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<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 193</p><p>nem tão profunda. – A repugnância é ainda</p><p>mais forte que a aversão. Diz, no entanto,</p><p>Roq. que a repugnância é menos invencí-</p><p>vel que a aversão, e que esta o é também</p><p>menos que a antipatia; e que muitas vezes</p><p>acontece que uma e outra (aversão e repug-</p><p>nância) chegam a converter-se em afeto, e</p><p>até em amor, pois têm muito de capricho-</p><p>sos estes sentimentos que devemos chamar</p><p>acidentais. Mas isto mesmo poderíamos</p><p>dizer, e talvez com mais razão, de antipa-</p><p>tia: quantas vezes se tem antipatia por uma</p><p>pessoa só porque não a conhecemos de per-</p><p>to? – O ódio nasce quase sempre de pode-</p><p>rosas e fundadas causas, por graves injúrias</p><p>recebidas; algumas vezes, de mera vontade,</p><p>de ligeiros motivos, e ainda de capricho. De</p><p>qualquer modo que se manifeste, são cruéis</p><p>e terríveis seus efeitos; parece com o tempo</p><p>ganhar forças, e chega a inveterar-se na alma</p><p>como um veneno mortal. A aversão e a an-</p><p>tipatia exercem-se indistintamente nas pes-</p><p>soas e nas coisas; o ódio, mais naquelas que</p><p>nestas; a repugnância, nas ações. – Quizila</p><p>(ou quizília) é palavra da língua bunda, e</p><p>significa a antipatia que os pretos têm a cer-</p><p>tos comeres ou ações. É mais “tédio, aborre-</p><p>cimento, arrelia do que aversão propriamen-</p><p>te, em lugar da qual se usa em linguagem</p><p>comum”. – Asca, segundo o mesmo Roq., é</p><p>palavra vulgar que indica “aversão, má von-</p><p>tade que se tem a alguém, talvez com desejo</p><p>de vingança”. Aproxima-se, portanto, de</p><p>gana (em sentido figurado) que é “um forte</p><p>desejo de mal, encarniçamento e quase furor</p><p>impulsivo contra alguém, às vezes gratuita-</p><p>mente”. – Asco é “aversão, repugnância que</p><p>se tem a coisa torpe ou imunda”. – Zanga</p><p>é “a quase aversão que se tem a pessoa ou</p><p>coisa que se julga de mau agoiro”. – Rancor</p><p>é “ódio profundo e oculto, produzido sem-</p><p>pre por alguma causa muito grave”. – Hor-</p><p>ror é “grande aversão e repugnância, muitas</p><p>vezes sem ódio”.</p><p>315</p><p>ANTIQUADO, obsoleto, desusado, arcai-</p><p>co. – Estas palavras “indicam coisa antiga</p><p>que decaiu do uso”. – Obsoleto acrescenta</p><p>à significação das duas outras uma ideia de</p><p>– “excluído ou proscrito”, e até de “quase</p><p>ridículo”. As palavras e frases antiquadas ou</p><p>desusadas “podem ainda usar-se em poesia e</p><p>em estilo jocoso; não as obsoletas, que de or-</p><p>dinário foram substituídas por outras mais</p><p>bem derivadas e mais sonoras”. O uso pode</p><p>fazer ainda reviver, segundo a sentença de</p><p>Horácio, muitas expressões desusadas ou an-</p><p>tiquadas, mas as obsoletas parecem condenadas</p><p>a perpétuo esquecimento. O escritor que se</p><p>serve de palavras e locuções antiquadas (ou</p><p>desusadas), mas genuínas da língua, expressi-</p><p>vas e com boa analogia, para fugir à inva-</p><p>são do neologismo, merece louvor; porém</p><p>o que busca desenterrar velharias, e prefere</p><p>os arcaísmos de nossos avós às boas expres-</p><p>sões que o uso depois introduziu – este não</p><p>se livrará da pecha de rançoso. Cada século</p><p>tem seu cunho particular, e cada escritor o</p><p>estilo que lhe é próprio. Sem nada mendiga-</p><p>rem aos estranhos, Barros e Fernão Mendes</p><p>Pinto não escreveram como Fernão Lopes e</p><p>Castanheda; Luiz de Souza e Vieira diferem</p><p>muito de Seita e Paiva; Camões e Bernar-</p><p>des não se parecem com Gil Vicente e Sá de</p><p>Miranda, posto que todos escrevessem em</p><p>bom português, e clássico para seus respe-</p><p>tivos tempos”. – Entre desusado e arcaico</p><p>deve notar-se a seguinte diferença: desusado</p><p>diz propriamente “fora do uso, já excluído</p><p>pelo uso”; enquanto que arcaico significa</p><p>apenas “que o vocábulo é muito antigo; que</p><p>a forma não está em moda por ser muito</p><p>velha”.