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RELIGIÕES INDIANAS AULA 2 HINDUÍSMO Prof Me Ivan Santos Ruppell Júnior CONVERSA INICIAL “O nome tradicional do hinduísmo é Sanatana Dharma, cujo significado é Religião Eterna.”1 (Joachim Andrade) O hinduísmo é uma das vivências religiosas mais antigas da humanidade, sendo reconhecido pela sua popularidade no Oriente, com celebrações entusiastas e coloridas. A definição do hinduísmo como uma religião e a compreensão de sua teologia não são tarefas fáceis para os ocidentais, pois o pensamento hindu é bastante oriental nas suas concepções acerca da realidade física, humana e transcendente do mundo e da existência. Neste sentido, os estudiosos da religião destacam o modo como o hinduísmo agrega na sua religiosidade um grande número de práticas e conceitos oriundos de experiências religiosas antigas da civilização indiana, numa relação de proximidade e 1 Joachim Andrade. Teoria do Karma, Castas e Reencarnação. P 85-98, 2020 assimilação que continuou ocorrendo no decorrer dos séculos, de modo que a espiritualidade mais antiga se mantém nas celebrações contemporâneas. O hinduísmo começou a se organizar ao redor dos séculos 2000 a 1500 antes de Cristo no norte da Índia, sendo que não há fundadores ou um profeta para assumir a liderança do estabelecimento desta religião; mas sim, que seus princípios vieram a ser compilados em textos sagrados por Sábios da civilização. Atualmente, o hinduísmo é uma das religiões com maior número de seguidores no mundo, com aproximados 800 milhões de fiéis, sendo que um grande número deles reside na Índia, embora haja fiéis desta fé em bom número em todo oriente, e pelo mundo afora. Os primeiros relatos históricos que nos auxiliam a compreender o surgimento dos conceitos centrais da religião do hinduísmo datam do segundo milênio a.C., em que houveram correntes migratórias da Ásia para o Oriente. Povos denominados de arianos deixaram a região sul da Rússia e foram para o norte da Índia após passarem pela região da Pérsia, até se estabelecer na região do Vale do Indo, ao redor do ano 1500 antes de Cristo. Os conceitos espirituais destes povos traziam consigo elementos religiosos gregos, romanos e germânicos, os quais foram utilizados como base do pensamento védico; termo que se refere aos textos sagrados Vedas, que se tornaram a base doutrinal do hinduísmo. Entre os anos 1000 a 500 a.C., as reflexões filosóficas védicas Upanishads vieram introduzir a crença hinduísta do ser Absoluto Brahman, uma realidade espiritual superior que governa e sustenta todo o universo; pois tudo que existe está sendo sustentado e igualmente irá retornar para o Brahman, sendo esta a perspectiva de salvação religiosa do hinduísmo. (Gaardner, p 45, 2004) ITEM 1 – HINDUÍSMO. A ORDEM SUPERIOR E O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA RELIGIÃO. 1.1 Desenvolvimento. Fases históricas da religiosidade indiana. “O Vedismo, a religião védica ou religião do Veda, caracteriza-se por ser o aspecto mais antigo sob o qual nos são apresentadas as expressões religiosas da Índia... são os primeiros monumentos literários... o testemunho mais arcaico da religião que se chama ora brahmanismo, ora hinduísmo.”2 2 Tinoco, O Pensamento Védico. P 31, 1992 Os fundamentos da religião do Hinduísmo encontram-se nos antigos textos dos livros dos Vedas, sendo que o desenvolvimento histórico dos rituais e celebrações, doutrinas, reflexões filosóficas e orientações éticas foram compostos e renovados em alguns períodos formativos dos conceitos doutrinários, até se consolidarem como os conceitos centrais da religião. Segundo Challaye, o primeiro movimento doutrinal relacionado aos textos dos Vedas foi voltado aos rituais de sacrifícios, denominado Vedismo; até o posterior surgimento do Brahmanismo, com ênfase no conhecimento, e finalmente, já com o título de Hinduísmo, a religião tornou-se uma experiência centralizada na experiência de fé e devoção dos fiéis diante das divindades. Aqui, vale destacar que não se trata de três religiões diferentes, mas sim, que há três movimentos de pensamento em seguimento às bases de uma mesma religiosidade indiana, que veio a culminar com o estabelecimento do hinduísmo. (p. 60, 1981) Nesse contexto, sabe-se que foram os invasores arianos que trouxeram para o território indiano o pensamento e vivências religiosas formativas centrais dos Vedas, partindo do entendimento espiritual que a natureza manifesta os atos das divindades perante os homens, o que orientou no período inicial, o entendimento da existência de deuses pertencentes à três categorias; das regiões celestiais, da região terrena e da região atmosférica, em acordo aos aspectos da natureza que cada um deles representava, com destaque para os deuses Varuna, Indra e Agni. Conforme esse conhecimento, há cinco movimentos históricos identificados como sendo os que descrevem o desenvolvimento da religião hindu na civilização indiana, cada um deles com aspectos bastante próprios, e que vieram a consolidar o que hoje entendemos como, hinduísmo. Cada uma destas fases foi delimitada por aspectos distintos e peculiares, oriundos dos períodos de tempo que as identificam, por ênfases doutrinais e práticas de rituais próprios, na percepção de elementos próprios acerca da compreensão da realidade transcendente e ainda, da escrita de textos sagrados e do estabelecimento de valores religiosos. Estas fases se desenvolveram durante quase dois mil anos, sendo um período de tempo em que houve a renovação e reforma de diversos temas e vivências da religiosidade hindu, até que vieram a ser estabelecidas as formas e os conceitos definidores do que se entende historicamente por religião do hinduísmo. A primeira fase ocorreu entre os anos 1500 até 1200 a.C., sendo um período relacionado ao pensamento e vivências da cultura indiana primitiva, contendo importantes aspectos dados pelos povos nativos; os dravidianos, na valorização das divindades dos hinos Vedas e na prática dos rituais de sacrifícios. A segunda fase ocorreu entre os anos de 1200 até 800 a.C., sendo um período em que valores e características do povo invasor ariano vieram a influenciar gravemente a religião, iniciando uma transformação social e religiosa na cultura indiana, vindo a ocorrer maior aproximação entre aspectos sagrados dos dravidianos e arianos, com surgimento de elementos religiosos como: conceitos da ordem superior rta e leis universais, a valorização dos sacerdotes e da existências dos grupos sociais orientados pelas castas, o que ocorria em meio ao surgimento de textos de busca de maior profundidade espiritual, nos escritos Upanishads e Aranyakas. A terceira fase compreende o período histórico entre os anos 800 a 400 a.C., sendo marcada pelo desenvolvimento dos textos filosóficos de reflexão Upanishads, em meio ao surgimento do pensamento budista e jainista, numa época de grandes transformações sociais e especulativas na Índia, especialmente a partir do século VI a.C. A denominada quarta fase do hinduísmo carrega consigo muitas transformações