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<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 337</p><p>outra sem motivos de razão. Damos na balda</p><p>ou no fraco a uma pessoa quando acertamos</p><p>de agitar-lhe no ânimo ou no gosto alguma</p><p>coisa que a estimule. – Mania é mais do</p><p>que balda ou fraco, pois é quase vesânia em</p><p>muitos casos. Em um sentido mais vulgar</p><p>– mania diz “uma como balda mais funda,</p><p>como se acusasse na pessoa, que a tem, uma</p><p>ideia fixa a preocupá-la”. – Pecha é defeito</p><p>ou falta grave, que poderia comprometer o</p><p>crédito da pessoa em cujo caráter fosse no-</p><p>tada. Significa também – mácula, estigma,</p><p>labéu; e por isso mesmo só pode ser empre-</p><p>gada para deprimir. – Tacha está nas mes-</p><p>mas condições da precedente: é “mancha</p><p>ou senão moral, que desdoira”. – Manha</p><p>é “habilidade para enganar, astúcia dolosa;</p><p>balda que é mais calculada que natural ou</p><p>inconsciente; sestro de sujeito velhaco”.</p><p>620</p><p>DEFENDER, justificar. – Defender é im-</p><p>pedir que se ataque, proteger alguém reba-</p><p>tendo ou destruindo as acusações que se lhe</p><p>fazem. – Justificar é mostrar como a ação</p><p>ou a conduta de uma pessoa não discrepou</p><p>do justo, do moral. Pode-se, portanto, de-</p><p>fender sem conseguir justificar. Sempre que se</p><p>justifica também se defende, pois não há ne-</p><p>cessidade de justificar senão quando há acu-</p><p>sação. Defende-se um réu provando como ele</p><p>está inocente de quanto contra ele se articu-</p><p>la. Justifica-se alguém de uma falta mostran-</p><p>do como não a cometeu.</p><p>621</p><p>DEFENDER, proibir, vedar, impedir, ini-</p><p>bir, obstar, interdizer, interditar, estorvar,</p><p>embaraçar, dificultar, tolher, impossi-</p><p>bilitar. – “Concordam estes verbos”, diz</p><p>Bruns., referindo-se aos cinco primeiros do</p><p>grupo – “em exprimir que se quer que ou-</p><p>trem não faça uma ação, ou simplesmente</p><p>que se ordena uma certa abstenção. Defen-</p><p>der sugere a ideia de autoridade superior e</p><p>cordata, que tem em vista evitar um mal,</p><p>que ou redundaria em prejuízo de quem o</p><p>praticasse, ou ofenderia a quem o recebesse.</p><p>A disciplina militar defende o sono às senti-</p><p>nelas. – Proibir manifesta, como defender,</p><p>ordem de autoridade que não quer que se</p><p>faça alguma coisa, ou que se use dela. Este</p><p>verbo não diz se a ordem é justa ou injusta.</p><p>Quem proíbe não justifica o seu mandado,</p><p>mas exige obediência. A Igreja Católica proíbe</p><p>a leitura dos livros que podem fazer duvidar</p><p>da sua autoridade. Proibir é mais usual que</p><p>defender. – Vedar significa propriamente</p><p>tolher, impedir o passo, e, extensivamente,</p><p>opor-se a alguma coisa por arbitrariedade.</p><p>A entrada nos templos católicos é vedada, em</p><p>determinadas solenidades, aos fiéis que não</p><p>podem apresentar-se senão com andrajos. –</p><p>Impedir é opor-se a que um ato se realize.</p><p>A autoridade deve adotar medidas para im-</p><p>pedir a alteração da ordem pública. – Inibir</p><p>só deve dizer-se quando o ato, sendo ilegal,</p><p>ou reputado como pouco legítimo, deve</p><p>ser reprimido, ou pelo menos circunscrito</p><p>a determinados limites. O único casamen-</p><p>to válido ante a lei devera ser o civil, sem</p><p>que, porém, se inibisse o religioso”. – Obstar</p><p>é “impedir materialmente (opondo obstá-</p><p>culo) que se faça alguma coisa”. Obstaram à</p><p>passagem da ponte. É preciso obstar a que se</p><p>invada a praça. – Interdizer é proibir por</p><p>ato público, suspender funções, uso de al-</p><p>gum direito. Hoje é mais frequentemente</p><p>empregado interditar – pôr interdito, isto</p><p>é, proibição formal. – Estorvar, embaraçar,</p><p>dificultar avizinham-se pela significação</p><p>comum de “não deixar livre a passagem, a</p><p>ação de alguma coisa”. Mas estorva-se, não só</p><p>concorrendo, ou disputando o passo, como</p><p>opondo estorvo, entrave material; embaraça-se</p><p>tornando, de qualquer modo, penoso con-</p><p>seguir o que outrem quer, ou perturbando</p><p>a ação ou o livre funcionamento de algu-</p><p>338 � Rocha Pombo</p><p>ma coisa. – Dificulta-se fazendo-se difícil,</p><p>trabalhoso. Estorva-se a entrada de alguém</p><p>por uma porta que se encheu de barricas.