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Perícia Contábil e Arbitragem Profissionais de Perícia Contábil Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Andreia Marques Maciel de Carvalho 1ª Edição Copyright © 2020, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário Profissionais de Perícia Contábil Para Início de Conversa... .................................................................... 4 Objetivo ........................................................................................... 4 1. Perito e Assistente Técnico ............................................................. 5 2. Qualidade do Perito ......................................................................... 11 3. Qualidade do Trabalho do Perito .................................................... 14 Referências ........................................................................................... 17 Perícia Contábil e Arbitragem 3 Para Início de Conversa... Neste estudo, veremos que o trabalho do perito é cada vez mais requisitado na sociedade. Assim, o presente capítulo tem como objetivo apresentar a Perícia Contábil como uma importante ferramenta de auxílio ao magistrado nas suas decisões. Dessa forma, será necessário contar com um profissional devidamente habilitado para exercer a profissão de perito, e a ele compete a responsabilidade de elaborar o documento que dará esse suporte ao juiz no seu julgamento. Diante disso, cabe ao perito contábil apresentar com qualidade técnica o laudo confeccionado, bem como demonstrar as qualidades que deve possuir o especialista que atua no ramo. Vale ressaltar que o profissional deverá atender à legislação pertinente e realizar suas atividades demonstrando profundo conhecimento técnico e experiência comprovada da matéria que será periciada. Objetivo Analisar a qual legislação o perito contábil deve obedecer. Perícia Contábil e Arbitragem 4 1. Perito e Assistente Técnico Como já estudado no capítulo anterior, o perito contábil é um profissional contador nomeado pelo juiz, o qual deverá estar registrado no Conselho Regional de Contabilidade e que tenha este registro regularizado conforme as diretrizes desse órgão. Esse profissional deverá realizar suas atividades demonstrando profundo conhecimento técnico e experiência comprovada da matéria que será periciada. Figura 1: Perito e assistente técnico. Fonte: Dreamstime. O Código de Processo Civil, Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015, no artigo 156, parágrafo 1.º relata referente à nomeação: ‘‘ Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. § 1.º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado’’. O perito contador é designado para exercer a perícia mediante as análises, investigações contábeis, exames e diligências cabíveis a fim de mostrar a verdade por meio de fatos e provas contábeis documentais e fornecendo bem-estar a todos os que têm interesse na elucidação da controvérsia. A Norma Brasileira de Contabilidade – Profissionais do Perito 01 – (NBC PP 01 - R1) conceitua o perito-contador como um profissional detentor de conhecimento técnico e científico, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis, que exerce a atividade pericial de forma pessoal ou por meio de órgão técnico ou científico, com as seguintes denominações: (a) perito do juízo é o contador nomeado pelo poder judiciário para exercício da perícia contábil; (b) perito arbitral é o contador nomeado em arbitragem para exercício da perícia contábil; (c) perito oficial é o contador investido na função por lei e pertencente a um órgão especial Perícia Contábil e Arbitragem 5 do Estado e (d) assistente técnico é o contador ou órgão técnico ou científico indicado e contratado pela parte em perícias contábeis. É exigido que o perito esteja em constante busca de aprimoramento no conhecimento técnico. Dessa forma, a Norma Brasileira de Contabilidade – Profissionais do Perito 01(NBC PP 01- R1) determina que o perito, no exercício de suas atividades, deve participar do programa de educação continuada. Sendo o perito nomeado pelo juízo, compete às partes, caso julguem pertinente, indicar assistente técnico, o qual é designado como perito da parte. O Código de Processo Civil, Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015, no artigo 465, parágrafo 1.