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APOSTILA DE GEOLOGIA GERAL Elaborada por: Profª Gloria Maria dos Santos MarinsProfª Gloria Maria dos Santos Marins Agosto / 2004 U N I V E R S I D A D E D O G R A N D E R I O PROF. JOSÉ DE SOUZA HERDY ECTA – ESCOLA DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIA E ARTES Geologia Geral 2 SuSummáárriioo CAPÍTULO 1 - Surgimento da GeologiaSurgimento da Geologia e a Concepção de e a Concepção de Tempo Geológico Tempo Geológico – – Pág. 3 CAPÍTULO 2 – Minerais Minerais ((Unidades Constituintes das Rochas) – Pág. 11 CAPÍTULO 3 – Rochas Rochas ((Unidades Formadoras da Crosta)) – Pág. 21 CAPÍTULO 4 - Estruturas em RochasEstruturas em Rochas ((Dobras e Falhas) – – Pág. 31 CAPÍTULO 5 - Estrutura Interna da Terra Estrutura Interna da Terra – – Pág.38 CAPÍTULO 6 - Tectônica de Placas Tectônica de Placas – Pág.49 CAPÍTULO 7 - Processos OceânicosProcessos Oceânicos e Fisiografia dos e Fisiografia dos Fundos Marinhos Fundos Marinhos – Pág. 56 RReeffeerrêênncciiaas s BBiibblliiogogrrááffiiccaass - Pág. 64 Geologia Geral 3 CAPÍTULO 1 -- Surgimento da Geologia e a Concepção deSurgimento da Geologia e a Concepção de Tempo GeológicoTempo Geológico 1- CONCEPÇÕES INICIAIS DA IDADE DA TERRA E O PRINCÍPIO DA GEOLOGIA Dois grandes movimentos da cultura ocidental, o Iluminismo e a Revolução Industrial, ocorridos durante os dois últimos séculos, influenciaram na consolidação da Geologia como uma ciência. Durante o Iluminismo ocorreu a substituição das explicações sobrenaturais para os fenômenos da Natureza por leis naturais, geradas a partir de descobertas da observação, pesquisa científica e emprego do senso comum. Durante a Revolução Industrial, aumentou a utilização de matérias-primas e recursos energéticos oriundos do nosso planeta. Contudo, antes disso, por influência religiosa, acreditava-se que a Terra tivesse apenas alguns milhares de anos. Ao longo da Idade Média e da Renascença, essa idéia continuou a ser difundida por sábios na Europa, que geralmente afirmavam que a criação do mundo, em coerência com a Bíblia, se deu há cerca de 6.000 anos. Durante os séculos XVII e XVIII, nos quais predominavam a idéia do ser humano como centro do Universo e a Terra como de seu uso exclusivo, começou a surgir, timidamente, a Geologia. O precursor da Geologia foi Nicolau Steno (1638-1696), que enunciou os princípios de que as rochas sedimentares se depositavam horizontalmente camada após camada e que as camadas inferiores eram mais velhas que as superiores. Em 1669, Steno publicou os três princípios que regem a organização de seqüências sedimentares e que até hoje são chamados, muitas vezes, de princípios de Steno (Figura 15.5): Superposição: sedimentos se depositam em camadas, as mais velhas na base e as mais novas sucessivamente acima; Horizontalidade original: depósitos sedimentares se acumulam em camadas sucessivas dispostas de modo horizontal; Continuidade lateral: camadas sedimentares são contínuas, estendendo-se até as margens da bacia de acumulação, ou se afinam lateralmente. Entretanto, a aplicação indiscriminada desses princípios pode gerar interpretações geológicas equivocadas. Exemplos: Dependendo da energia do meio e da topografia do substrato, o princípio da horizontalidade não se aplica estritamente; Geologia Geral 4 Durante a deposição sobre superfícies inclinadas de leques aluviais e frentes deltaicas; Nem toda a camada termina lateralmente por afinamento ou nos limites da bacia, pois comumente um sedimento cede lugar, lateralmente, para outro de maneira gradativa. Na segunda metade do século XVIII, a partir do relato bíblico da separação das terras e das águas durante a Criação, surgiu a concepção do netunismo. De acordo com essa idéia, quase todas as rochas, incluindo rochas ígneas como granitos e basaltos, teriam se precipitado das águas do mar primordial, daí a razão do nome, em homenagem a Netuno, o deus do mar da mitologia greco-romana. Abraham G. Werner (1749-1815), um dos mais persuasivos e influentes mestres europeus, foi o mais proponente mais carismático da teoria netunista. De acordo com a figura 15.7, os netunistas acreditavam que as rochas se formavam em quatro séries seqüenciais a partir das águas do mar primevo, como relatado na Bíblia. Para explicar a descida do nível do mar primevo os netunistas, como Steno, postulavam que as águas sumiam para dentro de imensas cavidades no interior da Terra. 2- JAMES HUTTON E A CONSOLIDAÇÃO DA GEOLOGIA COMO CIÊNCIA O naturalista escocês James Hutton (1726-1797) fazia as observações que serviriam de base para transformar a Geologia numa ciência, nas primeiras décadas do século XIX. Para Hutton todos os registros geológicos podiam ser explicados pelos mesmos processos que atuam hoje, como a erosão, a sedimentação, vulcanismo, etc., sem necessidade de apelar para origens especiais ou intervenção divina. A partir de observações em campo em conjunto com seus conhecimentos de experiências de fusão e resfriamento de materiais rochosos realizados por colegas, Hutton demonstrou a natureza fluida, quente e intrusiva das rochas Geologia Geral 5 ígneas, fundamentando, assim, o conceito de plutonismo (de Plutão, deus grego das profundezas), em contraposição ao netunismo de Werner. 3- “O PRESENTE É A CHAVE DO PASSADO” – UNIFORMITARISMO E ATUALISMO Entre 1830 e 1845, o escocês, Sir Charles Lyell (1797-1875) divulgou a teoria do uniformitarismo, influenciando várias gerações de geólogos, a começar pelo jovem Charles Darwin. Segundo Lyell, o presente seria a chave do passado, sendo o passado igual ao presente inclusive em gênero e intensidade dos processos atuantes da dinâmica interna e externa. Mas, hoje sabemos que esse princípio não é verdade. Tomamos o seguinte exemplo: Considerando a inexistência de cobertura vegetal nos continentes no período anterior a 400 milhões de anos atrás, os processos de intemperismo, erosão, formação de solos, absorção e reflexo da energia solar, dentre outros, certamente foram bem diferentes dos que atualmente operam. O uniformitarismo proposto por Lyell revelou-se dogmático demais, de modo que se ensina o princípio de causas naturais por meio do conceito de atualismo, muito parecido com o uniformitarismo, mas sem a conotação da estrita igualdade de condições entre o presente e o passado da Terra. Desta forma, o atualismo é a afirmação da constância das leis naturais que regem a Terra, mesmo que no passado os produtos e intensidade dos processos geológicos tenham sido algo diferente daquilo que se observa atualmente. DATAÇÃO RELATIVA E O ESTABELECIMENTO DA ESCALA DE TEMPO GEOLÓGICO 1- FÓSSEIS E IDADES RELATIVAS Com a aplicação dos princípios de Steno, alguns naturalistas na Europa e na Grã- Bretanha no fim do século XVIII e início do século XIX, notaram que o mesmo conjunto de fósseis (restos e vestígios de animais e plantas preservados nas rochas) aparecia sempre na mesma ordem. Willian Smith (1769-1815), modesto engenheiro inglês, descobriu durante a construção do canal de Somerset, na Inglaterra, que entre diversas formações já conhecidas por ele, à primeira vista, muitas eram semelhantes, porém tinham uma característica que as diferenciava: os fósseis que continham não eram os mesmos. Concluiu, então, que os sedimentos de cada época tinham seus fósseis específicos. Nessa ocasião, Smith divulgou o primeiro mapa geológico, com divisões estratigráficas baseadas nos fósseis. Com o estabelecimento da equivalência temporal, ou seja, a correlação fossilífera ou bioestratigráfica (Figura 15.11), entre faunas e floras fósseis iguais, mesmo que contidas em litologias diferentes e em seqüências distantes entre si, foi enunciado o principio da sucessão biótica (ou faunística/florística), que estabelece ser possível colocar rochas fossilíferas em ordem cronológica pelo caráter de seu conteúdo fossilífero, pois cada período, época ou subdivisão do tempo geológico possui um conjunto particular de fósseis, representativo dos organismos que viviam naquele tempo. Geologia Geral 6Entre os anos de 1822 e 1841, geólogos da Grã Bretanha e Europa ordenaram as principais sucessões geológicas dessas regiões em uma escala de tempo geológico pela datação relativa (Figura 15.11, Tabela 15.1) das faunas e floras fósseis presentes nas rochas estudadas. Inicialmente, cada sistema de rochas com seu conteúdo fossilífero distinto teriam sido depositados durante um período específico, identificado pelo conjunto de fósseis peculiar ao sistema. Os períodos foram designados por um nome alusivo a alguma feição da região onde o sistema foi definido, como nos exemplos abaixo: Geologia Geral 7 Termo geográfico: Cambriano, de Cambria, antigo nome romano para a Inglaterra; Devoniano, de Devonshire, Inglaterra; Jurássico, dos Montes Jura na Europa e Permiano, da cidade de Perm, na Rússia. Termo cultural: Ordoviciano e Siluriano, dos nomes das tribos Ordovices e Silures que habitavam o País de Gales. Termo geológico: Carbonífero, como referencia ao rico conteúdo de carvão; Triássico, por causa da sua subdivisão em três sucessões litologicamente bem distintas; Cretáceo, da palavra francesa cré – giz, com referencia a grande quantidade de calcário. Termo histórico: Terciário e Quaternário, herdados, mais conceitualmente modificados, dos primeiros esquemas de subdivisão geológica. E s cala geológica do t empo com os pr incipais event os biológicos . A sucessão biótica permitiu essa subdivisão tão notável do registro sedimentar e do tempo geológico graças aos mecanismos da evolução biológica e pelo grau de preservação dos organismos que habitaram o nosso planeta. Geologia Geral 8 Com o refinamento da correlação fossilífera ou bioestratigráfica, mesmo antes de 1850, ocorreu a subdivisão dos períodos em Épocas e unidades menores. Ao mesmo tempo, semelhanças e distinções entre os fósseis de diversos períodos permitiram a agregação dos períodos nas Eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Modernamente as eras têm sido agrupadas em intervalos maiores de tempo conhecidos como os Eons: Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico. 2- TENTATIVAS DE CALCULAR A IDADE DA TERRA – IDADE ABSOLUTA Charles Darwin, em 1859, despertou grande interesse em descobrir a idade absoluta do registro geológico, ou seja, de calibrar as rochas em termos de sua idade em anos. Uma década após ocorreu o descobrimento da radioatividade por Bacquerel, em 1896, B.B. Voltwood imaginou um método que determinasse a idade das rochas a partir dos produtos da desintegração radioativa espontânea de alguns minerais. A partir desse momento foi possível a elaboração de uma escala de tempo absoluta para os eventos geológicos. 