Prévia do material em texto
<p>Poder Judiciário</p><p>TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO</p><p>Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, 300 - Bairro: Praia de Belas - CEP: 90010-395 - Fone: (51)</p><p>3213-3000 - www.trf4.jus.br</p><p>APELAÇÃO CÍVEL Nº 5001196-22.2022.4.04.7138/RS</p><p>RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (RÉU)</p><p>APELADO: ZULEICA MOZERLE DE CORDOVA (AUTOR)</p><p>RELATÓRIO</p><p>Trata-se de recurso de apelação interposto pelo INSS contra</p><p>sentença que julgou parcialmente procedente o feito e concedeu o</p><p>benefício da aposentadoria por idade urbana, nos seguintes termos:</p><p>Ante o exposto, julgo extinto o processo, por ausência de interesse de agir, em</p><p>relação ao pedido de reconhecimento dos períodos de 07/01/1976 a</p><p>30/04/1977, 27/05/1986 a 14/02/1989, 01/06/1999 a 11/09/2011 e 03/09/2012 a</p><p>09/04/2013 como tempo comum, nos termos do art. 485, inciso VI, do CPC.</p><p>No mérito, julgo parcialmente procedente o pedido, nos termos do art. 487, I,</p><p>do CPC, para o fim de condenar o INSS a:</p><p>a) conceder em favor do autor o benefício de aposentadoria por idade urbana</p><p>(NB 41/180.340.964-6), a partir da data do requerimento administrativo</p><p>(03/12/2018) e DIP a contar do primeiro dia do mês da implantação, com</p><p>renda mensal inicial (RMI) a ser apurada pelo próprio INSS; e</p><p>c) pagar a importância decorrente da presente decisão, resultante da soma das</p><p>prestações vencidas entre a data de início do benefício (DIB) e a data da</p><p>implantação do benefício (DIP), nos moldes acima definidos.</p><p>Indefiro o pedido de antecipação dos efeitos da tutela.</p><p>A concessão do NB 180.340.964-6, DER 03/12/2018, deverá ocorrer</p><p>simultaneamente ao cancelamento do NB 202.832.867-8, DER 18/11/2022,</p><p>ressalvada a opção pelo benefício mais vantajoso.</p><p>Tendo em conta as disposições dos arts. 85 e 86, do CPC, em cotejo com os</p><p>pedidos do autor e sendo ambos os litigantes sucumbentes, condeno o autor e o</p><p>réu ao pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência.</p><p>Considerando o estabelecido no art. 85, §§ 2º; 3º, I e § 4º do CPC, bem como</p><p>que o proveito econômico desta demanda será inferior a 200 (duzentos)</p><p>salários-mínimos, montante que se depreende da análise ao valor da causa,</p><p>condeno a parte autora e o INSS ao pagamento de honorários advocatícios, os</p><p>quais fixo em 10% sobre o valor da condenação, compreendidas as parcelas</p><p>vencidas até a data da prolação da sentença (Súmula nº 76 do Tribunal</p><p>Regional Federal da 4º Região e Súmula 111 do STJ), a ser apurado quando da</p><p>liquidação do julgado, vedada a compensação de tais rubricas.</p><p>Suspendo, contudo, a exigibilidade dos valores devidos pelo demandante a</p><p>título de ônus sucumbenciais, nos termos do art. 98, § 3º do CPC, face ao</p><p>benefício da assistência judiciária gratuita concedido a ele.</p><p>Ambos os litigantes são isentos do pagamento das custas processuais em razão</p><p>do disposto no art. 4º, I e II, da Lei nº 9.289/96.</p><p>Em suas razões, o INSS sustenta que, por se tratar de servidora</p><p>pública vinculada ao RPPS do Município de São Francisco de Paula/RS no</p><p>momento do requerimento administrativo, não é possível a concessão do</p><p>benefício. Em sequência, afirma não ter ocorrido coisa julgada</p><p>administrativa, podendo a Administração anular seus próprios atos.</p><p>Com contrarrazões, vieram os autos a este Tribunal para</p><p>julgamento.</p><p>É o relatório.</p><p>VOTO</p><p>A controvérsia recursal diz respeito à possibilidade de concessão</p><p>do benefício previdenciário à parte autora, vinculada ao RPPS no momento do</p><p>requerimento administrativo, assim como à existência de coisa julgada</p><p>administrativa.