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<p>by Curso Robortella</p><p>www.apostilasnet.com.br</p><p>CURSO ROBORTELLA</p><p>www.a post ilanet.com.br</p><p>Av. Paulista, n.º 1776 - 11º and.</p><p>Fone: 251-3533</p><p>DIREITO PROCESSUAL CIVIL</p><p>Carreir as do Trabalho</p><p>Prof. Darlan Barroso</p><p>Todos os direitos reservados. 2002. CURSO ROBORTELLA</p><p>Copyright 2002 Design: WLD</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>1 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>DIREITO PROCESSUAL CIVIL</p><p>Carreiras do Trabalho</p><p>DARLAN BARROSO</p><p>Advogado militante, especialista em Direito Processual</p><p>Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo</p><p>– PUC/SP, professor na Universidade Paulista – UNIP,</p><p>Curso Robortella e no Curso Legale. Autor do livro:</p><p>Manual de Direito Processual Civil – teoria geral e</p><p>processo de conhecimento, vol. I, Editora Manole.</p><p>SUMÁRIO</p><p>1. Direito Processual Civil</p><p>2. Ação</p><p>3. Jurisdição</p><p>4. Competência</p><p>5. Atos processuais</p><p>6. Litisconsórcio</p><p>7. Intervenção de terceiros</p><p>8. Petição inicial</p><p>9. Resposta do Réu</p><p>10. Instrução processual</p><p>11. Sentença e coisa julgada</p><p>12. Teoria geral dos recursos</p><p>13. Recursos em espécies</p><p>14. Processo nos Tribunais</p><p>15. Processo de execução</p><p>16. Embargos do devedor</p><p>17. Teoria geral processo cautelar</p><p>18. Mandado de segurança</p><p>19. Ação civil pública e ação popular</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>2 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL</p><p>1.1. Conceito</p><p>Direito Processual Civil compreende o conjunto de normas e princípios que regulam a</p><p>atividade jurisdicional do Estado brasileiro e a relação que se desenvolve entre as partes, seus</p><p>procuradores e os agentes da jurisdição, por meio do processo.</p><p>É importante dizer, também, que o Direito Processual Civil é ciência e ramo do Direito</p><p>Público, concernente à própria atividade do Estado na busca da solução dos conflitos, manutenção do</p><p>império da ordem jurídica, com a imposição da vontade da lei1 ao caso concreto.</p><p>1.2. Evolução do Direito Processual Civil brasileiro</p><p>Com a independência do Brasil, por Decreto imperial determinou-se a aplicação das normas</p><p>portuguesas ao novo país, ou seja, foram mantidas em vigor as Ordenações Filipinas (promulgadas por</p><p>Felipe I, em 1603, baseadas nos direitos romano e canônico).</p><p>Regulamento 737 – com o advento do Código Comercial, isso em 1850, o processo das</p><p>causas comerciais passou a ser disciplinado pelo regulamento 737 (posteriormente o regulamento 763</p><p>estendeu o regulamento 737 às causas civis). O processo segundo os regulamentos foi marcado por</p><p>características de simplicidade, economia e livre apreciação das provas.</p><p>Códigos estaduais – a Constituição de 1891 estabeleceu a distinção entre justiça federal e</p><p>estadual, conferindo aos Estados o poder de editar seus próprios códigos de processo. Ressalte-se</p><p>que a maioria dos códigos dos Estados eram cópias do código federal, com exceção dos Estados da</p><p>Bahia e São Paulo que eram inspirados no código de processo civil moderno europeu.</p><p>Código unitário de 1939 – com a promulgação da Constituição de 1934 foi restabelecido o</p><p>sistema de código “unitário” para toda a república, e em 18 de setembro de 1939 foi editado um novo</p><p>Código de Processo Civil, em parte moderno, segundo influência do código de processo da Itália e</p><p>Alemanha, em parte fiel ao antigo Direito Português.</p><p>Código atual – após trabalho realizado pelos juristas Alfredo Buzaid, José Frederico</p><p>Marques, José Carlos Moreira Alves, entre outros, em 11 de janeiro de 1973 foi promulgado o Código</p><p>de Processo Civil que se encontra em vigor atualmente, seguido de inúmeras “reformas” que</p><p>modificaram bastante o ordenamento original.</p><p>1.2. Princípios</p><p>Como em todo ramo do Direito, o Direito Processual Civil também é regido por princípios,</p><p>alguns previstos na Constituição da República – aplicáveis a todo o ordenamento jurídico,</p><p>especialmente pelo fato de o processo ser uma atividade estatal – e outros princípios internos do</p><p>Processo Civil.</p><p>1.2.1. Princípios constitucionais</p><p>A Constituição da República, ao regular a atividade do Estado e estruturar o Poder</p><p>Judiciário, dispõe sobre os direitos fundamentais dos cidadãos, estabelecendo os seguintes</p><p>princípios aplicáveis ao processo civil:</p><p>1 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, vol. 1, 31ª ed.,</p><p>p. 6, 2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>3 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>a) Princípio da acessibilidade ao Poder Judiciário – art. 5º , XXXV</p><p>“XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou</p><p>ameaça a direito”</p><p>Também conhecido por “princípio do direito de ação”, este texto contém dois</p><p>sentidos fundamentais ao Estado Democrático de Direito: o primeiro proíbe o legislador de</p><p>criar lei que dificulte o acesso ao Poder Judiciário. O segundo quer dizer que todos têm</p><p>direito de movimentar a máquina judiciária para solucionar um conflito de interesses, evitando</p><p>efetivar a lesão ao direito ou, ainda, a sua reparação.</p><p>No texto da Constituição anterior não havia uma menção expressa à defesa contra a</p><p>“ameaça a direito”, mas tão-somente a acessibilidade como forma de reparação ao direito</p><p>lesado (apesar de a jurisprudência entender perfeitamente possível a prevenção).</p><p>Na Carta de 1998, o constituinte houve por bem determinar que é dever do Estado</p><p>evitar a ocorrência de lesão ao direito, e não apenas reparar o direito já lesado; acreditamos</p><p>estar inserido neste dispositivo constitucional o poder geral de cautela dos órgão do Poder</p><p>Judiciário, pelo qual é dever institucional do órgão jurisdicional conferir uma tutela eficaz para</p><p>evitar a lesão do bem jurídico.</p><p>b) Princípio do devido processo legal – art. 5º , LIV</p><p>“LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido</p><p>processo legal”</p><p>Por esse princípio, a Constituição determina que todo ato de privação de liberdade</p><p>ou de constrição de bens (de qualquer espécie de liberdade humana e de bens) apenas</p><p>poderá ocorrer após a regular observância do processo legal, previsto em lei para obter a</p><p>tutela jurisdicional específica à lide.</p><p>O reconhecimento e a satisfação de qualquer direito devem acontecer segundo uma</p><p>estrita observância do processo justo, do modo de agir sobre os litígios de acordo com a lei. O</p><p>detentor do direito não pode utilizar-se de meios estranhos àqueles previstos pela lei para</p><p>fazer valer o seu direito.</p><p>Outro aspecto importante desse princípio repousa também na observância precisa</p><p>do trâmite (procedimento) previsto em lei, sendo defeso ao órgão jurisdicional e às partes a</p><p>modificação ou invenção de ritos, ou seja, o processo deve seguir rigorosamente o</p><p>procedimento previsto pela lei, sob pena de violação do devido processo legal.</p><p>c) Princípio do juiz natural – art. 5º , XXXVII e LIII</p><p>“LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade</p><p>competente”</p><p>“XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção”</p><p>A Constituição determina que os processos apenas serão conduzidos validamente</p><p>pela autoridade competente, que é aquela investida de jurisdição pelo Estado e com</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>4 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>competência para atuar na forma prevista em lei (Constituição Federal, Lei de Organização</p><p>Judiciária e Código de Processo Civil).</p><p>Nesse ponto, é importante lembrar que não basta ao magistrado estar investido de</p><p>jurisdição, mas ele também deve ter recebido competência legal para conduzir o processo</p><p>(competência de juízo e de foro), o que se denomina juiz natural (previsto na lei como</p><p>competente).</p><p>Por outro lado, o texto</p><p>ser parte</p><p>A capacidade de ser parte é inerente à titularidade de direitos e obrigações no</p><p>campo do direito material. Em outras palavras, podemos dizer que toda pessoa, jurídica ou</p><p>física, de Direito Público ou Privado, é sujeito de direitos e obrigações na esfera do direito</p><p>material.</p><p>4.2.2. Capacidade processual</p><p>A capacidade processual consiste na aptidão para a prática de atos da vida civil, ou ainda</p><p>a capacidade para a prática de atos jurídicos conforme previsto no artigo 3º a 5º do atual Código Civil.</p><p>São absolutamente incapazes, portanto deverão ser representadas em juízo, as</p><p>seguintes pessoas (art. 3º do CC):</p><p>a) menores de dezesseis anos;</p><p>b) os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário</p><p>discernimento para a prática de atos da vida civil;</p><p>c) os que, por causa transitória, não puderem externar livremente as declarações de</p><p>vontade.</p><p>25 SANTOS, Moacyr Amaral. Ob. cit., p. 324.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>27 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Por outro lado, são considerados relativamente incapazes (que serão assistidos em</p><p>juízo):</p><p>a) os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos;</p><p>b) os ébrios habituais (pessoas encontrada habitualmente alcoolizada), os viciados em</p><p>tóxicos, os deficientes mentais que tiveram reduzida a sua capacidade de</p><p>discernimento;</p><p>c) os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;</p><p>d) os pródigos (pessoas que dissipam seus bens).</p><p>Por sua vez, em se tratando de pessoa jurídica, para a validade da capacidade</p><p>processual observa-se (art. 12 do CPC):</p><p>• A União, os Estados e o Distrito Federal serão representados por seus procuradores.</p><p>• Os Municípios serão representados por seus prefeitos ou procuradores.</p><p>• A massa falida será representada pelo síndico.</p><p>• A herança jacente ou vacante será representada por seu procurador.</p><p>• O espólio será representado pelo seu inventariante.</p><p>• O condomínio será representado pelo seu administrador (síndico).</p><p>• As pessoas jurídicas serão representadas pela pessoa designada no contrato ou no</p><p>estatuto social.</p><p>• As sociedades sem personalidade jurídica serão representadas pela pessoa a quem</p><p>couber a administração.</p><p>• A pessoa jurídica estrangeira poderá ser representada pelo gerente, representante ou</p><p>administrador no país.</p><p>Ressalte-se que o vício de capacidade processual – incapacidade ou irregularidade de</p><p>representação – quando não possível ser sanado (ou, se intimada, a parte não o sanar), poderá</p><p>acarretar (art. 13 do CPC):</p><p>a) Caso o vício seja no pólo ativo: o juiz decretará a nulidade do processo.</p><p>b) Sendo o vício no pólo passivo: o juiz decretará à revelia.</p><p>c) Ocorrendo o vício em relação ao terceiro: este será excluído do processo.</p><p>Curador especial</p><p>O Código de Processo Civil, em seu artigo 9º, determina que o juiz deverá conferir curador</p><p>especial às seguintes pessoas:</p><p>a) ao incapaz, se não tiver representante ou se os interesses deste colidirem com os</p><p>daquele;</p><p>b) ao réu preso;</p><p>c) ao revel citado por edital ou com hora certa.</p><p>4.2.3. Capacidade postulatória</p><p>Por capacidade postulatória entende-se a aptidão de se dirigir ao órgão jurisdicional</p><p>para requer uma providência ou tutela específica.</p><p>No Brasil, a capacidade postulatória foi conferida, com exclusividade, aos</p><p>advogados – bacharéis em Direito aprovados e, regulamente, inscritos nos quadros da Ordem</p><p>dos Advogados do Brasil – nos termos do artigo 36 do Código de Processo Civil. A advocacia</p><p>é considerada pela Constituição como instituição indispensável a administração da justiça.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>28 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Todavia, temos que ressaltar as seguintes exceções à necessidade de advogado</p><p>para a implementação da capacidade postulatória, ou seja, situações em que a própria parte</p><p>é detentora dessa capacidade, quais sejam:</p><p>a) para a impetração de habeas corpus;</p><p>b) para a pessoa física, na primeira instância dos Juizados Especiais, quando o</p><p>valor da causa não ultrapassar o valor de 20 salários mínimos (para a interposição de recurso</p><p>para os colégios recursais é necessária a presença de advogado);</p><p>c) pelo reclamante, em ação trabalhista;</p><p>d) nas ações de alimentos, o alimentado (aquele que pede os alimentos), poderá</p><p>formular o pedido diretamente no cartório competente, sem a necessidade de advogado.</p><p>Quando exercida por advogado, a prova da capacidade postulatória depende da</p><p>exibição do instrumento de mandato, negócio jurídico pelo qual a parte confere ao advogado</p><p>os poderes para representá-la em juízo. Geralmente o advogado não é admitido no processo</p><p>sem a prova do mandato, todavia, há previsão no artigo 37 e no artigo 5º do Estatuto da</p><p>Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil da possibilidade, em caso de urgência, de o</p><p>advogado atuar sem procuração, protestando pela juntada, no prazo de 15 dias, prazo este</p><p>prorrogável por mais 15 dias mediante decisão do juiz.</p><p>Por outro lado, a legislação processual admite a postulação em causa própria</p><p>quando a parte tiver habilitação para o exercício da advocacia.</p><p>Com relação aos poderes do mandato, podemos classificá-los em:</p><p>• Poderes para o foro em geral – cláusula ad judicia: habilita o advogado para</p><p>praticar todos os atos do processo, com exceção dos poderes especiais.</p><p>• Poderes especiais (devem ser expressos): para receber citação, confessar,</p><p>reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir da ação, renunciar ao</p><p>direito sobre o qual se funda a demanda, receber, dar quitação, firmar</p><p>compromissos e substabelecer.</p><p>Sobre a procuração, inclusive por ser questão enfrentada pelo Superior Tribunal de</p><p>Justiça, surgiu a controvérsia a respeito da necessidade de reconhecer a assinatura do</p><p>outorgante por oficial de registro civil e, também, a forma de instrumento público para as</p><p>procurações outorgadas por menores púberes (16 a 21 anos).</p><p>A controvérsia citada tem origem na redação do artigo 1.289 do Código Civil que</p><p>prevê a obrigatoriedade de se reconhecer a firma do outorgante (§ 3º) e a possibilidade de</p><p>utilizar o instrumento particular apenas por pessoas capazes.</p><p>No entanto, a jurisprudência dominante26 tem firmado entendimento para afastar as</p><p>formalidades do Código Civil, sob o fundamento de que a nova legislação processual e o</p><p>26 “PROCESSO CIVIL. PROCURAÇÃO JUDICIAL. PODERES GERAIS PARA O FORO E ESPECIAIS.</p><p>ART. 38, CPC. RECONHECIMENTO DE FIRMA. DESNECESSIDADE.</p><p>PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL DESTE SUPERIOR TRIBUNAL</p><p>DE JUSTIÇA. RECURSO DESPROVIDO.</p><p>I – O art. 38, CPC, com a redação dada pela Lei n.º 8.952/94, dispensa o reconhecimento de firma nas procurações</p><p>empregadas nos autos do processo, tanto em relação aos poderes gerais para o foro (cláusula ad judicia), quanto</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>29 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil não fazem nenhuma exigência</p><p>quanto à obrigatoriedade de instrumento público e reconhecimento de firma. A legislação</p><p>processual, ao tratar do instrumento de mandato, deve prevalecer sobre o Código Civil por ser</p><p>norma específica e posterior.</p><p>De fato, não se justifica a formalidade exacerbada para o instrumento de mandato,</p><p>vez que a legislação posterior ao Código Civil, ao regulamentar a matéria, não determinou tais</p><p>procedimentos.</p><p>4.2.4. Substituição processual quando da alienação do bem litigioso</p><p>Além da substituição prevista no artigo 6º – legitimação extraordinária – poderá</p><p>ocorrer a alteração do pólo passivo quando da alienação do objeto da demanda.</p><p>Nesse sentido, o artigo 42 do Código de Processo estabelece a regra segundo</p><p>a</p><p>qual a alienação da coisa litigiosa no curso da ação não tem o poder de alterar a legitimidade.</p><p>Como exceção à regra, o próprio artigo 42 autoriza a substituição da parte – para</p><p>a retirada do cedente e inclusão do cessionário – quando houver anuência da parte contrária.</p><p>Não havendo concordância da parte adversa, o cessionário poderá ingressar na</p><p>demanda como assistente litisconsorcial, uma vez que ele tem interesse na causa na</p><p>condição de titular do direito material litigioso.</p><p>Curiosamente, mesmo não havendo a substituição do cedente pelo cessionário,</p><p>ou mesmo que este não seja assistente, estará sujeito aos efeitos do processo27 (sentença),</p><p>conforme dispõe o § 3º do artigo 42.</p><p>em relação aos poderes especiais (et extra) previstos nesse dispositivo. Em outras palavras, a dispensa do</p><p>reconhecimento de firma está autorizada por lei quando a procuração ad judicia et extra é utilizada em autos do</p><p>processo judicial.</p><p>II – A exigência ao advogado do reconhecimento da firma da parte por ele representada, em documento</p><p>processual, quando, ao mesmo tempo, se lhe confia a própria assinatura nas suas manifestações, sem exigência de</p><p>autenticação, importa em prestigiar o formalismo em detrimento da presunção de veracidade que deve nortear a</p><p>prática dos atos processuais e o comportamento dos que atuam em juízo.</p><p>III – A dispensa da autenticação cartorária não apenas valoriza a atuação do advogado como também representa a</p><p>presunção, relativa, de que os sujeitos do processo, notadamente os procuradores, não faltarão com os seus</p><p>deveres funcionais, expressos no próprio Código de Processo Civil, e pelos quais respondem.” (STJ, 4ª Turma,</p><p>RESP 264228/SP, julg. 05/10/2000, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, v.u.).</p><p>“ADVOGADO. PROCURAÇÃO ''AD JUDICIA'' EM QUE FIGURAM COMO OUTORGANTES MENORES</p><p>PÚBERES, COM ASSISTÊNCIA DA MÃE, LAVRADA POR INSTRUMENTO PARTICULAR.</p><p>PRETENDIDA CONTRARIEDADE AO ART. 1.289 DO CÓDIGO CIVIL, POR INOBSERVÂNCIA DA</p><p>EXIGÊNCIA DE INSTRUMENTO PÚBLICO. ALEGAÇÃO REJEITADA ANTE A EXISTÊNCIA DE</p><p>NORMAS ESPECÍFICAS, NÃO RESTRITIVAS, QUANTO AO MANDATO ''AD JUDICIA''. RECURSO</p><p>ESPECIAL PELA LETRA ''A'” NÃO CONHECIDO.” (STJ, 5ª Turma, RESP 25482/SP, julg. 15/03/1993, rel.</p><p>Min. Assis Toledo, v.u.).</p><p>27 “Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a</p><p>legitimidade das partes.</p><p>§ 1º O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que</p><p>consista a parte contrária.</p><p>§ 2º O adquirente ou cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou ao cessionário.</p><p>§ 3º A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>30 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Substituição por morte da parte</p><p>A morte da parte tem o poder de modificar a legitimidade da causa. O falecimento da parte</p><p>transfere a titularidade do direito material ao seu espólio, salvo se a ação versar sobre direito</p><p>personalíssimo, conforme artigo 267, inciso IX, do Código de Processo Civil.</p><p>4.2.5. Pressupostos processuais referentes ao órgão jurisdicional</p><p>Em relação ao órgão jurisdicional, são pressupostos processuais:</p><p>a) investidura</p><p>b) competência funcional (em razão da matéria, hierarquia ou pessoa que</p><p>ocupa um dos pólos da ação).</p><p>c) imparcialidade: inexistência de impedimento ou suspeição</p><p>Ao tratarmos do tema jurisdição, verificamos que apenas o Estado é que</p><p>detém poder para o processamento e a emissão de tutelas sobre conflitos,</p><p>conseqüentemente, o processo apenas terá validade quando proposto perante órgão</p><p>investido de poder jurisdicional pelo Estado – princípio do juiz natural.</p><p>Não basta que o órgão tenha jurisdição, mas ele deverá, também, ser</p><p>competente para processar e julgar a causa, lembrando que ninguém será julgado ou</p><p>processado senão pela autoridade competente.</p><p>Além disso, o órgão jurisdicional competente deve estar absolutamente</p><p>isento de qualquer interesse no objeto da lide, a pessoa do magistrado deve ser imparcial em</p><p>relação à ação.</p><p>A imparcialidade deixa de existir quando o magistrado está impedido ou é</p><p>suspeito, nos termos estabelecidos nos artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil.</p><p>Observando-se que o impedimento é vício insanável do processo, e que acarreta a sua</p><p>nulidade, podendo ser alegado a qualquer momento e inclusive por meio de ação rescisória;</p><p>o mesmo não ocorre com a suspeição que, se não for alegada oportunamente pela parte</p><p>interessada, o vício será considerado sanado e a imparcialidade será considerada inexistente.</p><p>4.2.6. Pressupostos objetivos</p><p>Inexistência de fatos impeditivos</p><p>O próprio ordenamento processual, em seu artigo 267 e incisos, determinou</p><p>as hipóteses em que o processo não tem condições de ter o seu mérito apreciado,</p><p>consistindo em fatos impeditivos o desenvolvimento regular do feito, sendo:</p><p>a) Litispendência (art. 301, V): quando é proposta ação idêntica a outra que</p><p>ainda se encontra em curso.</p><p>b) Coisa julgada: efeito inerente às sentenças de mérito que impedem a</p><p>reapreciação da lide já decidida definitivamente.</p><p>c) Transação: constitui o acordo, formalizado fora do processo, com a</p><p>finalidade de prevenir litígio.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>31 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>d) Compromisso: representa a cláusula contratual que determina a</p><p>submissão de eventual litígio a um árbitro, com exclusão da atividade do</p><p>Poder Judiciário.</p><p>e) Perempção: propositura de ação que já havia sido extinta, por três</p><p>vezes, em decorrência da inércia28 da parte em dar andamento aos</p><p>processos anteriores.</p><p>f) Falta de pagamento das custas previstas no art. 267, inciso V: quando</p><p>uma ação termina sem o julgamento do mérito, a parte apenas poderá</p><p>intentar nova ação depois do pagamento das custas da ação anterior.</p><p>Por outro lado, existem pressupostos intrínsecos à própria relação jurídica</p><p>processual, em especial, relacionados com a observância do devido processo legal:</p><p>a) Petição inicial apta: o processo apenas pode se desenvolver quando o</p><p>autor elaborou sua petição inicial com observância dos requisitos legais</p><p>– genéricos previstos no artigo 282 e específicos para as ações</p><p>especiais.</p><p>b) Citação válida: a relação jurídica processual apenas passa a existir</p><p>quando o réu é chamado a integrá-la, sem a citação o processo não</p><p>existe.</p><p>c) Procedimento legal29: a validade do processo depende da regular</p><p>observância dos procedimentos previstos em lei, sendo vedado ao</p><p>magistrado e partes a criação de um modus operandi diverso daquele</p><p>fixado pela lei. O devido processo legal é garantia constitucional de que</p><p>o processo se desenvolve, unicamente, segundo o rito previsto em lei.</p><p>A inexistência de pressupostos processuais é causa de nulidade do</p><p>processo e de sua extinção sem julgamento do mérito, conforme determina o artigo 267,</p><p>inciso IV, devendo o juiz reconhecer de ofício, em qualquer grau de jurisdição, o defeito que</p><p>impede o julgamento e processamento do feito.</p><p>4.3. Procedimento</p><p>O procedimento não se confunde com o processo, vez que, enquanto este constitui</p><p>o instrumento do Estado para a prestação da tutela jurisdicional, aquele caracteriza o rito pelo</p><p>qual os atos processuais serão praticados dentro do processo, dentro de uma seqüência</p><p>lógica (um ato praticado após outro em ordem prevista na lei).</p><p>O procedimento caracteriza o modo e a forma para a prática dos atos processuais</p><p>dentro do processo30.</p><p>28 A extinção do processo em razão por outras causas previstas no art. 267 não enseja</p><p>a perempção, que apenas</p><p>ocorre se o processo tiver sido extinto, por três vezes, em razão da inércia da parte autora. A inércia do réu não</p><p>gera perempção.</p><p>29 É muito comum o fato de alguns magistrados determinarem a realização de atos processuais não existentes na</p><p>lei e fora do momento processual adequado. Já vimos casos em que, para a apreciação de pedido de liminar – isto</p><p>antes da citação e apresentação de contestação – o magistrado determinou a apresentação de defesa prévia,</p><p>obviamente este ato processual não existe no procedimento do processo civil (ele criou um rito).</p><p>30 THEODORO JR., Humberto, op. cit. p. 292.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>32 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, o rito ou procedimento poderá ser:</p><p>a) ordinário ou comum;</p><p>b) sumário;</p><p>c) especial.</p><p>4.3.1. Rito ordinário</p><p>No processo de conhecimento o rito ordinário constitui o procedimento comum, ou</p><p>seja, a regra geral que se aplica para todas as causas que não foram submetidas ao rito</p><p>especial ou sumário.</p><p>O procedimento ordinário é constituído pelas seguintes fases e atos principais:</p><p>a) fase postulatória: petição inicial, despacho inicial (recebimento, emenda da</p><p>petição inicial ou extinção liminar), citação e defesa do réu;</p><p>b) fase saneadora: verificação dos pressupostos processuais, extinção do</p><p>processo sem julgamento do mérito, julgamento antecipado, especificação das</p><p>provas;</p><p>c) fase de tentativa de conciliação: antes do início da produção de provas, em se</p><p>tratando de direitos disponíveis, é realizada audiência para tentativa de</p><p>conciliação (art. 331 do CPC);</p><p>d) fase instrutória: fase da dilação probatória, momento da colheita de provas,</p><p>audiência de instrução: oitiva das partes em depoimento pessoal ou</p><p>interrogatório, oitiva de testemunhas ou dos esclarecimentos dos expertos.</p><p>e) fase decisória: após o encerramento da instrução o juiz proferirá sentença;</p><p>f) fase recursal: a parte sucumbente poderá interpor recurso próprio. Com o</p><p>esgotamento dos recursos haverá o trânsito em julgado.</p><p>4.3.2. Rito sumário</p><p>O procedimento sumário, em tese mais célere do que o procedimento ordinário,</p><p>tem previsão no artigo 275 do Código de Processo Civil, delimitando o seu cabimento em</p><p>razão do valor da causa ou da matéria.</p><p>O rito sumário é caracterizado pela concentração de atos processuais (por</p><p>exemplo, a contestação é apresentada na audiência apenas após frustrada a tentativa de</p><p>conciliação, as provas devem ser requeridas e especificadas na própria petição e</p><p>contestação, sob pena de preclusão).</p><p>4.3.2.1. Hipóteses de cabimento do rito sumário</p><p>Em razão do valor da causa</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>33 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O rito sumário é aplicável às causas cujo valor não exceder 60 (sessenta) vezes o</p><p>maior salário mínimo vigente no país, nos termos do artigo 275, inciso I, do Código de</p><p>Processo Civil, observando-se que este dispositivo foi alterado31 pela Lei n.º 10.444/02.</p><p>Em razão da matéria</p><p>Por outro lado, também se aplica o procedimento sumário, seja qual for o valor, às</p><p>seguintes causas:</p><p>a) de arrendamento rural e parceria agrícola;</p><p>b) de cobrança de quaisquer quantias devidas a condomínio;</p><p>c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;</p><p>d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;</p><p>e) de cobrança de seguro relativos aos danos causados em acidente de veículos;</p><p>f) de cobrança de honorários profissionais liberais, ressalvado o disposto em</p><p>legislação especial;</p><p>g) nos demais casos previstos em lei – acidente do trabalho, adjudicação</p><p>compulsória, ação do representante comercial autônomo contra a</p><p>representado (Lei n.º 6.194/74, artigo 10), ação de retificação de registro</p><p>público.</p><p>O rito sumário não é aplicável, ainda que nas causas cujo valor não exceda 60</p><p>salários mínimos, quando a ação versar sobre estado ou capacidade das pessoas (art. 275,</p><p>parágrafo único).</p><p>É importante consignar que a competência para cobranças não substitui nem</p><p>exclui a ação de execução quando o credor detiver título executivo, ou seja, o procedimento</p><p>sumário apenas será utilizado nas hipóteses de cobrança quando não for possível a</p><p>propositura de execução.</p><p>Além disso, nota-se que as hipóteses previstas no artigo 275 são absolutamente</p><p>exaustivas, não admitindo, salvo por expressa determinação legal, a utilização do</p><p>procedimento sumário.</p><p>A jurisprudência tem firmado entendimento de que a escolha do rito errado –</p><p>ordinário ao invés de sumário – não gera vício no processo porque não prejudica a defesa do</p><p>demandado.</p><p>Neste mesmo sentido, existem decisões que afirmam ser possível a conversão do</p><p>procedimento sumário para o ordinário, desde que não exista prejuízo para a parte adversa.</p><p>31 Na redação anterior o rito sumário era cabível nas causas até 20 salários mínimos.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>34 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>De fato, parece-nos que a atividade jurisdicional e seus instrumentos – processo e</p><p>procedimento – são questões de natureza pública, não estando à disposição das partes32.</p><p>Portanto, havendo erro na escolha do rito – flagrante contrariedade ao artigo 275 – deve o</p><p>magistrado, de ofício, determinar a conversão do rito procedimental.</p><p>4.3.2.2. Resumo do procedimento sumário</p><p>• petição inicial deverá ser instruída com o rol de testemunhas, requerimento de</p><p>perícia, indicação de quesitos e assistente técnico. No procedimento sumário</p><p>não se admite o requerimento genérico de provas como realizado no rito</p><p>ordinário, na própria petição inicial (pelo autor) ou contestação pelo réu deverá</p><p>haver a especificação das provas, sob pena de preclusão, considerando que</p><p>não haverá no futuro momento para isso;</p><p>• o juiz designará audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias,</p><p>citando-se o réu com antecedência mínima de 10 dias;</p><p>• o réu deverá comparecer na audiência de conciliação sob pena de revelia;</p><p>• não havendo conciliação será apresentada defesa;</p><p>• as partes deverão comparecer pessoalmente em audiência de conciliação,</p><p>podendo haver representação com poderes especiais para transigir;</p><p>• não havendo conciliação o juiz decidirá os incidentes processuais –</p><p>impugnação ao valor da causa ou controvérsia acerca da natureza da</p><p>demanda –, podendo, inclusive, determinar a conversão do rito se for o caso;</p><p>• havendo necessidade de prova técnica de maior complexidade o juiz poderá</p><p>determinar a conversão do rito;</p><p>• o réu poderá formular pedido em sua contestação (pedido contraposto), não</p><p>sendo admitida apresentação de reconvenção;</p><p>• não se admite no procedimento sumário ação declaratória incidental e a</p><p>intervenção de terceiros, salvo a intervenção por assistência, recurso de</p><p>terceiro prejudicado, ou, ainda, a intervenção de terceiro fundada em contrato</p><p>de seguro, nos termos introduzidos pela Lei n.º 10.444/02 (como por exemplo</p><p>a denunciação da lide, art. 70, III do CPC);</p><p>Na redação antiga do art. 280, anterior à Lei 10.444/01, determinava-se o</p><p>cabimento exclusivo do agravo retido contra as decisões preferidas em audiência ou</p><p>sobre matéria probatória. No entanto, com a reforma, tal previsão passou a ser</p><p>expressa no art. § 4º do art. 523 do CPC, prevendo a obrigatoriedade apenas para as</p><p>decisões preferidas em audiência de instrução ou aquelas posteriores à sentença, com</p><p>a indicação de casos de exceções.</p><p>32 NERY JR., Nelson. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2ª ed.,</p><p>p.703, 1997: “Conversão de rito. VI ENTA 51: ‘O procedimento não fica à escolha da parte, devendo o juiz</p><p>determinar</p><p>a conversão quando possível. Contudo, em se tratando de causa na qual o procedimento sumaríssimo</p><p>seria o adequado, não se deve decretar a nulidade se foi observado o procedimento ordinário. (CPC, arts. 244 e</p><p>250, parágrafo)’.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>35 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Esquema dos procedimentos</p><p>SUMÁRIO</p><p>Petição inicial</p><p>Citação do réu para</p><p>comparecer em audiência</p><p>de conciliação</p><p>Audiência de conciliação</p><p>Realizado acordo</p><p>Sentença</p><p>homologatória</p><p>Tentativa de conciliação</p><p>frustrada</p><p>Apresentação da</p><p>contestação em audiência</p><p>Conversão do rito para</p><p>ordinário (para perícia</p><p>complexa)</p><p>Juiz resolve questões</p><p>incidentes e determina provas</p><p>Julgamento</p><p>antecipado</p><p>Audiência de instrução e</p><p>julgamento</p><p>Sentença em 10 dias</p><p>Recurso de apelação ou</p><p>embargos declaratórios</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>36 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>ORDINÁRIO</p><p>Petição inicial</p><p>(art. 282)</p><p>Indeferimento da</p><p>inicial</p><p>Deferimento da inicial.</p><p>Determinação para</p><p>citação do réu.</p><p>Determinação da</p><p>emenda da inicial</p><p>Emenda aceita.</p><p>Determinação de</p><p>citação do réu</p><p>Emenda rejeitada</p><p>Citação do</p><p>réu</p><p>Réu não responde Apresentação de resposta:</p><p>contestação, exceção ou reconvenção</p><p>Revelia Não há efeito da</p><p>revelia</p><p>Saneamento e providências</p><p>preliminares</p><p>Especificação das provas</p><p>Audiência preliminar - 331</p><p>Instrução: prova pericial, audiência</p><p>para colheita de provas orais, etc.</p><p>SENTENÇA</p><p>Recursos</p><p>Transito em julgado</p><p>Julgamento</p><p>antecipado</p><p>Julgamento</p><p>antecipado</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>37 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Elementos da relação jurídica processual</p><p>a) partes</p><p>Elementos subjetivos b) terceiros</p><p>d) órgão jurisdicional</p><p>(magistrados e auxiliares da Justiça)</p><p>e) Ministério Público – arts. 81 e 82</p><p>Processo</p><p>a) mérito (da pretensão do autor e defesa</p><p>do réu)</p><p>Elementos objetivos</p><p>b) atos processuais (das partes, do juiz e</p><p>dos serventuários – instrução da causa).</p><p>Nos próximos capítulos trataremos de cada elemento do processo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>38 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>5. PARTES – LITISCONSÓRCIO</p><p>O litisconsórcio caracteriza a existência de mais de uma pessoa em um ou em</p><p>ambos os pólos da ação; trata-se de cumulação subjetiva de ações.</p><p>O fenômeno processual do litisconsórcio ocorre em razão da natureza da lide que</p><p>contém mais de um sujeito titular ou vinculado ao direito material objeto da lide. Assim, se o</p><p>direito material reclamado pertence a mais de uma pessoa, poderá o pólo ativo da ação ser</p><p>ocupado por todos os seus titulares, ou, ainda, sendo mais de uma pessoa obrigada a</p><p>satisfazer o direito em discussão, teremos a pluralidade no pólo passivo.</p><p>5.1. Espécies de litisconsórcio</p><p>5.1.1. Em relação aos pólos da ação: litisconsórcio ativo e passivo</p><p>a) Litisconsórcio ativo: quando existir mais de um autor;</p><p>b) Litisconsórcio passivo: quando existir mais de um réu.</p><p>5.1.2. Em relação ao momento processual: litisconsórcio inicial e incidental</p><p>Além disso, o litisconsórcio é classificado em:</p><p>a) Inicial: é aquele que se verifica desde a propositura da ação – pluralidade de</p><p>partes constantes na própria petição inicial;</p><p>b) Incidental: quando se manifesta no processo depois que a relação jurídica</p><p>processual já está formada devido a fato posterior à propositura da ação,</p><p>como, por exemplo, a admissão de um terceiro na relação processual.</p><p>5.1.3. Em relação à lide: litisconsórcio necessário e facultativo</p><p>Em relação à obrigatoriedade de existência – ou pelo poder das partes em recusar</p><p>a formação da pluralidade – classifica-se em:</p><p>a) Necessário: quando a pluralidade em um dos pólos é obrigatória, não</p><p>podendo qualquer uma das partes dispensar a formação do litisconsórcio.</p><p>São os casos previstos no artigo 10 do Código de Processo Civil. Por exemplo:</p><p>se alguém pretender mover ação para discutir direito real (de imóvel), deverá</p><p>indicar para o pólo passivo da ação ambos os cônjuges, ou seja, é obrigatória a</p><p>citação do marido e da mulher para figurarem no pólo passivo da demanda.</p><p>Outra hipótese de litisconsórcio necessário ocorre nas ações rescisórias, já que</p><p>todas as pessoas que figuraram na ação, cuja sentença é objeto de rescisão,</p><p>obrigatoriamente devem figurar na ação rescisória, como autores ou réus,</p><p>dependendo de seus interesses ou iniciativa na propositura da demanda.</p><p>Em se tratando de litisconsórcio necessário, a pluralidade de partes constitui</p><p>requisito de existência da relação jurídica processual, ou seja, para que o processo se forme</p><p>validamente é preciso que todos os litisconsortes sejam citados. A falta da formação do</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>39 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>litisconsorte necessário acarreta nulidade do processo, de natureza insanável, cuja sentença</p><p>é ineficaz33.</p><p>b) Facultativo: é estabelecido pela vontade do autor, que decide se pretende</p><p>propor a ação apenas contra uma pessoa ou contra todas as outras que</p><p>também fazem parte da mesma relação jurídica material. Por exemplo: em se</p><p>tratando de uma obrigação solidária, o credor poderá propor ação contra</p><p>qualquer um dos co-devedores, ou contra todos, dependendo da escolha da</p><p>conveniência e oportunidade.</p><p>5.1.4. Em relação aos efeitos do provimento: litisconsórcio unitário e simples</p><p>a) Unitário: ocorre quando é proferida uma sentença uniforme para todos os</p><p>litisconsortes. Por exemplo: todos os réus são condenados de forma idêntica.</p><p>b) Simples: quando a natureza da lide admitir que seja proferida sentença</p><p>diferente entre os diferentes litisconsortes. Em outras palavras, o</p><p>litisconsórcio simples é aquele em que o juiz pode decidir de modo distinto</p><p>para cada pessoa que integra o pólo. Por exemplo: um réu pode ser</p><p>condenado ao pagamento de determinada quantia, e o outro pode ser</p><p>condenado a uma obrigação de fazer ou não fazer – neste caso, os efeitos da</p><p>sentença não são, necessariamente, idênticos a todas as pessoas que</p><p>integram o pólo da ação.</p><p>5.2. Hipótese de cabimento do litisconsórcio</p><p>É a própria legislação processual, em seu artigo 46, que determina as hipóteses</p><p>de ocorrência de litisconsórcio:</p><p>"Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo</p><p>processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:</p><p>I – entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações</p><p>relativamente à lide;</p><p>II – os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo</p><p>fundamento de fato ou de direito;</p><p>III – entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela</p><p>causa de pedir.</p><p>IV — ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de</p><p>fato ou de direito."</p><p>3 3 "PROCESSUAL CIVIL – ANULAÇÃO DE AÇÃO DEMOLITÓRIA – POR FALTA DE CITAÇÃO</p><p>DOS LITISCONSORTES NECESSÁRIOS – NÃO FORMAÇÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL VÁLIDA</p><p>– POSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO – NULIDADE PLENO IURE. INTERESSE – RECURSO PROVIDO.</p><p>I – Os condôminos do imóvel têm manifesto interesse na ação que pretende a demolição do bem, principalmente</p><p>se a sentença, nessa ação, fixa a obrigação de destruir o imóvel do qual todos detêm a propriedade.</p><p>II – A nulidade pleno iure deve ser apreciada pelo órgão julgador mesmo de ofício, não se sujeitando à coisa</p><p>julgada, como ocorre na ausência de citação, salvo eventual suprimento,</p><p>comunicando-se aos atos subseqüentes.</p><p>III – A citação, como ato essencial ao devido processo legal, à garantia e segurança do processo como</p><p>instrumento de jurisdição, deve observar os requisitos legais, pena de nulidade quando não suprido o vício, o</p><p>qual deve ser apreciado em qualquer época ou via." (STJ, 4º Turma, resp. n.º 147769/SP, Min. rel. Sálvio de</p><p>Figueiredo Teixeira, julg. 23/11/99, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>40 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A comunhão de direitos prevista no inciso I refere-se à comunhão de direitos ou</p><p>obrigações no plano do direito material. Como citamos, nos casos de devedores solidários,</p><p>cônjuges proprietários de imóvel ou condomínio da propriedade de imóvel, a titularidade do</p><p>direito material pertence a mais de uma pessoa, justificando assim a permanência de todos</p><p>na ação.</p><p>Na hipótese do inciso II, há pluralidade de parte em razão da identidade do fato ou</p><p>direito em relação às diversas pessoas envolvidas. A esse respeito, citamos o exemplo da</p><p>ação proposta objetivando indenização por ato ilícito ocasionado por mais de um indivíduo.</p><p>Se várias foram as vítimas, elas poderão propor ações autônomas ou uma única demanda</p><p>em que figurarão como autoras. E, ainda, caso o ato tenha sido ocasionado por mais de uma</p><p>pessoa, poderá ser proposta uma única ação contra todos os agressores, na qual serão réus.</p><p>A possibilidade de conexão de ações também pode gerar o litisconsórcio. Neste</p><p>caso, prevendo o autor que, caso proponha ações autônomas, estas serão reunidas por</p><p>conexão (por haver identidade de pedido e causa de pedir), poderá utilizar-se do</p><p>litisconsórcio. Na realidade, o inciso III é mera repetição do previsto no inciso II.</p><p>No inciso IV há previsão de litisconsórcio por afinidade de questão por um ponto</p><p>comum, de fato ou de direito. É o caso, por exemplo, de diversos contribuintes que pagaram</p><p>um tributo ilegal, logo, para cada um há um fato jurídico autônomo, mas todos estão ligados</p><p>pela ilegalidade do tributo cobrado. Assim, como medida de economia processual, em</p><p>conjunto, eles poderiam propor uma única ação contra a Fazenda.</p><p>5.3. Posição dos litisconsortes no processo</p><p>O artigo 48 do Código de Processo Civil, como regra, determina que os</p><p>litisconsortes sejam considerados, em relação à parte contrária, litigantes distintos, e entre si,</p><p>os atos e as omissões de um não prejudicarão os demais. Além disso, o artigo 350 do</p><p>CPC,determina que a confissão de um litisconsorte não prejudica os outros.</p><p>No entanto, a própria lei estipula algumas exceções:</p><p>• Recursos: a interposição de um recurso por um dos litisconsortes é</p><p>aproveitada por todos os outros – art. 509 do CPC.</p><p>• Efeitos da revelia: não há efeito da revelia quando, havendo pluralidade de</p><p>partes, algum dos réus apresentar contestação – art. 320, I, do CPC.</p><p>Para a prática de atos processuais, os litisconsortes são tidos como partes</p><p>autônomas na relação jurídica, devendo ser intimados individualmente para a prática de atos;</p><p>os prazos serão contados em dobro quando os litisconsortes tiverem procuradores diferentes</p><p>(art. 191).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>41 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>6. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS</p><p>A intervenção de terceiros consiste na ampliação ou modificação dos elementos</p><p>subjetivos que integravam a relação processual originária, com o ingresso de pessoa que não</p><p>figurava na ação no momento em que ela foi proposta.</p><p>Com o ingresso do terceiro no processo forma-se uma nova relação jurídica</p><p>processual – secundária –, absolutamente autônoma e independente da relação originária no</p><p>momento da propositura da ação.</p><p>O sistema processual brasileiro admite as seguintes espécies de intervenção de</p><p>terceiros:</p><p>• assistência – artigos 50 a 55;</p><p>• oposição – artigos 56 a 61;</p><p>• nomeação à autoria – artigos 62 a 69;</p><p>• denunciação da lide – artigos 70 a 76;</p><p>• chamamento ao processo – artigos 77 a 80;</p><p>• recurso de terceiro prejudicado – artigo 499.</p><p>6.1. Assistência</p><p>A intervenção de terceiro, por assistência, tem cabimento sempre que o estranho</p><p>à relação originária tiver interesse jurídico na decisão da lide, pretendendo, assim, auxiliar a</p><p>parte para obter uma sentença favorável.</p><p>A posição do terceiro assistente não é de parte, mas de coadjuvante de uma das</p><p>partes, cuja finalidade é obter vitória no processo que será benéfica a ele.</p><p>A assistência é cabível em qualquer dos tipos de procedimento, sumário ou</p><p>ordinário e, também, em qualquer tipo de processo.</p><p>Além disso, a lei prevê a possibilidade do ingresso do terceiro assistente em</p><p>qualquer fase do processo, inclusive na fase recursal. Todavia, o assistente receberá o</p><p>processo no estado em que se encontrar, não podendo repetir atos já praticados ou cujo</p><p>prazo já expirou.</p><p>6.1.1. Espécies de assistência</p><p>a) Assistência simples: cabível quando o assistente tiver relação jurídica com o</p><p>seu assistido. O assistente ingressa na ação apenas para coadjuvar, sem</p><p>defender direito próprio.</p><p>b) Assistência litisconsorcial: quando o terceiro assume posição de defesa de</p><p>direito próprio contra uma das partes, assim, ao invés de mero assistente,</p><p>assumirá a posição de litisconsorte. Em outras palavras, o assistente</p><p>litisconsorcial mantém relação jurídica própria com o adversário da parte que</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>42 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>ele assiste – poderia, desde o início da ação, ter sido litisconsorte ativo ou</p><p>passivo.</p><p>Assim prevê o artigo 54 do Código de Processo Civil:</p><p>"Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o</p><p>assistente toda vez que a sentença houver de influir na</p><p>relação jurídica entre ele e o adversário do assistido."</p><p>6.1.2. Poderes do assistente</p><p>O assistente atuará no processo como auxiliar da parte a qual assiste, podendo</p><p>exercer os mesmos poderes e sujeitando-se aos mesmo ônus de seu assistido – artigo 52 do</p><p>CPC.</p><p>Contudo, o assistente não poderá praticar atos que sejam contrários aos</p><p>interesses de seu assistido, não podendo, conseqüentemente, opor-se aos atos por ele</p><p>praticados.</p><p>6.1.3. Procedimento da assistência</p><p>O requerimento será formulado pelo pretenso assistente através de petição na</p><p>qual deverá conter a demonstração do interesse jurídico que justifique a admissão da</p><p>intervenção.</p><p>Recebido o pedido, o juiz intimará as partes (autora e ré) para que se manifestem</p><p>e, não havendo impugnação dentro do prazo de 5 (cinco) dias, o terceiro será admitido no</p><p>processo como assistente.</p><p>Caso qualquer das partes oponha resistência ao pedido, o requerimento será</p><p>autuado em apartado, passando-se à instrução probatória da existência ou inexistência do</p><p>interesse do assistente, sem a suspensão do processo principal. No prazo de 5 dias o juiz</p><p>decidirá o incidente, admitindo ou não o assistente (dessa decisão caberá agravo de</p><p>instrumento).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>43 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>6.1.4. Resumo do procedimento:</p><p>6.2. Oposição</p><p>Trata-se de uma espécie de intervenção de terceiro, na qual, por sua iniciativa, o</p><p>terceiro postula, em nome próprio, no todo ou em parte, o objeto litigioso entre o autor e o réu.</p><p>Em outras palavras, o terceiro ingressa no processo para pleitear o bem controvertido entre</p><p>as partes; ele se opõe ao autor e ao réu.</p><p>Como exemplo citamos a demanda na qual autor e réu disputam a propriedade de</p><p>um determinado automóvel, e um terceiro vem a juízo afirmando que o veículo não pertence</p><p>nem ao autor, tampouco ao réu,</p><p>mas que o bem pertence a ele.</p><p>Ressalte-se que o instituto processual da oposição não admite a alteração do</p><p>pedido, sendo defeso ao oponente pretender a ampliação do objeto da ação.</p><p>Petição do assistente,</p><p>requerendo o seu ingresso</p><p>no processo</p><p>Intimação das partes</p><p>Prazo de 5 dias</p><p>Partes não</p><p>impugnam o pedido</p><p>Impugnação</p><p>Juiz profere decisão</p><p>admitindo a</p><p>intervenção do terceiro</p><p>como assistente</p><p>Autuação do pedido</p><p>em apenso</p><p>Instrução</p><p>Decisão em 5 dias,</p><p>admitindo ou não o</p><p>assistente</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>44 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>6.2.1. Procedimento</p><p>Oposição apresentada antes da audiência de instrução:</p><p>O pedido de terceiro para ingresso na demanda deverá ser formulado na forma de</p><p>petição inicial, observando-se o disposto nos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil,</p><p>sendo autuado em apenso aos autos da ação originária (proposta pelo autor em face do réu).</p><p>Recebida a petição inicial, o juiz determinará a citação dos opostos (autor e réu),</p><p>na pessoa de seus advogados, para que possam contestar o pedido do oponente no prazo de</p><p>15 dias. Ambas as ações correrão simultaneamente, sendo julgadas na mesma sentença (a</p><p>oposição será julgada em primeiro lugar e depois a ação principal).</p><p>Oposição apresentada depois do início da audiência de instrução:</p><p>Caso a oposição seja apresentada após o início da audiência de instrução, ela</p><p>prosseguirá segundo o rito comum ordinário (autuada separadamente), tendo seu curso</p><p>independente da ação principal.</p><p>No entanto, o juiz poderá suspender o processo, até no máximo 90 dias, para que</p><p>as ações possam ser julgadas simultaneamente.</p><p>6.3. Nomeação à autoria</p><p>6.3.1. Conceito</p><p>A nomeação à autoria tem por finalidade corrigir um defeito de legitimidade no</p><p>pólo passivo, pois sendo demandado o mero detentor do bem, este nomeia aquele que é o</p><p>verdadeiro proprietário ou possuidor da coisa litigiosa.</p><p>Como se vê, a nomeação tem a função de substituir o simples detentor pelo</p><p>verdadeiro legitimado para figurar no pólo passivo da demanda (o proprietário ou o</p><p>possuidor), evitando que o processo seja extinto sem julgar o mérito por carência de ação</p><p>(ilegitimidade de parte).</p><p>Além disso, cabe a nomeação à autoria quando, em ação de indenização, o</p><p>responsável pelos prejuízos alegar que praticou o ato por ordem ou instrução de terceiro – art.</p><p>63 do CPC – cabendo a nomeação de quem deu a ordem.</p><p>Tem cabimento a nomeação à autoria, por exemplo, quando o caseiro é colocado</p><p>como réu em ação movida pelo vizinho do imóvel para ser reintegrado na posse. Neste caso,</p><p>o caseiro é mero detentor da coisa (na realidade, ele não é parte legítima para a ação), sendo</p><p>outro o verdadeiro proprietário do bem, que deveria figurar no pólo passivo.</p><p>Assim, para ser cabível a nomeação à autoria é necessário existir uma relação</p><p>entre o verdadeiro proprietário ou possuidor e o mero detentor de fato (entre o réu e o terceiro</p><p>nomeado).</p><p>A sistemática processual prevê que o demandado (mero detentor) tem o dever de</p><p>nomear o verdadeiro proprietário ou detentor da coisa, pois, caso não o faça ou indique</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>45 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>pessoa errada, nos termos do artigo 69 do Código de Processo Civil, responderá por perdas e</p><p>danos experimentados pela parte contrária e pelo terceiro.</p><p>demanda que nomeia</p><p>6.3.2. Procedimento da nomeação à autoria</p><p>Autor</p><p>Réu</p><p>(mero detentor da</p><p>coisa)</p><p>Terceiro</p><p>(verdadeiro</p><p>proprietário ou detentor)</p><p>Requerimento do</p><p>réu por petição no</p><p>prazo da defesa</p><p>Suspensão do processo</p><p>Oitiva do autor.</p><p>Prazo de 5 dias</p><p>Autor não aceita Autor aceita</p><p>Sem efeito a nomeação.</p><p>Volta a correr o</p><p>processo.</p><p>Autor deverá</p><p>providenciar a citação</p><p>do terceiro nomeado</p><p>Citação do terceiro</p><p>Terceiro nomeado</p><p>aceita ou não responde</p><p>Terceiro nomeado</p><p>recusa</p><p>Processo continuará</p><p>contra o nomeante</p><p>O nomeante é excluído e o</p><p>terceiro nomeado assume o</p><p>seu lugar no pólo passivo</p><p>Fim da suspensão do</p><p>processo.</p><p>Novo prazo para</p><p>contestação.</p><p>Art. 67.</p><p>Fim da suspensão do</p><p>processo.</p><p>Intimação para</p><p>apresentar defesa</p><p>na ação</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>46 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>6.4. Denunciação da lide</p><p>A denunciação da lide é o instrumento utilizado para se chamar terceiro</p><p>(denunciado) ao processo para responder pela garantia dada ao denunciante, caso ele seja</p><p>vencido na demanda principal.</p><p>Por medida de economia processual, a parte pode trazer ao processo o seu</p><p>garantidor – terceiro contra o qual tem direito de regresso –, para que, na hipótese de perder</p><p>a ação, ele possa cobrar de seu garantidor, na própria demanda, o prejuízo que sofrer.</p><p>Exemplo:</p><p>Réu</p><p>denuncia à</p><p>lide o garantidor</p><p>1ª Relação jurídica 2ª Relação jurídica</p><p>A vantagem da denunciação da lide, como medida de economia processual, é que</p><p>o garantidor denunciado terá de ressarcir o denunciante vencido no próprio processo, ou seja,</p><p>caso o denunciante arque com a condenação em favor da parte contrária ele poderá exigir, na</p><p>mesma ação, o ressarcimento pelo denunciado, sem a necessidade da propositura de nova</p><p>ação de regresso.</p><p>Com a denunciação o processo contará com duas relações jurídicas, sendo uma</p><p>relação jurídica entre o autor e o réu, e outra relação entre o réu e a seguradora denunciada –</p><p>o denunciado apenas possui vínculo com o seu denunciante, não havendo qualquer relação</p><p>com a outra parte.</p><p>6.4.1. Hipóteses de cabimento da denunciação</p><p>As hipóteses de cabimento da denunciação à lide, em face da palavra</p><p>"obrigatória", contida na letra no artigo 70 do CPC, transcrito abaixo, devem ser analisadas</p><p>com certa ressalva.</p><p>"Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:</p><p>I – ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa,</p><p>cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa</p><p>exercer o direito que a evicção lhe resulta;</p><p>II – ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força</p><p>de obrigação ou direito, em casos como do usufrutuário, do</p><p>credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome</p><p>próprio, exerça a posse direta da coisa demandada;</p><p>Autor</p><p>Ação de</p><p>indenização</p><p>para</p><p>ressarcimento</p><p>de veículo</p><p>furtado em</p><p>estacionamento</p><p>Réu</p><p>Estacionamento</p><p>onde estava o</p><p>veículo furtado</p><p>do autor.</p><p>Réu tem seguro</p><p>contra furtos</p><p>Seguradora</p><p>Denunciada</p><p>Responderá</p><p>pelos valores</p><p>que o réu tiver</p><p>de pagar ao</p><p>autor pelo furto</p><p>do veículo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>47 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>III – àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a</p><p>indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a</p><p>demanda."</p><p>A primeira hipótese possibilita a denunciação do alienante, quando o adquirente</p><p>sofrer reivindicação da coisa transferida por ele. Dessa forma, o adquirente (autor ou réu na</p><p>ação) poderá denunciar à lide o alienante, para que, caso seja vencido na ação, o alienante</p><p>seja obrigado a ressarci-lo pela evicção.</p><p>Por exemplo:</p><p>Réu</p><p>denuncia à</p><p>lide o garantidor</p><p>Nesta hipótese, conforme prevê o artigo 456 do atual Código Civil34, a</p><p>denunciação da lide é obrigatória, assim, caso o adquirente lance mão da denunciação e</p><p>venha a perder a demanda, perderá o direito de cobrar do alienante a garantia que resulta da</p><p>evicção. Portanto, neste caso, a denunciação da lide é, de fato, obrigatória, como prevê o</p><p>texto legal.</p><p>Na segunda hipótese, trata-se de cessão</p><p>da posse direta e a garantia de seu</p><p>pleno exercício, ou seja, a cessão da posse acarreta ao cedente o dever de indenizar o</p><p>cessionário pela perda da posse que lhe foi cedida. Em outras palavras, se o cessionário</p><p>perder a posse devido à reivindicação de terceiro, o cedente, quando denunciado à lide,</p><p>garantirá ressarcimento ao cessionário do que ele perder na ação.</p><p>A última hipótese versa sobre a denunciação da lide sempre que o terceiro tiver a</p><p>obrigação legal ou contratual de indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do denunciante</p><p>vencido na demanda. Trata-se do exemplo do réu que, demandado pelo furto de um veículo</p><p>em seu estacionamento, denuncia à lide a sua seguradora; com efeito, caso o réu seja</p><p>condenado a seguradora denunciada deverá ressarci-lo pelos valores que ele pagar ao autor.</p><p>Grande parte da doutrina e da jurisprudência já firmou entendimento de que</p><p>apenas a hipótese do inciso I, do artigo 70, é obrigatória. Nos demais casos, não havendo</p><p>34 Novo Código Civil: “Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará</p><p>do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do</p><p>processo. Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da</p><p>evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.”</p><p>Código Civil de 1916: "Art. 1116. Para poder exercitar o direito, que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará</p><p>do litígio o alienante, quando e como lho determinarem as leis do processo."</p><p>Autor</p><p>Propõe ação</p><p>reivindicando a</p><p>propriedade de</p><p>um imóvel</p><p>comprado do</p><p>réu</p><p>(evicção).</p><p>Réu</p><p>adquirente</p><p>havia</p><p>comprado o</p><p>imóvel do</p><p>denunciado.</p><p>Denunciado</p><p>alienante</p><p>que vendeu o</p><p>imóvel ao réu;</p><p>caso o autor seja</p><p>vencedor na ação</p><p>o denunciado</p><p>deverá ressarci-lo</p><p>pelos prejuízos</p><p>percebidos na</p><p>ação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>48 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>denunciação à lide a parte vencida poderá propor ação autônoma para ser ressarcida pelo</p><p>garantidor.</p><p>6.4.2. Procedimento da denunciação da lide</p><p>Denunciação realizada pelo autor</p><p>(Utilizada, principalmente nos casos de evicção, quando o autor entra com a ação</p><p>e nomeia o responsável no caso de ser vencido e perder o bem).</p><p>O autor formulará o pedido no bojo da</p><p>própria petição inicial</p><p>Suspensão do processo caso seja</p><p>admitida a denunciação</p><p>Citação do denunciado</p><p>Denunciado comparece e</p><p>assume a posição de</p><p>litisconsorte ativo</p><p>Denunciado não</p><p>comparece</p><p>Denunciado pode aditar a</p><p>petição inicial (art. 74)</p><p>Prosseguimento do feito</p><p>Citação do réu</p><p>Atos processuais comuns (defesa,</p><p>saneamento, instrução)</p><p>Sentença</p><p>Na sentença o juiz poderá declarar a</p><p>responsabilidade do denunciado perante o</p><p>denunciante</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>49 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Denunciação realizada pelo réu</p><p>No julgamento o juiz decidirá primeiro a relação entre autor e réu, depois se</p><p>manifestará acerca da denunciação. Além disso, é importante esclarecer que, caso seja</p><p>vencido na ação, o réu deverá satisfazer o direito do autor diretamente e, depois do</p><p>cumprimento, poderá ser ressarcido pelo denunciado (através de execução de sentença nos</p><p>mesmos autos da relação jurídica processual).</p><p>Petição inicial</p><p>No prazo para a contestação o</p><p>réu formula o pedido de</p><p>denunciação de um terceiro.</p><p>Suspensão do processo</p><p>Citação do denunciado</p><p>Denunciado aceita a</p><p>posição.</p><p>Denunciado não</p><p>comparece – revel.</p><p>Denunciado nega a</p><p>qualidade ou confessa</p><p>fatos em favor do autor.</p><p>Passa a ser litisconsorte do</p><p>autor.</p><p>Fim da suspensão do processo.</p><p>Atos comuns (resposta do réu, saneamento,</p><p>instrução, etc.).</p><p>Sentença</p><p>Se julgar procedente a ação declarará, se for o</p><p>caso, a responsabilidade do denunciado em</p><p>favor do denunciante</p><p>(art. 76).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>50 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>6.5. Chamamento ao processo</p><p>O chamamento ao processo tem cabimento quando o devedor, demandado</p><p>sozinho, pretender incluir os demais co-devedores no pólo passivo da ação para que todos</p><p>sejam responsáveis pelos efeitos da sentença.</p><p>Trata-se de uma faculdade do réu que, não chamando ao processo os demais co-</p><p>devedores, arcará com a satisfação integral da sentença e, depois, terá de propor outra ação</p><p>para ser ressarcido pelos demais devedores (exercício do direito de regresso).</p><p>O chamamento ao processo constitui forma de economia processual, pois o réu</p><p>poderá executar os demais co-devedores pelo que pagar ao autor, na mesma ação, sem</p><p>precisar promover nova demanda de conhecimento.</p><p>A presente espécie de intervenção é cabível no processo de conhecimento</p><p>apenas no rito ordinário, não havendo aplicabilidade no rito sumário ou no processo de</p><p>execução.</p><p>À primeira vista, o chamamento ao processo pode ser confundido com a</p><p>denunciação à lide, já que ambos os institutos têm em comum o direito de regresso com</p><p>fundamento da intervenção. No entanto, como veremos, são institutos distintos35:</p><p>CHAMAMENTO AO PROCESSO DENUNCIAÇÃO DA LIDE</p><p>Exclusivo do réu Facultada ao autor e ao réu</p><p>Relação jurídica entre os chamados</p><p>e o autor (adversário daquele que</p><p>realiza o chamamento).</p><p>Não existe relação jurídica entre o</p><p>denunciado e o adversário do</p><p>denunciante.</p><p>O chamado poderia ter sido parte na</p><p>demanda como litisconsorte do autor.</p><p>O denunciado não poderia ter sido</p><p>parte.</p><p>O ressarcimento será, como regra,</p><p>proporcional à cota-parte do</p><p>chamado.</p><p>Ressarcimento integral, nos limites</p><p>da responsabilidade regressiva.</p><p>O chamado poderia ser admitido no</p><p>processo como assistente</p><p>litisconsorcial.</p><p>O denunciado, como regra, poderia</p><p>ser admitido como assistente</p><p>simples.</p><p>6.5.1. Procedimento do chamamento ao processo:</p><p>O rito do chamamento ao processo seguirá o mesmo para a denunciação da lide,</p><p>sendo que na sentença o magistrado fixará a responsabilidade dos terceiros chamados,</p><p>valendo a sentença como título executivo em favor daquele que satisfizer a dívida exigida por</p><p>inteiro – artigo 80 do CPC.</p><p>35 BARROSO, Ferraz de Mattos Carlos Eduardo. Teoria Geral do Processo e do Processo de Conhecimento. São</p><p>Paulo, Editora Saraiva, 3ª ed., p. 97, 2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>51 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>7. COMPETÊNCIA</p><p>A competência constitui a distribuição da atividade jurisdicional entre os diversos</p><p>órgãos do Poder Judiciário. Ensina36 Humberto Theodoro Júnior que “se todos os juízes têm</p><p>jurisdição, nem todos, porém, se apresentam com competência para conhecer e julgar</p><p>determinado litígio”.</p><p>A competência é o limite de atuação da atividade jurisdicional entre os órgãos do</p><p>Poder Judiciário brasileiro.</p><p>7.1. Competência interna e internacional</p><p>Antes de analisarmos a distribuição da jurisdição no ordenamento brasileiro, é</p><p>necessário verificar a concorrência entre a jurisdição interna e a jurisdição de outros Estados</p><p>soberanos.</p><p>Assim, podemos classificá-las:</p><p>Competência interna cumulativa ou concorrente</p><p>(em relação à jurisdição de</p><p>outros países) exclusiva ou privativa</p><p>Cumulativa ou concorrente: hipótese de competência que admite a propositura</p><p>de ação no Brasil ou em outra jurisdição, nos seguintes casos (art. 88):</p><p>• quando o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, tiver domicílio no Brasil;</p><p>• quando</p><p>a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil;</p><p>• quando a demanda se originar de fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.</p><p>Exclusiva ou privativa: situações em que é excluída qualquer outra jurisdição,</p><p>admitindo-se apenas a atividade jurisdicional interna brasileira (art. 89):</p><p>• relativas a imóveis situados no território brasileiro;</p><p>• para inventário e partilha de bens, localizados no Brasil, ainda que o falecido</p><p>seja estrangeiro e tenha domicílio fora do território nacional.</p><p>Dessa forma, existem situações em que se admite a atividade jurisdicional</p><p>estrangeira (art. 88), e outras que apenas podem ser conhecidas e julgadas pela jurisdição</p><p>interna (competência exclusiva do Poder Judiciário brasileiro).</p><p>Ressalte-se que a propositura de ação perante jurisdição internacional não</p><p>impede a propositura de ação na jurisdição brasileira, não havendo litispendência ou qualquer</p><p>36 Ob. cit., p. 138.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>52 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>causa de reunião de ações (conexão ou continência), nos termos do artigo 90 do Código de</p><p>Processo Civil.</p><p>7.2. Critérios de distribuição de competência</p><p>A distribuição da atividade jurisdicional entre os órgãos do Poder Judiciário é</p><p>realizada em diversos instrumentos normativos (Constituição Federal, Lei de Organização</p><p>Judiciária, Código de Processo Civil, etc.), segundo os seguintes critérios:</p><p>da matéria</p><p>Funcional (em razão) da hierarquia (grau de jurisdição)</p><p>da pessoa litigante ou interessada</p><p>Valor da causa</p><p>Territorial</p><p>Terminologias:</p><p>FORO: competência territorial (refere-se sempre ao local)</p><p>JUÍZO: competência funcional (relativa ao órgão jurisdicional)</p><p>FÓRUM: representa apenas o prédio (não deve ser usado como</p><p>referencial de competência)</p><p>7.3. Competência funcional</p><p>Ao criar os órgãos do Poder Judiciário a Constituição da República e as Leis de</p><p>Organização Judiciária delimitam as funções de cada um deles, atribuindo competência aos</p><p>seus membros segundo as matérias, o grau de jurisdição ou a pessoa que se encontra</p><p>envolvida na demanda. Em outras palavras, quando um órgão de jurisdição é criado, a própria</p><p>ordem jurídica outorga a ele uma função.</p><p>Portanto, toda competência prevista na Constituição Federal ou nas Leis de</p><p>Organização Judiciária são tipicamente competências funcionais.</p><p>Vejamos os exemplos de competências previstas no texto constitucional:</p><p>• competência funcional em razão da matéria:</p><p>Art. 109, inciso X – compete aos juízes federais processar e julgar os crimes de</p><p>ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de cartas</p><p>rogatórias, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a sua homologação</p><p>pelo Supremo Tribunal Federal.</p><p>• competência funcional em razão da pessoa:</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>53 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Art. 109, inciso I — compete aos juízes federais processar e julgar as causas em</p><p>que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas</p><p>na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência e</p><p>acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.</p><p>Art. 105, inciso I, b – compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar,</p><p>originariamente, os mandados de segurança e os habeas data contra ato de</p><p>Ministros de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica</p><p>ou do próprio Tribunal.</p><p>7.4. Competência territorial</p><p>A competência territorial está relacionada ao local (foro), às divisões existentes no</p><p>território brasileiro (Estados, comarcas, etc.), e às normas que estão previstas, como regra,</p><p>no Código de Processo Civil.</p><p>Com efeito, não basta verificar a competência funcional do juízo, também é</p><p>necessário escolher, segundo a previsão legal, o local competente para o processamento da</p><p>ação.</p><p>Ações Pessoais: local do domicílio do réu, nos termos do artigo 94</p><p>do Código de Processo Civil, observando-se:</p><p>- tendo mais de um domicílio o réu poderá ser demandado em</p><p>qualquer um deles;</p><p>- se incerto ou desconhecido o domicílio, a competência será do</p><p>local onde for encontrado ou do foro do domicílio do autor;</p><p>- se forem diversos os réus o autor poderá escolher qualquer um</p><p>dos domicílios.</p><p>Ações Reais Sobre Bens Móveis: local do domicílio do réu,</p><p>art. 94 do Código de Processo Civil.</p><p>Ações Reais Sobre Bens Imóveis: local de situação da coisa, art.</p><p>95 do Código de Processo Civil. Ressalte-se que o autor poderá</p><p>optar pelo foro do domicílio ou de eleição quando a ação não for</p><p>relativa a litígio versando sobre propriedade, direito de vizinhança,</p><p>servidão, posse, divisão, demarcação ou nunciação de obra nova.</p><p>Foro</p><p>comum</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>54 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Ação de inventário, partilha, arrecadação, testamento e ações</p><p>contra o espólio: no local do último domicílio do de cujos; caso não</p><p>tenho domicílio certo no país, a ação poderá ser proposta no local de</p><p>qualquer dos bens (art. 96).</p><p>Ações em face de ausentes: local do seu último domicílio (art. 97).</p><p>Ações em face de incapazes: local do domicílio do representante legal</p><p>(art. 98).</p><p>Separação, divórcio (e conversão) e anulação de casamento: foro</p><p>do domicílio da mulher (art. 100, I).</p><p>Ação de alimentos: local do domicílio do alimentado (art. 100, II).</p><p>Ação de anulação de título extraviado: local do domicílio do devedor.</p><p>Ação para exigir cumprimento de obrigação: foro do lugar onde a</p><p>obrigação deve ser satisfeita (art. 100. IV, d).</p><p>Ação contra pessoa jurídica (quando for no seu domicílio): deverá ser</p><p>proposta no lugar da sede ou onde se acha agência ou sucursal quanto</p><p>às obrigações assumidas por estas.</p><p>Ação de reparação de danos (em geral): local do fato (art. 100, V, a).</p><p>Ação contra administrador ou gestor de negócios alheios: local do</p><p>ato ou fato (art. 100, V, b).</p><p>Ação de reparação de danos em acidentes com veículos ou</p><p>decorrentes de delitos: local do fato ou domicílio do autor (art. 100, V,</p><p>parágrafo único). A escolha caberá ao autor da ação.</p><p>Em ação que versar sobre relação de consumo a competência será o</p><p>foro do domicílio do consumidor (esta competência prevalece, inclusive,</p><p>sobre o foro de eleição. No entanto, admite a renúncia do foro</p><p>privilegiado pelo próprio consumidor ao promover a ação).</p><p>Ação popular e ação civil pública: local do fato ou do dano</p><p>(competência funcional absoluta).</p><p>Ações cautelares (preparatórias): local da propositura da ação</p><p>principal.</p><p>Foros</p><p>especiais</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>55 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>7.5. Competência em razão do valor</p><p>A competência em razão do valor da causa é aquela atribuída, por exemplo, no</p><p>âmbito da jurisdição dos Estados, aos Juizados Especiais Cíveis, que têm competência para</p><p>conciliação, processo e julgamento das causas cíveis cujo valor não exceda 40 (quarenta)</p><p>vezes o salário mínimo – art. 3º da Lei 9.099/95.</p><p>A Lei n.º 9.099/95 apenas criou os Juizados Especiais Cíveis no âmbito da</p><p>jurisdição estadual, havendo exclusão expressa de competência para julgamento de ações de</p><p>alimentos, de falência, fiscal, e de interesse da Fazenda Pública.</p><p>No entanto, com o advento da Lei n.º 10.259, de 12 de julho de 2001, foram</p><p>instituídos37 os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da jurisdição Federal, nos</p><p>seguintes termos:</p><p>“Art. 1º. São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da</p><p>Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o</p><p>disposto na Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de</p><p>1995.</p><p>(...)</p><p>Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e</p><p>julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta</p><p>salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.</p><p>§ 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:</p><p>I – referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as</p><p>ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e</p><p>demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade</p><p>administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos,</p><p>coletivos ou individuais homogêneos;</p><p>II – sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas</p><p>federais;</p><p>III – para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo</p><p>o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;</p><p>IV – que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta</p><p>a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a</p><p>militares.</p><p>§ 2º Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de</p><p>competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá</p><p>exceder o valor referido no art. 3o, caput.</p><p>§ 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua</p><p>competência é absoluta.”</p><p>7.6. Competência absoluta e relativa</p><p>Como vimos anteriormente, a competência é estabelecida segundo determinados</p><p>critérios que, ao definir a atividade jurisdicional adequada, buscam atender à conveniência</p><p>das partes e outros ao interesse público.</p><p>Assim, é possível classificar a competência em absoluta e relativa, destacando</p><p>entre elas as seguintes diferenças:</p><p>37 “Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data de sua publicação.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>56 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>ABSOLUTA RELATIVA</p><p>Estabelecida em função do interesse</p><p>público</p><p>Estabelecida em função do interesse</p><p>privado das partes</p><p>Critério: funcional (função, matéria,</p><p>hierarquia e em razão da pessoa).</p><p>Também é considerada absoluta a</p><p>competência dos juizados especiais</p><p>federais, isso por expressa</p><p>determinação legal (Lei 10259/01)</p><p>Critério: territorial e valor da causa</p><p>(nos juizados dos estados)</p><p>Não admite prorrogação ou</p><p>modificação</p><p>Admite modificação e prorrogação</p><p>Em caso de incompetência gera</p><p>nulidade absoluta dos atos (vício</p><p>insanável)</p><p>Gera nulidade relativa</p><p>Pode ser alegada em qualquer</p><p>momento do processo, até mesmo</p><p>após o trânsito em julgado (ação</p><p>rescisória)</p><p>Deve ser alegada no prazo da defesa,</p><p>sob pena de modificação ou</p><p>prorrogação da competência</p><p>Pode ser alegada em preliminar de</p><p>contestação</p><p>Deve ser alegada por meio de</p><p>exceção de incompetência, sob pena</p><p>de inadmissão</p><p>Pode ser conhecida de ofício pelo</p><p>juízo</p><p>Depende de provocação da parte</p><p>interessada</p><p>7.7. Modificação da competência</p><p>Em se tratando de competência relativa, como mencionamos anteriormente, é</p><p>possível modificar e prorrogar a competência legal, gerada devido a fatos, ou a determinação</p><p>legal poderá resultar em alteração da competência prevista na lei com a prevalência de outra.</p><p>Essa modificação da competência pode ser:</p><p>• legal: em função de circunstâncias previstas na própria lei haverá alteração da</p><p>competência; é o caso da conexão e continência;</p><p>• voluntária ou convencional: de acordo com a vontade das partes (foro de</p><p>eleição), ou quando há renúncia de foro privilegiado, por exemplo, quando o</p><p>alimentado propõe a ação no domicílio do alimentante, quando poderia ter</p><p>intentado a ação no seu domicílio (o que seria mais benéfico para ele ), ou,</p><p>ainda, quando a parte deixa de apresentar exceção de incompetência e o vício</p><p>acaba sendo sanado (prorrogação da competência).</p><p>7.7.1. Conexão e continência</p><p>Na primeira hipótese, tramitando em separado duas ou mais ações, com objeto ou</p><p>causa de pedir comum entre elas, deverá haver a reunião de todas para que sejam julgadas</p><p>simultaneamente, evitando-se com isso decisões conflitantes acerca do mesmo bem jurídico.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>57 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Dessa forma, havendo conexão ou continência um órgão jurisdicional deverá abrir</p><p>mão da ação em favor de outro, modificando-se, portanto, a competência legal (o juiz que</p><p>receber os processos – prevento – terá sua competência prorrogada ou ampliada).</p><p>Por sua vez, tratando-se de espécie de conexão, verifica-se a continência quando,</p><p>entre as ações, houver identidade de partes e causa de pedir, sendo o objeto de uma ou mais</p><p>ações mais amplo que o das demais. Na conexão exige-se apenas identidade de objeto ou</p><p>causa de pedir.</p><p>Por outro lado, é necessário verificar de qual juízo receberá as demais ações que</p><p>serão juntadas devido à conexão ou continência, utilizando-se, para tanto, o instituto da</p><p>prevenção.</p><p>Pela prevenção o juízo estabelece ou fixa a sua competência, excluindo a de</p><p>qualquer outro órgão, por ter conhecido a demanda em primeiro lugar (juízo prevento).</p><p>Nesse ponto, será observada a seguinte regra:</p><p>• Em processos que tramitam na mesma base territorial (comarca): estará</p><p>prevento o juízo que primeiro despachou no processo – art. 106 do Código de</p><p>Processo38 Civil.</p><p>• Em processo que tramita em bases territoriais distintas, será considerado</p><p>prevento o juízo que realizar a citação em primeiro lugar – art. 219 do Código</p><p>de Processo Civil39.</p><p>7.7.2. Foro de eleição</p><p>Por outro lado, a modificação da competência legal pode ocorrer devido à</p><p>convenção das partes que, previamente, escolhem ou elegem o foro (lugar ou território)</p><p>competente para julgamento de eventual litígio.</p><p>Ressalte-se que a eleição apenas poderá recair sobre competência relativa40 (que</p><p>admite modificação), portanto, apenas podem ser escolhidos foros e nunca juízos. Por</p><p>exemplo, as partes poderão estipular cláusula de preferência para julgamento da ação na</p><p>comarca de São Paulo, mas não poderá haver convenção acerca do juízo cível, fazenda</p><p>pública, juízos regionais, etc.</p><p>Nesse ponto, é importante mencionar, também, que a jurisprudência41 firmou</p><p>entendimento de que não é possível a eleição de foros regionais (que existem nas comarcas</p><p>de São Paulo e Campinas), pelo fato de se tratar de competência funcional e não territorial.</p><p>38 “Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial,</p><p>considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.”</p><p>39 “Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando</p><p>ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.”</p><p>40 “Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas</p><p>estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as</p><p>ações oriundas de direitos e obrigações.”</p><p>41 “COMPETÊNCIA – Conflito – Foro Regional e Foro Central – Competência de natureza absoluta ditada pelo</p><p>interesse público – Possibilidade de declinação de ofício – A cláusula contratual de eleição do foro não há de</p><p>prevalecer em face da indeclinabilidade da competência absoluta – O ajuizamento da medida cautelar preparatória</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>58 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A eleição apenas pode recair sobre foro (território) e nunca sobre juízos (função).</p><p>7.8. Declaração de incompetência</p><p>A declaração de incompetência pode ocorrer por meio de exceção (uma espécie</p><p>de defesa dos réus), quando se tratar de competência relativa ou, também, poderá ser</p><p>argüida como preliminar na própria contestação quando se tratar de violação à regra de</p><p>competência absoluta.</p><p>A incompetência absoluta, como citado anteriormente, pode ser alegada e</p><p>reconhecida em qualquer fase do processo e mesmo após a sua extinção (ação rescisória –</p><p>art. 485, II).</p><p>Todavia, não sendo aduzida a incompetência absoluta dentro do prazo da</p><p>contestação, ou na primeira oportunidade que a parte tiver para falar nos autos, responderá</p><p>integralmente pelas custas, nos termos do § 1º do art. 113.</p><p>A declaração de incompetência tem como principal efeito o deslocamento da ação</p><p>para o juiz competente e, no caso de ofensa à competência absoluta, a conseqüente nulidade</p><p>de todos os atos decisórios praticados pelo juízo incompetente (art. 113, § 2º).</p><p>Conflito de competência</p><p>O artigo 115 do Código de Processo Civil estabelece que há conflito de</p><p>competência:</p><p>• quando dois ou mais juízes se declararam competentes;</p><p>• quando dois ou mais juízes se consideraram incompetentes;</p><p>• quando entre dois ou mais juízes surgir controvérsia acerca da reunião ou</p><p>separação de processos (conexão e continência).</p><p>Com efeito, o próprio juiz, as partes ou o Ministério Público poderão suscitar ao</p><p>Presidente do Tribunal competente o incidente de conflito de competência, cujo trâmite terá a</p><p>intervenção obrigatória do Ministério Público.</p><p>7.9. Perpetuatio jurisdictionis</p><p>deve vincular-se à do órgão competente para a futura demanda principal – Artigo 800 do Código de Processo</p><p>Civil – Competência do juízo suscitante.” (TJ/SP, Conflito de Competência n.º 64.604-0, Câmara Especial, rel.</p><p>Des. Fonseca Tavares, julg. 16.12.99, v.u.).</p><p>“EXCEÇÃO – Incompetência – Rescisão contratual – Alegada a prevenção do Foro Regional do Jabaquara –</p><p>Admissibilidade – Inaplicabilidade da cláusula contratual de eleição do Foro Central para as ações dele</p><p>decorrentes – Agravo provido. O Foro da Capital é um só, com inúmeras Varas, inclusive distritais. A eleição do</p><p>Foro João Mendes é destituída de validade, por importar em escolha de Juízo e não de Foro.” (TJ/SP, Agravo de</p><p>instrumento n.º 14.064-0, rel. Des. Torres de Carvalho, 16.01.92, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>59 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O artigo 87 do Código de Processo Civil determina que a competência é</p><p>determinada no momento da propositura da demanda, sendo irrelevantes as mudanças</p><p>posteriores que seriam capazes de modificar a competência.</p><p>Com efeito, a jurisdição perpetua-se no momento da propositura da ação. Por</p><p>exemplo, alimentado reside em determinada comarca e, após a propositura da demanda,</p><p>resolve mudar-se para outra localidade; não haverá modificação da competência já fixada no</p><p>momento da propositura.</p><p>No entanto, como exceção à regra, o próprio artigo 87 prevê que poderá haver</p><p>modificação da competência quando ocorrer supressão, criação ou alteração de órgãos do</p><p>Poder Judiciário devido à matéria e hierarquia.</p><p>Tal fato, como exemplo, ocorreu quando foram criadas as Varas Federais</p><p>Previdenciárias, que gerou a remessa (redistribuição) de todos os processos que tramitavam</p><p>nas Varas Cíveis para os novos juízos especializados em razão da matéria.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>60 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>8. ATOS PROCESSUAIS</p><p>8.1. Definição e natureza jurídica</p><p>Conforme ensinamento42 de Humberto Theodoro Júnior: O processo</p><p>apresenta-se, no mundo do direito, como uma relação jurídica que se estabelece entre as</p><p>partes e o juiz e se desenvolve, através de sucessivos atos, de seus sujeitos, até o</p><p>provimento final destinado a dar solução ao litígio.</p><p>Assim, a jurisdição exerce sua atividade por meio do processo, cujo</p><p>procedimento é composto por uma série de atos, disposto em uma seqüência lógica dentro do</p><p>rito, os quais são realizados pelas partes, magistrados e auxiliares da justiça, com a finalidade</p><p>de pôr fim ao conflito de interesses.</p><p>Os atos processuais têm por conseqüência a constituição, conservação, o</p><p>desenvolvimento, a modificação e extinção da relação jurídica processual.</p><p>8.2. Classificação</p><p>Considerando os sujeitos que praticam os atos no processo, podemos</p><p>classificá-los em:</p><p>a) Atos das partes – art. 158: consistem nas manifestações de vontade das</p><p>partes no processo, cuja declaração produz efeitos imediatos,</p><p>ressaltando que as manifestações das partes podem ocorrer por petição</p><p>e por termo nos autos, sendo vedado o lançamento de cotas diretas nos</p><p>autos.</p><p>b) Atos do juiz – art. 162: a seguir.</p><p>c) Atos dos serventuários da justiça – art. 166: têm regulamentação</p><p>especial os atos do escrivão e chefe de secretaria, que são servidores</p><p>responsáveis pela guarda e administração dos autos dos processos em</p><p>cartório (realizam a autuação, as juntadas, os registros, as remessas dos</p><p>autos à conclusão, publicações, a elaboração de documentos para a</p><p>comunicação dos atos processuais, etc.).</p><p>Neste ponto, assume principal relevância o estudo dos atos do juiz,</p><p>sistematizados no artigo 162 como:</p><p>• despachos ordinatórios ou de mero expediente: são atos do magistrado</p><p>apenas de impulso e administração do processo, atos desprovidos de caráter</p><p>decisório e de imputação de prejuízo a qualquer uma das partes (o despacho</p><p>não causa prejuízo à parte, caso isso ocorra será uma decisão interlocutória).</p><p>São despachos, por exemplo, os atos que determinam a citação, as juntadas,</p><p>a remessa dos autos ao Ministério Público (nos casos legais), designação de</p><p>audiências, etc.</p><p>42</p><p>Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, vol. I, 35ª ed., p. 192, 2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>61 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• decisões interlocutórias – art. 162, § 2º: ato pelo qual o magistrado43 decide</p><p>questão incidente no processo, questão essa diferente do objeto principal da</p><p>lide e que não causa o seu encerramento em primeiro grau de jurisdição.</p><p>Geralmente, as decisões interlocutórias causam prejuízos a uma ou ambas as</p><p>partes.</p><p>• Sentenças – art. 162, § 1º : ato pelo qual o juiz (de primeiro grau) põe fim44 ao</p><p>processo, com ou sem julgamento do mérito. A sentença é o ato pelo qual se</p><p>encerra a atividade jurisdicional em primeiro grau de jurisdição, emitindo um</p><p>provimento acerca do objeto da ação ou extinguindo a relação jurídica sem</p><p>apreciação da lide.</p><p>• Acórdãos: são atos resultantes dos julgamentos pelos órgãos colegiados dos</p><p>tribunais.</p><p>8.3. Forma dos atos e nulidade</p><p>No que se refere às formas dos atos processuais, devemos lembrar que o</p><p>Código de Processo Civil adotou o princípio da instrumentalidade, dispondo:</p><p>“Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma</p><p>determinada senão quando a lei expressamente a exigir,</p><p>reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe</p><p>preencham a finalidade essencial.”</p><p>Com efeito, na prática de ato processual deverá ser observado:</p><p>• o uso obrigatório da língua portuguesa – art. 156;</p><p>• os documentos redigidos em língua estrangeira apenas poderão ser juntados</p><p>aos autos quando acompanhados de tradução para a língua portuguesa,</p><p>firmada por tradutor juramentado – art. 157;</p><p>• como regra, os atos processuais são públicos, salvo nos casos de interesse</p><p>público, e ações que versem sobre casamento, filiação, separação de</p><p>cônjuges, conversão de separação, alimentos e guarda de menores, hipóteses</p><p>em que o processo correrá sob segredo de justiça;</p><p>• os atos processuais devem ser praticados no momento oportuno dentro da</p><p>relação jurídica.</p><p>Por outro lado, a forma dos atos processuais deve ser analisada em relação</p><p>às conseqüências oriundas de sua inobservância.</p><p>constitucional veda, expressamente, a existência de tribunais</p><p>ou juízos de exceção que, conforme ensinamento2 de De Plácido e Silva entende-se: Em</p><p>oposição ao sentido comum, ou ordinário, tribunal de exceção, entende-se o que se</p><p>estabelece, ou se institui, em caráter especial ou de exceção, para conhecer e julgar questões</p><p>excepcionalmente ocorridas e suscitadas.</p><p>Assim, os órgãos jurisdicionais devem preexistir aos litígios, constituindo tribunais de</p><p>exceção aqueles criados especialmente para um fato já ocorrido ou determinada pessoa.</p><p>O tribunal de exceção não é instrumento do Estado Democrático de Direito, pois</p><p>impede que os jurisdicionados conheçam, previamente, os órgãos investidos de poder para</p><p>julgamento, bem como possibilita a formação de órgãos imparciais conforme a vontade do</p><p>poder dominante e de seus interesses (já que é criado após a ocorrência do fato).</p><p>d) Princípio do contraditório – art. 5º , LV</p><p>“LV – aos litigantes, em processo judicial e administrativo, e aos acusados</p><p>em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios</p><p>e recursos a ela inerentes”</p><p>O contraditório constitui o direito de as partes apresentarem as suas versões sobre</p><p>os fatos do processo que lhes são imputados pela outra parte litigante. Por contraditório</p><p>entende-se o direito de contradizer, direito que a parte tem de se opor e impugnar os atos</p><p>praticados pela parte adversa.</p><p>Em alguns casos, como forma de harmonização com outros princípios, como do</p><p>acesso à justiça e o da tutela eficaz, o contraditório pode ser postergado para um momento</p><p>futuro do processo.</p><p>É exatamente o que ocorre com a antecipação dos efeitos da tutela antes da citação,</p><p>nas cautelares, dos procedimentos especiais com previsão de liminares e no processo de</p><p>execução. Nestes casos, o contraditório não foi suprimido, mas apenas transferido para um</p><p>momento posterior, sob pena de frustrar o resultado da tutela pretendida.</p><p>e) Princípio da ampla defesa – art. 5º , LV</p><p>Além do direito de expor as suas versões sobre os fatos do processo, também é</p><p>assegurado ao litigante o direito de realizar as provas de suas alegação, o direito amplo de</p><p>demonstrar os fatos que alega em seu favor.</p><p>2 Vocabulário Jurídico.Rio de Janeiro, Editora Forense, 12ª ed., p. 419, 1996.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>5 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>No entanto, a ampla defesa sofre restrições no próprio texto constitucional, já que</p><p>são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos, nos termos do inciso</p><p>LVI do artigo 5º.</p><p>f) Princípio do duplo grau de jurisdição</p><p>Há muita controvérsia na doutrina sobre o referido princípio. Alguns entendem tratar-</p><p>se de um princípio implícito na Constituição, e outros, no sentido contrário, consideram o</p><p>referido princípio como expresso na Carta Maior.</p><p>Entendemos, com o devido respeito às demais posições, se tratar de um princípio</p><p>expresso na Constituição da República, pelo fato de estar contido no inciso LV, do artigo 5º, o</p><p>direito de ampla defesa com garantia dos recursos a ela inerentes.</p><p>Por outro lado, quando criou e estruturou os órgãos do Poder Judiciário, a própria</p><p>Constituição também instituiu órgãos de primeira, de segunda e de instâncias superiores,</p><p>como forma de resguardar o direito à revisão dos atos judiciais por órgão hierarquicamente</p><p>superior àquele que proferiu a decisão prejudicial. Portanto, considerando a estrutura do</p><p>Poder Judiciário – organizado em graus de hierarquia – podemos dizer que nessa</p><p>organização está implícito o princípio do duplo grau de jurisdição.</p><p>Como sabemos, o Estado Democrático de Direito não compartilha da possibilidade</p><p>de atos arbitrários do Poder sem a existência de remédios legais para impugná-los. É</p><p>inconcebível em um Estado de Direito a existência de atos judiciais decisórios que não</p><p>possam ser impugnados por recursos, se tal fato ocorresse facilitaria a aplicação errada do</p><p>direito posto, a corrupção e o autoritarismo dos magistrados, que estariam certos de que suas</p><p>decisões não seriam revistas.</p><p>g) Princípio do dever de fundamentação das decisões judiciais – art. 93, IX</p><p>“Art. 93. ...........................................</p><p>IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e</p><p>fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se</p><p>o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às</p><p>próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes”</p><p>Como conseqüência do princípio do contraditório e do duplo grau de jurisdição, a</p><p>Constituição impõe aos magistrados o dever de motivação de suas decisões, de forma a</p><p>externar às partes e a toda a sociedade as razões de seu convencimento, a interpretação da</p><p>lei ao caso concreto.</p><p>Certamente, seria muito difícil impugnar um ato do qual não se sabe o fundamento,</p><p>no qual não estão expressas as razões do convencimento do juízo. É impossível à parte</p><p>motivar o seu recurso sem o conhecimento dos fundamentos da decisão recorrida.</p><p>h) Princípio da publicidade dos atos processuais – art. 93, IX</p><p>Outra característica do Estado Democrático de Direito é a publicidade dos atos do</p><p>Poder, especialmente com a finalidade de exercer controle sobre os atos arbitrários.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>6 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Com efeito, prevê a Constituição da República, no inciso IX do artigo 93, que todos</p><p>os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos quando houver interesse</p><p>público; no caso de ser necessária a preservação da intimidade, a publicidade ficará limitada</p><p>às partes e seus procuradores.</p><p>1.2.1. Princípios internos do Processo Civil</p><p>a) Princípio da imparcialidade e igualdade</p><p>Não obstante o direito fundamental de igualdade estar previsto na Constituição da</p><p>República, o Código de Processo Civil, em seu artigo 125, impõe ao magistrado o dever</p><p>institucional de assegurar às partes igualdade de tratamento.</p><p>Isso significa que o juiz deverá permanecer eqüidistante das partes (manter a mesma</p><p>distância de ambas as partes), fazendo prevalecer a isonomia de tratamento em relação aos</p><p>litigantes.</p><p>Em relação à igualdade prevista na Carta Maior, alertam3 os professores Leda</p><p>Pereira da Mota e Celso Spitzcovsky que este princípio consiste em tratar igualmente os</p><p>iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.</p><p>De fato, a intenção do constituinte foi evitar a quebra da isonomia entre pessoas que</p><p>se encontram na mesma situação, por isso não haverá igualdade se tratarmos com a mesma</p><p>medida pessoas que se encontram em situações distintas.</p><p>Por outro lado, nota-se a característica de imparcialidade da jurisdição, pois, como</p><p>sabemos, é pressuposto de validade do processo a inexistência de interesse pessoal do</p><p>magistrado na solução da lide.</p><p>A garantia ao jurisdicionado de fiel aplicação do direito ao caso concreto e a</p><p>confiabilidade no sistema judiciário são conquistadas apenas com a absoluta ausência de</p><p>comprometimento ou interesse do órgão jurisdicional no deslinde do litígio.</p><p>Assim, estão previstas nos artigos 134 e 135 as hipóteses em que a pessoa do</p><p>magistrado se encontra vinculada ao objeto da lide, situações de impedimento e suspeição</p><p>que determinam o afastamento do juiz de forma a permitir a existência e o desenvolvimento</p><p>válido da relação jurídica processual.</p><p>b) Princípio dispositivo e inquisitivo</p><p>Por expressa determinação legal, art. 2º do Código de Processo Civil, a jurisdição</p><p>somente se desenvolve depois de provocada pelo interessado, sendo vedado ao Estado</p><p>intervir nos litígios sem prévio requerimento da parte – pelo direito de ação.</p><p>Essa inércia do órgão jurisdicional chama-se princípio do dispositivo.</p><p>Contudo, apesar de o processo</p><p>Neste ponto, o ordenamento processual,</p><p>quando trata das nulidades, prevê as seguintes regras:</p><p>• A decretação de nulidade do ato processual não pode ser requerida pela</p><p>própria parte que a causou – art. 243.</p><p>43 Apesar de a lei utilizar-se do termo juiz, os despachos e decisões interlocutórias são atos praticados, também,</p><p>pelos magistrados de tribunais (juízes, desembargadores e ministros), sendo que o recurso cabível contra a decisão</p><p>interlocutória proferida em segundo grau de jurisdição é o agravo regimental ou agravo para o órgão colegiado (e</p><p>agravo de instrumento contra decisões que negam seguimento aos recursos especiais e extraordinários)...</p><p>44 Na realidade, a sentença não põe fim ao processo, mas tão-somente encerra a jurisdição de primeiro grau, como</p><p>bem sabemos; após a sentença, com a interposição de recursos, o processo continuará a correr, tendo efetivo fim</p><p>apenas com o trânsito em julgado.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>62 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o</p><p>ato será considerado válido se alcançar a finalidade – art. 244.</p><p>• As nulidades dos atos processuais devem ser alegadas na primeira</p><p>oportunidade possível sob pena de preclusão, excluindo-se os atos que</p><p>constituem pressuposto de validade do processo (como a citação ou outros</p><p>vícios que o juiz deve conhecer de ofício) - art. 245.</p><p>• Anulado um ato processual serão desconsiderados, também, todos os</p><p>subseqüentes, cabendo ao juiz declarar quais atos serão atingidos – arts. 248</p><p>e 249.</p><p>• Apenas haverá nulidade de ato processual se o vício acarretar prejuízo – sem</p><p>prejuízo não se anula o ato por defeito de forma.</p><p>• A anulação dos atos apenas deve ocorrer em relação àqueles que não</p><p>puderem ser aproveitados (o aproveitamento pode ocorrer quando não ocorrer</p><p>prejuízo à defesa) – art. 250.</p><p>8.4. Tempo</p><p>O tempo para a prática de atos processuais pode ser ordinário ou</p><p>extraordinário. A regra, tempo ordinário, prevê que os atos processuais serão praticados em</p><p>dias úteis, das seis às vinte horas. Todavia, o § 2º do artigo 172 prevê a possibilidade de o</p><p>ato ocorrer fora do tempo comum, quando, por autorização do juízo, ficar demonstrada a</p><p>necessidade de realização fora do tempo ordinário (a lei contém um rol exemplificativo:</p><p>citação, penhora e outros casos excepcionais).</p><p>Além disso, o artigo 173 prevê a suspensão da prática de atos processuais</p><p>durante as férias e feriados45, excetuando-se os seguintes casos: produção antecipada de</p><p>provas, citação para o fim de evitar a perda do direito, o arresto, o seqüestro, a penhora, a</p><p>arrecadação, busca e apreensão, o depósito, a prisão do devedor de alimentos e do</p><p>depositário infiel, a separação de corpos, abertura de testamento, os embargos de terceiro, a</p><p>nunciação de obra nova e outros de natureza urgente.</p><p>8.5. Prazos processuais</p><p>Prazo processual é o período em que o ato pode ser praticado com</p><p>validade. Se esse período não for observado ocorrerá a perda da capacidade para a prática</p><p>do ato pelo decurso do tempo (preclusão temporal).</p><p>Os prazos podem ser classificados em:</p><p>a) Dilatórios: são os prazos que admitem prorrogação ou dilação – art. 181.</p><p>b) Peremptórios: prazos que não admitem modificação, por Exemplo, o</p><p>prazo para a defesa do demandado e para interposição de recursos –</p><p>art. 182.</p><p>45 O artigo 175 estabelece que são feriados, para efeito forense, os domingos e os dias declarados por lei.</p><p>Evidentemente, os sábados e demais dias em que o fórum permanece fechado serão considerados dias não úteis e</p><p>feriados para efeito forense.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>63 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Em relação à fixação, podemos classificá-los em:</p><p>c) Legais: o prazo está fixado na lei (por exemplo, para a interposição de</p><p>recursos, para a defesa, para a apresentação do rol de testemunhas).