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Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015 631
Intensidade do trabalho:
questões conceituais e metodológicas
Sadi Dal Rosso
& Ana Cláudia Moreira Cardoso*
Resumo: O objeto deste artigo é a discussão de elementos conceituais e metodológicos envolvi-
dos com o fenômeno da intensidade do trabalho. Pesquisas realizadas em diversos países mos-
tram que a intensificação é um componente estruturante do trabalho na contemporaneidade e 
essa tendência tem a capacidade de se prolongar por tempo indefinido sob o paradigma da hege-
monia neoliberal que continua a reger as relações econômicas mundiais. O mesmo consenso não 
prevalece em relação a definições conceituais do fenômeno, seus correspondentes pressupostos 
teóricos e suas implicações metodológicas. A análise desta falta de consenso constitui o objetivo 
principal deste artigo. Para atender a este objetivo, será realizada uma revisão da literatura sobre 
a formulação da teoria do valor trabalho e de pesquisas recentes sobre o tema. A discussão con-
ceitual e metodológica ancora-se na prática de levantamento de informações por meio de surveys 
da European Working Conditions Survey (EWCS), cujos questionários e relatórios serão analisados 
no tocante à objetividade e subjetividade, à relação das práticas empíricas com pressupostos con-
ceituais, entre outros. Este ensaio de crítica conceitual e metodológica tem em vista estabelecer 
parâmetros para pesquisas necessárias ao contexto brasileiro, dadas, especialmente, as implica-
ções da intensificação laboral sobre as condições de saúde de quem trabalha.
Palavras-chave: teoria do valor trabalho; intensidade laboral; conceitos; metodologia.
Introdução
O 
cerne da discussão deste artigo está focado no alcance da conceituação e or-
ganização das práticas do estudo empírico do fenômeno da intensidade labo-
ral. Pesquisas levadas a termo em diversos países são praticamente unânimes 
em fornecer evidências sobre a existência de um processo de crescente intensificação 
do trabalho contemporâneo. Surveys realizados nos países da União Europeia nos úl-
timos vinte anos pela Fundação Europeia para o Desenvolvimento das Condições de 
Vida e de Trabalho posicionam-se de maneira categórica a respeito da tendência do 
fenômeno do grau da intensidade no contexto do trabalho contemporâneo. 
A intensidade, tal como percebida pelos empregados, aumentou 
entre 1995 e 2000. Esta tendência não pode ser totalmente explica-
da pela disseminação de constrangimentos objetivos das cadências 
impostas pela organização do trabalho (Boisard et alii, 2003: 67). 
No relatório de outro survey, conclui-se que “não há elementos para a hipótese de 
que a intensificação do trabalho tenha cessado ou que esteja diminuindo” (Burchell 
* Sadi Dal Rosso é 
professor titular da 
Universidade de 
Brasília (UnB), Ph. D. 
(University of Texas 
at Austin). ; Ana Cláudia 
Moreira Cardoso 
é pesquisadora 
do Departamento 
Intersindical 
de Estatística 
e de Estudos 
Socioeconômicos 
(Dieese), doutora 
(Universidade de São 
Paulo e Paris VIII). 
.
Recebido: 20.07.13
Aprovado: 07.02.14
Gisele Higa
Texto digitado
DOI: 10.1590/S0102-69922015.00030003
Gisele Higa
Texto digitado
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et alii, 2009: 59). Mais recentemente, outra vertente de análise reforça esta tese: “o 
trabalho ficou mais intenso, mas os trabalhadores labutam durante menos horas” 
(Parent-Thirion et alii, 2012: 128). A análise do survey de 2010 permite aos seus 
autores também afirmarem que os “riscos psicossociais provavelmente cresceram 
com o aumento da intensidade” (Parent-Thirion et alii, 2012: 129). Elevada a inten-
sidade do trabalho, agravam-se a vulnerabilidade e os riscos para a saúde do traba-
lhador, não apenas no terreno físico como também no campo mental e psicológico:
Diferentes estudos não definem o conceito da intensidade do tra-
balho de forma similar. Contudo, algumas formulações são consis-
tentes e não dependem da forma específica pela qual a intensidade 
é mensurada. Essa perspectiva sugere que a elevada intensidade 
laboral representa um alto custo. Em primeiro lugar, pode causar 
acidentes nos locais de trabalho; depois, está relacionada com 
condições de trabalho ruins, capazes de comprometer a saúde dos 
trabalhadores. Constrangimentos de cadência definidos na organi-
zação do trabalho estão associados à crescente probabilidade de 
os trabalhadores sofrerem reveses tanto em relação à saúde física 
como à sua integridade psicológica (Burchell et alii, 2009: 3 e 59).
Essas conclusões convergentes formuladas pela instituição possivelmente de maior 
respeitabilidade internacional na pesquisa das condições de trabalho não encon-
tram consenso, como visto, quando se trata de conceber e tratar metodologicamen-
te o conceito. O objetivo deste artigo consiste em analisar esta falta de consenso e 
procurar diminuir o hiato entre os diferentes entendimentos sobre a matéria. Para 
desenvolver o ensaio, lança-se mão, na primeira parte, de análise da literatura, em 
particular da formulação originária da teoria do valor trabalho, quando o conceito 
de intensidade ganhou espaço teórico significativo; e da literatura contemporânea 
composta de relatórios de pesquisa e artigos publicados.
A segunda parte do ensaio consiste em discutir decisões metodológicas tomadas 
para o estudo da intensidade do trabalho. A discussão assume como objeto a prá-
tica empírica definida para a realização dos já mencionados European Working 
Conditions Surveys (EWCS). Questionários e relatórios desses surveys serão alvo de 
análise crítica no que respeita à definição da noção de intensidade, bem como a 
teorização sobre seus determinantes e, consequentemente, em relação às decisões 
empíricas no tocante à forma das perguntas, às alternativas estabelecidas para as 
respostas dos entrevistados, à implicação de subjetividade ou objetividade, à abran-
gência exaustiva ou não das alternativas de respostas e itens semelhantes.
