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32 EMÍLIA VIOTTI DA COSTA dos de usarem o púlpito para propagarem as idéias de Pátria e Liberdade; de freqüentar lojas maçônicas; de aliciar os jovens em suas aulas; de colaborar ativamente com os grupos revolucio- nários; havendo mesmo alguns qualificados de “guerrilheiros”, capitães de guerrilha, como o famoso frei Joaquim do Amor Di- vino (mais conhecido por Frei Caneca), revolucionário de 1817, posteriormente envolvido na Confederação do Equador (1824). O fato de que, pelo Direito de Padroado que usufruía a Coroa portuguesa, os padres ficavam submetidos diretamente ao poder real explica em parte a hostilidade dos setores do clero em rela- ção à Monarquia e sua adesão aos movimentos revolucionários, bem como sua participação nos quadros da Maçonaria. Ilustrativos dessa adesão dos setores do clero às idéias revolucio- nárias são os cartazes que se afixavam nas esquinas por ocasião da Revolução de 1817, em que se liam: “Viva a Pátria”, “Viva Nossa Senhora”, “Viva a Santa Religião Católica”, “Morram os aristocráticos”. Natureza e limites do nacionalismo Assim como o liberalismo, o nacionalismo, freqüentemente associado na Europa aos movimentos liberais, não teria condi- ções de assumir seu significado pleno num país cuja economia baseava-se essencialmente na exportação, onde o mercado in- terno era extremamente limitado, as vias de comunicação es- cassas e, por isso mesmo, difíceis os contatos entre as várias regiões. Ainda às vésperas da Independência eram mais fortes os laços das várias províncias com a Europa do que entre si. Falta- vam as condições que na Europa levavam a uma maior integração nacional. Eis por que todos os movimentos revolucionários an- teriores à Independência sempre tiveram caráter local, irradian- do-se, quando muito, às regiões mais próximas, jamais assumindo um caráter mais amplo. Por ocasião da Inconfidência Mineira falava-se vagamente na possibilidade de Minas e de São Paulo aderirem ao movimento. A Conjura do Rio de Janeiro e, mais tarde, a Conjura Baiana não ultrapassaram os limites dos respec- tivos centros urbanos. Apenas a Revolução Pernambucana de 1817 conseguiu aglutinar maior número de províncias estenden- DA MONARQUIA À REPÚBLICA 33 do-se ao Ceará, ao Rio Grande do Norte e à Paraíba. Alguns anos mais tarde, em 1821, os deputados brasileiros às Cortes portuguesas fizeram questão de se apresentar como representan- tes das várias províncias.20 Explicam-se assim os receios de um dos principais líderes da Independência, José Bonifácio, de que, à semelhança do que sucedera em outras regiões da América, a colô- nia portuguesa viesse a se fragmentar em várias províncias. De fato, todos os planos recolonizadores apresentados em Portugal depois da proclamação da Independência tinham como ponto de partida a idéia de que era possível explorar a falta de unidade das várias áreas.21 A unidade territorial seria, no entanto, mantida depois da Indepen- dência, menos em virtude de um forte ideal nacionalista e mais pela necessidade de manter o território íntegro, a fim de assegurar a sobrevivência e a consolidação da Independência. O nacionalismo brasileiro manifestava-se sobretudo sob a forma de um antiportuguesismo generalizado. Apesar de elemen- tos de origem portuguesa participarem dos movimentos revolu- cionários, a maioria dos que aderiram a esses movimentos era de origem brasileira. Não raro as hostilidades contra Portugal to- maram o aspecto de uma luta racial entre os “mestiços” e os “branquinhos do reino”. Como dizia um dos inconfidentes de 1789: “estes branquinhos do Reino que nos querem tomar nossa terra cedo os haveremos de botar fora”.22 Numa Memória Histó- rica que relata os acontecimentos de 1817, o autor, observando o comportamento dos vários grupos sociais, afirmava: “esta ca- nalha que se compõe geralmente de mulatos, negros etc. entusias- mada da palavra liberdade que se espalhou no tempo da revolução não se mostra verdadeiramente realista ... é um ramo indisposto contra o trono”, necessitando de assídua vigilância. Quando em Portugal se divulgou a notícia da proclamação da Independên- cia, a opinião de alguns observadores chegados ao trono era de 20 Sérgio Buarque de Holanda, A herança colonial, sua desagregação. In: ________. (Org.) O Brasil monárquico. O processo de emancipação. His- tória geral da civilização brasileira, p.16. 21 Ver, por exemplo, parecer de Thomaz Antonio de Villanova Portugal publicado nos Documentos para a História da Independência. Lisboa; Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 1923, v.I, p.108, 113. 22 Autos da Devassa da Inconfidência v.107, p.181. 