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<p>ANTROPOLOGIA E</p><p>RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS</p><p>Olá, caro (a) aluno (a)!</p><p>Entender as operações econômicas por meio de fatores ou variáveis</p><p>sociológicas não deve ser considerado um procedimento estranho mesmo</p><p>para o senso comum. Coerção, hábitos, crenças, imitação ou obediência são</p><p>fenômenos sociais que sempre foram usados para explicar os mais diversos</p><p>padrões de comportamento econômico.</p><p>Neste capítulo, estudaremos a analise antropológica e sociológica dos</p><p>fenômenos econômicos e as contribuições dos pensadores contemporâneos:</p><p>Polanyi, Parsons e Smelser.</p><p>AULA 3 -</p><p>ANÁLISE SOCIOLÓGICA DOS</p><p>FENÔMENOS ECONÔMICOS: AS</p><p>CONTRIBUIÇÕES DOS</p><p>CONTEMPORÂNEOS.</p><p>Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá</p><p>como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade</p><p>de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e</p><p>Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>▪ Compreender o conceito de psicologia</p><p>▪ Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia</p><p>▪ Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes</p><p>aprendizados:</p><p>• Apresentar as principais contribuições dos pensadores</p><p>contemporâneos: Polanyi, Parsons e Smelser.</p><p>• Compreender os aspectos sociais e antropológicos relacionados a</p><p>economia.</p><p>3 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE KARL POLANYI</p><p>Fonte: https://shre.ink/1Xor</p><p>Karl Polanyi nasceu em 21 de outubro de 1886 em Viena e morreu em 23 de</p><p>abril de 1964 em Pickering, Ontário. Ele era filho de Michael Pollacsek, um engenheiro</p><p>e empresário húngaro, e Cecile Wohl, uma mulher russa que era uma figura bem</p><p>conhecida da intelectualidade húngara.</p><p>Polanyi estudou nas universidades de Budapeste e Kolozsvár e obteve o</p><p>doutorado em direito em 1909. Na universidade, participou da fundação do círculo</p><p>liberal Galilei, um movimento cultural estudantil radical na Hungria em 1908, sendo</p><p>seu primeiro presidente (SOUZA, 2021).</p><p>Polanyi foi um defensor da mudança democrática/socialista, um crítico feroz</p><p>dos ideais liberais, que argumentava que o sistema de mercado autorregulado é uma</p><p>construção utópica do comunismo e da liberdade clássica, causando desastre para a</p><p>sociedade moderna. A obra de Karl Polanyi intitulada Human Existence and</p><p>Correlated Essays, até então inédito em português, foi editada por sua filha, Kari</p><p>Polanyi Lavitt, e está estruturada em 16 tópicos, 10 capítulos e 6 ensaios explicativos</p><p>de sua tese. O livro apresenta as ideias únicas de Karl Polanyi, em muitos campos da</p><p>ciência, com uma poderosa abordagem antropológica, destinada a desvendar os</p><p>mistérios econômicos, políticos, sociais e culturais das complexas sociedades antigas</p><p>e "modernas". Essa visão diversificada da ciência levou o autor a entender as nuances</p><p>da sociedade de mercado capitalista (SOUZA, 2021).</p><p>Para entender melhor o argumento de Polanyi, vale lembrar que no mesmo ano</p><p>em que A Grande Transformação foi publicada, Fricdrich von Hayek editou seu livro</p><p>clássico, Road to Serfdom (Caminho para a Servidão). Ora, este trabalho constatou</p><p>que abandonar o sistema de mercado autorregulado significaria a destruição da</p><p>democracia política e da liberdade individual, a tal ponto que a Alemanha de Hitler</p><p>poderia ser considerada essencialmente o resultado do processo pelo qual o Estado</p><p>tentou regular a economia. Em uma defesa radical da lógica do liberalismo e dos</p><p>mercados autorregulados, Hayek encontrou um nexo causal ligando a Primeira Guerra</p><p>Mundial à Grande Depressão, e posteriormente à Segunda Guerra Mundial. Assim</p><p>como Polanyi, Hayek identificou a ascensão do totalitarismo como uma reação contra</p><p>a liberdade de mercado – do que concluiu que, a regulação do mercado, mesmo em</p><p>sistemas políticos democráticos, constitui um caminho para a escravidão (POLANYI,</p><p>2013).