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RELIGIÕES INDIANAS 
AULA 2 
 
HINDUÍSMO 
 
Prof Me Ivan Santos Ruppell Júnior 
 
 
CONVERSA INICIAL 
“O nome tradicional do hinduísmo é Sanatana Dharma, 
cujo significado é Religião Eterna.”1 (Joachim Andrade) 
O hinduísmo é uma das vivências religiosas mais antigas da humanidade, sendo 
reconhecido pela sua popularidade no Oriente, com celebrações entusiastas e coloridas. 
A definição do hinduísmo como uma religião e a compreensão de sua teologia não são 
tarefas fáceis para os ocidentais, pois o pensamento hindu é bastante oriental nas suas 
concepções acerca da realidade física, humana e transcendente do mundo e da existência. 
Neste sentido, os estudiosos da religião destacam o modo como o hinduísmo 
agrega na sua religiosidade um grande número de práticas e conceitos oriundos de 
experiências religiosas antigas da civilização indiana, numa relação de proximidade e 
 
1 Joachim Andrade. Teoria do Karma, Castas e Reencarnação. P 85-98, 2020 
assimilação que continuou ocorrendo no decorrer dos séculos, de modo que a 
espiritualidade mais antiga se mantém nas celebrações contemporâneas. 
O hinduísmo começou a se organizar ao redor dos séculos 2000 a 1500 antes de 
Cristo no norte da Índia, sendo que não há fundadores ou um profeta para assumir a 
liderança do estabelecimento desta religião; mas sim, que seus princípios vieram a ser 
compilados em textos sagrados por Sábios da civilização. Atualmente, o hinduísmo é uma 
das religiões com maior número de seguidores no mundo, com aproximados 800 milhões 
de fiéis, sendo que um grande número deles reside na Índia, embora haja fiéis desta fé em 
bom número em todo oriente, e pelo mundo afora. 
Os primeiros relatos históricos que nos auxiliam a compreender o surgimento dos 
conceitos centrais da religião do hinduísmo datam do segundo milênio a.C., em que 
houveram correntes migratórias da Ásia para o Oriente. Povos denominados de arianos 
deixaram a região sul da Rússia e foram para o norte da Índia após passarem pela região 
da Pérsia, até se estabelecer na região do Vale do Indo, ao redor do ano 1500 antes de 
Cristo. Os conceitos espirituais destes povos traziam consigo elementos religiosos gregos, 
romanos e germânicos, os quais foram utilizados como base do pensamento védico; termo 
que se refere aos textos sagrados Vedas, que se tornaram a base doutrinal do hinduísmo. 
Entre os anos 1000 a 500 a.C., as reflexões filosóficas védicas Upanishads vieram 
introduzir a crença hinduísta do ser Absoluto Brahman, uma realidade espiritual superior 
que governa e sustenta todo o universo; pois tudo que existe está sendo sustentado e 
igualmente irá retornar para o Brahman, sendo esta a perspectiva de salvação religiosa do 
hinduísmo. (Gaardner, p 45, 2004) 
ITEM 1 – HINDUÍSMO. A ORDEM SUPERIOR E O DESENVOLVIMENTO 
HISTÓRICO DA RELIGIÃO. 
1.1 Desenvolvimento. Fases históricas da religiosidade indiana. 
“O Vedismo, a religião védica ou religião do Veda, caracteriza-se 
por ser o aspecto mais antigo sob o qual nos são apresentadas as 
expressões religiosas da Índia... são os primeiros monumentos 
literários... o testemunho mais arcaico da religião que se chama ora 
brahmanismo, ora hinduísmo.”2 
 
