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Direito Constitucional II – Organização do Estado Aula 1 - Federalismo e Repartição de Competências Estado e seus elementos O Estado é composto por três elementos fundamentais: Dimensão pessoal: povo Dimensão geográfica: território Dimensão jurídico-politica: poder *Para Dalmo Dallari, também há o elemento da finalidade. Para Kelsen, o Estado é uma realidade social e política que se configura juridicamente. Os vínculos jurídicos pessoais e territoriais são definidos constitucionalmente (nacionalidade, mar territorial, etc.). O poder é exercido por meio de instituições – órgãos com autonomia constitucional que definem a estrutura do Estado. Fins do Estado também estão presentes na Constituição (principalmente na CF 1988, que é muito finalística). Poder Todas as instituições sociais desempenham algum poder. Porém, o Estado tem um tipo de poder diferenciado: a soberania. A soberania é um qualificativo do poder estatal. Do ponto de vista externo, a soberania é a independência de um Estado em relação às demais nações – não se submete a outras nações, a não ser de forma voluntária, por meio de tratados internacionais. Na maioria das vezes, o Estado só se vincula à comunidade internacional voluntariamente. Do ponto de vista interno, representa o poder do Estado de lidar com as demais entidades que atuam dentro dele. A CF não é uma lei federal (da União), e sim uma lei do Estado brasileiro como um todo. Ela é o símbolo da soberania estatal, é o ato normativo máximo na pirâmide jurídica (nenhum ato normativo pode contrariá-la). Dessa forma, a soberania interna se exprime na existência da CF e do órgão guardião de seu cumprimento, que é o STF. As emendas constitucionais são um reflexo da soberania estatal, mas não a constituem, pois decorrem de um poder constituinte derivado, que não é insubordinado nem ilimitado. A soberania é ilimitada e insubordinada. Discussão: teria sentido continuar se falando em soberania estatal, em um mundo globalizado, diante das tantas vinculações que o direito internacional impõe aos Estados? Resposta do Elival: não há uma entidade soberana em nível internacional. Todas as entidades internacionais são desprovidas de soberania – soberanos são os Estados que as constituem. Dependem sempre de receber uma delegação de competência estatal. Logo, mesmo na esfera internacional os Estados continuam dotados de soberania, ainda que ela esteja sendo relativizada. Como o direito internacional se relaciona com o nacional? Para Kelsen, só há uma ordem jurídica (monismo). Já o Elival segue um dualismo: existe a ordem jurídica internacional e as nacionais, e elas têm pontos de contato. A ordem jurídica internacional tem suas instituições e fontes de direito, e as ordens nacionais também tem suas próprias; porém, as normas internacionais penetram na ordem jurídica nacional, e algumas condutas internas tem reflexo na ordem internacional. Tratados internacionais: incorporados pelo direito interno Celebração: regida pelo direito internacional e pelo constitucional; Status: qual seu posicionamento normativo. No caso do direito brasileiro, estão em nível infraconstitucional, mas os tratados sobre direitos humanos estão em status constitucional (desde que ratificados pelo congresso em status de emenda). Forma de incorporação Aso normas internacionais penetram o direito nacional nos termos em que este permite. A Constituição não deixa de ser soberana em razão do direito internacional; é ela que regula a forma de ingresso dele no direito interno. Federalismo e forma de Estado Centralização e descentralização: Todos os Estados tem algum grau de descentralização, mesmo que apenas administrativa. Descentralização administrativa: as entidades constituem outras pessoas jurídicas para ajuda-las a administrar seus interesses. Criam autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações (administração indireta ou descentralizada). A descentralização política, porém, nem sempre existe. Já a descentralização política é um tema eminentemente constitucional, envolve competência normativa, descentralização do poder de legislar. Em um Estado descentralizado, há normas jurídicas sendo criadas por várias esferas. Tipos de Estado: são aproximações, e entre eles há pontos de contato. Os principais extremos são o Estado unitário e o Estado federal, e entre esses dois há vários pontos intermediários de nível de estabilidade de descentralização. Estado unitário: ainda que haja descentralização administrativa, há centralização política. Só há um centro de produção do direito. Ex: França – só a Assembleia Nacional junto com o Senado (Parlamento) produz direito. Há atos administrativos, abaixo dos atos legislativos, que são produzidos descentralizadamente. Estado unitário politicamente descentralizado: descentralização política instável, pois fica às preferências do poder central. Se o poder legislativo central decidisse criar entidades ou dotar entidades já existentes de competência legislativa, esse mesmo parlamento poderia suprimir a qualquer momento essa delegação. Estado federal: federação; Estado politicamente descentralizado. Descentralização de nível constitucional. Quem descentraliza não é o poder legislativo, mas o poder constituinte originário. No Brasil, a adoção do modelo federal veio com a proclamação da República na CF de 1891, e é uma cláusula pétrea até hoje (princípio federativo). Ex: Brasil, EUA, Alemanha. Estado regional: estado politicamente descentralizado com descentralização de nível constitucional – porém não como cláusula pétrea (nível menos de estabilidade). Poder constituinte derivado pode alterar a descentralização. Ex: Espanha e Itália. No Estado federal, existe um poder de auto-organização das entidades federadas. Elaboram suas próprias constituições. No Brasil, estados e municípios possuem suas constituições próprias. Já no Estado regional, as regiões não têm esse poder constituinte derivado de criar suas próprias estruturas organizativas – essa organização (estatuto regional) está na CF ou é feita por meio de lei nacional do parlamento. No Estado federal, existe a participação dos estados-membros da federação no poder legislativo central. No Brasil, isso se dá no Senado. A CF declara que o Senado é um órgão de representação dos estados. Porém, na prática, representam mais os partidos do que os estados. Já no Estado regional essa participação não existe. No Estado regional, há assimetria de competências entre as regiões. Já no Estado federal, as competências são distribuídas de forma uniforme para uma mesma categoria de entidade federal (ex: competências iguais para todos os estados). Repartição de competências no Estado federal: Organização do exercício da competência legislativa. No caso brasileiro, tanto a organização das competências legislativas quanto a das competências administrativas estão na CF. Critérios de repartição de competências: Horizontal: identifica as diversas matérias (direito penal, administrativo, tributário, etc.) e as distribui em competência da União, dos estados, dos municípios, etc. São competências privativas para legislar sobre determinados assuntos. Vertical: colaboração maior entre os entes federativos. Uma mesma matéria é competência legislativa de diversos entes federativos. Ex: normas gerais de direito tributário são editadas pela União, mas normas complementares – de aspecto mais específico sobre cada tributo - são descentralizadas (alguns tributos são da União, outros dos estados e outros dos municípios). Favorece a cooperação, mas também cria uma complexidade muito maior, possibilitando maiores conflitos de competência. Repartição de rendas: Tema de direito tributário/financeiro, mas que é tratado na CF. No Estado federal há a autonomia das partes que o compõem. Soberania: referente(comanda a máquina administrativa e suas funções). Problema: chefia de governo e de Estado são funções distintas e incompatíveis – só são compatíveis se a função de governo não tiver importância tão decisiva - em um Estado liberal, as funções de governo são apenas de segurança interna e externa (e pouquíssimas outras). Já no Estado intervencionista, é maior essa importância. A função de chefe de Estado exige um certo consenso, ao contrário do chefe de governo, que pode gerar discordâncias. “Chefe de Estado é pra ser aplaudido, e chefe de governo é pra ser vaiado”. Como são funções muito diversas (procurar consenso, conciliar, unir o país x tomar decisões), é complicado uma pessoa só ser os dois (presidente), principalmente em um Estado intervencionista. Sistema de separação rígido entre os Poderes: compartilhamento de funções muito mais reduzido. Ex: exercício de função legislativa pelo executivo (poder de veto); função administrativa existindo em todos os Poderes. Porém, esses exercícios não são intensos – raramente há um compartilhamento de funções típicas. Para a formação do parlamento e do executivo há total independência. O voto para legislativo não tem nada a ver com o para executivo, as eleições são distintas. O Parlamento não interfere no executivo, os dois podem funcionar sem pedir autorização um para o outro, fazem decisões internas. Além disso, um não pode interromper o mandato do outro (impeachment não é decisão política, é de natureza jurídica – pressupõe cometimento de irregularidade; não serve para retirar do poder maus governantes). O uso equivocado do impeachment para abreviar maus governos demonstra que sentimos falta de um instrumento como a responsabilidade política do parlamentarismo. Características políticas: Acentua o traço personalista do exercício do poder (isso também é acentuado pela forma de propaganda de hoje – imagens, mexe com emoções). Há um grande fanatismo em torno da figura do presidente. Relação muito forte entre sistema de governo e sistema partidário: o presidente não detém poderes tão absolutos, pois depende dos partidos para aprovar reformas, por exemplo. Sistema parlamentarista: Surgiu da história constitucional da Inglaterra, e foi formado em um processo de quase um século. Monarca escolhe, para coordenar relacionamento com o Parlamento, um líder do governo (ministro) para atuar em nome do governo, como um representante do rei. Esse ministro passou a exercer maior autonomia. Processo de impeachment foi substituído, ao longo da história, pelo instituto da responsabilidade política, que faz com que o gabinete de ministros precise ter a confiança parlamentar. Parlamentarismo dualista – existência de dupla confiança: gabinete de ministros responde perante o monarca e perante o parlamento, precisa ter a confiança de ambos. Evolui para o que existe hoje, o parlamentarismo monista: apenas a confiança parlamentar. Primeiro ministro não é eleito, decorre da maioria parlamentar (líder do partido majoritário). Características jurídicas: Executivo dual: um chefe de Estado (monarca ou presidente da república) e um chefe de governo (primeiro ministro/chanceler, que exerce as funções de governo e comanda a administração). Atual CF francesa: art. 5º “O presidente da república zela pelo respeito à Constituição. Ele assegura através de sua arbitragem o funcionamento regular dos poderes públicos bem como a continuidade do Estado” – funções típicas de um chefe de Estado. Além disso, funções de política externa. Atual CF francesa: art. 20 “O governo determina e conduz a política da nação” – chefe de administração e fixa políticas públicas. Havendo essa distinção, o chefe de Estado consegue fazer a suprema inspeção da nação, pois goza do respeito de todos. Flexibilidade no compartilhamento de funções – no parlamentarismo, o primeiro ministro exercer funções legislativas é algo que ocorre a todo momento, pois é um líder parlamentar. Composição do parlamento não é fixa, pois o chefe de Estado pode dissolver o parlamento quando houver crise institucional (antecipar eleições parlamentares). Primeiro ministro pode solicitar ao chefe de Estado que o faça, pois deseja uma maioria mais sólida para aprovar suas decisões. Responsabilidade política: a qualquer momento pode ser votado que cesse o mandato do primeiro ministro. Seu mandato depende sempre do parlamento. Críticas ao parlamentarismo: É um sistema instável para se conviver com um parlamento atomizado: na realidade, nenhum sistema funciona com um parlamento tão atomizado quanto o brasileiro. Brasil teve um histórico de parlamentarismo no II reinado principalmente. A CF não previa, mas na prática foi assim. Porém, era um parlamentarismo às avessas, pois era o governo quem fazia a maioria parlamentar e não o contrário. A república extinguiu esse modelo. Já pouco antes do golpe de 1964 houve novamente uma tentativa de parlamentarismo. O plebiscito de 1988 veio em um contexto de CF recentemente promulgada, presidentes conspirando contra o parlamentarismo pois entendem que diminuiria seus poderes – não houve boas condições para discutir a matéria, que nem sequer foi bem discutida. Para implementar o parlamentarismo, seria necessário ir fazendo reformas aos poucos. Ao longo do séc. XIX firmou-se o presidencialismo nos EUA e o parlamentarismo monárquico na Europa (incialmente dualista, e posteriormente monista). O final do séc. XIX/inicio do séc. XX assiste à uma crise do parlamentarismo: Fatores: quebra da hegemonia liberal, surgindo partidos com outras visões trazendo ideias de políticas públicas. Não havia muita preocupação com o sistema partidário, o que gerou uma proliferação de partidos sem planejamento sistêmico, causando uma sucessão de governos parlamentaristas instáveis. Houve então o fenômeno de racionalização do poder – racionalização do parlamentarismo europeu com técnicas envolvendo o sistema eleitoral, o sistema partidário, a justiça constitucional, etc, estruturando o parlamentarismo de origem histórica de maneira racional. Moção/voto de desconfiança construtiva: proposta parlamentar apresentada para retirar um governo do poder – mas, para isso, é preciso já indicar outro governo imediatamente. Além disso, há um período de carência entre um voto de desconfiança e outro. Se for rejeitada, precisa esperar o período para propor outra, e com isso o governo também ganha tempo para se reestruturar. Durou pouco pois o totalitarismo se espalhou pela Europa (ditaduras), por fatores que não eram jurídicos, além das guerras mundiais. Isso causou um atraso no processo democrático. Na segunda metade do séc. XX, o direito constitucional passou a ser mais valorizado, para impedir os problemas que já haviam ocorrido. A Lei Fundamental de Bonn (Alemanha, 1949) adota um modelo parlamentarista (monista). O mesmo ocorre na Itália. Já o sistema francês traz uma novidade (importante pois se discute como algo implementável no Brasil de hoje): sistema misto (semipresidencialismo/semiparlamentarismo). Sistema misto: Normalmente é republicano, pois hoje não há mais espaço para uma monarquia presidencialista (com o monarca, que não é eleito, exercendo funções de chefe de governo). Eleição direta do presidente da república (característica do presidencialismo) e divisão chefe de governo e chefe de Estado (característica do parlamentarismo). Na França e em Portugal há um parlamentarismo dualista, com um presidente (chefe de Estado) e um primeiro ministro (chefe de governo). Há um nível de ação e interferência do chefe de Estado maior do que por exemplo na Inglaterra – o presidente não é apenas decorativo. O moderno papel do parlamento é de controle político, e para isso precisa de instrumentos de responsabilidade política (voto de desconfiança), para eventualmente afastar o gabinete. Alémdisso, é necessária uma justiça constitucional forte para fazer o controle jurídico do governo - especialmente da legislação governamental – por meio do controle de constitucionalidade pela Corte Constitucional. Esse modelo seria interessante para o Brasil pois: Preservaria a eleição para presidente da república. Esse presidente teria essencialmente poderes ligados à chefia de Estado, com atuação mais forte por ser eleito diretamente. Haveria um parlamento bem organizado com número de partidos limitado, que exerceria um controle político sobre o governo. Haveria um governo que decorreria da maioria parlamentar e se sujeitaria a ser interrompido, ou a durar muito mais tempo dependendo do que ocorresse nas eleições parlamentares. Haveria uma autêntica corte constitucional de modelagem europeia, exercendo monopólio do controle de constitucionalidade, e fazendo apenas esse controle (não sendo um tribunal recursal como é hoje). Elival acredita que esse modelo não seria um sistema misto, mas sim um parlamentarismo dual, pois não é a eleição direta do presidente que caracteriza o presidencialismo. Aula 7 – Poder Legislativo: organização, garantias e competências Competências do Poder Legislativo: Existe uma especialização funcional ligada à separação dos Poderes. Porém, não há um rigor absoluto nessa divisão de atribuições – há um exercício de atribuições atípicas. Legislar: ponto de vista material e formal Material: a norma jurídica é uma prescrição geral e abstrata. Se voltam a categorias de pessoas (e não a pessoas determinadas). Se voltam a fatos-tipo (e não a fatos concretos ocorridos). A lei está no nível primário, logo após o nível constitucional. Lei é o ato legislativo, com conteúdo geral e abstrato, em nível primário da hierarquia normativa. Formal: regime jurídico específico para o ato legislativo que o conforma formalmente. Lei é o ato produzido dentro do processo legislativo. Os dois conceitos não se equivalem: existem atos legislativos produzidos pelo processo legislativo que não são leis em sentido material. Também existem leis que são leis em sentido material, mas não passam pelo processo legislativo (regulamentos autônomos). Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução – esses regulamentos estão no nível secundário da hierarquia, são subalternos aos atos legislativos e servem para executá-los, não podendo contraria-los – instrumentalizam a execução desse ato. VI - Dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos – quando isso ocorrer, é necessário que haja ato legislativo. Caso não ocorra, pode haver apenas decreto. É geral e abstrato (lei no sentido material) mas não é lei no sentido formal. Costume: não é lei no sentido formal nem no material. Emendas constitucionais: não são leis no sentido material, pois são de nível constitucional. Delegabilidade de atribuições: Extremamente alterada com o advento do Estado Social: antes o direito procurava legislar reproduzindo o direito natural (sentido quase declaratório), mas depois com a mudança do perfil do Estado para um implementador de politicas públicas, a lei se torna um instrumento de governo. Não há, portanto, mais o dogma de que não se pode delegar atribuições. Legislativo não é adequado para tomada de decisões rápidas, e, portanto, há um deslocamento da função legislativa para o poder executivo. O poder legislativo cada vez mais escapa das mãos do parlamento, que desenvolve ou intensifica novas atribuições – notadamente o controle político. Hoje as leis mais importantes são de iniciativa do executivo. Quem decide transformar um projeto em lei é o legislativo, mas quem elabora o projeto, examina aspectos técnicos, faz codificações*, etc., é o poder executivo. *Códigos de leis são feitos por comissões técnicas especializadas do poder executivo. Principalmente no âmbito estadual, as leis mais importantes vêm do poder executivo. Razões para esse fenômeno de transferência de funções legislativas para o poder executivo: Estado intervencionista precisa de leis de caráter altamente técnico. Essa expertise existe no poder executivo, com um corpo de servidores especializados. A intervenção demanda um número de leis cada vez maior, o que impõe uma rapidez. O poder legislativo recebe os projetos de lei já todos prontos, e apenas debate em cima deles. Há certos projetos de urgência que precisam de um sigilo em seu desenvolvimento que é incompatível com o caráter público das discussões parlamentares. Ex: Plano Real, que foi feito por medida provisória. Em muitas matérias há necessidade de criar especificações sobre questões factuais, específicas demais pra a lei. Isso deve ser objeto de ato regulamentar. Em alguns países se fala em standard legislativo – a lei é um conjunto de diretrizes, que serão desdobradas por atos regulamentares. Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: IV - Leis delegadas; - delegação formal de atribuições legislativas Porém, não é apenas por meio dessa delegação formal que a transferência para o executivo ocorre. Por exemplo, a CF prevê medida provisória com força de lei – não há um ato de delegação. A iniciativa privativa do chefe do executivo para vários projetos de lei mostra essa transferência de forma muito clara, pois a maior parte da tarefa legislativa fica nas mãos dele. Proeminência do poder executivo na função legislativa. Paralelamente, o poder legislativo vai atribuindo novas funções Controle da execução orçamentária (fiscalização): Parlamento começou executando essa função (Magna Carta). Orçamento é uma grande autorização de despesa, nos termos de uma lei autorizativa, que não é geral e abstrata (tem em vista gastos específicos para um exercício específico). Assim, legislativo autoriza essa lei orçamentária e depois fiscaliza sua execução. É necessário também um apoio técnico – figura dos Tribunais de Contas, que atuam como órgão de apoio. o Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União o TCU não faz parte do poder judiciário e não exerce função jurisdicional. Não cabe a ele decidir nada definitivamente – todas as suas decisões são impugnáveis perante o poder judiciário (e isso tem ocorrido muito – por exemplo, medidas de segurança perante o STF). o Decisões do TCU são administrativas, e não judiciais – TCU é um órgão administrativo, auxiliar do poder legislativo (porém, também não o integra). Tem prerrogativas de autonomia (na prática é um Poder, mas não é reconhecido assim). o TCU se compõe de 9 ministros – 3 nomeados pelo presidente da república e 6 são escolhidos pelo poder legislativo (na prática o executivo acaba interferindo na decisão do legislativo). Isso se passa nos estados e na União (não há em todos os municípios, apenas em alguns, como São Paulo). o Forma de organização e prerrogativas de autonomia do TCU são similares aos tribunais superiores do poder judiciário. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Há um controle interno (do poder executivo sobre o poder executivo – Controladoria Geral da União, no caso da União) e um controle externo (do Congresso Nacional sobre o poder executivo). Controle político: É a “alma” da função legislativa. Exercido,por exemplo, pelos discursos parlamentares. CF prevê a possibilidade de convocação de ministros em comissões especializadas (ex: Ministro de Transportes discutindo a politica de transportes). No sistema parlamentarista o instrumental do controle político é muito mais avançado e efetiva, pois há a possibilidade de afastar o governo através de moção de desconfiança (ou negativa de voto de confiança requerido pelo governo). Controle sobre infrações político-administrativas: impeachment e comissões parlamentares de inquérito (CPIs). o Legislativo funciona, no mais das vezes, por meio de comissões. O plenário não é a parte principal do trabalho parlamentar – a maior parte se passa no âmbito das comissões temáticas. o É na fase instrutória do processo legislativo que se passa a maior parte do trabalho. Lá podem discutir com mais tempo, chamar especialistas, convocar audiências públicas, chamar ministros ou secretários de Estado, etc. o Há comissões permanentes e transitórias. Uma dessas transitórias é a comissão parlamentar de inquérito (CPI). CPI começa no direito britânico como prática legislativa e vai para as colônias estadunidense. A influência do direito estadunidense sobre o brasileiro a partir da República é notória, mas já havia essa prática de CPI na época do Império, ainda que muito tênue. Com a República crescem e em 1934 são constitucionalizadas. Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. Natureza própria de investigação. Possuem as mesmas prerrogativas (e restrições) de autoridades judiciais. Não aplica penas e não processa – é similar a um inquérito policial. Serve para o processo de impeachment (crime de responsabilidade) como se fosse o inquérito policial (embora possa houver CPI não conectada a crimes de responsabilidade). CPI sobre generalidade é inconstitucional: é preciso haver um fato determinado que justifique sua criação. Encaminha seu relatório final ao MP para que promova a responsabilidade civil ou criminal (tome previdências). Por exemplo, para investigar a falta de disponibilização de transporte em um município, o correto não seria uma CPI, mas sim a comissão permanente de transportes. o Impeachment é uma forma de apurar responsabilidade de autoridades por fatos graves que podem ou não caracterizar crime de responsabilidade. Não é processo de natureza criminal! Historicamente começa como processo criminal na Inglaterra, mas perde essa característica (pois precisava ser uma decisão rápida, e as garantias criminais impediam). No parlamentarismo, a responsabilidade política substitui o impeachment. No presidencialismo, ele vem para o direito brasileiro inspirado pelo direito estadunidense. Aparece primeiro na CF 1891. Natureza do impeachment: não é um instituto penal. É mais parecido com um processo disciplinar (mas envolvendo altas autoridades do Estado e chefes de poder). Infração político-administrativa – não é capitulada como um crime. Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento – Lei nº 1.079/50 Há necessidade de punir apenas atos graves – não punir atos menores, pois causaria crises políticas frequentes. Há um tempo o impeachment passou a ocupar o lugar do instituto da responsabilidade política (parlamentarismo) – afastar governo por não ser bem aceito. Impeachment da Dilma foi grave precedente institucional. Impeachment possui função jurisdicional. Qualquer cidadão pode fazer a acusação, e a Câmara dos Deputados precisa aceitar. Presidente da Câmara dá parecer e vai a voto ao plenário. Se o plenário da Câmara admite a acusação. Então, o processo se inicia no Senado e o presidente é afastado por até 180 dias (se o processo não for concluído antes disso, o presidente volta). O Senado processa e julga o presidente. Senado exerce função jurisdicional. Se o Senado absolver o presidente, ele não pode ser punido na esfera criminal comum. Essa absolvição impede que ele seja processado criminalmente perante o STF (foro competente). Se for condenado, pode sofrer processo criminal. A função principal do impeachment é afastar o detentor do cargo. A sanção complementar é impedir a ocupação de outro cargo público por até 8 anos. É inerente ao veredito condenatório. No caso da Dilma, talvez por reconhecer uma tipificação forçada, o Congresso resolveu não aplicar essa sanção complementar. Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções: I - Nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal; II - Nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal. § 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis. Organização e garantias do Poder Legislativo: Estrutura Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal Desde o Império: Assembleia Geral (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Senado era vitalício – eram indicados pelo imperador. Bicameralismo de moderação: uma casa equilibra as tendências políticas da outra. Bicameralismo também pode de federação: uma das casas representa os estados. Existe desde a primeira CF republicana, mas não desapareceu o de moderação. Nosso bicameralismo corresponde a dois aspectos: de moderação e do tipo federativo. Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no DistritoFederal. Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. Art. 14, § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: VI - A idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; Esse requisito de idade mais avançada para senador corresponde a uma visão de que pessoas mais velhas tendem a ser mais moderadas – bicameralismo de moderação. Além do bicameralismo de moderação e de federalismo há outros dois tipos menos importantes: o Aristocrático: Reino Unido – câmara dos comuns e câmara dos lordes (hoje com muito menos importância política). Atualmente em desuso. o Técnico: uma segunda casa tem função de órgão técnico, para olhar aspectos técnicos do processo legislativo. Não é muito utilizado. Normalmente as casas deliberam separadamente, mas há algumas situações em que deliberam juntas: Art. 57, § 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para: I - Inaugurar a sessão legislativa; II - Elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas; III - Receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República; - posse do mandato IV - Conhecer do veto e sobre ele deliberar. Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação - o que dá a competência às comissões é o regimento de cada casa. Cada ministério do executivo costuma ter uma comissão correspondente. Art. 58, § 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa - Mesa = órgão diretivo de cada casa. Art. 44, Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos - Legislatura = um mandato dos deputados e metade do mandato dos senadores. Legislatura ≠ sessão legislativa: sessão legislativa é o período anual de funcionamento do Congresso (ex: sessão legislativa de 2020). Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal – cada partido, de acordo com a proporção de votos que recebeu, vai preencher um número de cadeiras. Nenhum partido hoje consegue ficar com mais que 15% das cadeiras. § 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados – distorce o critério proporcional e a própria democracia, pois o voto de uma pessoa de um estado mais populoso vale mais que o de estado menos populoso. Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. § 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos. § 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. Competências do Senado e da Câmara: Há competências privativas de cada. Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I - Autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado – impeachment. II - Proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III - Elaborar seu regimento interno; IV - Dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; V - Eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII. Já para o senado há, no artigo 52, um rol imenso de competências privativas. Algumas são de controle político do executivo. III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição - dentro de os quais, os do STF. b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d) Presidente e diretores do banco central; e) Procurador-Geral da República; f) titulares de outros cargos que a lei determinar; Há também competências de velar pela saúde financeira da federação. Incisos V, VI, VII, VIII, XIX. Há outras ligadas ao controle de constitucionalidade. X - Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. Garantias do Poder Legislativo: Garantias institucionais: Art. 51, IV: espécie de auto-organização que tanto a Câmara quanto o Senado possuem. Estabelecidas por resolução de cada casa. Regras regimentais. CF é muito comedida ao falar sobre o Processo Legislativo, e essas regras são complementadas por disposições regimentais. Autoadministração da Câmara e do Senado. Eleição dos próprios dirigentes (Mesa Diretora). Imunidades parlamentares: Imunidade material: o Inviolabilidade: Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos – não praticam crime ou ato ilícito civil por suas opiniões e votos. Essas manifestações podem ocorrer também fora do Congresso, mas só em exercício do mandato parlamentar (ex: dando entrevistas, palestras, debates). Em situações pessoais, não é considerado. Imunidades formais: o Foro privilegiado: § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal – atualmente, de forma ativista, o STF busca reduzir essa prerrogativa apenas para os chefes de poder (presidente da Câmara e do Senado). Há também proposta de EC, o que é mais adequado. o § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão – por meio de jurisprudência, o STF flexibilizou. o § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação – hoje ocorre pouco pois o voto é público e ocorre uma pressão. Se o parlamentar perde o mandato, o processo vai para a jurisdição ordinária. Incompatibilidades e impedimentos: Deputados e senadores, a partir da expedição de diploma ou da posse, não podem exercer funções que afetam a independência de seu exercício de mandato (criam conflitos de interesse, etc). Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: I - Desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direitopúblico, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - Desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a"; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a"; d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo – entretanto, essa regra é excepcionada: Art. 56 Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: I - Investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária – se afasta do exercício do mandato, suplente assume, mas pode voltar a qualquer momento. Hipóteses de perda de mandato: STF por ativismo adicionou a hipótese por desfiliação partidária (parlamentar que deixa seu partido e se filia a outro). Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: I - Que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II - Cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; III - Que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; IV - Que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; V - Quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição; VI - Que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. Há uma certa discricionariedade e é deliberado pelo plenário (que pode inclusive atenuar a sanção): incisos I, II, III. Aula 8: Processo Legislativo É o processo pelo qual são elaboradas as leis. As normas jurídicas são textos normativos interpretados. Textos normativos são textos veiculados por meio de atos normativos. Lei é ato legislativo, e norma é o conteúdo desse ato legislativo. Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: - lista dos atos legislativos que estão subordinados ao processo legislativo. I - Emendas à Constituição; II - Leis complementares; III - Leis ordinárias; IV - Leis delegadas; V - Medidas provisórias; VI - Decretos legislativos; VII - Resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. A função legislativa normalmente aparece pelo processo legislativo, mas pode haver processo legislativo sem função legislativa – ex: leis que são atos administrativos ou que são decisões judiciais. Pode haver também função legislativa fora do processo legislativo. Conceito material de lei x conceito formal de lei: Formal– lei elaborada de acordo com o processo legislativo. Material – atos que possuem conteúdo de legislação sem ter passado pelo processo legislativo. Há também o uso do processo legislativo para produzir atos que não são legislativos. Em geral, o processo legislativo produz leis em sentido formal e material. Lei em sentido material: Classificação: normas gerais e individuais; normas abstratas e concretas. A lei em sua essência é uma disposição geral e abstrata. Além de generalidade e abstração, a lei se caracteriza por se situar no nível primário da hierarquia normativa: Hierarquia normativa: Nível constitucional: o Constituição o Emendas Constitucionais Nível primário: o Leis (em sentido amplo: todas as modalidades de atos normativos elaborados de acordo com o processo legislativo – leis complementares, leis delegadas, medidas provisórias, resoluções, decretos legislativos). Demais níveis Logo, a lei material se caracteriza por ser geral e abstrata e estar em nível hierárquico primário. Lei em sentido formal: Ex: decreto legislativo de estado de sítio – não é geral e abstrato, mas é feito por processo legislativo (é lei apenas em sentido formal). Decretos de organização da estrutura administrativa: são gerais e abstratos e estão no nível primário, mas não são produzidos pelo processo legislativo – lei em sentido material, mas não formal. Para Elival, processo não é apenas a expressão da jurisdição. É um concatenamento de atos e relações jurídicas. Procedimento legislativo = processo legislativo, mas ele não acredita que esse termo deva ser usado só no poder judiciário. O processo legislativo passou por uma evolução histórica: No processo clássico, o direito deveria refletir o direito natural e o Estado não deveria regular muitos assuntos, apenas positivar leis fundamentais – visão estática do ordenamento, e o processo legislativo era demorado e complexo, com discussão muito ampla. Essa demora não era um problema, pois havia a ideia de que quando o Estado intervisse essa intervenção deveria ser segura. Mudança do perfil do Estado para intervencionista, que precisa de lei mais rápida, implementadora de políticas públicas: lei como instrumento fundamental de governo. Lei com caráter mais técnico, e com maior necessidade de edição. Série de atos normativos em sucessão. Técnicas para dar maior velocidade ao processo legislativo: Delegação legislativa: o Expressamente, através de lei delegada. Poder legislativo delega competência para o executivo. Tipo legislativo pouco usado no Brasil. o Implicitamente, em atos normativos que não precisam de delegação no Congresso. A CF outorga ao poder executivo o poder de elaborar lei. Ex: medida provisória com força de lei (ato legislativo de urgência). Procedimento legislativo abreviado: se fixa prazo para elaboração da lei. Regime de urgência: Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados. § 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa. § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação. Na época da ditadura, passado o prazo, o projeto era automaticamente aprovado. Hoje não é mais assim. Por regimento interno das casas também e possível colocar os projetos de deputados em regime de urgência. Delegação interna corpus: Art. 58. § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - Discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; Trata-se de delegação para as comissões parlamentares dos órgãos legislativos aprovarem leis, sem que seja necessária a deliberação em plenário. Ex: possibilidade de a Comissão de Constituição e Justiça receber poder para examinar matéria sob o ponto de vista da constitucionalidade e legalidade. Se concluir inconstitucionalidade, o projeto é arquivado, a não ser que 1/10 dos parlamentares quiser votá-lo (recurso ao plenário). Iniciativa legislativa do executivo: vasta competência legislativa. Linhas gerais do processo legislativo na CF 1988: A CF procura regular a produção da lei em sentido formal. Equívoco técnico: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - Emendas à Constituição; Não é produção de ato legislativo,é produção de ato de natureza constitucional. Na prática o procedimento é parecido, mas o processo legislativo deve corresponder à função legislativa e à produção de leis em sentido formal. Procedimento de elaboração das leis ordinárias (processo básico): Não vamos examinar costumes nem atos normativos administrativos, pois não estão em nível primário. Procedimento de elaboração da lei ordinária se compõe de 3 fases: o Introdutória: iniciativa (propositura) legislativa e emendas a essa propositura. o Constitutiva: subfase instrutória (trabalho das comissões) e subfase deliberativa (parlamento votando a matéria e sanção ou veto do chefe do executivo – na lei ordinária e na lei complementar, em algumas formas de lei essa sanção não é necessária). o Complementar: promulgação (atestado de que existe direito novo). Essa fase interfere apenas na eficácia, a lei já está constituída. Uma proposta se torna lei se o parlamento aprova e o chefe do executivo sanciona. O ato legislativo é um ato complexo (mais de uma vontade). É possível derrubar o veto do presidente. Fase introdutória do processo legislativo (iniciativa): Proposta de direito novo. Lei ordinária é um ato legislativo típico. Em uma doutrina clássica, se dizia que a lei ordinária podia regular tudo. Hoje, se sabe que há matérias que são vedadas à lei ordinária (ex: matérias privativas de lei complementar). Há também matérias privativas de lei ordinária. Há três modalidades de inciativa: a geral, a reservada e a vinculada. Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição – iniciativa geral. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:- iniciativa reservada. I - Fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; II - Disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares para a inatividade; c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; e) criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração pública; e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva. § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. Iniciativa vinculada: se dá em matéria orçamentária, o presidente tem a obrigação de apresentar o projeto. Vinculada pois é uma inciativa obrigatória. Apresentação de emendas: fase exclusiva dos parlamentares. Executivo não pode apresentar emendas. Emendas aditivas: acrescentam dispositivos Emendas supressivas: suprimem dispositivos Emendas modificativas: modificam a redação de dispositivos Projetos de iniciativa reservada (por exemplo, do presidente): pode o congresso apresentar emendas? Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista: I - Nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; II - Nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público. Exemplo: caso o presidente proponha a criação de 100 cargos para o Ibama, o congresso pode diminuir esse número de cargos, mas não aumentar, pois aumentaria a despesa. A doutrina estabeleceu, a partir dos regimentos das casas, que as emendas a projetos de iniciativa reservada devem ter pertinência temática com o projeto de lei. Uma emenda sem essa pertinência seria inconstitucional. Fase constitutiva do processo legislativo: Projeto vai ser discutido e trabalhado pelas casas, através das comissões temáticas. A Comissão de Constituição e Justiça sempre se manifesta sobre a constitucionalidade da propositura. Quem define a quantidade e competência das comissões é o regimento interno de cada casa. Normalmente há uma correspondência entre comissões e ministérios. As comissões terminam seu trabalho com um parecer – é uma manifestação opinativa, não deliberativa – a não ser no caso de delegação interna corpus. A discussão é importante, mas é apenas um subsidio para o plenário deliberar. Há convocação de experts, debate público, convocação de ministros, juntada de documentos, etc. A maior parte do trabalho de um parlamentar se dá nas comissões. A CF apenas menciona a existência das comissões, mas não regula nada sobre elas – quem regula são os regimentos das casas. Após a instrução, há a fase no plenário. Lá, há duas subfases: Discussão: discursos, encaminhamento a favor e contra, etc. Deliberação: votação. No Brasil temos um sistema bicameral. Entretanto, a maior parte dos projetos começa na Câmara: começam na Câmara todos os projetos de iniciativa de deputados, de iniciativa do presidente da república, de iniciativa popular, dos tribunais e do MP, e começam no Senado apenas os projetos de iniciativa de senadores. Dessa forma, o Senado atua na maior parte das vezes como instância revisora. Isso faz com que as duas casas não estejam em pé de igualdade no processo legislativo, a Câmara tem uma importância ligeiramente maior. Nessa fase deliberativa, delibera primeiro a casa que recebeu o projeto, e se aprovar, vai para a outra casa, que também delibera. Se aprovar, vai para sanção presidencial. Se rejeitar, arquiva o projeto. Caso a segunda casa faça emendas, volta para a primeira para apreciar as emendas. Pode ser apresentado pela segunda casa um projeto substitutivo, e ele vai para a casa anterior para ser apreciado. No processo legislativo há o rito comum (sem prazo) e o rito abreviado (das solicitações de urgência). Art. 64. § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação. § 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior. § 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código – para codificações é necessário um tempo maior de maturação. Presidente sanciona ou veta. A sanção não é um ato expresso: sabemos que o presidente sancionou quando ele não vetou, e em seguida ele promulga. Em caso de veto, há uma mensagem de veto enviada ao congresso. Caso o prazo de veto seja vencido e o presidente não tenha apreciado, há sanção tácita. O projeto de lei só se transformaem lei quando há sanção ou derrubada do veto. Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar. Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. § 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção. § 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores – veto pode ser derrubado, não é absoluto. Antes esse voto era secreto, mas a partir de emenda passou a ser público. § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República – em caso de veto parcial, é possível promulgar o projeto desde logo ressalvando as partes vetadas. Caso o veto seja rejeitado, a parte rejeitada entra em vigor posteriormente – situação de insegurança jurídica. § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. § 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice- Presidente do Senado fazê-lo. Processo legislativo da lei complementar: É idêntico ao da lei ordinária, salvo uma questão: o quórum de aprovação. Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. – o quórum de deliberação é sempre a maioria absoluta de seus membros (número de parlamentares suficientes para a assembleia pode deliberar). Só é possível deliberar quando presente a maioria absoluta dos deputados ou senadores. Sem isso, ocorre a levantação de presença e caso não haja a presença necessária é suspensa a sessão. Caso haja quórum de deliberação, as deliberações em geral (lei ordinárias) são tomadas por maioria simples (maioria dos presentes). Se costuma chamar isso de quórum de aprovação. Ex: 81 membros, 48 presentes (há quórum de deliberação), 30 votam a favor (há quórum de aprovação). A sanção do presidente em projeto com vício de iniciativa (ex: parlamentares apresentam projeto em matéria de iniciativa privativa do presidente), segundo entendimento atual do STF, não convalida o projeto. Há inconstitucionalidade. Para um projeto de lei aprovado pelo congresso e vetado totalmente, a derrubada pode ser parcial. No caso da lei complementar, só há aprovação por maioria absoluta. Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta. Maior estabilidade. Não há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar, pois regem matérias diferentes. Só cabe lei complementar quando a Constituição define. Em algumas situações a CF prevê lei complementar para veicular normas gerais: Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: Caso haja invasão de um ente na competência do outro, há inconstitucionalidade formal tipológica. Processo legislativo da medida provisória: Durante períodos havia um abuso dessa medida, que de provisória passava a ser usada como permanente. Dessa forma, em emenda à CF 1988, foi disposto que: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional – ato legislativo simples (não complexo), pois exclusivamente do presidente. CF não estabelece procedimento prévio de elaboração, mas executivo pode estabelecer por normas internas. Pressupostos de relevância e urgência (não pode esperar nem menos o período do procedimento abreviado). § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I - Relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral – direito constitucional material. É matéria constitucional, ainda que a forma seja de lei infraconstitucional. b) direito penal, processual penal e processual civil; - diz respeito a liberdade e segurança individual. c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; - direito financeiro. Matéria tributária pode. II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; - Plano Collor: foi considerado inconstitucional, logo não havia necessidade desse inciso. III - reservada a lei complementar; IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada – princípio da anterioridade. § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes – medida provisória vigora por 60 dias, mas se não for deliberada nesse período (projeto de lei de conversão), há uma prorrogação automática por mais 60 dias. O prazo máximo que uma medida vigora sem ser convertida em lei é 120 dias. § 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional. § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais – exigência de que o congresso se posicione sobre relevância e urgência. § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando – 45 dias para as duas casas juntas. § 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional – máximo 120 dias. § 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados. § 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decursode prazo – sessão legislativa = exercício legislativo (ano). § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se- ão por ela regidas – na prática, aquilo que a MP regulou permanece por ela regulado. § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. Processo legislativo de decretos legislativos e resoluções: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Procedimento muito próximo ao da lei ordinária, única diferença é que é de iniciativa da Mesa da casa respectiva. São de iniciativa exclusiva do congresso e não há sanção ou veto do presidente pois ele não participa do processo legislativo. Decretos legislativos: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar; III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias; IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; VI - mudar temporariamente sua sede; VII - fixar idêntica remuneração para os Deputados Federais e os Senadores, em cada legislatura, para a subseqüente, observado o que dispõem os arts. 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; VIII - fixar para cada exercício financeiro a remuneração do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo; X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes; XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União; XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; XV - autorizar referendo e convocar plebiscito; XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares. Resoluções: Art. 51. Serão revistos pelo Congresso Nacional, através de Comissão mista, nos três anos a contar da data da promulgação da Constituição, todas as doações, vendas e concessões de terras públicas com área superior a três mil hectares, realizadas no período de 1º de janeiro de 1962 a 31 de dezembro de 1987. § 1º No tocante às vendas, a revisão será feita com base exclusivamente no critério de legalidade da operação. § 2º No caso de concessões e doações, a revisão obedecerá aos critérios de legalidade e de conveniência do interesse público. § 3º Nas hipóteses previstas nos parágrafos anteriores, comprovada a ilegalidade, ou havendo interesse público, as terras reverterão ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Art. 52. Até que sejam fixadas as condições do art. 192, são vedados: I - a instalação, no País, de novas agências de instituições financeiras domiciliadas no exterior; II - o aumento do percentual de participação, no capital de instituições financeiras com sede no País, de pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no exterior. Parágrafo único. A vedação a que se refere este artigo não se aplica às autorizações resultantes de acordos internacionais, de reciprocidade, ou de interesse do Governo brasileiro. Resoluções possuem procedimento de elaboração mais simples que os decretos legislativos, mas não há a rigor grandes diferenças entre os dois. São normalmente atos legislativos apenas formais (não dispõem sobre matéria geral e abstrata) e de competência exclusiva do congresso nacional. Aula 9 – Poder Executivo É o principal poder a sofrer impacto com a nova formulação da separação de poderes. No início, o Executivo era colocado em posição subalterna pois o Poder Legislativo seria o mais representativo para representar a soberania popular. O Poder Executivo era exercido pelo monarca, que não era eleito. Dessa forma, a proposta de Montesquieu valoriza mais o Legislativo. O Executivo era a força a serviço da lei – executar aquilo que o Legislativo determinava. Poder Executivo sofre transformação: novas atribuições, passa a intervir na economia e na sociedade, exigindo rapidez de intervenção, qualidade técnica para seu trabalho, etc. o Crescimento da adm. pública: máquina com expertise técnica a serviço do Executivo. o Relações internacionais complexas: profissionalização para essa área. Nas Constituições modernas não se fala mais em Poder Executivo, mas sim em governo. Função de governo: planejamento e tomada de decisões em relação a políticas públicas (intervenção). Uso de atos legislativos como forma de implementação de políticas públicas. Assim, o Poder Executivo assume a primazia entre os Poderes, a liderança no arranjo das instituições. Karl Loewenstein: cabe ao Poder Executivo o planejamento governamental (tomada de decisões de governo) e a execução dessas decisões através de atos administrativos (que na maioria das vezes são propostos pelo Executivo). o Legislativo fica mais com uma função de controle político, para controlar as decisões do Executivo. o Poder Judiciário fica com função de controle de constitucionalidade e de legalidade das decisões do Executivo. o Um Poder que faz e dois que controlam. Legitimidade: presidencialismo republicano com eleições diretas ou indiretas. o Mesmo no sistema parlamentarista a chefia de governo decorre da maioria parlamentar – portanto, de processo eleitoral. o Chefe de governo resulta de decisão popular. Estrutura do Poder Executivo: CF 1988 o Presidencialista: reúne chefia de Estado e de Governo. Presidente da República é chefe de Estado, chefe de Governo e chefe da Administração. Chefia de Administração: comando do aparato administrativo. Ministros de Estado: Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros (não necessariamente brasileiros natos)* maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente daRepública; II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos – instruções ministeriais: em nível terciário na hierarquia normativa, normalmente veiculados pelas portarias ministeriais. III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República. *Exceto Ministro da Defesa, que precisa ser brasileiro nato (art. 12). o Atribuições do presidente da república: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I - Nomear e exonerar os Ministros de Estado; II - Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III - Iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V - Vetar projetos de lei, total ou parcialmente; VI - Dispor sobre a organização e o funcionamento da administração federal, na forma da lei; VI - Dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; VII - Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; IX - Decretar o estado de defesa e o estado de sítio; X - Decretar e executar a intervenção federal; XI - Remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; XII - Conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII - Exercer o comando supremo das Forças Armadas, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; XIII - Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; XIV - Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV - Nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI - Nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; XVII - Nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; XVIII - Convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; XIX - Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX - Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI - Conferir condecorações e distinções honoríficas; XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII - Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; XXIV - Prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; XXV - Prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; XXVI - Editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; XXVII - Exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. o Monocrático: Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. Ministros não compartilham a função de governo: são subalternos, auxiliam. o Eleição: vice-presidente é acessório do presidente (quem elege um, elege o outro). Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. § 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice- Presidente com ele registrado. § 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político (monopólio das candidaturas dos partidos), obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. § 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos. § 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. § 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso. Presidente da República deve ser: brasileiro nato, em plenitude do gozo dos direitos políticos, mais que 35 anos e filiado a partido político. Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago – Tancredo Neves: força maior (doença) – vice assumiu. o Impedimento e vacância do cargo de presidente: Impedimento: circunstância que ocasionalmente impede o exercício do cargo. Ex: licença de saúde, suspensão do exercício do cargo por processo de impeachment. Caso para substituição – exercício interino. Vacância: desocupação definitiva do cargo: morte, renúncia, decretação do impeachment. Caso para sucessão. Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice- Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Essas autoridades, em caso de impedimento, jamais sucedem o presidente – apenas substituem. Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga (vacância), o Vice-Presidente. Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais. Vice-presidente substitui em caso de impedimento e sucede em caso de vacância. Em caso de vacância dupla (presidente e vice), as autoridades listadas no art. 80 substituem. Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos doperíodo presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional (eleição indireta), na forma da lei. § 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores. Art. 82. O mandato do Presidente da República é de quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição. Administração pública: adm. civil (não contempla forças armadas) CF dá atenção ao tema da profissionalização da adm. pública. Muda a cúpula do governo, mas a estrutura da adm. deve permanecer, pois se guia por padrões técnicos. Adm. civil serve para: Ajudar no planejamento governamental Preparar as decisões do governo (do ponto de vista técnico): dar as opções, condições de implantação, embasamento técnico, etc. Ajuda na execução das decisões (controle interno) Adm. pública nem sempre foi profissional: a ideia da profissionalização veio de Weber, que falou da importância da burocracia em um momento em que o Estado estava se racionalizando. Antes da profissionalização, os cargos da adm. ficavam à disposição de quem venceu as eleições. Burocracia x tecnocracia: Burocracia: Sentido negativo da palavra burocracia: todos os percalços de uma adm. pesada, com milhares de servidores. Princípios da adm.: legalidade (seguir normas) e hierarquia (cumprir ordens do superior). Se há mecânico cumprimento de leis e instruções, literal, lento, formal, seguro em sua legalidade, sem tomada de decisões ou interpretação – não fazer para não assumir riscos – adm. tímida, excessivamente burocrática, retardamento de tomada de decisões. Essa forma de burocracia deve ser superada e enfrentada, com treinamento de servidores, delegação de competências e estimulo às boas práticas. Tecnocracia: Servidores adm. assumindo a função decisória, assumindo que o político não sabe o bastante, não é competente. Ocupa o espaço da discricionariedade política, dando caráter pseudotécnica a algo que é político. Normas e princípios da adm. civil: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade (isonomia), moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: II - a investidura em cargo (regime estatutário) ou emprego público (regime celetista) depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração - na adm. direta prevalece o regime estatutário, nas autarquias, o celetista. V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento – evitar nomeações de confiança sem caráter técnico. Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público – nomeados para cargo de comissão jamais adquirem estabilidade (podem ser exonerados). § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; - pena disciplinar da demissão. III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa – nunca foi regulamentado. Na reforma adm. se fala novamente nesse tema. A vantagem da estabilidade é dar ao servidor a garantia de que não perderá o cargo porque desagradou o titular do poder. Pode exercer seu cargo com mais autonomia. O ponto negativo é que pode acabar se acomodando, não sendo tão eficiente. Tendência atual de querer conferir estabilidade apenas para funções de Estado. Aposentadoria é um direito básico dos servidores – continuar recebendo remuneração após completar determinadas condições e não mais integrar o serviço ativo. 3 situações; Aposentadoria compulsória: atingir certo limite de idade (75 anos de idade) ou invalidez (laudo médico). Aposentadoria voluntária: algumas condições, a principal é o tempo de serviço. Idade mínima de 65 anos para os homens e 62 para mulheres. Promoção: por concurso interno à sua carreira. Critérios de merecimento e antiguidade. Responsabilidade (responsabilização por atos ilícitos): Penal: crimes contra a adm. pública. Ex: corrupção passiva – receber vantagem patrimonial para fazer ou deixar de fazer. Administrativo: exceder limite de faltas consecutivas – abandono de cargo. Sofre punição disciplinar (não é judicial, pode recorrer à Justiça). Civil: ex – improbidade administrativa. Pode ser condenado a ressarcimento, perda de direitos políticos, etc. Algo pode ser ao mesmo tempo um crime e um ilícito disciplinar. Responsabilidade civil objetiva do Estado: § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Poder regulamentar: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV – Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; Decreto é o nome para os atos dos chefes do executivo. o Quando é geral e abstrato regulamenta a lei. o Todo regulamento é veiculado por decreto, mas nem todo decreto veicula um regulamento. o Há decretos que são regulamentares e que não são regulamentares. o Regulamento é voltado à fiel execução da lei. Dá detalhes a ela. o Está sujeito ao princípio da legalidade: ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei (em sentido formal). o Não serve para criar novas obrigações, pode apenas estabelecer aspectos acessórios à obrigação. o Decretos podem criar direitos? Sim. Art. 5º. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; - não menciona direitos. o Se o decreto ultrapassa a legalidade, estabelece algo sem respaldo legal algum (ocupa espaço destinado à lei), mas não contraria lei alguma, é inconstitucional. Estabelece algo que está dentro de reserva legal. o Já se o decreto cria algo que contraria a lei ele é ilegal, não inconstitucional. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - Sustar (interromper) os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; Os fundamentos do Poder Regulamentar são: A função de estabelecer detalhes para a execução da lei. A hierarquia: comandante da adm. pública emite ordem para os comandados, para que cumpram a leis de determinada forma. Poderíamos regulamentar a CF sem lei? Sim. Ex: decreto que regulamenta o processo legislativo. Deve voltar-se ao âmbito interno da administração, não a externos. Existem certas matérias que escapam do âmbito do poder regulamentar: Direito Civil (é entre particulares) – apenas excepcionalmente. Direito Penal Direito Trabalhista Entre outros As matérias mais regulamentáveis são: Direito administrativo, trabalhista, público, etc. Modalidades de regulamento: o De execução o Autônomo (art. 84, VI) – decreto de organização da adm. pública. o Delegado: quando não há lei delegada. Isso não existe no Brasil, pois há lei delegada. Não cabe controle abstrato de constitucionalidade em relação a um regulamento, poisao Estado como um todo Autonomia: referente às partes desse Estado. A autonomia tem 3 aspectos: Autonomia política: eleição dos próprios governantes, legislação própria. Aspectos de auto-organização são todos de autonomia política. Autonomia administrativa: aplicação de normas, prestação de serviços públicos próprios. Autonomia financeira: receitas próprias para suportar gastos próprios; orçamentos e leis orçamentárias próprias. Repartição de rendas no Estado federal é o que permite a autonomia financeira. Pode ser feita por critério horizontal ou vertical. Modelo de repartição horizontal de rendas: favorece uma concentração de rendas ao repartir por estados ou municípios. Modelo de repartição vertical de rendas: criação dos fundos de participação. Ex: parte do imposto de renda vai para o fundo de participação dos estados e para o dos municípios. Essa distribuição se dá de forma inversa: estados e municípios mais ricos recebem menos. A CF estabelece uma série de preceitos em matéria de distribuição de renda, sobretudo disciplinando o sistema tributário. Ex: art. 150 – estabelece limitações ao poder de tributar. Formação do Estado federal: Pode se dar por duas maneiras: agregação ou segregação. O primeiro modelo histórico de Estado federal foram os EUA. 13 colônias inglesas com divisão análoga à das capitanias hereditárias brasileiras, mas com conteúdo patrimonial menor. Essas 13 colônias se tornam independentes e, para mútuo auxílio na defesa de suas próprias independências, celebraram tratado internacional em 1781, que estabelece a Confederação Estadunidense. Essa confederação evoluiu para um modelo de união definitiva e estável – surge a ideia do Estado federal. As 13 colônias, inicialmente Estados soberanos, abrem mão dessa soberania e elaboram a Constituição de um único Estado (Estados Unidos) soberano e indissolúvel – um só território, um só povo, um só poder constituinte. “Os Federalistas” – conjunto de artigos publicados na imprensa dos EUA, precedendo a primeira conferência da Filadélfia que elaborou a Constituição dos EUA em 1787. Dessa forma, o federalismo estadunidense ocorreu por agregação: estados soberanos que se agregam. Já o federalismo brasileiro ocorreu por segregação: inicialmente um Estado unitário, com apenas algumas formas de descentralização municipal ou comunal por conta da extensão do território – porém as províncias (capitanias hereditárias) eram muito mais subdivisões de caráter patrimonial do que uma divisão política. Essas províncias adquirem crescente autonomia durante o Império, até se transformarem nos estados. Essa origem de segregação exerceu um impacto cultural: no Brasil, o poder é visto muito mais como uma responsabilidade da União, do Governo Federal. Não há uma afeição tão forte à descentralização política como há nos EUA. Isso resulta em muitas decisões jurídicas pelo STF favoráveis à centralização política. Federalismo dual e cooperativo: Dual (“federalismo clássico”): prevalece o modelo de repartição horizontal (separação de matérias entregues às entidades que as regulam de modo independente). Modelo clássico do federalismo (primeiro modelo, estadunidense). Típico de um Estado federal de feições liberais (se privilegia a independência em vez da cooperação). o EUA: estados exercem maioria das competências legislativas. União exerce competência legislativa apenas sobre matérias expressamente indicadas na CF, e estados-membros exercem competência sobre todo o resto. Competência residual: o resíduo cabe aos estados. Grande autonomia estadual. o Brasil: CF artigo 25, § 1º - “São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”. Entretanto, isso não significa autonomia estadual tão grande quanto nos EUA, devido à origem histórica diferenciada e à técnica de arrolamento dessas competências diferenciada. Cooperativo (mais recente): prevalece o modelo de repartição vertical (mas que acaba convivendo com a repartição horizontal). Há maior espaço cooperativo. Ex: direito tributário no Brasil, normas gerais de licitações e contratações administrativas, etc. Típico de um Estado federal de conformação democrático- social. No Brasil, surge com a CF 1934 (primeira CF democrático-social). Federalismo brasileiro: Quatro categorias de entidades federadas: União, estados, municípios e Distrito Federal. A União não se confunde com o Estado federal!!!!! Perante a comunidade internacional só existe o Estado federal brasileiro, e não a União (pois é uma parte interna). Quem se manifesta diante da comunidade internacional e a União, que tem a competência para estabelecer as relações internacionais, mas age em nome do Estado federal. Cada entidade tem sua personalidade jurídica própria na esfera interna (perante a esfera externa só há o Estado federal). As relações internas são sempre exercidas pelas unidades, e não pelo Estado federal. Entidades federadas contam com autonomia, e Estado federal conta com soberania. Introdução histórica: Brasil tem um passado de centralização político-administrativa de herança portuguesa: Brasil colônia era centralizado, embora houvesse alguma descentralização administrativa. Capitanias hereditárias eram divisões de caráter patrimonial: grandes glebas de terra destinadas a exploração de particulares, sobre a qual a Coroa tinha participação nos lucros. O Governo Geral do Brasil, durante a época colonial, controlava o país. Devido a extensão territorial, ocorreu um municipalismo. A independência do Brasil traz o Império e o primeiro padrão de forma de Estado: o Estado unitário, determinado na Constituição imperial de 1824. Durante a Regência, a vocação federalista brasileira começa a se materializar, com o exemplo dos EUA. Sem um imperador que pudesse impor uma centralização de poder, houve uma maior reinvindicação de poder por parte das províncias, que não tinham poder legislativo pela Constituição de 1824. A descentralização vem com o Ato Adicional de 1834 (espécie de emenda constitucional), que atribui às províncias competência legislativa. Portanto, é o poder constituinte derivado que estabelece a descentralização política (mas não é Estado regional, pois não há a assimetria de competências). Assim, as províncias adquiriram todas as mesmas competências legislativas (uniformidade). Além disso, o federalismo não foi colocado como cláusula pétrea. É um tipo sui generis entre Estado regional e o Estado unitário politicamente descentralizado. Durante o segundo reinado do Império, quando se sucederam no poder os partidos Liberal e Conservador, a luta federalista cresceu muito, notadamente a partir de 1875 dentro do partido Liberal (com o apoio de Rui Barbosa). Em 1840 foi editada uma lei de interpretação do Ato Adicional de 1834, dando um sentido centralizador a ele e eliminando algumas conquistas federalistas, devido à recusa do imperador e do partido Conservador à descentralização. O federalismo veio com a proclamação da República, e as províncias foram convertidas em estados. Desde a primeira Constituição republicana, o federalismo foi definido em 3 níveis. Essa divisão se deve a uma tradição municipal brasileira que vinha desde a colônia: União: competência normativa geral, com normas de âmbito de aplicação em todo o território nacional. Estados-membros: entidades de nível regional, que editam leis para os territórios desses estados. Munícipios: entidades de nível local, valendo apenas para aquela comuna de pessoas. O federalismo, assim, passa a se tornar um clausula pétrea, um princípio constitucional irremovível, desde 1891. CF 1988: art. 60, § 4º - “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado”. Em alguns Estados federais, como os EUA, os estados podem eventualmente decidirem adotar uma forma federativa própria (federalismoele incide em ilegalidade e não inconstitucionalidade. Apenas se ele se reportar diretamente à CF caberá o controle. Aula 10 – Poder Judiciário Função administrativa x função jurisdicional: Há uma diferença de natureza funcional entre as duas. Aplicação da lei pela Administração é instrumental, para atingir um fim – proporcionar serviços públicos, por exemplo. Já a função jurisdicional é a aplicação da lei para resolver controvérsias, contenciosamente. A aplicação da lei é finalística. Judiciário está mais preocupado com o cumprimento da lei em si, diferentemente da Administração que está preocupada com outras questões. Essa diferença se reflete no regime jurídico das duas funções. Inércia: a jurisdição segue o princípio da inércia – só se movimenta quando provocada. Deve haver a propositura de uma ação. o Já administração pública, caso identifique algum problema, deve agir por iniciativa própria, de ofício. Substitutividade: a Administração acusa, colhe provas e julga. Já o Estado juiz se substitui ao Estado administrador. o Separação do Estado em dois poderes diferentes; um que representa a pessoa jurídica (poder executivo), e outro que julga a relação (poder judiciário). o Se há um processo envolvendo o poder público e um administrado (particular), o poder jurisdicional irá julgar. Definitividade das decisões: ex - decisões do TCU são administrativas, logo, não são definitivas. Já as do poder jurisdicional são definitivas. Obs.: contraditório hoje existe em vários processos administrativos, não é exclusivo dos processos judiciais. Porém, no Judiciário o contraditório é estrutural, não há processo judicial sem contraditório. Já na Administração, há vários processos sem contraditório (é uma espécie de diferença entre as duas funções, mas com alguma relativização). Função do Poder Judiciário atualmente: ao lado do Legislativo, é um poder controlador de políticas públicas. No Judiciário, esse controle é feito pelo ponto de vista da legalidade (controle jurídico). Já no Legislativo, é feito pelo ponto de vista da política (controle político) Princípio básico da função jurisdicional: inafastabilidade do controle jurisdicional. o Ligado ao Estado de Direito (legalidade, isonomia, segurança jurídica e controle jurisdicional). o Qualquer lesão ou ameaça de lesão de direito não pode ser afastada do poder jurisdicional (ex: AI-5 – atos não eram passíveis de controle jurisdicional). Criação de categorias como abuso de poder, excesso de poder, desvio de finalidade – noção de moralidade administrativa. Controle pela aplicação de princípios jurisdicionais – “administrador feriu o princípio da isonomia”. o Porém, deve haver um cuidado para o controle da legalidade não entrar no mérito. o Judiciário não pode, com o argumento de estar aplicando um princípio, substituir o administrador em suas escolhas. Necessidade de respeitar a discricionariedade administrativa. o Necessidade de considerar que um princípio comporta mais de uma forma de concretização dentro de seu espectro de incidência. Divisão: Justiça Federal e Justiça Estadual Desde a CF 1981, quando foi implantada a Federação, há essa divisão. Há dois aparatos de organização: um mantido pela União e outro pelos estados. Especialização: há certos órgãos que são especializados em razão da matéria. Só cuidam das competências de determinada matéria. Ex: direito militar, direito do trabalho, direito eleitoral, etc. Competência especializada. o O segmento do Judiciário que cuida de matérias mais genéricas tem uma competência comum. o Assim, tanto na Justiça Federal quando na Justiça Estadual há competência comum e competência especializada. o Dentro da justiça comum, há competência genérica (justiça estadual comum) e competências comuns enumeradas (justiça federal comum). o A justiça estadual comum é a subsidiaria: tudo que não couber para as outras justiças cabe a ela. É a mais extensa. Justiça Federal: Justiça Federal comum (com competências enumeradas na CF) e Justiça Federal especializada (Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar). CF 1891 criou a Justiça federal comum, e a especializada foi sendo criada com o tempo. Justiça Federal comum: o 1º grau: juízes federais. Competências: art. 109 Algumas são “em razão da pessoa”: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; Algumas são “em razão de matéria”: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; Novidades trazidas por EC: V- A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. o 2º grau: Tribunais Regionais Federais - não há um para cada estado, alguns correspondem a mais de um estado. Julgam os recursos em face das decisões tomadas pelos juízes federais. Justiça Federal especializada: o Justiça do Trabalho: 1º grau: juízes do trabalho. 2ºgrau: Tribunais Regionais do Trabalho – também não há correspondência perfeita com os limites territoriais estaduais. 3º grau: Tribunal Superior do Trabalho (TST). Podem acabar chegando ao STF (não ao STJ) – 4 graus Competências: art. 114. I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios – havendo contrato de trabalho (CLT), em entidade privada ou pública. II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; Julgamento em 1º grau (juiz do trabalho) – recurso ao 2º grau (TRT) – recurso ao 3º grau (TST) (nesse caso, apenas para situações mais restritas) – recurso extraordinário ao STF (apenas se houver matéria constitucional). Composição TST: Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura dacarreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. o Justiça Militar Federal: Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar; II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei (Auditorias Militares). Pouquíssimo volume de processos – única justiça descongestionada no Brasil. Se compõe de parte dos juízes não técnicos: Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis. Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo: I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional; II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar. Competências: Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. É uma justiça de competência criminal, que segue o Código Penal Militar e o aplica aos integrantes das forças armadas (não aos PMs, que são justiça estadual). o Justiça Eleitoral: Criada após a revolução de 1930, e teve consequências muito positivas para o combate à corrupção eleitoral. Competências administrativo-eleitorais (ex: aplicar multas eleitorais, designar mesários, etc.) e judiciário-eleitorais. É uma justiça sazonal. Tem uma estrutura permanente, mas se vale muito de recursos humanos de servidores municipais e estaduais. Juízes eleitorais são os juízes estaduais da comarca que se prestam a exercer essa função. Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; II - os Tribunais Regionais Eleitorais (um por estado) III - os Juízes Eleitorais; IV - as Juntas Eleitorais. Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça. Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no Distrito Federal. § 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. § 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre os desembargadores. Competências: Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. Justiça Estadual (art. 125): Justiça Estadual Comum: atribuição residual. O que não for de competência da Justiça Federal ou da Justiça Estadual especializada. Aplica muito mais o direito federal que o estadual: Código Civil, Código Penal, etc. Aplica também o direito municipal, pois o Município não possui Justiça própria. 1º grau: Juízes de direito (divisão estadual em comarcas – nem sempre corresponde aos municípios, mas muitas correspondem); 2º grau: Tribunal de Justiça. Competência comum e genérica: não são arroladas na CF. Justiça Estadual Especializada (Justiça Militar Estadual): § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. Competência administrativo-disciplinar. Competência criminal: julga os crimes militares cometidos por PMs, aplicando o CP Militar. Garantias do Poder Judiciário: Institucionais: outorgadas ao Poder judiciário como um todo, assegurando sua autonomia (art. 96). o Competências administrativas: autoadministração do Judiciário. o Competência de autogestão (governo próprio): eleger seus órgãos diretivos. o Competência de auto-organização: elaborar seus regimentos internos. Art. 96. Compete privativamente: I - aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169: - matérias administrativas que demandam providência legislativa Da magistratura: garantias dos magistrados, assegurando sua autonomia funcional. Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau (1º instância), só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado (juiz, uma vez vitalício, só perde o cargo por sentença judicial transitada em julgado); II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII – não pode ser deslocado do lugar que escolheu compulsoriamente, só na hipótese do artigo em questão. III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I – relativo ao pagamento dos juízes. o Juízes pagam imposto de renda (a irredutibilidade de vencimentos não pode ser interpretada como isenção de imposto de renda): Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: III - renda e proventos de qualquer natureza; § 2º O imposto previsto no inciso III: I - será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei; Essas garantias não são privilégios, mas sim prerrogativas: pretendem assegurar a independência da atuação dos magistrados. Vedações ao Poder Judiciário: Art. 95. Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função (em geral, não necessariamente público), salvo uma de magistério; II - receber,a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; (seria um ato de corrupção passiva) III - dedicar-se à atividade político-partidária (juiz estadual muitas vezes assume a organização da justiça eleitoral, por exemplo) (caso queira se candidatar, primeiro deve se aposentar ou pedir exoneração) IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (“quarentena”). Estatuto constitucional da magistratura: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura (federal e estadual), observados os seguintes princípios: - segundo Elival, o certo seria a CF ter aberto essa competência para mais entes, pois caso o STF não tenha iniciativa o estatuto não pode mudar. I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago – mistura critério de antiguidade e merecimento: segundo Elival isso é corporativismo – aqueles que possuem merecimento deviam ser promovidos de forma mais rápida. c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão Emenda nº 45: buscou dar transparência na gestão do Poder Judiciário. Art. 93, X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros; Art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Art. 93, XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores (ex: TJSP), poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; Aula 11 – Supremo Tribunal Federal Histórico É uma criação republicana. Havia o Supremo Tribunal de Justiça do Império, mas não tinha a mesma conotação. Faltavam prerrogativas, autonomia, etc. Com a CF republicana de 1891, inspirada na CF dos EUA, tomou-se o modelo da Suprema Corte americana. Nasce como segundo grau da justiça federal – julgava os recursos. Mas também já tinha competências no campo do controle de constitucionalidade. Composição Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico (precisa ser acima da média, não basta ser graduado; quem avalia isso é o Senado) e reputação ilibada (aferida objetivamente por meio de certidões criminais). Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal (41 senadores). Como são apenas 11, são obrigados a delegar varias funções a um conjunto grande de assessores, que passam a ter grande protagonismo informal. Problema: isso não tem a mesma transparência. Na época da República eram 15 ministros, na ditadura militar era 16. Competências A grande questão hoje é definir a natureza do Supremo e suas competências. Surge como uma corte com características recursais. O principal recurso que chegava ao STF era o recurso extraordinário: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal (...): III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas (casos concretos) decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida. o Julga o mérito da causa. Hoje a discussão é se deve continuar assim (características recursais) ou se devemos transformar o STF em uma autêntica corte constitucional. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição (...) – seria a função primordial? Nas cortes europeias, a função exclusiva é de fazer controle de constitucionalidade (com poucas exceções) – só analisa as questões constitucionais e devolve os processos para julgamento pelas cortes ordinárias. Muitos criticam o caráter recursal do STF – Elival também. Isso diminuiria as competências notadamente em matéria penal - e hoje correspondem a grande parte dos processos que o STF analisa. Muitos habeas corpus, etc. Um dos grandes problemas atuais do STF é o excesso de processos (congestionamento processual). Isso vem diminuindo com algumas medidas (jurisprudência, súmula vinculante, etc). Mas só se resolverá com a redução das competências. Outro problema é a falta de especialização. Se fosse uma corte constitucional, seus integrantes seriam especializados em Direito Constitucional. Isso elevaria o nível do trabalho realizado. Falta de maior tecnicalidade. Muita oscilação. Hoje os integrantes são de áreas muito variadas. Também é um problema o ativismo judicial, que será avaliado posteriormente. A função de guardião da Constituição se desdobra em várias outras atribuições. Competências originárias: processo se inicia no STF, não passa por outras instâncias. Ex: ADIs (controle abstrato de constitucionalidade, em que o objeto é um ato normativo). Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns (não são crimes de responsabilidade), o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional (seriam todos os deputados e senadores, mas em decisão ativista o STF reduziu para apenas os presidentes da câmara e do senado), seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; (em razão do cargo ocupado pela autoridade, o STF julga enquanto foro por prerrogativa de função – “foro privilegiado”). c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, osmembros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; (casos de impacto federativo apenas). g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; (ação judicial em que se pede que se preserve a competência do STF; caberia na hipótese de descumprimento de sumula vinculante, por ex.) q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; (quando falta norma para implementar direito fundamental). Competências recursais: II - julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. Os recursos extraordinários representam grande volume de processos. Por isso, se criou com a EC 45 o requisito da repercussão geral: § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. Papel uniformizador do STF na jurisprudência: Efeitos erga omnes nas ações diretas: Art. 102, § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. No controle abstrato de constitucionalidade (ADI ou ADC), STF decide com eficácia erga omnes. Ex: se STF reconhece inconstitucionalidade de uma lei, justiça estadual precisa reconhecer também em suas decisões. Efeito vinculante (interpretação do Elival): serviria para aplicar medida disciplinar contra magistrado que se recusa a cumprir. Boa parte da doutrina defende que efeito vinculante diz respeito também aos motivos determinantes da decisão. Isso daria uma amplitude muito grande, e seria complicado. Repercussão geral: criada pela EC 45. Pressuposto de conhecimento ou admissibilidade do recurso extraordinário. Sem ela, não se julga o mérito. Pode ser ampla – jurídica, econômica, social, etc. Não pode se limitar a casos muito particulares. § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. Quando identifica repercussão geral, STF comunica as demais instâncias para paralisação do julgamento e julga o caso, dando decisão que servirá de modelo. Juiz de outras instâncias pode não seguir o entendimento, mas isso será facilmente reformado. Súmula vinculante: criada pela EC 45. Natureza: ato normativo. Não é uma decisão judicial. Não significa o julgamento de um caso, mas os julgamentos reiterados de casos são pressupostos para a adição da sumula – é editada em função desses. Precedentes: origem no direito lusitano. Tribunais superiores fixavam entendimentos vinculativos para as demais autoridades judiciais. Sempre houve no Brasil a súmula de orientação jurisprudencial, que não é vinculante. Não há nenhuma medida disciplinar contra o magistrado, pois ele não está praticando nenhuma infração. Esse tipo de súmula ainda existe, mas o STF praticamente não as edita mais. Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício (se fosse ato jurisdicional não poderia ser de ofício) ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. A súmula é um ato normativo de 2º grau. Não está em nível constitucional nem primário – é menos que o ato legislativo, não pode criar direitos e obrigações. Apenas interpreta a legislação e define seus efeitos. É ato normativo relacionado à atividade jurisdicional. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. Validade: confronto entre uma lei/ato normativo e a Constituição – discussão de constitucionalidade. Interpretação: interpretação pura e simples de lei ordinária não é matéria de sumula vinculante. Pode ser interpretação de um dispositivo da CF ou de dispositivo legal para avaliar se uma interpretação é ou não constitucional (interpretação conforme), etc. “Desde que interpretado assim, é constitucional” ou “tal interpretação é inconstitucional”. Eficácia: precisa envolver confronto da lei/ato normativo com a Constituição. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei (lei que regula as súmulas), a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade (lei prevê uma amplitude até maior das autoridades). § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação (art. 102, I, l) ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. Lei que regula as súmulas prevê também a responsabilidade disciplinar de magistrados ou membros da administração que descumpram súmula vinculante. Problema das súmulas: se o STF as edita e, grande quantidade, caberá grande número de reclamações. Hoje o STF dá prioridade à repercussão geral, e menos às súmulas. Conselho Nacional de Justiça A própria organização e estrutura do Judiciário já propicia o controle interno de regularidade dos atos institucionais por seu próprio funcionamento normal, uma vez que normalmente a tudo cabe recurso, embargos de declaração, etc. A ideia dacriação do CNJ não foi melhorar esse controle, mas sim era melhorar o controle político-administrativo do Judiciário, uma vez que esse possui auto administração, recursos orçamentários expressivos, etc. Se sentiu uma timidez muito grande do legislativo e dos TCUs a realizar esse controle. Para isso, foi criado um órgão voltado ao controle financeiro- administrativo do Judiciário. Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (majoritariamente magistrados) I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal; II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal; III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República; XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual; XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo- lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: Não se trata de controle institucional. Atos do CNJ são passíveis de controle pelo STF (por ser de competência administrativa, suas decisões são passíveis de revisão) Ex. de funções: III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa (competência disciplinar, podendo aplicar até sanção disciplinar). VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; O controle exercido é interno: Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I-A o Conselho Nacional de Justiça; Superior Tribunal de Justiça: Antes da CF 1988, o STF desempenhava dois papéis: função de guardião da CF e de guardião do direito federal. Problema: sobrecarregava o STF. CF 1988 – STF abriu mão da função de guardião do direito federal. Para isso, foi criado o STJ. STJ faz seu papel de guardião do direito federal principalmente por meio do recurso especial. Composição Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros. Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94. Essa composição demonstra uma necessidade de ter juízes afinados com a jurisdição comum. Competências Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente (competências originárias, entre outras:) a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; III - julgar, em recurso especial, as causas (processos concretos) decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: (decisões da justiça comum federal ou estadual) a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Na maior parte dos casos, os processos se iniciarão na justiça comum federal ou estadual. Se couber recurso da decisão de 2º grau (recursos limitados, de caráter técnico) – violação de direito ou questões interpretativas de direito federal (STJ) ou constitucional (STF). Se um mesmo caso envolver direito federal e constitucional, o STJ julga primeiro e o STF por último (sempre). Politização da justiça e judicialização da política Funções normais do judiciário de controle jurídico de do poder público podem exercer impacto no sistema político, e isso é normal. Inclusive, essa é hoje sua função institucional mais importante. Uma certa judicialização da política vem desse controle jurídico que é normal. Há também uma serie de ações como o mandado de segurança, ações civis públicas, ações populares, etc – vários instrumentos processuais que permitem um controle jurídico. Ativismo judicial não é judicialização pura e simples (esta pode se dar normalmente dentro da separação de poderes). É a intervenção judicial que atropela os parâmetros que o direito dá para avaliar as competências do judiciário. Quem fiscaliza as decisões do supremo? Doutrina, crítica publica, manifestações no parlamento, críticas governamentais, propostas de reformulação institucional, etc. No Brasil isso se tornou um sinal de disfunção institucional a partir de 2006/2007. Ativismo é julgar fora de sua competência constitucional. Supremo passa a não mais aplicar a CF e sim formatá-la, escrevê-la. Países de democracia instável, com bom funcionamento institucional, não têm ativismo judicial. O ativismo judicial é praticado a partir dos padrões morais do juiz. Fator ideológico e fator estrutural/sistêmico do ativismo: o Estrutural/sistêmico: fragilidade da representação política (devido à proliferação de partidos – governo não tem apoio o bastante no congresso). o “Supremocracia”: enquanto no resto do mundo as lideranças políticas são discutidas e fiscalizadas, no Brasil discutimos falas de ministros do STF. o Judiciário assumindo papel político. o Necessidade de fortalecer os partidos diminuindo seu número (sistema majoritário/voto distrital), fazer com que os governos tenham maioria sólida no parlamento (parlamentarismo). Essas reformas tornariam a representação política forte o bastante para enfrentar o STF, que não faria mais o ativismo judicial. o Ideológico: é uma ideologia pretensamente antipositivista(de crítica ao positivismo jurídico), mas que na realidade não apresenta nada no lugar do positivismo. o No momento, o que predomina no STF é o moralismo jurídico – substituição dos padrões da norma pela moral. O problema é que a moral é relativa. Neoconstitucionalismo diz que entre a regra e o princípio se fica com o princípio, mas na realidade as regras são muito mais operacionais. Princípios são úteis para construir o direito, não para aplicação. o Interferem nas discricionariedades administrativa e legislativa entrando no mérito de políticas públicas. Aula 12 – Controle de Constitucionalidade É uma decorrência do princípio da supremacia da Constituição. o A distinção entre o direito ordinários infraconstitucional) e o constitucional pressupõe procedimento diferente de alteração da CF. o Há uma clara correlação entre rigidez, supremacia e controle de constitucionalidade. Poder Constituinte Originário como um poder supremo, manifestação da soberania estatal, e não havia nenhum poder acima dele. o Elabora a lei fundamental do Estado – Constituição. o Herda do Poder Constituinte a supremacia. o Essa supremacia começa no plano político e então passa ao jurídico. O direito nasce da política. E então, o direito regula a política. Surge a necessidade de atualização das normas constitucionais – Poder Constituinte Derivado de revisão. o É um poder instituído, que altera a CF por procedimentos especiais. o É instituído pelo Poder Legislativo, mas diferente deste. Atua em outro papel, que não o legislativo ordinário. o A rigidez decorre da supremacia. Mecanismo para que essa rigidez fosse observada: controle de constitucionalidade como procedimento para sanar as infrações à rigidez constitucional. Tanto a rigidez quanto o controle de constitucionalidade são decorrências da supremacia da constituição. Como distinguir: vício de constitucionalidade, sanção de constitucionalidade e controle de constitucionalidade. o Vício de constitucionalidade: ato legislativo que não segue a forma correta, o conteúdo correto, se foi editado por entidade competente, que tem problemas quanto à finalidade – tudo em relação à Constituição. Sanção de constitucionalidade: é a consequência do vício; dependendo do sistema constitucional, a sanção pode ser de nulidade ou de anulabilidade. No Brasil é necessariamente nulidade. o Controle de constitucionalidade: evolução do instituto do vício com o intuito de resolver o problema. Fala-se de validade do ato legislativo. Categorias de vício de constitucionalidade Kelsen falava em vício formal e material. Se contraria as regras do processo legislativo é vício formal; se o conteúdo contraria a CF, é vício material. Nos Estados Federais há uma terceira categoria: o vício orgânico (não confundir com o vício formal!). Fala-se de competência da entidade para legislar. A quarta categoria é o vício finalístico: ideia de que toda lei existe para determinado fim. Um ato legislativo deve ter aptidão a promover esse fim. Se a lei não é adequada a alcançar esse fim, há inconstitucionalidade finalística/teleológica. Aqui entra a questão do teste de proporcionalidade. Uma vez constatado o vício, dependerá do sistema de controle identificar qual a sanção adequada. No caso do Brasil, a sanção é sempre nulidade (nulidade ab initio: o ato é nulo desde seu nascimento, e essa nulidade não depende de identificação judicial para existir – a decisão judicial apenas constata). O controle de constitucionalidade é o procedimento pelo qual se efetiva uma sanção de inconstitucionalidade. Origem histórica do controle de constitucionalidade Surge do constitucionalismo estadunidense (instituto do judicial review). Surge nos EUA sem previsão expressa na CF. Houve uma construção pretoriana (do judiciário, que é própria do common law), que identificou essa possibilidade de o judiciário invalidar leis inconstitucionais. Marco inicial do controle de constitucionalidade nos EUA: caso Marbury contra Madison, decidido em 1803. Já existiam declarações de inconstitucionalidade no plano estadual (em relação às constituições estaduais), mas não no plano federal. Nos EUA, o controle de constitucionalidade é uma atribuição ordinária do poder judiciário – está dentro de suas competências normais: assim como resolve conflitos entre lei mais antiga e mais recente, lei especial e lei geral, etc. Já na Europa, se cria uma corte constitucional com a competência explícita – exige previsão da competência de controle. Sistema Estadunidense e Sistema Europeu (kelseniano/austríaco) São sistemas modelares (modelo de controle de constitucionalidade). O sistema brasileiro, por exemplo, é uma variante do estadunidense. Classificações do controle de constitucionalidade Quanto ao momento em que se realiza o controle. O momento determinante é a publicação do ato de promulgação de uma lei. o Controle preventivo: se é feito ao longo do processo de elaboração do ato legislativo. Uma lei que já passou pelo processo legislativo, mas ainda não foi publicada em diário oficial é sujeita a controle preventivo. o Controle repressivo: se é feito posteriormente à realização do ato jurídico. Uma lei em vacatio legis é sujeita a controle repressivo. Quanto à natureza do controle – não se trata da titularidade do controle (não quer dizer, por exemplo, que é jurisdicional sempre que feito pelo Judiciário – é sobre o ato, não sobre