2.1- Decaimento radioativo e a datação absoluta Existem na natureza determinados elementos químicos que são radioativos, ou seja, elementos que se desintegram perdendo partes de seu núcleo atômico, transformando-se, desse modo, em outros elementos mais estáveis, a esta reação dar-se o nome de decaimento radioativo. Ao elemento que se desintegra denomina-se pai, e ao resultado, filho (Figura. 15.13). A quantidade de átomos que se desintegram em uma unidade de tempo é constante para cada elemento e se denomina constante de desintegração (• ), podendo ser determinada em laboratório. O processo de desintegração não segue uma função linear e sim exponencial (Figura. 15.16). Por exemplo, uma quantidade de átomos radioativos se reduz à metade num lapso de tempo T. Se a função fosse linear no próximo lapso de T, estaria desintegrada por completo, mas o que ocorre na verdade é que no segundo lapso T ela se reduz novamente à metade, e assim sucessivamente. Esse lapso de tempo T se denomina meia-vida e pode ser definido como o tempo necessário para que certa quantidade de átomos pai se reduza à metade. Geologia Geral 9 Como se determina a idade de uma rocha ou de um mineral? O ramo da geologia que trata da datação de rochas é conhecido como Geocronologia. Para a determinação da idade de uma rocha ou de um mineral é possível aplicar vários métodos radiométricos dependendo da composição química do material a ser datado, da sua provável idade e também do tipo de problema geológico que se pretende datar. Os métodos de datação radiométrica consistem basicamente em determinar num mineral que possua um elemento radioativo a relação entre pai e filho. Conhecendo a meia- vida é possível calcular a idade do mineral. Os principais métodos utilizados para a datação de eventos geológicos são Potássio- Argônio, Rubídio-Estroncio, Samário-Neodímio, Uranio-Chumbo, e Chumbo-Chumbo, sendo o primeiro elemento pai e o segundo o elemento filho (Tabela 15.3). Para materiais geológicos e biológicos relativamente jovens (troncos e folhas fósseis, ossos, dentes, conchas, etc.), pertencentes aos últimos 30 mil anos da história geológica Geologia Geral 10 utiliza-se o método do 14C. Trata-se de um método que mede a quantidade desse isótopo de carbono contido nos restos orgânicos. O carbono possui três isótopos : 12C, 13C e 14C, sendo os dois primeiros estáveis e o terceiro, 14C, radioativo, com meia-vida de 5.730 anos. Os seres vivos têm todos a mesma proporção de 14C em relação ao carbono normal (12C), proporção que permanece constante no organismo vivo em função do metabolismo. Quando o indivíduo morre, o 14C se desintegra. Assim, determinando a proporção de 14C nos restos orgânicos, é possível estabelecer o tempo decorrido após a morte do indivíduo. Como foi determinada a idade da Terra? Em 1956, o geocronólogo Claire Petterson conseguiu datar, com precisão, a idade da Terra, através do método 207Pb-206Pb, da seguinte forma: Partiu da premissa de que a idade da Terra deveria ser igual a dos meteoritos, considerando que ambos devem ter se originado na mesma época, juntamente com o Sistema Solar, e passado posteriormente, pela mesma evolução isotópica; Se o sistema isotópico se manteve fechado nos meteoritos, a sua idade teria de ser igual à da Terra; Foram datados meteoritos férricos e líticos, obtendo uma isócrona que indicava uma idade de 4.55 + 0.07 bilhões de anos; Para testar a hipótese de uma origem em comum, foram lançados no mesmo gráfico, os gráficos referentes às composições isotópicas de Pb obtidas em amostra de sedimentos marinhos fundos, representativa da composição média da crosta terrestre (Figura 15.21); Em conclusão, o alinhamento perfeito dos dados com os dos meteoritos demonstrou que a idade, origem e evolução dos isótopos de chumbo eram idênticas. Ou seja, os meteoritos e a Terra têm a mesma idade. Anexo 1 – Escala Geológica Internacional da IUGS (International Union of Geological Sciencies). Geologia Geral 11 CAPÍTULO 2 – Minerais Minerais ((Unidades Constituintes das Rochas) 1 - DEFINIÇÃO: são elementos ou compostos químicos com composição definida dentro de certos limites, cristalizados e formados naturalmente por meio de processos geológicos inorgânicos na Terra ou em corpos extraterrestres. A composição química e as propriedades cristalográficas bem definidas de um mineral fazem com que ele seja único dentro do reino mineral e, assim, receba um nome característico. Cada tipo de mineral constitui uma espécie mineral. Os minerais formam-se a partir de determinados arranjos entre átomos de diferentes elementos em proporções adequadas. Uma amostra de mineral também será chamada de cristal quando sua cristalização ocorrer em condições geológicas ideais, fazendo com que a sua organização atômica interna se manifeste em uma forma geométrica externa, com aparecimento de faces, arestas e vértices naturais. Dá-se o nome de minério quando um mineral ou uma rocha apresentar importância econômica. Detalhamento dos conceitos usados na definição de mineral a) Quanto à definição: “...elementos ou compostos químicos com composição definida dentro de certos limites...” Poucos minerais possuem uma composição química simples, constituída por átomos de um mesmo elemento químico. Exemplos: Diamante → átomos de carbono Enxofre → átomos de enxofre Ouro → átomos de ouro A grandemaioria dos minerais são formados por compostos químicos que resultam da combinação de diferentes elementos químicos, com isso a composição química dos minerais pode ser fixa ou variar dentro de limites bem definidos. Exemplos: Quartzo = SiO2 → um átomo de silício combinado com dois átomos de oxigênio, em qualquer que for o tipo de ambiente geológico em que o quartzo se forme. Olivina = (Mg, Fe) SiO4 → é um mineral incomum na superfície terrestre, presente em rochas do interior da terra. A composição química das olivinas pode variar entre dois átomos de ferro e zero de magnésio ou entre dois átomos de magnésio e zero de ferro, sempre combinado com um átomo de silício e quatro átomos de oxigênio, formando assim uma série de minerais que fazem parte do grupo das olivinas. b) Quanto a definição: “...cristalizado...” O termo cristalizado para os minerais significa que eles têm um arranjo atômico interno tridimensional. Os átomos constituintes de um mineral encontram-se distribuídos ordenadamente, formando o retículo cristalino, ou seja, uma rede tridimensional, gerada pela repetição de uma unidade atômica ou iônica fundamental que já apresentam as propriedades físico-quimicas do mineral completo. Essa unidade que se repete é a cela unitária, o “tijolo” que vai servir de base para a construção do retículo cristalino onde cada átomo ocupa uma posição definida dentro da cela unitária (Figura 2.1). Geologia Geral 12 A forma do cristal é muito importante na identificação do mineral. Algumas vezes é tão simétrico e perfeito em suas faces que coloca em dúvida a sua origem mineral. Na maioria das vezes cristais perfeitos são muito raros. Em geral, eles desenvolvem apenas algumas de suas faces. c) Quanto a definição: “...formado naturalmente...” Quando usamos o termo “naturalmente” na definição de mineral, indicamos que as substâncias devam ocorrer espontaneamente na natureza. Como regra geral, substâncias sintéticas feitas pelo ser humano por síntese no laboratório ou os produtos resultantes de combustão ou formados a partir de materiais artificiais, mesmo com a ação da água ou do ar, não são considerados minerais embora apresentem todas as características equivalentes naturais, e sua síntese pode ajudar a entender o processo da formação dos minerais nos diferentes ambientes geológicos. d) Quanto a definição: “...processos inorgânicos...” O uso do termo inorgânico na definição de mineral impede que as substâncias puramente biogênicas sejam minerais. A pérola, o âmbar, os recifes de corais e o carvão são algumas substâncias biogênicas que não podem ser consideradas minerais, por um motivo ou por outro. São todas mineralóides. No caso do coral, embora possamos reconhecer compostos químicos idênticos às formas naturais de carbonato de cálcio sólido, o organismo vivo tem intervenção essencial na produção do composto – que é uma secreção gerada por seu metabolismo. CURIOSIDADES DO REINO MINERAL O mercúrio (elemento nativo) é o único líquido considerado espécie mineral. Os mineralóides são substâncias amorfas, como géis, vidros e carvões naturais, não são cristalinas e, portanto, não satisfazem as exigências da definição de mineral. O gelo formado naturalmente nas calotas polares, por exemplo, é considerado mineral, mas a água líquida não. NOÇÕES DE CRISTALOGRAFIA A cristalografia estuda a origem, o desenvolvimento e a classificação dos cristais naturais (os minerais que exibem formas externas geométricas) e artificiais. Geologia Geral 13 A repetição sistemática dos arranjos estruturais formados de átomos, íons e moléculas sustentam o conceito de simetria cristalográfica. O estudo da simetria externa dos cristais é feito com auxílio dos elementos abstratos de simetria (planos, eixos e centro) e