2 Tinoco, O Pensamento Védico. P 31, 1992 
Os fundamentos da religião do Hinduísmo encontram-se nos antigos textos dos 
livros dos Vedas, sendo que o desenvolvimento histórico dos rituais e celebrações, 
doutrinas, reflexões filosóficas e orientações éticas foram compostos e renovados em 
alguns períodos formativos dos conceitos doutrinários, até se consolidarem como os 
conceitos centrais da religião. 
Segundo Challaye, o primeiro movimento doutrinal relacionado aos textos dos 
Vedas foi voltado aos rituais de sacrifícios, denominado Vedismo; até o posterior 
surgimento do Brahmanismo, com ênfase no conhecimento, e finalmente, já com o título 
de Hinduísmo, a religião tornou-se uma experiência centralizada na experiência de fé e 
devoção dos fiéis diante das divindades. Aqui, vale destacar que não se trata de três 
religiões diferentes, mas sim, que há três movimentos de pensamento em seguimento às 
bases de uma mesma religiosidade indiana, que veio a culminar com o estabelecimento 
do hinduísmo. (p. 60, 1981) 
Nesse contexto, sabe-se que foram os invasores arianos que trouxeram para o 
território indiano o pensamento e vivências religiosas formativas centrais dos Vedas, 
partindo do entendimento espiritual que a natureza manifesta os atos das divindades 
perante os homens, o que orientou no período inicial, o entendimento da existência de 
deuses pertencentes à três categorias; das regiões celestiais, da região terrena e da região 
atmosférica, em acordo aos aspectos da natureza que cada um deles representava, com 
destaque para os deuses Varuna, Indra e Agni. 
 Conforme esse conhecimento, há cinco movimentos históricos identificados como 
sendo os que descrevem o desenvolvimento da religião hindu na civilização indiana, cada 
um deles com aspectos bastante próprios, e que vieram a consolidar o que hoje 
entendemos como, hinduísmo. Cada uma destas fases foi delimitada por aspectos 
distintos e peculiares, oriundos dos períodos de tempo que as identificam, por ênfases 
doutrinais e práticas de rituais próprios, na percepção de elementos próprios acerca da 
compreensão da realidade transcendente e ainda, da escrita de textos sagrados e do 
estabelecimento de valores religiosos. Estas fases se desenvolveram durante quase dois 
mil anos, sendo um período de tempo em que houve a renovação e reforma de diversos 
temas e vivências da religiosidade hindu, até que vieram a ser estabelecidas as formas e 
os conceitos definidores do que se entende historicamente por religião do hinduísmo. 
A primeira fase ocorreu entre os anos 1500 até 1200 a.C., sendo um período 
relacionado ao pensamento e vivências da cultura indiana primitiva, contendo 
importantes aspectos dados pelos povos nativos; os dravidianos, na valorização das 
divindades dos hinos Vedas e na prática dos rituais de sacrifícios. A segunda fase ocorreu 
entre os anos de 1200 até 800 a.C., sendo um período em que valores e características do 
povo invasor ariano vieram a influenciar gravemente a religião, iniciando uma 
transformação social e religiosa na cultura indiana, vindo a ocorrer maior aproximação 
entre aspectos sagrados dos dravidianos e arianos, com surgimento de elementos 
religiosos como: conceitos da ordem superior rta e leis universais, a valorização dos 
sacerdotes e da existências dos grupos sociais orientados pelas castas, o que ocorria em 
meio ao surgimento de textos de busca de maior profundidade espiritual, nos escritos 
Upanishads e Aranyakas. A terceira fase compreende o período histórico entre os anos 
800 a 400 a.C., sendo marcada pelo desenvolvimento dos textos filosóficos de reflexão 
Upanishads, em meio ao surgimento do pensamento budista e jainista, numa época de 
grandes transformações sociais e especulativas na Índia, especialmente a partir do século 
VI a.C. A denominada quarta fase do hinduísmo carrega consigo muitas transformações 
e também o estabelecimento de conceitos doutrinais e experiências religiosas que vieram 
a se afirmar como fundamentais na consolidação da religião do hinduísmo. O período de 
tempo desta quarta fase compreende os séculos decorridos entre os anos 400 a.C. até o 
ano 200 depois de Cristo, sendo que seu período inicial foi marcado pelo governo do 
Imperador Asoka, numa época de maior liberdade e respeito às diversas vivências e 
entendimentos sobre a espiritualidade mais ampla da cultura indiana. Sendo um tempo 
em que as atividades religiosas particulares, familiares e públicas receberam uma 
valorização sobre os rituais sacerdotais, em meio ao desenvolvimento dos atos 
devocionais bhakti e dos cultos dedicados às divindades Vishnu e Krishna. Com ênfase 
para o modo como o texto sagrado Bhagavad-gita e os livros da lei vieram a formatartanto as vivências religiosas, como as práticas éticas e sociais dos fiéis do hinduísmo. 
Finalmente, temos a quinta e última fase histórica de desenvolvimento da religião, que 
compreende um grande período de tempo, entre os anos 200 até 1500 d.C., sendo 
denominado de período posterior, em que houve a conclusão doutrinal acerca da 
experiência religiosa dos fiéis diante da divindade superior, a partir das reflexões 
Vedanta, particularmente nos séculos 8 e 9 com Shankara, vindo a ocorrer também, a 
edificação de templos e a consolidação da teologia da religião do hinduísmo. (Ling, p 50 
a 139, 1994) 
De um modo mais breve e no propósito de complementar o entendimento da 
existência e distinções entre cada uma das cinco fases, a partir de seus elementos 
religiosos, destacamos os seguintes aspectos: a primeira fase iniciada ao redor de 1500 
a.C. foi marcada por uma compreensão ainda vaga sobre a natureza e realidade de Deus 
no hinduísmo arcaico; enquanto que a segunda fase iniciada em 1200 a.C. apresenta 
Brahman como sendo o Ser superior hindu, em meio ao estabelecimento mais concreto 
da organização da sociedade indiana. A terceira fase carrega consigo um valor histórico 
diferencial, tanto na história reflexiva e religiosa mundial, como também na cultura 
indiana, sendo o período de surgimento dos textos filosóficos Upanishads; com 
orientações ortodoxas do hinduísmo, sendo também a época de nascimento dos 
movimentos espirituais indianos heterodoxos do budismo e jainismo. Especialmente na 
perspectiva de vivência religiosa e estabelecimento de doutrinas, o quarto período 
iniciado em 200 a.C. desenvolve a religiosidade popular e o valor da consagração pessoal 
em meio às celebrações bhakti, sendo que o denominado período posterior intitula a 
quinta e última fase, em que houve a conclusão das reflexões e especulações filosóficas 
da religião. (www.xaverianos, hinduísmo e islamismo, 2017)3 
1.2 A ordem superior rta. 
 No interesse de apresentar aspectos doutrinais da religião e ampliar ênfases 
de seus conceitos e atividades religiosas, iremos expor alguns temas relacionados aos 
fundamentos da compreensão espiritual do hinduísmo. 
“A fase inicial do hinduísmo era embasada na preservação da 
ordem rta, que engloba a dimensão da interconexão e 
interdependência entre o universo de cima com a realidade de 
baixo.”4 (Joachim Andrade) 
Conforme Andrade, a dimensão dos céus era composta pelas divindades que 
deveriam ser agradadas pelos sacrifícios, especialmente pelo fogo que carregava nas suas 
chamas o calor necessário aos deuses, enquanto que a dimensão terrena dos homens 
aguardava o envio das chuvas dos céus para contemplar e favorecer a terra, movendo a 
agricultura e subsistência da população. “Essa dependência mútua mantinha a ordem do 
universo”, sendo uma experiência religiosa governada e administrada pelos sacerdotes 
védicos, os brâmanes. (2020) 
Segundo Fortino, um conceito apropriado para definir a religião do hinduísmo 
pode ser resumido na seguinte declaração: “Por meio do sacrifício nós mantemos a ordem 
do universo do mundo racional.” Observe que, a compreensão tradicional das religiões 
 
3 www.xaverianos.org.br-hinduísmo e islamismo, 2017 
4 Joachim Andrade. Teoria do Karma, Sistema das castas e Conceito da Reencarnação e seu 
Impacto na Sociedade Indiana. 2020 
http://www.xaverianos/
primitivas da história apresenta o entendimento de que a realidade humana e cosmológica 
se move de maneira imprevisível, e debaixo das ações e da vontade das divindades. Após 
a chegada dos invasores arianos e com o estabelecimento do pensamento védico na Índia, 
houve uma preocupação das tradições iniciais do hinduísmo na busca de compreender a 
realidade humana, acerca de sua dependência e existência diante do universo. Nesse 
contexto, tomamos conhecimento de um conteúdo essencial hindu, que trata da “ordem 
cósmica eterna”, conforme exposto pelo seguinte destaque da autora: “Dharma, ou “o 
caminho certo”, é um termo essencial para explicar o que é o hinduísmo. Em sua forma 
original, sanatana dharma, poderia ser traduzido como “a eterna ordem das coisas”, 
“verdade” ou “realidade”, expressando a ideia de que há uma estrutura e um sentido 
oculto no mundo.” Esse pensamento orienta o modo em que o hinduísmo concebe uma 
realidade atemporal e constante, a qual carrega consigo princípios que irão permitir aos 
homens partilhar de sua existência completa e perfeita, mesmo que a realidade humana 
visível esteja submetida a ciclos temporais finitos e inconstantes. Nessa perspectiva, o 
homem religioso deverá dedicar sacrifícios à realidade superior do dharma, os quais irão 
auxiliar na aplicação de princípios da ordem existencial eterna em nossa dimensão: “essa 
lógica dá origem à ideia de que um dos objetivos da religião é compreender e manter a 
ordem correta do mundo.” No decorrer do desenvolvimento das atividades capazes de 
promover a religiosidade do hinduísmo, os sacrifícios vieram a ser dedicados em 
celebrações mais elaboradas, com hinos e atos prescritos em detalhes, além da valorização 
da ação sacerdotal dos que deveriam oficialmente alimentar o fogo sacrificial com as 
oferendas de alimentos. As ofertas eram dedicadas às divindades Varuna, Indra e Agni, 
sendo que Varuna, enquanto o deus mantenedor das águas e dimensões celestiais, recebia 
sacrifícios para que mantivesse a estrutura funcional e constante do RTA, “a ordem 
cósmica”. O surgimento de outros deuses mais próximos da realidade humana não veio 
modificar a compreensão de que estas divindades eram manifestações da realidade 
superior, sendo que, a própria classificação histórica da sociedade indiana estratificada 
em quatro grupos sociais, varnas, tem o propósito de realizar na vida humana cotidiana a 
ordem e estrutura superiores do dharma: “a religião tinha, portanto, um aspecto pessoal e 
um aspecto social, além de um sistema aparentemente lógico de como o indivíduo e a 
sociedade deviam interagir.” (p. 92-99, 2014) 
ITEM 2 – CONCEITO DE DEUS. A TRIMURTI DO HINDUÍSMO. TEXTOS 
SAGRADOS. 
2.1 O Ser divino Absoluto da realidade superior. A Criação no hinduísmo. 
“Não se pode falar de um início das especulações referentes ao 
absoluto no Veda. Todo ele é permeado pela ideia de um Deus 
único.”5 
Brahman é o ser Absoluto da realidade superior proposta pela religião do 
hinduísmo, posto que é a essência transcendente, eterna e constante da existência, no 
entendimento de que se trata de uma divindade ilimitada diante do espaço físico, estando 
além de qualquer compreensão humana, sendo ainda, um ser impessoal. 
“Há três acepções para o Absoluto na literatura védica...: Brahma, 
Paramatma e Bhagawan. Os Upanishads se referem ao Brahma, os 
textos de Yoga se referem ao Paramatma e os Puranas e outros 
textos dizem respeito a Bhagawan.”6 
O ser Absoluto da realidade superior carrega consigo três títulos, sendo algo que 
não se deve confundir diante das divindades menores que formam a Trimurti ou Trindade 
do hinduísmo, como veremos adiante. Nesse sentido, destacamos o fato do ser Absoluto 
carregar determinados nomes, que surgem tanto acerca dos atributos a ele relacionados, 
como dos textos sagrados que os apresentam: Brahma “refere-se ao aspecto impessoal e 
onipresente do Absoluto. De Brahma tudo se origina. Ele penetra tudo e está em toda 
parte...”; sobre o título Paramatma, é utilizado ao tratar da essência única existente no 
Absoluto e também, na alma do homem, pois o “Paramatma está no mais íntimo dos seres 
vivos, orientando ali as almas individuais. Já o terceiro título do ser Absoluto, Bhagawan, 
é considerado “o mais alto aspecto do Absoluto. Ele é o Brahma que está em toda parte e 
é a fonte do Paramatma.” (Tinoco, p 121, 1992) 
Devido aos aspectos peculiares referentes à natureza e à essência superiores do 
Absoluto Brahman, diante dos homens e todo o cosmos, faz-se necessário que os fiéis 
busquem realizarseus contatos religiosos mediante as divindades, que são consideradas 
como que emanações do ser superior. Igualmente, toda e qualquer manifestação do ser 
divino Absoluto perante a humanidade irá se desenvolver através da atuação das 
divindades. 
Conforme anotamos, as divindades do hinduísmo se manifestam a partir das 
regiões que representam, havendo deuses terrestres, celestes e ainda os deuses 
atmosféricos; sendo possível identificar cada um deles conforme a relação que tem com 
 
