Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

AUTARQUIA DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE 
FACULDADE DE DIREITO 
DIREITO PENAL I – PROF: ROBSON ARAÚJO 
 
TEORIA DA NORMA PENAL 
 
1. FONTES DO DIREITO PENAL. 
 
▪ FONTE MATERIAL (DE PRODUÇÃO): Órgão responsável pela 
construção do direito. 
 
Em regra, somete a União pode legislar sobre Direito Penal, conforme 
exposto no artigo 22, I, da CF/88. 
 
Art. 22, CF/88. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, 
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. 
 
Entretanto, existe a possibilidade de delegação desta competência 
legislativa para os Estados-membros, em situações excepcionais, por meio 
de lei complementar da União, conforme o parágrafo único, do artigo 22, 
da CF/88. 
 
Art. 22, parágrafo único, CF/88. Lei complementar poderá autorizar 
os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias 
relacionadas neste artigo. 
 
▪ FONTES FORMAIS (DE COGNIÇÃO): São os meios de tornar a lei penal 
conhecida. Essas fontes podem ser: 
 
 
 
▪ FONTE FORMAL IMEDIATA: 
 
A LEI, em sentido estrito (NORMA PENAL INCRIMINADORA) ou em sentido 
amplo (NORMA PENAL NÃO INCRIMINADORA). 
 
▪ FONTES FORMAIS MEDIATAS: 
 
Os COSTUMES (repetição de conduta – elemento objetivo – com a 
convicção de obrigatoriedade – elemento subjetivo). Não são fontes de 
normas penais incriminadoras, mas podem auxiliar na sua interpretação, 
como na definição de “honra”, “decoro”, “ato obsceno”; 
 
Os PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO, como o reconhecimento de uma causa 
supralegal (que não existe na lei) de exclusão da ilicitude ou da 
culpabilidade; 
 
Os ATOS ADMINISTRATIVOS, que são complementos normativos das 
normas penais em branco. 
 
OBSERVAÇÃO: Existem outras visões doutrinárias para as fontes formais, 
como a de Luiz Flávio Gomes e de Antônio Molina. Para eles, as FONTES 
FORMAIS IMEDIATAS seriam a Constituição, os Tratados Internacionais de 
Direito Humanos, as Leis e a Jurisprudência, sendo a FONTE FORMAL 
MEDIATA apenas a doutrina. 
 
2. LEI PENAL. 
 
CLASSIFICAÇÃO. 
 
▪ LEI (NORMA) PENAL INCRIMINADORA: Essa lei penal descreve fatos 
puníveis (preceito primário) e comina sanções (preceito secundário). 
Também são chamadas de leis penais em sentido estrito. 
 
Exemplo: 
 
Art. 121. Matar alguém: (PRECEITO PRIMÁRIO) 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (PRECEITO SECUNDÁRIO) 
 
▪ LEI (NORMA) PENAL NÃO INCRIMINADORA: Não criminalizam 
condutas, nem cominam penas, mas completam o conjunto 
normativo penal. Podem ser: 
 
▪ PERMISSIVAS: Excluem a ilicitude. Ex: art. 23, CP. 
 
▪ EXCULPANTES: Excluem a culpabilidade. Ex: art. 26, CP. 
 
▪ INTERPRETATIVAS: Esclarecem o conteúdo de outra norma 
penal. 
Ex: art. 327, CP (funcionário público), art. 150, § 4º, CP (casa) e 
art. 121, § 2º-A, I e II, CP (condições de sexo feminino); 
 
▪ COMPLEMENTARES: Delimitam o âmbito de aplicação de 
outras leis. Ex: art. 5º, CP 
 
▪ DE EXTENSÃO OU INTEGRATIVAS: Completam a tipicidade 
formal de certas condutas, como nos casos do art. 14, II 
(tentativa) e do art. 29 (concurso de pessoas), ambos do CP. 
 
NORMA PENAL INCRIMINADORA COMPLETA/INCOMPLETA. 
 
▪ LEI (NORMA) PENAL COMPLETA: Diz-se completa a norma penal 
incriminadora quando tem seus preceitos primário e secundário 
completos, determinados. 
 
