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DA MONARQUIA À REPÚBLICA 327 Custo da manutenção dos escravos O trabalho escravo, comparado ao livre, tornava-se cada vez mais improdutivo. Esse fato se evidenciava nas regiões em que, graças àquelas transformações, foi possível maior racionalização dos métodos de trabalho. Dentro das novas condições de produ- ção já não era necessário manter mobilizada todo o tempo a for- ça de trabalho. Convinha mesmo dispensá-la uma parte do ano, pois a manutenção do escravo era onerosa, chegava em certas regiões a dezoito e até vinte mil-réis mensais. Havia ainda a con- siderar o capital empatado e imobilizado que ele representava e que tendia a desaparecer com a morte do escravo. Os salários variavam entre 25$000 e 30$000, com comida. Os fazendeiros das áreas mais prósperas começavam a encarar o trabalho livre como mais vantajoso que o escravo e se empenhavam em pro- mover a imigração. No exterior as condições tornavam-se mais propícias à imi- gração para o Brasil. Os Estados Unidos, que durante o século XIX tinham absorvido quase toda corrente imigratória, começa- vam a dificultar a entrada de novos imigrantes. De outro modo, as transformações políticas ocorridas na Itália com a Unificação provocaram uma emigração em massa das populações rurais. Entre 1873 e 1887, mais de sessenta mil pequenas propriedades foram tomadas pelo fisco por falta de pagamentos de impostos, e, entre 1881 e 1901, o número de propriedades perdidas pelos “contadini” elevava-se a mais de duzentos mil. O pauperismo atingia as zonas rurais que se tornavam focos de imigração. O imigrante italiano adaptou-se melhor à lavoura do que os suíços e alemães. Fase da imigração subvencionada A administração da província de São Paulo, identificando-se como os interesses dos fazendeiros, procurou por todos os meios estimular a vinda dos imigrantes. Já em 1871, baixava uma lei autorizando o governo a emitir apólices até seiscentos contos para auxiliar o pagamento das passagens de imigrantes. Seria atribuída a cada pessoa a quantia de vinte mil-réis. Por contrato com o governo Imperial essa verba foi elevada a cem mil-réis. 328 EMÍLIA VIOTTI DA COSTA Inaugurava-se, assim, a fase da imigração subvencionada. Em 8 de agosto de 1871, constituía-se a Associação Auxiliadora da Colonização, congregando importantes fazendeiros e capitalis- tas de São Paulo. Em 1874, ela recebia cem contos como auxílio para o financiamento das passagens dos imigrantes. Na década de 1880, numerosos créditos foram concedidos pelo governo provincial para auxiliar a imigração. Com igual objetivo tomaram-se várias outras medidas. Entre 1881 e 1891, as despesas feitas pelo Tesouro do Estado com colonização e imigração montaram a 9.244:226$550. Os fazendeiros interes- sados na imigração encontravam meios de conduzir o Estado na direção de seus objetivos. Pressionavam a Assembléia Legislativa e o governo provincial. Inutilmente tentaram os setores mais rotineiros do Vale do Paraíba opor-se àquelas medidas que em- penhavam toda província numa iniciativa que beneficiava par- ticularmente a um grupo. Os fazendeiros do Oeste Paulista conseguiram impor sua vontade. Multiplicaram-se os organismos interessados na imigração. A ascensão à presidência da província de São Paulo do barão de Parnaíba, Antônio de Queirós Teles, um dos pioneiros da intro- dução de colonos nas fazendas, muito favoreceu o movimento. Em poucos anos entraram mais imigrantes na província de São Paulo do que nos últimos 25 anos. Entre 1871 e 1886, chegaram pouco mais de quarenta mil. Nos dois anos seguintes, entraram 122 mil. Foi, portanto, a partir de 1885-1886 que se incrementou a imigração. Até então o trabalho na maioria das fazendas de café conti- nuava a ser em grande parte executado pelo escravo. Calculava- se nessa época que havia em todo o país cerca de quatrocentos mil escravos dedicados à lavoura de café e oitocentos mil em- pregados em outras culturas e na criação. A participação do tra- balhador livre era ainda pequena. Apenas uma ou outra fazenda composta exclusivamente de colonos. A escravidão começou a ser vista como um dos entraves à promoção da desejada corrente imigratória. Em 1875, escrevia João Elisário de Carvalho Montenegro, proprietário das colônias Nova Louzã e Nova Colômbia – consideradas, na época, mode- lares – que enquanto existisse no Brasil “essa mancha negra cha- mada escravidão” não poderia haver imigração. Comentava que DA MONARQUIA À REPÚBLICA 329 os estrangeiros tinham certa repugnância e prevenção em traba- lhar lado a lado com escravos e afirmava que a permanência do sistema escravista dava azo para que na Europa se espalhasse uma série de idéias desmoralizadoras sobre o Brasil. Concluía afirmando que a falta de braços para a grande lavoura decorria em parte da permanência da escravidão.23 Muitos