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Material FACESF - Parte Geral - Direito Penal I - 2012.2 - 1a. parte


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��FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E EXATAS DO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO - FACESF��	 DIREITO PENAL II – Prof. Arnaldo Escorel Júnior
FONTES DO DIREITO PENAL.
CONCEITO: É o lugar onde se origina o direito penal.
CLASSIFICAÇÃO: 	- MATERIAIS ou de produção = Estado (criam, constituem o direito);
								] PRIMÁRIAS = Lei (de forma geral, inclusive
			- FORMAIS ou de cognição 	]			as LOJEs (Estad. E Fed.)
								] SECUNDÁRIAS = 	Costumes, Princípios
											Gerais do Direito,
											Analogia (somente in
											bonam partem)
PARTE GERAL
TÍTULO I
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Anterioridade da Lei 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE/LEGALIDADE (Reserva Legal) – Inscrito no Art. 5º, XXXIX da CF, com a mesma redação, consagra um postulado do direito penal que exige previa inscrição normativa para se estabelecer uma conduta reprimida pelo ordenamento jurídico penal. Requer a elaboração e formatação legislativa da norma, evidenciando os meios democráticos de criação da sanção por fato criminoso. O Princípio do nullum crimen, nulla poena sine praevia lege, aponta, também, o Princípio da Taxatividade, que requer, além da anterioridade da lei penal, que a mesma seja taxativa, clara, precisa, de forma que não paire dúvidas sobre a sua adequação.
Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PRINCÍPIO SUPERVENIÊNCIA DA LEI PENAL (Abolitio Criminis)– aponta que havendo norma posterior que não mais define uma conduta anteriormente punida como crime, os efeitos penais serão cessados, bem como a execução da pena.
HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. LEI N.º 11.343/2006. RETROATIVIDADE MITIGADA ÀS HIPÓTESES EM QUE MAIS BENÉFICA AO RÉU. CASO CONCRETO. DESCABIMENTO. ART. 18, INCISO III, LEI N.º 6.368/76. ABOLITIO CRIMINIS. OCORRÊNCIA. PROGRESSÃO DE REGIME. DELITO ANTERIOR À LEI N.º 11.464/2007. ART. 112 DA LEP.
1. É cabível a aplicação retroativa da Lei n.º 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da utilização da Lei n.º 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis.
2. No caso, a pena-base foi fixada em 8 (oito) anos, nos termos da Lei n.º 6.368/76. Se a pena fosse recalculada, segundo os limites previstos na Lei n.º 11.343/2006, mas com a utilização dos parâmetros e proporções lançadas na sentença e no acórdão impetrado, verifica-se que a nova penalidade obtida não seria mais benéfica ao Paciente, ainda que com a eventual aplicação da causa de diminuição do art. 33, § 4º, da novel legislação.
3. A causa especial de aumento pela associação eventual de agentes para a prática dos crimes da Lei de Tóxicos, anteriormente prevista no art. 18, inciso III, da Lei n.º 6.368/76, não foi mencionada na nova legislação.
4. Diante da abolitio criminis trazida pela nova lei, impõe-se retirar da condenação a causa especial de aumento do art. 18, inciso III, da Lei n.º 6.368/76, em observância à retroatividade da lei penal mais benéfica.
5. Em razão da declaração de inconstitucionalidade do óbice à progressão de regime prisional aos condenados pela prática dos delitos elencados na Lei n.º 8.072/90, passou-se a aplicar o art. 112 da Lei n.º 7.210/84 (LEP), que prevê a possibilidade de progressão de regime após o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena.
6. A Lei n.º 11.46/2007, por ser mais gravosa, não pode retroagir para alcançar os delitos praticados antes de sua entrada em vigor.
7. Ordem concedida parcialmente a fim de reconhecer a abolitio criminis da causa especial de aumento do art. 18, inciso III, da Lei n.º 6.368/76 e, de ofício, para determinar que a progressão de regime observe o disposto no art. 112 da Lei de Execuções Penais, estendendo o writ ao Corréu, PAULO JORGE LOUREIRO LEANDRO, nos mesmos termos, ficando reduzidas as penas de ambos, segundo explicitado no voto. (HC 93593 / SP; 2007/0256344-0; Ministra LAURITA VAZ; DJe 08/02/2010).
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PRINCÍPIO RETROATIVIDADE DE LEI PENAL MAIS BENÉFICA – esculpido no Art. 5º, XL, da CF (a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu), consagra que, havendo superveniência de lei penal, sendo ela mais benéfica ao réu, os efeitos práticos e jurídicos retroagem à data em que foi cometido o crime.
PENAL. HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. AUMENTO PREVISTO NO ART. 9º DA LEI Nº 8.072/90. VIOLÊNCIA REAL E GRAVE AMEAÇA. INCIDÊNCIA. SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 12.015/2009. HABEAS CORPUS DE OFÍCIO.
I - Esta Corte firmou orientação de que a majorante inserta no art. 9º da Lei nº 8.072/90, nos casos de presunção de violência, consistiria em afronta ao princípio no bis in idem. Entretanto, tratando-se de hipótese de violência real ou grave ameaça perpetrada contra criança, seria aplicável a referida causa de aumento, como na espécie. (Precedentes).
II - Com a superveniência da Lei nº 12.015/2009 restou revogada a majorante prevista no art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos, não sendo mais admissível a sua aplicação para fatos posteriores à sua edição. Não obstante, remanesce a maior reprovabilidade da conduta, pois a matéria passou a ser regulada no art. 217-A do CP, que trata do estupro de vulnerável, no qual a reprimenda prevista revela-se mais rigorosa do que a do crime de estupro (art. 213 do CP).
III - Tratando-se de fato anterior, cometido contra menor de 14 anos e com emprego de violência ou grave ameaça, deve retroagir o novo comando normativo (art. 217-A) por se mostrar mais benéfico ao acusado, ex vi do art. 2º, parágrafo único, do CP. Ordem denegada. Habeas corpus concedido de ofício para fazer incidir retroativamente à espécie a Lei nº 12.015/2009 por ser mais benéfica ao paciente. (HC 131987 / RJ; 2009/0053103-2; Ministro FELIX FISCHER; DJe 01/02/2010).
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ARMA DE FOGO. PORTE ILEGAL. VACATIO LEGIS. ARTS. 30 E 32 DA LEI DO DESARMAMENTO. APLICAÇÃO SOMENTE NOS CASOS DE POSSE. NÃO INCIDÊNCIA NA REFERIDA FIGURATÍPICA. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. MINORANTE PREVISTA NO ART. 33, § 4.º, DA NOVA LEI DE TÓXICOS. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA. REGIME INICIAL FECHADO PARA CUMPRIMENTO DA PENA. IMPROPRIEDADE. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 33, § 2.º, ALÍNEA B, E § 3.º, DO CÓDIGO PENAL.
1. A apreensão de arma de fogo em poder de acusado que é surpreendido, dormindo, no interior de fazendo desativada, se adéqua na conduta de porte ilegal, sendo inviável o reconhecimento de que o
fato cinge-se à mera posse do objeto.
2. À luz do entendimento consagrado pela doutrina e pela jurisprudência deste Tribunal, a vacatio legis, decorrente do teor dos arts. 30 e 32 da Legislação Específica, aplica-se somente à posse de arma de fogo, motivo pelo qual não configura constrangimento ilegal a condenação pela prática da referida conduta, mesmo que o fato tenha ocorrido durante o lapso legalmente previsto à abolitio criminis das demais condutas da Lei 10.826/2003.