º relata referente à nomeação: Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. [V. art. 471, relacionado] § 1.º Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I – arguir o impedimento ou a suspeição do perito se for o caso; II – indicar o assistente técnico; III – apresentar quesitos. O perito contador assistente deve deter as mesmas habilidades profissionais que o perito-contador, sendo a pessoa de confiança da parte e apta de esclarecer dúvidas e pontos questionados em discussões nas ações durante o processo. Para a execução da função de perito contador assistente, exige-se a graduação em Ciências Contábeis e o registro no Conselho Federal de Contabilidade, pois são quesitos primordiais para o desenvolvimento do trabalho. A indicação ou a contratação de assistente técnico ocorre quando a parte ou a contratante desejar ser assistida por contador, ou comprovar algo que dependa de conhecimento técnico- científico, razão pela qual o profissional só deve aceitar o encargo se reconhecer estar capacitado com conhecimento, discernimento e independência para a realização do trabalho (NBC PP 01 - R1). Perícia Contábil e Arbitragem 6 Esse profissional atende aos interesses da parte que o indicou nos autos, podendo atuar em três momentos: a. Ser um auxiliar do advogado da parte que o contratou. b. Acompanhar os trabalhos do perito judicial para ajudá-lo no que for solicitado. c. Apresentar seu parecer técnico contábil. Figura 2: Três momentos de atuação do perito-contador assistente. Fonte: Dreamstime. O perito assistente é de confiabilidade da parte que o indicou, não estando submetido a impedimento ou suspeição, exceto quanto à qualificação e habilitação profissional. A fim de facilitar o acesso aos serviços do perito, a Resolução CFC nº. 1.502/2016 publicada no Diário da União (DOU), elaborou o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) que tem por objetivo disponibilizar a toda comunidade e aos tribunais de justiça, a relação dos profissionais qualificados e aptos, de acordo com a localização em território nacional, corroborando com as ações em trâmites, facilitando o atendimento das partes. Como obter o cadastro no CNPC? A partir de 2018, o profissional de contabilidade passou a ingressar no CNPC apenas mediante aprovação prévia em Exame de Qualificação Técnica (EQT) para perito contábil, regulamentado pela NBC PP 02 de 2016, que tem por objetivo aferir o nível de conhecimento e a competência técnico-profissional necessários ao contador que pretende atuar na atividade de perícia contábil. Para os autores Santos, Silva, Alves e Araújo (2016): ‘‘ O perito-contador é um profissional e a sua principal função é colher fatos,indícios e provas para apresentá-las de modo, sobretudo, imparcial, em formato de laudo pericial ao juiz, que é o resultado de sua investigação. O perito deve manter-se com alto nível de conhecimento atualizado, seguindo as Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, preferencialmente, as aplicáveis à perícia contábil’’. De acordo com Hoog (2004, p. 58), o perito é o profissional do qual são exigidos elevados conhecimentos científicos e tecnológicos, direcionando os juízes nas questões de ciência e tecnologia. Perícia Contábil e Arbitragem 7 No entanto, desde 2017, há a obrigatoriedade de os peritos contábeis cumprirem o programa de educação continuada preconizado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Segundo a NBC PG 12 R2, do CFC, a iniciativa, considera condições e pressupostos que devem ser atendidos pelos profissionais de contabilidade, listando entidades capacitadoras – possuem autorização para ensinar, instruir –, eventos e cursos credenciados junto aos conselhos, divisão das tarefas de ordem intelectual e o sistema de pontuação anual que deverá ser atingido (40 pontos). Portanto, a ética é essencial para qualquer relação tanto profissional quanto pessoal, e não poderia faltar na área da perícia, já que trabalha ajudando a decisão do juízo. Os profissionais da perícia devem exercer o seu trabalho com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica; e manter a conduta em relação aos colegas pautada nos princípios da consideração, respeito, apreço e solidariedade, em consonância com os postulados de harmonia da classe previsto no Código de Ética Profissional do Contador. (MOURA, 2017, p.3) No dia 1º de junho de 2019, entrou em vigor a atualização do Código de Ética Profissional do Contador. O conjunto de normas, que faz parte da Norma Brasileira de Contabilidade Profissional Geral (NBC PG) 01, foi aprovado pelo Plenário do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) no dia 7 de fevereiro de 2019. “‘Houve profunda atualização do Código para adequá-lo à realidade recente da profissão, que tem passado por período de intensa evolução em decorrência das inovações tecnológicas’, explica o presidente do CFC, Zulmir Breda. O novo conteúdo vai substituir o Código vigente, estabelecido por meio da Resolução CFC n.