Logo Passei Direto
Buscar

Fundamentos de Direito Administrativo

User badge image
Adriana Lima

em

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>Fundamentos de Direito</p><p>Administrativo</p><p>ERIKA ALCANTARA PINTO</p><p>CLARA MARIA CAVALCANTE BRUM DE OLIVEIRA</p><p>1ª Edição</p><p>Brasília/DF - 2023</p><p>Autores</p><p>Erika Alcantara Pinto</p><p>Clara Maria Cavalcante Brum de Oliveira</p><p>Produção</p><p>Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e</p><p>Editoração</p><p>Sumário</p><p>Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4</p><p>Introdução ............................................................................................................................................................................. 6</p><p>Capítulo 1</p><p>Direito Administrativo e Princípios ........................................................................................................................ 7</p><p>Capítulo 2</p><p>Governo e Administração Pública .........................................................................................................................14</p><p>Capítulo 3</p><p>Atos Administrativos, Poderes Administrativos e o Controle da Administração Pública ...................25</p><p>Capítulo 4</p><p>Agentes públicos e execução de serviços públicos ........................................................................................39</p><p>Capítulo 5</p><p>Licitações e Contratos Administrativos ...............................................................................................................59</p><p>Capítulo 6</p><p>Outros Mecanismos de Atuação do Estado .......................................................................................................71</p><p>Referências ........................................................................................................................................................................83</p><p>4</p><p>Organização do Livro Didático</p><p>Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e</p><p>coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros</p><p>recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,</p><p>fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.</p><p>A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.</p><p>Atenção</p><p>Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a</p><p>síntese/conclusão do assunto abordado.</p><p>Cuidado</p><p>Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o</p><p>aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.</p><p>Importante</p><p>Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.</p><p>Observe a Lei</p><p>Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,</p><p>a fonte primária sobre um determinado assunto.</p><p>Para refletir</p><p>Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa</p><p>e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.</p><p>É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus</p><p>sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas</p><p>conclusões.</p><p>5</p><p>ORGAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO</p><p>Provocação</p><p>Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes</p><p>mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor</p><p>conteudista.</p><p>Saiba mais</p><p>Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões</p><p>sobre o assunto abordado.</p><p>Gotas de Conhecimento</p><p>Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras</p><p>terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento,</p><p>cápsulas de conhecimento etc.</p><p>Sintetizando</p><p>Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o</p><p>entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.</p><p>Sugestão de estudo complementar</p><p>Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,</p><p>discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.</p><p>Posicionamento do autor</p><p>Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o</p><p>aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.</p><p>6</p><p>Introdução</p><p>Este livro didático é constituído de seis capítulos voltados para os fundamentos do Direito</p><p>Administrativo e tem como referência principal o estudo do regime jurídico-administrativo.</p><p>Cada capítulo foi construído para que, partindo das especificidades da Administração Pública</p><p>e do exercício da função administrativa, você possa compreender a organização do Estado, as</p><p>funções da Administração Pública segundo a divisão de Poderes estabelecidos pela Constituição</p><p>Federal e os deveres estatais frente aos direitos fundamentais. Você receberá noções preliminares</p><p>do Direito Administrativo, e conhecerá o modo como o Estado brasileiro foi organizado a partir</p><p>da promulgação da Constituição Federal de 1988, as competências da Administração Pública, os</p><p>modos de exercício da função administrativa e de controle desta, assim como as particularidades</p><p>do regime jurídico que rege as carreiras dos agentes públicos. Por fim, você poderá refletir sobre</p><p>outros mecanismos de atuação do Estado.</p><p>Objetivos do livro</p><p>» Compreender elementos essenciais do Direito Administrativo, como a forma de</p><p>organização do Estado, a função administrativa, as prerrogativas e competências</p><p>exercidas pela Administração Pública.</p><p>» Analisar as formas de controle a que se submete a Administração Pública.</p><p>» Apresentar os conceitos de agentes públicos e de serviços públicos, explicitando suas</p><p>características e destacando suas particularidades.</p><p>» Estudar o procedimento licitatório e diferenciar o contrato administrativo.</p><p>» Entender a responsabilidade extracontratual do Estado.</p><p>» Introduzir o conhecimento acerca do Direito municipalista.</p><p>7</p><p>Introdução</p><p>O propósito deste capítulo é apresentar o contexto no qual se insere a disciplina Direito</p><p>Administrativo. Num primeiro momento, podemos ter a impressão equivocada de que se trata</p><p>de matéria distante do dia a dia da pessoa comum, algo que apenas diria respeito ao universo</p><p>dos funcionários públicos e advogados especializados no ramo, mas, na verdade, pelo fato de</p><p>no Brasil o exercício da nossa cidadania ser intensamente mediado pelo Estado, é que esta se</p><p>apresenta como uma das mais importantes disciplinas especializadas do Direito para todos nós.</p><p>A ação estatal está presente em diversos momentos da nossa vida: quando decidimos abrir uma</p><p>empresa, há necessidade de solicitar licença a um órgão estatal para o seu funcionamento, e</p><p>dependendo do tipo de negócio, haverá fiscalização da Vigilância Sanitária; quando cursamos</p><p>uma faculdade pública ou privada, essa relação é regulada pelo Estado por se tratar de uma</p><p>atividade delegada; além do que existe uma infinidade de serviços públicos – vacinação, consultas</p><p>ambulatoriais no SUS, transporte público, emissão de documento de identificação etc. – prestados</p><p>de forma direta pelo Estado ou delegada a particulares.</p><p>O desempenho das atividades administrativas de forma direta ou delegada pelo Estado decorre do</p><p>que denominamos de função administrativa, que é o conjunto de prerrogativas e competências</p><p>atribuídas à Administração Pública para o fim de se produzir uma ação estatal voltada à satisfação</p><p>dos direitos fundamentais.</p><p>Desse modo, para que você possa transitar com facilidade e segurança nesse universo, indicaremos</p><p>os pilares sobre os quais se assenta o Direito Administrativo; apresentaremos uma conceituação atual</p><p>que leve em consideração os movimentos de transformação dessa disciplina nas últimas décadas, em</p><p>virtude do processo de redemocratização do Estado brasileiro; por fim, estudaremos os princípios e</p><p>as fontes normativas que regem a ação do Estado nas relações que estabelecem com seus cidadãos.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender os fundamentos basilares do Direito Administrativo.</p><p>» Entender o que é Direito Administrativo.</p><p>1</p><p>CAPÍTULO</p><p>DIREItO ADMInIStRAtIvO</p><p>E PRInCÍPIOS</p><p>8</p><p>CAPÍTULO 1 • DIREItO</p><p>objeto, os quais devem estar presentes</p><p>para a validade do ato administrativo.</p><p>» Os atos administrativos podem ser gerais (normas administrativas ou atos normativos) ou podem ser individuais.</p><p>» Espécies de ato administrativo: normativos; ordinatórios; negociais ou de consentimento; administrativos enunciativos;</p><p>punitivos ou sancionatórios; de controle ou de verificação.</p><p>» Hipóteses de extinção do ato: normal ou natural; extinção subjetiva; extinção objetiva; extinção por renúncia do particular;</p><p>extinção por recusa do particular; caducidade; cassação; revogação; anulação.</p><p>» Ato x fato administrativo. Fato administrativo: “tudo aquilo que retrata a alteração da dinâmica na Administração,</p><p>um movimento na ação administrativa” (Carvalho Filho, 2019, p. 101). O fato administrativo pode surgir de um ato</p><p>administrativo, por uma conduta da Administração Pública ou motivado por fenômeno da natureza. Portanto, o fato</p><p>administrativo engloba o ato administrativo.</p><p>» Formas de controle da Administração Pública. Interno: o controle é exercido na Administração Pública, dentro da sua</p><p>esfera de atuação. Externo: controle político e judicial.</p><p>» A improbidade administrativa na Administração Pública é coibida pela Lei n. 8.429/1992 (com alterações da Lei n.</p><p>14.230/2021), que estabelece sanções de natureza penal aos agentes públicos que praticam atos tipificados como conduta</p><p>de improbidade administrativa.</p><p>» São atos de improbidade administrativa: o enriquecimento ilícito, os atos que causam prejuízo ao erário, ou que atentem</p><p>contra os princípios da Administração Pública.</p><p>39</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, abordaremos os conceitos de agentes públicos e serviços públicos, bem como</p><p>as suas principais características. Assim, avançaremos no conhecimento acerca da estrutura</p><p>administrativa do Estado. Nosso propósito é apresentar o modo como o Estado classifica</p><p>seus agentes públicos e qual o papel que desempenham no contexto da Administração</p><p>Pública. Também trabalharemos o tema dos serviços públicos, conferindo uma visão global</p><p>ao tema.</p><p>Vamos começar nossos estudos pela definição de agentes públicos, a classificação que a</p><p>doutrina lhes conferiu, o regime jurídico que a lei atribui às espécies de agentes públicos.</p><p>Veremos também as definições de cargo e função e outras particularidades dos servidores</p><p>públicos, espécie particular de agente público que possui vínculo de emprego com a</p><p>administração pública.</p><p>No que se refere aos serviços públicos, estudaremos sua definição legal, classificação e requisitos,</p><p>alguns aspectos da regulamentação e controle, formas de execução e a aplicação do Código de</p><p>Defesa do Consumidor aos serviços públicos.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender os conceitos de agentes públicos.</p><p>» Discernir sobre as características e peculiaridades dos agentes públicos.</p><p>» Estudar sobre os serviços públicos e formas de execução.</p><p>» Apontar os aspectos relevantes dos serviços públicos.</p><p>4</p><p>CAPÍTULO</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO</p><p>DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>40</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>Agentes públicos</p><p>Figura 19. Agentes públicos.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-vector/male-female-faces-avatars-user-icon-1372098371. Acesso em: 30 mai. 2023.</p><p>Em âmbito legal, o art. 2º da Lei n. 8.429/1992, com redação dada pela Lei n. 14.230, de 2021, traz</p><p>uma definição ampla de agente público: “o agente político, o servidor público e todo aquele que</p><p>exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,</p><p>contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou</p><p>função” em órgãos e entidade estatais ou no exercício de suas funções.</p><p>Do mesmo modo abrangente, Rafael Oliveira (2020, p. 662) oferece o seguinte conceito de agentes</p><p>públicos: “são responsáveis pela manifestação de vontade do Estado e pelo exercício da função</p><p>pública, que pode ser remunerada ou gratuita; definitiva ou temporária; com ou sem vínculo</p><p>formal com o Estado”.</p><p>Devemos compreender, dessa forma, que agente público é gênero do qual são espécies os agentes</p><p>políticos, os servidores públicos, os militares e os particulares em colaboração com o poder</p><p>público. Essa classificação em quatro espécies é adotada por Di Pietro e amplamente aceita no</p><p>campo do Direito Administrativo.</p><p>Essa distinção é valiosa, pois os agentes públicos, sejam eles: agentes políticos, servidores públicos,</p><p>militares ou particulares em colaboração com o poder público, quando no exercício de função</p><p>41</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>administrativa se submetem todos às regras de regime de direito público, exceto quanto a regras</p><p>específicas de admissão, direitos, deveres e proibições, greve, de apuração de faltas e sanções,</p><p>que incidem somente sobre os servidores públicos porque, diferente dos demais, possuem uma</p><p>relação de emprego com a administração pública.</p><p>Classificação dos agentes públicos</p><p>Di Pietro (2017, p. 731) analisa que da Constituição Federal de 1988, com as alterações introduzidas</p><p>pela Emenda Constitucional n. 18/1998, é possível deduzir quatro categorias do termo “agentes</p><p>públicos”:</p><p>» agentes políticos;</p><p>» servidores públicos;</p><p>» militares;</p><p>» particulares em colaboração com o Poder Público.</p><p>Inserem-se na categoria agentes políticos: o presidente da República, governadores, prefeitos,</p><p>ministros e secretários, senadores, deputados e vereadores, ou seja, pessoas que estão ligadas</p><p>ao governo para o exercício de função política.</p><p>A categoria servidores públicos é ampla e compreende pessoas com vínculo de emprego com</p><p>órgãos da Administração direta ou entidades da Administração indireta. São classificados em:</p><p>servidores estatutários, empregados públicos e servidores temporários.</p><p>Os militares, categoria que abrange militares das Forças Armadas – Marinha, Exército e Aeronáutica</p><p>– polícias militares e bombeiros militares dos Estados, Distrito Federal e dos Territórios, não se</p><p>incluem na categoria servidores públicos, possuindo, portanto, regime jurídico próprio. Desde as</p><p>alterações produzidas pela Emenda Constitucional n. 19/1998, as normas relativas aos servidores</p><p>públicos somente se aplicam aos militares quando houver previsão expressa.</p><p>Por fim, temos os particulares em colaboração com o Poder Público, categoria que abrange</p><p>pessoas que prestem serviço ao Estado sem vínculo de emprego, com ou sem remuneração.</p><p>Ex.: leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos (a remuneração recebida não vem dos cofres</p><p>públicos), jurados do Tribunal do Júri, pessoas convocadas pela Justiça Eleitoral em período</p><p>de eleições etc.</p><p>Servidores públicos</p><p>Trabalharemos a partir deste tópico com a categoria dos servidores públicos, os quais possuem</p><p>regras específicas no que concerne à admissão, direitos, deveres, proibições, remuneração, greve,</p><p>apuração de faltas e sanções.</p><p>42</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>Conceito</p><p>Di Pietro (2017, p. 1221) define como servidores públicos “as pessoas físicas que prestam serviços</p><p>ao Estado e às entidades da Administração indireta, com vínculo empregatício e mediante</p><p>remuneração paga pelos cofres públicos”.</p><p>Classificação dos servidores públicos</p><p>Em geral, os servidores públicos são classificados em três grupos, a saber: servidores estatutários,</p><p>empregados públicos e servidores temporários.</p><p>» Servidores estatutários: São os servidores públicos regidos por uma lei específica</p><p>(estatuto), portanto, possuem regime jurídico próprio. Ex.: os servidores públicos civis</p><p>federais são regidos pela Lei n. 8.112/1990 (regime jurídico dos servidores públicos civis</p><p>da União, das autarquias e das fundações públicas federais).</p><p>» Empregados públicos: A relação de trabalho é regida pela Consolidação das Leis</p><p>Trabalhistas (CLT). Estabelece-se entre o trabalhador e a Administração Pública uma</p><p>relação de emprego, cujos direitos e deveres estão estabelecidos na legislação trabalhista</p><p>e não em uma lei específica, como acontece com os servidores estatutários.</p><p>» Servidores temporários: São servidores com vínculo contratual por tempo</p><p>determinado. Sua contratação é realizada apenas para atender a uma necessidade</p><p>temporária de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do art. 37 da</p><p>Constituição Federal. A contratação de servidores temporários é regulamentada Lei</p><p>n. 8.745/1993.</p><p>Regime jurídico</p><p>Na Administração Pública, temos dois regimes jurídicos possíveis:</p><p>» o regime celetista, dos empregados públicos cujos direitos e deveres estão prescritos na</p><p>legislação do trabalho, em especial a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);</p><p>» o regime estatutário, dos servidores estatutários, cujos direitos e deveres estão prescritos</p><p>em legislações específicas.</p><p>Provimento, investidura, cargo e função</p><p>A função administrativa é exercida por um agente ocupante de um cargo público. A seguir,</p><p>apresentamos a definição de provimento, investidura, cargo e função, para melhor compreendermos</p><p>os procedimentos que precisam ser adotados, para que alguém possa legitimamente exercer</p><p>funções administrativas.</p><p>» Provimento: é o fato administrativo de preenchimento de um cargo público.</p><p>43</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>» Investidura: é o conjunto de atos praticados para o fim de preencher um cargo público.</p><p>A investidura compreende a nomeação e a posse no cargo público.</p><p>» Cargo público: cargo público é, na definição de Rafael Oliveira (2020, p. 674): “o local</p><p>situado na organização interna da Administração direta e das entidades administrativas</p><p>de direito público, provido por servidor público estatutário, com denominação, direitos,</p><p>deveres e sistemas de remuneração previstos em lei”.</p><p>» Função pública: compreende as atribuições desempenhadas pelos agentes públicos.</p><p>Essas atribuições frequentemente estão previstas na lei que organiza a carreira na qual</p><p>o cargo público está inserido.</p><p>Podemos citar, como exemplo, os auditores da Receita Federal, cuja Lei n. 10.593/2002 define as</p><p>atribuições (competências) para o exercício de atividade fiscalizatória.</p><p>Remuneração</p><p>A remuneração dos servidores públicos é composta por duas parcelas: o vencimento-base, que</p><p>é uma parcela fixa, e as vantagens, que são variáveis.</p><p>Figura 20. Componentes da remuneração dos servidores públicos.</p><p>Vencimento-</p><p>base Vantagens Remuneração</p><p>Parcela fixa Parcela variável</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>Os valores de cada uma dessas parcelas são fixados em lei e qualquer alteração depende de</p><p>aprovação legal. Enquanto o vencimento-base corresponde ao valor pelo exercício do cargo, as</p><p>vantagens pecuniárias são compostas pelas gratificações, indenizações e adicionais.</p><p>A fim de melhor compreender o que são as vantagens, vejamos alguns exemplos de vantagens</p><p>concedidas no âmbito do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias</p><p>e das fundações públicas federais:</p><p>Quadro 3. Exemplos de vantagens pecuniárias.</p><p>Gratificações Indenizações Adicionais</p><p>Retribuição pecuniária paga pelo exercício de</p><p>função de direção, chefia e assessoramento Ajuda de custo Adicional pelo exercício de atividades</p><p>insalubres, perigosas ou penosas.