5 Carlos Alberto Tinoco. O Pensamento Védico. P 73, 1992 
6 Carlos Alberto Tinoco. O Pensamento Védico. P 120-121, 1992 
a dimensão de que manifestam; sejam eles os celestiais, que são percebíveis na luz de um 
novo dia, ou os deuses da atmosfera, que são reconhecíveis em tempestades etc. Já as 
divindades terrestres são associadas a elementos naturais, como os montes, por exemplo. 
(Tinoco, 1992, p 41) 
“O tempo universal é um ciclo infinito de criação e destruição, 
sendo cada ciclo completo representado por cem anos na vida de 
Brama.”7 
Acerca da criação no hinduísmo, entende-se que a cada cem anos da vida de 
Brama, tudo que existe e o cosmos integral junto com as divindades, seres e coisas “se 
dissolvia no grande Cataclismo”. Após essa conclusão do ciclo surge um período caótico, 
até que Brama ressurge e todo o período cíclico inicia novamente, com ênfase na 
ocorrência do ciclo “Kalpa” – um dia de Brama com 4.320 milhões de anos terrenos. 
Sendo que este ciclo “Kalpa” se divide em “mil Grandes Idades”, subdivididas em outras 
quatro idades: a Critaiuga, idade dourada, que traz uma existência saudável ao cosmos, 
numa época plena de justiça e retidão; a Tretaiuga, que gera um tempo de declínio da 
virtude e o início de conflitos e iras; o Diaparaiuga, como um período de 
descontentamento da divindade, sendo uma época marcada por “mentiras e discussões”; 
e ainda, o Caliiuga, idade da degeneração, que é o atual período da história da 
humanidade, em que ocorre grave degradação do ser em meio ao avanço das vivências de 
paixões descontroladas. Sendo que haverá o reinício dos ciclos, de modo que, “a criação 
seguinte vai consistir num redesdobramento dos mesmos elementos.” (Ions, p. 28-29, 
1983) 
2.2 A Trimurti do Hinduísmo. 
“De todos esses deuses, surgiu um triunvirato dominante, 
responsável pela existência, ordem e destruição do universo. Esses 
três deuses – trimurti, ou trindade – representam diferentes 
aspectos da realidade.”8 
Em seguimento ao princípio do modo como o ser Absoluto Brahman atua na 
realidade a partir da manifestação dos deuses, houve o reconhecimento da existência de 
Três divindades maiores, a partir das quais a história é governada, segundo os ditames da 
realidade superior. Isso deve ser percebido na perspectiva da compreensão do tempo e da 
criação hindus, que identifica os ciclos da história ocorrendo a partir dos atos do deus 
 
7 Verônica Ions. Índia. P 29, 1983 
8 Carla Fortino. O Livro das Religiões. P 97, 2014 
Brahma, como criador; de atos do deus Vishu, enquanto mantenedor e ainda, de atos do 
deus Shiva, que realiza a finalização de um período através da destruição de um 
determinado tempo, sempre no propósito de gerar um ato de recomeço, pois um novo 
ciclo irá surgir a partir do ato destrutivo. (Lemaitre, p. 62, 1958) 
Em complemento a esse conhecimento, segundo J Andrade, a partir do quinto 
século a.C., a concepção do ser divino essencial do hinduísmo reconhece tanto a sua 
transcendência como sua presença oculta no homem, sendo que os textos sagrados que 
vieram a refletir sobre Sadguna Brahman acabaram desenvolvendo três divindades 
distintas superiores para manifestar aspectos do ser superior, que são Brahma na criação, 
Vishnu na preservação do mundo e Shiva como agente transformador, conforme a sua 
atuação na destruição de um ciclo e renovação do seguinte. “Esses três atributos, outros 
nomes e formas desse mundo, são as transformações desse mesmo Brahman.” (2020) 
Nesse contexto, faz-se importante destacar que a religião do Hinduísmo não crê 
na existência politeísta de deuses diversos e divindades múltiplas no mundo, posto que 
estes são considerados apenas, manifestações da realidade una e superior, que é Brahman, 
o ser Absoluto: 
“Quase todas as ramificações do hinduísmo acreditam na 
existência de um deus criador supremo, Brahma, que, junto com 
Vishnu (o preservador) e Shiva (o destruidor), forma a principal 
trindade, trimurti.”9 
Trimurti significa “três formas” na língua antiga do sânscrito, e intitula a 
convivência existencial íntima de três divindades exemplares do hinduísmo, como temos 
visto, Brahma, Vishnu e Shiva. Carlos Alberto Tinoco destaca que “Brahma” não recebe 
uma adoração dedicada e numerosa entre os hinduístas, já que não existem locais de cultos 
e templos edificados para celebrar o deus criador, que segundo ele, é a “personificação 
do antigo nome neutro do vedismo primeiro... somente recebendo adoração no plano 
puramente literário.” Acerca do deus Vishnu, que é percebido como sendo uma divindade 
dormente que ao acordar no período devido, propicia a aparição de Brahma que atuará na 
criação de um novo cosmos; então, nosso autor enfatiza que ele “tornou-se valorizado 
somente a partir da Grande Epopeia, assimilando as qualidades de benfeitor, embora 
aspectos temíveis não lhe faltem.” O aspecto mais celebrado de Vishnu se refere às 
encarnações que realiza para visitar os homens, especialmente a narrada na epopeia 
 
