaram também das nossas choupanas e de</p><p>quanto nelas havia. Digam agora o que acharam." Obj etos sacros,</p><p>em branco", carta de VIEIRA, 1661, P. SERAFIM LEITE, op. cit., pág. 284. Depois,</p><p>em 1662, que "D. Pedro assim na mesma junta como em todo o tempo antecedente</p><p>fêz notáveis diligências por fazer verdadeiras as suspeitas que os padres tinham</p><p>de sua boa vontade". "Um do povo lhe disse publicamente : se os lançamos fora,</p><p>foi porque os criados de v. s.a nos disseram que assim o fizéssemos", idem, ibid.,</p><p>pág. 315 . A representação dos paraenses a VIEIRA, em 15 de j aneiro de 1661,</p><p>assinada pelos vereadores, e a sua resposta, publica-as BERREDO, op. cit., págs.</p><p>110-117.-40. D. Pedro de Melo tentou, em 16 de maio, obter da Câmara do Pará</p><p>que se contentasse com o confinamento dos jesuítas, ms. no Arq. Hist. Col.,</p><p>Lisboa.-41. É dêsse tempo (abril de 1662) carta de Francisco Barreto ao novo</p><p>governador do Rio de Janeiro, Pedro de Melo (não confundir com o do Maranhão) ,</p><p>em que "lastima da diferença que há de vencer castelhanos e lidar com mazom</p><p>bos", Does. Hist., V, pág. 146. Mazombos, brancos nascidos no Brasil, é palavra</p><p>corrente neste, e no seguinte século, como se lê em NuNo MARQUES PEREIRA, op.</p><p>cit., I, pág. 59 : "O Mazombinho canário" ( 1727 ) . Mas, no seu dicionário, MoRAIS</p><p>a indica como têrmo injurioso. Vid. nota 14, cap. XXXI.-42. Em 25 de dezembro</p><p>de 1661, teve ANTÔNIO VIEIRA vista dos papéis mandados pelos moradores do</p><p>História do Brasil - Século XVII 845</p><p>"alguns livros, catecismos, disciplinas, cilícios e uma tábua ou rêde em</p><p>lugar de cama, porque as que levamos de cá se dedicaram a um hospital" .</p><p>De novo tornaria o padre às missões do Brasil, se a política do Reino</p><p>não mudasse, com o advento inesperado do rei menor D. Afonso VI.</p><p>PARTIDOS DA CôRTE-Mas o momento não era propício às rei</p><p>vindicações dos missionários.</p><p>Não escapou Vieira aos convites da intriga que dividia a côrte,</p><p>entre os partidários do rei menor e os que lhe combatiam as más com</p><p>panhias, a sua súcia de "valentes" e as ambições que a manej avam.</p><p>Nomeou-se "o Padre Antônio Vieira da Companhia de Jesus in</p><p>signíssimo pregador e que o era de el-rei vindo havia poucos tempos</p><p>expulso do Maranhão" para confessor do Príncipe D. Pedro ( em quem</p><p>muitos viam o rei futuro, melhor que o irmão débil ) . "E chegou a</p><p>tanto a imaginação que el-rei se opôs com tôda a fôrça a que o Padre</p><p>Antônio Vieira fôsse confessor, pois receava da viveza de seu enge</p><p>nho e traças maquinaria maiores pensamentos ." Impediu a nomeação,</p><p>mas ficou o padre entre os adversários da "súcia", e foi, com Cadaval,</p><p>o Marquês de Gouveia, o Conde de Soure, dos que "assentaram con</p><p>vinha a expulsão de Antônio de Conti e de outros suj eitos que el-rei</p><p>favorecia" .43 Em conseqüência, ao ser proclamada a maioridade de</p><p>Afonso VI, el-rei "mandou também expedir decreto para que o Padre</p><p>Antônio Vieira fôsse desterrado cinqüenta léguas fora da côrte" (23</p><p>de junho de 62 ) .</p><p>Deram-lhe residência forçada no Pôrto, e irônicamente escreveu daí</p><p>ao Marquês de Gouveia também exilado : "Veio-me ao pensamento se</p><p>seria isto fôrça do tabaco do Maranhão, que me dizem está muito</p><p>valioso, por não dizer valido ; mas o partido dos nossos inimigos está</p><p>tão amparado, que não necessita a sua vitória destas diligências."44</p><p>Não durou, o govêrno frouxo de Afonso VI. Foi obrigado a mandar</p><p>embora o ministro e valido Conde de Castelo Melhor (9 de setembro</p><p>de 1667) . Casou, para agradar a côrte de França ( que aliás propiciara</p><p>o casamento de sua irmã com o rei de lnglaterra) -com a caprichosa</p><p>Mademoiselle d'Aumale, filha mais velha do Duque de Némours, Carlos</p><p>Amadeu de Sabóia.45 Esta união impossível ( como provou o ruidoso</p><p>"processo de nulidade do casamento", proposta pela rainha) precipitou</p><p>a queda do trono, desacreditado pelas desordens e intemperanças do</p><p>Maranhão, para responder, ms. no Arq. Hist. Col. , Lisboa.-43 . D. Afonso VI,</p><p>edição de E. BRASÃO, págs. 30-32. O papel da expulsão dos Conti "de que dão</p><p>por autor ao PADRE ANTÔNIO VIEIRA", ibid., pág. 34, mas foi o Duque de Cadaval,</p><p>DAMIÃO PERES, op. cit., VI, pág. 104.-44. Cartas, I, pág. 175. Sôbre as ocor</p><p>rências do Amazonas-Maranhão, P. BETTENDORF, "Crônica", Rev. do Inst.</p><p>Hist., vol. 72 ( 1909) .-45. Portanto neta do Duque de Vendôme, bastardo de</p><p>EXECUÇÃO ( 1684 ) , DE MANUEL BEQUIMÃO E JORGE SAMPAIO EM SÃO�</p><p>LUíS, sendo Francisco Dias Eiró executado em efígie, por estar foragido. Desenho</p><p>de J. W asth Rodrigues.</p><p>846 Pedro Calmon</p><p>pobre monarca, tachado de "tolo", "mais incapaz", "doente e cheio de</p><p>enfermidades", portanto sem poder continuar soberano e . . . casado.</p><p>Na verdade a rainha se ligou ao príncipe D. Pedro, irmão do rei, para</p><p>o destituir ; e vendo êle que já não contava com os principais da no</p><p>breza e, sobretudo, com o povo das ruas, em ameaças de revolta, renun</p><p>ciou à coroa em 23 de novembro de 1667. Renunciou depois que a</p><p>rainha, com estrondo, fugiu da côrte para se recolher ao convento da</p><p>Esperança, de onde iniciaria aquêle terrível processo de anulação . . . 46</p><p>Tôda a conjura-acrescenta Racine, talvez de ouvir dizer aos íntimos</p><p>da rainha D. Maria Francisca, foi por ela empreendida (com os con</p><p>selhos do Conde de Schomberg) e . . . "conduite par le P. Lami, jésuite,</p><p>son confesseur".47</p><p>Só voltou o Padre Vieira para morrer-no seu saudoso Colégio da</p><p>Bahia-em 1681. Não mais o veriam no Maranhão, onde prevaleceu o</p><p>interêsse, com pouca religião, dos tabacais e canaviais, lavrados pelos</p><p>tapuias do resgate.</p><p>Rui Vaz de Sequeira (que em São Luís se empossou governador, a</p><p>26 de março de 62) certificou como não tinha ordem contrária à ex</p><p>pulsão dos j esuítas ; e não tardou que o Conde de Castelo Melhor, po</p><p>deroso ministro de Afonso VI, desse ganho de causa aos moradores,</p><p>com a provisão de 12 de setembro do ano seguinte. Esta acabou com</p><p>o regímen instituído em 1652, quanto à administração e "descida" dos</p><p>índios. Podiam as Câmaras-portanto os escravizadores-nomear os</p><p>cabos das bandeiras, autorizar e distribuir os resgates, pertencendo o</p><p>espiritual, nessas entradas, a qualquer das ordens religiosas existentes</p><p>nas capitanias, como</p><p>DE SALVADOR CORREIA DE SÁ. Galleria degli Uffizi, Florença,</p><p>Itália. Cópia oferecida à Câmara Municipal da Bahia pelo Visconde de Paraguaçu.</p><p>Fotografia do arquivo da Prefeitura do Salvador.</p><p>História do Brasil- Século XVII 697</p><p>Apresentou-se com êles na várzea em 23 de janeiro de 48. Por ordem</p><p>expressa do Conde de Vila Pouca assumiu o comando geral da guerra</p><p>dois dias antes da batalha dos Guararapes.