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COMPREENDENDO OS PROCESSOS DE INTERAÇÃO DO HOMEM COM SEU MEIO AMBIENTE CAPÍTULO 1 V e r ô n ic a B e n d e r H a y d u CAPÍTULO 1 A compreensão dos processos de interação do homem com seu meio ambiente é fundamental para que se possa explicar e prever como os indivíduos aprendem, se desenvolvem e se adaptam para poder intervir em contextos clínicos, educacionais, esportivos e outros. A busca de esclarecimentos sobre como ocorrem os processos ditos psicológicos implica a análise de uma ampla gama de processos de interação, que envolvem aqueles que são determinados por herança genética (as contingências filogenéticas), aqueles entre o indivíduo e as variáveis presentes ao longo de sua vida (as contingências ontogenéticas) e aqueles decorrentes da vida em sociedade {as contingências culturais). Esse modelo de análise, denominado de Seleção p o r Consequências, foi proposto por Skinner (1984) sob a influência da Teoria da Evolução de Darwin. (BAUM, 1999). Uma noção fundamental para esta análise é a de con tingên cia que se refere à relação de dependência entre um ou mais eventos ambientais ou entre eventos ambientais e o comportamento. Em outros termos, "as contingências são as probabilidades condicionais que relacionam alguns eventos a outros (CATANIA, 1999, p.394). De acordo com o modelo de seleção pelas consequências, o comportamento dos seres humanos e também dos animais é explicado como sendo determinado por meio de um processo de seleção e não de forma mecânica. Os comportamentos reflexos incondicionais são selecionados pelo mecanismo da seleção natural, tal como as características físicas dos seres vivos. Os comportamentos reflexos condicionais e os comportamentos operantes são selecionados por meio de contingências ontogenéticas. E alguns comportamentos específicos dos seres humanos são transmitidos entre gerações, por contingências culturais. No caso da seleção ontogenética, as variações que os comportamentos apresentam são selecionadas e reproduzidas, ao produzirem consequências fortalecedoras ou são extintas, quando não produzem mais as consequências que anteriormente produziam, ou ainda, são enfraquecidas quando seguidas por estímulos aversivos, isto é, punidas. Um processo semelhante a esses ocorre no nível cultural, em que as práticas de um grupo são selecionadas por serem relevantes para a sobrevivência da cultura. 11 Alice Silva Realce Alice Silva Realce Alice Silva Realce PSICOLOGIA COMPORTAMENTAl APUCADA O COMPORTAMENTO E O AMBIENTE O comportamento operante é explicado como sendo função de suas consequências anteriores. Com portam ento é o processo dc interação entre o organismo e o ambiente. O organismo e os eventos ambientais afetam um ao outro (interagem) e dessa maneira produzem alterações recíprocas. O analista do comportamento faz análises funcionais deste tipo ao descrever as relações de contingências, ou seja, ao identificar as variáveis que o controlam. Na expressão processo com portam enta l está implícito que se trata de eventos que estão em constante alteração, ou seja, ao longo de toda sua vida, o organismo apresenta um processo de adaptação, que é ininterrupto, pois o ambiente também muda constantemente. Diante disso, pode-se dizer que não existe adaptação, pois quando organismo se ajusta, o ambiente já está modificado e dessa forma ocorre um fluxo contínuo de mudanças, das quais o próprio organismo vivo tem participação. A análise do comportamento implica a investigação desse processo interativo, não se podendo separar o organismo do meio ambiente em que ele vive, incluindo aí os eventos presentes e os passados. Assim como em qualquer outra ciência, na Ciência do Comportamento não se pode observar o objeto de estudo de uma só vez. Ao estudar ou observar um comportamento, existe a necessidade de se fazer recortes, ou seja, tomam-se segmentos do comportamento como unidades de análise, as quais são denominadas respostas, mais especificamente, classes d e respostas. Um exemplo de uma classe de resposta é o comportamento de “abrir a porta”. Esse comportamento envolve determinados movimentos, dependendo de a porta ter um trinco ou uma maçaneta. Considere, por exemplo, que você está diante de uma porta fechada com um trinco, você pode abrir a porta abaixando o trinco com a mão direita, a mão esquerda ou, ainda, com o cotovelo e ate mesmo com o pé. Cada uma dessas formas de abrir implica um movimento específico, ou seja, tem uma determinada topografia. Para o analista do comportamento, geralmente, o movimento envolvido na ação não é o aspecto relevante para análise. Como foi especificado anteriormente, o que importa, na maioria das vezes, é o efeito que o comportamento tem sobre o ambiente, isto é, a sua função. No exemplo citado, o efeito analisado é de produzir a porta aberta. Assim, o comportamento é uma classe de açóes definida pelo efeito comum no ambiente. (MATOS, 1997). Contudo, vale ressalvar que em algumas situações e áreas de estudo da Psicologia, a topografia das respostas pode ser um aspecto relevante para análise, como acontece na Psicologia do Esporte. O comportamento do atleta, em grande parte, tem como dimensões relevantes a topografia e a precisão da resposta. Portanto, é importante considerar que todo comportamento tem uma topografia e uma função, e essas dimensões podem ser relevantes em diferentes 12 CAPÍTULO 1 momenros da análise ou da intervenção que estiver sendo feita. Cabe, ainda, fazer um outro destaque aqui: os comportamentos de um indivíduo náo se restringem ao conjunto de respostas que podem ser observadas de forma direta. Os pensamentos, os sentimentos e os sonhos são também analisados como sendo processos de interação entre o organismo e o ambiente e, portanto, são comportamentos. Skinner (1982) distinguiu esse tipo de comportamento pelo termo encoberto, sendo ele definido como aquele tipo que não é observado ou observável, mas apenas passível de ser inferido ou de ser registrado por meio de equipamentos especiais. (CATANIA, 1999). Por serem considerados comportamentos que têm a mesma natureza dos demais que um organismo pode apresentar, o estudo dos pensamentos, dos sentimentos e dos sonhos não requerem princípios explicativos especiais ou específicos. A sua descrição é feita a partir dos mesmos princípios que os dos demais comportamentos. Para a Análise do Comportamento, uma noção fundamental é a de ambiente, que consiste da configuração total de energia com possibilidade de entrar em relação funcional com o organismo. Esse conceito é complexo, porque não se refere apenas a tudo aquilo que está ao redor de um indivíduo, mas