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Apostila 01 - Economia - 2013 - Origem e Conceitos - uneb II

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
 DISCIPLINA: Economia 
 Prof. Manoel Messias Santos de Oliveira
 
APOSTILA NO 01
ALAGOINHAS/BAHIA
Fevereiro/2013
S U M Á R I O
1 – ASPECTOS DO CONHECIMENTO ECONÔMICO 
1.1 – Razões do interesse pela Economia
1.2 – Relações da Economia com outras Ciências
2 – ECONOMIA: CONCEITO, LEIS ECONÔMICAS E EVOLUÇÃO
 DO PENSAMENTO ECONÔMICO
 
 2.1 – Conceito
 2.2 – Leis econômicas
Condição ceteris paribus. Sofisma de composição
 2.3 – Evolução do pensamento econômico
1 - ASPECTOS DO CONHECIMENTO ECONÔMICO
“A atividade econômica se define a partir da interação de complexas variáveis. Dadas
as limitações do espaço geográfico e dos meios naturais, ela é influenciável por fato-
res antropológico-culturais, pelo ordenamento político, pelo progresso tecnológico e
pelo imprevisível comportamento dos diferentes grupos sociais de que se constituem
as nações. Procurar compreender, em toda sua extensão, esses eixos de sustentação
é a tarefa mais importante dos que se dedicam à economia”.
(Denize Flouzat)
O estudo dos aspectos econômicos da vida insere-se no campo das ciências sociais,
uma das mais abrangentes categorias do conhecimento humano.
Genericamente a economia dedica-se às condições de prosperidade material, à acu-
mulação da riqueza e à sua distribuição aos que participaram do esforço social de
produção. A maior ou menor ênfase conferida a cada um desses aspectos dependerá da
orientação central de cada uma das escolas do pensamento econômico. 
No cenário em que trabalham os economistas nestes últimos anos, destacam-se dois
traços: a perplexidade no que tange ao intrigante conjunto de problemas com que se de-
fronta a maior parte das economias nacionais e a incerteza quanto aos seus desdobramen-
tos futuros. Possivelmente, em nenhuma época anterior da formação das nações, estas en-
frentaram, simultaneamente, problemas de magnitude comparável aos atuais.
Intrigantes indagações permanecem sem respostas. Com efeito, teriam as nações con-
dições econômicas para produzir os meios necessários à subsistência da população adicio-
nal do futuro? Qual será o sistema econômico mais adequado? Por que as nações são tão
desiguais no que tange aos seus níveis de desenvolvimento econômico e conquistas so-
ciais? O desemprego e a inflação podem ser simultaneamente debelados? Quais as razões
do endividamento externo? Por que dentro de uma mesma nação, há regiões dinâmicas e
desenvolvidas convivendo com outras em deplorável estado de pobreza e penúria?
Finalmente, teriam os economistas respostas satisfatórias para estas e para outras
questões? Caso positivo, por que persiste o generalizado anseio por soluções adequadas?
Por que, na hipótese de já terem sido propostas, não foram tentadas? Se foram, por que fra-
cassaram?
Nesta conjuntura de perplexidade e incerteza, as questões econômicas despertam inte-
resse generalizado e crescente. Independentemente de grau de instrução e de conhecimen-
tos, de idade, de profissão e de inclinação política, os cidadãos buscam permanentemente
respostas lógicas e inteligentes para tais questões. 
1.1 - Razões do interesse pela economia 
Não obstante a atividade econômica e os problemas dela decorrentes terem sempre
despertado a atenção dos povos, o estudo sistemático da economia é relativamente recen-
te. Somente a partir do século XVIII é que a matéria toma o caráter de ciência. No século
XIX seu progresso foi extraordinário e nas últimas décadas seu estudo ganhou grande im-
pulso.
O crescimento do interesse pelos temas econômicos é de fácil entendimento. Pode-se
afirmar que ele está estreitamente relacionado com a eclosão das duas Grandes Guerras
mundiais, respectivamente nos períodos de 1914/18 e 1939/45. Diversos instrumentos de
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análise econômica foram desenvolvidos no transcorrer daqueles conflitos, com o objetivo de
permitir o conhecimento profundo das estruturas dos sistemas produtivos nacionais, em
apoio aos esforços de guerra. No intervalo dos conflitos, as nações ocidentais foram consi-
deravelmente abaladas pela Grande Depressão americana e tiveram de se voltar para acu-
rado estudo dos elementos determinantes do equilíbrio econômico, visando ao restabeleci-
mento da normalidade e à rápida reabsorção das grandes massas desempregadas.