as suas respectivas operações de simetria (reflexão, rotação e inversão). Desta forma, reconhecer a presença de um plano de simetria em um cristal é visualizar uma superfície que o corta em duas metades iguais, simétricas (Figura 2.2). O eixo de simetria é uma reta imaginária que passa pelo centro geométrico do cristal e ao redor da qual, num giro de 360º, uma feição geométrica do cristal se repete certo número de vezes (Figura 2.3). O centro de simetria é o ponto coincidente com o centro geométrico do cristal, em relação ao qual as feições geométricas se invertem (Figura 2.4). Geologia Geral 14 O conjunto dos possíveis elementos de simetria encontrados em um cristal é chamado de grau ou classe de simetria ou grupo pontual. Existem na natureza apenas 32 classes de simetria, agrupadas de acordo com a similaridade de seus elementos de simetria em seis sistemas cristalinos, segundo a escola norte-americana de cristalografia. A seguir são apresentados os sistemas cristalinos, do mais simétrico ao menos simétrico: cúbico (ou isométrico), tetragonal, hexagonal, ortorrômbico, monoclínico e triclínico. A nossa escola de cristalografia considera a existência de mais um sistema cristalino, o trigonal, que para os norte-americanos seria uma subdivisão do sistema hexagonal. Cada cristal, natural ou artificial, se desenvolve sempre segundo um dos sistemas cristalinos; esta é uma propriedade física inerente ao cristal (Tabela 2.1). Geologia Geral 15 2 – A ORIGEM DOS MINERAIS A origem de um mineral está condicionada aos “ingredientes químicos” e às condições físicas (temperatura e pressão) reinantes em seu ambiente de formação. Assim sendo, os minerais formados no interior da Terra são geralmente diferentes daqueles formados na sua superfície. Um mineral pode ser formado de diferentes maneiras, por exemplo, a partir de uma solução (material em estado de fusão ou vapor) – o processo de cristalização tem início com a formação de um núcleo, um diminuto cristal que funciona como uma semente, ao qual o material vai aderindo, com o conseqüente crescimento do cristal. O estado cristalino pode ser conseguido pela passagem da matéria do estado físico amorfo para o cristalino, em ambiente geológico quente. Isto ocorre na cristalização de um magma, material rochoso fundido. Ocorre também pela condensação de materiais rochosos em estado de vapor, quando os cristais se formam diretamente do vapor sem passar pelo estágio intermediário do estado líquido. A cristalização de substâncias a partir de soluções aquosas a baixas temperaturas (< 100º C) é um processo importante na formação das rochas sedimentares químicas. Na passagem de um para outro estado cristalino, os materiais rochosos que já estão cristalizados podem, por modificações nas condições de temperatura e/ou pressão, tornar-se instáveis e se recristalizar em uma nova estrutura cristalina mais estável para as novas condições, sem que haja fusão do material inicial. Esse processo é importante na formação de alguns minerais das rochas metamórficas. 3 – CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DOS MINERAIS São utilizados critérios para o agrupamento sistemático de minerais com características similares. Alguns desses critérios são mostrados na tabela abaixo. Critérios Usados Exemplos Sistema de Cristalização Minerais monoclínicos, cúbicos. Usos Minérios, gemas, minerais formadores de rochas. Composição Química Elementos nativos, óxidos e sulfetos. É comum a utilização do critério químico baseado na natureza do radical aniônico do mineral para classificá-lo, pois os minerais com o mesmo radical aniônico possuem propriedades físicas e morfológicas muito mais semelhantes entre si que minerais com o mesmo cátion, e ainda, tendem a ser formar por processos físico-químicos semelhantes e a ocorrer associados uns aos outros na natureza. Exemplo: Barita (BaSO4), o radical aniônico é o SO4 e, portanto, a barita será classificada como sulfato. Das várias classes minerais existentes (Anexo 2.3 – Classificação Sistemática dos Minerais), apenas uma, a dos silicatos, é responsável pela constituição de aproximadamente 97% em volume da crosta continental. Minerais das demais classes, embora menos abundantes, também são importantes pelo seu interesse econômico e científico. A seguir,a tabela, mostra a constituição mineralógica da crosta continental. Geologia Geral 16 Classe Mineral Espécie ou grupo mineral % em vol. Feldspatos 58 Piroxênios e anfibólios 13 Quartzo 11 Micas, clorita, argilominerais 10 Olivina 3 Silicatos Epidoto, cianita, andaluzita, sillimanita, granadas, zeólitas etc. 2 Carbonatos, Óxidos, Sulfetos, Haloides etc, 3 Total 100 4 – NOMENCLATURA DOS MINERAIS A nomenclatura dos minerais é hoje controlada pela Comissão de Novos Minerais e Novos Nomes de Minerais (CNMNM) da Associação Mineralógica Internacional (IMA), criada em 1959. Os nomes dos novos minerais devem ter, no caso brasileiro, a terminação “ita”. Em contraposição, a terminação “ito” é usada para nomes de rochas. Os minerais conhecidos desde épocas remotas e cujos nomes já têm uso consagrado podem não respeitar esta regra. Outras recomendações para a criação de um nome para um novo mineral são: • que o nome indique a localização geográfica de sua descoberta. • que o nome indique uma de suas propriedades físicas. Exemplo: Tetraedrita (devido ao seu hábito tetraédrico) Cianita ( devido a sua cor mais comum, azul) • que o nome indique a presença de um elemento químico predominante. Exemplo: Molibdemita, Cuprita, Lantanita, Arsenopitita. • que homenageie uma pessoa proeminente. Exemplo: Andradita (em homenagem a José Bonifácio de Andrada e Silva, 1763 – 1838, geólogo e patriarca da independência brasileira) 5 – IDENTIFICAÇÃO DOS MINERAIS Os minerais mais comuns podem, muitas vezes, ser identificados simplesmente com a observação de suas propriedades físicas e morfológicas, que são decorrentes de suas composições químicas e de suas estruturas cristalinas. Utilizamos para fins de identificação rápida de minerais as seguintes propriedades: hábito cristalino, transparência, brilho, cor, traço, dureza, clivagem, densidade relativa, geminação, propriedades elétricas e magnéticas. Transparência: Os minerais que não absorvem ou absorvem pouco a luz são ditos transparentes. Os que absorvem luz consideravelmente são translúcidos e dificultam que as imagens sejam reconhecidas através deles. Dependendo da espessura, minerais translúcidos podem tornar-se transparentes quando são feitas lâminas finas. Existem, contudo, os elementos nativos metálicos, óxidos e sulfetos que absorvem totalmente a luz, independentemente da espessura. São os minerais opacos. Brilho: É a quantidade de luz refletida pela superfície de um mineral. Geologia Geral 17 Brilho metálico: minerais que refletem mais de 75% da luz incidente (minerais opacos). Brilho vítreo: brilho fresco da fratura do vidro. Brilho gorduroso Brilho sedoso Cor: A cor de um mineral resulta da absorção seletiva da luz. Os principais fatores que colaboram para a absorção seletiva são a presença de elementos químicos de transição (ferro, cobre, níquel, cromo, vanádio, etc.) na composição química do mineral, os defeitos na sua estrutura atômica, e a presença de pequeníssimas inclusões de minerais, dispersas através do mineral. Minerais idiocromáticos – minerais com cores bastante distintas, ex. enxofre, amarelo. Minerais alocromáticos – minerais que ocorrem em muitas cores, ex. quartzo. Traço: O traço é a cor do mineral em pó. Esta característica é obtida com o auxilio de uma placa de porcelana (cor branca). Esta propriedade só é útil para identificar minerais opacos ou ferrosos, que apresentam traço de coloração variada tais como vermelho, marrom, amarelo, etc. Minerais translúcidos, em sua maioria, apresentam traço branco e a cor só pode ser observada com a moagem do mineral. Dureza: A dureza de um mineral é a resistência que ele apresenta ao ser riscado. Os diferentes graus de dureza são em uma escala chamada Escala de Mohs e que varia de 1 a 10. Escala de Mohs Mineral Padrão Dureza Talco 1 Gipsita 2 Calcita 3 Fluorita 4 Apatita 5 Ortoclásio 6 Quartzo 7 Topázio 8 Córindon 9 Diamante 10 Fratura: Fratura é a superfície irregular e curva resultante da quebra de um mineral. Estas superfícies são controladas pela estrutura atômica interna do mineral, podem ser irregulares ou conchoidais. Clivagem: São superfícies de quebra que constituem planos de notável regularidade, que podem ser classificadas de perfeita, boa ou imperfeita. A maioria dos minerais, além de mostrar superfícies de fratura, apresenta também uma ou mais superfícies de clivagem, nomeados segundo sua orientação com referência a faces de sólidos geométricos. Exemplos: clivagem cúbica, clivagem romboédrica, etc. Densidade relativa: É o número que indica quantas vezes certo volume do mineral é mais pesado que o mesmo volume de água na temperatura de 4º C. A maioria dos minerais formadores de rocha apresenta densidade relativa entre 2,5 a 3,3. Geologia Geral 18 Alguns minerais com elemento de alto peso atômico tais como Ba, Pb, Sr, etc., apresentam densidade superior a 4. Geminação: É a propriedade de certos cristais de aparecerem intercrescidos de maneira irregular. A geminação pode ser simples com dois indivíduos intercrescidos ou múltipla (polissintética). O tipo de geminação pode ser usado como uma propriedade diagnóstica do mineral. Propriedades elétricas e magnéticas: Muitos minerais são maus condutores de eletricidade, com exceção dos que apresentam ligações totalmente metálicas, excelente condutores, como é o caso dos metais nativos como o ouro, a prata e o cobre. Minerais semicondutores têm ligações atômicas parcialmente metálicas. Exemplo: sulfetos. Minerais considerados não-condutores, as ligações atômicas predominantes são iônicas e covalentes. Pizoeletricidade é a propriedade que um mineral tem de transformar uma pressão mecânica em carga elétrica. Exemplo: o quartzo é muito utilizado na indústria eletrônica, no controle das radiofreqüências. Piroeletricidade é a eletricidade originada pelo aumento de calor. Os minerais sem centro de simetria, quando aquecidos, emitem uma corrente elétrica. Magnetismo, propriedade que alguns minerais tem de ser atraídos por um campo magnético (ímã de mão). Exemplo: magnetita (Fe3O4) e pirrotita (Fe1-xSO). ATIVIDADE PRÁTICA - Mineralogia ALGUMAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS: Identificação de minerais 1. GENERALIDADES A determinação da espécie a que pertence um mineral pode ser facilmente reconhecida pelas suas propriedades e características físicas. Observando estas propriedades, você vai notar que os minerais são diferentes; quais são algumas destas diferenças e como identificá-las e registrá-las é o que você vai aprender hoje. 2. OBJETIVO Descobrir diferenças físicas apreciáveis que permitam distinguir uma espécie mineral de outra. 