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Planejamento e gestão de obras públicas Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini CaminhaAnelize Pantaleão Puccini Caminha Planejamento e gestão de obras públicas Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini CaminhaAnelize Pantaleão Puccini Caminha Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini Caminha ISBN 978-65-5821-240-9 9 786558 212409 Código Logístico I001042 Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini Caminha IESDE BRASIL 2023 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2023 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Erich Sacco/Shutterstock Anelize Pantaleão Puccini Caminha Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestra em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Processo Civil pela UFRGS. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora de Direito e autora de artigos científicos e livros nessa área. Professora na graduação, em diversas especializações e em cursos preparatórios. Também é sócia-proprietária em um escritório de advocacia. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Governança pública 9 1.1 Análise da governança pública 9 1.2 Obras públicas 14 1.3 Planejamento de obras públicas 21 2 Contratos de prestação de serviços e produtos 27 2.1 Contratos administrativos e suas consequências jurídicas 27 2.2 Benefícios e custos 31 2.3 Formas de empreitada 33 2.4 Cronograma físico-financeiro e responsabilidade fiscal 38 3 Procedimento licitatório 43 3.1 Conceito e modalidade de licitação 43 3.2 Lei de Licitações 47 3.3 Procedimento de licitação 50 4 Fiscalização de contratos 55 4.1 As principais atribuições da fiscalização 56 4.2 Fiscalização de contratos administrativos 58 4.3 Documentação necessária 63 5 Garantias contratuais 71 5.1 As garantias nos contratos administrativos 71 5.2 Avaliação dos resultados e seu impacto social 76 5.3 O impacto ambiental e as principais irregularidades 79 Resolução das atividades 86 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! As obras públicas são necessárias para o desenvolvimento da sociedade. Sejam elas básicas ou complexas, sempre têm o objetivo de garantir o bem-estar da população que habita determinada região. Tendo em vista a utilização de verba pública e a contratação de empresa privada, é imprescindível que o procedimento seja realizado de modo transparente. Para isso, a legislação brasileira indica de que forma os processos de planejamento, contratação e desenvolvimento de obras públicas devem acontecer. Cada capítulo deste livro é destinado à compreensão estrutural e funcional dos sistemas de planejamento e contratação das obras públicas. Começaremos com uma noção geral e introdutória do estudo da governança pública, cuja análise se dá tendo em vista a necessidade de prestação de serviços públicos por meio da iniciativa privada. Em seguida, estudaremos cada etapa do procedimento de contratação de obras públicas, que se inicia com a fase preliminar, seguida da fase interna da licitação. A contratação pode ser realizada de outras formas, que também serão desenvolvidas ao longo dos capítulos. Na sequência, analisaremos a fase externa e o contrato para a execução da obra pública. Ao final do livro, desenvolveremos os mecanismos de fiscalização utilizados pela legislação brasileira. Além disso, ao final dos capítulos, você será desafiado a responder a questões que integram e aplicam os assuntos estudados a situações cotidianas, o que gera um estudo mais prático. Em suma, esta obra traz as informações básicas para a compreensão geral do planejamento e gestão de obras públicas e destina-se a estudantes que desejam aprofundar o estudo dos contratos administrativos de obras públicas. Bons estudos! APRESENTAÇÃOVídeo Governança pública 9 1 Governança pública A governança pública é entendida como a capacidade do governo de implementar políticas públicas e organizar a vida em sociedade. Neste capítulo, estudaremos de que forma se dá a governança pública, a necessidade de gestão das organizações e como surgiu a administração do Estado por terceiros. A princípio, veremos que essa governança tem o objetivo de instru- mentalizar o governo e, então, examinaremos a nova governança pública e de que maneira ela é positivada na legislação brasileira. Em seguida, compreenderemos o conceito de obras públicas, suas diferentes formas e seus respectivos contratos. Além disso, analisaremos as suas fases, desde o planejamento, passando pelo desenvolvimento e finalizando com a entrega e o uso da obra. Posteriormente, estudaremos o planejamento das obras públicas e as fases prévias à licitação, como a identificação das necessidades do estabe- lecimento e as características básicas de cada empreendimento. Assim, apresentamos o estudo dos primeiros passos do planejamento e desenvolvimento de obras públicas. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conceituar governança pública, suas funcionalidades e objetivos; • identificar os serviços e planejamentos estabelecidos para obras públicas; • verificar as etapas para a realização de obras públicas na licitação. Objetivos de aprendizagem 1.1 Análise da governança pública Vídeo A governança surgiu por meio da necessidade de gestão das or- ganizações por terceiros, deixando de lado a administração direta de seus proprietários. Em algumas situações, há divergência de interesses entre administradores e proprietários e, para minimizar os conflitos, 10 Planejamento e gestão de obras públicas existem diversos estudos e estruturas de governança desenvolvidas, as quais serão abordadas ao longo do capítulo. Antes de mais nada é necessário entender a definição de governan- ça e governabilidade, conceitos frequentemente confundidos na so- ciedade. Segundo Bonatto (2018), governabilidade é a capacidade de governar, é a legitimidade política de exercer o poder, enquanto gover- nança é a capacidade exercida pelo governo de implementar políticas públicas, planejá-las e executá-las em todos os seus aspectos. Paludo (2010) afirma que, no Brasil, o Estado é administrado pelo governo, com diretrizes e objetivos gerais para a atuação da Adminis- tração Pública, a qual é o mecanismo utilizado para executar a promo- ção do bem comum. Sendo assim, a governança pública é um instrumento de gover- no utilizado para a realização dos seus fins. Para tanto, são aplicados mecanismos a fim de organizar a prestação de serviços à sociedade, a gestão de recursos públicos, a divulgação das informações inerentes, a relação com a sociedade civil etc. (PALUDO, 2010). O objetivo principal da governança pública, portanto, é garantir o bem-estar e o desenvolvi- mento da população do Estado. Para a melhor compreensão do tema, é importante distinguirformas de diminuir o litígio com maiores garantias de que, efetivamen- te, a obra será entregue em pleno funcionamento. A principal desvan- tagem é que, havendo elevado grau de responsabilidade da contratada, o valor do empreendimento pode ser maior. 2.4 Cronograma físico-financeiro e responsabilidade fiscal Vídeo Para a realização de uma obra pública é necessário programar os custos de gastos do empreendimento. Esse documento é chamado de cronograma físico-financeiro e deve prever a gestão da obra, determi- nando as suas atividades, como construção da obra, saras de início e fim, orçamento de serviço e materiais, mão de obra, prazo para execu- ção, entre outros. Esse cronograma deve contemplar a avaliação do prazo proposto para a execução da obra. Além disso, deve mencionar a distribuição dos serviços ao longo do tempo, o porte e o tipo de empreendimento. A avaliação da compatibilidade do cronograma será realizada pela equi- pe de auditoria com a dotação orçamentária da obra e deverá contem- plar o valor total da construção, incluindo o BDI (BRASIL, 2018). O documento em que é apresentado o relatório da avaliação do cronograma físico-financeiro da obra é de suma importância, pois, por ser um documento técnico, por meio dele o fiscal poderá realizar as medições previstas para cada etapa da conclusão. Além disso, deve- rá ser justificada e autorizada toda alteração realizada no cronograma pelo ente competente e, consequentemente, será realizado aditivo ao contrato. Se houver a prorrogação do prazo, será elaborado um novo cronograma com as necessárias alterações (BONATTO, 2018). Como regra geral, a formulação do cronograma fica a cargo do ór- gão contratante, para o adequado planejamento da obra, sendo esta- belecido, nesse momento, os prazos para a execução das parcelas de serviços e seus pagamentos respectivos. É possível, ainda, que a con- tratada tenha o encargo do planejamento adequado, mas com a apro- vação da Administração (BONATTO, 2018). Contratos de prestação de serviços e produtos 39 Verifica-se a exigência do cronograma para que as obras ou os servi- ços sejam licitados, nesse sentido, só poderão ser executadas as obras que tiverem os documentos obrigatórios, como o referido cronograma. Averiguamos no estudo acerca das alterações dos contratos admi- nistrativos que uma das hipóteses de alteração por acordo das partes é quando se faz necessário modificar a forma de pagamento. Esse caso poderá acontecer apenas por imposição de circunstâncias supervenien- tes. Além disso, é “vedada a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço” (BRASIL, 2021). O TCU afirma que deve ser realizado procedimento de auditoria para fiscalizar se os cronogramas físico-financeiros, propostos pelo lici- tante vencedor, e as demais empresas participantes, são adequados. É importante verificarmos, nessa situação de mudança, se há uma mani- pulação dos preços unitários do contrato. Para tanto, é preciso cotejar os preços unitários de serviços iniciais e verificar se há compatibilidade com os mercados e as demais empresas licitantes (BRASIL, 2018). A responsabilidade fiscal na gestão das finanças públicas está previs- ta na Lei Complementar n. 101/2000. O conceito estabelecido nessa lei: pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, ope- rações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. (BRASIL, 2000) É responsabilidade dos analistas do TCU verificarem improprieda- des, irregularidades ou ilegalidades detectadas na auditoria. A execu- ção da auditoria se dará por meio do projeto básico visto que, a partir desse momento, são estabelecidas as normas que serão observadas durante o processo. Verifica-se que, na lei complementar de responsabilidade na ges- tão fiscal de finanças públicas, está previsto que qualquer despesa será acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro e de declaração da despesa, resultando como condição prévia para licitação e execução de obras: Sugerimos a leitura do Relatório de Fiscalização TC n. 006.111/2016-5 do TCU, pois é importante observarmos os passos adequados até que se tenha o contrato admi- nistrativo, ou seja, a fase preliminar e a contratação efetiva. Outro ponto essencial que devemos observar nessa leitura são as questões referentes à auditoria realizada no contrato administrativo. Disponível em: https://www. camara.leg.br/internet/comissao/ index/mista/orca/orcamento/ OR2017/Fiscobras2016/anexo/ SINTETICOS/Sintético_2016_33. pdf. Acesso em: 16 mar. 2023. Leitura https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2017/Fiscobras2016/anexo/SINTETICOS/Sintético_2016_33.pdf 40 Planejamento e gestão de obras públicas Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação go- vernamental que acarrete aumento da despesa será acompa- nhado de: I – estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subsequentes; II – declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. [...] § 4º As normas do caput constituem condição prévia para: I – empenho e licitação de serviços, fornecimento de bens ou execução de obras. (BRASIL, 2000) Dessa forma, o controle de gastos com a obra pública durante a lici- tação deverá ser feito levando em consideração o cronograma físico-fi- nanceiro do empreendimento. Ou seja, os valores que serão gastos na obra pública precisam ser apresentados no cronograma. Há, portanto, a promoção da transparência dos gastos públicos, visto que a utilização de verba pública deve ser do conhecimento de todos, de modo que a obra pública seja conduzida com responsabilidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos, neste capítulo, quais são os elementos essenciais para um contrato administrativo, o qual é firmado entre a Administração Pública e uma empresa privada para a execução de uma obra pública. Verificamos que é essencial que a transparência seja mantida durante a execução do contrato, uma vez que é utilizado dinheiro público para a realização do projeto. Discorremos sobre as formas de alteração de contrato e os ele- mentos necessários para que a obra seja realizada por acordo entre as partes ou por iniciativa do Poder Público. Concluímos que, apenas em situações excepcionais, o contrato poderá ser alterado de maneira unilateral, como no caso de alteração do projeto para melhoria da qua- lificação técnica e modificação dos valores contratuais, visando à quan- Contratos de prestação de serviços e produtos 41 tidade do objeto. Nas demais situações, qualquer alteração deverá ser realizada mediante acordo entre as partes. Visualizamos os tipos de empreitada, levando em consideração a forma de pagamento da obra. Identificamosque, em alguns empreen- dimentos, é mais vantajoso para os cofres públicos contratarem por preço global e, em outros, por preço unitário. Enfim, a maneira mais adequada para o ente público depende da espécie de empreendimen- to que será contratado. Por fim, analisamos o cronograma físico-financeiro da obra, que é o mecanismo pelo qual o empreendimento será fiscalizado. Dessa forma, a responsabilidade fiscal da obra é efetivada, uma vez que os elementos do cronograma são preestabelecidos no plano de obra. Portanto, será responsabilizada a parte que descumprir qualquer cláusula do contrato. ATIVIDADES Atividade 1 Por que é necessário realizar o procedimento licitatório, antes da assinatura do contrato administrativo, entre a Administração Pública e a empresa que executará a obra? Atividade 2 Quais são as vantagens observadas em cada um dos quatro regimes de empreitada existentes na Lei de Licitações? Cite um exemplo de uso de cada regime. Atividade 3 Quais são os elementos essenciais para o cronograma físico-financeiro da obra pública? 42 Planejamento e gestão de obras públicas REFERÊNCIAS BONATTO, H. Governança e gestão de obras públicas: do planejamento à pós-ocupação. Belo Horizonte: Fórum, 2018. BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 22 jun. 1993. BRASIL. Lei n. 14.133, de 1º de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 de abril de 2021. BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 maio, 2000. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Roteiro de Auditoria em Obras Públicas. Brasília, DF: TCU, 2018. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/cjf/unidades/controle-interno/ normatizacao/roteiro-de-auditoria-de-obras-publicas-tcu. Acesso em: 5 abr. 2023. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Súmula 258. Conselho Nacional de Justiça, Brasília, DF, 9 jun. 2010. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/sumula-258-tcu/. Acesso em: 5 abr. 2023. https://www.cjf.jus.br/cjf/unidades/controle-interno/normatizacao/roteiro-de-auditoria-de-obras-publicas-tcu https://www.cjf.jus.br/cjf/unidades/controle-interno/normatizacao/roteiro-de-auditoria-de-obras-publicas-tcu https://www.cnj.jus.br/sumula-258-tcu/ Procedimento licitatório 43 3 Procedimento licitatório Neste capítulo veremos alguns critérios objetivos relacionados à licita- ção e ao seu procedimento. Primeiramente, analisaremos o conceito e as modalidades de licitação. Dessa maneira, serão observadas cada forma de licitação e seu objeto, prazo e preço. Em seguida, estudaremos a Lei de Licitações e cada princípio constitucional aplicável. Por fim, examinaremos cada fase do processo licitatório, iniciando pela fase preliminar, passando pela fase interna, seguindo para a fase externa, ratificada pela fase con- tratual, e finalizando com a fase posterior à contratação. Percorreremos, portanto, o longo percurso do processo licitatório no Brasil. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • diferenciar as modalidades de licitação e suas características; • analisar a aplicação da Lei de Licitações e suas competências; • entender o procedimento licitatório e suas fases. Objetivos de aprendizagem 3.1 Conceito e modalidade de licitação Vídeo De acordo com Bonatto (2018), existem três possíveis procedimen- tos que podem ser efetivados pelo Poder Público para a realização de obras e serviços públicos: a licitação, a dispensa e a inexigibilidade 1 . Geralmente, a contratação é feita por meio de licitação, tendo em vista o princípio da impessoalidade, como dispõe o artigo 37 da Constituição Federal de 1988. O princípio da impessoalidade estabelece o dever da imparcialidade na defesa do interesse público, ou seja, a seleção da empresa que irá trabalhar para a Administração deverá ser realizada sem discriminação ou privilégios. A licitação é o procedimento pelo qual a Administração Pública seleciona quem será contratado para executar obras públicas ou serviços de engenharia. A isonomia deve ser respeitada, permitindo a participação de todos os interessados em realizar o serviço ou a A inexigibilidade ocorre quando não é necessário exigir que o processo de licitação seja realizado antes da contratação. 1 44 construção e levando em conta o contrato mais vantajoso para o Estado (BONATTO, 2018). A Lei n. 14.133/2021 estabelece as seguintes modalidades de licita- ções existentes no Brasil: concorrência, pregão, leilão, concurso e diá- logo competitivo. Destacamos que as modalidades tomada de preço e convite foram extintas com a nova Lei de Licitações e revogadas em 1º de abril de 2023. A modalidade de licitação é a forma como o procedimento é realiza- do, portanto trata-se do mecanismo pelo qual se dá a contratação das obras públicas. Vejamos, na sequência, as características de cada uma das modalidades, incluindo o valor destinado e o prazo mínimo para o recebimento da proposta ou a realização do evento. Planejamento e gestão de obras públicas Figura 1 Modalidades de licitação Utilizada para a contratação de bens e serviços especiais e de obras e serviços comuns e especiais de engenharia. Segue as fases do artigo 17 da Lei de Licitações. É a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que atendam a todas as condições estabelecidas pelo instrumento convocatório. Estabelecido na Lei n. 10.520/2002, diz respeito à contratação de bens ou serviços comuns. O Decreto n. 5.450/2005 estabelece que, para a aquisição de bens e serviços comuns da União, a modalidade pregão é obrigatória. Normalmente, o pregão é realizado na modalidade eletrônica, salvo se comprovada a inviabilidade justificada por autoridade competente. A Lei n. 14.133/2021 determina que o critério de julgamento será o de menor preço ou de maior desconto. É a modalidade de licitação para contratação de obras, serviços e compras em que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes previamente selecionados mediante critérios objetivos, visando desenvolver uma ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar proposta final após o encerramento dos diálogos. É a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes em edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. É a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a Administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no artigo 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. Concorrência Pregão Diálogo competitivo Concurso Leilão Ar to s/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2021. Procedimento licitatório 45 Além disso, algumas modalidades não estão na Lei de Licitações, as quais veremos a seguir. O pregão eletrônico refere-se à aquisição de bens e à contratação de serviços comuns, incluídos os serviços comuns de engenharia, con- forme estabelecido na Lei n. 10.520/2002 e no Decreto n. 10.024/2019. Esse decreto também dispõe sobre o uso da dispensa eletrônica no âmbito da Administração Pública federal. O prazo não será inferior a oito dias úteis. Quanto ao valor, é o estimado ou o máximo aceitável para a contratação e “se não constar expressamente no edital, possui- rá caráter sigiloso e será disponibilizado exclusiva e permanentemente aos órgãos de controle externo e interno” (BRASIL, 2019). Destacamos que a nova Lei de Licitações indica que o pregão eletrô- nico será o futuro das compras públicas, tendo em vista o desenvolvi- mento dos processos digitais. Definida na Lei n. 9.472/1997, a consulta é aplicável apenas às agências reguladoras. É o mecanismo utilizadopara garantir o acesso às telecomunicações de modo amplo e com preço justo. Estão abar- cadas nessa hipótese as redes de telecomunicações, a utilização dos recursos de órbita e o espectro de radiofrequências (BRASIL, 1997). O prazo é razoável e não interessa o valor, mas sim a natureza do objeto. Essa modalidade não está definida na Lei de Licitações, mas é uma for- ma de contratação pública. Conforme determina a Lei n. 12.462/2011, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas é aplicável apenas em alguns casos estabe- lecidos (BRASIL, 2011): • Para a construção dos locais dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, que foram estabelecidos na Carteira de Projetos Olímpi- cos, definida pela Autoridade Pública Olímpica (APO). • Durante a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014, sendo que o Comitê Gestor foi instituído para definir, aprovar e supervisionar as ações previstas no Plano Estratégico das Ações do Governo Brasileiro para a realização da Copa do Mundo Fifa 2014. No caso de obras públicas, foram restringidas mediante o estabelecido nas responsabilidades celebradas entre União, estados, Distrito Federal e municípios. • Nas obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os ae- roportos das capitais dos Estados da Federação distantes até 350 km das cidades-sede dos mundiais estabelecidos anteriormente. No vídeo Saber direito – licitações e contratos administrativos – Aula 2, publicado pelo canal Rádi e TV Justiça, é apresentada a forma pela qual se dá o processo de licitação e a elaboração do contrato administrativo. Assim, é interessante verificar os elementos necessários em cada etapa do processo e o seu caráter essencial. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=QPqruV0ZTO4. Acesso em: 5 abr. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=QPqruV0ZTO4 https://www.youtube.com/watch?v=QPqruV0ZTO4 https://www.youtube.com/watch?v=QPqruV0ZTO4 46 Planejamento e gestão de obras públicas • No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e em suas rela- ções integrantes; nas hipóteses de obras e serviços de engenha- ria no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e para construção, ampliação, reforma e administração de estabelecimentos penais e de unidades de atendimento socioeducativo. • Em todas as ações no âmbito da segurança pública e obras e ser- viços de engenharia, relacionadas a melhorias na mobilidade ur- bana ou ampliação de infraestrutura logística. Para aquisição de bens, os prazos são de cinco dias úteis, quando adotados os critérios de julgamento pelo menor preço ou pelo maior desconto, e de dez dias úteis, nas hipóteses não abrangidas em lei. Para contratação de serviços e obras, os prazos são de 15 dias úteis, quando adotados os critérios de julgamento pelo menor preço ou pelo maior desconto, e de 30 dias úteis, nas hipóteses não abrangidas em lei. Para licitações em que se adote o critério de julgamento pela maior oferta, o prazo é de dez dias úteis, e para licitações em que se adote o critério de julgamento pela melhor combinação de técnica e preço, pela melhor técnica ou em razão do conteúdo artístico, o prazo é de 30 dias úteis (BRASIL, 2011). Em relação ao valor, ele “será calculado com base nos valores pra- ticados pelo mercado, nos valores pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou na avaliação do custo global da obra, aferida mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou pa- ramétrica 2 ” (BRASIL, 2011). Com exceção da modalidade de concurso, as propostas serão julga- das da seguinte forma: “I – menor preço; II – maior desconto; III – me- lhor técnica ou conteúdo artístico; IV – técnica e preço; V – maior lance, no caso de leilão; VI - maior retorno econômico” (BRASIL, 2021). Visualiza-se, dessa forma, que o concorrente que apresentar a me- lhor proposta, de acordo com o que está especificado no edital ou con- vite, e ofertar o menor preço será o vencedor. O artigo 28 da Lei de Licitações veda, de maneira expressa, a criação de outras modalidades de licitação ou combinação. Vale ressaltar que essa proibição é válida para as novas modalidades de licitações criadas por atos administrativos, leis estaduais etc. As modalidades criadas por meio de lei nacional são autorizadas, visto que é competência da União, conforme estipula a Constituição Federal (BRASIL, 1988). Metodologia expedita ou paramétrica, também chamada de avaliação de ordem de grandeza, é uma estimativa aproxi- mada, sem dados deta- lhados de engenharia. 2 Procedimento licitatório 47 A Lei n. 14.133/2021 também prevê dispensa da licitação em alguns casos em que o valor é de até R$ 50 mil para serviços e compras e de até R$ 100 mil para obras e serviços de engenharia ou de serviços de manutenção de veículos automotores. 3.2 Lei de Licitações Vídeo A Lei de Licitações se aplica aos órgãos da Administração Pública Direta e Indireta, aos fundos especiais, às autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas e às sociedades de economia mista. O objetivo da lei é regulamentar o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, como menciona seu primeiro artigo: I – os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder Legislativo dos Municípios, quando no desempenho de função administrativa; II – os fundos especiais e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Administração Pública. (BRASIL, 2021) O artigo 22 da Constituição Federal estabelece que a União possui competência privativa para legislar acerca de normas gerais de licitação e contratação, como podemos verificar: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, au- tárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, [...] e para as empresas públicas e sociedades de economia mista. (BRASIL, 1988) Portanto, a partir da Lei n. 8.666/1993, foram criadas normas gerais sobre as contratações e licitações no setor público, que foram incor- poradas na nova Lei de Licitações. Se não contrariarem a norma geral estabelecida em lei, os órgãos citados podem expedir normas espe- cíficas, desde que sejam relativas aos procedimentos operacionais a serem observados nas licitações. Caso os recursos financeiros sejam oriundos de agência oficial estrangeira ou organismos financeiros dos quais o Brasil seja parte, é admitido que a respectiva licitação tenha 48 Planejamento e gestão de obras públicas condições decorrentes de acordos internacionais ou condições peculia- res. Isso se dará apenas na hipótese de ser declarada a inaplicabilida- de das normas brasileiras, motivadamente por autoridade superior da administração do financiamento, competindo à autoridade brasileira motivar a aceitação da condição imposta (BONATTO, 2018). Cabe aos estados-membros e aos municípios suplementarem, no que couber à legislação, a chamada competência concorrente. Essa com- petência é constituída no seguinte sentido: a União estabelece as nor- mas gerais, visando uniformizar nacionalmente o tratamento da matéria que será objeto de legislação, e o estado legisla normas específicas, em seu interesse, desde que não contrarie as normas gerais. Na ausência de norma geral da União, compete ao estado legislar as suas próprias normas gerais, o que é conhecido como competência concorrente suple- tiva. No momento em que a União passa a legislar as referidas normas, aquelas estabelecidas pelos estados terão sua eficácia suspensa. Segundo Bonatto (2018), os princípios constitucionais que regem a licitação, tanto de modo implícito quanto explícito, são: Princípio da supremacia e princípio da indisponibilidade do interesse público O primeiro acontece no conflito entre o interesse público e o particular; quando o interesse particular vai de encontro ao público, esse último prevalece. O segundo aconteceem decorrência do primeiro, tendo em vista que a Administração Pública não pode dispor livremente do interesse da coletividade. Princípio da isonomia ou da igualdade Todas as partes interessadas precisam ser tratadas de modo justo e isonômico, com a devida atenção a todos os seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas, caracterizando, portanto, a equidade. Princípio da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração Deve ser selecionada a proposta mais vantajosa para a Administração, ou seja, a que melhor atenda aos interesses descritos no instrumento convocatório, atingindo os princípios da boa governança de obras públicas. Princípio da promoção do desenvolvimento nacional sustentável As obras executadas pela Administração Pública devem, fundamentalmente, estabelecer novos parâmetros de consumo na sociedade. Além da questão ambiental, devem ser observadas outras dimensões de sustentabilidade, como as sociais, as culturais, as políticas, entre outras. (Continua) Procedimento licitatório 49 Princípio da adjudicação compulsória Significa atribuir ao vencedor da licitação o objeto licitado. Dessa forma, ao ser declarada a vitória da licitação, nasce o direito subjetivo de adjudicação. adjudicação: ato judicial de transferir um bem de uma pessoa para outra. Glossário Princípio da economicidade Devem ser observados os melhores resultados sob o ponto de vista qualitativo e quantitativo, levando-se em consideração a melhor qualidade e o menor custo ao contratar serviços de obras públicas. Princípio da legalidade A lei deve ser observada em todos os procedimentos realizados pela Administração, principalmente a gestão de obras públicas, que está vinculada à Constituição Federal e às leis infraconstitucionais. Princípio da impessoalidade Não pode configurar o subjetivismo da comissão de licitação, levando-se em consideração a imparcialidade quanto a todos os participantes. Princípio da motivação Os atos da Administração devem ser motivados, apresentando as razões que a levaram a determinada decisão. É importante como parte da transparência administrativa. Princípio da publicidade Os atos da Administração Pública precisam ser de livre acesso a toda a população. Isso não se restringe apenas à publicação dos atos na imprensa oficial e em jornais de grande circulação, mas também conduz o livre acesso a qualquer cidadão sobre os procedimentos licitatórios. Princípio da moralidade e princípio da probidade administrativa A atuação da Administração Pública deve estar conectada com a ética e de modo algum deve estar contaminada de imoralidade. A probidade é uma forma de moralidade administrativa. Princípio da vinculação ao instrumento convocatório É exigido o cumprimento das normas e das condições do edital pela Administração Pública, conforme dispõe o artigo 41 da antiga Lei de Licitações (Lei n. 8.666/1993). Portanto, não são admitidas modificações ou inovações não previstas no instrumento convocatório. (Continua) 50 Planejamento e gestão de obras públicas Princípio do julgamento objetivo Deve ser observado o artigo 59 da Lei de Licitações, que afirma que serão desclassificadas “as propostas que não atenderem às exigências do ato convocatório da licitação” (BRASIL, 2021). Portanto, a Administração deve julgar de maneira objetiva, segundo os critérios estabelecidos no instrumento convocatório. Assim, podemos visualizar que é necessária a aplicação dos princí- pios constitucionais no planejamento e na execução das obras públi- cas, sendo, portanto, aplicáveis à Lei de Licitações. 3.3 Procedimento de licitação Vídeo O procedimento licitatório é composto de cinco fases: fase de plane- jamento, fase de apresentação das propostas, fase de habilitação, fase de julgamento e classificação das propostas, e fase de homologação e contratação. Cada fase só terá início se estiver finalizada e aprovada a anterior, conforme estabelece o artigo 45º, § 6o, da Lei de Licitações. Com base nas determinações da Lei n. 14.133/2021 e no docu- mento Obras públicas: recomendações básicas para a contratação e fiscalização de obras e edificações públicas, elaborado pelo Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2014), vejamos, a seguir, cada uma des- sas fases detalhadamente. Fase de planejamento Nessa fase ocorre a identificação das necessidades da sociedade local para verificar se deve ser realizada a obra. É um momento im- portante para a obra, tendo em vista que é nele que se dá a estimativa dos recursos e verifica-se qual é a melhor alternativa para a sociedade. Desta forma, os principais requisitos dessa fase são: • Programa de necessidades: as principais necessidades do em- preendimento são definidas nesse momento, estabelecendo, portanto, as ações necessárias, levando-se em consideração o estudo de viabilidade da obra. • Estudo de viabilidade: são estudos técnicos preliminares que vi- sam avaliar o custo da obra ou do serviço, assegurar sua viabilidade técnica e definir métodos e prazos para sua execução. • Anteprojeto: ocorre nos casos de obras de maior porte e não pode ser considerado como o projeto básico. Nele devem constar Sugerimos a leitura de Obras públicas: recomen- dações básicas para a con- tratação e fiscalização de obras e edificações públicas, elaborado pelo Tribunal de Contas da União, tendo em vista a didática de- monstrada no documento e a apresentação em tópicos de cada fase do processo licitatório. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/ files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680 BF6F18818A8/Obras_publicas_ recomendacoes_basicas_ contratacao_fiscalizacao_obras_ edificacoes_publicas_4_edicao. PDF. Acesso em: 5 abr. 2023. Leitura https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF Procedimento licitatório 51 os elementos principais de arquitetura, a estrutura e as instala- ções em geral. Além disso, deverão estar determinados o padrão de acabamento e o custo médio da obra. • Projeto básico: é considerado o elemento mais importante na execução de uma obra pública. Precisa ser elaborado antes da licitação e deve ser aprovado formalmente pela autoridade com- petente. É necessário que contenha todos os requisitos obriga- tórios estabelecidos em lei, tais como: licenciamento ambiental, projetos, especificações técnicas, orçamento detalhado, custo unitário de um serviço, custo direto da obra, taxa de benefício, despesas indiretas, orçamento sintético global, cronograma físi- co-financeiro e responsabilidade do autor do projeto básico (téc- nica e pela qualidade do produto). Fase de apresentação das propostas Após a publicação dos editais de licitação, inicia-se a fase de apresen- tação das propostas, que diz respeito aos preparativos para iniciar a con- tratação por meio do processo de licitação. Nesse momento, os licitantes apresentam aspropostas contendo as informações necessárias para o contrato, como preço e prazos. Na fase de apresentação é necessário: • Publicação do edital de licitação: com o objetivo de alcançar um número maior de licitantes e de atender ao princípio da publicida- de, devem ser publicados, no local do órgão interessado, avisos que contenham resumos dos editais das concorrências, das toma- das de preços, dos concursos e dos leilões. Além disso, os avisos precisam ser divulgados pelo menos uma vez e com antecedência. Fase de habilitação A fase externa da licitação só é iniciada mediante projeto básico aprovado, orçamento detalhado e previsão de recursos orçamentá- rios. Nessa fase se verifica a documentação exigida para a licitação e se as empresas estão aptas para a contratação. Assim, os principais requisitos são: • Comissão de licitação: pode ser permanente ou especial e deve ser composta de, no mínimo, três membros, sendo dois deles ser- vidores qualificados. A participação dos membros será de, no má- ximo, um ano e não é possível que todos os membros da comissão 52 Planejamento e gestão de obras públicas sejam reconduzidos no período sequente. O objetivo é, dessa for- ma, promover o processo licitatório em todas as suas fases. • Recebimento das propostas: são estabelecidos os prazos míni- mos para a entrega das propostas dos licitantes no artigo 55 da Lei de Licitações. • Procedimento da licitação: é realizado por meio de habilitação das propostas, análise das propostas de preço, inexequibilidade, recursos, homologação e adjudicação. Fase de julgamento e classificação das propostas É um importante momento no processo de licitação, pois é quando a Administração Pública avalia as propostas apresentadas pelos licitan- tes. Nessa fase é realizada a classificação das propostas de acordo com os critérios estabelecidos no edital de licitação. Fase de homologação e contratação A fase de homologação e contratação do objeto de licitação ocorre quando a Administração Pública confirma o resultado e torna pública a decisão; assim, logo após, o contrato administrativo é celebrado. Os elementos constituintes dessa fase são: • Contrato: o contrato administrativo deve ser definido com cla- reza e precisão das condições para a execução da obra ou do serviço. O artigo 92 da Lei n. 14.133/2021 estabelece as cláusulas obrigatórias em todos os contratos. Assim que a licitação for con- cluída, o contrato será assinado dentro do prazo e das condições estabelecidas e, finalmente, o serviço será iniciado. As alterações contratuais serão feitas apenas nas hipóteses estabelecidas no artigo 124 da Lei de Licitações. Há ainda prazos de tempestivida- de de aditivos estabelecidos no artigo 95 da mesma lei. • Fiscalização da obra: deve ser realizada com o objetivo de ve- rificar o cumprimento das disposições contratuais, técnicas e administrativas. O contratante manterá a equipe de fiscalização formada por profissionais habilitados, a fim de controlar os servi- ços realizados na obra que está sendo executada. • Recebimento da obra: após a finalização da execução da obra, ela será recebida, provisoriamente, por meio de termo circuns- tanciado, assinado pelas partes no prazo de até 15 dias da co- termo circunstanciado: é um termo que relata tudo o que foi realizado na obra e tudo o que está sendo recebido ao final dela. Glossário Procedimento licitatório 53 municação escrita da contratada. Com o decurso do prazo de observação hábil ou a vistoria adequada do objeto, a obra será recebida definitivamente. A contratada deverá reparar, corrigir, remover, reconstituir ou substituir quaisquer vícios, defeitos ou incorreções às suas despesas. Conclusão das fases Após a conclusão dessas fases, inicia-se a gestão e fiscalização do contrato, ou seja, com a entrega do serviço, a fase de utilização, ou operação, é iniciada. A manutenção da obra é essencial, por isso devem ser realizadas atividades que possibilitem a conservação das caracterís- ticas de desempenho técnico de componentes e/ou sistemas. Na fase posterior, com a entrega do empreendimento, são verifica- das as irregularidades da obra, as quais podem acontecer por descum- primento de algum elemento do processo de licitação e execução. Assim, diante da natureza de cada empreendimento, é necessário verificar se o que foi pactuado na contratação foi efetivamente realiza- do no decorrer da execução do empreendimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo abordamos o conceito de licitação e suas respectivas modalidades. Visualizamos que as modalidades licitatórias ultrapassam as estabelecidas na Lei de Licitações, embora seja necessário que haja a respectiva competência legislativa. Com isso, podemos concluir que o processo de licitação precisa ser realizado com cuidado extremo, tendo em vista que o valor pago para a realização do empreendimento decorre de verba pública. Estudamos, ainda, os princípios constitucionais aplicáveis ao processo licitatório, os quais servem como norte para um procedimento claro e transparente, de acordo com a legislação brasileira. Assim, é importante observar com atenção todos os elementos estabelecidos no contrato ad- ministrativo em consonância com os princípios constitucionais, a fim de que não haja qualquer irregularidade. Discorremos, por fim, sobre as fases da licitação, com seus procedi- mentos específicos e suas peculiaridades. Dessa forma, constatamos que o processo de licitação é desenvolvido de acordo com a natureza do ob- jeto que será contratado. 54 Planejamento e gestão de obras públicas ATIVIDADES Atividade 1 Quais são as formas de licitação estabelecidas na Lei n. 14.133/2021? Cite um exemplo de cada. Atividade 2 Por que há a aplicação dos princípios constitucionais aplicáveis à Lei de Licitações? Quais são eles? Atividade 3 Quais são os procedimentos realizados na fase externa à licitação e os seus requisitos necessários? REFERÊNCIAS BONATTO, H. Governança e gestão de obras públicas: do planejamento à pós-ocupação. Belo Horizonte: Fórum, 2018. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Decreto n. 5.450, de 31 de maio de 2005. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 1 jun. 2005. BRASIL. Decreto n. 10.024, de 20 de setembro de 2019. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 set. 2019. BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 22 jun. 1993. BRASIL. Lei n. 9.472, de 16 de julho de 1997. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 jul. 1997. BRASIL. Lei n. 10.520, de 17 de julho de 2002. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 jul. 2002. BRASIL. Lei n. 12.462, de 4 de agosto de 2011. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 ago. 2011. BRASIL. Lei n. 14.133, de 1º de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 abr. 2021. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Obras Públicas: recomendações básicas para a contratação e fiscalização de obras e edificações públicas. 4. ed. Brasília, DF: TCU, 2014. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_ publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_ edicao.PDF. Acesso em: 5 abr. 2023 https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF Fiscalização de contratos 55 4 Fiscalização de contratos Neste capítulo,analisaremos a fiscalização de contratos adminis- trativos, ou seja, aqueles entre o ente público e o terceiro interessado. Apresentaremos diversos aspectos acerca dos elementos necessários para uma fiscalização adequada. O objetivo da fiscalização é garantir que o contrato administrativo seja realizado e executado em conformidade com os princípios fundamentais impostos no ordenamento jurídico. Desenvolveremos as principais atribuições da fiscalização. Desse modo, examinaremos de que maneira se estabelece o poder-dever do Estado de acompanhar a obra ou o serviço público. Também desenvolveremos as formas de fiscalização, o controle inter- no de cada órgão, o controle externo de um órgão em relação ao outro e o controle judicial que o Poder Judiciário desempenha sobre um contrato administrativo. Por fim, analisaremos toda a documentação necessária para o pro- cesso de licitação, como os documentos relativos à qualificação técnica, qualificação econômico-financeira, habilitação judicial e regularização fis- cal e trabalhista. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • identificar as atribuições da fiscalização do procedimento de licitação; • compreender os controles de fiscalização do processo licitatório; • analisar os documentos necessários para ingresso de empre- sas em licitações. Objetivos de aprendizagem 56 4.1 As principais atribuições da fiscalização Vídeo A Lei n. 14.133/2021, ou Lei de Licitações, estabelece normas ge- rais sobre as licitações e os contratos administrativos realizados entre o Poder Público e os particulares. Os órgãos da Administração Pública Direta são subordinados ao regime da lei – assim como as Adminis- trações Públicas Diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios – e abrange os órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário da União, dos estados e do Distri- to Federal e os órgãos do Poder Legislativo dos municípios, quando no desempenho de função administrativa; e os fundos especiais e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Adminis- tração Pública (BRASIL, 2021). Sendo assim, todos os serviços realizados entre empresa privada e ente público estão sujeitos a contratos nos moldes estabelecidos em lei. São considerados contrato administrativo todos os ajustes entre órgão ou entidades da Administração Pública e seus particulares, des- de que sejam realizados mediante acordo de vontades. Dessa maneira, cria-se um vínculo e as vontades recíprocas são estipuladas com o ob- jetivo de viabilizar os serviços públicos ou a aquisição de bens e mate- riais necessários para o seu funcionamento. O contrato é regido por normas próprias com a supremacia do interesse público e a vinculação ao instrumento convocatório – no caso das obras públicas, a vinculação é ao edital. É fundamental conhecermos o caráter formal dos contra- tos administrativos, o qual é demonstrado no título III do Capítulo I da Lei n. 14.133/2021, intitulado Da Formalização dos Contratos. Visto que as obras públicas utilizam o orçamento público, os con- tratos administrativos necessitam da devida fiscalização, a qual é con- siderada um dos momentos mais importantes na execução das obras. Na fiscalização é verificado se as obras ou os serviços estão sendo exe- cutados de acordo com as exigências, as normas e as especificações. As atribuições principais da fiscalização estão estabelecidas no arti- go 171 da Lei de Licitações. Entre elas, está a elaboração de relatórios fundamentados em evidências. Para Meirelles (2007, p. 235), Planejamento e gestão de obras públicas Fiscalização de contratos 57 o resultado da fiscalização deve ser consignado em livro próprio, para comprovação das inspeções periódicas e do atendimento às recomendações que forem feitas pela Administração. No livro devem ser anotadas também as faltas na execução do contrato, que inclusive poderão ensejar sua rescisão. Como é um poder-dever do Estado acompanhar e fiscalizar os con- tratos administrativos, um representante da Administração deverá ser designado para essa função. Conforme estabelece o artigo 177 da Lei de Licitações, é permitida a contratação, inclusive, de terceiros para as- sistir e subsidiar as informações importantes, a fim de que a fiscaliza- ção seja exercida de maneira adequada. Posto isso, durante a fiscalização o representante da Administração observará e relatará todas as ocorrências, as faltas e os defeitos rela- cionados à execução do contrato. O agente designado observará se o contrato está sendo respeitado, também acompanhará e fiscalizará se estão sendo cumpridas a proposta e as regras do instrumento contra- tual e o que foi estipulado no processo licitatório. Assim, se houver uma decisão ou providência necessária que não esteja na competência do representante, será solicitada a adoção de medidas convenientes aos seus superiores em tempo hábil. Para isso são levadas em consideração as competências formais de cada órgão, atribuídas em lei. Deverá, ainda, ser mantido um preposto pelo contratado no local da obra ou do serviço para representá-lo durante a execução do contrato (BRASIL, 2021). Caso haja danos decorrentes da execução ou de ma- teriais empregados que resultaram em vícios, defeitos ou incorreção, “o contratado é obrigado a reparar, corrigir, remover, reconstruir ou substituir, às suas expensas” (BRASIL, 2021). Sendo assim, após a assinatura dos contratos, o principal respon- sável pelos encaminhamentos necessários é o representante estabe- lecido pela Administração, o qual deve ser consultado em qualquer assunto relacionado às suas atribuições. Conforme estabelece o inciso III, alínea d, artigo 74 da Lei de Licita- ções, são considerados serviços técnicos especializados a fiscalização e a supervisão ou o gerenciamento de obras ou serviços. Sugerimos a leitura do livro Obras públicas: licitação, contratação, fiscalização e utilização, de Cláudio Altounian, tendo em vista a didática apresentada e o objetivo da pesquisa elencado. Dessa forma, observe as modalidades de licitação e contratação a fim de desenvolver o estudo do presente capítulo. ALTOUNIAN, C. S. 5. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016. Livro 5757 Planejamento e gestão de obras públicasPlanejamento e gestão de obras públicas 58 Planejamento e gestão de obras públicas A fim de averiguar qual é o melhor serviço de fiscalização de enge- nharia consultiva especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscali- zação, supervisão e gerenciamento de engenharia consultiva em geral e, em particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos, serão realizadas as licitações melhor técnica ou técnica e preço (BRASIL, 2021). Esses tipos de licitação são exclusivos para serviços de natureza intelectual. Há diversas normas infralegais que são complementares às nor- mas estabelecidas na Lei de Licitações. A Resolução n. 1.107/2018, do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), por exemplo, determina as competências que o engenheiro de saúde e de seguran- ça deve desempenhar, como: a supervisão e a orientação relativas à segurança do trabalho; a elaboração e a proposição de programas e medidas referentes à proteção e à prevenção de riscos; e o estudo das condições dos locais de trabalho (BRASIL, 2018). Ainda, a Lei de Licitações determina em seu artigo 16 que deve ser observada a legislação tributária aplicável pela Administração Pública. Destacamos que o contratado é responsável pelo pagamento dos tri- butos decorrentes da execução do contrato. Portanto, a principal atribuição da fiscalização é verificar se a contra- tada está efetivamente cumprindo o contrato administrativo acordado com o ente público. 4.2 Fiscalização de contratos administrativos Vídeo A execução correta dos contratos administrativos é uma questão delicada, por isso é necessária atenção especial. A fiscalização dos contratos administrativos não é uma opção, mas sim umanecessi- dade, estando prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei n. 14.133/2021. O artigo 104 da Lei de Licitações atribui à Administração o poder-dever, de diversas formas, de fiscalizar a execução do contra- to administrativo. A fiscalização pode ser feita de três formas: pelo controle interno, pelo controle externo e pelo controle de legalidade. Fiscalização de contratos 59 4.2.1 Controle interno O controle interno está observado no artigo 74 da Constituição Federal, o qual afirma que os poderes Legislativo, Executivo e Judi- ciário manterão um sistema de controle interno de modo integrado, com o objetivo de: I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria- nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garan- tias, bem como dos direitos e haveres da União; IV – apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti- tucional. (BRASIL, 1988) Caso haja qualquer irregularidade ou ilegalidade averiguada no con- trole interno, os responsáveis por esse controle, ao tomarem conheci- mento, deverão comunicar o Tribunal de Contas da União (TCU), sob pena de serem responsabilizados de maneira solidária 1 (BRASIL, 1988). Nessa perspectiva, o controle interno pode ser definido como “um plexo de ações estabelecido pela Administração Pública, de efeito interna corporis, para promover a eficiência e a eficácia nas operações estatais e verificar o cumprimento das políticas estabelecidas em lei, visando o alcance dos objetivos e metas anteriormente programadas” (GUERRA, 2011, p. 274). Além disso, a denúncia de irregularidades ou ilegalidades pode ser realizada por qualquer cidadão, partido político, associação ou sindica- to perante o TCU. Todas as normas estabelecidas no artigo 74 da CF serão aplicadas à organização, à composição e à fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal e dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Em cada estado federativo, as Constituições estaduais A responsabilidade solidária acontece quando a obrigação assumida é responsabilidade de várias partes, ou seja, todos assumem a dívida ou outro compromisso em condições iguais. 1 interna corporis: no âmbito do próprio órgão, de maneira interna. Glossário 60 Planejamento e gestão de obras públicas disporão sobre os seus respectivos Tribunais de Contas, que terão sete Conselheiros integrantes, conforme disposto no parágrafo único do ar- tigo 75 (BRASIL, 1988). 4.2.2 Controle externo O controle externo acontece quando o órgão que realizará a fisca- lização se estabelece em uma administração diversa daquela em que o ato se originou. A fiscalização – das questões contábeis, financeiras, orçamentárias, operacionais e patrimoniais da União e das entidades da Administração Direta e Indireta – será exercida pelo Congresso Na- cional e pelo sistema de controle interno de cada poder. À vista disso, poderão ser fiscalizadas: a legalidade, a legitimidade, a economicidade, a aplicação das subvenções e a renúncia de receitas (BRASIL, 1988). O controle externo funciona como uma medida de harmonia entre os poderes, entretanto é relevante salientar que ele deve estar previsto na Constituição Federal. Um exemplo de controle externo sobre os atos do Poder Executivo e do Poder Judiciário é o Tribunal de Contas. O artigo 70 da Constituição Federal, no seu parágrafo único, estabe- lece que “prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinhei- ros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária” (BRASIL, 1988). Ou seja, na hipótese de contratos administrativos, em que o ente público contrata uma empresa privada para a execução de obra públi- ca ou prestação de serviços, deverá ser realizada a prestação de contas adequada sempre que a verba pública for utilizada. Assim, ressaltamos a importância da fiscalização dos contratos administrativos. Conforme estabelece o artigo 71 da CF, sob a responsabilidade do Congresso Nacional, o controle externo será exercido com o au- xílio do TCU, com competências legalmente estabelecidas, as quais são (BRASIL, 1988): • apreciar as contas do Presidente da República, que serão apre- sentadas anualmente, com parecer prévio que deverá ser elabo- rado em 60 dias após seu recebimento; • julgar todas as contas que deram causa à perda, ao extravio ou à irregularidade, com prejuízo do erário público e dinheiro, bens e valores públicos da Administração Direta e Indireta – incluídas as erário: conjunto de recursos financeiros públicos, dinheiro e bens do Estado. Glossário Fiscalização de contratos 61 fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal –, dos administradores e demais responsáveis e, ainda, de todos que derem causa; • apreciar, na Administração Direta e Indireta, a legalidade dos atos de admissão de pessoal a qualquer título para fins de registro, in- cluídas, portanto, as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, assim como a legalidade das concessões de aposenta- dorias, reformas e pensões, excluindo as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório; • realizar, por iniciativa própria, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, nas unidades administrativas dos poderes Le- gislativo, Executivo e Judiciário e demais entidades referidas no inciso II, do artigo 71 da Constituição; • fiscalizar, nos termos do tratado constitutivo, as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União parti- cipe, mesmo que direta ou indiretamente; • fiscalizar a aplicação de qualquer espécie de recursos repassados mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congê- neres pela União para o estado, o Distrito Federal ou o município; • prestar todas as informações sobre a fiscalização contábil, finan- ceira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas para o Congresso Nacional, caso seja solicitado por qualquer de suas Casas ou por qualquer das respectivas Comissões; • aplicar aos responsáveis multa proporcional ao dano causado ao erário, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, tendo em vista as sanções previstas em lei; • assinar, caso seja verificada ilegalidade, prazo conforme esta- belece a lei para que o órgão ou a entidade adote as providên- cias necessárias; • sustar a execução do ato impugnado, na hipótese de não ser atendido, devendo comunicar a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; • representar sobre irregularidades ou abusos apurados ao po- der competente. 62 Planejamento e gestão de obras públicas Nesse sentido, como dispõe o artigo 120 da Lei de Licitações, qual- quer dano causado pelo contratado diretamente à Administração ou a terceiros, decorrente de culpa ou dolo na execução do contrato, é de sua responsabilidade. Vale ressaltarmos que essa responsabilidade não é excluída ou reduzida pela fiscalização ou pelo acompanhamento feito pelo órgão interessado. Além disso, conforme o artigo 121, “o con- tratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fis- cais e comerciais resultantes da execução do contrato” (BRASIL, 2021). Logo, se houver inadimplência por parte do contratado, a Adminis- tração Pública não será responsável por seu pagamento e, tampouco,“não poderá onerar o objeto do contrato nem restringir a regularização e o uso das obras e das edificações, inclusive perante o registro de imó- veis” (BRASIL, 2021). Entretanto, a Administração Pública responde so- lidariamente pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato com o contratado. Diante do exposto, poderá acarretar prejuízo ao erário público o não acompanhamento e fiscalização dos contratos administrativos. 4.2.3 Controle de legalidade O controle de legalidade pode ser realizado interna ou externamen- te. Quando efetivado pelo Poder Judiciário, será de maneira externa, por meio do Mandado de Segurança. O Poder Legislativo examina, por exemplo, a legalidade na admissão de pessoal pelo Tribunal de Contas, como estabelece o artigo 71, inciso III, da Constituição Federal (1988). O controle realizado internamente é exercido pelo próprio órgão que licitou a obra ou o serviço público. Portanto, a Administração Pública que contratou a obra deverá realizar o controle de legalidade. Nessa situação, a Administração é obrigada a exercitar o seu controle interno nas hipóte- ses de provocação durante o ato convocatório. Ou seja, pode o particular impugnar o ato convocatório e os recursos administrativos e, dessa for- ma, será analisada a legalidade do ato pelo próprio ente licitante. O controle legal é realizado pelo Poder Judiciário, nas hipóteses em que há o descumprimento da legislação ou a não observância dos termos estabelecidos no contrato administrativo. Nesses casos, cada parte do contrato é responsável pela sua efetividade. Assim, quando uma das partes não cumprir os termos acordados, será responsabili- zada pela via judicial. Sugerimos o artigo Fisca- lização contratual na Lei 14.133/2021: Governança e resultado na execução de contratos administrativos, de Carlos Wellington Leite de Almeida. O artigo foi publicado na Revista do TCU. Disponível em: https://revista. tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/ article/view/1814. Acesso em: 27 abr. 2023. Leitura https://revista.tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/view/1814 https://revista.tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/view/1814 https://revista.tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/view/1814 Fiscalização de contratos 63 A Lei de Licitações estabelece as normas aplicáveis à tute- la judicial. Desse modo, a recusa injustificada para assinatura do contrato no prazo estabelecido, por exemplo, caracteriza o des- cumprimento total da obrigação assumida e sujeitará aquele que recusar as penalidades legalmente estabelecidas e a imediata per- da da garantia de proposta em favor do órgão ou entidade licitante (BRASIL, 2021). Portanto, verificamos que a Lei de Licitações estabelece diversas formas de responsabilidade, tanto na esfera civil quanto na penal, e essas estão sujeitas às sanções previstas em lei. Logo, para a devida fiscalização, são necessários os controles: interno, dentro do próprio órgão licitante; externo, de outro órgão; e judicial, realizado pelo Po- der Judiciário. Dessa maneira, temos uma efetiva proteção do bem público que será desenvolvido no empreendimento. 4.3 Documentação necessária Vídeo De acordo com a etapa e a espécie de licitação, para que uma em- presa participe de uma licitação são necessários documentos essen- ciais. As formas de habilitação para uma licitação estão enumeradas na Lei de Licitações. Segundo o artigo 62 dessa lei, é imprescindível que os interessados em se habilitar nas licitações apresentem, exclusivamente, documenta- ção relativa à habilitação: • jurídica; • técnica; • fiscal, social e trabalhista; • econômico-financeira. O momento de habilitação no processo licitatório é quando os li- citantes comprovam que podem participar da licitação, pois confir- mam que todos os requisitos estabelecidos na lei são atendidos. Se o concorrente não conseguir se habilitar devidamente, precluirá o seu direito de participar das fases subsequentes, conforme o prazo estabelecido no edital de licitação. precluir: perder o direito de exercer uma faculda- de, ou seja, um direito. Glossário 64 Planejamento e gestão de obras públicas Nas hipóteses de habilitação jurídica, conforme o caso, serão ne- cessários os seguintes documentos, como estabelece o artigo 63 da Lei de Licitações: I – poderá ser exigida dos licitantes a declaração de que aten- dem aos requisitos de habilitação, e o declarante responderá pela veracidade das informações prestadas, na forma da lei; II – será exigida a apresentação dos documentos de habilitação apenas pelo licitante vencedor, exceto quando a fase de habili- tação anteceder a de julgamento; III – serão exigidos os documentos relativos à regularidade fiscal, em qualquer caso, somente em momento posterior ao julgamen- to das propostas, e apenas do licitante mais bem classificado; IV – será exigida do licitante declaração de que cumpre as exigências de reserva de cargos para pessoa com deficiência e para reabilitado da Previdência Social, previstas em lei e em outras normas específicas. (BRASIL, 2021) Relativo à regularidade fiscal e trabalhista, conforme o caso, será necessária a documentação listada a seguir: I – a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); II – a inscrição no cadastro de contribuintes estadual e/ou municipal, se houver, relativo ao domicílio ou sede do licitan- te, pertinente ao seu ramo de atividade e compatível com o objeto contratual; III – a regularidade perante a Fazenda federal, estadual e/ou municipal do domicílio ou sede do licitante, ou outra equivalen- te, na forma da lei; IV – a regularidade relativa à Seguridade Social e ao FGTS, que demonstre cumprimento dos encargos sociais instituídos por lei; V – a regularidade perante a Justiça do Trabalho; VI – o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal. (BRASIL, 2021) No que diz respeito à qualificação técnica, será imprescindível a seguinte documentação: Fiscalização de contratos 65 I – apresentação de profissional, devidamente registrado no con- selho profissional competente, quando for o caso, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes, para fins de contratação; II – certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse- lho profissional competente, quando for o caso, que demons- trem capacidade operacional na execução de serviços similares de complexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do art. 88 desta Lei; III – indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare- lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe técnica que se responsabilizará pelos trabalhos; IV – prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe- cial, quando for o caso; V – registro ou inscrição