</p><p>Embaraça-se essa entrada com porção de</p><p>móveis que é preciso ir desviando ou arre-</p><p>dando para que se possa entrar. Dificulta-nos</p><p>essa entrada a compacta multidão que ali</p><p>se aperta. – Tolher é “impedir de passar,</p><p>de mover-se, de agir – quer proibindo ou</p><p>inibindo pela autoridade, quer constran-</p><p>gendo pela força”. Tolhe-se o movimento dos</p><p>braços prendendo-os; tolhe-se a voz tapando</p><p>a boca; e também um grande susto ou uma</p><p>forte emoção pode bem tolher-nos a palavra.</p><p>Na ação de tolher há sempre violência. –</p><p>Impossibilitar é propriamente “fazer im-</p><p>possível”, isto é, “impedir que se realize,</p><p>reduzir à impossibilidade de...”</p><p>622</p><p>DELIBERAR, decidir, resolver, opinar, vo-</p><p>tar. – Deliberar é – diz Roq. – “examinar</p><p>por todos os lados e de todos os modos,</p><p>qualquer negócio ou questão que se haja</p><p>proposto, ou sobre a qual se há consultado,</p><p>pesando as razões pró e contra. – Opinar</p><p>é emitir a sua opinião sobre algum assun-</p><p>to, discorrer sobre ele com maior ou menor</p><p>probabilidade. – Votar é dar seu voto sobre</p><p>matéria controversa, ou para eleição de pes-</p><p>soas. Na ordem de toda discussão, começa-</p><p>-se por opinar; segue-se o deliberar, e acaba-</p><p>-se por votar. Delibera-se para examinar uma</p><p>questão; opina-se para dar conta do modo</p><p>como se considera, e expor as razões em</p><p>que se funda o ditame de cada um; vota-se</p><p>para decidir à pluralidade”. Acrescentemos</p><p>que mais ordinariamente se aplica o verbo</p><p>deliberar no sentido de – “decidir depois</p><p>de, ou mediante exame e funda reflexão”.</p><p>“O governo deliberou adiar a solenidade” (=</p><p>depois de estudar, de refletir maduramente</p><p>resolveu...). – Entre decidir e resolver (que</p><p>enunciam, de comum, a ação de proferir</p><p>sentença, dar despacho, concluir por um re-</p><p>sultado) deve notar-se uma diferença, que,</p><p>aliás, não é essencial, nem sempre sensível:</p><p>decidir supõe que a questão se debate entre</p><p>duas ou mais pessoas, ou que a deliberação</p><p>de quem decidiu estava obrigada a atender</p><p>diferentes razões que solicitavam sanção;</p><p>resolver não sugere essa ideia: sem embar-</p><p>go do que é frequentemente empregado no</p><p>mesmo sentido de decidir. Propriamen-</p><p>te, Salomão tinha de decidir entre as duas</p><p>mulheres. Resolve-se um problema, um caso</p><p>complicado, uma questão, etc.</p><p>623</p><p>DELICADO, fino, tênue, subtil, leve; deli-</p><p>cadeza, finura, fineza, subtileza. – Chama-</p><p>-se delicada, segundo Roq., uma obra cujas</p><p>partes foram trabalhadas com habilidade,</p><p>esmero e primor. Estende-se a significação</p><p>de delicado ao delgado, ao frágil, ao débil,</p><p>ao fraco, e a quanto supõe falta de força e</p><p>vigor. Entendemos por fino o que não é</p><p>grosso, o miúdo, pequeno, o que é bem tra-</p><p>balhado e concluído. Por analogia, dizemos</p><p>que é fino o que não é grosseiro nem trivial,</p><p>como pensamentos, expressões, maneiras,</p><p>etc.; e à má parte, corresponde fino a sa-</p><p>gaz, astuto. Chama-se subtil ao mui tênue,</p><p>delgado, agudo; e por translação, às pessoas</p><p>engenhosas e perspicazes. Dizemos subtileza</p><p>de engenho por agudeza. Aos pensamen-</p><p>tos mais brilhantes que sólidos, chamamos</p><p>também subtis; e aos artificiosos argumentos</p><p>da escola, subtilezas escolásticas. Em sentido</p><p>moral, a delicadeza é mais rara que a finu-</p><p>ra54, e de maior mérito, e não se acompanha</p><p>com a maldade, como a esta muitas vezes</p><p>54 � Propriamente, no sentido moral, como sinô-</p><p>nimo de delicadeza, não se usa finura, e sim fineza.</p><p>Emprega-se finura no sentido concreto: a finura do</p><p>vidro, do lápis, do papel (não – a fineza). Dizemos –</p><p>finezas de cavalheiro, de fidalgo, de namorado (não</p><p>– finuras).