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AULA 3 MÍDIA, OPINIÃO PÚBLICA E OS GRUPOS DE INTERESSE Profª Rafaela Mazurechen Sinderski 2 TEMA 1 – OPINIÃO PÚBLICA E COMUNICAÇÃO DE MASSA Até este ponto da disciplina, realizamos uma revisão histórica da formação do conceito de opinião pública, passando por sua compreensão na Antiguidade Grega, no período da Idade Moderna (com seus contornos durante o Iluminismo) e a posterior crise que teria sofrido no início do século XIX (Silveirinha, 2004). Nesta aula, os holofotes se voltam para a discussão contemporânea a respeito do fenômeno, em especial para suas imbricações com os meios de comunicação de massa no cerne do século XX. Compreender essa relação se mostra essencial para os estudos sobre o tema. Por isso, o primeiro tópico é desenhado para realizar um panorama dessa questão, articulando os conhecimentos de autores como Cervi (2006) e Figueiredo e Cervellini (1995) para apresentar diferentes modelos que consideram os efeitos da mídia na formação da opinião pública, como os apresentados por Noelle-Neumann (1974), McCombs e Shaw (1972) e Elihu Katz (1957). Em seguida, utilizamos a pesquisa de Cervi (2006) para expor três correntes teóricas que trazem diferentes perspectivas sobre a relação entre opinião pública e os meios de comunicação. A primeira é a elitista, na qual são discutidos autores como Lippmann (1922), Lasswell (1936) e, mais uma vez, Katz (1957). Depois, a corrente pluralista, com suas teorias explicadas por Cervi (2006) e Mauro Wolf (2006). Por fim, o paradigma elitista institucional é abordado. No quinto e último tópico da aula, o tema apresentado é a opinião pública no Brasil e a forma como seus estudos se desenvolvem e desenvolveram no país. De acordo com Cervi (2006, p. 128), é necessário considerar que a opinião pública nas sociedades modernas é parte do processo de comunicação de massa, podendo “ser entendida como um dos efeitos do sistema de comunicação coletiva”, já que é resultado da interação entre indivíduos e, assim, não pode ser explicada “pelas ações ou opiniões prévias aos fatos a que se refere”. Essa dinâmica comunicacional, afirma o autor, pode impulsionar a construção de posicionamentos e a concepção de realidades que não existiam antes da troca de informações e influências. Em suma, a opinião pública é uma construção coletiva, não individual, auxiliada pelos processos modernos de comunicação. Diante disso, é preciso considerar como se formam e se sustentam as relações entre o público, sujeito da opinião, e as instituições políticas e midiáticas. Ou até mesmo como se dá a relação entre membros dos mais variados públicos. De que forma 3 tais dinâmicas ocorrem e interferem na formação da opinião pública? Diversas teorias abordaram essas imbricações. Emerson Cervi (2006) aponta que, entre o fim do século XIX e o início do XX, os estudos concentravam suas atenções em um suposto poder dos meios de comunicação de massa em determinar vontades e pontos de vista das pessoas. Já no século seguinte, revisões começaram a ser feitas, relativizando “os efeitos dos meios de comunicação sobre os indivíduos na esfera pública e dando mais importância para as relações entre os públicos – as chamadas mediações –, como elemento fundamental para a formação de opinião” (Cervi, 2006, p. 30). É uma mudança, afirma o autor, da perspectiva que acredita na manipulação da sociedade pela mídia para um entendimento de que a última não controla, mas possivelmente influencia, os posicionamentos manifestados pela primeira. Por exemplo, [...] da figura do receptor atomizado e passivo (Teoria da Agulha Hipodérmica), passou-se para a descoberta da mediação exercida pelos líderes de opinião (two-step flow) até alcançar a compreensão da complexidade na inserção dos indivíduos na vida social (enfoque fenomênico já nos anos 40 do século XX). (Cervi, 2006, p. 73) Para Figueiredo e Cervellini (1995), algumas pesquisas podem ser apontadas como centrais para a discussão sobre opinião pública, comunicação e comportamento político ao longo do século XX. Os autores mencionam estudos como The Spiral of Silence, de Elisabeth Noelle-Neumann (1974), The Agenda Setting, de McCombs e Shaw (1972), e The Two-Step Flow of Communication, de Elihu Katz (1957). Apesar da crítica que trazem ao citá-los – afirmam que, segundo o cientista político John