</p><p>Da Aposentadoria por Idade</p><p>A aposentadoria por idade está regulada no art. 201, § 7º da CF e</p><p>nos arts. 48 a 51 da Lei de Benefícios, e é concedida ao segurado que preencher</p><p>os seguintes requisitos (art. 18 e 19 da EC 103/2019):</p><p>Requisitos para a aposentadoria por idade urbana</p><p>Idade mínima para</p><p>homem</p><p>65 (sessenta e cinco) anos</p><p>Idade mínima para</p><p>mulher</p><p>Conforme o ano de implemento do requisito etário:</p><p>(i) até 31/12/2019: 60 (sessenta) anos de idade;</p><p>(ii) a partir de 01/01/2020: 60 (sessenta) anos, acrescida em 6 (seis) meses a</p><p>cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade;</p><p>(iii) a partir de 01/01/2023: 62 (sessenta e dois) anos de idade.</p><p>Carência necessária (i) para segurados filiados até 24/07/1991, se implementar o requisito etário</p><p>antes de 2011 - observar a tabela prevista no artigo 142 da Lei n.º 8.213/91;</p><p>(ii) se implementados os todos requisitos anteriores após 2011 ou filiado</p><p>após 25/07/1991 - 180 contribuições (15 anos);</p><p>(iii) Para segurados homens que se filiarem ao RGPS após 14/11/2019 - 240</p><p>contribuições (20 anos).</p><p>No tocante à renda mensal inicial (art. 7.º da Lei 9.876/1999 e art.</p><p>26, caput, EC 103/19):</p><p>Aos segurados que implementaram</p><p>os requisitos para a concessão do</p><p>benefício antes de 13/11/2019;</p><p>70% do salário de benefício, mais 1% por deste, por grupo de doze</p><p>contribuições, até o máximo de 100% do salário de benefício, podendo</p><p>haver a multiplicação pelo fator previdenciário, caso este caracterize</p><p>condição mais benéfica para o segurado;</p><p>Aos segurados que implementaram</p><p>os requisitos para a concessão do</p><p>benefício após 14/11/2019;</p><p>Até que seja disciplinada lei ordinária para o cálculo do benefício, será</p><p>utilizada a média aritmética simples dos salários de contribuição,</p><p>atualizados monetariamente, correspondentes a 100% do período</p><p>contributivo posterior a 07/1994.</p><p>Consoante o art. 3º, §1º da Lei nº 10.666/2003 e §1º, do art. 102 da</p><p>LB, na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado</p><p>não prejudica o direito à aposentadoria, desde que o segurado conte com, no</p><p>mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de</p><p>carência na data do requerimento do benefício.</p><p>Desta forma, para a concessão de aposentadoria por idade urbana, é</p><p>possível o preenchimento não simultâneo dos requisitos etário e de carência,</p><p>haja vista que a condição essencial para o deferimento do benefício em questão é</p><p>o aporte contributivo correspondente.</p><p>Nesse sentido:</p><p>EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL</p><p>CIVIL. NOTÓRIO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. MITIGAÇÃO DOS</p><p>REQUISITOS FORMAIS DE ADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES DA</p><p>CORTE ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE.</p><p>TRABALHADOR URBANO. PREENCHIMENTO SIMULTÂNEO DOS</p><p>REQUISITOS LEGAIS. DESNECESSIDADE. PERDA DA QUALIDADE DE</p><p>SEGURADO. IRRELEVÂNCIA.</p><p>1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de</p><p>que, em se tratando de notório dissídio jurisprudencial, devem ser mitigados os</p><p>requisitos formais de admissibilidade concernentes aos embargos de</p><p>divergência. Nesse sentido: EREsp nº 719.121/RS, Relator Ministro JOÃO</p><p>OTÁVIO DE NORONHA, DJ 12/11/2007; EDcl no AgRg no REsp n.º</p><p>423.514/RS, Rel.ª Min.ª ELIANA CALMON, DJ de 06/10/2003; AgRg no AgRg</p><p>no REsp n.º 486.014/RS, Rel.ª Min.ª DENISE ARRUDA, DJ de 28.11.2005.