A leitura crítica que fazemos sobre o conceito de intensidade e sobre as decisões 
metodológicas para a pesquisa empírica contribui ainda para os estudos altamente 
necessários que podem ser levados a termo no ambiente laboral brasileiro, por-
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quanto temos observado crescente interesse, notadamente por parte de jovens 
pesquisadores, em relação ao fenômeno da intensidade, tão antigo quanto a exis-
tência do trabalho e tão jovem quanto o desejo de pesquisadores em decifrá-lo.
Intensidade do trabalho na teoria do valor
Parte-se do pressuposto de que intensidade é uma noção geral aplicável a todas as 
relações de trabalho e não apenas ao sistema assalariado. Não é raro, entre campo-
neses e pequenos produtores familiares, o trabalho ser muito intenso no período 
da colheita para prevenir possíveis perdas com a chegada das chuvas. Em regimes 
de escravidão, feitores estabeleciam univocamente práticas específicas para tornar 
mais denso o trabalho dos trabalhadores sob o seu comando. Com o capitalismo, o 
trabalho é intensificado sistematicamente por meio de estratégias organizativas e 
de gestão pesquisadas, testadas e implementadas pelas empresas.
Marx (1975) trata o fenômeno histórico da intensidade laboral por meio da introdu-
ção da maquinaria na indústria e em outros setores de atividade. Máquinas, escre-
va-se claramente, elevam não apenas a produtividade como também a intensidade 
do labor, e se alcança este efeito por meio de duas operações, o que explica o ca-
ráter sistemático da elevação da intensidade no modo de produção capitalista. Pri-
meiramente, as máquinas aumentam a velocidade média das atividades desempe-
nhadas pelos trabalhadores; depois, reclamam uma nova organização do processo 
de trabalho no chão de fábrica e nos locais de trabalho em geral. Assim, um mesmo 
trabalhador pode ser alocado no controlede uma ou de diversas máquinas, simul-
taneamente. Esta hipótese da relação entre inovação nos processos tecnológicos e 
reflexo sobre a organização do trabalho é uma das mais fecundas para o estudo da 
intensidade laboral e modernamente ela foi atualizada por Francis Green (1999).
Até este ponto, examinou-se o processo histórico intensificador, mas não o fenô-
meno chamado de intensidade. Marx emprega cinco termos para identificar a in-
tensidade laboral, a saber: “gasto aumentado do trabalho em um mesmo intervalo 
de tempo”, “elevada tensão da força de trabalho”, “preenchimento dos intervalos 
dos dias de trabalho”, “condensação” e “densidade laboral” (Marx, 1975, I: 409). 
Estas diferentes expressões descrevem a intensidade laborativa do ponto de visa do 
sujeito trabalhador, da força de trabalho, da mão de obra e não propriamente do 
resultado almejado ou da tecnologia, inovação, organização e gestão empregadas. 
Em segundo lugar, o trabalhador individual ou coletivo despende mais energia, o 
que transparece com toda a clareza na expressão “gasto aumentado de trabalho” e 
em todas as demais imagens do texto. Para separar conceitualmente intensidade de 
outros fenômenos presentes no processo laboral, estabelece-se a condição de que 
este “gasto aumentado de trabalho” ocorra “em um mesmo intervalo de tempo”. 
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Pelo critério de “em um mesmo intervalo de tempo”, o conceito de intensidade dis-
tingue-se do conceito de alongamento de jornada, bem como permite o raciocínio 
de que intensidade é compatível com redução da jornada laborativa. Em terceiro 
lugar, a ideia subjacente transmitida é de que o “gasto aumentado de trabalho” tem 
por objetivo alcançar a ampliação qualitativa ou quantitativa dos resultados do tra-
balho, materializados em mercadorias e expressos em valores. Elevar a intensidade 
laboral não se entende como ato sádico dos gestores, o que pode ser verdadeiro 
pelo ângulo da psicanálise, e sim como mecanismo ou processo colocado em mar-
cha com o objetivo de retirar o maior resultado possível da atividade dos trabalha-
dores. No sistema capitalista – e outros modos de produção que são acumuladores 
–, o grau da intensidade laboral desempenha a função de um poderoso instrumento 
de acumulação. Como é mais trabalho, também é mais valor. Com o intuito de mar-
car lugar, destaca-se ainda, e em quarto lugar, que a expressão “gasto aumentado 
do trabalho em um mesmo intervalo de tempo” é geral, abstrata, pretendendo al-
cance conceitual, sem fixar-se a uma época histórica ou a uma forma específica de 
organização do trabalho.
O emprego de cinco termos, contendo descrições, imagens e metáforas – tais como 
“densidade”, “condensação”, “tensão” –, pode ser interpretado como superabun-
dância de expressões para descrever o mesmo fenômeno, ou ainda como certa di-
ficuldade em precisá-lo conceitualmente, dada a quantidade de condições a que 
se refere e a possibilidade de construção de diferentes indicadores, como se tem 
observado no curso da história, tais como: “esforço” (Green, 2000), “carga labo-
ral” (Durand & Girard, 2002; Bartoli, 1980); “velocidade”, “prazos” (Gollac & Volkoff, 
1996; Parent-Thirion et alii, 2012), “tempos e movimentos” (Taylor,1967), “poliva-
lência” (Ohno,1989), “acumulação de tarefas e funções” (Dal Rosso, 2008), “passo 
do trabalho” (Boisard et alii, 2003; Burchell et alii, 2009; Parent-Thirion et alii, 2012) 
e outros mais, empregados em diferentes pesquisas de campo.
Ao buscar a convergência no entendimento do fenômeno, a formulação marxista 
apresenta dois elementos que podem ser interpretados como inquestionáveis no 
âmbito do sistema capitalista: “gasto aumentado de trabalho no mesmo espaço de 
tempo” e o objetivo deste dispêndio, isto é, alcançar maiores resultados incorpo-
rados em mercadorias e expressos em valor. A perspectiva marxiana da análise da 
intensidade situa-se no âmbito da teoria do valor, teoria reconhecidamente com-
plexa, hoje ratificada pelo acirrado debate sobre trabalho material e imaterial (cf. 
entre outros, Amorim, 2012; Antunes, 1999) e trabalho produtivo e não produtivo 
(Dal Rosso, 2013). Entretanto, concentrar a pesquisa em mais trabalho (“gasto au-
mentado do trabalho em um mesmo intervalo de tempo”) e em mais mercadoria 
ou mais valor (o objetivo pelo qual o trabalho é tornado mais intenso) parece uma 
estratégia promissora.
