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<p>BASES DE SAÚDE DO</p><p>TRABALHADOR</p><p>P R O F . F E R N A N D A L I M A</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Prof. Fernanda Lima | Bases de Saúde do Trabalhador 2MEDICINA PREVENTIVA</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>PROF. FERNANDA</p><p>LIMA</p><p>Antes de tudo, muito prazer, meu nome é Fernanda Lima,</p><p>aracajuana de nascimento e soteropolitana de coração, pois fui</p><p>tão bem acolhida na Bahia, que estou morando aqui desde 2008.</p><p>Sou Médica do Trabalho, graduada em Medicina pela Universidade</p><p>Federal de Sergipe (UFS) e pós-graduada em Medicina do</p><p>Trabalho pela Residência da Universidade Federal da Bahia</p><p>(UFBA), com estágio opcional no Instituto de Saúde Pública de</p><p>Quebec (INSPQ - Canadá).</p><p>Futuros médicos e médicos Residentes!</p><p>Bem-vindos! É com imenso prazer que darei</p><p>início a esta jornada de conhecimento sobre</p><p>a Medicina Preventiva, que será ministrada</p><p>por mim e pela queridíssima professora</p><p>Barbara D’Alegria.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Prof. Fernanda Lima | Bases de Saúde do Trabalhador 3MEDICINA PREVENTIVA</p><p>Querem saber quem me inspirou a seguir esse caminho?</p><p>Os médicos da família! Meu pai e meu avô paterno. Nessa família,</p><p>o bastão de Asclépio é passado de geração em geração! Também</p><p>não posso deixar de falar sobre as responsáveis pela força e</p><p>persistência nessa caminhada até a medicina, minha mãe, que é</p><p>engenheira civil e minha avó materna, minha eterna amiga.</p><p>Depois de formada, passei um período dedicado aos</p><p>estudos para concursos públicos e cheguei a ser aprovada em</p><p>1o lugar no concurso da banca CESPE para Analista Judiciário -</p><p>Medicina/Medicina do Trabalho do Tribunal de Justiça de Sergipe,</p><p>entretanto optei por seguir carreira em empresas privadas. E,</p><p>claro, por uma paixão incontrolável, entrei para a docência. Parece</p><p>que herdei esse gosto de meu avô paterno, que, curiosamente,</p><p>também era professor.</p><p>Como formação complementar, investi em cursos de</p><p>pós-graduação nos campos da Psiquiatria e Perícias Médicas,</p><p>conhecimentos adicionais que também me auxiliaram a atuar</p><p>como assistente técnica em perícias trabalhistas, atividade que</p><p>continuo exercendo.</p><p>Sou amante das matérias que envolvem exatas e</p><p>legislação, o que torna prazerosa minha incessante busca pelo</p><p>conhecimento dos assuntos desse curso, como textos normativos,</p><p>programas do governo e epidemiologia. Imagino o que você</p><p>pode estar pensando agora: “professora, escolhi medicina por</p><p>não ser muito fã de lógica ou legislação, então vamos deixar</p><p>isso para os matemáticos, epidemiologistas e advogados!”. Pois</p><p>saiba que, com esse mesmo pensamento, vários estudantes de</p><p>medicina acabam perdendo vagas na Residência e em concursos</p><p>públicos para colegas que não pensam da mesma forma.</p><p>Mas espere, vou dar a você vários motivos</p><p>para reconsiderar suas ideias a respeito da</p><p>Medicina Preventiva:</p><p>1. A maioria dos estudantes não gosta dessa matéria, o que</p><p>passa a ser um grande ponto a seu favor, pois você acabará</p><p>acertando essas questões, que fazem toda a diferença na</p><p>classificação.</p><p>2. Ter conhecimento sobre alguns temas de Medicina Preventiva,</p><p>a exemplo do funcionamento do SUS, é poder exercer sua</p><p>profissão e sua cidadania! Isso só será possível quando você</p><p>entender seus direitos e deveres. Obviamente, esse deveria</p><p>ser o motivo número um, mas sei que seu foco agora é a</p><p>Residência, então entendo que não pareça tão atrativo nesse</p><p>momento, mas pense nisso com carinho.</p><p>3. Enquanto algumas matérias (que talvez você goste mais)</p><p>não são abordadas em todas as provas de Residência (ou</p><p>são superficialmente abordadas), as questões de Medicina</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Prof. Fernanda Lima | Bases de Saúde do Trabalhador 4MEDICINA PREVENTIVA</p><p>@estrategiamed</p><p>/estrategiamed Estratégia Med</p><p>t.me/estrategiamed</p><p>Preventiva são várias, na maioria das bancas. Portanto, dar</p><p>importância ao estudo desse tema é totalmente estratégico!</p><p>4. Essa é uma dica para ampliar seu leque de opções futuras</p><p>no mercado de trabalho. Se você pensa em tentar uma</p><p>carreira mais estável (ex.: servidor público), questões sobre</p><p>a Medicina Preventiva também despencam nas provas de</p><p>concursos públicos, independentemente da especialidade</p><p>que você escolha! Portanto, essa etapa de estudo também</p><p>pode ser encarada como um preparativo para provas de</p><p>concursos (ex.: INSS, SUS, EBSERH, Tribunais). E, se você não</p><p>sabe, informo que o Estratégia MED também disponibiliza</p><p>cursos específicos preparatórios para concursos com todas as</p><p>matérias previstas nos editais.</p><p>5. Seu juízo crítico em leituras de artigos médicos ficará muito</p><p>mais apurado e você não será mais refém de algumas</p><p>informações de mídias mal embasadas.</p><p>Nossa! Ainda bem que esse foi um pensamento</p><p>passageiro, não é mesmo? Caso você queira saber um pouco mais</p><p>sobre essa matéria ou deseje tirar qualquer dúvida, adianto que</p><p>você pode nos procurar nas redes sociais: @prof.fernandalima e</p><p>@prof.barbaradalegria.</p><p>Não se preocupe! Nossa função é passar o máximo de</p><p>conhecimento possível e fazer você enxergar essa matéria com</p><p>um olhar muito mais receptivo e acolhedor.</p><p>Vamos ao trabalho, ou melhor,</p><p>à saúde do trabalhador!</p><p>https://www.instagram.com/estrategiamed/?hl=pt</p><p>https://www.facebook.com/estrategiamed1/</p><p>https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw</p><p>https://t.me/estrategiamed</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 5</p><p>Bases de Saúde do TrabalhadorMEDICINA PREVENTIVA</p><p>SUMÁRIO</p><p>1.0 ACIDENTE DE TRABALHO 13</p><p>1.1 CONCEITOS GERAIS 13</p><p>1.1.1 CLASSIFICAÇÃO DE SCHILLING 17</p><p>1.1.2 FATORES DE RISCOS OCUPACIONAIS 19</p><p>1.2 NEXO OCUPACIONAL 25</p><p>1.2.1 COMO AVALIAR UM NEXO OCUPACIONAL 26</p><p>1.2.2 CONDIÇÕES PARA A AVALIAÇÃO DO NEXO OCUPACIONAL PELO PROFISSIONAL MÉDICO 28</p><p>1.2.3 AÇÕES POSTERIORES AO NEXO OCUPACIONAL 38</p><p>2.0 BASES LEGAIS EM SAÚDE DO TRABALHADOR 38</p><p>2.1 PREVIDÊNCIA SOCIAL 38</p><p>2.1.1 SEGURADOS 39</p><p>2.1.2 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS 44</p><p>2.1.3 ACIDENTE DO TRABALHO 55</p><p>2.1.4 AVALIAÇÃO DE NEXO OCUPACIONAL PELA PERÍCIA DO INSS 59</p><p>2.1.5 NOTIFICAÇÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR 64</p><p>2.2 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD) 70</p><p>2.3 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA (PNSTT) 75</p><p>3.0 INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO 83</p><p>4.0 ANEXO 85</p><p>4.1 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 85</p><p>4.1.1 RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO (RAT) E FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO (FAP) 89</p><p>4.2 NORMAS REGULAMENTADORAS (NR): 90</p><p>4.2.1 NR-1 - DISPOSIÇÕES GERAIS E GERENCIAMENTO DE RISCOS OCUPACIONAIS 91</p><p>4.2.2 NR-4 - SERVIÇOS ESPECIALIZADOS EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E EM MEDICINA DO TRABALHO</p><p>(SESMT) 92</p><p>4.2.3 NR- 5 - COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES E ASSÉDIO (CIPA) 92</p><p>4.2.4 NR- 6 - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) 93</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 6</p><p>Bases de Saúde do TrabalhadorMEDICINA PREVENTIVA</p><p>4.2.5 NR-7 - PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL (PCMSO) 94</p><p>4.3 EXAMES OCUPACIONAIS E ATESTADO MÉDICO OCUPACIONAL (ASO) 96</p><p>4.4 INDICADORES BIOLÓGICOS 98</p><p>4.5 NR-32 - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE 100</p><p>5.0 LISTA DE QUESTÕES 101</p><p>6.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 102</p><p>7.0 LISTA DE IMAGENS E TABELAS 105</p><p>8.0 ESQUEMAS 106</p><p>9.0 FIGURAS 106</p><p>10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 107</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 7</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Você está prestes a adentrar um tema bastante comum em</p><p>nosso cotidiano: a saúde do trabalhador. No contexto de atividade</p><p>econômica, o trabalho é compreendido como o exercício de uma</p><p>ocupação remunerada, tendo várias funções no aspecto social,</p><p>econômico e cultural da vida de uma pessoa e na estruturação da</p><p>sociedade, através de atividades de agricultura, pecuária, extração</p><p>vegetal ou mineral, bens de consumo, edificações, estradas, entre</p><p>outras.</p><p>Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e</p><p>Estatística (IBGE) de dezembro de 2020, a população brasileira</p><p>estava em torno de 212 milhões. Em 2015, a população</p><p>economicamente ativa (PEA) era cerca de 60%. Sobre essa</p><p>estatística, precisamos considerar que muitos indivíduos não</p><p>contabilizados</p><p>os Pediatras podem atender os menores aprendizes,</p><p>não é verdade?</p><p>Em suma, a Resolução CFM no 2.183, de 2018, discorre sobre</p><p>tópicos como:</p><p>• a assistência ao trabalhador;</p><p>• os documentos médicos, tais como atestados, laudos,</p><p>pareceres e relatórios;</p><p>• os procedimentos de encaminhamentos, quando forem</p><p>necessários;</p><p>• a discussão clínica com o especialista assistente do</p><p>trabalhador sempre que julgar necessária, desde que com a</p><p>ciência do trabalhador;</p><p>• o estabelecimento do nexo ocupacional;</p><p>• as perícias médicas;</p><p>• as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.</p><p>O início da resolução expõe informações gerais sobre o</p><p>atendimento médico. Em seu artigo 1º, a resolução prevê que os</p><p>médicos do trabalho e demais médicos que atendem o trabalhador,</p><p>independentemente do local em que atuam, devem:</p><p>Fornecer laudos, pareceres e relatórios</p><p>de exame médico e dar</p><p>encaminhamento, sempre que</p><p>necessário, dentro dos preceitos éticos;</p><p>Assistir ao trabalhador, elaborar seu</p><p>prontuário médico e fazer todos os</p><p>encaminhamentos devidos;</p><p>Fornecer atestados e pareceres para o trabalhador sempre que</p><p>necessário, considerando que o repouso, o acesso a terapias ou o</p><p>afastamento da exposição nociva faz parte do tratamento;</p><p>Promover, com a ciência do trabalhador, a discussão clínica com o</p><p>especialista assistente do trabalhador sempre que julgar necessário</p><p>e propor mudanças no contexto do trabalho, quando indicadas,</p><p>tendo vista o melhor resultado do tratamento.</p><p>I II</p><p>III IV</p><p>Esquema 3: Lista de deveres a ser seguida pelos médicos que atendem o trabalhador (texto extraído dos incisos de I a IV do artigo 1º da Resolução CFM nº 2.183, de</p><p>2018).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 31</p><p>A resolução prevê, ainda, em seu artigo 1º, os seguintes parágrafos sobre a documentação registrada e emitida pelos médicos que</p><p>atendem os trabalhadores:</p><p>§ 1º Quando requerido pelo paciente, deve o médico pôr à sua disposição ou à de seu representante legal tudo o que se refira</p><p>ao seu atendimento, em especial cópia dos exames e do prontuário médico.</p><p>§ 2º Na elaboração do atestado médico, deve o médico assistente observar o contido na Resolução CFM nº 1.658/2002, alterada</p><p>pela Resolução CFM nº 1.851/2008*.</p><p>*Detalharemos sobre as resoluções de atestados médico no livro de Ética médica.</p><p>§ 3º O médico do trabalho pode discordar dos termos de atestado médico emitido por outro médico, desde</p><p>que justifique a discordância, após o devido exame clínico do trabalhador, assumindo a responsabilidade pelas</p><p>consequências do seu ato.</p><p>Certo, mas eu tenho uma dúvida: o médico do</p><p>trabalho pode discordar de meu atestado?</p><p>Sim, essa é uma prerrogativa do médico do trabalho</p><p>e está prevista também em um trecho do artigo 1º,</p><p>conforme você pode verificar a seguir:</p><p>A resposta para ambas é: claro! Os médicos não</p><p>só podem compartilhar esses conhecimentos,</p><p>como devem</p><p>Aproveitando, então, tenho outras dúvidas: posso</p><p>trocar informações com o médico de trabalho? E,</p><p>se eu for o médico de trabalho, posso pedir</p><p>informações ao médico assistente?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 32</p><p>Faz todo o sentido que as informações possam ser compartilhadas para melhor subsidiar o planejamento terapêutico. Observe os</p><p>parágrafos 4º e 5º, ainda do artigo 1º, sobre esse tema:</p><p>§ 4º O médico do trabalho, ao ser solicitado pelo médico assistente do trabalhador, deverá produzir relatório com descrição</p><p>dos riscos ocupacionais e da organização do trabalho e entregá-lo ao trabalhador ou ao seu responsável legal, em envelope lacrado</p><p>endereçado ao médico solicitante, de forma confidencial.</p><p>§ 5º O médico assistente ou especialista, ao ser solicitado pelo médico do trabalho, deverá produzir relatório ou parecer com</p><p>descrição dos achados clínicos, prognóstico, tratamento e exames complementares realizados que possam estar relacionados às</p><p>queixas do trabalhador e entregar a ele ou ao seu responsável legal, em envelope lacrado endereçado ao médico solicitante, de forma</p><p>confidencial.</p><p>Essa resolução também normatiza o</p><p>estabelecimento do nexo ocupacional?</p><p>Isso mesmo! Vale a pena dar uma lida na íntegra</p><p>sobre esse tema, para entender o que é preciso</p><p>para investigar o nexo.</p><p>A Resolução CFM no 2.183, de 2018, descreve em seu artigo 2º que “para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de</p><p>saúde e as atividades do trabalhador, além da anamnese, do exame clínico (físico e mental), de relatórios e dos exames complementares, é</p><p>dever do médico considerar:”</p><p>Estudo da organização do trabalho;</p><p>História clínica e ocupacional atual e pregressa, decisiva em</p><p>qualquer diagnóstico e/ou investigação de nexo causal;</p><p>Ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhadores</p><p>expostos a riscos semelhantes;</p><p>Identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos,</p><p>estressantes e outros;</p><p>Depoimento e experiência dos trabalhadores;</p><p>Conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus</p><p>profissionais, sejam ou não da área da saúde.</p><p>Parágrafo único. Ao médico assistente é vedado determinar</p><p>nexo causal entre doença e trabalho sem observar o contido</p><p>neste artigo e seus incisos.</p><p>Literatura científica;</p><p>Estudo do local de trabalho;</p><p>Dados epidemiológicos;</p><p>I</p><p>II</p><p>III</p><p>IV</p><p>V</p><p>VI</p><p>VII</p><p>VIII</p><p>IX</p><p>Esquema 4: lista de considerações a ser seguida para estabelecimento do nexo ocupacional (texto extraído dos incisos de I a IX do artigo 2º da Resolução CFM nº 2.183,</p><p>de 2018).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 33</p><p>Por favor, não marque isso na prova, porque você</p><p>vai errar! A resolução é aplicável a TODOS OS</p><p>MÉDICOS QUE ATENDAM O TRABALHADOR!</p><p>Nossa, professora! Muita coisa! Então, o médico do</p><p>trabalho é quem deve avaliar o nexo ocupacional</p><p>para comunicar o acidente de trabalho, certo?</p><p>Ou seja, aplica-se a todas as especialidades médicas que possam ter contato com algum trabalhador ou trabalhadora, incluindo os</p><p>médicos que não possuem qualquer especialidade. Por outro lado, se você não tiver segurança para estabelecer esse nexo causal, recomendo</p><p>não seguir adiante. Lembre-se de que o CFM orienta que todos os itens citados sejam observados na definição do nexo, mas isso não quer</p><p>dizer que somente o médico do trabalho é quem pode avaliar o nexo ocupacional, ok?</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE/RS/2020) Considere as assertivas abaixo sobre normas específicas para médicos que atendem o</p><p>trabalhador (Resolução nº 2.183/2018, do Conselho Federal de Medicina).</p><p>I - O médico cardiologista assistente que atende um paciente com insuficiência cardíaca deve, quando julgar necessário e com a ciência deste,</p><p>propor mudanças no contexto do trabalho de seu paciente com vistas ao melhor resultado do tratamento cardiológico.</p><p>II - O médico psiquiatra, mesmo que receba solicitação do médico do trabalho, não deve fornecer os dados do paciente, pois são sigilosos e</p><p>confidenciais.</p><p>III - O médico não deve considerar a ocorrência de quadro subclínico em trabalhadores expostos a riscos semelhantes para estabelecer o nexo</p><p>causal entre transtornos de saúde e as atividades do trabalhador.</p><p>Quais são corretas?</p><p>A) Apenas I</p><p>B) Apenas II</p><p>C) Apenas III</p><p>D) Apenas I e II</p><p>E) I, II e III</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A afirmativa I está correta por estar prevista no inciso IV do artigo 1º Resolução CFM nº 2.183, de 2018, conforme o trecho a seguir:</p><p>“Art. 1º Aos médicos do trabalho e demais médicos que atendem o trabalhador, independentemente do local em que atuem, cabe: (...) IV</p><p>- promover, com a ciência do trabalhador, a discussão clínica com o especialista assistente do trabalhador sempre que julgar necessário e</p><p>propor mudanças no contexto do trabalho, quando indicadas, com vistas ao melhor resultado do tratamento.” A afirmativa II está incorreta,</p><p>pois já vimos que qualquer médico</p><p>deverá fornecer relatório quando for solicitado pelo médico do trabalho. A afirmativa III também está</p><p>incorreta, pois o médico deve considerar a ocorrência de quadro subclínico em trabalhadores expostos a riscos semelhantes para estabelecer</p><p>o nexo causal.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 34</p><p>Saber se há nexo entre uma exposição no trabalho e o agravo é o que vai definir o planejamento de intervenções que precisarão ocorrer</p><p>nos ambientes ou nos processos de trabalho. O estabelecimento do nexo ocupacional pode nos direcionar para o diagnóstico correto da</p><p>doença ou agravo e, consequentemente, para o tratamento mais adequado e efetivo. Avalie a seguinte situação:</p><p>Maria tem 38 anos e vivia reclamando de dormência e fraqueza nos dedos das mãos, por isso seu marido insistiu para que ela</p><p>procurasse a UBS. Chegando lá, o médico ouve suas queixas e faz o exame físico. Quando verifica que os testes de Phalen e Tinel foram</p><p>positivos, sugere o diagnóstico de síndrome do túnel do carpo e prescreve inúmeros anti-inflamatórios, analgésicos e fisioterapias,</p><p>orientando-a que, se não houver melhora, precisará operar. Assustada, Maria segue o tratamento corretamente, mas não evolui</p><p>com melhora dos sintomas. Claro, ela trabalha como digitadora e não recebeu nenhuma orientação sobre programar pausas entre</p><p>atividades contínuas de digitação ou reprogramação do ritmo de trabalho. Resultado: Maria acaba fazendo a cirurgia e, mesmo depois</p><p>todos os cuidados pós-operatórios, ela continua com as queixas e evoluindo com piora do quadro clínico após retorno ao trabalho.</p><p>Pense sobre a conduta terapêutica para síndrome</p><p>do túnel do carpo no caso que vou contar agora.</p><p>Se você optar por tratar o agravo sem conhecer sua causa e</p><p>sem buscar interferir nela, passará a vida toda “enxugando gelo”,</p><p>pois o trabalhador pode até apresentar um período de melhora</p><p>com o uso das medicações, mas certamente voltará a piorar com</p><p>a exposição ao fator causal. Lembre-se ainda de que a prática da</p><p>saúde do trabalhador deve contemplar não somente a prevenção</p><p>de doenças, mas também a promoção da saúde. Dessa forma, não</p><p>podemos esperar pelo mapeamento de riscos ou pela ocorrência</p><p>de doenças para iniciar a programação de ações em prol da saúde</p><p>do trabalhador.</p><p>Você pode até pensar: “Professora, entendi que é essencial</p><p>conhecer a causa para evitar a ocorrência ou o agravamento do</p><p>problema de saúde pelo trabalho, mas em que pontos precisamos</p><p>focar para evitar diagnósticos ou tratamentos inadequados?” Na</p><p>investigação do nexo ocupacional, a função de cada um de nós</p><p>médicos está primeiramente em compreender: (1) como surgiu o</p><p>agravo, (2) quais são todos os fatores que podem estar interferindo</p><p>na saúde e (3) o que pode ser feito para que o tratamento seja mais</p><p>efetivo, promovendo a cura do paciente ou, ao menos, evitando</p><p>que seu quadro clínico seja agravado.</p><p>Quando se investiga qualquer doença em um paciente,</p><p>deve-se dispor de dois instrumentos básicos da avaliação clínica:</p><p>anamnese e exame físico. Infelizmente, os profissionais médicos</p><p>costumam dar pouca ou nenhuma importância ao que chamamos</p><p>de anamnese ocupacional. Muitas vezes, o médico esquece de usar</p><p>perguntas básicas dela, tais como: “o senhor trabalha ou trabalhou</p><p>com o que?”; “há quanto tempo está nessa profissão?”; “de que</p><p>forma você executa ou executava seu trabalho?”.</p><p>Em 1700, o italiano Bernardino Ramazzini – “Pai da Medicina</p><p>do Trabalho” – lançou seu livro intitulado De Morbis Artificum</p><p>Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores) em que sugeria no</p><p>interrogatório dos doentes a inclusão da pergunta: “que arte</p><p>exerce?”, que, na linguagem da época, correspondia a “qual é sua</p><p>ocupação?”. É preciso resgatar esses questionamentos sobre o</p><p>trabalho dos pacientes, para que a suspeita diagnóstica e o plano</p><p>terapêutico sejam mais assertivos.</p><p>É preciso, também, entender a importância disso para</p><p>as provas, pois a descrição de informações sobre o trabalho</p><p>do paciente já pode direcioná-lo para o diagnóstico de alguma</p><p>doença ocupacional. Portanto, muita atenção! Não costuma ser</p><p>à toa que um enunciado traz a profissão presente ou passada de</p><p>um paciente, ou descreve alguma atividade no trabalho. Se esses</p><p>dados aparecerem na questão, fique alerta para a possibilidade do</p><p>trabalho ter alguma relevância para o caso!</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 35</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UEL/PR/2019) De Morbis Artificum Diatriba (Doenças do Trabalho) que relacionava os riscos à saúde ocasionados por produtos químicos,</p><p>poeira, metais e outros agentes encontrados por trabalhadores em 52 ocupações, foi por ele escrito. É dele também a frase “qual é a sua</p><p>ocupação?”, parte fundamental e integrante de um questionário médico. É conhecido como o “Pai da Medicina do Trabalho”. Assinale a</p><p>alternativa que apresenta, corretamente, a quem se refere a descrição dessas informações.</p><p>A) Bernardino Ramazzini.</p><p>B) Franco Basaglia.</p><p>C) Robert Koch.</p><p>D) Louis Pasteur.</p><p>E) Marco Bobbio.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Bernardino Ramazzini é o Pai da Medicina do Trabalho e autor do livro “De Morbis Artificum Diatriba”. Conheça as demais celebridades:</p><p>(B) Franco Basaglia é o psiquiatra reconhecido pela reforma da assistência à saúde mental italiana; (C) Robert Koch é o alemão que ficou</p><p>famoso na área da microbiologia com a descoberta do bacilo da tuberculose (bacilo de Koch), além de outras descobertas como o vibrião</p><p>colérico e o agente do carbúnculo; (D) Louis Pasteur é o francês inventor do método de pasteurização, além de descobrir vacinas como a</p><p>antirrábica; (E) Marco Bobbio é o cientista italiano criador do movimento “Slow medicine – Um resgate à essência da arte de cuidar” e autor</p><p>do livro “O Doente Imaginado”.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>Caso tenha interesse, o livro De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores) de Bernardino Ramazzini foi traduzido para</p><p>o português e está disponível na internet por meio de uma parceria entre a Fundacentro e o Ministério do Trabalho e Previdência.</p><p>Figura 5 (à esquerda): foto ilustrativa da capa da 4ª edição comemorativa do livro pela Fundacentro. Figura 6 (à direita): frontispício da 1ª edição do livro (1700). Fonte</p><p>de ambas as figuras: Fundacentro, 2016.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 36</p><p>Na avaliação ocupacional, devemos considerar não somente</p><p>a ocupação atual, mas também as ocupações anteriores. Muitas</p><p>doenças aparecem depois de anos de exposição acumulada.</p><p>Portanto, não basta perguntar ao trabalhador o que ele faz hoje,</p><p>mas também devemos questionar sobre o que ele fazia antes e por</p><p>quanto tempo. Para você ter uma ideia, grande parte das neoplasias</p><p>de origem ocupacional demora cerca de 15 a 20 anos (ou mais)</p><p>para apresentar sintomas e ser diagnosticada. Muitas vezes, passa</p><p>tanto tempo que, no momento do diagnóstico, a empresa em que</p><p>a pessoa trabalhou já nem existe mais!</p><p>Assim, o tempo de latência da doença também deve ser</p><p>considerado na investigação do nexo causal. Observe que não é</p><p>possível estabelecer um nexo ocupacional se a exposição ao agente</p><p>no trabalho for tão curta que não houve tempo suficiente para</p><p>o desenvolvimento de uma doença crônica. Por exemplo, uma</p><p>pessoa não pode ter sido exposta ao asbesto há uma semana e já</p><p>ter desenvolvido o mesotelioma de pleura após sete dias.</p><p>Cuidado também com a situação inversa, que envolve</p><p>as condições agudas. Em doenças com quadro clínico com</p><p>surgimento mais imediato, não faz sentido acreditar que uma</p><p>exposição há cinco anos atrás seja responsável por um quadro</p><p>alérgico agudizado recente. Apesar de parecer uma associação</p><p>simples de ser evitada, os pacientes costumam trazer todos esses</p><p>tipos de relatos, informando acreditar na existência de</p><p>nexo. Fique</p><p>alerta para esses casos, pois é papel do médico analisar o que é</p><p>de fato compatível com a história de evolução da doença. Logo,</p><p>precisamos considerar a história natural de evolução da doença e</p><p>o tempo que ela precisa para se desenvolver no estudo do nexo</p><p>causal.</p><p>Não se esqueça, ainda, de avaliar o grau de exposição ao</p><p>suposto agente causal que você está investigando. Por exemplo, a</p><p>exposição diária a um ruído de 40 dB por apenas 10 minutos não</p><p>costuma induzir uma perda auditiva. Dessa forma, não basta ser</p><p>comprovada a exposição a um agente, mas precisamos considerar</p><p>também sua intensidade e seu período.</p><p>Por outro lado, devemos ter cuidado para não achar que tudo</p><p>está relacionado ao trabalho, o que é um discurso comum entre</p><p>alguns pacientes. O médico também deve pesar outros fatores</p><p>que permeiam a vida do indivíduo e que podem ter efeito mais</p><p>significativo na evolução da doença, como, por exemplo: pessoas</p><p>sedentárias ou acima do peso com doenças osteomusculares;</p><p>má alimentação e sobrepeso associados a doenças cardíacas; e</p><p>outras associações já conhecidas. Na maioria das vezes, o agravo</p><p>é proveniente de um conjunto de fatores que possuem pesos</p><p>variados em sua gênese, cabendo ao médico focar nos fatores mais</p><p>significativos quando elaborar o projeto terapêutico.</p><p>Acontece muito, pegue um lanchinho e venha ler</p><p>esse caso de exposição intra e extralaboral, para</p><p>depois tirar sua conclusão.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 37</p><p>Joaquim tem 37 anos e trabalha em uma fábrica há três anos. Procura a UBS, onde é atendido pelo Dr. Carlos, para quem já vai</p><p>contando sua história: todos os dias ao chegar para o expediente do trabalho, ajuda o colega Mateus entregando a ele 10 pacotes de</p><p>5 kg de insumos usados diariamente na produção, sendo entregue um de cada vez. No restante do dia, sua tarefa é fiscalizar a linha</p><p>de montagem, o que ele faz sentado em sua cadeira, apenas observando os outros trabalhadores e fazendo anotações. Há dois anos,</p><p>Joaquim conta que passou a sentir dores nos ombros, que ele acredita ser devido à movimentação diária desses pacotes no trabalho.</p><p>Dr. Carlos quer saber mais e pergunta em que posição ele faz essa tarefa. Joaquim encena o movimento para o médico, que</p><p>nota que ele não precisa elevar muito os ombros, pois entrega as peças a Mateus com as mãos posicionadas na altura de sua cicatriz</p><p>umbilical. Por isso, o médico passa a perguntar sobre sua rotina fora do trabalho. Joaquim conta que brinca muito com o filho de dois</p><p>anos e meio de idade. Fica muito feliz com isso, mas, a maior parte do tempo, a criança de 15 kg quer ficar no colo, o que ele sempre</p><p>acata, porque sua esposa tem um trabalho muito puxado. Fala também que, desde o nascimento do filho, não consegue mais ir para</p><p>academia e está com 20 kg acima do peso. Dr. Carlos continua investigando a rotina fora do trabalho e Joaquim conta, também, que</p><p>resolveu reformar a casa com a ajuda de um primo, ou seja, passa o final de semana carregando sacos de cimento, pintando o teto,</p><p>usando o martelo e outras ferramentas pesadas, além de outras tarefas que demandam esforço físico.</p><p>Figura 6: Exemplo de exposição dentro e fora do ambiente de trabalho. Fonte: Trello.</p><p>E aí, percebeu o peso dos fatores extralaborais no caso de</p><p>Joaquim? Vou listar alguns: criança de colo (15kg), peso acima do</p><p>normal (20 kg), sedentarismo, serviços de obra em casa. Por outro</p><p>lado, a movimentação das dez peças de 5 kg por dia não parece</p><p>ser suficiente para causar as queixas referidas, considerando o</p><p>movimento descrito. Na verdade, houve um acúmulo de outras</p><p>situações fora do ambiente de trabalho, que justificam o quadro</p><p>doloroso no ombro. Assim, devemos considerar os fatores</p><p>laborais e extralaborais na definição do nexo ocupacional, o que</p><p>deve incluir os fatores hereditários, os hábitos de vida (pessoal e</p><p>familiar), a prática de esportes, as comorbidades, as alterações</p><p>neuroendócrinas preexistentes, etc. Além disso, os exames</p><p>complementares também podem auxiliar na elucidação de um</p><p>quadro clínico em casos específicos.</p><p>No tópico sobre a Previdência Social, debateremos mais</p><p>sobre as implicações do nexo ocupacional para o trabalhador e para</p><p>o empregador.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 38</p><p>1.2.3 AÇÕES POSTERIORES AO NEXO OCUPACIONAL</p><p>Após o estabelecimento do nexo ocupacional (quando há</p><p>uma relação entre a doença e o trabalho), todos os profissionais</p><p>médicos envolvidos no atendimento e cuidado da saúde do</p><p>trabalhador deverão realizar uma série de ações, como:</p><p>• o afastamento da exposição geradora do agravo ou do</p><p>trabalho;</p><p>◦ Quando pensar em afastamento, deve-se considerar</p><p>diversas variáveis: se a continuação da exposição pode agravar</p><p>o quadro, se há incapacidade temporária ou permanente para</p><p>o trabalho, se é possível alguma alternativa compatível com as</p><p>condições clínicas do trabalhador, ou seja, uma adaptação de</p><p>atividade ou posto de trabalho.</p><p>• promover mudanças no ambiente e/ou processos de</p><p>trabalho;</p><p>• orientar o trabalhador quanto ao problema de saúde e aos</p><p>riscos envolvidos para melhor planejamento de ações;</p><p>• definir a terapêutica, o que inclui medicações, cirurgias</p><p>ou outros procedimentos que forem necessários, incluindo a</p><p>reabilitação;</p><p>• nos casos de alguns trabalhadores específicos (que você</p><p>verá com mais detalhes no tópico da Previdência Social), solicitar</p><p>à empresa a emissão da Comunicação do Acidente de Trabalho</p><p>(CAT) para o INSS, preenchendo a parte de atestado médico ou</p><p>enviando um relatório médico para a empresa;</p><p>• notificar às autoridades sanitárias para fins de vigilância</p><p>em saúde, conforme legislação específica (nacional, estadual e</p><p>municipal).</p><p>No caso de um trabalhador que necessite ser afastado do</p><p>trabalho, os profissionais que trabalham na empresa devem sempre</p><p>avaliar o seguimento desse indivíduo também após seu retorno às</p><p>atividades laborais. É importante conversar com os gestores da</p><p>empresa para que eles possam entender as limitações residuais</p><p>do trabalhador e proceder às devidas adaptações necessárias,</p><p>evitando o agravamento da doença e/ou novos afastamentos.</p><p>Discutiremos sobre o afastamento do trabalho no item</p><p>sobre a Previdência Social e abordaremos os diferentes tipos de</p><p>notificação em saúde do trabalhador em tópicos posteriores ainda</p><p>nessa aula.</p><p>CAPÍTULO</p><p>2.0 BASES LEGAIS EM SAÚDE DO TRABALHADOR</p><p>2.1 PREVIDÊNCIA SOCIAL</p><p>O Ministério da Economia é responsável pela elaboração de políticas do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que tem suas ações</p><p>executadas pela autarquia federal que conhecemos pela sigla de INSS - Instituto Nacional do Seguro Social. O regime da previdência social</p><p>funciona a partir da lógica de um seguro, ou seja, para que a pessoa possa usufruir de seus benefícios, é preciso ter a qualidade de segurado.</p><p>Assim, a Previdência Social é o regime (a base teórica) e o INSS é a instituição executora (quem a pratica ou faz a gestão).</p><p>Vamos começar por uma pergunta básica: Você sabe</p><p>qual é a diferença entre Previdência Social e INSS?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 39</p><p>REFORMA DA PREVIDÊNCIA</p><p>Dentro dessa temática, é importante destacar que aconteceram algumas mudanças no RGPS após a Emenda Constitucional nº</p><p>103, de 2019, que ficou conhecida como Reforma da Previdência.</p><p>Essa emenda gerou uma série de normatizações posteriores que culminaram com a atualização de alguns dispositivos, a</p><p>exemplo da atualização do Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999.</p><p>Houve muita discussão em torno dessas mudanças e a UNICAMP chegou a questionar sobre isso, mas esse tema não costuma</p><p>aparecer em outras bancas. Por esta razão, a Reforma da Previdência será comentada no Anexo deste livro.</p><p>2.1.1 SEGURADOS</p><p>O segurado nada mais</p><p>é do que um contribuinte que pode</p><p>ser um assalariado (empregado formal), empregado doméstico,</p><p>trabalhador avulso, contribuinte individual e segurado especial</p><p>(ex.: trabalhadores rurais). Portanto, a Previdência Social funciona</p><p>em caráter contributivo, devendo o contribuinte pagar um valor</p><p>mensal que varia de acordo com o valor de sua renda base e de sua</p><p>qualidade de segurado.</p><p>Como você já deve ter percebido, todos os trabalhadores</p><p>formais são obrigatoriamente filiados à Previdência Social, tendo</p><p>sua contribuição mensal já deduzida do valor total do salário</p><p>automaticamente. Essa é a categoria mais amplamente conhecida</p><p>de contribuinte do RGPS, chamada de empregado. Nessa situação,</p><p>o segurado pode ser representado por uma pessoa contratada</p><p>diretamente pela empresa, através do regime da Consolidação</p><p>da Leis Trabalhistas (CLT), ou seja, o trabalhador tem a carteira</p><p>de trabalho assinada pela empresa. Essa categoria de segurado</p><p>também inclui outras situações como os trabalhadores temporários,</p><p>os diretores-empregados, brasileiros e estrangeiros que trabalham</p><p>em empresas brasileiras instaladas em outros países, pessoas que</p><p>trabalham no Brasil em missões diplomáticas e políticos exercentes</p><p>de mandato eletivo, entre outros.</p><p>Para a prova, não é preciso conhecer a fundo todos os</p><p>exemplos de segurados, por isso citaremos apenas alguns deles</p><p>em cada categoria somente para que você tenha uma visão geral.</p><p>Caso queira conhecer com mais detalhes, recomendo verificar</p><p>diretamente no capítulo “Dos Segurados” no Decreto nº 3.048, de</p><p>6 de maio de 1999.