</p><p>Gratificação natalina (décimo terceiro salário) Diárias Adicional pela prestação de serviço</p><p>extraordinário.</p><p>44</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>Gratificações Indenizações Adicionais</p><p>Gratificação por encargo de curso ou concurso Auxílio-transporte Adicional noturno.</p><p>Auxílio-moradia Adicional de férias.</p><p>Outros, relativos ao local ou à natureza</p><p>do trabalho.</p><p>Fonte: adaptado de Lei n. 8.112/1990, arts. 51 e 61.</p><p>Outra espécie remuneratória é o subsídio, que é uma forma de remuneração única sem acréscimo</p><p>de qualquer espécie. A remuneração sob a forma de subsídio é obrigatória para:</p><p>» membro de Poder (Legislativo, Executivo e Judiciário), o detentor de mandato eletivo,</p><p>os ministros de Estado e os secretários estaduais e municipais (art. 39, § 4º, da CF);</p><p>» membros do Ministério Público (art. 128, § 5º, I, c, da CF);</p><p>» integrantes da Advocacia-Geral da União, procuradores do Estado e do Distrito Federal</p><p>e defensores públicos (art. 135 da CF);</p><p>» ministros dos Tribunais de Contas da União (art. 73, § 3º, da CF);</p><p>» servidores policiais federais, rodoviários e ferroviários federais, civis, militares, penais</p><p>e bombeiros militares (art. 144, § 9º, da CF).</p><p>É permitida a remuneração dos servidores públicos organizados em carreira mediante subsídio</p><p>(art. 39, § 8º, da CF).</p><p>» Teto remuneratório: valor máximo que um agente público pode receber. O art. 37, XI,</p><p>da Constituição Federal estabelece teto remuneratório a todos os agentes públicos, o</p><p>qual é dividido em teto geral e tetos específicos. O teto geral é o valor máximo aplicado</p><p>a todos os agentes públicos independentemente do ente Federativo ou do Poder ao</p><p>qual esteja vinculado, esse valor máximo corresponde ao subsídio do Ministro do</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF). Já os tetos específicos de cada ente Federativo estão</p><p>assim organizados:</p><p>Observe a lei</p><p>A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000) impôs à Administração Pública regras relativas às despesas</p><p>relacionadas com o pagamento de pessoal:</p><p>Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com</p><p>pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os</p><p>percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:</p><p>I – União: 50% (cinquenta por cento);</p><p>II – Estados: 60% (sessenta por cento);</p><p>III – Municípios: 60% (sessenta por cento) (Brasil, 2000).</p><p>45</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>Quadro 4. teto remuneratório.</p><p>Teto geral: o valor do subsídio do Ministro do STF</p><p>Tetos específicos</p><p>União Estados e Distrito Federal Município</p><p>todos os Poderes Executivo Legislativo</p><p>Judiciário</p><p>(inclusive: membros</p><p>do Ministério Público,</p><p>aos Procuradores e aos</p><p>Defensores Públicos)</p><p>todos os Poderes</p><p>O teto</p><p>remuneratório dos</p><p>agentes públicos</p><p>dos três Poderes é o</p><p>subsídio do Ministro</p><p>do STF</p><p>O teto remuneratório</p><p>dos agentes públicos</p><p>vinculados ao</p><p>Poder Executivo</p><p>é o subsídio do</p><p>Governador</p><p>O teto remuneratório</p><p>dos agentes públicos</p><p>vinculados ao Poder</p><p>Legislativo é o</p><p>subsídio do Deputado</p><p>Estadual</p><p>O teto remuneratório</p><p>dos agentes públicos</p><p>vinculados ao Poder</p><p>Judiciário é o subsídio</p><p>do Desembargador</p><p>do TJ</p><p>O teto</p><p>remuneratório dos</p><p>agentes públicos</p><p>dos três Poderes</p><p>é o subsídio do</p><p>Prefeito</p><p>Fonte: adaptado de Oliveira (2020, p. 720).</p><p>Teto remuneratório e acumulação de cargos: o STF, no julgamento do tema 377 de repercussão</p><p>geral fixou a seguinte tese:</p><p>Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos</p><p>e funções, a incidência do art. 37, inciso XI, da Constituição Federal pressupõe</p><p>consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a observância</p><p>do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público. (A</p><p>mesma tese foi fixada para o Tema 384). (STF, s.d.)</p><p>Com relação às verbas indenizatórias, o art. 37, § 11, da Constituição Federal, exclui expressamente</p><p>do cálculo do limite do teto remuneratório as verbas indenizatórias previstas em lei. São também</p><p>excluídas do cálculo as verbas indenizatórias elencadas no art. 39, § 3º, da Constituição Federal</p><p>(ex.: décimo terceiro, adicional noturno, hora extra etc.).</p><p>Concurso público</p><p>Procedimento administrativo com o fim de aferir as aptidões pessoais e selecionar os melhores</p><p>candidatos ao provimento dos cargos públicos.</p><p>Figura 21. Concurso público.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/closeup-person-filling-out-questionary-form_1027065.htm#query=concurso%20</p><p>publico&position=1&from_view=search&track=ais”>Image by katemangostar</p><p>com</p><p>os títulos podendo influir na classificação dos candidatos e não na sua aprovação ou</p><p>desaprovação;</p><p>» Súmula Vinculante n. 43 do STF: “É inconstitucional toda modalidade de provimento que</p><p>propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao</p><p>seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.”</p><p>Estão, assim, “banidas das formas de investidura admitidas pela Constituição a ascensão e a</p><p>transferência, que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor</p><p>público ingressou por concurso.” (ADI n. 231, rel. min. Moreira Alves, P, j. 5/8/1992, DJ de</p><p>13/11/1992). (STF, 1992)</p><p>O concurso público é regido por três princípios:</p><p>» Princípio da moralidade administrativa: é vedado o favorecimento e perseguições</p><p>pessoais, assim como o nepotismo.</p><p>» Princípio da competição: a investidura no cargo é deferida aos candidatos com as</p><p>melhores posições no ranking de classificados.</p><p>» Princípio da igualdade: todos os candidatos devem participar do certame em condições</p><p>de igualdade.</p><p>Como regra, temos que o ingresso no serviço público somente é admitido mediante concurso</p><p>público, conforme previsto no art. 37 da Constituição Federal. Exceção a essa regra são os</p><p>cargos em comissão de livre nomeação e exoneração e os cargos temporários que exigem meros</p><p>processos seletivos.</p><p>A violação da regra constitucional do concurso público enseja a nulidade das nomeações dos</p><p>agentes públicos, bem como a punição da autoridade administrativa responsável (art. 37, § 2º</p><p>da CF).</p><p>Saiba mais</p><p>Súmula Vinculante nº 13 (STF):</p><p>A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade,</p><p>até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa</p><p>jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo</p><p>em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública</p><p>direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos</p><p>Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição</p><p>Federal. (STF, s. d.)</p><p>47</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>Greve no serviço público</p><p>Greve pode ser definida como “suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de</p><p>prestação pessoal de serviços ao empregador” (art. 2º da Lei n. 7.783/1989). Trata-se de decisão</p><p>tomada de forma coletiva pelos trabalhadores.</p><p>Figura 22. Greve.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-vector/silhouette-crowd-people-with-flags-banners-manifestation_3524134.</p><p>htm#query=greve&position=0&from_view=search&track=sph”>Freepik</p><p>os elementos constantes no processo.</p><p>50</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>Figura 24. Serviços públicos.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-public-service-options-scheme-655413658. Acesso em:</p><p>30 maio 2023.</p><p>Nos termos do art. 2º da Lei n. 13.460/2017, o serviço público é definido como “atividade</p><p>administrativa ou de prestação direta ou indireta de bens ou serviços à população, exercida por</p><p>órgão ou entidade da Administração Pública” (Brasil, 2017).</p><p>O conceito legal acima não compreende como serviços públicos as atividades judiciais e legislativas,</p><p>funções típicas dos Poderes Legislativo e Judiciário, respectivamente.</p><p>Na doutrina de Direito Administrativo, encontramos ainda o seguinte conceito de Carvalho Filho</p><p>(2017, p. 235): “atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob regime de</p><p>direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade”.</p><p>Diante dessas informações preliminares, podemos então deduzir que serviço público é uma</p><p>atividade de caráter público, porque relacionada com o exercício de direitos fundamentais, que</p><p>pode ser delegada a particulares, porém sujeitos a regras e princípios próprios do Direito Público.</p><p>Princípios</p><p>Os serviços públicos são comprometidos com os seguintes princípios:</p><p>» continuidade dos serviços públicos;</p><p>» mutabilidade do regime jurídico;</p><p>» igualdade dos usuários;</p><p>» generalidade;</p><p>» modicidade.</p><p>Continuidade do serviço público: impõe o dever de observância às regras contratuais e das</p><p>normas vigentes, seja pelos concessionários, seja por parte dos governantes, de modo a garantir</p><p>a regularidade na prestação dos serviços à população.</p><p>51</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>Mutabilidade do regime jurídico: visa à garantia de que os serviços públicos sejam prestados</p><p>segundo as condições atuais de modo a acompanhar as inovações tecnológicas, melhoria de</p><p>qualidade e expansão da atividade, quando necessário. Para a concretização desse princípio o Poder</p><p>Público pode se valer de cláusulas contratuais de alteração unilateral do contrato administrativo.</p><p>Igualdade entre os usuários: esse princípio decorre do princípio da impessoalidade e garante</p><p>a prestação do serviço a qualquer usuário que preencha as condições técnicas e jurídicas,</p><p>independentemente de questões de cunho pessoal.</p><p>Generalidade: a prestação de um serviço público deve ser orientada a atender ao maior número</p><p>de beneficiários.</p><p>Modicidade: a taxa ou tarifa (remuneração paga pelos usuários) dos serviços públicos deve ser</p><p>proporcional ao custo do serviço de modo a viabilizar que a maior parte da população consiga</p><p>acessá-lo. O Poder Público pode prever hipóteses de gratuidade para pessoas em situação</p><p>comprovada de necessidade.</p><p>Classificação</p><p>Divergem os autores sobre a classificação dos serviços públicos. Rafael Oliveira (2020, p. 246),</p><p>por exemplo, adota os seguintes critérios:</p><p>» critério dos destinatários: uti universi e uti singuli;</p><p>» critério da titularidade federativa: federais, estaduais, distritais, municipais e comuns;</p><p>» quanto ao objeto: administrativos, econômicos e sociais;</p><p>» critério da essencialidade: essenciais e não essenciais;</p><p>» critério da titularidade estatal: próprios x impróprios (virtuais);</p><p>» quanto à criação: inerentes e por opção legislativa.</p><p>Para estudar melhor o tema, vamos analisar cada item da classificação:</p><p>» Critério dos destinatários:</p><p>› Serviços públicos gerais ou coletivos (uti universi): os serviços públicos gerais são</p><p>aqueles prestado à coletividade, de modo que não é possível identificar individualmente</p><p>os seus usuários (ex.: iluminação pública). Porque são serviços públicos indivisíveis</p><p>somente podem ser remunerados mediante imposto e não taxa ou tarifa que são</p><p>modos de cobrança relativos a serviços individuais ou singulares.</p><p>› Serviços individuais ou singulares (uti singuli): são serviços públicos prestados</p><p>diretamente a pessoas determinadas (ex.: fornecimento de água e energia elétrica</p><p>para residências, transporte público, telefonia, pedágio etc.).</p><p>52</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>O serviço é pago pelos usuários mediante a cobrança de taxa (espécie de tributo) ou</p><p>tarifa (preço predeterminado para cobrança dos usuários por parte das concessionárias</p><p>de serviços públicos).</p><p>» Critério da titularidade federativa: federais, estaduais, distritais, municipais e comuns:</p><p>Existem serviços que são de titularidade da União, como, por exemplo, o transporte</p><p>aeroviário; de competência dos Estados, o que inclui o Distrito Federal (em função do</p><p>seu caráter híbrido), como, por exemplo, o transporte intermunicipal; existem ainda</p><p>serviços de competência dos municípios e do Distrito Federal, como o transporte</p><p>municipal e a iluminação pública. Por fim, existem os serviços de titularidade comum,</p><p>como o serviço de saúde pública.</p><p>» Critério do objeto: administrativos, econômicos e sociais:</p><p>› Serviços públicos administrativos: são serviços destinados à satisfação de necessidades</p><p>da própria Administração Pública para viabilizar a prestação de outros serviços</p><p>públicos (ex.: imprensa oficial).</p><p>› Serviços públicos econômicos: são serviços que geram renda para seus prestadores</p><p>(concessionários ou permissionários) (ex.: transporte público, administração de</p><p>rodovias, energia elétrica etc.).</p><p>› Serviços públicos sociais: serviços que efetivam direitos fundamentais sociais para</p><p>o atendimento das necessidades da coletividade (ex.: saúde, assistência social e</p><p>educação). Tais serviços podem ser prestados por particulares sem a necessidade de</p><p>delegação formal do Poder Público.</p><p>» Critério da essencialidade: são essenciais os serviços prestados privativamente pela</p><p>Administração Pública (ex.: serviços judiciários) e não essenciais, aqueles prestados</p><p>por particulares (ex.: serviços funerários).</p><p>» Critério da titularidade estatal – próprios x impróprios (virtuais): os serviços públicos</p><p>próprios são aqueles de exclusividade do Estado, ainda que possam ser delegados a</p><p>particulares (ex.: transporte público), já os serviços públicos impróprios são aquelas</p><p>atividades exercidas por particulares que não são titularizadas pelo Estado, mas que</p><p>atendem às necessidades das coletividades (ex.: redes de abastecimento de alimentos).</p><p>» Quanto à criação – inerentes e por opção legislativa: os serviços públicos inerentes são</p><p>aqueles ligados diretamente às funções estatais típicas (ex.: prestação jurisdicional e</p><p>controle dos tribunais de contas). Os serviços públicos que decorrem de opção legislativa</p><p>são aqueles ligados a atividades econômicas, as quais o Estado, por meio da edição de</p><p>normas jurídicas, retira do regime da livre iniciativa, colocando-as sob a sua titularidade</p><p>ex.: transporte, correios.</p><p>53</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>Regulamento e controle</p><p>» Regulamento: corresponde a leis, decretos, regulamentos, resoluções e outras</p><p>disposições regulamentares que disciplinam o modo de prestação de um serviço público.</p><p>A regulamentação dos serviços públicos caberá ao ente que possui competência para</p><p>prestar o serviço diretamente.</p><p>» Controle: o controle é exercido pelo ente que detém a titularidade para instituir o serviço</p><p>público. O controle, como já estudamos, poderá ser interno ou externo. O controle</p><p>interno é exercido pela própria Administração Pública que presta o serviço diretamente</p><p>aos cidadãos. O controle externo é exercido pela Administração Pública quando fiscaliza</p><p>particulares que prestam serviços públicos por delegação dela.</p><p>taxas e tarifas</p><p>Taxa e tarifa são modos de remuneração de serviços públicos, mas que possuem naturezas</p><p>jurídicas distintas. A taxa tem natureza jurídica de tributo, logo seu pagamento pelo contribuinte</p><p>é compulsória e deve ser paga independentemente de utilização, desde que o serviço esteja à sua</p><p>disposição (ex.: taxa para emissão de passaporte). A tarifa possui</p><p>natureza jurídica contratual,</p><p>portanto, não é obrigatória, sendo paga pelo usuário que faz uso do serviço disponibilizado (ex.:</p><p>tarifa de telefone).</p><p>Figura 25. Remuneração de serviços públicos.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/concept-global-rise-electricity-energy-prices-2050667801. Acesso em: 30</p><p>maio 2023.</p><p>» Taxa: é espécie tributária, instituída por lei, vinculada a serviços públicos prestados aos</p><p>administrados. Aliomar Baleeiro (2018) define taxa nos seguintes termos:</p><p>[...] o tributo cobrado de alguém que se utiliza de serviço público especial e</p><p>divisível, de caráter administrativo ou jurisdicional, ou o tem a sua disposição,</p><p>54</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>e ainda quando provoca, em seu benefício ou por ato seu, despesa especial dos</p><p>cofres públicos.</p><p>» Tarifa: é o valor pago pelo usuário de um serviço público quando o utiliza, cuja natureza</p><p>é de contraprestação pecuniária. A tarifa é regida pelo regime contratual de direito</p><p>público e corresponde à receita do particular que presta o serviço de forma delegada.</p><p>Do respeito ao controle e tabelamento, quando aplicáveis</p><p>(art. 41 do CDC)</p><p>A tarifa de transportes públicos é um exemplo de tabelamento de serviços, segundo o art. 41 do</p><p>CDC,</p><p>No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de</p><p>controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar</p><p>os limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição</p><p>da quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o</p><p>consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de</p><p>outras sanções cabíveis.</p><p>A tarifas de serviços de transportes como ônibus, táxis e barcas costumam ser tabeladas pelo</p><p>poder concedente. A inobservância do preço fixado pela Administração Pública é considerada</p><p>prática abusiva, isso se verifica quando um taxista não usa o taxímetro para a cobrança da</p><p>corrida, por exemplo.</p><p>Formas de execução dos serviços públicos</p><p>Os serviços públicos podem ser prestados diretamente pelo Estado, por meio de seus</p><p>órgãos e agentes, caso em que são designados pela expressão serviço público prestado</p><p>de forma centralizada, ou podem ser delegados a particulares, por meio de concessões e</p><p>permissões, caso em serão designados pela expressão serviço público prestado de forma</p><p>descentralizada.</p><p>É importante observar que os serviços delegados por meio de concessão ou permissão</p><p>precisam ser precedidos do devido processo licitatório, de modo a assegurar a supremacia do</p><p>interesse público, a moralidade administrativa, a imparcialidade, a legalidade, a melhor relação</p><p>custo-benefício.</p><p>São exemplos de serviços prestados diretamente pelo Estado: a emissão de passaportes, emissão</p><p>de carteira de identidade, licença para dirigir veículo automotor, expedição de certidões diversas.</p><p>55</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>São exemplos de serviços prestados de forma descentralizada: a eletricidade, a telefonia, a gestão</p><p>e conservação de rodovias.</p><p>No exercido da gestão de serviços públicos, a Administração Pública (concedente) poderá intervir</p><p>na concessão de forma provisória. Vejamos o que diz a Lei n. 8.987/1995 a esse respeito:</p><p>Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar</p><p>a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas</p><p>contratuais, regulamentares e legais pertinentes.</p><p>Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que</p><p>conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e</p><p>limites da medida.</p><p>Art. 33. Declarada a intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de</p><p>trinta dias, instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas</p><p>determinantes da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de</p><p>ampla defesa.