</p><p>Já Polanyi aprofundou sua visão histórica e antropológica e se debruçou sobre</p><p>os padrões sociais do período anterior à grande mudança - que trouxe a economia de</p><p>mercado, o desenvolvimento capitalista e autônomo e suas reações autoritárias e</p><p>necessariamente regulatórias, capaz de propor uma transformação social ao</p><p>homooeconomícus inventado pelo liberalismo (POLANYI, 2013).</p><p>Para Polanyi, a economia de mercado transformou o homem e a sociedade em</p><p>mercadorias, base necessária para a construção de um novo sistema econômico na</p><p>sociedade moderna. Essa drástica mudança na ordem social provocou mudanças em</p><p>suas instituições por meio do sistema econômico, que tinha uma base estritamente</p><p>material. Assim, este modelo de uma sociedade econômica organizada por uma</p><p>sociedade de mercado, onde cada pessoa visa o "lucro", rompe as estruturas do</p><p>passado e ingressa num sistema de mercado autorregulado.</p><p>Polanyi em sua obra intitulada Human Existence and Correlated Essays, havia</p><p>observado que a transformação econômica tem dois elementos importantes: a</p><p>inclusão da terra e do trabalho como mercadoria. Nas sociedades antigas, esses</p><p>elementos eram cruciais para a organização da vida social, mas em uma sociedade</p><p>de mercado, eles se tornaram meras mercadorias. Nesse sentido, a vida humana</p><p>passou a ser regida pelas leis autorreguladoras do mercado, onde a própria economia</p><p>capitalista cria as regras que regem a sociedade por meio de leis e arranjos</p><p>institucionais informais como a cultura corporativa (SOUZA, 2021).</p><p>Polanyi desnatura o conceito de economia ao explicar os dois significados</p><p>contidos no conceito de economia: formal e substantivo. A primeira “provém do caráter</p><p>lógico da relação meios fins [...], desse significado provém a definição de econômico</p><p>pela escassez”; e o segundo, “o significado substantivo”, refere-se à realidade de que</p><p>os humanos não podem existir sem um ambiente físico que os sustente. A este</p><p>respeito, o formal e o material não têm nada em comum (POLANYI, 2012, p. 63).</p><p>A perspectiva formal é baseada na escassez de recursos para satisfazer as</p><p>necessidades das pessoas, e o objeto de sua análise é a pessoa que tenta maximizar</p><p>o lucro. Por outro lado, a visão substantivista entende a economia como um elemento</p><p>estabelecido na interação entre o homem, a natureza e o meio social, caracterizando</p><p>a economia como pluralismo e suficiência ao invés de eficiência como preconiza o</p><p>formalista. O pensador aponta que existem diversas formas de classificar as</p><p>economias, quebrando as contradições dos erros econômicos. O processo de</p><p>integração ocorre na forma que se “institucionalizam os movimentos de bens e</p><p>pessoas para superar o efeito dos diferenciais de espaço, forjando uma</p><p>interdependência entre os movimentos” (POLANYI, 2012, p. 83).</p><p>3.1 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE TALCOTT PARSONS</p><p>Parsons foi o autor de uma proposição teórica conhecida como funcionalismo</p><p>estrutural. Esta é a tendência sociológica americana que se tornou dominante durante</p><p>grande parte do século passado e continua a dar frutos hoje. Seu trabalho pioneiro</p><p>The Structure of Social Action (1937), foi uma revisão crítica de uma geração anterior</p><p>de sociólogos europeus cujo trabalho apresentou o autor como um esforço teórico</p><p>unificado. Tais escritores - Weber, Durkheim, Marshall e Pareto - buscaram soluções</p><p>para o individualismo utilitário que Parsons também criticou. A síntese de Parsons dos</p><p>autores supracitados não trata do agrupamento de conceitos, ao contrário, tem por</p><p>objetivo sistematizar uma teoria de base empírica, a chamada Teoria da Ação</p><p>Voluntária (Parsons, 1937, p. 12).