</p><p>Vamos resumir outras categorias de contribuintes:</p><p>Figura 7: Taxista. Fonte: Shuttlestock / Artista: FedorAnisimov.</p><p>Contribuinte individual: inclui os trabalhadores</p><p>autônomos, ou seja, aqueles que trabalham por</p><p>conta própria, prestando serviços de natureza</p><p>eventual, sem vínculo empregatício. Ex.: empresário</p><p>individual, cooperativas de trabalho, taxistas,</p><p>motoristas de aplicativo, Micro Empreendedor</p><p>Individual – MEI, sócio (de sociedade, gerente ou</p><p>cotista), diretor não empregado etc. Essas pessoas</p><p>não têm filiação automática como os trabalhadores</p><p>formais, necessitando optar por sua inscrição</p><p>na previdência, para que possam contribuir</p><p>mensalmente e ter direito aos benefícios.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 40</p><p>Segurado facultativo: aqueles que ainda não têm</p><p>renda própria também podem inscrever-se na previdência</p><p>desde que sejam maiores de 16 anos de idade. Ex.: aquele</p><p>que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico</p><p>no âmbito de sua residência, síndicos (não remunerado),</p><p>aquele que deixou de ser segurado obrigatório etc.</p><p>Figura 8: Estudante. Fonte: Shuttlestock / Artista: Paranyu.</p><p>Figura 9: Empregados domésticos. Fonte: Shuttlestock / Artista: Andrii</p><p>Bezvershenko</p><p>Figura 10: Agricultor. Fonte: Shuttlestock / Artista: GoodStudio.</p><p>Empregado doméstico: é todo aquele que presta</p><p>serviço na casa de outra pessoa ou família, se a</p><p>atividade em si não tiver fins lucrativos para quem</p><p>o emprega e desde que seja mais de duas vezes</p><p>por semana. Ex.: doméstica, jardineiro, motorista,</p><p>caseiro, doméstica e outros.</p><p>Segurado especial: são as pessoas que se utilizam</p><p>do trabalho como meio de subsistência, ou seja, os</p><p>trabalhadores em regime de economia familiar. Ex.:</p><p>trabalhador rural (agropecuária), pescador artesanal,</p><p>marisqueiro, seringueiro ou extrativista vegetal na coleta e</p><p>extração (sustentável) etc. Os familiares que trabalham em</p><p>atividade rural também estão incluídos nessa categoria,</p><p>a exemplo de cônjuges, companheiros e filhos maiores</p><p>de 16 anos. Atenção! Aqui não estão incluídos os grandes</p><p>fazendeiros que produzem para exportação!</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 41</p><p>Trabalhador avulso: é todo trabalhador que presta</p><p>serviço a diversas empresas, ou equiparados, sem</p><p>vínculo empregatício, havendo intermediação</p><p>obrigatória do órgão gestor de mão de obra ou do</p><p>sindicato da categoria. Inclui ainda o trabalhador</p><p>que atua com movimentação de mercadorias em</p><p>geral, com intermediação obrigatória do sindicato</p><p>da categoria, por meio de acordo ou convenção</p><p>coletiva de trabalho, em certas atividades. Ex.:</p><p>é comum entre os trabalhadores portuários,</p><p>ensacador de café, cacau, sal e similares, o</p><p>guindasteiro etc.</p><p>Figura 11: Trabalhador avulso. Fonte: Shutterstock / Artista: Visual Generation.</p><p>Muito cuidado! Não basta ser de alguma dessas categorias</p><p>para ser considerado segurado, é preciso que a pessoa opte pelo</p><p>ingresso no regime da Previdência Social através de sua inscrição.</p><p>Por exemplo, não basta ser estudante e maior de 16 anos para ser</p><p>segurado facultativo, é preciso filiar-se à Previdência Social.</p><p>E qual é a implicação disso? Vimos que o trabalhador</p><p>empregado (aquele com carteira de trabalho assinada) tem sua</p><p>contribuição para o INSS recolhida de forma automática, mas o que</p><p>acontece com outras categorias de trabalhadores?</p><p>Vamos a um exemplo prático! Os motoristas de aplicativos</p><p>são profissionais autônomos, o que significa que não possuem</p><p>vínculo empregatício com as empresas. Por essa razão, é bastante</p><p>comum encontrá-los ativos em diversas empresas de aplicativos</p><p>diferentes. O profissional autônomo deve contribuir com a</p><p>Previdência Social na categoria de contribuinte individual. Então,</p><p>seriam eles obrigados a realizar um pagamento mensal ao INSS?</p><p>Sim, todos que exerçam qualquer atividade laborativa remunerada</p><p>possuem essa obrigação.</p><p>Como o recolhimento é de responsabilidade individual,</p><p>muitos deixam de contribuir na prática, o que acaba gerando esse</p><p>“limbo” na seguridade social. Assim, aqueles que não contribuem,</p><p>consequentemente, não terão acesso aos benefícios do RGPS, o</p><p>que inclui o recebimento de auxílio por incapacidade temporária , o</p><p>salário-maternidade e, até mesmo, a aposentadoria!</p><p>Alguma dica para memorizar essas categorias?</p><p>Achei que não fosse perguntar!</p><p>• Contribuinte individual é quem trabalha para si, individualmente, sem estar ligado a</p><p>nenhuma empresa (não sendo empregado).</p><p>• Segurado facultativo: a palavra lembra faculdade que remete a estudante, que não tem</p><p>renda própria (pelo menos na maioria das vezes).</p><p>• Segurado especial: aqueles que têm a habilidade especial de plantar, pescar ou extrair</p><p>da terra o que precisam para sobreviver (individualmente ou em regime de economia</p><p>familiar).</p><p>• A palavra “empregado doméstico” já faz referência direta aos trabalhadores domésticos.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 42</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília/SP/2020) O fenômeno conhecido como “uberização das relações de trabalho”,</p><p>por meio da qual há uma utilização da mão de obra, por parte de poucas e grandes empresas que concentram o mercado mundial dos</p><p>aplicativos e das plataformas digitais, vem sofrendo críticas por parte de diversos segmentos sociais. Algumas delas se referem à:</p><p>A) exposição a riscos que ameaçam a integridade física desses trabalhadores e à ausência de condição de segurado de grande parte deles</p><p>com a Previdência Social.</p><p>B) ausência de cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS) a esses trabalhadores por serem pessoas jurídicas e à inexistência de vínculo</p><p>empregatício.</p><p>C) inexistência de qualquer vínculo empregatício e à exclusão desses trabalhadores do sistema de seguridade social.</p><p>D) flexibilidade de horários de trabalho e à exclusão desses trabalhadores do sistema de seguridade social.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O motorista de Uber está exposto a riscos que ameaçam sua integridade física, tais como assaltos e agressões. Além disso, grande parte</p><p>desses trabalhadores não contribuem para a Previdência Social e, consequentemente, não possuem a condição de segurado. As pessoas</p><p>que não contribuem não estão amparadas pelo INSS quando</p><p>são acometidas de alguma doença ou acidente e necessitam de afastamento.</p><p>Inclusive, essas pessoas acabam não tendo acesso a outros benefícios, a exemplo da aposentadoria.</p><p>As demais alternativas estão incorretas pelos seguintes motivos: (1) o acesso aos serviços de saúde do SUS é universal e os motoristas</p><p>de aplicativo são trabalhadores autônomos (alternativa B); os motoristas de aplicativo não estão excluídos do sistema de seguridade social,</p><p>já que eles podem contribuir com a Previdência Social na categoria de Contribuinte Individual, (alternativa C e D); a flexibilidade de horários</p><p>de trabalho não é algo negativo (D).</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>Certamente! Esses tipos às vezes são confundidos</p><p>com o conceito de trabalhor autônomo, vou</p><p>esquematizar resumidamente no quadro a seguir:</p><p>Professora, também já ouvi falar nos seguintes</p><p>termos: trabalhor temporário e trabalhador avulso.</p><p>Poderia me explicar qual é a diferença?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 43</p><p>Trabalhador autônomo: nesse caso, já vimos que a pessoa negocia diretamente com o contratante do serviço, não havendo</p><p>vínculo empregatício.</p><p>Trabalhador temporário: como o próprio nome sugere, o contrato rege por tempo fixo. “O trabalho temporário é aquele</p><p>prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora</p><p>de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviços”</p><p>(Art 2º da Lei nº 6.019/1974). Geralmente, é feito para substituição de alguém em período de férias ou em períodos específicos do</p><p>ano, como aqueles com necessidade de mão-de-obra extra (ex.: lojas no Natal). A contratação ocorre e pode ser indireta, por meio</p><p>de prestadores de serviço.</p><p>Trabalhador avulso: as pessoas são contratadas através de sindicato ou Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO). É um modelo</p><p>de contratação que acontece comumente no setor portuário, mas pode ocorrer em outros setores econômicos.</p><p>O termo “qualidade de segurado” é utilizado para denominar</p><p>toda a pessoa que esteja filiada ao INSS, com sua inscrição ativa e</p><p>fazendo os recolhimentos mensais à Previdência Social. Entretanto,</p><p>temos os que podem ser considerados como segurados obrigatórios,</p><p>como detalhei anteriormente, que são: Empregados (urbanos</p><p>e rurais), Contribuintes Individuais, Empregados Domésticos,</p><p>Segurados Especiais e Trabalhadores Avulsos. Por outro lado,</p><p>o segurado facultativo, como o próprio nome sugere, é a única</p><p>categoria de contribuintes que não é considerada obrigatória.</p><p>Para que é preciso ter a qualidade de segurado? Em qualquer</p><p>seguro, se você não for segurado, não terá direito a benefício</p><p>algum. Ah, professora! Já entendi, parei de pagar (contribuir) e</p><p>já deixo de ter direito imediatamente, não é isso? Não funciona</p><p>exatamente assim, a suspensão do direito de benefício não ocorre</p><p>imediatamente após a cessação da contribuição. Em algumas</p><p>condições, permite-se a continuação da qualidade de segurado, é</p><p>o que chamamos de “manutenção da qualidade de segurado” ou</p><p>“período de graça”. Esteja atento aos prazos listados pelo INSS:</p><p>• Sem limite de prazo: enquanto a pessoa estiver recebendo o</p><p>benefício previdenciário, exceto na hipótese de auxílio-acidente;</p><p>• Até três meses: após o licenciamento para aquele que for</p><p>incorporado às forças armadas (serviço militar).</p><p>• Até seis meses: do último recolhimento para o INSS nos</p><p>casos dos segurados facultativos.</p><p>◦ Prorrogável por mais seis meses caso tenha recebido por</p><p>último: salário-maternidade ou benefício por incapacidade.</p><p>◦ A pessoa em “período de graça” que se filiou como</p><p>contribuinte facultativo e deixou de contribuir nessa condição</p><p>pode optar pelo prazo de manutenção da qualidade de</p><p>segurado da condição anterior, se for mais vantajosa.</p><p>• Até 12 meses após:</p><p>◦ terminar a segregação, nas doenças de segregação</p><p>compulsória;</p><p>◦ a soltura do indivíduo detido ou preso;</p><p>◦ o fim do benefício por incapacidade ou das contribuições;</p><p>◦ Prorrogável por mais 12 meses se houver mais</p><p>de 120 contribuições consecutivas ou intercaladas, sem a</p><p>perda da qualidade de segurado, havendo a possibilidade</p><p>de prorrogação por mais 12 meses caso o indivíduo tenha</p><p>registro no Sistema Nacional de Emprego (SINE)* ou tenha</p><p>recebido seguro-desemprego.</p><p>• O SINE é um sistema que busca intermediar a oferta e a</p><p>demanda de trabalho por meio da captação de vagas de trabalho,</p><p>reduzindo o tempo de espera tanto para o trabalhador quanto</p><p>para o empregador.</p><p>Sem decorar, por favor! Vamos entender, já</p><p>que tem muito sentido.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 44</p><p>Por que foi resolvido prorrogar a manutenção da condição</p><p>de segurado para as pessoas registradas no SINE ou que tenham</p><p>recebido seguro-desemprego? Porque são pessoas que estão</p><p>desempregadas, portanto mais vulneráveis! Imagine um</p><p>desempregado doente e pense: como é que ele vai arranjar</p><p>emprego se não consegue trabalhar nessa condição? Foi pensando</p><p>nisso que o Governo decidiu prorrogar o prazo para que essa pessoa</p><p>receba algum benefício temporário (ex.: auxílio por incapacidade</p><p>temporária), podendo receber os devidos cuidados e voltar a</p><p>procurar emprego!</p><p>Após decorrido todos os prazos citados anteriormente,</p><p>teremos a condição de “perda da qualidade de segurado”, em que</p><p>as pessoas deixam de estar cobertas pelo INSS, não tendo mais</p><p>acesso aos benefícios previdenciários.</p><p>Apesar de parecer ser um tema bastante específico, vale a</p><p>pena termos conhecimento sobre essa situação para podermos</p><p>orientar nossos pacientes. Ademais, acredite ou não, isso também</p><p>já foi questionado em prova de Residência.</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(FMABC/SP/2016) R.S.T. 45 anos, auxiliar de almoxarifado, foi desligado da empresa há 6 meses. Em consulta com clínico geral na UBS,</p><p>apresenta queixa de dor abdominal há 5 meses, após esforço físico intenso. Diagnosticado com hérnia inguinal à direita foi encaminhado ao</p><p>cirurgião. Após 3 semanas foi realizado correção cirúrgica sendo orientado repouso por 30 dias. Assinale a alternativa correta:</p><p>A) Por estar desempregado, não poderá ser encaminhado para concessão de benefício “auxílio-doença” pelo INSS, pois perdeu a qualidade</p><p>de segurado após 3 meses.</p><p>B) Mesmo desempregado, deverá ser encaminhado para concessão de benefício “auxílio-doença” pelo INSS, pois mantém a qualidade de</p><p>segurado por 12 meses.</p><p>C) Não deverá ser encaminhado para concessão de benefício “auxílio-doença” pelo INSS, pois perdeu a qualidade de segurado após seu</p><p>desligamento da empresa.</p><p>D) Deverá ser encaminhado para concessão de benefício “auxílio-doença” pelo INSS, pois enquanto desempregado não perderá a qualidade</p><p>de segurado.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O caso descreve um indivíduo que foi desligado, ou seja, ele enquadrava-se na categoria de empregado. Sabemos que o beneficiário</p><p>mantém a qualidade de segurado por 12 meses, a partir do último recolhimento do INSS quando a pessoa deixa de trabalhar em atividade</p><p>remunerada. Como foi demitido há seis meses, ainda restam mais seis meses de período de graça. Se ele recebeu seguro-desemprego</p><p>ainda poderia ter seu prazo prorrogado por mais 12 meses. Por isso, essa pessoa poderá ser encaminhada para o INSS para recebimento do</p><p>benefício, mesmo após seu desligamento, pois a cirurgia ocorreu em menos de um ano após sua demissão.</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>2.1.2 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS</p><p>O intuito do Regime Geral da Previdência Social é garantir</p><p>uma renda para o contribuinte em situações específicas, como</p><p>ocorre em um seguro privado, essa renda é chamada de benefícios</p><p>previdenciários. Já ouviu falar naqueles seguros privados que</p><p>oferecem uma proteção financeira em caso de morte, doença</p><p>ou acidente? É mais ou menos por aí que funciona a Previdência</p><p>Social, garantindo um determinado benefício</p><p>em casos específicos</p><p>de doenças (ex.: auxílio por incapacidade temporária), acidentes</p><p>com lesão permanente (ex.: auxílio-acidente), parto (licença</p><p>maternidade), velhice (aposentadoria), entre outras situações</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 45</p><p>que podem acontecer com a pessoa, incapacitando-a de forma</p><p>temporária ou permanente para gerar sua própria renda.</p><p>Os benefícios da Previdência Social são codificados com</p><p>uma numeração que significa a espécie do benefício. Lembrando</p><p>que todos os segurados passam primeiramente pela avaliação de</p><p>um médico perito do INSS. Quando esse profissional concorda</p><p>com a concessão do benefício, dizemos que foi deferido. Por</p><p>outro lado, quando o perito discorda, afirma-se que o benefício</p><p>foi indeferido. Caso o segurado discorde da decisão do perito,</p><p>ele tem direito a recorrer, o que pode ser feito de duas formas,</p><p>conforme você verá a seguir:</p><p>• Pedido de Prorrogação: caso o segurado acredite precisar</p><p>de mais tempo de afastamento que o período concedido pelo</p><p>perito do INSS, a pessoa pode solicitar a prorrogação do benefício.</p><p>A apresentação do pedido deve ocorrer dentro dos últimos 15</p><p>dias de encerramento do benefício, nunca após seu término.</p><p>• Pedido de Recurso: caso o benefício seja indeferido, o</p><p>segurado pode dar entrada no pedido de recurso, que será</p><p>enviado para a Junta de Recursos para julgamento de quaisquer</p><p>decisões administrativas do INSS. O pedido pode ser realizado</p><p>pela internet e o prazo para a apresentação do recurso é de 30</p><p>dias após a pessoa tomar conhecimento dessa decisão da qual</p><p>ela discorda.</p><p>REFORMA DA PREVIDÊNCIA</p><p>A Emenda Constitucional nº 103, de 2019, impactou na alteração da nomenclatura dos benefícios previdenciários. Os termos</p><p>“doença” e “invalidez” foram substituídos por “incapacidade temporária” e “incapacidade permanente”.</p><p>Vou listar alguns benefícios, que têm maior chance de serem abordados, de forma sucinta, com as respectivas espécies:</p><p>• AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA (antigo auxílio-doença) é um benefício por incapacidade devido ao segurado do INSS</p><p>que esteja temporariamente incapaz para o trabalho em decorrência de doença ou acidente, mediante comprovação pericial. Esse</p><p>auxílio é pago enquanto a pessoa estiver afastada do trabalho e pode ser de dois tipos: previdenciário e acidentário. Veremos as diferenças</p><p>mais adiante. Ex.: trabalhador que sofreu amputação da perna, enquanto estiver passando por cirurgia e fisioterapia, ele deverá receber</p><p>auxílio-doença.</p><p>◦ Espécie 31 (Auxílio-doença previdenciário ou Auxílio-doença comum) – benefício deferido quando houver incapacidade para o</p><p>trabalho e o agravo não tiver sido decorrente do trabalho.</p><p>◦ Espécie 91 (Auxílio-doença acidentário) - benefício deferido quando houver incapacidade para o trabalho e o agravo tiver sido</p><p>decorrente do trabalho.</p><p>Não se esqueça de que os primeiros 15 dias de atestado médico ou odontológico por motivo de incapacidade temporária</p><p>devem ser abonados pela empresa, ou seja, devem ser pagos por ela. Assim, o trabalhador deverá ser encaminhado para o INSS a</p><p>partir do 16º dia de afastamento decorrente de algum agravo (ex.: doença ou lesão).</p><p>É importante salientar que os dias de afastamento não precisam ser consecutivos, podendo ser somados os atestados ocorridos</p><p>dentro de um período de 60 dias, desde que estejam todos relacionados ao mesmo motivo.</p><p>Atenção! “Mesmo motivo” não é necessariamente “mesmo código da Classificação Internacional de Doenças (CID)”, muita</p><p>gente confunde isso. Sabemos que os médicos podem optar por códigos diferentes para o mesmo problema de saúde. Por exemplo,</p><p>um paciente que passou por um trauma contuso no ombro causando lesão de suas estruturas internas pode apresentar atestados</p><p>com os seguintes códigos da CID: M79.6 (Dor em membro), S40.0 (Contusão do ombro e do braço) ou M75 (Lesões do ombro).</p><p>Essa diversidade de CID é muito comum em pacientes atendidos por médicos diferentes (diagnósticos imprecisos) ou pelo</p><p>mesmo médico, cujos atendimentos ocorreram em diferentes estágios de investigação das queixas, passando a adotar um CID mais</p><p>específico com o tempo.</p><p>Fonte: Lei nº 8.213/1991(Art. 60) e Decreto nº 3.048/1999 (Art. 75).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 46</p><p>• AUXÍLIO-ACIDENTE é um benefício de natureza indenizatória, cabível nos casos em que, após um afastamento inicial por algum</p><p>acidente, haja a redução permanente da capacidade para o trabalho, mediante comprovação pericial. Esse benefício é pago após a</p><p>pessoa ter alta do auxílio por incapacidade temporária e enquanto ela estiver trabalhando. Seu pagamento encerra-se nas seguintes</p><p>situações: aposentaria ou óbito. Ex.: trabalhador que sofreu amputação da perna, já foi operado e reabilitado, passou três meses afastados</p><p>por auxílio por incapacidade temporária e retornará ao trabalho com redução de capacidade, passando a receber mensalmente o auxílio-</p><p>acidente, que funciona como uma compensação indenizatória paga pelo INSS.</p><p>◦ Espécie 36 (Auxílio-acidente) - deferido quando houver redução permanente da capacidade para o trabalho e a sequela não tiver</p><p>sido decorrente do trabalho.</p><p>◦ Espécie 94 (Auxílio-acidente por acidente do trabalho) - deferido quando houver redução permanente da capacidade para o</p><p>trabalho e a sequela tiver sido decorrente do trabalho.</p><p>A pessoa pode receber o auxílio por incapacidade temporária e o auxílio-acidente ao mesmo tempo? Certamente que não,</p><p>pois o primeiro ele recebe enquanto estiver afastado do trabalho e o segundo ele passa a ter acesso somente após receber alta do</p><p>INSS, ou seja, quando está liberado para retornar ao trabalho e para de receber o auxílio por incapacidade temporária.</p><p>• SALÁRIO-MATERNIDADE, mais conhecido como licença</p><p>maternidade, é o benefício devido à segurada por ocasião de</p><p>nascimento ou adoção de criança. Existe o salário-maternidade</p><p>e o salário-maternidade rural, este último no caso de segurada</p><p>especial - as trabalhadoras rurais.</p><p>Atenção! O tema salário-maternidade também costuma ser</p><p>abordado no bloco de questões de Ginecologia e Obstetrícia!</p><p>A licença maternidade é de 120 dias, com início no período</p><p>entre 28 dias antes do parto e a data de ocorrência deste, estando</p><p>prevista na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e na Lei nº</p><p>8.213/1991. Portanto, a licença pode ser concedida a partir de 36</p><p>semanas de gestação, já que o período esperado de uma gestação</p><p>normal é de 40 semanas.</p><p>Pode haver prorrogação da licença maternidade por mais</p><p>60 dias, o que está previsto no Decreto nº 7.052, de 2009, que</p><p>dispõe sobre a criação do Programa Empresa Cidadã. Observe a</p><p>descrição do art. 1º do referido decreto:</p><p>Art. 1º Fica instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado a prorrogar por sessenta dias a duração da</p><p>licença-maternidade (...).</p><p>Atenção! Essa prorrogação está vinculada à adesão do empregador ao referido programa, por isso nem todas as trabalhadoras têm o</p><p>benefício da licença maternidade por seis meses (180 dias).</p><p>Leia a descrição do art. 392, da CLT, a seguir:</p><p>Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do</p><p>salário.</p><p>Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança ou adolescente será concedida</p><p>licença-maternidade (...)</p><p>§ 4o A licença-maternidade só será concedida mediante apresentação do termo judicial de guarda à adotante ou guardiã.</p><p>§ 5o A adoção ou guarda judicial conjunta ensejará a concessão de licença-maternidade a apenas um dos adotantes ou</p><p>guardiões do empregado ou empregada.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 47</p><p>Portanto, a licença maternidade é válida não só para a gestante, mas também para o pai ou para a mãe adotiva, independentemente</p><p>da idade da criança,</p><p>podendo haver apenas um beneficiado. Além disso, se a segurada ou o segurado que fizer jus ao recebimento do</p><p>salário-maternidade falecer, o benefício será pago, pelo tempo restante, ao cônjuge ou companheiro sobrevivente, que tenha a qualidade de</p><p>segurado, exceto se o filho falecer ou for abandonado.</p><p>O período da licença-maternidade deve ser computado normalmente para o efeito de férias, 13º salário e Fundo de Garantia de Tempo</p><p>de Serviço (FGTS).</p><p>Certo, mas, se a gravidez não prosseguir, há</p><p>algum afastamento?</p><p>Em caso de aborto não criminoso, a CLT e o Decreto nº 3.048/1999 preveem um repouso remunerado de duas</p><p>semanas mediante comprovação por atestado médico oficial.</p><p>Atenção! A Instrução Normativa nº 77/PRES/INSS, de 2015, explica que, no caso de parto, antecipado ou</p><p>não, ainda que ocorra parto de natimorto (este último comprovado mediante certidão de óbito), a segurada</p><p>terá direito aos 120 dias previstos em lei, sem necessidade de avaliação médico-pericial pelo INSS, mediante</p><p>apresentação da certidão de óbito. E o que seria esse parto para a lei? Seria o evento ocorrido a partir da 23ª</p><p>semana (sexto mês) de gestação, inclusive em caso de natimorto, conforme Instrução Normativa nº 45/PRES/</p><p>INSS, de 2010.</p><p>Em suma, teremos:</p><p>• Antes da 23ª semana: duas semanas de licença.</p><p>• A partir da 23ª semana: 120 dias de licença.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 48</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UFSC/SC/2020) Uma gestante chega à maternidade com um laudo ultrassonográfico de óbito fetal, mostrando uma biometria de 19 semanas.</p><p>A idade gestacional atual é de 23 semanas, baseada na data da última menstruação e em exame de ultrassonografia realizado no primeiro</p><p>trimestre. O feto nasce morto e macerado, pesando 410 gramas e medindo 26 cm. A paciente recebe alta assintomática e em bom estado,</p><p>tendo direito a:</p><p>A) Atestado médico de 15 dias.</p><p>B) Licença pós-aborto, remunerada de duas semanas e sem necessidade de avaliação pericial.</p><p>C) Licença médica definida por avaliação pericial, se o atestado for superior a 15 dias.</p><p>D) Licença remunerada por 60 dias, sem necessidade de avaliação pericial, uma vez que não vai amamentar.</p><p>E) Licença maternidade de 120 dias, sem necessidade de avaliação pericial.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O enunciado descreve o caso de um feto que nasceu morto após 23 semanas de gestação. Vimos que o prazo de afastamento da</p><p>gestante permanece de 120 dias para qualquer nascimento a partir da 23ª semana, mesmo se a criança falecer. Portanto, essa situação</p><p>está descrita na alternativa E. Não seria necessária a avaliação pericial? Não, para a gestante ter acesso ao salário-maternidade, basta ela</p><p>apresentar a certidão de óbito da criança. A alternativa A sugere um afastamento de 15 dias, mas a lei recomenda um afastamento de duas</p><p>semanas para os casos de aborto, apenas não criminoso, por isso a alternativa B também não está correta. Os afastamentos definidos por</p><p>avaliação pericial, após 15 dias, estão relacionados às incapacidades geradas a partir de doenças ou agravos, mas a paciente está assintomática</p><p>e em bom estado (incorreta a alternativa C). Por fim, não existe a previsão de 60 dias de salário-maternidade para qualquer caso de gestação</p><p>como está sendo sugerido na alternativa D.</p><p>Gabarito: alternativa E.</p><p>E no caso da amamentação, há algum direito?</p><p>Com certeza! Veja o artigo 396 da CLT:</p><p>“Art. 396. Para amamentar seu filho, inclusive se advindo de adoção, até que este complete 6 (seis)</p><p>meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais de meia</p><p>hora cada um.”</p><p>Os horários dos descansos devem ser definidos em um acordo individual entre a mulher e o empregador.</p><p>A lei prevê ainda que, se houver uma necessidade de saúde da criança, o período de seis meses poderá ser</p><p>aumentado a critério da autoridade competente.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 49</p><p>• APOSENTADORIAS</p><p>Todas as aposentadorias precisam cumprir um período de carência exigido, mas não vou detalhar, pois isso não costuma ser cobrado</p><p>em provas. Portanto, abordarei o tema de modo mais superficial e não citaremos todas as aposentadorias existentes.</p><p>• APOSENTADORIA PROGRAMADA (antiga aposentadoria por idade)</p><p>◦ Essa aposentadoria será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:</p><p>◦ se mulher, 62 anos de idade e 15 anos de tempo de contribuição;</p><p>◦ se homem, 65 anos de idade e 20 anos de tempo de contribuição.</p><p>• APOSENTADORIA PROGRAMADA DO PROFESSOR</p><p>◦ O professor deve comprovar, exclusivamente, tempo de efetivo exercício em função de magistério na educação infantil, no ensino</p><p>fundamental ou no ensino médio e cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:</p><p>◦ se mulher, 57 anos de idade e 25 anos de contribuição, em efetivo exercício na função;</p><p>◦ se homem, 60 anos de idade e 25 anos de contribuição, em efetivo exercício na função.</p><p>• APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL</p><p>◦ Para aqueles que trabalham, comprovadamente, em regime de economia familiar, quando completarem 55 anos de idade, se</p><p>mulher, e 60 anos de idade, se homem.</p><p>• APOSENTADORIA ESPECIAL</p><p>◦ É devida apenas a determinados segurados, desde que comprove o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos,</p><p>físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou a associação desses agentes, de forma permanente, não ocasional nem intermitente, vedada</p><p>a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15, 20 ou 25 anos, e que cumprir os seguintes requisitos:</p><p>◦ 55 anos de idade para atividade especial de 15 anos de contribuição;</p><p>◦ 58 anos de idade para atividade especial de 20 anos de contribuição;</p><p>◦ 60 anos de idade para atividade especial de 25 anos de contribuição.</p><p>◦ Não é necessário decorar, porque isso não costuma ser questionado.</p><p>• APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE (antiga aposentadoria por invalidez)</p><p>É o benefício devido ao segurado que se encontra incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de</p><p>atividade que lhe garanta a subsistência, sendo pago enquanto o segurado permanecer nessa condição. Essa incapacidade deve</p><p>ser constatada por meio de exame médico-pericial a cargo da Perícia Médica Federal. Ex.: trabalhador que sofreu um acidente de</p><p>trânsito e, mesmo após tratamento, persiste tetraplégico e com transtornos mentais associados, passará a receber a aposentadoria</p><p>por incapacidade permanente por não estar em condições de exercer outra atividade laboral.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 50</p><p>O REABILITADO PROFISSIONAL É UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA?</p><p>Antes de conceder a aposentadoria por incapacidade permanente, o INSS costuma avaliar se esses segurados têm condições</p><p>de serem reabilitados para trabalhar em outra função. Essa é uma forma de identificar e reaproveitar as potencialidades laborativas</p><p>da pessoa para não a excluir de imediato do mercado de trabalho e de sua função social.</p><p>No processo de reabilitação profissional, deve-se considerar: a educação escolar recebida e por receber; as expectativas</p><p>de promoção social; as possibilidades de emprego existentes para o caso; motivações, atitudes e preferências profissionais; e as</p><p>necessidades do mercado de trabalho.</p><p>A reabilitação profissional pelo INSS pode envolver cursos técnicos ou outras formas de difusão de conhecimentos teóricos e</p><p>práticos que podem ocorrer no INSS e na empresa.</p><p>Por exemplo, um jovem (faixa etária de 20 anos), operador de máquina, que sofreu amputação parcial em dedos da mão</p><p>direita, no processo de reabilitação externou seu gosto por computadores e foi reabilitado com sucesso pelo INSS para trabalhar no</p><p>setor de informática da empresa em que se acidentou.</p><p>Durante a fase de treinamento da reabilitação profissional, o INSS paga o salário do trabalhador.</p><p>Após conclusão e emissão</p><p>do certificado de reabilitação, o profissional é absorvido para trabalhar em nova função e a empresa reassume o pagamento de seu</p><p>salário. O trabalhador reabilitado pode ser considerado na contabilização das cotas de Pessoa com Deficiência (PCD) da empresa.</p><p>MUITA ATENÇÃO!</p><p>REABILITAÇÃO PROFISSIONAL é diferente de REABILITAÇÃO FÍSICA</p><p>A reabilitação física faz parte da assistência à saúde, sendo uma função do SUS, ou seja, ela</p><p>serve para melhorar a funcionalidade do organismo. Por exemplo, uma pessoa com uma</p><p>perna amputada faz fisioterapia para aprender a deambular com a prótese. Por outro lado, a</p><p>reabilitação profissional envolve o treinamento de uma pessoa para outra função no trabalho.</p><p>Esta última reabilitação está voltada para o indivíduo, que já foi reabilitado fisicamente, a</p><p>fim de verificar que atividade ele consegue desenvolver, considerando seu estado de saúde</p><p>limitado. Por exemplo, uma pessoa com uma perna amputada trabalhava como segurança</p><p>e foi reabilitada profissionalmente para trabalhar com informática. Portanto, o INSS não</p><p>executa a reabilitação física, mas sim a reabilitação profissional!</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 51</p><p>• PENSÃO POR MORTE é o benefício pago aos dependentes</p><p>quando o segurado falecer ou desaparecer (havendo morte</p><p>presumida declarada judicialmente). A duração do benefício</p><p>atende a regras específicas, variando com a idade do dependente</p><p>na data do óbito e com o tipo de beneficiário.</p><p>• AUXÍLIO-RECLUSÃO é o benefício pago aos dependentes do</p><p>segurado de baixa renda recolhido à prisão em regime fechado</p><p>que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo</p><p>de auxílio (por incapacidade temporária, de pensão por morte,</p><p>de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono de</p><p>permanência em serviço).</p><p>• SALÁRIO-FAMÍLIA é o benefício pago ao trabalhador</p><p>avulso e ao empregado de baixa renda, incluindo o trabalhador</p><p>doméstico, de acordo com o número de filhos ou de enteados</p><p>e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência</p><p>econômica dos dois últimos.</p><p>AUXÍLIO</p><p>POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA</p><p>PREVIDENCIÁRIO ACIDENTÁRIO</p><p>Relação da doença, lesão ou</p><p>acidente com o trabalho</p><p>Não há relação com o trabalho.</p><p>(ex.: apendicite)</p><p>Há relação com o trabalho.</p><p>(ex.: asbestose)</p><p>Estabilidade no emprego Não há</p><p>Por 12 meses a partir do retorno</p><p>ao trabalho, devendo-se reiniciar</p><p>a contagem se houver novo</p><p>afastamento</p><p>Necessidade de período de carên-</p><p>cia para ter direito ao benefício</p><p>Regra geral: carência mínima de 12</p><p>contribuições (vide observações*)</p><p>Isento</p><p>Categoria do trabalhador</p><p>Segurado obrigatório e facultativo</p><p>(exceto segurado recluso em regime fechado)</p><p>Tabela 4: Comparação entre o benefício auxílio por incapacidade temporária previdenciário e o auxílio por incapacidade temporária acidentário. Fonte: Ministério da</p><p>Economia. Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Artigo “Auxílio-doença: comum ou acidente de trabalho?”.</p><p>Ah, lembro que você mencionou sobre haver</p><p>implicações do nexo ocupacional para a empresa e</p><p>para o trabalhador, mas onde é que isso se encaixa?</p><p>Você entenderá quando ler o quadro a seguir</p><p>sobre as diferenças entre o auxílio por incapacidade</p><p>temporária previdenciário e o acidentário.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 52</p><p>* A regra geral de carência é de 12 contribuições. O segurado</p><p>especial deve comprovar 12 meses de atividade rurícola ou</p><p>pesqueira em regime de economia familiar de subsistência. Ficam</p><p>isentos de carência os casos de acidentes de qualquer natureza, as</p><p>doenças que tenham qualquer relação com o trabalho e algumas</p><p>moléstias graves listadas em ato regulamentar específico. O artigo</p><p>151 da Lei nº 8.213/1991 descreve que, independe de carência a</p><p>concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao</p><p>Então, percebeu que há mais vantagens para a</p><p>pessoa que for afastada por auxílio por</p><p>incapacidade temporária acidentário?