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<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 89</p><p>Muita gente não crê em Deus, ou em Jesus,</p><p>mas acredita em visões, em lendas fantásticas</p><p>e contos da carochinha.</p><p>128</p><p>ACRO, quebradiço, frágil. – Segundo</p><p>Bruns., “acro se diz do que, sendo duro e</p><p>pouco dúctil, se quebra ao ser trabalhado.</p><p>Há metais acros.” – Quebradiço é o que</p><p>se quebra facilmente. O vidro é quebradiço.</p><p>– Frágil aplica-se ao que, além de ser que-</p><p>bradiço ou deteriorável, necessita cuidados</p><p>assíduos para conservar-se. Nada mais frágil</p><p>que “a saúde”.</p><p>129</p><p>ACUDIR, socorrer, auxiliar, amparar,</p><p>proteger, defender, ajudar, salvar, valer. –</p><p>Acudir é “correr em socorro de alguém”.</p><p>Aquele que nos grita: Acudi-me! – solicita</p><p>ansiosamente a nossa assistência nalgum</p><p>perigo em que se encontra. – Socorrer não</p><p>implica a ideia da presença da pessoa, cujo</p><p>socorro se pede, junto da pessoa que se deve</p><p>socorrer. Nem sempre quem acode socorre</p><p>efetivamente. E a inversa é também admissí-</p><p>vel: só porque alguém nos socorre num gran-</p><p>de embaraço, ou mesmo num perigo, não se</p><p>segue necessariamente que nos haja acudido,</p><p>isto é – que tenha vindo solícito ao lugar</p><p>em que perigamos. Acudir dá ainda ideia</p><p>de que a pessoa pela qual se grita deve fazer</p><p>tudo pela nossa salvação, pois entende-se</p><p>que nós, quando gritamos, nos julgamos</p><p>inteiramente perdidos. Quem nos socorre,</p><p>no entanto, vem apenas completar o nos-</p><p>so esforço e a nossa capacidade de defesa.</p><p>– Auxiliar diz propriamente “dar auxílio”;</p><p>isto é – aumentar a força de alguém que já</p><p>não se julga fraco. Quem me auxilia apenas</p><p>concorre para que eu vença, ou aumenta a</p><p>minha força, a minha capacidade de triun-</p><p>far. – O mesmo se pode dizer de quem me</p><p>ajuda. Escreve Roq., que, “segundo o aca-</p><p>dêmico Francisco Dias (Mem. da Acad., IV,</p><p>37) a palavra auxílio, que é latina (auxilium),</p><p>era ignorada ou não usada até princípios do</p><p>reinado de D. Manoel; a que se empregava</p><p>era a portuguesa ajuda, como ainda se vê em</p><p>Camões, que disse sentenciosamente:</p><p>Fraqueza é dar ajuda ao mais potente.</p><p>(Lus. IX, 80).</p><p>Depois que os poetas e escritores cultos</p><p>foram alatinando a língua, foi aquela (au-</p><p>xílio) admitida com certo ar de nobreza, e</p><p>esta (ajuda) passou para o domínio do vulgo;</p><p>e o mesmo aconteceu com o verbo ajudar</p><p>relativamente a auxiliar, como se vê dos se-</p><p>guintes provérbios em que no uso ordinário</p><p>se não pode substituir um pelo outro:</p><p>Deus ajuda aos que trabalham.</p><p>A quem madruga Deus ajuda.</p><p>Mais vale quem Deus ajuda</p><p>Do que quem muito madruga.</p><p>Dá-se ajuda (ou ajuda-se) a uma pessoa</p><p>que está embaraçada com trabalho que não</p><p>pode fazer, ou para que o faça mais pron-</p><p>tamente; dá-se auxílio (ou auxilia-se) ao que</p><p>já tem meios, forças etc., e precisa de ter</p><p>mais; dá-se socorro (ou socorre-se) ao que não</p><p>tem o suficiente, e amparo (ou ampara-se) ao</p><p>que nada tem”... – Amparar supõe o desva-</p><p>limento completo da pessoa que se ampara.</p><p>Só se amparam aos desvalidos, abandonados,</p><p>espúrios, os que precisam de amparo, isto é,</p><p>de que os sustentem, guardem, protejam</p><p>para que não caiam, não sucumbam, não</p><p>pereçam. – Proteger envolve ideia da supe-</p><p>rioridade de quem guarda ou ajuda, acolhe</p><p>e abriga. O protegido não é sujeito que precise</p><p>de socorro ou de amparo, mas antes de auxílio;</p><p>e o protetor dá-lhe um auxílio poderoso</p><p>para que ele se revigore, ou para que multi-</p><p>plique as próprias forças e se ponha ainda</p><p>mais no caso de alcançar o que almeja. –</p><p>90 � Rocha Pombo</p><p>Quem nos defende é como quem se pusesse</p><p>entre nós e o nosso inimigo e dos golpes</p><p>deste nos guardasse. Mais extensamente, de-</p><p>fender “é ficar ao lado de alguém para im-</p><p>pedir que outrem se aproxime hostilmente,</p><p>ou mesmo para evitar ataques previstos ou</p><p>repelir agressões”. – Salvar “é pôr alguém</p><p>livre ou a salvo de algum perigo, embaraço,</p><p>desastre etc., quer acudindo-lhe e dando-lhe</p><p>socorro oportuno e eficaz, quer auxiliando-</p><p>-lhe os esforços, quer protegendo-o, quer ainda</p><p>amparando-o vigorosamente ou defendendo-o”.</p><p>– Valer aqui é muito próximo de socor-</p><p>rer, amparar, salvar, acudir... “Vendo-se já</p><p>no último perigo recorreu a Deus que lhe</p><p>valesse” (P. Man. Bern.) – isto é – que lhe</p><p>acudisse... “Valha-nos o céu nesta amargura”,</p><p>“Quem me valerá nesta contingência?”</p><p>130</p><p>ACUSAR, denunciar, delatar, malsinar;</p><p>acusador, denunciante, delator, malsim.</p><p>– Segundo Roq., “denunciar é manifestar</p><p>aos juízes um delito oculto, sem apresentar</p><p>as provas, deixando este encargo às partes</p><p>interessadas, para que façam o que enten-</p><p>derem, já para assegurar-se da verdade da</p><p>denúncia, já para evitar ou remediar o mal</p><p>que se denuncia. – Delatar acrescenta à ideia</p><p>de denunciar a de malevolência, e talvez a</p><p>de algum vil interesse. O denunciante pode</p><p>ser levado somente do zelo do bem público;</p><p>o delator obra por maldade, ou por interes-</p><p>se, nunca pelo bem público: procede com</p><p>disfarce e ocultando-se, e é designado pela</p><p>frase de vil delator. – Acusar é denunciar al-</p><p>guém como criminoso. A acusação pode ser</p><p>às vezes um ato bom; outras (e são as mais</p><p>comuns) é ato de malevolência. Quando a</p><p>acusação é justa, fundada e nobre, o acusa-</p><p>dor acusa aberta e publicamente, intentando</p><p>uma ação criminal de roubo, de assassínio,</p><p>etc. Contudo, a palavra acusador é odiosa,</p><p>toma-se à má parte; e nas demandas chama-</p><p>-se autor ao que intenta ação contra o réu ou</p><p>acusado, e não acusador. – Malsinar é acusar</p><p>como malsim; isto é, por preço, paga, e por</p><p>ofício, como fazem os malsins. Nos tempos</p><p>modernos o uso tem quase fixado o valor</p><p>de cada uma destas palavras. O malsim exer-</p><p>ce o seu ofício em tudo que respeita aos</p><p>contrabandos; o delator satisfaz sua malda-</p><p>de acusando os crimes ou delitos contra</p><p>as leis; o denunciante nutre seu zelo fazendo</p><p>conhecer às autoridades as ações e opini-</p><p>ões condenadas em política, ou suspeitas</p><p>ao governo”. “O acusador – diz Alv. Pas.</p><p>– será um homem irritado; o denunciante,</p><p>um homem indignado; mas o delator é uma</p><p>personagem odiada, um homem vendido,</p><p>que trafica às escondidas da honra e vida de</p><p>seus semelhantes, um homem corruto, que</p><p>dá interpretações criminosas às coisas mais</p><p>inocentes; um traidor que finge viver com</p><p>os outros em termos de boa amizade para</p><p>vir no conhecimento de seus segredos; um</p><p>judas infame, que se aproveita de um abra-</p><p>ço para introduzir no bolso do que chama</p><p>amigo papéis, que serão o seu corpo de de-</p><p>lito. – Delator vem do latim delactor: é um</p><p>indivíduo que procura, descobre, e defere</p><p>secretamente o que ele crê ter visto, e mui-</p><p>tas vezes o que deseja fazer que se creia: o</p><p>seu ofício é o de trair. Os delatores formam</p><p>a classe mais vil e infame: são a arma dos</p><p>governos fracos e corrompidos, que aviltam</p><p>neste mister uma parte dos cidadãos, para</p><p>fazerem a perdição da outra, e que animam</p><p>a calúnia com o interesse”.