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Para tornar o conceito de intensidade explícito e inquestionável, Fernex organiza o 
raciocínio com vários ceteris paribus (número de trabalhadores, jornada, tecnolo-
gia, conforme aplicável) e escreve:
Um crescimento da produção no curso de um período dado para 
um número de homens-hora determinado, pode resultar de três fa-
tores: 1. ou resulta do aumento da produtividade do trabalho, se a 
quantidade de trabalho dispensado não mudou; 2. ou é proveniente 
estritamente de uma intensificação do trabalho, se todas as circuns-
tâncias permanecerem iguais, o único elemento suscetível de expli-
car esse crescimento sendo o aumento da quantidade de trabalho 
contido no mesmo número de homens-hora; 3. ou existe a combina-
ção dos dois efeitos, e esta situação parece ser a mais plausível, mas 
também a que apresenta maior dificuldade (Fernex, 2000: 10-11).
O autor distingue corretamente produtividade e intensidade. Sua estratégia “de trás 
para a frente” consiste em verificar se ocorreram, em determinado período, mudan-
ças nos resultados do trabalho, mantidas constantes outras variáveis, e atribuir tais 
mudanças à produtividade, à intensidade ou ao efeito combinado entre ambas. Em 
termos lógicos, a estratégia é consistente. Ajusta-se mais, entretanto, a ambientes 
restritos, como estudos de casos em fábricas, fazendas, empresas comerciais, servi-
ços e outros ramos da atividade econômica, por serem suscetíveis a abordagens et-
nográficas e qualitativas (ver o interessante livro de Sguissardi & Silva Júnior, 2009). 
A estratégia parece menos aplicável, no entanto, para surveys de metrópoles, de 
alcance nacional ou transnacional.
Ante dificuldades de encontrar um indicador inquestionável para “intensidade”, Car-
doso apresenta uma saída inventiva: defende a tese de um conceito em construção. 
Estamos diante de um conceito ainda em construção, dada a sua 
extrema complexidade, associada à variedade de causas e formas 
de manifestação (Cardoso, 2013: 9). 
E acrescenta à lista dos fatores a dificultarem a precisão 
a proximidade com outras noções, como produtividade, carga de 
trabalho, número de trabalhadores, horário de trabalho ou ritmo 
de trabalho (Cardoso, 2013: 9). 
Define a autora o conceito de intensidade com o qual opera: 
intensidade do tempo de trabalho significa o esforço físico, psíqui-
co e mental dos trabalhadores para darem conta das exigências do 
posto, durante o tempo de trabalho (Cardoso, 2013: 11). 
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Intensidade é o esforço efetuado pelos trabalhadores para atender aos constrangi-
mentos da organização do trabalho durante uma unidade de tempo.
Trata-se de um argumento em favor de uma concepção maleável e não fechada de 
intensidade, capaz de incorporar aspectos novos e modificações das condições de 
trabalho que afetam o processo laboral. A mesma noção é desenvolvida por Jégou-
rel, que conceitua intensidade como “nível de esforço fornecido pelos trabalhado-
res durante o tempo de trabalho” (Jégourel, apud Cardoso, 2013: 11).
O conceito de intensidade do trabalho segundo os 
European Working Conditions Surveys (EWCS)
Apresenta-se, por fim, o conceito de intensidade contido nos importantes estudos 
empíricos sobre as condições de trabalho levados a efeito a cada cinco anos pela 
Fundação Europeia para o Desenvolvimento das Condições de Vida e de Trabalho. 
Os trabalhos de campo e os relatórios de cada survey são realizados porequipes 
de pesquisadores, cuja composição nem sempre permanece a mesma, permitindo, 
assim, algumas modificações, seja no entendimento dos fenômenos, seja na análise 
realizada com os dados coletados.
Instituída pelo Conselho Europeu, em 1975, com o objetivo de contribuir para a 
melhoria das condições de vida e trabalho na Europa, a fundação de caráter tripar-
tite realiza levantamentos (surveys) a cada cinco anos entre os países membros da 
União Europeia. A sistematização deste trabalho foi efetiva a partir de 1991.
Assentem os pesquisadores que, a partir da década de 1980, um processo de inten-
sificação laboral ocorreu nos países industrializados. Inicialmente de forma discreta, 
as investigações converteram-se aos poucos em um significativo conjunto de pes-
quisas a aprofundarem o conhecimento empírico sobre a questão, desenvolvendo, 
de alguma forma, seus pressupostos teóricos e colocando à prova definições empí-
ricas do objeto; a descreverem um importante fenômeno da sociedade; e, ainda, a 
diagnosticarem aspectos de um problema social sobre o qual os países membros da 
União Europeia necessitavam intervir.
A publicação intitulada Working conditions in the European Union: working time and 
work intensity (European Foundation, 2006) apresenta elementos esclarecedores 
do avanço da pesquisa sobre intensidade do trabalho na Europa e nos demais países 
industrializados. 
Abundante evidência sobre a intensificação do trabalho em países 
desenvolvidos durante 1980 e 1990 está disponível. Contudo, em 
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muitos países, medidas satisfatórias de intensidade não estão dis-
poníveis (Askénazy et alii, 2006). 
Com a utilização de várias metodologias em diferentes disciplinas, 
muitos estudos chegaram às mesmas conclusões em relação à 
crescente intensidade laboral em diversos países, incluindo países 
europeus, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelân-
dia (Coninck & Gollac, 2006).