</p><p>segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes</p><p>doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose</p><p>múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira, paralisia</p><p>irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,</p><p>espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado</p><p>da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência</p><p>imunológica adquirida (AIDS) ou contaminação por radiação, com</p><p>base em conclusão da medicina especializada.</p><p>Quando o agravo que gerou o afastamento tem relação com o trabalho, a empresa é obrigada a continuar recolhendo o FGTS durante</p><p>o período de afastamento, esse tempo de afastamento conta como tempo trabalhado para contabilização da aposentadoria, o trabalhador</p><p>passa a ter estabilidade na empresa e não há tempo de carência para recebimento do benefício.</p><p>E agora, ficou clara a importância da avaliação adequada do nexo ocupacional tanto para a empresa quanto para o trabalhador?</p><p>Portanto, não devemos concluir pela existência de nexo ocupacional quando não houver evidências que apontem para sua suspeita, bem</p><p>como não podemos ignorá-lo quando elas existirem.</p><p>Ai meu Deus, essa lista de benefícios</p><p>previdenciários é muito longa! Quais desses têm</p><p>maior chance de cair nas provas, professora?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 53</p><p>Os mais prováveis são o auxílio por incapacidade temporária (previdenciário ou acidentário), o auxílio-</p><p>acidente, o salário-maternidade (que pode aparecer também em questões do bloco de Obstetrícia) e as</p><p>aposentadorias por incapacidade permanente e especial. Se você não entendeu claramente e aprendeu sobre</p><p>esses benefícios, recomendo que volte e releia com atenção! Na verdade, provavelmente, eles são os que você</p><p>terá mais contato na prática médica.</p><p>Existem diversos outros benefícios assistenciais menos</p><p>propensos a cair nas provas. Todos os benefícios podem ser</p><p>encontrados com mais detalhes no site da Previdência Social</p><p>através do link , consultado em 19 de</p><p>fevereiro de 2021. Por já ter sido cobrado e para você não ser pego</p><p>de surpresa, vamos revisar apenas mais um desses benefícios!</p><p>• BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC): garantia de</p><p>um salário mínimo mensal à pessoa com baixa renda, seja idoso</p><p>ou pessoa com deficiência, em situações que serão detalhadas</p><p>adiante.</p><p>Os profissionais de saúde devem focar nos cuidados das</p><p>pessoas, envolvendo seu contexto social, portanto a abordagem do</p><p>médico deve ir além do tratamento e da prevenção de doenças.</p><p>Por essa razão, você precisa estar ciente dos benefícios que o</p><p>governo pode oferecer, assim pode orientar os pacientes sobre</p><p>as possibilidades disponíveis para cada caso, dentro do contexto</p><p>social, econômico e familiar.</p><p>É interessante que você conheça o Benefício de Prestação</p><p>Continuada, mais conhecido como BPC. Veja o quadro resumido a</p><p>seguir:</p><p>O que é o BPC? Quem tem direito? Como solicitar?</p><p>Benefício no valor de um salário</p><p>mínimo.</p><p>Ex.: o salário mínimo de 2020 foi</p><p>fixado em R$1.045,00.</p><p>Para ter direito ao BPC, todas as</p><p>condições abaixo devem ser aten-</p><p>didas:</p><p>ter deficiência (qualquer idade) ou</p><p>ser idoso com 65 anos ou mais;</p><p>apresentar impedimentos de longo</p><p>prazo*;</p><p>estar inscrito no Cadastro Único**;</p><p>ter renda familiar mensal inferior</p><p>a ¼ de salário mínimo vigente (por</p><p>pessoa).</p><p>Procurar o Centro de Referência</p><p>da Assistência Social (CRAS) mais</p><p>próximo e inscrever-se no Cadastro</p><p>Único.</p><p>Após cadastramento, agendar no</p><p>INSS através de: telefone (135) ou</p><p>site do INSS (www.previdencia.gov.</p><p>br).</p><p>Tabela 5: Informações mais importantes sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC).</p><p>*Os impedimentos de longo prazo devem ser de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, dificultando a participação e a interação desses indivíduos</p><p>na sociedade.</p><p>** O Cadastro Único detém informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza, utilizado pelo Governo Federal, estados e municípios</p><p>para implementação de políticas públicas, a exemplo do Programa Bolsa Família, Programa Minha Casa, Minha Vida, entre inúmeros outros. Para realizar a inscrição</p><p>nesse cadastro, deve-se receber até meio salário mínimo por pessoa ou até três salários mínimos de renda mensal total por família.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 54</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(HEA/AC/2019) Priscila, 32 anos, vem à consulta queixando-se de insônia, dor de cabeça leve, sensação de pressão no peito e palpitações há</p><p>2 semanas. Conta que tem estado muito nervosa desde que o seu marido perdeu o emprego há uns 15 dias. Eles têm uma filha, Júlia, de 8</p><p>anos, e um filho, Rodrigo, de 12 anos. O filho tem paralisia cerebral e é totalmente dependente de cuidados. Na parte da manhã, enquanto o</p><p>filho vai para a APAE e a filha está no colégio, ela passa roupa para fora e, com isso, ganha em torno de R$ 500,00 por mês. Além de abordar os</p><p>sintomas trazidos por Priscila, o MFC sugere que ela converse com o assistente social do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e comenta</p><p>que devido à condição de saúde de Rodrigo, seu filho tem direito à(ao):</p><p>A) Auxílio-doença;</p><p>B) Benefício de Prestação Continuada;</p><p>C) Aposentadoria por invalidez;</p><p>D) Aposentadoria especial.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Essa criança de 12 anos tem paralisia cerebral e enquadra-se nos critérios para requerimento do BPC, considerando-se seu contexto</p><p>familiar. Note que o BPC é direito de um deficiente que apresenta dificuldades para participar e interagir na sociedade. As demais alternativas</p><p>referem-se a benefícios cabíveis para os casos em que a pessoa trabalha e por alguma razão parou de trabalhar, seja de forma temporária ou</p><p>permanente.</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>Essa questão reforça que o profissional médico pode</p><p>ajudar bastante o paciente com uma simples informação, tendo</p><p>o potencial de atuar em problemas do âmbito familiar. Logo,</p><p>independentemente da escolha de sua especialidade, você poderá</p><p>deparar-se com alguns pacientes que não tenham conhecimentos</p><p>sobre direitos a benefícios previdenciários, que podem ser de</p><p>grande valia para melhorar os contextos socioeconômicos dos</p><p>pacientes e, consequentemente, facilitar o foco dessas pessoas nos</p><p>cuidados com a própria saúde.</p><p>Posso enumerar aqui, uma série de situações em que o</p><p>conhecimento acerca desses benefícios certamente vai amparar as</p><p>pessoas de alguma forma!</p><p>Pense naquela paciente grávida recém-desempregada,</p><p>que pode não saber que ainda mantém sua qualidade de</p><p>segurada para solicitar a licença maternidade.</p><p>Imagine aquele idoso que tem uma lesão de pele,</p><p>que não melhora por não ter dinheiro para se cuidar e poderia</p><p>requerer o BPC.</p><p>Visualize aquele trabalhador que se acidentou no</p><p>trabalho e, ao retornar do auxílio por incapacidade temporária</p><p>acidentário, foi demitido dentro do prazo de estabilidade.</p><p>Será que não vale a pena conhecer esses temas para ajudá-</p><p>los com mais informação? Certamente que vale! Esse é um dos</p><p>nossos papéis na medicina, além de ser uma forma de exercer</p><p>nossa cidadania e permitir aos pacientes que também exerçam a</p><p>deles.</p><p>Depois de todas essas informações, você é capaz de</p><p>responder a uma pergunta sobre uma das atribuições gerais da</p><p>Previdência Social?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 55</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(PSU/AL/2019) Constitui atribuição da Previdência Social por meio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS):</p><p>A) Assistência Farmacêutica</p><p>B) Pagamento de benefícios por incapacidade para o trabalho</p><p>C) Reabilitação física de vítimas de acidentes de trabalho</p><p>D) Pagamento de Adicional de Insalubridade</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Vimos que o Regime Geral da Previdência Social funciona de forma similar a um seguro, ou seja, para que a pessoa possa usufruir de</p><p>seus benefícios, é preciso ter a qualidade de segurado. Assim, uma das atribuições da Previdência Social é a concessão de benefícios aos</p><p>seus segurados, tais como os benefícios por incapacidade para o trabalho (ex.: auxílio por incapacidade temporária e aposentadoria por</p><p>incapacidade permanente). Vamos entender as demais alternativas? O INSS não distribui medicamentos (alternativa A). O pagamento dos</p><p>adicionais de insalubridade ou periculosidade cabe à empresa, não ao INSS (alternativa D). Por fim, cuidado para não confundir a reabilitação</p><p>física com a profissional, que é um dos papéis do INSS. Portanto, o INSS não executa a reabilitação física (alternativa C), mas sim a profissional.</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>2.1.3 ACIDENTE DO TRABALHO</p><p>O conceito legal de Acidente do Trabalho é a base para vários procedimentos trabalhistas e previdenciários que exigem a participação</p><p>do médico de qualquer especialidade. O Acidente de Trabalho está definido no artigo 19 da Lei no 8.213/1991 (que dispõe sobre os Planos de</p><p>Benefícios da Previdência Social), veja a seguir:</p><p>Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de</p><p>empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.</p><p>11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou</p><p>redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.</p><p>Não se preocupe, estou aqui para traduzir! Em suma, o</p><p>acidente de trabalho é todo acidente ocorrido no trabalho com</p><p>os seguintes profissionais: empregado (trabalhador formal – CLT),</p><p>empregado doméstico e segurado especial. Quem são os segurados</p><p>especiais? Já vimos que seriam os trabalhadores agropecuários/</p><p>rurais, seringueiros ou extrativistas vegetais em regime de</p><p>economia familiar, ou seja, não estão incluídos os grandes donos de</p><p>terra, sendo somente aquelas pessoas que trabalham para sustento</p><p>próprio ou familiar.</p><p>Além da descrição anterior, a Previdência Social também</p><p>considera como acidente de trabalho a doença profissional e a</p><p>doença do trabalho. Veja o trecho da Lei no 8.213/1991 a seguir:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 56</p><p>Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:</p><p>I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar</p><p>a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da</p><p>Previdência;</p><p>II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em</p><p>que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.</p><p>Já vimos a diferença entre doença profissional e doença do trabalho em conceitos gerais. Se não se recorda, sugiro revisar esses</p><p>conceitos pois caem nas provas. Ainda, no artigo 20 da mesma lei, também estão descritas as condições que não devem ser relacionadas ao</p><p>trabalho.</p><p>§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:</p><p>a) a doença degenerativa;</p><p>b) a inerente a grupo etário;</p><p>c) a que não produza incapacidade laborativa;</p><p>d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é</p><p>resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.</p><p>Essas condições são compreensíveis. Acompanhe</p><p>comigo! As doenças degenerativas e aquelas inerentes a</p><p>determinado grupo etário são condições de saúde já esperadas</p><p>em determinados grupo de pessoas. Assim, não faria sentido</p><p>enquadrar essas patologias como “doença do trabalho”. Como</p><p>exemplo podemos citar, a doença de Alzheimer ou a osteoporose</p><p>em idosos.</p><p>Ademais, a doença endêmica também não pode ser</p><p>considerada relacionada ao trabalho, a exemplo da febre</p><p>amarela</p><p>na região da Amazônia. Que tal entender melhor isso? A doença</p><p>endêmica é aquela que se manifesta com uma frequência</p><p>já conhecida em determinado local, ou seja, há um padrão</p><p>relativamente estável de casos já esperados naquela região.</p><p>Note ainda que as doenças que não produzem qualquer</p><p>incapacidade laborativa não devem ser consideradas no</p><p>conceito legal de acidente de trabalho. Em relação a esse tópico,</p><p>por favor, não confunda a ausência de incapacidade laborativa</p><p>com ausência de atestado médico. Os acidentes de trabalho</p><p>devem ser registrados mesmo na ausência de atestado médico,</p><p>como, por exemplo, aqueles com exposição a material biológico.</p><p>Lembre-se de que nesse exemplo citado haveria o risco de</p><p>contrair doenças infectocontagiosas!</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(IAMSPE/SP/2015) São caracterizadas como doenças do trabalho:</p><p>A) as doenças degenerativas.</p><p>B) as que produzem incapacidade para o trabalho.</p><p>C) as inerentes a grupo etário.</p><p>D) doenças adquiridas ou desencadeadas por condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente.</p><p>E) doenças endêmicas.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 57</p><p>COMENTÁRIO</p><p>(CEPOA/RJ/2020) As doenças do trabalho são caracterizadas por:</p><p>A) doenças adquiridas ou desencadeadas por condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente.</p><p>B) doenças endêmicas.</p><p>C) doenças inerentes a grupo etário.</p><p>D) doenças que produzem incapacidade para o trabalho.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A alternativa D está correta, pois refere-se ao conceito legal de “doença do trabalho” (inciso II, artigo 20, Lei no 8.213/1991). Lembre-se</p><p>de que: doenças degenerativas, que não produzem incapacidade para o trabalho, inerentes a grupo etário e doenças endêmicas não podem</p><p>ser consideradas como doença do trabalho. E a alternativa B? A questão é que o acidente de trabalho típico e a doença profissional também</p><p>produzem incapacidade para o trabalho, não sendo essa uma característica exclusiva da doença do trabalho.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>A alternativa A está correta, pois refere-se ao conceito legal de “doença do trabalho”, descrita como aquela “adquirida ou desencadeada</p><p>em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente (...)” (inciso II do artigo 20 da Lei no</p><p>8.213/1991). Por outro lado, as condições citadas nas alternativas B e C não se enquadram como acidente de trabalho. Ademais, o acidente</p><p>de trabalho típico e a doença profissional também produzem incapacidade para o trabalho, não sendo essa uma característica exclusiva da</p><p>doença do trabalho.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>Notou que as questões são muitos parecidas mesmo</p><p>sendo de provas e anos diferentes? Pois é! Elas foram escolhidas</p><p>propositadamente para provar a você que estudar por questões</p><p>vale a pena, pois os temas podem repetir-se de forma muito</p><p>similar!</p><p>E o acidente de trajeto? A Lei nº 8.213, de 1991, equipara</p><p>ao acidente de trabalho “o acidente sofrido pelo segurado, ainda</p><p>que fora do local e horário de trabalho, no percurso da residência</p><p>para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o</p><p>meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado”</p><p>(alínea d, inciso IV, art. 21). A Medida Provisória nº 905 (MP 905),</p><p>de 2019, havia revogado esse trecho e o acidente de trajeto havia</p><p>deixado de ser considerado como acidente de trabalho. Em 20 de</p><p>abril de 2020, a MP 955 revogou a MP 905. Em suma, temos hoje</p><p>que o acidente de trajeto voltou a ser considerado como acidente</p><p>de trabalho!</p><p>As Medidas Provisórias (MP ou MPV) são normas com força de lei editadas pelo Presidente da República em situações de</p><p>relevância e urgência. A MP ainda precisa tramitar no Congresso Nacional, podendo ser ou não ser convertida em lei. Logo, a MP</p><p>pode ser suspensa após votação no congresso.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 58</p><p>Aproveitei para resumir abaixo todas as situações que podem ou não ser enquadradas como acidente de trabalho, conforme previsão</p><p>na Lei nº 8.213, de 1991:</p><p>CONDIÇÕES EQUIPARADAS A ACIDENTE DE TRABALHO</p><p>• acidente típico;</p><p>• doença relacionada ao trabalho (doença profissional e doença do trabalho);</p><p>• o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte,</p><p>redução, perda da capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para recuperação;</p><p>• o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:</p><p>a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiros ou companheiros de trabalho;</p><p>b) ofensa física intencional, inclusive de terceiros, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;</p><p>c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiros ou de companheiros de trabalho;</p><p>d) ato de pessoa privada do uso da razão;</p><p>e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;</p><p>•a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;</p><p>•o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:</p><p>a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;</p><p>b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;</p><p>c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor</p><p>capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;</p><p>d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela.</p><p>CONDIÇÕES NÃO ENQUADRADAS COMO ACIDENTE DE TRABALHO</p><p>•doença degenerativa;</p><p>•doença inerente a grupo etário;</p><p>•doença que não produza incapacidade laborativa;</p><p>•doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é</p><p>resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.</p><p>Esquema 5: Lista de considerações que devem ou não ser equiparadas ao acidente de trabalho, conforme a Lei nº 8.213, de 1991.</p><p>Todas essas situações apontadas como equiparações ao acidente do trabalho são a base conceitual para a avaliação do nexo ocupacional</p><p>pelo perito do INSS, com a finalidade de concessão de benefícios relacionados ao trabalho, a exemplo da espécie 91 (auxílio por incapacidade</p><p>temporária acidentário) e 92 (aposentadoria por incapacidade permanente por acidente do trabalho) . Esse conceito legal previdenciário de</p><p>acidente do trabalho aplica-se à determinação dos casos que devem ser obrigatoriamente notificados pela empresa através da Comunicação</p><p>do Acidente de Trabalho (CAT). Entretanto, antes de falarmos sobre a notificação dos acidentes de trabalho, vamos entender quais são as</p><p>formas utilizadas pela Previdência Social para o estudo do nexo ocupacional.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 59</p><p>2.1.4 AVALIAÇÃO DE NEXO OCUPACIONAL PELA PERÍCIA DO INSS</p><p>Já vimos que, legalmente, o agravo somente pode estar relacionado ao trabalho quando estabelecemos o nexo entre ele e alguma</p><p>atividade laboral. E quais são as formas que o perito do INSS pode considerar para estudar a existência ou não de nexo entre o trabalho e o</p><p>agravo apresentado? A Instrução Normativa do INSS nº 31/2008 prevê três espécies de nexo técnico previdenciário, conforme você pode ler</p><p>no trecho a seguir:</p><p>Art. 3º O nexo técnico previdenciário poderá ser de natureza causal ou não, havendo três espécies:</p><p>I - nexo técnico profissional ou do trabalho, fundamentado nas associações entre patologias e exposições</p><p>constantes das listas A e B do anexo II do Decreto nº 3.048/99;</p><p>II - nexo técnico por doença equiparada a acidente de trabalho ou nexo técnico individual, decorrente</p><p>como PEA já foram ou seriam trabalhadores algum</p><p>dia, a exemplo de aposentados ou estudantes. Assim, é comum em</p><p>nossa prática diária, o atendimento de pacientes que são, foram ou</p><p>serão expostos a determinantes de saúde no trabalho.</p><p>A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua</p><p>(PNAB) do IBGE passou a adotar novos indicadores para a avaliação</p><p>da PEA, a exemplo da População na Força de Trabalho, que seria</p><p>o contingente de pessoas ocupadas (que trabalharam pelo menos</p><p>uma hora completa em trabalho remunerado ou sem remuneração</p><p>direta, incluindo as temporariamente afastadas) e desocupadas</p><p>(pessoas não ocupadas que efetivamente tomaram alguma</p><p>providência para conseguir um trabalho no período de referência</p><p>de 30 dias e que estavam disponíveis para iniciar um trabalho na</p><p>semana de referência). A PNAB do trimestre móvel de setembro</p><p>a novembro de 2020 estimou em 99,6 milhões de pessoas o</p><p>contingente na força de trabalho, sendo 85,6 milhões de ocupados</p><p>e 14 milhões de desocupados. Portanto, é muita gente que trabalha</p><p>ou busca trabalhar!</p><p>O trabalho influencia em nossa saúde? Certamente!</p><p>Em 2014, foi estimado pela Organização para a Cooperação e</p><p>Desenvolvimento Econômico (OCDE) que o brasileiro trabalha em</p><p>média 1.763 horas por ano, o que corresponde a cerca de 20% do</p><p>tempo total de vida de uma pessoa em um ano. Em 2019, o banco</p><p>de dados do Federal Reserve Economic Data (FRED) de St. Louis</p><p>considerou que a média anual dos brasileiros foi de 1.707 horas</p><p>de trabalho por ano. De tal modo, não podemos deixar de levar</p><p>em consideração o que pode estar ocorrendo com nosso paciente</p><p>no ambiente de trabalho durante a investigação clínica. Então, os</p><p>fatores de risco no trabalho podem ajudar na investigação de sinais</p><p>e sintomas? Sem dúvidas! Os fatores de risco relacionados ao</p><p>trabalho podem interferir em todo o organismo humano, inclusive</p><p>mentalmente. Não é à toa que a Síndrome de Burnout atualmente</p><p>é reconhecida como uma enfermidade ligada ao trabalho!</p><p>Portanto, vamos com tudo conhecer o incrível mundo da</p><p>Saúde do Trabalhador. Vejo você na próxima página!</p><p>BASES DE SAÚDE DO TRABALHADOR</p><p>Na primeira metade do século XIX, uma nova especialidade</p><p>médica surgia na Inglaterra: a Medicina do Trabalho. Esse campo</p><p>de atuação nasceu da crescente demanda originada em meio</p><p>à Revolução Industrial, quando a subordinação das pessoas</p><p>a processos de trabalho e de produção acelerados chegava a</p><p>condições extremamente adversas e, muitas vezes, desumanas.</p><p>Sobre esse tema, René Mendes, autor do Tratado de Patologia</p><p>do Trabalho e destaque brasileiro na Saúde do Trabalhador, e</p><p>Elizabeth Costa Dias, Doutora em Saúde Ocupacional, alertam</p><p>para a diferença existente na evolução das práticas e dos conceitos</p><p>aplicados aos seguintes termos: Medicina do Trabalho, Saúde</p><p>Ocupacional e Saúde do Trabalhador.</p><p>Com a Revolução Industrial, percebeu-se a necessidade de</p><p>uma intervenção voltada à adaptação física e mental do indivíduo</p><p>ao trabalho, evitando o comprometimento não somente da</p><p>saúde do trabalhador, devido à atividade intensa e extenuante,</p><p>mas também visando o processo produtivo em si, que se</p><p>tornaria inviável sem a mão-de-obra. Sendo assim, a Medicina</p><p>do Trabalho emerge a partir de algumas noções distorcidas,</p><p>focadas na promoção da produtividade, com ações direcionadas</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 8</p><p>à adaptação do trabalhador ao trabalho, à manutenção da saúde</p><p>do trabalhador no âmbito do trabalho, à escolha de trabalhadores</p><p>saudáveis, entre outras. Não é à toa que o Taylorismo e o Fordismo</p><p>encontraram na Medicina do Trabalho uma aliada para reforçar</p><p>seu objetivo principal: o aumento da produtividade. Assim, ela</p><p>foi constituída, essencialmente, para ser uma atividade médica</p><p>desenvolvida nos locais de trabalho, firmada no mecanicismo e</p><p>na teoria da unicausalidade.</p><p>TAYLORISMO E FORDISMO</p><p>Taylorismo e Fordismo são teorias administrativas</p><p>idealizadas com o objetivo principal de racionalizar o trabalho,</p><p>a fim de aumentar a produtividade.</p><p>A primeira, criada por Frederick Winslow Taylor, pregava a</p><p>fragmentação do trabalho em tarefas específicas, na tentativa</p><p>de reduzir movimentações dispensáveis. Ele acreditava</p><p>que, assim, otimizaria o tempo de produção, aumentando</p><p>a produtividade, além de diminuir o tempo necessário de</p><p>aprendizado. Nesse sentido, Taylor sugeriu a divisão das</p><p>atividades em movimentos individuais cronometrados e</p><p>instituiu a remuneração a partir da produtividade individual.</p><p>Por outro lado, o Fordismo surgiu em 1908, concebido</p><p>por Henry Ford. A partir desse modelo, passou-se a utilizar</p><p>a esteira rolante, que promoveu um ritmo de trabalho mais</p><p>dinâmico, por meio de linhas de produção. Ford também</p><p>defendia a padronização da fabricação e a segmentação</p><p>do trabalho em pequenas tarefas, afirmando que, se cada</p><p>trabalhador operasse em uma etapa específica do processo, a</p><p>produção em massa poderia ser atingida.</p><p>Para esses dois modelos, a necessidade de aumento</p><p>da produtividade era imperativa, o que reforçava a visão</p><p>mecanicista da Medicina do Trabalho.</p><p>De acordo com essa visão mecanicista, a doença era</p><p>considerada um distúrbio de algum componente da “máquina</p><p>humana”, que poderia ser “consertado” através da Medicina,</p><p>ou seja, um profissional médico, que conhecesse as leis de</p><p>operação dessa máquina, poderia repará-la. Perceba que</p><p>essa visão mecanicista transforma o paciente em um objeto</p><p>a ser manipulado e o médico atua como peça central, único</p><p>responsável pela preservação da saúde dos trabalhadores.</p><p>Naturalmente, esse modelo solitário e mecanicista da medicina</p><p>não funcionava de forma adequada.</p><p>Surge, então, a percepção da Saúde Ocupacional,</p><p>no sentido de enfatizar a importância da multi e da</p><p>interdisciplinaridade, passando a integrar as organizações sob</p><p>a forma de equipes multiprofissionais, com destaque para a</p><p>higiene ocupacional. Nesse período, o mundo sustentava a</p><p>teoria da multicausalidade no processo saúde-doença, que</p><p>preconizava o ser humano como "hospedeiro" de fatores de</p><p>risco que contribuem para seu adoecimento e morte. Por</p><p>isso, a estratégia de atuação passa a incluir a intervenção</p><p>nos ambientes de trabalho e o controle dos fatores de risco</p><p>ocupacionais, por meio de uma abordagem multiprofissional.</p><p>Em outras palavras, percebe-se que a saúde ambiental</p><p>também contribui para a saúde individual, demandando a</p><p>atenção de profissionais de formações técnicas diferentes</p><p>(ex.: engenheiros) e necessitando de interferência. Essa</p><p>atuação mais ampliada remete a uma evolução de conceito</p><p>e função. Entretanto, o modelo da Saúde Ocupacional</p><p>mantinha ainda a Medicina do Trabalho referenciada no</p><p>mecanicismo, o trabalhador continuava sendo visto como</p><p>objeto e as equipes, apesar de serem constituídas por</p><p>vários profissionais, atuavam de forma desarticulada.</p><p>A partir da segunda metade da década de 1960, a</p><p>Saúde Ocupacional passa a ser reconhecida como um modelo</p><p>insuficiente e dá espaço ao que chamamos de Saúde do</p><p>Trabalhador. Movimentos sociais passam a questionar o real</p><p>significado do trabalho na vida das pessoas e da sociedade.</p><p>Em meio a discussões de práticas alternativas, desponta a</p><p>teoria da determinação social do processo saúde-doença,</p><p>defendendo a participação do trabalho na organização da vida</p><p>social e questionando, ainda mais, os modelos da Medicina do</p><p>Trabalho e da Saúde Ocupacional.</p><p>Dentro desse processo social de discussão, os</p><p>trabalhadores passam a expor suas desconfianças em relação</p><p>aos procedimentos técnicos e éticos dos profissionais dos</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 9</p><p>CAI NA PROVA</p><p>serviços de Saúde Ocupacional. Além disso, denunciam o modo</p><p>como alguns exames médicos pré-admissionais e periódicos</p><p>de</p><p>acidentes de trabalho típicos ou de trajeto, bem como de condições especiais em que o trabalho é realizado e</p><p>com ele relacionado diretamente, nos termos do § 2º do art. 20 da Lei nº 8.213/91;</p><p>III - nexo técnico epidemiológico previdenciário, aplicável quando houver significância estatística da associação</p><p>entre o código da Classificação Internacional de Doenças-CID, e o da Classificação Nacional de Atividade</p><p>Econômica-CNAE, na parte inserida pelo Decreto nº 6.042/07, na lista B do anexo II do Decreto nº 3.048/99.</p><p>Então, você poderia pensar: “Professora, achei o</p><p>texto normativo muito confuso” Dá para explicar</p><p>melhor?”</p><p>Concordo com você, esses textos costumam usar termos que</p><p>não estamos acostumados. Nem se preocupe que explicaremos</p><p>melhor cada um desses nexos a seguir!</p><p>O Nexo técnico profissional ou do trabalho considera as</p><p>associações descritas nas listas A e B (Decreto nº 3.048/1999). E</p><p>o que é essa lista A e B? A lista A, enumera os riscos ocupacionais</p><p>na primeira coluna e expõe ao lado suas respectivas doenças</p><p>relacionadas. Por outro lado, a lista B descreve as doenças na</p><p>primeira coluna e correlaciona seus respectivos agentes causadores</p><p>ao lado. Assim, se o trabalhador desenvolver determinada doença,</p><p>você terá que avaliar se ele está exposto a algum dos agentes</p><p>listados que são responsáveis por aquela doença. Por exemplo,</p><p>a neoplasia maligna do estômago está relacionada à exposição</p><p>ao asbesto ou amianto na lista B. Assim, eu consigo fazer o nexo</p><p>técnico profissional do câncer de estômago com o trabalhador</p><p>exposto ao amianto.</p><p>Segue abaixo o exemplo de uma linha de cada uma das</p><p>listas extraídas do Anexo II do Decreto nº 3.048/1999, apenas para</p><p>melhor entendimento:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 60</p><p>EXEMPLO DE UM AGENTE CONSTANTE NA LISTA A AGENTES OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL RELACIONADOS</p><p>COM A ETIOLOGIA DE DOENÇAS PROFISSIONAIS E DE OUTRAS DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO</p><p>AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE</p><p>RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL</p><p>DOENÇAS CAUSALMENTE RELACIONADAS COM OS RESPECTIVOS</p><p>AGENTES OU FATORES DE RISCO (DENOMINADAS E CODIFICADAS</p><p>SEGUNDO A CID-10)</p><p>I - Asbesto ou Amianto</p><p>1. Neoplasia maligna do estômago (C16.-)</p><p>2. Neoplasia maligna da laringe (C32.-)</p><p>3. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C34.-)</p><p>4. Mesotelioma da pleura (C45.0)</p><p>5. Mesotelioma do peritônio (C45.1)</p><p>6. Mesotelioma do pericárdio (C45.2)</p><p>7. Placas epicárdicas ou pericárdicas (I34.8)</p><p>8. Asbestose (J60.-)</p><p>9. Derrame Pleural (J90.-)</p><p>10. Placas Pleurais (J92.-)</p><p>EXEMPLO DE UMA DOENÇA CONSTANTE NA LISTA B</p><p>DOENÇAS</p><p>AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA</p><p>OCUPACIONAL</p><p>XI - Leucemias (C91-C95.-)</p><p>1. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)</p><p>2. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)</p><p>3. Óxido de etileno (X49.-; Z57.5)</p><p>4. Agentes antineoplásicos (X49.-; Z57.5)</p><p>5. Campos eletromagnéticos (W90.-; Z57.5)</p><p>6. 6. Agrotóxicos clorados (Clordane e Heptaclor) (X48.-; Z57.4)</p><p>Tabela 6: Trechos das Listas A e B trazendo apenas uma linha de cada tabela original como forma demonstrativa (Anexo II do Decreto nº 3.048/1999).</p><p>No Nexo técnico por doença equiparada a acidente de</p><p>trabalho ou nexo técnico individual, o médico perito avalia se a</p><p>lesão ou doença é decorrente de acidentes de trabalho típicos</p><p>(ex.: fratura após queda de andaime), acidente de trajeto (ex.:</p><p>atropelamento no caminho da casa para o trabalho) ou condições</p><p>em que o trabalho é desenvolvido (ex.: pessoa que trabalha com</p><p>os braços elevados acima do ombro e desenvolve tendinite nos</p><p>ombros). Portanto, o perito do INSS avalia individualmente as</p><p>características do caso para definir o enquadramento em uma</p><p>dessas três descrições legais de acidente de trabalho.</p><p>Além do nexo ocupacional individual e da consulta das listas</p><p>A e B, a Previdência Social passou a adotar uma ferramenta auxiliar</p><p>adicional para essa tarefa de estabelecimento de nexo, conhecida</p><p>como Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP.</p><p>Como seria a avaliação desse nexo? Através do cruzamento de</p><p>informações entre a Classificação Internacional de Doenças (CID-</p><p>10) e a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) das</p><p>empresas, o NTEP avalia os dados científicos e epidemiológicos</p><p>para concluir se há ou não relação entre os agravos e determinadas</p><p>atividades no trabalho.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 61</p><p>Qual é a diferença entre a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) e a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)?</p><p>A Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) categoriza as empresas em grupos de atividades econômicas. Por</p><p>outro lado, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) categoriza as profissões. Em suma, a CNAE está voltada para a classificação</p><p>das empresas e a CBO, dos trabalhadores. Vamos a um exemplo bem desproposital:</p><p>O “Mestre Cervejeiro” (CBO 8401-10) é um cargo que trabalha em empresas de “fabricação de malte, cervejas e chopes”</p><p>(CNAE 11.13-5).</p><p>Guarde essa ideia para comemorar sua aprovação em um momento posterior!</p><p>O NTEP foi criado para tentar corrigir a subnotificação</p><p>de acidentes de trabalho pelos empregadores, sugerindo a</p><p>associação automática de determinados casos e aumentando</p><p>a sensibilidade da detecção desses acidentes. Assim que foi</p><p>implantado, houve um aumento significativo nos registros de</p><p>benefícios relacionados ao trabalho. Entretanto, uma vez que</p><p>o NTEP traz uma relação estatístico-epidemiológica de dados</p><p>coletivos, é possível que a relação sugerida por esse sistema</p><p>não seja aplicável em alguns casos, quando os avaliarmos</p><p>individualmente. Assim, o perito do INSS pode aceitar o nexo</p><p>sugerido pelo NTEP ou discordar dele, mediante uma justificativa.</p><p>Mais um exemplo, preste atenção!</p><p>Seu José desenvolveu uma hérnia de disco lombar e foi afastado pelo INSS. Na avaliação entre o código da CID M51.1</p><p>(transtornos de discos lombares e de outros discos intervertebrais com radiculopatia) e o da CNAE 0500-3/01 (extração</p><p>de carvão mineral) da empresa, o NTEP apontou que havia uma relação estatístico-epidemiológica entre a doença e a</p><p>atividade econômica da empresa. Quando o perito foi avaliar individualmente o caso, constatou que Seu José entrou</p><p>nessa empresa há apenas três dias e ainda estava na fase de treinamento teórico, o que, com certeza, não oferecia risco ergonômico.</p><p>Segundo o trabalhador, a crise dolorosa lombar aconteceu depois de um golpe sofrido durante uma aula de judô. Bingo! O perito não</p><p>acatou o NTEP sugerido pelo sistema e concluiu que a hérnia de disco lombar não tinha relação com o trabalho.</p><p>Assim, o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) foi recusado por não haver nexo ocupacional.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 62</p><p>Se o perito do INSS aceitar o NTEP sugerido ou estabelecer</p><p>o nexo ocupacional por outros motivos verificados na perícia, o</p><p>INSS libera os benefícios acidentários que couber ao trabalhador</p><p>e a empresa precisará pagar o FGTS enquanto o trabalhador</p><p>estiver afastado, além de ser obrigada a manter o trabalhador por</p><p>um ano após a data de seu retorno (estabilidade). O empregador</p><p>poderá ainda ser processado na justiça trabalhista, estando</p><p>sujeito ao pagamento de indenização por ter acarretado doença</p><p>NEXO TÉCNICO PROFISSIONAL OU DO TRABALHO</p><p>• considera se a doença apresentada e o histórico de exposição existem nas listas A e B, como causa e</p><p>consequência.