3. MATERIAL NECESSÁRIO Amostras de diferentes espécies minerais, imã, vidro plano e/ou canivete, placa de porcelana fosca (não brilhante), escala de dureza de Mohs. 4. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS Tomar uma das amostras que lhe foram apresentadas e anotar na folha de exercícios todas as propriedades físicas pedidas. Para relacionar as diversas características de cada mineral siga corretamente as instruções que se seguem e repita-as para cada amostra, como se indica: 4.1. Cor: dentro da série de cores que você conhece, escrever o nome da que mais se assemelha com a do mineral e, se possível, descrevê-la em suas nuanças (gradações de tons). Geologia Geral 19 4.2. Diafaneidade: observar se o mineral é transparente, translúcido ou opaco. 4.3. Brilho: pode ser metálico ou não-metálico. Se não-metálico, use os termos como vítreo, resinoso, adamantino, nacarado, sedoso, gorduroso, terroso etc para descrevê-lo. 4.4. Dureza: Escreva o grau de dureza do mineral segundo a escala de Mohs, classificando-o em dureza baixa (até 2.5), média (2.5 a 5.5) e dureza alta (acima de 5.5). 4.5. Traço: observar os resíduos deixados em conseqüência do atrito do mineral sobre uma placa de porcelana fosca e descrevê-los quanto sua cor (cor do traço ou do risco). 4.6. Magnetismo: só é preciso indicar se o mineral é ou não atraído por um imã. Escrever Sim ou Não. 4.7. Clivagem/Fratura: a clivagemé a propriedade apresentada por alguns minerais de se romper por superfícies planas. Para observar esta propriedade você não deve quebrar o mineral, porém deduzi-la pelo aspecto. Se o mineral não possuir clivagem, anote isto e procure classificá-lo quanto ao tipo de fratura. CLIVAGEM DOS MINERAIS: quanto à direção cristalográfica, número de direções e ângulos. Sistema Cristalino Termo descritivo da clivagem quanto à direção cristalográfica Número de Direções Ângulo de Clivagem Exemplos Cúbica 3 90º Galena Octaédrica 4 70º 31’ 45” Fluorita CÚBICO OU ISOMÉTRICO Dodecaédrica 6 60º Esfalerita Basal 1 - Apofilita Prismática 2 90º RutiloTETRAGONAL Piramidal 4 • 90º Scheelita Basal 1 - Berilo Prismática 3 60º NefelinaHEXAGONAL Romboédrica 3 • 90º Calcita Basal 1 - Barita Pinacoidal 1 - Estibinita Pinacoidal 3 90º AnidritaORTORRÔMBICO Prismática 2 • 90º Barita Basal 1 - Micas Clinopinacoidal 1 - Gipso Ortopinacoidal 1 - Bórax Basal e Clinopinacoidal 2 90º Ortoclásio MONOCLÍNICO Prismática 2 • 90º Anfibólio Basal 1 - Ambligonita Braquipinacoidal 1 - Axinita Basal e Braquipinacoidal 2 90º PlagioclásioTRICLÍNICO Todos os três pinacóides 3 • 90º Cianita Geologia Geral 20 ATIVIDADE – Propriedades físicas: (1) Nome do Mineral, (2) Cor, (3) Diafaneidade, (4) Brilho, (5) Dureza, (6) Traço, (7) Magnetísmo, (8) Clivagem/Fratura. AMOSTRA 1 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ AMOSTRA 4 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ AMOSTRA 2 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ AMOSTRA 5 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ AMOSTRA 3 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ AMOSTRA 6 1__________________________________ 2__________________________________ 3__________________________________ 4__________________________________ 5__________________________________ 6__________________________________ 7__________________________________ 8__________________________________ ADVERTÊNCIA: Compreendemos que para apreciar a dureza dos minerais, assim como seu traço, você terá necessidade de riscá-los. Procure que seja o menos possível, senão os seus colegas, em breve, não disporão de material para realizar esta prática. Muitos minerais são amostras de difícil reposição. Conto com sua compreensão. Obrigado. Geologia Geral 21 CAPÍTULO 3 – Rochas Rochas ((Unidades Formadoras da Crosta)) 1 – DEFINIÇÃO: as rochas são produtos consolidados, resultantes da união natural de minerais. Chama-se estrutura da rocha, o seu aspecto geral externo, que pode ser maciço, com cavidades, orientado ou não, etc. A textura se revela por meio da observação mais detalhada do tamanho, forma e relacionamento entre os cristais ou grãos constituintes da rocha. Minerais essenciais e minerais acessórios Os minerais essenciais são os minerais sempre presentes e mais abundantes em uma determinada rocha, são as suas proporções que determinam o nome da rocha. Os minerais acessórios podem ou não estar presentes na rocha, sem que isto modifique a classificação da rocha em questão. Obs: quando os minerais agregados pertencem á mesma espécie mineralógica, esta é classificada como monominerálica; quando os minerais forem de espécies diferentes estas se denominam pluriminerálica. Exemplos: Rochas Monominerálicas – Calcário, Mármore, Quatzito. Rochas Pluriminerálicas – Gnaisse, Gabro, Granito. 2 - CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA DAS ROCHAS É a classificação das rochas segundo característica semelhante, isto é, o modo de formação na natureza. ROCHAS ÍGNEAS OU MAGMÁTICAS As rochas ígneas ou magmáticas são aquelas que resultam do resfriamento de material rochoso fundido, chamado magma (Figura 2.12a; pg. 30). O magma origina-se a grandes profundidades, na parte inferior da crosta ou na porção superior do manto. O magma é uma mistura física e quimicamente complexa que pode ser definida da seguinte forma: “O magma é um fluido muito quente constituído predominantemente por uma fusão de silicatos e mostrando proporções variadas de água, elementos voláteis ou de cristais em processo de crescimento.” Origens e Tipos Fundamentais de Magmas De um modo geral, considera-se que existem apenas dois tipos fundamentais de magmas primários, ou seja, de magmas a partir dos quais se podem formar outros tipos, por diferenciação: - os magmas graníticos, que formam 95% das rochas intrusivas, plutônicas; - os magmas basálticos, que constituem 98% das rochas vulcânicas, também denominadas por efusivas ou extrusivas. Geologia Geral 22 Um magma é caracterizado pelos seguintes aspectos: (i) sua composição; (ii) sua temperatura (entre 500º C – 1400º C); e (iii) sua mobilidade, função de sua viscosidade, que dependerá de sua temperatura e de sua composição (magmas ácidos, ricos em sílica são mais viscosos / magmas básicos, pobres em sílica são menos viscosos) Quando o resfriamento ocorrer no interior do globo terrestre, a rocha resultante será do tipo ígnea intrusiva. O magma granítico está sempre relacionado com áreas em que houve formação de extensas cadeias de montanhas, como por exemplo, os Andes e os Alpes, zonas em que a crosta sofreu fenômenos de compressão, dobramento e afundamento, com evidências de que o magma é formado pela fusão parcial de rochas preexistentes (anatexia) a profundidades da ordem de 7 a 15 km. O granito é a rocha ígnea intrusiva mais abundante na crosta terrestre. Se o magma conseguir chegar a superfície, a rocha resultante será do tipo ígnea extrusiva ou vulcânica (Figura 2.12b; pg. 30). O magma basáltico parece originar-se em profundidades maiores, entre 90 e 100 km, ou seja, na porção superior do manto. A rocha vulcânica mais abundante é o basalto. Os magmas graníticos caracterizam-se, entre outros fatores, por uma composição mais rica em SiO2 (da ordem de 70%), e os basálticos, por uma proporção menor de SiO2, inferior a 50%. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS ÍGNEAS Os principais critérios de classificação são os seguintes: A) Modo de ocorrência (plutonismo ou vulcanismo); B) Texturas; C) Estruturas; D) Composição mineralógica e química. TEXTURAS – A textura de uma rocha ígnea é definida por, pelo menos, três critérios principais, descritos abaixo. E seu estudo é feito com auxílio de uma lupa ou de microscópios. 1º - O grau de cristalização pelo qual a rocha pode ser classificada em: (a) totalmente cristalizada ou holocristalina; (b) parcialmente cristalizada ou hipocristalina; (c) não cristalizada ou vítrea 2º - O tamanho dos cristais. Por este critério, a rocha classifica-se em: (a) fanerítica: quando os minerais constituintes podem ser percebidos a olho nu; (b) afaníticas: quando os minerais formam partículas tão pequenas que não podem ser percebidas a olho nu. Neste caso, a rocha apresenta aspecto maciço. 3º - O tamanho e relação mutua dos cristais, que permitem classificar as rochas em:(a) eqüigranulares: quando os cristais têm aproximadamente o mesmo tamanho; (b) ineqüigranulares: quando as partículas constituintes possuem tamanhos bem diferentes. Destaca-se a textura porfirítica, na qual existem cristais maiores e mais bem formados envoltos por aglomerados, freqüentemente afaníticos, ou de minerais menores. Geologia Geral 23 ESTRUTURAS: são aspectos megascópicos que podem ser observados em amostras grandes ou em campo, não têm subdivisão sistemática e são mais conspícuas nas rochas extrusivas. Exemplos: Estruturas vesiculares e amigdalóides – ocorrem em rochas vulcânicas que apresentam pequenas cavidades esféricas ou de outras formas originadas pela expansão dos gases quando de sua formação. Podem se apresentar vazias (vesículas) ou preenchidas por minerais secundários (amígdalas). Outra estrutura formada nos derrames que ocorrem no interior de corpos d’água é conhecida com o nome de almofadas ou pillow-lava. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA E QUÍMICA – o principal parâmetro químico é o relacionado com a quantidade de sílica da rocha. De acordo com tal parâmetro, as rochas podem ser divididas em: (a) Rochas ácidas – mais de 65% de SiO2; (b) Rochas intermediárias – 65 – 55 % de SiO2; (c) Rochas básicas – 55 – 45% de SiO2; (d) Rochas ultrabásicas – menos de 45% de SiO2. Esse critério não é de fácil aplicação, pois se faz necessário a determinação o teor de sílica das rochas por meio de análises químicas laboratoriais. A composição mineralógica é um critério fundamental para a classificação das rochas ígneas. Os minerais mais importantes para este fim são: o quartzo, os feldspatos (alcalinos e plagioclásios), os minerais ferromagnesianos (anfibólios e piroxênios) e a biotita. De acordo com a cor dos minerais supracitados pode-se inferir a classificação da rocha quanto ao teor de sílica, conforme a tabela abaixo. Mineral / Ocorrência Cor Classificação Quartzo é sílica livre cristalizada clara Rochas ricas em quartzo tendem a ser ricas em SiO2, logo são ácidas. Feldspatos – possuem pouca sílica clara Rochas com feldspato e sem quartzo são geralmente intermediárias à básicas. Minerais ferromagnesianos e biotita são pobres em sílica escuros Quanto maior a proporção desses minerais em relação aos feldspatos, mais a rocha tende a ser básica. As rochas ultrabásicas são constituídas quase totalmente por minerais ferromagnesianos. PRINCIPAIS ROCHAS ÍGNEAS ROCHAS Ácidas Intermediárias Básicas Ultra- básicas Plutônicas (apresenta textura fanerítica eqüigranular / consolidada em regiões profundas da crosta). Granito Sienito Gabro Peridotito Piroxenito Dunito Hipabissais (apresenta textura porfirítica ou microgranular / consolidada em regiões rasas da crosta). Granito porfirítico Diorito porfirítico Diabásio - Vulcânicas (apresenta textura afanítica, vesicular ou amigdalóide / consolidadas na superfície da crosta). Riolito Andesito Basalto - Embora não seja regra geral, as rochas claras tendem em geral são ácidas a intermediárias, enquanto as escuras tendem a ser básicas a ultrabásicas. Geologia Geral 24 ROCHAS SEDIMENTARES São rochas formadas a partir da compactação e/ou cimentação de fragmentos produzidos pela ação dos agentes do intemperismo e pedogênese, sobre uma rocha preexistente, e após serem transportados pela ação dos ventos, das águas, que escoam a superfície, ou pelo gelo, do ponto de origem até o ponto de deposição. Para que exista uma rocha sedimentar é necessário que exista uma rocha anterior, podendo ser ígnea, metamórfica ou mesmo sedimentar, fornecendo sedimentos (partículas e/ou compostos químicos dissolvidos) através do intemperismo, que serão as matérias primas da futura rocha sedimentar (Figura 2.12c; pg. 30). Os sedimentos recém-formados são moles e inconsolidados como a areia de uma praia ou a argila de um manguezal. Com o passar do tempo e a evolução geológica, entretanto, especialmente em zonas em que a crosta está sofrendo afundamento lento (subsidência), novas camadas de sedimentos vão se acumulando sobre as mais antigas, e assim vão se criando espessas formações de sedimentos que podem atingir centenas e até milhares de metros de espessura. Sob o efeito do peso das novas camadas, a água é expulsa e os sedimentos mais antigos vão endurecendo, sofrem a litificação, até voltarem à forma de rochas duras: as rochas sedimentares. A litificação ou diagênese ocorre em condições geológicas de baixa pressão (peso dos sedimentos posteriores) e baixa temperatura (~ 25º C). Os mais importantes fenômenos de litificação ou diagênese são os seguintes: Compactação: redução volumétrica causada principalmente pelo peso das camadas superpostas e relacionada com a diminuição dos vazios, expulsão de líquidos e aumento da densidade da rocha. É o fenômeno típico dos sedimentos finos, argilosos. Cimentação: deposição de minerais nos interstícios do sedimento, produzindo a colagem das partículas constituintes. É o processo de agregação mais comum nos sedimentos grosseiros e arenosos. Recristalização: mudanças na textura por interferência de fenômenos de crescimento dos cristais menores ou fragmentos de minerais até a formação de um agregado de cristais maiores. É o processo comum nos sedimentos químicos. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ROCHAS SEDIMENTARES 1. Rochas clásticas ou detríticas Representam cerca de 80% das rochas sedimentares. São originadas pela acumulação e posterior diagênese de materiais granulares resultantes da ação do intemperismo das rochas preexistentes. A classificação mais comum das rochas clásticas se baseia na granulometria (tamanho dos grãos). Uma classificação desse gênero, completada por outras características é encontrada na Figura 5.2. 2. Rochas sedimentares químicas São formadas de substâncias em soluções iônica ou coloidal através de processos químicos variadas, e se depositam pela evaporação e precipitação. A precipitação produz materiais finamente cristalizados ou amorfos. A evaporação pode produzir cristais maiores, como acontece com depósitos de sal ou gipsita. Geologia Geral 25 A classificação desses sedimentos é usualmente baseada na composição química. Uma das mais simples é apresentada a seguir: (a) Sedimentos carbonáticos: formados pela precipitação de carbonatos variados, em ambiente marinho, principalmente carbonato de cálcio e magnésio, dando origem a calcários, dolomitos e rochas similares. (b) Sedimentos ferríferos: formados pela deposição de hidratos férricos coloidais. Em meios oxidantes, formam-se acumulações hematíticas ou limoníticas. Em meios redutores, formam-se acumulações de pirita e siderita. (c) Sedimentos silicosos: são depósitos de sílica criptocristalina (calcedônia) e quartzo microcristalino sob a forma de sílex. Ocorrem sob a forma de camadas ou nódulos dentro de camadas de calcário ou outros sedimentos. (d) Sedimentos salinos ou evaporíticos: são depósitos de cloreto de sódio, potássio, sulfatos, carbonatos, boratos, sílica e outros sais comumente relacionados a evaporação exagerada do solvente. Forma-se em braços de mar, mares interiores, lagos salgados, etc, formando os depósitos de evaporitos. 3. Rochas orgânicas Depósitos formados pela acumulação e posterior diagênese de material orgânico de animais e vegetais. Se o material acumulado é predominantemente formado por matéria carbonosa e ácidos húmicos provenientes do tecido lenhoso e vascular dos vegetais terrestres, depositados em ambientes continentais redutores, com maior ou menor teor de argila, tais como: pântanos, planícies costeiras, alagadiços, etc., será formada a turfa. Com a evolução diagenética, a turfa passa a outras formas cada vez mais ricas em carbono chamadas linhito, hulha e antracito (carvão). Quando a matéria orgânica que se acumula é predominantemente constituída por seres aquáticos como algas, plâncton, e a sua deposição ocorre em lagunas costeiras ou mares rasos semifechados, os sedimentos que se formam são denominados sapropélicos, e de sua diagênese e evolução se formam os folhelhos betuminosos, os folhelhos orgânicose o petróleo. NOMES DOS SEDIMENTOS OU ROCHAS SEDIMENTARESGRUPOS PRINCIPAIS GRANULOMETRIA (Wentworh) (mm) SEDIMENTOS NÃO CONSOLIDADOS ROCHAS SEDIMENTARES CORRESPONDENTES OUTRAS CARACTERÍSTICAS 256 MATACÕES 64 – 256 Blocos ou CASCALHO GROSSO 4 – 64 Seixos ou CASCALHO FINO SEDIMENTOS DE GRANULAÇÃO GROSSEIRA OU PSEFITOS 2 – 4 GRÂNULOS Conglomerados E Brechas São geralmente formados por fragmentos de rocha ou matriz arenosa ou síltica. As variedades com partículas arredondadas são os CONGLOMERADOS. Quando as partículas são irregulares, tem-se brecha. ¼ - 2 AREIA GROSSA ARENITOS GROSSEIROS SEDIMENTOS DE GRANULAÇÃO MÉDIA OU PSAMITOS 1/16 – ¼ AREIA FINA ARENITOS FINOS As areias são predominantemente formadas por quartzo. Por cimentação, formam os arenitos. Arenitos com 25% ou mais de feldspato denominam-se ARCÓSIOS. 1/256 – 1/16 SILTE SILTITOS E FOLHELHOS Os siltes são formados por minerais finamente moídos (pó de rocha) e a compactação forma os SILTITOS.SEDIMENTOS DE GRANULAÇÃO FINA OU PELITOS 1/256 ARGILA ARGILITO E FOLHELHOS As argilas são predominantemente compostas por argilominerais e são plásticas. Os argilitos são mais maciços e os folhelhos apresentam foliação. Fig. 5.2 Classificação dos principais tipos de sedimentos clásticos segundo o tamanho dos grãos. CICLO SEDIMENTAR ROCHA PREEXISTENTE (Ígnea, Sedimentar ou metamórfica) INTEMPERISMO FÍSICO (detritos – fragmentos de todos os tamanhos) QUÍMICO (soluções de Ca, Na, Mg, K, SiO2, argilas e óxidos de ferro) TRANSPORTE POR GRAVIDADE (água, gelo, vento, etc) EM SOLUÇÃO (rios, mares, lagos, ambientes aquosos) DEPOSIÇÃO SEDIMENTAÇÃO (continental, começa a compactação) PRECIPITAÇÃO (em solução, precipitação em ambiente aquoso) DIAGÊNESE OU LITIFICAÇÃO ROCHA SEDIMENTAR ROCHAS CLÁSTICAS (sedimentos clásticos ou detríticos - arenitos, conglomerados, folhelhos, etc..) ROCHAS NÃO CLÁSTICAS (precipitados químicos e orgânicos – calcários, dolomitos, sal, carvão, etc..) ROCHAS METAMÓRFICAS São rochas que resultam da transformação de uma rocha preexistente no estado sólido. O processo geológico de transformação se dá por aumento de pressão e/ou temperatura da rocha preexistente, sem que o ponto de fusão dos seus minerais seja atingido. Dependendo dos valores alcançados pela variação de pressão e temperatura tem-se metamorfismo regional de baixo, médio e alto grau. As principais rochas metamórficas se formam no metamorfismo regional. Muitas rochas metamórficas são reconhecidas graças a sua estrutura de foliação, ou seja, a orientação preferencial que os minerais placóides (como as micas) assumem, bem como a sua estrutura de camadas dobradas (Figura 2.12 d; pg. 30). Geologia Geral 27 Tipos de metamorfismo (figura 18.10): Regional – ocorre em grandes extensões da superfície terrestre, em conseqüência de eventos geológicos de grande porte, Exemplo: edificação de cadeias de montanhas; Local (termal ou de contato) – restringe-se a domínios do terreno que variem entre centímetros a dezenas de metros. Quando o aumento de temperatura predomina, temos o metamorfismo termal ou de contato. Exemplo: as rochas regionais submetidas ao contato com uma câmara magmática. As rochas resultantes são chamadas de hornfels; Dinâmico ou cataclástico – predomina o aumento de pressão no fenômeno de transformação das rochas, como em zonas de falha; Soterramento – é uma forma de metamorfismo regional que pode ocorrer quando uma secessão sedimentar ou vulcano-sedimentar muito espessa se desenvolve numa bacia subsidente, de modo que as condições metamórficas de baixo grau são atingidas na base da bacia; Hidrotermal – envolve a mudança química como parte integral do processo e é o resultado da circulação de água quente ao longo de um corpo de rocha através de fissuras e fraturas. É um processo importante em campos geotermais, entretanto é provável que o tipo mais importante ocorra no fundo oceânico, caracterizando um tipo particular de metamorfismo hidrotermal, o metamorfismo de Fundo Oceânico; Metamorfismo de Impacto – de extensão reduzida na crosta terrestre, esse tipo de metamorfismo desenvolve-se em locais submetidos ao impacto de grandes meteoritos. Geologia Geral 28 Fig. 18.10 – Representação esquemática dos diferentes tipos de metamorfismo: a) Metamorfismo regional ou dinamotermal; b) Metamorfismo de contato ou termal; c) Metamorfismo dinâmico ou cataclástico; d) Metamorfismo de soterramento; e) Metamorfismo hidrotermal; f) Metamorfismo de fundo oceânico; g) Metamorfismo de impacto. GRAU METAMÓRFICO A intensidade do metamorfismo é referida tradicionalmente como grau metamórfico: alto grau implica em condições enérgicas, de altas temperaturas, enquanto baixo grau define condições brandas, de temperaturas mais baixas. Entre os dois extremos, encontra-se o metamorfismo de médio grau. Fala-se ainda de grau incipiente quando as condições metamórficas foram muito brandas, no limiar da diagênese e metamorfismo. Considerando o aumento do grau metamórfico de um folhelho, teremos a formação das seguintes rochas metamórficas: FOLHELHO ARDÓSIA FILITO XISTO GNAISSE As reações que ocorrem durante os processos metamórficos dependem da composição química. A composição mineralógica é o critério essencial para a nomenclatura de algumas rochas, principalmente as monominerálicas, tais como: - Quartzitos: originados do metamorfismo dos arenitos, são constituídos por quartzo. - Mármores: originados dos calcários, são constituídos por carbonatos. - Talco xistos: rochas constituídas por talco são denominadas esteatitos (pedra sabão) quando maciças ou talco xistos, quando foliadas. - Serpentinitos: rochas constituídas predominantemente por minerais do grupo da serpentina. Geologia Geral 29 - Anfibolitos: originados do metamorfismo de rochas ígneas básicas, como basaltos e gabros (ortoanfibolitos), ou menos frequentemente, de margas, que são rochas sedimentares mistas, carbonáticas e argilosas (para-anfibolitos). São rochas ricas em anfibólios verdes (actinolita ou hornblenda), além de plagioclásio, podendo conter ainda quartzo, granada, biotita ou epidoto. Uma categoria especial de rochas metamórficas é formada pela atuação combinada da fragmenteção (cataclase) e da recristalização (blastese) dos minerais durante o metamorfismo dinâmico. Essas rochas são denominadas cataclásticas e podem ser subdivididas em dois grupos: um com estrutura não orientada, brechas de falha e cataclasitos; e o outro apresenta estrutura orientada, composta por milonitos. Quando a temperatura do metamorfismo ultrapassa certo limite, determinado pela natureza química da rocha e pela pressão vigente, freqüentemente na faixa de 700 – 800ºC, as rochas começam a se fundir, produzindo novamente um magma (Figura 2.12e; pg. 30). 3- DISTRIBUIÇÃO E RELAÇÃO DAS ROCHAS NA CROSTA TERRESTRE A crosta terrestre está dividida em crosta continental, que corresponde às áreas continentais emersas, e crostas oceânicas, que constitui os assoalhos oceânicos. Tanto uma como a outra são formadas de rochas. Estudos da distribuição litológica da crosta continental indicam que 95% do seu volume total correspondem a rochas cristalinas, ou seja, rochas ígneas e metamórficas e apenas 5% a rochas sedimentares. Considerando a distribuição destas rochas em área de exposição rochosa superficial, os números modificam para 75% de rochas sedimentares e 25% de rochas cristalinas. Isto significa que as rochas sedimentares se dispõem sobre as ígneas e metamórficas, consideradas principais na constituição litológica da crosta continental. 4 – O CICLO DAS ROCHAS As atuais rochas ígneas superficiais da Terra estão sofrendo o constante ataque dos agentes intempéricos – os componentes atmosféricos O2 e CO2, a água e os organismos – que lentamente reduzem-nas a material fragmentar, incluindo detritos sólidos da rocha original como os novos minerais formados durante o intemperismo (Figura 2.12b). A ação de agentes de erosão e transporte – a água corrente, os ventos ou o gelo – redistribuio material fragmentar através da superfície, depositando como sedimentos (Figura 2.12c), inconsolidados no início. Transforma-se em rochas sedimentares, porém, pela compactação dos fragmentos e expulsão de água intersticial e pela cimentação dos fragmentos uns com os outros. As rochas sedimentares, por sua vez, por aumento de pressão e temperatura, gerarão as rochas metamórficas (Figura 2.12d). Ao aumentar a pressão e, especialmente, a temperatura, em determinado ponto ocorrerá a fusão parcial (Figura 2.13e) e novamente a possibilidade de formação de uma rocha ígnea, dando-se início a um novo ciclo. Geologia Geral 30 Geologia Geral 31 CAPÍTULO 4 - Estruturas em RochasEstruturas em Rochas ((Dobras e Falhas) Os esforços produzidos nas rochas da crosta podem gerar efeitos de fraturamentos, falhamentos ou dobramentos. Tais efeitos dependem da intensidade, da duração e da direção dos esforços. A competência da rocha também é fator importante no tipo de estrutura produzida. Rocha competente – é aquela que oferece grande resistência aos esforços submetidos. Exemplos: calcários, arenitos, quartzitos. Rocha incompetente – são plásticas (dúcteis), oferecem pouca resistência aos esforços aplicados e, portanto, dobram-se facilmente. Exemplos: folhelhos, siltitos, filitos, xistos. DOBRAS Dobramentos são mais evidentes nas rochas estratificadas, bandadas ou folhadas. As dobras resultam de deformações dúcteis nas rochas da crosta terrestre. COMPONENTES DAS DOBRAS – Figura 19.6 Superfície axial – é o plano que divide a dobra simetricamente em duas partes. A superfície axial em algumas dobras pode ser vertical, inclinado ou horizontal. Linha de charneira ou eixo – resulta da interseção do plano axial com uma camada qualquer. Ele é representado por uma linha. O eixo em algumas dobras pode ser vertical, inclinado ou horizontal. Flancos – os dois lados de uma dobra são denominados flancos. Logo um flanco se estende do plano axial de uma dobra até o plano axial da dobra seguinte. Zona de Charneira ou Crista – é a porção mais elevada de uma dobra, podendo eventualmente ser ao mesmo tempo eixo da dobra. CLASSIFICAÇÃO DAS DOBRAS Podem ser classificadas em dois tipos: atectônicas e tectônicas. Geologia Geral 32 Atectônicas: relacionadas com a dinâmica externa do planeta. São formadas na superfície ou próximas a ela, em condições muitos semelhantes as condições ambientes, sendo desencadeadas pela ação da força da gravidade. Essas dobras podem ser formadas a partir de sedimentos saturados em água, os quais após, após rompimento da força de coesão entre grãos, adquirem fluidez e se movimentam num meio de menor densidade, em geral aquoso. Tectônicas: relacionadas com a dinâmica interna. São formadas sob condições variadas de esforço, temperatura e pressão (hidrostática, de fluidos), sendo relacionadas, em particular, com processos de formação de cadeias de montanhas. Geradas por dois mecanismos básicos: flambagem e cisalhamento (Figura 19.8). Na flambagem ocorre o encurtamento das camadas perpendicularmente à superfície axial das dobras, preservando, porém a espessura e o comprimento das mesmas. Contrariamente, dobras formadas por mecanismos de cisalhamento simples não envolvem o encurtamento ortogonal às camadas, pois os planos de deslizamento são ortogonais ou oblíquos às mesmas. As dobras formadas por cisalhamento são acompanhadas de mudanças de espessura e comprimento das camadas. As dobras são classificadas segundo seu aspecto morfológico, posição do eixo e plano. Geologia Geral 33 • Classificação com base na linha de charneira: horizontais, verticais e inclinadas (Figura 19.10). • Classificação de dobras com base na superfície axial: normal, recumbente e inversa (Figura 19.12). •• Classificação com base em critérios geométricos e estratigráficos: Geologia Geral 34 Um critério geométrico muito simples para classificar dobras é quanto ao sentido de fechamento de uma superfície dobrada. Segundo este critério, temos: antiforme representados por dobras com fechamento para cima ou sinforme, com fechamento para baixo. (Figuras 19.18a e 19.18b). No que se refere ao critério estratigráfico, as dobras podem ser classificadas em anticlinal e sinclinal, entretanto por se tratar de uma classificação muito antiga e que nem sempre é seguida, ela passa a ter o mesmo significado da classificação