34 EMÍLIA VIOTTI DA COSTA que se tratava de uma revolta de negros e mulatos livres e escra- vos. Em 1823, por ocasião de motins ocorridos em Pernambuco, ouviram-se pelas ruas trovas assim: Marinheiros e caiados Todos devem se acabar Porque só pardos e pretos O país hão de habitar.23 Aos olhos da população nativa mestiça, a Independência significava sobretudo a possibilidade de eliminar as restrições que afastavam as pessoas de cor das posições superiores, dos cargos administrativos, do acesso à Universidade de Coimbra e ao clero superior. Abolir as diferenças de cor branca, preta e parda, ofere- cer iguais oportunidades a todos sem nenhuma restrição era o principal ideal das massas mestiças que viam nos movimentos revolucionários a oportunidade de viverem em “igualdade e abun- dância”. Para estas, a Independência configurava-se como uma luta contra os brancos e seus privilégios. Bases sociais da revolução Sob o rótulo das idéias liberais ocultavam-se aspirações dis- tintas, como distintos eram os grupos sociais que se associaram aos movimentos em prol da Independência. Embora as conspirações que antecederam a Independência tivessem envolvido principalmente representantes das camadas superiores da sociedade, elementos das populações urbanas mais desprivilegiadas aderiram com entusiasmo aos movimentos.24 23 José Honório Rodrigues, Conciliação e reforma no Brasil. Um desafio his- tórico cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, p.38 24 Ver Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: v.LXI, p.243, 251. Ao lado de bacharéis em Direito, médicos, professores, aparecem um sapa- teiro, um marceneiro, um entalhador, um ourives. A lista dos elementos populares é maior na conspiração de 1798. Consultar Autos da Devassa nos Anais do Arquivo Público da Bahia, v.XXXV e XXXVI, Imprensa Ofi- cial da Bahia, 1959 e 1961, respectivamente. Sobre aspirações populares na Revolução de 1817, ver Carlos Guilherme Mota, Nordeste, 1817. São Paulo: Perspectiva, 1972. Sobre participação da oligarquia rural na revo- lução de 1817; DH, CIII, p.91, DH, CVII, 8, 14, DH, CIX, 193. DA MONARQUIA À REPÚBLICA 35 Entre os inconfidentes, a maioria era composta de proprietários e altos funcionários. Havia, no entanto, entre eles, figuras de origem mais modesta como o alferes Tiradentes e alguns escra- vos e mulatos livres, ocupando funções de carreiros ou artesãos. Na Conjura Baiana o elemento popular envolvido foi mais nu- meroso do que nas prévias conspirações. Havia, na realidade, dois núcleos revolucionários distintos tanto na sua composição quanto nos seus propósitos. O primeiro, constituído por elemen- tos instruídos e de recursos, provavelmente ligados à loja maçô- nica “Os Cavaleiros da Luz”, à qual se filiavam figuras importantes da sociedade, instruídos em Rousseau e Voltaire e interessados em estabelecer uma República. O segundo grupo incluía escra- vos e pretos e pardos livres, recrutados entre as camadas mais humildes da população: alfaiates, sapateiros, pedreiros, cabelei- reiros, soldados, gravadores, carapinas, ambulantes. Viam na re- volução uma promessa de melhorar suas condições de vida, pelo estabelecimento de uma política de igualdade.25 Os revolucionários de 1817 pertenciam às melhores famílias da terra. No processo instaurado contra eles, alegaram em sua defesa que não podiam ter participado da conspiração pois des- frutavam a melhor situaçãoeconômica e social sendo “membros da primeira e maior nobreza de Pernambuco, educados na disci- plina das diferentes classes e ordens da sociedade’’.26 Embora seja exagero concluir, como o fez Antônio Luiz de Brito Aragão de Vasconcelos, encarregado da defesa dos réus de 1817, que os representantes das categorias mais elevadas tinham sido obriga- 25 Indagado sobre os propósitos da conspiração de 1798 na Bahia, o réu Manoel Faustino dos Santos Lira, homem pardo, forro, de ofício alfaiate, de idade de dezessete anos, filho de pai pardo livre e de mãe escrava, respondeu que era para “reduzir o continente do Brasil a um governo de igualdade entrando nele brancos, pardos e pretos, sem distinção de cores, somente de capacidade para mandar e governar” (Autos da Bahia, v.XXXV). Na denúncia que Joaquim José da Veiga faz de Fuão, homem pardo, com tenda de alfaiate, o dito Fuão é acusado de ter tentado aliciar o depoente com promessas de que todos viveriam em igualdade e abun- dância, ficariam ricos, tirados da miséria em que se achavam etc. (Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, v.XLV, 1922-1923). 26 Documentos Históricos. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v.CIII, p.91, DH, CVII, 8, 14. Carlos Guilherme Mota, Nordeste, 1817, p.201. (Ziraldo. 20 anos de prontidão. In: Renato Lemos. Uma história do Brasil através da caricatura, 2001. Adaptado.) A charge caracteriza o Ato Institucional n.