R. Zaller (1993, p. 179), as investigações sobre opinião pública não buscam extrapolar esses modelos, nem “conectá-los ou contrapô-los a fim de chegar a modelos mais gerais” –, sabe-se que conhecer tais estudos é importante para compreender diversas questões que tangem mídia e opinião pública. Começando com os achados de Noelle-Neumann (1974), Cervi (2006, p. 115) explica que, para a autora, “a opinião pública é muito parecida com a ideia de consenso básico existente em uma sociedade, sem significar que se trata de uma espécie de pacto social racional ou conscientemente acordado”. Tal fenômeno, esclarece, surgiria de maneira espontânea entre os indivíduos, que se engajariam em diferentes posicionamentos pela necessidade de se encaixar em grupos. 4 Noelle-Neumann (1974, p. 43, tradução nossa) diz que “o medo de se isolar (não apenas o medo da separação, mas também a dúvida sobre a própria capacidade de julgamento) é parte integrante de todos os processos da opinião pública”. Esse é o entendimento predominante em seu modelo de Espiral do Silêncio. Nele, a pesquisadora aponta que opiniões impopulares – que não detêm apoio e “proteção” de um grupo, seja este majoritário ou não – costumam ser suprimidas pelos próprios indivíduos detentores desses posicionamentos, já que eles sentem medo da exclusão. “Expressar a opinião oposta [...] implica o perigo de isolamento”, logo, “com base nesse conceito de interação de uma ‘espiral’ de silêncio, a opinião pública é a opinião que pode ser expressa em público sem medo de sanções [...]” (Noelle-Neumann, 1974, p. 44, tradução nossa). No modelo de Agenda-Setting, de McCombs e Shaw (1972), afirma-se que “a influência da comunicação de massa se baseia no facto de os mass media fornecerem toda essa parte de conhecimentos e de imagens da realidade social que transpõe os limites estreitos da experiência pessoal, directa e ‘imediata’” (Wolf, 2006, p. 24). Explicando essa ideia, a teoria do agendamento não trabalha com a manipulação dos meios sobre o público, mas com a capacidade que os meios têm de pautar a agenda de discussão das pessoas. Shaw (1979, p. 96, tradução nossa) pontua que “a mídia é persuasiva ao focar a atenção do público em eventos, questões e pessoas específicas” e que “as pessoas tendem a incluir ou excluir de suas cognições o que a mídia inclui ou exclui de seu conteúdo”. Mais do que isso, Cervi (2006, p. 76) alega que, nesse modelo, “a mídia molda formas de perceber e pensar, construindo os quadros de percepção”. Assim, a formação da opinião do público tem influência dos meios de comunicação, já que eles oferecem uma gama de temas sobre os quais os cidadãos devem debater e se posicionar. Katz (1957, p. 61, tradução nossa), vendo que “o fluxo da comunicação de massa pode ser menos direto do que se supunha”, desenvolveu um modelo que contempla dois passos (two-step flow). Entre o emissor e o receptor da mensagem – meio de comunicação e indivíduo –, ele acrescentou os líderes de opinião, que exerceriam papéis de mediação ao receber informações da mídia, repassando aquelas vistas como relevantes para grupos de pessoas sob os quais exercem certa influência (Katz, 1957). Diante do que foi exposto, entende-se que “seja como manipuladores ou simples organizadores indiciáticos a respeito da realidade tangível pelo cidadão, 5 os meios de comunicação de massa em sociedades democráticas contemporâneas desempenhamseu papel na formação e transformação da opinião pública" (Cervi, 2006, p. 30). Essa importância justifica um estudo mais aprofundado da questão. Por isso, outras pesquisas e modelos ligados aos meios de comunicação e suas ações sobre a opinião do público serão elencados nos tópicos seguintes. Eles estão divididos em três principais grupos, tal como são apresentados por Emerson Cervi (2006): paradigmas elitistas, pluralistas e elitistas institucionalistas. TEMA 2 – TEORIAS ELITISTAS As teorias elitistas “pressupõem que os meios exercem um controle quase total sobre o público passivo” (Cervi, 2006, p. 77). Cervi (2006) aponta que alguns dos nomes de destaque deste grupo são Lippmann (1997), Katz (1957) e Lasswell (1936), todos compartilhando a crença de que as pessoas só são capazes de conhecer a realidade em que vivem se forem inseridas por meio da mídia. Dessa forma, os meios de comunicação assumem uma poderosa função de moldar, de certa maneira, as opiniões dos indivíduos. Pertencente à Escola de Chicago, Harold Lasswell é reconhecido como um dos “pais fundadores” dos estudos sobre comunicação, tendo se dedicado a investigar as audiências e os processos de influência que envolvem mídia e público (Cervi, 2006). Lasswell estabeleceu o modelo comunicacional que deve atentar às seguintes questões: “Quem? Diz o que? Em qual canal? Para quem? Com quais efeitos? ” (Lasswell, 1948, p. 216). Também elaborou a chamada Teoria da Persuasão, que consistiu em um passo para a superação da chamada Teoria Hipodérmica – segundo a qual “cada indivíduo é um átomo isolado que reage isoladamente às ordens e às sugestões dos meios de comunicação de massa monopolizados” (Wolf, 2006, p. 26). Na Teoria Lasswelliana, afirma Wolf (2006), a ideia de que o processo comunicativo corresponde a uma relação mecanicista e imediata entre estímulo e resposta passa por uma revisão. O autor considera, nessa dinâmica, elementos psicológicos dos integrantes do público, tornando mais complexa a relação entre emissor, mensagem e destinatário. Ainda assim, os meios de comunicação têm um relevante e persuasivo papel na formação do pensamento dos indivíduos. Como já discutido anteriormente, Katz (1957), em seu modelo de comunicação de dois passos (Two-Step Flow), colocou os líderes de opinião no 6 fluxo comunicativo entre emissores e receptores, considerando a influência que tais figuras exerceriam sobre os grupos que recebem as informações e, com base nelas e na mediação exercida pelos líderes, elaboram suas opiniões. Mais uma vez, o público tem sua visão de mundo influenciada tanto pela mídia quanto pela figura dos opinion leaders. Por fim, discutimos o pensamento daquele que Figueiredo e Cervellini (1995) consideram pioneiro na tentativa de conceituar a opinião pública na sociedade moderna: Walter Lippmann. Segundo os autores: Ele alertava para o fato de que o mundo onde vivemos é muito vasto e complexo para que cada um de nós possa apreendê-lo sozinho, de forma independente. Hoje, ao formarmos uma opinião sobre qualquer assunto, teremos necessariamente que contar com informações produzidas e veiculadas por instituições e não obtidas exclusivamente de nossa experiência individual, se é que existe experiência exclusivamente pessoal. (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177) Para esclarecer: em seu livro Opinião Pública, de 1922, Lippmann diz que o conhecimento do cidadão em relação ao ambiente em que vive é adquirido de maneira indireta e que seu comportamento seria uma resposta a esse “pseudo- ambiente”. Assim, toda a opinião é construída com base em imagens que se formam em sua mente1 e que são alimentadas pelos meios de comunicação, não por meio de um contato direto e fiel com o mundo exterior. Por isso, o jornalismo deveria ser capaz de oferecer um “testemunho objetivo” do que acontece na realidade (Schudson, 2016). Em seu trabalho cotidiano, alegava Lippmann, o jornalista deveria “procurar no método científico e nos procedimentos profissionais o antídoto para a subjetividade” (Traquina, 2005, p. 149), considerando que “a imprensa é como um holofote que se move sem descanso, para trazer à luz episódios que estão nas sombras” (Lippmann, 1997, p. 229). Vê-se que, para os pensadores denominados elitistas, “as relações que se estabelecem entre o indivíduo e o mundo em que ele vive acontecem através dos meios de comunicação. São eles que constroem a conexão dos eventos sociais e as imagens deles na cabeça do cidadão. ” (Cervi, 2006, p. 79). Além disso: Há duas visões opostas a respeito desse paradigma: uma visão otimista, na qual as elites e os líderes de opinião geram na mídia um debate ilustrado ao mesmo tempo em que oferecem à massa modelos sociais e sinais de identidade coletiva (Dewey, 1927, citado por Blanco, 1999); enquanto uma visão negativa entende que as elites empregam os meios como poderosas plataformas para imprimir valores e estereótipos 1 Ideia que se relaciona com o título do primeiro capítulo de seu livro: “O mundo exterior e as imagens em nossas mentes”. 