º 803/1996 – com alterações posteriores”. (JORNAL DO CFC, 2019, n.p) Assim, os peritos contábeis, no âmbito de sua atividade, têm competência técnica para fundamentar as verificações e apontamentos que deverão ser feitos em relação aos fatos contábeis objetos da lide, sendo imparciais e cumprindo fielmente o Código de Ética Profissional (Resolução CFC nº 803, 1996): Art. 5º O Contador, quando perito, assistente técnico, auditor ou árbitro, deverá; I – recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face da especialização requerida; II – abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto de perícia, mantendo absoluta independência moral e técnica na elaboração do respectivo laudo; III – abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da causa em que estiver servindo, mantendo seu laudo no âmbito técnico e limitado aos quesitos propostos; IV – considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido à sua apreciação; Perícia Contábil e Arbitragem 8 V – mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de exercer efeito sobre peças contábeis objeto de seu trabalho, respeitado o disposto no inciso II do art. 2º; VI – abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar suficientemente informado e munido de documentos; VII – assinalar equívocos ou divergências que encontrar no que concerne à aplicação dos Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC; (Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010) VIII – considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre peças contábeis, observando as restrições contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; IX – atender à Fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade e Conselho Federal de Contabilidade no sentido de colocar à disposição desses, sempre que solicitado, papéis de trabalho, relatórios e outros documentos que deram origem e orientaram a execução do seu trabalho. A perícia é feita para sanar a necessidade de conhecimentos específicos sobre o objeto de prova e para maior esclarecimento das partes, como advogados e julgador. A atividade de perito é exclusiva do profissional contador regularmente registrado no Conselho Regional de Contabilidade, que está em dia com suas obrigações, exercendo trabalho pericial de forma pessoal, sendo profundo conhecedor, por suas qualidades e experiência, da matéria periciada. Para contribuir junto aos procuradores na análise e distinção dos dados contábeis, o perito-contador assistente é o profissional indicado (artigo 421, § 1º -I do BRASIL, 2015), conduzindo o oficial perito do juízo nas diligências e na avaliação dos documentos e informações que irão fornecer embasamento na lide pericial. O “Novo Código de Ética do Profissional da Contabilidade está de acordo com os padrões internacionais de ética da profissão”. Código passou a valer em 1º de junho de 2019. De acordo com o artigo 156 - CPC / 2015 - O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. § 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. § 2º Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. § 3º Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados. § 4º Para verificação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, nos termos dos Arts. 148 e 467, o órgão técnico ou científico nomeado para realização da perícia informará ao juiz os nomes e os dados de qualificação dos profissionais que participarão da atividade. § 5º Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Perícia Contábil e Arbitragem 9 Já o art. 157 do CPC reza que o perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. A escusa ser·apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a alegá-la. Logo, art.158 