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OPA, QUE BOM TE VER POR AQUI! BORA PRA CIMA! Não sei se você nos conhece, mas todos nós aqui na Medway alcançamos o nosso sonho de passar em uma residência em São Paulo (mesmo não sendo da casa). Nosso objetivo aqui é te direcionar nessa árdua jornada para que você consiga atingir os seus objetivos e passar nas residências mais disputadas do país. Nós estudamos cuidadosamente todas as provas das principais instituições de São Paulo dos últimos 5 anos, e observamos que cada banca tem o seu padrão. Você pode já ter reparado isso, se já está fazendo provas antigas: a UNIFESP adora cirurgia vascular, a USP-RP se amarra num acidente com animal peçonhento… Porém, aqui não basta o seu “feeling”. O que está em jogo é a sua vaga no fim do ano. Não passa na residência quem se esforçou mais. Passa quem teve o melhor aproveitamento e soube direcionar os esforços da melhor maneira. Por causa disso, elaboramos este Guia Estatístico contando o que cai na prova de residência médica da USP-SP. Em hipótese ALGUMA você poderá ir para a prova sem dominar esses temas! ÍNDICE QUEM SOMOS ......................................................................................................................................................................................04 O QUE NOSSOS ALUNOS ESTÃO FALANDO ...............................................................................................................05 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA RADIOGRAFIA DO TÓRAX ......................................................................................... 06 PADRÕES RADIOLÓGICOS.........................................................................................................................................................30 PACIENTE COM TOSSE E FEBRE ........................................................................................................................................... 44 PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO COM TOSSE E FEBRE.................................................................................... ..73 PACIENTE COM TOSSE CRÔNICA ...................................................................................................................................... .90 PACIENTE COM DISPNEIA AGUDA. ................................................................................................................................... 116 PACIENTE COM DISPNEIA CRÔNICA ...............................................................................................................................142 PACIENTE COM DOR TORÁCICA AGUDA .................................................................................................................... 179 A CRIANÇA COM SINTOMAS RESPIRATÓRIOS .......................................................................................................201 O PACIENTE NA UTI ...................................................................................................................................................................... 239 OS PRINCIPAIS ERROS NA AVALIAÇÃO DAS RADIOGRAFIAS DO TÓRAX .....................................264 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................... 290 ANEXOS ................................................................................................................................................................................................... .291 NOSSA MISSÃO ....................................................................................................................................................................................... .291 CONHEÇA NOSSOS CURSOS ...................................................................................................................................................292 APLICATIVO MEDWAY .....................................................................................................................................................................295 FICOU ALGUMA DÚVIDA? ...........................................................................................................................................................296 Índice QUEM SOMOS Somos um time de médicos formados nas principais instituições de São Paulo e queremos te ajudar a passar na Residência Médica que você realmente quer. Todos nós passamos em algum momento pelas dificuldades que você pode estar enfrentando agora na sua trajetória rumo à residência dos sonhos. Justamente por isso, e porque gostaríamos de ter tido alguém para nos orientar lá trás, tomamos a decisão de criar a Medway. Depois de muito estudo, trabalho duro e dedicação total, conseguimos montar cursos que nos enchem de orgulho, porque sabemos que fazem a diferença na preparação dos nossos alunos. Em menos de dois anos, já são mais de 9000 alunos impactados por uma metodologia diferente. Leve, objetiva e verdadeira. Sem dúvidas, esse último é o nosso maior diferencial. Não te enrolamos e nem falamos o que você quer ouvir. Não generalizamos. Te tratamos com respeito. Da forma como gostaríamos de ser tratados. Muitos nos vêem como professores ou mentores. Nós gostamos de nos enxergar como aquele veterano que você admira pelo conhecimento técnico, mas também pela didática e pelo lado humano. Genuinamente, torcemos pelo sucesso de todos aqueles que confiaram em nós. E se esse for o seu caso muito em breve, pode ter certeza que estaremos juntos até o final! Boa leitura! Índice O QUE NOSSOS ALUNOS ESTÃO FALANDO? 6 Índice CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 20 anos, portadora de doença de Crohn há 12 anos. Já passou por diversos tratamentos, mantendo atividade inflamatória da doença e agora tem indicação de iniciar tratamento com medicação imunobiológica. Realizou radiografia de tórax para triagem infecciosa antes de iniciar a medicação. Está assintomática. Figura 1. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA RADIOGRAFIA DO TÓRAX RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME 7 Índice Figura 2. Radiografia de Tórax (perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Antes de avaliar a radiografia de tórax da nossa paciente, precisamos entender como estas imagens foram formadas! Os raios X são uma forma de radiação ionizante. O feixe de raios X que foi emitido pelo tubo vai interagir com a matéria (o nosso corpo, no caso), alguns raios serão atenuados (ou seja, alguns não vão passar pelo nosso corpo e sua energia será absorvida pelos tecidos), enquanto outros passarão com energia suficiente para “queimar” o filme ou sensibilizar o detector digital, formando assim a imagem. 8 Índice Entenda que o osso, que é muito denso, vai determinar uma maior dificuldade à passagem destes raios-x, que chegarão em menor quantidade e com menor energia no detector, “queimando-o” pouco (isso significa que a imagem ficará branca). Já o ar, que é menos denso, não oferece nenhuma barreira à passagem destes raios-x, que chegarão até o detector muito facilmente, “queimando-o” bastante (isso significa que a imagem ficará preta). Veja que estamos falando, então, de um exame que é a projeção de uma estrutura tridimensional (nosso corpo) em um filme, que é bidimensional. Esta característica básica da radiografia também corresponde ao seu principal “defeito”. O fato de estarmos lidando com uma projeção, gera problemas de interpretação gerados pela sobreposição das estruturas torácicas. Para tentar resolver estes problemas, a radiografia do tórax geralmente é obtida, preferencialmente, em duas incidências. As duas incidências básicas são a frontal e o perfil, obtidas de forma ortogonal, isto é, em planos perpendiculares entre si. Com estas duas incidências conseguimos localizar as lesões tanto no eixo laterolateral (no frontal), quanto no eixo anteroposterior (no perfil). A incidência frontal pode ser obtida de duas formas, dependendo dosentido dos raios X: em AP (anteroposterior), com os raios entrando pela porção anterior do tórax e saindo pela porção posterior do tórax, e em PA (posteroanterior); caso contrário. A preferida (considerada a incidência padrão da radiografia do tórax) é a incidência frontal em PA, em que o(a) paciente, de pé ou sentado(a), encosta seu peito no detector ou filme. Com isso, o coração fica bem colado no filme, reduzindo sua ampliação artificial, que observamos na imagem em AP. Além disso, as escápulas são jogadas para fora dos campos pulmonares, melhorando nossa imagem. Para ser considerado um exame tecnicamente ótimo, o paciente tem que estar em posição ortostática, distando 1,8 metros do filme e em inspiração máxima. Figura 3. À esquerda, vemos a técnica adequada para realização do raio-X em PA. À direita, um raio-X de tórax normal nesta incidência. Fonte: The Chest X-Ray: A Survival Guide, 1ª edição, páginas 3 e 2. 