Prévia do material em texto
APG - SOI II AFYAAFYA Júlia Morbeck @med.morbeck PARTE 2 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a embriologia da hipófise e do hipotálamo; 2- Compreender a morfologia da hipófise e do hipotálamo. Embriologia do hipotálamo e da hipófise EMBRIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO O desenvolvimento do sistema nervoso começa na terceira semana de gestação a partir de um espessamento do ectoderma conhecido como placa neural. A placa se dobra para dentro e forma um sulco longitudinal, o sulco neural. As margens elevadas da placa neural são chamadas de pregas neurais. À medida que o desenvolvimento progride, as pregas neurais ficam mais altas e se encontram para formar um tubo – o tubo neural (TORTORA, 14ª ed.). A fusão das pregas neurais e a formação do tubo neural começa no quinto somito e prossegue nas direções cranial e caudal até que somente pequenas áreas do tubo permaneçam abertas em ambas as extremidades (MOORE, 10ª ed.). A abertura cranial (neuróporo rostral) se fecha aproximadamente no 25° dia e o neuróporo caudal se fecha aproximadamente no 27° dia (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DO ENCÉFALO O encéfalo começa a se desenvolver durante a terceira semana, quando a placa e o tubo neural estão se desenvolvendo do neuroectoderma. O tubo neural, cranial ao quarto par de somitos, se desenvolve no encéfalo. As células neuroprogenitoras proliferam, migram e se diferenciam para formar áreas específicas do encéfalo. A fusão das pregas neurais na região cranial e o fechamento do neuroporo rostral formam três vesículas encefálicas primárias, das quais se desenvolve o encéfalo: (MOORE, 10ª ed.). Prosencéfalo (encéfalo anterior). Mesencéfalo (encéfalo médio). Rombencéfalo (encéfalo posterior). Durante a quinta semana, o prosencéfalo se divide parcialmente em duas vesículas encefálicas secundárias, o telencéfalo e o diencéfalo (MOORE, 10ª ed.). PROSENCÉFALO Conforme ocorre o fechamento do neuróporo rostral, surgem duas protuberâncias laterais (vesículas ópticas), uma de cada lado do prosencéfalo. Essas vesículas são o primórdio da retina e dos nervos ópticos. Um segundo par de divertículos, as vesículas telencefálicas, logo surgem mais dorsal e rostralmente. Eles são os primórdios dos hemisférios cerebrais, e suas cavidades se tornam os ventrículos laterais (MOORE, 10ª ed.). A parte rostral (anterior) do prosencéfalo, incluindo os primórdios dos hemisférios cerebrais, é o telencéfalo; a parte caudal (posterior) do prosencéfalo é o diencéfalo (MOORE, 10ª ed.). As cavidades do telencéfalo e do diencéfalo contribuem para a formação do terceiro ventrículo, embora a cavidade do diencéfalo contribua mais (MOORE, 10ª ed.). DIENCÉFALO ↠ Três intumescências se desenvolvem nas paredes laterais do terceiro ventrículo, que se tornam o tálamo, o hipotálamo e o epitálamo. O tálamo é separado do epitálamo pelo sulco epitalâmico e do hipotálamo pelo sulco hipotalâmico (MOORE, 10ª ed.). ↠ O hipotálamo se origina pela proliferação de neuroblastos na zona intermediária das paredes diencefálicas, ventral ao sulco hipotalâmico. Posteriormente, desenvolve-se um número de núcleos envolvidos em atividades endócrinas e homeostase. Um par de núcleos forma intumescências do tamanho de uma ervilha (corpos mamilares) na superfície ventral do hipotálamo (MOORE, 10ª ed.). ÅPG 15 – “De onde vem? ËMBRÏØLØGÏÅ, ÅÑÅTØMÏÅ Ë HÏSTØLØGÏÅ 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ O epitálamo se desenvolve do teto e da porção dorsal da parede lateral dos diencéfalos. Inicialmente, as intumescências epitalâmicas são grandes, mas posteriormente se tornam relativamente pequenas (MOORE, 10ª ed.). ↠ A glândula pineal (corpo pineal) se desenvolve como um divertículo mediano da parte caudal do teto do diencéfalo. A proliferação de células em suas paredes logo se converte em uma glândula sólida e cônica (MOORE, 10ª ed.). ↠ A hipófise tem origem ectodérmica. A sinalização da via de Notch foi implicada na proliferação e diferenciação das células progenitoras hipofisárias. A hipófise se desenvolve de duas fontes: (MOORE, 10ª ed.). O desenvolvimento do teto ectodérmico de estomodeu, o divertículo hipofisário (bolsa de Rathke); Uma invaginação do neuroectoderma do diencéfalo, o divertículo neuro-hipofisário. DERIVAÇÃO E TERMINOLOGIA DA HIPÓFISE DERIVAÇÃO TIPO DE TECIDO PARTE LOBO Ectoderma Oral – Divertículo hipofisário do teto do estomodeu Adeno-hipófise (tecido glandular) Parte anterior Parte tuberal Parte intermédia Lobo anterior Neuroectoderma – Divertículo neuro-hipofisário do assoalho do diencéfalo Neuro-hipófise (tecido nervoso) Parte nervosa Tronco infundibular Eminência mediana Lobo posterior ↠ Essa origem dupla explica porque a hipófise é composta por dois tipos diferentes de tecidos: (MOORE, 10ª ed.). A adeno-hipófise (tecido glandular), ou lobo anterior, desenvolve-se a partir do ectoderma oral. A neuro-hipófise (tecido nervoso), ou lobo posterior, desenvolve-se a partir do neuroectoderma. ↠ Na terceira semana, o divertículo hipofisário se projeta do teto do estomodeu e fica adjacente ao assoalho (parede ventral) do diencéfalo (MOORE, 10ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Pela quinta semana, o divertículo é alongado e sofre constrição em sua ligação ao epitélio oral. Nesse estágio, ele entra em contato com o infundíbulo (derivado do divertículo neuro-hipofisário), uma invaginação ventral do diencéfalo (MOORE, 10ª ed.). ↠ O pedúnculo do divertículo hipofisário passa entre os centros de condrificação dos ossos pré-esfenoide e basisfenoide do crânio em desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). ↠ Durante a sexta semana, a conexão do divertículo com a cavidade oral se degenera. As células da parede anterior do divertículo hipofisário se proliferam e originam a parte anterior da hipófise. Posteriormente, uma extensão, a parte tuberal, cresce ao redor do infundíbulo. A proliferação extensa da parede anterior do divertículo hipofisário reduz sua luz para uma fenda estreita (MOORE, 10ª ed.). A fenda residual usualmente não é reconhecível na hipófise em adultos; entretanto, pode ser representada por uma zona de cistos (MOORE, 10ª ed.). ↠ Células na parede posterior da bolsa hipofisária não proliferam; originam uma parte intermediária delgada e mal definida (MOORE, 10ª ed.). ↠ A parte da hipófise que se desenvolve do neuroectoderma (divertículo neuro-hipofisário) é a neuro- hipófise. O infundíbulo origina a eminência mediana, o tronco infundibular e a parte nervosa (MOORE, 10ª ed.). ↠ Inicialmente, as paredes do infundíbulo são delgadas, mas a extremidade distal do infundíbulo logo se torna sólida conforme as células neuroepiteliais proliferam. Essas células posteriormente se diferenciam em pituicitos, as células principais do lobo posterior da hipófise, que estão intimamente relacionadas com as células neurogliais. As fibras nervosas se desenvolvem na parte nervosa da área hipotalâmica, à qual o tronco infundibular está ligado (MOORE, 10ª ed.). Ela tem origem embriológica dupla: nervosa e ectodérmica. A porção de origem nervosa se desenvolve pelo crescimento do assoalho do diencéfalo em direção caudal, e a porção ectodérmica da hipófise se desenvolve a partir de um trecho do ectoderma do teto da boca primitiva que cresce em direção cranial, formando a bolsa de Rathke. Uma constrição na base dessa bolsa acaba separando-a da cavidade bucal. Ao mesmo tempo, a parede anterior da bolsa de Rathke se espessa, diminuindo o tamanho da cavidade da bolsa, que se torna reduzida a uma pequena fissura. A porção originada do diencéfalo mantém continuidade com o sistema nervoso, constituindo o pedículo da glândula (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Morfologia da Hipófise e do Hipotálamo ANATOMIA DO HIPOTÁLAMO ↠ O hipotálamo é parterestante (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Langerhans descobriu as células endócrinas do pâncreas, que consistem em cerca de menos de 2% do total de massa contida no órgão em questão. As ilhotas de Langerhans contêm quatro tipos distintos de células, cada um associado à secreção de um ou mais hormônios peptídicos (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Cada ilhota pancreática apresenta quatro tipos de células secretoras de hormônio: (TORTORA, 14ª ed.). As células alfa ou A constituem cerca de 17% das células das ilhotas pancreáticas e secretam glucagon. As células beta ou B constituem cerca de 70% das células das ilhotas pancreáticas e secretam insulina. As células delta ou D constituem cerca de 7% das ilhotas pancreáticas e secretam somatostatina. As células F constituem o restante das células das ilhotas pancreáticas e secretam polipeptídio pancreático. Segundo Silverthorn também pode ser chamada de células PP. Somatostatina (SOM): A SOM, sintetizada pelas células D, é considerada um pan-inibidor, pois age inibindo a secreção de outros hormônios, como INS e GLUC no pâncreas, bem como hormônios APG 17: “SENTINDO NA PELE” 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck gastrointestinais como gastrina, colecistoquinina, secretina, polipeptídeo pancreático, enteroglucagon e motilina. A SOM também inibe a secreção de ácido gástrico, a motilidade gástrica e duodenal, a secreção pancreática exócrina, a contração da vesícula biliar e a absorção de nutrientes. A secreção de SOM é incitada pela acidez no interior do estômago, de glicose, aminoácidos e gordura no intestino, além dos hormônios colecistoquinina e do GLUC pancreático (LOPES, 2017) Polipeptídeo pancreático (PP): o PP é observado em células acinares e células das ilhotas pancreáticas (células PP). A secreção de PP é estimulada pelos hormônios colecistoquinina, gastrina e secretina, e também pelo nervo vago. Este atua na musculatura do tubo digestivo estimulando o esvaziamento gástrico. Os níveis de PP aumentam após a alimentação, a ingestão de proteínas, o jejum, o exercício e a hipoglicemia, sendo inibida pela SOM e glicose intravenosa. Este hormônio controla as secreções de ácido gástrico e enzimas, a motilidade do tubo digestivo e as secreções pancreáticas (LOPES, 2017) ↠ As quantidades relativas dos quatro tipos de células encontrados em ilhotas variam em diferentes espécies e de acordo com o local da ilhota no pâncreas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As interações dos quatro hormônios pancreáticos são complexas e não completamente compreendidas. Sabemos que o glucagon eleva o nível sanguíneo de glicose e a insulina reduz. A somatostatina atua de maneira parácrina para inibir a liberação tanto de insulina quanto de glucagon das células beta e alfa vizinhas. Além disso, pode funcionar como hormônio circulante para retardar a absorção de nutrientes do sistema digestório. Ademais, a somatostatina inibe a secreção de GH. O polipeptídio pancreático inibe a secreção de somatostatina, a contração da vesícula biliar e a secreção de enzimas digestivas pelo pâncreas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Colorações rotineiras ou por corantes tricrômicos possibilitam a distinção das células que, em virtude de suas afinidades pelos corantes, são denominadas acidófilas ou basófilas. Por meio de imunocitoquímica e por hibridização in situ, distinguem-se pelo menos cinco tipos de células nas ilhotas: alfa, beta, delta, PP e épsilon (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Insulina e glucagon INERVAÇÃO NEURONAL Terminações de fibras nervosas em células de ilhotas podem ser observadas por microscopia de luz ou eletrônica. Junções comunicantes existentes entre as células das ilhotas provavelmente servem para transferir, entre as células, sinais originados dos impulsos da inervação autonômica. Além disso, há influência mútua entre células por meio de substâncias solúveis que agem a curta distância (controle parácrino de secreção) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Como toda glândula endócrina, as ilhotas estão intimamente associadas aos capilares nos quais seus hormônios são liberados. Os neurônios simpáticos e parassimpáticos terminam nas ilhotas, fornecendo um meio pelo qual o sistema nervoso pode influenciar o metabolismo (SILVERTHORN, 7ª ed.). No SNC, o hipotálamo ventromedial (VMH) é uma região particularmente importante na detecção de hipoglicemia. Nessa região existem os neurônios excitados pela glicose (GE), que aumentam sua atividade quando a glicose sérica aumenta, e os neurônios inibidos pela glicose (GI), que aumentam sua atividade quando a glicose sérica cai. Num modelo integrativo de detecção de hipoglicemia, os níveis baixos de glicemia plasmática são detectados por células e neurônios sensíveis à insulina presentes no cérebro e tecidos periféricos. No VMH, neurônios GE e GI, bem como astrócitos, se comunicam e interagem com vias de sinalização eferentes que iniciam uma resposta contrarregulatória de estímulo à produção de glucagon, adrenalina, GH e cortisol, reduzindo a captação de glicose pelos tecidos periféricos e aumentando sua produção endógena. De uma perspectiva evolucionária, parece provável que este mecanismo tenha se desenvolvido para garantir um 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck adequado aporte de combustível para o cérebro durante períodos prolongados de fome por causa da capacidade limitada do cérebro em estocar energia em depósitos como glicogênio e gordura (PAIVA, 2014). As ilhotas pancreáticas são invervadas pelos SNP e pelo SNS. As terminações nervosas dos SNP liberam neurotrasmissores, como aceticolina, e outros neuropeptidos, tais como: peptídeo vasoativo intestinal (VIP), peptídeo ativador da adenilato-ciclase pituitária (PACAP) e o peptídeo liberador de gastrina (GRP), os quais interagem com receptores específicos nas células a ou ß pancreáticas. O principal neurotramissor liberado pelas terminações do SNS é a noraepinefrina, além dela libera também neuropeptído Y (NPY) e galanina. As terminações do SNA intervam tanto as células a como as ß pancreáticas, controlando assim a secreção de glucagon e insulina, respectivamente. Enquanto o SNP potencializa a secreção de insulina, via nervo vago, através de receptores muscarínicos presentes na célula ß, o SNS, por meio de receptores a- adrenérgicos, inibe a secreção de insulina. Além disso, tanto a acetilcolina como a noraepinefrina, também desempenham função importante no controle da secreção de glucagon, em resposta a hipoglicemia (LUBACZEUSKI, 2017). ↠ A insulina e o glucagon atuam de forma antagonista para manter a concentração de glicose plasmática dentro de uma faixa aceitável. Ambos os hormônios estão presentes no sangue na maior parte do tempo. É a proporção entre os dois hormônios que determina qual hormônio predomina (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ No estado alimentado, quando o corpo está absorvendo os nutrientes, a insulina é o hormônio dominante, e o organismo entra em estado anabólico. A ingestão de glicose é utilizada como fonte de energia e todo e qualquer excesso será estocado como glicogênio e gordura no corpo. Os aminoácidos vão primeiro para a síntese proteica (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ No estado de jejum, as reações metabólicas previnem a queda da concentração da glicose plasmática (hipoglicemia). Quando o glucagon predomina, o fígado usa glicogênio e intermediários não glicídicos para sintetizar glicose para liberação no sangue (SILVERTHORN, 7ª ed.). A Figura mostra as concentrações de glicose, glucagon e insulina antes e após uma refeição. Em uma pessoa com metabolismo considerado normal, a concentração de glicose no jejum é mantida em cerca de 90 mg/dL de sangue, a secreção de insulina é mantida baixa e os níveis de glucagon estão relativamente elevados. Após a absorção dos nutrientes de uma refeição, a glicose plasmática aumenta. Esse aumento na glicose plasmática inibe a secreção de glucagon e estimula a liberaçãode insulina. A insulina, por sua vez, promove a maior entrada de glicose às células. Como resultado, a concentração de glicose começa a baixar até os níveis normais de jejum. Isso ocorre a cada refeição feita. A secreção de insulina é reduzida em conjunto com a concentração de glicose, e o glucagon lentamente começa a aumentar (SILVERTHORN, 7ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck INSULINA ↠ A insulina é uma proteína pequena (51 aminoácidos) que consiste em duas cadeias de aminoácidos ligadas por pontes dissulfeto (- S-S-) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A insulina é sintetizada nas células beta pelo modo usual como as proteínas são sintetizadas, começando com a tradução do mRNA da insulina por meio dos ribossomos ligados ao retículo endoplasmático para formar uma pré-proinsulina. Essa pré-proinsulina inicial apresenta peso molecular em torno de 11.500, sendo então clivada no retículo endoplasmático, para formar a proinsulina, com peso molecular de aproximadamente 9.000, e consiste em três cadeias de peptídeos, A, B e C. A maior parte da proinsulina é novamente clivada no aparelho de Golgi, para formar insulina composta pelas cadeias A e B, conectadas por ligações dissulfeto e peptídeo cadeia C, denominado peptídeo conector (peptídeo C) (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A insulina e o peptídeo C são revestidos nos grânulos secretores e secretados em quantidades equimolares. Aproximadamente 5% a 10% do produto final secretado se encontram ainda sob a forma de proinsulina (GUYTON, 13ª e.d). Quando a insulina é secretada na corrente sanguínea, ela circula quase inteiramente em sua forma livre. Uma vez que a sua meia-vida plasmática é de, aproximadamente, apenas 6 minutos, assim ela é, na sua maior parte, eliminada da circulação dentro de 10 a 15 minutos. Com exceção da porção da insulina que se liga aos receptores nas células- alvo, o restante é degradado pela enzima insulinase, em sua maior parte no fígado e em menor quantidade nos rins e músculos e, menos ainda, na maioria dos outros tecidos. Essa rápida remoção do plasma é importante, porque, às vezes, sua pronta desativação bem como sua ativação são fundamentais para o controle das funções da insulina (GUYTON, 13ª ed.). FATORES QUE ESTIMULAM A SECREÇÃO E INIBIÇÃO DA INSULINA ↠ A glicose é um importante estímulo à secreção da insulina, porém outros fatores têm influência sobre o aumento, a amplificação ou mesmo a inibição da secreção (SILVERTHORN, 7ª ed.). Aumento da concentração de glicose plasmática: O estímulo principal para liberação da insulina é a concentração plasmática de glicose maior do que 100 mg/dL. A glicose absorvida no intestino delgado chega às células beta do pâncreas, onde é captada pelo transportador GLUT2. Com mais glicose disponível como substrato, a produção de ATP aumenta, e os canais de K+ sensíveis ao ATP se fecham. Quando a célula se despolariza, os canais de Ca+2 dependentes de voltagem se abrem e mais Ca+2 entra, iniciando a exocitose da insulina Aumento da concentração de aminoácidos: O aumento da concentração de aminoácidos no plasma após uma refeição também desencadeia a secreção de insulina. Efeitos antecipatórios dos hormônios GI: Recentemente, tem sido demonstrado que mais de 50% de toda a secreção de insulina é estimulada por um hormônio chamado de peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1). O GLP-1 e o GIP (peptídeo inibidor gástrico) são hormônios pertencentes à família das incretinas e produzidos pelas células localizadas no intestino (jejuno e íleo) em resposta à ingestão de nutrientes. As incretinas vão pela circulação até as células beta-pancreáticas e podem alcançá-las antes mesmo que a primeira glicose seja absorvida. A liberação 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck antecipatória da insulina em resposta a esses hormônios evita um aumento súbito na concentração de glicose plasmática quando os alimentos são absorvidos. Outros hormônios GI, como CCK e gastrina, amplificam a secreção de insulina. Atividade parassimpática: A atividade parassimpática para o trato GI e para o pâncreas aumenta durante e após uma refeição. O estímulo parassimpático para as células beta estimula a secreção de insulina. Atividade simpática: A secreção de insulina é inibida pelos neurônios simpáticos. Em momentos de estresse, os estímulos simpáticos dão início a uma cascata de regulações no pâncreas endócrino, fato que também é reforçado pela liberação de catecolaminas da medula da glândula suprarrenal. A adrenalina e a noradrenalina inibem a secreção de insulina e desviam o metabolismo para a gliconeogênese, a fim de fornecer combustível extra para o sistema nervoso e o músculo esquelético. Alguns hormônios também influenciam a secreção de insulina. Por exemplo, qualquer hormônio hiperglicêmico (como o glucagon, a adrenalina, o hormônio do crescimento, a tiroxina ou os glicocorticóides) que entra em ação quando os níveis sanguíneos de glicose diminuem, indiretamente estimula a liberação de insulina por promover a entrada de glicose na corrente sanguínea. A somatostatina diminui a liberação de insulina. Assim, os níveis sanguíneos de glicose representam um equilíbrio de influências humorais e hormonais. A insulina e a somatostatina (indiretamente) são os fatores hipoglicêmicos que contrabalançam os diversos hormônios hiperglicêmicos (MARIEB, 3ª ed.). ATIVAÇÃO DOS RECEPTORES DAS CÉLULAS-ALVO PELA INSULINA E OS EFEITOS CELULARES RESULTANTES ↠ Para começar a exercer seus efeitos nas células-alvo, a insulina, em primeiro lugar, liga-se e ativa um receptor proteico de membrana (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O receptor de insulina é a combinação de quatro subunidades que se mantêm unidas por meio de ligações dissulfeto: duas subunidades alfa, que se situam inteiramente do lado externo da membrana celular e duas subunidades beta, que penetram através da membrana, projetando-se no citoplasma celular. A insulina se acopla às subunidades alfa do lado externo da célula, mas, devido às ligações com as subunidades beta, as porções das subunidades beta que se projetam para o interior da célula são autofosforiladas (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A autofosforilação das subunidades beta do receptor ativa uma tirosina cinase local, que, por sua vez, causa fosforilação de diversas outras enzimas intracelulares, inclusive do grupo chamado substratos do receptor de insulina (IRS). Tipos diferentes de IRS (p. ex., IRS-1, IRS-2 e IRS-3) são expressos nos diferentes tecidos. O efeito global é a ativação de algumas enzimas e, ao mesmo tempo, a inativação de outras. Dessa maneira, a insulina dirige a maquinaria metabólica intracelular, de modo a produzir os efeitos desejados no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Os principais efeitos finais da estimulação da insulina são os seguintes: (GUYTON, 13ª ed.). Em segundos depois que a insulina se acopla a seus receptores de membrana, as membranas de cerca de 80% das células do organismo aumentam acentuadamente sua captação de glicose. Isso ocorre, de modo especial, nas células musculares e adiposas, mas não na maioria dos neurônios do encéfalo (GUYTON, 13ª ed.). O tecido adiposo e o músculo esquelético necessitam de insulina para captarem quantidades suficientes de glicose. Sem a insulina, os transportadores GLUT4 nesses tecidos se reduzem significativamente na membrana e permanecem estocados nas vesículas do citosol – outro exemplo de reciclagem da membrana. Quando a insulina se liga ao receptor e o ativa, a cascata de transdução de sinal resultante faz as vesículas se moverem para a captação da glicose aumenta. A sinalização intracelular é bastante complexa e ainda não totalmente elucidada, porém claramente envolve o metabolismo do Ca+2, bem 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck como uma variedade de proteínas intracelulares (SILVERTHORN, 7 ª ed..). Sob duas condiçõesos músculos utilizam grande quantidade de glicose. Uma delas é durante a realização de exercícios moderados ou intensos. Essa utilização de glicose não precisa de grande quantidade de insulina, porque a contração muscular aumenta a translocação da molécula transportadora de glicose 4 (GLUT 4) dos depósitos intracelulares para a membrana celular, o que, por sua vez, facilita a difusão da glicose na célula. A segunda condição para a utilização muscular de grande quantidade de glicose ocorre nas poucas horas seguintes à refeição. Nesse período, a concentração de glicose no sangue fica bastante elevada, e o pâncreas está secretando grande quantidade de insulina. Essa insulina adicional provoca transporte rápido da glicose para as células musculares. Por isso, nesse período, a célula muscular utiliza a glicose preferencialmente aos ácidos graxos (GUYTON, 13ª ed.). Diante do gráfico acima, fica claro que a insulina pode elevar o transporte de glicose no músculo em repouso pelo menos em 15 vezes (GUYTON, 13ª ed.). O transporte de glicose no fígado (hepatócitos) não é diretamente dependente de insulina, contudo é influenciado pela presença ou ausência da mesma. Os hepatócitos possuem transportadores GLUT2, sempre presentes na membrana da célula. No estado de jejum, quando os níveis de insulina estão baixos, a glicose move-se para fora do fígado, em direção à circulação sanguínea, no intuito de manter a homeostasia da glicose. Nesse processo os hepatócitos estão convertendo o glicogênio armazenado e os aminoácidos em glicose. A glicose recém-formada se move a favor de seu gradiente de concentração, para fora da célula, utilizando os facilitadores de transporte GLUT2. Se os transportadores GLUT fossem retirados da membrana durante o estado de jejum, como ocorre no músculo e no tecido adiposo, a glicose não teria como deixar o hepatócito (SILVERTHORN, 7 ª ed..). No estado alimentado, a insulina ativa a hexocinase, uma enzima que fosforila a glicose à glicose-6-fosfato. Essa reação de fosforilação mantém a concentração de glicose intracelular mais baixa que a concentração plasmática. Agora, a glicose difunde-se nos hepatócitos, e os transportadores GLUT2 operam em direção reversa (SILVERTHORN, 7 ª ed..). A insulina aumenta a utilização e o armazenamento da glicose. A insulina ativa enzimas para a utilização de glicose (glicólise) e a síntese de glicogênio (glicogênese). Simultaneamente, a insulina inibe as enzimas de degradação do glicogênio (glicogenólise), síntese de glicose (gliconeogênese) e degradação da gordura (lipólise), no intuito de garantir que o metabolismo vá em direção ao anabolismo. Se for ingerida mais glicose do que é necessário para a síntese e a produção de energia, o excesso é convertido em glicogênio ou ácidos graxos (SILVERTHORN, 7ª ed.). A insulina aumenta a utilização de aminoácidos. A insulina ativa enzimas para a síntese proteica e inibe enzimas que promovem a quebra de proteínas. Se uma refeição inclui proteínas, os aminoácidos do alimento ingerido são usados para a síntese proteica pelo fígado e pelo músculo. O excesso de aminoácidos é convertido em ácidos graxos (SILVERTHORN, 7ª ed.). A insulina promove a síntese de lipídeos. A insulina inibe a beta-oxidação de ácidos graxos e promove a conversão do excesso de glicose e aminoácidos em triacilgliceróis (lipogênese). Os triacilgliceróis em excesso são armazenados como gotículas de lipídeos no tecido adiposo (SILVERTHORN, 7ª ed.). ÏMPØRTÅÑTË: Em resumo, a insulina é um hormônio anabólico porque promove a síntese de glicogênio, de proteínas e de gorduras. Quando a insulina está ausente ou deficiente, as células vão para o metabolismo catabólico (SILVERTHORN, 7ª ed.). Assim, ela se opõe a qualquer atividade metabólica que poderia aumentar os níveis plasmáticos de glicose (MARIEB, 3ª ed.). A UTILIZAÇÃO EXCESSIVA DAS GORDURAS DURANTE A FALTA DE INSULINA CAUSA CETOSE E ACIDOSE A ausência de insulina também forma quantidades excessivas de ácido acetoacético nas células hepáticas, em consequência do seguinte efeito: na ausência de insulina, mas, na presença de grande quantidade de ácidos graxos nas células hepáticas, o mecanismo de transporte da carnitina, para levar os ácidos graxos para as mitocôndrias, fica cada vez mais ativado (GUYTON, 13ª ed.). Nas mitocôndrias, a betaoxidação dos ácidos graxos ocorre rapidamente, liberando quantidades extremas de acetil-CoA. Grande parte desse excesso de acetil-CoA é, então, condensada, de modo a formar o ácido acetoacético que é liberado no sangue circulante. A maior parte do ácido acetoacético passa para as células periféricas, onde é novamente convertido em acetil-CoA e utilizado como energia na forma usual (GUYTON, 13ª ed.). Ao mesmo tempo, a ausência de insulina também deprime a utilização de ácido acetoacético nos tecidos periféricos. Assim, 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck tanto ácido acetoacético é liberado pelo fígado que não pode ser metabolizado pelos tecidos. A concentração de ácido acetoacético aumenta nos dias seguintes à interrupção da secreção de insulina, chegando, às vezes, a concentrações de 10 mEq/L ou mais, o que é estado grave de acidose (GUYTON, 13ª ed.). Parte do ácido acetoacético também é convertida em ácido b- hidroxibutírico e acetona. Essas duas substâncias, junto com o ácido acetoacético, são chamadas corpos cetônicos, e sua presença, em grande quantidade nos líquidos do corpo, é chamada cetose (GUYTON, 13ª ed.). GLUCAGON ↠ O glucagon é secretado pelas células alfa-pancreáticas, as quais são geralmente antagonistas à insulina e a seus efeitos metabólicos. Quando a concentração de glicose plasmática se reduz após algumas horas de uma refeição, a secreção de insulina torna-se bastante baixa, e os efeitos da secreção do glucagon sobre o metabolismo celular em todo o organismo crescem significativamente (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O glucagon, um polipeptídeo formado por 29 aminoácidos, é um agente hiperglicêmico extremamente potente. Uma molécula deste hormônio pode gerar a liberação de 100 milhões de moléculas de glicose para o sangue! (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A função do glucagon é prevenir a hipoglicemia, de modo que a concentração de glicose é considerada o estímulo primário mais importante para a secreção do hormônio. Quando a glicose plasmática se torna menor que 100 mg/dL, a secreção de glucagon aumenta significativamente. Em uma concentração de glicose acima de 100 mg/dL, ou seja, quando a insulina é secretada em maior quantidade, o glucagon é inibido e permanece em níveis baixos, mas constantes (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A forte relação entre a secreção de insulina e a inibição de glucagon tem levado à especulação de que as células alfa são reguladas por algum fator associado à insulina, em vez de diretamente pela concentração da glicose no plasma. O fígado é o tecido-alvo primário do glucagon. O glucagon estimula a glicogenólise e a gliconeogênese para aumentar a produção de glicose (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Estima-se que, durante o jejum noturno, 75% da glicose produzida pelo fígado é proveniente das reservas de glicogênio, e os 25% restantes, da gliconeogênese. A liberação de glucagon também é estimulada por aminoácidos plasmáticos. Esta via evita a hipoglicemia após a ingestão de uma refeição com proteína pura (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O principal alvo do glucagon é o fígado, onde ele promove as seguintes ações: (MARIEB, 3ª ed.). Quebra do glicogênio em glicose (glicogenólise). Síntese de glicose a partir do lactato e de moléculas não-carboidratos (gliconeogênese). Liberação de glicose pelas células do fígado para o sangue, o que produz um aumento nos níveis sanguíneos de glicose. Um efeito secundário é a queda na concentração de aminoácidos no sangue à medida que as células do fígado sequestram estas moléculas para produzir novas moléculas de glicose.(MARIEB, 3ª ed.). O AUMENTO DE AMINOÁCIDOS NO SANGUE ESTIMULA A SECREÇÃO DE GLUCAGON Concentrações elevadas de aminoácidos, como ocorre no sangue depois de uma refeição de proteína (especialmente, os aminoácidos alanina e arginina), estimulam a secreção do glucagon. Esse é o mesmo efeito que os aminoácidos apresentam no estímulo da secreção de insulina. Desse modo, nessas circunstâncias, as respostas do glucagon e da insulina não são opostas. A importância do estímulo da secreção do glucagon pelos aminoácidos é que o glucagon promove, então, a conversão rápida dos aminoácidos em glicose, disponibilizando ainda mais glicose para os tecidos (GUYTON, 13ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O EXERCÍCIO ESTIMULA A SECREÇÃO DO GLUCAGON Em exercícios exaustivos, a concentração plasmática de glucagon aumenta de quatro a cinco vezes. Não se sabe ao certo o que provoca esse aumento, porque a concentração da glicose sanguínea não cai obrigatoriamente. Efeito benéfico do glucagon é que ele impede a redução da glicose sanguínea. Um dos fatores que podem elevar a secreção do glucagon no exercício é o aumento dos aminoácidos circulantes (GUYTON, 13ª ed.). A SOMATOSTATINA INIBE A SECREÇÃO DE GLUCAGON E DE INSULINA ↠ As células delta das ilhotas de Langerhans secretam o hormônio somatostatina, polipeptídeo com 14 aminoácidos e meia-vida extremamente curta, de apenas 3 minutos, no sangue circulante (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quase todos os fatores relacionados à ingestão de alimentos estimulam a secreção de somatostatina. Eles compreendem: (GUYTON, 13ª ed.). glicose sanguínea aumentada; aminoácidos aumentados; ácidos graxos aumentados; concentrações elevadas de diversos hormônios gastrointestinais, liberados do trato gastrointestinal superior, em resposta à ingestão de alimentos. ↠ Por sua vez, a somatostatina apresenta efeitos inibidores múltiplos, como veremos a seguir: (GUYTON, 13ª ed.). A somatostatina age localmente nas próprias ilhotas de Langerhans para deprimir a secreção de insulina e de glucagon. A somatostatina diminui a motilidade do estômago, do duodeno e da vesicular biliar. A somatostatina diminui a secreção e a absorção no trato gastrointestinal. ↠ Reunindo todas essas informações, sugeriu-se que o principal papel da somatostatina é prolongar o tempo em que os nutrientes alimentares são assimilados pelo sangue. Ao mesmo tempo, o efeito da somatostatina de deprimir a secreção da insulina e do glucagon reduz a utilização dos nutrientes absorvidos pelos tecidos, impedindo, assim, consumo imediato dos alimentos, o que os torna disponíveis durante um período de tempo mais longo (GUYTON, 13ª ed.). Devemos também recordar que a somatostatina é a mesma substância química que o hormônio inibidor do hormônio do crescimento, secretado no hipotálamo e que suprime a secreção do hormônio do crescimento pela hipófise anterior (GUYTON, 13ª ed.). RESUMÃO CONTROLE DA SECREÇÃO DE GLUCAGON E INSULINA – TORTORA, 14ª ED. ↠ A principal ação do glucagon é de elevar o nível sanguíneo de glicose que se encontra abaixo do normal. A insulina, por outro lado, ajuda a reduzir o nível de glicose sanguínea que se encontra muito elevado. O nível de glicose sanguínea controla a secreção de glucagon e insulina via feedback negativo O nível sanguíneo baixo de glicose (hipoglicemia) estimula a secreção de glucagon pelas células alfa das ilhotas pancreáticas. O glucagon atua nos hepatócitos, acelerando a conversão de glicogênio em glicose (glicogenólise) e promovendo a formação de glicose a partir do ácido láctico e de determinados aminoácidos (gliconeogênese). Consequentemente, os hepatócitos liberam glicose no sangue de maneira mais rápida e a glicemia se eleva. Se a glicemia continua subindo, o nível sanguíneo elevado de glicose (hiperglicemia) inibe a liberação de glucagon (feedback negativo). A glicose sanguínea alta (hiperglicemia) estimula a secreção de insulina pelas células beta das ilhotas pancreáticas. A insulina age em várias células do corpo para acelerar a difusão facilitada da glicose para as células; para apressar a conversão de glicose em glicogênio (glicogênese); para intensificar a captação de aminoácidos pelas células e para aumentar a síntese de proteína; para acelerar a síntese de ácidos graxos (lipogênese); para retardar a conversão de glicogênio em glicose (glicogenólise) e para tornar mais lenta a formação de glicose a partir do ácido láctico e de aminoácidos (gliconeogênese). O resultado disso é a queda do nível de glicose do sangue. Quando o nível sanguíneo de glicose cai para abaixo do normal, ocorre inibição da liberação de insulina (feedback negativo) e estímulo à liberação de glucagon. 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Embora o nível sanguíneo de glicose seja o regulador mais importante da insulina e do glucagon, diversos hormônios e neurotransmissores também regulam a liberação desses dois hormônios. Além das respostas ao nível sanguíneo de glicose descritas anteriormente, o glucagon estimula a liberação de insulina de maneira direta; a insulina exerce o efeito oposto, suprimindo a secreção de glucagon. Conforme o nível de glicose no sangue vai declinando e menos insulina é secretada, as células alfa do pâncreas são liberadas do efeito inibitório da insulina de forma que possam secretar mais glucagon. Indiretamente, o hormônio do crescimento humano (GH) e o ACTH estimulam a secreção de insulina porque atuam para elevar a glicose sanguínea. RESUMO DA REGULAÇÃO DA GLICOSE SANGUÍNEA ↠ Na pessoa normal, a concentração de glicose sanguínea está sob controle estrito, geralmente entre 80 e 90 mg/100 mL de sangue na pessoa em jejum, a cada manhã, antes do desjejum. Essa concentração aumenta para 120 a 140 mg/100 mL durante a primeira hora ou um pouco mais, depois da refeição, mas os sistemas de feedback para o controle da glicose sanguínea restabelecem a concentração de glicose rapidamente de volta aos níveis de controle, em geral, dentro de 2 horas depois da última absorção de carboidratos. Inversamente, na ausência de alimentação, a função da gliconeogênese do fígado produz a glicose necessária para manter o nível sérico de glicose em jejum (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Os mecanismos para atingir esse alto nível de controle podem resumir-se do seguinte modo: (GUYTON, 13ª ed.). 1. O fígado funciona como importante sistema tampão da glicose sanguínea. Ou seja, quando a glicose sanguínea sobe a uma concentração elevada depois de uma refeição e a secreção da insulina também aumenta até uns dois terços da glicose absorvida pelo intestino, são quase imediatamente armazenadas no fígado, sob a forma de glicogênio. Então, durante as horas seguintes, quando tanto a concentração de glicose sanguínea quanto a secreção de insulina caem, o fígado libera a glicose de volta ao sangue. Dessa maneira, o fígado reduz as flutuações da concentração da glicose sanguínea para cerca de um terço do que seria na ausência desse mecanismo. De fato, nos pacientes portadores de doença hepática grave, é quase impossível manter a faixa estreita da concentração da glicose sanguínea. 2. Tanto a insulina como o glucagon funcionam como importantes sistemas de controle por feedback para manter a concentração de glicose sanguínea normal. Quando a concentração da glicose está muito elevada, a secreção aumentada de insulina faz com que a concentração de glicose sanguínea diminua em direção aos valores normais. Inversamente, a redução da glicose sanguínea estimula a secreção do glucagon; o glucagon, então, funciona na direção oposta, para aumentar a glicose até o normal. Na maioria das condições normais, o mecanismo de feedback da insulina é mais importante do que o mecanismo do glucagon, mas, nos casos de falta de ingestão ou de utilização excessiva da glicose duranteo exercício e outras situações de estresse, o mecanismo do glucagon também torna-se valioso. 3. Também, na hipoglicemia grave, o efeito direto dos baixos níveis de glicose sanguínea no hipotálamo estimula o sistema nervoso simpático. A epinefrina secretada pelas glândulas adrenais aumenta ainda mais a liberação de glicose pelo fígado, o que também ajuda a proteger contra a hipoglicemia grave. 4. E finalmente, durante um período de horas e dias, tanto o hormônio do crescimento como o cortisol são secretados em resposta à hipoglicemia e ambos diminuem a utilização da glicose pela maioria das células do organismo, convertendo, por sua vez, uma quantidade maior de utilização das gorduras. Isso também ajuda a concentração da glicose sanguínea a retornar ao normal. A IMPORTÂNCIA DA REGULAÇÃO DA GLICOSE SANGUÍNEA ↠ Por que é tão importante manter a concentração constante da glicose no sangue se, particularmente, a maioria dos tecidos pode mudar para a utilização das gorduras e proteínas como 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck fonte de energia, na ausência da glicose? A resposta é que a glicose é o único nutriente que pode ser utilizado normalmente pelo encéfalo, pela retina e pelo epitélio germinativo das gônadas, em quantidade suficiente para supri-los de modo ideal com a energia requerida. Consequentemente, isso é importante para manter a concentração da glicose sanguínea em níveis suficientes para fornecer essa nutrição necessária (GUYTON, 13ª ed.). Referências: PAIVA, M. C. O papel fisiológico da insulina e dos hormônios contrarregulatórios na homeostase glicêmica. Revista Brasileira de Nutrição Clínica Funcional, 2014. LOPES, D. A. V. Anatomia microscópica do pâncreas e detecção de células neuroendócrinas imunorreativas a insulina, glucagon, somatostatina, serotonina e polipeptídeo pancreático de Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) e Hydromedusa maximiliani (Mikan, 1820) (Testudines, Chelidae). Tese de Pós-Graduação, RJ, 2017. LUBACZEUSKI, C. Envolvimento do sistema nervoso parassimpático sobre o controle glicêmico e função das ilhotas pancreáticas em camundongos desnutridos submetidos à dieta hiperlipídica. Tese de Doutorado, Campinas, 2017. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Compreender a embriologia da tireoide e paratireoide; 2- Estudar a morfofisiologia da tireoide e paratireoide; 3- Explicar os tipos de erros médicos; Embriologia da Tireoide ↠ A glândula tireoide é a primeira glândula endócrina a se desenvolver no embrião. Sob a influência de vias de sinalização do fator de crescimento do fibroblasto, ela começa a se formar aproximadamente com 24 dias após a fecundação a partir de um espessamento endodérmico mediano no assoalho da faringe primitiva. Esse espessamento rapidamente forma uma pequena evaginação, o primórdio da tireoide (MOORE, 10ª ed.). ↠ À medida que o embrião e a língua crescem a glândula tireoide em desenvolvimento desce pelo pescoço, passando ventralmente ao osso hioide a as cartilagens laríngeas em desenvolvimento. Por um curto tempo, a glândula está ligada à língua por um tubo estreito, o ducto tireoglosso (MOORE, 10ª ed.). ↠ A princípio, o primórdio da tireoide é oco, mas logo se torna uma massa sólida de células. Ele se divide em lobos, direito e esquerdo, que são ligados pelo istmo da glândula tireoide, que se encontra anterior ao segundo e terceiro anéis traqueais em desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). ↠ Em 7 semanas, a glândula tireoide assume sua forma definitiva e está geralmente localizada em seu local final no pescoço. Nessa altura, o ducto tireoglosso normalmente já degenerou e desapareceu. A abertura proximal do ducto persiste como uma pequena fosseta no dorso (superfície posterossuperior) da língua, o forame cego. Um lobo piramidal da glândula tireoide estende-se superiormente, a partir do istmo, em aproximadamente 50% das pessoas. Esse lobo pode estar anexado ao osso hioide por tecido fibroso ou músculo liso, ou ambos (MOORE, 10ª ed.). HISTOGÊNESE DA GLÂNDULA TIREOIDE O primórdio da tireoide consiste em uma massa sólida de células endodérmicas. Esse agregado celular posteriormente se rompe em uma rede de cordões epiteliais conforme é invadido por mesênquima vascular circundante. Com 10 semanas, os cordões dividem-se em pequenos grupos celulares. Um lúmen rapidamente se forma em cada aglomerado celular, e essas células ficam dispostas em uma única camada em torno dos folículos tireoidianos (MOORE, 10ª ed.). Durante a 11ª semana, o coloide (material semifluido nos folículos) começa a aparecer; depois disso, a concentração de iodo e a síntese de hormônios da tireoide podem ser demonstradas. Por volta da 20ª semana, os níveis do hormônio estimulante da tireoide e a tiroxina começam a aumentar, alcançando níveis adultos com 35 semanas (MOORE, 10ª ed.). APG 18 – CAROÇO NO PESCOÇO 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Embriologia da Paratireoide ARCOS FARÍNGEOS Os arcos faríngeos começam a se desenvolver no início da quarta semana, quando as células da crista neural migram para as futuras regiões da cabeça e do pescoço. Ao final da quarta semana, quatro pares de arcos são visíveis externamente. O quinto e o sexto arco são rudimentares e não são visíveis na superfície do embrião (MOORE, 10ª ed.). Os arcos faríngeos são separados pelos sulcos faríngeos (fendas). Como os arcos, os sulcos são numerados em uma sequência craniocaudal. O primeiro arco separa-se nas proeminências maxilar e mandibular. Juntamente com o terceiro arco, o segundo arco (arco hioide) contribui para a formação do osso hioide (MOORE, 10ª ed.). Os arcos faríngeos contribuem extensivamente para a formação da face, das cavidades nasais, da boca, da laringe, da faringe e do pescoço. Durante a quinta semana, o segundo arco aumenta e recobre o terceiro e o quarto arcos, formando uma depressão ectodérmica, o seio cervical. Ao final da sétima semana, o segundo até o quarto sulcos faríngeos e o seio cervical desaparecem, dando ao pescoço um contorno liso (MOORE, 10ª ed.). BOLSAS FARÍNGEAS ↠ A faringe primitiva, que é derivada do intestino anterior, alarga-se cranialmente conforme se une ao estomodeu e estreita-se à medida que se une ao esôfago. O endoderma da faringe reveste as superfícies internas dos arcos e das bolsas faríngeas. As bolsas desenvolvem-se em uma sequência craniocaudal entre os arcos. O primeiro par de bolsas, por exemplo, encontra-se entre o primeiro e o segundo arcos. Quatro pares de bolsas são bem definidos; o quinto par (quando presente) é rudimentar (MOORE, 10ª ed.). TERCEIRA BOLSA FARÍNGEA ↠ A terceira bolsa expande-se e forma uma parte dorsal bulbar sólida e uma parte ventral oca alongada. Sua conexão com a faringe é reduzida a um ducto estreito que logo se degenera. Por volta da sexta semana, o epitélio de cada parte bulbar dorsal da bolsa começa a se diferenciar em uma glândula paratireoide inferior (MOORE, 10ª ed.). ↠ O epitélio das partes ventrais da bolsa alongada se prolifera, obliterando suas cavidades. Essas partes se unem no plano mediano para formar o timo, que é o órgão linfoide primário. Mais tarde, as glândulas paratireoides separam-se do timo e vão se situar na superfície dorsal da glândula tireoide (MOORE, 10ª ed.). QUARTA BOLSA FARÍNGEA ↠ A quarta bolsa expande-se emuma parte bulbar dorsal e uma ventral alongada. Sua conexão com a faringe é reduzida a um ducto estreito que logo degenera. Por volta da sexta semana, cada porção dorsal se desenvolve em uma glândula paratireoide superior, que se localiza na superfície dorsal da glândula tireoide (MOORE, 10ª ed.). ↠ Como as glândulas paratireoides derivadas das terceiras bolsas acompanham o timo, elas estão em uma 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck posição mais inferior que as glândulas paratireoides derivadas das quartas bolsas (MOORE, 10ª ed.). HISTOGÊNESE DA PARATIREOIDE O epitélio das partes dorsais da terceira e da quarta bolsa prolifera durante a quinta semana e forma pequenos nódulos na face dorsal de cada bolsa. O mesênquima vascular logo cresce nesses nódulos, formando uma rede capilar. As células principais diferenciam-se durante o período embrionário e, acredita-se, tornam-se funcionalmente ativas na regulação do metabolismo do cálcio fetal. As células oxífilas da glândula paratireoide diferenciam-se entre os 5 e 7 anos após o nascimento (MOORE, 10ª ed.). A parte ventral alongada de cada uma das quartas bolsas desenvolve- se em um corpo ultimofaríngeo, que se funde com a glândula tireoide. Suas células se disseminam dentro da tireoide e formam as células parafoliculares. Essas células são também chamadas de células C, indicando que elas produzem calcitonina, um hormônio que reduz os níveis de cálcio no sangue. As células C diferenciam-se a partir de células da crista neural que migram dos arcos para o quarto par de bolsas (MOORE, 10ª ed.). Morfofisiologia da Tireoide ANATOMIA DA TIREOIDE ↠ Em forma de borboleta (na vista anterior), a glândula tireóide está localizada na parte anterior do pescoço, sobre a traquéia logo abaixo da laringe (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Seus dois lobos laterais são conectados por uma massa de tecido medial chamada de istmo. A glândula tireóide é a maior glândula puramente endócrina do corpo (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Cerca de 50% das glândulas tireoides apresentam um pequeno terceiro lobo, chamado de lobo piramidal, que se estende superiormente a partir do istmo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A massa normal da tireoide é de aproximadamente de 30 g (TORTORA, 14ª ed.). VASCULARIZAÇÃO DA TIREOIDE A glândula tireoide, altamente vascularizada, é suprida pelas artérias tireóideas superior e inferior. Em geral, os primeiros ramos das artérias carótidas externas, as artérias tireóideas superiores, descem até os polos superiores da glândula, perfuram a lâmina pré-traqueal da fáscia cervical e dividem-se em ramos anterior e posterior que suprem principalmente a face anterossuperior da glândula (MOORE, 7ª ed.). As artérias tireóideas inferiores, os maiores ramos dos troncos tireocervicais que se originam das artérias subclávias, seguem em sentido superomedial posteriormente às bainhas caróticas até chegarem à face posterior da glândula tireoide. As artérias tireóideas superiores e inferiores direita e esquerda fazem extensas anastomoses dentro da glândula, assegurando sua vascularização enquanto proporcionam potencial circulação colateral entre as artérias subclávia e carótida externa (MOORE, 7ª ed.). Seu extraordinário suprimento sanguíneo (das artérias tireóideas superior e inferior) faz com que as cirurgias de tireóide exijam um cuidado especial (MARIEB, 3ª ed.). Três pares de veias tireóideas geralmente formam um plexo venoso tireóideo na face anterior da glândula tireoide e anterior à traqueia. As veias tireóideas superiores acompanham as artérias tireóideas superiores; elas drenam os polos superiores da glândula tireoide; as veias tireóideas médias não acompanham, mas seguem trajetos praticamente paralelos às artérias tireóideas inferiores; drenam a 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck região intermédia dos lobos. As veias tireóideas inferiores geralmente independentes drenam os polos inferiores (MOORE, 7ª ed.). HISTOLOGIA DA TIREOIDE ↠ A glândula é revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo que envia septos para o parênquima. Os septos se tornam gradualmente mais delgados ao alcançar os folículos, que são separados entre si principalmente por fibras reticulares (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A tireoide é um órgão extremamente vascularizado por uma extensa rede capilar sanguínea e linfática que envolve os folículos. As células endoteliais dos capilares sanguíneos são fenestradas, como é comum também em outras glândulas endócrinas. Essa configuração facilita o transporte de substâncias entre as células endócrinas e o sangue (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÉLULAS FOLICULARES ↠ A tireoide é composta de milhares de folículos tireoidianos, que são pequenas esferas de 0,2 a 0,9 mm de diâmetro. A parede dos folículos é um epitélio simples cujas células são também denominadas tireócitos. A cavidade dos folículos contém uma substância gelatinosa chamada coloide (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As células foliculares produzem a glicoproteína tireoglobulina. A cavidade central, ou lúmen, dos folículos armazena o colóide, um material âmbar e pegajoso que consiste de moléculas de tireoglobulina ligadas a átomos de iodo. Os hormônios da tireóide são derivados desta tireoglobulina iodada (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Em cortes, o aspecto dos folículos tireoidianos é muito variado, o que é consequência de: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). diferentes maneiras em que foram seccionados os folículos; diversos níveis de atividade funcional exercidos pelos vários folículos. ↠ Alguns folículos são grandes, cheios de coloide e revestidos por epitélio cúbico ou pavimentoso, e outros são menores, com epitélio colunar. De maneira geral, quando a altura média do epitélio de um número grande de folículos é baixa, a glândula é considerada hipoativa. Em contrapartida, o aumento acentuado na altura do epitélio folicular acompanhado por diminuição da quantidade de coloide e do diâmetro dos folículos costuma indicar hiperatividade da glândula (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÉLULAS PARAFOLICULARES ↠ Outro tipo de célula encontrado na tireoide é a célula parafolicular ou célula C. Ela pode fazer parte do epitélio folicular ou, mais comumente, formar agrupamentos isolados entre os folículos tireoidianos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck As células parafoliculares produzem um hormônio chamado calcitonina, também denominado tirocalcitonina, cujo efeito principal é inibir a reabsorção de tecido ósseo e, em consequência, diminuir o nível de cálcio no plasma. A secreção de calcitonina é ativada por aumento da concentração de cálcio do plasma (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Ao microscópio eletrônico de transmissão, as células parafoliculares mostram uma pequena quantidade de retículo endoplasmático granuloso, mitocôndrias alongadas e um grande complexo de Golgi. A característica mais notável dessas células são os numerosos grânulos que medem de 100 a 180 nm de diâmetro (JUNQUEIRA, 13ª ed.). FISIOLOGIA DA TIREOIDE ↠ A glândula tireoide é a única glândula endócrina que armazena seu produto secretório em grandes quantidades - normalmente o suficiente para cerca de 100 dias (TORTORA, 14ª ed.). HORMÔNIO DA TIREOIDE ↠ Referido frequentemente como o principal hormônio metabólico, o hormônio da tireóide (TH) é na verdade um par de hormônios derivados de aminoácidos contendo iodo, a tiroxina, ou T4, e a triiodotironina, ou T3 (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O T4 é o principal hormônio secretado pelos folículos tireoidianos; grande parte do T3 é formada nos tecidos- alvo pela conversão do T4 em T3. Muito parecidos entre si, os hormônios são sintetizados a partir de dois aminoácidos tirosina conectados. A principal diferença é que o T4 possui quatro átomos de iodo ligados, e o T3 possui três (por isso, T4 e T3) (MARIEB, 3ª ed.). SÍNTESE ↠ A síntese do hormônio da tireóide envolve seis processos interligados que iniciamquando o TSH secreta do pela hipófise anterior se liga aos receptores nas células foliculares (MARIEB, 3ª ed.). 