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Autores Daniel Rebouças Carvalho Saulo Matias Dourado Rogério Santos Souza Gabriel Seixas Matos Simone Borges dos Santos Leonardo Tangel dos Reis MÓDULO III.C COMPONENTE: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e os componentes História, Geografia, Filosofia e Sociologia CARGA HORÁRIA 20h EMENTA Os eixos de Ciências Humanas previstos na BNCC e seus aspectos de interlocução e de crítica no DCRB. O caráter dialógico de área nas Humanidades e as suas especificidades por componente na elaboração curricular. O papel da área para o protagonismo de saberes regionais em contextos de territórios da Bahia. Os objetos de conhecimentos de Filosofia, Sociologia, Geografia e História e sua relação temática ao longo do Ensino Médio. O aprofundamento de temas e a questão da representatividade no currículo. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade nos Itinerários Integrados. Relações de aprendizagem com Projeto de Vida e Investigação Científica. AULA 1 – Quem sou eu? Indivíduo x Ser Político Tempo: 3h. TEMA: O aprofundamento de temas e a questão da representatividade. Caro professor, cara professora, espero que estejam animados com nosso percurso e preparados para continuar o nosso tear. Neste módulo, propomos uma reflexão sobre o tema representatividade, a partir, principalmente, da Lei nº 11.645, que torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Na primeira aula, suscitamos a análise de reconhecimento de identidade, tomando como ponto de partida o “Sujeito Universal”. Bons estudos! Acolhimento/Socialização Caro/a professor/a, o/a convidamos a ouvir e ler os versos da canção Um corpo no mundo, escrita e interpretada pela cantora baiana Luedji Luna. https://www.youtube.com/watch?v=V-G7LC6QzTA UM CORPO NOMUNDO Atravessei o mar Um sol da América do Sul me guia Trago uma mala de mão Dentro uma oração Um adeus Eu sou um corpo Um ser Um corpo só Tem cor, tem corte E a história do meu lugar Eu sou a minha própria embarcação Sou minha própria sorte https://www.youtube.com/watch?v=V-G7LC6QzTA E je suis ici, ainda que não queiram não Je suis ici, ainda que eu não queira mais Je suis ici agora Cada rua dessa cidade cinza sou eu Olhares brancos me fitam Há perigo nas esquinas E eu falo mais de três línguas E palavra amor, cadê? Je suis ici, ainda que não queiram não Je suis ici ,ainda que eu não queira mais Je suis ici, agora Je suis ici E a palavra amor, cadê? (Luedji Luna) Essa canção nos faz refletir, entre outros aspectos da vida humana, sobre a forma como nos portamos no mundo; como percebemos a nós mesmos e como somos percebidos pelos outros. A partir da análise da música, em especial o trecho “Eu sou um corpo / Um ser / Um corpo só / Tem cor, tem corte / E a história do meu lugar / Eu sou a minha própria embarcação / Sou minha própria sorte”, nos conte, por meio da nuvem de palavras abaixo, o que você entende pelo termo Identidade. Conhecimento prévio ATIVIDADE - MENTIMETER Professor/a, clique no link para acessar a nuvem de palavras e escreva três palavras que sintetizem o que você entende por identidade. No Mentimeter (www.mente.com.br), será criada uma nuvem de palavras com o título: O que é IDENTIDADE? http://www.menti.com.br/ Desenvolva uma atividade para estudantes em que eles possam interagir nessa plataforma a partir do tema da Identidade. É um recurso muito interessante para uso no cotidiano. Identidade, Representação Social e Política do Indivíduo O Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB), em consonância com a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, que torna obrigatória a inclusão no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, propõe a abordagem das temáticas sobre: Identidade. Identidade étnica e racial. Branquitude. Diversidade étnico-racial no Brasil. Origem científica da raça. História do racismo científico. Conceitos de raça e etnia. Relações entre raça, genética e classe. Manifestações do racismo ao longo da história do Brasil, diferentes formas de racismo no Brasil (inclui racismo ambiental, racismo religioso, racismo institucional...). História da luta antirracista no Brasil e no mundo, políticas antirracistas no Brasil. História da África em uma perspectiva descolonial. Contribuições do povo negro e dos povos indígenas para a construção da sociedade brasileira, segundo narrativas descoloniais. Resgate histórico das contribuições de povos africanos para o desenvolvimento da humanidade. Constituição geopolítica do continente africano. Diversidade cultural africana. A importância da cultura e religiosidade africanas e afrodiaspóricas para a cultura brasileira. Contribuições de negras e negros para a ciência. Pesquisa e investigação de manifestações da cultura popular do território de identidade da escola sobre racismo e a luta antirracista. O racismo e a luta antirracista em nosso cotidiano. Perspectivas para o futuro do povo negro e afrofuturismo. Representatividade negra. Educação antirracista. (DCRB, 2022, p. 458). É necessário termos a compreensão da nossa participação como sujeitos no mundo. Embora sejamos seres únicos, plurais, fazemos parte de conjunturas em que estamos inseridos/as. Conforme consta no DCRB para o Ensino Médio: Essa pluralidade e diversidade cultural são expressas nos 417 municípios do Estado, organizados em 27 Territórios de Identidade, com dinâmicas demográficas específicas e aspectos diversificados quanto à sua configuração ambiental, geográfica e de desenvolvimento econômico e político, que demandam políticas adequadas e singulares à composição demográfica e de identidade da população (DCRB, 2022, p. 66). Somos seres diversos e, nessa condição, cada diferença que nos compõe deve ser percebida como elemento potencial que forma o povo baiano e brasileiro. O DCRB, ao discutir sobre territorialidade, no componente curricular de Geografia enfatiza que cada um/a de nós, professores/as, precisa assumir o compromisso e estar atento/a ao “fato de que a percepção espacial de cada sujeito ou sociedade é o reflexo, inclusive, das relações afetivas e de referências socioculturais”. (DCRB, 2022, p. 212). A singularidade de cada sujeito precisa ser entendida como elemento que identifica, impulsiona e forma os Territórios de Identidade da Bahia. Por esse motivo, é necessário entusiasmar, assim como “manter a curiosidade e o interesse dos/as educandos/as pelas comunidades tradicionais e formação do território brasileiro deve ser a prioridade dos docentes e um desafio obstinado para a escola”. (ibidem, p. 212). ATIVIDADE - FÓRUM Professor/a, partindo do pressuposto da singularidade que forma cada um/a de nós e, consequentemente, o nosso território, será que esses contextos nos permitem perceber a pluralidade de outros grupos? Reconhecemos o diferente como semelhante a nós a partir de uma compreensão da existência, e não apenas da aparência? Após a reflexão, seguiremos as discussões com seus pares sobre identidade e “sujeito universal”.) Vamos refletir? Quando nos questionamos “Quem sou eu? Qual a minha identidade?”, tendencialmente respondemos de maneira espontânea: homem, mulher, mãe, pai, profissional etc. Entretanto, a pergunta é mais complexa: “Quem sou eu no mundo?”. É necessária uma análise mais profunda sobre identidade e alteridade, também chamada de outridade. A alteridade nos coloca em perspectiva ao outro; nossas individualidades devem ser relacionadas às nossas características físicas, sociais, culturais, mas, também, diante de nossa experiência coletiva. Maria Aparecida da Silva Bento nos permite compreender como se constroem as identidades quando afirma que estas se dão [...] por meio do corpo e na convivência com o outro. Nosso “eu” é produto de muitos outros que o constituem. Esses “outros”, nos primeiros anos de vida, com frequência são a mãe, o pai, a professora ou outros adultos [...]. Por meio do olhar, do toque, da voz, dos gestos desse outro, a criança vai tomando consciênciadas disciplinas; o rio, como imagem de eterna mudança, na metáfora do filósofo Heráclito; o Overdrive, termo inglês para nomear o som saturado, causado pela elevação do volume ao ponto que se quebra o limite do som limpo; e o mangue, local onde podemos ver estruturas rizomáticas, conceito caro à filosofia deleuziana e ao pensamento complexo, como já vimos em outros módulos. Hoje vamos retomar o assunto da transdisciplinaridade nas Ciências Humanas, focando nosso olhar sobre os objetos de conhecimento desta área. Tomaremos a Geografia como ponto do rizoma, sem dúvida uma disciplina inter e transdisciplinar por natureza, como reforça o geógrafo Rogério Haesbeart. Dessa disciplina, pensaremos sobre as formas concretas de se construir essas pontes – ou, quem sabe ,até rios de conexão – entre as Ciências Humanas, e além dela, partindo da “postura” da transdisciplinaridade e das discussões presentes no DCRB. PARA APROFUNDAR Em uma live de lançamento do seu livro Território e descolonialidade, o importante pesquisador geógrafo Rogério Haesbeart esclarece a natureza inter/transdisciplinar da Geografia, base da sua reflexão sobre a descolonialidade da geografia. Assista aqui! (34:32 – 36:04) Disponível em: (2) "TERRITÓRIO E DESCOLONIALIDADE", com Prof. Dr. Rogério Haesbaert/UFF - YouTube Para alguns autores, inclusive, a inter e a transdisciplinaridade seriam, na verdade, a própria atitude, e não algo exterior a ela. Nesse sentido, quase trinta anos atrás, em 1994, no encontro Ciência e Tradição, promovido pela UNESCO, em Paris, já se questionava a possível existência de “especialistas transdisciplinares”, mas preferindo a docentes “animados por uma atitude transdisciplinar”. Longe de ser “contra” disciplinas, o convite era – e continua sendo – por se flexibilizar limites disciplinares e por se convergir saberes em atenção aos problemas planetários e aos sujeitos (BARROS, 2019, p. 11). Já discutimos como a interdisciplinaridade tem ganhado destaque na educação brasileira nas últimas décadas. De forma geral, o termo indica uma integração de diferentes áreas do conhecimento com o objetivo de solucionar problemas complexos e desafios demandantes de uma abordagem ampla e diversa. Como reforçou Ivani Fazenda, interdisciplinaridade é uma “postura epistemológica que busca superar a fragmentação do conhecimento e a estagnação do pensamento, criando novas possibilidades de compreensão de problemas complexos". Ou seja, não é uma justaposição de disciplinas. Trata-se de pensar a integração e a articulação entre diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, Edgar Morin (2000) nos lembra a importância de uma "visão de conjunto" para a compreensão de fenômenos complexos. Refletindo sobre a inter e transdisciplinaridade dentro da Geografia, Milton Santos (2005) colocava que, apesar dos inegáveis avanços científico e tecnológico, a especialização do saber gerou um “comprometimento do entendimento do mundo”. Assim, pontuou o pesquisador, era preciso superar o temor de “saberes antigos sucumbirem aos saberes novos”, sob pena de que os “prisioneiros de uma visão imobilista corram o risco de ficarem à deriva diante da tarefa de interpretação do presente”. (SANTOS, 2005, p. 139). Vamos refletir https://www.youtube.com/watch?v=3camGBpN2YE&t=2187s https://www.youtube.com/watch?v=3camGBpN2YE&t=2187s Como têm se dado as experiências concretas de interdisciplinaridade da Geografia – e mesmo de outras disciplinas – na sua realidade escolar? Em termos práticos, como realizar uma proposta de interdisciplinaridade da Geografia, por exemplo, com a História, a Sociologia ou a Filosofia? Caminhado para além das Ciências Humanas, como seria uma interdisciplinaridade com a Biologia, a Matemática ou a Física? Diante de tais questões, um ponto central sentido por muitos docentes é compreender como fazer, na prática, essa comunicação, seja em qual intensidade for, entre as disciplinas. Sem pretensões de ser guia definitivo, vamos analisar uma interessante proposta do pesquisador José D´Assunção de Barros, discutida em seu livro Interdisciplinaridade na História e em outros Campos do Saber, publicado em 2019. 