</p><p>Não havendo preceito legal, nem fixação pelo juiz, o prazo será de 5</p><p>(cinco) dias, nos termos do artigo 185.</p><p>a) Convencionais: prazos estabelecidos pelas partes, por exemplo, o prazo</p><p>para a suspensão do processo (que poderá ser até de 6 meses) – art.</p><p>181.</p><p>b) arbitrados pelo magistrado: quando a lei for omissa, poderá o juiz fixar o</p><p>prazo para o cumprimento do ato, levando em consideração a</p><p>complexidade do ato e o tempo razoável necessário para a sua</p><p>realização – art. 177.</p><p>Regras de contagem dos prazos:</p><p>• normalmente, a contagem do prazo é contínua e não se interrompe nos</p><p>feriados, ou seja, após iniciada a contagem computam-se todos os dias,</p><p>inclusive os sábados, domingos e feriados;</p><p>• na contagem dos prazos exclui-se o primeiro dia e inclui-se o último, por</p><p>exemplo: se a publicação ocorreu no dia 5, o primeiro dia de contagem do</p><p>prazo será o dia 6 (se for dia útil);</p><p>• a contagem dos prazos apenas tem início nos dias úteis, por exemplo: se a</p><p>publicação ocorrer em uma sexta-feira, o primeiro dia de contagem será a</p><p>segunda-feira;</p><p>• se o vencimento do prazo cair em dia não útil, este será prorrogado até o</p><p>primeiro dia útil seguinte ao vencimento (a prorrogação também ocorrerá nos</p><p>dias em que for determinado o fechamento do fórum ou quando o expediente</p><p>for encerrado antes do horário normal);</p><p>• os prazos podem ser suspensos ou interrompidos.</p><p>Prerrogativas de prazos</p><p>a) para o Ministério Público e a Fazenda Pública serão em dobro os</p><p>prazos para recorrer e em quádruplo para contestação46.</p><p>Curiosamente, foi editada a medida provisória n.º 1774-20/98, que</p><p>acrescentou ao artigo 188 a previsão de prazo em dobro para que as</p><p>Fazendas pudessem propor ações rescisórias; contudo, o Supremo</p><p>Tribunal Federal, a ação direta de inconstitucionalidade n.º 1910</p><p>concedeu medida liminar para suspender os efeito da referida (e</p><p>absurda) medida provisória;</p><p>b) quando os litisconsortes tiverem procuradores diferentes, todos os</p><p>prazos serão considerados em dobro, nos termos do artigo 191.</p><p>46 O STF e STJ proferiram julgamentos aceitando a prerrogativa de prazo também para as demais espécies de</p><p>resposta do réu – reconvenção e exceções (STF-RTJ 88/628, STJ, resp 8.233-RJ).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>64 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Suspensão e interrupção dos prazos</p><p>Ambos os institutos caracterizam causas de paralisação da contagem do</p><p>prazo para a prática do ato processual, porém, com conseqüências e hipóteses de cabimento</p><p>diferentes.</p><p>A suspensão paralisa o curso do prazo durante as férias forenses ou nas</p><p>hipóteses do artigo 265 (casos de suspensão do curso próprio, do processo e não apenas do</p><p>prazo), sendo que são computados os dias anteriores à determinação de suspensão, ou seja,</p><p>quando o prazo é restabelecido este não será restituído integralmente.</p><p>Por outro lado, verificam-se as hipóteses de interrupção dos prazos</p><p>processuais, situações em que, cessada a causa de paralisação, o prazo é restituído</p><p>integralmente às partes. Como exemplo podemos citar a interrupção do prazo para</p><p>interposição de recursos quando a parte opuser embargos de declaração (quando publicada a</p><p>decisão dos embargos tem início, por inteiro, o prazo para a interposição de qualquer outro</p><p>recurso).</p><p>Além disso, como falaremos adiante, a reforma introduzida pela Lei n.º</p><p>10.352/01 também atribuiu efeito interruptivo aos embargos infringentes, em relação à parte</p><p>unânime do julgado, o que não acontecia anteriormente.</p><p>8.6. Comunicação dos atos processuais</p><p>Via de regra, os atos processuais são praticados no bojo dos autos do</p><p>processo e na sede do juízo. No entanto, em determinados casos há necessidade de</p><p>exteriorizar esses atos além dos</p><p>limites do processo e da sede do juízo.</p><p>Assim, no ordenamento processual os atos de comunicação podem ser:</p><p>a) precatória</p><p>1) Cartas b) de ordem</p><p>c) rogatória</p><p>2) Citações</p><p>3) Intimações</p><p>8.6.1. Cartas</p><p>As cartas47 são instrumentos de comunicação entre órgãos de jurisdição, ou</p><p>seja, de um juízo para outro, pela qual um órgão pleiteia do outro a realização de um ato</p><p>processual em sua base territorial de jurisdição.</p><p>47 Sentido técnico e estrito da palavra carta para o processo civil. Em sentido genérico a palavra carta significa</p><p>correspondência enviada pelo correio.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>65 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Como vimos anteriormente, o processo desenvolve-se, obrigatoriamente,</p><p>perante o órgão jurisdicional competente. Assim, impõe-se a utilização de cartas todas as</p><p>vezes em que houver necessidade da prática de ato processual fora da jurisdição onde</p><p>tramita o processo.</p><p>É comum, por exemplo, a necessidade de se fazer citações e intimações de</p><p>pessoas que se encontram em comarca – base territorial de jurisdição – diversa daquela em</p><p>que tramita o processo, ou, ainda, ouvir testemunhas que também não residem na mesma</p><p>comarca.</p><p>Nestes casos – necessidade de atos processuais fora dos limites territoriais</p><p>da jurisdição – o juiz deverá utilizar as cartas, requerendo ao juízo competente, da outra</p><p>comarca, que realize o ato processual.</p><p>Com efeito, o artigo 201 do Código de Processo Civil prevê as seguintes</p><p>cartas:</p><p>a) Carta precatória</p><p>Através de carta precatória um juízo requer de outro, do mesmo grau de</p><p>jurisdição e com a mesma competência em relação à matéria, a realização de determinado</p><p>ato processual em sua jurisdição.</p><p>Por exemplo: um juízo de São Paulo necessita intimar uma pessoa que</p><p>reside na cidade de Fortaleza, assim, será expedida uma carta precatória de São Paulo para</p><p>Fortaleza, para que o juiz desta jurisdição faça o referido ato de intimação.</p><p>b) Carta de ordem</p><p>As cartas de ordem são expedidas por órgãos jurisdicionais</p><p>hierarquicamente superiores para a realização de atos processuais por outro, inferior. É o</p><p>caso, por exemplo, da determinação expedida por um desembargador de Tribunal de Justiça</p><p>para que um juízo de primeiro grau realize certo ato processual.</p><p>c) Carta rogatória</p><p>As cartas rogatórias têm por finalidade realizar atos processuais fora do</p><p>território nacional, como, por exemplo, a citação de pessoa que mora em outro pais.</p><p>As referidas cartas são remetidas aos seus respectivos destinos por meio de</p><p>vias diplomáticas e nos termos de convenções e tratados internacionais de cooperação</p><p>judiciária (art. 210).</p><p>Todavia, quando o Brasil for o destinatário de uma rogatória advinda de</p><p>outro país, será necessário que tal requerimento seja analisado primeiramente pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal, que, após verificar a adequação com o sistema jurídico nacional, expedirá o</p><p>exequatur, determinando ao juízo federal competente que realize o ato requerido pela</p><p>autoridade judiciária estrangeira – artigo 109, X da Constituição da República.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>66 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>É importante consignar que o Supremo Tribunal Federal procederá a uma</p><p>análise de compatibilidade do pedido da autoridade estrangeira com o ordenamento</p><p>processual brasileiro e a soberania de nosso Estado.</p><p>Requisitos das Cartas</p><p>A validade das cartas está condicionada à observância dos requisitos</p><p>previstos nos artigos 202 e 203 do Código de Processo Civil, que estabelecem como</p><p>conteúdo obrigatório:</p><p>• indicação do juízo de origem e de cumprimento;</p><p>• teor completo da petição (ou cópia), do despacho judicial e do</p><p>instrumento de mandato conferido ao advogado;</p><p>• indicação do ato processual requerido;</p><p>• encerramento com a assinatura do juiz e o reconhecimento de sua</p><p>assinatura por escrivão autorizado;</p><p>• prazo para cumprimento;</p><p>• documento original quando se tratar de perícia sobre o referido</p><p>documento (ficando nos autos a fotocópia).</p><p>Facultativamente:</p><p>• outras peças necessárias: desenhos, mapas, laudos, etc.</p><p>Recusa judicial no cumprimento da carta</p><p>Excepcionalmente, o juízo destinatário da carta (aquele que cumprirá o ato</p><p>em sua jurisdição), poderá, nos termos do artigo 209 do Código de Processo Civil, recusar-se</p><p>ao cumprimento da carta nestas hipóteses:</p><p>• não estiver revestida dos requisitos legais;</p><p>• quando não tiver competência devido à matéria ou hierarquia;</p><p>• quando tiver dúvida sobre a autenticidade da carta.</p><p>Além das hipóteses de recusa, se for necessário, o juízo destinatário da</p><p>carta poderá requisitar ao juízo remetente informações complementares indispensáveis ao</p><p>cumprimento e à realização do ato requerido.</p><p>8.6.2. Citação</p><p>Este termo técnico processual significa, nos termos do artigo 213 do Código</p><p>de Processo Civil, o ato pelo qual se chama a juízo o réu, ou o interessado, a fim de</p><p>apresentar defesa e formar a relação jurídica processual.</p><p>Como regra, o processo é trilateral, ou seja, composta pela parte autora, ré</p><p>e órgão jurisdicional.</p><p>Assim, para a existência da relação jurídica processual é indispensável a</p><p>citação válida do réu ou do interessado passivo. Sem a citação válida a relação jurídica</p><p>processual não se instaura.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>67 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O Estado Democrático de Direito, sob a égide da Constituição da República,</p><p>estabelece como direito fundamental do indivíduo o direito de contraditório – art. 5º, inciso LV</p><p>– pelo qual é assegurado ao litigante o direito de apresentar sua versão acerca do que lhe foi</p><p>imputado pelo outro; é a garantia do direito de defesa.</p><p>Para a validade do processo (art. 214) e observância do princípio do</p><p>contraditório, é obrigatória a citação do demandado para que, se ele quiser, apresente sua</p><p>defesa e acompanhe o processo até a solução final.</p><p>Por outro lado, consagrando o princípio da instrumentalidade das formas</p><p>processuais, o § 1º determina que, no caso do comparecimento espontâneo do réu ou</p><p>interessado, estará suprida a falta ou a necessidade de citação.</p><p>Legitimação para recebimento da citação e local</p><p>O artigo 215 do Código de Processo Civil dá prioridade à citação pessoal do</p><p>demandado ou por procurador devidamente habilitado (com poderes expressos no</p><p>instrumento de mandato para receber citação).</p><p>Na hipótese de réu incapaz, a citação deverá ser feita à pessoa de seu</p><p>representante legal, em se tratando de pessoa jurídica o ato será recebido por pessoa</p><p>habilitada no estatuto ou contrato social.</p><p>Quanto ao local da realização da diligência de citação, estabelece o artigo</p><p>216 que o ato será realizado em qualquer lugar onde se encontra o réu.</p><p>Circunstâncias que impedem o ato de citação</p><p>Em casos excepcionais, no artigo 217 o legislador houve por bem postergar</p><p>o ato de citação para momento posterior à cessação de determinadas circunstâncias,</p><p>impedindo sua realização:</p><p>• a quem estiver assistindo a qualquer culto religioso;</p><p>• ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, em linha reta ou colateral</p><p>em segundo grau (irmãos), no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias</p><p>subseqüentes;</p><p>• aos noivos, nos 3 (três) primeiros dias de casamento;</p><p>• aos doentes, enquanto estiverem em estado grave.</p><p>Mandado de citação</p><p>A citação formaliza-se através de um mandado (ordem judicial que será</p><p>entregue ao réu no momento do ato), que deverá conter (art. 225):</p><p>a) os nomes das partes e os endereços;</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>68 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>b) a finalidade da citação,</p><p>bem como as especificações da petição inicial e</p><p>advertências;</p><p>c) cominação, quando houver;</p><p>d) o dia e o horário de comparecimento;</p><p>e) a cópia do despacho que determinou a citação;</p><p>f) a advertência do prazo para defesa;</p><p>g) a assinatura do escrivão e a declaração de que subscreve o mandado</p><p>por ordem do juiz.</p><p>Efeitos da citação válida</p><p>A citação válida, nos termos do artigo 219 do Código de Processo Civil, gera</p><p>os seguintes efeitos:</p><p>a) prevenção do juízo: a prevenção constitui o fenômeno da fixação da</p><p>competência em relação aos demais órgãos jurisdicionais – o órgão</p><p>prevento exclui a competência de qualquer outro;</p><p>b) litispendência: indica a existência de uma lide pendente de julgamento</p><p>pelo Poder Judiciário;</p><p>c) torna a coisa litigiosa: significa dizer que a coisa está sendo disputada</p><p>judicialmente, o que impede a sua alienação;</p><p>d) interrupção da prescrição: paralisa o curso do prazo prescricional;</p><p>e) constituição em mora do devedor: não havendo outra causa de</p><p>constituição em mora (protesto, ação cautelar preparatória, notificação,</p><p>etc.), a citação tem efeito de oficializar o inadimplemento do réu.</p><p>Formas de citação – art. 221:</p><p>• correio</p><p>• oficial de justiça pessoal</p><p>por hora certa</p><p>• edital</p><p>a) pelo correio</p><p>A citação pelo correio consiste na remessa do mandado ao réu por meio de</p><p>carta com retorno de comprovante de recebimento (para fazer prova nos autos da validade do</p><p>ato).</p><p>Esta forma de citação pode ser feita para qualquer comarca do país, salvo</p><p>nas ações de Estado, quando for ré pessoa incapaz, pessoa de direito público, nos processos</p><p>de execução, para as localidades não atendidas pelo serviço de correspondência ou quando</p><p>o autor requerer outra forma.</p><p>b) por oficial de justiça</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>69 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Nesta forma de citação, o oficial de justiça do juízo dirige-se ao domicílio do</p><p>réu ou a qualquer lugar onde ele se encontrar, e faz o ato de citação, entregando-lhe o</p><p>mandado e a contrafé (cópia da petição inicial e eventuais aditamentos).</p><p>Realizada ou não a citação, o oficial certificará o ocorrido, dando fé se o réu</p><p>recebeu ou se recusou a contrafé.</p><p>Citação por hora certa</p><p>O artigo 227 do Código de Processo Civil estabelece que na hipótese de o</p><p>oficial de justiça comparecer, por três vezes, sem encontrar o devedor e houver suspeita de</p><p>ocultação, deverá avisar qualquer pessoa da família, ou vizinho, que voltará no dia seguinte,</p><p>em horário determinado, para realizar a citação.</p><p>Com efeito, no dia seguinte, o oficial retornará ao local para proceder a</p><p>citação. Não comparecendo o réu, o oficial de justiça procederá à citação, entregando o</p><p>mandado e contrafé a qualquer pessoa da família ou vizinho.</p><p>Esta forma de citação tem por finalidade coibir a má-fé do demandado, que,</p><p>utilizando-se da ocultação, pretende retardar a citação e seus efeitos.</p><p>c) citação por edital</p><p>A citação por edital tem cabimento quando:</p><p>a) desconhecido ou incerto o réu: hipótese em que é desconhecida a</p><p>personalidade certa do réu, neste caso, o autor não sabe quem são os</p><p>interessados, é ignorada a própria pessoa do réu48 (por Exemplo, na</p><p>ação de usucapião não se tem conhecimento de todos os réus ou</p><p>pessoas interessadas no imóvel).</p><p>b) ignorado, incerto ou inacessível o lugar onde se encontrar: nesta</p><p>hipótese o réu é conhecido mas não se sabe onde ele está ou o lugar</p><p>onde ele se encontra é de difícil acesso. Considera-se inacessível,</p><p>também, o país que se recusar a cumprir carta rogatória.</p><p>c) nos casos previstos em lei: em procedimentos especiais a própria lei,</p><p>prevendo a existência de possíveis interessados incertos (pessoas</p><p>desconhecidas), determina a realização da citação por edital, como já</p><p>citamos no caso do usucapião.</p><p>A jurisprudência dominante tem firmado entendimento de que não basta</p><p>simplesmente alegar desconhecimento do endereço do réu para o deferimento da citação por</p><p>edital.</p><p>Esta forma de citação constitui meio excepcional, uma vez que o Código dá</p><p>preferência à citação pessoal e, como sabemos, na citação por edital há apenas presunção</p><p>48 Humberto Theodoro Júnior, ob.cit. p. 233</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>70 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>de ciência da ação em trâmite; trata-se de citação ficta, não há certeza de que o réu teve</p><p>efetiva ciência da ação que lhe foi proposta.</p><p>Por essa razão, o entendimento jurisprudencial49 consolidou o conceito de</p><p>que o autor deve esforçar-se para localizar o endereço do réu, requerendo ao magistrado a</p><p>expedição de ofícios a órgãos que mantenham banco de dados com o possível endereço do</p><p>demandado (por exemplo, Tribunal Regional Eleitoral, Receita Federal, Banco Central,</p><p>Serasa, etc.).</p><p>Com relação ao meio de realização, a legislação processual, em seu artigo</p><p>232, § 2º prevê, na hipótese de a parte autora ser beneficiária da justiça gratuita, que o edital</p><p>seja publicado no diário oficial ou em jornal de grande circulação local.</p><p>Além da publicação em jornal (duas publicações em veículo de grande</p><p>circulação local e no diário oficial, dentro do período de 15 dias – art. 232 do CPC), o edital</p><p>deverá ser afixado na sede do juízo (art. 232, II).</p><p>8.6.3. Intimações</p><p>A intimação constituiu comunicação de ato ou termo do processo a qualquer</p><p>pessoa (partes ou terceiros), com a finalidade de dar ciência ou determinar a realização de</p><p>um ato ou abstenção.</p><p>Formas de intimação:</p><p>a) por correio;</p><p>b) por oficial ou escrivão;</p><p>c) pela imprensa oficial;</p><p>d) por termo em audiência;</p><p>Nas comarcas atendidas pela imprensa oficial, as intimações serão</p><p>realizadas pelo referido órgão, devendo constar na publicação, sob pena de nulidade, o nome</p><p>das partes, de seus advogados e do teor da ciência.</p><p>Não havendo serviço de imprensa oficial, os advogados das partes serão</p><p>intimados pessoalmente ou por carta registrada com aviso de recebimento, nos termos do</p><p>artigo 237 do Código de Processo Civil.</p><p>Efeitos da intimação</p><p>49 "Processo Civil – Recurso Especial – Ação de execução hipotecária – Citação pessoal anterior à citação por</p><p>edital – Princípio da ampla defesa. O princípio da ampla defesa assegura que, em ação de execução hipotecária</p><p>proposta contra devedor que não mais reside no imóvel objeto do contrato, a citação por edital somente tenha</p><p>cabimento quando frustradas todas as tentativas com o objetivo de citá-lo pessoalmente." (STJ, 3ª T., resp n.º</p><p>208338/GO, rel. Min. Nancy Andrighi, julg. em 19/06/2001, v.u.).</p><p>"Deve ser deferida a expedição de ofícios ao TRE, à Secretaria da Receita Federal e a outros órgãos público, para</p><p>que informem o endereço do citando, se o autor não conseguiu localizá-lo." (RJTJESP 124/46, Bol. AASP</p><p>1387/176).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>71 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A intimação produz efeito de início do curso do prazo para a prática de ato</p><p>processual, observando-se:</p><p>a) citação ou intimação pelo correio: o prazo inicia-se na data da juntada</p><p>aos autos do aviso de recebimento;</p><p>b) citação ou intimação por oficial de justiça: o prazo tem início na data da</p><p>juntada aos autos do mandado devidamente cumprido;</p><p>c) quando houver vários réus: o prazo tem início na data da juntada do</p><p>último aviso de recebimento ou mandado cumprido;</p><p>d) carta de ordem, precatória ou rogatória: o prazo terá início após o</p><p>retorno da carta e a conseqüente juntada aos autos principais;</p><p>e) citação por edital: no prazo fixado pelo juiz;</p><p>f) das decisões proferidas em audiência: o prazo terá início neste ato.</p><p>Em se tratando de intimação para cumprimento de ordem judicial, por</p><p>exemplo,</p><p>de uma liminar, o ato tem efeito de obrigar a pessoa intimada ao imediato respeito à</p><p>ordem judicial (independentemente da juntada aos autos do mandado cumprido).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>72 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>9. PETIÇÃO INICIAL</p><p>Petição inicial é o ato praticado pela parte que ocupa o pólo ativo do</p><p>processo para a concretização do direito de ação. É o instrumento pelo qual o interessado</p><p>provoca a atividade jurisdicional para que emita uma tutela acerca de um litígio.</p><p>A esse respeito, o prof. Moacyr Amaral Santos, ensina50: Petição inicial e</p><p>sentença são os atos extremos do processo. Aquela determina o conteúdo desta. Sentia (É</p><p>ASSIM MESMO?) debet esse libello conformis. Aquela, o ato mais importante da parte, que</p><p>reclama a tutela jurídica do juiz; esta, o ato mais importante do juiz, a entrega da prestação</p><p>jurisdicional que lhe é exigida.</p><p>De fato, a petição inicial é o ato mais importante da parte autora, pois é</p><p>neste ato que ela estabelece os limites do conhecimento da lide e da sentença a ser</p><p>proferida.</p><p>9.1. Requisitos da petição inicial</p><p>É pressuposto objetivo de validade e desenvolvimento regular do processo a</p><p>existência de uma petição apta, ou seja, aquele que é elaborada em conformidade com os</p><p>requisitos genéricos e específicos previstos no ordenamento processual.</p><p>Os requisitos genéricos estão previstos nos artigos 282 e 283 do Código de</p><p>Processo Civil, já os requisitos específicos estão dispostos na legislação pertinente a cada</p><p>espécie de ação ou procedimentos especiais (por exemplo, possuem requisitos específicos as</p><p>ações possessórias, o inventário, as cautelares, as execuções, o mandado de segurança a</p><p>ação civil pública, etc.).</p><p>Com efeito, são requisitos genéricos das petições iniciais (para todas as</p><p>ações), nos termos do artigo 282:</p><p>a) O juiz ou tribunal a que é dirigida – constitui o endereçamento da petição</p><p>inicial, a indicação, pelo autor, do juízo e foro competentes para o</p><p>processamento da ação.</p><p>b) Qualificação das partes – neste ponto, é importante ressaltar que,</p><p>apesar de a lei enumerar os itens de qualificação, o que de fato é</p><p>necessário é a individualização das partes. Muitas vezes, pode ocorrer</p><p>de o autor desconhecer os dados de qualificação do réu, neste caso,</p><p>deverá individualizá-lo com os elementos que detém naquele momento.</p><p>c) Os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido – os fatos e fundamentos</p><p>constituem a denominada causa de pedir – as razões fáticas e jurídicas</p><p>que ensejam a demanda (fundamento jurídico não se confunde com</p><p>fundamento legal, não é obrigatória a indicação de artigos de lei na</p><p>50 Citação de Humberto Theodoro Júnior, op. cit., vol. I, p. 314. apud Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito</p><p>Processual Civil, vol. II, 3ª ed., p. 98.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>73 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>petição inicial, mas apenas a apresentação do raciocínio jurídico que</p><p>legitima o pedido da ação).</p><p>d) O pedido com sua especificação – tema tratado adiante.</p><p>e) O valor da causa51 – como regra, deve corresponder ao proveito</p><p>econômico ação pelo autor na ação, segundo os critérios estabelecidos</p><p>nos artigos 258 e 259 do Código de Processo Civil.</p><p>Há controvérsia na jurisprudência52 quanto ao valor da causa de pedidos</p><p>de dano moral: alguns entendem que sendo certo o pedido de</p><p>indenização por dano moral, este valor deve figurar como valor da</p><p>causa; outros afirmam que o valor da causa em dano moral é</p><p>meramente estimativo, mesmo que o autor tenha formulado pedido</p><p>certo.</p><p>f) As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos</p><p>alegados – no procedimento ordinário o autor poderá valer-se do</p><p>protesto genérico, ato meramente formal, pois no momento da</p><p>propositura da ação o autor ainda não dispõe do objeto da prova, no</p><p>momento da propositura não se sabe, ainda, quais fatos serão</p><p>controvertidos e objeto de provas, por essa razão admite-se o protesto</p><p>geral (autor afirma que pretende provar o alegado por todos os meios</p><p>em direito admitidos). É com a contestação que se estabelece o</p><p>contraditório e se verifica quais fatos serão objeto da prova. No entanto,</p><p>no procedimento sumário, por força do artigo 276, o autor deverá indicar</p><p>na petição inicial o rol de testemunhas, o requerimento de perícia,</p><p>formular seus quesitos e indicar assistente técnico, mesmo sem saber se</p><p>os fatos serão controvertidos.</p><p>g) O requerimento para citação do réu.</p><p>51 Art. 258. A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato (não</p><p>havendo a ação caráter econômico o autor dará um valor estimado).”</p><p>“Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será:</p><p>I – na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da ação;</p><p>II – havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles;</p><p>III – sendo alternativos os pedidos, o maior deles;</p><p>IV – se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido principal;</p><p>V – quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio</p><p>jurídico, o valor do contrato.</p><p>VI – na ação de alimentos, a soma de doze (12) prestações mensais, pedidas pelo autor;</p><p>VII – na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a estimativa oficial para lançamento do imposto.</p><p>52 “Em ação de indenização por dano moral, o valor da causa não encontra parâmetros no elenco do art. 259 do</p><p>CPC, mas, sim, no disposto no art. 258 do mesmo estatuto.” (RSTJ 109/227).</p><p>“Objetivando-se a reparação por danos morais, só fixado o ‘quantum’ se procedente a ação, ao final, lícita a</p><p>estimativa feita pelo autor, posto que de caráter provisório, podendo ser modificada quando da prolação da decisão</p><p>de mérito”(JTJ 203/241).</p><p>“Tendo o autor indicado na petição inicial o valor da indenização por danos morais que pretende, deve esse</p><p>‘quantum’ ser utilizado para fixar-se o valor da causa” (STJ, 4ª Turma, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, resp. n.º</p><p>120151-RS, julg. 24.06.98, v.u.)</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>74 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Além dos requisitos anteriormente expostos, o autor deverá instruir sua</p><p>petição inicial com os documentos indispensáveis, ou seja, documentos que a lei exige como</p><p>essenciais para a prova do fato, por exemplo, a escritura pública.</p><p>Apesar da falta de previsão legal expressa, também é requisito da petição</p><p>inicial a indicação da ação e do rito que seguirá o processo. Como sabemos, a escolha da</p><p>espécie de ação e o rito são incumbências do detentor do direito de ação, o juiz não pode, ao</p><p>receber a inicial, determinar a ação e o rito, mas tão-somente verificar a adequação na</p><p>escolha e, caso encontre erro, determinar à parte a imediata correção, sob pena de</p><p>indeferimento da inicial.</p><p>9.2. Pedido</p><p>No direito processual o termo “pedido” assume um significado próprio e</p><p>estrito, não se confundindo com “requerimento” (em sentido lato pedido e requerimento têm a</p><p>mesma conotação).</p><p>Pedido constitui o provimento jurisdicional desejado pelo autor e os efeitos</p><p>práticos causados por esse provimento. É no pedido que o autor identifica e limita a espécie</p><p>de tutela almejada na ação, indicando os efeitos advindos dessa tutela.</p><p>O pedido é o núcleo da petição e da demanda, sem o pedido a petição é</p><p>inepta e o processo não tem pressuposto processual de desenvolvimento válido, sendo a</p><p>ação extinta sem julgamento do mérito.</p><p>Assim, obrigatoriamente, o pedido é composto da seguinte forma:</p><p>• PEDIDO IMEDIATO: referente à</p><p>espécie de tutela requerida = para o</p><p>processo de conhecimento: CONDENAÇÃO, DECLARAÇÃO OU</p><p>CONSTITUIÇÃO (podendo ser cumulada mais que um provimento).</p><p>• PEDIDO MEDIATO: referente aos efeitos práticos da tutela (por</p><p>exemplo: pagamento de quantia, entrega de tal coisa... etc.)</p><p>Com efeito, o pedido deve ser formulado da seguinte forma:</p><p>Isto posto, requer a Vossa Excelência a procedência do pedido de</p><p>condenação do réu ao pagamento da quantia de R$ .....</p><p>PEDIDO IMEDIATO PEDIDO MEDIATO</p><p>Espécie de tutela Efeitos práticos da tutela</p><p>Todos os demais “pedidos” são, na realidade, requerimentos: como o</p><p>protesto por provas, citação, justiça gratuita, benefícios do art. 172, § 2º, que serão</p><p>articulados separadamente do pedido da ação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>75 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Requisitos do pedido</p><p>O artigo 286 determina que o pedido deve ser certo e determinado.</p><p>Certo é o pedido formulado expressamente quanto ao tipo de tutela</p><p>pretendida (condenação, declaração, constituição ou outra especial); por determinado</p><p>entende-se o pedido que contém os limites da pretensão, a especificação dos efeitos</p><p>esperados com a tutela jurisdicional.</p><p>Outro requisito necessário ao pedido é que ele seja concludente53, ou seja,</p><p>da narrativa dos fatos e dos fundamentos jurídicos deve decorrer logicamente a pretensão,</p><p>sob pena de inépcia da petição inicial – art. 295, parágrafo único, III.</p><p>Pedidos especiais</p><p>a) pedido genérico – exceção à regra do pedido determinado</p><p>Não obstante a determinação de que o pedido deve ser determinado, a</p><p>própria lei prevê a possibilidade de a pretensão ser genérica. Ressalte-se que o pedido</p><p>sempre será certo (quanto ao tipo de tutela), mas poderá ser indeterminado em relação aos</p><p>seus efeitos.</p><p>Assim, há generalidade ou falta de determinação do pedido mediato nas</p><p>seguintes hipóteses do artigo 286:</p><p>a) nas ações universais, se não for possível ao autor individualizar os bens</p><p>demandados na inicial;</p><p>b) quando não for possível determinar, de modo definitivo, as</p><p>conseqüências do ato ou do fato jurídico;</p><p>c) quando a determinação do valor da condenação depender de ato que</p><p>deva ser praticado pelo réu.</p><p>b) pedido cominatório</p><p>No atual sistema processual, conforme54 Humberto Theodoro Junior: Há</p><p>dois meios de realizar a sanção jurídica, quando o devedor deixa de cumprir a prestação a</p><p>que se obriga, que são meios de sub-rogação e os meios de coação.</p><p>A sub-rogação consiste no ato do Estado em substituir a ação do réu para</p><p>ser cumprida a obrigação (por exemplo, na execução, pelo fato de o devedor não cumprir</p><p>espontaneamente a sua obrigação, o Estado invade o seu patrimônio e satisfaz o credor). Por</p><p>outro lado, em alguns casos, a sub-rogação não tem o poder de satisfazer o direito do credor,</p><p>por exemplo, nas obrigações de fazer;, por essa razão, ao invés da substituição o Estado</p><p>exerce coação sobre o devedor para que ele cumpra, pessoalmente, a obrigação.</p><p>53 Humberto Theodoro Junior, ob. cit., p. 319.</p><p>54 Ob. cit., p. 320.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>76 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Nestes casos, a lei admite– art. 287 – a formulação de pedido cominatório,</p><p>para que seja imposta uma pena pecuniária no caso de descumprimento da sentença —</p><p>trata-se de meio de coação sobre o devedor para que respeite a decisão.</p><p>É importante consignar que, mesmo não havendo pedido de caráter</p><p>cominatório expresso, o juiz poderá fixar pedido de ofício, conforme determina o artigo 461 do</p><p>Código de Processo Civil.</p><p>c) pedido alternativo</p><p>A alternatividade está relacionada com a própria obrigação do réu devedor.</p><p>Neste caso, o pedido é certo e determinado, mas o autor pretende uma prestação ou outra.</p><p>“Art. 288. O pedido será alternativo, quando, pela natureza da</p><p>obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um</p><p>modo.”</p><p>d) pedidos sucessivos</p><p>O artigo 289 faculta ao autor formular pedidos em ordem sucessiva,</p><p>objetivando que o juiz conheça pedido posterior em caso de não acolhimento do pedido</p><p>anterior.</p><p>Por exemplo, a parte poderá requerer a rescisão do contrato, mas, não</p><p>sendo possível pode requerer, sucessivamente, a sua revisão. O pedido de revisão apenas</p><p>será apreciado caso seja negado o pedido de rescisão.</p><p>O pedido sucessivo pressupõe a existência de um pedido principal e um</p><p>pedido subsidiário.</p><p>e) pedidos cumulados</p><p>Não obstante a possibilidade de o autor formular pedidos sucessivos, há</p><p>também a possibilidade de cumulação de pedidos. No primeiro caso o pedido sucessivo será</p><p>apreciado apenas quando tiver sido negado o principal, já na cumulação todos os pedidos</p><p>deverão ser apreciados pelo magistrado, representando a soma das pretensões do autor.</p><p>Os requisitos para a cumulação de pedidos são, independentemente da</p><p>verificação de conexão:</p><p>• mesmo réu;</p><p>• pedidos compatíveis entre si;</p><p>• que o mesmo juízo seja competente para conhecer todos os pedidos;</p><p>• que seja adequado o procedimento para todos os pedidos, sendo</p><p>facultativo o uso do procedimento ordinário quando os pedidos tiverem</p><p>procedimentos diferentes.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>77 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>f) pedidos implícitos</p><p>É regra é no sentido de que os pedidos são interpretados restritivamente –</p><p>só é pedido o que está expresso na petição inicial – nos termos do artigo 293.</p><p>No entanto, a própria lei prevê a existência de pedidos implícitos, cuja falta</p><p>de requerimento expresso não só não prejudica a sua apreciação, como também obriga o</p><p>magistrado a conhecê-los, independentemente de eles estarem expressos.</p><p>São casos de pedidos implícitos</p><p>• juros legais de mora55 – arts. 219 e 293;</p><p>• correção monetária – Lei n.º 68891/81;</p><p>• honorários advocatícios – art. 20;</p><p>• prestações periódicas vincendas56 – art. 290;</p><p>• astreintes previstas no art. 461.</p><p>Vícios e alteração do pedido</p><p>É causa de indeferimento da inicial, sem julgamento do mérito da ação, as</p><p>hipóteses de inépcia da petição inicial, que, basicamente, referem-se a vício no pedido da</p><p>ação.</p><p>A esse respeito, o parágrafo único do artigo 295 estabelece:</p><p>“Art. 295. A petição inicial será indeferida:</p><p>I – quando for inepta;</p><p>(...)</p><p>Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando:</p><p>I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;</p><p>II – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;</p><p>III – o pedido for juridicamente impossível;</p><p>IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.”</p><p>Das hipóteses previstas nos incisos I e II, recebida a petição inicial o juiz</p><p>poderá determinar o aditamento da petição para a correção do vício. No entanto, nas demais</p><p>hipóteses é inviável a determinação do aditamento, pois em caso de impossibilidade jurídica</p><p>55 Súmula 254 do STF: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a</p><p>condenação.”</p><p>56 “Tratando-se de prestações periódicas, consideram-se elas incluídas no pedido, sem mais formalidades,</p><p>enquanto durar a obrigação. O princípio, entretanto, não é absoluto, sendo aplicável quando conhecidos os valores;</p><p>não quando discutível o valor das prestações, sujeito a constantes alterações”(STJ, 2ª Turma, resp 31164, rel. Min.</p><p>Hélio Mosimann, j. 20.11.95, v.u.).</p><p>Esta regra é aplicável, também, ao processo de execução, sendo muito comum a ocorrência em ações de alimentos</p><p>e acordos que prevêm pagamento em parcelas – a execução de uma parcela inclui as prestações que se vencerem</p><p>no curso da demanda.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan</p><p>Barroso</p><p>78 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>do pedido, hipótese de carência de ação, não há como o vício ser sanado com relação à</p><p>cumulação indevida, por óbvio, o juiz deverá excluir o pedido que for incompatível.</p><p>Com relação à modificação do pedido, seja pela existência de vício seja por</p><p>conveniência da parte, poderá ocorrer até a efetivação da citação – art. 294 – , depois disso,</p><p>apenas com a concordância da parte contrária – art. 264 (o que será muito difícil de ocorrer).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>79 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>10. DEFESA OU RESPOSTA DO RÉU</p><p>A Constituição da República, em seu artigo 5º, garantiu aos litigantes em processo</p><p>judicial o direito de contraditório e ampla defesa, que consiste na faculdade da parte de</p><p>apresentar a sua versão contra aquela exposta pelo autor; além disso, é assegurado ao</p><p>litigante o direito de provar de forma ampla os fatos que alega.</p><p>Com a citação válida surge para o demandado o ônus57 de apresentar sua</p><p>resposta ou defesa, sob pena de, não o fazendo, sofrer os efeitos dessa inércia processual</p><p>(revelia, preclusão, prorrogação da competência, etc.).</p><p>Assim, o Código de Processo Civil prevê as seguintes espécies de defesa do réu</p><p>(art. 297):</p><p>a) contestação;</p><p>b) reconvenção;</p><p>c) exceções.</p><p>Nesse ponto, é importante registrar que todas as espécies de defesa devem ser</p><p>apresentadas no prazo de 15 (quinze) dias, contados na forma do artigo 241, sendo que os</p><p>Entes Públicos possuem prazo em quádruplo para o referido ato.</p><p>10.1. Contestação</p><p>A contestação é o instrumento de oposição do réu à ação proposta pelo autor;</p><p>podemos dizer que é o direito de ação do réu contra o direito de ação do autor, ou, ainda, a</p><p>resistência do demandado contra a pretensão do demandante.</p><p>É na contestação, pelo princípio da eventualidade, que o réu deverá alegar toda</p><p>a matéria processual e de mérito que lhe competir naquele momento, afirmando a lei (art.</p><p>300), que compete ao réu alegar na contestação toda matéria de defesa.</p><p>Diante disso, prevê a legislação:</p><p>• defesa processual – preliminares;</p><p>• defesa de mérito – contra a pretensão ou pedido da ação.</p><p>Com efeito, antes de discutir o mérito da ação, o réu deverá argüir:</p><p>a) inexistência ou nulidade da citação – como vimos anteriormente, sem citação</p><p>não existe processo;</p><p>b) incompetência absoluta – aquelas relacionadas à matéria e hierarquia. A</p><p>incompetência relativa (territorial ou valor da causa) deverá ser alegada em</p><p>exceção de incompetência (petição autônoma);</p><p>c) inépcia da petição inicial – a inépcia se verifica quando existe vício no pedido</p><p>da petição inicial, ou seja, quando faltar pedido ou causa de pedir, quando da</p><p>57 Não caracteriza dever ou obrigação, o demandado não está obrigado a apresentar defesa.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>80 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>narração dos fatos não decorrer logicamente o pedido, quando o pedido for</p><p>juridicamente impossível, quando os pedidos cumulados forem incompatíveis</p><p>entre si (art. 295, parágrafo único);</p><p>d) perempção – ocorre quando a ação é extinta, sem julgamento do mérito, por</p><p>mais de três vezes (art. 268, parágrafo único);</p><p>e) litispendência – quando houver em trâmite outra ação idêntica (mesmas</p><p>partes, causa de pedir e pedido), quando se repete ação que ainda está em</p><p>trâmite ou pendente de julgamento (art. 301, § 3º);</p><p>f) coisa julgada – quando for repetida ação já decidida por sentença definitiva</p><p>(de que não caiba mais recursos);</p><p>g) conexão – quando por identidade de causa de pedir ou objeto o processo deva</p><p>ser julgado simultaneamente com outro, idêntico;</p><p>h) incapacidade da parte, defeito de representação processual ou falta de</p><p>autorização – a falta de autorização ocorre naquelas hipóteses do artigo 10,</p><p>em que há obrigatoriedade de outorga do cônjuge;</p><p>i) convenção de arbitragem – uma vez que o compromisso arbitral afasta a</p><p>jurisdição estatal, havendo a convenção o juiz não poderá analisar o mérito da</p><p>demanda;</p><p>j) carência de ação – impossibilidade jurídica do pedido, falta de legitimidade e</p><p>interesse de agir;</p><p>k) falta de caução ou outra prestação, que a lei exige como preliminar – hipótese,</p><p>por exemplo, da ação rescisória que determina a prestação de caução pelos</p><p>autos como pressuposto da ação.</p><p>As preliminares de contestação são incidentes processuais que impedem o</p><p>magistrado de conhecer o mérito da ação, são questões de ordem pública que podem ser</p><p>conhecidas de ofícios, salvo as hipóteses de compromisso arbitral (art. 301, § 4º).</p><p>Por sua vez, na defesa de mérito, o réu deverá alegar toda a defesa pertinente,</p><p>inclusive manifestando-se precisamente sobre todos os fatos deduzidos pelo autor, sob pena</p><p>de preclusão e presunção de veracidade.</p><p>Em outras palavras: os fatos não contestados são tidos por incontroversos,</p><p>gerando a confissão do réu em favor do autor.</p><p>A regra da impugnação específica apenas não se aplica nos seguintes casos (art.</p><p>302 e parágrafo único):</p><p>a) se não for admissível a confissão – nos casos de direitos indisponíveis;</p><p>b) se a petição inicial não estiver instruída com o documento público que a lei</p><p>obrigar para a validade do ato;</p><p>c) se estiverem em contradição com a defesa considerada em seu conjunto;</p><p>d) quando a defesa for elaborada por advogado dativo, curador especial e por</p><p>órgão do Ministério Público.</p><p>Da mesma forma, após a apresentação da contestação, apenas se admitem</p><p>novas alegações quando (art. 303):</p><p>a) forem relativas a direito superveniente;</p><p>b) competir ao juiz conhecer a matéria de ofício (questão de ordem pública);</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>81 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>c) puderem ser alegadas a qualquer tempo por expressa previsão legal.</p><p>10.2. Exceções</p><p>A palavra exceção significa exclusão. Contudo, neste contexto, as exceções</p><p>assumem a natureza de defesa específica contra defeito ou vício com relação ao órgão</p><p>jurisdicional, e não contra o mérito da ação.</p><p>Com efeito, a exceção prevista no artigo 304 do Código de Processo Civil tem por</p><p>finalidade a argüição de incompetência do juízo, o impedimento ou a suspeição do juiz.</p><p>10.2.1. Exceção de incompetência</p><p>O instituto denominado exceção de incompetência constitui verdadeiro incidente</p><p>processual, autuado em apartado e apenso aos autos do processo principal, utilizado para a</p><p>argüição de incompetência relativa do juízo (aquela fixada em função do valor e do território).</p><p>Nas hipóteses de violação à competência absoluta, como vimos anteriormente,</p><p>esta incompetência deverá ser alegada em preliminar de contestação, nos termos do artigo</p><p>301, inciso II.</p><p>Apesar do disposto no artigo 305, que sugere a possibilidade de exceção a</p><p>qualquer momento processual, a exceção de incompetência (relativa) deve ser argüida no</p><p>primeiro momento que a parte tiver para falar nos autos, sob pena de preclusão e</p><p>conseqüente prorrogação da competência.</p><p>Argüida a incompetência por exceção, o juiz mandará ouvir o excepto (parte</p><p>contrária) dentro do prazo de 10 (dez) dias, podendo, inclusive, designar audiência para oitiva</p><p>de testemunhas, quando necessário.</p><p>Ressalte-se que, recebida a exceção, o processo ficará suspenso até o seu</p><p>julgamento definitivo, nos termos dos artigos 306 e 265, III, do Código de Processo Civil.</p><p>De fato, a exceção coloca em discussão a própria validade da atividade</p><p>jurisdicional, seja em razão da competência seja da imparcialidade; não serão praticados atos</p><p>no processo até que o incidente seja decidido. Como vimos, a competência e imparcialidade</p><p>do juiz são pressupostos processuais de existência e desenvolvimento válido da relação</p><p>jurídica.</p><p>Por fim, julgada a exceção, se procedentes os autos serão remetidos ao juízo</p><p>competente (outro órgão jurisdicional), caso contrário permanecerão no mesmo juízo,</p><p>cessando a suspensão do processo. O ato judicial proferido no incidente de exceção tem</p><p>natureza de decisão interlocutória, portanto, desafia recurso de agravo de instrumento.</p><p>10.2.2. Exceção de impedimento e suspeição</p><p>O impedimento e a suspeição (arts. 134 e 135) constituem hipóteses de</p><p>imparcialidade do juiz (da pessoa do magistrado e não do juízo) ou dos serventuários da</p><p>justiça, o que também impede o desenvolvimento válido do processo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>82 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, quando o juiz é reconhecido impedido ou suspeito o processo não se</p><p>desloca do juízo, mas apenas é transferido para o seu substituto legal.</p><p>A exceção de impedimento ou suspeição deve ser alegada no primeiro momento</p><p>que a parte tiver para falar nos autos, após o conhecimento da imparcialidade.</p><p>Com relação à exceção de suspeição, por se tratar de imparcialidade relativa, não</p><p>oposta a exceção, o juiz se tornará imparcial para o julgamento da causa, ocorrendo a</p><p>preclusão do direito de alegar o vício58.</p><p>O contrário ocorre com a exceção de impedimento, que pode ser argüida em</p><p>qualquer momento, até mesmo em sede de ação rescisória após o trânsito em julgado da</p><p>ação. No entanto, a parte responderá pelos prejuízos decorrentes da demora da argüição.</p><p>10.2.2.1. Procedimento da exceção de impedimento ou suspeição</p><p>A exceção deverá ser apresentada por meio de petição fundamentada e</p><p>autônoma das demais defesas, dirigida ao próprio juízo da causa.</p><p>Por sua vez, sendo reconhecido o impedimento ou suspeição o juiz determinará a</p><p>remessa dos autos ao seu substituto legal ou, em caso contrário, apresentará as suas razões,</p><p>o rol de testemunhas e os documentos e determinará, no prazo de 10 (dez) dias, a remessa</p><p>dos autos ao tribunal.</p><p>Nota-se que a competência para julgar a exceção não é do juiz de primeiro grau</p><p>(como ocorre na exceção de incompetência), mas concerne ao tribunal proceder o julgamento</p><p>da alegação de imparcialidade.</p><p>Assim, caso o tribunal acolha a exceção, o juiz será condenado ao pagamento</p><p>das custas e os autos serão remetidos ao substituto legal.</p><p>O acórdão proferido pelo tribunal no julgamento do incidente de exceção poderá</p><p>ser impugnado, observados os requisitos próprios dos recursos, por meio dos recursos</p><p>especial e extraordinário.</p><p>58 NERY JR., Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade, ob. cit. p. 589, notas 1 e 2 do artigo 312.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>83 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>10.2.2.2. Procedimento da exceção de impedimento ou suspeição</p><p>10.3. Reconvenção</p><p>A reconvenção é o instrumento colocado à disposição do réu para o exercício de</p><p>ação contra o autor nos próprios autos da ação iniciada por este. Em outras palavras, trata-se</p><p>da possibilidade do réu de formular pedido contra o autor, sem a necessidade da propositura</p><p>de uma nova demanda.</p><p>A reconvenção é cabível quando:</p><p>• a ação reconvencional for conexa com a ação principal (mesmo pedido ou</p><p>causa de pedir ou identidade de objeto);</p><p>Petição</p><p>Exceção de suspeição ou</p><p>impedimento</p><p>Autuação</p><p>Conclusão do juiz</p><p>Remessa dos autos ao</p><p>substituto legal</p><p>No prazo de 10 dias, o</p><p>juiz poderá instruir a</p><p>exceção com suas</p><p>razões e documentos e</p><p>rol de testemunhas</p><p>Juiz acolhe a exceção Juiz rejeita a exceção</p><p>Tribunal acolhe a exceção</p><p>Determinação de remessa dos</p><p>autos ao substituto legal</p><p>Julgamento pelo Tribunal</p><p>Tribunal rejeita a exceção</p><p>A parte sucumbente poderá</p><p>interpor recursos especiais</p><p>e/ou extraordinário</p><p>Remessa da exceção</p><p>ao tribunal</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>84 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• a ação reconvencional for conexa com o fundamento da defesa (contestação).</p><p>Dessa forma, nota-se que a reconvenção é uma verdadeira ação que tramitará</p><p>nos autos de outra.</p><p>10.3.1. Prazo e requisitos</p><p>A reconvenção deve ser apresentada no prazo de 15 dias, simultaneamente com</p><p>a contestação. Ressalte-se que nada impede a apresentação de reconvenção sem</p><p>contestação, ou seja, a parte poderá apenas reconvir, no entanto, se for contestar, deverá</p><p>protocolar ambas as petições, simultaneamente.</p><p>Requisitos:</p><p>a) petição inicial (petição autônoma em relação à contestação) – devem ser</p><p>observados todos os requisitos previstos no artigo 282 do CPC, devendo a</p><p>reconvenção ser proposta por petição autônoma;</p><p>b) competência do juiz para conhecimento da reconvenção – o juízo da ação</p><p>principal também deve ser competente para o julgamento da reconvenção;</p><p>c) compatibilidade entre os ritos procedimentais (ação e reconvenção);</p><p>d) simultaneidade (contestação e reconvenção);</p><p>e) a ação principal deve admitir reconvenção – uma vez que alguns</p><p>procedimentos admitem pedidos na própria contestação, não havendo</p><p>necessidade de reconvenção, por exemplo, rito sumário e ações possessórias.