3. Encaixando-se a hipótese no disposto no § 4.º do art. 33 da Lei n.º 11.343/06 – tratando-se de réu primário, de bons antecedentes, que não se dedique a atividades criminosas, nem integre organização criminosa, é de rigor a aplicação da causa de diminuição, quando favorável ao réu. Considerando-se que o Paciente portava dois tipos diferentes de drogas – 42,1 g de maconha e 65,9 g de crack, é de se aplicar a minorante em seu patamar mínimo, quantum adequado e necessário à reprovação e prevenção do delito.
4. Fixada a pena-base no mínimo legal, porque reconhecidasas circunstâncias judiciais favoráveis ao réu primário e de bons antecedentes, não é possível infligir-lhe regime prisional mais gravoso apenas com base na gravidade do delito. Inteligência do art. 33, §§ 2.º e 3.º, c.c. o art. 59, ambos do Código Penal. Incidência das Súmulas n.º 718 e 719 do Supremo Tribunal Federal.
5. Ordem parcialmente concedida para reformar o acórdão recorrido e a sentença condenatória, a fim de aplicar a causa de diminuição prevista no § 4.º do art. 33 da Lei n.º 11.343/06, fixando, em relação ao crime previsto no art. 12 da Lei n.º 6.368/76, a reprimenda em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, bem assim fixar o regime semiaberto de cumprimento de pena. (HC 136180 / RJ; 2009/0091259-7; Ministra LAURITA VAZ; DJe 09/11/2009).
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL EM BRANCO (Vaga, incompleta, de conteúdo a ser complementado) – Havendo revogação de norma complementar, não se opera a retroatividade, mas sim a ultratividade, uma vez que a lei revogada não é exclusivamente a lei penal, mas sim o seu complemento. As normas penais em branco podem ser complementadas por outra norma penal, ou mesmo por norma administrativa.
Contrabando ou descaminho
Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)
a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)
b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)
HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO POR INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA. ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRO GRAU. CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO A 1 ANO DE DETENÇÃO, EM REGIME ABERTO, COM A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. ART. 1o., I DA LEI 8.176/91. NORMA PENAL EM BRANCO. DESNECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO POR LEI EM SENTIDO FORMAL. PRECEDENTE DESTE STJ. COMERCIALIZAÇÃO IRREGULAR DE DERIVADOS DE PETRÓLEO. COMPRA, ARMAZENAMENTO E VENDA DE COMBUSTÍVEL ORIUNDO DE DISTRIBUIDOR DE BANDEIRA DIVERSA DAQUELA OSTENTADA PELO ESTABELECIMENTO. DESCRIÇÃO DE CONDUTA TÍPICA. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM, COM A CONCESSÃO DA ORDEM PARA TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, EM RAZÃO DA INÉPCIA DA DENÚNCIA. ORDEM DENEGADA, NO ENTANTO. 
1. O art. 1º, I, da Lei 8.176/91, ao proibir o comércio de combustíveis em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei, é norma penal em branco em sentido estrito, porque não exige a complementação mediante lei formal, podendo sê-lo por normas administrativas infralegais, estas sim, estabelecidas "na forma da lei" (RHC 9.834/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 05.06.01).
2. Descreve a denúncia condutas que, em tese, se amoldam ao delito previsto no art. 1o, I da Lei 8.176/91 e normas complementares citadas, o que autoriza a continuidade da persecução penal em juízo, visto que o paciente comercializava derivados de petróleo de fornecedor diverso daquele que representa.
3. Parecer do MPF pela denegação da ordem; opina pela concessão da ordem para o trancamento da ação penal, por inépcia da denúncia.
4. Ordem denegada. (HC 98113 / MS; 2008/0000483-7; Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO; DJe 15/06/2009).
Lei excepcional ou temporária (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
ULTRATIVIDADE DAS LEIS EXCEPCIONAIS OU TEMPORÁRIAS – Leis temporárias são as que vigem por tempo determinado, por disposição expressa do próprio diploma penal. Leis Excepcionais são as destinadas a viger em situações de emergência, a exemplo dos estados de calamidade pública. Cessada tal situação de emergência, perde vigência. Na exegese do art. 3º do CP, essas leis tem ultratividade, ou seja, aplicam-se ao fato cometido sob o seu império, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou superação do estado emergencial.
Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Teoria do RESULTADO – considera o tempus delicti no momento da produção do resultado.
Teoria MISTA (umbiquidade) – Seria indiferente tempo do crime para efeito de sua configuração, ou na ação ou no resultado.
Teoria da ATIVIDADE – Entende-se como o momento da prática da ação ou omissão (É o que foi adotado pelo Código Penal).
Como o CP aderiu a teroria da atividade, para se integrar a conduta reprimida pela norma penal, basta que se inicie a conjugação do núcleo do verbo descrito na lei penal. Ex: Matar alguém. Ao se iniciarem os primeiros atos que coloque a vida da vítima em risco, o verbo “matar” estaria sendo pronunciado na conduta, seja na forma tentada ou consumada. Assim, é no momento da “conduta” que o agente revela a sua vontade.
INCIDÊNCIAS
Prescrição;
Imputabilidade;
Benefícios Penais e processuais;
Competência;
Jurisdição;
Retroatividade de lei mais benéfica. Etc.
TEMPUS DELICT COMMISSI REGIT ACTUM (O tempo do delito cometido rege o ato)
Nos crimes permanentes;
Nos crimes continuados;
Nos crimes de consumação formal;
Nos crimes omissivos;
Nos crimes culposos;
Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Trata-se de uma regra que advém do conceito de soberania. É o espaço onde o Brasil a exerce. Inclui-se, portanto, o solo e o subsolo; os rios, lagos e mares interiores (incluindo a linha fronteiriça); os golfos, as baias, e os portos; a faixa de mar exterior (200 milhas); os navios e aeronaves nacionais; o espaço aéreo fronteiriço. 
Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Teoria MISTA (umbiquidade) – Seria indiferente o tempo do crime para efeito de se estabelecer o lugar do crime, seja na “ação” ou no “resultado”.
Extraterritorialidade (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
CRITÉRIOS – Extraterritorialidade condicionada: O interesse punitivo da justiça brasileira deve ser exercido de qualquer maneira, independentemente de qualquer condição; Extraterritorialidade condicionada: Somente há interesse do Brasil em punir o autor de crime cometido no exterior se preenchidas as condições descritas no art. 7º, § 2º, “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, e § 3º do CP.
PENAL. HABEAS CORPUS. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. QUEBRA DE SIGILO. EMPRESTIMO VEDADO. PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI BRASILEIRA. Cod. Penal, art. 7.. Lei n. 4.595, de 1.964, art. 38, par-7.; art-34, I, par-1.. I. Sujeição a lei penal brasileira de delitos praticados no exterior, porque ocorrente a hipótese inscrita no art. 6., 2. parte, e tendo em vista o que dispõe o art. 7., II, "b", ambosdo Cod. Penal. II. - Imputação do delito de quebra de sigilo. Lei 4.595/64, art. 38, par-7.: denuncia inepta, porque não há menção nem descrição da conduta típica atribuída aos réus (C.P.P., art. 41). III. - Empréstimo vedado: concessão de empréstimo a diretores da instituição financeira; Lei 4.595/64, art. 34, I, par-1.: a) empréstimo de US$ 1.242.673,40 que teria sido obtido junto a agencia Comind de Nova Iorque: a denuncia e inepta, no ponto, por inexistir fundamento que viabilize a ação penal; b) empréstimos de 700 e 800 mil dólares na subsidiaria do banco em Grand Cayman: tem-se como ocorrente, no ponto, pelo menos em tese, a figura penal inscrita no art. 34, I, par-1., da Lei 4.595/64, pelo que prosseguira a ação penal. IV. Possibilidade de o Ministério Público Federal aditar a denuncia no tocante ao delito do art. 38, par-7., da Lei 4.595, de 1.964. V. - "Habeas Corpus" deferido, em parte. (HC 67913 / SP; Relator(a):  Min. CARLOS VELLOSO; Julgamento:  16/10/1990).