o órgão). o Controle jurisdicional: controle realizado pela função estatal jurisdicional. Análise puramente jurídica de adequação de um ato à CF. o Controle político: controle realizado por qualquer outra função estatal que não a jurisdicional. Quanto ao critério orgânico/subjetivo. Não admite meio termo (sistema misto)!!!! No Brasil, o sistema é difuso. No CPC erroneamente se faz menção a um suposto controle concentrado que não existe no Brasil. o Controle concentrado de constitucionalidade: se dentro do aparto jurisdicional há apenas um tribunal que faz o controle. o Controle difuso de constitucionalidade: se todo e qualquer juiz ou tribunal tem competência genérica de controle. Quanto ao critério concreto/abstrato. Sistema brasileiro é misto. o Controle principal/abstrato: o objeto do processo de controle e a questão de constitucionalidade. Não se examina um caso, apenas uma questão em abstrato. Ex: união estável homoafetiva no CC. ADI e ADC são instrumentos de controle abstrato. o Controle incidental/concreto: há um processo, um caso concreto. Nesse caso concreto, há uma questão constitucional sendo levantada, mas a questão de constitucionalidade não é o objeto principal do processo. Essa questão precisa ser analisada antes de se avaliar o mérito. Efeitos da decisão do controle de constitucionalidade Quanto ao aspecto subjetivo (quem é afetado pela decisão): o Efeitos inter partes: apenas entre as partes. o Efeitos erga omnes: para todos. Quanto ao aspecto temporal (se são retroativas ou para o futuro). A depender do sistema sancionatório. o Se é de nulidade, apenas constata a invalidade que precede a decisão judicial – aparência de retroatividade (o ato já nasceu sem efeitos). o Se é de anulabilidade, o ato tem uma validade temporária (nasce valido, mas com defeito, e pode ser invalidado). Em relação ao tempo, é necessário decidir como se dará: Da decisão para adiante – irretroativa. Apagando os efeitos pretéritos do ato – retroativa (total ou parcial). Também é possível a anulação pró-futuro: mantem o ato legislativo e projeta sua anulação para dali a um tempo. Comparação entre os sistemas modelares de controle Há outros sistemas atípicos, mas o estadunidense e o europeu são os principais. Sistema estadunidense Ideia de que cabe ao Judiciário fazer o controle de constitucionalidade no uso de suas atribuiçõesordinárias – o controle é intrínseco ao trabalho judicial comum. Sistema repressivo: atua depois da prática do ato legislativo. Sistema jurisdicional: atuação munida dos atributos da função jurisdicional. Sistema difuso: qualquer juiz/tribunal faz controle (claro que respeitadas suas competências processuais). Sistema incidental: não nos EUA o controle principal (abstrato). O controle é sempre concreto, em função de casos. Efeitos inter partes: porém, há a regra do precedente. A decisão de um órgão jurisdicional é vinculante para os órgãos inferiores ou de mesmo nível. No caso da Suprema Corte, é vinculante para toda a jurisdição. Sistema sancionatório de nulidade: aparência de retroatividade. Sistema europeu: Na Europa do séc. XIX não havia controle de constitucionalidade, porque vigorava o principio da soberania do legislador (e não da Constituição). Viam como se fosse o poder judiciário se colocando à frente do legislativo. Kelsen propõe o controle de constitucionalidade em sua feição abstrata. Não como função ordinária do judiciário, mas como função especial de um órgão especial. O tribunal constitucional exerce função jurisdicional atípica – “legislador negativo”: invalida atos normativos ou os revoga. Sistema repressivo Sistema jurisdicional Sistema concentrado: apenas a corte constitucional tem competência para fazer o controle. É um tribunal especializado que tem o monopólio desse controle, e exerce poucas funções além disso (altamente especializado). Maior tecnicidade. O juiz comum pode suscitar o incidente de inconstitucionalidade, caso esteja em face de questão de constitucionalidade. Assim, a corte constitucional vai julgar apenas essa questão – e não o caso concreto. No Brasil também há um instituto com esse mesmo nome, mas tem outro sentido muito diferente. Sistema misto: admite controle abstrato e concreto. Há as ADIs e ADCs e os incidentes de constitucionalidade. Efeitos erga omnes: em qualquer circunstância. Sistema sancionatório de anulabilidade: decisão judicial desconstitutiva. Estabelece os efeitos temporais - modulação dos efeitos temporais da decisão. O modelo americano é bem mais simples, e o europeu é mais sofisticado. O americano é próprio para sistemas liberais, e o europeu é mais adequado ao estado intervencionista. Aula 13: Controle de Constitucionalidade – Sistema brasileiro de controle de constitucionalidade Se filia ao modelo estadunidense: Difuso (não há sistema misto!!!!) Sanção de nulidade: decisões de inconstitucionalidade são declaratórias. Todavia, o sistema brasileiro apresenta uma tendência à europeização: Adoção do controle abstrato, a partir de 1965. *A tendência atual do sistema brasileiro é atribuir efeitos erga omnes às decisões de constitucionalidade (por ex., com as súmulas vinculantes e as repercussões gerais). *Lei 9868/99: dispõe sobre o processo de julgamento de ADI e ADC perante o supremo. Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. o Não se trata em sentido próprio de modulação de efeitos. Nosso sistema é de sanção de nulidade, e isso não é colocado em xeque nessa lei. o Elival sustenta (de forma minoritária) que se trata de uma convalidação parcial, até porque se trata apenas de controle abstrato. o Lei inválida, mas que em determinado momento o STF é autorizado por lei a convalidar. o Entretanto, Elival também sustenta que esse artigo é constitucional, pois é lei ordinária contrariando a CF (e nisso não é minoritário). o STF busca aplicar tanto que não se de mais pra questionar sua aplicação. História do controle de constitucionalidade no Brasil: Constituição do Império: não havia controle de constitucionalidade. Judiciário tinha muito menos prerrogativas, e era muito submisso ao Executivo. Não havia condições de se contrapor ao Legislativo. Forte influência do constitucionalismo francês, que no séc. XIX não admitiu qualquer tipo de controle judiciário de constitucionalidade, sob a ideia de soberania do parlamento. CF 1891: controle de constitucionalidade ingressa no Brasil, por forte influência do modelo dos EUA. 1934: começa a transitar para o modelo europeu, na primeira CF democrático-social brasileira. Criada a ação declaratória de constitucionalidade interventiva – intervenção federal de caráter normativo: precedente das ADI e ADC. Criada a resolução do senado suspensiva de execução de leis e atos normativos declarados inconstitucionais pelo STF – senado como espécie de poder coordenador dos demais poderes (hoje é visto como uma casa revisora apenas). Dar efeitos gerais a decisões que eram inter partes. o Está até hoje na nossa CF: Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; CF 1937 regride em relação ao controle (era uma CF de caráter semântico, escondendo uma ditadura). CF 1946 retoma a democracia no Brasil, e a novidade vem com a EC 16 que criou o controle abstrato em 1965. Grande ponto frágil do controle abstrato era o fato de que uma autoridade detinha o monopólio da propositura de ações diretas: o procurador geral da república (chefe do MPF). Na época da ditadura militar, o PGR era demissível pelo presidente (ou seja, ocupava cargo de confiança). E exercia também funções de advocacia pública. Com isso, só entrava com ações que interessavam ao poder Executivo. *A tendência atual do sistema brasileiro é atribuir efeitos erga omnes às decisões de constitucionalidade (por ex., com as súmulas vinculantes e as repercussões gerais) – europeização. *Lei 9868/99: dispõe sobre o processo de julgamento de ADI e ADC perante o supremo. Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Não se trata em sentido próprio de modulação de efeitos. Nosso sistema é de sanção de nulidade, e isso não é colocado em xeque nessa lei. Elival sustenta (de forma minoritária) que se trata de uma convalidação parcial, até porque se trata apenas de controle abstrato. O modelo de Estado social, intervencionista, é mais adequado a um modelo de controle como o europeu. A sanção de nulidade, por ex., é muito rígida – é melhor fornecer formas de convalidar a norma inconstitucional. Constituição de 1988: Natureza da função de controle: se faz essencialmente na função jurisdicional, mas existe também um controle político (fora da função jurisdicional). Ex: comissão de justiça e cidadania da câmara ou senado dá pareceres sobre constitucionalidade de projetos. Executivo propõe ao presidente que deixe de aplicar o dispositivo legal porque há inconstitucionalidade. Normalmente na prática o controle político acaba envolvendo aspectos de mérito, ainda que isso não seja previsto. Isso é inconstitucional. Controle repressivo e preventivo. O controle jurisdicional é exclusivamente repressivo – não há um preventivo (ex: STF não pode fazer o controle sobre projetos de lei). Controle político pode ser preventivo (ex: pareceres das comissões de constituição e justiça, veto presidencial por razões constitucionais) ou repressivo(intervenção federal – art. 34, VII; resolução do senado suspensiva da execução de lei ou ato normativo decidido inconstitucional pelo STF – não é uma revogação, é uma suspensão de execução; medida provisória; sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa). Controle difuso NÃO EXISTE CONTROLE CONCENTRADO NO BRASIL!!!! Há controle incidental (concreto) e principal (abstrato) Nas ações diretas há isolamento da questão constitucional e há controle abstrato: ADC E ADI, mas também a ADPF (ação de descumprimento de preceito fundamental) pode ter esse uso. Fortalecimento do instrumental de ações diretas É inerente a controle principal o caráter erga omnes das decisões, já no incidental os efeitos são inter partes, mas há instrumentos para atribuir a essas decisões efeitos gerais. No Brasil a sanção de inconstitucionalidade é a nulidade, mas há o artigo mencionado anteriormente que permite convalidação parcial. O controle abstrato no Brasil Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; Não menciona as leis e atos normativos municipais: não há ação direta para lei municipal em confronto com a CF. Os municípios estão submetidos as constituições de seus estados. Logo, se uma lei municipal ou estadual contrariar a constituição do estado, é possível controle abstrato (não pelo STF!!!) desde que essa constituição preveja o instrumento. Provocadores do controle abstrato: CF traz uma disposição importantíssima, pois no regramento anterior o chefe do MP monopolizava a provocação. Hoje o chefe do MP não é mais demissível pelo presidente – só pode ser retirado do cargo por decisão do senado. Prerrogativa de autonomia consideravelmente maior. CF 1988 pluralizou a legitimidade ativa do controle em nível federal. Houve um exagero, passando de uma restrição muito grande para uma abertura inconsequente, que fez uma propositura em demasia. Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. STF criou requisitos de pertinência temática para controle abstrato: o Alguns legitimados precisam prover que têm interesse institucional na causa. o Mesa da assembleia, governador de estado, confederação sindical e entidade de classes precisam demonstrar a pertinência temática. o Já os demais são legitimados gerais. Ação direta de inconstitucionalidade: Criada pela EC 16 de 1965. Instrumento de controle abstrato mais utilizado. Ação declaratória de constitucionalidade: Em 1993 foi criada a ação declaratória de constitucionalidade – não é um instrumento tão utilizado. Serve na prática para antecipar que o governo possa arrecadar um tributo, por ele ser constitucional. O STF se manifesta, na ADC, em face de alguma controvérsia judicial, não é uma consulta em tese. Assim, podem existir outros vícios que não foram contestados, essa ação não declara a constitucionalidade da norma para sempre. Elival é a favor da extinção da ADC. Estados não podem criar em suas constituições a ADC. Respeitados os requisitos de pertinência temática, os legitimados a propor ADC são os mesmos do artigo 103. ADC não pode ter por objeto leis ou atos normativos estaduais: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) CF 1988 o criou como um dispositivo lacônico, que não explicava muito bem o que eram esses preceitos. Foi preenchido pelo legislador infraconstitucional, com todos os problemas que isso acarreta (lei federal 9.882/99). Espécie de ADI subsidiária – quando na cabe ADI, cabe ADPF se houver violação de preceito entendido como fundamental. Princípio da subsidiariedade é muito importante na ADPF: se houver outro remédio, esse outro prevalece. Maior parte das ADPFs propostas não foram conhecidas, pois não havia cabimento. Hipóteses mais importantes: o Não recepção: contrariedade à CF por uma lei precedente a ela. Inconstitucionalidade antecedente – a lei não foi recepcionada pela nova CF. Opera-se a revogação. A constatação dessa revogação se faz por ADPF (ADI só serve para inconstitucionalidade subsequente). Caso + famoso: não recepção da lei de imprensa editada no regime militar. o Contrariedade de lei municipal com a CF: único modo de levar ao STF de forma abstrata é por ADPF. Caso + famoso: IPTU progressivo em SP. ADPF importante hoje é a do estado de coisas inconstitucional da situação fática do sistema prisional. o Gerou grande discussão se é possível controle de constitucionalidade de situação fática, e não normativa. o Elival acredita que não pois não se resolve dessa forma, mas sim por políticas públicas. Elival é favorável à eliminação da ADPF, e acredita que podia ser resolvido por entendimento mais amplo do objeto da ADI. Ele acredita na eliminação da ADC e APDF e robustecimento da ADI. Instrumentos para tentar dar efeitos gerais a decisões de controle incidental Resolução do senado: suspende a execução de leis declaradas inconstitucionais pelo STF em casos concretos. Súmula vinculante: ato normativo do STF sobre dissenso existente na administração ou no judiciário sobre questão de constitucionalidade. Vem pacificar vinculativamente, sob pena de responsabilidade disciplinar e desfazimento da decisão. Repercussão geral: requisito de conhecimento de recurso. Já que nossa CF é muito analítica ela gera muitos recursos extraordinários em matéria constitucional. Porém, algumas não são impactantes de forma geral. o Reconhecida a repercussão geral de um processo pelo STF os processos todos daquela questão são paralisados. o Se prova um tema de repercussão geral, que vai balizar os julgamentos futuros. Elival defende que estamos fazendo remendos em um sistema que na realidade deveria caminhar para o controle concentrado como o europeu. Controle da omissão inconstitucional A não elaboração de ato normativo pode ofender a CF também. Omissão normativa: carência de ato normativo. Deve caracterizar omissão em face de um dever de legislar existente. o Ex: quando a CF estabelece prazo. o Normas constitucionais de eficácia limitada preceptivas. o Quando se fala de normas programáticas, a discussão é mais complexa. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) Modalidade de uso da ADI (em vez de comissiva é omissiva). Consequências diferentes: se encaminha uma notificação para o poder competente para que legisle. Mandado de injunção Mais ligado ao campo do controle concreto. Apenas em casos de normas de eficácia limitada preceptivas (e não programáticas), para que o STF edite legislação provisória permitindo o exercício de um direito fundamental.de 2º grau: CF estabelece União e estados, e estados em suas constituições estabelecem divisão em município, comunas, etc.). Porém, nesses Estados a divisão de 2º grau não é obrigatória como no Brasil, onde a estrutura tríplice é definida pela CF. O Distrito Federal não possui municípios: é uma entidade federativa sui generis, que possui competências estaduais e municipais. No Brasil, os estados não tem poder para eliminar os municípios de sua estrutura. A autonomia municipal é assegurada pela CF. Federalismo brasileiro à luz da CF 1988: Há uma ordem jurídica da CF, que está no ápice da pirâmide normativa, e abaixo dela há várias ordens jurídicas: ordem jurídica federal (com leis federais), ordem jurídica estadual (que se inicia com as constituições estaduais), e ordem jurídica municipal (com a legislação do município). São três pirâmides normativas que confluem para uma maior, que tem em seu topo a CF. Esse modelo é complexo, dando margem a várias questões de repartição de competência federativa. Repartição de competências: Modelo de 1988 combina a repartição horizontal (estabelece competências privativas da União, dos estados e dos municípios) com a vertical. No plano horizontal, estabelece competências administrativas e legislativas privativas para a União e para os municípios e, em relação aos estados, uma cláusula geral residual (art. 25: “são reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição”). Competências administrativas privativas da União: art. 21 CF Competências legislativas privativas da União: art. 22 CF Um dos motivos para a existência de menor autonomia dos estados e competência mais alargada da União é o tamanho do rol de competências privativas da União (ex: art. 22 – “Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”). Competências privativas dos municípios: art. 30 CF. Matérias de interesse local são de legislação específica dos municípios – porém, esse termo é muito genérico, permitindo muita discussão. Ainda assim, há uma certa prática administrativa que moldou essa questão. Competências administrativas comuns (aos três níveis federativos): art. 23 – “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. Competência legislativa concorrente: art. 24 – “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico”. o “§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais”. Não pode estabelecer uma legislação que exaure todo o tema. o “§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”. A competência suplementar é da União, dos estados e dos municípios. Apenas as normas gerais são privativas da União. o O art. 24 não cita os municípios, essa conclusão se tira de uma interpretação sistêmica da CF: Art. 30 – “Compete aos Municípios: II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. o Não é possível haver contradições normativas: uma lei estadual não pode contrariar uma federal etc. o “§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.” o “§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” (lei federal posterior suspende a eficácia da estadual no que a contradisser). Aula 2 – Entidades Federadas: autonomia e competências Autonomia financeira: Modalidades de tributos: Art. 145. “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.” o Impostos: cobranças que dizem respeito aos recursos básicos para manutenção da máquina pública. o Taxas: recitas que estão vinculadas a uma finalidade específica. Taxas em razão de poder de polícia: taxa que se paga para o exercício de fiscalização do Estado. Art 78 CTN: “Considera- se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.” Taxas para prestação de serviços públicos o Contribuições de melhoria: obras públicas que valorizam imóveis – poder público pode cobrar o lucro em razão de obra pública (ex: valorização do terreno). o Empréstimos compulsórios: é obrigado a ceder os recursos, mas eles são devolvidos posteriormente. Apenas nas situações que a CF estabelece: Art. 148. “A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b"” – princípio da anterioridade: só para o exercício seguinte. Repartição horizontal de competência para cobrança de impostos: A CF não institui imposto algum, apenas reparte a competência tributária, o que é feito por lei de cada ente. o Art. 153. “Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.” o Art. 155 – competências de Estados e DF. o Art. 156 – competências dos municípios. o Impostos residuais, fora os que a CF institui competência, só podem ser criados pela União. Problema: municípios arrecadam de acordo com o que existe em seu território – se tiverem mais ou mais serviços, área mais ou menos valorizada. o Para compensar essa desigualdade de arrecadação se usa um mecanismo análogo à técnica de repartição vertical: se prevê a participação de uma entidade na arrecadação de outra – ex: imposto sobre propriedade territorial rural – metade do valor arrecadado fica com o município de localização; IPVA – cabe aos município parcela da arrecadação. o Além disso, há os fundos de participação (tanto dos estados quanto dos municípios): uma parcela dos impostos federais vai para um fundo, e há uma distribuição inversamente proporcional ao potencial econômico do estado ou município – redistribuição de renda para assegurar autonomia financeira a todas as entidades federadas. Limitações ao poder de tributar: Art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:” o Princípio da legalidade tributária: I – “exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça” – “no taxation without representation”; o Princípio da igualdade em matéria tributária: II – “instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídicados rendimentos, títulos ou direitos”; o Princípio da irretroatividade da lei tributária: III – “cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado” – lei não pode cobrar para antes de sua vigência. o Princípio da anterioridade simples da lei tributária: III – “cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou” – se a lei criou ou aumentou tributo, isso não pode ser cobrado no mesmo exercício em que a lei foi criada. o Princípio da anterioridade específica (nonagesimal) da lei tributária: III – “cobrar tributos: c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b” – tempo para os contribuintes de ajustarem. o Princípio do não confisco tributário: “IV - utilizar tributo com efeito de confisco” (tributo abusivo) – reforma da previdência, segundo muitos, viola esse princípio pois aumentou demais a carga de contribuição previdenciária para algumas categorias, e isso se traduziria em um caráter confiscatório. o V – “estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público” – pedágio é considerado preço público. o Imunidades tributárias: “VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; - uma entidade em relação a outra. b) templos de qualquer culto; - em homenagem à liberdade de religião c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. - em homenagem à liberdade de expressão do pensamento. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.” Não se trata de isenção – a isenção é sempre uma dispensa de pagamento de tributo por meio de lei. Nesse caso, a própria CF impede a cobrança desses tributos. Art. 151. – Vedações ao poder de tributar da União. Intervenção Federal e Intervenção Estadual o Federalismo importa em reconhecer a autonomia de entidades que integram a Federação dentro dos marcos que a CF estabelece. o O instituto da intervenção é uma exceção a essa autonomia – possibilidade de a União intervir nos estados ou os estados nos municípios, em situações excepcionais que a CF estabelece. o A regra é a autonomia, a intervenção é exceção. o Instituto criado a partir da CF 1891. o A União não pode intervir em municípios, apenas os estados. o O DF não intervém em municípios, pois ele não tem municípios. o “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - Manter a integridade nacional; II - Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III - Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV - Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - Reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; VI - Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII - Assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.” o Normalmente o Presidente da República edita um decreto, afasta o chefe do poder executivo (governador) (poder legislativo continua funcionando normalmente), nomeia um interventor e estabelece os termos e condições do exercício da intervenção (uso de forças armadas ou não, etc). Caso a intervenção seja um abuso de autoridade, o governador do estado poder interpor uma medida judicial contra o presidente. Incisos I-IV: há uma maior discricionariedade na interpretação dos fatos (saber se as situações justificam a intervenção). Inciso V – hipóteses mais bem especificadas, mas ainda há uma certa possibilidade de interpretação. Inciso VI – depende de uma requisição do STF, STJ ou de um TSE. Será de um TSE quando for em relação a matéria eleitoral; STJ quando for uma ordem sua; STF nos demais casos. Inciso VII: intervenção normativa. Princípios constitucionais sensíveis (porque autorizam a intervenção federal), que são limitações à auto organização de estados e municípios. PGR representa ao STF, que terá que julgar se autoriza a intervenção (representação de inconstitucionalidade). o “Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: I - No caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.” Para intervenção normativa: “§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade” – não precisa nomear interventor. Autonomia dos estados, DF e municípios: Descentralizações políticas da federação brasileira. Autonomia: não é soberania pois está limitada à CF (CF é produto da soberania, e autonomia é um produto da CF). Estados, municípios e DF têm autonomia política, administrativa e financeira. Estados: Autonomia política compreende: autolegislação (possibilidade de editar normas próprias) e autogoverno (eleição de seus próprios governantes). Autolegislação em sentido estrito: de nível não constitucional, ordinária. Para os estados, é a competência remanescente (em casos de competência privativa) e competência suplementar (em casos de competência concorrente). Auto-organização: autolegislação de nível constitucional. São as normas de organização de suas principais instituições. Art. 25. “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”. Esses princípios são: os princípios constitucionais sensíveis, anteriormente referidos, e regras que vão do art. 25 ao 28 e 93 em seguinte (onde a CF trata da estruturação do poder judiciário). Autonomia administrativa: decorre da autonomia legislativa – aplicar a lei. Art. 23. Autonomia financeira: através de receitas próprias que são geridas pelos estados e municípios. DF: Onde fica a capital do Brasil, o STF, etc. – modelo igual ao dos EUA (Washington D.C.). Autonomia muito próxima à dos estados. Art. 32. “O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstíciomínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição”. Lei orgânica = auto-organização (corresponde às constituições dos estados). “§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios” – autonomia legislativa maior que a dos estados (cumulação de competências). Matéria de segurança: “§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do corpo de bombeiros militar” – interferência da União, já que é a sede do governo da União. Munícipios: Todos são intraestaduais. Autonomia política: Câmara de vereadores (legislativo municipal) e prefeito (executivo municipal), não há judiciário municipal. Têm auto-organização por lei orgânica (de natureza constitucional) – Art. 29. “O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos”. “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I - Deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - Não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III - Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - O Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.” – representação do Procurador Geral de Justiça, chefe do MP estadual. Autolegislação ordinária (poder de legislar ordinariamente): Art. 30. “Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. Art. 30. “Compete aos Municípios: III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei”. Demais competências de natureza administrativa. Criação e modificação de estados e municípios: Art. 18. § 3º “Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar- se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar”. § 4º “A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei”. Vedações a todas as entidades federativas: Art. 19. “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. Autarquias: entidades descentralizadas de caráter administrativo, PJs de direito público de natureza administrativa, sem poder normativo*. Territórios: Não existem no Brasil atualmente, os últimos foram transformados em estados/incorporados a estados. CF prevê a figura dos territórios no art. 33: “A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios”. Não é parte do pacto federativo, não é uma descentralização política (não tem autonomia política), são autarquias territoriais, entidades de descentralização administrativo- territorial. Art. 33, § 1º “Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título” – a intervenção nesses municípios será praticada pela União. Art. 33, § 3º “Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa” – podem receber competência legislativa* do Congresso: União cede e pode retirar competência, na forma do Estado unitário politicamente descentralizado. Art. 18, § 2º “Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar”. Regiões metropolitanas: Art. 25, § 3º “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. Conurbação: um munícipio cresce tanto que vai se emendando com municípios vizinhos. Impacta no planejamento dos serviços públicos. Região metropolitana de São Paulo é uma autarquia estadual. Regiões de desenvolvimento: SUDENE e SUDAN – autarquias federais: Art. 43. “Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais”. Aula 3 - Democracia e Representação Política Art. 1º “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito” – declara o Brasil uma democracia. Isso implica reflexos em vários dispositivos e causa vários efeitos. Forma de governo – assunto de filosofia política; formações mais abstratas a respeito do sistema de poder. No caso do Brasil, forma de governo democrática. Sistema de governo – assunto do direito constitucional. Projeção dos valores democráticos em normas jurídicas. Regime de governo – assunto da sociologia política/ciência política realidade fática do sistema, como ele funciona de fato. Formas de governo para Aristóteles: aspecto quantitativo (quantos exercem o poder) e aspecto qualitativo (relação da forma de governo com o bem comum). Quantitativo – formas puras (em benefício do bem comum): Monarquia: poder exercido por um só. Aristocracia: poder exercido por poucos. Democracia: poder exercido por muitos. Qualitativo – formas deturpadas (em benefício não do bem comum): Tirania: governo de um só em beneficio particular. Oligarquia: governo de poucos em benefício de poucos. Demagogia: muitos exercem o poder em benefício de poucos (por formas de iludir o povo). Maquiavel usa essa mesma classificação em O Príncipe: Monarquias e Repúblicas. A República, ainda, pode ser aristocrática ou democrática (república ocorre quando há transitoriedade do poder; não é hereditário). Só no séc. XX abandona-se essa terminologia clássica. É substituída pela ideia de sistemas de governo (conjunto de aspectos). Aristóteles simplificava demais, não considerava vários critérios. Há três grandes sistemas de governo: Democráticos: baseado em três pilares fundamentais: Estado de Direito: compromisso com a estabilidade institucional e a segurança jurídica. Legalidade (rule of law): a lei determina as condutas. Isonomia/impessoalidade: lei geral e abstrata (segurança jurídica), não prevê fatos concretos(e sim fatos tipo) nem pessoas individualizadas (e sim categorias personativas). Separação dos poderes: poder fracionado para evitar abuso, funcionam de maneira equilibrada entre si. Participação política: vários grupos com propostas diferentes disputando o poder; institucionaliza uma disputa pacífica do poder substituindo revoluções, guerras, etc. Se dá em vários níveis, desde a opinião até o voto, candidatura, etc. Respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana Autoritários Totalitários A democracia e o totalitarismo são sistemas ideológicos, fundados em ideologias; já os sistemas autoritários são mais pragmáticos. A ideologia da democracia tem como fundamento mais remoto o cristianismo: afirma pela primeira vez a igualdade intrínseca entre seres humanos e a ideia de livre arbítrio (construção do destino por meio das próprias ações, ao contrário dos antigos que tinham ideia deterministas) – liberdade humana como categoria ideológica. Já no totalitarismo não se encontra nem a liberdade nem a igualdade: Nazismo: partia da premissa da desigualdade étnica entre pessoas e supremacia racial dos arianos. Os arianos estariam determinados a comandar. Fascismo: havia um determinismo histórico – ideia do império romano que seria refundado. Marxismo-leninismo: determinismo econômico – relações de produção necessariamente conduziriam à transformação da sociedade (feudalismo – capitalismo mercantil – capitalismo financeiro – socialismo – comunismo). Nos sistemas autoritários há um esgarçamento do Estado de Direito – não rompem com ele totalmente: a legalidade é corroída, mas formalmente mantida. O mesmo em relação aos direitos fundamentais: as liberdades de oposição política são mais manipuladas. Da democracia, passando pelo autoritarismo e chegando ao totalitarismo, há uma gradação de participação política. Nos sistemas autoritários pode haver participação desde que não ameaça o poder. Já nos totalitários não pode haver – controle absoluto da política pelo partido único. A mesma gradação se faz para os direitos fundamentais. Atualmente no Brasil, como dado pela CF: A forma de governo significa a estrutura do poder executivo: forma monárquica (vitalício e hereditário) ou republicana (temporário e eletivo). O sistema (ou regime) de governo significa a dinâmica de funcionamento dos poderes: parlamentarismo e presidencialismo (relacionamento legislativo - executivo). CF – ADCT: Art. 2º. “No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.” Representação política: Classificação das democracias como direta e indireta – hoje não é utilizada, pois a democracia direta é uma ilusão que jamais existiu e não há indícios de que poderá existir. A democracia é sempre indireta, por meio de representantes. Mandato representativo é anterior à democracia: nas assembleias medievais dos senhores feudais, havia mandato representativo (que seguia as regras do direito privado, de mandato de representação). Democratas das revoluções liberais (na realidade eram mais próximos de aristocratas: nas primeiras democracias, o mandato vira de direito público, não é mais um contrato, e sim uma investidura. Diziam que a maioria das pessoas seria capaz apenas de escolher os representantes, poucos tinham condições de governar. E uma vez eleito o representante se desvincula do eleitor, não precisa prestar contas formalmente a ele – como nos contratos anteriormente - apenas sofre a sanção de não ser mais eleito. Ademais, seu mandato não pode ser encerrado, apenas em situações muito específicas. Voto censitário: justificativa – voto de quem não tem propriedade poderia por em risco a propriedade, que era um direito absoluto. Contraria o princípio da isonomia. Hoje as garantias eleitorais são cláusula pétrea: Art. 60. “§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: II - o voto direto, secreto, universal e periódico”. A situação de total liberdade do representante em relação aos eleitores não parecia saudável para a democracia. Isso começa a mudar a partir da criação dos partidos políticos. O partido político surge a partir de necessidades práticas. São úteis para recrutar os candidatos e igualar a disputa (juntando recursos para compensar a falta de recursos individuais); e organizar a maneira pela qual esses representantes atuarão após eleitos, por meio das orientações partidárias e do programa do partido. A disputa se dá entre partidos. Mandato deixa de ser de direito privado e vira de direito público; Representante deixa de ser vinculado ao representado para haver uma desvinculação intermediária, e uma nova vinculação com os partidos políticos. Além dos partidos políticos, nessa camada intermediária entre representantes e representados também há os grupos de pressão: sindicatos, movimento estudantil, etc. A diferença entre esses e os partidos é que o partido tem como objetivo fundamental assumir o poder; esses grupos objetivam pressionar o poder. Além disso, o partido é mais ideológico (defende ideais), e os grupos de pressão defendem interesses. Partidos tem visão universalista sobre todas as questões necessárias; grupos de pressão tem visões pontuais sobre algumas questões. Partidos têm uma base social mais ampla, representam maior número de pessoas; já os grupos de pressão têm base social mais restrita. Quando os grupos de pressão assumem um poder fora do normal, é porque os partidos são fracos (não há vazio na política), e isso não é bom para a democracia. Nesses casos, se vai para um sistema corporativista, que não é igualitário e não preserva o ideal democrático. No Brasil, não há uma legislação sobre esse tema (está atrasado): o chamado lobby (pressão dos grupos sobre o parlamento) não é regulamentado. Os regimentos da câmara e do senado preveem essa regulamentação, mas até hoje não foi feita. Problemas: Programas partidários tendem a ser muito amplos e pouco detalhados, e se perdem em banalidades. A melhor maneira de melhorar seria é diminuir o número de partidos com representação no parlamento. Um pluripartidarismo atomizado como há hoje não funciona. E a melhor forma de limitar isso é pelo sistema eleitoral. Caráter oligárquico das estruturas partidárias – sempre são partidos de líderes. No Brasil isso ainda é aguçado pelo personalismo (valorização do indivíduo em detrimento das instituições). Possível solução: criação de um estatuto de proteção do filiado ao partido político, atribuir direitos que o partido precisa respeitar para estimular a participação, e acabar com o jogo de cartas marcadas na escolha das candidaturas e otimizar o manuseio das verbas. Propaganda eleitoral de massa, que não é feita não na discussão de ideias e debate de projetos, mas usando de antipatias e simpatias, induções, exploração de sentimentos. Fidelidade partidária: já foi tentado um modelo mais interventivo para garantir essa fidelidade, mas pode acabar sendo usado para a perda de mandatos por outros interesses. Justiça eleitoral então precisaria fiscalizar, o que demandaria entrar em discussão política e ideológica. A melhor forma seria o eleitor conseguir fiscalizar. Democracia semidireta: para Elival não existe, o que existe são democracias indiretas com instrumentos de participação direta. CF Art. 1º. Parágrafo único. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”. Assim, a democracia direta existe no Brasil pontualmente, como no art. 14: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular.” – porém, é mais raro essas formas departicipação direta ocorrerem. Plebiscito: consulta de base, de princípio. Ex: sobre casamento homoafetivo ou escola sem partido. Sempre precede uma legislação. Referendo: vem para confirmar uma legislação – uma decisão já tomada que será confirmada ou não. Iniciativa popular: iniciativa de propor projetos de lei – em nível federal, estadual ou municipal. Aula 4 – Partidos Políticos Histórico de aparecimento dos partidos: Na Antiguidade e Idade Média não havia partidos como hoje os entendemos (instituição organizada com estatuto, normas jurídicas, reconhecimento legislativo, atuação dentro do aparato estatal, etc). São contemporâneos à implantação da democracia. A democracia começa em um modelo de Estado liberal (democracia liberal) – final do séc. XIII até os anos 1930, quando passa para a democracia social. Na democracia liberal, de início, partidos não eram bem vistos. Rousseau: para que houvesse democracia devia haver livre expressão da vontade geral. Essa liberdade só pode ocorrer onde não houver representação, onde a democracia for direta. Partidos e quaisquer grupos intermediários (sindicatos, associações, corporações de oficio) vistos como algo a ser combatido. 