9 Carla Fortino. O Livro das Religiões. P 91, 2014 
Mahabharata, que são ocasiões em que visita nosso mundo para atuar em confronto ao 
mal, para proteção e salvamento do planeta. Nesse sentido, anotamos dados da encarnação 
de Vishnu como Krishna: “a descrição mais rica e detalhada dentre todos os mitos 
indianos é a de Krishna. Seu nascimento foi secreto, originando numerosas façanhas. Ele 
era o futuro chefe da clã dos Yândavas... Este quadro é uma expressão mítico-amorosa 
do fervor religioso da Índia medieval”. E acerca da divindade Shiva, diz-se que é a mais 
temível e também surpreendente, pois sua atuação de concluir um determinado ciclo pela 
destruição do cosmos, sendo percebida como a “morte” e o “tempo” também indica um 
de seus títulos; “o terror”. No entanto, Shiva tem virtudes bondosas, conforme seus títulos 
de Shambu e Shankara, sendo responsável por realizar o nascimento das águas e ainda, 
governar relacionamentos sexuais no propósito de gerar nascimentos, sendo também, 
“rica em símbolos místicos”. (Tinoco, p 57-61, 1992) 
Conforme Coogan, escritos sagrados antigos desenvolvem o caráter da Trimurti 
como trindade divina, situação em que seus atributos mais importantes são destacados, 
referindo-se a Brahma como o criador, a Vishnu como o preservador e a Shiva como o 
destruidor; embora esse entendimento não seja um princípio popular entre os fiéis; ao 
mesmo tempo em que destaca a maneira como Brahma foi enfraquecido em sua atuação 
no decorrer do tempo, de modo que os atos de criação, sustento e destruição do mundo se 
tornaram atividades atribuídas tanto a Vishnu, como Shiva. A divindade Shiva, que 
carrega consigo a atividade da destruição, sempre na perspectiva de fazer surgir um novo 
ciclo, toma forma, segundo nosso autor, “em seus papéis frequentemente paradoxais: ele 
é ameaçador e benevolente, criador e destruidor, dançarino exuberante e iogue austero, 
ascético solitário e marido da deusa Parvati, concedendo sabedoria e graça a seus 
devotos”. Como pode-se perceber, o desenvolvimento da personalidade e atuações de 
Shiva revela o modo como essa divindade se tornou importante junto também de Vishnu, 
posto que este desce à terra em uma encarnação ou avatar, no objetivo de lutar contra o 
mal e restabelecer a ordem do dharma. (p. 135-136, 2007) 
Um conhecimento importante acerca da relação do Ser Absoluto Brahman e das 
divindades hindus, segundo Toropov e Buckles, surge da proximidadeentre os títulos e 
nomes, especialmente porque há três nomes parecidos no conteúdo do hinduísmo: 
“Brahma”, “Brahman” e “Brahmin”. Nesse contexto, ressaltamos que Brahman “é um 
termo hindu para a realidade suprema sem mudança, ou eternidade, e pode ser concebido 
como o Ser Supremo...’; enquanto que Brahmim “é um membro de uma classe (casta) 
sacerdotal prestigiosa na Índia”, que seriam os únicos com autoridade para proferir a 
leitura dos textos Vedas. E além destes, temos Brahma, que compõe a trindade, atuando 
ali como divindade da criação. Conforme nossos autores, as divindades Shiva e Vishnu 
surgiram como antagonistas na história, sendo que houve uma aproximação entre eles 
exatamente quando da reconciliação promovida para inclui-los na trindade hinduísta. 
(216-219, 2017) 
2.3 As Escrituras Sagradas do Hinduísmo. 
Os textos sagrados do hinduísmo vieram a orientar tanto os conceitos, como as 
atividades religiosas que formataram de modo autorizado as transformações e 
desenvolvimento da religiosidade hindu, no decorrer dos séculos. Neste sentido, e acerca 
do modo como a experiência sagrada do pensamento védico veio a se desenvolver como 
uma atividade religiosa aos seguidores do hinduísmo, sabe-se que os rituais de sacrifício, 
tanto os dedicados aos deuses como aos mortos, é que realizavam a interação do fiel 
diante do mundo transcendente, buscando promover a transformação da realidade. No 
decorrer da história, o princípio da unidade se tornou um conceito importante nos Vedas, 
algo que junto do entendimento de que Brahman era um poder e realidade superior sobre 
o cosmos e universo, definiu a orientação de que não se deveria dedicar maior interesse 
às individualidades dos deuses, mas sim, voltar-se para a busca da compreensão da 
essência central da existência. Essa compreensão realizou a transição do período histórico 
do Vedismo ao Brahmanismo, sendo algo que também veio valorizar a experiência e 
liderança dos sacerdotes na sociedade indiana. (Greco, p. 36, 2008) 
Conforme Tinoco, ao refletir sobre a evolução do período histórico e doutrinal 
denominado de brahmanismo, sabe-se que “no começo da era cristã, esses brahmanes 
impuseram às populações arianas e não arianas locais, a estrutura social, o sistema de 
culto e a cosmovisão características dos Samhitas e dos Brahmanas.”10 Nesse contexto, 
foram os sacerdotes brâhmanes que através dos livros sagrados Upanishads promoveram 
reflexões que vieram a relacionar o conhecimento da interioridade do ser humano junto 
da essência da realidade superior divina do Ser Absoluto. O objetivo foi o de orientar uma 
religiosidade voltada à busca de uma experiência real da personalidade perante o 
conhecimento transcendente, que somente a prática da meditação poderia oferecer ao fiel 
hindu. Foi nessa mesma época que os movimentos do budismo e jainismo se voltaram 
para a interioridade do ser, em busca de desenvolvimento espiritual; no entanto, esses 
dois movimentos vieram a propor pensamentos que negavam a superioridade e liderança 
 
10 Tinoco, O Pensamento Védico. 1992. P 33 
da classe sacerdotal, se opondo ao que entendiam ser um controle religioso e social 
demasiado do pensamento ortodoxo védico, oriundo dos textos sagrados. A oposição dos 
movimentos budista e jainista acabaram desenvolvendo nos séculos seguintes, 
especialmente nos imediatos séculos anteriores e posteriores a Cristo, uma aproximação 
do pensamento védico-brâhmanico junto das celebrações e rituais mais populares 
indianos. Algo que redundou na consolidação dos temas centrais da religião do 
Hinduísmo, conforme anotou o pesquisador e estudioso, Challaye, que identificou o 
estabelecimento dos conteúdos da religião, ao nominar os textos sagrados que vieram a 
desenvolver seus conceitos, enquanto também descreve o cânon autorizado hindu: “os 
textos sagrados do Hinduísmo são – além dos anteriores Vedas, Brahmanas e Upanishads 
– os Puranas (antiguidades) que expõem antigas lendas; o Mahabharata, redigido talvez 
no III ou II séculos da nossa era... – e o Ramaiana, epopéia de data incerta...”11. Com um 
destaque para o modo como a denominada “salvação pela fé e amor” toma corpo a partir 
do épico Mahabharata, na orientação de que os fiéis deveriam praticar a fé e sua relação 
com a divindade através de celebrações mais pessoais, orientadas pela gratidão e baseadas 
na confiança da presença e cuidado divinos sobre o homem e a família. (p. 70, 1992) 
ITEM 3 – TEMPLOS HINDUÍSTAS. 
“O melhor exemplo da arquitetura indiana são portanto, os templos, 
construídos através dos séculos e hoje encontrados em todo lugar 
na Índia – nas cidades e vilas, são testemunhas vivas da devoção 
de tantas comunidades religiosas a seus deuses multiformes.” (J. 
Andrade)12 
O templo hindu pode ocupar tanto o espaço de uma simples edificação, como 
ocorre nas aldeias menores da Índia, até ser encontrado nas grandes construções que 
comportam pórticos, portais, salas diversas e tanques de celebrações de purificação. A 
decisão pelo local onde será construído o templo é definida conforme regras “astrológicas 
e mânticas”13, sendo que os fiéis se reúnem no templo para orar e meditar, partilhando 
hinos e realizando ofertas de flores e frutos nos templos, que são regularmente dedicados 
a uma divindade definida, embora haja oportunidade de dedicar honra a outros deuses em 
pequenas salas disponíveis, que se tornam santuários menores nas grandes construções. 
(Renou, p. 71, 1979) 
 