EMENTA: EXTRADIÇÃO. Passiva. Pena. Prisão perpétua. Inadmissibilidade. Necessidade de comutação para pena privativa de liberdade por prazo não superior a 30 (trinta) anos. Concessão com essa ressalva. Interpretação do art. 5°, XLVII, "b", da CF. Precedentes. Só se defere pedido de extradição para cumprimento de pena de prisão perpétua, se o Estado requerente se comprometa a comutar essa pena por privativa de liberdade, por prazo ou tempo não superior a 30 (trinta) anos. (Ext 1104 / UK- REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E DA IRLANDA DO NORTE ; Extradição; Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO; Julgamento:  14/04/2008).
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
a) entrar o agente no território nacional; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) houve requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
Pena cumprida no estrangeiro (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
EMENTA: EXTRADIÇÃO. CONFIRMAÇÃO, PELO EXTRADITANDO, DAS IMPUTAÇÕES QUE LHE SÃO FEITAS. PEDIDO PARA CUMPRIR A PENA NO BRASIL, ANTE A CIRCUNSTÂNCIA DE O EXTRADITANDO POSSUIR FAMÍLIA NO PAÍS. CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO ELIDE O DEFERIMENTO DO PEDIDO. SÚMULA 421. Preenchidas todas as condições de admissibilidade, defere-se o pedido de extradição. Ressalva para que seja detraído o tempo de prisão cumprido no Brasil em razão deste pedido extradicional. (Ext 973 / IT- ITÁLIA ; EXTRADIÇÃO; Relator(a):  Min. JOAQUIM BARBOSA; Julgamento:  01/07/2005)
- SOBRE AS IMUNIDADES.
IMUNIDADES: Imunidades Diplomáticas e Consulares (Convenção de Viena – 1961, relações diplomáticas; 1963, relações consulares); os representes diplomáticos de governos estrangeiros gozam de imunidade penal, tributária (exceto os impostos indiretos, ex: preços dos produtos) e civil (exceções: direito sucessório; outras funções diversa da diplomática). Imunidade Parlamentar: Inscrita no art. 53, caput, da CF: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Assim, não respondem pelos crimes de palavra, ou seja, aquele que envolvem a opinião (crimes contra a honra, apologia ao crime e incitação ao crime), é a imunidade substantiva. Divide-se a opinião doutrinária no que se refere ao lugar onde se processaria a imunidade, se restrita ao exercício do mandato ou mesmo fora do âmbito funcional quando relacionada ao seu munus. O STF se inclinou nesta ultima interpretação: 
QUEIXA. ART. 22 C/C 23, II, DA LEI Nº 5.250/67. ENTREVISTA. PROGRAMA DE TV. DEPUTADA FEDERAL. IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL. ART. 53 DA CF. 1. "(...) a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar em sentido material protege o congressista em todas as suas manifestações que guardem relação com o exercício do mandato, ainda que produzidas fora do recinto da própria casa legislativa (...)" (INQ 681 QO, rel. Min. Celso de Mello). 2. Caso em que as declarações relacionam-se ao exercício do mandato parlamentar e, portanto, atraem a incidência da imunidade em sentido material, nos termos do art. 53 da Constituição Federal. 3. Queixa rejeitada. (Inq 1944 / DF; Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE;Julgamento:  01/10/2003).
Quanto aos advogados (CF, Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei; CP: Exclusão do crime - Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; Lei 8.906/94 (estatuto da OAB) - Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. § 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei e Art. 7º, § 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.). Apesar de se referir a uma imunidade substantiva, em que se contesta a igualdade com outros profissionais de classe, persiste a prerrogativa do advogado, no uso de suas atribuições, exceto no que se refere ao crime de “desacato”, por força da ADIN 1.127-8.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ADVOGADO. EXCESSO. EXPRESSÕES EM PETIÇÃO. OFENSA MAGISTRADO. CASO CONCRETO. AS LIÇÕES DE RAFAEL MAGALHÃES E MILTON CAMPOS. DISSÍDIO NÃO CARACTERIZADO. RECURSO DESACOLHIDO.
I - Na linha da jurisprudência deste Tribunal, a imunidade profissional, garantida ao advogado pelo Estatuto da Advocacia,não alberga os excessos cometidos pelo profissional em afronta à honra de qualquer das pessoas envolvidas no processo. (RESP 438734/RJ;2002/0061256-7; Min Sálvio de Figueiredo Teixeira; DJ 10.03.2003 P. 233 RSTJ VOL. 173 P. 324).
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
EMENTA: Advogado: imunidade judiciária: (CF art. 133; C.Penal., art. 142, I; EAOAB, art. 7º, § 2º): não compreensão do crime de calúnia. 1. O art. 133 da Constituição Federal, ao estabelecer que o advogado é "inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão", possibilitou fosse contida a eficácia desta imunidade judiciária aos "termos da lei". 2. Essa vinculação expressa aos "termos da lei" faz de todo ocioso, no caso, o reconhecimento pelo acórdão impugnado de que as expressões contra terceiro sejam conexas ao tema em discussão na causa, se elas configuram, em tese, o delito de calúnia: é que o art. 142, I, do C. Penal, ao dispor que "não constituem injúria ou difamação punível (...) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador", criara causa de "exclusão do crime" apenas com relação aos delitos que menciona - injúria e difamação -, mas não quanto à calúnia, que omitira: a imunidade do advogado, por fim, não foi estendida à calúnia nem com a superveniência da L. 8.906/94, - o Estatuto da Advocacia e da OAB -, cujo art. 7º, § 2º, só lhe estendeu o âmbito material - além da injúria e da difamação, nele já compreendidos conforme o C.Penal -, ao desacato (tópico, contudo, em que teve a sua vigência suspensa pelo Tribunal na ADInMC 1127, 5.10.94, Brossard, RTJ 178/67). (HC 84446 / SP; Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE; Julgamento:  23/11/2004).
Eficácia de sentença estrangeira(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - sujeitá-lo a medida de segurança.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA (CRIME DE APROPRIAÇÃO INDEBITA). PRODUTO DO CRIME (DINHEIRO) DEPOSITADO EM ESTABELECIMENTO BANCARIO NO BRASIL. II. PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DO DECISORIO PARA OS EFEITOS CIVIS FORMULADO PELA VÍTIMA DO DANO SOFRIDO. III. HARMONIA DA PRETENSAO COM OS DISPOSITIVOS DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA (C.P., ART. 7. E PARAGRAFO ÚNICO, 'A'; C.P.P., ART. 790, E REGIMENTO INTERNO, ARTS. 211 E 212). IV. PEDIDO DEFERIDO. (SE 2290 / SU - SUECIA; Sentença Estrangeira; Relator(a):  Min. THOMPSON FLORES; Julgamento:  17/11/1976).
Contagem de prazo(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A contagem do prazo no direito penal é diferente do direito processual penal. Neste, o primeiro dia - que deve ser útil - é desprezado. Já para o D.Penal, conta-se o primeiro dia e despreza-se o ultimo, com ou sem a presença de dias úteis.
Frações não computáveis da pena(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
	