Assim, militando em meio a inflações e depressões, os economistas - mais que outros
estudiosos do conhecimento social - foram instados pelos estadistas a encontrar respostas
convincentes para os angustiantes problemas que afligiam as nações. Em 1936, o notável
economista inglês John Maynard Keynes, considerado como o pai da moderna análise ma-
croeconômica, escreveu que 
"... o mundo estava excepcionalmente ansioso por um
diagnóstico mais bem fundamentado, pronto a acei-
tá-lo e desejoso de o experimentar. As idéias dos eco-
nomistas, certas ou erradas, têm mais importância do
que geralmente se pensa. Na realidade, o mundo é
quase exclusivamente governado por elas".
Durante praticamente toda a metade do século XX a Grande Depressão e as Grandes
Guerras aproximaram as teorias econômicas das soluções práticas dos estadistas. Vale no-
tar que a Revolução Industrial do século XVIII e as questões doutrinárias e sócio-econômi-
cas do século XIX já haviam iniciado essa aproximação.
Cumpre salientar, também, que não foram somente a Grande Depressão e as Grandes
Guerras que motivaram o crescente interesse pela teoria econômica. A esses motivos so-
ma-se a preocupação básica do século XX em torno da idéia do desenvolvimento econômi-
co. De fato, tão logo encerrada a segunda Grande Guerra, o foco das atenções foi dirigido
para a questão dos povos subdesenvolvidos. A aceleração do desenvolvimento econômico
das economias periféricas é, sem dúvida, uma das questões cruciais do final do século XX.
O crescimento econômico não se processou de forma uniforme entre as nações, levando a
uma grande diversidade de níveis de desenvolvimento e de padrões de vida.
Essa diversidade não decorre apenas de uma causa isolada. Muitos são os motivos que
lhe dão origem, como geografia, clima, costumes, métodos de produção e de comércio, qua-
lidade da força de trabalho e formação histórica dos recursos de capital.
Ao lado das questões estruturais relativas a padrões de crescimento e de desenvolvi-
mento, o cenário econômico comporta ainda grande número de questões conjunturais, afe-
tando as perspectivas econômicas das nações. Afetadas essas perspectivas, os cenários
político e social podem ser significativamente alterados, exigindo que as questões econômi-
cas sejam tratadas a nível multidisciplinar. Dadas as raízes não apenas econômicas dos
problemas do homem contemporâneo, o economista, atuando isoladamente, certamente
não tem respostas prontas para todos eles.
1.2 – Relações da Economia com outras ciências 
As interfaces da economia com outros ramos do conhecimento social decorrem de que
as relações humanas e os problemas delas derivados não são facilmente separáveis confor-
me níveis de referência previamente classificados. O referencial econômico deve ser enca-
rado tão somente como útil na análise da luta do homem pela sobrevivência, prosperidade,
bem-estar individual e coletivo. Essa luta, todavia, incorpora aspectos que não se esgotam
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nos limites das relações econômicas. Para além delas, dizem respeito às posturas ético-reli-
giosas, às formas de organização política, aos tipos de relacionamento social, à ordem jurí-
dica, aos padrões tecnológicos, às limitações ambientais e à formação cultural da socieda-
de.
Se é certo que os conflitos ligados aos processos de produção, de acumulação da ri-
queza, da repartição, de difusão do bem-estar não se limitam às soluções encontradas na
economia, não é menos correto afirmar que também não são solucionados em nenhum ou-
tro ramo do conhecimento social, tomado isoladamente. Vale a pena ver algumas síntesessobre a questão:
Leonard Silk sintetizou da seguinte maneira as relações da economia com outras ciên-
cias:
“Os economistas não têm seu trabalho limitado pelas
idéias formais de uma única disciplina. As filosofias
políticas e os princípios éticos a que subordinam seus
valores, suas vidas e a variada gama de suas percep-
ções procuram explicar muitas coisas que ultrapassam
a lógica explícita de seu trabalho profissional”.
Entre os economistas contemporâneos que trataram deste tema, Kenneth Boulding é
tido como um dos que melhor o resumiu, dada a clareza e objetividade com que o fez: 
“Os problemas econômicos não têm contornos bem
delineados. Eles se estendem perceptivamente pela
política, pela sociologia e pela ética, assim como há
questões políticas, sociológicas ou éticas que são en-
volvidas ou mesmo decorrentes de posturas econômi-
cas. Não será exagero dizer que a resposta final às
questões cruciais da economia encontra-se em algum
outro campo. Ou que a resposta a outras questões hu-
manas, formalmente trabalhadas em outras esferas
das ciências sociais, passará necessariamente por al-
guma revisão do ordenamento real da vida econômica
ou do conhecimento econômico”.
Em função da multiplicidade dos problemas econômicos e da diversidade de suas cau-
sas e efeitos, economistas têm observado que são inseparáveis os fenômenos estritamente
econômicos dos extra-econômicos, posto que todos são significativos para o exame de qual-
quer sistema social.