</p><p>GUARARAPES-É o próprio Barreto a contar : "Chegou a armada</p><p>do inimigo a 14 de março14 e preveniu tôda a sua infantaria até 18 de</p><p>abril, dia em que saiu à campanha com seu exército, o qual constava</p><p>de 5 mil e 200 infantes, 500 homens do mar, e 300 índios e tapuias;</p><p>traziam em todos seus batalhões 60 bandeiras, demais de um estandarte</p><p>grande com armas das Províncias Unidas e Estados Gerais, cinco peças</p><p>de artilharia, muitos víveres, munições e dinheiro. Governava êste</p><p>exército Segismundo Schkoppe com seis coronéis, a saber, Haus, van</p><p>Elst, Hautyn, Pedro Keervee, van den Brande e Brinck."1 5</p><p>Costeou, passando o Afogados, pela Barreta, onde cercou e ani</p><p>quilou um pôsto de cem portuguêses ; e de rumo feito para Muribeca</p><p>-levando nos embornais oito dias de mantimentos, o que indicava a</p><p>intenção de varrer a capitania até o cabo de Santo Agostinho-se</p><p>atirou para o caminho coleante ao sopé dos montes Guararapes.</p><p>Tomara Barreto, como dissemos, a 16 de abril, a chefia dos rebeldes</p><p>(2 .200 homens ) ; e ao saber da saída de Schkoppe, convocou a conselho</p><p>os mestres-de-campo, para deliberar se o interceptariam, a despeito do</p><p>seu poder. Decidiram que o esperassem naqueles montes, j unto aos quais</p><p>teria de passar, pelo único caminho existente, apertado entre os barran</p><p>cos e o alagadiço. Deslocou Barreto a sua fôrça (menos 300 homens</p><p>que continuaram nas estâncias do cêrco ) para o último dos outeiros,</p><p>em direção do sul, e arranchou na baixada, de modo a ficar escondida,</p><p>só aparecendo ao inimigo quando já estivesse, desabrigado, na lingüeta</p><p>entre o pântano e as escarpas : e teve no dia seguinte ( 19 de</p><p>abril) a iniciativa.</p><p>Marchavam os flamengos em vistosas colunas de pendões arvorados</p><p>( 61 bandeiras ! ) , canhões rodando, tambores à dianteira, armas ao</p><p>sol, confiantes numa fácil vitória-sôbre as desordenadas tropas insur</p><p>retas. Mal enfiou, porém, a vanguarda, pela estrada que contorna os</p><p>montes, chapinhando na terra molhada-tomou-lhe a frente Vidal de</p><p>53, ANTÔNIO JOAQUIM DE MELO, Biografias de Alguns Poetas e HomtJns Ilustres</p><p>-da Província de Pernambuco, I, págs. 112-113, Recife, 1856; sargento-mor, 27 de</p><p>novembro de 68. Estêve. nas duas batalhas dos Guararapes, Does. Hist., XXX.</p><p>Aliou-se à família Góis de Araújo, com numerosa descendência.-14. Carta de</p><p>Francisco Barreto, considerada por VARNHAGEN, Hist6ria das Lutas com os Holan</p><p>deses no Brasil, pág. 347 da nova edição, Bahia, 1955, documento capital para</p><p>o episódio, publ. também por ALBERTO LAMEGO, in Documentos dos Arquivos Portu</p><p>guêses que Importam ao Brasil, n.0 2, e que preferimos ler na cópia que acompanha</p><p>as Cartas de D. João IV ao Conde da Vidigueira, II, pág. 258 (corrigindo vários en</p><p>·ganos da transcrição de VARNHAGEN).-15. Vid. VARNHAGEN, Hist. Geral do Brasil,</p><p>-+-BATALHA DAS TABOCAS ( agôsto de 1645 ) . "Os negros desceram do alto do</p><p>monte por duas partes armados com arcos e flechas, zagunchos e facões, todos</p><p>com penachos a seu modo e tocando flautas, atabaques e buzinas, fazendo grande</p><p>vozeria." Desenho de J. Wasth Rodrigues.</p><p>Hist6ria do Brasil- Século XVII 699</p><p>Negreiros, enquanto Camarão e Henrique Dias "de uma parte e da</p><p>outra" procuravam cortá-la. Conseguiu Vieira, a espada, rechaçar os</p><p>que se tinham adiantado e ainda atropelar e romper as fileiras que</p><p>os seguiam. Recuaram os flamengos sôbre a artilharia e as bagagens,</p><p>sem espaço para distenderem as linhas, nem conhecimento do número</p><p>dos atacantes, correram para os altos,16 e-numa furiosa acometida</p><p>-repeliram os pretos de Henrique Dias. Acudiu Barreto com a reserva</p><p>(quinhentos homens) , mas quis abreviar caminho tomando por um</p><p>atalho, e nesta demora os holandeses recuperaram o material que iam</p><p>perdendo. Pôs-se o general "em um regato que havia na campanha",</p><p>e de espada em punho mandou novamente à luta os soldados que co</p><p>meçavam a debandar. Refizeram-se ; e às ordens de André Vidal vol</p><p>taram à refrega, com tal ardor que "o inimigo se retirou a ocupar umas</p><p>eminências" retirando "para elas os feridos que mais perto lhe fica</p><p>vam". Exaustos os portuguêses, que há "mais de 24 horas não comiam"</p><p>(enganando o estômago, diz Diogo Lopes de Santiago, com farinha de</p><p>pau, água açucarada e pedaços de rapadura ) , espalhou-os Barreto</p><p>pela colina fronteira. De monte a monte podiam par lamentar</p><p>ou se cobrirem de balas. Quatro horas, entretanto, durara a batalha,</p><p>e ao tombar a noite o silêncio desceu sôbre os dois exércitos. Quando</p><p>raiou a aurora de 20 de abril, "de Nossa Senhora dos Prazeres", já</p><p>não havia a quem combater.</p><p>Levantara Schkoppe o . acampamento retornando calada e triste</p><p>mente para o Recife.17</p><p>Deixou mais de mil mortos e feridos, 33 bandeiras, o estandarte</p><p>dos Estados, um canhão . . . 18</p><p>Leu o Padre Vieira na Haia a carta de um burguês de Amsterdã,</p><p>em que o fracasso de Segismundo era sobriamente narrado : "Ontem</p><p>vos escrevi que os nossos se bateram em Pernambuco com os portu</p><p>guêses, e que da nossa parte ficaram mortos trezentos e da sua 900 ;</p><p>mas informando-me melhor, e vendo as cartas do Recife, consta que</p><p>os nossos mortos foram mais de seiscentos, e mais de 400 os malferidos.</p><p>Dos portuguêses que morreram não se sabe o número certo, só se diz</p><p>III, pág. 60.-16. A colocação paralela dos exércitos nos montes, um em frente ao</p><p>outro ( sendo dos portuguêses a elevação onde está, votiva, a igreja da Senhora</p><p>dos Prazeres) , foi evidentemente em seguida ao primeiro desbarato da van</p><p>guarda holandesa, quando, surpreendida, desfez a marcha em coluna e pro</p><p>curou espalhar-se, protegendo-se, pelas ladeiras. Não se repetiu a manobra do</p><p>monte das Ta bocas : ao contrário, os flamengos tiveram momentâneamente a supe</p><p>rioridade do terreno-de que não puderam usar. André Vidal de Negreiros diz</p><p>ter tido a iniciativa da vanguarda, carta de 12 de maio de 1648, inédita, revelada</p><p>por VIRGÍNIA RAU, in Brasília, IX, pág. 346, Coimbra, 1955.-17. Vid. DIOG) LOPES</p><p>DE SANTIAGO, op. cit., pág. 628. Da batalha há quadros sem exatidão histórica que</p><p>se repetem, datados de 1709 ( da Câmara de Olinda, figurando Tabocas e Guara</p><p>rapes, hoje no Museu do Estado ) , 1787 (tectos da igreja da Conceição do Recife)</p><p>e 1801 (tábuas do côro da igreja da Senhora dos Prazeres de Guararapes, atual</p><p>mente no Instituto Arqueológico Pernambucano ) .-18. Mapas in R. GARCIA, nota</p><p>a VARNHAGEN, III, págs. 76-78. Em carta a Salvador de Sá descreveu o governa</p><p>dor-geral mais ou menos o que Barreto mandara dizer oo rei, na citada carta.</p><p>700 Pedro Calmon</p><p>que os levaram em quatorze carros." Continua o padre : "Entre os</p><p>feridos foi um o General Segismundo. Entre os mortos o Coronel Hus,</p><p>que era o mais antigo, e o Coronel Vandennoven, e muitos capitães e</p><p>oficiais até número de 50." "Escrevem os do Recife que os portuguêses</p><p>estão fortes como um muro ( que é frase sua) ." Exultava. "De maneira,</p><p>senhor, que temos Pernambuco vitorioso, o Rio de Janeiro socorrido, a</p><p>Bahia com armada, Angola com a esquadra de Salvador Correia."19</p><p>CONSEQüÊNCIAS-Segismundo não perdera somente a batalha, per</p><p>dera a guerra.