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Caderno feito por Isadora de Souza Lacerda (195-12) com base nas aulas do professor Elival Ramos. Obs.: o caderno contém opiniões do professor Elival que não necessariamente coincidem com as minhas. Espero que façam bom proveito, bons estudos :) DES0223 - Direito Constitucional II: Organização do Estado 1. FEDERALISMO E REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA - O Estado é composto por três elementos, o elemento pessoal – o povo –, o elemento físico – o território – e o elemento jurídico-político – o poder. Alguns autores, como Dalmo Dallari, mencionam o quarto elemento, que seria a finalidade, isto é, o bem comum. O bem comum é composto por bens imateriais, como a liberdade, e materiais, como os direitos sociais e econômicos, para que as pessoas possam exercer sua autonomia. - Kelsen vinculava todos esses elementos ao direito, isto é, o povo, o território, o poder e a finalidade são questões jurídicas. No caso do povo, a nacionalidade é um vínculo jurídico que vincula um indivíduo ao seu Estado. O território é definido juridicamente pela Constituição e pelos tratados internacionais. O poder é exercido por meio de instituições, são os poderes do Estado, legislativo, judiciário e executivo. Os fins do Estado estão todos presentes na Constituição. - O Estado tem um poder diferente das demais instituições que têm poder, o Estado tem a soberania, que é um qualificativo do poder. - Do ponto de vista externo, a soberania significa que o Estado não se submete às outras nações, a não ser voluntariamente, por meio de tratados internacionais - Do ponto de vista interno, trata-se do poder incontrastável do Estado para lidar com as demais instituições internas garantido pela Constituição da República, a qual é o símbolo da soberania estatal, estando no ápice da pirâmide jurídica, de modo que nenhum outro ato pode contrariar a Constituição. - Faz sentido falar em soberania estatal tendo em vista as crescentes subordinações dos estados à ordem internacional? Não há nenhum órgão internacional soberano. Por exemplo, nem a União Europeia é senhora de suas próprias competências, recebendo por tratados as suas competências, podendo haver a qualquer momento uma ruptura. Desse modo, a soberania dos Estados permanece, mesmo sendo, por vezes, relativizada. - Mas como Direito Internacional se relaciona com o Direito Nacional? Dualismo moderado – existe uma ordem nacional e uma ordem internacional, havendo pontos de contato entre elas, ou seja, há pontos de influência de uma sobre a outra, mas também há áreas exclusivas. - Há três aspectos diferenciados: a celebração dos atos internacionais, que é regida pelos direitos nacional e internacional; status normativo – se esses atos estão no mesmo nível da constituição ou não; forma de incorporação. - Logo, as normas internacionais penetram o direito nacional nos termos em que o direito nacional admite – regulação pela CF. - Sobre o federalismo: centralização e descentralização - Todos os Estados têm um grau de descentralização - A descentralização administrativa é um tema de direito administrativo. Já a descentralização política é um tema de direito constitucional. - A descentralização política envolve competência normativa, isto é, descentralização do poder de legislar, ou seja, descentralização legislativa - Tipos de Estado: Estado Unitário: Estado politicamente centralizado – normas jurídicas criadas por apenas uma esfera. Ainda que tenha descentralização administrativa, tem centralização política. Só há um centro de produção do Direito. Ex.: França. A centralização política não é estável, mas fica a critério do poder central, que pode delegar funções legislativas, mas também pode retirar essa delegação. Estado Federal: Estado politicamente descentralizado – normas jurídicas são criadas por várias esferas. Forma de Estado vigente no Brasil. “CF Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]”. - O Brasil é qualificado como República e como Federação. Então, o Estado brasileiro é federal. Esse Estado é politicamente centralizado, mas, diferentemente do Estado unitário politicamente centralizado, o Estado federal tem uma descentralização de nível constitucional, ou seja, quem descentraliza não é o poder legislativo ordinário, mas o poder constituinte originário. - No Brasil, a federação é uma cláusula pétrea da Constituição. - Há o poder de organização das entidades federadas, as quais têm o poder constituinte derivado de auto- organização, ou seja, têm o poder de criar suas próprias normas e constituições. - As entidades federadas têm participação no poder político central – o senado é composto por representantes dos estados - As competências dos estados federados são iguais Estado Regional: Estado politicamente descentralizado, sendo que a descentralização é feita em nível constitucional. Contudo, não é uma cláusula pétrea da Constituição. Desse modo, o poder constituinte derivado pode alterar a descentralização. Ex.: Espanha e Itália. - As regiões não têm o poder constituinte derivado de criar suas próprias legislações, ou seja, não possuem o poder de auto-organização - As entidades federadas NÃO têm participação no poder político central - Federalismo assimétrico: as regiões têm competências diferenciadas. - No Estado Federal, a repartição de competências é essencial, isto é, a organização do exercício da competência legislativa. Quem deve legislar sobre direito financeiro, penal, civil, tributário, etc. - Teoria Geral da Federação – critérios de repartição de competências: Horizontal: identifica matérias de direito e distribui essas matérias entre a União, Estados e Municípios. Tais competências são privativas, ou seja, cada qual tem competência privativa para legislar sobre determinado assunto, gerando uma autonomia maior. Vertical: há uma colaboração maior entre os entes que compõem o Estado Federal. Em uma mesma matéria, como o direito tributário, suas normas gerais são editadas pela União, mas as normas específicas são repartidas entre União, Estados e Municípios. É um critério mais complexo, criando conflitos mais frequentemente. - Em um Estado Federal, há a autonomia das partes que compõem esse Estado Federal - Soberania é do Estado Federal como um todo. Autonomia é das partes desse Estado Federal. - A autonomia se divide em autonomia política – eleição dos próprios governantes, legislação própria, auto- organização –; autonomia administrativa – autoaplicação de normas, prestação de serviços públicos próprios –; e autonomia financeira – receitas próprias para suportar gastos próprios, orçamentos próprios. - A autonomia financeira implica em uma repartição de renda no Estado Federal. Critérios de repartição de renda: Horizontal: Tributos X são da União, tributos Y são dos Estados e tributos Z são dos Municípios. Esse critério dá maior autonomia para as entidades federadas, porém as entidades mais ricas tendem a concentrar a renda nesse modelo. Vertical: Criação dos fundos de desenvolvimento ou participação, em que parte do imposto de renda vai para os estados e municípios, de modo que os estados mais desenvolvidos recebem menos impostos, a fim de atenuar a desigualdade. Assim, a CF especifica diversos preceitos, especialmente sobre o poder de tributar (art. 150). - A formação do Estado Federal pode ocorrer de duas maneiras: Agregação ou Segregação. - O primeiro modelo de Estado Federal ocorreu nos EUA – as treze colônias. Apóscom a lei. Então, falta uma separação entre chefe de Estado e chefe de governo, falta um arranjo de funções adequadas. Há um sistema de governo inadequado ao modelo do Estado brasileiro e isso se reflete na separação dos poderes. - A teoria clássica de Montesquieu propõe essa separação mais rígida, em que o Poder Legislativo tem a primazia sobre o poder executivo. O Judiciário é ainda mais subalterno, já que repetiria apenas aquilo que está presente na lei Modelo Contemporâneo de Separação - Os EUA tentaram incorporar a teoria da separação de Montesquieu, mas precisavam se adaptar porque não tinha monarquia. Então criaram a figura do Presidente da República. Nós vamos eleger alguém que não é vitalício, que não tem laços de consanguinidade, o modelo republicano. Vou escolher alguém com mandato, mas esse alguém terá poderes similares ao do monarca. E nessa modelagem nós vamos encontrar o Legislativo. Mas o Judiciário tem um papel mais robusto. - Os revolucionários franceses procuraram de toda maneira conter o Poder Judiciário. Já, nos Estados Unidos, o Judiciário foi visto como um poder que podia ajudar o povo a fazer com que a Constituição fosse cumprida, não apenas pelo Executivo, mas até pelo próprio Legislativo. E aí então vem a ideia da supremacia da Constituição e não do Parlamento. - Nós temos que imaginar poderes que que representem bem o exercício das funções estatais, que são múltiplas numa democracia social. - O princípio da separação dos poderes nasce junto com o funcionalismo e perdura durante toda a sua evolução, acompanhando todo o avanço institucional que ocorreu na democracia, incorporando novos institutos e persiste, pelo menos em sua essência, o princípio da separação como técnica de contenção, de limitação. - O princípio também contribui para que o Estado funcione de maneira mais eficiente. - O núcleo fundamental da separação dos poderes é que existam funções identificadas no Estado. Essas funções vão mudando de acordo com o perfil do Estado. As funções principais e a atribuição dessas funções a órgãos distintos e a forma de atribuir pode ser uma forma mais compartilhada, uma forma mais flexível, uma forma menos cartesiana. Mas o importante é que haja órgãos independentes e que haja funções e que haja uma atribuição de funções a órgãos, seguindo uma lógica que resulte uma contenção de poder, ao mesmo tempo em que não impeça o Estado de ser eficiente. Então, a receita é equilibrar limitação do poder com eficiência. - Hoje, o Estado faz muito mais do que as três funções previstas. - Função de chefe de Estado: Existe uma função de chefia de Estado que é fundamental, que no Brasil faz falta. Não é governo, é chefe de Estado. Em primeiro lugar, alguém que tenha a visão de estadista, que possa fazer uma coordenação que possa ser recebido por todos os grupos sociais de maneira respeitosa. - Função de governo: A função do governo consiste em tomar decisões no sentido de movimentar o aparato estatal. É uma função que precede a função legislativa. Ao contrário do que dizia Montesquieu que tudo começa com a elaboração da lei, nesse caso, a elaboração da lei é uma etapa subsequente. Antes disso, vem a “policy determination”, que seria o direcionamento político. Em segundo lugar, vem a “policy execution”, a execução da política. Essa policy execution é, na verdade, a função legislativa. A lei como instrumento de governo. - A lei, no modelo liberal, era o início de tudo. No modelo do Estado democrático social, a função legislativa é uma função a serviço da função de governo. - Então, primeiro se determina a política pública e quem faz isso é o chefe de governo; depois vem a lei. - O chefe de Estado deve ser imparcial e coordenar os demais poderes, enquanto o chefe de governo deve ser parcial e determinar as políticas públicas. Como, no Brasil, essas funções se concentram na mesma pessoa, ocorrem muitos conflitos. 6. SISTEMAS DE GOVERNO - Sistemas de governo é o modo pelo qual funciona a separação de poderes. - Há dois tipos de sistema, através dos quais a separação dos poderes se expressa: presidencialismo e parlamentarismo. - A separação dos poderes é mais rígida no presidencialismo e mais flexível no parlamentarismo. OBS.: A separação dos poderes não deixa de existir no parlamentarismo, apenas é mais flexível. - O sistema presidencialista é adequado a um Estado de padrão liberal, que privilegia a contenção do poder e não a eficiência do sistema. - O sistema parlamentarista é mais adequado a um Estado Democrático Social, um Estado que se importa com a eficiência do aparato estatal tanto quanto com a limitação do poder. - A crise do sistema de governo do Brasil está ligada a uma inadequação do sistema de governo em face do modelo de Estado escolhido pela CF. Presidencialismo - Sua origem está na Constituição dos EUA de 1787. Tal Constituição pretendia implantar uma democracia sem monarca devido à ruptura com o Reino Unido. Criou-se, então, um substituto para o monarca, o presidente da república. De outro lado, um parlamento completamente independente (deputados + senados). O judiciário independente também. Em vez da monarquia, tem-se a república. Mandatos temporários, sem hereditariedade e vitalicidade - Características jurídicas do presidencialismo: Poder executivo unitário: apenas um chefe para o poder executivo, o qual exerce três funções básicas de qualquer poder executivo – função de chefe de Estado, função de governo e função de fixação e escolha das políticas públicas. Escolhe qual a prioridade do governo. Comanda a administração. - Contudo, as funções de chefia de governo e chefia de Estado são incompatíveis. Só são compatíveis em um Estado em que as funções de governo são minimizadas (Estado liberal). Sistema de separação rígido dos poderes: Há um compartilhamento de funções muito mais reduzido, contudo, ainda há, ex.: exercício de função legislativa pelo executivo através do veto; exercício de função jurisdicional pelo parlamento através do impeachment; e a função administrativa realizada por todos os poderes. Porém, no geral, os poderes não intervêm um no outro. - No presidencialismo dos EUA, o presidente não pode sequer propor projeto de lei, precisa de um deputado ou senador. Enquanto isso, nos países parlamentaristas, os chefes de governo são os principais propositores de leis. Para a formação, especialmente do parlamento e do executivo, há uma total independência: No presidencialismo, normalmente, os parlamentares e o chefe do executivo são eleitos separadamente, isto é, meu voto para prefeito não está ligado ao meu voto para vereador. Eu posso votar em um partido para vereador e em outro para prefeito. - Características políticas do presidencialismo: O presidencialismo acentua o traço personalista do exercício do poder Parlamentarismo - Surgiu da história constitucional da Inglaterra. A partir da revolução gloriosa, tem-se a separação dos poderes, mas um sistema binário: parlamento e monarca. Depois de 30 a 40 anos, tem-se o judiciário independente. Trata-se da monarquia constitucional. - Ao longo do século XVIII, na Inglaterra, surge o parlamentarismo dualista (OBS.: não é executivo dual – chefe de estado e chefe de governo separados). O parlamentarismo dualista é o parlamentarismo da dupla confiança, isto é, o gabinete de ministros responde perante o monarca e o parlamento. - O parlamentarismo hoje é monista, isto é, exige-se apenas que o gabinete de ministros responda perante o parlamento. - O chefe de governo do parlamentarismo não é eleito.Decorre da escolha da maioria parlamentar. Não existe eleição indireta do chefe de governo. - Características jurídicas do parlamentarismo: Executivo dual: há um chefe de Estado, que será ou um monarca ou o presidente da república, e um há um chefe de governo, o primeiro ministro do gabinete de ministros, o qual exerce as funções de governo e comanda a administração. Ex.: Constituição Francesa: Art. 5º: “O presidente da república zela pelo respeito à Constituição. Assegura, através de sua arbitragem, o funcionamento regular dos poderes públicos, bem como a continuidade do Estado. É o garantidor da independência nacional, da integridade territorial e do respeito aos tratados.” Art. 20º: “O Governo determina e conduz a política da Nação. Dispõe da administração e das Forças Armadas. É responsável perante o Parlamento […].” Sistema de separação flexível dos poderes: - Há um compartilhamento de funções. A pauta das reuniões no parlamentarismo, normalmente, é fixada pelo primeiro ministro. A composição do parlamento não é fixa como é no presidencialismo. O chefe de Estado pode antecipar as eleições parlamentares; ele pode dissolver o parlamento. O chefe de governo não pode dissolver o parlamento, mas pode pedir para que o chefe de Estado dissolva. - Críticas ao parlamentarismo: “o parlamentarismo é um sistema instável se conviver com um sistema pluripartidário atomizado, como é o brasileiro”. A verdade é que nenhum sistema funciona com 28 partidos com representação parlamentar. Para isso, deve haver voto distrital e cláusula de barreira. - O Brasil tem um histórico de prática parlamentar no segundo reinado, porque a Constituição de 24 desenhava um modelo de monarquia constitucional, ou seja, o poder executivo seria unitário – o imperador é o chefe do executivo e o chefe do poder moderador. Mas a CF permitia a delegação da função executiva e o D. Pedro II fez isso durante todo o seu reinado. Então, na prática, tratava- se de um modelo parlamentar. Porém, com um sistema eleitoral todo falho, gerou-se muita corrupção eleitoral, o que configurou o “parlamentarismo às avessas” porque o governo fazia a maioria parlamentar e não o contrário. - Com a República, a experiência parlamentarista foi abandonada. Retomou-se o parlamentarismo antes da ditadura de 64. Para evitar-se um golpe de Estado, surgiu o parlamentarismo, que foi imposto após uma ausência de João Goulart. - Do ponto de vista político, o sistema parlamentarista é menos personalista e mais ideológico. - No final do séc. XIX e início do séc. XX, na Europa, houve uma crise do parlamentarismo influenciada por diversos fatores, dentre eles a quebra da hegemonia liberal, devido ao surgimento de ideologias marxistas, pensamentos sobre políticas públicas, etc.; devido à falta de regras sobre o sistema partidário, tendo como consequência a proliferação de partidos; tudo isso gerou uma série de governos parlamentaristas instáveis. Surgiu, então, o fenômeno de racionalização do poder, que consistiu, essencialmente, na racionalização do parlamentarismo europeu, com técnicas envolvendo sistema eleitoral, sistema partidário, a própria justiça constitucional, de modo que os gabinetes não pudessem gerar tanta instabilidade. Porém, tudo isso deu uma resposta pequena à curto prazo devido ao totalitarismo nazista, ao socialismo da URSS, aos governos autoritários de vários países, etc. - Após tais ocorrências, a França adotou um modelo de parlamentarismo com modificações em relação ao anterior e serve de inspiração para um possível futuro sistema brasileiro. Alguns autores, como Ferreira Filho, chamam tal sistema de semipresidencialismo ou semiparlamentarismo, sendo, portanto, um sistema misto. Sistema Misto (Semipresidencialismo ou Semiparlamentarismo) - Há uma característica típica do presidencialismo, que é a eleição direta do presidente da república. - Normalmente, republicano, pois não há mais espaço para uma monarquia constitucional, visto que o monarca não é eleito e, portanto, não tem legitimidade. - Houve uma recuperação do parlamentarismo dualista, contemporaneamente, em Portugal e na França, por exemplo. O chefe de Estado, nesses países, tem um papel muito mais importante do que na Inglaterra, por exemplo, podendo interferir mais nas funções de governo. - O chefe de governo não é eleito, decorre da maioria parlamentar, e é convidado a exercer o cargo pelo chefe de Estado. Suas propostas legislativas são, na maioria das vezes, aprovadas, pois tem maioria parlamentar a seu favor. - O papel do parlamento, portanto, é de controle político. No presidencialismo, o parlamento tem um papel mais determinante nas decisões políticas. - Assim, para conter a enorme quantidade de poderes que o chefe de governo tem, existe um poder forte de controle político, que é o parlamento, o qual atribui responsabilidade política. O parlamento deve ter instrumentos para, eventualmente, afastar o gabinete. O impeachment não é o melhor instrumento para isso, mas a responsabilidade política. - Cria-se, também, uma justiça constitucional forte para fazer o controle jurídico do governo, especialmente da legislação governamental. Isso é feito através do controle de constitucionalidade e da corte constitucional no Tribunal Constitucional. - Nesse modelo, o STF deveria exercer o monopólio do controle de constitucionalidade e fazer apenas isso. Não seria um tribunal recursal, como é hoje, mas se especializaria na matéria constitucional. - Na CF francesa atual, o parlamento exerce funções de controle político. A função moderna do parlamento não é mais a função legislativa. Esta fica muito mais por conta do chefe de governo. O parlamento continua tendo a palavra final na aprovação da lei, mas sua função básica é de controle político. - Para Elival, tal sistema não se trata de um semipresidencialismo ou semiparlamentarismo, mas se trata de um sistema dual, pois, se há uma separação entre chefia de Estado e chefia de governo, isso é, um executivo dualista, esta é uma característica específica do parlamentarismo. No presidencialismo, tais funções devem estar reunidas, mas nem na França e nem em Portugal elas estão. A eleição direta não caracteriza o presidencialismo, e isso não ocorre nem mesmo nos EUA, que tem eleições presidenciais indiretas. Por outro lado, há a responsabilidade política, que é característica exclusiva do parlamentarismo. - Os presidentes brasileiros são muito fortes do ponto de vista midiático, mas muito fracos no ponto de vista de tomada de decisões. 