</p><p>316</p><p>ANTIQUÁRIO, arqueólogo. – “O domí-</p><p>nio” – escreve Bruns. – “em que o antiquá-</p><p>rio e o arqueólogo exercitam a sua atividade</p><p>194 � Rocha Pombo</p><p>é o mesmo”; há, porém, entre as duas pala-</p><p>vras diferença considerável. – Arqueólogo</p><p>é “o que é muito versado em tudo quanto</p><p>respeita a antiguidades, que as conhece, as</p><p>explica, etc. – Antiquário é o que tem gos-</p><p>to pelas coisas antigas, que se dedica ao seu</p><p>estudo, que as coleciona (e que até com elas</p><p>negocia). Com estudo e paciência, um anti-</p><p>quário pode tornar-se arqueólogo”.</p><p>317</p><p>ANTÍTESE, contraste, antífrase, antino-</p><p>mia, antilogia, contradição, contrariedade,</p><p>oposição. – Segundo Bourg. e Berg., antí-</p><p>tese “pertence exclusivamente à linguagem</p><p>literária, e dizemos só da flagrante oposi-</p><p>ção que existe entre duas palavras ou duas</p><p>ideias aproximadas: dizer que um homem</p><p>é de uma ‘orgulhosa’ ‘simplicidade’ é fazer</p><p>uma antítese. Esta palavra é, portanto, mui-</p><p>to mais restrita que contraste, que se aplica</p><p>a situações, a caracteres, e não somente às</p><p>partes de um mesmo período. – O contras-</p><p>te (do latim contra, ‘frente a frente’ e stare,</p><p>‘conservar-se’) é a oposição que existe entre</p><p>coisas contrárias; qualidades ou modos de</p><p>ser diferentes, e que a aproximação faz res-</p><p>saltar melhor”. Esta palavra emprega-se nas</p><p>artes, em literatura, em filosofia, e em geral</p><p>sempre que se nota uma impressiva con-</p><p>trariedade entre duas coisas. – A antífrase,</p><p>ainda segundo Bourg. e Berg., “é uma pala-</p><p>vra ou uma locução que deve ser entendida</p><p>num sentido contrário ao que exprime essa</p><p>palavra ou essa locução. É por antífrase que</p><p>os gregos designavam as Fúrias pelo nome</p><p>de Eumênides (deusas benignas, ou bené-</p><p>volas). É por antífrase que eles designavam</p><p>o mar Negro sob o nome de Ponto Euxino</p><p>(mar hospitaleiro). É também por antífrase</p><p>que, falando de um celerado, dizemos: este</p><p>santo homem”. Quando Boileau diz: “As-</p><p>seguro: Quinault é um Virgílio” – a propo-</p><p>sição: “Quinault é um Virgílio” “deve ser</p><p>entendida em um sentido contrário ao que</p><p>lhe é natural e próprio. Se não houvesse aí</p><p>antífrase, essa afirmativa marcaria que Qui-</p><p>nault é um poeta de primeira ordem; mas</p><p>admitido, pela antífrase, o sentido real que</p><p>está no pensamento do satírico, essa pro-</p><p>posição marca que Quinault é um medíocre</p><p>poeta”, Bourg e Berg. distinguem a antífra-</p><p>se da contraverdade; mas sem fundamen-</p><p>tar claramente a distinção. – Antinomia é</p><p>“a oposição que se nota entre duas leis ou</p><p>princípios”. – Antilogia “é a contradição</p><p>ou desconchavo entre as ideias sustentadas</p><p>pelo mesmo autor, ou entre os capítulos de</p><p>um mesmo livro”. – Contradição é “des-</p><p>concerto entre o que se disse e o que se está</p><p>dizendo; contraste entre as ideias ou as afir-</p><p>mações de alguém e as nossas”. – Contra-</p><p>riedade é “a relação que se nota entre duas</p><p>coisas ou duas ideias opostas”. – Oposição</p><p>é aqui “o maior ou menor afastamento em</p><p>que uma coisa fica da outra”.