</p><p>Giddens também observa a busca de inteirar tal mediação:</p><p>O tema principal de A estrutura da ação social é uma convergência imanente</p><p>do pensamento entre Alfred Marshall, Pareto, Durkheim e Weber. Parsons</p><p>distingue um paralelo entre o</p><p>tratamento de Weber da ação e o interesse de</p><p>Durkheim pela obrigação moral (internalizada) (...). (...) Os primeiros</p><p>trabalhos de Parsons orientaram-se no sentido de reconciliar o</p><p>“voluntarismo”, supostamente inerente na abordagem metodológica de</p><p>Weber (e, de um ângulo diferente, prefigurado em Pareto), com a ideia da</p><p>exigência funcional do consenso moral (Giddens, 1978, p. 100-101).</p><p>Tal teoria encapsularia a discussão de Durkheim sobre a ordem social com a</p><p>pesquisa de Weber sobre a ação social, ou seja, era uma síntese de proposições</p><p>aparentemente incompatíveis, teoria estrutural e teoria individualista. Neste sentido,</p><p>Pearsons construiu seu conceito acerca do sistema social.</p><p>A teoria do sistema social é explorada por Parsons (1951), que propõe a</p><p>existência de quatro dimensões básicas em um sistema operacional, a saber:</p><p>adaptação, alcance de metas, manutenção de padrões e integração. Esses elementos</p><p>combinados constituem valores centrais, normas, papéis, estruturas, equilíbrio</p><p>funcional e diferenciação estrutural, que em sua teoria não tem lugar para o</p><p>nascimento de sujeitos/atores sociais, mas para o sistema social por meio de ações</p><p>individuais. O sujeito de Parson é um utilitarista cujos objetivos são claramente</p><p>definidos e cujos recursos econômicos e culturais estão disponíveis para satisfazer</p><p>suas necessidades.</p><p>A aplicação da teoria do sistema de ação social aos movimentos sociais deu</p><p>origem ao conceito funcional, cuja ideia central é que o comportamento coletivo</p><p>provoca movimentos decorrentes de inquietação social, incerteza, impulso reprimido,</p><p>ação frustrada, mal-estar e desconforto, associado à falta de controle e à quebra dos</p><p>costumes sociais; tais eventos fariam com que os indivíduos respondessem e se</p><p>organizassem em movimentos que operariam fora do modelo promovido pelos</p><p>sujeitos históricos. A ocorrência sistemática de tal situação sugeria que a sociedade é</p><p>instável e fragmentada, pois a emergência de grupos excluídos e tensos em um grupo</p><p>social controlado seria quase inexistente.</p><p>O que Parsons queria era uma teoria social, e isso exigia uma síntese de</p><p>estrutura de ação. Neste entendimento aparece o problema da dupla possibilidade de</p><p>ação, ou seja, que na interação, as possibilidades de ação de EGO e ALTER são</p><p>aleatórias - no lado EGO e no lado de reação de ALTER - no limite, causada pela</p><p>impossibilidade de comunicação, o que levaria à impossibilidade da renovação</p><p>simultânea da sociedade. Esse fenômeno, que ocorre objetivamente, requer um</p><p>sistema simbólico comum para superá-lo, o que faz com que a reação ALTER “adquira</p><p>para EGO o significado de uma consequência apropriada da conformidade ou desvio</p><p>de EGO das normas de um sistema simbólico compartilhado” (Parsons; Shils, 1951,</p><p>p. 16).</p><p>No sentido acima, a ação deve ser integrada teoricamente em certos sistemas</p><p>gerais para entender seu curso e, para isso, Parsons cria um modelo de tabela</p><p>cruzada, que orienta o modelo objetivo/meio da ação social. O eixo horizontal possui</p><p>componentes relacionados ao desempenho: i) instrumental - meios que conduzem à</p><p>ação - e ii) objetivos complementares, satisfação alcançada e melhoria do sistema.</p><p>No eixo vertical estão os componentes do sistema ligados ao exterior ou às suas</p><p>próprias estruturas. Esses sistemas operacionais gerais foram definidos de acordo</p><p>com interações específicas e estudados usando o modelo AGIL, ou seja, as quatro</p><p>funções que cada sistema deve ter para existir. São eles: Adaptação, Atingimento de</p><p>Metas, Integração e Latência. Cada função caracterizaria certos sistemas “por</p><p>processos e estruturas com elas relacionados, assim como por meios gerais que</p><p>controlam tais processos” (Munch, 1999, p. 184).