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CNU
Concurso Nacional Unificado
Bloco 8 - Nível Intermediário
Realidade Brasileira
PIRATARIA 
É CRIME!
Todos os direitos autorais deste material são reservados e 
protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial 
ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por 
escrito da Nova Concursos.
Pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal, 
com pena de até quatro anos de prisão, além do pagamento 
de multa. Já para aquele que compra o produto pirateado 
sabendo desta qualidade, pratica o delito de receptação, punido 
com pena de até um ano de prisão, além de multa (art. 180 do CP).
Não seja prejudicado com essa prática. 
Denuncie aqui: sac@novaconcursos.com.br
SUMÁRIO
REALIDADE BRASILEIRA ...................................................................................................6
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO .................................................................................... 6
DA INDEPENDÊNCIA À REPÚBLICA ..................................................................................................................6
PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A POLÍTICA DA ECONOMIA CAFEEIRA ....................................12
O ESTADO GETULISTA .....................................................................................................................................13
DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX .............................16
A Redemocratização e a Busca Pela Estabilidade Econômica .................................................................... 20
HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: LUTA ANTIRRACISTA, CONQUISTAS LEGAIS 
E DESAFIOS ATUAIS .......................................................................................................................... 27
HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA POR DIREITOS E 
DESAFIOS ATUAIS ............................................................................................................................. 30
DINÂMICA SOCIAL NO BRASIL: ESTRATIFICAÇÃO, DESIGUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL .... 33
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, MOVIMENTOS SOCIAIS E GARANTIA DE DIRETOS DAS 
MINORIAS ........................................................................................................................................... 34
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CONCENTRAÇÃO DA RENDA E RIQUEZA ........................... 45
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE .............................................................. 47
BIOMAS BRASILEIROS: USO RACIONAL, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO ............................. 48
MATRIZ ENERGÉTICA........................................................................................................................ 49
FONTES RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS ...................................................................................................49
MUDANÇA CLIMÁTICA ....................................................................................................................................50
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA ...............................................................................................................................58
POPULAÇÃO: ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E DINÂMICA .............................................................. 61
DESENVOLVIMENTO URBANO BRASILEIRO: REDES URBANAS ................................................... 67
METROPOLIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA URBANA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL ...............................68
CRESCIMENTO DAS CIDADES E PROBLEMAS URBANOS .............................................................................69
DESENVOLVIMENTO RURAL BRASILEIRO: ESTRUTURA E CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA - 
RELAÇÃO DE TRABALHO NO CAMPO ............................................................................................. 73
SISTEMAS PRODUTIVOS .................................................................................................................. 74
A INSERÇÃO DO BRASIL NO SISTEMA INTERNACIONAL ............................................................. 79
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A AFIRMAÇÃO DA 
CIDADANIA ......................................................................................................................................... 81
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REALIDADE BRASILEIRA
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
DA INDEPENDÊNCIA À REPÚBLICA
Período Joanino
Quando a corte portuguesa embarcou, fugindo estrategicamente de Lisboa em novembro de 
1807, o fez porque tinha consciência dos acontecimentos recentes na Europa, em um momento 
em que o expansionismo de Napoleão Bonaparte parecia irrefreável.
Uma experiência ainda mais próxima de Portugal acendeu para a monarquia o sinal ver-
melho e mostrou que os prognósticos eram corretos: o rei espanhol, Fernando VII, foi deposto 
do trono por Napoleão, em maio de 1808.
A fuga da corte portuguesa foi um sucesso em curto prazo; contudo, a longo prazo oca-
sionou uma quebra de legitimidade do Império português em um momento em que os ares 
eram revolucionários.
A presença da corte no Brasil causava incômodo em algumas parcelas da população; o 
exemplo mais evidente desse desconforto foi a Revolução Pernambucana, que estourou 
na província de Pernambuco, em 1817. Antes da chegada da corte, em 1808, essa província 
ligava seu comércio diretamente a Portugal, posto que as dificuldades logísticas – como rotas 
terrestres ou fluviais – impediam o estabelecimento de relações com o Rio de Janeiro. Soma-
va-se ao fim desses benefícios concedidos ao comércio pernambucano um período de graves 
secas e crises de abastecimento.
O movimento revolucionário pautava a necessidade de se combater a crise e recuperar os 
benefícios comerciais, assim como a possibilidade de se romper com a monarquia. Em partes, 
e por um curto período, os revoltosos – homens livres, escravizados, ricos e pobres – saíram 
vitoriosos, uma vez que conseguiram destituir o governo de Pernambuco e instalar brevemente 
uma república; entretanto, foram violentamente reprimidos com prisões e condenações em pra-
ça pública.
Na Europa, cessada a agitação política entre portugueses e franceses, a soberania lusa 
conseguiu, enfim, gozar de certa estabilidade, e um forte movimento de pressões pôde ecoar 
a fim de que D. João retornasse a Portugal. A relutância do rei em retornar causava indigna-
ção na população lusa, em um momento no qual a metrópole passava por uma grave crise de 
produção agrícola e de desvalorização do papel moeda.
Essa agitação culminou na chamada Revolução Liberal do Porto, também conhecida como 
Regeneração de 1820. O prolongamento da ausência régia na metrópole evidenciou que o “exer-
cício da exclusiva vontade do rei” não era mais cabível. Assim, profissionais liberais, advogados, 
médicos e comerciantes reuniram-se na cidade do Porto a fim de redigirem uma Constituição 
que, embora conservadora, propunha a limitação do poder do monarca e sua submissão à carta 
constitucional.
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A Regeneração também inovava ao propor a transferência da soberania – antes circuns-
crita ao rei – às chamadas Cortes. As pressões exercidas pelas Cortes constituídas fizeram 
com que D. João retornasse com sua família a Portugal, em abril de 1821, deixando, entretan-
to, seu filho D. Pedro de Alcântara no Brasil.
A promulgação da Constituição proposta pela Assembleia Constituinte de 1820 teria vali-
dade para todos os portugueses, o que incluía os habitantes das colônias portuguesas, inclu-
sive na América. Algumas medidas, no entanto, causaram profundo desconforto nos grandes 
comerciantes do Brasil que já estavam acomodados sob os privilégios concedidos pela pre-
sença da corte na colônia.
A presença da corte no Brasil (1808-1820) foi moldando as consciências dos colonos a respeito 
da possibilidade de se constituir um governo realque permanecesse no Brasil. Assim, a ideia de 
independência começa a ganhar força por volta de 1821, como uma reação à Regeneração de 
1820, uma vez que esta era entendida como uma revolução contrária ao Brasil.
Com o conflito de interesses latente, os colonos que ganharam com a presença da corte 
reivindicavam um governo no Brasil; a percepção da necessidade de um Estado Nacional 
brasileiro evoluiu, o que foi a grande novidade revolucionária. Foi nessa configuração que 
entrou a figura do príncipe regente, futuro D. Pedro I.
Outra determinação polêmica das Cortes era que as províncias do Brasil se transformas-
sem em províncias portuguesas, o que gerou, segundo comenta D. Pedro em carta a seu pai, 
“um choque mui grande nos brasileiros”. O que o príncipe regente precisava fazer era equi-
librar-se em um cenário instável, no qual havia a necessidade de se cumprir os decretos das 
Cortes ao mesmo tempo em que era necessário corresponder os interesses do povo do terri-
tório no qual ele se encontrava.
Enquanto as Cortes foram convocadas com a finalidade de reorganizar o Império Portu-
guês dentro da dinâmica colonial, os colonos agrupavam-se cada vez mais em torno da ideia 
de separação.
Já em 1822, o príncipe regente também recebia pressões a fim de que retornasse a Portu-
gal, o que gerou um episódio bastante curioso no dia 9 de janeiro de 1822, o “Dia do Fico”. 
Naquele dia, D. Pedro recebeu um requerimento que continha 8 mil assinaturas solicitando-o 
que ficasse no Brasil. Não se sabe quais foram as verdadeiras palavras proferidas pelo jovem 
príncipe regente; contudo, consagrou-se na memória social a perspectiva de que ele ficaria a 
fim de preservar os interesses da população brasileira.
Um governo foi organizado por D. Pedro logo após esse evento, tendo figuras proeminentes, 
como José Bonifácio de Andrada e Silva, um moderado que fazia campanhas por maior auto-
nomia da colônia, mas não reivindicava uma separação radical. Foram convocados represen-
tantes de todas as províncias e, mais tarde, uma assembleia legislativa e constituinte.
Já a politização da sociedade colonial, com a chegada da corte em 1808, deu-se em conteú-
dos bastante inovadores. Aspectos da ainda recente Revolução Francesa (1779) estavam em alta, 
sobretudo na crítica ao modelo estamental de sociedade, procurando novas formas organização 
da sociedade, e também na crítica aos privilégios da nobreza e dos corpos sociais mais altos.
Depois da revolução de independência do Haiti (1804), esses conteúdos se tornaram ines-
capáveis. Era preciso apropriar-se de alguns elementos e fazer uma revolução menos radical 
que a francesa e bem menos radical que a de São Domingos, que fora liderada por escravos 
que, em alguns dias, dizimaram os senhores de engenho e suas famílias para formar um 
governo antiescravista, consolidado em 1804.
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Esse movimento era muito temido na perspectiva das elites coloniais brasileiras. A escra-
vidão foi um elemento importante: a dimensão do escravismo na América Portuguesa era 
tão grande que foi capaz de influenciar todos os outros aspectos da vida social, como valores, 
formas de pensar, comportamento e práticas políticas.
A independência, nesse sentido, mudou a forma de compreender a sociedade: não era 
mais uma sociedade estamental legitimada por Deus, embora o rico ainda fosse rico, mas 
agora havia um parlamento; assim, a escravidão tornou-se uma escravidão nacional, e não 
mais portuguesa.