1° Aspecto - Refletir a partir da Etimologia… - O prefixo latino “inter” aponta para duas grandes ideias: - Ideia 1 - como uma posição intermediária (uma coisa entre duas outras coisas) → Vamos encontrá-la em palavras “intervir” ou “interferir” como mediação de algo ou do vir por dentro; em “interpretar”, o prefixo tem sentido de algo por “dentro”; - Ideia 2 - como uma reciprocidade→ Essa ideia aparece na palavra “internacional” (como espaço de relações recíprocas entre nações, onde há confronto e diálogo, agindo uma sobre as outras). Para José D´Assunção de Barros, a reciprocidade é uma forma muito poderosa e profunda de se pensar o diálogo dentro do campo das Ciências Humanas e Aplicadas. Isso porque ela pressupõe uma mudança na disciplina, de ambos os lados, visando à criação de um novo espaço. E é nesse movimento que os docentes são convidados a ter uma postura mais flexível e porosa. 2° Aspecto: Alinhavar pontes interdisciplinares (à moda rizomática) - Outro ponto importante é refletir sobre as chamadas pontes, imaginadas aqui como os caminhos que criam possibilidades de interpenetração entre as áreas do conhecimento. - Para o autor, as principais pontes são: pela teoria (uso de conceitos); pelo método (pelo troca de procedimentos); pelo discurso (padrões e formas expressivas); pela temática (campos de interesse em comum). História e Geografia em permanentes reencontros Disciplinas com imensas proximidades, muitos autores argumentam que o correto é imaginar em ‘permanentes reencontros’, em vez de uma recente aproximação. Nascidas juntas na Antiguidade, nas últimas décadas do século XX, historiadores, por sua vez, têm percebido as limitações de restringir a História a uma “ciência dos homens no tempo”, para citar a formulação de Marc Bloch, expoente da Escola dos Annales. À famosa frase-síntese, a disciplina ganharia muito em alcance e em complexidade se partisse da premissa de ser uma “ciência dos homens no espaço (ou em algum lugar)”, admitindo a inseparabilidade das categorias espaço e tempo. Na Geografia, a força da unicidade dessas duas categorias tem ganhado mais adeptos, sintetizada na expressão que “todo espaço é construído temporalmente, historicamente”. Segundo o geógrafo Rogério Haesbaert, é preciso questionar a abordagem dicotômica que separou, de um lado, o espaço – sinônimo de fixação, de estrutura material, de essência duradoura e do ser – com a dimensão do tempo, do outro lado – relativo à mudança, à dinâmica social e ao devir. Aliás, não apenas a história, distintas áreas foram capturadas pelo chamado “giro espacial”, como os estudos culturais, a ciência política, a sociologia, a antropologia, a filosofia, os estudos literários e as artes, passando a ler e a dialogar com conceitos trabalhados no interior da disciplina geográfica, especialmente por meio de obras como A condição pós-moderna, de David Harvey, Geografias Pós-Modernas, de Edward Soja, e Espaço, Lugar e Gênero (e, mais tarde, Pelo Espaço), de Doreen Massey (HAESBAET, 2021). Para José D´Assunção de Barros, a ponte conceitual tem sido o elo mais profícuo na conexão entre a História e a Geografia. Para os historiadores, o macroconceito de espaço – e suas derivações, como território, lugar, paisagem – tem gerado grandes avanços na compreensão dos fenômenos, além da criação de importantes subáreas na História, como a História Regional, na qual o conceito de lugar é fundante para a concepção de pertencimento cultural. Entre os geógrafos, o aprofundamento das reflexões teóricas em torno do uso do conceito de tempo os tem tornado especialistas em “ler o tempo através do espaço”, aprofundando a análise de paisagens e camadas temporais “consolidadas no espaço e materializadas no meio”. Sem dúvida, há outros diálogos importantes, a exemplo do que ocorrecom o conceito de região. Segundo o geógrafo Rogério Haesbaert, em uma palestra on-line, essa perspectiva dialógica aparece no surgimento, dentro das Ciências Sociais, da Sociologia Urbana e Rural, ou da “Sociologia do espaço”; na relevante discussão sobre a Identidade Regional, no diálogo com a Antropologia, tal como já discutimos no Módulo 2; na reflexão sobre os regionalismos e as buscas por autonomia política, em clara referência ao campo de interesses da Ciência Política. Vale relembrar: a rejeição da dimensão espacial dentro das Ciências Humanas tem origem na crítica ao chamado determinismo geográfico, ou da aceitação acrítica do ‘espaço universal’, mas tendo a Europa como única referência. Como já vimos em módulos anteriores, esse questionamento de um espaço tido como universal, abstrato e neutro é um dos fundamentos do pensamento descolonial, demonstrando, assim, o quanto o citado giro espacial – ou melhor, no caso da “América Latina”, considera a multiterritorialidade, algo indissociável dessa outra forma de ler o mundo (HAESBAET, 2021). O esquema abaixo foi elaborado por José D´Assunção de Barros e pode nos ajudar a visualizar essas pontes e linhas de diálogos mais claramente. (Adaptado de: BARROS, José D´Assunção. Op. cit.; p. 121). Como notamos, as possibilidades de conexões podem ser bastante numerosas e efetivas. Isto faz eco às palavras de Milton Santos (2002): https://www.youtube.com/watch?v=lrMlgWE3WXQ https://www.youtube.com/watch?v=lrMlgWE3WXQ a interdisciplinaridade é um desafio para a geografia, mas é também uma oportunidade de enriquecimento e ampliação do conhecimento. É preciso abraçar esse desafio e buscar sempre novas formas de diálogo com outras disciplinas. A geografia não pode ser uma ciência que se fecha em si mesma, que se contenta em estudar apenas o espaço. Ela tem que estar em diálogo com outras disciplinas, como a sociologia, a história, a economia, entre outras. (SANTOS, 2002). Para as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no DCBR, vale lembrar a importância das noções derivadas do espaço – como território e lugar – para o desafio de desenvolver a capacidade dos/as estudantes de estabelecer diálogos e opiniões variadas, a fim de construir uma sociedade mais igualitária. Em primeiro lugar, a discussão sobre o espaço, em conjugação com o tempo, permite “localizar, comparar e analisar as diferenças que ocorrem no mundo” e a compreensão das variadas formas culturais, de sociedade nas suas especificidades. O lugar, por sua vez, deve nos instigar a pensar objetos do conhecimento e as identidades que compõem a Bahia. Neste sentido, a Geografia, em conjunto com a História, deve passar pelos discursos e paisagens que nos tocam, não mirando apenas conceitos universais e em rígidas narrativas clássicas (BAHIA, 2022, p. 207-208). Uma abordagem a partir dessas reflexões e sugestões de caminhos, a interdisciplinaridade pode enriquecer, sem dúvida, o ensino da Geografia, tornando-o mais complexo e diversificado, em termos teóricos e metodológicos. Além disso, pode contribuir para uma formação mais ampla e crítica dos estudantes, que serão capazes de compreender a complexidade das relações entre as sociedades e o meio ambiente, bem como de refletir sobre os desafios e perspectivas para a construção de um futuro mais sustentável. Transdisciplinaridade Já vimos em outros momentos do curso que a transdisciplinaridade pode ser pensada como uma abordagem integradora, em sentido amplo e profundo, em diferentes disciplinas. O objetivo maior é abordar problemas obscuros e multifacetados, que não poderiam ser interpelados somente a partir de uma única disciplina. Nos ganhos disso, estão a compreensão mais abrangente e profunda dos problemas globais. Na sala de aula, aprimora-se a curiosidade e a criatividade, permitindo que os alunos explorem áreas de diferentes conhecimentos. Como exemplo, questões relacionadas à sustentabilidade, que exigem uma abordagem transdisciplinar, já que exigem a integração de diferentes saberes e de perspectivas para se encontrar soluções mais eficientes. Como bem sistematizou Candau (2010), a transdisciplinaridade não se trata de uma abordagem que visa substituir a Geografia e as disciplinas tal qual as conhecemos, ou criar uma metadisciplina, ou criar um novo domínio com novo nome. É uma perspectiva que as complementa e as integra de forma mais ampla – a ponto de uma disciplina transformar a outra –, mas sem negar a importância desse conhecimento disciplinar. É o além, é o transbordar-se, em um projeto coletivo de integração de diferentes perspectivas e saberes em uma visão mais ampla e abrangente da realidade. Voltando à proposta do como fazer, de José D´Assunção de Barros: 1° Aspecto - Um olhar pela Etimologia… O vocábulo “trans”, originalmente de origem grega, e que depois passou pelo universo do latim, nos remete a: - Ideia 1 - como através de algo, ultrapassar ou mudar → encontramos essas ideias em palavras como “transbordar”, “transformar” ou em “trânsito” (essa última vem do latim transitus, o particípio passado de transire, traduzível como ir além). Já vimos em outros momentos os desafio da transdisciplinaridade nesse e em outros movimentos para além dos limites ou dos campos conhecidos, cujo destino aparentemente não parece ainda, para muitos docentes, claramente definido. Por outro lado, a proposta da pesquisadora Maria Cândida de Moraes é que o “lugar” da interdisciplinaridade é o sujeito, em todas as suas dimensões, incluindo a dimensão do imaginário, como destacamos na epígrafe da aula. Sendo um espaço de não resistência, ou seja, despegando-se, por ora, dos limites disciplinares, o “destino” aponta para o não racionalizado, da percepção ampliada. 2° Aspecto - Transdisciplinaridade e dimensão ética: a Geografia e o meio ambiente A transdisciplinaridade tem sido frequentemente empregada para abordar questões relacionadas ao meio ambiente, a partir das dimensões éticas e políticas já discutidas em aulas passadas. Nesse sentido, busca-se uma análise mais ampla dos problemas ambientais, considerando não apenas fatores físicos e biológicos, mas também socioeconômicos, culturais e políticos. Isso é particularmente importante para entender as causas e consequências das mudanças ambientais globais, como o aquecimento global, a degradação do solo, a perda de biodiversidade e a poluição. Um exemplo de pesquisa transdisciplinar em geografia ambiental é o estudo das mudanças climáticas e seus impactos no meio ambiente e na sociedade. Essa pesquisa envolve a colaboração de cientistas físicos, biólogos, geógrafos, economistas e sociólogos, entre outros, para entender as complexas interações entre o clima, a natureza e a sociedade. Outro exemplo é o estudo que envolve a análise de políticas e práticas que visam proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável considerando não apenas fatores biológicos e físicos, mas também questões econômicas, políticas e sociais. Na geografia ambiental também é importante, para entender as relações entre as pessoas e o meio ambiente, especialmente nos contextos urbanos, analisar essas interações requerendo uma abordagem transdisciplinar, que envolve a colaboração de geógrafos, sociólogos, antropólogos, arquitetos e urbanistas, entre outros. Em suma, a transdisciplinaridade associada à geografia ambiental é fundamental para abordar os problemas ambientais complexos e multifacetados da atualidade, permitindo uma compreensão mais abrangente e profunda dos fenômenos estudados. A contribuição entre diferentes disciplinas e especialidades é essencial para enfrentar os desafios ambientais globais e promover um desenvolvimento sustentável, contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Caro/a cursista, sintetizando