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165 
 
VÍNCULO DE EMPREGO EM PLATAFORMAS DIGITAIS 
 
EMPLOYMENT RELATIONSHIP IN DIGITAL PLATFORMS 
 
Murilo C. S. Oliveira1 
 
RESUMO: O modelo empresarial das plataformas digitais tem assumido o protagonismo e, por consequência, os 
trabalhadores desses ecossistemas se ampliam, ganham corpo e visibilidade, enfrentam problemas graves em razão 
tratamento que recebem como “parceiros” sem direitos trabalhistas. A questão jurídica enfrentada neste texto é o 
exame se os trabalhadores em plataformas digitais de trabalho, em particular no caso daqueles que fazem transporte 
individual de passageiros ou entregas, são empregados ou não. A resposta ao problema proposta envolve a análise dos 
diversos e antagônicos argumentos utilizados em decisões judiciais brasileiras que qualificam o trabalho nessas 
plataformas de transporte/entregas como autônomos ou como dependentes ou subordinados. Da crítica dos julgados 
examinados, é possível extrair algumas notas sobre os indícios fáticos-jurídicos nos julgados que subsidiam a 
caracterização de autonomia ou dependência/subordinação. A metodologia empregada é a análise doutrinária e 
jurisprudencial, numa perspectiva sociojurídica-crítica que problematiza a realidade social e a forma jurídica-
normativa. A conclusão sinaliza para a ocorrência de dependência econômica e também de subordinação jurídica nas 
plataformas examinadas. 
PALAVRAS-CHAVE: Plataformas digitais de trabalho. Proteção Trabalhista. Subordinação Jurídica. Dependência 
econômica. 
SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. MAIS DO QUE APLICATIVOS, PLATAFORMAS DIGITAIS DE 
TRABALHO; 3. VÍNCULO DE EMPREGO NAS PLATAFORMAS DIGITAIS; 3.1 PESSOALIDADE; 3.2 
ONEROSIDADE; 3.4 DEPENDÊNCIA E SUBORDINAÇÃO JURÍDICA; 4. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA NAS 
PLATAFORMAS; 5. CONCLUSÕES 
ABSTRACT: The business model of digital platforms has taken the lead and, as a consequence, the workers in these 
ecosystems are expanding, gaining body and visibility, facing serious problems due to the treatment they receive as 
"partners" without labor rights. The legal issue faced in this text is the examination of whether workers on digital work 
platforms, particularly in the case of those who make individual passenger transport or deliveries, are employees or 
not. The answer to the proposed problem involves the analysis of the various and antagonistic arguments used in 
Brazilian judicial decisions that qualify the work on these transport/delivery platforms as self-employed or as 
dependent or subordinated. From the criticism of the judgements examined, it is possible to extract some notes on the 
factual-legal indications in the judgements which subsidise the characterisation of autonomy or 
dependence/subordination. The methodology employed is the doctrinaire and jurisprudential analysis, in a socio-
juridical-critical perspective which problematizes the social reality and the legal-normative form. The conclusion 
points to the occurrence of economic dependence and also of legal subordination in the platforms examined. 
KEY-WORDS: Digital labor platforms. Labour Protection. Legal Subordination. Economic dependence. 
SUMMARY: 1. INTRODUCTION; 2. MORE THAN APPLICATIONS, DIGITAL WORK PLATFORMS; 3. 
EMPLOYMENT RELATIONSHIP IN DIGITAL PLATFORMS; 3.1 PERSONALITY; 3.2 ONEROUSNESS; 3.4 
DEPENDENCE AND LEGAL SUBORDINATION; 4. ECONOMIC DEPENDENCE IN PLATFORMS; 5. 
CONCLUSIONS 
 
1 Introdução 
O modelo empresarial das plataformas digitais – também denominado de economia digital, 
consolida-se como o vetor paradigmático e expoente de toda economia, sobretudo com a 
 
Artigo enviado em 21/11/2022 
Artigo aprovado em 15/12/2022 
1 Juiz do Trabalho na Bahia. Professor Associado da Faculdade de Direito e do PPGD- UFBA. Doutor pela UFPR e 
estágio pós-doutoral pela UFRJ. Pesquisador do Grupo Transformações do Trabalho, Democracia e Proteção Social 
(TTDPS/UFBA). E-mail: murilosampaio@yahoo.com.br. 
166 
 
aceleração ocasionada pela pandemia do Covid. Plataformização, economia de “Apps”, 
dataficação são outros sinônimos para este modelo “referencial” dos tempos presentes. Não à toa 
que, dentre as dez empresas mais valiosas atualmente, sete são caracterizadas como “empresas 
plataformas”2. 
Se o modelo das plataformas digitais assume o protagonismo como modelo empresarial, os 
trabalhadores desses ecossistemas se ampliam, ganham corpo e visibilidade, enfrentam problemas 
graves em razão tratamento que recebem como “parceiros” e até se organizam em movimentos de 
reivindicação de proteção social, como no conhecido “Breque dos Apps” em 2020. Cabe, então, 
perquirir se são empregados os trabalhadores em plataformas digitais de trabalho, a exemplo das 
daquelas que fazem transporte individual de passageiros ou entregas? 
A proposta deste texto é percorrer os diversos e antagônicos argumentos utilizados em 
decisões judiciais brasileiras que qualificam o trabalho nessas plataformas de transporte/entregas 
como autônomos ou como dependentes ou subordinados. Naturalmente, a conclusão final sobre a 
existência ou não do vínculo empregatício é sempre feita no caso concreto e de acordo com as 
provas produzidas, sendo difícil extrair concepções peremptórias a priori. Contudo, é possível 
extrair algumas notas sobre os indícios fáticos-jurídicos nos julgados que subsidiam a 
caracterização de autonomia ou dependência/subordinação. 
A metodologia empregada é a análise doutrinária e jurisprudencial, numa perspectiva 
sociojurídica-crítica que problematiza a realidade social e a forma jurídica-normativa. Como 
subsídio à análise deste texto foram consultadas diversas decisões judiciais brasileiras, recolhidas 
no âmbito do projeto de pesquisa da Faculdade de Direito da UFBA denominado como 
“Assalariad@s Digitais e Proteção Trabalhista”3. 
 