na entidade profissional competente, quando for o caso; VI – declaração de que o licitante tomou conhecimento de to- das as informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação. (BRASIL, 2021) Justen Filho (2014) afirma que a interpretação do artigo 30 da Lei de Licitações é de extrema dificuldade, visto que não é possível limitar de maneira precisa as exigências que a Administração deverá adotar. Portanto, não é possível determinar pela regra qual é a interpretação correta e única do dispositivo legal. Nos casos de licitações pertinentes a obras e serviços, será forne- cida, por pessoas jurídicas de Direito Público ou Privado, a comprova- ção de capacidade operacional relativa à qualificação técnica (BRASIL, 2021). O documento de capacidade operacional ficará registrado nas entidades profissionais competentes, por meio de atestados forneci- dos por pessoas jurídicas de Direito Público ou Privado, com a seguinte exigência: “I - apresentação de profissional, devidamenteregistrado no conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de ates- tado de responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes, para fins de contratação” (BRASIL, 2021). No livro Comentários à lei de licitações e contratos ad- ministrativos há uma aná- lise detalhada de todos os dispositivos referidos na antiga Lei de Licitações (Lei n. 8.666/1993). JUSTEN FILHO, M. 16. ed. São Paulo: RT, 2014. Livro 66 Planejamento e gestão de obras públicas Com relação à qualificação econômico-financeira, que corresponde aos valores financeiros disponíveis, será limitada a documentação rela- tiva a: “I - balanço patrimonial, demonstração de resultado de exercício e demais demonstrações contábeis dos 2 (dois) últimos exercícios so- ciais; II - certidão negativa de feitos sobre falência expedida pelo distri- buidor da sede do licitante” (BRASIL, 2021). O conceito de qualificação econômico-financeira corresponde à sa- tisfação da execução do objeto do contrato mediante o pagamento de recursos econômico-financeiros. Quem tiver interesse na licitação de- verá ter recursos para executar o objeto de sua prestação; dessa for- ma, não poderá ser titular do direito de licitar aquele que não dispor de recursos financeiros próprios (JUSTEN FILHO, 2014). A exigência de recursos financeiros próprios será no limite da demonstração da capacidade financeira do licitante em relação aos compromissos assumidos no contrato. Desse modo, é vedada a exigência de valores mínimos de faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade, como estabelece o parágrafo 1º do artigo 96 da Lei de Licitações. Nesse mesmo sentido, a Administração poderá exigir, no instru- mento convocatório da licitação, um capital mínimo ou um Patrimônio Líquido mínimo nas compras para entrega futura. O capital mínimo ou de Patrimônio Líquido mínimo equivale a até 10% (dez por cento) do valor estimado da contratação (BRASIL, 2021). Podem, também, ser exigidas garantias previstas no parágrafo primeiro do artigo referido como objetivo para comprovar a qualificação econômico-financeira dos licitantes e como segurança, caso haja o inadimplemento do con- trato celebrado. A forma de apresentação das demonstrações contábeis deverá ser realizada de modo objetivo, podendo ser o Balanço Patrimonial com a demonstração dos resultados e demais demonstrações dos últimos dois anos (BRASIL, 2021). A documentação para a habilitação no processo de licitação poderá ser apresentada em original, por cópia ou por qualquer outro meio ex- pressamente admitido pela Administração (BRASIL, 2021). Fiscalização de contratos 67 O inciso III do artigo 70 estabelece que a documentação poderá ser dispensada, total ou parcialmente, nas contratações para en- trega imediata, nas contratações em valores inferiores a 1/4 (um quarto) do limite para dispensa de licitação para com- pras em geral e nas contratações de produto para pesquisa e desenvolvimento até o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) (BRASIL, 2021). O inciso II do artigo 70 da Lei de Licitações afirma a possibilidade de substituição dos documentos. Esse certificado é a documentação dos requisitos de habilitação jurídica e regularidade fiscal. Contudo, outros documentos poderão ser exigidos no caso de pertinência ao objeto concretamente licitado. De acordo com o parágrafo único do artigo 70 (BRASIL, 2021), as em- presas estrangeiras que não funcionarem no país deverão apresentar documentos equivalentes, na forma de regulamento emitido pelo Po- der Executivo federal. Os documentos deverão ser equivalentes, desde que autenticados nos consulados respectivos e será necessária a tradu- ção realizada por um tradutor juramentado. Posto isso, nas referidas licitações, as empresas estrangeiras deverão ter representante legal no Brasil, com poderes expressos para receber citação e responder admi- nistrativa ou judicialmente. Para que a empresa se habilite ao processo de licitação, dispos- to no artigo 70, não será exigido o recolhimento prévio de taxas e emolumentos, salvo aqueles referentes ao fornecimento do edital. Nas hipóteses de aquisição de bens e serviços nas licitações inter- nacionais (cujo pagamento seja feito com o produto de financiamento, concedido por um organismo financeiro internacional de que o Brasil faça parte ou por uma agência estrangeira de cooperação) não se aplica o disposto nas exigências acerca da apresentação de documentos. Ain- da, não se empregam as exigências no que tange aos documentos, na hipótese de contratação com empresa estrangeira, para a compra de equipamentos fabricados e entregues no exterior. O que citamos ante- riormente é aplicado desde que tenha prévia autorização do Chefe do Poder Executivo. Também não se aplica a obrigação, exposta nos casos emolumentos: podem ser cobradas taxas nos serviços tanto notariais quanto de registro para efeitos remuneratórios do serviço público. Glossário 68 Planejamento e gestão de obras públicas de aquisição de bens e serviços, realizada por unidades administrativas com sede no exterior, como dispõe os incisos I, II e III, parágrafo 1º do artigo 92 da Lei de Licitações. Se for autorizada a participação de empresas em consórcio na licita- ção, serão observados os seguintes critérios: I – comprovação de compromisso público ou particular de constituição de consórcio, subscrito pelos consorciados; II – indicação da empresa líder do consórcio, que será respon- sável por sua representação perante a Administração; III – admissão, para efeito de habilitação técnica, do soma- tório dos quantitativos de cada consorciado e, para efeito de habilitação econômico-financeira, do somatório dos valores de cada consorciado; IV – impedimento de a empresa consorciada participar, na mesma licitação, de mais de um consórcio ou de forma isolada; V – responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos pra- ticados em consórcio, tanto na fase de licitação quanto na de execução do contrato. § 1º O edital deverá estabelecer para o consórcio acréscimo de 10% (dez por cento) a 30% (trinta por cento) sobre o valor exigido de licitante individual para a habilitação econômico-fi- nanceira, salvo justificação. § 2º O acréscimo previsto no § 1º deste artigo não se aplica aos consórcios compostos, em sua totalidade, de microempresas e pequenas empresas, assim definidas em lei. (BRASIL, 2021) O consórcio referido é realizado nas hipóteses disciplinadas no ar- tigo 278 da Lei n. 6.404/1976, o qual afirma que “o consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas con- dições previstas no respectivo contrato” (BRASIL, 1976). Isso se dá a medida que cada uma responde por sua própria obrigação, sem que haja solidariedade. Portanto, no que diz respeito à documentação necessária, é preciso observarmos o que dispõe a Lei de Licitações para cada uma das for- mas de contratação pela Administração Pública. Fiscalização de contratos 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, analisamos as disposições estabelecidas acerca da fiscalização dos contratos administrativos e estudamos as deliberações acerca das principais atribuições da referida fiscalização. Concluímos que é necessário fiscalizar a formulação e a execução dos contratos administrativos, sempre tendo em vista a utilização do erário público. Dessa forma, a legislação estabelece diversos mecanis- mos para o devido controle. Diferenciamos os tipos de controle, sendo o interno realizado no pró- prio órgão licitante, o externo realizado por órgão distinto e o judicial realizado pelo Poder Judiciário. Assim, efetiva-se de modo adequado o contrato administrativo para obras ou serviços públicos. Além disso, uma das formas estabelecidas em lei para que o contrato seja realizado corretamente é a observância da documentação. Desse modo, a Lei de Licitações estabelece diversos requisitos essenciais para cada momento e espécie de contrato administrativo.ATIVIDADES Atividade 1 Qual é o poder-dever do Estado no que diz respeito aos contratos administrativos? Atividade 2 Quais são as três formas de controle dos contratos administrativos? Atividade 3 Por que o momento de habilitação é importante para os contratos administrativos? 70 Planejamento e gestão de obras públicas REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Federal de Engenharia e Agronomia Resolução Confea n. 1.107, de 28 de novembro de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 dez. 2018. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da Nação, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. BRASIL. Lei n. 14.133, de 1º de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 abr. 2021. GUERRA, E. M. Os controles externo e interno da administração pública. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2011. JUSTEN FILHO, M. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 16. ed. São Paulo: RT, 2014. MEIRELLES, H. L. Licitação e contrato administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. Garantias contratuais 71 5 Garantias contratuais Neste capítulo, analisaremos as garantias contratuais e os seus respectivos impactos. Em um primeiro momento, as garantias serão observadas individualmente, conforme previsto em lei. Assim, também verificaremos os requisitos necessários para cada uma das hipóteses. Na sequência, estudaremos a avaliação dos resultados das obras públicas, além de seus impactos sociais e ambientais. Por fim, elencaremos e ava- liaremos as principais irregularidades apresentadas nas obras. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • identificar as garantias previstas pela Lei de Licitações e Contratos Administrativos nos contratos administrativos; • avaliar os resultados e os impactos ambientais previstos pela Lei de Licitações. Objetivos de aprendizagem 5.1 As garantias nos contratos administrativos Vídeo Para que os contratos administrativos, firmados entre a Adminis- tração Pública e o ente privado, sejam assinados, é necessário que o contratado apresente, quando exigidas, garantias contratuais que visam assegurar a execução do contrato. Ainda, é necessário que elas levem em conta a segurança do investimento na obra, o qual é feito com verba pública. Logo, de acordo com a Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei n. 14.133/2021 –, as garantias são cláusulas essenciais nos contratos administrativos. Durante o processo de licitação, portanto, o licitante deve ga- rantir que, ao vencer o pleito, manterá sua proposta, firmando o contrato administrativo. Ao ser chamado dentro do prazo de valida- de da sua oferta, o licitante assinará efetivamente a documentação para dar início aos trabalhos. Essa prática é denominada qualificação 72 Planejamento e gestão e obras públicas econômico-financeira, conforme dispõe o artigo 58, parágrafo 1º da Lei de Licitações: “Poderá ser exigida, no momento da apresentação da proposta, a comprovação do recolhimento de quantia a título de garantia de proposta, como requisito de pré-habilitação. § 1º A ga- rantia de proposta não poderá ser superior a 1% (um por cento) do valor estimado para a contratação” (BRASIL, 2021). Convém ressaltarmos que a autoridade competente poderá exigir, no seu documento convocatório, a prestação de garantia para a contra- tação de obras, serviços e compras no processo licitatório. Assim, defi- nirá os casos em que é necessária a garantia concedida pela contratada para assegurar que a obra será efetivamente concluída. Existem três formas de garantias que poderão ser exigidas pela auto- ridade competente no processo de licitação, desde que previstas no ins- trumento convocatório. Sobre isso, o artigo 96 da Lei de Licitações define: I – caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública emitidos sob a forma escritural, mediante registro em sistema centrali- zado de liquidação e de custódia autorizado pelo Banco Central do Brasil, e avaliados por seus valores econômicos, conforme definido pelo Ministério da Economia; II – seguro-garantia; III – fiança bancária emitida por banco ou instituição financeira devidamente autorizada a operar no País pelo Banco Central do Brasil. No caso de o vencedor se recusar a assinar o contrato de obras ou serviços, a garantia apresentada durante o processo de licitação será executada. A seguir, são apresentadas as modalidades de garantia que podem ser utilizadas. Na modalidade caução em dinheiro ou em títulos da dívida públi- ca, quando o caução for em dinheiro ou cheque, o depósito só poderá ser realizado no setor financeiro do órgão licitante ou em conta remu- nerada. Como é condição essencial para a participação da licitação, o depósito fará parte do envelope número um e será emitido recibo do valor como documento comprobatório de execução de garantia. Se a garantia for oferecida em cheque, tendo em vista as suas característi- cas, deverá ser administrativa. Na modalidade pregão, ressalta-se que é vedada a exigência da garantia de proposta, como dis- põe o artigo 5º, inciso I, da Lei n. 10.520/2002. Curiosidade Garantias contratuais 73 A apresentação das garantias pelo licitante não poderá ser exigida antes do prazo legal estabelecido para a licitação. Dessa forma, caso haja a exigência referida, será caracterizada como restrição de caráter competitivo 1 . Para que seja prestada a garantia em títulos da dívida pública, de- verá ser obrigatório o acompanhamento dos documentos que: com- provem a origem/aquisição, utilizando-se do respectivo documento e lançamento contábil em registro no balanço patrimonial do licitante; e demonstrem a correção do título cujo valor não seja inferior a 1% do valor máximo do objeto a ser contratado. Só serão aceitos pela comissão de licitação os títulos com vencimento até a data correspondente ao prazo de validade da proposta de preços passíveis de resgate, incontestável sob nenhum aspecto. Se não for rea- lizado dessa forma, perderá sua função de garantia (BONATTO, 2018). Apesar de sua presunção, a autenticidade dos títulos oferecidos pelo licitante deverá ser averiguada. Se houver indício de fraude, o Mi- nistério Público tem a obrigação de oferecer denúncia. Ainda, as vali- dades da proposta de preços e do seguro-garantia deverão ter prazo igual, visto que, assim, o proponente deve manter a garantia da sua proposta. Após a assinatura do contrato ou o término da validade, ha- verá devolução das garantias (BONATTO, 2018). Na modalidade seguro-garantia não se aplica o disposto nas exi- gências acerca da apresentação de documentos. Posto isso, a Lei de Li- citações conceitua que o seguro-garantia é “seguro que garante o fiel cumprimento das obrigações assumidas pelo contratado” ( BRASIL, 2021). Por fim, na modalidade fiança bancária o banco assume a fiança apresentada como garantia de contratação. Não poderão ser caucio- nados títulos de crédito ou promovida garantia pessoal de outra natu- reza. Acrescenta-se a necessidade de comprovação da idoneidade do prestador da garantia fidejussória 2 (JUSTEN FILHO, 2014). Ainda segundo a Lei de Licitações, essas garantias não poderão ex- ceder o valor de 5% do objeto do contrato e a atualização será realizada nas condições nele descritas. Em situações especiais em que há gran- des riscos financeiros, o limite da garantia pode ser elevado até 10% do valor contratado. Também deverá constar no texto do edital a exigên- cia da garantia mais elevada, a qual deve ter necessidade comprovada por meio de parecer técnico aprovado por autoridade competente. Nas hipóteses em que há restrição de algum dos participantes no processo licitatório, impedindo que sejam tratados em condi- ções de igualdade. 1 A garantia fidejussória é a garantia que alguém con- cede a outrem a fim de garantir o cumprimento de obrigação alheia. Além disso, temos a chamada garantia pessoal,os tipos de governança aplicáveis, como dito anteriormente. De acordo com Rhodes (1996 apud CARVALHO, 2017), existem, atualmente, seis formas principais de governança utilizadas: Governança como Estado mínimo Governança como governança corporativa Governança como nova gestão pública Governança como boa governança Governança como sistema sociocibernético Governança como redes auto- -organizadas rik ky all /S hu tte rs to ck 1 4 26 35 No vídeo Governança Pú- blica – o que é?, publicado pelo canal do Tribunal de Contas da União, é explica- do o papel do Tribunal no setor público e elaborada uma análise da governança pública no Brasil. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=kGYdT1mJ- 0ce. Acesso em: 5 abr. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?time_continue=10&v=kGYdT1mJ-0c&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?time_continue=10&v=kGYdT1mJ-0c&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?time_continue=10&v=kGYdT1mJ-0c&feature=emb_title Governança pública 11 1. Governança como Estado mínimo: diminui o valor da despesa pública por meio das privatizações e do uso de mecanismos do mercado, reduzindo, dessa forma, a dimensão da estrutura do Estado. 2. Governança como governança corporativa: utiliza instrumentos institucionais com o objetivo de assegurar a transparência do serviço público, garantindo acesso pleno à prestação de contas públicas. 3. Governança como nova gestão pública: incorpora um novo institucionalismo econômico (agencificação, competição, contratualização e oferta de escolhas ao cidadão no acesso aos serviços públicos) com a inclusão de novas práticas gestionárias que garantem, por exemplo, a gestão por objetivos e a orientação para resultados. 4. Governança como boa governança: utiliza os recursos públicos de maneira eficiente, aumentando os níveis de probidade 1 e transparência e levando em consideração a democracia liberal, com o objetivo de responder às necessidades sociais. 5. Governança como sistema sociocibernético: assume crescente interdependência e interação de diferentes atores no plano social, econômico, político e administrativo, tornando o Estado dependente da efetividade da governação e deixando de lado a concepção de que um Estado consegue, sozinho, definir e impor, efetivamente, um conjunto de políticas públicas. 6. Governança como redes auto-organizadas: pode utilizar as redes de interdependência, reciprocidade e confiança como um conjunto de interações entre organizações públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, indo além da hierarquia ou do mercado enquanto mecanismos de coordenação da ação coletiva. Conforme recomenda o Banco Mundial (1994), os fatores para uma governança adequada são: formulação de políticas públicas abertas, geradas em um processo transparente; servidores públicos integrantes da Administração Pública, que objetivem o interesse público; responsa- bilidade pelas ações da Administração Pública; sociedade civil organiza- da; e regras estáveis e legítimas de um estado de direito. Na década de 1980 surgiu a cartilha da Nova Gestão Pública, que consagrou a mudança na matriz organizacional da Administração Pú- blica. Uma das principais alterações foi no foco dessa gestão, que pas- sou a ter como objetivo modificar as relações entre a Administração Probidade significa a integridade moral e ética da pessoa; portanto, au- mentar o nível de probi- dade tem como objetivo aumentar a honestidade e transparência. 