9 Índice A incidência em perfil é muito útil para avaliar as regiões posteriores dos lobos inferiores do pulmão, já que elimina a sobreposição do coração e do diafragma, o que pode esconder alterações (pneumonias retrocardíacas, por exemplo). Esta incidência também é bastante útil para localizarmos com mais precisão as alterações, que podem estar nas partes moles ou até mesmo fora do corpo do(a) paciente, sendo projetadas nos campos pulmonares na visão frontal. Prefere-se deixar a face lateral esquerda do tórax mais próxima do(a) receptor(a), para também reduzir a magnificação da imagem cardíaca. Figura 4. À esquerda, vemos a técnica adequada para realização do raio-X em perfil. À direita, um raio-X de tórax normal nesta incidência. Fonte: The Chest X-Ray: A Survival Guide, 1ª edição, página 15. Agora que você já entendeu como a imagem é formada e as incidências básicas da radiografia do tórax, podemos entender as densidades radiográficas básicas e como elas são a base para chegar a qualquer diagnóstico interpretando as radiografias. Imagine que uma quantidade “A” de raios x é emitida pela Fonte: Estes raios vão interagir com a matéria, e dependendo da densidade da mesma, uma quantidade “a” de raios x transmitidos chega ao detector, já que muitos destes raios vão ser atenuados ou absorvidos pelo corpo do paciente. Esta quantidade de raios-x que chega, vai determinar os tons de cinza que vamos identificar na imagem. Quanto mais raios x chegarem ao detector, mais escuro o tom de cinza na imagem (mais próximo do preto), já que o filme será mais “queimado”. Veja a imagem abaixo: 10 Índice Figura 5. Interação dos raios x com a matéria e as densidades básicas radiográficas. Fonte: Medway. Existem 5 densidades radiológicas básicas correspondem aos 5 tons de cinza que nossos olhos conseguem distinguir bem na radiografia do tórax, sendo: ar, gordura, água (ou partes moles), osso e metal. 11 Índice Figura 6. Densidades básicas na radiografia. Fonte: Adaptado de freepik.com. Estas densidades formam contrastes entre si, gerando os tons de cinza e os contornos das estruturas que interpretamos nos estudos radiográficos. É por este motivo que conseguimos distinguir o mediastino do parênquima pulmonar. Como suas densidades físicas são diferentes, observamos também diferentes densidades (tons de cinza) na radiografia, o que gera contraste entre elas e torna possível sua diferenciação. Note que não conseguimos distinguir bem o coração dos grandes vasos da base, por exemplo, e isto ocorre justamente porque suas densidades radiológicas são muito próximas (que é a densidade da água ou de partes moles), não permitindo que nossos olhos identifiquem contraste entre estas estruturas. Quando não há contraste entre as estruturas em uma radiografia de tórax, elas vão aparecer todas “fundidas”. 12 Índice Entendidas as incidências e as densidades básicas, podemos começar a interpretar a radiografia da nossa paciente! Veja que ela foi realizada em duas incidências, uma frontal PA e uma perfil. Você conseguiu identificar alguma coisa fora do normal nestas radiografias? De fato, tem um “corpo estranho”, certo? Figura 7. Radiografia de tórax do caso clínico 1 - normal, com piercings nos mamilos. Fonte: Acervo Medway. Você deve ter identificado a alteração como um piercing em cada mamilo (círculo azul), certo? Mas o que te permitiu tirar esta conclusão? Na verdade, o que permitiu que você chegasse a este “diagnóstico” foi o conhecimento das incidências radiológicas e das densidades básicas que acabamos de revisar. Podemos ver que a imagem suspeita tem densidade maior que a do osso adjacente (dê uma comparada com a costela), o que sugere uma densidade metálica. Além disso, a incidência em perfil foi essencial para garantir que a alteração está projetada no subcutâneo, mais especificamente nas mamas. Se não tivéssemos uma imagem em perfil, poderíamos ter dúvida se estas imagens estavam dentro do pulmão, no espaço pleural ou mesmo no dorso da paciente. Pronto! Nossa paciente está pronta para iniciar sua medicação! Apesar dos adereços estilosos, a radiografia do tórax está normal. Vamos só abrir um pequeno parênteses aqui, antes de finalizar nossa análise. Apesar de parecerem inofensivos, estes artefatos como piercings, joias, zíperes, entre outros não devem estar presentes nas imagens de radiografia. Eles podem mimetizar doenças, principalmente quando a densidade for semelhante à das partes moles. O correto seria o técnico solicitar à paciente que retirasse antes do exame. 13 Índice A avaliação da qualidade técnica do exame é o primeiro passo para a análise de uma radiografia. Muitos erros técnicos simulam ou obscurecem alterações. Fique atento! Segue um resuminho do que você deve analisar para certificar-se de que o exame está tecnicamente adequado para ser analisado: 14 Índice 15 Índice Figura 8. Figura 9. Tabela 1. Avaliação da adequação técnica das radiografias de tórax. Fonte: Organizado por Medway. 16 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo masculino, 67 anos, sofreu um acidente de moto há 3 meses e estava com um fixador externo na tíbia direita. Evoluiu com osteomielite aguda e choque séptico. Está na UTI há 21 dias para tratamento e em melhora. Realizou radiografia de tórax para controle. O paciente está assintomático do ponto de vista respiratório. Figura 10. Figura 11. Figura 12. Figura 13. Figura 14. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente, observamos que foi obtida uma radiografia de tórax em incidência frontal, mas já podemos notar que a radiografia está meio feia, né? Basta comparar com a radiografia do primeiro caso clínico deste estudo dirigido. O que aconteceu? Por que esta radiografia está tão diferente, sendo que ambas foram obtidas em incidência frontal? Neste caso, nosso paciente está acamado na UTI. Desta forma, sua radiografia de tórax foi obtida em decúbito dorsal, com os raios-X seguindo em direção anteroposterior, ou seja, entrando pela porção anterior do tórax e saindo pela porção posterior. Esta incidência é chamada frontal em AP (anteroposterior) e é a técnica padrão para aquisição de exames no leito quando o paciente não tem condições clínicas de realizar o exame com a técnica ótima (PA e perfil), que requer ortostase ou pelo menos que o paciente fique sentado. 17 Índice Figura 15. Técnica adequada para realização do raio-X em frontal com raios em direção anteroposterior. Veja que o coração está na porção anterior do tórax, longe do filme, o que gera uma magnificação artefatual do coração, simulando cardiomegalias. Fonte: The Chest X-Ray: A Survival Guide, 1ª edição, página 15. A incidência em AP é nossa alternativa para pacientes acamados(as), com restrição de movimentação e gravemente doentes (em leitos de UTI, por exemplo), mas carrega algumas questões técnicas que limitam um pouco a sua interpretação e que precisam ser conhecidas pois podem simular alterações. O principal problema é a ampliaçãoartificial das estruturas mediastinais, dificultando a avaliação do coração e dos vasos mediastinais, por exemplo. Por este motivo, devemos evitar tirar conclusões sobre a presença de cardiomegalia ou dilatação aórtica, quando esta técnica for utilizada. A ampliação das estruturas mediastinais também pode simular massas hilares ou linfonodomegalias por ampliar as estruturas vasculares hilares normais. A radiografia do tórax do paciente acamado também fica prejudicada quanto à avaliação do parênquima pulmonar por dois motivos: • As escápulas ficam projetadas nos campos pulmonares superiores e médios, o que pode simular opacidades. 18 Índice • Raramente o paciente consegue fazer uma inspiração adequada, por isso a radiografia pode parecer “suja” nas bases pulmonares onde o parênquima fica parcialmente expandido, simulando opacidades. Acho que você já percebeu que devemos sempre avaliar com muito cuidado as radiografias em decúbito dorsal (AP). Mas também não se assuste! Apesar de raramente as radiografias em decúbito dorsal atingirem os critérios de qualidade que são esperados na radiografia em PA, elas geralmente são solicitadas para uma avaliação mais grosseira da transparência dos pulmões (limpos ou não) ou mesmo para avaliação do posicionamento de dispositivos. Na dúvida, uma tomografia computadorizada vai trazer mais informações. Bom, vamos voltar à radiografia do nosso paciente. Figura 16. Radiografia em AP do caso clínico 2. Seta vermelha = indicação de que o exame foi realizado no leito e do lado direito do paciente. Linha tracejada amarela = escápulas no campo. Linha rosa = cateter venoso central. Área verde: brônquios e estruturas vasculares aglomeradas pela hipoexpansão pulmonar. Linha pontilhada azul = silhueta mediastinal. Números de 1 a 8 = contagem das costelas nos campos pulmonares. Fonte: Acervo Medway. Veja que por convenção, o técnico de radiologia deve sinalizar que o exame foi realizado no leito, como podemos ver no canto superior direito (seta vermelha). O técnico também nos sinalizou que aquele é o lado direito do paciente. Ótimo! O primeiro critério de qualidade que é a orientação já está OK! Além disso, todo o tórax foi incluído no estudo, a penetração 19 Índice dos raios está boa e a radiografia está bem alinhada. Já quando vamos observar os campos pulmonares, não está tão legal, né? O que está te incomodando provavelmente é a presença das escápulas no campo (linha tracejada amarela). Veja como ela simula opacidades pulmonares. Os pulmões também estão hipoexpandidos devido a uma inspiração incompleta, o que gera um aspecto confluente dos vasos e brônquios dos campos pulmonares inferiores (área verde), também simulando opacidades pulmonares. Além disso, veja como o mediastino parece alargado (linha pontilhada azul). Um colega desavisado poderia considerar patológico. Por fim, o paciente tem um cateter venoso central (linha rosa), com extremidade na projeção do átrio direito. Veja que depois de alguma reflexão sobre a técnica, uma radiografia que parecia alterada já nos parece mais tranquila. Nosso paciente está pronto para receber alta da UTI! Assim que ele chegou no quarto da enfermaria foi possível realizar uma radiografia em PA (figura abaixo) que nos prova que as opacidades nas bases e o alargamento mediastinal eram meramente artefatuais devido à aquisição em decúbito dorsal. 