2 Mais do que aplicativos, plataformas digitais de trabalho 
Na parte inicial e conceitual sobre o tema de plataformas digitais de trabalho, é estratégico 
recusar a designação de trabalho em “aplicativos”. Diante de organizações com objetivos 
econômicos subjugados pela produção de lucro, é preciso antes tratar estas plataformas como 
empreendimentos que se estruturam numa gestão digital com a utilização de um sítio eletrônico 
(site), algoritmos, banco de dados massivos (big data) e programas de computação, nos quais 
alguns – mas não todos – funcionam em formato reduzido para sua viabilidade em celulares, o que 
se chama de aplicativos. 
 
2 BLOOMBERG. Meta deixa ranking das dez maiores empresas em valor de mercado. 2022. Disponível em: 
https://www.bloomberglinea.com.br/2022/02/18/meta-deixa-ranking-das-dez-maiores-empresas-em-valor-de-
mercado/. Acesso em: 27 jun. 2022. 
3 Blog do projeto de pesquisa disponível em https://assalariadosdigitais.blogspot.com/ 
167 
 
Se aplicativo é uma porta (pequena) de acesso àquele empreendimento digital, igualmente 
acessível pelo site, não é este nome o constitutivo deste novo modelo empresarial. Mesmo sendo 
o mais frequente e até mais sonoro, insistir na nomeação de aplicativos como sinônimos de 
empresas estruturadas no modelo de plataformas é expandir a superficialidade do senso comum e 
simultaneamente ocultar a dimensão econômica e lucrativa das atividades de humanos que a 
organizam em redes tecnológicas. 
As plataformas digitais são muito diversas nos seus modelos de organização e alcançam 
setores da economia de transportes, serviços, profissionais liberais, entre outros4. Essas 
plataformas criam um mercado de pessoas conectado com os consumidores que necessitam de 
serviços específicos oferecidos por outras pessoas. A virtualidade da interconexão na internet 
promove o encontro do trabalhador prestador com o consumidor, sujeitos que dificilmente se 
encontrariam por meios físicos ou presenciais. 
Além da diversidade de plataformas de trabalho, há também diferenças significativas sobre 
as formas e modos de trabalhar nessas empresas da revolução 4.0. A despeito da novidade do tema 
e das incipientes pesquisas, pode-sedividir os arranjos do trabalho em dois grandes campos, 
seguindo a classificação de Valerio de Stefano, qual seja: crowdwork e work on-demand5. 
A ideia de trabalho em multidão (“crowdwork”) envolve a intensa fragmentação do 
trabalho em tarefas bem simples e que somente se viabilizam se realizadas simultaneamente por 
um conjunto considerável de pessoas: uma multidão. Tais tarefas sozinhas não se constituem uma 
atividade profissional tradicional, mas quando somadas e articuladas na totalidade formam uma 
multidão em trabalho com maior produtividade. Em contraste, a ideia de trabalho sob demanda 
envolve a prestação completa por um trabalhador de uma atividade, também classificada 
juridicamente como um serviço. 
Murilo Oliveira, Rodrigo Carelli e Sayonara Grillo6 dividem essas empresas em dois 
agrupamentos. Primeiro, plataformas puras que apenas mediam a relação entre os consumidores e 
os tomadores do serviço, sem qualquer controle e ingerência sobre o trabalho. Segundo, as 
plataformas híbridas que, além da função estrita de aproximação de pessoas, exercem controle e 
direção sobre os trabalhadores. Assim, as plataformas híbridas são controladoras e dirigentes no 
sentido de que ordenam e governam os serviços oferecidos entre os diversos grupos. 
 