1 12 Planejamento e gestão de obras públicas Pública e os outros atos, a fim de provocar mudanças dentro do setor público. Dessa forma, o escopo da Nova Gestão Pública refere-se a me- lhorar a eficácia e a eficiência nas organizações públicas e na prestação de serviços públicos. Diante desse cenário, a nova governança pública inclui o diálogo com o mercado e com a sociedade civil. Para Paludo (2010), a finalida- de desse novo modelo, portanto, é a participação de todos os cidadãos nas decisões referentes às políticas públicas, ou seja, às parcerias intra e interorganizacionais. A Constituição Federal de 1988 estabelece no artigo 1º que o Brasil é uma República Federativa, constituindo-se em Estado Democrático de Direito (BRASIL, 1988). Pode-se concluir, desse modo, que o poder do Estado brasileiro decorre do povo, por meio da democracia. Posto isso, o país está organizado conforme as condições necessárias de gover- nança, os direitos e as garantias fundamentais, e a organização política e administrativa do Estado e dos Poderes (BRASIL, 2014b). Após o estabelecimento da Constituição Federal, foram desen- volvidos diversos instrumentos para a organização e o fortalecimen- to da governança pública, entre eles: o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal (Decreto n. 1.171/1994); a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000); o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocra- tização (GesPública), instituído em 2005 e revisado em 2009 e em 2013; a Lei n. 12.813/2013; e os instrumentos de transparência, como a Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011). Todos es- ses instrumentos têm o objetivo de garantir ao cidadão o acesso à informação, facilitar o controle dos atos administrativos e assegurar a transparência na conduta de agentes públicos. Nessa perspectiva, o Tribunal de Contas da União publicou, em 2014, uma cartilha intitulada Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública e ações indutoras de me- lhoria. O objetivo da cartilha é garantir o acesso da população às infor- mações e às condutas dos agentes públicos, sendo a transparência um dos mecanismos utilizados para esse fim. A transparência é importante quando se trata de Administração Pública, pois faz uso do dinheiro arrecadado em taxas e impostos Governança pública 13 para a sua manutenção. Dessa forma, a população precisa de in- formações adequadas sobre onde está sendo investido o dinheiro público, de que maneira o Estado está se desenvolvendo e quais são os próximos passos do ente público. Assim, a transparência garante que a população possa ter acesso às informações. Considerando que o escopo principal da governança pública é inte- grar os interesses da sociedade com o interesse público, a cartilha es- tabelece que a governança no setor público deve estar alinhada entre quatro perspectivas, apresentadas na figura a seguir. Figura 1 Perspectivas de observação da governança no setor público Sociedade e Estado Entes federativos, esferas de poder e políticas públicas Órgãos e entidades Atividades interorganizacionais Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2014b. Desse modo, as regras estabelecidas pela governança pública de- vem estar de acordo com os interesses da sociedade em conjunto com o Estado, ser estruturadas em políticas públicas desenvolvidas pelas esferas de poder e pelos entes federativos, ter atribuições definidas em órgãos e entidades, e estar relacionadas por meio de atividades in- terorganizacionais. Com isso, essas regras resultam em uma relação de interdependência e complementariedade entre as quatro perspectivas apresentadas (BRASIL, 2014b). A gestão pública é realizada pela Administração Pública para a efeti- vação da governança pública. Tal administração compreende, segundo o artigo 4º do Decreto-Lei n. 200/1967, diversos entes que são necessá- rios para a existência de interligação efetiva, entre eles (BRASIL, 1967): • Administração Direta: constitui-se dos serviços integrados na es- trutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. • Administração Indireta: compreende categorias de entidades, do- tadas de personalidade jurídica própria, são elas: autarquias; em- presas públicas; sociedades de economia mista; fundações públicas. 14 Planejamento e gestão de obras públicas Visualizamos, então, que a gestão pública engloba entes da Adminis- tração Direta e Indireta.e alguns exemplos utilizados na legislação brasileira são: aval e fiança. 2 74 Planejamento e gestão e obras públicas Após o fim da execução do contrato, será liberada ou restituída a garantia prestada pelo contratado. Se a garantia for paga em dinhei- ro, deverá ser atualizada monetariamente, como estabelece o referido dispositivo legal (BRASIL, 2021). Caso a Administração Pública necessite entregar os bens de que o contratado ficará como depositário, será acrescido o valor deles na garantia, como estabelece o artigo 101. O esquema a seguir resume os limites estabelecidos para as garan- tias contratuais, conforme a Lei de Licitações. Figura 1 Limites das garantias contratuais nas licitações Limite das garantias Obras de grande vulto, com alta complexidade e riscos financeiros consideráveis Se o contratado ficar como depositário de bens da Administração Pública Regra geral Até 5%, autorizada a majoração para 10% do valor contratado, desde que seja justificada Até 30% do valor contratado Acrescenta-se o valor dos bens à garantia Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2021. Havendo necessidade de rescisão dos contratos administrativos firmados entre a Administração Pública e o ente privado, alguns mo- tivos são aceitáveis, sem que haja culpa do contratado: “V – caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, impeditivos da execução do contrato; [...] VIII – razões de interesse público, justifica- das pela autoridade máxima do órgão ou da entidade contratante” (BRASIL, 2021). Nessas hipóteses, o contratado será ressarcido dos prejuízos regular- mente comprovados e terá direito à devolução da garantia apresentada. Podemos concluir que, se a rescisão não for executada por força do contratado, ou seja, sob o fundamento do seu inadimplemento, o parti- cular deverá ser indenizado de maneira ampla. Nessa situação, a inde- Recomenda-se a videoau- la Saber direito – Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos, do pro- fessor Henrique Miranda, publicado no canal Rádio e TV Justiça, sobre o con- trato administrativo após o procedimento licitatório. É interessante verificar os elementos necessários para realizar a contrata- ção das obras públicas. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=CGMzQXhdSMk. Acesso em: 11 abr. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=CGMzQXhdSMk https://www.youtube.com/watch?v=CGMzQXhdSMk https://www.youtube.com/watch?v=CGMzQXhdSMk Garantias contratuais 75 nização ocorrerá independentemente da vontade da Administração Pública, que não poderá definir se o particular será ou não indenizado. Se a Administração se recusar a indenizar após decretar a rescisão de modo unilateral, o Poder Judiciário deverá ser acionado (JUSTEN FILHO, 2014). A indenização não é restrita aos danos emergentes, podendo ser indenizados ainda os lucros cessantes. Nesse contexto, o particular receberá o valor dos pagamentos devidos até a data da rescisão pela execução do contrato (JUSTEN FILHO, 2014). Convém considerar, também, a possibilidade de que venha a se tornar necessária a alteração dos contratos para que sejam cumpri- dos. Não é o caso de rescindi-los, mas ajustá-los a necessidades que porventura surgirem. De acordo com a Lei de Licitações, o contrato administrativo poderá ser alterado por acordo entre as partes, ou seja, entre o Poder Público e o particular, desde que se apresentem as devidas justificativas e seja conveniente a substituição da garantia de execução. É necessário verificar que as alterações contratuais necessitam de cuidados específicos. Portanto, deve-se observar a forma que é realiza- da a alteração, como podemos visualizar na figura a seguir. Figura 2 Observações acerca das alterações contratuais Observações Alteração da modalidade de garantia: acordo entre as partes (art. 140, inc. II, alínea a). Após a execução do contrato, a garantia é devolvida; se prestada em dinheiro, será atualizada monetariamente. Não confundir com a garantia de propostas. Ela é limitada a 1% do valor estimado da contratação (art. 58, §1º). Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2021. Destaca-se que a garantia prestada será liberada ou restituída após a execução do contrato ou caso ocorra a extinção por culpa exclusiva da Administração, como dispõe o artigo 100. 76 Planejamento e gestão e obras públicas Verifica-se que, na hipótese de alteração contratual, é necessário observar diversas questões. É importante conferir a forma de alteração da modalidade de garantia e o mecanismo utilizado após a execução do contrato. Ainda, não se pode confundir com a garantia de proposta, cujo objetivo é garantir que seja executável. 5.2 Avaliação dos resultados e seu impacto social Vídeo Para que a avaliação dos resultados seja eficaz, durante a execução do contrato, um representante da Administração Pública (designado especialmente para a tarefa) deverá acompanhar e fiscalizar o contra- to, como estabelece a Lei de Licitações, no artigo 117: A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por 1 (um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administra- ção especialmente designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei, ou pelos respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros para assisti-los e subsidiá-los com infor- mações pertinentes a essa atribuição. (BRASIL, 2021) Com base nesse artigo, verifica-se que, para a função de assistência, é possível contratar terceiros a fim de assistir e subsidiar informações pertinentes à atribuição de fiscalização. Inclusive, durante a execução do contrato, o contratado poderá subcontratar partes da obra, do ser- viço ou do fornecimento (BRASIL, 2021). Deve ser observado, na hipó- tese mencionada, o limite admitido pela Administração em cada caso. Após a execução do contrato, ainda segundo a Lei de Licitações, o seu objeto será recebido da seguinte forma: I – em se tratando de obras e serviços: a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamen- to e fiscalização, mediante termo detalhado, quando verificado o cumprimento das exigências de caráter técnico; b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, mediante termo detalhado que com- prove o atendimento das exigências contratuais; (Continua) Garantias contratuais 77 II – em se tratando de compras: a) provisoriamente, de forma sumária, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, com verificação posterior da conformidade do material com as exigências contratuais; b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, mediante termo detalhado que com- prove o atendimento das exigências contratuais. O recebimento provisório, conforme se pode notar no artigo men- cionado, consiste na transferência simples da posse do bem ou dos re- sultados do serviço para a Administração. Ressalta-se que não significa que a Administração reconheça que o objeto é bom ou que a prestação foi executada corretamente (JUSTEN FILHO, 2014). É durante o período de recebimento provisório que a Administração examinará o objeto para verificar se está de acordo com as exigências da lei, do contrato e da técnica. O efeito da entrega provisório será realizado com a liberação dos riscos da transferência da posse (JUSTEN FILHO, 2014). Quando se tratar de obra ou serviço, existindo a possibilidade de algum defeito, a Administração Pública deverá designar serviço ou co- missão de obras e serviços, com o objetivo de realizar a vistoria. Con- siderando a natureza do objeto, se houver necessidade, poderá ser exigida qualificação profissional ou técnica dos servidores – no caso de compras – e, assim, serão examinadas as especificações técnicas necessárias (JUSTEN FILHO, 2014). Após os testes, os exames e as veri- ficações necessários, na hipótese de a coisa ou serviço apresentar al- gum defeito, deverão ser rejeitados e devolvidos exatamente na forma como se encontram. Tendoem vista o princípio do contraditório 3 , o particular deve- rá acompanhar exames e verificações tendo, portanto, acesso aos laudos e aos documentos. Se concluído que há defeituosidade 4 no objeto, também será aplicado o princípio da transparência. A empre- sa contratada poderá requisitar que sejam realizadas as provas outra vez, ou novas provas, caso não concorde com o laudo da avaliação técnica (JUSTEN FILHO, 2014). Ressalta-se que, conforme o referido dispositivo legal, “O recebi- mento provisório ou definitivo não excluirá a responsabilidade civil Todo acusado tem direito à defesa, ou seja, devem ser aceitos todos os tipos de defesa admitidos em Direito, assegurando, por- tanto, o direito à resposta. 3 Na hipótese de defeito do objeto, é necessária a avaliação por respon- sáveis técnicos, que será relatada por meio de laudos e documentos. 4 78 Planejamento e gestão e obras públicas pela solidez e pela segurança da obra ou serviço nem a responsabili- dade ético-profissional pela perfeita execução do contrato, nos limites estabelecidos pela lei ou pelo contrato” (BRASIL, 2021). Nesse sentido, mesmo no caso de o vício se revelar após o recebi- mento da coisa, quando é impossível a sua detecção prévia, o particular será o responsável pela integridade dela (BRASIL, 2021). O recebimento do produto não exclui as regras sobre evicção e vícios ocultos, e devem ser também observadas as regras específicas disciplinadoras de casos especiais (JUSTEN FILHO, 2014). Sugere-se a leitura do artigo O desenvolvimento pelo licitante de programa de integridade como critério de desempate no projeto de lei Nº 1.292/95, da professora Mirela Ziliotto, para aprofundar o estudo. Acesso em: 11 abr. 2023. http://www.novaleilicitacao.com.br/2020/02/12/o-desenvolvimento-pelo-licitante-de-programa-de- integridade-como-criterio-de-desempate-no-projeto-de-lei-no-1-292-95/ Artigo O prazo e os métodos para a entrega provisória e definitiva de obras e de serviços serão definidos no regulamento ou no contrato. Destaca-se que o recebimento não exclui a responsabilidade civil pela solidez e segurança da obra ou serviço (BRASIL, 2021). Em algumas situações, não há como diferenciar o recebimento pro- visório do recebimento definitivo. Portanto, nesses casos, o artigo 88 da Lei de Licitações determina que ambos os recebimentos serão unifi- cados. Importante destacar que essa unificação não afasta a responsa- bilidade com a qualidade e conformidade das obras e serviços. Será de responsabilidade do contratado a boa execução do objeto do contrato, ou seja, os custos do controle de qualidade cabem ao executor particular. Entretanto, ressalta-se que a Administração poderá dispor em contrário, nos editais, nos convites ou nos atos normativos os ensaios, testes e demais provas exigidas por normas técnicas oficiais, como estabelece o artigo 140, parágrafo §1º da Lei n. 14.133/2021. Se a execução ocorrer em desacordo com o contrato, mesmo que em parte, a Administração rejeitará obra, serviço ou fornecimento, con- forme disposto no artigo 140, §1º da referida lei. vício: qualquer defeito ou imperfeição na coisa. evicção: perda parcial ou total de um bem, por decisão judicial ou ato administrativo, relaciona- da à causa preexistente ao contrato. Glossário http://www.novaleilicitacao.com.br/2020/02/12/o-desenvolvimento-pelo-licitante-de-programa-de-integridade-como-criterio-de-desempate-no-projeto-de-lei-no-1-292-95/ http://www.novaleilicitacao.com.br/2020/02/12/o-desenvolvimento-pelo-licitante-de-programa-de-integridade-como-criterio-de-desempate-no-projeto-de-lei-no-1-292-95/ Garantias contratuais 79 5.3 O impacto ambiental e as principais irregularidades Vídeo Nos estudos de viabilidade, será avaliado o impacto ambiental do empreendimento licitatório, como dispõe a Lei n. 14.133/2021, que poderá ser requerido no projeto básico. Para a elaboração do projeto básico, deve-se verificar, portanto, a necessidade de licenciamento am- biental. Nesse sentido, verifica-se a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental. As Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente n. 001/1986 e n. 237/1997, em conjunto com a Lei n. 6.938/1981, dispõem sobre a necessidade de licenciamento ambiental. A primeira afirma, no seu artigo 2º, que dependerão de estudo e elaboração de relatório de im- pacto ambiental as seguintes atividades: Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; Ferrovias; Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; [...] Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tó- xicos ou perigosos; Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; [...] Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou pro- dutos similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia. [...] Empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espe- leológico nacional. (BRASIL, 1986) Nessas situações, entre outras que podem ser encontradas no re- ferido artigo, em que há a exigência do licenciamento ambiental, é ne- cessário elaborar um relatório e um estudo de impacto ambiental. Esse documento deverá ser submetido à aprovação do órgão estatual e, de modo complementar, será encaminhado para a Secretaria Especial do Meio Ambiente. É importante salientar que esse procedimento será realizado para se conceder o licenciamento de atividades modificado- ras do meio ambiente. 80 Planejamento e gestão e obras públicas As atividades e os empreendimentos para os quais é obrigatório o licenciamento ambiental estão descritos no anexo 1 da Resolução n. 237 do Conama (BRASIL, 1997), tais como: Resolução n. 237 do Conama Extração e tratamento de minerais Indústria têxtil, de vestuário, de calçados e de artefatos de tecidos Indústria de produtos alimentares e de bebidas Indústria de fumo Indústrias diversas Obras civis Serviços de utilidade Transporte, terminais e depósitos Turismo Atividades diversas Atividades agropecuárias Uso de recursos naturais Indústria de produtos minerais não metálicos Indústria metalúrgica Indústria mecânica Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações Indústria de material de transporte Indústria de madeira Indústria de papel e celulose Indústria de borracha Indústria de couros e peles Indústria química Indústria de produtos de matéria plástica Nas situações elencadas, será eleito para o desenvolvimento do em- preendimento contratado, portanto, o que melhor responda aos as- pectos técnico, ambiental e socioeconômico (BRASIL, 2014). Para isso, antes da implantação do projeto, as alternativas adequadas serão ava- liadas em seus quesitos técnicos e socioeconômicos, incluindo o exame das melhorias e dos malefícios advindos da implantação da obra. Na análise das alternativas, deve ser observado também seu cus- to. Uma das formas de avaliá-lo é multiplicar o custo por metro qua- drado pela estimativa da área equivalente de construção, de acordo com a NBR 12.721/2005 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No que diz respeito às irregularidades, é importante conside- rar que podem ocorrer no procedimento licitatório, nos contratos, na tributação, na execução orçamentária, nas medições, nos pagamen- tos e no recebimento da obra. O quadro a seguir apresenta o que se pode considerar irregular no procedimento licitatório, segundo o Tribunal de Contas da União. Garantias contratuais 81 Quadro 1 Irregularidades concernentes ao procedimento licitatório Exigências desnecessárias de caráter restritivo no edital, especialmente no que diz respeito à capacitação técnica dos responsáveis técnicos e técnico-operacional da empresa. Ausência de critério de aceitabilidade de preços global e unitário no edital de licitação. Projeto básico inadequado ou incompleto, sem os elementos necessários e suficien- tes para caracterizar a obra, não aprovado pelaautoridade competente, e/ou elabo- rado posteriormente à licitação. Modalidade de licitação incompatível. Obra não dividida em parcelas com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade. Obra dividida em parcelas, porém não respeitando a modalidade de licitação perti- nente para a execução total do empreendimento. Tipo inadequado de licitação. Dispensa de licitação sem justificativa ou com justificativa incompatível. Inexigibilidade de licitação sem justificativa ou com justificativa incompatível. Ausência da devida publicidade de todas as etapas da licitação. Ausência de exame e aprovação preliminar por assessoria jurídica da administração das minutas de editais de licitação, contratos, acordos, convênios e ajustes. Não conformidade da proposta vencedora com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços máximos fixados pelo órgão contratante. Inadequação do cronograma físico-financeiro proposto pelo vencedor da licitação, indicando manipulação dos preços unitários de modo que os serviços iniciais do contrato ficam muito caros, e os finais muito baratos, podendo gerar um crescente desinteresse do contratado ao longo das etapas finais da obra devido ao baixo preço dos serviços remanescentes. Inadequação do critério de reajuste previsto no edital, sem retratar a variação efe- tiva do custo de produção. Não adoção de índices específicos ou setoriais de reajuste, desde a data prevista para a apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cada parcela. Participação na licitação, direta ou indiretamente, do autor do projeto básico ou exe- cutivo, pessoa física ou jurídica, pois a ele só é permitida a participação como consul- tor ou técnico, nas funções de fiscalização, supervisão ou gerenciamento, exclusiva- mente a serviço da administração interessada. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2014. Pode-se verificar, nas hipóteses previstas no Quadro 1, que as princi- pais irregularidades com relação ao processo licitatório são as que estão 82 Planejamento e gestão e obras públicas em desacordo com o princípio da isonomia ou não estão atentas à es- colha da proposta mais vantajosa para a Administração (BRASIL, 2014). As irregularidades concernentes aos contratos apresentam-se com relação à sua celebração e à sua administração (BRASIL, 2014). Pode-se vê-las no quadro a seguir. Quadro 2 Irregularidades concernentes ao contrato Divergência entre a descrição do objeto no contrato e a constante do edital de licitação. Divergências relevantes entre os projetos básico e executivo. Não vinculação do contrato ao edital de licitação (ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu) e à proposta do licitante vencedor. Ausência de aditivos contratuais para contemplar eventuais alterações de projeto ou cronograma físico-financeiro. Não justificativa de acréscimos ou de supressões de serviços. Extrapolação, quanto aos acréscimos ou às supressões de serviços, dos limites defi- nidos na Lei n. 8.666/1993. Alterações, sem justificativas coerentes e consistentes, de quantitativos, reduzindo quantidades de serviços cotados a preços muito baixos e/ou aumentando quantida- des de serviços cotados a preços muito altos, podendo gerar sobrepreço e superfa- turamento (jogo de planilha). Acréscimo de serviços contratados por preços unitários diferentes da planilha orça- mentária apresentada na licitação. Acréscimo de serviços cujos preços unitários são contemplados na planilha original, porém acima dos praticados no mercado. Execução de serviços não previstos no contrato original e em seus termos aditivos. Subcontratação não admitida no edital e no contrato. Contrato encerrado com objeto inconcluso. Prorrogação de prazo sem justificativa. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2014. Das irregularidades na execução orçamentária, as hipóteses referem-se à não existência de previsão de recursos orçamentários para o pagamento da obra ou ao fato de que não houve a inclusão da obra no plano plurianual ou em lei. Pode-se conferir detalhes no quadro a seguir. Quadro 3 Irregularidades concernentes à execução orçamentária Não inclusão da obra no plano plurianual ou em lei que autorize sua inclusão, no caso de sua execução ser superior a um exercício financeiro. Ausência de previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das etapas a serem executadas no exercício financeiro em curso. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2014. Garantias contratuais 83 Nas hipóteses relativas a medições e pagamentos, verificamos o pagamento de serviços que não estão regulares, o superfaturamen- to, entre outros. O quadro a seguir descreve mais claramente essas irregularidades. Quadro 4 Irregularidades concernentes às medições e aos pagamentos Pagamento de serviços não efetivamente executados. Pagamento de serviços executados, porém não aprovados pela fiscalização. Falta de comprovação e de conferência pela fiscalização dos serviços executados. Divergências entre as medições atestadas e os valores efetivamente pagos. Medições e pagamentos executados com critérios divergentes dos estipulados no edital de licitação e contrato. Inconsistências e incoerências nos relatórios de fiscalização. Superfaturamento. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2014. No que diz respeito ao recebimento da obra, pode-se encontrar di- versas irregularidades, principalmente nas hipóteses em que não são observados os elementos essenciais para o seu recebimento. Vejamos o quadro a seguir. Quadro 5 Irregularidades concernentes ao recebimento da obra Ausência de recebimento provisório da obra pelo responsável por seu acompanha- mento e fiscalização, mediante termo circunstanciado assinado pelas partes. Ausência de recebimento definitivo da obra, por servidor ou comissão designada por autoridade competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após prazo de observação ou vistoria que comprove a adequação do objeto aos ter- mos contratuais. Descumprimento de condições descritas no edital de licitação e no contrato para o recebimento da obra. Descumprimento dos prazos de conclusão, entrega, observação e recebimento defi- nitivo, conforme o caso, previsto no contrato e em seus termos aditivos. Recebimento da obra com falhas visíveis de execução. Omissão da Administração, na hipótese de terem surgido defeitos construtivos du- rante o período de sua responsabilidade legal. Não realização de vistorias dos órgãos públicos competentes para a emissão do Ha- bite-se 5 . Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2014. É possível compreender que, diante das diversas irregularidades que a obra pública pode apresentar, a Lei n. 14.133/2021 prevê, ao lon- go do seu texto, as sanções administrativas e a tutela judicial para as Documento emitido pela prefeitura afirmando que o imóvel seguiu to- das as regras estabeleci- das pelo município. 5 84 Planejamento e gestão e obras públicas hipóteses de atos em desacordo. Isso ocorre, por exemplo, nos casos de recusa injustificada para assinar o contrato administrativo, nas hipó- teses de o agente administrativo praticar atos em desacordo com a Lei de Licitações, entre outros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecemos, neste capítulo, as garantias contratuais apresentadas no contrato administrativo e analisamos as garantias aceitas por lei, as quais deverão estar elencadas no edital da licitação. Verificamos que são aceitas para o contrato administrativo apenas as garantias: caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária. Vimos as formas de avaliação dos resultados das obras públicas, o im- pacto gerado na sociedade e os mecanismos elencados na Lei de Licitações. Finalmente, analisamos o impacto ambiental decorrente das obras públicas e as principais irregularidades apresentadas. A inobservância do determinado na legislaçãopode, portanto, acarretar sanção adminis- trativa ou penal. Dessa forma, é necessário observar que a Lei n. 14.133/2021 apre- senta as sanções referentes às irregularidades de obras e serviços. ATIVIDADES Atividade 1 Quais são as formas de garantia elencadas na Lei n. 14.133/2021? Exemplifique. Atividade 2 Quem deverá acompanhar a execução da obra pública? Garantias contratuais 85 Atividade 3 O que é necessário observar para a elaboração do projeto básico? REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto NBR 12721: avaliação de custos de construção para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios edilícios. Rio de Janeiro, 2005. BONATTO, H. Governança e gestão de obras públicas: do planejamento à pós-ocupação. Belo Horizonte: Fórum, 2018. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 set. 1981. BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 22 jun. 1993. BRASIL. Lei n. 10.520, de 17 de julho de 2002. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 jul. 2002. BRASIL. Lei n. 14.133, de 1 de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 abr. 2021. BRASIL. Resolução Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília: Conselho Nacional do Meio Ambiente, 1986. BRASIL. Resolução Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997. Brasília: Conselho Nacional do Meio Ambiente, 1997. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2014. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/FA/B6/ EA/85/1CD4671023455957E18818A8/Referencial_basico_governanca_2_edicao.PDF. Acesso em: 11 abr. 2023. JUSTEN FILHO, M. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 16. ed. São Paulo: RT, 2014. https://portal.tcu.gov.br/data/files/FA/B6/EA/85/1CD4671023455957E18818A8/Referencial_basico_governanca_2_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/FA/B6/EA/85/1CD4671023455957E18818A8/Referencial_basico_governanca_2_edicao.PDF Resolução das atividades 1 Governança pública 1. De que modo as quatro perspectivas devem estar alinhadas para a governança no setor público e por que isso é desenvolvido dessa forma? As quatro perspectivas essenciais devem estar alinhadas de modo que atendam às necessidades da população. Para que o alinhamento seja desenvolvido de maneira efetiva, é necessário que sejam observadas a sociedade e a estrutura organizacional do Estado. 2. O que deve ser observado para um efetivo planejamento das obras públicas? Há a necessidade, nesse momento, de observar quais são as questões essenciais apresentadas, estimando os recursos necessários para optar pela melhor alternativa para a população local. 3. Quais são os elementos essenciais que devem ser verificados na fase de planejamento da obra pública, conforme a Lei de Licitações? Por que deve haver essa verificação? Os elementos essenciais que devem ser verificados na fase de planejamento das obras públicas, conforme a Lei de Licitações, são: o desenvolvimento da solução escolhida, as soluções técnicas para a fase de elaboração do projeto executivo, as informações necessárias para o estudo, os subsídios para a montagem do plano e o orçamento detalhado do custo global da obra. Nesse sentido, todos devem ser observados, visando ao planejamento adequado com o objetivo de assegurar o melhor para a população local. 2 Contratos de prestação de serviços e produtos 1. Por que é necessário realizar o procedimento licitatório, antes da assinatura do contrato administrativo, entre a Administração Pública e a empresa que executará a obra? O serviço de execução da obra será celebrado por meio de um contrato administrativo, que é regulado pela Lei de Licitações. O procedimento licitatório é necessário para assegurar a transparência do processo. 86 Planejamento e gestão de obras públicas 2. Quais são as vantagens observadas em cada um dos quatro regimes de empreitada existentes na Lei de Licitações? Cite um exemplo de uso de cada regime. Existem quatro importantes maneiras de realizar o contrato administrativo: • Regime de empreitada por preço global: estabelece preços fixos ao contrato, como regra geral, e restringe qualquer aditivo, facilitando, portanto, a fiscalização do contrato. Exemplo: construção de edificações e linhas de transmissão. • Regime de empreitada por preço unitário: os riscos do construtor são minimizados de maneira exponencial. Exemplo: implantação, pavimentação, duplicação e restauração de rodovias. • Regime de tarefa: o pagamento é feito apenas pela mão de obra, sendo os materiais fornecidos pelo contratado. É usado apenas para serviços de pequena proporção. • Regime de empreitada integral: o empreendimento é entregue pronto para a operação. Exemplo: usinas nucleares, hidroelétricas e termoelétricas. 3. Quais são os elementos essenciais para o cronograma físico-financeiro da obra pública? O cronograma físico-financeiro deve contemplar a avaliação do prazo proposto para a execução da obra, com a distribuição dos serviços ao longo do tempo, o porte e o tipo de empreendimento. 3 Procedimento licitatório 1. Quais são as formas de licitação estabelecidas na Lei n. 14.133/2021? Cite um exemplo de cada. O artigo 28 estabelece que são modalidades de licitação: concorrência, por exemplo, compra de imóveis; concurso, por exemplo, contratação de pessoas qualificadas para determinada função; pregão, por exemplo, serviços de vigilância ou limpeza; diálogo competitivo, por exemplo, um determinado serviço de segurança para um órgão em específico no qual haja um diálogo entre os licitantes sobre as necessidades características do determinado serviço para o determinado órgão; e leilão, por exemplo, disputa pública de determinado bem. Resolução das atividades 87 2. Por que há a aplicação dos princípios constitucionais aplicáveis à Lei de Licitações? Quais são eles? A aplicação dos princípios constitucionais se dá em razão da necessidade de proteção do interesse público. Assim, os que regem a licitação, tanto de maneira implícita quanto explícita, são: da supremacia e da indisponibilidade do interesse público; da isonomia ou da igualdade; da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração; da promoção do desenvolvimento nacional sustentável; da adjudicação compulsória; da economicidade; da legalidade; da impessoalidade; da motivação; da publicidade; da moralidade e da probidade administrativa; da vinculação aos instrumentos convocatórios; do julgamento objetivo. 3. Quais são os procedimentos realizados na fase externa à licitação e os seus requisitos necessários? Publicação do edital de licitação, a fim de alcançar um número maior de pessoas e com objetivo de garantir a publicidade; a comissão de licitação, com a função de fiscalizar a execução do contrato administrativo; o recebimento de propostas, desde que observados os prazos mínimos estabelecidos em lei; e o procedimento da licitação, mediante habilitação, análise das propostas, inexequibilidade, recursos, homologação e adjudicação. 4 Fiscalização de contratos 1. Qual é o poder-dever do Estado no que diz respeito aos contratos administrativos? É poder-dever do Estado fiscalizar os contratos administrativos, levando em consideração a contratação com o Poder Público e a utilização do orçamento público. 2. Quais são as três formas de controle dos contratos administrativos? As formas de controle dos contratos administrativos são: o controle interno, realizado no próprio órgão licitante; o controle externo, realizado por órgão distinto; e o controle judicial, realizado pelo Poder Judiciário. 3. Por que o momento de habilitação é importante para os contratos administrativos? O momento de habilitação é importante porque é quando oslicitantes comprovam que podem participar da licitação, pois confirmam que todos os requisitos estabelecidos na lei são atendidos. 88 Planejamento e gestão de obras públicas 5 Garantias contratuais 1. Quais são as formas de garantia elencadas na Lei n. 14.133/2021? Exemplifique. São formas de garantia elencadas na Lei de Licitações: caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, por exemplo, por meio de um cheque administrativo; seguro-garantia, que é realizado por seguradoras visando garantir que a obra será executada, realizado, por exemplo, por meio de um contrato; ou fiança bancária, que é a garantia realizada pelo banco, o qual figura como fiador da obra, que é realizada também na assinatura do contrato. 2. Quem deverá acompanhar a execução da obra pública? O acompanhamento da execução do contrato deverá ser fiscalizado por um representante da Administração Pública, designado especialmente para o ato. Se houver necessidade, será permitida a contratação de terceiros para garantir que a sua atribuição seja desenvolvida adequadamente, garantindo a assistência de informações pertinentes, como estabelece o artigo 117 da Lei n. 14.133/2021. 3. O que é necessário observar para a elaboração do projeto básico? Durante a elaboração do projeto básico, é necessário verificar o impacto ambiental do empreendimento que será desenvolvido, como na Lei n. 14.133/2021. Para tanto, em empreendimentos com atividade modificadora do meio ambiente será obrigatória a execução do estudo prévio de impacto ambiental a fim de garantir que não haja um impacto negativo. Resolução das atividades 89 Planejamento e gestão de obras públicas Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini CaminhaAnelize Pantaleão Puccini Caminha Planejamento e gestão de obras públicas Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini CaminhaAnelize Pantaleão Puccini Caminha Planejamento e gestão de obras públicas Anelize Pantaleão Puccini Caminha ISBN 978-65-5821-240-9 9 786558 212409 Código Logístico I001042 Página em branco Página em brancoNesse sentido, a gestão pública é realizada por meio desses entes e as suas funções são distribuídas de modo que cada um tenha sua competência bem definida. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) elencou quatro princípios básicos que podem ser aplicados à governança de obras públicas (IBGC, 2015): 1. Transparência: visa garantir que a população ou qualquer parte interessada tenha amplo acesso às informações que julguem necessárias. 2. Equidade: todas as partes precisam ser tratadas de maneira justa e com igualdade de condições, levando em consideração a isonomia entre todos e observando direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. 3. Prestação de contas (accountability): todos os agentes de governança precisam apresentar as contas realizadas com o dinheiro público, de modo claro e compreensível. É importante, ainda, salientar que essas devem ser apresentadas em um momento oportuno e que todas as ações e omissões são de responsabilidades do próprio agente. 4. Responsabilidade corporativa: deve ser observada, de maneira zelada, a viabilidade econômico-financeira das organizações, com o objetivo de reduzir as externalidades negativas de seus negócios. Deve ser observado o modelo do negócio e os diversos capitais apresentados no curto, médio e longo prazo. À vista disso, os princípios devem ser transportados para a Ad- ministração Pública para que o planejamento da obra pública seja realizado com base em princípios éticos e critérios de boa gover- nança estabelecidos. Dessa forma, se dará uma gestão ética sobre as obras públicas. 1.2 Obras públicas Vídeo Uma das formas de prestação de serviço público é por meio da construção de obras públicas. O objetivo principal dessas obras é aten- der às necessidades da coletividade, com a entrega de prestações im- portantes para a vida em sociedade. Governança pública 15 As atividades que acarretam a intervenção no meio ambiente ou alteração substancial das características originais de um bem imóvel são estabelecidas pela legislação como privativas dos arquitetos e en- genheiros. Para tanto, é necessário um conjunto harmonioso de ações que resultam em inovações no espaço físico da natureza (BRASIL, 2021). O desenvolvimento de qualquer obra pública necessita de diver- sos fatores. Sendo assim, é preciso uma série de estudos que devem ser realizados pelo ente público para definir a realização de um em- preendimento público. Além disso, é necessário saber diferenciar o termo obra de serviço. De acordo com a Lei de Licitações (Lei n. 14.133/2021), serviço é “ativi- dade ou conjunto de atividades destinadas a obter determinada utili- dade, intelectual ou material, de interesse de Administração” (BRASIL, 2021). Já obra é considerada qualquer construção ou infraestrutura realizada pelo Estado ou por seus agentes. A fim de compreender efetivamente de que forma são estruturadas as obras públicas, é importante diferenciar, também, os conceitos de compra e alienação. Compra é “toda aquisição remunerada de bens para fornecimento de uma só vez ou parceladamente, considerada imediata aquela com prazo de entrega de até 30 (trinta) dias da ordem de fornecimento” (BRASIL, 2021), e alienação é quando bens são trans- feridos para o domínio de terceiros. Outros conceitos, também definidos pela Lei n. 14.133/2021, são igualmente importantes para o estudo das obras públicas e licitações. Por exemplo, no conceito de obras e serviços de grande vulto, temos como parâmetro o valor estabelecido na Lei de Licitações, que consiste em valor estimado superior à R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais) (BRASIL, 2021). Temos, ainda, a definição de seguro garantia, “seguro que ga- rante o fiel cumprimento das obrigações assumidas pelo contratado” (BRASIL, 2021). Ele é estabelecido na Lei de Licitações, pois uma garan- tia pelo contratado precisa ser apresentada, visando assegurar que a obra ou o serviço público será concluído. Segundo a Lei n. 8.666/1993 – Lei de Licitações anterior à Lei n. 14.133/2021 – a execução direta é feita de forma pelos próprios órgãos e entidades da Administração conforme os meios disponíveis, enquan- 16 Planejamento e gestão de obras públicas to a execução indireta é “a que o órgão ou entidade contrata com ter- ceiros sob qualquer dos [...] regimes” (BRASIL, 1993). O projeto básico é o instrumento utilizado para desenvolver e carac- terizar a obra que será licitada. Dessa forma, diversos elementos são necessários, como estabelece o inciso XXV do artigo 6º (BRASIL, 2021). Projeto Básico - conjunto de elementos necessários e suficien- tes, com nível de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço, ou o complexo de obras ou de serviços obje- to da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegure a viabilidade técnica e o ade- quado tratamento do impacto ambiental do empreendimento e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução. Visualizamos que diversos elementos precisam estar presentes para que se evolua ao segundo momento do processo de licitação: a elabo- ração do projeto executivo. Esse projeto, segundo a Lei n. 14.133/2021, é “conjunto de elementos necessários e suficientes à execução com- pleta da obra, com o detalhamento das soluções previstas no projeto básico, a identificação de serviços, de materiais e de equipamentos a serem incorporados à obra, bem como suas especificações técnicas, de acordo com as normas técnicas pertinentes” (BRASIL, 2021). A Lei de Licitações estabelece três conceitos importantes: o de Administração, o de Administração Pública e o de Sítio Eletrônico Oficial. É necessário que haja distinção entre eles, uma vez que a Ad- ministração é o órgão, ente ou unidade utilizado pela Administra- ção Pública para exercer as suas atividades, como estabelece a Lei de Licitações. Já o Sítio Eletrônico Oficial é o veículo de divulgação oficial da Administração Pública. O contrato administrativo deve ser celebrado entre duas partes, o ente público e o privado. Dessa forma, é preciso definir contratante e contratado: o primeiro é o responsável pela contratação que integra a Administração Pública, já o segundo é a pessoa física ou jurídica, ou consórcio de pessoas jurídicas, que assinará o contrato com a Adminis- tração Pública. A Lei de Licitações estabelece outros conceitos importantes para o estudo sobre o planejamento e a gestão das obras públicas, dispostos no artigo 6º, tais como: Governança pública 17 XXXVII – produto manufaturado nacional - produto manufatura- do produzido no território nacional de acordo com o processo produtivo básico ou com as regras de origem estabelecidas pelo Poder Executivo