</p><p>Ex.: O perito do INSS avalia trabalhador com mesotelioma da pleura exposto ao amianto. Na lista A, o amianto</p><p>tem relação com esta patologia e o nexo é estabelecido</p><p>NEXO TÉCNICO INDIVIDUAL</p><p>• Avaliação individual do trabalhador e todas as nuances do caso (documentos da empresa, carteira de trabalho, história</p><p>ocupacional, exames, etc.).</p><p>Ex.:</p><p>O perito do INSS avalia trabalhador com Síndrome do Túnel do Carpo (exames e relatórios demonstraram o diagnóstico), o</p><p>exame físico é positivo para a patologia e ele trabalha como escriturário há 25 anos (comprovado através de documentos). O médico</p><p>estuda o caso individualmente e estabelece o nexo.</p><p>NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO PREVIDENCIÁRIO</p><p>• O perito do INSS considera se há associação estatística entre o CID (doença) apresentado e a CNAE da</p><p>empresa que a pessoa trabalha.</p><p>Ex.: O perito avalia um trabalhador com hérnia de disco lombar que trabalha em empresa de mineração</p><p>de carvão. Na avaliação entre o código da CID M51.1 (Transtornos de discos lombares e de outros discos</p><p>intervertebrais com radiculopatia) e o da CNAE 0500-3/01 (Extração de carvão mineral) da empresa, o NTEP</p><p>apontou que havia uma relação estatístico-epidemiológica entre a doença e a atividade econômica da empresa,</p><p>sendo estabelecido o nexo epidemiológico pelo NTEP.</p><p>Esquema 6: Exemplos de aplicação de cada um dos tipos de estudo de nexo técnico da Previdência Social.</p><p>ou lesão ao trabalhador. Por esse motivo, o empregador também</p><p>dispõe de um prazo para poder contestar a decisão pericial do</p><p>INSS, o que deverá ser feito juntamente à agência do INSS em</p><p>que ocorreu a perícia. Diante do exposto, mais uma vez fica clara</p><p>a responsabilidade dos médicos ao decidir pelo estabelecimento</p><p>de um nexo ocupacional.</p><p>Vamos resumir na prática, as três espécies de nexo técnico</p><p>previdenciário:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 63</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(PSU/AL/2018) Constitui mecanismo utilizado pela Previdência Social para reconhecimento e registro de acidentes e doenças relacionadas</p><p>ao trabalho o:</p><p>A) Nexo Técnico Individual.</p><p>B) Nexo Técnico Judicial.</p><p>C) Nexo Técnico Regressivo.</p><p>D) Nexo Técnico Trabalhista.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A primeira alternativa é a única que contempla uma das três espécies de nexo técnico previdenciário, são elas: (1) Nexo técnico</p><p>profissional ou do trabalho; (2) Nexo técnico individual ou por doença equiparada a acidente de trabalho; e (3) Nexo técnico epidemiológico</p><p>previdenciário.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>(PSU/MG/2019) Com relação aos mecanismos utilizados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para reconhecer e registrar doenças</p><p>relacionadas ao trabalho, assinale a afirmativa CORRETA:</p><p>A) O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário está fundamentado na identificação da significância estatística da associação entre o</p><p>código da CID 10 e o da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).</p><p>B) O Nexo Técnico Individual é considerado pelo médico perito por meio da verificação da Comunicação de Acidente do Trabalho.</p><p>C) C) O Nexo Técnico Profissional está fundamentado nas associações entre patologias e a Classificação Nacional de Atividade Econômica</p><p>(CNAE).</p><p>D) O Nexo Técnico Regressivo fundamenta-se nas médias históricas de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho registrados pela</p><p>empresa.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Essa questão foi anulada, pois todas as alternativas estão erradas. O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário seria a avaliação entre</p><p>os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), não envolvendo a</p><p>Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) como sugere a alternativa A. A alternativa B sugere a necessidade de CAT para avaliação do Nexo</p><p>Técnico Individual, mas o perito do INSS precisa somente considerar as informações individuais do caso estudado, independentemente de</p><p>haver CAT. O Nexo Técnico Profissional avalia as associações constantes das listas A e B do Decreto nº 3.048/1999, não considerando a relação</p><p>entre as patologias e a CNAE conforme sugerido na alternativa C. Por fim, a alternativa D estaria incorreta porque não há descrição de “Nexo</p><p>Técnico Regressivo” na Instrução Normativa do INSS nº 31/2008.</p><p>Questão sem Resposta.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 64</p><p>2.1.5 NOTIFICAÇÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR</p><p>Na ocorrência de um acidente de trabalho, há obrigação da notificação da ocorrência para as autoridades responsáveis. Existem duas</p><p>formas de notificação desse evento: Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).</p><p>A CAT está prevista no artigo 22 da Lei no 8.213/1991, conforme o trecho a seguir:</p><p>Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social</p><p>até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente,</p><p>sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente</p><p>aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social.</p><p>§ 1º Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado ou seus dependentes, bem</p><p>como o sindicato a que corresponda a sua categoria.</p><p>§ 2º Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes,</p><p>a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo</p><p>nestes casos o prazo previsto neste artigo.</p><p>§ 3º A comunicação a que se refere o § 2º não exime a empresa de responsabilidade pela falta do cumprimento</p><p>do disposto neste artigo.</p><p>§ 4º Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a cobrança, pela Previdência</p><p>Social, das multas previstas neste artigo. (...)</p><p>Não se preocupe, farei um apanhado geral entre CAT e SINAN para que você possa entender quais são os pontos relevantes na leitura</p><p>do artigo citado.</p><p>A CAT envolve a notificação somente de acidentes de trabalho no caso de empregado, empregado doméstico ou segurado especial.</p><p>Observe a seguir o modelo da CAT fornecido pela Previdência Social.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 65</p><p>Figura 12: Modelo oficial da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT). Fonte: Previdência Social. Disponível em: . Acesso em: 24 de jan. de 2021.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 66</p><p>Por outro lado, a notificação no SINAN não depende do</p><p>tipo de inserção do trabalhador no mercado de trabalho, ou seja,</p><p>a notificação envolve os trabalhadores do mercado formal e</p><p>informal, urbano e rural.</p><p>O SINAN é constituído por dados gerados a partir das</p><p>notificações das situações descritas na Lista Nacional de Notificação</p><p>Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos</p><p>serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional,</p><p>constante no anexo 1 do anexo V da Portaria de Consolidação</p><p>nº 4, de 2017. Por que pesquisar nessa portaria de consolidação</p><p>especificamente? Por ela contemplar a lista advinda originalmente</p><p>da Portaria GM/MS nº 204, de 2016, sendo alterada e atualizada</p><p>por portarias publicadas posteriormente.</p><p>Em relação às ocorrências relacionadas ao trabalho, estão</p><p>previstas as notificações das situações a seguir:</p><p>• acidente de trabalho com exposição a material biológico –</p><p>periodicidade de notificação semanal.</p><p>• Até março de 2023, notificávamos acidentes de trabalho</p><p>graves, fatais, em crianças ou adolescentes. Porém, houve uma</p><p>atualização da lista nacional de notificação compulsória e agora</p><p>qualquer acidente de trabalho deve ser notificado, com exigência</p><p>de notificação imediata (até 24 horas). O acidente de trabalho</p><p>com exposição a material biológico permaneceu com notificação</p><p>de periodicidade semanal, conforme vimos acima.</p><p>Além disso, o anexo da Portaria GM/MS nº 205, de 2016,</p><p>define a lista nacional de doenças e agravos a serem monitorados</p><p>por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas. De</p><p>acordo com essa lista, as doenças que devem ser notificadas para</p><p>fins de Vigilância em Saúde do Trabalhador são as seguintes:</p><p>1. Câncer relacionado ao trabalho;</p><p>2. Dermatoses ocupacionais;</p><p>3. Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomuscu-</p><p>lares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT);</p><p>4. Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR – relacionada ao</p><p>trabalho;</p><p>5. Pneumoconioses;</p><p>6. Transtornos mentais relacionados ao trabalho.</p><p>Ambas as portarias citadas referem-se ao registro pelos</p><p>profissionais de saúde para todos os agravos previstos em listas</p><p>específicas. Além da lista nacional contemplada nessas portarias,</p><p>cada município ou estado também pode adicionar algum agravo</p><p>que achar pertinente para a realidade de sua região.</p><p>Você precisa saber quais são as doenças de notificação compulsória! As situações previstas na Lista Nacional de</p><p>Notificação Compulsória são mais fáceis porque você só precisa decorar dois pontos: exposição a material biológico e</p><p>acidente grave. Associe o termo “acidente grave” àqueles graves propriamente ditos, aos fatais (que obviamente são</p><p>gravíssimos) e aos acidentes em crianças e adolescentes, pela gravidade de indivíduos nessa faixa etária trabalharem e</p><p>terem sua saúde comprometida pelo labor!</p><p>E a Portaria GM/MS nº 205/2016 que trata da Lista da Estratégia de Vigilância Sentinela? Lembre-se dessa situação:</p><p>Um trabalhador (motorista de aplicativo) teve todos os</p><p>pneus roubados. Ele coloca as mãos na cabeça e pensa: “CA-</p><p>DÊ? PERDI MEus PNEUs? É OSSO!”</p><p>• CA: Câncer relacionado ao trabalho;</p><p>• DÊ: Dermatoses ocupacionais;</p><p>• ERDI: Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR –</p><p>relacionada ao trabalho;</p><p>• MEus: Transtornos mentais relacionados ao trabalho;</p><p>• PNEUs: Pneumoconioses;</p><p>• OSSO: Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios</p><p>Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Figura 13: ilustração de pneus roubados com adaptação de diálogo. Fonte:</p><p>Shutterstock/ Artista: vectorlab2D.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 67</p><p>Vou colocar todas essas notificações juntas em um mesmo esquema resumido, para que você possa compreender melhor as</p><p>semelhanças e as diferenças entre elas?</p><p>CAT SINAN</p><p>Quem emite?</p><p>Obrigatória ao empregador (empresa) ou</p><p>ao empregador doméstico</p><p>Caso o empregador não emita, ou se o aci-</p><p>dentado for um segurado especial, podem</p><p>emitir: o próprio acidentado, seus depen-</p><p>dentes, o sindicato, o médico que o assistiu</p><p>ou qualquer autoridade pública.</p><p>Obrigatória a qualquer profissional de</p><p>saúde e responsáveis pelos estabelecimen-</p><p>tos de saúde.*</p><p>Qual é o prazo e</p><p>para quem se deve</p><p>comunicar?</p><p>Até o primeiro dia útil seguinte ao da ocor-</p><p>rência e, em caso de morte, de imediato,</p><p>para a Previdência Social.</p><p>•Acidente de trabalho com material bi-</p><p>ológico (semanal).</p><p>•Acidente de trabalho grave ou fatal ou em</p><p>crianças e adolescentes (imediata em até</p><p>24h).</p><p>Notificar para a Vigilância</p><p>Epidemiológica.**</p><p>Para que categoria</p><p>de acidentados?</p><p>Somente para empregado ou empregado</p><p>doméstico ou segurado especial.</p><p>Qualquer trabalhador formal ou informal</p><p>(incluindo os autônomos).</p><p>Que especialidade</p><p>médica pode</p><p>preencher?</p><p>Qualquer especialidade médica.</p><p>Cuidado! Não somente o médico do trabalho</p><p>preenche a parte médica. (pegadinha comum em</p><p>prova)</p><p>Qualquer especialidade médica.</p><p>Atenção! Não é somente o médico que notifica, mas</p><p>qualquer profissional de saúde e até cidadão!</p><p>(pegadinha comum em prova)</p><p>Tabela 7: Comparação entre as notificações em Saúde do Trabalhador envolvendo a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e Sistema de Informação de Agravos de</p><p>Notificação (SINAN).</p><p>*De acordo com a Portaria de Consolidação nº 4/2017, a notificação compulsória é obrigatória para os médicos, outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos</p><p>serviços públicos e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente, podendo também ser realizada pelos responsáveis por estabelecimentos públicos ou</p><p>privados educacionais, de cuidado coletivo, além de serviços de hemoterapia, unidades laboratoriais e instituições de pesquisa ou por qualquer cidadão que deles tenha</p><p>conhecimento.</p><p>**Para essas ocorrências específicas, a orientação da Portaria de Consolidação nº 4/2017 é que seja realizada para a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 68</p><p>(SUS/SP/2021) Um assalto em uma mansão deixa dois seguranças com ferimento por arma de fogo. Um deles tem vínculo empregatício com</p><p>uma empresa, e o outro fazia bico no dia. Ambos são internados e sofrem cirurgia. Diante do exposto, assinale a alternativa correta.</p><p>A) Apenas o trabalhador com vínculo empregatício deve ter o caso notificado ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).</p><p>B) Nenhum dos casos deve ser notificado ao SUS, pois trata-se de casos de notificação apenas à Previdência Social.</p><p>C) Ambos os casos devem ser notificados ao SINAN, como acidentes de trabalho graves.</p><p>D) Os casos podem ser notificados ao SINAN, se houver comprovação de condição precária de trabalho.</p><p>E) Os casos devem ser notificados ao SUS como violência interpessoal.</p><p>Perceba nas questões abaixo que esse quadro precisa estar muito bem compreendido e fixado na sua mente.</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UNIRIO/RJ/2019) Pode-se afirmar sobre a comunicação de acidente de trabalho:</p><p>A) Sua emissão constitui obrigação do empregador.</p><p>B) Apenas o médico do trabalho pode preencher os dados médicos da CAT.</p><p>C) Sua emissão garante acesso às ações de saúde destinadas aos trabalhadores no SUS.</p><p>D) Sua emissão garante estabilidade no emprego por 24 meses.</p><p>E) Sua emissão não garante estabilidade de emprego.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A emissão da CAT é obrigação do empregador, seja empresa ou empregador doméstico, conforme descrito na alternativa A. Vamos</p><p>às demais alternativas: (B) não é só o médico do trabalho quem pode preencher a CAT, mas sim qualquer médico; (C) não é preciso ter CAT</p><p>para ter acesso às ações do SUS; (D e E) a CAT pode possibilitar estabilidade de 12 meses se houver afastamento por auxílio por incapacidade</p><p>temporária acidentário (B91) – benefício fornecido para os afastamentos resultantes de agravos relacionados ao trabalho.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O caso descreve um acidente de trabalho grave que aconteceu com dois seguranças, um deles é um trabalhador formal (carteira</p><p>assinada) e o outro informal. As alternativas trazem somente a opção de notificação no SINAN. Como ambos os acidentes foram graves, os</p><p>dois casos devem ser notificados ao SINAN. Essa notificação independe de haver comprovação de vínculo formal ou de condições precárias</p><p>de trabalho. A notificação citada na alternativa B para a Previdência Social seria a CAT, mas a notificação através da CAT não impede que seja</p><p>realizada a notificação no SINAN.</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 69</p><p>(UNICAMP/SP/2020) Homem, 43a, trabalhador autônomo há 10 anos. Procura atendimento médico com queixa de dor lombar há dois meses,</p><p>de início súbito, após levantar uma peça de 35 kg no trabalho. Não conseguiu trabalhar durante esse período devido à dor. Exame físico:</p><p>contratura paravertebral à direita; sinal de Lasègue: positivo membro inferior direito. DO PONTO DE VISTA DE DIREITOS DO TRABALHADOR</p><p>VOCÊ DEVE:</p><p>A) Solicitar abertura de CAT e fazer relatório médico para auxílio acidente.</p><p>B) Solicitar abertura de CAT e fazer relatório médico para auxílio previdenciário.</p><p>C) Notificar no SINAN e fazer relatório médico para auxílio acidente.</p><p>D) Notificar no SINAN e fazer relatório médico para auxílio previdenciário.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Questão que mistura os conhecimentos sobre notificação de acidente do trabalho e benefícios previdenciários. Como o trabalhador</p><p>é autônomo, não existe a possibilidade de se emitir a CAT. Deve-se apenas notificar a doença</p><p>lombar no SINAN, pois vimos que as DORT</p><p>fazem parte da lista de notificação da Vigilância Sentinela. Considerando-se ser um distúrbio osteomuscular relacionada ao trabalho, cabe</p><p>o requerimento de algum auxílio previdenciário, mais especificamente, o auxílio por incapacidade temporária acidentário. E, por que não</p><p>o auxílio-acidente? Lembre-se de que ele se aplicaria para os casos de sequelas com incapacidades permanentes como, por exemplo, uma</p><p>amputação.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>(SURCE/CE/2018) Um homem de 55 anos é acompanhado há 2 meses na UBS por queixa de dispneia. Trabalha na construção civil há 25 anos.</p><p>Nega tabagismo. Em investigação diagnóstica, foram realizadas radiografia de tórax e tomografia computadorizada que revelou espessamento</p><p>nodular da pleura. Traz, à consulta de hoje, biópsia que evidencia mesotelioma maligno de pleura. Uma vez estabelecida relação causal entre</p><p>a doença e o trabalho desempenhado pelo paciente, qual deve ser a conduta do médico diante da situação apresentada?</p><p>A) Realizar contato com a empresa para que esta providencie a emissão da CAT em até cinco dias úteis.</p><p>B) Notificar o mesotelioma pela Ficha de Investigação de Doenças Relacionadas ao Trabalho/Pneumoconiose.</p><p>C) Encaminhar o usuário ao INSS para afastamento temporário da ocupação durante o tratamento da doença.</p><p>D) Encaminhar ao CEREST como doença de notificação compulsória pertencente ao grupo II da classificação de Schilling.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O Mesotelioma é uma pneumoconiose relacionada ao trabalho, estando previsto na lista de notificação da Estratégia de Vigilância</p><p>Sentinela. Ademais, o mesotelioma maligno de pleura é grave e os acidentes de trabalho graves também estão previstos na Lista Nacional</p><p>de Notificação Compulsória, cabendo o preenchimento da Ficha de Investigação de Doenças Relacionadas ao Trabalho/Pneumoconiose para</p><p>a notificação desse caso. Em relação às demais alternativas, a CAT deve ser emitida até o primeiro dia útil seguinte ou de imediato em</p><p>caso de morte (alternativa A). O usuário deve ser afastado da exposição de forma permanente, mas faltam informações no enunciado para</p><p>compreendermos se o trabalhador pode ser enquadrado como segurado da Previdência Social (alternativa C). A notificação é feita pelo</p><p>próprio médico assistente, não havendo a necessidade de encaminhar o paciente ao CEREST. Ademais, o mesotelioma enquadra-se como</p><p>grupo I da classificação de Schilling (Alternativa D).</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 70</p><p>2.2 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD)</p><p>As pessoas com deficiência merecem atenção especial, pois apresentam maiores dificuldades de acessibilidade e execução</p><p>de tarefas quando se considera o mercado de trabalho em geral. Todos os programas de promoção da saúde, prevenção</p><p>de doenças e acidentes, segurança e cuidados pessoais elaborados pelas empresas devem considerar as necessidades dos</p><p>trabalhadores com deficiência.</p><p>Figura 14: PCD no trabalho. Fonte: Shuterstock/Artista: Wavebreakmidia.</p><p>As normas regulamentadoras chegam a prever que sejam</p><p>priorizados ajustes nos postos de trabalho das pessoas com</p><p>deficiência. Para as pessoas cujas medidas antropométricas não</p><p>sejam atendidas pelas especificações das normas, o empregador</p><p>deverá dispor de mobiliário adaptado para atender às suas</p><p>necessidades de modo a facilitar sua integração ao ambiente laboral,</p><p>considerando os impactos sobre a saúde desses trabalhadores.</p><p>Quando se fala sobre condições de trabalho, isso inclui</p><p>também a acessibilidade das instalações, os equipamentos, a</p><p>organização do trabalho e as condições sanitárias. Imagine se uma</p><p>empresa contrata um cadeirante, mas o acesso às suas instalações</p><p>é somente por meio de escadas ou de portas muito estreitas! Tudo</p><p>isso precisa ser pensado e ajustado, lembrando uma premissa básica</p><p>de que não é o trabalhador quem deve se adequar à empresa, mas</p><p>a empresa que deve adaptar as atividades e o ambiente físico de</p><p>acordo com as necessidades do trabalhador. Esse é um preceito</p><p>básico da ergonomia!</p><p>Nesse sentido, a avaliação prévia do médico no exame</p><p>admissional é fundamental. No caso do trabalhador com deficiência,</p><p>além do Atestado Médico de Saúde Ocupacional (ASO), emitido</p><p>após o exame ocupacional de qualquer trabalhador, o médico deve</p><p>emitir o “laudo caracterizador de deficiência”. Ele está de acordo</p><p>com o Decreto nº 3.298/1999 e com a Instrução Normativa SIT/</p><p>MTE nº 98, de 2012, que prevê o seguinte:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 71</p><p>Art. 8º Para fins de comprovação do enquadramento do empregado como pessoa com deficiência é necessária a apresentação</p><p>de laudo elaborado por profissional de saúde de nível superior, preferencialmente habilitado na área de deficiência relacionada ou</p><p>em saúde do trabalho, que deve contemplar as seguintes informações e requisitos mínimos:</p><p>I - identificação do trabalhador;</p><p>II - referência expressa quanto ao enquadramento nos critérios estabelecidos na legislação pertinente;</p><p>III - identificação do tipo de deficiência;</p><p>IV - descrição detalhada das alterações físicas, sensoriais, intelectuais e mentais e as interferências funcionais delas decorrentes;</p><p>V - data, identificação, nº de inscrição no conselho regional de fiscalização da profissão correspondente e assinatura do</p><p>profissional de saúde; e</p><p>VI - concordância do trabalhador para divulgação do laudo à Auditoria-Fiscal do Trabalho e ciência de seu enquadramento na</p><p>reserva legal.</p><p>Parágrafo único. Nas hipóteses de deficiência auditiva, visual, intelectual ou mental serão exigidos,</p><p>respectivamente, exame audiológico - audiometria, exame oftalmológico - acuidade visual com correção e</p><p>campo visual, se for o caso, e avaliação intelectual ou mental especializada.</p><p>Art. 9º A comprovação do enquadramento na condição de segurado reabilitado da Previdência Social será realizada com a</p><p>apresentação do Certificado de Reabilitação Profissional emitido pelo Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS.</p><p>Esse laudo deve ficar à disposição da fiscalização para os</p><p>auditores do trabalho. Perceba que ele pede a descrição detalhada</p><p>das alterações e as interferências funcionais decorrentes delas</p><p>– que seriam as limitações geradas pela deficiência – e é com</p><p>essas informações que o médico pode sugerir adaptações e</p><p>ajustes no posto de trabalho, após avaliar as condições de saúde</p><p>do trabalhador para o cargo proposto. Essas orientações sobre</p><p>a adaptação do posto de trabalho podem estar contidas nesse</p><p>laudo.</p><p>A capacitação desses trabalhadores também deve estar</p><p>adaptada às suas necessidades. Imagine colocar uma pessoa</p><p>com surdez em uma palestra ou um deficiente visual em uma</p><p>capacitação que envolva a apresentação de slides sem qualquer</p><p>intérprete para ambos os casos. Ou ainda, incluir no treinamento</p><p>geral de ergonomia, uma pessoa com amputação de algum</p><p>membro, naturalmente, o conteúdo desse treinamento precisaria</p><p>estar adaptado às limitações desse trabalhador amputado. Assim,</p><p>na programação das capacitações, deve-se não só se preocupar</p><p>com a acessibilidade do conteúdo, mas também com o quanto ele</p><p>pode ser executado por essas pessoas com deficiência.</p><p>É obrigatória a depender da quantidade</p><p>de funcionários da empresa</p><p>Hum, já ouvir dizer que a contratação das pessoas</p><p>com deficiência é obrigatória, mas não sei como</p><p>isso funciona.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 72</p><p>Essa regra está no artigo 93, da Lei no 8.213/1991, que prevê que a empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher</p><p>de 2 a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. A proporção deve obedecer ao quadro a seguir:</p><p>PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO DE CARGOS</p><p>COM BENEFICIÁRIOS REABILITADOS OU PCD EM EMPRESAS</p><p>Quantidade</p><p>de empregados Percentual de PCD ou reabilitados</p><p>até 200 2%</p><p>201 a 500 3%</p><p>501 a 1.000 4%</p><p>1.001 em diante 5%</p><p>Tabela 8: Preenchimento obrigatório de cargos com beneficiários reabilitados ou Pessoas com Deficiência (PCD) em empresas de acordo com a quantidade de empregados</p><p>(Lei nº 8.213/1991).</p><p>Além de atender ao percentual da tabela anterior, a empresa somente poderá dispensar a pessoa com deficiência ou de beneficiário</p><p>reabilitado da Previdência Social após a contratação de outro trabalhador em condição semelhante. Entretanto, os aprendizes com deficiência</p><p>não podem ser contabilizados para fins de preenchimento da cota legal de deficientes.</p><p>E o que seria a deficiência considerada nessa cota? O conceito legal de deficiência está previsto no inciso I, do artigo 3º, do Decreto nº</p><p>3.298, de 1999:</p><p>I. deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade</p><p>para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;</p><p>II. deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir</p><p>recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e</p><p>III. incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos,</p><p>adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações</p><p>necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.</p><p>No artigo 4º do Decreto nº 3.298, de 1999, estão listadas todas as categorias de deficiência. Veja o esquema a seguir adaptado com o</p><p>resumo dos incisos desse artigo e de algumas normativas complementares:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 73</p><p>CATEGORIA DESCRIÇÃO DA DEFICIÊNCIA</p><p>Física</p><p>• alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo com comprometimento da</p><p>função física, sob a forma de: plegias (para, mono, tri, tetra e hemiplegia), paresias (para, mono,</p><p>tri, tetra e hemiparesia), ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,</p><p>membros com deformidade congênita ou adquirida;</p><p>• excluem-se as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de</p><p>funções;</p><p>Auditiva</p><p>• perda bilateral, parcial ou total, ≥ 41dB aferida nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e</p><p>3.000Hz;</p><p>Visual</p><p>• cegueira: acuidade visual é ≤ 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;</p><p>• baixa visão: acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;</p><p>• quando a somatória do campo visual em ambos os olhos for ≤ 60o;</p><p>• ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;</p><p>• visão monocular: cegueira na qual a acuidade visual com a melhor correção óptica é ≤ 0,05</p><p>(20/400) em um olho, ou cegueira declarada por oftalmologista (previsão em parecer CONJUR/MTE</p><p>444/11);</p><p>Mental</p><p>• funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes de 18 anos</p><p>e limitações associadas a duas ou mais habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado</p><p>pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades</p><p>acadêmicas, lazer e trabalho;</p><p>• transtorno do Espectro Autista (previsão na Lei nº 12.764/2012);</p><p>Múltipla • associação de duas ou mais deficiências;</p><p>Reabilitado</p><p>• reabilitado profissional: pessoa com certificado de conclusão de processo de habilitação ou re-</p><p>abilitação profissional fornecido pelo INSS (previsão no parágrafo 2º do art. 36, do Decreto nº</p><p>3.298/1999).</p><p>Tabela 9: Categorias de Pessoas com Deficiência (PCD) ou reabilitados e sua definição legal, conforme o Decreto nº 3.298, de 1999.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 74</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(PSU/AL/2019) ALR, de 54 anos, possui diagnóstico de Hipertensão Arterial moderada (sob controle) e, após acidente automobilístico com</p><p>trauma grave na perna direita, passou a apresentar marcha claudicante. ALR se candidatou a vaga de assistente administrativo no escritório</p><p>de determinada empresa de construção civil, montado próximo às obras. Caso seja admitido ocupará posto de trabalho constando de mesa</p><p>e cadeiras ergonômicas. Seu trabalho será de controle de folha de ponto e elaboração da folha de pagamento dos trabalhadores. O trabalho</p><p>será realizado, na maior parte do tempo, assentado e implicará em atendimento ao público. Considerando a situação descrita, a legislação</p><p>previdenciária e as resoluções do Conselho Federal de Medicina é CORRETO afirmar que:</p><p>A) A situação de saúde de ALR não atende ao requisito de pleno bem-estar físico e mental, necessários para aptidão ao trabalho.</p><p>B) ALR pode ser enquadrado na cota de pessoas com deficiência física da empresa e ter seus vencimentos pagos pelo INSS durante a</p><p>vigência do contrato de trabalho.</p><p>C) ALR pode receber atestado médico de aptidão para o trabalho desde que o posto de trabalho ao qual se candidatou não vá agravar o seu</p><p>estado de saúde.</p><p>D) ALR deve ser encaminhado para a Perícia do INSS, onde será avaliada a possibilidade de aposentadoria por invalidez.</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O trabalhador apresenta uma limitação física de marcha claudicante, ou seja, ele anda “mancando”. Como a função é administrativa e</p><p>o trabalho é sentado, não há qualquer impedimento em sua contração, podendo receber o ASO de aptidão para o trabalho, somente tendo o</p><p>cuidado de que seu posto não agrave sua situação de saúde (alternativa C). Em relação às demais alternativas: a situação de ALR não apresenta</p><p>alteração mental e a situação física limitante não é incapacitante total, mas parcial (alternativa A). ALR pode ser enquadrado na cota de</p><p>pessoas com deficiência, mas quem paga seu salário é a empresa e não o INSS (alternativa B). O trabalhador não tem incapacidade total para</p><p>todas as atividades, ele pode trabalhar, desde que não precise ficar muito tempo em pé ou não precise ficar deambulando constantemente</p><p>(alternativa D).</p><p>(HOG/GO/2018) Paciente LLMA dirige-se à unidade básica mais próxima de sua casa, referindo que há 1 mês, durante uma consulta, o médico</p><p>solicitou um exame de audiograma nas frequências de 500 HZ, 1000 HZ, 2000 HZ e 3000 HZ. Ao retornar com o resultado, o médio constata</p><p>que a paciente apresenta deficiência auditiva. Pode-se afirmar sobre o resultado do exame que:</p><p>A) há perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais.</p><p>B) há perda bilateral, parcial ou total, de trinta e um decibéis (dB) ou mais.</p><p>C) há perda bilateral, parcial ou total, de cinquenta e um decibéis (dB) ou mais.</p><p>D) há perda bilateral, parcial ou total, de vinte e um decibéis (dB) ou mais.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Para fins de enquadramento legal, como deficiência auditiva, é preciso haver perda bilateral, parcial ou total, maior ou igual a 41dB,</p><p>aferida nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 75</p><p>2.3 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA (PNSTT)</p><p>Estimado Estrategista, já adianto que as questões de prova</p><p>relacionadas a Políticas Públicas de Saúde, incluindo as políticas</p><p>específicas, costumam utilizar os trechos das leis e das portarias</p><p>relacionadas de um modo geral. Assim, não temos como discutir</p><p>esse tema sem expor alguns dos trechos legais e normativos mais</p><p>importantes!</p><p>A saúde do trabalhador está incluída no campo de atuação</p><p>do SUS, conforme previsão na Lei nº 8.080, de 1990. É importante</p><p>entendermos como essa lei define a saúde do trabalhador para</p><p>o SUS e a abrangência de sua atuação. Veja a seguir o trecho do</p><p>parágrafo 3º e seus incisos, do art. 6º:</p><p>§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei,</p><p>um conjunto de atividades que se destina, através das ações de</p><p>vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e</p><p>reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:</p><p>I. assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho;</p><p>II. participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos</p><p>riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;</p><p>III. participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das</p><p>condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e</p><p>de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;</p><p>IV. avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;</p><p>V. informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença</p><p>profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos</p><p>e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;</p><p>VI. participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas</p><p>e privadas;</p><p>VII. revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração</p><p>das entidades sindicais; e</p><p>VIII. a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou</p><p>de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.</p><p>Para detalhar melhor a atuação do SUS na saúde do trabalhador, a Portaria GM/MS nº 1.823, de 2012, instituiu a Política Nacional de</p><p>Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT) com a seguinte finalidade:</p><p>Art. 2º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem como finalidade definir os princípios,</p><p>as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde</p><p>(SUS), para o desenvolvimento da atenção integral à saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, visando a</p><p>promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos modelos</p><p>de desenvolvimento e dos processos produtivos.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 76</p><p>A PNSTT determina princípios e diretrizes que, de modo análogo ao SUS, devem ser observados pelas três esferas: federal, estadual e</p><p>municipal. Os princípios e diretrizes que devem ser priorizados envolvem a:</p><p>Universalidade</p><p>Descentralização</p><p>Equidade</p><p>Integralidade</p><p>Hierarquização</p><p>Precaução</p><p>Participação da</p><p>comunidade, dos</p><p>trabalhadores</p><p>e do controle</p><p>social</p><p>Esquema 8: Princípios e diretrizes contemplados na Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do artigo 5º da Portaria GM/MS nº</p><p>1.823/2012).</p><p>Note que a universalidade, a equidade e a integralidade são</p><p>os princípios doutrinários do SUS. Ademais, também podemos</p><p>observar outros princípios, a exemplo da participação da</p><p>comunidade, descentralização e hierarquização. O único diferencial</p><p>dessa política estaria relacionado ao princípio da precaução que</p><p>não está descrito explicitamente na Constituição Federal de 1988</p><p>ou na Lei nº 8.080, de 1990.