e também o estabelecimento de conceitos doutrinais e experiências religiosas que vieram a se afirmar como fundamentais na consolidação da religião do hinduísmo. O período de tempo desta quarta fase compreende os séculos decorridos entre os anos 400 a.C. até o ano 200 depois de Cristo, sendo que seu período inicial foi marcado pelo governo do Imperador Asoka, numa época de maior liberdade e respeito às diversas vivências e entendimentos sobre a espiritualidade mais ampla da cultura indiana. Sendo um tempo em que as atividades religiosas particulares, familiares e públicas receberam uma valorização sobre os rituais sacerdotais, em meio ao desenvolvimento dos atos devocionais bhakti e dos cultos dedicados às divindades Vishnu e Krishna. Com ênfase para o modo como o texto sagrado Bhagavad-gita e os livros da lei vieram a formatartanto as vivências religiosas, como as práticas éticas e sociais dos fiéis do hinduísmo. Finalmente, temos a quinta e última fase histórica de desenvolvimento da religião, que compreende um grande período de tempo, entre os anos 200 até 1500 d.C., sendo denominado de período posterior, em que houve a conclusão doutrinal acerca da experiência religiosa dos fiéis diante da divindade superior, a partir das reflexões Vedanta, particularmente nos séculos 8 e 9 com Shankara, vindo a ocorrer também, a edificação de templos e a consolidação da teologia da religião do hinduísmo. (Ling, p 50 a 139, 1994) De um modo mais breve e no propósito de complementar o entendimento da existência e distinções entre cada uma das cinco fases, a partir de seus elementos religiosos, destacamos os seguintes aspectos: a primeira fase iniciada ao redor de 1500 a.C. foi marcada por uma compreensão ainda vaga sobre a natureza e realidade de Deus no hinduísmo arcaico; enquanto que a segunda fase iniciada em 1200 a.C. apresenta Brahman como sendo o Ser superior hindu, em meio ao estabelecimento mais concreto da organização da sociedade indiana. A terceira fase carrega consigo um valor histórico diferencial, tanto na história reflexiva e religiosa mundial, como também na cultura indiana, sendo o período de surgimento dos textos filosóficos Upanishads; com orientações ortodoxas do hinduísmo, sendo também a época de nascimento dos movimentos espirituais indianos heterodoxos do budismo e jainismo. Especialmente na perspectiva de vivência religiosa e estabelecimento de doutrinas, o quarto período iniciado em 200 a.C. desenvolve a religiosidade popular e o valor da consagração pessoal em meio às celebrações bhakti, sendo que o denominado período posterior intitula a quinta e última fase, em que houve a conclusão das reflexões e especulações filosóficas da religião. (www.xaverianos, hinduísmo e islamismo, 2017)3 1.2 A ordem superior rta. No interesse de apresentar aspectos doutrinais da religião e ampliar ênfases de seus conceitos e atividades religiosas, iremos expor alguns temas relacionados aos fundamentos da compreensão espiritual do hinduísmo. “A fase inicial do hinduísmo era embasada na preservação da ordem rta, que engloba a dimensão da interconexão e interdependência entre o universo de cima com a realidade de baixo.”4 (Joachim Andrade) Conforme Andrade, a dimensão dos céus era composta pelas divindades que deveriam ser agradadas pelos sacrifícios, especialmente pelo fogo que carregava nas suas chamas o calor necessário aos deuses, enquanto que a dimensão terrena dos homens aguardava o envio das chuvas dos céus para contemplar e favorecer a terra, movendo a agricultura e subsistência da população. “Essa dependência mútua mantinha a ordem do universo”, sendo uma experiência religiosa governada e administrada pelos sacerdotes védicos, os brâmanes. (2020) Segundo Fortino, um conceito apropriado para definir a religião do hinduísmo pode ser resumido na seguinte declaração: “Por meio do sacrifício nós mantemos a ordem do universo do mundo racional.” Observe que, a compreensão tradicional das religiões 3 www.xaverianos.org.br-hinduísmo e islamismo, 2017 4 Joachim Andrade. Teoria do Karma, Sistema das castas e Conceito da Reencarnação e seu Impacto na Sociedade Indiana. 2020 http://www.xaverianos/ primitivas da história apresenta o entendimento de que a realidade humana e cosmológica se move de maneira imprevisível, e debaixo das ações e da vontade das divindades. Após a chegada dos invasores arianos e com o estabelecimento do pensamento védico na Índia, houve uma preocupação das tradições iniciais do hinduísmo na busca de compreender a realidade humana, acerca de sua dependência e existência diante do universo. Nesse contexto, tomamos conhecimento de um conteúdo essencial hindu, que trata da “ordem cósmica eterna”, conforme exposto pelo seguinte destaque da autora: “Dharma, ou “o caminho certo”, é um termo essencial para explicar o que é o hinduísmo. Em sua forma original, sanatana dharma, poderia ser traduzido como “a eterna ordem das coisas”, “verdade” ou “realidade”, expressando a ideia de que há uma estrutura e um sentido oculto no mundo.” Esse pensamento orienta o modo em que o hinduísmo concebe uma realidade atemporal e constante, a qual carrega consigo princípios que irão permitir aos homens partilhar de sua existência completa e perfeita, mesmo que a realidade humana visível esteja submetida a ciclos temporais finitos e inconstantes. Nessa perspectiva, o homem religioso deverá dedicar sacrifícios à realidade superior do dharma, os quais irão auxiliar na aplicação de princípios da ordem existencial eterna em nossa dimensão: “essa lógica dá origem à ideia de que um dos objetivos da religião é compreender e manter a ordem correta do mundo.” No decorrer do desenvolvimento das atividades capazes de promover a religiosidade do hinduísmo, os sacrifícios vieram a ser dedicados em celebrações mais elaboradas, com hinos e atos prescritos em detalhes, além da valorização da ação sacerdotal dos que deveriam oficialmente alimentar o fogo sacrificial com as oferendas de alimentos. As ofertas eram dedicadas às divindades Varuna, Indra e Agni, sendo que Varuna, enquanto o deus mantenedor das águas e dimensões celestiais, recebia sacrifícios para que mantivesse a estrutura funcional e constante do RTA, “a ordem cósmica”. O surgimento de outros deuses mais próximos da realidade humana não veio modificar a compreensão de que estas divindades eram manifestações da realidade superior, sendo que, a própria classificação histórica da sociedade indiana estratificada em quatro grupos sociais, varnas, tem o propósito de realizar na vida humana cotidiana a ordem e estrutura superiores do dharma: “a religião tinha, portanto, um aspecto pessoal e um aspecto social, além de um sistema aparentemente lógico de como o indivíduo e a sociedade deviam interagir.” (p. 92-99, 2014) ITEM 2 – CONCEITO DE DEUS. A TRIMURTI DO HINDUÍSMO. TEXTOS SAGRADOS. 