</p><p>131</p><p>ACUSAR, criminar, incriminar, culpar, in-</p><p>culpar, arguir. – Acusar, aqui, é “atribuir a</p><p>alguém falta ou crime, reclamando a devi-</p><p>da punição”. Mas quem acusa articula fatos</p><p>com que pretende dar provas do crime ou</p><p>da falta por que acusa; e pode fazê-lo cum-</p><p>prindo dever de cargo, ou exercendo direito</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 91</p><p>ou faculdade própria. – Criminar (criminari)</p><p>é, segundo Roq., “dizer ou declarar alguém</p><p>autor de um crime, dar-lhe culpa, delito;</p><p>pronunciá-lo por criminoso ou réu”. – In-</p><p>criminar tem-se geralmente como sinônimo</p><p>perfeito de criminar. Note-se, no entanto,</p><p>que incriminar, melhor do que criminar,</p><p>significa “reduzir a crime, considerar como</p><p>crime um certo ato”: e nesta acepção é bem</p><p>distinto do outro. Neste exemplo: “Se a lei,</p><p>ou o código não incrimina esta conduta, que</p><p>juiz há de puni-la?” – não seria permitido</p><p>o emprego de criminar. – Culpar e inculpar</p><p>estão em caso análogo. – Culpar é “atribuir</p><p>culpa a alguém, considerar alguém como</p><p>culpado, mas apenas por indícios, sem for-</p><p>mular propriamente acusação”. – Inculpar</p><p>é “ver como culpa um ato que talvez não o</p><p>seja”. Diríamos: “Pode arguir-me de muita</p><p>coisa; pode mesmo culpar-me de impruden-</p><p>te; mas inculpar-me assim</p><p>este gesto... é levar</p><p>muito longe e arriscar muito a sua argúcia</p><p>de juiz....” – Arguir é “acusar de falta, ex-</p><p>probrar culpa como invectivando, repreen-</p><p>der com acrimônia, fazendo censuras mais</p><p>com veemência do que com razões”. “Po-</p><p>derá arguir-me de tudo, senhor, menos de</p><p>não ter sabido defender a inocência”.</p><p>132</p><p>ADÁGIO, brocardo, provérbio, anexim, ri-</p><p>fão, dito, ditado, preceito, princípio, axio-</p><p>ma, paremia, sentença, máxima, aforismo,</p><p>apotegma, prolóquio, conceito, pensamen-</p><p>to. – Todas estas palavras enunciam con-</p><p>ceito, breve e incisivo, dando normas ou</p><p>noções em que se representa a experiência</p><p>dos tempos, a sabedoria vulgar, a moral vi-</p><p>gente, ou os grandes princípios de ciência</p><p>ou de arte. Adágio, provérbio, brocardo,</p><p>máxima, parêmia, anexim, dito, ditado,</p><p>prolóquio, sentença, rifão – quase todos</p><p>exprimem conceito exclusivamente moral, e</p><p>como que condensam, em frase rápida, cla-</p><p>ra, sugestiva, tudo que se tornou clássico, ou</p><p>que foi consagrado pela razão humana em</p><p>todos os tempos. – Adágio não se confun-</p><p>de com dito, rifão ou anexim; pois é uma</p><p>sentença moral mais profunda. “Gato ruivo</p><p>do que usa disso cuida”; “lé com lé, cré com</p><p>cré – cá e lá más fadas há” – podem ser</p><p>tidos como rifões, ditados ou anexins; mas</p><p>decerto não seria próprio designar nenhuma</p><p>dessas frases por adágio, nem paremia ou</p><p>máxima, ou provérbio, muito menos por</p><p>sentença. O anexim, como o rifão, como</p><p>o ditado têm uma forma, não só rude, mas</p><p>quase sempre chula, frívola e sempre velada,</p><p>tendo portanto um sentido translato que</p><p>apenas corresponde à noção que se quer</p><p>sugerir. São mais vizinhos de ditérios, gra-</p><p>çolas, trocadilhos, apodos e chufas que de</p><p>adágio ou provérbio. Distingue-se adágio</p><p>de provérbio: primeiro – em dar o adágio</p><p>noção simples e clara, em termos precisos; e</p><p>em ser o provérbio mais grave, quase sem-</p><p>pre mais longo, seco de forma, e enuncian-</p><p>do conceito menos vulgar; segundo – em</p><p>ser o adágio sempre anônimo; enquanto</p><p>que provérbio pode ter autor conhecido.</p><p>– Sentença é um provérbio mais solene,</p><p>mais brilhante de forma, e de sentido ainda</p><p>mais profundo. Dizemos: “as sentenças, ou</p><p>os provérbios de Salomão”: e aí não caberia</p><p>nenhum outro dos vocábulos do grupo. –</p><p>Parêmia pode ser comparada a provérbio: é</p><p>menos usada que este, e exprime “sentença</p><p>sob uma certa forma de alegoria, ou de pa-</p><p>rábola concisa”, dada em poucas palavras.