</p><p>Pode-se observar uma correspondência entre os processos anteriormente</p><p>descritos por Parsons como alocação e integração, por um lado, e o modelo AGIL, por</p><p>outro. Como se a distribuição, mais próxima da materialidade, passasse a constituir a</p><p>parte superior do diagrama AGIL, enquanto a adaptação e o alcance de metas e a</p><p>integração, a esfera ideal, passassem a constituir a parte inferior do sistema, ou seja,</p><p>integração preservação dos padrões ocultos. No entanto, Alexander enfatiza que o</p><p>design do modelo visa dar-lhe flexibilidade e evitar interpretações errôneas como se</p><p>os subsistemas fossem absolutamente ideais ou materiais:</p><p>Esse modelo AGIL descreve o sistema social como sendo dividido em quatros</p><p>diferentes dimensões, nenhuma das quais corresponde completamente a</p><p>qualquer instituição dada e cada uma das quais se relaciona tanto à</p><p>estabilidade quanto à mudança. As quatro dimensões representam diferentes</p><p>graus de proximidade em relação a questões ideais e materiais, e a intenção</p><p>do modelo é sintetizar as tradições idealistas e materialistas do modo o mais</p><p>eficaz possível. (...) Nenhuma dessas esferas ou subsistemas é</p><p>completamente ideal ou completamente material, algo que é articulado de</p><p>forma contundente pelo diagrama que Parsons empregou para representar</p><p>sua interrelação (ALEXANDER, p. 92-93, 1987).</p><p>Quanto ao entendimento geral de Parsons sobre a relação entre sociologia e</p><p>economia, ainda há muita controvérsia entre seus intérpretes. O ponto é que, durante</p><p>a maioria do século passado, foi sugerido que Parsons tinha uma divisão de trabalho</p><p>entre sociologia e economia, com a primeira responsável pelo estudo da ação ilógica</p><p>e a segunda pelo estudo da ação lógico-racional (DALZIEL; HIGGINS, 2006).</p><p>O problema decorrente desse entendimento está relacionado com as</p><p>considerações teóricas acima: os sistemas se interpenetram e a integração entre eles</p><p>é essencial para a reprodução da sociedade na sua totalidade. Nesse sentido, tratar</p><p>a sociedade e a economia como objetos isolados é uma forma de simplificar tal quadro</p><p>teórico de referência, porque ao longo de sua carreira, Parsons consistentemente</p><p>abordou uma compreensão sistemática holística dos fenômenos sociais usando um</p><p>modelo observacional baseado na diferença entre a parte e o todo. “Em termos</p><p>sistêmicos, ele descreve a economia constituindo um subsistema da sociedade mais</p><p>ampla, ou sistema social total, diferenciada em seus outros subsistemas como a</p><p>política, cultura e comunidade societal” (ZAFIROVSKI, 2006, p. 79).</p><p>Os recursos simbólicos, como dito acima, se cruzam, formando áreas comuns</p><p>de relações, como entre dinheiro e poder; dinheiro e solidariedade; dinheiro e respeito;</p><p>etc. Aqui reside a chave para entender a relação entre economia e sociedade na teoria</p><p>de Parson. Os subsistemas são interdependentes e existe uma troca simbólica entre</p><p>as áreas de intersecção, onde o equilíbrio de qualquer subsistema é consequência do</p><p>equilíbrio social, o que significa que o controle econômico é considerado parte da</p><p>constância social, a estabilidade do todo é, portanto, um fenômeno relativo ao meio</p><p>externo e condicionado (NEVES; AGUIAR, 2012).</p><p>3.2 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE NEIL JOSEPH SMELSER</p><p>Neil Smelser foi um homem de realizações extraordinárias em erudição e</p><p>serviço. Nascido em 22 de julho de 1930, na fazenda de seus avós na zona rural de</p><p>Kahoka, Missouri, mudou-se ainda criança para Phoenix, Arizona, onde seu pai</p><p>lecionava no Glendale Community College e sua mãe lecionava latim no ensino médio.