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<p>ANTROPOLOGIA E RELAÇÕES</p><p>ÉTNICO RACIAIS</p><p>Olá, caro (a) aluno (a)!</p><p>Em geral, o estudo do comportamento econômico se preocupa em</p><p>analisar a racionalidade pretendida com a qual os atores econômicos</p><p>perseguem os objetivos que propuseram e em analisar a racionalidade não</p><p>intencional de diferentes sistemas. A análise do comportamento econômico</p><p>trata de confrontar diferentes sistemas ou doutrinas e teorias que buscam</p><p>explicar os mecanismos de suas ações e suas capacidades para atingir seus</p><p>objetivos.</p><p>Neste capitulo, estudaremos de forma analítica a constituição do</p><p>paradigma do homo oeconomicus. Logo, relacionaremos o ator racional com</p><p>elementos da representação ética na economia.</p><p>Bons estudos!</p><p>AULA 8 –</p><p>PARADIGMA DO HOMO</p><p>OECONOMICUS E O ATOR</p><p>RACIONAL.</p><p>Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá</p><p>como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade</p><p>de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e</p><p>Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>▪ Compreender o conceito de psicologia</p><p>▪ Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia</p><p>▪ Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes</p><p>aprendizados:</p><p>• Apresentar considerações a respeito de um dos alicerces da</p><p>teoria econômica;</p><p>• Compreender a representação do comportamento humano</p><p>real;</p><p>• Compreender a adoção da hipótese do homo economicus</p><p>(racional e autointeressado).</p><p>• Relacionar ética com os conceitos econômicos.</p><p>8 HOMO ECONOMICUS E FINANÇAS RACIONAIS</p><p>O homem econômico é uma abstração. Tal abstração surgiu em decorrência</p><p>de procedimentos científicos do século XIX, que aconselhavam a fragmentação do</p><p>objeto de pesquisa, ou seja, a divisão da realidade para o estudo analítico. Os</p><p>economistas assumiram que as atividades econômicas das pessoas poderiam ser</p><p>estudadas através da abstração das influências psicológicas e de outras dimensões</p><p>culturais do comportamento humano: moral, ética, religiosa, política, etc. Eles</p><p>concentraram seus interesses no que chamaram de duas funções essenciais</p><p>cumprida por todos os sujeitos econômicos: consumo e produção. Outra função</p><p>importante agregada à economia moderna foi o investimento financeiro (COSTA,</p><p>2009).</p><p>Veja o quadro abaixo para melhor compreensão do assunto que abordaremos:</p><p>Fonte: REIS, 2019.</p><p>Uma das teorias encontradas na economia moderna é a adoção do</p><p>pressuposto econômico humano, que se orienta pela ideia de que os indivíduos são</p><p>racionais. De acordo com Steingraber (2013), o conceito neoclássico de</p><p>racionalidade originalmente incluía motivos individuais de interesse próprio, que</p><p>estão intimamente relacionados à natureza maximizadora de utilidade do</p><p>comportamento humano. A racionalidade, antes uma consequência da maximização</p><p>da utilidade, agora é vista como um pré-requisito para a maximização da utilidade. A</p><p>construção do modelo de ArrowDebreu reforça essa mudança, tratando esse</p><p>pressuposto como um axioma que revela (teoricamente) como os sistemas</p><p>econômicos tendem ao equilíbrio. Conforme Steingraber e Fernandez:</p><p>"O que o economista entende por 'racionalidade' não corresponde à</p><p>compreensão que o leigo tem do termo (...) racionalidade significa escolher</p><p>de acordo com uma ordem de preferências que é completa e transitiva, sujeita</p><p>à informação perfeita e adquirida a alto custo; onde existe incerteza de</p><p>resultados futuros, a racionalidade significa maximização da vantagem de um</p><p>resultado multiplicada pela probabilidade de sua ocorrência" (STEINGRABER</p><p>e FERNANDEZ, 2013, p. 129).