</p><p>2. Esta Corte Superior de Justiça, por meio desta Terceira Seção, asseverou,</p><p>também, ser desnecessário o implemento simultâneo das condições para a</p><p>aposentadoria por idade, na medida em que tal pressuposto não se encontra</p><p>estabelecido pelo art. 102, § 1.º, da Lei n.º 8.213/91.</p><p>3. Desse modo, não há óbice à concessão do benefício previdenciário, ainda</p><p>que, quando do implemento da idade, já se tenha perdido a qualidade de</p><p>segurado. Precedentes.</p><p>4. No caso específico dos autos, é de se ver que o obreiro, além de contar com a</p><p>idade mínima para a obtenção do benefício em tela, cumpriu o período de</p><p>carência previsto pela legislação previdenciária, não importando, para o</p><p>deferimento do pedido, que tais requisitos não tenham ocorrido</p><p>simultaneamente.</p><p>5. Embargos de divergência acolhidos, para, reformando o acórdão</p><p>embargado, restabelecer a sentença de primeiro grau.</p><p>(EREsp 776.110/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO,</p><p>julgado em 10/03/2010, DJe 22/03/2010)</p><p>Cabe consignar, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça e o</p><p>Tribunal Regional Federal da 4ª Região1 pacificaram o entendimento de que o</p><p>número de meses de contribuição exigidos para fins de carência se consolida</p><p>quando implementado</p><p>o requisito etário. Por consequência, se o segurado não</p><p>implementa a carência legalmente exigida quando atingido o requisito etário,</p><p>pode cumpri-la posteriormente pelo mesmo número de contribuições previstas</p><p>para essa data.</p><p>Da comprovação do tempo de serviço urbano</p><p>O tempo de serviço pode ser comprovado mediante apresentação</p><p>de início de prova material, a qual poderá ser corroborada por prova testemunhal</p><p>idônea, conforme redação do § 3.º do artigo 55 da Lei 8.213/1991:</p><p>A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta lei, inclusive</p><p>mediante justificação administrativamente ou judicial, conforme disposto no</p><p>artigo 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material,</p><p>não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de</p><p>motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento.</p><p>Nesse sentido, entende-se como início de prova material a</p><p>existência de documentos que demonstrem o trabalho exercido pela parte</p><p>requerente, tais como anotações existentes na CTPS, fichas de empregados, livro</p><p>de frequência, recibos de pagamento, dentre outros.</p><p>Os períodos constantes na CTPS merecem aproveitamento para</p><p>fins de contagem do tempo de serviço, pois as anotações ali registradas gozam</p><p>de presunção juris tantum de veracidade1, ilidida apenas quando existirem</p><p>suspeitas objetivas e razoavelmente fundadas acerca dos assentos contidos do</p><p>documento, permitindo a identificação da existência de relação jurídica válida e</p><p>perfeita entre trabalhador e empregador2.</p><p>Ademais, os dados registrados no CNIS têm valor probatório</p><p>equivalente às anotações em CTPS3, sendo devido o cômputo do tempo de</p><p>serviço/contribuição respectivo.</p><p>Cabe referir ainda, que mesmo a ausência de recolhimentos</p><p>previdenciários correspondentes, os quais estavam a cargo do empregador, não</p><p>pode obstar o reconhecimento do labor prestado pelo segurado como tempo de</p><p>serviço para fins previdenciários, especialmente quando o interregno vem</p><p>regularmente anotado em CTPS, respeitando a ordem cronológica.</p><p>Fixados os parâmetros de valoração da prova, passo ao exame da</p><p>situação específica dos autos.</p><p>Do caso concreto</p><p>A parte autora completou o requisito da idade (60 anos) em</p><p>02/12/2018 (evento 1, DOC4). Portanto, para fazer jus ao benefício postulado, o</p><p>período de carência é de 180 meses de contribuição, consoante prescreve o</p><p>artigo 25, II, da Lei 8.213/91.