Contudo, em muitos países, medidas completamente satisfatórias para o combate 
aos efeitos deletérios da intensidade trabalho não estão disponíveis. Na década de 
1990, os EWCS forneceram incontestáveis evidências sobre essa intensificação, no 
âmbito da União Europeia (Paoli & Merllié, 2001; Green & Mcintosh, 2001; Burchell 
et alii, 2002). Foi divulgado como essa intensificação do trabalho ocorreu no Reino 
Unido, a partir da década de 1980 e na primeira parte da década de 1990 (Green, 
1999); na França, durante a segunda metade da década 1980 e toda a década de 
1990 (Gollac & Volkoff, 1996); e também em outros continentes, como na Austrália 
e na Nova Zelândia, durante a década de 1990 (Allan, O’Donnell & Peetz, 1999); nos 
Estados Unidos, especialmente durante a década de 1980 (Askénazy, 2002; Burchell 
et alii, 2009: 25).
O sumário apresentado recupera a produção bibliográfica dos países desenvolvidos. 
Para que os leitores não tenham uma visão incompleta ou falsa, vale acrescentar 
os estudos realizados no Brasil e em outros países em desenvolvimento a partir da 
década de 1990 (Sguissardi & Silva Júnior, 2009; Barbosa, 2009; Pereira, 2010; Car-
doso, 2009; Dal Rosso, 2008) e mesmo antes, se tomada como referência a tese da 
superexploração do trabalho (Marini, 1973).
É frequente a afirmação de que há diferentes maneiras de entender conceitualmen-
te “intensidade”. “Diferentes estudos e grupos interessados não definem intensida-
de do trabalho como conceito de maneira completamente similar” (Burchell et alii, 
2009: 3 e 59). Noutro lugar, a dificuldade conceitual é definida 
como intensidade laboral, noção empregada comumente, [...] não 
há uma definição simples devido à variedade de perspectivas dos 
atores e às formas de trabalho (Burchell et alii, 2009: 7), 
deixando o leitor ante um horizonte sem perspectivas quanto a um conceito unitá-
rio e abrangente. Nos surveys EWCS de 2005 e 2010, a intensidade é definida opera-
cionalmente como “pace of work”, expressão que pode ser traduzida em português 
como passo, andar, marcha, ritmo do trabalho, cadência e que remete à organização 
do trabalho. Não é carga total, nem esforço físico, mental ou afetivo, nem gasto 
aumentado do trabalho, nem mais trabalho ou outras definições presentes na lite-
ratura. É a cadência do trabalho, simplesmente.
 
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A cadência do trabalho é determinada por fatores – também chamados de cons-
trangimentos (constraints em inglês, contraintes em francês) – historicamente de-
senvolvidos no mundo industrial e do mercado. 
A cadência de trabalho dos empregados é definida por vários 
constrangimentos que podem ser agrupados em duas categorias: 
constrangimentos industriais [...] e constrangimentos de mercado 
(Boisard et alii, 2003: 67). 
Tais grupos de fatores serão sistematicamente apresentados logo adiante, ao se 
proceder à análise da parte empírica. É importante desde já esclarecer que os fa-
tores de constrangimento industriais da cadência do trabalho são definidos pela 
velocidade das máquinas e pelas metas de produção ou desempenho; e os fatores 
de mercado pelo controle hierárquico das chefias e pelas demandas de clientes e 
do mercado.
Em outros lugares onde os surveys foram realizados, a intensidade é também con-
cebida e analisada a partir dos relatos dos empregados, com destaque para a alta 
frequência de velocidade, os prazos extremamente exíguos e a falta de tempo (Boi-
sard et alii, 2003: 67).
Feito este percurso pela literatura em busca de um conceito unívoco de intensida-
de, pode-se concluir que o “gasto aumentado do trabalho” constitui um bom ponto 
de partida para compreender o conceito de intensidade do tempo de trabalho. Tal 
definição está articulada, entretanto com a respectiva teoria do valor. Dessa forma, 
o gasto aumentado do trabalho tem em vista a produção de mais mercadorias e 
de mais valores. Outras concepções de intensidade como a “cadência do trabalho” 
são entendidas como resultados de fatores históricos prevalentes na indústria e no 
mercado. Mas na história da sociologia do trabalho, os processos intensificadores 
foram construídos nas escolas mundiais de organização do trabalho que moldaram 
o labor décadas a fio e, em consequência de sua adoção em escalas nacionais e 
globais, ficaram entendidos quase como elementos naturais do trabalho em geral. 
Assim podem ser interpretadas as propostas de Taylor, Ford e Ohno – apenas para 
citar nomes inquestionavelmente reconhecidos, por organizarem e gerirem o traba-
lho de milhares ou milhões de assalariados nas empresas – como intensificadoras 
do trabalho. 
Essas propostas intensificadoras confrontam-se com as práticas usuais de trabalho 
e com a resistência dos trabalhadores. A capacidade de implementação de mais 
trabalho contida nestas propostas vai-se perdendo com o passar do tempo ante 
a resistência organizada dos movimentos. Sucedem-se grandes crises econômicas, 
que recolocam as condições e a organização do trabalho, entre as quais a intensi-
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dade, nos patamares almejados pelo capital. Diante disso, a ideia de conceito em 
construção (Cardoso, 2013) ou de conceituação aberta capaz de captar os contor-
nos do fenômeno, segundo Jégourel, são maneiras de dar conta de fatores novos, 
provenientes do emprego da tecnologia e da inovação, de formas organizativas ou 
de outra fonte de determinantes na estrutura social.
Aspectos metodológicos
da estratégia empírica de pesquisa sobre intensidade
Os EWCS talvez sejam as principais tentativas já realizadas de mensuração empíri-
ca do fenômeno da intensidade laboral. Daí a relevância de apresentar elementos 
centrais deste esforço, sobrepondo críticas, se necessário. Cinco surveys realizados 
a cada cinco anos representam um formidável esforço de pesquisa.
“Work intensity is difficult to measure” (Parent-Thirion et alii, 2012: 53). Nãosem 
razão esse postulado perpassa os relatórios de quase todos os surveys desde seu 
início, em 1991. Com o passar dos anos, firmou-se o entendimento de que a inten-
sidade é compreendida como a cadência do trabalho.
Os EWCS empregam um esquema metodológico que combina elementos objetivos 
e subjetivos como forma de capturar o entorno do fenômeno da intensidade e suas 
dimensões. Duas questões são formuladas.