A chegada da corte também dinamizou fluxos econômicos internos, graças à necessidade 
de abastecimento. Em verdade, essa dinâmica e a diversificação da produção era anterior à 
chegada da corte, mas se intensificou a partir de 1808. O Rio de Janeiro foi um epicentro que 
conectou São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande de São Pedro (atualmente Rio Grande do Sul), 
tanto é que essas foram as primeiras regiões a encamparem o projeto de independência cen-
trada na figura de Pedro I, justamente por esses auspícios econômicos, mas também políticos.
Independência ou morte, Pedro Américo.
Fonte: Wikimedia Commons.
Durante 1822, houve diversos movimentos de oposição a Portugal, principalmente no Grão-
-Pará e na Bahia. Entre diversas tendências, venceu aquela que defendeu a construção de um 
Estado independente que mantivesse a escravidão e o poder das elites econômicas.
Assim, a liderança de D. Pedro em 7 de setembro de 1822 era a garantia mais próxima da 
unidade em uma imensa porção de terra marcada por regionalismos e profundas diferenças 
sociais, pois as elites temiam que uma agitação social incluísse pobres e escravizados (que 
somavam 80% da população).
Primeiro Reinado
Entre 1822 e 1831, tem-se a primeira fase administrativa do Império, conhecida como Pri-
meiro Reinado. A Assembleia Constituinte eleita em 1823 desejava a limitação dos poderes 
de D. Pedro I.
Durante a “Noite da Agonia”, o imperador cassou os deputados opositores, impugnou as 
proposições constitucionais e outorgou a Primeira Constituição Brasileira, em 1824. Ela estabe-
lecia, entre outras coisas:
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 z Existência do poder moderador, que poderia suspender os poderes legislativo, executivo e 
judiciário;
 z Poder hereditário;
 z Voto censitário, calculado pela renda.
Em reação ao autoritarismo, eclodiu, em Pernambuco, a Confederação do Equador, que exi-
gia uma república liberal, a abolição da escravidão e a ampliação dos direitos sociais. Esse 
movimento teve como principal líder Frei Caneca, mas acabou sendo reprimida.
O fuzilamento de Frei Caneca.
Fonte: Meio Norte.
Entre 1825 e 1828, ocorreu a Guerra da Cisplatina entre o Império do Brasil e as Provín-
cias Unidas do Rio da Prata. Após um desgastante e custoso conflito (o Banco do Brasil chegou 
a falir), a independência do Uruguai foi reconhecida.
A instabilidade política também podia ser verificada em episódios como a Noite das Gar-
rafadas, demonstrando a grande divergência entre brasileiros e portugueses. Juntava-se a 
isso a crise econômica e a disputa pela sucessão do trono em Portugal, levando D. Pedro I à 
abdicação do trono em 7 de abril de 1831.
Período Regencial
Segundo a Constituição de 1824, a abdicação de D. Pedro I levaria ao trono seu filho D. Pedro 
II. No entanto, ele tinha apenas cinco anos de idade naquela ocasião. Então, o Parlamento buscou 
uma alternativa: a regência.
O período regencial durou de 1831 até 1840 e foi marcado por grandes conflitos regionais. 
Os grupos políticos dividiam-se em:
 z Restauradores: Defendiam o retorno de D. Pedro I e, posteriormente, a coroação de D. 
Pedro II;
 z Liberais moderados: Exigiam poderes monárquicos com restrições;
 z Liberais exaltados: Favoráveis ao federalismo, com maior autonomia das províncias.
Durante o período, foram criados: o Código de Processo Criminal, a Guarda Nacional, o Ato 
Adicional (dando poder às assembleias regionais) e a Lei Feijó (que abolia o tráfico no papel, 
mas fazia “vista grossa” para que ele ainda existisse na prática).
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A instabilidade política acentuou-se com a eclosão de diversos movimentos separatistas 
nas províncias do país. Entre eles, destacam-se:
 z Cabanada (1832-34, Pernambuco): Lutou pela restauração da monarquia sob comando de 
D. Pedro I e pelo fim da escravidão;
 z Cabanagem (1835-40, Grão-Pará): Exigiu melhores condições de vida para a população da 
região. Vitimou cerca de 30 mil pessoas;
 z Revolução Farroupilha (1835-45, Rio Grande do Sul): Pregou a independência do estado 
e o desejo de melhores condições para os criadores de gado;
 z Sabinada (1837-38, Bahia): Lutou pela independência da Bahia e pelo fim da escravidão;
 z Balaiada (1838-41, Maranhão): Colocou-se contra a desigualdade social e contra as injus-
tiças cometidas pelas elites.
Preocupando-se em garantir a unidade do território, liberais e conservadores (antigos res-
tauradores)fizeram uma manobra constitucional e aclamaram D. Pedro II por meio do golpe 
da maioridade (1840).
Segundo Reinado (1840-1889)
D. Pedro II em 1876.
Fonte: Wikimedia Commons.
Com o golpe da maioridade, teve início o período conhecido como Segundo Reinado, que 
se estendeu até 1889. Por meio de uma manobra conhecida como “parlamentarismo às aves-
sas”, D. Pedro II exercia poder sobre a Chefia de Gabinete e sobre o Parlamento.
Embora o legislativo fosse dividido entre o Partido Conservador (saquaremas) e o Partido 
Liberal (luzias), ambos tinham posições semelhantes, como a manutenção da escravidão e a 
centralização de poder pelo imperador.
O Segundo Reinado foi marcado também por uma fase de desenvolvimento econômico. O 
sucesso do ciclo do café (1830-1950) foi possível pelo fortalecimento da Inglaterra e dos Estados 
Unidos como mercados consumidores, além de algumas condições internas:
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 z Abertura de caminhos que ligavam o litoral ao interior passando pelo Vale do Paraíba;
 z Disponibilidade de terras herdadas da política de vigilância na época do ouro;
 z Sistema de transporte modernizado com a instalação das ferrovias a partir de 1860.
O Império começou a sofrer com a legislação internacional inglesa para a proibição do trá-
fico, o que o levou a aprovar duas medidas: a Lei Eusébio de Queirós (que extinguia o tráfico 
atlântico de escravos) e a Lei de Terras (que postulava que a terra só poderia ser adquirida 
por meio de compra, excluindo futuros escravizados libertos e os imigrantes europeus que 
começaram a vir para o país).
Em 1864, teve início a Guerra do Paraguai, iniciada a partir da intervenção brasileira 
sobre os governos do Uruguai e da Argentina, o que foi contra os interesses paraguaios na 
Bacia Platina. Em resposta, os paraguaios invadiram o atual Mato Grosso do Sul.
A guerra opôs os paraguaios, liderados pelo ditador Solano Lopez, à Tríplice Aliança, formada 
por Brasil, Argentina e Uruguai. No entanto, o Brasil acabou indo bem mais além que os outros 
dois países, arrastando a guerra até o assassinato de Lopez em 1870. Mesmo vitorioso, o Brasil 
passou a enfrentar um processo de crise.
Representação feita, em 1882, por Victor Meirelles sobre a Batalha do Riachuelo travada durante a Guerra do 
Paraguai.
Fonte: Wikimedia Commons.
Crise da Monarquia e Proclamação da República
O conflito levou ao surgimento da Questão Militar, envolvendo os direitos sociais e políticos 
dos militares. Com o surgimento do Partido Republicano, em 1873, uma ala mais radical do Par-
tido Liberal passou a contestar a centralização monárquica. O movimento abolicionista ganha-
va cada vez maior repercussão em busca da aprovação de leis que dessem fim à escravidão.
Ademais, houve uma quebra no elo com os conservadores, quando o Império passou a 
recusar as intervenções do Vaticano sobre a Igreja no Brasil, episódio conhecido como Ques-
tão Religiosa.
O rompimento definitivo viria com o fim da escravidão. A partir da Lei do Ventre Livre, 
em 1871, e da Lei dos Sexagenários, em 1883, a abolição pareceu inevitável. No entanto, os 
escravocratas radicalizaram sua oposição aos abolicionistas a partir de 1885, proibindo seus 
eventos e organizando ataques.
Diante da iminência de uma guerra civil, o Império decidiu mediar o fim da escravidão com 
a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o que fez com que perdesse o apoio dos cafeicultores do 
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Vale do Paraíba, que ficaram conhecidos como “republicanos de última hora”. Por fim, um 
golpe militar com o apoio de setores civis realizou a Proclamação da República, em 1889.
PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A POLÍTICA DA ECONOMIA CAFEEIRA
Com a Revolução Industrial, a Inglaterra tornou-se uma importante consumidora de café, que 
era utilizado como estimulante para os seus trabalhadores. Até o século XVIII, a principal produto-
ra da bebida era a colônia francesa de São Domingo. Com o processo revolucionário que culminou 
na independência do Haiti, em 1804, e a consequente retirada do principal produtor, houve um 
impacto nas demais zonas produtoras mundiais. O deslanche cafeeiro, no Brasil, a partir do final 
da década de 1820, aconteceu por alguns legados da economia aurífera. Dentre estes, destacam-se:
 z um volumoso tráfico negreiro transatlântico entre os portos da África Central e o Rio de 
Janeiro (controlado pelos negociantes);
 z a abertura de vias que cruzavam o Vale do Paraíba;
 z a grande disponibilidade de terras virgens, derivada da “política das zonas proibidas” 
(ordenação que buscava evitar o extravio de ouro ao impossibilitar a abertura de novos 
caminhos ou o povoamento em áreas onde inexistissem registros, passagens e vigilância);
 z sistema de transporte baseado em tropas de mulas (eficiente para a topografia acidentada do 
Centro-Sul).