</p><p>§ 1º Se ficar comprovado que a intervenção não observou os pressupostos legais e</p><p>regulamentares será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente</p><p>devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à indenização.</p><p>§ 2º O procedimento administrativo a que se refere o caput deste artigo deverá</p><p>ser concluído no prazo de até cento e oitenta dias, sob pena de considerar-se</p><p>inválida a intervenção.</p><p>Art. 34. Cessada a intervenção, se não for extinta a concessão, a administração</p><p>do serviço será devolvida à concessionária, precedida de prestação de contas</p><p>pelo interventor, que responderá pelos atos praticados durante a sua gestão.</p><p>(Brasil, 1995)</p><p>A concessões, por fim, extinguem-se: pelo fim do prazo estabelecido no contrato administrativo</p><p>firmado entre a Administração Pública (concedente) e o particular (concessionária de serviço</p><p>público); por decisão unilateral da Administração Pública (encampação); por decisão unilateral</p><p>da Administração quando há descumprimento das obrigações por parte da concessionária</p><p>(caducidade); por iniciativa da concessionária, quando é a Administração Pública quem</p><p>descumpre as regras contratuais, mas, nessa hipótese, depende de decisão judicial; por</p><p>anulação, quando for constatada ilegalidade nas cláusulas contratuais ou no procedimento</p><p>licitatório que antecedeu o contrato; por “falência ou extinção da empresa concessionária</p><p>e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual” (art. 35, VI, da Lei</p><p>n. 8.987/1995).</p><p>56</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>Qualidade dos serviços públicos (art. 6º, inciso X, do CDC)</p><p>Figura 26. CDC – Código de Defesa do Consumidor.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/acronym-cdc-referring-consumer-defense-code-2253456667. Acesso em:</p><p>30 maio 2023.</p><p>O Código de Defesa do Consumidor (CDC) dispõe em seu art. 6º, X, que é direito dos consumidores</p><p>que os serviços públicos sejam prestados de forma adequada e eficaz. Desse modo, temos que</p><p>a Administração Pública, quando presta um serviço público investe-se no papel de fornecedor,</p><p>atraindo para a relação desta com os usuários de serviços públicos as normas protetoras dos</p><p>consumidores.</p><p>É importante compreender que quando falamos da Administração Pública, estamos falando da</p><p>Administração Pública direta, indireta, das concessionárias e permissionárias. Desse modo, todos</p><p>que prestam serviços públicos estão obrigados a fazê-lo de forma adequada, eficiente, segura e,</p><p>em se tratando de serviços essenciais, de forma contínua (art. 22 do CDC).</p><p>Com o propósito de melhor controlar os serviços públicos delegados ao setor privado, são</p><p>instituídas agências reguladoras, com a atribuição de regulamentar, controlar e fiscalizar as</p><p>concessionárias e permissionárias de serviços públicos. As agências reguladoras integram a</p><p>Administração Pública indireta, são autarquias de regime especial, dotadas de maior autonomia</p><p>administrativa, técnica e financeira, para que possam desempenhar com independência suas</p><p>funções regulatórias e fiscalizatórias.</p><p>Exemplos de agências reguladoras:</p><p>» Agência Espacial Brasileira;</p><p>» Agência Nacional de Águas (ANA);</p><p>» Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel);</p><p>57</p><p>AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS • CAPÍTULO 4</p><p>» Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)</p><p>» Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel);</p><p>» Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq);</p><p>» Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT);</p><p>» Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);</p><p>» Agência Nacional do Cinema (Ancine);</p><p>» Agência Nacional do Petróleo (ANP);</p><p>» Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).</p><p>Sintetizando</p><p>Vimos neste capítulo:</p><p>» A definição de agentes públicos do art. 2º da Lei n. 8.429/1992, com redação dada pela Lei n. 14.230, de 2021: “o agente</p><p>político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,</p><p>nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou</p><p>função” em órgãos e entidade estatais ou no exercício</p><p>de suas funções são considerados agentes públicos.</p><p>» Classificação dos agentes públicos em categorias: agentes políticos; servidores públicos; militares; e particulares em</p><p>colaboração com o Poder Público.</p><p>» Os servidores públicos são “as pessoas físicas que prestam serviço ao Estado e às entidades da Administração indireta,</p><p>com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos” (Di Pietro, 2017, p. 1.221) e podem ser</p><p>classificados em 3 (três) grupos: servidores estatutários, empregados públicos e servidores temporários.</p><p>» Regime jurídico: a contratação de servidor público deve respeitar as regras relativas ao regime jurídico, que pode ser o</p><p>estatutário ou celetista.</p><p>» Os cargos públicos ocupados pelos servidores públicos são providos mediante concurso público de provas ou de provas</p><p>e títulos. A investidura no cargo começa com a nomeação para o cargo público e se conclui com posse, a qual passa a</p><p>produzir seus efeitos com a entrada em exercício.</p><p>» A remuneração dos servidores é comporta de duas parcelas: o vencimento-base e as vantagens, ou em alguns casos</p><p>previstos na Constituição Federal, é adotado o regime de subsídios.</p><p>» O processo administrativo disciplinar e a sindicância como meios de apuração de infrações disciplinares para a aplicação</p><p>de sanções disciplinares.</p><p>» Os conceitos e princípios que regem os serviços públicos.</p><p>» A classificação dos serviços públicos de Rafael Oliveira (2020, p. 246) segundo os seguintes critérios:</p><p>› critério dos destinatários: uti universi e uti singuli;</p><p>› critério da titularidade federativa: federais, estaduais, distritais, municipais e comuns;</p><p>› quanto ao objeto: administrativos, econômicos e sociais;</p><p>› critério da essencialidade: essenciais e não essenciais;</p><p>› critério da titularidade estatal: próprios x impróprios (virtuais); e</p><p>› quanto à criação: inerentes e por opção legislativa.</p><p>58</p><p>CAPÍTULO 4 • AGEntES PÚBLICOS E EXECUçãO DE SERvIçOS PÚBLICOS</p><p>» A distinção entre taxas e tarifas. A taxa é a prestação pecuniária imposta, legalmente, pelo Estado, em razão de serviços</p><p>públicos prestados aos administrados. Já a tarifa é a forma de remuneração paga pelo usuário por utilizar um serviço</p><p>público divisível e específico, regido pelo regime contratual de direito público.</p><p>» A incidência do Código de Defesa do Consumidor nas relações estabelecias entre os usuários de serviços públicos e os</p><p>fornecedores, sejam eles pessoas jurídicas de direito público ou privado.</p><p>59</p><p>Introdução</p><p>Abordaremos neste capítulo os processos licitatórios e contratos administrativos e teremos a</p><p>oportunidade de estudar as modalidades de contratos administrativos, sua conceituação, suas</p><p>características e seus conteúdos, além de entender como se desenvolve o controle, a interpretação</p><p>e a sua formalização e, ainda, discutir sua execução, inexecução, possibilidade de alteração e a</p><p>sua extinção.</p><p>Objetivos</p><p>» Discutir as características e as modalidades do processo licitatório.</p><p>» Conceituar contrato administrativo.</p><p>» Identificar as modalidades de contratos administrativos.</p><p>» Conhecer suas características.</p><p>» Discutir os efeitos destes na sociedade brasileira.</p><p>A nova Lei de Licitações</p><p>Licitação é o procedimento administrativo prévio à contratação por meio do qual a Administração</p><p>seleciona a proposta mais vantajosa, proporcionando igualdade de condições aos licitantes que</p><p>atendam às exigências constantes no instrumento convocatório para um contrato, podendo ocorrer</p><p>por pregão, por leilão, por concorrência pública, por tomada de preços, convite ou concurso.</p><p>Cada uma dessas formas tem seu próprio regulamento. Todas essas regras visam salvaguardar</p><p>os recursos públicos e os orçamentos estatais.</p><p>Assim, com o objetivo de conseguir a melhor proposta, o Poder Público instituiu o processo</p><p>licitatório, cujo objetivo é permitir que qualquer pessoa, satisfazendo as regras impostas pelo</p><p>edital, possa participar do processo e apresentar a sua oferta. Atualmente, o processo licitatório</p><p>5</p><p>CAPÍTULO</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS</p><p>ADMInIStRAtIvOS</p><p>60</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>é disciplinado pela Lei n. 14.133/2021, que que substitui a Lei n. 8.666/1993, e contratos</p><p>administrativos, estabelece os objetivos da licitação no art. 11, a saber:</p><p>» assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso</p><p>para a Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objetivo;</p><p>» assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a justa competição;</p><p>» evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e</p><p>superfaturamento na execução dos contratos;</p><p>» incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.</p><p>Assim, a Lei n. 14.133/2021 aplica-se às hipóteses de alienação, concessão de direito de uso de</p><p>bens; compras; locação; concessão e permissão de uso de bens a públicos; prestação de serviços,</p><p>obras e serviços de arquitetura e engenharia e contratação de tecnologia da informação e de</p><p>comunicação (art. 2º).</p><p>As fontes normativas da licitação no Brasil</p><p>Vamos verificar o conceito destacado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2022, 9.1) que observa</p><p>esse cuidado que é preciso no âmbito da Administração Pública:</p><p>pode-se definir a licitação como o procedimento administrativo pelo qual um ente</p><p>público, no exercício da função administrativa, abre a todos os interessados, que</p><p>se sujeitem às condições fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de</p><p>formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente</p><p>para a celebração de contratos.</p><p>Quais são as fontes normativas da licitação no Brasil?</p><p>Quadro 5. Fontes normativas.</p><p>Art. 22, XXvII, CF/1988 Estabelece a competência privativa da União para legislar sobre normas gerais de</p><p>licitação e contratação.</p><p>Art. 37, XXI, CF/1988 Consagra a regra da licitação e admite que alei estabeleça exceções.</p><p>Art. 173, § 1º, III, CF/1988 Remete ao legislador a tarefa de elaborar o Estatuto próprio das empresas estatais</p><p>econômicas, o qual conterá regras próprias de licitações e contratos.</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras (2023).</p><p>Importante</p><p>Regra geral: o processo licitatório é obrigatório nas contratações da Administração Pública, salvo raras exceções.</p><p>61</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS • CAPÍTULO 5</p><p>Até abril de 2021, tínhamos a Lei n. 8.666, de 1993. Contudo, foi promulgada a Lei n. 14.133, de</p><p>abril de 2021, que revoga a Lei n. 8.666/1993, a Lei n. 10.520/2002 – Lei do Pregão, bem como os</p><p>arts. 1° a 47-A da Lei n. 12.462/2011, que institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas.</p><p>A Lei n. 14.133/2021 também alterou o Código Penal, inserindo os crimes praticados no âmbito</p><p>das licitações e das contratações públicas. Só para esclarecer que para ser considerado um crime</p><p>no Brasil, é preciso ter uma lei anterior que defina a conduta como uma infração penal, ou seja,</p><p>um crime. Então essa alteração criou alguns crimes que passam a figurar no Código Penal.</p><p>A Lei nova alterou a Lei antiga integralmente, mas essa situação só vai se consolidar decorridos</p><p>dois anos da publicação da Lei nova. O legislador decidiu desse modo.</p><p>Então, em até dois anos, a contar da data da publicação da Lei n. 14.133/2021, em Diário Oficial,</p><p>que no caso foi 1º de abril de 2021, os gestores públicos poderão optar entre a aplicação da nova</p><p>Lei ou da antiga. Esse é o princípio da discricionariedade que já estudamos. Todavia, fica proibido</p><p>mesclar as duas leis durante esse período. Por que o legislador pensou desse modo? Porque é</p><p>preciso um período de transição (regime de transição) para que todos os interessados possam</p><p>conhecer as novas regras e não pegue ninguém de surpresa.</p><p>Em razão dessa necessidade, ocorreu maior prorrogação do prazo da antiga Lei de Licitações,</p><p>pois o Presidente da República, a pedido da Confederação Nacional dos Municípios e da Frente</p><p>Nacional dos Prefeitos, decidiu em Medida Provisória n. 1.167, de 31 de março de 2023,</p><p>prorrogar</p><p>o prazo de vigência da Lei n. 8.666/1993, da Lei n. 10.520/2002 e dos arts. 1º a 47-A da Lei n.</p><p>12.462/2011 até 30 de dezembro de 2023.</p><p>Ocorre que as medidas provisórias têm vigência de apenas 60 dias, podendo ser automaticamente</p><p>prorrogadas por igual período se, dentro deste primeiro prazo, não ocorrer a sua votação, em</p><p>ambas as casas legislativas do Congresso Nacional.</p><p>A referida MP n. 1.167/2023 perdeu sua vigência em 28 de julho de 2023, sem apreciação do</p><p>Legislativo e, por conseguinte, tal fato foi informado pelo presidente do Congresso Nacional ao</p><p>presidente da República, com a devida publicação do ato em Diário Oficial da União (publicação</p><p>no D.O.U. em 3/8/2023).</p><p>Quando ocorre o encerramento da vigência de uma MP, sem a apreciação do Congresso Nacional</p><p>nos seus primeiros 60 dias, restará como possível a edição de um Decreto Legislativo para</p><p>disciplinar a matéria jurídica tratada na MP encerrada sem a devida apreciação do Congresso</p><p>Nacional.</p><p>O procedimento de licitação é o que denominamos de processo administrativo, por isso, é</p><p>necessário o atendimento aos princípios constitucionais que vimos no art. 37 da CF/1988, que</p><p>guardamos pelo mnemônico “LIMPE”.</p><p>62</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>A nova Lei de Licitações, Lei n. 14.133/2021 estabeleceu no art. 5º que, além da “LIMPE”, temos:</p><p>o interesse público, probidade administrativa, igualdade, planejamento, transparência, eficácia,</p><p>segregação de funções, motivação, vinculação ao edital, julgamento objetivo, segurança jurídica,</p><p>razoabilidade, competitividade, proporcionalidade, celeridade, economicidade e desenvolvimento</p><p>sustentável.</p><p>Então, vamos analisar os princípios da licitação?</p><p>Quadro 6. Princípios da Licitação.</p><p>Princípios da Licitação Objetivo</p><p>Competitividade Busca-se a proposta mais vantajosa para Administração.</p><p>Isonomia Dispensar tratamento igualitário aos licitantes.</p><p>vinculação ao edital O edital ou carta-convite é lei para os participantes, as regras devem ser observadas.</p><p>Procedimento formal Os procedimentos são formais e devem ser observados.</p><p>Julgamento objetivo A avaliação das propostas deve ser pautada em critérios objetivos.</p><p>Planejamento A necessidade de um plano organizando as contratações para garantir o alinhamento</p><p>estratégico.</p><p>Desenvolvimento nacional</p><p>sustentável Desenvolvimento nacional com sustentabilidade econômica, social e ambiental.</p><p>Publicidade e transparência A publicidade e transparência dos atos estatais é regra para o controle social.</p><p>Eficiência, celeridade e</p><p>economicidade</p><p>Envolve qualidade, tempo hábil conforme definido no edital e responsabilidade a</p><p>partir de um estudo técnico preliminar.</p><p>Segregação de funções Consiste na distribuição e especialização de funções entre os agentes públicos que</p><p>atuam no processo de licitação.</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras (2023).</p><p>No procedimento da licitação os princípios devem ser observados, mas há que se ressaltar que</p><p>configuram um rol exemplificativo, o que não impede que outros princípios sejam invocados.</p><p>Licitação: objeto e modalidades</p><p>O objeto do processo licitatório é a contratação, por parte da Administração Pública, de produtos,</p><p>serviços e pessoal. Dentro das regras estabelecidas pelo edital e respeitando os princípios da licitação.</p><p>A Administração Pública tem o dever de sempre buscar a melhor alternativa disponível no</p><p>mercado para satisfazer os interesses públicos, para que possa agir de forma adequada aos</p><p>padrões exigidos pela probidade administrativa. Nesse sentido, o procedimento observará fases:</p><p>o momento preparatório ou de planejamento, a divulgação do edital, a fase de apresentação de</p><p>propostas e lances (se for o caso), o momento do julgamento, da habilitação, a fase recursal e a</p><p>homologação (art. 17, Lei n. 14.133/2021).</p><p>As modalidades de licitação estão previstas no art. 28 da Lei n. 14.133/2021 e são elas: pregão,</p><p>concorrência, concurso (para elaboração de projetos), leilão e o diálogo competitivo (para</p><p>63</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS • CAPÍTULO 5</p><p>inovação tecnológica). Um ponto de atenção: a nova lei extinguiu modalidades que existiam na</p><p>Lei antiga (Lei n. 8.666/1993). Não há mais que se falar em modalidade de tomada de preços e</p><p>modalidade convite, anteriormente previstas. Surgiu a novidade do “diálogo competitivo” que</p><p>é um modelo atrelado às inovações tecnológicas e complexidade técnica.</p><p>É um diálogo da Administração Pública e os licitantes previamente selecionados para o desenvolvimento</p><p>de inovações tecnológicas. Podemos pensar num órgão que deseja o desenvolvimento de uma</p><p>tecnologia de inteligência artificial para um canal de denúncias do cidadão, por exemplo.</p><p>A licitação poderá adotar alguns critérios para julgamento, são eles: menor preço, maior desconto,</p><p>melhor técnica ou conteúdo artístico; técnica e preço conjuntamente, maior lance para os leilões</p><p>e o maior retorno econômico (art. 33 da Lei n. 14.133/2021).</p><p>Com o Decreto n. 11.430/2023, que regulamentou o inciso I do § 9º do art. 25 e o inciso III do caput</p><p>do art. 60 da Lei de Licitações, Lei n. 14.133/2021, identificamos mais um critério de desempate</p><p>para licitações, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional:</p><p>a contratação de mão de obra constituída por mulheres vítimas de violência doméstica e a</p><p>implementação de ações de equidade entre mulheres e homens no ambiente de trabalho.</p><p>A licitação não será exigida quando a competição for inviável, por isso não será exigida em</p><p>algumas hipóteses, permitindo-se a contratação direta (art. 72 da Lei n. 14.133/2021). Assim,</p><p>o instituto da inexigibilidade de licitação está previsto no art. 74 e o instituto da dispensa de</p><p>licitação no art. 75, ambos da Lei n. 14.133/2021.</p><p>» Inexigibilidade: a competição é inviável, por exemplo, a contratação de um ator famoso,</p><p>de estudos técnicos, restauração de obras de arte etc.</p><p>» Dispensa: quando o valor for inferior a cem mil reais nos casos de obras e serviços de</p><p>engenharia ou manutenção de veículos automotores ou a cinquenta mil reais, no caso</p><p>de serviços e compras, e assim por diante. Nesta hipótese ocorre um processo seletivo</p><p>simplificado (Oliveira, 2021).</p><p>Importa destacar que será sempre necessário justificar (demonstrar) a inviabilidade de competição.</p><p>A justificativa que deve ser obrigatoriamente ratificada por autoridade superior e publicada em</p><p>prazo certo determinado (art. 72, incisos I a VIII, da Lei n. 14.133/2021). Verificada a inviabilidade</p><p>de competição, a licitação não deve ser realizada.</p><p>Inexigibilidade e dispensa da licitação</p><p>A ideia de dispensa do processo licitatório envolve a inexigibilidade e a dispensa. Não podemos</p><p>esquecer que a diferença básica entre as duas hipóteses é que a dispensa ocorre por ato</p><p>discricionário da Administração, entretanto existe a possibilidade de disputa entre os interessados.