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PROSSEGUE A QUES'TÃO MILITAR - 135 mundo certo de que a situação política do Brasil depen deria da classe militar"1º4 • Precedente que infelizmente se iria tornar pacífíco e corrente pelos anos vindouros ou, mais exatamente, desde a implantação da República até aos nossos dias. "A situação política, escrevia o Conde d'Eu ao pai, apesa4" do que dizem, não seria pior do que tem sido outras vêzes [ .. . ] se não fôsse o germe de indisciplina introduzido no Exército por causa de reclamações contra as censuras feitas a oficiais por terem escrito na imprensa. Essa disputa, que teve origem no mês de agôsto último, acabou por assumir um caráter por tal forma grave que o Govêrno se viu na obrigação, por um voto do Senado, de declarar não existentes as censuras que tinham sido objeto das reclama~'Ões. ~ um mau precedente"106• Pre cedente tanto pior quanto de nada servindo para o restabelecimento da disciplina no Exército, mas ao con trário, como veremos adiante, colocava o Ministério numa situação tal de desprestígio, que valia por uma desmo ralização de todo o Poder Civil da Nação, estivesse êste nas mãos de quem estivesse e fôsse qual fôsse o motivo de desentendimento que êle tivesse com os militares. Ao aceitar os bons ofícios interpostos pelos liberais para livrá-lo das garras dos militares, Cotegipe dissera que não se considerava humilhado, mas cheio de honras com a solução encontrada. Mas isso disse êle pensando dar uma satisfação à opinião política do País, salvando quanto possível as aparências ou iludindo-se a si próprio, porque todos compreenderam que êle não fizera senão capitular com uma confissão implícita da fraqueza de seu Govêrno, desprovido que estava de todos os ele mentos com que pudesse enfrentar os militares. Quanto ( 104) A. Ilha Moreira, Proclamaçtfo e fundaçtfo da República. ( 105) Carta de 17 de junho de 1887, cit. por Alberto Rangel, Gast4o de Orléans . ,, 136 - HilrrÓRIA DA QUEDA DO IMPÉRIO a isso, êle não iludia a ninguém. Num relatório mandado nessa época ao seu Govêrno, o chefe da divisão naval italiana na América do Sul, Almirante Mantese, dizia que o Barão de Cotegipe cedera não só para evitar com plicações "neste momento de grave estado de saúde do Imperador", como porque lhe faltavam fôrças per reprimere un movimento tumultuoso dell' Esercito, capi tanato da due influenti generali, il tenente-generale Vis conte di Pelotas, senatore dell'Impero, ed il maresciallo di campo Deodoro da Fonseca. Daí concluir o almirante italiano sôbre a "precariedade" da solução adotada, não só porque o Ministério, ferido em sua dignidade, não se conformaria com o vexame por que o haviam feito passar e iria procurar reabilitar-se perante a opinião pública, como porque os militares, que tinham saído vitoriosos da questão, tentariam tirar todo o partido disso, se necessário com novas ameaças e novas imposições ao Poder Civil da Nação. Questo scioglimento della ques tione ritiensi precario, dettato esclusivamente dalla situa zione política attuale, e certa.mente ricomincierà, perche il Minístero vinto vuol rifarsi, mentre l'Esercito vuol tirare il maggior partito dalla vittoria1º6• Chegara-se, portanto, unicamente a uma transação, que podia servir para desafogar por algum tempo o ambiente, mas não resolvia o fundo mesmo do problema. Porque a chamada questão militar, pelo menos já nessa altura, não consistia mais em formas de processo, em interpretação de A visos ministeriais ou de regulamentos militares, discussão algo bizantina, como dissera Taunay no Senado, sôbre a quem caberia a iniciativa de cancelar as notas desabonadoras, que todos estavam fartos de saber que não tinham mais nenhum efeito. A verdadeira questão militar não era isso: era o divórcio que se havia ( 106) Arquivo do Minlstério da Marinha da Itália. PROSSEGUE