Com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808, houve um crescimento vertiginoso da 
produção de café, chegando a 67 mil toneladas em 1833, o que representava o valor total da 
produção mundial nas portas da Revolução Haitiana em 1790. 
A produção do Vale do Paraíba dominou o mercado mundial do café, com larga vantagem, 
até a década de 1870, quando foi superado pelo Oeste Paulista e pela Zona da Mata Mineira.
O crescimento cafeeiro dependeu de acordos políticos internos que dessem segurança ao 
elo entre cafeicultura e tráfico negreiro: mesmo com a aprovação da Lei Feijó (7 de novembro 
de 1831) e com a proibição do tráfico (imposta pela pressão inglesa), a coalizão entre conser-
vadores (saquaremas), liberais moderados (luzias) e fazendeiros do Vale do Paraíba levou à 
revogação prática (não formal) da legislação, o que a fez entrar para a história como a “Lei 
para inglês ver”. Após uma queda, entre 1831 e 1835, o tráfico foi praticado, sistematicamen-
te, até 1850, ano em que a Lei Eusébio de Queirós foi criada. Mesmo assim, a legislação não 
impediu o crescimento do tráfico interno para abastecer as lavouras de café do sudeste.
O plantio realizado em modo vertical objetivava o aumento da exploração de trabalho 
escravo, pois contava, em média, com 6 mil pés por escravo (em Cuba, a média era de 2 mil 
pés por escravo). Os escravos eram organizados em ternos (turmas) e alocados em fileiras de 
arbustos sob o comando de um capataz. 
A partir da década de 1850, a elasticidade da produção brasileira ganhou um aliado fun-
damental: a ferrovia. Com empréstimos ingleses, investimentos de grandes cafeicultores e de 
empresários, à exemplo do Barão de Mauá, várias foram as ferrovias surgidas com a intenção 
de ligar os portos do Rio de Janeiro às regiões produtoras, como o Vale do Paraíba, o Oeste 
Paulista, a Zona da Mata Mineira e o Sul de Minas.
A imagem abaixo retrata a colheita de café no início do século XX no interior paulista.
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Fonte: E. M. Newman/Wikimedia Commons.
Na década de 1870, durante os períodos da “expansão para o Oeste” e da “reconstrução”, 
os Estados Unidos tiveram importante papel enquanto consumidores de café, facilitados por 
meio de tarifas de importação mais baixas e barateamento nos custos do produto, de modo 
semelhante ao que ocorreu nos países do norte da Europa em processo de industrialização, 
urbanização e aumento demográfico. Interessa destacar, ainda, a passagem do café de um 
mercado restrito e de luxo, no século XVIII, para um mercado de massa industrial, no século 
XIX.
A consequência do modo de exploração vertical, que priorizava a exploração do trabalho, 
levou ao esgotamento dos solos e ao envelhecimento rápido dos pés, exigindo constantes uti-
lizações de mata virgem. Nesse processo, o Oeste Paulista, a Zona da Mata Mineira e o Sul de 
Minas ofereciam solos melhores, modo de plantio menos destrutivo (plantação em curva de 
nível) e novas formas de empreendimento (por meio do trabalho assalariadode imigrantes). 
Com isso, o ciclo do café teve um novo impulso e declinou apenas na década de 1920 com a 
crise de superprodução e queda vertiginosa nos preços mundiais do café.
O ESTADO GETULISTA
Washington Luís foi presidente do Brasil até outubro de 1930. Durante seu mandato, ocorreu 
uma série de eventos que levaram a uma transição política tumultuada. Em comparação a seu 
antecessor, Arthur Bernardes, o governo de Washington Luís foi relativamente tranquilo. No 
entanto, ninguém poderia prever os conflitos que surgiriam durante a transição de poder. Os 
problemas começaram quando Washington Luís insistiu em apoiar o candidato paulista, Júlio 
Prestes, como seu possível sucessor (Fausto, B., 2019; Pandolfi, 2010).
Nas eleições anteriores, os mineiros haviam aceitado que Washington Luís, representante 
dos interesses paulistas, fosse o candidato em 1926. Para equilibrar a chapa, o mineiro Fer-
nando de Melo Viana foi escolhido como vice-presidente. No entanto, os mineiros não esta-
vam dispostos a permitir que um representante dos interesses paulistas assumisse o poder 
novamente.
Em busca de apoio, os mineiros uniram-se aos gaúchos, que até então mantinham uma 
boa relação com o governo federal. Para garantir a participação dos gaúchos na disputa, os 
mineiros concordaram em permitir a candidatura de oposição de Getúlio Vargas, com João 
Pessoa como vice (Schwarcz; Starling, 2018; Fausto, B., 2019).
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No dia 1º de março de 1930, um sábado de Carnaval, os brasileiros que sabiam ler e escrever 
saíram de casa para eleger o próximo presidente da República — e escolher uma nova banca-
da de deputados federais. Essa seria a 12ª eleição presidencial da República brasileira. O 
pequeno número de eleitores — votava o brasileiro adulto, do sexo masculino e alfabetizado, 
correspondente a 5,6% da população [...]. (Schwarcz; Starling, 2018, p. 351)
Após a apuração das eleições, Júlio Prestes foi declarado vencedor em 1º de maio de 1930. 
Para Getúlio Vargas, não restava outra opção senão aceitar a derrota e reassumir o governo 
do Rio Grande do Sul.
No entanto, nem todos compartilhavam desse pensamento. Surgiu um movimento, conhe-
cido como “tenentes civis”, que defendia uma resposta armada. Embora o movimento tenha 
recebido muitas adesões, inicialmente não possuía grande força. Entretanto, em 26 de julho, 
João Pessoa, vice na chapa de Vargas, foi assassinado por João Dantas, um adversário político.
Esse evento se tornou um marco, sendo o estopim para a revolução que se iniciou em 3 de 
outubro de 1930 em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. O presidente eleito, Júlio Prestes, 
foi deposto, e uma junta provisória foi estabelecida. Porém, a junta não conseguiu resistir 
às pressões. Getúlio Vargas dirigiu-se a São Paulo e depois ao Rio de Janeiro, acompanhado 
por 3 mil soldados. Em 3 de novembro de 1930, ele assumiu a presidência do país. Com isso, 
terminava a Primeira República brasileira (Schwarcz; Starling, 2018; Fausto, B., 2019).
Após conquistar o poder, Getúlio Vargas decidiu manter-se no cargo, e não foram reali-
zadas novas eleições; ele permaneceu como presidente do país por 15 anos. Durante esse 
período, ele implementou diversas medidas que tiveram impacto significativo, como afirma 
Boris Fausto (2019):
 z Centralização: pouco tempo após assumir o Executivo, Vargas dissolveu o Congresso e 
assumiu também o Legislativo. Ele demitiu todos os governadores eleitos, com exceção do 
de Minas Gerais, e nomeou interventores federais em seus lugares. Em 1931, foi criado o 
Código dos Interventores, que estabelecia as normas de subordinação ao governo federal. 
Essa centralização não se limitou apenas à esfera política, mas também se estendeu à eco-
nomia, com o controle da Política do Café sendo assumido por Vargas;
 z Educação: os líderes políticos vitoriosos em 1930 tinham preocupação em formar uma 
elite intelectual mais bem preparada. Neste sentido, um marco importante foi a criação 
do Ministério da Educação e Saúde. Como ditador, Vargas também teve influência na área 
educacional;
 z Tenentismo: os “tenentes”, que apoiavam Vargas, passaram a fazer parte de seu governo, 
defendendo a continuidade de sua ditadura. Eles foram utilizados para combater as oli-
garquias estaduais.
No ano de 1932, as lideranças políticas começaram a suspeitar de que Vargas tinha a inten-
ção de prolongar o seu governo provisório, o que levou à mobilização para exigir eleições 
imediatas. Os paulistas estavam cada vez mais insatisfeitos com o governo de Vargas, que 
havia retirado deles o controle sobre a produção de café e também a autonomia do Estado, 
ao nomear interventores.
As tensões intensificaram-se quando Vargas indicou um nordestino como interventor em 
São Paulo, pois havia um grande preconceito contra a população nordestina na época. Em 
1932, os paulistas passaram a exigir a convocação imediata de uma Assembleia Nacional 
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Constituinte. Além disso, havia um sentimento evidente de que São Paulo estava “carregando 
o peso” do restante do Brasil, e alguns chegaram a pregar o separatismo caso suas demandas 
não fossem atendidas (Schwarcz; Starling, 2018).
No dia 9 de julho de 1932, estourou em São Paulo a revolução contra o governo federal. 
Os paulistas esperavam contar com o apoio dos mineiros e rio-grandenses, porém esse apoio 
não veio. Na verdade, o interventor do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, apoiou Vargas 
e enviou tropas para combater os paulistas. São Paulo viu-se sozinho em meio ao conflito 
com o governo federal, contando apenas com a Força Pública e a mobilização popular. O 
plano dos paulistas era atacar a capital da República e colocar o governo “contra a parede”, 
buscando negociar ou forçar uma capitulação. No entanto, eles falharam em seu plano, 
uma vez que o governo federal possuía uma enorme superioridade militar (Fausto, B., 2019).
Em 1º de outubro de 1932, São Paulo assinou a rendição. Num gesto característico, Vargas 
primeiro acertou as contas: prendeu os rebeldes, expulsou os oficiais do exército, cassou os 
direitos civis dos principais implicados no levante, despachou para o exílio as lideranças polí-
ticas e militares do estado, mandou reorganizar a Força Pública e reduzi-la ao status de órgão 
policial. A elite paulista estava derrotada. (Schwarcz; Starling, 2018)
O ano de 1934 foi marcado pela promulgação da Constituição em 14 de julho, que colocava 
fim no Governo Provisório de Vargas.