A enorme complexidade das questões econômicas atuais indicam, sem qualquer dúvi-
da, que seu estudo e entendimento não pode prescindir de interrelações com o espaço geo-
gráfico, a evolução histórica, as alterações tecnológicas e, sobretudo, com as bases institu-
cionais das sociedades, dificultando o estudo isolado da Economia.
Não resta dúvida de que a Economia constitui um ramo autônomo do conhecimento hu-
mano. Todavia, o isolacionismo que caracterizou as primeiras investigações econômicas ce-
deu lugar ao enfoque multidisciplinar, que aproxima a Economia das outras Ciências So-
ciais, numa rede de interdependência com a Política, a História, a Geografia, a Sociologia, o
Direito, além de outros ramos do saber, dentre os quais os métodos quantitativos.
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2 – ECONOMIA: CONCEITO, LEIS ECONÔMICAS E EVOLUÇÃO DO
 PENSAMENTO ECONÔMICO 
A economia é um estudo da humanidade nas atividades correntes da vida; examina a
ação individual e social em seus aspectos mais estritamente ligados à obtenção e ao uso
das condições materiais do bem-estar.
Assim, de um lado, é um estudo da riqueza; e, de outro, e mais importante, uma parte
do estudo do homem. O caráter do homem tem sido moldado por seu trabalho quotidiano e
pelos recursos materiais que emprega, mais do que por outra influência qualquer, à parte a
dos ideais religiosos. Os dois grandes fatores na história do mundo têm sido o religioso e o
econômico. Aqui e ali o ardor do espírito militar ou artístico predominou por algum tempo;
mas as influências religiosas e econômicas nunca foram deslocadas do primeiro plano, mes-
mo passageiramente, e quase sempre foram mais importantes do que as outras todas jun-
tas.
Vista desta forma, a economia é um estudo dos homens tal como vivem, agem e
pensam nos assuntos comuns da vida. Mas diz respeito, principalmente, aos motivos que
afetam, de modo intenso e constante, a condução do homem no campo das transações
mercantis e dos negócios. Como as transações e seus benefícios são mensuráveis, a eco-
nomia conseguiu avançar mais que os outros ramos do estudo do homem. Assim como a
balança de precisão do químico torna sua disciplina mais exata que outras ciências físicas, a
balança do economista, apesar de mais grosseira e imperfeita, deu à economia uma exati-
dão maior do que a de qualquer outro ramo das ciências sociais. Naturalmente, em termos
comparativos, a economia não tem a mesma precisão das ciências físicas exatas, pois ela
se relaciona com as forças sutis e sempre mutáveis da natureza humana.
É essencial notar que o economista não se arroga a possibilidade de medir os
motivos e as inclinações humanas. Ele só o faz indiretamente, através dos seus efei-
tos. Avalia as motivações da ação por seus resultados, do mesmo modo como o faz o
cidadão comum, diferindo dele somente pelas maiores precauções que toma em es-
clarecer os limites de seu conhecimento. Alcança suas conclusões pela observação da
conduta humana sob certas condições, sem tentar penetrar questões de ordem transcen-
dental. Na utilização do conhecimento, considera os incentivos e os fins últimos que levaram
à busca de determinadas satisfações. As medidas econômicas dessas satisfações são o
ponto de partida da economia.
Quando se diz que um resultado ou efeito é medido pela ação que o causou, não esta-
mos admitindo que toda ação humana deliberada seja resultado de um cálculo econômico.
As pessoas não ponderam previamente os resultados econômicos de cada uma de suas
ações. Nem todas as ações humanas são objeto de cálculo econômico. Mas o lado da vida
de a economia se ocupa especialmente é aquele em que ocorre, com mais freqüência, cal-
cular os custos e os benefícios de determinada ação ou de um empreendimento, antes de
executá-lo. E em que é possível calcular seus resultados e efeitos.
É claro que devemos ter presente que os motivos das ações humanas não residem, ne-
cessariamente, apenas em benefícios materiais, economicamente mensuráveis. Envolvidos
pela força da concorrência, muitos homens de negócios são muitas vezes estimulados mais
pela expectativa de vencer seus concorrentes do que propriamente por acrescentar mais à
sua riqueza. Por outro lado, o desejo de obter a provação ou de evitar a censura de seus
pares, no meio social em que vivem, podem também levar comumente a ações e decisões
de significativos efeitos econômicos. 
