Buscar

A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PENAL

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
*
*
ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS NO SISTEMA PENAL.
 Estudos foucaultianos: Bases da escola que se configuraria como criminologia crítica;
Formação de profissionais engajados politicamente, familiarizado com leituras críticas e desnaturalizadoras.
Diálogo entre saberes: história, sociologia, economia, direito penal, criminologia, psicologia jurídica, entre outros.
*
*
*
Temas a serem trabalhados pelo texto: 
-resgate histórico sobre as teorias e autores do objeto penal;
-criminalização das classes pobres;
-demonização das drogas;
-espetacularização da violência;
-criação da figura do inimigo interno;
-funcionalidade do fracasso da prisão.
*
*
*
Prisão: instituição que nasce com o capitalismo;
Séc. XIV – XVII: dois tipos de dispositivos de atenção a pobreza: a assistência, acessível aos pobres válidos para o trabalho e com residência conhecida e a internação/reclusão, destinadas ao doentes venéreos, loucos, pobres sem domicílio, mendigos e vagabundos irredutíveis, menores abandonados e moças necessitadas de correção, etc.
Aumento da população enclausurada proporcional as leis para coagir o povo a aceitar o trabalho e a punir as recusas ao trabalho, por sua vez proporcional a degradação das condições de trabalho.
Função da interdição/reclusão: preocupação administrativa com os pobres. “Absorver a massa de desviantes, neutralizando-os pelo isolamento e corrigindo-os através da tríade trabalho forçado/oração/disciplina” (CASTEL, 1998).
*
*
*
Papel da Justiça a serviço da burguesia: “fazer com que a plebe não proletarizada aparecesse aos olhos do proletariado como marginal, perigosa, imoral, ameaçadora para a sociedade inteira, a escória do povo, o rebotalho, a 'gatunagem'; trata-se para a burguesia de impor ao proletariado, pela via da ligislação penal, da prisão, mas também dos jornais, da literatura, certas categorias da moral dita 'universal' que servirão de barreira ideológica entre ela e a plebe não proletarizada” (Foucault, 1992, p.50-51).
Proteção da riqueza nas mãos dos que exploram: como???? através de uma moral rigorosa!!!! necessidade de constituir o povo como um sujeito moral, separado da delinquência e mostrando estes últimos como perigosos não apenas aos ricos, mas aos pobres.
*
*
*
O que está em jogo é uma outra forma de gerir o homem: vigilância individual, perpétua e ininterrupta, através de uma nova tecnologia denominada DISCIPLINA. (escolas, conventos, fábricas, hospitais, quarteis, ou seja, na sociedade de ponta a ponta, criando quadros administrativos capazes de transformar multidões confusas e perigosas em multiplicidades organizadas e manipuláveis).
Vigiar é mais eficaz e rentável que punir!!!
Não visa a ofensa passada, mas a desordem futura.
Prisão: punição por excelência. Diferente da velha masmorra, agora a prisão-observatório permitirá punir ao mesmo tempo isolar, vigiar, controlar, conhecer e corrigir. 
*
*
*
Os delinquentes
Enquadrar e individualizar a população marginal: infratores, uma vez capturados pelas malhas da lei, serão submetidos a uma operação que antes de visar corrigi-los, vai transformá-los em delinquentes. 
Papel da investigação bibliográfica na transformação do infrator em delinquente:
distingue-se do infrator não pelo ato, mas pela vida. O infrator se converte em delinquente a medida que se produz a investigação bibliográfica. Investigação bibliográfica “faz existir o criminoso antes do crime e, num raciocínio limite, fora deste” 
*
*
*
PANORAMA
1 – Hobsbawn: nunca na história o revolucionarismo estava tão presente na população;
2 – não por acaso, apareceram no período diversos estudos sobre as massas e sua “tendência a agir criminosamente” (nascimento das teses criminológicas);
3 – crescem as riquezas e as cidades e, da mesma forma, a segregação e o desemprego: “A mecanização das fábricas vai deixando sem trabalho inúmeros artesãos que antes figuravam entre os trabalhadores mais qualificados, engrossando ainda mais o contingente de indigentes. Armazéns, celeiros e fábricas são saqueados, máquinas são destruídas, as multidões tomam as ruas e a massa trabalhadora começa a mostrar cada vez maior capacidade de organização”. 