</p><p>O termo “homem econômico” [homo economicus] foi usado pela primeira vez</p><p>no século XIX por críticos do método de Mill (1836) da economia política. Seus críticos</p><p>ficaram preocupados com uma passagem na qual ele sugeria que:</p><p>A economia política não deveria tratar o conjunto da natureza humana como</p><p>modificada pelo ambiente social, nem do comportamento completo do</p><p>homem em sociedade. Sua preocupação com ele deveria se restringir a tratá-</p><p>lo como aquele que deseja possuir riqueza e possui a capacidade de julgar a</p><p>eficácia relativa dos meios para obter aquele fim” (MILL, p. 54, 1836).</p><p>Segundo Blaug (1993): “devemos a Senior o primeiro enunciado da hoje</p><p>conhecida distinção entre uma ciência da economia pura e estritamente positiva e uma</p><p>arte da economia impura e inerentemente normativa”. Nassau William Senior (1790-</p><p>1864) também foi o primeiro a articular a ideia de que a economia científica é</p><p>fundamentalmente baseada em algumas propostas gerais, destacando que: “toda</p><p>pessoa deseja maximizar sua riqueza com o menor sacrifício possível”. (BLAUG. p.99,</p><p>1993).</p><p>De acordo com Blaug (p. 99, 1993), “o ensaio de Mill, publicado em 1836, On</p><p>the Definition of Political Economy, começa com a distinção de Senior entre a ciência</p><p>e a arte na economia política, a qual é a distinção entre uma coleção de verdades</p><p>materiais e um corpo de regras normativas, e prossegue classificando a disciplina</p><p>economia, mais uma vez no estilo de Senior, como uma “ciência mental”, preocupada</p><p>fundamentalmente com motivações humanas e modos de conduta na vida econômica</p><p>(...). Isto leva diretamente a uma famosa passagem em que nasceu a concepção</p><p>bastante difamada do “homem econômico”. Mill (p. 52, 1836/1994) propõe que a</p><p>economia política supõe uma abstração completa de todas as outras paixões ou</p><p>motivos humanos, exceto aquelas que podem ser consideradas princípios</p><p>permanentemente opostos ao desejo de riqueza, a saber, a aversão para trabalhar e</p><p>o desejo de desfrutar agora de um mimo caro. Assim, a economia "pura" vê a</p><p>humanidade como exclusivamente dedicada à aquisição e consumo de riqueza. Essa</p><p>motivação seria o condutor absoluto de suas ações.</p><p>Mill (p. 54, 1834/1994) observa que “não é que qualquer economista político</p><p>seja tão absurdo a ponto de supor que a humanidade, seja realmente constituída</p><p>dessa forma, porém esse é o modo de acordo com o qual a ciência deveria</p><p>necessariamente proceder”. Mas ele afirma que:</p><p>Talvez não exista uma ação na vida do homem em que ele não esteja sob a</p><p>influência imediata ou remota de outro impulso que não seja o mero desejo</p><p>de riqueza. Com relação aquelas partes da conduta humana em que a</p><p>riqueza não constitui o objeto principal, a tais partes da economia política não</p><p>pretende aplicar suas conclusões. Porém, existem também certos</p><p>departamentos dos negócios humanos em que a aquisição de riqueza é o fim</p><p>reconhecidamente principal. A economia política toma conhecimento apenas</p><p>desses departamentos. (...) O economista político investiga as ações que</p><p>seriam produzidas por esse desejo [de obter a maior quantidade de riqueza</p><p>com o mínimo de trabalho e de renúncia], se dentro dos departamentos em</p><p>questão ele não fosse impedido por qualquer outro” (MILL, p. 54. 1834 /1994).</p><p>Portanto, Mill não afirma que a economia política deva considerar o homem da</p><p>forma integral, tal como ele é, isso que significaria adotar uma teoria do "homem real"</p><p>(homo sapiens), com o risco de fazer uma previsão correta sobre como ele realmente</p><p>se comporta nos negócios econômicos. Mill diz que precisa deixar e regularizar</p><p>apenas certos motivos econômicos, a saber, a potencialização da riqueza, que</p><p>depende do desejo de renda salarial e lazer. Em suma, Blaug (p. 101, 1993) afirma</p><p>que “ele opera com uma teoria do ‘homem ficcional’. Além disso, enfatiza o fato de</p><p>que a esfera econômica é tão somente uma parte de toda a arena da conduta</p><p>humana”.