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A melhor compreensão dessas idéias pode ser obtida enumerando-se algumas das
principais questões estudadas pela economia:
a) Quais as causas que afetam o consumo e produção, a distribuição e a troca de ri-
quezas; a organização da indústria e do comércio; o comércio exterior; as relações
entre empregados e empregadores. Como estas questões são influenciadas umas
pelas outras.
b) Qual o alcance e a influência da liberdade econômica. Qual sua importância, efeitos
imediatos e mais remotos. Até que ponto os inconvenientes da liberdade econômica,
para os que dela não se beneficiam, justificam modificações em instituições como a
propriedade privada e a livre iniciativa. Em que medida poderíamos fazer essas mo-
dificações sem enfraquecer a energia dos que promovem o progresso.
c) Como deve ser distribuída a incidência de impostos entre as diferentes classes da
sociedade. Quais os empreendimentos de que a sociedade, por ela mesma, deve
encarregar-se e quais os que se farão por intermédio do governo. Em que medida o
governo deve regulamentar a forma como os homens de empresa dirigem seus ne-
gócios.
Assim considerada, a economia é o estudo das condições materiais da vida em so-
ciedade e dos motivos que levam os homens a ações que têm conseqüências econô-
micas. São seus objetivos o estudo da pobreza, enquanto estudo das causas da de-
gradação de uma grande parte da humanidade; das condições, motivações e razões
da riqueza; das ações individuais e sociais ligadas à obtenção do bem-estar.
2.1 - Conceito
A partir do que já foi tratado até aqui, não é difícil concluir que constitui tarefa complexa
a formulação de um conceito adequadamente abrangente para a economia. Com efeito, as
inúmeras nuances das relações sociais e a multiplicidade dos fatores que condicionam a ati-
vidade econômica dificultam sobremaneira essa formulação. A economia é fortemente in-
fluenciada por diferentes concepções político-ideológicas, não só em sua construção, en-
quanto ramo do conhecimento social, como também na própria realidade. Cada corrente de
pensamento econômico vê a realidade segundo ângulos diferenciados, a partir dos quais
são elaboradas suas concepções, estabelecidos seusconceitos e formulados seus mode-
los. É bem de ver que as instituições econômicas e político-ideológicas se modificam ao lon-
go do tempo, implicando, necessariamente, a evolução do conceito de economia.
Nos primórdios a denominação era economia política, expressão que se afirmou a
partir do início de século XVII. A essa época, as questões econômicas mais importantes,
como a posse territorial, a escravatura, a arrecadação de tributos, a concessão de merca-
dos, o comércio interregional e a cunhagem e emprego de moedas eram discutidas sob as
óticas da política, da filosofia e do direito canônico.
 Naquela ocasião, a economia era definida como 
o ramo do conhecimento essencialmente voltado para
a administração do Estado, visando primordialmente
ao seu fortalecimento.
 
 Assim, estava justificada a expressão economia política.
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As dimensões da economia, como ramo do conhecimento, só viriam a se alargar após o
Renascimento, com o desenvolvimento dos Estados-nações mercantilistas - Espanha, Por-
tugal, França, Inglaterra e Alemanha.
 
No século XVIII, desenvolvem-se novas concepções. A preocupação desloca-se do for-
talecimento do Estado para a riqueza das nações. Surgem as obras de François Ques-
nay e de Adam Smith, que inauguram a denominada era do pensamento econômico clás-
sico, particularmente esta última. Os sentimentos morais, a busca da aprovação social, as
razões maiores da acumulação e da conservação da fortuna material constituíram as pre-
missas da descrição da ordem econômica de Smith, baseada nas leis que regulam a forma-
ção, a acumulação, a distribuição e o consumo da riqueza, pilares do conceito clássico
de economia: 
A economia política torna conhecida a natureza da ri-
queza: desse conhecimento de sua natureza deduz os
meios de sua formação, revela a ordem de sua acumu-
lação e examina os fenômenos envolvidos em sua dis-
tribuição, praticada através do consumo.
A ênfase conferida a este ou aquele termo do polinômio clássico formação-acumula-
ção-distribuição-consumo da riqueza constituíram a base de diferenciados entendimen-
tos político-ideológicos a respeito da eficácia social de diferentes formas de organização das
atividades econômicas. A ênfase no processo de acumulação capitalista e nos mecanismos
de repartição da riqueza conduziu à proposta socialista. 
Os economistas neoclássicos, mais conservadores, objetivaram a entender e explicar o
equilíbrio do processo econômico tal como se apresentava. Malgrado vários deles tenham
reagido às desigualdades e iniqüidades sociais, não chegaram a apontar formas alternativas
e revolucionárias para a organização econômica, tendo, entretanto, apontado os vícios da
ordem estabelecida e os mecanismos para seu ajuste e correção. Desta forma, surge um
novo conjunto de temas cruciais: riqueza-pobreza-bem-estar. São também os neoclássi-
cos que vão antecipar as bases fundamentais da conduta econômica do homem: escassez
de recursos frente a necessidades ilimitadas a satisfazer.
