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Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude Prof.ª Glicia Barbosa de Mattos Brazil false Descrição O trabalho do psicólogo na esfera penal e na atuação com crianças, adolescentes e famílias nas varas criminais. Propósito Ampliar o conhecimento acerca dos contextos de atuação do psicólogo na Justiça, atuando em presídios e na escuta de crianças e adolescentes vítimas, por meio do Depoimento Especial. Preparação Antes de começar este conteúdo, tenha em mãos a Lei 10.792 de 2003, a Lei nº 7.210 de 1984, e a Lei 13.431 de 2017. Objetivos 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 1/33 Módulo 1 Psicologia e Direito Penal Analisar as formas de atuação do psicólogo no sistema penal. Módulo 2 Psicologia na infância e juventude Identificar os diferentes contextos e formas de atuação do psicólogo com crianças e adolescentes na Justiça. Este conteúdo descreve o papel do psicólogo no âmbito do Direito Penal, ressaltando a importância de sua atuação na garantia dos direitos. Para isso, apresenta-se um contexto histórico da atuação dos psicólogos nos presídios, que faziam parte das Comissões Técnicas de Classificação, e atualmente nas Audiências de Custódia. Em seguida, abordaremos os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, dando ênfase ao trabalho com esse grupo social. Discutiremos também o caminho percorrido por crianças e adolescentes testemunhas ou vítimas de violência, e a importância da escuta especializada como forma de promover uma escuta ética e não revitimizada. Ressaltamos a importância do psicólogo nos dois contextos, principalmente como uma ferramenta de garantia dos direitos e como figura promotora de intervenções sociais. Introdução 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 2/33 1 - Psicologia e Direito Penal Ao �m deste módulo, você será capaz de analisar as formas de atuação do psicólogo no sistema penal. Introdução da Psicologia na esfera penal Psicologia e Direito Penal A professora Glícia Brazil traz um panorama geral do papel do psicólogo no Direito Penal. Primórdios da Psicologia na esfera penal A atuação do psicólogo no Direito Penal surge em paralelo a uma mudança de paradigma relacionada ao senso de justiça e de direitos humanos, quando o Direito Penal passou a tratar dos fatos criminosos, 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 3/33 mas com a preocupação com o autor do fato, para que houvesse um mecanismo de controle a respeito dos direitos, da progressão de regime ou da necessidade de regressão de regime. A Comissão Técnica de Classificação (CTC), prevista na Lei de Execução Penal, tinha a função de averiguar o apenado no início do cumprimento da pena, por uma junta de profissionais, incluindo o psicólogo, para certificar sobre a progressão ou regressão de regime (antes da Lei nº 10.792/2003). A lei retirou da Comissão Técnica de Classificação o papel de acompanhamento da execução penal, deixando a cargo da Comissão o programa individualizador da pena privativa de liberdade do condenado ou preso provisório. A psicologia jurídica surgiu no sistema penitenciário brasileiro com a atuação do psicólogo na CTC: Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação existente em cada estabelecimento será presidida pelo Diretor e composta, no mínimo, por 2 chefes de serviço, 1 psiquiatra, 1 psicólogo e 1 assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo único - nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do serviço social. (LEI 7.210/84) A mais recente forma de intervenção do psicólogo no sistema penal é na escuta do preso em flagrante antes das audiências de custódia, no sentido de elaborar relatório que auxilia o juízo criminal na sua convicção a respeito de manter ou não a prisão: Lançadas em 2015, as audiências de custódia consistem na rápida apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em uma audiência onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado do preso. O juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade do flagrante, da necessidade e da adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida cautelar e qual seria cabível, ou da 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 4/33 eventual concessão de liberdade, com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. A análise avalia, ainda, eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades. A implementação das audiências de custódia está prevista em pactos e tratados internacionais de direitos humanos internalizados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana de Direitos Humanos. Além disso, a realização das audiências de custódia foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar, em 2015, a ADI 5240 e a ADPF 347. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, s. d.) Desde a entrada formal do psicólogo no Poder Judiciário, o Juízo Criminal dispõe de auxílio técnico de peritos psicólogos dos quadros dos tribunais que realizam avaliação psicológica da criança ou adolescente vítima do crime de estupro de vulnerável. Nesse caso, a perícia psicológica rege-se pelo art. 159 do Código de Processo Civil e encontra fundamento constitucional no art. 5º da Constituição Federativa da república do Brasil (CRFB): Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988) Desse modo, entende-se que a atuação do psicólogo no contexto da Justiça pode assumir diversas formas, sendo atravessada pelo trabalho em presídios nas audiências de custódia como também nos casos de escuta das vítimas, conforme ocorre em denúncias de abuso sexual infantil, no tratamento dado à criança ou ao adolescente. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 5/33 Criança vítima de abuso na Justiça Abuso sexual infantil e o caminho da criança até o Tribunal de Justiça Dados coletados pela Organização Mundial da Saúde em 96 países mostraram que mais de 50% das crianças entre 2 e 17 anos de idade sofreram violência psicológica, física ou sexual no ano de 2015 (WHO, 2016). Ao observarmos o cenário brasileiro, constata-se que há um baixo número de famílias que buscam ajuda psicológica e realizam a denúncia. Uma hipótese que tenta explicar esse fenômeno é a falta de integração das redes de apoio e de recursos institucionais, que faz com que “a vítima, diante do dilema de denunciar e enfrentar as consequências do seu ato, prefere silenciar ou mesmo retirar a denúncia já feita, diante da pressão e da falta de apoio familiar, deixando os profissionais envolvidos desapontados e impotentes diante da situação” (ARAÚJO, 2002, p. 7). Contudo, compreendemos hoje em dia que a denúncia funciona como uma forma de romper com esse ciclo e pôr fim na dinâmica de violência, agindo como um limite externo que viabiliza a adaptação da família para um novo arranjo. Assim, a denúncia exerce uma função social, facilitando a adesão das vítimas à ajuda terapêutica. Entende-se que, quando há a revelação do ocorrido, as famílias e crianças vítimas de violência poderão aderir ao tratamento terapêutico, aliviando, de forma sucessiva, o sofrimentocausado por essa vivência. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 6/33 Amendola (2009, p. 75) aponta três portas de entrada para a esfera judicial de notificação e resolução da queixa de abuso sexual de crianças e adolescentes, sendo elas: Do �uxo de atendimento Do �uxo de defesa dos direitos Do �uxo da responsabilização Entre elas, destacam-se os conselhos tutelares, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e o Ministério Público, instituições que têm como principal função realizar atendimento e inserir as vítimas em uma rede de apoio. A partir da notificação em uma dessas esferas, a criança, vítima do abuso, deve realizar uma entrevista de revelação, em que a vivência do abuso é repassada, contada e revivida. Essa entrevista tem como objetivo “criar um ambiente facilitador que permita à criança fazer conhecer o que era secreto, ou seja, revelar o abuso sexual a partir da produção discursiva, lúdica e gráfica, sem desenvolver sentimentos de culpa ou vergonha” (AMENDOLA, 2009, p. 87). Em geral, essa entrevista de revelação ocorre nas delegacias, onde um profissional capacitado escuta o relato da criança e da família, criando um inquérito policial. Na revelação, não há oportunidade de contraditório pelo réu, e de acordo com o que foi relatado pela vítima, o Ministério Público decide ou não oferecer a denúncia, sendo o autor da ação penal nos casos em que a denúncia é realizada. Essa denúncia feita em delegacia se torna uma ação penal quando chega ao Tribunal de Justiça, e é encaminhada a uma vara criminal. Segundo a Lei 13.431/2017, o juiz ouvirá a criança vítima em forma de Depoimento Especial, no qual a criança irá narrar os fatos mais uma vez, mas seguindo as normas e diretrizes propostas por essa forma de escuta e testemunho descrita a seguir. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 7/33 Depoimento Especial - Lei 13.431/2017 O Depoimento Especial é uma forma de escuta da criança ou adolescente vítima ou testemunha de crime, pelo Poder Judiciário, que tem como objetivo preservá-la da experiência de realizar o testemunho na presença do agressor, evitando a revitimização. Como apontado pelo artigo 8º da Lei 13.431/2017, a escuta no formato de Depoimento Especial é realizada somente pela criança ou adolescente vítima ou testemunha de crime, na qual não é feito nenhum tipo de laudo, por ocorrer em tempo real da audiência. Assim, a criança ou adolescente vítima é entrevistada por um técnico capacitado, e o depoimento é transmitido de forma síncrona para a sala de audiências, permitindo a impressão pessoal do Juízo. As premissas dessa forma de escuta têm como diretriz a escuta da criança vítima ou testemunha de violência por um técnico capacitado, a qual é transmitida em tempo real para a sala de audiência, de forma que a criança é preservada do contato direto com o acusado. Além do mais, a transmissão síncrona do depoimento permite a produção de prova imediata, como também a impressão do Juiz e do Ministério Público e do contraditório em tempo 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 8/33 real, evitando assim a revitimização da criança e, por conseguinte, prevenindo a violência institucional. (BRAZIL, 2022, p. 37) Desse modo, diferente da entrevista de revelação, no Depoimento Especial feito no Tribunal de Justiça, é garantido o direito do contraditório do réu, a partir do