</p><p>64</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>Já na inexigibilidade não há possibilidade de disputa, só existe um objeto ou uma pessoa que</p><p>possa atender às necessidades da Administração.</p><p>Existem ainda as possibilidades de dispensa que não são reguladas pelo poder discricionário do</p><p>administrador, mas estão previstas na própria Lei das Licitações, é o que decorre o art. 17, incisos</p><p>I e II, que dispensa a licitação quando se tratar de alienação de bens imóveis, mediante ação em</p><p>pagamento ou doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração</p><p>Pública, permuta por outro imóvel que atenda aos requisitos, consoante o art. 24.</p><p>Contrato administrativo: características e especificidades</p><p>No exercício de suas atividades, o Estado não é capaz de prover todos os produtos ou serviços</p><p>de que necessita para atender às necessidades da sociedade. Assim, é obrigado a recorrer ao</p><p>particular para garantir a satisfação das suas necessidades. A forma de aquisição por parte do</p><p>Estado de serviços ou produtos dos particulares ocorre por meio de contratos.</p><p>Segundo lições de Rafael Carvalho Rezende Oliveira (2021,</p><p>18.1), quando falamos em contratos</p><p>administrativos, a expressão é “gênero que comporta todo e qualquer ajuste bilateral celebrado</p><p>pela Administração Pública”.</p><p>Características</p><p>Os contratos administrativos são regidos por normas de</p><p>direito público por conta das prerrogativas da Administração</p><p>Pública e da importância da sua atividade fundamentada no</p><p>bem coletivo. Assim, os contratos administrativos possuem</p><p>características específicas. Vamos observá-las? (Oliveira, 2021,</p><p>18.4)</p><p>Formalismo</p><p>Maior formalidade em razão da coisa pública. A exigência prévia de licitação para firmar contratos</p><p>com o poder público é um bom exemplo.</p><p>Bilateralidade</p><p>Em qualquer contrato a manifestação de vontades é fundamental.</p><p>Comutatividade</p><p>Trata-se da ideia de que as obrigações contraídas pelas partes de um contrato são equivalentes</p><p>e, claro, previamente estabelecidas.</p><p>Importante</p><p>A antiga Lei de Licitações Públicas, n.</p><p>8.666/1993, em seu art. 2º, parágrafo</p><p>único, definia contrato como: “todo</p><p>e qualquer ajuste entre órgão ou</p><p>entidade da Administração Pública e</p><p>particular, em que haja um acordo de</p><p>vontade para a formação do vínculo e</p><p>a estipulação de obrigações recíprocas,</p><p>seja qual for a denominação utilizada”.</p><p>65</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS • CAPÍTULO 5</p><p>Personalíssimo</p><p>Significa que o contrato é celebrado com o licitante que apresentou a melhor proposta. A escolha</p><p>foi impessoal em razão dos princípios da impessoalidade e moralidade, que já estudamos</p><p>anteriormente.</p><p>Desequilíbrio</p><p>As partes nos contratos administrativos estão em posição de desigualdade por conta das cláusulas</p><p>exorbitantes que trazem a previsão da alteração unilateral, rescisão unilateral, fiscalização,</p><p>aplicação de sanções e ocupação provisória que não existem nos contratos privados (Oliveira,</p><p>2021).</p><p>Instabilidade</p><p>Como há a mutabilidade natural do interesse público, por conta de mudanças na realidade social,</p><p>política e econômica, há uma instabilidade nos contratos administrativos e a Administração</p><p>Pública poderá alterar unilateralmente as cláusulas ou até extinguir um contrato.</p><p>Após a licitação, a Administração Pública chamará o licitante que venceu a licitação para firmar</p><p>o contrato público, em determinado prazo, sob pena de decair o seu direito (art. 89 da Lei n.</p><p>14.133/2021) E se o licitante vencedor não aparecer? A Administração Pública poderá convocar</p><p>os licitantes remanescentes para negociação, na ordem da classificação visando à obtenção do</p><p>melhor preço. Mas se não ocorrer a convocação para contratação por parte da Administração</p><p>Pública, os licitantes ficam dispensados dos compromissos assumidos (veja o art. 90 e seus</p><p>parágrafos, da Lei n. 14.133/2021).</p><p>om relação ao conteúdo dos contratos administrativos, eles são utilizados para aquisição de</p><p>mercadorias ou serviço ou, ainda, para a realização de obras, para concessão ou permissão de</p><p>utilização de espaço público ou exploração de serviço público.</p><p>Regime jurídico e cláusulas exorbitantes</p><p>O regime jurídico que disciplina os contratos públicos são os de direito público, ou seja, a exigência</p><p>do formalismo na relação contratual, a exigência da presença dos princípios norteadores da</p><p>atividade pública que são: legalidade, publicidade, probidade administrativa, lealdade, respeito</p><p>às regras da concorrência e o predomínio do interesse público.</p><p>São consideradas cláusulas exorbitantes, para os contratos públicos, aquelas em comparação com</p><p>os contratos jurídicos gerais, que afastam da relação contratual a igualdade de tratamento entre</p><p>os contratantes. Trata-se da característica do desequilíbrio que já estava previsto na antiga lei, a</p><p>Lei n. 8.666/1993 e que também está prevista na nova Lei de Licitações, a Lei n. 14.133/2021, no</p><p>art. 104, que fala em alteração unilateral, rescisão unilateral, fiscalização, aplicação de sanções</p><p>e ocupação provisória.</p><p>66</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>Então, na realização dos contratos com o Poder Público estão previstas cláusulas exorbitantes,</p><p>ou seja, aquelas que afastam da relação contratual o tratamento igualitário entre os contratantes.</p><p>Na Lei n. 14.133/2021, os arts. 96, 98, 99, 100, 101, 102 e 145, § 2º, são exemplos de cláusulas</p><p>exorbitantes.</p><p>Segundo Di Pietro (2022, posição 8.6.7), são consideradas cláusulas exorbitantes:</p><p>aquelas que não seriam comuns ou que seriam ilícitas em contrato celebrado entre</p><p>particulares, por conferirem prerrogativas a uma das partes (a Administração)</p><p>em relação à outra; elas colocam a Administração em posição de supremacia</p><p>sobre o contratado.</p><p>No mesmo sentido, Rafael Oliveira (2021, posição 18) observa que as referidas cláusulas conferem</p><p>prerrogativas à Administração e sujeitam o contratado, mesmo sem previsão no edital ou no</p><p>próprio contrato, a situações, tais como: rescisão e/ou alteração unilateral, fiscalização, aplicação</p><p>de sanções e até mesmo a ocupação provisória. As cláusulas exorbitantes são inerentes aos</p><p>contratos administrativos em razão do interesse coletivo e tanto a Lei 8.666/1993 quanto a Lei</p><p>14.133/2021 sustentam a sua aplicação automática em favor da Administração Pública. Desta</p><p>forma, a Administração Pública poderá alterar, rescindir, fiscalizar, ocupar provisoriamente bens</p><p>móveis e imóveis e outras possibilidades, mesmo que o contratado não queira ou não concorde.</p><p>Controle, interpretação e formalização</p><p>Segundo o mestre Hely Lopes Meirelles (2016, p. 216), o controle do contrato administrativo</p><p>é um dos poderes inerentes à Administração Pública e, por isso mesmo, implícito em toda</p><p>contração pública, dispensando cláusulas expressas. Com efeito, desde que à Administração</p><p>incumbem a realização de obras públicas e a prestação de serviços à coletividade, há de ter a</p><p>correspondente prerrogativa de controlar os seus contratos e de adequá-los às exigências do</p><p>momento, supervisionando, acompanhando e fiscalizando a sua execução ou nela intervindo.</p><p>Ainda com as palavras de Meirelles (2016, p. 218) na interpretação do contrato administrativo, é</p><p>preciso ter sempre em vista que as normas que regem são as do Direito Público, suplementadas</p><p>pelos princípios da teoria geral dos contratos do Direito Privado, impondo aos contratos a</p><p>supremacia do interesse público. Daí já decidido que nos contratos administrativos celebrados</p><p>em prol da coletividade não se pode interpretar suas cláusulas contra essa mesma coletividade.</p><p>Qualquer cláusula que contraria o interesse público ou consubstancie renúncia a direitos e</p><p>poderes da Administração deve ser considerada como não escrita, salvo se autorizada por lei.</p><p>Importante</p><p>Qualquer cláusula que contraria o interesse público ou consubstancie renúncia a direitos e poderes da Administração deve</p><p>ser considerada como não escrita, salvo se autorizada por lei.</p><p>67</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS • CAPÍTULO 5</p><p>Conforme a Lei n. 14.133/2021, os contratos administrativos são regulados segundo as normas</p><p>de direito público. Todavia, há a aplicação supletiva dos princípios da teoria geral dos contratos.</p><p>A Administração Pública convocará o licitante vencedor. Se o licitante vencedor não comparecer,</p><p>a Administração Pública poderá, com base no art. 90 da Lei, convocar os licitantes remanescentes</p><p>e caso nenhum aceite a contratação, poderá negociar na ordem de classificação para obter o</p><p>melhor preço e se a negociação for frustrada celebrar contrato nas condições ofertadas pelos</p><p>remanescentes.</p><p>Eventuais aditamentos ficam juntados ao contrato de origem, sempre por escrito, divulgados ao</p><p>público em sítio eletrônico, conforme prevê o art. 91 da Lei. Cabe a observação que a Administração</p><p>Pública deve consultar o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) e o</p><p>Cadastro nacional de Empresas Punidas (CNEP), emitir as certidões negativas de inidoneidade,</p><p>de impedimentos e débitos trabalhistas para anexar ao processo.</p><p>A Lei, em seu art. 95, § 2º, estabelece a regra do contrato escrito e observa que será nulo de pleno</p><p>direito o contrato verbal, salvo pequenas compras</p><p>ou pagamentos que não sejam superiores a</p><p>R$ 10.000,00.</p><p>Garantias, alocação de riscos e fiscalização</p><p>O art. 96 da Lei n. 14.133/2021 observa que o edital poderá exigir algumas garantias nas contratações</p><p>de obras, serviços e compras, a saber: caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública na</p><p>forma exigida pelo Ministério da Fazenda; seguro-garantia; fiança bancária por instituição</p><p>financeira autorizada pelo Banco Central.</p><p>No art. 103 da Lei, há a possibilidade de repartição de riscos nos contratos administrativos com</p><p>a previsão de matriz de alocação para saber aqueles que serão suportados pela Administração</p><p>Pública, pelo setor privado ou compartilhados.</p><p>A formalização dos contratos administrativos se estabelece com força na Lei n. 14.133/2021,</p><p>salvo exceção prevista na lei, deve ser por escrito, respeitando os preceitos e princípios de ordem</p><p>pública. Tendo, de um lado como contratante o Poder Público e, de outro, como contratado,</p><p>outra parte, que pode ser outro representante do Poder Público. O mais comum são as pessoas</p><p>jurídicas particulares ou, ainda, as pessoas naturais. Os contratos administrativos devem ser</p><p>arquivados em ordem cronológica para fins de consulta e fiscalização. Depois de celebrados,</p><p>os contratos devem ser publicados, embora resumidamente, em órgão oficial da imprensa da</p><p>entidade pública contratante. Devem ainda constar no preâmbulo do contrato o nome das partes</p><p>e seus representantes, o objeto do ajuste, o ato autorizativo do contrato, o número do processo</p><p>da licitação, ou, se for o caso, da dispensa ou da inexigibilidade, e a menção de que seu regime</p><p>jurídico é o da Lei n. 14.133/2021 (Carvalho Filho, 2019, p. 186).</p><p>68</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>Execução, inexecução, alterações e extinção</p><p>» Execução do contrato administrativo: Cumpridas as formalidades legais, os contratos</p><p>administrativos passam à sua execução, onde são respeitadas as cláusulas, conforme</p><p>previsto em lei e respeitando a supremacia do interesse público. A duração do contrato</p><p>administrativo é limitada à vigência do crédito orçamentário, não devendo passar para</p><p>outro exercício orçamentário.</p><p>» Inexecução do contrato administrativo: A não execução ou o inadimplemento do</p><p>contrato administrativo caracteriza-se pelo descumprimento total ou parcial das cláusulas</p><p>contratuais por qualquer das partes, Administração ou contratado. A inexecução poderá</p><p>ocorrer de forma culposa ou sem culpa.</p><p>› Inexecução culposa: A inexecução culposa do contrato é caracterizada pelo</p><p>descumprimento ou cumprimento irregular das cláusulas contratuais em razão de</p><p>ação ou omissão culposa ou dolosa da administração ou do contratante.</p><p>A inexecução culposa acarreta a aplicação das sanções legais e contratuais.</p><p>As sanções podem ser advertência, multa de mora, multa pela inexecução, suspensão</p><p>temporária da possibilidade de participar de licitação e impedimento de contratar</p><p>com a Administração ou, ainda, a declaração de inidoneidade para licitar ou contratar</p><p>com a Administração Pública.</p><p>› Inexecução sem culpa: Trata-se da hipótese em que uma das partes não cumpre o</p><p>contrato na forma estabelecida. Contudo, o inadimplemento do contrato é resultante</p><p>de fatos supervenientes à data em que foi firmado. “Correspondem tais fatos a</p><p>situações excepcionais, e a eles não deu causa a parte inadimplente” (Carvalho Filho,</p><p>2019, p. 341).</p><p>» Alteração do contrato administrativo: A revisão do contrato administrativo, ou seja,</p><p>a modificação das condições de sua execução pode ocorrer por interesse da própria</p><p>Administração ou pela superveniência de fatos novos que tornem inexequível o ajuste</p><p>inicial. A primeira hipótese surge quando o interesse público exige a alteração do projeto</p><p>ou dos processos técnicos de sua execução, com o argumento dos encargos ajustados;</p><p>a segunda hipótese sobrevém de atos do governo ou fatos materiais imprevistos</p><p>e imprevisíveis pelas partes que dificultam ou agravam, de modo excepcional, o</p><p>prosseguimento e a conclusão do objeto do contrato, por obstáculo intransponível em</p><p>condições normais de trabalho ou encarecimento extraordinário das obras e serviços a</p><p>cargo do particular contratado, que impõem uma recomposição dos preços ajustados,</p><p>além do reajuste prefixado (Meirelles, 2016 p. 242).</p><p>» Extinção do contrato administrativo: Conforme ensinamento de Carvalho Filho (2019,</p><p>p. 372), dá-se o cumprimento do objeto do contrato quando as partes conseguiram o</p><p>69</p><p>LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS • CAPÍTULO 5</p><p>que pactuaram e voltam, sem menor dificuldade, às respectivas situações anteriores.</p><p>Ou seja, cumpridas as obrigações pactuadas na relação contratual, ocorrerá a extinção</p><p>normal do contrato.</p><p>Todavia, após ampla defesa e direito ao contraditório, poderá ocorrer a extinção prematura</p><p>do contrato administrativo nas seguintes hipóteses previstas no art. 137 da Lei n. 14.133/2021:</p><p>(Oliveira, 2021, p. 18.11.3)</p><p>» não cumprimento ou o cumprimento irregular de normas editalícias ou de cláusulas</p><p>contratuais, especificações, projetos ou prazos;</p><p>» desatendimento às determinações regulares emitidas pela autoridade designada para</p><p>acompanhar e fiscalizar sua execução ou por autoridade superior;</p><p>» alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da empresa que restrinja</p><p>sua capacidade de concluir o contrato;</p><p>» decretação de falência, insolvência civil, dissolução da sociedade ou falecimento do</p><p>contratado;</p><p>» caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, impeditivos da execução do</p><p>contrato;</p><p>» o atraso ou a impossibilidade de obtenção da licença prévia ou da licença de instalação</p><p>ou alteração substancial do anteprojeto que venha a resultar dessas licenças, ainda que</p><p>obtidas no prazo previsto;</p><p>» o atraso ou a impossibilidade de liberação das áreas sujeitas a desapropriação, desocupação</p><p>ou servidão administrativa; » razões de interesse público, justificadas pela máxima</p><p>autoridade do órgão ou da entidade contratante;</p><p>» o não cumprimento das obrigações relativas à reserva de cargos prevista em lei para</p><p>pessoa com deficiência, para reabilitado da Previdência Social ou aprendiz, bem como</p><p>em outras normas específicas.</p><p>Conclusão</p><p>A sociedade brasileira sofre com notícias sobre corrupção em todas as esferas governamentais;</p><p>uma das maneiras de tentar diminuir os efeitos desse desvio de conduta é a celebração de</p><p>contratos administrativos cada vez mais eficientes e revestidos de fiscalização e controle por</p><p>parte do Poder Público e de toda a sociedade.</p><p>Por mais simples que possam parecer os contratos administrativos, eles produzem efeitos e</p><p>gastam recursos de toda a sociedade.</p><p>70</p><p>CAPÍTULO 5 • LICItAçÕES E COntRAtOS ADMInIStRAtIvOS</p><p>Sintetizando</p><p>Vimos neste capítulo:</p><p>» Licitações: procedimento administrativo prévio à contratação por meio do qual a Administração seleciona a proposta mais</p><p>vantajosa, proporcionando igualdade de condições aos licitantes que atendam às exigências constantes no instrumento</p><p>convocatório. Atualmente, o processo licitatório é disciplinado pela Lei n. 14.133/2021.</p><p>» Objeto: o objeto do processo licitatório é a contratação, por parte da Administração Pública, de produtos, serviços e</p><p>pessoal, na forma do edital e respeitando os princípios da licitação.</p><p>» Dispensa e inexigibilidade: a dispensa ocorre por ato discricionário da Administração e na inexigibilidade não há</p><p>possibilidade de disputa, só existe um objeto ou uma pessoa que possa atender às necessidades da Administração.</p><p>» Modalidades: as modalidades estão previstas no art. 28 da Lei n. 14.133/2021. são elas: pregão, concorrência, concurso,</p><p>leilão e diálogo competitivo.</p><p>» Contrato administrativo: “todo e qualquer ajuste entre órgão ou entidade da Administração Pública e particular, em</p><p>que haja um acordo de vontade para a formação do vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a</p><p>denominação utilizada”.</p><p>» Característica e conteúdo: Poder Público como parte ou empresas públicas, sociedades</p><p>de economia mista, autarquias</p><p>ou fundações públicas; privilégio de tratamento em favor do Poder Público; predomínio do interesse público; alteração ou</p><p>rescisão unilateral; revisão de preços e tarifas; controle do contrato pelo Poder Público; e aplicação de penalidades.</p><p>» Regime jurídico e cláusulas exorbitantes: o regime jurídico é o de direito público, ou seja, a exigência do formalismo na</p><p>relação contratual, a exigência da presença dos princípios norteadores da atividade pública. São cláusulas exorbitantes</p><p>aquelas que afastam a igualdade de tratamento entre os contratantes.</p><p>› Alteração ou rescisão unilateral do contrato; o equilíbrio econômico-financeiro ou equação econômica; a revisão de</p><p>preços ou tarifas; a inoponibilidade inicial de exceção de contrato não cumprido; controle do contrato; a aplicação de</p><p>penalidade.</p><p>› A formalização dos contratos administrativos se estabelece com força na Lei n. 14.133/2021.</p><p>› Execução, inexecução, alterações e extinção.</p><p>71</p><p>Introdução</p><p>O propósito deste capítulo é discutir temas variados envolvendo a Administração Pública e a</p><p>sociedade, apresentando a existência de outros mecanismos de atuação do Estado e como eles</p><p>nos permitem questionar, administrativa ou judicialmente, a responsabilidade extracontratual</p><p>do Estado. Ainda neste capítulo, teremos a oportunidade de estudar o Direito Municipalista</p><p>brasileiro, isso certamente permitirá que os profissionais que no futuro venham a lidar com</p><p>a gestão da coisa pública possam exercer melhor sua profissão, explorando as atribuições</p><p>municipalistas.