Segundo a concepção neoclássica, as necessidades e os desejos humanos são inúme-
ros e de espécies variadas. As mudanças constantes nos estágios culturais das sociedades
organizadas requerem cada vez maior quantidade e diversidade de utilidades. Assim, o
novo conceito de economia - neoclássico - passa a ser: 
A economia examina a ação individual e social, em
seus aspectos mais estritamente ligados à obtenção e
ao uso dos elementos materiais do bem-estar. Assim,
de um lado, é um estudo da riqueza; e, de outro, e mais
importante, é uma parte do estudo do homem.
O conjunto produção-distribuição, esta entendida como repartição, é a base sobre a
qual a perspectiva socialista elaborou sua concepção sobre a matéria de que se ocupa a
economia. Segundo essa concepção, a vida em comum e os estágios culturais alcançados
determinam as necessidades humanas, que para serem satisfeitas carecem da produção de
utilidades. A produção é, então, a atividade humana que consiste em adaptar os recursos e
as forças da natureza com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas. O seu fun-
damento é o trabalho. A produção configura, assim, um ato social, que se completa com a
distribuição do produto social do trabalho. Desta forma, o conceito de economia seria:
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O estudo das leis sociais que regulam a produção e a
distribuição dos meios materiais destinados a satisfa-
zer as necessidades humanas.
2.2 - Leis econômicas
Os argumentos que compõem a teoria econômica classificam-se em positivos e nor-
mativos. Os argumentos positivos procuram entender e explicar os fenômenos econômicos
como eles realmente são. Assim, qualquer discordância quantos a esses argumentos pode
ser confrontada com a realidade. Por exemplo: São Paulo é o primeiro Estado na produção
industrial brasileira. Divergências quanto a esta afirmativa podem ser dirimidas à luz dos fa-
tos. Os argumentos normativos, por sua vez, dizem respeito ao que deveria ser. São pon-
tos de vista influenciados por fatores filosóficos, sociais e culturais; dependem de nossos jul-
gamentos a respeito do que é certo e do que é errado, do que é bom e do que é ruim. Por
envolverem juízos de valor sobre o que deve ser, tais argumentos não podem ser confronta-
dos com os fatos objetivos da realidade. Por exemplo: o combate ao desemprego deveria
ser uma prioridade em relação ao combate à inflação. Divergências sobre esta posição po-
dem não chegar a um consenso.
Quanto à análise econômica, propriamente dita, a análise econômica positiva tem por
objetivo maior a compreensão e previsão dos fenômenos econômicos do mundo real, sem
que haja qualquer intenção de julgar essa realidade, ou de alterar o curso dos acontecimen-
tos. Já a análise econômica normativa preocupa-se em compreender e prever a realidade,
tendo por meta atingir determinados objetivos. Para tanto, utiliza-se de formulação de políti-
cas econômicas para intervir no mundo real.
 
A descrição sistematizada da realidade econômica sugere que ela se sujeita a um certo
tipo de ordem, registrando-se alguma uniformidade na ocorrência de cada um dos fenôme-
nos escolhidos para observação. É possível identificar, por sua repetitividade, as principais
causas de fatos selecionados, bem como identificar relações funcionais que ajudam no en-
tendimento dos mecanismos fundamentais da ordem econômica. A modelação da realidade,
a descoberta de princípios que dão sustentação à ordem econômica, a teorização a respeito
de comportamentos repetitivos dos agentes econômicos e as leis mediante as quais os fatos
econômicos se manifestam resultam, desta forma, de regularidades sistematicamente ob-
servadas. 
Todavia, há diferenças fundamentais entre a exatidão com que são formulados princí-
pios, leis, teorias e modelos econômicos, comparativamente com os das ciências experi-
mentais. Isto em razão de:
a) Não é possível isolar, para observação, nem controlar por completo, qualquer as-
pecto particular da realidade econômica.
b) As leis econômicas têm caráter probabilístico.
c) As teorias e os modelos econômicos são simplificações da realidade.
 
Em sendo assim, princípios, teorias, leis e modelos econômicos inscrevem-se nos limi-
tes circunstanciais das ciências sociais.
 
Desta forma, as leis da Economia devem ser entendidas como menos imperativas que
as das ciências experimentais. Seus agentes são homens, capazes de influir voluntariamen-
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te na direção e na intensidade dos fatos de que participam. Ademais, as condições sociais,
dentro das quais as leis econômicas são válidas, modificam-se constantemente, provocando
ações e reações nem sempre esperadas, vez que o comportamento humano pode assumir
posições não rigorosamente situadas dentro do campo da normalidade previamente estabe-
lecido.