11 Challaye. As Grandes Religiões. 1981, P 70 
12 Joachim Andrade. Imagens que falam: Uma aproximação da Iconografia Hindu. P 8, 2006 
13 Mântica. Uma prática de adivinhação. 
“Todos os elementos cósmicos que criam e celebram a vida no 
panteão hindu, estão presentes num templo hindu – do fogo à água, 
das imagens da natureza às divindades, do feminino ao masculino, 
do kama ao artha, dos sons fugazes e do incenso cheira a Purusha 
– o eterno nada, mas a universalidade – faz parte da arquitetura de 
um templo hindu.”14 
Enquanto introdução ao item três da aula, destacamos os tópicos e resumo em aula 
Uninter, de Joachim Andrade, com a orientação de que há três aspectos a serem 
considerados diante do grande número de templos existentes na Índia, observadas como 
edificações sagradas voltadas à vivência da religiosidade do hinduísmo. O templo é uma 
construção que carrega consigo a perspectiva de ser visualizado como uma estrutura 
correspondente ao cosmos universal, com a instalação das imagens dos deuses hindus nos 
templos. O templo é também o espaço adequado para as práticas cerimoniais e para a 
realização dos rituais do hinduísmo, especialmente para as rezas em gratidão e as súplicas. 
Ainda, a construção dos templos, em sua estrutura e como lugar das experiências 
religiosas ali desenvolvidas aponta para o destino transcendente e libertário da caminhada 
espiritual que os seguidores da religião do hinduísmo buscam na vivência da fé. Neste 
sentido, o templo deve ser percebido tanto como a casa e morada dos deuses, e 
especialmente, segundo seus definidos propósitos de edificação, de prática de atividades 
religiosas e enquanto um símbolo do alvo de salvação da religião. 
“A forma e os significados dos elementos arquitetônicos em um 
templo hindu são projetados para funcionar como o lugar onde é o 
elo entre o homem e o divino, para ajudar seu progresso para o 
conhecimento espiritual e a verdade, sua libertação chamada 
moksha.”15 
Conforme Ling, foi a partir das conclusões religiosas hindus propostas por 
Shankara no Vedanta; que finaliza as doutrinas, que os templos vieram a se desenvolver 
de modo mais acentuado na religiosidade do hinduísmo. Nos séculos anteriores, havia 
templos edificados com material frágil, como argila e madeira, além de templos instalados 
em grutas escavadas em locais pedregosos. A partir do período medieval, ocorre a 
possibilidade arquitetônica e a dedicação pela construção de grandesespaços de adoração 
 
14 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ 
15 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ 
 
e serviço religiosos, sendo que no hinduísmo, “a característica central da sala do santuário 
é a vigraha, ou imagem – símbolo da divindade, mais do que representação.” O sentido 
dado pela construção do templo e pelo espaço principal dedicado aos deuses identifica a 
valorização do novo conceito religioso central do hinduísmo, que se volta para a 
celebração pessoal dos fiéis na dedicação de ofertas com gratidão, em detrimento dos 
rituais anteriores voltados aos sacrifícios. Ainda, havia um grande número de pessoas e 
talentos dedicados aos serviços do templo, e que subsistiam ao redor de sua localização e 
atividades religiosas, com destaque para artistas e leitores de textos, além dos sacerdotes, 
conforme ênfase de nosso autor: “os templos maiores tinham uma importante função tanto 
econômica com religiosa.” (p 224/25, 1994) 
“A Índia não apenas pensa em imagens, mas também as constrói 
em um corpo consistente, cuja síntese é o templo.”16 
Em conclusão ao nosso item de aula, vamos apresentar breve resumo dos aspectos 
destacados no início desse texto, conforme conteúdo de Joachim Andrade, acerca do 
templo, que deve ser observado em suas três funções: 1. O Templo como construção, 
sendo percebido como a “casa de Deus”, o que orienta o desenvolvimento da edificação 
desde a definição da localização diante do espaço e dos céus, até a definição do dia em 
que o mesmo será inaugurado. 2. A dimensão ritualista do Templo, pois “o templo hindu 
é o lugar onde o rito sagrado é celebrado, tanto individual como coletivamente”; 
indicando tanto a caminhada pessoal do fiel em direção ao local do templo, como um 
símbolo de sua jornada existencial rumo a seu destino transcendente, ao mesmo tempo 
em que é também a localidade pública dos rituais da religião, especialmente o espaço de 
dedicação de ofertas, em que o fiel se apresenta ao sacerdote, sendo um ambiente de 
confraternização dos seguidores da religião. 3. O Templo como meta, em que toda a 
arquitetura e atividades orientam a aproximação do fiel diante da divindade, posto que 
esse encontro é o propósito de toda a jornada vivencial do homem religioso: 
“simbolicamente, todo templo é o universo em miniatura. No centro do universo se 
encontra a garbha griha, onde os deuses habitam, e na periferia os seres humanos. A meta 
é cumprida quando o ser humano chega ao centro e tem um darsan da divindade.” (p. 9-
10, 2006). 
“A arquitetura do templo hindu reflete uma síntese das artes, os 
ideais do dharma, as crenças, os valores e o modo de vida 
 
