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© Revista da ABRALIN, v.14, n.1, p. 47-84, jan./jun. 2015
VOWELS IN NON-FINAL POST-TONIC CONTEXT
IN VARIETIES OF PORTUGUESE: THEORETICAL
QUESTIONS
VOGAIS EM CONTEXTO POSTÔNICO NÃO FINAL
EM VARIEDADES DO PORTUGUÊS: QUESTÕES
TEÓRICAS
Alessandra DE PAULA
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Silvia Figueiredo BRANDÃO
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/CNPq/FAPERJ)
RESUMO
das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Lisboa, para retratar, respectivamente, os
processos de alteamento e cancelamento e esboçar uma interpretação teórica sobre o quadro
ABSTRACT
PALAVRAS-CHAVE
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
48
KEYWORDS
Introdução
O sistema vocálico do Português é constituído por sete vogais – /
/– que só ocorrem plenamente em contexto tônico. Nas demais
depender do maior ou menor grau de atonicidade da sílaba. Um dos
/ e / /– a depender da
sistema para três vogais /
europeia, ao longo dos séculos, o alteamento se implementou em todo
],
variáveis ainda atestados nas vogais do Português do Brasil (doravante
Neste artigo, tem-se dois objetivos principais: (i) analisar, com base
nos princípios teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista,
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
49
– respectivamente o alteamento e o cancelamento – que se observam
o vocalismo postônico medial em português, tomando como base os
sobre o vocalismo do PB e do PE.
Para tanto, no item 1, apresenta-se uma síntese de estudos sobre o
vocalismo nas duas variedades, e, em particular, no âmbito das vogais
médias no contexto em pauta. No item 2, indicam-se os procedimentos
metodológicos que nortearam as análises (2.1) para, nos itens 2.2 e 2.3,
1. O vocalismo postônico medial em Português
duas variedades.
No PE, simultaneamente ao alteamento, atua também um processo de
/ e / /.
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50
1.1 A assimetria no Português do Brasil
Antes de recentes estudos sociolinguísticos sobre o vocalismo
Câmara Jr. (1970) tomou por base a variedade culta carioca da década
em corpora
cér bro, indíg na e vésp ra
estranhamento ou ser estigmatizadas.
Bisol (2003) discute o caráter assimétrico do quadro mattosiano,
1991).
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
51
PB.
Conta-se apenas com estudos que tratam das vogais postônicas no
âmbito dos dialetos dos estados do Sul (Vieira, 1994, 2002, 2009), de
] na
c ]l ]ra, ab ]ra), que embora
pouco comum em português, estaria relacionado à excepcionalidade das
proparoxítonas.
No Estado do Rio de Janeiro, conta-se com os estudos de De Paula
sugerida por Bisol para o quadro de três elementos /i a u/.
Os resultados encontrados demonstram divergência no
motivada, em especial, por um aspecto social, o nível de escolaridade.
corpus APERJ
(Atlas Etnolinguístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro,
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
52
e o corpus
/e/ – e o que se observou no corpus PEUL (Programa de Estudos
da Linguagem, representativo de cariocas com cinco a nove anos de
exposto na tabela a seguir.
TABELA 1: Fator condicionador do alteamento da vogal média
anterior postônica medial em corpora
(NURC e APERJ).
Variável escolaridade – Corpora NURC e APERJ
Fator Oco % P. R.
Ensino Superior 19/87 21,8% 0.052
Até o Primário 229/245 93,5% 0.737
Input: 0.836
Fonte: DE PAULA (2010:102).
simetricamente em ambas as vogais médias, o que comprova tendência
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
53
Concluiu-se que o sistema vocálico átono mais simples, /i a u/, é o
da recolha dos corpora
vogais altas. Assim, os resultados encontrados para os corpora
corpora
análises com base em dados eliciados do Projeto Concordância RJ e
PEUL 2000, recolhidos no início dos anos 2000.
1.2 A aparente regularidade no Português Europeu
sobre o vocalismo do PE contemporâneo – principalmente porque
de trabalhos descritivos sobre o tema, uma grande similaridade no
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
54
exemplos que congregam, no mesmo rol, proparoxítonas e paroxítonas.