</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 339</p><p>acontece. – O delicado é gracioso: compraz</p><p>e lisonjeia; o fino é arguto; e às vezes pica</p><p>e molesta. Dizemos – elogio delicado, sátira</p><p>fina. O homem delicado esquece-se de si para</p><p>comprazer aos outros; o fino sabe insinuar-</p><p>-se para conseguir o que deseja. A subti-</p><p>leza é a arte de achar verdades que nem</p><p>todos conhecem, nem suspeitam; toma-se</p><p>muitas vezes à má parte, e significa a ha-</p><p>bilidade em enganar, em roubar, etc., quase</p><p>a olhos vistos. A delicadeza é o pronto e</p><p>habitual sentimento das relações agradá-</p><p>veis, que nem todos conhecem. O engenho</p><p>subtil dirige-se a descobrir a verdade; o deli-</p><p>cado,</p><p>a descobrir o que é decente e adequa-</p><p>do. A subtileza pertence ao que se propõe</p><p>o engenho; a delicadeza, ao sentimento da</p><p>alma; a finura é qualidade intelectual, e se</p><p>exerce principalmente no tato, no gosto, e</p><p>no olfato. A subtileza e a finura, tanto nas</p><p>obras de imaginação como na conversação,</p><p>consistem na arte de não expressar direta-</p><p>mente o pensamento, senão em apresentá-lo</p><p>em termos que facilmente se adivinhem: é</p><p>um enigma com que logo acertam as pes-</p><p>soas entendidas. – Tênue dizemos do que</p><p>é “muito pequeno, muito pouco espesso,</p><p>fino, delgado, frágil”. O tênue regato; nebli-</p><p>na muito tênue; o tênue fio da vida. – Leve é</p><p>muito próximo de tênue, e em muitos ca-</p><p>sos poderiam substituir-se: é “o que é sem</p><p>consistência, pouco pesado, pouco espesso;</p><p>o que é ligeiro, subtil, mesmo insubstancial</p><p>ou pouco substancial”.</p><p>624</p><p>DELINQUENTE, criminoso, réu, acusado,</p><p>indiciado, culpado, infractor, transgressor,</p><p>violador, pecador; crime, delito, infração,</p><p>transgressão, violação, culpa. – Todos estes</p><p>vocábulos designam indivíduo, ou que co-</p><p>meteu falta contra a lei penal, ou a quem se</p><p>atribui a responsabilidade de uma falta dessa</p><p>natureza. – Entre delinquente e criminoso,</p><p>como entre delito e crime, há uma diferen-</p><p>ça que se deve ter como essencial, por mais</p><p>que na tecnologia jurídica se entenda como</p><p>significando a mesma coisa55. Como se vê</p><p>em outro lugar – “crime”, segundo Bruns.,</p><p>“é o ato pelo qual ataca alguém (que seja</p><p>responsável) a vida, a propriedade, a honra,</p><p>os direitos ou interesses alheios”; e delito é</p><p>“uma infração à lei; e não se lhe pode atri-</p><p>buir a gravidade do crime”. Crime, segundo</p><p>a definição de Moraes, é todo “malefício</p><p>contra as leis divinas e humanas”; portanto,</p><p>“ato, que não só vai de encontro à lei penal,</p><p>mas que ofende também a nossa consciência</p><p>do direito, o nosso sentimento da justiça, a</p><p>nossa razão das coisas”. – Delito é “infra-</p><p>ção das leis positivas”. A mesma distinção</p><p>apresentam delinquente e criminoso. De-</p><p>linquente é o que infringiu a lei, a ordem,</p><p>o mandamento: será criminoso se o delito</p><p>é de tal ordem que afronte a nossa consci-</p><p>ência moral. O vocábulo crime sugere, pois,</p><p>uma ideia de colisão com o justo e o huma-</p><p>no: o que nem sempre se dará em relação a</p><p>delito. Dizemos: criminoso de lesa-pátria (e</p><p>não delinquente). Não proteger a inocência é</p><p>um crime (não um – delito). Dizemos ainda:</p><p>culpa criminosa (e não – delituosa); – corpo</p><p>de delito (não – de crime); – crime horrível,</p><p>monstruoso (não – delito); – criminoso nato</p><p>(não – delinquente nato). – Réu, como sim-</p><p>ples termo forense, é – define T. de Frei-</p><p>tas – “a pessoa do Juízo, que nele figura</p><p>como demandada”. Entre réu e acusado há</p><p>diferenças curiosas. Tratando-se de proces-</p><p>so criminal, acusado e réu são sinônimos</p><p>perfeitos. No cível, entretanto, não se diz</p><p>do demandado senão réu. O sujeito que</p><p>vai a juízo para pagar uma dívida não é</p><p>acusado. Mas o termo réu, fora da lingua-</p><p>gem forense, é equivalente de criminoso.</p><p>55 � “Crimes e delitos reputam-se entre nós palavras</p><p>sinônimas ”. (T. de Freitas – Voc. Jurid.)</p><p>340 � Rocha Pombo</p><p>Os Neros, os Herodes – os grandes réus da</p><p>história... Chegou aquele homem, trazendo</p><p>cara de réu. É réu de morte... – Indiciado</p><p>é “aquele a quem se atribui algum crime</p><p>apenas pelas circunstâncias, pelos indícios</p><p>que o comprometem”. – O indiciado passa</p><p>a ser acusado só depois da pronúncia de-</p><p>cretada pelo juiz. – Culpado é “aquele que</p><p>foi convencido de culpa”; e, como termo</p><p>de processualística, é o mesmo que réu e</p><p>acusado. – Infractor, transgressor e viola-</p><p>dor poderiam, pelo menos em certos casos,</p><p>confundir-se, pois todos designam – aquele</p><p>que infringiu, quebrantou a ordem, a regra,</p><p>o preceito, a praxe, etc. Mas infração é o</p><p>ato de “faltar ao preceito”; transgressão é o</p><p>ato de ir “além do que estava preceituado”;</p><p>violação é o ato de “ir contra o preceito</p><p>atentando, cometendo violência”. Diremos,</p><p>portanto: – infractor da praxe, da postura; –</p><p>transgressor das ordens; – violador do cofre, da</p><p>carta alheia. Não se diz infractor, nem trans-</p><p>gressor da inocência, mas violador. – Já vimos</p><p>em outro grupo a diferença que há entre</p><p>pecado e crime: a mesma diferença existe en-</p><p>tre pecador e criminoso. Todo crime é, por</p><p>sua mesma natureza, pecado; nem todo pe-</p><p>cado, porém, será crime, pois o pecado só</p><p>passará a ser crime quando a infração da lei</p><p>moral se converter em infração da lei penal,</p><p>isto é – quando o ato pecaminoso prejudi-</p><p>car alguém (passando, portanto, a ser ato</p><p>criminoso).</p><p>625</p><p>DEMÔNIO, demo, diabo (diacho), Satã,</p><p>Satanás, Lúcifer, Lusbel, canhoto, Belzebu,</p><p>mafarrico, capeta, dianho, tinhoso, cão-</p><p>tinhoso. – “Por todos estes nomes” – diz</p><p>Roq., referindo-se aos vocábulos deste gru-</p><p>po (salvo diacho, demo, Satã e canhoto, e</p><p>os que se seguem a Belzebu) “é conhecido o</p><p>anjo mau, tentador das almas; cada um de-</p><p>les, porém, recorda circunstâncias particula-</p><p>res que importa conhecer. Diabo é palavra</p><p>latina, diabolus, antes grega diabolos, que diz o</p><p>mesmo que acusador, caluniador (de diabal-</p><p>lô, “eu acuso, eu calunio, eu desacredito”).</p><p>Com razão, pois, toma-se sempre esta pala-</p><p>vra em mau sentido, como nome geral dos</p><p>anjos maus arrojados do céu aos profundos</p><p>abismos; os quais se ocupam continuamen-</p><p>te em atormentar e perseguir a virtude, acu-</p><p>sando-a, caluniando-a, e desacreditando-a</p><p>quanto podem, e em incitar os homens ao</p><p>vício, usando para isto de sua maligna as-</p><p>túcia e pérfida sagacidade. – Demônio é</p><p>também palavra grega, daimon, que, antes do</p><p>Cristianismo, significava divindade, gênio.</p><p>Designa-se por ela o diabo, mas é mais de-</p><p>cente, e algumas vezes se toma à boa parte,</p><p>no estilo familiar. Os oradores cristãos se</p><p>servem sempre dela ainda que seja traduzin-</p><p>do a palavra latina diabolus, como se pode</p><p>ver em Vieira, nos “Sermões da primeira</p><p>Dominga de Quaresma”. – Lúcifer, que diz</p><p>o mesmo que ferens lucem, significa propria-</p><p>mente a estrela Vênus, quando aparece pela</p><p>manhã; e translatamente, o primeiro dos</p><p>anjos rebeldes, brilhante como a estrela-</p><p>d’alva, e, pelo seu pecado, descido como ela</p><p>no ocaso e escurecido. Designa, pois, esta</p><p>palavra particularmente o estado primitivo</p><p>do príncipe dos demônios, e a circunstância</p><p>que dele o fez decair. – Lusbel-(ou Luzbel)</p><p>é corrupção vulgar da mesma palavra latina</p><p>Lúcifer, mas só tem a significação transla-</p><p>ta desta. – Satanás ou Satã é termo bíblico</p><p>que do hebraico passou ao grego, pois em</p><p>S. Mateus se lê, cap. IV, v. 10: upage opeso mou,</p><p>satana – ‘vade retro, satã’. Significa adversá-</p><p>rio, inimigo, e por antonomásia – o diabo. –</p><p>Belzebu, antes Beelzebub, palavra que o nosso</p><p>vulgo converteu em Brazabu, é igualmente</p><p>termo bíblico que do hebraico passou ao</p><p>grego, pois em S. Lucas, cap. XI, v. 15, se</p><p>lê: En beelzeboul, archonti ton daimonion ekbal-</p><p>leita daimona; – in Beelzebub, principe dœmonio-</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 341</p><p>rum ejicit dœmonia. Na língua santa, Beelze-</p><p>bub significa idolum muscœ, ‘ídolo da mosca,</p><p>deus-mosca’, ou ‘deus da mosca’; e assim se</p><p>chamava o ídolo que adoravam os Acaro-</p><p>nitos, porque o invocavam contra a praga</p><p>das moscas; e supõe-se que tinha cabeça de</p><p>mosca, ou de escaravelho. Os judeus chama-</p><p>vam, por escárnio e abominação, a Lúcifer</p><p>Beel-zebub”. – Diacho é corrupção de diabo,</p><p>na qual, por assim dizer, se atenuou a sig-</p><p>nificação do original. – Canhoto é termo</p><p>popular designativo do demônio; e sugere</p><p>ideia dos intentos sinistros que tem sempre</p><p>contra as almas o espírito mau. – Demo é</p><p>forma familiar de demônio. – Mafarrico,</p><p>capeta, dianho, tinhoso, cão-tinhoso – são</p><p>outras tantas formas populares com que se</p><p>designa o demônio.</p><p>626</p><p>DEPLORÁVEL, lamentável, lastimável;</p><p>deploração, lamentação, lastimação. – Dos</p><p>dois primeiros escreve Lacerda: – “Lamen-</p><p>tável é o que excita lamentações, isto é, gri-</p><p>tos queixosos e prolongados. – Deplorável</p><p>é o que nos move a chorar, isto é, a derra-</p><p>mar lágrimas acompanhadas de manifesta-</p><p>ções da mágoa que as provoca. – A lamen-</p><p>tação é a efusão</p><p>de um coração oprimido</p><p>e amargurado, que não pode reprimir-se: é</p><p>triste, grande e lastimosa. A deploração é</p><p>mais viva e mais patética do que a lamenta-</p><p>ção. O que deplora a sua sorte comove-nos;</p><p>o que se lamenta aflige-nos”. – Lastimável</p><p>é “o que nos inspira dó, o que é digno de</p><p>compaixão”. “Viram, compungidos, o lasti-</p><p>mável espetáculo de toda aquela miséria”. –</p><p>Lastimação é o ato de manifestar profunda</p><p>mágoa e viva pena ante aquilo que move a</p><p>piedade. É mais próximo de lamentação, e</p><p>consiste mais em palavras do que em lágri-</p><p>mas, pois que se há pranto no lastimar, é</p><p>mais deploração o que se faz do que lasti-</p><p>mação. Diremos – lamentações ou lastimações</p><p>de Jeremias; e – deplorações de Jesus, referin-</p><p>do-nos ao momento em que Ele “chorou</p><p>sobre a cidade de Jerusalém”.</p><p>627</p><p>DEPOIS, logo. – Segundo Lac. – “ambos</p><p>estes advérbios indicam tempo que se segue</p><p>ao atua1; porém logo designa termo mais</p><p>próximo, e depois termo mais remoto. Logo ao</p><p>sair da missa montaremos a cavalo; e depois</p><p>de darmos um bom passeio, iremos jantar</p><p>com teu tio”.</p><p>628</p><p>DEPOR, destituir; demitir, dispensar,</p><p>exonerar; despedir. – Depor e destituir</p><p>significam – “tirar alguém, pela força, ou</p><p>por um ato ou medida excepcional, do lu-</p><p>gar em que está”. Mas depor sugere ideia</p><p>de ser elevado o cargo de que se faz baixar</p><p>alguém. Só se depõe o que está muito alto.</p><p>Destituem-se funcionários subalternos; e, em</p><p>regra, deve empregar-se este verbo tratan-</p><p>do-se dos que exercem cargos de profissão,</p><p>ou funções próprias de uma classe. – De-</p><p>mitir, dispensar e exonerar designam o ato</p><p>de retirar alguém das funções em que estava;</p><p>cada um destes verbos, porém, enuncia uma</p><p>circunstância particular desse ato. Demite-se</p><p>pondo fora do lugar; dispensa-se não recla-</p><p>mando mais a presença e as aptidões do</p><p>dispensado; exonera-se aliviando o exonerado</p><p>do trabalho que tinha. Demite-se um oficial</p><p>porque não cumpriu os deveres do seu ofí-</p><p>cio; dispensa-se porque não são mais necessá-</p><p>rios os seus serviços; exonera-se porque lhe</p><p>convém, ou porque ele pediu isso. – Des-</p><p>pedir só se aplica a serventuários de ínfima</p><p>categoria. Nem mesmo é usado este verbo,</p><p>tratando-se de funções públicas.