</p><p>10.3.2. Diferenças entre reconvenção e ação declaratória incidental</p><p>Apesar de existir uma aparente semelhança entre os dois institutos, podemos</p><p>vislumbrar as seguintes distinções59:</p><p>Reconvenção Ação declaratória incidental</p><p>Art. 315 Arts. 5º e 325</p><p>Legitimidade do réu para reconvir Legitimidade de ambas as partes</p><p>Não é obrigatória a contestação para reconvir</p><p>A existência de contestação é requisito para</p><p>a ação declaratória (para que possa existir</p><p>controvérsia)</p><p>Extinta a ação principal permanece a</p><p>reconvenção</p><p>Extinta a ação principal também será extinta</p><p>a ação declaratória</p><p>Para obtenção de qualquer espécie de tutela</p><p>(condenatória, declaratória e constitutiva)</p><p>Apenas para a obtenção de provimento</p><p>declaratório</p><p>Prazo de 15 dias Prazo de 10 dias</p><p>Ampliação dos limites da lide Não há ampliação dos limites da lide</p><p>Não havendo contestação da reconvenção</p><p>haverá revelia</p><p>Não havendo contestação da ação</p><p>declaratória poderá não haver revelia, uma</p><p>vez que os fatos já estão controversos</p><p>59 NERY Jr., Nelson. NERY, Rosa Maria Andrade,.ob. cit., p.592.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>85 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>10.3.3. Procedimento</p><p>A reconvenção deverá ser apresentada simultaneamente com a contestação, em</p><p>petição autônoma, na forma de uma petição inicial (art. 282), que será remetida (distribuição</p><p>por dependência) ao mesmo juízo da causa principal.</p><p>Recebida a reconvenção, o autor reconvindo será intimado (não citado) na pessoa</p><p>de seu advogado para apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias.</p><p>Por sua vez, após regular instrução das ações, serão julgadas na mesma</p><p>sentença a ação e a reconvenção, nos termos do artigo 318 do Código de Processo Civil.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>86 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>11. INSTRUÇÃO</p><p>O direito do exercício da prova constituiu direito fundamental previsto no artigo 5º</p><p>da Constituição da República, sendo assegurada aos litigantes, além do contraditório, a</p><p>ampla defesa.</p><p>No entanto, a própria Constituição exclui do conceito de defesa ampla as provas</p><p>obtidas por meios ilícitos60, nos termos do inciso LVI do artigo 5º.</p><p>No processo, a prova tem a finalidade de levar</p><p>ao juízo elementos de formação da</p><p>sua convicção quanto à verdade dos fatos alegados pelas partes.</p><p>11.1. Ônus da prova</p><p>No processo civil predomina o princípio da verdade formal, isto é, a convicção do</p><p>magistrado apenas poderá ser fundamentada nos elementos constantes dos autos, o que se</p><p>opõe à verdade real.</p><p>Geralmente, cada parte deve comprovar os fatos que alegou, tentando convencer o</p><p>juízo com seus elementos probatórios.</p><p>Nota-se que a parte não está obrigada a fornecer a prova, mas, caso não se incumba</p><p>do ônus que isto acarreta, sofrerá o prejuízo por não ter comprovado as suas alegações.</p><p>Nesse sentido, o artigo 333 estabelece o ônus probatório:</p><p>a) Ao autor: deve provar o fato constitutivo de seu direito – fatos alegados na inicial;</p><p>b) Ao réu: deve provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do</p><p>direito do autor – fatos alegados na contestação, caracterizando fatos de</p><p>resistência ao pedido formulado na inicial.</p><p>Além disso, sob pena de nulidade, é vedada a convenção entre as partes que</p><p>regulamentem de forma diversa o ônus da prova quando recair sobre direito indisponível ou</p><p>tornar excessivamente difícil a sua realização.</p><p>Em uma conclusão lógica, podemos verificar que é praticamente impossível a</p><p>realização da prova de fato negativo. Por exemplo, quando alguém requer uma cobrança não</p><p>tem como provar que o devedor está inadimplente (não existe recibo de não pagamento).</p><p>Assim, deverá a outra parte provar que pagou com a exibição de recibo ou título.</p><p>Outra questão relevante a esse respeito é a inversão do ônus da prova</p><p>estabelecida no Código de Defesa do Consumidor, que, prevendo a hipossuficiência do</p><p>consumidor, que é a parte mais fraca da relação jurídica, estabelece:</p><p>60 "Art. 5º ...........................</p><p>LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o direito ao</p><p>contraditório e à ampla defesa, com os meios e recursos a eles inerentes;</p><p>LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;"</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>87 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>"Art. 6º São direitos básicos do consumidor:</p><p>(...)</p><p>VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com</p><p>a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo</p><p>civil, quando a critério do juiz, for verossímil a alegação ou</p><p>quando for ele hipossuficiente, segundo as regras</p><p>ordinárias de experiências." (No original, sem negritos.)</p><p>Infere-se, assim, que nos processos envolvendo relações de consumo incumbe ao</p><p>fornecedor provar inexistência dos fatos e do direito alegados pelo autor.</p><p>11.2. Objeto da prova</p><p>Podemos afirmar, com certeza, que a prova tem como principal objeto e finalidade</p><p>a demonstração de FATOS CONTROVERTIDOS.</p><p>Em contraposição da petição inicial com a defesa, são levantados, em despacho</p><p>saneador, os fatos controvertidos, as situações da vida real apontadas pelo autor e</p><p>contestadas pelo réu.</p><p>Desse raciocínio, o Código de Processo Civil, em seu artigo 334 determinou que</p><p>não dependem de provas os fatos:</p><p>a) notórios – aqueles de conhecimento geral e público;</p><p>b) afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária – a confissão</p><p>pode ser expressa: quando a parte declara concordância com as afirmações</p><p>da parte contrária; ou tácita, quando a parte se omite em contestar fato</p><p>alegado;</p><p>c) admitidos no processo como incontroversos – fatos não impugnados pelas</p><p>partes;</p><p>d) em cujo favor há presunção legal de existência ou de veracidade – como</p><p>exemplo podemos citar as certidões de serventuários e cartórios.</p><p>Pela regra contida no artigo 332, a prova tem por objeto comprovar a verdade de</p><p>FATOS, havendo presunção de que o DIREITO – textos legais – é de conhecimento do</p><p>magistrado, sendo dispensável demonstrar a vigência de instrumentos normativos.</p><p>Contudo, a regra comporta exceção. O artigo 337 determina que a parte que</p><p>alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário deverá levar aos autos o</p><p>seu teor e fornecer provar da vigência.</p><p>11.3. Requerimento, admissão e valoração da prova</p><p>O artigo 282, inciso VI, determina que o autor deverá requerer na petição inicial as</p><p>provas com que pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>88 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Por sua vez, ao apresentar contestação, o réu também deverá apresentar o</p><p>requerimento das provas que pretende produzir.</p><p>Com exceção do procedimento sumário, que determina a especificação das</p><p>provas já na petição inicial (sob pena de preclusão), na fase postulatória as partes apenas</p><p>formulam requerimentos genéricos, sendo possível o protesto geral por todos os meios</p><p>probatórios e que em momento processual futuro sejam especificadas as provas que serão</p><p>fornecidas.</p><p>Tal protesto geral decorre do fato de, na fase postulatória do processo (petição</p><p>inicial e contestação), não existe ainda a fixação dos pontos controvertidos da demanda, não</p><p>se sabendo, portanto, quais são o objeto e o ônus da prova.</p><p>Com o saneamento do feito (art. 331, § 2º), o magistrado levantará os pontos</p><p>controvertidos que serão objeto de instrução, conseqüentemente ele determinará às partes</p><p>que especifiquem, com exposição de pertinência, as provas que pretendem produzir.</p><p>É importante consignar que antes da contestação não há como se especificar –</p><p>com precisão – as provas que serão realizadas, pois não existe ainda a formação do</p><p>contraditório e, como sabemos, o objeto da prova é o fato controvertido.</p><p>Especificadas as provas pelas partes, o juízo deverá proceder a uma análise de</p><p>utilidade e pertinência dos atos requeridos, lembrando que pelo princípio da utilidade e</p><p>economia processual o juiz tem o dever de indeferir os atos desnecessários à lide, nestes</p><p>termos:</p><p>"Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da</p><p>parte, determinar as provas necessárias à instrução do</p><p>processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente</p><p>protelatórias."</p><p>O artigo anteriormente citado permite a certeza de que é facultado ao juiz a</p><p>determinação das provas que entender necessárias, mesmo que não concordem as partes</p><p>com a sua produção, o que também se aplica ao Ministério Público nos casos em que ele</p><p>intervém como fiscal da lei (art. 83. II).</p><p>Admitida e realizada a prova, o juízo terá livre poder para sua apreciação,</p><p>podendo formar sua convicção sem observância de uma ordem legal de valoração da prova,</p><p>como preceitua o dispositivo a seguir:</p><p>"Art. 130. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo</p><p>aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que</p><p>não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na</p><p>sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento."</p><p>Obviamente, em consonância com o princípio da fundamentação dos atos</p><p>judiciais, previsto no inciso IX do artigo 93 da Constituição da República, e para garantir o</p><p>direito de contraditório, o juízo deverá expor, na sentença, os motivos e provas que formaram</p><p>o seu convencimento, apresentando a valoração dada às provas produzidas.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>89 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>11.4. Provas em espécie</p><p>11.4.1. Prova documental</p><p>A conceituação de documento apresentada pela doutrina61 é que documento é</p><p>toda coisa ou objeto físico capaz de representar um fato.</p><p>Quanto à origem o documento pode ser:</p><p>a) público;</p><p>b) particular.</p><p>O documento público é aquele elaborado, extraído ou trasladado por serventuário</p><p>da justiça ou outro servidor do Estado no exercício de suas funções, cujo conteúdo goza de fé</p><p>pública.</p><p>O documento particular é aquele firmado sem a presença</p><p>de órgão do Estado,</p><p>apenas com a atividade de particulares, fazendo-se presumir a verdade dos fatos nele</p><p>contidos contra o seu subscritor.</p><p>A todo o documento a lei confere presunção de veracidade – absoluta em relação</p><p>aos documentos públicos e relativa em relação aos particulares –, incumbindo à parte provar</p><p>a sua falsidade por meio de incidente processual próprio (art. 387).</p><p>Com relação ao momento da produção da prova documental podemos afirmar:</p><p>• o autor deverá instruir a petição inicial com todos os documentos</p><p>indispensáveis à propositura da ação – art. 283 –, com todos os documentos</p><p>que detiver naquele momento;</p><p>• o réu deverá instruir a sua contestação com todos os documentos de que</p><p>dispõe naquele momento;</p><p>• o Código de Processo Civil admite, a qualquer tempo, apenas a juntada de</p><p>documentos novos (aqueles não existentes no momento da propositura da</p><p>ação ou apresentação da defesa).</p><p>8.4.2 Provas orais – depoimentos pessoais e testemunhas</p><p>Depoimento pessoal, interrogatório e confissão</p><p>O depoimento pessoal constitui meio de prova à disposição de uma parte em</p><p>relação a outra, com a finalidade de obter a sua confissão62, lembrando que não se admite a</p><p>confissão de direitos indisponíveis (art. 351).</p><p>Por sua vez, o interrogatório é ato colocado à disposição do juízo para que a parte</p><p>possa esclarecer pessoalmente os fatos da causa, não havendo pena de confissão.</p><p>61 THEODORO JR. Humberto, op. cit. p. 394.</p><p>62 "Art. 348. Há confissão quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao</p><p>adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial."</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>90 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O depoimento pessoal é realizado em audiência de instrução e julgamento, antes</p><p>da oitiva de eventuais testemunhas. Já o interrogatório poderá ser realizado a qualquer</p><p>momento do processo.</p><p>De acordo com regra prevista no Código de Processo Civil, a parte não pode</p><p>recusar-se a depor, uma vez que, quando intimada pessoalmente, deixar de comparecer ou</p><p>recusar-se ao depoimento, haverá cominação da pena de confissão.</p><p>Excepcionalmente, a parte poderá recusar-se a depor salvo em ações de filiação,</p><p>separação e anulação de casamento, quando (art. 347):</p><p>a) o depoimento for sobre fatos criminosos ou torpes que são a ela imputados;</p><p>b) o depoimento for sobre fatos dos quais ela deve guardar segredo devido ao</p><p>seu estado ou sua profissão.</p><p>Como vimos, a confissão constitui uma espécie de prova em favor da parte</p><p>contrária que realizou.</p><p>Não obstante a confissão realizada por depoimento pessoal, em audiência, a</p><p>prova também poderá ser fornecida em outros momentos do processo (por exemplo, durante</p><p>a contestação) ou mesmo fora dele, por meio de instrumento particular.</p><p>Além disso, há previsão legal – art. 350 – para que a confissão realizada por um</p><p>litisconsorte não prejudique os demais.</p><p>Outra característica da confissão é o fato de ela ser indivisível, não podendo ser</p><p>invocada parcialmente, salvo quando houver alegação de fatos novos que sejam utilizados</p><p>em defesa de direito material ou de reconvenção, nos termos do artigo 354 do Código de</p><p>Processo Civil.</p><p>A prova testemunhal</p><p>Além da oitiva das partes – depoimento ou interrogatório – também constitui prova</p><p>oral o relato, em juízo, de terceiros que tenham conhecimento dos fatos discutidos na</p><p>demanda.</p><p>Não obstante a ampla admissibilidade da prova testemunhal, ela deve ser</p><p>indeferida quando versar sobre fatos já provados por documentos, confissão da parte, ou que</p><p>a lei determinar como exclusividade de prova documental (propriedade de imóvel) ou pericial</p><p>(demarcação de imóvel).</p><p>A testemunha deverá ser "isenta" do litígio e capaz de firmar declarações. A lei</p><p>prevê que não podem testemunhar as seguintes pessoas:</p><p>a) os incapazes;</p><p>b) os impedidos:</p><p>• o cônjuge, ascendente e descendente em qualquer grau, ou colateral até o</p><p>terceiro grau, de qualquer das partes, salvo se existir interesse público;</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>91 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>quando for impossível obter a prova de outro modo ou o juiz reputar a</p><p>testemunha indispensável ao julgamento;</p><p>• aquela que é parte na causa;</p><p>• aquelas que intervêm em nome da parte, como tutor na causa do menor, o</p><p>representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que</p><p>assistiram ou tenham assistido as partes (assistentes técnicos, médicos,</p><p>psicólogos, etc.).</p><p>c) os suspeitos:</p><p>• aquela que já tiver sido condenada por crime de falso testemunho;</p><p>• aquelas que não são dignas de fé, por costume local;</p><p>• o inimigo capital da parte ou o seu amigo íntimo;</p><p>• aquelas que tiverem interesse no litígio.</p><p>Em caso de necessidade, o juiz poderá ouvir as testemunhas suspeitas ou</p><p>impedidas como informantes, sendo dispensado o compromisso (juramento) de falarem a</p><p>verdade.</p><p>A testemunha será dispensada do depoimento quando isso puder acarretar grave</p><p>dano, a ela, a seu cônjuge e ou a seus parentes, ou quando ela precisar guardar segredo em</p><p>função do seu estado ou profissão.</p><p>Ao contrário do depoimento pessoal, a testemunha tem o dever de falar a</p><p>verdade, sendo compromissada para isso, sob pena de crime de falso testemunho.</p><p>O texto original do artigo 407 determina que as partes deverão depositar em</p><p>cartório o rol das testemunhas com antecedência de 5 dias. Todavia, a Lei n.º 10.35863, de 27</p><p>de dezembro de 2001, trouxe as seguintes alterações:</p><p>“Art. 407. Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao</p><p>designar a data da audiência, depositar em cartório o rol de</p><p>testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residência e o</p><p>local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será apresentado até</p><p>10 (dez) dias da audiência.”</p><p>A imposição de prévia apresentação do rol de testemunhas tem por finalidade,</p><p>além de possibilitar a intimação para que compareçam no dia e horário designados, permitir a</p><p>argüição de seu impedimento ou suspeição pela parte contrária.</p><p>Apresentado o rol em cartório, a substituição das testemunhas apenas será</p><p>possível quando (art. 408):</p><p>a) falecer;</p><p>b) por motivo de doença não puder comparecer em juízo ou depor;</p><p>c) não ter sido encontrada pelo oficial de justiça devido à mudança de domicílio.</p><p>Por sua vez, o artigo 411 prevê que o Presidente da República, o Presidente do</p><p>Senado e o Presidente da Câmara, os Ministros de Estado, os Ministros do Supremo Tribunal</p><p>63 A lei entrará em vigor após 3 (três) meses da data de sua publicação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>92 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Federal, os Ministros dos Tribunais Superiores e Tribunal de Contas da União, o Procurador-</p><p>geral da República, os Senadores e os Deputados Federais, os Governadores, os Deputados</p><p>Estaduais, os Desembargadores dos Tribunais, os Juízes dos Tribunais de Alçada, os</p><p>Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Conselheiros dos</p><p>Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios serão inquiridos em</p><p>suas respectivas residências ou locais onde exerçam função.</p><p>A prerrogativa prevista no artigo 411 também se aplica aos embaixadores no país,</p><p>desde que os países de origem também concedam a prerrogativa aos diplomatas brasileiros.</p><p>Para a oitiva das autoridades anteriormente expostas, o juiz requisitará a</p><p>designação de dia, horário e local para a inquirição, remetendo, também, cópia da petição</p><p>inicial ou defesa.</p><p>Em audiência de instrução serão ouvidas, em primeiro lugar, as testemunhas do</p><p>autor e depois as do réu, que serão inquiridas pelos juiz; os advogados poderão fazer</p><p>perguntas por meio</p><p>do magistrado (o advogado pergunta ao juiz que transmite à testemunha).</p><p>Na hipótese de o juiz indeferir alguma pergunta do advogado, por julgá-la</p><p>impertinente, deverá constar no termo de audiência, obrigatoriamente, se a parte pedir.</p><p>11.4.2. Exibição de documento ou coisa</p><p>Em caso de documento em poder de uma das partes, ou terceiro, o magistrado</p><p>poderá determinar a sua exibição coercitiva.</p><p>A exibição seguirá o seguinte procedimento:</p><p>• pedido formulado pela parte contendo a individuação do documento ou coisa e</p><p>a finalidade da prova, os fatos que presumem estar o documento em poder da</p><p>parte contrária ou terceiro;</p><p>• intimação do requerido para dar sua resposta no prazo de 5 dias: se alegar</p><p>que não possui o documento ou que este se encontra em poder de terceiro</p><p>poderá fornecer prova disso;</p><p>• o juiz proferirá decisão, aceitando ou não a recusa, nos termos dos artigos</p><p>35864 e 36365;</p><p>64 "Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:</p><p>I – se o requerido tiver obrigação legal de exibir;</p><p>II – se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova;</p><p>III – se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.</p><p>65 "Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:</p><p>I – se concernente a negócio da própria vida da família;</p><p>II – se a sua apresentação violar dever de honra;</p><p>III – se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes</p><p>consangüíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal;</p><p>IV – se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devem guardar respeito;</p><p>V – se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da</p><p>exibição."</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>93 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• o juiz poderá admitir como verdadeiros os fatos que por meio do documento</p><p>ou coisa se pretendia provar quando não houver exibição ou recusa rejeitada;</p><p>• em caso de terceiro o juiz determinará o depósito do documento ou coisa em</p><p>cartório, no prazo de 5 dias, podendo expedir mandado de busca e apreensão,</p><p>inclusive com acompanhamento de força policial.</p><p>11.4.3. Prova pericial e inspeção judicial</p><p>Havendo necessidade de se apurar fatos técnicos o juiz poderá nomear um perito</p><p>(auxiliar da justiça de sua confiança) para realizar laudo de vistoria, exame ou avaliação do</p><p>objeto controvertido.</p><p>Procedimento:</p><p>• requerimento da prova pela parte ou a pedido do juiz;</p><p>• sendo deferida a prova o juiz nomeará um perito, fixando prazo para a</p><p>apresentação do laudo, incumbindo as partes, no prazo de 5 dias, de</p><p>apresentar quesitos e nomear um assistente técnico;</p><p>• as partes poderão apresentar quesitos suplementares durante a diligência;</p><p>• o juiz poderá indeferir os quesitos das partes e formular os que entender</p><p>pertinentes;</p><p>• no desempenho de suas funções o perito e os assistentes utilizarão todos os</p><p>meios necessários, como ouvir testemunhas, obter informações, solicitar</p><p>documentos, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e</p><p>outras peças quaisquer;</p><p>• o juiz poderá conceder prorrogação do prazo para a entrega do laudo, sendo</p><p>apresentado o motivo justificado pelo perito;</p><p>• o laudo deverá ser apresentado em cartório, pelo menos, com 20 dias de</p><p>antecedência da audiência;</p><p>• os assistentes oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10 dias, após a</p><p>intimação das partes acerca do laudo do perito. Esta regra foi introduzida pela</p><p>Lei n.º 10.352/01, sendo que no sistema anterior os assistentes técnicos</p><p>deveriam apresentar seus pareceres independentemente de intimação.</p><p>• o perito e os assistentes poderão ser intimados (com 5 dias de antecedência)</p><p>para prestação de esclarecimentos em audiência de instrução;</p><p>Em relação à perícia, a Lei n.º 10.352/01 acrescentou os seguintes artigos:</p><p>“Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados</p><p>pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da</p><p>prova;”</p><p>“Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais</p><p>de uma área de conhecimento especializado, o juiz poderá</p><p>nomear mais de um perito e a parte indicar mais de um</p><p>assistente.”</p><p>Em relação à prova pericial, ainda, podemos considerar:</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>94 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>a) O juiz não está obrigado a decidir conforme o entendimento do laudo, podendo</p><p>formar sua convicção com base nos demais elementos dos autos – art. 436.</p><p>b) O juiz poderá determinar a realização de nova perícia, quando a matéria não</p><p>foi esclarecida de forma suficiente – art. 437.</p><p>c) O juiz poderá dispensar a prova pericial quando as partes apresentarem, com</p><p>a inicial ou a contestação, pareceres técnicos ou documentos elucidativos –</p><p>art. 427.</p><p>d) O perito poderá recusar-se ao exercício da função ou ser declarado suspeito</p><p>ou impedido – arts. 138, III e 423.</p><p>e) O perito poderá ser substituído quando lhe faltar conhecimento técnico ou</p><p>científico ou deixar de cumprir a sua função dentro do prazo fixado pelo juiz.</p><p>A prova não depende de conhecimentos técnicos, mas tão-somente da verificação</p><p>de fatos, assim, o próprio magistrado poderá, de ofício ou a requerimento das partes, realizar</p><p>inspeção de pessoas ou coisas.</p><p>O juiz poderá ser assistido por perito, bem como deslocar-se da sede do juízo até</p><p>o local onde se encontrar a coisa ou pessoa (arts. 441 e 442).</p><p>Após a diligência de inspeção o juiz determinará a lavratura de termo, fazendo</p><p>contar tudo o que foi observado e constatado no ato, inclusive instruindo o auto com desenho,</p><p>gráfico e fotografia.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>95 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>12. JULGAMENTO</p><p>O julgamento do processo pode ocorrer em qualquer momento ou fase</p><p>processual; como vimos, o juiz pode sentenciar assim que receber a inicial (para extinção do</p><p>processo), e também poderá julgar o feito após a contestação, por considerar desnecessária</p><p>a dilação probatória (julgamento conforme o estado do processo), ou, ainda, poderá proferir a</p><p>decisão final depois de encerrada a instrução processual.</p><p>Em caso de dilação probatória, encerrada a instrução processual, o juiz</p><p>concederá o prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos, primeiro</p><p>para o autor e depois para o réu, para que realizem as suas alegações finais – art. 454 –, de</p><p>forma oral, transcrita no termo de audiência.</p><p>Tratando-se de questões complexas, o juiz poderá converter as alegações</p><p>finais (orais) em memoriais (petição escrita), designando o magistrado no dia para o seu</p><p>oferecimento – §3º do art. 454.</p><p>Geralmente, depois de realizadas as alegações finais ou apresentados os</p><p>memoriais, o magistrado proferirá sentença no prazo66 de 10 (dez) dias.</p><p>12.1. Julgamento conforme o estado do processo</p><p>Com o encerramento da fase postulatória do processo – petição inicial,</p><p>apresentação de defesa e manifestação acerca da defesa – o juiz realizará o saneamento do</p><p>processo, o que significa dizer que procederá a verificação da regularidade do feito (análise</p><p>de todo os pressupostos processuais).</p><p>Desta análise dos atos praticados durante a fase postulatória poderá</p><p>resultar:</p><p>• Saneamento: verificando qualquer irregularidade no processo – nos</p><p>pressupostos processuais – o juiz poderá determinar que a parte proceda a</p><p>correção do vício, para depois prosseguir com o processo.</p><p>• Extinção do processo (art. 329) – verificando o magistrado a existência de</p><p>vícios insanáveis, desde logo, proferirá sentença de extinção, nos termos dos</p><p>apenas ter início depois da provação da parte</p><p>interessada, o seu impulso, com a prática de atos que o levem ao objetivo (solução da lide), é</p><p>de natureza oficial, e recebe o nome de princípio do inquisitivo.</p><p>3 Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Editora Juarez de Oliveira, 5ª ed., p. 325, 2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>7 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A esse respeito, prescrevem os artigos:</p><p>“Art. 125. O juiz decidirá o processo conforme as disposições deste Código,</p><p>competindo-lhe:</p><p>II – velar pela rápida solução do litígio”</p><p>“Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar</p><p>as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências</p><p>inúteis ou meramente protelatórias”</p><p>O processo apenas se inicia por provocação do autor, mas se desenvolve por</p><p>impulso oficial (do Estado-juiz), e é dever do juiz zelar para que o processo chegue à solução</p><p>do litígio, estabelecendo às partes a promoção de atos que evitem a paralisação injustificada</p><p>do processo, determinar de ofício os atos meramente administrativos (como citação,</p><p>intimações, remessa ao Ministério Público, designação de audiências, etc.), e determinar de</p><p>ofício a realização de provas.</p><p>c) Princípio da verdade formal</p><p>A verdade formal consiste no dever do magistrado de formar a sua convicção</p><p>somente com os fatos que se encontrarem documentados no processo. É a verdade</p><p>formalizada nos autos da relação jurídica processual. Ao contrário da verdade formal,</p><p>vislumbramos a verdade real, que consiste na aceitação de qualquer evidência fática,</p><p>independentemente de estar ou não no processo ou da iniciativa de sua produção, como meio</p><p>hábil para convencimento do magistrado.</p><p>O princípio da verdade formal não significa dizer que o juiz deve se contentar apenas</p><p>com a verdade levada aos autos – que pode corresponder à verdade falsa – mas tem ele o</p><p>poder, pelo princípio do inquisitivo, de determinar, ex officio, as provas que entender</p><p>necessárias à comprovação da verdade. Todavia, apenas poderá formar sua convicção com</p><p>os elementos que foram levados aos autos pelas partes (verdade formalizada).</p><p>d) Princípio da instrumentalidade das formas</p><p>O processo é composto por uma série de atos processuais que, geralmente, devem</p><p>ser praticados com observância da formalidade prevista na lei.</p><p>No entanto, o próprio ordenamento processual, em seu artigo 154, transcrito abaixo,</p><p>determina:</p><p>“Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma</p><p>determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se</p><p>válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade</p><p>essencial.”</p><p>Infere-se, assim, que é fundamental para a existência e validade do ato processual é</p><p>que se atinja a sua finalidade essencial, independentemente da forma utilizada (desde que</p><p>lícita), desvinculando-se, por esse princípio, do formalismo exacerbado que dificulta a</p><p>efetividade do processo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>8 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>É importante lembrar aos profissionais que manipulam o processo civil, a realidade</p><p>de que o processo é apenas instrumento para a realização do direito, e mais, que o processo</p><p>não encontra fim em si mesmo, apenas configura meio para a prestação da tutela jurisdicional</p><p>e não o seu fim, razão pela qual devemos considerar válido o ato que atingiu sua finalidade,</p><p>independentemente da forma empregada. O processo é instrumento e não o fim.</p><p>e) Princípio da fungibilidade</p><p>Fungibilidade é o princípio pelo qual se admite o recebimento de um ato ou instituto</p><p>processual no lugar de outro, em poucas palavras, significa trocar uma coisa por outra.</p><p>É inquestionável a existência de fungibilidade entre as ações possessórias em que,</p><p>por expressa determinação legal4 – art. 920 do CPC – predomina a regra segundo a qual o</p><p>juízo deverá conhecer o pedido de uma ação possessória mesmo quando proposta em lugar</p><p>de outra (que o magistrado entende cabível), desde que presentes os requisitos para a outra</p><p>medida correta.</p><p>Seria o caso, por exemplo, da propositura de ação de manutenção da posse, quando</p><p>o magistrado entende que a ação correta seria a ação de reintegração na posse. Neste caso,</p><p>havendo requisitos para a concessão da medida, o órgão jurisdicional deverá conhecer a</p><p>ação de manutenção como se fosse de reintegração, aplicando a fungibilidade entre as</p><p>ações.</p><p>Em outra análise, não muito tranqüila na jurisprudência e na doutrina, encontramos a</p><p>fungibilidade entre as ações cautelares e a fungibilidade recursal, esta cabível desde que5</p><p>exista dúvida objetiva sobre qual recurso seria o correto e a inexistência de má-fé da parte</p><p>(tema tratado no capítulo destinado aos recursos).</p><p>f) Princípio da economia processual</p><p>O princípio da economia processual decorre de uma interpretação sistemática do</p><p>ordenamento processual, e consiste na idéia de que o processo deve transcorrer em menor</p><p>tempo (prazo) e com menor gasto financeiro possíveis.</p><p>Durante o processo devem ser repudiados os atos meramente protelatórios ou os</p><p>que não tenham utilidade para a solução da lide, visando entregar ao jurisdicionado a solução</p><p>rápida do conflito e com custo financeiro mínimo.</p><p>g) Princípio da eventualidade e preclusão</p><p>Todo processo desenvolve-se por meio de atos processuais que estão dispostos em</p><p>uma forma lógica (um ato após o outro) e em determinado tempo ou prazo legal; cada ato do</p><p>processo tem o seu momento oportuno para ser praticado.</p><p>4 Art. 920. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e</p><p>outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.</p><p>5 Há posições no sentido de que apenas se aplica a fungibilidade quando o recurso errado foi interposto no prazo</p><p>do recurso certo, o que nos parece errado (assunto debatido a seguir no capítulo destinado à Teoria Geral dos</p><p>Recursos).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>9 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, deparamo-nos com o princípio da eventualidade, pelo qual a parte deve</p><p>esgotar totalmente o ato processual no momento oportuno, sob pena de ocorrência de</p><p>preclusão.</p><p>É o caso, por exemplo, da defesa do réu. É no momento da contestação que o réu</p><p>deve alegar TODA matéria de fato e de direito em seu favor, pois, consumado este ato,</p><p>geralmente ele não poderá fazê-lo de novo, operando-se assim a preclusão consumativa.</p><p>O fenômeno processual da preclusão consiste na perda da capacidade de dar</p><p>continuidade ao ato processual por: decurso do prazo (preclusão temporal), consumação ou</p><p>esgotamento do ato (preclusão consumativa), ou pela prática de atos incompatíveis entre si</p><p>(preclusão lógica, como, por exemplo, pedir justiça gratuita e simultaneamente recolher as</p><p>custas, interpor recurso e concomitantemente cumprir a obrigação).</p><p>h) Princípio da lealdade processual e boa-fé</p><p>Trata-se de um dever imposto às partes, aos serventuários da justiça, aos</p><p>magistrados e aos membros do Ministério Público, segundo o qual todos devem agir com</p><p>urbanidade, respeito, lealdade e boa-fé na condução do processo e na relação uns com os</p><p>outros.</p><p>Em relação às partes, os artigos 14 a 18 do Código de Processo Civil determinam os</p><p>deveres das partes, dos seus procuradores e as hipóteses de litigância de má-fé. Além de</p><p>estabelecer as hipóteses de conduta ilegal no processo, o Código fixa as conseqüências</p><p>quando há desrespeito ao referido princípio do processo civil.</p><p>É importante citar que, por meio da Lei n.º 10.358, de 27 de dezembro de 20016, foi</p><p>introduzido o seguinte mandamento:</p><p>“Art. 14. São deveres das partes e de</p><p>artigos 267 (sem julgamento do mérito) ou 269, II e V (com julgamento do</p><p>mérito).</p><p>• Julgamento antecipado da lide (art. 330) – constatando o magistrado: a)</p><p>ocorrência dos efeitos da revelia; b) a lide versar exclusivamente sobre</p><p>matéria de direito; c) sendo a controvérsia de fato, sem necessidade de</p><p>dilação probatória (instrução), proferirá sentença conhecendo o pedido.</p><p>• Designar audiência para tentativa de conciliação – em se tratando de direitos</p><p>disponíveis, o juiz deverá – dever institucional previsto no artigo 125, IV –</p><p>tentar conciliar as partes.</p><p>• Instrução – não havendo conciliação o juiz determinará que as partes</p><p>especifiquem as provas que pretendem produzir, analisará a pertinência delas</p><p>66 Trata-se de prazo impróprio que, a princípio, não acarreta prejuízo ao magistrado. Como exemplo, encontramos</p><p>facilmente na Justiça Federal de São Paulo processos que estão “conclusos para sentença” desde 1998.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>96 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>e determinará a sua produção – art. 331, § 2º (podendo designar audiência</p><p>para oitiva das provas orais).</p><p>12.2. Sentença</p><p>É o ato processual pelo qual o juiz encerra a atividade jurisdicional em</p><p>primeira instância, manifestando-se acerca do mérito da demanda, ato pelo qual outorga o</p><p>bem litigioso a uma das partes, ou julgando extinto sem apreciação da lide nos casos em que</p><p>existem circunstâncias que impedem a apreciação do mérito.</p><p>Luiz Fux dá a seguinte conceituação67: A sentença é, assim, o ato pelo qual</p><p>o juiz cumpre a função jurisdicional, aplicando o direito ao caso concreto, definindo o litígio e</p><p>carreando a paz social pela imperatividade que a decisão encerra.</p><p>Em relação à equivocada definição legal, dentro do mesmo tema68, Luiz Fux</p><p>esclarece: Assim, em face do disposto no art. 162 do Código de Processo Civil, ‘a sentença é</p><p>ato pelo qual o juiz extingue o processo (resctius: o procedimento em primeiro grau, julgando</p><p>ou não o mérito da causa’. Em verdade, via de regra, as sentenças são recorríveis,</p><p>prolongando a relação processual através dos recursos. O que se encerra com a sentença é</p><p>o procedimento na primeira instância. Por essa razão, já se afirmou que o juiz, ao prolatar a</p><p>sentença, limita-se a ‘apresentar’ a resposta jurisdicional, entregando-a definitivamente após</p><p>o trânsito em julgado. No mesmo diapasão está a expressão de que os recursos fazem da</p><p>decisão apenas ‘possibilidade de sentença’.</p><p>Espécies de sentenças</p><p>As sentenças podem caracterizar-se como:</p><p>• sentenças de mérito ou definitivas – proferidas nos termos do artigo 269,</p><p>quando o juiz encerra a lide com a apreciação do mérito;</p><p>• sentenças terminativas69 – proferidas nos termos dos artigo 267, apenas</p><p>encerram a relação jurídica processual, sem apreciação do mérito, devido a</p><p>circunstância que impede o desenvolvimento regular do processo.</p><p>As sentenças também podem ser classificadas em consideração à espécie</p><p>de provimento emitido, isso, como estudamos anteriormente, em sentenças declaratórias,</p><p>constitutivas ou condenatórias.</p><p>Requisitos e forma das sentenças</p><p>Obrigatoriamente, toda sentença deverá conter, nos termos do artigo 458:</p><p>67 Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, 1ª ed., p. 676, 2001.</p><p>68 Op. cit., p. 677.</p><p>69 Como efeito prático, todas as sentenças são terminativas (inclusive as de mérito), pois toda sentença encerra a</p><p>relação jurídica processual. A diferença das sentenças apenas terminativas é que elas não apreciam o mérito, ao</p><p>contrário da outra que além de encerrar a relação processual conhece e profere um juízo acerca da controvérsia.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>97 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• relatório;</p><p>• fundamentação;</p><p>• dispositivo.</p><p>O relatório é a parte da sentença na qual o magistrado individualiza as</p><p>partes, a síntese do pedido do autor e da resposta do réu, bem como faz referência aos</p><p>principais incidentes processuais e às provas realizadas.</p><p>Comentando acerca da falta de relatório, o prof. Arruda Alvim, explica70: Tal</p><p>é a gravidade do vício de que padece a sentença, a que falta relatório, que se tem admitido a</p><p>rescisão de tais decisões. (...) Trata-se de nulidade absoluta, sendo portanto decretável pelo</p><p>juiz, sem segundo grau de jurisdição, independente de provocação da parte. Toda matéria em</p><p>que se consubstancia o contraditório deve vir relatada, para que possa ser objeto de exame e</p><p>que se coloque como premissa do pronunciamento jurisdicional, na forma do que dispõem os</p><p>incs. I e II do art. 458.</p><p>Realizada a narrativa dos fatos processuais, o juiz passará à fundamentação</p><p>da sentença, momento em que firmará as razões de seu convencimento, de forma a permitir a</p><p>compreensão pelas partes (e por outros interessados) dos argumentos que ensejaram a</p><p>decisão.</p><p>A fundamentação não precisa ser exaustiva, mas capaz de permitir a</p><p>compreensão externa das razões de convencimento do magistrado.</p><p>Note-se que o dever de fundamentação encontra-se previsto no próprio</p><p>texto constitucional que impõe, no art. 93, IX, o dever de motivação dos atos judiciais sob</p><p>pena de nulidade.</p><p>Por fim, a sentença deverá conter o dispositivo, parte da decisão que afirma,</p><p>com clareza, o julgamento do pedido – se procedente, procedente em parte ou improcedente</p><p>– com a imposição da tutela jurisdicional e seus efeitos práticos (como requerido pelo autor =</p><p>pedido imediato e mediato).</p><p>Limites da sentença</p><p>O juiz proferirá sentença observando os limites do pedido formulado pelo</p><p>autor e, eventualmente, nos limites da reconvenção ou ação declaratória incidental.</p><p>A esse respeito, determina o artigo 460:</p><p>“Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença a favor do autor, de</p><p>natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em</p><p>quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi</p><p>demandado.”</p><p>70 Manual de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, vol. II, 7ª ed., p.650, 2001.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>98 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, surgem as seguintes espécies de sentenças:</p><p>a) infra ou citra petita: é aquela que deixa de apreciar pedido formulado</p><p>pelo autor, não analisa todos os pedidos, importando em denegação</p><p>parcial de justiça71 (não se confunde com julgamento parcial);</p><p>b) ultra petita: é aquela em que o juiz excede ao pedido, conferindo mais</p><p>do que foi efetivamente pleiteado pelo autor, neste caso a sentença não</p><p>precisará ser anulada, mas o tribunal deverá reduzi-la (adequá-la) aos</p><p>limites do pedido;</p><p>c) extra petita: quando a providência jurisdicional é diversa da que foi</p><p>pleiteada, por exemplo: alguém pleiteia a condenação a determinado</p><p>pagamento e o juiz declara a nulidade do contrato. Além disso, também</p><p>constitui sentença extra petita quando for concedida ou negada a tutela</p><p>sob fundamento diverso do argüido pelas partes. Por exemplo, alguém</p><p>pleiteia a separação por infidelidade e o magistrado concede com base</p><p>em injúria grave (que nem foi articulado pelas partes).</p><p>O tema sobre reexame necessário ou necessário obrigatório, com as alterações</p><p>introduzidas pela Lei n.º 10.352/01 será abordado no capítulo destinado à teoria geral dos</p><p>recursos.</p><p>12.3. Coisa julgada</p><p>A coisa julgada compreende o efeito de imutabilidade e definitividade que</p><p>recai sobre as sentenças de mérito, transitadas em julgado. O artigo 467 contém a seguinte</p><p>definição:</p><p>“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que</p><p>torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a</p><p>recurso ordinário ou extraordinário.”</p><p>Do latim</p><p>res judicata 72, a coisa julgada torna irretratável a decisão final da</p><p>lide, firmando o direito das partes de forma definitiva a não permitir qualquer alteração pelos</p><p>meios recursais, impedindo, também, que a mesma questão venha a ser novamente posta</p><p>em juízo, preservando, assim, a soberania do título judicial.</p><p>A coisa julgada é instituto preservado até mesmo contra o advento de nova</p><p>lei, ou seja, por determinação da Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso XXXVI,</p><p>nem a edição de uma nova lei pode abalar a soberania da res judicata.</p><p>71 Arruda, Alvim. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, vol. II, 7ª ed.,</p><p>p.656, 2001.</p><p>72 De Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro, Editora Forense, vol, I, 12ª ed., p.452, 1997.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>99 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Acerca da coisa julgada, Luiz Fux, comenta 73: O fato de para cada litígio</p><p>corresponder uma só decisão, sem a possibilidade de reapreciação da controvérsia após o</p><p>que se denomina trânsito em julgado da decisão, caracteriza essa função estatal e a difere</p><p>das demais. O momento no qual uma decisão torna-se imodificável é o do trânsito em</p><p>julgado, que se opera quando o conteúdo daquilo que foi decidido fica ao abrigo de qualquer</p><p>impugnação através de recurso, daí a sua conseqüente imutabilidade. Desta sorte, diz-se que</p><p>uma decisão transita em julgado e produz coisa julgada quando não pode mais ser</p><p>modificada pelos meios recursais de impugnação.</p><p>Neste ponto é importante ressaltar que a coisa julgada não se confunde com</p><p>a preclusão, pois, enquanto esta é a perda da faculdade da prática de um ato processual –</p><p>em um processo em curso – a outra compreende o efeito de imutabilidade e definitividade do</p><p>julgado, cujo processo já se encontra transitado em julgado.</p><p>Espécies de coisa julgada</p><p>Como vimos anteriormente, temos duas espécies de sentenças: as de</p><p>mérito e as meramente terminativas. Conseqüentemente, dessa classificação advém a</p><p>seguinte:</p><p>• coisa julgada material: efeito que recai apenas sobre as decisões transitadas</p><p>em julgado que apreciaram o mérito da lide; o processo foi extinto com</p><p>solução do conflito, nos termos do artigo 269 do Código de Processo Civil.</p><p>Não faz coisa julgada material as decisões extintas nos termos do artigo 267,</p><p>sobre as quais apenas recairá a eficácia da coisa julgada formal.</p><p>• coisa julgada formal: efeito de imutabilidade sobre o processo encerrado –</p><p>referente ao processo – tal espécie equipara-se mais ao instituto da preclusão</p><p>do que à coisa julgada: encerrado um processo ele será definitivo, não</p><p>podendo ser discutido nele qualquer outra controvérsia – este efeito recai</p><p>sobre todos os processos transitados em julgado.</p><p>Apenas o efeito da coisa julgada formal não impede nova discussão da mesma</p><p>lide (art. 268), o efeito de imutabilidade apenas existe quando, além da coisa</p><p>julgada formal, existir coisa julgada material (art. 269).</p><p>Limites da coisa julgada</p><p>Outra questão relevante acerca da coisa julgada é a determinação de qual</p><p>parte da solução da lide e quais sujeitos serão atingidos pela res judicata.</p><p>Assim, podemos concluir:</p><p>• limites objetivos (parte da decisão): a imutabilidade do julgado apenas atinge a</p><p>parte dispositiva da sentença, sendo que a verdade dos fatos e os</p><p>fundamentos jurídicos não são acobertados pela coisa julgada, nestes termos:</p><p>73 Op. cit., p. 693.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>100 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>“Art. 469. Não fazem coisa julgada:</p><p>I – os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance</p><p>da parte dispositiva da sentença;</p><p>II – a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da</p><p>sentença;</p><p>III – a apreciação da questão prejudicial74, decidida</p><p>incidentemente no processo.</p><p>• limites subjetivos (sujeitos) – art. 468 –, como regra, a sentença faz lei apenas</p><p>entre as partes litigantes e o assistente que integrou a lide (art. 50).</p><p>No entanto, essa regra comporta algumas exceções:</p><p>a) nas ações de estado das pessoas, se todos os interessados forem citados</p><p>(como litisconsortes), a sentença produzirá efeitos erga omnes – art. 472;</p><p>b) nas ações coletivas (por exemplo: ação civil pública, ação popular, ações</p><p>diretas relativas à constitucionalidade, etc.) as decisões de mérito terão</p><p>efeito erga omnes oponíveis perante qualquer pessoa.</p><p>O artigo 471 determina que nenhum juiz poderá decidir novamente questão</p><p>já decidida, acobertada pela coisa julgada. Todavia, o próprio artigo prevê exceções.</p><p>A primeira delas é a denominada relação jurídica continuada. Neste caso, se</p><p>sobrevier modificação no estado de fato ou de direito, qualquer uma das partes poderá</p><p>requerer a sua revisão (por exemplo: ações de alimentos75, relações tributárias76, etc.).</p><p>Além disso, a Lei da Ação Civil Pública, em seu artigo 16, prevê que a</p><p>sentença de mérito não terá efeito de coisa julgada quando julgar improcedente o pedido por</p><p>insuficiência de provas, hipótese que permite a qualquer legitimado intentar nova ação</p><p>idêntica (mas com novas provas).</p><p>Outra questão importante da res judicata é a denominada “eficácia</p><p>preclusiva da coisa julgada” (aparentemente um bicho de sete cabeças...).</p><p>Curiosamente, mesmo com preceito expresso de que os fatos e</p><p>fundamentos jurídicos da sentença não fazem coisa julgada (art. 469, I e II), o artigo 474</p><p>determina:</p><p>“Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-</p><p>ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas que a</p><p>parte poderia opor tanto ao acolhimento como à rejeição do</p><p>pedido.”</p><p>74 A apreciação de questão incidente prejudicial apenas sofrerá efeito da coisa julgada se a parte interessada</p><p>apresentar AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL, nos termos dos arts. 5º e 325.</p><p>75 Lei n.º 5.478/68, “Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer</p><p>momento ser revista, em face da modificação da situação financeira dos interessados.”</p><p>76 Súmula 239 do STF: “Decisão que declara indevida a cobrança de imposto em determinado exercício não faz</p><p>coisa julgada em relação aos posteriores”.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>101 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Comentando este dispositivo, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade</p><p>Nery explicam77: “Alegações repelidas. Transitada em julgado a sentença de mérito, as</p><p>partes ficam impossibilitadas de alegar qualquer outra questão relacionada com a lide sobre a</p><p>qual pesa a autoridade da coisa julgada. A norma reputa repelidas todas as alegações que as</p><p>partes poderiam ter feito na petição inicial e na contestação a respeito da lide e não o fizeram.</p><p>Isso significa dizer que não se admite a propositura de nova demanda para rediscutir a lide,</p><p>com base em novas alegações. Caso a parte tenha documento novo, teor do CPC 485 VII,</p><p>poderá rescindir a sentença, ajuizando ação rescisória, mas não rediscutir a lide, pura e</p><p>simplesmente, apenas com novas alegações”.</p><p>Dessa forma, a coisa julgada faz presumir que as partes alegaram tudo o</p><p>que havia sobre o litígio, pela “eficácia preclusiva da coisa julgada”, a lei presume que todas</p><p>as alegações foram repelidas, não admitindo a propositura de nova demanda, sobre a mesma</p><p>lide, para discutir fatos e fundamentos que não foram discutidos na lide transitada em julgado.</p><p>77 Código de Processo Civil Comentado. São Paulo, Revista dos Tribunais, 3ª ed., p. 687, 1997.