2.1 O Ser divino Absoluto da realidade superior. A Criação no hinduísmo. “Não se pode falar de um início das especulações referentes ao absoluto no Veda. Todo ele é permeado pela ideia de um Deus único.”5 Brahman é o ser Absoluto da realidade superior proposta pela religião do hinduísmo, posto que é a essência transcendente, eterna e constante da existência, no entendimento de que se trata de uma divindade ilimitada diante do espaço físico, estando além de qualquer compreensão humana, sendo ainda, um ser impessoal. “Há três acepções para o Absoluto na literatura védica...: Brahma, Paramatma e Bhagawan. Os Upanishads se referem ao Brahma, os textos de Yoga se referem ao Paramatma e os Puranas e outros textos dizem respeito a Bhagawan.”6 O ser Absoluto da realidade superior carrega consigo três títulos, sendo algo que não se deve confundir diante das divindades menores que formam a Trimurti ou Trindade do hinduísmo, como veremos adiante. Nesse sentido, destacamos o fato do ser Absoluto carregar determinados nomes, que surgem tanto acerca dos atributos a ele relacionados, como dos textos sagrados que os apresentam: Brahma “refere-se ao aspecto impessoal e onipresente do Absoluto. De Brahma tudo se origina. Ele penetra tudo e está em toda parte...”; sobre o título Paramatma, é utilizado ao tratar da essência única existente no Absoluto e também, na alma do homem, pois o “Paramatma está no mais íntimo dos seres vivos, orientando ali as almas individuais. Já o terceiro título do ser Absoluto, Bhagawan, é considerado “o mais alto aspecto do Absoluto. Ele é o Brahma que está em toda parte e é a fonte do Paramatma.” (Tinoco, p 121, 1992) Devido aos aspectos peculiares referentes à natureza e à essência superiores do Absoluto Brahman, diante dos homens e todo o cosmos, faz-se necessário que os fiéis busquem realizarseus contatos religiosos mediante as divindades, que são consideradas como que emanações do ser superior. Igualmente, toda e qualquer manifestação do ser divino Absoluto perante a humanidade irá se desenvolver através da atuação das divindades. Conforme anotamos, as divindades do hinduísmo se manifestam a partir das regiões que representam, havendo deuses terrestres, celestes e ainda os deuses atmosféricos; sendo possível identificar cada um deles conforme a relação que tem com 5 Carlos Alberto Tinoco. O Pensamento Védico. P 73, 1992 6 Carlos Alberto Tinoco. O Pensamento Védico. P 120-121, 1992 a dimensão de que manifestam; sejam eles os celestiais, que são percebíveis na luz de um novo dia, ou os deuses da atmosfera, que são reconhecíveis em tempestades etc. Já as divindades terrestres são associadas a elementos naturais, como os montes, por exemplo. (Tinoco, 1992, p 41) “O tempo universal é um ciclo infinito de criação e destruição, sendo cada ciclo completo representado por cem anos na vida de Brama.”7 Acerca da criação no hinduísmo, entende-se que a cada cem anos da vida de Brama, tudo que existe e o cosmos integral junto com as divindades, seres e coisas “se dissolvia no grande Cataclismo”. Após essa conclusão do ciclo surge um período caótico, até que Brama ressurge e todo o período cíclico inicia novamente, com ênfase na ocorrência do ciclo “Kalpa” – um dia de Brama com 4.320 milhões de anos terrenos. Sendo que este ciclo “Kalpa” se divide em “mil Grandes Idades”, subdivididas em outras quatro idades: a Critaiuga, idade dourada, que traz uma existência saudável ao cosmos, numa época plena de justiça e retidão; a Tretaiuga, que gera um tempo de declínio da virtude e o início de conflitos e iras; o Diaparaiuga, como um período de descontentamento da divindade, sendo uma época marcada por “mentiras e discussões”; e ainda, o Caliiuga, idade da degeneração, que é o atual período da história da humanidade, em que ocorre grave degradação do ser em meio ao avanço das vivências de paixões descontroladas. Sendo que haverá o reinício dos ciclos, de modo que, “a criação seguinte vai consistir num redesdobramento dos mesmos elementos.” (Ions, p. 28-29, 1983) 2.2 A Trimurti do Hinduísmo. “De todos esses deuses, surgiu um triunvirato dominante, responsável pela existência, ordem e destruição do universo. Esses três deuses – trimurti, ou trindade – representam diferentes aspectos da realidade.”8 Em seguimento ao princípio do modo como o ser Absoluto Brahman atua na realidade a partir da manifestação dos deuses, houve o reconhecimento da existência de Três divindades maiores, a partir das quais a história é governada, segundo os ditames da realidade superior. Isso deve ser percebido na perspectiva da compreensão do tempo e da criação hindus, que identifica os ciclos da história ocorrendo a partir dos atos do deus 7 Verônica Ions. Índia. P 29, 1983 8 Carla Fortino. O Livro das Religiões. P 97, 2014 Brahma, como criador; de atos do deus Vishu, enquanto mantenedor e ainda, de atos do deus Shiva, que realiza a finalização de um período através da destruição de um determinado tempo, sempre no propósito de gerar um ato de recomeço, pois um novo ciclo irá surgir a partir do ato destrutivo. (Lemaitre, p. 62, 1958) Em complemento a esse conhecimento, segundo J Andrade, a partir do quinto século a.C., a concepção do ser divino essencial do hinduísmo reconhece tanto a sua transcendência como sua presença oculta no homem, sendo que os textos sagrados que vieram a refletir sobre Sadguna Brahman acabaram desenvolvendo três divindades distintas superiores para manifestar aspectos do ser superior, que são Brahma na criação, Vishnu na preservação do mundo e Shiva como agente transformador, conforme a sua atuação na destruição de um ciclo e renovação do seguinte. “Esses três atributos, outros nomes e formas desse mundo, são as transformações desse mesmo Brahman.” (2020) Nesse contexto, faz-se importante destacar que a religião do Hinduísmo não crê na existência politeísta de deuses diversos e divindades múltiplas no mundo, posto que estes são considerados apenas, manifestações da realidade una e superior, que é Brahman, o ser Absoluto: “Quase todas as ramificações do hinduísmo acreditam na existência de um deus criador supremo, Brahma, que, junto com Vishnu (o preservador) e Shiva (o destruidor), forma a principal trindade, trimurti.”9 Trimurti significa “três formas” na língua antiga do sânscrito, e intitula a convivência existencial íntima de três divindades exemplares do hinduísmo, como temos visto, Brahma, Vishnu e Shiva. Carlos Alberto Tinoco destaca que “Brahma” não recebe uma adoração dedicada e numerosa entre os hinduístas, já que não existem locais de cultos e templos edificados para celebrar o deus criador, que segundo ele, é a “personificação do antigo nome neutro do vedismo primeiro... somente recebendo adoração no plano puramente literário.” Acerca do deus Vishnu, que é percebido como sendo uma divindade dormente que ao acordar no período devido, propicia a aparição de Brahma que atuará na criação de um novo cosmos; então, nosso autor enfatiza que ele “tornou-se valorizado somente a partir da Grande Epopeia, assimilando as qualidades de benfeitor, embora aspectos temíveis não lhe faltem.” O aspecto mais celebrado de Vishnu se refere às encarnações que realiza para visitar os homens, especialmente a narrada na epopeia 9 Carla Fortino. O Livro das Religiões. P 91, 2014 Mahabharata, que são ocasiões em que visita nosso mundo para atuar em confronto ao mal, para proteção e salvamento do planeta. Nesse sentido, anotamos dados da encarnação de Vishnu como Krishna: “a descrição mais rica e detalhada dentre todos os mitos indianos é a de Krishna. Seu nascimento foi secreto, originando numerosas façanhas. Ele era o futuro chefe da clã dos Yândavas... Este quadro é uma expressão mítico-amorosa do fervor religioso da Índia medieval”. E acerca da divindade Shiva, diz-se que é a mais temível e também surpreendente, pois sua atuação de concluir um determinado ciclo pela destruição do cosmos, sendo percebida como a “morte” e o “tempo” também indica um de seus títulos; “o terror”. No entanto, Shiva tem virtudes bondosas, conforme seus títulos de Shambu e Shankara, sendo responsável por realizar o nascimento das águas e ainda, governar relacionamentos sexuais no propósito de gerar nascimentos, sendo também, “rica em símbolos místicos”. (Tinoco, p 57-61, 1992) Conforme Coogan, escritos sagrados antigos desenvolvem o caráter da Trimurti como trindade divina, situação em que seus atributos mais importantes são destacados, referindo-se a Brahma como o criador, a Vishnu como o preservador e a Shiva como o destruidor; embora esse entendimento não seja um princípio popular entre os fiéis; ao mesmo tempo em que destaca a maneira como Brahma foi enfraquecido em sua atuação no decorrer do tempo, de modo que os atos de criação, sustento e destruição do mundo se tornaram atividades atribuídas tanto a Vishnu, como Shiva. A divindade Shiva, que carrega consigo a atividade da destruição, sempre na perspectiva de fazer surgir um novo ciclo, toma forma, segundo nosso autor, “em seus papéis frequentemente paradoxais: ele é ameaçador e benevolente, criador e destruidor, dançarino exuberante e iogue austero, ascético solitário e marido da deusa Parvati, concedendo sabedoria e graça a seus devotos”. Como pode-se perceber, o desenvolvimento da personalidade e atuações de Shiva revela o modo como essa divindade se tornou importante junto também de Vishnu, posto que este desce à terra em uma encarnação ou avatar, no objetivo de lutar contra o mal e restabelecer a ordem do dharma. (p. 135-136, 2007) Um conhecimento importante acerca da relação do Ser Absoluto Brahman e das divindades hindus, segundo Toropov e Buckles, surge da proximidadeentre os títulos e nomes, especialmente porque há três nomes parecidos no conteúdo do hinduísmo: “Brahma”, “Brahman” e “Brahmin”. Nesse contexto, ressaltamos que Brahman “é um termo hindu para a realidade suprema sem mudança, ou eternidade, e pode ser concebido como o Ser Supremo...’; enquanto que Brahmim “é um membro de uma classe (casta) sacerdotal prestigiosa na Índia”, que seriam os únicos com autoridade para proferir a leitura dos textos Vedas. E além destes, temos Brahma, que compõe a trindade, atuando ali como divindade da criação. Conforme nossos autores, as divindades Shiva e Vishnu surgiram como antagonistas na história, sendo que houve uma aproximação entre eles exatamente quando da reconciliação promovida para inclui-los na trindade hinduísta. (216-219, 2017) 2.3 As Escrituras Sagradas do Hinduísmo. Os textos sagrados do hinduísmo vieram a orientar tanto os conceitos, como as atividades religiosas que formataram de modo autorizado as transformações e desenvolvimento da religiosidade hindu, no decorrer dos séculos. Neste sentido, e acerca do modo como a experiência sagrada do pensamento védico veio a se desenvolver como uma atividade religiosa aos seguidores do hinduísmo, sabe-se que os rituais de sacrifício, tanto os dedicados aos deuses como aos mortos, é que realizavam a interação do fiel diante do mundo transcendente, buscando promover a transformação da realidade. No decorrer da história, o princípio da unidade se tornou um conceito importante nos Vedas, algo que junto do entendimento de que Brahman era um poder e realidade superior sobre o cosmos e universo, definiu a orientação de que não se deveria dedicar maior interesse às individualidades dos deuses, mas sim, voltar-se para a busca da compreensão da essência central da existência. Essa compreensão realizou a transição do período histórico do Vedismo ao Brahmanismo, sendo algo que também veio valorizar a experiência e liderança dos sacerdotes na sociedade indiana. (Greco, p. 36, 2008) Conforme Tinoco, ao refletir sobre a evolução do período histórico e doutrinal denominado de brahmanismo, sabe-se que “no começo da era cristã, esses brahmanes impuseram às populações arianas e não arianas locais, a estrutura social, o sistema de culto e a cosmovisão características dos Samhitas e dos Brahmanas.”10 Nesse contexto, foram os sacerdotes brâhmanes que através dos livros sagrados Upanishads promoveram reflexões que vieram a relacionar o conhecimento da interioridade do ser humano junto da essência da realidade superior divina do Ser Absoluto. O objetivo foi o de orientar uma religiosidade voltada à busca de uma experiência real da personalidade perante o conhecimento transcendente, que somente a prática da meditação poderia oferecer ao fiel hindu. Foi nessa mesma época que os movimentos do budismo e jainismo se voltaram para a interioridade do ser, em busca de desenvolvimento espiritual; no entanto, esses dois movimentos vieram a propor pensamentos que negavam a superioridade e liderança 10 Tinoco, O Pensamento Védico. 1992. P 33 da classe sacerdotal, se opondo ao que entendiam ser um controle religioso e social demasiado do pensamento ortodoxo védico, oriundo dos textos sagrados. A oposição dos movimentos budista e jainista acabaram desenvolvendo nos séculos seguintes, especialmente nos imediatos séculos anteriores e posteriores a Cristo, uma aproximação do pensamento védico-brâhmanico junto das celebrações e rituais mais populares indianos. Algo que redundou na consolidação dos temas centrais da religião do Hinduísmo, conforme anotou o pesquisador e estudioso, Challaye, que identificou o estabelecimento dos conteúdos da religião, ao nominar os textos sagrados que vieram a desenvolver seus conceitos, enquanto também descreve o cânon autorizado hindu: “os textos sagrados do Hinduísmo são – além dos anteriores Vedas, Brahmanas e Upanishads – os Puranas (antiguidades) que expõem antigas lendas; o Mahabharata, redigido talvez no III ou II séculos da nossa era... – e o Ramaiana, epopéia de data incerta...”11. Com um destaque para o modo como a denominada “salvação pela fé e amor” toma corpo a partir do épico Mahabharata, na orientação de que os fiéis deveriam praticar a fé e sua relação com a divindade através de celebrações mais pessoais, orientadas pela gratidão e baseadas na confiança da presença e cuidado divinos sobre o homem e a família. (p. 70, 1992) ITEM 3 – TEMPLOS HINDUÍSTAS. “O melhor exemplo da arquitetura indiana são portanto, os templos, construídos através dos séculos e hoje encontrados em todo lugar na Índia – nas cidades e vilas, são testemunhas vivas da devoção de tantas comunidades religiosas a seus deuses multiformes.” (J. Andrade)12 O templo hindu pode ocupar tanto o espaço de uma simples edificação, como ocorre nas aldeias menores da Índia, até ser encontrado nas grandes construções que comportam pórticos, portais, salas diversas e tanques de celebrações de purificação. A decisão pelo local onde será construído o templo é definida conforme regras “astrológicas e mânticas”13, sendo que os fiéis se reúnem no templo para orar e meditar, partilhando hinos e realizando ofertas de flores e frutos nos templos, que são regularmente dedicados a uma divindade definida, embora haja oportunidade de dedicar honra a outros deuses em pequenas salas disponíveis, que se tornam santuários menores nas grandes construções. (Renou, p. 71, 1979) 11 Challaye. As Grandes Religiões. 