acima. Anticlinal: é uma dobra convexa para cima na qual as camadas se inclinam de maneira divergente a partir de um eixo. Possuem camadas de rochas mais antigas na sua porção interior. Sinclinal: é uma dobra côncava para cima na qual as camadas se inclinam de modo convergente, formando uma depressão. Caracteriza-se ainda por possuir camadas de rochas mais jovens na sua parte interior (Figura 19.19). FALHAS Geologia Geral 35 As falhas resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre. A condição básica para a existência de uma falha é que tenha ocorrido deslocamento ao longo de uma superfície. Contudo se ocorrer o movimento perpendicular à superfície, a estrutura receberá o nome de fratura. ELEMENTOS DAS FALHAS – Figura 19.21 Plano de falha: é a superfície decorrente do falhamento e na qual os blocos se deslocam. Linha de falha: é a linha que resulta da interseção do plano de falha com a superfície do terreno. Teto ou capa: é o bloco que se acha na parte superior de um plano de falha inclinado. Muro ou lapa: é o bloco que se acha na parte inferior de um plano de falha inclinado. REJEITOS DE FALHA. É a medida do deslocamento linear de pontos originalmente contíguos. Existem vários tipos de rejeito (Figura 19.26). CLASSIFICAÇÃO GEOMÉTRICA DAS FALHAS Geologia Geral 36 Essa classificação considera o mergulho (inclinação vertical) do plano de falha, a forma da superfície de falha, o movimento relativo entre os blocos e o tipo de rejeito: A) Quanto ao mergulho da superfície de falha: - falhas de alto ângulo: quando o mergulho do plano de falha é superior a 45º; - falhas de baixo ângulo: quando o mergulho do plano de falha é inferior a 45º. B) Quanto a forma da superfície de falha: essa classificação divide as falhas em planares e curvas. - falhas planares: quando a variação da direção da superfície encontra-se no intervalo de aproximadamente 5º. Essa superfície pode ser vertical ou inclinada; - falhas curvas: são denominadas falhas lístricas (Figura 19.31). Fig. 19.31 – Bloco diagrama mostrando uma falha lístrica. C) Quanto ao movimento relativo (Figura 19.32): falha normal (ou de gravidade – a capa é o bloco que desce em relação à lapa), falha inversa (reversa ou falha de empurrão – a capa é o bloco que sobe em relação à lapa), falha transcorrente e falha oblíqua. D) Quanto ao rejeito: - nas falhas normais e reversas (ou inversas), o rejeito total corresponde ao rejeito de mergulho. Geologia Geral 37 - nas falhas transcorrentes, o rejeito total corresponde ao rejeito direcional. - nas falhas oblíquas, o rejeito é o total. SISTEMAS DE FALHAS Graben ou fossa tectônica: é uma depressão estrutural (blocos rebaixados), ocasionada por falhamentos. Trata-se de uma estrutura regional. Um exemplo brasileiro é o Half Graben do Recôncavo (Figura 19.35). Horst ou muralha: é uma elevação estrutural alongada (blocos elevados), ocasionada por falhamentos. As figuras desse capítulo também foram extraídas do Decifrando a Terra / Teixeira, Toledo, Fairchild e Taioli – São Paulo: Oficina de Textos, 2000. CAPÍTULO 5 - Estrutura Interna da TerraEstrutura Interna da Terra Geologia Geral 38 SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA Os fenômenos naturais que ocorrem repentinamente, sem nenhum aviso prévio, provocando violentos tremores de terra, são freqüentes em muitos locais do planeta. Estes fenômenos, apesar de causarem temor e destruição, evidenciam o caráter dinâmico do planeta. As forças internas da Terra podem causar rupturas na superfície da ordem de quilômetros de extensão, com deslocamento lateral de vários metros. Estes fenômenos naturais são conhecidos como terremotos e demonstramo caráter dinâmico da Terra. O registro de milhares de terremotos distribuídos em todo o mundo definiu as várias placas que formam a casca rígida da Terra. Estas placas são denominadas placas litosféricas. A delimitação das placas litosféricas, a distribuição dos terremotos e o estudo da propagação das ondas sísmicas pelo interior do planeta revelaram a estrutura interna da Terra. A falta de registros de sismos destrutivos históricos no Brasil determinou um caráter assísmico do país. Este caráter foi mudado a partir da década de 70 quando vários estudos sismológicos demonstraram que apesar da baixa ocorrência de sismos, estes não podem ser desprezados. As ocorrências destes sismos são resultadas de forças geológicas que atuam em toda placa que contém o continente sul-americano. A sismicidade que mais ocorre no Brasil é causada pela implantação de reservatórios para hidrelétricas. Terremotos: como as placas litosféricas estão em contínuo movimento em deferentes direções, que são da ordem de alguns centímetros por ano. Estes movimentos provocam tensões, compressivas ou distensivas, que vão se acumulando. Quando as tensões atingem o limite de resistência das rochas, ocorre então uma ruptura e o movimento repentino dos blocos de cada lado da ruptura geram então vibrações que se propagam em todas as direções. O plano formado pela ruptura é chamado de falha geológica (Figura 3.2). Os terremotos ocorrem mais freqüentemente no contato entre as placas litosféricas, como também no interior de uma delas, sem que haja uma ruptura na superfície. Hipocentro ou foco: ponto onde se inicia a ruptura e a liberação das tensões acumuladas. Epicentro: é a projeção do hipocentro na superfície. Profundidade focal: distância entre o foco e a superfície. Abalos ou tremores de terras são eventos de menor poder destrutivo, porém resultado do mesmo processo geológico de acúmulo lento e liberação rápida de tensões que ocorrem nos terremotos. Ondas sísmicas (Figura 3.4): quando acontece uma ruptura na litosfera, são geradas vibrações sísmicas que se propagam em todas as direções na forma de ondas. Estas ondas causam danos perto do epicentro e podem ser registradas por sismógrafos espalhados pelo mundo. Como as ondas são transmitidas pelo interior da Terra, as vibrações transmitidas nesta primeira onda são paralelas à direção de propagação. Esta primeira onda é, portanto, longitudinal e é denominada onda P. A segunda onda a vibração é perpendicular á direção de propagação é denominada onda transversal ou onda S. Geologia Geral 39 Numa onda sísmica há transmissão de vibração das partículas e deformação do meio. As ondas P correspondem a deformações de dilatação/compressão. As ondas S correspondem a deformações tangenciais e são conhecidas também como cisalhamento. A velocidade de propagação da onda P é maior que a da onda S, por este motivo é a primeira a chegar. O som que se propaga no ar também é devido à onda P, da mesma forma no meio líquido. A onda S, por outro lado só se propaga em meio sólido. As velocidades e propagação das ondas P e S dependem do meio por onde elas passam, quanto maior for à densidade de uma rocha, maior será a velocidade das ondas sísmicas. Esta propriedade foi utilizada no estudo da composição e estrutura do interior da Terra. Estudos utilizando vibrações artificiais por explosões controladas possibilitaram a determinação de estruturas geológicas importantes no processo de exploração de petróleo, como também na busca de água subterrânea. Em escala global, os registros dos terremotos em uma rede de estações sismográficas permitem também conhecer as velocidades sísmicas no interior da Terra e estudar a estrutura, a composição e a evolução atual do nosso planeta. As ondas P e S são ondas que se propagam em todas as direções dentro de um meio, desta forma são denominadas ondas internas. Existe também uma maneira especial de propagação que ocorre na superfície da Terra, as ondas que produzem este tipo de vibração são conhecidas como ondas superficiais. São dois os tipos de ondas superficiais: Love – que corresponde a superposição de ondas S com vibrações horizontais concentradas nas camadas mais internas da Terra. Rayleigh – que corresponde a combinação de vibrações P e S contidas no plano vertical. Geologia Geral 40 OBS: As ondas Love, em geral, têm velocidade de propagação maior do que as ondas Rayleigh. AS PRINCIPAIS CAMADAS DA TERRA A determinação da estrutura e composição das partes mais profundas da Terra é uma tarefa complexa, a maior dificuldade encontrada está nas limitações tecnológicas para enfrentar as altas temperaturas e pressões a grandes profundidades. A sondagem mais profunda atingida até o presente momento é de 12 km (em Kola na Rússia), considerada muito pequena se comparada ao raio da Terra, que é de 6.370 km. Desta forma, o estudo das ondas sísmicas nos permitem deduzir várias características das partes internas da Terra atravessadas por estas ondas. Lei de Snell - A direção de propagação das ondas sísmicas muda (refrata) ao passar de um meio com velocidade V1, para outro com velocidade V2. As ondas sísmicas podem sofrer refração e reflexão; e numa interface separando dois meios diferentes há também conversão de uma onda P para S e de uma onda S em P. No caso em que a velocidade aumenta gradualmente com a profundidade, em uma sucessão de infinitas camadas finas, as ondas percorrem uma trajetória curva. Ao encontrar uma descontinuidade no interior da Terra, separando dois meios com diferentes materiais, sendo de menor velocidade o da camada inferior, a trajetória da onda se aproxima da normal à interface. Desta forma o raio sísmico se afasta do raio sísmico da primeira camada, criando uma interrupção da curva tempo-distância, conhecida também como zona de sombra. As ondas da camada mais profunda formam um raio mais atrasado com relação ao ramo mais raso. O núcleo da Terra foi descoberto através destas observações. MODELOS DE ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA A observação de milhares de terremotos durante muitas décadas permitiu construir as curvas de tempo-distância de todas as ondas refratas e refletidas no interior da Terra e deduzir a sua estrutura principal: crosta, manto, núcleo