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Teoria Geral do Processo (Aula Completa)

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Teoria Geral do Processo 
UNIDADE 1 - Noções Teóricas Básicas do Processo 
Conflitos de interesses e seus modos de resolução 
nos tempos antigos: da autotutela à jurisdição - 
Nulla poena sina iudicio 
 
A sociedade evoluiu, e com ela as formas de composição de conflitos existentes. A primeira forma de 
resolução que se conhece é a denominada autotutela. Trata-se da solução de conflitos mais antiga que se tem 
notícia, que se dá pela vontade de uma das partes em detrimento da outra. O “magistrado” do caso é uma das 
partes. Esse cenário é proibido, como regra, pelos ordenamentos jurídicos civilizados. 
Contudo, sempre foi utilizada como alternativa diante da falta de poder do Estado para resolver os conflitos, 
como ocorria no período romano anterior à fase da cognitio extra ordinem. Atualmente, constitui conduta 
tipificada como crime: exercício arbitrário de suas próprias razões – art. 345 do CP (se for particular) – e 
exercício arbitrário ou abuso de poder – art. 350 do CP (se for o Estado). 
Evidente que ainda se mantêm resquícios dos períodos primitivos, e o ordenamento permite, vez ou outra, a 
possibilidade do uso arbitrário de suas próprias razões, como o desforço imediato (Código Civil, art. 1.210, 
§ 1º), a autotutela do direito obrigacional (Código Civil, arts. 249, parágrafo único, e 251, parágrafo único), 
o estado de necessidade e a legítima defesa no direito penal (Código Penal, art. 23, II). Fora hipóteses 
expressamente previstas, a autotutela é crime. Uma das maiores evoluções das formas de resolução de 
conflitos está justamente na fase da execução (momento em que se satisfaz a obrigação com a penhora de bens 
do devedor). 
No Brasil, a execução é eminentemente real, ou seja, recai somente no patrimônio do executado. A 
configuração atual do princípio se deu por longa evolução histórica: no período romano (especialmente na Lei 
das XII Tábuas), a execução era pessoal e o devedor pagava com a vida (cortava-se o devedor em quantos 
pedaços fossem os credores) ou com prisão pelo descumprimento das obrigações, até mesmo ameaça para 
compelir os familiares à satisfação da obrigação. 
Entretanto, em tempos atuais decorrentes da forte influência francesa do século XIX acerca da intangibilidade 
da vontade humana, esta evolução chegou a um estágio tão avançado que mesmo no patrimônio do executado 
existem bens não suscetíveis à responsabilidade executiva por afrontar o princípio da dignidade humana. 
Assim, são as hipóteses de: a) impenhorabilidade, prevista no CPC (arts. 832-834); b) impenhorabilidade do 
bem de família (Lei Federal nº 8.009/90); c) impenhorabilidade, quando “o produto da execução dos bens 
encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (CPC, art. 836) (BRASIL, 
2015, [s. p.]). Contudo, as novas técnicas de execução indireta não só assumiram um lugar que a sub-rogação 
não necessariamente alcançava (obrigações in natura) como também ajudaram na mais efetiva aplicação das 
obrigações em dinheiro (em especial, nos termos autorizadores do CPC, art. 139, IV). 
Existem raras exceções em que a incidência da execução não será no patrimônio do executado: 
 Prisão civil. hoje, o Brasil admite apenas uma hipótese de prisão civil: na dívida de alimentos. A 
despeito de inserta na Constituição Federal, a prisão do depositário infiel não mais é admitida, 
conforme entendimento do RE 466.343-1, Súmula Vinculante 25 e Enunciado 419 da Súmula do STJ, 
tendo em vista os Tratados Internacionais ratificados no Brasil, que restringem a prisão civil ao devedor 
de alimentos. Contudo, a prisão civil não é forma de satisfação da dívida, e sim mecanismo para 
compelir o seu cumprimento. 
 Pressão psicológica. A execução indireta (execução com emprego de mecanismos para “estimular” o 
cumprimento espontâneo da obrigação) é uma forma de forçar o devedor. Aqui, o Estado busca 
mecanismos típicos (CPC, art. 497, parágrafo único) ou atípicos para compelir o executado a cumprir 
a obrigação. A multa do art. 523, § 1º, as astreintes e a possibilidade de redução dos honorários para 
metade no cumprimento espontâneo (CPC, art. 827) são exemplos da forma de execução por coerção 
(e não por sub-rogação, método tradicional). 
Processo civil e o Poder Judiciário 
 
Nosso ordenamento adotou a teoria da tripartição de poderes (CF, art. 2º). A razão de ser da separação dos 
Poderes é a melhor descentralização da atividade e, principalmente, a necessidade de evitar que o poder se 
concentre na mão de apenas um órgão. Dessa forma, com a atribuição específica para cada poder, teve origem 
a construção doutrinária denominada freios e contrapesos, na medida em que a atuação de um poder 
específico impediria a atuação arbitrária de outro poder. 
Há, ainda, um relevante motivo para a separação: a especialidade (especialização do Judiciário), ou seja, 
exercendo função específica, exerce-a melhor e de maneira mais efetiva (CF, art. 5º, LXXVIII). Dessa forma, 
o Estado moderno, para que melhor possa conservar as condições da sociedade, afinal essa é a sua função, 
exerce três funções distintas, mas harmônicas entre si: legislativo, executivo e judiciário. 
Essa divisão não é importante apenas no plano da divisão estrutural do Poder Judiciário mas também para a 
fixação do órgão competente e para saber qual matéria (normas de direito material e processual) que incidirá 
como forma de atuação desses entes. 
Quanto à atividade jurisdicional do Poder Judiciário (sua função típica), a Constituição Federal estabelece as 
denominadas justiças especiais. Essa classificação toma como premissa a natureza da situação jurídica posta 
em juízo. Dessa forma, tem-se a Justiça do Trabalho (art. 114, CF), a Justiça Eleitoral (art. 121, CF) e a Justiça 
Militar (art. 124, CF). 
O processo civil atua de forma supletiva e subsidiária nas justiças eleitoral e trabalhista, ou seja, para que o 
processo civil seja aplicado a essas justiças, é necessário que haja: a) omissão legislativa na esfera trabalhista 
ou eleitoral sobre a norma de processo ou procedimento que se deseja aplicar e b) uma chancela 
jurisprudencial, ou seja, a mera omissão legislativa não acarreta aplicação automática, pois será necessária a 
autorização, especialmente, dos órgãos responsáveis pelo processamento e julgamento das causas. 
Em contraposição a essas hipóteses, por mera exclusão, tem-se a justiça comum, que se encarrega de tutelar 
todas as demais situações (litigiosas ou não) que não se abarcam nas situações enumeradas nos referidos 
artigos constitucionais. 
A justiça comum é dividida em justiça federal e justiça estadual. Na justiça comum, é possível a divisão 
entre jurisdição penal e civil. A jurisdição penal, tanto no âmbito federal como no estadual, atua na previsão, 
no processamento, no julgamento e no cumprimento de práticas de crimes em suas mais diferentes espécies. 
A jurisdição não penal (federal ou estadual) é denominada jurisdição civil (federal ou estadual). Na jurisdição 
civil, adota-se integralmente o Código de Processo Civil e demais legislações processuais correlatas que 
possam de certa maneira regulamentar a atividade da justiça comum (v.g., Lei nº 9.289/96, Lei nº 12.016/2009, 
regimentos internos etc.). 
A justiça federal é regulamentada pelos arts. 108 e 109 da Constituição Federal, disponível no site do Planalto, 
que assim dispõem: 
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 
I – processar e julgar, originariamente: 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos 
crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência 
da Justiça Eleitoral; 
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunalou de juiz federal; 
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; 
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; 
II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício 
da competência federal da área de sua jurisdição. 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição 
de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à 
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; 
II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou 
residente no País; 
III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; 
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União 
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência 
da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; 
V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o 
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; 
V – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro 
e a ordem econômico-financeira; 
VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de 
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; 
VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de 
competência dos tribunais federais; 
IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; 
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após 
o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a 
respectiva opção, e à naturalização; 
XI – a disputa sobre direitos indígenas. 
 § 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. 
 § 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o 
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, 
ou, ainda, no Distrito Federal. 
 § 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as 
causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede 
de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também 
processadas e julgadas pela justiça estadual. 
 § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na 
área de jurisdição do juiz de primeiro grau. 
 § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade 
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos 
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito 
ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (BRASIL, 1988, [s. p.]) 
É de se ver que, em quase todos os casos, a justiça federal atua quando figurar como autor, réu ou interveniente 
a União Federal e seus entes correlatos. 
A justiça estadual possui competência residual e abrange todas as causas que não forem previstas nas hipóteses 
dos arts. 108 e 109 da Constituição Federal. 
Assim, serão levadas à justiça comum estadual, entre outras, as causas de família, cíveis em geral, tributos 
municipais e estaduais, causas entre particulares, causas de direito do consumidor, meio ambiente, direito 
empresarial, demandas que envolvam a Fazenda Pública estadual ou municipal (é importante frisar que não 
há uma “justiça municipal”, de modo que as demandas contra os entes municipais serão propostas na justiça 
estadual). 
É possível, ainda, no plano estrutural, dividir o Poder Judiciário pelos seus diferentes graus de jurisdição. 
Antes de tudo, não se deve baralhar os conceitos de grau de jurisdição e instância. 
Instância é termo ligado à organização judiciária, sendo certo que na estrutura do Poder Judiciário existem 
órgãos hierarquicamente inferiores e superiores. É um conceito estático, pois se refere à condição do juiz 
dentro do sistema organizacional do Estado. Assim, os juízes de primeira instância são aqueles lotados nas 
comarcas/seções judiciárias dos fóruns; os desembargadores estão nos Tribunais Regionais e locais, que 
funcionam como segunda instância; os ministros dos tribunais superiores exercem suas atividades em instância 
especial. 
Grau de jurisdição é um conceito dinâmico, pois não é ligado à organização judiciária de forma estática, mas 
no contato do Poder Judiciário com a causa. E esse contato (das diversas instâncias) pode variar conforme as 
regras de competência estabelecidas em lei. Dessa forma, uma ação de despejo será processada em primeira 
instância e em primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com a causa). Aquele que foi 
sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo grau de jurisdição, na segunda instância. 
Mas, nem sempre é assim. Pelas regras de competência previstas no ordenamento, a ação rescisória será 
julgada originariamente por um tribunal. Assim, se o tribunal competente for o Tribunal de Justiça do Estado 
de Minas Gerais, por exemplo, a ação será processada na segunda instância (organização judiciária), mas em 
primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com aquela causa). 
Essa visão vertical do Poder Judiciário decorre da possibilidade de existência de recursos contra as decisões 
de primeiro grau para outro órgão hierarquicamente superior e da competência originária dos tribunais para 
determinadas demandas. Assim, a jurisdição dos tribunais pode ser categorizada da seguinte maneira: 
Quadro 1 | Categorização da jurisdição dos tribunais - Fonte: elaborado pelo autor. 
 