</p><p>Produto das escolas públicas de Phoenix, Smelser formou-se na Harvard University</p><p>(1952), foi Rhodes Scholar na Oxford University (1952-5) e Ph.D. em sociologia por</p><p>Harvard em 1958. Nesse mesmo ano, ingressou no Departamento de Sociologia da</p><p>Universidade da Califórnia em Berkeley, onde sua ascensão foi explosiva - um ano</p><p>depois, aos 29 anos, foi nomeado editor da American Sociology Review por dois anos.</p><p>Durante quase seis décadas de atividade acadêmica, Smelser teve sucesso no</p><p>campo da sociologia e das ciências sociais e comportamentais em geral. Ele foi um</p><p>escritor prolífico, com 21 livros solo e em coautoria, 32 livros editados e 128 artigos</p><p>e</p><p>ensaios. Ele fez contribuições originais para a sociologia econômica, história britânica,</p><p>teoria sociológica, ensino superior, psicanálise e o estudo da mudança social e ação</p><p>coletiva.</p><p>Algumas de suas obras respeitadas incluem: Economy and Society (1956);</p><p>Social Change in the Industrial Revolution (1961); The Theory of Collective Behavior</p><p>(1962); The Sociology of Economic Life (1963); Social Paralysis and Social Change:</p><p>British A educação da classe trabalhadora no século XIX (1991), os problemas da</p><p>sociologia (1997), as margens sociais da psicanálise (1998) e a dinâmica de</p><p>Nykylopisto (2013). Seus livros foram traduzidos para vários idiomas, incluindo</p><p>italiano, japonês, alemão, espanhol, português, holandês, sueco, russo, grego,</p><p>coreano, turco e chinês. Smelser dedicou toda a sua vida à teoria e ao método</p><p>científico social. Ao longo das décadas, adotou uma visão abrangente, enfatizando a</p><p>síntese de ideias e abordagens na tarefa explicativa.</p><p>Em sua obra Comportamento Coletivo (1963), Neil trata da teoria da "tensão</p><p>estrutural", onde a principal razão para o surgimento dos movimentos sociais é o</p><p>equilíbrio distorcido dos sistemas sociais. Em outras palavras, as contradições,</p><p>conflitos e tensões na sociedade geram ansiedade e insegurança nos indivíduos; eles</p><p>querem mitigar esses efeitos. Em tais situações, as pessoas tendem a seguir crenças</p><p>e valores irracionais para explicar os fatos sociais. A inconsistência dos valores e</p><p>práticas efetivas da sociedade, impedindo o funcionamento das instituições,</p><p>disfunções que desafiam a sobrevivência do sistema, são aspectos que podem</p><p>provocar desequilíbrio no sistema social. Smelser (1963) argumenta que as massas</p><p>podem ser definidas como movimentos que não têm um propósito específico ou são</p><p>guiadas por normas ou valores. Massas orientadas por normas dependem de</p><p>condições estruturais quando são criadas, já as massas movidas por valores, são</p><p>movidas por valores dominantes, sendo fundamentalmente revolucionária, um coletivo</p><p>integrado ao sistema político, que acaba culminando no desaparecimento do próprio</p><p>movimento.</p><p>Smelser (1963) adotou categorias-chave como "comportamento coletivo",</p><p>"explosões coletivas" e "movimentos coletivos" para explicar o fenômeno social do</p><p>comportamento não institucionalizado, proporcionando o funcionamento ideal do</p><p>sistema em resposta a esses coletivos desviantes comportamental, social, baseado</p><p>na emergência de novas crenças e sua intervenção no comportamento coletivo.</p><p>Apesar de o modelo estrutural-funcional tentar fornecer uma teoria causal da</p><p>emergência dos movimentos sociais, ele não fornece uma explicação precisa de como</p><p>ocorre a transição do isolamento, tensão e frustração para os negócios.</p><p>Smelser (1963) era criticado ainda pelo forte apelo de sua teoria à motivação</p><p>psicológica porque assume que os indivíduos são fundamentalmente irracionais em</p><p>suas reações a situações sociais extremas ou difíceis; e abandono da organização e</p><p>dos recursos sociais, incluindo a definição dos movimentos sociais.