A primeira questão construída com este propósito objetivo é voltada para a capta-
ção das fontes das pressões, dos constrangimentos, das forças que representam os 
determinantes da intensidade. A questão 46 do EWCS 2010 é assim redigida:
No geral, a cadência (o ritmo) de seu trabalho depende, ou não, 
de...?
q o trabalho feito pelos colegas;
q	as demandas diretas de pessoas tais como fregueses, passagei-
ros, estudantes, pacientes etc.;
q	as metas numéricas de produção ou as metas de desempenho;
q	a velocidade automática de máquinas ou movimento de um 
produto;
q	o direto controle do chefe (European Foundation, 2012: 17).
As questões são respondidas pelo entrevistado com “sim” ou “não” e por isso car-
regariam um sentido objetivo, com a pretensão de tornar a pergunta inquestionável 
ante imputações de subjetivismo. Há de se relativizar tal pretensão, pelas razões 
que seguem. As respostas às perguntas são dadas pelos trabalhadores entrevista-
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dos, ato que inexoravelmente macula a presunção de objetivismo com traços de 
subjetivismo. Trata-se do dilema da subjetividade na objetividade. A pesquisa pre-
tende a objetividade e toma todas as providências para tal. Mas, para ter aces-
so às informações que só o trabalhador detém, necessita estabelecer um contato 
intersubjetivo, um diálogo entre dois sujeitos desconhecidos – o entrevistador e 
o entrevistado – no ato artificial da realização da entrevista. Toda pesquisa que en-
volve manifestação do sujeito entrevistado carrega uma marca de subjetivismo. Tal 
dilema da subjetividade na objetividade da pesquisa social pode provir – em entre-
vistas realizadas com o objetivo de preencher questionários de surveys – do sujeito 
entrevistado que realiza o ato de avaliação sobre a pergunta feita e escolhe uma 
determinada alternativa de resposta; da relação que se estabelece entre o entre-
vistador e o entrevistado, que são dois desconhecidos que se encontram em uma 
relação puramente funcional; e, por último, da própria atuação do entrevistador.
Esta marca da subjetividade na busca da objetividade é como se fosse o pecado 
original da pesquisa social por meio de entrevistas. A subjetividade está inexoravel-
mente presente. Ao pesquisador resta apenas tentar reduzir o efeito da subjetivida-
de em sua pretensão de objetividade. Se, em determinados experimentos da física 
na qual o pesquisador realiza uma observação sobre elementos da natureza, sua 
presença interfere na pesquisa (Prigogine & Stengers, 1984), o que se pode dizer 
nos estudos sociais que empregam entrevista como técnica de coleta de dados e 
colocam dois sujeitos, carregando todos os seus universos, frente a frente, em um 
diálogo inteiramente construído apenas com a finalidade de produzir informações? 
As marcas dos sujeitos invadem a relação e dão a entender que o alvo da completa 
objetividade não pode ser atingido pela estratégia formulada, se é que isso seja de 
alguma forma alcançável. Pergunta-se, ademais, se seria possível ativar mecanismos 
de vigilância sobre os fatores que induzem a subjetividade na pretensão de objeti-
vidade. Os surveys são menos sensíveis, quase indiferentes, à vigilância metodoló-
gica, dado sua natureza de levantamento de dados por meio de grandes amostras. 
Podem, entretanto, ser submetidos aos controles da vigilância epistemológica em 
alguns aspectos, como se arguirá em relação à não exaustão de alternativas na clas-
sificação dos fatores de constrangimento das cadências do trabalho.
Chama a atenção também, na pergunta 46 do questionário, o fato de os deter-
minantes serem exteriores ao trabalhador. O próprio trabalhador não é entendido 
como exercendo qualquer papel na determinação do andamento de seu trabalho. 
É uma conjectura paradoxal. A ética individual e a ética coletiva, bem como a socia-
lização anterior, não são contempladas como fatores relevantes nas alternativas de 
resposta, uma vez que não são teoricamente concebidas como tal. A alternativa de 
o indivíduo cadenciar o seu próprio ritmo ao trabalhar fica excluída do âmbito da 
pesquisa. Essa decisão epistemológica – de não considerar o indivíduo como fator 
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de constrangimento – deve ser avaliada como forma de empobrecimento do levan-
tamento de dados e um problema no tratamento conceitual, ainda que a partici-
pação do indivíduo apareça, mais adiante, em outras perguntas, como aquelas que 
tratam da autonomia. Observou-se, entre cortadores de cana que morreram por 
excesso de trabalho, que a ética de ser o melhor, o mais eficiente em tudo, o cam-
peão, pode ter exercido papel no desfecho fatal. Por não ter como escolha escapar 
do cumprimento das metas estabelecidas – pois esta é a regra geral das fazendas de 
cana-de-açúcar –, o trabalhador extravasa sua força e habilidade até o limite – ser 
campeão –, o que pode colocar em risco a própria vida (Costa, 2006). Parece assim 
imprescindível o questionário da pesquisa oferecer uma alternativa a contemplar o 
papel do indivíduo. Que as forças determinantes da cadência do trabalho sejam ex-
teriores ao trabalhador representa um pressuposto de uma prática de pesquisa na 
qual uma teoria de intensidade está expressa em ação (Bourdieu, Chamboredon & 
Passeron, 1983: 59 e 88). Como já visto, há uma avaliação histórica sobre os deter-
minantes industriais e de mercado. Tais argumentos são insuficientes, salvo melhor 
juízo, para excluir o papel do indivíduo.
Outro questionamento consiste em inquirir se as cinco alternativas de respostas são 
exaustivas ou não. Em alguns documentos é acrescentada outra alternativa de res-
posta, que são as “normas”, importantes para o entendimento do serviço público, 
um setor que atua regido por normas. Há ainda outras dimensões não contempla-
das pela formulação das perguntas e de suas alternativas de respostas.
Para ilustrar o rigor da formulação da pergunta, são apresentados os resultados 
obtidos a partir de sua aplicação no survey de 2010:
No geral, 11% dos empregados não relatam qualquer determinan-
te da cadência do trabalho, 58% reportam um ou dois determinan-
tes, e 37% relatam três ou mais (Parent-Thirion et alii, 2012: 46).
