Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

1 
 
A POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL COM 
HERDEIRO INCAPAZ 
Alinne de Angelo Canabrava1 
Jéferson Araújo Sodré2 
 
RESUMO 
 
O presente artigo visa analisar a possibilidade de realização de inventário por 
escritura pública quando houver herdeiro interessado incapaz, eis que, atualmente, 
esta possibilidade é vedada pelo Código de Processo Civil. Pretende-se analisar as 
modalidades de inventário atualmente previstas em nosso ordenamento jurídico. 
Ainda será analisada alguns casos em que houve a autorização para realização de 
inventário extrajudicial com a presença de incapaz. Por último será analisado o 
Projeto de Lei nº 606/2022 que pretende a alteração do art. 610 do Código de 
Processo Civil para permitir a realização de inventário por escritura pública, mesmo 
quando houver herdeiro incapaz, e o como será realizado este procedimento. Para 
tanto, será utilizado estudo de doutrinas, legislação, dados fornecidos por veículos 
de informação. 
 
Palavras-chave: Inventário. Herdeiros incapazes. Desjudialização. Celeridade. Lei 
nº 11.441/2007 
 
 
ABSTRACT 
This article aims to analyze the possibility of carrying out an inventory by public deed 
when there is an incapable interested heir, as this possibility is currently prohibited by 
the Civil Procedure Code. The aim is to analyze the inventory modalities currently 
provided for in our legal system. Some cases will still be analyzed in which there was 
authorization to carry out an extrajudicial inventory with the presence of an 
incapacitated person. Finally, Bill No. 606/2022 will be analyzed, which seeks to 
change art. 610 of the Code of Civil Procedure to allow inventory to be carried out by 
public deed, even when there is an incapable heir, and how this procedure will be 
carried out. To this end, studies of doctrines, legislation and data provided by 
information vehicles will be used. 
 
 
Keywords: Inventory. Incapable heirs. Dejudicialization. Celerity. Lei nº 11.441/2007 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 Mestre em Administração Pública (UNIR) e Graduado em Direito (UNIR). Assistente em Administração 
(UNIR) e Orientador do Curso de Especialização em Direito Processual Civil (UNIR). E-mail: 
jeferson.sodre@unir.br 
2 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A Lei nº 11.441/2007, introduziu ao ordenamento jurídico brasileiro a 
possibilidade de realizar inventário e partilha e divórcio consensual por via de 
escritura pública, realizada em cartórios de registro civil. 
Esta possibilidade transformou o direito sucessório e de família, já que trouxe 
muito mais celeridade a tais procedimentos e, consequentemente, maior efetividade 
ao acesso à justiça, já que os interessados podem se valer da via administrativa 
para buscar uma solução aos seus impasses, sem a necessidade de buscar o poder 
judiciário, que se encontra sobrecarregado. 
Contudo, este caminho não é permitido quando exista a presença de 
interessados incapazes, por expressa vedação legal. Com isso,os processos que 
envolvam incapazes devem ser propostos judicialmente, e consequentemente, 
acabam por demorar muito mais tempo do que o necessário. 
Diante deste cenário, o objetivo deste artigo é demonstrar que é possível 
flexibilizar esta vedação, desde que o procedimento observe algumas regras, dentre 
elas a participação do Ministério Público. 
Ademais, pretende-se analisar as Portarias editadas por alguns Tribunais de 
Justiça brasileiro, que já permitem a realização de inventário extrajudicial, mesmo 
com a presença de incapaz e o Projeto de Lei nº 606/2022 que pretende alterar o 
Código de Processo Civil e permitir tal possibilidade em todo o território brasileiro. 
 