fazendeiros pensavam como ele e não só se desinte- ressaram da manutenção do sistema escravista, como se propu- seram a eliminá-lo. Posição dos fazendeiros diante do movimento abolicionista Os agentes do abolicionismo Em virtude das transformações no sistema de produção for- ma-se nas zonas rurais – tanto no Nordeste como no Sul – um grupo de fazendeiros desvinculado do sistema escravista, acessível ao abolicionismo e, em certos casos, diretamente interessado na extinção da escravatura. A adesão desse grupo às idéias de traba- lho livre possibilitou a vitória final do abolicionismo no Parla- mento e explica em grande parte o caráter relativamente prático do movimento. De maneira geral, entretanto, a Grande Lavoura tradicional – isto é, rotineira – resistiu ao abolicionismo, às vezes até mesmo de armas na mão. Alguns setores permaneciam até o fim contrários à Abolição, que implicava não só a modificação do sistema de trabalho como o abandono da visão senhorial do mun- do e a renúncia a uma série de valores com ela relacionados. Para muitos a abolição representaria a perda do status social. As idéias abolicionistas encontraram maior adesão nos nú- cleos urbanos, entre os grupos sociais menos vinculados à es- cravidão. Não havia no país, nessa época, uma linha divisória nítida entre burguesia e aristocracia rural. Muitos dos advogados, mé- 23 Colônia Nova Louzã e Nova Colômbia, relatório apresentado ao Presiden- te da Província de São Paulo, em 6 de fevereiro de 1875, por João Elisário de Carvalho Montenegro, São Paulo, 1875. 330 EMÍLIA VIOTTI DA COSTA dicos, engenheiros, professores, funcionários burocráticos provi- nham diretamente das camadas senhoriais. Quando não esta- vam ligados a ela por laços de família, seus interesses econômicos e financeiros giravam na sua órbita. Estavam, às vezes, compro- metidos com a visão senhorial do mundo. Não dependiam, en- tretanto, diretamente do trabalho escravo e, por isso, sentiam-se mais à vontade diante da propaganda abolicionista. Foram, em geral, favoráveis à abolição os representantes das classes urbanas, que começavam a ganhar importância em vir- tude das transformações econômicas que se processavam no país: o desenvolvimento das vias férreas, o aparecimento das primei- ras empresas industriais, companhias de seguro, organismos de crédito, incremento do comércio varejista. Igualmente favorá- veis à libertação dos escravos foram os grupos artesanais: traba- lhadores livres, nacionais ou estrangeiros, que encontravam novas oportunidades de emprego. Sua colaboração foi decisiva na ação revolucionária desencadeada na década de 1880. Os “caifazes” de Antônio Bento, que atuavam em São Paulo provocando a fuga de escravos das fazendas, preocupando proprietários, amea- çando feitores, surrando capitães-do-mato, recrutaram-se prin- cipalmente nessas categorias: advogados, jornalistas, tipógrafos, cocheiros, ferroviários, médicos e negociantes. Caráter urbano do movimento abolicionista O movimento abolicionista foi essencialmente urbano, mes- mo quando se estendeu às senzalas, levando a insurreição às massas escravas com o intuito de acelerar as reformas necessárias. A população rural permaneceu, em geral, indiferente à sortedos escravos. Nabuco verberava, em 1884, a atitude dessas classes que desconheciam seus próprios interesses: Não é conosco, os que levantarmos o grito de abolição que se unem as vítimas impassíveis do monopólio territorial, é com os ou- tros que levantam o grito da escravidão, da escravidão que as esma- ga, sem que elas o saibam, porque as comprime desde o berço.24 24 Joaquim Nabuco, Campanha Abolicionista de Recife. Rio de Janeiro, 1885. 165 - (UNIMONTES MG) O Partido Social Democrata (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), embora divergentes quanto às classes que os compunham e aos objetivos a alcançar, tinham em comum: a) A criação, sob orientação direta de Getúlio Vargas, no final do Estado Novo. b) A criação, durante os governos militares pós-1964, mediante decreto presidencial. c) A criação por integralistas e comunistas, após a queda do Estado Novo. d) A criação por sindicatos patronais e operários, após a campanha das Diretas Já. 166 - (ENEM) O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político. CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940 (adaptado). Segundo as ideias de Francisco Campos, a) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados. b) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório. c) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos. d) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal. e) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto. 167 - (ENEM) A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado Novo, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na legislação de proteção ao trabalho. GOMES, A. C. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ / Vértice. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988 (adaptado). Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos sociais foram conquistados por seu esforço, após anos de lutas sindicais. b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio de uma linguagem simples e de fácil entendimento. c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam um aprofundamento dos direitos trabalhistas. d) consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas. e) aumentar os grupos de discussão política dos trabalhadores, estimulados pelas palavras do ministro. 168 - (ENEM) João de Deus levanta-se indignado. Vai até a janela e fica olhando para fora. Ali na frente está a Panificadora italiana, de Gamba & Filho. Ontem era uma casinhola de porta e janela, com um letreiro torto e errado: “Padaria Nápole”. Hoje é uma fábrica... João de Deus olha e recorda... Quando Vittorio Gamba chegou da Itália com uma trouxa de roupa, a mulher e um filho pequeno, os Albuquerques eram donos de quase todas as casas do quarteirão. [...] O tempo passou. Os negócios pioraram. A herança não era o que se esperava. Com o correr dos anos os herdeiros foram hipotecando as casas. Venciam-se as hipotecas, não havia dinheiro para resgatá-las: as propriedades, então, iam passando para as mãos dos Gambas, que prosperavam. VERRÍSIMO, É. Musica ao longe. Porto Alegre: globo, 1974 (adaptado) O texto foi escrito no início da década de 1930 e revela, por meio das recordações do personagem, características sócio-históricas desse período, as quais remetem a) à ascensão de uma burguesia de origem italiana. b) ao início da imigração italiana e alemã, no Brasil, a partir da segunda metade do século. c) ao modo como os imigrantes italianos impuseram, no Brasil, seus costumes e hábitos. d) à luta dos imigrantes italianos pela posse da terra e pela busca de interação com o povo brasileiro. e) às condições socioeconômicas favoráveis encontradas pelos imigrantes italianos no início do século. 169 - (ENEM) A solução militar da crise política gerada pela sucessão do presidente Washington Luis em 1929- 1930 provoca profunda ruptura institucional no país. Deposto o presidente, o Governo Provisório (1930-1934) precisa administrar as diferenças entre as correntes políticas integrantes da composição vitoriosa, herdeira da Aliança Liberal. LEMOS, R. A revolução constitucionalista de 1932. SILVA, R. M.; CACHAPUZ, P. B.; LAMARÃO, S. (org). Getúlio Vargas e seu tempo. Rio de Janeiro: BNDES. No contexto histórico da crise da Primeira república, verifica-se uma divisão no movimento tenentista. A atuação dos integrantes do movimento liderados por Juarez Távora, os chamados “liberais” nos anos 1930, deve ser entendida como a) a aliança com os cafeicultores paulistas em defesa de novas eleições. b) o retorno aos quartéis diante da desilusão política com a “Revolução de 30”. c) o compromisso político-institucional com o governo provisório de Vargas. d) a adesão ao socialismo, reforçada pelo exemplo do ex-tenente Luís Carlos Prestes. e) o apoio ao governo provisório em defesa da descentralização do poder político. 170 - (ENEM) Os generais abaixo-assinados, de pleno acordo com o Ministro da Guerra, declaram-se dispostos a promover uma ação energética junto ao governo no sentido de contrapor medidas decisivas aos planos comunistas e seus pregadores e adeptos, independentemente da esfera social a que pertençam. Assim procedem no exclusivo propósito de salvarem o Brasil e suas instituições políticas e sociais da hecatombe que se mostra prestes a explodir. Ata de reunião no Ministério da Guerra, 28/09/1937. BONAVIDES, P.; AMARAL, R. Textos políticos da história do Brasil, v. 5. Brasília: Senado Federal, 2002 (adaptado). Levando em conta o contexto político-institucional dos anos 1930 no Brasil, pode-se considerar o texto como uma tentativa de justificar a ação militar que iria a) debelar a chamada Intentona Comunista, acabando com a possibilidade da tomada do poder pelo PCB. b) reprimir a Aliança Nacional Libertadora, fechando todos os seus núcleos e prendendo os seus líderes. c) desafiar a Ação Integralista Brasileira, afastando o perigo de uma guinada autoritária para o fascismo. d) instituir a ditadura do Estado Novo, cancelando as eleições de 1938 e reescrevendo a Constituição do país. e) combater a Revolução Constitucionalista, evitando que os fazendeiros paulistas retomassem o poder perdido em 1930. 171 - (ENEM) De março de 1931 a fevereiro de 1940, foram decretadas mais de 150 leis novas de proteção social e de regulamentação do trabalho em todos os seus setores. Todas elas têm sido simplesmente uma dádiva do governo. Desde aí, o trabalhador brasileiro encontra nos quadros gerais do regime o seu verdadeiro lugar. DANTAS, M. A força nacionalizadora do Estado Novo. Rio