º 5, de dezembro de 1968, como a) uma forma de estimular o aumento dos protestos da classe média contra o regime militar. b) uma medida dura, mas necessária para o restabelecimento da ordem e da tranquilidade no país. c) um instrumento de coersão, que limitava os direitos e a capacidade de defesa dos cidadãos. d) uma tentativa de frear o avanço dos militares, que haviam assumido o controle do governo federal. e) um esforço de democratização e reformas sociais, num momento de crise e instabilidade econômica. 89 - (UNIMONTES MG) Em 1979, tomou posse como presidente da República do Brasil o General João Batista de Oliveira Figueiredo. Esse governante deu prosseguimento ao caminho da abertura política iniciada pelo General Geisel, seu antecessor. É INCORRETO elencar, entre as ações executadas no processo de abertura em seu governo (1979-1985): a) A revogação do AI-2, ou seja, a extinção do bipartidarismo e o retorno do pluripartidarismo. b) A realização de eleições indiretas para o cargo de Presidente da República do Brasil. c) A realização de eleições para a formação da Assembleia Nacional Constituinte. d) A concessão da anistia ampla, geral e irrestrita aos políticos cassados, com base em Atos Institucionais. 90 - (Univag MT) Nos 50 anos do golpe militar, completados em abril de 2014, o debate sobre a ditadura brasileira foi intensificado pela publicação e relançamento de obras sobre o tema. Entre outras divergências, a duração da ditadura foi questionada por alguns autores. Para o historiador Marco Antonio Villa, por exemplo, ela teve início em dezembro de 1968 e se encerrou em 1979. Os fatos que podem confirmar esta posição do autor são a) as reformas de base e a elaboração de uma Constituição democrática. b) a luta armada e a posse do presidente civil José Sarney. c) o decreto do Ato Institucional número 5 e a aprovação da Lei da Anistia. d) o milagre econômico e o movimento Diretas Já. e) o bipartidarismo e as eleições para os governos estaduais. 91 - (PUC RJ) Após dez anos do Golpe de 1964, no Brasil, o regime militar iniciou um processo de distensão política. Este período de “abertura política” durou até 1985, quando o país voltou a ter um presidente civil. Sobre este período (1974-1985), é INCORRETO afirmar: a) que o governo Geisel (1974-1979) buscou manter altos índices de crescimento econômico através de investimentos estatais. b) que, durante o governo Figueiredo (1979-1985), foi concedida anistia política, permitindo a volta ao país de exilados que atuaram na reformulação partidária. c) que, ao longo do período, surgiram vários movimentos sociais reivindicatórios, vinculados aos operários, estudantes, trabalhadores rurais e classes médias urbanas. d) que alguns setores militares atuaram para desacreditar o projeto de distensão política; uma de suas principais expressões foi o atentado do Riocentro, em 1981. e) que, a despeito do projeto de liberalização política, este período representou o auge da repressão e da violação dos direitos humanos, sendo denominado de “anos de chumbo”. 92 - (ENEM) Diante dessas inconsistências e de outras que ainda preocupam a opinião pública, nós, jornalistas, estamos encaminhando este documento ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, para que o entregue à Justiça; e da Justiça esperamos a realização de novas diligências capazes de levar à completa elucidação desses fatos e de outros que porventura vierem a ser levantados. (Em nome da verdade. In: O Estado de S. Paulo, 3 fev. 1976. Aput, FILHO, I. A. Brasil, 500 anos em documentos. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.) A morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida durante o regime militar, em 1975, levou a medidas com o abaixo-assinado feito por profissionais da imprensa de São Paulo. A análise dessa medida tomada indica a a) certeza do cumprimento das leis. b) superação do governo de exceção. c) violência dos terroristas de esquerda. d) punição dos torturadores da polícia. e) expectativa da investigação dos culpados. 93 - (ENEM) PSD - PTB - UDN PSP - PDC - MTR PTN - PST - PSB PRP - PR - PL - PRT Finados FORTUNA. Correio da Manhã, ano 65. n. 22 264, 2 nov. 1965. A imagem foi publicada no jornal Correio da Manhã, no dia de Finados de 1965. Sua relação com os direitos políticos existentes no período revela a a) extinção dos partidos nanicos. b) retomada dos partidos estaduais. c) adoção do bipartidarismo regulado. d) superação do fisiologismo tradicional e) valorização da representação parlamentar. 94 - (UNIOESTE PR) Entre 1964 e 1985, o Brasil foi governado por militares. Acerca deste período da história brasileira, é correto afirmar que a) o regime militar caracterizou-se por restringir as liberdades políticas e de expressão e por atos de tortura contra seus opositores.