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O INVENTÁRIO E PARTILHA 
 
O Código Civil determina, em seu art. 6º, que a morte cessa a existência da 
pessoa natural. 
Coma morte da pessoa natural, a herança é transmitida de plano para seus 
herdeiros, ante o princípio do saisine. Apura-se então os bens existentes, através do 
inventário e, posteriormente, estes são divididos entre os partilhados entre os 
herdeiros. (SGANZERLA, 2023, p. 66) 
O princípio do saisine está previsto no Código Civil, no art. 1.784, que 
determina que, “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos 
herdeiros legítimos e testamentários”. 
3 
 
De acordo com Tartuce (2017, n.p), o princípio do saisine deve ser tido como a 
regra fundamental do direito sucessório, onde a transferência dos bens aos 
herdeiros legítimos e legatários ocorre imediatamente após a morte. 
Embora os bens sejam transmitidos de forma automática aos herdeiros, neste 
momento inicial, o que se tem é a totalidade dos bens e direitos, sem a sua exata 
dimensão ou quantidade, sendo impossível determinar qual bem ficará com qual 
herdeiro. Isso porque, neste momento inicial, o acervo de bens constitui a figura do 
espólio, ente sem personalidade jurídica. (DONIZETTI, 2019, p.1318) 
Para que sejam apurados os bens, é necessária a abertura de inventário. No 
que tange a sua definição, ensina Caio Mario Pereira da Silva: 
 
...é o processo judicial pelo qual se efetua a descrição dos bens da 
herança, lavra-se o título de herdeiro, liquida-se o passivo do monte, 
paga-seo imposto de transmissão mortis causa, e realiza-se a 
partilha dos bens entre os herdeiros. Concluído, expede-se o “formal 
de partilha”, com a discriminação dos haveres quecabem no quinhão 
dos herdeiros, e compõem os pagamentos. 
 
Desta forma, embora a transmissão dos bens aos herdeiros seja imediata, é 
necessária a abertura de processo judicial para que sejam apurados todos os bens, 
herdeiros e dívidas deixados pelo de cujus, realizar a liquidação das dívidas e o 
pagamento do imposto de transmissão, para então partilhar os bens entre os 
sucessores. 
 
2.1 Inventário e partilha judicial 
 
O inventário e partilha realizados pela via judicial é regulamentado pelo Código 
de Processo Civil (CPC), previsto em seu Capítulo VI, nos arts. 610 a658. 
De plano, o art. 610 restringe a sua utilização para duas hipóteses, ao 
determinar que proceder-se-á o inventário judicial quando houver herdeiro incapaz 
ou testamento. 
O processo de inventário deve ser instaurado no prazo de 60 (sessenta) dias a 
contar da morte do de cujus, conforme o art. 611. O citado dispositivo legal, contudo, 
autoriza ao juiz a prorrogar esse prazo de ofício ou a requerimento das partes. 
A competência territorial para o processamento do inventário o domicílio do 
autor, conforme determina o art. 48 do CPC. 
4 
 
No que se refere a legitimidade para instaurar o inventário, determina o art. 615 
que este deve ser requerido por quem estiver na posse e na administração do 
espólio. 
Aberto o inventário, o juiz nomeará o inventariante,seguindo a ordem de 
preferência prevista no art. 617.Em primeiro lugar, será nomeado o cônjuge ou 
companheiro sobrevivente, desde que estivessem convivendo com o de cujus ao 
tempo de sua morte. 
Na falta destes, será nomeado o herdeiro que estiver na posse ou 
administração dos bens. Caso nenhum herdeiro esteja na posse, será nomeado 
qualquer um dos sucessores.Inexistindo herdeiro maior, poderá ser inventariante o 
herdeiro incapaz, através de seu representante legal. 
Também poderão ser inventariantes o testamenteiro, o cessionário do herdeiro 
ou legatário, o inventariante judicial, ou pessoa estranha e idônea quando não houve 
inventariante judicial. 
Após prestar compromisso, por determinação do art. 620, o inventariante 
apresentará, no prazo de 20 dias, contados a partir da data que em que prestou 
compromisso, as primeiras declarações. 
Nesta manifestação, deverá apresentar a qualificação do autor da herança, a 
qualificação dos herdeiros e do cônjuge ou companheiro supérstite, a qualidade dos 
herdeiros e o grau de parentesco, a relação completa e individualizada de todos os 
bens do espólio e as dívidas ativas e passivas do espólio. (Art. 620 incisos I a IV, do 
CPC) 
Após a apresentação das primeirasdeclarações, o art. 626 do CPC determina 
ao juiz que deverão ser citados o cônjuge ou companheiro, os herdeiros e os 
legatários. Ainda, deverá intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, quando 
houver herdeiro incapaz ou ausente e o testamenteiro, caso o de cujus tenha 
deixado testamento. 
Concluídas as citações, será concedido às partes o prazo comum de 15 
(quinze) dias, para que se manifestem sobre as primeiras declarações, momento em 
que poderão arguir erros, omissões e sonegações de bens, insurgir-se quanto a 
nomeação do inventariante e contestar sobre a qualidade de quem foi incluído como 
herdeiro. (Art. 627, incisos I, a III, CPC) 
5 
 
