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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE GABRIEL BATISTA GONDIM MENDONÇA HOLDING FAMILIAR - AS POSSÍVEIS VANTAGENS DE SUA UTILIZAÇÃO: Um estudo sobre a aplicação do instituto da holding São Paulo 2020 GABRIEL BATISTA GONDIM MENDONÇA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito. ORIENTADOR: MARCELO FORTES BARBOSA FILHO São Paulo 2020 GABRIEL BATISTA GONDIM MENDONÇA HOLDING FAMILIAR – AS POSSÍVEIS VANTAGENS DE SUA UTILIZAÇÃO: Um estudo sobre a aplicação do instituto da holding Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Professor Dr. Marcelo Fortes Barbosa Filho Universidade Presbiteriana Mackenzie ______________________________________________________ Professor Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior Universidade Presbiteriana Mackenzie ______________________________________________________ Professor Dr. Manoel Justino Bezerra Filho Universidade Presbiteriana Mackenzie DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos que de estiveram ao meu lado, ensinando lições tão valiosas e imensuráveis, em especial a minha família pelo apoio incondicional e auxílio para alcançar os objetivos desejados e a todos os meus amigos e professores por tornarem esses cinco anos de faculdade inesquecíveis. AGRADECIMENTOS Neste singelo agradecimento, gostaria de agradecer ao meu professor orientador, Prof. Dr. Marcelo Fortes, pela dedicação competência, auxílio e indicações de bibliografia para esse estudo. Aos amigos de Campinas e São Paulo que tornaram esses cinco anos de faculdade mais divertidos, em especial ao Gabriel Toledo, Ricardo Nassar e Nicholas Reid por todos os momentos que passamos. A toda equipe da LRI Advogados, em especial aos Doutores Victor Costa Toledo, Caroline Ohki, Juliana Campos, Juliana Galvão, Lucas Batista, Darley Deagostini, Vitor Maranhão, que foi grande companheiro nestes dois anos que trabalhamos juntos e em especial ao Doutor Vinicius Fonseca, por dar a oportunidade de conhecer e lidar com casos relacionados a holdings familiares que são o objeto do presente estudo. Um agradecimento enorme aos meus pais Luciano Gondim Mendonça e Patrícia Rosa Batista, pelo apoio, pela liberdade e por proporcionarem essas e tantas outras conquistas, ao meu irmão Emanuel Batista Gondim Mendonça, pelos nossos momentos de descontrações e carinho e todos os outros parentes que me auxiliaram de alguma forma nesta conquista. Obrigado a todas as pessoas que contribuem diariamente ao meu aprendizado e a formação como ser humano e profissional, dedico meu êxito e crescimentos a vocês. Sou resultado da confiança e dos ensinamentos de cada um de vocês. “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro.” (Albert Einstein, 1931) Resumo Observa-se a constituição de holdings com uma elevada frequência, por pessoas bem-sucedidas e seus familiares nos tempos atuais, visando uma segurança patrimonial e uma organização de sua sucessão para redução de conflitos familiares. Por este motivo, esta detalhada análise sobre a origem da holding, os seus tipos, se é possível realizar uma estruturação diversa com holdings mistas que cumpram aos objetivos familiares. Também analisam-se os aspectos societários, os tipos societários e os possíveis benéficos da criação da holding, em especial as diferenças e peculiaridades entre a sociedade limitada e a sociedade anônima, posteriormente passando pela análise do que é o poder de controle, como ele é aplicável às holdings familiares, bem como a responsabilidade dos administradores pela gestão do negócio, ao superar esse ponto ponderam- se as estruturas e documentos que possam gerar uma melhor organização e gestão, alcançando por fim os aspectos positivos e negativos da constituição de uma holding familiar, com uma análise de pontos de blindagem patrimonial, sucessório e tributário. PALAVRAS CHAVES: Holding familiar. Holding. Poder de Controle. Vantagens e desvantagens. Gestão Abstract This paper has observed the incorporation of holding companies with a high frequency, in specially by people with relevant fortunes and their families, they normally try to achieve patrimonial security and the organization of the procedure of succession, avoiding families troubles ins specially regarding the fortune. In this sense this paper has analyzed the origin of the holding companies in brazil, their kinds and the possibilities to incorporation of different corporates purposes regarding the organization of the company to obtain a successful case. After thar we continue to study the corporate things, in specially the corporate type and the benefits to organize a Family Holding Company, regarding the Brazilian law, the observation of two types of limited liability companies. Thus, this paper started to observe the controlling power and their applicability to a family holding company, as the civil responsibility of the managers regarding their acts in name of the company and the possible damages that is possible to obtain compensation. Continuing with the documents and companies’ body and documents that can guarantee one better corporate organization and finally reaching the positive and negative aspects of the incorporation of a family holding company, with an analysis of the family fortunes, succession and tax matters. KEYWORDS: Family holding Company. Controlling power. Advantages and disadvantages. Management LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Quadro comparativo da Sociedade Limitada com a Sociedade Anônima...........p.20 Sumário INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1 1. DO SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DAS HOLDINGS ................................................................ 3 2. DA DEFINIÇÃO E OBJETIVOS DA HOLDING E SUAS CLASSIFICAÇÕES....................... 5 2.1 - Definição de holding .................................................................................................................. 5 2.2. - Objetivos da holding ................................................................................................................ 6 2.3. - Previsão no ordenamento jurídico brasileiro ........................................................................ 7 2.4. - Classificações ............................................................................................................................ 7 3. TIPOS SOCIETÁRIOS E HOLDING FAMILIAR ..................................................................... 10 3.1. - Sociedade Simples .................................................................................................................. 11 3.2. - Sociedade em nome coletivo .................................................................................................. 12 3.3. - Sociedade em comandita simples ..........................................................................................para tal, como também explica o Artigo 1.011 do Código Civil. Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. § 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. §2º Aplicam-se à atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao mandato. (Código Civil de 2002) Logo deve a família ao contratar um administrador terceiro para a sua empresa, ou para nomear alguém do quadro de sócios e acionistas carece analisar se ele não está impedido por algum motivo e caso ele não haja de forma correta deve sim se entender como viável cobrar a responsabilidade, pois se o administrador de fato agir de má fé e buscando o prejuízo da 27 empresa, deve haver a destituição do administrador assim que possível e buscar as reparações na esfera civil, penal e administrativa, como explica o artigo 159 e seus parágrafos que trazem o procedimento de como impetrar na sociedade anônima a ação de reparação e pode haver essa questão pela aplicação subsidiaria da lei das sociedades anônimas a limitada. Art. 159. Compete à companhia, mediante prévia deliberação da assembleia-geral, a ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao seu patrimônio. § 1º A deliberação poderá ser tomada em assembleia-geral ordinária e, se prevista na ordem do dia, ou for consequência direta de assunto nela incluído, em assembleia- geral extraordinária. § 2º O administrador ou administradores contra os quais deva ser proposta ação ficarão impedidos e deverão ser substituídos na mesma assembleia. § 3º Qualquer acionista poderá promover a ação, se não for proposta no prazo de 3 (três) meses da deliberação da assembleia-geral. § 4º Se a assembleia deliberar não promover a ação, poderá ela ser proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento), pelo menos, do capital social. § 5° Os resultados da ação promovida por acionista deferem-se à companhia, mas esta deverá indenizá-lo, até o limite daqueles resultados, de todas as despesas em que tiver incorrido, inclusive correção monetária e juros dos dispêndios realizados. § 6° O juiz poderá reconhecer a exclusão da responsabilidade do administrador, se convencido de que este agiu de boa-fé e visando ao interesse da companhia. § 7º A ação prevista neste artigo não exclui a que couber ao acionista ou terceiro diretamente prejudicado por ato de administrador.” (Lei 6.404/76) Tendo verificado o procedimento e o cabimento da ação de reparação deve o administrador tomar o respectivo cuidado e o controlador acima mencionado tomar determinada atenção para que possa realizar os procedimentos de gerenciamento da empresa e patrimônio da empresa. Visualizando que existem as responsabilidades, devemos seguir na análise das questões de contratos e acordos internos que podem proporcionar uma maior segurança aos acionistas, deixando a análise do controle e da administração. 28 5. DOS ACORDOS E INSTRUMENTOS POSSÍVEIS DE UTILIZAÇÃO NA HOLDING FAMILIAR Com a estrutura complexa que uma sociedade familiar pode adquirir, tendo em vista os conflitos comuns como os de interesses entre irmãos, conflito permissivo para ou com atos proferidos pelos administradores da sociedade, término de relacionamentos, podem ensejar pactos contratuais, normas estatutárias, criação de conselhos e outros instrumentos jurídicos que permitem a motivação da resolução de conflitos entre as partes, gerando maior autonomia. Não procurando extinguir o assunto vamos adentrar nos pactos de acionistas e quotistas, na criação de um conselho consultivo ou administrativo dependendo da formalidade que a sociedade deseja e, por fim, uma breve análise que é a convenção grupal e se ela tem uma aplicabilidade viável. Diante disso passaremos a análise do primeiro instrumento aqui mencionado. 5.1. - Acordo de acionistas ou quotistas Como explica Comparato (1979, pg. 1) o acordo de acionistas ou quotistas possui uma natureza contratual, tendo em vista a generalidade, sua abstração e a permanência em vigor de suas estipulações bem como as normas do contao ou do estatuto, tendo em vista que eles podem ser, segundo o autor [...] pactos francamente unilaterais, como as convenções de voto consequentes a uma cessão de ações, em que o cessionário se empenha, ainda, em manter certa influência sobre a companhia, por intermédio do cedente, que é, pois, o único a se obrigar no acordo. Existem, por outro lado, acordos bilaterais, de sinalagma perfeito, pelos quais as partes trocam/vantagens determinadas, como, p. ex., a eleição de representantes de um grupo para certos cargos administrativos, em contrapartida à eleição de representantes do outro grupo para outros cargos. Há, finalmente, pactos de natureza autenticamente plurilateral ou com comunhão de escopo, visando ora à manutenção do poder de controle, ora à sua conquista pela maioria dispersa, ora à defesa dos interesses da minoria. Em qualquer hipótese, as estipulações concernentes ao voto em assembleias costumam ser completadas com restrições à circulação das ações, instituindo-se o que a doutrina europeia denominou “sindicatos de bloqueio”. (Comparato, 1979, p. 1e 2) Deste modo, temos que os acordos assumem diversas naturezas e objetivos como ele bem exemplificou; conforme o acordo para a convenção de votos, onde determinadas matérias ficam com a deliberação daquele grupo de acionistas, definido em razão da vontade de um deles, por vezes. Em outras, temos o acordo para a eleição de diretores e deste modo uma união para a somatória de forças permitindo que se tenha maior segurança, às vezes para um grupo 29 menor e em outros, o modo de voto em assembleias para conquistas de sócios minoritários, possibilitando inclusive um controle de minoritários. Esse instrumento jurídico foi uma grande novidade da Lei das Sociedades Anônimas, conforme descreve Raul Justino em seu artigo denominado Acordo de Acionistas, publicado na revista de ciência política do Rio de Janeiro, na edição de abril e junho, onde, ao discorrer sobre a temática, o autor aponta que este acordo tem efeitos perante a companhia que arquiva o mesmo, bem como a sociedade que pode deter esse tipo, mas também temos a oponibilidade deste a terceiros e a admissão de sua execução específica, sendo então uma ferramenta bem versátil. O instituto vem regulado pelo artigo 118 da Lei das Sociedades anônimas que merece a breve análise feita a seguir: Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede § 1º As obrigações ou ônus decorrentes desses acordos somente serão oponíveis a terceiros, depois de averbados nos livros de registro e nos certificados das ações, se emitidos. § 2° Esses acordos não poderão ser invocados para eximir o acionista de responsabilidade no exercício do direito de voto (artigo 115) ou do poder de controle (artigos 116 e 117). § 3º Nas condições previstas no acordo, os acionistas podem promover a execução específica das obrigações assumidas. [...] (Lei 6.404/76) O artigo mencionado traz sobre os principais pontos do acordo de acionistas e aplicado subsidiariamente a um acordo de quotistas, que em casonecessita ser arquivado na sede da empresa. Como não há uma natureza definida, a lei acaba por regular a compra e venda de ações, preferencias e direitos a votos, porém podem os sócios disporem outras coisas a estes relacionadas, como por exemplo a possibilidade de ser feita a venda forçada de ações em caso de um divórcio, tendo em vista a natureza contratual ampla como Comparato defende, Raul Justino Moreira também explica que “O acordo há de ser sempre específico em suas regras e cláusulas, ou seja, ele não conterá apenas regras universais e genéticas sobre o que for acertado, mas regras determinadas e de execução específica”. (MOREIRA, 1988, p. 93). Em vistas disso, por mais amplo que possa ser o acordo a ser firmado na sociedade, prevendo as mais diversas condutas desde votos em assembleia, emissão de novas ações, regras sobre o reinvestimento de dividendos na sociedade, dissolução, venda forçada de ações e outras, temos aqui que estas não podem ser genéricas, logo o advogado ao instruir o uso desse tipo de artifício deve o montar por meandros e o mais completo possível de forma também que possa 30 ser executado autonomamente, tendo em vista ser um verdadeiro contrato celebrado entre as partes. O fato de instituir um acordo de quotistas ou acionistas em uma holding familiar não significa que a família tem conflitos, ou poderá ter e sim visa ser uma segurança para todas as partes envolvidas de modo a assegurar o patrimônio e a gestão profissional do mesmo, ocorrendo ou não ocasiões que são fatos da vida cotidiana, seja o falecimento de um sócio e a previsão de como se dará a apuração e a distribuição das quotas ou mesmo a previsão de uma dissolução parcial em face da quebra do affectio societats em razão do término de relacionamento, sendo possível prever essas situações nos tipos societários mais amplamente usados. Após essa breve análise precisamos partir para outros instrumentos de alta relevância para a sociedade, entendendo uma família maior e em que podem ocorrer a administração só por parte dela é possível estabelecer as diretrizes por meio dos conselhos a seguir vistos. 5.2. - Conselho de administração ou conselho consultivo O conselho de administração é, conforme Ricardo Negrão: Um dos órgãos de deliberação bipartida, colegiada, é o conselho de administração. Embora não seja obrigatório na estrutura de todas as sociedades anônimas, salvo nas de economia mista (art. 239 da Lei n. 6.404/76), companhias abertas e de capital autorizado (art. 138, § 2º), apresenta-se como necessário supervisor das atividades de gestão administrativa nos grandes empreendimentos. (Negrão, 2020, p. 543) Logo, temos um órgão interno da sociedade que é o colegiado, ele não é obrigatório para uma sociedade anônima e nem para a sociedade limitada, porém são plausíveis de instituir por via de previsão estatutária ou contratual, suas atribuições são de dividir com a diretoria as tarefas, sendo responsável, pelas seguintes funções como demonstra Negrão: Nas sociedades em que for constituído, o conselho de administração deve dividir suas funções com uma diretoria e terá como atribuições (art. 142): a) fixar a orientação geral dos negócios da companhia; b) eleger e destituir os diretores da companhia e estabelecer-lhes as tarefas, observado o que a respeito dispuser o estatuto; c) fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em vias de celebração e quaisquer outros atos; d) convocar a assembleia geral quando julgar conveniente ou no caso do art. 132; e) manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria; f) opinar previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir; g) deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição; h) autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a 31 obrigações de terceiros; i) escolher e destituir os auditores independentes, se houver. (Negrão, 2020, p. 544) Portanto é um órgão que se não existir tem via de regra suas funções exercidas por meio da administração da sociedade, diante disso é um verdadeiro órgão diretivo, sua composição segundo o Artigo 140 da Lei nº 6.404/76, será de no mínimo três membros, e não há limites ao número de membros de conselheiros para exercerem as funções acima expostas, são eleitos pela assembleia geral da Companhia ou em ata de reunião dos sócios para exercerem as atribuições que a lei ou o estatuto e o contrato social o permitam, indicam diretores e administradores e são o verdadeiro racional da operação, por vezes sendo renomados profissionais da área, elevando o custo. Há necessidade de livros próprios e de registrar suas reuniões, assim há um órgão formal, que tem que ser comunicado para a Junta, que constam na Receita Federal e em outros cadastros, pois é um órgão protocolar e rígido, o que gera certo custo. Por vezes a questão dos custos, as formalidades e o contexto que estão inseridas, inviabilizam a realização deste órgão dentre de holdings familiares, por vezes as formalidades são bem quistas e implementadas, porém partes dessas funções como diretrizes e autorizações para algumas ações dos administradores podem ocasionalmente ser implementadas por um conselho previsto em contrato social, com menos formalidades, sem necessidade de registro na junta de suas reuniões e autorizações. Ao falarmos disso, entramos na figura do conselho consultivo, que para empresas menores pode ser uma solução de planejamento e gestão profissional com custos reduzidos, frente ao conselho de administração. Sobre este ponto, é relevante um estudo realizado por ESTRADA, BOEMO, BOESCHEID, em 2009, no qual foi estabelecido o conselho consultivo que, segundo eles é definido e tem as seguintes atribuições: O Conselho Consultivo, proposto no estudo, é o instrumento de governança de pequenas e médias empresas, tendo por objetivo qualificar a gestão da empresa e melhorar seu desempenho estratégico. A existência de um Conselho Consultivo, nessas organizações, permite que os conselheiros contribuam com a organização, através de um processo gradual de melhoria de gestão, possibilitando, com isso, otimizar o resultado econômico e financeiro, fundamentais para a sobrevivência da organização. As principais atribuições do conselho consultivo são: - Estabelecer mecanismos de controle e gerenciamento de recursos, adequados para a organização; - Desenvolver o planejamento estratégico e assegurar que o mesmo seja seguido conforme o plano de ação desenvolvido; - Checar a adequação da equipe de direção aos objetivos de médio e de longo prazo; - Verificar se a estrutura de capital é saudável. (ESTRADA, BOEMO, BOESCHEID, 2009, p.7) 32 Deste modo encontramos um órgão que não é formal e nem possui todas as competências do conselho de administração, porém permite com um custo menor, visto que os próprios sócios ou pessoas de sua confiança podem exercer o cargo de modo gratuito e com bem menos riscos, por não incorrer como conselheiros, administradores e diretores nas responsabilidades de atos de gestão da empresa, na verdade é um verdadeiro órgão de gerenciamento e organização que visa um planejamento estratégico e etapas para poder ao longo prazo estruturar uma base solida e confiável para a empresa, diante dos custos reduzidos e do fato de ser menos formal, temos uma possibilidade mais plausível de aplicar esse órgão a estruturas de holdings familiares, deste modo para pequenas e médias empresas o racional do conselho consultivo é muito mais viável e racional que o conselho consultivo. A vantagem do conselho são os registros, a responsabilização dos conselheiros, demonstrar umaestrutura mais sólida e mais confiável, porém pelo seu custo, eventualmente a complicação de instituir conselheiros estrangeiros em conselhos de administração, faz ser mais racional a escolha do conselho consultivo que age de forma semelhante, porém sem a mesma segurança, em relação aos conflitos familiares que podem estar presentes na holding e em seu objetivo fica nítido que às vezes não irá se instituir conselhos ou o consultivo se demonstra uma escolha mais racional pelo custo. Considerando esta breve análise partiremos para a visualização da convenção grupal e se ela tem alguma aplicação para estrutura de holdings familiares, por vezes enxutas e que asseguram uma separação patrimonial. 5.3. - Convenção grupal como possibilidade na holding familiar A convenção grupal é a convenção por meio da qual uma sociedade controladora e as suas controladas, conseguem constituir um grupo empresarial, gerando obrigações recíprocas para a realização dos seus objetos sociais ou de empreendimentos comum, a controladora ou o grupo, deve ser obrigatoriamente brasileira e exercer de modo direto ou indireto o controle das sociedades sendo vendada a participação recíproca nas sociedades dos grupos. As relações societárias e a estrutura da administração do grupo e a sua coordenação devem ser previstas e expressas na convenção, sendo que cada sociedade permanecerá com seus patrimônios, acordos de acionistas e demais instituições que existirem, ou seja, preservando a autonomia patrimonial. 33 Para ser constituído, o grupo empresarial deve seguir as prescrições do artigo 269 da Lei das Sociedades anônimas sendo elas: Art. 269. O grupo de sociedades será constituído por convenção aprovada pelas sociedades que o componham, a qual deverá conter: I - a designação do grupo; II - a indicação da sociedade de comando e das filiadas; III - as condições de participação das diversas sociedades; IV - o prazo de duração, se houver, e as condições de extinção; V - as condições para admissão de outras sociedades e para a retirada das que o componham; VI - os órgãos e cargos da administração do grupo, suas atribuições e as relações entre a estrutura administrativa do grupo e as das sociedades que o componham; VII - a declaração da nacionalidade do controle do grupo; VIII - as condições para alteração da convenção. Parágrafo único. Para os efeitos do número VII, o grupo de sociedades considera-se sob controle brasileiro se a sua sociedade de comando está sob o controle de: a) pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil; b) pessoas jurídicas de direito público interno; ou c) sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou indiretamente, estejam sob o controle das pessoas referidas nas alíneas a e b. (Lei nº 6.404/76) Deste modo é necessário ter a aprovação para a constituição do grupo, a designação dele, a indicação de qual sociedade será a comandante, as condições de participação, a longevidade do acordo, os órgãos e cargos, a garantia da nacionalidade brasileira para a controladora e as condições para eventual alteração do acordo, há necessidade de arquivamento das convenções, das atas de assembleias-gerais e outras, sendo que a legislação ainda dispõe sobre a administração, demonstrações financeiras, os prejuízos e atos que são contrários a ela e um conselho fiscal, que é um órgão de fiscalização do grupo. Logo pela leitura da lei, entende-se que a convenção é um documento por meio do qual as sociedades anônimas se organizam em um grupo pelas mais diversas formalidades, por mais interessante que seja pensar em uma holding familiar com vários membros, diversas empresas e uma estrutura de sociedades anônima de grande faturamento, a realidade da maioria das empresas brasileiras não está enquadrada neste ponto e nem na maturidade do grupo, por isso até existe a possibilidade de eventualmente ser criado uma convenção grupal para uma holding familiar, mas os trâmites e a burocracia envolvida não fazem sentido neste racional, logo a conclusão é que em casos extremamente específicos seria aplicável, mas para um racional médio não faz sentido e não é um instrumento amplamente utilizado. Após a análise da origem, definir, estabelecer o que é, os tipos societários, órgãos que podem auxiliar e os instrumentos que podem ser úteis a uma holding familiar, entraremos na parte final de nossa revisão teórica para vislumbrar se há sentido instituir uma holding familiar ou não, conforme será analisado neste trabalho. 34 6. DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA HOLDING FAMILIAR A seguir veremos as possíveis vantagens e desvantagens em constituir uma holding familiar. Muitos vêm a constituição de uma holding com seu patrimônio visando a blindagem e a segurança, é para muitos um tipo de seguro, de separar suas atividades empresariais de suas pessoas físicas, com vistas a isso, temos como pontos importantes a blindagem patrimonial, as possíveis vantagens tributarias e sucessórias, mas além dessas análises, é necessário verificar que há possíveis desvantagem em implementar essa estrutura societária, frente ao que passaremos a fazer a análise do ponto de vista da Blindagem Patrimonial. 6.1. - Blindagem Patrimonial A blindagem ou proteção patrimonial são sinônimos, e representam um dos principais motivos para a constituição de holdings familiares, já que o risco do negócio deve ser mensurado e uma estratégia arquitetada para alcançar uma redução dos riscos, de modo a resguardar o patrimônio familiar em uma situação de crise. Patrimônio vultuoso na posse de pessoas físicas gera custos e riscos elevados, ainda mais caso esta pessoa participe de outras sociedades, em vistas a esses casos os sócios pessoas físicas ficam com o patrimônio exposto e por vezes sujeitos a penhora em razão de responsabilidades subsidiárias e solidárias. Ricardo dos Santos Nascimento em seu artigo defende corretamente que: Nesta perspectiva, tratando-se de blindagem patrimonial numa companhia Holding, os bens podem deixar de estar sujeitos a ações trabalhistas, fiscais e a conflitos familiares etc., buscando basicamente, assegurar os direitos futuros dos riscos incertos do negócio. Como na utilização de Holdings não há comunicação entre o patrimônio da pessoa jurídica com o de seus sócios, assim, os bens da Holding ficam blindados e protegidos contra possíveis contingências e demandas judiciais. (Nascimento, 2013, p.14) A constituição da sociedade holding assegura, deste modo, a limitação do patrimônio ao que nela foi investido, não afetando a pessoa física, o que traz a possibilidade de uma melhor gestão, dentre outras medidas podem ter a integralização do capital da nova sociedade com as propriedades dos sócios, passando para a holding, de modo que, caso ocorra com a pessoa física, ela esteja respondendo a alguma dívida posterior à criação da holding, ela continua estando assegurada, tendo em vista a passagem dos imóveis sempre pelo valor declarado na declaração 35 do imposto de renda pessoa física, para evitar que a pessoa física tenha que recolher o imposto referente ao ganho de capital incidente no valor da venda do imóvel. As holdings familiares também apresentam um ambiente de segurança para o grupo familiar caso esses tenham diversas participações societárias, por vezes é melhor inserir uma holding para uma gestão profissional e centralizada, partindo delas as diretivas da administração. Em breve síntese, o interesse da criação de uma holding familiar parte para que os seus sócios não tenham surpresas diante de abusos cometidos por entidades públicas e outras, garantindo uma independência patrimonial e assegurando os sócios de que não terá afetação de patrimônios laterais a ela, pois não há confusão patrimonial que enseje a desconsideração da personalidade jurídica do artigo 50 do código civil que traz que:Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) § 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Código Civil, 2002) Logo, havendo os devidos cuidados e não existindo a confusão patrimonial, tentativa de lesar credores e outros previstos no código civil supra mencionado, desconsiderando que a holding familiar trará relações consumeristas, podemos assegurar aos sócios pessoas físicas a independência do patrimônio, o menor risco de uma insolvência civil, de um processo falimentar que envolva seu patrimônio, por isso vulgarmente muitos tratam a questão de constituir a holding familiar como um verdadeiro seguro pessoal, após estas análises passaremos a visualizar possíveis aspectos de planejamento sucessório na constituição de uma holding familiar. 36 6.2. - Planejamento sucessório Ao falarmos de sucessão há dois aspectos relevantes a serem analisados, o primeiro dele é a sucessão em referência a administração e o gerenciamento da holding familiar, uma vez que ela pode ser além de uma holding imobiliária, uma empresa que possui participações em diversas outras sociedades, podendo inclusive deter controle do grupo em casos de familiais muito abonadas. Não é surpresa para ninguém que nem todos temos o dom ou as técnicas, ou alguns mesmo, a vontade e o conhecimento necessário para gerenciar uma empresa, por isso é importante o patriarca da família analisar como se dará a sua sucessão, pois normalmente essas empresas tem prazo de duração indeterminado e com base no princípio da continuidade que nas palavras de Mamede e Mamede são: Essa baliza, que orienta o trabalho de todos os contadores, assim como dos auditores e consultores, compreende a escrituração contábil como sendo um relato das variações patrimoniais de um ente (a sociedade empresária) cujo funcionamento, pressupõe-se (e deve-se pressupor, é bom frisar), irá se prolongar no tempo. Assim, é uma função da contabilidade oferecer informações uniformes sobre a evolução de atividades negociais da empresa. Diante da expectativa de perpetuidade, a falta de uma reserva técnica de líderes/gestores constitui um risco extremado para a organização, em níveis próximos ao da irresponsabilidade. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 110) Logo, ao não deter e nem preparar o terreno para a sucessão de sua administração, o possuidor da empresa pode estar gerando um grande problema, uma vez que a morte infelizmente é evento certo, então por mais mórbido que seja, deve preparar os seus sucessores para continuar a empresa com um menor risco de fechamento, ou preparar a alienação dela pelo valor de mercado, para que assim deixe benefícios financeiros aos herdeiros, sem que eles acabem por infelizmente dilapidar esse, os efeitos de não preparar um novo gestor, pode ser a falência e a perda de patrimônio da família ou também a alienação após o acúmulo de prejuízos, não assegurando a manutenção dos valores, como Mamede e Mamede analisam os casos em que se não tem o devido planejamento se aproximam de uma loteria, sendo que: A preservação e o desenvolvimento da empresa seguirão a reboque da capacidade de superação daqueles que se viram jogados inesperadamente em seu comando e na sua capacidade de surpreender na qualidade de sucessores. Não raro, essa substituição improvisada exibe-se como uma ascensão prematura de um jovem profissional para funções para as quais não foi formado/preparado, ampliando a probabilidade de que incida em erros reiterados e constantes. Isso é um risco não apenas para a empresa, mas igualmente para a própria carreira daquele que, sem o devido preparo, vê-se 37 colocado em postos de liderança ou cargos elevados de gestão. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 112) Assim sendo, é necessária a organização para suceder a empresa, ou praticar a alienação dos fundos, como salientam os autores supramencionados temos que: Para além dessas questões que são mais próprias da ciência da administração e que apenas narramos, importará trabalhar os instrumentos do Direito Empresarial – nomeadamente do Direito Societário – que servirão ao profissional que assessora famílias empresárias. É possível combinar instrumentos societários com os institutos do Direito de Família para assim estruturar condições adequadas para a manutenção da riqueza empresarial, apesar da sucessão, no tempo, de seus titulares. Noutras palavras, a substituição no comando dos negócios, sem o prejuízo da organização empresarial, pode ser planejada por meio de mecanismos jurídicos. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 116) Desta forma, o profissional do direito deve estar cercado de coachings, administradores e contadores para organizar da maneira mais completa a sucessão da administração da companhia, uma vez que ele não detém, por vezes, o conhecimento técnico necessário de todos os campos mencionados. Após analisar a sucessão da administração da holding, devemos compreender e estudar a sucessão patrimonial envolvida, quais as estratégias e questões que podem ser suscitadas para passar o patrimônio aos herdeiros da forma mais organizada e até evitando algum conflito entre os herdeiros, conforme a seguir serão analisadas algumas estratégias em abstrato, porém de forma não exaustiva. O código civil, no que tange ao direito sucessório aponta algumas diretivas, as quais necessitam ser observadas, a primeira dela é que, conforme o artigo 1.784 do Código Civil temos que a sucessão será aberta com a morte, a lei ainda atribui que há um rol de herdeiros legítimos, que receberão obrigatoriamente metade do patrimônio deixado pelo falecido em observância ao artigo 1.789 do código civil, diante disso o proprietário da sociedade se vê obrigado a dedicar metade de seu patrimônio aos herdeiros, considerando excluída já a meação dos bens caso o mesmo seja casado com uma comunicabilidade de bens. Por isso, desde já deve o profissional do direito estar atento a legitima na hora de organizar instrumentos normais para uma herança premeditada, como haverá por vezes antecipação da legítima deve o operador estar atento com essa questão, o que como Mamede e Mamede já trazem é A constituição da holding, em oposição, viabiliza a antecipação de todo esse procedimento e pode,mesmo, evitar o estabelecimento de disputas, na medida em que permite que o processo de sucessão à frente da(s) empresa(s) seja conduzido pelo 38 próprio empresário ou empresária, na sua condição de chefe e orientador da família, além de responsável direto pela atividade negocial. Isso permite que uma nova administração empresarial seja ensaiada e implementada, com a possibilidade, inclusive, de se perceber, em vida, que alguém de quem se esperava capacidade gerencial não a tem. Quando esse trabalho é bem conduzido, a nova estrutura organizacional assenta-se enquanto está viva a geração anterior. A morte causa apenas danos sentimentais e não danos patrimoniais. Já está definido que todos os herdeiros são sócios da holding e, assim, participam dos lucros da(s) empresa(s), assim como já está definida a administração das atividades negociais, por herdeiros ou administração profissional, nos moldes estudados no Capítulo. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 118) Assim, pode preparar uma infraestrutura para a sucessão sendo possível na holding incluir o patrimônio familiar, passando ela a não pertencer mais a pessoa física e já pagando os devidos impostos de transferência da propriedade, evitando o pagamento futuro, pois ao falecer será passada a participação do capital como herança dependendo do modo que esteja previsto no contrato, ou seja, garantindo uma distribuição igualitária de valores e facilitando, pois não haverá condomínio sobre o bem, facilitando a alienação de bens móveis e imóveis. Pode ainda essa herança ser dada em vida, por intermédio da doação das quotas da sociedade com reserva de usufruto aos genitores. Sendo possível a manutenção da administração e o controle dos investimentos com as participações já mantidas para cada filho. E, ao vir a falecer já está com tudo distribuído evitando conflitos familiares e, por vezes, reduzindo um problema que se observa. Além disso Mamede e Mamede corretamente analisam que é possível assegurar o patrimônio ao seu filho, gravando a doação das quotas os tornando incomunicáveis e assegurando o patrimônio familiar como elucidam a seguir: De outra face, o planejamento sucessório ainda permite aos pais proteger o patrimônio que será transferido aos filhos por meio de cláusulas de proteção (cláusulas restritivas). Assim, para evitar problemas com cônjuges, basta fazer a doação das quotas e/ou ações com a cláusula de incomunicabilidade e, assim, os títulos estarão excluídos da comunhão (artigo 1.668 do Código Civil), embora não se excluam os frutos percebidos durante o casamento (artigo 1.669); no caso dos títulos societários (quotas ou ações), esses frutos são dividendos e juros sobre o capital próprio. Aliás, não é preciso ser explícito nas medidas de proteção do(a) herdeiro(a) em face de seu cônjuge. Pode-se simplesmente gravar os títulos com a cláusula de inalienabilidade, certo que, por força do artigo 1.911 do Código Civil, essa cláusula imposta aos bens por ato de liberalidade implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. No entanto, é preciso cautela em relação à operação quando alcance a legítima. Com efeito, por força do artigo 1.848 do Código Civil, salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima. É um limite ao poder de disposição de última vontade, podendo criar situações desagradáveis que devem ser calculadas quanto a seus efeitos no ambiente familiar. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 119) Logo, tem-se a possibilidade da manutenção e segurança patrimonial, com uma passagem dos bens em vida, com provisionamentos em caixa da empresa dos tributos 39 sucessórios, sendo parte deles já pagos em razão da doação e algumas vezes integralmente pago, garantindo uma maior segurança, menos custos futuros, menos sustos, reduzindo o conflito familiar sobre as propriedades e empresas e garantido que a sua vontade seja exercida, o que garante um caráter de planejamento extremamente interessante para a criação da holding. Após analisar esse ponto, veremos também as possíveis vantagens tributarias, de modo não exaustivo. 6.3. - Vantagens Tributárias A seara tributária é uma das áreas mais complexas do direito, costuma ter conexão com as áreas contábeis e da administração, portanto devemos ter muito cuidado por não é verídico que a constituição da holding familiar trará benefícios fiscais, como normalmente é dito, neste sentido mencionamos Mamede e Mamede É discurso corrente que a constituição de uma holding, nomeadamente da holding familiar, é uma medida que tem por mérito a obtenção de vantagens fiscais. Em sua generalidade, essa afirmação é falsa. O resultado fiscal pode ser vantajoso ou não, conforme o caso e, principalmente, conforme a engenharia que seja proposta para a estrutura societária. Portanto, não é correto ver a constituição de uma holding familiar como a solução para todos os problemas e, principalmente, uma garantia de recolhimento a menor de tributos. Não é assim. É indispensável a avaliação por um especialista que, para cada situação, faça uma avaliação dos cenários fiscais para definir, em cada caso, qual é a situação mais vantajosa, sendo possível que, no fim das contas, a constituição da holding se mostre desaconselhável por ser mais trabalhosa e onerosa. Isso pode decorrer, inclusive, da incidência de tributos a que a pessoa natural não está submetida, como a Cofins e o PIS. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120) Por isso é inviável afirmarmos que haverá sempre uma vantagem na constituição da holding, os custos tributários devem ser salientados, como explica Mamede e Mamede No Brasil, essa transferência, entre vivos (inter vivos) ou causada pela morte (causa mortis), é tributada. A bem da precisão, não há distinção nos encargos tributários entre a doação em vida e a transferência dos mesmos bens em função da morte, haja ou não um testamento. Essa tributação é de 4% sobre o valor dos bens transferidos. No entanto, há vantagens laterais que não podem ser desconsideradas. De abertura, a simplicidade do procedimento de doação, que consome infinitamente menos tempo do que o processo de inventário, ainda que haja testamento e consenso entre os herdeiros. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120) Os autores trazem que a transferência teria uma alíquota fixa, porém o Estado de São Paulo recentemente editou uma lei que traz impactos diretos e que falaremos ao comentar sobre o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), o que traz maiores encargos e custos para a formação da holding, mesmo com suas vantagens laterais. A seguir veremos 40 alguns aspectos positivos trazidos pela constituição da holding, caso feito de modo planejado e correto. A primeira delas será o ganho de capital com venda de imóveis próprios, uma holding imobiliária ou familiar pode deter imóveis próprios e ter como objeto social a compra e venda de bens, tanto como a sua administração, em uma análise sumária teríamos que um imóvel que gera rendimentos de aluguel deve estar mencionado como ativo imobilizado, diante do lucro da venda deste imóvel constante como ativo imobilizado, será auferido o ganho de capital que é representado pelo valor de custo do imóvel com a subtração da depreciação acumulada e o valor de alienação do bem. Nesta hipótese, explicam Oliveira e Mantovani (2016) que em se tratando de ganho de capital na alienação de bem, considerando o regime de apuração do lucro presumido, temos as alíquotas de 15% (quinze porcento) para o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), e mais 10% (dez porcento) de adicional de imposto de renda, caso necessário, além de 9% (nove porcento) de contribuição sobre o lucro líquido (CSLL) frente a 15% (quinze porcento) da tributação de uma pessoa física, reiterando as palavras de Mamedee Mamede já mencionadas sobre o fato da holding não obrigatoriamente ofertar uma alternativa tributária lógica menos tributável, no entretanto caso deste imóvel não estar gerando lucros e estar no ativo imobilizado como estoque de imóvel teremos outro cenário. Este cenário engloba, na hipótese de uma empresa no lucro presumido com a atividade de comércio de bens, uma tributação incidente reduzida com o máximo de 6,73% (seis vírgula setenta e três porcento), sendo eles respectivamente, 2% (dois porcento de IRPJ) e adicionais de 1,08% (um vírgula zero oito porcento) de CSLL, 0,65% (zero vírgula sessenta e cinco porcento) de PIS e 3% (três porcento) de COFINS. Deste modo, ao alienar um bem considerando uma empresa em lucro presumido temos uma alíquota de 6,73% (seis vírgula setenta e três porcento), frente de 15% (quinze porcento) a 27,5% (vinte e sente vírgula cinco porcento) de alíquota de imposto de renda, mostrando que há sim manobras tributárias que ao aplicarmos na administração da holding trazem benefícios. Porém considerando que a família não tenha a pretensão de alienar os bens e mantenha- os alugados, vamos desenhar o seguinte cenário, considerando a opção da empresa pelo lucro presumido, temos o seguinte, a alíquota total de 14,53% (quatorze vírgula cinquenta e três porcento) sendo 8% de IRPJ, 3% de COFINS, 0,65% (zero vírgula sessenta e cinco porcento) de PIS e 2,88%(dois vírgula oitenta e oito porcento) de CSLL, enquanto pela progressividade do imposto de rende pessoa física, nós teríamos de 15% (quinze porcento) até 27,5% (vinte e sete vírgula cinco porcento), de modo que há, mais uma vez, vantagem tributária para a holding, 41 para tal notamos que é importante um planejamento analítico da questão de modo a enquadrar a sociedade da melhor maneira possível, não adentraremos na seara da escolha sobre o simples nacional, lucro presumido e lucro real, tendo em vista que estamos exemplificando a possibilidade de haver vantagens tributárias na constituição da holding porém pode haver problemas. Saindo da esfera tributária federal e adentrando na estadual, um imposto de alta relevância para as holdings é o Imposto de Transmissão Causa Mortis e doação (ITCMD), onde temos como fato gerador a doação de bens, bem como a transmissão por conta da porte, conforme nos ensina o artigo 35 do Código Tributário Nacional: Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador: I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil; II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia; III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II. Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários. (Código Tributário Nacional, 1966) Deste modo, é necessário verificar a legislação estadual para determinar as alíquotas de doação, em São Paulo, tal imposto é regido pela Lei Estadual Nº 10.705 de 2000, que determina a alíquota de 4% (quatro porcento) sobre o valor fixado para o bem Artigo 16 - O imposto é calculado aplicando-se a alíquota de 4% (quatro por cento) sobre o valor fixado para a base de cálculo. (Redação dada ao artigo pela Lei 10.992, de 21-12-2001; DOE 22-12-2001; Efeitos a partir de 01-01-2002) (Lei nº 10.705 de 2000) Pode parecer não vantajoso já passar os bens por doação em vida por conta dessa alíquota, porém explica Guedine, (2016) apud Sheron Machado que além dos custos do ITCMD em vida, se a pessoa vier a falecer há incidência de outros custos com o inventário na base de 5% (cinco porcento) para os custos com documentação e mais 2%(dois porcento) de emolumentos ao cartório caso seja feito de modo extrajudicial, por isso a integralização de bens na holding eventualmente demonstra ser uma solução tão viável, pois eliminam parte dos custos do inventário, se a doação já ocorreu em vida. Considerando a necessidade de na integralização do capital de uma holding pagar o ITBI, conforme ensina a Constituição Federal para ter a isenção do ITBI na integralização do capital social com bem imóvel a empresa não pode ser uma gestora de bens próprios: https://legislacao.fazenda.sp.gov.br/Paginas/lei10992.aspx 42 Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. § 2º O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; II - compete ao Município da situação do bem.(Constituição Federal, 1988) (grifos nossos) Diante do cenário, uma holding familiar com a integralização dos bens necessita pagar o ITBI que, no caso do Município de São Paulo, é regulado pela Lei 11.154 de 30 de Dezembro de 1991, que apresenta a alíquota de 3% (três porcento); logo, ao integralizar o bem na sociedade e depois doar suas quotas reservando o usufruto, temos uma boa solução para a parte sucessória e tributária. Deste modo podemos concluir que da exemplificação vista, o planejamento tributário, caso bem feito, traz benesse e uma maior rentabilidade do patrimônio. Porém, se feito de modo incorreto pode ocasionar problemas sérios e gerar custos expressivos. Tendo isso em vista é importante analisar pontos que podem tornar a holding familiar prejudicial, ou problemática. 6.4. - Dos encargos e possíveis prejuízos da Holding Como visto acima, fica nítido que se não houver uma análise tributária com um planejamento adequado, somado a um planejamento sucessório, perdemos pontos que são positivos para a formação da holding, bem como eles ficam como aspectos negativos, diante disso não restam dúvidas que há sim um custo formal, tributário e afins para a formação da empresa. Djalma Oliveira, (2010), faz uma digressão sobre as desvantagens em vários campos que pesam contra a instituição da holding, como no aspecto econômico o fato de ser vedada a utilização de prejuízos fiscais no caso da holding pura, sofrer com uma carga tributaria mais elava, caso o planejamento e a gestão não sejam bem feitos, sofrer com a tributação incidente sobre o ganho de capital na alienação de participações nas empresas afiliadas, deter um volume 43 maior com despesas referentes a centralização na holding das atividades, complicando uma distribuição mais igualitária das despesas de gestão, sofrer com a compensação imediata de lucros e perdas das investidas pela equivalência patrimonial, ter a diminuição da distribuição de lucros, em caso de processos de sinergia negativa. Continua o autor listando outros aspectos negativos do ponto de vista administrativo com uma elevada quantidade de estratificação da empresa que reduz a agilidade dos processos decisórios, ter a perda de autoridade de administradorese por vezes necessitar de pessoas mais especializadas para a manutenção da administração; e adiciona que em referência a pontos legais e societários ainda pode haver dificuldade de operacionalizar os tratamentos dos setores em que as empresas do grupo operam, sofrer na operacionalização pela centralização tendo em vista as diferenças regionais que as empresas do grupo podem sofrer e por fim o tratamento dos aspectos familiares, “entre quatro paredes”, podendo gerar problemas familiares irreversíveis. Ao analisarmos os prejuízos, eles são cabíveis a grandes holdings familiares e de fato podem ocorrer, porém com a gestão correta e eficiente a chance de efetivação desses fatos é reduzida, motivo pelo qual por mais que existam aspectos negativos, diversas famílias optam pela organização da holding familiar. 44 7. ASPECTOS METODOLÓGICOS A metodologia utilizada para elaboração deste presente trabalho foi uma revisão bibliográfica acerca da temática de holdings familiares, visando entender suas peculiaridades, origem, funções, constituições, vantagens e desvantagens com base em artigos científicos, monografias, livros acadêmicos e outros que possibilitaram a delicada análise da temática, explica com maestria o que é o método utilizado na elaboração deste trabalho, o autor Antônio Carlos Gil: A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em materiais já elaborados, constituídos principalmente de livros e artigos científicos. Embora quase todos os estudos sejam exigidos algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir das fontes bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõe à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas” (GIL, 2002, p. 44) Tendo em vista que nosso problema de estudo era verificar se havia vantagens na elaboração das holdings familiares e como organizá-las, é certo que analisamos em diversos casos abstratos ao longo do trabalho a aplicação do instituto da holding, alcançando assim a conclusão que segue. 45 CONCLUSÃO Em breve síntese, buscou-se entender de onde é originado o instituto da holding, para que seja possível entender a sua essência e averiguar se em uma sociedade com alto nível de competição, com uma elevada carga tributária e com possíveis problemas internos pode ser constituída tomando-se os devidos cuidados e precauções para com os ativos familiares, de modo a já se projetar a sucessão aos seus herdeiros e uma organização tributária. Tendo em vista os pontos acima elencados, procurou-se entender a aplicação do instituto da holding como uma ferramenta útil e que cada vez mais ganha espaço dentre os diversos tipos societários presentes na legislação brasileira, de modo que a averiguar seus reais benefícios inerentes à proteção patrimonial, fiscal e sucessória. Pode-se concluir que, de fato, a holding pode oferecer um grande nexo e aplicabilidade, motivo pelo qual podemos afirmar que há vantagens como alíquotas inferiores e uma menor redução do patrimônio, além de uma melhor gestão da sucessão e administração das empresas, desde que o planejamento estrutural seja bem feito. Analisou-se que, se os instrumentos que a legislação permite a utilização, bem como leituras erradas, uma possível má gestão, aliada a uma administração temerária, trará problemas expressivos a holding de modo a torná-las inviáveis. Porém, se uma boa análise de custos e estrutura for feita, com a escolha analítica e técnica do tipo societário a ser estruturado, com a gestão de conselhos consultivos, bons profissionais, acompanhamento das novas gerações, com aperfeiçoamentos na técnica da gestão, o valor que pode ser gerado e os benefícios parecem ser de longe imensuráveis, tendo um menor custo final em várias operações, manutenção patrimonial e outros, então com a análise teórica feita neste trabalho concluímos que apesar de existirem problemas, se bem organizada, a holding familiar apresenta um número de vantagem bem superiores às desvantagens, explicando o motivo de atualmente ser estudada por profissionais de direito, administração, contabilidade e outras áreas. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, Elaine Cristina de; JUNIOR, Arlindo Luiz Rocha. Holding - Visão Societária, Contábil e Tributária. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2018. BIANCHINI, J; GONÇALVES, R. B.; ECLERT, A; MECCA, M. S. 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DO PODER DE CONTROLE E DA RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO ........ 22 4.1. - Controle .................................................................................................................................. 22 4.2. - Da responsabilidade pela administração ............................................................................. 25 5. DOS ACORDOS E INSTRUMENTOS POSSÍVEIS DE UTILIZAÇÃO NA HOLDING FAMILIAR .......................................................................................................................................... 28 5.1. - Acordo de acionistas ou quotistas ......................................................................................... 28 5.2. - Conselho de administração ou conselho consultivo ............................................................ 30 5.3. - Convenção grupal como possibilidade na holding familiar................................................ 32 6. DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA HOLDING FAMILIAR .. 34 6.1. - Blindagem Patrimonial .......................................................................................................... 34 6.2. - Planejamento sucessório ........................................................................................................ 36 6.3. - Vantagens Tributárias ........................................................................................................... 39 6.4. - Dos encargos e possíveis prejuízos da Holding .................................................................... 42 7. ASPECTOS METODOLÓGICOS ................................................................................................ 44 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 46 1 INTRODUÇÃO Temos no Brasil um contexto de diversas famílias com patrimônios vultosos, que buscam atribuir uma segurança maior e também um gerenciamento direto ou indireto de seus investimentos, uma segurança e estabilidade do núcleo familiar e a preparação de seus herdeiros para que consigam responsabilizar-se pelo negócio criado, nesse contexto encontramos pessoas que buscam a inserção e a criação de holdings familiares. O estudo em questão pretende analisar a origem do instituto das holdings para entender onde ele foi criado e qual o intuito a ser observado para ele, após isso será examinada a evolução e a adaptação do instituto no Brasil, a fim de verificar-se as bases legais e onde se encontram os motivos cabíveis para instituir ou indicar a constituição deste tipo de empresa. Posteriormente a esta análise, buscar-se-á o entendimento dos tipos societários e como eles podem ser organizados em nosso ordenamento, além de considerar a sociedade limitada e anônima com maior cuidado em razão da máxima amplitude que encontramos em suas aplicações no direito pátrio e pela segurança que oferecem em razão da separação patrimonial, inclusive estudando se é viável uma holding familiar como uma limitada unipessoal e a elaboração de um quadro comparativo, tendo em vista as diversas aplicações possíveis, sendo inviável elaborar uma comparação que se esgote em si mesma, considerando que há casos que só são verificados em concreto. Passando essa etapa adentraremos na questão do poder de controle, de compreender o que seja e quais os aspectos relevantes para uma holding familiar comum e os seus tipos de poderes e os mais comumente aplicados, advindo depois para ver a responsabilidade da administração e a possibilidade de obter ressarcimentos em casos de má gestão do patrimônio, violação do objeto da empresa dentre outras, considerando que por vezes as empresas são gerenciadas por administradores de patrimônio. Ademais, temos que analisar documentos e órgãos que podem ser relevantes a uma holding familiar, dentre eles o acordo de acionistas, as possibilidades de constituir um conselho de administração ou um conselho consultivo que viabilize a gestão com uma visão mais próxima dos membros da família e se, em caso de formação de um grupo muito extenso, pode ser aplicado o instituto da convenção grupal. Finalizando a questão, após a vista panorâmica de aspectos formais da sociedade holding é de suma importância verificar e discutir possíveis vantagens referentes à blindagem patrimonial, planejamento da sucessão, organização tributaria, suas vantagens e desvantagens 2 e, por fim, se há questões que possam causar malefícios que inviabilizem a organização deste tipo de instrumento, passando pela linha metodológica utilizada e pela conclusão. 3 1. DO SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DAS HOLDINGS As holdings têm como sua possível origem a publicação do ato do congresso americano PUHCA – Public Utility Holding Company Act of 1935 – tendo em vista o momento conturbado pelo qual atravessava a economia americana com eventos do porte da grande depressão de 1929. A ideia que teria inspirado tal instituto seria a de extinção das práticas desleais, visando coibir os possíveis abusos praticados no mercado, por empresas de determinados setores econômicos, como de eletricidade e de petróleo. Deste modo, o Estado americano assegurou para si a competência de regulação das empresas de serviços públicos, tirando a autonomia dos entes federados dos Estados Unidos, os quais demonstravam ineficiência para a realização desta competência legislativa. A PUHCA permaneceu sem maiores alterações até sua revogação pela elaboração de um novo ato normativo em 1992, este foi denominado EPACT - Energy Policy Act. Porém, a bibliografia acerca do tema demonstra outra possível origem para o instituto da holding, a partir do momento em que foi autorizada a participação de tipos empresariais em outras, isso supostamente ocorreu no ano de 1870, tendo após esse fato, iniciado o processo de integração vertical, onde os grandes grupos corporativos foram estruturando holdings para facilitar e otimizar a distribuição e alocação de produtos no mercado. Já no cenário nacional, essa estrutura surge com a regulamentação da Lei das Sociedades Anônimas datada de 1970, onde há expressa previsão da possibilidade de uma sociedade possuir como objetivo social a participação em outras. Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais. (Lei das sociedades anônimas, 1976) Deste modo, a Lei 6.404/76 possibilitou a criação das companhias holdings, assim como previsão de outras pessoas jurídicas possuírem partição acionaria ou no capital social de outras pessoas jurídicas. Após breve explanação da origem histórica, é importante analisar a raiz etimológica da expressão holding a qual é originária do tipo verbal presente no idioma inglês - “to hold” -; que em tradução literal tem o equivalentes no vernáculo português as seguintes expressões: “segurar”, “deter”, “manter” e “possuir”, também tendo o sentido de “domínio”, conforme explica GladsonMamede. 4 “To hold, em inglês, traduz-se por segurar, deter, sustentar, entre ideias afins.Holding Familiar e suas vantagens. Holding traduz-se não apenas como ato de segurar, deter etc., mas como domínio. A expressão holding company, ou simplesmente holding, serve para designar pessoas jurídicas (sociedades) que atuam como titulares de bens e direitos, o que pode incluir bens imóveis, bens móveis, participações societárias, propriedade industrial (patente, marca etc.), investimentos financeiros etc. Habitualmente, as pessoas mantêm esses bens e direitos em seu patrimônio pessoal. No entanto, procuraremos demonstrar neste livro que, para certos perfis de pessoas e de patrimônios, pode ser interessante a constituição de uma sociedade, ou até de uma estrutura societária (duas ou mais sociedades), com a finalidade de assumirem a titularidade de bens, direitos e créditos, bem como a própria titularidade de atividades negociais” (MAMEDE e MAMEDE, 2017) Da ilustríssima explicação de Mamede, temos que as empresas holdings vão muito além da mera participação em outras sociedades, elas possuem uma atuação diversa e ampla, como exemplos comuns a este instituto podemos citar pessoas jurídicas estabelecidas legalmente com o intuito de deterem participações em bens móveis e imóveis, propriedade industriais, investimento financeiros, ou seja indo além da mera participação societária, a holding portanto pode ter a sua utilização em outros cenários. Dentro dos possíveis cenários, as holdings podem servir como um instrumento jurídico para o uso dentro da realidade familiar, quando há pretensão de proteger o patrimônio, e desmembrar os bens das pessoas físicas dos da pessoa jurídicas, proporcionando uma administração profissional e, por vezes, dando a continuidade da sociedade empresária para outras gerações da família. 5 2. DA DEFINIÇÃO E OBJETIVOS DA HOLDING E SUAS CLASSIFICAÇÕES. Conforme visto acima, o instituto da holding não se trata de propriamente um tipo societário, e sim de uma atividade meio ou fim, que pode ser exercida por um tipo empresarial, logo é uma atividade da empresa, e por dentro desta realidade, o optante pela constituição da sociedade pode eleger por diversos tipos societários e organizar suas atividades para que atenda as suas necessidades; logo trata-se de um instituto jurídico e não de um tipo societário, como veremos a seguir a sua definição e as classificações normalmente apontadas pela doutrina pátria. 2.1 - Definição de holding Como conceito de holding temos que tratar de uma sociedade empresária, com função de deter e gerir participações em quotas (sociedade limitadas) ou por meio de ações (sociedade anônima) ou no capital dos demais tipos empresariais. Via de regra os acionistas ou quotistas das sociedades realizam um investimento em seu capital social, visando com a participação em outras empresas, obter rendimentos como valorização das ações, distribuições de lucros e dividendos, de modo que ela será basicamente uma empresa sócia ou acionista de outra empresa podendo ou não exercer o controle acionário. Segundo Lodi temos que “A holding é o elo entre o empresário e família e o seu grupo patrimonial” (Lodi, 2012. p. 1) Segundo Mamede e Mamede (2018, p. 28 ) “é uma sociedade que detém participação societária em outra ou de outras sociedades, tenha sido constituída para isso (sociedade de participação), ou não (holding mista)”. Segundo Marlon Tomazette: As holdings são sociedades operacionais, constituídas para o exercício do poder de controle ou para a participação relevante em outras sociedades. Dentro desta função, as holdings apresentam-se como um meio extremamente útil para centralizar o controle de um grupo, descentralizando a administração, gerindo de forma unificada grupos de sociedades, que se têm difundido pela prática econômica moderna” (TOMAZETTE, 2017, p. 770). Logo, fica evidente que a holding é um instituto jurídico que visa sumariamente a administração de bens e participações, com fulcro a organizar o patrimônio de pessoas comuns a ela e com isso busca a multiplicação ou manutenção do patrimônio, instrumentada por uma gestão patrimonial completa, por meio da proteção concedida pelos tipos societários que limitam a responsabilidade das pessoas físicas envolvidas ao valor investido no capital da empresa, ou seja, no pior cenário haveria então somente a solidariedade na integralização do 6 capital social como previsto no Art. 1052 do Código Civil Brasileiro: “Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.” Concordamos com Bulgarelli (1996) no que temos a holding vista como a formação de grupos empresariais, de modo a possibilitar a sua inteligência e gestão administrativas, não tendo a sua relação diretamente entre o fornecedor-consumidor, mas sim com a sua participação gerar uma maior rentabilidade aos seus participantes e às empresas que detém participação. Após a breve análise do conceito da holding é importante analisar de modo devido os seus objetivos. 2.2. - Objetivos da holding Sem a intenção de exaurir a discussão sobre os objetivos da holding, os quais podem variar a depender dos interesses de seus participantes, temos, segundo Djalma: [...] • resguardar os interesses de seus acionistas, através da atuação em várias empresas e negócios; • agir como acionista principal das empresas afiliadas, podendo, inclusive, ter a responsabilidade administrativa dos negócios; • administrar o portfólio de investimentos do grupo empresarial; • realizar serviços centralizados às empresas do grupo, atuando, nesse caso, como o embrião de uma administração corporativa; e • representar o grupo empresarial de forma estruturada e homogênea, principalmente com base na consolidação de um conjunto de políticas de atuação administrativa, as quais proporcionam uma personalidade para a empresa holding. As empresas holding podem facilitar o planejamento, a organização, o controle, bem como o processo diretivo de suas empresas afiliadas; e também proporcionam, ao executivo, a possibilidade de melhor distribuir em vida seu patrimônio, sem ficar privado de um efetivo e amplo processo administrativo. Nesse contexto a holding tem elevada influência na qualidade do processo sucessório nas empresas, principalmente as familiares. (DJALMA, 2014, p. 7 e 8) Portanto, fica nítido que o objetivo de montar uma sociedade e aplicar o instituto da holding visa sumariamente a proteção patrimonial dos sócios ou acionistas, a participação em uma gama de negócios, uma administração profissional e proba do patrimônio, que intenciona a preparar, por vezes a sucessão da empresa, atingir a estrutura homogênea de ação, de um grupo de empresas, criar políticas de segurança interna e também como é importante para este trabalho, promover o processo sucessório entre empresas familiares e permitir por vezes a continuação da empresa. 7 Após visualizar o conceito e os objetivos do instituto é importante analisar a possibilidade jurídica deste tipo de atividade como a seguir será exposto. 2.3. - Previsão no ordenamento jurídico brasileiro Em que pese não ser expresso no artigo 2º, parágrafo 3º da Lei 6.404./64, a sociedade que é constituída conforme o instituto da holding, pode ter a participação em outras sociedades e por isso seria uma holding do tipo pura, a qual será explicada a seguir, bem como o artigo também prevê a possibilidade de uma holding mista, pois pode ter o fulcro ou não de ser relacionada a sua atividade empresarial, ou seja além da participação acionária, é viável que a empresa desenvolva outras atividades. Diante disso, segundo Lodi, o artigo supra mencionado purifica a visão sobre a expressão,e segundo Elaine Araujo ele dá origem ao instituto: A holding surgiu com a publicação da Lei nº 6.404/1976 (Lei das S.A. – Sociedades Anônimas), estabelecendo em seu artigo 2º, §3º, contido no “Capítulo I – Características e Natureza da Companhia ou Sociedade Anônima”, o que segue: “Objeto Social Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio. § 2º O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.” (grifo nosso) Ou seja, a sociedade pode ter a participação de forma permanente ou temporária.” (ARAUJO, 2018, p. 2) Após a breve análise da referida autora e diante do mesmo não estar expresso de modo literal no texto mencionado, é justo considerar como a origem e também como previsão legal no ordenamento pátrio para a permissão da constituição de tal instituto. Com isso, definimos, analisamos os objetivos e concluímos que, segundo o ordenamento brasileiro, é viável a constituição de uma holding, sendo que, superado este ponto é necessário partir para as classificações da holding. 