</p><p>318</p><p>ANTRO, caverna, furna, gruta, lapa, cova,</p><p>buraco, toca, subterrâneo. – Segundo Roq.</p><p>– “a primeira destas palavras é o grego an-</p><p>tron, que deu o latim antrum, o qual entrou</p><p>no português como palavra culta e poéti-</p><p>ca; e segundo a sua origem significa – cova</p><p>profunda e escura. – A segunda do grupo é</p><p>latina, caverna; e significa uma grande esca-</p><p>vação aberta a modo de abóbada, e defen-</p><p>dida pelos lados como um recinto. – Furna</p><p>é cova profunda, escura e medonha; diz-se</p><p>particularmente da fauce lôbrega de um vul-</p><p>cão, de que nos deixou exemplo Bernardes</p><p>na Floresta: “Estando em cima, contemplan-</p><p>do a horrenda furna e estômago do monte</p><p>(Etna), cuja disforme boca mostra ter uma</p><p>légua de âmbito... (II, 227)”. Esta palavra</p><p>não é poética, e diferença-se de todas as do</p><p>grupo em acrescentar-lhes à significação</p><p>comum a ideia de medo, de horror, que às</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 195</p><p>outras não é inerente. – Gruta é palavra</p><p>castelhana e portuguesa (talvez do latim</p><p>crypta, grego krupta) e significa concavidade</p><p>da terra entre penhascos, às vezes suscetível</p><p>de ornato rústico. – Lapa é palavra portu-</p><p>guesa, vinda talvez do grego lápathos; e quer</p><p>dizer uma caverna na encosta de monte, e</p><p>coberta por um penedo ou chapa de pedra:</p><p>isto mesmo significa a palavra lapa. – Os</p><p>antros servem de covil às feras; as cavernas, de</p><p>asilo aos homens e de guarida aos ladrões;</p><p>as grutas são habitadas pelos anacoretas; e</p><p>as lapas dão abrigo aos pastores, como diz</p><p>Luiz de Souza, na Vida do Arcebispo: “E</p><p>viu</p><p>juntamente que ao pé do penedo se abria</p><p>uma lapa que podia ser bastante abrigo para o</p><p>tempo”. Em estilo poético, “as ninfas e os</p><p>deuses campestres habitam as grutas; as feras,</p><p>os antros; os facínoras, as cavernas; e os zagais</p><p>acolhem-se às lapas”. – Cova é “abertura fei-</p><p>ta na terra, mais ou menos ampla e profun-</p><p>da”. – Buraco “será uma cova, ou mesmo</p><p>uma caverna menos profunda e de menores</p><p>proporções”. – Toca = “buraco onde vivem</p><p>ou se refugiam caças”; e por analogia, o lu-</p><p>gar onde alguém se esconde... com alguma</p><p>vergonha. – Subterrâneo designa “em geral</p><p>todo espaço que se encontra no subsolo”.</p><p>319</p><p>APARATO, apresto, preparativo, apare-</p><p>lho. – Segundo Roq. – “quando se reúnem,</p><p>dispõem e arranjam diversos materiais ou</p><p>coisas para a execução de qualquer obra,</p><p>dizemos que se fazem preparativos; assim</p><p>como à reunião deles se chama aprestos</p><p>ou aparelhos. Dizemos, pois – os prepara-</p><p>tivos de uma função, ou de um banquete; os</p><p>preparativos de uma guerra, de um assédio.</p><p>Às disposições para qualquer faustosa ce-</p><p>rimônia ou festividade se lhes dá o nome</p><p>de aparatos, pois que a significação desta</p><p>palavra se estende a tudo o que se executa</p><p>com pompa e ostentação... A significação</p><p>da palavra aparelho é muito mais extensa</p><p>que a das anteriores, pois não só as com-</p><p>preende todas, mas abrange os instrumen-</p><p>tos, operações, materiais, disposições para</p><p>todo exercício, trabalho ou obra, desde o</p><p>mais elevado até o mais ínfimo; estende-se</p><p>desde a ciência e manobras náuticas, desde</p><p>o exercício e arte da pintura até o mais bai-</p><p>xo ofício mecânico. Chamam-se, portanto,</p><p>aparelhos aos arreios necessários para mon-</p><p>tar, ou para carregar cavalgaduras; e dizia-se</p><p>antigamente aparelhos para dizer missa...”