1. Formação e armazenamento da tireoglobulina: Após ser sintetizada nos ribossomos, a tireoglobulina é transportada até o aparelho de Golgi, onde são adicionados resíduos glicídicos e as moléculas são empacotadas em vesículas. Estas vesículas de transporte se movem até o ápice das células foliculares, onde seus conteúdos são liberados no lúmen folicular e se tornam parte do colóide armazenado. 2. Sequestro do iodeto: Para produzir os hormônios iodados funcionais, as células foliculares devem acumular iodetos (ânions de iodo, I-) provenientes do sangue. Como a concentração intracelular de I- é cerca de 30 vezes maior do que a do sangue, a captura do iodeto depende de transporte ativo. Uma vez aprisionado dentro das células foliculares, o iodeto então se move para dentro do lúmen folicular por difusão facilitada. 3. Oxidação do iodeto e iodação: No limite entre as células foliculares e o colóide, os iodetos são oxidados (pela remoção de elétrons) e convertidos a iodo (I2). Uma vez formado, o iodo é ligado aos aminoácidos tirosina que constituem a tireoglobulina coloidal. Esta reação de iodação ocorre na junção entre o ápice das células foliculares e o colóide, sendo mediada por enzimas peroxidases. A ligação de um iodo a uma tirosina resulta na monoiodotirosina (MIT ou T1); a ligação de dois iodos produz a diiodotirosina (DIT ou T2). Essa oxidação da tirosina é promovida pela enzima peroxidase, acompanhada de peróxido de hidrogênio, os quais constituem potente sistema capaz de oxidar iodetos. A peroxidase localiza-se na membrana apical da célula ou ligada a ela, produzindo, assim, o iodo oxidado, exatamente no ponto da célula em que a molécula de tireoglobulina surge, vinda do aparelho de Golgi e através da membrana celular, sendo armazenada no coloide da tireoide (GUYTON, 13ª ed.). A ligação do iodo com a molécula de tireoglobulina é chamada organificação da tireoglobulina (GUYTON, 13ª ed.). 4. Acomplamento de T2 e T1: A seguir, enzimas do colóide acoplam o T1 e oT2. Duas DITs ligadas resultam no T4; o acoplamento entre uma MIT e uma DIT resulta no T3. Neste ponto, os hormônios ainda fazem parte da tireoglobulina coloidal. Pequenas quantidades de T3 reverso (RT3) são formadas pelo acoplamento de di-iodotirosina com monoiodotirosina, mas RT3 não parece ter significância funcional em humanos (GUYTON, 13ª ed.). 5. Endocitose do colóide: Para que ocorra a secreção do hormônio, é necessário que as células foliculares recuperem a tireoglobulina iodada por endocitose e combinem as vesículas com lisossomos. 6. Clivagem e liberação dos hormônios: Nos lisossomos, os hormônios são clivados da tireoglobulina pelas enzimas lisossomais. Os hormônios então se difundem das células foliculares para a corrente sanguínea. O principal produto hormonal secretado é o T4. Um pouco de T4 é convertido a T3 antes de ser 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck secretado, mas a maioria do T3 é gerada nos tecidos periféricos. Embora tenhamos descrito a síntese de TH do começo ao fim (secreção), a resposta inicial à ligação do TSH é a secreção do hormônio da tireóide. Após, mais colóide é sintetizado para "reabastecer" o lúmen folicular. Como regra geral, os níveis de TSH estão mais baixos durante o dia, atingem o pico um pouco antes da hora de dormir e permanecem altos durante a noite (MARIEB, 3ª ed.). Cerca de 93% dos hormônios metabolicamente ativos, secretados pela tireoide, consistem em tiroxina, e 7% são tri-iodotironina. Entretanto, quase toda a tiroxina é, por fim, convertida em tri-iodotironina nos tecidos, de modo que ambas são funcionalmente importantes (GUYTON, 13ª ed.). Para formar quantidades normais de tiroxina, é necessária a ingestão de cerca de 50 miligramas de iodo na forma de iodeto a cada ano, ou cerca de 1 mg/semana. Para prevenir a deficiência de iodo, o sal comum de cozinha é suplementado com cerca de uma parte de iodeto de sódio para cada 100.000 partes de cloreto de sódio (GUYTON, 13ª ed.). TRANSPORTE E REGULAÇÃO ↠ Grande parte do T4 e do T3 liberados se liga imediatamente às proteínas transportadoras, principalmente as globulinas ligadoras de tiroxina (TBGs) produzidas pelo fígado. Tanto o T4, como o T3 se ligam aos receptores nos tecidos-alvo, mas o T3., se liga muito mais avidamente, sendo cerca de dez vezes mais ativo. A maioria dos tecidos periféricos possui as enzimas necessárias para a conversão de T4 em T3, um processo que envolve a remoção enzimática de um átomo de iodo (MARIEB, 3ª ed.). T3 e T4 possuem solubilidade limitada no plasma por serem moléculas lipofílicas. Consequentemente, os hormônios da tireoide ligam-se as proteínas do plasma, como a globulina ligante da tiroxina (TBG) (SILVERTHORN, 7ª ed.). Provavelmente existam diversos mecanismos de ação do TH. Entretanto, o que sabemos com certeza é que, como os esteróides, o TH entra na célula-alvo, se liga a receptores dentro do núcleo celular e inicia a transcrição do RNAm (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A diminuição dos níveis sanguíneos de TH estimula a liberação do hormônio estimul.ador da tireóide (TSH) e, consequentemente, de mais TH. O aumento nos níveis de TH inibe por retroalimentação o eixo hipotálamo- hipófise, "desligando" temporariamente o estímulo para a liberação de TSH (MARIEB, 3ª ed.). Fatores que inibem a liberação de TSH incluem somatostatina e níveis elevados de glicocorticóides. Níveis excessivamente altos de iodo no sangue inibem a liberação de TH (MARIEB, 3ª ed.). AÇÕES DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE ↠ Uma vez que a maioria das células corporais apresenta receptores para hormônios da tireoide, T3 e T4 exercem seus efeitos por todo o corpo (TORTORA, 14ª ed.). Os hormônios da tireoide aumentam a taxa metabólica basal (TMB), que consiste no consumo de oxigênio em condições basais ou padrão (acordado, em repouso e jejum) por meio da estimulação do uso de oxigênio celular na produção de ATP. Quando a taxa metabólica basal aumenta, o metabolismo celular dos carboidratos, lipídios e proteínas se torna mais intenso (TORTORA, 14ª ed.). Outro efeito importante dos hormônios da tireoide é o de estimular a síntese de bombas adicionais de sódio e potássio (Na+K+ATPase), o que utiliza grandes quantidades de ATP para continuamente ejetar íons sódio (Na+) do citosol no líquido extracelular e íons potássio (K+) do líquido extracelular no citosol. Com a produção e a utilização de mais ATP pelas células, mais calor é liberado e a temperatura corporal sobe. Esse fenômeno é chamado de efeito calorigênico. Dessa maneira, os hormônios da tireoide têm participação importante na manutenção da temperaturacorporal normal (TORTORA, 14ª ed.). Os hormônios da tireoide intensificam algumas ações das catecolaminas (norepinefrina e epinefrina), pois promovem a suprarregulação dos receptores beta (ß). Por essa razão, os sinais/sintomas do hipertireoidismo incluem frequência cardíaca aumentada, batimentos cardíacos mais fortes e pressão arterial elevada (TORTORA, 14ª ed.). Junto com o hormônio do crescimento e com a insulina, os hormônios da tireoide aceleram o crescimento corporal, sobretudo o crescimento dos sistemas nervoso e esquelético. A deficiência de hormônios da tireoide durante o desenvolvimento fetal ou infância causa grave retardo mental e restrição do crescimento ósseo (TORTORA, 14ª ed.). Antes de agir nos genes, aumentando sua transcrição, um átomo de iodo é removido de quase todas as moléculas de tiroxina, formando tri-iodotironina. Os receptores intracelulares de hormônio tireoidiano têm afinidade muito alta com a tri-iodotironina. Consequentemente, 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck mais de 90% das moléculas de hormônio tireoidiano que se ligam aos receptores consistem em tri-iodotironina(GUYTON, 13ª ed.). Os receptores de hormônio tireoidiano estão ligados às fitas genéticas de DNA ou se localizam próximos a elas. O receptor do hormônio tireoidiano, em geral, forma heterodímero com o receptor de retinoide X (RXR) nos elementos específicos de resposta hormonal tireoidiana no DNA. Após se ligarem ao hormônio tireoidiano, os receptores são ativados e iniciam o processo de transcrição. Então, é formado um grande número de diferentes tipos de RNA mensageiro que, após alguns minutos ou horas, são traduzidos nos ribossomos citoplasmáticos, formando centenas de novas proteínas intracelulares (GUYTON, 13ª ed.). Um importante efeito do hormônio tireoidiano é promover o crescimento e desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e nos primeiros anos de vida pós-natal. Se o feto não secretar quantidade suficiente de hormônio tireoidiano, o crescimento e a maturação do cérebro, antes e após o nascimento, são muito retardados, e o cérebro permanece menor que o normal (GUYTON, 13ª ed.). CALCITONINA ↠ A calcitonina é um hormônio polipeptídico produzido pelas células parafoliculares, ou células C, da glândula tireóide. Como seu principal efeito é diminuir os níveis sanguíneos de Ca+2, a calcitonina é um antagonista direto do paratormônio, produzido pelas glândulas paratireóides (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A calcitonina age no esqueleto, onde: (MARIEB, 3ª ed.). inibe a atividade dos osteoclastos e consequentemente a reabsorção (ressorção) óssea e a liberação de Ca+2 da matriz do osso; estimula a captação e a incorporação de Ca+2 na matriz do osso. Assim, ela tem efeito poupador ósseo Morfofisiologia das glândulas paratireoides ANATOMIA DAS GLÂNDULAS PARATIREOIDES ↠ São quatro pequenas glândulas, que medem 3 × 6 mm e têm peso total de cerca de 0,4 g. Localizam-se mais comumente nos polos superiores e inferiores da face dorsal da tireoide, geralmente na cápsula que reveste os lobos dessa glândula (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Mais raramente, podem situar-se no interior da tireoide ou no mediastino, próximo ao timo. Esta última localização se deve ao fato de as paratireoides e o timo se originarem de esboços embrionários muito próximos entre si (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As glândulas paratireoides, muito pequenas e com coloração marrom-amarelada, estão praticamente escondidas na parte posterior da glândula tireóide. Normalmente, quatro destas glândulas estão presentes, mas o número preciso varia entre os indivíduos (MARIEB, 3ª ed.). Øbs.: Já foram relatadas até oito glândulas, e algumas podem ser localizadas em outras regiões do pescoço e até mesmo no tórax (MARIEB, 3ª ed.). HISTOLOGIA DAS GLÂNDULAS PARATIREOIDES ↠ Cada paratireoide é envolvida por uma cápsula de tecido conjuntivo. Dessa cápsula partem trabéculas para o interior da glândula, que são contínuas com as fibras reticulares que sustentam os grupos de células secretoras (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O parênquima da paratireoide é formado por células epiteliais dispostas em cordões separados por capilares sanguíneos. Há dois tipos de células na paratireoide: as principais e as oxífilas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck CÉLULAS PRINCIPAIS ↠ As células principais predominam amplamente sobre as outras, têm forma poligonal, núcleo vesicular e citoplasma fracamente acidófilo; essas células são secretoras do hormônio das paratireoides, o paratormônio (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÉLULAS OXÍFILAS ↠ Na espécie humana, as células oxífilas aparecem por volta dos 7 anos de idade e a partir daí aumentam progressivamente de número. São poligonais, maiores e mais claras que as células principais. A função dessas células é desconhecida (JUNQUEIRA, 13ª ed.). FISIOLOGIA DAS GLÂNDULAS PARATIREOIDES ↠ O hormônio paratireoidiano (PTH), ou paratormônio, o hormônio protéico destas glândulas, é o principal hormônio regulador do equilíbrio do cálcio no sangue. A liberação do PTH é desencadeada pela queda nos níveis sanguíneos de Ca+2 e inibida pela hipercalcemia. O PTH aumenta os níveis de Ca+2 no sangue pela estimulação de três órgãos-alvo: o esqueleto (que contém quantidades consideráveis de sais de cálcio na sua matriz), os rins e o intestino (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Além de aumentar a concentração de Ca2+ plasmático, o hormônio da paratireoide reduz a concentração de fosfato no sangue. Esse efeito resulta da atividade do paratormônio em células dos túbulos renais, diminuindo a reabsorção de fosfato e aumentando sua excreção na urina (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Como a homeostase do íon cálcio plasmático é essencial para muitas funções, incluindo a transmissão de impulsos nervosos, a contração muscular e a coagulação sanguínea, o controle preciso dos níveis de Ca+2 é crucial (MARIEB, 3ª ed.). RELAÇÃO CALCITONINA E PARATORMÔNIO ↠ O nível sanguíneo de cálcio controla diretamente a secreção de calcitonina e paratormônio por meio de alças de feedback negativo que não envolvem a glândula hipófise: (TORTORA, 14ª ed.). O nível sanguíneo de íons cálcio (Ca2+) acima do normal estimula as células parafoliculares da glândula tireoide a liberarem mais calcitonina. 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck A calcitonina inibe a atividade dos osteoclastos, diminuindo, dessa forma, o nível sanguíneo de Ca2+. O nível sanguíneo de íons cálcio (Ca2+) abaixo do normal estimula as células principais da glândula paratireoide a liberarem mais PTH. O PTH promove a reabsorção de matriz óssea extracelular, o que libera Ca2+ no sangue e retarda a perda de Ca2+ na urina, elevando o nível de Ca2+ no sangue. Erros médicos ↠ Os erros médicos, quase sempre, causam danos e sofrimento aos pacientes, o que, aliado a uma relação médico paciente insatisfatória, é responsável por grande parte das denúncias feitas nos Conselhos Regionais de Medicina (CRM) (BITENCOURT et. al., 2007). ↠ Quando se acusa um médico de erro entende-se esse erro como “o dano sofrido pelo paciente que possa ser caracterizado por imperícia, imprudência ou negligência do médico, no exercício de suas atividades profissionais (KOECHE et. al., 2013). ↠ O único artigo do Código de Ética Médica de 1988, vigente à época da ocorrência dos autos de processos analisados, compatível com esta definição, é o artigo de número 29, que veda ao médico: “praticar atos danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imprudência, imperícia e negligência” (KOECHE et. al., 2013). ↠ Há três maneiras de classificar o erro médico: imperícia, quando o médico realiza procedimento para o qual não é habilitado, o que corresponde a um despreparo teórico e/ou prático por insuficiência de conhecimento; imprudência, quando o médico assume riscos para o paciente sem respaldo científico para o seu procedimento, agindo sem a cautela necessária; e negligência, quando não oferece os cuidados necessários ao paciente, sugerindo inação, passividade ou um ato omissivo (BITENCOURT et. al., 2007). ARTIGO: O ERRO MÉDICO E A MÁ PRÁTICA NOS CÓDIGOS BRASILEIROS DE ÉTICA MÉDICA (MARTIN, L. M. 2009) IMPERÍCIA O código de 1988 se preocupa com a imperícia em duas frentes. A primeira tem a ver com a situação em que o médico dá cobertura a pessoas não habilitadas para exercer a medicina. Nesse caso, é vedado ao médico "delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica" (art. 30/1988) e "acumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a Medicina, ou com profissionais ou instituições médicas que pratiquem atos ilícitos" (art. 38/1988). A segunda frente é mais complexa e trata da imperícia do próprio médico. Léo Meyer Coutinho sustenta que, muitas vezes, é difícil distinguir entre imperícia e imprudência. Genival Veloso de França vai mais longe e diz que não se pode atribuir imperícia a um médico devidamente diplomado e que o erro será sempre de imprudência ou negligência. Talvez do pontode vista jurídico ele tenha razão, mas do ponto de vista ético parece que ele está desprezando uma distinção importante entre a pessoa diplomada e a pessoa qualificada. Mesmo se aceitássemos seu argumento que o recém-diplomado seguramente tem o preparo prático e os conhecimentos científicos e técnicos para exercer a profissão de médico, não há nenhuma garantia que, digamos, cinco anos mais tarde, seu preparo prático e conhecimentos técnicos tenham acompanhado os avanços da sua profissão. Por isso, é possível, eticamente falando, atribuir imperícia a um médico diplomado. O diploma é algo estático, normalmente concedido só uma vez. Habilidades e conhecimentos, porém, são algo dinâmico, que precisa ser constantemente revitalizado, e esta parece ser a posição adotada pelo Código de Ética Médica de 1988 quando diz, no seu artigo 5º: "O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente". IMPRUDÊNCIA Exemplos simples de imprudência se encontram no artigo 62/1988 com sua proibição de "prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente cessado o impedimento" e no artigo 39/1988 que veda ao médico: "Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos Em outros casos, um pouco mais complicados, podemos dizer que seria, no mínimo, imprudente o médico "efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida" (art. 46/1988); "desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida" (art. 56/1988); Nestes casos, a imprudência consiste em não adotar as salvaguardas estabelecidas pela profissão médica para a proteção do próprio médico, do paciente e da sociedade, mesmo não havendo danos maiores em cada caso concreto. Estas imprudências facilmente se transformam em má prática quando levam o médico a desprezar a dignidade do ser humano e a provocar-lhe danos graves. NEGLIGÊNCIA Segundo Genival Veloso de França, "a negligência caracteriza-se pela inação, indolência, inércia, passividade. É a falta de observação aos deveres que as circunstâncias exigem. É um ato omissivo". Casos de negligência que provocam danos ao paciente podem ser fruto de preguiça ou desinteresse por parte do médico, mas, também, podem ser fruto de cansaço e sobrecarga de serviços devido às condições de trabalho impostas a muitos médicos em hospitais e postos de saúde. As formas de negligência mais graves que se encontram no código de 1988 são a omissão de tratamento e o abandono do paciente. 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Mais abrangentes ainda são os artigos que caracterizam como erro culposo a negligência pela qual o médico deixa "de comparecer a plantão em horário preestabelecido ..., salvo por motivo de força maior" (art. 37/1988) ou deixa "de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente" (art. 57/1988). Ao lado das situações de negligência caracterizadas por omissão, o código prevê situações de negligência caracterizadas como abandono do paciente. O artigo 37/1988, por exemplo, proíbe o médico de abandonar o plantão, "salvo por motivo de força maior", enquanto o artigo 36/1988 proíbe-o de "afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes em estado grave". ↠ Nos países subdesenvolvidos, a probabilidade de ocorrerem erros médicos é ainda maior, devido à estrutura inadequada, aos equipamentos precários e ao baixo investimento em custos operacionais essenciais aos serviços de saúde. No Brasil, não existem dados sobre o assunto, mas estudos demonstram que o número de denúncias por erros médicos vem crescendo enormemente nos últimos anos (BITENCOURT et. al., 2007). ↠ Neste contexto, é importante investir na prevenção dos erros, sendo necessário estimular, desde a graduação em Medicina, discussões que visem formar profissionais mais comprometidos com a prática médica e menos sujeitos a esse tipo de problema.. A educação médica, neste contexto, tem dois papéis, o de informador e o de formador. Enquanto o primeiro tem a função de fornecer ao estudante conhecimentos científicos e de natureza técnica essenciais ao exercício da futura profissão, o segundo é responsável pelo amadurecimento de uma personalidade adulta e equilibrada, capaz de entender a complexa estrutura biopsicossocial do paciente (BITENCOURT et. al., 2007). ↠ Vários fatores estão envolvidos no aumento do número de processos por erro médico, como maior conscientização da população acerca de seus direitos, precarização das condições de trabalho, principalmente no setor público, e influência da mídia. Dentre os fatores mais importantes na geração deste quadro estão a deterioração na qualidade da relação médico-paciente e a formação deficiente dos médicos durante a graduação e pós-graduação. O reconhecimento do papel da educação médica na prevenção do erro médico deve ser discutido com urgência, principalmente devido ao número crescente de escolas médicas no País (BITENCOURT et. al., 2007). ↠ Reconhecer a importância e conhecer os fatores relacionados aos erros médicos é fundamental para formular medidas no sentido de evitar a má prática profissional. É inegável a importância do papel da educação médica na formação dos futuros médicos, desenvolvendo competências e habilidades técnicas, além de valores éticos e morais. Este fato tem sido destacado desde os primórdios da Medicina, com Hipócrates, que já recomendava: “aquele que quiser adquirir um conhecimento exato da arte médica deverá possuir boa disposição para isso, frequentar uma boa escola, receber instrução desde a infância, ter vontade de trabalhar e ter tempo para se dedicar aos estudos” (BITENCOURT et. al., 2007). ARTIGO: ANÁLISE DO ERRO MÉDICO EM PROCESSOS ÉTICO- PROFISSIONAIS: IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO MÉDICA. (BITENCOURT ET. AL., 2007). Trata-se de um estudo descritivo em que foi feita uma revisão de todos os Processos Éticos-Profissionais (PEP) julgados nas três Câmaras do Tribunal de Ética do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) de 2000 a 2004. Foram avaliadas as características dos processos com indícios de infração ao artigo 29 do CEM, bem como dos profissionais neles envolvidos. Foram avaliadas as informações de 372 médicos julgados em 238 PEP. Daqueles, 42,7% (n = 159) foram denunciados por infração ao artigo 29. A maioria, 78,6% (n = 125), era de homens, e a idade média, de 44,16 ± 9,67, variando de 25 a 71 anos. Quanto à especialidade, 27,0% (n = 43) dos denunciados não tinham especialidade registrada no Cremeb, e em 6,3% (n = 10) a mesma não foi identificada. A especialidade com maior frequência (37%) foi ginecologia e obstetrícia. Foi identificada negligência em 67,3% (n = 107) das denúncias, imprudência em 23,3% (n = 37) e imperícia em 8,8% (n = 14). Quanto ao resultado do julgamento, foram absolvidos de infração ao artigo 29 do CEM 76,1% (n = 121) dos médicos, sendo que 31,4% (n = 50) foram absolvidos por falta de provas e 44% (n = 70) por inocência comprovada. As penalidades recebidas pelos médicos apenados por erro médico, de acordo com o Código de Processo Ético Profissional dos Conselhos de Medicina do Brasil1, foram: censura pública em publicação oficial em 34,2% (n = 13); censura reservada também em 34,2% (n = 13); aviso reservado em 23,7% (n = 9); e suspensão do exercício profissional por trinta dias em 7,9% (n = 3). Nenhum médico sofreu cassação doexercício profissional. 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O erro médico é uma frequente causa de denúncias contra médicos no Cremeb e ocorre em geral por negligência em atendimento público e principalmente cirúrgico, não havendo diferença entre atendimento de urgência/emergência e eletivo. Os médicos denunciados são, em sua maioria, homens com idade média de 44 anos, sendo as especialidades mais frequentes Ginecologia e Obstetrícia (GO), Cirurgia Geral e Anestesia. Referências KOECHE et. al. Prevalência de erro médico entre as especialidades médicas nos processos julgados pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina. Arquivo Catarina Médico, v. 42, n. 2, p. 45-53, 2013. BITENCOURT et. al. Análise do erro médico em processos ético-profissionais: implicações na educação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, 2007 MARTIN, L. M. O erro médico e a má prática nos códigos brasileiros de ética médica, Revista Bioética, 2009. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 MOORE. Embriologia Clínica, 10ª ed.. Elsevier, RJ, 2016. MOORE et. al. Moore Anatomia Orientada para a Clínica, 7ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivo 1- Compreender a morfofisiologia da glândula suprarrenal; *Relação do glicorticoide com o metabolismo e a obesidade; *Eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal com o sistema imune; Morfofisiologia da glândula suprarrenal ANATOMIA DA GLÂNDULA SUPRARRENAL ↠ As glândulas adrenais são órgãos pares, em forma de pirâmide, situadas na parte superior dos rins (ad = próximo; renal = rim), onde são envolvidas por uma cápsula fibrosa e um coxim de gordura. Elas também são chamadas de glândulas supra-renais (supra = acima) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Cada uma localizada em cima de cada rim no espaço retroperitoneal. No adulto, cada glândula suprarrenal tem de 3 a 5 cm de altura, 2 a 3 cm de largura, um pouco menos de 1 cm de espessura, massa variando de 3,5 a 5 g e apenas metade do seu tamanho ao nascimento. Durante o desenvolvimento embrionário, as glândulas suprarrenais se diferenciam em duas regiões distintas de ponto de vista estrutural e funcional: um córtex da glândula suprarrenal grande, perifericamente localizado, que compreende 80 a 90% da glândula, e uma pequena medula da glândula suprarrenal, localizada centralmente (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As glândulas suprarrenais, assim como a glândula tireoide, são altamente vascularizadas. (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As glândulas supra-renais direita e esquerda não são imagens espelhares uma da outra; ao contrário, a supra- renal direita tem o formato de uma pirâmide e está apoiada diretamente no topo do rim direito, enquanto a supra-renal esquerda tem mais um formato de crescente e fica localizada ao longo da borda medial do rim esquerdo, entre o hilo e seu pólo superior (GARTNE, 3ª ed.). Øbs.: O córtex da glândula suprarrenal produz hormônios esteroides essenciais à vida. A perda total dos hormônios adrenocorticais leva à morte por desidratação e desequilíbrios eletrolíticos no período de poucos dias a 1 semana, a não ser que se comece prontamente a terapia de reposição hormonal. A medula da glândula suprarrenal produz três hormônios catecolaminas – norepinefrina, epinefrina e uma pequena quantidade de dopamina (TORTORA, 14ª ed.). ARTÉRIAS E VEIAS SUPRARRENAIS A função endócrina das glândulas suprarrenais torna necessária sua abundante irrigação. As artérias suprarrenais ramificam-se livremente antes de entrarem em cada glândula, de modo que 50 a 60 artérias penetram a cápsula que cobre toda a superfície das glândulas. As artérias suprarrenais têm três origens: (MOORE, 7ª ed.). Artérias suprarrenais superiores (6 a 8) das artérias frênicas inferiores; Artérias suprarrenais médias (= 1) da parte abdominal da aorta, perto do nível de origem da MAS; Artérias suprarrenais inferiores (= 1) das artérias renais; A drenagem venosa das glândulas suprarrenais se faz para veias suprarrenais calibrosas. A veia suprarrenal direita curta drena para a VCI, enquanto a veia suprarrenal esquerda, mais longa, que frequentemente se une à veia frênica inferior, drena para a veia renal esquerda (MOORE, 7ª ed.). HISTOLOGIA DA SUPRARRENAL Cortando-se o órgão a fresco, nota-se que ele é encapsulado e dividido nitidamente em duas camadas concêntricas: uma periférica espessa, de cor amarelada, denominada camada cortical ou córtex adrenal, e outra central menos volumosa, acinzentada, a camada medular ou medula adrenal (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Essas duas camadas podem ser consideradas dois órgãos distintos, de origens embriológicas diferentes, apenas unidos anatomicamente (JUNQUEIRA, 13ª ed.). APG 19 – “MAL NECESSÁRIO” ‘” 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O córtex tem origem no epitélio celomático, sendo, portanto, mesodérmico, enquanto a medula se origina de células da crista neural, isto é, tem origem neuroectodérmica (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As duas camadas apresentam funções e morfologia diferentes, embora seu aspecto histológico geral seja típico de uma glândula endócrina formada de células dispostas em cordões cercados por capilares sanguíneos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA ↠ As glândulas adrenais recebem várias artérias que entram por vários pontos ao seu redor. Os ramos dessas artérias formam um plexo subcapsular do qual se originam três grupos de vasos arteriais: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). artérias da cápsula; artérias do córtex, que se ramificam repetidamente entre as células da camada cortical e que acabam formando capilares sanguíneos que deságuam em vasos capilares da camada medular; artérias da medula, que atravessam o córtex e se ramificam, formando uma extensa rede de capilares na medula ↠ Há, portanto, um suprimento duplo de sangue para a medula, tanto arterial (diretamente pelas artérias medulares) como venoso (pelos capilares derivados das artérias do córtex). O endotélio capilar é fenestrado e muito delgado, havendo uma lâmina basal contínua abaixo do endotélio. Os capilares da medula, juntamente com vasos capilares que proveem o córtex, formam as veias medulares que se unem para constituir as veias adrenais ou suprarrenais. Essas veias em geral deságuam na veia cava inferior do lado direito ou na veia renal do lado esquerdo (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÓRTEX ADRENAL ↠ As células do córtex adrenal têm a ultraestrutura típica de células secretoras de esteroides em que a organela predominante é o retículo endoplasmático liso (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As células do córtex não armazenam os seus produtos de secreção em grânulos, pois a maior parte de seus hormônios esteroides é sintetizada após estímulo e secretada logo em seguida (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Os esteroides, sendo moléculas de baixo peso molecular e solúveis em lipídios, podem difundir-se pela membrana celular e não são excretados por exocitose (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Em virtude de diferenças na disposição e na aparência de suas células, o córtex adrenal pode ser subdividido em três camadas concêntricas cujos limites nem sempre são perfeitamente definidos em humanos: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). a zona glomerulosa; a zona fasciculada; zona reticulada. ↠ Essas camadas ocupam, respectivamente, em torno de 15%, 65% e 7% do volume total das glândulas adrenais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A zona glomerulosa se situa imediatamente abaixo da cápsula de tecido conjuntivo e é composta de células piramidaisdo diencéfalo e se dispõe nas paredes do III ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico, que o separa do tálamo (MACHADO, 3ª ed.). ↠ Lateralmente é limitado pelo subtálamo, anteriormente pela lâmina terminal e posteriormente pelo mesencéfalo. Apresenta também algumas formações anatômicas visíveis na face inferior do cérebro: o quiasma óptico, o túber cinéreo, o infundíbulo e os corpos mamilares (MACHADO, 3ª ed.). ↠ Trata-se de uma área muito pequena, mas apesar disso, o hipotálamo, por suas inúmeras e variadas funções, é uma das áreas mais importantes do sistema nervoso (MACHADO, 3ª ed.). DIVISÕES E NÚCLEOS DO HIPOTÁLAMO ↠ O hipotálamo é constituído fundamentalmente de substância cinzenta que se agrupa em núcleos, às vezes de difícil individualização. Percorrendo o hipotálamo, existem, ainda, sistemas variados de fibras, alguns muito conspícuos, como o fórnix. Este percorre de cima para baixo cada metade do hipotálamo, terminando no respectivo corpo mamilar. O fómix permite dividir o hipotálamo em uma área medial e outra lateral (MACHADO, 3ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ A área medial do hipotálamo, situada entre o fórnix e as paredes do III ventrículo, é rica em substância cinzenta e nela se localizam os principais núcleos do hipotálamo. A área lateral, situada lateralmente ao fórnix, contém menos corpos de neurônios e nela há predominância de fibras de direção longitudinal. A área lateral do hipotálamo é percorrida pelo feixe prosencefálico medial (MACHADO, 3ª ed.). ↠ Ele é composto por cerca de doze núcleos agrupados em quatro regiões principais: (TORTORA, 14ª ed.). A região mamilar (área hipotalâmica posterior), adjacente ao mesencéfalo, é a parte mais posterior do hipotálamo. Ela inclui os corpos mamilares e os núcleos hipotalâmicos posteriores. Os corpos mamilares são duas projeções pequenas e arredondadas que funcionam como estações de transmissão para reflexos relacionados com o olfato. A região tuberal (área hipotalâmica intermédia), a maior porção do hipotálamo, inclui os núcleos dorsomedial, ventromedial e arqueado, além do infundíbulo, que conecta a hipófise com o hipotálamo. A região supraóptica (área hipotalâmica rostral) está situada acima do quiasma óptico (ponto de cruzamento dos nervos ópticos) e contém os núcleos paraventricular, supraóptico, hipotalâmico anterior e supraquiasmático. A região pré-óptica, anterior à região supraóptica, é geralmente considerada como parte do hipotálamo porque ela participa, junto com ele, na regulação de certas atividades autônomas. Suas principais funções relacionadas ao seu papel homeostático são: controle do SNA, produção de hormônios, regulação dos padrões emocionais e comportamentais, regulação da alimentação, controle da temperatura corporal e regulação dos ritmos circadianos e níveis de consciência (TORTORA, 14ª ed.). ANATOMIA DA HIPÓFISE ↠ A glândula hipófise é uma estrutura em forma de ervilha com 1 a 1,5 cm de diâmetro e que se localiza na fossa hipofisial da sela turca do esfenoide (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A hipófise ou pituitária é um pequeno órgão que pesa cerca de 0,5 g no adulto (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Fixa-se ao hipotálamo por um pedículo, o infundíbulo, e apresenta duas partes anatômica e funcionalmente separadas: a adeno-hipófise (lobo anterior) e a neuro- hipófise (lobo posterior) (TORTORA, 14ª ed.). A hipófise lembra bastante um taco de golfe: a própria glândula forma a cabeça do taco, e o pedículo hipofisário, chamado infundíbulo (“funil”), forma a haste do taco. O infundíbulo conecta-se superiormente a uma parte do hipotálamo chamada túber cinéreo, situada entre o quiasma óptico, anteriormente, e os corpos mamilares, posteriormente (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A adeno-hipófise representa cerca de 75% do peso total da glândula e é composta por tecido epitelial. No adulto, a adeno-hipófise consiste em duas partes: a parte distal, que é a porção maior, e a parte tuberal que forma uma bainha ao redor do infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A neuro-hipófise é composta por tecido neural. Também consiste em duas partes: a parte nervosa, a porção bulbosa maior, e o infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Uma terceira região da glândula hipófise, chamada de parte intermédia, atrofia-se durante o desenvolvimento fetal humano e deixa de existir como um lobo separado nos adultos. Entretanto, algumas de suas células migram para partes adjacentes da adeno-hipófise, onde persistem (TORTORA, 14ª ed.). CONEXÕES COM A NEURO-HIPÓFISE O feixe hipotálamo-hipofisário é uma via nervosa constituída pelos axónios, que se estendem desde o hipotálamo, pelo infundíbulo, até à neurohipófise. Nos neurônios magnocelulares hipotalâmicos, localizados no corpo celular, ocorre no retículo endoplasmático a síntese da pré e pró-hormona da hormona anti-diurética (ADH) e da ocitocina (LIMA, 2015). O hipotálamo tem apenas conexões eferentes com a hipófise, que são feitas através dos tratos hipotálamo-hipofisário e túbero- infundibular: (MACHADO, 3ª ed.). Trato hipotálamo-hipofisário: é formado por fibras que se originam nos neurônios grandes (magnocelulares) dos núcleos supraóptico e paraventricular e terminam na neuro-hipófise. As fibras deste trato, que constituem os principais componentes estruturais da neuro-hipófise, são ricas em neurossecreção, transportando os hormônios vasopressina e ocitocina; Trato túbero-infundibular (ou túbero-hipofisário): é constituído de fibras que se originam em neurônios pequenos (parvicelulares) do núcleo arqueado e em áreas vizinhas do hipotálamo tuberal e terminam na eminência mediana e na haste infundibular. Essas fibras transportam os hormônios que ativam ou inibem as secreções dos hormônios da adeno-hipófise. SISTEMA PORTA HIPOFISÁRIO O sangue arterial chega à hipófise através de dois ramos da artéria carótida interna, uma das grandes artérias que fornecem sangue para o encéfalo (MARIEB, 7ª ed.). A artéria hipofisária superior irriga a adeno-hipófise e o infundíbulo, enquanto a artéria hipofisária inferior irriga a parte nervosa da neuro- hipófise. As veias dos amplos leitos capilares na hipófise drenam sangue para o seio cavernoso e para outros seios da dura-máter vizinhos (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As artérias hipofisárias superiores, ramos das artérias carótidas internas, levam sangue para o hipotálamo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Na junção da eminência mediana do hipotálamo e o infundíbulo, essas artérias se dividem em uma rede capilar chamada de plexo primário do sistema porta hipofisário. Do plexo primário, o sangue drena para as veias porto- hipofisárias que passam por baixo da parte externa do infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Na adenohipófise, as veias porto-hipofisárias se dividem mais uma vez e formam outra rede capilar chamada de plexo secundário do sistema porta hipofisário (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Acima do quiasma óptico há grupos de neurônios especializados chamados de células neurossecretoras (TORTORA, 14ª ed.). HISTOLOGIA DA HIPÓFISE ↠ A glândula é revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo, contínua com a rede de fibras reticulares que suporta as células do órgão (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ADENO-HIPÓFISE Pars distalis (lobo anterior) ↠ A pars distalis representa em torno de 75% da massa da hipófise. É formada por cordões e ilhas de células epiteliais cuboides ou poligonais produtoras de hormônios (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Os hormônios produzidos pelas células secretoras são armazenados em grânulos de secreção. Há na pars distalis um tipo de célula que se supõe não ser secretora. São 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck as células foliculoestelares, que constituem cerca de 10% das células dessa região da adeno-hipófise. Elas têm muitos prolongamentos, os quais estabelecem contato com outrasou colunares, organizadas em cordões que têm forma de arcos envolvidos por capilares sanguíneos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Essas células são as únicas, na glândula adrenal, capazes de secretar quantidade significativa de aldosterona porque contêm a enzima aldosterona sintase, que é necessária para sua síntese. A secreção dessas células é controlada, principalmente, pelas concentrações no líquido extracelular de angiotensina II e de potássio, os quais estimulam a secreção de aldosterona. (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A região seguinte é chamada zona fasciculada por causa do arranjo das células em cordões de uma ou duas células de espessura, retos e regulares, semelhantes a feixes, entremeados por capilares e dispostos perpendicularmente à superfície do órgão. As células da zona fasciculada são poliédricas, contêm um grande número de gotículas de lipídios no citoplasma e aparecem vacuoladas em preparações histológicas rotineiras devido à dissolução de lipídios durante a preparação do tecido. Por causa dessa vacuolização, essas células são também chamadas espongiócitos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Secreta os glicocorticoides cortisol e corticosterona, bem como pequenas quantidades de androgênios e estrogênios adrenais. A secreção dessas células é controlada, em grande parte, pelo eixo hipotalâmico-hipofisário por meio do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A zona reticulada, a região mais interna do córtex situada entre a zona fasciculada e a medula, contém células dispostas em cordões irregulares que formam uma rede anastomosada. Essas células são menores que as das outras duas camadas e contêm menos gotas de lipídios que as da zona fasciculada. Grânulos de pigmento de lipofuscina são grandes e bastante numerosos nessas células em adultos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Secreta os androgênios adrenais desidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona, bem como pequenas quantidades de estrogênios e alguns glicocorticoides (GUYTON, 13ª ed.). MEDULA ADRENAL ↠ A medula adrenal é composta de células poliédricas organizadas em cordões ou aglomerados arredondados, sustentados por uma rede de fibras reticulares (JUNQUEIRA, 13ª ed.).. ↠ A medula supra-renal, que se desenvolve a partir de células das cristas neurais, compreende duas populações de células parenquimatosas: células cromafins, as quais produzem as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), e células ganglionares simpáticas, que estão dispersas por todo o tecido conjuntivo da medula (GARTNER, 3ª ed.). As células do parênquima se originam de células da crista neural, as quais aparecem durante a formação do tubo neural na vida embrionária, e que migraram para o interior da adrenal, constituindo lá a camada medular (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O citoplasma das células da medular têm grânulos de secreção que contêm epinefrina ou norepinefrina, pertencentes a uma classe de substâncias denominadas catecolaminas. Os grânulos também contêm trifosfato de adenosina (ATP), proteínas chamadas cromograninas (que podem servir como proteína de ligação para catecolaminas), dopamina beta-hidroxilase (que converte dopamina em norepinefrina) e peptídios semelhantes a opiáceos (encefalinas). Há evidências que indicam que a epinefrina e a norepinefrina são secretadas por diferentes células da medula (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Todas as células da medula adrenal são inervadas por terminações colinérgicas de neurônios simpáticos pré-ganglionares (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck FISIOLOGIA DA GLÂNDULA SUPRARRENAL FISIOLOGIA DA MEDULA DA GLÂNDULA SUPRARRENAL A região interna da glândula suprarrenal, a medula da glândula suprarrenal, consiste em um gânglio simpático da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) modificado. Essa área se desenvolve a partir do mesmo tecido embrionário de todos os outros gânglios simpáticos, porém suas células, que não possuem axônios, formam grupos em torno de grandes vasos sanguíneos. Em vez de liberar um neurotransmissor, as células da medula da glândula suprarrenal secretam hormônios. As células produtoras de hormônio, chamadas de células cromafins, são inervadas por neurônios pré-ganglionares simpáticos do SNA. Uma vez que o SNA exerce controle direto sobre as células cromafins, a liberação de hormônio pode ocorrer com muita rapidez (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os dois principais hormônios sintetizados pela medula suprarrenal são a epinefrina e a norepinefrina, também chamadas de adrenalina e noradrenalina, respectivamente. As células cromafins da medula da glândula suprarrenal secretam quantidades desiguais desses hormônios – cerca de 80% de epinefrina e 20% de norepinefrina. Os hormônios da medula da glândula suprarrenal intensificam respostas simpáticas que ocorrem em outras partes do corpo (TORTORA, 14ª ed.). CONTROLE DE SECREÇÃO DE EPINEFRINA E NOREPINEFRINA ↠ Em situações de estresse e durante a prática de exercícios, impulsos provenientes do hipotálamo acionam os neurônios pré-ganglionares simpáticos que, por sua vez, estimulam as células cromafins a secretarem epinefrina e norepinefrina. Esses dois hormônios intensificam a resposta de luta ou fuga. Ao aumentar a frequência e a força de contração cardíacas, a epinefrina e a norepinefrina elevam o débito cardíaco e a pressão arterial. Além disso, aumentam o fluxo de sangue para o coração, o fígado, os músculos esqueléticos e o tecido adiposo; dilatam as vias respiratórias para os pulmões e elevam os níveis sanguíneos de glicose e ácidos graxos (TORTORA, 14ª ed.). FISIOLOGIA DO CÓRTEX DA GLÂNDULA SUPRARRENAL As três classes dos hormônios corticosteróides — mineralocorticóides, glicocorticóides e andrógenos—são todas sintetizadas a partir do colesterol, o principal componente das lipoproteínas de baixa densidade (GURTNER, 3ª ed.). OS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS SÃO ESTEROIDES DERIVADOS DO COLESTEROL Todos os hormônios esteroides humanos, incluindo os produzidos pelo córtex adrenal, são sintetizados a partir do colesterol. Embora as células do córtex adrenal possam apresentar síntese, de novo, de pequenas quantidades de colesterol a partir do acetato, aproximadamente 80% do colesterol usado para a síntese dos esteroides é fornecido por lipoproteínas de baixa densidade (LDL) no plasma circulante (GUYTON, 13ª ed.). As LDLs, com alta concentração de colesterol, difundem-se do plasma para o líquido intersticial e ligam-se a receptores específicos, contidos em estruturas chamadas depressões revestidas na membrana das células adrenocorticais. As depressões revestidas são, então, internalizadas por endocitose, formando vesículas, que, por fim, fundem-se com lisossomos celulares e liberam o colesterol que pode ser usado para sintetizar os hormônios esteroides adrenais (GUYTON, 13ª ed.). O transporte do colesterol para as células adrenais é regulado por mecanismos de feedback que podem alterar, acentuadamente, a quantidade disponível para a síntese dos esteroides. Por exemplo, o ACTH, que estimula a síntese de esteroides adrenais, aumenta o número de receptores de LDL nas células adrenocorticais, bem como a atividade das enzimas que liberam o colesterol da LDL (GUYTON, 13ª ed.). Uma vez que o colesterol entra na célula, é transportado para as mitocôndrias, onde é clivado pela enzima colesterol desmolase, formando pregnenolona; essa é a etapa limitante na formação de esteroides adrenais (GUYTON, 13ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck MINERALOCORTICOIDES Aldosterona (muito potente; responsável por cerca de 90% do total da atividade mineralocorticoide). Desoxicorticosterona (1/30 da potência da aldosterona, e secretada em quantidades muito pequenas). Corticosterona (fraca atividade mineralocorticoide). GLICOCORTICOIDES Cortisol (muito potente; responsável por aproximadamente95% do total da atividade glicocorticoide). Corticosterona (responsável por volta de 4% do total da atividade glicocorticoide, mas muito menos potente que o cortisol). OS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS LIGAM-SE A PROTEÍNAS PLASMÁTICAS Aproximadamente 90% a 95% do cortisol plasmático liga-se a proteínas plasmáticas, especialmente uma globulina chamada globulina ligadora de cortisol ou transcortina, e, em menor quantidade, à albumina. Esse alto grau de ligação às proteínas plasmáticas reduz a velocidade de eliminação do cortisol do plasma; portanto, o cortisol apresenta uma meia-vida relativamente longa, de 60 a 90 minutos (GUYTON, 13ª ed.). OS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS SÃO METABOLIZADOS NO FÍGADO Os esteroides adrenais são degradados, principalmente, pelo fígado e conjugados, formando, especialmente, ácido glicurônico e, em menor quantidade, sulfatos. Essas substâncias são inativas, sem apresentar atividades mineralocorticoides ou glicocorticoides. Cerca de 25% desses conjugados são excretados na bile e, em seguida, nas fezes. Os conjugados restantes formados pelo fígado entram na circulação, mas não são ligados a proteínas plasmáticas, sendo muito solúveis no plasma e, portanto, rapidamente filtrados pelos rins e excretados na urina (GUYTON, 13ª ed.). MINERALOCORTICOIDES ↠ A principal função dos mineralocorticóides é a regulação das concentrações de eletrólitos (sais minerais) no líquido extracelular. Embora existam diversos mineralocorticóides, a aldosterona é o mais potente e representa mais do que 95% dos mineralocorticóides produzidos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A aldosterona é o principal mineralocorticoide; regula a homeostasia de dois íons minerais – íons sódio (Na+) e potássio (K+) – e ajuda a ajustar a pressão arterial e o volume de sangue. A aldosterona também promove a excreção de H+ na urina; essa remoção de ácidos do corpo pode ajudar a evitar a acidose (pH abaixo de 7,35) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A via renina-angiotensina-aldosterona (RAA) controla a secreção de aldosterona: (TORTORA, 14ª ed.). Desidratação, deficiência de Na+ e hemorragia são estímulos que iniciam a via da renina- angiotensina-aldosterona. Essas condições promovem a diminuição do volume sanguíneo. O volume sanguíneo reduzido promove a queda da pressão arterial. A pressão arterial mais baixa estimula certas células renais, chamadas de células justaglomerulares, a secretar a enzima renina. O nível de renina no sangue sobe. A renina converte a angiotensina, uma proteína plasmática produzida pelo fígado, em angiotensina I. Sangue contendo níveis mais altos de angiotensina I circula pelo corpo. Conforme o sangue flui pelos capilares, sobretudo dos pulmões, a enzima conversora de angiotensina (ECA) converte angiotensina I no hormônio angiotensina II. O nível sanguíneo de angiotensina II sobe. A angiotensina II estimula o córtex da glândula suprarrenal a secretar aldosterona. Sangue contendo níveis mais elevados de aldosterona circula para os rins. Nos rins, a aldosterona aumenta a reabsorção de Na+, que, por sua vez, promove a reabsorção de água por osmose. Em consequência disso, perde-se menos água na urina. A aldosterona também estimula os rins a intensificarem a secreção de K+ e H+ na urina. Com a reabsorção mais intensa de água pelos rins, o volume de sangue aumenta. Na medida em que o volume de sangue aumenta, a pressão arterial se eleva ao normal. A angiotensina II também estimula a contração da musculatura lisa das paredes das arteríolas. A constrição resultante das arteríolas aumenta a pressão sanguínea e, desse modo, ajuda a elevar a pressão de volta ao normal. Além da angiotensina II, um segundo fator que estimula a secreção de aldosterona é uma concentração maior de K+ no sangue (ou líquido intersticial). A diminuição no nível sanguíneo de K+ produz o efeito oposto. MECANISMOS QUE REGULAM A SECREÇÃO DA ALDOSTERONA Peptídeo atrial natriurético (PAN): O peptídeo atrial natriurético, um hormônio secretado pelo coração quando a pressão sangüínea aumenta, ajusta precisamente a pressão sanguínea e o equilíbrio de sódio e água do corpo. 