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Psicologia no Direito Penal e na Infância e
Juventude
Prof.ª Glicia Barbosa de Mattos Brazil
false
Descrição
O trabalho do psicólogo na esfera penal e na atuação com crianças,
adolescentes e famílias nas varas criminais.
Propósito
Ampliar o conhecimento acerca dos contextos de atuação do psicólogo
na Justiça, atuando em presídios e na escuta de crianças e
adolescentes vítimas, por meio do Depoimento Especial.
Preparação
Antes de começar este conteúdo, tenha em mãos a Lei 10.792 de 2003,
a Lei nº 7.210 de 1984, e a Lei 13.431 de 2017.
Objetivos
15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 1/33
Módulo 1
Psicologia e Direito Penal
Analisar as formas de atuação do psicólogo no sistema penal.
Módulo 2
Psicologia na infância e juventude
Identificar os diferentes contextos e formas de atuação do psicólogo
com crianças e adolescentes na Justiça.
Este conteúdo descreve o papel do psicólogo no âmbito do Direito
Penal, ressaltando a importância de sua atuação na garantia dos
direitos. Para isso, apresenta-se um contexto histórico da atuação
dos psicólogos nos presídios, que faziam parte das Comissões
Técnicas de Classificação, e atualmente nas Audiências de
Custódia.
Em seguida, abordaremos os princípios do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e os direitos fundamentais das crianças e dos
adolescentes, dando ênfase ao trabalho com esse grupo social.
Discutiremos também o caminho percorrido por crianças e
adolescentes testemunhas ou vítimas de violência, e a importância
da escuta especializada como forma de promover uma escuta ética
e não revitimizada. Ressaltamos a importância do psicólogo nos
dois contextos, principalmente como uma ferramenta de garantia
dos direitos e como figura promotora de intervenções sociais.
Introdução
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1 - Psicologia e Direito Penal
Ao �m deste módulo, você será capaz de analisar as formas de atuação do
psicólogo no sistema penal.
Introdução da Psicologia na
esfera penal
Psicologia e Direito Penal
A professora Glícia Brazil traz um panorama geral do papel do psicólogo
no Direito Penal.
Primórdios da Psicologia na esfera penal
A atuação do psicólogo no Direito Penal surge em paralelo a uma
mudança de paradigma relacionada ao senso de justiça e de direitos
humanos, quando o Direito Penal passou a tratar dos fatos criminosos,

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mas com a preocupação com o autor do fato, para que houvesse um
mecanismo de controle a respeito dos direitos, da progressão de regime
ou da necessidade de regressão de regime. A Comissão Técnica de
Classificação (CTC), prevista na Lei de Execução Penal, tinha a função
de averiguar o apenado no início do cumprimento da pena, por uma
junta de profissionais, incluindo o psicólogo, para certificar sobre a
progressão ou regressão de regime (antes da Lei nº 10.792/2003).
A lei retirou da Comissão Técnica de Classificação o papel de
acompanhamento da execução penal, deixando a cargo da Comissão o
programa individualizador da pena privativa de liberdade do condenado
ou preso provisório. A psicologia jurídica surgiu no sistema penitenciário
brasileiro com a atuação do psicólogo na CTC:
Art. 7º
A Comissão Técnica de Classificação existente em cada
estabelecimento será presidida pelo Diretor e composta, no mínimo, por
2 chefes de serviço, 1 psiquiatra, 1 psicólogo e 1 assistente social,
quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo
único - nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da
Execução e será integrada por fiscais do serviço social. (LEI 7.210/84)
A mais recente forma de intervenção do psicólogo no sistema penal é
na escuta do preso em flagrante antes das audiências de custódia, no
sentido de elaborar relatório que auxilia o juízo criminal na sua
convicção a respeito de manter ou não a prisão:
Lançadas em 2015, as audiências
de custódia consistem na rápida
apresentação da pessoa que foi
presa a um juiz, em uma audiência
onde também são ouvidos
Ministério Público, Defensoria
Pública ou advogado do preso. O
juiz analisa a prisão sob o aspecto
da legalidade e a regularidade do
flagrante, da necessidade e da
adequação da continuidade da
prisão, de se aplicar alguma medida
cautelar e qual seria cabível, ou da
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eventual concessão de liberdade,
com ou sem a imposição de outras
medidas cautelares. A análise
avalia, ainda, eventuais ocorrências
de tortura ou de maus-tratos, entre
outras irregularidades. A
implementação das audiências de
custódia está prevista em pactos e
tratados internacionais de direitos
humanos internalizados pelo Brasil,
como o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos e a
Convenção Americana de Direitos
Humanos. Além disso, a realização
das audiências de custódia foi
confirmada pelo Supremo Tribunal
Federal ao julgar, em 2015, a ADI
5240 e a ADPF 347.
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, s. d.)