A QUEsrÃO MILITAR - 137 aberto entre um Govêrno gasto e desprestigiado e uma facção indisciplinada do Exército, que por falta de auto ridade e meios de repressão dêsse mesmo Govêrno, se fortal ecia e se alastrava de dia para dia, para acabar por se tornar um elemento dissolvente da ordem pública e um fator de . perturbação para a estabilidade das insti tuições vigentes. O principal culpado de tudo isso era evidentemente o Ministério. Fôra êle que criara, a bem dizer, a chamada questão militar, com a atitude prepotente e tumultuosa do seu então Ministro da Guerra, Conselheiro Alfredo Chaves, num momento em que tudo se teria talvez resol vido com alguns conselhos ao Coronel Cunha Matos; e que, depois, não dispondo mais de autoridade nem de meios legais para se impor, teimava em manter-se no poder, persuadido de que tinha para isso a fôrça neces sária, uma vez que o Imperador estava afastado, por doente, de todos os negócios do Estado e o Gabinete era, assim, o úruco senhor dos destinos do país. Que a Questão Militar estava longe de ter sido resolvida, ter-se-ia a prova na própria confissão de Sena Madureira, que, ao contrário do que dissera pouco antes ao seu camarada Castelo, deixa,ria trair seu propósito de luta contra o poder civil quando voltaria a escrever lhe, informando-o de que se cogitava de fundar clubes militares em tôdas as Províncias do Império, "no intuito de unir a classe para a defesa de nossos interêsses comuns e prepararmo-nos para a luta que teremos de sustentM contra as becas". As becas, todos sabemos, eram os civis, neste caso os políticos, os bacharéis políticos, os paisanos ou os casacas, como eram geralmente chamados pelos militares, num tom de evidente desprezo. a) apenas as afirmativas I, II e III estão corretas; b) apenas as afirmativas I e II estão corretas; c) apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas; d) apenas as afirmativas II e III estão corretas; e) todas as afirmativas estão corretas. 35 - (FGV) “Não se pode esquecer os laços estreitos que ligavam a economia agroexportadora brasileira à Inglaterra. Os ingleses, nas décadas de 1840-50, praticamente dominavam o comércio de importação-exportação do país; nos anos de 1840, firmas britânicas controlavam 50% das exportações brasileiras de café e açúcar e 60% das de algodão. Da mesma maneira, os bancos ingleses, através de empréstimos externos ao Estado, se faziam presentes na economia nacional. A este tipo de presença econômica, agrega-se que as pressões inglesas (...) assumiam a forma militar, com o aprisionamento de navios brasileiros.” (João L. Fragoso e Francisco C. T. da Silva, “A Política no Império e no início da República Velha.” In Maria Yedda Linhares (org.), História Geral do Brasil) Além dessa presença econômica, o país citado exerceu pressões para que o governo brasileiro a) aprovasse a Tarifa Alves Branco. b) abolisse o tráfico negreiro. c) impulsionasse a Era Mauá. d) rompesse relações com o Paraguai. e) aceitasse o Funding Loan. 36 - (Mackenzie SP) Talvez a mais importante de todas as influências e a menos estudada seja a que derivou não propriamente da tradição africana, mas das condições sociais criadas com o sistema escravista. A existência de dominadores e dominados numa relação de senhores e escravos propiciou situações particulares específicas, marcando a mentalidade nacional. Um dos efeitos mais típicos dessa situação foi a desmoralização do trabalho. O trabalho que se dignifica, à medida que se resume no esforço do homem para dominar a natureza na luta pela sobrevivência, corrompe-se com o regime da escravidão, quando se torna resultado de opressão, de exploração. Emília Viotti da Costa - Da senzala à colônia Partindo do texto, podemos corretamente afirmar que a) o sistema escravista que vigorou no Brasil ao longo de mais de três séculos, por se sustentar