A proporção de trabalhadores cuja cadência no trabalho é deter-
minada por três ou mais fatores externos aumentou nos últimos 
20 anos, embora este aumento pareça ter-se nivelado a partir de 
2005 (Parent-Thirion et alii, 2012: 53).
Este achado é consentâneo com outros resultados (Gollac & Volkoff, 1996) que 
apontam para um processo de crescimento da intensificação do trabalho desde os 
anos 1980.
Outro é o objetivo da questão 45 do mesmo questionário: procura captar a intensi-
dade percebida pelo trabalhador. Essa depende de sua avaliação, donde seu sentido 
mais subjetivista. A pergunta é assim formulada:
642 Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015
E seu emprego envolve:
a. trabalhar em velocidade muito elevada;
b. trabalhar em prazos apertados (European Foundation, 2012: 17).
São colocadas sete alternativas ao respondente em uma escala de graduação, conhe-
cida como Escala Nórdica, que vai de “todo o tempo” a “nunca” e mais cinco posições 
intermediárias assim formuladas: “quase todo tempo”, “em torno de 3/4 do tempo”, 
“em torno de metade do tempo”, “em torno de 1/4 do tempo”, “quase nunca”. O obje-
tivo da pergunta é captar a intensidade do trabalho, segundo a interpretação atribuída 
pela pessoa que trabalha. Se a resposta for “nunca”, nãoexistiria processo de intensi-
ficação do trabalho em curso de execução percebido pelo trabalhador. Se a resposta 
for “todo o tempo”, estar-se-ia diante do processo. Esta pergunta faz concessões ao 
subjetivismo e às possibilidades de erro por parte do trabalhador entrevistado. O pro-
blema maior consiste na dificuldade em garantir que sua avaliação seja precisa, isso 
devido, entre outros fatores, ao número de categorias de respostas.
Para não ficar em termos puramente formais, são apresentados resultados alcança-
dos na história dos surveys realizados.
Os achados mostram que desenvolvimentos no tempo dão alguma 
razão para preocupação. O indicador subjetivo de intensidade de 
trabalho, que descreve a experiência dos trabalhadores com altas 
demandas, revela um crescimento generalizado de intensidade de 
trabalho na maioria dos países europeus nas duas últimas décadas. 
Ainda que este aumento pareça diminuir a partir de 2005, 62% 
dos trabalhadores no 5o EWCS relatam que trabalham com prazos 
apertados (pelo menos um quarto do tempo); e 59% relatam que 
trabalham em alta velocidade (pelo menos um quarto do tempo) 
(Parent-Thirion et alii, 2012: 53).
Ao comparar as questões 46 e 45 do questionário, compreende-se a diferença de 
forma pela qual as perguntas e as respostas foram construídas. A questão 46 (deter-
minantes da cadência do trabalho) admite apenas respostas “sim” e “não”, estratégia 
que minimiza a possibilidade de erros dos respondentes. Tal procedimento enxuto 
conta pontos em favor da objetividade nas respostas. Não elimina totalmente os er-
ros, mas certamente diminui as possibilidades de equívocos. Já a questão 45 (intensi-
dade percebida mediante avaliação do indicador de velocidade, de prazos restritos e 
de falta de tempo) requer que o entrevistado, não só responda “sim” ou “não”, como 
ainda defina uma gradação de sete possibilidades. A probabilidade de erros de julga-
mento do entrevistado é evidentemente maior, em virtude do número de posições 
ante as quais é convidado a se manifestar. É mais fácil que o entrevistado erre a ava-
liação própria entre “em torno de metade do tempo” e “em torno de 3/4 do tempo” 
Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015 643
do que quando responde “sim” ou “não” na avaliação de o chefe exercer algum papel 
em relação à cadência do trabalho. Deduz-se que a questão 46 é mais objetiva do que 
a questão 45. Entretanto e por outro lado, nenhuma delas – nem mesmo a enxuta 
questão 46 –, consegue esquivar-se da sujeição a um lastro subjetivo. A subjetividade 
manifesta-se pelo “sim” e pelo “não”, como também pelo rol da escala de gradações. 
Assim sendo, não há como a questão 46 esquivar-se da subjetividade. Coloca-se então 
o problema sobre outras possibilidades de formulação estratégica da pergunta.
A pergunta 45 limita a noção de intensidade a dois indicadores inquestionáveis: grau 
de velocidade imposta ao trabalho e prazos apertados para a realização de tarefas. 
A forma de medir intensidade por meio desses indicadores apresenta um grau de 
durabilidade e permanência muito grande, presente nos questionários dos surveys 
desde de 1996. Formam um precioso e inalienável trunfo da pesquisa. A crítica que 
pode ser feita não se refere aos indicadores como tal e sim à sua insuficiência para 
captar a totalidade dos aspectos que a noção de intensidade pode abarcar. Veja-se 
o indicador de polivalência. Velocidade, prazos e tempo insuficiente não cobrem 
os espaços conceituais que a noção de polivalência aporta ao processo laboral. Se 
velocidade e prazo podem estar presentes em situações em que a polivalência se 
faz presente no labor, esta, todavia, acrescenta novos ingredientes, representados 
pelo encargo de diversas tarefas, acarretando o desdobramento do trabalhador na 
execução de várias ações simultâneas. Polivalência é uma variável moderna, cujo 
espaço conceitual não é preenchido pelas outras determinações da cadência do 
trabalho. Este parece um problema de corte epistemológico relevante na pesquisa 
sobre intensidade laboral. Pouco importa se as determinações de mercado e da 
indústria atinjam o nível de 100% das respostas. A partir de uma dimensão significa-
tiva de polivalência em relação à intensidade, é necessário observar seu funciona-
mento, o papel que preenche e incluí-la no questionário.