princípio de ampla defesa. Portanto, entende-se que o Depoimento Especial é uma das maneiras mais úteis de escuta em caso de violência real, em que é feita a prova oral dos fatos de forma ágil e impactante, possibilitando a realização de medidas protetivas mais eficazes. Tendo em vista a complexidade dessa escuta, é fundamental que os técnicos capacitados operem a partir de diretrizes que garantam uma escuta eficaz sem que seja praticada a violência institucional na criança ou no adolescente vítima ou testemunha. Assim, utiliza-se a técnica cognitiva como uma forma de neutralizar as variáveis sentimentais que possam interferir nos fatos. Para isso, o técnico ativa a memória de essência (experiências positivas ou negativas que a criança viveu), para que ela se lembre das memórias literais, que contêm os detalhes e os fatos. Portanto, o trabalho feito no Depoimento Especial é de realizar uma prova “recortada” do fato, a partir do testemunho infantil, respeitando a capacidade emocional da criança ou do adolescente em realizar o testemunho, como também a sua idade e seu desenvolvimento. Falso abuso 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 9/33 Falsa denúncia de abuso sexual As falsas denúncias têm se tornado cada vez mais objeto de estudo de profissionais das áreas do Direito e da Psicologia. Em pesquisa realizada por Amendola (2009), a autora relata que a maioria dos entrevistados afirmaram que há uma visível correlação entre as denúncias de abuso sexual, maus-tratos e negligência com os casos de separação conjugal litigiosos, em que há disputa de guarda, brigas, desentendimentos e resistência em firmar acordos de visitação entre os genitores. Assim, compreende-se que as falsas denúncias podem ocorrer em detrimento da internalização da lógica adversarial do ambiente familiar, durante o divórcio e pela influência das figuras parentais. Brazil (2018, p. 115) explica que “a criança, mesmo pequena, é capaz de perceber o conflito dos pais e daí passa a nutrir crenças a respeito do conflito – meus pais são adversários, meu pai é mais forte que minha mãe, meus pais brigam por minha causa, [...] daí por diante”. Existe, portanto, na criança, uma intenção de proteger um adulto que a ela acredite estar ameaçado ou agradar um adulto que ela vê como ameaça. Tais percepções surgem a partir dos vínculos de lealdade existentes na família e da capacidade de percepção da criança em desenvolvimento. Outra questão relacionada com as falsas denúncias e a influência parental são as distorções mnêmicas. Conforme estudos realizados por Stein (2010), as falsas memórias são exatamente essas informações errôneas, que influenciam no conteúdo rememorado, a partir de influências internas ou externas. As falsas memórias sugeridas são resultado da aceitação de informação externa, podendo ser de forma acidental ou deliberadas pelo ambiente. Diversos estudos sobre as falsas memórias destacam a sugestionabilidade como um dos principais fatores relacionados a erros mnêmicos e a falsos testemunhos. Entendemos por sugestionabilidade “a tendência de um indivíduo em incorporar informações distorcidas, 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 10/33 oriundas de fontes externas, às suas recordações pessoais, sendo que essas informações podem ser apresentadas de forma intencional ou acidental” (STEIN, 2010, p. 167). Com isso, podemos compreender a sugestionabilidade como resultado de processos cognitivos internos e/ou processos sociais externos, que influenciam na recuperação mnêmica. Estudos demonstraram que a sugestionabilidade da memória em crianças é resultado da interação entre fatores relacionados às características da própria criança e fatores relacionados ao contexto da entrevista. Como consequência, há uma facilidade na transmissão de um determinado ponto de vista de um adulto para uma criança, por meio da formulação de atos sugestivos. Brito, Ayres e Amen (2006) debatem acerca da aplicação da técnica de escuta no Judiciário, pois questiona-se a validade e fidedignidadeda escuta de crianças nos casos de separação conjugal. Isso acontece porque foi observado que muitas crianças estabelecem alianças com um ou mais membros da família. É comum, portanto, que “no caso de fortes alianças estabelecidas com o guardião, a criança, por vezes, está tão aprisionada a este que sua escolha ou opinião apenas irá espelhar tal sensação” (BRITO; AYRES; AMEN, 2006, p. 71). A mentira e a distorção na hora do relato são formas de defesa, seja de uma outra pessoa ou dela mesma, frente às diversas pressões psicológicas impostas pelo contexto. Com a regulamentação e aplicação do Depoimento Especial nos últimos cinco anos, surgiram essas questões e preocupações pessoais acerca dessa forma de escuta em determinados casos, principalmente levando em conta a alienação parental e a falta de capacitação de técnicos e demais membros do sistema. Nos casos de coação moral contra a criança e adolescente vítima ou testemunha, percebe-se que a fala da criança não corresponde à vivência decorrente de um trauma, mas a escuta inadequada pode se tornar um trauma em si. Segundo os estudos sobre a memória realizados até então (STEIN, 2010), sabemos que existem diversos vícios de memória que