Desde a entrada formal do psicólogo no Poder Judiciário, o Juízo
Criminal dispõe de auxílio técnico de peritos psicólogos dos quadros
dos tribunais que realizam avaliação psicológica da criança ou
adolescente vítima do crime de estupro de vulnerável. Nesse caso, a
perícia psicológica rege-se pelo art. 159 do Código de Processo Civil e
encontra fundamento constitucional no art. 5º da Constituição
Federativa da república do Brasil (CRFB):
Art. 5º
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Desse modo, entende-se que a atuação do psicólogo no contexto da
Justiça pode assumir diversas formas, sendo atravessada pelo trabalho
em presídios nas audiências de custódia como também nos casos de
escuta das vítimas, conforme ocorre em denúncias de abuso sexual
infantil, no tratamento dado à criança ou ao adolescente.
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Criança vítima de abuso na
Justiça
Abuso sexual infantil e o caminho da
criança até o Tribunal de Justiça
Dados coletados pela Organização Mundial da Saúde em 96 países
mostraram que mais de 50% das crianças entre 2 e 17 anos de idade
sofreram violência psicológica, física ou sexual no ano de 2015 (WHO,
2016). Ao observarmos o cenário brasileiro, constata-se que há um
baixo número de famílias que buscam ajuda psicológica e realizam a
denúncia.
Uma hipótese que tenta explicar esse fenômeno é a falta de integração
das redes de apoio e de recursos institucionais, que faz com que “a
vítima, diante do dilema de denunciar e enfrentar as consequências do
seu ato, prefere silenciar ou mesmo retirar a denúncia já feita, diante da
pressão e da falta de apoio familiar, deixando os profissionais
envolvidos desapontados e impotentes diante da situação” (ARAÚJO,
2002, p. 7).
Contudo, compreendemos hoje em dia que a denúncia funciona como
uma forma de romper com esse ciclo e pôr fim na dinâmica de violência,
agindo como um limite externo que viabiliza a adaptação da família para
um novo arranjo. Assim, a denúncia exerce uma função social,
facilitando a adesão das vítimas à ajuda terapêutica. Entende-se que,
quando há a revelação do ocorrido, as famílias e crianças vítimas de
violência poderão aderir ao tratamento terapêutico, aliviando, de forma
sucessiva, o sofrimentocausado por essa vivência.
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Amendola (2009, p. 75) aponta três portas de entrada para a esfera
judicial de notificação e resolução da queixa de abuso sexual de
crianças e adolescentes, sendo elas:

Do �uxo de atendimento

Do �uxo de defesa dos direitos

Do �uxo da responsabilização
Entre elas, destacam-se os conselhos tutelares, a Delegacia de Proteção
à Criança e ao Adolescente e o Ministério Público, instituições que têm
como principal função realizar atendimento e inserir as vítimas em uma
rede de apoio.
A partir da notificação em uma dessas esferas, a criança, vítima do
abuso, deve realizar uma entrevista de revelação, em que a vivência do
abuso é repassada, contada e revivida. Essa entrevista tem como
objetivo “criar um ambiente facilitador que permita à criança fazer
conhecer o que era secreto, ou seja, revelar o abuso sexual a partir da
produção discursiva, lúdica e gráfica, sem desenvolver sentimentos de
culpa ou vergonha” (AMENDOLA, 2009, p. 87).
Em geral, essa entrevista de revelação ocorre nas delegacias, onde um
profissional capacitado escuta o relato da criança e da família, criando
um inquérito policial. Na revelação, não há oportunidade de contraditório
pelo réu, e de acordo com o que foi relatado pela vítima, o Ministério
Público decide ou não oferecer a denúncia, sendo o autor da ação penal
nos casos em que a denúncia é realizada.
Essa denúncia feita em delegacia se torna uma ação penal quando
chega ao Tribunal de Justiça, e é encaminhada a uma vara criminal.
Segundo a Lei 13.431/2017, o juiz ouvirá a criança vítima em forma de
Depoimento Especial, no qual a criança irá narrar os fatos mais uma vez,
mas seguindo as normas e diretrizes propostas por essa forma de
escuta e testemunho descrita a seguir.
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Depoimento Especial - Lei
13.431/2017
O Depoimento Especial é uma forma de escuta da criança ou
adolescente vítima ou testemunha de crime, pelo Poder Judiciário, que
tem como objetivo preservá-la da experiência de realizar o testemunho
na presença do agressor, evitando a revitimização.
Como apontado pelo artigo 8º da Lei 13.431/2017, a escuta no formato
de Depoimento Especial é realizada somente pela criança ou
adolescente vítima ou testemunha de crime, na qual não é feito nenhum
tipo de laudo, por ocorrer em tempo real da audiência. Assim, a criança
ou adolescente vítima é entrevistada por um técnico capacitado, e o
depoimento é transmitido de forma síncrona para a sala de audiências,
permitindo a impressão pessoal do Juízo.
As premissas dessa forma de
escuta têm como diretriz a escuta
da criança vítima ou testemunha de
violência por um técnico capacitado,
a qual é transmitida em tempo real
para a sala de audiência, de forma
que a criança é preservada do
contato direto com o acusado. Além
do mais, a transmissão síncrona do
depoimento permite a produção de
prova imediata, como também a
impressão do Juiz e do Ministério
Público e do contraditório em tempo
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real, evitando assim a revitimização
da criança e, por conseguinte,
prevenindo a violência institucional.