tudo visto até aqui, para a Atividade 1, leia com atenção a boa síntese formulada pelo José D´Assunção de Barros sobre a situação entre a Geografia e a História nas últimas décadas.Em sua avaliação, têm crescido as possibilidades de “fraternidades epistemológicas e os espaços transdisciplinares entre os dois saberes” (BARROS, 2019, p. 45) Partindo dessa formulação, acesse o nosso chat e debata a questão norteadora abaixo, e comente pelo menos uma resposta dentro do chat. Quais as possibilidades de fraternidades epistemológicas e os espaços transdisciplinares entre a sua disciplina com outras disciplinas? Vamos levantar ideias, questionamentos e possibilidades de trabalho a partir da sua realidade escolar. É importante que você considere as viabilidades de aplicações das ideias discutidas em suas práticas pedagógicas, e como elas poderão contribuir para uma formação mais completa e integrada dos estudantes. As transdisciplinaridades e Geografia em sala de aula Nesta segunda parte da aula, nosso foco será na pluralidade da transdisciplinaridade. E sim! Como você acabou de ler, a ideia é refletir sobre as possibilidades, ou seja, os possíveis caminhos que concretizem o transdisciplinar na educação básica, nas mais diversas dimensões ontológica, pedagógica, política e ética. Para isso, vamos seguir algumas questões levantadas por três professores de Geografia a partir da análise de dois projetos, e divulgado no artigo “Contextos inter e transdisciplinaridade de ensino de Geografia para a compreensão do território usado”. Como o título do texto nos sugere, os autores argumentam que os dois projetos visavam à compreensão do conceito de “território usado”, de Milton Santos, para que os educandos construíssem “compreensões críticas sobre o contexto socioespacial em que vivem”. A compreensão do conceito de território usado ajudaria, ainda segundo os professores, na superação de “ausências de conhecimento geográfico”, ao explicitar os conflitos pelo uso do território, no âmbito local, e as estratégias de luta pelas redes de solidariedade local. A seguir, os professores apresentam como entendiam o tema da inter e transdisciplinaridade naquelas aulas de Geografia: Nossa aula está centrada sobre o que se denomina de “práticas (inter) (trans) disciplinares” na educação básica. Com a preocupação de uma educação que contemple a educação na sua integralidade, o que se via, porém, era um trabalho disciplinar restritivo ao caráter cognitivo dos fatos, dos conceitos e aos conteúdos procedimentais e atitudinais. Para superar essa situação, os autores enfatizam a necessidade de pensar currículo pensado a partir da realidade do contexto da escola, uma escuta sensível às demandas estudantil e uma valorização dos saberes dos educandos. Mais do que isso, a inter e a transdisciplinares surgem como possibilidade de superar a fragmentação e de criar novos saberes, já que faz “articular os fragmentos”, minimizando “o isolamento ou dar novos rumos a eles”. (PAULA et al., 2018, p. 88). Como deve ter notado, aspectos acima são semelhantes a outras avaliações que vimos ao longo do curso. Superar a fragmentação, conteúdos ligados à realidade e necessidade dos educandos. Por outro lado, vejamos um dos fundamentos do argumento dos três autores sobre as “práticas (inter) (trans) disciplinares”: Sobre esses conceitos, Suertegaray (2003) entende que transdisciplinaridade é um dos passos iniciais para a construção da interdisciplinaridade. Transdisciplinaridade é entendida como a capacidade de trânsito, de diálogo entre as disciplinas. Promove a construção do conhecimento complexo, tecendo junto com as outras disciplinas, colocando-se no lugar do outro, entendendo seus métodos. Para esta autora, interdisciplinaridade constitui a prática coletiva que surge da organização em grupo e busca a explicação do problema formulado pelo conjunto dos pesquisadores. (grifos nossos. Idem, p. 89). Assim, aqui, a transdisciplinaridade antecede a ação interdisciplinar, sem dúvida uma perspectiva distinta do defendido por muitos autores que trabalhamos ao longo das aulas Além disso, a transdisciplinaridade, menos do que inspiração de se olhar o mundo de forma complexa, era o fundamento para “abordagens didáticas mais contundentes na formação dos educandos”. Pesquisadores avaliavam que, apesar dos ganhos do olhar transdisciplinar, era fundamental “enaltecer o papel da Geografia nesse processo de diálogo disciplinar e com outros saberes”. Seguindo as reflexões de Milton Santos, os autores defendiam que era necessário que a Geografia consolidasse reflexões teóricas consistentes, que garantisse seu papel de “uma ciência totalizadora por meio de sistemas analíticos fortes”. Somente após isso era que, então, a Geografia se colocaria “com importância no debate inter e transdisciplinar”. Encontramos entendimento semelhante no Documento Curricular Referencial da Bahia sobre os diálogos da Geografia com as disciplinas das humanidades e sociais aplicadas. No campo da interdisciplinaridade, a “ponte”, para usar a terminologia de José D´Assunção de Barros, de conexão da ciência geográfica reside no fato do seu objeto de estudo – o espaço geográfico – ser algo “indissociável da formação social”. Além disso, os objetos de conhecimentos de outras área, saberes e práticas dialogam com o mundo da Geografia: espaço e sociedade, regionalização, demografia, geopolítica, entre outros. (BAHIA, 2022, p. 211). Voltando ao texto em questão, esses dois pontos – uma anterioridade da transdisciplinaridade a momento interdisciplinar e uma posição pró-disciplina – são perspectivas que sugerem uma diversidade de entendimentos e de práticas inter e transdisciplinares no cotidiano escolar. Diante dessas questões, o objetivo da Atividade 2 é oportunizar uma reflexão mais ampliada e profunda sobre essa diversidade, criando uma nuvem de ideias com conceitos-chaves do seu entendimento a respeito desses temas construídos ao longo do curso. Primeiro, assista aos três trechos de uma interessante entrevista da professora e pesquisadora Maria Cândida de Moraes, uma das principais intelectuais do mundo sobre o pensamento complexo e a transdisciplinaridade na educação brasileira. Atente como, nos trechos selecionados, a pesquisadora: -Apresenta uma leitura particular sobre o que seria um docente transdisciplinar; -Discute sobre o momento em que a transdisciplinaridade acontece, de fato; e -Comenta sobre a formação integral como consequência de uma educação inspirada pela complexidade transdisciplinar. Maria Cândida Moraes Vídeo 1 - Docente Transdisciplinar (11:50 a 15:55) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=F5P_-42GmHI&t=954s Vídeo 2 - Para além das disciplinas (08:25 a 15:35) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5vEtTdrBQDU&t=1013s Vídeo 3 - Pedagogia Integral (15:38 a 19:41) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5vEtTdrBQDU&t=1013s Em seguida, finalize a Atividade 2 produzindo uma nuvem de ideias com, pelo menos, cinco termos/ideias que você considera como os principais para uma docência e uma prática educacional transdisciplinar. Leia as orientações abaixo: - Selecione os cinco termos a partir da leitura dos textos da aula, dos vídeos e da nuvem abaixo, que reúne os principais conceitos discutidos na aula; https://www.youtube.com/watch?v=F5P_-42GmHI&t=954s https://www.youtube.com/watch?v=5vEtTdrBQDU&t=1013s https://www.youtube.com/watch?v=5vEtTdrBQDU&t=1013s - Feita sua seleção, justifique a escolha de cada uma das palavras, redigindo pelo menos um parágrafo por termo; - A seguir, envie pelo link abaixo. Palavras para nuvem de ideias - Educação integral - Autoformação, heteroformação e ecoformação - Experiencial - Autopoiética - Abertura - Pensamento complexo - Projetos em rede - Reducionismo didático - Racionalidade aberta - Ambiência, diálogo, multidimensões - Racionalidade aberta - Emergências em sala de aula - Território usado - Entre, através e além das disciplinas - Pontes interdisciplinares - Transdisciplinaridade no sujeito Referências ALVES, Nilda. 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É exatamente nesse sentido que se situa a importância e a responsabilidade das escolas, do currículo e de nós, professores e professoras, em relação a como nos vemos e como possibilitamos o olhar para si, por parte dos/das estudantes, pois eles/elas possuem uma faixa etária propícia ao desenvolvimento, podendo a escola, juntamente com a família, os meios de comunicação, entre outros, contribuir para a construção de uma identidade positiva ou negativa de si mesmo/a. Ainda sobre a construção do conceito de identidade, Kwame Anthony Appiah salienta que Toda identidade é construída e histórica; todo o mundo tem o seu quinhão de pressupostos falsos, erros e imprecisões que a cortesia chama de “mito”, a religião, de “heresia”, e a ciência, de “magia”. Histórias inventadas, biologias inventadas e afinidades culturais inventadas vêm junto com toda identidade; cada qual é uma espécie de papel que tem que ser roteirizado, estruturado por convenções de narrativa a que todo o mundo jamais consegue conformar-se realmente. (APPIAH, 1997, p. 243). A partir dessa indicação de Kwame Appiah, é necessário que tenhamos atenção no que tange à realidade brasileira e baiana; pois, no caso do Brasil e da Bahia, a identidade está relacionada à cultura, que, conforme o antropólogo Roque de Barros Laraia, é uma dimensão humana intrinsecamente dinâmica, com mudanças ao longo do tempo, por razões internas ou externas. Entender esses processos de variações, por sua vez, nos convida a entender compreensivamente tanto as “diferenças entre povos e culturas diferentes” como as imposições resultado do processo colonialista (LARAIA, 2003, p. 52). Analisando esse processo de mudanças culturais identitárias, o pesquisador Stuart Hall afirmou que [...] o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas [...]. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006, p. 13). No processo de (re)construção da identidade, os vínculos são de fundamental importância, tendo em vista que a primeira interação da criança ocorre no ambiente familiar, e só posteriormente nos demais grupos sociais, inclusive na escola. É nessa fase da vida do indivíduo que se dá origem às lentes com que vai enxergar a si e o mundo que o cerca; por isso, a apresentação dos valores, crenças e hábitos deve ser feita com muito cuidado e em comunhão entre família e escola, para que ambas possam contribuir de forma positiva na formação de sua identidade de sujeito, livrando-o de qualquer tipo de preconceito. A partir do exposto, entendemos a importância resultante das relações com o outro e com o mundo na formação da identidade dos indivíduos. É nesse jogo complexo das relações consigo, com o outro e com o mundo que nos tornamos sujeitos únicos e plurais. De modo que o modo como nossas histórias e as de nossos ascendentes são contadas servem de referência para formarmos nossas identidades. Uma educação que não esteja atenta a essas questões expõe os/as estudantes à construção de baixa autoestima no espaço da sala de aula, pois não acolhe as diferenças, mas, sim, impõe uma desigualdade em detrimento da diferença e/ou da diversidade. Segundo a filósofa Angela Davis (2019b, p. 35), a escravidão “tornou-se um receptáculo para todas aquelas formas de punição que, com o desenvolvimento da democracia, passaram a ser consideradas bárbaras”. A pena de morte foi acolhida na lei escrava. Os escravizados eram sujeitados a todo tipo de barbárie. Para Davis, o fim da escravidão desracializou esse tipo de castigo. Entretanto, a pena capital insiste em ser aplicada desproporcionalmente em corpos negros. Problematizar questões sociais a partir de um escopo filosófico é um dos modos de aprofundar a competência nº 2 da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas na BNCC: "Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações". Nesse sentido, a filosofia, em relação transdisciplinar com as humanidades, propõe um questionamento direto com as situações de nosso tempo, atravessada por aspectos sociológicos, geográficos e históricos. Para Saber Mais Sugestão de Leitura: Em palestra-performance, Grada Kilomba desfaz a ideia de conhecimento “universal”. 