podem interferir na fidedignidade do testemunho de crianças vítimas ou testemunhas de violência. Os vícios de memórias de ordem subjetivas, descritos por Schacter (2003), como a distorção, a repetição e a 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 11/33 sugestionabilidade ocorrem a partir da noção de que a memória humana é influenciada por variáveis internas e externas, podendo sofrer diversas modificações devido a fatores como: a qualidade da vivência experienciada, a idade do sujeito, as emoções decorrentes da experiência, entre outras interferências que influenciam na recuperação mnemônica do fato. Distinguindo abuso real e falso abuso na prática Ao estudar sobre o tema de falsos testemunhos, Furniss (1993, apud BROCKHAUSEN, 2012) utiliza o termo “relato vívido” para descrever a forma com que a criança deve descrever o abuso, caso de fato tenha ocorrido. Assim, o entrevistador deve estar atento ao uso de expressões curtas e pouco detalhadas, como também a determinadas falas que deixariam transparecer um conhecimento sobre sexo que não corresponde com a faixa etária da criança, que poderiam indicar um falso testemunho. Ainda segundo Brockhausen (2012, p. 209), esse termo é uma forma apropriada de descrever o relato, “ao dar ênfase ao aspecto da experiência do abuso, presente na fala, em detrimento da fala sobre um saber, que pode ser induzido, ensinado e portanto desconexo da vivência”. A autora alerta que o avaliador não deve imediatamente deduzir acontecimentos e significados a partir do relato, e sim apresentar um “questionamento mais profundo, inclusive dando outros significados, diferentes do atribuído pela criança” (BROCKHAUSEN, 2012, p. 210). Assim, entende-se que as falsas denúncias não estão relacionadas com erros e falhas orgânicas da memória, 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 12/33 e sim com a interferência do ambiente, de forma implícita ou explícita, no discurso da criança. Durante a perícia, torna-se necessário avaliar não só o discurso narrado, mas também os fenômenos não verbais e implícitos trazidos pelas partes. Deve-se haver a contextualização do discurso, considerando diversos fatores, como a correspondência dos afetos com o que foi narrado, se há mudanças repentinas de comportamentos verbais e não verbais na apresentação de determinados estímulos e questões, e se há qualquer evidência de sugestionabilidade, indução e/ou coação que motive a denúncia. Com isso, o papel do psicólogo é de compreender as declarações e os movimentos intersubjetivos e inter-relacionais presentes no discurso da criança, pois muitas vezes a criança está reproduzindo um sintoma que corresponde à família, que se encontra em sofrimento (BRAZIL, 2018). Resumindo Entende-se que “a palavra da criança não deve ser desqualificada ou posta em descrédito, ou mesmo silenciada, mas contextualizada e compreendida como uma produção atravessada por inúmeras forças e relações de poder” (AMENDOLA, 2009, p. 177). Portanto, é fundamental que em qualquer caso o psicólogo seja capacitado para distinguir indícios de uma notícia de abuso sexual real e notícia de falso abuso sexual. Tabela: Indícios que diferenciam a falsa notícia da notícia de abuso real. BRAZIL, 2022, p. 143. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 13/33 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 14/33 A Comissão Técnica de Classificação prevista na Lei de Execução Penal Parabéns! A alternativa A está correta. A Comissão Técnica de Classificação, prevista na Lei de Execução Penal, tinha a função de averiguar o apenado no início do cumprimento da pena, pela junta de profissionais, incluindo o psicólogo, para se certificar sobre a progressão ou regressão de regime (antes da Lei 10.792/2003): “A Comissão Técnica de Classificação existente em cada estabelecimento será presidida pelo Diretor e composta, no mínimo, por 2 chefes de serviço, 1 psiquiatra, 1 psicólogo e 1 assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo único – nos demais casos, a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do serviço social” (CTC, art. 7º da Lei 7.210/84). Questão 2 A mais recente forma de intervenção do psicólogo no sistema penal é a escuta do preso em flagrante antes das audiências de custódia, no sentido de elaborar relatório que auxilia o juízo criminal na sua A tinha a função de averiguar o apenado no início do cumprimento da pena, para certificar sobre a progressão ou regressão de regime. B Era presidida pelo Diretor e composta por somente 1 psicólogo. C Atuava de forma separada ao Juízo da Execução. D Não era integrada por fiscais do serviço social. E Atuava somente nos casos de necessidade de regressão de regime. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 15/33 convicção a respeito de manter ou não a prisão. Marque a opção que melhor descreve esse trabalho: Parabéns! A alternativa C está correta. “Lançadas em 2015, as audiências de custódia consistem na rápida apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em uma audiência onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado do preso. O juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade do flagrante, da necessidade e da adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida A As audiências de custódia consistem na demorada e lenta apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em uma audiência onde só o réu é ouvido. B As audiências de custódia consistem na demorada e lenta apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em uma audiência onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado do preso. C Nas audiências de custódia, o juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade do flagrante, da necessidade e da adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida cautelar e qual seria cabível, ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. D Nas audiências de custódia, o juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade doflagrante, mas não deve dar atenção a eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades. E A implementação das audiências de custódia não está prevista em pactos e tratados internacionais de direitos humanos, existindo somente no Brasil. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 16/33 cautelar e qual seria cabível, ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. A análise avalia, ainda, eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades. A implementação das audiências de custódia está prevista em pactos e tratados internacionais de direitos humanos internalizados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana de Direitos Humanos. Além disso, a realização das audiências de custódia foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar, em 2015, a ADI 5240 e a ADPF 347” (CNJ, s. d.). 2 - Psicologia na infância e juventude Ao �m deste módulo, você será capaz de identi�car os diferentes contextos e formas de atuação do Psicólogo com crianças e adolescentes na Justiça. Conceituação e análise prática Importância do Estatuto da Criança e do Adolescente 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 17/33 (ECA) A professora Glícia Brazil aborda neste vídeo a relevância do Estatuto da Criança e do Adolescente e seu papel na proteção da infância e da juventude. A família por trás da falsa denúncia Tendo em vista o que foi apresentado sobre o papel exercido pelo psicólogo no Depoimento Especial, ressalta-se a importância de um olhar amplo também em relação à família que realiza a falsa denúncia, e os impactos e repercussões emocionais dessa vivência para as crianças e adolescentes. Muitos pais passam a vida dentro do tribunal tentando reaver seus filhos, tentando provar seu amor e sua inocência. São proibidos de conviver com os filhos por decisões judiciais em sede de plantão ou em sede liminar sem serem ouvidos. São pais que foram acusados de abusar sexualmente dos filhos e enquanto tentam provar sua inocência – o que pode durar anos – não conseguem exercer a paternidade. E mesmo quando conseguem: o tempo passou, o filho cresceu e hoje acredita que foi abusado, odeia o pai, não pretende mais vê-lo até porque não considera o pai como pai, aprendeu a viver sem ele. Filhos órfãos de pais vivos. Geralmente, ocorre o seguinte: Se a notícia do abuso foi falsa A criança reaproxima-se afetivamente do genitor acusado. Em consequência disso, o adulto que falsamente gerou a denúncia perde o controle e expõe-se de modo que a prova da Se a notícia foi de um abuso real A criança dá sinais de que não está bem e passa a rejeitar o agressor, facilitando a prova judicial fidedigna e por isso mesmo, protetiva, gerando intervenções da equipe técnica do juízo no 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 18/33 mentira fica mais fácil de ser produzida. sentido de orientar a família e informar ao juízo eventual incidente sobre a criança (Varas de Família, Infância e Juventude e Criminais). As notícias de abuso sexual que nunca existiram na realidade estão entre cenários de discórdia, rancor, tristeza, fim de sonhos, em dramas típicos da condição humana. Elas só ocorrem na mente de quem quer destruir o outro, ainda que isso custe a vida do filho. Por mais óbvio que pareça, há pais e mães que não conseguem pensar que uma falsa denúncia possa destruir a vida do filho. Não conseguem porque não pensam no filho. São os perversos que a Medicina e a Psicologia explicam nominalmente como Transtorno de Personalidade Antissocial. Falta estrutura técnica adequada para manejar notícias de abuso sexual: uma mesma notícia passa: Pela escola Pela delegacia da infância Pelo conselho tutelar Por organizações não governamentais (ONGs) diversas 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 19/33 O que era falso no início, podendo ter surgido de uma fala mal interpretada da criança, com a via crucis e intervenção de profissionais que não se comunicam, passa a ser crença absoluta por parte da criança, família, de profissionais e do Juízo. Toda criança passa por essas fases. Mente. Inventa. Reinventa. Esse é um lado da falsa notícia, que pode surgir porque a mãe levou adiante a fala da criança, a qual relatou que “o papai botou o dedo na perereca e doeu” quando o pai deu o banho no fim de semana em que criança esteve com ele, e que teve um divórcio litigioso. Houve um fato: o pai deu banho, passou a mão na vagina da filha para limpar com sabonete na área externa e a filha sentiu dor. A criança de fato