</p><p>320</p><p>APARATO, pompa, sumptuosidade, mag-</p><p>nificência, grandeza, majestade, osten-</p><p>tação, esplendor, alardo, fausto, luxo. –</p><p>Aparato é o movimento pomposo, o modo</p><p>solene, a grandiosa disposição com que se</p><p>celebra algum ato extraordinário. Quando</p><p>se diz: “o aparato daquela cena” – quer-se</p><p>dar ideia, não só das proporções dela, como</p><p>do brilho, da grandiosidade excepcional</p><p>que ela vai ter ou que apresenta. – Pompa</p><p>é o aparato ostentoso, é o esplendor exage-</p><p>rado de um ato solene, e que sugere ideia</p><p>de deslumbrar, de fazer sucesso, de produ-</p><p>zir sensação. Não há pompa sem grandeza</p><p>exuberante, sem opulência de formas, sem</p><p>majestade de encenação. – Sumptuosida-</p><p>de, como indica a própria origem latina, é</p><p>a qualidade daquilo em que se faz ostenta-</p><p>ção de riqueza: sumptuosidade do templo, do</p><p>palácio, do festim; e também, figuradamen-</p><p>te – sumptuosidade do estilo, das cores que</p><p>um artista empregou no seu quadro, etc.</p><p>– Magnificência é o esplendor, a pompa</p><p>que maravilham, que “engrandecem” (aos</p><p>que a contemplam). Diz mais que sump-</p><p>tuosidade, porque acrescenta à noção de</p><p>grandeza a ideia de excelência, brilho e for-</p><p>mosura. – Grandeza (segundo Lacerda, que</p><p>repete, quase pelas mesmas palavras, o que</p><p>escrevera Roquete), no sentido em que se</p><p>196 � Rocha Pombo</p><p>toma aqui o vocábulo, significa extensão,</p><p>tamanho de alguma coisa, e figuradamen-</p><p>te, poder. – Majestade indica magnificên-</p><p>cia, ostentação (de grandeza e poder); e em</p><p>sentido translato – seriedade, gravidade de</p><p>alguma pessoa. – Grandeza indica luxo, po-</p><p>derio, soberania. – Majestade indica deco-</p><p>ro, dignidade, seriedade. Grandeza refere-se</p><p>“à parte material das coisas; e majestade ao</p><p>ideal das mesmas coisas”. – Ostentação é o</p><p>brilho e aparato, o exagero calculado com</p><p>que se exibe alguma coisa. Tanto se faz osten-</p><p>tação de riqueza ou de força muscular, como</p><p>de talentos e virtudes. – Esplendor, aqui,</p><p>é brilho, excelência, lustre, de alguma coisa</p><p>ou ação. O esplendor da natureza, da corte,</p><p>de um panorama; o esplendor da mocidade,</p><p>do espírito, de uma civilização etc. – Alardo</p><p>(ou alarde) é ostentação mais estrondosa,</p><p>dando ideia da ufania de quem alardeia. Há</p><p>criaturas que fazem alardo de fortuna, de be-</p><p>leza, de poder, etc. – Fausto é luxo custoso,</p><p>grandeza, quase sumptuosidade. É de notar</p><p>que se diria: “Ele vive com certo fausto” (isto</p><p>é – com alguma pompa de quem deseja ser</p><p>tido como rico); mas, impróprio seria, ou</p><p>pelo menos não perfeitamente lídimo, di-</p><p>zer: “... com ‘certa’ sumptuosidade”. – Luxo é</p><p>toda manifestação exagerada do desejo de</p><p>conforto, ou do desejo de agradar ou de</p><p>fazer figura. Luxo no trajar, nos modos, no</p><p>viver; luxo de sapiência, de erudição, de po-</p><p>derio, etc.</p><p>321</p><p>APARECIMENTO, aparição. – Distingue</p><p>muito bem Bruns. estas duas palavras: –</p><p>“Aparecimento é o ato de aparecer; apari-</p><p>ção diz-se da coisa que aparece, e do pró-</p><p>prio ato de aparecer, de manifestar-se, con-</p><p>siderado esse ato como coisa inesperada,</p><p>e o objeto aparecido como extraordinário.