Apesar da constância e da uniformidade dos fatos que deram origem à leis econômicas,
estas devem ser sempre encaradas como leis sociais. Elas envolvem a ação combinada de
várias tendências e decisões individuais independentes, cuja exata quantificaçãonem sem-
pre é possível. Isto não quer dizer que as leis da Economia sejam destituídas de maior fun-
damento.
As leis econômicas são, portanto, de probalidade e não de relações exatas. São leis hi-
potéticas e probabilísticas. Hipotéticas porque só se verificam se reunirem as condições e
hipóteses que foram previamente estabelecidas quando de sua formulação. Probabilísticas
porque sempre se referem ao resultado global de uma infinidade de fatos elementares, di-
versos e independentes, cujas características se distribuem ao acaso, embora se entrela-
cem em seu jogo simultâneo, determinando a uniformidade de médias estatísticas, demons-
tráveis matematicamente pelo cálculo de probabilidades.
Condição ceteris paribus
Observadas apenas algumas ações e reações de um único agente econômico - um
consumidor individual - não haveria segurança suficiente para a formulação, por exemplo,
de uma lei da procura ou de uma função consumo que pudessem ser generalizadas como
válidas e representativas da realidade. Para tanto, será necessário um número estatistica-
mente significativo de observações.
O resultado geral dessas observações permite a formulação da lei da procura e da fun-
ção consumo, mostrando que há uma relação funcional de dependência entre as quantida-
des procuradas (QP) e os preços (P), relação esta que pode ser expressa por uma função
do seguinte tipo: QP = f (P). Esta função indica que as quantidades procuradas dependem
dos preços.
 
Essas relações funcionais simples, tanto quanto outras que podem ser formuladas no
campo da Economia, a despeito do seu caráter estatístico, são influenciadas por várias cau-
sas. As quantidades procuradas foram consideradas como função dos preços. Todavia, ou-
tras causas certamente interferem no movimento dessas variáveis, além do que elas se en-
contram interligadas a toda uma complexa rede de relações econômicas, podendo ser in-
fluenciadas por fatores aparentemente distantes daqueles que atuaram no restrito meio em
que as observações iniciais foram desenvolvidas.
Desta forma, a validade das leis econômicas implica que sejam mantidos inalterados to-
dos os demais fatores que podem interferir nas magnitudes das variáveis sob observação. 
É exatamente a esta particularidade que os economistas querem referir-se quando utili-
zam a expressão ceteris paribus. É uma condição que significa: mantidos inalterados to-
dos os demais fatores, ou, ainda, permanecendo iguais todos os demais elementos.
Em resumo, as leis econômicas pressupõem, portanto, um conjunto de hipóteses sim-
plificadoras. Elas são formuladas levando em conta os fatores principais (previsíveis ou
mensuráveis) que interferem preponderantemente no fenômeno sob observação. Os demais
fatores são admitidos como constantes. Qualquer alteração que venham a registrar pode
perturbar a direção e a intensidade das regras básicas formuladas. 
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Por essas razões, e na impossibilidade de os economistas manterem sob rigoroso con-
trole todos os fatores que podem interferir no andamento de determinado fato econômico,
as leis da Economia estão sempre contingenciadas pela condição ceteris paribus.
Sofisma de composição
É bastante comum, no campo da Economia, considerar-se para o conjunto certos prin-
cípios ou leis que são válidos apenas para uma parte do todo. Esta é uma forma incorreta
de raciocinar. Nem sempre o que é válido para um indivíduo ou empresa o é também para o
sistema econômico como um todo.
Imagine-se que um produtor agrícola individual, cuja produção atenda apenas a peque-
na parcela do mercado, obtenha uma colheita excepcional. Obviamente sua renda excederá
as expectativas. Entretanto, se o conjunto dos produtores agrícolas obtiver excelentes co-
lheitas, não se pode afirmar que a renda de todos se expandirá, em comparação com perío-
dos anteriores, não tão satisfatórios. As excelentes safras poderão provocar redução nos
preços, dificultando a realização de lucros.
Da mesma forma, a poupança, na escala individual, é considerada uma virtude. Contu-
do, se o nível total de poupança for excessivamente elevado em relação à renda nacional, o
consumo fatalmente se reduzirá e, como conseqüência, o nível de produção baixará, redu-
zindo-se o emprego e a renda da sociedade.
Assim, a validade de uma lei econômica está contingenciada por determinada escala de
observação.
Quando se imputa ao conjunto certos princípios válidos apenas para uma parte do todo,
incorremos num sofisma de composição. 