</p><p>Segundo Roq., paremia é palavra grega (pa-</p><p>roimia) pouco usada em nossa língua, e que</p><p>significa provérbio, ou sentença vulgar; e como</p><p>tal usou-a Vieira, dizendo: “E daqui nasceu</p><p>aquela paremia ou provérbio: que o céu era</p><p>para Deus, e a terra para os homens.” (IV,</p><p>324). – Prolóquio é sentença menos grave e</p><p>profunda, e mais vulgar que provérbio: pro-</p><p>priamente é “a sentença, a frase, a máxima</p><p>92 � Rocha Pombo</p><p>pela qual começa alguém um discurso ou</p><p>um escrito, e que anuncia o assunto que se</p><p>vai desenvolver, ou o ponto de vista que vai</p><p>ser seguido pelo orador”. Um prolóquio</p><p>vale sempre por uma proposição, ou mesmo</p><p>por um período todo. – Brocardo é “máxi-</p><p>ma que se popularizou, sentença jurídica ou</p><p>moral criada por alguma grande autorida-</p><p>de”. – Dito, ditado e anexim confundem-</p><p>-se: o dito quase sempre tem ares de pilhéria;</p><p>o ditado é dos três o que mais se aproxima</p><p>de adágio, e em regra tem quase o valor da</p><p>máxima, pois esta é sempre uma noção re-</p><p>sumida por grande autoridade moral, e que</p><p>em poucas palavras dá um sábio conselho. E</p><p>é exatamente por isto que se distingue má-</p><p>xima de ditado: este é anônimo e popular: a</p><p>máxima é menos comum e tem autor quase</p><p>sempre conhecido e até indicado ao ser ela</p><p>proferida. Além disso, a máxima é sempre</p><p>moral: o ditado pode exprimir apenas um</p><p>conselho, dar uma noção, um simples con-</p><p>ceito vulgar. – Preceito pode aproximar-se</p><p>dos precedentes: é também uma norma ou</p><p>regra de conduta, ou de dever, de ação ou de</p><p>execução, pois o preceito pode ser de mo-</p><p>ral, de ciência, de arte, de religião, e nisto</p><p>distingue-se dos outros. – Princípio é mais</p><p>do que preceito. Este é o que se prescreve,</p><p>se impõe, se dá como regra: princípio é “o</p><p>que está consagrado pela razão vigente, o</p><p>que já foi tão suficientemente demonstra-</p><p>do que dispensa mais demonstração”. Por</p><p>isso, aproxima-se de axioma, que é também</p><p>“enunciado aceito por todos como sendo de</p><p>si mesmo evidente”. – Aforismo tem menos</p><p>de científico e de preciso do que axioma:</p><p>designa também, no entanto, “regra de con-</p><p>duta, preceito ou noção expressa em breves</p><p>termos”. – Pensamento e conceito são pa-</p><p>lavras de significação mais vaga, e designam</p><p>apenas um juízo enunciado com intenção</p><p>de exprimir uma verdade, quer tratando-se</p><p>de ciência, quer de arte. Conceito é a síntese</p><p>de uma noção a que se chegou pelo estudo</p><p>ou pela reflexão; pensamento é menos pre-</p><p>ciso – é “uma proposição de forma simples,</p><p>precisa, mas eloquente, dando um conselho,</p><p>uma verdade, ou qualquer coisa que interes-</p><p>se ou que seja útil”. – Apotegma é “juízo</p><p>ou sentença, profunda atribuída a uma alta</p><p>autoridade”; ou, como diz Aul. “dito notá-</p><p>vel ou palavra memorável de algum perso-</p><p>nagem ilustre”.</p><p>133</p><p>ADARGA, escudo, broquel, rodela, pavês,</p><p>égide. – Segundo Roq., todas estas palavras</p><p>designam “armas defensivas, muito usadas</p><p>antes da invenção da pólvora, e que serviam</p><p>para cobrir o corpo, ou parte dele contra os</p><p>botes de lança, golpes de espada, os dardos,</p><p>e armas de arremesso, mas que se diferen-</p><p>çavam na matéria ou na forma, ou no uso</p><p>que das mesmas se fazia. – Escudo vem do</p><p>latim scutus (do grego skútos “couro”, porque</p><p>os primeiros foram de couro) e significa a</p><p>arma defensiva oblonga ou oval, a mais co-</p><p>nhecida de todas e a mais forte, porque se</p><p>fizeram logo de ferro e aço; enfiava-se no</p><p>braço esquerdo pelas braçadeiras; nele pin-</p><p>tavam os guerreiros suas letras e divisas, e</p><p>daqui veio chamar-se também escudo às ar-</p><p>mas de uma família ou de uma nação, como</p><p>se vê daqueles versos de Camões:</p><p>Vede-o no vosso escudo, que presente</p><p>Vos amostra a vitória já passada;</p><p>Na qual vos deu por armas, e deixou</p><p>As que Ele para si na cruz tomou.</p><p>(Lus. I, 7).</p><p>Broquel, palavra comum à língua castelha-</p><p>na, que provavelmente vem do bouclier francês</p><p>e do buccula latino, significa escudo pequeno</p><p>de madeira forrado de couro forte, com seu</p><p>brocal; no meio tem um embigo de metal ou</p><p>diamante, que cobre a embraçadeira que está</p><p>por dentro. Também os havia de metal. Pa-</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 93</p><p>rece corresponder ao clypeus dos latinos, que</p><p>era escudo menor dos peões. – Adarga é pa-</p><p>lavra comum à língua castelhana, e que vem</p><p>do árabe addarca ou addara, escudo de couro,</p><p>e significa escudo oblongo de couro com duas</p><p>embraçadeiras em que se enfiava o braço, e</p><p>uma abertura onde se metia o dedo polegar</p><p>para o segurar. Era arma antigamente usada</p><p>em Espanha, em Portugal, entre mouros e</p><p>africanos. Em dois lugares faz Camões men-</p><p>ção desta arma defensiva; falando dos habi-</p><p>tantes de Moçambique, diz ele:</p><p>Por armas tem adargas e terçados</p><p>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .</p><p>Com a adarga, e com a hastea perigosa.</p><p>(Lus. I, 47, 87).</p><p>– Rodela, palavra igualmente comum à</p><p>língua castelhana, e que vem do italiano ro-</p><p>tella, designa uma espécie de escudo peque-</p><p>no e delgado. – Pavês (do italiano pavese) era</p><p>escudo grande e oblongo, que cobria todo o</p><p>corpo do soldado. – Égide é palavra latina,</p><p>œgis (do grego aigis, escudo ou couraça de</p><p>pele de cabra, de aix “cabra”), e significa</p><p>propriamente o escudo de Minerva ou Pa-</p><p>las, feito da pele da cabra Amalteia, e em</p><p>cujo centro estava a cabeça de Gorgona ou</p><p>Medusa, cheia de serpentes. No sentido fi-</p><p>gurado quer dizer “defesa, proteção”.</p><p>134</p><p>ADIÇÃO, soma, total. – Adição – diz</p><p>Bruns. – “é a operação pela qual, ajuntan-</p><p>do um ou vários números a outro, obtemos</p><p>um número equivalente a todos. – Soma é</p><p>o número que se obtém ao praticar a adição.</p><p>O uso, ainda que impropriamente, tornou</p><p>soma e adição sinônimos perfeitos. – Total</p><p>é o número equivalente a várias somas</p><p>par-</p><p>ciais. O uso também confunde soma com</p><p>total. Fazendo a adição das verbas despendi-</p><p>das num dia da semana, obtemos a soma do</p><p>gasto desse dia. Adicionando (ou reunindo)</p><p>as somas do gasto de cada um dos sete dias</p><p>da semana, obtemos o total do gasto dessa</p><p>semana”.</p><p>135</p><p>ADIANTAR, antecipar. – Quanto a estes</p><p>verbos escreve Bruns.: “Consideram-se estas</p><p>palavras como sinônimos perfeitos: a quem</p><p>se prontificou a fazer-nos um trabalho por</p><p>certo preço, adiantamos ou antecipamos algu-</p><p>ma quantia à conta dele”. Há, porém, uma</p><p>diferença subtil entre as duas expressões:</p><p>adiantar refere-se ao ato, antecipar ao tempo.</p><p>“Nos colégios, as mensalidades pagam-se</p><p>adiantadas; o pai de um aluno pode, no en-</p><p>tanto, antecipar a mensalidade”, isto é, “fazê-</p><p>la efetiva antes da época ou do dia em que</p><p>deve adiantá-la”.</p><p>136</p><p>ADIANTAR-SE, progredir, prosperar,</p><p>avantajar-se, florescer, medrar, vingar. –</p><p>Todos estes verbos dão ideia de “ir para</p><p>diante no desenvolvimento próprio e na-</p><p>tural”. – Adiantar-se e progredir podem</p><p>confundir-se, mas nem por isso devem con-</p><p>siderar-se como sinônimos perfeitos. Quem</p><p>se adianta marcha resoluto para a frente, vai</p><p>seguro, em atividade vitoriosa: quem progride</p><p>anda também para diante; mas entre estas</p><p>duas frases: – “meus negócios não se adian-</p><p>tam”, “meus negócios não progridem” – há</p><p>sempre uma diferença facilmente perceptí-</p><p>vel. A primeira diz evidentemente que meus</p><p>negócios não se encaminham à solução que</p><p>eu desejo; a segunda exprime que os meus</p><p>negócios não se desenvolvem, não aumentam</p><p>na proporção dos meus esforços. – Progre-</p><p>dir é, portanto, desenvolver-se com preste-</p><p>za. Distinguem-se ainda estes dois verbos</p><p>nestes exemplos: “o mal, a doença progride”</p><p>(e não – adianta-se); “os dias daquele enfer-</p><p>mo se adiantam” (e não – progridem). – Avan-</p><p>tajar-se significa “levar vantagem a alguém,</p><p>94 � Rocha Pombo</p><p>fazer mais ou melhor do que outrem”. É,</p><p>pois, um verbo de predicação sempre rela-</p><p>tiva; porquanto, mesmo nos casos em que</p><p>a cláusula correlata não está expressa, ou o</p><p>complemento terminativo não está claro, é</p><p>de supor que fica subentendido. Quando eu</p><p>digo: “Aquele rapaz tem-se avantajado muito</p><p>nos seus estudos” – quero exprimir que o</p><p>rapaz de quem se trata tem feito muito mais</p><p>do que outros, ou do que o comum dos es-</p><p>tudantes. “Aquele tipo não te avantaja em</p><p>coisa alguma”. “Eles se nos avantajam pelo</p><p>ar desenvolto, e por aquela estultícia vito-</p><p>riosa de que se ufanam...”