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Seu principal efeito é inibir o sistema renina-angiotensina. Ele bloqueia a secreção de renina e de aldosterona e inibe os outros mecanismos induzidos pela angiotensina, que aumentam a reabsorção de água e Na+. ANDROGÊNIOS ADRENAIS ↠ Diversos hormônios sexuais masculinos moderadamente ativos, chamados androgênios adrenais (dos quais o mais importante é a desidroepiandrosterona), são continuamente secretados pelo córtex adrenal, especialmente durante a vida fetal (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Normalmente, os androgênios adrenais têm um efeito fraco em humanos. É possível que parte do desenvolvimento precoce dos órgãos sexuais masculinos resulte da secreção, na infância, dos androgênios adrenais. Eles também exercem efeitos leves em mulheres, não apenas antes da puberdade, mas também ao longo da vida. Uma boa parte do crescimento dos pelos pubianos e axilares, em mulheres, resulta da ação desses hormônios (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Em tecidos extra-adrenais, alguns dos androgênios adrenais são convertidos em testosterona, o principal hormônio sexual masculino, que, provavelmente, é responsável por grande parte de sua atividade androgênica (GUYTON, 13ª ed.). GLICOCORTICOIDES ↠ Essenciais para a vida, os glicocorticóides influenciam o metabolismo energético da maioria das células do corpo e nos ajudam a resistir ao estresse. Sob circunstâncias normais, eles ajudam o corpo a se adaptar à ingestão intermitente de alimento, mantendo os níveis de glicose praticamente constantes, e mantêm a pressão sanguínea, aumentando a ação dos vasoconstritores. Contudo, um estresse importante devido a hemorragias, infecções ou traumas físicos ou emocionais provoca um grande aumento na liberação dos glicocorticóides, os quais ajudam a controlar a crise (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os hormônios glicocorticóides incluem o cortisol (hidrocortisona), a cortisona e a corticosterona, mas apenas o cortisol é secretado em quantidades significativas em humanos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Como para todos os outros hormônios esteróides, o mecanismo básico de ação dos glicocorticóides nas células-alvo é modificar a atividade gênica (MARIEB, 3ª ed.). SECREÇÃO DE CORTISOL É CONTROLADA PELO ACTH ↠ A secreção de glicocorticóides é regulada por retroalimentação negativa. A liberação de cortisol é estimulada pelo ACTH, o qual, por sua vez, é estimulado pelo hormônio de liberação hipotalâmico (CRH). Níveis aumentados de cortisol agem por meio de retroalimentação tanto no hipotálamo como na hipófise anterior, evitando a liberação de CRH e interrompendo a secreção de ACTH e cortisol (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os picos de liberação de cortisol, regulados pelos padrões de alimentação e atividade, ocorrem em um perfil definido ao longo do dia e da noite. Os níveis de cortisol alcançam o pico um pouco antes de acordarmos pela manhã. Os níveis mais baixos ocorrem durante a noite, um pouco antes ou logo depois de conciliarmos o sono. O ritmo normal de secreção do cortisol é interrompido pelo estresse agudo de qualquer tipo, quando o sistema nervoso simpático supera os efeitos inibitórios (normais) dos níveis elevados de cortisol e desencadeia a liberação de CRH. O aumento resultante nos níveis sanguíneos de ACTH gera uma grande liberação de cortisol pelo córtex supra-renal (MARIEB, 3ª ed.). 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O principal efeito do ACTH nas células adrenocorticais é a ativação da adenilil ciclase na membrana celular. Essa ativação induz a formação de AMPc no citoplasma celular, atingindo seu efeito máximo em cerca de 3 minutos. O AMPc, por sua vez, ativa as enzimas intracelulares que causam a formação dos hormônios adrenocorticais. Esse éoutro exemplo do AMPc como um sistema sinalizador de segundo mensageiro (GUYTON, 13ª ed.). O mais importante de todos os estágios estimulados por ACTH no controle da secreção adrenocortical é a ativação da enzima proteina cinase A, que causa a conversão inicial do colesterol em pregnenolona. Essa é a “etapa limitante” da produção de todos os hormônios adrenocorticais, o que explica por que o ACTH é, normalmente, necessário para que qualquer hormônio adrenocortical seja formado. O estímulo em longo prazo do córtex adrenal pelo ACTH não apenas aumenta a atividade secretora, mas também provoca hipertrofia e proliferação das células adrenocorticais, especialmente nas zonas fasciculada e reticular, onde o cortisol e os androgênios são secretados (GUYTON, 13ª ed.). EFEITOS DO CORTISOL NO METABOLISMO ↠Todos os efeitos metabólicos do cortisol têm o objetivo de prevenir a hipoglicemia. Globalmente, o cortisol é catabólico (SILVERTHORN, 7ª ed.). EFEITOS NO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS ESTÍMULO DA GLICONEOGÊNESE ↠ O efeito metabólico mais bem conhecido do cortisol e de outros glicocorticoides é sua capacidade de estimular a gliconeogênese (i. e., a formação de carboidratos a partir de proteínas e algumas outras substâncias) pelo fígado, cuja atividade, frequentemente, aumenta de 6 a 10 vezes (GUYTON, 13ª ed.). O cortisol aumenta as enzimas necessárias para a conversão de aminoácidos em glicose pelas células hepáticas. Isso resulta do efeito dos glicocorticoides na ativação da transcrição de DNA nos núcleos das células hepáticas, ação semelhante à da aldosterona nas células tubulares renais, com a formação de mRNA, que, por sua vez, geram o conjunto de enzimas necessárias para a gliconeogênese. O cortisol provoca a mobilização de aminoácidos a partir dos tecidos extra-hepáticos, principalmente dos músculos. Como resultado, mais aminoácidos são disponibilizados no plasma para entrar no processo de gliconeogênese pelo fígado e, assim, promover a formação de glicose. REDUÇÃO DA UTILIZAÇÃO CELULAR DE GLICOSE ↠ O cortisol também provoca redução moderada da utilização de glicose pela maior parte das células do organismo. Embora a causa exata dessa redução não seja conhecida, um efeito importante do cortisol é a diminuição da translocação dos transportadores de glicose GLUT 4 para a membrana celular, em especial nas células do músculo esquelético, o que conduz à resistência à insulina (GUYTON, 13ª ed.). Tanto o aumento da gliconeogênese quanto a redução moderada da velocidade de utilização da glicose pelas células provocam a elevação da concentração sanguínea de glicose. Essa elevação, por sua vez, estimula a secreção de insulina. Os maiores níveis plasmáticos de insulina, entretanto, não são tão efetivos na manutenção da glicose plasmática como em condições normais. Pelos motivos discutidos anteriormente, os altos níveis de glicocorticoides reduzem a sensibilidade de muitos tecidos, especialmente do músculo esquelético e tecido adiposo, aos efeitos estimulantes da insulina na captação e utilização da glicose. Além dos possíveis efeitos diretos do cortisol na expressão dos transportadores de glicose e nas enzimas envolvidas na regulação da glicose, os altos níveis de ácidos graxos, causados pelo efeito dos glicocorticoides na mobilização de lipídios a partir dos depósitos de gordura, podem prejudicar as ações da insulina nos tecidos (GUYTON, 13ª ed.). Em alguns casos, o aumento da concentração sanguínea de glicose é tão grande (50% ou mais acima do normal), que a condição é chamada diabetes adrenal (GUYTON, 13ª ed.). EFEITOS NO METABOLISMO DE PROTEÍNAS REDUÇÃO DAS PROTEÍNAS CELULARES ↠ Um dos principais efeitos do cortisol nos sistemas metabólicos do organismo é a redução dos depósitos de proteínas em, praticamente, todas as células corporais, 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck exceto no fígado. Essa redução é causada tanto pela diminuição da síntese de proteínas como pelo aumento do catabolismo das proteínas já presentes nas células. Ambos os efeitos podem resultar, parcialmente, da redução do transporte de aminoácidos para os tecidos extra-hepáticos (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O cortisol também reduz a formação de RNA e a subsequente síntese proteica em muitos tecidos extra- hepáticos, especialmente nos músculos e tecidos linfoides (GUYTON, 13ª ed.). Na presença de grande excesso de cortisol, os músculos podem ficar tão fracos, que o indivíduo não consegue se levantar da posição agachada. Além disso, as funções imunológicas dos tecidos linfoides podem ser reduzidas até apenas uma fração do normal (GUYTON, 13ª ed.). EFEITOS NO METABOLISMO DA GORDURA MOBILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS ↠ Quase da mesma maneira como promove a mobilização de aminoácidos dos músculos, o cortisol mobiliza os ácidos graxos do tecido adiposo. Essa mobilização eleva a concentração de ácidos graxos livres no plasma, o que também aumenta sua utilização para a geração de energia. O cortisol também parece exercer efeito direto no aumento da oxidação de ácidos graxos nas células (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O mecanismo pelo qual o cortisol promove a mobilização de ácidos graxos não é completamente compreendido. Entretanto, parte do efeito, provavelmente, resulta do transporte menor de glicose para as células adiposas. Lembre-se que o a-glicerofosfato derivado da glicose é necessário para a deposição e manutenção de triglicerídeos nessas células. Em sua ausência, as células adiposas começam a liberar ácidos graxos (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A elevada mobilização de gorduras pelo cortisol, combinada à maior oxidação de ácidos graxos nas células, contribui para que os sistemas metabólicos celulares deixem de utilizar glicose para a geração de energia e passem a utilizar ácidos graxos em momentos de jejum ou outros estresses. Esse mecanismo do cortisol, entretanto, precisa de muitas horas para ficar plenamente funcional (GUYTON, 13ª ed.). Ø ËXÇËSSØ DË ÇØRTÏSØL ÇÅÛSÅ ØBËSÏDÅDË: Apesar de o cortisol poder provocar um grau moderado de mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, em muitas pessoas com excesso de secreção de cortisol se desenvolve um tipo peculiar de obesidade, com deposição excessiva de gordura no tórax e na cabeça, gerando sinais clínicos chamados “giba de búfalo” e “face em lua cheia”. Embora sua causa seja desconhecida, foi sugerido que essa obesidade resulta do estímulo excessivo à ingestão alimentar, de modo que a gordura seja gerada em alguns tecidos mais rapidamente do que é mobilizada e oxidada (GUYTON, 13ª ed.). CORTISOL É IMPORTANTE NA RESISTÊNCIA AO ESTRESSE E À INFLAMAÇÃO ↠ Praticamente, qualquer tipo de estresse físico ou neurogênico provoca aumento imediato e acentuado da secreção de ACTH pela hipófise anterior, seguido, minutos depois, por grande aumento da secreção adrenocortical de cortisol (GUYTON, 13ª ed.). Embora a secreção de cortisol, frequentemente, aumente muito em situações de estresse, não sabemos por que isso representa benefício significativo para o animal. Uma possibilidade é que os glicocorticoides causam rápida mobilização de aminoácidos e gorduras a partir de suas reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia e para a síntese de novos compostos, incluindo a glicose, necessários aos diferentes tecidos do organismo (GUYTON, 13ª ed.). EFEITOS ANTI-INFLAMATÓRIOS DOS ALTOS NÍVEIS DE CORTISOL ↠ Quando os tecidos são lesados por trauma, infecção bacteriana ou outros fatores, quase sempre ficam “inflamados”. A administração de grande quantidade de cortisol, geralmente, pode bloquear essa inflamação ou até mesmo reverter seus efeitos, uma vez iniciada (GUYTON, 13ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck A inflamação tem cinco estágios principais: (GUYTON, 13ª ed.). liberação por células de tecidos lesados de substâncias químicas que ativam o processo inflamatório,histamina, bradicinina, enzimas proteolíticas, prostaglandinas e leucotrienos; aumento do fluxo sanguíneo na área inflamada, causado por alguns dos produtos liberados pelos tecidos, que é chamado eritema; extravasamento de grande quantidade de plasma quase puro dos capilares para as áreas lesadas, devido ao aumento da permeabilidade capilar, seguido pela coagulação do líquido tecidual, provocando, assim, edema não deprimível; infiltração da área por leucócitos; após dias ou semanas, o crescimento de tecido fibroso que, frequentemente, contribui para o processo regenerativo. ↠ Quando uma grande quantidade de cortisol é secretada ou injetada na pessoa, o glicocorticoide exerce dois efeitos anti-inflamatórios básicos: (GUYTON, 13ª ed.). o bloqueio dos estágios iniciais do processo inflamatório, antes mesmo do início da inflamação considerável; se a inflamação já se iniciou, a rápida resolução da inflamação e o aumento da velocidade da regeneração. O CORTISOL IMPEDE O DESENVOLVIMENTO DA INFLAMAÇÃO ↠ O cortisol apresenta os seguintes efeitos na prevenção da inflamação: (GUYTON, 13ª ed.). O cortisol estabiliza as membranas dos lisossomos. Essa estabilização é um dos mais importantes efeitos anti-inflamatórios porque torna muito mais difícil a ruptura das membranas dos lisossomos intracelulares. Portanto, a maior parte das enzimas proteolíticas liberadas por células lesadas que provocam inflamação, principalmente armazenadas nos lisossomos, é liberada em quantidades muito reduzidas. O cortisol reduz a permeabilidade dos capilares, provavelmente como efeito secundário da redução da liberação de enzimas proteolíticas. Essa redução da permeabilidade impede a perda de plasma para os tecidos. O cortisol reduz a migração de leucócitos para a área inflamada e a fagocitose das células lesadas. Esses efeitos resultam provavelmente do fato de o cortisol diminuir a formação de prostaglandinas e leucotrienos que aumentariam a vasodilatação, a permeabilidade capilar e a mobilidade dos leucócitos. O cortisol suprime o sistema imunológico, reduzindo acentuadamente a reprodução de linfócitos. Os linfócitos T são, especificamente, suprimidos. Por sua vez, a menor quantidade de células T e anticorpos na área inflamada reduz as reações teciduais que promoveriam o processo inflamatório. O cortisol atenua a febre, principalmente por reduzir a liberação de interleucina 1 a partir dos leucócitos, que é um dos principais estimuladores do sistema de controle hipotalâmico da temperatura. A diminuição da temperatura, por sua vez, reduz o grau de vasodilatação. ↠ Assim, o cortisol apresenta um efeito praticamente global na redução de todos os aspectos do processo inflamatório (GUYTON, 13ª ed.). O CORTISOL PROVOCA A RESOLUÇÃO DA INFLAMAÇÃO ↠ Até mesmo depois do estabelecimento completo da inflamação, a administração de cortisol pode, frequentemente, reduzi-la dentro de horas ou alguns dias. O efeito imediato é o bloqueio da maior parte dos fatores que favorecem a inflamação (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Além disso, ocorre aumento da regeneração. Provavelmente, isso resulta dos mesmos basicamente indefinidos fatores que permitem que o organismo resista a muitos outros tipos de estresse físico quando uma grande quantidade de cortisol é secretada. Talvez, isso resulte: (GUYTON, 13ª ed.). da mobilização de aminoácidos e do uso destes ácidos para reparar os tecidos lesados; do estímulo da gliconeogênese que disponibiliza maior quantidade de glicose nos sistemas metabólicos essenciais; da maior disponibilidade de ácidos graxos para a produção de energia celular; de algum outro efeito do cortisol na inativação ou remoção de produtos inflamatórios. O CORTISOL BLOQUEIA A RESPOSTA INFLAMATÓRIA A REAÇÕES ALÉRGICAS ↠ A reação alérgica básica entre antígeno e anticorpo não é afetada pelo cortisol, e até mesmo alguns efeitos secundários da reação alérgica ainda ocorrem. Entretanto, como a resposta inflamatória é responsável por muitos dos efeitos graves e, às vezes, letais das reações alérgicas, a administração de cortisol, seguida por seu efeito na redução da inflamação e a liberação de 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck produtos inflamatórios, pode salvar a vida do paciente. Por exemplo, o cortisol previne efetivamente o choque ou a morte por anafilaxia (GUYTON, 13ª ed.). EFEITO NAS CÉLULAS SANGUÍNEAS E NA IMUNIDADE EM DOENÇAS INFECCIOSAS ↠ O cortisol reduz o número de eosinófilos e linfócitos no sangue; esse efeito começa alguns minutos após a injeção de cortisol e fica acentuado após algumas horas. De fato, o achado de linfocitopenia ou eosinopenia é um critério diagnóstico importante na superprodução de cortisol pelas adrenais (GUYTON, 13ª ed.). SÍNDROME DE CUSHING A hipersecreção pelo córtex adrenal causa uma cascata complexa de efeitos hormonais, chamada síndrome de Cushing. Muitas das anormalidades dessa síndrome se devem à quantidade anormal de cortisol, mas a secreção excessiva de androgênios também pode causar efeitos importantes (GUYTON, 13ª ed.). A secreção excessiva de ACTH é a causa mais comum de síndrome de Cushing e se caracteriza por altos níveis plasmáticos de ACTH e cortisol. A superprodução primária de cortisol pelas adrenais é responsável por 20% a 25% dos casos clínicos de síndrome de Cushing, estando, em geral, associada aos níveis reduzidos de ACTH, devido à inibição por feedback da secreção de ACTH pela hipófise anterior, causada pelo cortisol (GUYTON, 13ª ed.). A síndrome de Cushing também pode ocorrer quando grandes doses de glicocorticoides são administradas durante longos períodos, por motivos terapêuticos. (GUYTON, 13ª ed.). Uma característica especial da síndrome de Cushing é a mobilização de gordura da parte inferior do corpo e sua deposição concomitante nas regiões torácica e epigástrica, gerando aparência de giba de búfalo. A secreção excessiva de esteroides também produz aparência edematosa da face, e a potência androgênica de alguns dos hormônios, às vezes, causa acne e hirsutismo (crescimento excessivo dos pelos faciais). A aparência da face é, frequentemente, descrita como uma “lua cheia” (GUYTON, 13ª ed.). Referências: MOORE et. al. Moore Anatomia Orientada para a Clínica, 7ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em Cores, 3ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2007. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a morfologia das mamas; 2- Compreender a fisiologia da lactação; Morfologia das mamas LOCALIZAÇÃO ↠ Cada mama é uma projeção hemisférica de tamanho variável anterior aos músculos peitoral maior e serrátil anterior, e ligada a eles por uma camada de fáscia composta por tecido conjuntivo denso irregular (TORTORA, 14ª ed.). As glândulas mamárias, os órgãos de produção de leite, estão localizadas dentro das mamas (SEELY, 10ª ed.). O papel biológico das glândulas mamárias é produzir leite para nutrir um bebê recém-nascido; assim, elas são importantes apenas quando a reprodução já ocorreu. Do ponto de vista do desenvolvimento, as glândulas mamárias são glândulas sebáceas modificadas que são parte da pele, ou do sistema tegumentar (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As mamas femininas variam em tamanho, formato e simetria — até mesmo entre as duas mamas de uma pessoa. As faces superiores achatadas não mostram demarcação nítida da face anterior da parede torácica,mas as margens laterais e inferiores são bem definidas. Muitas vezes há proeminência das veias na superfície das mamas, principalmente durante a gravidez (MOORE, 7ª ed.). Anatomicamente as mamas estão situadas entre as camadas superficial e profunda da pele, as mamas estendem- se entre a segunda e a sexta costelas e do esterno à linha axilar média (VIEIRA; MARTINS, 2018) QUADRANTES MAMÁRIOS ↠ A superfície da mama é dividida em quatro quadrantes para localização anatômica e descrição de tumores e cistos. Por exemplo, o médico pode escrever no prontuário: “Foi palpada massa irregular, de consistência dura, no quadrante superior medial da mama na posição de 2 horas, distante cerca 2,5 cm da margem da aréola.” (MOORE, 7ª ed.). ESTRUTURAS ↠ Ligeiramente abaixo do centro de cada mama, há um anel de pele pigmentado, a aréola, a qual circunda a papila mamária (mamilo) central que protrui (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A papila mamária tem uma série de aberturas pouco espaçadas de ductos chamados ductos lactíferos, dos quais emergem leite (TORTORA, 14ª ed.). Grandes glândulas sebáceas na aréola da mama a tornam levemente rugosa e produzem sebo que reduz as rachaduras da pele da papila mamária. O sistema neurovegetativo controla as fibras de músculo liso na aréola e no mamilo, tornando a papila mamária ereta quando estimulada por estímulo tátil ou sexual e quando exposta ao frio (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Internamente, cada glândula mamária consiste de 15 a 25 lobos que se distribuem radialmente em torno da papila mamária, na qual se abrem. Os lobos são acolchoados e separados uns dos outros por tecido conjuntivo fibroso e gordura (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo interlobar forma ligamentos suspensores que unem as mamas à fáscia muscular subjacente e à derme sobrejacente. Como sugerido pelo seu nome, os ligamentos suspensores fornecem a sustentação natural para as mamas, como um sutiã embutido (MARIEB, 3ª ed.). Esses ligamentos tornam-se mais soltos com a idade ou com a tensão excessiva que pode ocorrer na prática prolongada de corrida ou atividade aeróbica de alto impacto. Utilizar um sutiã com bom apoio pode retardar este processo e ajudar a manter a força dos ligamentos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Dentro de cada lobo, estão unidades menores chamadas de lóbulos, os quais contêm alvéolos glandulares que produzem leite quando uma mulher está lactando. Essas glândulas alveolares compostas passam o leite para ÅPG 20 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck os ductos lactíferos, os quais se abrem para o exterior na papila mamária (MARIEB, 3ª ed.). A contração das células mioepiteliais em torno dos alvéolos ajuda a impulsionar o leite em direção às papilas mamárias (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Logo abaixo da aréola, cada ducto tem uma região dilatada chamada de seio lactífero onde o leite se acumula durante a amamentação (MARIEB, 3ª ed.). Próximo do mamilo, os ductos mamários se expandem discretamente para formar seios chamados seios lactíferos, onde um pouco de leite pode ser armazenado antes de ser drenado para um ducto lactífero. Cada ducto lactífero normalmente transporta leite de um dos lobos para o exterior (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Em mulheres não-grávidas, a estrutura glandular das mamas é pouco desenvolvida e o sistema de ductos é rudimentar; portanto, o tamanho da mama é principalmente devido à quantidade de depósitos de gordura (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Antes da puberdade, a estrutura geral das mamas é semelhante em ambos os sexos. As mamas possuem um sistema glandular rudimentar, que consiste principalmente em ductos com alvéolos esparsos. As mamas femininas começam a crescer durante a puberdade, sobretudo sob a influência do estrogênio e da progesterona. Aumento da sensibilidade ou dor nas mamas muitas vezes acompanham esse crescimento (SEELY, 10ª ed.). ↠ Os homens muitas vezes experimentam as mesmas sensações durante a puberdade precoce, e suas mamas podem até mesmo desenvolver pequenos inchaços; no entanto, em geral, esses sintomas desaparecem rapidamente. Em raras ocasiões, as mamas de um homem podem crescer em demasia, uma condição chamada ginecomastia (SEELY, 10ª ed.). SUPRIMENTO SANGUÍNEO ↠ A irrigação arterial da mama provém de: (MOORE, 7ª ed.). Ramos mamários mediais de ramos perfurantes e ramos intercostais anteriores da artéria torácica interna, originados da artéria subclávia Artérias torácica lateral e toracoacromial, ramos da artéria axilar Artérias intercostais posteriores, ramos da parte torácica da aorta no 2º, 3º e 4º espaços intercostais. ↠ A drenagem venosa da mama se faz principalmente para a veia axilar, mas há alguma drenagem para a veia torácica interna (MOORE, 7ª ed.). DRENAGEM LINFÁTICA ↠ A drenagem linfática da mama é importante devido ao seu papel na metástase de células cancerosas. A linfa passa da papila, da aréola e dos lóbulos da glândula mamária para o plexo linfático subareolar. Desse plexo: (MOORE, 7ª ed.). A maior parte da linfa (>75%), sobretudo dos quadrantes laterais da mama, drena para os linfonodos axilares, inicialmente para os linfonodos anteriores ou peitorais. A maior parte da linfa remanescente, sobretudo dos quadrantes mediais da mama, drena para os linfonodos paraesternais ou para a mama oposta, enquanto a linfa dos quadrantes inferiores flui 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck profundamente para os linfonodos abdominais (linfonodos frênicos inferiores subdiafragmáticos). ↠ A linfa da pele da mama, com exceção da papila e da aréola, drena para os linfonodos axilares, cervicais profundos inferiores e infraclaviculares ipsilaterais e, também, para os linfonodos paraesternais de ambos os lados (MOORE, 7ª ed.). A linfa dos linfonodos axilares drena para os linfonodos claviculares (infraclaviculares e supraclaviculares) e daí para o tronco linfático subclávio, que também drena a linfa do membro superior. A linfa dos linfonodos paraesternais entra nos troncos linfáticos broncomediastinais, que também drena linfa das vísceras torácicas. A interrupção dos troncos linfáticos varia; tradicionalmente, esses troncos se fundem um ao outro e com o tronco linfático jugular, drenando a cabeça e o pescoço para formar um ducto linfático direito curto no lado direito ou entrando no ducto torácico do lado esquerdo. No entanto, em muitos casos (talvez na maioria), os troncos se abrem independentemente na junção das veias jugular interna e subclávia, no ângulo venoso direito ou esquerdo, que formam as veias braquiocefálicas direita e esquerda. Em alguns casos, eles se abrem em duas veias imediatamente antes do ângulo (MOORE, 7ª ed.). INERVAÇÃO ↠ Os nervos da mama derivam dos ramos cutâneos anteriores e laterais dos 4º – 6º nervos intercostais. Os ramos dos nervos intercostais atravessam a fáscia peitoral que cobre o músculo peitoral maior para chegar à tela subcutânea superposta e à pele da mama (MOORE, 7ª ed.). ↠ Os ramos dos nervos intercostais conduzem fibras sensitivas da pele da mama e fibras simpáticas para os vasos sanguíneos nas mamas e músculo liso na pele e papila mamária sobrejacentes (MOORE, 7ª ed.). Histologia ESTRUTURA DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A PUBERDADE E NA MULHER ADULTA ↠ A unidade lobular do ducto terminal (ULDT) da glândula mamária representa um aglomerado de pequenos alvéolos secretores (na glândula em lactação) ou ductos terminais (na glândula inativa) circundado por estroma intralobular, consistindo nas seguintes estruturas: (ROSS, 7ª ed.) Os ductos terminais estão presentes na glândula inativa. Durante a gravidez e após o nascimento, os ductos terminais, que são revestidos por células epiteliais secretoras, diferenciam-se em alvéolos secretores totalmente funcionais, produtores de leite. O ducto coletor intralobular transporta secreções alveolares para dentro do ducto galactóforo. O estromaintralobular é um tecido conjuntivo frouxo especializado sensível a hormônios, que circunda os ductos terminais e os alvéolos. O tecido conjuntivo intralobular contém poucos adipócitos. Antes da puberdade, as glândulas mamárias são compostas de porções dilatadas, os seios galactóforos, e várias ramificações desses seios, os ductos galactóforos. Seu desenvolvimento em meninas durante a puberdade faz parte do processo de aquisição das características sexuais secundárias (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Durante esse período, as mamas aumentam de tamanho e desenvolvem um mamilo proeminente. Em meninos, as mamas normalmente permanecem planas. O aumento das mamas durante a puberdade resulta do acúmulo de tecido adiposo e conjuntivo, além de certo crescimento e ramificação dos ductos galactóforos. A proliferação desses ductos e o acúmulo de gordura se devem ao aumento da quantidade de estrógenos circulantes durante a puberdade (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Na mulher adulta, a estrutura característica da glândula – o lóbulo – desenvolve-se a partir das extremidades dos menores ductos. Um lóbulo consiste em vários ductos intralobulares que se unem em um ducto interlobular terminal. Cada lóbulo é imerso em tecido conjuntivo intralobular frouxo e muito celularizado, sendo que o tecido conjuntivo interlobular que separa os lóbulos é mais denso e menos celularizado (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Próximo à abertura do mamilo, os ductos galactóforos se dilatam para formar os seios galactóforos. As aberturas externas dos ductos são revestidas por epitélio estratificado pavimentoso, o qual bruscamente se transforma em estratificado colunar ou cuboide nos ductos galactóforos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O revestimento dos ductos galactóforos e ductos interlobulares terminais é formado por epitélio simples cuboide, envolvido por células mioepiteliais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo que cerca os alvéolos contém muitos linfócitos e plasmócitos. A população de plasmócitos aumenta significativamente no fim da gravidez; eles são responsáveis pela secreção de imunoglobulinas (IgA secretora), que conferem imunidade passiva ao recém-nascido (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A estrutura histológica dessas glândulas sofre pequenas alterações durante o ciclo menstrual, como, por exemplo, proliferação de células dos ductos em torno da época de ovulação. Essas mudanças coincidem com o período no qual o estrógeno circulante está no seu pico. A maior hidratação do tecido conjuntivo na fase pré-menstrual pode provocar aumento do volume da mama (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O mamilo tem forma cônica e pode ser rosa, marrom- claro ou marrom-escuro. Externamente, é coberto por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contínuo com o da pele adjacente. A pele ao redor do mamilo constitui a aréola. Sua cor escurece durante a gravidez, como resultado de acúmulo local de melanina, e após o parto pode ficar mais claro, mas raramente retorna à sua tonalidade original (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A aréola contém glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e glândulas mamárias modificadas (glândulas de Montgomery). Essas glândulas apresentam estrutura intermediária entre as glândulas sudoríparas e as glândulas mamárias verdadeiras e produzem pequenas elevações na superfície da aréola. Acredita-se que as glândulas de Montgomery produzam uma secreção lubrificante e protetora que modifica o pH da pele e inibe o crescimento microbiano (ROSS, 7ª ed.) O epitélio do mamilo repousa sobre uma camada de tecido conjuntivo rico em fibras musculares lisas, as quais estão dispostas circularmente ao redor dos ductos galactóforos mais profundos e paralelamente a eles quando entram no mamilo. O mamilo é provido de abundantes No estado de repouso, a glândula é formada por ductos galactóforos imersos em tecido conjuntivo. Durante a lactação, há crescimento de inúmeros alvéolos (A) nas extremidades dos ductos galactóforos que cresceram e se ramificaram; frequentemente se observa secreção no interior dos alvéolos (setas). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck terminações nervosas sensoriais, importantes para produzir o reflexo da ejeção do leite pela secreção de ocitocina (JUNQUEIRA, 13ª ed.). GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A GRAVIDEZ E A LACTAÇÃO As glândulas mamárias sofrem intenso crescimento durante a gravidez por ação sinérgica de vários hormônios, principalmente estrógenos, progesterona, prolactina e lactogênio placentário humano. Uma das ações desses hormônios é o desenvolvimento de alvéolos nas extremidades dos ductos interlobulares terminais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As glândulas mamárias exibem várias alterações durante sua preparação para a lactação. Essas alterações ocorrem de acordo com o trimestre de gravidez. (ROSS, 7ª ed.) O primeiro trimestre caracteriza-se por alongamento e ramificação dos ductos terminais. As células epiteliais de revestimento e as células mioepiteliais proliferam e diferenciam-se a partir das células progenitoras da mama encontradas no epitélio dos ductos terminais. As células mioepiteliais proliferam entre a base das células epiteliais e a lâmina basal nas porções tanto alveolares quanto ductais da glândula O segundo trimestre caracteriza-se pela diferenciação dos alvéolos a partir das extremidades em crescimento dos ductos terminais. O desenvolvimento do tecido glandular não é uniforme. Observa-se variação no grau de desenvolvimento até mesmo em um único lóbulo. As células variam quanto a seu formato, de achatadas a colunares baixas. O estroma de tecido conjuntivo intralobular é infiltrado por plasmócitos, linfócitos e eosinófilos à medida que a mama se desenvolve. Nesse estágio, a quantidade de tecido glandular e a massa da mama aumentam principalmente devido ao crescimento dos alvéolos. O terceiro trimestre começa com a maturação dos alvéolos. As células glandulares epiteliais tornam-se cuboides, com núcleos localizados no citoplasma basal da célula. Essas células desenvolvem um RER extenso, e surgem vesículas secretoras e gotículas de lipídios no citoplasma. A proliferação efetiva das células estromais interlobulares declina, e ocorre aumento subsequente da mama por meio de hipertrofia das células secretoras e acúmulo de produto secretor nos alvéolos. ↠ As alterações no tecido glandular durante a gravidez são acompanhadas de uma diminuição na quantidade de tecido conjuntivo e tecido adiposo (ROSS, 7ª ed.). SECREÇÃO MERÓCRINA E APÓCRINA As glândulas mamárias são glândulas sudoríparas apócrinas tubuloalveolares modificadas (ROSS, 7ª ed.). ↠ As células secretoras contêm retículo endoplasmático rugoso abundante, um número moderado de mitocôndrias grandes, um complexo de Golgi supranuclear e vários lisossomos densos. Dependendo do estado secretor, pode haver grandes gotículas de lipídios e vesículas secretoras no citoplasma apical. As células secretoras produzem dois produtos distintos, que são liberados por mecanismos diferentes (ROSS, 7ª ed.). Secreção merócrina: O componente proteico do leite é sintetizado no RER, acondicionado em vesículas secretoras limitadas por membrana para o seu transporte no complexo de Golgi e liberado da célula por fusão da membrana da vesícula com a membrana plasmática. Secreção apócrina: O componente de gordura ou lipídios do leite surge como gotículas de lipídios livres no citoplasma. O lipídio coalesce para formar grandes gotículas que passam para a região apical da célula e projetam-se no lúmen do ácino. As gotículas são revestidas por um envoltório de membrana plasmática quando são liberadas. Uma fina camada de citoplasma é retida entre a membrana plasmática e a gotícula de lipídio e liberada juntamente com o lipídio, mas a perda de citoplasma nesse processo é mínima. Fotomicrografia de uma glândula mamária ativa durante o finalda gravidez. B: aumento maior de uma área em A. As células alveolares secretoras vistas na imagem são, em sua maior parte, cuboides. Pode-se identificar uma célula mioepitelial (CM), bem como vários plasmócitos (setas), no tecido frouxo adjacente. 