2.3 – A evolução do pensamento econômico
Na Antigüidade, para os gregos e romanos, era quase inexistente a preocupação rela-
cionada com os estudos econômicos. Com efeito, a filosofia e a política despertavam, para
essas civilizações, muito mais interesse do que qualquer doutrinação econômica, exceto
pelo comércio que habitualmente realizavam, sem, contudo, grandes investigações, estudos
ou idéias científicas.
 
A palavra economia surgiu na Grécia Antiga. Deriva de oikos (casa) e nomus (adminis-
tração, estudo), representando, portanto, a administração da casa, do patrimônio particular.
A administração da pólis (cidade-Estado) era chamada de economia política.
Ao contrário das ciências exatas, a economia não é desligada de uma concepção de
mundo do investigador, cujos interesses e valores interferem, conscientemente ou não, nas
conclusões de seu trabalho científico. Assim, a economia formou uma história de pensa-
mento baseada em escolas que se sustentam em proposições metodológicas muitas vezes
conflitantes.
A escola mercantilista
O mercantilismo, doutrina econômica do final do século XVII, também chamada de meta-
lismo, preocupava-se com a política econômica de saldos favoráveis na balança comercial,
com o estoque de metais preciosos e com o poder do Estado. Considerava-se que o gover-
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no de um país seria mais forte o poderoso quanto maior fosse seu estoque de metais pre-
ciosos.
A consecução desse objetivo dependia da ênfase conferida ao comércio, devendo-se
estimular as exportações e restringir as importações. Ocorre, entretanto, que as importações
de um país são as exportações de outro. Assim, essa política econômica não poderia fun-
cionar, como de fato não funcionou.
Nesse momento, os deslocamentos e as viagens marítimas tinham exclusivamente inte-
resses comerciais, no sentido da obtenção de cada vez mais riqueza por meio da acumula-
ção de ouro, prata e outros metais preciosos. Com essa intenção, o mercantilismo estimulou
lutas, invasões, guerras, exarcebou o nacionalismo, mantendo uma poderosa e constante
presença governamental do Estado em todos os assuntos relacionados à Economia. 
A escola fisiocrata
A fisiocracia nasceu de um grupo de economistas franceses do século XVIII que com-
bateu as idéias do mercantilismo e pregou o afastamento do Estado da economia, criando a
ideologia do laissez faire (deixa fazer), que se tornou o fundamento do liberalismo. Argu-
mentavam que a economia era como um sistema biológico vivo (physis, em grego quer dizer
natureza) e, portanto, evolutivo e capaz de combater suas doenças. A sociedade era dividi-
da em três classes: os agricultores, os proprietários e a classe estéril, que nada agregava.
A escola clássica
Para os fisiocratas, somente a agricultura gerava riquezas. Foi com Adam Smith, ex-
poente maior do pensamento econômico clássico, (A riqueza das nações, 1776) que foi de-
senvolvida a concepção de toda a produção de mercadorias gerava valor, por meio da quan-
tidade de trabalho necessária para produzi-las. Outro economista clássico, David Ricardo
(Princípios de economia política, 1817), avançou, afirmando que a origem do valor é o tem-
po de trabalho empregado para produzir as mercadorias e que os rendimentos da produção
apresentavam-se declinantes à medida que fossem sendo utilizadas as terras mais férteis.
Ricardo formulou a importante teoria das vantagens comparativas, que se fundamenta na
idéia de que os países deveriam se especializar na produção de mercadorias que tivessem
tecnologias mais eficientes.
Contra a intervençãoestatal, a Escola Clássica apoiou-se no liberalismo e no individua-
lismo e na idéia da não-existência de crises no sistema capitalista. O liberalismo serviu de
base ideológica às revoluções antiabsolutistas que ocorreram na Europa, durante os sécu-
los XVII e XVIII, e à luta pela independência dos Estados Unidos. Representa os anseios de
poder da burguesia contra a aristocracia absolutista. O liberalismo defendia: a) a mais ampla
liberdade individual; b) a democracia representativa, com a separação e a independência
entre os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário); c) o direito inalienável à propriedade;
d) a livre iniciativa. 
Apoiados na Lei de Say (Jean-Baptiste Say, Tratado de economia política, 1803), que
afirmava que “toda oferta gera, necessariamente, sua procura”, acreditavam no equilíbrio
duradouro da economia. Smith afirmava haver uma espécie de “mão invisível” que regulava
os interesses dos consumidores e dos produtores.
A escola marxista
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Em 1867, Karl Marx escreveu O Capital, trabalho que deu origem à corrente de pensa-
mento econômico chamada de marxismo. Marx analisa o processo de acumulação capitalis-
ta, afirmando haver uma concentração crescente durante a acumulação, o que tornaria evi-
dente a contradição inerente ao sistema capitalista. 