Exemplos: artigo 121, CP. 
PRECEITO PRIMÁRIO: “matar alguém”; 
PRECEITO SECUNDÁRIO: “Reclusão, de seis a vinte anos. 
 
▪ LEI (NORMA) PENAL INCOMPLETA: Diz-se incompleta a norma penal 
incriminadora que possui o preceito primário incompleto (NORMA 
PENAL EM BRANCO/complemento normativo, ou TIPO PENAL 
ABERTO/complemento valorativo) ou a norma penal incriminadora 
que possui o preceito secundário incompleto (NORMA PENAL EM 
BRANCO INVERSA OU AO REVÉS). 
 
 
NORMA PENAL EM BRANCO (CEGA). 
 
• IMPRÓPRIA OU HOMOGÊNEA OU EM SENTIDO AMPLO. 
 
Neste caso, o complemento do preceito primário da norma penal 
incriminadora será feito por outra lei (norma oriunda do poder legislativo). 
 
Exemplo: Conhecimento prévio de impedimento. 
Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existência de 
impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
O preceito primário da norma penal incriminadora não elenca quais serão 
esses impedimentos. Esse complemento será feito pelo Código Civil de 
2002, ou seja, pela lei. 
 
Art. 1.521, CC/02. Não podem casar (impedimentos): 
 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou 
civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com 
quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o 
terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou 
tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
 
• PRÓPRIA OU HETEROGÊNEA OU EM SENTIDO ESTRITO. 
 
Neste caso, o complemento do preceito primário da norma penal 
incriminadora será feito por uma norma infralegal, um ato administrativo 
(norma oriunda do poder executivo). 
 
 
 
 
Exemplo: art. 33 da Lei 11.343/06 (LEI DE DROGAS). 
 
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, 
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a 
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
 
O preceito primário da norma penal incriminadora não elenca quais serão 
as drogas criminalizadas. Esse complemento será feito por um ato 
administrativo (Portaria n 344, de 12/05/1998 da ANVISA). 
 
• INVERSA OU AO REVÉS. 
 
Neste caso, será o preceito secundário da norma penal incriminadora que 
estará incompleto. 
 
Exemplo: Art. 1º, da Lei 2.889/56 (Genocídio). 
 
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo 
nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: 
 
a) matar membros do grupo; 
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do 
grupo; 
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência 
capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; 
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do 
grupo; 
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro 
grupo; 
Será punido: 
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; 
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; 
Com as penas do art. 270, no caso da letra c; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art121%C2%A72
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art129%C2%A72
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art270
Com as penas do art. 125, no caso da letra d; 
Com as penas do art. 148, no caso da letra e; 
 
OBSERVAÇÃO: Na norma penal em branco inversa ou ao revés, o 
complemento sempre será feito por outra lei, em obediência ao princípio 
da reserva legal (“não há pena sem prévia cominação legal”). 
 
TIPO PENAL ABERTO. 
 
No tipo penal aberto, o preceito primário será completado pelo operador 
do Direito, que atribuirá um juízo de valor à conduta do agente, “fechando 
o tipo penal”. 
 
OBSERVAÇÃO: No tipo penal aberto, o complemento do preceito primário 
será valorativo, não normativo. 
 
Exemplos: tipos penais culposos. 
Art. 121, §. 3º, CP. 
Art. 129, §. 6º, CP. 
 
Quem dirá se a conduta do agente se enquadra no tipo culposo será o 
julgador, ou seja, o magistrado operador do Direito que fará um juízo de 
valor da conduta do agente. 
 
3. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL. 
 
▪ EXCLUSIVIDADE: somente a lei penal pode definir crimes e suas 
sanções. 
 
▪ IMPERATIVIDADE:possibilidade de aplicação da sanção a quem 
descumprir seu mandamento. 
 
▪ IMPESSOALIDADE: a lei se dirige abstratamente a fatos futuros. 
Excepcionalmente, pode-se citar a anistia e a abolitio criminis. 
 