Importante!
Essa nova constituição estabelecia o sistema de República Federativa no Brasil.
No dia seguinte, em 15 de julho de 1934, Getúlio Vargas foi eleito pelo voto indireto da 
Assembleia Nacional Constituinte como presidente. Seu mandato estava previsto para termi-
nar em 3 de maio de 1938.
Segundo a nova Constituição, a partir do fim do mandato do presidente Vargas, as eleições 
para a presidência da República deveriam ser diretas, ou seja, o povo teria o direito de esco-
lher diretamente o próximo presidente. Mas o golpe no Novo Estado frustrou as expectativas 
democráticas (Fausto, B., 2019; Vianna, 2010).
No dia 10 de novembro de 1937, tropas da polícia militar cercaram o Congresso e impediram 
a entrada dos congressistas. O ministro da Guerra — general Dutra — se opusera a que a 
operação fosse realizada por forças do exército. À noite, Getúlio anunciou uma nova fase da 
política e a entrada em vigor de uma Carta constitucional elaborada por Francisco Campos. 
Era o início do Estado Novo. (Fausto, B., 2019, p. 311)
Vargas foi o único civil a comandar uma ditadura no Brasil. Esse regime, que tocava 
as orlas do fascismo europeu1, teve como base a leitura de alguns pensadores conservadores, 
como Alberto Torres, que defendia a ideia de que era responsabilidade do Estado organizar a 
sociedade, realizar mudanças no país e dar um propósito à nação (Schwarcz; Starling, 2018). 
Uma das sugestões apresentadasconsistia na implementação de controle social por meio da 
1 Apesar disso, não deve ser considerado um regime fascista.
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presença de um Estado poderoso liderado por um indivíduo carismático, com a habilidade 
de guiar as massas em direção à estabilidade (Capelato, 2010).
Durante o período do Estado Novo de Vargas, que ocorreu entre 1937 e 1945, houve uma 
forte presença de autoritarismo, centralização de poder, restrição das liberdades civis e polí-
ticas, censura à imprensa e perseguição política.
Vargas também implementou princípios trabalhistas, com políticas voltadas para os direi-
tos dos trabalhadores. Um exemplo disso foi a criação da Consolidação das Leis do Trabalho, 
em 1943, que estabeleceu direitos e garantias para os empregados, refletindo sua tentativa de 
conciliar o controle estatal com uma abordagem favorável aos interesses trabalhistas. Além 
disso, Vargas impulsionou a industrialização e exerceu controle sobre a economia, buscando 
consolidar um Estado forte com base em sua liderança carismática.
Após enfrentar intensa pressão, em 28 de fevereiro Getúlio Vargas anunciou que eleições 
seriam realizadas em um prazo de 90 dias. Em 2 de dezembro de 1945, ocorreriam as eleições 
para a presidência da República, e em 6 de maio de 1946, para os governos estaduais. Vargas 
declarou que não seria candidato, mas foi durante seu governo que surgiu a candidatura de 
Dutra, então ministro da Guerra. O principal opositor seria Eduardo Gomes (Schwarcz; Star-
ling, 2018; Fausto, B., 2019).
DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
Ditadura Militar
 z Castelo Branco
Cumprindo o rito institucional, o Congresso Nacional elegeu, no dia 9 de abril de 1964, o Mare-
chal Humberto de Alencar Castelo Branco, com 361 votos, à presidência da república. O dis-
curso oficial afirmava, com apoio de importantes lideranças como Juscelino Kubitschek e Carlos 
Lacerda, que os militares permaneceriam no poder apenas por um período curto, até que a cor-
rupção fosse extinta e o crescimento econômico fosse retomado, gozando, assim, de grande legi-
timidade. Contudo, logo descobriu-se que a intervenção de 1964 seria muito diferente das demais 
intervenções militares.
No dia 9 de abril de 1964, o primeiro Ato Institucional (AI-1) foi baixado, tendo sido elabo-
rado por Francisco Campos, simpatizante do fascismo e idealizador do Estado Novo, e pos-
suía validade de 2 dois anos. Esse ato previa a cassação dos direitos políticos dos cidadãos, o 
controle do Congresso Nacional, o decreto do estado de sítio, assim como marcava as eleições 
presidenciais para o dia 3 de outubro de 1965, o que, evidentemente, não aconteceu. Esse 
ato marcou as primeiras dissidências dos liberais que apoiaram inicialmente o golpe como 
Lacerda e Kubitschek.
A vitória da oposição liberal nas eleições de 1965 fez com que o governo planejasse, tam-
bém, o controle do sistema eleitoral. Assim, o segundo Ato Institucional (AI-2) tinha como 
finalidade evitar que a oposição ascendesse ao governo estadual de 9 estados nas eleições do 
ano seguinte, ao mesmo tempo que almejava criar uma fachada democrática.
A manobra foi a seguinte: o multipartidarismo foi substituído pelo bipartidarismo, a ARE-
NA (Aliança Renovadora Nacional), partido governista, e o MDB (Movimento Democrático 
Brasileiro), partido oposicionista. Esse mesmo ato estabelecia eleições indiretas para presi-
dente, realizadas via Colégio Eleitoral. Já o terceiro Ato Institucional (AI-3) previa eleições 
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indiretas para os governos estaduais. A Lei da Imprensa e a Lei de Segurança Nacional, de 
1967, solaparam de vez a liberdade de expressão e quarto Ato Institucional (AI-4) foi baixado 
para garantir a aprovação da nova Constituição Federal.
Na intenção de erradicar a elite política e intelectual reformista do coração do Estado, o 
governo de Marechal Castelo Branco apelou ao uso irrestrito de Inquéritos Policiais Militares 
(IPMs), sendo mais de 700 processos tocados. Além disso, outras 3644 pessoas receberam san-
ções políticas baseadas nos Atos Institucionais, o que correspondeu a 65% de todo o ocorrido 
dessa natureza nos 21 anos de ditadura, e 90% das 1230 punições aos militares oposicionistas 
ao longo de todo o regime foram efetuadas sob seu mando.
A economia ficou a cargo de Roberto Campos, e suas principais medidas estavam sintetiza-
das no Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), cujas prioridades eram a contenção da 
inflação, o retorno da capacidade do Estado em investir em infraestrutura produtiva, a reorgani-
zação das finanças públicas mediante um novo sistema tributário e, por fim, a renegociação da 
dívida externa a fim de alcançar novos empréstimos.
No que se refere à nova política salarial, os salários eram reajustados baseados em um 
cálculo que considerava não somente a inflação dos últimos doze meses, como também a 
previsão de inflação dos próximos doze meses. Assim, “como a inflação era sistematicamente 
subestimada, a nova legislação provocou perda salarial sistemática, com perversos efeitos 
distributivos” (LUNA; KLEIN, 2014, p. 94).
Esse arrocho salarial era visto pelo governo como um fator para a insatisfação popular e 
para a consequente instabilidade do novo regime; assim, em 1964, foi criado o Banco Nacio-
nal da Habitação (BNH), mais tarde incrementado pela criação do Fundo de Garantia do 
Tempo de Serviço (FGTS), formando uma política de financiamento para a construção de 
casas populares e um fundo para o trabalhador demitido sem justa causa. Por fim, o proje-
to de modernização autoritária pressupunha o controle das organizações de trabalhadores 
urbanos e rurais pelo Estado, assim como a perseguição de líderes sindicais.
 z Costa e Silva
O Marechal Artur da Costa e Silva foi o segundo militar a ocupar a presidência e, empos-
sado em 15 de março de 1967, pertencia ao grupo conhecido como “linha dura”, diferente-
mente de seu antecessor. Além disso, implementou uma política externa mais nacionalista e 
menos alinhada aos Estados Unidos.
Seu breve governo ficou marcado pela implementação do quinto Ato Institucional (AI-
5), cujo conteúdo viabilizou o terrorismo de Estado. Esse ato estabelecia a cassação ampla 
e irrestrita de políticos e cidadãos, suspendia o habeas corpus de presos políticos, permitia a 
decretação de estado de sítio sem autorização prévia mediante a centralização excessiva do 
poder Executivo Federal e, por fim, a censura prévia sob todos os meios de comunicação e sob 
os produtos culturais.
 z Médici
O terceiro presidente da ditadura foi Emílio Garrastazu Médici, o general de maior 
patente entre os pré-candidatos e que também pertencia à “linha dura” palaciana. Seu gover-
no ficou conhecido como os “anos de chumbo”, dada à violação sistemática dos direitos 
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humanos. Todo cidadão era passível de ser acusado de subversivo, baseado em uma simples 
suspeita, e ficando sujeito à detenção, à tortura e à morte.
Seu governo coincidiu, ainda, com o período do “milagre econômico”, cuja taxa de cresci-
mento médio foi de 10% ao ano. A maior expansão industrial ficou concentrada — e susten-
tada pelos juros baixos — no setor de bens de consumo duráveis, além de um crescimento 
exponencial no setor automobilístico. No campo social, contudo, a situação não era favorável, 
uma vez que o arrocho salarial e a concentração de renda não permitiram a transformação 
dos ganhos de produtividade dos trabalhadores.
O endividamento externo é, também, marca desse período, agravado ainda mais pela pri-
meira crise do petróleo, em 1971, quando os preços e os juros internacionais cresceram ver-
tiginosamente. O maior problema estava no financiamento das indústrias estatais mediante 
crédito de bancos privados internacionais, que, por sua vez, possuíam taxas de juros altíssi-
mas e flutuantes. O endividamentoexterno saltou de menos de 5 bilhões de dólares em 1964 
para mais de 90 bilhões de dólares em 1983; ao mesmo tempo em que o Brasil ascendeu à 
condição de 10ª potência do mundo, os indicadores de qualidade de vida o alocavam entre 
os últimos.
 z Geisel
Ernesto Beckmann Geisel firmou-se como sucessor de Médici, tornando-se o quarto pre-
sidente da ditadura. O novo presidente ficou responsável por uma nova fase de institucio-
nalização do regime, conhecida como “lenta, gradual e segura” até transição para um poder 
civil.