4 MANZANO, Marcelo; KREIN, André. Dimensões do Trabalho em Plataformas no Brasil. In Machado, Sidnei, et 
al. O trabalho controlado por plataformas digitais: dimensões, perfis e direitos. Clínica Direito do Trabalho 
(Universidade Federal do Paraná), 2022, pags. 32-126. 
5 DE STEFANO, Valerio. The rise of the "just-in-time workforce": on-demand work, crowdwork and labour protection 
in the "gig-economy". International Labor Office, Inclusive Labour Markets, Labour Relations and Working 
Conditions Branch, Conditions of work and employment series, n. 71, Geneva, 2016. Disponível em: 
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/--- 
travail/documents/publication/wcms_443267.pdf . Acesso em: 18 mar. 2022. 
6 Idem. 
168 
 
No entanto, nessas plataformas vários riscos do negócio são repassados ao trabalhador, a 
exemplo do cancelamento das chamadas do tempo de espera não remunerado e o risco social de 
doença ou acidente além das despesas com equipamentos ou veículos. A faixa salarial desses 
trabalhadores, a partir de um tempo de vivência de trabalho via plataforma, é bastante diminuta e, 
logicamente, inversa às propagandas que as plataformas fazem. Nesse discurso, o lema é de que 
qualquer remuneração é melhor que nenhuma. 
Como síntese, os trabalhadores destas plataformas são postos, no prisma formal-contratual, 
na posição jurídica de parceiros autônomos. São tidos como livres para se ativar ou desativar no 
horário de sua escolha, contudo por ganharem tão pouco são impelidos sempre a trabalhar o 
máximo da jornada fisicamente possível. Curioso que na condição de autônomos, não tem 
autonomia para fixar o preço de seu trabalho, recusar clientes ou mesmo avaliar seu parceiro, a 
plataforma digital. 
3 Vínculo de emprego nas plataformas digitais 
Desde 2017, a Justiça do Trabalho brasileira vem recebendo demandas para declarar a 
existência de vínculo de emprego em algumas plataformas digitais de trabalho. Há também muitas 
ações de trabalhadores postulando apenas o retorno ao sistema da plataforma em razão de 
bloqueios injustificados, normalmente promovidas perante a Justiça Estadual, em particular nos 
juizados. 
Seguindo o propósito deste artigo, cumpre, no cotejo de dezenas de decisões trabalhistas 
sobre o tema de existência ou não do liame empregatício, percorrer os argumentos antípodas 
utilizados para dirimir a controvérsia. 
Tomando como pressuposto que o elemento “pessoa física” é compreendido pela 
pessoalidade, são quatro os caracteres fundamentais para a caracterização do vínculo empregatício, 
passa-se a examinar as questões sobre pessoalidade, onerosidade, não-eventualidade e, em 
especial, a dependência – hegemonizada pelo conceito de subordinação jurídica. 
3.1 Pessoalidade 
Embora haja alguma argumentação de que inexiste pessoalidade no trabalho em 
plataformas, especialmente como fundamento de defesas em processos trabalhistas, não há muitas 
dúvidas de que o labor em plataformas como a Uber ou a Ifood é de caráter personalíssimo. Isto 
porque os termos de uso destas empresas-plataformas são taxativos em exigir, inclusive sob pena 
de punição, um cadastro pessoal com login e senha intransferível. Isto é, o próprio layout da 
plataforma coloca a pessoalidade como elemento obrigatório, caracterizando que a relação se dá 
intuitu personae. Aliás, algumas plataformas chegam a exigir a foto ou mesmo uma “selfie” como 
mais um elemento fático cabal de pessoalidade. 
169 
 
3.2 Onerosidade 
Como se sabe a onerosidade exige que o ajuste da prestação de fazer seja estipulado a título 
oneroso, havendo contraprestação pecuniária devida ao trabalhador pelo serviço prestado. Em 
verdade, o critério da onerosidade procura retirar das relações de emprego aquelas situações nas 
quais o motivo da prestação dos serviços do trabalhador não é a percepção de salário, mas sim um 
motivo altruístico, assistencial ou religioso. 
Como o trabalho não é prestado a título gratuito nas plataformas de transporte individual e 
entregas, a onerosidade é latente, inclusive havendo manifesto – e até abusivo – dirigismo 
econômico pelas plataformas híbridas que fixam e alteram, sem justificativa e a qualquer tempo, 
os preços das viagens/entregas. 
3.3 Não-Eventualidade 
A não-eventualidade pressupõe que a prestação de serviços não poderá ser eventual ou 
esporádica. Em face da imprecisão do conceito delimitado pela negativa, diversas teorias 
apresentam-se na definição da eventualidade, como a teoria da descontinuidade, a teoria do evento, 
a teoria dos fins do empreendimento e a teoria da fixação jurídica. Sem adentrar nesses pormenores 
teóricos, a situação da não-eventualidade é realmente um ponto controvertido no trabalho em 
plataformas digitais, visto que há possibilidade, em tese, de ocorrência de prestação serviços muito 
ocasionais ou esporádicos. 
No entanto, a maioria das pesquisas etnográficas sobre trabalhadores em plataformas 
atestam que estes são sujeitos com labor habitual e frequente, inclusive com jornadas superiores a 
oito horas e labor em seis dias por semana7. Ainda conforme essas pesquisas, mesmo aqueles 
trabalhadores plataformizados que laboram de modo mesmo frequente, isto é, dois a três por 
semana, alcançam a duração semanal superior a vinte e cinco horas de trabalho, o que já 
configuraria o labor frequente ainda que de modo intermitente. Daí que nos casos concretos dos 
processos judiciais examinados, a não-eventualidade sempre esteve presente concretamente diante 
do registro, na plataforma, de quantidades de viagens como cinco mil viagens. 
3.4 Dependência e subordinação jurídica 
Como os três elementos anteriores são bem factíveis em termos concretos e nos casos 
judicializados, o principal requisito controvertido é o conceito de dependência e subordinação. Na 
maioria das decisões analisadas, foi qualificado o trabalho no caso da plataforma Uber como 
autônomo; no caso da plataforma Ifood, a maioria das decisões recolhidas imputou 
responsabilidade subsidiária desta em relação ao sistema de terceirização chamado de “Operador 
 
7 ABÍLIO, L. C. et al. Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-19. Revista 
Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, Edição Especial – Dossiê Covid-19, p. 1-21, jun. 2020. 
Disponível em: . Acesso em: 30 mai.2022. 
170 
 
Logístico” (OL). 
No Tribunal Superior do Trabalho - TST, as três primeiras decisões publicadas 
caracterizaram (ou mantiveram decisões das instâncias inferiores) a ideia de trabalho autônomo e 
livre no caso da Uber, sendo que somente em 2022,foi proferido o primeiro Acórdão considerando 
que havia trabalho subordinado. 
A segunda decisão sobre o tema no TST foi no processo n. 1000123-89.2017.5.02.0038. O 
exame daqueles autos nos mostra que a sentença acolheu a improcedência com base na falta de 
pessoalidade (outros motoristas no mesmo veículo cadastrado) e de subordinação (liberdade de 
horários e de ativação, falta de ordens), concluindo pela existência de trabalho autônomo. O 
Acórdão do TRT reconheceu o vínculo, afirmando também um dirigismo econômico da 
plataforma, uma vez que “Se se tratasse de mera ferramenta eletrônica, por certo as demandadas 
não sugeririam o preço do serviço de transporte”, além negada a qualificação da Uber como 
economia compartilhada em razão do objetivo lucrativo da empresa. No TST, foi sumarizado na 
ementa a ideia de “auto-determinação” no seguinte trecho: 
[...] Com efeito, o reclamante admite expressamente a possibilidade de ficar "off line", 
sem delimitação de tempo, circunstância que indica a ausência completa e voluntária da 
prestação dos serviços em exame, que só ocorre em ambiente virtual. Tal fato traduz, na 
prática, a ampla flexibilidade do autor em determinar sua rotina, seus horários de trabalho, 
locais que deseja atuar e quantidade de clientes que pretende atender por dia. Tal auto-
determinação é incompatível com o reconhecimento da relação de emprego, que tem 
como pressuposto básico a subordinação, elemento no qual se funda a distinção com o 
trabalho autônomo. Não bastasse a confissão do reclamante quanto à autonomia para o 
desempenho de suas atividades, é fato incontroverso nos autos que o reclamante aderiu 
aos serviços de intermediação digital prestados pela reclamada, utilizando-se de aplicativo 
que oferece interface entre motoristas previamente cadastrados e usuários dos serviços.8 
 
 
Em 2022, foi concluído o julgamento do processo n. 100353-02.2017.5.01.0066 pela 
Terceira Turma do TST com o reconhecimento do vínculo de emprego. O voto do Relator Ministro 
Maurício Delgado considerou que havia subordinação na dimensão estrutural e algorítmica, 
salientando que a mera liberdade de definir dias e horários de trabalho sozinha não caracteriza 
trabalho autônomo. Convém transcrever os trechos principais dos fundamentos adotados para 
reconhecer o labor como subordinado: 
 
[...] A esse respeito, destacam-se as seguintes premissas que se extraem do acórdão 
regional, incompatíveis com a suposta autonomia e liberdade do trabalhador na execução 
do trabalho: 1) a Reclamada organizava unilateralmente as chamadas dos seus 
clientes/passageiros e indicava os motoristas para prestar os serviços; 2) exigia a 
permanência do Reclamante conectado à plataforma digital para prestar os serviços, sob 
risco de descredenciamento da plataforma digital (perda do trabalho); 3) avaliava 
continuamente a performance dos motoristas, por meio de um controle telemático e 
pulverizado da qualidade dos serviços a partir da tecnologia da plataforma digital e das 
notas atribuídas pelos clientes/passageiros ao trabalhador. Tal sistemática servia, 
inclusive, de parâmetro para o descredenciamento da plataforma digital - perda do 
 
8 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Ausência de subordinação. nº RR - 
1000123-89.2017.5.02.0038. Relator: Ministro Breno Medeiros. Brasília: DEJT, 07 fev. 2020. p. 1-25. 
171 
 
trabalho -, caso o obreiro 
 
[...] a subordinação algorítmica, em vista de a empresa valer-se de um sistema sofisticado 
de arregimentação, gestão, supervisão, avaliação e controle de mão de obra intensiva, à 
base de ferramentas computadorizadas, internáuticas, eletrônicas, de inteligência artificial 
e hiper-sensíveis, aptas a arquitetarem e manterem um poder de controle empresarial 
minucioso sobre o modo de organização e de prestação dos serviços de transportes 
justificadores da existência e da lucratividade da empresa reclamada. 
 
Reitere-se: a prestação de serviços ocorria diariamente, com sujeição do Autor às ordens 
emanadas da Reclamada por meio remoto e telemático (art. 6º, parágrafo único, da CLT); 
havia risco de sanção disciplinar (exclusão da plataforma) em face da falta de assiduidade 
na conexão à plataforma e das notas atribuídas pelos clientes/passageiros da Reclamada; 
inexistia qualquer liberdade ou autonomia do Reclamante para definir os preços das 
corridas e dos seus serviços prestados, bem como escolher os seus passageiros; (ou até 
mesmo criar uma carteira própria de clientes); não se verificou o mínimo de domínio do 
trabalhador sobre a organização da atividade empresarial; ficou incontroversa a incidência 
das manifestações fiscalizatória, regulamentar e disciplinar do poder empregatício na 
relação de trabalho analisada.9 
 
Dos diversos casos examinados referentes a Uber, extrai-se que um dos Acórdão mais 
fundamentados foi o do TRT Paraibano que na sua ementa sintetizou a noção de “controle por 
programação”: 
 
[...] MOTORISTA DE APLICATIVO. UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA. 
EMPRESAS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. PRINCÍPIO DAPRIMAZIA DA 
REALIDADE ART. 9º, 442 DA CLT E RECOMENDAÇÃO 198 DA OIT. VÍNCULO 
DE EMPREGO.PRESENÇA DOS ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS CONTIDOS 
NOS ART. 2º, 3º e 6º, PARÁGRAFO ÚNICO, DACLT. SUBORDINAÇÃO E 
CONTROLE POR PROGRAMAÇÃO ALGORÍTMICA. CONFIGURAÇÃO. A tão 
falada modernidade das relações através das plataformas digitais, defendida por muitos 
como um sistema colaborativo formado por "empreendedores de si mesmo", tem 
ocasionado, em verdade, um retrocesso social e precarização das relações de trabalho. 
Nada obstante o caráter inovador da tecnologia, o trabalho on demand através de 
aplicativo tem se apresentado como um "museu de grandes novidades": negativa de 
vínculo de emprego, informalidade, jornadas exaustivas, baixa remuneração e supressão 
de direitos trabalhistas como férias e décimo terceiro salário. Comprovando-se nos autos 
que o autor, pessoa física e motorista da UBER, plataforma de trabalho sob demanda que 
utiliza a tecnologia da informação para prestação de serviços de transporte, laborava em 
favor desta com pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e subordinação, seguindo 
diretrizes de controle algorítmico e padrão de funcionamento do serviço, impõe-se o 
reconhecimento do vínculo de emprego pleiteado com o pagamento das verbas 
trabalhistas e rescisórias a ele inerentes. [...] TRT 13ª Região - 2ª Turma - Recurso 
Ordinário Trabalhista nº 0000699-64.2019.5.13.0025, Redator(a): Desembargador(a) 
Thiago De Oliveira Andrade, Julgamento: 23/09/2020, Publicação: DJe 24/09/202010 
 
No caso da plataforma Ifood, a controvérsia inicia na definição sobre qual a atividade 
econômica é realizada por esta empresa. Nas decisões que visualizam que o Ifood é apenas uma 
empresa de comunicação, afasta-se a responsabilidade desta pelas pretensões trabalhistas de seus 
entregadores, pois um mero “aplicativo” faria apenas a função comunicativa entre clientes e 
 
9 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Subordinação algorítmica. nº RR: 
1003530220175010066. Relator: Mauricio Godinho Delgado. Brasília: Data de Julgamento: 06/04/2022, 3ª Turma, 
Data de Publicação: 11/04/2022 
10 PARAÍBA. Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. Acórdão em Recurso Ordinário. Processo nº 0000699-
64.2019.5.13.0025. Relator: Desembargador Thiago Andrade. João Pessoa: 2020. 
172 
 
trabalhadores. Neste sentido, tem-se o seguinte julgado do TST que manteve a decisão Regional: 
AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA 
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. EMPRESA IFOOD NÃO 
ATUOU COMO TOMADORA DE SERVIÇOS. CONFIGURADO CONTRATO DE 
NATUREZA CIVIL ENTRE AS RÉS. ÚNICA TOMADORA DOS SERVIÇOS DO 
AUTOR É A PRÓPRIA EMPREGADORA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 1. 
Confirma-se a decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de instrumento em 
recurso de revista ao assentar que a empresa IFOOD não atuou como tomadora de serviçose, portanto, não possui responsabilidade subsidiária. 2. A Corte Regional, com base no 
conjunto fático-probatório dos autos, consignou que se extrai do estatuto social da ré 
(IFOOD) não a prestação de serviços de entrega, mas sim, apenas o agenciamento e 
intermediação mercantil de restaurantes e estabelecimentos similares, mediante 
veiculação de propagandas e fornecimento de equipamentos voltados à integração de 
sistemas e transmissão de dados. Asseverou que a empresa IFOOD não foi destinatária 
ou beneficiária direta da mão de obra do autor e, portanto, não atuou como tomadora de 
serviços. Assim, concluiu que a relação entre os réus é de natureza civil e que a 
responsabilidade exclusiva é do restaurante, usuário da plataforma, e único tomador de 
fato dos serviços do trabalhador. Incidência da Súmula nº 126 do TST. Agravo a que se 
nega provimento" (Ag-AIRR-1000801-16.2018.5.02.0056, 1ª Turma, Relator Ministro 
Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT 27/06/2022). 
 