O Processo Civil e as demais disciplinas do direito 
 
O processo civil, como disciplina instrumental, possui, em diferentes níveis, relação com os demais ramos do 
direito. O processo não apenas mantém íntima relação com o direito material (nas mais diversas disciplinas) 
como também entre as próprias vertentes processuais. Assim, é possível estabelecer correspondência entre: 
 Direito processual do trabalho e direito processual penal: 
No plano estrutural, a despeito dos inúmeros ramos do direito material (direito civil, penal, tributário, 
previdenciário, constitucional, administrativo, entre outros), é comum estudar apenas três modalidades de 
processo: o processo penal, que tutela o direito penal; o processo do trabalho, que tutela o direito do trabalho; 
o processo civil, que tutela todas as outras demais disciplinas do direito material. 
Cada uma dessas modalidades possui um aglutinado de normas próprias, com seus prazos, seus recursos e 
suas diretrizes principiológicas. Contudo, é comum, no plano do processo civil, a doutrina proceder a 
subdivisões em “pequenas áreas do processo”, como processo coletivo, processo constitucional, processo 
tributário, processo societário, processo do consumidor, entre outros. 
Não existe divisão no plano legislativo, já que não há lei que regulamente somente o processo tributário ou o 
processo constitucional, por exemplo. Contudo, para fins didáticos e de modo a auxiliar o operador do direito 
(que, por exemplo, atue apenasno denominado “contencioso tributário” ou “contencioso societário”) é que 
diversas publicações literárias grupam os artigos ou leis que possam dar um sentido comum a essa disciplina. 
É importante saber que a subdivisão não desnatura o fato de que todos esses “processos” fazem parte do ramo 
direito processual civil. 
Voltando aos processos penal e do trabalho, essas duas disciplinas possuem, em regra, regime processual 
próprio. Contudo, o Código de Processo Civil (CPC) constitui fonte subsidiária e supletiva na falta de normas 
que regulem, no plano processual, a questão, conforme o art. 15 do CPC: “Na ausência de normas que regulem 
processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva 
e subsidiariamente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). No processo do trabalho, há diversos temas que são tratados 
exclusivamente pelo processo civil, por exemplo, tutela provisória, ação rescisória, consignação em 
pagamento, ação monitória, preliminares de contestação, embargos de terceiro e algumas questões sobre 
penhora. No processo penal, apesar de sofrer menor influência do processo civil, há diversos temas que são 
trazidos para responder a problemas do processo penal. Essa autorização não decorre apenas do já citado art. 
15 do CPC, mas do art. 3º do Código de Processo Penal, que é expresso ao dizer que “a lei processual penal 
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica” (BRASIL, 1941, [s. p.]). Ademais, há dispositivos do 
CPP que expressamente invocam o CPC, como os arts. 139, 362 e 790. Mas, há outras importantes regras do 
processo civil que se aplicam ao processo penal, por exemplo: i) a necessidade de estabilidade da 
jurisprudência e da vinculação dos juízos aos precedentes (arts. 926 e 927, NCPC); ii) o atendimento ao 
contraditório material (art. 10, CPC); iii) a teoria da fundamentação analítica (art. 489, § 1º, CPC); iv) 
a perpetuatio jurisdictionis (art. 43, CPP); v) a calendarização processual (art. 191, CPC); vi) o IRDR e 
assunção de competência (arts. 976 e 946, CPC). Para realçar o que foi dito aqui, o Enunciado 3 da I Jornada 
de Direito Processual Civil (CJF) estabelece: “As disposições do Código de Processo Civil aplicam-se 
supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei” 
(BRASIL, 2017, p. 13). 
 Direito constitucional 
Não existe diploma que exerça tanta influência sobre o processo civil como a Constituição Federal. Apesar de 
desnecessário, o CPC traz expressa essa submissão: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e 
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República 
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). 
Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art. 
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos 
especial, extraordinário e ordinário1; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado 
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados 
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a 
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla 
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros 
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e 
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95, CF): vitaliciedade, 
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em 
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix) 
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução contra 
a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC). 
 Direito administrativo 
Apesar do adjetivo “civil”, o direito processual não serve apenas ao direito civil, mas a todas as matérias de 
direito público. Ademais, para os administrativistas, jurisdição voluntária é procedimento administrativo e não 
jurisdicional. A regulamentação da execução fiscal, da execução contra a Fazenda Pública, das prerrogativas 
da Fazenda Pública em juízo e da remessa necessária são pontos de intersecção entre ambas as matérias. Ele 
também se presta a fornecer subsídios ao processo administrativo, regulamentado na Lei nº 9.784/99. 
 Direito civil e empresarial 
O processo civil serve ao direito civil e empresarial em relação de instrumentalidade (ainda que essa expressão 
seja criticada por segmentos da doutrina). Especialmente quanto ao direito civil, os procedimentos especiais 
foram edificados com base nas relações privadas de direito material, assim como existe uma profícua ligação 
entre ambas as disciplinas no que concerne às provas, desconsideração da personalidade jurídica, participação 
dos cônjuges no processo, prescrição e decadência, evicção, penhora, entre outros. 
 Direito penal 
O direito penal participa da vida do processo civil no plano da ilicitude, seja para regular o tipo de situação 
passível de ação rescisória (art. 966, I, CPC – prevaricação corrupção e concussão), seja na aplicação dos 
crimes de desobediência (art. 330, CP e arts. 403, parágrafo único, 524, § 3º, 529, § 1º, 532, 536, § 3º, e 912, 
§ 1º, CPC). 
_______ 
1 Não obstante a previsão específica de cabimento desse recurso para as matérias não penais no art. 1.027 do 
CPC. 
 
Acesso à justiça 
 
 
 
 
Quadro 1 | Linhas evolutivas do processo - Fonte: elaborado pelo autor. 
 