6/em-palestra-performance-grada-kilomba-desfaz-a-ideia-de-conhecimento-universal/ https://mitsp.org/201 https://mitsp.org/2016/em-palestra-performance-grada-kilomba-desfaz-a-ideia-de-conhecimento-universal/ https://mitsp.org/2016/em-palestra-performance-grada-kilomba-desfaz-a-ideia-de-conhecimento-universal/ SUJEITO UNIVERSAL X EU E OS OUTROS O “sujeito universal” é a representação do homem branco, cis, heterossexual. Ao lado deste homem, a mulher branca, que performa o Outro. Segundo Simone de Beauvoir (2016), a mulher representa o não-essencial perante o homem, o sujeito absoluto; portanto, ela é o Outro. O que difere desse padrão estabelecido é considerado destoante. Homens e mulheres negras, pessoas cis hétero ou homossexuais, com ou sem trejeitos afeminados ou masculinizados, homens e mulheres trans negras e brancas, pessoas não binárias. Todas elas entram na categoria do dessemelhante. Aquelas e aqueles que não são o padrão e, por isso, não merecem o reconhecimento de humanidade. É o resto, o lixo, a escória. Muitas vezes (a maioria das vezes) são as alunas e os alunos do sistema público de educação. É necessário discutir o não reconhecimento desse ser dessemelhante. O jovem negro periférico, marginalizado, sujeitado a subemprego, à exploração capitalista, deve ser situado a respeito de sua condição; compreendido nos porquês da marginalização, animalização e não reconhecimento como sujeito de direitos e de cidadania. Conceitos filosóficos como esses são emblemáticos para a socialização de saberes entre os/as estudantes, a fim de que se apropriem criticamente das questões que os/as envolvem e criem possibilidades de superação. Nesse entendimento, a partir do filósofo camaronês Achille Mbembe (2018), em Crítica da razão negra, podemos debater que a raça foi inventada, pois ela não existe enquanto natureza física, antropológica ou genética. “A raça não passa de uma ficção útil, uma construção fantasmática ou uma projeção ideológica” (MBEMBE, 2018, p. 28). Para Mbembe, o hemisfério ocidental, em sua busca por se estabelecer como centro do globo terrestre, terra mãe do logos, da civilização, da verdade e da universalidade, foi capaz de inventar os “direitos das gentes”, da reciprocidade de direitos. Direitos que não envolvem o Resto. O Ocidente se mostra como “uma espécie de espelho ou molde pelo qual todas as sociedades devem se orientar. O dessemelhante constitui, portanto, a manifestação do negativo. O dessemelhante é o continente africano”, a figura objetificada da África e, por consequência, das pessoas negras (SANTOS, 2022, p. 36). Segundo a autora, as pessoas negras representam o “ser-outro”. O negativo contaminou todos os momentos de sua existência. “Entre todas as raças que sofrem desse ressentimento, as pessoas de cor são as que mais sofrem. A melanina não permite disfarce. O corpo traz em si a evidência para a perseguição.” (ibidem, p. 36). A partir das interações com o mundo, o indivíduo assume uma identidade política, por meio de uma lógicade reconhecimento (ou não). Pois, como sujeito histórico, é estabelecido pertencimento em contextos culturais e socioeconômicos. Todo movimento, orientação, escolha é resultado de um ato político. É como se traz na introdução do componente de História no DCRB, ao citar Thompson (1981): a construção do conhecimento histórico se dá na conexão de fatos a fenômenos e destes aos processos mais amplos, cabendo ao historiador analisá-los, tendo em vista a noção de totalidade, amparados por uma teoria e conceitos que dão sentido ao objeto, como capitalismo, luta de classes, poder político. (DCRB, 2022, p. 213). ATIVIDADE 3 Professor/a, a partir do podcast com Thiffany Odara e das discussões realizadas nesta aula, crie um relato em que você conta para um melhor amigo ou amiga os conceitos de representatividade e identidade. AULA 2 – Tempo: 2h TEMA: Interseccionalidade OBJETIVO: Refletir como o uso da interseccionalidade possibilita a compreensão das subjetividades e das implicações políticas e sociais interpostas pelo gênero e pela raça. Caro/a professor/a, Na aula anterior, abordamos a noção de identidade como ato político. Agora, propomos reflexão a respeito da interseccionalidade como categoria de análise que, por meio dos estudos de gênero, raça, classe e sexualidade, propõe o entendimento sobre a importância da representatividade em espaços de liderança e poder. Você sabe o que é interseccionalidade? Vamos iniciar a discussão sobre a percepção dessa categoria de análise. Vamos realizar um iconográfico? A iconografia, formada pelos termos gregos eikon (imagem) e graphia (escrita), significa “a escrita da imagem". ATIVIDADE 1 Professor/a, use seu aparelho celular para fazer uma selfie. Observe a foto como quem se vê diante de um espelho. Descreva como você se vê. Pela ótica de gênero, raça, classe, sexualidade, como você se percebe representado/a? Sugerimos colocar uma moldura de espelho no Ambiente Virtual. Professor/a, a poeta Negreiros Souza se apresenta, em uma percepção de si, utilizando sua poética periférica. Vamos conhecer? PODEMME CHAMAR (Negreiros Souza) Podem me chamar Meu nome é quilombo, resistência, ancestralidade, abolição. - Prazer, meu nome é Ressignificação. É preciso muito mais que coragem para admitir que carrega na pele a cor da escuridão. Meu nome é Kêtu, Jêje, Nagô, Bantu, navios negreiros, - Prazer, meu nome é Quebrada e se escrito em cruz pode ser Encruzilhada. Meu nome é Dandara, Aquatune, Zumbi, Steve Biko, Lélia Gonzales, Maria Filipa, Akotirene, Malcom X, Luther King, Nzinga, Nelson Mandela - Prazer em conhecer, meu nome é Favela e não nego as minhas origens. Meu nome é respeito, igualdade, consciência, meu nome é reparação. - Prazer em conhecer, meu sobrenome é Afirmação! Meu nome poderia ser João, Antônio, Creuza, Maria, Kaiala, Benguela, Diáspora. Meu nome poderia ser Ogum, Oxossi, Xangô, Omolú, Nanã, Iansã, Oxum, Yemanjá... Eu poderia ter tantos outros nomes, mas escolhi me chamar ÁFRICA (Poéticas periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana) A poesia periférica de Negreiros Souza nos permite perceber os diferentes marcadores sociais que a compõem como indivíduo. Em sua “escrevivência”, apresenta diferentes categorias que se interseccionam e formam sua identidade como sujeito social. Mas, afinal, o que é interseccionalidade? Interseccionalidade A seguir, um vídeo em que Carla Akotirene explica “o que é interseccionalidade”: link https://www.youtube.com/watch?v=q4VAm2BnO5E tempo: de 14:26 min até 16:14 min; de 18:09 min até 19:49 min; de 27:47 min até 28:25 min. Vídeo – Entrevista com Carla Akotirene. Interseccionalidade é um termo cunhado pela professora e jurista afro-americana Kimberlé Crenshaw. Para a intelectual, a interseccionalidade visa incluir questões raciais nos debates sobre gênero e direitos humanos e incluir questões de gênero nos debates sobre raça e direitos humanos, a fim de que sejam consideradas mutuamente, e não excludentes, a discriminação racial que afeta mulheres e a discriminação de gênero que afeta mulheres negras. Se o feminismo branco negligenciou a pauta da questão racial trazida pelas feministas negras, bem como o movimento negro também agiu com indiferença às questões de gênero, a interseccionalidade surge como uma ferramenta analítica, teórico-metodológica e política que https://www.youtube.com/watch?v=q4VAm2BnO5E possibilita, por meio da análise de sobreposições, a leitura e a intervenção nas condições de múltiplas discriminações e violências que acometem mulheres negras. Para Crenshaw (2002), é necessário aprofundar objetivamente como as estruturas de exclusão social afetam a vida cotidiana das mulheres negras e como limitam seu acesso a direitos, subordinando-as a interesses hegemônicos, que colocam como referência universal de ser humano os homens brancos, heterossexuais, burgueses. Constituindo, assim, um padrão universal de referência de ser humano, em direitos, em humanidade, ratificando assimetrias e desigualdades, e sedimentando privilégios. Ao longo de sua teorização sobre o fenômeno, Crenshaw expande seu conceito para abarcar outras categorias de interseção que subalternizam sujeitos e grupos, tais como classe, orientação sexual, geração, religião, nacionalidade etc., tratando-as como sobreposições hierarquicamente equivalentes. Para a autora, há sistemas de discriminação, como raça, gênero e classe, que criam desigualdades e geram consequências estruturais que estão imbricadas em um ou mais eixos de subordinação, que interagem de forma dinâmica criando intersecções complexas. Então, a interseccionalidade surge como ferramenta que busca capturar e decodificar essas sobreposições de opressão a fim de enfrentá-las e combatê-las. É com a leitura sobre interseccionalidades que podemos, também, problematizar os privilégios. Enquanto existem sujeitos que sofrem tripla, quádrupla, ou melhor, múltiplas discriminações, há sobreposições que também beneficiam indivíduos de forma múltipla. Essas dimensões valorizadas são construídas por meio da cultura, da história e de sistemas simbólicos, para citar alguns: a língua, a arte, a ciência, a religião. Nos Eixos Estruturantes do DCRB, há um apontamento muito nítido de um embasamento antirracista para a educação baiana, em que se inclui a necessidade de ampliar o olhar para as diferentes experiências da população negra, considerando as suas realidades locais e territoriais, modos e subjetividades das crianças, jovens e adultos, bem como pode ser conduzida pela autonomia docente, com base em pedagogias, metodologias, perspectivas e correntes teóricas, tais como pós-colonial, decolonial, descolonial, afrocentrada, com base nas perspectivas do Movimento Mulherismo Africana, Feminismo e Negros, considerando a interseccionalidade (BAHIA, p. 56). Para ir além Se ligue no vídeo! Podcast Mano a Mano: Vídeo/Entrevista com Angela Davis: https://open.spotify.com/episode/6M7BvYD8ymJGd3MdGC3tDj?si=edeeac3f7dea4671 Obs: A partir do tempo 13:54 min até 23:40min. ATIVIDADE - ANGELA DAVIS Professor/a, No podcast, a filósofa Angela Davis fala sobre liberdade. Escreva no fórum o que você gostaria de perguntar para ela, se fosse o entrevistador ou a entrevistadora. Capriche na justificativa de sua pergunta! ATIVIDADE - INTERSECCIONALIDADE Professor/a, A partir do que foi apresentado nesta aula, faça um mapa mental sobre interseccionalidade, observando como essa categoria de análise pode contribuir na qualidade das relações políticas, sociais e culturais dos estudantes do ensino médio. https://open.spotify.com/episode/6M7BvYD8ymJGd3MdGC3tDj?si=edeeac3f7dea4671 https://www.mindmeister.com/pt/ AULA 3 – Tempo: 2h TEMA: Escrevivências da ancestralidade OBJETIVO: Descolonizar narrativas hegemônicas acerca de saberes afro diaspóricos ocultados, possibilitando acesso às escrevivências ancestrais da população negra Prezado/a professor/a, Nesta aula, teremos como tema central a escrevivência, tecnologiaancestral desenvolvida por Conceição Evaristo, que nos permite um diálogo com a literatura como possibilidade de (re)escrevermos sobre nós e sobre os/as nossos/as. A sabedoria ancestral africana nos ensina, através da manutenção da memória, guardada e compartilhada pela oralidade, a importância de refazermos o movimento Sankofa. https://www.mindmeister.com/pt/ Seu significado é seguir em frente, rumo ao futuro, sempre revisitando o passado, a ancestralidade. A Lei nº 11.645/08 