Contrariamente, outras decisões examinando o plano fático provado nos autos identificam 
que aquela plataforma, além da função comunicativa, estabelece vigilância, avaliação punição e 
precificação do trabalho dos entregadores, o que significa flagrante trabalho “sob dependência”. É 
a este o caso do julgado do TRT de Alagoas: 
 
IFOOD. INTERMEDIAÇÃO DO TRABALHO VIA PLATAFORMA 
DIGITAL. GEOLOCALIZAÇÃO E ALGORITMO COMO INSTRUMENTOS DE 
CONTROLE. SUBORDINAÇÃO JURÍDICA E DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. Se da 
prova ministrada desponta que o trabalhador estava inserido no negócio da empresa, que 
faz intermediação entre entregadores de alimentos e restaurantes, fazendo-o 
via aplicativo, com fiscalização e cálculo da remuneração através de algoritmo, mesmo 
com alguma flexibilidade no horário, o que não obscurece a incidência da legislação 
laboral, há relação de emprego. Porém, se no caso sob julgamento o pedido é de 
responsabilidade subsidiária, em razão de terceirização do serviço, a condenação deve se 
adequar aos limites objetivos da lide, como acertadamente consignou a sentença. (TRT-
19 - ROSUM: 00000168-24.2020.5.19.0009, Relator: PEDRO INÁCIO DA SILVA, Data 
de Publicação: 16/06/2021)11 
 
4 Dependência econômica nas plataformas 
Em paralelo ao debate sobre subordinação algorítmica e controle por programação, uma 
outra construção teórica jurídica que tenta dar sentido à expressão “sob dependência” do conceito 
legal de empregado, é a ideia da dependência econômica. Nesta concepção renovada, procura-se 
captar a estrutura da relação de trabalho assalariado e não reduzir o conceito de empregado ao 
arquétipo do empregado de uma empresa fordista com a típica subordinação presencial por gerente 
e sob horário controlado. Se a propriedade é o elemento nuclear do molde econômico da relação, 
a discussão jurídica sobre a apropriação dos frutos do trabalho coaduna com a ideia ressignificada 
 
11 ALAGOAS. Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região. Recurso Ordinário nº 00000168-24.2020.5.19.0009, 
Relator: PEDRO INÁCIO DA SILVA, Data de Publicação: 16/06/2021. 
173 
 
de dependência econômica12. 
 A par disto, o termo “dependente” deve ser compreendido menos como um adjetivo 
(subordinado e assujeitado) e mais como aquele que predica ação “depender”. O empregado é 
dependente porque sua força de trabalho não se realiza sozinha, pois pertence estruturalmente à 
empresa, fazendo parte desta e, como consequência possível, podendo ser subordinado. Qualificar 
a dependência como econômica significa explicitar a natureza capitalista da venda da força de 
trabalho e seu consequente Direito Capitalista do Trabalho, que na fuga conveniente do 
extrajurídico termina esquecendo as suas imbricações econômicas. 
No caso das plataformas digitais, o método de precificar o trabalho alheio é uma renovação 
do antigo expediente do “salário por peça”, agora com contornos altamente tecnológicos13. No 
assalariamento por peça, uma série de despesas para o labor são atribuídas ao trabalhador, como 
exatamente ocorre com os custos de aquisição e manutenção dos instrumentos de trabalho (veículo, 
telefone, acesso à internet, impostos, entre outros). Não há uma fiscalização do tempo de trabalho, 
porque o pagamento é fixado pela efetiva produtividade, o que confere uma aparente de liberdade 
de horários e estímulos a sobrejornadas para se alcançar maiores ganhos. 
A precificação das plataformas é, então, o método de gestão do trabalho que causa a 
dependência econômica. A questão do preço imposto pelas plataformas de trabalho é forte 
evidência de que a plataforma não é apenas uma intermediadora para entre motorista/entregador e 
o cliente tomador dos serviços, até porque o preço estabelecido é sobre calculado pelo trabalho 
oferecido e não sobre o serviço tecnológico de aproximação de grupos, como as empresas 
intermediárias cobram. Se fosse meramente intermediadora, não poderia nunca impor preços pelo 
serviço feito por outros, pois quem media não estabelece o valor do trabalho alheio. Como as 
plataformas de trabalho estabelecem os padrões remuneratórios, elas exercem direção econômica 
da atividade sob o trabalhador, sujeitando-lhe a uma dependência igualmente econômica. 
No polo oposto, numa autonomia, notadamente de caráter econômico, caberia ao 
trabalhador independente estabelecer, como manifestação da sua autonomia e titularidade sobre 
sua força de trabalho, o valor do seu trabalho. Tal qual um empresário que fixa os valores dos seus 
produtos ou serviços, o verdadeiro trabalhador autônomo tem como atributo a capacidade de fixar 
o valor dos seus serviços, exceto no caso em que o próprio Estado, via medidas normativas, impõe 
uma tarifa pública para o serviço como ocorre no táxi. O preço fixado pela plataforma é 
manifestação clara de assalariamento, ou seja, trabalho sob dependência. 
Daí conclui-se que há, no plano fático e na estrutura organizacional tecnológica desta 
atividade econômica, uma dependência total do trabalhador em relação aos sistemas de plataforma, 
 