Caso haja impugnação e esta seja sobre erros, omissões ou sonegação de 
bens e esta venha a ser julgada procedente, o juiz determinará a retificação das 
primeiras declarações, conforme previsto no parágrafo primeiro do art. 627, do CPC. 
Se acolher impugnação relativa à nomeação do inventariante, o juiz nomeará 
outro, observando a preferência legal estabelecida no já mencionado art. 617. (Art. 
627, § 2º, CPC) 
Quando se tratar de insurgência quanto a qualidade de herdeiro e esta 
demandar a produção de provas além das documentais, o juiz remeterá, por força 
do que dispõe o art. 627, § 3º, às vias ordinárias e suspenderá a entrega do quinhão 
que couber ao herdeiro admitido. 
Decorrido o prazo estipulado no caput do art. 627 do CPC, sem impugnação ou 
quando for decidida a eventual impugnação oposta, o art. 630 do CPC determina ao 
juiz que este nomeie, caso seja necessário, perito para avaliar os bens do espólio, 
caso não haja avaliador judicial na comarca. 
Esta avaliação tem o objetivo de apurar o monte partível e viabilizar à Fazenda 
Pública a realização do cálculo do imposto causa mortis. Contudo, se todos os 
herdeiros forem capazes e a Fazenda pública aceitar o valor informado nas 
primeiras declarações, é possível dispensar esta avaliação. (DONIZETTI, 2019, 
p.1333) 
Nos casos em que for realizada a avaliação, quando este for acostado ao 
processo, as partes serão intimadas para se manifestarem quanto ao valor da 
avaliação, no prazo de 15 (quinze) dias. (Art. 635, CPC) 
Caso haja impugnação, relativa ao valor atribuído pelo perito, cabe ao juiz 
decidir de plano, utilizando as informações existentes nos autos, conforme autoriza o 
art. 635, § 1º do CPC. O parágrafo 2º do art. 635, determina, por sua vez, que se 
acolhida a impugnação, determinará o juiz que o perito retifique sua avaliação. 
Em continuidade, o art. 636 dispõe que, nos casos em que for aceito ou laudo, 
ou tendo sido resolvidas as impugnações arguidas a seu respeito, será lavrado o 
termo de últimas declarações. 
A petição de últimas declarações encerra a fase de inventário dos bens do 
espólio e por isso, esta deve indicar seus bens com exatidão. Porisso é facultado ao 
inventariante a possibilidade de emendar, aditar ou completar as primeiras 
declarações.(DONIZETTI, 2019, p.1333) 
6 
 