*
*
*
4 – Reincidência: “se em um primeiro momento o fenômeno da reincidência permitia ver o fracasso da prisão em seus objetivos de corrigir o criminoso e prevenir novos crimes, logo essa falha será atribuída ao próprio delinquente, visto como natural”.
Não julga-se mais o que o sujeito cometeu, mas o que ele é capaz de cometer. Nasce a PERICULOSIDADE, o que significa que o indivíduo deve ser considerado pela sociedade ao nível de suas virtualidades e não ao nível de seus atos, cuja reincidência é a melhor justificativa.
*
*
*
Medicina legal, perícia, hospício e loucura: em pouco tempo deixará de se ocupar pelo que eles fizeram para se pré-ocupar com o que eles podem vir a fazer.
Escola Clássica: igualdade jurídica – séc. XVIII e XIX.
Escola Positiva: volta-se para o homem delinquente e as características que os distinguem dos demais. “tentam individualizar os fatores que condicionam o comportamento criminoso e, apoiados em pressupostos deterministas e na noção de hereditariedade, passam a criticar a noção de livre arbítrio e a questionar a responsabilidade dos criminosos”. Criminoso não seria moralmente culpado, mas deveria ser socialmente responsabilizado, pois a sociedade tem o direito de se defender.
*
*
*
“é preciso criar alguma sanção para neutralizar os delinquentes natos, reservando as penas tradicionais aos criminosos ocasionais, susceptíveis de serem disciplinados e incorporados ao mercado de trabalho”.
Perseguição aos loucos, cujo diagnóstico só era visível aos olhos dos alienistas. Loucura criminalizada e alienista chamado aos tribunais para atuarem frente aos crimes sem causa racional aparente. Cabe a eles distinguir o louco do criminoso.
Como criminalidade aumenta em decorrência da crise do liberalismo, busca-se causa ontológicas para o crime
*
*
*
ontologia do criminoso: positivistas trabalham com a ideia da pré-disposição hereditária para o crime, cujas bases deveriam ser buscadas na biografia do indivíduo, no meio social ou na constituição física do réu. Crime como degeneração, anomalia, atavismo, personalidade perigosa, etc.
Morel: tese sobre a Degeneração (1857). Sujeitos hereditariamente condenados a uma vida imoral, à alienação e ao crime. Como não podiam escolher não delinquir, só poderiam ser considerados irresponsáveis.
*
*
*
Lombroso: tese sobre o Criminoso Nato (1870). Crime como um fenômeno nato, hereditário e atávico. Também não podia escolher ser honesto, pois o crime fazia parte da sua natureza e resultava de sua inferioridade biológica. Apresentavam características físicas que os identificavam: ausência de pelos, braços excessivamente compridos, maxilares superdesenvolvidos, a vaidade, a imprevidência, a instabilidade emocional, a imprudência, a impulsividade, a preguiça, o caráter vingativo, a crueldade, a tendência para a obscenidade, para o jogo, para a bebida e para o crime, a homossexualidade, a insensibilidade à dor, o gosto pelas gírias e tatuagens, etc. Como eram incapazes de sentir culpa, a reincidência era a regra.
*
*
*
Garófalo (1878): segue os paços de lombroso mas foca-se nos aspectos da personalidade envolvida no comportamento criminoso. “causas do delito devem ser procuradas no delinquente, ou em suas predisposições hereditárias, e atribui a tendência ao delito a um tipo de anomalia moral, curável ou incurável, que nos casos mais graves privaria o seu portador dos sentimentos morais mais elementares. 
*
*
*
Ferri: Atribui às diferentes classes sociais, naturezas específicas, trata as desigualdades social de forma preconceituosa dividindo a sociedade em 3 categorias: 1) classe moralmente mais elevada, que não comete delitos porque é honesta por sua constituição orgânica, pelo hábito adquirido e hereditariamente transmitido; 2) classe mais baixa, composta de indivíduos refratários a todo sentimento de honestidade, porque privados de toda educação
e impregnados da miséria material e moral, herdam de seus antepassados; 3) terceira classe, aquela dos que não nasceram para o delito, mas que não são completamente honestos.