</p><p>Dizemos: o aparecimento do cadáver que se</p><p>andava procurando; o aparecimento (ou apa-</p><p>rição, neste caso) da febre amarela; mas não</p><p>se diz: o aparecimento, senão a aparição do anjo</p><p>Gabriel; a aparição do cometa de Halley”.</p><p>322</p><p>APARÊNCIA, ar (ares), exterior, exteriori-</p><p>dade, visos, mostra, aspeto, semblante. –</p><p>Segundo Roq. – “a aparência é o efeito que</p><p>produz a vista de uma coisa, e a ideia que</p><p>nos resulta dela, pelo que é às vezes enga-</p><p>nosa. Exterior é o que cada corpo mostra</p><p>pela parte de fora: aplicado às pessoas, é o</p><p>aspeto, maneiras, porte ou conduta que ela</p><p>mostra exteriormente, e então se lhe cha-</p><p>ma exterioridade”. – O ar (ou os ares)</p><p>com que uma pessoa se nos apresenta é o</p><p>conjunto de tudo quanto da parte dessa</p><p>pessoa nos impressiona à primeira vista: o</p><p>semblante, os modos, os gestos, a voz, etc.</p><p>– Visos quer dizer – aparência não clara,</p><p>ou não definida: “o que ela diz tem visos</p><p>de verdade” (tem aparências vagas, impre-</p><p>cisas de verdade): – Mostra, diz Lacerda,</p><p>“é manifestação de uma coisa presente, da</p><p>qual nos deixa ver apenas uma parte”. – As-</p><p>peto é a exterioridade que nos impressiona</p><p>ao primeiro relance de olhos. – Semblan-</p><p>te é o modo de ser da fisionomia humana:</p><p>é, por assim dizer, o que quer que seja de</p><p>acento espiritual que distingue uma fronte</p><p>humana.</p><p>323</p><p>APEDREJAR, lapidar. – Estes dois ver-</p><p>bos, que à primeira vista parecem sinôni-</p><p>mos perfeitos, distinguem-se, no entanto,</p><p>deste modo: apedrejar é simplesmente</p><p>jogar pedras a alguém ou a alguma coi-</p><p>sa, correr a pedradas; e lapidar é matar</p><p>a pedradas. Como hoje se lincha, antiga-</p><p>mente se lapidava, isto é, dava-se a morte</p><p>pelo apedrejamento. Quando se diz que</p><p>alguém foi apedrejado, enuncia-se apenas a</p><p>ideia de que sobre essa pessoa se atiraram</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 197</p><p>pedras. Quando dizemos que Estevão foi</p><p>lapidado em Jerusalém, afirmamos que Es-</p><p>tevão foi morto a pedradas.</p><p>324</p><p>APELAÇÃO, agravo, recurso. – Definindo,</p><p>no seu vocabulário jurídico, os dois primeiros</p><p>termos deste grupo, diz Teixeira de Freitas:</p><p>– “Agravo é um dos recursos frequentes</p><p>da nossa ordem judiciária...” – Apelação é</p><p>“o recurso interposto da primeira instân-</p><p>cia para a segunda, quando as decisões são</p><p>apeláveis.” Parece, portanto, que o agravo é</p><p>o recurso de que se vale a parte perante a</p><p>própria autoridade que deu a decisão; e que</p><p>a apelação é recurso para juízo de instân-</p><p>cia superior à do juiz contra cuja sentença</p><p>se recorre. – Recurso é termo genérico ex-</p><p>primindo “não só o ato de recorrer, como</p><p>a faculdade, o direito de reclamar, de agir</p><p>contra uma decisão ou um julgamento que</p><p>se considera injusto, ou contrário à lei”.</p><p>325</p><p>APENAS, só (ou somente), exclusivamente.</p><p>– Segundo Bruns., só (ou somente) enuncia</p><p>quantidade sem relação determinada: F. não</p><p>é rico: tem só (ou somente) quinhentas libras</p><p>de rendimento. – Apenas, melhor do que so-</p><p>mente, ou só, sugere ideia de insuficiência ou</p><p>insignificância para determinado fim: Não o</p><p>compro porque tenho apenas cinco mil-réis;</p><p>Falta-me apenas o quinto volume para comple-</p><p>tar a obra. – Exclusivamente exprime exceção</p><p>mais completa ainda, pois exclui todas as ou-</p><p>tras coisas do número daquelas que se salva ou</p><p>a que se refere o enunciado. Falou exclusivamente</p><p>do ponto</p><p>moral: e nisto distingue-</p><p>se de apologia. Um advogado, na tribuna do</p><p>júri, faz a defesa de um réu (não a apologia).</p><p>– Elogio é “o discurso, ou o escrito em que</p><p>se demonstra ou procura demonstrar como</p><p>a pessoa elogiada é digna dos louvores que</p><p>se lhe fazem”. – O panegírico é um elogio</p><p>mais incondicional, sistemático, e sempre</p><p>com intuito de só fazer que ressaltem as al-</p><p>tas virtudes, etc. da pessoa de quem se trata.</p><p>Nas associações científicas e literárias é uso</p><p>fazer-se o elogio dos sócios falecidos (não pa-</p><p>negírico). Conhecemos orações fúnebres que</p><p>são verdadeiros panegíricos.</p><p>331</p><p>APOSENTAR, reformar, jubilar. – Expri-</p><p>mem de comum estes verbos a ideia de cessar</p><p>alguém de exercer as funções do seu cargo, ou</p><p>porque fez jus a tal vantagem, prestando ser-</p><p>viços durante um certo prazo; ou porque se</p><p>ache ou seja julgado inválido para continuar</p><p>a servir. – Jubilam-se os professores, os lentes,</p><p>concedendo-se-lhes, como um prêmio, direi-</p><p>to a todos os honorários do cargo, como se</p><p>estivessem nas respetivas funções. – Aposen-</p><p>tar diz propriamente – “dispensar do serviço,</p><p>ou do exercício do cargo, conservando uma</p><p>parte dos vencimentos, ou mesmo todos os</p><p>vencimentos”, de modo a que fique livre de</p><p>penúria o aposentado. – Reformar é dispen-</p><p>sar do serviço o militar que se fez inválido, e</p><p>assegurando-lhe o soldo da patente.</p><p>200 � Rocha Pombo</p><p>332</p><p>APOSSAR-SE, apropriar-se, usurpar, in-</p><p>vadir, conquistar. – Apossar-se alguém</p><p>de alguma coisa – escreve Roq. – é “sim-</p><p>plesmente meter-se de posse dela, fazer-se</p><p>senhor dela, tomá-la para si. – Usurpar</p><p>é tirar a outrem o que é seu, usando de</p><p>prepotência; e também arrogar-se uma</p><p>autoridade, uma dignidade, etc., que lhe</p><p>não cabe. – Invadir é acometer e entrar</p><p>por força em alguma parte. – Conquistar</p><p>é ganhar à força de armas um estado, uma</p><p>cidade, etc. Napoleão apossou-se primeira-</p><p>mente do comando geral, depois usurpou</p><p>o império; não tardou a invadir a Europa</p><p>quase toda, e conquistou parte dela; mas suas</p><p>conquistas e invasões ficaram sem efeito</p><p>quando os aliados o desapossaram de sua</p><p>autoridade usurpada”. Entre apossar-se e</p><p>apropriar-se há uma diferença de ordem</p><p>jurídica. Nem sempre se apropria de alguma</p><p>coisa aquele que dessa coisa se apossa. O</p><p>que se apossa chama a coisa a si, retém-na</p><p>em seu poder ou sob seu domínio. Só se</p><p>apropria de alguma coisa, porém, aquele que</p><p>se arroga a propriedade, o direito de ser o</p><p>dono dessa coisa.</p><p>333</p><p>APÓSTOLO, missionário, evangelizador;</p><p>propagandista; anunciador, pregoeiro,</p><p>precursor; núncio, mensageiro, emissário,</p><p>enviado. – Apóstolo (do grego apostolos,</p><p>“enviado, mensageiro de algum príncipe”)</p><p>designa propriamente cada um dos doze</p><p>discípulos de Jesus, por ele enviados a pre-</p><p>gar a boa-nova a todas as nações. Por ex-</p><p>tensão, damos o nome de apóstolo àquele</p><p>que exerce na terra funções, ou desempenha</p><p>missão equivalente à daqueles discípulos.</p><p>– Missionário é o que toma a si a propa-</p><p>ganda de alguma causa sagrada. Aplica-se</p><p>particularmente esta palavra para designar</p><p>o sacerdote ou o clérigo que se incumbe</p><p>de ir a terras de pagãos ensinar o Evange-</p><p>lho e instruir nas coisas cristãs. Por isso</p><p>mesmo tem o vocábulo um valor peculiar,</p><p>e não deve ser empregado senão em casos</p><p>que recordem a grandeza moral dos antigos</p><p>missionários. Não seria próprio dizer, por</p><p>exemplo: missionário da revolta, da desordem,</p><p>etc. No mesmo caso está evangelizador.</p><p>Não se evangelizam senão grandes verda-</p><p>des, doutrinas de redenção, ideias excelen-</p><p>tes, causas augustas. Quem seria capaz de</p><p>dizer: evangelizar o erro, a perfídia, a ignorân-</p><p>cia? Evangelizador, apóstolo e missionário</p><p>têm, portanto, lugar à parte no grupo. Se se</p><p>deve admitir entre eles alguma distinção, é</p><p>só esta, muito subtil, que resulta: de suge-</p><p>rir o vocábulo apóstolo o intento de fazer</p><p>prosélitos, de chamar ao grêmio do Cris-</p><p>tianismo; de encerrar a palavra missioná-</p><p>rio a ideia de que aquele que missiona toma</p><p>uma tarefa como sacrifício, em obediência</p><p>a algum voto; de exprimir evangelizador</p><p>a ideia de que aquele que evangeliza não faz</p><p>menos do que proclamar alguma coisa de</p><p>que ele próprio está ufano e espantado. –</p><p>Propagandista é termo comum e geral que</p><p>designa “todo e qualquer indivíduo que</p><p>se encarrega de inculcar ao maior número</p><p>alguma coisa, naturalmente fazendo-lhe a</p><p>apologia. Tanto se diz: propagandista da repú-</p><p>blica, do socialismo, de um sistema filosó-</p><p>fico, de uma escola literária, etc., como se</p><p>diz: propagandista do casamento, propagandista</p><p>de pílulas. – Anunciador significa apenas</p><p>“aquele que anuncia”. Tanto pode ser anun-</p><p>ciador de desgraças, como de felicidades. O</p><p>pregoeiro faz mais que o simples anuncia-</p><p>dor: fala muito alto, grita em favor da coisa</p><p>apregoada, e não cessa de chamar a atenção</p><p>de todos para ela. – Precursor diz propria-</p><p>mente – “o que vai adiante de alguém anun-</p><p>ciando-lhe a chegada”. Aplica-se também a</p><p>coisas e a fenômenos. S. João Batista foi “o</p><p>precursor de Jesus Cristo”. As refregas precur-</p>moral: e nisto distingue- se de apologia. Um advogado, na tribuna do júri, faz a defesa de um réu (não a apologia). – Elogio é “o discurso, ou o escrito em que se demonstra ou procura demonstrar como a pessoa elogiada é digna dos louvores que se lhe fazem”. – O panegírico é um elogio mais incondicional, sistemático, e sempre com intuito de só fazer que ressaltem as al- tas virtudes, etc. da pessoa de quem se trata. Nas associações científicas e literárias é uso fazer-se o elogio dos sócios falecidos (não pa- negírico). Conhecemos orações fúnebres que são verdadeiros panegíricos. 331 APOSENTAR, reformar, jubilar. – Expri- mem de comum estes verbos a ideia de cessar alguém de exercer as funções do seu cargo, ou porque fez jus a tal vantagem, prestando ser- viços durante um certo prazo; ou porque se ache ou seja julgado inválido para continuar a servir. – Jubilam-se os professores, os lentes, concedendo-se-lhes, como um prêmio, direi- to a todos os honorários do cargo, como se estivessem nas respetivas funções. – Aposen- tar diz propriamente – “dispensar do serviço, ou do exercício do cargo, conservando uma parte dos vencimentos, ou mesmo todos os vencimentos”, de modo a que fique livre de penúria o aposentado. – Reformar é dispen- sar do serviço o militar que se fez inválido, e assegurando-lhe o soldo da patente. 