. “Tu te avantajarás</p><p>a Pedro se fores esperto...”. – Prosperar é</p><p>“ir adiante, crescer na fortuna”. O que pros-</p><p>pera não só se desenvolve e aumenta, como</p><p>vai feliz na vida. “F. ganha muito, esforça-se</p><p>muito, trabalha em excesso, mas os seus ne-</p><p>gócios não prosperam”. “As rendas se lhe au-</p><p>mentam sempre, mas nem por isso se pode</p><p>dizer que ele prospere...”. “Apesar de todos</p><p>os contraventos, o que é certo é que a em-</p><p>presa não deixa de prosperar”. – Florescer é</p><p>“ir prosperamente em tudo, prosperar com</p><p>esplendor, desenvolver-se brilhantemente”.</p><p>Florescem letras e artes, como florescem povos,</p><p>gerações, grandes vidas, como ainda florescem</p><p>países, cidades, estabelecimentos. – “A ideia</p><p>fundamental do verbo medrar – diz Bruns.</p><p>– é “o aumento, quer em volume, quer em</p><p>quantidade, força ou poder”. Medram o me-</p><p>nino que cresce, as searas que abundam, os</p><p>interesses que aumentam, a população que</p><p>se multiplica”. – Vingar aqui (vincere) é</p><p>próximo de medrar: significa “tomar vita-</p><p>lidade, crescer não obstante algum entrave,</p><p>conseguir o seu fim; ter bom êxito, prospe-</p><p>rar, ser feliz”. Vinga a flor, como vingam os</p><p>nossos planos, as nossas esperanças, etc.</p><p>137</p><p>ADEPTO, sectário (sectarista), iniciado,</p><p>partidário, partidista, assecla, sequaz, ade-</p><p>rente; faccionário, faccioso, parcial; seita,</p><p>facção, partido, parcialidade. – Adepto é</p><p>“o que foi catequizado, que se deixou in-</p><p>fluenciar, que se convenceu e aderiu ou se</p><p>ligou a uma seita, a um partido, ou que se</p><p>fez defensor de uma ideia”. “A causa da</p><p>independência alcançou logo um grande</p><p>número de adeptos”. “A tua reforma, filho –</p><p>disse o deputado ao colega sonhador – não</p><p>encontrará adeptos”. – Iniciado (ao contrário</p><p>do que pensam alguns) parece que diz me-</p><p>nos que adepto; pois o iniciado considera-se</p><p>apenas “admitido a iniciação”, isto é, habi-</p><p>litado a receber os princípios, as noções, a</p><p>entrar nos mistérios de um culto, de uma</p><p>ciência, de uma doutrina: diz mais neófito</p><p>propriamente do que adepto. “F. está iniciado</p><p>no ocultismo” – equivale a – “F. começou</p><p>a estudar e a conhecer o ocultismo”. Tem</p><p>razão Bruns. quando observa que adepto</p><p>designa um modo de ser; e iniciado designa</p><p>mais um estado do que uma condição: con-</p><p>quanto isto não signifique de forma absolu-</p><p>ta a impropriedade de iniciado como puro</p><p>substantivo, pois dizemos: “Os iniciados da</p><p>religião bramânica”; “O novo credo, ou o</p><p>novo partido já conta bom número de ini-</p><p>ciados”. – Sectário diz propriamente “mem-</p><p>bro de uma seita, de uma escola filosófica,</p><p>ou mesmo de um partido”; e sugere ideia de</p><p>obstinação e fanatismo. Além disso envolve</p><p>também ideia de heterodoxia ou dissidên-</p><p>cia, deixando supor que o sectário é sempre</p><p>alguém que se afastou da sua antiga religião</p><p>ou do seu partido. Dizemos: “sectário do cal-</p><p>vinismo”, “sectário de Lutero”; nunca: “sectá-</p><p>rio do Cristianismo”, nem “sectário de Jesus</p><p>ou de S. Paulo”. – Partidário é “membro</p><p>de um partido, adepto esforçado de uma</p><p>causa, ou de uma ideia”. Partidista é quase</p><p>o mesmo; distinguindo-se este do primeiro</p><p>em exprimir melhor o empenho, a paixão</p><p>com que se toma o partido, a causa ou a</p><p>ideia. O partidário pode pertencer apenas a</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 95</p><p>um partido, professar as ideias ou opiniões</p><p>desse partido; mas o partidista exalta-se na</p><p>defesa do seu partido, esforça-se pela vitó-</p><p>ria, apaixona-se pela sua causa. – Diferença</p><p>análoga pode notar-se entre