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COMPETÊNCIA A competência é um conceito fundamental no sistema jurídico brasileiro, representando a medida e o limite da jurisdição. Segundo Didier Jr. (2020, p. 198), "a competência é a parcela de jurisdição atribuída pela Constituição ou pela lei a determinado órgão ou grupo de órgãos do Poder Judiciário para conhecer e julgar determinadas causas"¹. Esta definição evidencia a importância da competência na organização e funcionamento do sistema judicial brasileiro. O conceito de competência está intrinsecamente ligado ao princípio do juiz natural, previsto no art. 5º, LIII, da Constituição Federal², que garante que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Nesse sentido, Cintra, Grinover e Dinamarco (2015, p. 250) afirmam que "a competência é uma garantia de imparcialidade e de segurança jurídica, assegurando que as causas sejam julgadas por juízes previamente determinados pela lei"³. A determinação da competência no direito brasileiro segue critérios específicos estabelecidos pela Constituição Federal e pelas leis processuais. Theodoro Júnior (2021, p. 189) explica que "os critérios para fixação de competência incluem a matéria, o valor da causa, o território, a pessoa e a função"⁴. Esses critérios são aplicados de forma hierárquica e combinada para determinar o juízo competente para cada caso concreto. No que diz respeito à organização judiciária, a competência se divide em diversos níveis. A Justiça Federal, por exemplo, tem sua competência definida no art. 109 da Constituição Federal², abrangendo causas em que a União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais sejam interessadas. Já a Justiça Estadual tem competência residual, ou seja, abrange todas as causas que não sejam de competência específica de outros ramos do Judiciário. Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 56) observam que "a distribuição de competências entre os diversos ramos do Judiciário visa a uma melhor administração da justiça, considerando as especificidades de cada área do direito"⁵. A competência também pode ser classificada em absoluta e relativa. A competência absoluta, segundo Neves (2020, p. 213), "é aquela que não pode ser modificada pela vontade das partes e deve ser declarada de ofício pelo juiz a qualquer tempo"⁶. Por outro lado, a competência relativa pode ser modificada por convenção entre as partes ou pela não oposição da parte interessada no momento oportuno. Um aspecto importante da competência é a sua modificação, que pode ocorrer por conexão ou continência. Bueno (2019, p. 98) explica que "a conexão ocorre quando há um elemento comum entre duas ou mais ações, enquanto a continência se verifica quando o objeto de uma ação está contido no objeto de outra"⁷. Nesses casos, as ações podem ser reunidas para julgamento conjunto, visando evitar decisões contraditórias e promover a economia processual. O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015)⁸ trouxe inovações significativas em matéria de competência. Uma delas é a possibilidade de eleição de foro por negócio jurídico processual, prevista no art. 63. Wambier et al. (2016, p. 201) destacam que "essa inovação amplia a autonomia das partes na definição do juízo competente, desde que respeitados certos limites legais"⁹. A competência internacional também é um tema relevante, especialmente em um mundo globalizado. O CPC dedica uma seção específica (arts. 21 a 25) para tratar dos limites da jurisdição nacional e da cooperação internacional. Araújo (2018, p. 243) observa que "as regras de competência internacional buscam equilibrar a soberania nacional com a necessidade de cooperação jurídica entre países"¹⁰. Um desafio contemporâneo relacionado à competência é o surgimento de novas modalidades de litígios, como os conflitos virtuais e as ações coletivas. Grinover, Watanabe e Mullenix (2014, p. 305) apontam que "a determinação da competência em ações coletivas e em litígios transnacionais exige uma interpretação evolutiva das normas processuais"¹¹. A jurisprudência dos tribunais superiores tem papel fundamental na interpretação e aplicação das regras de competência. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), por exemplo, editou a Súmula 363, que dispõe: "Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente"¹². Decisões como essa ajudam a pacificar entendimentos e orientar a prática jurídica. A competência é um instituto complexo e dinâmico do direito processual brasileiro, essencial para o funcionamento adequado do sistema de justiça. Como observa Câmara (2019, p. 44), "a correta determinação da competência é fundamental para garantir o acesso à justiça e a efetividade da tutela jurisdicional"¹³. As regras de competência, ao definirem o juízo adequado para cada causa, visam assegurar uma prestação jurisdicional eficiente, imparcial e em conformidade com o devido processo legal. À medida que o direito evolui e novas formas de conflitos surgem, as regras de competência também se adaptam, seja por meio de reformas legislativas, seja pela interpretação jurisprudencial. A compreensão aprofundada desse instituto é, portanto, essencial não apenas para os operadores do direito, mas para todos aqueles que buscam a tutela jurisdicional no sistema jurídico brasileiro. Referências: ¹ DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 22. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. ² BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ³ CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. ⁴ THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 62. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. ⁵ MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. ⁶ NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 12. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. ⁷ BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. ⁸ BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 mar. 2015. ⁹ WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. ¹⁰ ARAÚJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: Teoria e Prática Brasileira. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. ¹¹ GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo; MULLENIX, Linda. Os Processos Coletivos nos Países de Civil Law e Common Law. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. ¹² BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 363. Diário da Justiça, Brasília, DF, 03 mai. 2008. ¹³ CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019. COMPETÊNCIA A competência é um conceito fundamental no sistema jurídico brasileiro, representando a medida e o limite da jurisdição. Segundo Didier Jr. (2020, p. 198), "a competência é a parcela de jurisdição atribuída pela Constituição ou pela lei a determinado órgão ou grupo de órgãos do Poder Judiciário para conhecer e julgar determinadas causas"¹. Esta definição evidencia a importância da competência na organização e funcionamento do sistema judicial brasileiro. O conceito de competência está intrinsecamente ligado ao princípio do juiz natural, previsto no art. 5º, LIII, da Constituição Federal², que garante que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Nesse sentido, Cintra, Grinov er e Dinamarco (2015, p. 250) afirmam que "a competência é uma garantia de imparcialidade e de segurança jurídica, assegurando que as causas sejam julgadas por juízes previamente determinados pela lei"³. A determinação da competência no direito brasileiro segue critérios específicos estabelecidos pela Constituição Federal e pelas leis processuais. Theodoro Júnior (2021, p.189) explica que "os critérios para fixação de competência incluem a matéria, o valo r da causa, o território, a pessoa e a função" 4 . Esses critérios são aplicados de forma hierárquica e combinada para determinar o juízo competente para cada caso concreto. No que diz respeito à organização judiciária, a competência se divide em diversos níveis. A Justiça Federal, por exemplo, tem sua competência definida no art. 109 da Constituição Federal², abrangendo causas em que a União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais sejam interessadas. Já a Justiça Estadual tem competência residual, ou seja, abrange todas as causas que não sejam de competência específica de outros ramos do Judiciário. Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 56) observam que "a dist ribuição de competências entre os diversos ramos do Judiciário visa a uma melhor administração da justiça, considerando as especificidades de cada área do direito" 5 . A competência também pode ser classificada em absoluta e relativa. A competência absoluta, segundo Neves (2020, p. 213), "é aquela que não pode COMPETÊNCIA A competência é um conceito fundamental no sistema jurídico brasileiro, representando a medida e o limite da jurisdição. Segundo Didier Jr. (2020, p. 198), "a competência é a parcela de jurisdição atribuída pela Constituição ou pela lei a determinado órgão ou grupo de órgãos do Poder Judiciário para conhecer e julgar determinadas causas"¹. Esta definição evidencia a importância da competência na organização e funcionamento do sistema judicial brasileiro. O conceito de competência está intrinsecamente ligado ao princípio do juiz natural, previsto no art. 5º, LIII, da Constituição Federal², que garante que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Nesse sentido, Cintra, Grinover e Dinamarco (2015, p. 250) afirmam que "a competência é uma garantia de imparcialidade e de segurança jurídica, assegurando que as causas sejam julgadas por juízes previamente determinados pela lei"³. A determinação da competência no direito brasileiro segue critérios específicos estabelecidos pela Constituição Federal e pelas leis processuais. Theodoro Júnior (2021, p. 189) explica que "os critérios para fixação de competência incluem a matéria, o valor da causa, o território, a pessoa e a função"4. Esses critérios são aplicados de forma hierárquica e combinada para determinar o juízo competente para cada caso concreto. No que diz respeito à organização judiciária, a competência se divide em diversos níveis. A Justiça Federal, por exemplo, tem sua competência definida no art. 109 da Constituição Federal², abrangendo causas em que a União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais sejam interessadas. Já a Justiça Estadual tem competência residual, ou seja, abrange todas as causas que não sejam de competência específica de outros ramos do Judiciário. Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 56) observam que "a distribuição de competências entre os diversos ramos do Judiciário visa a uma melhor administração da justiça, considerando as especificidades de cada área do direito"5. A competência também pode ser classificada em absoluta e relativa. A competência absoluta, segundo Neves (2020, p. 213), "é aquela que não pode