</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note1</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note2</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note3</p><p>A análise do processo administrativo - NB 180.340.964-6, com</p><p>DER em 03/12/2018 - demonstra que houve o reconhecimento pelo próprio</p><p>INSS de 207 contribuições, sendo considerados os períodos de 07/01/1976 a</p><p>16/10/1978, 27/05/1986 a 16/04/1990 e 01/06/1999 a 15/06/2015 (evento 1,</p><p>DOC11, p. 38 e 39). Em sequência, em consulta ao Resumo de Documentos para</p><p>o Perfil Contributivo emitido no processo NB 197.158.103-5, com DER</p><p>em 13/12/2019, houve ainda o reconhecimento dos períodos de 07/01/1976 a</p><p>15/09/1981, 27/05/1986 a 16/04/1990, 01/02/1996 a 15/08/1997 e 01/06/1999 a</p><p>15/06/2015, totalizando 247 contribuições (evento 27, DOC1).</p><p>Trata-se, portanto, de coisa julgada administrativa, acerca do que a</p><p>jurisprudência deste Tribunal reconhece a segurança jurídica do ato</p><p>administrativo perfeito e acabado.</p><p>A possibilidade de a Administração Pública rever seus atos a</p><p>qualquer tempo decorre dos atributos do ato administrativo e coaduna-se com o</p><p>dever de cautela e correção que deve estar presente no trato de questões</p><p>relacionadas ao interesse público. Contudo, a revisão referida deve respeitar o</p><p>devido processo legal e o direito ao contraditório, de modo que, ausente a</p><p>motivação para a alteração da conclusão acerca da possibilidade de</p><p>enquadramento do período, deve ser mantido o enquadramento em todos os</p><p>requerimentos posteriores, conforme o entendimento deste Tribunal:</p><p>PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. TEMPO DE</p><p>SERVIÇO RURAL. COISA JULGADA ADMINISTRATIVA. EMISSÃO DE GPS</p><p>PARA INDENIZAÇÃO DE TEMPO RURAL. DIREITO LÍQUIDO E CERTO</p><p>DO IMPETRANTE. 1. A Autarquia tem o poder-dever de revisar seus atos</p><p>administrativos quando eivados de ilegalidade (Súmulas 346 e 473 do STF). No</p><p>entanto, a administração não pode revisar um ato administrativo sem efetiva</p><p>apuração de ilegalidade, já que este se reveste de presunção de legitimidade.</p><p>Ausente prova de ilegalidade, não é possível que a administração volte atrás</p><p>na sua decisão anterior, apenas por ter alterado critério interpretativo da</p><p>norma, ou mesmo avaliado as provas apresentadas de maneira</p><p>diversa. Precedentes desta Corte. 2. No caso concreto, no último requerimento</p><p>administrativo, datado de 2019, o tempo rural anteriormente reconhecido na</p><p>via administrativa não foi computado, e não há qualquer justificativa da</p><p>Autarquia para tanto, do que se conclui que houve afronta</p><p>à coisa julgada administrativa, ainda que não tenha ficado claro se tal fato</p><p>decorreu de alteração do critério interpretativo das normas, de reavaliação das</p><p>mesmas provas já apresentadas, porém de maneira diversa, ou de simples</p><p>equívoco na contagem do tempo de serviço (o que parece ter ocorrido, em face</p><p>das razões de indeferimento estarem em contradição com a contagem do tempo</p><p>de serviço). De qualquer modo, ainda que tenha sido mero equívoco do INSS,</p><p>trata-se, em verdade, de ilegalidade passível de ser corrigida por meio de</p><p>mandado de segurança. Assim, ausente qualquer justificativa para a exclusão</p><p>do tempo de serviço rural de 08-01-1982 a 31-10-1991, evidente a ilegalidade</p><p>da Autarquia Previdenciária ao não computar esse período no requerimento</p><p>datado de 01-03-2019. 3. (...) (TRF4, AC 5006133-82.2019.4.04.7202, TURMA</p><p>REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Relator CELSO KIPPER, juntado aos</p><p>autos em 03/07/2020) - grifei.