somente daquelas partes ou estímulos que podem afetar um organismo em um dado momento. Assim, um ev en to ambienral, quando classificado como um estímulo, pode ser tanto um som, uma luminosidade ou uma substância química, como, por exemplo, a voz do treinador de uma equipe; um toque, como o contato físico da mão da mãe com a pele do bebê; uma substância, como sumo de limão que produz salivação; a nota que o adolescente tirou numa prova; ou ainda um sopro de vento que o faz espirrar. O ambiente de um indivíduo inclui, além dos estímulos provenientes do meio externo, aqueles produzidos pelo próprio organismo. Uma cólica renal ou o dente do siso que está rompendo a gengiva de um jovem rapaz são considerados estímulos quando afetam o seu comportamento, constituindo- se em parte da relação funcional do organismo com o seu ambiente. Portanto, de acordo com essa visão, o ambiente é composto pelos eventos externos ao comportamento, não se considerando a pele do indivíduo como o limite que separa os eventos internos dos externos. (MATOS, 1997). Para esclarecer a noção de que o ambiente é tudo aquilo que é externo ao comportamento sob análise e náo só aquilo que é externo ao organismo, pode-se considerar o seguinte exemplo. O comportamento de uma criança de prestar atenção a instruções que lhe são dadasé determinado, principalmente, pela história anterior de seguir instruções. Se no passado esse comportamento foi reforçado, ele tem alta probabilidade de ser repetido. Em uma situação de sala de aula, um aluno que normalmente presta atenção às instruções do professor, pode não fazê-lo em um momento específico em que está com febre devido a 13 PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL APLICADA uma infecção urinária. O processo de interação professor-aluno foi alcerado, porque a febre interfere com o comportamento do aluno prestar atenção. Assim, a febre é um estímulo proveniente do próprio organismo que entra na relação funcional com o comportamento de prestar atenção, o qual estava relacionado com outros aspectos do ambiente, como, por exemplo, as consequências liberadas pelo professor. A complexidade da tarefa de um analista do comportamento é ainda maior do que sugere o exame do conceito de ambiente, porque, ao se fazer uma análise funcional, deve-se levar em consideração que o comportamento de um indivíduo é um processo histórico. Portanto, ao se fazer uma análise funcional, deve-se considerar as funções dos estímulos presentes na situação, as quais geralmente foram estabelecidas em situações vivenciadas anteriormente pelo indivíduo ou transmitidas culturalmente, e as variáveis de contexto, como as operações motivacionais, o ambiente como um todo (a ecologia), etc. De acordo com Gerwitz e Peláez-Nogueras (1992), existem diversas razões pelas quais as experiências de uma pessoa devem ser consideradas como relevantes para o desenvolvimento do repertório comportamental. A expressão repertório com portam enta l refere-se ao que um indivíduo pode fazer, dizer ou sentir em qualquer momento de sua vida. (SKINNER, 1982). A primeira razão pela qual as experiências de uma pessoa devem ser consideradas é o fato de existirem aspectos fisiológicos subjacentes aos processos psicológicos, os quais requerem estimulação ambiental para começarem a operar ou para se manterem funcionando. Por exemplo, o desenvolvimento fisiológico da visão depende da interação do indivíduo com um ambiente iluminado. Isto é, o olho só se torna operativo se for estimulado pela luz. Uma segunda razão é que o desenvolvimento de certas habilidades depende da aquisição prévia de determinadas respostas componentes, caracterizando um efeito cumulativo. Por exemplo, a capacidade de caminhar depende de outros comportamentos que devem ser adquiridos antes, como o de ficar em pé e de se equilibrar. Uma terceira razão baseia-se no fato de que certos comportamentos mais complexos, que ocorrem apenas mais tarde na vida do indivíduo, são estabelecidos com maior eficácia quando sustentados por repertórios comportamentais aprendidos no início da vida. Como exemplos, podem ser citados os comportamentos de manter contato visual, de seguir visualmente um objeto em movimento, o sorriso, a orientação, a vocalização e outros. Esses comportamentos tornam-se elementos de diversas sequências comportamentais e de comportamentos mais complexos que o indivíduo vem a apresentar mais tarde em sua vida. Por exemplo, a leitura envolve o contato visual com estímulos impressos, o comportamento de prestar atenção, a orientação da esquerda para a direita, etc. 14 CAPÍTULO 1 A APRENDIZAGEM O termo aprendizagem é amplamente utilizado, tanto no meio acadêmico quanto fora dele, mas o seu significado varia tanto que ele pode, algumas vezes, atrapalhar mais do que ajudar, quando se pretende fazer uma análise científica dos processos envolvidos. No presente texto, ele não deixará de ser usado, mas deve ficar claro que será empregado de modo mais abrangente do que o usual, incluindo todo e qualquer processo de interação entre um organismo vivo e seu meio ambiente, que produza alteração no repertório comportamental desse organismo, podendo envolver a aquisição e a extinção de um comportamento. Para exemplificar os processos de aprendizagem mais elementares, serão descritas diversas situações que envolvem o desenvolvimento comportamental de um recém-nascido, mas é importante esclarecer que esses processos não são iniciados com o nascimento, pois mesmo na vida intrauterina já ocorrem alterações no repertório comportamental do bebè. Portanto, o repertório comportamental é tudo aquilo que um indivíduo é capaz de fazer em uma determinada situação, sendo estabelecido por contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais. Um recém-nascido que tem todas as suas características bem desenvolvidas apresenta comportamentos adequados para a sua sobrevivência, nos primeiros dias de sua vida. Esse conjunto de comportamentos é formado, basicamente, por um tipo de comportamento que é determinado por eventos antecedentes, denominado reflexo. O com portam ento reflexo é um processo de interação entre um evento ambiental e o organismo, em que estímulos específicos eliciam respostas específicas. Como exemplos, podem ser citados comportamentos que fazem parre do repertório do bebê ao nascer como: o choro que é provocado (eliciado) por estímulos que produzem dor ou desconforto, como cólicas intestinais, fralda molhada, isolamento, etc; o sugar quando um objeto pequeno, como um mamilo, é introduzido em sua boca; o espirro e a tosse que são eliciados por estímulos como poeira ou lufadas de vento; a salivação eliciada pelo contato de alimento ou outras substâncias com a mucosa bucal; o sobressalto eliciado por sons altos e movimentos de aproximação bruscos; a contração da pupila eliciada por fachos, etc. O repertório comportamental formado por reflexos incondicionais é, no entanto, bastante restrito e implica que o bebê necessita de cuidados de um adulto. Assim, o desenvolvimento de outros comportamentos se faz necessário para que a criança se adapte ao novo ambiente e possa sobreviver. Esse processo de aprendizagem ocorre porque o bebê apresenta a capacidade de aprender comportamentos a partir daqueles com os quais ele nasce, o que ocorre por meio de dois processos básicos de interação com os eventos ambientais, que são 15 PSíCO lO G ía Co m POP ■ AMrN: Ai ÃPLiCADA o condicionamento respondentc c o fortalecimento operante. Essa capacidade de aprender, ou seja, a sensibilidade ao efeito do emparelhamento entre estímulos e a sensibilidade ao efeito das consequências das ações dos bebês (processos descritos a seguir), também, é herdada. Uma das formas como ocorre a ampliação do repercório inicial do bebê é o condicionamento respondente, que consiste da aquisição de reflexos diferentes daqueles com os quais o bebê nasce. Por exemplo, comportamentos como o chorar, espirrar, salivar, sobressaltar-se, etc, que inicialmente ocorriam apenas diante de estímulos específicos, passam a ser eliciados por outros estímulos que não tinham essa propriedade. Por exemplo, a presença de um cão não faz a criança chorar, mas se ele latir próximo a ela, o som alto do latido eliciará o choro. Após a ocorrência simultânea do evento “presença do cão” e o latido (emparelhamento de estímulos), a presença do cão poderá vir a eliciar o choro. Um outro exemplo é o condicionamento da resposta de salivar. Inicialmente o bebê saliva apenas quando substâncias químicas entram em contato com sua mucosa gustativa e olfaciva. Depois de alguns emparelhamentos sistemáticos entre uma determinada substância como as gotinhas de remédio, juntamente, com um som que sua mãe faz quando vai lhe dar o remédio, com dizer, “gotinhas”, este som poderá passar a eliciar a salivação. A partir dos exemplos anteriores, pode-se verificar que o desenvolvimento e a adaptação do bebé e, também, de indivíduos em todas as outras faixas etárias, ocorre, em parte, pela ampliação do repertório de comportamentos reflexos. A criança passa, dessa forma, a ser capaz de responder a um ambiente diferente daquele para o qual ela estava preparada por determinação filogenética. Entretanto, a aquisição e o desenvolvimento do repertório comportamental de um indivíduonão se limitam aos efeitos gerados pelo processo de condicionamento respondente. Quando um bebê apresenta comportamentos respondentes como, chorar, sorrir, sugar, balbuciar, etc, esses comportamentos, frequentemente, produzem uma ação sobre o ambiente. O choro do bebê afeta o comportamento das pessoas de seu convívio, as quais tendem a pegá-lo no colo, a acariciá- lo, a falar com ele e a eliminar o estímulo que está eliciando o choro. Esses comportamentos do adulto, que são as consequências do choro, fazem com que seja provável que o bebê venha a chorar novamente em situações semelhantes, que passam a envolver a presença de um adulto. Dessa forma, o comportamento de chorar passa, pouco a pouco, a ficar sob o controle das consequências que gerou. As mães observam com facilidade esse processo, pois elas, frequentemente, apanham seus filhos nos braços quando eles choram, o que faz o choro cessar e, por conseguinte, os bebês começam a mostrar uma tendência para chorar ao ver a sua mãe. Esse comportamento costuma ser denominado pelas mães de “fazer 16 c a p ítu lo í manha’’. Ao se observar o comportamento de uma pessoa adulta, verifica-se que, raramente, o choro apresenta características de comportamento reflexo. Isso ocorre porque o choro produziu diferentes tipos de consequências no passado, como a atenção, mas não significa que o choro não possa mais ter as características de um comportamento reflexo, ou seja, ser eliciado por eventos antecedentes. A maior parte dos eliciadores incondicionais continua tendo essa função, mesmo no adulto. O conjunto de açóes determinadas e mantidas pelas suas consequências é chamado de com portam ento operante. Ele foi assim denominado porSkinner (1981), porque a ação opera no meio, alterando-o. As consequências que produzem um aumento na probabilidade do comportamento vir a ser apresentado novamente em situações futuras são denominadas estímulos reforçadores e o processo de aumento da frequência do comportamento c denominado reforço operante. Esse processo é responsável pela maior parte do repertório comportamental de uma pessoa. O fortalecimento de comportamentos novos, a partir de outros existentes no repertório de um indivíduo, de maneira geral, envolve um processo gradual, que decorre da modelagem. Para exemplificar a modelagem de comportamentos, pode-se descrever uma situação em que um bebê, que está deitado em seu berço, movimenta de maneira indiferenciada os braços e as pernas. Ao esticar o braço numa dada direção, ele pode fazer contato com um objeto que foi pendurado por sua mãe sobre o berço e que emite um som suave ao ser tocado. Imaginem que esse objeto é uma marionete (um boneco articulado) com um cordão e um puxador em forma de argola na extremidade do cordão. O cordão ao ser puxado faz com que a marionete apresente um apito suave. Cada vez que um movimento do bebê produzir sucesso, isto é, o tocar da marionete, esse movimento específico será reforçado e tenderá a ser emitido com uma frequência cada vez maior. Os movimentos indiferenciados levam, ocasionalmente, a palma da mão do bebê a fazer contato com a argola no cordão, eliciando a apreensão dela, o que é um reflexo incondicional. Em seguida, o bebê volta o braço para a posição inicial e, ao fazê-lo com argola na mão, ele provoca um estiramento do cordão, o que fará com que o boneco apresente o movimento de erguer os braços e as pernas e dar o apito. O comportamento de puxar do cordão, pouco a pouco, se tornará mais frequente e mais preciso, de modo que, após algumas tentativas bem sucedidas, o bebê estará apanhando a argola do boneco e puxando-a com precisão. Dessa forma, ele estará produzindo, com sucesso, movimentos dos braços e das pernas e o apito da marionete. I f t r PSICCIOG Ía COMPOR Ta m ENTAl APü CAD; Esse exemplo ilustra náo só o processo de fortalecimento do comportamento de puxar o cordão da marionete, mas, também, o reforço diferencial. Ao puxar o cordão com pouca força, a criança não vê o movimento nem ouve o apico e essa forma específica de puxar tende a não se repetir. O processo de redução na frequência de ocorrências de algumas respostas, devido a não apresentação de uma consequência que vinha ocorrendo após elas é denominado de extinção. Quando uma determinada resposta operante é reforçada, enquanto outras são submetidas à extinção, levando ao fortalecimento da primeira e à redução na frequência das outras, tem-se o chamado processo de diferen cia ção d e respostas. Ele caracteriza-se como sendo um processo, porque ocorre uma mudança no comportamento ao longo do tempo. Enquanto uma resposta é fortalecida, outras são enfraquecidas. A expressão fortalecimento operante refere-se ao conceito que se aproxima bastante ao de aprendizagem usado no cotidiano. O fortalecimento operante não é um efeito observado somente em relação ao comportamento de bebês em suas interações iniciais com o mundo, mas também do adolescente, do jovem, do adulto e dos idosos, ou seja, em qualquer momento da vida dos indivíduos. Outro aspecto importante do processo de fortalecimento operante é que ele é um fenómeno que apresenta reciprocidade. A criança, ao reagir diante das contingências estabelecidas por seus pais, produz consequências para as ações deles, que aumentam a probabilidade deles agirem da mesma maneira em situações futuras. Para exemplificar essa interação, pode-se citar a situação que leva ao desenvolvimento de comportamentos, como o de fazer manha dos bebês, citado anteriormente. O choro do bebê é um evento desagradável para os seus pais. Quando um bebê está isolado, ele tende a chorar e, ao fazê-lo, a mãe se aproxima e, muitas vezes, o pega no colo. Ao ser colocado nos braços, o bebê para de chorar e, às vezes, sorri. O parar de chorar reforça o comportamento da mãe que tenderá a pegar o bebe no colo numa próxima ocasião em que ele estiver chorando, pois o término do choro é reforçador para a mãe. Assim, tanto o comportamento de chorar do bebê quanto o da mãe, de aproximar-se e segurar o bebê nos braços, são reforçados. Nesse exemplo de interação entre o bebê e sua mãe são descritas duas formas de reforçar os comportamentos. Uma é pela apresentação de uma consequência com características aperitivas para a maioria das pessoas que é o sorriso de alguém dirigido a nós. A outra é a remoção de um evento com propriedades aversivas, o choro de outra pessoa. Uma grande parte do repertório comportamental de um indivíduo é mantida por consequências que consistem na remoção de estímulos que lhe são aversivos. 18 c a p it u l o i O Controle de Estímulos Durante a modelagem de um comportamento operante, a dimensão da resposta que é diferencial mente reforçada é, geralmente, a topografia da resposta, No exemplo descrito anteriormente, em que o bebê puxa a corda da marionete, segurar a argola do cordão de forma específica é importante para que a resposta venha a produzir a consequência reforçadora. Entretanto, a força com que o bebê puxa o cordão também determina se a marionete abrirá ou não os braços e as pernas e apitará. Portanto, quando o processo envolve a diferenciação da resposta, a topografia e a força física das respostas são dimensões relevantes. No entanto, quando não se trata de modelagem do comportamento, a topografia da resposta pode não ser relevante, como foi exemplificado anteriormente com o comportamento de abrir a porta. O reforço d iferen cia l pode ser estabelecido com base nas dimensões dos estímulos presentes na situação em que o comportamento é emitido. (CATAN1A, 1999). Praticamente, todos os nossos comportamentos ocorrem em situações específicas por terem sido reforçados nessas situações e não em outras. O termo que descreve esse processo é denominado con tro le d e estímulos. Ele envolve a discrim inação d e estímulos e a genera lização d e estímulos. Podem ser citados, como exemplos, o comportamento de fazer manha que ocorre diante dos familiares e não de pessoasestranhas; dizer “papá" que ocorre em presença do pai, mas não da irmãzinha; o empilhar que ocorre com cubos, mas não com bolas; o pedir a chave do carro para a mãe e não ao pai. Porque estes comportamentos são diferencialmente reforçados, tendem a ocorrer com frequência maior na presença dos estímulos que estavam presentes quando a resposta foi reforçada. Uma classe de comportamentos operantes, que ocorre de forma diferencial em diferentes situações de estímulos, é denominada operante discrim inativo, e os estímulos na presença dos quais uma resposta é diferencialmente reforçada, estímulos discrim inativos. Os estímulos discriminativos não eliciam as respostas operantes, como acontece na eliciação dos comportamentos reflexos, mas estabelecem a ocasião para que as respostas produzam o reforço. (CATANIA, 1999). Assim, diz-se que um indivíduo apresenra comportamento discriminativo quando emite uma resposta específica numa determinada situação e não emite essa mesma resposta em outra, ou quando emite uma determinada resposta em uma determinada situação e outra resposta em outra situação. O processo de aquisição de um comportamento discriminativo, comumente, ocorre quando uma determinada resposta c reforçada diante de um determinado estímulo ambiental, o SD (esse dê} e não reforçada diante de um outro estímulo, o SA (esse delta). A alternação entre essas duas situações, SD e SA, permite estabelecer uma correlação positiva entre o S'1 e o reforço, levando 19 p S íC O -O G ÍAporque o mesmo não produz mais a consequência que anteriormente produzia. Em dois dos processos comporta mentais descritos anteriormente, ocorre a extinção de uma parte do comportamento enquanto outra é fortalecida. Na diferenciação de respostas, que é observada durante o procedimento de modelagem ocorre um aumento na frequência da topografia de resposta que foi reforçada e uma redução daquela não reforçada. Na discriminação de estímulos ocorre um aumento na frequência do comportamento na presença de um determinado estímulo e redução na frequência desse mesmo comportamento na presença de outro estímulo. Os processos de extinção, assim como de fortalecimento, não podem ser considerados como tendo apenas um efeito específico: diminuir ou aumentar a frequência da resposta. Antes de se observar o efeito principal da extinção, que é a redução na frequência do comportamento que vinha sendo reforçado, ocorre um aumento significativo da frequência das respostas que não são mais reforçadas. Além disso, os estudos de laboratório, por exemplo, (AZRIN; HUTCHINSON; HAKE, 1966; HARRELL, 1972; RILLING; CAPLAN, 1975) demonstraram que a extinção, assim como a punição, produz subprodutos emocionais. Não reforçar uma resposta anteriormente reforçada pode levar a comportamentos agressivos que são comumente denominados de raiva. Por exemplo, se um indivíduo tenta abrir uma porta que não está trancada, mas mesmo assim não abre, esse indivíduo abaixa repetidas vezes o trinco. Em seguida, ele passa a forçar o trinco para baixo com vigor. Após algumas tentativas, o indivíduo tende a puxar e empurrar com força a porta e pode até chegar a esmurrá-la e a chutá-la. Esse é apenas um exemplo dentre os inúmeros que poderiam ser citados como sendo reações emocionais diante de situações nas quais comportamentos anteriormente reforçados não produzem mais as consequências que vinham produzindo. 22 CAPITULO 1 Resumidamente, os efeitos do procedimento de extinção consistem em aumentos imediatos da frequência do comportamento e redução posterior; diversificação do responder, com o aumento de outros comportamentos e mudanças na topografia da resposta; aumento no valor reforçador da destruição, ou seja, a ocorrência de respostas emocionais. (MILLENSON, 1976). O primeiro efeito observado, isto é, o fato de o comportamento colocado em extinção apresentar um aumento substancial em sua frequência no início do processo, é um aspecto que deve sempre ser lembrado quando esse procedimento for utilizado com fins educativos. Se o educador não estiver alerta para esse aspecto tenderá a desistir do procedimento por achar que não está produzindo o efeito esperado, que é o de diminuir a frequência do comportamento. O último efeito citado, o da produção de respostas emocionais, mostra que a extinção também tem propriedades aversivas, apesar de não haver risco de danos físicos ao indivíduo quando a extinção é aplicada. A pun ição é um procedimento que, também, produz a redução na frequência de comportamentos, porém, é estabelecida pela apresentação de um estímulo aversivo (eventos que causam danos físicos ou morais ao indivíduo) ou pela remoção de um estímulo apetitivo. O xingamento, a repreensão e a surra são exemplos de punição que envolve a ocorrência de estímulos aversivos verbais ou não verbais. O castigo, isto é, a perda de um privilégio como por exemplo, não poder sair para brincar, ficar sem poder assistir TV, não poder ir ao clube etc, é uma forma de punição, que envolve a remoção de um estímulo apetitivo, ou seja, a perda de um privilégio. Punições que consistem da apresentação de estímulos aversivos, como, por exemplo, surra, beliscão, xingamentos, etc, além de diminuírem a frequência do comportamento punido, contribuem para o desenvolvimento do comportamento de fuga. A fu g a é um comportamento reforçado negativamente pela remoção do estímulo aversivo presente na situação. A remoção de um estímulo aversivo é denominada reforço n egativo . Enquanto estiver presente, o estímulo aversivo é uma variável motivacional (operação estabelecedora) que estabelece o seu término como retorço. Assim, fu ga é definida como sendo um comportamento que ocorre na presença do estímulo aversivo, interrompendo-o. (MICHAEL, 1993). De maneira geral, um adulto, ao surrar uma criança, apresenta verbalizações do tipo que a ameaçam. A ameaça adquire, dessa forma, função aversiva por ser emparelhada com a surra, passando a ser uma operação estabelecedora para a emissão de comportamentos semelhantes à fuga, denominados esquiva. Esses estímulos que adquiriram função aversiva são identificados como estímulos que têm funções aversivas condicionais, isto é, são os chamados estímulos aversivos 23 P S IC O iO G u COwpOS 7AMENÍAÍ APÜCADA condicionais. Portanto, a ameaça é uma variável mouvacional. isto é, uma operação que estabelece o término desta como um evento reforçador. A esquiva é um dos comportamentos mais frequentes nas situações em que uma pessoa se sente ameaçada, ou seja, quando as contingências coercitivas estão presentes. Por exemplo, esquecer compromissos, faltar ao trabalho, não prestar atenção ao que o outro está dizendo, envolver-se em atividades alternativas, inventar doenças ou mudar de emprego ou de escola, etc, podem caracterizar comportamentos de esquiva. Essa breve revisão de como enfraquecer os comportamentos mostra que a extinção e a punição podem representar formas expressivas de coerção e que geram comportamentos indesejados como a luga e a esquiva. Evidentemente, a professora que ameaça o aluno que não faz as suas tarefas, não deseja que ele pare de frequentar as aulas, mas, sim, que ele faça as tarefas determinadas por ela. Uma questão diance dessas colocações é: como evitar o uso da punição de comportamentos indesejados e inapropriados para o convívio social? Um exemplo apresentado por Haydu dá uma noção de como o processo de interação entre pais e filhos pode ser desenvolvido, privilegiando contingências de reforço positivo. O recém-nascido apresenta, de forma geral, um a regularidade quanto aos horários de suas atividades. Após ser alim entado e suas fraldas terem sido trocadas, ele dorm e por aproxim adam ente très horas. H m uito comum ouvir mães dizendo que seu bebê "parece um relógio”, tal é a regularidade desse ciclo. Após o período de sono, o bebê acorda e mostra-se disposto a m am ar. De forma geral, ele não acorda berrando, ele norm alm ente passa alguns m inutos acordado m ovim entando-se. Após esse pequeno período com eça a em itir sons que podem ser interpretados como sendo resmungos, os quais vão se tornando cada vez m ais freqüentes e intensos até que. finalm ente, se não atendido, ele começa a chorar e com intensidade cada vez maior. Se a m ãe do bebê atendê-lo, assim que ele acordar, dado ser o horário de m am ar, e la poderá evitar que o choro ocorra. Se, no entanto, ela atender o bebê somente depois que ele estiver berrando, e la estará, sem saber, estabelecendo um a contingência de reforço para o chorar, pois esse comportamento estará produzindo como conseqüência a alim entação , além da apresentação de outros estím ulos reforçadores, como a atenção, o carinho, o colo etc. (HAYD U, 2003 , p.133-134) LãPíèUIG i O exemplo anterior descreve um tipo de situação que pode ser extrapolada para diversas situações de interação entre os indivíduos e resume as consequências geradas pelo procedimento de r e to r ço de comportamentos incompatíveis com os comportamentos socialmente inadequados. ‘‘Os pais que reagem não com a punição, mas oferecendo às suas crianças oportunidade para o recebim ento d e reforços positivos, deparam -se com crianças felizes, autoconjiantes e competentes". (SIDMAN, 1993, p.251). A autoconfiança é um sentimento que o indivíduo tem em relação a si, que depende do tipo de interação estabelecida com a comunidade na qual ele vive. As interações sociais e as práticas sociais caracterizamo que foi identificado como “contingências culturais”, ao ser apresentado o modelo de seleção pelas consequências de Skinner (1984), no início deste capítulo. O Comportamento Verbal Um comportamento humano caracterizado como uma prática social é o comportamento verbal. Ele é estabelecido e mantido por essas práticas e, também, é um dos aspectos básicos para o desenvolvimento das culturas. Com esse tipo de comportamento, as pessoas aprendem sem rer que vivenciar as situações específicas de aprendizagem. Elas podem aprender com o relato que outras pessoas fazem do que elas vivenciaram, ou seja, o repertório comportamental de um indivíduo pode ser ampliado com a experiência dos outros, mesmo através de gerações. O comportamento verbal desenvolve-se a partir da modelagem de sons indiferenciados e com a imitação dos sons da língua materna, conforme foi descrito no exemplo de discriminação que a criança aprende a fazer entre o pai e do tio. Além desse processo, estão envolvidas diversas interações do indivíduo com seu meio-ambiente, o qual é formado pela comunidade sociolinguística ou comunidade verbal, nas palavras de Skinner (1957). O comportamento verbal é o comportamento operante que exige a presença de outra pessoa para ser reforçado, ou seja, ele é mantido pelas consequências que são mediadas pelo ouvinte. O ouvinte é especialmente treinado como mediador, sendo esse comportamento, também, modelado e mantido pela comunidade verbal. A troca de papéis durante uma conversa começa muito cedo na interação da mãe com seu bebê. A mãe fala com o bebê dando o modelo, o bebê imita, ela reforça a imitação e o bebê tende a repetir o comportamento. Pouco a pouco, os sons que o bebê apresenta passam a produzir não só a aprovação da mãe, mas também consequências não sociais, como alimento, água e outras coisas importantes para ele. Portanto, as consequências do comportamento verbal afetam a sua ocorrência futura, assim como ocorre com qualquer ourro comportamento. 25 PSICOLOGIA COHPORTã MENIAL APLICADA Uma das consequências mais gerais do comportamento verbal é o fato de que o indivíduo que fala altera o comportamento daquele que ouve, o que pode simplesmente ser aquilo que o ouvinte diz em seguida. Esse tipo de consequência é caracterizado como sendo reforço verbal e social. (CATANIA, 1999). Por exemplo, o filho pode pedir a sua máe para lhe dizer que horas são. Nesse caso, a ação verbal dele modificou o ambiente, produzindo um comportamento verbal da mãe. Assim, comportamento verbal é definido como sendo aquele que V m odelado e mantido p o r um am bien te verba l — p o r pessoas que respondem ao com portam ento d e certas maneiras p o r cansa das práticas do gru po d e que são membros \ (SK1NNER, 1957, p. 226). Skinner(1957) apresentou umaanálise funcional do comportamento verbal, classificando-o a partir do tipo de evento antecedente e das consequências que produzem, na interação com os ouvintes. Foram especificados diversos operantes verbais, os quais são as categorias de comportamentos verbais que têm diferentes funções, pois são produtos de contingências distintas. Essas contingências evolvem os eventos antecedentes que podem ser estímulos verbais ou não verbais e as consequências, que também podem ser verbais ou não verbais. Voltando ao exemplo do bebê que está aprendendo a falar, verifica-se que, nessa ocasião, a mãe modela o comportamento de seu filho, apresentando palavras como estímulos-modelo. O filho repete o que a mãe diz e esse comporcamento é seguido por consequências reforçadoras. Esse tipo de comportamento verbal foi denominado ecoar. O ecóico é uma resposta verbal sob controle de estímulos verbais, em que a resposta gera um padrão de sons semelhante àquele do estímulo. Ou seja, o ecóico consiste da imitação vocal generalizada, como no exemplo da mãe que diz “totó’' ao seu filho e ele repete “totó”. Esse tipo de comportamento que permite um encurtamento do processo de modelagem é mantido por reforços generalizados, como a aprovação. O comportamento de ecoar implica discriminações de estímulos vocais diferentes e na emissão de respostas vocais que apresentam similaridade formal com os estímulos ouvidos. Não se trata de imitação sonora, mas fonética, pois o comportamento modelado não é a reprodução do som, como faz um papagaio, mas, dos fonemas apresentados como estímulos-modelo. Ser capaz de ecoar é importante porque esse repertório estabelece as unidades mínimas constitutivas dos sons da fala, os fonemas, que podem ser recombinados para produzir qualquer estímulo novo ouvido. Isso caracteriza um dos aspectos generativos da fala humana. Quando a máe modela o comportamento de ecoar do filho, frequentemente, ela o faz na presença do objeto ou da pessoa nomeada. Assim, muitas vezes ela aponta para o objeco ou pessoa do ambiente que está sendo nomeado. Desta 26 CAPÍTULO 1 forma, ela está modelando o comportamento de apresentar um nome específico, na presença de um evento ambiental específico. Por exemplo, quando o pai da criança está presente, ela diz: “Olha, é o papai’’ e aponta para ele. Esse é um exemplo de como são aprendidos os comportamentos classificados como tatos, definidos como sendo a resposta verbal evocada por SD não verbal. O estímulo discriminativo pode ser um objeto, uma pessoa ou um evento particular. Por exemplo, ao dizer “mam á” diante da mamadeira, o bebê poderá simplesmente estar nomeando o objeto. Isto fica claro quando ele não estiver privado de alimento. Portanto, o tato é mantido por reforços sociais (generalizados), como a aceitação da resposta, não rendo relação com qualquer tipo de privação (operação estabelecedora) particular. O tato beneficia de maneira específica o ouvinte, pois permite que ele renha seu concato com o meio ambiente, ampliado por intermédio do comportamento verbai do falante. E muito importante, para a mãe do bebê, que seu filho aprenda a dizer o nome dos objetos e das pessoas a sua volta, pois ela poderá ter informações, por exemplo, sobre o que ele viu ou fez quando ela não estava presente. Esse, também, é um comportamento pré-requisito para que a criança aprenda a nomear eventos encobertos, como dizer o que está sentindo. Assim, pode-se afirmar que comunidade verbal age no sentido de estabelecer relações únicas entre uma resposta verbal e um estímulo ambiental (SD), tendo-se como decorrência desse processo, a formação do que é denominado controle de estímulos. O cato e o ecoico não são as únicas categorias de comportamento verbal da taxonomia de Skinner (1957). No exemplo de interação verbal da mãe com o filho, citado anteriormente, ao pedir para o filho acender