</p><p>Jamais teria aquêles meios de romper o adversário ( com armada</p><p>no pôrto e 6 mil homens decididos, contra um exército desunido e ata</p><p>rantado) ; nem os experimentados oficiais que lá ficaram, estendidos</p><p>no campo, como o Coronel Haus (o mesmo da casa-forte), o Major</p><p>Claer, o Coronel Van Elst . . . Podia acusar-se de imprevidência-não</p><p>tendo reconhecido o terreno em que ia lutar-e temeridade-nêle en</p><p>trando no escuro, com todos os seus elementos. Sacrificara o melhor</p><p>da sua gente numa ação intempestiva-sem lograr movimentá-la confor</p><p>me</p><p>tanto pediam os franciscanos, excluídas elas, os</p><p>capitães-mores e os cabos, da partilha dos cativos.48</p><p>Foi quando a revolta de Bequimão reforçou o poder real no Mara</p><p>nhão, que voltaram os jesuítas. Mas somente em 1687.</p><p>ECONOMIA PRIMITIVA-Até 1680 se ressentiu o Norte do Brasil</p><p>da rivalidade das Câmaras do Maranhão e do Pará, das dúvidas acêrca</p><p>da repartição dos índios resgatados, das divergências quanto à auto-</p><p>Henrique IV.-46. DAMIÃO PERES, op. cit., VI, pág. 112.-47. RACINE, Oeuvres</p><p>Completes, 11, pág. 285, Paris, 1952. Fala RACINE de carta em que o Conde de</p><p>Schomberg traçara o projeto de revolução, e que a rainha esquecera, fingindo-se</p><p>doente por ocasião de uma missa, para ir buscá-la ao lugar onde ficara . . . A</p><p>participação daquele agente de Turenne é como se fôsse a de Luís XIV, na cons</p><p>piração que daria o primado político à rainha e ao príncipe, com quem ela em</p><p>seguida casou, êsse hábil e ousado D. Pedro 11, cujo partido tomaram os padres</p><p>Lami e Antônio Vieira.-48. VARNHAGEN, 111, págs. 246-247. Carta régia de 1688</p><p>mandou pagar aos jesuítas côngruas vencidas desde a data da expulsão "sem</p><p>culpa", Does. Hist., XXIX, pág. 256. Venceu a campanha pertinaz dos padres.</p><p>A justiça ajudou-os. Resume-lhes as queixas Pedro Fernandes Monteiro, repre</p><p>sentação ao rei ouvida pelo Conselho Ultramarino, a 13 de setembro de 1663,</p><p>ms . no Arq. Hist. Col., Lisboa. A praxe estabeleceu-se (repetiu VIEIRA, Cartas,</p><p>111, pág. 669 ) , "se prova é de cabelo corredio", "em diferença dos etíopes", o</p><p>índio não podia continuar escravizado. Estabeleceu-se na "Relação da Bahia e</p><p>848 Pedro Calmon</p><p>ridade eclesiástica que interviria nesse "tráfico". A mesma lei era sus</p><p>pensa em São Luís e aceita em Belém. Discordavam os principais, de</p><p>uma e outra capitania, e não havia ninguém contente, pois as ordens</p><p>religiosas se queixavam igualmente de sua desvalia no concêrto dos</p><p>assuntos espirituais, dezessete anos relegados a plano secundário.</p><p>Crescera em lavouras e comércio a terra, mas se conservava bem</p><p>pobre a vida nas duas cidades, principalmente no Maranhão, onde, em</p><p>vez de dinheiro, corriam novelos de algodão. "Novelas e novelos, são</p><p>as duas moedas correntes nesta terra."49 Duas varas de pano por mês</p><p>eram a paga de um índio ( em 1662 ) ; e tivera o Conselho Ultramarino</p><p>de ordenar que se firmasse o valor dos novelos, "enquanto se não</p><p>procura outro meio de se meter dinheiro nesse Estado".50 Gregório de</p><p>Matos achou-lhe graça :</p><p>Porque como em Maranhão</p><p>Mandam novelos à praça,</p><p>Assim vós por esta traça</p><p>Mandareis o algodão :</p><p>Haverá permutação,</p><p>Como ao princípio das gentes . . . 51</p><p>Essa aflição inspirou-em 1680-uma "grande j unta sôbre o remé</p><p>dio espiritual e temporal do Maranhão", "clamando todos que o dito</p><p>Estado se vai perdendo e acabará de todo se não lhe acudirem". Foi</p><p>preponderante aí a voz de Antônio Vieira : "desej ando e concordando</p><p>todos em que os moradores deviam ser aliviados e aj udados com a</p><p>maior despesa da Fazenda Real que fôsse possível, e a êste fim tira</p><p>ram os estanques e direitos, e se fêz o contrato dos negros, que será</p><p>o maior e mais fundamental remédio, como tantas vêzes proposto de lá</p><p>e tão desejado, principalmente sendo os preços moderados e os prazos</p><p>muito largos."52 A importação de africanos, que substituíssem os ín</p><p>dios nas roças, 58 seria a tranqüilidade dêstes, e dos padres, com o pro</p><p>veito geral, da terra, à semelhança do que acontecera na Bahia e em</p><p>Pernambuco cem anos antes. Ao mesmo tempo os jesuítas eram desa</p><p>gravados,M com a ordem para que volvessem à liberdade os í�dios</p><p>escravizados ( 1 .0 de abril de 80) , e logo a 7 de março de 81 se crwu a</p><p>"Junta de Missões", com o fim de fiscalizar os negócios entre os colonos</p><p>e o gentio.</p><p>de todos os ouvidores e justiças do Brasil . . . "-49. VIEIRA, Sermões, IV, pág. 146,</p><p>ed. de 1909.-50. GARCIA, nota a VARNHAGEN, III, pág. 206.-51. "Satírica",</p><p>Obras, Il, pág. 206. A sátira é à lei de 1686, que alterou novamente o valor da</p><p>moeda, no reino.-52. Carta de 2 de abril de 1680, Cartas, III, pág. 430.-53. Em</p><p>1660 pedira VIEIRA : "Necessitamos muito de tapanhunos (negros ) que já temos</p><p>pedido à província . . . Nesta serra me deu o Padre Antônio Ribeiro por alvitre</p><p>que o provedor da Fazenda de Pernambuco nos podia comprar lá estas peças, e</p><p>mandá-las no barco del-rei que vem todos os anos ao Ceará", ibid., pág. 733.-</p><p>54. Vid., entre outras, carta régia de 27 de agôsto de 1680, Does. Hist., XXIX,</p><p>História do Brasil - Século XVII 849</p><p>A</p><p>S</p><p>P</p><p>E</p><p>C</p><p>T</p><p>O</p><p>S</p><p>D</p><p>O</p><p>M</p><p>A</p><p>R</p><p>A</p><p>N</p><p>H</p><p>Ã</p><p>O</p><p>,</p><p>S</p><p>ã</p><p>o</p><p>L</p><p>u</p><p>ís</p><p>.</p><p>R</p><p>u</p><p>a</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>g</p><p>a</p><p>cu</p><p>jo</p><p>s</p><p>p</p><p>ré</p><p>d</p><p>io</p><p>s</p><p>le</p><p>m</p><p>b</p><p>ra</p><p>m</p><p>a</p><p>só</p><p>b</p><p>ri</p><p>a</p><p>a</p><p>rq</p><p>u</p><p>it</p><p>et</p><p>u</p><p>r</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>L</p><p>is</p><p>b</p><p>o</p><p>a</p><p>,</p><p>n</p><p>a</p><p>p</p><p>ri</p><p>m</p><p>ei</p><p>ra</p><p>m</p><p>et</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>sé</p><p>cu</p><p>lo</p><p>X</p><p>IX</p><p>.</p><p>REBELIà O DOS MARANHENSES-Os moradores-vendo renovar-se</p><p>a reivindicação dos j esuítas, e ainda sem o tráfico negreiro, que a</p><p>mitigasse-mandaram à côrte Inácio Coelho da Silveira e Francisco</p><p>da Mota Falcão. Sobreveio disposição mais antipática : a Companhia</p><p>de Comércio (alvará de 12 de fevereiro de 82) , que teve vinte anos</p><p>de exclusividade do mercado do Maranhão, com o estanco das mercado</p><p>rias principais, cuj o preço arbitraria, obrigando-se a introduzir qui</p><p>nhentos negros por ano.55 Se, por um lado, servia à lavoura, com os</p><p>novos escravos,56 por outro faltava à promessa da Junta de 1680, res</p><p>tringindo o comércio com o si stema do estanco, agravado, na prática,</p><p>pela irregularidade dos fornecimentos, carestia e escassez de gêneros,</p><p>como acontecera à Companhia Geral em 1655. Há trinta anos o des</p><p>gôsto raiara em revolta no Rio de Janeiro. Pior tinha de ser em São</p><p>Luís, onde lavravam, impunes desde o comêço, intrigas e insolências de</p><p>homens de negócio, senhores territoriais e apresadores de caboclos.</p><p>Tomaram a frente à agitação um senhor de engenho, Manuel Be</p><p>quimão, e um advogado provisionado, seu irmão Tomás Bequimão.</p><p>Em 24 de fevereiro de 1684 levantaram o povo, prenderam o ca</p><p>pitão-mor, na ausência do Governador Francisco de Sá de Meneses,</p><p>então em Belém, interditaram o Colégio dos Jesuítas----onde havia vinte</p><p>e sete padres, que foram expulsos dias depois57-e declararam extinta</p><p>a Companhia. Deram ao seu excesso formalidades de reação legítima.