7 manipuladores na opinião pública (Lippmann, 1965, citado por Blanco, 1999). (Cervi, 2006, p. 79) No tópico a seguir, discutiremos sobre o segundo grupo teórico que visa explicar as relações entre meios de comunicação e opinião pública. TEMA 3 – TEORIAS PLURALISTAS Cervi (2006) afirma que o paradigma pluralista se apoia em duas proposições principais: 1. A primeira considera que a recepção das mensagens divulgadas pelos meios de comunicação tem funções que dependem do uso que a audiência faz de tais mídias; 2. A segunda se apoia nos estudos de Martin-Barbero (2001), afirmando que é o público quem determina o significado final das mensagens, ao reelaborá-las no momento de seu consumo. Percebe-se que a perspectiva pluralista da comunicação de massa traz o que Cervi (2006, p. 77) chama de consumidores soberanos, capazes de interpretar os conteúdos veiculados pelos meios, diferentemente do que ocorre na abordagem elitista, que foca em certa passividade do público. O autor ainda afirma que essa corrente teórica foi forte nos anos 1960, tendo como expoente os estudos da corrente funcionalista, como a hipótese dos usos e gratificações. “Esse é o primeiro modelo teórico comunicacional em que o público tem participação ativa no processo de comunicação, exercendo a função de escolha entre as mensagens disponíveis para seu consumo” (Cervi, 2006, p. 74). Segundo Mauro Wolf (2006, p. 70), tal hipótese se afasta daquela ideia inicial da comunicação como “geradora de uma influência imediata, numa relação estímulo/reação”, e está mais atenta aos contextos em torno dos indivíduos que recebem as mensagens lançadas pelos meios. O pesquisador alega que “à medida que a abordagem funcional se enraíza nas ciências sociais, os estudos sobre os efeitos passam da pergunta “o que é que os mass media fazem às pessoas? ” para a pergunta “o que é que as pessoas fazem com os mass media?”. (Wolf, 2006, p. 70). Com isso, explica, o efeito da comunicação de massa é visto como consequência da satisfação às necessidades do receptor: os conteúdos lançados pela mídia alcançam eficácia quando são úteis a seu público. Diante disso, “as mensagens são captadas, interpretadas e adaptadas ao contexto 8 subjetivo das experiências, conhecimentos e motivações” das pessoas que as recebem (Wolf, 2006, p. 70). Sumariamente, Cervi (2006, p. 79) explica que, perante essa concepção, a “audiência de qualquer processo comunicativo de massa, inclusive a comunicação política, não está submetida à persuasão ou reduzida a uma pseudo-realidade midiática”. Ela é, na verdade, plenamente capaz de consumir conteúdos considerando seus próprios interesses e interpretá-los com base em suas próprias experiências e contextos. TEMA 4 – TEORIASELITISTAS INSTITUCIONAIS A terceira e última corrente teórica elencada por Cervi (2006, p. 77) é o paradigma institucional da comunicação política, ou paradigma elitista institucional, no qual “fica estabelecido que a opinião pública está condicionada, mas não determinada, por estruturas sociais e pela lógica institucional – incluindo os meios de comunicação de massa”. O autor explica: Nesta última abordagem, admite-se que as estruturas sociais, tais como classe social, educação formal ou etnia exercem certas limitações materiais e culturais. Dessa forma, os interesses dos produtores midiáticos, fontes informativas, elites políticas e públicos mais privilegiados institucionalmente conseguem se impor na esfera pública (Blanco, 1999). Dito em outras palavras, a opinião pública se nutre e se expressa através da mídia, reproduzindo as estruturas sociais e comunicativas existentes. (Cervi, 2006, p. 77) Ele também esclarece que essa corrente teórica se forma com base no que é apresentado na sociologia da estruturação de Anthony Giddens (1995), no neoinstitucionalismo da ciência política (Hall; Taylor, 1996) e no conceito de comunicação de massa (Beniger; Herbst, 1990). O que se considera com Giddens (1995) é que a opinião pública está profundamente relacionada com as estruturas políticas e as instituições midiáticas presentes na sociedade, sendo formada no cerne destas e tornando-se um resultado das estruturas sociais nas quais está inserida (Cervi, 2006). Nessa relação, “as elites possuem a primazia da informação midiática, mas nem por isso elas deixam de estar condicionadas pelo público” (Cervi, 2006, p. 80). De acordo com Peres (2008), o neoinstitucionalismo tem sido, nas últimas cinco décadas, uma nova abordagem para analisar fenômenos políticos. Uma abordagem que, na Ciência Política, difere do institucionalismo e do 9 comportamentalismo2, perspectivas que