16 Anand, 2004, p.110 apud Joachim Andrade, P 8, 2006. 
valorizado pelo hinduísmo. O templo é um lugar para Tirtha – 
peregrinação.”17 
ITEM 4 – A TEORIA DO CARMA, REENCARNAÇÃO E SISTEMA DE CASTAS. 
4.1 Introdução. 
 “O problema da morte e do além era o centro da reflexão 
espiritual... O ciclo do nascimento e da morte, da emanação, da 
dissolução e da reemanação eram temas fundamentais da filosofia, 
do mito, da religião, da política e da arte.”18 
Segundo Gosvami, é preciso superar o “carma” a fim de transcender o ciclo de 
renascimentos que mantém o ser humano na realidade ilusória, pois enquanto o coração 
do homem estiver dominado por desejos e interesses voltados para as necessidades 
materiais, ele continuará sendo um prisioneiro do carma. Assim, o homem somente irá se 
libertar de todos os “carmas” oriundos de qualquer época de sua história, quando adquirir 
a consciência experiencial da realidade do Absoluto, mediante a experiência de uma 
devoção dependente de Bhagavan. (p. 37, 1986) 
Conforme Joachim Andrade, estudiosos ocidentais da área de ciências da religião 
tem voltado sua atenção continuamente para “a teoria do Karma”, o “sistema das castas” 
e a “reencarnação”, que são os princípios religiosos estabelecidos na cultura indiana, 
influenciando e fundamentando aspectos espirituais, sociais e familiares da nação. Como 
o hinduísmo é uma religião essencialmente sincrética, ao conseguir integrar e manter 
aspectos diversos da religiosidade indiana mais antiga e ainda, práticas de movimentos 
espirituais de toda história da civilização; entende-se que a análise destes três conceitos, 
karma, reencarnação e o sistema de castas precisam ser estudados conjuntamente, na 
tradição hindu. Nesse contexto, a distinção dada pelo hinduísmo para a doutrina do karma 
surge de sua abordagem mais ampla e diversa, já que abrange “o caminho de evolução, 
de involução, além de outros rumos horizontais com os seres animados e inanimados”. 
(2020). 
Alguns dos princípios desta doutrina fundamental da espiritualidade indiana, que 
foram formatados e integrados religiosamente no hinduísmo, são: 1. O entendimento de 
que toda vida existente no mundo está submetida ao controle do conceito “samsara”; que 
se refere ao ciclo interminável de mortes e renascimentos; 2. A compreensão de que este 
 
17 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ 
18 Greco. História das Religiões. 2008, P 37 
ciclo se cumpre mediante a reencarnação espiritual em corpos, espíritos e coisas, movida 
pelas atitudes das vidas passadas, conforme orienta o conceito do “carma”; 3. A definição 
religiosa e legal de que esse ciclo de renascimentos somente irá superar as condições 
determinadas pelo “carma”, se houver uma adequação e conhecimento do ser humano às 
regras e verdades dadas pela ordem da realidade superior, o “dharma”; 4. O conhecimento 
de que todo esse processo existencial deverá concluir na experiência da libertação, 
“moksha”, a qual se relaciona de modo bastante intenso com a compreensão experiencial 
da realidade única, a qual integra em si, as essências do “atman”, no homem, e do 
“brahman”, da realidade superior e ser Absoluto. (Greco, 2008, p 80) 
4.2 O Carma, a reencarnação e o sistema de castas. 
“Pode-se considerar como teses fundamentais do Bramanismo as 
de identidade do braman (princípio fundamental do universo) e do 
atman (eu profundo) e a da transmigração das almas (samsara), 
determinada pelos atos das existências anteriores (karman).”19 
O critério para o tipo de reencarnação da alma depende da conduta do homem em 
sua vida anterior, sendo que tal conduta sagrada veio a ser definida como a boa prática 
das regras rituais e, também, dos valores sociais do dharma. Ao mesmo tempo, o ensino 
védico esclarecia que a observância das regras de culto e das prescrições éticas do dharma, 
foram dadas no objetivo de afastar o ser humano do estado de ignorância, além de orientá-
lo no conhecimento da realidade verdadeira da existência. Portanto, a mesma obediência 
aos preceitos do dharma que mantém o homem na boa prática da conduta sagrada, 
igualmente irá lhe conduzir no conhecimento real do ser supremo; que é o alvo religioso 
da doutrina do hinduísmo. Eis como ocorre a integração conceitual entre as crenças do 
carma da humanidade e da unidade do ser divino, pois a mudança do estado existencial 
do carma também realiza uma aproximação espiritual do homem diante do Absoluto, 
sendo esta, a experiência que realiza o amadurecimento do ser e seu consequente 
livramento do estado ilusório da realidade. 
O ciclo contínuo de mortes e renascimentos oriundos da doutrina samsara, orienta 
a compreensão da experiência da reencarnação, sendo que a cada novo nascimento e 
conforme o estado do carma, o homem irá ocupar um lugar e função na sociedade, o que 
se reflete no sistema de castas indiano. Conforme Louis Dumont, “as castas são, antes de 
tudo, realidades sociais: família, língua, ofício, profissão, território. São uma ideologia: 
 
19 Challaye. As Grandes Religiões. 1981, P 66 
uma religião, uma mitologia, uma ética, um sistema de parentesco e uma dietética. São 
um fenômeno: não é explicável a não ser dentro e a partir da visão hindu do mundo e dos 
homens.”20 De modo que,as responsabilidades e a situação social experimentadas pelo 
homem a cada reencarnação, segundo seu particular carma, são vivências espirituais 
necessárias ao amadurecimento da alma rumo à libertação proposta pela doutrina 
hinduísta. (J. Andrade, 2020) 
“Dharma designa a tradicional ordem estabelecida, que inclui todos 
os deveres, sejam eles individuais, sociais ou religiosos. Na Índia, 
a maior ênfase está na vivência moral, na qual o hindu é convidado 
para se prevenir de três inimigos: kama (desejo), lobha (egoísmo) 
e krodha (raiva), além de cultivar oito virtudes: compaixão por 
todas as criaturas, paciência, contentamento, puridade, seriedade, 
pensamento favorável, libertação da avareza e inveja.”21 
Neste sentido, a vivência familiar e social das leis do dharma são prescrições que 
promovem um tratamento interior e pessoal do espírito, de tal modo que a vivência 
exterior também atua para que interiormente o homem se volte para o conhecimento do 
atman; a essência do Absoluto que reside no ser humano. Assim, a partir do entendimento 
de que as celebrações nos cultos e de que o respeito aos valores éticos familiares e sociais 
estavam sendo considerados práticas religiosas válidas diante do dharma e perante o ser 
Absoluto, é que veio a ocorrer a transição na vivência religiosa dos seguidores do 
hinduísmo. Suas celebrações públicas e familiares passaram a ser momentos de adoração 
e consagração bastante pessoais dos fiéis diante das divindades e junto do ser Absoluto, 
sendo uma experiência religiosa conectada ao processo de vivências rumo à libertação. 
“Assim, entende-se que os princípios éticos sustêm os três pilares 
(Karma, reencarnação e castas) do hinduísmo e, 
consequentemente, toda a sociedade indiana, inclusive nos tempos 
atuais.” (Joachim Andrade, 2020) 
Conforme J Andrade, o texto sagrado mais popular do hinduísmo é o Bhagavad 
Gita, em que se oferece uma nova perspectiva para a visão sagrada indiana, na qual o 
sacrifício é superado pela imponência da ordem superior, a lei do dharma. Assim, “as 
crenças que ajudam e promovem a vida espiritual devem estar em consonância com a 
 