Após o inventariante apresentar as últimas declarações, as outras partes serão 
ouvidas no prazo comum de 15 (quinze) dias, conforme preconiza o art. 637. 
Havendo alguma insurgência dos demais herdeiros, cabe ao juiz decidir de plano a 
respeito. (DONIZETTI, 2019, p.1333) 
Findo prazo do art. 637, sem manifestação dos herdeiros, ou tendo decidido o 
juiz acerca das impugnações, será realizado o cálculo do imposto.Após a 
apresentação do cálculo, novamente será aberto prazo, desta vez de 05 dias para 
que as partes se manifestem acerca deste, conforme previsão do art. 638. 
Existe ainda o dever de os herdeiros informarem no inventário o (os) bem (ens) 
que tenham recebido em vida do de cujos, ou seu (s) valor (res). Esta obrigação tem 
o escopo de igualar os quinhões de cada herdeiro conforme os arts. 2.002 a 2.012 
do Código Civil. (BUENO, 2015. p.448) 
No curso do processo de inventário, podem os credores do de cujus pleitear o 
pagamento das dívidas, mediante petição acompanhada de prova literal, conforme 
disposto no art. 642,caput e § 1º do CPC. Esta petição será distribuída por 
dependência aos autos de inventário. 
Se todos os herdeiros concordarem com o pedido de pagamento, será deferida 
a habilitação do credor e determinado, pelo juiz a separação do valor necessário 
para a sua quitação ou dos bens necessários a satisfação da dívida. Estes bens 
serão alienados seguindo as formas previstas de expropriação de bens. Cabe ainda 
a possibilidade de adjudicação, a ser requerida pelo credor e anuída pelos herdeiros. 
(NEVES, 2017p. 980) 
Ocorrendo a separação dos bens para pagamento dos herdeiros habilitados, de 
acordo com art. 647 do CPC, o juiz facultará as partes que formulem o pedido de 
quinhão. Em seguida o juiz deliberará acerca da partilha e designará os bens que 
devam integrar o quinhão de cada sucessor. 
As partes podem, ainda, desde que capazes, realizar por acordo de vontades, a 
partilha dos bens. Contudo, caso não haja acordo, será realizado o esboço da 
partilha. Feito tal esboço, as partes poderão se manifestar sobre ela, no prazo de 15 
dias. Após a resolução de eventuais questionamentos, será efetivada a partilha. Na 
sequência será realizado o recolhimento do imposto e deverá ser apresentada a 
certidão negativa de tributos nos autos. Tendo sido recolhido o imposto, o juiz 
julgará por sentença o inventário. (BUENO, 2015. p.448) 
7 
 
A sentença proferida nos autos de inventário tem natureza constitutiva, eis que 
altera a situação dos herdeiros e põe fim ao estado de indivisão patrimonial 
decorrente do falecimento do autor da herança. (BUENO, 2015. p.448;NEVES, 
2017, p. 985) 
Com o trânsito em julgado, cada herdeiro receberá os bens que lhe couberem e 
um formal de partilha, conforme determina o art. 655 do CPC. 
Importante mencionar que, as decisões proferidas ao longo do processo de 
inventário podem ser podem ser objeto de recurso, eis que, no art. 1.015, parágrafo 
único, do CPC, está contida a possibilidade de se interpor agravo de instrumento 
das decisões interlocutórias no processo de inventário. 
Ademais, caso exista herdeiro incapaz, o Ministério Publico será intimado para 
intervir como fiscal da ordem jurídica, conforme determina o art. 178, II, do CPC. 
Como se vê, o inventário judicial é um rito essencialmente burocrático, com 
fases bem definitas e prazos maiores. Ainda conta com a participação da Fazenda 
Pública ao longo do seu trâmite. Por tais razões o inventário judicial tende a ser 
moroso, dispendioso e gera desgaste entre os envolvidos. (ÁVILA; MAZZEI, 2021, 
p.16-17) 
 
2.2 Inventário e Partilha Extrajudiciais 
 
A possibilidade realização de inventário extrajudicial passou a ser possível com 
o advento da Lei Federal nº 11.441 de 2007, que alterou dispositivos do Código de 
Processo Civil de 1973, entre eles, o art. 982, que passou a permitir a realização de 
inventário e partilha por escritura pública, desde que não houvessetestamento ou 
interessado incapaz. 
Posteriormente, como houve dúvidas quanto a aplicação da Lei nº 11.441/2007, 
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 35 de 24/04/2007. 
Dentre as regras trazidas pela Resolução nº 35, tem-se no seu art. 1º a 
possibilidade de livre escolha do tabelião de notas, não sendo necessária a 
observância das regras de competência do Código de Processo Civil. 
Assim, diferente do inventário judicial, que deve ser proposto no último 
domicílio do de cujos, conforme regra prevista no art. 48 do CPC, o inventário 
extrajudicial poderá ser proposto em qualquer tabelionato do país. 
8 
 