</p><p>Houve Te Deum, em confirmação dos intuitos cristãos do motim ; saiu</p><p>um portador com cartas para a Câmara do Pará e para o Bispo D.</p><p>Gregório dos Anj os, que também lá se achava em visita apostólica ;</p><p>reuniu-se Junta Geral para aprovar os atos praticados. Mas a circuns</p><p>tância de estarem livres de coação o bispo e o governador foi fatal à</p><p>revolução. Sugestionada por êles a Câmara de Belém invectivou-a ru</p><p>demente. Lembrou-se Manuel Bequimão de mandar o irmão a Lisboa,</p><p>para justificar a violência havida. Foi êste prêso e devolvido ao Ma</p><p>ranhão na frota em que veio novo governador, Gomes Freire de An</p><p>drada, bem instruído acêrca dos meios extremos com que debelaria a</p><p>insurreição. Acompanharam-no Francisco da Mota Falcão e o morador</p><p>de São Luís Jacinto de Morais Rêgo, que, intermediários hábeis, obti</p><p>veram ao desembarcar que Câmara e povo recebessem respeitosamente</p><p>o representante régio.</p><p>Gomes Freire saltou em terra entre demonstrações de obediência,</p><p>certificou-se da disciplina da tropa, e, com exemplar energia, restaurou</p><p>pág. 118.-55. Vid. VARNHAGEN, III, pág. 307 e segs. ; J . F . LISBOA, O bras, III,</p><p>pág. 418 e segs.-56. Até o comêço do século seguinte a produção açucareira do</p><p>Maranhão era pequena e de inferior qualidade. Carta régia de 6 de maio de</p><p>1706, mandando fôssem mestres de açúcar da Bahia, disse "ser conveniente que</p><p>no Estado do Maranhão se obrem açúcares e êstes sejam de igual bondade dos</p><p>que se fazem no Brasil", Anais do Arq. Públ. da Bahia, I, pág. 213 .-57. Carta</p><p>de VIEIRA, 22 de julho de 1684 : "De novo nos tornaram a lançar do Maranhão</p><p>aquêles bons cristãos que, se foram castigados da primeira vez e desterrados os</p><p>principais moradores e alguns frades que os fomentam, não se</p><p>os rudimentos da estratégia-e dera com isto aos rebeldes glória, ufa</p><p>nia e vigor. Sobretudo entusiasmo.20 "A verdade é que só a Deus e à Vir</p><p>gem Santíssima devemos esta vitória"-clamava Vidal de Negreiros.</p><p>Vissem aquela prodigiosa resistência, vinte e quatro horas quase</p><p>sem comida, face voltada para o inimigo reluzente de tanta armaria,</p><p>flâmulas e insígnias! E os seus andraj os em contraste com aquêle</p><p>esplendor de morriões, couraças, gibões coloridos e chapéus empluma</p><p>dos! Saídos das brenhas por onde rastejavam índios e negros, de al</p><p>catéia ao europeu-vestiam os farrapos das velhas roupas, enrolavam</p><p>no pescoço grandes rosários, dispensavam bandeiras, preferiam aos</p><p>mosquetes e às pistolas a espada, e com ela ao sol vendiam caro a</p><p>vida . . . A vida e a terra.</p><p>Esta, não lhes tomariam !</p><p>NA EUROPA-Mas a situação piorara na Europa. Na verdade, acer</p><p>tava D. João IV: "brevemente parece que se gastará o socorro que foi</p><p>de Holanda àquele Estado, tempo era já de entenderem os de Holanda</p><p>que lhe não está bem a guerra" .21 Pactuara-se entretanto em Munster</p><p>a paz de Holanda e Espanha, de cujos artigos insidiosamente constava</p><p>Quanto às perdas portuguêsas, de 20 soldados pagos e 40 moradores, Does . Hist.,</p><p>IV, pág. 435, segundo uma fonte, de 70 mortos e 350 feridos, conforme BANDEIRA</p><p>DE MELO, ms. cit., cifras que Barreto eleva e diminui para 80 e 400, respectiva</p><p>mente. Das bandeiras tomadas, guardou Barreto a dos Estados e enviou 19 para</p><p>a Bahia. As outras, índios e pretos, não lhes dando importância, dilaceraram,</p><p>"para bandas e outras galas", carta de Barreto, Cartas de D. João IV, 11, pág.</p><p>260 ; e de Vida! de Negreiros in Brasília, IX, pág. 347. :m::;te diz que os holandeses</p><p>levavam libambos e grilhões, para prenderem os escravos retomados.-19. VIEIRA,</p><p>op. cit., I, pág. 222. Quanto a Henrique Haus, como dissemos, não morreu. Em</p><p>1674 foi assassinado na Bahia.-20. No mesmo ano em Paris publicou-se, na</p><p>Gazette, "Défaite des hollandais dans le Brésil ." Leia-se também GEN. LOBATO</p><p>FILHO, As Duas Batalhas de Guararapes, pág. 11 e segs., Recife, 1939, com cro-</p><p>História do Brasil- Século XVII 701</p><p>a restituição aos flamengos das praças que possuíam no Brasil. Re</p><p>ceoso de um ataque conj unto, chegara o rei a premeditar (se aconteces</p><p>se) o seu transporte para a ilha Terceira, ficando ainda com o Grão</p><p>Pará e o Maranhão.22 A idéia da transmigração (acariciada pelos</p><p>príncipes da casa de Bragança, sempre que a crise internacional os</p><p>ameaçou ) encorpara-se no espírito fértil do Padre Vieira ; e provàvel</p><p>mente se estampa naquele outro trecho de confidência: "o roteiro que</p><p>el-rei, que Deus tem, tinha prevenido, como tão prudente, para o caso</p><p>de semelhante tempestade e se achou depois de sua morte em uma gaveta</p><p>secreta, rubricado de sua real mão com três cruzes".2 3 O jeito era</p><p>antecipar a coação pela transação, voltando-se às conversas da compra.</p><p>Foi-se segunda vez o Padre Vieira para Haia, a ver se incluía Portugal</p><p>no acôrdo, a trôco do dinheiro que lhe exigissem. Já os holandeses não</p><p>queriam ouvir falar disto. Então-que se desse Pernambuco.2 4</p><p>Entre duas famosas "memórias" do padre, de 1647, mostrando as</p><p>conveniências da compra, e de 1648, chamada de "papel forte", em</p><p>que, rendido aos novos temores, advogava a entrega do Brasil, do</p><p>Rio Real para o norte,2 5 se situou essa perplexidade diplomática. Ia</p><p>mais longe: para contrapor a castelhanos e flamengos poder maior,</p><p>tentaria em Paris ajustar o casamento do Príncipe D. Teodósio com</p><p>a filha do Duque de Orléans, a Grande Mademoiselle, com o que se</p><p>combinaria nada menos do que a divisão da monarquia portuguêsa. O</p><p>pai da noiva regeria o reino de Portugal na menoridade do genro e D .</p><p>João IV viria reinar . . . no BrasiJ.26 Para casar bem D. Teodósio, dera</p><p>lhe êste principado. Nas instruções secretas passadas ao Marquês de</p><p>Niza, em 1646, prevenia o rei: "Ao príncipe tenho declarado Príncipe</p><p>do Brasil e lhe tenho feito doação da casa de Bragança, que é estado</p><p>tão rico de lugares, vassalos, rendas e datas como sabeis."2 7 Com ta</p><p>manho título, equiparava-se aos "maiores príncipes da Europa". A sa</p><p>tisfazer o orgulho da côrte de Luís XIV, propunha-lhe o consórcio da</p><p>filha do Duque de Orléans, sete anos mais velha, com o "príncipe do</p><p>Brasil" ! Nem hesitaria em oferecer ao Cardeal Mazarino a mitra de</p><p>Évora, para êle ou para o irmão, Arcebispo de Aix, com o respectivo</p><p>benefício de 70 mil cruzados de renda . . .</p><p>É possível que tivesse ficado no tinteiro o conluio da partilha, que</p><p>transtornaria a política mundial, instalando na América um império</p><p>prematuro.28 Mas é positivo que a França tomou a si exigir de Holanda</p><p>quis.-21. EDUARDO BRASÃO, A Restauração, pág. 356.-22. Carta de Lanier (repre</p><p>sentante de França ) , 6 de agôsto de 4 7, atribuindo (com razão ) ao PADRE VIEIRA</p><p>a sugestão, J. Lúcio D'AZEVEDO, O Padre Antônio Vieira Julgado em Documentos</p><p>Franceses, págs. 9-10, Coimbra, 1928.-23. Cartas, III, pág. 610. Vid. a contestação</p><p>a VIEIRA do licenciado Manuel de Morais, Anais do Mus. Paul., I, págs. 123-128.-</p><p>24. Vid. J. LÚCIO D'AZEVEDO, História de Antônio Vieira, I , págs. 117-118.-25.</p><p>Vid. ANTÔNIO VIEIRA, Obras Escolhidas, III, pág. 29 e segs., pref. e notas de</p><p>ANTÔNIO SÉRGIO e HERNÂNI CIDADE, Lisboa, Clássicos Sá da Costa.