</p><p>Essa política pública específica faz parte do SUS, seguindo</p><p>todos os seus preceitos. Assim, a prioridade dessa política não é</p><p>assistencial, mas sim a prevenção de doenças e a promoção de</p><p>saúde dos trabalhadores, com ênfase nas ações de vigilância, que</p><p>seria, basicamente, a coleta, análise e mapeamento dos dados de</p><p>ocorrências relacionadas ao trabalho e aos riscos existentes nos</p><p>processos de trabalho.</p><p>Afinal de contas, que trabalhadores estão contemplados</p><p>nessa política? Todos. Veja o artigo a seguir sobre esse tópico:</p><p>Art. 3º Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural,</p><p>de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público</p><p>ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico,</p><p>aposentado ou desempregado são sujeitos desta Política.</p><p>Apesar de englobar todos os trabalhadores, há uma preocupação maior com grupos específicos de pessoas mais vulneráveis, conforme</p><p>você poderá perceber no artigo a seguir:</p><p>Art. 7º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora deverá contemplar todos os trabalhadores priorizando,</p><p>entretanto, pessoas e grupos em situação de maior vulnerabilidade, como aqueles inseridos em atividades ou em relações informais</p><p>e precárias de trabalho, em atividades de maior risco para a saúde, submetidos a formas nocivas de discriminação, ou ao trabalho</p><p>infantil, na perspectiva de superar desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na atenção.</p><p>Essa política está alinhada com as demais políticas de saúde no âmbito do SUS, mesmo porque já vimos que o trabalho é considerado</p><p>um dos determinantes do processo saúde-doença.</p><p>Os objetivos da PNSTT estão descritos detalhadamente em seu artigo 8º, conforme podemos ver a seguir. Não se preocupe, resumirei</p><p>mais adiante, mas vale a pena dar uma lida, pois você já sabe que as provas costumam cobrar o texto normativo literalmente.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 77</p><p>Art. 8º São objetivos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora:</p><p>I - fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) e a integração com os demais componentes da Vigilância em</p><p>Saúde, o que pressupõe:</p><p>a) identificação das atividades produtivas da população trabalhadora e das situações de risco à saúde dos trabalhadores no</p><p>território;</p><p>b) identificação das necessidades, demandas e problemas de saúde dos trabalhadores no território;</p><p>c) realização da análise da situação de saúde dos trabalhadores;</p><p>d) intervenção nos processos e ambientes de trabalho;</p><p>e) produção de tecnologias de intervenção, de avaliação e de monitoramento das ações de VISAT;</p><p>f) controle e avaliação da qualidade dos serviços e programas de saúde do trabalhador, nas instituições e empresas públicas e</p><p>privadas;</p><p>g) produção de protocolos, de normas técnicas e regulamentares; e</p><p>h) participação dos trabalhadores e suas organizações;</p><p>II - promover a saúde e ambientes e processos de trabalhos saudáveis, o que pressupõe:</p><p>a) estabelecimento e adoção de parâmetros protetores da saúde dos trabalhadores nos ambientes e processos de trabalho;</p><p>b) fortalecimento e articulação das ações de vigilância em saúde, identificando os fatores de risco ambiental, com intervenções</p><p>tanto nos ambientes e processos de trabalho, como no entorno, tendo em vista a qualidade de vida dos trabalhadores e da população</p><p>circunvizinha;</p><p>c) representação do setor saúde/saúde do trabalhador nos fóruns e instâncias de formulação de políticas setoriais e intersetoriais</p><p>e às relativas ao desenvolvimento econômico e social;</p><p>d) inserção, acompanhamento e avaliação de indicadores de saúde dos trabalhadores e das populações circunvizinhas nos</p><p>processos de licenciamento e nos estudos de impacto ambiental;</p><p>e) inclusão de parâmetros de proteção à saúde dos trabalhadores e de manutenção de ambientes de trabalho saudáveis nos</p><p>processos de concessão de incentivos ao desenvolvimento, nos mecanismos de fomento e outros incentivos específicos;</p><p>f) contribuição na identificação e erradicação de situações análogas ao trabalho escravo;</p><p>g) contribuição na identificação e erradicação de trabalho infantil e na proteção do trabalho do adolescente; e</p><p>h) desenvolvimento</p><p>de estratégias e ações de comunicação de risco e de educação ambiental e em saúde do trabalhador;</p><p>III - garantir a integralidade na atenção à saúde do trabalhador, que pressupõe a inserção de ações de saúde do trabalhador</p><p>em todas as instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS, mediante articulação e construção conjunta de protocolos,</p><p>linhas de cuidado e matriciamento da saúde do trabalhador na assistência e nas estratégias e dispositivos de organização e fluxos</p><p>da rede, considerando os seguintes componentes:</p><p>a) atenção primária em saúde;</p><p>b) atenção especializada, incluindo serviços de reabilitação;</p><p>c) atenção pré-hospitalar, de urgência e emergência, e hospitalar;</p><p>d) rede de laboratórios e de serviços de apoio diagnóstico;</p><p>e) assistência farmacêutica;</p><p>f) sistemas de informações em saúde;</p><p>g) sistema de regulação do acesso;</p><p>h) sistema de planejamento, monitoramento e avaliação das ações;</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 78</p><p>i) sistema de auditoria; e</p><p>j) promoção e vigilância à saúde, incluindo a vigilância à saúde do trabalhador;</p><p>IV - ampliar o entendimento de que de que a saúde do trabalhador deve ser concebida como uma ação transversal, devendo</p><p>a relação saúde-trabalho ser identificada em todos os pontos e instâncias da rede de atenção;</p><p>V - incorporar a categoria trabalho como determinante do processo saúde-doença dos indivíduos e da coletividade, incluindo-a</p><p>nas análises de situação de saúde e nas ações de promoção em saúde;</p><p>VI - assegurar que a identificação da situação do trabalho dos usuários seja considerada nas ações e serviços de saúde do</p><p>SUS e que a atividade de trabalho realizada pelas pessoas, com as suas possíveis consequências para a saúde, seja considerada no</p><p>momento de cada intervenção em saúde; e</p><p>VII - assegurar a qualidade da atenção à saúde do trabalhador usuário do SUS.</p><p>Agora observe o resumo dos objetivos principais da PNSTT:</p><p>Vigilância Fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) e</p><p>outros componentes da Vigilância em Saúde;</p><p>Promover a saúde, através de ambientes e processos de</p><p>trabalhos saudáveis;</p><p>Garantir a integralidade no cuidado do trabalhador, incluindo</p><p>toda a Rede de Atenção à Saúde do SUS;</p><p>Reforçar a importância de identificar a relação saúde-trabalho</p><p>em todos os pontos da rede de atenção;</p><p>Incluir o trabalho como determinante do processo saúde-doença</p><p>dos indivíduos e da coletividade;</p><p>Assegurar que a identificação da situação do trabalho seja</p><p>considerada nas ações e serviços de saúde do SUS e no</p><p>momento de cada intervenção em saúde;</p><p>Garantir a qualidade da atenção à saúde do trabalhador usuário</p><p>do SUS.</p><p>Trabalho saudável</p><p>Integridade</p><p>Relação saúde-trabalho</p><p>Trabalho é um</p><p>determinante da saúde</p><p>Considerar o trabalho no</p><p>plano terapêutico</p><p>Qualidade da atenção</p><p>Esquema 9: Resumo dos objetivos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do artigo 8º da Portaria GM/MS nº 1.823/2012).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 79</p><p>Ah, certo, já ouvi falar em vigilância em saúde, mas</p><p>não sobre a VISAT. Como ela atua?</p><p>As ações da VISAT envolvem atividades de</p><p>identificação das atividades produtivas e das</p><p>situações de risco do trabalho, além da avaliação das</p><p>demandas de saúde dos trabalhdores.</p><p>Diante de alguma situação de risco ou vulnerabilidade, a</p><p>VISAT também poderá agir intervindo nos processos e ambientes de</p><p>trabalho, além de promover a avaliação da qualidade dos serviços</p><p>e programas de saúde do trabalhador nos estabelecimentos</p><p>públicos e privados. A produção de protocolos e normas para</p><p>auxiliar no controle das situações encontradas no trabalho também</p><p>é uma ação esperada da VISAT. Na construção da Vigilância no</p><p>trabalho, é crucial a participação de todos os atores, o que inclui os</p><p>trabalhadores e suas organizações.</p><p>Em relação à participação em outros componentes de</p><p>Vigilância em Saúde, pode-se citar que uma das expectativas</p><p>da PNSTT é que as equipes de Vigilância Sanitária dos</p><p>estados e municípios devem incorporar práticas de avaliação,</p><p>controle e vigilância dos riscos ocupacionais nas empresas e</p><p>estabelecimentos.</p><p>Perceba ainda que a política cita a Rede de Atenção à Saúde</p><p>do SUS, que contempla um componente mais específico: a Rede</p><p>Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST),</p><p>instituída pela Portaria GM/MS nº 1.679, de 2002, que pode ser</p><p>encontrada na Portaria de Consolidação nº 3, de 2017. A RENAST</p><p>foi desenvolvida de forma articulada entre o Ministério da Saúde,</p><p>as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos</p><p>Municípios.</p><p>De acordo com a portaria que instituiu a RENAST, “as</p><p>Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal devem</p><p>elaborar o Plano Estadual de Saúde do Trabalhador, conformando</p><p>a rede estadual de atenção integral à saúde do trabalhador, em</p><p>consonância com as diretrizes da regionalização como estratégia</p><p>de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior</p><p>equidade, da criação de mecanismos para o fortalecimento da</p><p>capacidade de gestão do SUS e da atualização dos critérios de</p><p>habilitação de estados e municípios”. Portanto, sua estruturação e</p><p>organização incluem desde as ações de Saúde do Trabalhador na</p><p>rede de Atenção Básica e no Programa de Saúde da Família (PSF)</p><p>até, quando necessário, o suporte especializado dos demais pontos</p><p>da rede de atenção, incluindo a Rede de Centros de Referência em</p><p>Saúde do Trabalhador (CEREST) e as redes assistenciais de média</p><p>e alta complexidade do SUS.</p><p>Você poderia perguntar, então: “Professora,</p><p>atenção primária não seria aquela que envolve</p><p>Estratégia Saúde da Família?”</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 80</p><p>Exatamente! A RENAST contempla a realização de ações de</p><p>saúde do trabalhador no âmbito da atenção básica, compreendendo</p><p>também a Estratégia Saúde da Família.</p><p>Lembre-se de que a Atenção Básica deve funcionar como</p><p>porta de entrada preferencial do SUS e a Saúde da Família é a</p><p>estratégia prioritária da Atenção Primária à Saúde (APS). Portanto,</p><p>não faria sentido excluir a APS da RENAST.</p><p>Se, por um lado, temos a APS como porta de entrada, para</p><p>onde direcionaremos os casos que necessitam de alguma atenção</p><p>mais especializada? Uma das opções seriam os CERESTs! As equipes</p><p>multiprofissionais que compõe os CERESTs são a retaguarda</p><p>técnica especializada em Saúde do trabalhador, fornecendo apoio</p><p>matricial a todos os pontos da rede e prestando suporte técnico</p><p>às equipes da atenção primária e a outros setores, o que abrange</p><p>a educação permanente, além da coordenação de projetos de</p><p>promoção, vigilância e assistência à saúde dos trabalhadores.</p><p>As ações desenvolvidas pelos CERESTs serão planejadas</p><p>de forma integrada pelas equipes de saúde do trabalhador das</p><p>Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e das Secretarias Municipais</p><p>de Saúde (SMS), sob a coordenação dos gestores. Entretanto,</p><p>quando o município não tiver condições técnicas e operacionais,</p><p>as SESs podem executar diretamente as ações de vigilância e</p><p>assistência, em caráter complementar ou suplementar, através</p><p>dos CERESTs. Em alguns locais, é possível encontrar também o</p><p>Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CESAT).</p><p>Portanto, a execução da vigilância e assistência da saúde do</p><p>trabalhador pode caber ao município ou ao estado.</p><p>Os CERESTs Estaduais e Regionais deverão estar integrados</p><p>entre si e com as referências em saúde do trabalhador desenvolvidas</p><p>na rede ambulatorial e hospitalar, compatibilizando um Sistema</p><p>de Informação Integrado, a implementação conjunta dos Projetos</p><p>Estruturadores, a execução do Projeto de Capacitação, a elaboração</p><p>de material institucional e a comunicação permanente, de modo a</p><p>constituir um sistema em rede nacional.</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UFPR/PR/2020) A</p><p>Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) integra a rede de serviços do Sistema Único de Saúde.</p><p>Qual das ações abaixo é contemplada por sua implementação?</p><p>A) Caracterização de Estados Sentinela em Saúde do Trabalhador.</p><p>B) Estabelecimento de Parceria Público-Privada (PPP) para a implementação de ações de vigilância nos ambientes de trabalho.</p><p>C) Implementação de assistência jurídica aos trabalhadores.</p><p>D) Inclusão das ações de saúde do trabalhador na atenção básica.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A RENAST está contemplada dentro da Rede de Atenção à Saúde do SUS, incluindo as ações de Saúde do Trabalhador na Atenção</p><p>Primária. A implementação da RENAST ocorre com a caracterização de Municípios Sentinela em Saúde do Trabalhador, não do Estados.</p><p>Ademais, a implementação das ações de promoção e vigilância em saúde do trabalhador não depende da parceria público-privada. Por fim,</p><p>não há qualquer previsão de assistência jurídica através da RENAST, pois ela é uma rede de saúde ligada ao SUS.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 81</p><p>(UEL/PR/2017) Considerando a necessidade de articular, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), ações de prevenção, promoção e</p><p>recuperação da saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independentemente do vínculo empregatício e tipo de inserção no mercado de</p><p>trabalho, entre outras necessidades, foi publicada a portaria GM n° 1.679, de 2002, com o objetivo de estruturar a Rede Nacional de Atenção</p><p>Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST). Sobre a RENAST, considere as afirmativas a seguir.</p><p>I. Deve orientar as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal no sentido de elaborarem o Plano Estadual de Saúde do Trabalhador;</p><p>II. Deve possibilitar a realização de ações de saúde do trabalhador no âmbito da atenção básica na Estratégia Saúde da Família;</p><p>III. O controle social da RENAST se dará por intermédio das instâncias de controle social do SUS;</p><p>IV. Para a estruturação da RENAST, é necessário implantar Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (CRST) no âmbito municipal.</p><p>Assinale a alternativa correta.</p><p>A) Somente as afirmativas I e II são corretas.</p><p>B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.</p><p>C) Somente as afirmativas III e IV são corretas</p><p>D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.</p><p>E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A RENAST deve orientar as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal a elaborar o Plano Estadual de Saúde do Trabalhador,</p><p>por meio do qual as ações de saúde do trabalhador poderão ser realizadas, inclusive, no âmbito da atenção básica. O controle social da</p><p>RENAST e de qualquer outra rede de atenção segue o padrão do SUS, ou seja, esse controle ocorrerá por meio das instâncias de controle social</p><p>do SUS: Conselhos e Conferência de Saúde.</p><p>Portanto, as afirmativas I, II e III estão corretas. Entretanto, a afirmativa IV está incorreta, pois, para a estruturação da RENAST, é</p><p>necessário implantar a Rede de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), que são estaduais e regionais.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>Apoiadas pelos CEREST, as equipes técnicas de saúde do trabalhador, das três esferas de gestão, devem garantir sua capacidade de</p><p>fornecer o apoio institucional e matricial para o desenvolvimento das ações de saúde do trabalhador no SUS, o que inclui minimamente o</p><p>disposto nos incisos I e II do artigo 15:</p><p>I - a construção, em toda a Rede de Atenção à Saúde, de capacidade para a identificação das atividades</p><p>produtivas e do perfil epidemiológico dos trabalhadores nas regiões de saúde definidas pelo Plano Diretor de</p><p>Regionalização e Investimentos (PDRI);</p><p>II - a capacitação dos profissionais de saúde para a identificação e monitoramento dos casos atendidos que</p><p>possam ter relação com as ocupações e os processos produtivos em que estão inseridos os usuários.</p><p>Para finalizar o estudo sobre os pontos mais essenciais da PNSTT, dê uma conferida no quadro abaixo, que</p><p>descreve um resumo das estratégias propostas para essa política, conforme previsão no artigo 9º da Portaria</p><p>GM/MS nº 1.823, de 2012.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 82</p><p>Portanto, concluímos aqui que o SUS vislumbra o que foi exposto desde a introdução deste livro:</p><p>A importância de nós, profissionais de saúde, passarmos a avaliar as ocupações e os processos produtivos em que estão inseridos</p><p>nossos pacientes, visto que o trabalho é um determinante que não pode ser ignorado quando avaliamos o processo saúde-doença.</p><p>Esquema 10: Resumo das estratégias da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do artigo 9º da Portaria GM/MS nº 1.823/2012).</p><p>Integração da Vigilância em Saúde do Trabalhador com os demais componentes da Vigilância</p><p>em Saúde e com a Atenção Primária em Saúde;</p><p>Análise do perfil produtivo e da situação de saúde dos trabalhadores;</p><p>Estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)</p><p>no contexto da Rede de Atenção à Saúde;</p><p>Fortalecimento e ampliação da articulação intersetorial;</p><p>Estímulo à participação da comunidade, dos trabalhadores e do control social;</p><p>Desenvolvimento e capacitação de recursos humano;</p><p>Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.</p><p>Você se deu conta de que algumas das estratégias</p><p>listadas coincidem com os objetivos da própria PNSTT?</p><p>Pois é, todos os processos estão concatenados de</p><p>modo a proporcionar o funcionamento adequado dessa</p><p>política.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 83</p><p>CAPÍTULO</p><p>3.0 INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO</p><p>Vamos falar agora sobre um tema que está relacionado</p><p>à saúde do trabalhador e que pode aparecer na sua prova de</p><p>residência médica: a intoxicação por mercúrio!</p><p>O mercúrio (Hg) é o único metal líquido à temperatura</p><p>ambiente, ao contrário dos demais, que são sólidos. Ele é</p><p>considerado um elemento importante em diversas cadeias</p><p>produtivas, no entanto, existe um esforço global para eliminá-lo</p><p>das indústrias, justamente por ser muito tóxico para o ser humano.</p><p>Para você compreender melhor essa intoxicação, o primeiro</p><p>ponto fundamental é compreender que o mercúrio pode ser</p><p>encontrado em 3 formas químicas principais:</p><p>• mercúrio elementar (Hg0): é o próprio mercúrio em sua</p><p>forma líquida. Uma de suas principais características é uma baixa</p><p>pressão de vapor, ou seja, ele volatiza com facilidade, liberando</p><p>vapores de mercúrio no ambiente.</p><p>• mercúrio inorgânico (Hg2+X-n): é o mercúrio encontrado</p><p>na forma de sal inorgânico. Geralmente, esses sais são formados</p><p>quando ele “se combina” com cloro, oxigênio ou enxofre,</p><p>gerando sais como cloreto de mercúrio, cloreto mercuroso,</p><p>óxido de mercúrio, sulfeto de mercúrio, entre outros. O sulfeto</p><p>de mercúrio, também conhecido como cinábrio, é encontrado na</p><p>crosta terrestre.</p><p>• mercúrio orgânico (CH3(n)Hg): é o mercúrio encontrado na</p><p>forma orgânica. Geralmente, é produzido por microorganismos</p><p>após o mercúrio elementar contaminar o meio ambiente.</p><p>Geralmente, as intoxicações ocorrem quando um</p><p>determinado indivíduo se expõe a uma dessas três formas químicas.</p><p>• Intoxicação por mercúrio elementar (Hg0):</p><p>Esse tipo de intoxicação acontece quando o indivíduo</p><p>manipula o mercúrio líquido e inala os vapores de mercúrio que</p><p>são liberados durante a manipulação. Por isso, a principal via de</p><p>absorção será respiratória!</p><p>Por exemplo, suponha que um garimpeiro utilize o mercúrio</p><p>elementar para fazer uma amálgama de ouro. Conforme ele “vai</p><p>manuseando” o mercúrio, a substância “vai vaporizando”... Como</p><p>esses vapores não tem cor, nem cheiro, o garimpeiro “respira” o</p><p>mercúrio sem perceber.</p><p>Nesse sentido, 2 situações podem acontecer:</p><p>1. Se o garimpeiro inalar grandes quantidades de vapores em</p><p>único dia, ele evoluirá com uma intoxicação aguda!</p><p>2.</p><p>Porém, se ele inalar pequenas quantidades no dia, mas</p><p>mantiver essa exposição gradativa ao longo de meses ou anos,</p><p>ele evoluirá com intoxicação crônica!</p><p>Na intoxicação aguda, o paciente geralmente evolui com</p><p>dispneia, tosse, náuseas e vômitos, cefaleia e gosto metálico na</p><p>boca.</p><p>Já na intoxicação crônica, o quadro clínico será deflagrado</p><p>anos depois com sinais e sintomas neuropsiquiátricos diversos</p><p>(falaremos mais à frente).</p><p>Porém, chama a atenção a tríade mercurial: gengivite</p><p>(incluindo dentes frouxos), eretismo psíquico e tremores de</p><p>intenção!</p><p>Atualmente, o Brasil encontra-se na reta final para banir a</p><p>utilização de mercúrio nas cadeias produtivas do país, já que somos</p><p>signatários da Convenção de Minamata. Inclusive, a produção</p><p>e a comercialização de termômetros e esfigmomanômetros de</p><p>mercúrio já estão proibidas.</p><p>No entanto, todo esse movimento é muito recente (após</p><p>2018). Por isso, como um paciente pode demorar anos para</p><p>apresentar os primeiros sinais de uma intoxicação crônica, por</p><p>exemplo, é perfeitamente plausível que o Brasil ainda tenha muitos</p><p>casos incidentes nos próximos anos!</p><p>Por isso, fique atento (a) se o examinador mencionar</p><p>indivíduos que já trabalharam com lâmpadas fluorescentes e de</p><p>vapor de mercúrio, com produção de cloro-soda ou até mesmo</p><p>profissionais da saúde bucal como dentistas e técnicos, já que</p><p>a Odontologia já utilizou muito o mercúrio para a formação da</p><p>amálgama de prata.</p><p>• Intoxicação por mercúrio inorgânico (sais de mercúrio):</p><p>Esse tipo de intoxicação geralmente ocorre quando o</p><p>indivíduo ingere algum sal de mercúrio, seja de forma intencional</p><p>(autoextermínio) ou acidental (por exemplo, quando uma criança</p><p>ingere uma pilha ou bateria pequena).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 84</p><p>Portanto, trata-se de uma intoxicação aguda, onde o</p><p>mercúrio será absorvido por via gastrointestinal.</p><p>Esses sais costumam ser corrosivos. Nesse sentido, as</p><p>principais manifestações clínicas serão náuseas e vômitos,</p><p>hematêmese, diarreia e epigastralgia intensa. Além disso, são</p><p>nefrotóxicos. Logo, o paciente pode apresentar insuficiência renal</p><p>aguda e tubulopatias. Por fim, a orofaringe pode estar acinzentada.</p><p>E atenção: a ingestão acidental de pilhas por crianças é a</p><p>principal forma de intoxicação por mercúrio no Brasil!</p><p>Nesse caso, o paciente também estará exposto aos outros</p><p>metais pesados desse objeto, como chumbo!</p><p>• Intoxicação por mercúrio orgânico (metilmercúrio)</p><p>Para você entender esse tipo de intoxicação, vamos voltar</p><p>ao exemplo do garimpeiro. Quando ele manipula o mercúrio, essa</p><p>substância vaporiza, mas também “cai” no solo e na água…</p><p>Uma vez no ambiente, o mercúrio elementar será</p><p>metabolizado por microorganismos à metilmercúrio, que é a forma</p><p>mais tóxica desse metal (CH3Hg ou MeHg). Essa molécula será</p><p>captada pela flora, e entrará definitivamente na cadeia alimentar.</p><p>O problema é que o mercúrio é um metal bioacumulável,</p><p>isto é, ele se deposita nos tecidos dos seres vivos. Além disso,</p><p>a quantidade de mercúrio acumulada aumenta conforme</p><p>caminhamos para o topo da cadeia alimentar, em um fenômeno</p><p>chamado magnificação trófica.</p><p>Portanto, um peixe do topo da cadeia alimentar terá uma</p><p>quantidade de metilmercúrio superior à de um peixe da base....</p><p>Esse fenômeno representa um grande perigo para as</p><p>populações ribeirinhas e indígenas, que têm por hábito se alimentar</p><p>justamente dos peixes do topo! O consumo ao longo do tempo</p><p>levará à ingestão crônica do metilmercúrio!</p><p>Ele será absorvido pela via gastrointestinal e, como consegue</p><p>atravessar a barreira hematoencefálica, se depositará de forma</p><p>irreversível no Sistema Nervoso Central...</p><p>No futuro, os indivíduos intoxicados iniciarão um quadro</p><p>neuropsiquiátrico com sinais e sintomas diversos, como</p><p>irritabilidade, labilidade de humor, perda de memória, alteração</p><p>na marcha, fraqueza muscular, parestesias, apraxia de fala, entre</p><p>outros!</p><p>Foi isso que aconteceu em Minamata, no Japão, da década</p><p>de 60! Uma grande empresa jogava mercúrio na bacia hidrográfica,</p><p>o que contaminou os peixes. Anos depois, muitos habitantes</p><p>evoluíram com quadros neuropsiquiátricos, o que ficou conhecido</p><p>como Doença de Minamata.</p><p>No Brasil, instituições como FIOCRUZ e UFRJ já detectaram</p><p>níveis séricos elevados de mercúrio nas populações indígena</p><p>e ribeirinha da Região Norte... Por isso, existe o receio de que a</p><p>Amazônia vire a nova Minamata...</p><p>Certo, Bárbara, e como é feito o tratamento?</p><p>Segundo a literatura, as intoxicações agudas podem ser</p><p>tratadas com dimercaprol (BAL), em doses que variam de 2,5 a 5</p><p>mg/Kg IM (2 a 10 dias)!</p><p>Para as intoxicações crônicas, o tratamento é limitado. Alguns</p><p>autores até mencionam o uso do BAL, mas o quadro geralmente é</p><p>irreversível.</p><p>A notificação para o SINAN é obrigatória (intoxicação</p><p>exógena) e deve ser feita com periodicidade semanal!</p><p>Veja como o mercúrio já foi cobrado no ENARE!</p><p>CAI NA PROVA:</p><p>(ENARE 2023). L.B.C., 53 anos, sexo feminino, casada, trabalha há anos em fábrica de lâmpadas fluorescentes, procura UPA com queixa de</p><p>fadiga, perda de peso, perda de apetite, sialorreia, afrouxamento dos dentes, irritabilidade e tremores. Diante do exposto, pode-se afirmar</p><p>que se trata de intoxicação exógena por:</p><p>A) cromo.</p><p>B) chumbo.</p><p>C) benzeno.</p><p>D) solventes orgânicos.</p><p>E) mercúrio.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 85</p><p>COMENTÁRIO:</p><p>Estrategista, observe que a paciente trabalhou em uma fábrica de lâmpadas fluorescentes. Portanto, ela pode ter sido exposta ao</p><p>mercúrio ou ao chumbo. No entanto, ela refere sialorreia, afrouxamento dos dentes, irritabilidade (o que pode ser entendido como eretismo)</p><p>e tremores! Portanto, ela tem intoxicação por mercúrio. Se fosse intoxicação por chumbo, o examinador relataria as famosas linhas azul-</p><p>violáceas que margeiam a gengiva e dos dentes, também conhecidas como linhas de Burton, ou mencionaria dor abdominal refratária ao uso</p><p>de antiespasmódicos e analgésicos e com exame de imagem sem alterações, também conhecida como saturnismo.</p><p>Portanto:</p><p>Incorretas as alternativas A, B, C e D.</p><p>Correta a alternativa E, sem ressalvas.</p><p>CAPÍTULO</p><p>4.0 ANEXO</p><p>Separei aqui algumas informações complementares que costumam ser debatidas no contexto da Saúde do Trabalhador. Porém, são</p><p>temas que ainda não caíram em provas ou que foram pouco abordados, ou seja, não mereceram destaque de acordo com a engenharia</p><p>reversa das questões mapeadas.</p><p>4.1 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA</p><p>Não é possível falar da legislação trabalhista sem mencionar</p><p>o Decreto-lei nº 5.452, mais conhecido como Consolidação da</p><p>Leis Trabalhistas (CLT). Isso mesmo! Esse decreto foi aprovado</p><p>pelo presidente Getúlio Vargas no dia 1º de maio de 1943, Dia</p><p>do Trabalhador.</p><p>Mas, espere, muita calma! Vamos combinar que a prova</p><p>que você vai fazer é direcionada a futuros médicos residentes e</p><p>não a advogados trabalhistas, concorda? Pois é! Então, apesar</p><p>de eu achar esse tema incrivelmente interessante e proveitoso,</p><p>não adianta detalhá-lo aqui.</p><p>Você poderia então perguntar: “E a CLT pode cair na</p><p>prova?”. Na verdade, pode, mas cai pouco. Os temas da CLT que</p><p>podem ser abordados já foram diluídos em outros tópicos, a</p><p>exemplo da licença-maternidade e do direito ao intervalo para</p><p>amamentação, entre outros. Entretanto, quero destacar mais</p><p>dois pontos relacionados: a ausência no trabalho sem prejuízo</p><p>do salário e a reforma trabalhista.</p><p>O primeiro ponto está citado no artigo 473 da CLT, que</p><p>descreve as condições em que o empregado poderá deixar de</p><p>comparecer ao serviço sem prejuízo do salário. Projetei esses</p><p>tópicos no esquema abaixo, separando as causas que podem</p><p>ser questionadas nas provas de Residência Médica (direta ou</p><p>indiretamente relacionadas à medicina) dos demais motivos.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases</p><p>de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 86</p><p>Por um dia, em caso de nascimento de filho no</p><p>decorrer da primeira semana;</p><p>Um dia por ano para acompanhar filho de até seis</p><p>anos em consulta médica.</p><p>Até três dias, em cada 12 meses de trabalho, em caso</p><p>de realização de exames preventivos de câncer</p><p>(comprovada).</p><p>Por um dia, a cada 12 meses de trabalho, em caso de</p><p>doação voluntária</p><p>Razões direta ou indiretamente ligadas à medicina</p><p>Até dois dias para acompanhar consultas médicas e</p><p>exames complementares durante o período de</p><p>gravidez de sua esposa ou companheira;</p><p>Razões sem relação direta com a medicina</p><p>Até três dias consecutivos, em virtude de casamento;</p><p>Até dois dias consecutivos, em caso de falecimento do</p><p>cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa</p><p>que, declaradamente em sua carteira de trabalho e</p><p>previdência social, viva sob sua dependência</p><p>econômica;</p><p>Até dois dias consecutivos ou não, com a finalidade de</p><p>alistar-se como eleitor.</p><p>No período de tempo em que tiver de cumprir as</p><p>exigências do Serviço Militar referidas na Lei do</p><p>Serviço Militar.</p><p>Nos dias em que estiver comprovadamente realizando</p><p>provas de exame vestibular (ingresso em ensino</p><p>superior)</p><p>Pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que</p><p>comparecer a juízo.</p><p>Pelo tempo que se fizer necessário, quando,</p><p>representante de entidade sindical, estiver</p><p>participando de reunião oficial de organismo</p><p>internacional do qual o Brasil seja membro.</p><p>Esquema 7: Lista de situações em que o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário (texto adaptado do artigo 473 da Decreto-lei nº</p><p>5.452/1943).</p><p>As demais ausências por motivo de doença ou parto já foram discutidas no tópico sobre a Previdência Social.</p><p>O segundo ponto refere-se à Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, conhecida como Lei da Reforma Trabalhista. Ela alterou a CLT com</p><p>a finalidade de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Seguem algumas mudanças ocorridas a partir dela:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 87</p><p>REFORMA TRABALHISTA</p><p>ANTES DEPOIS</p><p>Trabalho Intermitente</p><p>Não havia previsão na legislação.</p><p>Criada nova modalidade de contrato com remuneração</p><p>por hora. Pode ser utilizada para jornadas não regulares</p><p>relativas a demandas variadas.</p><p>Trabalho Remoto (Home office / Teletrabalho)</p><p>Não havia previsão na legislação.</p><p>Deve haver negociação escrita com previsão para</p><p>reembolso de despesas, além de outros direitos.</p><p>Jornada de trabalho (12x36 horas)</p><p>Somente possível mediante negociação com o sindicato.</p><p>Pode ser negociada com o empregador diretamente por</p><p>meio de acordo individual escrito.</p><p>Período de gozo de Férias</p><p>Não pode ser menos de 10 dias, podendo chegar a 30 dias</p><p>consecutivos.</p><p>Pode ser dividido em até três períodos (um deles – mínimo</p><p>de 14 dias consecutivos – e dois outros mínimos de 5 dias</p><p>consecutivos).</p><p>Imposto Sindical</p><p>Obrigatório. Facultativo (o trabalhador pode optar por contribuir ou não).</p><p>Autônomos exclusivos</p><p>Não havia previsão na legislação.</p><p>O autônomo exclusivo pode prestar serviço a um único</p><p>empregador sem necessariamente estabelecer um vínculo</p><p>empregatício, mesmo que de modo contínuo.</p><p>Banco de horas</p><p>(horas trabalhadas a mais do que aquilo que foi estabelecido no contrato)</p><p>As horas trabalhadas a mais são computadas em um ban-</p><p>co de horas e podem ser compensadas conforme pactua-</p><p>do em convenção coletiva.</p><p>Pode haver negociação direta e individual com o tra-</p><p>balhador, devendo ser compensadas em até seis meses.</p><p>Gestantes/lactantes e trabalho insalubre</p><p>Gestantes e lactantes não podem trabalhar em local in-</p><p>salubre, não havendo limite para a trabalhadora avisar a</p><p>empresa sobre a gestação.</p><p>Chegou-se a permitir o trabalhado de gestantes e lactantes</p><p>em ambientes de média e baixa insalubridade, exceto</p><p>mediante atestado médico que dispusesse o oposto, mas</p><p>essa decisão já foi revertida por ter sido considerada incon-</p><p>stitucional.</p><p>A gestante precisa informar da condição de gestação en-</p><p>quanto estiver trabalhando ou durante aviso prévio.</p><p>Tabela 10: Alterações propostas pela Lei nº 13.467/2017, constantes no Decreto-lei nº 5.452/1943.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 88</p><p>Perceba que a Reforma Trabalhista chegou a propor</p><p>que as gestantes e lactantes trabalhassem em ambientes insalubres</p><p>de grau médio ou baixo, a não ser que apresentassem um relatório</p><p>médico recomendando o afastamento. Nesse sentido, foi movida a</p><p>Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 5.938 e, em maio de</p><p>2019, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou-a</p><p>procedente, assegurando o direito à proteção do mercado de</p><p>trabalho da mulher e invalidando essa norma que permitia o</p><p>trabalho de grávidas e lactantes em determinados graus de</p><p>atividades insalubres.</p><p>Outro ponto que gerou discussões foi o Imposto Sindical,</p><p>que passou a ser facultativo após a Reforma Trabalhista. Sobre esse</p><p>tema, foi movida a ADIN nº 5.794, que o STF julgou improcedente,</p><p>declarando seu parecer sobre a constitucionalidade da extinção da</p><p>obrigatoriedade da contribuição sindical.</p><p>A despeito desses pontos já pacificados pelo STF, essa</p><p>lei recebeu muitas críticas por ter essencialmente promovido a</p><p>flexibilização das leis trabalhistas e das relações de trabalho. Por</p><p>um lado, os críticos apontam que esse texto normativo satisfaz</p><p>pequenos grupos de interesse econômico em detrimento de</p><p>uma maioria de trabalhadores que passaram a ficar à mercê de</p><p>relações de trabalho ainda mais precárias, perdendo algumas</p><p>garantias trabalhistas previamente adquiridas. Por outro</p><p>lado, alguns autores acreditam que a flexibilização das leis</p><p>trabalhistas possibilitaria a retomada na geração de empregos e o</p><p>desenvolvimento econômico do país, que passava por uma crise</p><p>econômica significativa.