20 Apud J Andrade. PAZ, Octavio. Vislumbres da Índia. P 58, 1995. 
21 Apud J Andrade. ANTOINE, R. Hindu Ethics. 1997 
natureza e as leis que regem o mundo”, pois seu propósito é promover a harmonia entre 
o ser humano e todo o cosmos, a partir dos conceitos que estabelecem na sociedade os 
princípios transcendentes da ordem superior. (2020) 
ITEM 5 – OS CAMINHOS DE LIBERTAÇÃO. 
 5.1 Introdução. A salvação é o retorno ao corpo divino. 
A natureza essencial do ser Absoluto superior, Brahman foi estabelecida como 
sendo a origem, sustento e destino de toda existência, tanto da humanidade como todo ser 
vivo, e tudo que há no cosmos. Neste entendimento, a percepção da existência de 
Brahman e o conhecimento experiencial de sua realidade irão promover o retorno à 
essência divina, e a consequente salvação do fiel, na religião hindu. 
O hinduísmo entende que a origem de tudo se deu num momento de criação: “a 
partir da desintegração do corpo de Deus. A salvação é o retorno a esse corpo Divino. O 
Uno se desdobra na multiplicidade e esta deseja retornar ao Uno.” Nesse entendimento, 
a vida familiar e social do povo hindu será regrada por valores éticos que buscam 
promover o retorno do ser humano à experiência integral e una do ser divino. Seja no 
processo de uma vida, seja numa jornada espiritual que irá transcorrer em vários 
renascimentos, mediante formas diversas, existindo como divindades e animais, como 
humanos ou coisas; sendo que o ciclo de mortes e renascimentos é descrito pelo termo 
samsara. Observe que, “o que prende o ser humano à samsara é a ignorância causada pelo 
desejo e pelo prazer. Para se libertar destas duas amarras, há de compreender, por si só, 
sua condição e procurar libertar-se”, sendo uma experiência em que cada fiel será 
responsável por sua própria jornada espiritual, conforme abraça e vivencia os atos e 
modelos de vida que irão conduzi-lo na via da libertação. (Joachim Andrade, 2020) 
“Se o homem fica no múltiplo, permanece vítima da ilusão que 
esconde a realidade suprema; mas, se praticar o conhecimento e a 
ascese, pode vencer a avidya, quer dizer, a ignorância ou falso 
conhecimento, e chegar à experiência de si, que é por sua vez a 
experiência do Si eterno, imutável e único, o absoluto... Assim se 
articula a doutrina monista de Shankara, chamada Vedanta.”22 
5.2 Caminhos de libertação. Quatro metas da vida: artha, kama, dharma e 
moksa. 
 
22 Greco. História das Religiões. 2008, P 139 
Segundo a concepção hindu de que tudo que há no cosmos surgiu da desintegração 
do ser divino, nada que existe então, deverá ser desprezado, já que o renascimento do ser 
essencial poderá ocorrer como ser homem, e fauna ou flora, pois tudo que existe tem a 
condição de alcançar a salvação, que é o retorno ao Uno divino. Neste sentido, “no 
delineamento de sua conduta moral, o hinduísmo oferece a possibilidade da moksha, ou 
libertação de samsara.” (J Andrade, 2020) 
“Essa religião profundamente variada dá uma ênfase muito grande 
ao ato de libertar-se do mundo que vemos e na eliminação das 
amarras que nos prendem ao plano material da existência, 
chegando a incluir a identidade pessoal.”23 
O processo de libertação compreende caminhos distintos para as pessoas seguirem 
sua particular jornada espiritual no hinduísmo, já que “cada pessoa tem caráter e talentos 
próprios. Assim, para alguém com tendências filosóficas, o caminho do conhecimento 
(jnana) é o correto, enquanto para alguém com tendências práticas, é o das ações (karma). 
A pessoa disciplinada optará pela senda do autocontrole espiritual (yôga) e a devotada, 
pela da adoração (bhakti).” (Jansen, p. 4, 1995) 
Nesse contexto religioso de entendimento do modo como a doutrina do hinduísmo 
concebe a salvação dos fiéis, anotamos alguns princípios que expõe a maneira em que a 
filosofia espiritual indiana concebe a vida e organiza a existência dos homens em sua 
jornada de libertação, ao tratar do conteúdo que Heinrich Zimmer chama de: “quatro 
metas, finalidades ou esferas da vida humana”. Com um destaque para o modo em que os 
três primeiros fundamentos se relacionam com a existência presente e física da 
humanidade, isto porque, estes conceitos denominados de “Artha, Kama e dharma, 
conhecidas como trivarga (grupo de três), são as ocupações mundanas; cada qual implica 
uma orientação própria ou “filosofia de vida” e, ainda, a cada uma é dedicada uma 
literatura especial.” E na explicação desse conteúdo acerca da filosofia de vida indiana, 
anotamos que o primeiro elemento trata das “metas da vida”, segundo a relação do homem 
com o mundo dos sentidos, o “Artha”, que visa orientar valores e atitudes que devem 
permear o homem religioso em suas relações com o mundo material, agregando aspectos 
diversos da cultura do homem, em que se incluem a profissão e comércio, a política e as 
artes, os objetos do cotidiano e até o prazer diante do belo e das coisas. O segundo 
elemento trata da vivência e busca do amor e prazer, denominado “Kama”, relacionado a 
 
23 Brandon Toropov e Luke Buckles. Religiões do Mundo. P 205, 2017 
uma divindade que move os desejos e paixões encarnadas dos homens, identificado com 
dimensões espirituais menores e inferiores; sendo que, em meio à retidão sensual 
marcante entre os cidadãos, este elemento vem direcionar as relações de amor em favor 
de um fortalecimento da família, em respeito à discrição indiana. O terceiro elemento 
identifica e desenvolve as regras morais e os valores éticos religiosos, buscando trazer a 
ordem da dimensão superior transcendente para a vivência familiar e social, em acordo 
aos ditames da espiritualidade indiana; descrita no “Dharma”, que “é a doutrina dos 
deveres e dos direitos de cada indivíduo numa sociedade ideal e, como tal, é a lei ou 
espelho detoda ação moral.” Finalmente, anotamos o conteúdo do quarto e mais 
importante elemento da religiosidade filosófica existencial indiana; “Moksa”, que se 
refere à libertação espiritual promovida pela religiosidade indiana, sendo aqui, 
“considerada a finalidade última, o bem humano definitivo, de modo que está acima e em 
posição inversa às três anteriores”, posto que “a maior parte do pensamento, 
investigações, ensinamentos e escritos indianos está consagrada ao tema supremo de 
liberar-se da ignorância e das paixões oriundas da ilusão do mundo.” (p 38-42, 1986) 
5.3 A experiência familiar e social de libertação. Bhaghavad Gita e o 
varnashrama-dharma. 
Importa destacar o modo em que o texto sagrado Épico, Bhaghavad Gita, se tornou 
o conteúdo religioso essencial do movimento de transição da religiosidade védica 
ortodoxa para a vivência mais pessoal, junto de uma celebração devocional da parte dos 
fiéis e seguidores hindus. Conforme Kung, o “Gita” pode ser entendido como um dos 
textos sagrados mais importantes da história das religiões, pois agrega visões espirituais 
variadas, enquanto consegue integra-las no propósito de oferecer prescrições éticas 
adequadas ao dia a dia familiar e social, pois relaciona os conceitos sagrados às atitudes 
cotidianas do homem. Dessa forma, o Bhagavad-Gita impulsiona o fiel do hinduísmo para 
que viva sua fé amplamente nas atividades familiares e sociais, assumindo uma 
responsabilidade religiosa pela vida. (p. 90, 2004). 
Essa transição doutrinária tornou a realidade pessoal, familiar e social do fiel 
hindu como o ambiente essencial de vivências dos valores religiosos capazes de conduzi-
lo, em sua jornada de libertação espiritual. Ocorreu uma valorização da divisão dos papéis 
familiares e sociais dos indianos, que adquiriu nova importância assim que os distintos 
caminhos de salvação religiosa na busca de libertação do ser, foram integrados numa 
jornada existencial que veio a ser relacionada diretamente junto das fases da vida humana. 
Nessa perspectiva, a doutrina “Ashrama” acabou definindo o modo em que um fiel 
religioso indiano seria capaz de assumir durante toda sua vida, tanto as funções familiares 
e sociais sob sua responsabilidade, como igualmente, as que estariam relacionadas às 
vivências religiosas a que ele deveria se dedicar, a fim de desenvolver a maturidade 
espiritual de sua existência. Portanto, o fiel hindu irá vivenciar cada uma das classes 
(varnas) junto da família e sociedade, abraçando os papéis sociais necessários que, assim, 
irão lhe conduzir na jornada espiritual que irá promover seu amadurecimento religioso; 
desde a infância como aluno, até a fase adulta em que irá assumir o papel de chefe da 
família, rumo à aposentadoria e finalmente, para alguns, a experiência final do 
isolamento. 
“Os quatros estágios da vida combinam-se com a classe do 
indivíduo em um conceito que define moralidade e estilo de vida: 
varnashrama-dharma, literalmente, o ordenamento correto da vida 
(dharma) de acordo com sua classe (varna) e estágio da vida 
(ashrama) – uma fórmula de “como viver corretamente... com um 
conjunto de regras que se aplicam igualmente a todos.”24 
O propósito maior dessa orientação social tão estrita busca ordenar uma 
comunidade em que todos os aspectos de sua existência cotidiana material, e igualmente 
facetas essenciais da realidade espiritual dos homens, seja regrada e assim, toda existência 
possa ser regulada de forma proveitosa a todas as pessoas, posto que todos se encontram 
debaixo da necessidade de ultrapassar as barreiras da realidade material. Neste sentido, a 
doutrina sagrada denominada de Varnasharama-dharma busca ordenar as múltiplas 
experiências e funções dos indianos, tanto em suas famílias quanto nas relações em 
sociedade, no interesse maior de que o homem hindu tenha todas as condições de 
vivenciar sua história de vida rumo ao amadurecimento espiritual de sua libertação; 
conforme esse é dado por sua religião. 
NA PRÁTICA 
Vimos o modo em que o hinduísmo se tornou uma religião que carrega a 
identidade de ser considerado “um símbolo de unificação de toda a diversidade indiana”; 
posto que seu desenvolvimento observou a prática dos rituais vedas, o controle brâmane 
dos sacerdotes, até alcançar seu título contemporâneo, hinduísmo. “Essa tradição não 
 