</p><p>Objetivos</p><p>» Discutir a existência de outros mecanismos de atuação do Estado.</p><p>» Identificar a responsabilidade extracontratual do Estado.</p><p>» Conhecer o Direito Municipalista brasileiro.</p><p>Responsabilidade extracontratual do Estado</p><p>A responsabilidade extracontratual do Estado, também conhecida como responsabilidade civil</p><p>do Estado, é a obrigação do Estado de reparar os danos causados pela conduta de seus agentes</p><p>no exercício de função pública, seja essa conduta uma ação ou uma omissão, que viole um dever</p><p>jurídico (prática de ato ilícito).</p><p>Quando usamos a expressão função pública estamos nos referindo às três funções típicas do</p><p>Estado: administrativa, jurisdicional e legislativa.</p><p>6</p><p>CAPÍTULO</p><p>OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO</p><p>DO EStADO</p><p>72</p><p>CAPÍTULO 6 • OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO</p><p>Figura 27. Responsabilidade civil.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/hammer-gavel-judge-car-vehicle-accident-2205038083. Acesso em: 30</p><p>maio 2023.</p><p>Conceito</p><p>Di Pietro (2017, p. 873) conceitua a responsabilidade extracontratual do Estado nos seguintes</p><p>termos: “a responsabilidade extracontratual do Estado corresponde à obrigação de reparar danos</p><p>causados a terceiros em decorrência de comportamentos comissivos ou omissivos, materiais ou</p><p>jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos”.</p><p>De acordo com Rafael Oliveira (2020, pp. 743-744), como regra geral, o dever de indenizar surge</p><p>da prática de atos ilícitos. No entanto, a doutrina vem admitindo duas hipóteses de prática de</p><p>atos lícitos configuradores de responsabilidade civil:</p><p>» quando houver expressa previsão legal, como no caso da responsabilidade da União</p><p>por danos provocados por atentados terroristas contra aeronaves de matrícula brasileira</p><p>(veja Lei n. 10.744/2003);</p><p>» quando o sacrifício do particular for desproporcional. Ex.: fechamento permanente de</p><p>rua para tráfego de veículos por ato da municipalidade, inviabilizando a continuidade</p><p>de atividades econômicas prestadas por proprietários de postos de gasolina.</p><p>A responsabilidade extracontratual do estado é, portanto, objetiva, uma vez que comprove o</p><p>dano desproporcional estará caracterizado o dever de indenizar, ainda que a conduta do agente</p><p>tenha sido lícita.</p><p>Evolução histórica</p><p>Durante algum tempo, o Estado era o senhor e soberano; portanto, não devia obediência ou</p><p>satisfação a ninguém. Nessa época imperava a teoria da irresponsabilidade, ou seja, não se podia</p><p>imaginar que o Estado responderia pelos atos de seus prepostos.</p><p>Com o surgimento do Código Civil francês, passaram a surgir as teorias civilistas, nas quais ficava</p><p>estabelecido que aquele que causasse prejuízo a outrem tinha o dever de indenizar. Nas teorias</p><p>civilistas, inicialmente, se buscava separar o que era ato de Império dos atos de gestão. Os primeiros,</p><p>73</p><p>OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO • CAPÍTULO 6</p><p>com todos os privilégios e prerrogativas da Administração Pública, e os segundos em igualdade</p><p>de condição com os particulares. Isso possibilitou afastar as teorias da irresponsabilidade por</p><p>parte do Estado e atribuir a obrigação de indenizar quando os atos praticados fossem de gestão.</p><p>A própria transformação da sociedade contribui para o surgimento de novas teorias para a</p><p>responsabilidade civil que são a teoria da culpa civil ou da responsabilidade civil subjetiva. Essa</p><p>teoria previa a possibilidade de o Estado indenizar o particular se este conseguisse comprovar</p><p>que o agente público agiu com culpa ou dolo na sua conduta comissiva ou omissiva. O Código</p><p>Civil de 1916 adotava essa teoria.</p><p>Mais uma vez, a própria sociedade se movimentou e desenvolveu a teoria do risco, também</p><p>conhecida como teoria da responsabilidade civil objetiva, nesta não tendo mais necessidade</p><p>de se comprovar que a conduta do agente ocorreu por culpa ou dolo, bastando comprovar que</p><p>ocorreu o dano, para haver a obrigação de indenizar.</p><p>A Constituição Federal de 1988 adotou a responsabilidade civil objetiva do Estado e das</p><p>pessoas jurídicas prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º). Falamos em responsabilidade</p><p>extracontratual, pois a aludida norma faz referência a danos a terceiros. Esses “terceiros” são</p><p>pessoas que não possuem um vínculo contratual ou institucional com o Estado.</p><p>A regra constitucional não se aplica aos servidores públicos que possuem vínculo institucional</p><p>(estatutário) com o Estado e nem às pessoas físicas ou jurídicas com vínculo contratual com o</p><p>Estado (Oliveira, 2020, p. 743).</p><p>Fundamentos da responsabilidade</p><p>objetiva do Estado</p><p>Segundo Rafael Oliveira (2020, p. 744), a</p><p>responsabilidade civil do Estado fundamenta-se</p><p>na teoria do risco administrativo e na repartição</p><p>dos encargos sociais.</p><p>Figura 28. Responsabilidade objetiva do Estado.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-businessman-pulling-out-placing-wood-520407727. Acesso em: 30</p><p>maio 2023.</p><p>Saiba mais</p><p>Rafael Oliveira (2020, p. 743) registra que poderá haver</p><p>responsabilidade civil do Estado quando o licitante</p><p>vencedor da licitação não vier a ser contratado pelo</p><p>cancelamento de licitação após a homologação. Os</p><p>fundamentos para a responsabilização seriam a boa-fé</p><p>e proteção da confiança legítima.</p><p>74</p><p>CAPÍTULO 6 • OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO</p><p>O Estado desempenha funções e atividades administrativas em prol da coletividade, porém</p><p>com riscos de provocar danos a indivíduos, cuja reparação deve ser suportada por essa</p><p>coletividade que se beneficia da ação administrativa. Assim, cabe ao Estado ressarcir o</p><p>particular de eventual prejuízo causado por seus agentes quando no exercício de atividade</p><p>administrativa.</p><p>Segundo Rafael Oliveira (2020, p, 745),</p><p>a compreensão de responsabilização</p><p>do Estado, com base da teoria do</p><p>risco administrativo, está ancorada</p><p>no princípio da repartição dos</p><p>encargos sociais, corolário do</p><p>princípio da isonomia.</p><p>Isso significa que o indivíduo, ainda que inserido</p><p>dentro dessa coletividade que se beneficia da</p><p>atividade administrativa, como medida de isonomia,</p><p>tem direito à reparação caso venha a sofrer danos</p><p>decorrentes da atividade administrativa.</p><p>A teoria do risco administrativo reconhece, no</p><p>entanto, a existência de circunstâncias excludentes</p><p>ou atenuantes do nexo causal por parte do Estado.</p><p>São elas as cláusulas excludentes e atenuantes.</p><p>Cláusulas excludentes e cláusulas atenuantes</p><p>São consideradas causas excludentes da responsabilidade civil: a culpa exclusiva da vítima, o</p><p>fato</p><p>ADMInIStRAtIvO E PRInCÍPIOS</p><p>» Conhecer os princípios que norteiam o exercício das atividades administrativas.</p><p>» Identificar as fontes normativas do Direito Administrativo.</p><p>Direito Administrativo</p><p>Figura 1. Funções estatais.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-vector/concept-law-justice-courthouse-hammer-hits-2117705888. Acesso em: 30</p><p>maio 2023.</p><p>Fundamentos do Direito Administrativo</p><p>Para que possamos compreender adequadamente o conceito de Direito Administrativo, precisamos</p><p>antes conhecer os pilares primordiais sobre o qual a disciplina se assenta na atualidade, quais</p><p>sejam: a submissão do Estado à lei (princípio da legalidade), a limitação do exercício do poder</p><p>estatal por meio da tripartição de Poderes (princípio da separação de Poderes) e a existência de</p><p>direitos fundamentais oponíveis ao Estado (OLIVEIRA, 2020, pp. 1-3).</p><p>A submissão do Estado à lei implica que a ação estatal não poderá ser arbitrária, ou seja, as</p><p>decisões tomadas pelas autoridades estatais e seus agentes devem estar fundamentadas na lei.</p><p>A divisão dos Poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário tem por objetivo a limitação do</p><p>poder estatal pela desconcentração e pelo estabelecimento de mecanismos de controle mútuo</p><p>e pela sociedade civil.</p><p>Conceito de Direito Administrativo</p><p>As atividades exercidas pela Administração Pública são inúmeras: poder de polícia, função</p><p>regulamentar, fomento, serviços públicos, regulação etc. Logo não se revela tarefa fácil trazer</p><p>9</p><p>DIREItO ADMInIStRAtIvO E PRInCÍPIOS • CAPÍTULO 1</p><p>em um único conceito a definição do Direito Administrativo. Na doutrina, encontramos diversas</p><p>definições que o consideram como ramo especializado do Direito Público, com regras e princípios</p><p>próprios, que busca disciplinar: o exercício da função administrativa enquanto conjunto de</p><p>prerrogativas e competências que possibilitam a ação concreta da Administração Pública; seus</p><p>órgãos, entidades e agentes públicos; os serviços públicos e os bens públicos.</p><p>Vejamos a definição de Rafael Oliveira (2020, p. 3): “[o] Direito Administrativo é o ramo do</p><p>Direito Público que tem por objeto as regras e os princípios aplicáveis à atividade administrativa</p><p>preordenada à satisfação dos direitos fundamentais”.</p><p>Princípios do Direito Administrativo</p><p>O universo jurídico é conformado por um sistema complexo de leis, decretos, regulamentos</p><p>etc., que precisam ser interpretados conjuntamente. Nesse contexto, temos os princípios: que</p><p>funcionam como vetores que orientam a interpretação das normas jurídicas e administrativas</p><p>que regem a ação estatal.</p><p>Figura 2. Bússola: instrumento de orientação.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/front-view-woman-using-compass-directions_6100542.htm#query=bussola&position</p><p>=38&from_view=search&track=sph”>Freepik</p><p>de terceiro, a força maior inevitável e o caso fortuito. Essas causas rompem a ligação entre</p><p>a conduta do agente e o dano da vítima, ou demonstram que não existe ligação entre conduta e</p><p>dano, ou seja, qualquer que fosse a conduta do agente, o dano ocorreria.</p><p>Considera-se cláusula atenuante da responsabilidade estatal, a culpa concorrente da vítima,</p><p>quando a vítima, por suas ações, contribui parcialmente para o resultado danoso.</p><p>Importante</p><p>É importante notar que a responsabilidade do Estado independe</p><p>da culpa (conduta negligente, imprudente ou imperita) ou dolo</p><p>(intencionalidade) do agente público, pois se trata de responsabilidade</p><p>objetiva. Desse modo, basta que se verifique a relação entre a ocorrência</p><p>do dano e a conduta (ação ou omissão) do agente público para</p><p>caracterizar a responsabilidade do Estado sobre o evento danoso.</p><p>Saiba mais</p><p>O princípio da isonomia segue a máxima de</p><p>que devemos “tratar igualmente os iguais e</p><p>desigualmente os desiguais, na exata medida de</p><p>suas desigualdades”, ou seja, a Administração não</p><p>pode estabelecer preferências ou distinções entre</p><p>os administrados, contudo, a lei prevê algumas</p><p>hipóteses de tratamento desigual entre pessoas que</p><p>não se encontram na mesma situação</p><p>fático-jurídica.</p><p>Saiba mais</p><p>O nexo causal é a ligação lógica entre a conduta do agente do Estado e o dano experimentado pelo particular. Ou seja, é</p><p>demonstração de que determinado dano não teria ocorrido sem a conduta direta e imediata do agente.</p><p>Assista ao vídeo: Direito com Elas – Responsabilidade Civil: Nexo Causal – Prof.ª Christiane Furck. Disponível em: https://</p><p>www.youtube.com/watch?v=v_f-C3NwVIM.</p><p>75</p><p>OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO • CAPÍTULO 6</p><p>Com relação às excludentes de responsabilidade. temos as seguintes circunstâncias:</p><p>» Culpa exclusiva da vítima – quando o dano experimentado pela vítima não decorre de</p><p>uma conduta (ação ou omissão) direta e imediata do Estado, mas sim de sua própria</p><p>conduta. Ex.: acidente sofrido em via pública por quem atravessa a rua sem observar as</p><p>devidas cautelas. Vejamos a seguinte decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região:</p><p>ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. UNIÃO. EMPRESAS DE</p><p>TRANSPORTE. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO. MORTE.</p><p>ACESSO INDEVIDO À VIA POR PEDESTRE. VEÍCULO DA MARINHA.</p><p>CONDUTOR DO COLETIVO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. AUSÊNCIA</p><p>DE RESPONSABILIDADE IMPUTÁVEL ÀS RÉS. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.</p><p>INDENIZAÇÃO INDEVIDA. 1. [...] 7. Pela dinâmica dos fatos conforme Registro</p><p>de Ocorrência, as imagens de vídeo acostadas e o depoimento do [...], sabe-se</p><p>que a vítima acessou a via em direção à 3ª pista, passando entre um automóvel</p><p>particular e o veículo da Marinha do Brasil, sendo prensada, como já afirmado,</p><p>entre este e o coletivo da linha [...], ou seja, vindo pela parte de trás deste coletivo</p><p>em direção à porta dianteira, não se podendo presumir que o condutor sequer</p><p>a tivesse visto visando embarcar no ônibus. 8. Dessa forma, a prova dos autos</p><p>não permite imputar às rés a responsabilidade pelo acidente, verificando-se, ou</p><p>outro lado, a conduta imprudente da própria vítima ao acessar indevidamente</p><p>a via, conforme bem observou o Juízo a quo na sentença, ao concluir que “a</p><p>prova documental, especialmente a gravação de imagens em DVD, aponta que</p><p>os réus não praticaram nenhum ato ilícito, tendo em vista que o atropelamento</p><p>foi provocado por culpa exclusiva da vítima que circulou entre os veículos</p><p>fora da faixa de pedestre, em local de grande movimentação de veículos”, não</p><p>havendo nexo de causalidade entre a conduta dos réus e o evento danoso.</p><p>Saiba mais</p><p>Vejamos a distinção feita pelo TJDFT, entre culpa exclusiva e culpa concorrente:</p><p>Culpa Exclusiva – é considerada como uma forma de excluir totalmente a responsabilidade</p><p>civil. Muito utilizada por entes como o Estado ou empresas, que respondem pela reparação</p><p>do dano, independentemente da existência de culpa, a não ser que consigam provar que sem</p><p>a conduta praticada pela vítima, o dano não teria ocorrido. Nesse caso, como a culpa pelo</p><p>dano é exclusiva da vítima, a outra parte envolvida fica isenta de repará-lo.</p><p>Culpa Concorrente - seu conceito pode ser extraído do artigo 945 do Código Civil, o qual</p><p>prevê que, quando acontece um evento que causa danos a alguém, a participação da vítima</p><p>deve ser observada para o cálculo de eventual indenização. Assim, havendo culpa de ambas</p><p>as partes, cada uma responde na proporção de sua culpa.</p><p>Saiba mais em: BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). ACS. Culpa exclusiva x culpa</p><p>concorrente. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-</p><p>semanal/culpa-exclusiva-x-culpa-concorrente.</p><p>76</p><p>CAPÍTULO 6 • OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO</p><p>9. Apelação não provida. (TRF2, Apelação, Processo: 201651011319117, RJ, 8ª Turma</p><p>Especializada. Data de Decisão: 31/1/2020. Data de Disponibilização: 7/2/2020).</p><p>» Fato de terceiro – quando o dano é causado por ação de pessoa que não possui vínculo</p><p>jurídico com o Estado. Ex.: “concessionárias de serviços públicos de transporte não são</p><p>responsáveis por danos ocasionados por roubo no interior de seus veículos ou nas suas</p><p>dependências” (OLIVEIRA, 2020, p. 748).</p><p>» Força maior – a força maior decorre de um evento irresistível da natureza. No entanto,</p><p>é importante salientar que a exclusão da responsabilidade somente ocorrerá quando</p><p>o evento for inevitável.</p><p>» Caso fortuito – o fortuito provém de ato humano, imprevisível e inevitável, que impede</p><p>o cumprimento de um dever legal ou contratual. Podemos citar como exemplos a greve</p><p>ou guerra. Assim como na força maior, somente se exclui a responsabilidade no caso</p><p>fortuito quando inevitável.</p><p>Vejamos o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Maranhão acerca da evitabilidade de um</p><p>evento danoso:</p><p>AÇÃO RESCISÓRIA CONTRA SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO</p><p>POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. PRELIMINAR DE DECADÊNCIA REJEITADA.</p><p>FUNDAMENTO NO ART. 485, V, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VIOLAÇÃO</p><p>LITERAL DE DISPOSIÇÃO DE LEI. INUNDAÇÃO DE IMÓVEL EM DECORRÊNCIA</p><p>DE ROMPIMENTO DE AÇUDE CONSTRUÍDO PELA PREFEITURA MUNICIPAL.</p><p>RESPONSABILIDADE OBJETIVA CARACTERIZADA. EXCLUDENTES DA FORÇA</p><p>MAIOR E CASO FORTUITO NÃO COMPROVADOS. SINISTRO PREVISÍVEL. AÇÃO</p><p>RESCISÓRIA PROCEDENTE. DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA RESCINDENDA.</p><p>JUÍZO RESCISÓRIO PROCEDENTE PARA CONDENAR O MUNICÍPIO EM DANOS</p><p>MATERIAIS E MORAIS.</p><p>I – Ação intentada dentro do prazo legal. Preliminar de decadência rejeitada.</p><p>II – Admite a rescisória fundamentada no art. 485, V, do Código de Processo Civil</p><p>quando demonstrada, satisfatoriamente, a alegada violação de literal disposição</p><p>de lei. In casu, restou reconhecida a hipótese de responsabilidade objetiva do</p><p>ente municipal, ficando desconsiderada a argumentação de caso fortuito e</p><p>força maior (art. 393 do CC) a ensejar o dano, dado que a sinistra ocorrência era</p><p>previsível, diante da omissão do poder público em adotar as medidas necessárias</p><p>para evitar o rompimento do reservatório. (TJMA, Ação Rescisória, Processo:</p><p>01807-26.2014.8.10.0000. Órgão julgador: 2ª Câmara Cível)</p><p>No caso acima, a vítimas tiveram sua casa inundada após o rompimento de um açude construído</p><p>pela Prefeitura de determinado município. O acidente poderia ter sido evitado se o município tivesse</p><p>77</p><p>OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO • CAPÍTULO 6</p><p>adotado as medidas de segurança necessárias à manutenção do reservatório. Porque se tratava</p><p>de um fato evitável, não foi possível excluir a responsabilidade do município no caso concreto.</p><p>Acerca da distinção conceitual entre força maior e fortuito, Rafael Oliveira (2020, p. 748) assevera</p><p>que, na prática, o ordenamento jurídico dispensa o mesmo tratamento às duas hipóteses: ambas</p><p>excluem a responsabilidade e não é incomum vê-las aparecendo juntas em decisões judiciais.</p><p>No entanto, em se tratando de fortuito, a doutrina vem produzindo uma distinção entre</p><p>fortuito</p><p>interno e fortuito externo. No fortuito externo, o risco é estranho à atividade desenvolvida.</p><p>No fortuito interno, o risco é inerente à atividade desenvolvida e, portanto, não exclui a</p><p>responsabilidade do Estado.</p><p>Por fim, em situações excepcionalíssimas, o ordenamento jurídico brasileiro adota a teoria do</p><p>risco integral, na qual as cláusulas excludentes de nexo de causalidade acima estudadas não</p><p>são admitidas.</p><p>Oliveira (2020, p. 745) cita como hipóteses em que o Estado assume o risco integral pelas atividades</p><p>desenvolvidas aquelas causadoras de danos ambientais ou ecológicos (art. 225, § 3º, da CF, e</p><p>art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981); danos nucleares (art. 21, XXIII, d, da CF); danos a terceiros no</p><p>caso de atentado terrorista, ato de guerra ou eventos correlatos, contra aeronaves de matrícula</p><p>brasileira operadas por empresas brasileiras de transporte aéreo, excluídas as empresas de táxi</p><p>aéreo (art. 1º da Lei n. 10.744/2003).