O art. 2º da Resolução 35 faculta, ainda, a possibilidade de escolha entre a via 
judicial ou extrajudicial e permite que os interessados solicitem, a qualquer 
momento, a suspenção, pelo prazo de 30 dias, ou a desistência do inventário 
proposto pela via judicial para a realização de inventário extrajudicial. 
Ainda que se opte pela via extrajudicial, é obrigatórioque os interessados 
sejam assistidos por advogado, cujo nome e registro na OAB deverá constar na 
lavratura da escritura de inventário, conforme determina o art. 8º da Resolução 35. 
O art. 11 da Resolução nº 35 determina a obrigatoriedade de se nomear 
interessado para representar o espólio, como poderes de inventariante para cumprir 
as obrigações ativas ou passivas pendentes, sendo desnecessário seguir a ordem 
prevista no art. 617 do CPC. 
No que se refere aos poderes do representante do espólio, o parágrafo 2º do 
art. 11, informa que este poderá buscar informações bancárias e fiscais, 
imprescindíveis para a apuração dos bens e levantamento de quantias para o 
pagamento do imposto e dos emolumentos do inventário. 
Segundo o art. 21 da Resolução 35, a escritura publica de inventário e partilha 
conterá a qualificação do de cujus, seu regime de bens caso fosse casado, a 
existência de pacto antenupcial e seu registro imobiliário, o dia e local do seu 
falecimento, a data da expedição de certidão de óbito, acrescido das informações do 
seu registro junto ao cartório de registro civil e a declaração dos herdeiros, sob as 
penas da Lei, de que o autor da herança não deixou testamento ou outros herdeiros. 
Para a lavratura da escritura de inventário, por determinação do art. 22 da 
Resolução 35, devem ser apresentados os seguintes documentos:a) certidão de 
óbito do autor da herança; b) documento de identidade oficial e CPF das partes e do 
autor da herança; c) certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros; 
d) certidão de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros casados e pacto 
antenupcial, se houver; e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles 
relativos; f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens móveis 
e direitos, se houver; g) certidão negativa de tributos; e h) Certificado de Cadastro de 
Imóvel Rural - CCIR, se houver imóvel rural a ser partilhado. 
Assim como no inventário judicial, o recolhimento dos impostos deve anteceder 
a lavratura da escritura, conforme previsto no art. 15 da Resolução 35. 
A respeito do inventário extrajudicial, quando da sua introdução ao 
ordenamento jurídico, VELOSO (2010, p.103) pontuou que este representou um 
9 
 
grande marco no Direito brasileiro, eis que permitiu aos interessados optarem por 
um procedimento mais curto e célere, sem a necessidade de se buscar a via judicial 
e, sobretudo com a certeza do momento em que este se inicia e acaba. Isto, para o 
Autor é fundamental para superar o momento em que a família do de cujus se 
encontra. 
Além disso, o inventário extrajudicial desincumbe o Poder Judiciário de 
questões inerentes a direitos individuais disponível que podem perfeitamente ser 
objeto de transação por meio de negócio jurídico, deixando apenas as demandas 
litigiosas para a tutela jurisdicional. (DONIZETTI, 2019,p.1321) 
 
3 POSSIBILIDADE DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL COM HERDEIRO 
INCAPAZ COMO MEDIDA DE DESJUDICIALIZAÇÃO 
 