interno e núcleo externo (Figura 3.11). Geologia Geral 41 CROSTA: é a primeira camada superficial, com espessuras variando de 25 a 50 km nos continentes e de 5 a 10 km nos oceanos. As velocidades das ondas P variam entre 5,5 km/s na crosta superior a 7 km/s na crosta inferior. MANTO: as velocidades de propagação das ondas P aumentam até 2.950 km e vão de 8 km/s logo abaixo da crosta até 13,5 km/s. Zona de sombra: nas curvas de tempo/distância a interrupção da onda P á distância de 105º e o atraso do ramo PKP entre 120º a 180º determinam esta zona. NÚCLEO: as ondas PKP atravessam esta região de menor velocidade dos que as observadas no manto a profundidades maiores que 2.950 km. O núcleo é divido em núcleo interno, com velocidades em pouco maiores que as do núcleo externo. No núcleo externo, não há propagação de ondas S, o que mostra que ele deve estar em estado líquido, razão pela qual a velocidade da onda P é bem menor que no manto sólido. Estas características das velocidades sísmicas baixas e densidades altas indicam que o núcleo é composto predominantemente de ferro. O núcleo terrestre é composto por uma liga metálica de Fe e Ni, que deve incorporar algum elemento de nº atômico baixo, tais como: Hidrogênio, Oxigênio, Sódio, Magnésio e Enxofre. O núcleo interno é sólido e deve crescer lentamente pela solidificação no núcleo externo. Sabe-se que o núcleo interno gira com velocidade maior que a do resto do planeta que sugere que numa época anterior todo o planeta girava com maior rapidez. Por estar isolado pelo núcleo externo líquido, o núcleo interno mantém sua velocidade. LITOSFERA E CROSTA: a grande diferença entre as velocidades sísmicas da crosta e do manto indica uma mudança de composição química das rochas. A descontinuidade entre a crosta e o manto é chamadade Mohorovicic (ou simplesmente, Moho). A composição química das rochas do manto varia pouco comparada com a da crosta. Esta “zona de baixa velocidade” abaixo dos 100 km é causada pelo fato de uma pequena fração das rochas estarem fundidas (fusão parcial), diminuindo bastante a rigidez do material. Desta maneira, a crosta junto com uma parte do manto acima da zona de baixa velocidade, forma uma camada mais dura e rígida, chamada de litosfera. Nesta zona de baixa velocidade, chamada de astenosfera, as Geologia Geral 42 rochas são mais maleáveis (plásticas). As placas tectônicas (ou litosféricas) são pedaços de litosfera que se movimentam sobre a astenosfera. ISOSTASIA E GRAVIDADE O conceito de isostasia baseia-se no principio de equilíbrio hidrostático de Arquimedes, no qual um corpo ao flutuar desloca uma massa de água equivalente a sua. Este conceito pode ser aplicado a uma cadeia montanhosa, ela se comportaria como uma rocha flutuando em água. Partindo deste princípio podemos dizer que a camada superficial da Terra flutua sobre um substrato mais denso. Esta camada corresponde à crosta e ao manto superior, que integram a litosfera, o substrato denso seria então a astenosfera. A astenosfera comporta-se como um fluido viscoso onde ocorrem às deformações plásticas na escala do tempo geológico. O equilibro isostático é atingido quando um acúmulo de carga ou perda de massa na parte emersa é contrabalançada, seja por uma perda de massa ou acúmulo de carga na parte submersa. Compensação isostática: são duas as hipóteses existentes e ambas consideram a superfície da Terra suficientemente rígida e menos densa que o substrato plástico para preservar as feições topográficas. Modelo de Airy – as montanhas são mais altas por possuírem raízes mais profundas, da mesma forma que um imenso bloco de gelo flutuando no mar (Figura 4.7). E s t r ut ur a I nt er na da T er r a: modelo clás s ico de pr imeira ordem, em camadas concêntr icas , obtido a par tir das velocidades das ondas s ísmicas . Geologia Geral 43 Modelo de Pratt – as montanhas são elevadas por serem compostas por rochas de menor densidade do que as existentes nas regiões vizinhas, havendo neste caso diferenças laterais na densidade (Figura 4.8). Os dois modelos de compensação isostática operam simultaneamente. As montanhas possuem raízes profundas compostas de rochas com densidade relativamente baixa, fazendo com que a crosta e a litosfera sejam mais espessas nessas regiões, conforme o modelo de Geologia Geral 44 Airy. Por outro lado, a crosta oceânica situa-se em níveis topográficos mais baixos do que a crosta continental devido a sua maior densidade, conforme previsto pelo modelo de Pratt (Figura 4.9). A litosfera, de forma geral, pode suportar grandes esforços sem sofrer deformação. Em algumas situações geológicas, quando a carga é muito elevada ou removida da litosfera, ocorre deformação. Um exemplo de adição de massa é o extravasamento de grandes quantidades de basalto em províncias ígneas, pela sedimentação ou pela formação de calotas polares. Esse fenômeno é conhecido como subsidência. O processo oposto, soerguimento, resulta da remoção de uma carga existente na superfície da crosta, como nos casos do degelo das calotas glaciais ou da intensa erosão em áreas montanhosas. Um exemplo deste movimento ocorre na Escandinávia onde o desaparecimento do gelo que existia há cerca de 10.000 anos, nesta região a taxa de soerguimento é de 1 cm / ano. O retorno ao equilíbrio isostático levará muito tempo para ser atingido. A falta de equilíbrio isostático pode ser detectada pela presença de anomalias de gravidade (Figura 4.10). Geologia Geral 45 A FORMA DA TERRA Como a intensidade da gravidade é maior nos pólos do que Equador, a Terra não possui forma totalmente esférica, sendo que o seu raio equatorial (6378 km) é ligeiramente maior do que o raio polar (6357 km). Portanto, a Terra possui a forma de um esferóide achatado nos pólos, e isso explica, por exemplo, por que um objeto é levemente mais pesado nos pólos do que no Equador. O CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA O magnetismo terrestre pode ser medido através de um instrumento chamado bússola, conhecido há muitos séculos e utilizado para orientação. Este instrumento consiste em uma agulha imantada, livre para girar no plano horizontal e que é atraída pelos pólos magnéticos da Terra. Em 1838 Carl Friedrich Gauss, através de uma análise matemática de medidas sistemáticas, mostrou que 95% do campo magnético da Terra origina-se no seu interior e Geologia Geral 46 somente uma pequena parte restante provém de outras fontes. Gilbert, por sua vez, concluiu em seus estudos que o campo magnético da Terra é semelhante ao da esfera de magnetita, o que equivale a dizer que a Terra é uma esfera uniformemente magnetizada. O campo magnético terrestre é equivalente ao campo de um dipolo, cujo eixo faz um ângulo de 11,5º com o eixo de rotação da Terra e que está um pouco afastado de seu centro. Por esta razão, a agulha de uma bússola, em geral, não aponta para o norte, mas sua direção faz um ângulo com a direção norte-sul. Esse ângulo de desvio da agulha é conhecido com declinação magnética. Uma agulha imantada livre para girar em torno do eixo horizontal não permanece na horizontal, ela acompanha as linhas de força do campo magnético (Figura 4.11). Os pólos magnéticos estão localizados aproximadamente 78º N 104º W e 65º S 139º E, portanto não são diametralmente simétricos. Desta forma, a melhor representação do campo magnético terrestre é a de um dipolo cujo eixo está deslocado em relação ao centro da Terra de 490 km. Este dipolo é chamado dipolo excêntrico. Os pólos magnéticos migram a uma velocidade de cerca de 0.2º por ano ao redor do pólo geográfico em geral sem se afastar mais do que 30º deste último, porém descrevendo uma trajetória irregular. Assim é que a declinação magnética de um local muda continuamente, aumentando ou diminuindo. Torna-se então necessário corrigir o valor da declinação magnética de um ponto da superfície terrestre a cada cinco anos aproximadamente. Os pólos magnéticos levam alguns milhares de anos para percorrer os 360º de trajetória ao redor dos pólos geográficos. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE CAMPO MAGNÉTICO TERRESTRE BÚSSOLA 1 – Generalidades Geologia Geral 47 Bússola é um instrumento destinado a medidas de ângulos e à orientação, composto de uma agulha imantada, montada em equilíbrio sobre um eixo vertical, encerrada em uma caixa circular envidraçada, que contém a rosa-dos-ventos; uma das extremidades da agulha permanece sempre voltada para o norte magnético. A bússola conhecida como Bússola Brunton (Brunton Compass) é um instrumento muito importante para geólogos nos seus trabalhos de campo. É uma combinação de uma bússola comum com um nível de bolha e clinômetro, permitindo a medida de ângulos verticais e horizontais, e funcionando, dessa maneira, como nível, clinômetro, alidade, etc. Essa simplicidade e versatilidade permitem aos geólogos efetuar determinações e medidas rápidas e funcionais no campo, tais como: coordenadas de diversas estruturas geológicas (estratificação, xistosidade, juntas, planos de falha, lineações, etc.), qualquer direção, declividade de terreno, desnível entre pontos do terreno, medidas de seções geológicas, etc. 2 – Descrição da Bússola de Geólogo A bússola de geólogo (bússola Brunton) é constituída de uma caixa geralmente metálica, de alumínio ou de uma outra liga, com uma tampa revestida internamente por um espelho que possui um retículo. Esta tampa é fixada à caixa por meio de uma dobradiça. 3 – Aplicações da Bússola de Geólogo Uma das aplicações da bússola de geólogo é na determinação de orientações, isto é, a determinação de ângulos situados no plano horizontal definido pelas coordenadas N-S e E-W. A orientação de um alinhamento qualquer ficará determinada através da visualização, a partir de um ponto onde nos colocamos, de um ponto situado à distância, segundo uma linha de visada. Uma outra
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