orienta que todas as áreas do conhecimento devem contemplar as temáticas referentes à história e à cultura africana e afro-brasileira em todo o currículo escolar, nas diferentes etapas de ensino. A obrigatoriedade na efetivação da educação para as relações étnico-raciais está inscrita no artigo 26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), alterada pela Lei nº 10.639/03 e, em seguida, pela Lei nº 11.645/08. Importante salientar que a implementação equivocada da Lei nº 11.645/08, no chão da sala de aula, em vez de valorizar a história e cultura africana e afro-brasileira, pode reafirmar o preconceito e o racismo estrutural, ao invés de seu combatê-los. Sua adequada aplicação pode contribuir para a desocultação de vozes negras na educação e na literatura, reinventando as Áfricas, seus saberes, suas tradições e a importância da ancestralidade, atribuindo um novo sentido ao presente e futuro da população negra em diáspora. Diante desse cenário, é válido reforçar que “a Bahia, ao longo de sua história, marcada por lutas de resistência e movimentos de libertação do seu povo e da sua ancestralidade, na atualidade, é arriscado qualquer passo que leve a retrocessos”, tal como podemos ler no DCBR (DCRB, 2022, p. 24-25). E, continua o mesmo documento, que deve ser resguardado o “compromisso político deste Estado propor políticas que promovam a reparação e equidade social, inclusive as políticas educacionais como a política curricular que está sendo tratada neste documento”. (ibidem, p. 25). No que concerne ao livro didático, como observado nos estudos da professora Ana Célia da Silva (2004, 2005), de modo geral, esse instrumento didático-pedagógico omite o processo histórico-cultural e as experiências dos/as africanos/as e dos indivíduos negros, resultando em “sua quase total ausência nos livros e a sua rara presença de forma estereotipada concorrem, em grande parte para o recalque de sua identidade e autoestima” (Silva, 2004, p. 51). Uma forma de (re)construir e/ou fortalecer a educação na perspectiva antirracista, que valorize a ancestralidade africana, é romper o silenciamento das vozes negras nas obras literárias e, consequentemente, nos currículos escolares. Professor/a, ao refletir sobre o compromisso de (re)construir as escrevivências ancestrais da população negra e a necessidade de se produzir materiais educativos com esse enfoque, sem incorrer em equívocos, propomos a leitura e escuta dos documentos abaixo. Vamos às escrevivências! Documento 1: O fragmento do livro infantojuvenil O cabelo que dava volta ao mundo, organizado pelo professor Rogério Santos Souza, conta a história de Sol, uma criança negra que sonhava ir à escola com os cabelos soltos e que encontra na ancestralidade a possibilidade de se perceber no mundo como uma criança feliz com os elementos de seus ancestrais marcados em sua identidade. [...] Um dia Sol olhava um álbum antigo de família, de tanto folhear acabou adormecendo... Sonhou com uma senhora bem velhinha, com cabelos bem branquinhos, que pareciam dar a volta ao mundo, crespos e volumosos como os seus. Sol, ao se aproximar da senhora, perguntou: - Qual é o seu nome? Por que seus cabelos são assim? - Meu nome é Nanã. Assim como? Soltos, lindos e livres? Com olhar compreensivo, Dona Nanã pegou nas mãos de Sol, a conduziu até o espelho e perguntou: - O que você vê? Sol fica por alguns instantes em silêncio. E Dona Nanã preenche todo aquele silêncio cantando... - “Tem tanta gente tão bonita nessa terra...” Ao acordar, Sol reconhece Dona Nanã numa das fotografias do álbum. Conta o sonho e mostra para sua mãe a senhora que conheceu no sonho. A mãe, emocionada, conta que Nanã era sua avó, que tinha cabelos crespos e volumosos que pareciam dar a volta ao mundo. Daquele dia em diante, a mãe de Sol permitiu que ela escolhesse a maneira que quisesse usar os cabelos: soltos, lindos e livres. E toda vez que alguém lhe perguntava: - Por que seu cabelo é assim? Ela respondia cantando: “Só eu sou eu, só eu sou eu, além de mim não tem ninguém que seja eu...” Documento 2: Poema Vozes-Mulheres, da escritora Conceição Evaristo, registrado em vídeo, que traz uma memória individual e coletiva, fazendo-nos refletir sobre ancestralidade latente na existência presente no “eu lírico”, que é desdobramento das vozes das mulheres de uma linhagem matrilinear. https://www.youtube.com/watch?v=VTKZFr2AAKY ATIVIDADE - ESCREVIVÊNCIA Professor/a, a partir da leitura do fragmento do livro O cabelo que dava volta ao mundo e após assistir à interpretação do poema Vozes-Mulheres, produza sua “escrevivência”, em forma de poema ou conto breve, refletindo como a ancestralidade se faz presente em sua existência. A linguagem, como um elemento do discurso, deve ser entendida como expressão de poder. Partindo dessa enunciação, Francisco Noa (2009), estudioso moçambicano, ao inferir que, do ponto de vista da literatura, será concedido mais poder aos indivíduos, em sua maioria brancos, heteronormativos, cristãos, a quem é permitido enunciar, contar suas histórias e manejar a histórias dos outros sujeitos a quem não foi permitido falar por si. A linguagem é, ainda, um espaço privilegiado da branquitude que oculta, sonega e marginaliza existências e histórias individuais e coletivas. Além da necessidade de reconhecimento e valorização das “escrevivências” de mulheres, homens e grupos sociais historicamente excluídos e destituídos de poder na literatura, destacamos a importância de “restituição de linguagem, de vozes e de falas reprimidas e omissas” (NOA, 2009, p. 91). A não existência de literatura negra nos espaços educativos limita a possibilidade da construção de uma identidade positiva de si e de seus ancestrais, e corrobora para a manutenção da invisibilização da cultura negra brasileira. Insubmissamente, como resistência, devemos romper a lógica colonizadora, estabelecendo “um contradiscurso à literatura produzida pela cultura hegemônica” (EVARISTO, p. 27, https://www.youtube.com/watch?v=VTKZFr2AAKY 2009) e, assim, promover a materialização das memórias, das histórias e do conhecimento ancestral do população afro diaspórica. Colega professor/a, sobre a importância das narrativas literárias que estão (ou que devem estar) presentes na dinâmica da sala de aula nas escolas baianas e a necessidade da (re)apropriação da literatura afrocêntrica, o convidamos a conhecer Niní Kemba Náyọ̀, africana (re)nascida na diáspora em Salvador, consultora pedagógica, escritora, contadora de histórias pretas e pesquisadora da literatura negra infantojuvenil, em estudos sobre cultura, oralidade africana, educação e literatura afrocêntricas, com vista à valorização dos saberes africanos e afrodiaspóricos. É indispensável que tenhamos consciência e criticidade para compreender o contexto histórico do Brasil pautado no racismo. Na introdução do componente de História no DCRB, está dito: “A partir do conhecimento histórico, podemos observar que a escravidão foi um dos fatos mais marcantes da nossa história e o seu término não significou a garantia da cidadania plena da população negra, que luta por ela até hoje. Veremos como se constituiu a família patriarcal e a inserção dos interesses particulares no Estado” (DCRB, 2022, p. 213). Tendo em vista que seu desdobramento no currículo escolar pode vincular a ocultação das vozes e das narrativas negras como estratégia de manutenção e permanência do colonialismo. Em presença de tal realidade, nós, professores e professoras, devemosnos atentar, cotidianamente, às produções literárias destinadas aos/às jovens das escolas da Bahia. Para tanto, devemos ressignificar o olhar para que não permitamos a validação de uma literatura que restrinja os/as africanos/as e os/as negros/as brasileiros/as e baianos/as “a uma África e/ou diáspora cujo império é o da pobreza, da criminalidade, das disputas e consequente desumanização” (Oliveira, 2014, p. 146). Por isso é necessário falar de humanização, seja com os filósofos antigos gregos, que descobrem um sentido comum e cósmico de ser humano, passando pelos filósofos modernos, em sua descoberta de um entendimento de sujeito, até os filósofos contemporâneos, em sua radicalização de um sentido mais pleno de identidade e alteridade. ATIVIDADE - AÇÕES PEDAGÓGICAS Professor/a, o estudioso moçambicano Francisco Noa, em seu texto As falas das vozes desocultas: a literatura como restituição, nos apresenta a necessidade de “desocultar” as vozes negras na literatura. O termo “desocultar” ressignifica o sentido de silenciar quando o autor escolhe dizer que as vozes negras nunca foram silenciadas, mas ocultadas no perverso processo de epistemicídio das produções dos/das africanos/as e de seus/suas descendentes. A partir da contribuição epistemológica de Francisco Noa, reúna-se com os colegas das diversas áreas e produza duas ações pedagógicas (aula ou sequência didática) na perspectiva transdisciplinar. Sendo uma ação envolvendo um escritor e a segunda, uma escritora, ambos de origem africana, ou afro-brasileira, ou afro-baiana. O momento da AC se caracteriza como o espaço ideal para essa construção. AULA 4 – Tempo: 2h TEMA: Direitos humanos para quem? OBJETIVO: A partir dos ideais iluministas, refletir sobre quem tem resguardados os direitos de liberdade, igualdade e fraternidade Caro/a professor/a, Nesta aula, propomos a reflexão acerca dos direitos humanos. Vivemos em uma sociedade democrática que tem como lema a liberdade, mas será que ela está ao alcance de todas e todos? Desde a ascensão do Iluminismo, lemas de liberdade, igualdade e fraternidade foram fortalecidos. A Europa, considerada centro do mundo a partir dessa nova era, admite a igualdade e o reconhecimento entre homens brancos europeus e homens brancos americanos. O novo status quo, entretanto, prescindiu da questão racial. A liberdade não alcançou negros nem indígenas. A lei, em teoria, não faz distinção entre negros, chicanos, povos originários e brancos. A prática, entretanto, atua na fiscalização e punição de corpos não brancos. Os meios utilizados pelo capitalismo contribuem para o depauperamento dos povos racializados, tornando-os, assim, alvos inequívocos para todo e qualquer tipo de violência. A seguir, assista ao vídeo de Ailton Krenak, no documentário Guerras do Brasil. Vídeo de Ailton Krenak – Guerras do Brasil https://www.youtube.com/watch?v=6Qk90VMfMfs ATIVIDADE - DOC https://www.youtube.com/watch?v=6Qk90VMfMfs Professor/a, a partir do documentário Guerras do Brasil, como você analisa a ideia, que ainda circula, em pleno século XXI, de que o Brasil foi “descoberto”? Em sua opinião, quais impactos essa ideologia causou e causa na educação e na compreensão de identidade de seus alunos negros/negras (pretos e pardos) e indígenas? (Produção textual) Atividade no Ambiente Virtual Segundo Achille Mbembe (2018), desde as plantations, e, depois, nas colônias, foram construídas engrenagens essenciais de um novo tipo de cálculo e de consciência planetária, que concebia a mercadoria como forma elementar da riqueza. A produção capitalista é, dessa forma, uma enorme acumulação de mercadorias, cujo valor reside na contribuição para a formação de riqueza. E, nesse sentido, são utilizadas ou trocadas. Para Mbembe (ibidem), o negro é uma matéria energética, pois seu valor deriva de sua força física. “Na perspectiva da razão mercantilista, o escravo negro é simultaneamente um objeto, um corpo e uma mercadoria.” (ibidem, p. 145). Um “corpo-objeto” que possui forma e substância, substância-trabalho. Esse é o primeiro acesso do negro no processo de troca. O negro é, no sistema mercantil, “esse corpo-objeto e essa mercadoria que passa de uma forma a outra e, quando chega à fase terminal, atingida à exaustão, sofre uma desvalorização universal. A morte do escravo assinala o fim do objeto e sua saída do estatuto mercadoria” (2018, p. 146). Para Mbembe, o racismo é o meio para o adestramento do corpo negro, em que a obtenção de ganhos econômicos é a finalidade. Michel Foucault (2008), em Nascimento da Biopolítica, afirma que o liberalismo, em sua origem, formula: “Vou produzir o necessário para tornar você livre. Vou fazer de tal modo que você tenha a liberdade de ser livre” (p. 87). O que, para Foucault, é uma relação problemática entre a gestão e a organização de como podemos ser livres, pois a liberdade produzida é móvel, e o que a produz pode limitá-la ou destruí-la. Mbembe (2018) observa que Foucault, entretanto, não cita a escravidão de negros como ponto culminante dessa aniquilação de liberdade. Achille Mbembe (ibidem), assim como Foucault, compreende o neoliberalismo como um sistema econômico que se beneficia da produção de desigualdades, opressões e limitações de liberdade; que está ancorado na política do medo e negocia procedimentos de fiscalização, de controle, de coação e de coerção em troca de segurança e pseudoliberdade – uma garantia parcial a grupos específicos. “É necessário, de um lado, produzir a liberdade, mas esse gesto mesmo implica que, do outro lado, se estabeleçam limitações, controles, coerções, obrigações apoiadas em ameaças etc.” (FOUCAULT, 2008, p. 87). Mbembe, preenchendo uma lacuna deixada por Foucault, observa que a imagem do negro representa o perigo racial, que está na gênese da democracia neoliberal e de quem a sociedade precisa defender-se. Mesmo com o fim da escravidão, negros continuaram a ser tratados como infans, desprovidos de razão, de linguagem, de história. Permanecendo, assim, um ser-à-parte, ocupando um não lugar. Indesejado, é redirecionado das senzalas às periferias, ao exílio, aos guetos, às prisões, à morte. Deste modo, um dos pontos-chaves de interdisciplinaridade na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas é a promoção e a discussão sobre os direitos humanos. ATIVIDADE - COMENTÁRIO Professor/a, a partir da leitura do texto acima, como você analisa o quadrinho abaixo? Comente. (Produção textual) Disponível em: https://umbrasil.com/charges/charge-16-01-2019/. Acesso em: 25 abr. 2023. https://umbrasil.com/charges/charge-16-01-2019/ Atividade no Ambiente Virtual AULA 5 – Tempo: 1h TEMA: Padronização de gostos OBJETIVO: Compreender como os estereótipos refletem na definição de beleza Caro/a professor/a, Chegamos à última aula. Neste curso, vimos a identidade política, buscamos compreender a ideia de auto reconhecimento no mundo partindo da percepção e entendimento do que é considerado sujeito universal; suscitamos a interseccionalidade como categoria de análise para os fatores de gênero, raça, classe e sexualidade que interferem nos diferente tratamentos entre os sujeitos na sociedade; através de um recorte racial, analisamos as escrevivências invisibilizadas pela literatura hegemônica; em seguida, refletimos acerca dos direitos humanos, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que não alcançam todas as pessoas. Nesta aula, observaremos os estereótipos. Como são criados, partindo de um ideal de beleza que, mais uma vez, não alcança todos os indivíduos, em suas complexidades e particularidades, e como esse ideal influencia em nossa compreensão de quem deve ser ou não amado/a. Vamos falar de amor? A seguir, um poema de Gisele Soares, poeta periférica baiana. QUERO FALAR DE AMOR (Gisele Soares - Poéticas periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana) Sim, eu quero falar de amor No meio de tanta dor, de um país despedaçado onde o trabalho escravo é mais uma vez aprovado. Eles, eles continuampisando e chicoteando nossos corpos massacrados. Brancos Mascarados, Desgraçados. Mas, mas eu vim falar de amor, no meio de tanta dor, da mãe chorando pelo filho que não voltou, ou pela filha que, em casa, ensanguentada, chegou, estuprada pelo próprio marido que a deixou... Mas, mas eu vim falar de amor, aquele amor que não pode ser da mesma cor, do mesmo sexo, do mesmo calor, sabor... e por quantas vidas ele nem sequer passou só o silêncio ficou, parou, calou... Ah, ah este amor... E quantos corpos ele deixou? Corpos Negros. Olhe o Genocídio do Povo Preto! Corpos Negros espalhados por todo o gueto. Corpos Negros que você chorou. E eles, choraram? E o Estado que é laico, cujo preto, de branco, é demonizado, onde só se tem o cabelo bonito se for alisado; onde se tem um padrão estético forçado, implantado, empurrado, empurrado pelos nossos ventos para que tudo ficasse miscigenado. E os nossos? Ah, os nossos, alienados! Brancos Mascarados, Desgraçados, Mas, mas eu ainda eu quero um dia falar de amor ATIVIDADE - COMENTÁRIO SOBRE POEMA Professor/a, após ler esse poema-desabafo, comente entre cinco e dez linhas um texto com suas impressões sobre o conteúdo e aborde a questão da afetividade enquanto importância social e política, em formato de fórum. Este fórum tem como objetivo criar um espaço de discussão e reflexão sobre o poema "Quero Falar de Amor" de Gisele Soares, explorando como o amor é abordado em meio a questões sociais e adversidades. Convidamos os participantes a compartilharem suas interpretações, emoções e reflexões inspiradas pelo poema, bem como a discutir como a poesia pode ser uma forma poderosa de expressar sentimentos e questionar a realidade. Atividade no Ambiente Virtual A seguir, apresentamos um vídeo de Nataly Neri explicando a importância da valorização da estética negra. Logo após, abordamos, de forma resumida, como a padronização de costumes influenciam em nossas escolhas de beleza. Se ligue no vídeo! A IMPORTÂNCIA DA ESTÉTICA E AUTOESTIMA NEGRA: Geração Tombamento é Política? Ser ou não ser belo. Para Platão, o belo não pertence ao corpo. Na verdade, é o corpo quem participa do belo. Não alcançamos o belo no mundo sensível, pois a verdadeira beleza está no plano inteligível. É através da alma, ou razão, presa ao corpo que conseguimos apreender o belo. Por meio da contemplação, conseguimos, na concepção de Platão, vislumbrar o belo que está associado ao bem e à verdade. Ou seja, quanto mais afastada da verdade e do bem a coisa for, menos bela ela é. Vimos anteriormente a ausência de reconhecimento de humanidade dos povos racializados. A pessoa negra vive a complexa luta por uma identificação. Segundo Frantz Fanon (2008), em Pele negra, máscaras brancas, a pessoa tem sua humanidade afirmada na medida em que se impõe a uma outra, a fim de ser reconhecida. Sua realidade humana depende desse reconhecimento. A busca pela identificação como sujeito de direito provocou nas pessoas negras a apreensão da branquitude como referência, o que almejavam tornar-se. Já Hegel (1992, p. 127), em Fenomenologia do espírito, afirma que é inútil agir unilateralmente, pois “o que deve acontecer, só pode efetuar-se através de ambas as consciências”, ou seja, por mais que o negro, a negra busque empatia, ela nunca será vista como igual. A invenção da raça não só destituiu a humanidade de alguns grupos, como também gerou questões existenciais de não pertencimento. A aquisição da certeza de “si mesmo”, segundo Fanon, não prescinde do conceito de reconhecimento. É necessária uma expectativa mútua, em que cada indivíduo se reconheça no outro. A cor da pele impede que o “sujeito universal” perceba semelhanças com indivíduos racializados. Para Fanon, a pessoa racializada não pretende viver enclausurada em sua “coisidade”, sua luta é pelo nascimento de um mundo humano, de reconhecimentos recíprocos. Contudo, ainda sob os efeitos do período de escravidão, o racismo não permite o reconhecimento à pessoa negra. O sujeito racializado tem sua imagem associada à animalização, brutalidade e violência. Se para Platão o belo está intrinsicamente relacionado ao bem e à verdade, Fanon e Hegel nos trazem nitidez sobre o (não) reconhecimento e a associação ao não humano das https://www.youtube.com/watch?v=srKdoOEbjeg https://www.youtube.com/watch?v=srKdoOEbjeg negras e negros. Destarte, torna-se uma luta interminável perceber pessoas racializadas como belas ou possuidoras de dignidade. Tratar de beleza é um tópico de estética, em seu sentido filosófico, e uma oportunidade de trazer aspectos de padrões de gosto e de indústria cultural, em Sociologia, como também a construção histórica da normatividade dos corpos e a apresentação de diferentes formas de expressar a beleza em diferentes espaços e culturas. A chamada “ditadura da estética” é uma questão essencial para estudantes adolescentes, que se veem obrigados a construir sua autoestima em torno de um entendimento de beleza. Sugestão de vídeos: https://www.youtube.com/embed/CdoqqmNB9JE?feature=oembed https://www.youtube.com/watch?v=Qk3-0qaYTzk Sociologia Aula 6 – Integração e modos de estruturação dos conhecimentos de Sociologia em Ciências Humanas Enunciado: Um aspecto comum às diversas tentativas de definir currículo é a ideia de organização das experiências da aprendizagem. Nenhum currículo é neutro, porque o conhecimento é constituído socialmente, por isso depende de vários marcadores sociais, como classe, raça, gênero, sexualidades etc. A trans e a interdisciplinaridade são duas maneiras de estruturação dos currículos que podem potencializar os processos de ensino e aprendizagem e, desse modo, auxiliar na integração dos itinerários formativos https://www.youtube.com/embed/CdoqqmNB9JE?feature=oembed https://www.youtube.com/watch?v=Qk3-0qaYTzk Para tentar começar a pensar nessas estruturações do currículo de modo mais prático, leia o texto a seguir: Somos herdeiros de uma mitologia que cultua o espírito e ignora e/ou tenta dominar os corpos (ARROYO, 2012). A inferiorização do trabalho manual passa por uma desvalorização e desabilitação dos movimentos dos corpos. A elite, em conjunto com instâncias ideológicas de poder, se une e cria dispositivos para fortalecer essa dicotomia que marcará toda a história do nosso país. Aliás, não podemos esquecer que foi da histórica intervenção da mentalidade do colonizador que uma nova distinção do trabalho foi forjada (CUNHA, 2005). Outro traço que acompanha a burguesia e seu principal produto histórico, o capitalismo comercial, traz, nas relações de trabalho, e essencialmente na escravidão das colônias americanas, especialmente no Brasil, a consolidação de um modelo de lucro e exploração reproduzido na América portuguesa. A propriedade privada se constitui como base de conflitos que colocam os seres humanos em posição de exploração em relação a outros seres humanos. A terra (percebida como propriedade estática) forma parte do espaço territorial adquirido para a exploração das/os escravizadas/os. Desse modo, o território do capitalismo comercial em nosso país se desdobra através de insidiosa articulação entre propriedade estática (disposição espacial da terra) e propriedade móvel (população escravizada). Esse é um traço das plantações monoculturais coloniais, que converte o trabalho escravo em mercadoria, que produz outras mercadorias. As plantações monoculturais intensificam a mobilização do trabalho compulsório como aliança que atrela os fazeres manuais à terra, com o intuito da obtenção de lucros. A palavra cultura deriva do verbo latino colere, que quer dizer cultivar a terra, cultivar as plantas, ou ato de plantar e desenvolver atividades agrícolas. Porém, na sua acepção moderna, a cultura passou a se aproximar mais da sua raiz latina culturae, significando o cultivo da mente e dos conhecimentos. Por isso, podemos afirmar que a guerra da civilidade eurocêntrica é uma guerra contra a natureza e todos/asos/as filhos/as que se sentem muito próximos/as a ela. A referida guerra está conectada às tentativas de imposição de uma virtualização da existência, já que um dos seus principais focos é a suspensão e depreciação da terra e de tudo que possua seu odor. Desse modo, os fazeres, saberes e sabores da terra são