</p><p>Os diversos autores acabam citando alguns pontos da</p><p>reforma como positivos e outros como negativos. Positivamente, a</p><p>reforma prevê a necessidade de rever a gratuidade indiscriminada</p><p>nos processos trabalhistas, o que não deixa de ser um ponto a favor</p><p>da classe empresarial.</p><p>Foi proposta, ainda, a condenação por litigância de</p><p>má-fé, ou seja, tanto o trabalhador quanto a empresa podem ser</p><p>condenados a pagar uma multa caso seja comprovado que estejam</p><p>se utilizando de má-fé durante o processo. Em outras palavras, a</p><p>empresa agiria criando falsas provas ou omitindo fatos conhecidos</p><p>para minimizar ou eximir-se de alguma condenação e, da parte do</p><p>trabalhador, este utilizaria o processo trabalhista como fonte de</p><p>enriquecimento ilícito e/ou sem causa, alegando situações que</p><p>ele já tem consciência de que não são verdadeiras. Assim, alguns</p><p>autores consideram essa condenação por litigância de má-fé como</p><p>procedente, pois seria uma forma de coibir demandas judiciais com</p><p>a finalidade de enriquecimento ilícito do reclamante (trabalhador),</p><p>desperdiçando tempo e dinheiro das partes envolvidas no processo</p><p>judicial. Porém, outros autores acreditam que isso simplesmente</p><p>serviu para inibir também os trabalhadores com demandas judiciais</p><p>legítimas de buscar seus direitos.</p><p>Com a flexibilização dos contratos de trabalho e o</p><p>surgimento do contrato intermitente, percebeu-se a tentativa</p><p>de simplificar a relação de trabalho, facilitando a retomada</p><p>econômica. Entretanto, essa flexibilização também “incentiva”</p><p>indiretamente a terceirização irrestrita de todos os tipos de atividade.</p><p>Consequentemente, observa-se uma certa permissibilidade da</p><p>ocorrência do trabalho informal e do subemprego. Alguns autores</p><p>encaram essas alterações como supressão de direitos, enquanto</p><p>outros preferem o termo “liberdade de negociação”.</p><p>Esse tema não costuma ser cobrado em prova. Por esta</p><p>razão, não vamos nos aprofundar em discussões específicas entre</p><p>os críticos e apoiadores dessa reforma. Entretanto, a UNICAMP já</p><p>perguntou sobre</p><p>são conduzidos, envolvendo práticas discriminatórias. Alguns</p><p>conceitos como "exposição segura" e outras noções e práticas</p><p>comuns da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional</p><p>também passam a ser questionados.</p><p>Com as modificações promovidas nos ambientes e</p><p>processos de trabalho, as doenças profissionais clássicas</p><p>(ex.: asbestose) tendem a reduzir, passando a observar</p><p>uma modificação no perfil de morbidade dessa população</p><p>trabalhadora, deslocando-se o eixo de adoecimento para as</p><p>doenças relacionadas ao trabalho, como os distúrbios mentais</p><p>e o câncer. Assim, necessita-se de uma estratégia de atuação</p><p>com foco na “promoção da saúde” e não apenas na “redução</p><p>de riscos”, como ocorria no modelo da Saúde Ocupacional.</p><p>Portanto, essa nova carga de exigência acaba</p><p>sobrepondo-se àquelas características existentes na grande</p><p>maioria dos serviços de Saúde Ocupacional, surgindo a</p><p>necessidade de um novo modelo que envolve a Saúde do</p><p>Trabalhador. Ele destaca-se por ser um campo em construção</p><p>no espaço da saúde pública, tendo o processo saúde-doença e</p><p>sua relação com o trabalho como objetos de estudo.</p><p>A Saúde do Trabalhador começa a buscar entender o</p><p>modo e a razão desse sistema e a desenvolver alternativas de</p><p>intervenção que considerem a participação dos trabalhadores</p><p>e a criação de espaços laborais mais saudáveis, com base na</p><p>teoria da determinação social do processo saúde-doença,</p><p>superando o enfoque apenas no processo produtivo, que</p><p>desconsidera a subjetividade.</p><p>Nesse modelo, o trabalho é reconhecido como</p><p>organizador da vida social e os indivíduos adquirem um papel</p><p>ativo como sujeitos pensantes, atores e representantes da</p><p>sociedade. Reconhece-se que esses trabalhadores são pessoas</p><p>com seus próprios valores, crenças e ideias, que devem</p><p>ser consideradas nesse processo, além de não desprezar</p><p>suas possibilidades de consumo de bens e serviços. Sobre</p><p>isso, pode-se destacar que o próprio Henry Ford foi um dos</p><p>primeiros a reconhecer seus funcionários como consumidores</p><p>de sua produção, limitando o expediente a oito horas por dia e</p><p>aumentando os salários dos operários.</p><p>(UEL/PR/2017) Em relação à atuação da Medicina do Trabalho, considere as afirmativas a seguir.</p><p>I. A Medicina do Trabalho, enquanto especialidade médica, surge na Inglaterra, na primeira metade do século XIX, quando o consumo da força</p><p>de trabalho, resultante da submissão dos trabalhadores a um processo acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena</p><p>de tornar inviável a sobrevivência e a reprodução do próprio processo produtivo;</p><p>II. A atuação da Medicina do Trabalho se dá por meio da organização de equipes multiprofissionais, com ênfase na higiene ocupacional, e com</p><p>a estratégia de intervir nos locais de trabalho para controlar os riscos ambientais;</p><p>III. A Saúde Ocupacional constitui fundamentalmente uma atividade médica, e o lócus de sua prática dá-se tipicamente nos locais de trabalho;</p><p>suas ações, no processo saúde-doença, estão baseadas na relação agente versus hospedeiro;</p><p>IV. A Saúde do Trabalhador está baseada na teoria da determinação social do processo saúde-doença e busca a explicação sobre o adoecer e</p><p>o morrer das pessoas, dos trabalhadores em particular, através do estudo dos processos de trabalho, de forma articulada com o conjunto de</p><p>valores, crenças e ideias, representações sociais e possibilidade de consumo de bens e serviços.</p><p>Assinale a alternativa correta.</p><p>A) Somente as afirmativas I e II são corretas.</p><p>B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.</p><p>C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.</p><p>D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.</p><p>E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 10</p><p>Ah, mas isso é aula de história, professora, as provas de</p><p>Residência Médica não vão perguntar sobre história, né?</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A afirmativa I é verdadeira, pois a Medicina do Trabalho, de fato, surgiu em meio à Revolução Industrial na Inglaterra, a partir do receio</p><p>da possibilidade de o processo produtivo (acelerado e desumano) passar a ser inviável.</p><p>Por outro lado, a Medicina do Trabalho não atuava através de equipes multiprofissionais, mas estava restrita ao médico. Assim, a</p><p>afirmativa II está incorreta, pois descreve características da Saúde Ocupacional, não da Medicina do Trabalho.</p><p>Em contrapartida, a afirmativa III está incorreta por descrever a Medicina do Trabalho, já que afirma que ela é constituída</p><p>fundamentalmente em uma atividade médica.</p><p>Por fim, entende-se que a afirmativa IV está correta, porque descreve que a Saúde do Trabalhador tem por base, a teoria da determinação</p><p>social do processo saúde-doença, buscando a explicação da morbimortalidade dos trabalhadores por meio de estudos mais ampliados, que</p><p>envolvem não somente os processos e ambientes de trabalho, mas também o conjunto de outros determinantes existentes na vida social</p><p>(valores, crenças, ideias, representações sociais e possibilidade de consumo de bens e serviços).</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>O estudo da Saúde do Trabalhador envolve a avaliação das relações entre o trabalho e a saúde, com o objetivo de evitar agravos ou</p><p>doenças, além de promover a saúde, considerando o modelo de determinação social. Esse campo de atuação abrange as ações de vigilância</p><p>dos riscos existentes nos ambientes e das condições de trabalho, além da organização e da prestação de assistência aos trabalhadores,</p><p>que compreende desde o diagnóstico e tratamento dos agravos até a reabilitação. É importante salientar que todas essas ações podem ser</p><p>realizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).</p><p>A Constituição Federal, de 1988, prevê a participação da saúde do trabalhador no SUS da seguinte forma:</p><p>Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: (...)</p><p>VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 11</p><p>Adicionalmente, a Lei nº 8.080, de 1990, conceitua a atuação do SUS na saúde do trabalhador como “um conjunto de atividades que se</p><p>destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como</p><p>visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho” (parágrafo</p><p>3º do artigo 6º da Lei nº 8.080/1990).</p><p>Todo esse conjunto de atividades está detalhado nos incisos de I a VIII do referido parágrafo, abrangendo os tópicos a seguir:</p><p>Esquema 1: Lista de abrangência do SUS no campo da Saúde do Trabalhador (texto adaptado dos incisos de I a VIII do parágrafo 3º do artigo 6º da Lei nº 8.080/1990).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 12</p><p>Gabarito: alternativa B.</p><p>A política nacional do SUS define a participação das ações de Saúde do Trabalhador na rede de atenção à saúde, tendo a atenção</p><p>básica como porta de entrada e os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador como respaldo técnico complementar, além de outros</p><p>pontos da rede. Dessa forma, é possível atender a todos os trabalhadores, cumprindo os preceitos constitucionais (como o acesso universal</p><p>e integral) e as demais determinações legais envolvidas na preservação da saúde desse segmento populacional.</p><p>Atendendo às características do SUS, a atenção à saúde do trabalhador também demanda o envolvimento de uma equipe</p><p>multiprofissional com enfoque interdisciplinar. Portanto, os profissionais responsáveis pela atenção aos trabalhadores no sistema de saúde</p><p>não são somente aqueles com formação especializada em Medicina do Trabalho ou Enfermagem do Trabalho, mas sim todos aqueles que</p><p>atendem em qualquer nível da rede. Assim, prestam suporte aos trabalhadores: enfermeiros,</p><p>isso e você perceberá, na questão a seguir, que o</p><p>examinador não se aprofunda na discussão, exigindo apenas que</p><p>você conheça os possíveis desdobramentos ocorridos nas relações</p><p>de trabalho no contexto geral.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 89</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UNICAMP/SP/2019) A aprovação da Lei nº 13.467/2017, conhecida como reforma trabalhista, tem levantado a discussão sobre precarização</p><p>do trabalho que se caracteriza por:</p><p>A) Terceirização, subemprego e trabalho informal.</p><p>B) Contribuição sindical facultativa, trabalho intermitente e teletrabalho.</p><p>C) Instabilidade no emprego, subemprego e desemprego.</p><p>D) Aceleração do ritmo de trabalho, terceirização e insalubridade.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Entre outras alterações da CLT, a maior polêmica gerada pela Reforma Trabalhista envolve a flexibilização nos contratos de trabalho, o</p><p>que acabou proporcionando a terceirização das atividades, o subemprego e o trabalho informal (alternativa A).</p><p>Vamos aproveitar para discutir algumas alterações sugeridas nas demais alternativas. De fato, essa reforma sugere que a contribuição</p><p>sindical seja recolhida mediante autorização expressada previamente e também descreve sobre o contrato de trabalho intermitente e o</p><p>teletrabalho. Entretanto, apesar de haver algumas discussões acerca desses pontos, a maior polêmica gira em torno das situações apontadas</p><p>na alternativa A, relativas à precarização das relações de trabalho. Lembre-se de que o entendimento sobre o imposto sindical já foi julgado</p><p>pelo STF. O contrato de trabalho intermitente foi, inclusive, um dos pontos que trouxe como consequência essa precarização das relações</p><p>de trabalho. No mais, a reforma foi proposta em um contexto de crise econômica, na tentativa de gerar empregos, portanto a alternativa</p><p>C estaria incorreta, pois descreve o termo “desemprego”. Por fim, a reforma não cita o ritmo de trabalho, muito menos sua aceleração, por</p><p>isso, a alternativa D estaria errada. Adicionalmente, o afastamento das gestantes e lactantes dos trabalhos insalubres foi um ponto também</p><p>já julgado pelo STF.</p><p>Gabarito: alternativa A.</p><p>4.1.1 RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO (RAT) E FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO (FAP)</p><p>As empresas também contribuem para o regime</p><p>previdenciário, não somente através do recolhimento da parcela</p><p>devida ao trabalhador, mas também através de alíquotas conhecidas</p><p>como RAT (Riscos Ambientais do Trabalho) e FAP (Fator Acidentário</p><p>de Prevenção). Vou explicar de forma bastante resumida, somente</p><p>para que você possa ter uma noção geral.</p><p>• A alíquota RAT é um percentual fixo que varia em função</p><p>do risco da atividade econômica preponderante da empresa,</p><p>podendo ser: 1% (risco leve), 2% (risco médio) e 3% (risco grave).</p><p>A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)</p><p>define qual é o percentual do RAT. No Anexo V, do Decreto nº</p><p>6.957/2009, está a última revisão da tabela completa do CNAE</p><p>das empresas para enquadramento de risco das alíquotas RAT.</p><p>Ex.: Os frigoríficos enquadram-se na alíquota 3, já os cartórios se</p><p>enquadram na alíquota 1.</p><p>• O FAP é a oportunidade de a empresa mostrar seu</p><p>desempenho dentro da respectiva atividade econômica, em</p><p>relação aos acidentes de trabalho ocorridos em determinado</p><p>período, e tentar compensar o valor do RAT. O FAP consiste num</p><p>multiplicador variável sobre a alíquota RAT. De acordo com o</p><p>desempenho da empresa, o FAP pode variar entre cinco décimos</p><p>a dois inteiros, sempre utilizando quatro casas decimais (0,5000</p><p>a 2,000). O cálculo do FAP é anual, devendo-se utilizar os dados</p><p>de janeiro a dezembro de cada ano, até completar o período total</p><p>de dois anos.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 90</p><p>Veja como é fácil calcular a alíquota RAT!</p><p>O Frigorífico Boi Berrando está indo muito bem! Teve um excelente desempenho nos dados de saúde e segurança do</p><p>trabalho e não registra doenças ou acidentes do trabalho há dois anos. Sendo assim, obteve o melhor FAP: 0,5000.</p><p>Já vimos que os Frigoríficos se enquadram em uma alíquota de 3% do RAT. Então, multiplicaremos o 0,5000 (FAP) por 3 (RAT)</p><p>para saber o valor que o estabelecimento vai contribuir e eis que a alíquota de contribuição do Frigorífico Boi Berrando será de 1,5%.</p><p>Note que o FAP é uma chance de a empresa reduzir em 50%</p><p>o valor que precisa pagar, mas, se houver descuido nas medidas</p><p>de saúde e segurança do trabalho, também poderá dobrar a</p><p>alíquota inicialmente prevista. São levados em conta para cálculo</p><p>do FAP: os registros de acidentes e doenças do trabalho informados</p><p>ao INSS através da CAT e os registros de benefícios acidentários</p><p>estabelecidos por nexos técnicos pelos peritos do INSS, mesmo sem</p><p>a CAT. Portanto, todo o nexo ocupacional que for feito de forma</p><p>indevida poderá incorrer no aumento do pagamento de alíquotas,</p><p>com prejuízo financeiro às empresas.</p><p>Em relação ao exemplo dado, seria 1,5% de que? A</p><p>multiplicação da alíquota RAT com o FAP resulta no que</p><p>chamamos de RAT ajustado, o percentual que a empresa deve</p><p>pagar, que incide sobre sua folha de pagamento. Esse valor seria</p><p>destinado à cobertura de eventos resultantes de acidente do</p><p>trabalho (aposentadorias, afastamentos etc.).</p><p>O RAT e o FAP, além de outros acréscimos específicos</p><p>de contribuição das empresas, estão previstos no Decreto no</p><p>3.048/1999.</p><p>4.2 NORMAS REGULAMENTADORAS (NR):</p><p>As Normas Regulamentadoras (NRs) estabelecem algumas</p><p>obrigações, direitos e deveres tanto dos empregadores quanto</p><p>dos trabalhadores, tendo como foco principal a promoção</p><p>de um ambiente de trabalho seguro e sadio, prevenindo a</p><p>ocorrência de acidentes ou agravos. Nesse sentido, as NRs</p><p>apresentam orientações adicionais ao capítulo V da CLT. Tanto a</p><p>elaboração quanto a revisão das NRs são realizadas por grupos e</p><p>comissões, que adotam o sistema tripartite paritário, compostos</p><p>por representantes de: governo, empregadores e empregados.</p><p>As NRs vêm sendo amplamente atualizadas desde 2019, o</p><p>que merece nossa atenção, pois os examinadores adoram</p><p>perguntar sobre novidades! Essas normas são numeradas de 1</p><p>a 37. Entretanto, temos um total de 35 normas já que a NR-2</p><p>(Inspeção Prévia) e a N-27 (Registro Profissional do Técnico de</p><p>Segurança do Trabalho) foram revogadas.</p><p>As NRs contemplam muitos detalhes normativos, que</p><p>cabem somente na prática dos profissionais que trabalharão</p><p>diretamente no ramo da Saúde e Segurança do Trabalho.</p><p>Entretanto, algumas delas já foram abordadas em provas.</p><p>somando todas as normas disponíveis, temos mais de 1.000</p><p>páginas de regras a serem seguidas.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 91</p><p>Mas calma, não precisa bater o desespero. As normas regulamentadoras são pouquíssimo cobradas nas provas de Residência Médica</p><p>e é por isso que elas estão aqui no anexo do seu livro.</p><p>Portanto, descreveremos apenas as seguintes normas: NR-1, NR-4, NR-5, NR-6, NR-7 e NR-32. Em outras palavras, escolhemos apenas</p><p>aquelas que já foram cobradas em prova e que foram atualizadas recentemente, já que as bancas amam uma novidade. Dentre elas, a mais</p><p>importante é a NR-7, que é o coração da Medicina do Trabalho!</p><p>4.2.1 NR-1 - DISPOSIÇÕES GERAIS E GERENCIAMENTO DE RISCOS OCUPACIONAIS</p><p>A NR-1 define os padrões gerais aplicáveis a todas as demais normas. Sua última atualização ocorreu em 9 de março de 2020, sendo</p><p>alterada pela Portaria SEPRT nº 6.730. Leia seus objetivos:</p><p>1.1.1 O objetivo desta Norma é estabelecer as disposições gerais, o campo de aplicação, os termos e as</p><p>definições comuns às Normas Regulamentadoras - NR relativas à segurança e saúde no trabalho e as diretrizes</p><p>e os requisitos para o gerenciamento de riscos ocupacionais e as medidas de prevenção em Segurança e Saúde</p><p>no Trabalho - SST.</p><p>Essa NR também prevê os direitos e deveres do trabalhador e do empregador, devendo</p><p>ambos cumprirem e fazerem cumprir as</p><p>disposições sobre segurança e saúde no trabalho, veja alguns exemplos:</p><p>• Cabe ao Trabalhador: submeter-se aos exames médicos previstos nas NRs; colaborar com a organização na aplicação das NRs; usar o</p><p>equipamento de proteção individual fornecido pelo empregador; interromper suas atividades quando constatar uma situação de trabalho</p><p>que envolva um risco grave e iminente para sua vida e saúde.</p><p>• Cabe ao Empregador: informar os trabalhadores dos riscos ocupacionais, medidas de prevenção e resultados dos exames; permitir</p><p>a fiscalização dos órgãos competentes.</p><p>Ao implementar as medidas de prevenção, o empregador deverá seguir a seguinte ordem de prioridade:</p><p>Eliminação dos</p><p>fatores de risco.</p><p>Minimização e</p><p>controle dos fatores</p><p>de risco com</p><p>medidas</p><p>administrativas</p><p>ou de</p><p>organização</p><p>do trabalho.</p><p>Minimização e</p><p>controle dos fatores</p><p>de risco com</p><p>medidas de</p><p>proteção coletiva.</p><p>Adoção de</p><p>medidas</p><p>de proteção</p><p>individual.</p><p>Esquema 1: Lista ordenada de medidas de prevenção de doenças e acidentes de trabalho a serem implementadas pelo empregador.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 92</p><p>Novidades da NR-1</p><p>• Previsão do chamado Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR);</p><p>• Possibilidade da emissão e armazenamento em formato digital de documentos com informações de segurança e saúde no</p><p>trabalho;</p><p>• Capacitação e treinamento em Segurança e Saúde no Trabalho com a modalidade de ensino à distância ou semipresencial;</p><p>• Tratamento diferenciado ao Microempreendedor Individual (MEI), à Microempresa (ME) e à Empresa de Pequeno Porte</p><p>(EPP). Como por exemplo: dispensa do MEI de elaborar o PGR; dispensa de alguns casos da elaboração do Programa de Controle</p><p>Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que aprenderemos na NR-7. Mas, atenção! A dispensa do PCMSO não desobriga a empresa</p><p>da realização dos exames médicos e da emissão do Atestado de Saúde Ocupacional (ASO).</p><p>4.2.2 NR-4 - SERVIÇOS ESPECIALIZADOS EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E EM MEDICINA DO</p><p>TRABALHO (SESMT)</p><p>A NR-4 teve sua última modificação pela Portaria n° 2.318,</p><p>de 3 de agosto de 2022, publicada em 12/08/2022.</p><p>Essa norma prevê o dimensionamento dos Serviços</p><p>Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do</p><p>Trabalho, também conhecidos como SESMT. Estes, como o próprio</p><p>nome indica, são serviços instituídos dentro das empresas para</p><p>cuidar da segurança e saúde do trabalhador.</p><p>Os SESMTs podem ser formados pelos seguintes</p><p>profissionais: Técnico Segurança do Trabalho, Engenheiro de</p><p>Segurança do Trabalho, Auxiliar (ou Técnico) de Enfermagem do</p><p>Trabalho, Enfermeiro do Trabalho e Médico do Trabalho. Nem</p><p>todas as empresas precisam ter todos esses profissionais. Além</p><p>disso, pode haver mais de um desses profissionais em uma</p><p>empresa, por exemplo: legalmente, algumas podem necessitar de</p><p>oito técnicos de segurança para compor o SESMT de determinada</p><p>empresa.</p><p>O dimensionamento do SESMT depende de duas</p><p>características: grau de risco da empresa (identificado através da</p><p>Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE) e número</p><p>total de empregados do estabelecimento. Quanto maior for o grau</p><p>de risco e o número de empregados, maior será a quantidade</p><p>de profissionais necessária para compor o SESMT da empresa,</p><p>que serão os profissionais responsáveis por auxiliar nas ações de</p><p>prevenção de saúde e segurança do trabalho.</p><p>4.2.3 NR- 5 - COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES E ASSÉDIO (CIPA)</p><p>A NR-5 teve modificações importantes em 2022. Desde 21</p><p>de setembro de 2022, com a publicação da Lei 14.457 (Programa</p><p>Emprega Mais Mulheres), a comissão teve seu nome alterado para</p><p>Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio.</p><p>A CIPA, como o próprio nome sugere, visa a prevenção de</p><p>acidentes e doenças geradas pelo trabalho, de modo a torná-</p><p>lo permanentemente compatível com a preservação da vida e a</p><p>promoção da saúde. Essa comissão é composta por:</p><p>• representantes do empregador, titulares e suplentes, que</p><p>são indicados pelo empregador;</p><p>• representantes dos empregados, titulares e suplentes,</p><p>que são eleitos em escrutínio (processo de votação que utiliza</p><p>uma urna) secreto, no qual devem participar os empregados</p><p>interessados.</p><p>O número de membros titulares e suplentes da CIPA</p><p>dependerá da CNAE da empresa e da quantidade de funcionários</p><p>que ela possui.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 93</p><p>O mandato dos membros eleitos da CIPA dura um ano, sendo</p><p>permitida uma reeleição. Desde o registro de sua candidatura até</p><p>um ano após o fim do mandato de um empregado eleito, é vedada</p><p>a dispensa arbitrária ou sem justa causa. Portanto, ser membro da</p><p>CIPA gera estabilidade no emprego já na época da candidatura e,</p><p>se for eleito, até um ano após o final do mandato do empregado.</p><p>Considerando que pode haver uma reeleição, se for reeleito, esse</p><p>trabalhador pode ter até 3 anos seguidos de estabilidade!</p><p>Atenção! Os representantes escolhidos pelo empregador não possuem estabilidade, somente os representantes eleitos a</p><p>possuem.</p><p>A CIPA é responsável por promover, anualmente, em parceria com o SESMT (se houver na empresa), a Semana Interna de Prevenção</p><p>de Acidentes do Trabalho (SIPAT). Nesse evento, diversos temas relacionados aos cuidados de saúde e à prevenção de doenças e acidentes</p><p>relacionados ao trabalho devem ser abordados.</p><p>4.2.4 NR- 6 - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)</p><p>A NR-6 teve sua última modificação pela Portaria MTP 2.175, de 28/07/2022</p><p>O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é qualquer dispositivo ou produto utilizado individualmente pelo trabalhador, que tenha</p><p>o objetivo de protegê-lo contra os riscos que ameaçam sua segurança e saúde no ambiente de trabalho, como botas, luvas, óculos, máscaras</p><p>faciais, capacetes e protetores auriculares, entre outros.</p><p>O EPI também pode ser composto por vários dispositivos conjugados, associados pelo fabricante para proteção contra um ou mais riscos</p><p>que possam ocorrer simultaneamente, a exemplo de capacetes que já vêm com o fone de ouvido acoplado. O EPI, nacional ou importado,</p><p>só pode ser vendido ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (CA), expedido pelo órgão nacional competente em matéria</p><p>de segurança e saúde no trabalho.</p><p>Figura 1: Equipamentos de proteção individual (botas, luvas, protetor auricular, capacete). (Fonte: Freepik)</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 94</p><p>Portanto, todo equipamento precisa ter o CA,</p><p>ou seja, aquela máscara de fabricação caseira</p><p>ou uma bota bem linda que você escolheu</p><p>usar, não são aceitas como EPI.</p><p>Professora, eu não entendi direito a relação</p><p>entre o PCMSO e o PGR, poderia explicar?</p><p>O fornecimento gratuito do EPI pela empresa é obrigatório,</p><p>sendo viável nas seguintes situações:</p><p>• sempre que as medidas de ordem geral (medidas de</p><p>prevenção macro) não ofereçam completa proteção contra os</p><p>riscos;</p><p>• enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo</p><p>implantadas;</p><p>• para atender a situações de emergência.</p><p>Por exemplo, antes de fornecer um protetor auricular</p><p>para um trabalhador de indústria exposto ao ruído, devemos</p><p>primeiramente verificar se existe a possibilidade de eliminar a</p><p>exposição ao risco. Isso poderia ser feito através da manutenção</p><p>na máquina (reduzindo o ruído emitido por ela) ou modificando</p><p>o processo de trabalho para evitar o uso dessa máquina na</p><p>empresa. Se não for possível eliminar o risco, devemos pensar</p><p>em medidas de proteção coletiva, que envolvam não somente</p><p>um, mas todos os trabalhadores, como a colocação da máquina</p><p>que emite o ruído em enclausuramento acústico. Entretanto,</p><p>enquanto essas medidas de proteção coletiva não forem</p><p>implantadas, devemos optar pelo uso de protetores auditivos</p><p>nos trabalhadores. Note que o EPI foi a última</p><p>medida de</p><p>prevenção a ser considerada.</p><p>4.2.5 NR-7 - PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL (PCMSO)</p><p>A NR-7 teve sua última modificação pela Portaria SEPRT</p><p>8.873, de 23/07/2021, com início da vigência em 2022. Essa norma</p><p>estabelece diretrizes do Programa de Controle Médico de Saúde</p><p>Ocupacional (PCMSO) nas organizações, objetivando “proteger</p><p>e preservar a saúde de seus empregados em relação aos riscos</p><p>ocupacionais, conforme avaliação de riscos do Programa de</p><p>Gerenciamento de Risco (PGR) da organização”. Anteriormente,</p><p>o PCMSO era baseado no Programa de Prevenção de Riscos</p><p>Ambientais (PPRA) que, com a atualização da NR-9 e NR-1, passou</p><p>a chamar-se PGR. A essência continua a mesma já que o PGR</p><p>continua sendo o programa que promove o gerenciamento dos</p><p>riscos nos ambientes de trabalho.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 95</p><p>A questão é a seguinte: se o PCMSO é o programa que</p><p>visa preservar a saúde dos trabalhadores, como conseguiríamos</p><p>programar qualquer ação sem conhecer os riscos a que esses</p><p>trabalhadores estão expostos? Não conseguiríamos! Por essa razão,</p><p>para que seja possível avaliar as ações que devemos tomar naquela</p><p>população de trabalhadores, precisamos ter acesso ao documento</p><p>que contempla o mapeamento dos riscos.</p><p>Por exemplo, você foi o médico contratado para cuidar de</p><p>trabalhadores de uma empresa de fabricação de peças de arte.</p><p>O dono da empresa explica que ele trabalha com 10 mulheres na</p><p>função de escultoras. Ao visitar a fábrica, você se depara com a</p><p>figura ao lado e pensa: “quanta poeira! Há risco de desenvolvimento</p><p>de pneumoconiose.” Certamente, você procurará no PGR os</p><p>limites de exposição ocupacional a particulados (denominação</p><p>que usamos para poeira) de modo que planeje, em seu PCMSO,</p><p>a realização de exames específicos (radiografia de tórax padrão</p><p>OIT e espirometria), a periodicidade dos exames (anual? A cada 2</p><p>anos?), além da indicação de medidas de proteção coletivas (ex.:</p><p>exaustores) ou de uso de equipamentos individuais de proteção</p><p>respiratória (ex.: máscara).</p><p>Figura 2: Produção de peças de arte. (Fonte: Shutterstock)</p><p>RESUMO DE FUNÇÕES DO PCMSO (PREVISTAS NA NR-7)</p><p>• rastrear e detectar precocemente os agravos à saúde relacionados ao trabalho, além de considerar as exposições excessivas</p><p>a agentes nocivos;</p><p>• definir a aptidão de cada empregado para exercer suas funções;</p><p>• implantar medidas de prevenção;</p><p>• fazer análises epidemiológicas e estatísticas dos agravos à saúde e sua relação com os riscos;</p><p>• promover a vigilância passiva e ativa da saúde ocupacional;</p><p>• acompanhar os afastamentos de empregados das atividades ou pela Previdência Social;</p><p>• notificar os agravos relacionados ao trabalho;</p><p>• promover a reabilitação profissional e readaptação profissional;</p><p>• controlar a imunização ativa dos empregados, relacionada a riscos ocupacionais.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 96</p><p>O empregador deverá custear, sem ônus para o empregado, todos os procedimentos relacionados ao PCMSO, incluindo os exames</p><p>ocupacionais. Lembre-se de que nem todas as empresas precisam ter PCMSO, a exigência desse programa dependerá de características</p><p>específicas da empresa.</p><p>4.3 EXAMES OCUPACIONAIS E ATESTADO MÉDICO OCUPACIONAL (ASO)</p><p>O PCMSO deve incluir a realização obrigatória dos exames médicos ocupacionais.</p><p>ADMISSIONAL</p><p>Deve ser feito antes de o trabalhador iniciar suas atividades na empresa.</p><p>PERIÓDICO</p><p>Deve ter uma periodicidade regular, podendo variar entre semestral, anual ou a cada dois anos,</p><p>a depender dos riscos ocupacionais e do perfil dos trabalhadores.</p><p>RETORNO AO TRABALHO</p><p>Deve ser feito após ausência maior ou igual a 30 dias</p><p>por doença ou acidente, antes de o empregado reassumir sua função.</p><p>MUDANÇA DE RISCOS OCUPACIONAIS (antigo "MUDANÇA DE FUNÇÃO")</p><p>Deve ser feito antes de o trabalhador iniciar suas atividades no novo cargo,</p><p>somente é necessário se houver exposição a riscos diferentes do cargo atual.</p><p>DEMISSIONAL</p><p>Deve ser feito em até 10 dias do final do contrato de trabalho. Pode ser</p><p>dispensado em condições espeçificas detalhadas na NR-7.</p><p>Esquema 2: Tipos de exames médicos ocupacionais previstos na NR-7.</p><p>Exemplo prático: Juliana foi contratada pela Empresa</p><p>Jobs. Antes de começar a trabalhar, ela foi submetida ao Exame</p><p>Admissional, que foi pago pela empresa. No ano seguinte, realizou</p><p>o Exame Periódico após um ano de contratada. Em seguida,</p><p>ficou afastada pelo INSS por 90 dias por ter sido submetida a</p><p>uma cirurgia. Como foram mais de 30 dias de ausência, ela foi</p><p>submetida ao Exame de Retorno ao Trabalho, antes de voltar</p><p>às atividades na empresa. Após cinco anos, foi promovida para</p><p>um novo cargo, em uma nova função em que estava exposta a</p><p>partículas de sílica, portanto submeteu-se ao Exame de Mudança</p><p>de Riscos Ocupacionais, com a realização da radiografia de tórax</p><p>padrão OIT e espirometria, antes de atuar no novo cargo. Após</p><p>11 anos, Juliana pede demissão e deverá passar pelo Exame</p><p>Demissional.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 97</p><p>Professora, você já citou duas vezes a</p><p>radiografia de tórax padrão OIT e a</p><p>espirometria, poderia explicar melhor?</p><p>Claro! Vou colocar um quadro resumido a</p><p>seguir sobre como está prevista a realização</p><p>desses exames pela NR-7.</p><p>• Lembrando que maiores detalhes sobre as pneumoconioses podem ser encontrados em outro livro específico da Pneumologia.</p><p>Os exames médicos ocupacionais compreendem a avaliação clínica ocupacional e os exames complementares. A avaliação clínica é</p><p>realizada em todos os casos e os exames complementares serão solicitados a depender da exposição a riscos específicos (ex.: para função com</p><p>exposição a ruído, devemos solicitar a audiometria; para exposição a xileno, solicitaremos o ácido metil-hipúrico na urina).</p><p>Entre os objetivos da avaliação clínica ocupacional, podemos listar os seguintes:</p><p>CONDIÇÃO ATUAL DE SAÚDE</p><p>Verificar a condição atual de saúde do trabalhador e a</p><p>compatibilidade com a função proposta em seu trabalho.</p><p>ANTECEDENTES PESSOAIS</p><p>A. investigar agravos pregressos ou atuais, verificando se há ou não relação com o trabalho.</p><p>B. Questionar eventos traumáticos ou acidentes pregressos, verificando relação com o</p><p>trabalho e se há alguma restrição que demande remanejamento de atividade ou readaptação.</p><p>C. Identificar os afastamentos anteriores, incluindo tratamentos, cirurgias e internamentos.</p><p>ANTECEDENTES FAMILIARES</p><p>Conhecer o histórico familiar para identificar alguma predisposição a problemas</p><p>de saúde que possam emergir quando for exposto aos fatores de riscos ocupacionais.</p><p>ANTECEDENTES OCUPACIONAIS</p><p>Conhecer o histórico ocupacional, principalmente acerca de exposição a fatores de risco</p><p>anteriores, funções exercidas, diagnósticos de acidentes ou doenças que tiveram relação</p><p>com o trabalho e as consequências geradas para a saúde do trabalhador.</p><p>Esquema 3: Objetivos da avaliação clínica ocupacional.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 98</p><p>Após a avaliação ocupacional, o médico deve emitir o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) em duas vias, sendo uma do empregador</p><p>e a outra do empregado. Esse documento deverá ser comprovadamente disponibilizado ao empregado e fornecido em meio físico quando</p><p>solicitado. Uma forma de comprovar a entrega do ASO ao empregado, por exemplo, seria mediante assinatura de recebido na via que fica</p><p>arquivada na empresa.</p><p>O ASO deve conter no mínimo:</p><p>DADOS DA EMPRESA</p><p>• (razão social e CNPJ</p><p>ou CAEPF da organização);</p><p>DADOS DO EMPREGADO</p><p>• (nome, CPF, função</p><p>ou cargo);</p><p>DADOS SOBRE OS RISCOS</p><p>• identificados no PGR, que</p><p>necessitem de controle</p><p>médico, ou sua inexistência;</p><p>DADOS DO MÉDICO</p><p>• nome e registro profissional do médico</p><p>que realizou</p><p>o exame e do médico</p><p>responsável pelo PCMSO (se houver).</p><p>DADOS DOS EXAMES REALIZADOS</p><p>• data e nomes (ex.: audiometria - 12/03/2020);</p><p>• não descrever resultados (sigilo profissional);</p><p>• definição de apto ou inapto para o cargo.</p><p>Esquema 4: Informações mínimas que devem constar no ASO, conforme NR-7.