-26. J. LÚCIO</p><p>D'AZEVEDO, op. cit., I, pág. 120.-27. Instruções secretas, in Cartas de D. João IV</p><p>ao Conde de Vidigueira, li, pág. 333. O título ficou, apanágio dos primogênitos da</p><p>dinastia, o último, D. Pedro, filho de D. João VI.-28. Vid. HERNÂNI CIDADE, no</p><p>702 Pedro Calmon</p><p>que apressasse as pazes com Portugal, restituindo êste, é verdade, as</p><p>praças ocupadas no Brasil pelos rebeldes (j ulho de 1647) .29 Impeliu</p><p>assim Francisco de Sousa Coutinho (com o Padre Vieira ) a aceitar o</p><p>tratado na base dramática da devolução de Pernambuco. D. João IV</p><p>considerara-a o último recurso, 3 0 a obstar novos atos de represália, como</p><p>os cometidos por Segismundo na Bahia.</p><p>De volta a Lisboa o Padre Vieira, mandou que pusesse em escrita</p><p>as razões do acôrdo. A êsse parecer chamou-se "papel forte". Sobre</p><p>veio (entre aquela negociação desesperada e o arrazoado forte) o</p><p>triunfo inesperado dos insurretos nos montes Guararapes. Inspirado</p><p>pelo fato novo, que reduzia a nada a expectativa da obediência dos mo</p><p>radores a qualquer arranj o territorial que os quisesse desarmar e re</p><p>mover, o secretário Pedro Fernandes Monteiro respondeu vantaj osamen</p><p>te aos argumentos do ilustre jesuíta. Nesse Discurso em resposta à "con</p><p>sulta sôbre a Paz com Holanda" aj ustada por Francisco de Sousa Couti</p><p>nho, afirmou o secretário de D. João IV que a capitulação ofenderia à</p><p>religião, não seria atendida na América ; nem convinha à coroa. A única</p><p>solução era a primitiva, da compra aos holandeses do que tivessem per</p><p>dido, acertando-se em contado o que dependia da sorte das armas.31</p><p>O rei bandeou-se com esta opinião, que anulava todo o trabalho-</p><p>realmente perdido-do seu embaixador na Holanda. Malicioso e opor</p><p>tunista, renegava a própria teoria (da entrega, quanto antes, daqueles</p><p>contestados territórios ) para ficar com a bandeira alta, da sua valente</p><p>recuperação. Arquivou-se o "papel forte", que mais forte fôra o bom</p><p>sucesso da revolta pernambucana. Sousa Coutinho foi chamado a</p><p>Lisboa.32 Acontecimento decisivo : não tardou a sobrevir, em 1650-</p><p>aliviando a crise portuguêsa-, a discórdia anglo-flamenga. Quando os</p><p>navios de Holanda tivessem de deter-se no mar do Norte em luta com</p><p>os inglêses, estaria salvo o Brasil.</p><p>RETOMADA DE ANGOLA-Enquanto iam e vinham os recados de</p><p>Holanda sôbre as pazes que não se faziam, e os rebeldes dominavam os</p><p>prefácio ao 3.0 vol. de Obras Escolhidas, do P. VIEIRA, citado, pág. XXI.-29.</p><p>Livr. 1104, fls. 17, ms. dito da Livraria, Tôrre do Tombo, Lisboa (inéd. ) . A homo</p><p>logação da França ao acôrdo consubstanciado no "papel forte" do P. VIEIRA,</p><p>esclarece que se tratava de entendimento geral, e não de capitulação da diplomacia</p><p>de D. João IV.-30. J. LúciO n'AZEVEDO,</p><p>op. cit., li, pág. 118.-31. Discurso de</p><p>Pedro Fernandes Monteiro, ms. livr. 1096, dos chamados mss. da Livraria, Tôrre</p><p>do Tombo, Lisboa (e que completa a narração de J. LúciO n'AZEVEDO, firmada na</p><p>Correspondência de Francisco de Sousa Coutinho e nas Cartas do Padre Vieira ) . -</p><p>32. Correspondência de Francisco de Sousa Coutinho, li, pág. 192. Correu que o</p><p>embaixador, depois de prometer entregar Pernambuco, escrevera aflitamente ao</p><p>rei : "V. M., Senhor, salve a sua honra desaprovando o que eu fiz em seu nome :</p><p>sacrifique a minha cabeça e não aquela praça", AFRÂNIO PEIXOTO, História do</p><p>Brasil, pág. 119, Pôrto, 1940. A versão está próxima da verdade. Note-se que</p><p>fracassadas as negociações franco-holandesas foi Vieira incumbido de agenciar</p><p>-em Roma-o casamento de D. Teodósio com a filha de Filipe IV, Maria Teresa</p><p>' (depois mulher de Luís XIV) , em 1650. Talvez os reinos voltassem a unir-se,</p><p>a capital em Lisboa . . . Dessa embaixada dá notícia no sermão de 1695, dedicado</p><p>História do Brasil - Século XVII 703</p><p>R</p><p>E</p><p>C</p><p>IF</p><p>E</p><p>(M</p><p>A</p><p>U</p><p></p><p>R</p><p>IT</p><p>Z</p><p>S</p><p>T</p><p>A</p><p>D</p><p>T</p><p>)</p><p>N</p><p>O</p><p>D</p><p>O</p><p>M</p><p>íN</p><p>IO</p><p>H</p><p>O</p><p></p><p>L</p><p>A</p><p>N</p><p>D</p><p>t:</p><p>S</p><p>.</p><p>D</p><p>es</p><p>e</p><p>n</p><p>h</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>F</p><p>ra</p><p>n</p><p>z</p><p>P</p><p>os</p><p>t</p><p>( 1</p><p>64</p><p>5</p><p>) .</p><p>N</p><p>o</p><p>a</p><p>lt</p><p>o,</p><p>o</p><p>b</p><p>ra</p><p>sã</p><p>o</p><p>d</p><p>a</p><p>ca</p><p>p</p><p>i</p><p>ta</p><p>n</p><p>ia</p><p>,</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>p</p><p>or</p><p>N</p><p>a</p><p>ss</p><p>a</p><p>u</p><p>.</p><p>D</p><p>o</p><p>li</p><p>v</p><p>ro</p><p>d</p><p>e</p><p>B</p><p>ar</p><p>le</p><p>o</p><p>( 1</p><p>64</p><p>7)</p><p>.</p><p>campos de Pernambuco-entendera-se em Lisboa que se devia retomar</p><p>Angola. A importância disto definiu o Padre Vieira em carta dêsse</p><p>tempo: . . . "Sem negros não há Pernambuco, e sem Angola não há</p><p>negros."33 Também na Espanha, tanto que ali se pensou em trocar o</p><p>Infante D. Duarte, irmão de D. João IV, prisioneiro em Milão, pela</p><p>posse de Angola . . . "Mas como esta notícia chegasse aos ouvidos do</p><p>real prisioneiro, teve êle indústria para minar os muros do castelo e,</p><p>por debaixo da terra, escreveu uma carta, que de Veneza veio a Haia,</p><p>côrte de Holanda ( onde eu a li ) e da Haia passou a Lisboa. E que</p><p>continha aquela carta ? Dizer e protestar a S. M. o generoso infante,</p><p>que nem um torrão de terra conquistada com o sangue dos portuguêses</p><p>se desse pela sua liberdade, nem pela sua vida."34</p><p>Salvador Correia de Sá foi incumbido de restaurar as praças afri</p><p>canas com a frota do Rio de Janeiro.</p><p>Estava ali-de volta do reino-em 16 de j aneiro de 48. Trazia no</p><p>meação (20 de setembro de 47) para capitão-general de Angola.</p><p>Tinha instruções para empreender sem demora a expedição. Reuniu</p><p>no pôrto quinze navios, sendo seis fretados no Rio, quatro por êle com</p><p>prados e cinco que o governador-geral mandara da Bahia-e engaj ou</p><p>novecentos homens de desembarque. Contribuiu a cidade com o em</p><p>préstimo que lhe pediu3 5 e ainda o suplemento de 5.500 cruzados.36</p><p>Hesitou um momento em fazer-se em mar, tal a opinião de muitos, de</p><p>que, fortalecidos no Recife os holandeses com a frota de de With, a</p><p>saída da armada deixaria desamparada a costa e a própria cidade do</p><p>Rio de Janeiro.3 7 Contribuiu para que se decidisse o conselho do Pa</p><p>dre João d' Almeida ( j esuíta a quem particularmente ouvia) , e que</p><p>chegou a indicar a data, profetizando ser propícia.38 Na realidade,</p><p>impeliu-o a não se retardar o Conde de Vila Pouca (conforme ordens</p><p>que recebera) : "A Salvador Correia mando apertadíssimas ordens para</p><p>que faça a j ornada tudo quanto antes puder ser e a consiga sem perder</p><p>monção." Ou "tudo correrá por sua conta, e que êle a daria a V. M.</p><p>do que sucedesse."39</p><p>Largou a esquadra a 12 de maio ( de 1648) . Atingiu na costa da</p><p>África Quicombo, em 12 de julho4 0-perdendo logo num temporal a</p><p>ao primeiro filho do rei D. Pedro, Sermões, XV, pág. 104.-33. Cartas, I, pág.</p><p>343.-34. "Sermão de Ação de Graças", 1695, Sermões, XV, pág. 112. Estêve</p><p>VIEIRA na Haia de 18 de abril a julho de 46, quando pôde ler a patriótica missiva</p><p>do infante (que morreu prêso em Milão, em 1649 ) .