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PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL AULA 4 Prof. Antônio Geraldo Hiller Lino 2 CONVERSA INICIAL Os danos e prejuízos advindos de desastres podem infligir ao ente federativo tantos problemas que o seu enfrentamento se torna tanto mais dificultoso quanto mais graves forem tais danos e prejuízos. O ente federativo pode conseguir enfrentar os problemas decorrentes de desastres apenas com recursos locais. No entanto, nem sempre isso é possível, sendo necessário o aporte de recursos das esferas estadual e federal para que a resposta e a recuperação sejam possíveis. A aplicação dos recursos para resposta e recuperação de desastres, considerando a premência que cada situação exige, pode demandar medidas diferentes daquelas rotineiras adotadas pela administração pública; nesses casos, é preciso buscar na legislação a legalidade de tais ações. TEMA 1 – DESASTRES Desastres podem ser medidos segundo uma escala de gravidade. Sua intensidade varia em três níveis, conforme os danos e prejuízos decorrentes; eles são expressos pelo grau de afetação no lugar em que o evento adverso, o causador do desastre, incidiu. O nível de desastre procura exprimir a severidade com que o ente federado foi afetado, de acordo com os danos e prejuízos ocorridos e considerando a capacidade de enfrentamento por parte do mesmo ente. A depender do nível de afetação do município, estado ou Distrito Federal, é possível estabelecer situações jurídicas especiais. Para ilustrar este ponto, vejamos o exemplo de um município atingido por fortes chuvas, que originaram alagamentos e inundações, além de vários pontos de deslizamento. Haverá muitos danos, tanto públicos como privados (escolas e hospitais danificados, residências danificadas e destruídas, pessoas desalojadas e desabrigadas etc.), os quais terão que ser minimamente recuperados para que as famílias possam retornar à sua vida normal. Há danos decorrentes de desastres que requerem ações mais imediatas, não havendo tempo hábil para a realização de um planejamento detalhado, tampouco tempo para que os processos licitatórios normais tramitem, com vistas à aquisição de bens ou contratação de serviços. Por exemplo, a aquisição de colchões ou colchonetes para os abrigos públicos, assim como alimentos para 3 as famílias que tiveram que ser encaminhadas para esses locais, lá podendo permanecer por longos períodos de tempo – são situações que devem ser resolvidas rapidamente. Não é possível aguardar a realização de licitações com todos os prazos legais, o que levaria as pessoas a não ter sobre o que dormir, tampouco comida para se alimentar; ou seja, a aquisição desses itens básicos é necessária e premente, devendo ocorrer rapidamente. Situações legais especiais para desastres destinam-se justamente a atender demandas como as apresentadas no parágrafo anterior, não se restringindo à possibilidade de aquisições e contratações com dispensa de licitação, como veremos mais adiante. Elas são denominadas de situação de emergência e estado de calamidade pública, sendo declaradas por meio de decreto emitido pelo ente federado atingido (municípios, estados ou Distrito Federal). No caso de ser decretada por município, poderá ser homologada pelo Governo Estadual correspondente; no caso de ser decretada por município, estado ou Distrito Federal, poderá ser reconhecida pelo Governo Federal. TEMA 2 – SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA A primeira das situações jurídicas especiais, a Situação de Emergência (SE), consta do Decreto Federal n. 7.257, de 4 de agosto de 2010. Alguns elementos importantes para seu entendimento (Brasil, 2010): Art. 2o Para os efeitos deste Decreto, considera-se: [...] III - situação de emergência: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido. A Instrução Normativa n. 2, de 20 de dezembro de 2016, do Ministério da Integração Nacional (Brasil, 2016), se vale do mesmo conceito e estabelece procedimentos e critérios para a decretação de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública pelos municiṕios, estados e pelo Distrito Federal. Ela também regula o reconhecimento federal das situações de anormalidade decretadas pelos entes federativos. Segundo o conceito apresentado, devemos ter uma situação anormal, incidente que não faz parte da rotina diária da localidade atingida, provocado por evento adverso severo, o causador do desastre, que incidiu sobre o cenário vulnerável àquele mesmo evento. Dessa conjunção entre evento adverso severo 4 e cenário vulnerável, danos e prejuízos devem ser decorrentes, devendo ser de monta tal que o município atingido, mesmo reunindo todos seus recursos disponíveis para enfrentar a situação, tem sua capacidade parcialmente comprometida. Isso é, apenas com os recursos locais disponíveis, haveria a possibilidade de o município não responder de forma adequada ao desastre; fica implicado, quando necessário, que os recursos sejam "potencializados" por ações decorrentes da decretação de SE, podendo tais ações ser locais ou, eventualmente, complementadas pelos Governos Estadual e/ou Federal. TEMA 3 – ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA O Estado de Calamidade Pública (ECP) é a segunda situação jurídica especial de proteção e defesa civil, cujo conceito nos é apresentado também pelo Decreto Federal n. 7.257 (Brasil, 2010): Art. 2o Para os efeitos deste Decreto, considera-se: [...] IV - estado de calamidade pública: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido. A Instrução Normativa n. 2 (Brasil, 2016) estabelece procedimentos e critérios para a decretação de SE ou ECP em municiṕios, estados e Distrito Federal, e também na esfera federal. Para configuração do ECP, como resultante da incidência do evento adverso sobre o cenário vulnerável, devemos ter danos e prejuízos de tão grande monta que a capacidade de resposta da administração pública local tenha sido substancialmente comprometida. Isso significa dizer que todos os recursos disponíveis localmente para enfrentar o desastre ainda seriam insuficientes, considerando a severidade de danos e prejuízos. Esse nível de desastre é classificado como sendo de intensidade III, enquadrando-se na orientação trazida pela Instrução Normativa n. 2, que estabelece a necessidade da concomitância de alguns tipos de danos: óbitos, isolamento de população, interrupção de serviços essenciais, interdição ou destruição de unidades habitacionais, danificação ou destruição de instalações públicas prestadoras de serviços essenciais e obras de infraestrutura pública. 5 TEMA 4 – PROCEDIMENTOS PARA DECRETAÇÃO DE SITUAÇÃO ANORMAL Para decretar situação anormal em um município, estado ou no Distrito Federal, uma série de formalidades determinadas pela legislação pátria devem ser cumpridas, tendo como fator inicial de desencadeamento as informações dos danos e prejuízos ocorridos em virtude da incidência do evento adverso sobre o cenário vulnerável. Todos os danos ocorridos em função do desastre devem ser levantados no cenário atingido para que, após análise, seja possível ao gestor de proteção e defesa civil uma decisão técnica: decretar ou não SE ou ECP. A decisão fica a cargo do chefe do Executivo municipal ou estadual (ou do Distrito Federal). Os dados relativos a danos e prejuízos serão utilizados para preenchimento do FIDE (Formulário de Informações do Desastre) no sistema informatizado da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, chamado S2ID, com vistas ao reconhecimento federal de tais situações. Ainda, a solicitação do referido reconhecimento federalserá feita mediante requerimento (ofićio) do chefe do Poder Executivo do município, estado ou Distrito Federal afetado à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, em conformidade com o que estabelece a legislação federal. TEMA 5 – POSSIBILIDADES DECORRENTES DAS SITUAÇÕES JURÍDICAS ESPECIAIS A decretação de SE e ECP, assim como o competente reconhecimento federal e homologação estadual, abrem as portas ações de resposta e recuperação de danos e prejuízos ocasionados por desastres. Se o município, por exemplo, tiver condições de realizar o enfrentamento do desastre com recursos unicamente locais, a decretação de SE por este ente federativo já é suficiente para uma gestão especial dos recursos. Se, contudo, for necessário apoio de recursos estaduais e/ou federais, além do decreto municipal declarando a situação de anormalidade, deverá haver a correspondente homologação estadual e/ou reconhecimento federal, de acordo com a esfera de governo. Dentre as ações que os decretos de SE e ECP possibilitam, de acordo com o necessário reconhecimento federal ou homologação estadual, destacamos: dispensa de licitação, abertura de créditos extraordinários, desapropriação, empréstimos compulsórios, redução de Imposto Territorial 6 Rural, renegociação de dívidas, antecipação de benefícios da Previdência Social, transferências de recursos e aluguel social. NA PRÁTICA Considere uma inundação que atinja um bairro inteiro de um pequeno município brasileiro, deixando muitas pessoas desalojadas e desabrigadas, fazendo com que o município não tenha mais capacidade de resposta. De que maneira poderia o município buscar apoio estadual e federal? O município teria que decretar SE ou ECP, desde que, a partir das informações colhidas no local do desastre, essa ação fosse tecnicamente possível, submetendo o decreto municipal à homologação estadual e reconhecimento federal, o que habilitaria o município a buscar tais recursos. FINALIZANDO Dos desastres resultam danos e prejuízos que podem ou não ultrapassar a capacidade local de enfrentamento. Tal enfrentamento pode ser apoiado por mecanismos que possibilitem, à administração do ente federativo atingido, a adoção de medidas não rotineiras, por meio da decretação de SE e/ou ECP. Tanto uma como outra possibilidade seguem um rito regulado pela Instrução Normativa n. 2/2016, do Ministério da Integração Nacional, assim pelo próprio reconhecimento federal da situação anormal. Declarada a anormalidade no ente federativo, abrem-se várias possibilidades de atuação não-rotineira para enfrentamento dos danos e prejuízos do desastre. 7 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n. 7.257, de 4 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 ago. 2010 BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Instrução Normativa n. 2, de 20 de dezembro de 2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 dez. 2016. CASTRO, A. L. C. Manual de Planejamento em Defesa Civil. Brasília: s.n., 2004. CEPED/PR – Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres do Paraná. Guia de conhecimentos fundamentais para gestores municipais de proteção e defesa civil. 1. ed. Curitiba: CEPED. Disponível em: <http://www.ceped.pr.gov.br/arquivos/File/guia.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017.