Pode-se arguir ainda sobre a redistribuição de tarefas constituir um elemento a mais 
neste esforço de ampliar o horizonte da compreensão do processo de intensificação 
laboral. Ela permite vincular o processo de intensificação em si ao contexto histórico 
em que opera. As formas de intensificação do tempo de trabalho são associadas a 
seu tempo e a sua história. Na época atual, prevalecem os princípios toyotistas de 
redução da mão de obra ao mínimo possível, que conduz à polivalência e à redistri-
buição das tarefas entre os trabalhadores que permanecem empregados. A redução 
da mão de obra nas empresas-matriz é possível pela terceirização de atividades, o 
que não anula a redistribuição das tarefas nem a polivalência entre aqueles que 
permanecem nos empregos, elevando, consequentemente, a exigência de esforço 
e os resultados expressos em mercadorias adicionais e em mais-valia.
Para esclarecer a questão da intensidade, apresenta-se um resultado com dados 
obtidos em campo pelo survey de 2005 sobre a relação entre velocidade e riscos no 
644 Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015
trabalho. A proporção de trabalhadores que atuam em posição cansativa e penosa 
e que trabalham em muito alta velocidade em menos da metade do tempo previsto 
é de 20%, enquanto a proporção de colegas também expostos à velocidade muito 
alta, mas em mais da metade do tempo é de 40%, isto é, a proporção dobra de ta-
manho. Para o quesito de movimentos repetitivos da mão e do braço também apa-
rece uma clara diferença entre trabalhar até metade ou mais da metade do tempo 
em muito alta velocidade: as proporções para até metade do tempo são de 40%; e 
mais da metade do tempo de 62,5% (European Foundation, 2006: 13).
Deste ponto em diante, deixa-se o campo estrito da intensidade para entrar nas 
condições de trabalho em geral, e o questionário do EWCS pode contribuir com o 
pesquisador brasileiro. As perguntas 23 e 24 empregam a mesma escala de sete 
gradações já apresentada. A questão 23 refere-se às condições do ambiente de tra-
balho com nove itens para serem avaliados pelo trabalhador entrevistado, entre os 
quais “vibrações”, “barulhos”, “temperatura”, “fumaça”, “vapores”, “contatos com 
produtos químicos e com material infeccioso”; “movimentos repetitivos da mão ou 
do braço”. Tais condições de trabalho não representam diretamente intensidade. 
Um local de trabalho pode ser muito barulhento, isso não implica que o grau de 
intensidade seja, por esta razão, superior. Coloca-se abstratamente, todavia, outra 
possibilidade, a de o trabalho, em local barulhento, ser também extremamente in-
tenso, a depender da organização e gestão do labor. Veja-se outro exemplo sobre 
movimentos repetitivos: 
Exposição a movimentos repetitivos da mão ou do braço é de lon-
ge o risco mais prevalente, com 88% dos trabalhadores relatando 
que eles têm de fazer movimentos repetitivos da mão ou do braço 
pelo menos um quarto do tempo de trabalho (Parent-Thirion et 
alii, 2012: 46). 
Movimentos repetitivos são riscos prevalentes não apenas no survey de 2010, como 
em todas as cinco edições anteriores. Revela-se, pois, como fator estruturante do 
trabalho europeu contemporâneo. Nem por isso movimentos repetitivos significam 
atividade mais densa, mais intensa, no sentido que procuramos definir neste arti-
go. Significam atividades repetitivas com todas as suas consequências para a saúde 
do trabalhador. Pesquisar como atividades repetitivas requerem esforço redobrado, 
concentração maior do trabalhador, é outra questão. Parece evidente que, neste 
caso hipotético, o impacto acumulado do trabalho repetitivo– acumulado e denso 
– é muito maior sobre o sujeito da atividade.
A questão 24 avança mais ainda no terreno das condições físicas do trabalho, pro-
pondo nove perguntas a respeito de qualidade, tais como “posições cansativas ou 
penosas”, “carregamento ou deslocamento de volumes pesados”, “trabalhar com 
Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015 645
computador”, “usar a internet/e-mail para fins profissionais”. Retoma-se o argu-
mento do parágrafo anterior. Fazer uso da internet/e-mail no emprego, não o torna, 
por si só, mais condensado. É necessário averiguar a presença dos critérios de de-
marcação da intensidade laboral.
Por último, menciona-se um importante conjunto de questões presentes no ques-
tionário relacionado com intensidade laborativa. As perguntas 66 e 69 do questio-
nário EWCS referem-se à saúde do trabalhador. À medida que excede as fronteiras 
da resistência, o grau da intensidade torna-se um risco, podendo implicar em con-
sequências negativas para a saúde física e psicológica do trabalhador.
Conclusão
Questões conceituais e metodológicas do tratamento da intensidade do tempo de 
trabalho compuseram a estrutura deste artigo, que fez uso abundante da literatura 
clássica e contemporânea. Empregaram-se ainda relatórios de pesquisa da Funda-
ção Europeia para discutir conceitos e decisões metodológicas.
A formulação clássica de intensidade laboral em economia política está integrada à 
teoria do valor, o que permite suscitar duas questões: a precisa definição do concei-
to e o papel que exerce na produção, circulação e realização dos valores nas diversas 
esferas da economia. A definição do conceito é realizada por meio de um conjunto 
de metáforas, que indicam “gasto aumentado do trabalho em um mesmo intervalo 
de tempo”, “elevada tensão da força de trabalho”, “preenchimento dos intervalos 
dos dias de trabalho”, “condensação” e “densidade laboral” (Marx, 1975, I: 409). 
Embora as expressões não sejam sinônimas, giram em torno da ideia de que a in-
tensidade laboral envolve, conforme seu grau, maior gasto de trabalho. O processo 
de intensificação laboral significa um aumento na produção de mais trabalho e de 
mais valor e este é o aspecto mais relevante do papel da intensidade na teoria do 
valor, pois permite a continuidade da acumulação, mesmo em situações de redução 
da duração da jornada laboral.