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan</p><p>Barroso</p><p>102 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>13. TEORIA GERAL DOS RECURSOS</p><p>Os recursos são remédios processuais, colocados à disposição das partes, do</p><p>Ministério Público e do terceiro interessado, utilizados para a obtenção de um novo</p><p>julgamento ou uma revisão de um ato judicial, por um órgão jurisdicional hierarquicamente</p><p>superior àquele que proferiu a decisão impugnada.</p><p>A existência de recursos tem como principais razões de existência: o</p><p>inconformismo natural do ser humano, que dificilmente aceita a primeira decisão; a</p><p>possibilidade de abuso de poder, injustiças e erro do órgão julgador ao proferir uma decisão.</p><p>13.1. Princípios dos recursos:</p><p>Como todos os institutos do direito, os recursos também se submetem a princípios</p><p>próprios:</p><p>a) Taxatividade – Art. 496: por esse princípio entende-se que todas as espécies</p><p>de recurso estão previstas na lei processual, no artigo 496, sendo vedada às</p><p>partes a utilização (criação) de recurso que não esteja legalmente previsto.</p><p>b) Singularidade ou unirrecorribilidade: para cada espécie de decisão</p><p>judicial apenas é cabível uma única espécie de recurso, bem como um</p><p>recurso apenas tem o condão de impugnar uma única decisão. A lei prevê um</p><p>recurso adequado e próprio para cada tipo de ato judicial.</p><p>c) Fungibilidade – Art. 810 CPC/73 (no código atual não há previsão expressa).</p><p>Fungibilidade significa receber uma coisa no lugar de outra, assim,</p><p>fungibilidade recursal é a admissão de um recurso (não correto) no lugar do</p><p>adequado. Como exemplo citamos que, ao invés de interpor apelação contra a</p><p>sentença, a parte interpõe recurso de agravo de instrumento. Dessa forma,</p><p>aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal, o juiz receberia o agravo de</p><p>instrumento como apelação.</p><p>De fato, o princípio não encontra respaldo legal expresso (ao contrário do que</p><p>havia no Código anterior – art. 810 CPC/73), mas a jurisprudência tem admitido</p><p>sua aplicabilidade desde que não exista erro grosseiro, ou seja, que exista uma</p><p>dúvida objetiva sobre qual recurso é o adequado, que a parte não incida em</p><p>má-fé, e que o recurso errado tenha sido interposto dentro do prazo do recurso</p><p>correto 78.</p><p>Não é difícil encontrarmos na atual sistemática do processo civil alguns casos</p><p>de dúvida objetiva sobre qual recurso seria adequado, uma vez que, até</p><p>mesmo na jurisprudência existe discordância sobre a adequação dos recursos.</p><p>Citamos os seguintes casos:</p><p>Art. 361 – exclusão de litisconsorte (juiz profere uma decisão de extinção do</p><p>processo em relação a um litisconsorte – sentença); decisão que indefere</p><p>liminarmente reconvenção (tem natureza de sentença, mas é impugnada por</p><p>78 A esse respeito, o professor Nelson Nery Junior, na obra Princípios Fundamentais e Teoria Geral do Recurso ,</p><p>Revista dos Tribunais, 5ª ed., p. 140, em explicação muito bem fundamentada e acertada, ensina que é irrelevante</p><p>o prazo utilizado para a aplicabilidade do princípio da fungibilidade recursal, devendo a parte utilizar-se do prazo</p><p>do recurso que entender correto.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>103 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>agravo de instrumento); decisão que decide impugnação à concessão de</p><p>justiça gratuita (é decisão interlocutória para o Código de Processo Civil, mas é</p><p>sentença para a Lei n.º 1.060/50, artigo 17).</p><p>13.2. Pressupostos recursais:</p><p>Subjetivos</p><p>Interesse e legitimidade, isto é, para recorrer é preciso que a parte tenha sofrido</p><p>prejuízo em decorrência da decisão atacada, o que se denomina sucumbência. Além disso, o</p><p>recorrente tem de ter legitimidade na causa (ter sido parte ou Ministério Público) ou</p><p>demonstrar ser terceiro prejudicado pela decisão – art. 499 do CPC.</p><p>Objetivos:</p><p>a) Recorribilidade: a decisão deve comportar recurso – são elas: decisões</p><p>interlocutórias, sentenças e acórdãos. Ressalte-se que os despachos de mero</p><p>expediente ou ordinatórios, pelo fato de não ocasionar prejuízos às partes, em</p><p>tese, não são passíveis de recurso – arts. 503 e 504 do CPC.</p><p>b) Tempestividade – art. 506 do CPC: a interposição do recurso deve ocorrer</p><p>dentro do prazo previsto na lei processual, sob pena de preclusão temporal.</p><p>c) Adequação: geralmente, para cada espécie de ato judicial existe um único</p><p>recurso cabível, devendo a parte optar pelo recurso adequado no momento da</p><p>interposição.</p><p>d) Preparo – art. 511 do CPC: recolhimento das custas, porte de remessa e</p><p>retorno (quando o processo tem de ser remetido para outra localidade), sob</p><p>pena de deserção.</p><p>e) Motivação: a interposição do recurso deve acompanhar a apresentação das</p><p>razões que justificam o pedido de reforma da decisão impugnada, é a</p><p>fundamentação do pedido de reforma. Mesmo porque a parte contrária tem</p><p>direito de contraditório do recurso, e esse direito apenas poderá ser exercício</p><p>com apresentação dos motivos do inconformismo.</p><p>f) Forma: observância das formalidades e procedimentos previstos na lei para o</p><p>processamento do recurso.</p><p>13.3. Juízo de admissibilidade</p><p>É a verificação, pelo juízo que recebe o recurso e por aquele que julgará, da</p><p>existência ou não do preenchimento dos pressupostos gerais para a interposição de qualquer</p><p>recurso, bem como dos requisitos específicos da espécie de recurso utilizada.</p><p>Estando presentes todos os pressupostos do recurso, o seu processamento será</p><p>admitido, caso contrário, será negado o conhecimento (não será julgado).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>104 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>13.4. Renúncia e desistência</p><p>• Renúncia: ocorre antes da interposição do recurso, ou seja, a parte</p><p>sucumbente declara que não pretende recorrer, ou deixa transcorrer o prazo</p><p>sem a interposição de qualquer recurso.</p><p>• Desistência: após a interposição de um determinado recurso a parte</p><p>recorrente informa ao tribunal que não deseja mais o julgamento do referido</p><p>recurso. Pode haver, também, a desistência tácita do recurso quando o</p><p>recorrente pratica atos incompatíveis com o desejo de reforma da decisão, por</p><p>exemplo: quando o réu paga a condenação enquanto o recurso está pendente</p><p>de julgamento.</p><p>A renúncia e a desistência não dependem da anuência da parte contrária.</p><p>13.5. Recurso adesivo</p><p>Não se trata de uma espécie de recurso (mesmo porque não está previsto no rol</p><p>do artigo 496 do CPC), mas sim de uma verdadeira forma de interposição.</p><p>Havendo sucumbência recíproca (pedido julgado parcialmente procedente),</p><p>recorrendo apenas uma das partes, poderá a outra parte interpor o recurso próprio, dentro do</p><p>prazo que tem para responder ao recurso da outra parte.</p><p>São requisitos para o cabimento do recurso na forma adesiva:</p><p>a) existência de sucumbência recíproca (sentença parcialmente procedente);</p><p>b) que não tenha havido a interposição de recurso independente por todas as</p><p>partes (somente poderá recorrer na forma adesiva a parte que deixou de</p><p>interpor o seu recurso independente);</p><p>c) apenas tem cabimento nos recursos de apelação, embargos infringentes,</p><p>recursos especial e extraordinário;</p><p>d) o recurso adesivo está sujeito aos requisitos e pressupostos específicos do</p><p>recurso interposto, inclusive preparo, prazo, formalidades, etc.</p><p>e) deve ser interposto no prazo para resposta (contra-razões) ao recurso</p><p>principal interposto pela outra parte.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>105 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Vejamos o exemplo:</p><p>• Só poderá interpor recurso na forma adesiva a parte que não apresentou</p><p>recurso independente (dentro do prazo recursal).</p><p>Os recursos interpostos na forma adesiva, são considerados acessórios</p><p>do</p><p>recurso principal. Assim, se o recurso principal não for conhecido, por ausência de qualquer</p><p>um dos pressupostos, o recurso adesivo também não o será.</p><p>13.6. Efeitos dos recursos</p><p>a) Devolutivo: devolve à instância superior o poder de conhecimento da matéria</p><p>já apreciada na instância inferior.</p><p>Sentença:</p><p>pedido do autor</p><p>julgado parcialmente</p><p>procedente</p><p>Parte “B” apresenta</p><p>resposta ao recurso da “A”</p><p>Parte “A” apela</p><p>(apenas ela)</p><p>Parte “B” (que não interpôs</p><p>recurso) será intimada para</p><p>responder ao recurso da</p><p>parte “A”</p><p>“A” apresenta</p><p>apelação adesiva</p><p>Parte “B” é intimada para</p><p>responder à apelação adesiva da</p><p>parte “A”</p><p>(Não será possível nova apelação</p><p>adesiva, pois ambas as partes</p><p>recorreram)</p><p>Os recursos (do autor e do</p><p>réu) são remetidos ao</p><p>tribunal para julgamento</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>106 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Em particular, há supressão de grau de jurisdição quando a sentença extingue o</p><p>processo sem julgar o mérito e no julgamento da apelação, e o tribunal julga o</p><p>mérito não apreciado na primeira instância.</p><p>b) Suspensivo: é o efeito que impede a execução do julgado enquanto perdurar</p><p>o julgamento do recurso. Em alguns recursos esse efeito é regra, como ocorre</p><p>com a interposição da apelação (art. 520 do CPC), em outros, depende do</p><p>preenchimento de requisitos legais e deferimento pelo magistrado relator (art. 558</p><p>do CPC).</p><p>c) Antecipação da tutela recursal: tal efeito, previsto especialmente para o</p><p>recurso de agravo de instrumento, tem por finalidade dar ao relator o poder de</p><p>antecipar os efeitos práticos pretendidos pela parte recorrente. A antecipação da</p><p>tutela recursal veio positivar aquilo que era denominado pela doutrina e</p><p>jurisprudência de efeito suspensivo ativo, pelo qual atribuía-se um efeito ativo</p><p>(ou positivo) contra uma decisão denegatória (negativa) de primeira instância. A</p><p>antecipação da tutela recursal tem grande aplicação nos casos de agravo de</p><p>instrumento contra decisões de primeira instância denegatórias de medidas</p><p>liminares (como a própria tutela antecipada do art. 273 do CPC), pois, poderá o</p><p>relator conceder,de forma antecipada no recurso, aquilo que foi negado em</p><p>primeira instância (contra um ato negativo o recurso dará liminarmente um efeito</p><p>ativo).</p><p>d) Substitutivo – art. 512 do CPC: a decisão proferida no recurso (acórdão),</p><p>quando lhe dá provimento, tem o poder de substituir a decisão impugnada.</p><p>Pedido de reconsideração: não constitui forma ou espécie de recurso, tampouco</p><p>suspende ou interrompe o prazo para a interposição do recurso cabível contra a decisão.</p><p>13.7. Remessa obrigatória</p><p>Não se trata de uma espécie de recurso pelo fato de não haver contraditório (as</p><p>partes não são intimadas para apresentação de resposta), não há razões recursais (não há</p><p>motivação ou fundamentação), não é o juiz que recorre de sua decisão (o que seria absurdo),</p><p>mas apenas encaminha o processo ao tribunal competente para a realização de uma revisão</p><p>obrigatória.</p><p>O instituto da remessa obrigatória, também chamado reexame necessário, sofreu</p><p>grande alteração em razão do advento79 da Lei n.º 10.352, de 26 de dezembro de 2.001.</p><p>No texto anterior à modificação os efeitos da sentença estavam condicionados à</p><p>revisão obrigatória, nas seguintes sentenças:</p><p>• sentença de anulação de casamento;</p><p>• sentenças proferidas contra a União, o Estado e Município;</p><p>• sentença que julgar improcedente a execução de dívida ativa da Fazenda</p><p>Pública.</p><p>Por sua vez, a Lei n.º 10.352/01 deu a seguinte redação ao artigo 457:</p><p>79 Vacatio legis de 3 (três) meses da data de sua publicação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>107 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>“Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não</p><p>produzindo efeito senão depois de confirmada pelo Tribunal, a</p><p>sentença:</p><p>I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o</p><p>Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito</p><p>público;</p><p>II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à</p><p>execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).”</p><p>Em síntese, o reexame necessário apenas ocorrerá nas hipóteses de sentenças</p><p>proferidas contra as pessoas jurídicas de direito público (o inciso I contempla a hipótese do</p><p>inciso II), sendo revogado o dispositivo que determinava o reexame necessário das sentenças</p><p>de anulação de casamento (o que de fato não tinha cabimento).</p><p>A mudança mais importante gerada pela Lei n.º 10.352 neste instituto (e isto</p><p>representa uma revolução em busca da efetividade do processo) está nas hipóteses de</p><p>dispensa do reexame necessário.</p><p>Assim, as sentenças proferidas nos termos dos incisos I e II do art. 475 estarão</p><p>dispensadas do duplo grau obrigatório quando:</p><p>“§ 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a</p><p>condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não</p><p>excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso</p><p>de procedência dos embargos do devedor na execução de</p><p>dívida ativa do mesmo valor.</p><p>§ 3º Também não se aplica o dispositivo neste artigo quando a</p><p>sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do</p><p>Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do</p><p>Tribunal Superior competente.”</p><p>Conclusão: estão dispensadas do duplo grau de jurisdição obrigatório as decisões</p><p>proferidas contra os entes públicos quando a condenação ou a execução da dívida ativa não</p><p>exceder o valor certo de 60 (sessenta) salário mínimos, ou quando a sentença estiver</p><p>fundamentada em súmula ou decisão do plenário do Supremo ou em súmula do Superior</p><p>Tribunal competente.</p><p>Pelo que nos parece, foi criada mais uma espécie de “súmula vinculante”, neste</p><p>caso imprescindível para dar efetividade aos processos em que figuram como parte os entes</p><p>públicos e diminuir a carga de autos nos tribunais, cuja matéria já se encontra pacificada.</p><p>Em se tratando do Supremo Tribunal Federal podemos verificar as decisões</p><p>proferidas nos julgamentos de embargos de divergência, nos incidentes de uniformização da</p><p>jurisprudência; as decisões cautelares (liminares) e de mérito das ações diretas de</p><p>inconstitucionalidade e constitucionalidade, entre outras, terão efeito vinculante ao dispensar</p><p>o reexame obrigatório das sentenças proferidas contra as pessoas de direito público.</p><p>É importante consignar que, a partir do momento em que a Lei n.º 10.352 passou</p><p>a ter vigência, esta regra teve aplicação sobre todos os processos que ainda se encontravam</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>108 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>pendentes de julgamento nos tribunais, segundo o princípio de que a lei processual tem efeito</p><p>imediato sobre os atos ainda pendentes 80.</p><p>Sendo obrigatório o reexame necessário, enquanto ele não ocorrer a sentença</p><p>não transita em julgado e não pode produzir efeitos 81 (ser executada).</p><p>Nos casos previstos anteriormente, caso o juiz de primeiro grau deixe de remeter</p><p>o processo à segunda instância, o Presidente do Tribunal deverá avocá-lo (determinar sua</p><p>remessa) – art. 475, parágrafo único.</p><p>13.8. Recursos em espécies</p><p>Como já mencionamos anteriormente, as espécies de recursos estão previstas no</p><p>rol do artigo 496 do Código de Processo Civil. São elas:</p><p>I – apelação (art. 513 a 521);</p><p>II – agravo (art. 522 a 529);</p><p>III – embargos infringentes (art. 530 a 534);</p><p>IV – embargos de declaração (art. 535 a 538);</p><p>V – recurso ordinário (art. 539 a 540);</p><p>VI – recurso especial (art. 541 a 545);</p><p>VII – recurso extraordinário;</p><p>VIII – embargos de divergência em recurso especial e extraordinário (art. 546).</p><p>13.8.1. Apelação</p><p>Cabimento</p><p>O recurso de apelação é adequado para a impugnação</p><p>de sentenças, sejam elas</p><p>de mérito (art. 269 – definitivas) sejam terminativas (art. 267), visando obter a reforma ou a</p><p>anulação do referido ato judicial.</p><p>A definição de sentença está contida no artigo 162, a seguir transcrito:</p><p>“Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões</p><p>interlocutórias e despachos.</p><p>§ 1º Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao</p><p>processo, decidindo ou não o mérito da causa.” (grifo nosso).</p><p>Ressalte-se que sentença é o ato processual, praticado pelo juiz de primeiro grau,</p><p>que põe fim ao processo, com ou sem julgamento do mérito, onde termina a relação jurídica</p><p>processual em primeira instância.</p><p>80 Humberto Theodoro Junior. Curso de Direito Processual Civil.In “A Lei Processual no Tempo”. Rio de Janeiro,</p><p>Editora Forense, vol. I, 35ª ed., p. 19, 2000.</p><p>81 Súmula 423 do STF: "Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso 'ex officio', que se</p><p>considera interposto 'ex lege'".</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>109 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Forma de interposição:</p><p>• A apelação é apresentada por meio de uma petição de interposição e razões</p><p>de recurso;</p><p>• A petição de interposição, com as razões acostadas, é endereçada ao juízo</p><p>que proferiu a sentença recorrida (o recurso é dirigido ao juízo de primeira</p><p>instância que o remeterá ao tribunal competente);</p><p>• O recurso deve conter: nome e qualificação das partes, fundamentos de fato e</p><p>de direito, pedido de reforma da decisão recorrida – art. 514.</p><p>Prazo</p><p>O recurso de apelação deverá ser interposto no prazo de 15 dias, contados da</p><p>data da leitura da sentença em audiência ou da intimação das partes (através de seus</p><p>procuradores) quando a decisão não for proferida em audiência – art. 506.</p><p>Nos Juizados Especiais o prazo para a interposição de recurso contra sentença é</p><p>10 (dez) dias, conforme dispõe o artigo 41 da Lei n.º 9.099/95.</p><p>Preparo e deserção:</p><p>A interposição do recurso de apelação está sujeita ao recolhimento das custas de</p><p>preparo, que são fixadas pelas Leis de Organização Judiciária de cada Estado ou pelos</p><p>provimentos dos tribunais.</p><p>A Justiça do Estado de São Paulo determina o recolhimento do valor</p><p>correspondente a 1% do valor da causa atualizado, já a Justiça Federal de São Paulo (TRF 3ª</p><p>Região), determina que as custas de apelação serão de 0,5 % (meio por cento) do valor da</p><p>causa atualizado.</p><p>A falta do recolhimento do preparo gera a DESERÇÃO, penalidade imposta à</p><p>parte recorrente, pela ausência do pagamento das custas, fazendo com que o recurso não</p><p>seja conhecido.</p><p>No entanto, o artigo 519 do CPC determina que o juiz, ao realizar o Juízo de</p><p>Admissibilidade do recurso, havendo demonstração de justa causa, poderá relevar a pena de</p><p>revelia, determinando ao recorrente que efetue o pagamento em determinado prazo.</p><p>Como exemplo de justo impedimento, a jurisprudência tem aceitado o</p><p>recolhimento do preparo no dia útil seguinte ao dia da interposição do recurso, quando a</p><p>instituição bancária encerrar o seu expediente antes do horário normal 82.</p><p>8 2 “Recurso – Preparo – Justo impedimento – Cabe à parte fazer a prova do impedimento. Se não a faz, a pena</p><p>de deserção não pode ser relevada. Agravo regimental desprovido.” (STJ, 3ª T, Ag. Reg. n.º 163445/SP, rel. Min.</p><p>Nilson Naves, julg. 29/06/98, v.u.).</p><p>“Recurso – Preparo – Deserção – Horário bancário – Ajuizada a petição de recurso no horário de</p><p>funcionamento do foro, a impossibilidade de recolher o preparo no mesmo dia, porque fechada a agência</p><p>bancária, constitui justo impedimento para cumprir-se o disposto no art. 511 do CPC. Recurso conhecido e</p><p>provido.” (STJ, 4ª T, resp 177539/SC, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, julg. 05/11/98, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>110 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>No caso de recolhimento de valor menor ao devido (valor insuficiente), por força</p><p>do artigo 511, §2º do CPC, deverá o juiz, antes de aplicar a pena de deserção, intimar o</p><p>recorrente para que complemente o valor do preparo; neste caso, não cumprindo a referida</p><p>determinação, no prazo de 5 dias, será aplicada a pena de deserção.</p><p>Efeitos da apelação:</p><p>a) Devolutivo: como todo recurso, a apelação devolve ao tribunal o poder de</p><p>conhecimento de toda a matéria já apreciada ou submetida ao juízo de</p><p>primeiro grau.</p><p>b) Suspensivo: que impede a execução da sentença enquanto não for julgado o</p><p>recurso.</p><p>Na apelação, a regra geral determina que o recurso seja recebido em ambos os</p><p>efeitos, ou seja, devolutivo e suspensivo.</p><p>No entanto, o artigo 520 do CPC estabelece algumas exceções, nas quais o</p><p>recurso de apelação será recebido apenas no efeito devolutivo, quando interposto de</p><p>sentença que:</p><p>I – homologar a divisão ou demarcação de imóveis;</p><p>II – condenar à prestação de alimentos;</p><p>III – julgar a liqüidação de sentença;</p><p>IV – decidir processo cautelar;</p><p>V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes;</p><p>VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem (inciso acrescido pela</p><p>Lei n.º 9.307/96);</p><p>VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela – inciso introduzido no</p><p>artigo 520 por força da Lei n.º 10.352/01.</p><p>Ao receber o recurso de apelação (realização do Juízo de Admissibilidade),</p><p>deverá o juiz de primeiro grau, com base no artigo 520, proferir decisão fixando os efeitos do</p><p>recurso.</p><p>“Preparo – Impedimento – Art. 519 do CPC – A falta de publicação do valor do preparo não é considerado</p><p>como justo impedimento, previsto no art. 519 do CPC. Recurso não conhecido.” (STJ, 4ª T resp 89556/SP, rel.</p><p>Min. Ruy Rosado de Aguiar, julg. 06/06/98, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>111 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Julgamento do mérito pelo tribunal quando do julgamento de apelação contra</p><p>sentenças terminativas.</p><p>Outra alteração importante introduzida pela Lei n.º 10.352/01 foi a</p><p>introdução no artigo 515, § 3º, da permissão para o tribunal julgar o mérito das lides extintas</p><p>sem julgar o mérito em primeiro grau de jurisdição, quando a causa versar exclusivamente</p><p>sobre questão de direito e se estiver em condições de proceder ao julgamento.</p><p>De acordo com a regra antiga, caso uma ação fosse extinta sem julgamento</p><p>do mérito, havendo recurso de apelação, o tribunal poderia anular tal ato (sentença</p><p>meramente terminativa) e determinar o retorno à primeira instância para que o magistrado</p><p>procedesse ao julgamento do mérito (sentença definitiva ou de mérito), pois se isto não</p><p>ocorresse acarretaria supressão, pelo tribunal, do primeiro grau de jurisdição.</p><p>Com a introdução do § 3º ao artigo 515, versando a controvérsia apenas</p><p>sobre direito e estando o feito em condições de ser julgado, o próprio tribunal proferirá o juízo</p><p>de mérito, não precisando determinar a remessa dos autos à primeira instância. Em outras</p><p>palavras, a própria lei autorizou a supressão do primeiro grau de jurisdição.</p><p>Nota-se que este dispositivo dá maior efetividade ao processo, evitando o</p><p>retorno à primeira instância e, eventualmente, futura devolução ao tribunal para julgamento de</p><p>recurso de apelação. Na hipótese de o tribunal julgar o mérito não haverá recurso de</p><p>apelação, apenas os recursos de embargos infringentes, de declaração, recursos especial e/</p><p>ou extraordinário.</p><p>Juízo de retratação</p><p>O juízo de retratação consiste na possibilidade de o Juiz, motivado pelo recurso</p><p>interposto pela parte sucumbente, reformar sua própria decisão, ou seja, ato de retratação,</p><p>voltar atrás ou se reconsiderar.</p><p>Ao proferir a sentença, o juiz de primeiro grau encerra o seu ofício jurisdicional,</p><p>restando-lhe, apenas, a função de receber o recurso de apelação (Juízo de Admissibilidade).</p><p>Com efeito, após publicada a sentença, o juiz não poderá retratar-se ou modificar a sentença</p><p>que proferiu.</p><p>Todavia, essa regra sofre a exceção prevista no artigo 296 do CPC83, que faculta</p><p>ao juiz a possibilidade de se reconsiderar nas sentenças de indeferimento da petição inicial.</p><p>Assim, indeferida a petição inicial, e apelando o autor, no prazo de 48 horas, o juiz</p><p>poderá reformar a sua sentença para determinar o processamento regular do processo, cuja</p><p>petição inicial havia sido indeferida.</p><p>É importante ressaltar que a retratação apenas é possível no caso de</p><p>indeferimento da petição inicial e se houver recurso de apelação do autor.</p><p>83 “Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultando ao juiz, no prazo de quarenta e oito (48)</p><p>horas, reformar sua decisão.</p><p>Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal</p><p>competente.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>112 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Procedimento da apelação84</p><p>84 THEODORO JR., Humberto. Op. cit., p. 511.</p><p>SENTENÇA</p><p>15 DIAS</p><p>Apelação:</p><p>petição endereçada ao juiz</p><p>da causa</p><p>Ju í zo d e</p><p>Ad m i ssi b i l i d a d e</p><p>Ju i z n eg a seg u i m en t o</p><p>à a pel a çã o por fa l t a d e</p><p>r equ i si t o</p><p>Ju i z r ecebe a a pel a çã o e</p><p>d ecl a r a os seu s efei t os</p><p>Ca be a g r a vo d e</p><p>i n st r u m en t o</p><p>I n t i m a çã o d a pa r t e</p><p>con t r á r i a pa r a</p><p>r espon d er a o r ecu r so</p><p>Apel a çã o a d esi va</p><p>Con t r a - r a zões d e</p><p>a pel a çã o</p><p>Con t r a - r a zões à</p><p>a pel a çã o</p><p>Novo Ju í zo d e Ad m i ssi b i l i d a d e</p><p>Rem essa d os a u t os a o t r i bu n a l</p><p>Pr ocessa m en t o e ju l g a m en t o d a</p><p>a pel a çã o pel o Tr i bu n a l</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>113 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>13.8.2. Agravo</p><p>Cabimento</p><p>O recurso de agravo tem cabimento contra as decisões interlocutórias, ou seja,</p><p>atos judiciais que decidem questões meramente incidentes do processo, no caso de decisões</p><p>que não põem fim à relação jurídica processual.</p><p>A definição de decisão interlocutória está prevista no disposto no art. 162 do</p><p>Código de Processo Civil, a seguir transcrito</p><p>“Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões</p><p>interlocutórias e despachos.</p><p>§ 1º omissis;</p><p>§ 2º Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no</p><p>curso do processo, resolve questão incidente.”(grifo</p><p>nosso).</p><p>Espécies de agravo:</p><p>a) de instrumento decisões interlocutórias de</p><p>primeira instância</p><p>b) retido</p><p>c) Regimental</p><p>AGRAVOS decisões</p><p>d) interno ou para o órgão colegiado interlocutórias de</p><p>segunda instância</p><p>e) de instrumento contra decisão (monocráticas nos</p><p>que nega seguimento a recurso tribunais)</p><p>especial ou extraordinário</p><p>Agravos contra decisões de primeira instância</p><p>Nos tópicos a seguir abordaremos os agravos contra decisões</p><p>interlocutórias de primeira instância, ou seja, o agravo na forma retida e de instrumento.</p><p>Adiante, trataremos das demais formas de agravos.</p><p>Prazo</p><p>Os agravos de instrumento e retido devem ser interpostos no prazo de 10</p><p>dias, contados do momento em que a parte teve ciência da decisão (publicação no órgão</p><p>oficial, termo de ciência lançado nos autos, intimação ou ciência em audiência, etc.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>114 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Juízo de retratabilidade</p><p>Sendo interposto recurso de agravo, de instrumento ou retido, o juiz poderá</p><p>reformar sua própria decisão, a interposição do agravo faculta ao magistrado a possibilidade</p><p>de reconsideração.</p><p>Havendo a retratação total, o juiz deverá informar ao tribunal a sua decisão,</p><p>precisamente ao relator do agravo, para que este possa considerar prejudicado o agravo de</p><p>instrumento – art. do 529 CPC.</p><p>Acerca da retratação no recurso de agravo, a Lei n.º 10.352/01 introduziu o</p><p>seguinte comando:</p><p>“Art. 523. .....................................................</p><p>§ 2º Interposto o agravo, e ouvido o agravado</p><p>no prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá reformar sua decião.”</p><p>Agravo retido</p><p>Trata-se da espécie de agravo em que o recurso não é dirigido</p><p>imediatamente ao tribunal, mas fica juntado aos autos do processo e apenas será julgado</p><p>durante o julgamento de futuro e eventual recurso de apelação.</p><p>Em outras palavras, a parte que não se conformar com a decisão</p><p>interlocutória apresentará o seu agravo retido, que será juntado aos autos do próprio</p><p>processo, e ficará aguardando ser encaminhado ao tribunal para julgamento de futura</p><p>apelação. Se houver recurso de apelação, por qualquer das partes, o agravo retido poderá</p><p>ser conhecido pelo tribunal.</p><p>Preparo: no agravo retido não existe preparo.</p><p>Agravo retido obrigatório</p><p>A obrigatoriedade da retenção do agravo, impondo o descabimento de</p><p>agravo de instrumento, com as alterações no § 4º do artigo 523, advindas da Lei n.º</p><p>10.352/01, passou a ser nos seguintes casos:</p><p>• Em qualquer procedimento (hipóteses da Lei n.º 10.352/01):</p><p>a) das decisões proferidas na audiência de instrução e julgamento 85;</p><p>85 Aparentemente, a forma obrigatória de agravo retido fará com que o cerceamento de defesa fique sem</p><p>recurso eficaz de impugná-lo. Como sabemos, as decisões proferidas em audiência versam, na maioria,</p><p>acerca de matéria probatória e, neste caso, não haverá contra o ato recurso dotado de efeito suspensivo.</p><p>Parece-nos que retornará o tempo em que o mandado de segurança era o único meio eficaz contra estes</p><p>atos judiciais. Entendemos que não é lícito dar efetividade ao processo à custa da supressão de garantias</p><p>de acesso ao judiciário. O processo rápido nem sempre é o mais justo.</p><p>O agravo retido obrigatório pode ser muito desastroso ao processo: se o tribunal der provimento ao</p><p>agravo retido, no momento do julgamento da apelação, muitas vezes terá de anula r a sentença e</p><p>determinar a remessa dos autos à origem, para ser realizado o ato probatório negado. Com certeza isso</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>115 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>b) das decisões posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil</p><p>reparação e de incerta reparação, nos casos de inadmissão da apelação e nos</p><p>relativos aos efeitos em que a apelação é recebida.</p><p>Procedimento para o conhecimento do agravo retido</p><p>Para que o tribunal conheça o agravo retido, antes do julgamento do recurso</p><p>de apelação, a parte agravante deverá requerer, nas razões ou contra-razões de apelação, o</p><p>conhecimento do recurso, sob pena do agravo retido não ser apreciado.</p><p>“Art. 523. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá</p><p>que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do</p><p>julgamento da apelação.</p><p>§ 1º Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer</p><p>expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua</p><p>apreciação pelo Tribunal.” (no original, sem grifos e negritos).</p><p>Efeitos do agravo retido.</p><p>A princípio, o agravo retido pode aparentar um recurso sem qualquer</p><p>utilidade ou efeito imediato prático, pois sempre vem a pergunta: para que serve um recurso</p><p>que apenas será julgado futuramente e, ainda, se for</p><p>interposto recurso de apelação?</p><p>A resposta é muito simples. A interposição do agravo retido tem a única.</p><p>A escolha entre agravo retido ou de instrumento, salvo nas hipóteses em</p><p>que ele é obrigatório, dependerá do caso concreto; se o recorrente necessitar de um</p><p>julgamento imediato do recurso deverá interpor agravo de instrumento, ao contrário, se for</p><p>conveniente para ele aguardar até o julgamento da apelação deverá interpor agravo retido.</p><p>Agravo de instrumento</p><p>A denominação “de instrumento” existe pelo fato de o agravo ser interposto</p><p>diretamente no tribunal, através de um instrumento (novos autos) formado com cópias do</p><p>processo que tramita perante a primeira instância e onde foi proferida a decisão agravada.</p><p>Assim, ao invés de ser juntado no próprio processo, o agravo de instrumento</p><p>é dirigido diretamente ao tribunal competente, sendo realizada uma nova autuação e</p><p>julgamento imediato.</p><p>Forma de interposição</p><p>acarretará maior tempo processual: o processo retornará à origem, será realizado o ato, nova sentença,</p><p>outra apelação e, novamente, remete-se os autos ao tribunal. Ao invés de efetividade, o legislador pode</p><p>ter criado mais um entrave processual.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>116 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A petição de agravo será endereçada diretamente ao tribunal (Presidente do</p><p>Tribunal competente), contendo:</p><p>• a exposição dos fatos e do direito;</p><p>• a fundamentação do pedido de reforma;</p><p>• o pedido de reforma;</p><p>• o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo;</p><p>• cópias do processo para a formação do instrumento.</p><p>Formação do instrumento de agravo</p><p>O instrumento de agravo será formado pelas seguintes cópias:</p><p>a) Obrigatórias:</p><p>• da decisão recorrida;</p><p>• das procurações, juntadas no processo, que foram outorgadas pelo</p><p>autor e pelo réu;</p><p>• da certidão de intimação da decisão recorrida (para verificação da</p><p>observância do prazo recursal).</p><p>•</p><p>b) Facultativas:</p><p>• aquelas que o recorrente considerar necessárias, dependendo do caso</p><p>concreto.</p><p>Ressalte-se que, com exceção do agravo interposto no Tribunal de Justiça</p><p>de São Paulo86, as cópias para o agravo de instrumento devem ser autenticadas,</p><p>principalmente as cópias obrigatórias.</p><p>Preparo87</p><p>Para a interposição de agravo de instrumento, a legislação estadual ou</p><p>interna dos tribunais poderá exigir o recolhimento das custas de preparo. Nesse caso, o</p><p>agravante deverá comprovar o recolhimento das custas no ato da interposição do recurso.</p><p>Recebimento do agravo no tribunal e atos do relator</p><p>Neste ponto, em especial em relação à redação do artigo 527, a Lei</p><p>n.º10.352 trouxe consideráveis mudanças.</p><p>Recebido o agravo de instrumento no tribunal, independentemente de</p><p>decisão ele será distribuído a um relator, que procederá ao juízo de admissibilidade podendo</p><p>emitir os seguintes atos:</p><p>86 Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no art. 796, § 2º, introduzido pelo Assento</p><p>Regimental n.º 324/96, dispensa a autenticação das peças para o agravo de instrumento.</p><p>87 A Justiça Estadual de São Paulo não tem previsão legal para a cobrança de preparo em caso de agravo de</p><p>instrumento.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>117 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>a) negar, liminarmente, seguimento ao recurso, nos casos do art. 557 88 –</p><p>são hipóteses de inadmissão do recurso por falta de observância dos</p><p>pressupostos legais ou por confronto com jurisprudência dominante ou</p><p>súmula. Neste caso, esta decisão será impugnada por meio de agravo</p><p>para o órgão colegiado 89, no prazo de 5 dias, nos termos do § 1º do art.</p><p>557;</p><p>b) converter o agravo de instrumento em agravo retido, determinando a sua</p><p>remessa à primeira instância, onde ficará acostado à ação, salvo quando</p><p>se tratar de pedido de urgência ou houver perigo de lesão grave ou de</p><p>difícil reparação. Da decisão que converter o agravo de instrumento para</p><p>retido caberá agravo para o órgão colegiado.</p><p>c) atribuir efeito suspensivo ao recurso, nos termos do art. 558, ou deferir,</p><p>total ou parcialmente, a antecipação dos efeitos da tutela recursal. A</p><p>antecipação da tutela recursal oficializa o chamado efeito suspensivo</p><p>ativo que já existia na prática jurídica anterior 90, cabendo agravo para o</p><p>órgão colegiado desta decisão.</p><p>d) requisitar informações ao juiz da causa, que deverá prestá-las no prazo</p><p>de 10 dias;</p><p>e) mandar intimar o agravado, obrigatoriamente, para que responda no</p><p>prazo de 10 dias, podendo, inclusive, juntar as cópias que entender</p><p>necessárias.</p><p>Cumprimento do artigo 526 – informação ao juízo recorrido</p><p>O artigo 526 determina que o agravante deverá, no prazo de 3 dias, informar</p><p>ao juízo recorrido a interposição do recurso de agravo de instrumento, para que o juiz tome</p><p>conhecimento do agravo e possa retratar-se (reformar sua decisão).</p><p>A informação da interposição do recurso deverá ser acompanhada de cópia</p><p>da petição de agravo (com seus fundamentos), bem como da relação dos documentos</p><p>(cópias) que instruíram o referido agravo de instrumento.</p><p>Sobre a obrigatoriedade do cumprimento do disposto no art. 526, havia</p><p>muita discussão, inclusive nas decisões do Superior Tribunal de Justiça, dando conta de que</p><p>tal obrigatoriedade não existia e, conseqüentemente, o não cumprimento apenas acarretaria a</p><p>perda da possibilidade de retratação do magistrado de primeiro grau, mas sem qualquer</p><p>prejuízo ao conhecimento do agravo pelo tribunal.</p><p>88 “Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou</p><p>em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou</p><p>de Tribunal Superior.”</p><p>89 Órgão que julgaria o recurso se ele fosse admitido.</p><p>90 Acreditamos que este novo dispositivo não inovou muito no ordenamento, pois antes dele já se entendia</p><p>aplicável o artigo 273 na esfera dos tribunais e a possibilidade da concessão de efeito suspensivo ativo, para se</p><p>conceder uma medida negada pelo juízo de primeiro grau.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>118 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Por sua vez, a Lei n.º10.352, para criar mais uma formalidade inútil e</p><p>contrária à efetividade do processo, determinou:</p><p>“Art. 526. ..............................................</p><p>Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo,</p><p>desde que argüido e provado pelo agravado, importa</p><p>inadmissibilidade do agravo.”</p><p>Infere-se, assim, que estando em vigor as alterações introduzidas pela Lei</p><p>n.º 10.352, é obrigatório o cumprimento do disposto no art. 526 – informação ao juízo de</p><p>primeiro grau da interposição do recurso no tribunal – sob pena de não conhecimento do</p><p>agravo.</p><p>Pelo menos uma coisa agora é certa: o juiz relator não poderá conhecer de</p><p>ofício a falta do cumprimento do art. 526, bem como não ocorrerá o que acontecia antes – o</p><p>relator determinava que a parte agravante comprovasse, na segunda instância, que informou</p><p>o juiz de primeiro grau aa interposição do agravo de instrumento, enfim, um mecanismo</p><p>absolutamente burocrático e ineficaz ao processo 91.</p><p>Diferenças entre agravo retido e de instrumento:</p><p>AGRAVO DE</p><p>INSTRUMENTO AGRAVO RETIDO</p><p>Interposição perante:</p><p>(endereçamento)</p><p>Tribunal competente</p><p>(2º grau)</p><p>Juiz que proferiu a</p><p>decisão (1º grau)</p><p>Julgamento Imediato</p><p>Apenas quando do</p><p>julgamento de</p><p>apelação</p><p>Efeitos imediatos</p><p>Suspensivo, suspensivo</p><p>ativo e devolutivo</p><p>Apenas obstar a</p><p>preclusão da matéria</p><p>Preparo Há preparo Não há preparo</p><p>Forma</p><p>Novos autos no tribunal,</p><p>formação do instrumento</p><p>com cópias do processo</p><p>Recurso é juntado aos</p><p>autos do processo em</p><p>primeira instância (não</p><p>há necessidade de</p><p>cópias do processo)</p><p>91 Devemos lembrar que o processo não encontra fim em si mesmo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>119 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>13.8.3. Embargos de declaração</p><p>Cabimento</p><p>Os embargos declaratórios constituem espécie de recurso destinado a suprir</p><p>omissão, obscuridade ou contradição em decisões interlocutórias, sentenças ou acórdãos.</p><p>Omissão: ocorre quando o órgão jurisdicional não se manifesta sobre</p><p>pedido ou ponto suscitado por qualquer uma das partes.</p><p>Contradição: é a existência de pontos conflitantes ou contraditórios no texto</p><p>da decisão, ou seja, na fundamentação o magistrado afirma o direito do autor e, quando julga,</p><p>nega procedência ao pedido formulado na inicial.</p><p>Obscuridade: a obscuridade opõe-se à clareza que a decisão judicial deve</p><p>ter.</p><p>Há muita divergência acerca do cabimento de embargos de declaração</p><p>contra decisões interlocutórias, pois o artigo 535, em seu inciso I, apenas arrola o cabimento</p><p>contra sentenças ou acórdãos.</p><p>No entanto, o inciso II, do mesmo artigo, afirma que cabem embargos</p><p>declaratórios quando o órgão jurisdicional for omisso sobre ponto que deveria pronunciar-se,</p><p>não limitando o cabimento às sentenças ou aos acórdãos.</p><p>Além disso, a jurisprudência92 do Superior Tribunal de Justiça tem se</p><p>manifestado favoravelmente ao cabimento de embargos declaratórios contra decisões</p><p>interlocutórias.</p><p>9 2 “Processual Civil – Decisão que acolhe incidente de impugnação ao valor da causa – Embargos</p><p>Declaratórios – Cabimento – Em tese – Interrupção do prazo recursal – Possibilidade – Tempestividade do</p><p>ulterior agravo de instrumento.</p><p>I. Em princípio, de acordo com o entendimento mais moderno do STJ, cabem embargos declaratórios contra</p><p>qualquer decisão judicial, ainda que interlocutória. II. Caso em que os embargos de declaração mostram a</p><p>eventualidade de contradição, porquanto há, supostamente, entrechoque de conclusões entre a natureza da ação</p><p>identificada pelo juízo singular, o que aparentemente serviu de base para a fixação do valor da causa, e a</p><p>compreensão a respeito do mesmo tema pelo Tribunal de Justiça, no julgamento do conflito de competência</p><p>envolvendo aquela mesma ação. III. Deu-se, assim, interrupção do prazo com o aviamento dos embargos e,</p><p>rejeitados eles, a interposição do ulterior agravo de instrumento foi tempestiva.</p><p>IV. Recurso especial conhecido e provido, para, afastada a intempestividade, determinar ao Tribunal a quo o</p><p>exame do agravo de instrumento.” (STJ, 4ª T, REsp 117696/SP, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, julg.</p><p>21/09/2000, v.u).</p><p>“Processual civil – Decisão interlocutória – Embargos de Declaração – Cabimento – Interrupção ao prazo –</p><p>Agravo regimental – Admissibilidade – Doutrina – Precedentes – Recurso Provido.</p><p>Os embargos declaratórios são cabíveis contra qualquer decisão judicial e, uma vez interpostos, interrompem o</p><p>prazo recursal. A interpretação meramente literal do art. 535, CPC, atrita com a sistemática que deriva do próprio</p><p>ordenamento processual.” (STJ, 4ª T, Resp 163222/MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julg.</p><p>30/04/1998, v.u.).</p><p>“Embargos declaratórios – Decisão interlocutória – Cabimento. Os embargos de declaração são cabíveis de</p><p>qualquer decisão judicial.” (STJ, 3ª T, REsp 48727/SP, rel. Min. Cláudio Santos, julg. 23/08/1994, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>120 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Prazo</p><p>Em qualquer grau de jurisdição os embargos de declaração devem ser</p><p>opostos dentro do prazo de 5 dias.</p><p>Efeito dos embargos</p><p>Efeito interruptivo: a oposição de embargos declaratórios tem o poder de</p><p>interromper o prazo para a interposição de qualquer outro recurso, em favor de ambas as</p><p>partes. Com a interrupção, os prazos apenas começam a fluir, por inteiro, após a publicação</p><p>da decisão dos embargos.</p><p>Embargos protelatórios</p><p>A oposição de embargos declaratórios com a interrupção do prazo recursal</p><p>poderia servir como artifício aos litigantes de má-fé para a procrastinação do processo. Assim,</p><p>para evitar o uso indevido dos embargos, há determinação legal para punir o embargante que</p><p>opuser embargos manifestamente protelatórios.</p><p>A aplicação da multa pode ser de ofício, que deverá ser fixada em até 1%</p><p>sobre o valor da causa e, no caso de reiteração, elevado ao patamar de 10%.</p><p>Embargos reiterados</p><p>A lei processual não limita a possibilidade de oposição de embargos</p><p>declaratórios. Portanto, caso seja proferida decisão nos embargos e persista a omissão</p><p>(obscuridade ou contrariedade), as partes poderão opor novos embargos de declaração</p><p>contra os embargos anteriores.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>121 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Embargos de declaração Embargos de declaração</p><p>na primeira instância nos tribunais</p><p>Sentença ou</p><p>decisão</p><p>Acórdão</p><p>Oposição dos</p><p>embargos</p><p>no juízo que proferiu</p><p>a decisão</p><p>Interrupção do prazo</p><p>para interposição de</p><p>outros recursos</p><p>Não há oitiva da parte</p><p>contrária.</p><p>Autos são remetidos ao</p><p>juiz (conclusão)</p><p>Juiz profere decisão, em</p><p>5 dias, acolhendo ou</p><p>rejeitando os embargos</p><p>de declaração.</p><p>Sendo reconhecido que</p><p>os Embargos são</p><p>protelatórios poderá o</p><p>Juiz impor multa.</p><p>Com a intimação ou</p><p>publicação dos Embargos</p><p>reabre-se o prazo para</p><p>interposição dos recursos.</p><p>Oposição dos</p><p>embargos</p><p>através de petição</p><p>dirigida ao relator do</p><p>recurso</p><p>Interrupção do prazo</p><p>para interposição de</p><p>outros recursos</p><p>Relator apresenta para</p><p>julgamento na 1ª</p><p>sessão seguinte</p><p>Acolhimento ou rejeição</p><p>dos embargos</p><p>Reconhecimento de</p><p>que os embargos são</p><p>protelatórios</p><p>Imposição de multa</p><p>Publicação do novo</p><p>acórdão</p><p>Reabre-se o prazo para</p><p>a interposição de outros</p><p>recursos</p><p>5</p><p>dias</p><p>5</p><p>dias</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>122 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>13.8.4. Embargos infringentes</p><p>Cabimento</p><p>Os embargos infringentes têm por finalidade a unificação interna das decisões do</p><p>julgado.</p><p>Na redação antiga do artigo 530, modificado pela Lei n.º 10.352/01, o recurso de</p><p>embargos infringentes teria cabimento contra acórdãos não unânimes, proferidos em</p><p>julgamento de apelação ou ação rescisória, quando existir divergência entre os julgadores.</p><p>No entanto, o artigo 530 passou a prever o recurso de embargos infringentes nas</p><p>seguintes hipóteses:</p><p>a) acórdão não unânime que houver reformado, em apelação, a sentença de</p><p>mérito;</p><p>b) acórdão não unânime que houver julgado procedente ação rescisória.</p><p>Desta forma, houve uma redução das hipóteses de cabimento dos embargos</p><p>infringentes; no texto antigo era cabível contra qualquer acórdão não unânime de apelação ou</p><p>ação rescisória, agora é apenas dos acórdãos que modificar a sentença ou julgar procedente</p><p>a ação rescisória (quando não unânimes)</p><p>Sabemos que os julgamentos pelos tribunais são realizados através de órgãos</p><p>colegiados (turmas, seções, câmaras), ou seja, o julgamento é realizado por mais de um juiz</p><p>ou desembargador e dele participam três magistrados (um relator, um revisor e o terceiro</p><p>juiz).</p><p>É por isso que, nem sempre, os julgamentos são unânimes, podendo um</p><p>magistrado discordar da tese aduzida pelos demais, gerando um acórdão não unânime ou</p><p>votado por maioria.</p><p>Quando isso acontece, o magistrado que discordou dos demais deverá redigir o</p><p>seu voto (vencido), para que a posição vencida seja parte integrante do acórdão e objeto de</p><p>embargos infringentes.</p><p>Ressalte-se que os acórdãos proferidos em agravos de instrumento não</p><p>comportam a interposição de embargos infringentes (é a própria lei que exclui), assim, não há</p><p>necessidade de o magistrado vencido declarar o seu voto.</p><p>Prazo</p><p>Os embargos infringentes devem ser interpostos no prazo de 15 dias, contados a</p><p>partir da publicação do acórdão não unânime – art. 508 do CPC.</p><p>Preparo</p><p>É possível, dependendo da legislação estadual local ou do tribunal, a fixação de</p><p>custas de preparo para a interposição de embargos infringentes.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>123 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Procedimento</p><p>• petição endereçada ao relator da apelação ou ação rescisória;</p><p>• juntada do recurso aos autos;</p><p>• o relator realiza o juízo de admissibilidade do recurso;</p><p>• sorteio de novo relator;</p><p>• vistas para a parte contrária responder;</p><p>• novo julgamento, em que participarão 5 magistrados (2 a mais do que no</p><p>primeiro julgamento), ou na forma do regimento interno do tribunal;</p><p>• publicação do novo acórdão.</p><p>Divergência parcial</p><p>Pode ocorrer de o acórdão recorrido ser unânime em determinada parte e</p><p>divergente em outra, sendo, portanto, considerada parcial a divergência.</p><p>Por exemplo, a ação versa sobre pedido de indenização por danos morais e</p><p>materiais. No julgamento da apelação, todos os desembargadores aceitam a procedência dos</p><p>danos materiais, mas apenas dois convergem quanto aos danos morais. Neste caso, houve</p><p>unanimidade em relação aos danos materiais e divergência quanto aos danos morais – um</p><p>único acórdão contendo uma parte unânime e outra divergente.</p><p>Assim, o recurso de embargos infringentes apenas deverá recair sobre a parte</p><p>divergente.</p><p>Uma alteração plausível foi introduzida pela Lei n.º 10.352/01, pois antes, sendo a</p><p>divergência parcial, a parte sucumbente deveria interpor recurso próprio contra a parte</p><p>unânime e embargos infringentes contra a divergência, uma vez que os embargos não</p><p>causavam a interrupção do prazo para a interposição de recurso contra a parte unânime (que</p><p>transitava em julgado).