Conceito de Processo 
 
Processo constitui um método de atuação do Poder Judiciário para o exercício das atividades jurisdicionais 
em que participam sujeitos interessados com o objetivo de: a) solucionar uma determinada situação jurídica; 
b) que o resultado desse processo possa servir de paradigma para a resolução de casos futuros (precedentes). 
Em nosso entender, contudo, o desenvolvimento desse método se dá por meio de uma atividade complexa. 
Assim, apenas será possível definir processo (dentre outros fatores, como será visto), pelo aspecto da relação 
jurídica processual entre autor, réu e juiz somado ao procedimento em contraditório. 
Explica-se. 
O Estado e as partes estão interligados por uma série de vínculos. Esses vínculos conferem às partes o 
direito/ônus/dever de praticar atos, pois são titulares de posições jurídicas: é a denominada relação jurídica. 
Contudo, a relação jurídica é apenas uma das partes, uma vertente, da definição maior que se agrega também 
ao procedimento. Dessa forma, processo é uma entidade complexa com a soma da relação jurídica (seu aspecto 
intrínseco) com o procedimento (seu aspecto extrínseco). 
O procedimento (que liga a petição inicial até a satisfação do processo) é marcado por uma série de posições 
jurídicas afetas ao juiz e às partes. Por ser o processo fenômeno eminentemente dinâmico, essas posições são 
alteradas conforme os atos que se sucedem ao longo da cadeia procedimental (assim, o réu não pode recusar 
a citação, pois constitui uma obrigação, mas, uma vez citado, tem o ônus de se defender, que se encerra numa 
faculdade). Dessa, essas relações são dinâmicas não apenas porque o processo avança, mas porque as posições 
processuais tendem a mudar ao longo do procedimento com diferentes poderes, ônus, deveres e faculdades. 
Essa sucessão de atos tem previsão legal e guarda, em princípio, uma estrita sequência lógica. Em princípio 
porque, a despeito da previsão legal, os atos do processo podem ser alterados em sua ordem original, podendo 
ser acrescidos atos até então não existentes, suprimidos atosdesnecessários aos objetivos daquele caso, tudo 
em atenção à flexibilização procedimental decorrente de convenção processual genericamente prevista nos 
arts. 190, 191, 139, IV, 536 e 537 do CPC. 
Esses artigos são reforçados pelo inciso VI do art. 139 do CPC, em que poderá o magistrado “dilatar os prazos 
processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de 
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito” (BRASIL, 2015, [s. p.]) e pelo § 2º do art. 437 do CPC: 
“Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para manifestação sobre a prova documental produzida, 
levando em consideração a quantidade e a complexidade da documentação” (BRASIL, 2015, [s. p.]). 
A existência dos procedimentos especiais não é suficiente para a aderente e justa prestação da tutela do direito 
material. Isso porque essas (importantes) técnicas são criadas à luz do direito material em abstrato. É 
necessário, em complemento, municiar as partes e o juiz com instrumentos de adaptação do procedimento 
com base no caso concreto. Esse é o motivo da existência dos negócios jurídicos processuais, pois muitas 
questões não têm como os sujeitos do processo anteverem e somente será vivenciada com o procedimento in 
concreto. 
Assim, de cada fato surge uma posição jurídica, e do próximo ato a ser praticado decorre uma nova posição 
jurídica (deveres, poderes, ônus, faculdades) e sucessivamente. 
Se olharmos uma hipotética linha do tempo, podemos verificar que o processo caminha pelo procedimento 
(sucessão de atos encadeados logicamente) e para cada ato se exige uma determinada posição jurídica que 
vincula uma parte a outra e essas ao juiz (relação jurídica). 
Contudo, especialmente pelo redimensionamento do princípio do contraditório à luz do atual CPC, o processo, 
como método de trabalho, deve prestigiar a efetiva participação dos sujeitos interessados, que constitui o 
núcleo desse princípio. 
É até intuitivo: se o procedimento é desenvolvido precipuamente para a atividade das partes e que estas possam 
demonstrar a existência do seu direito ou contradireito, elas devem participar do procedimento em 
contraditório (arts. 9º e 10, CPC). O contraditório constitui a legitimação do procedimento. 
É por isso que aumentam os números de adeptos à teoria do processo como procedimento em contraditório, 
havendo quem entenda ser necessário haver do processo “uma visão participativa, policêntrica, por força da 
qual juiz e partes constroem, juntos, seu resultado final”. (CÂMARA, 2022) 
Contudo, acreditamos que falar que o processo constitui procedimento em contraditório é muito mais dizer 
que a necessidade de participação das partes decorre do devido processo legal do que propriamente estabelecer 
uma definição de processo. 
Como bem observado por Dinamarco e Lopes (2017), 
definir o processo mediante associação do procedimento ao contraditório ou inserir em seu conceito a relação 
jurídica processual são apenas dois modos diferentes de ver a mesma realidade. São perspectivas diferentes 
que não distorcem essa realidade nem se excluem reciprocamente, antes se complementam – uma perspectiva 
política representada pela exigência do contraditório e uma perspectiva técnico-processual na qual se revelam 
aquelas posições jurídicas ativas e passivas. 
Assim é que o processo é composto pela relação jurídica e o procedimento (que obrigatoriamente deve ser 
exercido em contraditório). Todavia, em tempos atuais, o processo assume um conceito muito mais 
abrangente, pois ao conceito exposto se agregam outras características inerentes à sua correta definição. 
O processo é um reflexo das atividades exercidas pelos poderes no plano constitucional, em especial, o Poder 
Legislativo e o Poder Judiciário. Pelo legislativo, na obrigatoriedade de se traçar a criação de processo (e 
procedimentos) que atendam às técnicas de direitos fundamentais processuais (devido processo). Da mesma 
forma, os juízes devem estabelecer esse controle constitucional criando negócios jurídicos processuais que 
atendam à tutela material de forma mais justa e efetiva; declarando a inconstitucionalidade concreta de normas 
que sejam contrárias aos valores previstos na CF; valendo-se de técnicas para permitir a devida isonomia e 
prestação adequada da tutela jurisdicional como a concessão de tutela provisória, inversão do ônus da prova, 
concessão de medidas executivas atípicas. Juiz não pode apenas “administrar o jogo”, mas fazer valer as regras 
processuais e constitucionais para a garantia de um processo justo e équo. 
Não se pode confundir processo com autos do processo. Esse é a documentação dos atos do processo de forma 
física ou eletrônica. 
Assim, processo é: 
Quadro 2 | Autos do processo - Fonte: elaborado pelo autor. 
Pressupostos processuais 
 