Para Marx, o fator produtivo capital surge com a burguesia, considerada uma classe so-
cial que se desenvolve após o desaparecimento do sistema feudal e que se apropria, princi-
palmente, dos meios de produção (capitalistas). A outra classe social, o proletariado, é obri-
gada a vender sua força de trabalho, dada a impossibilidade de produzir o necessário para
sobreviver (operários). 
Com base nessa relação, o capital e o trabalho são considerados como os principais
meios de produção. O trabalho é, portanto, considerado como mercadoria. Marx desenvol-
veu o conceito de valor-trabalho apresentado por Ricardo, no qual acreditava, mas era hostil
ao capitalismo competitivo e à livre concorrência, afirmando que a classe trabalhadora era
explorada pelos capitalistas. De acordo com a teoria marxista, o valor de uma mercadoria
deveria ser igualado ao tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção. As-
sim, pode-se considerar o conceito da mais-valia como a principal teoria de Marx. Refere-se
à diferença entre o valor das mercadorias que os trabalhadores produzem em dado período
de tempo e o valor da força de trabalho vendida aos empregadores capitalistas que a con-
tratam. Os lucros, juros e aluguéis (rendimentos de propriedades) representam, portanto, a
expressão da mais-valia. Desta forma, o que excede o valor da força de trabalho e vai para
as mãos dos capitalistas é definido por Marx como a mais-valia. Ela pode ser considerada o
valor extra que o trabalhador cria, além do valor pago por sua força de trabalho.
A escola neo-clássica
A partir de 1870, os economistas neo-clássicos negaram a teoria do valor-trabalho,
substituindo-a pela do valor-utilidade, ou seja a capacidade de cada bem satisfazer as ne-
cessidades dos consumidores. Acreditavam que a concorrência fosse o mecanismo que es-
tabeleceria o equilíbrio dos mercados. Assim, essa escola de pensamento econômico tem
enfoque claramente microeconômico, entendendo que o equilíbrio estático é estável e que
pequenas imperfeições de mercado desaparecem perante as leis de mercado. O desequilí-
brio, portanto, é passageiro.
Os neo-clássicos desenvolveram importantes conceitos, tais como: curto prazo, longo
prazo, a lei da oferta e da procura, concorrência perfeita, equilíbrios parcial e geral. Todavia,
não conseguiram explicar a Grande Depressão de 1929.
A escola keynesiana
John Maynard Keynes publicou, em 1936, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
moeda, trabalho que revolucionou a teoria econômica e ensejou o surgimento de uma enor-
me quantidade de seguidores em todo o mundo. Abalou o principal fundamento do liberalis-
mo, demonstrando a inexistência do princípio do equilíbrio automático da economia capita-
lista. 
O contexto em que a obra de Keynes foi publicada correspondia a uma economia em
fase de forte recessão, devastada que fora pela Grande Depressão de 1929, onde era enor-
me o desemprego de mão-de-obra e dos fatores de produção, com a conseqüente queda da
renda nacional do país. Sua principal preocupação era determinar os principais fatores res-
ponsáveis pelo emprego em uma economia industrial moderna. Estudar, porém, o nível de
ocupação é o mesmo que estudar o nível de renda e da produção nacional, posto que Key-
nes encarava a teoria econômica no sentido macro e global.
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Segundo o pensamento keynesiano, o volume de emprego deriva principalmente do ní-
vel de produção da economia, que, por sua vez, é determinado pela demanda agregada ou
efetiva. Assim, é o ato de gastar ou consumir que determina a renda. Em outras palavras,
quem determina o montante da produção e, consequentemente, o volume de emprego é a
demanda efetiva, que não é somente a demanda efetivamente realizada, mas também a
que potencialmente ainda se espera gastar em consumo.
Keynes demonstrou que a demanda efetiva pode ser maior ou menor que a capacidade
produtiva de um país em determinado período de tempo. Se for menor, haverá desemprego;
se for maior, haverá inflação. Naturalmente, existe uma combinação ótima de consumo e in-
vestimento que iguala a demanda e a oferta no pleno emprego, mas esta é apenas uma das
muitas possibilidades de combinação. Desta forma, o pensamento keynesiano derrubou a
Lei de Say, mostrando que não existem forças de ajustamento automático na economia, sig-
nificando o fim do laissez-faire da época clássica.
A escola monetarista
O norte-americano Milton Friedman é o principal teórico dessa corrente de pensamento
econômico, também conhecida como Escola de Chicago). Essa escola sustenta a possibili-
dade de manter a estabilidade da economia capitalista por meio de medidas monetárias. As-
sim, devem-se explicar as variações da atividade econômica pelas variações de oferta de
moeda e não pelas variações de investimentos. Reforça também o retorno do liberalismo ou
neoliberalismo, fundamentando ser a necessidade máxima dos seres humanos a liberdade
de escolha.
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