</p><p>PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.</p><p>PESSOA COM DEFICIÊNCIA. LC 142/2013. COISA JULGADA</p><p>ADMINISTRATIVA. BENEFÍCIO DEVIDO.</p><p>1. Para o reconhecimento do direito à aposentadoria regulada pela Lei</p><p>Complementar 142/2013, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem</p><p>impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou</p><p>sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua</p><p>participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as</p><p>demais pessoas.</p><p>2. A definição do grau de deficiência do segurado se dá pelo Índice de</p><p>Funcionalidade Brasileiro aplicado para fins de Classificação e Concessão da</p><p>Aposentadoria da Pessoa com deficiência (IF-BrA), o que exige a avaliação de</p><p>cunho biopsicossocial.</p><p>3. A possibilidade de a Administração Pública rever seus atos a qualquer</p><p>tempo decorre dos atributos do ato administrativo e coaduna-se com o dever</p><p>de cautela e correção que deve estar presente no trato de questões</p><p>relacionadas ao interesse público. Contudo, a revisão deve ser motivada e</p><p>apontar a ilegalidade cometida, não sendo admissível mera reanálise da</p><p>prova ou alteração do critério de interpretação da norma.</p><p>4. Hipótese em que deve prevalecer a avaliação biopsicossocial administrativa</p><p>que concluiu pela existência de deficiência em grau leve, mediante aplicação</p><p>do Método Fuzzy, sob pena de afronta à coisa julgada administrativa. (TRF4,</p><p>AC 5012349-19.2020.4.04.7107, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, Relatora</p><p>ELIANA PAGGIARIN MARINHO, juntado aos autos em 09/02/2024)</p><p>Ademais, para a comprovação do labor urbano no período</p><p>controvertido, a demandante trouxe aos autos:</p><p>- Extrato CNIS, o qual possui registro de vínculos urbanos</p><p>de 07/01/1976 a 30/04/1977 e a partir de 16/08/1977 na STYLAGE MODAS</p><p>EIRELI; de 27/05/1986 a 14/02/1989 na MANZOLI SA COMERCIO E</p><p>INDUSTRIA;</p><p>de 01/06/1999 a 11/09/2011 para GENERI REIS DA SILVA;</p><p>de 03/09/2012 a 09/04/2013 para HIGIPET COMERCIAL LTDA; e a partir</p><p>de 08/04/2013 no MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DE PAULA/RS - evento</p><p>1, CNIS9;</p><p>- CTPS, com registros de vínculos empregatícios de 07/01/1976 a</p><p>30/04/1977 e 16/08/1977 a 10/07/1980 em Modas Tabajara S.A (razão social</p><p>Stylage Modas LTDA); de 27/05/1986 a 14/02/1989 na Manlec S.A (razão social</p><p>MANZOLI SA COMERCIO E INDUSTRIA); de 01/02/1996 a 30/06/1996 no</p><p>escritório de advocacia de Emílio Guilherme; de 01/06/1999 a 11/09/2011 para</p><p>GENERI REIS DA SILVA; e de 03/09/2012 a 09/04/2013 para HIGIPET</p><p>COMERCIAL LTDA - evento 1, DOC10;</p><p>Cabe salientar que os períodos constantes na CTPS merecem</p><p>aproveitamento para fins de contagem do tempo de serviço, pois as anotações ali</p><p>registradas gozam de presunção juris tantum de veracidade, ilidida apenas</p><p>quando existirem suspeitas objetivas e razoavelmente fundadas acerca dos</p><p>assentos contidos do documento, permitindo a identificação da existência de</p><p>relação jurídica válida e perfeita entre trabalhador e empregador, não havendo</p><p>razão para o INSS não reconhecer os aludidos intervalos.</p><p>Além disso, os dados registrados no CNIS têm valor probatório</p><p>equivalente às anotações em CTPS, sendo devido o cômputo do tempo de</p><p>serviço/contribuição respectivo.</p><p>Assim, deve ser mantido o reconhecimento do exercício de</p><p>atividade urbana conforme computado no evento 27, DOC1, totalizando 247</p><p>(duzentos e quarenta e sete) meses de carência.