24 Fortino. O Livro das Religiões. P 108, 2014 
somente conseguiu desenvolver os três conceitos, como também os preservou até os 
tempos atuais, com novas roupagens de interpretações.” (Joachim Andrade, 2010) 
Ao definir como fundamentais as experiências religiosas dos atos de culto público 
e familiares, e valorando grandemente a obediência familiar e social das prescrições éticas 
e regras sagradas na vida cotidiana do homem hindu; o hinduísmo se consolidou como 
uma vivência religiosa, e também como um modo vivencial dos indianos, o que fez da 
religião uma experiência inseparável do estilo de vida edificado na civilização hindu no 
decorrer dos séculos, até a atualidade. 
“Os Vedas, considerado no seu todo, é a fonte principal ou o 
chafariz de toda a cultura da Índia. Suas especulações filosóficas 
levam ao Vedanta. Suas formas de meditação e oração levam à 
doutrina Bhakti, seus rituais e sacrifícios levam à escola Mimansa, 
seus relatórios sobre a criação levam à cosmologia e psicologia do 
Samkhya, suas descrições sobre extase religioso levam aos 
sadhanas do Yoga.”25 (D. S. Sarma) 
Nesse movimento histórico, o hinduísmo prescreve atualmente valores éticos 
familiares e sociais que são considerados vivências religiosas essenciais para que os fiéis 
superem a condenação dos ciclos contínuos de morte e renascimentos; samsara, conforme 
estes são definidos pelos atos de vidas passadas; Karma. Sendo que, a experiência de 
libertação da ilusão e ignorância dadas pelas experiências do Karma e samsara, ocorre na 
busca de uma experiência de salvação que entende como válidos os caminhos do 
conhecimento, da busca interior e da ética social. Caminhos de libertação; moksha, que 
se tornaram atividades religiosas fundamentais para que o fiel hindu alcance a 
compreensão experiencial da realidade do ser superior Absoluto da religião; que é o fim 
último da experiência sagrada do hinduísmo. 
FINALIZANDO 
“Considerada como Sanathana Dharma – literalmente, “Religião 
Eterna”, o Hinduísmo é visto como uma das religiões mais antigas 
da humanidade. Essa tradição não se vincula a um fundador 
definido, como ocorre com outras tradições religiosas, como o 
Budismo ou Cristianismo.” (J. Andrade)26 
 
25 D. S. Sarma. Hinduísmo e Yoga. 1967 
26 Joachim Andrade. Quando o Himalaia flui no Ganges. P 41, 2010 
Hinduísmo é o termo que identifica a fundamental, ortodoxa e ampla religião 
indiana, sendo importante perceber que as diversas atividades sagradas praticadas pelos 
seguidores atualmente, vieram a ser formatadas através de vivências e conceitos que 
surgiram, se desenvolveram, foram transformados e permanecerão válidos num extenso 
período de quase quatro mil anos, desde o ano três mil a.C. até o ano 900 d.C.; quando 
foram consolidados no Vedanta. 
Desde as vivências espirituais mais primitivas dos habitantes da Índia ao redor do 
terceiro e segundo milênios a.C., os dravidianos, até a chegada dos arianos com sua 
cultura própria, no período do século 16 a.C., e a partir daí, com uma organização de 
celebrações voltadas aos sacríficos em meio ao entoar de hinos, até passar por um período 
de fortalecimento da autoridade dos sacerdotes, junto de uma posterior dedicação à 
reflexão e na busca de um aprofundamento filosófico da religião, entre os séculos oitavo 
e sexto; eis como se organizou na história o vedismo e posteriormente, o brahmanismo 
na Índia. 
“Os livros sagrados que seguiram do Vedas são os Aranyakas, 
Puranas, Upanishads, Épicos e, finalmente, o Bhagavad Gita. Este 
último é tão aclamado quanto o Novo Testamento aos cristãos;finaliza o teste da experiência direta, sendo um relato da veracidade 
do conhecimento empírico dos textos anteriores.”27 
Desde o século oitavo com os livros Upanishads trazendo um novo e fundamental 
olhar reflexivo à religião, tomou forma um importante movimento filosófico e também 
de busca interior e meditativa no hinduísmo. Até que, finalmente, nos últimos séculos 
a.C. e primeiros séculos da era Cristã, a religião do hinduísmo veio se consolidar em seus 
fundamentos atuais, a partir da prática de celebrações mais pessoais e devotas. As quais 
tiveram no livro Bhagavad Gita o seu texto sagrado essencial de transição, vindo a 
valorizar a experiência religiosa de cultos familiares e populares, através de ofertas 
dedicadas em gratidão e consagradas às divindades, sendo que estas vivências 
popularizaram a religião na Índia; auxiliando no modo como essa experiência sagrada 
seguiu sendo praticada até alcançar quase um bilhão de fiéis. 
“Observando-se de perto, podemos perceber que os caminhos 
apresentados pelo Hinduísmo dão ênfase mais à pessoa humana e 
suas potencialidades. O ser humano escolhe seu caminho, ele faz 
 
27 J. Andrade. Quando o Himalaia flui no Ganges. P 45, 2010 
seus projetos e planos e, por fim, é o responsável por sua vida e por 
sua libertação.”28 
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28 Joachim Andrade. Quando o Himalaia flui no Ganges. P 55, 2010 
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