</p><p>Responsabilidade por ato legislativo e jurisdicional</p><p>A regra geral é que não existe responsabilidade civil do Estado por atos do Legislativo ou do</p><p>Judiciário. No entanto, existem situações excepcionais em que poderá haver responsabilidade</p><p>destes Poderes (OLIVEIRA, 2020). Vejamos:</p><p>Poder Legislativo:</p><p>» leis de efeitos concretos e danos desproporcionais – haverá responsabilidade quando a</p><p>lei promulgada produzir danos concretos desproporcionais a indivíduos determinados;</p><p>» leis inconstitucionais – haverá responsabilidade pelos danos concretos causados a</p><p>indivíduos determinados por lei que posteriormente é declarada inconstitucional pelo</p><p>Poder Judiciário;</p><p>» omissão legislativa – é possível ainda responsabilizar o Estado por omissão quando</p><p>houver demora desproporcional na edição de uma lei. Quando a Constituição estabelece</p><p>um prazo, a mora restará configurada pelo descumprimento do prazo. Quando não há</p><p>prazo estabelecido, a configuração da mora depende de decisão proferida em sede de</p><p>mandado de injunção ou ação direta de inconstitucionalidade por omissão (Oliveira,</p><p>2020, p. 766).</p><p>78</p><p>CAPÍTULO 6 • OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO</p><p>Poder Judiciário:</p><p>» erro judiciário – haverá responsabilidade somente em caso de erro substancial e inescusável;</p><p>» prisão além do tempo estipulado na sentença – acarretará a responsabilidade do Estado;</p><p>» demora na prestação jurisdicional – haverá responsabilidade ante a violação do direito</p><p>fundamental à razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF).</p><p>Reparação do dano</p><p>Segundo a professora Maria Sylvia Di Pietro (2017, p. 560), a reparação de danos causados por agentes</p><p>públicos no exercício de função administrativa poderá ser feito em âmbito administrativo (ou seja,</p><p>sem a necessidade de propositura de ação judicial), desde que a Administração reconheça desde</p><p>logo sua responsabilidade e haja consenso entre esta e a vítima quanto ao valor da indenização.</p><p>Caso não haja acordo entre as partes, a vítima deverá propor ação de indenização em face da</p><p>pessoa jurídica que lhe causou o dano. O Estado possui a prerrogativa de responder pelo dano</p><p>causado por seu proposto e propor ação de regresso contra o preposto causador do dano.</p><p>Direito municipalista brasileiro</p><p>Neste ponto, estudaremos o direito administrativo aplicado aos municípios, por se tratar do ente</p><p>federativo mais próximo do dia a dia da vida do cidadão. Desde a promulgação da Constituição</p><p>Federal de 1988, os municípios foram alçados à posição de entes federativos, dotados de autonomia</p><p>política e administrativa.</p><p>Os municípios exercem sua autonomia por meio da(o): auto-organização que se dá por meio</p><p>de suas leis orgânicas e outras leis municipais criadas por meio de sua atividade legislativa;</p><p>autogoverno, pela eleição do prefeito, vice-prefeito e vereadores; autoadministração, pelo exercício</p><p>de suas competências administrativas e tributárias.</p><p>Figura 29. Administração Pública Municipal.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/complex-aerial-view-city_14481982.htm#query=metropole%20</p><p>brasil&position=0&from_view=search&track=ais”>Freepik</p><p>ao Poder Público e</p><p>à iniciativa privada na construção de espaços urbanos com oferta de serviços públicos essenciais,</p><p>possibilidade de desempenho de atividades econômicas e cuidado com o meio ambiente, a fim</p><p>de garantir a qualidade vida de seus habitantes.</p><p>Saiba mais</p><p>Assista a essa explicação simples e direta sobre a importância e os impactos do Plano Diretor do canal Jornal O</p><p>Popular (2022): “O que é o plano diretor – Desenhar para entender”. Disponível em: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=rFmGPLp32cQ.</p><p>81</p><p>OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO • CAPÍTULO 6</p><p>O plano diretor é aprovado por meio de um processo legislativo precedido de audiências e</p><p>consultas públicas, tratando-se, portanto, de uma lei municipal específica, voltada ao planejamento</p><p>municipal, que leva em conta os anseios da população. Daí ser chamado também de Plano Diretor</p><p>Participativo. Nele são estabelecidas diretrizes para a adequada ocupação de solo urbano, assim</p><p>como os mecanismos de acompanhamento e controle da execução do plano.</p><p>Em momento anterior à aprovação de um plano diretor, vereadores e representantes comunitários,</p><p>devem, por meio de audiências públicas, debater os problemas urbanos, relativos ao desenvolvimento</p><p>e expansão das cidades. Além disso, devem ser garantidos a publicidade e “o acesso de qualquer</p><p>interessado aos documentos e informações produzidos na fase de elaboração do plano” (art. 40, §</p><p>4º, III, da Lei n. 10.257/2001);</p><p>O Estatuto da Cidade determina que, pelo menos, a cada 10 anos, os planos diretores devem</p><p>ser revistos a fim de adaptá-los às mudanças físicas, sociais, econômicas e ambientais que os</p><p>municípios tenham sofrido no decurso do tempo. A revisão deve adotar o mesmo procedimento</p><p>participativo adotado no planejamento do plano diretor.</p><p>Por fim, o Estatuto da Cidade prevê ainda que as cidades sejam geridas de forma democrática, por</p><p>meio de órgãos colegiados de política urbana, abertura de audiências e consultas públicas sobre</p><p>temas de interesse local, promoção de conferências de interesse urbano, além de mecanismos para</p><p>propositura de leis, programas e projetos de desenvolvimento urbano a partir da iniciativa popular.</p><p>Observe a lei</p><p>Vejamos o que diz o Estatuto da Cidade acerca da obrigatoriedade da elaboração do plano diretor:</p><p>Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:</p><p>I – com mais de vinte mil habitantes;</p><p>II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;</p><p>III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4º do</p><p>art. 182 da Constituição Federal;</p><p>IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;</p><p>V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo</p><p>impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.</p><p>VI – incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência</p><p>de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou</p><p>hidrológicos correlatos (BRASIL, 2001).</p><p>Sintetizando</p><p>Vimos neste capítulo:</p><p>» Responsabilidade extracontratual do Estado, também conhecida como responsabilidade civil do Estado, é compreendida</p><p>como a obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de condutas comissivas ou omissivas, materiais</p><p>ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.</p><p>82</p><p>CAPÍTULO 6 • OUtROS MECAnISMOS DE AtUAçãO DO EStADO</p><p>[Fim do SINTETIZANDO]</p><p>» O Estado brasileiro adota como regra geral a teoria do risco administrativo ou também conhecida como teoria da</p><p>responsabilidade civil objetiva, segundo a qual não há necessidade de se comprovar que a conduta do agente ocorreu por</p><p>culpa ou dolo, basta comprovar que ocorreu o dano e o nexo causal com a conduta do agente.</p><p>» São admitidas como cláusulas excludentes e cláusulas atenuantes da responsabilidade civil: o caso fortuito, a força maior,</p><p>culpa exclusiva da vítima e o fato de terceiro. Entendendo-se como força maior um acontecimento imprevisível, inevitável,</p><p>estranho à vontade das partes.</p><p>» Em situações excepcionais, adota-se a teoria do risco integral na qual não se admitem cláusulas excludentes do nexo de</p><p>causalidade.</p><p>» O Estado possui a prerrogativa de responder pelo dano causado por seu proposto e propor ação de regresso contra o</p><p>preposto causador do dano;</p><p>» No âmbito do Direito municipalista brasileiro, podemos afirmar que a Administração municipal tem previsão</p><p>constitucional, autonomia administrativa, prerrogativa legislativa, patrimônio próprio, orçamento e tributação própria.</p><p>» A Administração municipal é composta pelo Poder Executivo, representada pelo prefeito e vice-prefeito.</p><p>» Nos municípios existe também o Poder Legislativo, representado pelas Câmaras de Vereadores ou Câmaras Municipais,</p><p>compostas por vereados em números proporcionais ao número de pessoas do município.</p><p>» Os municípios possuem as seguintes fontes de receitas: as derivadas da arrecadação tributária com a instituição</p><p>e cobrança de impostos, taxas, contribuição de melhoria, contribuição para o custeio da iluminação pública e a</p><p>contribuição previdenciária dos servidores públicos. Possui ainda o repasse de verbas por parte da União e dos Estados em</p><p>função da distribuição de receitas decorrentes de tributos de competência da União e dos Estados. Os municípios recebem</p><p>também compensações financeiras dos fundos de participação e dos royalties.</p><p>» Aos municípios cabem ainda os seguintes serviços: ensino fundamental; saúde; saneamento básico; de trânsito e de</p><p>transporte urbano (alternativo e municipal); licenciamento e fiscalização de obras e atividades comerciais; funerários;</p><p>limpeza urbana; iluminação pública; conservação de vias e áreas públicas; controle de zoonose; assistência social; guarda</p><p>e segurança das vias públicas, das repartições e das instalações municipais.</p><p>» Faz parte do conjunto de atribuições dos municípios a responsabilidade pelo zoneamento urbano que inclui as políticas</p><p>urbanas, a proteção ao meio ambiente e o uso responsável do solo.</p><p>» Plano diretor é um instrumento básico da política local de desenvolvimento urbano, cuja principal finalidade é orientar o</p><p>Poder Público municipal e a iniciativa privada na construção de espaços urbanos que ofertem serviços públicos essenciais</p><p>de modo a assegurar melhores condições de vida aos habitantes de determinado território.</p><p>» O plano diretor é uma lei municipal específica que estabelece diretrizes para a adequada ocupação urbana do município e</p><p>os mecanismos de acompanhamento e controle da execução do plano.</p><p>83</p><p>Referências</p><p>ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2013.</p><p>BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 14. ed., rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal,</p><p>estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a</p><p>responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação popular. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/leis/l4717.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados</p><p>ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá</p><p>outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm.</p><p>Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades</p><p>essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Disponível</p><p>em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM. Acesso em: Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.</p><p>Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Estatuto do Servidores Civis da União. Dispõe sobre o regime jurídico</p><p>dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Disponível em: https://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de</p><p>improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da Constituição Federal; e dá outras providências. Disponível</p><p>em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui</p><p>normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: https://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.745, de 9 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a contratação por tempo determinado para atender a</p><p>necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição Federal, e dá</p><p>outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8745cons.htm. Acesso em 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de</p><p>serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências. Disponível em: https://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987cons.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública</p><p>Federal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição</p><p>Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>84</p><p>REFERênCIAS</p><p>BRASIL. Lei n. 10.593, de 6 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a reestruturação da Carreira Auditoria do Tesouro</p><p>Nacional, que passa a denominar-se Carreira Auditoria da Receita Federal - ARF, e sobre a organização da Carreira</p><p>Auditoria-Fiscal da Previdência Social e da Carreira Auditoria-Fiscal do Trabalho, e dá outras providências. Diponível</p><p>em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10593.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 10.744, de 9 de outubro de 2003. Dispõe sobre a assunção, pela União, de responsabilidades civis perante</p><p>terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, contra aeronaves de matrícula brasileira</p><p>operadas por empresas brasileiras de transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.744.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras</p><p>providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm. Acesso em:</p><p>25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 13.460, de 26 de junho de 2017. Dispõe sobre participação, proteção e defesa dos direitos do usuário</p><p>dos serviços públicos da Administração Pública. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-</p><p>2018/2017/lei/l13460.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n. 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Disponível em: https://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>BRASIL Lei n. 14.230, de 25 de outubro de 2021. Altera a Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre</p><p>improbidade administrativa. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14230.</p><p>htm. Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 33. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2019.</p><p>DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017.</p><p>DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella (Coord.) et al. Licitações e contratos administrativos: inovações da Lei 14.133 de</p><p>abril de 2021. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. E-book.</p><p>DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.</p><p>GUIMARÃES, Patrícia Borba Vilar; ARAÚJO, Douglas da Silva. o direito à cidade no contexto das Smarts Cities: o uso</p><p>das TIC’S na promoção do planejamento URBANO inclusivo no Brasil. Revista de Direito da Cidade, vol. 10, nº 3.</p><p>ISSN 2317-7721 pp. 1788-1812. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/33226.</p><p>Acesso em: 25 jul. 2023.</p><p>MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros,2016.</p><p>MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte geral e parte especial.</p><p>16. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2014.</p><p>MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.</p><p>OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 8. ed. Método, 2020. Edição do Kindle.</p><p>OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Licitações e contratos administrativos: teoria e prática. 10. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Forense, 2021. E-book.</p><p>PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito administrativo descomplicado. 25. ed. Rio de Janeiro: Editora</p><p>Método, 2017.</p><p>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 231, de 5/8/1992. Disponível em: https://</p><p>redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266259. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante n. 13. [s. d.]. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/</p><p>sumariosumulas.asp?base=26&sumula=1227. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante n. 43. [s. d.]. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/</p><p>sumariosumulas.asp?base=26&sumula=2348. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>85</p><p>REFERênCIAS</p><p>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tema 377 – Incidência do teto remuneratório no caso de acumulação de cargos</p><p>públicos. [s. d.]. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?in</p><p>cidente=6083656&numeroProcesso=1306505&classeProcesso=ARE&numeroTema=377. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tema 531 – Desconto nos vencimentos dos servidores públicos dos dias não trabalhados</p><p>em virtude de greve. [s. d.]. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.</p><p>asp?incidente=4255687&numeroProcesso=693456&classeProcesso=RE&numeroTema=531. Acesso em: 8 jul. 2023.</p><p>_Hlk139476077</p><p>_Hlk132857450</p><p>_Hlk132983787</p><p>_Hlk132956644</p><p>_Hlk132987139</p><p>_Hlk132987239</p><p>_Hlk139478356</p><p>_Hlk133004530</p><p>_Hlk133004765</p><p>art9i</p><p>art9ii</p><p>art9iii</p><p>art9iv</p><p>art9iv.0</p><p>art9v</p><p>art9vi</p><p>art9vi.0</p><p>art9vii</p><p>art9vii.0</p><p>art9viii</p><p>art9ix</p><p>art9x</p><p>art9xi</p><p>art9xii</p><p>capituloiisecaoii</p><p>art10</p><p>art10.0</p><p>art10i</p><p>art10i.0</p><p>art10ii</p><p>art10iii</p><p>art10iv</p><p>art10v</p><p>art10vi</p><p>art10vii</p><p>art10viii</p><p>art10viii.</p><p>art10viii.1</p><p>art10ix</p><p>art10x</p><p>art10x.0</p><p>art10xi</p><p>art10xii</p><p>art10xiii</p><p>art10xiv</p><p>art10xv</p><p>art10xvi</p><p>art10xvii</p><p>art10xviii</p><p>art77.xix.0</p><p>art77.xix</p><p>art10xix.1</p><p>art77.xx.0</p><p>art10xxi.</p><p>art10xxi</p><p>art10xxi.0</p><p>art10xxii</p><p>art10§1</p><p>art10§2</p><p>secaoiia</p><p>art10a</p><p>capituloiisecaoiii</p><p>art11</p><p>art11.0</p><p>_Hlk133135230</p><p>_Hlk134740573</p><p>_Hlk139723759</p><p>_Hlk139725081</p><p>_Hlk133136247</p><p>_Hlk133166092</p><p>_Hlk139722580</p><p>Organização do Livro Didático</p><p>Introdução</p><p>Capítulo</p><p>Direito Administrativo</p><p>e Princípios</p><p>Capítulo</p><p>Governo e Administração Pública</p><p>Capítulo</p><p>Atos Administrativos, Poderes Administrativos e o Controle da Administração Pública</p><p>Capítulo</p><p>Agentes públicos e execução</p><p>de serviços públicos</p><p>Capítulo</p><p>Licitações e Contratos Administrativos</p><p>Capítulo</p><p>Outros Mecanismos de Atuação do Estado</p><p>Referências</p><p>eventual conflito entre os interesses públicos e privados, deverá</p><p>ser adotado o princípio da proporcionalidade como técnica ponderativa para se chegar à decisão que permita a realização de</p><p>todos os interesses envolvidos na maior extensão possível.</p><p>12</p><p>CAPÍTULO 1 • DIREItO ADMInIStRAtIvO E PRInCÍPIOS</p><p>e adequado, segundo os meios para atingir os fins previstos em lei (eficiência). Tais princípios</p><p>são aplicados a todos os entes federativos, ou seja, em âmbito nacional, estadual ou municipal,</p><p>aos seus órgãos, entidades ou ao particular que exerça atividade delegada pelo Estado.</p><p>Fontes de Direito Administrativo</p><p>Fonte é onde nasce algo. Para o nosso estudo, podemos entender como fonte o lugar de onde</p><p>exsurge o nosso direito. As fontes do direito são referências em que podemos consultar as leis</p><p>e interpretações dadas à lei que nos ajudam a compreender o que podemos ou não fazer, se</p><p>podemos exigir, ou não, de alguém certo modo de agir.</p><p>Figura 4. Fontes do Direito Administrativo.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>es</p><p>d</p><p>o</p><p>Di</p><p>re</p><p>ito</p><p>Ad</p><p>m</p><p>in</p><p>ist</p><p>ra</p><p>tiv</p><p>o</p><p>Lei</p><p>Constituição Federal</p><p>Lei em sentido estrito</p><p>Atos normativos da</p><p>Administração PúblicaJurisprudência</p><p>Doutrina</p><p>Costumes</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>Nas lições de Maria Helena Diniz (2005, p. 283),</p><p>O termo ‘‘fonte do direito’’ é empregado metaforicamente, pois em sentido</p><p>próprio fonte é a nascente de onde brota uma corrente de água. Justamente por</p><p>ser uma expressão figurativa tem mais de um sentido. ‘‘Fonte jurídica’’ seria a</p><p>origem primária do direito, confundindo-se com o problema da gênese do direito.