7. PODER LEGISLATIVO: ORGANIZAÇÃO, GARANTIAS E COMPETÊNCIAS Competências do Poder Legislativo - Um dos princípios da separação dos poderes é a especialização funcional, isto é, cada poder tem a sua função – legislativo cria as leis, executivo executa as leis e judiciário julga litígios. Contudo, como já foi visto, não há um rigor absoluto nessa divisão de atribuições. - Para analisar a melhor a função mais crucial do legislativo, deve-se entender o que é a lei e o legislar. Há duas formas de abordagem: Análise da lei em seu aspecto material: a norma jurídica é uma prescrição geral e abstrata. Geral significa que ela se dirige a um grupo determinado de pessoas, exemplo, ao criminoso, ao trabalhador, aos pais, ao juíz, etc. A abstração significa que há um fato tipo (ex. Matar alguém, abandonar o filho, etc.) que gera consequências (não é um caso específico que gera consequências, mas a sua adequação ao tipo previsto em lei). Há, também, uma conexão entre as características do ato legislativo e o nívelhierárquico em que ele está situado. A lei está em nível primário, logo abaixo do nível constitucional. Portanto, a definição de lei em sentido matérial é: um ato legislativo cujo conteúdo é de normas gerais e abstratas em nível primário da hierárquia normativa. Análise da lei em seu aspecto formal: há um regime jurídico específico para o ato lesgislativo, que o conforma formalmente. É o processo legislativo. Nesse sentido, lei é o ato produzido dentro do processo legislativo. - O conceito material não equivale ao conceito formal. Assim, existem atos legislativos produzidos pelo processo legislativo e, portanto, que seguem o regime da legalidade, que não são lei em sentido material. Ex.: Lei que declara de utlidade pública um imóvel específico. Essa lei não é nem geral e nem abstrata, mas é uma lei formal. - Também existem leis que são leis em sentido material, mas que não são leis no sentido formal. Ou seja, são atos legislativos situados no primeiro nível da hierarquia normativa, compostos por normas gerais e abstratas que não foram produzidos pelo processo legislativo. São os regulamentos autônomos. - CF “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; “ - Poder regulamentar → Regulamento de execução de lei – está em nível secundário da hierarquia normativa. É um regulamento que visa dar execução a um ato legislativo. - CF “Art. 84, VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; → Lei no sentido material, mas não é lei no sentido formal. - O costume não é lei no sentido formal, pois não é produzido no processo legislativo, mas também não é lei no sentido material, pois não está no nível primário da hierarquia legislativa. - Emendas à Constituição não estão em nível primário, mas em nível constitucional, então não é lei em sentido material. Mas é produzido dentro do processo legislativo e, portanto, é lei em sentido formal. - Quando se pensa na separação de poderes e na tipicidade de atribuições, logo vem a mente a questão da delegabilidade. A resposta do constitucionalismo clássico é que quem recebe de um soberano (poder constituinte) uma função, deve-se respeitar essa atribuição. Contudo, essa visão foi extremamente abalada pelo Estado Social. Nos primórdios do liberalismo, a lei tinha um sentido declaratório, isto é, declaração de um direito preexistente, que seria o direito natural. Isso tudo desaparece com o advento do Estado intervencionista (Estado social), Estado implementador de políticas públicas. Nesse modelo de Estado, a lei é um instrumento de governo, um ato de execução de políticas públicas. Nesse modelo, o dogma de que ninguém além do soberano podia delegar funções também vai cedendo. Isso porque se percebe que o legislativo, visto que é uma estrutura colegial, com alta representatividade, não consegue tomar decisões rápidas. Então, houve um certo deslocamento da função legislativa para o poder executivo. O parlamento moderno ganha novas atribuições, notadamente de controle político. As leis mais importantes do mundo moderno são criadas pelo governo, isto é, pelo poder executivo. Náo há código, no mundo inteiro, que seja feito pelo poder legislativo, mas há sempre uma comissão especializada de juristas da área que elaboram o projeto. Depois é levado para aprovação no parlamento, mas poucos dispositivos são alterados. - O poder legislativo hoje está longe de seu poder que é o de ser o responsável último pela legislação. Isso por vários motivos: 1) O Estado intervencionista precisa de leis de caráter muito técnico. Essa expertise técnica existe no poder executivo, na administração, por setores especializados; não existe no legislativo. 2) Celeridade, rapidez. O número de leis no Estado intervencionista é cada vez maior, a economia está sempre mudando. O número de leis que precisam ser editas a todo momento é muito grande e isso exige rapidez. 3) Há legislações que devem ocorrer em sigilo, exemplo da correção moneária. - Essa transferência de atribuição legislativa para o poder executivo se faz não necessariamente por um ato de delegação formal. - CF “Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: IV - leis delegadas;” - Há esse dispositivo tratando das leis delegadas, mas a própria constituião prevê outras formas de realizar essa transferência, como as medidas provisórias, as iniciativas para projetos de lei. - Paralelamente a isso, o legislativo ganha novas funções, sendo a principal o controle da execução orçamentária, isto é, a fiscalização financeiro-orçamentária. O legislativo autoriza os gastos da lei orçamentária e depois fiscaliza esses gastos. Para isso, precisa-se de um apoio técnico, o qual é exercido pelos Tribunais de Contas, que, apesar de se chamarem “tribunais”, não fazem parte do poder judiciário. - CF “Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. “ - Sistema de controle externo: Congresso Nacional - Sistema de controle interno: no caso da União é a Controladoria Geral da União; - CF “Art. 71. O controle externo [da fiscalização fenceiro- orçamentária], a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União […]” OBS.: O Tribunal de Contas não é órgão do poder judiciário e não exerce funçõa jurisdicional. Não cabe ao Tribunal de Contas decidir definitivamente nada. Todas suas decisões são impugnáveis ao poder judiciário. Isso porque são decisões administrativas e não judiciais. O Tribunal de Contas é um órgão administrativo que exerce apoio ao poder legislativo. Não integra o poder executivo porque participa do controle externo da fiscalização financeiro- orçamentária. Também não integra propriamente o poder legislativo. A CF diz que é um órgão auxiliar, mas não faz parte do poder legislativo. Em suma, é um órgão com prerrogativa de autonomia, que podia ter sido chamado de poder, mas, por o constituinte estar preso à concepção arcaica de tripartição dos poderes, não chamou nem o MP e nem o TC de poderes. Mas, segundo Elival, são poderes. - As funções do Tribunal de Contas estão previstas nos incisos do Art. 71 da CF. - O TC se compõe de 9 ministros, três são nomeados pelo Presidente da República, sendo que apenas um é totalmente livre; um dos outros três tem que vir do Ministério Público de contas e o outro de auditores do Tribunal de Contas. Os outros 6 vêm do poder legislativo. Mas, na prática, o poder executivo interfere na escolha do legislativo. - Há um TC de para a União, um para cada estado da federação e alguns municípios poucos municípios têm TC, a capital São Paulo, p. ex. - Outra função legislativa é a de controle político. Esse controle é feito nos discursos parlamentares, quando o chefe do executivo comunica quais serão as prioridades do ano, isso será discutido no parlamento e é controle político. Ademais a CF prevê a convocação de ministros em comissões especializadas para discutir certos temas. - Contudo, no sistema parlamentarista, o controle político é muito mais forte pelapossibilidade de afastar o governo. Logo, a responsabilidade política é muito mais efetiva. - Outra função legislativa é o controle de infrações político- administrativas, que é a questão do impeachment e das comissões parlamentares de inquérito. 1. Comissões Parlamentares de Inquérito - O legislativo funciona, na maioria das vezes, em comissões. Muitas pessoas acreditam que o plenário é o mais importante do parlamento, mas, na verdade, a maior parte do trabalho do dia a dia do parlamentar se passa no âmbito das comissões temáticas. Ex.: Comissão de Transporte, Comissão de Poder Judiciário, etc. - Os parlamentares podem chamar especialistas no assunto, ministros e secretários de estado para darem depoimento, etc. - Há as comissões permanentes, mas também há as comissões transitórias, sendo uma destas a Comissão de Parlamentar de Inquérito, prevista na CF Art. 58 § 3º: “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 3º As comissões parlamentares de inquérito (CPI), que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.”. - A CPI é um comissão investigadora, ela não aplica pena, não processa; é similar a um inquérito policial. 2. Impeachment - É um processo, uma forma de apurar a responsabilidade de autoridades por fatos graves que pode ou não caracterizar crime, mas o impachment não processo de natureza criminal. - Quando o instituto do impeachment surge na Inglaterra, surge como um processo criminal, mas isso muda. - A natureza do impeachment, uma vez que não é penal, é muito parecida com a do processo disciplinar. Porém, este envolve ministros de estado, presidente da república, procurador geral da república, ministros do STF, e, portanto, altas autoridades do Estado, e pune infrações político administrativas, que não são crimes tais quais os previstos no Código Penal. A CF prevê a infração político-administrativa no art. 85: “CF Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.” - As previsões dos incisos são muito abertas. Isto é, não basta falarem “tal ato do presidente atenta contra a existência da União” e inicia o processo de impeachment. Por isso, o parágrafo único afirma que tais crimes serão definidos em lei especial, que é a Lei 1079/50. - Por o impeachment gerar sanções tão graves, como a perda do cargo político, gera-se a necessidade de que os fatos sejam efetivamente graves. Não se debe punir atos menores, porque, senão, o país fica em crise política o tempo todo. Contudo, o que tem ocorrido no Brasil é que o impeachment tem ocupado o lugar do instituto “responsabilidade política” (que é o afastamento de um governo no parlamentarismo). - O impeachment tem função jurisdicional e é dividido em duas etapas:. 1. A Câmara dos Deputados tem que admitir a acusação. Se o plenário da câmara admite a acusação por crime de responsabilidade, o presidente é afastado por até 180 dias. 2. Durante esses dias, instaura-se o processo no Senado, o qual processa e julga o presidente. O Senado, portanto, exerce função jurisdicional. Assim, se o Senado absolve, não é possível que o presidente seja julgado criminalmente no STF. 3. Se, contudo, o Senado condena, o presidente pode sofrer um processo criminal no STF. - O impeachment tem a função de afastar o detentor de mandato do cargo, além da sanção complementar de impedir de ocupar cargo público por até 8 anos. - CF “Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. § 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.” - Desse modo, o Senado é o principal órgão que analisa e julga o impeachment: “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice- Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.” Organização do Poder Legislativo - A estrutura do poder legislativo é bicameral: Câmara dos Deputados Senado Federal - Essa divisão existe desde o Império, apesar de que, nessa época, o bicameralismo era de moderação: tinha-se a Câmara dos Representantes (câmara dos deputados), em que os deputados eram eleitos por meio de requisitos de renda e o Senado, sendo que os senadores não eram eleitos, mas nomeados pelo imperador e eram cargos vitalícios. Chama-se bicameralismo de moderação porque uma das casas (o Senado) servia para moderar os pensamentos renovadores ou progressistas da Câmara dos Representantes. - O bicameralismo também pode ser federativo, em que uma das casas (o Senado) representa os estados federados e garante seus interesses. Esse bicameralismo federativo existe no Brasil desde a 1ª constituição republicana, contudo, não desapareceu totalmente o bicameralismo de moderação. - Assim, o bicameralismo brasileiro tem esses dois aspetos, de um lado é de moderação e de outro é federativo. - O Senado representa os estados federados: CF “Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.” CF “Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.” CF “Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. § 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.“ Esse piso de mínimo de oito e máximode setenta é um atentado contra a cidadania, visto que uma pessoa que mora em Roraima tem um peso de voto muito maior do que uma pessoa que mora em São Paulo, já que, em Roraima (população muito baixa) serão eleitos oito e em São Paulo (população imensa) serão eleitos apenas 70. Esses números não têm nenhuma proporção. Já foram feitos estudos que mostram que o estado que mais perde com isso é São Paulo. - Ainda é um bicameralismo de moderação porque quem quiser ser deputado ou senador tem que respeitar as condições de elegibilidade do art. 14, parágrafo 3º, da CF. Dentre eles, mínimo de 21 anos para deputado federal e 35 anos para senador da repúbica. Essa mudança de 21 para 35 anos é devido ao fato de que pessoas acima de 35 costumam ser mais moderadas. - Há o bicameralismo aristócrático. No Reino Unido divide- se entre a câmara dos comuns e a câmara dos lordes. - As casas do legislativo brasileiro, normalmente, deliberam separadamente, mas há exceções: CF “Art. 57, § 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para: I - inaugurar a sessão legislativa; II - elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas; III - receber o compromisso do Presidente e do Vice Presidente da República; IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar.” - O Art. 58 da CF disciplina as comissões do Congresso, visto que, como dito anteriormente, a maior parte dos trabalhos do legislativo é feita atrvés de comissões: CF “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 1º Na constituição das Mesas [Órgão Diretivo de cada Casa] e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.” (Delegação Interna Corporis) O § 2º trata das competências das comissões e o § 3º trata das CPIs. - CF Art. 44 “Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.” → legislatura é a duração do mandato dos deputados e não se confunde com sessão legislativa, que é o período de funcionamento anual do Congresso. - CF “Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.” Competências da Câmara e do Senado - O Senado e a Câmara não têm competências idênticas. - As comepetências privativas da Câmara estão no Art. 51 da CF: “Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice- Presidente da República e os Ministros de Estado; II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III - elaborar seu regimento interno; IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.” - As competências privativas do Senado estão previstas no art. 52 da CF, sendo um rol muito maior do que as competências privativas da Câmara. Algumas dessas competências privativas do Senado são de controle político do executivo. CF “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador- Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição (incluindo os do STF); b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d) Presidente e diretores do banco central; e) Procurador-Geral da República; f) titulares de outros cargos que a lei determinar; V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; (competência ligada ao controle de constitucionalidade) Garantias do Poder Legislativo - Abragem, em primeiro lugar, garantias institucionais - Ex.: Art. 51: III - elaborar seu regimento interno; IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII (eleição dos próprios dirigentes – Mesa Diretora). - Imunidades Parlamentares: CF “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.” Imunidade Material: trata-se da inviolabilidade prevista no caput do art. 53. Assim, os parlamentares não podem ser punidos civil ou penalmente por opiniões expressas durante o exercício de suas funções, o que não necessariamente será no congresso, mas pode ser em palestras, eventos, etc. Imunidades Formais: trata-se do foro privilegiado previsto no § 1º do art. 53, da impossibilidade de serem presos (§ 2º do art. 53) e a previsão do § 3º. - As imunidades parlamentares visam proteger os parlamentares de processos judiciais ou responsabilização civil por suas opiniões, votos e atividades no exercício de seu mandato. Isso permite que eles expressem livremente suas posições, debatam questões importantes e representem os interesses de seus eleitores sem medo de retaliação legal. Além disso, as imunidades asseguram aos parlamentares independência e autonomia em relação aos outros poderes do Estado, fora o estímulo ao debate e à diversidade de opiniões e a proteção contra perseguições políticas. - O Art. 54 da CF prevê as incompatbilidades e impedimentos dos parlamentares. A ideia é que os deputados e senadores não possam exercer certas funções que coloquem em risco a suaindependência no exercício do mandato. Ex.: Inciso II, d, impedimento ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo. Contudo, a própria CF traz uma exceção a essa regra no art. 56: “Art. 56 Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;”. - O Art. 55 prevê as possibilidades de perda de mandato: “Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição; VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa” OBS.: O STF acrescentou mais uma possibilidade (na visão de Elival, ativista): perda de mandato por desfiliação partidária. 8. PROCESSO LEGISLATIVO - O processo legislativo é o processo de produção das leis. - Lei é ato legislativo. A norma é o conteúdo desse ato legislativo. As normas correspondem a textos normativos interpretados. - CF “Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII – resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.” - Pode haver processo legislativo sem função legislativa, ou seja, leis que são meros atos administrativos, por exemplo. E também pode haver função legislativa fora do processo legislativo. - Lei em sentido formal: o ato legislativo elaborado pelo processo legislativo. - Lei em sentido material: atos que têm conteúdo de legislação, isto é, conteúdos substanciais de lei, mas que são produzidos fora do processo legislativo. - Classificação de Normas Normas Gerais: se dirige a categorias de pessoas Normas Individuais: se dirige a uma única pessoa - Outra classificação de Normas: Normas Abstratas: tem em vista situações abstratas. Normas Concretas: tem em vista uma situação específica. - A lei, em sua essência, é uma prescrição geral e abstrata. Além disso, a lei se caracteriza por ser uma disposição localizada no nível primário da categoria normativa. OBS.: Primeiro vem o nível constitucional + emendas; depois o nível primário (leis); e depois o nível secundário. - Mas a lei em questão não é a presente no art. 59 da CF, mas é a lei em sentido amplo, isto é, todas as modalidades de atos legislativos elaborados de acordo com o processo legislativo. Ex.: leis complementares, leis delegadas, medidas provisórias, resoluções, decretos, etc. são leis em sentido formal. - Assim, a lei em sentido material compreende prescrições gerais e abstratas localizadas no nível primário da categoria normativa. - No processo legislativo, por vezes, tem-se a criação de atos que não são nem gerais, nem abstratos, embora sejam situados no nível primário da hierarquia. Ex.: lei ordinária que declara inutilidade pública um imóvel para fins de desapropriação. Nesse caso, não é lei em sentido material, mas apenas em sentido formal. - Há decretos muito específicos, por exemplo, decretos de estado de sítio são produzidos para situações individuais e concretas. Por isso, não são lei em sentido material, mas apenas em sentido formal. - CF Art. 84. “Compete privativamente ao Presidente da República: VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;” → Tais decretos têm conteúdo legislativo geral e abstrato e estão situados em nível primário da hierarquia normativa, mas não são produzidos pelo processo legislativo. Logo, são leis em sentido material, mas não são leis em sentido formal. - Técnicas utilizadas para dar celeridade ao processo legislativo: Delegação legislativa expressa: feita expressamente através das leis delegadas. O Congresso edita uma resolução e delega competência para o executivo legislar sobre determinada matéria. Delegação legislativa implícita: feita em atos normativos que não precisam de delegação do Congresso, mas se trata de uma delegação constitucional, ou seja, o constituinte outorgou ao executivo o poder de elaborar a lei no caso das medidas provisórias com força de lei. Trata-se da legislação de urgência. Procedimento legislativo abreviado ou de urgência: fixa um prazo para a elaboração da lei. Previsto na CF no art. 64, § 1º e § 2º. Trata-se de um regime de urgência. Delegação Interna Corporis: CF Art. 58 – Comissão de Constituição e Justiça recebe um poder para examinar uma tese sob o ponto de vista da constitucionalidade e legalidade. Iniciativa legislativa do executivo - O Art. 59 da CF regula a legislação em sentido formal. - O Art. 59 da CF comete um grande equívoco ao elencar, no iniciso primeiro, as Emendas à Constituição como produção de atos legislativos, pois estas são produção de atos de natureza constitucional. Procedimento de Elaboração das Leis Ordinárias 1. Fase Introdutória 1.1 Fase de Iniciativa: Proposta de direito novo, isto é, de projeto de lei. Tem-se a propositura legislativa, isto é, a apresentação do projeto de lei. Há duas modalidades de iniciativa: a geral e a reservada: Iniciativa Geral: CF “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.” Iniciativa Reservada ou Privativa: CF Art. 61 “§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; […]” Os tribunais também tem iniciativa privada para criar suas próprias leis. A magistratura tem o Estatuto Nacional da Magistratura que é uma matéria exclusiva do STF. Iniciativa Popular: CF Art. 61 “§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.” Iniciativa Vinculada: se dá em matéria orçamentária. O presidente tem obrigação de apresentar o projeto. 