</p><p>A teoria de Smelser do comportamento coletivo incomum tenta mostrar como</p><p>eles diferem do comportamento rotineiro. Teriam componentes irracionais e</p><p>excepcionais e seriam respostas cognitivas inadequadas às tensões estruturais da</p><p>modernização. Para ele, o termo "comportamento coletivo" inclui fenômenos como</p><p>reações de pânico, ciclos de moda, desfiles e passarelas, crescimento econômico,</p><p>reavivamentos religiosos, explosões hostis e movimentos orientados a valores -</p><p>incluindo revoluções políticas e religiosas, a formação de seitas, nacionalismo,</p><p>movimentos etc. (Smelser, 1963: 2).</p><p>Em 1963, Neil escreveu um livro sobre o assunto, que foi publicado no Brasil</p><p>cinco anos depois e foi intitulado "A Sociologia da Vida Econômica". Porém, já no</p><p>prefácio, o autor afirma, justificando seu trabalho, que os economistas, ignorando o</p><p>contexto social, tratam apenas das relações das variáveis econômicas, enquanto os</p><p>sociólogos ainda não desenvolveram uma abordagem teórica que pudesse</p><p>sistematizar o comportamento econômico e os inúmeros resultados parciais dos</p><p>estudos realizados até então. A chamada nova sociologia econômica não se limita ao</p><p>tratamento sociológico das variáveis econômicas, mas inclui a construção sistemática</p><p>de um corpo de conhecimento com questões que formam o debate e situam os autores</p><p>em uma literatura específica.</p><p>Referindo-se às palavras de Max Weber (1949), Swedberg (2004, p. 7)</p><p>especifica a seguinte definição:</p><p>A sociologia econômica estuda tanto o setor econômico na sociedade</p><p>(fenômenos econômicos) como a maneira pela qual esses fenômenos</p><p>influenciam o resto da sociedade (fenômenos economicamente</p><p>condicionados) e o modo pelo qual o restante da sociedade os influencia</p><p>(fenômenos economicamente relevantes) (SWEDBERG 2004, p. 7).</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:</p><p>ALEXANDER, Jeffrey C. Twenty Lectures: Sociological Theory Since World War</p><p>II. New York: Columbia University Press. 1987.</p><p>DALZIEL, Paul; HIGGINS, Jane. Pareto, Parsons, and the Boundary between</p><p>Economics and Sociology. American Journal of Economics and Sociology, Vol. 65,</p><p>n. 1, 2006.</p><p>GIDDENS, Anthony. “Produção e reprodução da vida social”. In: Anthony Giddens.</p><p>Novas Regras do Método Sociológico. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1978.</p><p>LUHMANN, Niklas. Introducción a la Teoría de los Sistemas. Universidade</p><p>Iberoamericana, A. C, 1996.</p><p>MUNCH, Richard. A teoria parsoniana hoje: a busca de uma nova síntese. In:</p><p>GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan. Teoria social hoje. São Paulo: UNESP,</p><p>1999.</p><p>NEVES, Fabrício Monteiro; AGUILAR FILHO, Hélio Afonso de. O acoplamento entre</p><p>sociedade e economia: a teoria dos sistemas nas contribuições de Talcott</p><p>Parsons e Niklas Luhmann. Século XXI: Revista de Ciências Sociais. Santa Maria.</p><p>Vol. 2, n. 1 (jan./jun. 2012), p. 138-167, 2012.</p><p>PARSONS, Talcott; SHILS, Edward (Eds.). Toward a general theory of action. New</p><p>York: Harper & Row, 1951.</p><p>POLANYI, K. A subsistência do homem e ensaios correlatos. Rio de Janeiro:</p><p>Contraponto, 2012.</p><p>POLANYI, Karl. A grande transformação. Leya, 2013.</p><p>SMELSER, N.; SWEDBERG, R. (Eds.). The Handbook of Economic Sociology.</p><p>Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994.</p><p>SOUZA, A. L. de. A SUBSISTÊNCIA DO HOMEM E ENSAIOS</p><p>CORRELATOS. PEGADA - A Revista da Geografia do Trabalho, [S. l.], v. 22, n. 1, p.</p><p>405–411, 2021. DOI: 10.33026/peg.v22i1.8435. Disponível em:</p><p>https://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/view/8435. Acesso em: 18 jan.</p><p>2023.</p><p>SWEDBERG, R. Sociologia Econômica: hoje e ontem. Tempo Social, v. 16, n. 2,</p><p>2004.</p><p>UNIVERSITY OF CALIFORNIA. Em memória: Neil Joseph Smelser, 2017.</p><p>Disponível em: https://shre.ink/1w35. Visualizado em 20/01/23.</p><p>https://shre.ink/1w35</p>