Geisel propôs quatro objetivos estratégicos: o primeiro diz respeito ao restabelecimento da 
profissionalização dos quadros das Forças Armadas e à redução do poder dos “linha duras”; 
o segundo propunha a manutenção do controle da oposição de centro e de esquerda, além 
daqueles indivíduos considerados “subversivos”; o terceiro planejava a construção de uma 
democracia restrita e controlada; e o quarto previa a manutenção das elevadas taxas de cresci-
mento, uma vez que era o principal mecanismo que atribuía legitimidade ao regime frente às 
classes médias e empresariais.
Somava-se a isso a aproximação do governo à grande imprensa liberal. Contudo, alguns 
acontecimentos provam que a tendência autoritária do regime ainda estava em voga: com 
a vitória do MDB nas eleições parlamentares de 1974 e com as previsões de que a oposição 
ganharia ainda mais espaço nas eleições de 1978, órgãos do governo passaram a disseminar 
a tese de que o Partido Comunista havia se infiltrado no partido de modo a ampliar o número 
de votos.
Além disso, militares de extrema direita responderam violentamente às medidas propos-
tas por Geisel, participando de diversos ataques terroristas, ao mesmo tempo em que orga-
nizações anticomunistas tornavam a ganhar fôlego. Ainda em seu governo, 39 opositores 
desapareceram e 42 foram mortos pela repressão, o Congresso foi fechado por 15 dias e a 
censura foi largamente utilizada até 1976.
Em outubro de 1975, o comando do II Exército, com sede em São Paulo, noticiou que o 
renomado diretor jornalístico da TV Cultura, Wladimir Herzog, havia suicidado. A notícia 
repercutiu negativamente, uma vez que setores importantes da sociedade descreditavam o 
comunicado oficial. Diante do ocorrido, o presidente, tido como moderado, nada fez senão 
advertir o comandante do II Exército, Ednardo D’Ávila Melo.
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Em 1976, outra morte tornou-se pública e comoveu a sociedade: o sindicalista Manoel 
Fiel Filho apareceu morto após ser interrogado pelas forças da repressão. Somente após 
forte pressão houve a demissão de D’Avila Melo pelo presidente. É importante destacar que 
embora somente esses dois casos tenham repercutido de forma mais ampla, outras centenas 
de denúncias eram feitas em relação às torturas.
Já em abril de 1977, o governo, prevendo a derrota do partido governista nas eleições do 
ano seguinte, fechou o Congresso por 15 dias e editou um conjunto de medidas autoritárias 
conhecido como “Pacote de Abril”. Esse pacote, em síntese, previa a extensão do mandato 
do presidente, de cinco para seis anos, eleições indiretas para governadores de Estado e a 
nomeação de um terço do Senado pelo presidente. A “Lei Falcão” foi promulgada na esteira 
do pacote, inviabilizando o acesso da oposição à televisão.
O governo Geisel, por fim, marcou um avanço na industrialização pesada, sobretudo no setor 
elétrico, nuclear, petroquímico e de equipamentos industriais, promovendo, ademais, a estatização 
da economia. Embora tenha conseguido, em 1974, manter o crescimento econômico, dependendo 
cada vez mais de quantidade vultuosa de investimentos exteriores, é possível afirmar que a crise 
econômica efetivamente havia se iniciado em seu governo, intercalada com períodos de cresci-
mento, que seguiriam até o início do governo Figueiredo.
 z Figueiredo
O último presidente da ditadura foi João Baptista Figueiredo, cuja promessa ao tomar 
posse foi a consolidação da abertura. O último presidente não possuía a mesma expertise 
política de seu antecessor e não conseguiu manter o controle do processo de abertura.
Seu governo ficou marcado pela maior crise econômica vivida pelo país e pelo fim do 
AI-5. Uma série de protestos e a emersão de novos movimentos sociais ocorreram sob sua 
governança, assim como violentos ataques terroristas praticados pela extrema direita mili-
tar, intencionando parar o processo de abertura.
 z Reforma Agrária
A questão agrária, que há tempos vinha se arrastando no Brasil e foi fator importante na 
queda de Jango, também começou a ser rediscutida ainda no começo do governo militar. Assim, 
o ministro Roberto Campos apresentou uma proposta do Estatuto da Terra baseada em três 
aspectos: primeiro, a tributação progressiva da propriedade, levando-se em consideração seu 
tamanho e produtividade; o segundo previa a desapropriação mediante indenização para o 
caso de terras improdutivas; terceiro, a colonização de terras ociosas. Em outubro de 1964, o 
texto foi enviado para a apreciação do Congresso. Contudo, tratava-se de um texto bastante 
diferente do que fora apresentado ao público dias antes, o que refletia conflitos de interesses.
A principal alteração estava relacionada à descentralização do aspecto fiscal da reforma 
agrária proposta pelo governo, uma vez que o mecanismo de tributação progressiva ficaria 
a cargo dos governos estaduais. Nesse sentido, o conflito mais claro era entre a perspectiva 
modernizante defendida pelos militares, em detrimento à perspectiva conservadora dos gran-
des proprietários e por membros da UDN. A queda de braço entre o governo e as elites regio-
nais resultou na derrota do primeiro e na impossibilidade de se implementar o projeto de 
modernização do campo.
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A Redemocratização e a Busca Pela Estabilidade Econômica
Com a redemocratização e o fim do Estado Novo, nove siglas partidárias foram criadas, 
sendo as principais a União Democrática Nacional (UDN), de caráter liberal e antigetulista; 
o Partido Social Democrático (PSD), que uniu correntes diversas entre liberais e desenvolvi-
mentistas e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), herdeiro do Varguismo. Com o insucesso 
do movimento queremista e a deposição de Vargas, o ex-presidente apoiou-se – sem muita 
empolgação – no ex-ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra (PSD), que veio a se eleger.
A Constituição de 1946 previa:
 � A autonomia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, tendo o Congresso o 
poder de inspecionar o governo federal, inclusive de sancionar qualquer medida eco-
nômica empreendida pelo Executivo (medida que não sobreviveu na prática); 
 � A restauração do princípio federalista; 
 � A fixação do mandato em cinco anos, sem direito à reeleição; 
 � O direito de voto às mulheres; 
 � O direito de greve;
 � O imposto sindical, visando à continuidade da hegemonia do Estado nas relações entre 
trabalhadores e empregadores.
 z Governo Sarney
A morte de Tancredo havia abatido enormemente o país, levando a uma comoção que 
há bastante tempo não se via em um cortejo fúnebre: seu caixão subiu a rampa do Planalto 
em um gesto bastante simbólico, pois se tratava do primeiro presidente civil após 21 anos de 
ditadura.
De todo modo, José Sarney, seu vice, assumiu a presidência no dia 15 de março de 1985, 
e, mesmo que fosse um aliado histórico da ditadura, as expectativas da população não dimi-
nuíram. Pelos próximos 10 anos, diferentes governos tentariam, sem sucesso, organizar uma 
economia que herdava da ditadura dívida externa e inflação monstruosas.
Ainda em 1985, a equipe econômica de Sarney decretou o congelamento dos preços, ten-
tando diminuir a inflação; estabeleceu um corte de 10% do orçamento e proibiu a contra-
tação de funcionários públicos. Além disso, o cálculo da correção monetária passou a ser 
determinado pela inflação dos três últimos meses. Essas medidas reduzirama inflação para 
7,2% em abril, mas diversas questões, sobretudo agrícolas, elevaram-na a 14% em agosto.
Em fevereiro, o governo apresentou o Plano Cruzado, substituindo a antiga moeda, o cru-
zeiro, pelo cruzado. A nova moeda perdeu três zeros; assim, a conversão dos depósitos em 
bancos estabeleceu que cada mil cruzeiros equivaleriam a um cruzado. O plano previa, ain-
da, o congelamento de tarifas, preços e serviços, além de basear o salário na média do poder 
de compra dos seis meses anteriores.
O resultado foi a diminuição da inflação e um boom consumista, que rendeu boa popu-
laridade ao presidente naquele momento. Esse consumismo, contudo, levou a uma crise de 
desabastecimento, fazendo com que faltasse uma série de produtos na prateleira; mesmo 
que o governo tentasse importar esses gêneros, não conseguia, pois, a burocracia herdada da 
ditadura impossibilitava.
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O Cruzado II foi anunciado em novembro de 1986, e previa o descongelamento dos pre-
ços, há muito exigido pelos empresários, e o aumento das tarifas dos serviços públicos. A 
inflação, que estava contida, passou de 3% nesse mês para 16% em menos de três meses. Em 
1987, o presidente foi em cadeia nacional de televisão para anunciar a moratória da dívida 
externa do Brasil. A crise parecia não ter fim.
Em 1988, o governo apresentou o Plano Verão, criando a moeda “cruzado novo”, mas o 
plano foi um completo fiasco, pois, àquela altura, o governo já havia perdido toda a sustenta-
ção política e se tornara extremamente impopular.
A partir desse momento, o país caminhou à hiperinflação, chegando a 83% em março de 1990. 
Preços de supermercado eram reajustados todos os dias e filas aconteciam em supermercados e 
postos de gasolina toda vez que surgia o menor indício de aumento dos preços.
Ainda em 1987, iniciou-se o importante processo da Constituinte, transformando os pró-
prios congressistas eleitos em 1986 no Congresso Constituinte, com ampla maioria do PMDB. 