12 OLIVEIRA, Murilo. Relação de emprego, dependência econômica e subordinação jurídica: revistando os conceitos. 
2. ed. Curitiba: Juruá, 2019. 
13 OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. Plataformas digitais e regulação trabalhista: precificação e controle do 
trabalhador neste novo modelo empresarial. Revista da Faculdade de Direito da UFG, v. 45, n. 3, 2021. 
174 
 
no qual o trabalho somente se realiza naqueles padrões. E dada a expansão e monopólio das 
plataformas, a dependência no sentido de “fazer parte” é indiscutível, pois não há outro meio de 
trabalhar nesta atividade. 
Esse indício da precificação tem figurado como argumento secundário nas decisões que 
reconhecem o liame empregatício. Por exemplo, a decisão da 34ª Vara do Trabalho de Belo 
Horizonte no processo nº 0011098-61.2019.5.03.011314 se vale, além de outros argumentos, de 
uma dimensão de dependência econômica ao questionar a divisão do resultado econômico do 
trabalho na Uber. Indica que auferir 20 a 25% da renda bruta e impor ao trabalhador a quase que 
totalidade das despesas para a operação do negócio, a plataforma estaria, em verdade, assalariando 
e explorando o labor alheio. Enfim, quando se discute os resultados financeiros líquidos para cada 
um dos contratantes na plataforma da Uber, percebe-se que a cota resultante da plataforma é 
superior a cota resultante do motorista. 
Sobre o tema convém citar a tese n. 13 aprovada no XX Congresso Nacional dos 
Magistrados da Justiça do Trabalho – CONAMAT de 2022: 
 
TRABALHO EM PLATAFORMAS DIGITAIS 
 
I - NA DEFINIÇÃO DO EMPREGADO (ART. 3º), A CLT ADOTOU UM CONCEITO 
INDETERMINADO AO CONSTAR A EXPRESSÃO “SOB DEPENDÊNCIA”. A 
NOÇÃO DE SUBORDINAÇÃO JURÍDICA CLÁSSICA (COMANDO-PUNIÇÃO) 
HEGEMONIZAVA A SEMÂNTICA DO CONCEITO LEGAL, TODAVIA O 
SURGIMENTO DE UMA SÉRIE DE FIGURAS NOVAS COLOCOU EM XEQUE 
ESTE CONCEITO, SOBRETUDO SITUAÇÕES DE TRABALHO DEPENDENTE 
SEM A CONFIGURAÇÃO DOS TRADICIONAISELEMENTOS DA 
SUBORDINAÇÃO SUBJETIVA, COMO OCORRE, POR EXEMPLO, EM 
ALGUMAS PLATAFORMAS DIGITAIS DE TRABALHO SOB DEMANDA. 
JUSTAMENTE PELA INDETERMINAÇÃO DO CONCEITO DE “SOB 
DEPENDÊNCIA”, AS TEORIAS DA SUBORDINAÇÃO ESTRUTURAL, POR 
ALGORITMOS E DA DEPENDÊNCIA ECONÔMICA SÃO INTERPRETAÇÕES 
DEFENSÁVEIS DIANTE DA AMPLITUDE DO TEXTO LEGAL. 
 
 II - A PRECIFICAÇÃO DO TRABALHO ALHEIO É FORTE MANIFESTAÇÃO DA 
DIREÇÃO DE SERVIÇOS POR CERTAS PLATAFORMAS DE TRABALHO, 
CONFIGURANDO A OCORRÊNCIA DA DEPENDÊNCIA ECONÔMICA, 
CONCEITO ENGLOBADO PELO ART. 3º, CAPUT, DA CLT. A PRECIFICAÇÃO E 
SUA CONSECTÁRIA AUSÊNCIA DE LIBERDADE ECONÔMICA REPRESENTA, 
POR SI SÓ, A SITUAÇÃO DE DEPENDÊNCIA DO TRABALHADOR, A QUAL 
DEVE SER ADJETIVADA COMO ECONÔMICA, A FIM DE EXPLICITAR SEU 
FUNDAMENTO EXTRAJURÍDICO. ISTO É, QUANDO A PLATAFORMA DECIDE 
PRECIFICAR O TRABALHO ALHEIO ELA MANIFESTA CONTROLE PRÓPRIO 
DA POSIÇÃO JURÍDICA DE EMPREGADOR. 
 
III - O EMPREGO É A MODALIDADE PRIMORDIAL DE TRABALHO NA ORDEM 
ECONÔMICA CONSTITUCIONAL (ART. 170, VIII, DA CF), ALCANÇANDO O 
TRABALHO PRESTADO POR QUALQUER MEIO TECNOLÓGICO. POR ISSO, OS 
ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO DEVEM SER 
AFERIDOS NO CASO CONCRETO, COM BASE NO CONTRATO REALIDADE 
(ART. 9º DA CLT). 
 
 
14 MINAS GERAIS. 34ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. Sentença no processo nº 0011098-61.2019.5.03.0113. 
Belo Horizonte, 2017. 
175 
 
IV - TRABALHADORES EM PLATAFORMAS DIGITAIS. RECONHECIMENTO DE 
VÍNCULO EMPREGATÍCIO. POSSIBILIDADE, NOS TERMOS DO ART. 7º DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ARTIGOS 2º; 3º; 6º, PARÁGRAFO ÚNICO; 9º; 235-C, 
§ 13; 452-A, § 3º; 444 DA CLT. O CONTRATO CIVIL FIRMADO NÃO POSSUI 
VALOR ABSOLUTO, SENDO POSSÍVEL O RECONHECIMENTO DO VÍNCULO 
EMPREGATÍCIO, QUANDO EVIDENCIADOS OS REQUISITOS DOS ARTIGOS 2º 
E 3º DA CLT. 
(AUTORES - MURILO CARVALHO SAMPAIO OLIVEIRA, LEONARDO TIBO 
BARBOSA LIMA, AMATRA XI - 11ª REGIÃO, LUIZ ANTONIO COLUSSI)15 
 