20 Índice Figura 17. Radiografia em PA do caso clínico 2 - exame normal. Fonte: Acervo Medway. 21 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo feminino, 32 anos, vem realizar radiografia de tórax para exame admissional depois de passar em concurso público. Assintomática. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 18. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 22 Índice Figura 19. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Pessoal, caso moleza! Paciente assintomática, exame de check up para ser admitida no novo emprego. A radiografia está completamente normal. Mas e a coragem pra chamar uma radiografia de normal? O(A) bom/boa radiologista tem sempre um check list mental de tudo que ele(a) precisa ver na imagem; chamamos isso de avaliação sistemática. Desta forma, toda vez que olhamos um exame, seguimos sempre a mesma sequência, para que isso fique automático e a gente não esqueça de olhar nenhum pedacinho. Desta forma, temos mais confiança que realmente o exame está normal. Vamos fazer juntos nessa avaliação sistematizada e, de bônus, a gente ainda revisa a anatomia normal. Bora? Uma sequência bem fácil é a famosa “de fora para dentro”. Vamos seguir? :) 23 Índice Parede torácica Começando pelas estruturas mais externas do tórax, vamos avaliar a parede torácica: partes moles (músculos e subcutâneo), mamas nas mulheres, axilas e osso (costelas, escápulas, clavículas, esterno e as cabeças dos úmeros). Dê uma olhada nestas estruturas nas radiografias abaixo: Figura 20. Radiografia de tórax normal: estruturas anatômicas da parede torácica. Fonte: Acervo Medway. Aí você pode estar pensando: “Ah! Nada a ver ficar olhando essas coisas sem importância na parede torácica. Pra quê isso? Vamos direto ver o pulmão”. Calma! Esse pensamento é uma cilada. Quando ignoramos as estruturas, podemos perder informações valiosas para a condução do(a) nosso(a) paciente como fraturas, metástases ou infecções ósseas, enfisema subcutâneo etc. Espaços pleurais Seguindo nossa avaliação “de fora para dentro”, chegamos nos espaços pleurais. Procuraremos principalmente derrames pleurais e pneumotórax. Veja abaixo as imagens do aspecto normal dos espaços pleurais na radiografia do tórax: 24 Índice Figura 21. Radiografia de tórax normal: espaços pleurais. Fonte: Acervo Medway. Para procurar alterações pleurais precisamos entender que o espaço pleural é uma cavidade virtual e que os líquidos, quando se acumulam nesta cavidade, vão sempre ocupar as porções mais inferiores pela lei da gravidade. Quando o(a) paciente está de pé ou sentado(a), o líquido escorre para os seios costofrênicos, que são ângulos profundos formados entre o gradil costal e as cúpulas diafragmáticas. Nas incidências em PA ou perfil, vemos este líquido como uma obliteração dos seios costofrênicos laterais ou posteriores, sendo que, como os posteriores são mais profundos, são obliterados primeiro. A obliteração destes seios é a manifestação mais inicial dos derrames pleurais na radiografia. Parênquima pulmonar Agora que os espaços pleurais foram devidamente estudados, chegou a hora de olharmos para os pulmões. Você deve se lembrar das suas aulas de anatomia, quando vimos que o pulmão direito é dividido em três lobos: superior, médio e inferior; enquanto que o pulmão esquerdo é dividido apenas em dois: superior e inferior. Quem separa estes lobos são as fissuras ou cisuras pulmonares, sendo duas à direita (horizontal e oblíqua) e uma à esquerda (oblíqua). Esta anatomia é extremamente útil na hora de localizar as lesões observadas nas radiografias. Veja abaixo a topografia das fissuras pulmonares vistas na radiografia, dividindo os pulmões em lobos. Mas saiba que dificilmente conseguimos identificar as fissuras na radiografia, por isso preferimos nos referir a campos pulmonares quando avaliamos um exame de raio-X. 25 Índice Figura 22. Radiografia de tórax normal: lobos pulmonares e fissuras - pulmão direito. Fonte: Acervo Medway. Figura 23. Radiografia de tórax normal: lobos pulmonares e fissuras - pulmão esquerdo. Fonte: Acervo Medway. 26 Índice Figura 24. Radiografia de tórax normal: campos pulmonares. Fonte: Acervo Medway. O parênquima pulmonar é entremeado pela trama broncovascular, que é composta pelas artérias e veias pulmonares e pelos brônquios. Normalmente a trama broncovascular nos campos pulmonares superiores é menos calibrosa e evidente que nas bases pulmonares. Mediastino Como as estruturas mediastinais apresentam densidades semelhantes, fica difícil identificá- lasindividualmente. Desta forma, de maneira prática, o mediastino costuma ser avaliado de forma global, procurando por alargamentos mediastinais. Uma maneira de avaliar é medir o mediastino na altura do arco aórtico, se tiver acima de 8 cm é considerado alargamento mediastinal. O diagnóstico diferencial é bem amplo. Outra forma de avaliar o mediastino é analisando os contornos mediastinais. Veja a imagem abaixo: 27 Índice Figura 25. Radiografia de tórax normal: contornos mediastinais. Fonte: Acervo Medway. Nessas radiografias do tórax em PA (posteroanterior) e perfil, podemos caracterizar os contornos das principais estruturas vasculares mediastinais: • Veia cava superior e inferior • Aorta torácica • Tronco da artéria pulmonar Além das estruturas vasculares, existe um espaço chamado janela aortopulmonar, localizado entre o arco aórtico e o tronco da artéria pulmonar. A obliteração desta janela sugere a presença de linfonodomegalias mediastinais. Figura 26. Radiografia de tórax alterada: obliteração da janela aortopulmonar. Fonte: Acervo Medway. 28 Índice Podemos também inferir a posição e os contornos das câmaras cardíacas, ilustradas na imagem abaixo: Figura 27. Radiografia de tórax normal: câmaras cardíacas. Fonte: Acervo Medway. Nessas radiografias do tórax em PA (posteroanterior) e perfil, podemos caracterizar os contornos das principais estruturas cardíacas e vasos da base: • Átrio direito (AD) • Ventrículo direito (VD) • Átrio esquerdo (AE) • Ventrículo esquerdo (VE) • Tronco da artéria pulmonar (TP) • Aorta (Ao) Veja que estão delimitadas as projeções radiográficas das estruturas cardiovasculares, não sendo possível definir a diferenciação exata entre as câmaras cardíacas e os vasos da base. No entanto, perceba como cada estrutura é responsável por um contorno no mediastino. Por exemplo, a margem cardíaca direita na radiografia em PA é determinada pelo átrio direito, ao passo que a margem cardíaca esquerda é determinada pelo ventrículo esquerdo. Já a margem anterior do coração na radiografia em perfil é delimitada pelo ventrículo direito e a margem posterior pelo átrio esquerdo. Portanto, apesar de não ser possível a diferenciação exata entre as câmaras cardíacas e os vasos da base, conhecendo qual estrutura anatômica é responsável por cada contorno 29 Índice mediastinal, é possível detectar eventuais alterações, como o aumento das câmaras cardíacas ou aneurismas arteriais. Outra informação importante fornecida pela radiografia torácica é o índice cardiotorácico. Esse índice representa a proporção entre o diâmetro da sombra cardíaca (vermelho) e a largura transversal do tórax (amarelo) na incidência PA. Quando maior que 0,5 cm, podemos dizer que o índice cardiotorácico está elevado, tendo causas como cardiomegalia ou derrame pericárdico. Figura 28. Radiografia de tórax normal: índice cardíaco. Fonte: Acervo Medway. 30 Índice PADRÕES RADIOLÓGICOS RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 6 anos, é trazida ao pronto-socorro com queixa de tosse e febre há 3 dias. Hoje amanheceu mais prostrada e cansada. Realizou radiografia de tórax para avaliação de pneumonia. Figura 29. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 31 Índice DISCUSSÃO Vamos começar por partes. Acredito que todos nós conseguimos observar uma alteração, certo? Existe uma área do pulmão que deveria estar preta (aerada), mas está branca (opacificada). Quando estamos diante de um aumento da atenuação do parênquima pulmonar, ou seja, o pulmão está mais branco, podemos tentar estreitar ainda mais nossa interpretação. O primeiro passo é determinar se este aumento de atenuação é focal (restrito a uma única parte do pulmão) ou difuso (em todos os campos dos pulmões). Neste caso, observamos que a opacidade é focal, beleza? Estamos diante, portanto, do nosso primeiro padrão radiológico: o aumento focal da atenuação. Dentro deste padrão radiológico podemos incluir algumas alterações que podem ajudar bastante no diagnóstico diferencial dos nossos pacientes: as consolidações, as atelectasias e os nódulos ou massas. • Consolidação: representam o preenchimento completo dos alvéolos pulmonares. Este preenchimento geralmente consiste em líquido e células inflamatórias nas pneumonias, principalmente bacterianas, mas também pode ocorrer no edema pulmonar (por líquido) ou na hemorragia alveolar (por sangue), por exemplo. A principal característica das consolidações que auxiliam a diferenciá-la das atelectasias é a presença de brônquios pérvios no seu interior (broncogramas aéreos) e a manutenção do volume do pulmão normal no segmento acometido • Atelectasia: representa o colapso ou colabamento dos alvéolos pulmonares, causado por obstrução do brônquio nutridor ou por restrição à expansão destes alvéolos. As principais características das atelectasias que auxiliam a diferenciar das consolidações são: ausência de broncogramas aéreos e a redução do volume do lobo acometido, o que costuma repuxar as estruturas adjacentes • Nódulos e massas: são aumentos focais da densidade, arredondados e bem delimitados. Por definição chamamos de massas as lesões maiores que 3 cm e de nódulos as menores que 3 cm Figura 30. Recortes de radiografias de tórax mostrando exemplos de aumento da atenuação focal: consolidação na imagem da esquerda, atelectasia na imagem central e nódulo na imagem da direita. Fonte: Acervo Medway. 