evidencia sanções ao perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas: ‘‘ O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficar· inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis’’. Após o juiz determinar a realização da perícia e nomear o perito, as partes poderão indicar seus assistentes técnicos no prazo de 15 dias. Destaca-se que não são obrigadas a fazê-lo. A missão dos assistentes técnicos éatuar como elemento de confiança das partes, acompanhando a realização do trabalho do perito. Portanto, não se aplicam a eles as causas de impedimento e suspeição previstas para os peritos. Os assistentes técnicos também auxiliam as partes na elaboração dos quesitos, isto é, perguntas, que serão respondidas pelo perito no laudo pericial. A formulação de quesitos é um tema importantíssimo e deve ser trabalhado com detalhes ao longo do curso. O trabalho do assistente técnico é materializado pelo parecer técnico, que pode corroborar ou discordar do laudo apresentado pelo perito. Em seu art. 465, o CPC apresenta o momento que o perito deve ser nomeado, e as partes poderão indicar seus assistentes técnicos: Segundo Pires (2006, p.12): Os profissionais que subsidiam ou transferem informações aos juízes são denominados “peritos”. Possuem conhecimento técnico e científico diferenciado do saber dos juízes, não fazendo julgamento, mas explicando a realidade, muitas vezes, obscura, das partes conflituosas. Figura 3: Perícia contábil. Fonte: Dreamstime. Perícia Contábil e Arbitragem 10 https://www.crcpi.com.br/novo/wp-content/uploads/2013/08/NEWSb05e2cd32b.jpg As atividades de verificação devem fornecer aos juízes, por meio de laudo pericial contábil, observações relatadas pelo perito e conclusões extraídas do posicionamento perante sua interpretação do caso. Complementando as demais ações do perito, este profissional controla, registra e informa fatos importantes de ordem socioambiental resultantes de condutas praticadas pela organização no ambiente em que ela participa. Figura 4: Tipos de peritos. Fonte: Dreamstime. Existem basicamente dois tipos de peritos, conforme estão expostos no Quadro 1. Quadro 1: Resumo das principais diferenças entre perito oficial e perito assistente Fonte: Adaptado de Hoog (2008). 2. Qualidade do Perito Para Neves Junior; Brito (2007, p.2): “A qualidade do trabalho pericial contábil determina a competência profissional de quem o está executando. Competência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício do conhecimento de forma adequada e persistente em um trabalho ou profissão”. Perícia Contábil e Arbitragem 11 Corroborando com os autores, percebe-se que a qualidade do trabalho da perícia contábil está diretamente relacionada ao seu propósito, qual seja a apresentação de um laudo pericial – que apresenta as verdades sobre os fatos para auxiliar o magistrado na resolução de um litígio. Dessa forma, pode-se afirmar que quanto maior (ou melhor) for a qualidade da perícia contábil, maior será a qualidade da informação provida nos laudos e, consequentemente, melhor fundamentada será a decisão tomada pelo juiz. Segundo Dantas (2012), no âmbito da perícia contábil, pode-se analisar como possíveis fatores que impactam na qualidade do trabalho pericial a especialização do perito, o tempo de relação perito – juiz, o rigor na avaliação do juiz, a complexidade do processo e os honorários. Com relação à especialização do perito, quanto maior o seu conhecimento sobre a matéria investigada, melhor será a sua capacidade de avaliar adequadamente os litígios e, consequentemente, melhor será a qualidade do seu trabalho. O relacionamento de longo prazo entre perito – juiz pode reduzir a independência profissional e vir a refletir negativamente na qualidade dos trabalhos desenvolvidos. Já uma avaliação mais rigorosa por parte do juiz, poderá influenciar na conduta dos peritos contadores, aumentando a credibilidade da informação prestada e, com isso, aumentando também a qualidade do trabalho pericial. Quanto maior for a complexidade do processo, mais ela irá exigir do perito contador um maior conhecimento e, em decorrência disso, o seu trabalho será executado com maior qualidade. Em relação aos honorários, é primordial a justa remuneração do trabalho pericial de acordo com as horas estimadas para a execução do