trabalhados pela lógica modernizadora do requinte, de modo a suavizar qualquer “cheiro forte” ou “gosto raiz” que possa prejudicar a assepsia propalada pela cuidadosa e mediada educação dos sentidos, porque estes têm de ser cuidadosamente revistos pelo formalismo do intelecto. Todas/os que precisam trabalhar para sobreviver são marcadas/os pela dependência das artes mecânicas. Ser atrelada/o ao mecânico significa estar envolvida/o e necessitar dos movimentos dos corpos. O manual é tido como perigoso, já que seus excessos podem aproximar a pessoa da indesejada necessidade de realizar atividades para sua própria sobrevivência. Dessa forma, o sistema escravocrata, que sobreviveu por mais de três séculos, deixou marcas profundas na construção das representações sobre o trabalho como atividade social e humana. Além de envolver a violência cometida contra os habitantes nativos, impondo-lhes um padrão civilizatório que não era o seu, e de afugentar os trabalhadores livres, o emprego da mão-de-obra escrava para execução de atividades artesanais e de manufatura acabou criando a representação de que todo e qualquer trabalho que exigisse esforço físico e manual consistiria em um ‘trabalho desqualificado’ (MANFREDI, 2002, p. 71). No Brasil, como já percebemos, esse racismo esteve presente desde o começo do processo de colonização, segregando e inferiorizando grupos (especialmente os indígenas e os negros), marcando-os pela desvalorização e desabilitação das atividades manuais. Assim, a conotação negativa que se tem do “sujar as mãos", ainda tão operante, reporta ao racismo laboral dos tempos das colônias e serve para marcar as pessoas que precisam trabalhar para sobreviver como dependentes de um trabalho indigno, dado que muito voltado para os movimentos sinuosos dos corpos. Aqui, mais uma vez, sentimos a união da burguesia com o ideário cristão, sobretudo por se tratar de fugir dos perigos provocados pela sensualidade dos movimentos, operando um paradoxal trabalho e uso dos corpos, por meio da imposição de uma anátomo-política, como nos apresentou Foucault (1987), cujo fito é majorar e direcionar as forças dos corpos para a atividade produtiva, e minorar sua capacidade de se rebelar contra a ordem vigente. Para Refletir A separação entre teoria e prática, resguardada nos dualismos, só reforça a valorização de um aspecto do saber, à custa de nos retirar do nosso sentido de corpo e de mundo. Todo fazer carrega história, afeto, memória e intenção, que dependem da relação entre mundo, corpo e consciência correlacionados. Para se compreender enquanto presença significativa e pertencente, o sujeito tem de se lançar em ambientes repletos de coisas que lhe impõem vários tipos de resistências e se constituir a partir dessas relações. Dessa maneira, a integração aponta para um ensinar ao “saber usar”, que advém das nossas experimentações com as coisas sensíveis, sempre nos encontros com os/as outros/as. Para Refletir A Idade Moderna, apesar de toda a sua “revolução” epistemológica, permaneceu na linha valorativa do conhecimento racional, fortemente influenciada pelo paradigma cognitivo dualista e dicotômico de desvalorização das expressões corporais, dando primazia à conhecida “filosofia da consciência”. Aliás, se observarmos a disposição da sala de aula, percebemos que esta é preparada para criar posturas que limitam os movimentos corporais. Limitando, também, por outro lado, os movimentos da/o professor/a de se expressar em todo seu potencial como pessoa no mundo. É como se o ambiente da sala de aula solicitasse que a/o professor/a fosse apenas uma mente sem corpo (hooks, 2013). Os movimentos dos corpos só são permitidos no componente de Educação Física e de Artes. É o que sugere Bell Hooks (2013, p. 183): [...] a pessoa mais poderosa tem o privilégio de negar o próprio corpo. Lembro que, na graduação, eu tinha professores brancos do sexo masculino que usavam sempre o mesmo paletó de tweed, a mesma camisa amassada ou coisa que o valha, mas todos nós sabíamos que tínhamos de fingir. Nunca podíamos comentar sobre a vestimenta dele, pois isso seria sinal de carência intelectual de nossa parte. A questão era que todos nós tínhamos de respeitar o fato dele estar ali para ser uma mente, não um corpo. (HOOKS, 2013, p. 183). A pedagogia moderna, com sua “obsessão cognitivista”, foi a responsável por nos acomodar a certos movimentos do corpo e a expurgar outros, fenômeno chamado por Foucault (1987) de docilização disciplinar do corpo. Em Vigiar e Punir, o filósofo Michel Foucault afirmava que a lógica disciplinar atuava na docilização dos corpos, direcionando seus movimentos com o intuito de mobilizar as forças vitais para o mercado de trabalho, transformando-os em forças produtivas por meio da criação de um anátomo-política. O autor ressaltava que as questões corporais se transformam em questões políticas e econômicas. Essa lógica disciplinar não deixava de ser uma continuação da análise marxiana da alienação do trabalho. Nesse processo, a pedagogia moderna colocou as mãos a serviço da cabeça e a concebeu como sinônimo de civilidade, porque condição necessária à experiência eleita a mais legítima e formativa: a do/a intérprete. É por isso que, “quando começamos a falar em sala de aula sobre o corpo, estamos automaticamente desafiando o modo como o poder se orquestrou nesse espaço institucionalizado em particular” (HOOKS, 2013, p. 183). Nesse sentido, é como se fosse possível, em um dado momento, escolhermos o processo abstrativo e esquecermos de nossos corpos, de nossa capacidade de interagir e agir. Somos herdeiros de uma mitologia que cultua o espírito e ignora e/ou tenta dominar os corpos (ARROYO, 2012). A etiqueta ocidental valoriza um estilo de se pôr no mundo, de se comportar, especialmente nos lugares públicos, que fora cultivado pelo uso ostensivo das cadeiras. Desse modo, podemos compreender que a docilização dos corpos, como apontada por Foucault (1987), passa pelas tentativas de controle dos movimentos expressivos dos corpos, por uma subjetivação centrada na cognição dualista e dicotômica. A política dos afetos ajuda a criar uma ambiência formativa nas escolas. Uma possível definição para ambiência é que ela consiste numa espécie de atmosfera moral e material que circunda os lugares e as pessoas (THIBAUD, 2012). Ela é simultaneamente inseparável das propriedades materiais do ambiente e dos estados afetivos do sujeito sensível. “A noção de ambiência restitui o lugar dos sentidos na experiência dos espaços vividos; ela permite caracterizar nossas formas de experienciar a vida” (THIBAUD, 2012, p. 10). Ela não existe apenas no nível de recepção sensorial, mas também no nível de produção material. “Não é por acaso que o meio ambiente sensível se encontra na junção entre a qualidade de vida dos moradores, [n]as estratégias socioeconômicas da cidade e [n]as questões ecológicas” (THIBAUD, 2012, p. 11). Trata-se de ‘aprenderensinar’ com a natureza política e social da “distribuição do sensível”. Indo além da trilha Para saber mais acerca da dicotomia corpo e mente na educação, acesse e baixe gratuitamente o livro O Caminhar na educação, no link: https://www.atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/o-caminhar-na-educacao-narrativas-de-apre ndizagens-pesquisa-e-formacao https://www.atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/o-caminhar-na-educacao-narrativas-de-aprendizagens-pesquisa-e-formacao https://www.atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/o-caminhar-na-educacao-narrativas-de-aprendizagens-pesquisa-e-formacao https://www.atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/o-caminhar-na-educacao-narrativas-de-aprendizagens-pesquisa-e-formacao Indo além da trilhaATIVIDADE - ESCOLHA DE POEMA OU LETRA Tendo em vista que as escolas como nós a conhecemos nasce na modernidade, numa configuração de currículo disciplinar, para dar conta das demandas de trabalho que surgem com a industrialização nos ambientes urbanos; por meio da leitura do texto e da guerra civilizadora contra os/as filhos/as da terra, problematize como sua prática de sala de aula pode contribuir para ultrapassar essas dicotomias classistas e racistas, fruto do modo de vida eurocêntrico, que tenta separar mente e corpo, trabalho intelectual e trabalho intelectual. Para isso, selecione um poema ou uma letra de música, tentando ressaltar alguns movimentos presentes em sua prática pedagógica, de cariz interdisciplinar e/ou transdisciplinar, capaz de mexer nos dualismos citados. A letra da música pode ser uma paródia de uma música existe, ou pode ser uma letra inédita, também. Comente, em seguida, a razão de sua escolha. Assista ao vídeo abaixo Entrevista Miguel Arroyo: https://www.youtube.com/watch?v=zs__dIEMq6U&t=132s ATIVIDADE - DEBATE Na construção coletiva das DCRB, é possível identificar os entrelaçamentos das diferentes concepções de currículo escolar. Entretanto, é importante destacar a existência de um nexo comum na construção das Diretrizes da Bahia para o Ensino Médio, porque todos os movimentos buscam explicitar o currículo como campo de resistência, por meio do foco nos movimentos cotidianos escolares, e na mobilização das demandas e dos direitos dos movimentos identitários de resistência. Dessa maneira, a partir dos conhecimentos consolidados e dos movimentos abordados por Miguel Arroyo no vídeo, escolha um tema do DCRB, do item 11 – Estrutura Curricular, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, da página 207 a 227, e debata no fórum as possibilidades práticas de ações pedagógicas. https://www.youtube.com/watch?v=zs__dIEMq6U&t=132s Aula 7 - Transdisciplinaridade: currículos e práticas docentes em humanidades no ensino médio da Bahia “A função da escola não é só acompanhar os processos de humanização, mas recuperar a humanidade roubada.” (Miguel Arroyo, 2012). Vamos refletir Com essa estrutura, que não leva em consideração as políticas de afetos e dos movimentos ampliados dos corpos, será que esses ambientes estão preparados para o acolhimento das questões afetivas provocadas pela sobrecarga desses/as estudantes? De que modo a Sociologia pode colaborar com a interação entre os conhecimentos? Já estamos muito longe da glória das sociedades industriais, ao ponto de grande parte do trabalho encontrar-se em torno do chamado capitalismo cognitivo, que não mobiliza nem produz mercadorias palpáveis (como nas fábricas), mas trabalha com a circulação de habilidades, com o desenvolvimento do trabalho girando mais em torno do “intelecto geral”, que Marx anunciou nos Grundrisse (2011). Como aponta Galeffi (2020): No arco da modernidade, o conhecimento ganhou uma infinidade de rótulos para identificação de suas especializações intermináveis e se enredou em uma pulverização e separação jamais conhecida. No âmbito da educação básica e superior, o modelo disciplinar foi realizado em todas as suas etapas e hoje se encontra exaurido. Impõe-se conceber e realizar uma outra modelagem para a educação humana presente e futura. Isto também pressupõe uma mudança paradigmática fundamental (p.168). Como já vimos em outros momentos do curso, entre os diversos modos de organização dos currículos temos: Uma vez que já nos debruçamos sobre aspectos que dizem respeito à disciplinaridade, nos dedicaremos, daqui em diante, às outras formas de organização curricular, iniciando pela interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade, por sua vez, dialoga com ela, tentando problematizá-la, utilizando táticas de ligação dos saberes, em tentativas de juntar o que foi separado pela excessiva especialização requerida pela lógica disciplinar. Já a multidisciplinaridade é mais pontual, porque não está tão preocupada com o aprofundamento do diálogo entre os saberes, mas com a criação de exames e avaliações que tenham um único objeto que será “lido” por meio dos diversos prismas das várias disciplinas envolvidas no processo. A transdisciplinaridade, por sua vez, é mais radical, porque visa transcender a lógica disciplinar, criando currículos e processos educativos não mais estruturados em disciplinas. Sobre a transdisciplinaridade, Galeffi (2020) continua nos dando outras pistas: As palavras de Morin indicam o tônus afetivo de uma outra concepção de ciência que leva em conta o complexus, os diferentes níveis de realidade e os diferentes modos de percepção, operando-se pela dialógica a reunião do que foi cindido pela razão monológica moderna. Nesses termos, a concepção de uma nova ciência da complexidade está na base da criação do educar transdisciplinar, o que possibilita pensar metodologias de ação diferenciadas e inovadoras. (GALEFFI, 2020, p.173). Galeffi (2020) afirma que, para transcender a disciplinaridade, é preciso investir numa política dos afetos, como já discutimos na primeira parte da aula. Ao nosso ver, essa política tem de ser capaz de criar modos de subjetivações que ousem ir além da arquitetura criadora dos corpos dóceis. E para que isso aconteça, são importantes os seguintes aspectos: 1° ponto - ousar formar além dos dualismos entre corpo e mente, manual e intelectual, emocional e racional etc., uma vez que esses binarismos são heranças da subjetivação disciplinar moderna. 