No atual estágio do PE está estabilizado o alteamento dessas vogais
concentra principalmente no contexto pretônico), ao lado de produtivo
processo de apagamento.
contemporâneo, que o vocalismo átono dessa variedade apresenta grande
, i,
Português Europeu Português Brasileiro
]
ö ]
europeu standard
,
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
55
cárcere ],
célere ], ], álamo
] (p. 202) – demonstram que sua proposta também se estende
a c
, ( - para o português de
, ( ), ,
] em Portugal.
amplamente as vogais pré-acentuadas e menos as pós-acentuadas. Para
especialmente diante de determinadas consoantes, e nenhum comentário
sistema. Ele assinala, para o século XX, variantes com graus de abertura
postônico diante de l e r (Aníbal, açúcar), além do
-r (açúcares). Já as vogais médias abertas, indicadas por Viana
r (éter, júnior), no século XIX permanecem
, u] (éteres, júniores). Nas palavras do autor: , o], que
éter, júnior), concorrem
éteres, júniores), onde, generalizando-se
rapidamente, tendem a suplantá-los” (Barbosa, 1988: 361). Assim,
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56
, ]
,
XIX, como se comenta a seguir.
proparoxítonas célere, cérebro,
sér bro, sérb ro , ]
] indica
ou redução singular
> plural em c dávèr > cadáv res (p. 72) e abdóm n > abdóm nes (p. 73). Para
a vogal posterior, há apenas um exemplo eventual como os anteriores,
cómmodo
, , o
e e o, o que demonstra que o autor
derivaram de sílabas travadas por /R/ ou /N/ (cadáver, abdómen), outros
ainda variavam com as vogais altas a ponto de serem escolhidas para a
, , ] muito recentemente.
e
como “a mais variável das vogaes” (p. 70) e lhe atribua treze valores
é, até altos, i) enquanto
o
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
57
Descrever e compreender o vocalismo átono do Português Europeu
] na cidade de Lisboa.
A metodologia de estudo aplicada pelas autoras demonstra
11% das vogais do corpus
mostram os menos intensos e menos longos entre as vogais orais.
As autoras acreditam ter levantado, com esses resultados, um indício
].
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
58
2. Análise do contexto postônico medial nas falas do
Rio de Janeiro e de Lisboa (século XXI)
2.1 Procedimentos metodológicos
Português (doravante Concordância), disponível em www.
ensino superior completo). Na análise levaram-se em conta entrevistas
entre 2008 e 2010 e relativas apenas às áreas metropolitanas do Rio de
Janeiro e de Lisboa, num total de 72, 36 por variedade e 18 por localidade:
respectivamente, a cidade do Rio de Janeiro – representada pelos bairros
2.2 Resultados
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
59
2.2.1 A fala do Rio de Janeiro no Corpus Concordância
As entrevistas dos corpora
apresentaram 318 ocorrências de proparoxítonas com vogal média
04 casos de época ] e 01 de árvore : ]. Destaca-se que a
lexemas quanto de ocorrências.
Sobre os resultados do corpus Concordância RJ, observa-se,
conjuntamente os dados de ambas as localidades.
TABELA 2: Índices da variação da vogal média anterior postônica
medial por localidade ( Concordância RJ)
Corpus Concordância RJ – Vogal /e/
Alteam. Manut. Apag.
Copacabana
15/33 15/33 03/33
45,5% 45,5% 9%
14/30 15/30 01/30
46,7% 50% 3,3%
Total
29/63 30/63 04/63
46% 47,6% 6,4%
Os percentuais gerais dessas amostras, retomados na Tabela 3,
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
60
medial por localidade ( Concordância RJ)
Corpus Concordância RJ – Vogal /o/
Alteam. Manut. Apag..Copacabana
113/120 1/120 6/120
94,2% 0,8% 5%
126/135 3/135 6/135
93,3% 2,2% 4,4%
Total
239/255 4/255 12/255
93,7% 1,6% 4,7%
Enquanto a média posterior se realizou majoritariamente como alta,
equilibrada com a alta, mantendo-se em 29 ocorrências (46%) e reduzindo-
] somados aos de apagamento (6,4%),
de vogais médias postônicas mediais
( Concordância RJ)
Corpus Concordância RJ
Alteam. Manut. Apag..
Vogal /e/
29/63 30/63 04/63
46% 47,6% 6,4%
Ex. m ] ] ]
Vogal /o/
239/255 04/255 12/255
93,7% 1,6% 4,7%
Ex. ] ] ]
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
61
mencionados, merecer ser analisada em separado. Por isso, procede-se
corpus.
nível de escolaridade ( Concordância RJ)
Variável Escolaridade – Corpus Concordância RJ
Fatores Alteam. Manut. Apag.
Vogal /e/
Fundamental
03/06 0/06 03/06
50% 0% 50%
Médio
05/15 09/15 01/15
33,3% 60% 6,7%
Superior
21/42 21/42 0/42
50% 50% 0%
Vogal /o/
Fundamental
73/78 0/78 05/78
93,6 0% 6,4
Médio
62/65 01/65 02/65
95,4% 1,5% 3,1%
Superior
104/112 03/112 05/112
92,9% 2,7% 4,5%
As ocorrências de vogais médias aumentam com o nível de
um pouco menos a vogal anterior /e/ do que aqueles com Ensino
corpora
Como visto, quanto a /e/, o processo de alteamento demonstra ser
nos anos 2000.