1981, P 70 12 Joachim Andrade. Imagens que falam: Uma aproximação da Iconografia Hindu. P 8, 2006 13 Mântica. Uma prática de adivinhação. “Todos os elementos cósmicos que criam e celebram a vida no panteão hindu, estão presentes num templo hindu – do fogo à água, das imagens da natureza às divindades, do feminino ao masculino, do kama ao artha, dos sons fugazes e do incenso cheira a Purusha – o eterno nada, mas a universalidade – faz parte da arquitetura de um templo hindu.”14 Enquanto introdução ao item três da aula, destacamos os tópicos e resumo em aula Uninter, de Joachim Andrade, com a orientação de que há três aspectos a serem considerados diante do grande número de templos existentes na Índia, observadas como edificações sagradas voltadas à vivência da religiosidade do hinduísmo. O templo é uma construção que carrega consigo a perspectiva de ser visualizado como uma estrutura correspondente ao cosmos universal, com a instalação das imagens dos deuses hindus nos templos. O templo é também o espaço adequado para as práticas cerimoniais e para a realização dos rituais do hinduísmo, especialmente para as rezas em gratidão e as súplicas. Ainda, a construção dos templos, em sua estrutura e como lugar das experiências religiosas ali desenvolvidas aponta para o destino transcendente e libertário da caminhada espiritual que os seguidores da religião do hinduísmo buscam na vivência da fé. Neste sentido, o templo deve ser percebido tanto como a casa e morada dos deuses, e especialmente, segundo seus definidos propósitos de edificação, de prática de atividades religiosas e enquanto um símbolo do alvo de salvação da religião. “A forma e os significados dos elementos arquitetônicos em um templo hindu são projetados para funcionar como o lugar onde é o elo entre o homem e o divino, para ajudar seu progresso para o conhecimento espiritual e a verdade, sua libertação chamada moksha.”15 Conforme Ling, foi a partir das conclusões religiosas hindus propostas por Shankara no Vedanta; que finaliza as doutrinas, que os templos vieram a se desenvolver de modo mais acentuado na religiosidade do hinduísmo. Nos séculos anteriores, havia templos edificados com material frágil, como argila e madeira, além de templos instalados em grutas escavadas em locais pedregosos. A partir do período medieval, ocorre a possibilidade arquitetônica e a dedicação pela construção de grandesespaços de adoração 14 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ 15 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ e serviço religiosos, sendo que no hinduísmo, “a característica central da sala do santuário é a vigraha, ou imagem – símbolo da divindade, mais do que representação.” O sentido dado pela construção do templo e pelo espaço principal dedicado aos deuses identifica a valorização do novo conceito religioso central do hinduísmo, que se volta para a celebração pessoal dos fiéis na dedicação de ofertas com gratidão, em detrimento dos rituais anteriores voltados aos sacrifícios. Ainda, havia um grande número de pessoas e talentos dedicados aos serviços do templo, e que subsistiam ao redor de sua localização e atividades religiosas, com destaque para artistas e leitores de textos, além dos sacerdotes, conforme ênfase de nosso autor: “os templos maiores tinham uma importante função tanto econômica com religiosa.” (p 224/25, 1994) “A Índia não apenas pensa em imagens, mas também as constrói em um corpo consistente, cuja síntese é o templo.”16 Em conclusão ao nosso item de aula, vamos apresentar breve resumo dos aspectos destacados no início desse texto, conforme conteúdo de Joachim Andrade, acerca do templo, que deve ser observado em suas três funções: 1. O Templo como construção, sendo percebido como a “casa de Deus”, o que orienta o desenvolvimento da edificação desde a definição da localização diante do espaço e dos céus, até a definição do dia em que o mesmo será inaugurado. 2. A dimensão ritualista do Templo, pois “o templo hindu é o lugar onde o rito sagrado é celebrado, tanto individual como coletivamente”; indicando tanto a caminhada pessoal do fiel em direção ao local do templo, como um símbolo de sua jornada existencial rumo a seu destino transcendente, ao mesmo tempo em que é também a localidade pública dos rituais da religião, especialmente o espaço de dedicação de ofertas, em que o fiel se apresenta ao sacerdote, sendo um ambiente de confraternização dos seguidores da religião. 3. O Templo como meta, em que toda a arquitetura e atividades orientam a aproximação do fiel diante da divindade, posto que esse encontro é o propósito de toda a jornada vivencial do homem religioso: “simbolicamente, todo templo é o universo em miniatura. No centro do universo se encontra a garbha griha, onde os deuses habitam, e na periferia os seres humanos. A meta é cumprida quando o ser humano chega ao centro e tem um darsan da divindade.” (p. 9- 10, 2006). “A arquitetura do templo hindu reflete uma síntese das artes, os ideais do dharma, as crenças, os valores e o modo de vida 16 Anand, 2004, p.110 apud Joachim Andrade, P 8, 2006. valorizado pelo hinduísmo. O templo é um lugar para Tirtha – peregrinação.”17 ITEM 4 – A TEORIA DO CARMA, REENCARNAÇÃO E SISTEMA DE CASTAS. 