(BRAZIL, 2022, p. 37)
Desse modo, diferente da entrevista de revelação, no Depoimento
Especial feito no Tribunal de Justiça, é garantido o direito do
contraditório do réu, a partir do princípio de ampla defesa. Portanto,
entende-se que o Depoimento Especial é uma das maneiras mais úteis
de escuta em caso de violência real, em que é feita a prova oral dos
fatos de forma ágil e impactante, possibilitando a realização de medidas
protetivas mais eficazes.
Tendo em vista a complexidade dessa escuta, é fundamental que os
técnicos capacitados operem a partir de diretrizes que garantam uma
escuta eficaz sem que seja praticada a violência institucional na criança
ou no adolescente vítima ou testemunha. Assim, utiliza-se a técnica
cognitiva como uma forma de neutralizar as variáveis sentimentais que
possam interferir nos fatos. Para isso, o técnico ativa a memória de
essência (experiências positivas ou negativas que a criança viveu), para
que ela se lembre das memórias literais, que contêm os detalhes e os
fatos.
Portanto, o trabalho feito no Depoimento Especial é de realizar uma
prova “recortada” do fato, a partir do testemunho infantil, respeitando a
capacidade emocional da criança ou do adolescente em realizar o
testemunho, como também a sua idade e seu desenvolvimento.
Falso abuso
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Falsa denúncia de abuso sexual
As falsas denúncias têm se tornado cada vez mais objeto de estudo de
profissionais das áreas do Direito e da Psicologia. Em pesquisa
realizada por Amendola (2009), a autora relata que a maioria dos
entrevistados afirmaram que há uma visível correlação entre as
denúncias de abuso sexual, maus-tratos e negligência com os casos de
separação conjugal litigiosos, em que há disputa de guarda, brigas,
desentendimentos e resistência em firmar acordos de visitação entre os
genitores. Assim, compreende-se que as falsas denúncias podem
ocorrer em detrimento da internalização da lógica adversarial do
ambiente familiar, durante o divórcio e pela influência das figuras
parentais.
Brazil (2018, p. 115) explica que “a criança, mesmo pequena, é capaz de
perceber o conflito dos pais e daí passa a nutrir crenças a respeito do
conflito – meus pais são adversários, meu pai é mais forte que minha
mãe, meus pais brigam por minha causa, [...] daí por diante”. Existe,
portanto, na criança, uma intenção de proteger um adulto que a ela
acredite estar ameaçado ou agradar um adulto que ela vê como
ameaça. Tais percepções surgem a partir dos vínculos de lealdade
existentes na família e da capacidade de percepção da criança em
desenvolvimento. Outra questão relacionada com as falsas denúncias e
a influência parental são as distorções mnêmicas.
Conforme estudos realizados por Stein (2010), as falsas memórias são
exatamente essas informações errôneas, que influenciam no conteúdo
rememorado, a partir de influências internas ou externas. As falsas
memórias sugeridas são resultado da aceitação de informação externa,
podendo ser de forma acidental ou deliberadas pelo ambiente.
Diversos estudos sobre as falsas memórias destacam a
sugestionabilidade como um dos principais fatores relacionados a erros
mnêmicos e a falsos testemunhos. Entendemos por sugestionabilidade
“a tendência de um indivíduo em incorporar informações distorcidas,
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oriundas de fontes externas, às suas recordações pessoais, sendo que
essas informações podem ser apresentadas de forma intencional ou
acidental” (STEIN, 2010, p. 167).
Com isso, podemos compreender a sugestionabilidade
como resultado de processos cognitivos internos e/ou
processos sociais externos, que influenciam na
recuperação mnêmica.
Estudos demonstraram que a sugestionabilidade da memória em
crianças é resultado da interação entre fatores relacionados às
características da própria criança e fatores relacionados ao contexto da
entrevista. Como consequência, há uma facilidade na transmissão de
um determinado ponto de vista de um adulto para uma criança, por meio
da formulação de atos sugestivos.
Brito, Ayres e Amen (2006) debatem acerca da aplicação da técnica de
escuta no Judiciário, pois questiona-se a validade e fidedignidadeda
escuta de crianças nos casos de separação conjugal. Isso acontece
porque foi observado que muitas crianças estabelecem alianças com
um ou mais membros da família. É comum, portanto, que “no caso de
fortes alianças estabelecidas com o guardião, a criança, por vezes, está
tão aprisionada a este que sua escolha ou opinião apenas irá espelhar
tal sensação” (BRITO; AYRES; AMEN, 2006, p. 71).
A mentira e a distorção na hora do relato são formas
de defesa, seja de uma outra pessoa ou dela mesma,
frente às diversas pressões psicológicas impostas
pelo contexto.