</p><p>Cabe registrar que a autora apresentou certidões de tempo de</p><p>contribuição (CTC) (evento 1, DOC12, p. 32 a 36 e 39 a 43), assim como</p><p>declaração da Secretaria de Administração do Município de São Francisco de</p><p>Paula/RS de que não houve aproveitamento de períodos para concessão de</p><p>aposentadoria no RPPS ( evento 1, DOC12, p. 38) .</p><p>Assim, inexiste óbice ao deferimento do benefício.</p><p>É verdade que o INSS alegou, e provou, que a autora foi admitida</p><p>no serviço público do Município de São Francisco de Paula em 08 de abril de</p><p>2018, sendo que a DER do benefício é 03.12.2018.</p><p>Irrelevante, contudo, o fato de a autora, no momento do</p><p>requerimento estar vinculada ao regime próprio municipal.</p><p>O artigo 99 da Lei 8.213/91 de fato estabelece, quanto à contagem</p><p>recíproca, que o benefício resultante de contagem de tempo de serviço na forma</p><p>desta Seção será concedido e pago pelo sistema a que o interessado estiver</p><p>vinculado ao requerê-lo, e calculado na forma da respectiva legislação.</p><p>No caso em apreço, contudo, sequer se cogita de aplicação do</p><p>referido dispositivo, pois a aposentadoria por idade está sendo deferida à autora</p><p>com base somente no tempo anterior ao ingresso no regime próprio e, como já</p><p>salientado acima, na linha de precedentes desta Casa e do Superior Tribunal de</p><p>Justiça, para a concessão de aposentadoria por idade urbana, é possível o</p><p>preenchimento não simultâneo dos requisitos etário e de carência, haja vista que</p><p>a condição essencial para o deferimento do benefício em questão é o aporte</p><p>contributivo correspondente.</p><p>Prequestionamento</p><p>A fim de possibilitar o acesso às instâncias superiores, consideram-</p><p>se prequestionadas as matérias constitucionais e legais suscitadas no recurso, nos</p><p>termos dos fundamentos do voto, deixando de aplicar dispositivos</p><p>constitucionais ou legais não expressamente mencionados e/ou havidos como</p><p>aptos a fundamentar pronunciamento judicial em sentido diverso do que está</p><p>declarado.</p><p>Dos ônus de sucumbência</p><p>Mantido o provimento da ação, fica mantida a condenação do</p><p>INSS ao pagamento dos ônus da sucumbência, o qual é isento do pagamento das</p><p>custas no Foro Federal (art. 4.º, I, da Lei 9.289/96).</p><p>Estando preenchidos os requisitos estabelecidos pela Segunda</p><p>Seção do STJ no julgamento do AgInt nos EREsp 1.539.725/DF (não</p><p>conhecimento integral ou desprovimento do recurso interposto pela parte já</p><p>condenada ao pagamento de honorários na origem, em decisão publicada na</p><p>vigência do CPC/2015), o percentual dos honorários advocatícios deve ser</p><p>majorado para que a faixa inicial seja fixada em 15% da condenação (art. 85,</p><p>§3.º, I, CPC/15), ainda observando-se a limitação estabelecida pela Súmula 76</p><p>desta Corte.</p><p>No caso, tendo sido o benefício concedido na sentença, a base de</p><p>cálculo da verba honorária fica limitada às parcelas vencidas até a sua prolação.</p><p>Conclusão</p><p>Apelação do INSS</p><p>Desprovida, no sentido de ser mantida a sentença proferida pelo juízo a quo.</p><p>Apelação da parte</p><p>autora</p><p>Parte autora não interpôs recurso</p><p>Tutela específica</p><p>Considerando a eficácia mandamental dos provimentos fundados</p><p>nos artigos 497 e 536 do CPC/2015, e o fato de que, em princípio, a presente</p><p>decisão não está sujeita a recurso com efeito suspensivo, o presente julgado</p><p>deverá ser cumprido de imediato quanto à implantação do benefício concedido</p><p>em favor da parte autora.</p><p>TABELA PARA CUMPRIMENTO PELA CEAB</p><p>CUMPRIMENTO Implantar Benefício</p><p>NB</p><p>ESPÉCIE Aposentadoria por Idade</p><p>DIB 03/12/2018</p><p>DIP Primeiro dia do mês da decisão que determinou a</p><p>implantação/restabelecimento do benefício</p><p>DCB</p><p>RMI A apurar</p><p>OBSERVAÇÕES</p><p>Na hipótese de a parte autora já se encontrar em gozo de benefício</p><p>previdenciário, deve o INSS implantar o benefício deferido judicialmente apenas</p><p>se o valor da renda mensal atual desse benefício for superior ao daquele.