</p><p>629</p><p>DE REPENTE (repentinamente), de súbi-</p><p>to (subitamente). – “Os clássicos usaram</p><p>342 � Rocha Pombo</p><p>indiferentemente – diz Roq. – destas duas</p><p>expressões, pois assim como diziam – orar,</p><p>glosar, poetar de repente, também se lê na</p><p>Eneida: ‘vem-lhe de súbito ao pensamento’; e</p><p>dizia-se – glosar de súbito: ‘Glosai-me este</p><p>vilancete de súbito’. E Camões disse – súbito</p><p>temor, súbita procela. É, todavia, muito acer-</p><p>tado que se distingam estas duas expressões</p><p>como os franceses distinguem o sur-le-champ</p><p>do subitement. – De repente (ou repentina-</p><p>mente) indica que a coisa se faz ou acon-</p><p>tece sem demora, logo logo, incontinenti.</p><p>– De súbito (ou subitamente) exprime o</p><p>que acontece ou se faz inopinadamente,</p><p>num abrir e fechar de olhos. O pregador,</p><p>o poeta que improvisa, fala de repente, isto é,</p><p>sem preparação prévia; o raio fere de súbito,</p><p>o salteador acomete de súbito, isto é, inopina-</p><p>damente, quando menos se pensa”.</p><p>630</p><p>DERIVAR, provir, proceder, vir, decorrer.</p><p>– Dos quatro primeiros diz Bruns.: “De-</p><p>rivar exprime que a origem do fato, ou da</p><p>circunstância de que se trata, não é direta;</p><p>isto é, que entre a origem e a sua consequ-</p><p>ência há outro fato ou circunstância que</p><p>medeia entre ambas. Pela ideia que fazemos</p><p>do direito é que as leis derivam da justiça”.</p><p>– Provir e proceder, que não afirmam</p><p>nem excluem circunstância intermediária,</p><p>diferençam-se particularmente em provir</p><p>se aplicar às coisas materiais, e proceder,</p><p>às abstratas e metafísicas. A minha fortuna</p><p>provém de uma herança. O fanatismo procede</p><p>da ignorância. – Vir é termo genérico para</p><p>exprimir a ideia de origem. A luz vem do</p><p>sol. Do descuido vêm muitas desgraças. –</p><p>Decorrer enuncia a ideia de “derivar natu-</p><p>ralmente, como um líquido que desce em</p><p>plano inclinado, como consequência que sai</p><p>de uma premissa”. “De cada direito decorre</p><p>um dever...” “De quanto nos disse decorria</p><p>claramente que tudo estava perdido”.</p><p>631</p><p>DERRAMAR, entornar. – Por mais que se</p><p>confundam na linguagem vulgar estes dois</p><p>verbos, é preciso não esquecer que há entre</p><p>eles uma distinção que se pode ter como</p><p>essencial. – Derramar é deixar sair pelos</p><p>bordos, ou “verter-se o líquido que exce-</p><p>de à capacidade” do vaso, ou que sai deste</p><p>“por alguma fenda ou orifício.” – Entornar</p><p>é “derramar virando ou agitando o vaso; ver-</p><p>ter todo ou parte do líquido que o recipiente</p><p>contém. Uma vasilha, mesmo estando de pé,</p><p>pode derramar; só entorna quando voltada”. –</p><p>Acrescentemos que entornar se aplica tan-</p><p>to à coisa que se contém no vaso como ao</p><p>próprio vaso. Entorna-se o copo; e entorna-se o</p><p>vinho. Derrama-se o vinho (agitando o copo</p><p>ou enchendo-o demais); mas não se derrama o</p><p>copo. – Se alguém dissesse a um rei: – “Entor-</p><p>nai, senhor, sobre mim a vossa munificiência,</p><p>ou as vossas graças” – esse rei responderia</p><p>naturalmente: – “Sim, derramarei sobre ti das</p><p>minhas graças”... (se as entornasse... decerto</p><p>não teria o rei mais graças que dar a outros).</p><p>632</p><p>DERRETER, fundir, liquefazer, dissolver,</p><p>diluir, desfazer; derretimento, fundição (fu-</p><p>são), liquefação, dissolução (solução), dilui-</p><p>ção. – Derreter – define Lac. – é “desatar,</p><p>soltar, por meio do calórico, as partículas de</p><p>um corpo sólido. – Fundir é derreter e lançar</p><p>no molde. A mudança operada nos corpos</p><p>derretidos chama-se derretimento; a que se</p><p>opera nos corpos fundidos chama-se fundição.”</p><p>Notemos, no entanto, que fundir exprime</p><p>não só “derreter e modelar” como “derreter</p><p>só, ou apenas derreter sem lançar em forma a</p><p>coisa derretida”. Neste caso, o ato de fundir</p><p>será fusão; pois fundição é o ato de fundir no</p><p>primeiro caso, isto é, de derreter e moldar56. –</p><p>Liquefazer é simplesmente “tornar líquido”,</p><p>56 � A fusão das geleiras nos Andes (não – a fundi-</p><p>ção). A fundição de moedas (não – a fusão).