Os debates foram acalorados e algumas propostas do PMDB foram consideradas radicais 
demais, mas, de fato, muitos avanços se tornaram constitucionais.
Há que se dizer, por fim, que até o final do governo Sarney, nenhuma ruptura significativa 
em relação à ditadura havia acontecido (a começar pelo próprio presidente, como dissemos), e 
também porque nenhum julgamento havia acontecido para punir militares envolvidos em cri-
mes contra a humanidade. As esperanças se voltaram, enfim, para a primeira eleição direta que 
escolheria um presidente da república em 21 anos.
 z Governo Collor e Itamar Franco
As eleições de 1989 tiveram 22 candidaturas e foram vividas como a possibilidade real de 
mudanças. Por parte da esquerda, Lula encabeçava a chapa pelo Partido dos Trabalhado-
res (PT), advogando um programa radical, como a supressão da dívida externa, considerada 
demasiadamente onerosa à classe trabalhadora. Do outro lado, estava o governador de Ala-
goas, Fernando Collor de Mello, até então desconhecido do grande público, mas que trans-
mitia a imagem de ousado, jovem e vigoroso para cumprir sua fama de “caçador de marajás”.
Ambos eram promessa de novidade, mas Lula parecia radical demais, o que fez com que 
a grande mídia, políticos conservadores, empresários e militares, temerosos de que o petis-
ta levasse a cabo julgamentos e punições, se aglutinassem em torno de Collor. Durante o 
segundo turno, Lula receberia apoio do PDT de Leonel Brizola, do PMDB e do novato PSDB. 
A disputa foi dura.
Enquanto Lula crescia nas pesquisas de opinião e estouravam casos de corrupção em Ala-
goas, Collor passou a atacar seu adversário dizendo que o petista confiscaria poupanças e 
apartamentos da classe média, além de ser incentivador do aborto. As emissoras de televisão 
tiveram papel fundamental para o declínio do candidato esquerdista, transmitindo com fre-
quência os “alarmes” de Collor, em especial a Rede Globo, durante seu principal telejornal. 
Collor, assim, foi eleito presidente pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), mas possuía 
desde o início quase nenhum apoio da estrutura partidária.
No dia 16 de março de 1990, foi apresentado o Plano Collor, que estipulava o bloqueio de 
todas as aplicações em bancos e depósitos em contas correntes, além da abertura comercial 
e do congelamento dos preços. Cerca de 95 bilhões de dólares foram confiscados para blo-
quear a liquidez, a fim de conter a inflação, fazendo exatamente aquilo que supostamente 
seu adversário faria caso chegasse à presidência.
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Ao fracasso de sua estratégia para economia, somaram-se denúncias de corrupção no seu 
governo, sendo a mais evidente a de seu irmão, Pedro Collor, em maio de 1992. Pedro denun-
ciou a existência de um amplo esquema liderado pelo tesoureiro da campanha de Fernando 
Collor, conhecido como “PC Farias”.
Em seguida, o Congresso instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para 
averiguar as denúncias, descobrindo contas bancárias associadas a “laranjas” para o financia-
mento da campanha; descobriram-se também “contas-fantasma” que financiavam reformas 
na casa do presidente, mas que logo descobriu-se tratar de restos dos fundos da campanha, 
além da compra de um carro para sua esposa com dinheiro ilegal proveniente dos esquemas 
de PC Farias.
Uma série de protestos tomou conta do país: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) 
apresentou ao Congresso um pedido de impeachment do presidente; surgiu o Movimento 
pela Ética na Política, cuja organização reunia cerca de 900 entidades; os estudantes tive-
ram papel importante e simbólico nos protestos: por conta dos rostos pintados com as cores 
nacionais, ficaram conhecidos como “cara-pintadas”.
Em 29 de setembro de 1992, a Câmara autorizou a abertura do processo de impedimento 
e, no final desse ano, Collor foi condenado no Senado por 76 votos favoráveis contra apenas 
3. Antes disso, é preciso dizer, ele havia tentado manobrar a situação tentando renunciar; o 
que não deu certo. Perdeu, assim, o mandato, e se tornou inelegível por 8 anos.
Quem assumiu em seu lugar foi o vice-presidente, Itamar Franco, e foi em seu governo 
que finalmente houve o controle da inflação. O Ministério da Fazenda foi ocupado por Fer-
nando Henrique Cardoso, em 1993, e logo no início anunciou cortes de despesas e privatiza-
ções de empresas estatais, além de dar sequência à abertura comercial.
O ministro também criou um padrão de valor monetário, conhecido como Unidade Real 
de Valor (URV), de modo a mostrar a equivalência entre uma URV — 647,50 cruzeiros em sua 
primeira aparição, em março de 1994 — e o cruzeiro real.
Além disso, os salários foram estabelecidos a partir de uma média da inflação dos últimos 
quatro meses. Após sucessivos testes, acompanhados pelo valor da URV que permanecia fixo, a 
equipe econômica finalmente apresentou a nova moeda em julho de 1994: o real, um sucesso 
que logo se converteu em inflação baixa.
Ainda durante o governo de Itamar, foi possível chegar a um arguto acordo de renego-
ciação da dívida, após os norte-americanos finalmente aceitarem a proposta de Luiz Carlos 
Bresser Pereira de conceder descontos para os montantes. Mas foi o sucesso do plano real 
que marcou seu breve período à frente da presidência, sucesso esse que impulsionou seu 
ministro ao executivo federal.
 z Governo FHC
Fernando Henrique Cardoso tomou posse em 1995; é importante comentarmos que em 
seu governo foi aprovada uma emenda constitucional que permitia a reeleição de prefeitos, 
governadores e presidente da república. A votação foi permeada de acusações de compra de 
votos, que nunca foram devidamente apuradas, e permitiu que FHC se reelegesse em 1998.
A ampla mobilização popular reivindicando melhorias nas condições de vida, desde os 
movimentos organizados no final da ditadura, começou a frutificar nos governos de FHC. Em 
1995, foi criado o programa Bolsa Escola, em Campinas, cujaproposta era a transferência de 
uma renda mínima a famílias pobres com a condição de manterem suas crianças frequentes 
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nas escolas; em 2001, foi adotado pelo governo federal, que foi capaz de estender o programa 
a mais de 5 milhões de famílias. É do seu governo, também, o Bolsa Alimentação.
Contudo, há que se dizer que as primeiras mudanças no modelo de proteção social tive-
ram início com o primeiro governo civil após a ditadura e registradas na Constituição de 
1988, que pretendia garantir o acesso à saúde, à seguridade e à educação básica.
Ao longo dos anos 1990, essas diretrizes começaram a se desenvolver, exigindo uma lenta 
descentralização de responsabilidades e recursos. Além da descentralização e colaboração 
entre os níveis governamentais, o Plano Real foi importante ao tornar possível maior fluxo 
de recursos para a área social, o que produziu, por exemplo, a municipalização da assistência 
social e da rede básica de saúde. Os acessos à educação e à saúde se tornaram quase univer-
sais, e a assistência social foi consideravelmente dilatada mediante programas de garantia de 
renda para idosos e pessoas com deficiência.
No governo FHC também foram criados programas que formavam uma rede de prote-
ção social, como a previdência rural, e ainda programas não contributivos de assistência 
social: Bolsa-Escola, Erradicação do Trabalho Infantil, Bolsa-Alimentação, Auxílio Gás, Agen-
te Jovem, Programa de Saúde da Família, Programa de apoio à Agricultura Familiar. Nesses 
programas, houve uma opção pela transferência direta da renda monetária, distanciando-se 
de programas como os de distribuição de cestas básicas, que muitas vezes valiam à manipu-
lação clientelista, tão comum na política brasileira.
O governo de FHC também foi pioneiro no enfrentamento de algumas heranças da dita-
dura, no campo da justiça de transição. Em 1995, foi instituída a Comissão sobre Mortos e 
Desaparecidos, cuja proposta era reconhecer os mortos e desaparecidos durante os anos 
repressivos, ritual bastante simbólico para aqueles que perderam alguém e nunca chegaram 
a ter sequer um atestado de óbito. Tempos depois, em 2001, surgiu a Comissão da Anistia, 
concedendo indenizações às vítimas da ditadura.
 z Governo Lula
Em 1º de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva, representante do Partido dos Tra-
balhadores (PT), assumiu a presidência do Brasil. Sua eleição significou, para muitos, a pri-
meira grande mudança das elites governantes desde a redemocratização, ainda que esse 
novo governo se sustentasse em uma coalização, o que significa a inclusão de partidos que já 
haviam estado no poder nos últimos dezenove anos.
As propostas de políticas sociais do Partido dos Trabalhadores indicam uma reunião de con-
tinuidades e mudanças da forma de gestão, continuidade na política econômica e algumas 
mudanças no âmbito social.
No que se refere à transferência de renda, que foi a caraterística mais marcante do gover-
no de Lula, ela indica uma movimentação caraterística de proteção social, o que se afastava 
das expectativas reformistas que pairavam sobre o Partido dos Trabalhadores.
Com a redemocratização, como vimos, passou-se a identificar a necessidade de redirecio-
nar as ações de políticas sociais como descentralização, participação dos beneficiários nas 
tomadas de decisões, racionalização dos gastos e maior isonomia na prestação de serviços 
e benefícios. Além disso, constatou-se ser necessário políticas emergenciais voltadas para a 
população mais vulnerável economicamente.
O percurso feito até aqui indica que, quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o gover-
no em 2003, já haviam sido tomadas algumas ações visando a reforma do sistema de proteção 
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social herdado da ditadura, além do êxito razoável na luta contra a pobreza, principalmente 
no que toca ao acesso à educação e saúde; entretanto, pouco tinha sido feito para a redução 
das desigualdades notáveis entre ricos e pobres, brancos e negros. E essa é uma questão 
fundamental.