1.2 Fase de Apresentação de Emendas: após a fase de iniciativa, tem-se as emendas que os deputadose senadores apresentam a essa propositura. Competência exclusiva dos parlamentares. Tipos de emendas: Emendas Aditivas: acrescentam dispositivos; Emendas Supressivas: suprimem dispositivos; Emendas Modificativas: modificam a redação de dispositivos. O problema das emendas se dá em projetos de iniciativa reservada: “Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista: I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público.” → restrições ao poder de emenda. 2. Fase Constitutiva: discussões através das comissões temáticas. O regimento interno de cada casa do legislativo define quais comissões devem discutir a propositura (comissão do meio ambiente, orçamentária, da saúde, da educação, etc.). As comissões finalizam seus trabalhos através de um parecer, ou seja, uma manifestação opinativa e não deliberativa a não ser no caso da Delegação Interna Corporis, a qual vota os projetos de lei. - Delegação Interna Corporis: CF Art. 58. “O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa;”. Fases: Fase Instrutória: discussão sobre o projeto nas comissões, juntada de documentos, discurso de técnicos no assunto, realização de estudos. Fase de Discussão no Plenário: discursos sobre a proposta, encaminhamentos a favor ou contra a propositura, etc. Fase de Deliberação no Plenário: o Congresso (Câmara dos Deputados e Senado) vota a favor ou contra a aprovação do projeto de lei. O projeto é aprovado primeiro pela Câmara. Depois vai para o Senado, que pode rejeitar o projeto ou aceitá-lo com algumas emendas. Assim, tais emendas voltam para a Câmara para serem apreciadas. - Todos os projetos de iniciativa do presidente da república, de iniciativa popular, dos tribunais, do MP começam na câmara dos deputados. O senado atua, então, como uma instância revisora, a não ser nos casos de propostas legislativas dos senadores. Desse modo, a Câmara tem uma importância ligeiramente maior do que o Senado porque ela examina primeiro, sendo que ela pode rejeitar o projeto e ele sequer chega ao senado: “CF Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.” - Há dois ritos: o rito comum (que não tem prazo) e o rito abreviado, previsto pelo Art. 64 § 1º: “O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa.” e § 2º: “Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação.” Fase de ida do projeto ao executivo para sanção ou veto pelo presidente da república. OBS.: Há atos de competência privativa do congresso em que essa fase não existe. - Art. 65. “O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.” - “Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.” - Possibilidades de veto: 1. Inconstitucionalidade 2. Contrariedade ao interesse público Art. 66 “§ 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.” “§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.” “§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.” - sanção tácita. “§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores.” - O veto pode ser derrubado. Se o projeto for vetado, há uma 5ª subfase para a apreciação do veto pelo Congresso. - Art. 65. Parágrafo único. “Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.” 3. Fase Complementar: Promulgação da nova lei. - Com o veto parcial, uma vez que parte do projeto foi sancionado, é possível promulgar o projeto desde logo, ressalvando as partes vetadas. Contudo, isso causa uma insegurança jurídica, pois o veto pode ser derrubado. O ideal seria que a deliberação sobre o veto. - Quando uma proposta se torna lei no Direito brasileiro? Se o Congresso aprova e o presidente sanciona, no momento da sanção tem-se uma junção de vontades e, portanto, uma vez sancionado pelo presidente, o projeto já é lei. Os demais atos são meramente eficaciais. Em outro caso, se o Congresso aprova, o presidente veta e o veto é derrubado, neste momento, o projeto se torna lei. - Há matérias que são vedadas à lei ordinária, como as matérias de lei complementar. Os atos privativos do Congresso Nacional, veiculados por meio de decretos ou resolução, também não podem ser matérias de lei ordinária. - Por outro lado, há matérias reservadas às leis ordinárias, como as matérias em que não se admite medida provisória, nem lei delegada, etc. Ex.: nacionalidade, partido político. - A sanção do presidente da república em um projeto de lei viciado por vício de iniciativa, ou seja, o parlamento apresentou um projeto de lei de iniciativa reservada ao presidente, se o presidente vetar e o veto for derrubado, não há dúvida quanto à inconstitucionalidade pelo vício de iniciativa. Mas, e se o presidente da república sancionar o projeto de lei? O STF chegou a convalidar o projeto de lei, ou seja, a sanção do presidente convalidaria o vício de iniciativa. Posteriormente, essa súmula veio a ser revogada e hoje a decisão do STF é de que não há convalidação, pois há uma lesão à CF. - Um projeto de lei aprovado pelo Congresso pode ser vetado, total ou parcialmente. Se o veto for parcial em relação a três dispositivos, o congresso pode acatar um veto e rejeitar outros dois. Mas, e se o veto for total, admitir-se-ia a derrubada parcial do veto? Sim. Procedimento de elaboração das Leis Complementares - A única diferença em relação à promulgação das leis ordinárias é o quórum de aprovação. - Quórum das leis ordinárias: CF “Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.” - maioria simples. - Quórum das leis complementares: CF “Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.” - Não há hierarquia entre leis ordinárias e leis complementares porque são tipos de leis com espaços regulatórios diferentes, istoé, matérias diferentes. A hierarquia só é importante quando as matérias são as mesmas. - Só há lei complementar onde a CF disser que há. Quando ela não diz nada, é lei ordinária. - Lei complementar trata de matérias mais específicas, enquanto lei ordinária trata de matérias gerais. - Porém, em algumas situações, a CF prevê lei complementar para veicular normas gerais. Ex.: “Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária”. Nesse caso, a Lei complementar (Código Tributário Nacional) estabelece as matérias gerais de direito tributário. Medidas Provisórias - Apesar de o nome “Medida Provisória” não existir antes da CF de 1988, havia o Decreto Lei na ditadura militar, que era bem parecido com a medida provisória atual. Houve, no Brasil, um período de grandes abusos do uso de medidas provisórias, como a medida provisória do plano real que perdurou por dez anos reeditada, então, era uma legislação provisória que virava permanente. Uma emenda constitucional tentou resolver isso, o que permanece atualmente. - CF “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.” - procedimento simples - Relevância é difícil definir: tudo pode ser relevante. Urgência pode ser melhor definido, pois, se não é possível esperar sequer os 90 dias do processo abreviado, então é um caso de urgência. - “Art. 62. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I - relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; (direito constitucional material: é matéria constitucional, embora a forma seja de lei infraconstitucional) b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; → Esse dispositivo não faz o menor sentido. Foi pensado devido ao governo Collor ter congelado as contas bancárias das pessoas. Porém, o STF já declarou tal ação inconstitucional. III - reservada a lei complementar; IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. → Outro dispositivo que não faz sentido, pois, uma vez que falta apenas a aprovação do presidente, não faz sentido ele editar uma medida provisória. Nesse caso, faltaria o caráter de urgência para empregar medida provisória. - CF “Art. 62. § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.” - “§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.” - “§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.” - “§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.” - “§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.” - “§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.” - “§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.” - “§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.” - “§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.” - “§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.” Decretos Legislativos - Decreto legislativo é de matéria exclusiva do Congresso Nacional. - O Decreto legislativo tem um procedimento muito parecido com as leis ordinárias. A única diferença é que ele é de iniciativa da casa que o está propondo. - O Decreto legislativo dispõe sobre as matérias previstas no art. 49 da CF. - Não há veto do presidente nos Decretos legislativos, pois ele não participa do processo legislativo. Resoluções - As resoluções são usadas, normalmente, nas matérias dos arts. 51 e 52, isto é, matérias de competência exclusiva da Câmara ou do Senado, p. ex. regimentos internos. - A rigor, não há uma diferença ontológica entre decretos legislativos e resoluções. São, normalmente, atos legislativos apenas formais, pois não dispõem sobre normas gerais e abstratas. Nenhum dos dois comportam a fase de sanção ou veto do presidente. 9. PODER EXECUTIVO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS - Na nova formulação da separação dos poderes, com o estado intervencionista, é o poder executivo que concentra o maior número de mudanças. - Antes, o poder executivo era colocado em uma posição subalterna pois a ideia era reafirmar a soberania popular, a qual estava centrada no poder legislativo, visto que este era o poder mais representativo, isto é, que permitia maior participação política. - O poder executivo, em um primeiro momento, ficou preso ao monarca, o qual tem menor ligação com as aspirações da sociedade. - Assim, no pensamento clássico de Montesquieu, há uma valorização do legislativo e uma desvalorização do executivo. - O poder executivo sofre, então, grandes transformações na sua organização e, principalmente, nas suas novas funções. - Um Estado que vai intervir no domínio econômico e social exige rapidez na intervenção e qualidade técnica no seu trabalho, que no modelo clássico não tinha; - Então, há um crescimento da administração pública, que vai contar com a expertise técnica. As relações internacionais também se tornam mais complexas, há profissionalização de pessoas, concursos para cargos, etc. - A chefia de estado também se engrandece nesse novo modelo. Em um mundo globalizado, as importações e exportações são muito importantes, o que acarreta em uma participação forte do poder executivo nesse setor. - A maioria dos países não usa mais a nomenclatura “poder executivo”, mas “governo”. - O que mais simboliza o novo poder executivo é a função de governo, é o planejamento e a tomada de decisões em relação a respeito das principais políticas públicas, isto é, da intervenção do Estado nos domínios social e econômico. - Passa-se a utilizar até mesmo o ato legislativo como forma de promover políticas públicas. - Essenovo poder executivo é o poder que assume a primazia no arranjo dos poderes. - Cabe ao poder executivo o planejamento governamental, a tomada das decisões de governo, executar essas decisões através de atos legislativos – os quais são iniciados na maioria das vezes no poder executivo – e os atos da administração, isto é, a execução da legislação. - Enquanto isso, o poder legislativo fica muito mais com a função de controle político para controlar politicamente as decisões do poder executivo. - O poder judiciário fica com o controle de constitucionalidade e de legalidade, ou seja, controlar juridicamente as decisões do poder executivo. Estruturação do Poder Executivo - Na CF, o poder executivo é presidencialista e, como tal, ele reúne chefia de estado e chefia de governo. - Então, o chefe do executivo brasileiro, o presidente da república, tem três funções primordiais: Chefe de Estado: cabe ao presidente o comando supremo das forças armadas, as decisões finais sobre a política externa do país; Chefe de Governo: o presidente que formula as políticas públicas e participa de uma série de atos delas decorrentes, como seus atos na função legislativa. A chefia de governo é o primeiro escalão, o comando dos ministérios e secretarias (os ministros são subordinados ao presidente). Chefia da Administração: A administração é o conjunto de órgãos técnicos com milhares de servidores concursados ou que ocupam cargos de confiança. Esses órgãos sempre estão ligados a algum ministério. É o presidente que comanda a administração. Exercício compartilhado da função legislativa, principalmente na iniciativa da produção de leis. - A administração federal é dividida em grandes departamentos, que são os ministérios - Os Ministros de Estado constituem auxiliares do presidente que têm previsão constitucional: “Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; * III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.” - *A lei é ato normativo primário. O ato normativo secundário é o decreto de regulamentação das leis. Os atos normativos terciários são as instruções ministeriais, que são veiculadas pelas portarias ministeriais, as quais se destinam a cumprir os decretos regulamentares, que, por sua vez, se destinam a cumprir as leis. - As funções do Presidente da República estão listadas no art. 84 da CF, o qual possui 27 incisos: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; → função de chefia de governo II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; → função de chefia da administração III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; → função legislativa IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis [função legislativa], bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução [função administrativa e função de governo]; V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; → função legislativa VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; → função administrativa b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; → função administrativa VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; → função de chefia de Estado VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; → chefe de Estado IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; → chefe de Estado X - decretar e executar a intervenção federal; → chefe de Estado XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; → função de chefia de governo XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; → função de governo e de Estado XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; → chefia de Estado XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador- Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; → chefia de Estado XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI, XXII → chefia de Estado XXIII, XXIV → chefia de governo XXV → chefia da administração XXVI → função administrativa - Visto que o poder executivo brasileiro é presidencialista, tem-se, então, a estrutura de um poder executivo monocrático; é assim desde o império; apenas tivemos um momento parlamentarista durante o segundo reinado e outro pequeno momento na década de 60 na crise que precedeu o regime militar. - CF “Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. § 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado. § 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.” - CF “Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.” (Tancredo Neves) Impedimento e Vacância do cargo Presidente - Impedimento: se caracteriza por uma circunstância que ocasionalmente impede o exercício do cargo. Ex.: licença, início do impeachment. Causa a substituição do cargo. Quem substitui não exerce o cargo definitivamente, mas apenas temporariamente. O primeiro substituto natural é o vice-presidente. - Vacância: é a desocupação do cargo definitivamente. Ex.: morte, renúncia, decretação do impeachment. Causa a sucessão do cargo. Quem sucede exerce o cargo de forma definitiva. - CF “Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice- Presidente.” - CF “Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.” - O Presidente da Câmarados Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal JAMAIS sucedem o presidente e o vice; eles apenas substituem até que novas eleições sejam convocadas. - CF “Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice- Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. → única hipótese de eleição indireta para presidente prevista pela CF § 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores. - CF “Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.” Administração Civil - A CF de 1988 deu muita ênfase na necessidade de profissionalizar a administração pública. Sem uma administração profissional não há condições de manter uma democracia estável no país. - A administraão civil serve, em primeiro lugar, para ajudar no planejamento governalmental. Em segundo lugar, serve para preparar as decisões de governo, isto é, o governo deve decidir qual decisão tomar com base nas opções trazidas pela administração. A administração mostra o que, dentro da lei, pode ser feito. - A administração pública nem sempre foi profissional. Essa ideia surgiu com Max Weber, que falava da importância da democracia em um momento em que o Estado estava se racionalizando. - Antes, os cargos públicos ficavam à disposição de quem vencesse as eleições. Esse é um sistema terrível do ponto de vista de um Estado eficiente porque quem ocupa os cargos, normalmente, não são os mais competentes. - Burocracia vs. Tecnocracia: Burocracia no sentido negativo significa todos os percalços de uma administração pesada. São servidores que seguem a lei de maneira muito literal sem interpretá-la, têm medo de realizar ações por medo de punição, fazem um trabalho tímido. É uma administração covarde que se escuda no formalismo, extremamente burocrática, realiza ações desnecessárias, a fim de retardar o cumprimento de uma decisão, já que isso pode acarretar responsabilização. Tecnocracia é o contrário da burocracia. É o servidor burocrático-administrativo assumindo a função decisória. O problema é que esses servidores não têm competência para isso. Isso dá um caráter pseudo- técnico a algo que, na verdade, é político. - Na administração civil prevalecem dois grandes princípios de organização: Legalidade: o servidor deve agir dentro da lei, dos regulamentos e das instruções ministeriais, ou seja, debe seguir normas. Hierarquia: cumprir ordem do seu superior, a não ser que sejam manifestamente ilegais. Normas e Princípios de Organização da Administração Civil - CF “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: II - a investidura em cargo (regime estatutário) ou emprego (regime seletista) público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; → Regra da Primeira Investidura em Cargo Público: é feito concurso para todos os cargos públicos, menos aqueles de confiança. V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; → limitação constitucional ao poder do legislador de estruturar os cargos da administração pública e de dar cargos de confiança ou em comissão sem que o funcionário preste concurso público. - Garantia da Estabilidade – Art. 41 CF: “Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.” - A garantia dá a estabilidade de o servidor público não ser demitido porque desagradou o chefe. Assim, o servidor público exerce seu cargo com mais autonomia. O ponto negativo é que pode haver um acomodamento, já que, como só vou perder o cargo dependendo de um processo, eu posso não ser tão eficiente. - Aposentadoria compulsória: quando se atinge o limite de idade, hoje fixado em 75 anos de idade; - Aposentadoria por invalidez; - Aposentadoria voluntária: após determinado tempo de serviço; tem idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 para homens. - Promoção de servidores se dá por concurso dentro da carreira. Esse concurso tem como critérios o merecimento e a antiguidade. - O servidor público tem três tipos de responsabilidade: Responsabilização penal: previsões do código penal; ex.: corrupção passiva, peculato; Responsabilidade administrativa: ex. mais faltas do que o permitido; Responsabilidade civil ou patrimonial: ex.: prejuízos ao estado ou à União, improbidade administrativa. - CF “Art. 37 § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” → Responsabilidade Objetiva do Estado Poder Regulamentar - Trata-se da emissão de atos normativos - “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;” - Decreto: é o nome in juris do ato administrativo, é um ato do chefe de poder. Entidades subalternas não fazem decretos, apenas prefeito, governador e presidente. Pode ser normativo ou não normativo. Ex.: um decreto que autorize a assinatura de um convênio não é normativo; um decreto que demite um funcionário também não é normativo. No geral, decretos para casos específicos não são normativos. Já um decreto que regulamenta a lei do imposto de propriedade dos veículos automotores é um decreto normativo. - Quando o decreto é geral e abstrato ele é um regulamento. Mas nem todo decreto é regulamentar. Todo regulamento é editado por decreto, mas nem todo decreto veicula um regulamento. O decreto enquanto ato normativo veicula um regulamento. Essa é a ideia do poder normativo secundário na forma dos decretos de chefes do poder executivo. - O decreto dá detalhes à lei e está sujeito ao princípio da legalidade, ou seja, ninguém é obrigado a fazer alguma coisa se não em virtude de lei. Então, o decreto não serve para impor obrigações ex novo, mas pode estabelecer aspectos acessórios à obrigação. Ex.: um decreto não pode instituir a cobrança do IPVA, a qual deve ser objeto de lei, mas pode estabelecer um calendário de pagamento. - O decreto não pode instituir obrigações, mas pode criar direitos? Sim. Ex.: um regulamento que cria uma forma de participação da administração pública que não existe lei alguma sobre, mas que não é proibido. - Decreto que cria obrigações é inconstitucional.a independência, as 13 colônias celebraram o Tratado de Confederação Estadunidense para mantê-las unidas. Esse tratado evoluiu para uma Constituição de um