</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 343</p><p>sem nenhuma ideia acessória. – Dissolver, na</p><p>acepção em que o tomamos aqui, é “desunir</p><p>as moléculas de um sólido, pondo-o sob a</p><p>ação de um líquido”. – Dissolução é o ato</p><p>de dissolver; mas quando se trata da própria</p><p>mistura, ou da própria coisa já dissolvida, di-</p><p>zemos melhor – solução. “Imergiu as bacté-</p><p>rias numa solução de açúcar” – (não – numa</p><p>dissolução). – Diluir é “tornar mais fluido, ou</p><p>menos espesso; isto é – misturar com líquido</p><p>para diminuir a densidade”. Tanto se dilui um</p><p>líquido como um sólido: a substância sólida,</p><p>desfazendo-a no líquido, dissolvendo-a; a</p><p>substância líquida, tornando-a menos espessa</p><p>ou menos densa. Em qualquer caso, o ato de</p><p>diluir é diluição. – Desfazer é “mudar as con-</p><p>dições, o estado de uma substância”. Tanto se</p><p>desfaz o gelo que se funde, como o metal que se</p><p>derrete, como o açúcar que se dissolve, etc.</p><p>633</p><p>DERROTAR, desbaratar, destroçar, desfa-</p><p>zer, bater, destruir, exterminar, aniquilar.</p><p>– Derrotar é vencer pondo em debanda-</p><p>da, desviando do caminho, fazendo fugir</p><p>em atropelo. – Desbaratar é “vencer des-</p><p>troçando, desfazendo as hostes vencidas,</p><p>de modo a não poderem mais combater”.</p><p>– Destroçar é “dispersar violentamente,</p><p>como pôr em esfacelo, destruir, estragar o</p><p>inimigo”. – Desfazer é “pôr em desordem,</p><p>desorganizar as hostes contrárias”. – Bater</p><p>é verbo que exprime em geral a “ação de</p><p>hostilizar e vencer”. – Destruir é “des-</p><p>mantelar o inimigo, desfazendo-lhe os ba-</p><p>talhões”. – Exterminar é “destruir a ferro</p><p>e fogo, massacrando, extinguindo”. – Ani-</p><p>quilar é “reduzir a nada” propriamente.</p><p>– Os patriotas pernambucanos derrotaram</p><p>os flamengos nas duas batalhas dos Gua-</p><p>rarapes. Já os haviam destroçado no monte</p><p>das Tabocas. Vingavam-se assim de haverem</p><p>sido desbaratados no momento da invasão, ha-</p><p>via uns vinte anos quase. “O fogo da praça,</p><p>mortífero e tremendo, desfez por um instante</p><p>os nossos batalhões; mas dentro em pouco,</p><p>refeitos, batemos as avançadas, destruímo-las, e</p><p>só não as exterminamos porque</p><p>foram socor-</p><p>ridas. Alguns dias depois, eram os bárbaros</p><p>completamente aniquilados”.</p><p>634</p><p>DESABRIDO, violento, hostil, agressivo,</p><p>ríspido, áspero, rude, duro, brutal, ferino.</p><p>– Desabrido significa “desenvolto, despea-</p><p>do das conveniências, de toda consideração”.</p><p>Gestos, palavras, modos, frases desabridas. –</p><p>Violento é “o que além de desabrido (ou</p><p>mais que desabrido) é arrebatado, impetuo-</p><p>so, que se exerce pela força”. Ataque violento;</p><p>gritos, remoques, modos violentos. – Hostil</p><p>é o que é próprio de inimigo, que denota</p><p>desejo, propósito, disposição de travar luta.</p><p>Intuitos hostis; frases, atitudes hostis. – Agres-</p><p>sivo diz mais do que hostil, pois a hostilidade</p><p>nem sempre supõe necessariamente agressão.</p><p>Encontramo-lo hostil, e com pouco tornou-</p><p>-se mesmo agressivo (isto é, provocante, insul-</p><p>tuoso, investindo e agitando-se). – Ríspido</p><p>é “o que mostra exagerada severidade; o que</p><p>é duro, intratável, insolente”. Olhar, pala-</p><p>vra, homem ríspido. – Áspero é antônimo de</p><p>macio, delicado, amável; assim como rude o</p><p>é de culto, civil, fino. Gênio, frases, modos</p><p>ásperos; franqueza, costumes rudes. – Duro é</p><p>“o que, além de ríspido, é brutal e cruel”.</p><p>Duras ironias; exprobrações, insultos duros.</p><p>– Brutal é “o que é próprio só dos brutos”.</p><p>Maneiras, vícios brutais; brutal ostentação de</p><p>força. – Ferino é “o que é excessivamente</p><p>cruel, maligno, insolente, desumano como</p><p>as feras”. Frase, olhar, insulto ferino.