mesmo, a relevância, o vulto, o risco e a complexidade dos serviços executados e pela necessidade de qualificação técnica e científica para o desempenho da função. Para Santin e Bleil (2008), a maioria dos magistrados participantes da pesquisa consideram o laudo pericial contábil como de boa ou muito boa qualidade e, para que este possa ser utilizado para facilitar as suas decisões, é necessário que sejam explícitos e claros e que o perito contador esteja em constante especialização. Ferreira et al. (2012) reconhecem que a qualidade nos serviços periciais está relacionada ao planejamento dos atos preparatórios da perícia contábil e com Perícia Contábil e Arbitragem 12 a preocupação em apresentar um resultado de qualidade técnica e científica, que resultará no laudo pericial contábil. Sá (2010, p.9) considera as qualidades do perito do seguinte modo: “O perito precisa ser um profissional habilitado, legal, cultural e intelectualmente, e exercer virtudes morais e éticas com total compromisso com a verdade”. Corroborando com Sá (2010), Alberto (2012) acrescenta que, para o perfeito exercício da perícia, o profissional deve possuir excelência moral (honestidade, moderação e equidade) e excelência intelectual (inteligência, conhecimento e discernimento), pois sem essas condições não seria ele o verdadeiro agente a quem se possa confiar a perícia. As qualidades do perito são determinadas como sendo o conjunto de suas capacidades e são classificadas de quatro formas, conforme segue abaixo: 1. A capacidade legal é a que lhe confere o título em Bacharel em Ciências Contábeis e o registro no Conselho Federal da região, na afirmação de Sá (2010). Alberto (2012) estabelece essa mesma capacidade como sendo requisitos jurídicos formais, isto é, os peritos devem ter grau universitário na matéria que irão opinar e estar registrados nos órgãos de classe reguladores da profissão. 2. Algumas características da capacidade profissional do perito são descritas no Quadro 2, a seguir: Quadro 2: Capacidade profissional do perito. Fonte: Adaptado de Pires (2000). 3. A capacidade ética deriva do cumprimento das normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Contabilidade na NBC PP 01, dentre as quais: conduta, imparcialidade, independência e veracidade na emissão do parecer (SÁ, 2010). Alberto (2012, p.42) explana as qualidades éticas como sendo “Uma agregação mínima de valores à sua personalidade - é a condição essencial, sem a qual não é ele o agente a quem pudesse confiar a perícia [...]”. É Perícia Contábil e Arbitragem 13 essencial, portanto, que o perito desenvolva um comportamento ético, pois de nada vale seu saber, sua sagacidade e perspicácia, se o seu comportamento e atitudes não se traduzem em confiabilidade na produção de um laudo. 4. A capacidade moral é definida por Sá (2010) como virtudes morais, tais como a honestidade, o caráter, a personalidade, a imparcialidade e o equilíbrio emocional. Figura 5: Qualidade do perito. Fonte: Dreamstime. Desse modo, a correta posição técnico-profissional do perito é essencial para a materialização e qualidade do laudo pericial e traduz ao julgador a real certeza, pois, do contrário, o reflexo seria sempre negativo, pois uma decisão baseada em interpretações distorcidas pode provocar danos irreparáveis a pessoas e patrimônios (PIRES, 2000). Importante observar que no exercício da profissão, o perito mantém uma estreita ligação com os tribunais onde tramitam os processos. 3. Qualidade do Trabalho do Perito O Conselho Federal de Contabilidade através da Norma Técnica de Perícia Contábil (NBC TP 01 - R1) pressupõe que o laudo pericial deve conter, no mínimo, a identificação do processo e das partes; a síntese do objeto da perícia; o resumo dos autos; a metodologia adotada para a realização dos trabalhos periciais e esclarecimentos; a descrição das diligências realizadas; a transcrição dos quesitos, assim como as suas respectivas respostas, para o laudo pericial contábil ou para o parecer técnico contábil –onde houver divergênciadas respostas formuladas pelo perito do juízo; a conclusão; o termo de encerramento, o qual deve conter a relação de anexos e apêndices; e a assinatura do perito. A título de curiosidade, temos um outro tipo muito conhecido de perícia, frequentemente vista na fase investigatória da persecução