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck REGRESSÃO PÓS-LACTACIONAL ↠ Quando cessa a amamentação (desmame), a maioria dos alvéolos desenvolvidos durante a gravidez sofre degeneração por apoptose. Assim, células inteiras são liberadas no lúmen dos alvéolos, e seus restos são retirados por macrófagos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Depois da menopausa, ocorre a involução das glândulas mamárias em consequência da diminuição da produção regular de hormônios sexuais. A involução é caracterizada por redução em tamanho e atrofia das porções secretoras e, até certo ponto, dos ductos. Modificações atróficas afetam também o tecido conjuntivo interlobular (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Fisiologia da Lactação DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS As mamas começam a se desenvolver na puberdade. Esse desenvolvimento é estimulado pelos estrogênios do ciclo sexual feminino mensal; os estrogênios estimulam o crescimento da parte glandular das mamas, além do depósito de gordura que dá massa às mamas. Além disso, ocorre crescimento bem mais intenso durante o estado de altos níveis de estrogênio da gravidez, e só então o tecido glandular fica inteiramente desenvolvido para a produção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ESTROGÊNIO ↠ Durante toda a gravidez, a grande quantidade de estrogênios secretada pela placenta faz com que o sistema de ductos das mamas cresça e se ramifique (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quatro outros hormônios são igualmente importantes para o crescimento do sistema de ductos: hormônio do crescimento, prolactina, os glicocorticoides adrenais e insulina. Sabe-se que cada um desses hormônios tem pelo menos algum papel no metabolismo das proteínas, o que, presumivelmente, explica a função deles no desenvolvimento das mamas (GUYTON, 13ª ed.). PROGESTERONA ↠ O desenvolvimento final das mamas em órgãos secretores de leite também requer progesterona. Quando o sistema de ductos estiver desenvolvido, a progesterona - agindo sinergicamente com o estrogênio, bem como com os outros hormônios mencionados - causará o crescimento adicional dos lóbulos mamários, com multiplicação dos alvéolos e desenvolvimento de características secretoras nas células dos alvéolos. Essas mudanças são análogas aos efeitos secretores da progesterona no endométrio uterino na última metade do ciclo menstrual feminino (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA PROLACTINA E DO SEU INIBIDOR Embora o estrogênio e a progesterona sejam essenciais ao desenvolvimento físico das mamas durante a gravidez, um efeito especial de ambos esses hormônios é inibir a verdadeira secreção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Por outro lado, o hormônio prolactina tem o efeito exatamente oposto na secreção de leite, promovendo-a. A prolactina é secretada pela hipófise anterior materna, e sua concentração no sangue da mãe aumenta uniformemente a partir da quinta semana de gravidez até o nascimento do bebê, época em que já aumentou de 10 a 20 vezes o nível normal não grávido. Esse nível elevado de prolactina, no final da gravidez, é mostrado na figura abaixo (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Além disso, a placenta secreta grande quantidade de somatomamotropina coriônica humana, que provavelmente tem propriedades lactogênicas, apoiando, assim, a prolactina da hipófise materna durante a gravidez. Mesmo assim, devido aos efeitos supressivos do estrogênio e da progesterona, não mais do que uns 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck poucos mililitros de líquido são secretados a cada dia até após o nascimento do bebê (GUYTON, 13ª ed.). O líquido secretado, nos últimos dias antes e nos primeiros dias após o parto, é denominado colostro, que contém, essencialmente, as mesmas concentrações de proteínas e lactose do leite, mas quase nenhuma gordura, e sua taxa máxima de produção é cerca de 1/100 da taxa subsequente de produção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Imediatamente depois que o bebê nasce, a perda súbita tanto de secreção de estrogênio quanto de progesterona da placenta permite que o efeito lactogênico da prolactina da hipófise materna assuma seu papel natural de promotor da lactação, e no período de 1 a 7 dias as mamas começam a secretar quantidades copiosas de leite, em vez de colostro (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Essa secreção de leite requer uma secreção de suporte adequada da maioria dos outros hormônios maternos também, porém os mais importantes são hormônio do crescimento, cortisol, paratormônio e insulina. Esses hormônios são necessários para fornecer aminoácidos, ácidos graxos, glicose e cálcio, fundamentais para a formação do leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Depois do nascimento do bebê, o nível basal da secreção de prolactina retorna aos níveis não grávidos durante algumas semanas. Entretanto, cada vez que a mãe amamenta o bebê, sinais neurais dos mamilos para o hipotálamo causam um pico de 10 a 20 vezes da secreção de prolactina, que dura aproximadamente 1 hora (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Essa prolactina age nas mamas maternas para manter as glândulas mamárias secretando leite nos alvéolos para os períodos de amamentação subsequentes. Se o pico de prolactina estiver ausente, ou for bloqueado em decorrência de dano hipotalâmico ou hipofisário, ou se a amamentação não prosseguir, as mamas perdem a capacidade de produzir leite dentro de mais ou menos uma semana. Entretanto, a produção de leite pode se manter por vários anos se a criança continuar a sugar, embora a formação de leite, normalmente, diminua consideravelmente depois de 7 a 9 meses (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O hipotálamo tem papel essencial no controle da secreção de prolactina, como na maioria de todos os outros hormônios hipofisários anteriores. Contudo, esse controle é diferente em um aspecto: o hipotálamo essencialmente estimula a produção de todos os outros hormônios, mas efetivamente inibe a produção de prolactina. Por conseguinte, o comprometimento do hipotálamo ou o bloqueio do sistema portal hipotalâmico- hipofisário geralmente aumenta a secreção de prolactina, enquanto deprime a secreção dos outros hormônios hipofisários anteriores (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Por isso, acredita-se que a secreção pela hipófise anterior de prolactina seja controlada totalmente, ou quase totalmente, por fator inibidor formado no hipotálamo e transportado pelo sistema portal hipotalâmico-hipofisário à hipófise anterior. Este fator é, por vezes, chamado hormônio inibidor de prolactina, se bem que ele é quase certamente o mesmo que a catecolamina dopamina, conhecida por ser secretada pelos núcleos arqueados do hipotálamo e que pode diminuir a secreção de prolactina em até 10 vezes (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA OCITOCINA NA EJEÇÃO DO LEITE ↠ O leite é secretado de maneira contínua nos alvéolos das mamas, mas não flui facilmente dos alvéolos para o sistema de ductos e, portanto, não vaza continuamente pelos mamilos. Em vez disso, o leite precisa ser ejetado dos alvéolos para os ductos, antes de o bebê poder obtê- lo. Essa ejeção é causada por um reflexo neurogênico e hormonal combinado, que envolve o hormônio hipofisário posterior ocitocina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quando o bebê suga, ele não recebe quase nenhum leite por mais ou menos 30 segundos. Primeiramente, é preciso que impulsos sensoriais sejam transmitidos através dos nervos somáticos dos mamilos para a medula espinal da mãe e, então, para o seu hipotálamo, onde desencadeiam sinais neurais que promovem a secreção de ocitocina, ao mesmo tempo em que causam secreção de prolactina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A ocitocina é transportada no sangue para as mamas, onde faz com que as células mioepiteliais (que circundam as paredes externas nos alvéolos) se contraiam, assim transportando o leite dos alvéolospara os ductos, sob uma pressão de +10 a 20 mmHg. Em seguida, a sucção do bebê fica efetiva em remover o leite. Assim, dentro de 30 segundos a 1 minuto depois que o bebê começa a sugar, o leite começa a fluir. Esse processo é denominado ejeção ou descida do leite (GUYTON, 13ª ed.). O ato de sugar uma mama faz com que o leite flua não só naquela mama, mas também na oposta. É especialmente interessante que, quando a mãe pensa no bebê ou o escuta chorar, muitas vezes isso proporciona um sinal emocional suficiente para o hipotálamo provocar a ejeção de leite (GUYTON, 13ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck INIBIÇÃO DA EJEÇÃO DE LEITE: Um problema particular na amamentação vem do fato de que diversos fatores psicogênicos ou até mesmo a estimulação generalizada do sistema nervoso simpático em todo o corpo materno possam inibir a secreção de ocitocina e, consequentemente, deprimir a ejeção de leite. Por essa razão, muitas mães devem ter um período de ajuste após o nascimento, sem transtornos para obter sucesso na amamentação de seus bebês (GUYTON, 13ª ed.). COMPOSIÇÃO DO LEITE ↠ As características bioquímicas do leite materno são variáveis de acordo com a própria biologia do corpo da mãe, a sua alimentação, a hora do dia, a etapa de amamentação (colostro, transição ou maduro) e até durante uma mesma mamada (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ A secreção liberada nos primeiros dias após o parto é conhecida como colostro. Esse pré-leite é uma secreção alcalina e amarelada, com maior conteúdo de proteína, vitamina A, sódio e cloreto e menor conteúdo de lipídios, carboidratos e potássio do que o leite (ROSS, 7ª ed.). A coloração amarelada é devido ao seu elevado teor de betacaroteno (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ O colostro contém quantidades consideráveis de anticorpos (principalmente IgA secretora) que proporcionam ao recém-nascido algum grau de imunidade passiva. Acredita-se que os anticorpos do colostro sejam produzidos pelos linfócitos e plasmócitos que infiltram o tecido conjuntivo frouxo da mama durante a sua proliferação e desenvolvimento e são secretados por células glandulares, como ocorre nas glândulas salivares e no intestino (ROSS, 7ª ed.). ↠ À medida que essas células diminuem de número após o parto, a produção de colostro cessa, e ocorre produção de leite rico em lipídios (ROSS, 7ª ed.). ↠ O aporte calórico do leite materno deve-se essencialmente à gordura (que representa 50% da energia) e, mais propriamente, aos triglicerídeos, que representam 98% da fração lipídica (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ Dentre a composição nutricional do leite, o conteúdo de gorduras é o que sofre a variação mais acentuada, onde sua concentração aumenta de forma progressiva desde o início até o final de cada amamentação (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ No que respeita às proteínas, o leite materno é constituído por caseínas (28%) e proteínas do soro (72%). As proteínas do leite materno fornecem todos os aminoácidos essenciais (isoleucina, leucina, lisina, valina, entre outros) e ainda outros não essenciais (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ A lactose constitui o principal carboidrato do leite humano, estando presente em concentrações mais baixas no colostro do que no leite maduro. A lactose fornece ao redor de 50% do conteúdo energético total do leite materno (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ O leite humano possui uma composição nutricional balanceada, na qual inclui todos os nutrientes essenciais. Este é composto basicamente por proteínas, carboidratos, minerais, vitaminas e enzimas, sendo suficiente para suprir as necessidades das crianças, a Organização Mundial da Saúde preconiza aleitamento materno exclusivo até seis meses de vida, com a complementação de outros alimentos a partir do sexto mês até pelo menos dois anos de idade, devido a sua importância e seus benefícios (FERNANDES; SANTANA, 2020). Não só o leite fornece ao recém-nascido os nutrientes adequados, como também proporciona uma proteção importante contra infecções. Por exemplo, vários tipos de anticorpos e outros agentes anti-infecciosos são secretados no leite, em conjunto com outros nutrientes. Além disso, diversos tipos de leucócito são secretados, incluindo neutrófilos e macrófagos, alguns dos quais são especialmente letais a bactérias que poderiam causar infecções mortais aos recém- nascidos. Particularmente importantes são anticorpos e macrófagos que destroem a bactéria Escherichia coli, que, com frequência, causa diarreia letal em recém-nascidos (GUYTON, 13ª ed.). No auge da lactação na mulher, 1,5 litro de leite pode ser formado a cada dia (e até mais se a mulher tiver gêmeos). Com esse grau de lactação, grande quantidade de energia é drenada da mãe; aproximadamente 650 a 750 quilocalorias por litro (ou 19 a 27,15 quilocalorias por grama) estão contidas no leite materno, embora a composição e o teor calórico do leite dependam da dieta da mãe e de outros fatores, como a dimensão dos seios (GUYTON, 13ª ed.). Grandes quantidades de substratos metabólicos são perdidas da mãe. Por exemplo, cerca de 50 gramas de gordura que entram no leite todos os dias, bem como cerca de 100 gramas de lactose, que deve ser derivada da conversão da glicose materna. Além disso, 2 a 3 gramas de fosfato de cálcio podem ser perdidos por dia; a menos que a mãe beba grandes quantidades de leite e tenha uma ingestão adequada de vitamina D, o débito de cálcio e fosfato pela nutriz, geralmente, será bem maior do que a ingestão dessas substâncias. Para suprir as necessidades de cálcio e fosfato, as glândulas paratireoides aumentam bastante, e os ossos são progressivamente descalcificados. Normalmente, a descalcificação óssea materna não representa grande problema durante a gravidez, mas pode tornar-se mais importante durante a lactação (GUYTON, 13ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ARTIGO: Leite humano em diferentes estágios de lactação: composição nutricional no município de Cuité (FERNANDES; SANTANA, 2020) O levantamento de dados foi referente ao período de setembro de 2012 a abril de 2013. Uma amostra de 23 lactantes no primeiro mês da coleta de dados, o que correspondeu a 19,66% das mães registradas nas USF do município de Cuité. Na realização da segunda coleta de dados em domicílios registrou-se uma perda de seguimento em 10 mães que informaram a inexistência da demanda de leite para a coleta de amostras, permanecendo assim 13 mães no quarto mês de lactação para coleta de dados. A composição média obtida para o leite humano nos diferentes estágios de lactação é apresentada na Tabela 1. Em seus resultados ocorreu variação significativa nos itens proteína, lactose e valor calórico para o leite do primeiro mês de lactação em relação ao leite do quarto mês (p 0,005). Com relação às características físico-químicas, foi dada ênfase a acidez em ácido láctico que é um parâmetro qualitativo e apresentou um valor médio de 5 ºD no primeiro mês de lactação e de 6 °D no quarto mês de lactação. Segundo a RDC 171, de 4 de setembro de 2006 o limite estabelecido para grau de acidez em leite humano é inferior a 8°D. Esta investigação foi realizada pelo fato de que a acidificação do leite pode levar à redução dos componentes nutricionais - principalmente a diminuição da biodisponibilidade do cálcio e fósforo presentes e imunológicos e desqualificar sua utilização Referências VIEIRA; L. G.; MARTINS, G. F. Fisiologia da mama e papel dos hormônios na lactação, 2018. GUINÉ, R. P. F.; GOMES, A. L. A nutrição na lactação humana, Millenium, 2015. FERNANDES, D. P.; SANTANA, C. M. Leite humano em diferentes estágios de lactação: composição nutricional no município de Cuité, Revista Interdisciplinar em Saúde, 2020. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO,J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008. REGAN, J.; RUSSO, A.; VVANPUTTE, C. Anatomia e Fisiologia de Seely, 10ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. PAWLINA, W. Ross Histologia: Texto e Atlas, 7ª edição. Guanabara Koogan, RJ, 2016 GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 MOORE et. al. Moore Anatomia Orientada para a Clínica, 8ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a morfologia do sistema reprodutor feminino; 2- Explicar a gametogênese e o ciclo menstrual; 3- Compreender as mudanças que ocorrem no corpo feminino durante a gestação (morfofuncionais e hormonais); Morfologia do Sistema Reprodutor Feminino ↠ Os órgãos do sistema genital feminino incluem os ovários (gônadas femininas); as tubas uterinas; o útero; a vagina; e órgãos externos, que são coletivamente chamados de pudendo feminino (também conhecido como vulva). As glândulas mamárias são consideradas parte do tegumento e do sistema genital feminino (TORTORA, 14ª ed.). Anatomia dos Ovários ↠ Os ovários são as gônadas femininas. Os ovários produzem gametas, os oócitos secundários que se desenvolvem em óvulos maduros após a fertilização, e hormônios, incluindo a progesterona e os estrogênios (hormônios sexuais femininos), a inibina e a relaxina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os ovários têm a forma de amêndoas e medem aproximadamente 3 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 1 cm de espessura (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Os ovários são pares, localizados um de cada lado do útero. Duas vezes maior e com a forma semelhante a uma amêndoa, cada ovário é fixo em sua posição, na bifurcação dos vasos sanguíneos ilíacos dentro da cavidade peritoneal, por vários ligamentos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O ligamento útero ovárico fixa o ovário medialmente ao útero, o ligamento suspensor do ovário liga o ovário lateralmente à parede pélvica, e o mesovário suspende o ovário. O ligamento suspensor do ovário e o mesovário são parte do ligamento largo do útero, uma dobra peritoneal que forma uma "tenda" sobre o útero e sustenta as tubas uterinas, o útero e a vagina. Os ligamentos ovarianos são envolvidos pelo ligamento largo do útero (MARIEB, 3ª ed.). Cada ovário contém um hilo, o ponto de entrada e saída para os vasos sanguíneos e nervos com os quais o mesovário está ligado (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os ovários são irrigados pelas artérias ováricas, ramos da aorta abdominal, e pelo ramo ovárico das artérias uterinas. Os vasos sanguíneos ovarianos chegam aos ovários passando pelos ligamentos suspensor e mesovário (MARIEB, 3ª ed.). Histologia dos Ovários ↠ A sua superfície é coberta por um epitélio pavimentoso ou cúbico simples, o epitélio germinativo (Segundo Tortora, agora que o termo epitélio germinativo em seres humanos não é correto, porque esta camada não dá origem aos óvulos; o nome surgiu porque, antigamente, acreditava-se que originasse os óvulos. Descobriu-se recentemente que as células que produzem os óvulos surgem a partir do saco vitelino e migram para os ovários durante o desenvolvimento embrionário). Sob o epitélio germinativo há uma camada de tecido conjuntivo denso, a túnica albugínea, que é responsável pela cor esbranquiçada do ovário (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Abaixo da túnica albugínea, há uma região denominada cortical, na qual predominam os folículos ovarianos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ÅPG 21 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Folículo é o conjunto do ovócito e das células que o envolvem. Os folículos se localizam no tecido conjuntivo (estroma) da região cortical, o qual contém fibroblastos dispostos em um arranjo muito característico, formando redemoinhos. Esses fibroblastos respondem a estímulos hormonais de um modo diferente dos fibroblastos de outras regiões do organismo (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A parte mais interna do ovário é a região medular, que contém tecido conjuntivo frouxo com um rico leito vascular. O limite entre a região cortical e a medular não é muito distinto (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Anatomia das Tubas Uterinas ↠ As tubas uterinas, antes chamadas de trompas de Falópio ou ovidutos, formam a parte inicial do sistema feminino de ductos. Elas recebem o ovócito ovulado e são o local onde a fertilização geralmente ocorre (MARIEB, 3ª ed.). Elas fornecem uma via para os espermatozoides chegarem até o óvulo e transportam os oócitos secundários e óvulos fecundados dos ovários até o útero (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Cada tuba uterina tem cerca de 10 cm de comprimento e se estende medialmente, a partir da região de um ovário desembocando na região súperolateral do útero, via uma região mais fina chamada de istmo (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A extremidade distal de cada tuba uterina se expande quando ela se curva em torno do ovário, formando a ampola; a fertilização em geral ocorre nessa região. A extremidade da ampola é o infundíbulo, estrutura aberta em forma de funil com projeções ciliadas semelhantes a dedos chamadas de fímbrias, que caem sobre o ovário (MARIEB, 3ª ed.).. Diferentemente do sistema masculino de ductos, o qual é contínuo com os túbulos dos testículos, as tubas uterinas têm pouco ou nenhum contato real com os ovários (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A tuba uterina contém camadas de músculo liso, e sua mucosa muito pregueada e espessa contém células ciliadas e não-ciliadas. O ovócito é transportado em direção ao útero por uma combinação de peristalse muscular e batimento dos cílios. Células não-ciliadas da mucosa possuem microvilos densos e produzem uma secreção que mantém o ovócito (e o espermatozóide, se estiver presente) úmido e nutrido (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Externamente, as tubas uterinas são cobertas por peritônio visceral e sustentadas ao longo de seu comprimento por um mesentério curto (parte do ligamento largo) chamado de mesossalpinge ("mesentério da tuba"; salpin=trombeta, trompa), uma referência à tuba uterina em forma de trombeta, que ele sustenta (MARIEB, 3ª ed.). Histologia das Tubas Uterinas ↠ A parede da tuba uterina é composta de três camadas: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). uma mucosa; uma espessa camada muscular de músculo liso disposto em uma camada circular ou espiral interna e uma camada longitudinal externa; uma serosa formada de um folheto visceral de peritônio. ↠ A mucosa tem dobras longitudinais muito numerosas na ampola (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Em razão dessas pregas, o lúmen da ampola se assemelha a um labirinto em seções transversais da tuba. Essas dobras se tornam menores nos segmentos da tuba mais próximos ao útero. Na porção intramural (atravessa a parede do útero e se abre no seu interior), as dobras são reduzidas a pequenas protuberâncias, e a superfície interna da mucosa é quase lisa (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ A mucosa é formada por um epitélio colunar simples e por uma lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo. O epitélio contém dois tipos de células: ciliadas e secretoras. Os cílios batem em direção ao útero, movimentando nesta direção uma película de muco que cobre sua superfície. Este líquido consiste principalmente em produtos das células secretoras (JUNQUEIRA, 13ª ed.). No momento da ovulação, a tuba uterina exibe movimentos ativos decorrentes de sua musculatura lisa, e a extremidade afunilada da ampola (com numerosas fímbrias) se posiciona muito perto da superfície do ovário. Isso favorece a captação do ovócito que foi ovulado (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A secreção tem funções nutritivas e protetoras em relação ao ovócito, além de promover ativação (capacitação) dos espermatozoides(JUNQUEIRA, 13ª ed.). Øbs.: A contração de músculo liso e a atividade das células ciliadas transportam o ovócito ou o zigoto ao longo do infundíbulo e do restante da tuba. Esse movimento também impossibilita a passagem de microrganismos do útero para a cavidade peritoneal. O transporte do ovócito ou do zigoto para o útero é normal em mulheres com síndrome de cílio imóvel, indicando que a atividade ciliar não é essencial para este transporte (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Anatomia do Útero O útero serve como parte da via para o espermatozoide depositado na vagina alcançar as tubas uterinas. É também o local da implantação de um óvulo fertilizado, desenvolvimento do feto durante a gestação e trabalho de parto. Durante os ciclos reprodutivos, quando a implantação não ocorre, o útero é a fonte do fluxo menstrual (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O útero está localizado na pelve, anterior ao reto e póstero-superior à bexiga urinária (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O útero tem o tamanho e o formato de uma pera invertida. Nas mulheres que nunca engravidaram (nuligestas), tem aproximadamente 7,5 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de espessura. O útero é maior em mulheres que estiveram grávidas recentemente, e menor (atrofiado) quando os níveis de hormônios sexuais são baixos, como ocorre após a menopausa (TORTORA, 14ª ed.). Normalmente, o útero se flexiona anteriormente no ponto onde ele se une à vagina, fazendo com que o útero como um todo seja inclinado para a frente ou anteversofletido. Contudo, com frequência o órgão está inclinado para trás, ou retroversofletido, em mulheres mais velhas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As subdivisões anatômicas do útero incluem: (TORTORA, 14ª ed.). uma parte em forma de cúpula superior às tubas uterinas chamada de fundo do útero; uma parte central afilada chamada de corpo do útero; uma parte inferior estreita chamada de colo do útero (cérvice), que se abre para o interior da vagina. ↠ Entre o corpo do útero e o colo do útero está o istmo do útero, uma região de aproximadamente 1 cm de comprimento. O interior do corpo do útero é chamado de cavidade uterina, e o interior do colo do útero é chamado de canal do colo do útero. O canal do colo do útero se abre para a cavidade uterina no óstio histológico interno do útero e na vagina no óstio externo do útero (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Vários ligamentos que são extensões do peritônio parietal ou cordões fibromusculares mantêm a posição do útero. O par de ligamentos largos do útero são pregas duplas de peritônio que fixam o útero em ambos os lados da cavidade pélvica. O par de ligamentos uterossacros, também extensões peritoneais, encontram-se em cada lado do reto e ligam o útero ao sacro. Os ligamentos transversos do colo estão localizados inferiormente às bases dos ligamentos largos e se estendem da parede pélvica ao colo do útero e vagina. Os ligamentos redondos são bandas de tecido conjuntivo fibroso entre as camadas do ligamento largo; estendem-se de um ponto no útero 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck imediatamente inferior às tubas uterinas até uma parte dos lábios maiores do pudendo da genitália externa (TORTORA, 14ª ed.). Embora os ligamentos normalmente mantenham a posição de anteflexão do útero, também possibilitam movimentação suficiente de seu corpo útero, de modo que o útero pode tornar-se mal posicionado. A inclinação posterior do útero, chamada retroflexão, é uma variação inofensiva da posição normal do útero. Muitas vezes não há causa para esta condição, mas ela pode ocorrer após o parto (TORTORA, 14ª ed.). Histologia do Útero ↠ A parede do útero é relativamente espessa e formada por três camadas. Externamente, há uma delgada serosa – constituída de mesotélio e tecido conjuntivo – ou, dependendo da porção do órgão, uma adventícia – constituída de tecido conjuntivo sem revestimento de mesotélio. As outras camadas uterinas são o miométrio, uma espessa camada de músculo liso, e o endométrio ou mucosa uterina, revestindo a cavidade do útero (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A camada exterior - o perimétrio ou túnica serosa - é parte do peritônio visceral; é composta por epitélio escamoso simples e tecido conjuntivo areolar. Lateralmente, torna-se o ligamento largo do útero. Anteriormente, recobre a bexiga urinária e forma uma escavação rasa, a escavação vesicouterina. Posteriormente, recobre o reto e forma uma escavação profunda entre o útero e a bexiga urinária, a escavação retouterina – o ponto mais inferior da cavidade pélvica (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O miométrio, camada mais espessa do útero, é composto de pacotes ou grandes feixes de fibras musculares lisas separadas por tecido conjuntivo. Os pacotes de músculo liso se distribuem em quatro camadas não muito bem definidas. A primeira e a quarta camadas são compostas principalmente de fibras dispostas longitudinalmente, isto é, paralelas ao eixo longo do útero. Pelas camadas intermediárias passam os grandes vasos sanguíneos que irrigam o órgão (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Øbs.: Durante a gravidez, o miométrio passa por um período de grande crescimento, como resultado de hiperplasia (aumento no número de células musculares lisas) e hipertrofia (aumento no tamanho das células). Durante essa fase, muitas células musculares lisas adquirem características ultraestruturais de células secretoras de proteínas e sintetizam ativamente colágeno, cuja quantidade aumenta significativamente no útero. Após a gravidez, há degeneração de algumas células musculares lisas, redução no tamanho de outras e degradação enzimática de colágeno. O útero, então, tem seu tamanho reduzido para as dimensões aproximadas de antes da gravidez (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O endométrio consiste em um epitélio e uma lâmina própria que contém glândulas tubulares simples, as quais, às vezes, se ramificam nas porções mais profundas (próximo do miométrio). As células que revestem a cavidade uterina se organizam em um epitélio simples colunar formado por células ciliadas e células secretoras (JUNQUEIRA, 13ª ed.). O epitélio das glândulas uterinas é semelhante ao epitélio superficial, mas células ciliadas são raras no interior das glândulas. O tecido conjuntivo da lâmina própria é rico em fibroblastos e contém abundante matriz extracelular. As fibras de tecido conjuntivo são constituídas principalmente de colágeno de tipo III (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O endométrio pode ser subdividido em duas camadas, que não podem ser bem delimitadas morfologicamente: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). a camada basal, mais profunda, adjacente ao miométrio, constituída por tecido conjuntivo e pela porção inicial das glândulas uterinas; a camada funcional, formada pelo restante do tecido conjuntivo da lâmina própria, pela porção final e desembocadura das glândulas e também pelo epitélio superficial. Enquanto a camada funcional sofre mudanças intensas durante os ciclos menstruais, a basal permanece quase inalterada (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Ramos da artéria ilíaca interna chamados artérias uterinas fornecem sangue para o útero. As artérias uterinas emitem ramos chamados artérias arqueadas que estão dispostas em formato circular no miométrio. Estas artérias se ramificam em artérias radiais, que penetram profundamente no miométrio. Pouco antes de os ramos entrarem no endométrio, eles se dividem em dois tipos de arteríolas: as arteríolas retas irrigam o estrato basal com os materiais necessários para regenerar o estrato funcional; as arteríolas espirais irrigam o estrato funcional e se alteram acentuadamente durante o ciclo menstrual. O sangue que deixa o útero é drenado pelas veias uterinas para as veias ilíacas internas. A substancial irrigação sanguínea do útero é essencial para possibilitar o crescimento de um novo estrato funcional após a menstruação, a implantação de um óvulo fertilizado e o desenvolvimento da placentacélulas do mesmo tipo por meio de junções intercelulares: desmossomos e junções comunicantes (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A função dessas células, que estabelecem redes em torno das células secretoras, ainda não é totalmente conhecida (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Entre os cordões e ilhas de células há muitos capilares sanguíneos (que pertencem ao plexo capilar secundário do sistema porta-hipofisário). Os poucos fibroblastos dessa região produzem fibras reticulares que sustentam os cordões de células (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÉLULAS SECRETORAS DA PARS DISTALIS A pars distalis secreta vários hormônios, fatores de crescimento e citocinas. Pelo menos seis importantes hormônios são produzidos, porém só três tipos de células costumam ser reconhecidos por colorações rotineiras (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Essas células são classificadas em cromófobas (pouco coradas) e cromófilas (contêm grânulos bem corados) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As células cromófilas são constituídas de dois subtipos, as acidófilas e as basófilas, de acordo com sua afinidade por corantes ácidos ou básicos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As células acidófilas podem ser ainda subdivididas em dois grupos, com base nas características citoquímicas e ultraestruturais espaciais. Um grupo denominado somatotropos, produz o hormônio do crescimento; o outro grupo de células acidófilas, denominadas lactotropos, produz a prolactina (PRL) (ROSS, 7ª ed.). Os grupos de células basófilas também podem ser distinguidos com o microscópio eletrônico e com procedimentos citoquímicos especiais. Um grupo de tireotropos produz o hormônio tireoestimulante (TSH); outro grupo de gonadotropos produz os hormônios gonadotrópicos, o hormônio foliculoestimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH); e um terceiro grupo de corticoropos produz o hormônio adrenocorticotrópico e o hormônio lipotrópico (ROSS, 7ª ed.). ↠ As células cromófobas têm poucos grãos (ou nenhum) de secreção e são mais difíceis de serem reconhecidas que as células cromófilas. É possível que algumas das cromófobas sejam células cromófilas degranuladas ou que possam ser células-tronco da adeno-hipófise, pois se sabe que há renovação celular nessa glândula (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Embora muitos corantes tenham sido desenvolvidos em tentativas de indicar que hormônios são secretados por quais células, a imunocitoquímica e a hibridização in situ são atualmente as melhores técnicas utilizadas para reconhecer essas células (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Por essas técnicas é possível distinguir cinco tipos principais de células secretoras, sendo que quatro tipos produzem um único hormônio cada, e um tipo (células gonadotrópicas) produz dois (JUNQUEIRA, 13ª ed.). CÉLULAS SECRETORAS DA PARS DISTALIS DA HIPÓFISE E SEUS HORMÔNIOS CÉLULA PROPORÇÃO APROXIMADA (%) HORMÔNIO PRODUZIDO Somatotrópica 50 Hormônio do crescimento ou somatotropina (GH) Mamatrópica ou Iactotrópica 15 Prolactina (PRL) Gonadotrópica 10 Hormônio foluculoestimulante (FSH) e Hormônio luteinizante (LH) 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Tireotrópica 5 Hormônio estimulante da tireoide ou tireotropina (TSH) Corticotrópica 15 Produtos da clivagem do pró- opiomelanocortina (POMC): hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e hormônio melanotrópico (alfa- MSH) CONTROLE FUNCIONAL DA PARS DISTALIS O padrão de secreção de vários hormônios produzidos na pars distalis não é contínuo, porém pulsátil, por picos de secreção. Além disso, a secreção de vários deles obedece a um ritmo circadiano, isto é, varia nas diferentes horas do dia e da noite (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As atividades das células da pars distalis são controladas por vários mecanismos. Um deles é representado por hormônios peptídicos produzidos pelos agregados de células neurossecretoras dos núcleos dorsomediano, dorsoventral e infundibular do hipotálamo. Esses hormônios são armazenados nos terminais axônicos situados na eminência mediana e, após sua liberação, são transportados à pars distalis pelo plexo capilar, também situado na eminência mediana (JUNQUEIRA, 13ª ed.). PARS TUBERALIS ↠ A pars tuberalis é uma região em forma de funil que cerca o infundíbulo da neuro-hipófise. É uma região importante em animais que mudam seus hábitos em função da estação do ano (p. ex., animais que hibernam) por meio do controle da produção de prolactina (JUNQUEIRA, 13ª ed.). PARS INTERMEDIA ↠ A pars intermedia, que se localiza na porção dorsal da antiga bolsa de Rathke, em humanos adultos é uma região rudimentar composta de cordões e folículos de células fracamente basófilas que contêm pequenos grânulos de secreção (JUNQUEIRA, 13ª ed.). NEURO-HIPÓFISE Já a neuro-hipófise, que constitui cerca de 20% da glândula, não tendo função produtora, assegura o armazenamento e libertação das hormonas hipotalâmicas: oxitocina e hormona antidiurética (ADH) (SOUSA, 2019). ↠ A neuro-hipófise consiste na pars nervosa e no infundíbulo. A pars nervosa, diferentemente da adeno- hipófise, não contém células secretoras. Apresenta um tipo específico de célula glial muito ramificada, chamada pituícito (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O componente mais importante da pars nervosa é formado por cerca de 100 mil axônios não mielinizados de neurônios secretores cujos corpos celulares estão situados nos núcleos supraópticos e paraventriculares (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Os neurônios secretores têm todas as características de neurônios típicos, inclusive a habilidade de liberar um potencial de ação, mas têm corpos de Nissl muito desenvolvidos relacionados com a produção de neurossecreção (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A neurossecreção (que pode ser observada por colorações especiais, como a hematoxilina crômica de Gomori) é transportada ao longo dos axônios e se acumula nas suas extremidades, situadas na pars nervosa. Seus depósitos formam estruturas conhecidas como corpos de Herring, visíveis ao microscópio de luz ↠ Quando os grânulos são liberados, a secreção entra nos capilares sanguíneos fenestrados que existem em grande quantidade na pars nervosa, e os hormônios são distribuídos pela circulação geral (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Essa neurossecreção armazenada na pars nervosa consiste em dois hormônios, ambos peptídios cíclicos compostos de nove aminoácidos. A composição de aminoácidos desses dois hormônios é ligeiramente diferente, resultando em funções muito diferentes (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Cada um desses hormônios – a ocitocina e a vasopressina -arginina, também chamada hormônio antidiurético (ADH) – é unido a uma proteína chamada neurofisina. O complexo hormônio neurofisina é sintetizado como um único longo peptídio, e por proteólise há a liberação do hormônio de sua proteína de ligação (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Embora haja alguma sobreposição, as fibras de núcleos supraópticos estão relacionadas principalmente com a secreção de vasopressina, enquanto a maioria das fibras dos núcleos paraventriculares está envolvida com a secreção de ocitocina (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ARTIGO: Alterações da haste hipofisária e suas implicações clínicas (DRUMMOND et. al., 2003) A glândula hipofisária passa por mudanças dramáticas no seu tamanho e forma durante a vida. Estas variações devem ser consideradas sempre que avaliarmos um exame de RM da região hipotálamo-hipofisária. Em neonatos, a glândula é tipicamente convexa e de sinal mais intenso que o tronco cerebral nas imagens ponderadas em T1. Este sinal é atribuído à significativa atividade endócrina da glândula nessa fase, com hiperplasia das células produtoras de PRL e aumento da síntese protéica. Este padrão persiste até aproximadamente os 2 meses de idade, a partir daí, a glândula vai assumindo gradualmente o padrão morfológico da criança mais velha, com uma superfície superior plana ou ligeiramente côncava e de intensidade de sinal similar à da(TORTORA, 14ª ed.). CÉRVICE UTERINA A cérvice é a porção cilíndrica e mais baixa do útero, cuja estrutura histológica difere do restante do útero. A mucosa é revestida por um epitélio simples colunar secretor de muco. A cérvice tem poucas fibras de músculo liso e consiste principalmente (85%) em tecido conjuntivo denso. Sua extremidade externa, que provoca saliência no lúmen da vagina, é revestida por epitélio estratificado pavimentoso. A mucosa da cérvice contém as glândulas mucosas cervicais, que se ramificam intensamente (JUNQUEIRA, 13ª ed.). MUCO CERVICAL As células secretoras da túnica mucosa do colo do útero produzem uma secreção chamada de muco cervical, uma mistura de água, glicoproteínas, lipídios, enzimas e sais inorgânicos. Durante seus anos férteis, as mulheres secretam 20 a 60 ml de muco cervical por dia. O muco cervical é mais propício aos espermatozoides próximo ou no momento da ovulação, porque é menos viscoso e mais alcalino (pH 8,5) (TORTORA, 14ª ed.). Em outros momentos, um muco mais viscoso forma um tampão cervical que impede fisicamente a penetração dos espermatozoides. O muco cervical suplementa as necessidades de energia dos espermatozoides, e tanto o colo do útero quanto o muco cervical protegem o espermatozoide dos fagócitos e do ambiente hostil da vagina e do útero (TORTORA, 14ª ed.). O muco cervical também pode atuar na capacitação - várias mudanças funcionais pelas quais os espermatozoides passam no sistema genital feminino antes de serem capazes de fertilizar um oócito secundário. A capacitação faz com que a cauda de um espermatozoide se mova ainda mais vigorosamente, e prepara a membrana plasmática do espermatozoide para se fundir com a membrana plasmática do oócito (TORTORA, 14ª ed.). Anatomia da Vagina ↠ A vagina é um canal tubular fibromuscular de 10 cm de comprimento, alinhado com a túnica mucosa que se estende do exterior do corpo até o colo do útero. Ela é o receptáculo para o pênis durante a relação sexual, a saída para o fluxo menstrual e a via de passagem para o parto. Situada entre a bexiga urinária e o reto, a vagina é dirigida superior e posteriormente, onde se insere no útero (TORTORA, 14ª ed.). Histologia da Vagina ↠ A parede da vagina não tem glândulas e consiste em três camadas: mucosa, muscular e adventícia. O muco existente no lúmen da vagina se origina das glândulas da cérvice uterina. ↠ O epitélio da mucosa vaginal de uma mulher adulta é estratificado pavimentoso e tem uma espessura de 150 a 200 µm. Suas células podem conter uma pequena quantidade de queratina. Sob o estímulo de estrógenos, o epitélio vaginal sintetiza e acumula grande quantidade de glicogênio, que é depositado no lúmen da vagina quando as células do epitélio vaginal descamam. Bactérias da vagina metabolizam o glicogênio e produzem ácido láctico, responsável pelo pH da região, que é normalmente baixo. O ambiente ácido tem ação protetora contra alguns microrganismos patogênicos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ A camada muscular da vagina é composta principalmente de conjuntos longitudinais de fibras musculares lisas. Há alguns pacotes circulares, especialmente na parte mais interna (próximo à mucosa) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Externamente à camada muscular, uma camada de tecido conjuntivo denso, a adventícia, rica em espessas fibras elásticas, une a vagina aos tecidos circunvizinhos. A grande elasticidade da vagina se deve ao elevado número de fibras elásticas no tecido conjuntivo de sua parede, no qual há um plexo venoso extenso, feixes nervosos e grupos de células nervosas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Ao nascimento, a abertura externa da vagina está parcialmente fechada por um anel fino de tecido, chamado de hímen, ou “virgindade” (SILVERTHORN, 7ª ed.). O hímen é muito vascularizado e tende a sangrar quando é rompido durante o primeiro coito (relação sexual). Contudo, sua durabilidade varia (MARIEB, 3ª ed.). O hímen é externo à vagina, e não dentro dela, de modo que o uso normal de tampões durante a menstruação não rompe o hímen. Entretanto, ele pode ser estirado durante atividades normais, como andar de bicicleta e andar a cavalo, e, dessa forma, não é um indicador preciso da virgindade feminina (SILVERTHORN, 7ª ed.). Anatomia e Histologia do Pudendo Feminino ↠ A genitália externa feminina é coletivamente conhecida como vulva ou pudendo (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Anteriormente às aberturas vaginal e uretral está o monte do púbis, uma elevação de tecido adiposo recoberta por pele e pelos pubianos grossos que acolchoam a sínfise púbica (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Do monte do púbis, duas pregas de pele longitudinais, os lábios maiores do pudendo, se estendem inferiormente e posteriormente. Os lábios maiores do pudendo são recobertos por pelos pubianos e contêm tecido adiposo, glândulas sebáceas e glândulas sudoríferas apócrinas. Eles são homólogos ao escroto (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Medialmente aos lábios maiores do pudendo estão duas pregas de pele menores chamadas lábios menores do pudendo. Ao contrário dos lábios maiores do pudendo, os lábios menores do pudendo são desprovidos de pelos pubianos e gordura e têm poucas glândulas sudoríferas, mas contêm muitas glândulas sebáceas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O clitóris é uma pequena massa cilíndrica composta por dois pequenos corpos eréteis, os corpos cavernosos, e diversos nervos e vasos sanguíneos. O clitóris está localizado na junção anterior dos lábios menores do pudendo. Uma camada de pele chamada prepúcio do clitóris é formada no ponto em que os lábios menores do pudendo se unem e recobrem o corpo do clitóris. A parte exposta do clitóris é a glande do clitóris. O clitóris é homólogo à glande nos homens. Como a estrutura do sexo masculino, o clitóris é capaz de aumentar de tamanho à estimulação tátil e tem um papel na excitação sexual da mulher (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O clitóris, que é coberto por um epitélio estratificado pavimentoso (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A região entre os lábios menores do pudendo é o vestíbulo da vagina. No interior do vestíbulo estão o hímen (se ainda existir), o óstio da vagina, o óstio externo da uretra e as aberturas dos ductos de várias glândulas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O óstio da vagina, a abertura da vagina para o exterior, ocupa a maior parte do vestíbulo e é limitada pelo hímen. Anteriormente ao óstio da vagina e posteriormente ao 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck clitóris está o óstio externo da uretra, a abertura da uretra para o exterior. Em ambos os lados do óstio externo da uretra estão aberturas dos ductos das glândulas parauretrais. Estas glândulas secretam muco e estão embutidas na parede da uretra (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Em ambos os lados do óstio da vagina propriamente dito estão as glândulas vestibulares maiores, que se abrem por ductos em um sulco entre o hímen e os lábios menores do pudendo. Elas produzem algum muco durante a excitação sexual e as relações sexuais, que contribui para o muco cervical e fornece lubrificação. Várias glândulas vestibulares menores também se abrem para o vestíbulo da vagina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O bulbo do vestíbulo consiste em duas massas alongadas de tecido erétil imediatamente profundas aos lábios de cada lado do óstio da vagina. O bulbo do vestíbulo fica cheio de sangue durante a excitação sexual, estreitando o óstio da vagina e colocando pressão sobre o pênis durante a relação sexual (TORTORA, 14ª ed.). Isso pode auxiliar a segurar o pênis dentro da vagina e também a pressionar fechando o óstio da uretra, o que impede que o sêmen (e bactérias) seja transportado superiormente para a bexiga urinária durante a relação sexual (MARIEB, 3ª ed.). A genitália externa é abundantemente provida de terminações nervosas sensoriais táteis, além de corpúsculos de Meissner e de Pacini, que contribuem para a fisiologiado estímulo sexual (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Períneo ↠ O períneo feminino é uma região em forma de losango. Ele contém os órgãos genitais externos e o ânus. O períneo é limitado anteriormente pela sínfise púbica, lateralmente pelas tuberosidades isquiáticas e posteriormente pelo cóccix. Uma linha transversal traçada entre as tuberosidades isquiáticas divide o períneo em uma região urogenital anterior que contém os órgãos genitais externos e uma região anal posterior que contém o ânus (TORTORA, 14ª ed.). Gametogênese e o Ciclo Menstrual Os folículos ovarianos estão no córtex e consistem em oócitos em várias fases de desenvolvimento, além das células que os circundam. Quando as células circundantes formam uma única camada, são chamadas células foliculares; mais tarde no desenvolvimento, quando se formam diversas camadas, elas são chamadas células granulosas. As células circundantes nutrem o oócito em desenvolvimento e começam a secretar estrogênios conforme o folículo cresce (TORTORA, 14ª ed.). O folículo maduro é um folículo grande, cheio de líquido, que está pronto para romper e expulsar seu oócito secundário, em um processo conhecido como ovulação O corpo lúteo contém os restos de um folículo maduro após a ovulação. O corpo lúteo produz progesterona, estrogênios, relaxina e inibina, até que se degenera em um tecido cicatricial fibroso chamado corpo albicante. Oogênese e desenvolvimento folicular ↠ A formação de gametas nos ovários é denominada oogênese. Em contraste com a espermatogênese, que no sexo masculino começa na puberdade, a oogênese nas mulheres começa antes mesmo de elas nascerem. A oogênese ocorre essencialmente do mesmo modo que a espermatogênese; ocorre uma meiose e as células germinativas resultantes sofrem maturação (TORTORA, 14ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck DIFERENCIAÇÃO DURANTE O PROCESSO FETAL ↠ Durante o início do desenvolvimento fetal, as células germinativas primordiais (primitivas) migram do saco vitelino para os ovários. Lá, as células germinativas se diferenciam no interior dos ovários em oogônias (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As oogônias são células-tronco diploides (2n) que se dividem por mitose produzindo milhões de células germinativas. Mesmo antes do nascimento, a maior parte destas células germinativas se degenera em um processo conhecido como atresia. Algumas, no entanto, se desenvolvem em células maiores chamadas oócitos primários, que entram na prófase da meiose I durante o desenvolvimento fetal, mas não concluem essa fase até depois da puberdade (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Durante esta pausa na fase de desenvolvimento, cada oócito primário é circundado por uma camada única de células foliculares planas, e a estrutura como um todo é chamada folículo primordial. O córtex ovariano em torno dos folículos primordiais consiste em fibras colágenas e células estromais semelhantes a fibroblastos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Ao nascer, aproximadamente 200 mil a 2 milhões de oócitos primários permanecem em cada ovário. Destes, aproximadamente 40 mil ainda estão presentes na puberdade, e aproximadamente 400 vão amadurecer e ovular durante a vida fértil da mulher. A parte restante dos oócitos primários sofre atresia (TORTORA, 14ª ed.). DIFERENCIAÇÃO MENSAL ATÉ A MENOPAUSA ↠ A cada mês, da puberdade até a menopausa, gonadotropinas (FSH e LH) secretadas pela adeno- hipófise estimulam adicionalmente o desenvolvimento de vários folículos primordiais, embora apenas um geralmente alcance a maturidade necessária para a ovulação (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Alguns folículos primordiais começam a crescer, tornando-se folículos primários. Cada folículo primário consiste em um oócito primário, que em um estágio posterior de desenvolvimento estará circundado por várias camadas de células cuboides e colunares baixas chamadas de células granulosas. As células granulosas mais externas repousam sobre uma membrana basal (TORTORA, 14ª ed.). ↠ À medida que o folículo principal cresce, ele forma uma camada glicoproteica transparente chamada zona pelúcida entre o oócito primário e as células granulosas. Além disso, as células estromais em torno da membrana basal começam a formar uma camada organizada chamada teca folicular (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Com a continuidade da maturação, um folículo primário se desenvolve em folículo secundário. Em um folículo secundário, a teca se diferencia em duas camadas: (TORTORA, 14ª ed.). a teca interna, uma camada interna bem vascularizada de células cuboides secretoras que secretam hormônios estrogênicos, a teca externa, uma camada exterior de células estromais e fibras colágenas. ↠ Além disso, as células granulosas começam a secretar líquido folicular, que se acumula em uma cavidade chamado antro, no centro do folículo secundário. A camada mais interna das células granulosas torna-se firmemente ligada à zona pelúcida e agora é chamada de coroa radiada (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O folículo secundário aumenta de tamanho e se torna um folículo maduro (TORTORA, 14ª ed.). Enquanto neste folículo, e pouco antes da ovulação, o oócito primário diploide completa a meiose I, produzindo duas células haploides (n) de tamanho desigual – cada uma com 23 cromossomos A célula menor produzida pela meiose I, chamada de primeiro corpo polar, é essencialmente material nuclear descartado. A célula maior, conhecida como oócito secundário, recebe a maior parte do citoplasma. Uma vez que um oócito secundário é formado, ele começa a meiose II, mas em seguida, para na metáfase (TORTORA, 14ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ O folículo maduro rompe-se e libera rapidamente seu oócito secundário, em um processo conhecido como ovulação (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Na ovulação, o oócito secundário é expelido para o interior da cavidade pélvica, juntamente com o primeiro corpo polar e a coroa radiada. Normalmente estas células são impulsionadas para dentro da tuba uterina (TORTORA, 14ª ed.). Se a fertilização não ocorrer, as células degeneram. Se houver espermatozoides na tuba uterina e um deles penetrar o oócito secundário, no entanto, a meiose II é retomada. O oócito secundário se divide em duas células haploides, novamente de tamanhos desiguais. A célula maior é o óvulo, ou ovo maduro; a menor é o segundo corpo polar(TORTORA, 14ª ed.). Os núcleos do espermatozoide e do óvulo então se unem, formando um zigoto diploide. Se o primeiro corpo polar sofrer outra divisão para produzir dois corpos polares, então o oócito primário por fim dá origem a três corpos polares haploides, que se degeneram, e um único óvulo haploide. Assim, um oócito primário dá origem a um único gameta (um óvulo). Por outro lado, é importante lembrar que nos homens um espermatócito primário produz quatro gametas (espermatozoides) (TORTORA, 14ª ed.). Controle hormonal do ciclo menstrual ↠ Os ciclos ovariano e uterino estão sob o controle primário de vários hormônios: (SILVERTHORN, 7ª ed.). Hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) do hipotálamo. Hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) da adeno-hipófise. Estrogênio, progesterona, inibina e AMH do ovário. ↠ Esses diversos hormônios são secretados com intensidades drasticamente distintas, durante as diferentes partes do ciclo sexual feminino mensal (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A quantidade de GnRH liberada pelo hipotálamo aumenta e diminui de modo bem menos drástico durante o ciclo sexual mensal. Esse hormônio é secretado em pulsos curtos, em média uma vez a cada 90 minutos, como ocorre nos homens (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Durante a fase folicular do ciclo, o estrogênio é o hormônio esteroide dominante. A