</p><p>635</p><p>DESACONSELHAR, dissuadir, despersu-</p><p>adir, desiludir, desenganar, desconvencer.</p><p>– Todos estes verbos enunciam de comum a</p><p>ideia de mudar a resolução, o modo de ver,</p><p>344 � Rocha Pombo</p><p>o intento de alguém. – Desaconselhar é dar</p><p>um conselho contrário ao que se havia dado</p><p>ou aplaudido. – Dissuadir é “fazer mudar</p><p>de opinião, de propósito, de parecer”. –</p><p>Despersuadir é “tirar alguém da persuasão</p><p>em que estava”; assim como – desconven-</p><p>cer é “fazê-lo renunciar a convicção que ti-</p><p>nha”. – Desiludir e desenganar significam</p><p>propriamente – “tirar alguém da ilusão, do</p><p>engano, da esperança, do intento em que</p><p>está”. – Desaconselha-se uma menina de casar-</p><p>-se depois que se viu que o noivo gosta de</p><p>outra... Dissuade-se um amigo de uma ideia</p><p>nefasta, de um mau passo que vai dar. Des-</p><p>persuade-se um rapaz de muita coisa que lhe</p><p>disseram os colegas na escola. Desilude-se a</p><p>criança de que volte a irmãzinha que espe-</p><p>ra. Desenganou-se o rei de tudo quando viu as</p><p>tropas com o povo. Ele está certo de que os</p><p>fatos se deram assim: não há esforço que o</p><p>desconvença disto. Ele está convencido de que</p><p>tem talento: e vão lá desconvencê-lo...</p><p>636</p><p>DESAFIO, duelo, repto, provocação. –</p><p>Segundo Lac. –, desafio é o ato em que</p><p>se provoca outro para combate singular.</p><p>– Duelo é o combate entre duas pessoas</p><p>desafiadas, por desagravo, ou para pro-</p><p>var inocência. O desafio verifica-se de</p><p>palavra; o duelo verifica-se por meio de</p><p>qualquer arma convencionada. O duelo</p><p>pode seguir-se imediatamente ao desafio;</p><p>mas comumente os desafiados escolhem a</p><p>hora, o lugar e a arma com que o duelo</p><p>há de verificar-se. – Repto distingue-se de</p><p>desafio em significar este particularmente</p><p>que é um motivo de honra que o inspira;</p><p>quando o repto tem lugar nos casos em</p><p>que o reptador quer confundir o reptado,</p><p>quer provar que tem razão, que está com a</p><p>verdade, etc. – Provocação enuncia a ideia</p><p>geral de “chamar alguém com instância e</p><p>com intuito hostil quase sempre”.</p><p>637</p><p>DESANDAR, voltar, retroceder, recuar, re-</p><p>trogradar, tornar, retornar, regressar, vol-</p><p>ver. – Todos estes verbos têm de comum a</p><p>significação de “mover-se para trás”. – De-</p><p>sanda quem, ou o que ia andando ou moven-</p><p>do-se para diante. – Volta quem, ou o que</p><p>volve do lugar em que está para o lugar onde</p><p>estava. – Retrocede aquele que vem para trás</p><p>(sem mais circunstância alguma acessória). –</p><p>Recua quem se afasta para trás como fugindo</p><p>a um perigo, ou cedendo a uma conveniência.</p><p>– Retrograda quem marcha em sentido con-</p><p>trário àquele em que devia, ou se supõe que</p><p>devia marchar. – Torna, ou retorna quem,</p><p>ou o que volta, isto é – que volve ao lugar</p><p>onde estava, ou ponto de partida. – Regres-</p><p>sa também aquele que volta, mas ao cabo de</p><p>ausência mais ou menos longa, ou de para-</p><p>gem distante daquela de onde partira e para</p><p>a qual retorna. – Volver não tem predicação</p><p>tão completa como os demais do grupo; e</p><p>conquanto possa empregar-se com a signifi-</p><p>cação de voltar, tornar, retroceder, exprime</p><p>em geral a ação de mover-se, marchar para</p><p>um ou outro lado.</p><p>638</p><p>DESAPEGAR, despegar. Distingue Bruns.</p><p>muito bem estes dois verbos. – Despegar</p><p>– diz ele – “é separar o que está pegado. –</p><p>Desapegar é fazer perder o apego. Despeguei</p><p>o selo da sobrecarta. Não consegui desapegá-</p><p>-lo da sua louca paixão. – Desapegar por</p><p>despegar pertence à linguagem popular”.</p><p>639</p><p>DESAPERCEBIDO, despercebido. – Não se</p><p>podem confundir estas duas palavras. Quan-</p><p>do se diz que uma pessoa está desapercebida,</p><p>enuncia-se a ideia de que essa pessoa não se</p><p>apercebe, não dá pelo que aparece, pelo que</p><p>se diz, ou pelo que se passa em torno. Signi-</p><p>fica ainda, além de desatento, como abstrato</p>