4.1 Introdução. “O problema da morte e do além era o centro da reflexão espiritual... O ciclo do nascimento e da morte, da emanação, da dissolução e da reemanação eram temas fundamentais da filosofia, do mito, da religião, da política e da arte.”18 Segundo Gosvami, é preciso superar o “carma” a fim de transcender o ciclo de renascimentos que mantém o ser humano na realidade ilusória, pois enquanto o coração do homem estiver dominado por desejos e interesses voltados para as necessidades materiais, ele continuará sendo um prisioneiro do carma. Assim, o homem somente irá se libertar de todos os “carmas” oriundos de qualquer época de sua história, quando adquirir a consciência experiencial da realidade do Absoluto, mediante a experiência de uma devoção dependente de Bhagavan. (p. 37, 1986) Conforme Joachim Andrade, estudiosos ocidentais da área de ciências da religião tem voltado sua atenção continuamente para “a teoria do Karma”, o “sistema das castas” e a “reencarnação”, que são os princípios religiosos estabelecidos na cultura indiana, influenciando e fundamentando aspectos espirituais, sociais e familiares da nação. Como o hinduísmo é uma religião essencialmente sincrética, ao conseguir integrar e manter aspectos diversos da religiosidade indiana mais antiga e ainda, práticas de movimentos espirituais de toda história da civilização; entende-se que a análise destes três conceitos, karma, reencarnação e o sistema de castas precisam ser estudados conjuntamente, na tradição hindu. Nesse contexto, a distinção dada pelo hinduísmo para a doutrina do karma surge de sua abordagem mais ampla e diversa, já que abrange “o caminho de evolução, de involução, além de outros rumos horizontais com os seres animados e inanimados”. (2020). Alguns dos princípios desta doutrina fundamental da espiritualidade indiana, que foram formatados e integrados religiosamente no hinduísmo, são: 1. O entendimento de que toda vida existente no mundo está submetida ao controle do conceito “samsara”; que se refere ao ciclo interminável de mortes e renascimentos; 2. A compreensão de que este 17 https://www.hisour.com/pt/hindu-temple-architecture-/ 18 Greco. História das Religiões. 2008, P 37 ciclo se cumpre mediante a reencarnação espiritual em corpos, espíritos e coisas, movida pelas atitudes das vidas passadas, conforme orienta o conceito do “carma”; 3. A definição religiosa e legal de que esse ciclo de renascimentos somente irá superar as condições determinadas pelo “carma”, se houver uma adequação e conhecimento do ser humano às regras e verdades dadas pela ordem da realidade superior, o “dharma”; 4. O conhecimento de que todo esse processo existencial deverá concluir na experiência da libertação, “moksha”, a qual se relaciona de modo bastante intenso com a compreensão experiencial da realidade única, a qual integra em si, as essências do “atman”, no homem, e do “brahman”, da realidade superior e ser Absoluto. (Greco, 2008, p 80) 4.2 O Carma, a reencarnação e o sistema de castas. “Pode-se considerar como teses fundamentais do Bramanismo as de identidade do braman (princípio fundamental do universo) e do atman (eu profundo) e a da transmigração das almas (samsara), determinada pelos atos das existências anteriores (karman).”19 O critério para o tipo de reencarnação da alma depende da conduta do homem em sua vida anterior, sendo que tal conduta sagrada veio a ser definida como a boa prática das regras rituais e, também, dos valores sociais do dharma. Ao mesmo tempo, o ensino védico esclarecia que a observância das regras de culto e das prescrições éticas do dharma, foram dadas no objetivo de afastar o ser humano do estado de ignorância, além de orientá- lo no conhecimento da realidade verdadeira da existência. Portanto, a mesma obediência aos preceitos do dharma que mantém o homem na boa prática da conduta sagrada, igualmente irá lhe conduzir no conhecimento real do ser supremo; que é o alvo religioso da doutrina do hinduísmo. Eis como ocorre a integração conceitual entre as crenças do carma da humanidade e da unidade do ser divino, pois a mudança do estado existencial do carma também realiza uma aproximação espiritual do homem diante do Absoluto, sendo esta, a experiência que realiza o amadurecimento do ser e seu consequente livramento do estado ilusório da realidade. O ciclo contínuo de mortes e renascimentos oriundos da doutrina samsara, orienta a compreensão da experiência da reencarnação, sendo que a cada novo nascimento e conforme o estado do carma, o homem irá ocupar um lugar e função na sociedade, o que se reflete no sistema de castas indiano. Conforme Louis Dumont, “as castas são, antes de tudo, realidades sociais: família, língua, ofício, profissão, território. São uma ideologia: 19 Challaye. As Grandes Religiões. 1981, P 66 uma religião, uma mitologia, uma ética, um sistema de parentesco e uma dietética. São um fenômeno: não é explicável a não ser dentro e a partir da visão hindu do mundo e dos homens.”20 De modo que,as responsabilidades e a situação social experimentadas pelo homem a cada reencarnação, segundo seu particular carma, são vivências espirituais necessárias ao amadurecimento da alma rumo à libertação proposta pela doutrina hinduísta. (J. Andrade, 2020) “Dharma designa a tradicional ordem estabelecida, que inclui todos os deveres, sejam eles individuais, sociais ou religiosos. Na Índia, a maior ênfase está na vivência moral, na qual o hindu é convidado para se prevenir de três inimigos: kama (desejo), lobha (egoísmo) e krodha (raiva), além de cultivar oito virtudes: compaixão por todas as criaturas, paciência, contentamento, puridade, seriedade, pensamento favorável, libertação da avareza e inveja.”21 Neste sentido, a vivência familiar e social das leis do dharma são prescrições que promovem um tratamento interior e pessoal do espírito, de tal modo que a vivência exterior também atua para que interiormente o homem se volte para o conhecimento do atman; a essência do Absoluto que reside no ser humano. Assim, a partir do entendimento de que as celebrações nos cultos e de que o respeito aos valores éticos familiares e sociais estavam sendo considerados práticas religiosas válidas diante do dharma e perante o ser Absoluto, é que veio a ocorrer a transição na vivência religiosa dos seguidores do hinduísmo. Suas celebrações públicas e familiares passaram a ser momentos de adoração e consagração bastante pessoais dos fiéis diante das divindades e junto do ser Absoluto, sendo uma experiência religiosa conectada ao processo de vivências rumo à libertação. “Assim, entende-se que os princípios éticos sustêm os três pilares (Karma, reencarnação e castas) do hinduísmo e, consequentemente, toda a sociedade indiana, inclusive nos tempos atuais.” (Joachim Andrade, 2020) Conforme J Andrade, o texto sagrado mais popular do hinduísmo é o Bhagavad Gita, em que se oferece uma nova perspectiva para a visão sagrada indiana, na qual o sacrifício é superado pela imponência da ordem superior, a lei do dharma. Assim, “as crenças que ajudam e promovem a vida espiritual devem estar em consonância com a 20 Apud J Andrade. PAZ, Octavio. Vislumbres da Índia. P 58, 1995. 21 Apud J Andrade. ANTOINE, R. Hindu Ethics. 1997 natureza e as leis que regem o mundo”, pois seu propósito é promover a harmonia entre o ser humano e todo o cosmos, a partir dos conceitos que estabelecem na sociedade os princípios transcendentes da ordem superior. (2020) ITEM 5 – OS CAMINHOS DE LIBERTAÇÃO. 