a luz ou pedir para pegar um objeto, a mãe está emitindo o comportamento verbal classificado como mando. Nesse caso, o falante diz qual é o reforçador ou o comportamento que o ouvinte deve emitir e a consequência é específica, ou seja, aquilo que se pediu. A probabilidade de o mando ocorrer depende de operações estabelecedoras, ou seja, de operações motivacionais. Por exemplo, o comportamento de pedir um copo d água, para ser caracterizado como um mando, deve depender de uma operação estabelecedora como a privação de água, a ingestão de alimento salgado, etc. O mando está sob o controle discriminativo da presença do ouvinte e opera, principalmente, para o benefício do falante. O comportamento do ouvinte é reforçado socialmente (reforço generalizado), por exemplo, com um agradecimento: “muito obrigado”. A análise do processo de aquisição do comportamento de falar de uma criança permite, como foi exposto, caracterizar três categorias comportamentais 27 o 5 í C OL O G : a C. Om P O fque ele tenha que vivenciar diretamente as situações. Em uma situação de sala de aula ou mesmo em casa, o comportamento da criança de dizer “pato” diante da palavra escrita PATO, e reforçado e dizer “pato”, em presença de outros estímulos visuais impressos, não será reforçado. Dessa forma, propiciam-se condições para o desenvolvimento do com portam ento textual. (SKINNER, 1957). O comportamento textual é uma resposta verbal que pode ser pública ou privada, que está sob o controle de estímulos visuais específicos impressos, os grafemas, os quais são estímulos verbais não orais. Há uma correspondência entre os elementos que compõem a palavra, os grafemas, e os elementos que compõem a palavra oralizada, os fonemas, mas a correspondência é arbitrária. Ela varia de acordo com o sistema de escrita que está sendo ensinado e não há semelhança formal. Portanto, as discriminações das unidades que compõem uma palavra devem ser ensinadas, A taxonomia do comportamento verbal apresentada por Skinner (1957) inclui, ainda, outras categorias de comportamento como a transcrição, envolvendo o ditado e a cópia; o intraverbal; o autoclítico. Essas categorias verbais náo serão descritas aqui, no entanto, o leitor interessado em ampliar a sua leitura sobre o tema poderá consultar o próprio livro do Skinner (1957) ou revisões resumidas como Ribeiro (2004), Baum (1999, cap. 7) e Catania (1999, cap. 14 e 15). Comportamento Governado por Regras Ao caracterizar o comportamento verbal como sendo aquele modelado e mantido pelas práticas de uma comunidade verbal, incluiu-se o papel do ouvinte. Portanto, é importante destacar como fez Catania (1999, p.272), que “o com portam ento verba l en volve tanto o com portam ento do ouvin te , que é modelado pelos seus efeitos sobre o com portam ento do fa lante, quanto o do fa lante, que é m odelado pelos seus efeitos sobre o ou vin te '. Essa reciprocidade foi considerada por esse autor como aquilo que define o comportamento verbal. Conforme foi exposto ainda, o comportamento verbal permite modificar o ambiente por meio da ação do outro. O mando é uma das categorias da taxonomia comportamental de Skinner (1957) que claramente caracteriza essa definição, pois ao emitir um mando, o falante muitas vezes especifica o que o outro deve fazer, além de especificar a consequência de sua ação. “O com portam ento verba l 28 CAPÍTULO 1 pod e p roduz ir conseqüências verbais ou nao-verbais, mas d e uma fo rm a ou de outra, a conseqüência é g era lm en te urna mudança no com portam ento do ou vin te”, (CATAN1A, 1999, p.273). O comportamento do ouvinte que está respondendo a um mando foi caracterizado por Skinner (1966) como sendo um com portam ento governado p o r regras. Mais recentemente, Catania (1999) sugeriu o termo com portam ento verba lm ente governado. Esse tipo de comportamento desenvolve-se a partir de uma extensa história de reforço diferencial, sendo o obedecer reforçado e o não obedecer punido ou colocado em extinção. Quando a resposta está incorreta, muitas vezes, o falante fornece feedback negativo e solicita que a ação do ouvinte seja executada novamente. Por exemplo, a criança quando está aprendendo a falar, aprende, a pedido da mãe, a apontar o que a mãe nomeou. Por exemplo, quando a mãe está brincando de localizar as partes do rosto com seu filhinho, ela aponta o nariz dele e diz, “olha o nariz do neném”, ela aponta a boca da criança e diz, “olha a boquinha do neném”. Simultaneamente, ela nomeia e aponta o seu próprio nariz e sua própria boca nomeando essas partes do rosto. Depois ela diz, “cadê o narizinho do neném” ou "cadê a boquinha do neném”, e espera que ele aponte seu próprio nariz ou sua própria boca, reforçando socialmente a resposta ou ío r n ec e n d o ferdba ck negativo quando a resposta está incorreta, dizendo ‘'Não, esse não é o narizinho do neném, mostra o seu narizinho pra mamãe!" Ela pede também que ele aponte o nariz e a boca, reforçando ou corrigindo a resposta da criança. Portanto, quando a mãe está ensinando seu filho a tatear as partes do rosto, ela está, também, ensinando o comportamento de seguir instruções (comportamento governado por regras), ao pedir para a criança apontar determinada parte do rosto que ela nomeia. O comportamento governado por regras foi definido por Skinner (1969) como sendo um comportamento controlado por estímulos antecedentes verbais, isto é, as contingências que estabelecem esse tipo de comportamento são efetivas, provavelmente, porque elas fazem com que as consequências sejam dependentes da relação entre os estímulos antecedentes verbais e o comportamento que os seguem. O comportamento governado por regras foi diferenciado por esses autores dos chamados com portam entos m odelados p o r con tin gên cia , que são mantidos pelos efeitos diretos que têm sobre o ambiente. Os comportamentos modelados pelas contingências envolvem apenas uni estímulo discriminativo, verbal ou não verbal, que estabelece ocasião para uma determinada resposta, enquanto os comportamentos governados por regras envolvem dois estímulos, um dos quais é verbal e descreve uma relação entre um outro estímulo, uma resposta e a sua consequência. (VAUGHAN, 1989). Por exemplo, se uma criança não toca uma abelha que está numa flor, porque no passado ela foi picada por 29 PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL APLICADA uma abelha ao fazê-lo, seu comportamento está sob controle de contingências. Se a criança náo toca a abelha porque foi dito a ela que é perigoso, pois a abelha pode machucá-la, então seu comportamento está sob o controle de regras. E importante destacar que a contraposição das expressões