ovulação é desencadeada pelo pico de LH e de FSH. Na fase lútea, a progesterona é dominante, embora o estrogênio ainda esteja presente (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O hormônio anti-mülleriano (AMH) foiinicialmente conhecido pelo seu papel no desenvolvimento masculino, porém os cientistas descobriram que o AMH também é produzido pelos folículos ovarianos na primeira parte do 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ciclo ovariano. O AMH aparentemente atua como um regulador para evitar que muitos folículos ovarianos se desenvolvam ao mesmo tempo (SILVERTHORN, 7ª ed.). Fases do ciclo reprodutivo/menstrual ↠ As mulheres produzem gametas em ciclos mensais (em média de 28 dias, com variação normal de 24-35 dias). Esses ciclos são comumente denominados ciclos menstruais, uma vez que apresentam um período de 3 a 7 dias de sangramento uterino, conhecido como menstruação (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O ciclo menstrual pode ser descrito de acordo com as mudanças que ocorrem nos folículos ovarianos, o ciclo ovariano, ou pelas mudanças que ocorrem no revestimento endometrial do útero, o ciclo uterino (SILVERTHORN, 7ª ed.). CICLO OVARIANO ↠ Observe que o ciclo ovariano é dividido em três fases: (SILVERTHORN, 7ª ed.). Fase folicular: A primeira parte do ciclo ovariano, conhecida como fase folicular, é um período de crescimento folicular no ovário. Essa fase é a que tem duração mais variável, de 10 a 21 dias. Ovulação: Quando um ou mais folículos amadurecem, o ovário libera o(s) ovócito(s) durante a ovulação. Fase lútea: A fase do ciclo ovariano que segue a ovulação é conhecida como pós-ovulatória ou fase lútea. O segundo nome tem origem na transformação do folículo rompido em um corpo lúteo, assim denominado devido ao pigmento amarelo e aos depósitos de lipídeos. O corpo lúteo secreta hormônios que continuam a preparação para a gestação. Se a gestação não ocorre, o corpo lúteo para de funcionar após cerca de duas semanas, e o ciclo ovariano é reiniciado. FASE FOLICULAR ↠ O primeiro dia da menstruação é o dia 1 do ciclo. Este ponto foi escolhido como o início do ciclo porque o sangramento menstrual é um sinal físico facilmente observável. Pouco antes do início de cada ciclo, a secreção de gonadotrofinas pela adeno-hipófise aumenta. Sob a influência do FSH, um grupo de folículos ovarianos terciários começa a crescer (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Conforme os folículos crescem, as suas células da granulosa (sob a influência do FSH) e suas células da teca (sob a influência do LH) começam a produzir hormônios esteroides (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ As células da granulosa também começam a secretar AMH. Esse AMH diminui a sensibilidade do folículo ao FSH, o que aparentemente impede o recrutamento de folículos primários adicionais após um grupo ter iniciado o desenvolvimento (SILVERTHORN, 7ª ed.). Os médicos, atualmente, usam os níveis sanguíneos de AMH como indicador de quantos folículos estão em desenvolvimento inicial em um ciclo e como um marcador para uma condição chamada de síndrome dos ovários policísticos (SOP), em que os folículos ovarianos formam cistos cheios de líquido (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Gradualmente, os níveis crescentes de estrogênio na circulação têm diversos efeitos. Os estrogênios exercem retroalimentação negativa na secreção de FSH e de LH pela adeno-hipófise, o que impede o desenvolvimento adicional de folículos no mesmo ciclo (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Ao mesmo tempo, o estrogênio estimula a produção de mais estrogênio pelas células da granulosa. Esta alça de retroalimentação positiva permite que os folículos continuem sua produção de estrogênio mesmo que os níveis de FSH e de LH diminuam (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ No útero, a menstruação termina durante a fase folicular inicial. Sob a influência do estrogênio proveniente dos folículos que estão se desenvolvendo, o endométrio começa a crescer, ou proliferar. Este período é caracterizado por aumento no número de células e aumento do suprimento sanguíneo para levar nutrientes e oxigênio para o endométrio espessado. O estrogênio também estimula as glândulas mucosas do colo do útero a produzirem um muco claro e aquoso (SILVERTHORN, 7ª ed.). FASE FOLICULAR TARDIA ↠ Conforme a fase folicular se aproxima do final, a secreção de estrogênio ovariano atinge o seu ponto máximo. Neste ponto do ciclo, somente um folículo ainda está se desenvolvendo (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Assim que a fase folicular está completa, as células da granulosa do folículo dominante começam a secretar inibina e progesterona, além do estrogênio. O estrogênio, que até então tinha exercido um efeito de retroalimentação negativa sobre a secreção de GnRH na fase folicular inicial, muda para uma retroalimentação 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck positiva, levando ao pico pré-ovulatório de GnRH (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Imediatamente antes da ovulação, os níveis persistentemente altos de estrogênio, auxiliados pelos níveis crescentes de progesterona, aumentam a responsividade da adeno-hipófise ao GnRH. Como resultado, a secreção de LH aumenta significativamente, um fenômeno conhecido como pico de LH. O FSH também aumenta, mas em menor grau, presumivelmente por estar sendo suprimido pela inibina e pelo estrogênio (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O pico de LH é parte essencial da ovulação, pois ele desencadeia a secreção de inúmeros sinais químicos necessários para os passos finais da maturação do ovócito. A meiose é retomada no folículo em desenvolvimento com a primeira divisão meiótica. Esta etapa divide o ovócito primário em ovócito secundário (2n DNA) e em um primeiro corpúsculo polar (2n), que se degenera. Enquanto essa divisão ocorre, o líquido antral acumula-se, e o folículo cresce, atingindo seu maior tamanho, preparando-se para liberar o ovócito (SILVERTHORN, 7ª ed.). Os altos níveis de estrogênio na fase folicular tardia preparam o útero para uma possível gestação. O endométrio cresce até uma espessura de 3 a 4 mm. Imediatamente antes da ovulação, as glândulas cervicais produzem grandes quantidades de muco fino e filante (elástico) para facilitar a entrada do espermatozoide. A cena está preparada para a ovulação (SILVERTHORN, 7ª ed.). OVULAÇÃO ↠ Cerca de 16 a 24 horas após o pico de LH, a ovulação ocorre. O folículo maduro secreta prostaglandinas e enzimas proteolíticas, como metaloproteinases de matriz (MMPs) que dissolvem o colágeno e outros componentes do tecido conectivo que mantêm as células foliculares unidas (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ As prostaglandinas podem contribuir para a ruptura da parede folicular em seu ponto mais fraco. O líquido antral jorra do ovário junto com o ovócito, o qual é circundado por duas ou três camadas de células da granulosa. O óvocito é arrastado para dentro da tuba uterina para ser fertilizado ou para morrer (SILVERTHORN, 7ª ed.). FASE LÚTEA INICIAL ↠ Após a ovulação, as células foliculares da teca migram para o espaço antral, misturando-se com as células da granulosa e preenchendo a cavidade. Ambos os tipos celulares, então, transformam-se em células lúteas do corpo lúteo. Esse processo, conhecido como luteinização, envolve mudanças bioquímicas e morfológicas (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ As células lúteas recém-formadas acumulam gotículas de lipídeos e grânulos de glicogênio em seu citoplasma e começam a secretar hormônios. Conforme a fase lútea progride, o corpo lúteo produz continuamente quantidades crescentes de progesterona, estrogênio e inibina (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A progesterona é o hormônio dominante na fase lútea. A síntese de estrogênio diminui inicialmente e depois aumenta. Entretanto, os níveis de estrogênio nunca atingem o pico observado antes da ovulação. A combinação de estrogênio e progesterona exerce retroalimentação negativa sobre o hipotálamo e a adeno- hipófise. A secreção de gonadotrofinas, adicionalmente inibidas pela produção de inibina lútea, permanece baixa ao longo da maior parte da fase lútea (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Sob influência da progesterona, o endométrio continua sua preparação paraa gestação e se torna uma estrutura secretora (SILVERTHORN, 7ª ed.). As glândulas endometriais enrolam-se e crescem vasos sanguíneos adicionais na camada de tecido conectivo. As células endometriais depositam lipídeos e glicogênio no seu citoplasma. Esses depósitos fornecerão a nutrição para o embrião em desenvolvimento enquanto a placenta, a conexão materno-fetal, está se desenvolvendo. A progesterona também causa o espessamento do muco cervical. O muco mais espesso cria um tampão que bloqueia a abertura do colo uterino, impedindo que bactérias e espermatozoides entrem no útero (SILVERTHORN, 7ª ed.). Um efeito interessante da progesterona é a sua capacidade termogênica. Durante a fase lútea de um ciclo ovulatório, a temperatura corporal basal da mulher, medida logo que ela acordar pela manhã e antes de sair da cama, aumenta cerca de 0,3 a 0,5°C e permanece elevada até a menstruação. Como essa mudança no ponto de ajuste da temperatura ocorre após a ovulação, ela não pode ser usada para prever efetivamente a ovulação. Todavia, é uma maneira simples de verificar se a mulher está tendo ciclos ovulatórios ou ciclos anovulatórios (sem ovulação). (SILVERTHORN, 7ª ed.). 12 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck FASE LÚTEA TARDIA E MENSTRUAÇÃO ↠ O corpo lúteo tem uma duração intrínseca de aproximadamente 12 dias. Se a gestação não ocorrer, o corpo lúteo sofre apoptose espontânea. Conforme as células lúteas degeneram, a produção de progesterona e de estrogênio diminui. Essa queda retira o sinal de retroalimentação negativa sobre a hipófise e o hipotálamo, e, assim, a secreção de FSH e de LH aumenta (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Os remanescentes do corpo lúteo formam uma estrutura inativa, chamada de corpo albicante. A manutenção de um endométrio secretor depende da presença de progesterona. Quando o corpo lúteo degenera e a produção hormonal diminui, os vasos sanguíneos da camada superficial do endométrio contraem. Sem oxigênio e nutrientes, as células superficiais morrem. Cerca de dois dias após o corpo lúteo parar de funcionar, ou 14 dias após a ovulação, o endométrio começa a descamar a sua camada superficial, e a menstruação inicia (SILVERTHORN, 7ª ed.). A quantidade total de menstruação liberada do útero é de aproximadamente 40 mL de sangue e 35 mL de líquido seroso e restos celulares. Em geral, existem poucos coágulos no fluxo menstrual devido à presença de plasmina, que degrada os coágulos. A menstruação continua por 3 a 7 dias, já na fase folicular do próximo ciclo ovulatório (SILVERTHORN, 7ª ed.). CICLO UTERINO ↠ O revestimento endometrial do útero também segue um ciclo - o ciclo uterino - regulado por hormônios ovarianos: (SILVERTHORN, 7ª ed.). Menstruação: O começo da fase folicular no ovário corresponde ao sangramento menstrual do útero. Fase proliferativa: A parte final da fase folicular do ovário corresponde à fase proliferativa no útero, durante a qual o endométrio produz uma nova camada de células em antecipação à gestação. Fase secretora: Após a ovulação, os hormônios liberados pelo corpo lúteo convertem o endométrio espessado em uma estrutura secretora. Assim, a fase lútea do ciclo ovariano corresponde à fase secretora do ciclo uterino. Se não ocorrer gravidez, as camadas superficiais do endométrio secretor são perdidas durante a menstruação, quando o ciclo uterino inicia novamente. Mudanças que ocorrem no corpo feminino durante a gestação Mudanças hormonais ↠ Na gravidez, a placenta forma quantidades especialmente grandes de gonadotropina coriônica humana, estrogênios, progesterona e somatomamotropina coriônica humana, e as três primeiras, e provavelmente também a quarta, são essenciais à gravidez normal (GUYTON, 13ª ed.). A gonadotropina coriônica humana causa persistência do corpo lúteo e evita a menstruação: A sua função mais importante é evitar a involução do corpo lúteo ao final do ciclo sexual feminino mensal. Em vez disso, faz com que o corpo lúteo secrete quantidades ainda maiores de seus hormônios sexuais - progesterona e estrogênios - pelos próximos meses. Esses hormônios sexuais impedem a menstruação e fazem com que o endométrio continue a crescer e armazenar grandes quantidades de nutrientes, em vez de se descamar em produto menstrual. Por conseguinte, as células semelhantes às células deciduais, que se desenvolvem no endométrio durante o ciclo sexual feminino normal, transformam-se, na verdade, em células deciduais verdadeiras - bastante inchadas e nutritivas - mais ou menos na mesma época em que o blastocisto se implanta (GUYTON, 13ª ed.). Secreção de estrogênio pela placenta: os estrogênios exercem basicamente função proliferativa na maioria dos órgãos reprodutores e anexos da mulher. Durante a gravidez, as quantidades extremas de estrogênios causam aumento do útero materno; aumento das mamas maternas e crescimento da estrutura dos ductos da mama; e aumento da genitália externa feminina da mãe. Os estrogênios também relaxam os ligamentos pélvicos da mãe, 13 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck assim as articulações sacroilíacas ficam relativamente maleáveis; e a sínfise pubiana, elástica. Essas mudanças facilitam a passagem do feto pelo canal de parto (GUYTON, 13ª ed.). Secreção da progesterona pela placenta: A progesterona faz com que células deciduais se desenvolvam no endométrio uterino. Essas células têm papel importante na nutrição do embrião inicial. A progesterona diminui a contratilidade do útero grávido, evitando, assim, que contrações uterinas causem aborto espontâneo (GUYTON, 13ª ed.). Somatomamotropina coriônica humana: diminui a sensibilidade à insulina e a utilização de glicose pela mãe, disponibilizando, assim, quantidades maiores de glicose ao feto. Como a glicose é o principal substrato usado pelo feto para fornecer energia ao seu crescimento, a possível importância desse efeito hormonal é óbvia. Ademais, o hormônio promove a liberação de ácidos graxos livres das reservas de gordura da mãe, assim, proporcionando essa fonte alternativa de energia para o metabolismo materno durante a gravidez. Portanto, parece que a somatomamotropina coriônica humana é um hormônio metabólico geral, com implicações nutricionais específicas tanto para a mãe quanto para o feto (GUYTON, 13ª ed.). Secreção Hipofisária: A hipófise anterior da mãe aumenta pelo menos 50% durante a gravidez e aumenta sua produção de corticotropina, tireotropina e prolactina. Por sua vez, a secreção hipofisária do hormônio foliculoestimulante e do hormônio luteinizante é quase totalmente suprimida, como consequência dos efeitos inibidores dos estrogênios e progesterona da placenta (GUYTON, 13ª ed.). Secreção de Corticosteroide Aumentada: A secreção adrenocortical de glicocorticoides fica, moderadamente, elevada durante a gravidez. É possível que esses glicocorticoides ajudem a mobilizar aminoácidos dos tecidos maternos, de maneira que possam ser usados na síntese de tecidos no feto (GUYTON, 13ª ed.). Secreção da Glândula Tireoide Aumentada: A glândula tireoide materna aumenta, em geral, até 50% durante a gravidez e eleva sua produção de tiroxina em quantidade correspondente. A maior produção de tiroxina é causada pelo menos parcialmente por efeito tireotrópico da gonadotropina coriônica humana, secretada pela placenta e por pequenas quantidades do hormônio específico estimulante da tireoide, a tireotropina coriônica humana, também secretada pela placenta (GUYTON, 13ª ed.). Secreção da Glândula Paratireoide Aumentada: As glândulas paratireoides maternas geralmente aumentam durante a gravidez; esse aumento é, sobretudo, verdadeiro se a mãe estiver sob dieta deficiente em cálcio. O aumento dessas glândulas causa absorção de cálcio dos ossos maternos (GUYTON, 13ª ed.). Secreção de “Relaxina” pelos Ovários e pela Placenta: Outra substânciaalém dos estrogênios e da progesterona, um hormônio denominado relaxina, é secretada pelo corpo lúteo do ovário e pelos tecidos placentários. Sua secreção aumenta por efeito estimulador da gonadotropina coriônica humana, ao mesmo tempo em que o corpo lúteo e a placenta secretam grande quantidade de estrogênios e progesterona (GUYTON, 13ª ed.). Mudanças anatomofuncionais ↠ A mais aparente dentre as diversas reações da mãe ao feto e os altos níveis de hormônios da gravidez é o aumento de tamanho dos vários órgãos sexuais. Por exemplo, o útero aumenta de aproximadamente 50 gramas para 1.100 gramas, e as mamas quase dobram de tamanho. Ao mesmo tempo, a vagina aumenta, e o introito se expande mais. Além disso, os diversos hormônios podem causar mudanças acentuadas na aparência da gestante, às vezes resultando no desenvolvimento de edema, acne e traços masculinos ou acromegálicos (GUYTON, 13ª ed.). Ganho de peso na gestação: Em média, a gestante engorda durante a gravidez cerca de 11 kg a 15 kg, e grande parte desse ganho de peso ocorre nos últimos dois trimestres. Desse peso adicional, cerca de 3,5 kg são do feto e 2 kg do líquido amniótico da placenta e das membranas fetais. O útero aumenta perto de 1,3 kg, e as mamas outro 1 kg, ainda restando aumento médio de peso de 3,4 kg a 7,8 kg. Cerca de 2 kg são líquido extra no sangue e no líquido extracelular, e geralmente o restante 1,3 kg a 5,6 kg é acúmulo de gordura. O líquido extra é eliminado na urina, nos primeiros dias após o 14 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck parto, ou seja, depois da perda dos hormônios retentores de líquido da placenta (GUYTON, 13ª ed.). Metabolismo durante a gravidez: Como consequência de maior secreção de muitos hormônios durante a gravidez, incluindo a tiroxina, hormônios adrenocorticais e hormônios sexuais, o metabolismo basal da gestante aumenta cerca de 15% na última metade da gravidez. Por conseguinte, frequentemente ela tem sensações de calor excessivo (GUYTON, 13ª ed.). Nutrição durante a gravidez: Sem dúvida, o maior crescimento do feto ocorre durante o último trimestre de gestação; seu peso quase duplica nos últimos dois meses da gestação. Comumente, a mãe não absorve proteínas, cálcio, fosfato e ferro suficientes de sua dieta, nos últimos meses de gestação, para suprir essas necessidades extras do feto. Entretanto, antecipando tais necessidades extras, o corpo da mãe já trata de armazenar essas substâncias - parte na placenta, mas a maioria nos depósitos normais da mulher. Se os elementos nutricionais apropriados não estiverem presentes na dieta da gestante, pode ocorrer uma série de deficiências maternas, especialmente de cálcio, fosfatos, ferro e vitaminas (GUYTON, 13ª ed.). Sistema circulatório materno durante a gravidez: o fluxo de sangue através da placenta e o débito cardíaco materno aumentam durante a gravidez e o volume de sangue materno aumenta durante a gravidez. (O volume de sangue materno pouco antes do termo é cerca de 30% acima do normal. Esse aumento ocorre, principalmente, durante a última metade da gravidez. A causa desse aumento de volume, provavelmente, é devido, pelo menos em parte, à aldosterona e aos estrogênios, que elevam muito durante a gravidez, e à maior retenção de líquido pelos rins. Além disso, a medula óssea fica cada vez mais ativa e produz hemácias extras circulantes no excesso de volume de líquido. Portanto, na época do nascimento do bebê, a mãe tem por volta de 1 a 2 litros de sangue extra no seu sistema circulatório) (GUYTON, 13ª ed.). A respiração materna aumenta durante a gravidez: Devido ao aumento do metabolismo basal da gestante e por causa do aumento de tamanho da mãe, a quantidade total de oxigênio usado por ela, pouco antes do nascimento do bebê, é de aproximadamente 20% acima do normal, e uma quantidade proporcional de dióxido de carbono é formada. Esses efeitos fazem com que a ventilação minuto da mãe aumente (GUYTON, 13ª ed.). Função renal materna durante a gravidez: A formação de urina na gestante geralmente é maior, devido ao aumento da ingestão de líquido e à maior carga de produtos excretores. Mas, além disso, várias alterações especiais ocorrem na função renal (GUYTON, 13ª ed.). Líquido amniótico: Normalmente, o volume de líquido amniótico (o líquido dentro do útero no qual o feto flutua) fica entre 500 mililitros e 1 litro, mas pode ser de até poucos milímetros ou vários litros (GUYTON, 13ª ed.). Pré-eclâmpsia e eclâmpsia: Cerca de 5% de todas as gestantes apresentam hipertensão induzida pela gravidez, que é um rápido aumento da pressão arterial em níveis hipertensivos nos últimos meses de gravidez. Isso também está associado à perda de grande quantidade de proteína na urina. Essa condição é denominada pré-eclâmpsia ou toxemia gravídica e se caracteriza por retenção excessiva de sal e água pelos rins maternos e pelo ganho de peso e desenvolvimento de edema e hipertensão na mãe. Eclâmpsia é um grau extremo de pré-eclâmpsia, caracterizada por espasmo vascular por todo o corpo; convulsões clônicas na mãe, às vezes seguidas por coma; grande redução do débito renal; disfunção hepática; geralmente hipertensão grave; e toxemia generalizada. Geralmente, ocorre pouco antes do nascimento do bebê (GUYTON, 13ª ed.). 15 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Referências JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a embriogênese do sistema reprodutor masculino; 2- Estudar a anatomia do sistema reprodutor masculino, a histologia e a vascularização das gônadas masculinas; 3- Entender a espermatogênese; 4- Compreender a diferenciação sexual e gonadal (cascatas de masculinização e feminilização); Diferenciação sexual e gonadal Os órgãos sexuais de homens e mulheres consistem em três conjuntos de estruturas: gônadas, genitália interna e genitália externa. As gônadas são os órgãos que produzem os gametas, os ovócitos e os espermatozoides que se unem para formar novos indivíduos. As gônadas masculinas são os testículos, que produzem espermatozoides. As gônadas femininas são os ovários, que produzem os ovócitos. As células indiferenciadas das gônadas que se destinam à produção de ovócitos e de espermatozoides são chamadas de células germinativas. A genitália interna consiste em glândulas acessórias e ductos que conectam as gônadas ao meio externo. A genitália externa inclui todas as estruturas reprodutivas externas (SILVERTHORN, 7ª ed.) Determinação do sexo ↠ O desenvolvimento sexual é programado no genoma humano (SILVERTHORN, 7ª ed.) Cada célula nucleada do corpo, com exceção dos ovócitos e dos espermatozoides, contém 46 cromossomos. Esse número de cromossomos é chamado de número diploide, pois os cromossomos ocorrem em pares: 22 pares de cromossomos autossomos, ou homólogos, mais um par de cromossomos sexuais (SILVERTHORN, 7ª ed.) ↠ Os dois cromossomos sexuais, denominados X ou Y, contêm genes que determinam o desenvolvimento dos órgãos sexuais internos e externos. O cromossomo X é maior do que o Y e inclui muitos genes que faltam no cromossomo Y (SILVERTHORN, 7ª ed.) Os ovócitos e os espermatozoides são células haploides (1n) com 23 cromossomos, sendo um proveniente de cada par dos 22 cromossomos pareados, mais um cromossomo sexual. Quando um ovócito e um espermatozoide se unem, o zigoto resultantecontém um único conjunto de 46 cromossomos, com um cromossomo de cada par homólogo proveniente da mãe e outro do pai (SILVERTHORN, 7ª ed.) ↠ Os cromossomos sexuais que uma pessoa herda determinam o seu sexo genético. As mulheres genéticas são XX e os homens genéticos são XY (SILVERTHORN, 7ª ed.) ↠ O cromossomo Y carrega um gene que codifica um fator determinador de testículos. Esse fator organiza a gônada em um testículo em vez de um ovário (GILBERT, 5ª ed.). DETERMINAÇÃO SECUNDÁRIA DO SEXO ↠ A determinação secundária do sexo se refere ao fenótipo corporal externo às gônadas (GILBERT, 5ª ed.). ↠ As características sexuais secundárias são geralmente determinadas pelos hormônios secretados pelas gônadas. Porém, na ausência das gônadas, é gerado o fenótipo feminino. Quando Jost (1953) removeu as gônadas de fetos de coelhos antes da sua diferenciação, os coelhos resultantes eram fêmeas, independentemente de serem XX ou XY. Cada um tinha ovidutos, um útero e uma vagina, mas não tinha um pênis ou estruturas acessórias masculinas (GILBERT, 5ª ed.). Desenvolvimento das gônadas ↠ O desenvolvimento das gônadas é uma situação embriológica única. Os sistemas genitais precoces nos dois sexos são similares; portanto, o período inicial do desenvolvimento genital é um estágio indiferenciado do desenvolvimento sexual (MOORE, 10ª ed.). As gônadas são derivadas de três fontes: (MOORE, 10ª ed.). Mesotélio (epitélio mesodérmico) revestindo a parede abdominal posterior. Mesênquima subjacente (tecido conjuntivo embrionário). Células germinativas primordiais (primeiras células sexuais indiferenciadas). ↠ Em humanos, o rudimento da gônada aparece no mesoderma intermediário durante a quarta semana e permanece sexualmente indiferente até a sétima semana (GILBERT, 5ª ed.). ↠ A genitália interna bipotencial é constituída por dois pares de ductos acessórios: os ductos de Wolff (ductos ÅPG 22 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck mesonéfricos), derivados do rim embrionário, e os ductos de Müller (ductos paramesonéfricos). À medida que o desenvolvimento prossegue ao longo das linhagens masculina ou feminina, um dos pares de ductos se desenvolve, ao passo que o outro se degenera (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Os estágios iniciais do desenvolvimento gonadal ocorrem durante a quinta semana, quando uma área espessada de mesotélio se desenvolve no lado medial do mesonefro, rim primitivo. A proliferação desse epitélio e do mesênquima subjacente produz uma saliência no lado medial dos mesonefros, as cristas gonadais. Cordões epiteliais digitiformes, os cordões gonadais, logo crescem para dentro do mesênquima subjacente (MOORE, 10ª ed.). ↠ As gônadas indiferenciadas (órgãos primordiais antes da diferenciação) agora consistem de um córtex externo e uma medula interna (MOORE, 10ª ed.). ↠ Em embriões com um complexo cromossômico sexual XX, o córtex da gônada indiferenciada se diferencia em ovário, e a medula regride. Em embriões com um complexo cromossômico sexual XY, a medula se diferencia em um testículo, e o córtex regride (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DE UM FENÓTIPO MASCULINO ↠ O desenvolvimento de um fenótipo masculino (características de um indivíduo) requer um cromossomo Y funcional. O gene SRY (região determinante do sexo no cromossomo Y) para o fator determinante do testículo foi localizado na região do braço curto do cromossomo Y. É o fator determinante do testículo regulado pelo cromossomo Y que determina a diferenciação testicular (MOORE, 10ª ed.). ↠ O gene SRY codifica uma proteína (fator de determinação testicular, ou TDF, que se liga ao DNA e ativa genes adicionais, incluindo SOX9, WT1 (proteína tumoralde Wilms) e SF1 (fator esteroidogênico). Os produtos proteicos destes e de outros genes promovem o desenvolvimento da medula gonadal em testículo (SILVERTHORN, 7ª ed.). Observe que o desenvolvimento testicular não requer hormônios sexuais masculinos, como a testosterona. O embrião em desenvolvimento não pode secretar testosterona até as gônadas se diferenciarem em testículos (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Se o feto for XY, as cordas sexuais continuam a proliferar durante a oitava semana, estendendo-se profundamente no tecido conjuntivo. Essas cordas fundem-se uma com a outra, formando uma rede de cordas sexuais internas (medulares) e, em seu terminal mais distal, a rede testicular (rete testis) mais fina. No fim, as cordas testiculares perdem o contato com o epitélio superficial e dele ficam separadas pela grossa matriz extracelular, a túnica albugínea. Assim, as células germinativas são encontradas nas cordas dentro dos testículos (GILBERT, 5ª ed.). Durante a vida fetal e a infância, essas cordas permanecem sólidas. Na puberdade, porém, ficam ocas para formar os túbulos seminíferos, e as células germinativas começam a produção de espermatozóide. O espermatozóide é transportado do interior dos testículos através da rede testicular, que se junta com os dutos eferentes. Esses túbulos eferentes são os remanescentes do rim mesonéfrico, e ligam os testículos ao ducto Wolffiano. Esse ducto tinha sido o tubo coletor do rim mesonéfrico. Em machos, o ducto Wolffiano se diferencia em vasos deferentes, o tubo através do qual o espermatozóide passa para uretra e para fora do corpo (GILBERT, 5ª ed.). ↠ No intervalo, durante o desenvolvimento fetal as células mesenquimatosas intersticiais dos testículos se diferenciaram em células de Leydig, que produzem a testosterona. As células das cordas testiculares se diferenciam em células de Sertoli, que criam o espermatozóide e secretam o hormônio anti-duto Müllerian (GILBERT, 5ª ed.). ↠ Uma vez que os testículos se diferenciam, eles começam a secretar três hormônios que influenciam o desenvolvimento da genitália masculina, externa e interna. As células de Sertoli testiculares secretam a glicoproteína hormônio anti-mülleriano (AMH, do inglês, antimüllerian hormone, também chamado de substância inibidora Mülleriana). As células intersticiais (Leydig) testiculares secretam androgênios: testosterona e seu derivado, di- 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck hidrotestosterona (DHT). A testosterona e a DHT são os hormônios esteroides dominantes em homens. Ambos se ligam ao mesmo receptor de androgênios, porém os dois ligantes levam a respostas diferentes (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ No feto em desenvolvimento, o hormônio anti- mülleriano causa a regressão dos ductos de Müller A testosterona converte os ductos de Wolff nas estruturas acessórias masculinas: epidídimo, ducto deferente e vesícula seminal (SILVERTHORN, 7ª ed.). Mais adiante no desenvolvimento fetal, a testosterona controla a migração dos testículos da cavidade abdominal para o escroto, ou saco escrotal (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ As demais características sexuais masculinas, como a diferenciação da genitália externa, são controladas principalmente pela DHT (SILVERTHORN, 7ª ed.). A testosterona, produzida pelos testículos fetais, a diidrotestosterona (um metabólito da testosterona) e o hormônio antimülleriano (HAM), determinam a diferenciação sexual masculina normal, a qual começa durante a sétima semana (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO FEMININO ↠ No embrião feminino, que não expressa o gene SRY, o córtex da gônada bipotencial desenvolve-se e forma tecido ovariano. Pesquisas indicam que o desenvolvimento feminino é mais complexo do que originalmente se pensou, com diversos genes necessários para o desenvolvimento de ovários funcionais (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Na ausência do AMH testicular, o ducto de Müller dá origem à porção superior da vagina, ao útero e às trompas uterinas. Na ausência de testosterona, os ductos de Wolff degeneram. Na ausência de DHT, a genitália externa assume características femininas (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Em fêmeas, as células germinativas irão residir perto dasuperfície externa da gônada. Ao contrário das cordas sexuais nos machos, que continuam sua proliferação, as cordas sexuais iniciais de gônadas XX degeneram. Porém, o epitélio logo passa a produzir um novo conjunto de cordas sexuais, que não penetram profundamente no mesênquima, mas permanecem perto da superfície externa (córtex) do órgão. Por isso, são chamadas cordas sexuais corticais. Essas cordas são divididas em agregados, cada qual envolvendo uma célula germinativa (GILBERT, 5ª ed.). ↠ A célula germinativa se transformará em óvulo, e as cordas sexuais epiteliais que a rodeiam irão se diferenciar em células granulosas. As células mesenquimatosas do 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ovário diferenciam-se em células tecais. Juntas, as células tecais e granulosas formam os folículos que envolvem as células germinativas e secretam hormônios esteróides. Cada folículo irá conter uma única célula germinativa. Em fêmeas, o ducto Mülleriano permanece intacto, e se diferencia em ovidutos, útero, cérvix e vagina superior; o duto Wolffiano, privado de testosterona, degenera. (GILBERT, 5ª ed.). O desenvolvimento ovariano começa por volta da 12ª semana. A diferenciação sexual feminina primária não depende de hormônios; ela ocorre mesmo se os ovários estiverem ausentes (MOORE, 10ª ed.). ÏMPØRTÅÑTË: O SRY é encontrado em machos XY e nos raros machos XX, estando ausente em fêmeas normais XX e em muitas fêmeas XY. Outro grupo de fêmeas XY foi achado ter mutações de ponta ou de mudança de moldura no gene SRY, e essas mutações impedem a proteína SRY de se ligar ao DNA ou curvá-lo (GILBERT, 5ª ed.). Embriologia do Sistema Reprodutor Masculino DESENVOLVIMENTO DOS TESTÍCULOS ↠ O fator determinante dos testículos induz os cordões seminíferos a se condensarem e se estenderem para dentro da medula da gônada indiferenciada, onde eles se ramificam e se anastomosam para formarem a rede testicular, uma rede de canais (MOORE, 10ª ed.). ↠ A conexão dos cordões seminíferos com o epitélio de superfície é perdida quando uma cápsula fibrosa espessa, a túnica albugínea, se desenvolve. O desenvolvimento da densa túnica albugínea é o aspecto característico do desenvolvimento testicular. Gradualmente, o testículo aumentando se separa do mesonefro em degeneração e é suspenso pelo seu próprio mesentério, o mesórquio (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os cordões seminíferos se desenvolvem nos túbulos seminíferos, túbulos retos e rede testicular. Os túbulos seminíferos são separados pelo mesênquima que dá origem às células intersticiais (células de Leydig). Pela oitava semana, essas células começam a secretar hormônios androgênicos, testosterona e androstenediona, os quais induzem a diferenciação masculina dos ductos mesonéfricos e da genitália externa. (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os túbulos seminíferos não têm luz até a puberdade. As paredes dos túbulos seminíferos são compostas de dois tipos de células: (MOORE, 10ª ed.). As células de Sertoli que sustentam a espermatogênese, elas são derivadas do epitélio de superfície do testículo. As espermatogônias, as células espermáticas primordiais, são derivadas de células germinativas primordiais (MOORE, 10ª ed.). ↠ As células de Sertoli constituem a maior parte do epitélio seminífero no testículo fetal. Durante o desenvolvimento fetal tardio, o epitélio de superfície do testículo se achata para formar o mesotélio (uma camada de células) sobre a superfície externa dos testículos. A rede testicular torna-se contínua com 15 a 20 túbulos mesonéfricos que se tornam os dúctulos eferentes. Esses dúctulos são conectados com o ducto mesonéfrico, que se torna o ducto do epidídimo (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DOS DUCTOS E DAS GLÂNDULAS GENITAIS MASCULINAS ↠ A testosterona estimula os ductos mesonéfricos a formar ductos genitais masculinos, enquanto o HAM faz os ductos paramesonéfricos regredirem. Sob a influência da testosterona produzida pelos testículos fetais na oitava semana, a parte proximal de cada ducto mesonéfrico se torna altamente convoluta para formar o epidídimo (MOORE, 10ª ed.). ↠ À medida que o mesonefro degenera, alguns túbulos mesonéfricos persistem e são transformados em dúctulos eferentes. Esses dúctulos se abrem no ducto do epidídimo. Distal ao epidídimo, o ducto mesonéfrico adquire um revestimento espesso de músculo liso e se torna o ducto deferente (MOORE, 10ª ed.). ↠ Evaginações laterais da extremidade caudal de cada ducto mesonéfrico tornam-se as glândulas (vesículas) seminais, as quais produzem uma secreção que constitui a maior parte do líquido no ejaculado e nutre os espermatozoides. A parte do ducto mesonéfrico entre o ducto dessa glândula e da uretra se torna o ducto ejaculatório (MOORE, 10ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Múltiplas evaginações do endoderma surgem da parte prostática da uretra e crescem adentro do mesênquima circundante. O epitélio glandular da próstata se diferencia a partir dessas células endodérmicas, e o mesênquima associado diferencia-se no estroma (arcabouço de tecido conjuntivo) e no músculo liso da próstata. Os genes Hox controlam o desenvolvimento da próstata bem como das glândulas seminais. Secreções da próstata contribuem para o sêmen (ejaculado) (MOORE, 10ª ed.). ↠ As glândulas bulbouretrais do tamanho de uma ervilha desenvolvem-se a partir de evaginações pareadas derivadas da parte esponjosa da uretra (Fig. 12-33A). As fibras musculares lisas e o estroma se diferenciam do mesênquima adjacente. As secreções dessas glândulas também contribuem para o sêmen (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DA GENITÁLIA EXTERNA MASCULINA Até a sétima semana, as genitálias externas são semelhantes em ambos os sexos. As características sexuais distintas começam a aparecer durante a nona semana, mas as genitálias externas não estão completamente diferenciadas até a 12ª semana. No início da quarta semana, o mesênquima em proliferação produz um tubérculo genital (primórdio do pênis ou do clitóris) em ambos os sexos na extremidade cranial da membrana cloacal (MOORE, 10ª ed.). As saliências labioescrotais e as pregas urogenitais logo se desenvolvem em cada lado da membrana cloacal. O tubérculo genital se alonga formando um falo primordial (pênis ou clitóris). A membrana urogenital reside no assoalho de uma fenda mediana, o sulco uretral, que é limitado pelas pregas uretrais (MOORE, 10ª ed.). ↠ À medida que o falo primordial aumenta e se alonga para formar o pênis, as pregas uretrais formam as paredes laterais do sulco uretral na superfície ventral do pênis. Esse sulco é revestido por uma proliferação de células endodérmicas, a placa uretral, a qual se estende a partir da parte fálica do seio urogenital. As pregas uretrais se fundem uma com a outra ao longo da superfície ventral do pênis para formar a uretra esponjosa (MOORE, 10ª ed.). ↠ O ectoderma superficial se funde no plano mediano do pênis, formando a rafe peniana e confina a uretra esponjosa dentro do pênis (MOORE, 10ª ed.). 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Na extremidade da glande peniana, uma invaginação ectodérmica forma um cordão ectodérmico, que cresce na direção da raiz do pênis para encontrar a uretra esponjosa. À medida que esse cordão se recanaliza, sua luz se une à uretra esponjosa previamente formada. Essa junção completa a parte terminal da uretra e move o orifício uretral externo para a extremidade da glande do pênis (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os genes HOX, FGF, e Shh regulam o desenvolvimento do pênis. Durante a 12ª semana, uma invaginação circular de ectoderma ocorre na periferia da glande peniana. Quando essa invaginação se decompõe, ela forma o prepúcio, uma prega de pele (MOORE, 10ª ed.). ↠ O corpo cavernoso do pênis (uma de duas colunas de tecido erétil) e o corpo esponjoso do pênis (coluna mediana de tecido erétil entreos dois corpos cavernosos) se desenvolvem a partir do mesênquima do falo. As duas saliências labioescrotais crescem uma em direção a outra e se fundem para formar o escroto. A linha de fusão dessas pregas é claramente visível como a rafe escrotal (MOORE, 10ª ed.). DESCIDA DOS TESTÍCULOS ↠ A descida dos testículos está associada: Ao aumento dos testículos e atrofia do mesonefro (rins mesonéfricos), permitindo o movimento dos testículos caudalmente ao longo da parede abdominal posterior. À atrofia dos ductos paramesonéfricos induzida pela SIM, possibilitando o movimento transabdominal dos testículos para os anéis inguinais profundos. Ao aumento do processo vaginal que guia o testículo através do canal inguinal para dentro do escroto. ↠ Com 26 semanas, os testículos já desceram retroperitonealmente (externos ao peritônio) da região lombar superior da parede abdominal posterior para os anéis inguinais profundos. Essa mudança de posição ocorre à medida que a pelve fetal aumenta e o corpo ou tronco se alonga (MOORE, 10ª ed.). ↠ A descida dos testículos através dos canais inguinais para dentro do escroto é controlada por androgênios (p. ex., testosterona) produzidos pelos testículos fetais. O gubernáculo forma um caminho através da parede abdominal anterior para o processo vaginal seguir durante a formação do canal inguinal. O gubernáculo ancora o testículo ao escroto e dirige sua descida para dentro do escroto. A passagem do testículo através do canal inguinal também pode ser auxiliada pelo aumento na pressão intra-abdominal que resulta do crescimento das vísceras abdominais (MOORE, 10ª ed.). ↠ A descida dos testículos através dos canais inguinais para dentro do escroto usualmente começa durante a 26ª semana, e em alguns fetos leva de 2 a 3 dias. Em torno de 32 semanas, ambos os testículos estão presentes no escroto, na maioria dos casos (MOORE, 10ª ed.). ↠ O modo de descida do testículo explica porque o ducto deferente cruza anterior ao ureter; também explica o trajeto dos vasos testiculares. Esses vasos se formam quando os testículos estão localizados no alto da parede abdominal posterior (MOORE, 10ª ed.). ↠ Dentro do escroto, o testículo se projeta dentro da extremidade distal do processo vaginal. Durante o período perinatal, o pedículo de conexão do processo normalmente se oblitera, formando uma membrana serosa, a túnica vaginal, a qual cobre a frente e os lados do testículo (MOORE, 10ª ed.). 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Morfologia do Sistema Reprodutor Masculino ↠ Os órgãos do sistema genital masculino incluem os testículos, um sistema de ductos (epidídimo, ducto deferente, ductos ejaculatórios e uretra), glândulas sexuais acessórias (glândulas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais) e várias estruturas de apoio, incluindo o escroto e o pênis (TORTORA, 14ª ed.) Os testículos (gônadas masculinas) produzem espermatozoides e secretam hormônios. O sistema de ductos transporta e armazena os espermatozoides, auxilia em sua maturação, e libera-os para o meio externo. O sêmen contém espermatozoides mais as secreções produzidas pelas glândulas sexuais acessórias. As estruturas de apoio têm várias funções. O pênis entrega os espermatozoides no aparelho reprodutivo feminino e o escroto contém os testículos (TORTORA, 14ª ed.) ESCROTO ↠ O escroto ("saco") é um saco de pele e fáscia superficial suspenso para fora da cavidade abdominopélvica na raiz do pênis. Ele é coberto por pêlos esparsos e contém um par de testículos ovais (MARIEB, 3ª ed.) ↠ Externamente, o escroto parece uma bolsa de pele ímpar separada em porções laterais por uma crista mediana chamada de rafe do escroto. Internamente, o septo do escroto divide o escroto em dois sacos, cada um contendo um testículo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O septo do escroto é constituído por uma tela subcutânea e tecido muscular chamado músculo dartos, que é composto de feixes de fibras de músculo liso. O músculo dartos também é encontrado na tela subcutânea do escroto. Associado a cada testículo no escroto está o músculo cremaster, várias pequenas bandas de músculo esquelético que descem como uma extensão do músculo oblíquo interno do abdome por meio do funículo espermático para circundar os testículos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O músculo dartos ("coberto de pele"), uma camada de músculo liso na fáscia superficial, enruga a pele escrotal. O músculo cremaster ("suspensório"), bandas de músculo esquelético formadas a partir do músculo oblíquo interno do abdome, eleva os testículos. (MARIEB, 3ª ed.) Contudo, como os espermatozoides viáveis não podem ser produzidos em abundância na temperatura corporal interna (37ºC), a localização superficial do escroto, a qual fornece uma temperatura cerca de 3ºC mais baixa, é uma adaptação essencial. Além disso, o escroto responde a alterações de temperatura. Quando está frio, os testículos são puxados para mais perto da parede aquecida do corpo, e o escroto se torna menor e muito enrugado, aumentando sua espessura para reduzir a perda de calor. Quando está quente, a pele do escroto fica flácida e solta para aumentar a área de superfície para o resfriamento (sudorese), e o testículo desce se afastando do tronco corporal. Essas alterações na área da superfície escrotal auxiliam a manter uma temperatura intra-escrotal razoavelmente constante e refletem a atividade de dois grupos de músculos (MARIEB, 3ª ed.) TESTÍCULOS ↠ Os testículos são um par de glândulas ovais no escroto com aproximadamente 5 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Cada testículo tem massa de 10 a 15 g (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As artérias testiculares longas, as quais são ramos da parte abdominal da aorta que se dirigem para a pelve, irrigam os testículos. As veias testiculares que drenam os testículos originam- se de uma rede chamada de plexo pampiniforme ("forma de gavinha"), a qual circunda a porção da artéria testicular que se localiza dentro do escroto, semelhante a uma videira (MARIEB, 3ª ed.) O plexo pampiniforme absorve calor do sangue arterial, resfriando-o antes que ele chegue aos testículos. Assim, esse plexo fornece uma maneira adicional de manter os testículos em sua temperatura homeostática resfriada (MARIEB, 3ª ed.) ↠ Os testículos são inervados por ambas as divisões do sistema neurovegetativo. Nervos sensoriais associados transmitem impulsos que resultam em dor pancinante e 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck náusea quando os testículos são atingidos com força. As fibras nervosas estão localizadas ao longo dos vasos sanguíneos e linfáticos, em uma bainha de tecido conjuntivo chamada de funículo espermático, o qual passa através do canal inguinal (MARIEB, 3ª ed.) ↠ O testículo é circundado por duas túnicas. A túnica mais externa é a túnica vaginal, com duas camadas, derivada de uma projeção do peritônio. Mais profundamente a essa camada serosa está a túnica albugínea (tecido conjuntivo denso) ("casaco branco"), a cápsula fibrosa do testículo (MARIEB, 3ª ed.) Por causa da migração, cada testículo arrasta consigo um folheto do peritônio, a túnica vaginal. Esta túnica consiste em uma camada parietal exterior e uma camada visceral interna, que recobrem a túnica albugínea nas porções laterais e anterior do testículo (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Um septo se estendendo a partir da túnica albugínea divide o testículo em 250 a 300 lóbulos em forma de cunha, cada um contendo 1 a 4 túbulos seminíferos ("carreadores de espermatozóides") contorcidos, as verdadeiras "fábricas de espermatozóides" (MARIEB, 3ª ed.) ↠ Cada lóbulo é ocupado por um a quatro túbulos seminíferos, que se alojam como novelos envolvidos por um tecido conjuntivo frouxo rico em vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e células intersticiais (células de Leydig) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). O processo pelo qual os túbulos seminíferos contorcidosdos testículos produzem esperma é chamado de espermatogênese (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A parede dos túbulos seminíferos é formada por várias camadas de células denominadas epitélio germinativo ou epitélio seminífero, o qual é envolvido por uma lâmina basal e por uma bainha de tecido conjuntivo. O tecido conjuntivo, por sua vez, é formado por fibroblastos, e sua camada mais interna, aderida à lâmina basal, é formada por células mioides achatadas e contráteis e que têm características de células musculares lisas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O epitélio seminífero é formado por duas populações distintas de células: as células de Sertoli e as células que constituem a linhagem espermatogênica. Essas duas populações têm morfologia, origem embriológica e funções bastante distintas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As células espermatogênicas, as células formadoras de esperma, e as células sustentaculares ou células de Sertoli, que têm várias funções no apoio à espermatogênese. Células-tronco chamadas espermatogônias se desenvolvem a partir das células germinativas primordiais que surgem a partir do saco vitelino e entram nos testículos durante a quinta semana de desenvolvimento. Nos testículos embrionários, as células germinativas primordiais se diferenciam em espermatogônias, que permanecem dormentes durante a infância e começam a produzir espermatozoides ativamente na puberdade (TORTORA, 14ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Em direção ao lúmen do túbulo seminífero contorcido estão camadas de células progressivamente mais maduras. Da menor para a maior maturidade estão os espermatócitos primários, espermatócitos secundários, espermátides e espermatozoides. Depois que um espermatozoide é formado, ele é liberado para o lúmen do túbulo seminífero (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Incorporado entre as células espermatogênicas nos túbulos seminíferos estão grandes células sustentaculares ou células de Sertoli, que se estendem da membrana basal ao lúmen do túbulo. Internamente a membrana basal e espermatogônias, junções oclusivas unem células sustentaculares vizinhas. Estas junções formam uma obstrução conhecida como barreira hematotesticular, porque as substâncias devem passar primeiro pelas células sustentaculares antes de poderem alcançar o espermatozoide em desenvolvimento. Ao isolar os gametas em desenvolvimento do sangue, a barreira hematotesticular evita uma resposta imune contra antígenos de superfície da célula espermatogênica, que são reconhecidas como “estranhas” pelo sistema imune. A barreira hematotesticular não inclui as espermatogônias (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As células de Sertoli apoiam e protegem as células espermatogênicas em desenvolvimento de várias maneiras. Elas nutrem os espermatócitos, espermátides e espermatozoides; fagocitam o excesso de citoplasma das espermátides conforme o desenvolvimento avança e controlam os movimentos das células espermatogênicas e a liberação do espermatozoide no lúmen dos túbulos seminíferos. Elas também produzem líquido para o transporte do espermatozoide, secretam o hormônio inibina e regulam os efeitos da testosterona e do FSH (hormônio foliculoestimulante) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Nos espaços entre túbulos seminíferos adjacentes existem aglomerados de células chamadas células intersticiais ou células de Leydig. Estas células secretam testosterona, o androgênio mais prevalente. Um androgênio é um hormônio que promove o desenvolvimento de características masculinas. A testosterona também promove a libido no homem (impulso sexual) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Circundando cada túbulo seminífero estão as células mióides, semelhantes a músculo liso. Contraindo ritmicamente, essas células podem auxiliar a empurrar os espermatozóides e líquidos testiculares ao longo dos túbulos e para fora dos testículos. Os túbulos seminíferos de cada lóbulo convergem para formar um túbulo seminífero reto, que leva os espermatozóides para a rede do testículo, uma rede tubular situada na face posterior dos testículos. A partir da rede do testículo, os espermatozóides deixam os testículos pelos dúctulos eferentes e entram no epidídimo, o qual envolve a superfície externa dos testículos (MARIEB, 3ª ed.) ESPERMATOGÊNESE ↠ Nos seres humanos, a espermatogênese leva de 65 a 75 dias. Começa com a espermatogônias, que contêm o número diploide (2n) de cromossomos. As espermatogônias são tipos de células-tronco; quando sofrem mitose, algumas espermatogônias permanecem próximo da membrana basal dos túbulos seminíferos em um estado não-diferenciado, para servir como um reservatório de células para a divisão celular futura e subsequente produção de espermatozoides (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O restante das espermatogônias perde contato com a membrana basal, espreme-se através das junções oclusivas da barreira hematotesticular, sofre alterações de desenvolvimento e diferencia-se em espermatócitos primários (TORTORA, 14ª ed.). 