▪ GENERALIDADE: os preceitos primário e secundário da lei penal se 
dirigem a todas as pessoas. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art125
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148
 
4. PLANOS DA EXISTÊNCIA, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA LEI (NORMA) PENAL. 
 
A norma penal tem existência (PLANO DA EXISTÊNCIA) após sua 
promulgação pelo Congresso Nacional, tendo passado pelos atos do 
processo legislativo, como: 
 
1. proposta do PL; 
2. votação e aprovação do PL; 
3. sanção da lei pelo Presidente da República; 
4. promulgação da lei no Diário Oficial. 
 
A norma penal tem validade (PLANO DA VALIDADE) quando estiver de 
acordo formal (devido processo legislativo) e materialmente (fundamento 
constitucional e em tratados internacionais). 
 
E, por fim, a norma penal terá eficácia (PLANO DA EFICÁCIA), segundo as 
normas da LINDB, quando entrar em vigor (imediatamente ou após período 
de vacatio legis). 
 
5. INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PENAIS. 
 
Interpretar significa buscar o sentido e o alcance da lei. Doutrinariamente, 
essa interpretação pode se dar: 
 
▪ Quanto a origem ou ao sujeito. 
 
1. Interpretação autêntica: feita pelo próprio legislador no 
próprio texto da lei (contextual) ou em outra lei (posterior). Ex: 
art. 327, CP. 
OBSERVAÇÃO: a exposição dos motivos do CP não é uma 
interpretação autêntica contextual. 
 
2. Interpretação judiciária ou jurisdicional: feita pelos juízes e 
tribunais ao aplicarem a norma ao caso concreto. 
 
3. Interpretação doutrinária: realizada pelos teóricos do Direito 
(doutrina). 
▪ Quanto aos meios. 
 
1. Gramatical: verifica-se com o sentido literal das palavras. 
 
2. Lógica: busca o sentido da lei utilizando o raciocínio dedutivo 
(do geral para o individual). 
 
3. Teleológica: busca-se a finalidade da lei. 
 
4. Sistemática: busca a coerência entre a lei interpretada e as 
demais leis do ordenamento jurídico. 
 
5. Histórica: investiga as condições e os fundamentos da origem 
história da lei. 
 
▪ Quanto ao resultado. 
 
1. Declarativa: a letra da lei corresponde ao seu significado (o 
legislador disse exatamente o que está escrito na norma). Não 
há restrição nem ampliação do sentido. 
 
2. Restritiva: A letra da lei diz mais do que o seu real sentido. O 
alcance da lei deve ser restringido para alcançar sua vontade. 
(o legislador disse menos do que está escrito na norma). 
 
3. Extensiva: A letra a lei diz menos do que sua vontade. (o 
legislador disse mais do que está escrito na norma). 
 
QUESTÃO: É possível interpretação extensiva das normas penais 
incriminadoras? 
 
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA. 
 
É possível a chamada interpretação analógica nas normas penais 
incriminadoras, ou seja, quando a lei abrange uma cláusula genérica, logo 
em seguida de uma fórmula casuística. Exemplo: 
 
 
 
Art. 121., § 2º, CP: Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe. 
 
FÓRMULA CASUÍSTICA. 
CLÁUSULA GENÉRICA. 
 
APLICAÇÃO ANALÓGICA/ANALOGIA. 
 
Com relação às normas penais incriminadoras, não é possível a chamada 
aplicação analógica ou analogia, que não é uma forma de interpretação da 
lei, mas uma maneira de autointegração da norma para suprir lacunas. 
 
São espécies de analogia: 
 
▪ Legis ou legal: tem por base outra lei que regula caso semelhante. 
 
▪ Juris ou jurídica: tem por base um princípio geral do direito que 
regule caso semelhante. 
 
▪ In bonam partem: aplica-se ao caso omisso uma lei que beneficie o 
réu. É possível sua aplicação no âmbito do Direito Penal (normas 
penais não incriminadoras). 
 
▪ In malam partem: seria a aplicação ao caso omisso de uma lei 
prejudicial ao réu. Não é possível no âmbito do Direito Penal.

Mais conteúdos dessa disciplina