Durante as eleições, a campanha de Lula ignorava esses avanços, condicionando a reso-
lução desses problemas à sua vitória, e foi assim que Lula ganhou as eleições, insistindo na 
redução da pobreza e das desigualdades, embora sem propostas que embasassem concreta-
mente tal propósito.
O governo Lula teve início com dois projetos para a área social: o Fome Zero, uma propos-
ta de política de segurança alimentar para o Brasil; e Política Econômica e Reformas Estru-
turais. O primeiro foi fruto do trabalho de 45 pesquisadores orientados por José Graziano 
da Silva, e consistia em uma combinação de políticas assistenciais com ações extensivas de 
incentivo à agricultura familiar.
O segundo documento, que foi preparado por economistas de orientação liberal, focali-
zava a política econômica e incluía um capítulo de propostas de política social. Assim, ele 
pretendia: recompor o equilíbrio da previdência pública, garantindo sua sobrevivência a 
longo prazo; diminuir a pressão sobre os recursos, permitindo o resgate da capacidade de 
gastos públicos; e aumentar a equidade, reduzindo as distorções nas transferências de renda 
realizadas pelo Estado.
O governo petista optou, então, por iniciativas de forte impacto simbólico, no ambiente 
nacional e internacional. Nos primeiros dias da nova administração, lançou-se o já menciona-
do programa Fome Zero e uma reforma da previdência social. Com a reforma da previdência, 
procurava-se reparar privilégios vigentes, estabelecendo o mesmo teto para as aposentado-
rias dos empregados do setor público e privado. Essa foi uma medida bem recebida pelas 
agências internacionais, que esperavam que o novo governo demonstrasse moderação polí-
tica e se mantivesse dentro dos parâmetros de austeridade fiscal.
No que se refere ao Fome Zero, faltava consistência, pois muitas ações precisavam ser 
realizadas, e se carecia de articulação de vários setores. A fragilidade do programa foi se 
evidenciando e, ainda em 2003, o Ministério de Segurança Alimentar, que havia sido criado 
para mobilizar as ações necessárias para o funcionamento do programa, foi fundido com o 
Ministério da Assistência Social.
Assim, engendrou um novo programa de transferência de renda, o Bolsa Família, que 
unificou três programas criados na administração de FHC: Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação e 
Auxílio Gás. Também foram realizadas iniciativas que priorizaram a ação governamental na 
área da educação; além disso, propôs-se a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvi-
mento do Ensino Fundamental e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o que 
incluía o ensino médio no sistema de incentivos que vinham sendo realizados pela adminis-
tração anterior.
Alguns autores argumentam que, embora de um ponto de vista de classe, o PT continua 
sendo um partido dos trabalhadores, principalmente no que se refere à sua origem, pois é 
inegável que o PT foi criado por e para trabalhadores. Houve um claro rompimento com os 
interesses desse grupo; após assumir o poder, as ideias, discursos e ações resguardadas pela 
direção do partido apresentaram semelhanças embaraçosas com as dos representantes da 
grande burguesia. De todo modo, as multidões continuaram indicando, em momentos cru-
ciais, o Partido dos Trabalhadores como seu representante.
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O governo Lula reuniu em seus quadros administrativos tanto líderes sindicais e intelec-
tuais do PT, quanto convictos neoliberais, o que o tornou, em uma análise mais sóbria, um 
governo muito pouco afeito aos interesses da classe que dizia representar. Lula cumpriu sua 
promessa de moderar as propostas mais radicais do programa petista antes do lançamento 
da “Carta ao povo brasileiro”, de 2002.
Um evidente exemplo foi a preocupação com o pagamento da dívida externa, mesmo exis-
tindoproblemas sociais evidentes, como rodovias danificadas e insuficientes, adversidades 
nas redes elétricas, de saúde, saneamento, entre outros. Essa foi uma escolha impensável 
para o Lula do século anterior. Assim, sua administração deu prosseguimento à política eco-
nômica de FHC, elevou o superávit, prometeu a flexibilização do mercado de trabalho e a 
reforma sindical.
Dica
Superávit é o resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo, ou seja, é o 
equivalente ao que o governo consegue economizar para o pagamento de juros da dívida 
pública.
FMI é a sigla do Fundo Monetário Internacional, organização financeira que pode oferecer ajuda 
financeira pontual e temporária aos países membros.
As limitações das administrações de Lula são evidentes, embora seja difícil negligenciar os 
avanços no campo social. Por exemplo, a reforma agrária — pauta importante para esquerda —, 
não foi considerada; e a reforma tributária apenas aumentou a carga tributária, evitando pro-
postas como a taxação de grandes fortunas.
Outra crítica é que os programas sociais não se constituíram enquanto direito, ou seja, não 
foram incorporados enquanto emendas à Constituição, o que significa que podiam ser retira-
dos a qualquer momento.
 z Governo Dilma
Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil, foi eleita em 2010, em um contexto 
de otimismo no qual a economia se recuperava dos efeitos da crise financeira global de 2008. 
Embora Dilma não tenha explicitado seu objetivo em campanha, logo ficou evidente o que pre-
tendia: questionar o poder estrutural do capital financeiro na determinação de taxas de juros 
e câmbio, o que significava se afastar do caminho das políticas econômicas conservadoras do 
governo Lula.
Todavia, o governo não se preparou para lidar com as óbvias reações que vieram dos grupos 
que tiveram seus interesses recolocados. Esses grupos possuíam, ainda, o poder sobre os meios de 
comunicação, manipulando as informações e não tardando a acusar o governo de “irresponsável 
tecnicamente” e “politicamente populista”.
O governo de Dilma não conseguiu sustentar a pretensão inicial, recuando diante da rea-
ção dos interesses rentistas, que foram atingidos pela guerra dos juros; assim, em abril de 
2013, o Banco Central iniciou um novo ciclo de elevação das taxas de juros, que era apenas o 
início da retratação.
Os regimes de metas de inflação e de metas de superávit primária concediam enorme poder 
estrutural ao capital financeiro, de modo que, se hipoteticamente a inflação subisse e o Banco 
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Central não subisse também as taxas de juros, provavelmente se veria bombardeado por acu-
sações de que sua autonomia estava comprometida pela interferência política. Se, por outro 
lado, a arrecadação tributária diminuísse e o gasto primário não trilhasse a mesma direção, o 
governo era atacado, acusado de não cuidar da credibilidade da trajetória da dívida pública, 
tampouco da inflação.
Para conseguir pôr em prática suas intenções de mudanças estruturais, o governo teria que se 
apoiar em ampla campanha pública que expusesse suas intenções e motivações. Isso, contudo, 
não ocorreu, e o capital financeiro, por sua vez, reagiu rapidamente, mobilizando a opinião públi-
ca e deslegitimando os discursos de Dilma, que tencionavam defender seu projeto econômico.
A recuada do governo, traduzida pelo aumento dos juros, foi uma tentativa de abrandar 
os ataques realizados pelos representantes ideológicos dos interesses rentistas, procurando 
recompor o bloco de poder político mobilizado pela administração de Lula, tática que seria 
reforçada em 2015.
A estratégia, no entanto, não foi bem sucedida, pois, na busca pela governabilidade, Dilma 
perdeu bastante popularidade, dado que se voltava cada vez mais à uma política econômica 
que primava pela ortodoxia, sobretudo na austeridade fiscal e salarial, pondo à parte os inte-
resses populares, que representavam o grosso de seu eleitorado.
A opinião empresarial era a de que o Bolsa Família reduzia a procura por empregos e difi-
cultava a contratação; esse argumento é difícil de ser sustentado, tendo em vista que o valor 
do benefício sempre foi muito inferior ao do salário-mínimo, que foi ganhando cada vez mais 
encorpo. Além disso, figuras públicas reconhecidas usavam os meios de comunicação para 
apontar que os gastos sociais e aumentos salariais eram responsáveis pela desaceleração do 
investimento privado e da redução dos lucros.
Quanto aos projetos sociais, Dilma tinha um grande desafio, considerando que seu prede-
cessor, Lula, conquistara popularidade amparando-se justamente nesse tipo de programa. 
No primeiro mandato de Dilma, o desemprego diminuiu, o salário-mínimo aumentou e a 
presidente deu sequência aos programas de transferência de renda.
Na questão dos avanços da legislação trabalhista, é possível apontar, por exemplo, a regu-
lamentação do trabalho doméstico, que embora tenha incomodado os setores mais conserva-
dores da população brasileira, foi um movimento muito importante para os trabalhadores da 
área, pois assegurava direitos básicos como jornada de trabalho regulamentada, férias e piso 
salarial.
Em sua administração, uma das ações mais importantes talvez tenha sido a ampliação do 
Minha Casa Minha Vida, programa habitacional que assegurou moradia para 1,7 milhões de 
famílias apenas em seu primeiro mandato. O programa oferecia subsídio para o financiamen-
to de moradias à população de baixa renda, tornando possível o sonho da casa própria para 
famílias que teriam bastante dificuldade em adquirir um imóvel em outras circunstâncias.
No âmbito da saúde, Dilma lançou o programa Mais Médicos, que atendeu seis mil municí-
pios e estendeu o acesso a médicos a cerca de cinquenta milhões de pessoas que residiam em 
municípios do interior e em áreas periféricas. Foram inauguradas 144 de Unidades de Pronto 
Atendimento, e a Farmácia Popular distribuiu remédios a mais de dez milhões de pessoas.