5.1 Introdução. A salvação é o retorno ao corpo divino. A natureza essencial do ser Absoluto superior, Brahman foi estabelecida como sendo a origem, sustento e destino de toda existência, tanto da humanidade como todo ser vivo, e tudo que há no cosmos. Neste entendimento, a percepção da existência de Brahman e o conhecimento experiencial de sua realidade irão promover o retorno à essência divina, e a consequente salvação do fiel, na religião hindu. O hinduísmo entende que a origem de tudo se deu num momento de criação: “a partir da desintegração do corpo de Deus. A salvação é o retorno a esse corpo Divino. O Uno se desdobra na multiplicidade e esta deseja retornar ao Uno.” Nesse entendimento, a vida familiar e social do povo hindu será regrada por valores éticos que buscam promover o retorno do ser humano à experiência integral e una do ser divino. Seja no processo de uma vida, seja numa jornada espiritual que irá transcorrer em vários renascimentos, mediante formas diversas, existindo como divindades e animais, como humanos ou coisas; sendo que o ciclo de mortes e renascimentos é descrito pelo termo samsara. Observe que, “o que prende o ser humano à samsara é a ignorância causada pelo desejo e pelo prazer. Para se libertar destas duas amarras, há de compreender, por si só, sua condição e procurar libertar-se”, sendo uma experiência em que cada fiel será responsável por sua própria jornada espiritual, conforme abraça e vivencia os atos e modelos de vida que irão conduzi-lo na via da libertação. (Joachim Andrade, 2020) “Se o homem fica no múltiplo, permanece vítima da ilusão que esconde a realidade suprema; mas, se praticar o conhecimento e a ascese, pode vencer a avidya, quer dizer, a ignorância ou falso conhecimento, e chegar à experiência de si, que é por sua vez a experiência do Si eterno, imutável e único, o absoluto... Assim se articula a doutrina monista de Shankara, chamada Vedanta.”22 5.2 Caminhos de libertação. Quatro metas da vida: artha, kama, dharma e moksa. 22 Greco. História das Religiões. 2008, P 139 Segundo a concepção hindu de que tudo que há no cosmos surgiu da desintegração do ser divino, nada que existe então, deverá ser desprezado, já que o renascimento do ser essencial poderá ocorrer como ser homem, e fauna ou flora, pois tudo que existe tem a condição de alcançar a salvação, que é o retorno ao Uno divino. Neste sentido, “no delineamento de sua conduta moral, o hinduísmo oferece a possibilidade da moksha, ou libertação de samsara.” (J Andrade, 2020) “Essa religião profundamente variada dá uma ênfase muito grande ao ato de libertar-se do mundo que vemos e na eliminação das amarras que nos prendem ao plano material da existência, chegando a incluir a identidade pessoal.”23 O processo de libertação compreende caminhos distintos para as pessoas seguirem sua particular jornada espiritual no hinduísmo, já que “cada pessoa tem caráter e talentos próprios. Assim, para alguém com tendências filosóficas, o caminho do conhecimento (jnana) é o correto, enquanto para alguém com tendências práticas, é o das ações (karma). A pessoa disciplinada optará pela senda do autocontrole espiritual (yôga) e a devotada, pela da adoração (bhakti).” (Jansen, p. 4, 1995) Nesse contexto religioso de entendimento do modo como a doutrina do hinduísmo concebe a salvação dos fiéis, anotamos alguns princípios que expõe a maneira em que a filosofia espiritual indiana concebe a vida e organiza a existência dos homens em sua jornada de libertação, ao tratar do conteúdo que Heinrich Zimmer chama de: “quatro metas, finalidades ou esferas da vida humana”. Com um destaque para o modo em que os três primeiros fundamentos se relacionam com a existência presente e física da humanidade, isto porque, estes conceitos denominados de “Artha, Kama e dharma, conhecidas como trivarga (grupo de três), são as ocupações mundanas; cada qual implica uma orientação própria ou “filosofia de vida” e, ainda, a cada uma é dedicada uma literatura especial.” E na explicação desse conteúdo acerca da filosofia de vida indiana, anotamos que o primeiro elemento trata das “metas da vida”, segundo a relação do homem com o mundo dos sentidos, o “Artha”, que visa orientar valores e atitudes que devem permear o homem religioso em suas relações com o mundo material, agregando aspectos diversos da cultura do homem, em que se incluem a profissão e comércio, a política e as artes, os objetos do cotidiano e até o prazer diante do belo e das coisas. O segundo elemento trata da vivência e busca do amor e prazer, denominado “Kama”, relacionado a 23 Brandon Toropov e Luke Buckles. Religiões do Mundo. P 205, 2017 uma divindade que move os desejos e paixões encarnadas dos homens, identificado com dimensões espirituais menores e inferiores; sendo que, em meio à retidão sensual marcante entre os cidadãos, este elemento vem direcionar as relações de amor em favor de um fortalecimento da família, em respeito à discrição indiana. O terceiro elemento identifica e desenvolve as regras morais e os valores éticos religiosos, buscando trazer a ordem da dimensão superior transcendente para a vivência familiar e social, em acordo aos ditames da espiritualidade indiana; descrita no “Dharma”, que “é a doutrina dos deveres e dos direitos de cada indivíduo numa sociedade ideal e, como tal, é a lei ou espelho detoda ação moral.” Finalmente, anotamos o conteúdo do quarto e mais importante elemento da religiosidade filosófica existencial indiana; “Moksa”, que se refere à libertação espiritual promovida pela religiosidade indiana, sendo aqui, “considerada a finalidade última, o bem humano definitivo, de modo que está acima e em posição inversa às três anteriores”, posto que “a maior parte do pensamento, investigações, ensinamentos e escritos indianos está consagrada ao tema supremo de liberar-se da ignorância e das paixões oriundas da ilusão do mundo.” (p 38-42, 1986) 5.3 A experiência familiar e social de libertação. Bhaghavad Gita e o varnashrama-dharma. Importa destacar o modo em que o texto sagrado Épico, Bhaghavad Gita, se tornou o conteúdo religioso essencial do movimento de transição da religiosidade védica ortodoxa para a vivência mais pessoal, junto de uma celebração devocional da parte dos fiéis e seguidores hindus. Conforme Kung, o “Gita” pode ser entendido como um dos textos sagrados mais importantes da história das religiões, pois agrega visões espirituais variadas, enquanto consegue integra-las no propósito de oferecer prescrições éticas adequadas ao dia a dia familiar e social, pois relaciona os conceitos sagrados às atitudes cotidianas do homem. Dessa forma, o Bhagavad-Gita impulsiona o fiel do hinduísmo para que viva sua fé amplamente nas atividades familiares e sociais, assumindo uma responsabilidade religiosa pela vida. (p. 90, 2004). Essa transição doutrinária tornou a realidade pessoal, familiar e social do fiel hindu como o ambiente essencial de vivências dos valores religiosos capazes de conduzi- lo, em sua jornada de libertação espiritual. Ocorreu uma valorização da divisão dos papéis familiares e sociais dos indianos, que adquiriu nova importância assim que os distintos caminhos de salvação religiosa na busca de libertação do ser, foram integrados numa jornada existencial que veio a ser relacionada diretamente junto das fases da vida humana. Nessa perspectiva, a doutrina “Ashrama” acabou definindo o modo em que um fiel religioso indiano seria capaz de assumir durante toda sua vida, tanto as funções familiares e sociais sob sua responsabilidade, como igualmente, as que estariam relacionadas às vivências religiosas a que ele deveria se dedicar, a fim de desenvolver a maturidade espiritual