Como visto anteriormente, o inventário extrajudicial possui algumas vantagens 
em relação ao inventário judicial, sobretudo em relação ao tempo de duração, por 
ser um procedimento menos burocrático. 
A possiblidade de optar pelo inventário extrajudicial é vedada, entretanto pelo 
disposto no art. 610, do CPC, quando houver interesse de incapaz ou a existência 
de testamento. 
Com esta vedação, existindo herdeiros incapazes, deve ser utilizado o 
inventário judicial. 
Paralelo a isso, conforme aponta o Relatório Justiça em Números, realizado 
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2024, p.15), relativo ao ano de 2023, 
aponta que, neste ano foram protocolados 35 milhões de novos processos, o que 
representa o maior número da serie histórica, com aumento de 9,4% em relação ao 
ano anterior. 
O Relatório (CNJ, 2024, p.17) apontou, ainda, que o tempo médio de 
tramitação dos processos pendentes em 31/12/2023, na Justiça Estadual, no 1º 
Grau, é de 04 anos e 06 meses. 
Considerando que o processo de inventário judicial tramita na Justiça Estadual, 
no 1º Grau, este é o seu tempo médio de sua duração. 
Neste cenário, em julho de 2021, o juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de 
Leme/SPCível, proferiu, nos autos nº1002882-02.2021.8.26.0318, decisão 
10 
 
autorizando a assinatura de escritura pública de inventário extrajudicial com 
herdeiros incapazes. 
No caso concreto, durante o trâmite de inventário extrajudicial, houve o 
falecimento de herdeiro que deixou outros herdeiros menores. Diante desta situação, 
foi solicitado alvará judicial para autorizar a assinatura de escritura pública de 
inventário. 
O pedido de autorização foi acompanhado com declaração emitida pelo 
tabelião responsável, salientando que o plano de partilha e pagamento obedeceu ao 
disposto no art. 1.829 do Código Civil, e não houve nenhum tipo de pagamento 
desigual. 
Assim, foi deferida a autorização judicial, e o inventário extrajudicial pode ser 
concluído, mesmo havendo menores. 
Motivado pela decisão proferida pela 3ª Vara Cível da Comarca de Leme/SP, o 
Juiz de Direito Edinaldo Muniz dos Santos, titular da Vara de Registros Públicos, 
Órfãos e Sucessões da Comarca de Rio Branco, do Tribunal de Justiça editou a 
Portaria 5914-12/2021, autorizando e regulamentando a realização de inventário 
extrajudicial, quando houver herdeiros interessados incapazes. 
Constituída por dois artigos, a Portaria 5914-12/2021 determinou, em seu art. 
1º que os tabelionatos que integrem a competência da Vara de Registros Públicos 
de Rio Branco podem lavrar escrituras públicas de inventário extrajudicial com 
herdeiros interessados incapazes, desde que a minuta final, acompanhada da 
documentação pertinente seja submetida a apreciação daquela Vara, antecedida de 
manifestação do Ministério Público. 
O art. 2º, informa que o procedimento será processado na modalidade de 
pedido de providência, a ser proposto por herdeiro ou pelo próprio cartório 
responsável pelo inventário extrajudicial, sem a incidência de custas, diante do 
pagamento dos emolumentos cartorários. 
Posteriormente, foi apresentado o Projeto de Lei nº 606/2022, de Autoria do 
Deputado Federal Célio Silveira, do PSDB/GO, que propõe alterar a redação do art. 
610 do Código de Processo Civil, para possibilitar a realização de inventário 
extrajudicial quando houver herdeiros incapazes. 
O Projeto de Lei propõe que a redação do artigo 610 passe a conter a seguinte 
redação: 
Art. 2º O artigo 610 da Lei nº 13.105 de 2015 passa a 
11 
 