2° ponto - Avançar com a educação transdisciplinar é criar para além deles. Esse é um modo de educar que se envolve muito com a estética, afinal, a arte mobiliza todos os nossos sentidos, sem separações dualistas. Desse modo, é preciso instituir um política de afetos, que seria uma: a ética do cuidado triético, porque também o mundo natural nos afeta com suas dinâmicas e movimentos ordenados em sistemas de sistemas e todo o existir humano consiste justamente em um modo de afeto florescente, que dura enquanto se vive. Uma política de afetos da paz, uma política de paz ajustada ao bem viver. Uma utopia transigente, uma utopia de paz e bem. Uma utopia investigativa e questionadora, que não deixa de lado o sentido de comum-responsabilidade que significa estar no mundo aprendendo com as coisas mesmas. (GALEFFI, 2020, p. 181). Em sequência ao entendimento da conexão de ideias que se apresenta na teoria de Dante Galleffi, podemos afirmar que a Sociologia é um eixo central de comunicação de saberes. A ciência sociológica nasceu no final do século XIX e início do século XX, em um contexto de desenvolvimento da sociedade moderna, urbana e industrial, em que estamos inseridos e atravessados até hoje. Essa história e trajetória da Sociologia estão intrinsecamente ligadas às transformações sociais que ocorreram ao longo desse período (DCRB, 2022, p. 215). Ao nos debruçarmos sobre a especificidade do componente de Sociologia no currículo escolar, compreendemos que seu objeto de estudo é o fenômeno da modernidade, em que tange a transformação da vida social. O principal objetivo da disciplina é garantir que os estudantes do ensino médio desenvolvam compreensões sobre a influência das macroestruturas na dinâmica social. Isso significa que eles devem ser capazes de perceber a historicidade e reversibilidade das estruturas sociais e avaliar o mundo que os cerca de forma crítica, assumindo sua subjetividade e demandas próprias. A Sociologia, por sua natureza polilógica, busca analisar os fenômenos sociais sob vários pontos de vista. Isso implica considerar múltiplas abordagens teóricas e metodológicas para compreender a complexidade das relações sociais. No DCRB, as demandas da contemporaneidade em relação às premissas humanistas que norteiam valores éticos e morais para a construção de uma sociedade justa e inclusiva colocam para a Sociologia a tarefa de discutir modelos econômicos desgastados, padrões de produção e consumo inviáveis para a conservação de recursos naturais e humanos, bemcomo outras questões relativas ao constante fluxo de transformações do mundo social (DCRB, 2022, p. 215). Em termos curriculares, no organizador proposto para o componente na 1ª série, aborda-se o conceito de modernidade na sociedade ocidental e sua relação com o surgimento da Sociologia, ressaltando a importância de analisar as transformações sociais, políticas e culturais desse período. Destaca-se, também, a polissemia das teorias sociológicas, mencionando a relevância dos clássicos e seus conceitos fundamentais, como o fato social de Émile Durkheim, a ação social de Max Weber e a classe social de Karl Marx. O texto também menciona a contribuição da sociologia de Florestan Fernandes para a análise da integração do negro na sociedade de classes, assim como a importância das cosmologias dos cultos de matriz africana na Bahia. Além disso, destaca o poder do simbólico nas relações sociais, abordando conceitos como cultura, ideologia e indústria cultural. Nesse sentido, são tratadas as questões de culturas, identidades e alteridade, bem como o debate entre relativismo antropológico e colonização etnocêntrica. É ressaltada a riqueza das culturas da Bahia, destacando as organizações simbólicas e materiais dos povos originários, africanos e afro-brasileiros, como uma integração própria. Na 2ª série, exploram-se conceitos básicos de política moderna, como Estado, governo, monarquia, república, presidencialismo, parlamentarismo e regimes autocráticos, totalitários e democráticos. Destaca-se, também, a análise do patrimonialismo e do populismo na democracia brasileira. Além disso, são ressaltadas as contribuições do pensamento de Lélia Gonzalez para o estudo das desigualdades raciais no Brasil, abordando a cidadania e os direitos. Há uma compreensão, ainda, dos conceitos de revolução e movimento social, discutindo tanto os movimentos sociais tradicionais como os novos movimentos sociais. Nessa conexão entre regionalidade e universalidade global, indicam-se os processos de racionalização da produção, como o taylorismo/fordismo e o toyotismo/capital transnacional. É um suporte para a análise da estrutura e da estratificação social, bem como a condição do jovem no Brasil e na Bahia, considerando estatísticas, perfis etnográficos e caminhos para a mobilidade na hierarquia social. Como fechamento para o ensino médio, é destacada a importância de estudos sobre o crescimento econômico dos indicadores sociais de desenvolvimento. Também são discutidas as crises do capitalismo e os ciclos de reestruturação produtiva, o conceito de modernidade líquida, pós-modernidade e a era da informação. Além disso, são explorados estudos da nova sociologia urbana, especialmente a escola francesa, que analisa a desigualdade e a segregação socioespacial. Revela-se, também, a relação entre sociedade e meio ambiente, abordando práticas sociais sustentáveis no Brasil e na Bahia, incluindo as práticas sustentáveis dos povos originários. A luta pela terra na Bahia, os movimentos pelo meio ambiente e o preservacionismo são discutidos, assim como o conceito de justiça ambiental. É o que encerra a relação entre a questão local e global, mais uma vez. Ao explorarmos conceitos como conhecimento como produto do processo humanizador, modernidade, teorias sociológicas, poder político, movimentos sociais, desigualdades raciais, cultura, ambiente e sustentabilidade, estamos reconhecendo a necessidade de uma compreensão holística dos fenômenos sociais. Ao abordarmos o conceito de modernidade, reconhecemos que a sociedade ocidental passou por transformações significativas nos séculos XIX e XX, incluindo mudanças políticas, econômicas e culturais. Compreender a modernidade implica analisar os impactos da industrialização, urbanização e racionalização na vida da sociedade. Vamos retomar! Poderíamos afirmar, então, que uma política dos afetos seria capaz de criar corpos fortes! Afinal, o que pode um corpo? Para continuarmos nossa discussão, gostaríamos que vocês continuassem aprendendo sobre a transdisciplinaridade. A partir da leitura do texto indicado abaixo, do estudo da interdisciplinaridade, multirreferencialidade e da transdisciplinaridade como modo de organização dos currículos, debata em ACs e espaços virtuais, compartilhando com seu/sua colega alguns movimentos da sua prática docente abordados na aula. Boa conversa, vamos interagir e mobilizar. Afinal, a integração diz respeito à potencialização dos corpos-inteiros nas salas de aulas e em vários outros espaços sociais, sem separação entre trabalho intelectual e trabalho manual. Após o debate, redija - Texto - Transdisciplinaridade, Multirreferencialidade e Currículo, das autoras Norma Carapiá Fagundes e Teresinha Fróes Burnham. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/2837 Para Refletir Como as práticas educativas podem auxiliar no processo de recuperação da humanidade roubada? Assista ao clipe oficial da música Triste, Louca ou Má, do grupo Francisco, el Hombre. Link: https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE. Indo além da trilha Você já parou para refletir acerca da tensão entre diversidade e desigualdade na educação? Para saber mais um pouco sobre isso, ouça o podcast Conversas com o Documento final da II CONAPE (Conferência Nacional Popular de Educação) 4, no link https://open.spotify.com/episode/3Dxq2LmzMXRs5V8brxT5ep?si=aYjzjtsaTleJ3hjMbovA2 A&nd=1. Indo além da trilha Atividade 3 - PLANO DE AULA A partir do discutido ao longo dessa aula, crie um plano de aula utilizando os itens a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE https://open.spotify.com/episode/3Dxq2LmzMXRs5V8brxT5ep?si=aYjzjtsaTleJ3hjMbovA2A&nd=1 https://open.spotify.com/episode/3Dxq2LmzMXRs5V8brxT5ep?si=aYjzjtsaTleJ3hjMbovA2A&nd=1 https://open.spotify.com/episode/3Dxq2LmzMXRs5V8brxT5ep?si=aYjzjtsaTleJ3hjMbovA2A&nd=1 - Escolha pelo menos uma série do ensino médio e um dos temas disposto no DCRB, no item 11; - Destaque a questão da postura transdisciplinar, não disciplinar e de resistência como foco da prática docente; - Utilize o modelo a seguir para enviar o link indicado abaixo. Geografia Aula 8 – “Rios, pontes e overdrives”: impressionantes caminhos da trans(inter)disciplinaridade no ensino médio. Tema: Os objetos do conhecimento do conhecimento de Filosofia, Sociologia, Geografia e História e sua relação temática ao longo do ensino médio Nesta aula, iremos nos dedicar aos conceitos e relevância da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade para a educação, em especial a partir do diálogos entre os objetos do conhecimento das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Partindo da Geografia – uma disciplina trans/interdisciplinar por natureza –, a proposta é refletir sobre as possibilidades concretas – como fazer –, propondo levar os professores a ampliarem seu repertório conceitual por meio da compreensão, como forma de subsidiar uma atitude intelectual crítica e autônoma e um raciocínio lógico e reflexivo. Vamos lá! “O imaginário acontece no nível da Transdisciplinaridade. E ele ocorre num nível, que o Basarab nos explica, dentro da sua teoria, na zona do sagrado. Que é a zona da não resistência, na qual nós não entramos com a racionalidade, mas, sim, com nossos níveis de percepção ampliados.” (Maria Cândida Moraes, 2020). Caro/a professor/a, O título desta aula foi inspirado em uma canção do grupo Chico Science e Nação Zumbi, do disco Lama aos Caos, de 1994. No refrão, que você pode ouvir aqui, o saudoso poeta Chico Science cantava: https://www.youtube.com/watch?v=hG-q_Z64XU4 Rios, pontes e overdrives – impressionantes esculturas de lama Mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue Rios, pontes e overdrives – impressionantes esculturas de lama Mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue Veremos como algumas imagens dessa canção nos remetem ao universo da transdisciplinaridade: as pontes, como formas concretas da prática educacional que vai além