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
Ao nos depararmos com um fato típico, previsto na norma penal e que se acompanha de culpabilidade, aparentemente, poderemos nos deparar com mais de uma norma tratando do mesmo assunto, o que se inclinaria a pensar que haveria um conflito entre elas.
Na verdade, não há conflito, mas apenas uma preferência na aplicação de uma sob a outra. Ex: Ao se importar substância entorpecente, levaria logo ao pensamento da aplicação do Art. 334 do CP (contrabando ou descaminho), porém a conduta de importar entorpecente está prevista no art. 33 da Lei de Tóxico. Esta disposição segue alguns critérios:
CRITÉRIO DA SUCESSIVIDADE – Havendo duas normas separadas por um determinado espaço de tempo, e que tratem do mesmo assunto, é aplicável a sucessora (Lex posterior derogat priori);
CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE – Art. 12 do CP - A Lei especial afasta a aplicação da Lei geral (Lex specialis derogat generalis). Não é necessário que a norma especial esteja prevista apenas em Lei própria. A especialidade da conduta pode estar no mesmo texto legal, a exemplo dos crimes de homicídio (Art. 121. Matar alguém) e do crime de Infanticídio (Art. 123 – Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após);
CRITÉRIO DA SUBSIDIARIEDADE – Quando uma norma é considerada subsidiária de outra (Lex primária derogat subsidiariae). Pode se considerar na forma Explícita, quando norma aponta expressamente a subsidiariedade de outra, constante nas expressões, como exemplo, de: “se o fato não constitui crime mais grave” ou “se o fato não constitui elemento de outro crime”.
Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Ou pode se apresentar de forma Implícita, quando na norma primária se integra uma conduta típica prevista em outra norma, a exemplo do crime de dano relacionado ao furto:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
CRITÉRIO DA ABSORÇÃO (OU CONSUNÇÃO) – Quando o fato previsto em uma norma está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, aplica-se somente esta última. Verifica-se quando o crime absolvido é simples fase da realização da segunda infração. Ex: No homicídio em que se utiliza arma de fogo. O porte da arma de fogo (crime autônomo) é meio para a realização do crime de homicídio, de maior amplitude;
ROUBOS. BANCO. ARMAS. VIGILANTES. Trata-se de paciente condenado por infração aos arts. 157, § 2º, I e II, por três vezes combinado com os arts. 29, 70 e 71, parágrafo único, e 72, todos do CP. Alega a impetração que, na espécie, deveria ser aplicado o princípio da consunção, porque a subtração das armas dos vigilantes é fato necessário para a execução do crime de roubo de agência bancária. No caso em comento, o tribunal a quo considerou estarem caracterizados primeiro dois crimes distintos: o roubo à agência bancária e à empresa de segurança, com a subtração das armas dos vigilantes, depois houve um roubo de um carro para a fuga do local. Ressalta o Min. Relator que há, nos autos, informação de que as armas subtraídas dos vigilantes não teriam sido usadas na execução do roubo. As armas utilizadas no evento criminoso foram passadas aos agentes por terceira pessoa não identificada, pela janela da agência bancária, com elas é que foram rendidos os vigilantes e subtraídas suas armas. Explica que, no caso, a conduta do paciente ao praticar o roubo à agência, subtrair as armas dos vigilantes e roubar o automóvel consistiu uma única ação, embora atingidas pessoas distintas, o que caracteriza o concurso formal de delitos previsto na primeira parte do art. 70 do CP. Observouque o não reconhecimento do concurso formal de delitos caracteriza constrangimento ilegal, devendo-se adequar as penas aplicadas. Por outro lado, a circunstância de ter a sentença condenatória transitado em julgado não impede a adequação das penas. Nesse contexto, a Turma concedeu a ordem em parte, ficando mantido o regime fechado. Precedentes citados: HC 43.704-PR, DJ 26/9/2005; REsp 662.999-RS, DJ 21/2/2005; HC 10.452-RJ, DJ 20/3/2000, e HC 78.153-MS, DJ 17/3/2008. HC 145.071-SC, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 2/3/2010. 
TEORIA DO CRIME
Conceito: (Teoria finalista/causalista da ação) – O crime é um fato típico, antijurídico e culpável.
Sujeito Ativo – é o autor da conduta delituosa, por ação ou omissão.
Sujeito Passivo – é a vítima, seja pessoa física, entidade de direito público ou privado, a sociedade, o Estado, entre outros, ou seja, é aquele a quem se dirige a ação ou omissão negativa.
Bem Jurídico Tutelado (objeto jurídico) – é o objeto da lesividade, oriundo da conduta típica e antijurídica do sujeito ativo. É o que se é protegido da ação ou omissão do agente.
Objeto Material – é o sujeito jurídico a que se destina a proteção da norma.
Elemento Objetivo do Crime – É a conduta, ou as diversas condutas, que tipificam a proibição normativa penal, conceituada pela forma de agir durante o inter criminis.
Elemento Subjetivo – É a análise do comportamento do sujeito ativo, no tocante a existência, ou não, de vontade (dolo) ou se a ação poderá incidir em ato culposo.
Elemento Subjetivo do Tipo Específico – Também configura o elemento subjetivo a natureza da conduta na relação de causalidade com a norma proibitiva, se esta requer uma finalidade específica.
Tentativa – se é admissível a existência do crime na forma tentada, ou seja, se o ato executório se perfaz no tempo de se evitar a consumação.
Momento consumativo – Quando o crime se consuma.
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES:
Crimes Comuns – cometidos por qualquer pessoa;
Crimes Próprios – Somente podem ser cometidos por determinada pessoa: Subdividem-se em Puros (quando somente o agente pode praticar o ato, sendo distinto, não há crime – ex: Advocacia administrativa) Impuros (se não cometidos pelo agente específico, constitui outro crime – ex: Infanticídio; homicídio). Ainda, no tocante aos crimes próprios, encontram-se presentes os crimes de mão própria (somente o agente qualificado pode cometer o crime, não admitindo co-autoria – ex: falso testemunho);
Crimes Instantâneos – São aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta e não produzem um resultado prolongado no tempo (ex: homicídio, furto, roubo...);
Crimes Permanentes – São aqueles que se consumam com uma única conduta, porém o resultado se arrasta no tempo (ex: seqüestro; cárcere privado);
Crimes Comissivos – São àqueles que se consumam mediante uma “ação” (ex: estupro, roubo, lesão corporal);
Crimes Omissivos – São àqueles que se consumam mediante uma “omissão”; Distinguem-se em crimes: comissivos por omissão (omissivos impróprios), quando o agente tem o poder de agir e não o faz (art. 13, § 2º, CP):
CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO
- são crimes de resultado;
- só podem ser praticados por certas pessoas, chamadas de garantes, que por lei têm o dever de impedir o resultado e a obrigação de proteção e vigilância a alguém;
- a omissão não pode ser imputada ao acusado se o resultado ocorreria de qualquer forma, mesmo que ele agisse;
O réu, com a sua omissão, responde pelo resultado lesivo desde que este esteja tipificado como algum crime, p. ex., homicídio, lesão corporal, etc. O pai que deixa o filho morrer afogado na piscina responde por homicídio por que a sua omissão foi causa principal do resultado morte, logo temos a combinação do art. 121, caput, com o art. 13, §2º, do Código Penal. O Bombeiro em serviço, p. ex., tem obrigação legal de socorrer quem se encontre em perigo de vida. Se ele não agir incorrerá em omissão, podendo responder por homicídio doloso ou culposo, a depender do caso concreto. Perceba que na omissão imprópria não se tem uma conduta descrita como omissiva, pois a omissão nestes casos é somente a condição sine qua non para que ocorra um fato típico descrito no Código Penal.
Os omissivos por comissão (omissivos próprios), São aqueles cuja natureza da infração prevê o ato puramente omissivo:
CRIME OMISSIVO PRÓPRIO
- de mera conduta;
- independe de resultado;
- de simples atividade omissiva;
- pode ser imputado a qualquer pessoa;
- a lei pune a simples omissão, o que é feito pela descrição da conduta omissiva em artigos do Código Penal, c. p. ex., o crime de omissão de socorro (art. 135) e omissão de notificação de doença (art. 269).
Prevaricação
Art. 319 - Retardar (comissivo) ou deixar de praticar (omissivo próprio), indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo (comissivo) contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Crimes Formais (mera conduta) – São aqueles delitos de atividade, ou seja, se contentam com a ação humana esgotando a descrição típica, havendo ou não resultado naturalístico. (ex: porte de arma de fogo);
Crimes Exauridos – Mesmo com a consumação formal do delito, ele ainda atinge um resultado naturalístico, embora não seja integrante do tipo (Ex: Prevaricação, quando, mesmo deixando de praticar o ato de ofício, ainda promover uma lesão à vítima, exaurindo a sua conduta);
Crimes de Dano (materiais) – São os que se consumam com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado;
Crimes de Perigo – São os que se contentam, para a consumação, com a mera probabilidade de haver um dano;
Crimes Unissubjetivos – Somente é praticado por uma única pessoa (Furto);
Crimes Plurissubjetivos – É praticado por mais de uma pessoa, quando o tipo exige tal pluralidade (Rixa, Quadrilha, entre outros);
Crimes Complexos e Progressivos – Apresentam-se na forma Explícita: quando um tipo penal expressamente envolve outro (roubo envolve o furto, a ameaça e a ofensa à integridade física); Implícita: quando um tipo penal tacitamente envolve outro, que é crime progressivo (ex: para cometer homicídio, necessariamente passa o agente pelo crime de lesão corporal);
Crimes Habitual – Próprios: São os cometidos com reiteração das condutas, configurando um estilo de vida (ex: furtos na repartição pública de material de escritório, em intervalos e repetidamente); Impróprios (pessoa que vive de cometimentos de delitos - continuados);
Crimes Unissubsistentes – São os que admitem a sua configuração através de um único ato, uma única conduta prevista na norma penal;
Crimes Plurissubsistentes – São os que admitem a sua configuração através de vários atos, várias condutas previstas na norma penal;
Crimes de forma livre ou vinculada – São livres os delitos praticados de qualquer forma, sem método estabelecido (ex: apropriação indébita; infanticídio; etc.). São vinculados os crimes que são cometidos através de formas expressamente previstas no CP (Ex: curandeirismo);
Crimes Vagos – São àqueles que não possuem sujeito passivo determinado, sendo este a coletividade, sem personalidade jurídica (ex: violação de sepultura);
Crimes Remetidos – São os que fazem expressa remissão a outros (ex: uso de documento falso – art. 304, CP);
Crimes Condicionados – São aqueles que dependem d uma condição qualquer, prevista no tipo (interna) ou não (externa), para se configurarem (Ex: o delito de induzimento ao suicídio depende do advento do suicídio ou, em caso de tentativa de suicídio, da ocorrência de lesões graves para a vítima;
Crimes de Atentado – São os delitos que prevêem, no tipo penal, a forma tentada equiparada à modalidade consumada (ex: art. 352 – Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando violência contra a pessoa).
RESPONDA AS QUESTÕES
A respeito da conduta, como elemento do fato típico, é correto afirmar que são relevantes para o Direito Penal:
a) os atos de seres irracionais.
b) o pensamentoe a cogitação intelectual do delito.
c) os atos realizados em estado de inconsciência.
d) as omissões humanas voluntárias.
e) os atos produzidos pelas forças da natureza.
Marcelo, professor universitário, ao passar nas proximidades de uma construção civil, deixou de prestar assistência, quando era possível fazê-lo sem risco pessoal, a um pedreiro que acabara de se ferir gravemente em um acidente. Nesse caso, o delito praticado por Marcelo é omissivo próprio e admite tentativa. 
	