vigorar com a seguinte alteração: 
“Art. 610. .............................................................................. 
............................................................................................... 
§ 2º No caso da existência de testamento, o inventário e a partilha poderão 
ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para 
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância 
depositada em instituições financeiras, desde que: 
I- o testamento tenha sido previamente registrado judicialmente ou haja 
expressa autorização do juízo competente, e; 
II- os interessados sejam capazes e concordes. 
§ 3º Ainda que haja interessado menor ou incapaz, o juizpoderá conceder 
alvará para que o inventário e partilhasejam feitos por escritura pública, 
após manifestação doMinistério Público, desde que: 
I- a partilha seja estabelecida de forma igualitária e idealsobre todo o 
patrimônio herdado; 
II- os interessados estejam concordes; 
III-seja apresentada a minuta final da escritura,acompanhada da 
documentação pertinente, e; 
IV-caso haja testamento, que, tenha sido previamenteregistrado 
judicialmente ou haja expressa autorização dojuízo competente. 
§ 4º O procedimento previsto no parágrafo anterior seráprocessado 
mediante pedido de providência ao juízocompetente, provocado pelos 
herdeiros interessados oupelo próprio cartório do inventário extrajudicial,isento decustas processuais, mas sem prejuízo do devido pagamentodos 
emolumentos cartorários. 
§ 5º Na hipótese prevista no parágrafo 3º, a versão final eassinada da 
escritura de inventário deverá fazer menção expressa ao alvará emitido pelo 
juízo sucessório, econstituirá documento hábil para qualquer ato de 
registro,bem como para levantamento de importância depositadaem 
instituições financeiras. 
§ 6º No caso de inventário e partilha extrajudiciais, otabelião somente 
lavrará a escritura pública se todas aspartes interessadas estiverem 
assistidas por advogado oupor defensor público, cuja qualificação e 
assinaturaconstarão do ato notarial.” 
 
O PL 606/2022 guarda semelhança com a Portaria editada pelo TJAC, na 
medida em que condiciona a lavratura da minuta final, a apreciação prévia do juiz 
competente e do Ministério Público. 
Como se vê, o tabelião não atuará, mas sim em conjunto com os membros do 
Ministério público, até pela obrigatoriedade de sua participação, conforme 
estabelece o art. 178, II, do CPC. (ARAUJO; TASSIGNY, 2024, p.11) 
A medida se mostra como mais um passo para a desjudicialização, aplicada no 
caso em matéria de Sucessões, possibilitando que haja maiores condições de 
promoção ao acesso à justiça por meio da medida, sem que se descure as garantias 
dos vulneráveis. 
Outrossim, o Ministério Público já atua perante as serventias extrajudiciais, nos 
processos de habilitação para casamento e na fiscalização de fundações instituídas 
por escritura pública. Deste modo haveria apenas a ampliação da atuação 
12 
 
colaborativa destes entes, para concretizar o acesso à justiça material. (ARAUJO; 
TASSIGNY, 2024, p.11) 
Assim, a possibilidade de alteração da legislação, é de grande importância, já 
que permite a pacificação do tema em todo o território nacional, permite aos 
jurisdicionados a possibilidade de optar pela via extrajudicial, nos casos de 
inventário, mesmo com a existência de herdeiros incapazes e contribui para 
desafogar o Judiciário, deixando para este apenas os casos em que exista litígio. 
 
4 CONCLUSÃO 
 
Tal como evidenciado, ainda que a utilização do inventário extrajudicial, 
introduzido pela Lei nº 11.441/2007, se restrinja aos casos em que não exista 
testamento ou herdeiros incapazes, existe um movimento no sentido de flexibilizar 
esta vedação. 
Sabe-se que a intenção do legislador, ao vedar o inventário extrajudicial caso 
existam herdeiros interessados incapazes, foi a de proteger seus interessesjá que a 
via judicial guardaria maior formalidade. 
Contudo, nos casos em que a partilha ocorre de maneira igualitária entre os 
herdeiros não há que se falar em prejuízos. Ademais, mesmo que o inventário seja 
realizado perante o cartório de registros, ainda assim haveria a atuação Ministério 
Público, como fiscal da lei, tal como já ocorre em outros casos, a exemplo dos 
pedidos de retificação, restauração ou suprimento de assentamentos no Registro 
Civil das Pessoas Naturais. 
Também haveria a apreciação prévia do juiz competente, antes da assinatura 
final da minuta de escritura pública, o que também seria um modo de resguarda os 
interesses dos incapazes. 
É certo que a necessidade de previa manifestação do Poder Judiciário pode 
causar estranheza, já que o objetivo é justamente evitar a via judicial. Contudo, 
mesmo que haja essa necessidade tanto na Portaria quanto no PL 606/2022, esta 
atuação seria apenas no sentido de verificar a partilha e os documentos que foram 
submetidos ao cartório, de modo que a atuação do juiz seria drasticamente reduzida, 
e ainda assim manteria a celeridade do procedimento. 
13 
 