5 Conclusões 
 Do exame das diversas decisões trabalhistas nacionais, constata-se a principal divergência 
nas argumentações cinge-se ao conceito de subordinação jurídica. Ressalta-se que estas notas 
conclusivas se referem particularmente as duas plataformas examinadas nos julgados, não gerando 
a inferência de que todas as plataformas digitais de trabalho subordinam os trabalhadores, o que 
deve ser sempre examinado concretamente e, logicamente em caso de processo judicial, de acordo 
com as provas produzidas. 
Em termos gerais, as decisões que negam o vínculo empregatício adotam uma concepção 
(restrita) de subordinação como trabalho com jornada fiscalizada e sob vigília presencial de um 
gerente/encarregado, de modo que a possibilidade de definir os dias e horários de trabalho não 
coincidiria com esta “subordinação forte”. 
No entanto, esta versão de subordinação hierárquica e presencial – cuja ilustração seria 
aquela das cenas do trabalho fabril do filme “Tempos Modernos” de Chaplin – não é, desde 1943, 
aquela adotada pela CLT, a qual preferiu um conceito mais aberto ao constar que empregado é 
aquele que labora “sob dependência”, o qual não é necessariamente com jornada controlada e sob 
ordens, vide, exemplificativamente, as situações de trabalho externo ou em domicílio. Fugindo 
dessa estreita versão de subordinação, as decisões que reconheceram o vínculo empregatício 
adotaram concepções amplas e até inovadoras para definir o estado de “dependência”, seja pela 
ideia de subordinação estrutural, subordinação algorítmica, controle por programação, entre outras. 
Nessas decisões, o argumento da dependência econômica consectário da falta de autonomia da 
fixação do preço de trabalho também é utilizado como fundamento secundário. 
 Fora do campo da semântica da noção de subordinação jurídica, defende-se que, quando a 
plataforma digital de trabalho decidir precificar o labor de seus trabalhadores, há escolha do 
modelo empresarial de assalariamento via salário por peça ou tarefa. Quando a plataforma 
estabelece os padrões remuneratórios, ela exerce direção econômica da atividade sob o trabalhador, 
sujeitando-lhe a uma dependência igualmente econômica. No polo oposto, numa autonomia, 
notadamente de caráter econômico, caberia ao trabalhador independente estabelecer, como 
manifestação da sua autonomia e titularidade sobre sua força de trabalho, o valor do seu labor. 
 
15 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO (ANAMATRA) (ed.). Tese 
n. 13. 2022. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/conamat/20-edicao. Acesso em: 01 jul. 2022. 
176 
 
Por derradeiro, o debate sobre o vínculo empregatício nas plataformas digitais retoma as 
antigas polêmicas conceituais sobre a subordinação jurídica, inclusive reabilita a ideia de 
dependência econômica. Daí que a procura pelos trejeitos antigos da subordinação fordista mostra-
se ineficaz e naturalizadora da desproteção do trabalho digitalmente assalariado e controlado. 
REFERÊNCIAS 
 
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19. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, Edição Especial – Dossiê Covid-19, 
p. 1-21, jun. 2020. Disponível em: . 
Acesso em: 30 mai.2022. 
ALAGOAS. Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região. Recurso Ordinário nº 00000168-
24.2020.5.19.0009, Relator: PEDRO INÁCIO DA SILVA, Data de Publicação: 16/06/2021. 
BLOOMBERG. Meta deixa ranking das dez maiores empresas em valor de mercado. 2022. Disponível 
em: https://www.bloomberglinea.com.br/2022/02/18/meta-deixa-ranking-das-dez-maiores-empresas-em-
valor-de-mercado/. Acesso em: 27 jun. 2022. 
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO (ANAMATRA) 
(ed.). Tese n. 13. 2022. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/conamat/20-edicao. Acesso em: 01 
jul. 2022. 
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Ausência de 
subordinação. nº RR - 1000123-89.2017.5.02.0038. Relator: Ministro Breno Medeiros. Brasília: DEJT, 
07 fev. 2020. p. 1-25. 
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Subordinação 
algorítmica. nº RR: 1003530220175010066. Relator: Mauricio Godinho Delgado. Brasília: Data de 
Julgamento: 06/04/2022, 3ª Turma, Data de Publicação: 11/04/2022 
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Entregador. Ifood. Ag-AIRR-
1000801-16.2018.5.02.0056, 1ª Turma, Relator Ministro Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT 
27/06/2022 
DE STEFANO, Valerio. The rise of the "just-in-time workforce": on-demand work, crowdwork and 
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MINAS GERAIS. 34ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. Sentença no processo nº 0011098-
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Brasília: Ministério Público do Trabalho, 2018. 
177 
 
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OLIVEIRA, Murilo. Relação de emprego, dependência econômica e subordinação jurídica: revistando 
os conceitos. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2019. 
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. Plataformas digitais e regulação trabalhista: precificação e 
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45, n. 3, 2021. 
PARAÍBA. Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. Acórdão em Recurso Ordinário. Processo nº 
0000699-64.2019.5.13.0025. Relator: Desembargador Thiago Andrade. João Pessoa: 2020.

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