	Certo
	
	Errado
Todo crime tem resultado jurídico, porque sempre agride um bem tutelado pela norma. 
	
	Certo
	
	Errado
Fato típico é:
o comportamento humano descrito em lei como crime ou contravenção.
a modificação do mundo exterior descrita em norma legal vigente.
a descrição constante da norma sobre o dever jurídico de agir.
a ação esperada do ser humano em face de uma situação de perigo.
a possibilidade prevista em lei do exercício de uma conduta ilícita.
Quando o tipo penal exige para a consumação do delito a produção de um dano efetivo, o crime é:
de perigo concreto.
formal.
material.
de mera conduta.
de perigo abstrato.
TÍTULO II
DO CRIME
Relação de causalidade(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
São elementos do fato típico a conduta (ação ou omissão), o resultado, a relação de causalidade e a tipicidade. Para a teoria finalista, a conduta é o comportamento humano dirigido a determinada finalidade. O resultado que, no sentido natural, é a alteração do mundo exterior provocada pelo agente, é considerado, num sentido normativo, como a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. (MIRABETE, Código Penal Interpretado, 2007, p. 146).
NEXO CAUSAL. É o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o resultado por ele gerado, com relevância suficiente para formar um fato típico. “Causa” é toda ação ou omissão que é indispensável à configuração do resultado concreto, por menor que seja o seu grau de contribuição. Para apurar se alguma situação fática é causa do crime, deve-se utilizar o critério do juízo hipotético de eliminação, ou seja, abstrai-se determinado fato do contexto e, se ainda assim o resultado se produzisse, não seria ele causa do resultado. (NUCCI, Manual de Direito Penal. 2007, p. 197).
TEORIAS DO NEXO DE CAUSALIDADE
a) Teoria da equivalência das condições (teoria da equivalência dos antecedentes ou teoria da condição simples ou generalizadora) – teoria adotada pelo CP (conditio sine qua non) “a causa da causa também é causa do que foi causado”: Quaisquer das condições que compõem a totalidade dos antecedentes é causa do resultado, pois a sua inocorrência impediria a produção do evento.
PENAL - RELAÇÃO DE CAUSALIDADE - RESULTADO DELITUOSO – ELEMENTO
SUBJETIVO – EXISTÊNCIA – TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - IMPOSSIBILIDADE. 
- O Código Penal, ao adotar a conditio sine qua non (Teoria dos antecedentes causais) para a aferição entre o comportamento do agente e o resultado, o fez limitando sua amplitude pelo exame do elemento subjetivo (somente assume relevo a causalidade dirigida pela manifestação da vontade do agente - culposa ou dolosamente).
- Dentro da ação, a relação causal estabelece o vínculo entre o comportamento em sentido estrito e o resultado. Ela permite concluir se o fazer ou não fazer do agente foi ou não o que ocasionou a ocorrência típica, e este é o problema inicial de toda investigação que tenha por fim incluir o agente no acontecer punível e fixar a sua responsabilidade penal. (RHC 11685 / RS; 2001/0094041-8; Ministro JORGE SCARTEZZINI; DJ 18/11/2002 p. 235).
b) Teoria da causalidade adequada (teoria das condições qualificadas): um determinado evento somente será produto da ação humana quando esta tiver sido apta e idônea a gerar o resultado.
E M E N T A: RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO - PRESSUPOSTOS PRIMÁRIOS QUE DETERMINAM A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO - O NEXO DE CAUSALIDADE MATERIAL COMO REQUISITO INDISPENSÁVEL À CONFIGURAÇÃO DO DEVER ESTATAL DE REPARAR O DANO - NÃO-COMPROVAÇÃO, PELA PARTE RECORRENTE, DO VÍNCULO CAUSAL - RECONHECIMENTO DE SUA INEXISTÊNCIA, NA ESPÉCIE, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS - SOBERANIA DESSE PRONUNCIAMENTO JURISDICIONAL EM MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA - INVIABILIDADE DA DISCUSSÃO, EM SEDE RECURSAL EXTRAORDINÁRIA, DA EXISTÊNCIA DO NEXO CAUSAL - IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA (SÚMULA 279/STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o "eventus damni" e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. Precedentes. - O dever de indenizar, mesmo nas hipóteses de responsabilidade civil objetiva do Poder Público, supõe, dentre outros elementos (RTJ 163/1107-1109, v.g.), a comprovada existência do nexo de causalidade material entre o comportamento do agente e o "eventus damni", sem o que se torna inviável, no plano jurídico, o reconhecimento da obrigação de recompor o prejuízo sofrido pelo ofendido. - A comprovação da relação de causalidade - qualquer que seja a teoria que lhe dê suporte doutrinário (teoria da equivalência das condições, teoria da causalidade necessária o u teoria da causalidade adequada) - revela-se essencial ao reconhecimento do dever de indenizar, pois, sem tal demonstração, não há como imputar, ao causador do dano, a responsabilidade civil pelos prejuízos sofridos pelo ofendido. Doutrina. Precedentes. (481110 AgR / PE; Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO; Julgamento:  06/02/2007).
	
“A” compra uma arma de fogo na loja de “B”, utilizando-a para matar “C”.
	
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Teoria conditio sine qua non – Não haverá nexo de causalidade entre a venda da arma e o resultado, pois “B” não agiu com dolo ou culpa, uma vez que não haveria noção da utilização da arma (teoria cega – geradora da repressão ao infinito)
	
	
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Teoria da causalidade adequada – a venda da arma é ação lícita, não sendo idônea para causar o resultado morte.
Ainda há uma terceira teoria para a relação de causalidade, chamada Teoria da Imputação Objetiva, hodiernamente dominante na Alemanha e bastante difundida na Espanha, que pretende sanar os problemas existentes com as duas anteriores. Ela tem por finalidade imputar a prática de um resultado delituoso apenas quando o seu comportamento tiver criado, realmente, um risco não tolerado, nem permitido, ao bem jurídico. No exemplo acima, a venda da arma não é considerado causa do resultado, já que a venda da arma foi feita de modo lícito e o comerciante não tem obrigação de checar o uso das mercadorias vendidas por quem quer que seja.
EMENTA:  APELAÇÃO-CRIME. DELITO DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO - ART. 302, CAPUT, DA LEI N. 9.503/97. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE E DETERMINAÇÃO ENTRE A CONDUTA DO AGENTE E A MORTE DA VÍTIMA. DÚVIDA. ABSOLVIÇÃO. A responsabilidade criminal pela morte da vítima que, embora transportada em local impróprio (entre a cabine e a caçamba de caminhão), vem a sofrer queda, não pode ser atribuída, de maneira objetiva, ao agente, existindo dúvida quanto à circunstância do veículo estar ou não em movimento no momento da queda. Para a responsabilização penal do réu, é necessário que se estabeleça, com segurança, o nexo causal entre a sua conduta e o evento danoso, ex vi do art. 13, caput do Código Penal, que consagra a teoria da equivalência dos antecedentes no ordenamento jurídico-penal pátrio. Ausente ou duvidosa a relaçãode causalidade e de determinação entre a conduta culposa e o resultado morte da vítima, resta somente a infração administrativa, impondo-se a absolvição do agente na esfera penal. (Apelação Crime Nº 70009435546, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Danúbio Edon Franco, Julgado em 14/10/2004).
Superveniência de causa independente(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
As causas independentes (aquelas que surgem e, por si mesmas, são aptas a produzir o resultado) cortam, naturalmente, o nexo causal. Ex: um raio que atinja a vítima, antes de que esta seja alvejada por tiros, é suficiente para retirar o nexo de causalidade (causalidade antecipada). Porém, existem causas relativamente independentes, que surgem de alguma forma ligadas às causas geradas pelo agente, mas possuem força suficiente para gerar o resultado por si mesmas. Para se determinar a incidência da causa relativamente independente, indaga-se se haveria previsibilidade do resultado. Havendo, consuma-se o delito (concausa), não havendo, responderá o agente pelos atos até então praticados, por força da relatividade independente do resultado.
CONCAUSA
Concausas são as causas concomitantes que se unem para gerar o resultado. É comum, na relação de causalidade, detectarmos a confluência de uma causa principal associada a uma causa preexistente para que haja força para gerar o resultado. O mesmo se dá na associação da causa principal com outras, consideradas concomitantes (presentes) e supervenientes (futuras). Dentro da esfera da previsibilidade natural do ser humano médio, não se corta o nexo causal se houver a junção de causa principal com a preexistente, nem da principal com a concomitante, abrindo-se exceção, dependente da prova, no tocante à superveniente.
	
“A” atinge “B” com um tiro (animus necandi), provocando lesões corporais leves, no entanto este vem a morrer pelas seguintes circunstâncias:
	
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	... ao ser levado para o hospital, “B” morre por ser hemofílico.
	Causa preexistente + Principal = Morte
	
	
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	... ao receber o tiro, estava na calçada, em cima do canteiro, motivo pelo qual caiu na via pública e foi atropelado.
	