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck As células-filhas podem seguir dois caminhos: continuar se dividindo, mantendo-se como células-tronco de outras espermatogônias (chamadas espermatogônias de tipo A), ou diferenciarem-se durante sucessivos ciclos de divisão mitótica para se tornar espermatogônias de tipo B (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Os espermatócitos primários, como as espermatogônias, são diploides (2n); ou seja, contêm 46 cromossomos. Pouco depois de se formar, cada espermatócito primário replica seu DNA e então começa a meiose. Na meiose I, pares de cromossomos homólogos se alinham na placa metafásica, e ocorre o crossingover. Em seguida, o fuso meiótico puxa um cromossomo (duplicado) de cada par para um polo oposto da célula em divisão (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As duas células formadas pela meiose I são chamadas de espermatócitos secundários. Cada espermatócito secundário tem 23 cromossomos, o número haploide (n). Cada cromossomo dentro de um espermatócito secundário, no entanto, é constituído por 2 cromátides (2 cópias do DNA) ainda ligadas por um centrômero. Não há replicação de DNA nos espermatócitos secundários (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Na meiose II, os cromossomos se alinham em fila indiana ao longo da placa metafásica, e as duas cromátides de cada cromossomo se separam. As quatro células haploides resultantes da meiose II são chamadas de espermátides. Portanto, um único espermatócito primário produz quatro espermátides por meio de dois episódios de divisão celular (meiose I e meiose II) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Durante a espermatogênese ocorre um processo único. Conforme as células espermatogênicas proliferam, elas não conseguem completar a separação citoplasmática (citocinese). As células permanecem em contato por meio de pontes citoplasmáticas ao longo de todo o seu desenvolvimento. Este padrão de desenvolvimento provavelmente é responsável pela produção sincronizada de espermatozoides em qualquer área do túbulo seminífero. Também pode ser importante para a sobrevivência de metade dos espermatozoides contendo um cromossomo X e metade contendo um cromossomo Y. O cromossomo X maior pode transportar os genes necessários para a espermatogênese que estão faltando no cromossomo Y menor (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A fase final da espermatogênese, a espermiogênese, consiste no desenvolvimento de espermátides haploides em espermatozoides. Não ocorre divisão celular na espermiogênese; cada espermátide se torna um espermatozoide único. Durante este processo, as espermátides esféricas se transformam no espermatozoide delgado e alongado. Um acrossomo forma-se no topo do núcleo, que se condensa e se alonga, um flagelo se desenvolve, e as mitocôndrias se multiplicam (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As células sustentaculares eliminam o excesso de citoplasma que se desprende. Por fim, os espermatozoides são liberados de suas conexões com as células sustentaculares, em um evento conhecido como espermiação.O espermatozoide então entra no lúmen do túbulo seminífero. O líquido secretado pelas células sustentaculares “empurra” os espermatozoides ao longo de seu caminho em direção aos ductos dos testículos. Neste momento, os espermatozoides ainda não conseguem se deslocam sozinhos (TORTORA, 14ª ed.). ESPERMATOZOIDE ↠ A cada dia, aproximadamente 300 milhões de espermatozoides concluem o processo de espermatogênese. Um espermatozoide tem aproximadamente 60 µm de comprimento e contém várias estruturas que são adaptadas para alcançar e penetrar um oócito secundário. As principais partes de 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck um espermatozoide são a cabeça e a cauda. A cabeça pontiaguda e achatada do espermatozoide mede aproximadamente 4 a 5 µm de comprimento. Ela contém um núcleo com 23 cromossomos bem acondicionados. Englobando os dois terços anteriores do núcleo está o acrossomo, uma vesícula semelhante a capa preenchida com enzimas que ajudam o espermatozoide a penetrar no oócito secundário para promover a fertilização. Entre as enzimas estão as proteases e a hialuronidase (TORTORA, 14ª ed.). FORMAÇÃO DO ACROSSOMO O citoplasma das espermátides contém um complexo de Golgi bastante desenvolvido. Pequenos grânulos PAS positivos, chamados grânulos proacrossômicos, acumulam-se no complexo de Golgi. Depois, fundem-se para formar um único grânulo acrossômico no interior de uma vesícula limitada por membrana, chamada vesícula acrossômica. Os centríolos migram para perto da superfície da célula, em posição oposta à vesícula acrossômica, e iniciam a formação do axonema (o conjunto de microtúbulos que formam o eixo central de um flagelo) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A vesícula e o grânulo acrossômico se estendem sobre a metade anterior do núcleo como um capuz e passam a ser chamados inicialmente de capuz acrossômico e finalmente de acrossomo. O acrossomo contém várias enzimas hidrolíticas, como hialuronidase, neuraminidase, fosfatase ácida e uma protease que tem atividade semelhante à da tripsina. O acrossomo, portanto, assemelha-se a um lisossomo. As enzimas são capazes de dissociar as células da corona radiata e de digerir a zona pelúcida, estruturas que envolvem os ovócitos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). O flagelo cresce a partir de um dos centríolos, enquanto mitocôndrias se acumulam ao redor da porção proximal do flagelo, chamada de peça intermediária. A disposição das mitocôndrias é outro exemplo da concentração dessas organelas em locais relacionados com movimento celular e alto consumo de energia. O movimento flagelar é resultado da interação de microtúbulos, trifosfato de adenosina (ATP) e dineína, uma proteína com atividade de ATPase (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A cauda de um espermatozoide é subdividida em quatro partes: colo, peça intermediária, peça principal e peça terminal. O colo é a região encontrada imediatamente atrás da cabeça, que contém centríolos. Os centríolos formam os microtúbulos que compreendem o restante da cauda. A peça intermediária contém mitocôndrias dispostas em espiral, que fornecem energia (ATP) para a locomoção dos espermatozoides até o local da fertilização e para o metabolismo do espermatozoide. A peça principal é a parte mais longa da cauda, e a peça terminal é a parte distal e afilada da cauda. Uma vez ejaculados, a maior parte dos espermatozoides não sobrevive por mais de 48 h no sistema genital feminino (TORTORA, 14ª ed.). CONTROLE HORMONAL DA FUNÇÃO TESTICULAR Embora os fatores de iniciação sejam desconhecidos, na puberdade, determinadas células neurosecretoras do hipotálamo aumentam a sua secreção de hormônio liberador de gonadotropina (GnRH). Este hormônio estimula, por sua vez, os gonadotropos na adenohipófise a aumentar sua secreção de duas gonadotropinas (TORTORA, 14ª ed.). O LH estimula as células intersticiais que estão localizadas entre os túbulos seminíferos a secretar o hormônio testosterona. A testosterona, via feedback negativo, suprime a secreção de LH pelos gonadotropos da adeno-hipófise e suprime a secreção de GnRH pelas células neurossecretoras do hipotálamo. Em algumas células-alvo, como aquelas dos órgãos genitais externos e da próstata, a enzima 5- alfarredutase converte a testosterona em outro androgênio, chamado di-hidrotestosterona (DHT) (TORTORA, 14ª ed.). 12 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O FSH atua indiretamente ao estimular a espermatogênese. O FSH e a testosterona atuam sinergicamente nas células sustentaculares estimulando a secreção da proteína de ligação a androgênios (ABP) no lúmen dos túbulos seminíferos e no líquido intersticial em torno das células espermatogênicas. A ABP se liga à testosterona, mantendo a sua concentração elevada. A testosterona estimula as etapas finais da espermatogênese nos túbulos seminíferos. Uma vez alcançado o grau de espermatogênese necessário para as funções reprodutivas masculinas, as células sustentaculares liberam inibina, um hormônio proteico assim chamado por inibir a secreção de FSH pela adeno- hipófise (TORTORA, 14ª ed.). Um sistema de feedback negativo regula a produção de testosterona Quando a concentração de testosterona no sangue aumenta até um determinado nível, isso inibe a liberação de GnRH pelas células hipotalâmicas (TORTORA, 14ª ed.). SISTEMA DE DUCTOS MASCULINO ↠ Os espermatozóides viajam dos testículos para o exterior do corpo por meio de um sistema de ductos. Em ordem (proximal a distal), os ductos acessórios são o epidídimo, os dúctulos eferentes, o ducto ejaculatório e a uretra (MARIEB, 3ª ed.). EPIDÍDIMO ↠ O epidídimo é um órgão em forma de vírgula de aproximadamente 4 cm de comprimento que fica ao longo da margem posterior de cada testículo. Cada epidídimo consiste principalmente em ductos do epidídimo bem enrolados. Os ductos eferentes do testículo se unem aos ductos do epidídimo na parte maior e superior do epidídimo, chamada de cabeça do epidídimo. O corpo do epidídimo é a parte média estreita, e a cauda do epidídimo é a parte inferior menor. Na sua extremidade distal, a cauda do epidídimo continua como o ducto deferente (TORTORA, 14ª ed.). Os ductos do epidídimo mediriam aproximadamente 6 m de comprimento se fossem desenrolados. São revestidos por epitélio pseudoestratificado e circundados por camadas de músculo liso. As superfícies livres das células cilíndricas contêm estereocílios, que apesar de seu nome são microvilosidades longas e ramificadas (não cílios) que aumentam a área de superfície para a reabsorção de espermatozoides degenerados. Funcionalmente, o epidídimo é o local de maturação dos espermatozoides, processo pelo qual o espermatozoide adquire motilidade e a capacidade de fertilizar um óvulo. Isto ocorre ao longo de um período de aproximadamente 14 dias. O epidídimo também ajuda a impulsionar os espermatozoides pelos ductos deferentes durante a excitação sexual, pela contração peristáltica do seu músculo liso. Além disso, o epidídimo armazena espermatozoides, que permanecem viáveis aqui por até vários meses. Qualquer espermatozoide armazenado que não seja ejaculado durante esse período de tempo é, por fim, reabsorvido. (TORTORA, 14ª ed.). DUCTO DEFERENTE ↠ No interior da cauda do epidídimo, o ducto do epidídimo torna-se menos enrolado e o seu diâmetro aumenta. Além deste ponto, o ducto é conhecido como ducto deferente O ducto deferente, que mede aproximadamente 45 cm de comprimento, ascende ao longo da margem posterior do epidídimo através do funículo espermático e, em seguida, entra na cavidade pélvica. Ele contorna o ureter e passa lateralmente e desce pela face posterior da bexiga urinária. A parte terminal dilatada do ducto deferente é a ampola (TORTORA, 14ª ed.). O funículo espermático é uma estrutura de suporte do sistema genital masculino que ascende a partir do escroto. Ele consiste na porção do ducto deferente que ascende através do escroto (TORTORA,ponte. O crescimento hipofisário durante a infância é discreto, com um padrão de crescimento linear e em todas as direções, atingindo uma altura não superior a 6mm nas crianças abaixo de 12 anos, sem diferença significativa entre os sexos. Na puberdade ocorre hipertrofia fisiológica da hipófise, sendo 10mm o limite máximo da altura para o sexo feminino (com a convexidade superior da glândula ultrapassando, às vezes, os limites da sela) e 7 a 8mm para o sexo masculino. Hipertrofia "fisiológica" da glândula também pode ser observada em pacientes com puberdade precoce central. Por razões ainda não esclarecidas, apenas um terço destes pacientes apresenta aumento da hipófise. Na gestação, a glândula hipofisária aumenta progressivamente de tamanho. No terceiro trimestre, ela usualmente atinge a altura de 10mm e apresenta a superfície superior convexa, com relativo aumento de intensidade em T1. A altura máxima é atingida no pós-parto imediato, chegando a medir 12mm. Após a primeira semana, a glândula hipofisária rapidamente retorna ao seu tamanho normal, aparentemente independente do aleitamento materno (2). Há um alargamento da haste hipofisária nesse período, nunca ultrapassando, todavia, 4mm de diâmetro transverso. O espessamento da haste hipofisária pode se associar, em todas as faixas etárias, a disfunções neuro ou adeno-hipofisárias, e o seu achado em exames de imagem exige o aprofundamento da propedêutica. Em adultos, à semelhança do que ocorre em crianças, o aumento na espessura da haste está correlacionado ao quadro de Diabetes Insipidus (DI), ao comprometimento variável na função adeno-hipofisária e à hiperprolactinemia discreta em cerca de 40% dos pacientes (13). A etiologia mais provável no adulto é infundíbulo-neuro-hipofisite auto-imune. Referências LIMA, N. F. S. O. Distúrbios da Hipófise. Dissertação de Mestrado, Universidade Fernando Pessoa, 2015. SOUSA, R. I. N. Caracterização de tumores da hipófise diagnosticados na população octogenária. Dissertação de Mestrado, 2019. DRUMMOND et. al. Alterações da haste hipofisária e suas implicações clínicas. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 2003. PAWLINA, W. Ross Histologia: Texto e Atlas, 7ª edição. Guanabara Koogan, RJ, 2016 MACHADO A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional, Atheneu, 3ª ed. MARIEB, E.; WILHELM, P.; MALLATT, J. Anatomia humana, 7ª ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MOORE. Embriologia Clínica, 10ª ed.. Elsevier, RJ, 2016. TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivo 1- Compreender o eixo hipotálamo-hipofisário e glândulas periféricas. *Feedback hormonal positivo e negativo Comparação do controle exercido pelos sistemas nervoso e endócrino ↠ Os sistemas nervoso e endócrino atuam juntos para coordenar funções de todos os sistemas do corpo. Lembre-se de que o sistema nervoso atua por meio de impulsos nervosos (potenciais de ação) conduzidos ao longo dos axônios dos neurônios. Nas sinapses, os impulsos nervosos desencadeiam a liberação de moléculas mediadoras (mensageiras) chamadas de neurotransmissores (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O sistema endócrino também controla atividades corporais por meio da liberação de mediadores, chamados hormônios, porém os meios de controle dos dois sistemas são bastante diferentes (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Um hormônio é uma molécula mediadora liberada em alguma parte do corpo que regula a atividade celular em outras partes do corpo. A maioria dos hormônios entra no líquido intersticial e, depois, na corrente sanguínea. O sangue circulante leva hormônios às células de todo o corpo. Tanto os neurotransmissores quanto os hormônios exercem seus efeitos ligando-se a receptores encontrados nas suas “células-alvo” (TORTORA, 14ª ed.). Inúmeros mediadores atuam tanto como neurotransmissor quanto como hormônio. Um exemplo comum é a norepinefrina, que é liberada como neurotransmissor pelos neurônios pós-ganglionares simpáticos e como hormônio pelas células cromafins da medula da glândula suprarrenal (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Muitas vezes, as respostas do sistema endócrino são mais lentas que as respostas do sistema nervoso; embora alguns hormônios ajam em segundos, a maioria demora alguns minutos ou mais para produzir uma resposta. Em geral, os efeitos da ativação pelo sistema nervoso são mais breves que os do sistema endócrino. O sistema nervoso atua em glândulas e músculos específicos. A influência do sistema endócrino é muito mais ampla; ajuda a regular praticamente todos os tipos de células do corpo (TORTORA, 14ª ed.). Sistema Hipotálamo-Hipofisário Por muitos anos, a glândula hipófise foi chamada de glândula endócrina “mestra” porque secreta vários hormônios que controlam outras glândulas endócrinas. Hoje, sabemos que a hipófise propriamente dita tem um mestre – o hipotálamo. Essa pequena região do encéfalo abaixo do tálamo é a principal conexão entre os sistemas nervoso e endócrino. As células no hipotálamo sintetizam, pelo menos, nove hormônios diferentes e a hipófise secreta sete. Juntos, esses hormônios desempenham funções importantes na regulação de praticamente todos os aspectos do crescimento, desenvolvimento, metabolismo e homeostasia (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Há no sistema hipotálamo-hipofisário pelo menos três locais em que são produzidos diferentes grupos de hormônios: (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Peptídios produzidos por agregados de neurônios secretores situados no hipotálamo, nos núcleos supraópticos e paraventriculares. Os hormônios produzidos nos corpos celulares desses neurônios são transportados ao longo dos seus axônios e acumulados nas terminações destes axônios, situadas na pars nervosa da neuro-hipófise. Quando estimulados, esses neurônios liberam a secreção, que se difunde pelo meio extracelular e entra em capilares sanguíneos da neuro-hipófise. Esses capilares originam vênulas e veias que acabam distribuindo os hormônios pelo corpo Peptídios produzidos por neurônios secretores dos núcleos dorsomediano, dorsoventral e infundibular do hipotálamo. Esses hormônios são levados ao longo dos axônios até suas terminações na eminência mediana, onde são armazenados. Quando liberados, os hormônios entram nos capilares que formam o plexo capilar primário na eminência mediana e são transportados para a pars distalis por vasos que comunicam o plexo capilar primário com o plexo secundário. Esses hormônios controlam a secreção de hormônios da pars distalis. Proteínas e glicoproteínas produzidas por células da pars distalis. Esses hormônios entram nos vasos que formam o segundo trecho do sistema porta-hipofisário, o plexo capilar secundário. Deste plexo são transportados por veias e distribuídos pela circulação sanguínea. A ocitocina é produzida principalmente pelos neurônios paraventriculares, e o hormônio antidiurético (ADH) é produzido principalmente pelos neurônios supra-ópticos (MARIEB, 3ª ed.). ÅPG 16 – “TODO DIA ELE FAZ TUDO SEMPRE IGUAL” 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Sistema porta-hipofisário ↠ A pars distalis é responsável pela secreção de hormônios que controlam outros órgãos endócrinos importantes. Para entender bem o controle da secreção de hormônios pela pars distalis é necessário conhecer o suprimento sanguíneo da hipófise como um todo (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Ele é feito por dois grupos de artérias originadas das artérias carótidas internas: as artérias hipofisárias superiores, direita e esquerda, irrigam a eminência mediana e o infundíbulo; as artérias hipofisárias inferiores, direita e esquerda, irrigam principalmente a neuro-hipófise, mas enviam alguns ramos para o pedículo14ª ed.). DUCTO EJACULATÓRIO ↠ Cada ducto ejaculatório mede aproximadamente 2 cm de comprimento e é formado pela união do ducto da glândula seminal e a ampola do ducto deferente. Os curtos 13 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ductos ejaculatórios formam-se imediatamente superiores à base (parte superior) da próstata e passam inferior e anteriormente através da próstata. Eles terminam na parte prostática da uretra, onde ejetam os espermatozoides e secreções das glândulas seminais pouco antes da liberação do sêmen da uretra para o exterior (TORTORA, 14ª ed.). URETRA ↠ Nos homens, a uretra é o ducto terminal compartilhado dos sistemas reprodutivo e urinário; serve como uma passagem tanto para o sêmen quanto para a urina. Medindo aproximadamente 20 cm, passa através da próstata, dos músculos profundos do períneo e do pênis; é subdividida em três partes ↠ A parte prostática da uretra mede 2 a 3 cm de comprimento e passa através da próstata. Conforme esse ducto continua inferiormente, passa através dos músculos profundos do períneo, onde é conhecido como parte membranácea da uretra. A parte membranácea da uretra mede aproximadamente 1 cm de comprimento. Quando esse ducto passa através do corpo esponjoso do pênis, é conhecido como parte esponjosa da uretra, que mede aproximadamente 15 a 20 cm de comprimento. A parte esponjosa da uretra termina no óstio externo da uretra (TORTORA, 14ª ed.). GLÂNDULAS SEXUAIS ACESSÓRIAS ↠ Os ductos do sistema genital masculino armazenam e transportam os espermatozoides, mas as glândulas sexuais acessórias secretam a maior parte da porção líquida do sêmen. As glândulas sexuais acessórias incluem as glândulas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais (TORTORA, 14ª ed.). GLÂNDULAS SEMINAIS ↠ O par de glândulas seminais são estruturas enroladas em forma de bolsa que medem aproximadamente 5 cm de comprimento e se encontram posteriormente à base da bexiga urinária e anteriormente ao reto (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Por meio dos ductos das glândulas seminais, elas secretam um líquido viscoso alcalino que contém frutose (um açúcar monossacarídio), prostaglandinas e proteínas de coagulação, que são diferentes das do sangue. A natureza alcalina do líquido seminal ajuda a neutralizar o meio ácido da uretra masculina e do sistema genital feminino, que de outro modo inativariam e matariam os espermatozoides (TORTORA, 14ª ed.). A frutose é utilizada para a produção de ATP pelos espermatozoides. As prostaglandinas contribuem para a mobilidade e a viabilidade dos espermatozoides e podem estimular as contrações do músculo liso no sistema genital feminino. As proteínas de coagulação ajudam o sêmen a coagular após a ejaculação. O líquido secretado pelas glândulas seminais normalmente constitui aproximadamente 60% do volume do sêmen (TORTORA, 14ª ed.). PRÓSTATA ↠ A próstata é uma glândula única em forma de rosca, aproximadamente do tamanho de uma bola de golfe. Ela mede cerca de 4 cm de um lado a outro, aproximadamente 3 cm de cima a baixo, e cerca de 2 cm de anterior a posterior (TORTORA, 14ª ed.). Encontra-se inferiormente à bexiga urinária e circunda a parte prostática da uretra. A próstata aumenta de tamanho lentamente desde o nascimento até a puberdade. Em seguida, se expande rapidamente até aproximadamente os 30 anos de idade; após esse período, seu tamanho normalmente permanece estável até os 45 anos, quando podem ocorrer novos aumentos (TORTORA, 14ª ed.). 14 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ A próstata secreta um líquido leitoso e ligeiramente ácido (pH de aproximadamente 6,5) que contém diversas substâncias: (TORTORA, 14ª ed.). O ácido cítrico do líquido prostático é usado pelos espermatozoides para a produção de ATP por meio do ciclo de Krebs. Várias enzimas proteolíticas, como o antígeno prostático específico (PSA), pepsinogênios, lisozima, amilase e hialuronidase, que por fim quebram as proteínas de coagulação das glândulas seminais. A função da fosfatase ácida secretada pela próstata é desconhecida. A plasmina seminal do líquido prostático é um antibiótico que pode destruir as bactérias. A plasmina seminal pode ajudar a diminuir a quantidade de bactérias que ocorrem naturalmente no sêmen e no sistema genital inferior da mulher. As secreções da próstata entram na parte prostática da uretra por meio de diversos canais prostáticos. As secreções prostáticas constituem aproximadamente 25% do volume do sêmen e contribuem para a motilidade e viabilidade dos espermatozoides (TORTORA, 14ª ed.). GLÂNDULAS BULBOURETRAIS ↠ O par de glândulas bulbouretrais mede aproximadamente o tamanho de ervilhas. Elas se encontram inferiormente à próstata em ambos os lados da parte membranácea da uretra, no interior dos músculos profundos do períneo, e seus ductos se abrem para dentro da parte esponjosa da uretra (TORTORA, 14ª ed.). Durante a excitação sexual, as glândulas bulbouretrais secretam um líquido alcalino na uretra que protege os espermatozoides que passam a neutralizar os ácidos da urina na uretra. Também secretam um muco que lubrifica a ponta do pênis e a túnica mucosa da uretra, diminuindo a quantidade de espermatozoides danificados durante a ejaculação. Alguns homens liberam uma ou duas gotas de muco durante a estimulação sexual e a ereção. Esse líquido não contém espermatozoides (TORTORA, 14ª ed.). SEMÊN O sêmen é uma mistura de espermatozoides e líquido seminal, um líquido que consiste nas secreções dos túbulos seminíferos, glândulas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais. O volume de sêmen em uma ejaculação típica é de 2,5 a 5 mililitros (ml), com 50 a 150 milhões de espermatozoides por ml (TORTORA, 14ª ed.). Apesar da leve acidez do líquido prostático, o sêmen tem um pH ligeiramente alcalino de 7,2 a 7,7, em decorrência do pH mais elevado e maior volume do líquido proveniente das glândulas seminais. A secreção prostática confere ao sêmen um aspecto leitoso, e os líquidos das glândulas seminais e glândulas bulbouretrais lhe dão uma consistência pegajosa. O líquido seminal fornece aos espermatozoides um meio de transporte, nutrientes e proteção do ambiente ácido hostil da uretra masculina e da vagina feminina (TORTORA, 14ª ed.). PÊNIS ↠ O pênis contém a uretra e é uma passagem para a ejaculação do sêmen e a excreção de urina. Ele tem uma forma cilíndrica e é composto por um corpo, uma glande e uma raiz (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O corpo do pênis é constituído por três massas cilíndricas de tecido, cada uma circundada por tecido fibroso chamado de túnica albugínea. As duas massas dorsolaterais são chamadas de corpos cavernosos do pênis. A massa médio-ventral menor, o corpo esponjoso do pênis, contém a parte esponjosa da uretra e a mantém aberta durante a ejaculação. A pele e uma tela subcutânea envolvem todas as três massas, que consistem em tecido erétil (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O tecido erétil é composto por diversos seios sanguíneos (espaços vasculares) revestidos por células endoteliais e circundados por músculo liso e tecido conjuntivo e elástico (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A extremidade distal do corpo esponjoso do pênis é uma região um pouco aumentada, em forma de bolota, chamada de glande do pênis; a sua margem é a coroa. A uretra distal aumenta no interior da glande do pênis e forma uma abertura terminal em forma de fenda, o óstio externo da uretra (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Recobrindo a glande em um pênis não circuncidado está o frouxamente ajustado prepúcio do pênis (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A raiz do pênis é a porção de inserção (porção proximal). Consiste no bulbo do pênis, a continuação posterior expandida da base do corpo esponjoso do pênis, e o ramo do pênis, as duas porções separadas e cônicas do corpo cavernoso do pênis. O bulbo do pênis está ligado à face inferior dos músculos profundos do períneo e é fechado pelo músculo bulboesponjoso,um músculo que auxilia na ejaculação. Cada ramo do pênis se dobra lateralmente para longe do bulbo do pênis para se inserir no ísquio e ramo púbico inferior, e é circundado pelo músculo isquiocavernoso (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O peso do pênis é suportado por dois ligamentos que são contínuos com a fáscia do pênis. O ligamento fundiforme do pênis surge a partir da parte inferior da linha alba. O ligamento suspensor do pênis surge a partir da sínfise púbica (TORTORA, 14ª ed.). 15 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Após a estimulação sexual (visual, tátil, auditiva, olfatória ou imaginada), fibras parassimpáticas da porção sacral da medula espinal iniciam e mantêm uma ereção, o alargamento e o enrijecimento do pênis. As fibras parassimpáticas produzem e liberam óxido nítrico (NO). O NO faz com que o músculo liso das paredes das arteríolas que irrigam o tecido erétil relaxe, o que possibilita que estes vasos sanguíneos se dilatem (TORTORA, 14ª ed.). Referências GILBERT, S. F. Biologia do desenvolvimento, Editora Funpec, 5ª ed., SP, 2003. SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 16 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Compreender os processos de fecundação até a nidação; 2- Estudar o desenvolvimento fetal (mudanças ocorridas em cada semana); 3- Diferenciar a idade gestacional da idade embrionária. Fecundação até a Nidação Primeira semana de desenvolvimento humano Uma vez que o ovócito é liberado a partir da ruptura do folículo, ele é levado para dentro da tuba uterina pelos batimentos ciliares. Enquanto isso, os espermatozoides depositados no trato reprodutor feminino devem passar pela etapa de maturação final, a capacitação, que permitirá que o espermatozoide nade rapidamente e fertilize o ovócito. Aparentemente, o processo envolve mudanças na membrana externa da cabeça do espermatozoide (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A fertilização do ovócito pelo espermatozoide é o resultado de um encontro ao acaso, possivelmente auxiliado por moléculas químicas de atração produzidas pelo ovócito. Um ovócito pode ser fertilizado durante apenas cerca de 12 a 14 horas após a ovulação. No trato reprodutor feminino, os espermatozoides permanecem viáveis por cerca de 5 a 6 dias. Aparentemente, eles ligam-se ao epitélio das tubas uterinas enquanto aguardam os sinais químicos liberados pelo ovócito recém-ovulado (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Depois que o homem ejacula sêmen na vagina da mulher durante a relação sexual, alguns espermatozoides são transportados, de 5 a 10 minutos, na direção ascendente da vagina e através do útero e das trompas uterinas até as ampolas das trompas uterinas, próximas às terminações ovarianas das trompas. Esse transporte dos espermatozoides é auxiliado por contrações do útero e das trompas uterinas, estimuladas por prostaglandinas no líquido seminal masculino e também por ocitocina liberada pela hipófise posterior da mulher durante o seu orgasmo (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Dos milhões de espermatozoides oriundos de uma única ejaculação, somente cerca de 100 chegam até a ampola de uma das trompas uterinas (SILVERTHORN, 7ª ed.). PASSAGEM DE UM ESPERMATOZOIDE ATRAVÉS DA CORONA RADIATA E PENETRAÇÃO DA ZONA PELÚCIDA ↠ Para fertilizar o ovócito, o espermatozoide deve penetrar uma camada externa de células frouxamente unidas, chamadas de células da granulosa (a corona radiata), e uma capa protetora de glicoproteínas, chamada de zona pelúcida (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Para passar por essas barreiras, o espermatozoide capacitado libera enzimas poderosas a partir do acrossomo da cabeça do espermatozoide, em um processo conhecido como reação acrossômica. As enzimas dissolvem as junções celulares e a zona pelúcida, permitindo que o espermatozoide siga seu caminho em direção ao ovócito (SILVERTHORN, 7ª ed.). As enzimas esterase, acrosina e neuraminidase parecem causar a lise (dissolução) da zona pelúcida, formando assim uma passagem para o espermatozoide penetrar o oócito. A mais importante dessas enzimas é a acrosina, uma enzima proteolítica (MOORE, 10ª ed.). REAÇÃO ZONAL OU CORTICAL ↠ O primeiro espermatozoide a encontrar o ovócito encontra receptores ligadores de espermatozoides na membrana do ovócito e liga-se a este. A fusão da membrana do espermatozoide com a membrana do ovócito inicia uma reação química, chamada de reação cortical, que impede que outros espermatozoides fecundem este ovócito. Na reação cortical, os grânulos corticais ligados à membrana na região periférica do citoplasma do ovócito liberam seus conteúdos no espaço imediatamente externo da membrana do ovócito (SILVERTHORN, 7ª ed.). Esses compostos químicos alteram rapidamente a membrana e a zona pelúcida circundante para prevenir a polispermia, em que um ovócito é fertilizado por mais de um espermatozoide (SILVERTHORN, 7ª ed.). FUSÃO DAS MEMBRANAS PLASMÁTICAS DO OÓCITO E DO ESPERMATOZOIDE ↠ As membranas plasmáticas ou celulares do oócito e do espermatozoide se fundem e se rompem na região da fusão. A cabeça e a cauda do espermatozoide entram no citoplasma do oócito, mas a membrana celular APG 23 – DEPOIS DE 9 MESES VOCÊ VÊ O RESULTADO 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck espermática (membrana plasmática) e as mitocôndrias não entram. A fosfolipase C-zeta do espermatozoide gera mudanças na concentração de cálcio que, por sua vez, reativam o ciclo celular do oócito (MOORE, 10ª ed.). TÉRMINO DA SEGUNDA DIVISÃO MEIÓTICA DO OÓCITO E FORMAÇÃO DO PRONÚCLEO FEMININO ↠ Quando o espermatozoide penetra o oócito, este é ativado e termina a segunda divisão meiótica formando um oócito maduro e um segundo corpo polar. Em seguida, os cromossomos maternos se descondensam e o núcleo do oócito maduro se torna o pronúcleo feminino (MOORE, 10ª ed.). FORMAÇÃO DO PRONÚCLEO MASCULINO ↠ Dentro do citoplasma do oócito, o núcleo do espermatozoide aumenta para formar o pronúcleo masculino, e a cauda do espermatozoide degenera. Morfologicamente, os pronúcleos masculino e feminino são indistinguíveis. Durante o crescimento dos pronúcleos, eles replicam seu DNA-1 n (haploide), 2c (duas cromátides). O oócito contendo os dois pronúcleos haploides é denominado oótide (MOORE, 10ª ed.). A ÓTIDE SE TORNA UM ZIGOTO Logo que os pronúcleos se fundem em um único agregado diploide de cromossomos, a oótide se torna um zigoto. Os cromossomos no zigoto se organizam em um fuso de clivagem, em preparação para as sucessivas divisões do zigoto (MOORE, 10ª ed.). ↠ O zigoto é geneticamente único porque metade dos cromossomos é materna e a outra metade é paterna. O zigoto contém uma nova combinação de cromossomos diferente da combinação das células paternas. Esse mecanismo é a base da herança biparental e da variação da espécie humana. A meiose possibilita a distribuição aleatória dos cromossomos paternos e maternos entre as células germinativas. O crossing-over dos cromossomos, por relocação dos segmentos dos cromossomos paterno e materno “embaralha” os genes, produzindo uma recombinação do material genético. O sexo cromossômico do embrião é determinado na fecundação dependendo do tipo de espermatozoide (X ou Y) que fecunde o oócito (MOORE, 10ª ed.). RESUMO DA FECUNDAÇÃO Estimula o oócito a completar a segunda divisão meiótica. Restaura o número diploide normal de cromossomos (46) no zigoto. Resulta na variação da espécie humana por meio da mistura de cromossomospaternos e maternos. Determina o sexo cromossômico do embrião. Causa a ativação metabólica da oótide (oócito quase maduro) e inicia a clivagem do zigoto. Clivagem do zigoto ↠ A clivagem consiste em divisões mitóticas repetidas do zigoto, resultando em um aumento rápido do número de células (blastômeros). Essas células embrionárias tornam- se menores a cada divisão. A clivagem ocorre conforme o zigoto passa pela tuba uterina em direção ao útero (MOORE, 10ª ed.). ↠ Durante a clivagem, o zigoto continua dentro da zona pelúcida. A divisão do zigoto em blastômeros se inicia 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck aproximadamente 30 horas após a fecundação. As divisões subsequentes seguem-se uma após a outra, formando, progressivamente, blastômeros menores. Após o estágio de nove células, os blastômeros mudam sua forma e se agrupam firmemente uns com os outros para formar uma bola compacta de células (MOORE, 10ª ed.). Esse fenômeno, a compactação, é provavelmente mediado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. A compactação possibilita uma maior interação célula-célula e é um pré-requisito para a separação das células internas que formam o embrioblasto (massa celular interna) do blastocisto (MOORE, 10ª ed.). ↠ Quando existem 12 a 32 blastômeros, o ser humano em desenvolvimento é chamado de mórula. As células internas da mórula são circundadas pelas células trofoblásticas. A mórula se forma aproximadamente 3 dias após a fecundação e chega ao útero (MOORE, 10ª ed.). Formação do blastocisto O embrião em divisão leva de 4 a 5 dias para se mover da tuba uterina até a cavidade uterina. Sob a influência da progesterona, as células musculares lisas da tuba relaxam, e o transporte ocorre lentamente. Quando o embrião em desenvolvimento chega ao útero, ele consiste em uma bola oca de cerca de 100 células, denominada blastocisto (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Logo após a mórula ter alcançado o útero (cerca de 4 dias após a fecundação), surge no interior da mórula um espaço preenchido por líquido, a cavidade blastocística. O líquido passa da cavidade uterina através da zona pelúcida para formar esse espaço. Conforme o líquido aumenta na cavidade blastocística, ele separa os blastômeros em duas partes: (MOORE, 10ª ed.). Uma delgada camada celular externa, o trofoblasto (Grego trophe, nutrição), que formará a parte embrionária da placenta Um grupo de blastômeros localizados centralmente, o embrioblasto (massa celular interna), que formará o embrião. Uma proteína imunossupressora, o fator de gestação inicial, é secretada pelas células trofoblásticas e aparece no soro materno cerca de 24 a 48 horas após a fecundação. O fator de gestação inicial é a base do teste de gravidez durante os primeiros 10 dias de desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). ↠ Durante esse estágio de desenvolvimento, ou blastogênese, o concepto (embrião e suas membranas) é chamado de blastocisto. O embrioblasto agora se projeta para a cavidade blastocística e o trofoblasto forma a parede do blastocisto. Depois que o blastocisto flutuou pelas secreções uterinas por aproximadamente 2 dias, a zona pelúcida gradualmente se degenera e desaparece (MOORE, 10ª ed.). A degeneração da zona pelúcida permite o rápido crescimento do blastocisto. Enquanto está flutuando no útero, o blastocisto obtém nutrição das secreções das glândulas uterinas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Aproximadamente 6 dias após a fecundação (dia 20 de um ciclo menstrual de 28 dias), o blastocisto adere ao epitélio endometrial, normalmente adjacente ao polo embrionário. Logo que o blastocisto adere ao epitélio endometrial, o trofoblasto se prolifera rapidamente e se diferencia em duas camadas: (MOORE, 10ª ed.). Uma camada interna, o citotrofoblasto. Uma camada externa, o sinciciotrofoblasto, que consiste em uma massa protoplasmática 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck multinucleada na qual nenhum limite celular pode ser observado. ↠ Em torno de 6 dias, os prolongamentos digitiformes do sinciciotrofoblasto se estendem pelo epitélio endometrial e invadem o tecido conjuntivo. No final da primeira semana, o blastocisto está superficialmente implantado na camada compacta do endométrio e obtém a sua nutrição dos tecidos maternos erodidos (MOORE, 10ª ed.). ↠ O sinciciotrofoblasto, altamente invasivo, se expande rapidamente em uma área conhecida como polo embrionário, adjacente ao embrioblasto. O sinciciotrofoblasto produz enzimas que erodem os tecidos maternos, possibilitando ao blastocisto se “entocar”, ou seja, se implantar, no endométrio. As células endometriais também participam controlando a profundidade da penetração do sinciciotrofoblasto (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta de 7 dias, uma camada de células, o hipoblasto (endoderma primário), aparece na superfície do embrioblasto voltada para a cavidade blastocística (MOORE, 10ª ed.). Segunda semana do desenvolvimento humano Término da implantação do blastocisto ↠ A implantação do blastocisto termina durante a segunda semana. Ela ocorre durante um período restrito entre 6 e 10 dias após a ovulação e a fecundação. Conforme o blastocisto se implanta, mais o trofoblasto entra em contato com o endométrio e se diferencia em duas camadas: (MOORE, 10ª ed.). Uma camada interna, o citotrofoblasto, que é mitoticamente ativa (isto é, figuras mitóticas são visíveis) e forma novas células que migram para a massa crescente de sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem as membranas celulares. O sinciciotrofoblasto, uma massa multinucleada que se expande rapidamente, na qual nenhum limite celular é visível. ↠ O sinciciotrofoblasto é erosivo e invade o tecido conjuntivo endometrial enquanto o blastocisto vagarosamente vai se incorporando ao endométrio. As células sinciciotrofoblásticas deslocam as células endometriais no local de implantação. As células endometriais sofrem apoptose (morte celular programada), o que facilita a invasão (MOORE, 10ª ed.). ↠ As células do tecido conjuntivo ao redor do local da implantação acumulam glicogênio e lipídios e assumem um aspecto poliédrico (muitos lados). Algumas dessas células, as células deciduais, se degeneram nas proximidades do sinciciotrofoblasto invasor. O sinciciotrofoblasto engolfa essas células que servem como uma rica fonte de nutrientes para o embrião. O 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck sinciciotrofoblasto produz um hormônio glicoproteico, o hCG, que entra na circulação sanguínea materna através de cavidades isoladas (lacunas) no sinciciotrofoblasto (MOORE, 10ª ed.). O hCG mantém a atividade hormonal do corpo lúteo no ovário, durante a gestação. O corpo lúteo é uma estrutura glandular endócrina que secreta estrogênio e progesterona para manter a gestação (MOORE, 10ª ed.). A implantação do blastocisto normalmente ocorre no endométrio da região superior do corpo do útero, um pouco mais frequente na parede posterior do que na parede anterior do útero (MOORE, 10ª ed.). ↠ À medida que a implantação do blastocisto ocorre, mudanças morfológicas no embrioblasto produzem um disco embrionário bilaminar formado pelo epiblasto e pelo hipoblasto. O disco embrionário origina as camadas germinativas que formam todos os tecidos e órgãos do embrião. As estruturas extraembrionárias que se formam durante a segunda semana são a cavidade amniótica, o âmnio, a vesícula umbilical conectada ao pedículo e o saco coriônico (MOORE, 10ª ed.). FORMAÇÃO DA CAVIDADE AMNIÓTICA, DO DISCO EMBRIONÁRIO E DA VESÍCULA UMBILICAL ↠ Com a progressão da implantação do blastocisto, surge um pequeno espaço no embrioblasto; o primórdio da cavidade amniótica. Logo, as células amniogênicas (formadoras do âmnio), os amnioblastos, se separam do epiblasto e formam o âmnio, que reveste a cavidade amniótica. Concomitantemente, ocorrem mudanças morfológicasno embrioblasto (massa celular da qual se desenvolve o embrião) que resultam na formação de uma placa bilaminar, quase circular, de células achatadas (MOORE, 10ª ed.). ↠ O disco embrionário, que é formado por duas camadas: (MOORE, 10ª ed.). O epiblasto, uma camada mais espessa, constituída de células cilíndricas altas, voltadas para a cavidade amniótica. O hipoblasto, composto de células cuboides pequenas adjacentes à cavidade exocelômica. ↠ O hipoblasto forma o teto da cavidade exocelômica e é contínuo à delgada membrana exocelômica. Essa membrana, juntamente com o hipoblasto, reveste a vesícula umbilical primitiva. O disco embrionário agora situa-se entre a cavidade amniótica e a vesícula (MOORE, 10ª ed.). ↠ Assim que se formam o âmnio, o disco embrionário e a vesícula umbilical aparecem lacunas (pequenos espaços) no sinciciotrofoblasto. As lacunas são preenchidas por uma mistura de sangue materno proveniente dos capilares endometriais rompidos e os restos celulares das glândulas uterinas erodidas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Esse fluido dos espaços lacunares, o embriotrofo, chega ao disco embrionário por difusão e fornece material nutritivo para o embrião. A comunicação dos 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck capilares endometriais rompidos com as lacunas no sinciciotrofoblasto estabelece a circulação uteroplacentária primitiva. Quando o sangue materno flui para rede lacunar, o oxigênio e as substâncias nutritivas passam para o embrião. O sangue oxigenado passa para as lacunas a partir das artérias endometriais espiraladas, e o sangue pouco oxigenado é removido das lacunas pelas veias endometriais (MOORE, 10ª ed.). ↠ No décimo dia, o concepto (embrião e membranas) está completamente implantado no endométrio uterino. O final da segunda semana é marcado pelo aparecimento das vilosidades coriônicas primárias (MOORE, 10ª ed.). IMPORTANTE TERCEIRA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ↠ O rápido desenvolvimento do embrião a partir do disco embrionário trilaminar durante a terceira semana é caracterizado por: (MOORE, 10ª ed.). Aparecimento da linha primitiva. Desenvolvimento da notocorda. Diferenciação das três camadas germinativas. ↠ A terceira semana do desenvolvimento coincide com a semana seguinte à primeira ausência do período menstrual, isto é, 5 semanas após o primeiro dia do último período menstrual normal (MOORE, 10ª ed.). ↠ A gastrulação é o processo pelo qual as três camadas germinativas - que são as precursoras de todos os tecidos embrionários e a orientação axial - são estabelecidos nos embriões. Durante a gastrulação, o disco embrionário bilaminar é convertido em um disco embrionário trilaminar (MOORE, 10ª ed.). ↠ Cada uma das três camadas germinativas (ectoderma, mesoderma e endoderma) dá origem a tecidos e órgãos específicos: (MOORE, 10ª ed.). O ectoderma embrionário dá origem à epiderme, aos sistemas nervosos central e periférico, aos olhos e ouvidos internos, às células da crista neural e a muitos tecidos conjuntivos da cabeça. O endoderma embrionário é a fonte dos revestimentos epiteliais dos sistemas respiratório e digestório, incluindo as glândulas que se abrem no trato digestório e as células glandulares de órgãos associados ao trato digestório, como o fígado e o pâncreas. O mesoderma embrionário dá origem a todos os músculos esqueléticos, às células sanguíneas, ao revestimento dos vasos sanguíneos, à musculatura lisa das vísceras, ao revestimento seroso de todas as cavidades do corpo, aos ductos e órgãos dos sistemas genitais e excretor e à maior parte do sistema cardiovascular. No tronco, ele é a fonte de todos os tecidos conjuntivos, incluindo cartilagens, 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ossos, tendões, ligamentos, derme e estroma (tecido conjuntivo) dos órgãos internos. DA QUARTA À OITAVA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ↠ Todas as principais estruturas internas e externas são estabelecidas durante a quarta à oitava semana. Ao final do período embrionário, os principais sistemas de órgãos iniciaram seu desenvolvimento. Os tecidos e órgãos se formam, a forma do embrião muda e ao final desse período, o embrião possui uma aparência nitidamente humana (MOORE, 10ª ed.). ↠ O desenvolvimento humano é dividido em três fases que, de certa forma, estão inter-relacionadas: (MOORE, 10ª ed.). A primeira fase é a de crescimento, que envolve divisão celular e a elaboração de produtos celulares. A segunda fase é a morfogênese, desenvolvimento da forma, tamanho e outras características de um órgão em particular ou parte de todo o corpo. A morfogênese é um processo molecular complexo controlado pela expressão e regulação de genes específicos em uma sequência ordenada. Mudanças no destino celular, na forma da célula e no movimento celular permitem que as células interajam uma com as outras durante a formação dos tecidos e dos órgãos. A terceira fase é a diferenciação, durante a qual as células são organizadas em um padrão preciso de tecidos e de órgãos capazes de executar funções especializadas. Desenvolvimento fetal ↠ A transformação de um embrião em um feto é gradual, mas a mudança do nome é significativa, pois indica que o embrião se desenvolveu em um ser humano reconhecível e que os primórdios de todos os principais sistemas se formaram (MOORE, 10ª ed.). ↠ O desenvolvimento durante o período fetal é primariamente voltado para o crescimento corporal rápido e para a diferenciação dos tecidos, órgãos e sistemas. Uma notável mudança que ocorre durante o período fetal é a relativa redução da velocidade do crescimento da cabeça em comparação com o restante do corpo. A taxa de crescimento corporal durante o período fetal é muito grande e o ganho de peso fetal é fenomenal durante as últimas semanas. Os períodos de crescimento contínuo normal se alternam com intervalos prolongados de ausência de crescimento (MOORE, 10ª ed.). TRIMESTRES DA GESTAÇÃO ↠ Clinicamente, o período gestacional é dividido em três trimestres, cada um durando três meses. Por volta do final do primeiro trimestre, um terço da duração da gravidez, os principais sistemas terão se desenvolvido (MOORE, 10ª ed.). ↠ No segundo trimestre, o feto cresce o suficiente em tamanho de modo que um bom detalhamento anatômico pode ser visualizado durante a ultrassonografia (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta do início do terceiro trimestre, o feto pode sobreviver se nascer prematuramente. O feto atinge um importante marco do seu desenvolvimento na 35ª semana pesando, aproximadamente, 2.500 g; esses dados são usados para definir o nível de maturidade fetal. Na 35ª semana, os fetos geralmente sobrevivem se nascerem prematuramente (MOORE, 10ª ed.). PRINCIPAIS EVENTOS DO PERÍODO FETAL ↠ Não existe um sistema formal para mensurar o período fetal; todavia, é útil descrever as alterações que ocorrem em períodos de quatro a cinco semanas (MOORE, 10ª ed.). 