</p><p>Faculta-se à parte beneficiária manifestar eventual desinteresse</p><p>quanto ao cumprimento desta determinação.</p><p>Conferência de autenticidade emitida em 04/06/2024 23:36:39.</p><p>Requisite a Secretaria da 6ª Turma, à CEAB-DJ-INSS-SR3, o</p><p>cumprimento da decisão e a comprovação nos presentes autos, no prazo de 20</p><p>(vinte) dias.</p><p>Dispositivo</p><p>Frente ao exposto, voto por negar provimento ao recurso e</p><p>determinar a implantação do benefício via Central Especializada de Análise</p><p>de Benefício.</p><p>Documento eletrônico assinado por RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, Desembargador</p><p>Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e</p><p>Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento</p><p>está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o</p><p>preenchimento do código verificador 40004370331v13 e do código CRC 7236eae2.</p><p>Informações adicionais da assinatura:</p><p>Signatário (a): RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>Data e Hora: 18/4/2024, às 7:47:16</p><p>1. TRF4, AC 0001118-76.2016.4.04.9999, SEXTA TURMA, Relator JOÃO BATISTA PINTO</p><p>SILVEIRA, D.E. 08/08/2017TRF4, AC 5033732-21.2013.4.04.7100, SEXTA TURMA, Relatora VÂNIA</p><p>HACK DE ALMEIDA, juntado aos autos em 20/05/2016</p><p>1. Súmula 12 do TST: As anotações apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado não</p><p>geram presunção "juris et de jure", mas apenas "juris tantum."</p><p>2. EIAC 1999.04.01.107790-2/RS, Terceira Seção, Relator Des. Federal Antônio Albino Ramos de</p><p>Oliveira, DJU 04-12-2002</p><p>3. Art. 19 do Decreto nº 3.048/99, com a redação do Decreto 6.722/08</p><p>5001196-22.2022.4.04.7138 40004370331 .V13</p><p>Poder Judiciário</p><p>TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO</p><p>Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, 300 - Bairro: Praia de Belas - CEP: 90010-395 - Fone: (51)</p><p>3213-3000 - www.trf4.jus.br</p><p>APELAÇÃO CÍVEL Nº 5001196-22.2022.4.04.7138/RS</p><p>RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (RÉU)</p><p>APELADO: ZULEICA MOZERLE DE CORDOVA (AUTOR)</p><p>EMENTA</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note1</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note2</p><p>https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_visualizar_conteudo&acao_origem=minuta_visualizar&txtTermosPesquisados=&hash=2c78d44f5e2814825597ffd8a91cc3bf#note3</p><p>PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE</p><p>URBANA. ANOTAÇÕES NA CTPS. PRESUNÇÃO DE</p><p>VERACIDADE IURIS TANTUM. COISA JULGADA</p><p>ADMINISTRATIVA.</p><p>REQUISITOS PREENCHIDOS.</p><p>CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. TUTELA ESPECÍFICA.</p><p>- A concessão de aposentadoria por idade urbana depende da</p><p>implementação de requisito etário - haver o segurado completado 65 (sessenta e</p><p>cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e a</p><p>carência definida em lei.</p><p>- A possibilidade de a Administração Pública rever seus atos a</p><p>qualquer tempo decorre dos atributos do ato administrativo e coaduna-se com o</p><p>dever de cautela e correção que deve estar presente no trato de questões</p><p>relacionadas ao interesse público. Contudo, a revisão de tempo de serviço</p><p>reconhecido deve respeitar o devido processo legal e o direito ao contraditório,</p><p>de modo que, ausente a motivação para a alteração da conclusão acerca da</p><p>possibilidade de enquadramento do período, deve este ser mantido em todos os</p><p>requerimentos posteriores.