</p><p>A economia seria então apenas uma das muitas ciências humanas e sociais,</p><p>cada uma com suas próprias teorias. Nesse nível mais abstrato, as hipóteses</p><p>econômicas não devem ser invalidadas</p><p>por interferência não econômica. Visto por</p><p>essa perspectiva, pode-se entender a afirmação de Friedman (1953) sobre a</p><p>metodologia da economia positiva, segundo a qual o grau de realismo das hipóteses</p><p>de uma teoria é pouco importante para sua validade, enquanto as hipóteses são</p><p>realmente abstrações. Essa é uma perspectiva metodológica que considera teorias e</p><p>hipóteses científicas somente se suas previsões forem, pelo menos em princípio,</p><p>empiricamente testáveis e falsificáveis. A "falsificação ingênua" afirma que as teorias</p><p>podem ser refutadas com testes simples, enquanto a “falsificacionismo sofisticado”</p><p>afirma que muitos testes são necessários para refutar teorias. Ainda existe a alegação</p><p>de que nenhuma hipótese científica particular pode ser definitivamente falsificada,</p><p>porque o teste de hipóteses é necessariamente acompanhado por condições</p><p>auxiliares, portanto, fontes de falsificação nunca serão encontradas.</p><p>As previsões referem-se aos valores verdadeiros das variáveis, dado</p><p>comportamento racional e ceteris paribus (mantidas inalteradas todas as outras</p><p>coisas). Hollis e Nell (p. 77, 1975/1977) enfatizam que “o pressuposto de racionalidade</p><p>não é meramente outra condição ceteris paribus. (...) o comportamento irracional,</p><p>resultante, por exemplo, de um ordenamento inconsistente de preferências, tornaria a</p><p>previsão impossível. Podemos colocar essa nova qualificação dizendo que a</p><p>economia é o estudo do homem econômico racional”.</p><p>É interessante ver que mesmo os escritores heterodoxos assumem que a</p><p>economia não é o estudo do homem em geral, mas do homem econômico. É um</p><p>conceito abstrato e unidimensional do homem, segundo o qual o homem seria</p><p>motivado apenas por razões econômicas, imediatamente relacionadas com a</p><p>obtenção do máximo lucro com o mínimo de esforços. O homo economicus agiria</p><p>racionalmente para maximizar sua riqueza adotando novos métodos para competir no</p><p>mercado. Ele é um hedonista, ou seja, o lado da doutrina que considera o prazer</p><p>individual e imediato como o único bem possível, o princípio e o fim da vida moral</p><p>(COSTA, 2009).</p><p>Quase totalmente digno de menção é o longo fragmento dos autores Hollis e</p><p>Nell:</p><p>Poucos livros-textos contêm um retrato direto do homem econômico racional.</p><p>Ele é introduzido furtivamente e gradualmente (...). espreita por entre os</p><p>pressupostos que levam uma vida esclarecida entre insumos e produção,</p><p>estímulo e resposta. Não é alto nem baixo, gordo nem magro, casado ou</p><p>solteiro. Não se esclarece se ele gosta do seu cachorro, espanca a mulher</p><p>ou prefere o jogo de dardos à poesia [NT: comparação que contrasta o gosto</p><p>popular – jogar dardos ao alvo – e o da elite – poesia]. Não sabemos o que</p><p>deseja; mas sabemos que, o que quer que seja, ele maximizará</p><p>impiedosamente para obtê-lo. Não sabemos o que compra, mas temos a</p><p>certeza de que, quando os preços caem, ele ou redistribui seu consumo ou</p><p>compra mais. Não podemos adivinhar o formato de sua cabeça, mas</p><p>sabemos que suas curvas de indiferença [representa diferentes combinações</p><p>de cestas de bens nas quais o consumidor atinge o mesmo grau de</p><p>satisfação] são côncavas em relação à origem. Pois, em lugar de seu retrato,</p><p>temos um retrato falado (com os traços gerais). Ele é filho do iluminismo e,</p><p>portanto, o individualista em busca de proveito próprio da teoria da utilidade</p><p>[doutrina segundo a qual toda a felicidade está na obtenção do útil, ou seja,</p><p>no afastar-se da dor e aproximar-se o máximo possível do prazer]. É um</p><p>maximizador. Como produtor maximiza sua fatia de mercado ou seu lucro.