Com a regulamentação e aplicação do Depoimento Especial nos últimos
cinco anos, surgiram essas questões e preocupações pessoais acerca
dessa forma de escuta em determinados casos, principalmente levando
em conta a alienação parental e a falta de capacitação de técnicos e
demais membros do sistema. Nos casos de coação moral contra a
criança e adolescente vítima ou testemunha, percebe-se que a fala da
criança não corresponde à vivência decorrente de um trauma, mas a
escuta inadequada pode se tornar um trauma em si.
Segundo os estudos sobre a memória realizados até então (STEIN,
2010), sabemos que existem diversos vícios de memória que podem
interferir na fidedignidade do testemunho de crianças vítimas ou
testemunhas de violência. Os vícios de memórias de ordem subjetivas,
descritos por Schacter (2003), como a distorção, a repetição e a
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sugestionabilidade ocorrem a partir da noção de que a memória
humana é influenciada por variáveis internas e externas, podendo sofrer
diversas modificações devido a fatores como: a qualidade da vivência
experienciada, a idade do sujeito, as emoções decorrentes da
experiência, entre outras interferências que influenciam na recuperação
mnemônica do fato.
Distinguindo abuso real e falso abuso
na prática
Ao estudar sobre o tema de falsos testemunhos, Furniss (1993, apud
BROCKHAUSEN, 2012) utiliza o termo “relato vívido” para descrever a
forma com que a criança deve descrever o abuso, caso de fato tenha
ocorrido.
Assim, o entrevistador deve estar atento ao uso de expressões curtas e
pouco detalhadas, como também a determinadas falas que deixariam
transparecer um conhecimento sobre sexo que não corresponde com a
faixa etária da criança, que poderiam indicar um falso testemunho.
Ainda segundo Brockhausen (2012, p. 209), esse termo é uma forma
apropriada de descrever o relato, “ao dar ênfase ao aspecto da
experiência do abuso, presente na fala, em detrimento da fala sobre um
saber, que pode ser induzido, ensinado e portanto desconexo da
vivência”.
A autora alerta que o avaliador não deve imediatamente deduzir
acontecimentos e significados a partir do relato, e sim apresentar um
“questionamento mais profundo, inclusive dando outros significados,
diferentes do atribuído pela criança” (BROCKHAUSEN, 2012, p. 210).
Assim, entende-se que as falsas denúncias não estão
relacionadas com erros e falhas orgânicas da memória,
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e sim com a interferência do ambiente, de forma
implícita ou explícita, no discurso da criança.
Durante a perícia, torna-se necessário avaliar não só o discurso narrado,
mas também os fenômenos não verbais e implícitos trazidos pelas
partes. Deve-se haver a contextualização do discurso, considerando
diversos fatores, como a correspondência dos afetos com o que foi
narrado, se há mudanças repentinas de comportamentos verbais e não
verbais na apresentação de determinados estímulos e questões, e se há
qualquer evidência de sugestionabilidade, indução e/ou coação que
motive a denúncia.
Com isso, o papel do psicólogo é de compreender as declarações e os
movimentos intersubjetivos e inter-relacionais presentes no discurso da
criança, pois muitas vezes a criança está reproduzindo um sintoma que
corresponde à família, que se encontra em sofrimento (BRAZIL, 2018).
Resumindo
Entende-se que “a palavra da criança não deve ser desqualificada ou
posta em descrédito, ou mesmo silenciada, mas contextualizada e
compreendida como uma produção atravessada por inúmeras forças e
relações de poder” (AMENDOLA, 2009, p. 177).
Portanto, é fundamental que em qualquer caso o psicólogo seja
capacitado para distinguir indícios de uma notícia de abuso sexual real e
notícia de falso abuso sexual.
Tabela: Indícios que diferenciam a falsa notícia da notícia de abuso real.
BRAZIL, 2022, p. 143.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
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A Comissão Técnica de Classificação prevista na Lei de Execução
Penal
Parabéns! A alternativa A está correta.
A Comissão Técnica de Classificação, prevista na Lei de Execução
Penal, tinha a função de averiguar o apenado no início do
cumprimento da pena, pela junta de profissionais, incluindo o
psicólogo, para se certificar sobre a progressão ou regressão de
regime (antes da Lei 10.792/2003): “A Comissão Técnica de
Classificação existente em cada estabelecimento será presidida
pelo Diretor e composta, no mínimo, por 2 chefes de serviço, 1
psiquiatra, 1 psicólogo e 1 assistente social, quando se tratar de
condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo único – nos
demais casos, a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e
será integrada por fiscais do serviço social” (CTC, art. 7º da Lei
7.210/84).
Questão 2
A mais recente forma de intervenção do psicólogo no sistema penal
é a escuta do preso em flagrante antes das audiências de custódia,
no sentido de elaborar relatório que auxilia o juízo criminal na sua
A
tinha a função de averiguar o apenado no início do
cumprimento da pena, para certificar sobre a
progressão ou regressão de regime.
B
Era presidida pelo Diretor e composta por somente 1
psicólogo.
C Atuava de forma separada ao Juízo da Execução.
D Não era integrada por fiscais do serviço social.
E
Atuava somente nos casos de necessidade de
regressão de regime.
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convicção a respeito de manter ou não a prisão. Marque a opção
que melhor descreve esse trabalho:
Parabéns! A alternativa C está correta.
“Lançadas em 2015, as audiências de custódia consistem na rápida
apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em uma audiência
onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou
advogado do preso. O juiz analisa a prisão sob o aspecto da
legalidade e a regularidade do flagrante, da necessidade e da
adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida
A
As audiências de custódia consistem na demorada
e lenta apresentação da pessoa que foi presa a um
juiz, em uma audiência onde só o réu é ouvido.
B
As audiências de custódia consistem na demorada
e lenta apresentação da pessoa que foi presa a um
juiz, em uma audiência onde também são ouvidos
Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado
do preso.
C
Nas audiências de custódia, o juiz analisa a prisão
sob o aspecto da legalidade e a regularidade do
flagrante, da necessidade e da adequação da
continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida
cautelar e qual seria cabível, ou da eventual
concessão de liberdade, com ou sem a imposição
de outras medidas cautelares.
D
Nas audiências de custódia, o juiz analisa a prisão
sob o aspecto da legalidade e a regularidade doflagrante, mas não deve dar atenção a eventuais
ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre
outras irregularidades.
E
A implementação das audiências de custódia não
está prevista em pactos e tratados internacionais de
direitos humanos, existindo somente no Brasil.
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cautelar e qual seria cabível, ou da eventual concessão de liberdade,
com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. A análise
avalia, ainda, eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos,
entre outras irregularidades. A implementação das audiências de
custódia está prevista em pactos e tratados internacionais de
direitos humanos internalizados pelo Brasil, como o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana
de Direitos Humanos. Além disso, a realização das audiências de
custódia foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar, em
2015, a ADI 5240 e a ADPF 347” (CNJ, s. d.).
2 - Psicologia na infância e juventude
Ao �m deste módulo, você será capaz de identi�car os diferentes contextos
e formas de atuação do Psicólogo com crianças e adolescentes na Justiça.
Conceituação e análise
prática
Importância do Estatuto da
Criança e do Adolescente

15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude
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(ECA)
A professora Glícia Brazil aborda neste vídeo a relevância do Estatuto da
Criança e do Adolescente e seu papel na proteção da infância e da
juventude.
A família por trás da falsa denúncia
Tendo em vista o que foi apresentado sobre o papel exercido pelo
psicólogo no Depoimento Especial, ressalta-se a importância de um
olhar amplo também em relação à família que realiza a falsa denúncia, e
os impactos e repercussões emocionais dessa vivência para as crianças
e adolescentes. Muitos pais passam a vida dentro do tribunal tentando
reaver seus filhos, tentando provar seu amor e sua inocência. São
proibidos de conviver com os filhos por decisões judiciais em sede de
plantão ou em sede liminar sem serem ouvidos. São pais que foram
acusados de abusar sexualmente dos filhos e enquanto tentam provar
sua inocência – o que pode durar anos – não conseguem exercer a
paternidade. E mesmo quando conseguem: o tempo passou, o filho
cresceu e hoje acredita que foi abusado, odeia o pai, não pretende mais
vê-lo até porque não considera o pai como pai, aprendeu a viver sem ele.
Filhos órfãos de pais vivos.
Geralmente, ocorre o seguinte:
Se a notícia do
abuso foi falsa
A criança reaproxima-se
afetivamente do genitor
acusado. Em
consequência disso, o
adulto que falsamente
gerou a denúncia perde
o controle e expõe-se de
modo que a prova da
Se a notícia foi de
um abuso real
A criança dá sinais de
que não está bem e
passa a rejeitar o
agressor, facilitando a
prova judicial fidedigna
e por isso mesmo,
protetiva, gerando
intervenções da equipe
técnica do juízo no

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mentira fica mais fácil
de ser produzida.
sentido de orientar a
família e informar ao
juízo eventual incidente
sobre a criança (Varas
de Família, Infância e
Juventude e Criminais).
As notícias de abuso sexual que nunca existiram na realidade estão
entre cenários de discórdia, rancor, tristeza, fim de sonhos, em dramas
típicos da condição humana. Elas só ocorrem na mente de quem quer
destruir o outro, ainda que isso custe a vida do filho. Por mais óbvio que
pareça, há pais e mães que não conseguem pensar que uma falsa
denúncia possa destruir a vida do filho. Não conseguem porque não
pensam no filho. São os perversos que a Medicina e a Psicologia
explicam nominalmente como Transtorno de Personalidade Antissocial.
Falta estrutura técnica adequada para manejar notícias de abuso sexual:
uma mesma notícia passa:
 Pela escola
 Pela delegacia da infância
 Pelo conselho tutelar
 Por organizações não
governamentais (ONGs) diversas
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O que era falso no início, podendo ter surgido de uma fala mal
interpretada da criança, com a via crucis e intervenção de profissionais
que não se comunicam, passa a ser crença absoluta por parte da
criança, família, de profissionais e do Juízo.