de sua existência. Portanto, o fiel hindu irá vivenciar cada uma das classes (varnas) junto da família e sociedade, abraçando os papéis sociais necessários que, assim, irão lhe conduzir na jornada espiritual que irá promover seu amadurecimento religioso; desde a infância como aluno, até a fase adulta em que irá assumir o papel de chefe da família, rumo à aposentadoria e finalmente, para alguns, a experiência final do isolamento. “Os quatros estágios da vida combinam-se com a classe do indivíduo em um conceito que define moralidade e estilo de vida: varnashrama-dharma, literalmente, o ordenamento correto da vida (dharma) de acordo com sua classe (varna) e estágio da vida (ashrama) – uma fórmula de “como viver corretamente... com um conjunto de regras que se aplicam igualmente a todos.”24 O propósito maior dessa orientação social tão estrita busca ordenar uma comunidade em que todos os aspectos de sua existência cotidiana material, e igualmente facetas essenciais da realidade espiritual dos homens, seja regrada e assim, toda existência possa ser regulada de forma proveitosa a todas as pessoas, posto que todos se encontram debaixo da necessidade de ultrapassar as barreiras da realidade material. Neste sentido, a doutrina sagrada denominada de Varnasharama-dharma busca ordenar as múltiplas experiências e funções dos indianos, tanto em suas famílias quanto nas relações em sociedade, no interesse maior de que o homem hindu tenha todas as condições de vivenciar sua história de vida rumo ao amadurecimento espiritual de sua libertação; conforme esse é dado por sua religião. NA PRÁTICA Vimos o modo em que o hinduísmo se tornou uma religião que carrega a identidade de ser considerado “um símbolo de unificação de toda a diversidade indiana”; posto que seu desenvolvimento observou a prática dos rituais vedas, o controle brâmane dos sacerdotes, até alcançar seu título contemporâneo, hinduísmo. “Essa tradição não 24 Fortino. O Livro das Religiões. P 108, 2014 somente conseguiu desenvolver os três conceitos, como também os preservou até os tempos atuais, com novas roupagens de interpretações.” (Joachim Andrade, 2010) Ao definir como fundamentais as experiências religiosas dos atos de culto público e familiares, e valorando grandemente a obediência familiar e social das prescrições éticas e regras sagradas na vida cotidiana do homem hindu; o hinduísmo se consolidou como uma vivência religiosa, e também como um modo vivencial dos indianos, o que fez da religião uma experiência inseparável do estilo de vida edificado na civilização hindu no decorrer dos séculos, até a atualidade. “Os Vedas, considerado no seu todo, é a fonte principal ou o chafariz de toda a cultura da Índia. Suas especulações filosóficas levam ao Vedanta. Suas formas de meditação e oração levam à doutrina Bhakti, seus rituais e sacrifícios levam à escola Mimansa, seus relatórios sobre a criação levam à cosmologia e psicologia do Samkhya, suas descrições sobre extase religioso levam aos sadhanas do Yoga.”25 (D. S. Sarma) Nesse movimento histórico, o hinduísmo prescreve atualmente valores éticos familiares e sociais que são considerados vivências religiosas essenciais para que os fiéis superem a condenação dos ciclos contínuos de morte e renascimentos; samsara, conforme estes são definidos pelos atos de vidas passadas; Karma. Sendo que, a experiência de libertação da ilusão e ignorância dadas pelas experiências do Karma e samsara, ocorre na busca de uma experiência de salvação que entende como válidos os caminhos do conhecimento, da busca interior e da ética social. Caminhos de libertação; moksha, que se tornaram atividades religiosas fundamentais para que o fiel hindu alcance a compreensão experiencial da realidade do ser superior Absoluto da religião; que é o fim último da experiência sagrada do hinduísmo. FINALIZANDO “Considerada como Sanathana Dharma – literalmente, “Religião Eterna”, o Hinduísmo é visto como uma das religiões mais antigas da humanidade. Essa tradição não se vincula a um fundador definido, como ocorre com outras tradições religiosas, como o Budismo ou Cristianismo.” (J. Andrade)26 25 D. S. Sarma. Hinduísmo e Yoga. 1967 26 Joachim Andrade. Quando o Himalaia flui no Ganges. P 41, 2010 Hinduísmo é o termo que identifica a fundamental, ortodoxa e ampla religião indiana, sendo importante perceber que as diversas atividades sagradas praticadas pelos seguidores atualmente, vieram a ser formatadas através de vivências e conceitos que surgiram, se desenvolveram, foram transformados e permanecerão válidos num extenso período de quase quatro mil anos, desde o ano três mil a.C. até o ano 900 d.C.; quando foram consolidados no Vedanta. Desde as vivências espirituais mais primitivas dos habitantes da Índia ao redor do terceiro e segundo milênios a.C., os dravidianos, até a chegada dos arianos com sua cultura própria, no período do século 16 a.C., e a partir daí, com uma organização de celebrações voltadas aos sacríficos em meio ao entoar de hinos, até passar por um período de fortalecimento da autoridade dos sacerdotes, junto de uma posterior dedicação à reflexão e na busca de um aprofundamento filosófico da religião, entre os séculos oitavo e sexto; eis como se organizou na história o vedismo e posteriormente, o brahmanismo na Índia. “Os livros sagrados que seguiram do Vedas são os Aranyakas, Puranas, Upanishads, Épicos e, finalmente, o Bhagavad Gita. Este último é tão aclamado quanto o Novo Testamento aos cristãos;finaliza o teste da experiência direta, sendo um relato da veracidade do conhecimento empírico dos textos anteriores.”27 Desde o século oitavo com os livros Upanishads trazendo um novo e fundamental olhar reflexivo à religião, tomou forma um importante movimento filosófico e também de busca interior e meditativa no hinduísmo. Até que, finalmente, nos últimos séculos a.C. e primeiros séculos da era Cristã, a religião do hinduísmo veio se consolidar em seus fundamentos atuais, a partir da prática de celebrações mais pessoais e devotas. As quais tiveram no livro Bhagavad Gita o seu texto sagrado essencial de transição, vindo a valorizar a experiência religiosa de cultos familiares e populares, através de ofertas dedicadas em gratidão e consagradas às divindades, sendo que estas vivências popularizaram a religião na Índia; auxiliando no modo como essa experiência sagrada seguiu sendo praticada até alcançar quase um bilhão de fiéis. “Observando-se de perto, podemos perceber que os caminhos apresentados pelo Hinduísmo dão ênfase mais à pessoa humana e suas potencialidades. O ser humano escolhe seu caminho, ele faz 27 J. Andrade. Quando o Himalaia flui no Ganges. P 45, 2010 seus projetos e planos e, por fim, é o responsável por sua vida e por sua libertação.”28 REFERÊNCIAS ANDRADE, Joachim. Quando o Himalaia flui no Ganges. A influência da Geografia do subcontinente indiano sobre a configuração do Hinduísmo. – Interações – Cultura e Comunidade / Uberlândia / v.5 n.7 / p.39-58 / jan./jun. 2010 ANDRADE, J. 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