Causa Concomitante + Principal = morte
	
	
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	... levado ao hospital, “B” morre de choque anafilático.
	Causa superveniente + Principal = morte
	
	
	... levado ao hospital, “B” morre por conta do incêndio lá ocorrido.
	Causa Relativamente Independente + Principal = tentativa de homicídio
Relevância da omissão(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Pena de tentativa(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Desistência voluntária e arrependimento eficaz(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
- DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
Por motivos de política criminal, estimulando-se o agente a não consumar o crime, prevê a lei no art. 15 do CP, duas hipóteses de tentativa abandonada: a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. Não se trata de caso de isenção de pena ou de extinção de punibilidade, pois a desistência voluntária exclui a própria tipicidade da tentativa, uma vez que o crime não se consumou por vontade do próprio agente, eliminando-se, portanto, o segundo elemento da tentativa. Na desistência voluntária, o agente, embora tenha iniciado a execução, não leva adiante, desistindo da consumação.
TACRSP: “Para a configuração da desistência voluntária é necessário que o agente não tenha sido coagido, moral ou materialmente, à interrupção do Inter Criminis”. (RJDTACRIM 5/89).
PENAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. TENTATIVA. NÃO CONFIGURAÇÃO DE DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA.
Dado início a execução do crime de estupro, consistente no emprego de grave ameaça à vítima e na ação, via contato físico, só não se realizando a consumação em virtude de momentânea falha fisiológica, alheia à vontade do agente, tudo isso, caracteriza a tentativa e afasta, simultaneamente, a denominada desistência voluntária. (Precedente desta Corte). (REsp 792625 / DF; 2005/0162903-8; Ministro FELIX FISCHER; DJ 27/11/2006 p. 316).
- ARREPENDIMENTO EFICAZ
Também hipótese de inadequação típica de tentativa, pois o agente, após ter esgotado os meios de que dispunha para a prática do crime, arrepende-se, evitando que o resultado ocorra. Também não se exige que o agente atue espontaneamente, bastando sua vontade de evitar o resultado, praticando atos para impedir o evento. É o que se denomina “ponte de ouro” para o agente retroceder. É imprescindível, para a caracterização do arrependimento eficaz, que a ação do agente seja eficaz, que efetivamente impeça ele a consumação. Se esta ocorre, não obstante os esforços do agente, responde ele por crime consumado, podendo beneficiar-se, conforme o caso, na fixação da pena.
RESP - PENAL - ARREPENDIMENTO EFICAZ - O ARREPENDIMENTO EFICAZ, "PONTE DE OURO", NA AFIRMAÇÃO DE VON LISZT, SITUA-SE ENTRE A EXECUÇÃO E A CONSUMAÇÃO. ESGOTADOS OS MEIOS EXECUTORIOS IDONEOS, ANTES DE ALCANÇADA A CONSUMAÇÃO, O AGENTE PRATICA CONTRA-AÇÃO PARA IMPEDIR A CHEGADA A META OPTADA. HA, POIS, EVIDENTE MUDANÇA DE ORIENTAÇÃO SUBJETIVA; O AGENTE ABANDONA O ANIMUS INICIAL DE QUERER O RESULTADO, OU ASSUMIR O RISCO DE PRODUZI-LO. CONSEQUENTEMENTE,DECORRE DE DELIBERAÇÃO DE INICIATIVA DO PROPRIO AGENTE. BASTA A VOLUNTARIEDADE, AINDA QUE NÃO SEJA ORIENTADA POR MOTIVO NOBRE. A FINALIDADE DA LEI E PRESERVAR O BEM JURIDICO, CONFERINDO AO AGENTE O BENEFICIO DE RESPONDER SO PELOS ATOS JA PRATICADOS.
Arrependimento posterior(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
PENAL. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. RECOLHIMENTO PARCIAL ANTES DA DENÚNCIA E ANTES DA FALÊNCIA DA EMPRESA. ART. 16 DO CÓDIGO PENAL. APLICABILIDADE.
1. Tem aplicabilidade a letra do art. 16 do Código Penal, impondo a redução da pena restritiva de liberdade, quando o acusado, responsável pela empresa, poucos dias antes da decretação de sua falência, regulariza o recolhimento de contribuições previdenciárias descontadas dos salários e não recebidas. O pagamento em causa, ainda que parcial, pois promovido sem a incidência da multa e dos juros moratórios, incluindo-se no montante recolhido apenas o principal acrescido de correção monetária, antes do recebimento da denúncia, não extinguindo a punibilidade (art. 34,da Lei 9249/95), pelo menos ameniza "em homenagem à conduta do acusado o rigor penal", como ensina DELMANTO.
2. Recurso especial conhecido e provido para reduzir a pena imposta pela sentença em 2/3 (dois terços). (REsp 450229 / RS; 2002/0087780-6; Ministro FERNANDO GONÇALVES; DJ 04/08/2003 p. 463, RSTJ vol. 176 p. 540).
PENAL. RECURSO ESPECIAL. PECULATO. RESTITUIÇÃO DO BEM OBJETO DE
APROPRIAÇÃO POR GENITOR. IMPOSSIBILIDADE. DOENÇA MENTAL NÃO CONHECIDA.
I - Não está caracterizado o arrependimento posterior se a restituição do bem se deu por terceira pessoa, independente da vontade do réu. (REsp 232718 / SC; 1999/0087802-7; Ministro FELIX FISCHER; DJ 19/03/2001 p. 130, JBC vol. 40 p. 297, LEXSTJ vol. 143 p. 380, RT vol. 792 p. 601).
RECURSO ESPECIAL. PENAL. PROCESSO PENAL. ESTELIONATO. CONCURSO DE PESSOAS. REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA POR UM DOS AGENTES. ARREPENDIMENTO POSTERIOR CONFIGURADO. ART 16 DO CÓDIGO PENAL. CIRCUNSTÂNCIA OBJETIVA QUE ALCANÇA OS DEMAIS PARTÍCIPES. PENA. REFLEXOS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
A reparação do dano não se restringe à esfera pessoal de quem a realiza, desde que a faça voluntariamente, sendo, portanto, nestas condições, circunstância objetiva, estendendo-se, assim, aos co-autores e partícipes. Precedente. (REsp 122760 / SP; 1997/0016798-4; Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA; DJ 21/02/2000 p. 148, JSTJ vol. 14 p. 221).
Crime impossível (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Também chamado de tentativa impossível, tentativa inidônea, tentativa inadequada e quase crime, em que o agente de forma alguma conseguiria chegar à consumação, motivo pelo qual a lei deixa de responsabilizá-lo pelos atos praticados. Apresenta-se de duas maneiras: ineficácia absoluta do meio e pela absoluta impropriedade do objeto. 
RHC - PENAL - EXECUÇÃO - CRIME IMPOSSIVEL - CRIME E CONDUTA E RESULTADO. ESTE CONFIGURA DANO OU PERIGO AO OBJETO JURIDICO. ALEM DISSO A EXECUÇÃO DEVE SER IDONEA, OU SEJA, TRAZER A POTENCIALIDADE DO EVENTO. EXECUÇÃO IDONEA CONDUZ A CONSUMAÇÃO OU A TENTATIVA. EXECUÇÃO INIDONEA, AO CONTRARIO, LEVA AO CRIME IMPOSSIVEL. (RHC 1902 / SP; 1992/0007451-0; Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO; DJ 05/04/1993).
HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE ROUBO EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL DOTADO DE SISTEMA INTERNO DE VIGILÂNCIA. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. ORDEM DENEGA.
1 - Hipótese em que o agente, no momento da subtração da res furtiva, estava sendo observado pelo sistema interno de segurança, tendo sido acionada a polícia, vindo a ser preso em flagrante.
2 - A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que a simples presença de sistema permanente de vigilância no estabelecimento comercial, ou de ter sido o réu acompanhado por vigia enquanto tentava subtrair o bem, não torna o agente completamente incapaz de consumar o roubo, logo, não há que se afastar a punição, a ponto de reconhecer configurado o crime impossível, pela absoluta ineficácia dos meios empregados.
3 - Diante da possibilidade, ainda que mínima, de consumação do delito, não há que se falar na hipótese de crime impossível. (HC 89530 / SP; 2007/0203413-0; Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG); DJ 11/02/2008).
PROCESSUAL PENAL. ADVOGADO/PROCURADOR. PATROCINIO SIMULTANEO. HABEAS-CORPUS. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL AO FUNDAMENTO DE QUE SE TRATA DE CRIME IMPOSSIVEL (PROCURAÇÃO DE UMA DAS PARTES SEM FIRMA RECONHECIDA). RECURSO ORDINARIO CONHECIDO E IMPROVIDO. I - O PACIENTE, COMO ADVOGADO DE PREVIDENCIARIA, AJUIZOU AÇÃO DE COBRANÇA DE COMPLEMENTAÇÃO DE BENEFICIOS. MAIS TARDE, JA COMO PROCURADOR DO REU (INSS), CONTESTOU A PROPRIA AÇÃO POR ELE FEITA. FOI EM DECORRENCIA, DENUNCIADO COMO INCURSO NO PARAGRAFO UNICO DO ART. 355 DO CP: "PATROCINIO SIMULTANEO OU TERGIVERSAÇÃO". A OAB, EM SUA DEFESA, AJUIZOU AÇÃO DE HABEAS-CORPUS, INSTANDO NO TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL: A) CERCEAMENTO DE DEFESA E B) CRIME
IMPOSSIVEL (INSTRUMENTO PROCURATORIO DO INSS SEM FIRMA RECONHECIDA). POR OUTRO LADO, O PACIENTE SUBSTABELECEU A OUTRO ADVOGADO, ANTES DE CONTESTAR, OS PODERES QUE LHE TINHAM SIDO OUTORGADOS PELA AUTORA DA AÇÃO.
II - TEMERARIO SERIA O TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL ANTE TEMPUS. O FATO E TIPICO, POIS O CRIME DE PATROCINIO SIMULTANEO TEM COMO ELEMENTOS CONFIGURADORES O ADVOGADO OU PROCURADOR PATROCINAR, COM OU SEM INSTRUMENTO PROCURATORIO, INTERESSES DE PARTES ANTAGONICAS NUMA MESMA CAUSA. FOI QUE SE TERIA DADO IN CASU: O PACIENTE, COMO PROCURADOR DO REU, CONTESTOU A PROPRIA AÇÃO POR ELE ALINHAVADA COMO ADVOGADO DA AUTORA. NO CASO CONCRETO, AGRAVADA E SUA SITUAÇÃO, POIS O INSTRUMENTO PROCURATORIO, OUTORGADO PELO REU, JA SE ACHAVA ARQUIVADO EM CARTORIO. (RHC 3589 / SP; 1994/0011678-0; Ministro ADHEMAR MACIEL; DJ 13/06/1994).
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
É a vontade consciente de realizar a conduta típica (teoria finalista), também chamado de dolo direto. Nesse contexto, segundo melhor doutrina, segue-se a distinção entre dolo genérico e dolo específico, este como sendo o que traduz a especialidade da vontade, integrando o elemento subjetivo específico da conduta, e àquele já inserido no tipo penal. Contudo, a segunda parte do art. 18, I, do CP nos trás o chamado dolo eventual (teoria do assentimento), que se consubstancia no instante em que o agente, mesmo sem desejar o primeiro resultado, vislumbra a possibilidade de ocorrer um segundo resultado, unido ao primeiro.
Segundo a posição de Welzel, possui duas características: a) decisão tomada; b) vontade de influenciar um acontecimento real, definido o resultado como obra e não mero desejo do autor típico. Ex.: se Caio envia Tício à floresta, durante a formação de uma tempestade, na esperança de que seja atingido por um raio e venha morrer fulminado para herdar a fortuna, não há vontade como elemento do dolo, ainda que o fato ocorra, pois o acontecimento foge ao poder de domínio final do fato de Caio.
Conforme Luis Greco, explicando a teoria finalista, o “homem age porque antecipa as consequências dos atos a que se propõe, e porque pode valer-se do conhecimento de que dispõe a respeito dos cursos causais para dirigi-los no sentido que lhe aprouver. Eu sei, por ex., que ninguém pode viver sem respirar, e que se respira pelo nariz, pela garganta, etc., e daí deduzo que, se eu quiser matar alguém, basta aperta-lhe a garganta por tempo suficiente. Essa intenção, consciência e vontade de matar alguém, essa finalidade de matar, por dirigir-se a uma conduta típica, chama-se dolo.”
A vontade de realização do tipo objetivo pressupõe possibilidade de influir no curso causal, pois tudo o que estiver fora da possibilidade de influência concreta do agente pode ser desejado ou esperado, mas não significa querer realizá-lo. Somente pode ser objeto da ordem jurídica algo que o agente possa realizar ou omitir.
O dolo possui um aspecto intelectual e um volitivo: a) a parte intelectual compreende o conhecimento atual (e não potencial) de todas as circunstâncias objetivas do tipo; b) a parte volitiva é a vontade incondicional de realizar o tipo. Como vontade de realização, o dolo pressupõe que o autor se atribua uma POSSIBILIDADE DE INFLUIR SOBRE O ACONTECER.
	