</p><p>Observe um modelo fictício a seguir, mas lembre-se de que o ASO pode apresentar-se sobre diversos formatos, desde que contenha as</p><p>informações mínimas sugeridas pela NR-7.</p><p>4.4 INDICADORES BIOLÓGICOS</p><p>Outro ponto da NR-7, que também pode ser abordado em provas, diz respeito à monitoração da exposição ocupacional a agentes</p><p>químicos através dos indicadores biológicos. Com a atualização da norma, alguns exames mudaram e outros foram acrescentados. Sugiro dar</p><p>uma olhada na tabela resumida e adaptada a seguir, onde estão destacadas em negrito as substâncias mais prováveis de serem cobradas em</p><p>provas:</p><p>QUADRO 1 adaptado - Indicadores Biológicos de Exposição Excessiva (IBE/EE)</p><p>SUBSTÂNCIA INDICADOR(ES)</p><p>Acetona Acetona na urina</p><p>Anilina</p><p>p-amino-fenol na urina(H) ou</p><p>meta-hemoglobina no sangue</p><p>Arsênico elementar e seus compostos inorgânicos</p><p>solúveis, exceto arsina e arsenato de gálio</p><p>Arsênico inorgânico mais metabólitos metilados na urina</p><p>Benzeno</p><p>Ácido s-fenilmercaptúrico (S-PMA) na urina ou Ácido</p><p>trans-transmucônico (TTMA) na urina</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 99</p><p>Clorobenzeno 4-clorocatecol na urina ou p-clorocatecol na urina</p><p>Monóxido de carbono</p><p>Carboxihemoglobina no sangue ou Monóxido de carbono</p><p>no ar exalado</p><p>Chumbo tetraetila Chumbo na urina</p><p>Cromo hexavalente (compostos solúveis) Cromo na urina</p><p>Etilbenzeno Soma dos ácidos mandélico e fenilglioxílico na urina</p><p>n-hexano 2,5 hexanodiona (HS) (2,5HD) na urina</p><p>Mercúrio metálico Mercúrio na urina</p><p>Metanol Metanol na urina</p><p>Fenol Fenol(H) na urina</p><p>Tolueno</p><p>Tolueno no sangue ou Tolueno na urina ou Orto-cresol na</p><p>urina(H)</p><p>Tricloroetileno</p><p>Ácido tricloroacético na urina ou Tricloroetanol no sangue</p><p>(HS)</p><p>Xilenos Ácido metilhipúrico na urina</p><p>Tabela 2: Informações adaptadas do quadro 1 da NR-7 sobre Indicadores Biológicos de Exposição Excessiva (IBE/EE).</p><p>QUADRO 2 adaptado - Indicadores Biológicos de Exposição com Significado Clínico (IBE/SC)</p><p>SUBSTÂNCIA INDICADOR(ES)</p><p>Cádmio e seus compostos inorgânicos Cádmio na urina</p><p>Inseticidas inibidores da colinesterase</p><p>Atividade da acetilcolinesterase eritrocitária ou</p><p>Atividade da butilcolinesterase no plasma ou soro.</p><p>Flúor, ácido fluorídrico e fluoretos inorgânicos Fluoreto urinário</p><p>Chumbo e seus compostos inorgânicos</p><p>Chumbo no sangue (Pb-S) e</p><p>Ácido Delta Amino Levulínico na urina (ALA- U)</p><p>Tabela 3: Informações adaptadas do quadro 2 da NR-7 sobre Indicadores Biológicos de Exposição com Significado Clínico (IBE/SC).</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 100</p><p>4.5 NR-32 - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE</p><p>Chegamos a mais uma norma que pode ser cobrada em</p><p>provas de Residência Médica e, por isso, será um pouco mais</p><p>detalhada: a NR-32! Sua última modificação foi pela Portaria MTP</p><p>nº 4.219, de 20/12/2022.</p><p>Essa é a norma que define as diretrizes para a</p><p>implementação de medidas de proteção para a segurança e</p><p>saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como</p><p>daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à</p><p>saúde em geral.</p><p>Os serviços de saúde são aqueles destinados à assistência</p><p>à saúde das pessoas, às ações de promoção e recuperação (ex.:</p><p>reabilitação), incluindo também a pesquisa e o ensino em saúde</p><p>em qualquer nível de complexidade. Em suma, essa é a NR que</p><p>versa sobre a nossa atuação profissional!</p><p>Baixe na Google Play Baixe na App Store</p><p>Aponte a câmera do seu celular para o</p><p>QR Code ou busque na sua loja de apps.</p><p>Baixe o app Estratégia MED</p><p>Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula!</p><p>Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação.</p><p>Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser.</p><p>Resolva questões pelo computador</p><p>Copie o link abaixo e cole no seu navegador</p><p>para acessar o site</p><p>Resolva questões pelo app</p><p>Aponte a câmera do seu celular para</p><p>o QR Code abaixo e acesse o app</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>Bases de Saúde do TrabalhadorMEDICINA PREVENTIVA</p><p>101</p><p>https://estr.at/k7WV</p><p>https://estr.at/k7WV</p><p>https://estr.at/k7WV</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 102</p><p>CAPÍTULO</p><p>6.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA</p><p>1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 10 de maio de 1988. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>2. BRASIL. Decreto n° 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>3. BRASIL. Decreto n° 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política</p><p>Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências Disponível</p><p>em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>4. BRASIL. Decreto n° 6.042, de 12 de fevereiro de 2007. Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048,</p><p>de 6 de maio de 1999, disciplina a aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção - FAP e do Nexo Técnico</p><p>Epidemiológico, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2021.</p><p>5. BRASIL. Decreto n° 6.957, de 9 de setembro de 2009. Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048,</p><p>de 6 de maio de 1999, no tocante à aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção - FAP. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>6. BRASIL. Decreto n° 7.052, de 23 de dezembro de 2009. Regulamenta a Lei no 11.770, de 9 de setembro de 2008, que cria o Programa</p><p>Empresa Cidadã, destinado à prorrogação da licença-maternidade, no tocante a empregadas de pessoas jurídicas. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>7. BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2021.</p><p>8. BRASIL. Emenda constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de</p><p>transição e disposições transitórias. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>9. BRASIL. Escola Nacional de Inspeção do Trabalho - ENIT. Normas Regulamentadoras. Disponível em: . Acesso em: 13 jan.</p><p>2021.</p><p>10. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>11. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Mercado e força de trabalho. População economicamente ativa. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>12. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Indicadores IBGE: pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua</p><p>[mensal]. PNAD contínua mensal. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021.</p><p>13. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Indicadores IBGE: pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua</p><p>[mensal], novembro de 2020. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021.</p><p>14. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Indicadores IBGE: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.</p><p>Trimestre Móvel SET. - NOV. 2020, publicado em 28 de janeiro de 2021. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 103</p><p>15. BRASIL. Instrução Normativa SIT/MTE nº 98, de 15 de agosto de 2012. Ministério do Trabalho. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>16. BRASIL. Instrução Normativa INSS nº 31, de 10 de setembro de 2008. Dispõe sobre procedimentos e rotinas referentes ao Nexo Técnico</p><p>Previdenciário, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>17. BRASIL. Instrução Normativa nº 45/PRES/INSS, de 6 de agosto de 2010. Dispõe sobre a administração de informações dos segurados,</p><p>o reconhecimento, a manutenção e a revisão de direitos dos beneficiários da Previdência Social e disciplina o processo administrativo</p><p>previdenciário no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. Disponível em: . Acesso em: 19</p><p>fev.</p><p>18. BRASIL. Instrução Normativa nº 77/PRES/INSS, de 21 de janeiro de 2015. Estabelece rotinas para agilizar e uniformizar o reconhecimento</p><p>de direitos dos segurados e beneficiários da Previdência Social, com observância dos princípios estabelecidos no art. 37 da Constituição</p><p>Federal de 1988. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>19. BRASIL. Lei n° 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>20. BRASIL. Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1994. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a</p><p>organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>21. BRASIL. Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>22. BRASIL. Lei no 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do</p><p>Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>23. BRASIL. Medida Provisória no 905, de 11 de novembro de 2019. Institui o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, altera a legislação</p><p>trabalhista, e dá outras providências. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>24. BRASIL. Medida Provisória no 955, de 20 de abril de 2020. Revoga a Medida Provisória nº 905, de 11 de novembro de 2019, que institui</p><p>o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo e altera a legislação trabalhista. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>25. BRASIL. Ministério da Economia. Caracterização das deficiências. Brasília-DF, 2019. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>26. BRASIL. Ministério da Economia. Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Auxílio-doença: comum ou acidente de trabalho? Atualizado</p><p>em 23 de novembro de 2020. Brasília-DF, 2020. Disponível em: . Acesso em: 31 jan. 2021.</p><p>27. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministério. Portaria de Consolidação GM/MS nº 4, de 28 de setembro de 2017. Consolidação</p><p>das normas sobre os sistemas e os subsistemas do Sistema Único de Saúde. Disponível em: . Acesso em: 14 de nov. de 2020.</p><p>28. BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Previdência e Assistência Social. Portaria Interministerial MPAS/MS nº 2.998 de 23</p><p>https://www.gov.br/inss/pt-br/saiba-mais/auxilios/auxilio-doenca/auxilio-doenca-comum-ou-acidente-de-trabalho</p><p>https://www.gov.br/inss/pt-br/saiba-mais/auxilios/auxilio-doenca/auxilio-doenca-comum-ou-acidente-de-trabalho</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 104</p><p>de agosto de 2001. Indica as doenças ou afeções que excluem a exigência de carência para a concessão de auxílio-doença ou de</p><p>aposentadoria por invalidez aos segurados do Regime Geral de Previdência Social - RGPS. Disponível em: . Acesso em: 31 jan. 2021.</p><p>29. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde (Brasil). Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos</p><p>para os serviços de saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde; OPAS, 2001. 508 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos, n. 114). ISBN</p><p>85-334-0353-4. Disponível em: Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>30. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora</p><p>[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Cadernos de Atenção</p><p>Básica, n. 41 – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 136 p.: il. Disponível em: . Acesso em: 25 jan. 2021.</p><p>31. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Saúde do Trabalhador</p><p>Saúde do trabalhador / Ministério da Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas,</p><p>Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Cadernos de Atenção Básica nº 5. Saúde do Trabalhador – Brasília: Ministério da Saúde, 2001.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 25 jan. 2021.</p><p>32. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do</p><p>Trabalhador. Distúrbio de Voz Relacionado ao Trabalho – DVRT / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento</p><p>de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018.</p><p>33. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministério. Portaria GM/MS n° 204, de 17 de fevereiro de 2016. Define a Lista Nacional de</p><p>Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de</p><p>saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território</p><p>nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>34. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministério. Portaria GM/MS n° 205, de 17 de fevereiro de 2016. Define a lista nacional</p><p>de doenças e agravos, na forma do anexo, a serem monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas</p><p>diretrizes. Disponível em: . Acesso em: 13 jan.</p><p>2021.</p><p>35. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministério. Portaria GM/MS n° 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de</p><p>Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>36. BRASIL. Parecer CONJUR/MTE n° 444, de 2011. Direito Constitucional e do Trabalho. Consulta oriunda da Secretaria de Inspeção do</p><p>Trabalho - SIT. Visão monocular. Deficiência para fins do preenchimento da cota prevista no art. 93 da Lei no 8.213, de 1991. Súmula</p><p>STJ nº 377 e Súmula AGU no 45. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>37. CHRISTOFOLETTI, Danilo Fontanetti. Flexibilização Das Leis Trabalhistas ou Reforma Por Jogo de Interesses? Âmbito Jurídico, 23 de</p><p>outubro de 2019. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2021.</p><p>38. FEDERAL RESERVE BANK OF ST. LOUIS. Average Annual Hours Worked by Persons Engaged for Brazil. Updated: Jan 21, 2021. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 26 jan. 2021.</p><p>39. JOÃO, Paulo Sérgio. Reforma Trabalhista traz flexibilização responsável da CLT. 2017. Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2021.</p><p>40. RAMAZZINI, Bernardino. As Doenças dos Trabalhadores. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2021.</p><p>41. MENDES, René; DIAS, Elizabeth Costa. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 25, n. 5, p.</p><p>341-349, Oct. 1991. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021.</p><p>42. ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT – OECD. Hours worked Total, Hours/worker, 2019 or latest</p><p>available. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021.</p><p>43. SCALERCIO, Marcio. Análise crítica da Reforma Trabalhista: Lei no 13.467/2017 – Pontos contrários. Ago. 2018. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 24 jan. 2021.</p><p>44. SCHILLING, Richard. More Effective Prevention in Occupational Health Practice? J. Soc. Occup. Med. 34, 71 -79 Printed in Great Britain.</p><p>1984.</p><p>CAPÍTULO</p><p>7.0 LISTA DE IMAGENS E TABELAS</p><p>Tabela 1: Lista de bancas que costumam cobrar sobre Saúde do Trabalhador.</p><p>Tabela 2: Classificação de Schilling. Fonte: tabela adaptada de Schilling, 1984.</p><p>Tabela 3: Tipos de nexos de causalidade definidos a partir do exame médico-pericial.</p><p>Tabela 4: Comparação entre o benefício auxílio por incapacidade temporária previdenciário e o auxílio por incapacidade temporária</p><p>acidentário. Fonte: Ministério da Economia. Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Artigo “Auxílio-doença: comum ou acidente de</p><p>trabalho?”.</p><p>Tabela 5: Informações mais importantes sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC).</p><p>Tabela 6: Trechos das Listas A e B trazendo apenas uma linha de cada tabela original como forma demonstrativa (Anexo II do Decreto</p><p>nº 3.048/1999).</p><p>Tabela 7: Comparação entre as notificações em Saúde do Trabalhador envolvendo a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e</p><p>Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).</p><p>Tabela 8: Preenchimento obrigatório de cargos com beneficiários reabilitados ou Pessoas com Deficiência (PCD) em empresas de</p><p>acordo com a quantidade de empregados (Lei nº 8.213/1991).</p><p>Tabela 9: Categorias de Pessoas com Deficiência (PCD) ou reabilitados e sua definição legal, conforme o Decreto nº 3.298, de 1999.</p><p>Tabela 10: Alterações propostas pela Lei nº 13.467/2017, constantes no Decreto-lei nº 5.452/1943.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 106</p><p>CAPÍTULO</p><p>8.0 ESQUEMAS</p><p>Esquema 1: Lista de abrangência do SUS no campo da Saúde do Trabalhador (texto adaptado dos incisos de I a VIII do parágrafo 3º do</p><p>artigo 6º da Lei nº 8.080/1990).</p><p>Esquema 2: Fatores de Riscos Ocupacionais (texto adaptado das Normas Regulamentadoras).</p><p>Esquema 3: Lista de deveres a ser seguida pelos médicos que atendem o trabalhador (texto extraído dos incisos de I a IV do 1º da</p><p>Resolução CFM no 2.183, de 2018).</p><p>Esquema 4: Lista de considerações a ser seguida para estabelecimento do nexo ocupacional (texto extraído dos incisos de I a IX do 2º</p><p>da Resolução CFM no 2.183, de 2018).</p><p>Esquema 5: Lista de considerações que devem ou não ser equiparadas ao acidente de trabalho, conforme a Lei nº 8.213, de 1991.</p><p>Esquema 6: Exemplos de aplicação de cada um dos tipos de estudo de nexo técnico da Previdência Social.</p><p>Esquema 7: Lista de situações em que o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário (texto adaptado</p><p>do artigo 473 da Decreto-lei nº 5.452/1943).</p><p>Esquema 8: Princípios e diretrizes contemplados na Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do</p><p>artigo 5º da Portaria GM/MS nº 1.823/2012).</p><p>Esquema 9: Resumo dos objetivos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do artigo 8º da</p><p>Portaria GM/MS nº 1.823/2012).</p><p>Esquema 10: Resumo das estratégias da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (texto adaptado do artigo 9º da</p><p>Portaria GM/MS nº 1.823/2012).</p><p>CAPÍTULO</p><p>9.0 FIGURAS</p><p>Figura 1: Exemplo de acidente típico - queda de andaime. Fonte: Trello.</p><p>Figura 2: Exemplo de doença relacionada ao trabalho - PAIR. Fonte: Trello.</p><p>Figura 3: Acidente de trajeto – colisão de veículos. Fonte: Trello.</p><p>Figura 4: Exemplo de mapa de risco de uma sala de desinfecção.</p><p>Figura 5: foto ilustrativa da capa da 4ª edição comemorativa do livro pela Fundacentro. Fonte: Fundacentro, 2016.</p><p>Figura 6: frontispício da 1ª edição do livro (1700). Fonte: Fundacentro, 2016.</p><p>Figura 7: Taxista. Fonte: Shuttlestock / Artista: FedorAnisimov.</p><p>Figura 8: Estudante. Fonte: Shuttlestock / Artista: Paranyu.</p><p>Figura 9: Empregados domésticos. Fonte: Shuttlestock / Artista: Andrii Bezvershenko.</p><p>Figura 10: Agricultor. Fonte: Shuttlestock / Artista: GoodStudio.</p><p>Figura 11: Trabalhador avulso. Fonte: Shutterstock / Artista: Visual Generation.</p><p>Figura 12: Modelo oficial da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT). Fonte: Previdência Social. Disponível em: . Acesso em: 24 de jan. de 2021.</p><p>Figura 13: ilustração de pneus roubados com adaptação de diálogo. Fonte: Shutterstock/ Artista: vectorlab2D.</p><p>Figura 14: PCD no trabalho. Fonte: Shuttlestock/ Artista: wavebreakmidia</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 107</p><p>CAPÍTULO</p><p>10.0 CONSIDERAÇÕES</p><p>FINAIS</p><p>Espero que tenha apreciado esta jornada pelo universo do trabalho! Esse é um tema bastante presente, dentro e fora dos consultórios</p><p>médicos, na vida dos cidadãos e das cidadãs brasileiras.</p><p>Lembre-se de que sempre estarei aqui para facilitar seus estudos. Meu objetivo principal é que você absorva o máximo de conhecimento</p><p>que puder! Portanto, não hesite em utilizar nosso Fórum de Dúvidas para maiores esclarecimentos que necessitar.</p><p>Você também pode me acompanhar nas Redes Sociais através do Instagram @prof.fernandalima, onde haverá constantes atualizações</p><p>e dicas sobre esses temas.1</p><p>É aquele ocorrido no trajeto de casa para o trabalho ou do trabalho para a casa. Ex.: Alberto estava saindo de casa e indo trabalhar</p><p>quando sofreu um acidente de trânsito no meio do caminho.</p><p>Vejo você no próximo livro! Até breve!</p><p>Fernanda Lima</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 108</p><p>https://med.estrategia.com</p><p>1.0 ACIDENTE DE TRABALHO</p><p>1.1 CONCEITOS GERAIS</p><p>1.1.1 Classificação de Schilling</p><p>1.1.2 Fatores de Riscos Ocupacionais</p><p>1.2 NEXO OCUPACIONAL</p><p>1.2.1 Como avaliar um nexo ocupacional</p><p>1.2.2 Condições para a avaliação do nexo ocupacional pelo profissional médico</p><p>1.2.3 Ações posteriores ao nexo ocupacional</p><p>2.0 BASES LEGAIS EM SAÚDE DO TRABALHADOR</p><p>2.1 PREVIDÊNCIA SOCIAL</p><p>2.1.1 Segurados</p><p>2.1.2 Benefícios Previdenciários</p><p>2.1.3 Acidente do Trabalho</p><p>2.1.4 Avaliação de nexo ocupacional pela perícia do INSS</p><p>2.1.5 Notificação em Saúde do Trabalhador</p><p>2.2 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD)</p><p>2.3 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA (PNSTT)</p><p>3.0 INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO</p><p>4.0 ANEXO</p><p>4.1 Legislação Trabalhista</p><p>4.1.1 Riscos Ambientais do Trabalho (RAT) e Fator Acidentário de Prevenção (FAP)</p><p>4.2 Normas Regulamentadoras (NR):</p><p>4.2.1 NR-1 - Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais</p><p>4.2.2 NR-4 - SERVIÇOS ESPECIALIZADOS EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E EM MEDICINA DO TRABALHO (SESMT)</p><p>4.2.3 NR- 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio (CIPA)</p><p>4.2.4 NR- 6 - Equipamento de Proteção Individual (EPI)</p><p>4.2.5 NR-7 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)</p><p>4.3 Exames Ocupacionais e Atestado Médico Ocupacional (ASO)</p><p>4.4 Indicadores Biológicos</p><p>4.5 NR-32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde</p><p>5.0 LISTA DE QUESTÕES</p><p>6.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA</p><p>7.0 LISTA DE IMAGENS E TABELAS</p><p>8.0 ESQUEMAS</p><p>9.0 FIGURAS</p><p>10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>técnicos de enfermagem, agentes comunitários</p><p>de saúde, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros. Nessa mesma linha de raciocínio, incluem-se as diversas especialidades médicas,</p><p>até mesmo a pediatria, considerando o atendimento aos menores aprendizes!</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(FAMEMA/SP/2019) De acordo com a legislação que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a revisão</p><p>de uma lista oficial de doenças originadas no processo de trabalho.</p><p>A) não é de responsabilidade dos órgãos governamentais da saúde ou da previdência.</p><p>B) é de responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, responsável pelo seguro acidente de trabalho.</p><p>C) é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde – SUS, com a colaboração das entidades sindicais.</p><p>D) deve seguir os parâmetros definidos pela Organização Internacional do Trabalho – OIT.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A responsabilidade sobre a atualização da referida lista está descrita no inciso VII do parágrafo 3º do artigo 6º da Lei nº 8.080, de 1990,</p><p>conforme o trecho a seguir: “Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades (...) abrangendo: (...) VII -</p><p>revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades</p><p>sindicais;”. Portanto, a elaboração/revisão dessa listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho cabe ao SUS (também</p><p>responsável pela saúde do trabalhador) e aos sindicatos (entidades representativas dos trabalhadores e conhecedoras dos processos de</p><p>trabalho e riscos neles existentes).</p><p>Não podemos considerar a alternativa A como correta, porque o SUS contempla órgãos governamentais da saúde. A alternativa B cita</p><p>o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), cuja atuação envolve o fornecimento de benefícios, incluindo os relacionados a incapacidades</p><p>de cunho ocupacional. Por fim, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) não estaria envolvida na revisão da Lista Nacional de Doenças</p><p>Relacionadas ao Trabalho, conforme é sugerido na alternativa D.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 13</p><p>CAPÍTULO</p><p>1.0 ACIDENTE DE TRABALHO</p><p>1.1 CONCEITOS GERAIS</p><p>Falando de trabalhadores: quem são eles exatamente?</p><p>São todas as pessoas que exercem atividades</p><p>para sustento próprio e/ou de seus dependentes,</p><p>independentemente de sua forma de inserção no mercado</p><p>de trabalho, nos setores formais e informais da economia.</p><p>Portanto, considera-se trabalhadores os assalariados,</p><p>domésticos, trabalhadores avulsos, agrícolas, autônomos,</p><p>servidores públicos, cooperativados, aprendizes e</p><p>estagiários, além de todas as pessoas que estão afastadas</p><p>de forma temporária ou definitiva do mercado de trabalho</p><p>por doença ou aposentadoria. Todos os trabalhadores</p><p>possuem o mesmo direito de serem atendidos pelo SUS,</p><p>porém nem todos têm os mesmos direitos legais trabalhistas</p><p>ou previdenciários. Não se preocupe, falarei sobre essas</p><p>diferenciações legais em tópicos específicos mais adiante.</p><p>O manual sobre “doenças relacionadas ao trabalho”,</p><p>disponibilizado pelo Ministério da Saúde, contempla em</p><p>torno de 200 entidades nosológicas, organizadas em um</p><p>sistema de dupla entrada, ou seja, é possível pesquisar o</p><p>assunto pela doença ou pelo agente causal do trabalho.</p><p>Aqui, no Estratégia MED, essas doenças são abordadas</p><p>detalhadamente nos livros de cada especialidade: Ortopedia</p><p>(Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho –</p><p>DORT, que estão nos livros sobre as alterações de coluna</p><p>vertebral e membros, a exemplo da síndrome do túnel do</p><p>carpo, lombalgia, tendinites, entre outros); Pneumologia</p><p>(pneumoconioses e outras doenças respiratórias como a</p><p>asma ocupacional); Otorrinolaringologia (Distúrbios da Voz</p><p>Relacionado ao Trabalho - DVRT); Psiquiatria (transtornos</p><p>mentais relacionados ao trabalho); Dermatologia</p><p>(dermatoses ocupacionais).</p><p>Nesta aula, vamos comentar os conceitos gerais em</p><p>Saúde do Trabalhador e alguns dispositivos normativos</p><p>relacionados ao trabalho, citando algumas formas de</p><p>adoecimento para a contextualização dos temas.</p><p>Vamos começar com uma pergunta básica:</p><p>Para você, o que é acidente de trabalho?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 14</p><p>DOENÇA RELACIONADA AO TRABALHO</p><p>Renata, auxiliar de obras há 5 anos, passou a apresentar perda</p><p>auditiva induzida por ruído (PAIR) ou Perda Auditiva Induzida por</p><p>Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINPSE), porque trabalhava</p><p>próximo ao setor de colegas que usavam a britadeira.</p><p>Você deve estar imaginando vários acidentes: queda,</p><p>queimadura, escoriação, corte, contusão e alguns outros. No</p><p>universo da Saúde do Trabalhador, cada exemplo desses citados</p><p>é chamado de “acidente típico”, desde que tenham ocorrido na</p><p>execução do trabalho.</p><p>Portanto, o acidente típico é a ocorrência decorrente de</p><p>uma causa súbita que agride a integridade física ou psíquica do</p><p>trabalhador, desde que tenha relação com a atividade laboral</p><p>desempenhada.</p><p>Figura 1: Exemplo de acidente típico - queda de andaime.</p><p>Figura 2: Doença relacionada ao trabalho - PAIR</p><p>Então, o acidente de trabalho é o acidente típico?</p><p>Também, na Medicina do Trabalho, chamamos de</p><p>acidente de trabalho não só os acidentes, mas</p><p>também as doenças relacionadas ao trabalho.</p><p>A diferença é a seguinte: o acidente típico é um evento isolado, que ocorreu em um momento específico, já, no caso de uma doença,</p><p>é mais difícil determinar exatamente quando ela iniciou. Veja alguns exemplos:</p><p>ACIDENTE TÍPICO</p><p>Cláudio é pedreiro há 11 anos, e, ao realizar uma tarefa no andaime</p><p>da obra, caiu e sofreu fraturas.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 15</p><p>ACIDENTE DE TRAJETO1</p><p>É aquele ocorrido no trajeto de casa para o trabalho ou do</p><p>trabalho para a casa. Ex.: Alberto estava saindo de casa e indo</p><p>trabalhar quando sofreu um acidente de trânsito no meio do</p><p>caminho.</p><p>1Existe uma polêmica jurídica acerca do acidente de trajeto, uma vez que ele não seria considerado mais como acidente de trabalho após a reforma trabalhista. No</p><p>entanto, ele ainda é considerado como tal por alguns juristas e vem sendo cobrado nas provas de residência médica.</p><p>Pode-se concluir, ainda, que todos os exemplos são acidentes de trabalho.</p><p>Em relação ao acidente de trajeto, tenha muito cuidado! Se a pessoa for do trabalho para um bar e, somente depois, seguir para seu</p><p>domicílio, sofrendo um acidente de trânsito nesse percurso, esta ocorrência não pode mais ser enquadrada como acidente de trabalho.</p><p>Sobre a doença relacionada ao trabalho, existem ainda duas denominações que podem ser encontradas: doença profissional (ou</p><p>doença ocupacional) e doença do trabalho. Apesar de terem nomes semelhantes, há uma diferença conceitual entre elas, vamos entender</p><p>qual é? Observe, no quadro a seguir, um trecho da definição legal desses termos, constante nos incisos I e II do artigo 20 da Lei nº 8.213, de</p><p>1991.</p><p>DOENÇA PROFISSIONAL X DOENÇA DO TRABALHO</p><p>Doença profissional (ou ocupacional): “produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar à determinada</p><p>atividade”.</p><p>Por exemplo: um trabalhador exposto ao amianto pode desenvolver asbestose (doença pulmonar). Portanto, a relação de</p><p>causa e efeito é direta, ou seja, se não houver essa exposição, a doença não ocorre. Sendo assim, a asbestose é uma doença que</p><p>ocorre, tipicamente, devido à exposição laboral ao amianto.</p><p>Doença do trabalho: “adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com que</p><p>se relacione diretamente”.</p><p>Por exemplo: um trabalhador que digita muito pode desenvolver a síndrome do túnel do carpo (STC), entretanto, uma gestante</p><p>também pode desenvolver essa doença, mesmo sem haver sobrecarga laboral em punhos. Nesse caso, a STC pode ser desencadeada</p><p>pelo labor, mas ela não é peculiar a ele, pois pode desenvolver-se devido a outros fatores causais de origem extralaboral. Assim, o</p><p>trabalho é um fator de risco, mas não é necessariamente determinante para a doença.</p><p>A Lei no 8.213, de 1991, trata dos Planos de Benefícios da</p><p>Previdência Social, além de determinar os conceitos legais de</p><p>acidente de trabalho e a obrigatoriedade do empregador em relatá-</p><p>lo para a Previdência Social através da Comunicação de Acidente de</p><p>Trabalho (CAT) (falarei sobre ela mais adiante).</p><p>Muita atenção! Quando uma questão descrever junto</p><p>ao nome da doença o termo “profissional” ou “ocupacional”,</p><p>significa que a relação da patologia com a exposição no trabalho</p><p>é dependente e direta, sendo a causa desse adoecimento</p><p>peculiar a determinado agente de risco. Em outras palavras, não</p><p>há possibilidade de essa doença se desenvolver sem haver a</p><p>exposição do indivíduo a esse agente em suas funções no trabalho.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 16</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UNICAMP/SP/2020) Homem, 48a, relata dispneia aos grandes esforços há dois anos e chiado no peito há seis meses. Nega episódios</p><p>semelhantes anteriormente. Atualmente faz móveis por encomenda na garagem de sua residência, local pouco ventilado. Trabalhou como</p><p>carpinteiro em uma fábrica de móveis por 12 anos. O DIAGNÓSTICO É:</p><p>A) Asma brônquica.</p><p>B) Asma relacionada ao trabalho.</p><p>C) Asma ocupacional.</p><p>D) Pneumonite alérgica.</p><p>Atenção! Você pode deparar-se com alguma questão que cite nas alternativas “acidente de trabalho”, “doença do trabalho” ou “doença</p><p>profissional”.</p><p>Elimina-se de imediato a pneumonite alérgica, que mais se assemelha a um quadro gripal, podendo haver sintomas como febre, tosse,</p><p>cansaço, etc. A questão cita um quadro de asma com dispneia aos grandes esforços e “chiado no peito”, mas ainda restariam três alternativas</p><p>possíveis. O segredo para acertar essa questão está no termo “ocupacional”. Note que o homem já tinha 46 anos quando iniciou o quadro</p><p>clínico, o que é uma idade atípica para o início da asma brônquica. Além disso, ele trabalha como carpinteiro em casa, com ventilação</p><p>inadequada, existindo uma clara exposição a poeiras orgânicas. Então, exclui-se de vez a asma brônquica, pela evidente exposição ao risco</p><p>ocupacional, que justifica o agravo. Não poderia ser a asma relacionada ao trabalho, pois essa patologia ocorre em indivíduos previamente</p><p>asmáticos, atuando no agravamento das crises, e ele negou episódios semelhantes anteriores. Portanto, o trabalhador desenvolveu asma</p><p>ocupacional, considerando que ela foi desencadeada, necessariamente, devido à exposição no ambiente de trabalho.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>Sim, mas, se a questão citar o acidente do trabalho</p><p>sem detalhar a ocorrência relacionada a ele, é</p><p>possível que o examinador esteja chamando o</p><p>“acidente típico” de “acidente de trabalho”.</p><p>Ai, professora, mas as doenças também não são</p><p>consideradas como acidente de trabalho?</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 17</p><p>Contudo, o entendimento legal e majoritário de uso do termo “acidente de trabalho”, engloba o acidente típico, o acidente de trajeto e</p><p>todas as doenças relacionadas ao trabalho, sejam elas enquadradas como "do trabalho" ou "profissionais". Guarde bem todos esses conceitos,</p><p>vamos revisá-los mais detalhadamente, sob a perspectiva legal, ainda neste livro.</p><p>1.1.1 CLASSIFICAÇÃO DE SCHILLING</p><p>Em 1984, Richard Schilling, professor de Saúde Ocupacional</p><p>da Universidade de Londres, idealizou uma padronização de</p><p>grupos de doenças relacionadas ao trabalho. Seu intuito era</p><p>estabelecer diferentes níveis de relação de causa e efeito entre o</p><p>agravo e as condições de risco no trabalho. Ele sugeriu, então, a</p><p>categorização dessas doenças em três grupos, que ficou conhecida</p><p>como classificação de Schilling e foi adotada pelo Ministério da</p><p>Saúde como referência para dimensionar a relação entre a doença</p><p>e o trabalho.</p><p>Veja cada grupo, detalhadamente, a seguir:</p><p>• GRUPO I: doenças em que o trabalho é uma causa</p><p>necessária. Em outras palavras, se não há a exposição ao fator</p><p>de risco no trabalho, não existe a possibilidade de adquirir essas</p><p>doenças. Nesse grupo, estão as chamadas doenças profissionais e</p><p>as intoxicações de origem ocupacional: benzenismo (intoxicação</p><p>por benzeno), beriliose (intoxicação por berílio), intoxicação por</p><p>agrotóxicos etc.</p><p>• GRUPO II: doenças em que o trabalho pode ser um fator</p><p>de risco contributivo, mas não é necessário para sua ocorrência.</p><p>Nesse caso, a doença é de etiologia multicausal, ou seja, a pessoa</p><p>pode desenvolvê-la por outros fatores não relacionados ao</p><p>trabalho. Temos aqui como exemplo as doenças que comumente</p><p>afetam a população geral, mas que podem aparecer mais</p><p>frequentemente em determinados grupos ocupacionais, havendo</p><p>um nexo causal de natureza epidemiológica, como a hipertensão</p><p>arterial (naqueles expostos ao trabalho noturno) e as neoplasias</p><p>em determinadas profissões.</p><p>• GRUPO III: doenças em que o trabalho é desencadeante de</p><p>um distúrbio latente ou agravante de doença preestabelecida. São</p><p>exemplos desse grupo as alergias dermatológicas e respiratórias,</p><p>além dos distúrbios mentais.