2.4. - Classificações Com vistas as holdings poderem exercer atividades empresariais além da mera participação acionaria em outras empresas, conforme a previsão de seu estatuto social ou contrato social, temos que a prática de uma atividade comercial não é vedada, sendo assim um 8 permissivo para possibilidades, como a de estruturar uma sociedade com atividades amplas e complexas, e diante da prática dessas atividades acaba-se por criar classificações, conforme será a seguir exposto com base na classificação elaborada por Mamede e Mamede. O primeiro tipo a ser considerado é a holding pura. Por holding pura podemos compreender uma sociedade empresária fundada com o fulcro de deter a titularidade de quotas ou ações de outras sociedades, comumente também se denomina este tipo de holding como sociedade de participação. A segunda classificação é a holding de controle, entendida como a sociedade empresária de participação, fundada para possuir controle acionário ou societário de outras sociedades empresárias. O terceiro tipo é a holding de participação, entendida como a sociedade empresária de participação, fundada para possuir participações acionarias, por vezes relevantes, porém sem o intuito de controle de outra sociedade. O quarto tipo é a holding de administração a qual é a sociedade empresária que se dispõe a participar de outras sociedades visando a centralização da atividade administrativa de outras sociedades empresariais, de modo a definir planos, orientações e metas. O quinto tipo é a holding mista, a qual é uma sociedade empresária constituída com o objetivo de exercer uma atividade produtiva, além de possuir participação societária em outras sociedades. O sexto tipo é a holding patrimonial, entendida como uma sociedade empresária, fundada para deter uma parcela do patrimônio dos sócios e realizar sua administração, motivo por ser também conhecida como sociedade patrimonial. O sétimo tipo é a holding imobiliária que tem fulcro em deter a propriedade de imóveis, visando a gestão e administração deles bem como suas locações. Após classificar as holdings de diversos modos, como acima exemplificado, Mamede e Mamede, explicam que: A chamada holding familiar não é um tipo específico, mas uma contextualização específica. Pode ser uma holding pura ou mista, de administração, de organização ou patrimonial, isso é indiferente. Sua marca característica é o fato de se enquadrar no âmbito de determinada família e, assim, servir ao planejamento desenvolvido por seus membros, considerando desafios como organização do patrimônio, administração de bens, otimização fiscal, sucessão hereditária etc. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 30 e 31) Logo, a holding familiar não é propriamente um tipo ou uma classificação de uma holding, mas sim o modo de aplicação delas, de forma a conseguir uma melhor organização, 9 gestão, otimização, planejamento fiscal e demais fins para o patrimônio de uma determinada família, de modo que atualmente é largamente utilizada. Como foi analisado acima, o instituto da holding não é exatamente um tipo societário e nem as suas classificações remetem a tal, motivo pelo qual analisaremos como é possível constituir uma holding familiar e deste modo atingir o objetivo de uma melhor gestão e as outras possibilidades de benefícios atrelado ao instituto. 10 3. TIPOS SOCIETÁRIOS E HOLDING FAMILIAR Como analisado acima, a holding é um instituto jurídico e não um tipo societário, motivo pelo qual faremos uma breve análise focando nos aspectos dos principais tipos jurídicos da atualidade e a sua aplicabilidade para a formação de uma holding familiar. Primeiramente cabe fazer um introito, demonstrando a principal divisão entre os tipos societários em nosso ordenamento pátrio, o artigo 982 do Código Civil brasileiro dispõe o seguinte: “Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.”, ou seja, segundo o próprio ordenamento, temos a divisão primária entre as sociedades simples e as sociedades empresárias. Ricardo Negrão em seu volume 1 do Curso de Direito de Empresa conceitua que: Em relação à atividade desenvolvida, as sociedades se classificam em: empresárias, as que exercem atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços; e simples, todas as demais, isto é, as que, embora pratiquem atividade econômica, não desenvolvem o objeto próprio das empresárias (CC, art. 982). (NEGRÃO, 2020, p. 296 e 297) Motivo pelo qual é evidente que temos em nosso ordenamento jurídico sociedades que possuem o intuito de auferir o lucro, o que no fim é o objeto próprio das atividades empresarias e há sociedades que não possuem esse intuito, diante disso também se faz necessário mencionar o princípio da tipicidade societária que nas palavras de MAMEDE E MAMEDE são: Assim, só se pode criar uma sociedade, simples ou empresária, seguindo um dos tipos (formas) previstos na legislação. Não se pode inventar um tipo novo, nem se pode pretender criar uma sociedade que adote uma conformação mista: parte de um tipo societário, parte de outro tipo. Isso não significa, contudo, que as sociedades brasileiras sejam, em tudo, padronizadas. Cada tipo societário tem um conjunto mínimo de características, entre elementos obrigatórios e elementos vedados. Atendido esse padrão mínimo, há um amplo espaço para que, nos contratos sociais e nos estatutos sociais, uma cara própria seja dada a cada sociedade. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 35) Então temos que no Brasil não é possível inventar um tipo societário holding e sim que a sociedade pode deter a participação em outras sociedades como prevê o já citado Artigo 2°, parágrafo 3º da Lei 6.404/64, ou ter como objeto social da sociedade a participação em outros negócios, ou a gestão de seu próprio patrimônio no caso da holding imobiliária. Diante disso, se deve observar as peculiaridades de cada tipo societário para que se consiga fazer uma análise de qual estrutura traz maior sentido ao que se planeja obter com a organização de uma holding familiar, por isso entraremos a seguir a análise dos principais tipos. 11 3.1. - Sociedade Simples O presente tipo detém sua precisão legal no Artigo 983 do Código Civil brasileiro a seguir exposto: A sociedade empresária deve constituir-sesegundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo. (CÓDIGO CIVIL) Como ensina MAMEDE E MAMEDE temos que: O artigo 983 do Código Civil afirma que a sociedade simples pode ser constituída sob a forma de sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada ou sociedade cooperativa. Mas, ao final do dispositivo, também aceita que se constitua sociedade subordinada “às normas que lhe são próprias”. Dessa maneira, acabou por aceitar um quinto tipo, ao qual se atribuem nomes diversos como uma sociedade simples comum ou sociedade simples em sentido estrito, entre outros. Esse tipo societário regula-se pelas normas inscritas nos artigos 997 a 1.038 do Código Civil. Essencialmente, cuida-se de tipo societário que tem natureza societária única: será sempre uma sociedade simples e contratual, sendo que sua existência principia a partir do registro do contrato social no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 38) Motivo pelo qual temos como sociedades simples as sociedades em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, cooperativa e também uma outra a qual normalmente tem seu nome como sociedade simples ou em comum, ela detém uma característica na qual pessoas jurídicas ou físicas podem criar um vínculo societário, marcada por um grande affectio societatis, motivo pelo qual alguns atribuem a ela o nome de sociedade civil ou de pessoas. Uma das principais questões acerca dessa temática é o mote de não haver uma responsabilidade limitada dos sócios ao patrimônio investido na sociedade, de modo que caso ocorram fraudes na administração ou prejuízos recorrentes, os sócios responderão integralmente com o seu patrimônio, motivo pelo qual entende-se como um tipo arriscado para a constituição da holding, uma vez que uns dos intuitos de montar uma empresa é de certo modo manter a maior segurança aos sócios de que seus respectivos patrimônios não serão afetados, porém mantendo ainda na série de sociedades despersonalizas iremos fazer uma breve análise sobre a sociedade em nome coletivo. 12 3.2. - Sociedade em nome coletivo Trata-se de sociedade que pode ser de caráter simples ou empresária, conforme for o desejo daqueles que a constituem, por sinal ela será composta somente por pessoas físicas, tendo a administração vinculada aos sócios, ou seja, não sendo admitido administrador estranho ao quadro societário, um de seus problemas é o fato da responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pela obrigação social. É encontrada sua previsão nos artigos 1.039 a 1.044 do código civil brasileiro e a ela aplica-se supletivamente a regra das sociedades simples acima expostas, por se tratar de uma sociedade peculiar com nível de relação estrito entre os sócios e o qual não precisaria de tantas formalidades para a sua constituição, poderiam indevidamente geral uma expectativa de ser algo seguro blindar o patrimônio por meio dela, o grande problema é que o fato de deter regras de cessão de quotas extremamente rígidas, não permitir a administração por terceiro estranho a sociedade e tampouco ter responsabilidade limitada, tiram um atrativo e a possibilidade deste tipo possuir um protagonismo maior. 3.3. - Sociedade em comandita simples Trata-se um tipo societário de rara ocorrência, por vezes encontramos referências na doutrina de que este tipo seria uma espécie de contrato de investimento, ela encontra uma espécie mais permissiva em relação ao quadro social, podendo possuir pessoas físicas ou jurídicas. Esta sociedade é famosa por possuir sócios de duas categorias, o denominado comanditário que segundo MAMEDE e MADEDE: “ [...] aquele que investe na sociedade, mas não a administra” e o sócio comanditado que é o responsável pelo operacional da atividade, essa sociedade é denominada por alguns como sociedade oculta, pois não há necessidade de registro do contrato social e o sócio comanditário por vezes é denominado sócio oculto. Tal tipo garante uma segurança ao sócio oculto, por estes terem a responsabilidade limitada ao investimento realizado e seu patrimônio permanece responsável, sendo o comanditado responsável pelos débitos da sociedade de modo integral. Não há vedação de que o sócio ostensivo seja uma pessoa jurídica de responsabilidade limitada, de modo que não se realiza de fato a formação da holding via este tipo societário em um primeiro momento, porém é viável a estruturação de uma operação de aporte de 13 investimentos por meio desse tipo de sociedade ficando deste modo com a responsabilidade limitada ao investimento realizado na sociedade que age como a ostensiva, este tipo societário se faz interessante também para possibilitar a participação de alguém que esteja impedido de estar na sociedade limitada ou anônima, porém com o investimento realizado pode obter retornos a títulos de juros ou dividendos no contrato de constituição da sociedade de conta em participação, motivo de ser um instituto que pode vir a ser usado não para constituir a holding, mas sim para possibilitar determinadas operações. 3.4. - EIRELI A EIRELI é a Empresa Individual de Responsabilidade limitada, trata-se de pessoa jurídica de direito privado, prevista no Art. 44 do Código Civil conforme concluído pela Lei nº12.44/2011: Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) (Código Civil) (grifos nosso) Esse tipo jurídico encontra sua normatização no Artigo 980-A do código civil brasileiro que nos ensina que: Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) (Código Civil) Logo temos uma empresa, a qual muito se discute a natureza jurídica, uma vez que não se encontra classificada como uma sociedade propriamente tida, trata-se de uma empresa que tem suas quotas detidas por uma única pessoa, que pode gravar com eventual usufruto de quotas e tem que integralizar no mínimo 100 salários mínimos, pode ser ela constituída por uma pessoa física ou jurídica, sendo a única empresa desse gênero a qual ela será titular, pode ter a administração exercida por terceiros e encontra-se regulada pela Instrução Normativa do DREI de nº 38/2018 em seu anexo V. Possuía a vantagem de poder ter uma única titular, o que não era permitido na época de sua criação para as limitadas por um período superior a 180 dias, ocorre que para a 14 constituição de uma holding familiar complexa, não faz muito sentido a instituição de uma empresa que tenha somente um titular, por mais que possua outros administradores. Outra questão que foi muito discutida era sobre a possibilidade deste tipo societário poder deter participações em outras sociedades como algumas holdings, tal discussão encontra- se sanada, conforme a Deliberação da Junta Comercial do Estado de São Paulo (“JUCESP”) de número 13 de 2012, a qual possui a permissão para que a EIRELI possua a participaçãoem outras sociedades, por isso não há vedação para a constituição de uma EIRELI holding, mesmo que não apresente sentido diante da possibilidade que a lei de liberdade econômica trouxe de haver sociedades limitadas unipessoais e também ao fato de que tal empresa, não apresenta um sentindo lógico para a formação de uma holding familiar, a seguir veremos brevemente a Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima que possuem uma maior relevância ao falarmos de holdings familiares. 3.5. - Sociedade Limitada Um dos tipos societários mais utilizados no Brasil, a sociedade limitada vêm prevista no código civil brasileiro de 2002, partindo do Artigo 1.052 e seguintes, sendo este mencionado de suma importância, uma vez que prevê um dos pontos essenciais deste tipo, sendo está a responsabilidade limitada ao valor das quotas e somente a solidariedade pela integralização do capital. Umas das inovações mais relevantes desse tipo societário veio com a Lei nº 13.874 de 2019, onde acrescentou os parágrafos 1º e 2º ao artigo 1.052 do código civil com a seguinte redação: § 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)” (Código Civil)” Essa relevante alteração legislativa permitiu a criação e a possibilidade das sociedades limitadas permanecerem somente com um sócio, o que não podia antes acontecer, permitindo uma sociedade empresária sem um limite mínimo de capital investido como a EIRELI, de ser constituída, devemos notar que no caso das holdings familiares estamos falando de um patrimônio médio elevado que poderia facilmente superar o investimento mínimo, mas no caso da limitada, é possível com somente uma alteração permitir a entrada de novos sócios sem a 15 necessidade de alterar de uma EIRELI para a limitada, diante dessa flexibilidade, por vezes para uma maior simplificação, pode ser feita a constituição da holding familiar como unipessoal e depois acrescentar os demais sócios e o patrimônio eventualmente imobiliário. Um importante instrumento que pode ser utilizado neste tipo empresarial é a divisão de quotas de modo igualitário com as quotas de um mesmo valor, possuindo um mesmo número de quotas ou a possibilidade de uma quota possuir um valor diverso para outro sócio, mas pelo contrato ambos possuírem o mesmo número de quotas. Há necessidade de definir quais serão as normas suplementares da sociedade, em vistas de se optar pela legislação aplicável às sociedades anônimas, ou à sociedade em comum em caso de omissão do contrato social; por conta desse detalhe é de suma importância a previsão do modo de sucessão das quotas, tendo em vista o caráter por vezes personalíssimo que uma holding familiar possa ter, e para evitar conflitos familiares esta parte sucessória deve ser amplamente discutida e aqui respeitados os bons costumes é viável estabelecer a dissolução parcial das quotas referentes ao falecido, a entrada dos sucessores na sociedade, ou outras possibilidades, que para a fluidez e manutenção da sociedade são extremamente relevantes. Outros dois pontos relevantes para um holding familiar são a possibilidade de uma exclusão de algum membro, por exemplo um(a) ex-cônjuge, isso pode vir a ser previsto em um acordo de quotistas, mas é de especial a importância que haja expressa previsão no texto do contrato social que rege a sociedade, uma vez que somente pode haver o procedimento de exclusão dos de sócios, caso eles violem obrigações essenciais que coloquem em risco a continuidade da empresa, cumulativamente com a previsão da exclusão no texto do Contrato Social onde por força do Art. 1.085 do Código Civil, tendo de ser indicado por mais de metade do capital social, considerando que o sócio poderá defender-se das acusações dos atos de inegável gravidade pare evitar a sua exclusão, caso não consiga provar que não praticou os atos e decidindo os demais sócios pela exclusão, abrir-se-á o procedimento de liquidação das quotas e alterações do Contrato Social, para retirada do sócio excluído e assegurando assim a continuidade da empresa. O outro ponto que deve ser analisado é a possibilidade do direito de retirada e como se dará os pagamentos dos haveres apurados pelo valor contábil apurado em um balanço especial e com a necessidade de notificação aos demais sócios para que se possa reunir o valor necessário. Um dos pontos relevantes para o uso desse tipo societário é o fato dele apresentar uma menor burocracia e maior simplicidade frente a sociedade anônima, sendo no caso da limitada, desnecessária a publicação de atos societários em jornais e do balanço financeiro para a 16 aprovação de contas, exceto em casos específicos como a redução de capital que para evitar fraude a credores, revela a necessidade de publicações. Outro caso em que se tem uma maior simplicidade e pode ser relevante para a arquitetura de uma holding familiar que detenha uma parte patrimonial vasta é o fato de não haver a necessidade de realizar um laudo de avaliação dos bens da sociedade de modo que respondem os sócios pela exara estimação dos bens pelo período de 5 anos, conforme ensina o parágrafo primeiro do artigo 1.055 do Código Civil: Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. §1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade. §2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços. (Código Civil) Diante disso, uma instrumentalização menos complexa e com um custo operacional reduzido permite a utilização de uma sociedade limitada como uma boa alternativa para a organização de uma holding familiar, fora isso pode haver a distribuição de lucros nos moldes do contrato social ou das decisões dos sócios que permitem a análise mais simplificada da operação e uma distribuição desigual sem a necessidade de haver a emissão de outros tipos de quotas ou valores de investimento. A sociedade limitada também comporta um conselho fiscal, figura que permite os seguintes atos mencionados por MAMEDE e MAMEDE: (1) examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar lhes as informações solicitadas; (2) lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo; (3) exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; (4) denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; (5) convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de 30 dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; (6) praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação. (MAMEDE E MAMEDE, 2017, p. 43 e 44) Além do fato de haver diversas vedações para quem assumir o cargo como conselheiro, diante disso e entendendo como um órgão fiscalizatório, para um patrimônio substancial e com uma diversidade de sócios e bens pode ser interessante ter tal órgão de fiscalização para que se possa auferir uma correta gestão dos bens sociais e promover uma maior rentabilidade, porém pode não ter esse órgão reduzindo os custos e permitindo uma operação muito enxuta, típica 17 desse tipo de cenário onde as famílias visam a melhor estruturação patrimonialpara redução da carga tributária e a sucessão mais simplificada. Após a breve análise de pontos relevantes sobre a sociedade limitada e os motivos dela apresentar um aspecto interessante para a constituição, iremos analisar a sociedade anônima para verificarmos pontos provocativos desse tipo e a razão de diversas holdings serem constituídas deste modo. 3.6. - Sociedade Anônima Trataremos agora de um dos mais complexos tipos societários, o qual sempre possui um aspecto de capital e empresarial e não uma sociedade que detenha uma importância em saber quem são seus sócios, ela foca mais em grandes empresas e nela o acionista é somente responsável pela integralização do capital, sem responsabilidade solidária pela integralização do capital, como bem explica MAMEDE e MAMEDE: A sociedade anônima é sempre empresária, registrando se na Junta Comercial. Pode ser companhia fechada ou aberta, essa última com títulos negociados no mercado aberto, ou seja, nas bolsas de valores, desde que haja autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). (MAMEDE E MAMEDE, 2017, p. 47) Trataremos aqui da diferenciação de forma superficial, a sociedade anônima pode ser de capital aberto possuindo uma maior liquidez e sendo suas ações e valores mobiliários livremente circulados no mercado, enquanto a de capital fechado há um maior controle dos valores mobiliários e assim se conhece melhor os acionistas do quadro, motivo pelo qual normalmente a sociedade anônima para fins de constituição de uma holding familiar é a fechada. Além do mais, por mais que este tipo de sociedade vise os valores e a liquidez, tem se entendido jurisprudencialmente que é possível haver a existência do affectio societates conforme decidido no Agravo regimental no Recurso Especial de número 1079763 de São Paulo, de relatoria do Ministro Aldir Passarinho Junior, julgado em 25 de agosto de 2009 e publicado no Diário da Justiça em 05 de outubro de 2009 onde ficou decidido que: “COMERCIAL. AGRAVO REGIMENTAL. SOCIEDADE ANÔNIMA FAMILIAR. DISSOLUÇÃO PARCIAL. INEXISTÊNCIA DE AFFECTIO SOCIETATIS. POSSIBILIDADE. SUFICIÊNCIA DESTE REQUISITO, ISOLADAMENTE. MATÉRIA PACIFICADA. I. A 2ª Seção, quando do julgamento do EREsp n. 111.294/PR (Rel. Min. Castro Filho, por maioria, DJU de 10.09.2007), adotou o entendimento de que é possível a 18 dissolução parcial de sociedade anônima familiar quando houver quebra da affectio societatis. II. Tal requisito não precisa estar necessariamente conjugado com a perda de lucratividade e com a ausência de distribuição de dividendos, conforme decidido pelo mesmo colegiado no EREsp n. 419.174/SP (Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJU de 04.08.2008). III. Agravo regimental improvido”. (4ª T., AgRg no REsp nº 1079763-SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 25/8/2009, DJe de 5/10/2009, apud FRAZÃO, Ana, 2019) Visto isso, jurisprudencialmente se reconhece o caráter do affectio societats, inclusive em sociedades anônimas, motivo pelo qual é viável a dissolução social da sociedade anônima, o que em tese pela essência do tipo jurídico seria vedado, após isso vemos que há de fato a possibilidade de constituir uma holding familiar, tomando o devido cuidado em relação aos vínculos familiares entre os acionistas, visando uma melhor preservação da empresa. Diante do analisado, não aprofundaremos nas questões da sociedade anônima aberta, pois esse tipo não apresenta sentido para uma holding familiar, que tenha a proximidade e um maior controle da circulação dos títulos que acaba sendo inviabilizado por meio da abertura do capital, além do valor e tempo dispendido no procedimento que é muito alto; por isso ao falarmos de sociedade anônima, estaremos considerando mais sumariamente o caráter da sociedade anônima fechada. As formalidades para a sua constituição são maiores sendo necessário como explica MAMEDE e MAMEDE: (1) a subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto; (2) o pagamento em dinheiro, como entrada, de no mínimo 10% (se mais não exigir lei especial) do preço de emissão das ações subscritas; e (3) o depósito, no Banco do Brasil S.A. ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro, a ser efetuado pelo fundador, no prazo de cinco dias contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade em organização, que só poderá levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica. Caso a companhia não se constitua em seis meses da data do depósito, o banco restituirá as quantias depositadas diretamente aos subscritores. Para além desses requisitos comuns, distingue-se a constituição entre subscrição pública, para companhias abertas, e subscrição particular, para companhias fechadas.” (MAMEDE E MAMEDE, 2017, p. 47) Há também um fator de alta relevância além do depósito em pecúnia de 10% do capital social em instituição oficial, há necessidade de elaborar um laudo de avaliação de bens imóveis conforme disposto no artigo 8ª da Lei das Sociedades anônimas: Art. 8º A avaliação dos bens será feita por 3 (três) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembleia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocação 19 com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número. (Vide Decreto-lei nº 1.978, de 1982) § 1º Os peritos ou a empresa avaliadora deverão apresentar laudo fundamentado, com a indicação dos critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados, e estarão presentes à assembleia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informações que lhes forem solicitadas. § 2º Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembleia, os bens incorporar-se- ão ao patrimônio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respectiva transmissão. § 3º Se a assembleia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia. § 4º Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o subscritor. § 5º Aplica-se à assembleia referida neste artigo o disposto nos §§ 1º e 2º do artigo 115. § 6º Os avaliadores e o subscritor responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da responsabilidade penal em que tenham incorrido; no caso de bens em condomínio, a responsabilidade dos subscritores é solidária. (Lei n°6.404/64) Isso pode ser preponderante para a formação da holding familiar, pois o fato de ser exigida essa avaliação para a integralização de bens gera um dos maiores obstáculos burocráticos para a sociedade anônima, também temos a necessidade de realizar diversas publicações em jornais de grande circulação, o que infelizmente faz com que esta sociedade tenha um custo operacional um tanto quanto mais elevado em relação à limitada, uma vez que é necessário publicar as demonstrações financeiras e assembleias gerais realizadas. Diante disso temos um ponto negativo para quem deseja uma estrutura mais enxuta. Porém, aqui as regras próprias dos acordos de acionistas podem permitir a exclusão de um acionista por meio do regate de ações, a sucessão será automática, pela transferência de titularidade das ações. Há possibilidade de estruturar várias operações por meio de ações diferenciadas como as ordinárias e preferencias, ou seja, dependendo da complexidade da holding familiar e da segurança que se pretenda possuir, a sociedade anônima será melhor. Neste caso oconselho de administração é órgão não obrigatório, porém o conselho fiscal com competências semelhantes é de existência obrigatória, tendo um valor operacional incrementado; portanto, é possível ter várias diretorias com membros estranhos ao quadro societário e outros, sendo sempre a assembleia geral o órgão supremo da sociedade anônima. Em que pesem seus custos, dependendo da complexidade e do patrimônio familiar, com a possibilidade de omitir o nome dos sócios, há pleno sentido em se elaborar essa estrutura mais robusta para uma maior segurança. Após essa breve análise faremos a exposição de um pequeno quadro comparativo. 20 3.7. - Breve comparativo entre a Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima Visando uma melhorar clarificação entre os dois principais tipos societários, foi montado um pequeno quadro comparativo entre a sociedade limitada (“LTDA.”) e a Sociedade Anônima (“S.A.”) a seguir exposto: ASSUNTO LTDA. S.A. Direito de Voto Não há como excluir o direito de voto Possibilidade de excluir o direito de voto via ações preferenciais Tomada de decisão Tomada de forma proporcional ao valor do capital social detido por cada sócio De acordo com o número de ações ordinárias nominativas, independentemente do valor pago por elas Distribuição de Lucros Dividendo nos termos estabelecidos no contrato social e nas decisões da reunião ou assembleia de sócios que decidirá acerca dos dividendos Dividendo obrigatório previsto em lei em caso de omissão do Estatuto Social Dividendos Desproporcional Mediante previsão expressa no contrato social Mediante criação de ações com diferentes classes para as quais sejam atribuídos direitos distintos quanto à participação nos lucros, dessa forma, contornando a vedação legal e possibilitando a distribuição desproporcional nas sociedades por ações Apuração de Haveres Caso aplicado a regra das Sociedades Simples, em caso de omissão do Contrato Social com base no balanço contábil especialmente levantado Jurisprudencialmente tem sido aplicada a regra do balanço patrimonial especialmente levantado para apuração dos haveres Apuração de Haveres Caso aplicada a regra das Sociedades Simples, em caso de omissão do Contrato Social com base no balanço contábil especialmente levantado Jurisprudencialmente tem sido aplicada a regra de um balanço patrimonial especialmente levantado para apuração dos haveres 21 ASSUNTO LTDA. S.A. Falecimento de um sócio Deve ser previsto em contrato social Os herdeiros assumem os direitos automaticamente e os exercem em nome próprio Exclusão de Sócios Somente se motivada e caso o sócio descumpra suas obrigações sociais mediante previsão no Contrato Social e se indicado por mais de metade do Capital Social. Via resgate de ações ou venda forçada de acionista remisso Direito de Retirada Mediante notificação dos demais sócios com no mínimo sessenta dias e haverá a apuração de haveres pelo valor contábil apurado em balanço especial. Do acionista dissidente mediante reembolso de suas ações nos termos da lei Publicação de informações Não é necessário publicar os atos societários em jornais, exceto em situações específicas Existem regras de divulgação obrigatória em diário oficial e em jornal de grande circulação da localidade de sua sede a respeito de seus atos constitutivos, assembleias gerais e demonstrações financeiras anuais, dentre outros Tabela I – Comparativo da Sociedade Limitada com a Sociedade Anônima de autoria própria 22 4. DO PODER DE CONTROLE E DA RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO Após a análise dos tipos societários, é relevante entender o que é o poder de controle e as possíveis responsabilidades referentes a administração de uma holding familiar, deste modo sendo de grande valor fazer a análise de qual tipo de poder de controle igualmente comum para a realidade de uma holding e as consequências possíveis de uma má gestão do patrimônio. Iremos agora analisar sobre o poder de controle com vistas à obra de Comparato e Salomão. 4.1. - Controle Ao falarmos de controle de empresas, tratamos na realidade da forma das estruturas de poder, normalmente vistas em Sociedade Anônimas de grande porte, Comparato (2015) identifica esse poderes dos seguintes modos: o da participação acionária ou no capital, o de direção e o de controle, sendo que o controle pode ou não decorrer da participação no capital social por parte de um dos sócios ou acionistas. Tínhamos, em um cenário anterior, as decisões tomadas por meio das assembleias gerais, das quais todos os acionistas com direito a voto eram participantes, e os conceitos de maioria e minoria se relacionavam à metade mais um voto, o que pela complexidade de algumas estruturas societárias, principalmente em sociedades anônimas de capital fechado são inviabilizadas, ao termos a previsão do Artigo 109 de Lei das Sociedades Anônimas, temos a relação a seguir listada: Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia-geral poderão privar o acionista dos direitos de: I - participar dos lucros sociais; II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais; IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; (Vide Lei nº 12.838, de 2013) V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.[...] (Lei n°6.404/76) Neste rol de direitos, não está presente o direito a voto, algo que é intrínseco ao poder de controle de uma sociedade anônima, ou seja, pela estruturação de emissão de ações preferenciais sem direito ao voto, podemos ter um acionista com mais de metade do capital, porém sem a possibilidade de controlar a sociedade, tendo em vista não possuir a maioria do capital votante, neste mesmo sentido podemos analisar cuidadosamente o Artigo 116 da Lei das Sociedades Anônimas que define quem e o que é o acionista controlador. 23 Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia. Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. (Lei n°6.404/76) Da análise do texto frio da lei podemos entender que o acionista controlador será a pessoa que detém a maioria dos votos na assembleia-geral e em conjunto com isso utiliza-se da sua posição para dirigir as atividades sociais, porém nem sempre ele será um conselheiro ou diretor eleito, conforme Comparato: O controle pode provir da participação no capital, mas não se confunde com ela, como acentuaremos dentro em pouco. Por outro lado, se os diretores de uma companhia não precisam ser acionistas, é escusado dizer que o controlador nem sempre assume as funções diretivas. (COMPARATO, 2014, p. 28) Logo, não obrigatoriamente por possuir a maioria do capital votante, o acionista será presente nas decisões diárias e sim os que ele designou, de modo que ele seguirá as diretivas do controlador, porém em uma gestão profissional, pode opor-se ao controlador por ser figura distinta dele, independente do fato do mesmo ser eventualmentedestituído da sociedade por seu ato contrário. Tal faculdade de poder escolher conselheiros e administradores possibilita ser extremamente relevante e por vezes denota até algum valor monetário para que certo grupo volte a ter o controle; especialmente diante do fato de termos cada vez mais pluralizadas as ações em companhias abertas. Porém, como este trabalho visa a análise de holdings familiares, as quais não detém e nem tem esse caráter de pluralização, Comparato distingue o poder de controle em externo e interno, o primeiro sendo uma diretiva externa a sociedade, tida como os poderes de um juízo falimentar; o poder dos debenturistas de uma sociedade, os poderes de um sócio oculto que mesmos externos a sociedade podem representar um poder controlador e diretivo incidente sobre ela, o qual não merece uma grande digressão, pois já abordamos anteriormente a possibilidade do poder externo do sócio oculto por meio do investimento e agora é necessário compreender o que de fato é comum verificar em empresas familiares, ou 24 seja, o controle por parte da maioria, sendo este o poder interno, entendido por controle externo e interno: Não se pode, a nosso ver, recusar a distinção básica entre controle interno e externo. No primeiro caso, o titular do controle atua no interior da sociedade (ab intus), lançando mão dos mecanismos de poder próprios da estrutura societária, notadamente a deliberação em assembleia. No segundo, o controle pertence a uma ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, que não compõem quaisquer órgãos da sociedade, mas agem de fora (ab extra). (Comparato, 2014, p.32) Ao tratarmos de poder interno, temos o domínio exercido pelos quotistas ou acionistas dentro da própria sociedade e decorrem das assembleias gerais e das reuniões dos sócios, para a maioria dos tipos societários, Berle e Means (1967) apud Comparato (2014) destacam em seus estudos cinco espécies de controle interno, eles são o totalitário, majoritário, obtido por meio de expedientes legais, minoritário e administrativo ou gerencial. O controle totalitário é o tipo onde um único acionista, ou um reduzido grupo de acionistas detém quase todas as ações com direito a voto, por isso essas sociedades são quase unipessoais, ao passar para o direito brasileiro é viável observar esse tipo de controle em subsidiarias integrais, EIRELI e a sociedade limitada, quando assume um caráter unipessoal. O controle majoritário entende-se por aquele ao qual uma parte ou as partes em conjunto concentram mais de cinquenta porcento das ações com voto, dando a ele margem de escolher o conselho e a direção de modo a objetivar situações e diretrizes para sociedade, isso é largamente visto em sociedades familiares onde o pai pode reservar a maioria do capital social para si e deste modo conseguir coordenar a sociedade. O controle de mediante expediente legal é o visto em técnicas de controle piramidais como estabelecer ações sem direito a voto e afins, de forma a limitar eventual controle de outras partes. O controle minoritário que é relacionado a dispersão das ações, onde acionistas com uma participação reduzida conseguem eleger o conselho e diretores para que a sua vontade prevaleça frente a maioria, ocorrendo em caso de abstenção de uma maioria do capital votante. Por fim temos o controle gerencial, sendo onde há controle, mas não há participação acionaria relevante. Estes casos ocorrem em dissoluções altas de capital, nas quais os acionistas perdem o interesse na administração e o controle cabe aos administradores; pode ocorrer esse modelo em uma sociedade menor, onde o sócio titular de todas as ações ou maioria elege uma diretoria de sua confiança e nem a fiscaliza ou faz outros atos, determinando a eles o controle, 25 o que, por vezes, herdeiros fazem com sociedades familiares, para manter o rendimento e o funcionamento da empresa. Com essa breve análise vemos que o controle de uma determinada sociedade passa pelos seus titulares, quotistas ou acionistas, ao falarmos em família, e em relações familiares e no intuito de preservar patrimônio. É relevante notar que há, via de regra, um controle majoritário ou de expediente legal onde uma das partes abarca o poder de gerir o patrimônio, ou o poder gerencial, onde se constitui uma empresa, monta o capital de bens e ele se institui uma gestora patrimonial a qual fará o controle e terá a responsabilidade. Com isso o poder de controle pode ficar muito próximo da administração e da sua responsabilidade, o que será a seguir analisado, para entender o que faculta a uma família que confiou o poder gerencial a uma gestora fazer, caso venha a ser prejudicada. 4.2. - Da responsabilidade pela administração Ao tratarmos da administração, estamos falando no sentido amplo, englobando os diretores nas sociedades anônimas e os administradores na sociedade limitada, essa pessoa responsável pela gestão da empresa não é mero mandatário dos sócios, e sim trata-se de um órgão de gestão da sociedade e seus deveres vão além da livre vontade dos quotistas ou acionistas, abrangendo os mais amplos interesses de investidores, da sociedade e dos proprietários, o artigo 158 da Lei 6.404/76 traz a questão da responsabilidade dos administradores sendo: Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder: I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II - com violação da lei ou do estatuto. (Lei 6.404/76) Ao analisar temos que o inciso I trata de danos causados por culpa ou dolo sendo o segundo a violação da lei o estatuto, ou seja, há responsabilidade com base na obrigação do dano causado pelo ilícito, podendo ainda haver a responsabilidade criminal e administrativa do administrador. A responsabilidade do inciso I é mais evidente e é unanime a doutrina em tratar como uma responsabilidade subjetiva aos administradores, cabendo a ser provado o procedimento culposo realizado pelo administrador para que se obtenha a indenização. 26 Quanto à responsabilidade do inciso II, temos uma divergência doutrinaria, sendo melhor não entrar no mérito da discussão exaustiva, caso tenha ocorrido a violação deve haver a busca da indenização por partes dos proprietários da sociedade. Há necessidade das diretivas estarem estabelecidas pelo estatuto e pelos contratos firmados entre os administradores para que se alcancem os objetivos da sociedade, o administrador, além de observar isso, tem o dever de ser leal e diligente na condução dos negócios sociais, analisando a atividade exercida pela empresa para que a sua gestão retorne o lucro e os benefícios que os sócios pretendem ao contratá-lo, referente à lealdade temos o artigo 155 da Lei das Sociedades anônimas que nos explica este ponto: Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva sobre os seus negócios, sendo-lhe vedado: I - usar, em benefício próprio ou de outrem, com ou sem prejuízo para a companhia, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do exercício de seu cargo; II - omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia ou, visando à obtenção de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades de negócio de interesse da companhia; III - adquirir, para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessário à companhia, ou que esta tencione adquirir. (Lei 6.404/76) Por isso, deve o administrador adotar o cuidado e as devidas medidas para não gerar uma expectativa de quem o contrata para gerir o patrimônio de sua família, ele deve agir com a probidade de um homem de negócios e não prometer resultados impossíveis ou coisas que são inviabilizadas, sobre a questão ele também não deve estar impedido