-35. Vereação de 1 .0 de feve</p><p>reiro de 48, Acórdãos e Vereanças, pág. 155.-36. Vereação de 2 de abril de 48.</p><p>Disse Salvador ter despendido de seu 12 mil cruzados. Sôbre a expedição, Luís</p><p>NORTON, A Dinastia dos Sás no Brasil, pág. 47 e segs. ; GUSTAVO BARROSO, "0</p><p>Brasil e a Restauração de Angola", Anais da Acad. Port. da Hist., VII, 1947 ;</p><p>Arquivos de Angola, n.0 8, pág. 119 e segs., outubro de 1944 ; e C. R. BOXER,</p><p>Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola, pág. 257 e segs.-37.</p><p>Idem, ibid., pág. 256. Mas não destaca a parte essencial que teve na resolução de</p><p>Salvador a ordem do governador-geral, Does. Hist., IV, págs. 432-438.-38. SILVA</p><p>RÊGO, A Dupla Restauração de Angola, pág. 247, Lisboa, 1945.-39. Carta de Vila</p><p>Pouca in Cartas de D. João IV ao Conde da Vidigueira, li, pág. 238, Bahia, 9 de</p><p>janeiro de 48.-40. Em carta ao Embaixador Luís Pereira de Castro, explicou D.</p><p>História do Brasil - Século XVII 705</p><p>capitania com 300 homens e o almirante, Baltasar da Costa de Abreu.</p><p>Convocou Salvador conselho de oficiais ; e deliberou tomar São Paulo</p><p>de Luanda. Foi o que fêz a 12 de agôsto. Intimado a entregar-se, o</p><p>governador holandês pediu oito dias. Deu-lhe dois, findos os quais pôs</p><p>em terra a sua gente e, no impulso do ataque, se apoderou da cidade,</p><p>com exceção do forte de São Miguel (ou do Morro) onde se refugiara a</p><p>guarnição. Experimentou-o sem resultado no dia 15. Recuaram os por</p><p>tuguêses com 163 mortos e 160 feridos. Mas na manhã seguinte, re</p><p>ceando pior investida, hastearam os flamengos bandeira branca e</p><p>assinaram, resignados, a ata da rendição41 em que se lhes permitiu</p><p>voltar à pátria com armas e bagagens. Eram 800. Em número supe</p><p>rior aos vencedores !42</p><p>Reconquistada Angola, volveu Benguela ao domínio português. E</p><p>Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, que no sertão sustentara até aí</p><p>a luta, correu a castigar os sobas, que tinham aj udado os flamengos.</p><p>Dobrou-lhes a resistência. O mais prestigioso era D. Ana, ou a Rainha</p><p>Ginga., alma da insubmissão, e tão sagaz e teimosa que o seu nome</p><p>fioou como um símbolo de império mágico e energia invencível . . . A</p><p>grande Rainha Gingaf4S</p><p>João IV : " • • . Ordenei a Francisco de Souto Maior quando o enviei a governar</p><p>aquêle reino escolhesse um pôrto com sítio a propósito para fundar uma cidade em</p><p>que estivesse e em que pudesse continuar seu govêrno como dantes se fazia em</p><p>Luanda, fêz êle diligência na conformidade desta ordem, e fundou Quicombo",</p><p>EDUARDO BRASÃO, op. cit., pág. 358. Fica ao norte de Luanda.-41. Os que quiseram</p><p>servir a Portugal ( como em Pernambuco ) foram aceitos, ata de 20 de agôsto de</p><p>48, Arquivos de Angola, n.0 8, pág. 31.-42. ELIAS ALEXANDRE, História de Angola,</p><p>I, pág. 264 ; SILVA RÊGO, op. cit., carta do P. Antônio do Couto. Diz CAMILO, Serões</p><p>de São Miguel de Seide, pág. 78 : "Na quinta do Ruivão, no tecto repartido em</p><p>muitos painéis, viam-se pintadas as façanhas de Salvador Correia de Sá em guerra</p><p>contra os holandeses antes e depois da restauração de 1640. O genealógico MANUEL</p><p>DE SousA DA SILVA diz que as pinturas foram mandadas fazer por Manuel Correia</p><p>de Lacerda que sucedeu na Casa e Senhoria de Faralaens e aqui morreu em 13 de</p><p>novembro de 1695." O título de Visconde de Asseca que teve seu filho Martim</p><p>de Sá "levava referência aos serviços de Salvador, a quem as mercês não esti</p><p>veram na medida dos trabalhos". Veremos que voltou a governar as capitanias</p><p>do Sul ( 1659-62 ) . Entre as publicações do centenário da restauração de Angola,</p><p>vid. Discursos e Alocuções, Luanda, 1948 e "Salvador Correia", conf. lida na Socie</p><p>dade de Geografia de Lisboa pelo VISCONDE DE ASSECA ( 1907) , Luanda, 1948.-</p><p>43. Há curiosa gravura mostrando a recepção que a Rainha Ginga deu em 1622</p><p>em Luanda ao Governador João Correia de Sousa, cf. Relation Historique de</p><p>l'Ethiopie Occidentale, do P. LABAT, Paris, 1732. Os seus estados, segundo mapa</p><p>de 1657, reproduzido na História da Expansão Portuguêsa no Mundo, III, Lisboa,</p><p>1940, ficavam entre os reinos de Mucoco e do Dongo, ou seja, no sertão angolês,</p><p>chamado geralmente de Congo. Vid. GASTÃO DE SousA DIAS, in Hist. da Expansão</p><p>Port., Ill,</p><p>pág. 206 e segs. Sôbre a Rainha Ginga e o folclore, PEDRO CALMON,</p><p>História do Brasil na Poesia do Povo, págs. 70-71, Rio (citando GusTAVO BARROSO,</p><p>Ao Som da Viola, Rio, 1921 ) e BocAGE, Poesias, I, pág. 350, ed. de INOCÊNCIO e</p><p>REBÊLO DA SILVA, Lisboa, 1853, que lembrava : Prole se aclama da Rainha Ginga . . .</p><p>Também AIRES DE SÁ, Um Dogma Antigeográfico, pág. 34. Ainda nas congadas</p><p>do Ceará e de Minas Gerais se repete :</p><p>706 Pedro Calmon</p><p>Veio matar rei meu senhor,</p><p>Que mandou Rainha Gino !</p><p>P</p><p>A</p><p>S</p><p>S</p><p>A</p><p>G</p><p>E</p><p>M</p><p>D</p><p>O</p><p>R</p><p>IO</p><p>S</p><p>Ã</p><p>O</p><p>F</p><p>R</p><p>A</p><p>N</p><p>C</p><p>IS</p><p>C</p><p>O</p><p>P</p><p>O</p><p>R</p><p>U</p><p>M</p><p>A</p><p>E</p><p>X</p><p>P</p><p>E</p><p>D</p><p>I</p><p>Ç</p><p>Ã</p><p>O</p><p>H</p><p>O</p><p>L</p><p>A</p><p>N</p><p>D</p><p>E</p><p>S</p><p>A</p><p>.</p><p>D</p><p>es</p><p>en</p><p>h</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>F</p><p>ra</p><p>n</p><p>z</p><p>P</p><p>os</p><p>t,</p><p>n</p><p>o</p><p>li</p><p>v</p><p>ro</p><p>d</p><p>e</p><p>B</p><p>ar</p><p></p><p>le</p><p>o,</p><p>R</p><p>er</p><p>u</p><p>m</p><p>p</p><p>er</p><p>O</p><p>ct</p><p>en</p><p></p><p>n</p><p>iu</p><p>m</p><p>( 1</p><p>64</p><p>7</p><p>) .</p><p>B</p><p>ib</p><p>li</p><p>o</p><p>te</p><p>ca</p><p>N</p><p>a</p><p>ci</p><p>on</p><p>ai</p><p>d</p><p>o</p><p>R</p><p>io</p><p>d</p><p>e</p><p>J</p><p>a</p><p>n</p><p>ei</p><p>ro</p><p>.</p><p>XVI - A EXPULSÃO</p><p>NOVAS ESPERANÇAS</p><p>DEVIA D. João falar aos mercadores da Haia</p><p>outra linguagem. O eclipse da Companhia</p><p>já era o efeito de fôrças puj antes e novas-que</p><p>retemperavam Portugal . . . e o Brasil.</p><p>Nem podiam os holandeses contrabalançar a</p><p>perda da África com o ataque a Francisco Bar</p><p>reto no arraial-onde se reforçara com o têrço</p><p>das ilhas ( do Mestre-de-Campo Francisco de</p><p>Figueiroa ) . Tinham de esperar o auxílio de uma</p><p>armada que preenchesse o vazio aberto pelos an</p><p>teriores insucessos nas fileiras de Segismundo</p><p>von Schkoppe. Foi a do Coronel van den Bran</p><p>BRASÃO DO BRASIL HOLAN</p><p>D-ms. Desenho de J. Wasth Ro</p><p>drigues, reproduzido de Brasões</p><p>e Bandeiras do Brasil, de Clóvis</p><p>Ribeiro.</p><p>de com 2.500 soldados. Prevalecendo-se da ausência das naus portuguê</p><p>sas, entrou na baía de Todos os Santos essa esquadra, aparelhada para</p><p>grandes façanhas, bordej ou, lançando em terra várias patrulhas, que</p><p>queimaram vinte e três engenhos, e consumada a represália-que es</p><p>palhou o terror pela redondeza,! saiu impunemente, para o Recife.</p><p>Não ousou apossar-se de nenhuma posição em frente à baía.</p><p>Insistiram os flamengos, isto sim, em destruir na várzea pernambu</p><p>cana o exército que os assediava.