Assim, percebe-se que a alteração proposta é importância eis que a via 
extrajudicial é extremamente relevante para concretizar o acesso à justiça e deveria 
contemplar também as pessoas incapazes. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ÁVILA, Raniel Fernandes de; MAZZEI, Rodrigo Reis. Direito sucessório e 
processo civil: o art. 665 do CPC/15 como um negócio jurídico processual 
típico no rito do inventário e da partilha. Civilistica.com, Rio de Janeiro, v. 10, n. 
1, p. 1–28, 2021. Disponível em: 
https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/541. Acesso em: 24 jul. 2024. 
 
ARAUJO, M. B. R.; TASSIGNY, M. M. A desjudicialização do divórcio e inventário 
com a presença de incapaz: possibilidade de um procedimento único. 
OBSERVATÓRIO DE LA ECONOMÍA LATINOAMERICANA, [S. l.], v. 22, n. 5, p. 
e4649, 2024. DOI: 10.55905/oelv22n5-096. Disponível em: 
https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/4649. 
Acesso em: 26 jul. 2024. 
 
BRASIL. Código Civil, Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código 
Civil. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 24 jul. 
2024. 
 
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35, de 24 de janeiro de 
2007.Brasília,2007.Disponível: 
http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/resoluon35-24-04-2007presidncia.pdf. 
Acesso em: 18 jul. 2024 
 
BRASIL. Lei 11.441, de 04 de janeiro de 2007. Altera dispositivos da Lei 5869 de 11 
de janeiro de 1973, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação 
consensual e divórcio consensual por via administrativa. Brasília, DF. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm.. Acesso em: 
18 jul. 2024. 
 
BRASIL. Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo 
Civil.Brasília, DF, Diário Oficial da União. 17 mar. 2015. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acessoem: 
24 jul. 2024. 
 
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Comarca de Leme. Sentença 
Processo nº 1002882-02.2021.8.26.0318. MM. Juiz Marcio Mendes Picolo. 
23/07/2021. 
 
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Acre. Portaria n. 5914-12 de 08 de 
setembro de 2021. Dispõe sobre a realização de inventário extrajudicial, em 
tabelionato de notas, quando houver herdeiros interessados incapazes. 
https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/541
https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/4649
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm
http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/resoluon35-24-04-2007presidncia.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
14 
 
 
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente 
estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015 / Cassio Scarpinella 
Bueno.São Paulo: Saraiva, 2015. 
 
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil / Elpídio Donizetti. 
– 22. ed. – São Paulo: Atlas,2019. p. 1318. 
 
FREIRE JÚNIOR, A. B.; BATISTA, L. A. Inventário extrajudicial com menores: 
possibilidade ou contrariedade legal?. Revista Vox, [S. l.], n. 15, p. 59–74, 2022. 
Disponível em: 
https://www.fadileste.edu.br/revistavox/index.php/revistavox/article/view/7. Acesso 
em: 26 jul. 2024. 
 
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – Volume 
Único. 9 ed. – Salvador: Ed JusPodivum, 2017. 
 
SGANZERLA. Gustavo Henrique Fernandes. Sucessões na era digital: o 
inventário extrajudicial e a plataforma e-notariado.REVISTA IBDFAM: FAMÍLIAS 
E SUCESSÕES. v. 56 (mar./abr.) - Belo Horizonte: IBDFAM, 2023. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito civil, v. 6: direito das sucessões / Flávio Tartuce – 10. 
ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
 
VELOSO, Zeno. Lei n. 11.441, de 04.01.2007 – Aspectos práticos da separação, 
divórcio, inventário e partilha consensuais. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha 
(Coord.). Família e responsabilidade. Porto Alegre: Magister/IBDFAM, 2010, p. 103. 
https://www.fadileste.edu.br/revistavox/index.php/revistavox/article/view/7

Mais conteúdos dessa disciplina