</p><p>A vida em sociedade exige de cada um de nós o respeito a certas regras de conduta e de convivência,</p><p>que estão estabelecidas em diferentes regramentos, sejam eles leis, decretos ou regulamentos,</p><p>mas que também podem ser parte dos nossos costumes ou ter origem em uma interpretação</p><p>dada pela jurisprudência ou pela doutrina. O Direito Administrativo utiliza como fontes: a lei, a</p><p>doutrina, a jurisprudência e os costumes.</p><p>A lei, função do princípio da legalidade, é a principal fonte do Direito Administrativo. A lei deve</p><p>ser compreendida em sentido amplo, abrangendo: a Constituição Federal; as leis em sentido</p><p>estrito: complementares, ordinárias, delegadas; e os atos normativos da Administração Pública:</p><p>decretos, resoluções e regulamentos.</p><p>13</p><p>DIREItO ADMInIStRAtIvO E PRInCÍPIOS • CAPÍTULO 1</p><p>A doutrina é o conjunto de opiniões e interpretações produzidas pelos juristas: autores reconhecidos</p><p>no campo jurídico.</p><p>A jurisprudência compreende o conjunto de decisões reiteradas produzidas por um tribunal</p><p>acerca de uma matéria específica, que passa a servir de referência para decisões judiciais futuras.</p><p>Os costumes são as práticas da vida cotidiana não previstos em lei, amplamente aceitos e</p><p>reconhecidos, e que, por isso, servem como referência de regra de conduta. Exemplo de costume:</p><p>era o uso de cheques pré-datados para pagamento futuro, quando essa era, na verdade, uma</p><p>ordem de pagamento à vista.</p><p>Ao tratar do costume, a administrativista Di Pietro (2017, p. 107) assevera que,</p><p>no âmbito do Direito Administrativo brasileiro, o costume – como prática reiterada</p><p>da atuação administrativa – tem aplicação praticamente nula. Isso em decorrência</p><p>de vários fatores: de um lado, a constitucionalização do Direito Administrativo, que</p><p>coloca na Constituição o fundamento da maior parte dos institutos desse ramo</p><p>do direito; de outro lado, pela aplicação do princípio da legalidade, entendida</p><p>em sentido amplo (que abrange as leis, os atos normativos da Administração</p><p>Pública, os valores e princípios constitucionais), que obriga a Administração a</p><p>procurar no ordenamento jurídico o fundamento para as suas decisões.</p><p>No entanto, citando Thiago Marrara (2010, pp. 251-252), Di Pietro (2017, p. 117) ressalva que</p><p>a autoridade administrativa deverá levar em consideração os costumes de outros ramos do</p><p>Direito, como, por exemplo, os costumes do Direito Internacional e do Direito Comercial,</p><p>quando a Administração Pública atuar no âmbito dessas matérias, e assim sintetiza: “o costume</p><p>administrativo não é fonte relevante do Direito Administrativo; mas o costume em geral, quando</p><p>aceito como fonte, vincula a Administração Pública na medida em que constitui o bloco normativo</p><p>que rege suas condutas em alguns setores”.</p><p>Sintetizando</p><p>Vimos neste capítulo:</p><p>» Os fundamentos do Direito Administrativo.</p><p>» O Conceito elaborado por Rafael Oliveira (2020, p. 3): “[o] Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que tem por</p><p>objeto as regras e os princípios aplicáveis à atividade administrativa preordenada à satisfação dos direitos fundamentais”.</p><p>» A existência de princípios expressos na Constituição Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e</p><p>eficiência) e princípios implícitos ou reconhecidos (supremacia do interesse público, razoabilidade, proporcionalidade,</p><p>motivação, controle).</p><p>» Fontes do Direito Administrativo: a lei, a doutrina, a jurisprudência e os costumes.</p><p>14</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, aprenderemos que os Estados nacionais são compostos por três elementos:</p><p>povo, território e governo soberano, e que podem se organizar sob diversas formas. Por exemplo,</p><p>podem adotar a forma de governo monárquica ou republicana; quanto à forma de estado,</p><p>pode ser unitário ou uma Federação; quanto ao sistema político, pode ser presidencialista ou</p><p>parlamentar; por fim, no que se refere ao regime político, pode ser uma democracia ou um</p><p>estado totalitário.</p><p>Desde 1988, o Brasil, pela vontade soberana de seu povo, proclamou uma república federativa,</p><p>democrática e presidencialista. Vontade ratificada no plebiscito de 1993 em que se demandava</p><p>que o povo escolhesse entre as formas de governo: monarquia ou república; e entre os sistemas</p><p>políticos: parlamentarismo ou presidencialismo.</p><p>O modo de organização do governo tem impacto no modelo de Administração Pública, que</p><p>devido à adoção do modelo de tripartição de Poderes é de competência do Poder Executivo, órgão</p><p>representado pelo presidente da República, pelos governadores e pelos prefeitos, eleitos a cada</p><p>quatro anos pela vontade da maioria da população, cuja atribuição é organizar e administrar a</p><p>máquina estatal a fim de tornar concreta as promessas constitucionais, ou seja, efetivar direitos</p><p>fundamentais.</p><p>Veremos, por fim, como o poder público exerce suas atividades administrativas, tanto de forma</p><p>direta como de forma indireta.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender a estrutura organizacional do Estado brasileiro.</p><p>» Conhecer as transformações do Estado ao longo da história.</p><p>» Diferenciar os Poderes do Estado e suas respectivas funções.</p><p>» Distinguir Governo e Administração Pública.</p><p>2</p><p>CAPÍTULO</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO</p><p>PÚBLICA</p><p>15</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 2</p><p>Organização do Estado brasileiro</p><p>Estado, Governo e Administração Pública</p><p>O Estado nacional e independente, como conhecemos, é definido como pessoa jurídica territorial</p><p>soberana composta pelos elementos: povo, território e governo soberano. Para o reconhecimento</p><p>de Estado como independente, esses não podem ser dissociados. Desse modo, podemos</p><p>compreender Estado como uma entidade conformada por um povo, em dado território, organizado</p><p>sob a sua vontade livre e soberana.</p><p>Figura 5. Estado: povo, território e governo soberano.</p><p>Estado</p><p>Povo</p><p>Território</p><p>Governo</p><p>soberano</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>Por povo compreendemos todas as pessoas que habitam determinado território, que, por seu</p><p>turno, refere-se a determinada região geográfica onde o povo está fixado e onde há incidência de</p><p>um ordenamento jurídico. Em um Estado democrático, o governo é exercido, em determinado</p><p>território, pela vontade soberana do povo e limitado pelas leis.</p><p>O termo Governo designa o conjunto de Poderes e órgãos designados na Constituição para exercer</p><p>a função política do Estado. Ao Governo compete o papel de desempenhar direção suprema e</p><p>geral do Estado, cuidar para a consecução dos seus objetivos</p><p>expressos em sua Lei Maior, observar</p><p>seus comandos, visando à unidade da soberania estatal. Essa função política do Governo abrange</p><p>atribuições que decorrem diretamente da Constituição e por esta são reguladas.</p><p>A Constituição Federal organiza o Estado por meio de regras que informam o modelo de partilha</p><p>federativa de competência; que definem o modo de partilha tributária; e outras regras extravagantes</p><p>de repartição de competências, disseminadas por todo o texto constitucional, como, por exemplo,</p><p>as que tratam da organização dos Poderes, da defesa do Estado e das instituições democráticas,</p><p>da ordem econômica e financeira, e da ordem social (Moreira Neto, 2014, p.).</p><p>Importante</p><p>Elementos conformadores do Estado: povo, território e governo soberano.</p><p>16</p><p>CAPÍTULO 2 • GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Evolução histórica do Estado</p><p>O conceito moderno de Estado pode ser obtido a partir do estudo do surgimento das civilizações</p><p>e de como podem ter influenciado na constituição da sociedade moderna. A nossa proposta é</p><p>estudar as principais características do Estado antigo (oriental), do Estado grego, do romano, do</p><p>Estado no período medieval, para que, observando as singularidades históricas desses outros</p><p>Estados, possamos compreender o que diferencia a Administração Pública do Estado moderno,</p><p>destacando, assim, as suas particularidades.</p><p>» Estado oriental: tinha a teocracia como elemento central e organizava-se sob a forma</p><p>de monarquia absoluta, com poucos direitos individuais. Ocupavam áreas de grande</p><p>extensão territorial e seus monarcas eram identificados pelo povo como divindades.</p><p>São exemplos: as civilizações egípcia, mesopotâmica, hebraica e persa.</p><p>» Estado grego: a sociedade era constituída por cidadãos livres conhecidos como a polis</p><p>grega, por maetecos (estrangeiros) e por escravos. Os dois últimos não participavam da</p><p>vida política. Na religião, predominava o politeísmo. Adotavam como prática o culto</p><p>aos antepassados. Conseguiu desenvolver com sua polis um tipo de democracia que</p><p>ficou conhecida como democracia grega, na qual somente os cidadãos livres poderiam</p><p>participar das decisões políticas. Ocupava um território pequeno. A cultura grega</p><p>contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do pensamento humano.</p><p>» Estado romano: assim como os gregos, também cultuavam os antepassados. A base</p><p>social era a unidade familiar, formada pelo chefe da família que concentrava todo o</p><p>poder familiar e seus respectivos membros. Havia uma clara separação entre Poder</p><p>Público e o poder privado, exercido pelos chefes de família. Remete a essa época o</p><p>surgimento do Direito Civil com o reconhecimento da propriedade, do casamento, dos</p><p>contratos e das relações comerciais. Durante um longo período da história, o Estado</p><p>romano foi considerado um Estado conquistador, cujo poder político era exercido</p><p>pelo Imperador.</p><p>» Estado medieval: surge a partir do declínio do Império romano e da desintegração do</p><p>seu poder central. É constituído por diversos feudos, cujo poder político é exercido</p><p>pelo senhor feudal. Esse período foi marcado pelo fortalecimento da religião cristã, que</p><p>passou a exercer forte influência política.</p><p>» Estado moderno: a intensificação das trocas comerciais entre os feudos, a necessidade</p><p>de conferir maior segurança à população e outras circunstâncias levaram à necessidade</p><p>de se estipular territórios e constituir a noção de povo, a ser governado sob um poder</p><p>político soberano, único e central, assim surgem o Estado nacional moderno, em que o</p><p>poder político passa a ser uno, concentrado na figura do soberano, ligado diretamente</p><p>ao povo, que se sujeita ao seu poder.</p><p>17</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 2</p><p>O excessivo poder nas mãos dos reis faz surgir a necessidade de desenvolver mecanismos de limitação</p><p>do poder estatal. É nessa época que o Barão de Montesquieu desenvolve a Teoria da Tripartição dos</p><p>Poderes para o fim de separar o poder absoluto do monarca em três e implementar mecanismos</p><p>de controle mútuo e, dessa forma, pôr limites ao poder que vinha sendo exercido de forma abusiva</p><p>pelos monarcas absolutistas. Até então, o rei criava as leis, aplicava e julgava seus súditos de modo</p><p>que não era incomum condutas desviantes que só satisfaziam os interesses do rei e de sua corte.</p><p>Surgem, a partir da teoria de Montesquieu, os três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.</p><p>Poderes do Estado</p><p>A estrutura organizacional do Estado brasileiro está delimitada na nossa Constituição Federal,</p><p>nos seus arts. 1º e 2º:</p><p>Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados</p><p>e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito.</p><p>Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,</p><p>o Executivo e o Judiciário. [grifos das autoras]</p><p>O Estado brasileiro é uma república federativa, ou seja, adota como forma de governo a república,</p><p>cuja legitimidade do poder emana da vontade soberana do povo; e a forma de estado composto</p><p>ou estado federal.</p><p>O Brasil já foi um estado unitário, dividido em províncias, cujo poder político se encontrava</p><p>concentrado no governo central exercido pelo Imperador, que o exercia na capital do Império – o</p><p>Rio de Janeiro. Mas, após a Proclamação da República (1889), na Constituição de 1891, optou-se</p><p>por assumir a forma de estado federal, na qual o poder político é descentralizado, exercido por</p><p>cada estado-membro (ente federativo), nos limites da Constituição.</p><p>Na Constituição de 1988, os municípios são elevados à categoria de ente federativo e passam</p><p>também a ter autonomia na forma da CF/1988, desde quando o Brasil, enquanto um estado federal,</p><p>é constituído pelos seguintes entes federativos: União, Estados, Municípios e Distrito Federal.</p><p>Figura 6. Forma de Estado.</p><p>Es</p><p>ta</p><p>do</p><p>fe</p><p>de</p><p>ra</p><p>l</p><p>União</p><p>Estados</p><p>Municípios</p><p>Distrito Federal</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>18</p><p>CAPÍTULO 2 • GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Os entes federativos são dotados de autonomia política para se:</p><p>» auto-organizar: a partir de uma norma constitutiva (Constituição Federal, Constituições</p><p>estaduais e Leis Orgânicas, no caso de municípios) e competências legislativas próprias;</p><p>» autogovernar: organizando o respectivo governo e elegendo seus representantes;</p><p>» autoadministrar: capacidade para exercer suas competências e prerrogativas</p><p>administrativas.</p><p>Além disso, a fim de evitar a concentração do poder de forma absoluta nas mãos de uma pessoa</p><p>ou de um pequeno grupo de pessoas, a Constituição Federal de 1988 adotou como cláusula</p><p>pétrea – cláusula que não pode ser modificada por emenda constitucional – o princípio da</p><p>separação de Poderes, instituindo, desse modo, três Poderes independentes e harmônicos entre</p><p>si: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.</p><p>Figura 7. Praça dos três Poderes (Brasília/DF).</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/brasilia-brasil-aug-26-2018-planalto-1174688041. Acesso em: 30 mai. 2023.</p><p>Estudaremos a seguir a separação dos Poderes no âmbito da União. No entanto, é importante</p><p>entender que cada ente federativo possui seu próprio poder Executivo, o qual, no âmbito dos</p><p>estados, é exercido pelo governador e pelo prefeito nos municípios; e Poder Legislativo, exercido</p><p>pelos deputados estaduais nas assembleias legislativas dos estados e, no âmbito dos municípios,</p><p>pelos vereadores, nas respectivas câmaras municipais. O Poder Judiciário somente foi atribuído</p><p>à União, aos Estados e ao Distrito Federal.</p><p>Poder Legislativo</p><p>O Poder Legislativo, em âmbito federal, é integrado pela Câmara dos Deputados, formada pelos</p><p>representantes do povo, e pelo Senado Federal que reúne os representantes dos Estados-membros.</p><p>Para a Câmara dos Deputados são eleitos, de forma direta pelos cidadãos de cada Estado-membro,</p><p>representantes de forma proporcional ao número de habitantes, ou seja, os estados mais populosos</p><p>19</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 2</p><p>possuem maior número de Deputados Federais. Para o Senado Federal,</p><p>por sua vez, são eleitos três</p><p>representantes por Estado-membro e três para o Distrito Federal. Observe que o Distrito Federal não</p><p>é um Estado-membro, mas, mesmo assim, seus representantes possuem assento no Senado Federal.</p><p>Figura 8. Congresso nacional.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/brasilia-federal-district-brazil-december-12-1875178732. Acesso em: 30 maio 2023.</p><p>O Poder Legislativo possui como função principal a elaboração</p><p>das leis e atua no sistema bicameral, com uma casa iniciadora</p><p>dos projetos de lei e outra revisora. Outras funções do Poder</p><p>Legislativo são: fiscalizar o Poder Executivo e processar e julgar</p><p>algumas autoridades por crimes de responsabilidade e julgar</p><p>as contas dos demais Poderes.</p><p>Poder Judiciário</p><p>O Poder Judiciário brasileiro é constituído pelos seguintes órgãos: o Supremo Tribunal Federal;</p><p>o Conselho Nacional de Justiça; o Superior Tribunal de Justiça; os Tribunais Regionais Federais</p><p>e Juízes Federais; os Tribunais e Juízes do Trabalho; os Tribunais e Juízes Eleitorais; os Tribunais</p><p>e Juízes Militares; os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.</p><p>Figura 9. Supremo tribunal Federal.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/supreme-federal-court-stf-building-brazil-1410054089. Acesso em: 30 maio 2023.</p><p>Saiba mais</p><p>Saiba mais sobre processo legislativo</p><p>lendo a Constituição Federal, arts. 59 a</p><p>69.Disponível em: www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.</p><p>20</p><p>CAPÍTULO 2 • GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>A função do Poder Judiciário é garantir os direitos fundamentais previstos na Constituição em</p><p>suas vertentes: individuais, coletivos e sociais, assim como resolver conflitos entre cidadãos,</p><p>pessoas jurídicas e Estado. Para bem exercer suas funções, dispõe de independência, autonomia</p><p>administrativa e financeira, todas garantidas pela Constituição Federal.</p><p>Poder Executivo</p><p>O Poder Executivo Federal tem como missão implementar políticas públicas e prestar serviços</p><p>públicos à sua população. É formado por órgãos de Administração direta, como os Ministérios,</p><p>e indireta, como as empresas públicas.</p><p>Figura 10. Palácio do Planalto – sede do Poder Executivo Federal.</p><p>Fonte: www.shutterstock.com/pt/image-photo/brasilia-brazil-november-18-view-palacio-358461044. Acesso em: 30 maio 2023.</p><p>O Poder Executivo federal é exercido pelo presidente da República, que também desempenha as</p><p>funções de chefe de Estado e de Governo, uma vez que o Brasil adota o regime presidencialista.</p><p>O presidente exerce também o comando supremo das Forças Armadas.</p><p>São balizas fundamentais da estrutura do Estado brasileiro (art. 1º da CF – fundamentos da</p><p>República brasileira):</p><p>» soberania;</p><p>» cidadania;</p><p>» dignidade da pessoa humana;</p><p>» valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;</p><p>» pluralismo político.</p><p>São objetivos a serem perseguidos pelo governo em qualquer conjuntura (art. 3º da CF – objetivos</p><p>fundamentais):</p><p>21</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 2</p><p>» construir uma sociedade livre, justa e solidária;</p><p>» garantir o desenvolvimento nacional;</p><p>» erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;</p><p>» promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer</p><p>outras formas de discriminação.</p><p>No que se refere ao esquema da separação de Poderes, um bom exemplo sobre o papel do Poder</p><p>Executivo no funcionamento do sistema de freios e contrapesos, é quando o Poder Executivo indica</p><p>um ministro para o Supremo Tribunal Federal (STF) ou para os demais tribunais superiores, que, por</p><p>sua vez, precisam ser aprovados pelo Senado Federal. Outro exemplo é quando o Poder Executivo</p><p>atua junto ao Legislativo participando da elaboração das leis e sancionando ou vetando projetos.</p><p>Administração Pública</p><p>O exercício da autoadministração compete ao Poder Executivo que o realiza por meio da</p><p>Administração Pública. Para melhor compreensão do que se trata a atividade administrativa do</p><p>Estado, vejamos alguns conceitos.</p><p>Conceitos</p><p>Segundo Moreira Neto (2014, p. 190), a Administração Pública consiste no conjunto de “atividades</p><p>preponderantemente executórias, definidas por lei como funções do Estado, gerindo recursos para a</p><p>realização de objetivos voltados à satisfação de interesses especificamente definidos como públicos”.