Toda criança passa por essas fases. Mente. Inventa. Reinventa. Esse é
um lado da falsa notícia, que pode surgir porque a mãe levou adiante a
fala da criança, a qual relatou que “o papai botou o dedo na perereca e
doeu” quando o pai deu o banho no fim de semana em que criança
esteve com ele, e que teve um divórcio litigioso. Houve um fato: o pai
deu banho, passou a mão na vagina da filha para limpar com sabonete
na área externa e a filha sentiu dor. A criança de fato falou com todas as
letras que o pai teve um gesto que a fez sentir dor. E até aqui, nada
demais. Pais presentes tomam banho com seus filhos, participam da
vida cotidiana e isso tem se tornado cada vez mais rotineiro.
O outro lado da falsa notícia surge do adulto que tem a guarda, que se
manifesta de duas maneiras:
Quando o próprio adulto inventa uma fala para a criança e passa a
repetir para ela uma situação que não ocorreu, de modo que a criança
passe a reproduzir o que ouviu do adulto, como se ela tivesse vivido a
experiência.
 Pelo Instituto Médico Legal (IML)
 Por psicólogos clínicos
particulares
 Por pediatras e equipe técnica do
tribunal, composta de assistente
social e psicólogo
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Quando o adulto distorce a fala da criança e passa a tratar como abuso
sexual e leva adiante a notícia sem antes verificar se tem fundamento
(se foi um meio da criança se expressar, se houve busca de gratificação
sexual por parte do adulto que causou o gesto da dor, se foi um gesto
comum no banho) .
O mecanismo da manipulação é simples: a criança confia no adulto que
cuida dela e a palavra deste tem um grande peso sobre a criança.
Principalmente, se o divórcio foi litigioso e a criança absorveu a lógica
dos pais cônjuges. Resultado: memórias infantis falsas, desprovidas de
afeto – a denominada síndrome das falsas memórias – e afastamento
perpetuado.
Ilustração clínica
Vamos ilustrar com o exemplo de um atendimento, no Depoimento
Especial, de um processo em que já havia laudo na vara de família,
relatando a saudade que a menina sentia do pai quando os pais se
separaram. A menina tinha dez anos de idade, era filha única e ficou sob
a guarda da mãe, e o pai estava sendo acusado de abuso sexual e foi
afastado da filha. A pedido do juiz criminal que estava julgando a
alegação de abuso, a menina foi ouvida em formato de Depoimento
Especial no NUDECA.
NUDECA
Sala de Depoimento Especial de crianças.
Exemplo de sala de Depoimento Especial para crianças no Rio de Janeiro.
Após a utilização da técnica de entrevista, notou-se que a menina estava
com uma fala muito preparada, sem falhas. A memória saudável é
aquela que falha, e a fala da menina muito certinha, linear, foi motivo
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para ligar o sinal amarelo. No entanto, foi necessário observar o
protocolo da técnica do depoimento, que tem fases.
Tem-se pensado muito sobre a questão do
Depoimento Especial em relação aos casos de
alienação parental.
Ao se estudar o caso, notou-se que a criança tinha uma aliança muito
grande com a mãe, um vínculo de apego grande coma mãe, e ela estava
ali muito formatada. Além do mais, a fala da criança relatava que ela
tinha sido abusada em uma casa junto com a avó, madrasta, com as
tias paternas, durante os encontros com o pai nos finais de semana,
com a porta do quarto aberta, a porta do banheiro aberta, todo mundo
vendo? Parecia uma situação estranha de ser razoavelmente aceita
naquele contexto, naquela cultura.
Quando terminou o depoimento em que ela disse que o pai havia feito
aquelas coisas, aquilo tudo que estava no processo, e se anunciou que
havia terminado a entrevista, a menina, que apresentava uma postura
tensa durante todo o depoimento, suspirou e “desmontou”, denotando
grande alívio.
Em seguida, ela foi ficando muito triste, com o olhar muito abatido, e,
após uma pausa para o silêncio, ela perguntou: “você sabe me dizer se
meu pai está de barba?” “ele tá gordo?" “ele veio de moto?”, e outras
perguntas sobre o pai, denotando uma curiosidade sobre essa figura,
uma saudade muito grande. Depois, disse: “o meu pai estragou tudo… o
meu pai mostrou pra minha mãe as fotos de quando a gente se
encontrava, e minha mãe viu no celular o filme que meu pai fazia quando
eu ia me encontrar com ele, da gente se abraçando, se divertindo, e
minha mãe brigou muito comigo, ela até chorou quando viu esses
filmes”.
A criança tinha uma aliança muito grande com a mãe, e vivia um conflito
de lealdade muito grande. Por isso, sentia-se na obrigação de falar
coisas ruins a respeito do pai. Essa criança estava sendo coagida,
proibida de amar esse pai.