faccionário e</p><p>faccioso13: o primeiro diz apenas “membro</p><p>de facção”, “pertencente a facção”; faccioso</p><p>vale por “viciado de espírito de facção, afei-</p><p>to a maquinações”, sedicioso, perturbador,</p><p>desordeiro. A facção distingue-se do par-</p><p>tido em significar “grupo ou ajuntamento</p><p>hostil e secreto contra outro grupo, ou con-</p><p>tra instituições, partidos, ou mesmo contra</p><p>um homem”; enquanto que partido designa</p><p>apenas “reunião ou conjunto de indivíduos</p><p>que defendem as mesmas opiniões, ou sus-</p><p>tentam a mesma causa”. A facção só se faz</p><p>partido quando assume o caráter e a força</p><p>de coletividade legítima, trabalhando fran-</p><p>camente por uma causa. – Parcial, aqui, é</p><p>“o indivíduo que se liga a outro indivíduo”;</p><p>e parcialidade é o “bando, o grupo dirigido</p><p>por um chefe”. Um só partido pode dividir-</p><p>-se em várias parcialidades. A liga ou alian-</p><p>ça de algumas parcialidades pode formar</p><p>um grande partido. – Aderente se diz da-</p><p>quele que aderiu, isto é, que deu a sua san-</p><p>ção, o seu apoio a um partido, a uma ideia,</p><p>a uma causa que até aí havia hostilizado ou</p><p>combatido. Além disso, aderente sugere</p><p>menos ideia de convicção ou de identida-</p><p>de de opiniões entre a pessoa que adere e a</p><p>causa ou partido a que se faz adesão, do que</p><p>ideia de incorporação, de aliança, de liga. –</p><p>Assecla (como se vê da própria formação:</p><p>ad + sequi) é “o que segue alguém, algum</p><p>partido ou seita; o que vai como se fosse na</p><p>comitiva ou no séquito de alguém”. Sugere,</p><p>portanto, ideia de subserviência, da ceguei-</p><p>ra com que o assecla acompanha alguém ou</p><p>alguma coisa. – Sequaz, até pela etimologia</p><p>(sequi), confunde-se com assecla: apenas se-</p><p>quaz envolve, melhor do que assecla, ideia</p><p>de parcialidade ou partidismo pessoal; e</p><p>por pouco se não diz sinônimo do nosso</p><p>brasileirismo capanga.</p><p>138</p><p>ADEREÇAR, enfeitar, adornar, ornar, or-</p><p>namentar, ataviar, embelezar, embelecer,</p><p>aformosear, engalanar, alindar, decorar,</p><p>aprimorar; adorno, enfeite, ornato, ata-</p><p>vio, adereço, ornamento, decoração, gala,</p><p>primor. – A ideia de tornar belo, mais vis-</p><p>toso, ou mais correto no gosto, no aspeto,</p><p>na expressão – é comum a todos os verbos</p><p>deste</p><p>grupo. Raros, no entanto, entre eles</p><p>poderiam confundir-se ou ser empregados</p><p>indistintamente. Uma senhora se adereça, ou</p><p>se enfeita, ou se atavia; mas decerto ninguém</p><p>dirá que uma senhora se adereça de fitas, ou</p><p>que se enfeita de joias, ou que se atavia de bri-</p><p>lhantes. (Aliás, o verbo enfeitar é o mais</p><p>genérico e vulgar, e emprega-se frequente-</p><p>mente em casos como o exemplo acima,</p><p>conquanto não pareça muito próprio.) –</p><p>Adereçar diz, portanto, “adornar de adere-</p><p>ços”, isto é, de joias, de adornos de oiro ou</p><p>pedraria. – Enfeitar e ataviar aproximam-</p><p>-se, pela ideia, que sugerem, de “adornar de</p><p>coisas ligeiras, vãs, insignificantes: e o se-</p><p>gundo mais ainda que o primeiro, pois ata-</p><p>vio é adorno mais falso que enfeite. Além</p><p>disso, a pessoa que se adereça quer brilhar; a</p><p>que se enfeita quer parecer mais bela do que</p><p>é, ou deseja disfarçar algum defeito; a que</p><p>se atavia exagera ou dispõe sem gosto os seus</p><p>adornos ou enfeites, e mostra-se por isso</p><p>mais fútil ainda que a pessoa que se enfeita.</p><p>Ninguém diria que, por exemplo, a gralha</p><p>da fábula se adorna, e sim que se enfeita ou se</p><p>atavia com as penas do pavão. – Adornar e</p><p>13 � Também entre sectário e sectarista; designando</p><p>este o sectário apaixonado de forte espírito de sei-</p><p>ta. E como já vimos, seita diz dissidência, separação,</p><p>desligamento da doutrina que se professava, da causa</p><p>que se servia.