</p><p>Assim, o artigo 498 passou a ter a seguinte redação:</p><p>“Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento</p><p>por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos</p><p>embargos infringentes, o prazo para o recurso extraordinário ou</p><p>especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará</p><p>sobrestado até a intimação da decisão nos embargos.</p><p>Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos</p><p>infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá</p><p>como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão</p><p>por maioria de votos.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>124 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Procedimento dos embargos infringentes</p><p>13.8.5. Recurso ordinário</p><p>Cabimento</p><p>Para o Supremo Tribunal Federal</p><p>Contra acórdãos proferidos em mandado de segurança, mandado de injunção,</p><p>habeas corpus, decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, quando denegatório</p><p>da segurança.</p><p>Para o Superior Tribunal de Justiça</p><p>Contra acórdãos proferidos em mandados de segurança, decididos em única</p><p>instância pelos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados, quando denegatórios</p><p>da segurança.</p><p>Prazo de 15 dias</p><p>Publicação do acórdão não unânime</p><p>Petição dirigida ao relator do acórdão</p><p>Relator admite os</p><p>Embargos – art. 533</p><p>Relator rejeita</p><p>liminarmente — Art. 532</p><p>Possível a interposição de agravo</p><p>para o órgão competente para</p><p>julgar os embargos – art. 532.</p><p>Prazo de 5 dias</p><p>Relator remete o</p><p>agravo para julgamento</p><p>pelo órgão colegiado.</p><p>Dist r ibuição ao novo</p><p>relator</p><p>Vistas à parte contrária</p><p>para impugnação no</p><p>prazo de 15 dias</p><p>Conclusão ao relator</p><p>art. 534, parág. único</p><p>Conclusão ao revisor</p><p>Julgamento</p><p>Fim do sobrestamento do</p><p>prazo para a interposição de</p><p>outros recursos.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>125 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Contra acórdãos proferidos pelos Tribunais Regionais Federais (art. 109, II, CF),</p><p>nas causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional</p><p>e, do outro, município ou pessoa residente ou domiciliada no País.</p><p>Prazo</p><p>O recurso ordinário, tanto para o Supremo Tribunal Federal como para o Superior</p><p>Tribunal de Justiça, deve ser interposto no prazo de 15 dias, contados da publicação do</p><p>acórdão recorrido.</p><p>13.8.6. Recursos extraordinário e especial</p><p>Cabimento:</p><p>Recurso Especial – para o Superior Tribunal de Justiça – STJ</p><p>Art. 105, III da Constituição da República:</p><p>Acórdãos proferidos pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos</p><p>Estados, do Distrito Federal e Territórios, de causas decididas em única ou última instância,</p><p>quando a decisão:</p><p>a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhe vigência;</p><p>b) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal;</p><p>c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro</p><p>tribunal.</p><p>Recurso Extraordinário – para o Supremo Tribunal Federal – STF</p><p>Art. 102, III, da Constituição da República:</p><p>As causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:</p><p>a) contrariar dispositivo da Constituição;</p><p>b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;</p><p>c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição.</p><p>Efeitos</p><p>Os recursos especial e extraordinário, quando interpostos, não impedem a</p><p>execução do acórdão recorrido, ou seja, os recursos são recebidos apenas no efeito</p><p>devolutivo, conforme preceitua o artigo 542, § 2º do Código de Processo Civil.</p><p>Forma de interposição</p><p>Os recursos em análise são interpostos no próprio tribunal que proferiu a decisão</p><p>recorrida, através de petição e razões de recurso, endereçada ao Presidente do Tribunal</p><p>recorrido.</p><p>Na elaboração dos recursos devem ser observados os seguintes aspectos</p><p>formais:</p><p>• exposição do fato e do direito (nestes recursos não se admite a discussão de</p><p>fatos, mas apenas da aplicação do direito, de teses jurídicas acerca da</p><p>interpretação da lei em relação ao fato concreto);</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>126 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• demonstração do cabimento do recurso interposto;</p><p>• o pedido de reforma e suas razões;</p><p>• quando o recurso se fundar em dissídio jurisprudencial (alínea “c” do art. 105,</p><p>III da CF), o recorrente deverá juntar cópia autenticada ou citação do</p><p>repositório oficial, para comprovar a divergência da jurisprudência dos</p><p>tribunais (devem ser tribunais diferentes, não pode ser divergência interna do</p><p>tribunal).</p><p>Interposição simultânea dos recursos especial e extraordinário</p><p>Havendo cabimento de recurso especial e recurso extraordinário, a parte poderá</p><p>interpor, simultaneamente, ambos os recursos (através de petições e razões distintas).</p><p>Neste caso, os autos serão remetidos primeiramente para o Superior Tribunal de</p><p>Justiça – STJ para o julgamento do recurso especial e, depois, para o Supremo Tribunal</p><p>Federal para julgamento do recurso especial – art. 543 do CPC.</p><p>No entanto, o relator do recurso especial poderá entender que o recurso</p><p>extraordinário deve ser julgado primeiro, já que este é prejudicial ao recurso especial, assim,</p><p>os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal e, depois de seu julgamento, serão</p><p>devolvidos ao STJ para julgamento do recurso especial.</p><p>Curiosamente, prevê a lei que, recebidos os autos do STJ, na forma do parágrafo</p><p>anterior, poderá o Ministro Relator do recurso extraordinário não considerar que este deve ser</p><p>julgado primeiro, mandando devolver os autos para o STJ para julgamento do recurso</p><p>especial – §3º, art. 543 – ocorrendo um verdadeiro vai e vem do processo.</p><p>Juízo de admissibilidade:</p><p>As hipóteses de cabimento de recursos para o STJ e STF, como vimos, exigem o</p><p>preenchimento de requisitos específicos que, em muitos casos, são de difícil ocorrência.</p><p>A primeira análise do cabimento dos recursos é realizada pelo Presidente do</p><p>Tribunal recorrido (ou outro órgão previsto no regimento interno como Vice-presidente, etc.),</p><p>que poderá dar ou negar seguimento aos referidos recursos.</p><p>Dando seguimento aos recursos (ou apenas a um deles), estes serão remetidos</p><p>para os tribunais competentes (STJ ou STF).</p><p>No entanto, caso seja negado seguimento aos recursos especial ou</p><p>extraordinário, o que se faz através de uma decisão interlocutória, a parte prejudicada poderá</p><p>interpor agravo de instrumento contra a decisão denegatória – art. 544 do CPC.</p><p>Agravo de instrumento contra decisão que não admitiu recurso especial ou</p><p>extraordinário.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>127 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Contra a decisão93 do Presidente do Tribunal recorrido que nega seguimento aos</p><p>recursos especial ou extraordinário é cabível o recurso de agravo de instrumento (que em sua</p><p>forma, processamento e requisitos difere do agravo de instrumento interposto contra decisão</p><p>de primeira instância).</p><p>• interposto perante o próprio tribunal recorrido (não é protocolado diretamente</p><p>no STJ ou STF);</p><p>• deve ser elaborado um agravo pelo não seguimento do recurso extraordinário</p><p>e outro pelo não seguimento do recurso especial, mesmo contra uma única</p><p>decisão denegatória;</p><p>• deve ser interposto no prazo de 10 dias;</p><p>• deve ser instruído obrigatoriamente com cópia do acórdão recorrido e da</p><p>certidão de sua intimação, e do recurso denegado; das contra-razões, da</p><p>decisão agravada, da certidão das intimações e das procurações outorgadas</p><p>aos advogados das partes;</p><p>• recebido o agravo, o tribunal recorrido remeterá o recurso ao STJ ou STF,</p><p>dependendo do caso.</p><p>Observa-se que a Lei n.º 10.352/01 alterou a redação do § 1º do artigo 544 para</p><p>autorizar a autenticação, pelo próprio advogado (sob sua responsabilidade), das cópias do</p><p>agravo de instrumento contra decisão denegatória.</p><p>Recebido o recurso de agravo no STJ ou STF, o relator designado decidirá</p><p>(poderes do relator do agravo):</p><p>a) se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência</p><p>dominante do tribunal, o relator poderá conhecer o agravo para dar</p><p>provimento ao próprio recurso, por mera decisão singular;</p><p>b) se o instrumento do agravo contiver os elementos necessários para o</p><p>julgamento do mérito do recurso, poderá determinar a sua conversão em</p><p>recurso especial, ou seja, o relator dá provimento ao agravo e o converte em</p><p>recurso especial;</p><p>c) não admitir o agravo de instrumento.</p><p>Contra as decisões monocráticas do Ministro Relator do agravo de instrumento</p><p>interposto contra decisão que negou seguimento aos recursos especial ou extraordinário, a</p><p>parte prejudicada poderá interpor agravo para o órgão colegiado.</p><p>Recursos especial e extraordinário retidos</p><p>Trata-se de uma inovação absurda, introduzida pela Lei n.º 9.756/98, que</p><p>introduziu o seguinte parágrafo ao artigo 542 do Código de Processo Civil:</p><p>“Art. 542. ....................................................................</p><p>§ 3º O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando</p><p>interpostos contra decisão interlocutória em processo de</p><p>93 É comum o emprego da equivocada expressão “agravo contra despacho denegatório de recurso especial ou</p><p>extraordinário”. A expressão é errada, primeiro pelo fato de não se tratar de despacho, mas sim de decisão, pois,</p><p>como vimos, ao despacho não cabe recurso e a decisão em análise é típica decisão interlocutória. Além disso, a</p><p>própria lei afirma que contra a decisão caberá “agravo de instrumento” (art. 544).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>128 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará</p><p>retido nos autos e somente será processado se o reiterar a</p><p>parte, no prazo para a interposição do recurso contra a</p><p>decisão final, ou para as contra-razões.”</p><p>Tal dispositivo legal (que impede a subida dos recursos), determina, em síntese:</p><p>• os recursos especiais e extraordinários interpostos contra acórdãos de</p><p>agravos de instrumento ficarão retidos nos autos do referido agravo,</p><p>retornando para a primeira instância;</p><p>• só serão conhecidos quando da eventual e futura interposição de recurso</p><p>especial ou extraordinário contra o acórdão proferido na apelação;</p><p>• para o conhecimento ao RESP ou REXT retidos deverá a parte interessada</p><p>requerer o seu conhecimento quando interpuser o recurso contra a decisão</p><p>definitiva de mérito.</p><p>Parece-nos que a imposição de retenção dos recursos em estudo viola o acesso à</p><p>justiça previsto como direito fundamental na Constituição da República – art. 5º, inciso XXXV.</p><p>Como exemplo, citamos um acórdão proferido em agravo de instrumento que</p><p>nega a concessão de uma medida liminar. De fato, a parte precisa de um provimento</p><p>urgente, não podendo aguardar até o futuro e eventual conhecimento de recurso especial</p><p>contra acórdão de apelação para ser julgado o recurso interposto contra o acórdão do agravo</p><p>de instrumento.</p><p>Neste caso, o Superior Tribunal de Justiça tem admitido, em casos urgentes, a</p><p>propositura de ação cautelar para determinar a subida do recurso especial retido ou dar efeito</p><p>suspensivo ao recurso especial.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>129 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Intimação do Acórdão</p><p>Prazo 15 dias</p><p>Petição de interposição dirigida</p><p>ao Presidente do Tribunal</p><p>Vistas à parte contrária para</p><p>contra-razões</p><p>Juízo de admissibilidade</p><p>(verificação dos requisitos)</p><p>Presidente admite o</p><p>recurso</p><p>Conhece do</p><p>agravo e dá</p><p>provimento ao</p><p>recurso especial</p><p>ou extraordinário.</p><p>Decisão que não</p><p>admitir o agravo de</p><p>instrumento ou</p><p>negar-lhe</p><p>provimento</p><p>Cabe agravo para o órgão</p><p>colegiado no prazo de 5 dias.</p><p>Art. 545. Julgamento</p><p>Remessa ao STJ</p><p>(para julgar primeiro o</p><p>Recurso Especial)</p><p>Julgamento do</p><p>Recurso Especial</p><p>Remessa dos autos ao</p><p>STF (para julgamento do</p><p>Recurso Extraordinário,</p><p>se houver)</p><p>Julgamento do</p><p>Recurso Extraordinário</p><p>Recurso não admitido</p><p>pelo Presidente</p><p>(por falta de requisitos)</p><p>Prazo de 10</p><p>dias</p><p>Cabe agravo de</p><p>instrumento para o STF</p><p>ou STJ.</p><p>Recurso interposto</p><p>perante o Tribunal</p><p>Remessa ao STF ou STJ</p><p>Relator do recurso</p><p>profere decisão</p><p>singular</p><p>TRÂNSITO EM</p><p>JULGADO</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>130 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Embargos de divergência</p><p>Os embargos de divergência têm cabimento quando:</p><p>a) em recurso especial, o acórdão proferido divergir do julgamento de outra</p><p>turma, seção ou do órgão especial;</p><p>b) em recurso extraordinário, o acórdão proferido divergir do julgamento da outra</p><p>turma ou do plenário.</p><p>Como bem se nota nas hipóteses de cabimento, trata-se de recurso baseado em</p><p>divergência da jurisprudência interna dos Tribunais – STJ ou STF.</p><p>Sabemos que no STJ existem 6 turmas de julgamento, cada uma integrada por 5</p><p>ministros. Assim, se o acórdão proferido</p><p>todos aqueles que de qualquer forma</p><p>participam do processo:</p><p>...............................................</p><p>V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar</p><p>embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória</p><p>ou final.</p><p>Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam</p><p>exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V</p><p>deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o</p><p>juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis,</p><p>aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a</p><p>gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa;</p><p>não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da</p><p>decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da</p><p>União ou do Estado.”</p><p>Acerca deste novo dispositivo legal, temos a observar o seguinte:</p><p>6 Que entrará em vigor três meses após a data de sua publicação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>10 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>a) O caput do artigo 14 foi alterado para constar o dever de lealdade processual não</p><p>só para as partes, como na redação antiga, mas também para todos os que se</p><p>relacionam com o processo: magistrados, serventuários, advogados e terceiros;</p><p>b) foi introduzido no sistema processual o dever de cumprir as ordens</p><p>mandamentais7, como dever de lealdade processual, em resposta à grande má</p><p>vontade e à resistência das autoridades de administração pública em cumprir</p><p>liminares e sentenças de mandados de segurança;</p><p>c) foi estabelecida multa pelo descumprimento da ordem judicial, incidente sobre a</p><p>pessoa da autoridade impetrada, devida independentemente do mérito da causa,</p><p>que será creditada ao Poder Judiciário.</p><p>1.4. Direito material e direito processual</p><p>Para finalizar o estudo sobre este tema, não se pode deixar de destacar as</p><p>diferenças entre o direito processual e o direito material.</p><p>Em brilhante obra8 o professor Cândido Rangel Dinamarco, ao referir-se ao direito</p><p>processual, ensina: Ele não cuida de ditar normas para a adequada atribuição de bens da</p><p>vida aos indivíduos, nem de disciplinar o convívio em sociedade, mas de organizar a</p><p>realização do processo em si mesmo. A técnica da solução de conflitos pelo Estado,ou seja, o</p><p>processo, está definida nas normas integrantes de um específico ramo jurídico, que é o direito</p><p>processual civil. Ao estabelecer como o juiz deve exercer a jurisdição, como pode ser</p><p>exercida a ação por aquele que pretende alguma providência do juiz e como poderá ser a</p><p>defesa do sujeito trazido ao processo pela citação, o direito processual não estabelece norma</p><p>alguma, destinada a definir o teor dos julgamentos; nem fixa critérios capazes de definir qual</p><p>dos litigantes tem direito ao bem da vida pretendido (direito à tutela jurisdicional) e qual deles</p><p>há de suportar a derrota.</p><p>O direito processual não se presta à proteção dos bens da vida, mas, tão-somente</p><p>disciplina a atividade jurisdicional, impondo regras de condução do processo como meio de</p><p>garantir a aplicabilidade e realização do direito material (bens da vida humana).</p><p>É exatamente por isso que afirmamos que o direito processual não encontra fim em</p><p>si mesmo, sendo o verdadeiro meio de realização do direito material. O processo é o meio</p><p>para a efetivação do direito material, que é o fim.</p><p>As normas processuais não disciplinam as relações entre as pessoas na vida</p><p>comum, conseqüentemente, não criam, não modificam nem extinguem direitos ou obrigações</p><p>no plano material (bens da vida), elas apenas regulam a atividade da jurisdição.</p><p>7 A situação chegou ao absurdo, pois, mesmo que não constasse expressamente o dever de se cumprir qualquer</p><p>decisão judicial, sabemos que isso é uma conseqüência lógica do poder da jurisdição, e o descumprimento a uma</p><p>ordem mandamental caracteriza crime de desobediência.</p><p>8 Instituições de Direito Processual Civil, São Paulo, Editora Malheiros, vol. I, 1ª ed., 2001.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>11 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>2. JURISDIÇÃO</p><p>2.1. Conceito</p><p>Jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito ao caso concreto, com a finalidade</p><p>de pôr fim a um conflito de interesse (lide), segundo conceito exposto por Carnelutti.</p><p>Através da etimologia da palavra jurisdição, originária do latim, podemos obter o</p><p>seguinte conceito:</p><p>Dessa forma, a jurisdição caracteriza um poder, uma forma de substituição da ação</p><p>dos litigantes pela atividade de um determinado órgão alheio ao conflito, ou seja, a lide passa</p><p>a ser solucionada por pessoa estranha em relação à disputa do bem jurídico.</p><p>No Brasil a atividade jurisdicional é exclusiva do Estado, e exercida através dos</p><p>órgãos do Poder Judiciário (arts. 92 a 135 da Constituição da República), sendo,</p><p>absolutamente, repudiada a atividade de justiça privada, uma vez que a própria Carta Maior,</p><p>ao organizar a atividade do poder, instituiu o princípio do juiz natural9.</p><p>Ressalte-se que a manutenção de um Estado Democrático de Direito – cujas</p><p>obrigações e direitos estão previstos em instrumentos normativos, elaborados por</p><p>representantes eleitos pelos próprios cidadãos – pressupõe a existência de um órgão estatal</p><p>dotado de poder para garantir a aplicabilidade do Direito às situações reais da vida em</p><p>sociedade.</p><p>2.2. Características</p><p>a) Substituição – a jurisdição tem como característica substituir a vontade dos litigantes pela</p><p>vontade da lei pronunciada pelo Estado-juiz. A resolução do conflito é exercida pelo</p><p>Estado e não pelas partes, independentemente da vontade destas.</p><p>b) Imparcialidade – a jurisdição é desinteressada e o exercício de sua atividade mantém-se</p><p>eqüidistante da vontade das partes. O interesse do Estado é estranho à pretensão dos</p><p>demandantes, não guardando qualquer vínculo com o objeto da lide.</p><p>c) Instrumentalidade – a jurisdição tem por finalidade viabilizar a atuação prática do Direito,</p><p>caracterizando o verdadeiro instrumento público para a administração de interesses</p><p>privados.</p><p>d) Existência de lide – como regra, a atividade jurisdicional apenas se justifica quando</p><p>existem conflitos de interesses a serem solucionados.</p><p>e) Definitividade – o produto da atividade jurisdicional tem natureza de definitivo, ou seja, a</p><p>matéria decidida pela jurisdição, como regra, gera coisa julgada e impede a repetição da</p><p>jurisdição no mesmo conflito.</p><p>9 “Art. 5º.......................</p><p>LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.”</p><p>jurisdição = juris (dizer) + dictos (direito) = dizer o direito, aplicar a</p><p>norma ao caso concreto.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>12 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>f) Atividade pública – no Estado brasileiro, por mandamento constitucional, a jurisdição é</p><p>exercida, exclusivamente, pelo Poder Judiciário, não se admitindo, salvo exceções, a</p><p>atividade privada de aplicação do Direito.</p><p>2.3. Princípios</p><p>a) Princípio do juiz natural e investidura</p><p>A Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso LIII, instituiu o princípio do</p><p>juiz natural, segundo o qual ninguém será processado e julgado senão pela autoridade</p><p>judiciária competente, vedando a existência de tribunais ou juízos de exceção.</p><p>Por esse princípio entende-se que os órgãos jurisdicionais devem preexistir ao</p><p>conflito, e os limites da jurisdição devem estar previstos legalmente antes da existência da</p><p>lide (juiz natural).</p><p>Em sentido contrário, o que é vedado pela Constituição seria a possibilidade da</p><p>existência de um tribunal ou juízo de exceção, que são órgãos jurisdicionais</p><p>pela primeira turma for divergente de outro proferido</p><p>pela segunda turma, poderá haver embargos de divergência para que a seção decida qual</p><p>tese jurídica deve prevalecer (se da primeira ou da segunda turma do STJ).</p><p>O mesmo ocorre no Supremo Tribunal Federal, que é composto por duas turmas,</p><p>logo, havendo divergência no julgamento entre elas caberá a interposição de embargos de</p><p>divergência para que o plenário do tribunal decida qual deve prevalecer.</p><p>A forma de interposição e processamento dos embargos de divergência são</p><p>regulados pelos regimentos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>131 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>14. PROCESSOS NOS TRIBUNAIS</p><p>14.1. Ação rescisória</p><p>A ação rescisória tem por finalidade a desconstituição ou rescisão de uma</p><p>sentença (ou acórdão) transitada em julgado, ou seja, ato judicial de mérito acobertado pela</p><p>autoridade da coisa julgada material, sem cabimento de nenhum recurso.</p><p>Assim, a ação rescisória tem natureza de verdadeira ação de conhecimento</p><p>desconstitutiva, não se confundindo com os recursos. Trata-se de processo de competência</p><p>originária dos tribunais.</p><p>Hipóteses de cabimento</p><p>As hipóteses de cabimento da ação rescisória estão previstas, em rol taxativo, no</p><p>artigo 485 do Código de Processo Civil, nos seguintes termos:</p><p>a) se se verificar que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção do</p><p>juiz – vício que envolve a imparcialidade do juiz –, não se exige para a sua</p><p>ocorrência a condenação criminal, sendo possível a comprovação dos fatos</p><p>apenas na ação rescisória;</p><p>b) proferida por juiz impedido ou incompetente – é importante consignar que a lei</p><p>não prevê ação rescisória para casos de suspeição, mas tão-somente para</p><p>hipóteses de impedimento e incompetência absoluta, pois, como vimos,</p><p>quando a parte não argüir, por meio de exceção, a incompetência relativa e a</p><p>suspeição, ocorrerá a preclusão e o juízo passará a ser competente e o juiz,</p><p>imparcial;</p><p>c) resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de</p><p>colusão entre as partes para fraudar a lei;</p><p>d) ofender a coisa julgada;</p><p>e) violar literalmente disposição de lei;</p><p>f) se se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo</p><p>criminal ou seja provada na própria ação rescisória;</p><p>g) depois da sentença o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava,</p><p>ou de que não pôde fazer uso – por documento novo entende-se aquele</p><p>documento que não estava à disposição da parte no curso do processo (e não</p><p>o documento produzido após o trânsito em julgado);</p><p>h) houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação em que</p><p>se baseou a sentença;</p><p>i) fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa.</p><p>Requisitos e processamento</p><p>São pressupostos para a ação rescisória:</p><p>a) sentença transitada em julgado;</p><p>b) sentença tenha decidido o mérito;</p><p>c) ter legitimidade;</p><p>d) prazo de 2 anos contados a partir do trânsito em julgado;</p><p>e) caução equivalente a 5% sobre o valor da causa.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>132 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Ressalte-se que apenas estão sujeitas à ação rescisória as sentenças de mérito,</p><p>ou seja, aquelas em que o magistrado proferiu um juízo de razão sobre qual das partes tem</p><p>direito ao bem jurídico litigioso. Portanto, não cabe ação rescisória contra sentenças</p><p>meramente terminativas, proferidas nos termos do artigo 267 do Código de Processo Civil.</p><p>Da mesma forma, não é cabível ação rescisória contra sentenças homologatórias,</p><p>uma vez que nestes casos o juiz não julga o mérito, mas tão-somente verifica os requisitos do</p><p>ato jurídico – capacidade das partes, legitimidade, objeto lícito e forma prescrita.</p><p>A impugnação de sentenças homologatórias, transitadas em julgado, é feita por</p><p>meio de ação de conhecimento de natureza anulatória, nos termos do artigo 486 do CPC.</p><p>A ação rescisória, iniciada por meio de petição elaborada nos termos do artigo</p><p>282 do Código de Processo Civil, será dirigida diretamente ao tribunal, uma vez que se trata</p><p>de competência originária da segunda instância.</p><p>Observa-se que a petição inicial deverá conter:</p><p>a) pedido de rescisão – judicium rescindens</p><p>b) pedido de novo julgamento, se for o caso – judicium rescissorium;</p><p>c) acompanhada do depósito da caução.</p><p>O pedido expresso de rescisão da sentença ou do acórdão é obrigatório na ação</p><p>rescisória, podendo ser cumulado com o pedido de novo julgamento. Nota-se que é</p><p>dispensável novo julgamento, por exemplo, na hipóteses do inciso IV do artigo 485 (rescisão</p><p>de sentença que ofendeu coisa julgada); pelo fato de já existir um sentença anterior (aquela</p><p>ofendida) não se justifica que seja proferida uma nova.</p><p>Recebida a petição inicial, o juiz procederá à análise dos requisitos da petição</p><p>inicial, que será indeferida nos casos do art. 295 e quando não efetuado o depósito da</p><p>caução.</p><p>Processada a ação, e havendo necessidade de dilação probatória para a</p><p>realização de prova oral ou pericial, o tribunal designará um juízo de primeira instância para</p><p>proceder a instrução do feito, fixando prazo de 45 (quarenta e cinco) a 90 (noventa) dias para</p><p>a devolução dos autos ao tribunal.</p><p>Por fim, concluída a instrução processual será designado julgamento na forma dos</p><p>regimentos dos tribunais. Se a ação for procedente a sentença será rescindida e proferido</p><p>novo julgamento, se for o caso, pelo próprio tribunal, e o depósito será levantado pelo autor.</p><p>Em caso de improcedência da ação, ou inadmissibilidade, o depósito será</p><p>revertido ao réu, como indenização pela ação, sem prejuízo dos honorários de sucumbência e</p><p>demais cominações por litigância de má-fé.</p><p>Outro aspecto interessante da ação rescisória é o fato de ela não suspender a</p><p>execução da sentença rescindenda, nos termos do artigo 489 do Código de Processo Civil.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>133 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>No entanto, a jurisprudência 94 tem entendido ser possível a concessão de antecipação dos</p><p>efeitos da tutela, quando presentes os requisitos do artigo 273, suspendendo, com isso, a</p><p>execução da sentença.</p><p>14.2. Uniformização da jurisprudência</p><p>A uniformização da jurisprudência tem natureza jurídica de incidente</p><p>processual, cuja finalidade é a unificação da jurisprudência interna do tribunal acerca de</p><p>determinada tese jurídica controvertida, não se tratando de ação ou espécie de recurso.</p><p>Desta forma, o artigo 476 prevê:</p><p>“Art. 476. Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma,</p><p>câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio</p><p>do tribunal acerca da interpretação do direito quando:</p><p>I – verificar que, a seu respeito, ocorre divergência;</p><p>II – no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que</p><p>lhe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou</p><p>câmaras cíveis reunidas”.</p><p>O requerimento de apreciação da questão divergente também pode ser</p><p>formulado pela parte interessada que, em suas razões, demonstrará a divergência da tese</p><p>dentro do tribunal e requererá a formação do incidente para que seja julgado pelo órgão</p><p>especial ou plenário do tribunal, na forma que dispuser o regimento interno.</p><p>Reconhecida a divergência interna de tese jurídica, será lavrado acórdão</p><p>desse reconhecimento, encaminhando-se os autos ao Presidente do Tribunal para designar</p><p>data para sessão de julgamento.</p><p>No julgamento cada magistrado deverá emitir o seu voto, fundamentando a</p><p>sua interpretação acerca da tese divergente. Também será ouvido o chefe do Ministério</p><p>Público que funciona no tribunal.</p><p>Na hipótese de a tese vencedora ser alcançada</p><p>pela maioria dos votos dos</p><p>membros que integram o órgão, a conclusão será objeto de súmula, servindo como</p><p>precedente e orientação para os próximos casos.</p><p>Como regra, a súmula não vincula os órgãos do Poder Judiciário nem</p><p>mesmo do próprio tribunal que a emitiu.</p><p>Por outro lado, a Lei n.º 10.325/01, em alteração do art. 555, disciplinou:</p><p>9 4 "PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. TUTELA ANTECIPADA. POSSIBILIDADE JURÍDICA.</p><p>AUSÊNCIA DOS REQUISITOS ESSENCIAIS. INDEFERIMENTO.</p><p>1. É cabível, excepcionalmente, a antecipação dos efeitos da tutela na ação rescisória, para suspender a</p><p>exeqüibilidade da decisão atacada, desde que presente a verossimilhança da alegação e a possibilidade de</p><p>frustração do provimento definitivo na rescisória. (...)" (STJ, 5ª Turma, Recurso Especial n.º 263110/RS, julg.</p><p>24/10/2.000, rel. Min. Edson Vidigal, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>134 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>“Art. 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão</p><p>será tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 (três) juízes.</p><p>§ 1º Ocorrendo relevante questão de direito, que faça</p><p>conveniente prevenir ou compor divergência entre câmaras ou</p><p>turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgado</p><p>pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o</p><p>interesse público na assunção de competência, esse órgão</p><p>colegiado julgará o recurso.”</p><p>A inovação da Lei n.º 10.352/01 prevê uma espécie de uniformização de</p><p>jurisprudência que prevê deslocamento da competência da turma para um órgão colegiado, a</p><p>fim de prevenir ou compor divergência.</p><p>A diferença entre a uniformização do artigo 555 e a do artigo 476 é que</p><p>nesta a uniformização ocorrerá através de um incidente processual (será prolatado um</p><p>acórdão da divergência e esta será julgada pelo plenário, ficando sobrestado o recurso ou</p><p>processo principal), no outro caso, não há incidente, é o próprio recurso que será julgado por</p><p>órgão superior do tribunal (assunção de competência).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>135 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>15. PROCESSO DE EXECUÇÃO</p><p>Execução é a ação pela qual o credor movimenta a máquina judiciária para</p><p>obter a satisfação de um seu direito previamente reconhecido em um determinado título</p><p>executivo.</p><p>A palavra execução deriva do latim exsecutio de exsequi95 que significa:</p><p>seguir até o fim ou perseguir. De fato, o processo de execução é a verdadeira perseguição do</p><p>devedor para obrigá-lo a cumprir uma obrigação reconhecida em favor do credor.</p><p>Assim, ao contrário do processo de conhecimento, o processo executivo não</p><p>visa a manifestação jurisdicional acerca da existência do direito, (condenação, declaração ou</p><p>constituição), mas tão-somente a satisfação do direito já declarado e reconhecido por uma</p><p>ação prévia ou por um documento dotado de força executiva.</p><p>15.1. Princípios do processo executivo</p><p>Devido processo legal</p><p>Antes do estudo de qualquer outro princípio, não se pode deixar de ressaltar</p><p>o princípio do devido processo legal previsto no artigo 5º, inciso LIV da Constituição da</p><p>República, que determina;</p><p>"Art. 5º .....................................................................</p><p>LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem</p><p>o devido processo legal"</p><p>O princípio constitucional do devido processo legal, aplicável a todos os</p><p>ramos do Direito, tem peculiar importância para o processo executivo.</p><p>A Constituição prevê que a privação de bens – o que objetiva no processo</p><p>executivo – apenas pode ser realizada com a observância do processo e procedimento</p><p>previstos na lei, não se admitindo atividade arbitrária ou particular.</p><p>Em resumo, a satisfação de qualquer direito com a expropriação de bens do</p><p>devedor só pode ocorrer através da intervenção do Estado (pela jurisdição) e com</p><p>observância do processo justo previsto na legislação, sendo defeso ao particular pretender a</p><p>execução por suas próprias mãos.</p><p>Autonomia</p><p>O processo de execução é considerado uma ação autônoma, tratando-se de</p><p>uma relação jurídica processual independente e distinta do processo de conhecimento.</p><p>95 De Plácido e Silva, Dicionário Jurídico, 12ª ed., p. 238.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>136 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A autonomia da ação de execução tem como conseqüência a existência de</p><p>condições da ação e requisitos próprios, inclusive impondo a necessidade de citação válida</p><p>para formação da relação jurídica (independentemente da citação realizada na ação de</p><p>conhecimento).</p><p>Execução real</p><p>Execução real significa dizer que, como regra, a execução recai sobre o</p><p>patrimônio do devedor e não sobre a sua pessoa e família, nos termos fixados no artigo 591</p><p>do Código de Processo Civil (responsabilidade patrimonial):</p><p>"O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,</p><p>com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições</p><p>estabelecidas em lei."</p><p>Na atualidade isso parece-nos muito comum – execução real e não pessoal</p><p>– mas, nem sempre a história do direito foi assim.</p><p>Conforme ensina Moacyr Amaral Santos 96, no período denominado legis</p><p>actionis, quando não havia cumprimento voluntário da obrigação, o credor estava legitimado</p><p>a conduzir o devedor à força até o magistrado e encarcerá-lo. Posteriormente à exposição</p><p>perante o magistrado, era facultado ao credor apregoar o devedor prisioneiro em três feiras</p><p>até vendê-lo para satisfazer o seu crédito e, caso não conseguisse, poderia até mesmo matá-</p><p>lo.</p><p>Outra forma de satisfação pessoal do crédito era a possibilidade de o credor</p><p>tomar o devedor como escravo, para que, com o fruto do seu trabalho, fosse quitada a dívida.</p><p>Princípio da utilidade e do adimplemento</p><p>A execução objetiva unicamente o adimplemento da obrigação que não foi</p><p>voluntariamente exercido pelo devedor em favor do credor. O resultado pretendido na</p><p>execução é a expropriação dos bens do devedor necessários à satisfação do crédito.</p><p>Da mesma forma, considerando a finalidade do processo, os atos</p><p>processuais precisam ser praticados para um objetivo útil e eficaz, devendo o juiz indeferir</p><p>atos gravosos ao devedor que são desnecessários ao processo.</p><p>Princípio da disponibilidade da execução</p><p>A legislação processual, em seu artigo 569, prevê que o credor pode abrir</p><p>mão ou desistir, no todo ou em parte, do processo de execução proposto.</p><p>Subsidiariedade do rito do processo de conhecimento</p><p>Ao processo de execução são aplicadas as normas, no que couberem, do</p><p>processo de conhecimento.</p><p>96 Primeiras Linhas, vol. III, p. 206.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>137 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, as regras inerentes aos atos processuais – prazos, formas, etc. – às</p><p>decisões judiciais e aos recursos são aplicáveis às normas gerais do processo de</p><p>conhecimento.</p><p>15.2. Relação jurídica processual</p><p>O processo de execução é formado pelos seguintes elementos:</p><p>a) título executivo – art. 583</p><p>Objetivos b) inadimplemento da obrigação – art. 580</p><p>c) bens do devedor</p><p>Elementos</p><p>a) Partes: * ativa</p><p>Subjetivos * passiva</p><p>b) Órgão jurisdicional – juízo competente</p><p>15.2.1. Partes</p><p>Como toda relação jurídica processual, as partes constituem elemento</p><p>indispensável para a existência da ação. Geralmente, na execução as partes são:</p><p>• Exeqüente – supostamente o credor.</p><p>Os artigos 566 e (falta outro artigo) estabelecem</p><p>quais pessoas podem</p><p>propor a execução:</p><p>a) o credor a quem a lei confere título executivo, ou seja, pessoa munida</p><p>de um documento que comprova o seu crédito;</p><p>b) o Ministério Público, nos casos previstos na lei. Como exemplo</p><p>podemos citar a AÇÃO CIVIL PÚBLICA E A AÇÃO POPULAR, em que,</p><p>mesmo intervindo apenas como fiscal da lei o Ministério Público pode</p><p>pleitear a execução do título.</p><p>c) substitutos do credor: espólio, herdeiros, sucessores, cessionário e o</p><p>sub-rogado (fiador, etc.).</p><p>• Executado – devedor – art. 568.</p><p>a) o devedor reconhecido no título;</p><p>b) o substituto do devedor: espólio, herdeiros, sucessores, novo devedor</p><p>(art. 999, II do CC), fiador judicial (aquele que serve de garantidor em</p><p>ação cautelar).</p><p>c) o responsável tributário.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>138 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Observa-se que o fiador extrajudicial não está citado explicitamente,</p><p>como a lei prevê para o fiador judicial, uma vez que ele é reconhecido</p><p>como verdadeiro devedor, conforme inciso I do artigo 568.</p><p>Ausência do executado (revelia)</p><p>A jurisprudência97 tem firmado entendimento de que, nos termos do artigo 9º,</p><p>inciso II do Código de Processo Civil, sendo realizada a citação por edital do executado</p><p>deverá ser nomeado curador especial para que possa defender os seus interesses.</p><p>Os efeitos da revelia, quando há ausência de defesa contra mérito da ação,</p><p>gera a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor. No processo de execução</p><p>isso não existe, já que não existe apresentação de nenhuma defesa devido ao prévio</p><p>reconhecimento do direito.</p><p>No sentido estrito do termo revelia, como prevê o artigo 319 do CPC, é a</p><p>falta de contestação, assim, não se deve falar propriamente em revelia no processo de</p><p>execução.</p><p>Citação do executado – requisito de validade da relação</p><p>A citação é pressuposto de validade e existência da relação jurídica</p><p>processual, assim, mesmo que a parte tenha sido citada no processo de conhecimento, para</p><p>a formação da relação processual executiva deverá ser citada novamente.</p><p>Ressalte-se que o processo de execução é autônomo, dependendo da</p><p>citação da parte passiva para a formação regular da relação jurídica.</p><p>Na execução a finalidade da citação não é a apresentação de defesa</p><p>(contestação), mas sim satisfazer a obrigação imposta no título executado em benefício do</p><p>credor.</p><p>A citação do executado será realizada nos termos previstos nos artigos 231</p><p>a 233, observando-se que não é admitida a citação por correio, ou seja, a citação deverá ser</p><p>feita por oficial de justiça munido de mandado judicial ou por edital.</p><p>Legitimidade ativa do devedor</p><p>De acordo com a regra, a legitimidade ativa para a execução é do credor, no</p><p>entanto, como exceção, o artigo 570 concede ao devedor a possibilidade de propor execução</p><p>contra o credor para que este receba em juízo o seu crédito.</p><p>9 7 "AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO – NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL –</p><p>MOMENTO DA CONSTATAÇÃO DA REVELIA.</p><p>1 – O curador especial deverá ser nomeado pelo juiz da causa tão logo se torne revel o réu citado por edital, uma</p><p>vez que não se pode admitir a idéia de que toda defesa só pode ser feita através de contestação, que em processo</p><p>de execução seria o mesmo que dizer que toda a defesa do executado só pode ser feita através de embargos à</p><p>execução. 2 – Recurso provido." (TJMG, Agravo de instrumento 0286/33-6, 2ª Câm., rel. Des. Batista Franco,</p><p>julg. 23/11/99, v.u).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>139 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Trata-se de execução movida pelo devedor que tem por objetivo exonerar –</p><p>se da obrigação. Em outras palavras, o devedor tem o direito de cumprir a obrigação e o</p><p>credor tem o dever de receber para resolver a obrigação.</p><p>Na verdade, a execução movida pelo devedor tem natureza de consignação</p><p>em pagamento.</p><p>"Art. 570. O devedor pode requerer ao juiz que mande citar</p><p>o credor a receber em juízo o que lhe cabe conforme o título</p><p>executivo judicial; neste caso o devedor assume, no</p><p>processo, posição idêntica à do exeqüente."</p><p>15.2.2. Competência</p><p>A competência para a ação de execução será fixada com base na natureza</p><p>do título executado:</p><p>No caso de título judicial a execução será processada no próprio órgão que</p><p>proferiu a sentença – art. 575:</p><p>• nos tribunais superiores nas causas de suas competências originárias;</p><p>• no juízo que proferiu a sentença (primeiro grau de jurisdição);</p><p>• no juízo que homologou o laudo arbitral;</p><p>• no juízo cível competente, quando a execução for de sentença penal</p><p>condenatória.</p><p>No caso de títulos extrajudiciais, a competência será a regra geral prevista</p><p>nos artigos 86 a 101 do Código de Processo Civil, ou seja, a execução será proposta no local</p><p>do cumprimento da obrigação98 – art. 100, V. Mas se não houver no título indicação do local,</p><p>a ação será proposta no domicílio do devedor – art. 94.</p><p>15.2.3. Título executivo</p><p>O título executivo é o documento que comprova a existência do crédito,</p><p>estabelece o seu titular, fixa o termo (data) de cumprimento e aponta o responsável pelo</p><p>adimplemento da obrigação (devedor).</p><p>Para que o título tenha força executiva são necessários os seguintes</p><p>requisitos:</p><p>a) certeza – o título executivo deve ser certo, ou seja, deve dar exatidão</p><p>quanto à existência do crédito e do débito;</p><p>b) liquidez – cujo objeto da obrigação esteja delimitado e absolutamente</p><p>individualizado. O valor da obrigação deve estar contido no título, de</p><p>98 Art. 100. É competente o foro:</p><p>IV – do lugar:</p><p>d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação que lhe exigir o cumprimento;</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>140 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>forma absolutamente clara e sem a necessidade de outros</p><p>documentos ou atos para a verificação do valor99.</p><p>c) exigíveis – faculdade de poder cobrar – a exigibilidade tem início com</p><p>o advento do vencimento ou da condição suspensiva; por sua vez, o</p><p>título deixa de ser exigível, pela via executiva, quando o devedor</p><p>cumpre a obrigação ou quando ocorre a prescrição.</p><p>Todo título possui um tempo legal para ser exigido através da via executiva,</p><p>após o decurso do prazo, sem a ação do credor, o título perde a sua força executiva, e</p><p>ocorre a prescrição – a dívida continua existindo, mas não pode mais ser cobrada por essa</p><p>via processual.</p><p>No caso de título judicial, a falta de liquidez pode ser suprida pelo instituto</p><p>(ação) da liquidação de sentença.</p><p>Espécies de títulos executivos:</p><p>a) judicial;</p><p>b) extrajudicial.</p><p>Títulos judiciais</p><p>Como a própria terminologia demonstra, o título executivo judicial é o instrumento</p><p>emanado de órgão do Poder Judiciário que reconhece ou outorga a titularidade de um direito</p><p>(crédito ou obrigação) a uma determinada pessoa. Assim, são títulos judiciais:</p><p>a) Sentença condenatória em processo civil</p><p>A sentença é o resultado de uma atividade jurisdicional que dá uma resposta</p><p>ao litígio estabelecido entre as partes do processo, ato esse que se transforma</p><p>em lei perante os litigantes. Dessa forma, seja qual for a natureza da sentença</p><p>(condenatória, constitutiva, declaratória ou de improcedência) pode ser exigido</p><p>o seu cumprimento por qualquer uma das partes.</p><p>A sentença constitutiva, por exemplo, também sofre execução quando a parte</p><p>exige a realização dos efeitos do ato judicial – divórcio: a parte requer a</p><p>modificação do registro civil através de uma ordem judicial (mandado de</p><p>averbação). Em outras palavras, todo ato judicial é passível de ser executado</p><p>porque produz efeitos no mundo real.</p><p>b) Sentença penal condenatória transitada em julgado</p><p>Para a execução da sentença</p><p>penal a lei exige o trânsito em julgado (ao</p><p>contrário da sentença civil). A sentença penal tem o poder de reconhecer a</p><p>responsabilidade do condenado em reparar o dano sofrido pela vítima do ilícito,</p><p>restando, ao juízo civil, apenas a fixação do quantum devido.</p><p>c) Sentença arbitral, homologatória de transação ou de conciliação</p><p>99 Com referência aos contratos de abertura de crédito, o STJ firmou a súmula 233, para afirmar que esse</p><p>documento não é título de crédito, pois não tem liquidez por lhe faltar o valor efetivo do débito, inclusive, não</p><p>aceitando o extrato da conta bancária para comprovação do valor.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>141 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A sentença arbitral é o ato pelo qual o árbitro expõe a sua decisão acerca da</p><p>questão que lhe é submetida pelas partes; tal sentença - proferida por um</p><p>árbitro – pode ser executada.</p><p>As sentenças homologatórias de transação e conciliação, nas quais o</p><p>magistrado certifica a vontade das partes, também constituem título judicial que</p><p>enseja a propositura de ação de execução para obrigar o devedor a cumprir a</p><p>obrigação assumida no acordo homologado.</p><p>d) Sentença estrangeira homologada pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>Nos termos do artigo 486 do Código de Processo Civil, a sentença proferida</p><p>por órgão judiciário estrangeiro apenas terá eficácia no Brasil após ser</p><p>homologada pelo Supremo Tribunal Federal.</p><p>Obtida a homologação, a parte interessada promoverá a extração de carta de</p><p>sentença, que estudaremos a seguir.</p><p>e) Formal ou certidão de partilha (que também contém uma sentença)</p><p>Formal de partilha é o resultado de um processo de inventário, no qual o juiz</p><p>reconhece quem são os sucessores do falecido e qual o quinhão que compete</p><p>a cada um deles, ou seja, no formal está reconhecido o direito dos sucessores</p><p>em relação aos bens do falecido.</p><p>Com o formal de partilha um herdeiro pode exigir em relação a outro o</p><p>cumprimento da divisão dos bens do falecido.</p><p>Como citamos anteriormente, os títulos judiciais são executados perante o próprio</p><p>juízo que os proferiu.</p><p>Outras questão relevante acerca da execução de um título judicial100 revela-se na</p><p>natureza da sentença exeqüenda:</p><p>a) definitiva – quando fundada em sentença transitada em julgado;</p><p>b) provisória – quando o título judicial estiver pendente do julgamento de</p><p>recurso recebido apenas no efeito devolutivo (lembramos que os recursos</p><p>recebidos apenas no efeito devolutivo podem ser executados provisoriamente)</p><p>– art. 588 do Código de Processo Civil.</p><p>Por uma questão prática, já que os autos do processo são remetidos ao</p><p>tribunal para o julgamento do recurso e a execução deve ser realizada pelo juízo de primeiro</p><p>grau, a execução provisória é realizada através de carta de sentença.</p><p>Extraída a carta de sentença, os autos do processo são remetidos ao</p><p>tribunal para julgamento do recurso; a carta permanece na primeira instância para o</p><p>prosseguimento da execução provisória.</p><p>Recebido o recurso apenas no efeito devolutivo, a parte interessada</p><p>(vencedora) poderá requerer ao juiz de primeiro grau a extração da carta de sentença para</p><p>possibilitar a execução provisória.</p><p>100 A execução de título extra-judical sempre será definitiva, mesmo quando na pendência de recurso interposto</p><p>contra sentença de embargos do devedor, uma vez que o artigo 520 prevê que a apelação apenas será recebida no</p><p>efeito devolutivo, possibilitando a execução (que será definitiva). Uma execução que era definitiva nunca poderá</p><p>tornar-se provisória (por força da pendência do julgamento de recurso).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>142 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Dessa forma, deferida a sua extração a parte requererá a extração das</p><p>cópias do processo necessárias à formação da carta de sentença, lembrando que a carta de</p><p>sentença constituirá novos autos, razão pela qual devem ser extraídas cópias do processo</p><p>principal.</p><p>Formação da carta de sentença</p><p>A carta de sentença representa novos autos, que devem conter – art. 590:</p><p>• autuação (recebe uma capa de processo);</p><p>• petição inicial;</p><p>• procurações das partes;</p><p>• contestação;</p><p>• sentença exeqüenda;</p><p>• despacho do recebimento do recurso.