 	 Isso é DOLO!
 Isso NÃO É DOLO, mas mero DESEJO, pois o agente não pode influir no nexo causal.
O dolo que incide sobre os FINS e os MEIOS é o dolo DIRETO. No dolo direto podemos distinguir dois graus:
(a) DOLO IMEDIATO (DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU, incide sobre os fins): a vontade abrange o resultado típico como fim em si;
(b) DOLO MEDIATO (DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU, incidesobre os meios necessários): o resultado típico é uma consequência necessária dos meios eleitos (ex.: aquele que elege como FIM fraudar seguro de vida e como MEIO a colocação de bomba no equipamento de um passageiro segurado, abrange FINALIDADE também a morte de outros passageiros. Há dolo direto porque a morte por explosão era o meio querido para a consecução do fim criminoso. 
Equiparação do dolo direto com o dolo eventual: Diz o Ministro Francisco Campos na Exposição de Motivos do Código de 1940: Segundo o preceito do art. 15, I, o dolo existe não só quando o agente quer diretamente o resultado (effetus sceleris), como assume o risco de produzi-lo. O dolo eventual é, assim, plenamente equiparado ao dolo direto. É inegável que arriscar-se conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo.” Assim, a lei equiparou o dolo direto ao eventual, não sendo correto dizer que um é mais grave do que o outro.
Esse entendimento não foi acompanhado pelo eminente Ministro Celso de Mello do STF, por ocasião da análise do HC 92525 MC/RJ. Contrariando o disposto na exposição de motivos do código penal, bem como anterior decisão do STJ, o prefalado Ministro suspendeu condenação por Receptação Qualificada do parágrafo 1º do art. 180 do CPB. A defesa do condenado alegou inconstitucionalidade da citada qualificadora, por ofensa ao princípio da proporcionalidade. Segundo seus argumentos, não seria proporcional punir-se mais gravemente o dolo eventual da qualificadora do que o dolo direto do “caput” do mesmo artigo. Isso porque, no “caput”, o agente sabe da origem criminosa do bem (dolo direto). No § 1º o agente, comerciante ou industrial deve saber (dolo eventual). O dolo direto seria punido com pena de reclusão de 1 a 4 anos e o dolo eventual seria punido com pena de reclusão de 3 a 8 anos.
Outras classificações do dolo:
Dolo alternativo: o autor quer, de forma indiferente, um ou outro resultado ( Ex.: Caio atira em Mévio, pouco importando para matá-lo ou feri-lo)
Dolo cumulativo: O agente pretende alcançar dois resultados, em seqüência. O exemplo pode ser o de que o agente deseja espancar a vítima e, só depois, matá-la.
Dolo de ímpeto (ação dolosa sem cogitação, sem premeditação) impulsivo, não presumido.
Dolo específico (também chamado de elemento subjetivo do tipo; delito de tendência) – quando a lei especifica o tipo de crime, “com o fim de, com a finalidade de, com o intuito de, com a intenção de”.
Dolo geral (o sujeito quer matar por veneno, mas mata enforcado simulando o suicídio) – responde normalmente pela morte. 
Dolo de perigo: em verdade, não é propriamente o dolo que é de perigo, mas o tipo penal (tipo de perigo concreto ou de perigo abstrato). 
Divide-se os TIPOS DE PERIGO em: 
(a) perigo abstrato (ex.: omissão de socorro), onde o perigo não precisa ficar demonstrado, pois ele se presume; 
(b) perigo concreto (Ex.: Periclitação à vida ou à saúde de outrem), onde o crime só se consuma com a demonstração efetiva do perigo para pessoa determinada.
Dolo Natural e Normativo: o primeiro, dolo natural, é o dolo finalista, pois não possui o conhecimento da ilicitude (dolus bonus); o segundo é o dolo dos causalistas, que está contido na culpabilidade e contém o conhecimento atual da ilicitude (dolus malus). 
DOLO DIRETO (primeira parte do art. 18, I, do CP)
	VONTADE
	----------------------(
	RESULTADO ÚNICO
DOLO EVENTUAL (segunda parte do art. 18, I, do CP)
	VONTADE
	-----------------------(
	RESULTADO PRINCIPAL
	