comporcamento governado por regras e comportamento modelado por contingência pode levar à interpretação inadequada de que o comportamento governado por regras não é afetado por suas consequências. Na verdade, o que se tem é um comportamento que é desenvolvido e mantido por contingências distintas das que normalmente contribuem para a modelagem e a manutenção dos demais comportamentos. No exemplo anterior, ao seguir a instrução e não tocar a abelha quando isso lhe foi dito, o comportamento dela é seguido por consequências sociais como a aprovação. Por exemplo, a mãe diz: 'Isso filhinho, a mamãe gosta quando você é obediente”. Ao caracterizar o que vem a ser um comportamento governado por regras, Skinner (1969) definiu estímulos verbais como sendo estímulos discriminativos que especificam contingências, esses estímulos passaram a ser denominados regras. Essa definição gerou uma ampla discussão na área e o leitor interessado pode consultar, por exemplo, Galizio (1979); Blakelv; Schlinger (1987); Catania; ShimofF; Matthews (1989); Hayes; Zettle; Rosenfarb (1989); Vaughan (1989); Cerutti (1989), entre outros. Albuquerque fez uma revisão conceituai dessa bibliografia e concluiu que a divergência na interpretação dos diversos autores está relacionada com o fato de serem as regras estímulos que podem exercer múltiplas funções. isto é, podem evocar o com portam ento por elas especificado, a lterar as funções dos estím ulos por elas descricos, exercer estes dois efeitos sim ultaneam ente, e estabelecer comportamentos novos antes destes com portam entos m anterem contato com as suas conseqüências. Portanto, regras deveriam ser classificadas como estím ulos antecedentes que podem descrever contingências e exercer m últiplas tunções. (ALBUQ U ERQ U E, 2001, p. 139) De acordo com o que foi sintetizado por Albuquerque (2001), pode-se especificar que: 1) uma regra pode evocar um comportamento como um S1’, como, por exemplo, quando é dito aos alunos em sala de aula: “o professo chegou, façam silêncio”. Nesse caso, a regra evoca o comportamento. 2) A regra pode alterar a função de outros estímulos, mas não evocar comportamento. No 30 CAPÍTULO 1 exemplo da mãe que diz a sua filha “tire a roupa do varal, se começar a chover”, a regra especifica a função de SD para a chuva,mas não evoca o comportamento como um S‘\ pois a roupa será recolhida apenas se chover, mais tarde. A chuva é que é o SD, que evoca o comportamento de recolher a roupa. 3) Regras podem alterar a efetividade reforçadora de outros eventos. Por exemplo, se a mãe diz a seu filho “Vamos à casa da vovó?”, e a criança náo quer ir; a mãe pode completar dizendo “A vovó fez um bolo de chocolate!”. Aí o filho concorda em ir e até se apressa, dizendo, “Vamos logo!”. Neste caso, a regra alterou a função reforçadora do evento e ao mesmo tempo, evocou o comportamento de concordar em ir à casa da vovó. Um aspecto importante a ser considerado sobre o comportamento de formular e seguir regras é que, ao formular uma regra de como o ambiente funciona, o indivíduo pode reagir, mais tarde, de modo eficaz, sem ter que ser exposto às contingências que modelaram esse comportamento. (SKINNER, 1969). Por exemplo, se o pai modela o comportamento de seu filho de trocar o pneu do carro, o filho, em situações futuras poderá descrever a sequência de passos a serem seguidos, ao se defrontar com um pneu furado. Dessa forma, ele poderá trocar apropriadamente o pneu mesmo na ausência das contingências que modelaram esse comportamento. Além disso, ele poderá descrever para um amigo, que se defronta com um pneu furado, como trocar o pneu, ensinando seu amigo a partir da experiência de trocar o pneu sob a supervisão de seu pai. CONCLUSÃO Os princípios básicos da Análise do Comportamento apresentados aqui são apenas uma parte do complexo conjunto de princípios que devem ser considerados ao se fazer uma análise funcional do comportamento. Além disso, é importante destacar que os exemplos e as situações descritas são recortes e simplificações das condições que estão envolvidas nos processos de adaptação e de interação dos indivíduos com seu meio ambiente. O fato de ser um processo complexo, no entanto, não significa a impossibilidade de se compreender os processos de interação, de fazer predições e de estabelecer contingências que permitam controlar os comportamentos ou modificá-los. Conforme foi descrito no início do capítulo, o repertório comportamental inicial de um bebê, que foi selecionado por meio de contingências filogenéticas, é necessário para sua sobrevivência, mas não é suficiente para que ele possa lidar com a diversidade e a complexidade do mundo a sua volta. A ampliação do repertório comportamental dos indivíduos inicia-se na vida intrauterina, o PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL APLICADA que acontece por meio de processos de condicionamento, que envolve tanto a aprendizagem de reflexos condicionais como de respostas operantes, o que caracteriza as contingências ontogenéticas. Além das contingências filogenéticas e ontogenéticas, os seres humanos desenvolvem comportamentos verbais que permitem que os indivíduos atuem sobre o ambiente de modo indireto, por meio da ação do outro, e permitem que se aprenda a partir da experiência dos outros, o que caracteriza as contingências culturais. Um aspecto fundamental a ser destacado para concluir é que o analista do comportamento e os demais profissionais que atuam em áreas afins não devem deixar de revisar com frequência os princípios básicos, nem tão pouco deixar de acompanhar os avanços da área. A atualização permite que o profissional de qualquer área possa melhorar a sua atuaçáo com base no conhecimento produzido pelas pesquisas científicas e, também, permite que ele não seja apanhado pela “armadilha” do mentalismo, presente nas explicações dadas aos processos comportamentais pela comunidade verbal na qual vive. Isso porque essa “armadilha” é uma forma poderosa de controle, ou seja, de contingência que pode levar o analista do comportamento a abandonar a análise funcional do comportamento, porque a sua linguagem é diferente da linguagem usada no senso comum. Além disso, deve ser incentivada a promoção de um intercâmbio constante entre pesquisadores e aqueles que atuam em contextos aplicados, pois 11 [...] as conseqüências práticas gera lm en te fo r çam o cientista a lidar com variáveis que d e outra maneira ele colocaria d e lado para consideração p o s t e r i o r (SKINNER, 1972, p.279). 32 CAPITULO ! REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, L.C. Definições de regras. 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