sobre uma relação de dominação, associou depreciativamente a noção de trabalho à de sujeição e aviltamento social, isto é, à condição escrava. b) a introdução, nas lavouras brasileiras, de africanosque desconheciam o trabalho levou-o à desmoralização, transformandoo, de esforço para dominar a natureza, em mera luta pela sobrevivência. c) a escravidão foi o único regime possível nos séculos coloniais, pois o trabalho “dignificante” era impraticável em uma natureza hostil como a que encontraram os portugueses no Brasil. d) a relação entre senhores e escravos, no Brasil colonial, se exprimia, quanto ao trabalho, num conflito entre duas concepções: a de trabalho como “esforço para dominar a natureza” (visão dos senhores) e a de trabalho como “luta pela sobrevivência” (visão dos escravos). e) a tradição africana, que considerava o trabalho como função exclusiva de escravos, provocou sua desmoralização, sobretudo numa sociedade como a colonial brasileira. 37 - (UFMA) “Jogar Capoeira ou Danse de la Guerre” (RUGENDAS, Johann – Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil, 1835). Em sua passagem pelo país, na 1ª metade do século XIX, o pintor alemão Rugendas registrou a paisagem, os usos e costumes da sociedade escravista brasileira. A partir de sua representação da capoeira, assinale a alternativa correta. a) Foi originada das práticas culturais e de resistência dos escravos, com aspectos de luta, brincadeira, dança e música. b) Foi valorizada pelos movimentos de independência, como estratégia de enfrentamento das tropas portuguesas. c) Foi assimilada pela sociedade imperial, num movimento de afirmação das raízes africanas do Brasil. d) Foi incentivada pelo movimento romântico, na literatura e nas artes, o qual a apontava como o verdadeiro esporte nacional. e) Foi impulsionada pela modernização do país, que necessitava de corpos fortes e ágeis, aptos para as atividades industriais. 38 - (UFSCAR SP) É prova de mendicidade extrema o não ter um escravo; é indispensável ter ao menos dois negros para carregarem uma cadeira ricamente ornada e um criado para acompanhar este trem. Quem saísse à rua sem esta corte de africanos estaria seguro de passar por um homem abjeto e de economia sórdida. (José da Silva Lisboa. Carta, 1781.) Considerando o texto, é correto afirmar que a escravidão a) impunha um modo de vida de trabalho para ricos e pobres. b) expressava a decadência moral dos brasileiros. c) contrastava com a riqueza das elites portuguesas. d) moldava as relações sociais e econômicas no Brasil. !1 22 Fundação do Clube Militar De fato, não havia ainda no Brasil êsses centros político-militares que tanto mal iriam causar depois ao País, à disciplina das classes armadas e, sobretudo, ao Exército, terreno mais fácil de desagrega9ão do que a Marinha, não só pelo grande número de seus integrantes, tirados das classes menos cultas da nação, e mais sujeitos por isso de serem desviados dos deveres profissionais, como pelo concurso mais direto e mais fácil que podia prestar aos políticos sem escrúpulos, sempre que êstes precisassem, para satisfação de suas ambições e apetites de mando, ameaçar "pôr a tropa na rua", segundo a expressão pitoresca de Pelotas. Não havia assim nenhum clube militar na Côrte nem nas Províncias. Nos sessenta e poucos anos que se tinha de vida independente, ou desde que havia Exér cito no Brasil, ninguém havia ainda cogitado disso. lt que as nossas classes armadas tinham estado quase todo êsse tempo entregues exclusivamente aos deveres e obri gações militares, fôsse nos quartéis e terrenos de treina mento, adestrando-se no manejo das armas, f ôsse nos campos de luta ou de batalha em defesa da Pátria e da integridade do Império. Amparadas como estavam e sempre foram pel,as leis e regulamentos militares; pres tigiadas, como também sempre o foram, por todos 1>s