No setor educacional, Dilma lançou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e 
Emprego (Pronatec), que tinha como objetivo expandir e interiorizar as ofertas a cursos téc-
nicos, além da formação inicial e continuada. Houve, ainda, a criação do Ciência sem Fron-
teiras, que visava a formação acadêmica de pesquisadores em programas de intercâmbio, 
oferecendo bolsas de estudos e financiando projetos. Além disso, até 2014, as matrículas em 
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cursos superiores aumentaram em 122%, evidenciando uma expansão do acesso ao ensino 
superior.
Além de todos esses programas, foi no governo Dilma que a chamada Lei do Feminicídio foi 
sancionada. Com a lei, o assassinato de mulheres, decorrente de violência doméstica ou discri-
minação de gênero, passou a ser considerado crime hediondo. 
Foi uma grande conquista, levando em consideração que o Brasil possui a 5° taxa mais alta 
de feminicídios do mundo: no ano de 2010, eram registrados cinco espancamento a cada dois 
minutos; em 2013, se reportava um feminicídio a cada noventa minutos; e em 2015, o serviço 
de denúncia registrou 179 casos de agressão por dia.
Foi também no mandato de Dilma que se inaugurou a Casa da Mulher, programa que 
integra no mesmo espaço serviços especializados de apoio aos diversos tipos de violências 
sofridas por mulheres. Nesse espaço, têm-se acesso ao acolhimento e à triagem, apoio psicos-
social, juizado especializado em violência doméstica e familiar contra mulher, defesa públi-
ca, serviço de promoção de autonomia econômica, espaço de cuidado às crianças, alojamento 
de passagem, entre outras ações de apoio.
HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: LUTA ANTIRRACISTA, CONQUISTAS 
LEGAIS E DESAFIOS ATUAIS
Lilian Moritz Schwarcz, antropóloga brasileira, ressalta, em suas obras, importantes aspec-
tos do racismo no Brasil. Segundo a autora, em um primeiro momento, é imprescindível a 
desconstrução do mito da denominada“democracia racial”. 
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
Em meados de 1930, o Estado brasileiro, à procura da concretização de uma identidade 
nacional, fomentou o surgimento de uma perspectiva distinta em relação à questão racial. 
Neste contexto, houve a difusão de que a sociedade brasileira possuía uma harmoniosa con-
vivência entre as “raças”, em vista do fenômeno da miscigenação. Logo, o Brasil seria livre de 
segregação e preconceito em vista da “democracia racial” (SILVA, 2016). 
Dica
Gilberto Freyre, autor da obra “Casa-Grande & Senzala”, é notável defensor da existência de 
uma democracia racial no Brasil. Não obstante, hodiernamente, a teoria está ultrapassada 
e é compreendida como um verdadeiro mito.
A partir dos estudos do sociólogo Florestan Fernandes, entretanto, a ideia de “democracia 
racial” desmantelou-se, uma vez que, estudando as particularidades do Brasil, o professor 
compreendeu que esta não passa de uma imagem idealizada. Na verdade, a perpetuação do 
mito acentua a segregação e a posição inferior do negro na sociedade.
Schwarcz aponta que a escravidão no Brasil foi marcada pela violência física e simbólica 
dos corpos negros e, neste cenário, é contundente afirmar que, apesar da miscigenação cul-
tural, não há uma democracia racial. 
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RACISMO
Conforme esclarece o filósofo Silvio Almeida, o racismo não se caracteriza apenas pela vio-
lência direta contra indivíduos de determinado grupo racial ou étnico, uma vez que se trata de 
um fenômeno conjuntural.
Neste sentido, Almeida (TV Boitempo, 2016) afirma que “o racismo é uma forma de norma-
lização e de compreensão das relações”, na qual não há perplexidade por parte da população 
acerca de relevantes questões sociais, tais como: a pouca (ou nenhuma) representatividade 
de pessoas negras em posições de destaque e, também, a desigualdade no sistema tributário, 
que faz com que as mulheres negras paguem mais impostos. 
Portanto, em vista do elencado, compreende-se que a sociedade atual, fruto do colonialis-
mo e do sistema escravocrata, naturaliza as diversas formas de violência contra as pessoas 
negras.
O sistema escravocrata, hodiernamente, se converteu em uma linguagem com graves con-
sequências. Segundo Schwarcz (2019), esse modelo enraizado moldou condutas, definiu desi-
gualdades sociais, fez da raça um marcador social de classe e instalou uma etiqueta de quem 
manda e quem obedece. Logo, herdou-se uma sociedade paternalista e hierarquizada.
RACISMO ESTRUTURAL
O racismo é estrutural porque se trata de um fenômeno que abarca além da política e da 
economia, a subjetividade do indivíduo. Neste contexto, há uma normalização das relações 
sociais que reproduzem as condições de desigualdade. Por consequência, o racismo não só 
constitui as relações denominadas “conscientes”, mas também está presente no inconsciente 
coletivo e, dessa forma, de acordo com Almeida (TV Boitempo, 2016), “mais do que um fenô-
meno produzido por indivíduos, o racismo produz sujeitos”.
Outrossim, o racismo é estrutural e estruturante porque não há qualquer política pública 
efetiva que se volte contra este cenário, nem mesmo por parte das pessoas que, explicita-
mente, se posicionam contra o impasse. Logo, é contundente afirmar que o racismo não é 
visto como uma patologia na sociedade brasileira e, na verdade, constitui as relações em seu 
padrão de normalidade.
Neste cenário, o sistema social/econômico de racismo estrutural contribuiu para com os 
privilégios de poucos em detrimento de muitos, bem como aprofundou as desigualdades 
sociais. Devido às desigualdades sociais, por exemplo, muitas pessoas são capazes de indicar 
espaços que podem ser ocupados por determinadas raças (ideologia de senso comum).
AVANÇOS E CONQUISTAS CONSOLIDADOS PELO MOVIMENTO NEGRO
Abaixo, vejamos alguns exemplos de conquistas do Movimento Negro.
 z Racismo como crime inafiançável e imprescritível: atualmente, o crime de racismo tipifi-
cado pela Lei nº 7.716, de 1989, é inafiançável e imprescritível. Neste sentido, a denúncia 
do crime pode ser feita pela vítima a qualquer tempo;
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Dica
Em casos de racismo ou injúria racial, procure a Delegacia de Polícia e registre a ocorrên-
cia. Também é possível realizar a denúncia através do Disque 100.
 z Cotas raciais nas universidades: as cotas raciais nas universidades geram impactos extre-
mamente positivos na educação brasileira, que repercutem, principalmente, nas classes 
sociais menos favorecidas.
 z Valorização da cultura negra: Zumbi dos Palmares foi reconhecido como herói nacional e 
a História afro-brasileira tornou-se obrigatória nas grades escolares.
Alterações Legislativas
Em janeiro de 2023, foi sancionada a Lei nº. 14.532, que tipifica como crime de racismo a 
injúria racial. O racismo é compreendido como um crime contra a coletividade e, anterior-
mente à referida lei, a injúria era percebida como um crime contra o indivíduo (SENADO 
NOTÍCIAS, 2023).
A Lei nº. 7.716 de 1989, que aborda crimes raciais, não havia englobado a injúria racial, 
que permaneceu apenas no Código Penal. Neste cenário, com a nova alteração, as penalida-
des também foram modificadas. A pena para injúria racial, antes da modificação legislativa, 
consistia em um a três anos e, após a mudança, passou para de três a cinco anos (SENADO 
NOTÍCIAS, 2023).
Desafios Atuais
Apesar dos avanços, os negros ainda enfrentam diversos desafios. A desigualdade racial 
continua sendo uma realidade no Brasil. Os negros têm menor escolaridade, menor renda e 
maior taxa de desemprego do que os brancos. Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo entre 
negros é de 10,3%, enquanto entre brancos é de 4,3%. A renda média mensal dos negros é 
de R$ 1.772, enquanto a dos brancos é de R$ 2.400. A taxa de desemprego entre negros é de 
13,4%, enquanto a dos brancos é de 10,2%.
 z Racismo
O racismo é um desafio enfrentado pelos negros. O racismo é a discriminação contra 
alguém por causa de sua raça ou etnia. Ele pode se manifestar de diversas formas, como a 
violência física, a violência psicológica e a discriminação no mercado de trabalho.
De acordo com o Atlas da Violência 2022, os negros são as principais vítimas de homicídios 
no Brasil. Em 2021, a taxa de homicídios de negros foi de 23,5%, enquanto a de brancos foi 
de 7,2%.
 z Violência
A violência é outro desafio enfrentado pelos negros. Os negros são mais propensos a serem 
vítimas de violência policial, violência urbana e violência doméstica.
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De acordo com o relatório “Violência contra a população negra no Brasil: 2022”, publicado 
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a taxa de homicídios por intervenção 
policial entre negros é duas vezes maior do que entre brancos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2022. Rio de Janei-
ro: IBGE, 2022.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Violência contra a população negra no 
Brasil: 2022. Brasília: IPEA, 2022.
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Plano Nacional 
de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR). Brasília: SEPPIR, 2022.
HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA POR DIREITOS E 
DESAFIOS ATUAIS
Os povos indígenas que ocupavam o território do Brasil podem ser classificados em quatro 
grandes troncos linguísticos, a saber:
 z Tupi: viviam no litoral e foram os primeiros a entrar em contato com os portugueses. Uti-
lizavam-se da pesca, caça e coleta na mata. Eram considerados desse tronco os tamoios, os 
guaranis, os tupinambás, os tabajaras, entre outros;
 z Macro-Jê: algumas comunidades viviam na Serra do Mar, mas se localizavam, principal-
mente, no Planalto Central. Apenas no século XVII, foi que os grupos macro-jê passaram 
a ser atacados, por conta da escravização indígena. Eram considerados

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