*
*
*
Sec. XX: política de segurança nacional (inimigo interno: o subversivo) – política de segurança urbana (inimigo interno: camadas populares não inseridas no emprego formal e potencialmente perigosa) – instauração do medo oficial – tratamento maniqueísta baseado em classes sociais.
Cidade legal (ordeira, limpa, justa, honesta) X Cidade ilegal (suja, desorganizada, onde se escondem os criminosos – favelas como quartel general do crime).
*
*
*
“Desenha-se uma situação absolutamente conflagrada, onde os habitantes da cidade ilegal ameaçam os direitos e a vida dos habitantes da cidade legal. Através da lógica da guerra, os excessos são considerados inevitáveis, e ficam justificados os cercos das favelas, as detenções a execução de pessoas em atitude suspeita e a tortura para obtenção das informações”.
*
*
*
A influência do positivismo nas instituições e legislação penal brasileira.
Discussões sobre periculosidade e risco social;
Imposição de dificuldades para a efetivação da cidadania dos escravos libertos, imigrantes com consciência de classe, etc, de forma a justificar o tratamento desigual;
Justificativa científica para o racismo;
Congressos e produção teórico-científica voltados para a demonstração de como negros, categorias marginais como crianças abandonadas, loucos, homossexuais, alcoólatras, prostitutas, etc, são perigosos.
*
*
*
Nina Rodrigues: debilidade da raça brasileira atribuída a miscigenação.
“pode-se exigir que todas estas raças distintas respondam por seus atos perante a lei com igual plenitude de responsabilidade penal? Porventura pode-se conceber que a consciência do direito e do dever que têm essas raças inferiores, seja a mesma que possui a raça branca civilizada? A escala vai aqui do produto inteiramente inaproveitável e degenerado, ao produto válido e capaz de superior manifestação da atividade mental”
Ao invés da prisão, o isolamento asilar para as raças – discurso psiquiátrico.
*
*
*
Proposição de um cadastro dos perigosos e troca de informações entre países do cone sul.
Tentativas incessantes de prevenir o crime:
“isso seria possível desde que se lograsse classificar biotipologicamente, desde a primeira infância, todos os indivíduos, especialmente aqueles que, pela sua constituição e tendência, pudessem ser considerados como pré-delinquentes”. 
Constituição de 1890 não considerava criminoso estes incapazes (affecção mental, menores de 9 anos e maiores de 9 anos e menores de 14 que não apresentasse discernimento), para os demais indicava-se não a prisão, mas recolhimento em estabelecimentos disciplinares industriais, para os reincidentes e capoeiras a internação em colônia penal.
*
*
*
Código de 1940: maior influência positiva: ações preventivas, destinadas à segregação, vigilância, reeducação e tratamento dos indivíduos perigosos, ainda que moralmente irresponsáveis – individualização das penas.
Julga-se o fato criminoso, suas circunstâncias objetivas, consequências, mas também “o delinquente”, sua “personalidade”, seus “antecedentes”, intencionalidade de dolo e grau de culpa.
Exame pericial: responsabilidade penal, cessação de periculosidade, exame criminológico.
1984: lei de Execuções Penais: penas alternativas, individualização do acompanhamento e das penas.
*
*
*
CTC (Comissão Técnica de Classificação): diretoria, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais: estudar e propor medidas que aprimorem a execução penal, elaborar o programa individualizador, apurar as infrações disciplinares e avaliar as condições dos presos com direito a livramento condicional ou progressão do regime.
Trabalho e estudo: desconto de um dia a cada três trabalhados.
Condições das prisões brasileira e de trabalho das equipes técnicas, mas, ainda assim:
*
*
*
 “a partir de 1984, com a consagração do princípio de individualização das penas, ampliam as oportunidades em que um condenado será tornado alvo de uma avaliação técnica, e crescem em importância os procedimentos que visam diagnosticar, analisar ou estudar a personalidade e a história de vidados condenados, com o objetivo de adequado tratamento penitenciário às características e necessidades de cada preso ou de prevenir futuros comportamentos delinquenciais” pg. 198-199. 
Busca por antecedentes na vida do sujeito que confirmem as ações e reifiquem as medidas.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando