Prévia do material em texto
Diferente dos outros? As respostas não podiam sair claras, pois o oceano Pacífico estava por descobrir. Duarte Pacheco, o herói de Cambalão, companheiro de Cabral, alguns anos mais tarde ainda guardava a imagem tr adicional do mundo: vastas massas de terras, in- terrompidas por mediterrâneos, abertos em rumos diversos, semelhando lagoas enormes. A expedição exploradora depois de travessia tormentosa aportou ao litoral do Rio Grande do Norte e procurou regiões mais temperadas, dando nomes aos lugares descobertos, tirados uns do calendário -- S. Roque, S. Jerônimo, S. Francisco, baía de Todos os Santos, cabo de S. Tomé, Angra dos Reis; tirados outros de impressões e acidentes de viagem -- rio Real, cabo Frio, baía Formosa, etc. Os exploradores, segundo parece, nunca perderam de vista a serra do Mar. Durante muitos anos figurou nos mapas como último ponto conhecido Cananor, que bem pode ser a atual Cananéia, em São Paulo; calculou-se a extensão percorrida em duas mil e quinhentas milhas. Esta exploração mais demorada confirmou em quase tudo as palavras de Caminha. Apenas os naturais apareceram à nova luz, selvagens, rancorosos, sanguinários e antropófagos, material mais próprio para escravatura do que para a conversão. Depois de voltar esta armada a Coroa resolveu arrendar a terra por um triênio; os arrendatários comprometeram-se a mandar anualmente seis navios a descobrir trezentas léguas e a fazer sustentar uma fortaleza. Fundavam seus cálculos no lucro produzido por escravos, por animais curiosos e pelo pau-brasil, de que os primeiros exploradores levariam al - gum carregamento, e também na vaga esperança de poderem chegar à Índia por este caminho. Em 1503 veio de fato uma frota de seis embarcações, reduzidas logo à metade pelo naufrágio da capitânia, junto à ilha depois chamada Fernão de Noronha, e pela defecção de Vespucci, de quem o continente deveria tomar o nome. Talvez algum dos navios restantes iniciasse a ex- ploração do cabo de S. Roque à procura do Equador. De certo nada se sabe; no mencionado trecho da costa escaparam ao esquecimento ap- enas alguns nomes, como o de João de Lisboa, João Coelho e Corso, de- sacompanhados de qualquer informação. A falta de portos, a dificuldade de navegação devida ao regime dos ventos, e a impressão de esterilidade col- hida de bordo não provocavam a amiudar visitas naquela direção; os Capítulos de História Colonial 37 dizeres dos mapas contemporâneos ou rareiam ou apenas indicam pas- sagens de largo. Em 1506 a terra do Brasil, arrendada a Fernão de Noronha e ou- tros cristãos-novos, produzia vinte mil quintais de madeira vermelha, vendida a 2 1/3 e 3 ducados o quintal; cada quintal custava 1/2 ducado posto em Lisboa. Os arrendatários pagavam quatro mil ducados à Coroa. Anos mais tarde, pensou-se em dar liberdade aos que quisessem vir tentar fortuna, pagando apenas um quinto dos gêneros levados. A este regime já obedeceu, talvez, a nau Bretoa, armada por Bartolomeu Mar- chioni, Benedito Morelli, Fernão de Noronha e Francisco Martins, man- dada a Cabo Frio em começo de 1511. Sobre ela existem documentos. Tinha a nau capitão, escrivão, mestre e piloto, responsáveis soli - dariamente pela execução do regimento; treze marinheiros, quatorze grumetes, quatro pajens, um dispenseiro. Nem à ida nem à volta podia tocar em qualquer porto intermediário, salvo caso de falta de vitualhas, temporais ou desarranjo. Era permitido à companha resgatar com facas, tesouras e outras ferramentas depois de estar completa a carga dos ar- madores da nau. Podia resgatar papagaios, gatos, e, com licença dos armadores, também escravos; vedado era o comércio de armas de guerra. À chegada em terra a carga ficava entregue ao feitor; qualquer res- gate dependia da autorização deste. Recomendava-se o maior cuidado em não fazerem mal ou danos aos indígenas; não levarem mais naturais livres para o Reino, porque falecendo em viagem cuidavam os parentes terem sido comidos, como era seu costume; não deixarem que da gente da nau alguém se lançasse na terra ou nela ficasse, como alguns já fize- ram, coisa muito odiosa ao trato e serviços reais. A nau Bretoa partiu do Tejo a 22 de fevereiro; fundeou de 17 de abril a 12 de maio na baía de Todos os Santos; em 26 de maio chegou a Cabo Frio, donde a 28 de julho partiu para Portugal. Levou cinco mil toros de pau-brasil; vinte e dois tuins, dezasseis sagüis, dezasseis gatos, quinze papagaios, três macacos, tudo avaliado em 24$220 réis; quarenta peças de escravos, na maioria mulheres, avaliados ao preço médio de 4 sobre todos estes semoventes arbitrou-se o quinto, ainda no Brasil. O nome do Brasil já era bem conhecido e figurava em portulanos anteriores às descobertas dos portugueses; havia um nome à procura de 38 J. Capistrano de Abreu aplicação, exatamente como o de Antilha, e isto explicaria a rapidez com que se introduziu e vulgarizou, suplantando outras denominações, como terra dos Papagaios, de Vera Cruz ou Santa Cruz, se a abundância de uma apreciada madeira de tinturaria até então recebida por via do Le- vante, e o comércio sobre ela fundado desde o começo, não colaboras- sem na propaganda, e talvez com maior eficácia. O pau-brasil reconheceu-se logo no litoral de Paraíba e Pernam- buco, nas cercanias do rio Real, do Cabo Frio ao Rio de Janeiro; natural - mente seriam logo estes os trechos mais freqüentes destes primeiros portugueses; em outros lugares só mais tarde se descobriu. Para facilitar os carregamentos, estabeleceram-se feitorias, de preferência em ilhas; deviam ser caiçaras ou cercas, próprias apenas para guardarem os gêneros de resgates; algumas sementes de além-mar po- diam ser plantadas à roda, e soltos alguns animais domésticos de fácil re- produção. Uma feitoria conservou-se no Rio durante alguns anos até ser destruída pelos naturais, indignados com o proceder do feitor e com- panheiros; entre as plantações abandonadas entraria a cana-de-açúcar, encontrada por Fernão de Magalhães em 1519. No ano de 1513 uma armada de dois navios estendeu muito o horizonte geográfico pela zona temperada. Devassou, segundo um con- temporâneo, seiscentas a setecentas léguas de terras novas; encontrou na boca de um caudaloso rio diversos objetos metálicos; teve notícia de ser- ras nevadas ao Ocidente; julgou ter achado um estreito e o extremo meridional do continente. O capitão, talvez João de Lisboa, levou para o reino um machado de prata, e este nome, apegado ao soberbo rio, ainda hoje proclama a primazia dos portugueses ao sul, como o das Amazonas perpetua a passagem dos espanhóis ao norte. Com a viagem destes navios, armados por D. Nuno Manuel e Cristóbal de Haro, coincidiu o descobrimento do mar do Sul ou Pacífico, por Vasco Nunes de Balboa. Os espanhóis apanharam a importância destes sucessos, mandaram em 1515 procurar o estreito anunciado pelos portugueses, e incumbiram João Dias de Solis de ir pelo novo caminho às espaldas das terras de Castela de Ouro. Solis foi morto, apenas desembarcou no rio da Prata; seus companheiros voltaram sem detença para o Reino. Em 1520 Fernão de Magalhães explorou o grande estuário meridional à procura Capítulos de História Colonial 39 a) entraram em conflito com os encomenderos da América Espanhola e com os bandeirantes, que penetravam na região com o objetivo de aprisionar e escravizar os indígenas. b) resistiram às pressões das Coroas Espanhola e Portuguesa e continuaram a existir até o fim do período colonial, tendo sido destruídas por ocasião dos movimentos de independência. c) se estabeleceram na região platina, em áreas fronteiriças dos Impérios Espanhol e Português, que correspondem, atualmente, a territórios do Paraguai, do nordeste da Argentina e do sul do Brasil. d) tinham por objetivo a cristianização dos índios guaranis, que foram concentrados em comunidades aldeãs, administradas pelos jesuítas, sob rígida organização e disciplina de trabalho. 