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
62
2.2.2 A fala de Lisboa no Corpus Concordância
Os dados levantados em 36 entrevistas representativas do PE
corpora levantados.
1.
corpora levantados
alta e o apagamento.
social.
1
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
63
A Tabela 6, abaixo, congrega os dados das duas localidades
produtividade do seu cancelamento. Os percentuais de cancelamento
corpus, chegando a superar em produtividade a
TABELA 6: Índices da variação de e postônicos mediais
(Corpus Concordância Lisboa)
Corpus Concordância Lisboa
Alta Média Cancelamento Total
32 0 47 79
40,5% 0% 59,5 100%
Ex: ] ]
16 0 15 31
51,6% 0% 48,4% 100%
Ex: ] ]
corpus
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
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TABELA 7: Índices da variação
(Corpus Concordância Oeiras)
Corpus Concordância – Oeiras
Alta Média Cancelamento
41%
16/39 0/39 23/39
0% 59%
Ex. ] ]
47%
08/17 0/17 09/17
0% 53%
Ex. ] ]
de 40% e 50%, respectivamente.
Na amostra levantada em Cacém, o comportamento das vogais
TABELA 8: Índices da variação
corpus Concordância Cacém
Corpus Concordância Cacém
Alta Média Cancelamento
16/40 0/40 24/40
40% 0% 60%
Exemplo ] ]
08/14 0/14 06/14
57,1% 0% 42,9%
Exemplo ] ]
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
65
] e 24 de ø2) é praticamente idêntico ao encontrado em Oeiras
]/ 06 oco de ø) e Oeiras (08
2.2.3 Considerações sobre as amostras
Os percentuais das amostras do Concordância levantadas no
permanência da vogal média anterior.
persistência de /e/, cujo comportamento permanece consideravelmente
se um condicionamento lexical e idiossincrático no comportamento de
2 Ø indica cancelamento.
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66
social. É o que se discute detalhadamente em De Paula (2015).
contexto postônico medial. O apagamento nas amostras do PE apresenta
vogais. Isso demonstra uma aparente simetria no comportamento de
corpora selecionados e está de acordo com o que prevê a
dados e restrita em representatividade social – demonstram características
vocalismo átono do PE como a interpretar algumas características do
vocalismo do PB no contexto átono estudado.
3. Discussão teórica
3.1 Sobre o Português Europeu
inventário subjacente das vogais átonas, especialmente no que tange à
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
67
o que mais recentemente passou a integrar o vocalismo do PE e, da
alguns, ou, segundo outra proposta, se já apresenta o status
na Fonologia Lexical. Para os autores, a qualidade das vogais do PE
eles, ocorre com menor intensidade no PB (p. 19) – explicando que a
em Câmara Jr. (1970), costumam propor, teoricamente, a existência de
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
68
PE, no caso / /. A proposta é baseada na evidência de que “(...) in all
languages there is at least one segment, usually a vowel, that behaves
, ], segmentos
Vowels i e
- -
+ + +
+
+ + +
em branco).
Eles demonstram que o vocalismo átono apresenta dois graus de
, , ] (p. 20).
, ] tônicos (“selo”:
l l
’ ]),
,
’
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
69
] mirar ’ ] dúvida ]
] morar ’ ] pérola ]
] murar ’ ] báculo ]
] pagar ’ ] ágape ]
] pegar ’ ] cérebro ]
, , , , , , , ],
, , ]
, , ], respectivamente.
A alternância acentuada > não acentuada, segundo Mateus (1990), está
regras gerais de derivação das vogais átonas
aos segmentos subjacentes, ou – neste caso, às vogais do
regras de elevação (p. 328) que
]. Mateus as resume, assim, na regra (26), que também prevê a
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
70
Fonte: Mateus (1990: 329).
É o que, segundo a autora, acontece principalmente com as vogais
])” (1990: 330). A partir delas, Mateus lista e descreve todos os
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
71
] é um elemento que
contextual em alguns casos.
inquestionáveis os pares de palavras que, partilhando a mesma raiz,
autor como: c/ /go > c ]gueira m/e/do > m ]droso, que demonstram que
], quando
em que as vogais anteriores também variam quanto ao acento e à
am/e/mos, am/e/is / am ], am ]s.
que, de, te, se, lhe ] átono, nom ]. Ele admite a
] ser associado a /e/ e / / também nesses contextos,
teórico do PEC3
cal
3 Português Europeu Continental.
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
72
] é epentético ou
/, de outros casos em que ele é a
/ subjacente: os já citados clíticos átonos e nomes
/ em sílabas inacentuadas, mas outras vezes equivale
/u/ro >
rinho.
pertenceria à estrutura subjacente. Em primeiro lugar, ele é exigido pela
caso dos monossílabos: de
parte ] x parto ] e
de ] x da
] x
]: quente
, schwa.