</p><p>Como consumidor, maximiza a utilidade, por meio da comparação onisciente</p><p>e improvável entre, por exemplo, morangos marginais e cimento marginal.</p><p>(Ele é, por certo, também um minimizador; mas já que minimizar X é</p><p>maximizar não-X, não há necessidade de nos preocuparmos com isso.) está</p><p>sempre no ponto que considera ótimo, acreditando (por mais falsa que seja</p><p>essa crença) que qualquer mudança marginal seria para pior. Da indiferença</p><p>individual ao comércio internacional, está sempre alcançando os melhores</p><p>equilíbrios subjetivos entre desincentivo e recompensa. Este é o primum</p><p>mobile racional da economia neoclássica (HOLLIS; NELL, p.77, 1975/1977).</p><p>Este homem perene não muda mesmo em diferentes épocas históricas e</p><p>condições sociais. Ele é abstrato, atemporal e onipresente. Se ele também fosse</p><p>onisciente, ele seria sobrenatural, portanto, divino. Conforme Hollis e Nell:</p><p>“O homem econômico racional é tanto a média quanto o ideal, abstraído dos</p><p>reais participantes do mercado com a ajuda de pressupostos gerais sobre os</p><p>desejos humanos. Entretanto, não é uma pura ficção. Na medida em que é</p><p>possível avaliar o grau de irracionalidade em uma situação real, é possível</p><p>prever o desvio real em relação ao comportamento ideal” (HOLLIS; NELL, p.</p><p>78, 1975/1977).</p><p>A segunda função é fornecer uma saída para as teorias que preveem o</p><p>fracasso, mesmo que o resto, incluindo as condições não econômicas, permaneça</p><p>constante. Seu comportamento reflete o valor real das variáveis econômicas do</p><p>comportamento. Mas esse valor de verdade não é a média de algumas observações</p><p>reais, mas um valor que um operador perfeitamente racional deduziria sob certas</p><p>circunstâncias. Portanto, se os agentes econômicos reais não atingem essa dedução,</p><p>não significa que as previsões sobre o que é racional sejam contestadas. Em resumo,</p><p>Hollis e Nell afirmam que:</p><p>O homem econômico racional não é um homem real. É antes, qualquer</p><p>homem real que se conforme ao modelo a ser testado. Assim sendo, não se</p><p>trata de testar uma teoria econômica em confronto com o comportamento real</p><p>do produtor ou consumidor ou investidor racionais. Os produtores e</p><p>consumidores [e investidores] são racionais precisamente na medida em que</p><p>se comportam como previsto e o teste mostra apenas quão racionais são”</p><p>(HOLLIS; NELL, p. 79, 1975/1977).</p><p>Ainda Blaug considera que:</p><p>a hipótese da racionalidade em si própria é, na realidade, fraca. Para fazê-la</p><p>gerar implicações interessantes, precisamos adicionar hipóteses auxiliares à</p><p>noção geral de racionalidade, como a homogeneidade de agentes [na</p><p>resolução do problema de agregação] ou, de forma mais geral, conhecimento</p><p>antecipado perfeito, resultados em equilíbrio, concorrência perfeita, e</p><p>assemelhados”. Em outras palavras, o sucesso do pressuposto racionalista é</p><p>baseado em muito mais do que apenas ação racional (BLAUG, pp. 318-319,</p><p>1993).</p><p>8.1 Ator racional: Ética e Economia.</p><p>A parcimônia moderna, buscando uma afirmação para a conduta econômica</p><p>sirva de alicerce para os modelos a serem desenvolvidos, utiliza o pressuposto da</p><p>racionalidade como ponte para definir o comportamento real dos indivíduos, ou seja,</p><p>o comportamento racional é atribuído aos atores econômicos (SILVA, 2018).