falou com todas as letras que o pai teve um gesto que a fez sentir dor. E até aqui, nada demais. Pais presentes tomam banho com seus filhos, participam da vida cotidiana e isso tem se tornado cada vez mais rotineiro. O outro lado da falsa notícia surge do adulto que tem a guarda, que se manifesta de duas maneiras: Quando o próprio adulto inventa uma fala para a criança e passa a repetir para ela uma situação que não ocorreu, de modo que a criança passe a reproduzir o que ouviu do adulto, como se ela tivesse vivido a experiência. Pelo Instituto Médico Legal (IML) Por psicólogos clínicos particulares Por pediatras e equipe técnica do tribunal, composta de assistente social e psicólogo 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 20/33 Quando o adulto distorce a fala da criança e passa a tratar como abuso sexual e leva adiante a notícia sem antes verificar se tem fundamento (se foi um meio da criança se expressar, se houve busca de gratificação sexual por parte do adulto que causou o gesto da dor, se foi um gesto comum no banho) . O mecanismo da manipulação é simples: a criança confia no adulto que cuida dela e a palavra deste tem um grande peso sobre a criança. Principalmente, se o divórcio foi litigioso e a criança absorveu a lógica dos pais cônjuges. Resultado: memórias infantis falsas, desprovidas de afeto – a denominada síndrome das falsas memórias – e afastamento perpetuado. Ilustração clínica Vamos ilustrar com o exemplo de um atendimento, no Depoimento Especial, de um processo em que já havia laudo na vara de família, relatando a saudade que a menina sentia do pai quando os pais se separaram. A menina tinha dez anos de idade, era filha única e ficou sob a guarda da mãe, e o pai estava sendo acusado de abuso sexual e foi afastado da filha. A pedido do juiz criminal que estava julgando a alegação de abuso, a menina foi ouvida em formato de Depoimento Especial no NUDECA. NUDECA Sala de Depoimento Especial de crianças. Exemplo de sala de Depoimento Especial para crianças no Rio de Janeiro. Após a utilização da técnica de entrevista, notou-se que a menina estava com uma fala muito preparada, sem falhas. A memória saudável é aquela que falha, e a fala da menina muito certinha, linear, foi motivo 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 21/33 para ligar o sinal amarelo. No entanto, foi necessário observar o protocolo da técnica do depoimento, que tem fases. Tem-se pensado muito sobre a questão do Depoimento Especial em relação aos casos de alienação parental. Ao se estudar o caso, notou-se que a criança tinha uma aliança muito grande com a mãe, um vínculo de apego grande coma mãe, e ela estava ali muito formatada. Além do mais, a fala da criança relatava que ela tinha sido abusada em uma casa junto com a avó, madrasta, com as tias paternas, durante os encontros com o pai nos finais de semana, com a porta do quarto aberta, a porta do banheiro aberta, todo mundo vendo? Parecia uma situação estranha de ser razoavelmente aceita naquele contexto, naquela cultura. Quando terminou o depoimento em que ela disse que o pai havia feito aquelas coisas, aquilo tudo que estava no processo, e se anunciou que havia terminado a entrevista, a menina, que apresentava uma postura tensa durante todo o depoimento, suspirou e “desmontou”, denotando grande alívio. Em seguida, ela foi ficando muito triste, com o olhar muito abatido, e, após uma pausa para o silêncio, ela perguntou: “você sabe me dizer se meu pai está de barba?” “ele tá gordo?" “ele veio de moto?”, e outras perguntas sobre o pai, denotando uma curiosidade sobre essa figura, uma saudade muito grande. Depois, disse: “o meu pai estragou tudo… o meu pai mostrou pra minha mãe as fotos de quando a gente se encontrava, e minha mãe viu no celular o filme que meu pai fazia quando eu ia me encontrar com ele, da gente se abraçando, se divertindo, e minha mãe brigou muito comigo, ela até chorou quando viu esses filmes”. A criança tinha uma aliança muito grande com a mãe, e vivia um conflito de lealdade muito grande. Por isso, sentia-se na obrigação de falar coisas ruins a respeito do pai. Essa criança estava sendo coagida, proibida de amar esse pai. Então, foi questionado à menina se ela gostaria de falar sobre isso com a juíza. Ela pensou um pouco e acabou concordando. Rapidamente, contactou-se a sala de audiência e a juíza retomou a audiência, religou o ponto e tudo que havia acontecido foi explicado. Esse é um dos casos que nos faz compreender o Depoimento Especial como mais uma forma de escuta. Em alguns casos, ela é a forma mais importante, a mais útil, a mais eficaz. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 22/33 Proteção à criança e ao adolescente Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a proteção integral O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, foi um dos principais marcos em relação à garantia dos direitos das crianças e adolescentes no país, a partir do reconhecimento deles como sujeitos de direitos, que devem ser tratados com absoluta prioridade devido ao seu caráter de vulnerabilidade na sociedade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (LEI 8.069) Desse modo, encontra-se descrito no ECA os dispositivos que visam à proteção integral dessa população, a partir da compreensão de que as violências sofridas e praticadas por esse grupo estão diretamente relacionadas com o contexto social de banalização da criminalização e de tratamento negligente por parte do Estado e da família. Para Minayo (2006), a proteção integral de crianças e adolescentes tem como objetivo garantir que esse grupo social não seja infantilizado e desconsiderado, como também adultizado e responsabilizado excessivamente, mas sim compreendido a partir de uma visão independente, que considere seu caráter de desenvolvimento. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 23/33 Os artigos 98 a 102 do ECA dispõem sobre as medidas específicas de proteção que devem ser garantidas pelo Estado, pela família e pela comunidade. Entre elas, destacam-se algumas questões fundamentais a serem consideradas pelo sistema de Justiça: Todas as crianças e adolescentes têm direito à privacidade, prezando-se pela intervenção mínima do estado. Ainda em relação à intervenção, deve-se priorizar as intervenções precoces e adequadas ao fato e ao contexto específico em que a criança ou adolescente esteja inserido. A proteção dos direitos da criança e do adolescente deve ser considerada prioridade absoluta em seu caráter integral. Assim, as intervenções relacionadas a esse grupo social devem sempre atender de forma prioritária aos interesses da criança e dos adolescentes quando há um conflito em que se encontram presentes diferentes interesses. O estatuto considera que a omissão ou falha em garantir os direitos e as responsabilidades por esses três pilares como violação desses direitos. Entende-se que há uma responsabilidade social – “responsabilidade primária e solidária do poder público” (art. 100, item III) – relacionada à atuação das três esferas de governo na garantia dos direitos previstos pelo ECA e pela Constituição Federal de 1988. Desse modo, nem a criança, nem o adolescente podem ser julgados ou culpabilizados id ã d i l d f lh 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 24/33 Apesar da existência dessas diretrizes, sabe-se que a vivência de violência por crianças e adolescentes no Brasil é considerada um dos maiores problemas sociais já enfrentados. A dificuldade de atuação do Estado de forma efetiva na garantia dos direitos previstos pelo ECA reforça a negligência e a omissão em relação à garantia dos direitos, resultando em uma sociedade onde as crianças e adolescentes são expostas a diversas formas de violência e abandonadas pelo sistema. Medidas socioeducativas Ato infracional análogo a crime e as medidas socioeducativas Para muitas crianças e adolescentes que cresceram em situações de pobreza, voltar-se para a prática de infrações análogas a crimes é uma forma de assegurar condições mínimas de vida, devido à falha do Estado, da família e da comunidade em lhes proporcionar essas condições. Assim, o adolescente que comete ato infracional tem as seguintes garantias asseguradas pelo ECA: Art. 111 [...] I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; III. defesa técnica por advogado; IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. sem a consideração do contexto social e das falhas sociais presentes em suas vidas. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 25/33 (LEI 8.069) Desse modo, não se considera a aplicação de penas a infrações cometidas por esse grupo social, e sim medidas socioeducativas, que visem ao restabelecimento e à reinserção deles na sociedade. Art. 112 Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I. advertência; II. Iobrigação de reparar o dano; III. prestação de serviços à comunidade; IV. liberdade assistida; V. inserção em regime de semiliberdade; VI. internação em estabelecimento educacional; VII. {...] (LEI 8069) A medida será devidamente escolhida tendo em vista a capacidade de cumpri-la e as circunstâncias e a gravidade da infração, somente aplicada quando há existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração. Assim, Soares e Mendes apontam para a importância da atuação da equipe multiprofissional nessa intervenção,principalmente do psicólogo: [...] deverá trabalhar as dificuldades do adolescente estabelecendo elos entre educador, adolescente, a família, o Juiz e o Ministério Público, realizando reuniões periódicas de estudos de caso, fazendo avaliações, desenvolvendo atividades de formação, enviando relatórios de acompanhamento às autoridades competentes. (SOARES; MENDES, 2017, p. 130) 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 26/33 Dessa maneira, as autoras ressaltam que o psicólogo participa da elaboração das medidas educativas a partir da elaboração de laudos técnicos e de reuniões com a Comissão Técnica de Classificação (CTC) e com o Conselho Disciplinar (CD), como formas de garantir ao adolescente uma escuta especializada, que leve em conta sua história e seu contexto, buscando a aplicação de medidas socioeducativas efetivas, e que tragam repercussões positivas para o adolescente. Ressalta-se a importância da atuação do psicólogo no desenvolvimento de trabalhos de intervenção social, como a criação de grupos terapêuticos e de projetos que promovam uma reflexão nos adolescentes em relação a sua identidade e os seus planos para o futuro. Além disso, o trabalho do psicólogo também é necessário após o cumprimento da medida socioeducativa, principalmente nos casos de internação, com o objetivo de “amenizar os efeitos que o ambiente possa causar no interno, local punitivo que é a instituição” (SOARES; MENDES, 2017, p. 133). 