penal, sendo voltada para a formação do conjunto de provas em processos envolvendo crimes contra a vida (perícia forense). Popularmente conhecida porque envolve e ciência forense e ciência criminais. Perícia Contábil e Arbitragem 14 Sá (2007) adverte que um trabalho pericial de boa qualidade deve conter objetividade, devendo restringir-se à matéria; precisão, o que implica fornecer respostas pertinentes ao que foi proposto; clareza; fidelidade; concisão, evitando a prolixidade; confiabilidade inequívoca baseada em matéria, o que significa que a Perícia deve apoiar-se em elementos inequívocos e válidos; e a plena satisfação da finalidade. Juntamente aos critérios formais, existem atributos desejáveis para um bom trabalho pericial: Objetividade precisão clareza fidelidade concisão Figura 6: Atributos desejáveis para um trabalho pericial. Fonte: Adaptado de (SÁ, 2011). O laudo é o material concebido pelo perito no qual demonstra sua opinião, produzindo e justificando seu ponto de vista, além de apresentar as bases ou elementos em que se amparou para chegar à sua decisão. É recomendável que o perito exponha a metodologia adotada, a justificativa da escolha desta e faça uma divisão por itens ou quesitos formulados (SÁ, 2011). O laudo deve ser apresentado ao juiz com boa estética, sem rasuras, sem erros ou quaisquer outros rascunhos, pois nele está proposto todo conceito e análise de sua investigação para posteriores tomada de decisão do magistrado. É, sem dúvida, a peça mais importante da perícia contábil em que de forma categórica, será analisado um processo judicial. Para a elaboração de um bom trabalho pericial, são indispensáveis: precisão, veracidade nas informações, objetividade e imparcialidade. Alguns aspectos e requisitos observados na elaboração do laudo para que ele seja conciso e objetivo são demonstrados no Quadro 3. Perícia Contábil e Arbitragem 15 Quadro 3: Requisitos do laudo pericial. Fonte: Alberto (2012, p. 7). O laudo pericial é, portanto, a materialização do trabalho do perito durante as diligências, onde coloca sua opinião, baseada no seu conhecimento profissional, da forma mais objetiva possível, pois auxiliará o magistrado, proporcionando a certeza jurídica. Nas palavras de Alberto (2012, p.7) “[...] é uma prova altamente valorizada, superior mesmo a algumas provas, [...] porque representa a afirmativa ou a opinião fundamentada científica ou tecnicamente”. Figura 7: Laudo pericial. Fonte: Dreamstime. Assim, é importante que o laudo pericial deva ser elaborado com qualidade, uma vez que constitui uma ferramenta relevante a qual irá oferecer aos magistrados os esclarecimentos necessários para que se possa proferir a sentença de forma mais justa. Vimos, neste estudo, que a perícia contábil é uma técnica respeitável que dá condições para ambas as partes envolvidas em um litígio, sendo útil para diminuir os conflitos existentes entre as partes. Para isso, se faz necessário que o perito contador seja altamente qualificado e conhecedor de todas as modalidades e espécies de uma perícia contábil. Perícia Contábil e Arbitragem 16 Assim, aprendemos que dessa forma, o perito contador, perante a esfera trabalhista, é um profissional de confiança do magistrado devendo desempenhar sua atividade dentro da legalidade e da ética que norteiam a profissão, buscar sempre a imparcialidade, zelo e sigilo do desempenho da perícia, não sendo influenciado pelas situações adversas vindas de terceiros. No entanto, a perícia contábil deverá obedecer às Normas Legais e Técnicas, o código de ética e os princípios da contabilidade. Por fim, verificamos a importância do laudo pericial para que se possa proferir a sentença de forma mais justa para a decisão dos magistrados. Referências ALBERTO, V. L. P. Perícia contábil. São Paulo, Atlas, 5 ed., 2012. BOLETIM INFORMATIVO DO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. 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Aspectos Históricos 1.1 Aspectos Conceituais e Finalidades 1.2 Inovações Trazidas pelo Novo Código de Processo Civil: Lei nº. 13.105/15 para a Perícia 1.3 Caráter e Objetos da Tecnologia Contábil da Perícia Referências _GoBack Profissionais de Perícia Contábil Para Início de Conversa...Objetivo 1. Perito e Assistente Técnico 2. Qualidade do Perito 3. Qualidade do Trabalho do Perito Referências