</p><p>O desenvolvimento da teoria econômica moderna foi dominado por uma escola</p><p>de pensamento que surgiu de uma de duas fontes originais: a abordagem</p><p>“engenheira”. Essa preocupação foi levantada por Amartya Sen em seu livro On Ethics</p><p>and Economics.</p><p>A ótica “engenheira” pode ser caracterizada por nomes como Leon Walras,</p><p>Willian Petty, François Quesnay, Augustine Cournot e David Ricardo. No geral:</p><p>Essa abordagem caracteriza-se por ocupar-se de questões primordialmente</p><p>logísticas em vez de fins supremos e de questões como o que pode promover</p><p>o ‘bem para o homem’ ou ‘como devemos viver’. Considera que os fins são</p><p>dados muito indiretamente, e o objetivo do exercício é encontrar os meios</p><p>apropriados de atingi-los (SEN, p. 12, 1999).</p><p>Dois pontos podem ser extraídos dessa descrição: a “concepção da realização</p><p>social relacionada à ética” é considerada menos importante do que os objetivos mais</p><p>elevados e o “bem para o homem”, portanto, as questões econômicas não são</p><p>discutidas em profundidade. A análise econômica é regida pela eficiência e alocação</p><p>ótima de recursos, a “concepção da motivação da realização social” também é pouco</p><p>presente, se não considerar que os indivíduos refletem "como devem viver" e o quanto</p><p>essa reflexão afeta seu comportamento (SEN, p. 10-12, 1999).</p><p>Olhando para o conteúdo da definição de comportamento racional, pode-se</p><p>concluir que o traço guardado pela abordagem ética diminuiu durante o</p><p>desenvolvimento da economia moderna (SILVA, 2018).</p><p>Existe uma definição de comportamento racional que envolve a consistência</p><p>interna das escolhas, mas este argumento não se sustenta porque as escolhas podem</p><p>ser consistentes e, ao mesmo tempo levar alguém a agir na direção oposta do</p><p>pretendido (motivação real), então uma “racionalidade de correspondência” seria</p><p>necessária se as decisões e escolhas fossem consistentes com o objetivo final.</p><p>O segundo tipo de correspondência é necessário quando a racionalidade é</p><p>entendida como a adequação das escolhas aos interesses próprios do indivíduo,</p><p>neste caso o raciocínio é: se o indivíduo é racional, e essa racionalidade inclui a</p><p>convergência dos motivos de interesse próprio do indivíduo e as escolhas que ele faz</p><p>nessa direção, então os atores econômicos são motivados pelo autointeresse. Esse</p><p>quadro mostra uma profunda indiferença à introspecção, pois ignora as decisões dos</p><p>indivíduos sobre as motivações que impulsionam suas ações ("como devemos viver"),</p><p>que permeiam uma compreensão muito limitada e desinteressada do homem (SEN,</p><p>1999).</p><p>A representação do homem como um personagem que busca apenas</p><p>satisfazer seus próprios interesses é repleta de caráter pragmático e instrumental, pois</p><p>sua defesa é sustentada pela alegação de que isso seria um incentivo que melhoraria</p><p>a economia e o mercado, de outra perspectiva, pode-se discutir a validade dessa</p><p>suposição relacionando-a com o comportamento humano real, analisando se há uma</p><p>correspondência entre eles. Ambas as conclusões são questionáveis: é possível</p><p>fornecer exemplos de economias de livre mercado onde a motivação para o</p><p>comportamento econômico não foi complacente e levou a resultados sociais efetivos</p><p>(por exemplo, Japão, o "ethos japonês").</p><p>O dilema da motivação humana não deve surgir entre escolhas extremas</p><p>(interesse próprio e altruísmo), mas sim considerando as variações de motivação</p><p>comportamental que correm entre esses dois pontos. O indivíduo não deve ser</p><p>considerado puramente egoísta ou altruísta, existem cenários e situações onde ocorre</p><p>um comportamento “diferente”, no qual os indivíduos sacrificam os seus próprios</p><p>interesses, comportamento comprometido é um bom exemplo, quando as escolhas</p><p>de determinados membros do grupo são guiadas pelos interesses da equipe, mesmo</p><p>que isso signifique renunciar a seus próprios desejos, alterando a correspondência</p><p>(SEN, 1999).