</p><p>Note que os dois últimos grupos de Schilling, II e III, estão</p><p>relacionados a doenças que possuem múltiplos fatores de risco,</p><p>incluindo aqueles que não estão relacionados ao trabalho. Nesse</p><p>contexto, a exposição no trabalho seria apenas mais um fator de</p><p>risco, que elevaria a probabilidade de ocorrência de uma doença,</p><p>mas não necessariamente um fator causal primário. Por essa razão,</p><p>também utilizamos o termo concausa em referência à participação</p><p>adicional dos agentes do trabalho na gênese das doenças, ou seja,</p><p>uma causa que se acumula a outra preexistente para produzir</p><p>certo efeito, também chamada de causa concomitante. Esse</p><p>termo é usado pelo Ministério da Saúde para as doenças do grupo</p><p>III de Schilling, mas habitualmente percebemos que ele também é</p><p>utilizado para as doenças do grupo II.</p><p>Ainda sobre os grupos II e III da classificação de Schilling,</p><p>veremos mais adiante que precisamos considerar o estudo de</p><p>nexo causal de natureza epidemiológica, por exemplo, através de</p><p>uma observação aumentada da frequência da doença em certas</p><p>profissões.</p><p>Podemos resumir toda a classificação de Schilling na tabela</p><p>a seguir:</p><p>Grupo I Grupo II Grupo III</p><p>Definição</p><p>Trabalho como causa</p><p>necessária.</p><p>Trabalho como fator</p><p>contributivo, mas não</p><p>necessário.</p><p>Trabalho como provocador</p><p>de um distúrbio latente</p><p>ou agravante de doença já</p><p>estabelecida.</p><p>Exemplos</p><p>Asbestose (amianto),</p><p>Saturnismo (chumbo), Beriliose</p><p>(berílio).</p><p>Doenças osteomusculares,</p><p>varizes, hipertensão arterial,</p><p>câncer.</p><p>Dermatite de contato alérgica,</p><p>rinite alérgica.</p><p>Tabela 2: Classificação de Schilling. Fonte: tabela adaptada de Schilling, 1984.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 18</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UNICAMP/SP/2018) O Ministério da Saúde adota os critérios de Schilling para classificar as doenças de acordo com sua relação com o</p><p>trabalho. A classificação considera como grupo I as doenças que tem o trabalho como causa necessária; grupo II, aquelas para as quais o</p><p>trabalho é fator contributivo, mas não necessário; e grupo III, quando o trabalho atua como provocador de um distúrbio latente ou agravador</p><p>de uma doença já estabelecida. Incluem exemplos dos grupos I, II e III de Schilling, respectivamente:</p><p>A) Acidentes de trabalho, asma e câncer.</p><p>B) Doenças osteomusculares, intoxicação por chumbo e câncer.</p><p>C) Silicose, doenças osteomusculares e dermatite de contato.</p><p>D) Intoxicação por chumbo, silicose e hipertensão arterial.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A alternativa que traz a ordem correta é a C, porque a silicose é do grupo I (exposição à sílica é causa necessária); as</p><p>doenças</p><p>osteomusculares são do grupo II (etiologia multicausal, sendo o trabalho um fator de risco contributivo); e a dermatite de contato é do grupo</p><p>III (alergia é uma condição preexistente do indivíduo).</p><p>Sobre os demais termos citados: na intoxicação por chumbo, a exposição a esse elemento é causa necessária (grupo I); o câncer e</p><p>a hipertensão arterial são de etiologia multicausal, podendo o trabalho funcionar como um fator de risco contributivo (grupo II); a asma</p><p>relacionada ao trabalho ocorre quando ela é uma doença preexistente (grupo III), além disso, existe também a asma ocupacional (grupo I).</p><p>Lembre-se ainda de que a classificação de Schilling é para as doenças, não para acidentes.</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>(FMJ/SP/2020) Uma das doenças que pode ser um fator contributivo para uma doença relacionada ao trabalho é</p><p>A) intoxicação por chumbo.</p><p>B) silicose.</p><p>C) varizes de membros inferiores.</p><p>D) mesotelioma maligno.</p><p>E) asbestose.</p><p>Entendi, mas como esse assunto</p><p>é abordado nas provas?</p><p>Geralmente, o examinador pede</p><p>para você fazer a correspondência</p><p>entre exemplos de doenças e a</p><p>classificação de Schilling.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 19</p><p>1.1.2 FATORES DE RISCOS OCUPACIONAIS</p><p>A saúde do trabalhador, como a de qualquer outro indivíduo, envolve determinantes sociais, econômicos, biológicos e culturais. No</p><p>caso do trabalho, há fatores tecnológicos (ex.: maquinário), organizacionais (ex.: ritmo de trabalho, metas, turnos), além da exposição a outros</p><p>fatores, todos eles conhecidos como fatores de riscos ocupacionais.</p><p>RISCO X PERIGO</p><p>O Caderno de Atenção Básica nº 5 do Ministério da Saúde (2001) discute a diferença semântica entre esses termos. Vou trazer</p><p>alguns trechos desse documento a seguir, pois já foi questão de prova.</p><p>Ø PERIGO, também chamado de SITUAÇÃO DE RISCO ou FATOR DE RISCO ou CONDIÇÃO DE RISCO, pode ser definido como</p><p>“uma condição ou um conjunto de circunstâncias que tem o potencial de causar um efeito adverso”. Exemplo de perigo: uma</p><p>substância química com propriedades abrasivas.</p><p>Ø RISCO é “a possibilidade de perda ou dano e a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra”, o que sugere a presença de</p><p>dois componentes: “a possibilidade de um dano ocorrer e a probabilidade de ocorrência de um efeito adverso.” Exemplo de risco: a</p><p>possibilidade de ocorrer uma lesão de pele por contato com a substância química abrasiva, ou seja, combinamos a probabilidade da</p><p>ocorrência de um evento perigoso (contato com a substância química) com as suas consequências (lesão de pele).</p><p>Assim, podemos concluir que risco é um conceito abstrato, ou seja, algo não observável. Por outro lado, o fator de risco (situação de</p><p>risco ou perigo) é um conceito concreto por ser algo observável. Em suma, o perigo (ex.: dirigir embriagado) contribui para que o risco (ex.:</p><p>acidente de trânsito) ocorra.</p><p>Na prática, observa-se que esses termos são utilizados como sinônimos, apesar de haver essa diferença semântica, isso ocorre inclusive</p><p>nos textos normativos, a exemplo do termo “riscos ocupacionais”, amplamente utilizado nas normas regulamentadoras. Portanto, adianto</p><p>que, neste capítulo, quando falo de "riscos ocupacionais” estou me referindo aos “fatores de risco” relacionados ao trabalho.</p><p>Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Saúde do Trabalhador Saúde do trabalhador.</p><p>Cadernos de Atenção Básica nº 5 – Brasília: Ministério da Saúde, 2001.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>O enunciado ficou um pouco confuso pois não é a “doença” que pode ser um fator contributivo para uma “doença relacionada ao</p><p>trabalho”, mas sim o trabalho que é fator contributivo para determinada doença. De qualquer forma, quando a banca se refere a uma doença</p><p>em que pode haver um fator contributivo na classificação de doenças relacionadas ao trabalho, ela quer saber qual dos agravos listados</p><p>pertence ao grupo II de Schilling. Nesse caso, seria a alternativa que descreve “varizes” (etiologia multicausal). Todas as demais alternativas</p><p>correspondem ao grupo I de Schilling, pois a exposição a algum agente específico do trabalho é uma causa necessária, a saber: intoxicação</p><p>por chumbo (exposição ao chumbo); silicose (exposição à sílica); mesotelioma maligno e asbestose (exposição ao asbesto ou ao amianto).</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 20</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Já vimos que a Saúde do Trabalhador considera que a forma de inserção de qualquer trabalhador nos espaços de trabalho contribui</p><p>para o adoecimento e a morte dessas pessoas.</p><p>As definições propostas nas afirmativas II e III, sobre Fator de risco e Risco, respectivamente, estão conforme a descrição no Caderno</p><p>de Atenção Primária do Ministério da Saúde.</p><p>O único erro está na afirmativa IV, que inverteu as concepções, já que o Risco é um conceito ABSTRATO, NÃO observável, enquanto a</p><p>situação ou o fator de risco é um conceito CONCRETO, observável.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>Os fatores de riscos ocupacionais são os agentes físicos, químicos e biológicos expressos na Norma Regulamentadora no 9 (NR-9), além</p><p>dos riscos ergonômicos e de acidentes, que são considerados em outras normativas. A NR-1, alterada em março de 2020, define os fatores de</p><p>riscos ocupacionais como a “combinação da probabilidade de ocorrer lesão ou agravo à saúde causados por um evento perigoso, exposição a</p><p>agente nocivo ou exigência da atividade de trabalho e da severidade dessa lesão ou agravo à saúde.” Em suma, podemos depreender que o</p><p>conceito de risco ocupacional envolve tudo aquilo que pode gerar algum efeito nocivo à saúde do trabalhador.</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UEL/PR/2017) O termo Saúde do Trabalhador refere-se a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o</p><p>processo saúde/doença. Sobre os aspectos conceituais relacionados ao campo da saúde do trabalhador, considere as afirmativas a seguir.</p><p>I. A Saúde do Trabalhador considera que a forma de inserção dos homens, das mulheres e das crianças nos espaços de trabalho contribui</p><p>decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer;</p><p>II. Situação ou fator de risco refere-se a uma condição ou a um conjunto de circunstâncias que tem o potencial de causar um efeito adverso;</p><p>III. Risco é conceituado como a possibilidade de perda ou dano e implica a presença de dois elementos: a possibilidade de um dano ocorrer e</p><p>a probabilidade de ocorrência de um efeito adverso;</p><p>IV. Risco é um conceito concreto, observável, enquanto situação ou fator de risco é um conceito abstrato, não observável.</p><p>Assinale a alternativa correta.</p><p>A) Somente as afirmativas I e II são corretas.</p><p>B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.</p><p>C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.</p><p>D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.</p><p>E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 21</p><p>Os riscos são divididos didaticamente em cinco grupos, veja no esquema a seguir:</p><p>- São formas de energia. Ex.: ruído, pressão armosférica anormal, excesso</p><p>de umidade, temperaturas extremas (calor e frio), radiações (ionizantes ou</p><p>não), vibrações (focal ou de corpo inteiro) etc.</p><p>- Alguns limites de exposição desses riscos estão descritos na NR-15.</p><p>FÍSICOS</p><p>- São representados pelas substâncias químicas, estando sob as formas:</p><p>líquida, sólida ou gasosa. Ex.: gás, poeira, fumo, vapor etc.</p><p>- A NR-7 cita alguns parâmetros biológicos para o controle de exposição a</p><p>esses riscos e a NR-15 regulamenta os limites de tolerância e a insalubridade</p><p>decorrentes dessas exposições.</p><p>QUÍMICOS</p><p>- Envolvem os microrganismos que podem gerar doenças</p><p>infectocontagiosas. Ex.: vírus, bactérias, fungos, protozoários etc.</p><p>- A NR-15 determina qualitativamente o grau de insalubridade,</p><p>a depender</p><p>do tipo de exposição no trabalho por não ser viável definir qualitativamente</p><p>a exposição biológica.</p><p>BIOLÓGICOS</p><p>- Interferem em situações de conforto físico e psicológico. Ex.: transporte</p><p>de carga, levantamento de peso, posturas inadequadas, jornadas</p><p>prolongadas, metas superdimensionadas etc.</p><p>- A NR-17 sugete medidas para a melhoria ergonômica no trabalho.</p><p>ERGONÔMICOS</p><p>- São decorrentes de situações inadequadas ou de risco iminente, como má</p><p>iluminação, máquinas sem proteção, risco de queda (trabalho em altura -</p><p>N-35), risco de choque (eletricidade - NR-10), explosivos, material</p><p>perfurocortante etc.</p><p>- Algumas atividades perigosas são descritas na NR-16.</p><p>DE ACIDENTES</p><p>OU MECÂNICOS</p><p>Esquema 2: Fatores de Riscos Ocupacionais (texto adaptado das Normas Regulamentadoras).</p><p>Atenção! As cores que usei em cada grupo não foram</p><p>escolhidas ao acaso. Esse é o padrão utilizado para a representação</p><p>de cada um deles no mapa de risco, que costuma estar afixado em</p><p>local visível nos ambientes de trabalho.</p><p>O mapa de riscos ocupacionais nada mais é do que uma</p><p>representação gráfica dos riscos à saúde e à segurança do</p><p>trabalhador em cada ambiente de trabalho. O objetivo desse</p><p>instrumento é facilitar a divulgação das informações para toda</p><p>a empresa em prol do estabelecimento de planos de prevenção</p><p>de acidentes ou redução dos riscos, além de ser autoinformativo.</p><p>Como os fatores de riscos ocupacionais podem ser a causa primária</p><p>de um agravo ou contribuir para sua ocorrência, conhecê-los é</p><p>a chave para interferir em todo o processo saúde-doença dos</p><p>trabalhadores, evitando a evolução para a doença ou a piora do</p><p>quadro clínico já instalado, além de impedir a disseminação do</p><p>problema para outros trabalhadores. Na figura abaixo, você pode</p><p>ver um exemplo de parte de um Mapa de Risco para uma Sala de</p><p>Desinfecção. Note que nem coloquei uma legenda detalhando as</p><p>informações do mapa, pois não é importante você interpretá-lo</p><p>para a prova, mas sim perceber como essas cores são utilizadas</p><p>na prática.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 22</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UNAERP/SP/2015) Os fatores de risco ocupacionais são classificados nos seguintes grupos:</p><p>A) Ambiental; situacional; espiritual; humano; acidentes.</p><p>B) Ergonômico; relacional; potencial; risco temporário.</p><p>C) Físico; químico; biológico; ergonômico; de acidentes.</p><p>D) Biológico; processos produtivos; exposição solar; agente causal.</p><p>E) Mecânico; comunicação; risco permanente; radiações ionizantes; ambiental.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Os grupos de classificação dos fatores de riscos ocupacionais estão expressos na alternativa C. Algumas alternativas citaram exemplos</p><p>de riscos, mas não sua classificação. A exposição solar e as radiações ionizantes são riscos físicos. Os processos produtivos e a comunicação no</p><p>trabalho, quando inadequados, são exemplos de riscos ergonômicos. Os riscos mecânicos, ligados à falta de proteção das máquinas, também</p><p>são considerados como riscos de acidente. Os demais termos não são utilizados para a classificação de riscos ocupacionais nem seriam</p><p>exemplos de riscos específicos do trabalho.</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>Mas, professora, qual é a importância de</p><p>conhecer os fatores de riscos no trabalho?</p><p>Ora, para planejar a prevenção</p><p>de doenças e acidentes!</p><p>Figura 3: Exemplo de mapa de risco de uma sala de desinfecção.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 23</p><p>(HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAULO/SP/2019) Tendo como base a Portaria SSST/MTB n° 25/94 (Classificação e exemplos dos</p><p>principais riscos ocupacionais em grupos de acordo com sua natureza e a padronização das cores correspondentes), NÃO é exemplo do grupo</p><p>1, Verde, Riscos Físicos:</p><p>A) Radiações ionizantes.</p><p>B) Calor.</p><p>C) Pressões anormais.</p><p>D) Vibrações.</p><p>E) Vapores.</p><p>COMENTÁRIOS</p><p>(PSU/MG/2020) Trabalhadora da limpeza prende o salto do sapato em um buraco existente no carpete da sala de reunião que estava</p><p>limpando. O acidente resulta em fratura do pé. O risco associado a este acidente pode ser classificado como:</p><p>A) comportamental.</p><p>B) ergonômico.</p><p>C) físico.</p><p>D) mecânico.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A questão relata um evento traumático, que gerou a fratura. O risco mecânico (ou de acidente) envolve eventos com queda, trauma,</p><p>queimadura etc. Não há uma classificação de risco chamada de comportamental. Os riscos ergonômicos podem estar relacionados a doenças</p><p>osteomusculares ou transtornos mentais, mas não à fratura. Para pensarmos em risco físico, deveria haver a descrição de alguma forma de</p><p>energia de propagação mecânica, como ruído, calor, vibração, frio, entre outros.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>O enunciado já descreve que o grupo verde representa os riscos físicos referentes às formas de energia de propagação mecânica.</p><p>Assim, as radiações ionizantes, o calor, as pressões atmosféricas anormais e as vibrações são exemplos de riscos físicos. Entretanto, os vapores</p><p>são exemplos de riscos químicos que são as substâncias químicas que podem estar sob a forma líquida, sólida ou gasosa. Caso não se recorde</p><p>desses conceitos, releia o item 1.1.2. desse livro.</p><p>Gabarito: alternativa E</p><p>Perceba que a cor do risco ocupacional foi mencionada no enunciado da questão e já vi isso outras vezes. Contudo, o examinador</p><p>também descreve qual o risco correspondente à cor. De qualquer forma, compartilho umas dicas de associação para que você consiga</p><p>relacionar as cores aos riscos ocupacionais. Vai que isso passa a ser cobrado!</p><p>Quando pensamos em prevenção no trabalho, devemos ter uma visão macro para, posteriormente, focar em condições pontuais, ou</p><p>seja, devemos tentar interferir prioritariamente em uma situação de meio ambiente de trabalho e optar por situações individualizadas. As</p><p>soluções macro tendem a ser mais custosas, mas são geralmente as mais efetivas e abrangentes.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 24</p><p>• Risco físico envolve frio, calor, umidade, radiação não ionizante (sol), entre outros. Esses exemplos lembram condições climáticas</p><p>da natureza verde.</p><p>• No risco químico, eu lembro do mercúrio daqueles termômetros mais antigos que é vermelho.</p><p>• Encontramos risco biológico em matérias orgânicas como excrementos contaminados. Assim, a cor do esgoto e dos dejetos</p><p>é marrom.</p><p>• Na ergonomia, podemos pensar no conforto visual. A cor que nos remete à lâmpada é o amarelo.</p><p>• Para o risco de acidentes, lembre-se dos traumas. Por exemplo, alguém que escorrega em piso molhado e cai de costas</p><p>ficando sem ar, “azul”.</p><p>No setor de pintura de uma empresa, há um maquinário</p><p>que emite ruído bastante acima do limite de tolerância. Em</p><p>consequência dessa exposição, alguns trabalhadores apresentaram</p><p>perda auditiva. Ao saber da situação, o administrador da empresa</p><p>consultou um engenheiro de segurança, que avaliou o ambiente</p><p>de trabalho e sugeriu a manutenção da máquina para reduzir a</p><p>emissão de ruído, além de propor um projeto para o isolamento</p><p>acústico dessa máquina. Ouvindo essa solução, o dono da empresa</p><p>comentou que estava pensando em aumentar a compra regular de</p><p>protetores auriculares para tentar resolver o problema. Entretanto,</p><p>concordou que faria mais sentido o que foi proposto pelo</p><p>engenheiro. Este explicou, ainda, que os protetores auriculares</p><p>não seriam a melhor solução, pois, além de não neutralizarem</p><p>100% o ruído da máquina, poderiam estar sendo utilizados de</p><p>modo inadequado, mesmo com as recomendações de uso, além</p><p>de depender de outros fatores, como limpeza adequada e tempo</p><p>de vida útil. Após os esclarecimentos técnicos, as medidas coletivas</p><p>foram implantadas e, a partir daí, a aferição ambiental não detectou</p><p>ruído acima do limite de tolerância. Em consequência disso, não há</p><p>mais novos casos de perdas auditivas na empresa.</p><p>Note que resolver o problema na</p><p>fonte (a máquina que</p><p>produz o risco de ruído) é sempre a melhor opção. É preciso focar</p><p>na raiz desse problema, visando em primeiro lugar a proteção</p><p>coletiva (do grupo de trabalhadores), para depois avaliar as opções</p><p>de proteção individualizadas, que seriam os protetores auriculares</p><p>(equipamentos de proteção individual).</p><p>Atenção! Ruído não é o mesmo que barulho e o</p><p>calor de um dia de verão também não é o mesmo calor</p><p>compreendido como um fator de risco ocupacional. Grande</p><p>parte dos fatores de riscos ocupacionais mensuráveis possuem</p><p>limites de tolerância, que estão referenciados em instrumentos</p><p>normativos, principalmente nas normas regulamentadoras e mais</p><p>precisamente na NR-15, que está detalhada no livro sobre Normas</p><p>Regulamentadoras. Então, para alguma situação ser considerada</p><p>como um risco, é necessário que sua presença possa comprometer</p><p>a saúde do trabalhador. Seguindo esse raciocínio, um barulho só é</p><p>considerado como um risco físico (ruído) se sua intensidade sonora</p><p>for capaz de gerar perda auditiva.</p><p>Por outro lado, é importante lembrar que a saúde</p><p>envolve o bem-estar físico e mental. Dessa forma,</p><p>não podemos esquecer que os fatores ergonômicos podem</p><p>comprometer o estado psicossocial do indivíduo. Portanto, um</p><p>ambiente ruidoso, mesmo que não gere perda auditiva, pode</p><p>ter influência negativa na rotina desses trabalhadores, por ser</p><p>inadequado e não sadio. Nessa última perspectiva, o “barulho”</p><p>que não se enquadraria em um risco físico poderia ser um risco</p><p>ergonômico.</p><p>Para propor melhorias no ambiente de trabalho, é</p><p>preciso estudar os postos e processos de trabalho por meio</p><p>da análise ergonômica da atividade. Nesse contexto, a Higiene</p><p>do Trabalho propõe-se a estudar a avaliação ambiental de forma</p><p>qualitativa ou quantitativa, aferindo os riscos encontrados e</p><p>planejando ações para minimizá-los ou eliminá-los do ambiente,</p><p>sempre considerando seu potencial lesivo à saúde. Ademais, ouvir</p><p>as percepções e queixas dos trabalhadores sobre o ambiente e os</p><p>processos de trabalho também é crucial para compreender o que</p><p>pode ser melhorado. Isso pode ser feito dentro da empresa, através</p><p>da equipe de Saúde Ocupacional, com o médico do trabalho, ou fora</p><p>da empresa, em consultórios médicos públicos ou privados. Logo,</p><p>perceba que você pode estar em algum desses serviços captando</p><p>as informações de fatores de risco e investigando se eles podem ser</p><p>a causa de doenças!</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 25</p><p>1.2 NEXO OCUPACIONAL</p><p>Portanto, avaliar o nexo causal é verificar se uma situação específica (ex.: facada) foi a causa de determinado resultado (ex.: morte).</p><p>Como sendo um subgrupo do nexo causal, o nexo ocupacional compreende a relação entre determinada situação no trabalho e o</p><p>agravo do trabalhador, ou seja, a existência desse nexo significa que a doença ou lesão foi decorrente do trabalho.</p><p>Para entendermos o nexo ocupacional, precisamos conhecer um pouco sobre Direito. Quando há intenção de responsabilizar alguém</p><p>por danos provocados a outra pessoa, é preciso avaliar o que chamamos de nexo de causalidade ou nexo causal. Legalmente, essa avaliação</p><p>do nexo causal costuma ser exigida para fins indenizatórios.</p><p>E o que significa isso, professora</p><p>Fernanda?</p><p>O nexo de causalidade é a avaliação se há uma relação</p><p>de causa e consequência entre dois eventos.</p><p>Otávio deu entrada no Pronto-Socorro da cidade por ter sofrido amputação traumática de parte distal do 2º quirodáctilo</p><p>(dedo indicador) direito. Ele informou aos médicos que o acidente ocorreu durante a manutenção de uma máquina na empresa</p><p>em que trabalha. Após devida assistência, a equipe do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do</p><p>Trabalho (SESMT) estudou o acidente e concluiu que, já que a amputação foi uma lesão decorrente de uma atividade no trabalho,</p><p>havia nexo ocupacional. Sendo assim, esse acidente foi registrado como típico, através da Comunicação de Acidente de Trabalho</p><p>(CAT).</p><p>Conclui-se, então, que esse Nexo Ocupacional é procedente.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 26</p><p>Jorge chega na Unidade Básica de Saúde reclamando de dor no joelho direito, falando para o médico que</p><p>sua lesão tem relação com o trabalho, por isso precisa de uma CAT. Na avaliação, o médico constata edema</p><p>e equimose, mas fica em dúvida e resolve investigar. Como o agente comunitário de saúde conhece Jorge</p><p>e, inclusive, são companheiros no futebol do bairro, comenta que, há três dias, eles estavam jogando e ele</p><p>“trombou com outro colega e bateram os joelhos”. Para excluir de vez qualquer influência laboral, o médico</p><p>da UBS solicita ao colega que cuida da Medicina de Trabalho da empresa em que o paciente é funcionário</p><p>um relatório de suas atividades. A informação é que ele só desenvolve funções administrativas e trabalha</p><p>sentado; além disso, não há registro de trauma ou sobrecarga em joelhos durante suas atividades laborais.</p><p>Sendo assim, o médico conclui que não há nexo ocupacional, pois a lesão não tem relação com o trabalho.</p><p>Portanto, Jorge é medicado e liberado, sendo orientado que não cabe a emissão da CAT para seu caso.</p><p>Conclui-se, então, que esse Nexo Ocupacional é improcedente.</p><p>Agora, entenda a diferença lendo este caso!</p><p>Agora que está claro o que é o nexo ocupacional procedente e improcedente, você precisa saber investigá-lo de modo mais detalhado.</p><p>1.2.1 COMO AVALIAR UM NEXO OCUPACIONAL</p><p>A avaliação do nexo ocupacional pode parecer simples em</p><p>alguns casos, mas, em outros, você terá mais dificuldade para</p><p>chegar a alguma conclusão. Quando levamos em consideração</p><p>os agravos especificamente ligados ao trabalho, como ocorre</p><p>na doença profissional (grupo I de Schilling), o nexo causal é</p><p>direto e imediato. Por exemplo, um trabalhador que desenvolve</p><p>saturnismo, por estar exposto ao chumbo no trabalho, nesse caso,</p><p>não há qualquer dúvida de que a exposição ao chumbo foi a causa</p><p>da doença.</p><p>Diante de associações mais diretas entre exposição e doença,</p><p>as medidas de controle de exposição ou substituição do produto</p><p>que precisam ser adotadas no trabalho ficam mais evidentes. Assim,</p><p>é mais fácil planejar as ações que devem assegurar a prevenção de</p><p>doenças ocupacionais para esses casos.</p><p>Por outro lado, os outros dois grupos da classificação de</p><p>Schilling, os grupos II e III, envolvem as doenças de etiologia múltipla</p><p>e aquelas preexistentes, respectivamente. Quando estamos diante</p><p>de uma doença que possui múltiplos fatores de risco, devemos</p><p>avaliar se o trabalho realmente pode ser entendido como um fator</p><p>de risco adicional significativo, ou seja, se a exposição no trabalho</p><p>está associada a uma probabilidade aumentada da ocorrência</p><p>de uma doença ou de seu agravamento, mesmo não sendo</p><p>necessariamente um fator causal primário. Nessa situação, quando</p><p>você precisar avaliar o nexo ocupacional, foque essencialmente na</p><p>percepção da natureza epidemiológica. Faça as seguintes perguntas:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 27</p><p>Se você respondeu "sim" a essas perguntas, possivelmente está diante de uma situação em que há nexo ocupacional. Caso contrário,</p><p>deve haver dúvidas quanto à real contribuição dos fatores laborais na doença estudada.</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(SURCE/CE/2020) Servente de pedreiro, 40 anos, não tabagista, morador da zona rural do Ceará, vive com oitos pessoas em uma casa com</p><p>três cômodos e trabalha na construção civil há 25 anos. Queixa principal: tosse intensa, dispneia, fraqueza, dores no peito e perda de peso não</p><p>intencional. Desconsiderando a possibilidade de tuberculose, qual determinante social de saúde é fundamental para a elucidação deste caso?</p><p>A) Poluição do ar.</p><p>B) Fatores climáticos.</p><p>C) Condição de moradia.</p><p>D) Ambiente de trabalho.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>• “O tempo de exposição no trabalho é compatível com a história natural da doença?”</p><p>• “Estou percebendo um aumento da frequência dessa doença no grupo ocupacional ou profissão que</p><p>estou avaliando?”</p><p>• “O espectro de determinantes causais que existem no ambiente de trabalho podem contribuir com o</p><p>aparecimento ou piora dessa doença?”</p><p>• “A eliminação dos fatores de risco encontrados nesse trabalho pode reduzir a incidência ou modificar o</p><p>curso evolutivo da doença?”</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Não é à toa que a questão descreve a ocupação do indivíduo! Quando isso acontecer, atente-se para a possibilidade de estar diante de</p><p>uma doença relacionada ao trabalho.</p><p>O examinador tenta chamar sua atenção para fatores relacionados ao ambiente de trabalho duas vezes: (1) “Servente de pedreiro” e (2)</p><p>“trabalha na construção civil há 25 anos”. O ambiente de trabalho em construção civil remete à existência de exposição relevante a partículas</p><p>de sílica e poeiras mistas. Alguns casos também podem envolver exposição ao amianto (telhas ou matérias de fibrocimento). A história</p><p>ocupacional direciona para a hipótese diagnóstica de alguma pneumoconiose. Por essa razão, o ambiente de trabalho é um determinante de</p><p>saúde que deve ser avaliado. Em um morador de zona rural, a poluição do ar não costuma ser significativa. Os fatores climáticos nem foram</p><p>mencionados no enunciado, teria mais relação com quadros alérgicos (ex.: rinite). As condições de moradia são precárias, mas o examinador</p><p>já excluiu a tuberculose.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 28</p><p>(PSU/MG/2020) Técnica de enfermagem de 45 anos comparece à UBS com queixas de dor no ombro direito, que piora quando está deitada,</p><p>e dificuldade de elevar o braço acima do nível do ombro. Estes sintomas iniciaram-se há aproximadamente 12 meses. Nega episódios</p><p>semelhantes no passado e relata ter recebido diagnóstico de tendinite do ombro quando de atendimento na UPA, onde foi medicada com</p><p>analgésico/anti-inflamatório e encaminhada para seguimento na UBS. A paciente trabalha em unidade de internação de clínica médica em</p><p>hospital geral. Durante a consulta, solicita ao médico de família que emita uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) uma vez que as</p><p>dores pioram ao final da jornada de trabalho. A paciente trouxe para a consulta uma radiografia do ombro direito sem alterações. Assinale a</p><p>alternativa que apresenta o fator cuja AUSÊNCIA constitui dificuldade para o estabelecimento do nexo ou da relação entre trabalho e doença.</p><p>A) Dados de levantamentos ambientais no âmbito da higiene do trabalho</p><p>B) Estudos epidemiológicos sobre este posto de trabalho</p><p>C) Identificação de fatores de risco para tendinite do ombro aos quais a trabalhadora estaria exposta</p><p>D) Reconhecimento legal da tendinite do ombro como doença relacionada ao trabalho</p><p>COMENTÁRIO</p><p>Vimos que o estudo de nexo ocupacional parte de um pressuposto básico: saber se há relação entre um fator de risco ocupacional</p><p>(causa) e um agravo (consequência). Como o caso descreve uma tendinite no ombro, você deve concluir pela existência de nexo ocupacional,</p><p>se identificar fatores de risco para tendinite do ombro no trabalho (alternativa C).</p><p>Os dados de levantamento ambientais, de forma geral, não demonstram a existência de fatores de risco para a doença estudada, a</p><p>exemplo de dados sobre ruído excessivo que não influenciaria nessa patologia (incorreta a alternativa A).</p><p>Os estudos epidemiológicos sobre o posto de trabalho podem não levar a achados de doentes, seja por haver subnotificação ou pela</p><p>possibilidade de ser um posto de trabalho recente e ainda não ter gerado o adoecimento de trabalhadores. Assim, a ausência de estudos</p><p>epidemiológicos não exclui a possibilidade de haver nexo ocupacional, mas sua presença pode fortalecer a suspeita da existência do nexo</p><p>(incorreta a alternativa B).</p><p>Por fim, a ausência do reconhecimento legal de uma doença como relacionada ao trabalho não impede o estabelecimento do nexo</p><p>ocupacional, visto que podemos estar diante de algum agravo novo ainda não reconhecido por lei (incorreta a alternativa D).</p><p>Gabarito: alternativa C.</p><p>1.2.2 CONDIÇÕES PARA A AVALIAÇÃO DO NEXO OCUPACIONAL PELO PROFISSIONAL MÉDICO</p><p>De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Perícia Médica é uma “atribuição privativa de médico, desde que investido</p><p>em função que assegure a competência legal e administrativa do ato profissional”.</p><p>O Conselho Regional do Paraná, em Parecer nº 2.737/2019, descreve que a função básica do exame médico-pericial é definir o nexo</p><p>de causalidade entre:</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 29</p><p>CAUSA EFEITO</p><p>Doença ou lesão Morte (definição da causa mortis)</p><p>Doença ou sequela de acidente Incapacidade ou invalidez física e/ou mental</p><p>Acidente Lesão</p><p>Exercício da atividade laboral Doença ou acidente (nexo ocupacional)</p><p>Doença ou acidente Sequela temporária ou permanente</p><p>Desempenho de atividade Riscos para si e para terceiros</p><p>Tabela 3: Tipos de nexos de causalidade definidos a partir do exame médico-pericial.</p><p>Além dos nexos de causalidade citados na tabela, o médico perito pode, ainda, esclarecer se uma pessoa é capaz de exercer determinada</p><p>atividade ou trabalho por meio de um exame de aptidão física e/ou mental. Portanto, de um modo geral, a Perícia Médica pode ser utilizada</p><p>para apoiar as investigações de polícias técnicas, em instituições de medicina-legal, nas empresas ou mesmo no Instituto Nacional do Seguro</p><p>Social (INSS).</p><p>CAI NA PROVA</p><p>(UEL/PR/2020) A perícia médica é uma atribuição privativa do médico, desde que investido em função que assegure a competência legal do</p><p>ato profissional. O exame médico-pericial visa definir o nexo de causalidade, nesse sentido, considere as afirmativas a seguir.</p><p>I. Lesão e a morte.</p><p>II. Doença e sequela temporária ou permanente.</p><p>III. Acidente e o exercício da atividade laboral.</p><p>IV. Incapacidade ou invalidez apenas mental.</p><p>Assinale a alternativa correta.</p><p>A) Somente as afirmativas I e II são corretas.</p><p>B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.</p><p>C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.</p><p>D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.</p><p>E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.</p><p>COMENTÁRIO</p><p>A Perícia Médica pode definir o nexo de causalidade entre a lesão e a morte (causa mortis); a doença e sequela temporária, ou</p><p>permanente; e o acidente e o exercício da atividade laboral. Entretanto, o exame médico-pericial também pode definir a incapacidade ou</p><p>invalidez física, não apenas a mental.</p><p>Gabarito: alternativa D.</p><p>Estratégia</p><p>MED</p><p>MEDICINA PREVENTIVA Bases de Saúde do Trabalhador</p><p>Prof. Fernanda Lima | Curso Extensivo | 2024 30</p><p>Na última tabela, perceba que descrevemos o nexo ocupacional como sendo um dos campos de atuação da Perícia Médica, mas a</p><p>pergunta que você pode estar se fazendo agora é:</p><p>Quando você reconhece um nexo ocupacional, existem</p><p>implicações éticas, técnicas e legais para você, como</p><p>médico, para o trabalhador e para a empresa</p><p>Mas, professora, por que devo conhecer quais são as</p><p>condições para a avaliação do nexo ocupacional pelo</p><p>profissional médico?</p><p>Portanto, devemos ter muito cuidado ao avaliar cada situação</p><p>particular, a fim de não gerar problemas que podem fugir da esfera</p><p>da relação médico-paciente.</p><p>Vamos começar por implicações relacionadas à sua atuação</p><p>enquanto profissional médico. Você sabia que o Conselho Federal</p><p>de Medicina (CFM) escreveu uma resolução específica para quem</p><p>atende trabalhadores? Sim, existe! Trata-se da Resolução CFM no</p><p>2.183, de 2018! Você pode até pensar: “Professora, isso não se</p><p>aplica somente aos médicos do trabalho?” NÃO, essa resolução</p><p>aplica-se a todos os médicos que atendam qualquer trabalhador.</p><p>Assim, poucos médicos estariam excluídos com segurança dessa</p><p>resolução, como os Neonatologistas, por exemplo, pois vimos que</p><p>até mesmo</p>