federal; [...] XXXVI – serviço nacional: serviço prestado em território nacio- nal, nas condições estabelecidas pelo Poder Executivo federal; [...] L – comissão de contratação: conjunto de agentes públicos indicados pela Administração, em caráter permanente ou es- pecial, com a função de receber, examinar e julgar documentos relativos às licitações e aos procedimentos auxiliares; [...] LV – produtos para pesquisa e desenvolvimento - bens, insumos, serviços e obras necessários para atividade de pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento de tec- nologia ou inovação tecnológica, discriminados em projeto de pesquisa. (BRASIL, 2021) Desse modo, podemos entender que esses conceitos são impor- tantes porque, com base neles, temos estabelecidos diversos elemen- tos essenciais para a gestão e o planejamento das obras públicas. Isso ocorre tendo em vista o desenvolvimento do processo licitatório, a con- tratação entre o ente público e o privado, a execução da obra pública e a sua entrega final. Obras públicas e serviços, que antes eram funções exclusivas do Estado, atualmente são desenvolvidos pela iniciativa privada. Assim, o Estado passou de um modelo intervencionista para um modelo re- gulador.Nesse novo modelo, o poder estatal fiscaliza e regulamenta os serviços concedidos, e também houve a necessidade da criação de agências reguladoras como uma figura nova de Direito Público. A fi- nalidade dessas agências é servir de instrumento estatal na tarefa de fiscalizar as obras públicas (MADEIRA, 2010). Salientamos que o serviço só é prestado de maneira indireta, com a delegação de funções, se for realizado de quatro formas diferentes: concessão, permissão, autorização e terceirização. Nessas situações, as empresas atuam em setores de responsabilidade do Estado, o qual também pode transferir a sua responsabilidade a outros por meio da Como sugestão, recomendamos o docu- mentário sobre obras públicas A escala humana. No documentário são retratadas cidades com soluções criativas como Copenhague, Nova York, entre outras, demons- trando como o design urbano afeta a qualidade de vida das cidades. Direção: Andreas Dalsgaard. Dinamarca: Final Cut For Real, 2013. Documentário 18 Planejamento e gestão de obras públicas privatização dos serviços públicos, hipótese em que o Estado se retira da prestação de serviço público de modo completo (MADEIRA, 2010). Posto isso, as obras públicas, geralmente, são realizadas por empre- sas privadas e fiscalizadas pelo Estado. Dessa maneira, essas empresas prestam um serviço estatal. No Brasil, a Lei n. 14.133/2021 tem como objetivo regulamentar o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, que estabelece os seguintes termos: ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, servi- ços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualifi- cação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri- mento das obrigações. (BRASIL, 1988) O escopo da referida lei é estabelecer normas gerais a respeito das licitações e dos contratos administrativos de obras públicas, na esfera da União, dos estados e Distrito Federal e dos municípios (BRASIL, 2021). Logo, ao verificar a necessidade de determinada obra pública, os estados precisam cumprir alguns procedimentos específicos. Para tan- to, deve ser realizado um processo de licitação nos casos em que uma obra pública precisa ser executada em determinada região. Dessa for- ma, o ente público deve realizar estudos e análises preliminares para verificar a viabilização da obra. Igualmente, é importante a realização do procedimento prévio para garantir que o Poder Público tome as de- cisões mais convenientes para a sociedade. Além disso, para desenvolver uma obra pública, é necessária a ob- servação da sustentabilidade, ou seja, o empreendimento não pode ser realizado se gerar impacto negativo ao meio ambiente. Em vista disso, em atividades potencialmente degradadoras para o meio ambiente é preciso realizar um Estudo de Impacto Ambiental 2 , conforme previsto na Constituição Federal. Ainda, objetivando a preservação ambiental na realização de um empreendimento, é imprescindível a obtenção de um licenciamento ambiental, que é realizado em três etapas, de acordo com a Resolução Conama n. 237/1997: Estudo de Impacto Ambiental é o estudo realizado antes do início do empreendimento a fim de verificar seu impacto no meio ambiente, podendo ser utilizado para que não se desenvolva efetivamente o empreendimento quan- do houver a possibilidade de um dano ambiental. 2 Governança pública 19 Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I – Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do pla- nejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação; II – Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do em- preendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicio- nantes, da qual constituem motivo determinante; III – Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da ativida- de ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumpri- mento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. (BRASIL, 1997, p. 646) Podemos verificar que as formas de licença ambientais são comple- mentares, mas não alternativas. Ou seja, é necessário que haja uma licença específica para cada momento da obra pública, pois uma não substitui a outra. Conforme o conceito de execução indireta, proposto na Lei n. 14.133/2021, quando a obra é realizada por terceiros por meio de lici- tação, podem ser realizados os seguintes regimes de contratação: • Empreitada por preço global: execução da obra ou serviço por preço certo e total. • Empreitada por preço unitário: contratação de unidades deter- minadas por preço certo. • Tarefa: contratação por preço certo para pequenos trabalhos, com ou sem fornecimento de materiais, por meio de mão de obra. • Empreitada integral: compreende a integralidade de um em- preendimento, com todas as etapas da obra, serviços e instala- ções necessárias. Diante dessas regulamentações, algumas etapas são essenciais, conforme mostra o fluxograma a seguir. 20 Planejamento e gestão de obras públicas Figura 2 Fluxograma de procedimentos Fase preliminar à licitação • Programa de necessidades • Estudos de viabilidade • Anteprojeto I Fase interna da licitação • Projeto básico • Projeto executivo • Recursos orçamentários • Edital de licitação II Fase externa da licitação • Publicação do edital de licitação • Comissão de licitação • Recebimento de propostas • Procedimento da licitação III Fase contratual • Contrato • Fiscalização da obra • Recebimento da obra IV Fase posterior à contratação • Operação • Manutenção V Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2014a. Como podemos observar na Figura 2, o primeiro passo para o pla- nejamento de uma obra pública é a fase preliminar à licitação, que consiste em realizar o programa de necessidades, estudo de viabilida- de e anteprojeto. O segundo passo é a fase interna da licitação, que engloba a rea- lização de um projeto básico, etapa obrigatória no processo licitatório. São necessários também um projeto executivo – que consiste no plane- jamento de recursos orçamentários a serem utilizados na obra – e um edital de licitação. O terceiro passo é a fase externa da licitação, efetivada por meio da publicação do edital. Nessa fase, é importante que a comissão de Governança pública 21 licitação seja criada para verificar se o processo licitatório está sendo realizado em conformidade com a legislação vigente. Após esse pro- cedimento, serão recebidas as propostas de licitação. Com a definição, damos início ao processo licitatório. A quarta etapa é a fase contratual, na qual o Poder Público firma contrato com a empresa vencedora da licitação. O órgão estatal neces- sita, portanto, fiscalizar a obra e, depois do período de empreendimen- to, receber a obra finalizada. O quinto e último passo é a fase posterior à contratação, em que é iniciada a operação da obra pública e mantido o seu funcionamento. Verificamos, portanto, que é necessário para o desenvolvimento das obras públicas percorrer as cinco etapas com transparência e efeti- vidade. Nesse sentido, pudemos observar os conceitos essenciais para o planejamento e a gestão das obras públicas, bem como o procedi- mento realizado em cada etapa do processo. 1.3 Planejamento de obras públicas Vídeo Antes da licitação deve ser realizada uma fase preliminar, que é essencial para tomar a decisão de licitar. É imperativo,nessa fase, identificar as necessidades, estimar os recursos e escolher a melhor alternativa para a população local. Na sequência, devem ser estabeleci- das as características básicas de cada empreendimento, como finalida- de, futuros usuários, dimensões, entre outros (BRASIL, 2014a). A figura a seguir ilustra as etapas dessa fase. Identificar as necessidades Estabelecer as características básicas 2 1 Figura 3 Etapas da fase preliminar Fonte: Elaborada pela autora. Vy ac he sl av ik us /S hu tte rs to ck 22 Planejamento e gestão de obras públicas Como afirmado pelo Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2014a), o próximo passo é realizar estudos de viabilidade, visando eleger o empreendimento adequado para o programa de necessidades, in- cluindo os aspectos técnicos, ambientais e socioeconômicos. Nesse momento, deve ser feita a avaliação dos custos de todas as possíveis alternativas para o desenvolvimento da obra pública. Assim, pode- mos verificar a relação custo/benefício de cada uma e preparar um relatório sobre a opção selecionada. Portanto, o estudo de viabilida- de é um momento indispensável para a obra e deve ser realizado de modo aprofundado. Nele, serão estudadas, também, as leis urbanís- ticas para o projeto da obra e os aspectos positivos e negativos do empreendimento. Um anteprojeto é realizado depois da escolha do empreendimento, constando os principais elementos da arquitetura, da estrutura e das instalações em geral. Nessa etapa é primordial que se elabore um pro- jeto arquitetônico com a configuração definitiva da construção da obra (E-GESTÃO PÚBLICA, 2023). Após a realização de todas as etapas da fase preliminar à licitação, há a fase interna da licitação. Com a definição do empreendimento, devemos iniciar os preparativos da contratação, comumente, por licita- ção. No Brasil, temos a regulamentação do procedimento por meio da Lei n. 14.133/2021. Assim, abrimos o processo administrativo e todos os documentos, as memórias de cálculo e as justificativas serão anexadas a ele. Com isso, temos o projeto básico, que é elaborado antes da licitação e deve ser aprovado por autoridade competente. Além disso, o projeto precisa contemplar os seguintes requisitos, previstos no inciso XXV do artigo 6º da Lei de Licitações (BRASIL, 2021): Quadro 1 Requisitos do projeto básico I. Desenvolver adequadamente levantamentos topográficos e cadastrais, son- dagens e ensaios geotécnicos, ensaios e análises laboratoriais, estudos so- cioambientais e demais dados e levantamentos necessários para execução da solução escolhida. II. Apresentar as soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente de- talhadas, de modo a evitar, por ocasião da elaboração do projeto executivo e da realização das obras e montagem, a necessidade de reformulações ou variantes quanto à qualidade, ao preço e ao prazo inicialmente definidos. O documento Obras públi- cas com as recomendações básicas do Tribunal de Contas da União é um im- portante material de apoio para o estudo do planeja- mento de obras públicas. Nele, são apresentadas de maneira didática as regras para contratação e fiscalização das obras. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/ files/1E/26/8A/06/23DEF 610F5680BF6F18818A8/Obras_ publicas_recomendacoes_basicas_ contratacao_fiscalizacao_obras_ edificacoes_publicas_4_edicao. PDF. Acesso em: 5 abr. 2023. Leitura (Continua) https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF Governança pública 23 III. Identificar os tipos de serviços a executar e dos materiais e equipamentos a incorporar à obra, bem como das suas especificações, de modo a assegurar os melhores resultados para o empreendimento e a segurança executiva na utilização do objeto, para os fins a que se destina, considerados os riscos e os perigos identificáveis, sem frustrar o caráter competitivo para a sua exe- cução. IV. Possuir informações que possibilitem o estudo e a definição de métodos construtivos, de instalações provisórias e de condições organizacionais para a obra, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução. V. Apresentar subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendidos a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e outros dados necessários em cada caso. VI. Apresentar o orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, obri- gatório exclusivamente para os regimes de execução previstos nos incisos do artigo 46 da referida lei. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2021. Elaborado pelo órgão responsável pela obra pública, o projeto bá- sico de uma licitação fica sob a responsabilidade de um encarregado inscrito no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) do estado ou no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) estadual. O responsável técnico deverá registrar as Anotações de Responsabilida- de Técnica (ARTs) ou o Registro de Responsabilidade Técnica (RRTs), referentes ao projeto. Verificamos, ainda, se há necessidade de licenciamento ambien- tal no empreendimento, conforme dispõe as Resoluções Conama n. 001/1986 e n. 237/1997. O objetivo principal dessa etapa de elaboração do projeto básico é definir as características básicas do empreendimento, com a análise dos custos e prazos para realizar a obra e com a elaboração do orça- mento. Por meio do projeto básico é possível executar, com transpa- rência e valores justos, o processo licitatório. Em suma, a elaboração dos projetos depende de três etapas suces- sivas: estudo preliminar ou anteprojeto, projeto básico e projeto execu- tivo. Por fim, deverão ser providenciados, pelo responsável pela autoria dos projetos, o alvará para a construção e as aprovações pelos órgãos competentes (BRASIL, 2014a). Nesse sentido, para a execução de obras e prestação de serviços, a licitação só poderá ser realizada quando o projeto básico tiver sido aprovado pela autoridade competente, admitido o projeto executivo 24 Planejamento e gestão de obras públicas com o orçamento detalhado e a previsão de custos e recursos necessá- rios para então realizar a execução das obras e serviços. Ainda, se houver pagamento de obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executadas no exercício financeiro do curso, os referidos pagamentos devem estar de acordo com o respectivo crono- grama. Por fim, é preciso verificar se o produto do licenciamento está contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, referido no artigo 165 da Constituição Federal de 1988. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para um planejamento e uma gestão efetiva de obras públicas, é ne- cessário que se leve em consideração os princípios básicos da governança, como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Devemos sempre ter em vista os interesses da população local e as necessidades específicas para a governança fundamentada em princípios éticos. Paraser executada, a obra pública percorre um longo percurso com- posto de cinco fases. A etapa preliminar é importante para estabelecer os critérios básicos da obra – ou seja, os elementos indispensáveis – e para realizá-la de acordo com a necessidade da população local. Igualmente re- levantes são, também, as demais etapas, tais como: fases interna, externa, contratual e posterior das obras públicas. Por fim, os elementos essenciais para o projeto básico de uma obra pública são: o desenvolvimento da solução escolhida, as soluções técnicas para a fase de elaboração do projeto executivo, as informações necessá- rias para o estudo, os subsídios para a montagem do plano, e o orçamen- to detalhado do custo global da obra. ATIVIDADES Atividade 1 De que modo as quatro perspectivas devem estar alinhadas para a governança no setor público e por que isso é desenvolvi- do dessa forma? Governança pública 25 Atividade 2 O que deve ser observado para um efetivo planejamento das obras públicas? Atividade 3 Quais são os elementos essenciais que devem ser verificados na fase de planejamento da obra pública, conforme a Lei de Licita- ções? Por que deve haver essa verificação? REFERÊNCIAS BANCO MUNDIAL. Governance: the world bank’s experience. Washington: World Bank, 1994. BONATTO, H. Governança e gestão de obras públicas: do planejamento à pós-ocupação. Belo Horizonte: Fórum, 2018. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 mar. 1967. BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 22 jun. 1993. BRASIL. Lei n. 14.133, de 1º de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 de abril de 2021. BRASIL. Resolução Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1986. BRASIL. Resolução Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997. Brasília, DF: Licenciamento Ambiental, 1997. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Obras Públicas: recomendações básicas para a contratação e fiscalização de obras e edificações públicas. 4. ed. Brasília, DF: TCU, 2014a. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_ recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF. Acesso em: 5 abr. 2023. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. Brasília, DF: TCU, 2014b. 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Primeiramente, aborda- remos o conceito de contrato administrativo, os elementos obrigatórios para a sua formulação e as suas consequências jurídicas. Diante disso, estudaremos o que é necessário para a formulação do contrato de em- preitada. Na sequência, analisaremos, de acordo com os quatro regimes de empreitada, os benefícios e os custos dos contratos administrativos. Finalmente, estudaremos a importância dos cronogramas físico-financei- ros das obras públicas e discutiremos a responsabilidade fiscal dessas e suas consequências. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • aplicar a Lei de Licitações diante de contratos administrativos, seus elementos, suas características e suas hipóteses; • identificar os benefícios e os custos das obras públicas previstos pela Lei de Licitações; • analisar as formas de empreitadas em face à legislação brasileira; • observar os cronogramas financeiros e os gastos de empreendi- mentos, obras e serviços. Objetivos de aprendizagem 2.1 Contratos administrativos e suas consequências jurídicas Vídeo Para a execução de uma obra pública, a Administração Pública pode usar seus próprios meios ou contratar terceiros. Quando há a necessi- dade de terceirizar, a execução é indireta e é realizado um contrato de empreitada, ou seja, um contrato administrativo regulado pela Lei de 28 Planejamento e gestão de obras públicas Licitações (Lei n. 14.133/2021). Dessa forma, conforme dispõe o artigo 2º dessa lei, aplica-se a licitação quando houver: alienação e concessão de direito real de uso de bens; compra, inclusive por encomenda; loca- ção; concessão e permissão de uso de bens públicos; prestação de ser- viços, inclusive os técnico-profissionais especializados; obras e serviços de arquitetura e engenharia; contratações de tecnologia da informação e de comunicação (BRASIL, 2021). O contrato pode ser identificado como acordos de vontades rea- lizados entre a Administração Pública e particulares, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Nesse instrumento são definidas cláusulas específicas que geram obrigações entre as partes. Assim, tanto a Admi- nistração Pública quanto a empresa contratada precisam cumprir as obrigações ajustadas no contrato. Entretanto, verificamos na Lei de Licitações a hipótese de contratação direta, ou seja, sem licitação prévia. Isso significa que a regra geral é a contratação realizada com licitação prévia. Porém, em alguns casos, é possível que a contratação seja direta, ou seja, contrato sem licitação/ inexigibilidade, dispensa e alienação da licitação. As hipóteses de con- tratação direta estão disciplinadas nos artigos 74, 75 e 76 da referida lei. Como se tratade uma relação entre uma empresa particular e o ente público, é necessário que se apliquem, no contrato administrativo, cláu- sulas e preceitos de Direito Público. Portanto, diferente do Direito Civil Contratual, no qual se aplicam regras entre particulares, quando uma pessoa jurídica de Direito Público está envolvida, é necessário que se ob- serve as regras do Direito Administrativo. Contudo, as regras de Direito Civil Contratual podem ser aplicadas de maneira supletiva na falta de re- gras de Direito Administrativo. À vista disso, concluímos que os contratos administrativos são regidos pelas regras de Direito Público. Os contratos precisam estabelecer condições claras e precisas para execução. Nas cláusulas, os direitos, as obrigações e as responsabilida- des de ambas as partes precisam estar definidas de acordo com os ter- mos da licitação e da proposta vinculada, como estabelece o parágrafo 2º do artigo 89 da Lei n. 14.133/2021. Aqueles em que houve dispensa da licitação, como estabelece o artigo 75, também precisam “atender aos termos do ato que os autorizou e da respectiva proposta” (BRASIL, 2021). Para tanto, é necessário que todos os contratos estabeleçam as se- guintes cláusulas, conforme artigo 92 da Lei de Licitações (BRASIL, 2021): Para conhecer todas as hipóteses de contratação direta, leia os artigos 74, 75 e 76 da Lei de Licita- ções (Lei n. 14.133/2021). Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2019-2022/2021/lei/l14133. htm. Acesso em: 16 mar. 2023. Leitura https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.htm Contratos de prestação de serviços e produtos 29 I – o objeto e seus elementos característicos; II – a vinculação ao edital de licitação e à proposta do licitante vencedor ou ao ato que tiver autorizado a contratação direta e à respectiva proposta; III – a legislação aplicável à execução do contrato, inclusive quanto aos casos omissos; IV – o regime de execução ou a forma de fornecimento; V – o preço e as condições de pagamento, os critérios, a da- ta-base e a periodicidade do reajustamento de preços e os cri- térios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento; VI – os critérios e a periodicidade da medição, quando for o caso, e o prazo para liquidação e para pagamento; VII – os prazos de início das etapas de execução, conclusão, entrega, observação e recebimento definitivo, quando for o caso; VIII – o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da categoria econômica; IX – a matriz de risco, quando for o caso; X – o prazo para resposta ao pedido de repactuação de preços, quando for o caso; XI – o prazo para resposta ao pedido de restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro, quando for o caso; XII – as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas, inclusive as que forem oferecidas pelo contra- tado no caso de antecipação de valores a título de pagamento; XIII – o prazo de garantia mínima do objeto, observados os prazos mínimos estabelecidos nesta Lei e nas normas técnicas aplicáveis, e as condições de manutenção e assistência técni- ca, quando for o caso; XIV – os direitos e as responsabilidades das partes, as penali- dades cabíveis e os valores das multas e suas bases de cálculo; XV – as condições de importação e a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso; XVI – a obrigação do contratado de manter, durante toda a exe- cução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições exigidas para a habilitação na licitação, ou para a qualificação, na contratação direta; XVII – a obrigação de o contratado cumprir as exigências de reserva de cargos prevista em lei, bem como em outras normas específicas, para pessoa com deficiência, para reabilitado da Previdência Social e para aprendiz; XVIII – o modelo de gestão do contrato, observados os requisi- tos definidos em regulamento; XIX – os casos de extinção. 30 Planejamento e gestão de obras públicas Ao estabelecer essas cláusulas, o contrato administrativo garante a segurança da sua execução para ambas as partes, assegurando que a empresa contratada receberá o valor acordado e que o ente público receberá a obra realizada conforme o estabelecido na licitação. Nas contratações de obras públicas, a garantia pode ser exigida e será prevista a critério da autoridade competente. À escolha do con- tratado, a garantia poderá ser realizada por caução, em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia ou fiança bancária, como prevê o artigo 96 da Lei de Licitações. A referida garantia não poderá exceder 5% do valor do contrato. En- tretanto, nas hipóteses em que obra, serviços e fornecimentos envolve- rem alta complexidade técnica e riscos consideráveis, o limite da garantia será de 10%. Se o contrato estiver como depositário dos bens da Admi- nistração Pública, será acrescido o valor desses bens (BRASIL, 2021). Com relação aos contratos administrativos, a Administração Pública poderá, conforme o regime jurídico: I – modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contratado; II – extingui-los, unilateralmente, nos casos especificados nes- ta Lei; III – fiscalizar sua execução; IV – aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste; V – ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pes- soal e serviços vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de: a) risco à prestação de serviços essenciais; b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato. (BRASIL, 2021) Sendo assim, é possível a alteração dos contratos posteriormente à sua assinatura, desde que haja justificativa efetiva dentro do pre- visto em lei. A nulidade declarada do contrato administrativo opera de maneira retroativa e impede que se produzam efeitos jurídicos nele. Nesses casos de nulidade, desconstituem-se os efeitos jurídicos já produzidos pelo contrato, como disposto no artigo 148 da Lei de Licitações (BRASIL, 2021). Recomendamos a leitura do livro Nova Lei de Licitações e Contratos – Lei nº 14.133/2021: debates, perspectivas e desafios, que reúne artigos sobre as alterações nos procedi- mentos licitatórios e nos contratos administrativos. MATOS, M. C.; ALVES, F. D.; AMORIM, R. A. (org.). Brasília: Edições Câmara, 2023. Livro nulidade: ação que im- pede que o ato realizado com vícios insanáveis produza efeitos. Glossário Contratos de prestação de serviços e produtos 31 Vale ressaltarmos que essa invalidade não poderá exonerar a Ad- ministração do dever de indenizar o contratado se até a data da de- claração de nulidade houver executado parte da obra pública (BRASIL, 2021). São acrescidos ainda os prejuízos, desde que sejam regularmen- te comprovados, promovendo, portanto, a responsabilidade do causa- dor, como disposto no artigo 149 da referida legislação. Logo, é possível concluirmos que existem diversas consequências ju- rídicas no inadimplemento dos contratos administrativos, o que enseja a responsabilidade à parte que deu causa ao não cumprimento. ensejar: ser a causa ou o motivo; possibilitar; justificar. Glossário 2.2 Benefícios e custos Vídeo No que diz respeito aos benefícios e aos custos da obra pública, também é necessário observarmos a Lei de Licitações. Salienta-se que, nos contratos administrativos, as cláusulas econômico-financeiras e monetárias só poderão ser alteradas mediante prévia concordância do contratado. Além disso, em alguns casos é necessário que as cláusulas econômico-financeiras sejam revistas para se manter o equilíbrio contra- tual,como dispõem os parágrafos 1º e 2º do artigo 104 (BRASIL, 2021). Uma das formas de analisar os preços unitários é determinar o BDI 1 paradigma. É necessário que se estabeleça a referida análise, visto que a maioria dos sistemas oficiais de preços apenas apresenta o custo direto da execução dos serviços. O BDI deve ser estabelecido tanto no projeto básico quanto nas propostas de preços ofertadas pelos licitantes, como estabelece a Súmula n. 258/2010 do Tribunal de Contas da União (TCU). O contrato administrativo realizado entre a Administração Pública e o terceiro que executará a empreitada apenas poderá ser alterado unilateralmente pela Administração: a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei. (BRASIL, 2021) Portanto, nessas hipóteses, a Administração Pública poderá alterar o contrato sem que haja acordo com a parte contratada. É necessário haver o acordo entre a Administração Pública e a em- presa contratada nas seguintes hipóteses: BDI é a sigla de Budget Difference Income (ou, em português, benefício e des- pesas indiretas). Trata-se de uma taxa incidente so- bre o custo da obra para cobrir despesas indiretas do projeto. Ela é inerente à execução do projeto e pode ser constituída de valores de impostos, juros, lucros, entre outros. 1 32 Planejamento e gestão de obras públicas a) quando conveniente a substituição da garantia de execução; b) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contra- tuais originários; c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o va- lor inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, sem a corresponden- te contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço; d) para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe ou em decorrência de fatos imprevisíveis ou previsíveis de conse- quências incalculáveis, que inviabilizem a execução do contrato tal como pactuado, respeitada, em qualquer caso, a repartição objetiva de risco estabelecida no contrato. (BRASIL, 2021) Dessa forma, verifica-se que é essencial o diálogo entre a Admi- nistração Pública e a empresa contratada, a fim de reajustar a rela- ção à medida que haja qualquer modificação do cenário pactuado anteriormente. A figura a seguir apresenta um resumo das formas de alteração dos contratos celebrados entre o setor privado e a Adminis- tração Pública. Verificamos que pode haver alteração motivada tanto uni quanto bilateralmente. Figura 1 Formas de alteração contratual Modificação da forma de pagamento Regime de execução Substituição da garantia de execução Manutenção do equilíbrio econômico-financeiro Modificação do valor contratual Modificação do projeto Alteração contratual Unilateral Bilateral Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1993. Contratos de prestação de serviços e produtos 33 Nessas hipóteses, de acordo com o artigo 125 (BRASIL, 2021), o con- tratado só ficará obrigado a aceitar os acréscimos ou as supressões em até 25% do valor inicial atualizado do contrato. Nos casos particulares de reforma de edifício ou equipamento, o limite será de 50% de acréscimo. Importante destacarmos que não poderão transfigurar o objeto do con- trato as alterações unilaterais, como determina o artigo 126 (BRASIL, 2021). As alterações de preço poderão acontecer nos casos em que após a apresentação da proposta ocorrer criação, alteração ou extinção de qualquer tributo ou encargo legal ou a superveniência de disposições legais, desde que seja comprovado o impacto nos preços contratados, conforme artigo 134 (BRASIL, 2021). Nos contratos de serviços contí- nuos será repactuado o contrato para a manutenção do equilíbrio eco- nômico-financeiro, de acordo com o artigo 135 (BRASIL, 2021). A referida alteração se dá tendo em vista as atualizações, as com- pensações ou as penalizações financeiras relativas às formas de pa- gamento previstas. Uma sugestão interes- sante é o filme Chinatown, que retrata a constru- ção das barragens da Califórnia na década de 1930 e os principais impactos dos projetos de obras públicas nas esferas econômica e social. Direção: Roman Polanski. EUA: Paramount Pictures, 1974. Filme 2.3 Formas de empreitada Vídeo Tendo em vista o que já vimos anteriormente, analisaremos agora quatro formas de empreitadas indiretas previstas na legislação brasi- leira, observando as suas vantagens e as suas desvantagens. 2.3.1 Empreitada por preço global Ela será realizada quando houver a execução da obra por preço cer- to. Acontecerá nas hipóteses em que é possível determinar qualitativa e quantitativamente a execução do objeto, durante a fase interna da licitação. Isto é, deverá ser realizada quando o preço da empreitada for presumível com precisão (BONATTO, 2018). Ainda segundo Bonatto (2018), a regra é que nesse tipo de em- preitada não poderá ser realizada a revisão das quantidades das obras ou dos serviços estabelecidos na execução dos contratos. Des- sa forma, não poderá ser requerida pela contratada a reivindicação de revisão de quantidades e será levado em consideração o que está previsto na planilha de serviços e no cronograma físico-financeiro. A Administração Pública poderá alterar o contrato, entretanto não por mera revisão de quantidade. 34 Planejamento e gestão de obras públicas Só será alterado o valor pago à contratada na hipótese de modifi- cação do projeto ou das condições preestabelecidas para o desenvol- vimento da obra. Portanto, como dispõe o artigo 19 (BRASIL, 2021), os órgãos da Administração deverão instituir, com auxílio dos órgãos de assessoramento jurídico e de controle interno, modelos de minutas de editais, de termos de referência, de contratos padronizados e de outros documentos, admitida a adoção das minutas do Poder Executivo fede- ral por todos os entes federativos. Assim, verifica-se a obrigatorieda- de do fornecimento de todos os elementos e informações necessárias para os licitantes antes da licitação, de modo que todos possam elabo- rar suas propostas de preços adequados com a obra e os serviços. Um caso em que é possível contratar empreitada por preço global é a hipótese de reforma em uma escola pública. A quantidade e a qualidade dos materiais utilizados para a troca do piso e pintura do imóvel podem ser facilmente determinadas, assim como a mão de obra. Nesse caso, a obra pode ser contratada por um preço certo e total (BONATTO, 2018). As vantagens e desvantagens da empreitada por preço global, assim como sua indicação de uso, estão descritas na figura a seguir. Como sugestão, destaca- mos o texto Da responsa- bilidade civil no contrato de empreitada, de Selma Maria Marques de Souza, publicado na revista Revis- ta Jurídica Luso-brasileira. Nesse texto, a autora des- taca a responsabilidade do contrato de empreita- da frente ao empreiteiro, bem como os vícios e defeitos de uma obra. Disponível em: https://www.cidp. pt/revistas/ridb/2013/06/2013_0 6_05891_05984.pdf. Acesso em: 27 abr. 2023. Livro Figura 2 Empreitada por preço global Indicação • Obras e serviços executados “acima da terra” que apresentam boa precisão na estimativa de quantitativos, por exemplo, a construção de edificações e de linhas de transmissão. • Contratação de estudos e projetos; emissão de laudos; confecção de pareceres. ! Vantagens • Simplicidade nas medições (por etapa concluída). • Menor custo para a Administração Pública na fiscalização da obra. • Valor final do contrato é, em princípio, fixo.• Restrição dos pleitos do construtor e da assinatura de aditivos. • Dificulta o jogo de planilha. • O construtor tem incentivo para concluir a obra no menor prazo possível. • Maior facilidade para a Administração controlar o cumprimento de prazos. Desvantagens • Como o construtor assume os riscos associados aos quantitativos de serviços, o valor global da proposta tende a ser superior se comparado com o regime de preços unitários. • Tendência de haver maior percentual de riscos e imprevistos no BDI do construtor. • A licitação e a contratação exigem projeto básico com elevado grau de detalhamento dos serviços (art. 19. da Lei n. 14.133/2021). Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2018. https://www.cidp.pt/revistas/ridb/2013/06/2013_06_05891_05984.pdf https://www.cidp.pt/revistas/ridb/2013/06/2013_06_05891_05984.pdf https://www.cidp.pt/revistas/ridb/2013/06/2013_06_05891_05984.pdf Contratos de prestação de serviços e produtos 35 Desse modo, verificamos que a empreitada por preço global é de grande vantagem para a Administração, como regra geral, ao estabe- lecer preços fixos ao contrato e restringir qualquer aditivo, facilitando, portanto, a fiscalização do contrato. Entretanto, salientamos que para ser realizada essa empreitada é necessário fazer um projeto básico com elevado grau de detalhamento em que o percentual de risco do contratado é elevado, podendo, dessa forma, elevar o valor da propos- ta apresentada. 2.3.2 Empreitada por preço unitário Ela é contratada quando não é possível definir a quantidade e/ou a qualidade do objeto a ser contratado. Há a previsão de revisão de quan- tidades nas hipóteses em que não se pode determinar os elementos ne- cessários para a obra ou o serviço público de maneira clara e precisa. Um exemplo de uso dessa empreitada é a terraplanagem. Nesse caso, tendo em vista a instabilidade do terreno, não é possível de- terminar a quantidade de material que será necessária para o em- preendimento. Portanto, deve ser realizada a contratação por metros cúbicos de terra, devendo ser paga exatamente a quantidade utilizada (BONATTO, 2018). As vantagens e as desvantagens da empreitada por preço unitário, assim como suas indicações de uso, estão descritas na figura a seguir. Figura 3 Empreitada por preço unitário Vantagens • Pagamento apenas pelos serviços efetivamente executados. • Menor risco para o construtor, na medida em que ele não assume risco quanto aos quantitativos de serviços (os riscos geológicos do construtor são minimizados). • A obra pode ser licitada com um projeto com grau de detalhamento inferior ao exigido para uma empreitada por preço global ou integral. Desvantagens • Rigor nas medições dos serviços. • Maior custo da Administração para acompanhamento da obra. • Favorecimento do jogo de planilha. • Necessidade frequente de aditivos para inclusão de novos serviços ou alteração dos quantitativos dos serviços contratuais. • O preço final do contrato é incerto, pois tem base na estimativa de quantitativos, que podem variar durante a execução da obra. • As partes precisam renegociar preços unitários quando ocorrem alterações relevantes dos quantitativos contratados. • O construtor não tem incentivo para concluir a obra no menor prazo possível. • Há maior dificuldade para a Administração Pública controlar o cumprimento de prazos. (Continua) 36 Planejamento e gestão de obras públicas Indicação • Obras executadas “abaixo da terra” ou que apresentam incertezas intrínsecas nas estimativas de quantitativos, como em: execução de fundações, serviços de terraplanagem, desmontes de rocha etc.; implantação, pavimentação, duplicação e restauração de rodovias; canais, barragens, adutoras, perímetros de irrigação, obras de saneamento; infraestrutura urbana; obras portuárias, dragagem e derrocamento; e reforma de edificações. • Contratação de serviços de gerenciamento e supervisão de obras. ! Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2018. Conforme observamos na Figura 3, há uma grande vantagem ao estabelecer a empreitada por preço unitário, uma vez que os riscos do construtor são minimizados exponencialmente. Entretanto, para a Administração, os custos são incertos, podendo acarretar um aumen- to do valor, tendo em vista a necessidade de repactuar o contrato em diversos momentos. 2.3.3 Tarefa No regime de tarefa é contratada a mão de obra para a execução de pequenos trabalhos, e os materiais geralmente são fornecidos pelo contratante, mas podem variar conforme o contrato. A principal dife- rença em relação à empreitada por preço global e por preço unitário é a complexidade e/ou o tamanho da obra ou dos serviços a serem exe- cutados. O valor a ser pago pode ser em preço tanto unitário quanto global (BONATTO, 2018). As vantagens e as desvantagens da empreitada por tarefa, bem como suas indicações de uso, estão descritas na figura a seguir. Figura 4 Regime de tarefa Indicação • Serviços de pequena proporção, ou seja, pequenos trabalhos.! Vantagens • Pagamento apenas da mão de obra com materiais fornecidos pelo contratado. • Pagamento realizado por preço unitário ou global. Desvantagens • Obras de valores elevados não podem ser objetos de tarefa. Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2018. Contratos de prestação de serviços e produtos 37 Percebemos, assim, que esse regime pode ser aplicado apenas nas hipóteses de realização de pequenos trabalhos. 2.3.4 Empreitada integral Ela é realizada quando há a necessidade de contratar um empreen- dimento em sua integralidade. Compreende todas as etapas da obra, os serviços e as instalações necessárias que serão realizados até a entrega, sob a responsabilidade do contratante (BRASIL, 2021). A con- tratada deve realizar a obra de maior vulto e complexidade, incluindo serviços necessários, materiais e equipamentos, e tem liberdade para administrar e executar a obra, desenvolver o projeto executivo, entre outros direitos (BONATTO, 2018). Um exemplo de empreitada integral é a construção de uma usina hidroelétrica. Ela é realizada por meio da empreitada integral tendo em vista que o empreendimento precisa ser construído de modo que este- ja apto a funcionar. Portanto, é realizada a obra como um todo, com a sua entrega em pleno funcionamento. As vantagens e as desvantagens da empreitada integral, bem como suas indicações de uso, estão descritas na figura a seguir. Figura 5 Empreitada integral ! Indicação • Via de regra, empreendimentos extremamente complexos, que utilizam tecnologia de ponta ou que exigem conhecimentos e tecnologias que não estão disponíveis para uma única empresa, por exemplo, subestações de energia; refinarias, plantas petroquímicas; instalações industriais; oleodutos, gasodutos; usinas nucleares, hidroelétricas e termoelétricas; e estações de bombeamento. Vantagens • As mesmas da empreitada por preço global. • O empreendimento é entregue pronto para operação. • O proprietário da obra tem garantias sobre o desempenho/funcionamento do projeto. • O contratante tem maior garantia sobre o prazo de entrega da obra. • A interface entre projetistas, executores de obras civis, fornecedores de equipamentos e responsáveis pela montagem é facilitada. • O número de litígios entre as partes e os pleitos do construtor diminui. • Clara definição da responsabilidade pela perfeita execução contratual. Desvantagens • As mesmas da empreitada por preço global. • O preço final do contrato tende a ser mais elevado, pois o construtor assume riscos diversos: geológico, hidrológico, de performance do empreendimento e de desempenho dos equipamentos. • O preço final do contrato também é mais elevado devido à necessidade de o construtor gerenciar o empreendimento como um todo. Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2018. 38 Planejamento e gestão de obras públicas Podemos observar, portanto, que a empreitada integral é umas das