O legislador estabelece a observância de algumas regras necessárias para que o processo exista e se desenvolva 
regularmente. A este conjunto de regras ficou convencionado a denominação pressupostos processuais. Os 
pressupostos processuais agem como uma espécie de “filtro”, com o objetivo de impedir a passagem de 
pretensões manifestamente infundadas. 
Classificação dos pressupostos processuais 
O exame destes pressupostos parte da premissa de que sua criação decorre de requisitos voltados a 
salvaguardar o interesse das partes. Por isso, a maioria dos pressupostos processuais tem essa função (como 
se verá nos casos, por exemplo, da suspeição, da citação e da capacidade postulatória). 
Entretanto, há outros pressupostos que visam garantir o correto exercício da atividade jurisdicional (como 
o impedimento e a incompetência absoluta). Esses pressupostos são essenciais para a estruturação do processo 
e não podem ser desconsiderados, mesmo que não causem prejuízo às partes. Aqui, não se trata de impor a 
instrumentalidade das formas ou a primazia do mérito, já que a natureza cogente se sobrepõe. 
Classificam-se os pressupostos processuais (com base no art. 485, IV e V, CPC) da seguinte maneira: 
 Positivos 
Pressupostos processuais de existência do processo 
Demanda 
O art. 2º do CPC disciplina que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial” 
(BRASIL, 2015, [s. p.]). 
Sendo a jurisdição inerte, é indispensável que o Estado-juiz seja provocado por meio da ação. A ação é 
formalizada pela petição inicial. Esta formalização denomina-se “demanda”. Sem demanda, o processo sequer 
pode ser considerado juridicamente existente. 
Jurisdição 
Um dos institutos menos contestados no que tange a ser alçado à categoria de pressuposto processual. Assim, 
para que um processo exista juridicamente, deverá ser desenvolvido por órgão investido previamente de 
jurisdição, conforme os poderes outorgados pela Constituição Federal (art. 92). Dessa forma, um processo 
conduzido por um não juiz é considerado juridicamente inexistente. Importante que se entenda que, para o 
preenchimento dos requisitos de existência, basta que o órgão tenha jurisdição, pois a competência, a despeito 
de sua importância, constitui pressuposto de desenvolvimento, como se verá infra. 
Citação 
Certamente, é o instituto que mais causa dificuldades no enquadramento dos pressupostos processuais de 
existência. Alguns autores1 entendem não ser a citação pressuposto processual, e o argumento é de fato muito 
coerente: a citação não seria requisito de existência, mas de eficácia do processo. Sabendo que validade e 
eficácia são fenômenos que se situam em planos distintos. O processo existe desde sua propositura. 
Todavia, a citação, em nossa opinião, constitui um pressuposto de existência, já que permite a 
triangularização do processo, formalizando a relação jurídica entre Estado-juiz, autor e réu. 
Para Bueno (2016, p. 41), a citação – como manifestação clássica do princípio do contraditório – é pressuposto 
de existência para o réu. E isso porque “não haveria como conceberum processo juridicamente existente se o 
réu não for citado”. 
Essa afirmação não entra em choque com os arts. 331 e 332 do CPC. Ambos os casos permitem a resolução 
do processo sem citar o réu. No primeiro, a resolução se dará sem análise do mérito, já que a petição inicial 
não preenche requisitos mínimos de admissibilidade, sendo inviável o prosseguimento da demanda. 
No segundo, nas hipóteses previstas na lei, o magistrado já constata que a causa não terá êxito para o autor. 
Nos dois casos (resolução por inadmissibilidade ou por improcedência prima facie), é desnecessária a citação. 
O que não desnatura a sua imprescindibilidade, aliás, o art. 239 do CPC realça essa condição. 
Nestes casos, a celeridade e a efetividade do processo relativizam o rigor do pressuposto. A propósito, o STF 
já enfrentou a questão (Pleno, AI-AgR 427.533/RS) e asseverou que a regra é compatível com o modelo 
constitucional do processo desde que o réu, ao ser citado (o que somente será possível com o provimento do 
recurso de apelação do autor), tenha a possibilidade de levantar toda matéria respeitante ao processo, até 
mesmo aquela que levou ao indeferimento da petição inicial. 
Portanto, no Brasil, hoje, há quatro correntes bem delineadas: 
1. Citação como pressuposto de existência (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Enrico Tullio Liebman, 
Nelson Nery e Marcelo Abelha Rodrigues). 
2. Citação como pressuposto de existência para o réu (Cassio Scarpinella Bueno). 
3. Citação como requisito de validade (Cândido Dinamarco). 
4. Citação como condição de eficácia do processo para o réu (Fredie Didier). 
 Pressupostos processuais de desenvolvimento (validade) do processo 
Aqui, o processo já existe, mas, a despeito de sua existência, há outros pressupostos necessários ao 
desenvolvimento válido e regular do processo. 
Petição inicial apta 
Não basta a existência da petição inicial (aqui, denominada “demanda”). É necessário que esta petição seja 
apta, ou seja, contenha os requisitos essenciais para o seu desenvolvimento. 
Todavia, é equívoco asseverar que a aptidão da petição inicial decorre do exato cumprimento do art. 319 do 
CPC, pois, do contrário, dever-se-ia afirmar que a não observância do referido artigo geraria a inaptidão da 
petição inicial. Entretanto, a falta de requerimento de provas e do endereço do réu não gera inaptidão da 
demanda – a despeito de serem requisitos do art. 319 do CPC. 
A definição de aptidão se abstrai por exclusão. Assim como a competência, a imparcialidade e a capacidade 
são conceitos que somente podem ser formulados produzindo o efeito negativo (incapaz, imparcial, 
incompetente). A aptidão ocorre quando não houver a inaptidão – esta, sim, definida pela lei (CPC): 
Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: 
I – for inepta. 
(...) 
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: 
I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; 
II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; 
III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; 
IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. (BRASIL, 2015, [s. p.]) 
Assim, se o autor não enquadrar a sua demanda numa das hipóteses-tipo do art. 330, § 1º, por consequência, 
sua petição será considerada apta. 
Conforme será visto no capítulo de petição inicial (infra) à luz do atual sistema que prestigia a primazia do 
mérito e a convalidação dos atos processuais, é possível afirmar que a inépcia da petição inicial somente gerará 
a resolução do processo sem resolução de mérito se e quando a referida invalidade não puder ser corrigida. 
Assim, se for possível emendar a petição inicial para “inserir pedido” (inciso I, art. 330), “determinar o pedido” 
(inciso II, art. 330), “corrigir a narrativa para adequar a conclusão” (inciso III, art. 330) ou “compatibilizar os 
pedidos cumulados” (inciso IV, art. 330), não haverá extinção do feito. 
Competência do juízo e imparcialidade do juiz 
Não basta que o juiz esteja investido de jurisdição. É necessário que ele também seja competente e imparcial. 
A competência, conforme será estudado (infra), é a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções e 
constitui pressuposto de validade. Há quem defenda que a competência não seria pressuposto processual, pois 
a sua decretação importa na remessa dos autos ao juízo competente, e não na resolução do processo sem 
análise do mérito, como normalmente ocorre. Contudo, não é a consequência do ato que o caracteriza como 
pressuposto processual. A própria lei, em certos casos, opta pela “extinção do processo” nos casos de 
competência dos juizados (art. 51, III, da Lei nº 9.099/95). Ademais, se o mérito não poderá ser examinado 
por determinado órgão (dada sua incompetência), certamente a sentença ali proferida será inválida, o que 
confirma sua situação de pressuposto. 
Sendo a competência pressuposto de validade, a incompetência relativa também seria alcançada? Quando se 
fala em competência absoluta, os órgãos jurisdicionais são fixados peremptoriamente pela lei. Já no que se 
refere à competência relativa, a despeito de ser previamente prevista em lei, esta mesma lei confere certa 
margem de liberdade aos litigantes para escolher outro órgão jurisdicional igualmente competente (veja, por 
exemplo, a cláusula de eleição de foro diverso daquele em que residem autor e réu, conforme art. 63 do CPC)2. 
Dessa forma, justamente por depender da manifestação da parte contrária, sob pena de prorrogação com a 
consequente convalidação do ato (CPC, art. 65), a competência relativa não pode ser pressuposto de validade 
do processo. 
Já os vícios de parcialidade – impedimento e suspeição – são vícios de capacidade subjetiva do próprio juiz. 
Conforme já exposto, o principal requisito para o julgamento é que seja proferido por um juiz imparcial, 
desinteressado na causa e equidistante das partes. 
Todavia, existem determinadas situações que podem desviar a convicção do magistrado, por motivos de ordem 
familiar, pessoal ou econômica. Atento a esses casos, o legislador mapeou as situações que podem dar ensejo 
a um julgamento maculado. As questões mais graves, a lei denominou hipóteses de impedimento; as menos 
graves, suspeição. 
Citação válida 
Consoante foi ressaltado, a citação é pressuposto de existência do processo. Entretanto, o ato citatório deve 
respeitar determinadas regras previstas no CPC em seus arts. 238 e seguintes. 
Importante frisar que este pressuposto processual pode ser relativizado pelo princípio da instrumentalidade 
das formas. A citação é ato solene, depende de uma série de requisitos previstos em lei. No entanto, se o réu 
comparece espontaneamente em juízo, supre a necessidade da citação, pois o ato atingiu, por outra forma, a 
sua finalidade (art. 239, § 1º, do CPC). 
Capacidade postulatória 
Sabe-se que os atos processuais somente podem ser praticados por quem detenha capacidade de estar em juízo. 
Esta capacidade permite à parte litigar no processo sem representação ou assistência. Todavia, esta capacidade, 
por si só, é insuficiente para a atividade forense, já que a postulação em juízo depende de outro tipo de 
capacidade conferida somente aos advogados e denominada capacidade postulatória. Consiste na 
autorização legal para atuação profissional em juízo do advogado. 
Legitimação para o processo 
As regras de legitimação para o processo (capacidade processual) serão mais bem desenvolvidas no capítulo 
destinado às partes. 
 Pressupostos negativos 
Os pressupostos processuais negativos são aqueles que, como o próprio nome identifica, não podem existir no 
processo, ao contrário dos positivos, cuja presença se faz obrigatória. Dessa forma, são situações que não 
podem ocorrer, sob pena de ser cominado com as consequências impostas pela lei. Em virtude de os institutos 
que compõem os pressupostos negativos serem objeto de estudo ao longo deste Manual, confere-se apenas 
uma rápidadefinição, remetendo o leitor aos capítulos correspondentes, que aludem, com mais profundidade, 
a cada um desses conceitos. 
Perempção 
Ocorre perempção quando o autor deixa o processo se extinguir por três vezes sem resolução de mérito, por 
abandono da causa pela hipótese do art. 486, § 3º, do CPC. Contudo, a despeito de gerar a impossibilidade de 
nova propositura, a alegação de perempção poderá ser utilizada como matéria de defesa mesmo após ter 
atingido as três extinções do feito. 
Litispendência 
Ocorre litispendência quando se distribui uma ação idêntica à que está em curso. Assim, conviveriam 
contemporaneamente duas ações com as mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. A segunda 
ação proposta não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V, CPC). 
Coisa julgada 
Ocorre coisa julgada quando se distribui uma ação idêntica à outra que já se findou. Essa segunda ação possui 
os mesmos elementos que a anterior, já julgada (partes, pedido e causa de pedir). Essa segunda ação proposta 
igualmente não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V, CPC). 
Compromisso arbitral 
Compromisso firmado entre as partes, no qual se estabelece que determinado litígio não corra pelo Poder 
Judiciário, mas, sim, pela arbitragem. 
Há autores que entendem que o compromisso arbitral (uma espécie da convenção de arbitragem) não seria 
pressuposto processual negativo, pois o juiz não pode decretar a nulidade de processo judicial em trâmite, cuja 
causa deveria correr na arbitragem, como ocorre com a litispendência, a perempção e a coisa julgada. 
_______ 
1 DINAMARCO, C. Instituições de direito processual civil. São Paulo, SP: Malheiros, 2002. p. 507. 
2 Esse é o posicionamento dominante na doutrina (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Ernane Fidélis dos 
Santos, Marcelo Abelha Rodrigues) 
 