Então, foi questionado à menina se ela gostaria de falar sobre isso com
a juíza. Ela pensou um pouco e acabou concordando. Rapidamente,
contactou-se a sala de audiência e a juíza retomou a audiência, religou o
ponto e tudo que havia acontecido foi explicado.
Esse é um dos casos que nos faz compreender o Depoimento Especial
como mais uma forma de escuta. Em alguns casos, ela é a forma mais
importante, a mais útil, a mais eficaz.
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Proteção à criança e ao
adolescente
Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e a proteção integral
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 13 de julho
de 1990, foi um dos principais marcos em relação à garantia dos
direitos das crianças e adolescentes no país, a partir do reconhecimento
deles como sujeitos de direitos, que devem ser tratados com absoluta
prioridade devido ao seu caráter de vulnerabilidade na sociedade.
Art. 3º
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade. (LEI 8.069)
Desse modo, encontra-se descrito no ECA os dispositivos que visam à
proteção integral dessa população, a partir da compreensão de que as
violências sofridas e praticadas por esse grupo estão diretamente
relacionadas com o contexto social de banalização da criminalização e
de tratamento negligente por parte do Estado e da família. Para Minayo
(2006), a proteção integral de crianças e adolescentes tem como
objetivo garantir que esse grupo social não seja infantilizado e
desconsiderado, como também adultizado e responsabilizado
excessivamente, mas sim compreendido a partir de uma visão
independente, que considere seu caráter de desenvolvimento.
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Os artigos 98 a 102 do ECA dispõem sobre as medidas específicas de
proteção que devem ser garantidas pelo Estado, pela família e pela
comunidade. Entre elas, destacam-se algumas questões fundamentais a
serem consideradas pelo sistema de Justiça:
 Todas as crianças e adolescentes têm direito à
privacidade, prezando-se pela intervenção mínima
do estado.
 Ainda em relação à intervenção, deve-se priorizar as
intervenções precoces e adequadas ao fato e ao
contexto específico em que a criança ou
adolescente esteja inserido.
 A proteção dos direitos da criança e do adolescente
deve ser considerada prioridade absoluta em seu
caráter integral. Assim, as intervenções
relacionadas a esse grupo social devem sempre
atender de forma prioritária aos interesses da
criança e dos adolescentes quando há um conflito
em que se encontram presentes diferentes
interesses.
 O estatuto considera que a omissão ou falha em
garantir os direitos e as responsabilidades por
esses três pilares como violação desses direitos.
Entende-se que há uma responsabilidade social –
“responsabilidade primária e solidária do poder
público” (art. 100, item III) – relacionada à atuação
das três esferas de governo na garantia dos direitos
previstos pelo ECA e pela Constituição Federal de
1988. Desse modo, nem a criança, nem o
adolescente podem ser julgados ou culpabilizados
id ã d i l d f lh
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Apesar da existência dessas diretrizes, sabe-se que a vivência de
violência por crianças e adolescentes no Brasil é considerada um dos
maiores problemas sociais já enfrentados. A dificuldade de atuação do
Estado de forma efetiva na garantia dos direitos previstos pelo ECA
reforça a negligência e a omissão em relação à garantia dos direitos,
resultando em uma sociedade onde as crianças e adolescentes são
expostas a diversas formas de violência e abandonadas pelo sistema.
Medidas socioeducativas
Ato infracional análogo a crime e as
medidas socioeducativas
Para muitas crianças e adolescentes que cresceram em situações de
pobreza, voltar-se para a prática de infrações análogas a crimes é uma
forma de assegurar condições mínimas de vida, devido à falha do
Estado, da família e da comunidade em lhes proporcionar essas
condições.
Assim, o adolescente que comete ato infracional tem as seguintes
garantias asseguradas pelo ECA:
Art. 111 [...]
I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,
mediante citação ou meio equivalente;
II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com
vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à
sua defesa;
III. defesa técnica por advogado;
IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na
forma da lei;
V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em
qualquer fase do procedimento.
sem a consideração do contexto social e das falhas
sociais presentes em suas vidas.
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(LEI 8.069)
Desse modo, não se considera a aplicação de penas a infrações
cometidas por esse grupo social, e sim medidas socioeducativas, que
visem ao restabelecimento e à reinserção deles na sociedade.
Art. 112
Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I. advertência;
II. Iobrigação de reparar o dano;
III. prestação de serviços à comunidade;
IV. liberdade assistida;
V. inserção em regime de semiliberdade;
VI. internação em estabelecimento educacional;
VII. {...]
(LEI 8069)
A medida será devidamente escolhida tendo em vista a capacidade de
cumpri-la e as circunstâncias e a gravidade da infração, somente
aplicada quando há existência de provas suficientes da autoria e da
materialidade da infração. Assim, Soares e Mendes apontam para a
importância da atuação da equipe multiprofissional nessa intervenção,principalmente do psicólogo:
[...] deverá trabalhar as dificuldades
do adolescente estabelecendo elos
entre educador, adolescente, a
família, o Juiz e o Ministério Público,
realizando reuniões periódicas de
estudos de caso, fazendo
avaliações, desenvolvendo
atividades de formação, enviando
relatórios de acompanhamento às
autoridades competentes.