</p><p>O doutrinador procura articular os elementos: atividades, pessoas, recursos, objetivos e interesses</p><p>para construir o seu conceito de Administração Pública. As atividades correspondem a ações</p><p>como planejar, implementar, verificar e agir. As pessoas são os agentes públicos ou entes de</p><p>qualquer natureza que manifestam a vontade geradora das atividades desenvolvidas. Os recursos</p><p>correspondem aos bens e serviços necessários à realização das atividades. Os objetivos são aquilo</p><p>que se quer produzir de alteração em determinada realidade. Os interesses correspondem à</p><p>finalidade para a qual se propõe a ação pública.</p><p>Rafael Oliveira (2020, p. 68) anota que na doutrina é possível encontrar ao menos três critérios</p><p>para caracterizar a função administrativa:</p><p>» subjetivo ou orgânico: realce do sujeito ou agente da função;</p><p>» objetivo material: examina o conteúdo do ato;</p><p>» objetivo formal: explica a função em razão do regime jurídico em que se situa a sua</p><p>disciplina.</p><p>22</p><p>CAPÍTULO 2 • GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>A partir desses critérios podemos vislumbrar que o estudo da Administração Pública exige</p><p>no mínimo o conhecimento de seus agentes, órgãos da Administração direta e Entidades</p><p>da Administração indireta, suas atividades, as quais, dada a complexidade da sociedade,</p><p>vão se ampliando – exemplos: serviços públicos, poder de polícia, fomento, intervenção</p><p>na ordem econômica etc. – e as regras e princípio atinentes ao regime jurídico de direito</p><p>público.</p><p>Administração Pública direta e Administração Pública indireta</p><p>Figura 11. Administração Pública.</p><p>Administração</p><p>Pública</p><p>Administração</p><p>direta</p><p>União</p><p>Estados</p><p>Municípios</p><p>Distrito Federal</p><p>Por meio de seus</p><p>ministros (União) e</p><p>secretarias (Estados,</p><p>Municípios e Distrito</p><p>Federal)</p><p>Adminisração</p><p>indireta</p><p>Autarquias</p><p>Fundações Públicas</p><p>Empresas Públicas</p><p>Sociedades de Economia</p><p>de Mista</p><p>Obs.: As agências</p><p>reguladoras são</p><p>autarquias de</p><p>regime especial.</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>Para melhor estudar a Administração Pública e seu modo de funcionamento, podemos classificá-</p><p>la em Administração Pública direta e Administração Pública indireta.</p><p>Considera-se Administração Pública direta:</p><p>[...] os entes federativos em si, com suas divisões orgânicas internas, aí incluídos</p><p>os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Ao contrário da Administração</p><p>Pública Indireta, em que há a criação de novas pessoas jurídicas, às quais se</p><p>aplica genericamente a referência “entidades”, a Administração Pública Direta</p><p>se confina na pessoa jurídica federativa (Aragão, 2013, p. 250).</p><p>Já a Administração Pública indireta é:</p><p>Atenção</p><p>A função administrativa não se confunde com a atividade administrativa, a função administrativa corresponde ao conjunto</p><p>de prerrogativas e competências por meio das quais a Administração Pública desempenha suas atividades.</p><p>23</p><p>GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 2</p><p>[...] como dito, constituída por entidades criadas pelas pessoas jurídicas</p><p>federativas e a elas ligadas e utilizadas para a consecução dos seus fins,</p><p>mas que com elas não se confundem, já que constituem de per se pessoas</p><p>jurídicas, dotadas de personalidade jurídica própria, não sendo meras</p><p>divisões orgânicas internas dos entes federativos que as criaram (Aragão, 2013,</p><p>p. 250).</p><p>Compõem a Administração Pública indireta: as autarquias, as empresas públicas, as sociedades</p><p>de economia mista e as fundações públicas.</p><p>Figura 12. Entidades da Administração indireta.</p><p>Autarquia</p><p>• Serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita</p><p>próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram,</p><p>para seu melhor</p><p>funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.</p><p>Empresa</p><p>pública</p><p>• Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio</p><p>próprio e capital exclusivo da União, criada por autorização legislativa para a</p><p>exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer por força</p><p>de contingência ou de conveniência administrativa, podendo revestir-se de</p><p>qualquer das formas admitidas em Direito.</p><p>Sociedade de</p><p>economia</p><p>mista</p><p>• Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por</p><p>autorização legislativa para a exploração de atividade econômica, sob a forma de</p><p>sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à</p><p>União ou a entidade da Administração indireta.</p><p>Fundação</p><p>pública</p><p>• Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,</p><p>criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades</p><p>que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com</p><p>autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de</p><p>direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023), adaptado do art. 5º do Decreto-Lei n. 200/1967.</p><p>No início de nosso capítulo, vimos que governo é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais</p><p>responsáveis pela função política do Estado e agora sabemos que a Administração Pública é a</p><p>personificação do Poder Executivo, cuja atribuição é exercer a função administrativa para, seguindo</p><p>os objetivos de determinado governo, concretizar os fins sociais previstos na Constituição Federal.</p><p>Agora, vejamos a distinção entre governo e administração.</p><p>24</p><p>CAPÍTULO 2 • GOvERnO E ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Quadro 1. Diferenças entre governo e administração.</p><p>Governo Administração</p><p>Sentido formal</p><p>Conjunto de poderes e órgãos</p><p>constitucionais (Poderes Executivo,</p><p>Legislativo e Judiciário).</p><p>Conjunto de órgãos instituídos para a consecução</p><p>dos objetivos do governo.</p><p>Sentido material</p><p>É o complexo de funções estatais</p><p>básicas (legislativa, executiva e</p><p>judiciária).</p><p>Conjunto das funções necessárias aos serviços</p><p>públicos em geral.</p><p>Sentido operacional Condução política dos negócios</p><p>públicos.</p><p>É o desempenho perene e sistemático, legal e</p><p>técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele</p><p>assumidos em benefício da coletividade.</p><p>natureza da atividade Política e discricionária. neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma</p><p>técnica.</p><p>natureza da conduta Independente. Conduta hierarquizada.</p><p>natureza da</p><p>responsabilidade</p><p>Constitucional e política, sem</p><p>responsabilidade profissional pela</p><p>execução.</p><p>técnica e legal pela execução e sem</p><p>responsabilidade constitucional e política.</p><p>natureza das decisões Políticas. A faculdade de opções</p><p>políticas é prerrogativa do governo.</p><p>Instrumentais, ou seja, apenas na área de</p><p>suas atribuições e nos limites legais de sua</p><p>competência executiva.</p><p>Fonte: adaptado de Motta e Barchet (2006, p. 575).</p><p>Sintetizando</p><p>Vimos neste capítulo:</p><p>» O “Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo soberano. Esses</p><p>três elementos são indissociáveis e indispensáveis para noção de um Estado independente: o povo, num território,</p><p>organizado segundo sua livre e soberana vontade” (Paulo; Alexandrino, 2017, p. 15). Os autores destacam como elementos</p><p>caracterizadores do Estado: povo, território e governo soberano.</p><p>» O Brasil adota o modelo de tripartição de Poderes: Poder Legislativo, Poder Judiciário e Poder Executivo.</p><p>» O governo é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado e a Administração</p><p>Pública, dividida em direta e indireta, é o conjunto de órgãos instituídos para a consecução dos objetivos do governo.</p><p>» A Administração Pública direta são os entes federativos em si, com suas divisões orgânicas internas, nela incluídos os</p><p>Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.</p><p>» A Administração Pública indireta é constituída das entidades criadas pelas pessoas jurídicas federativas e a elas ligadas e</p><p>utilizadas para a consecução dos seus fins.</p><p>» Fazem parte do universo da Administração Pública indireta as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de</p><p>economia mista e as fundações públicas.</p><p>25</p><p>Introdução</p><p>O ato administrativo é o mecanismo pelo qual os agentes vinculados à Administração Pública</p><p>ou seus delegatários exteriorizam a sua vontade de modo a produzir efeitos jurídicos cujo fim é</p><p>a satisfação do interesse público. Neste capítulo, estudaremos os aspectos preponderantes dos</p><p>atos administrativos: as premissas essenciais à formulação do seu conceito, suas características</p><p>e espécies, bem como os distinguiremos dos fatos administrativos.</p><p>Veremos também como é exercido o controle sobre a Administração Pública, quem pode exercer</p><p>esse controle, que mecanismos o ordenamento jurídico oferece e sobre que elementos do ato</p><p>administrativo recai o controle. Trata-se de um assunto relevante, pois esse é um importante</p><p>meio de retirar de circulação atos ilegais ou praticados com abuso ao Direito.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender o conceito de ato administrativo e sua relação com as competências</p><p>atribuídas à Administração Pública.</p><p>» Entender as regras e os mecanismos de controle dos atos administrativos.</p><p>» Identificar situações de improbidade administrativa.</p><p>3</p><p>CAPÍTULO</p><p>AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES</p><p>ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA</p><p>ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>26</p><p>CAPÍTULO 3 • AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Ato administrativo</p><p>Figura 13. Manifestação de vontade.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/employee-woman-employment-recruitment-candidate_1073157.</p><p>htm#query=will&from_query=vontade&position=19&from_view=search&track=sph”>Image by katemangostar</p><p>indispensáveis à sua existência ou seriedade;</p><p>» Motivo: são as razões de fato e de direito que justificam o ato administrativo;</p><p>» Objeto: conteúdo do ato administrativo cujo resultado deverá sempre estar de acordo</p><p>com a lei, regulamento ou outro ato normativo.</p><p>Característica e espécies</p><p>» Característica: os atos administrativos podem ser gerais ou individuais. Os atos</p><p>administrativos gerais são editados para destinatários indeterminados ou indetermináveis,</p><p>são considerados atos normativos porque possuem como características abstração</p><p>e generalidade. Já os atos administrativos individuais, por sua vez, destinam-se a</p><p>determinada pessoa ou grupo de pessoas em uma situação jurídica concreta.</p><p>» Espécies: os atos administrativos possuem as seguintes espécies (Meirelles, 2016, p.</p><p>161; Oliveira, 2020, p. 320):</p><p>› atos administrativos normativos;</p><p>› atos administrativos ordinatórios;</p><p>› atos administrativos negociais ou de consentimento;</p><p>› atos administrativos enunciativos;</p><p>› atos administrativos punitivos ou sancionatórios;</p><p>› atos administrativos de controle ou de verificação.</p><p>28</p><p>CAPÍTULO 3 • AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Figura 14. Espécies de atos administrativos.</p><p>Atos normativos</p><p>Comandos gerais e abstratos emanados da Administração</p><p>Pública, cujo objetivo é a fiel execução da lei.</p><p>• decretos, regimentos, resoluções, deliberações</p><p>Atos ordinatórios</p><p>São editados no exercício do poder hierárquico com o objetivo de</p><p>disciplinar as relações internas da Administração Pública.</p><p>• instruções, circulares, avisos, portarias, ordens de serviço,</p><p>ofícios, despachos.</p><p>Atos negociais</p><p>Editados a pedido do particular, viabilizando o exercício de</p><p>determinada atividade e a utilização de bens públicos.</p><p>• licença, permissão, autorização, admissão.</p><p>Atos enunciativos</p><p>Atos que expressam opiniões ou que certificam fatos no âmbito</p><p>da Administração Pública.</p><p>• pareceres, certidões, atestados, apostilas.</p><p>Atos punitivos</p><p>Restringem direitos ou interesses dos administrados que atuam</p><p>em desconformidade com a ordem jurídica.</p><p>• multas, sanções disciplinares, interdições, apreensão e</p><p>destruição de coisas.</p><p>Fonte: adaptado de Rafael Oliveira (2020, p. 320).</p><p>Extinção dos atos administrativos</p><p>Os atos administrativos produzem efeitos jurídicos que um dia cessam em virtude de sua extinção</p><p>ou exaurimento. Vejamos a seguir as causas e formas de extinção dos atos administrativos</p><p>(OLIVEIRA, 2020):</p><p>» Normal ou natural: ato administrativo que se exaure pela consecução de seus efeitos</p><p>ou pelo vencimento do prazo nele estipulado.</p><p>» Extinção subjetiva: o ato se extingue pelo desaparecimento do seu beneficiário.</p><p>» Extinção objetiva: o ato se extingue pelo desaparecimento do objeto da relação jurídica.</p><p>» Extinção por renúncia do particular: manifestação de vontade unilateral do particular.</p><p>» Extinção por recusa do particular: a manifestação do particular ocorre antes da produção</p><p>dos efeitos do ato administrativo.</p><p>» Caducidade: a extinção decorre de alteração legislativa que torna ilegal ato administrativo</p><p>que quando da sua edição era válido.</p><p>29</p><p>AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 3</p><p>» Cassação: a extinção decorre do descumprimento das condições fixadas pela Administração</p><p>ou por ilegalidade superveniente praticada pelo beneficiário do ato.</p><p>» Revogação: ato que somente pode ser praticado pela própria Administração Pública no</p><p>exercício do poder discricionário; destina-se a retirar de circulação atos válidos, legítimos,</p><p>perfeitos, porém que a seu critério tornaram-se inconvenientes ou inoportunos.</p><p>» Anulação: ato praticado quando constatado vício de ilegalidade em um ato administrativo,</p><p>a critério da própria Administração Pública, por meio dos seus mecanismos de controle,</p><p>ou por ordem do Poder Judiciário.</p><p>Ato e fato administrativo</p><p>» Ato administrativo: é a manifestação de vontade que provém do agente público, no</p><p>exercício de função administrativa, em seu âmbito de competência e nos limites da lei</p><p>e da Constituição.</p><p>» Fato administrativo: Carvalho Filho (2019, p. 101) qualifica como “tudo aquilo que retrata</p><p>a alteração da dinâmica na administração, um movimento na ação administrativa”.</p><p>O fato administrativo engloba o ato administrativo, os comportamentos da Administração</p><p>Pública que não decorrem de uma manifestação de vontade de um agente público e um</p><p>eventual fenômeno da natureza.</p><p>Poderes administrativos</p><p>Os poderes administrativos são definidos por Carvalho Filho (2019, p. 68) como: “[c]onjunto de</p><p>prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para</p><p>o fim de permitir que o Estado alcance seus fins”. Ou seja, são os poderes necessários para que</p><p>o agente público possa exercer as atividades administrativas que lhe são designadas por lei.</p><p>Cuidado</p><p>Vejamos as principais diferenças entre anulação e revogação.</p><p>Quadro 2. Anulação x Revogação.</p><p>Tipos de extinção Justificativa Quem pode extinguir Efeitos</p><p>Anulação Ilegalidade do</p><p>ato.</p><p>» Administração</p><p>Judiciário (art. 5º, XXXv).</p><p>Ex tunc</p><p>(a declaração de nulidade retroage seus</p><p>efeitos à origem do ato).</p><p>Revogação</p><p>Razões de</p><p>conveniência e</p><p>oportunidade.</p><p>» Administração</p><p>Ex nunc</p><p>(os efeitos gerados até o momento da</p><p>extinção são considerados válidos).</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras (2023).</p><p>30</p><p>CAPÍTULO 3 • AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Figura 15. Poder.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/strong-superhero_1203589.htm#query=poder&position=1&from_</p><p>view=search&track=sph”>Image by luis_molinero</p><p>regular por meio do qual se vai identificar atos praticados em contrariedade à lei e infrações aos</p><p>princípios da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.</p><p>O controle administrativo é exercido pelos próprios órgãos internos da Administração (controle</p><p>interno), por órgãos externos incumbidos do julgamento das contas da Administração Pública</p><p>(Tribunais de Contas) ou das apurações de irregularidades praticadas no exercício funcional (órgãos</p><p>correcionais).</p><p>Figura 16. Controle.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-vector/game-analytics-concept-illustration_14881243.</p><p>htm#query=controle&position=1&from_view=search&track=sph”>Image by storyset</p><p>do Judiciário atos</p><p>administrativos que sofram de vício de ilegalidade em qualquer um de seus elementos.</p><p>Princípios de controle</p><p>Figura 17. Princípios de controle.</p><p>Controle</p><p>legalida-</p><p>de</p><p>imparcia-</p><p>lidade</p><p>autono-</p><p>mia</p><p>indepen-</p><p>dência</p><p>totalida-</p><p>de</p><p>universa-</p><p>lidade</p><p>Fonte: elaborada pelas autoras (2023).</p><p>35</p><p>AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA • CAPÍTULO 3</p><p>» Princípio da universalidade: todos os gestores públicos estão submetidos a atividade</p><p>controladora.</p><p>» Princípio da totalidade: a totalidade do patrimônio público, representado por dinheiros,</p><p>bens e valores, está submetida ao controle.</p><p>» Princípio da legalidade: a atividade controladora, tal como qualquer outra atividade</p><p>pública, submete-se à lei e à Constituição, não podendo haver controle que exceda</p><p>essas balizas.</p><p>» Princípio da imparcialidade: a atividade de controle deve ser imparcial, não podendo</p><p>haver interferência política. O controle é feito a partir de critérios técnicos e jurídicos.</p><p>» Princípio da autonomia: confere ao controlador a prerrogativa da autonomia</p><p>administrativa.</p><p>» Princípio da independência: o controlador deve ter independência funcional para</p><p>exercer suas funções com autonomia e sem pressões externas de qualquer espécie.</p><p>Responsabilidade profissional e do cidadão</p><p>A Constituição Federal dispõe sobre a obrigação dos agentes públicos quando tomarem ciência</p><p>de qualquer irregularidade ou ilegalidade: “[o]s responsáveis pelo controle interno, ao tomarem</p><p>conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas</p><p>da União, sob pena de responsabilidade solidária.” (CF, art. 74, § 1º).</p><p>Com relação ao cidadão, a Constituição Federal dispõe que “qualquer cidadão, partido político,</p><p>associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou</p><p>ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.” (CF, art. 74, § 2º).</p><p>Funções do controle na Administração Pública</p><p>O controle da Administração Pública visa, em síntese:</p><p>» garantir atuação dos agentes públicos com respeito aos princípios constitucionais da</p><p>Administração Pública, com especial destaque para: legalidade, moralidade, motivação,</p><p>impessoalidade, publicidade, eficiência, supremacia do interesse público sobre o privado,</p><p>indisponibilidade do interesse público, razoabilidade e proporcionalidade;</p><p>» conferir transparência às atividades estatais;</p><p>» informar o povo;</p><p>» prestar contas.</p><p>36</p><p>CAPÍTULO 3 • AtOS ADMInIStRAtIvOS, PODERES ADMInIStRAtIvOS E O COntROLE DA ADMInIStRAçãO PÚBLICA</p><p>Improbidade administrativa</p><p>Figura 18. Perdas de recursos dos cofres públicos.</p><p>Fonte: www.freepik.com/free-photo/worried-businessman-with-sign-decreased-profit_10676634.htm#query=perda%20</p><p>financeira&position=1&from_view=search&track=ais”>Image by gpointstudio</p>

Mais conteúdos dessa disciplina