Constituição da República Federativa do Brasil e o 
processo 
 
Apesar de os códigos de processo civil brasileiros, ao longo da história, conviverem com as constituições 
vigentes, foi apenas a partir da CF/88 que se reconheceu sua verdadeira força normativa. Isso se reflete no art. 
1º do CPC, que estabelece: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores 
e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as 
disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Em consequência desse reconhecimento, o sistema 
processual brasileiro passou a: adotar os princípios como importante fonte do direito, reconhecendo sua 
categoria de norma jurídica; reconhecer a análise da funcionalidade do processo para concretizar os direitos 
fundamentais, como o direito à saúde (art. 196, CF), e a autoaplicação desses direitos fundamentais (art. 5º, § 
1º, CF); promover a ampla expansão da jurisdição constitucional, em especial, com o controle de 
constitucionalidade (concentrado e difuso); mostrar que a CF serve para preencher os “buracos” deixados pelo 
processualista, especialmente na fase científica. 
Isso é o que a doutrina denomina como neoprocessualismo, pós-positivismo ou neoconstitucionalismo. 
Portanto, houve um fortalecimento dos princípios constitucionais, em especial, o do devido processo legal, do 
qual se constatou a notória dificuldade de a lei regular tudo, somado às novas técnicas de produção legislativa 
(cláusulas gerais e normas de conceito vago e indeterminado), bem como à complexidade dos fenômenos 
sociais, à adoção dos princípios como norma, à vinculação aos precedentes e à categorização da jurisprudência 
como fonte primária do direito. Dessa forma, não apenas analisa o conteúdo da norma em si considerada como 
(e principalmente) também analisa sua incidência sob o enfoque (filtragem) constitucional. 
Assim, compete ao Judiciário aplicar, precipuamente, o ordenamento jurídico (CPC, art. 140). A lei deve 
sempre ser interpretada de acordo com a Constituição Federal. Caso o juiz, por exemplo, encontre mais de 
uma solução para o caso concreto, deve escolher aquela mais rente ao interesse disciplinado na CF. Assim, se 
um texto de lei der margem a várias interpretações, o juiz não deve valer-se de sua convicção pessoal, mas 
fazer uso da técnica interpretação de acordo com a CF. 
Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art. 
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos 
especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado 
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados 
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a 
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla 
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros 
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e 
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95 da CF): vitaliciedade, 
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em 
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix) 
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução contra 
a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC). 
A Constituição, em sua função de tutelar o ordenamento, estabelece as diretrizes e os contornos da vida do 
processo. Não apenas enunciando os princípios a serem seguidos, mas na estruturação do Poder Judiciário, na 
fixação de competência, na previsão de determinados recursos e medidas judiciais, entre outros. No entanto, 
essa função constitucional não se dá apenas de cima para baixo, ou seja, não apenas a Constituição alimentará 
o processo com regras, princípios e diretrizes. O vetor pode ser visto pelo outro lado: o processo poderá mudar 
as características da Constituição. 
Arbitragem 
 
Constitui mecanismo de heterocomposição, pois é uma forma de solução de conflitos, em que as partes em 
litígio buscam numa terceira pessoa de sua confiança uma solução para a questão. Apesar de ser de confiança 
das partes, é equidistante delas. Importante asseverar que não há nenhuma inconstitucionalidade na arbitragem 
que constitui modalidade facultativa. O Supremo Tribunal Federal, em 2001, reconheceu a autonomia das 
partes para eleger a arbitragem como forma de composição de conflitos e não ofende o art. 5º, XXXV, da CF 
(inafastabilidade da jurisdição). Tanto não ofende que o próprio art. 3º do CPC, que reproduz quase que 
fielmente o texto constitucional, estabelece no seu § 1º que “é permitida a arbitragem, na forma da lei” 
(BRASIL, 2015, [s. p.]). 
Assim, é equiparado aos funcionários públicos e juízes no exercício de suas funções para efeitos da legislação 
penal (art. 17, Lei nº 9.307/96), o árbitro é também considerado “juiz de fato e de direito, e a sentença que 
proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (art. 18, Lei nº 9.307/96) e “no 
desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, 
diligência e discrição” (art. 13, § 6º, Lei nº 9.307/96) (BRASIL, 1996, [s. p.]). 
O árbitro, não obstante, não possui poder estatal, já que não é agente público, profere decisão que vincula as 
partes e forma-se título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). 
Dessa forma, profere decisão que tem força imperativa entre as partes, mas, se não cumprida, é necessário 
levar ao Poder Judiciário, pois o árbitro não pode coagir as partes ao cumprimento da sentença, tampouco 
praticar atos materiais, comopenhora e expropriação. Igualmente, pelo mesmo fundamento, não possui poder 
para permitir a imissão na posse de imóvel. Assim, “Contrato de locação. Cláusula compromissória. Ação de 
despejo por falta de pagamento. Imissão na posse pelo abandono do imóvel. Submissão da questão ao juízo 
arbitral. Impossibilidade. Natureza executória da pretensão. Poder coercitivo direto. Matéria atinente ao juízo 
togado” (REsp 1.481.644-SP). Não se admite arbitragem em causas penais e, desde a Emenda Constitucional 
nº 45, há previsão da arbitragem no campo trabalhista (CF, art. 114, § 2º). Conforme dito, vem expressamente 
regulada como forma de composição de conflitos no CPC, em seu art. 3º, § 1º. 
No Brasil, há duas correntes acerca da natureza jurídica da arbitragem. A primeira corrente defende que a 
arbitragem constitui um equivalente jurisdicional, pois representa mais uma forma de heterocomposição ao 
lado da jurisdição. Ademais, ao escolher a arbitragem, renuncia-se à jurisdição; a jurisdição exige agente 
público (juiz) aprovado em concurso (art. 93, I, da CF), que constitui um poder indelegável, o que não ocorre 
na arbitragem; na arbitragem, não existe a regra do juiz natural; o árbitro não pode executar suas sentenças; 
não pode ser jurisdição, pois as decisões do árbitro podem ser controladas pelo Poder Judiciário; por fim, a 
arbitragem apenas se aplica a uma classe específica de causas (direitos patrimoniais disponíveis), restringindo 
demais essa atividade. É posição defendida por Humberto Theodoro Júnior, Luiz Guilherme Marinoni e 
Cassio Scarpinella Bueno. 
A segunda corrente defende que arbitragem é jurisdição (Carlos Alberto Carmona, Fredie Didier e Joel Dias 
Figueira Jr.). Para essa corrente, a arbitragem seria uma jurisdição privada (ao lado da jurisdição estatal). Isso 
porque: a sentença arbitral tem força própria, não precisando de homologação da jurisdição estatal para que 
gere sua vinculação; ademais, é apta a formar coisa julgada, somente podendo ser alterada se a parte 
interessada pleitear ao Poder Judiciário sua nulidade nos casos previstos em lei (arts. 32 e 33, Lei nº 9.307/96); 
a Lei de Arbitragem prevê a garantia da imparcialidade, tal qual na jurisdição estatal; o fato de não poder 
executar suas sentenças constitui um caso de incompetência, e não de falta de jurisdição (vide a execução da 
sentença penal condenatória que será no cível e inegavelmente é atividade jurisdicional). 
Acreditamos que a primeira corrente é a mais acertada. O CPC aparentemente também a adotou, conforme se 
verifica do § 1º do art. 3º, que coloca a arbitragem como uma exceção à inafastabilidade da jurisdição. 
Ademais, o art. 42 também apresenta a arbitragem em outro plano ao estabelecer que “as causas cíveis serão 
processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir 
juízo arbitral, na forma da lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]). 
Apesar da tentativa de equiparação, árbitro e juiz definitivamente não se confundem. Em comum, apenas a 
necessidade de ser terceiro imparcial (art. 21, § 2º, da Lei nº 9.307/96) para a solução do conflito. Aliás, no 
tocante à sua imparcialidade, o art. 14, § 1º, da Lei nº 9.307/96 estabelece que “as pessoas indicadas para 
funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida 
justificada quanto à sua imparcialidade e independência” (BRASIL, 1996, [s. p.]). Dessa forma, as regras de 
impedimento e suspeição se aplicam ao árbitro com muito mais rigor. No Poder Judiciário, é necessário provar 
a parcialidade do juízo. Na arbitragem, como a relação é de confiança (art. 13, da Lei nº 9.307/96), a mera 
desconfiança de uma das partes sobre o terceiro já gera o afastamento do árbitro. 
O árbitro não se submete às regras de competência (e, consequentemente, do juiz natural), sendo escolhido 
direta e aleatoriamente pelas partes. 
Está sendo remunerado especificamente para atender àquele processo (que poderia ter recusado), ao contrário 
do juiz, que deve cuidar de diversos processos e, em decorrência de sua função pública, não pode delegá-los 
ou recusar o seu processamento. 
A arbitragem é regulamentada no Brasil pela Lei nº 9.307/96, e agora com as substanciais alterações trazidas 
pela Lei nº 13.129/2015. Pode ser constituída por meio de negócio jurídico denominado convenção de 
arbitragem, que, nos termos do art. 3º da lei, pode ser tanto: 
– Cláusula compromissória – convenção contratual em que as partes resolvem que as divergências do 
negócio jurídico serão solucionadas pela arbitragem; 
– Compromisso arbitral – aqui o litígio já existe e as partes decidem, de comum acordo, submeter a solução 
desse conflito para a arbitragem. (BRASIL, 1996, [s. p.]) 
Regramento da arbitragem no Brasil 
1. Disponibilidade da norma substancial a ser escolhida no caso concreto (art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de 
Arbitragem). Assim, direitos indisponíveis não podem ser submetidos à arbitragem. 
2. Para a arbitragem, o árbitro deve ser pessoa física e possuir capacidade. O árbitro enverga a condição 
de juiz, sendo equiparado aos servidores públicos para efeitos penais, conforme dito. 
3. A sentença arbitral não precisa ser homologada, pois possui autonomia eficacial, produzindo efeitos 
no momento de sua prolação. Assim, tal qual a sentença proferida pelo Poder Judiciário, a sentença 
arbitral constitui espécie de título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). Contudo, a despeito de o 
árbitro decidir, por não possuir poder de constrição, não tem jurisdição para tomar nenhuma 
providência executiva. 
4. É possível a arbitragem com o Poder Público (art. 1º, §§ 1º e 2º, da LArb), desde que seja para discutir 
direitos patrimoniais disponíveis e a autoridade pública que celebrar a convenção deve seja a mesma 
para realizar acordos ou convenções. 
5. A sentença arbitral poderá ser revista pelo Poder Judiciário, não no tocante ao mérito (a decisão do 
árbitro é soberana), mas no tocante a aspectos formais (arts. 32 e 33 da LARb): 
Art. 32. É nula a sentença arbitral se: 
I – for nula a convenção de arbitragem; 
II – emanou de quem não podia ser árbitro; 
III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; 
IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; 
VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; 
VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e 
VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2o, desta Lei. 
Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a declaração de nulidade 
da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. 
 § 1º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou final, seguirá as regras do 
procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), e deverá 
ser proposta no prazo de até 90 (noventa) dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, 
parcial ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos. 
 § 2º A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, 
e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal profira nova sentença arbitral. (BRASIL, 1996, [s. p.]) 
Assim, pode-se acentuar como principais diferenças: 
Quadro 1 | Diferenças entre jurisdição e arbitragem - Fonte: elaborado pelo autor. 
 