</p><p>O artigo 589 afirma que a execução provisória será realizada através de carta</p><p>de sentença ou autos suplementares, que eram cópias de garantia dos processos. No</p><p>entanto, estes autos suplementares não existem mais, pois atualmente os cartórios judiciais</p><p>não têm condições físicas para manter uma cópia para cada processo que lá tramita.</p><p>15.2.4. Liquidação de sentença</p><p>O artigo101 286 do Código de Processo Civil permite à parte autora a</p><p>formulação de pedido genérico, ou seja, existe um pedido certo quanto ao tipo de provimento</p><p>pretendido (condenação, declaração ou constituição), no entanto, é indeterminado quanto à</p><p>extensão dos efeitos – do valor</p><p>Com efeito, sendo genérico o pedido do autor, o juiz não poderá proferir</p><p>sentença com condenação líquida. Por exemplo, a sentença reconhece o direito do autor de</p><p>receber indenização (an debeatur – reconhece que o réu deve), mas não estabelece o valor</p><p>devido (quantum debeatur), deixando tal verificação para o momento da liquidação de</p><p>sentença.</p><p>Vimos que um dos requisitos indispensáveis do título é a sua liquidez, não</p><p>podendo ser executado direito cujo objeto não esteja delimitado com precisão.</p><p>Dessa forma, a liquidação de sentença é instrumento processual,</p><p>preparatório e antecedente ao processo de execução, que tem por finalidade tornar líquido o</p><p>objeto a ser satisfeito.</p><p>"Art. 603. Procede-se à liquidação, quando a sentença não</p><p>determinar o valor ou não individualizar o objeto da</p><p>condenação."</p><p>101 Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações</p><p>universais, se não puder o autor individualizar na petição os bens do demandado; II – quando não for possível</p><p>determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito; III – quando a determinação da</p><p>condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>143 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A liquidação pode ser:</p><p>a) por cálculos;</p><p>b) por arbitramento;</p><p>c) por artigos.</p><p>Liquidação por cálculos</p><p>É muito comum que a apuração do débito dependa da realização de</p><p>cálculos matemáticos para se obter o valor preciso do título. As sentenças contêm a</p><p>condenação e sobre ela determinam a incidência de juros, correção monetária, os honorários</p><p>advocatícios e o pagamento das custas desembolsadas.</p><p>No sistema processual anterior ao advento da Lei n.º 8.898/94, quando a</p><p>apuração do valor do débito dependia de cálculos, os autos eram remetidos ao contador</p><p>judicial que, após calcular o valor do débito, submetia o seu trabalho à homologação judicial.</p><p>Atualmente, quando a determinação do valor da condenação depender</p><p>apenas de cálculo aritimético, o credor deverá, quando da propositura da execução,</p><p>apresentar uma memória de cálculo, dispensando a remessa dos autos ao contador e à</p><p>homologação judicial.</p><p>A Lei 10.444/01, na alteração do art. 604, passou a prever a possibilidade de</p><p>expedição de mandado para que a parte devedora ou terceiro apresente os valores ou</p><p>informações que estejam em seu poder e que sejam necessárias à liquidação por cálculos,</p><p>ressaltando que, a recusa injustificada ou a inércia geram a presunção de veracidade sobre</p><p>os cálculos apresentados pela parte credora.</p><p>Liquidação por arbitramento</p><p>A presente espécie de liquidação tem por instrumento a determinação do</p><p>valor do débito ou individualização do</p><p>objeto da obrigação, apuração está que será realizada</p><p>por meio de perícia técnica.</p><p>Dispõe o artigo 606:</p><p>"Art. 606. Far-se-á a liquidação por</p><p>arbitramento quando:</p><p>I – determinado pela sentença ou</p><p>convencionado pelas partes;</p><p>II – o exigir a natureza do objeto da</p><p>liquidação."</p><p>Na liquidação por arbitramento, recebida a petição inicial do credor e</p><p>realizada a citação do devedor através de seu advogado para que acompanhe a avaliação</p><p>técnica, o juiz nomeará perito para elaborar laudo que determine o valor exato do crédito ou</p><p>indique as características do objeto.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>144 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Apresentado o laudo pelo perito judicial, as partes poderão manifestar-se no</p><p>prazo de 10 dias, sendo necessária a realização de prova oral o juiz designará audiência de</p><p>instrução e depois proferirá sentença – art. 607, § único.</p><p>Da sentença proferida na liquidação por artigos caberá recurso de apelação,</p><p>que será recebido apenas no efeito devolutivo – art. 520, III.</p><p>Liquidação por artigos</p><p>A liquidação por artigos ocorre quando houver necessidade de se alegar ou</p><p>provar fato novo para tornar determinado o objeto da sentença.</p><p>Parece estranha a idéia de se abrir oportunidade, após a sentença, para a</p><p>alegação de fato novo.</p><p>O procedimento recebeu o nome de liquidação por artigos pelo fato de o</p><p>autor, em sua petição inicial, ter de apresentar um rol dos fatos que pretende provar para</p><p>liquidar o título; os fatos são apresentados de forma articulada que permite demonstrar a</p><p>importância para a valoração da condenação.</p><p>Procedimento geral da liquidação</p><p>A liquidação de sentença constitui novo processo, distinto e autônomo em</p><p>relação ao processo de conhecimento (antecedente à liquidação), bem como em relação ao</p><p>processo de execução (depois da liquidação).</p><p>Por essa razão, na apuração do débito o devedor é citado para</p><p>acompanhar a liquidação do título executivo, ato este que será realizado na pessoa do</p><p>advogado, sendo dispensada, por expressa determinação legal, a citação pessoal.</p><p>Finalizada a instrução do processo de liquidação – realizada a perícia ou</p><p>provados os fatos novos – o juiz proferirá uma sentença atribuindo um valor determinado para</p><p>o título judicial, cabendo à parte que se sentir prejudicada a faculdade de interpor recurso de</p><p>apelação.</p><p>Títulos extrajudiciais</p><p>Os títulos extrajudiciais que ensejam a propositura da ação de execução que</p><p>estão previstos no artigo 585, incisos I a VII, são documentos produzidos fora da esfera do</p><p>Poder Judiciário; são eles:</p><p>a) Letra de câmbio, nota promissória, duplicata, cheque e debênture</p><p>A letra de câmbio e a nota promissória estão disciplinadas na Lei Uniforme,</p><p>Decreto n.º 57.663/66, dizendo a referida lei que a ação para exigir que o</p><p>devedor cumpra a obrigação deve ser proposta dentro do prazo de 3 anos, a</p><p>contar da data do vencimento, sob pena de prescrição do direito.</p><p>O cheque constitui uma ordem de pagamento à vista, cuja regulamentação</p><p>está prevista na Lei n.º 7.357/85. No caso de crédito previsto em cheque, a</p><p>sua cobrança por ação executória deve ocorrer no prazo de 6 meses</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>145 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>contados da data da apresentação, que deve ocorrer em 30 dias quando for</p><p>da mesma praça e em até 60 dias quando for de outra praça, ambos</p><p>contados da data da emissão.</p><p>A duplicata, título criado pelo sistema brasileiro (Lei n.º 5.474/68), refere-se</p><p>às relações de venda mercantil ou à prestação de serviços.</p><p>O prazo prescricional para a duplicata é 3 anos, contados da data do</p><p>vencimento – art. 18.</p><p>A execução de duplicatas deve observar:</p><p>a) duplicata aceita – não exige o protesto para execução;</p><p>b) duplicata não aceita (aceite presumido) – a execução deve ser</p><p>acompanhada de (art. 15):</p><p>• protesto do título;</p><p>• comprovante de entrega da mercadoria ou prestação de serviço (canhoto</p><p>da nota fiscal);</p><p>• ausência de recusa expressa do devedor em aceitar o título.</p><p>A ocorrência de prescrição resulta na perda do direito do credor de promover</p><p>a execução do título de crédito; o direito ao crédito não é prejudicado, mas a</p><p>via executiva não existe mais.</p><p>Assim, é importante ressaltar que o artigo102 172 determina as causas de</p><p>interrupção da prescrição, nas quais se encontra o protesto, nesta hipótese</p><p>o prazo recomeça a correr na data do ato que gerou a interrupção ou na data</p><p>do último ato do processo judicial, além das hipóteses de não incidência do</p><p>prazo prescricional dos artigos 168 a 170 do Código de Processo Civil.</p><p>b) Documento ou escritura pública</p><p>Escritura pública é o documento formalizado perante um oficial de cartório</p><p>público; já o documento público, termo mais abrangente, constitui documento</p><p>produzido perante qualquer órgão público. O inciso II dá força executiva para</p><p>tais documentos, desde que assinados pelo devedor.</p><p>c) Documento particular</p><p>Trata-se de documento firmado entre as próprias partes, contendo,</p><p>obrigatoriamente, para ter força executiva, a assinatura de duas testemunhas</p><p>(por exemplo: contrato, confissão de dívida, etc.).</p><p>d) Instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela</p><p>Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores, independentemente</p><p>de testemunhas.</p><p>e) Contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese103, de caução104, de</p><p>seguro de vida e acidentes pessoais</p><p>102 Código Civil – Art. 172. A prescrição interrompe-se:</p><p>I – Pela citação pessoal feita ao devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente.</p><p>II – Pelo protesto, nas condições do número anterior.</p><p>III –Pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário, ou em concurso de credores.</p><p>IV – Por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor.</p><p>V – Por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe o reconhecimento do direito pelo devedor.</p><p>103 Direito real de garantia sobre frutos e rendimentos de um bem imóvel – art. 805 do Código de Processo Civil.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>146 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Havendo título de reconhecimento de direito de garantia o credor poderá</p><p>promover a execução de seu crédito.</p><p>f) Créditos decorrentes de foro, laudêmio, aluguel ou renda de imóvel,</p><p>encargos de condomínio comprovado por contrato escrito</p><p>Foro é o pagamento anual (certo) decorrente do direito real de enfiteuse (art.</p><p>678 do Código de Processo Civil);</p><p>Laudêmio constitui a compensação devida ao senhorio quando o enfiteuta</p><p>aliena onerosamente o imóvel objeto do direito (art. 686 do Código de</p><p>Processo Civil);</p><p>Aluguel é a remuneração do contrato de locação.</p><p>g) Créditos dos serventuários da justiça e seus auxiliares (perito,</p><p>interprete e tradutor)</p><p>Como bem sabemos, o processo impõe às partes o ônus de arcar com as</p><p>despesas do seu regular desenvolvimento, como honorários de perito judicial,</p><p>despesas com transporte de oficial de justiça para cumprir diligência, etc.</p><p>Assim, sendo aprovada a despesa pelo magistrado – por exemplo, arbitrados</p><p>os honorários do perito –o serventuário credor poderá propor ação de</p><p>execução em face do devedor.</p><p>h) Certidão da dívida ativa das Fazendas</p><p>O inciso VI prevê a executoriedade dos créditos da Fazenda Pública em</p><p>função dos débitos tributários. No entanto, a execução destes créditos ocorre</p><p>através do procedimento previsto em legislação especial, ou seja, a Lei n.º</p><p>6.830/80.</p><p>O apontamento de uma dívida tributária gera a denominada "inscrição na</p><p>dívida ativa", da qual é extraída uma certidão que assegura liquidez e certeza</p><p>do débito do contribuinte com qualquer uma das Fazendas.</p><p>Assim, a certidão da dívida ativa é o título executivo extrajudicial hábil para</p><p>que a Fazenda credora</p><p>possa dar início a uma execução fiscal.</p><p>i) Demais títulos.</p><p>Além dos títulos previstos no Código de Processo Civil, a legislação</p><p>extravagante assegura força executiva aos seguintes documentos:</p><p>a) contrato de honorários advocatícios – Lei n.º 8.906/94, art. 24;</p><p>b) cédulas de crédito rural – Decreto-lei n.º 167/67, art. 41;</p><p>c) contratos de alienação fiduciária em garantia – Decreto-lei n.º 911/69, art.</p><p>5º;</p><p>d) cédula de crédito industrial – Decreto-lei 413/69, art. 10;</p><p>e) conhecimento de depósito – Decreto-lei 19.473/30, art. 4º;</p><p>f) decisão do Tribunal de Contas da União que importe a imputação de débito</p><p>ou multa – Constituição Federal, art. 71, §3º.</p><p>g) apólice de seguro105.</p><p>104 Arts. 789 e 790 do Código de Processo Civil.</p><p>105 "EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL – Seguro – Transporte rodoviário – Instrução da petição</p><p>inicial com proposta do seguro, da apólice e nota de seguro – Admissibilidade – Art. 27 do Decreto-lei n.º 73/66</p><p>não revogado pela Lei n.º 5.869/73 – Caracterização dos documentos como hábeis a embasar a execução –</p><p>Indeferimento da inicial afastado (no masculino?) determinando-se o prosseguimento do feito – Recurso provido</p><p>para este fim." (1º TAC/SP, apelação n.º 0796368-2, 7ª Câmara, julg. 15/02/2000, rel. Juiz Álvares Lobo, v.u.)</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>147 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Título extrajudicial estrangeiro – nos termos do artigo 585, § 2º, os títulos</p><p>extrajudiciais advindos de outros países não dependem de homologação pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal (como ocorre com os títulos judiciais), e podem ser executados desde que</p><p>contenham os requisitos exigidos pela lei local e o Brasil tenha sido indicado como o lugar de</p><p>cumprimento da obrigação.</p><p>15.3. Responsabilidade patrimonial</p><p>A regra da responsabilidade patrimonial prevê que o devedor responderá</p><p>com os seus bens, presentes e futuros, pela satisfação do crédito executado – art. 591. No</p><p>entanto, o artigo 592 prevê responsabilidade patrimonial subsidiária nos seguintes casos:</p><p>a) do sucessor a título singular, tratando-se de execução de sentença</p><p>proferida em ação fundada em direito real – trata-se de hipótese de</p><p>alienação de coisa litigiosa, cuja lei afirma que tal negócio é ineficaz em</p><p>relação ao credor;</p><p>b) do sócio, nos termos da lei – a invasão do patrimônio particular do sócio</p><p>respeitará a norma de cada espécie de sociedade. Como regra, a</p><p>pessoa jurídica deverá responder pelo débito – responsabilidade</p><p>principal – e, em caso de gestão fraudulenta, poderão ser chamados os</p><p>bens pessoais do sócio. Nota-se que, para isso, o juiz deve dar uma</p><p>decisão fundamentada, determinando a inclusão do sócio no pólo</p><p>passivo, para depois determinar a expropriação de seus bens106;</p><p>c) dos bens do devedor em poder de terceiros – trata-se de previsão</p><p>desnecessária – se é ineficaz perante o credor até mesmo a alienação</p><p>dos bens, quanto mais o mero empréstimo a terceiros.</p><p>d) do cônjuge, nos casos em que seus bens próprios, reservados ou de sua</p><p>meação, respondem pela dívida – neste caso, trata-se da</p><p>responsabilidade, subsidiária, do cônjuge em relação à dívida contraída</p><p>pelo outro, hipótese em que responderá com seus bens particulares</p><p>(independentemente do regime de casamento). O artigo 246 do Código</p><p>"EXECUÇÃO – TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL – SEGURO DE VIDA – APÓLICE</p><p>ACOMPANHADA DE DOCUMENTO MÉDICO INDICANDO O GRAU DE INCAPACIDADE –</p><p>ADMISSIBILIDADE – APLICAÇÃO DA SÚMULA 26 DO EGRÉGIO PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA</p><p>CIVIL DE SÃO PAULO.</p><p>Título executivo extrajudicial, se a apólice for acompanhada de documento médico indicando o grau de</p><p>incapacidade do segurado. Aplicação da Súmula 26 do Egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo."</p><p>(2º TAC/SP, apelação n.º 558.894-00/8, 10ª Câmara, rel. Juiz Soares Levada, julg. em 10.11.99, v.u.)</p><p>106 A desconsideração da personalidade jurídica apenas pode ocorrer quando a parte demonstrar que o sócio tem</p><p>responsabilidade solidária (por qualquer fundamento legal), e tal articulação deve ser apreciada e julgada pelo</p><p>magistrado. Na prática, os exeqüentes requerem a penhora de bens particulares dos sócios e, em mero despacho</p><p>sem fundamentação, o magistrado determina a expropriação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>148 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>de Processo Civil determina que ambos os cônjuges respondem pelas</p><p>dívidas contraídas em benefício da família107;</p><p>e) os bens alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.</p><p>Fraude à execução</p><p>A fraude à execução, instituto de direito processual civil, trata das situações</p><p>em que se considera ineficazes os atos de alienação ou atos onerosos quando o devedor</p><p>executado tenta frustrar o processo executório.</p><p>O artigo 593 considera fraude à execução a alienação ou a imposição de</p><p>ônus aos bens:</p><p>a) quando sobre eles pender ação fundada em direito real;</p><p>b) quando, ao tempo da alienação ou imposição de ônus, corria contra o</p><p>devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência;</p><p>c) nos demais casos previstos em lei.</p><p>Nesse ponto é importante registrar que a fraude à execução pode ocorrer</p><p>devido à alienação ou imposição de ônus ocorridas durante o processo de conhecimento, não</p><p>se exigindo que tais atos aconteçam, necessariamente, depois da citação do processo de</p><p>execução.</p><p>O inciso II do artigo 593 afirma que é considerada fraude à execução a</p><p>alienação ou imposição de ônus no curso de demanda (de qualquer demanda), cuja alienação</p><p>de bens é capaz de reduzir o devedor à insolvência. Tal tentativa de fraude é muito comum</p><p>quando o réu é citado na ação de conhecimento e tem presunção de perda da ação; ele</p><p>começa a dissipar os seus bens com a finalidade de frustrar eventual processo de execução.</p><p>Ocorrendo fraude à execução, esta será reconhecida no próprio processo de</p><p>execução por meio de uma decisão interlocutória que considerará ineficaz a alienação em</p><p>relação ao credor e ao processo. Observem que não se trata de declaração de nulidade do</p><p>ato – o juiz não anula o ato fraudulento – mas tão-somente declara que a alienação é ineficaz.</p><p>Diferenças entre fraude à execução e fraude a credores</p><p>Fraude à execução Fraude a credores</p><p>Natureza jurídica</p><p>Instituto de direito</p><p>processual civil:</p><p>tentativa de frustração</p><p>ao objeto do processo</p><p>Instituto de direito civil:</p><p>vício do ato jurídico, art.</p><p>106 do CPC.</p><p>107 O cônjuge que sofrer expropriação de seu patrimônio por dívida contraída pelo outro poderá discutir a dívida</p><p>através de embargos do devedor e defender a sua meação através de embargos de terceiro.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>149 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Prejuízo À atividade jurisdicional Apenas ao credor</p><p>Momento da</p><p>alienação</p><p>Durante o curso de</p><p>qualquer ação</p><p>Antes da propositura de</p><p>ação</p><p>Efeitos sobre o ato</p><p>de alienação Ato ineficaz Ato anulável</p><p>Via de</p><p>reconhecimento da</p><p>fraude</p><p>Será reconhecida no</p><p>próprio processo de</p><p>execução – por decisão</p><p>interlocutória</p><p>Será reconhecida por</p><p>ação paulina que emitirá</p><p>sentença de declaração</p><p>de nulidade do ato de</p><p>alienação</p><p>Má-fé Presunção de má-fé do</p><p>alienante</p><p>A intenção de fraude</p><p>deve ser provada na ação</p><p>paulina</p><p>15.4. Espécies de execução</p><p>Dependendo da natureza da obrigação a ser satisfeita no processo de</p><p>execução, o ordenamento processual determina um procedimento ou rito específico para a</p><p>ação de execução.</p><p>certa</p><p>Execução para entrega</p><p>de coisa</p><p>incerta</p><p>Ritos do Execução de obrigação de fazer ou não fazer</p><p>processo de</p><p>execução Execução por quantia contra devedor solvente</p><p>certa contra devedor insolvente</p><p>contra Fazenda Pública</p><p>contra devedor de alimentos</p><p>15.4.1. Execução por quantia certa contra devedor solvente</p><p>Conforme a própria nomenclatura do rito, trata-se de ação do credor contra</p><p>o devedor, com a finalidade de obter satisfação do crédito referente a uma quantia em</p><p>dinheiro, por meio de atos de expropriação do patrimônio do devedor para satisfação do</p><p>credor.</p><p>A execução de quantia certa contra devedor solvente sempre ocorrerá com</p><p>a prática de atos de expropriação:</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>150 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• alienação de bens do devedor – por meio de pregão em hasta pública e com</p><p>o produto da venda faz-se o pagamento ao credor;</p><p>• adjudicação em favor do credor – ao invés do bem ser alienado, será entregue</p><p>ao credor como forma de pagamento (espécie de dação em pagamento);</p><p>• usufruto de imóvel ou de empresa – os rendimentos da coisa expropriada são</p><p>revertidos ao credor para amortização do seu crédito.</p><p>Toda execução, inclusive esta, tem início por meio de uma petição inicial, na</p><p>qual o exeqüente demonstra a existência do crédito e do débito, representado por um título</p><p>executivo, e o inadimplemento do devedor com o valor atualizado; o exeqüente requererá a</p><p>citação do executado para o pagamento da quantia ou a nomeação de bens à penhora no</p><p>prazo de 24 horas.</p><p>Na execução por quantia certa o pedido da ação é a citação para</p><p>pagamento ou nomeação de bens, não se cogitando qualquer pedido de procedência ou para</p><p>apresentação de defesa.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>151 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Devedor</p><p>paga a</p><p>obrigação</p><p>Devedor</p><p>não é</p><p>encontrado</p><p>Devedor</p><p>permanece</p><p>inerte</p><p>Extinção da</p><p>obrigação e</p><p>do processo</p><p>Procura do</p><p>devedor por 3</p><p>vezes — 653</p><p>Citação do executado</p><p>por edital — 654</p><p>(pagamento em 24</p><p>horas ou nomeação</p><p>de bens)</p><p>Nomeação de</p><p>bens pelo</p><p>devedor</p><p>AUTO DE PENHORA E DEPÓSITO</p><p>Processamento e julgamento</p><p>dos embargos à execução</p><p>(em ação própria)</p><p>Avaliação do bem penhorado</p><p>Leilão ou praça</p><p>Arrematação</p><p>Pagamento ao credor</p><p>Extinção da execução</p><p>por sentença</p><p>Usufruto de imóvel</p><p>ou empresa</p><p>CITAÇÃO do devedor para pagamento ou</p><p>nomeação de bens no prazo de 24</p><p>horas — Art . 652</p><p>Devedor nomeia</p><p>bens à penhora</p><p>ou deposita o</p><p>valor</p><p>execut ado</p><p>Oficial</p><p>procede à</p><p>PENHORA</p><p>Oficial</p><p>procede o</p><p>ARRESTO</p><p>Executado inerte:</p><p>Conversão do arresto em</p><p>PENHORA</p><p>Intimação do devedor (acerca da Penhora) — 669</p><p>Não há embargos à execução Devedor apresenta embargos à execução</p><p>Adjudicação</p><p>O bem penhorado é entregue ao credor</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>152 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Avaliação</p><p>Efetivada a penhora, e não estando o feito suspenso por força da oposição</p><p>de embargos do devedor, uma avaliação será feita para se obter o valor certo da coisa e</p><p>possibilitar a sua alienação em hasta pública ou adjudicação.</p><p>Geralmente, faz-se a avaliação por perícia técnica ou por oficial avaliador</p><p>quando houver este profissional na comarca.</p><p>Casos em que não se procederá à avaliação do bem:</p><p>a) quando o credor aceitar a estimativa dada pelo devedor no ato de</p><p>nomeação do bem à penhora;</p><p>b) quando se tratar de títulos ou mercadorias que tenham cotação em</p><p>bolsas;</p><p>c) quando os bens tiverem pequeno valor108.</p><p>Após a avaliação, e no caso de ser possível a comparação entre o valor total</p><p>do débito executado e o valor da coisa expropriada, o juiz poderá, a requerimento do</p><p>interessado:</p><p>a) reduzir a penhora ou transferi-la para outros bens, se o valor dos</p><p>penhorados for consideravelmente superior ao crédito executado;</p><p>b) ampliar a penhora ou transferi-la para outros bens mais valiosos, quando</p><p>o valor dos penhorados for inferior ao crédito.</p><p>Observem que somente após a avaliação é que se procede a uma</p><p>adequação entre a expropriação efetiva e o crédito executado, este procedimento tem a</p><p>finalidade de evitar que o executado seja privado de bem cujo valor é muito superior ao seu</p><p>débito, ou que a expropriação seja muito inferior ao valor do crédito do exeqüente.</p><p>Arrematação</p><p>A arrematação ocorre quando a coisa penhorada é levada à hasta pública e</p><p>nela vendida após a realização do pregão.</p><p>Como regra, o edital que precede a hasta pública deverá conter – art. 686:</p><p>a) a descrição do bem;</p><p>b) o valor;</p><p>c) o lugar onde se encontra;</p><p>d) o dia, lugar e horário da primeira e segunda hastas públicas;</p><p>e) menção da existência de ônus;</p><p>108 Em cada caso o juiz verificará se o bem é de pequeno valor, tomando por base a proporcionalidade em relação</p><p>ao valor da execução e as despesas com a própria avaliação.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>153 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>f) previsão para a realização de um segundo leilão ou hasta na hipótese de</p><p>o bem não alcançar lanço igual ou superior ao valor da avaliação.</p><p>Na primeira tentativa de alienação do bem em hasta pública apenas se</p><p>admite arrematação por lanço igual ou superior ao valor da avaliação, já na segunda tentativa</p><p>o bem poderá ser vendido por qualquer valor, salvo por preço vil109.</p><p>Quando a execução não for superior a 20 (vinte) salários mínimos, será</p><p>dispensada a realização de edital.</p><p>Adjudicação</p><p>A adjudicação constitui uma das formas de pagamento do credor,</p><p>entregando-lhe a coisa penhorada para a satisfação de seu crédito, como uma espécie de</p><p>dação em pagamento110 quando frustradas as tentativas de alienação do bem em hasta</p><p>pública.</p><p>Ressalte-se que o direito de adjudicação compete ao exeqüente apenas</p><p>quando frustrada a arrematação e, além disso, o exeqüente não poderá ficar com a coisa por</p><p>valor inferior ao da avaliação.</p><p>Manifestado o desejo de adjudicação do bem, após verificar a inexistência</p><p>de outros pretendentes à arrematação (credores com preferências), o juiz deferirá o pedido e</p><p>determinará a expedição de carta de adjudicação em favor do credor.</p><p>Em caso de concurso de pretendentes à adjudicação – mais de um</p><p>exeqüente ou credores com preferência – será realizada uma licitação entre eles. Não</p><p>havendo oferta de quantia superior, o credor hipotecário terá preferência em relação ao</p><p>exeqüente e a outros credores concorrentes.</p><p>Pagamento do credor</p><p>Após realizada a alienação do bem em hasta pública – com a existência de</p><p>dinheiro depositado devido à arrematação – a execução passará para a sua última fase, ou</p><p>seja, o momento da satisfação do crédito, no qual é entregue o dinheiro ao credor.</p><p>Aparentemente isso parece muito simples. Todavia, no momento do</p><p>pagamento do exeqüente deverão ser observados alguns requisitos – art. 709:</p><p>a) Quando a execução foi promovida só em benefício do credor singular, a</p><p>quem por força da penhora cabe o direito de preferência sobre o produto</p><p>dos bens alienados, como regra o dinheiro poderá ser entregue apenas</p><p>109 Preço vil é um valor insignificante, e fica ao arbítrio do magistrado fixar o quantum mínimo para a arrematação</p><p>em segunda hasta, evitando a venda por preço vil.</p><p>110 Ao invés de dinheiro o credor receberá a coisa – uma coisa no lugar da outra que foi assumida.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>154</p><p>www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>ao credor exeqüente quando não existir concurso de credores ou</p><p>decretação de insolvência do devedor executado.</p><p>b) Quando não houver sobre os bens alienados qualquer privilégio ou</p><p>preferência instituído anteriormente à penhora.</p><p>Na hipótese de concurso de credores, a entrega de dinheiro deverá observar</p><p>a seguinte ordem:</p><p>1º) aos credores com preferências instituídas antes da penhora (por</p><p>exemplo, o credor hipotecário);</p><p>2º) aos demais credores, observada a ordem das prelações (penhoras).</p><p>15.4.2. Execução por quantia certa contra a Fazenda Pública</p><p>A execução por quantia certa movida contra o devedor comum, pessoa privada,</p><p>como vimos, tem o objetivo de expropriar os bens do devedor para satisfazer o crédito executado. No</p><p>entanto, sobre os bens públicos recai a natureza jurídica de indisponibilidade e impenhorabilidade, o</p><p>que torna inviável o procedimento expropriatório.</p><p>De fato, a Constituição da República, com a finalidade de garantir o funcionamento</p><p>do Estado com seus serviços essenciais, não permitiu que os bens públicos ficassem à mercê de</p><p>alienações para o pagamento de dívidas.</p><p>Por essa razão estipulou em seu artigo 100 que os créditos contra as Fazendas</p><p>Públicas, incluindo todos os entes públicos, serão satisfeitos por meio de precatórios.</p><p>Dessa forma, apresentado o crédito para inclusão na ordem cronológica até 1º de</p><p>julho, o pagamento deverá (ou melhor, deveria) ocorrer até o final do exercício seguinte, dispondo,</p><p>assim, o ente público de tempo prévio para a competente dotação orçamentária – a Constituição, no §</p><p>1º do art. 100, impõe a obrigatoriedade de inclusão de verba no orçamento para o pagamento dos</p><p>precatórios.</p><p>Por outro lado, a própria Constituição faz distinção entre os créditos, em relação à</p><p>natureza alimentar111 ou comum da condenação judicial, conferindo preferência ao pagamento dos</p><p>créditos alimentares.</p><p>Além disso, a Constituição prevê a possibilidade de créditos de pequenos valores,</p><p>que serão fixados por lei e não se submeterão à ordem dos precatórios, sendo o crédito pago</p><p>diretamente pelo ente público devedor, em determinado prazo.</p><p>Outro aspecto importante da execução contra a Fazenda Pública é a possibilidade</p><p>de decretação de seqüestro de bens e valores do ente público que desobedecer a ordem cronológica</p><p>dos precatórios. Neste caso, a parte prejudicada requererá o seqüestro perante o Presidente do</p><p>Tribunal competente que, após ouvi r o Ministério Púbico, poderá determinar a medida expropriatória</p><p>sobre o patrimônio do devedor.</p><p>111 § 1º , art. 100. Decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios</p><p>previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, fundadas em responsabilidade civil em virtude de sentença</p><p>transitada em julgado.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>155 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O seqüestro distingue-se do pedido de intervenção federal (ou intervenção do</p><p>Estado no município). Enquanto o seqüestro é justificado pela inobservância da ordem cronológica</p><p>(após pagar o precatório 1 é pago o precatório 3, sendo preterido o precatório 2), a intervenção, nos</p><p>termos dos artigos 34, V e 84, IX da Constituição Federal, tem cabimento para reorganizar as finanças</p><p>do Estado ou município quando ocorrer suspensão do pagamento de dívida fundada por mais de dois</p><p>anos consecutivos.</p><p>Em outras palavras, o seqüestro é cabível quando o ente desrespeitar a ordem</p><p>cronológica, e a intervenção quando o pagamento estiver suspenso por mais de dois anos.</p><p>Inicial da execução</p><p>Citação da executada</p><p>para oferecer embargos</p><p>no prazo de 10 dias</p><p>Não opostos embargos</p><p>Extinção da</p><p>execução</p><p>Realizado o pagamento a</p><p>execução é extinta</p><p>Opostos embargos</p><p>Suspensão da execução</p><p>até o julgamento</p><p>Rejeição total ou</p><p>parcial dos</p><p>embargos</p><p>Acolhimento</p><p>total dos</p><p>embargos da</p><p>Fazenda</p><p>Expedição do ofício requisitório</p><p>(ofício do juízo da execução requerendo</p><p>ao Presidente do Tribunal a inclusão do</p><p>crédito na ordem cronológica)</p><p>Presidente do Tribunal</p><p>determina a inclusão do</p><p>precatório na ordem</p><p>cronológica</p><p>Remessa do ofício ao</p><p>Presidente do Tribunal</p><p>competente</p><p>O precatório fica aguardando a</p><p>liberação pelo Poder Executivo</p><p>de verbas para pagamento dos</p><p>créditos.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>156 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Na execução contra a Fazenda Pública, o pedido da ação é a determinação de citação</p><p>da executada para oferecimento de embargos no prazo de 10 dias.</p><p>15.4.3. Execução para entrega de coisa</p><p>Nesta espécie de execução, o objetivo do credor é receber determinada</p><p>coisa, certa ou incerta, que se encontra em poder do devedor.</p><p>Por coisa certa entende-se aquele bem ou objeto absolutamente</p><p>individualizado e que não pode ser confundido com outros de seu gênero ou espécie (por</p><p>exemplo, é coisa certa um veículo individualizado, com placa e chassis, mas não é possível</p><p>confundi-lo com outro da mesma marca e modelo). Conseqüentemente, a coisa incerta é</p><p>aquela apenas delimitada por seu gênero e quantidade, mas não individualizada entre os</p><p>seus pares (por exemplo, a obrigação é para entregar uma vaca leiteira, não sendo</p><p>determinado qual animal específico – tal vaca).</p><p>Sendo a execução para a entrega de coisa certa, o devedor será citado para</p><p>entregá-la no prazo de 10 dias, sob pena da expedição de mandado de busca e apreensão e</p><p>imissão do credor na posse da coisa.</p><p>Ressalte-se que é requisito para a apresentação de embargos que o</p><p>executado faça o depósito do bem112 nos termos do artigo 622 do Código de Processo Civil.</p><p>No caso de coisa incerta (determinada apenas pelo gênero e quantidade),</p><p>verificamos duas hipóteses:</p><p>a) se a escolha couber ao exeqüente, ele deverá fazê-la em sua petição</p><p>inicial de execução;</p><p>b) se a escolha couber ao executado, este será citado para entregá-la</p><p>individualizada (exercerá o seu direito de escolha).</p><p>Em qualquer das hipóteses anteriores, a parte contrária à escolha poderá,</p><p>no prazo de 48 horas, impugnar a escolha realizada pela outra, decidindo113 o juiz, de plano,</p><p>acerca do incidente processual.</p><p>Por fim, é relevante considerar que a coisa, objeto da execução, pode ter</p><p>sido alienada, logo encontrando-se em poder de terceiros, ou, ainda, não ser localizada ou</p><p>estar destruída.</p><p>Nestas hipóteses ocorrerá o seguinte:</p><p>• encontrando-se a coisa em poder de terceiro o juiz deverá emitir mandado de</p><p>busca e apreensão contra esta pessoa – art. 626 (o terceiro apenas será</p><p>ouvido após depositar114 a coisa).</p><p>112 Não se admite depósito em dinheiro, deve ser depositada a própria coisa executada. Há diferença entre os</p><p>termos entrega e depósito. A entrega significa que o devedor não deseja discutir a execução, quer satisfazer o seu</p><p>débito, já o depósito é realizado para segurança do juízo para ação de embargos do devedor.</p><p>113 Típica decisão interlocutória passível de ser impugnada por meio de agravo de instrumento.</p><p>114 Alguns doutrinadores afirmam que, em razão da terminologia depósito da coisa, o terceiro poderá valer-se de</p><p>embargos do devedor, bem como de embargos de embargos de terceiros, que não exige a segurança do juízo.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>157 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>• se a coisa não for entregue, estiver deteriorada ou não for encontrada, o</p><p>exeqüente terá direito de receber o valor da coisa e perdas e danos. Não</p><p>constando da sentença o valor da coisa o credor promoverá a sua liquidação e</p><p>posterior execução de quantia certa</p><p>– art. 627.</p><p>Por fim, o artigo 628 prevê que, havendo benfeitorias na coisa – realizadas</p><p>pelo devedor ou pelo terceiro – o credor, se houver saldo, deverá depositar o valor</p><p>correspondente antes de receber a coisa, cujo valor será obtido por meio de liquidação.</p><p>Havendo benfeitorias em favor do credor – frutos da coisa – ele poderá exigi-las nos autos do</p><p>mesmo processo (liquidação e execução por quantia certa).</p><p>15.4.4. Execução de obrigação de fazer ou não fazer</p><p>Como o próprio nome afirma, esta espécie de execução tem por objetivo</p><p>obrigar o devedor a prestar uma obrigação consistente, realizar um ato ou abster-se dele.</p><p>Neste caso, o devedor será citado para, no prazo constante no título ou</p><p>naquele fixado pelo juiz, prestar a sua obrigação ou abster-se de determinado ato.</p><p>Assim, devemos distinguir as espécies de obrigações em:</p><p>• obrigação fungível: aquela que pode ser realizada pelo devedor ou por</p><p>qualquer outra pessoa nas mesmas condições;</p><p>• obrigação infungível: aquela que apenas terá resultado satisfatório se</p><p>realizada pelo próprio devedor, com exclusão de qualquer outra pessoa.</p><p>No caso de obrigação fungível, se o devedor, mesmo depois de citado, não cumprir</p><p>sua obrigação, o credor poderá requerer que o fazer seja realizado por outra pessoa, cuja escolha se</p><p>fará por meio de uma licitação no processo, ou, ainda, requerer a conversão da obrigação de fazer em</p><p>uma indenização, procedendo a liquidação do título e posterior execução por quantia certa.</p><p>Por outro lado, em se tratando de execução de obrigação infungível, e se negando o</p><p>devedor a cumpri-la, apenas restará ao credor a conversão da obrigação de fazer em indenização</p><p>(dinheiro).</p><p>O sistema processual civil, com o advento da atual redação do artigo 461, deu</p><p>preferência à satisfação da obrigação pelo próprio devedor e na forma assumida, impondo meios</p><p>coercitivos para isso, repelindo a idéia de conversão da obrigação de fazer em obrigação de</p><p>pagar,satisfação por sub-rogação ou compensação, em que o credor receberia uma indenização.</p><p>Em muitos casos, interessa mais para o credor o fazer do devedor do que o dinheiro</p><p>correspondente à obrigação.</p><p>Desta forma, o artigo 461 prevê as chamadas medidas de apoio para o</p><p>cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer. Consta do rol exemplificativo as seguintes</p><p>medidas: multa, busca e apreensão, força policial, remoção de pessoas ou coisas, desfazimento de</p><p>obras, impedimento de atividade nociva, etc.</p><p>Ora, o que determina o artigo 461 é mais do que obrigação e conseqüência da</p><p>atividade jurisdicional. O jurisdicionado tem direito de receber a tutela efetiva e não apenas um papel</p><p>no qual conste que ele tem “direito”.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>158 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação</p><p>de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da</p><p>obrigação, ou, se procedente o pedido, determinará providências</p><p>que assegurem o resultado prático equivalente ao do</p><p>adimplemento.”</p><p>O juiz tem o dever institucional de emitir uma tutela específica, com medidas que</p><p>obriguem o seu cumprimento, e que confira ao detentor do direito a percepção de efeitos práticos</p><p>equivalentes àqueles experimentados se a obrigação tivesse sido cumprida espontaneamente.</p><p>Ressalte-se que, não constando do título executivo multa ou medida coercitiva para</p><p>o cumprimento da obrigação quando da propositura da ação de execução, o magistrado deverá,</p><p>mesmo de ofício, fixar ou estabelecer a pena cominatória para obrigar ao adimplemento, sem tal ato</p><p>ele incorrerá em violação da coisa julgada ou limites da jurisdição.</p><p>“Art. 644. Na execução em que o credor pedir o cumprimento de</p><p>obrigação de fazer ou não fazer, determinada em título judicial, o juiz,</p><p>se omissa a sentença, fixará multa por dia de atraso e a data a partir da</p><p>qual ela será devida.”</p><p>“Art. 645. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em</p><p>título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por dia de</p><p>atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será</p><p>devida.”</p><p>Repita-se que o atual sistema processual dá preferência à satisfação da obrigação</p><p>in natura – como se estivesse sendo cumprida espontaneamente – do que a sua substituição por ato</p><p>de terceiro ou pela conversão em indenização.</p><p>Observa-se que, em função da possibilidade de antecipar os efeitos da tutela e da</p><p>concessão de tutela específica, previstas nos §§ 3º e 5º do artigo 461, em muitos casos é dispensada</p><p>ou desnecessária a propositura de ação de execução, uma vez que a antecipação já satisfez o direito</p><p>do credor, ocorrendo as chamadas “sentenças executivas lato sensu”.</p><p>Em se tratando de obrigação de fazer consistente na emissão de declaração de</p><p>vontade, como a outorga de escritura, o credor poderá valer-se de ação de conhecimento, pois, neste</p><p>caso, o magistrado conferirá, por sentença, a supressão da vontade do devedor, o que não se pode</p><p>fazer em ação de execução, caso o devedor se recuse a cumprir a obrigação e declarar a sua vontade.</p><p>A esse respeito determina115 o artigo 641:</p><p>“Art. 641. Condenando o devedor a emitir declaração de contate,</p><p>a sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os</p><p>efeitos da declaração não emitida.”</p><p>115 Artigo que se encontra em local errado no código, uma vez que, não tratando do processo de execução, deveria</p><p>estar inserido no capítulo destinado à sentença e seus efeitos.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>159 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>16. EMBARGOS DO DEVEDOR</p><p>O processo de execução, em seu próprio procedimento, não admite a</p><p>apresentação de defesa ou impugnação do crédito executado, ressalvando-se as hipóteses</p><p>de ausência de pressupostos processuais da execução que admitem o oferecimento de</p><p>“objeção de pré-executividade116”.</p><p>O contraditório existente no processo de execução é limitado ou reduzido</p><p>aos aspectos da própria execução.</p><p>Assim, nos termos do art. 736, o instrumento adequado para o devedor</p><p>opor-se à execução contra ele promovida são os embargos do devedor, cuja natureza jurídica</p><p>é de verdadeira ação de conhecimento, tendente à desconstituição ou declaração de nulidade</p><p>ou inexistência do crédito.</p><p>Trata-se de verdadeira ação autônoma, conexa à ação de execução e</p><p>processada em autos em apenso ao principal (execução) – art. 736.</p><p>16.1. Espécies de embargos</p><p>Dentro do gênero embargos do devedor estão incluídas as seguintes</p><p>espécies:</p><p>Embargos à execução</p><p>Embargos do Embargos à arrematação</p><p>devedor Embargos à adjudicação</p><p>Embargos de retenção por benfeitorias</p><p>16.2. Embargos à execução</p><p>16.2.1. Legitimidade</p><p>Estão legitimados à oposição de embargos à execução todos aqueles que</p><p>figurarem no pólo passivo da medida executória, pessoa que foi citada na qualidade de</p><p>executada.</p><p>A pessoa estranha à relação executória não tem legitimidade para opor</p><p>embargos, devendo valer-se de ação denominada embargos de terceiros, cujos requisitos são</p><p>mais acessíveis.</p><p>116 Que será formalizada por mera petição nos próprios autos da execução, dando conta do pressuposto processual</p><p>ausente e a possibilidade de reconhecimento de ofício pelo magistrado. Neste caso, o vício é inerente ao próprio</p><p>processo de execução e não em seu mérito (por exemplo, a falta de título executivo).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>160 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Como já dissemos anteriormente, em se tratando de constrição judicial</p><p>sobre bens imóveis de casal, ambos os cônjuges terão legitimidade para opor embargos do</p><p>devedor para</p><p>atacar o mérito da execução (a dívida), e embargos de terceiro para a defesa</p><p>de meação esbulhada.</p><p>16.2.2. Requisitos</p><p>a) Prazo – art. 738: os embargos à execução devem ser apresentados no</p><p>prazo de 10 dias, contados da data da juntada aos autos da intimação</p><p>da penhora, da data do depósito, da data da juntada aos autos do</p><p>mandado de imissão na posse (execução para entrega de coisa), da</p><p>data de juntada aos autos do mandado de citação quando for execução</p><p>de obrigação de fazer ou não fazer.</p><p>b) Segurança do juízo – art. 737: não serão admitidos os embargos antes</p><p>de seguro o juízo pela penhora ou depósito do valor quando se tratar de</p><p>execução de quantia certa contra devedor solvente, ou pelo depósito da</p><p>coisa quando se tratar de execução para entrega de coisa. Nas</p><p>execuções de obrigação de fazer ou não fazer os embargos não</p><p>prescindem de segurança do juízo.</p><p>c) Fundamento nas hipóteses dos artigos 741 – objeto dos embargos.</p><p>Em caso de execução por carta precatória, denominada execução por carta</p><p>– art. 747, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas o</p><p>julgamento será realizado pelo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre defeitos na</p><p>penhora, avaliação ou alienação dos bens. O prazo é contado da data da juntada aos autos,</p><p>da precatória, da intimação da penhora117.</p><p>16.2.3. Objeto dos embargos</p><p>A execução sempre se funda em título executivo, documento que dá certeza</p><p>à existência do débito e do crédito. Desta forma, nos casos de títulos judiciais que já</p><p>passaram por uma prévia ação de conhecimento o objeto dos embargos será reduzido aos</p><p>seguintes fundamentos:</p><p>a) falta ou nulidade de citação no processo de conhecimento, se a ação</p><p>correu à revelia;</p><p>b) inexigibilidade do título;</p><p>c) ilegitimidade das partes;</p><p>d) cumulação indevida de execuções;</p><p>e) excesso de execução ou nulidade desta até a penhora;</p><p>117 “Penhora por precatória. Início da contagem do prazo para embargar. No caso de embargos à execução por</p><p>quantia certa, com penhora efetuada por precatória, conta-se o prazo de 10 (dez) dias a partir do primeiro dia útil</p><p>após a intimação da penhora, e não da juntada da precatória aos autos. Em outras palavras, o prazo para</p><p>oferecimento dos embargos corre da intimação da penhora, mesmo nos casos de precatória.” (STJ, 4ª Turma, resp.</p><p>1720, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, jul. em 11.12.1989, v.u.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>161 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>f) causas impeditivas, modificativas ou extintivas da obrigação</p><p>(pagamento, novação, compensação com execução aparelhada,</p><p>transação ou prescrição), desde que supervenientes à sentença;</p><p>g) incompetência do juízo da execução, impedimento ou suspeição do juiz</p><p>(todas as exceções serão apresentadas dentro dos próprios embargos,</p><p>sem a necessidade de incidentes).</p><p>Por outro lado, tratando-se de execução de título extrajudicial, nos termos do</p><p>artigo 745, o devedor poderá alegar em embargos qualquer matéria de fato ou de direito,</p><p>além das previstas no artigo 741.</p><p>16.2.4. Procedimento</p><p>Os embargos à execução serão apresentados na forma de petição inicial,</p><p>com observância do disposto nos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil.</p><p>Observados os requisitos legais – art. 739 – e recebida a ação, o juiz</p><p>determinará a suspensão do processo de execução bem como a intimação118 da parte</p><p>embargada para impugná-los no prazo de 10 dias.</p><p>A jurisprudência dominante tem firmado entendimento de que a falta de</p><p>impugnação aos embargos não gera os efeitos da revelia, pelo fato de o embargado não ter</p><p>sido citado para apresentação de contestação (art. 285), bem como pelo fato de o título gozar</p><p>de presunção de certeza da existência do crédito e débito, certeza esta que deve ser elidida</p><p>pela parte embargante.</p><p>É importante consignar que a abrangência do efeito suspensivo dos</p><p>embargos ficará adstrita ao objeto desta ação, ou seja, se os embargos forem parciais,</p><p>impugnando apenas parte do débito, também será parcial o efeito suspensivo, devendo</p><p>prosseguir a execução na parte não embargada.</p><p>É muito comum que os embargos versem sobre o excesso de execução,</p><p>apontando o embargante maior diferença nos cálculos do exeqüente. Dessa forma, apenas a</p><p>parte controversa do débito é que ficará suspensa, devendo prosseguir a execução em</p><p>relação à parte não embargada e incontroversa. Muitos magistrados acabam suspendendo</p><p>totalmente a execução, mesmo quando os embargos são parciais, em clara afronta ao</p><p>disposto no parágrafo § 2º do artigo 39 do Código de Processo Civil (introduzido pela Lei n.º</p><p>8.953/94).</p><p>O mesmo raciocínio aplica-se aos embargos oferecidos apenas por um dos</p><p>executados. Neste caso, o fundamento versa apenas sobre um executado, e não sendo opostos</p><p>embargos pelos demais, a execução deverá prosseguir em relação a estes, como determina o § 3º do</p><p>art. 739119.</p><p>Encerrada a instrução dos embargos o juiz proferirá sentença, se ele acolher</p><p>totalmente os embargos a execução será extinta; caso contrário, prosseguirá.</p><p>118 Não se trata de citação, por essa razão o ato pode ser praticado na pessoa do advogado do exeqüente. Nesse</p><p>sentido foi a conclusão n.º 20, do VI Encontro Nacional dos Tribunais de Alçada.</p><p>119 “Art. 739 § 3º O oferecimento dos embargos por um dos devedores não suspenderá a execução contra os que</p><p>não embargaram, quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao embargante.”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>162 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>17. AÇÃO CAUTELAR</p><p>O processo cautelar é aquele destinado a dar segurança ao objeto ou bem</p><p>de um processo futuro. Nas lições120 de Humberto Theodoro Junior, verificamos: “Surge,</p><p>então, o processo cautelar como uma nova face da jurisdição e como um tertium genus,</p><p>contendo ’a um só tempo as funções do processo de conhecimento e de execução’, e tendo</p><p>por elemento específico‘a prevenção’”.