único Estado – os Estados Unidos, que se unem através de uma CF. A soberania passa a ser de um Estado só. No Estado Federal, há um só território, um só povo e um só poder. Esse é um modelo de federalismo por agregação. - O Brasil, como colônia de Portugal, pertencia ao Estado Unitário Português, completamente centralizado. As capitanias hereditárias eram formas de exploração privada do território nacional, mas que mantinham o Brasil como pertencente a Portugal. Assim, com a independência, há a segregação entre o território, o povo e o poder brasileiro e o português. Esse, então, é um modelo de federalismo por segregação. - Como consequência, os EUA têm uma tendência a efetuar mais medidas de descentralização do que o Brasil, onde até mesmo o STF emprega medidas antifederalistas. O Brasil tende a centralizar os poderes na União. - Federalismo Dual e Federalismo Cooperativo: Federalismo Dual: Modelo de Estado federal em que prevalece a técnica de repartição horizontal. Modelo Clássico. Implantado pelos EUA. Modelo típico de um Estado Federal com feições liberais, em que se privilegia a independência em detrimento da cooperação. “CF Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.” Federalismo Cooperativo: Modelo de Estado federal em que prevalece a técnica de repartição vertical. Ex.: direito tributário no Brasil. Típico de Estados Federais de conformação democrático-social. No Brasil, esse modelo surge na CF de 1934, nossa primeira constituição democrático social. - No Brasil, as entidades federadas são a União, os Estados, o DF e os Municípios. - A União não se confunde com o Estado Federal. Externamente e internacionalmente, apenas o Estado Federal é visto. Quem se manifesta em nome do Estado Brasileiro é a União, mas esta não se confunde com o Estado Federal. Assim, se o Estado Brasileiro adquire dívidas externas, não é a União que assume essa dívida, mas todo os Estado Brasileiro. Então, as unidades federadas têm a sua personalidade jurídica própria, mas apenas na esfera interna. Perante o direito internacional há apenas uma pessoa jurídica, que é o Estado Federal. As entidades federadas contam com autonomia, enquanto o Estado Federal conta com soberania. Estado Federal no Brasil - O Brasil tem um passado de centralização política por ter sido uma colônia portuguesa. Assim, estabeleceu-se o Governo Geral do Brasil para Portugal controlar a colônia de longe. Assim, o primeiro modelo adotado pelo Brasil foi o Estado Unitário. O Primeiro Reinado de Don Pedro I não altera o modelo de Estado Unitário. Durante a regência, a vocação federalista brasileira começa a se manifestar, pois havia o exemplo dos EUA, além de que as províncias começaram a reivindicar o federalismo, as quais pela CF de 1824 não tinham poder legislativo, portanto o Estado seguia um modelo unitário simples, não havendo descentralização política. Essa descentralização se inicia no Brasil com o Ato Adicional de 1834, que era, na verdade, uma Emenda Constitucional criada para atribuir às províncias competência legislativa. Durante o segundo império, em que se sucederam os partidos liberal e conservador no poder, a luta federalista cresceu muito a partir de 1875 dentro do partido liberal e ganhou o apoio de figuras notáveis, como Ruy Barbosa. Durante todo o império, houve grande recusa por parte do imperador em aderir ao federalismo. A reivindicação dos republicanos era também pelo federalismo, de modo que quando a República foi implantada o federalismo veio junto, momento em que as províncias foram convertidas em estados. - A primeira Constituição Republicana e também federalista tinha três níveis, isto é, três categorias de entidades federativas: 1. Competência normativa geral: leis editadas que têm âmbito de aplicação em todo o território nacional feitas pela União. 2. Entidades de nível regional: estados membros, que editam leis para o território de seus estados 3. Entidades de nível local ou municipal: leis editadas apenas para os municípios - Em 1891, com a proclamação da República, o federalismo se tornou uma cláusula pétrea da CF e assim permaneceu durante todo o período republicano – primeira república, período getulista, segunda república, golpe de 64 e a nova república (atual). - “CF Art. 60 § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado;” - No art. 21 da CF encontram-se as competências administrativas privativas da União e o art. 22 apresenta as competências legislativas privativas da União (percebe-se que a União tem um rol imenso de assuntos sobre os quais legisla). - A CF combina as duas técnicas de repartição horizontal e vertical de competências. Em se tratando de repartição horizontal, a CF estabelece competências privativas da União, dos Estados e DF e dos municípios. - As competências privativas dos estados estão no art. 25 da CF, § 1º – cláusula geral residual. - Os municípios têm sua cláusula de competência privativas prevista no art. 30 da CF. - Porém, a CF utiliza também da técnica de repartição vertical de competências administrativas, como no art. 23. - A matéria legislativa é tratada de forma vertical no art. 24. A organização dessa função é tratada pelos parágrafos 1º ao 4º do art. 24: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. 2. AS ENTIDADES FEDERAIS: AUTONOMIA E COMPETÊNCIA - Competências privativas x Competências complementares, suplementares ou concorrentes Competências privativas: as competências da União e dos Municípios são as expressas, enumeradas e discriminadas no texto constitucional. Já os Estados têm as competências restantes: “Art. 25 § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”. Cláusula do interesse preponderantemente local - CF art. 30: define as competências dos municípios Competências complementares, concorrentes ou suplementares: a União trata dos aspectos gerais e os demais entes, incluindo a União, tratam dos aspectos específicos ou suplementares. Art. 23: competências concorrentes administrativas Art. 24: competências concorrentes legislativas As competências administrativas podem se sobrepor sem grandes problemas legais (talvez hajam problemas orçamentários). Contudo, as competências legislativas devem ser muito bem divididas e organizadas para não haver problemas. Uma lei estadual não pode ser contrária à lei federal, por exemplo. Assim, os parágrafos do art. 24 estabelecem as condições para a legislação concorrente: “§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.” – A União edita e legisla sobre normas gerais, mas não pode estabelecer um regulamento que abarque toda a matéria, isto é, não pode legislar sobre tudo. Logo, ao mesmo tempo que há uma competência, há um limite. “§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.” Quanto aos municípios: “Art. 30. Compete aos Municípios: II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;” “§ 3º InexistindoDecreto que contraria lei é ilegal. - CF “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;” - O fundamento do poder regulamentar é, em primeiro lugar, a função administrativa acometida ao executivo, pois cabe ao executivo executar a lei e uma forma de executar a lei é estabelecer normas para a sua implementação, normas de detalhe, normas que complementam. Ex.: a lei diz que edificações que coloquem em risco a incolumidade pública → o executivo detalha quais são essas construções para executar a lei. - Outro fundamento do poder regulamentar do executivo é o poder hierárquico. Isso significa o comandante da administração pública dando uma ordem para os comandados e isso tem consequências práticas. O decreto tem consequências no âmbito do executivo O legislativo e o judiciário não são obrigados a observar o decreto do executivo. O particular pode ser afetado pelo decreto indiretamente. - Nós poderíamos regulamentar a constituição sem lei? Sim. Há decretos de governadores que regulamentam situações de vícios de iniciativa. - Existem certas matérias que escapam do âmbito regulamentar, como o direito civil, no qual as partes estão em pé de igualdade e, portanto, não há supremacia do poder público (há a exceção das locações, também o direito do trabalho e o direito penal não podem ser regulamentados por decretos. Os direitos regulamentáveis são o direito administrativo e direito tributário. - Modalidades de regulamento: Regulamento de Execução: art. 84, inciso IV; Regulamento Autônomo: art. 84, inciso VI. Regulamento Delegado: quando não há lei delegada. - OBS.: O controle de constitucionalidade tem por objeto atos formalmente legislativos. Entretanto, não cabe ação direta de controle abstrato de normas em relação a um regulamento, visto que este incide em ilegalidade e não em inconstitucionalidade, a não ser que o regulamento se reporte diretamente à CF. 10. PODER JUDICIÁRIO: ORGANIZAÇÃO, GARANTIAS E COMPETÊNCIAS Natureza da Função Jurisdicional - À luz da teoria clássica, há três poderes: um que cria as leis (legislativo) e dois que a executam (executivo e judiciário). Mas qual a diferença entre a execução da lei pelo poder dito executivo e a execução da lei pelo poder judiciário? - A preocupação da administração pública em relação ao cumprimento da lei é uma preocupação de natureza instrumental. A atividade fim da administração, em primeiro lugar, é a prestação de serviços públicos, que consiste em proporcionar utilidades materiais às pessoas, ex. educação, saúde, transporte, etc. Nesses casos, a aplicação da lei está presente, mas ela é meramente instrumental para atingir o fim. Por outro lado, o exercício das liberdades públicas tem que ser controlado pelo poder público em nome do interesse coletivo. Ex.: pandemia em que a houve a restrição da liberdade de ir e vir, a obrigação da vacinação, tudo em nome do interesse coletivo. A administração também tem ela própria que obter insumos para as suas atividades (contratar pessoas, serviços, comprar bens, etc.). Assim, há um conjunto de atividades em que a aplicação da lei é instrumental. - O poder judiciário aplica a lei também, mas ele aplica a lei para resolver conflitos individuais. A função do judiciário é resolver controvérsias, ou seja, aplicar a lei contenciosamente, em lides. Nesse caso, não se pode dizer que a finalidade é resolver o litígio e, instrumentalmente, aplicar a lei, mas aplicar a lei para resolver o litígio. Assim a aplicação da lei é finalística. É função do judiciário aplicar a lei. - Em razão disso, o judiciário está mais preocupado com a aplicação da lei em si. Já a administração está preocupada em proporcionar utilidades às pessoas e, para isso, aplica a lei instrumentalmente. Essa diferença vai se refletir no regime jurídico das funções administrativa e jurisdicional. Diferenças entre a natureza das funções jurisdicional e administrativa 1. Inércia - A jurisdição tem o princípio báscio da Inércia da Jurisdição, segundo o qual a jurisdição só se movimenta quando provocada. - Já a administração pública pode realizar atos sem a provocação das partes. Ex.: se a administração pública verificar que uma pessoa jogou irregularmente na rua um bicho, ela pode lavrar um auto de infração de ofício. Além disso, a administração pública dá início a quase todas atividades públicas, é uma atividade de inicialização, em que ela escolhe as políticas públicas, diretrizes, etc. 2. Princípio da Substitutividade - A jurisdição tem o princípio da substitutividade, o qual não existe na administração. - A administração instaura processo administrativo e edita uma portaria acusando um servidor público e este será julgado pela própria administração. - No judiciário, há um estado juiz que se substitui a um estado administrador. Se nós temos um processo que tem o poder público de um lado (estado, município ou União) e de outro lado um administrado, o Estado enquanto administrador é uma parte do processo e o Estado juiz é uma terceira parte do processo que não toma parte. Então o Estado se subdivide em Estado administrador e Estado juiz. O Estado juiz quer apenas aplicar a lei e fazer justiça. Tal divisão não ocorre na administração. 3. Definitividade das Decisões - As decisões da administração não são definitivas. As decisões do Tribunal de Contas, por exemplo, que é um órgão administrativo, podem ser revistas pelo judiciário. - Já as decisões jurisdicionais são definitivas. OBS.: Algumas pessoas diriam que o contraditório seria uma quarta diferença, mas hoje o contraditório está previsto em vários procedimentos administrativos. No processo jurisdicional o contraditório é obrigatório, já no processo administrativo não. Natureza da Função Jurisdicional - O judiciário é visto, essencialmente, como um poder controlador de políticas públicas sob o ponto de vista da legalidade. Enquanto isso, o poder legislativo controla essas mesmas políticas públicas do ponto de vista da conveniência e da política. Então o controle político cabe ao legislativo e o controle jurídico cabe ao judiciário. - Há um princípio que determina toda a atuação jurisdicional que é o Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional, o qual está ligado à ideia de Estado de Direito. O Estado de Direito tem como um de seus critérios de existência o controle jurisdicional. - Então, o judiciário controla a aplicação da lei. - Segundo o princípio da inafastabilidade, qualquer lesão ou ameaça a direito não pode ser afastada do poder judiciário. - O controle jurisdicional tem aumentado em termos de intensidade e instrumentos de amparo para a sua prestação → judicialização. - Mas não é só a judicialização – o volume de processos –; o judiciário tem instrumentos também no campo teórico do direito material para controlar mais de perto. - Há algum tempo, muitos atos foram afastados do poder judiciário, mas hoje esses instrumentos teóricos do direito material aumentaram. Ex.: hoje, quando eu tenho um ato que, ao invés de atender ao interesse público, visa o direito privado do administrador, é um ato viciado por desvio de poder. - Criaram-se categorias como abuso de poder, excesso de poder, desvio de finalidade e isso que compõe a chamda moralidade administrativa. - Se soma a essa ideia fazer o controle aplicando diretamente princípios constitucionais. A exemplo, utilizam-se os princípios gerais da administração do art. 37 da CF. Então, muitas vezeso administrador não feriu um dispositivo legal específico, mas feriu um princípio, como da legalidade e da isonomia. Contudo, por vezes, os tribunais, sob o argumento de estar aplicando um princípio, está, na realidade, substituindo um administrador numa escolha. Organização do Poder Judiciário - O Brasil é uma federação. Assim, a grande divisão, a suma divisio da organização judiciária brasileira é entre Justiça Federal e Justiça Estadual. Há, então, dois aparatos de organização: um mantido pela União e um mantido pelos estados. - Outra divisão diz respeito à especialização. Há certos órgãos, especialmente na Justiça Federal (mas também há na Justiça Estadual), que são especializados em razão da matéria. São competências que dizem respeito à uma matéria da mesma natureza. Ex.: Direito do Trabalho, Direito Eleitoral e Direito Militar. Dentro dessa estrutura do poder judiciário, parte desse aparato jurisidiconal cuida de matérias variadas, que não têm tanta correlação entre si → Competência Comum. Então, separa-se a Competência Comum da Competência Especializada. A Justiça Comum se divide em: Justiça Estadual Comum Genérica: tem atribuição para matérias genericamente determinadas. É a justiça que fica com tudo aquilo que não está determinado para outro seguimento. Justiça Federal Comum: tem competências comuns enumeradas, ou seja, são matérias díspares (matéria criminal e civil, por exemplo), mas que têm em vista um rol determinado constitucionalmente. Justiça Federal - Existe, no Brasil, desde o nascimento da República (CF 1891). Depois a justiça federal ganhou novos segmentos. A Justiça do Trabalho foi criada em 1934, depois veio a Justiça Militar e Eleitoral. - A Justiça Federal deixou de existir em 1937, com a ditadura getulista. Depois, a Justiça Federal foi recriada com a ditadura militar e em 1988 ela foi consagrada no texto constitucional. - É dividida em dois segmentos: Justiça Federal Comum: competências discriminadas na CF. Justiça Federal Especializada: composta pela Justiça do Trbalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar. Justiça Federal Comum: - A Justiça Federal Comum é composta por dois níveis: Primeiro Grau: composto pelos juizes federais. A função dos juizes federais está prevista no art. 109 da CF: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. → a finalidade é que o caso não seja julgado pela Justiça Estadual. Segundo Grau: composto pelos Tribunais Regionais Federais. Entre estes não há uma correspondência exata com os estados federados. Cada estado não tem um TRF. Por exemplo, o TRF da 3ª Região, com sede em SP, tem competência para julgar causas da justiça federal do segundo grau dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O TRF do RS também julga as causas de SC. Justiça do Trabalho: federal e especializada Primeiro Grau: juizes do trabalho. Segundo Grau: Tribunais Regionais do Trabalho; em praticamente todos os estados tem um TRT; em SP tem dois; Terceiro Grau: Tribunal Superior do Trabalho Quarto nível seria que, na justiça do trabalho, o processo pode chegar ao STF (não ao STJ). Na justiça comum, o STJ ou STF é o terceiro grau. Ocorre quando envolve matéria constitucional. - As competências da justiça do trabalho estão previstas no art. 114 da CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II as ações que envolvam exercício do direito de greve; III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;” - A justiça do trabalho julga qualquer ação que tem relação com o contrato de trabalho, podendo este ser indivudal ou coletivo. - Em quase todos os Tribunais Regionais Federais, quer especializados, quer da justiça comum federal, há juízes de carreira que são promovidos, mas existem também aqueles que vêm pelo quinto constitucional, quer representando os advogados ou o MP. Nem sempre é um quinto, às vezes é até um pouco mais. No STJ, por exemplo, um terço das vagas fica para os advogados e membros do MP. O único tribunal superior que não tem essa característica é o STF. - CF “Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compõe- se de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.” Justiça Militar Federal: - Existe justiça militar federal e estadual; - CF Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar; II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.” - Primeiro Grau: Juízes Militares – são as chamadas auditorias militares; - Segundo Grau: Superior Tribunal Militar - “Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis. Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade, sendo: I - três dentre advogados de notório saber jurídico e condutailibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional; II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.” - CF “Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.” → É uma justiça especializada em matéria penal militar, aplicando-se o Código Penal Militar ao integrantes das forças armadas – exército, marinha e aeronáutica (os policiais militares respondem às justiças estaduais) Justiça Eleitoral: - Criada, após a Revolução de 30, pelo Código Eleitoral de 1932 e teve consequências positivas e muito importantes para o combate à corrupção eleitoral no Brasil. Graças à justiça eleitoral o Brasil tem hoje eleições apuradas severamente e limpas. - A justiça eleitoral organiza o pleito, realiza as eleições e apura os votos. Assim, a justiça eleitoral tem competências administrativo-eleitorais e competências jurisdicionais-eleitorais. Então, ao mesmo tempo em que ela julga crimes eleitorais, por exemplo, ela pratica atos meramente administrativos, como aplicar multa eleitoral e designar mesários para as eleições. - CF “Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; → Terceiro Grau II - os Tribunais Regionais Eleitorais; → Segundo Grau III - os Juízes Eleitorais; → Primeiro Grau IV - as Juntas Eleitorais.” - Tem quatro instâncias, assim como a justiça do trabalho; - É uma justiça sazonal tradicionalmente. Hoje, ela tem uma estrutura permanente, mas ela se vale muito do apoio administrativo em questão de recursos humanos (funcionários e servidores) municipais e estaduais que são cedidos à justiça eleitoral. Os juizes estaduais têm um papel na justiça eleitoral. Quase todos juizes eleitorais são juizes estaduais. - “Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no Distrito Federal. § 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. § 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre os desembargadores.” - CF “Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.” → Porém, algumas competências dos tribunais eleitorais já estão na CF, como o registro de estatuto dos partidos políticos; Justiça Estadual Comum - É uma justiça residual, isto é, o que não for de competência da justiça comum federal, da justiça especializada federal e da justiça especializada estadual (justiça militar estadual) é de competência da justiça estadual comum. - Essa justiça, apesar de ser estadual, aplica muito mais direito federal do que direito estadual. Ex.: Códigos civil, penal, comercial, etc. - A justiça estadual aplica o direito municipal, afinal o município não tem justiça. - É composta pelos juízes de direito, havendo a divisão dos estados em comarcas. Comarcas são uma divisão estadual, mas muitas correspondem ao município, enquanto outras abarcam mais de um município. - Instâncias: Primeiro Grau: juízes de direito Segundo Grau: Tribunal de Justiça Justiça Militar Estadual (especializada) - CF “Art. 125 § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados [policiais militares], nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.” → competência para julgar crimes militares praticados por policiais militares. - A justiça militar estadual tem dois tipos de competência: Competência jurisdicional-disciplinar: não se trata de julgamentos de matérias penais, mas matérias disciplinares; Competência jurisdicional criminal: trata dos crimes militares praticados por policiais militares Garantias do Poder Judiciário - Há dois tipos: garantias institucionais e garantias da magistratura. Garantias Institucionais - Garantias institucionais são garantias outorgadas ao poder judiciário como um todo, isto é, aos órgãos que compõem o poder judiciário, assegurando um poder à sua condição de autonomia. Assim, são garantias de independência do poder judiciário. - Previstas no art. 96 da CF: “Art. 96. Compete privativamente: I - aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos [trata da competência de auto-gestão] e elaborar seus regimentos internos [competência de auto-organização], com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva; c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; d) propor a criação de novas varas judiciárias; e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei; f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados; (trata da competência de autonomia administrativa) II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo [competência legislativa], observado o disposto no art. 169: a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; Garantias da Magistratura - Garantias dos juízes como agentes do poder judiciário que vão praticar atos jurisdicionais e que têm sua autonomia funcional assegurada pelas garantias. - Previstas no art. 95 da CF: “Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; [cargo vitalício] II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; [o juíz não pode ser deslocado do seu cargo] III - irredutibilidade de subsídio [salário], ressalvado o disposto nos arts.37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. [irredutibilidade nominal]” - As garantias pretendem assegurar independência à atuação dos magistrados, não são privilégios, mas prerrogativas institucionais para o juíz bem exercer suas atribuições. - “Art. 95. Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se à atividade político-partidária. IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.” - As vedações não são garantias dos magistrados, mas dos jurisdicionados. - A vedação às atividades político-partidárias tem a ver com a relação entre a magistratura e o STE. Estatuto da Magistratura - A CF adianta alguns requisitos constitucionais do Estatuto da Magistratura. Os demais requisitos estão na LC referida no art. 93. - CF “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago; → corporativismo da magistratura: querem tratar as pessoas como se fossem dedicadas igualmente, contudo não são e algumas pessoas continuam sendo promovidas apenas por serem mais antigas na carreira; [...] III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância; IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros; XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; […]” 11. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: COMPOSIÇÃO, ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS - Histórico: O STF é uma criação republicana. Havia o Supremo Tribunal de Justiça na época do império, mas que não tinha a conotação que tem hoje o STF. A magistratura como um todo, na época do império, não tinha os aparatos institucionais, a condição de autonomia que tem hoje. Com a CF republicana de 1891, surgiu o STF, inspirado na Suprema Corte dos EUA. O controle de constitucionalidade também foi inspirado nos EUA. O STF nasce como o segundo grau da justiça federal. Não existiam os tribunais regionais federais. - O STF surge como um órgão jurisdicional de cúpula, mas com uma corte com características recursais; Composição do STF - CF “Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.” - Antes eram 15 ministros para muito menos processos que chegam ao supremo; hoje são poucos, que carregam muitos poderes; - Reputação ilibada: não ter antecedentes criminais; - Notável saber jurídico: Elival indica haver uma comissão técnica para analisar as opções; perguntar aos candidatos quais as suas opiniões acerca do ativismo judicial, da judicialização da saúde, etc.; Problemas do STF - O STF é um órgão de natureza recursal. O principal recurso que chega ao STF é o recurso extraordinário. Preenchidos os pressupostos de admissibilidade do recurso, o STF conhece e julga o mérito da questão. - A questão que se coloca é se o STF deve continuar sendo um órgão recursal ou se devemos transformá-lo numa autêntica corte constitucional, em que a função de guardião da constituição seria a função primordial do STF. - As cortes constitucionais no estilo europeu não julgam o mérito do caso concreto, mas apenas definem a constitucionalidade ou não, que é um pressuposto do julgamento do caso. Assim, apenas questões constitucionais são analisadas e, depois, os processos são devolvidos para o julgamento pelas cortes ordinárias. - O STF tem se concentrado notadamente em matéria penal, sendo visto como “guardião da liberdade individual”. Ora, é o judiciário que é o guardião da liberdade individual, não necessariamente o STF, mas todos os juízes e tribunais. Metade dos casos do STF são de matéria penal, infinitos casos de habbeas corpus. É um absurdo que o STF analise esses casos, inclusive de matéria factual. - Um dos problemas do STF é o excesso de processos. Isso só se resolverá com uma reorientação constitucional acerca de suas competências, reduzindo-as. - Outro problema do STF é a falta de especialização. Como o STF julga o mérito, ele tem que julgar todo tipo de processo. Mas se fosse uma corte constitucional no sentido europeu, o STF julgaria apenas matéria constitucional. Os ministros seriam, então, pessoas especializadas em matéria constitucional, o que elevaria o nível das discussões do STF. Mas, hoje, cada ministro é de uma área. - Outro problema do STF é o ativismo judicial. Competências do STF - CF “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição […]” → função de guardião da Constituição. - Essa função de guardião da Constituição se desdobra em várias atribuições: Competências Originárias: São aquelas incumbidas inicialmente ao STF, de modo que o processo não passa por nenhuma outra instância, mas vai direto no STF. Ex.: ações diretas de inconstitucionalidade (controle abstrato de constitucionalidade → o STF julga a norma, não julga caso concreto); - Previstas no Art. 102, inc. I, da CF: - “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo- lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus própriosMinistros e o Procurador-Geral da República; (foro privilegiado ou foro por prerrogativa de função) d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; (jurisprudência: apenas casos que tenham pacto federativo) g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; OBS.: reclamação é uma ação judicial que pede que se preserve a competência do STF, que teria sido desrespeitada por uma autoridade administrativa ou judiciária. q) o mandado de injunção [...] Competências Recursais: - Previstas no Art. 102, inc. II e inc. III, da CF: - “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo- lhe: II - julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus , o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; III - julgar, mediante recurso extraordinário [controle incidental], as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. - Uma vez que todos esses recursos atolariam o STF, criou- se, com a Emenda 45, o requisito da repercussão geral: “Art. 102 § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.” Papel Uniformizador de Jurisprudência do STF Efeito Erga Omnes e Efeito Vinculante (Art. 102, § 2º) - CF “Art. 102. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.” - Efeito vinculante (conceito seguido por Elival): aplicar uma medida disciplinar contra um magistrado que se recusa a cumprir uma decisão do STF no controle abstrato de normas; - Muitos defendem que o efeito vinculante diz respeito aos motivos determinantes da decisão, ou seja, não só seria obrigatório cumprir o dispositivo da decisão, mas também os seus motivos determinantes. Contudo, se os própios dispositivos não são claros, menos ainda serão os motivos determinantes. Repercussão Geral (Art. 120. § 3º) - CF “Art. 120. § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.” - A repercussão geral é um requisito/pressuposto de conhecimento ou admissibilidade do recurso, ou seja, se não tiver repercussão geral não é julgado o mérito do recurso. A repercussão geral, que pode ser ampla, jurídica, social, econômica, etc., tem que ser reconhecida por, pelo menos, quatro ministros. Assim, no recurso, deve haver uma sessão que demonstre a repercussão geral, deve ser mostrado que aquele não é um caso que vai ficar limitado a um interesse pessoal, mas que tem um impacto maior na sociedade, no direito, etc. - Porém, o STF tem regulado a aplicação da repercussão geral. Quando o STF identifica que há repercussão geral, o STF paralisa os outros processos, isto é, as outras instâncias paralisam o julgamento, o STF comunica que tem um processo de repercussão geral sendo examinado e a decisão tomada naquele caso servirá de modelo. - Então, a repercussão geral surgiu como um pressuposto de cabimento, a fim de diminuir o número de recursos extraordinários, e hoje é uma técnica de uniformização. Súmula Vinculante (Art. 103-A) - Funcionou junto com a repercussão geral durante um tempo. Hoje a repercussão geral tem mais autonomia, até para a regulação infraconstitucional, notadamente do CPC e do regimento interno do STF. - A súmula vinculante tem origem no direito português, que, durante o Brasil colônia, fixava entendimentos vinculativos para as demais autoridades judiciárias. Tratava-se da figura dos “assentos”, uma consolidação de jurisprudências. - Trata-se do exercício de competência normativa pelo poder judiciário. - Natureza da súmula vinculante: ato normativo. Não é uma decisão judicial, não é um ato jurisdicional; não significa o julgamento de um caso, mas julgamentos reiterados de casos constituem pressuposto da Súmula. - Súmula de Orientação Jurisprudencial: não é vinculante, ou seja, não é obrigatória, visto que é de orientação. Hoje, o STF praticamente não faz mais súmulas de orientação, mas foca nas súmulas vinculantes ou nos temas de repercussão geral. - CF “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.” - Poder ser editada de ofício, prova que a Súmula vinculante é ato normativo e não-jurisdicional, visto que exercícios jurisdicionais não ocorrem de ofício. - Outra novidade é que, enquanto as súmulas de orientação são voltadas para o poder judiciário, as súmulas vinculantes se voltam também à administração pública. - A súmula é um ato normativo de segundo grau. Não é um decreto regulamentar, mas a súmula não está em nível constitucional e não está em nível primário, pois não cria direitos e obrigações, mas a súmula interpreta a lei ou a constituição, define validade de um ato legislativo; - A ideia da súmula é uniformizar a jurisprudência de maneira compulsória, vinculante. - CF “Art. 103-A. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.” - Validade de um ato normativo em face da CF. Discussão sobre a constitucionalidade ou não de uma disposição legal ou regulamentar; - A eficácia diz respeito à própria Constituição. Ou seja, a Súmula vai definir os efeitos de uma norma constitucional. Ex.: definir se uma norma constitucional tem eficáciaplena ou limitada. Definir se uma norma tem eficácia plena ou limitada com base na CF. Definir se um dispositivo legal foi ou não revogado pela CF. Contudo, definir se uma lei foi revogada por outra não é matéria constitucional e, portanto, não cabe súmula vinculante. - A interpretação segue a mesma lógica. A interpretação pura e simples de uma lei ordinária não é matéria de súmula vinculante. Pode ser interpretação de um dispositivo da CF ou então a interpretação de um dispositivo legal para verificar se é ou não constitucional. - CF “Art. 103-A. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.” - CF “Art. 103-A § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.” → Além disso, hoje a lei que dispõe sobre súmulas vinculantes prevê a responsabilidade disciplinar de magistrados ou membros da administração que descumpram a súmula vinculante. - O problema das súmulas vinculantes é que, se o STF as edita em grande quantidade, haverá um grande número de reclamações porque, como todo ato normativo, a própria súmula será interpretada. Conselho Nacional de Justiça - Controle do poder judiciário. - O judiciário tem uma estrutura escalonar em níveis entre as várias justiças que já propriciam o controle pelo seu próprio funcionamento normal (em tudo cabe recurso). Isso mostra que, na função jurisdicional, não há necessidade de outros controles. Contudo, a ideia de criação do CNJ não foi de melhorar o controle em matéria jurisdicional, mas de melhorar o controle político- administrativo do judiciário. - O judiciário tem a sua própria administração e conta com orçamentos autônomos e expressivos. É necessário saber se o dinheiro público está sendo bem usado. Isso caberia aos Tribunais de Contas, ao poder legislativo, examinar a regularidade, mas não o fazem. Então, criou-se o CNJ, órgão para fazer o controle financeiro e administrativo do judiciário. - CF “Art. 103-B § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; → O CNJ tem competência disciplinar e pode aplicar sanção disciplinar, sem prejuízo das corregedorias, pois o CNJ não substitui as corregedorias, mas atua quando elas não funcionam. VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;” - Os atos do CNJ são passíveis de controle pelo STF. - O CNJ não é um órgão de controle externo, mas interno: CF “Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I-A o Conselho Nacional de Justiça;” - A composição do CNJ (fixada no art. 103-B) é majoritariamente de magistrados. - CNJ tem competências administrativas e não jurisdicionais. - O CNJ trata de transparência e democratização da gestão administrativo-financeira. Superior Tribunal de Justiça - Antes da CF de 88, o STF exercia dois papeis: função de guardião da Constituição e guardião do direito federal. Isso vinha da origem do STF como segunda instância da justiça federal. Tudo isso inchava o STF. - Com a CF de 88, o STF abriu mão da função de guardião da justiça federal, sendo necessário criar um novo tribunal, que seria o Superior Tribunal de Justiça (STJ). - O STJ tem, então, o papel de guardião do direito federal, fazendo-o por meio do recurso especial. - CF “Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros. Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94. - A estrutura de competências é muito parecida com a do STF, ou seja, tem-se as competências originárias e as competências recursais: - CF “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; [...] II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; […] III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.” - Cabe, então, ao STJ uniformizar a interpretação e aplicação do direito federal. - Desse modo, a possibilidade de recursos ao STJ é limitada. Só chegam ao STJ questões envolvendo lei federal (contrariações e interpretações diversas). Assim como só chegam ao STF questões constitucionais. Se a questão envolver lei federal e a CF, primeiro o STJ julga e, por último, o STF. O recurso extraordinário fica, então, aguardando a resolução do rescurso especial. Ativismo do Supremo Tribunal Federal - Politização da justiça: irregularidade ou anormalidade institucional;- Judicialização da política: No controle de constitucionalidade, as decisões tomadas pelo STF têm um impacto no sistema político, especialmente aquelas envolvendo a justiça eleitoral → Controle jurídico: função do poder judiciário; - A judicialização da política vem em razão do controle de constitucionalidade; - Com o aumento dos instrumentos de controle de legalidade e de constitucionalidade, há mais judicialização e, consequentemente, um maior número de processos. - Indicação de leitura: “Juízes legisladores” de Mauro Cappelleti (trata da judicialização, não do ativismo) - Outra coisa muito diferente da judicialização, é o ativismo judicial. - Ativismo judicial: Intervenção judicial passando por cima dos parâmetros que o direito nos fornece. Em um Estado de Direito, ninguém pode fazer o que quer, mas a CF deve ser sempre seguida. O ativismo é uma judicialização qualificada. Pode haver, também, o ativismo mesmo que não haja judicialização, isto é, mesmo que o judiciário esteja julgando poucos casos, quando julga, o faz de maneira equivocada. - Quem corrige o STF? A doutrina, a crítica pública, as críticas do parlamento, as propostas de reformação institucional, etc. - O ativismo judicial desenfreado, como tem ocorrido no Brasil, mostra que temos problemas institucionais graves. - Essencialmente, o ativismo é julgar fora da sua competência constitucional. - O STF começa a não mais aplicar a Constituição nos casos, mas a formatá-la, a escrevê-la. - Ex.: crimes hediondos: Havia um dispositivo na lei dos crimes hediondos que proibia a progressão do cumprimento da pena. O STF dizia que esse dispositivo era inconstitucional, mas decidia apenas em casos concretos, isto é, não tinha efeitos erga omnes. Num caso, depois do STF ter decidido sobre essa matéria várias vezes, um juíz não concordou com o STF e, sob a perpectiva de que o STF decidiu sobre os casos incidentalmente (não erga omnes), o juíz não concedeu progressão de pena naquele caso. Quando o caso chegou ao STF, os ministros Gilmar Mendes e Eros Grau entenderam que o controle incidental já havia evoluído para o efeito erga omnes por uma interpretação do texto constitucional. O ministro Eros Grau disse, em um simpósio, que não se tratava de interpretar a CF, mas de reescrevê-la. A CF não diz que uma decisão incidental do STF se torna erga omnes devido à quantidade de vezes que ella foi aplicada. Por qualquer elemento do método jurídico de interpretação, não se chega a essa conclusão. Ora, mas o judiciário não gostar do texto constitucional e inventar um texto é ativismo. Países em que há ativismo judicial são países em que a democracia funciona bem não têm ativismo judicial. - No ativismo, as normas são criadas de acordo com os padrões morais do juíz. - Causas do ativismo judicial: Fator estrutural sistêmico: Os juízes decidem porque o Congresso se omite. Ou seja, o ativismo como resultado da fragilidade da representação política, a qual, por sua vez, é resultado da proliferação de partidos políticos no Congresso. O judiciário tem assumido um papel político, quase uma partidarização. A conduta dos ministros tem sido mais parecida com a de um político e de um legislador do que com a de um juíz. Desse modo, os partidos devem ser fortalecidos, o que é conseguido com um sistema eleitoral majoritário, diminuir o número de partidos, deve-se fazer com que os governos tenham maioria sólida no parlamento. Fator ideológico: O positivismo é a ciência do direito, mas o que tem predominado no STF é o moralismo jurídico, capitaneado por figuras como o ministro Roberto Barroso, adepto do neoconstitucionalismo (substituição dos padrões da norma pela moral). Em vez do critério do legislador, que é o mais objetivo possível, ocorre o subjetivismo do julgador. Entre uma regra e um princípio, fiquemos com um princípio. 12. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: NATUREZA E MODALIDADES Relação entre a Supremacia da Constituição e o Controle de Constitucionalidade - O controle de constitucionalidade é uma decorrência do princípio da Supremacia da Constituição, o que permite a distinção entre constituições rígidas e flexíveis, sendo estas aquelas constituições alteráveis pelos mesmos procedimentos do direito comum, portanto não há uma distinção formal entre a Constituição flexível e as leis ordinárias. - A distinção formal entre a Constituição rígida e as leis ordinárias pressupõe um procedimento diferente de alteração da CF. - O poder constituinte originário tem algumas características associadas à soberania estatal e uma delas é o fato de se tratar de um poder supremo, isto é, o poder máximo dentro do Estado, não havendo nenhum poder acima dele. A partir disso, ele vai estruturar as instituições do ordenamento jurídico elaborando uma Constituição. - Segundo o constitucionalismo, nós precisamos reduzir o pacto social a termo. Precisamos ter normas fundamentais sobre as instituições do Estado que fiquem livres de alterações muito frequentes, sendo necessária a estabilidade do jogo político e a Constituição serve muito bem a isso. - O poder constituinte originário elabora, então, a Constituição e esta, por sua vez, herda do poder constituinte a supremacia, tratando-se, portanto, da lei suprema, a lei que está no ápice da pirâmide jurídica. - Portanto, a supremacia começa no plano político e, depois, passa ao plano jurídico. O direito é um fenômeno político, ele nasce da política. Depois, o próprio direito se debruça sobre a política ordinária e vai regulá-la. - Surge a necessidade de atualização das normas constitucionais. É quando nasce o poder constituinte derivado de revisão, um poder de reforma. Tal poder utiliza um procedimento especial de alteração da Constituição. Na verdade, quem altera a CF não é o poder legislativo ordinário, mas o poder incumbido pelo poder constituinte originário de fazer a revisão. Ainda que o poder legislativo receba essa incumbência, ele estaria atuando em outro papel, que não o poder legislativo ordinário, mas o poder constituinte derivado de revisão. - Desse modo, é evidente que a rigidez decorre da supremacia e não o contrário, ou seja, a Constituição não é suprema porque é rígida, mas é rígida porque é suprema. Assim, as normas constitucionais não podem ser alteradas por procedimentos comuns. - Assim, o controle de constitucionalidade surge como um remédio para sanar as infrações que sejam cometidas em face da rigidez constitucional. O controle age quando não são observados os procedimentos de mudança ou quando é editada uma norma contrária à CF. - O controle de constitucionalidade é um mecanismo de preservação da CF. - Tanto a rigidez quanto o controle de constitucionalidade são consequências da supremacia da CF. Vício de Inconstitucionalidade, Sanção de Inconstitucionalidade e Controle de Constitucionalidade - Vício de Inconstitucionalidade: todos os atos legislativos passam por uma verificação acerca de sua constitucionalidade – se tem a forma correta, o conteúdo correto, se foi editado por entidade competente no caso do Estado federal. Tratam-se de modalidades de vício. - Sanção de Inconstitucionalidade: É a consequência do vício. E, em função de cada sistema constitucional e dos mecanismos de controle, podemos ter a sanção de nulidade ou de anulabilidade. - Tese de doutorado do Elival: mostrar que há uma correlação entre a estrutura do sistema de controle e o vício de inconstitucionalidade. No contexto brasileiro, a sanção é essencialmente de nulidade, não sendo possível haver sanção de anulabilidade. - Controle de Constitucionalidade: é a evoluçãodo vício em relação à sua “cura”. - Os negócios jurídicos se projetam em três planos: existência, validade e eficácia: Existência: aquilo é ou não é uma lei; Validade: a lei é válida? Requisitos de validade; Eficácia: a lei está no período de vacacio legis? - Quando tratamos do vício de constitucionalidade, estamos no plano da validade do ato legislativo. Categorias de Vícios de Inconstitucionalidade Vício Formal: lei que contraria o processo legislativo; Vício Material: quando o conteúdo da lei não observa o que está na CF; Vício Orgânico: lei que não foi legislada por entidade competente em um Estado federal; Vício finalístico: trata da ideia de que toda lei existe para um determinado fim e o ato legislativo deve ser apto a promover esse fim; há o vício finalístico quando a lei é inapta para atingir os seus fins. É onde entra o teste de proporcionalidade. Ex.: leis que restringem liberdades exorbitantemente, sendo que os mesmos objetivos poderiam ser atingidos de outra forma mais suave. Sanções - Uma vez constatado o vício, vai depender do sistema de controle identificar qual a sanção adequada. - No caso do Brasil, indubitavelmente o nosso sistema é de nulidade, ou seja, o ato inconstitucional é nulo, a chamada nulidade absoluta ou nulidade ab initio – desde o nascimento o ato é nulo e não produz efeitos. - Essa nulidade não depende de ser identificada em ato judicial, mas o ato já é nulo. A decisão judicial vai apenas constatar essa nulidade. - Nulidade ab initio e pleno iure (desde o início e de pleno direito) - Nos sistemas europeus, trabalha-se com a anulabilidade, ou seja, o ato não é inválido desde o início, ele tem uma validade condicional. A decisão judicial deve desconstituir o ato para que este se torne inválido. Controle de Constitucionalidade - Procedimento no qual se aplica a sanção por inconstitucionalidade ou se declara a lei pleno iure. Então, o procedimento pelo qual se efetiva uma sanção de inconstitucionalidade é o controle de constitucionalidade. - Origem histórica: o judicial review é um legado do constitucionalismo estadunidense, tal qual o federalismo e o presidencialismo. - Esse controle surge nos EUA sem previsão expressa na CF, mas a CF se declarava a lei suprema – Law of The Land – e há o poder judiciário incumbido de aplicar a lei, inclusive a CF. Então, houve uma construção pretoriana que identificou essa possibilidade clara, explicitou algo que incorria no sistema. - Houve o famoso caso do Marbury vs. Madison, em que a Suprem Corte tomou uma decisão, em 1803, invalidando uma lei federal. Nesse caso, era uma lei que regulamentava a disciplina processual da Suprema Corte, sendo que a CF era clara ao afirmar que apenas a própria CF fazia a regulamentação processual da Suprema Corte. - O controle de constitucionalidade surge, então, como uma atribuição ordinária do judiciário. Ao contrário do sistema europeu, em que se cria um modelo em que a Corte Constitucional vai receber competência explícita para realizar o controle – é exigida previsão constitucional –, assim o judiciário vai realizar uma função extraordinária. - O sistema europeu é também chamado de sistema kelseniano e sistema austríaco. Classificações do Controle de Constitucionalidade Controle Preventivo vs. Controle Repressivo - Critério: momento em que se realiza o controle - Quando o controle é feito na elaboração do ato legislativo controlado, momento em que o ato legislativo ainda não está pronto, trata-se de um controle preventivo. - Quando o controle é feito posteriormente à realização do ato legislativo, trata-se de um controle repressivo. - O momento determinante para saber se o controle é preventivo ou repressivo, na maior parte dos sistemas de controle, é a publicação do ato de promulgação de uma lei. - Uma lei que passou pelo legislativo e pelo executivo, mas ainda não foi publicada, se sofre controle, trata-se de controle preventivo. Isso porque a lei já existe, mas não é do conhecimento de ninguém. Controle Jurisdicional vs. Controle Político - Critério: natureza do controle de constitucionalidade. - O controle político é o controle não jurisdicional, é tudo que não é jurisdicional. - O controle é feito no exercício de uma função estatal. Se a função que realiza o controle é a função jurisdicional, temos um controle jurisdicional. Se a função que realiza o controle é qualquer outra função do Estado, trata-se de controle político. - O controle não é político porque realizado por órgão político e jurisdicional porque realizado por órgão do judiciário. Não se trata da titularidade do controle, mas da natureza objetiva da atividade. - Além disso, quando se fala em controle político, não se trata de um controle que leva em conta, necessariamente, elementos de conveniência e oportunidade. É verdade que no controle político a avaliação do ato controlado sob o ponto de vista do mérito acaba sendo mais presente do que no caso do controle jurisdicional, o qual é um controle técnico (ou, pelo menos, deveria ser) fundado em aspectos jurídicos. - Por vezes, podemos ter um controle político fundado em um critério jurídico. Ex.: sistema francês: a França, desde 2008, com a reforma da Constituição, tem um sistema complexo porque possui o controle preventivo e o repressivo; o controle repressivo segue o padrão europeu, mas só existe em matéria de lesão aos direitos fundamentais; fora isso, o controle é apenas preventivo, sendo que este se vale de critérios técnicos e jurídicos, verificando a adequação da lei à Constituição. Na França, também há, por vezes, o controle político, permado por questões de conveniência e oportunidade, então é político no sentido de análise do mérito. - O Brasil contempla as duas modalidades de controle, o político e o jurisdicional. Controle Difuso vs. Controle Concentrado - Critério: orgânico/subjetivo - Se dentro do aparato jurisdicional, nós temos apenas um tribunal que faz o controle de constitucionalidade, trata-se de controle concentrado. - Se todo e qualquer juízo ou tribunal tem competência de controle de constitucionalidade, trata-se de controle difuso. - Não é possível aquí um sistema misto porque eu não posso concentrar e ser difuso ao mesmo tempo. - No Brasil, todos os juízes e tribunais, de alguma maneira, podem fazer controle de constitucionalidade, então, o nosso sistema é difuso. - O CPC faz referência a um possível controle concentrado, que não existe no Brasil. Controle Principal vs. Controle Incidental - Critério: modal/procedimental - Controle Principal ou Abstrato: É aquele em que o objeto principal do processo de controle é a questão de constitucionalidade. Ex.: Ação direta de inconstitucionalidade que tem por objeto um dispositivo do CC (ex.: união estável homoafetiva é constitucional?) → Nesse caso, tem-se apenas uma questão em abstrato sendo discutida. Não é um caso em que se examina a união homoafetiva de Antônio e Joaquim. Trata-se da verificação de um dispositivo legal. - Controle Concreto ou Incidental: É aquele em que há um processo concreto sendo julgado. A questão de constitucionalidade não é o objeto principal do processo. Ex.: município quer cobrar taxa de recolhimento de lixo e cobra mais de uma casa que é maior; o contribuinte entra com uma ação de controle incidental. O objeto principal desse processo é uma obrigação de pagar. O município entende que o contribuinte é obrigado a pagar. O contribuinte entende que não. Resolver se a taxa pode ser cobrada é uma questão prejudicial, isso quer dizer que ela debe ser revolvida antes da análise do mérito. - Essa classificação admite um controle misto. Eu posso ter um sistema em que existainstrumentos de controle principal ao lado de instrumentos de controle incidental. No Brasil existe: ações diretas → controle principal/ abstrato; recurso extraordinário → controle incidental. O sistema brasileiro é, então, misto nesse aspecto. Decisão Inter partes vs. Decisão Erga omnes - Critério: aspecto subjetivo – quem é afetado pela decisão. - Decisão com efeitos inter partes (entre as partes) - Decisão com efeitos erga omnes (para todos) Sistema Sancionatório de Nulidade vs. Sistema Sancionatório de Anulabilidade (Decisão Retroativa vs. Decisão Irretroativa) - Critério: temporal – as decisões são retroativas ou irretroativas. - Essa decisão depende do sistema sancionatório. Se o sistema sancionatório é de nulidade, há uma declaração de nulidade e, por isso, qualquer evento ocorrido por conta de uma sanção nula já nasceu nulo. Então, diz-se que há retroatividade, mas o que há é uma constatação da nulidade e, por conseguinte, da retroatividade, mas a nulidade de atos derivados de ações nulas é imposta pelo ordenamento jurídico desde o início do ato, não havendo retroavidade, portanto, quando o sistema sancionatório é de nulidade. Assim, as decisões, quando o sistema sancionatório é a nulidade, são aparentemente retroativas, mas, na verdade, não o são. - Nas sações de anulabilidade, há uma validade temporária; o ato nasce válido, mas com defeito, podendo ser invalidado, isto é, anulado. Há uma modulação dos efeitos da decisão. A decisão que anula é uma decisão desconstitutiva negativa. Nesses casos, deve ser estabelecido como se dará a invalidação: Ela se dá da decisão judicial adiante? Decisão judicial irretroativa. Ela se dá apagando os efeitos pretéritos do ato? Decisão retroativa. A retroação pode ser total, chegando até a apagar o efeito revogatório do ato, ou parcial, como quando se preserva o efeito revogatório. Há, também, a possibilidade de anulação pro-futuro: mantém-se o ato legislativo e projeta-se a sua anulação para daqui a um tempo. - A CF brasileira não prevê anulação, uma vez que o nosso sistema é de nulidade. Atualmente, há uma lei ordinária que estabelece a anulação, a Lei 9868/99, que disciplina as ações diretas em seu art. 27: “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.” → Há uma ação da OAB contra esse dispositivo e a doutrina também entende que o STF deveria primeiro julgar a ação direta. Comparação entre os Sistemas Modelares de Controle: Sistema Estadunidense vs. Sistema Europeu Sistema Estadunidense - Surge dentro da ideia de que cabe ao poder judiciário fazer o controle de constitucionalidade dentro do uso de suas atribuições ordinárias. O controle é ínsito ao trabalho judicial comum. - É um sistema repressivo. Há uma preocupação em preservar as decisões interna corporis, isto é, os trabalhos do legislativo. - É um sistema jurisdicional. A atuação do poder judiciário, notadamente da Suprema Corte, é uma função jurisdicional. Trata-se do exercício da jurisdição. - É um sistema difuso. Todo juízo ou tribunal faz controle, respeitada a sua competência processual. - É um sistema incidental. Não há controle principal; não há ações diretas de inconstitucionalidade nos EUA. Não existe, portanto, controle abstrato. O controle é sempre concreto. - As decisões têm efeitos inter partes. Porém, nos EUA, vigora a regra do precedente: a decisão de um determinado órgão jurisdicional é vinculante para os órgãos inferiores da mesma jurisdição. - O sistema sancionatório é o sistema da nulidade absoluta. Uma lei inconstitucional é nula e sem efeitos. As leis inconstitucionais são nulas ad inicio, independentemente de decisão judicial, que apenas constata a invalidade. Essas decisões são apenas declaratórias de nulidade, havendo apenas uma aparência de retroatividade. Sistema Europeu - Na Europa, durante todo o século XIX, não havia controle de constitucionalidade porque vigorava o Princípio da Soberania do Legislador. Havia a ideia de que o controle de constitucionalidade era o judiciário se colocando acima do legislador. Mas, na verdade, o poder soberano é a Constituição e o controle de constitucionalidade é o judiciário aplicando a Constituição. Isso perdurou até que surgiu um grande jurista, Hans Kelsen, que propõe o controle de Constitucionalidade em sua feição abstrata, não como uma função ordinária do poder judiciário, mas como uma função especial não do poder judiciário, mas de um poder autônomo em relação ao judiciário, que exerceria a jurisdição. Teria uma função mais de aplicação do que de elaboração de normas. O juíz teria, então, uma liberdade de criação muito menor do que a do legislador, que tem uma discricionariedade maior. - Kelsen fala da função do legislador negativo: existe o legislador comum, que é positivo, estabelece novos direitos e obrigações, e a função do legislador negativo, que invalida esses atos normativos ou que os revoga de uma maneira especial → Primeiros passos na criação de um novo modelo, até porque não se trata de revogação, mas sim de invalidação; a função, por sua vez, é jurisdicional e não legislativa. - O controle é repressivo (contudo, há algumas atuações preventivas) e jurisdicional. - É um controle concentrado (grande diferença para o modelo estadunidense). Apenas um tribunal tem competência para fazer controle, a Corte Constitucional, é um tribunal especializado que tem o monopólio do controle de constitucionalidade, daí o maior apuro técnico da jurisprudência constitucional. Surgindo uma questão de constitucionalidade em um processo de um tribunal comum, o que faz o juíz, uma vez que ele não pode julgar o mérito sem resolver a questão constitucional? O juiz suscita o incidente de inconstitucionalidade. A Corte Constitucional julga, então, apenas a questão constitucional, sem julgar o mérito. OBS.: O incidente de inconstitucionalidade brasileiro tem outra lógica. - No aspecto modal, é um sistema misto, isto é, admite o controle abstrato (ações diretas de inconstitucionalidade) e o controle concreto (incidentes de inconstitucionalidade). - Todas as decisões, sejam as decisões dos incidentes de inconstitucionalidade, sejam as de ações diretas de inconstitucionalidade, são erga omnes. - O sistema sancionatório é, em geral, a anulabilidade. Assim, a decisão que anula uma lei por anulabilidade é desconstitutiva e projeta os efeitos temporais (retroatividade parcial ou total, irretroatividade ou pró- futuro), trata-se da modulação dos efeitos temporais da decisão. - É, portanto, um modelo de jurisdição constitucional especializada (característica fundamental que difere o modelo europeu do modelo estadunidense). Trata-se de um modelo muito mais compatível com o Estado Social de Direito. Enquanto o sistema estadunidense é muito mais compatível com um modelo de Democracia Liberal. Controle de Constitucionalidade no Brasil - O sistema brasileiro de controle se filia ao sistema-tipo estadunidense, essencialmente, porque o nosso sistema é difuso e aplica sanção de nulidade. - O sistema sancionatório brasileiro aceito por esmagadora maioria da doutrina é o de nulidade. Sendo assim, as decisões são declaratórias de inconstitucionalidade (ADI – Ação-Direta Declaratóriade Inconstitucionalidade). - Quanto ao aspecto orgânico (controle concentrado e difuso), o sistema brasileiro não é misto. Não existe sistema misto nessa categoria, apesar de que iremos encontrar essa nomenclatura na doutrina, na jurisprudência e no CPC. No Brasil, o controle é difuso. - Há, contudo, uma tendência do sistema brasileiro à europeização. Isso porque nós temos, em relação ao sistema modal, a adoção do controle abstrato, que é típico do modelo europeu. - CF “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;” - Ministério Público x Advocacia Pública: Advocacia Pública em nível federal hoje é chefiada pelo Advogado Geral da União (representa o governo federal na Justiça e na esfera administrativa). Ministério Público é chefiado pelo Procurador Geral da República - A partir da CF de 1988, adotou-se o caráter misto no aspecto modal (controle concreto/incidental e abstrato/principal). No controle principal, todas as decisões têm efeito erga omnes. Nós adotamos institutos que procuram dar efeitos gerais a decisões com efeitos inter partes (súmula vinculante, repercussão geral). A tendência do modelo brasileiro é atribuir às decisões de controle efeitos gerais, efeitos erga omnes, portanto, europeização. - No tocante à sanção de nulidade, a partir da Lei 9868/99, que dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, o art. 27 prevê: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado [portanto, atribuindo a ela o caráter irretroativo] ou de outro momento que venha a ser fixado.” Alguns autores chamam isso, equivocadamente, de modulação de efeitos, sendo que não se trata disso, pois, por razões excepcionais de segurança jurídica, interesse social, etc., o STF é autorizado a emprestar efeitos mais restritos à declaração de inconstitucionalidade. Para Elival, trata-se de uma convalidação parcial, pois trata-se de controle abstrato. O STF decide que a declaração de inconstitucionalidade só vale da decisão adiante, para trás não vale, isso significa que estamos convalidando uma série de situações passadas. Essas situações, pelo nosso sistema, de pleno direito, eram nulas e inválidas. A partir da decisão do STF elas são convalidadas. Isso não se trata de uma modulação de efeitos, pois esta ocorre quando a lei é válida e, a partir de certo momento, ela é invalidada. Ora, mas a sanção de nulidade decorre da CF, como por lei ordinária nós podemos convalidar os efeitos do ato nulo? Por isso o art. 27 é inconstitucional. Características do Sistema de Controle de Constitucionalidade Brasileiro - Quanto ao aspecto da natureza do sistema de controle, o nosso modelo é essencialmente de função jurisdicional, mas existe também a função política (controle exercido pelo legislativo e executivo). - Quanto ao momento em que se realiza o controle, o controle jurisdicional brasileiro é exclusivamente repressivo. Já o controle político pode ser preventivo ou repressivo. É preventivo, por exemplo, no veto do presidente da república por razões de inconstitucionalidade. É repressivo, por exemplo, na intervenção federal; na resolução suspensiva da execução de lei ou ato normativo declarado, no todo ou em parte, inconstitucional em decisão definitiva do STF; e na medida provisória. - Quanto ao critério orgânico/subjetivo, o controle brasileiro é difuso, pois todos os órgãos jurisdicionais do Brasil fazem controle. Não tem controle concentrado no Brasil. - Quanto ao modo, o Brasil faz controle incidental/concreto e controle principal/abstrato, sendo portanto um controle modal misto. Quando o STF julga um recurso extraordinário, quando faz um habeas corpus está fazendo controle incidental, quando faz um mandado de segurança pode fazer controle incidental. Por outro lado, nas ações diretas declaratórias de inconstitucionalidade (ADI) e nas ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) há controle principal/abstrato. - No controle principal, as decisões têm caráter erga omnes. Já no controle incidental, as decisões têm caráter inter partes, mas há instrumentos em paralelo para atribuir a essas decisões efeitos gerais. - Em relação aos efeitos, a sanção de inconstitucionalidade é a nulidade. O Controle Abstrato no Brasil - O controle abstrato no Brasil éfeito, essencialmente, pelas Ações Diretas. - CF “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;” - Então não há controle abstrato em relação a leis e atos normativos municipais? Lei municipal em confronto com a CF não há controle abstrato. - CF “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação [Ação Direta] de inconstitucionalidadede leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.” - Desse modo, se uma lei ou ato normativo municipal ou estadual contrariar a Constituição Estadual, há a possibilidade de controle abstrato, desde que a Constituição do respectivo estado preveja o instrumento. Têm-se, então, as Ações Diretas Estaduais. - Os proponentes do controle abstrato: “CF Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.” → Com a CF de 88, passou-se de uma restrição muito grande na legitimação ativa para uma abertura inconsequente. - As ações declaratórias de constitucionalidade são feitas em função de decisões concretas específicas em processos judiciais em sentido contrário (controvérsia judicial fundada). Para Elival, esse tipo de ação vai na contramão do sistema de controle. OBS.: Não há ADC nos estados. - ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental): espécie de ADI subsidiária, isto é, quando não cabe ADI, cabe a ADPF. Situações importantes de cabimento da ADPF: Problemas de não-recepção, que não se confunde com inconstitucionalidade. A não-recepção é uma contrariedade à CF que decorre do fato de haver uma lei precedente à CF. Problema de revogação. Essa lei não foi recepcionada pela nova ordem constitucional e, portanto, ella foi revogada. A constatação dessa revogação será feita por meio de ADPF. Se há contrariedade de uma lei municipal com a Constituição Federal e não com a Constituição Estadual, cabe ADPF.lei federal sobre normas gerais, os Estados [municípios também] exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.” “§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” - Sistema tributário brasileiro: Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. - Impostos: cobranças que dizem respeito aos recursos básicos para a manutenção da máquina pública; - Taxas: vinculadas a uma finalidade específica. Ex.: para ter um veículo, preciso pagar uma taxa para o poder de policia fiscalizar o trânsito. Ex.: taxa para o uso de serviços públicos, como a água, a energia, etc.; - Contribuição de melhoria: em obras públicas que valorizam imóveis, o poder público pode cobrar por aquilo que foi apropriado pelo proprietário do imóvel. Não é tão comum no Brasil. - Empréstimo compulsório: ao contrário dos demais empréstimos, eu não escolho se concordo ou não com ele, ou seja, eu sou obrigado a ceder aqueles recursos, mas eles são devolvidos posteriormente. Só há possibilidade de empréstimo compulsório nas condições estabelecidas pela Constituição: “Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b". Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.” - A CF utiliza a técnica horizontal para estabelecer quais impostos serão cobrados. - A CF não institui imposto algum (quem institui são os entes federados), ou seja, ela não cria impostos, mas prevê a possibilidade da cobrança de impostos e reparte a competência tributária. - O Art. 153 estabelece os impostos que a União pode instituir. - Impostos residuais, isto é, impostos não previstos pela CF, só podem ser criados pela União. - O Art. 155 estabelece os impostos que os Estados e o DF podem instituir. - O Art. 156 estabelece os impostos que os Municípios podem instituir. - Os municípios que têm imóveis mais valorizados arrecadam muito com IPTU, mas os municípios mais pobres arrecadam bem menos, já que os imóveis não são tão valorizados. Ademais, há municípios com elevado setor de serviços, como escritórios médicos, de advocacia, imobiliárias, etc., que pagam IPTU, mas há municípios que o setor de serviços é muito fraco. Desse modo, para compensar essa desigualdade de arrecadação, utiliza-se um mecanismo análogo à técnica de repartição vertical. Essa técnica consiste na participação de uma entidade na arrecadação de outra. Ex.: imposto sobre a propriedade territorial rural (tributo federal) – metade do valor arrecadado fica com o município ao qual pertence a área rural. Essa repartição é feita para assegurar a autonomia financeira de todas as entidades federais. - Limitações ao poder de tributar – art. 150: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (Princípio da Legalidade Tributária) II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; (Princípio da Igualdade em matéria tributária) III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; (Princípio da Irretroatividade da Lei Tributária) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Princípio da Anterioridade) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Princípio da Anterioridade Nonagesimal) IV - utilizar tributo com efeito de confisco; (Discussão importante para a reforma da previdência, pois muitas pessoas acreditam que o aumento da idade da aposentadoria de certos grupos caracterizaria a transformação do tributo em confisco) V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; (OBS.: o pedágio não é considerado tributo, mas preço público, pois sempre haverá uma segunda via para se chegar no local, mesmo que mais distante) VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.” - O art. 150 trata de imunidades tributárias, não de isenções. A isenção é a dispensa do pagamento do tributo por meio de lei. Nos casos do art. 150, a própria CF impede que tais situações sejam tributadas. - Além dessas tributações gerais, voltadas à União, Estados e municípios, há as tributações específicas, voltadas ou apenas à União ou apenas aos Estados e municípios. As tributações específicas estão nos artigos 151 (União) e 152 (Estados, DF e municípios). “Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País; II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes; III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.” “Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino” Intervenção Federal - Exceção à autonomia dos Estados federados, estabelecendo a possibilidade de a União intervir nos Estados ou municípios em situações excepcionais estabelecidas pela CF - A intervenção tem o objetivo de assegurar a soberania nacional, a integridade territorial, o funcionamento dos poderes, a manutenção da lei e da ordem, a saúdeControle Concreto no Brasil - Havia o problema das oscilações jurisprudenciais, isto é, uma decisão em um caso concreto não necessariamente seria tomada de forma equitativa em outro caso concreto. - Para amenizar essa situação, foram criados instrumentos para tentar dar efeitos gerais à decisões do controle incidental: Resolução do Senado: Suspende a execução de leis declaradas, em casos concretos, inconstitucionais pelo STF. Súmula Vinculante: Ato normativo obrigatório do STF. Quando há um dissenso na Administração ou no Poder Judiciário sobre uma questão de constitucionalidade e isso gera uma Súmula Vinculante que vem pacificar a questão. Repercussão Geral: Interesse geral. Controle da Omissão Inconstitucional - A não elaboração de uma lei ou ato normativo pode ofender a Constituição também, mas, para isso, a caracterização é totalmente diferente. - Trata-se de uma omissão normativa. Omissão em face do dever de legislar. - Característica obrigatória para caracterizar a omissão inconstitucional: Dever de legislar: não basta dizer que compete à União legislar sobre isso para caracterizar uma omissão, deve haver um prazo constitucional. - O combate à omissão conhece no ordenamento brasileiro dois instrumentos: Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO). Mandado de Injunção (apenas nas hipóteses de normas de eficácia limitada preceptivas).financeira da federação, o cumprimento de decisões judiciais, etc. - “Art. 60 § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.” - Art. 34 – hipóteses de intervenção da União nos Estados (intervenção federal) - Art. 35 – hipóteses de intervenção do Estado nos Municípios (intervenção estadual) - A União não intervém em municípios. Quem intervém em municípios são os Estados. O DF também não intervém em municípios, já que não há municípios no DF. - “Art. 36. § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.” Intervenção Federal Normativa - “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde” - Esses são Princípios Constitucionais Sensíveis, pois autorizam a intervenção federal - “Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.” - “Art. 36. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado [do ato que feriu os princípios constitucionais], se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.” - A intervenção normativa gerou a representação de inconstitucionalidade, isto é, a representação do Procurador-Geral da República ao STF para que o STF autorize a intervenção por descumprimento de princípio constitucional sensível. Essa mecânica foi um antecedente das Ações Diretas de Inconstitucionalidade no Brasil. Autonomia dos Estados e DF - Autonomia: não é soberania, visto que está limitada à Constituição, enquanto esta é produto do poder soberano - Estados, DF e municípios têm autonomia política, administrativa e financeira - Autonomia política: auto-legislação, com a possibilidade de editar normas próprias, e auto-governo, isto é, a eleição de seus próprios governantes; Auto-legislação: De nível constitucional: auto-organização Legislação ordinária: auto-legislação ordinária - “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.” – capacidade de auto- organização - Do art. 25 ao 28 há várias limitações à auto-organização dos Estados. Ex.: unicameralismo do poder legislativo estadual (não há um senado municipal). - Há, além dessas limitações diretamente impostas, limitações indiretamente impostas, como os princípios da liberdade de expressão, art. 93, etc. - A competência administrativa também existe, haja vista ser decorrente da competência legislativa. - Também há competência financeira, como já foi visto. - Nos momentos de maior autoritarismo no Brasil, o DF perdia a sua autonomia perante os Estados federados. Porém, fora esses momentos, o DF sempre teve um tratamento e autonomia muito parecidos com os recebidos pelos Estados. - “Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.” OBS.: O DF não tem municípios, apenas cidades-satélites. Município é um conceito jurídico, enquanto cidade é um conceito geográfico. “§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.” - O DF elege deputados, senadores, tendo, portanto, um regime muito parecido com o regime dos estados federados Autonomia dos Municípios - Os municípios têm autonomia política, administrativa e financeira - Quanto à autonomia financeira, os municípios têm seus próprios impostos e tributos - No plano da autonomia política, os municípios elegem seus próprios governantes (vereadores e prefeitos), não havendo poder judiciário nos municípios. - Assim, os municípios possuem o auto-governo e a auto- organização, mas a partir da CF de 1988. - “Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...].” - O Art. 35 prevê as possibilidades de intervenção dos Estados nos municípios: “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.” (Intervenção normativa) - Os municípios têm também o poder de auto-legislação ordinária, isto é, de legislar infra-constitucionalmente - “Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; (ex.: coleta de lixo urbano) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (competência concorrente) II - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; [...]” Organização Político-Administrativa do Estado - “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná- los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aosdocumentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. - O Estado não é hostil à religião no Brasil, mas trata a religião como assunto não-estatal. Territórios - O Brasil não possui mais territórios, os seus últimos, Estados do Amapá, Rondônia e Roraima foram transformados em Estados, e a ilha Fernando de Noronha foi incorporada ao Estado do Pernambuco - O território não faz parte do pacto federativo (não é mencionado no art. 18) - Território não tem autonomia política pela CF - “Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios. § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título. § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União. § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.” - Os territórios são autarquias territoriais, isto é, são entidades de descentralização administrativo-territorial. Se equivalem a autarquias, mas de base geográficas. - “Art. 18. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.” Regiões Metropolitanas - “Art. 25 § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar [estadual], instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.” - Em grandes municípios, com o seu crescimento, ocorre o fenômeno da conurbação - Essa conurbação tem impacto em matéria de serviços públicos (ex.: transportes, lixo urbano). Então, a região metropolitana serve para esse planejamento urbano. - Em São Paulo, a região metropolitana é uma autarquia estadual Regiões de Desenvolvimento - SUDENE e SUDAM - A SUDENE e a SUDAM são autarquias federais que visam cumprir o previsto pelo art. 43 da CF - Não são entidades políticas, mas administrativas; - “Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.” - A SUDENE, por exemplo, é feita para resolver o problema da seca no polímero da seca - A SUDAM é voltada à região norte, à Amazônia legal, etc. Conclusão - O Estado federal atende ao critério de repartição do poder por divisão territorial, a fim de não o concentrar na União. - Assim, tem-se os direitos fundamentais, a separação dos poderes e o federalismo como garantias do Estado Democrático de Direito - Ademais, há a questão da eficiência governamental devido à vasta extensão do território brasileiro - “Art. 22. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.” isso geraria um federalismo assimétrico, já que alguns Estados teriam competências que outros não; 3. DEMOCRACIA E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA Democracia - “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]” - Quais as implicações de o Brasil ser um Estado Democrático de Direito? São diversas, mas as principais são: separação de poderes, direitos fundamentais e federalismo. - Mas para correlacionar democracia a essas consequências, é preciso entender suas origens históricas e comparativas. - Terminologia clássica (seguida até hoje por autores, como Ferreira Filho): “Forma de governo”: As formações mais abstratas e valorativas a respeito da organização do poder. Tema da filosofia política. “Sistema de governo”: É a projeção dos valores democráticos em normas jurídicas. É um assunto de direito constitucional. “Regime de governo”: É a realidade fática do sistema, isto é, como ele funciona de fato. Ex.: o racismo – os valores declarados das pessoas não são condizentes com o racismo e a CF não prevê o racismo, mas ele existe na realidade. O regime de governo é um problema da sociologia política. - Classificação das formas de governo: Segundo Aristóteles (utiliza-se de um aspecto quantitativo – quantos exercem o poder – e um aspecto qualitativo – relação da forma de governo com o interesse de todos e com o bem comum): o Monarquia: poder exercido por apenas um indivíduo para o bem comum. o Aristocracia: poder exercido por poucos para o bem comum. o República, Poliarquia ou Democracia: poder exercido por muitos para o bem comum. Formas de governo deturpadas: o Tirania: poder exercido por apenas um indivíduo em benefício particular. o Oligarquia: poder exercido por poucos para o interesse desses poucos. o Demagogia: poder exercido por muitos para benefício de todos, através da manipulação da população. Essa classificação perdurou durante toda a antiguidade clássica e durante a idade média. A crítica feita à classificação de Aristóteles é que a classificação acima é muito simplificada, isto é, há muitos outros fatores a serem levados em conta além da quantidade de pessoas no poder e da satisfação ou não do bem comum. Segundo Maquiavel: o Monarquias: governo de um só, que é transmitido por meio das relações consanguíneas. o Repúblicas: transitoriedade dos mandatos. Democráticas: poder exercido por muitos. Aristocráticas: poder exercido por poucos. - Classificação dos sistemas políticos: Sistemas Democráticos: baseado em três elementos fundamentais: Estado de Direito (compromisso com a estabilidade institucional, a segurança jurídica, a previsibilidade constitucional). Elementos do Estado de Direito: Princípio da Legalidade: ninguém será obrigado a fazer algo se não em virtude de lei. Isonomia: impessoalidade Separação dos Poderes: os poderes devem funcionar de forma equilibrada entre si, a fim de evitar o abuso do poder. Há um poder incumbido de aplicar a lei – Princípio da Proteção Judiciária. Participação política: formação de vários grupos (partidos), com propostas diferentes, disputando o poder. A democracia constitui uma disputa pacífica pelo poder. A participação política pode se dar através de vários níveis, dando uma opinião, o exercício do voto nas eleições e exercendo a elegibilidade (representantes políticos). Respeito aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana: sistema de proteção aos direitos fundamentais. - A democracia e o totalitarismo são sistemas ideológicos. Já os sistemas autoritários têm menos densidade ideológica, são mais pragmáticos. - O fundamento ideológico e sociocultural mais remoto da democracia é o cristianismo. O cristianismo surge na história da humanidade para, pela primeira vez na história, afirmar a igualdade intrínseca entre os seres-humanos, a qual não era nem aceita e nem praticada na antiguidade. Além disso, o cristianismo afirma pela primeira vez na história a ideia de livre- arbítrio, isto é, a ideia de que o homem é livre e senhor do seu destino. A ideia da antiguidade era determinista, isto é, ideia de que o destino já está traçado. Essa ideia não constrói democracias, mas totalitarismos.- Grande participação política e uso pleno dos direitos fundamentais. Sistemas Autoritários: Estado de Direito escasso, por vezes segue-se o princípio da legalidade, mas o princípio do controle jurisdicional é sempre afetado. Ex.: Ditadura Militar – AI-5. Não há isonomia. Alguns direitos fundamentais são mantidos. Há alguma participação política, mas sempre sob controle. Pode haver mais de um partido, desde que eles sigam o que manda a autoridade. Sistemas Totalitários: No totalitarismo não se acredita na igualdade e nem, tampouco, na liberdade. Três grandes sistemas totalitários do século XX: Nazismo: ideia de desigualdade étnica entre as pessoas. Determinismo étnico. Fascismo: Ideia de refundar o império romano. Determinismo histórico. Marxismo-leninista: Transformações nos meios de produção necessariamente conduzirão à transformação da sociedade. Do sistema feudal para o sistema capitalista comercial e mercantil, para o capitalismo financeiro, para o socialismo e por fim comunismo. Determinismo econômico. - Utiliza-se o princípio da legalidade para oprimir. A lei é utilizada como forma de controle e não para garantir a liberdade das pessoas. Os direitos fundamentais estão sempre a serviço do Estado e não o contrário. - Partido único – controle absoluto da política. - Os direitos fundamentais estão abaixo do Estado. - Terminologia atual: Forma de Governo: É a estrutura do poder executivo, dividida em: Monarquia e República. Formas de Estado: Discussão sobre o federalismo, a estrutura do Estado e a repartição territorial interna do poder. Sistema de Governo: Hoje é sinônimo de regime de governo. Significa a dinâmica de funcionamento dos poderes, dividido em: presidencialismo e parlamentarismo. Trata-se do relacionamento entre executivo e legislativo. Funcionamento dos poderes representativos. - “ADCT Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993, o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.” Representação Política - A democracia pode ser direta ou indireta e alguns autores também falam em democracia semidireta. Essa classificação tem uma importância muito menor atualmente. A democracia direta é uma ilusão, jamais existiu e não há indício algum de que ela pode vir a existir. Assim a democracia é sempre indireta, por meio de representantes, trata-se da Democracia Representativa. - Contudo, mandatos de representação e democracia não coincidem do ponto de vista cronológico. Mandatos representativos são anteriores às democracias. - Nas Assembleias feudais, os senhores feudais praticavam mandatos representativos que seguiam os padrões do direito privado, isto é, os contratos, pelo qual alguém representa a outrem segundo instruções e presta contas a essa pessoa (atualmente, denomina-se assim a “Procuração” advocatícia). - Isso muda com o tempo. Os liberais das Revoluções Francesa e Americana não eram exatamente democratas na concepção atual, estavam mais para aristocratas liberais. Haviam alguns democratas, mas eram poucos. Assim, surgem os partidos políticos. Haviam os liberal-democratas e os aristocráticos-conservadores. Nesse contexto, o mandato passa a ser de direito público e não de direito privado. Não há mais a ideia de contrato na representação política. Passa a tratar da ideia de investidura (investir alguém em algo), isto é, atribuir poderes através de uma eleição ou indicação. - Nesse momento, os democratas passaram a perceber que, mesmo na democracia, haverá pessoas em posições desiguais em relação à participação no poder. Mas que nem todo mundo teria também a capacidade de representar as pessoas no poder. Algumas pessoas teriam capacidade apenas de votar para escolher os representantes. Exemplo de Montesquieu (trata-se de um democrata de viés aristocrático). - Uma vez eleito, esse representante não tem mais nenhum vínculo com o eleitor, não tem que prestar contas para o eleitor. - O mandado nessa época também não podia ser encerrado. - Assim sendo, o mandato surge com um viés aristocrático. - Mas a democracia também não surge como um sistema pronto e acabado. O voto era censitário. A CF de 1824 adotava o voto censitário. - Para ser deputado e senador também havia o requisito de renda durante o Império. Isso acaba com a Lei Saraiva. - A República institui o voto universal. - Hoje, há previsão constitucional pétrea sobre o assunto: “Art. 60 § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: II - o voto direto, secreto, universal e periódico;” - O mandato de direito público dos primórdios da democracia significava inicialmente uma mera relação de imputação, isto é, o eleitor escolhe um representante que terá ampla liberdade de ação. - O contexto muda com o surgimento dos partidos políticos. - Os partidos políticos surgem para organizar o processo eleitoral (necessidade prática). - Os partidos políticos são úteis para escolher os candidatos, os quais surgiram das relações de poder da sociedade. Assim, candidatos que não têm dinheiro o suficiente para bancar a sua própria candidatura se juntam para bancar a de um candidato que vai representar seus interesses. Assim, o partido serve para recrutar candidatos. - Os partidos também organizam a maneira pela esses candidatos depois de eleitos vão atuar. Daí a organização parlamentar do partido. O partido dá orientações e cria programas de ação. - Então, o partido executa programas, recruta candidatos para executar esses programas e acompanha e presta suporte a essa execução. - Desse modo, o novo mandato de representação tem a característica do vínculo entre eleitor e representante através do partido político. - A disputa democrática ocorre entre partidos. Nenhum candidato teria qualquer chance sem o apoio de seu respectivo partido. - Além dos partidos políticos representando esse vínculo entre eleitor e representante, tem-se os grupos de pressão, compostos pelos sindicatos, as agremiações estudantis, etc. - Diferença entre grupo de pressão e partido político: O partido político tem por objetivo fundamental assumir o poder; os grupos de pressão têm por finalidade pressionar quem exerce o poder. Ademais, os partidos são mais ideológicos, isto é, defendem ideias, enquanto os grupos de pressão defendem interesses. Os partidos também devem ter soluções universais (transportes, pobreza, fome, higiene básica, educação, etc.), já os grupos de pressão lidam com problemas localizados, pontuais. Quando se percebe que alguns grupos de pressão estão exercendo um poder fora do normal quer dizer que os partidos são fracos. Não há uma legislação sobre isso. - Uma questão vital para a democracia brasileira é a diminuição do número de partidos. Um pluripartidarismo super extenso como o do Brasil não funciona em nenhum lugar do mundo. Isso deveria ser resolvido pelos próprios eleitores – “votar em quem tem chance” – ideia do sistema majoritário. Pesquisas mostram que em locais onde se adotou o sistema majoritário os números de partidos diminuíram. - Problemas dos partidos políticos: Vaguez e ambiguidade das propostas Caráter oligárquico das estruturas partidárias: a proposta de resolução desse problema apresentada por Elival é a criação do Estatuto de Proteção ao Filiado do Partido Político, a fim de estimular a participação, para acabar com esse jogo de escolha oligárquica das candidaturas. Propaganda eleitoral em massa: essa propaganda não é feitacom base na discussão de ideias e projetos, mas utilizando de defeitos dos adversários, elogio aos candidatos do partido da propaganda, virtudes emocionais, o candidato beijando crianças, etc. Fidelidade partidária: muitos candidatos não seguem os programas do partido. - Sobre o tipo da “democracia semidireta”, trata-se de uma concepção equivocada, pois não há uma democracia que mistura democracia direta e indireta em iguais proporções, o que há é uma democracia indireta com alguns instrumentos de participação direta. - “CF Art. 1º. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” - Instrumentos de participação direta: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; (consulta sobre princípios; precede a legislação) II - referendo; (pós-legislação, para confirmar se haverá a aplicação da lei) III - iniciativa popular. (iniciativa de projetos de lei)”. 4. PARTIDOS POLÍTICOS - Não haviam partidos da forma como conhecemos hoje na Antiguidade e nem na Idade Média. Pode-se falar em facções, em grupos de pessoas, mas, o partido, enquanto instituição, isto é, enquanto uma entidade organizada, com estatuto e normas jurídicas, com reconhecimento legislativo, com atuação dentro do aparto estatal, não existia. - Os partidos da forma como conhecemos hoje são contemporâneos à implantação democracia. - A democracia começou a ser implementada de acordo com um modelo liberal – a “democracia liberal” – que dura até os anos 30 do século XX. Depois disso, tem-se o modelo atual do Estado intervencionista, seja com maior ou menor nível de intervenção – o “Estado democrático social”. - Na democracia liberal, os partidos, de início, não eram bem vistos. Segundo Rousseau, para que houvesse democracia, era necessária a livre expressão da vontade geral, a qual só é possível se a representação não existir. Rousseau não aceitava a ideia de democracia representativa ou indireta. Assim, os partidos políticos, os sindicatos, as associações, os grupos de pressão e todos os grupos intermediários deveriam ser combatidos. - Desse modo, no início da Revolução Francesa, em 1791, a França editou a Lei Chatelier, a qual proibia os sindicatos. - Apesar disso, os partidos surgiram através dos comitês eleitorais da época da Revolução Francesa. Esse comitê era responsável por financiar os recursos financeiros. Esses comitês visavam eleger um candidato (e não eleger um partido). Esses comitês geraram os partidos de quadros. Tais partidos não tinham o papel de divulgar as campanhas políticas, mas apenas de atuar no financiamento. - Isso começa a mudar com o surgimento dos partidos de esquerda, os partidos socialistas do séc. XIX. Esses partidos se beneficiaram muito com a extensão do voto, que deixou de ser censitário. Esses partidos eram compostos por pessoas com poucos recursos financeiros, fazendo com que surgisse a pequena contribuição feita por várias pessoas. Esses partidos passaram a ser chamados de “partidos de massa”, não só porque possuíam um grande número de filiados, mas também porque lançam mais candidatos e porque fazem proselitismo político, isto é, visam doutrinar os eleitores, ou seja, não querem apenas que o eleitorado vote em seus candidatos, mas que compre suas ideias. São partidos de cunho ideológico. Isso deu tão certo que hoje nem existe mais os partidos de quadros, apenas partidos de massa. - Funções primordiais do partido: 1. Selecionar os candidatos 2. Elaborar o plano de governo desses candidatos - Isso que muda o caráter da representação, passando de clássica, em que o eleito é livre para decidir e fazer o que bem entender, para o modelo em que há algum tipo de instrução ao eleito através do programa partidário. - Nova função do partido: 3. Proselitismo – formar uma adesão social para as ideias do partido 4. Politização da sociedade – para que as pessoas possam distinguir entre as várias ideologias representadas pelos partidos - Assim, os partidos passam a ter uma atuação permanente e não apenas episódica por ocasião das eleições. - A democracia, nessa época, significava “democracia liberal”. Os socialistas eram contra a democracia. - A democracia, então, começa contra os partidos, até que estes se impõem, de modo que a democracia tem que conviver com os partidos – “A democracia apesar dos partidos” (Prof. Ferreira Filho). Depois vem a democracia que aceita os partidos, mas que não gosta dessa realidade – essa era a visão liberal durante o séc. XIX: partidos como mal necessário; eles existiam, não havia o que os liberais pudessem fazer, então os partidos ficaram desregulamentados pela lei (ignorados). - Somente no séc. XX, década de 20, quando ocorre a transição da democracia liberal para a democracia social, tem-se no constitucionalismo a racionalização do poder, a exigência de atuação do Estado fazendo políticas públicas. Desse modo, Estado forte significa partidos políticos fortes. - Assim, a democracia se divide em duas correntes: a social democracia e o liberalismo. Essa ainda é a grande divisão de ideologias em países onde a democracia está mais consolidada. Isso não acontece no Brasil, em que a disputa é entre a esquerda e a direita. - Os partidos políticos passam a ser usados, então, para definir se as políticas públicas serão mais liberais ou mais social-democratas, mais de esquerda ou mais de direita. E isso passa a ser feito por meio da escolha partidária “Democracia por meio dos partidos”. - Os candidatos, necessariamente vinculados a um partido, vão exercer, a partir de eleitos, mandatos partidários, com programas de ação expostos ao eleitor. - As constituições passaram, então, a disciplinar os partidos políticos. A primeira foi a da Alemanha – Lei Federal de Bonn (1949), a qual diz que todos os partidos devem ser essencialmente democráticos, ou serão extintos. - Há duas vertentes: Relativismo democrático – defendido por Kelsen –, segundo a qual a democracia deveria conviver com partidos antidemocráticos. Isso é uma hipocrisia, pois, se esse partido vencer, a democracia será extinta. Democracia combatente: tolera todas as vertentes, exceto as antidemocráticas. - CF 1946 – Art. 41, § 13: democracia combatente (e assim permanece na CF de 1988). Foi com base nessa regra que, em 1947, a justiça eleitoral cassou o registro partidário do Partido Comunista Brasileiro, pois este tinha um Estatuto de gaveta que propunha um sistema de ditadura de partido único, que é o modelo marxista-leninista. - Ditadura militar: bipartidarismo forçado – oposição tolerada para ninguém dizer que o sistema não era democrático, mas que nunca poderia ganhar as eleições. Caso estivesse para ganhar, as regras do jogo eram modificadas. - Com a redemocratização, a CF de 1988 estabelece um Estatuto dos Partidos. - Argumentos que comprovam que a CF de 1988 segue o modelo da “Democracia por meio dos partidos”: 1. Monopólio das candidaturas partidárias: “CF Art. 14 § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: V - a filiação partidária;” 2. Estatuto dos Partidos Políticos (Art. 17 CF) Estatuto Nacional dos Partidos Políticos - “CF Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou desubordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.” - Note que não há o requisito de que no partido haja representação parlamentar, podendo o partido não ter nenhum candidato eleito. - Elival não é contra a existência de partidos sem representação parlamentar, mas é contra justamente ao contrário, isto é, a vários partidos terem essa representação, pois, em sua visão, isso gera a disfuncionalidade do parlamento. - Modelo da democracia combatente - Caráter nacional: não pode o partido querer representar apenas uma região do país. Propostas nacionais. Para assegurar esse caráter, a Lei 9.096/95 estabelece que, para o partido ter Estatuto perante a Justiça Eleitoral, ele deve ter um certo número de votos em cada estado da federação. OBS.: Na república velha, os partidos eram regionais. - Proibição do financiamento externo: isso seria um atentado contra a soberania nacional; também visa impedir o internacionalismo proletário (proposta marxista-leninista de financiar partidos do mundo todo para realizar a revolução comunista – durante muito tempo o PCB recebeu financiamento da antiga URSS). - Prestação de contas à Justiça Eleitoral: antes da operação lava-jato, as contas eram aprovadas por comitês partidários (que aprovavam todas as contas de todos os partidos). Atualmente, há mecanismos mais modernos, utilizando meios eletrônicos, permitindo maior transparência. - CF Art. 17 § 4º “É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.” – visa evitar o uso das milícias, principalmente as fascistas e nazistas. - CF Art. 17 § 1º “É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.” – Liberdade de organização interna dos partidos. Elival acha que essa liberdade exagerada favorece a oligarquização dos partidos. Para o prof., deve haver um grau de intervenção legislativa na organização interna dos partidos, a fim de assegurar os direitos das minorias partidárias, isto é, pessoas que estão dentro dos partidos, mas que não concordam com as decisões da maioria. Sua tese é o Estatuto dos Filiados aos Partidos Políticos. Personalidade Jurídica dos Partidos Políticos - Durante a ditadura militar, os partidos eram considerados pessoas jurídicas de direito público. Considerar os partidos como partes do Estado era uma visão muito autoritária acerca dos partidos, visto que estes são entidades intermediárias entre o povo e o governo, não constituindo instituições governamentais. - CF Art. 17 § 2º “Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.” - Partidos políticos são associações de fins políticos. Cláusula de desempenho - A CF previa que, nos termos da lei, a lei podia condicionar o acesso ao fundo partidário, isto é, aos recursos financeiros de manutenção do partido, e o acesso à propaganda eleitoral gratuita com base no desempenho do partido. A atuação do partido também poderia ser minimizada em relação ao parlamento com base em seu desempenho. - Trata-se do enfrentamento à proliferação dos partidos. - Porém, o STF declarou inconstitucional a lei orgânica dos partidos que regulamentava essa cláusula de desempenho. Assim, os partidos, que estavam começando a se aglutinar, voltaram a se proliferar. - Com isso, o parlamento fica fraco, já que o sistema partidário é fraco e, portanto, o governo enfraquece também. - Em 2017, houve uma EC que reabilita a cláusula de desempenho: CF Art. 17 § 3º “Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.” - Porém, essas regras só serão implantadas a partir de 2030. Problemas dos Mandatos Partidários de Direito Público 1. O programa dos partidos – A tendência são os programas amplos, pois, desse modo, mais eleitores são atraídos. 2. Infidelidade partidária – Havendo um universo de partidos muito grande, as pessoas trocam de partidos quando elas bem entendem, vão testando os partidos e não seguem ao certo os programas dos partidos. 3. Oligarquização partidária – é uma característica brasileira o individualismo, então a participação política é muito baixa, o que facilita a oligarquização. 4. Número exagerado de partidos – o problema é quando existem vários partidos comandando o país. Um dos problemas gerados é a corrupção, já que, uma vez que os partidos nunca têm a maioria dos votos, eles vivem comprando esses votos do parlamento. 5. Meios de comunicação – as redes sociais tornam os debates mais pobres com imagens que transmitem emoções, mas não a realidade. Antídotos para os problemas 1. Redução do número de partidos com representação parlamentar – mudança eleitoral: sistema majoritário – cada partido deve eleger um deputado – voto distrital. 2. O partido deve ser receptivo às demandas sociais – o candidato deve saber que ele corre riscos caso ele não siga o programa partidário, não preste contas, etc., ele não deve se reeleger. 5. SEPARAÇÃO DOS PODERES - A separação dos poderes trata-se de uma cláusula pétrea prevista na CF: “Art. 60. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: III - a separação dos Poderes;” - A separação dos poderes está prevista desde a primeira constituição do Brasil - Uma preocupação do constitucionalismo democrático é a limitação do poder do Estado - Instrumentos jurídicos de limitação do poder no regime democrático: Sistema de direitos e garantias fundamentais – as liberdades individuais ou públicas: são esferas de autonomia do cidadão em face do poder público, ou seja, do Estado. Federalismo: divisão territorial do poder – na verdade, o poder é uno, trata-se da divisão na manifestação desse poder. É a repartição territorial das funções do Estado, isto é, do exercício do poder. Separação dos poderes – trata-se de uma divisão funcional do exercício do poder (não do Poder, que é uno). É uma divisão que se dá entre órgãos do Estado, tendo em vista funções. Repartição funcional do poder. - Órgãos: São centros de competência abstratamente previstos na legislação. Ex.: câmara dos vereadores, prefeitura municipal, secretarias municipais, unidades escolares; - Função: Atividades administrativas do Estado. - Poder: Os órgãos realizam determinadas funções com certa independência, o que garante a eles certo Poder. Desse modo, Poder é um órgão com prerrogativa de independência. No Estado, há milhares de órgãos, mas nem todo órgão tem poder. Ex.: um cartório é um órgãosem poder. - poderes (p minúsculo) = competências, funções, atribuições. - Poderes (P maiúsculo) = órgãos com prerrogativas de independência. - Há diversos Acórdãos do STF afirmando que não há um princípio abstrato da separação dos poderes na Constituição, esta se refere, na verdade, a um modelo específico de separação dos poderes. Há elementos essenciais ao princípio da separação dos poderes previsto na CF e que se repetem em todas as constituições democráticas. Mas também há elementos acidentais. Desse modo, o modelo da separação dos poderes no Brasil é diferente dos demais países e do Brasil de anos atrás. Porém, o núcleo da separação dos poderes sempre permanece. - O princípio da separação dos poderes foi construído através da: 1. Identificação das funções do Estado – a forma de identificação dessas funções se modificou ao longo do tempo. Para Montesquieu, há três funções: legislativa (elaboração da lei), executiva (função administrativa) e jurisdicional (resolução de litígios). 2. Identificar Poderes dentro do Estado, ou seja, órgãos com prerrogativas de autonomia. Desse modo, há três Poderes dentro do Estado. Não basta identificar funções e órgãos, é preciso combinar essas duas coisas num arranjo institucional, ou seja, é preciso distribuir as funções entre os órgãos de modo que haja o sistema de freios e contrapesos. Distribuir o poder tendo em vista a limitação do poder. Teorias da Separação de Poderes - O princípio da separação sofreu uma evolução no tempo, de maneira que o seu aspecto nuclear se manteve e se mantém incorporado ao funcionalismo até hoje. Mas há aspectos periféricos, aspectos complementares que sofrem as oscilações do tempo, do modelo de Estado, do número de funções, o número de órgãos, etc. - Não existe uma teoria da tripartição dos poderes, existe uma teoria da separação de poderes. Os poderes não são necessariamente três. Ter três poderes é um aspecto específico da Constituição brasileira, que tem três poderes, mas tem órgãos com prerrogativas de independência que não são chamados de poderes, mas que funcionam como se fossem. É o caso do Ministério Público e do Tribunal de Contas na CF, que são órgãos com prerrogativas de autonomia, órgãos de natureza constitucional e que são tratados pela Constituinte como se fossem poderes. Mas por uma espécie de preconceito, o nosso constituinte mais recente se manteve apegado à ideia de tripartição, que não compõe a teoria da separação dos poderes no seu aspecto nuclear. Eu posso ter três, quatro, cinco, dez poderes e isto não muda nada. Não é o aspecto essencial da teoria. Teoria Ácida da Separação - Separação clássica - Separação dos poderes à moda de Montesquieu – separação do espírito das leis. - Modelo voltado ao Estado liberal do século XIX. - Ao longo de séculos, a nobreza britânica rivalizou com o poder dos monarcas. Se sai da Revolução Gloriosa com uma ideia de que nós temos que ter pelo menos dois poderes no Estado e cada qual respeitando o seu campo de atuação. De um lado, a monarquia constitucional e do outro lado o Parlamento, que representa de fato o povo. Dentro do Parlamento nós vamos ter a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. - É nesse cenário que Montesquieu se inspira para escrever a sua teoria da separação. Montesquieu parte da função legislativa. Para ele, a função maior do Estado. A elaboração da lei. Então, a ideia rousseauniana da lei como manifestação da vontade geral, a lei como sendo o que há de mais importante no Estado democrático. Quem faz a lei detém o poder maior do Estado e esse é o Poder Legislativo. - De outro lado, nós vamos encontrar funções executivas de execução da lei. Mas Montesquieu separa a função de execução da lei envolvendo prestação de serviços públicos, poder de polícia e segurança. Esse poder fica com o monarca e toda a administração a ele subordinada. - E de outra parte, nós vamos encontrar o Poder Judiciário, a magistratura especialmente importante em matéria penal, para aplicar as penas, julgar os processos criminais e resolver o litígio entre pessoas privadas, também em questões patrimoniais. - A expressão “poder executivo”, na teoria de Montesquieu, significa uma subalternidade. Ou seja, o executivo é menos do que o Legislativo, porque ele executa decisões do Poder Legislativo. Nós sabemos que a realidade hoje é completamente diferente. O poder Executivo é visto, mais das vezes, pelas pessoas como sendo muito mais importante do que o Poder Legislativo. Isso se passa dessa forma pelo conjunto de atribuições que, no Estado Social, no Estado Democrático Social, o Poder Executivo assume. Tanto é que não se usa mais as modernas constituições, a expressão poder Executivo e sim governo. O governo aqui não como conjunto de instituições de poder no Estado, mas governo, no sentido de exercício da função de iniciativa política. - Nunca se praticou uma ideia radical de que uma determinada função pertencia apenas ao órgão e esse órgão só exerce aquela função. Um órgão exerce mais de uma função e uma função pode ser partilhada por mais um órgão. Isso acontece hoje, já acontecia na proposta de Montesquieu. Tanto é assim que Montesquieu propõe que o monarca tem o poder de veto sobre as propostas aprovadas no Legislativo. - A CF de 88 prevê: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”. Contudo, são necessários mecanismos para haver harmonia entre os poderes. E na separação clássica, esses mecanismos não existem. A preocupação maior é com a limitação dos Poderes. Para os liberais, isso não tem importância nenhuma. Eles acham que o Estado mais atrapalha do que ajuda. - Passa-se, então, da visão liberal negativa do papel do Estado para um Estado democrático social que enxerga o Estado sob uma visão positiva. Tal visão entende que a intervenção estatal é necessária, ainda que com limites, como se faz hoje. - Essa visão positiva da intervenção, da participação do Estado na economia e na sociedade vai impor um outro modelo de separação, porque nós precisaremos ter mais funções, precisaremos ter mais órgãos e precisaremos ter critérios mais flexíveis de atribuição de funções a órgãos, a poderes. - Então nós vamos encontrar um modelo contemporâneo de separação, principalmente desenhado em função do sistema de governo parlamentarista. - Crítica ao modelo presidencialista: O presidencialismo reflete um modelo de Estado que não existe mais. É o modelo de separação típico de um Estado liberal clássico. O parlamentarismo, que surgiu historicamente, não foi idealizado. Ele foi surgindo, foi sendo praticado. E exatamente por ter correlação com necessidades históricas, ele é mais flexível, ele é mais maleável e pode se adaptar às circunstâncias do tempo. É assim que o parlamentarismo, hoje, num Estado democrático social de Direito, tem um significado, uma configuração diferente da que tinha no século XVII na Inglaterra. O presidencialismo, por sua vez, é muito rígido. Ele foi previsto na Convenção de Filadélfia, nos Estados Unidos, e segue um padrão extremamente rígido de atribuição de funções. O presidente da República tem um mandato fixo, não depende da confiança parlamentar. Tudo isso facilita a contenção do poder, mas dificulta a harmonia do exercício do poder, dificulta a solução de crises, dificulta uma atuação harmoniosa entre os poderes, como nós vemos no presidencialismo brasileiro. O poder judiciário também não é o adequado para fazer essa harmonização, porque o que ele tem que fazer é julgar de acordo