Noções introdutórias de mediação e conciliação 
 
Influenciado pela Resolução nº 125/10, que estabelece a “Política Judiciária Nacional de tratamento adequado 
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, o CPC atual estabeleceu, em seus arts. 165 a 175, 
o regramento mínimo conferido à mediação e à conciliação, bem como a atuação do conciliador e do mediador 
nesses casos. O CPC definitivamente ingressa na tentativa de incentivar as técnicas deautocomposição para 
desafogar o excessivo número de demandas que trafegam no Judiciário. Está entre os poderes do magistrado 
no processo (art. 139, V, CPC). 
Apenas para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil contava com, aproximadamente, 200 milhões de processos 
(praticamente uma causa para cada brasileiro). O número de juízes existentes é fisicamente incompatível com 
a escala industrial das causas que surgem todos os dias no Judiciário. 
Alguns autores defendem que a conciliação e a mediação não constituem “formas alternativas” de composição 
de conflito, mas, meios adequados para esse fim. 
A conciliação se diferencia da mediação. Na conciliação, existe uma atuação mais efetiva do terceiro, que 
pode propor soluções para a resolução do conflito. Atua, preferencialmente, nos casos em que não havia prévio 
vínculo jurídico entre as partes (CPC, art. 165, § 2º), como nos casos de acidente de carro ou propaganda 
enganosa, em que a relação entre as partes se deu exatamente no momento que gerou a situação litigiosa. Já 
na mediação, a participação do terceiro é mais reservada. Sua atividade se limita a instruir as partes para 
auxiliar no objeto do litígio e para que se estabeleça um diálogo, a fim de lograr a autocomposição. O mediador 
não faz proposta de acordo; deve deixar as próprias partes chegarem a esse desiderato. Isso decorre do fato de 
ele atuar em casos em que já exista prévia relação jurídica entre as partes (CPC, art. 165, § 3º), como nas 
relações contratuais ou nas relações envolvendo direito de família (daquilo que for objeto de disponibilidade). 
Assim, a atuação do conciliador é mais intensa, pois este apresenta potenciais soluções para o litígio, enquanto 
na mediação apenas se abre o caminho para a comunicação entre as partes. 
É possível que haja conciliação ou mediação parcial que verse apenas sobre um fragmento do conflito, e as 
demais, possivelmente, são levadas ao Poder Judiciário. 
O conciliador e o mediador devem preencher o requisito de capacitação mínima em curso a ser realizado por 
entidade credenciada a ser definida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça. Esse 
curso permite ao mediador e ao conciliador procederem à inscrição no cadastro nacional e no cadastro dos 
tribunais regionais. Posteriormente, o Tribunal remeterá os dados do conciliador ou mediador para o foro da 
comarca, a fim de que conste de lista a participar das atividades de autocomposição naquele local. A escolha 
do mediador e do conciliador será realizada de forma aleatória e alternada, tal qual na distribuição de uma 
causa. 
É possível, ainda, as partes, por negócio jurídico processual, escolherem o conciliador/mediador ou a câmara 
privada para julgamento, independentemente de estar cadastrado ou não no tribunal. 
Se o conciliador/mediador for advogado, estará impedido de exercer essa função na comarca em que atuar. 
Igualmente, nos casos de impedimento do próprio conciliador ou mediador (por exemplo, parente de uma das 
partes no processo), este deverá comunicar e devolver os autos ao juiz do processo ou coordenador do CEJUSC 
para nova distribuição. Ademais, o art. 172 do CPC estabelece que “O conciliador e o mediador ficam 
impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar, 
representar ou patrocinar qualquer das partes” (BRASIL, 2015, [s. p.]). 
O conciliador e o mediador, salvo nas hipóteses do art. 167, § 6º, do CPC, receberão remuneração conforme 
tabela do tribunal correspondente, parametrizada pelo Conselho Nacional de Justiça. 
Se o conciliador ou mediador estiver temporariamente indisponível, deve comunicar o fato ao Centro 
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), para não receber, nesse período, novas 
distribuições. 
Por fim, será excluído do cadastro o mediador ou conciliador, sem prejuízo do processo administrativo, que: 
agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer 
dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º; atuar em procedimento de mediação ou conciliação apesar de 
impedido ou suspeito. Ademais, de acordo com o art. 173, § 2º, CPC, 
O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação, se houver, verificando atuação 
inadequada do mediador ou conciliador, poderá afastá-lo de suas atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, 
por decisão fundamentada, informando o fato imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo 
processo administrativo. (BRASIL, 2015, [s. p.]) 
Posteriormente, foi editada a Lei nº 13.140/15, que regulamenta a mediação entre particulares e no âmbito da 
administração pública, o que gerou, como se verá, uma contradição com algumas disposições do diploma 
processual. 
Para melhor cumprir a função de meios adequados à autocomposição, à conciliação e à mediação, o CPC atual 
didaticamente estabeleceu (assim como o art. 1º do Anexo III da Resolução nº 125, que dispõe sobre o Código 
de Ética dos Conciliadores e Mediadores) princípios que norteiam as atividades para fomentar a 
autocomposição entre as partes, bem como limitam a atividade dos terceiros. O art. 166 refere-se aos princípios 
da independência, imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade, informalidade e 
decisão informada. 
 Independência: a independência constitui um dos principais pilares da condição de conciliador ou 
mediador. Ao contrário da magistratura, em que há elementos objetivos para a garantia de sua 
independência (inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos – art. 95 da CF). No 
tocante aos terceiros, tem-se apenas um mandamento genérico. Assim: “dever de atuar com liberdade, 
sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a 
sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever 
de redigir acordo ilegal ou inexequível” (BRASIL, 2010, [s. p.]). 
 Imparcialidade: o inciso IV do referido artigo assevera: “dever de agir com ausência de favoritismo, 
preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado 
do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer 
espécie de favor ou presente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Esse controle é feito pelo próprio terceiro e 
deverá recusar-se a atuar quando se encontre em alguma situação de suspeição e impedimento (art. 148, 
II e III, CPC), nada impedindo que as partes também aleguem. Ademais, não poderá o mediador ou 
conciliador atuar como assessor técnico das partes ou na forma de “advogado”, a fim de que se 
mantenha a sua equidistância em relação às partes. 
 Autonomia da vontade: como a conciliação e a mediação consistem em mecanismos de 
autocomposição, é natural que o resultado desse acordo decorra da vontade soberana das partes. Assim, 
são vedadas pressões externas para que o acordo seja formalizado deste ou daquele jeito. As partes 
têm preferência na forma como o negócio jurídico será estabelecido. Evidente que essa autonomia de 
vontade sofre restrições: quando o acordo for resultante de violação à ordem pública ou às leis vigentes 
(que constitui outro princípio, de acordo com o Anexo III da Resolução nº 125), por incapacidade das 
partes ou quando o acordo decorrer de algum vício, como erro, dolo, lesão, coação, estado de perigo 
ou fraude. A autonomia se aplica igualmente às regras procedimentais necessárias à autocomposição 
(art. 166, § 4º, CPC). A autonomia de vontade se aplica até mesmo na possibilidade de as partes 
escolherem, de comum acordo, o conciliador, mediador ou mesmo a câmara privada destinada a esse 
fim (art. 168, CPC). Não é sequer necessário que esse conciliador/mediador esteja previamente 
cadastrado no tribunal. 
 Confidencialidade: a confidencialidade não se refere especificamente ao sigilo das informaçõesapresentadas em audiência, mas especialmente à incomunicabilidade entre a audiência de conciliação 
ou mediação e o processo judicial. O que vale dizer: aquilo que se diz em audiência de autocomposição 
não poderá ser usado pelas partes futuramente no processo judicial contra a outra. Isso tem por 
finalidade deixar as partes mais livres para apresentar à mesa de negociação todos os elementos 
possíveis para a tentativa de costurar um acordo. Se as informações pudessem ser utilizadas no 
Judiciário, certamente as partes não abririam tantas informações com medo de se prejudicarem caso o 
acordo restasse infrutífero. A confidencialidade alcança não apenas as partes, mas os advogados e o 
terceiro imparcial que preside a audiência e seus auxiliares (art. 166, § 2º, CPC). Dessa forma, não 
poderá a parte no Poder Judiciário alegar que a outra parte admitiu o acidente ou que confessou o 
inadimplemento em audiência de autocomposição de mediação ou conciliação. Contudo, as provas 
documentais descobertas em audiência poderão ser produzidas no procedimento judicial e não estão 
acobertadas pelo manto da confidencialidade. Explica-se: a incomunicabilidade entre 
conciliação/mediação e processo judicial poderá fazer com que as partes criem a estratégia de alegar 
absolutamente tudo que as desabone nessas audiências, para que nada possa ser utilizado em fase de 
instrução de procedimento judicial. 
 Oralidade: o princípio da oralidade se opõe à documentação dos atos. Consiste, na prevalência da 
palavra como forma de expressão, imediação da relação entre o juiz e as partes, permanência subjetiva 
do juiz na instrução do processo, concentração do procedimento. A oralidade, além das vantagens 
enumeradas, tem por pressuposto específico guardar a confidencialidade, na medida em que os 
depoimentos não serão consignados em ata. 
 Informalidade: até mesmo para facilitar a autocomposição, não há solenidade ou forma específica 
para que se realize a mediação ou conciliação. O terceiro terá a possibilidade de conduzir da melhor 
maneira que lhe aprouver, atentando aos demais princípios de modo a facilitar o acordo. Não há 
tipicidade de conduta. 
 Decisão informada: é fundamental que os mediadores e conciliadores informem as partes sobre as 
consequências do acordo e seus efeitos jurídicos. Assim, o inciso II estabelece que o terceiro tem o 
“dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático 
no qual está inserido” (BRASIL, 2010, [s. p.]). 
 