Veloso situa esses casos na categoria s-schwa (stable schwa) proposta
por Oostendorp (1998, apud
] epentético (epenthetic schwa ou e-schwa
vocálica (vowel reduction-schwa ou r-schwa) – pertence à estrutura subjacente.
O s-schwa
Veloso baseia-se na Fonologia dos Elementos para explicar o
PE. Segundo essa proposta, as vogais /i, a, u/, os conhecidos vértices do
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
73
presentes em todas as línguas. Eles equivalem, teoricamente, a três
As vogais / , /,
pelas vogais em contexto átono, equivaleriam à perda gradual ou total
dos elementos {I, A, U}. O segmento / / resulta da perda total de
abertura, palatalidade e labialidade, sendo por isso um elemento não marcado,
ou vogal vazia
3.2 Sobre o Português do Brasil
] no
âmbito das sílabas átonas.
e (iii) a produtividade do apagamento vocálico. Em suma, a língua
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
74
]. Já no Brasil, persiste o processo
dessas vogais, como já ocorria no português quinhentista, embora com
estudado.
como núm ro
Esses dois aspectos relacionam-se com características das sílabas
proparoxítono no português é a causa da inexistência de pares mínimos
médias nessa sílaba é, provavelmente, uma consequência da estreita
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
75
todos os resultados estatísticos encontrados.
Bisol (2003), já mencionada, também se apoia na Teoria
estruturado em camadas organizadas hierarquicamente, cada uma
3]. Ele será positivo ou negativo de acordo com a natureza da vogal
Segundo Clements, as línguas românicas apresentam um registro de
3 vogais, um registro de 5 e um registro de 7, sendo os dois primeiros
a seguir.
QUADRO 2:O vocalismo românico (Clements, 1991)
abertura i/u e/o / a
aberto 1 - - - +
aberto 2 - + + +
aberto 3 - - + +
Fonte: BISOL (2003: 276).
átonas nesse contexto. Para ela, o que explica a instabilidade das sílabas
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
76
Entretanto, com base
Janeiro indicam uma produtiva resistência das vogais médias anteriores
inclusive os que se apresentaram neste artigo, especialmente para os
que tiveram pouco contato com a escola (no máximo o 2º
do Rio de Janeiro, desde a década de 1980 até os dias atuais.
nesse Estado, detalhadamente expostos em De Paula (2015), demonstra
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
77
aqui demonstrada,
os dados demonstraram que, diversas vezes, características individuais
em De Paula
médias e altas observada no âmbito de /e/ está relacionada ao nível
individual. Ou seja, mesmo em um grupo que privilegia a variante
comportamento geral, optando sempre, ou quase sempre, pela variante
conservadora – a vogal média. É o caso de alguns pescadores do corpus
corpus Concordância-RJ. Igualmente, já se encontram
nos anos 2000 indivíduos com um comportamento extremamente
Os dados gerais dos anos 2000, aqui apresentados, indicam que as
.
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
78
S
assimetria e, nesse caso, tende a regularizar-se em três elementos /i a
devem a características da cavidade oral, aqui já indicadas.
pode ser conjugada com os resultados da pesquisa realizada no Estado
realizado por De Paula (2015) d
grau de percepção de uma
variante e seu valor social: segundo elas, quanto menos percebida é uma
corpora sociolinguísticos
a nenhum condicionamento social ou linguístico considerado. Apenas na
década de 1970 observou-se um resquício das vogais médias posteriores,
anos 2000, até mesmo eles reduziram categoricamente a vogal posterior.
Todos esses resultados indicam que, teoricamente, a vogal /e/
sobre o tema nas diver
Alessandra de Paula e Silvia Figueiredo Brandão
79
por Câmara Jr., deve-se considerar, mais uma vez, que o contraste no
Paula já constatou situações de extrema atenção ao discurso nas quais
do discurso e de alguns comportamentos idiossincráticos que redundam
corpora
brasileira.
realizada, que o alteamento das vogais médias átonas se encontra
Português no Brasil. Em Portugal, isso se comprova plenamente, pois o
nos demais contextos átonos, desde o século XVIII, em que também já
índices de apagamento que ocorreram na amostra aqui considerada.
No Brasil, atesta-se a persistência de variantes conservadoras no nível
Vogais em Contexto Postônico Não Final em Variedades do Português: Questões Teóricas
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