</p><p>Se um maior apelo a uma "concepção ética de realização social", uma</p><p>"explicação motivacional de realização social" e até mesmo "racionalidade reflexiva"</p><p>é necessário para caracterizar o comportamento humano, então é necessário que a</p><p>economia entre no universo da ética e traga ensinamentos.</p><p>Amartya Sen argumenta que o fato de a economia moderna ser notoriamente</p><p>"antiética" levou a um duplo efeito prejudicial: por um lado, a economia pode ir além</p><p>do que já conseguiu produzir como ciência se fatores éticos forem considerados mais</p><p>decisivo e profundo em suas análises, ou seja, apesar de seu desenvolvimento, fica</p><p>aquém de seu potencial; por outro lado, pode-se argumentar que a ética também se</p><p>beneficiaria de uma abordagem da economia usando as técnicas avançadas</p><p>desenvolvidas na "abordagem engenheira". De acordo com Silva (2018):</p><p>O sistema moral depende tanto de emoções e sentimentos quanto de crenças</p><p>e deliberações. Uma ação movida unicamente pelo emocional não pode ter</p><p>caráter moral, entretanto, o sentimento exerce um papel importante que pode</p><p>ser representado pela influência que o sentimento de culpa tem quando</p><p>analisamos decisões que foram tomadas ou que estão sendo planejadas;</p><p>somado a isto, pode-se considerar também a emoção que vem acompanhada</p><p>da reprovação ou aprovação de alguma ação específica, dependendo da sua</p><p>adequação as regras morais de um determinado grupo. Agir em</p><p>conformidade com as regras morais pode ser um processo deliberado,</p><p>calculado, mas isso não basta (SILVA, p. 24, 2018).</p><p>Os julgamentos morais vão além de meras convenções, são baseados em</p><p>regras universais para um determinado contexto e devem servir a todos,</p><p>independentemente de seus interesses pessoais; estão acima das preferências</p><p>porque são de natureza diferente, a diferença entre o certo e o errado, "como devemos</p><p>viver". O fato de diferentes culturas compartilharem algumas regras morais</p><p>semelhantes incluindo limites ao egoísmo individual, sublinha sua natureza evolutiva</p><p>e sua diferença de outras regras baseadas em um senso de justiça e mérito (SILVA,</p><p>2018).</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BLAUG, Mark (1980). Metodologia da economia – ou como os economistas</p><p>explicam. São Paulo: Edusp, 1993.</p><p>COSTA, Fernando Nogueira da. Comportamentos dos investidores: do homo</p><p>economicus ao homo pragmaticus. 2009.</p><p>FRIEDMAN, Milton (1953). The methodology of positive economics. In:</p><p>HAUSMAN, Daniel (Ed.). The philosophy of economics: an anthology. 2nd ed.</p><p>Cambridge University Press, Chapter 9, 1994, p. 180-213.</p><p>HOLLIS, Martin; NELL, Edward J. (1975). O homem econômico racional: uma</p><p>crítica filosófica da economia neoclássica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.</p><p>MILL, John Stuart (1836). On the definition of political economy, and on the</p><p>method of investigation proper to it. London and Westminster Review. In:</p><p>HAUSMAN, Daniel (Ed.). The philosophy of economics: an anthology. 2nd ed.</p><p>Cambridge University Press, Chapter 1, 1994, p. 52-68.</p><p>REIS, Tiago. Homo Economicus: entenda o que é esse comportamento</p><p>econômico. Suno Artigos, ano. Disponível em:</p><p>https://www.suno.com.br/artigos/homo-economicus/. Acesso em: 31/02/23.</p><p>SEN, Amartya. Sobre Ética e Economia. São Paulo: Companhia das letras, 1999.</p><p>SILVA, Iury Beckman de Moraes Rego da. Considerações críticas ao homo</p><p>economicus: racionalidade e sentimentos morais, 2018.</p>