Distinção entre as normas de direito material e as 
normas de direito processual 
 
Para compreender o sentido e o alcance do direito processual civil, é importante estabelecer uma importante 
relação entre o direito e o processo. O direito, denominado material ou substancial, consiste num conjunto 
de normas aptas a regulamentar a vida em sociedade. Isso porque os relacionamentos mantidos entre as 
pessoas (físicas, jurídicas) e demais entes necessitam da devida regulamentação (ubi societas ibi ius). Evidente 
que nem tudo ligado à atividade humana é preocupação do Estado, havendo as denominadas normas 
meramente sociais, como a amizade, a opção pelos alimentos que se consomem ou o gosto musical. 
Aquelas que são reguladas pelo direito são denominadas relações jurídicas. O legislador, ao criar de forma 
abstrata a regulação da vida em sociedade, estabelece posições de vantagem e de desvantagem da qual os 
sujeitos são submetidos. São esses critérios que definem os direitos que prevalecem e, em contraposição, os 
direitos que serão tolhidos. 
Aqueles que ocupam uma posição de vantagem em relação à norma possuem o que se denomina direito 
subjetivo. Portanto, possui um direito subjetivo aqueles a quem a norma reconhece ou confere um 
determinado direito. Assim, no direito subjetivo, há um preceito que atribui um direito e a faculdade de exercer 
esse direito. A soma deles confere os contornos do direito subjetivo. O direito subjetivo “é subjetivo porque 
as permissões, com base na norma jurídica e em face dos demais membros da sociedade, são próprias das 
pessoas que as possuem, podendo ser ou não usadas por elas” (DINIZ, 2014, p. 265). 
Contudo, o direito subjetivo é oriundo da concepção clássica do processo analisado sob a ótica individual de 
que somente pode se ingressar no Poder Judiciário diante de uma violação a esse direito subjetivo. 
Entretanto, as mudanças qualitativas de litígio, a que a sociedade se submeteu, deram espaço aos direitos (ou 
interesses) metaindividuais (transindividuais, supraindividuais). Aqui, não se trata do direito particular do 
indivíduo que vai a juízo buscar um direito próprio: o direito decorre de uma situação que envolve uma 
coletividade de pessoas (direitos difusos, direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais 
homogêneos) e que podem ser concedidos até mesmo em detrimento dos direitos subjetivos (desapropriação, 
por exemplo). 
Esses interesses, ou direitos metaindividuais, são o resultado da moderna sociedade na qual vivemos, em que 
as decisões, condutas e atitudes têm aptidão de atingir uma coletividade de pessoas transcendendo a noção 
individualista do direito subjetivo (os denominados direitos fundamentais de segunda e terceira geração). 
Em qualquer desses casos (direitos subjetivos ou metaindividuais), tem espaço o direito processual, que 
regula um conjunto de normas criadas para garantir que o direito material seja cumprido, porque o destinatário 
da norma não o cumpriu de forma espontânea, ou porque as pessoas envolvidas no litígio possuem pontos de 
vista diversos sobre os fatos ou sobre o direito que deveria ser aplicado no caso, o que poderia, por esse 
desacordo, impedir a realização espontânea do direito1; ou porque a norma substancial somente poderá 
produzir efeitos com a chancela ou homologação do Poder Judiciário (por exemplo, a jurisdição voluntária). 
Em qualquer dessas hipóteses, o Estado, para cumprir o direito, poderá impor uma sanção à parte que resiste 
em obedecer ao comando judicial. 
A relação do direito com o processo é de autonomia, mas de plena interação, decorrente da 
denominada instrumentalidade do processo em relação ao direito material controvertido. Constitui uma 
relação circular, na qual o direito material idealiza a conduta da sociedade, e o direito processual realiza o 
direito material quando não cumprido na prática. 
Se o processo nada mais é do que a narrativa de uma situação de direito material em juízo, ele deve se adaptar 
e se estruturar às peculiaridades do direito material. Por isso, há no sistema brasileiro mecanismos para tornar 
o processo mais rente à realidade substancial, como os procedimentos especiais (dentro e fora do CPC), os 
negócios jurídicos processuais (art. 190, CPC) e a possibilidade de adaptação do procedimento em casos de 
cumulação (art. 292, § 2º, CPC). 
O direito processual se materializa por meio de um processo, que consiste (dentre diversas outras funções) 
em um conjunto de atos hábeis a conferir um resultado prático ao conflito ou situação jurídica (tutela 
jurisdicional). Isso só é possível porque aos juízes é conferido um poder para tornar a pretensão realidade 
(jurisdição). 
O Direito Processual Civil é, portanto, o sistema de normas que regulam o funcionamento e o exercício da 
jurisdição civil. É ramo do direito público, porque regula a relação não somente das partes (quando o processo 
é subjetivo) ou de legitimados (em processos objetivos), mas conta com a participação efetiva do Estado-juiz 
na condição de exercente do poder estatal que resolverá a questão. 
_______ 
1 MITIDIERO, D. Processo Civil. São Paulo, SP: RT, 2021. p. 23. O autor exemplifica divergência de fato 
como a discussão se a entrega de um bem foi dado em doação ou comodato. 
 