09 - (UFMA) Há de ser, grande rei, um mui feliz presságio. Ver em França estrangeirosde lugares distantes Virem à vossa corte prestar homenagem. Com grande gentileza acolheis os visitantes. Zeloso por salvá-los, mandais instruí-los Em tudo o que é preciso crer na religião. Uma vez instruídos, cuidais que recebam As graças do sacramento do Batismo. (Trechos de uma gravura vendida em Paris por ocasião do batismo de três índios Tupinambá na presença do Rei Luis XIII, em 24 de junho de 1613. In: DAHER, Andrea. O Brasil francês: as singularidades da Franca Equinocial, 1612-1615. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 311-2). O episodio relatado em versos esta relacionado com a: a) estratégia dos missionários franceses de obter o apoio da monarquia a obra de colonização e cristianização das terras do Maranhão. b) denuncia feita pelos religiosos contra os colonos franceses, que promoviam a escravização e o extermínio dos tupinambá na costa maranhense. c) tentativa da Companhia de Jesus de estabelecer um pacto entre os reinos da Franca e de Portugal, evitando a guerra pelo domínio do Maranhão. d) rivalidade entre católicos e protestantes na colônia francesa, o que levou os padres capuchinhos a buscarem o auxilio da Coroa para combater os reformistas. e) política francesa de repressão as heresias dos índios, conduzida pela Inquisição, que promovia o afastamento das lideranças tribais, obrigando-as a conversão. 10 - (UFPA) O trecho abaixo relata o encontro do padre Nóbrega com um pajé indígena: “Trabalhei por me encontrar com um feiticeiro, o maior desta terra, o qual todos chamam para curar as suas doenças. Perguntei-lhe em nome de que poder o fazia, se tinha comunicação com Deus, que fez o céu e a terra e reinava nos céus, ou com o demônio, que estava nos infernos? Respondeu-me com pouca vergonha, que ele era deus, e que havia nascido deus, e me mostrou um deles a quem dizia haver curado, e que o Deus dos céus era seu amigo e lhe aparecia em nuvens, em trovões e em relâmpagos, e em outras muitas coisas”. (In: Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. Editadas pelo padre Serafim Leite. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954, v. I. p. 144.) Sobre o papel dos pajés entre os Tupinambás da costa do Brasil, quando da chegada dos primeiros missionários jesuítas no século XVI, pode-se afirmar que a) os pajés tinham rituais de adoração ao demônio cristão, razão pela qual foram combatidos pelos padres jesuítas. b) a religião dos índios da costa do Brasil era monoteísta e seus deuses se identificavam com elementos da natureza, que eram manipulados pelos pajés, considerados chefes espirituais. c) associados aos elementos da natureza, os pajés eram adorados como verdadeiros deuses pelos indígenas e missionários. d) os padres jesuítas reconheceram nos pajés importantes aliados no processo de evangelização dos índios entendidos à época como sem religião ou ateus. e) os pajés, nas sociedades indígenas, eram percebidos como deuses, sendo responsáveis pela cura de diversas enfermidades cujas causas eram tidas como espirituais. 11 - (UNIMONTES MG) Acerca da atuação da Companhia de Jesus na vida da colônia portuguesa na América, nos séculos iniciais, é INCORRETO afirmar que: a) as escolas jesuítas, semelhantes às das demais ordens católicas, destinavam-se basicamente à formação e reprodução de seus quadros. b) os jesuítas criaram espaços de formação em diversos centros urbanos da colônia, ao lado da atividade missionária. c) as escolas jesuítas possuíam dupla função: a evangelização dos nativos, considerados gentios, e a educação dos colonos. b) as escolas jesuítas formavam religiosos (teólogos e padres) e, também, civis (pessoas para atividades judiciárias, burocráticas, administrativas) e que poderiam servir ao Estado. 12 - (FGV) “O missionário que se volta para o índio, prega-lhe em tupi e compõe autos devotos (e, por vezes, circenses) com o fim de convertê-lo, é um difusor do salvacionismo ibérico para quem a vida do selvagem estava imersa na barbárie (...).” BOSI, A. Dialética da colonização, São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 92 Entre os diversos aspectos que caracterizaram a presença dos jesuítas no Brasil colonial estão: a) A defesa da tolerância religiosa, o combate à escravização de negros africanos e o desenvolvimento de eficientes métodos pedagógicos.