</p><p>- As anotações em Carteira de Trabalho e Previdência Social</p><p>constituem prova plena, para todos os efeitos, dos vínculos empregatícios ali</p><p>registrados, porquanto gozam de presunção iuris tantum de veracidade (Decreto</p><p>3.048/99, artigos 19 e 62, § 2.º, inciso I), ilididas apenas quando da existência de</p><p>suspeita objetiva e razoavelmente fundada acerca dos assentos contidos do</p><p>documento.</p><p>- Não há impedimento ao aproveitamento, no RGPS,</p><p>mediante contagem recíproca, das contribuições vertidas a regime próprio, desde</p><p>que não aproveitadas no regime de origem, não sendo obstáculo a existência de</p><p>tempo concomitante já vinculado ao RGPS, ocasião em que o tempo de</p><p>contribuição não será computado em dobro, por força do disposto no inciso</p><p>segundo do artigo 96 da Lei 8.213/1991, mas as contribuições relativas às</p><p>atividades exercidas concomitantemente deverão ser somadas, limitando-se tal</p><p>soma ao valor do teto de benefícios do RGPS.</p><p>- Determina-se o cumprimento imediato do acórdão naquilo que se</p><p>refere à obrigação de implementar o benefício, por se tratar de decisão de</p><p>eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as atividades de</p><p>cumprimento da sentença stricto sensu previstas no art. 497 do CPC/15, sem a</p><p>necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo).</p><p>ACÓRDÃO</p><p>Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,</p><p>a Egrégia 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por</p><p>unanimidade, negar provimento ao recurso e determinar a implantação do</p><p>Conferência de autenticidade emitida em 04/06/2024 23:36:39.</p><p>benefício via Central Especializada de Análise de Benefício, nos termos do</p><p>relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do</p><p>presente julgado.</p><p>Porto Alegre, 17 de abril de 2024.</p><p>Documento eletrônico assinado por RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, Desembargador</p><p>Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e</p><p>Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento</p><p>está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o</p><p>preenchimento do código verificador 40004370735v7 e do código CRC 791bec10.</p><p>Informações adicionais da assinatura:</p><p>Signatário (a): RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>Data e Hora: 18/4/2024, às 7:47:12</p><p>5001196-22.2022.4.04.7138 40004370735 .V7</p><p>Poder Judiciário</p><p>TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO</p><p>EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 10/04/2024 A</p><p>17/04/2024</p><p>APELAÇÃO CÍVEL Nº 5001196-22.2022.4.04.7138/RS</p><p>RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>PROCURADOR(A): CARLOS EDUARDO COPETTI LEITE</p><p>APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (RÉU)</p><p>APELADO: ZULEICA MOZERLE DE CORDOVA (AUTOR)</p><p>ADVOGADO(A): DANIEL TICIAN</p><p>Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual, realizada no período</p><p>de 10/04/2024, às 00:00, a 17/04/2024, às 16:00, na sequência 140, disponibilizada no</p><p>DE de 01/04/2024.</p><p>Certifico que a 6ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a</p><p>seguinte decisão:</p><p>A 6ª TURMA DECIDIU, POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO</p><p>RECURSO E DETERMINAR A IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO VIA CENTRAL</p><p>ESPECIALIZADA DE ANÁLISE DE BENEFÍCIO.</p><p>Conferência de autenticidade emitida em 04/06/2024 23:36:39.</p><p>RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE</p><p>PEREIRA</p><p>VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA</p><p>VOTANTE: DESEMBARGADORA FEDERAL TAIS SCHILLING FERRAZ</p><p>VOTANTE: JUÍZA FEDERAL ADRIANE BATTISTI</p><p>LIDICE PENA THOMAZ</p><p>Secretária</p>