(SOARES; MENDES, 2017, p. 130)
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Dessa maneira, as autoras ressaltam que o psicólogo participa da
elaboração das medidas educativas a partir da elaboração de laudos
técnicos e de reuniões com a Comissão Técnica de Classificação (CTC)
e com o Conselho Disciplinar (CD), como formas de garantir ao
adolescente uma escuta especializada, que leve em conta sua história e
seu contexto, buscando a aplicação de medidas socioeducativas
efetivas, e que tragam repercussões positivas para o adolescente.
Ressalta-se a importância da atuação do psicólogo no desenvolvimento
de trabalhos de intervenção social, como a criação de grupos
terapêuticos e de projetos que promovam uma reflexão nos
adolescentes em relação a sua identidade e os seus planos para o
futuro.
Além disso, o trabalho do psicólogo também é necessário após o
cumprimento da medida socioeducativa, principalmente nos casos de
internação, com o objetivo de “amenizar os efeitos que o ambiente
possa causar no interno, local punitivo que é a instituição” (SOARES;
MENDES, 2017, p. 133).
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, as garantias
asseguradas a esse grupo são
A
pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
infracional, mediante citação ou meio equivalente.
B
desigualdade na relação processual, podendo
confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir
todas as provas necessárias à sua defesa.
C defesa sem direito a advogado.
D
assistência judiciária particular a somente aqueles
que poderão pagá-la.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
O art. 111 do ECA elenca as seguintes garantias: “I - pleno e formal
conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou
meio equivalente; II - igualdade na relação processual, podendo
confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as
provas necessárias à sua defesa; III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na
forma da lei; V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
competente; VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
responsável em qualquer fase do procedimento.”.
Questão 2
Marque a opção que corresponda com uma medida socioeducativa
disposta no ECA:
Parabéns! A alternativa C está correta.
Segundo o art. 112 do ECA, são aplicáveis as seguintes medidas:
advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à
E
direito de solicitar a presença de seus pais ou
responsável somente no final do procedimento.
A Internação no sistema prisional.
B Prisão domiciliar.
C Prestação de serviços à comunidade.
D Inadvertência.
E Obrigação de reparar o dano moral coletivo.
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comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de
semiliberdade; internação em estabelecimento educacional.
Considerações �nais
A Psicologia como ciência que estuda o comportamento humano tem
se mostrado de grande utilidade na área do Direito Penal, seja auxiliando
o Juízo Criminal na escuta de presos em flagrante nas Audiências de
Custódia, seja na escuta do apenado e elaboração de parecer sobre
plano individualizado da pena na esfera da execução.
Ainda, o perito psicólogo pode auxiliar o Juízo Criminal com a sua
expertise, elaborando avaliação psicológica nas hipóteses de violência
sexual contra a criança e o adolescente a fim de indicar a fidedignidade
da fala da suposta vítima, tendo em vista que na grande maioria dos
crimes sexuais não há vestígio, o que faz com que a palavra da criança
tenha grande importância na produção da prova na esfera penal.
Na esfera criminal, existe também a possibilidade de haver a
capacitação de um psicólogo no método de entrevista cognitiva
forense, a fim de que este auxilie o Juízo na tomada do depoimento da
criança ou adolescente vítima ou testemunha da violência quando a
violência configurar crime.
Nas varas de infância e juventude com atribuição criminal, também há a
intervenção de psicólogo do quadro do Tribunal de Justiça que escuta o
adolescente infrator e elabora relatório, que auxilia o Juízo na formação
da convicção no momento da aplicação das medidas socioeducativas
previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, sempre que houver
prática de ato infracional análogo a crime.
Em todo e qualquer lugar, o psicólogo deve agir com ética, estar
sintonizado com o paradigma moderno do direito penal da vítima, lutar
pela não violação dos direitos humanos e evitar ser instrumento de
revitimização das vítimas por ele atendidas. Cresce a cada dia mais o
reconhecimento da importância da Psicologia para entendimento dos
fatos jurídicos.
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Podcast
Para encerrar, serão analisados os principais aspectos da Psicologia no
Direito Penal, na Infância e na Juventude

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Confia as indicações que separamos especialmente para você!
Leia os livros:
Confusão de língua entre os adultos e a criança, de Sándor
Ferenczi, publicado pela Martins Fontes, em 2011.
Alienação parental: importância, detecção, aspectos legais e
processuais, de Rolf Madaleno e Ana Carolina Carpes Madaleno,
publicado pela Forense, em 2021.
Leia os artigos:
Vida e morte da palavra, de Flávio Carvalho Ferraz, no livro Ecos do
Silêncio: reverberações do traumatismo sexual, com organização
de Cassandra Pereira França, publicado pela Blucher, em 2017.
O abuso do direito no direito de família, de Rolf Madaleno,
publicado na Revista IBDFAM: família e sucessões, n. 34, p. 9-40,
set./out. 2019.
Referências
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