</p><p>Ressalte-se que a finalidade do processo cautelar é a prevenção contra a</p><p>perda do bem pelo decurso do tempo, e não a solução da lide ou satisfação, como no</p><p>processo de conhecimento e na execução.</p><p>Analisando as características da ação cautelar, podemos tecer as seguintes</p><p>distinções entre este instituto e a antecipação dos efeitos da tutela e demais liminares:</p><p>Cautelar</p><p>Antecipação da</p><p>tutela – arts. 273 e</p><p>461</p><p>Outras liminares</p><p>Natureza Ação autônoma</p><p>Incidente do processo</p><p>de conhecimento</p><p>Incidente em</p><p>processos especiais:</p><p>possessórias, ação</p><p>de alimentos,</p><p>mandado de</p><p>segurança, etc.</p><p>Solução da lide</p><p>Cautelar apenas dá a</p><p>segurança ao bem,</p><p>sendo que o conflito</p><p>será resolvido em</p><p>outra ação (futura ou</p><p>pendente)</p><p>A lide é resolvida na</p><p>própria ação, sendo</p><p>desnecessária a</p><p>propositura de</p><p>processo principal</p><p>A lide é resolvida na</p><p>própria ação, não</p><p>dependendo da</p><p>propositura de outra</p><p>ação</p><p>Objeto</p><p>Prevenção</p><p>(segurança da eficácia</p><p>de processo futuro) –</p><p>natureza acautelatória</p><p>Satisfação antecipada</p><p>dos efeitos da tutela</p><p>final</p><p>Natureza: satisfativa</p><p>Satisfação</p><p>antecipada da tutela</p><p>final</p><p>Natureza: satisfativa</p><p>Requisitos Periculum in mora e</p><p>fumus boni juris</p><p>Prova inequívoca da</p><p>verossimilhança das</p><p>alegações e perigo de</p><p>dano ou abuso do</p><p>direito de defesa</p><p>Próprios de cada</p><p>procedimento</p><p>Características das cautelares</p><p>a) Instrumentalidade</p><p>120 Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, vol. II, 28ª ed., p. 328, apud Alfredo</p><p>Buzaid, “Exposição de Motivos”, de 1972, n.º 11.(faltam dados desta referência)</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>163 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>O processo cautelar</p><p>instituídos para</p><p>julgar determinada situação ou pessoa após a ocorrência do fato. Por exemplo, a delegação</p><p>de um juízo certo para julgamento de um fato específico após a sua ocorrência.</p><p>Cabe ressaltar, neste ponto, que a própria Constituição abriu exceção para admitir</p><p>uma espécie de tribunal ou juízo de exceção quando criou as Comissões Parlamentares de</p><p>Inquérito – CPIs, já que têm poderes próprios dos órgãos do Poder Judiciário.</p><p>Portanto, podemos concluir que a jurisdição apenas pode ser exercida por órgão</p><p>do Poder Judiciário que tenha recebido competência legal para a aplicação do Direito ao caso</p><p>concreto e investido de poder pela Constituição da República.</p><p>b) Improrrogabilidade e indelegabilidade.</p><p>Os limites do exercício da jurisdição estão previstos na Constituição da República,</p><p>não se admitindo modificação ou delegação entre os órgãos do poder (executivo, legislativo e</p><p>judiciário).</p><p>c) Indeclinabilidade e inafastabilidade</p><p>Por declinar entende-se afastar a jurisdição, ou ainda, quando investido deste</p><p>poder, recusar-se em prestá-la na forma da lei.</p><p>Pelo referido princípio o órgão jurisdicional investido de poder pela Constituição, e</p><p>competente nos termos da lei, não pode recusar-se a dizer o direito ao caso concreto, sob</p><p>pena de negativa do direito fundamental de ação (art. 5º, XXXV da CF). O juiz não pode</p><p>alegar falta ou omissão legal para a solução do conflito.</p><p>d) Inevitabilidade</p><p>Da mesma forma que o magistrado não pode recusar-se à prestação jurisdicional</p><p>quando competente para tanto, também o jurisdicionado não tem a faculdade de recusar</p><p>submissão aos efeitos da jurisdição. O poder da jurisdição e seus efeitos não dependem da</p><p>vontade das partes, mas tão-somente da vontade do Estado.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>13 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>e) Aderência ao território</p><p>A investidura do poder de jurisdição ocorre em relação a determinados territórios.</p><p>O órgão jurisdicional exerce sua função dentro do território estabelecido pela Constituição</p><p>Federal e pelas normas de organização judiciária.</p><p>O ilustre professor Moacyr Amaral Santos ensina10 que a jurisdição não pode ser</p><p>exercida fora do território fixado por lei ao juiz – não é possível ao magistrado extrapolar a</p><p>base territorial de sua jurisdição.</p><p>f) Inércia</p><p>O Estado apenas intervém nas relações entre os particulares para solucionar</p><p>disputa acerca de um bem jurídico, quando provocado por um dos interessados, o que</p><p>significa que a jurisdição não é espontânea, mas absolutamente inerte.</p><p>A esse respeito o legislador houve por bem positivar o referido princípio, nos</p><p>seguintes termos do Código de Processo Civil:</p><p>“Art. 2º. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou</p><p>o interessado a requerer, nos casos e forma legais.”</p><p>2.4. Poderes da jurisdição</p><p>a) Poder de polícia e documentação – no exercício da jurisdição o Estado-juiz tem força</p><p>institucional para presidir todo o processo, inclusive documentar a realização dos atos</p><p>processuais.</p><p>b) Poder de decisão – poder de formação e imposição de um juízo de mérito, função típica</p><p>do magistrado de emitir juízo de razão sobre o objeto central da lide ou questões</p><p>incidentes.</p><p>c) Poder de coerção – força capaz de impor respeito à ordem judicial, poder de obrigar o</p><p>cumprimento contra a vontade da parte ou de terceiro.</p><p>2.5. Espécies de prestação da tutela jurisdicional</p><p>No estudo das espécies de jurisdição é necessário ressalvar que a jurisdição é</p><p>UNA11, ou seja, dentro do Estado brasileiro não existem diversas jurisdições, mas apenas um</p><p>único Poder Judiciário com diferentes atribuições e meios de prestação da tutela jurisdicional.</p><p>Assim, a classificação a seguir não se presta para dividir ou classificar jurisdições,</p><p>mas sim para sistematizar a atividade jurisdicional, considerando no caso concreto a natureza</p><p>da lide, o objeto, a hierarquia do órgão e os sujeitos que serão atingidos.</p><p>10 Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Saraiva, vol.I, 21ª ed., p.72, 1999 Ed. Saraiva,</p><p>São Paulo, p. 72.</p><p>11 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil, Forense, Rio de Janeiro, vol. I, 31ª ed., p.34,</p><p>2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>14 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>2.5.1. Jurisdição comum e especializada</p><p>Neste ponto, é objeto de análise a matéria da lide que será submetida à jurisdição.</p><p>Para maior eficiência da tutela, a Constituição da República, ao criar e organizar o Poder</p><p>Judiciário, estabeleceu:</p><p>• Jurisdição especializada: em matéria trabalhista, eleitoral ou militar.</p><p>• Jurisdição comum: critério residual (o que não for matéria especializada), por</p><p>exemplo, civil e penal. Da mesma forma, utiliza-se um critério de exclusão, o</p><p>que não for matéria penal será objeto da jurisdição civil (inclusive direito</p><p>comercial, administrativo, constitucional, direito do consumidor, etc.).</p><p>2.5.2. Jurisdição voluntária e contenciosa</p><p>Como afirmamos anteriormente, a jurisdição atua sobre a lide (conflito de</p><p>interesse qualificado por uma pretensão resistida).</p><p>No entanto, em algumas hipóteses, decorrentes da natureza e importância do</p><p>bem jurídico, o Estado reclamou para si o poder de administrá-los.</p><p>É o que ocorre, por exemplo, com o instituto civil do casamento: para ser</p><p>contraído é firmado perante o juiz de paz, mas sua dissolução (mesmo que consensual) exige</p><p>intervenção do órgão jurisdicional.</p><p>O mesmo ocorre com a alienação de bens de incapazes, alienação judicial,</p><p>inventário de bens, abertura de testamento, alvarás, separação consensual, administração de</p><p>bens de ausentes e das coisas vagas, curatela dos interditos, organização e fiscalização das</p><p>fundações, especialização da hipoteca legal (arts. 1103 a 1210 do CPC), e outras tutelas não</p><p>previstas em lei, mas cuja natureza determina a intervenção judicial.</p><p>Dessa forma, a atividade jurisdicional civil pode ser:</p><p>• contenciosa: para a solução de um litígio;</p><p>• voluntária: para a administração estatal de um determinado bem jurídico</p><p>(administração pública de interesses privados).</p><p>Jur isd içã o vo lun tá r ia Jur isd içã o con tenciosa</p><p>Administração pública de</p><p>interesses privados</p><p>Solução de conflitos de interesses</p><p>Ausência de lide Existência de lide</p><p>Requerentes ou interessados Partes litigantes: autor e réu</p><p>Sentença meramente</p><p>homologatória Sentença de mérito</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>15 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Desconstituição por meio de ação</p><p>anulatória (ação de conhecimento</p><p>em 1º grau de jurisdição), a</p><p>qualquer tempo (prescrição</p><p>comum).</p><p>Desconstituição da sentença</p><p>apenas por ação rescisória,</p><p>proposta diretamente no tribunal</p><p>competente, em até 2 anos</p><p>contados do trânsito em julgado.</p><p>2.5.3. Jurisdição individual e coletiva</p><p>A evolução das relações sociais gerou a existência de conflitos envolvendo a</p><p>coletividade ou grupo de indivíduos, diferente da concepção tradicional de lide singular ou</p><p>individual.</p><p>Com efeito, para acompanhar a evolução de tais relações e prestar uma tutela</p><p>eficiente, o Estado houve por bem criar instrumentos processuais para a prestação de tutelas</p><p>coletivas, e para a defesa de bens coletivos, difusos ou individuais homogêneos.</p><p>Podemos citar como interesses transindividuais, por exemplo, o patrimônio público</p><p>em geral, o meio ambiente, o direito do consumidor, ou seja, bens jurídicos que transcendem</p><p>ao interesse individual ou singular, mas que é de importância para toda a sociedade.</p><p>Hipóteses em que a jurisdição realiza uma atividade para a prestação de uma tutela que</p><p>atingirá toda a coletividade.</p><p>Assim, existem instrumentos processuais</p><p>não encontra fim em si mesmo, pois não resolve o</p><p>conflito de interesses existente entre as partes, mas apenas serve para dar segurança contra</p><p>o perecimento do bem em razão do decurso de tempo.</p><p>Enquanto a ação principal tem por finalidade a composição definitiva da lide,</p><p>a cautelar apenas tem por objetivo afastar o perigo de perecimento do bem, para garantir o</p><p>resultado eficaz da ação principal121.</p><p>Na ação cautelar o julgamento restringe-se à necessidade e o direito relativo</p><p>à segurança do bem, não há julgamento do mérito da lide sobre qual parte tem razão no</p><p>conflito.</p><p>b) Revogabilidade e provisoriedade</p><p>As medidas cautelares – sejam as liminares sejam as sentenças – são</p><p>provisórias, podendo ser modificadas a qualquer tempo e grau de jurisdição, nos termos do</p><p>art. 805.</p><p>c) Autonomia</p><p>Apesar de sua acessoriedade – pois depende de uma ação principal para</p><p>julgamento do mérito da lide – tecnicamente a ação cautelar goza de autonomia processual.</p><p>A esse respeito, comenta122 Humberto Theodoro Junior: A autonomia do</p><p>processo mais se destaca quando se verifica que o resultado de um não reflete sobre a</p><p>substância do outro, podendo, muito bem, a parte que logrou êxito na ação cautelar sair</p><p>vencida na ação principal, ou vice-versa. A ação cautelar é, de tal sorte, acolhida ou rejeitada</p><p>por seus próprios fundamentos e não em razão do mérito da ação principal.</p><p>Não obstante a autonomia em relação ao teor dos julgamentos, a ação</p><p>cautelar também é absolutamente autônoma em relação à principal no que se refere aos atos</p><p>processuais de cada uma, geralmente os processos são independentes, cada qual com seus</p><p>atos processuais específicos e determinados pela lei.</p><p>121 Humberto Theodoro Junior, ob. cit., p. 330.</p><p>122 Ob. cit., p. 333.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>164 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Espécies de medidas cautelares nominadas123:</p><p>arresto;</p><p>Sobre bens seqüestro;</p><p>caução;</p><p>arrolamento de bens;</p><p>busca e apreensão</p><p>atentado</p><p>obras de conservação da coisa;</p><p>exibição de coisa ou documento;</p><p>Sobre provas</p><p>produção antecipada de provas;</p><p>posse provisória dos filhos</p><p>afastamento do filho para casar-se</p><p>Sobre pessoas depósito de menor castigado</p><p>Cautelares guarda e educação dos filhos e visitas</p><p>alimentos provisionais</p><p>afastamento temporário de cônjuge</p><p>justificação;</p><p>protestos;</p><p>notificações;</p><p>Medidas apenas submetidas ao interpelações,</p><p>rito procedimental – mas sem homologação de</p><p>natureza de cautelares. penhor legal,</p><p>posse em nome de</p><p>nascituro,</p><p>protesto de título,</p><p>interdição e demo-</p><p>lição de prédio,</p><p>entrega de bens do</p><p>cônjuge.</p><p>123 Ob. cit., p. 336.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>165 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Procedimento e peculiaridades</p><p>• A ação cautelar pode ser preparatória (proposta antes da ação principal) ou</p><p>incidental (durante o curso da principal) – art. 796.</p><p>• Há possibilidade da concessão de medida liminar, inaudita altera pars, em</p><p>caso de urgência ou excepcionais.</p><p>• Ao juiz é conferido o “poder geral de cautela”, pelo qual, além dos</p><p>procedimentos específicos (cautelares nominadas), poderá conceder medidas</p><p>próprias e adequadas quando houver fundado receio de dano grave – art. 798.</p><p>• A competência para processamento e julgamento das cautelares é do juízo</p><p>competente para a ação principal – art. 800. Após a interposição de recursos,</p><p>as cautelares serão propostas diretamente nos tribunais.</p><p>• A petição inicial será elaborada, nos termos dos artigos 282 e 283, indicando o</p><p>autor: a autoridade competente, a qualificação das partes, a lide e seu</p><p>fundamento (apenas nas cautelares preparatórias), a exposição sumária do</p><p>direito ameaçado e o receio de lesão, as provas que pretende produzir – art.</p><p>801.</p><p>• Para a apreciação de liminar, inaudita altera pars, o juiz poderá designar</p><p>audiência de justificação – art. 804.</p><p>• O requerido será citado para contestar o pedido no prazo de 5 (cinco) dias,</p><p>inclusive, indicando suas provas – art. 802.</p><p>• O juiz poderá exigir, para a concessão da liminar, a prestação de caução real</p><p>ou fidejussória (coisa ou fiança) – art. 805.</p><p>• A parte autora da cautelar preparatória deverá propor ação principal, no prazo</p><p>de 30 dias, contados da efetivação ou denegação da medida liminar.</p><p>• A eficácia de liminar cessa se a parte não intentar ação no prazo de 30 dias,</p><p>se não for executada no prazo de 30 dias, ou se a ação principal for extinta</p><p>(com ou sem julgamento do mérito).</p><p>• Os autos da cautelar serão apensados aos da ação principal – art. 809.</p><p>• O requerente da medida cautelar responde, objetivamente, pelos prejuízos</p><p>que a outra parte tiver com a execução da medida, quando a sentença da</p><p>ação principal for desfavorável a ele, ou se ela perder a eficácia – art. 811.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>166 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>18. MANDADO DE SEGURANÇA</p><p>O mandado de segurança é garantia constitucional contra ato de autoridade</p><p>do Estado que lesa direito líquido e certo, nestes termos:</p><p>“Art. 5º ..............</p><p>LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger</p><p>direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou</p><p>habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de</p><p>poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no</p><p>exercício de atribuições do Poder Público”</p><p>Espécies de mandado de segurança</p><p>Em relação à ocorrência da lesão do direito, podemos classificar o mandado</p><p>de segurança em:</p><p>• preventivo – impetrado para evitar a ocorrência da lesão;</p><p>• repressivo – impetrado para afastar ato já ocorrido.</p><p>Além disso, o mandado de segurança pode ser classificado em relação à</p><p>legitimidade e aos efeitos da ação:</p><p>• mandado de segurança individual;</p><p>• mandado de segurança coletivo.</p><p>Legitimidade</p><p>Individual Coletivo</p><p>Passiva</p><p>Autoridade pública ou</p><p>agente (particular) no</p><p>exercício de atividade</p><p>pública</p><p>Autoridade pública ou agente</p><p>(particular) no exercício de</p><p>atividade pública</p><p>Ativa</p><p>Qualquer pessoa que sofreu</p><p>ou estiver na iminência de</p><p>sofrer lesão a direito líquido</p><p>e certo</p><p>Substituição processual:</p><p>• partido político com</p><p>representação no Congresso</p><p>Nacional,</p><p>• organização sindical,</p><p>• entidade de classe,</p><p>• associação legalmente</p><p>constituída e em</p><p>funcionamento há pelo menos</p><p>um ano, em defesa de seus</p><p>membros.</p><p>O artigo 1º, §1º da Lei n.º 1.533/51 que disciplina o procedimento do</p><p>mandado de segurança, determina que são consideradas autoridades os representantes ou</p><p>administradores das entidades autárquicas, e as pessoas naturais ou jurídicas que exerçam</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>167 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>atividades delegadas pelo Poder Público. Como exemplo podemos citar os diretores e reitores</p><p>das universidades particulares, que na realidade são agentes particulares no exercício de</p><p>uma função delegada pelo Poder Público.</p><p>Ressalta-se, também, que é perfeitamente cabível no mandado de</p><p>segurança o litisconsórcio passivo e / ou ativo; quando o direito ameaçado ou violado couber</p><p>a várias pessoas elas poderão impetrar um único mandado em favor de todas – neste caso,</p><p>mandado individual – o mesmo ocorre quando mais de uma autoridade pratica o ato tido por</p><p>coator.</p><p>Nos casos de mandado de segurança coletivo, o que ocorre na verdade</p><p>para efetivar essa atividade jurisdicional</p><p>coletiva, como: substituição processual (art. 6º do CPC), ação civil pública, ação popular,</p><p>mandado de segurança coletivo.</p><p>Observa-se, por fim, uma importante diferença entre a jurisdição individual e a</p><p>coletiva: enquanto na primeira os efeitos do processo apenas serão percebidos pelas partes</p><p>envolvidas, na outra poderá ocorrer o efeito erga omnes, ou seja, os efeitos do processo</p><p>serão percebidos e deverão ser respeitados por todos (mesmo por pessoas que não foram</p><p>parte no processo).</p><p>2.6. Substitutivos da jurisdição</p><p>Em casos excepcionais, a legislação permite a substituição da atividade jurisdicional do</p><p>Estado pela atividade particular, como nos seguintes casos:</p><p>• Transação: instituto de Direito Civil que, por concessões recíprocas das partes, tem</p><p>por finalidade prevenir ou afastar o litígio, é uma espécie de acordo realizado fora do</p><p>processo. Se a transação ocorrer antes de iniciada a ação, será causa de</p><p>impedimento de sua propositura (art. 267 do CPC), caso aconteça após a propositura</p><p>será homologada pelo juiz e encerrará processo (art. 269, III).</p><p>• Conciliação: é a transação realizada no bojo do processo e perante o magistrado. Em</p><p>ambos os casos a jurisdição é afastada pela vontade das partes, uma vez que o</p><p>magistrado apenas homologa o acordo, limitando-se a uma análise das condições do</p><p>ato jurídico (capacidade civil, legitimidade, objeto lícito e forma legal), não havendo</p><p>qualquer juízo de valor ou de justiça do negócio.</p><p>• Juízo arbitral – Lei n.º 9.307/96 que consiste na renúncia, pelas partes, do meio</p><p>judiciário para a submissão a um árbitro de futuro e eventual litígio. A arbitragem</p><p>apenas é possível quando se tratar de interesses patrimoniais ou disponíveis de</p><p>capazes (não se admite arbitragem em relação a direitos não patrimoniais ou de</p><p>incapazes).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>16 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>3. AÇÃO</p><p>Apesar de ser um tema extremamente teórico e um pouco além da vida prática do</p><p>profissional do Direito, o instituto da ação e suas teorias têm sido objeto de questionamento</p><p>nos concursos das carreiras do Direito do Trabalho, razão pela qual, de forma simplificada,</p><p>abordamos o assunto em nosso trabalho.</p><p>3.1. Conceito e teorias</p><p>O instituto do Direito denominado “ação” sofre grande transformação conceitual no</p><p>curso da evolução histórica do Direito Processual Civil, passando por diversas teorias e</p><p>alterações na busca da formulação de um conceito mais adequado em relação à sua</p><p>efetividade.</p><p>Dessa forma, tiveram grande contribuição para a conceituação da ação as seguintes</p><p>teorias:</p><p>a) Teoria clássica, imanetista ou civilista.</p><p>Por estes estudos, elaborados especialmente por Savigny, a ação era concebida</p><p>como uma qualidade do direito material, concebendo-se que, quando violado um bem da vida,</p><p>a ação reagiria contra tal agressão.</p><p>Os professores Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e Antonio Carlos</p><p>de Araújo Cintra citam12 as seguintes conseqüências (características) dessa teoria:</p><p>• não há ação sem direito;</p><p>• não há direito sem ação;</p><p>• a ação segue a mesma natureza do direito.</p><p>b) Polêmica entre Windscheid e Muther</p><p>Havia uma grande controvérsia sobre a teoria civilista entre Windscheid e Muther,</p><p>este último fazia distinção entre o direito lesado e o direito de ação.</p><p>Para Muther a ação dividia-se em dois direitos: 1º) direito do ofendido contra o</p><p>Estado, para pleitear uma tutela; 2º) do Estado contra o ofensor, na busca da solução do</p><p>conflito.</p><p>c) Teoria da ação como direito autônomo e concreto</p><p>O estudo de Wach (acompanhado por Bulow, Schmidt e Hellwing) resultou na</p><p>afirmação de que a ação é um direito autônomo em relação ao direito material, no entanto, ele</p><p>sustentava que o direito de ação deveria corresponder a uma proteção concreta (ou efetiva)</p><p>do Estado, existindo direito de ação apenas quando houvesse direito a uma sentença</p><p>favorável (de procedência).</p><p>12 Teoria Geral do Processo . São Paulo, Editora Malheiros, 17ª ed., p. 250, 2001.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>17 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Seguindo esta mesma linha de raciocínio, Chiovenda formulou a teoria da ação como</p><p>direito potestativo, segundo a qual a ação corresponde ao direito daquele que tem razão</p><p>contra o indivíduo que não tem. Em outras palavras, a ação consistia em um direito concreto</p><p>(sentença favorável).</p><p>d) Teoria da ação como direito autônomo e abstrato</p><p>Teoria desenvolvida por Degenkolb, acompanhada de grande parte da doutrina</p><p>contemporânea, que desenvolveu a idéia de que a ação é autônoma em relação ao direito</p><p>material, sendo dois direitos distintos e independentes entre si.</p><p>Essa teoria diverge da anterior pois conceituou a ação como direito abstrato13: direito</p><p>de ação independe da existência ou não do direito material invocado, podendo haver ação</p><p>mesmo com sentença desfavorável.</p><p>De fato, a teoria da ação encontra razão como direito autônomo e abstrato.</p><p>Como bem sabemos, para assegurar todo o direito material existe uma ação, no</p><p>entanto, não foi positivado o sentido contrário desta expressão: a toda ação corresponde um</p><p>direito, expressão que dá conotação de ação como direito concreto e não abstrato.</p><p>O direito de ação existe mesmo quando a sentença for desfavorável, a</p><p>improcedência refere-se ao direito material pleiteado e não ao direito de movimentar a</p><p>máquina judiciária em busca de uma tutela.</p><p>Curiosamente, muitos profissionais do Direito, mesmo sem qualquer noção do que</p><p>estão falando, na prática utilizam-se da teoria da ação como direito concreto, quando</p><p>afirmam: “a ação foi julgada procedente”, “requer a procedência da ação”.</p><p>O direito de ação não se confunde com o mérito da lide, conseqüentemente, a ação</p><p>sempre será considerada procedente quando o autor preencher as condições de existência</p><p>desse direito (interesse de agir, possibilidade jurídica do pedido e legitimidade),</p><p>diferentemente do pedido, este sim relacionado com o direito material e que é julgado</p><p>procedente ou improcedente na sentença de mérito.</p><p>Ademais, confundindo a ação com o mérito do litígio, estaríamos negando a</p><p>possibilidade de existirem ações declaratórias negativas.</p><p>Quando se afirma, erroneamente, que o juiz julgou improcedente a ação, estamos</p><p>dizendo que o autor não preenchia requisito para movimentar a máquina judiciária. O que não</p><p>é verdade. Em outras palavras, independentemente de ter obtido êxito no resultado da lide, o</p><p>autor teve garantido o seu direito de ação (existe processo mesmo quando a sentença é</p><p>improcedente).</p><p>Ora, como conceber a ação que objetiva a declaração de inexistência de relação</p><p>jurídica se o direito de ação não fosse abstrato? Pelas teorias civilista e concreta esta ação</p><p>não seria possível, pois se o direito não existe também não existe ação.</p><p>13 Teoria Geral do Processo . ob. cit. p. 252.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>18 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Assim, podemos definir ação como direito subjetivo, abstrato e independente em</p><p>relação ao direito material, de movimentar a máquina judiciária com o objetivo de obter uma</p><p>tutela (manifestação do Estado-juiz) acerca de um bem jurídico litigioso.</p><p>Ou ainda, como ensina14 Ada Pellegrini Grinover: É o direito ao exercício da atividade</p><p>jurisdicional (ou o poder de exigir esse exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a</p><p>jurisdição, que por sua vez se exerce através daquele complexo de atos que é o processo.</p><p>Por outro lado, não podemos deixar de lembrar que o direito de ação – de</p><p>provocação e acesso ao Poder Judiciário – é elevado à</p><p>categoria de direito fundamental do</p><p>indivíduo, assegurado na Constituição da República (art. 5º, inciso XXXV) como premissa</p><p>intangível diante de qualquer poder (art. 60, § 4º, IV).</p><p>3.2. Espécies de ações</p><p>As espécies de ações, via de regra, são definidas pelo legislador infraconstitucional</p><p>que, na busca de maior efetividade na solução do conflito, para cada tipo de tutela pretendida</p><p>pelo autor determina uma ação diferenciada com processo e procedimentos próprios.</p><p>Ressalte-se que a escolha da espécie de ação é incumbência do autor, durante a</p><p>elaboração de sua inicial. No entanto, tal faculdade não permite que ele se utilize de meio</p><p>inadequado para obter sua pretensão. A ação não está apenas à disposição das partes,</p><p>devemos lembrar que é instituto público, no qual o Estado tem interesse que o seu</p><p>desenvolvimento e resultado transcorram de modo regular.</p><p>Infere-se, portanto, que o autor deve optar por ação cujo processo e procedimento</p><p>sejam capazes de oferecer uma tutela compatível com a sua pretensão, sob pena de incorrer</p><p>em falta de interesse de agir e a conseqüente extinção do processo sem julgamento do</p><p>mérito.</p><p>Podemos citar um exemplo muito comum: geralmente, na hipótese de o autor possuir</p><p>título executivo, não lhe resta condição da ação (interesse de agir) para a propositura de uma</p><p>ação de conhecimento15.</p><p>Dessa forma, as ações16 previstas no ordenamento são as seguintes:</p><p>a) Ação de conhecimento ou cognição</p><p>14 Ob. cit., p. 248.</p><p>15 Parte da doutrina tem exposto pensamento que, mesmo havendo título executivo, o demandande poderá utilizar-</p><p>se da ação de conhecimento para se beneficiar das chamadas medidas de apoio do artigo 461 do CPC, observando</p><p>que na ação de conhecimento a tutela específica poderá ser mais eficaz do que o processo de conhecimento, uma</p><p>vez que não ocasiona embargos com efeito suspensivo neste caso.</p><p>16 Alguns doutrinadores classificam as denominadas sentenças “executivas lato sensu” como uma espécie de ação,</p><p>ao lado das ações de conhecimento. No entanto, tal instituto não é uma espécie de provimento jurisdicional</p><p>diferenciado do provimento das tutelas declaratórias, constitutivas ou condenatórias, mas apenas refere-se aos</p><p>efeitos dessa tutela, considerando que todas as tutelas executivas, lato sensu , não dependem de ação de execução</p><p>para que a parte se beneficie de seus efeitos (por Exemplo, decisão de tutela antecipada, ação de despejo, ações</p><p>mandamentais, etc.).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>19 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>A ação de conhecimento tem por finalidade obter um provimento jurisdicional sobre a</p><p>existência ou inexistência de um direito, obrigação ou relação jurídica, impondo as medidas</p><p>necessárias à satisfação do reconhecimento alcançado na ação.</p><p>De fato, esta ação tem por objeto, após a realização de uma cognição aprofundada</p><p>sobre as questões da lide – fatos apresentados pelo autor e pelo réu, colheita de provas e</p><p>apreciação do direito – a prolação da vontade da lei ao caso concreto, determinando a tutela</p><p>e qual das partes tem razão no litígio e, conseqüentemente, outorgando ou negando o pedido</p><p>do autor.</p><p>As ações de conhecimento resultam nas seguintes espécies de tutelas:</p><p>• Declaratórias</p><p>As ações de conhecimento que visam tutelas declaratórias têm por finalidade</p><p>simplesmente obter a manifestação do Estado-juiz acerca da existência ou inexistência de</p><p>determinado fato, direito ou obrigação, limitando-se o juiz à simples declaração.</p><p>O juiz conhece o litígio e se manifesta sobre da existência ou não do direito ou</p><p>relação jurídica, sem que esse ato intervenha, modificando o direito material. Por exemplo,</p><p>em uma ação de investigação de paternidade o juiz não condena o réu a ser pai, tampouco</p><p>constitui (cria) o estado de paternidade, mas tão-somente limita-se a declarar a existência da</p><p>relação de parentesco entre as partes.</p><p>É importante ressaltar que as tutelas das ações declaratórias, como regra, têm efeito</p><p>ex tunc, retroagindo os efeitos da declaração à data da ocorrência do fato ou advento do</p><p>direito reclamado. Como citamos na ação de investigação de paternidade: com a sentença o</p><p>réu será considerado pai desde o momento da concepção de seu filho, e não apenas da data</p><p>da prolação da declaração.</p><p>As tutelas declaratórias resultam na afirmação da existência (declaração positiva) ou</p><p>inexistência (declaração negativa) de uma relação jurídica, direito ou obrigação.</p><p>Nesta espécie de tutela incluem-se os provimentos de improcedência do pedido da</p><p>ação que, naturalmente, emitem uma manifestação de declaração negativa da existência do</p><p>fato ou direito pleiteado pelo autor.</p><p>• Condenatórias</p><p>As ações condenatórias têm por finalidade obter um comando imperativo em face da</p><p>parte contrária, ou seja, emitir uma sentença contendo uma determinação em relação ao</p><p>demandado para que cumpra a sua obrigação (pague uma dívida, entregue uma coisa ou</p><p>cumpra uma obrigação de fazer ou não fazer).</p><p>Evidentemente, toda sentença condenatória necessita de prévia declaração de</p><p>existência ou inexistência do direito, por essa razão dizemos que as ações condenatórias</p><p>têm, implicitamente, uma carga de declaratória. Por exemplo: antes de impor ao réu o</p><p>pagamento de uma quantia, o magistrado deverá concluir pela existência ou inexistência do</p><p>débito.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>20 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Nota-se, ainda, que as sentenças condenatórias apenas são instrumentos para se</p><p>obter a satisfação do direito. A sentença apenas declara a obrigação, e a condenação, por si</p><p>só, não tem o poder de satisfazer, como regra; salvo as sentenças executivas lato sensu,</p><p>dependem de outra ação (de execução) para coagir o devedor a cumprir a obrigação a que foi</p><p>condenado. É das ações de conhecimento que emanam títulos executivos judiciais que</p><p>poderão instruir a ação de execução.</p><p>Quanto aos efeitos desse provimento, não resta dúvida de que a condenação</p><p>retroage no tempo – ex tunc – primeiro pelo fato de que se presta para o reconhecimento de</p><p>obrigações não cumpridas espontaneamente pelo devedor, portanto, passadas. Além disso, é</p><p>determinada a incidência de juros desde a constituição do devedor em mora (citação ou outro</p><p>momento anterior) e correção monetária desde a propositura da ação.</p><p>• Constitutiva</p><p>São ações de conhecimento destinadas à criação, modificação ou extinção de uma</p><p>relação jurídica ou direito. Não se trata de uma mera declaração ou condenação de fatos e</p><p>direitos, mas nesta tutela a intervenção do Estado-juiz tem a função de alterar a relação</p><p>jurídica de direito material.</p><p>As tutelas constitutivas podem ser: a) constitutiva negativa: tende à desconstituição</p><p>de uma relação jurídica ou obrigação (por exemplo, o divórcio, a rescisão contratual, etc.); ou</p><p>constitutiva positiva: entendida como aquela que cria a relação jurídica.</p><p>Por exemplo, quando a parte propõe ação visando rescindir um contrato pretende,</p><p>como é certo, uma tutela desconstitutiva (constitutiva negativa), pela qual o ato judicial</p><p>colocará fim à relação jurídica (o contrato). Ao contrário, não ocorre alteração da relação</p><p>jurídica quando é declarada a nulidade de uma cláusula contratual abusiva, nesta hipótese o</p><p>juiz não modifica o estado apresentado pelas partes, mas limita-se apenas a declarar uma</p><p>nulidade que sempre existiu.</p><p>Os provimentos constitutivos terão efeito ex nunc, ou seja, não retroagirão no tempo;</p><p>o novo estado jurídico – criado, modificado ou extinto pela sentença –será somente</p><p>observado após o trânsito em julgado (ou por meio de provimento de urgência).</p><p>b) Ação de execução</p><p>Nas ações de execução, o detentor de um direito previamente reconhecido, por meio</p><p>da força coercitiva do Estado, visa obrigar o devedor a cumprir</p><p>a obrigação, satisfazendo,</p><p>plenamente, o direito previsto no título executivo (judicial ou extrajudicial).</p><p>Nesta espécie de ação o direito já se encontra reconhecido – seja por prévia ação de</p><p>conhecimento seja por documento ao qual a lei confere força executiva – pretendendo o</p><p>exeqüente apenas a satisfação deste direito.</p><p>c) Ação cautelar</p><p>As ações cautelares têm a finalidade de dar segurança à eficácia e ao objeto da</p><p>tutela definitiva de outro processo futuro ou pendente de julgamento (de conhecimento,</p><p>execução ou mesmo especial).</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>21 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>As cautelares apenas se prestam para dar segurança, ou seja, são ações</p><p>autônomas destinadas à preservação de bem jurídico que se encontra litigioso, não se</p><p>discutindo na cautelar o mérito do litígio principal, mas tão-somente a necessidade ou não de</p><p>proteger o bem ameaçado de perecimento.</p><p>A medida cautelar apenas coloca o bem jurídico em segurança, sendo que a lide</p><p>será resolvida em outro processo, justificando-se a tutela de urgência para evitar o</p><p>perecimento do bem devido à demora na prestação da tutela jurisdicional definitiva.</p><p>Por estas razões é que, geralmente, as cautelares não são satisfativas, apenas dão</p><p>proteção ao bem jurídico sem definir ou solucionar a lide, sua eficácia depende do resultado</p><p>de um outro processo17.</p><p>Ao dissertar sobre as tutelas de urgência, das quais faz parte a cautelar, o professor</p><p>Cândido Rangel Dinamarco, citando Carnelutti, explica18: O tempo às vezes é inimigo dos</p><p>direitos e o seu decurso pode lesá-los de modo irreparável ou ao menos comprometê-los</p><p>insuportavelmente.</p><p>Ações mandamentais</p><p>Uma grande controvérsia estabeleceu-se na doutrina acerca da natureza jurídica das</p><p>denominadas ações mandamentais – mandado de segurança, habeas corpus, habeas data e</p><p>mandado de injunção.</p><p>Os provimentos oriundos dessas demandas, em especial do mandado de segurança,</p><p>surgem após o reconhecimento jurisdicional da violação por autoridade do Estado a um direito</p><p>líquido e certo, tendo como efeito prático da tutela a expedição de uma ordem (um</p><p>mandamento) de cessação da lesão ou ameaça ao direito.</p><p>Assim, aparentemente estas ações têm natureza declaratória e condenatória, existe</p><p>reconhecimento da lesão ao direito líquido e certo e a conseqüente determinação</p><p>(condenação) para que a autoridade deixe de praticar o ato.</p><p>Em uma obra memorável19 sobre mandado de segurança, Lúcia Valle Figueiredo</p><p>afirma: A sentença proferida no mandado de segurança pode ser constitutiva, condenatória e,</p><p>até mesmo declaratória, em casos especialíssimos. De qualquer forma, a declaratividade da</p><p>certeza ou não do direito será pressuposto necessário para sentença constitutiva ou</p><p>declaratória. Preferimos alinhar-nos àqueles – com a vênia devida ao ilustre Pontes de</p><p>Miranda – que não vêem necessidade de acrescer o tipo mandamental. Na verdade, o</p><p>mandamento seria o objeto da própria sentença condenatória (a ordem emanada à autoridade</p><p>administrativa)</p><p>Apesar das demais teses – que incluem a ação mandamental como uma quarta</p><p>espécie de ação, ao lado das ações condenatórias, declaratórias e constitutivas – maior razão</p><p>17 Existem cautelares que não se revestem de caráter de preservação de direitos, sendo denominadas assim por</p><p>mera localização no Código de Processo Civil, mas não guardam natureza de cautelar, por exemplo, as</p><p>notificações judiciais.</p><p>18 Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Malheiros, vol. I, 1ª ed., p. 160, 2001.</p><p>19</p><p>Mandado de Segurança, Editora Malheiros, 3ª ed., p. 188, 2000.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>22 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>encontram os autores que dispensam nova classificação para incluí-la no rol tradicional, na</p><p>qualidade de ação de conhecimento.</p><p>Ressaltamos, ainda, que, mesmo emanando tutelas condenatórias, constitutivas ou</p><p>declaratórias, as ações mandamentais possuem procedimento diferenciado (ação de rito</p><p>especial), bem como sua sentença que por caracterizar uma ordem dispensa processo de</p><p>execução.</p><p>3.3. Condições da ação</p><p>A existência do direito de ação está condicionada ao preenchimento dos seguintes</p><p>elementos:</p><p>a) Interesse de agir</p><p>O interesse de agir consiste na necessidade e utilidade do provimento jurisdicional</p><p>pleiteado.</p><p>Em outras palavras, o autor apenas tem interesse de movimentar a máquina</p><p>judiciária quando tem absoluta necessidade da intervenção do Estado para a solução do</p><p>litígio e, além disso, a espécie de provimento requerido deve ser capaz de sanar o conflito.</p><p>b) Legitimidade</p><p>Esta condição refere-se à legitimidade para a causa – legitimidade ad causam – que</p><p>é o vínculo existente entre a parte litigante e o direito material litigioso.</p><p>Como regra, pelo disposto no artigo 6º do Código de Processo Civil, alguém apenas</p><p>pode figurar em um dos pólos da demanda, quando o objetivo for pleitear ou defender direito</p><p>próprio. Não existe legitimidade ativa ou passiva quando o sujeito não está vinculado ao</p><p>direito material posto em juízo.</p><p>Por outro lado, o próprio artigo 6º prevê uma exceção à legitimidade ordinária,</p><p>admitindo, nos casos estabelecidos pela legislação, a possibilidade de alguém pleitear, em</p><p>nome próprio, direito alheio, o que denominamos legitimidade extraordinária ou substituição</p><p>processual.</p><p>A substituição processual ocorre, por exemplo, nos casos previstos na Constituição</p><p>da República para a impetração de mandado de segurança coletivo (art. 5º, inciso LXX). As</p><p>hipóteses de legitimação extraordinária previstas no ordenamento jurídico versam,</p><p>principalmente, sobre a defesa dos direitos transindividuais ou coletivos20, podendo citar, por</p><p>20 Constituição Federal</p><p>“Art. 5º ........................</p><p>LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:</p><p>a) partido político com representação no Congresso Nacional;</p><p>b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída há pelo menos um ano, em</p><p>defesa de seus membros ou associados.”</p><p>“Art. 8º ........................</p><p>III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em</p><p>questões judiciais ou administrativas;”</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>23 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>exemplo, a legitimidade das associações, sindicatos, órgãos de classes, partidos políticos,</p><p>Ministério Público, etc., que substituem os verdadeiros titulares do direito litigioso.</p><p>c) Possibilidade jurídica do pedido</p><p>A possibilidade jurídica do pedido, muito confundida pelos aplicadores do Direito, não</p><p>guarda qualquer relação com a existência ou não do direito material requerido, mas refere-se</p><p>quanto à possibilidade, em abstrato, da concessão pelo Poder Judiciário da tutela requerida.</p><p>Diante da pretensão do autor deverá ser formulada a seguinte pergunta: a tutela</p><p>pretendida pelo autor pode ser conferida pelo Poder Judiciário?</p><p>Ressalte-se que a possibilidade jurídica do pedido não se vincula à existência ou não</p><p>do direito invocado, mas sim quanto à existência de previsão legal para a tutela pretendida.</p><p>Por exemplo: em um contrato as partes estabelecem que, em caso de</p><p>inadimplemento, a parte infratora seria punida com castigos físicos. Ocorrendo a mora, a</p><p>parte credora ingressa em juízo pleiteando o cumprimento do contrato. Se analisarmos</p><p>friamente, o credor tem razão no seu pedido (a outra parte é inadimplente), no entanto, o</p><p>judiciário não poderá conferir ao credor a tutela pleiteada, logo, o seu pedido é juridicamente</p><p>impossível – o ordenamento brasileiro não permite castigos físicos.</p><p>A esse respeito, o mestre</p><p>Moacyr Amaral Santos ensina21: O direito de ação</p><p>pressupõe que o seu exercício visa a obtenção de uma providência jurisdicional sobre a</p><p>pretensão tutelada pelo direito objetivo. Está visto, pois, que para o exercício do direito de</p><p>ação a pretensão formulada pelo autor deverá ser de natureza a poder ser reconhecida em</p><p>juízo. Ou mais precisamente, o pedido deverá constituir numa pretensão que, em abstrato,</p><p>seja tutelada pelo direito objetivo, isto é, admitida a providência jurisdicional solicitada pelo</p><p>autor.</p><p>Carência de ação</p><p>A ausência de qualquer uma das condições da ação é denominada carência de</p><p>ação, o que equivale a dizer que o autor não detém o direito de ação, direito de movimentar o</p><p>Judiciário para obter um provimento jurisdicional.</p><p>Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8078/90)</p><p>“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo</p><p>individualmente, ou a título coletivo.”</p><p>“Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:</p><p>I – o Ministério Público;</p><p>II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;</p><p>III – as entidades e órgãos da administração pública, direita ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,</p><p>especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;</p><p>IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a</p><p>defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.</p><p>Ação Civil Pública (Lei n.º 7347/85): art. 5º.</p><p>Ação Popular (Lei n.º 4717/65): art. 1º – legitimidade do cidadão para pleitear anulação de ato lesivo ao</p><p>patrimônio público.</p><p>21 Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Saraiva, vol.I, 21ª ed., p.170, 1999.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>24 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Sobre este assunto, o professor Arruda Alvim explica22: As condições da ação são as</p><p>categorias lógico-jurídicas, existentes na doutrina e, muitas vezes, na lei, como em nosso</p><p>Direito positivo, que, se preenchidas, possibilitam que alguém chegue à sentença de mérito.</p><p>Por sua vez, a carência de ação impede a existência e o desenvolvimento válido do</p><p>processo, sendo que, faltando uma das condições, o magistrado não poderá conhecer a</p><p>pretensão do autor e sobre ela proferir um juízo de mérito, sendo imperiosa a extinção do feito</p><p>nos termos do artigo 267, inciso VI do Código de Processo Civil.</p><p>É importante consignar que a carência de ação é vício insanável do processo,</p><p>caracterizando, ainda, questão de ordem pública que pode (e deve) ser conhecida de ofício</p><p>pelo magistrado e em qualquer grau de jurisdição, nos termos do artigo seguinte:</p><p>“Art. 267. .....................................................................</p><p>§ 3º. O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição,</p><p>enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns.</p><p>IV, V e VI, todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que</p><p>lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.”</p><p>Por se tratar de vício insanável do processo – pela inexistência do direito de ação –</p><p>mesmo que decidida em instâncias ordinárias, a matéria poderá ser reapreciada, de ofício ou</p><p>por requerimento das partes, em novas oportunidades do processo, dado o fato de não</p><p>ocorrer a preclusão23.</p><p>3.4. Elementos da ação</p><p>As ações possuem elementos objetivos e subjetivos que as identificam, como:</p><p>a) Partes: na ação sempre deverá haver alguém que pede (parte autora) e outro que</p><p>se sujeita ao pedido (réu).</p><p>b) Causa de pedir (causa petendi): são os fundamentos fáticos e de direito que</p><p>motivam o autor a movimentar a máquina judiciária. A causa de pedir remota são</p><p>os fatos (por exemplo, o acidente) e causa próxima é a conseqüência jurídica do</p><p>fato (o dever de indenizar pelos danos experimentados).</p><p>c) Pedido24 (petitum): é a providência jurisdicional requerida na ação, sendo certo</p><p>que o pedido compreende duas partes: a) pedido imediato, que equivale à espécie</p><p>de tutela jurisdicional pretendida pelo Autor (como a declaração, a condenação ou</p><p>a constituição negativa ou positiva), b) o pedido mediato corresponde aos efeitos</p><p>práticos da tutela jurisdicional pretendida (por exemplo: pagamento de</p><p>determinada quantia, entrega de coisa, etc.).</p><p>A identificação dos elementos da ação mostra-se relevante para a própria</p><p>determinação da competência jurisdicional e verificação da existência de coisa julgada,</p><p>litispendência, conexão e continência.</p><p>22 Manual de Direito Processual Civil. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, col. 1, 7ª ed., p. 408, 2001.</p><p>23 “Em se tratando de condições da ação, não ocorre preclusão, mesmo existindo explícita decisão a respeito.” (VI</p><p>Encontro Nacional dos Tribunais de Alçada – conclusão n.º 7).</p><p>24 Será abordado em capítulo próprio, adiante.</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>25 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>4. PROCESSO</p><p>4.1. Conceito e natureza jurídica</p><p>Pela definição da doutrina tradicional, processo é a relação jurídica formada entre</p><p>autor e réu, perante órgão investido de jurisdição, para solucionar um conflito de interesses,</p><p>ou ainda podemos dizer que processo é o instrumento pelo qual o Estado exerce a jurisdição</p><p>para manifestar a lei ao caso concreto e resolver a lide.</p><p>Processo pode ser definido como meio, técnica ou método para a aplicação do</p><p>Direito ao caso concreto.</p><p>Existe uma relação em cadeia, na qual a lide (conflito de interesses) gera a ação do</p><p>autor para movimentar a jurisdição, que exerce a sua função através do processo,</p><p>prestando uma tutela de solução da lide.</p><p>Como sabemos, o processo é uma relação subjetivamente triangular: o autor pleiteia</p><p>a tutela perante o Estado-juiz, e este exerce sua atividade em face do réu.</p><p>Juiz</p><p>Autor Réu</p><p>Por essa razão – relação triangular – a doutrina tem entendido que existe</p><p>processo somente após a citação do demandado, momento em que o réu passa a integrar a</p><p>relação jurídica processual que antes caracterizava apenas direito de ação (por ser linear ou</p><p>bilateral).</p><p>Assim, a citação constitui elemento de existência e validade do processo.</p><p>4.2. Pressupostos processuais</p><p>A existência e o desenvolvimento válido do processo estão subordinados ao</p><p>preenchimento de pressupostos legais, indispensáveis para que o magistrado possa conhecer</p><p>o mérito da lide e proferir uma sentença. São eles:</p><p>de existência ou</p><p>de desenvolvimento válido</p><p>Pressupostos processuais</p><p>objetivos ou</p><p>subjetivos</p><p>Lide Ação Jurisdição Processo Tutela do Estado</p><p>Curso Robortella</p><p>Direito Processual Civil — Darlan Barroso</p><p>26 www.apostilanet.com.br www.cursorobortella.com.br</p><p>Pressupostos processuais25</p><p>a) capacidade de ser parte</p><p>Em relação às partes b) capacidade processual</p><p>c) capacidade postulatória</p><p>Subjetivos</p><p>a) órgão investido de jurisdição</p><p>Em relação ao juiz ou b) competente (funcional)</p><p>juízo c) imparcial (não impedido ou</p><p>suspeito – arts. 134 e 135)</p><p>a) litispendência</p><p>b) coisa julgada</p><p>Extrínsecos à relação: c) transação</p><p>inexistência de fatos d) compromisso</p><p>impeditivos e) perempção</p><p>Objetivos f) falta de pagamento das despesas</p><p>previstas no artigo 267, V</p><p>a) petição inicial apta</p><p>Intrínsecos à relação:</p><p>devido a processo legal b) citação válida</p><p>c) procedimento legal</p><p>4.2.1. Capacidade de</p>

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