</p><p>96 � Rocha Pombo</p><p>ornar diferençam-se tão bem como adorno</p><p>e ornato. Ornato aplica-se mais a coisas, e</p><p>designa “o que, num edifício, num artefato,</p><p>mesmo numa produção literária, é trabalho</p><p>de acabamento, de lavor artístico”; e ador-</p><p>no tanto se aplica a pessoas como a coisas,</p><p>e diz “tudo que aumenta a beleza”. Aproxi-</p><p>ma-se por isso de ornato, e mais talvez de</p><p>decoração. Esta, porém, deixa supor que os</p><p>adornos de que se decora têm um fim espe-</p><p>cial, e excedem naturalmente ao simples or-</p><p>nato, próprio do edifício ou da coisa de que</p><p>se trata. Também ornato deve confrontar-se</p><p>com ornamento: este é uma decoração mais</p><p>brilhante, de mais imponência, mais sump-</p><p>tuosa e augusta. A mesma diferença há,</p><p>portanto, entre ornar e ornamentar. A or-</p><p>namentação de um templo, de um palácio,</p><p>de uma câmara só se faz excepcionalmente,</p><p>e para algum ato ou função extraordinária</p><p>e de grande solenidade. – De ornamentar</p><p>aproxima-se engalanar; mas este sugere</p><p>ideia de brilho, aparato de festa, alegria rui-</p><p>dosa – tudo que se encerra em gala. – Em-</p><p>belezar e embelecer, se se aceita a definição</p><p>dos lexicógrafos, são sinônimos perfeitos; e</p><p>no entanto, bastará um exemplo para deixar</p><p>bem clara a distinção que se sente entre estes</p><p>dois verbos: “A cidade se embelece de dia em</p><p>dia...” (não seria próprio, ou pelo menos de</p><p>rigorosa propriedade dizer que a cidade se</p><p>embeleza). Ainda outro: “Para a festa vamos</p><p>embelezar toda a praça...” (não se diria que va-</p><p>mos embelecer, pois esta forma significa não</p><p>– “fazer belo simplesmente” (embelezar),</p><p>mas – “tornar belo cada vez mais” (embe-</p><p>lecer). – Aformosear e alindar apresentam</p><p>a mesma diferença que se reconhece entre</p><p>formoso e lindo. Lindo exprime “belo gentil,</p><p>gracioso, ingênuo, loução, taful”. Dizemos:</p><p>“lindo ramilhete, linda criança” (e não – “for-</p><p>moso ramilhete”, nem “formosa criança”: mes-</p><p>mo porque – “formosa criança” já seria outra</p><p>coisa). Aformosear e alindar estão em caso</p><p>correspondente. Dizemos que se aformoseia</p><p>o estilo, a alma, o caráter, etc.; e que só se</p><p>alindam coisas muito mimosas, infantis. –</p><p>Aprimorar é dar ao que é já belo, correto,</p><p>elegante – um alto grau, uma expressão pri-</p><p>morosa, uma excelência suprema. Aprimora-se</p><p>a educação, como se aprimora uma obra de</p><p>arte, ou uma virtude, etc. Sendo, portanto,</p><p>primor “o alto grau de perfeição a que se</p><p>eleva aquilo que se aprimora.”</p><p>139</p><p>ADESTRAR, exercitar, instruir, ensinar,</p><p>desembaraçar. – Tanto se adestra um animal</p><p>como um homem, ou mesmo os nossos</p><p>braços, as nossas mãos. Pode-se também</p><p>adestrar num certo sentido: na corrida, por</p><p>exemplo, ou na marcha, ou no salto, na pug-</p><p>na, no tiro ao alvo; ou mesmo em alguma</p><p>aptidão especial – no desenho, na escrita,</p><p>na datilografia, nas quatro operações arit-</p><p>méticas, nalgum ofício ou função, etc. Mas</p><p>note-se que não dizemos: adestrar na músi-</p><p>ca, ou na poesia, ou na matemática: salvo</p><p>se nos referimos apenas à técnica de algum</p><p>instrumento, de algum processo, ou de al-</p><p>guma operação. E isso porque adestrar diz</p><p>propriamente “fazer-se muito hábil, tornar-</p><p>-se perito, rápido, ágil” – portanto, numa</p><p>função que não seja puramente espiritual.</p><p>Pode-se, aliás, adestrar a memória, mesmo o</p><p>espírito; mas é claro que referindo-nos a um</p><p>exercício que seja mais mecânico do que de</p><p>raciocínio. Ninguém seria capaz de dizer:</p><p>“vou adestrar-me na filosofia, ou na ciência</p><p>do direito, ou na economia política”, etc.;</p><p>e no entanto, seriam perfeitamente lídimas</p><p>estas outras formas: adestrar-se nas lides par-</p><p>lamentares, na dialética, nas manobras mili-</p><p>tares, ou políticas – em tudo, afinal, em que</p><p>é possível, pelo exercício, à custa de esfor-</p><p>ço, fazer-nos mais destro. – Exercitar é mais</p><p>genérico, e designa toda e qualquer ação</p><p>de “aumentar as aptidões, a capacidade, a</p>

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