	
	+
	
	
	RESULTADO SECUNDÁRIO PARA O AGENTE, PORÉM NECESSÁRIO.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. 1. HOMICÍDIO. CRIME DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ. DOLO EVENTUAL. AFERIÇÃO AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. 2. ORDEM CONCEDIDA.
1. Em delitos de trânsito, não é possível a conclusão automática de ocorrência de dolo eventual apenas com base em embriaguez do agente. Sendo os crimes de trânsito em regra culposos, impõe-se a indicação de elementos concretos dos autos que indiquem o oposto, demonstrando que o agente tenha assumido o risco do advento do dano, em flagrante indiferença ao bem jurídico tutelado. (HC 58826 / RS; 2006/0099967-9; Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA; DJe 08/09/2009).
HOMICÍDIO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DOLO EVENTUAL. CULPA CONSCIENTE. REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS DO DOLO EVENTUAL. CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO QUE NÃO EVIDENCIAM A ANTEVISÃO E A ASSUNÇÃO DO RESULTADO PELO RÉU. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA QUE SE IMPÕE. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
2. A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, conquanto constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica.
3. O elemento cognitivo consiste no efetivo conhecimento de que o resultado poderá ocorrer, isto é, o efetivo conhecimento dos elementos integrantes do tipo penal objetivo. A mera possibilidade de conhecimento, o chamado “conhecimento potencial”, não basta para caracterizar o elemento cognitivo do dolo. No elemento volitivo, por seu turno, o agente quer a produção do resultado de forma direta – dolo direto – ou admite a possibilidade de que o resultado sobrevenha – dolo eventual.
4. Considerando que o dolo eventual não é extraído da mente do acusado, mas das circunstâncias do fato, na hipótese em que a denúncia limita-se a narrar o elemento cognitivo do dolo, o seu aspecto de conhecimento pressuposto ao querer (vontade), não há como concluir pela existência do dolo eventual. Para tanto, há que evidenciar como e em que momento o sujeito assumiu o risco de produzir o resultado, isto é, admitiu e aceitou o risco de produzi-lo. Deve-se demonstrar a antevisão do resultado, isto é, a percepção de que é possível causá-lo antes da realização do comportamento. (AgRg no REsp 1043279 / PR; 2008/0066044-4; Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG); DJe 03/11/2008).
QUESTÃO PARA DEBATE: O QUE É MAIS REPULSIVO, O DOLO DIRETO OU O DOLO EVENTUAL?
Crime culposo(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ESPÉCIES DE CULPA
Imprudência: é a forma ativa de culpa, significando um comportamento sem cautela, realizado com precipitação ou com insensatez;
Negligência: É a forma passiva da culpa, ou seja, assumir uma atitude inerte, material e psiquicamente, por descuido ou desatenção;
Imperícia: é a imprudência no campo técnico, pressupondo uma arte, ofício ou profissão. Consiste na incapacidade ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister.
A primeira modalidade é a culpa por excelência (culpa inconsciente), ou seja, a culpa sem previsão do resultado. O agente não tem previsão (ato de prever) do resultado, mas mera previsibilidade (possibilidade de prever). A segunda é a chamada culpa com previsão (culpa consciente), ocorrendo quando o agente prevê que sua conduta pode levar a um certo resultado lesivo, embora acredite, firmemente, que tal evento não se realizará, confiando na sua atuação (vontade) para impedir o resultado.
ELEMENTOS DA CULPA
Concentração na análise da conduta voluntária do agente: o mais importante é a análise do comportamento (conduta) e não do resultado;
Ausência do dever de cuidado objetivo: o agente deixou de seguir as regras básicas e gerais de atenção e cautela, exigíveis de todos que vivem em sociedade;
Resultado danoso involuntário: o evento lesivo não pode ser desejado;
Previsibilidade: Aferida para se distinguir a existência ou não de crime culposo, uma vez que se deve analisar a média da sociedade de poder prever o resultado.
TACRSP: No sentido jurídico-penal, a culpa tem por pressuposto a consciência da imperícia, da imprudência ou da negligência, as quais se traduzem, no ato, em um resultado não querido, mas previsível, por parte do agente. O comportamento comum determina um freio moral a tais deficiênciashumanas, sendo certo que o descuido ou o desprezo a este dá ensejo à reprovabilidade da conduta, fundamentando a razão de punir por parte do Estado (JTACRIM 31/309).
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O dolo é a regra: a culpa, exceção. Para se punir alguém por delito culposo, é indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal.
CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PLEITO DE ADEQUAÇÃO DA CONDUTA DO RÉU AO HOMICÍDIO CULPOSO DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. DELITO ESPECIAL COM SANÇÃO MAIS GRAVOSA. OPÇÃO LEGISLATIVA. PENA-BASE MÍNIMA MAIOR QUE UM ANO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. INAPLICABILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DENEGADA.
Hipótese na qual o paciente foi condenado pela prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor, não tendo sido oferecida proposta de suspensão condicional do processo. A diferença do homicídio culposo do Código de Trânsito Brasileiro para o homicídio culposo do Código Penal é a existência de elemento normativo consistente no fato de a conduta ser praticada na direção de veículo automotor, o que justifica o aumento da pena-base. Descabido o pleito de adequação da conduta praticada pelo réu ao tipo penal descrito no Estatuto Repressivo, pois, havendo dispositivo específico no Código de Trânsito Brasileiro, o qual se amolda perfeitamente aos fatos, não se pode afastar a aplicação do princípio da especialidade. Não há que se falar em ofensa aos princípios da razoabilidade ou da proporcionalidade, pois as sanções foram previstas pelo Legislador, o qual fixou pena-base mais elevada ao crime especial, com a finalidade de reprimir de forma mais gravosa o delito que julgou ser mais prejudicial à sociedade. (HC 63284 / RS; 2006/0160365-7; Ministro GILSON DIPP; DJ 05/02/2007).
Agravação pelo resultado(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Os crimes qualificados pelo resultado, nos quais está incluído o delito preterdoloso, é aquele em que o legislador, após descrever um crime com todos os seus elementos (descrição completa de um crime), acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção penal. Podem ser caracterizados por uma infração penal que se desenvolve em duas fases:
Fato antecedente 
– prática de um crime completo, com todos os seus elementos. Nesta primeira parte, há um crime perfeito e acabado, praticado a título de dolo ou culpa.
Fato consequente 
– produção de um resultado agravador, além daquele que seria necessário para a consumação. Nesta segunda fase, há um resultado agravador produzido dolosa ou culposamente que acaba por tipificar um delito mais grave.
OBS.: Um só crime 
– o crime qualificado pelo resultado é um único delito, que resulta da fusão de duas ou mais infrações autônomas. Trata-se de crime complexo, portanto.
 ESPÉCIES DE CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO
– são quatro:
Dolo no antecedente e dolo no consequente 
– nesse caso, temos uma conduta dolosa e um resultado agravador também doloso. O agente quer produzir tanto a conduta como o resultado agravador (ex.: marido espanca a mulher até atingir seu intento, provocando-lhe deformidade permanente).
Culpa no antecedente e culpa no consequente 
– o agente pratica uma conduta culposa e, além desse resultado culposo, acaba produzindo outros, também a título de culpa (ex.: crime de incêndio culposo qualificado pela morte – art. 258 “in fine” CP – incêndio (fato antecedente) e morte (fato consequente) culposa.
Culpa no antecedente e dolo no conseqüente (crimes preterculposos)
– o agente, após produzir um resultado culposo, realiza uma conduta dolosa agravadora (ex.: art. 303, par. único, CTB – motorista que, após atropelar um pedestre, ferindo-o, foge, omitindo-lhe o socorro – atropelamento (fato antecedente) culposo e omissão de socorro (fato conseqüente) doloso.
Dolo no antecedente e culpa no conseqüente (crime preterdoloso ou preterintencional) 
– o agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado (ex.: lesão corporal seguida de morte – lesão corporal (fato antecedente) dolosa e morte (fato conseqüente) culposa.
Erro sobre elementos do tipo(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ERRO DE TIPO:
O agente não tem plena consciência da sua conduta (não sabe exatamente o que faz). O erro de tipo exclui o dolo. Ex1: uma pessoa que a pedido de outra transporta drogas supondo ser remédio. Ex2: uma pessoa que com a chave do seu carro entra em outro carro e sai com o mesmo supondo ser o seu. É também chamado de erro de tipo incriminador ou erro de tipo essencial, pois recai sobre o tipo que incrimina e é contrário do dolo. Sempre exclui o dolo e consequentemente o fato típico (crime ou injusto).
Descriminantes putativas(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Trata-se de discriminante putativa: há erro quanto à existência de uma justificante. É o que a doutrina chama de erro de permissão ou erro de proibição indireto, de acordo com os adeptos da teoria limitada da culpabilidade.
Nota-se, portanto, que dentro do complexo quadro que compõe a Teoria do Crime, existem determinadas hipóteses em que, apesar de objetivamente a conduta do agente se adequar ao tipo penal, não se verifica a prática de um delito. O ordenamento jurídico, considerado globalmente, permite que o agente labore tipicamente. Daí se falar na existência de descriminantes, ou seja, causas que transformam o fato em um indiferente penal. 
Putativo, nos termos do Dicionário Aurélio, se define como o que aparenta ser verdadeiro, legal e certo, sem o ser; suposto. Logo, quando se pensa em putatividade, no Direito Penal, deve-ser ter em mente uma situação falsa, imaginária, que existe somente na idéia do agente. Combinando os dois conceitos ora definidos, conclui-se que a descriminante putativa se configura, no caso concreto, quando o agente supõe, equivocadamente, agir amparado por uma excludente de ilicitude. O ordenamento jurídico, na verdade, não considera seu comportamento como lícito e, conseqüentemente, permitido. 
O agente pode agir putativamente em qualquer uma das hipóteses de justificação. Assim, considerando as causas justificantes previstas no art. 23 do Código Penal, ter-se-ia o estado de necessidade putativo, a legítima defesa putativa, o exercício regular de um direito putativo e o estrito cumprimento do dever legal putativo, dependendo da hipótese sobre a qual recaía o erro do agente. 
Pode-se afirmar, diante do exposto, que o agente que se comporta sobre a égide de um descriminante putativa encontra-se, na verdade, em erro. Portanto, o ordenamento jurídico nacional, positivando postulados da Teoria do Crime, confere a essas situações um tratamento diferenciado, peculiar.
Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Erro Sobre a Pessoa é caracterizado como um real engano. Ocorre quando um agente quer praticar um ilícito contra A, mas se engana afetando B. Voltando à Maria e João, se a primeira tenta matar o segundo, mas tem como vítima José, ela incidiu no