9ª a 12ª semana ↠ No início do período fetal (nona semana), a cabeça constitui, aproximadamente, a metade da medida do comprimento cabeça-nádegas (CCN) do feto. Subsequentemente, o crescimento no comprimento corporal se acelera rapidamente, de modo que, por volta de 12 semanas, o CCN mais que dobrou. Apesar de o crescimento da cabeça reduzir consideravelmente a sua velocidade nesse período, a cabeça ainda é desproporcionalmente grande em comparação com o restante do corpo (MOORE, 10ª ed.). ↠ Às nove semanas, a face é larga, os olhos estão amplamente separados, as orelhas apresentam uma baixa implantação e as pálpebras estão fusionadas. No início da 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck nona semana, as pernas são curtas e as coxas são relativamente pequenas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta do final da 12ª semana, os centros de ossificação primária surgem no esqueleto, especialmente no crânio e nos ossoslongos. Ademais, os membros superiores quase atingiram os seus comprimentos relativos finais, mas os membros inferiores ainda não estão bem desenvolvidos e são ligeiramente mais curtos do que os seus comprimentos relativos finais (MOORE, 10ª ed.). ↠ As genitálias externas dos sexos masculino e feminino parecem semelhantes até o final da nona semana. A sua forma madura não está estabelecida até a 12ª semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ As alças intestinais são claramente visíveis na extremidade proximal do cordão umbilical até a metade da 10ª semana. Por volta da 11ª semana, os intestinos retornaram para o abdome (MOORE, 10ª ed.). ↠ Na nona semana, início do período fetal, o fígado é o principal local de eritropoiese (formação de hemácias). Por volta do final de 12ª semana, essa atividade é reduzida no fígado e começa no baço (MOORE, 10ª ed.). ↠ A formação de urina começa entre a nona e a 12ª semanas e esta é eliminada através da uretra para o líquido amniótico na cavidade amniótica. O feto reabsorve (absorve de novo) algum líquido amniótico após degluti-lo. Os produtos residuais fetais são transferidos para a circulação materna por meio da passagem através da membrana placentária (MOORE, 10ª ed.). 13ª à 16ª semana ↠ O crescimento é muito rápido durante esse período. Por volta da 16ª semana, a cabeça é relativamente menor do que a cabeça do feto de 12 semanas e os membros inferiores cresceram (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os movimentos dos membros, que ocorrem primeiramente ao final do período embrionário, tornam- se coordenados por volta da 14ª semana, mas são muito leves para serem percebidos pela mãe. Todavia, esses movimentos são visíveis durante os exames ultrassonográficos (MOORE, 10ª ed.). ↠ A ossificação do esqueleto fetal é ativa durante esse período e os ossos em desenvolvimento são claramente visíveis nas imagens de ultrassom por volta do início da 16ª semana. Movimentos lentos dos olhos ocorrem na 14ª semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ O padrão dos cabelos no couro cabeludo também é determinado durante esse período. Por volta da 16ª semana, os ovários estão diferenciados e contêm os folículos ovarianos primordiais, que contêm oogônias, ou células germinativas primordiais (MOORE, 10ª ed.). ↠ A genitália dos fetos masculinos e femininos pode ser identificada por volta da 12ª à 14ª semanas. Por volta da 16ª semana, os olhos miram anteriormente e não Um feto de 11 semanas (1,5x). Observe a sua cabeça relativamente grande e que os intestinos não estão mais no cordão umbilical. 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck anterolateralmente. Além disso, as orelhas externas estão próximas às suas posições definitivas nos lados da cabeça (MOORE, 10ª ed.). 17ª à 20ª semana ↠ O crescimento desacelera durante esse período, mas o feto ainda aumenta seu CCN em, aproximadamente, 50 mm. Os movimentos fetais (pontapés) são comumente sentidos pela mãe (MOORE, 10ª ed.). ↠ A pele é agora coberta por um material gorduroso, semelhante a queijo, o verniz caseoso. Ela consiste em uma mistura de células epiteliais mortas e uma substância gordurosa proveniente das glândulas sebáceas fetais. O verniz protege a delicada pele fetal de abrasões, rachaduras e endurecimento que resultam da exposição ao líquido amniótico (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os fetos são cobertos por um pelo fino, aveludado, o lanugo, que ajuda o verniz a aderir à pele. O pelo das sobrancelhas e os cabelos são visíveis na 20ª semana. A gordura marrom se forma durante esse período e é o local de produção de calor. Essa gordura especializada, o tecido adiposo, é um tecido conjuntivo que consiste principalmente em células gordurosas; ele é principalmente encontrado na base do pescoço, posterior ao esterno e na área perirrenal. A gordura marrom produz calor por meio da oxidação dos ácidos graxos (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta da 18ª semana, o útero fetal é formado e a canalização da vagina se inicia. Muitos folículos ovarianos primários contendo oogônias também são visíveis (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta da 20ª semana, os testículos começam a sua descida, mas ainda estão localizados na parede abdominal posterior, assim como os ovários (MOORE, 10ª ed.). 21ª à 25ª semana ↠ Um substancial ganho de peso ocorre durante esse período e o feto já está mais proporcional. A pele geralmente está enrugada e mais translúcida, particularmente durante a parte inicial desse período. A pele é rósea a avermelhada porque os capilares sanguíneos são visíveis (MOORE, 10ª ed.). ↠ Na 21ª semana, os movimentos oculares rápidos se iniciam e as repostas de piscar ao sobressalto foram descritas na 22ª e na 23ª semanas (MOORE, 10ª ed.). ↠ As células epiteliais secretórias (pneumócitos do tipo II) nas paredes interalveolares do pulmão começam a secretar surfactante, um lipídio tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). A, Um feto de 17 semanas. Uma vez que há pouco tecido subcutâneo e a pele é fina, os vasos sanguíneos do couro cabeludo são visíveis. Os fetos dessa idade são incapazes de sobreviver quando nascem prematuramente. B, Uma visão frontal de um feto de 17 semanas. Observe que os olhos estão fechados nesse estágio Recém-nascido normal do sexo feminino, nascido com 25 semanas e pesando 725 g. 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ As unhas dos dedos das mãos estão presentes por volta da 24ª semana. Embora um feto de 22 a 25 semanas nascido prematuramente possa sobreviver se receber cuidados intensivos, ainda há uma chance de que possa vir a falecer porque o seu sistema respiratório é imaturo até aquele momento. O risco de comprometimento do desenvolvimento nervoso (p. ex., deficiência mental) é alto nos fetos nascidos antes de 26 semanas (MOORE, 10ª ed.). 26ª à 29ª semana ↠ Durante esse período, os fetos geralmente sobrevivem se nascerem prematuramente e receberem cuidados intensivos. Os pulmões e a vasculatura pulmonar se desenvolveram suficientemente para proporcionar uma troca gasosa adequada. Além disso, o sistema nervoso central amadureceu para um estágio no qual pode comandar movimentos respiratórios ritmados e controlar a temperatura corporal (MOORE, 10ª ed.). A taxa mais alta de mortalidade neonatal ocorre em recém-nascidos classificados como de baixo peso ao nascimento (= 2.500 g) e de peso muito baixo ao nascimento (=1.500 g) (MOORE, 10ª ed.). ↠ As pálpebras estão abertas na 26ª semana e o lanugo (pelo fino e aveludado), assim como o cabelo estão bem desenvolvidos. As unhas dos pés são visíveis e uma quantidade considerável de gordura subcutânea é encontrada sob a pele, suavizando muitas das rugas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Durante esse período, a quantidade de gordura amarela aumenta para, aproximadamente, 3,5% do peso corporal. O baço fetal tem se constituído em um importante sítio de eritropoiese (formação de hemácias). Isso termina na 28ª semana, momento no qual a medula óssea se torna o principal local de eritropoiese (MOORE, 10ª ed.). 30ª à 34ª semana ↠ O reflexo pupilar (alteração do diâmetro da pupila em resposta a um estímulo provocado pela luz) pode ser evocado na 30ª semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ Geralmente, por volta do final desse período, a pele é rosada e lisa e os membros superiores e inferiores possuem um aspecto rechonchudo. Nessa idade, a quantidade de gordura amarela é de, aproximadamente, 8% do peso corporal. Fetos com 32 semanas ou mais geralmente sobrevivem se nascidos prematuramente (MOORE, 10ª ed.). 35ª à 38ª semana ↠ Os fetos nascidos com 35 semanas apresentam uma preensão firme e exibem uma orientação espontânea em relação à luz. À medida que o termo se aproxima, o sistema nervoso está suficientemente maduro para realizar algumas funções integrativas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Por volta da 36ª semana, as circunferências da cabeça e do abdome são aproximadamente iguais. Após isso,a circunferência do abdome pode ser maior do que a da cabeça. O comprimento do pé dos fetos costuma ser ligeiramente maior do que o comprimento femoral (osso longo da coxa) na 37ª semana e constitui um parâmetro alternativo para a conformação da idade fetal. Há uma redução da velocidade do crescimento à medida que o momento do parto se aproxima (MOORE, 10ª ed.). ↠ A termo (38 semanas), a maior parte dos fetos geralmente atinge um CCN de 360 mm e um peso de, aproximadamente, 3.400 g (MOORE, 10ª ed.). ↠A quantidade de gordura amarela é de, aproximadamente, 16% do peso corporal. Um feto ganha cerca de 14 g de gordura por dia durante essas últimas semanas (MOORE, 10ª ed.). ↠ O tórax é proeminente e as mamas frequentemente se projetam ligeiramente em ambos os sexos. Os testículos geralmente estão na bolsa escrotal no recém- nascido a termo do sexo masculino; os neonatos prematuros do sexo masculino comumente exibem ausência da descida testicular (MOORE, 10ª ed.). ↠ Embora no recém-nascido a termo a cabeça seja menor em relação ao restante do corpo do que o era anteriormente na vida fetal, ela ainda é uma das maiores regiões do feto. Em geral, os fetos do sexo masculino são maiores e pesam mais ao nascer do que os femininos (MOORE, 10ª ed.). Idade gestacional X Idade embrionária As medidas ultrassonográficas do comprimento cabeça-nádegas (CCN) do feto podem ser usadas para determinar o seu tamanho e a idade provável e oferecer uma previsão da data provável do parto. As medidas da cabeça fetal e do comprimento do fêmur também são usadas para avaliar a idade (MOORE, 10ª ed.). Recém-nascidos saudáveis. A, Com 34 semanas. B, Com 38 semanas. 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Na prática clínica, a idade gestacional geralmente é cronometrada a partir do início do último período menstrual normal (UPMN). Em embriologia, a idade gestacional baseada no UPMN é supérflua porque a gestação (momento da fecundação) não se inicia até que o oócito seja fecundado, o que ocorre por volta da metade do ciclo menstrual (MOORE, 10ª ed.). Essa diferença no emprego do termo idade gestacional pode provocar confusão; portanto, é importante que a pessoa que esteja solicitando o exame ultrassonográfico empregue a terminologia embriológica (MOORE, 10ª ed.). ↠O período intrauterino pode ser dividido em dias, semanas ou meses, mas a confusão surge quando não se afirma se a idade é calculada a partir do início do UPMN ou do dia estimado da fecundação do oócito. As dúvidas sobre a idade surgem quando meses são usados, particularmente quando não é estabelecido se o período indica meses do calendário (28 a 31 dias) ou meses lunares (28 dias) (MOORE, 10ª ed.). ↠ A menos que seja afirmado de outro modo, a idade embriológica ou fetal neste livro é calculada a partir do momento estimado da fecundação (MOORE, 10ª ed.). CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL ↠ Os métodos para esta estimativa dependem da data da última menstruação (DUM), que corresponde ao primeiro dia de sangramento do último período menstrual referido pela mulher (MS, 2005). ↠ Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida e de certeza, é o método de escolha para se calcular a idade gestacional em mulheres com ciclos menstruais regulares e sem uso de métodos anticoncepcionais hormonais: (MS, 2005). Uso do calendário: somar o número de dias do intervalo entre a DUM e a data da consulta, dividindo o total por sete (resultado em semanas); Uso de disco (gestograma): colocar a seta sobre o dia e mês correspondente ao primeiro dia da última menstruação e observar o número de semanas indicado no dia e mês da consulta atual. ↠ Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se conhece o período do mês em que ela ocorreu: (MS, 2005). Se o período foi no início, meio ou final do mês, considerar como data da última menstruação os dias 5, 15 e 25, respectivamente. Proceder, então, à utilização de um dos métodos acima descritos. DATA PROVÁVEL DO PARTO ↠ A data provável do parto de um feto é de 266 dias ou 38 semanas após a fecundação, ou seja, 280 dias ou 40 semanas após o UPMN. Aproximadamente 12% dos fetos nascem uma ou duas semanas após a data provável do parto (MOORE, 10ª ed.). ↠ Calcula-se a data provável do parto levando-se em consideração a duração média da gestação normal (280 dias ou 40 semanas a partir da DUM), mediante a utilização de calendário (MS, 2005). ↠ Com o disco (gestograma), colocar a seta sobre o dia e mês correspondente ao primeiro dia da última menstruação e observar a seta na data (dia e mês) indicada como data provável do parto (MS, 2005). REGRA DE NAGELE ↠ Uma outra forma de cálculo é somar sete dias ao primeiro dia da última menstruação e subtrair três meses ao mês em que ocorreu a última menstruação (ou adicionar nove meses, se corresponder aos meses de janeiro a março) – Regra de Näegele (MS, 2005). Ëxëmpløs: Data da última menstruação: 13/9/01 Data provável do parto: 20/6/02 (13+7=20 / 9-3=6) Data da última menstruação: 27/1/01 Data provável do parto: 3/11/02 (27+7=34 / 34-31=3 / 1+9+1=11) ÏMPØRTÅÑTË: É consensual que o cálculo da idade gestacional e da data provável do parto baseado na DUM não é fidedigno já que vários problemas podem interferir com a validade deste método. Tal acontece quando uma mulher refere ciclos irregulares, ou abandonou a contracepção oral há menos de três meses ou após um período de amenorreia subsequente, por exemplo, à amamentação (MATIAS et. al., 2002). 12 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Referências SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017 GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 MOORE. Embriologia Clínica, 10ª ed.. Elsevier, RJ, 2016. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Pré-natal e puerpério – Atenção qualificada e humanizada. Manual Técnico, Brasília, DF, 2005. MATIAS et. al. Cálculo da idade gestacional: métodos e problemas. Acta Médica Portuguesa, 2002. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Compreender os mecanismos fisiológicos do parto; 2- Descrever os diferentes tipos de células-tronco; Parto ↠ O parto normalmente ocorre entre a 38ª e a 40ª semana de gestação (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O trabalho de parto é o processo pelo qual o feto é expelido do útero por meio da vagina, também chamado de dar à luz. Um sinônimo de trabalho de parto é parturição (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Ao final da gravidez, o útero fica progressivamente mais excitável, até que, por fim, desenvolve contrações rítmicas tão fortes que o bebê é expelido. Não se sabe a causa exata do aumento da atividade uterina, mas pelo menos duas categorias principais de eventos levam às contrações intensas, responsáveis pelo parto: (GUYTON, 13ª ed.). mudanças hormonais progressivas que aumentam a excitabilidade da musculatura uterina; mudanças mecânicas progressivas. Fatores hormonais ↠ O início do trabalho de parto é determinado por complexas interações de vários hormônios placentários e fetais (TORTORA, 14ª ed.). MAIOR PROPORÇÃO DE ESTROGÊNIOS EM RELAÇÃO À PROGESTERONA Tanto a progesterona quanto o estrogênio são secretados em quantidades progressivamente maiores durante grande parte da gravidez, mas, a partir do sétimo mês, a secreção de estrogênio continua a aumentar, enquanto a de progesterona permanece constante ou até mesmo diminui um pouco. Por isso, já se postulou que a produção estrogênio-progesterona aumenta o suficiente até o final da gravidez para ser pelo menos parcialmente responsável pelo aumento da contratilidade uterina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A progesterona inibe a contratilidade uterina durante a gravidez, ajudando, assim, a evitar a expulsão do feto. Por sua vez, os estrogênios têm tendência definida para aumentar o grau decontratilidade uterina, em parte porque elevam o número de junções comunicantes entre as células do músculo liso uterino adjacentes, mas também devido a outros efeitos pouco entendidos ainda (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O aumento nos estrogênios resulta da secreção crescente do hormônio liberador da corticotropina pela placenta, que estimula a adeno-hipófise do feto a secretar ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Por sua vez, o ACTH estimula a glândula suprarrenal fetal a secretar cortisol e desidroepiandrosterona (DHEA), o principal androgênio suprarrenal. A placenta então converte o DHEA em um estrogênio. Os níveis elevados de estrogênios fazem com que o número de receptores para a ocitocina nas fibras do músculo uterino aumente, e fazem com que as fibras do músculo uterino formem junções comunicantes entre si (TORTORA, 14ª ed.). ÏMPØRTÅÑTË: O estrogênio estimula também a placenta a liberar prostaglandinas, as quais induzem a produção de enzimas que digerem as fibras colágenas no colo do útero, fazendo com que ele amoleça (TORTORA, 14ª ed.). A OCITOCINA CAUSA CONTRAÇÃO DO ÚTERO ↠ A ocitocina é um hormônio secretado pela neuro- hipófise que, especificamente, causa contrações uterinas. Existem quatro razões para se acreditar que a ocitocina pode ser importante para aumentar a contratilidade do útero próximo ao termo: (GUYTON, 13ª ed.). A musculatura uterina aumenta seus receptores de ocitocina e, portanto, aumenta sua sensibilidade a uma determinada dose de ocitocina nos últimos meses de gravidez. A secreção de ocitocina pela neuro-hipófise é, consideravelmente, maior no momento do parto. Muito embora animais hipofisectomizados ainda consigam ter seus filhotes a termo, o trabalho de parto é prolongado. Experimentos em animais indicam que a irritação ou a dilatação do colo uterino, como ocorre durante o trabalho de parto, pode causar reflexo neurogênico, através dos núcleos paraventricular e supraóptico, que faz com que a hipófise posterior (a neuro-hipófise) aumente sua secreção de ocitocina. ↠ A ocitocina liberada pela neuro-hipófise estimula as contrações uterinas, auxiliada pela relaxina liberada pela placenta que aumenta a flexibilidade da sínfise púbica e ajuda a dilatar o colo do útero (TORTORA, 14ª ed.). OS EFEITOS DE HORMÔNIOS FETAIS NO ÚTERO ↠ A hipófise do feto secreta grande quantidade de ocitocina, o que teria algum papel na excitação uterina. Além disso, as glândulas adrenais do feto secretam ÅPG 24 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck grande quantidade de cortisol, outro possível estimulante uterino. E, mais, as membranas fetais liberam prostaglandinas em concentrações elevadas, no momento do trabalho de parto, que também podem aumentar a intensidade das contrações uterinas (GUYTON, 13ª ed.). Fatores mecânicos DISTENSÃO DA MUSCULATURA UTERINA ↠ A simples distensão de órgãos de musculatura lisa geralmente aumenta sua contratilidade. Ademais, a distensão intermitente, como ocorre repetidamente no útero, por causa dos movimentos fetais, pode também provocar a contração dos músculos lisos (GUYTON, 13ª ed.). Observe, particularmente, que os gêmeos nascem em média 19 dias antes de um só bebê, o que enfatiza a importância da distensão mecânica em provocar contrações uterinas (GUYTON, 13ª ed.). DISTENSÃO OU IRRITAÇÃO DO COLO UTERINO ↠ Há razões para se acreditar que a distensão ou a irritação do colo uterino seja particularmente importante para provocar contrações uterinas. Por exemplo, os próprios obstetras, muitas vezes, induzem o trabalho de parto, rompendo as membranas, de maneira que a cabeça do bebê distenda o colo uterino mais efetivamente que o usual, ou irritando-o de outras formas (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Não se sabe o mecanismo pelo qual a irritação cervical excita o corpo uterino. Já foi sugerido que a distensão ou irritação de terminais sensoriais no colo uterino provoque contrações uterinas reflexas; no entanto, as contrações poderiam ser resultantes da pura e simples transmissão miogênica de sinais do colo ao corpo uterino (GUYTON, 13ª ed.). Feedback positivo – contrações uterinas Durante grande parte da gravidez, o útero sofre episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e lentas, denominadas contrações de Braxton Hicks. Essas contrações ficam progressivamente mais fortes ao final da gravidez; então, mudam subitamente, em questão de horas, e ficam excepcionalmente fortes, começando a distender o colo uterino e, posteriormente, forçando o bebê através do canal de parto, levando, assim, ao parto. Esse processo é denominado trabalho de parto, e as contrações fortes, que resultam na parturição final, são denominadas contrações do trabalho de parto (GUYTON, 13ª ed.). O controle das contrações durante o trabalho de parto ocorre por meio de um ciclo de feedback positivo (TORTORA, 14ª ed.). Em primeiro lugar, as contrações do trabalho de parto obedecem a todos os princípios de feedback positivo, ou seja, quando a força da contração uterina ultrapassa certo valor crítico, cada contração leva a contrações subsequentes que vão se tornando cada vez mais fortes, até atingir o efeito máximo (GUYTON, 13ª ed.). As contrações do miométrio uterino forçam a cabeça ou o corpo do recém-nascido contra o colo do útero, distendendo-o (alongamento). Os receptores de estiramento do colo do útero enviam impulsos nervosos às células neurossecretoras do hipotálamo, levando-as a liberar ocitocina nos capilares sanguíneos da neuro-hipófise. A ocitocina então é transportada pelo sangue até o útero, onde ela estimula o miométrio a se contrair com mais força. Conforme as contrações se intensificam, o corpo do recém-nascido distende ainda mais o colo do útero, e os impulsos nervosos resultantes estimulam a secreção adicional de ocitocina. Após o parto, o ciclo de feedback positivo é quebrado, porque a distensão do colo do útero repentinamente diminui (TORTORA, 14ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck As contrações uterinas ocorrem em ondas (muito semelhantes às ondas peristálticas do sistema digestório) que começam na parte superior do útero e se movem para baixo, por fim expelindo o feto (TORTORA, 14ª ed.). Poderíamos questionar a respeito dos muitos casos de trabalho de parto falso, nos quais as contrações ficam cada vez mais fortes e depois diminuem e desaparecem. Lembre-se de que para o feedback positivo persistir, cada novo ciclo devido ao processo de feedback positivo deve ser mais forte que o precedente. Se em algum momento, depois de iniciado o trabalho de parto, as contrações não conseguirem reexcitar o útero suficientemente, o feedback positivo poderia entrar em declínio retrógrado, e as contrações do trabalho de parto desapareceriam (GUYTON, 13ª ed.). Trabalho de parto (fases) O trabalho de parto verdadeiro começa quando as contrações uterinas ocorrem em intervalos regulares, geralmente provocando dor. Conforme o intervalo entre as contrações se encurta, as contrações se intensificam. Outro sintoma de trabalho de parto verdadeiro em algumas mulheres é a dor localizada nas costas que se intensifica com a deambulação (TORTORA, 14ª ed.). Quando as contrações uterinas se tornam fortes durante o trabalho de parto, sinais de dor originam-se tanto do útero quanto do canal de parto. Esses sinais, além de causarem sofrimento, provocam reflexos neurogênicos na medula espinal para os músculos abdominais, causando contrações intensas desses músculos. As contrações abdominais acrescentam muito à força que provoca a expulsão do bebê (GUYTON, 13ª ed.). O indicador mais confiável de trabalho de parto verdadeiro é a dilatação do colo do útero e a “saída do tampão”, uma descarga de muco contendo sangue do interior do canal do colo do útero. No trabalho de parto falso, a dor é sentida no abdome em intervalos irregulares, mas não se intensifica e a deambulação não a alterade modo significativo. Não há “saída de tampão” nem dilatação cervical (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O trabalho de parto verdadeiro pode ser dividido em três fases: (TORTORA, 14ª ed.). Fase de dilatação: O período de tempo que vai do início do trabalho de parto até a dilatação completa do colo do útero é a fase de dilatação. Esta fase, que normalmente dura de 6 a 12 h, apresenta contrações regulares do útero, geralmente uma ruptura do âmnio e a dilatação completa (10 cm) do colo do útero. Se o âmnio não se romper espontaneamente, ele é rompido intencionalmente (TORTORA, 14ª ed.). O chamado primeiro estágio do trabalho de parto é o período de dilatação cervical progressiva, que dura até a abertura cervical estar tão grande quanto a cabeça do feto. Esse estágio, geralmente, tem duração de 8 a 24 horas, na primeira gestação, mas muitas vezes apenas alguns minutos depois de várias gestações (GUYTON, 13ª ed.). ↠ As contrações uterinas durante o trabalho de parto começam basicamente no topo do fundo uterino e se espalham para baixo, por todo o corpo uterino. Além disso, a intensidade da contração é grande no topo e no corpo uterino, mas fraca no segmento inferior do útero adjacente ao colo. Portanto, cada contração uterina tende a forçar o bebê para baixo, na direção do colo uterino (GUYTON, 13ª ed.). ↠ No início do trabalho de parto, as contrações ocorrem apenas a cada 30 minutos. À medida que o trabalho de parto progride, as contrações finalmente surgem com tanta frequência quanto uma vez a cada 1 a 3 minutos, e sua intensidade aumenta bastante, com períodos muito breves de relaxamento entre elas (GUYTON, 13ª ed.). ↠ As contrações da musculatura uterina e abdominal combinadas durante a expulsão do bebê causam força descendente do feto equivalente a 12 kg, durante cada contração forte (GUYTON, 13ª ed.). ÏMPØRTÅÑTË: Felizmente, essas contrações do trabalho de parto ocorrem intermitentemente, pois contrações fortes impedem ou às vezes até mesmo interrompem o fluxo sanguíneo através da placenta e poderiam causar o óbito do feto, se fossem contínuas. Na verdade, o uso excessivo de diversos estimulantes uterinos, como a ocitocina, pode causar espasmo uterino em vez de contrações rítmicas e levar o feto ao óbito (GUYTON, 13ª ed.). Fase de expulsão: O período de tempo (10 min a várias horas) que vai da dilatação cervical completa até o nascimento do recém-nascido consiste na fase de expulsão (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Em mais de 95% dos nascimentos, a cabeça é a primeira parte do bebê a ser expelida e, na maioria dos outros casos, as nádegas apresentam-se primeiro. Quando o bebê entra no canal de parto primeiro com as 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck nádegas ou os pés, isso é chamado apresentação pélvica (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A cabeça age como uma cunha que abre as estruturas do canal de parto enquanto o feto é forçado para baixo. A primeira grande obstrução à expulsão do feto é o próprio colo uterino. Ao final da gravidez, o colo se torna friável, permitindo-lhe que se distenda quando as contrações do trabalho de parto começam no útero (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quando o colo está totalmente dilatado, as membranas fetais geralmente se rompem, e o líquido amniótico vaza subitamente pela vagina. Em seguida, a cabeça do feto se move rapidamente para o canal de parto, e, com a força descendente adicional, ele continua a forçar caminho através do canal até a expulsão final. Trata-se do segundo estágio do trabalho de parto, e pode durar tão pouco quanto 1 minuto, depois de várias gestações, até 30 minutos ou mais, na primeira gestação (GUYTON, 13ª ed.). Durante o segundo estágio do trabalho de parto, quando o feto está sendo expelido através do canal de parto, uma dor muito mais forte é causada pela distensão cervical, distensão perineal e distensão ou ruptura de estruturas no próprio canal vaginal. Essa dor é conduzida à medula espinal e ao cérebro da mãe por nervos somáticos, em vez de por nervos sensoriais viscerais (GUYTON, 13ª ed.). Fase placentária: O período de tempo (5 a 30 min ou mais) após o parto até que a placenta seja expelida pelas potentes contrações uterinas é a fase placentária. Essas contrações também contraem os vasos sanguíneos que foram dilacerados durante o parto, reduzindo a probabilidade de hemorragia (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Durante 10 a 45 minutos depois do nascimento do bebê, o útero continua a se contrair, diminuindo cada vez mais de tamanho, causando efeito de cisalhamento entre as paredes uterinas e placentárias, separando, assim, a placenta do seu local de implantação (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A separação da placenta abre os sinusoides placentários e provoca sangramento. A quantidade de sangue limita-se, em média, a 350 mililitros pelo seguinte mecanismo: as fibras dos músculos lisos da musculatura uterina estão dispostas em grupos de oito ao redor dos vasos sanguíneos, onde estes atravessam a parede uterina. Portanto, a contração do útero, depois da expulsão do bebê, contrai os vasos que antes proviam sangue à placenta. Além disso, acredita-se que prostaglandinas vasoconstritoras, formadas no local da separação placentária, causem mais espasmo nos vasos sanguíneos (GUYTON, 13ª ed.). Uma placenta retida é aquela que não é expelida em 60 minutos após o nascimento (MOORE, 10ª ed.). Involução do útero depois do parto ↠ Após o parto e a saída da placenta, existe um período de 6 semanas durante o qual a fisiologia e os órgãos genitais maternos retornam ao estado pré-gestacional. Este período é chamado de puerpério. Por meio de um processo de catabolismo dos tecidos, o útero sofre redução notável em seu tamanho na chamada involução, especialmente em lactantes (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Durante as primeiras 4 a 5 semanas depois do parto, o útero involui. Seu peso fica menor que a metade do peso imediatamente após o parto no prazo de uma semana; e, em quatro semanas, se a mãe amamentar, o útero torna-se tão pequeno quanto era antes da gravidez. Esse efeito da lactação resulta da supressão da secreção de gonadotropina hipofisária e dos hormônios ovarianos durante os primeiros meses de lactação (GUYTON, 13ª ed.). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Durante a involução inicial do útero, o local placentário na superfície endometrial sofre autólise, causando uma excreção vaginal conhecida como “lóquia”, que primeiro é de natureza sanguinolenta e depois serosa, mantendo-se por cerca de 10 dias, no total. Depois desse tempo, a superfície endometrial é reepitalizada e pronta mais uma vez para a vida sexual normal não gravídica (GUYTON, 13ª ed.). OBSERVAÇÕES Como regra geral, o trabalho de parto dura mais tempo no primeiro filho, normalmente cerca de 14 h. Nas mulheres que já deram à luz, a duração média do trabalho de parto é de aproximadamente 8 h, embora o tempo varie enormemente entre os partos (TORTORA, 14ª ed.). Como o feto pode permanecer espremido pelo canal do parto (colo do útero e vagina) por até várias horas, o feto é estressado durante o parto: a cabeça fetal é comprimida e o feto sofre algum grau de hipoxia intermitente em decorrência da compressão do cordão umbilical e da placenta durante as contrações uterinas. Em resposta a esse estresse, as medulas das glândulas suprarrenais secretam níveis fetais muito elevados de epinefrina e norepinefrina, os hormônios de “luta ou fuga”. Grande parte da proteção contra o estresse do parto, bem como a preparação da criança para sobreviver à vida extrauterina, é fornecida por esses hormônios. Entre outras funções, a epinefrina e a norepinefrina desobstruem os pulmões e alteram a sua fisiologia em prontidão para respirar ar, mobilizam nutrientes prontamente utilizáveis para o metabolismo celular, e promovem um maior fluxo sanguíneo para o encéfalo e coração (TORTORA, 14ª ed.). Aproximadamente 7% das gestantes não dão à luz2 semanas após a sua data estimada para o parto. Estes casos impõem um risco maior de danos encefálicos ao feto, e até mesmo de morte fetal em decorrência de aporte inadequado de oxigênio e nutrientes em virtude de uma placenta envelhecida. Os partos pós-termo podem ser facilitados pela indução do trabalho de parto, iniciada pela administração de ocitocina, ou pelo parto cirúrgico (cesariana) (TORTORA, 14ª ed.). ARTIGOS MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR NO TRABALHO DE PARTO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA (GAYESKI; BRUGGMANN, 2010). Essa dor resulta de complexas interações, de caráter inibitório e excitatório e, embora, seus mecanismos sejam semelhantes aos da dor aguda, existem fatores específicos do trabalho de parto de natureza neurofisiológica, obstétrica, psicológica e sociológica que interferem no seu limiar. Desta forma, as opções não farmacológicas podem auxiliar a parturiente no alívio da dor. A manutenção do equilíbrio emocional durante o trabalho de parto é fundamental, pois quando os níveis de adrenalina estão altos, o sistema nervoso simpático é imediatamente ativado, aumentando os níveis plasmáticos do hormônio liberador de corticotrofinas, do hormônio adenocorticotrófico e do cortisol, comprovando que o estresse é um mecanismo biológico adaptativo e de defesa Alguns métodos não farmacológicos para o alívio da dor: banho de imersão, massagem, aromaterapia. O banho de imersão apresenta mais benefícios quando utilizado a partir dos 3 cm de dilatação cervical, principalmente quando controlados, conjuntamente, o tempo de ruptura das membranas e permanência na água, pois todos esses parâmetros podem influenciar negativamente nos resultados neonatais e no tempo de trabalho de parto. Esse método mostrou-se eficiente na redução da dor, independente dos parâmetros citados anteriormente. No entanto, a sua aplicabilidade, no cenário de cuidado brasileiro não é uma realidade, uma vez que não há banheira instalada na maioria dos centros obstétricos. DOR E COMPORTAMENTO DE MULHERES DURANTE O TRABLAHO DE PARTO E PARTO EM DIFERENTES POSIÇÕES (NILSEN et. al., 2011). A intensidade da dor sentida pelas mulheres no trabalho de parto e parto é amplamente variável, e está sujeita a influências psíquicas (comportamental), temperamentais (motivação), culturais (educação), orgânicas (constituição genética) e aos possíveis desvios da normalidade (estresse), além de fatores outros tais como distócias, que podem aumenta-la, e liberação de endorfinas, que pode diminuí-la. Por ser um fenômeno passível de tais influências, a dor é considerada uma experiência subjetiva e pessoal, e deve ser mensurada para permitir a escolha eficaz de um método de alívio. Outro fator que pode interferir na sensação dolorosa parece ser a posição no parto. Um estudo com 20 ensaios clínicos sobre as posições no segundo período do parto confirmou que na posição vertical ou lateral, há diminuição da sensação dolorosa intensa durante o período expulsivo, quando comparada com a supina ou litotomia. Os partos realizados nas diversas formas de posições verticais apresentam redução do período expulsivo quando comparados com partos em litotomia. A redução da duração do expulsivo, das taxas de parto assistido e de episiotomia afirmam o conceito de que os puxos no período expulsivo são mais eficientes em posições verticais. Em contraste, a posição horizontal dificulta esses aspectos, gerando a percepção negativa sobre a mesma, uma vez que dificulta a movimentação, aumenta o sofrimento, o cansaço, a duração do período expulsivo e as intervenções obstétricas. As mulheres, independente da posição, descreveram a intensidade da sensação dolorosa durante o trabalho de parto com valores médios de 7 a 8 e maioria delas referiu dor suportável ou dificilmente suportável. Sabe-se que na posição vertical, as contrações apresentam menos irregularidades em sua forma e ritmo. Certamente por isso, a posição vertical, durante o trabalho de parto, interfira de forma favorável sobre as contrações, permitindo uma melhor qualidade na obtenção da dinâmica uterina, uma diminuição na duração do parto e uma menor 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck necessidade de administração da ocitocina. Ainda comenta o mesmo autor que, na posição vertical, a ação da gravidade sobre o feto é sinérgica com a das contrações. TERAPIAS COMPLEMENTARES NO TRABALHO DE PARTO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO (CAVALCANTI et. al., 2019). Trata-se de estudo clínico, randomizado e controlado do tipo fatorial, utilizando desenho pré e pós-intervenção, oriundo da dissertação intitulada: “Avaliação da dor e ansiedade no trabalho de parto com o uso de intervenções não farmacológicas: ensaio clínico randomizado e controlado”. As parturientes foram alocadas aleatoriamente em um dos três diferentes grupos de intervenção: banho quente de chuveiro, exercícios com bola suíça e o grupo do banho e da bola de forma combinada. A percepção da dor e ansiedade foram avaliadas antes e 30 minutos após a intervenção. Estes desfechos foram avaliados por meio da Escala Visual Analógica (EVA), que compreende uma linha horizontal de 10 cm com extremidades indicando a intensidade, sendo zero (0) “ausência de dor” e dez (10) “pior dor possível”. A EVA é usada para medir vários fenômenos clínicos subjetivos, incluindo dor e ansiedade. A terapia combinada foi realizada com a parturiente sentada sobre a bola, executando exercícios perineais por 30 minutos, durante o banho quente de aspersão (região lombo-sacral). 128 parturientes foram randomizadas e alocadas aleatoriamente nos três grupos de terapias - Grupo Banho Quente de chuveiro (n=44), Grupo Bola Suíça (n=45) e Grupo Banho Quente de chuveiro e Bola Suíça combinados (n= 39). As terapias utilizadas não interferiram na redução da dor durante o trabalho de parto, entretanto todas demostraram efeito positivo no que se refere a abreviação do tempo de evolução do trabalho de parto ao nascimento, especialmente quando utilizadas de forma combinada. Células-tronco ↠ O termo célula-tronco (CT), do inglês stem cell, diz respeito a células precursoras que possuem a capacidade de diferenciação e auto-renovação ilimitadas, podendo dar origem a uma variedade de tipos teciduais (SOUZA et. al., 2003). ↠ As CT são células indiferenciadas que apresentam como características: capacidade de proliferação ilimitada, autorrenovação, produção de diferentes linhagens celulares e regeneração de tecidos (ROCHA et. al., 2012). ↠ A proliferação das CT ocorre por meio de mitoses sendo responsável por garantir um número adequado de células-tronco em determinado local do organismo, em um momento específico de seu desenvolvimento (ROCHA et. al., 2012). ↠ A autorrenovação é o processo pelo qual as CT geram cópias idênticas de si mesmas por meio de sucessivas mitoses, o que significa que o organismo mantém um “estoque” permanente deste tipo celular (ROCHA et. al., 2012). ↠ A diferenciação é a capacidade que as CT apresentam de gerar tipos celulares distintos. Não se sabe exatamente como isso ocorre, mas é possível afirmar que o processo de diferenciação é regulado pela expressão preferencial de genes específicos nas CT (ROCHA et. al., 2012). ↠ A regeneração de tecidos ocorre quando as CT presentes em diversos locais do organismo recebem sinais específicos para se dividirem e reporem as células perdidas se houver lesão tecidual (ROCHA et. al., 2012). ↠ Em virtude dessas propriedades peculiares das CT, muitos cientistas buscam a possibilidade de encontrar a cura para diversas enfermidades por meio da substituição dos tecidos danificados por grupos de CT (ROCHA et. al., 2012). As células-tronco originam células-filhas, que seguem dois destinos: algumas permanecem como células-tronco, mantendo sua população (autorrenovação), e outras se diferenciam em outros tipos celulares com características específicas. Acredita-seque a decisão inicial pela autorrenovação ou diferenciação seja aleatória (modelo estocástico), enquanto a diferenciação posterior seria determinada por agentes reguladores no microambiente medular, de acordo com as necessidades do organismo (modelo indutivo) (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Normalmente, entre uma célula-tronco e sua progênie totalmente diferenciada existe uma população intermediária conhecida como células amplificadoras transitórias, que possuem uma capacidade proliferativa mais limitada e um potencial de diferenciação restrito. A presença destas células amplificadoras transitórias também explica como um tecido pode manter uma produção elevada de células diferenciadas a partir de um pequeno número de células-tronco. Como, normalmente, as células-tronco possuem um ciclo celular lento, muitas das células em divisão em um determinado tecido são células amplificadoras transitórias, que estão destinadas a se diferenciar após um determinado número de divisões (SOUZA et. al., 2003). ↠ Desse modo, a capacidade de divisão celular não é, por si mesma, um indicador da condição de célula-tronco. As células-tronco estão presentes no embrião, quando são designadas células-tronco embrionárias, mas podem também ser encontradas em tecidos adultos, originando as células-tronco adulta (SOUZA et. al., 2003). ↠ As CT podem ser classificadas segundo sua potencialidade em toti, pluri ou multipotentes (SCHWINDT et. al., 2005) 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck CÉLULAS-TRONCO TOTIPOTENTES ↠ As células-tronco totipotentes podem originar tanto um organismo totalmente funcional, como qualquer tipo celular do corpo, inclusive todo o sistema nervoso central e periférico. Correspondem às células do embrião recém- formado e têm potencial para originar até mesmo as células do folheto extraembrionário que formarão a placenta. Entretanto, estas células são efêmeras e desaparecem poucos dias após a fertilização (SOUZA et. al., 2003). Totipotentes: capazes de gerar todos os tipos celulares embrionários e extraembrionários. Ex: zigoto, células embrionárias na fase de mórula (ROCHA et. al., 2012). CÉLULAS-TRONCO PLUTIPOTENTES ↠ As pluripotentes são células capazes de originar qualquer tipo de tecido sem, no entanto, originar um organismo completo, visto que não podem gerar a placenta e outros tecidos de apoio ao feto. Formam a massa celular interna do blastocisto depois dos quatro dias de vida e participam da formação de todos os tecidos do organismo (ROCHA et. al., 2012). Apesar de existirem em menor número, as células-tronco pluripotentes estão presentes, também, em indivíduos adultos. Se oriundas da medula óssea, por exemplo, podem originar células de sangue, ossos, cartilagem, músculos, pele e tecido conjuntivo (SOUZA et. al., 2003). ↠ A proliferação das células-tronco pluripotentes origina células-filhas com potencialidade menor – as células progenitoras multipotentes, que produzem as células precursoras (blastos). É nas células precursoras que as características morfológicas diferenciais das linhagens aparecem pela primeira vez, pois as células-tronco pluripotentes e as progenitoras são indistinguíveis morfologicamente e se parecem com os linfócitos grandes. (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Pluripotentes: capacidade de diferenciação em células pertencentes aos três folhetos embrionários: ectoderma, mesoderma e endoderma, assim como as células germinativas primordiais (CGP). Ex: células embrionárias derivadas da massa interna do blastocisto (ROCHA et. al., 2012). CÉLULAS-TRONCO MULTIPOTENTES ↠ As células-tronco multipotentes são um pouco mais diferenciadas, presentes no indivíduo adulto, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos teciduais. Estas células são designadas de acordo com o órgão de que derivam e podem originar apenas células daquele órgão, possibilitando a regeneração tecidual (SOUZA et. al., 2003). Multipotentes: diferenciação limitada a determinados tipos celulares. Ex: células em estágio posterior ao desenvolvimento fetal e que persistem após o nascimento (ROCHA et. al., 2012). ØBS.: Existem ainda células oligopotentes, capazes de gerar células mais restritas a uma linhagem do que as multipotentes (SCHWINDT et. al., 2005) CÉLULAS-TRONCO UNIPOTENTES ↠ Unipotentes: capacidade de gerar um único tipo de tecido. Ex: células da camada germinativa da epiderme, eritroblastos, espermatogônias dos testículos (ROCHA et. al., 2012). Quanto à origem, as células-tronco podem ser divididas em células- tronco embrionárias (CTE), derivadas da massa celular interna de um blastocisto (embrião prematuro), e células germinativas embrionárias (CGE), obtidas do tecido fetal em um estágio mais avançado de desenvolvimento (da espinha gonadal) (SOUZA et. al., 2003). ØBS.: As células oligopotentes e unipotentes devem ser consideradas células progenitoras e não CT. Sendo esta uma área nova, é comum a confusão de conceitos e o uso impróprio das definições acima (SCHWINDT et. al., 2005) CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS ↠ No embrião em estágio de blastocisto, as células- tronco da massa celular interna se diferenciam para formar o ectoderma primitivo, o qual, durante a gastrulação, finalmente se diferencia nos três folhetos embrionários (ectoderma, mesoderma e endoderma). Quando removidas do seu ambiente embrionário normal e cultivadas sob condições apropriadas, estas células dão origem a células que se proliferam e se renovam indefinidamente (SOUZA et. al., 2003). ↠ As células-tronco embrionárias são células pluripotentes dotadas de grande plasticidade, que apresentam características essenciais, como uma ilimitada capacidade de proliferação indiferenciada in vitro, além de formar os derivados dos três folhetos embrionários mesmo após um longo período em cultura (SOUZA et. al., 2003). Devido à sua origem, as CTE podem se distinguir de outras linhagens de células humanas pluripotentes denominadas células do carcinoma embrionário (CCE) e células germinativas embrionárias (CGE). As CCEs são linhagens de células pluripotentes derivadas de componentes