</p><p>Com 3 mil e quinhentos homens deixou o Coronel Brinck o Recife, a 17</p><p>de fevereiro (de 1649 ) , e dirigiu-se ainda uma vez para o sul, resolvido a</p><p>vingar nos mesmos montes Guararapes a derrota do seu general.</p><p>A SEG UNDA BATALHA-Corrigindo o êrro de Segismundo, não ar</p><p>riscou por aquêle perigoso caminho a sua tropa em coluna de marcha,</p><p>mas ganhou as alturas formando-a em linha de batalha ao abrigo dos</p><p>matos, a fim de que os contrários ficassem ao sol, indecisos quanto ao</p><p>início da ação, e descobrindo-se, se a ela se lançassem. Queria arrancá</p><p>los às dobras do terreno para os envolver e destroçar em pleno campo.</p><p>Os portuguêses não lhe fizeram o j ôgo. Esperaram que atacasse. Or</p><p>denou então o coronel a retirada-sem dar combate-e mal a sua</p><p>gente descia dos outeiros, para se recolher a quartéis, arroj ou Barreto</p><p>sôbre ela cavalaria e mosqueteiros. Surpreendidos, tentaram os flamen</p><p>gos recompor as fileiras : mas era tal o ímpeto da acometida, que, le</p><p>vados de vencida, em confusão, se puseram em fuga. Morreu ali o</p><p>Coronel Brinck, com 173 oficiais e suboficiais. Contaram-se 855 mortos</p><p>e 90 prisioneiros holandeses. A segunda batalha dos Guararapes foi</p><p>mais cruel para êles do que a primeira. Destruiu inapelàvelmente a</p><p>I. Vid. carta do Conde de Castelo Melhor, Does. Hist., 111, pág. 38 : "Quando</p><p>tomei po,;se do govêrno e me achei com a Fazenda Real no mais apertado extremo</p><p>em que nunca se viu . . . na queima dos engenhos." Sôbre Cornelis van den Brande</p><p>-que lutou nas duas batalhas de Guararapes, vid. C. R. BOXER, op. cit., págs.</p><p>708 Pedro Calmon</p><p>veleidade de reação do Alto Conselho do Recife ; e expôs o soldado</p><p>luso-brasileiro à admiração da Europa.</p><p>Em carta para Haia, fêz o Conselheiro Michel van Goch estas graves</p><p>considerações : "A respeito do combate acima relatado, notei so</p><p>bretudo duas particularidades que ( em meu parecer ) merecem muita</p><p>atenção : em primeiro lugar, as tropas do inimigo, saindo dos matos e</p><p>de detrás dos pântanos e outros lugares, onde têm a vantagem da po</p><p>sição, atacam sem ordem e em completa dispersão e se aplicam em rom</p><p>per diferentes quartéis. Em segundo lugar, as tropas inimigas são li</p><p>geiras e ágeis para correrem adiante ou se afastarem ; por causa de</p><p>sua crueldade inata são temíveis também ; êles se compõem de bra</p><p>silianos, tapuias, negros, mulatos, mamelucos, etc . , tôdas as na</p><p>ções do país ; aliás, portuguêses e italianos, que têm muita analogia</p><p>com os naturais da terra quanto à sua constituição, de maneira que</p><p>atravessam e cruzam os matos e os pântanos, sobem aos montes, tão</p><p>numerosos aqui, e descem, e tudo isso com uma velocidade e agilidade,</p><p>que são verdadeiramente notáveis ; nós, ao contrário, combatemos for</p><p>mados e colocados da maneira que se usa na mãe-pátria, e nossos</p><p>homens são indolentes e fracos, de modo algum afeitos à constituição do</p><p>país, do que resulta que essas espécies de ataques com arma de fogo,</p><p>como o de que aqui trato, devem ter bom êxito inevitàvelmente, e que,</p><p>rechaçando os nossos batalhões e pondo-nos em fuga êles nos matam</p><p>maior número de soldados na perseguição do que no próprio combate ;</p><p>esta ocasião-ai de nós !-não fêz mais do que fornecer prova disso ;</p><p>aliás as peças de artilharia de campanha, não podendo ser disparadas</p><p>sôbre bandos dispersos, tornaram-se inteiramente inúteis, ou, para</p><p>melhor dizer, verdadeiras charruas para o nosso exército."2</p><p>Mesmo D. João IV entendeu que fôra prodigioso : em carta a seu</p><p>embaixador Nuno da Cunha-de 8 de junho de 49. "Parece certo que</p><p>quer Deus favorecer aquêles homens, porque assim o mostra sucesso</p><p>tão prodigioso como êste foi, e o têm mostrado os passados, a Relação</p><p>é a mesma que os holandeses imprimiram em Holanda porque do</p><p>Brasil não veio com tanta clareza que se vos possa remeter."3</p><p>A sua própria superioridade naval anulou-se pela escassez de pro</p><p>visões para os navios do Almirante de With, assaz velhos e gastos para</p><p>264-265.-2. RODOLFO GARCIA , nota a VARNHAGEN, UI, pág. 131. Sôbre o pessi</p><p>mismo que continuava a existir em Portugal, C. R. BOXER, op. cit., pág. 228.-</p><p>3. Cartas de D. João IV, inéd., publ. por EDUARDO BRASÃO, Revista dos Centenários,</p><p>Lisboa, dezembro de 1939 ( arq. da Casa de Tarouca ) . A Francisco Barreto não</p><p>escapara a importância de suas duas vitórias. Na igreja votiva de Guararapes</p><p>há a lápide seguinte, datada de 1656 : "0 mestre-de-campo-general do Estado do</p><p>Brasil Francisco Barreto mandou em ação de graças edificar à sua custa esta</p><p>Capela à Virgem Senhora dos Prazeres com cujo favor alcançou neste lugar as</p><p>duas memoráveis vitórias contra o inimigo holandês, a primeira em 18 de abril</p><p>de 1648 em domingo da Pascoela véspera da dita Senhora, a segunda em 18 de</p><p>fevereiro de 1649 em uma sexta-feira e ultimamente em 27 de janeiro de 1654</p><p>tomou o Recife e tôdas as mais prassas que o inemigo pesuhiu 24 annos." ( Inscrição</p><p>copiada no local, 2 de fevereiro de 1940) . Em 4 de agôsto de 1942 foram trasla</p><p>dados para esta igreja os restos de João Fernandes Vieira e de André Vidal de</p><p>Hist6ria do Brasil - Século XVII 109</p><p>o.perações incessantes. De novo a ameaça da fome perturbou a guar</p><p>nição do Recife. Malquistado com o comando de terra, retirou-se de</p><p>With em novembro, abandonando a guerra, que dava por perdida.4</p><p>Tôdas as censuras recaíam sôbre a Companhia, que não mandava bar</p><p>cos, víveres, elementos eficazes para a reconquista. Cometera o êrro</p><p>de restringir os auxílios, quando um esfôrço mais enérgico lhe refor</p><p>çaria os argumentos, nas discussões da Haia . . . Em Lisboa, sentiu-se</p><p>que o domínio do mar resolveria o problema.</p><p>Achara N assau que se retomaria Pernambuco fundindo as Compa</p><p>nhias das índias Orientais e Ocidentais, em ordem a criar uma emprêsa</p><p>homogênea e mais poderosa. Os mercadores de Lisboa aplaudiram um</p><p>plano simétrico : a organização de uma companhia de comércio para</p><p>desalojar de vez o inimigo.</p><p>A COMPANHIA DE COMÉRCIO-A iniciativa</p><p>era ainda do Padre</p><p>Antônio Vieira. "O primeiro negócio que propus a S. M., pouco depois</p><p>da sua feliz aclamação e restauração, foi : que em Portugal, à imitação</p><p>de Holanda, se levantassem duas companhias mercantis, uma oriental,</p><p>outra ocidental, para que (sem empenho algum da real Fazenda ) por</p><p>meio da primeira se conservasse o comércio da índia, e por meio da</p><p>segunda o do Brasil . . . Somente tardou em se aceitar, até que a ex</p><p>periência desenganou aos ministros, que ao princípio porventura o não</p><p>capacitaram. E quanta fôsse a utilidade e eficácia dêle, bem o mos</p><p>trou a companhia ocidental, a qual foi sempre trazendo do Brasil o</p><p>que bastou para sustentar a guerra de Castela, conservar o reino,</p><p>restaurar Pernambuco, e ainda hoje acudir com prontos e grandes ca</p><p>bedais às ocorrências de maior importância."5</p><p>Chamou-se Companhia Geral de Comércio. Inverteram nela os cris</p><p>tãos-novos seus capitais ( segundo o alvitre de Vieira ) , mediante a</p><p>isenção de confisco aos penitenciados do Santo Ofício-por alvará de</p><p>6 de fevereiro de 1649.6</p><p>O negócio era atraente. Governava-se a Companhia por uma Junta</p><p>de nove deputados.7 Dera-se-lhe u monopólio de "quatro gêneros" :</p><p>Negreiros, cujas urnas tinham sido reconhecidas em 1939, vid. Culto aos Heróis</p><p>dos Guararapes, Recife, 1942. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Na</p><p>cional, atendendo ao apêlo do Instituto Arqueológico Pernambucano, mandou tom</p><p>bar a área da batalha, com isto impedindo a desfiguração do terreno em volta da</p><p>igreja. Observe-se que depois da segunda batalha houve um motim contra o general,</p><p>que mandou justiçar sete soldados, como escreveu ao rei em 1650, A. LAMEGO,</p><p>Mentiras Históricas, pág. 144.-4. HERMANN WATJEN , O Domínio Colonial Holan</p><p>dês no Brasil, pág. 271.-5, Cartas, 11, págs. 225-226.-6. Um dos principais judai</p><p>zantes da Companhia foi Gaspar Dias ( de Mesquita ) que assinou os papéis de</p><p>sua fundação, amigo de VIEIRA, que a êle várias vêzes alude nas cartas.-</p><p>7. Funcionou a Junta até 1720, quando a extinguiu D. João V, determinando que</p><p>lhe fizesse às vêzes o Conselho de Fazenda, de modo a correr pelos armazéns</p><p>da coroa a armação das frotas, que passaram a constar de duas naus de guerra</p><p>para a Bahia, duas para o Rio de Janeiro, uma para Pernambuco, RocHA PITA,</p><p>�SEGUNDA BATALHA DOS GUARARAPE S. Desenho de J. Wasth Rodrigues.</p><p>História do Brasil - Século XVII 711</p><p>bacalhau, farinha de trigo, azeite e vinho-e por preços que arbitrara.</p><p>Ganhava taxas e prêmios de seguro impostos aos navios comboiados</p><p>por suas frotas. O seu maior lucro estava naquele monopólio, aceito</p><p>com resignação na Bahia, recebido hostilmente no Rio de Janeiro, razão</p><p>por que-em 24 de agôsto de 1649-o governador-geral dirigiu curiosa</p><p>intimação a Salvador de Brito Pereira, que lá administrava : "Com</p><p>esta consideração se estabeleceu nesta cidade o negócio, e admitiram</p><p>os preços dêstes gêneros por aceitação uniforme de todo o povo, que</p><p>não necessitou de coação alguma para abraçar seu próprio benefício.</p><p>Pelo que tanto que êstes papéis se presentarem a V. M.cê e aos oficiais</p><p>da Câmara (a quem escrevo ) o faça V. M.cê que se houver quem o</p><p>impugne, mo remeta V. M.cê prt.so a bom recado. E só lhe lembro que</p><p>convém muito que se antecipe V. M.cê com tanta brevidade na introdu</p><p>ção dêste negócio."s</p><p>Por bem ou por mal, deviam os colonos sujeitar-se ao conchavo dos</p><p>capitalistas de Lisboa.</p><p>A PRIMEIRA ESQ UADRA-A primeira esquadra da Companhia</p><p>Geral do Comércio largou do Tej o a 4 de novembro do mesmo ano, sob</p><p>a chefia do Almirante Pedro Jaques de Magalhães :0 trazia por gene</p><p>ral João Rodrigues de Vasconcelos, Conde de Castelo Melhor, nomeado</p><p>sucessor do Conde de Vila Pouca de Aguiar.10 De passagem por Per</p><p>nambuco desembarcou os mantimentos reclamados por Francisco Bar</p><p>reto11 e aportou incólume à Bahia.</p><p>Tendo chegado a 7, empossou-se Castelo Melhor a 10 de março.12</p><p>Provou as qualidades que o recomendavam : tino, senso de organização,</p><p>notável atividade. Veremos em seguida os atos principais do seu triê-</p><p>nio. A guerra, esta entrava no capítulo final. .</p><p>Malogrou-se em Holanda a embaixada de Antônio de Sousa de Ma</p><p>cedo, que fôra oferecer dinheiro (três milhões de cruzados) e con</p><p>cessões mercantis pela entrega de Pernambuco. Irritados com a Com</p><p>panhia Geral e descrentes da sinceridade de D. João IV, os Estados</p><p>Gerais não lhe deram ouvidos. Mas a situação dêles se agravara com</p><p>as perdas marítimas infligidas pelos inglêses.</p><p>De guerra à porta, evidentemente mal poderiam socorrer na sua pe</p><p>núria os sitiados do Recife. Ou antes : arriscavam-se a abandoná-los.13</p><p>História da América Portuguêsa, pág. 166.-8. Does. Hist., IV, págs. 445-446.-</p><p>9. Foi o 1 .0 Visconde de Fonte Arcada : Mestre-de-campo-general, do Conselho de</p><p>Guerra, General da Armada de Sabóia, General da Armada do Mar Oceano, agra</p><p>ciado com altas mercês, vid. SANCHES DE BAENA, op. cit., I, pág. 595 ; P. ANTÔNIO</p><p>CARVALHO DE SousA, Memórias dos Grandes de Portugal, pág. 359 e segs.-</p><p>10. Vid. D. ANTÔNIO CARVALHO DE SOUSA, ibid.-11. Carta de 3 de abril de 1653,</p><p>Does. Hist., III, pág. 154.-12. MIRALLES, op. cit., pág. 146. Seu filho, o 3 .0 conde,</p><p>foi o grande ministro de Afonso VI, em cujo serviço entrara como reposteiro-mor</p><p>pelo casamento com uma sobrinha do Conde de Odemira, Vida Del-Rei D. Afonso</p><p>VI, CAMILO, pág. 23, Pôrto, 1863. Ao sobreviver à Restauração estava o 2.0 conde</p><p>em Cartagena, na América, para onde o lançara um temporal , vindo para o Brasil,</p><p>em 1640 -13. A luta que se feriu entre Holanda e Inglaterra (1650-51 ) não</p><p>impediu a navegação flamenga para o Brasil ( C. R. BOXER, The Dutch in Brazil,</p><p>pág. 236 ) , porém a tornou precária. Desde então, entre Portugal e os Estados-</p><p>712 Pedro Calmon</p><p>A ALIANÇA</p><p>I N G L Ê S A</p><p>Duas palavras</p><p>sôbre o funcio</p><p>namento p o r</p><p>êsse tempo da</p><p>velha e elástica</p><p>aliança inglêsa.</p><p>Cromwell mal</p><p>quistara-se com</p><p>Portugal p e I o</p><p>auxílio que dava</p><p>aos seus adver</p><p>sários internos,</p><p>os realistas. Dê</p><p>le não podia D.</p><p>João IV esperar</p><p>uma aj uda con</p><p>creta. Sobrevin</p><p>da porém, com a</p><p>rivalidade colo</p><p>nial, a luta com</p><p>a H o l a n d a ,</p><p>quando a i n d a</p><p>P o r t u g a I se</p><p>defendia d o s</p><p>espanhóis no</p><p>Alentej o, Ja a</p><p>NOSSA SENHORA DA AS SUNÇÃO. Quadro ( século XVII)</p><p>da igreja de São Lourenço dos índios, Niterói.</p><p>Inglaterra (e com ela a França ) impediria uma demonstração naval</p><p>holandesa sôbre Lisboa. Seria considerada como uma ação de guerra</p><p>favorável à Espanha ; permitiria talvez que esta aniquilasse a monar</p><p>quia portuguêsa ; e o desequilíbrio de fôrças na Europa, causado por</p><p>esta eventualidade, não convinha aos governo::; de Londres e Paris.</p><p>Obstados pois os flamengos de usar as suas esquadras para intimidar</p><p>Portugal, os negociantes de Lisboa se sentiram à vontade para refor</p><p>çar a Companhia, enquanto rolava na Haia, sonolenta, a interminável</p><p>conversação sôbre a paz do Brasil.</p><p>Em 1652 sugeriam, otimistas, os mercadores lisboetas, que a sua</p><p>frota fôsse direito ao Recife, e o tomasse de surprêsa.</p><p>OPERAÇõES FINAIS-Ali continuavam os holandeses a resistir às</p><p>guerrilhas que se amiudavam. Com meio milhar de homens Antônio</p><p>Dias Cardoso os bateu em Barreta e Afogados (j unho de 1652) . André</p><p>Vida! queimou-lhes o pau-brasil que tinham para embarque. O cêrco</p><p>fechara-se ; e os três emissários que do Recife foram expor na Holanda</p><p>Gerais se levantou a terceira fôrça : a inglêsa.-14. A última esperança estava</p><p>História do Brasil - Século XVII 713</p><p>a situação da praça, falavam com esperança de um acôrdo hábil, que</p><p>pelo menos resguardasse as propriedades ganhas na ocupação. Inevitá</p><p>vel o naufrágio, tratavam dos salvados. Demitiram-se os Conselheiros</p><p>van Goch, Shoonenborch e Haecx. Desertavam soldados, oficiais aban</p><p>donavam os comandos, ruía o edifício montado em vinte anos de ad</p><p>ministração difícil e briga incessante.14</p><p>A CAPIT ULAÇÃO-Decidiu-se enfim em Lisboa expedir diretamente,</p><p>para render o Recife, terceira esquadra da Companhia, ainda sob a</p><p>chefia de Pedro J aques de Magalhães,</p>