Os surveys EWCS caracterizam intensidade como cadência do trabalho, velocidade 
e prazos rígidos. Com tais elementos, a Eurofound realiza uma respeitável pesquisa 
há duas décadas. Entretanto, cadência, velocidade e prazos não cobrem todas as 
dimensões conceituais imaginadas na economia política clássica da teoria do va-
lor. Veja-se que cadência, velocidade e prazos não ocupam o espaço conceitual de 
“preenchimento dos intervalos dos dias de trabalho”, nem mesmo “densificação”. O 
que significa isto? Há trabalhos mais intensos, por exigirem maior esforço do traba-
lhador, cuja cadência não é mais rápida, nem tem velocidade maior, nem são feitos 
em prazos mais apertados. Sirva como demonstração uma aula ministrada por um 
646 Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015
professor: não há cadência ou velocidade maior, nem prazo mais rígido, entretanto 
a aula é mais densa, mais intensa, pelo grau de concentração e esforço do docente, 
resultando em aula de conteúdo muito mais profundo, ou então pela quantidade 
maior de alunos. Com isso, o conceito empregado sistematicamente pelo EWCS per-
de uma dimensão crucial da noção de intensidade. Por certo, aqueles surveys con-
têm um mérito inquestionável, e isso por várias razões, dentre as quais a demons-
tração de como a intensidade tornou-se um fator estrutural do trabalho moderno.
Os estudos clássicos iniciais sobre intensidade do trabalho foram responsáveis por 
identificar um fenômeno que se mostra, com o passar do tempo, cada vez mais 
relevante e abrangente. Na atualidade, os pesquisadores empregam definições e 
metodologias diferenciadas para captar as novas sutilezas históricas do fenômeno: 
os European Surveys (EWCS) operam com a cadência (ritmo) do trabalho e seus 
determinantes, outros pesquisadores atuam com a noção de intensidade como es-
forço (Green, 2000), ou carga de trabalho (Durand & Girard, 2002; Fernex, 2000; 
Bartoli, 1980), ou com uma série de indicadores (Dal Rosso, 2008). Diante dessas 
dificuldades de consenso, Cardoso (2013) sugere a ideia de conceito em construção.
O artigo também colocou em discussão questões metodológicas da pesquisa sobre 
intensidade laboral. Duas principais estratégias de levantamentos são comumente 
empregadas. Uma de caráter mais qualitativo lança mão de entrevistas semiestru-
turadas e entrevistas abertas para produzir informações sobre o grau de intensi-
dade do tempo de trabalho percebido pelos empregados. O sucesso desta escolha 
metodológica transparece do estudo de Sguissardi e Silva Junior (2009). A outra 
são surveys com esquemas amostrais rígidos que permitem coletar informações por 
meio de questionários aplicados mediante entrevistas com trabalhadores. Surveys 
sempre tiveram um viés mais quantitativista. Como existe uma experiência de mais 
de vinte anos de utilização de surveys pelas equipes que trabalham com os EWCS, 
os questionários foram analisados, os relatórios de pesquisa lidos e os elementos 
conceituais e as decisões metodológicas discutidos.
O propósito dos surveys é alcançar a objetividade máxima junto à generalização. As-
sim também ocorre com os surveys EWCS. Entretanto, submetidos a uma avaliação 
crítica, a estratégia de pesquisa apresentou algumas dificuldades metodológicas. 
Toda a pesquisa instrumentalizada por questionário – a envolver entrevistador e en-
trevistado – cria uma relação social artificial, na qual é impossível excluir as marcas 
da subjetividade, visto serem parte da relação social construída. É o dilema da sub-
jetividade na objetividade. Em relação a isto, fica nas mãos dos pesquisadores ape-
nas a capacidade de reduzir o efeito da subjetividade, que pode provir tanto da re-
lação como do entrevistador ou do entrevistado. Isto o survey faz especialmente na 
questão sobre os determinantes da cadência do trabalho, quando reduz as influên-
Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 3 Setembro/Dezembro 2015 647
cias subjetivas ao mínimo. Por outro lado, mostramos que o indicador “cadência 
do trabalho” não cobre importantes dimensões da intensidade laboral. Indicamos, 
igualmente, que os determinantes da cadência laboral deixam de lado alternativas 
relevantes, entre elas a questão do papel do indivíduo na determinação da cadência 
do trabalho e diversas outras determinações ligadas ao toyotismo, exemplificadas 
pela polivalência, pela policompetência e pela redistribuição de tarefas.
Surveys sistematicamente repetidos permitem tecer uma visão de história e de ten-
dência do fenômeno. 
Work intensification will be an enduring situation because the caus-
es will be ongoing – unemployment, weak labor unions, new meth-
ods of management and higher levels of education (Burchell et alii, 
2009: 27). 
Estes mesmos resultados não são alcançados por surveys aplicados esporadicamen-
te, porque representam fotografias de momentos isolados.
Equacionadas as questões conceituais, teóricas, metodológicas e epistemológicas, 
os estudos sobre intensidade desempenham um papel social extremamente rele-
vante ao abordarem implicações dos processos de gasto aumentado de trabalho 
sobre a saúde dos trabalhadores. Estes estudos servem para formar um padrão con-
dizente com a condição de civilidade desejada para o trabalho. Neste sentido, mais 
pesquisa, especialmente a realização de surveys de abrangência nacional, contri-
buiria para a definição de políticas públicas do trabalho, bem como para a presença 
de problemas decorrentes de uma intensificação excessiva do labor nas pautas de 
negociação sindical e dos movimentos sociais.
The subject matterof this paper is the phenomenon of work intensity in its conceptual and meth-
odological practices. Recent research made in several countries show that intensification of work 
is a structuring component in contemporary society and that such tendency may extend for un-
determined time under the neoliberal paradigm of hegemony of contemporary world economic 
relations. The same consensus does not prevail in conceptual definitions of the phenomenon, its 
theoretical assumptions and methodological implications. An analysis of such lack of consensus 
is the main goal of this paper. A literature review since the labor theory of value until contempo-
rary research is undertaken. The conceptual and methodological is made regarding the European 
Working Condition Surveys, whose questionnaire and reports are analyzed about subjectivity and 
objectivity and the relations of the empirical practices with conceptual definitions. This essay of 
conceptual and methodological critique aims at contributing with the formulation of parameters 
that may contribute with the making of necessary researches regarding the Brazilian context, giv-
en the implications of the labor intensification process on health conditions of the working people.
Key words: labor theory of value; work intensity; concepts; methodology.
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