dominaram a área no início do século XX. O autor alega que, diante da visão neoinstitucionalista, “as ‘instituições importam’ decisivamente na produção dos resultados políticos” (Peres, 2008, p. 54). Entendendo isso, o ponto de vista elitista e institucional da opinião pública diz que ela reproduz, em certa medida, posicionamentos sustentados por uma elite, já que se forma e se espalha com o auxílio dos meios de comunicação, usualmente dominados por grupos privilegiados. Isso não significa, contudo, que o público receba as informações passivamente. Ele ainda pode expressar suas preferências diante do que é apresentado pela mídia e pelas elites. Para o paradigma do elitismo institucional, os efeitos da mídia são de ordem hegemônica, pois difundem a ideologia e os valores dominantes; também são de ordem institucional, pois influem nas demais instituições, além disso, são de ordem social e individual, com base nos indivíduos que as integram. Assim, o poder não reside mais na elite ou na massa, mas depende dos recursos existentes a partir das estruturas e instituições, nas quais são desenvolvidas suas atividades. A opinião pública passa, então, a ser o resultado do embate dos atores políticos, da elite e da massa que se utilizam desses recursos estruturais e institucionais para tentar impor uma visão de mundo específica. (Cervi, 2006, p. 81) Depois de discutidos os diferentes paradigmas que relacionam os meios de comunicação de massa e a opinião pública, apresentamos, no próximo tópico, um breve cenário dos estudos brasileiros a respeito do fenômeno. TEMA 5 – A OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL Ao longo do século XX, os estudos sobre opinião pública em terras brasileiras estiveram bastante próximos de pesquisas eleitorais e de estudos ligados a representações políticas. Contudo, a questão em si foi pouco utilizada como objeto de análises. Quem afirma isso é Cervi (2006, p. 113), que complementa: [...] a partir dos anos 70, já com o uso de pesquisas quantitativas, entra na agenda dos pesquisadores a necessidade de estabelecer, primeiramente, um perfil do eleitor. Foi a partir desses trabalhos que o tema opinião pública passou a ser tratado, ainda que marginalmente, nos estudos nacionais da ciência política. 2 Segundo Peres (2008), um pensamento central para o comportamentalismo é aquele que questiona se as decisões políticas tomadas pelos indivíduos são determinadas por racionalidade e preferências endógenas. Já para o institucionalismo, a pergunta é feita de maneira inversa: seriam esses "processos induzidos por instituições políticas e sociais que regulam as escolhas coletivas?" (Peres, 2008, p. 54). 10 O autor, que elabora uma tese sobre a opinião pública brasileira em 2006 – trabalho que tem sido basilar para o desenvolvimento desta disciplina –, lista alguns pesquisadores que, nas últimas décadas, têm tangenciado os estudos sobre opinião pública, tais como Victor Nunes Leal, Assis Brasil, Oliveira Vianna, Gilberto Freire e Octávio Ianni (Cervi, 2006, p. 113). Seus trabalhos, de maneira geral, preocupam-se com questões de, por exemplo, massa, classe, público e eleitorado, tratando indiretamente do fenômeno do qual nos ocupamos aqui. “Mais recentemente, através dos estudos sobre eleições, voto e sistema partidário, o debate sobre a gênese da opinião pública no Brasil começou a ganhar corpo. Entretanto, tais estudos ocupam-se mais do comportamento eleitoral do que propriamente da formação da opinião." (Cervi, 2006, p. 113). Considerando esta seção uma pequena introdução das discussões sobre o tema no país, a aula seguinte traz uma proposta conceitual de opinião pública elaborada por dois pesquisadores brasileiros, já mencionados nesta disciplina: Rubens Figueiredo e Sílvia Cervellini (1995). 11 REFERÊNCIAS BLANCO, V. F. S. Efectos de los medios de comunicación sobre la opinión pública: los paradigmas sobre el poder del público. Revista Comunicação & Política, v. 6, n. 1, 1999. CERVI, E. U. Opinião pública e política no Brasil: o que o brasileiro pensa sobre política e por que isso interessa à democracia. 2006. 359 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Rio de Janeiro, 2006. _____. Opinião pública e comportamento político. Curitiba: Editora Ibpex, 2010. CNI – Confederação Nacional da Indústria. 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