 
 
Tutela jurisdicional 
 
O ponto de partida para a compreensão da tutela jurisdicional reside no art. 5º, XXXV, da CF, e no art. 3º do 
CPC,que a um só tempo preconiza o princípio da inafastabilidade (ou ubiquidade) do acesso à justiça e da 
efetividade da jurisdição. 
Ao se estabelecer que não se pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, confere-
se ao Estado o dever de analisar a tutela de um direito que a parte alega possuir. 
É obrigação do Estado responder a essa “provocação” da parte, ainda que para dizer, à luz do ordenamento 
jurídico, que ela, parte, não tem razão. O que não se pode é deixar o processo sem resultado (non liquet). 
Tutela, no sentido léxico, é a proteção, a salvaguarda do direito que a parte possui, já que em nosso 
ordenamento não se pode (salvo raríssimas exceções) fazer justiça com as próprias mãos. 
Mas, o que vem a ser tutela jurisdicional, então? A expressão “tutela jurisdicional” é, no plano doutrinário, 
polissêmica. Ela significa os meios para a obtenção do resultado do processo, o pedido requerido ao Estado, 
ou os efeitos práticos desse pedido. 
Entendemos que a tutela jurisdicional é, num primeiro momento, a realização prática, a materialização daquilo 
que a parte requer no Poder Judiciário. No entanto, esse conceito é insuficiente, pois a tutela jurisdicional deve 
proteger ambas as partes, ou seja, a tutela será outorgada a quem tem razão e a quem não tem razão. 
Há quem defenda que a tutela jurisdicional seja a análise do processo sob o enfoque de quem tem razão. Com 
base nesse argumento, todos poderiam postular em juízo (direito de petição); quem preenchesse os requisitos 
de admissibilidade, os pressupostos e as condições da ação teria direito a um provimento (inafastabilidade), 
mas apenas quem esteja amparado pelo direito material usufrui da tutela jurisdicional. 
Não concordamos com essa posição. 
O vencedor, à luz do direito material, terá a tutela jurisdicional, podendo usufruir, in natura, do bem ou direito 
postulado. A outra parte também recebe a tutela jurisdicional (= proteção do Estado), no sentido de se declarar 
a inexistência do direito que postula (ou resiste). 
O réu, quando o pedido do autor é julgado improcedente, recebe a tutela jurisdicional ao se garantir a não 
afetação de sua esfera jurídica. É o que ocorre, outrossim, com a ação declaratória de inexistência jurídica 
com pedido julgado procedente. 
A resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, CPC) não gera tutela jurisdicional propriamente dita, 
pois não há a outorga do direito a quem assiste razão. Contudo, de certa forma, constitui uma tutela 
jurisdicional para o réu (ainda que mitigada), pois a decisão terminativa impede a invasão na sua esfera 
jurídica, o que é sua pretensão. É mitigada, contudo, pois essa decisão, em regra, não fica acobertada pela 
coisa julgada material, permitindo a nova propositura da demanda sob os mesmos fundamentos. 
Dessa forma, é possível definir tutela jurisdicional como a proteção concreta dada pelo Poder Judiciário, 
dentro do processo, aos direitos que lhe são apresentados. 
Não se pode, por fim, confundir tutela jurisdicional com prestação jurisdicional, já que esta consiste na 
atividade (serviço) exercida pelo Poder Judiciário em sentido lato (juízes e auxiliares). 
 
Interpretação da lei processual. Normas 
processuais no tempo e no espaço. Eficácia 
temporal 
 
O direito intertemporal é regido pelos arts. 14, 1.045, 1.046 e 1.047 do CPC. Só têm interesse para o seu estudo 
para os processos pendentes: os findos, em decorrência da segurança jurídica processual, foram acobertados 
pela coisa julgada (art. 5º, XXXVI). Aos processos vindouros, obviamente, aplica-se a lei nova. 
É importante entender duas questões distintas: 
1. Entrada da lei em vigor: esta segue a regra aplicável a todas as leis em geral. Compete ao próprio 
legislador estabelecer o prazo da vacatio legis. Caso não haja essa previsão, será de 45 dias depois de 
oficialmente publicada (art. 1º, LINDB) e perdura até que outra lei posterior a revogue de maneira 
expressa ou por incompatibilidade. 
2. Aplicação da lei nos processos em cursos: nesse caso, há três sistemas que explicitam a aplicação do 
direito intertemporal: 
a) O sistema da unidade processual, segundo o qual o processo em trâmite se encerrará com a lei que a ele 
deu início. 
b) O sistema das fases processuais, pelo qual a nova lei apenas passa a incidir na mudança de fase (sabendo 
que se trata das fases postulatória, instrutória e decisória). 
c) O sistema da imediatidade da aplicação da lei processual, cujas novas regras incidem nos processos 
pendentes, dentro da mesma fase, mas respeitando o direito adquirido processual. O sistema brasileiro adota 
essa posição (arts. 14, 1.046 e 1.047, CPC). 
Isso porque cada ato do processo tem a devida proteção para o caso de mudança legislativa. 
Quanto aos processos pendentes, objeto deste estudo, a nova lei processual os atinge diretamente a “partir de 
então”, sendo constitucionalmente vedados os efeitos retroativos da nova lei a situações consolidadas. A 
retroação da lei ou a aplicação da lei mais benéfica apenas tem importância em algumas situações de direito 
material. 
O processo, como procedimento dinâmico que perdura no tempo, deverá, para a perfeita compreensão da 
aplicação da nova lei, proceder ao isolamento dos atos. Estes (que em si são concatenados aos outros) possuem 
um grau de proximidade e dependência variado a depender da etapa processual e das especificidades dos 
próprios atos. 
O CPC entrou em vigor um ano após sua publicação oficial (art. 1.045, CPC). Como foi publicado no dia 17 
de março de 2015, apenas no dia 16 de março de 2016 o novo Código de Processo Civil entrou em vigor. 
É importante enfrentar algumas questões de direito intertemporal: 
Quadro 1 | Tópicos do direito intertemporal - Fonte: elaborado pelo autor. 
É recomendável a leitura dos Enunciados administrativos 2 a 4 do STJ, bem como os Enunciados 267, 268, 
275, 295, 308, 311, 341, 354, 355, 356, 479, 567 e 568 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis. 
Quanto à lei processual no espaço, aplica-se o princípio da territorialidade das leis processuais, o que vale 
dizer, o juiz aplicará as leis apenas circunscritas ao local em que exerce jurisdição. Assim, o CPC é norma 
obrigatória em todo território nacional. 
Nada impede, contudo, que um processo tramitando no Brasil, seguindo as regras do nosso CPC, o direito 
material controvertido seja decidido com base em direito estrangeiro (por exemplo, art. 10, LINDB). 
É o que se estabelece no art. 13 do CPC: “A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, 
ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o 
Brasil seja parte” (BRASIL, 2015, [s. p.]); e no art. 16 do CPC: “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e 
pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). 
Contudo, há duas exceções: 
 Os tratados, as convenções e os acordos internacionais em que o Brasil seja parte (art. 13, parte final, 
CPC). 
 No plano probatório, prevalece a lei estrangeira quando o contrato ou negócio jurídico outro é praticado 
em outro país, ainda que a demanda seja apresentada em território nacional (art. 13, LINDB). 
Resumo visual 
Figura 1 | Os conflitos, as formas de resolução e a atividade jurisdicional 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 2 - Princípios Estruturantes do Processo 
Princípios e regras: conceito e diferenciação. 
Princípios constitucionais e infraconstitucionais do 
Processo 
 
Princípio é uma norma. Princípio é uma fonte do direito, assim como é a lei, a doutrina, os enunciados de 
súmula, os precedentes e a jurisprudência. 
Os princípios como norma, constituem fonte de direito para que o Poder Judiciário os aplique na solução das 
causas que lhe são submetidas. 
Contudo, para que se possa entender a estrutura principiológica e mesmo o grau de incidência dos princípios 
no sistema processual

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