200 � Rocha Pombo 332 APOSSAR-SE, apropriar-se, usurpar, in- vadir, conquistar. – Apossar-se alguém de alguma coisa – escreve Roq. – é “sim- plesmente meter-se de posse dela, fazer-se senhor dela, tomá-la para si. – Usurpar é tirar a outrem o que é seu, usando de prepotência; e também arrogar-se uma autoridade, uma dignidade, etc., que lhe não cabe. – Invadir é acometer e entrar por força em alguma parte. – Conquistar é ganhar à força de armas um estado, uma cidade, etc. Napoleão apossou-se primeira- mente do comando geral, depois usurpou o império; não tardou a invadir a Europa quase toda, e conquistou parte dela; mas suas conquistas e invasões ficaram sem efeito quando os aliados o desapossaram de sua autoridade usurpada”. Entre apossar-se e apropriar-se há uma diferença de ordem jurídica. Nem sempre se apropria de alguma coisa aquele que dessa coisa se apossa. O que se apossa chama a coisa a si, retém-na em seu poder ou sob seu domínio. Só se apropria de alguma coisa, porém, aquele que se arroga a propriedade, o direito de ser o dono dessa coisa. 333 APÓSTOLO, missionário, evangelizador; propagandista; anunciador, pregoeiro, precursor; núncio, mensageiro, emissário, enviado. – Apóstolo (do grego apostolos, “enviado, mensageiro de algum príncipe”) designa propriamente cada um dos doze discípulos de Jesus, por ele enviados a pre- gar a boa-nova a todas as nações. Por ex- tensão, damos o nome de apóstolo àquele que exerce na terra funções, ou desempenha missão equivalente à daqueles discípulos. – Missionário é o que toma a si a propa- ganda de alguma causa sagrada. Aplica-se particularmente esta palavra para designar o sacerdote ou o clérigo que se incumbe de ir a terras de pagãos ensinar o Evange- lho e instruir nas coisas cristãs. Por isso mesmo tem o vocábulo um valor peculiar, e não deve ser empregado senão em casos que recordem a grandeza moral dos antigos missionários. Não seria próprio dizer, por exemplo: missionário da revolta, da desordem, etc. No mesmo caso está evangelizador. Não se evangelizam senão grandes verda- des, doutrinas de redenção, ideias excelen- tes, causas augustas. Quem seria capaz de dizer: evangelizar o erro, a perfídia, a ignorân- cia? Evangelizador, apóstolo e missionário têm, portanto, lugar à parte no grupo. Se se deve admitir entre eles alguma distinção, é só esta, muito subtil, que resulta: de suge- rir o vocábulo apóstolo o intento de fazer prosélitos, de chamar ao grêmio do Cris- tianismo; de encerrar a palavra missioná- rio a ideia de que aquele que missiona toma uma tarefa como sacrifício, em obediência a algum voto; de exprimir evangelizador a ideia de que aquele que evangeliza não faz menos do que proclamar alguma coisa de que ele próprio está ufano e espantado. – Propagandista é termo comum e geral que designa “todo e qualquer indivíduo que se encarrega de inculcar ao maior número alguma coisa, naturalmente fazendo-lhe a apologia. Tanto se diz: propagandista da repú- blica, do socialismo, de um sistema filosó- fico, de uma escola literária, etc., como se diz: propagandista do casamento, propagandista de pílulas. – Anunciador significa apenas “aquele que anuncia”. Tanto pode ser anun- ciador de desgraças, como de felicidades. O pregoeiro faz mais que o simples anuncia- dor: fala muito alto, grita em favor da coisa apregoada, e não cessa de chamar a atenção de todos para ela. – Precursor diz propria- mente – “o que vai adiante de alguém anun- ciando-lhe a chegada”. Aplica-se também a coisas e a fenômenos. S. João Batista foi “o precursor de Jesus Cristo”. As refregas precur-