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 27/33 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, as garantias asseguradas a esse grupo são A pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente. B desigualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa. C defesa sem direito a advogado. D assistência judiciária particular a somente aqueles que poderão pagá-la. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 28/33 Parabéns! A alternativa A está correta. O art. 111 do ECA elenca as seguintes garantias: “I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; III - defesa técnica por advogado; IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.”. Questão 2 Marque a opção que corresponda com uma medida socioeducativa disposta no ECA: Parabéns! A alternativa C está correta. Segundo o art. 112 do ECA, são aplicáveis as seguintes medidas: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à E direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável somente no final do procedimento. A Internação no sistema prisional. B Prisão domiciliar. C Prestação de serviços à comunidade. D Inadvertência. E Obrigação de reparar o dano moral coletivo. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 29/33 comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional. Considerações �nais A Psicologia como ciência que estuda o comportamento humano tem se mostrado de grande utilidade na área do Direito Penal, seja auxiliando o Juízo Criminal na escuta de presos em flagrante nas Audiências de Custódia, seja na escuta do apenado e elaboração de parecer sobre plano individualizado da pena na esfera da execução. Ainda, o perito psicólogo pode auxiliar o Juízo Criminal com a sua expertise, elaborando avaliação psicológica nas hipóteses de violência sexual contra a criança e o adolescente a fim de indicar a fidedignidade da fala da suposta vítima, tendo em vista que na grande maioria dos crimes sexuais não há vestígio, o que faz com que a palavra da criança tenha grande importância na produção da prova na esfera penal. Na esfera criminal, existe também a possibilidade de haver a capacitação de um psicólogo no método de entrevista cognitiva forense, a fim de que este auxilie o Juízo na tomada do depoimento da criança ou adolescente vítima ou testemunha da violência quando a violência configurar crime. Nas varas de infância e juventude com atribuição criminal, também há a intervenção de psicólogo do quadro do Tribunal de Justiça que escuta o adolescente infrator e elabora relatório, que auxilia o Juízo na formação da convicção no momento da aplicação das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, sempre que houver prática de ato infracional análogo a crime. Em todo e qualquer lugar, o psicólogo deve agir com ética, estar sintonizado com o paradigma moderno do direito penal da vítima, lutar pela não violação dos direitos humanos e evitar ser instrumento de revitimização das vítimas por ele atendidas. Cresce a cada dia mais o reconhecimento da importância da Psicologia para entendimento dos fatos jurídicos. 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 30/33 Podcast Para encerrar, serão analisados os principais aspectos da Psicologia no Direito Penal, na Infância e na Juventude Explore + Confia as indicações que separamos especialmente para você! Leia os livros: Confusão de língua entre os adultos e a criança, de Sándor Ferenczi, publicado pela Martins Fontes, em 2011. Alienação parental: importância, detecção, aspectos legais e processuais, de Rolf Madaleno e Ana Carolina Carpes Madaleno, publicado pela Forense, em 2021. Leia os artigos: Vida e morte da palavra, de Flávio Carvalho Ferraz, no livro Ecos do Silêncio: reverberações do traumatismo sexual, com organização de Cassandra Pereira França, publicado pela Blucher, em 2017. O abuso do direito no direito de família, de Rolf Madaleno, publicado na Revista IBDFAM: família e sucessões, n. 34, p. 9-40, set./out. 2019. Referências 15/08/2024, 08:13 Psicologia no Direito Penal e na Infância e Juventude https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03271/index.html?brand=estacio# 31/33 AMENDOLA, M. F. Analisando e (des)construindo conceitos: pensando as falsas denúncias de abuso sexual. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 9, n. 1, jan./abr., 2009, p. 199-218. ARAÚJO, M. F. Violência e abuso sexual na família. Psicol. estud., Maringá, v. 7, n. 2, dez. 2002, p. 3-11. BRAZIL, G. B. de M. Famílias e Sucessões: polêmicas, tendências e inovações. Escuta de criança e adolescente e prova da verdade judicial. Coord. PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Maria Berenice. Belo Horizonte: IBDFAM, 2018, p. 503-518. BRAZIL, G. B. de M. Psicologia jurídica: a criança, o adolescente e o caminho de cuidado na Justiça. Indaiatuba, SP: Foco, 2022. BRITO, L.; AYRES, L.; AMEN, M. 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