1791: França edita Lei Le Chatelier – entidades sindicais foram proscritas (proibidas). Não havia referência a partidos pois eles ainda nem existiam, mas eles também eram proibidos. Apesar disso, eles floresceram. A origem dos partidos são os comitês eleitorais da Revolução Francesa, feitos para angariar recursos financeiros. Esses comitês pretendiam eleger apenas um candidato (muito diferente da forma atual de partidos). Esses comitês geraram associações chamadas “partidos de quadros” (não importava o número de candidatos, mas sim a “qualidade” desses candidatos – na verdade a riqueza). Esses partidos se reuniam apenas às vésperas das eleições, não tinham muito um papel de divulgação, mas sim financeiro. Isso começa a mudar com o surgimento dos partidos socialistas no séc. XIX. Se beneficiaram muito da extensão do voto (censitário -> majoritário). Tinham no operariado um conjunto de eleitores simpatizantes. Eram chamados de partidos de massa (lançavam mais candidatos e faziam divulgação ideológica). Hoje não há mais partidos de quadros, apenas de massa. Todos tentam atingir o maior número de pessoas possível, projetando o maior número de candidatos possível. Têm 3 funções primordiais: selecionar candidatos, elaborar o programa de governo deles e fazer proselitismo (divulgação ideológica). A representação clássica (eleito é livre para decidir seu governo) passa para uma representação na qual há uma instrução ao eleito através do programa partidário. A atuação dos partidos passa a ser permanente, e não apenas episódica durante as eleições. Ferreira Filho: “democracia contra os partidos” passa a ser “democracia apesar dos partidos políticos” – precisou aprender a lidar com os partidos como uma realidade, ainda que desconfiados dela. Partido como mal necessário na visão liberal. Década de 1920 (transição democracia liberal -> social; racionalização do poder; necessidade de políticas públicas) exige planificação do Estado, que precisa atuar mais ativamente, o que necessitará de partidos políticos fortes. A democracia, que antes era apenas a liberal, passa a admitir duas formas: liberal e social. Dessa forma, percebe que pode usar os partidos para definir se a política será de direita ou esquerda – “democracia por meio dos partidos políticos”. O mandato de direito público de um candidato, que necessariamente deve estar vinculado a um partido (CF exige), deve ser vinculado ao programa de ação do partido. CFs passam não apenas a tolerar os partidos, mas a discipliná-los. Lei Fundamental de Bonn (atual CF em vigor na Alemanha): partidos colaboram na formação da vontade do povo, ajudam a politizar a população; sua fundação é livre; sua organização interna deve corresponder aos ideias democráticos; devem prestar contas sobre seus recursos; os partidos que tentarem prejudicar ou eliminar a democracia são inconstitucionais. Democracia não pode tolerar partidos antidemocrático, pois eles eliminariam a democracia. Devem ser proibidos. No Brasil há a lei de segurança nacional para prevenir ações dos integrantes. Democracia combatente. CF 1946: vedada a organização registro ou funcionamento de partido que contraria o regime democrático. Na CF 1988 essa posição permanece. CF 1988 segue o modelo de “democracia por meio dos partidos políticos”: Monopólio das candidaturas: Art. 14. § 3º “São condições de elegibilidade, na forma da lei: V - a filiação partidária”; Estatuto dos partidos políticos na CF: regulação mínima dos partidos em nível constitucional – Art. 17. Análise do estatuto constitucional dos partidos políticos: A criação do partido está na mesma linha logica da liberdade de associação. É uma manifestação setorial dessa liberdade. Há partidos que estão registrados, mas não têm representação parlamentar, não têm candidatos eleitos. O problema para Elival não é a existência de muitos partidos, mas a existência de muitos partidos com representação parlamentar. Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo*, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: *Não se aceita o partido único. I - Caráter nacional: não pode representar apenas uma região do país, mas sim o povo brasileiro, deve ter proposta nacional; deve comprovar essa dimensão nacional: Lei orgânica dos partidos políticos: Art. 7. § 1o “Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político, correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles.” II - Proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes: colocaria em risco a própria soberania nacional; intenção de coibir o internacionalismo proletário; III - Prestação de contas à Justiça Eleitoral: aperfeiçoado ao longo dos anos, visa manter a igualdade de oportunidades mínima no processo eleitoral; hoje é disciplinada em minúcias na legislação eleitoral; IV - Funcionamento parlamentar de acordo com a lei: além de disputar eleições, o partido ajuda no funcionamento do Parlamento. Funcionamento de um parlamento moderno: a figura central do partido é o líder partidário. Há um colégio de líderes, que se reúnem para organizar as pautas das votações (por isso o número exagerado de partidos é um problema). Há um “alto clero” – líderes e pessoas próximas dos líderes e “baixo clero”. § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar: evitar utilização das milícias. Liberdade interna de organização do partido: Art. 17. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. Fidelidade partidária: alguém precisa avaliar se houve violação, e isso é uma questão política (justiça eleitoral se envolver em questões ideológicasx deixar isso na mão dos partidos). CF privilegiou o modelo de fidelidade como assunto interno ao partido, se o parlamentar agir contra o programa do partido as instâncias partidárias poderão expulsá- lo do partido, mas ele não perde o mandato. STF criou por jurisprudência a hipótese de mandato (que não está na CF) por desfiliação partidária (se desfilia de um partido e se filia a outro após ser eleito). Personalidade jurídica dos partidos políticos: Os partidos são instituições da sociedade, não governamentais. Intermediam aa relações entre sociedade e governo. Tratar os partidos como parte do Estado seria uma visão autoritária. § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil*, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. *Associação: são PJs de fim associativo, sem caráter lucrativo. Dois registros: registro civil das PJs (dá nascimento à PJ) e registro na Justiça Eleitoral (limita essa PJ a atuar no processo eleitoral). Cláusula de desempenho Enfrentamento do problema da atomização partidária: remédio para isso foi a cláusula de desempenho. No Brasil não há clausula de barreira como há na Alemanha (não poder exercer mandato), mas sim cláusula de desempenho. Partido perde bônus ou possui ônus por não ter tido muitos votos – menos recursos financeiros no fundo partidário, menos tempo de televisão/rádio e menor participação na montagem da pauta parlamentar. STF declarou inconstitucional a lei orgânica dos partidos que regulamentava essa cláusula de desempenho. Isso agravou a atomização partidária. O ativismo judiciário vem como um resultado da disfunção do parlamento, por causa da atomização. Em 2017 se aprovou uma EC que reabilita a cláusula de desempenho. Pode funcionar como estímulo para que os partidos se aglutinem: Art. 17. § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: I - Obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou II - Tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. Porém, há uma disposição transitória que diz que essas restrições só entram em vigor totalmente a partir de 2030. Até lá as porcentagens vão sendo progressivamente implantadas. Modelo de mandato de direito público de natureza partidária tem alguns problemas: 1- Programa dos partidos: tendência a programas amplos para não excluir eleitores – elenca obviedades sem dar detalhes. Dificuldade de comparação de programas por serem muitos partidos. 2- Infidelidade partidária: trocas de partidos frequentes, não cumprimento de programas. 3- Oligarquização: brasileiro não costuma se envolver com partidos, isso facilita a oligarquização. 4- Número exagerado de partidos com representação no Parlamento: muitos partidos encarregados da tomada de decisões. 5- Meios de comunicação: têm um impacto tornando o debate de ideais mais pobre e trabalhando com emoções. Transmissão de ódio, antipatia e preconceitos. Possíveis soluções para esses problemas: 1- Redução do número de partidos com representação parlamentar: por meio da mudança do sistema eleitoral; não por cláusula de barreira, mas pela mudança do sistema proporcional para majoritário e pela divisão distrital. Isso daria maior coesão ao partido e maior conhecimento por parte do eleitor. 2- Ciência política americana – accountability (prestação de contas: candidato se elege prometendo um programa e deve prestar contas do que fez) e responsiveness (receptividade: o partido deve ser receptivo às demandas sociais; se o candidato não for fiel ao programa partidário, não prestar contas, etc, não se reelege – isso fica muito claro em uma sistema majoritário, pois no sistema atual um candidato “queimado” em um lugar pode buscar voto no outro); 3- Voto majoritário e distrital. Aula 5 - Separação dos Poderes É um dos princípios que constituem o cerne intangível da CF (cláusula pétrea), com rigidez absoluta. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: III - a separação dos Poderes; É um dos princípios básicos do constitucionalismo, e está presente desde a primeira CF do Brasil. Não há democracia sem Estado de Direito, e não há Estado de Direito sem limitação do poder, a qual é obtida por meio da separação dos poderes. A CF e o constitucionalismo se valem de 3 técnicas de limitação do poder: sistema de direitos e garantias fundamentais (em especial as liberdades individuais – esferas de autonomia que o cidadão possui asseguradas em face do poder público), federalismo (divisão territorial dos exercícios de poder), separação dos poderes (partilha funcional do exercício do poder). Separação de Poderes: se dá entre órgãos do Estado e tendo em vista funções. Órgãos: centros de competência abstratamente previstos na legislação. Ex: prefeitura do município de São Paulo. A PJ é o município, a prefeitura é um órgão. Ela é composta de vários órgãos internos, como as secretarias municipais, que também e compõem de vários órgãos. Elemento estático. Funções: atividades propriamente ditas, desempenhadas pelos órgãos. Ex: prestação de serviços, como o serviço educacional. Pode ser jurisdicional, administrativa, legislativa, de planejamento, de chefia de Estado, etc. Cada órgão predominantemente exercerá uma função específica. Elemento dinâmico. Poderes: órgão com prerrogativa de independência, autonomia. Nem todo órgão é um poder. Ex: tribunais superiores, Senado, Câmara, presidência da república, chefia do MP. Sempre com P maiúsculo, para diferenciar de poder como atribuições. Há diversos acórdãos do STF dizendo que a CF se refere a um modelo específico de separação dos Poderes, não é apenas um princípio abstrato. Esse princípio tem elementos nucleares essenciais, e que se repetem. Mas também há elementos específicos à CF 1988 brasileira. Núcleo essencial do princípio da separação dos Poderes: Construído a partir de: Identificação das funções do Estado: Aristóteles já mencionava essas funções. Vários pensadores políticos ao longo da história procuram identificá-las também, como Locke, Montesquieu (pai da separação dos Poderes), etc. Para Montesquieu, as funções do Estado são: Função legislativa: elaboração da lei, é a mais importante. Função executiva: caráter executório, execução da lei, atribuições administrativas. Função jurisdicional: caráter executório, mas para resolver litígios. Identificar Poderes dentro do Estado: instituições – ex: monarca, parlamento e corte. Distribuição de funções entre os órgãos: tendo em vista o objetivo de contenção do poder (checks and balances). O número de funções, de órgãos, a técnica de distribuição, etc., não compõem o núcleo da separação. Variam de acordo com o tipo de Estado. Aspectos que gravitam em torno do núcleo essencial, e que variam com cada Constituição. Diversos modelos de separação. Para que haja alguma forma de inconstitucionalidade, é preciso que ofenda o cerne desse princípio, e não seja apenas aspecto acessório, o qual pode constituir emenda à CF. Teoria clássica da separação de Poderes A teoria da separação de Poderes sofreu evolução ao longo do tempo, de modo que seu aspecto nuclear se manteve, mas há aspectos complementares que sofrem as oscilações do tempo. Não há uma teoria da tripartição dos Poderes, e sim da separação. O modelo de 3 Poderes é um aspecto especifico da CF 1988, que tem órgãos com prerrogativas de independência que não são Poderes, mas funcionam como se fossem (Ministério Publico e TCU, por ex.).Na antiguidade clássica, havia uma separação social dos poderes estatais – teoria do governo misto: modelo da república romana como o ideal de governo – comícios da plebe, senado e magistraturas. Locke – séc. VXII, a partir da Rev. Gloriosa: nobreza britânica rivalizou com o poder dos monarcas até chegar em um acordo de compromissos – ideia de pelo menos 2 Poderes: monarquia constitucionalizada e Parlamento (representando o povo). Revolução Francesa – identificar funções. Ideia de Rousseau da lei como manifestação da vontade geral. Para Montesquieu então o poder legislativo (parlamento) seria o mais importante, deveria haver um poder executivo (monarca) e um judiciário (magistratura). Haveria, portanto, uma subalternidade: o executivo seria subalterno ao legislativo. Teoria de Montesquieu: Identificar funções dentro do Estado (3 básicas: legislativo, executivo e judiciário) e distribuí-las a órgãos de poder (3 Poderes distintos, todos com prerrogativa de independência: Monarca – titular do executivo; Parlamento – titular do legislativo; Magistratura – titular do judiciário). Assim, cada Poder tinha uma função preponderante (as funções não seriam exclusivas). Essa é a modelagem clássica, que passa para as primeiras Constituições liberais e já na Constituição do Império brasileiro aparece, mas com 4 poderes (Poder Moderador). O modelo clássico é rígido, e há uma dificuldade na atribuição de funções. Hoje, já se procura privilegiar a limitação do poder, e não a harmonia entre os poderes. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Modelo contemporâneo de separação de Poderes O presidencialismo é uma espécie de tiranossauro rex das instituições jurídico- constitucionais – reflete um modelo de Estado que não existe mais, o Estado liberal clássico. O parlamentarismo é mais flexível, mais adaptável às circunstâncias do tempo. O presidencialismo é muito rígido, o que facilita a contenção do poder, mas dificulta a harmonia dos poderes e a solução de crises – há uma modelagem anacrônica, e no Brasil há uma crise da separação de Poderes. Nos EUA as ideias da revolução francesa foram incorporadas pelos pais da pátria, mas a separação dos Poderes teve de ser adaptada pois não era uma monarquia. Criaram a figura do presidente. Os revolucionários franceses procuravam de toda maneira conter o judiciário (pois no passado apoiou o antigo regime). Já nos EUA não houve essa preocupação de contenção, e o judiciário foi visto como um poder que garantiria o cumprimento da CF não apenas pelo executivo, mas até mesmo pelo legislativo. Daí vem a ideia da supremacia da CF, e não do parlamento – por isso o controle de constitucionalidade surge nos EUA, e só vai ser aceito na Europa muitos anos depois. Separação de Poderes no Brasil foi adaptada de forma apegada à concepção clássica, com dificuldade em flexibilizar e aceitar novos órgãos, novas funções, etc; continuamos apegados a uma ideia clássica, mas a CF já não aplica essa ideia clássica de forma tão exata. O Estado é democrático-social, mas a separação de poderes ainda reflete visão liberal. Isso gera muitas incompatibilidades. A grande reforma política deveria ser a adequação das instituições ao modelo de Estado. Visão moderna da separação dos Poderes Ideia de separação dos Poderes nasce com o constitucionalismo e perdura por todo o avanço institucional desse campo. Persiste, pelo menos em sua essência. Muito importante para a contenção do poder e para garantir eficiência ao Estado. Identificação das funções, atribuição a órgãos e contenção de poder que não impeça a eficiência do Estado. A mudança do perfil do Estado liberal para o Estado social (mais complexo) determinou mudança de arranjos. As funções do Estado aumentam. Karl Loewenstein: Função de chefia de Estado Função de governo (policy determination) – tomar decisões no sentido de movimentar o aparato estatal, determina políticas públicas. Precede a função legislativa. Função de execução da política (policy execution) – passa inicialmente pela função legislativa, a lei é um instrumento de governo. No modelo democrático- social, a função legislativa está a serviço do governo. Então, passa pela execução da lei. A diferença para o arranjo de Montesquieu é que para Loewenstein, existe uma função típica de controle, autônoma. Para Montesquieu, existia apenas como decorrência do arranjo governamental. Hoje, as leis mais importantes são geralmente propostas pelo poder executivo, e não pelo legislativo. Ex: todos os códigos tiveram seu início no executivo. Já o parlamento controla a política, discutindo as questões mais sociais, e os aspectos técnicos ficam para o poder executivo. O parlamento atualmente não é tão importante para a legislação como era no passado; é muito mais importante para controlar o executivo, inclusive para aprovar o que o executivo propõe. Existe, além do controle político, o controle jurídico. E exercido pelo poder judiciário, que exerce uma macro atuação judiciaria no controle de políticas públicas. Fazendo o controle de constitucionalidade das leis e atos normativos. Assim, o judiciário controla o legislativo. Problema do ativismo judicial é a violação da separação de Poderes. Demais funções: de planejamento (por atos legislativos e atuação administrativa); de fomento a atividades (como pesquisa científica). Por isso é necessário que haja mais do que apenas três órgãos. Ex: chefe de Estado, governo, legislativo, judiciário, ministério público, cortes de contas, etc. A classificação dos sistemas de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) está ligada à dinâmica da separação de Poderes (mais rígida ou mais flexível). Aula 6 – Sistemas de Governo Classificação dos sistemas de governo diz respeito à forma de separação dos Poderes. Parlamentarismo ou presidencialismo: dois tipos de sistema de governo que adotam a separação de poderes. Há uma separação mais rígida no presidencialismo e mais flexível no parlamentarismo. A modelagem de Montesquieu corresponde ao presidencialismo (sem mencionar seu nome) – se referia a um modelo de monarquia constitucional, com 3 poderes e um executivo monárquico. Mas o núcleo essencial da separação dos poderes está presente também no parlamentarismo. O nome presidencialismo só surge com a CF de 1787 – “versão republicana da monarquia constitucional”. CF 1988 convocou plebiscito para decidir parlamentarismo ou presidencialismo. Não haveria problema em uma EC para a implementação do parlamentarismo pois não fere o núcleo essencial da cláusula pétrea de separação dos Poderes. Modelo presidencialista é adequado a um Estado liberal, que privilegia a independência e a contenção do poder, e não a eficiência do sistema. O parlamentarista é mais adequado ao Estado democrático-social, que preza pela eficiência do aparato estatal. A crise do sistema de governo no Brasil está na inadequação do sistema de governo (presidencialismo) em face do modelo de Estado (democracia social). Sistema presidencialista: Adotado pela CF 1988. Origem – CF EUA 1787 – pretendia implementar uma democracia, sem um monarca: Executivo: o substituto do monarca foi o presidente. Legislativo: parlamento independente (congresso nacional, bicameral). Judiciário: encimado pela Suprema Corte. Características jurídicas: Observância do princípio da separação dos Poderes Estrutura: Poder executivo unitário: apenas um chefe para o poder executivo (presidente da República), que vai exercer as 3 funções básicas do poder executivo – chefe de Estado (comandar o Estado como um todo, supervisionar e coordenar demais poderes, comandar política externa, defender soberania nacional, representar país no exterior); chefe de governo (exercer a função de governo – fixação, escolha e execução das políticas públicas), chefe da administração