de células-tronco indiferenciadas, originárias de tumores de células germinativas, que surgem de forma espontânea, encontradas ocasionalmente em malformações de ratos e humanos. Já as CGEs são derivadas de células germinativas das cristas genitais de fetos humanos ou de ratos e, assim como as duas primeiras, são capazes 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck de formar as três camadas germinativas que compõem todos os órgãos do corpo humano, embora seu potencial seja mais limitado se comparado com as CTEs, pois se encontram em um estágio mais avançado de desenvolvimento (SOUZA et. al., 2003). CÉLULAS-TRONCO ADULTAS ↠ Além de no embrião, as células-tronco também são encontradas em vários órgãos e tecidos no indivíduo adulto, onde participam da homeostase tecidual, gerando novas células devido à renovação fisiológica ou em resposta a uma injúria. Tais populações celulares indiferenciadas mantidas no organismo adulto são denominadas células-tronco adultas (SOUZA et. al., 2003). ↠ Estas células, assim como as CTEs, apresentam a telomerase, não estando, portanto, sujeitas à senescência celular, fenômeno que ocorre nas demais células somáticas diplóides, devido ao encurtamento do telômero após sucessivas mitoses (SOUZA et. al., 2003). ↠ As células-tronco adultas estão em estado quiescente ou em baixa proliferação, localizando-se em regiões específicas essenciais para o seu desenvolvimento e a manutenção de seus atributos, particularmente a capacidade de autorenovação. Algumas regiões estão claramente definidas dentro de seus respectivos tecidos e as células-tronco ali localizadas podem ser facilmente identificadas pela sua morfologia e localização espacial. Já em outros tecidos, não é possível definir a exata localização de um nicho de células-tronco, sendo necessário desenvolverda hipófise (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ No infundíbulo as artérias hipofisárias superiores formam um plexo capilar primário, cujas células endoteliais são fenestradas. Os capilares do plexo primário se reúnem para formar vênulas e pequenos vasos que se encaminham para a pars distalis, onde se ramificam novamente, formando um extenso plexo capilar secundário (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Há, portanto, dois sistemas venosos em cascata, o que caracteriza um sistema porta, denominado sistema porta hipofisário. O suprimento sanguíneo da pars distalis é feito, portanto, de sangue vindo principalmente do infundíbulo através do sistema porta-hipofisário e em escala muito menor de alguns ramos das artérias hipofisárias inferiores (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Através desse sistema vascular, vários neuro- hormônios produzidos no hipotálamo são levados diretamente do infundíbulo à pars distalis, controlando a função de suas células. O sangue venoso desse sistema sai por diversas veias hipofisárias (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Os hormônios da adeno-hipófise viajam até os tecidos-alvo ao longo do corpo. Os hormônios da adeno-hipófise que atuam em outras glândulas endócrinas são chamados de hormônios tróficos ou trofinas (TORTORA, 14ª ed.). CONTROLE DA LIBERAÇÃO HORMONAL A síntese e a liberação da maioria dos hormônios são reguladas por algum tipo de sistema de retroalimentação (feedback) negativa. Neste tipo de sistema, a secreção do hormônio é desencadeada por um estímulo interno ou externo. À medida que os níveis do hormônio aumentam, eles produzem seus efeitos no órgão-alvo e inibem a liberação adicional do hormônio. Como resultado, os níveis sanguíneos da maioria dos hormônios variam apenas dentro de uma estreita faixa (MARIEB, 3ª ed.). As glândulas endócrinas são estimuladas a produzir e liberar seus hormônios por três principais tipos de estímulos: humoral, neural e hormonal (MARIEB, 3ª ed.). ESTÍMULOS HUMORAIS ↠ Algumas glândulas endócrinas secretam seus hormônios diretamente em resposta a modificações nos níveis sanguíneos de certos íons e nutrientes importantes. Estes estímulos são chamados de humorais para distingui-los dos estímulos hormonais, os quais também são substâncias químicas presentes no sangue (MARIEB, 3ª ed.). O termo humoral recupera o antigo uso do termo humor, que se refere aos diversos líquidos do corpo (sangue, bile e outros). Este é o mais simples dos sistemas de controle endócrino. Por exemplo, as células das glândulas paratireóides monitoram os níveis sanguíneos de Ca+2 e quando detectam valores abaixo do normal, elas secretam o hormônio paratireoidiano ou paratormônio (PTH). Como o PTH age por diversas vias para reverter esta diminuição, os níveis sanguíneos de Ca+2 logo se elevam, e acaba o estímulo para a liberação do PTH. Outros hormônios liberados em resposta a estímulos humorais incluem a insulina, produzida no pâncreas, e a aldosterona, um dos hormônios do córtex da supra-renal (MARIEB, 3ª ed.). ESTÍMULOS NEURAIS ↠ Em alguns casos, fibras nervosas estimulam a liberação de hormônios (MARIEB, 3ª ed.). O exemplo clássico de estímulo neural é a estimulação da medula da glândula supra-renal pelo sistema nervoso simpático para liberar catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) durante períodos de estresse (MARIEB, 3ª ed.). ESTÍMULOS HORMONAIS ↠ Finalmente, muitas glândulas endócrinas liberam seus hormônios em resposta a hormônios produzidos por outros órgãos endócrinos, e os estímulos nestes casos são chamados de estímulos hormonais (MARIEB, 3ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Por exemplo, a liberação da maioria dos hormônios da hipófise anterior é regulada por hormônios liberadores e inibidores produzidos pelo hipotálamo, e muitos hormônios da hipófise anterior, por sua vez, estimulam outros órgãos endócrinos a liberarem seus hormônios. À medida que os níveis sanguíneos dos hormônios produzidos na glândula-alvo final aumentam, eles inibem a liberação dos hormônios da hipófise anterior e, consequentemente, sua própria liberação (MARIEB, 3ª ed.). Esta alça de retroalimentação hipotálamo-hipófise-órgão endócrino- alvo está no cerne da endocrinologia. Os estímulos hormonais promovem uma liberação rítmica de hormônios, com um padrão específico de aumento e diminuição dos níveis sanguíneos hormonais (MARIEB, 3ª ed.). Embora estes três mecanismos representem a maioria dos sistemas que controlam a liberação dos hormônios, eles não são, de forma alguma, válidos para todos os hormônios nem são mutuamente exclusivos, e alguns órgãos endócrinos podem responder a múltiplos estímulos (MARIEB, 3ª ed.). Alças de retroalimentação ↠ As vias nas quais os hormônios da adeno-hipófise atuam como hormônios tróficos estão entre os reflexos endócrinos mais complexos, uma vez que envolvem três centros integradores: o hipotálamo, a adeno-hipófise e o alvo endócrino do hormônio hipofisário (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A retroalimentação nessas vias segue um padrão diferente. Em vez de a resposta agir como um sinal de retroalimentação negativa, os próprios hormônios são o sinal de retroalimentação (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Nos eixos hipotálamo-adeno-hipófise, a forma dominante de retroalimentação é a retroalimentação negativa de alça longa, em que o hormônio secretado pela glândula endócrina periférica “retroalimenta” a própria via inibindo a secreção dos seus hormônios hipotalâmicos e adeno-hipofisários (SILVERTHORN, 7ª ed.). Em vias com dois ou três hormônios em sequência, o hormônio seguinte na sequência normalmente retroalimenta para suprimir o(s) hormônio(os) que controla(m) a sua secreção. A grande exceção à via de retroalimentação negativa de alça longa são os hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona, em que a retroalimentação é alternada entre positiva e negativa (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Alguns hormônios da hipófise também exibem retroalimentação negativa de alça curta e ultracurta. Em uma retroalimentação negativa de alça curta, o hormônio da hipófise retroalimenta a via, diminuindo a secreção hormonal pelo hipotálamo. A prolactina, o GH e o ACTH apresentam retroalimentação negativa de alça curta. Também pode haver retroalimentação de alça ultracurta na hipófise e no hipotálamo, onde um hormônio atua como um sinal autócrino ou parácrino para influenciar a célula que o secreta. As vias de retroalimentação de alça curta são normalmente secundárias às vias de alças longas que são mais significantes (SILVERTHORN, 7ª ed.). A maioria dos sistemas regulatórios hormonais atua via feedback negativo, porém alguns operam por feedback positivo. Por exemplo, durante trabalho de parto, o hormônio ocitocina estimula as contrações do útero que, por sua vez, estimulam ainda mais a liberação de ocitocina, um efeito de feedback positivo (TORTORA, 14ª ed.). Hormônios da adeno-hipófise ↠ Foram identificados seis distintos hormônios adeno- hipofisários, todos eles protéicos. Além disso, uma grande molécula com o nome de pró-opiomelanocortina (POMC) foi isolada da hipófise anterior. A POMC é um pró- hormônio, isto é, uma grande molécula precursora que pode ser enzimaticamente clivada formando um ou mais hormônios ativos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A POMC dá origem ao hormônio adrenocorticotrófico, a dois opióides naturais e ao hormônio estimulante dos melanócitos (MSH) (MARIEB, 3ª ed.). Nos humanos e em outros animais, o MSH é um neurotransmissor do SNC envolvido no controle do apetite. Embora sejam encontrados baixos níveis de MSH no plasma, seu papel sistêmico ainda não está bem compreendido (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Quando a adeno-hipófise recebe um estímulo químico adequado do hipotálamo, um ou mais hormônios são liberados por algumas de suas células. Embora muitos hormônios diferentes passem do hipotálamo para o lobo anterior, cada célula-alvo no lobo anterior distingue a mensagem direcionada para ela e responde da mesma forma - secretando oum painel de marcadores moleculares para este fim (SOUZA et. al., 2003). Adultas: isoladas de órgãos e tecidos diferenciados, como: medula óssea, sangue (periférico ou de cordão umbilical), retina, córnea, cérebro, músculos esqueléticos, polpa dental, fígado, pele, tecido adiposo, epitélio gastrointestinal e pâncreas (ROCHA et. al., 2012). ↠ Uma das fontes mais utilizadas para extração de CT- adultas é a medula óssea, amplamente estudada face ao uso clínico em transplantes. Nesse tecido, encontramos dois tipos de CT: as hematopoiéticas e as mesenquimais. As CT-hematopoiéticas são responsáveis por toda progênie granulocítica e mielocítica (SCHWINDT et. al., 2005) ØBS.: As CT-fetais, assim como as adultas, não se diferenciam espontaneamente e ainda apresentam outras vantagens: estão presentes em abundância por todo o organismo em desenvolvimento e possuem maior potencial de auto-renovação. Teoricamente, pode- se isolar CT-fetais de qualquer tecido, desde que a extração ocorra durante a formação destes tecidos no período fetal. No entanto, há importantes questões éticas envolvidas na extração de tais células de humanos (SCHWINDT et. al., 2005) OBSERVAÇÃO As células tronco mesenquimais se sobressaem por serem capazes de dar origem a tecidos mesodérmicos ou não. Também possui função de modulação imunológica; as células mesenquimais (MSC) são grandes secretoras hormonais e são muito importante no processo inflamatório por secretar substancias de caráter anti-inflamatório (ALVES et. al., 2019). De todas as linhagens de células-tronco somáticas estudadas até o presente momento, as MSC apresentam maior plasticidade, originando tecidos mesodermais e não mesodermais (ALVES et. al., 2019). COMO OCORRE A DIFERENCIAÇÃO CELULAR? As CT-fetais e adultas, sendo mais comprometidas a determinadas linhagens celulares, são consideradas multipotentes. No entanto, há inúmeros trabalhos indicando que CT provenientes de um tecido possuem a capacidade de originar células específicas de um outro tecido não-relacionado. Assim, foram criadas algumas hipóteses que tentam explicar os mecanismos pelos quais a diferenciação celular ocorre. Vale ressaltar que os mecanismos evocados parecem depender da população celular e do tecido analisado (SCHWINDT et. al., 2005) De forma geral, as CT expressam, em sua superfície, muitas moléculas associadas a interações célula-célula e célula-matriz. Os mecanismos de sinalização celular são de fundamental importância no processo de diferenciação, levando em conta que as CT, ao se dividirem, podem originar uma célula filha idêntica e outra mais especializada (divisão assimétrica) de acordo com o microambiente (SCHWINDT et. al., 2005) A transdiferenciação é um dos mecanismos propostos para explicar, por exemplo, a origem de células da linhagem hematopoiética a partir de CT-neurais e a diferenciação de células da medula óssea em células neurais e hepatócitos. Nesse mecanismo, a conversão de uma linhagem a outra ocorreria diretamente, a partir da ativação de um conjunto de genes que alteraria a especificidade celular. A conversão entre diferentes linhagens celulares também poderia ocorrer via dediferenciação, um estágio intermediário, em que uma célula especializada torna-se uma célula mais primitiva, multipotente, para então se rediferenciar em um outro tipo celular. Uma terceira explicação baseia-se na pureza e na homogeneidade da população em estudo, ou seja, há a possibilidade de coexistirem distintos tipos de CT e progenitores em um tecido, que contribuiriam para o surgimento dos outros tipos celulares (SCHWINDT et. al., 2005) A contribuição de células entre diversos tecidos também pode ocorrer a partir da ação de uma única CT-pluripotente, que é capaz de dar origem a células de tecidos formados a partir de diferentes folhetos embrionários. O último mecanismo de plasticidade a ser considerado é a fusão celular em que, após a fusão entre células de diferentes linhagens, os marcadores das células do hospedeiro são transferidos para a célula fundida. Terada et al. Demonstraram, in vitro, que células da medula óssea podem fundir-se espontaneamente com células- tronco embrionárias. Dessa forma, as células da medula óssea fundidas podem assumir o fenótipo das células receptoras, sugerindo uma “transdiferenciação”. No entanto, parece improvável que o mecanismo de fusão seja responsável pela regeneração tecidual em larga escala, visto a baixíssima frequência com que esse evento ocorre. Em diversos estudos, a proporção de CT transplantadas, que foram incorporadas pelo tecido lesado e que se diferenciaram, não explica a melhora funcional observada (SCHWINDT et. al., 2005) 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Assim, uma explicação relevante para a regeneração tecidual após aplicação de CT é a liberação de citocinas e fatores tróficos no local da lesão. Como a maioria das CT é capaz de identificar e migrar até o local lesado, é clara sua capacidade de responder a fatores quimiotáticos (liberados pelo tecido lesado). Há ainda evidências de que estas células, por sua vez, podem ser capazes de liberar outras moléculas em resposta aos estímulos recebidos8. Há várias hipóteses quanto às supostas funções de tais fatores na lesão, dentre elas: liberação de moléculas que previnem a morte celular, recrutamento de CT adjacentes do próprio tecido (com subsequente diferenciação), interferência na inflamação provocada pelo dano tecidual (modulando a resposta do sistema imune), suporte de moléculas ou enzimas que suprem defeitos metabólicos (SCHWINDT et. al., 2005) Nos últimos cinco anos, diversos trabalhos têm fornecido pistas da existência de CT em praticamente todos os tecidos de um organismo adulto, não se tratando apenas de progenitores comprometidos, mas células com capacidade de se diferenciar em tipos celulares não relacionados ao tecido de onde provêm. Se o próprio corpo possui essa gama de células com elevada potencialidade, então por que não ocorre regeneração completa de todos os tecidos, após a lesão aguda ou mesmo nas situações de desgaste natural e envelhecimento? (SCHWINDT et. al., 2005) Provavelmente as CT mais potentes em um organismo adulto mantêm-se “indiferenciadas” desde estágios iniciais do desenvolvimento, porém estão sob controle de microambientes que sinalizam para uma especificidade celular de acordo com o contexto tecidual. Já na condição de cultura, tais células são estimuladas por diversos fatores que não existem em seu ambiente de origem e que alteram o seu comportamento. Assim sendo, muitos experimentos realizados in vitro não podem ser extrapolados para modelos in vivo (SCHWINDT et. al., 2005) TERAPIAS COM CÉLULAS-TRONCO Uso terapêutico de células tronco em cirrose hepática O transplante de células de células tronco mesenquimais pode ser visto com uma nova opção terapêutica para o tratamento de cirrose hepática, substituindo o transplante hepático ortotópico, que é o tratamento mais utilizado para as fases finais da doença, embora sua realização possua restrições (ALVES et. al., 2019). A utilização de células tronco mesenquimais para o tratamento de cirrose hepática possui resultados eficazes, porém uso desta técnica ainda entra em conflito com aspectos éticos e o os efeitos colaterais a esse transplante ainda não podem ser mesurados (ALVES et. al., 2019). Tratamento de Diabetes Mellitus utilizando células-tronco Cientistas da Universidade de Miller School of Medicine de Miami, apontam que células tronco presentes no pâncreas possuem a capacidade de recuperar as células pancreáticas produtoras de insulina. O estudo consiste em regenerar as células betas que sofreram destruição autoimunes, utilizando-se de células tronco que farão o papel da regeneração. Essa descoberta beneficiará tanto portadores de diabetes tipo I, como também portadores de diabetes tipos II (ALVES et. al., 2019). Uso de células tronco nohormônio apropriado em resposta a hormônios liberadores específicos e interrompendo a liberação hormonal, em resposta a hormônios inibitórios específicos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A adeno-hipófise é uma glândula endócrina muito importante que secreta não um, mas seis hormônios fisiologicamente importantes: prolactina (PRL), tireotrofina (TSH), adrenocorticotrofina (ACTH), hormônio do crescimento (GH), hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Dos seis hormônios da adeno-hipófise, somente a prolactina atua sobre um alvo não-endócrino (a mama). Os cinco hormônios remanescentes possuem outra glândula ou célula endócrina como um de seus alvos. Os hormônios que controlam a secreção de outros hormônios são denominados hormônios tróficos (SILVERTHORN, 7ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) ↠ O hormônio do crescimento (GH) é produzido por células chamadas de somatotrofos do lobo anterior (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O hormônio do crescimento (GH) é o hormônio mais abundante da adeno-hipófise. A principal função do GH é promover a síntese e a secreção de pequenos hormônios proteicos chamados fatores de crescimento insulino-símiles ou somatomedinas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Embora o GH estimule a maioria das células a aumentarem de tamanho e se dividirem, seus principais alvos são os ossos e os músculos esqueléticos. A estimulação das placas epifisárias leva ao crescimento dos ossos longos; a estimulação dos músculos esqueléticos aumenta a massa muscular (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Em resposta ao hormônio do crescimento, as células no fígado, no músculo esquelético, na cartilagem, nos ossos e em outros tecidos secretam fatores de crescimento insulino-símiles (IGFs), que podem entrar na corrente sanguínea a partir do fígado ou atuar de maneira local em outros tecidos como autócrinos ou parácrinos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As funções dos IGF são: (TORTORA, 14ª ed.). Os IGF fazem com que as células cresçam e se multipliquem pela intensificação da captação de aminoácidos nas células e aceleração da síntese proteica. Os IGF também reduzem a degradação de proteínas e o uso de aminoácidos para a produção de ATP. Devido a esses efeitos dos IGF, o hormônio do crescimento aumenta a taxa de crescimento do esqueleto e dos músculos esqueléticos durante a infância e a adolescência. Em adultos, o hormônio do crescimento e os IGF ajudam a manter a massa dos músculos e ossos e promovem a cicatrização de lesões e o reparo tecidual. Os IGF também intensificam a lipólise no tecido adiposo, aumentando o uso dos ácidos graxos liberados para a produção de ATP pelas células corporais. Além de afetar o metabolismo proteico e lipídico, o hormônio do crescimento e os IGF influenciam o metabolismo dos carboidratos pela redução da captação de glicose, diminuindo o uso de glicose para a produção de ATP pela maioria das células corporais. Essa ação economiza glicose de forma a deixa-la disponível aos neurônios para produzir ATP nos períodos de escassez de glicose. Os IGF e o hormônio do crescimento também podem estimular os hepatócitos a liberar glicose no sangue. A elevação nos níveis sanguíneos de glicose, que resulta dessa glicose economizada, é chamada de efeito diabetogênico do GH, pois mimetiza os altos níveis sanguíneos de glicose característicos do diabete melito (MARIEB, 3ª ed.). ÏMPØRTÅÑTË: A secreção de GH é regulada principalmente por dois hormônios hipotalâmicos com efeitos antagônicos. O hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH) estimula a liberação de GH, enquanto o hormônio inibidor do hormônio do crescimento (GHIH), também chamado de somatostatina, inibe sua liberação (MARIEB, 3ª ed.). A região do hipotálamo onde ocorre a origem da secreção do GHRH é o núcleo ventromedial; essa é a mesma área do hipotálamo sensível à concentração de glicose no sangue, levando à saciedade, nos estados hiperglicêmicos, e à sensação de fome, nos estados hipoglicêmicos (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A liberação de GHIH é desencadeada (presumivelmente) pela retroalimentação do GH e dos IGFs. O aumento nos níveis de GH também exerce um efeito de retroalimentação que inibe a sua própria secreção. Tipicamente, a secreção de GH possui um ciclo diário, com os maiores níveis ocorrendo durante o sono da noite. A quantidade total secretada diariamente alcança o pico durante a adolescência e diminui com a idade (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Além de inibir a secreção do hormônio do crescimento, o GHIH bloqueia a liberação do hormônio estimulador da tireóide. O GHIH também é produzido em diversas regiões do sistema gastrintestinal, onde ele inibe a liberação de praticamente todas as secreções gastrintestinais e pancreáticas - tanto endócrinas como exócrinas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O principal regulador da secreção de GHRH e de GHIH é o nível de glicose sanguínea: (TORTORA, 14ª ed.). A hipoglicemia, uma concentração sanguínea de glicose anormalmente baixa, estimula o hipotálamo a secretar GHRH, que flui em sentido à adeno-hipófise nas veias porto-hipofisárias. Ao chegar à adenohipófise, o GHRH estimula os somatotrofos a liberar hormônio do crescimento humano. 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck O hormônio do crescimento estimula a secreção de fatores do crescimento insulino-símiles, que aceleram a degradação de glicogênio hepático em glicose, fazendo com que a glicose entre no sangue com mais rapidez. Consequentemente, a glicemia se eleva ao nível normal (cerca de 90 mg/100 ml de plasma sanguíneo). A elevação da glicemia acima do nível normal inibe a liberação de GHRH. A hiperglicemia, uma concentração sanguínea de glicose anormalmente elevada, estimula o hipotálamo a secretar GHIH (ao mesmo tempo que inibe a secreção de GHRH). Ao chegar à adeno-hipófise no sangue portal, o GHIH inibe a secreção de hormônio do crescimento pelos somatotrofos. Níveis baixos de GH e IGF retardam a degradação de glicogênio no fígado e a glicose é liberada no sangue mais lentamente. A glicemia cai para o nível normal. A queda da glicemia abaixo do nível normal (hipoglicemia) inibe a liberação de GHIH. Outros estímulos que promovem a secreção do hormônio do crescimento são diminuição de ácidos graxos e aumento de aminoácidos no sangue; sono profundo (estágios 3 e 4 do sono não REM); intensificação da atividade da parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso, como pode ocorrer durante o estresse ou exercícios físicos vigorosos; e outros hormônios, inclusive glucagon, estrogênios, cortisol e insulina. Os fatores que inibem a secreção do hormônio do crescimento humano são nível sanguíneo mais elevado de ácidos graxos e mais baixo de aminoácidos; sono de movimento rápido dos olhos; privação emocional; obesidade; baixos níveis de hormônios da tireoide; e hormônio do crescimento propriamente dito (por meio de feedback negativo). O hormônio inibidor do hormônio do crescimento (GHIH), alternativamente conhecido como somatostatina, também inibe a secreção do hormônio do crescimento (TORTORA, 14ª ed.). O POSSÍVEL PAPEL DA DIMINUIÇÃO DA SECREÇÃO DO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO COMO CAUSA DE MUDANÇAS ASSOCIADAS AO ENVELHECIMENTO Nas pessoas que perderam a capacidade de secretar o hormônio do crescimento, algumas características do processo de envelhecimento são aceleradas. Por exemplo, uma pessoa de 50 anos de idade que está há muitos anos sem hormônio do crescimento pode ter o aspecto de uma pessoa com 65 anos de idade. O aspecto envelhecido parece resultar, principalmente, da diminuição da deposição de proteínas na maioria dos tecidos do corpo e do aumento da deposição de gordura em seu lugar. Os efeitos físicos e fisiológicos consistem no aumento do enrugamento da pele, diminuição do funcionamento de alguns dos órgãos e redução da massa e da força muscular (GUYTON,13ª ed.). Com o envelhecimento, a concentração plasmática média do hormônio do crescimento em uma pessoa de outra forma normal muda, aproximadamente, da seguinte maneira: (GUYTON, 13ª ed.). Dessa maneira, é muito possível que alguns dos efeitos normais do envelhecimento resultem da diminuição da secreção do hormônio do crescimento. De fato, testes múltiplos do tratamento com hormônio do crescimento em pessoas mais idosas demonstraram três efeitos benéficos importantes de ação antienvelhecimento: (GUYTON, 13ª ed.). Aumento da deposição de proteínas no corpo, especialmente nos músculos; Redução dos depósitos de gordura; Sensação de aumento de energia. Outros estudos, no entanto, mostraram que o tratamento de pacientes idosos com hormônio do crescimento recombinante pode produzir vários efeitos adversos indesejáveis, incluindo resistência à insulina e diabetes, edema, síndrome do túnel do carpo e artralgias (dores nas articulações). Portanto, o tratamento com hormônio do crescimento recombinante, geralmente, não é recomendado em pacientes idosos saudáveis, com função endócrina normal (GUYTON, 13ª ed.). HORMÔNIO ESTIMULADOR DA TIREOIDE ↠ O hormônio estimulador da tireóide (TSH), ou tireotrofina, é um hormônio trófico que estimula o desenvolvimento normal e a atividade secretora da glândula tireóide (MARIEB, 3ª ed.). 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ O hormônio tireoestimulante (TSH) estimula a síntese e a secreção de triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que são produzidas pela glândula tireoide (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A liberação do TSH pelas células da hipófise anterior chamadas de tireotrofos é estimulada por um peptídeo hipotalâmico, o hormônio liberador de tireotrofina (TRH) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A liberação de TRH, por sua vez, depende dos níveis sanguíneos de T3 e T4; níveis elevados de T3 e T4 inibem a secreção de TRH via feedback negativo. Não existe hormônio inibidor da tireotrofina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O aumento nos níveis sanguíneos dos hormônios tireoidianos atua tanto na hipófise como no hipotálamo para inibir a secreção de TSH. O hipotálamo, em resposta, libera GHIH, o qual reforça o bloqueio à liberação de TSH (MARIEB, 3ª ed.). HORMÔNIO ADRENOCORTICOTRÓFICO ↠ O hormônio adreno-corticotrófico (ACTH), ou corticotrofina, é secretado pelos corticotrofos da adeno- hipófise. O ACTH estimula o córtex supra-renal a liberar os hormônios corticosteróides, principalmente os glicocorticóides que ajudam o corpo a resistir em condições de estresse (MARIEB, 3ª ed.). O ACTH controla a produção e a secreção de cortisol e outros glicocorticoides pelo córtex das glândulas suprarrenais (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A liberação de ACTH, estimulada pelo hormônio liberador de corticotrofina (CRH) hipotalâmico, possui um ritmo diário, com um pico matinal logo após o despertar. Os níveis aumentados de glicocorticóides retroalimentam e bloqueiam a secreção de CRH e consequentemente de ACTH (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Fatores internos e externos que alteram o ritmo normal de liberação de ACTH pela ativação da secreção de CRH incluem febre, hipoglicemia e todos os tipos de estressores (MARIEB, 3ª ed.). GONADOTROFINAS ↠ O hormônio estimulador do folículo (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), referidos coletivamente como gonadotrofinas, regulam a função das gônadas (ovários e testículos) (MARIEB, 3ª ed.). HORMÔNIO FOLICULOESTIMULANTE ↠ Nas mulheres, os ovários são os alvos do hormônio foliculoestimulante (FSH). A cada mês, o FSH inicia o desenvolvimento de vários folículos ovarianos, coleções em forma de saco de células secretoras que rodeiam o ovócito em desenvolvimento. O FSH também estimula as células foliculares a secretar estrogênios (hormônios sexuais femininos). (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Nos homens, o FSH promove a produção de espermatozoides nos testículos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) do hipotálamo estimula a liberação de FSH. A liberação de GnRH e FSH é suprimida por estrogênios nas mulheres e pela testosterona (principal hormônio sexual masculino) nos homens por sistemas de feedback negativo. Não existe hormônio inibidor da gonadotrofina (TORTORA, 14ª ed.). 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck HORMÔNIO LUTEINIZANTE ↠ Nas mulheres, o hormônio luteinizante (LH) desencadeia a ovulação, que consiste na liberação de um ovócito secundário (futuro ovo) por um ovário. O LH estimula a formação do corpo lúteo (estrutura formada após a ovulação) no ovário e a secreção de progesterona (outro hormônio sexual feminino) pelo corpo lúteo ↠ Juntos, o FSH e o LH também promovem a secreção de estrogênios pelas células ovarianas. Os estrogênios e a progesterona preparam o útero para a implantação de um ovo fertilizado e ajudam a preparar as glândulas mamárias para a secreção de leite ↠ Nos homens, o LH estimula células nos testículos a secretarem testosterona. A secreção de LH, assim como a do FSH, é controlada pelo hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). As gonadotrofinas estão praticamente ausentes no sangue de meninos e meninas pré-adolescentes. Durante a puberdade, os gonadotrofos na adeno-hipófise são ativados e os níveis de gonadotrofinas começam a se elevar, gerando a maturação das gônadas (MARIEB, 3ª ed.). PROLACTINA ↠ A prolactina (PRL) é um hormônio protéico estruturalmente semelhante ao GH (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A prolactina (PRL), junto com outros hormônios, inicia e mantém a produção de leite pelas glândulas mamárias. Sozinha, a prolactina exerce um efeito fraco. Somente depois da preparação das glândulas mamárias promovida pelos estrogênios, progesterona, glicocorticoides, GH, tiroxina e insulina, que exercem efeitos permissivos, que a PRL promove a produção de leite (TORTORA, 14ª ed.). A ejeção de leite das glândulas mamárias depende do hormônio ocitocina, liberado pela neuro-hipófise. Em conjunto, a produção e a ejeção de leite constituem a lactação (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O hipotálamo secreta hormônios tanto inibitórios quanto excitatórios que regulam a secreção de prolactina. Nas mulheres, o hormônio inibidor de prolactina (PIH), que vem a ser a dopamina, inibe a liberação de prolactina da adeno-hipófise na maior parte do tempo. Todo mês, pouco antes de começar a menstruação, a secreção de PIH diminui e o nível sanguíneo de prolactina se eleva, porém não o suficiente para estimular a produção de leite (TORTORA, 14ª ed.). Nas mulheres, os níveis de prolactina aumentam e diminuem de acordo com os níveis sanguíneos de estro gênio. O estrogênio estimula a liberação de prolactina, tanto direta como indiretamente (MARIEB, 3ª ed.). A hipersensibilidade das mamas pouco antes da menstruação pode ser causada pela elevação do nível de prolactina. Quando o ciclo menstrual começa de novo, o PIH é mais uma vez secretado e o nível de prolactina cai (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Durante a gravidez, o nível de prolactina sobe estimulado pelo hormônio liberador de prolactina (PRH) do hipotálamo. A sucção realizada pelo recém-nascido promove a redução da secreção hipotalâmica de PIH (TORTORA, 14ª ed.). A função da prolactina não é conhecida nos homens, porém sua hipersecreção causa disfunção erétil (incapacidade de apresentar ou manter ereção do pênis). Nas mulheres, a hipersecreção de prolactina causa galactorreia (lactação inapropriada) e amenorreia (ausência de ciclos menstruais) (TORTORA, 14ª ed.). HORMÔNIO MELANÓCITO-ESTIMULANTE ↠ O hormônio melanócito-estimulante (MSH) aumenta a pigmentação da pele em anfíbios pela estimulação da dispersão de grânulos de melanina nos melanócitos. Sua função exata em humanos é desconhecida, porém a presença de receptores de MSH no encéfalo sugere que pode influenciar a atividade encefálica. Há pouco MSH circulante em humanos. Entretanto, a administração contínua de MSH ao longo de vários dias produz escurecimentoda pele. Níveis excessivos de hormônio liberador de corticotrofina (CRH) podem estimular a liberação de MSH; a dopamina inibe a liberação de MSH (TORTORA, 14ª ed.). Hormônios da neuro-hipófise e do hipotálamo ↠ Embora não sintetize hormônios, a neuro-hipófise armazena e libera dois hormônios. É composta por axônios e terminais axônicos de mais de 10.000 células hipotalâmicas neurossecretoras (TORTORA, 14ª ed.). Os corpos celulares das células neurossecretoras se encontram nos núcleos paraventricular e supraóptico do hipotálamo; seus axônios formam o trato hipotálamo-hipofisial. Esse trato começa no hipotálamo e termina perto de capilares sanguíneos na neuro-hipófise (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os corpos das células neuronais dos dois núcleos paraventricular e supraóptico sintetizam o hormônio ocitocina (OT) e o hormônio antidiurético (ADH), também chamado de vasopressina. Os terminais axônicos na neuro-hipófise são associados à neuróglia especializada chamada de pituitócitos. Essas células apresentam uma função de suporte similar a dos astrócitos (TORTORA, 14ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Após sua produção nos corpos celulares das células neurossecretoras, a ocitocina e o hormônio antidiurético são envolvidos em vesículas secretoras, que se movimentam por transporte axônico rápido até os terminais axônicos na neuro-hipófise, onde são armazenados até que impulsos nervosos desencadeiam a exocitose e a liberação hormonal (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O ADH e a ocitocina, cada um composto de nove aminoácidos, são quase idênticos. Eles diferem em apenas dois aminoácidos, e mesmo assim possuem efeitos fisiológicos bastante diferentes. O ADH influencia o equilíbrio hídrico, e a ocitocina estimula a contração do músculo liso, particularmente do útero e das mamas (MARIEB, 3ª ed.). OCITOCINA ↠ Durante e depois do parto, a ocitocina atua em dois tecidos-alvo: o útero e as mamas da mãe. Durante o parto, o alongamento do colo do útero estimula a liberação de ocitocina, que, por sua vez, intensifica a contração das células musculares lisas da parede uterina; depois do parto, a ocitocina estimula a ejeção de leite (“descida”) das glândulas mamárias em resposta ao estímulo mecânico produzido pela sucção do bebê (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O número de receptores para ocitocina no útero alcança seu pico próximo do final da gestação, e o músculo liso uterino se torna cada vez mais sensível ao efeito estimulador desse hormônio. O estiramento do útero e do colo uterino próximo ao parto envia impulsos aferentes para o hipotálamo, o qual responde sintetizando ocitocina e estimulando sua liberação pela neuro-hipófise (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A ocitocina age via sistema de segundo mensageiro do PIP-C – Ca+2 para mobilizar o Ca+2 gerando contrações mais poderosas. À medida que os níveis de ocitocina aumentam, as contrações expulsivas do parto aumentam e finalmente terminam no parto. Este processo é um mecanismo de retroalimentação positiva. (MARIEB, 3ª ed.). Tanto a ocitocina natural como a sintética são utilizadas para induzir o parto ou para acelerar o parto normal quando este está progredindo de forma lenta (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A função da ocitocina em homens e mulheres não grávidas não é clara. Experimentos realizados em animais sugerem que a ocitocina exerça ações no encéfalo que promovem o comportamento parental de cuidado em relação ao filho. Também pode ser responsável, em parte, pelas sensações de prazer sexual durante e depois do intercurso (TORTORA, 14ª ed.). HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO ↠ A diurese é a produção de urina. Assim, um antidiurético é uma substância que inibe ou impede a formação de urina. O hormônio antidiurético (ADH) impede grandes modificações no equilíbrio hídrico, ajudando o corpo a evitar a desidratação e a sobrecarga de água (MARIEB, 3ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ O HAD faz com que os rins devolvam mais água ao sangue, diminuindo, desse modo, o volume urinário. Na ausência de HAD o débito urinário aumenta mais de 10 vezes, passando do normal 1 ou 2 dois litros para cerca de 20 l por dia. Muitas vezes, a ingestão de álcool causa micção frequente e copiosa porque o álcool inibe a secreção de hormônio antidiurético (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O HAD também diminui a perda de água pela sudorese e causa constrição das arteríolas, o que eleva a pressão do sangue. O outro nome desse hormônio, vasopressina, traduz esse efeito sobre a pressão arterial (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A quantidade de HAD secretado varia com a pressão osmótica do sangue e com o volume sanguíneo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Regulação da secreção do hormônio antidiurético e as ações do HAD: (TORTORA, 14ª ed.). A pressão osmótica sanguínea alta (ou diminuição do volume sanguíneo) – devido a desidratação ou um declínio no volume sanguíneo em decorrência de hemorragia, diarreia ou sudorese excessiva – estimula os osmorreceptores, neurônios no hipotálamo que monitoram a pressão osmótica do sangue. A pressão osmótica sanguínea elevada ativa os osmorreceptores diretamente; eles também recebem estímulo excitatório de outras áreas encefálicas quando o volume de sangue diminui. Os osmorreceptores ativam as células hipotalâmicas neurossecretoras que sintetizam e liberam hormônio antidiurético. Quando as células neurossecretoras recebem estímulo excitatório dos osmorreceptores, elas geram impulsos nervosos que promovem a exocitose das vesículas cheias de hormônio antidiurético nos seus terminais axônicos na neuro-hipófise. Isso libera hormônio antidiurético, que se difunde para os capilares sanguíneos da neurohipófise. O sangue transporta hormônio antidiurético para três tecidos-alvo: rins, glândulas sudoríferas (suor) e musculatura lisa das paredes dos vasos sanguíneos. Os rins respondem retendo mais água, o que reduz o débito urinário. A atividade secretora das glândulas sudoríferas diminui, o que restringe a taxa de perda de água pela perspiração da pele. A musculatura lisa nas paredes das arteríolas contrai em resposta aos elevados níveis de hormônio antidiurético, causando constrição desses vasos sanguíneos e elevando a pressão sanguínea. A baixa pressão osmótica do sangue (ou aumento do volume sanguíneo) inibe os osmorreceptores. A inibição dos osmorreceptores reduz ou cessa a secreção de hormônio antidiurético. Os rins retêm menos água, formando um volume maior de urina, a atividade secretora das glândulas sudoríferas se intensifica e as arteríolas se dilatam. O volume de sangue e a pressão osmótica dos líquidos corporais voltam ao normal. A secreção de HAD também pode ser alterada de outras maneiras. Dor, estresse, trauma, ansiedade, acetilcolina, nicotina e substâncias como morfina, tranquilizantes e alguns anestésicos estimulam a secreção de HAD. O efeito desidratante do álcool etílico, que já foi mencionado, pode causar tanto a sede quanto a cefaleias típicas da ressaca. A hipossecreção de HAD ou receptores não funcionais de HAD causam diabetes insípido (TORTORA, 14ª ed.). O diabete insípido pode ser causado por uma pancada na cabeça que danifique o hipotálamo ou a hipófise posterior. Em ambos os casos, há uma liberação insuficiente de ADH. Mesmo sendo incômodo, esta condição não é tão séria quando o centro da sede continua 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck funcionando corretamente e a pessoa ingere água suficiente para evitar a desidratação. Entretanto, ela pode ser grave em pacientes inconscientes ou em estado de coma; por isso, vítimas de acidentes com trauma na cabeça devem ser cuidadosamente monitoradas (MARIEB, 3ª ed.). ARTIGOS IMPLICAÇÕES METABÓLICAS DO EXERCÍCIO FÍSICO NO EICCO HIPOTÁLAMO – PITUITÁRIA – ADRENAL (JESUS; ASSUNÇÃO, 2020) Quais as implicações metabólicas do exercício físico no eixo hipotálamo – pituitária – adrenal? A práticade exercício físico de forma exagerada e crônica gera uma sobrecarga metabólica, o cortisol é produzido em excesso circulante na corrente sanguínea causando o aumento da resistência à insulina e aumento da glicemia potencializando no indivíduo o crescimento da gordura visceral até mesmo a síndrome metabólica. Por isso destaca- se a importância do monitoramento da variável volume e intensidade e a pausa/intervalos de treino, para que o corpo seja estimulado e exposto ao agente estressor de forma controlada na esfera do treinamento e que tenha tempo para recuperar-se e voltar aos níveis normais de concentração do cortisol. A maioria dos glicocorticoides tem um pico de liberação na faixa da manhã e cai ao longo do dia, com o cortisol não é diferente o pico de liberação dele ocorre nos primeiros 30 minutos da manhã havendo um declínio durante o dia, esse nível pode alterar de indivíduo para indivíduo, mas já foi comprovado que o pico da excreção é no turno matutino mesmo com os valores diferentes em cada pessoa Tendo em vista evidências que esse hormônio liberado em excesso pode desencadear um quadro de hipertensão arterial pois ele estimula os receptores a1 nas arteríolas causando um efeito vasoconstritor das catecolaminas, esse glicocorticoide agem em uma região hipotalâmica responsável pelo monitoramento do apetite podendo induzir a ingestão alimentar por isso em níveis elevados no sangue pode acarretar na obesidade, esse hormônio maior parte dele fica circulante na corrente sanguínea ligada a outras proteínas entretanto com o excesso circulante desse glicocorticoide o efeito pode ser no catabolismo em excesso de proteínas musculares consequentemente astenias Deste modo, as influências do exercício físico no eixo HPA e não saber monitorar as variáveis de treinamento principalmente intensidade/volume pode acarretar a secreção exagerada do cortisol, níveis elevados acabam gerando efeitos negativos para o indivíduo. Todavia, um trabalho executado de forma coesa gera bons resultados em conformidade com a quantidade circulante de cortisol. PERFIL DOS USUÁRIOS DE SOMATROPINA EM UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE (SOUZA et. al., 2020). A deficiência do hormônio do crescimento (DGH) ocorre em algumas crianças não com muita frequência, geralmente na população geral 1:4.000 e 1:10.000, população de baixa estatura normal 3:10.000 e no retardo constitucional do crescimento 100:10.000 O diagnóstico em criança é realizado através do exame laboratorial e clínico, considerando seu histórico, antecedentes e exame físico. A criança diagnosticada com déficit de somatropina apresenta estatura abaixo da esperada pela altura dos pais, segmentos corpóreos proporcionais, e uma velocidade de crescimento baixa para sua idade cronológica, podendo ocasionar retardo significativo ósseo esquelético Para a reposição do hormônio do crescimento recorre-se a terapia com GH humano obtido por tecnologia do DNA recombinante. O tratamento visa a normalização da velocidade do crescimento linear nos períodos da infância e adolescência, dependendo da dose utilizada, o período de início do tratamento, do seu estado nutricional e da resposta do paciente a esta terapêutica. O GH é administrado via subcutânea diariamente seguindo os protocolos da Sociedade de Endocrinologia A coleta de dados para esta pesquisa ocorreu no mês de agosto de 2018, na Unidade Básica de Saúde do Parque Interlagos na cidade de São José dos Campos – São Paulo A partir da análise dos prontuários e da verificação no sistema de informação da prefeitura, identificou-se que no momento encontram- se em utilização do hormônio do crescimento 10 munícipes na abrangência do Parque Interlagos. Deste total de munícipes foram encontrados os seguintes dados: 6 são do sexo feminino e 4 do sexo masculino; as idades destes encontram-se entre os 5 a 15 anos, as comorbidades em maior número de ocorrência são as gastrointestinais seguida pelas dermatológicas. As comorbidades gastrointestinais apresentadas foram: parasitose, constipação, enterorragia, gastroenterite, diarréia, dor abdominal, hemorragia, gastroenterite. As comorbidades dermatológicas apresentadas foram: abscesso pele, furúnculo, antraz cutâneo, dermatite atópica, lesão pele. O perfil do usuário de somatropina apresentado pelas buscas realizadas, reflete em um grupo heterogêneo, onde 4 dos munícipes encontram-se no período da puberdade e 6 no período da infância. Como o hormônio do crescimento tem sua eficácia comprovada anteriormente à puberdade, conclui-se que esta mostra estudada responde às orientações endocrinológicas para esta terapêutica. 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Referências JESUS, M. B. N.; ASSUNÇÃO, J. R. Implicações metabólicas do exercício físico no eixo hipotálamo – pituitária – adrenal. Práticas e Cuidado: Revista de Saúde Coletiva, Salvador, v. 1, p. 1-14, 2020. SOUZA et. al. Perfil dos usuários de somatropina em unidade básica de saúde. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 12, 2020. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. 1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a morfologia do pâncreas; 2- Compreender a síntese e os efeitos dos hormônios pancreáticos (insulina e glucagon) *controle glicêmico Anatomia do Pâncreas ↠ O pâncreas é um órgão achatado que mede cerca de 12,5 a 15 cm de comprimento. Localiza-se na curvatura do duodeno, a primeira parte do intestino delgado (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O pâncreas é composto por uma cabeça, localizada na curvatura do duodeno, um corpo e uma cauda, que se estende até o baço (SEELY, 10ª ed.). ↠ Localizado no abdome, parcialmente atrás do estômago, o pâncreas, mole, triangular, é uma glândula mista composta de células glandulares endócrinas e exócrinas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Aproximadamente 99% das células exócrinas do pâncreas estão distribuídas em grupos chamados ácinos. Os ácinos produzem enzimas que fluem para o sistema digestório por uma rede de ductos. Espalhados entre os ácinos exócrinos existem 1 a 2 milhões de minúsculos grupos de tecido endócrino, chamados de ilhotas pancreáticas ou ilhotas de Langerhans. Capilares abundantes irrigam tanto a parte endócrina quanto a exócrina do pâncreas (TORTORA, 14ª ed.). As células acinares, que formam grande parte da glândula, produzem um suco rico em enzimas que é conduzido por ductos até o intestino delgado durante a digestão dos alimentos (MARIEB, 3ª ed.). Histologia do pâncreas endócrino ILHOTAS DE LANGERHANS ↠ As ilhotas de Langerhans são micro-órgãos endócrinos localizados no pâncreas, onde são vistos ao microscópio como grupos arredondados de células de coloração menos intensa, incrustados no tecido pancreático exócrino (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A maioria das ilhotas mede 100 a 200 µm de diâmetro e contém centenas de células, embora haja também agrupamentos menores de células endócrinas entremeadas entre as células exócrinas do pâncreas. Pode haver mais de 1 milhão de ilhotas no pâncreas humano, e há uma pequena tendência para ilhotas serem mais abundantes na região da cauda do pâncreas (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As ilhotas são constituídas por células poligonais, dispostas em cordões, em volta dos quais existe uma abundante rede de capilares sanguíneos com células endoteliais fenestradas. Há uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve a ilhota e a separa do tecido pancreático