32 Índice Já podemos voltar para o nosso caso. Você consegue perceber que estamos diante de uma consolidação? Veja que o parênquima pulmonar opacificado tem volume mantido (lobo superior direito) e tem broncogramas aéreos de permeio: a cara da consolidação. Figura 31. Consolidação no lobo superior direito. Fonte: Acervo Medway. Se estamos diante de uma menininha de 6 anos, com um quadro clínico sugestivo de infecção pulmonar e uma imagem com uma consolidação lobar, fica fácil! Estamos diante de uma pneumonia. Veja que o padrão radiológico mais a clínica fecham o diagnóstico. Fique tranquilo, vamos estudar em detalhes as infecções pulmonares nos módulos à frente. Preocupe-se em revisar os padrões radiológicos com aumento focal da atenuação. 33 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino, 48 anos, queixa-se de dispneia progressiva há 1 ano, agora presente mesmo em repouso. Cria pássaros há 10 anos. Realizou radiografia de tórax para investigação diagnóstica. Figura 32. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Vamos seguir o mesmo raciocínio do caso clínico 1. Podemos observar que esta radiografia está alterada e que a alteração é difusa, certo? O pulmão está todo mais branco do que nós esperávamos. Estamos diante, portanto, de um aumento difuso da atenuação do parênquima pulmonar. E você deve ter percebido que este aumento difuso tem um aspecto de linhas e pequenos 34 Índice pontos, o que chamamos de retículo-nodular ou retículo-granular. Pois é! Assim como temos alguns padrões de aumento focal da atenuação, também temos alguns padrões de aumento difuso que tentam descrever o aspecto destas opacidades difusas: • Infiltrados intersticiais ou reticulares: observamos espessamento do interstício pulmonar, que fica nos septos interlobulares e nos feixes peribroncovasculares, o que é visto como uma acentuação das marcas broncovasculares e opacidades lineares pulmonares. Ou seja, predominam linhas e risquinhos difusos pelos pulmões. Podemos observar este aspecto quando há congestão pulmonar, nas linfangites carcinomatosas e nas doenças intersticiais pulmonares, por exemplo Figura 33. Exemplo de infiltrado reticular representando congestão pulmonar em um paciente com insuficiência cardíaca descompensada. Fonte: Acervo Medway. • Infiltrados alveolares: observamos um preenchimento parcial e difuso dos alvéolos pulmonares, sendo que este preenchimento pode ser por líquido (edema), pode ser 35 Índice por sangue (hemorragia alveolar), pode ser por inflamação(síndrome do desconforto respiratório agudo ou mesmo pneumonias, como a COVID-19). O aspecto de imagem é de áreas mais brancas de aspecto algodonoso. Por representarem preenchimento alveolar, carregam uma característica das consolidações: os broncogramas aéreos Figura 34. Exemplo de infiltrado alveolar em paciente com pneumonia viral por COVID-19. Fonte: Acervo Medway. • Infiltrados micronodulares ou granulares: observamos múltiplos pontinhos ou bolinhas que representam múltiplos nódulos ou micronódulos ou mesmo consolidações muito pequenas e difusas pelos pulmões. Quando os nódulos são milimétricos e tem uma distribuição totalmente aleatória, podemos chamar o infiltrado de miliar, sendo típico da tuberculose miliar. Podem representar uma grande variedade de alterações, destacando- se causas inflamatórias como a própria tuberculose miliar, pneumonias atípicas ou fúngicas, mas também podem ser representar metástases pulmonares e doenças como a sarcoidose e a silicose 36 Índice Figura 35. Exemplo de infiltrado micronodular em paciente com tuberculose miliar. Fonte: Acervo Medway. Estes padrões podem ocorrer de forma simultânea, como no nosso caso clínico que observamos tracinhos e opacidades lineares (infiltrado reticular) junto com pequenos nódulos (infiltrado granular), sendo chamado: infiltrado reticulogranular. Já podemos fechar nosso caso. Nossa paciente tem um infiltrado reticulogranular difuso, que nos lembra algumas doenças intersticiais pulmonares. Ela cria pássaros, lembra? Quem sabe ela não desenvolveu uma pneumonite por hipersensibilidade pela exposição aos pássaros. Explicaria a dispneia progressiva e seria compatível com a nossa imagem! 37 Índice Figura 36. Detalhes do infiltrado reticulogranular do caso clínico. Fonte: Acervo Medway. 38 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo masculino, 28 anos, morador de área livre. Apresenta tosse crônica (duração superior a 30 dias), febre diária vespertina e sudorese noturna. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 37. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 39 Índice Figura 38. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Acredito que você já conseguiu identificar uma imagem no campo médio do pulmão direito que tem um padrão de aumento focal da atenuação, com característica de um nódulo pulmonar ou, se preferir, opacidade nodular. É isso aí! Viu como fica mais fácil interpretar quando identificamos padrões? Mas tem mais coisas. Veja se alguma coisa te incomoda no campo superior esquerdo. Tem uma imagem circular né? Você consegue encaixar esta alteração em algum dos padrões que já estudamos? Provavelmente não. Aqui temos um padrão que é o oposto do aumento focal da atenuação. Temos uma imagem circular com uma redução focal da atenuação. Quando estamos diante de uma redução focal de atenuação, ela pode ser explicada pela presença de uma caverna (ou cavidade), um cisto ou uma bolha. Na radiografia elas são 40 Índice bem parecidas e não é tão fácil diferenciá-las, mas do ponto de vista clínico, no dia a dia mesmo, a que mais nos interessa é a caverna. As cavernas são um padrão radiológico marcante da tuberculose pulmonar pós-primária e de algumas outras doenças como a paracoccidioidomicose e algumas vasculites como a granulomatose de Wegener. O paciente do nosso caso tem uma caverna no campo pulmonar esquerdo, né? Dá uma olhada na história: morador de área livre, tosse crônica, febre diária e sudorese noturna. Fechamos a tuberculose pulmonar! Ah, mas e o nódulo? Merece ser investigado melhor! Será uma lesão da própria tuberculose? Será uma neoplasia ou uma metástase? Figura 39. Achados na radiografia do tórax do paciente do caso clínico 3. Fonte: Acervo Medway. 41 Índice CASO CLÍNICO 4 Paciente do sexo feminino, 67 anos, tabagista há 50 anos. Apresenta dispneia crônica aos pequenos esforços e tosse seca que atribui ao cigarro. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 40. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. 42 Índice Figura 41. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Esta radiografia é bastante difícil porque ela precisa de olhos um pouco mais “treinados” para notar o padrão radiológico. Fica bem mais tranquilo quando comparamos com uma radiografia normal. Veja abaixo: 43 Índice Figura 42. Comparação da imagem do caso clínico 4 e uma radiografia normal. Fonte: Acervo Medway. Talvez agora tenha ficado mais evidente que o parênquima pulmonar da nossa paciente está difusamente mais preto, ou seja, mais hipertransparente. Estamos diante do nosso quarto padrão radiológico de acometimento do pulmão: redução difusa da atenuação pulmonar. Esta alteração geralmente é observada no enfisema pulmonar e nos pacientes com doenças pulmonares obstrutivas como a asma e o DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) que evoluem com aprisionamento aéreo. Lembre-se que a nossa paciente é fumante e está evoluindo com dispneia. Se observarmos a radiografia, além de uma redução difusa da atenuação pulmonar, vemos também um aumento do diâmetro anteroposterior do tórax e uma retificação das cúpulas diafragmáticas, achados que sugerem DPOC, que é o diagnóstico final da nossa paciente. Fique tranquilo, retomaremos estes achados nos próximos módulos. 44 Índice PACIENTE COM TOSSE E FEBRE RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 I.J.K., sexo masculino, 48 anos, com queixa de tosse produtiva com escarro amarelado e febre há 5 dias. História de início recente de hemodiálise. Figura 43. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 45 Índice Figura 44. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente, podemos identificar uma assimetria na transparência do pulmão com um padrão de aumento da atenuação focal no campo pulmonar superior direito. Neste caso, podemos observar que não houve redução volumétrica do pulmão acometido pela posição da fissura horizontal - não é uma atelectasia - e a lesão não tem bordas bem definidas como se espera no nódulo ou massa. É possível identificar também alguns broncogramas aéreos bem discretos, marcados pela seta laranja. Portanto, estamos diante de uma consolidação no lobo superior do pulmão direito, marcada na área azul. 46 Índice Figura 45. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 47 Índice Figura 46. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 48 Índice Considerando um paciente com tosse e febre, associado a escarro amarelado, este padrão de imagem com uma consolidação que acomete um único lobo de um pulmão (unifocal) sugere uma pneumonia lobar, sendo a apresentação por imagem mais característica da PNEUMONIA BACTERIANA. O Streptococcus pneumoniae é o agente mais comum. Embora os exames radiológicos sejam limitados na determinação do agente etiológico do quadro infeccioso, as consolidações unifocais são bastante específicas para pneumonias bacterianas. Isso significa que, diante de uma consolidação unifocal em um paciente imunocompetente, o agente etiológico bacteriano é, de longe, o mais provável! CASO CLÍNICO 2 L.P.S., sexo masculino, 70 anos, tabagista, com queixa de piora da tosse e aumento da produção de escarro há 7 dias, além de 2 picos febris não aferidos Figura 47. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 49 Índice DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente, podemos identificar uma assimetria na transparência do pulmão com um padrão de aumento da atenuação focal no campo pulmonar inferior direito apontado em azul. Neste caso, não há sinais de redução volumétrica do pulmão acometido, portanto, não é uma atelectasia, e a lesão não tem bordas bem definidas, bem semelhante ao nosso primeiro caso. É possível identificar também alguns broncogramas aéreos bem discretos apontados em laranja. Figura 48. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Considerando um paciente tabagista que apresentou piora da tosse e aumento daprodução de escarro, além de picos febris, com este padrão de imagem com uma consolidação que acomete um único lobo pulmonar, o diagnóstico provável é de uma pneumonia lobar bacteriana. 50 Índice Você deve estar se perguntando: como vou identificar qual lobo pulmonar está acometido pela consolidação se só tenho disponível a incidência em PA do tórax? Com certeza seria muito mais fácil identificar a localização dessa consolidação se a incidência em perfil estivesse disponível. No entanto, vamos utilizar o conceito do “sinal da silhueta” para nos ajudar a localizar. Observe bem a margem direita do coração (apontado em amarelo) e perceba como ela é bem definida. Ora, se temos uma consolidação no terço inferior do pulmão direito que preserva a margem cardíaca direita, podemos afirmar que essa consolidação está localizada no lobo inferior do pulmão direito, pois esse lobo não possui contato com o coração. Se a consolidação determinasse a indefinição da margem cardíaca direita, poderíamos afirmar que estaria localizada no lobo médio, uma vez que esse lobo possui contato com o coração. CASO CLÍNICO 3 E.J.M., sexo masculino, 12 anos, com febre, tosse e queda do estado geral há 5 dias. Figura 49. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 51 Índice DISCUSSÃO Estamos diante de mais uma criança com um quadro clínico suspeito de infecção das vias aéreas inferiores, porém a radiografia mostra achados um pouco diferentes das pneumonias lobares e atelectasias que já estudamos. Figura 50. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Observe que neste caso temos um aumento difuso da atenuação pulmonar, com opacidades bilaterais com padrão alveolar (veja como tem aspecto algodonoso, como nuvens no céu). Este aspecto de opacidades alveolares multifocais e assimétricas sugere um padrão de BRONCOPNEUMONIA, uma apresentação radiológica e patológica das infecções pulmonares que apresentam com disseminação pelas vias aéreas, disseminação conhecida como endobrônquica. Este padrão de acometimento pulmonar é observado de forma mais comum nas infecções bacterianas por estafilococos, hemófilos e pneumococo. Portanto, são achados radiológicos sugestivos de broncopneumonia: 52 Índice • Infiltrado alveolar • Bilateral e multifocal • Assimétrico • Não respeita as fissuras • Podem acompanhar infiltrado intersticial (espessamento brônquico), gerando infiltrados retículo-alveolares CASO CLÍNICO 4 F.J.F, sexo masculino, 66 anos, internado na UTI após AVEi, evoluiu com piora dos parâmetros ventilatórios, mudança do padrão da secreção traqueal e febre há 2 dias Figura 51. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 53 Índice DISCUSSÃO Nesse caso, temos um paciente idoso internado na UTI após um acidente vascular encefálico. Apenas com esses dados iniciais temos que destacar que esse paciente apresenta redução dos mecanismos de reflexo de proteção das vias aéreas inferiores, aumentando o risco de aspiração. Durante a internação, apresentou piora dos parâmetros ventilatórios, mudança do padrão da secreção traqueal e febre há 2 dias. Diante desses achados, temos uma provável infecção das vias aéreas inferiores. Figura 52. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Observe que temos uma radiografia com um padrão muito semelhante ao caso anterior. Notamos aumento difuso da atenuação pulmonar, com opacidades bilaterais com padrão alveolar, além de áreas de consolidação de permeios às opacidades menos evidentes. Este aspecto de opacidades alveolares multifocais e assimétricas sugere o padrão de BRONCOPNEUMONIA, aquele que apresenta padrão de disseminação endobrônquica. Temos que lembrar que para esse paciente a hipótese de broncoaspiração deve ser aventada diante dos fatores de risco associado. Além disso, podemos caracterizar um pequeno derrame pleural determinando obliteração do recesso costofrênico direito (marcado em vermelho). 54 Índice Portanto, temos aqui mais um caso de broncopneumonia com achados mais evidentes em relação ao caso anterior. CASO CLÍNICO 5 M.V.P., sexo masculino, 17 anos, apresentando quadro de tosse seca, prostração, mialgia há 7 dias. Refere episódio de rinorreia e gotejamento pós-nasal antes do início do quadro Figura 53. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 55 Índice Figura 54. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso clínico, estamos diante de um jovem que apresenta quadro clínico um pouco diferente dos anteriores: mais arrastado, com prostração e tosse seca, precedido de sintomas de infecção das vias aéreas superiores. Só pela anamnese já esperamos encontrar uma apresentação diferente para este quadro de infecção de vias aéreas inferiores. Vamos olhar a radiografia desse paciente. 56 Índice Figura 55. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Na radiografia do tórax nos deparamos com acometimento dos pulmões por um infiltrado reticular difuso, bilateral e simétrico, que representa o espessamento do interstício pulmonar, caracterizado pela acentuação de opacidades lineares que acometem todo pulmão, especialmente as regiões periféricas. Esse infiltrado é conhecido como padrão intersticial. Esse padrão pode ser visto em várias doenças pulmonares, mas diante de um quadro clínico agudo de infecção das vias áreas inferiores, devemos pensar que estamos provavelmente diante de uma pneumonia atípica ou viral, que compartilham o mesmo padrão de apresentação nas radiografias do tórax. As pneumonias atípicas são causadas por germes como micoplasma, clamídia e legionela, apresentam-se com sintomas atípicos (sintomas constitucionais mais proeminentes, febre baixa, curso mais insidioso, tosse seca arrastada, entre outros) e têm achados radiológicos 57 Índice diferentes das pneumonias bacterianas “típicas” (pneumonia lobar e broncopneumonia). As pneumonias virais, como as causadas pelos vírus influenza, vírus sincicial respiratório etc., compartilham o mesmo padrão de apresentação das pneumonias atípicas. Portanto, nesse caso estamos diante de um caso de uma provável pneumonia atípica ou viral, não sendo possível a distinção entre as duas etiologias apenas com o estudo radiográfico. CASO CLÍNICO 6 L.P.S., sexo feminino, 70 anos, tabagista, em tratamento de pneumonia lobar há dois dias, refere piora da febre e da dispneia, com surgimento de dor no hemitórax direito. Figura 56. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 58 Índice DISCUSSÃO Estamos diante de uma paciente em tratamento de pneumonia há dois dias que apresentou piora do quadro associado a surgimento de dor no hemotórax direito. Diante do quadro, devemos pensar na possibilidade de uma complicação da pneumonia e, neste caso, a imagem está super indicada! Desejamos entender o que pode justificar a piora dos sintomas: será que surgiu um derrame parapneumônico ou a pneumonia evoluiu para um abscesso pulmonar? Figura 57. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Ao analisarmos a imagem, é possível observar uma consolidação no lobo médio direito (marcado em azul), pois o aumento da densidade pulmonar está localizado no terço inferior do pulmão e determina indefinição da margem direita do coração (lembre-se sempre do sinal da silhueta!). Além disso, observe que o seio costofrênico lateral está obliterado, sugerindo a presença de derrame pleural associado, caracterizado pela presença de uma 59 Índice redução da transparência pulmonar que assume aspecto de parábola, o clássico sinal da parábola de Damoiseau. Já sabemos o motivo do nosso paciente não estar melhorando: um DERRAME PARAPNEUMÔNICO. Eventualmente, a própria consolidação pode velar as cúpulas diafragmáticas e os seios costofrênicos, simulando pequenos derrames, mas elas não formam a parábola. Se houver dúvida quanto à presença de pequenos derrames e para uma melhor avaliação de suas características (derrames loculados e complicados) podemos e devemos buscar umacomplementação com a ultrassonografia do tórax que é extremamente sensível e muito útil ou solicitar uma radiografia do tórax com a incidência de Laurel, aquela realizada em decúbito lateral. 60 Índice CASO CLÍNICO 7 J.F.V., sexo masculino, 67 anos, internado há 10 dias para tratamento de pneumonia complicada com derrame pleural, refere piora da febre e acentuação da dispneia, sem melhora após o tratamento com ATB intravenosos. Figura 58. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente internado há 10 dias para realizar o tratamento de pneumonia complicada com derrame pleural. No entanto, apesar da antibioticoterapia, o paciente apresentou piora da febre e acentuação da dispneia. Diante do quadro, devemos pensar na possibilidade de uma nova complicação da pneumonia, visto que esse paciente já possui um derrame pleural parapeneumônico. 61 Índice Figura 59. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Ao analisarmos a imagem, é possível observar uma área de consolidação no terço médio do pulmão direito (marcado em azul), com faixas de atelectasias de permeio (linhas laranja). Além disso, observe que o seio costofrênico lateral está obliterado, destacando- se a extensão cranial do conteúdo que oblitera o seio costofrênico, assumindo aspecto de lente ou biconvexo. Ora, mas temos obliteração do seio costofrênico, temos um derrame pleural, certo? Certo! Mas esse derrame está muito estranho. O derrame não está assumindo o aspecto de parábola e sim um aspecto de lente, além disso, o líquido do derrame está “agarrado” na pleural e apresenta extensão cranial! O que vemos aqui é o exemplo típico de derrame pleural loculado ou de um empiema pleural! Isso ocorre pois existem traves fibrosas e conteúdo espesso e heterogêneo no seu interior, criando lojas e aderências no espaço pleural que não permitem que o líquido tenha uma distribuição homogênea. Como nosso paciente está piorando seu quadro clínico a despeito da antibioticoterapia, provavelmente estamos diante de um empiema pleural. No entanto, esse diagnóstico só poderá ser confirmado após a análise do líquido pleural. 62 Índice CASO CLÍNICO 8 E.R.S., sexo masculino, 54 anos, internado há 4 dias para tratamento de pneumonia, refere piora da febre e da queda do estado geral, apresentando mudança do padrão do escarro. Figura 60. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Mais um caso clínico em que há suspeita de complicação de uma pneumonia já em tratamento. Vamos checar a radiografia! 63 Índice Figura 61. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. A radiografia evidencia as duas principais complicações da pneumonia que vimos acima! Nela, podemos observar a obliteração dos seios costofrênicos laterais. No entanto, com padrões diferentes. À direita assume aspecto de lente e à esquerda assume aspecto de parábola! Portanto, temos um derrame pleural não complicado à esquerda e um derrame loculado ou empiema pleural à direita! Viu como os padrões se repetem? Nesse caso conseguimos reunir os dois padrões de complicações pleurais das pneumonias. 64 Índice CASO CLÍNICO 9 F.J.B, sexo masculino, 15 anos, em tratamento de pneumonia há 3 dias com ATB oral, apresentou piora da febre e da prostração. Figura 62. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 65 Índice Figura 63. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Esse caso aborda um paciente em tratamento de pneumonia que apresentou piora do quadro a despeito da antibioticoterapia instituída. Neste cenário, devemos investigar possíveis complicações desta pneumonia que justifiquem a piora do quadro. 66 Índice Figura 64. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 67 Índice Figura 65. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. Na radiografia deste paciente, podemos observar uma consolidação no lobo superior direito com aspecto heterogêneo (marcada em azul). Observe que existem áreas mais radioluscentes (com densidade de gás) no meio da consolidação, mas que não são broncogramas por não terem formato bem definido (marcadas em laranja). Este aspecto de consolidação heterogênea, com áreas de gás irregulares no interior, deve levantar a suspeita 68 Índice para uma PNEUMONIA NECROSANTE, a qual é uma evolução grave das pneumonias (principalmente bacterianas) em que ocorre necrose do parênquima pulmonar, formando cavidades aéreas no interior da consolidação, mas que felizmente é rara. Os agentes mais associados às pneumonias necrotizantes são o estafilococo e o pneumococo. Portanto, fique atento! Consolidações pulmonares heterogêneas e com focos gasosos/ cavidades irregulares no seu interior devem levantar a suspeita para pneumonias necrosantes. CASO CLÍNICO 10 A.A.S., sexo feminino, 35 anos, refere tosse com expectoração fétida e hemoptoicos, queda do estado geral e febre há 2 semanas. Figura 66. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 69 Índice Figura 67. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nesse caso temos uma paciente jovem que apresenta tosse com expectoração fétida e com hemoptoicos há duas semanas, associado à febre e queda do estado geral. Bem, esses sinais e sintomas já nos fazem pensar em uma infecção pulmonar complicada. Portanto, está indicada a avaliação por imagem para detecção de eventuais complicações. 70 Índice Figura 68. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 71 Índice Figura 69. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. Na radiografia deste paciente, podemos observar uma consolidação no lobo superior direito com aspecto heterogêneo (marcada em azul). O que chama nossa atenção é a área arredondada e radioluscente, com paredes bem definidas e conteúdo no seu interior, localizada no meio da consolidação. Note que na incidência em perfil podemos identificar a formação de um nível líquido no seu interior. Esse aspecto de uma cavidade aerada com paredes bem definidas e com conteúdo líquido no seu interior, localizada no meio de uma consolidação, é compatível com abscesso pulmonar. 72 Índice Na grande parte dos casos, as infecções pulmonares relacionadas ao abscesso são polimicrobianas, mas o Staphylococcus aureus e Klebsiella sp. ganham destaque como principais agentes causadores. Pacientes que apresentaram abscesso pulmonar como resultado de uma broncoaspiração, apresentam maior incidência de bactérias anaeróbias. 73 Índice PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO COM TOSSE E FEBRE RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 I.J.K., sexo masculino, 48 anos, com queixa de tosse produtiva com escarro amarelado e febre há 5 dias. História de início recente de hemodiálise. Exames laboratoriais: 1. HIV + 2. CD4 110 3. LDH 620 74 Índice Figura 70. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nosso paciente é HIV+, aparentemente sem este diagnóstico prévio, com CD4 bastante baixo e apresentando um quadro respiratório. Com estas informações já podemos pensar em algumas possibilidades diagnósticas, já que estamos frente a um paciente imunossuprimido, com um quadro respiratório, como uma pneumocistose, tuberculose e outras doenças oportunistas. Quando observamos a radiografia, notamos um infiltrado alveolar difuso e bilateral, simétrico, que predomina nas regiões centrais de ambos os pulmões (peri-hilares ou em asa de borboleta) e poupando a periferia, sendo altamente sugestivo de PNEUMOCISTOSE neste contexto clínico. Alguns achados como linfonodomegalias e derrame pleural são incomuns na pneumocistose e poderiam sugerir algum diagnóstico alternativo. 75 Índice A pneumocistose é a infecção pulmonar causada pelo fungo Pneumocystis jiroveci que acomete pacientes severamente imunossuprimidos. Nos pacientes HIV+, a pneumocistose é uma doença definidora de SIDA (Síndrome da imunodeficiência adquirida), sendo improvável em pacientes com CD4 > 200. Figura 71. Pneumocistose. Fonte: AcervoMedway. 76 Índice CASO CLÍNICO 2 I.J.K., sexo masculino, 42 anos, usuário de drogas injetáveis, internado há 2 dias para tratamento de pneumocistose e SIDA, evoluiu com dor torácica súbita e dispneia. Figura 72. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, continuamos a avaliar o paciente do caso clínico 1, um paciente que teve o diagnóstico recente de SIDA e está tratando uma pneumocistose, que agora evoluiu com dor torácica e dispneia súbita. Quando observamos a radiografia é possível observar que o paciente evoluiu com um pequeno pneumotórax à direita, além dos achados da própria pneumocistose. 77 Índice Pacientes com pneumocistose apresentam um maior risco de complicar com pneumotórax já que a doença pode causar pequenos cistos subpleurais ou pneumatoceles que podem se romper para o espaço pleural. Fique atento a esta possibilidade! Figura 73. Pneumocistose com pneumotórax. Fonte: Acervo Medway. 78 Índice CASO CLÍNICO 3 A.G.F., sexo feminino, 62 anos, vivendo em situação de rua há 30 anos, foi levado ao hospital pela equipe do consultório na rua com história de tosse, emagrecimento, hemoptise e sensação febril há 5 semanas. Figura 74. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente vivendo em situação de rua, com um quadro respiratório arrastado e febre. Neste contexto clínico, uma das principais hipóteses diagnósticas é de tuberculose. 79 Índice Quando avaliamos a radiografia do tórax, não observamos cavidades nos ápices, que esperaríamos no paciente com tuberculose pós primária. Na verdade, há um infiltrado miliar difuso e bilateral, que predomina nas bases pulmonares. Diante de um paciente com suspeita de tuberculose e um infiltrado miliar no pulmão, a TUBERCULOSE MILIAR torna-se uma ótima hipótese. A apresentação miliar da tuberculose decorre da disseminação hematogênica de uma infecção descontrolada que pode ser primária ou uma reativação. Espera-se esta apresentação em pacientes imunossuprimidos. Na radiografia, os achados são de um infiltrado micronodular difuso e bilateral, simétrico, com nódulos que variam entre 1 e 3 mm, predominando nas bases (local onde o pulmão é mais vascularizado). Figura 75. Tuberculose miliar. Fonte: Acervo Medway. 80 Índice CASO CLÍNICO 4 F.F.J., sexo masculino, 62 anos, HIV+ com tratamento irregular, apresentando tosse, emagrecimento e hemoptise. Figura 76. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente imunossuprimido, HIV+ em tratamento irregular. Na radiografia do tórax há um infiltrado miliar difuso e bilateral, que predomina nas bases pulmonares, bem parecido com o caso clínico número 4, porém mais denso porque os micronódulos não tão numerosos que coalescem. A TUBERCULOSE MILIAR é a principal hipótese. 81 Índice Existem outros diagnósticos diferenciais para infiltrados miliares como: • Outras infecções miliares (principalmente fúngicas, como a histoplasmose) • Metástases (de neoplasia de tireoide, principalmente) • Silicose • Sarcoidose • Sequela de pneumonia por varicela Figura 77. Tuberculose miliar. Fonte: Acervo Medway. 82 Índice CASO CLÍNICO 5 A.G.F, sexo masculino, 29 anos, em tratamento para espondilite anquilosante com adalimumab. Queixa-se de febre baixa e sudorese noturna há 3 semanas, além de dispneia e tosse seca. Refere que trabalha como arquiteto e esteve exposto à poeira de demolição nos últimos meses devido ao trabalho. Na investigação, o antígeno urinário para o histoplasma veio positivo e BAAR negativo em 3 amostras. Figura 78. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente imunossuprimido (em uso de adalimumab), com um quadro clínico mais arrastado que se assemelha a uma tuberculose, porém apresenta uma história de exposição à poeira de demolição que deve chamar atenção para infecções fúngicas como a histoplasmose. A pesquisa de BAAR no escarro resultou negativa e o paciente apresentou positividade 83 Índice para o antígeno do histoplasma na urina. Na radiografia do tórax há um infiltrado miliar difuso e bilateral, que predomina nas bases pulmonares, bem parecido com o caso clínico número 4, porém é mais tênue, que é compatível com a apresentação miliar da histoplasmose. Este caso ajuda a ilustrar um dos diagnósticos diferenciais dos infiltrados miliares nos pacientes imunossuprimidos: a HISTOPLASMOSE MILIAR. Figura 79. Histoplasmose miliar. Fonte: Acervo Medway. 84 Índice CASO CLÍNICO 6 F.J.B., sexo masculino, 10 anos, em quimioterapia para tratamento de LLA iniciado há 3 semanas, apresenta queixa de febre (39ºC), tosse e dor torácica, com episódios de escarro avermelhado. Seu hemograma traz neutrófilos de 422/μL. Figura 80. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente neutropênico que apresentou hemoptise, tosse e dor torácica. Neste contexto clínico, um diagnóstico muito importante de se ter em mente é a ASPERGILOSE ANGIOINVASIVA, que corresponde a uma forma agressiva da infecção pelo fungo aspergillus que acomete pacientes severamente imunocomprometidos, em especial os neutropênicos. O nome “angioinvasivo” refere-se ao acometimento vascular pelo fungo, que gera áreas de hemorragia alveolar e invasão do parênquima pulmonar, justificando a ocorrência de hemoptise. 85 Índice O diagnóstico preferencialmente é feito pela tomografia, que é mais sensível, mas alguns achados radiológicos podem sugerir este diagnóstico principalmente quando estivermos diante de um contexto clínico compatível, como o do nosso paciente. Podemos observar na radiografia: • Nódulos / massas • Solitário ou múltiplos • Distribuição assimétrica • Halo de opacidades pouco definidas ao redor das massas e nódulos, que corresponde à área de hemorragia perilesional Figura 81. Aspergilose angioinvasiva. Fonte: Acervo Medway. 86 Índice CASO CLÍNICO 7 J.N.S., 45 anos, em tratamento quimioterápico para LMA há 4 semanas, apresentando quadro de neutropenia febril e tosse. Figura 82. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de uma paciente neutropênica febril, que apresenta quadro de tosse associada. Assim como no caso clínico anterior, neste contexto clínico de neutropenia, a ASPERGILOSE ANGIOINVASIVA é sempre uma preocupação. Se observarmos a radiografia do tórax desta paciente, poderemos identificar uma massa no ápice do pulmão esquerdo. A aspergilose angioinvasiva pode se manifestar como uma massa solitária. Caracteristicamente essas lesões evoluem com necrose e cavitação quando 87 Índice houver uma melhora da imunidade, exatamente como observamos no controle da nossa paciente: Figura 83. Aspergilose angioinvasiva. Fonte: Acervo Medway. A área de cavitação adquire um aspecto de meia lua, chamado sinal do crescente aéreo. Esta evolução é muito típica da aspergilose angioinvasiva e ajuda a definir o diagnóstico. Relembrando os achados da aspergilose angioinvasiva na radiografia do tórax: • Nódulos / massas • Solitário ou múltiplos • Distribuição assimétrica • Halo de opacidades pouco definidas ao redor das massas e nódulos, que corresponde à área de hemorragia perilesional 88 Índice CASO CLÍNICO 8 J.D.T., sexo masculino, 65 anos, com história de transplante renal há 2 anos, apresenta dor torácica ventilatório-dependente à direita, febre baixa e tosse seca. Refere contato frequente com aves. Figura 84. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, estamos atendendo um paciente com uma história de transplante renal há 2 anos, provavelmente em uso de imunossupressor, que apresenta um quadro respiratório. O paciente refere ainda uma exposição a pássaros. Na radiografia, observamos um nódulo pulmonar solitário no lobo superior direito e um pequeno derrame pleural do mesmo lado, com velamento dos seios costofrênicos. O nódulo foi biopsiado efoi confirmada a CRIPTOCOCOSE PULMONAR. A criptococose pulmonar é uma infecção pelo fungo cryptococcus gatti ou neoformans que ocorre predominantemente em pacientes imunocomprometidos, dentre os quais 89 Índice destacam-se os pacientes após transplante de órgãos sólidos (como o do nosso caso), mas também pode ocorrer em pacientes imunocompetentes. A exposição a aves é um fator de risco importante (também observado no nosso caso). O espectro de alterações radiológicas é amplo, incluindo: • Nódulos pulmonares com ou sem cavitação únicos ou múltiplos, podendo ser aglomerados. • Consolidações. • Linfadenopatia mediastinal. • Derrame pleural. Pelos achados serem inespecíficos, muitas vezes o diagnóstico é histopatológico em um contexto de investigação de nódulo pulmonar. Porém, em um contexto de paciente imunocomprometido, com um quadro pulmonar mais insidioso, principalmente se houver uma exposição a pássaros, este diagnóstico pode ser sugerido. Figura 85. Criptococose pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 90 Índice PACIENTE COM TOSSE CRÔNICA RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 I.J.K., sexo masculino, 56 anos, com queixa de tosse e expectoração avermelhada há 6 semanas, associado a emagrecimento e febre vespertina. Figura 86. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 91 Índice DISCUSSÃO Estamos diante de uma situação clínica muito comum no nosso dia a dia: um paciente com tosse crônica. Um dos primeiros diagnósticos que devemos pensar é de TUBERCULOSE PULMONAR, ainda mais no Brasil, onde a doença infelizmente ainda é muito prevalente. Diante dessa suspeita, devemos procurar alterações pulmonares que sejam sugestivas de tuberculose como consolidações irregulares e heterogêneas, cavidades e nódulos pulmonares com distribuição preferencial nos lobos superiores pulmonares ou nos segmentos superiores dos lobos inferiores. Eventualmente podemos observar linfonodomegalias hilares e derrame pleural. Na radiografia do nosso paciente, observamos alterações bastante sugestivas de tuberculose: no ápice direito há uma consolidação heterogênea e na projeção do segmento superior do lobo inferior esquerdo observamos uma caverna de paredes espessas e alguns pequenos nódulos adjacentes. 92 Índice Figura 87. Tuberculose pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 93 Índice CASO CLÍNICO 2 L.A.F., sexo feminino, 47 anos, com queixa de tosse e expectoração há 6 semanas, associado a emagrecimento e febre vespertina. Figura 88. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, observamos uma paciente com tosse crônica, emagrecimento e febre vespertina. Já ligamos o radar da TUBERCULOSE PULMONAR, certo? Pois bem, a radiografia confirma nosso achado! Observamos uma típica cavidade tuberculosa no campo superior do pulmão esquerdo. Achados clássicos! A tabela abaixo resume outros importantes diagnósticos diferenciais para cavidades pulmonares: 94 Índice Tabela 2. Importantes diagnósticos diferenciais para cavidades pulmonares. Fonte: Medway. Figura 89. Tuberculose pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 95 Índice CASO CLÍNICO 3 S.M.R., sexo masculino, 37 anos, HIV + sem tratamento, foi trazido por familiares ao PS devido a tosse, emagrecimento e episódios de hemoptise há 4 semanas. Figura 90. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso clínico, estamos avaliando um paciente HIV+ sem tratamento regular, com tosse, emagrecimento e episódios de hemoptise há 4 semanas. Mais uma vez, ligamos o alerta 96 Índice para a tuberculose pulmonar. Neste caso, a radiografia mostra alterações extensas, com consolidações irregulares e cavidades confluentes nos campos superiores. Este caso ilustra uma TUBERCULOSE PULMONAR EXTENSA, geralmente vista em pacientes imunossuprimidos. Figura 91. Tuberculose pulmonar extensa. Fonte: Acervo Medway. 97 Índice CASO CLÍNICO 4 I.S.S., sexo masculino, 58 anos, tabagista, assintomático, veio realizar uma radiografia de rastreamento de neoplasia solicitada pelo médico do posto de saúde. Referiu internação há 6 anos para tratar um quadro pulmonar. Figura 92. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 98 Índice DISCUSSÃO Neste caso, estamos avaliando um paciente assintomático do ponto de vista respiratório, mas que apresenta diversas alterações na radiografia de tórax. O que estas alterações nos sugerem? Observe que os achados claramente predominam nos campos pulmonares superiores, onde identificamos imagens arredondadas com conteúdo gasoso, que parecem cavidades, mas com paredes finas. Além disso, existem várias imagens lineares e faixas parenquimatosas. Os hilos estão retraídos para os ápices, provavelmente por uma redução do volume dos lobos superiores extensamente afetados. Cavidades de paredes finas, faixas parenquimatosas, redução volumétrica e distorção da arquitetura do parênquima pulmonar sugerem para nós alterações cicatriciais. Se voltarmos à história, podemos notar que este paciente esteve internado anteriormente para tratar um quadro pulmonar. Sequelas pulmonares nos ápices pulmonares sugerem SEQUELAS DE TUBERCULOSE, que podem ser assintomáticas, mas também podem causar hemoptise e dispneia crônica. Eventualmente as cavidades inativas podem ser colonizadas por fungos como o aspergillus formando as bolas fúngicas. 99 Índice Figura 93. Sequelas de tuberculose. Fonte: Acervo Medway. 100 Índice CASO CLÍNICO 5 J.T.S., sexo masculino, 48 anos, trabalhador rural, com quadro de tosse há 6 semanas e surgimento de lesões ulceradas na mucosa oral e nasal. Figura 94. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente trabalhador rural com tosse crônica e úlceras mucocutâneas. Acredito que você tenha feito a hipótese diagnóstica de paracoccidioidomicose, certo? A PARACOCCIDIOIDOMICOSE é a micose sistêmica mais comum do Brasil, apresentando duas formas clínicas principais: a forma aguda (ou juvenil) e a forma crônica (ou do adulto). Em sua forma crônica, tem um curso insidioso, com um quadro clínico semelhante ao da tuberculose, acometendo os pulmões em 90% dos casos. 101 Índice Na radiografia observamos um característico infiltrado reticuloalveolar grosseiro, por vezes acompanhado de consolidações irregulares e retráteis, que predominam nos campos médios dos pulmões, configurando um aspecto de asa de borboleta. Figura 95. Paracoccidioidomicose. Fonte: Acervo Medway. 102 Índice CASO CLÍNICO 6 F.A.G., sexo masculino, 52 anos, trabalhador rural, proveniente do interior de São Paulo, com quadro de tosse e hemoptise há 6 semanas. Figura 96. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Reconheceu esta história? Paciente proveniente de área rural, endêmica (interior de São Paulo) com um quadro semelhante a uma tuberculose. Mais uma vez, nossa hipótese diagnóstica é de PARACOCCIDIOIDOMICOSE, certo? Na radiografia observamos aquele mesmo característico sinal da asa de borboleta. Veja como o padrão radiológico se repete! Aproveite para treinar o olho: infiltrado reticuloalveolar grosseiro, por vezes acompanhado de consolidações irregulares e retráteis, que predominam nos campos médios dos pulmões, principalmente nas regiões peri-hilares. 103 Índice Mas nem toda asa de borboleta (ou de morcego) é paracoco, viu?! Na verdade, a lista de diagnósticos diferenciais é ampla. Aí vai uma listinha dos principais: • Edema pulmonar • Pneumocistose • Pneumonias virais • Hemorragia alveolar Figura 97. Paracoccidioidomicose. Fonte: Acervo Medway. 104 Índice CASO CLÍNICO 7 P.E.R., sexo masculino, 75 anos, tabagista há 30 anos, com tosse e expectoração há anos. Exame para acompanhamento. Figura 98. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 105 Índice \ Figura 99. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um quadro clínico muito comum no dia a dia: um paciente tabagista, com tosse crônica. 106 ÍndiceVamos direto para a radiografia! Nela observamos que os pulmões estão difusamente mais escuros (redução difusa da atenuação). Os pulmões também parecem aumentados tanto no eixo craniocaudal quanto no sentido anteroposterior do tórax. O aumento do diâmetro anteroposterior determina uma proeminência do espaço retroesternal, que está alargado. As cúpulas diafragmáticas estão retificadas e rebaixadas. O coração está alongado pelo aumento do tórax no sentido craniocaudal, adquirindo um aspecto “em gota”. Todos estes achados são compatíveis com hiperinsuflação pulmonar que, em pacientes tabagistas, sugere DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). Figura 100. DPOC. Fonte: Acervo Medway. 107 Índice CASO CLÍNICO 8 C.P.S., sexo masculino, 15 anos, com história de asma, apresentando quadro de dispneia, tosse seca e sibilos. Figura 101. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 108 Índice Figura 102. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nossa paciente provavelmente está apresentando uma CRISE DE ASMA. Durante estas crises de broncoespasmo, o paciente asmático tende a exacerbar o quadro obstrutivo com aprisionamento aéreo, que leva à hiperinsuflação pulmonar. Os achados de imagem durante uma crise de asma representam a hiperinsuflação pulmonar com achados semelhantes aos observados no paciente com DPOC: observamos que os pulmões estão difusamente mais escuros (redução difusa da atenuação), parecem aumentados tanto no eixo craniocaudal quanto no sentido anteroposterior do tórax, determinando uma proeminência do espaço retroesternal, que está alargado. As cúpulas 109 Índice diafragmáticas estão retificadas e rebaixadas. O coração está alongado pelo aumento do tórax no sentido craniocaudal, adquirindo um aspecto “em gota”. Figura 103. Crise de asma. Fonte: Acervo Medway. 110 Índice CASO CLÍNICO 9 A.N., sexo masculino, 55 anos, tabagista, alteração da radiografia do tórax realizada durante exame admissional. Figura 104. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 111 Índice Figura 105. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Vamos voltar aos padrões radiológicos! Neste caso observamos um aumento focal da atenuação do pulmão no lobo inferior direito, que apresenta os contornos bem definidos e arredondados. Estamos diante de um NÓDULO PULMONAR. O nódulo pulmonar solitário é um desafio radiológico, podendo representar alterações inflamatórias como uma criptococose ou um granuloma de tuberculose e até mesmo uma neoplasia pulmonar. Estes nódulos merecem uma avaliação adicional com a tomografia para avaliar melhor suas características (calcificação, contornos, dimensões etc.). Nesta paciente tabagista, nossa principal hipótese é de neoplasia pulmonar. 112 Índice Figura 106. Figura 21. Nódulo pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 113 Índice CASO CLÍNICO 10 F.D.A., sexo masculino, 68 anos, tabagista, apresentando dispneia, febre e piora do padrão da tosse e expectoração há 5 dias. Figura 107. Figura 22. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Realizado controle radiográfico após 6 semanas do fim do tratamento com antibióticos: 114 Índice Figura 108. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, temos um paciente que foi diagnosticado com uma pneumonia no lobo superior direito a partir da observação de uma consolidação lobar. Após o tratamento este paciente foi corretamente submetido a uma nova radiografia para controle após 6 semanas do tratamento na qual observamos a persistência de uma imagem em forma de massa na mesma localização da consolidação pulmonar, suspeita para uma NEOPLASIA DE PULMÃO. Este caso ilustra a importância do controle radiológico após o tratamento de pneumonias. Espera-se que as opacidades pneumônicas tenham se resolvido em até 6 semanas após o tratamento. Caso persistam, devemos suspeitar de neoplasia já que as pneumonias podem obscurecer massas e algumas neoplasias pulmonares como os adenocarcinomas mucinosos podem se apresentar como consolidações persistentes ou que aumentam de tamanho ao longo do tempo! Muito cuidado para estes pacientes não perderem a oportunidade do diagnóstico precoce de uma neoplasia pulmonar! 115 Índice Também é importante ficar atento para consolidações em pacientes pouco sintomáticos ou com um quadro clínico não compatível. Figura 109. Neoplasia pulmonar obscurecida por uma pneumonia. Fonte: Acervo Medway. 116 Índice PACIENTE COM DISPNEIA AGUDA RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo masculino de 78 anos, chega ao pronto-socorro apresentando dispneia súbita e sudorese, com antecedentes pessoais: HAS e insuficiência cardíaca. Figura 110. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Vamos lá, galera! No edema agudo de pulmão (EAP), há um acúmulo de líquido extravasado dos capilares 117 Índice para o interstício pulmonar, que dificulta as trocas gasosas, culminando em insuficiência respiratória aguda hipoxêmica. A principal causa é a insuficiência cardíaca, mas causas não cardiogênicas também podem levar ao EAP, como doença renal aguda ou crônica, falência hepática aguda, cirrose, sobrecarga de volume, entre outros. Nos exames de imagem, as manifestações mais precoces são o ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares e a cefalização da trama broncovascular, isto é, um aumento dos vasos sanguíneos nos campos pulmonares superiores, onde deveriam ser mais escassos. Estes dois achados indicam aumento da pressão venosa pulmonar. O aumento da pressão hidrostática pode resultar no extravasamento de fluidos para o interstício pulmonar, causando o edema intersticial. As manifestações do edema intersticial incluem: o espessamento dos septos interlobulares ou linhas B de Kerley, que representam opacidades lineares periféricas tocando a pleura e orientadas perpendicularmente à sua superfície, e o espessamento dos feixes peribroncovasculares. Nos casos mais avançados, o aumento da pressão venosa central pode determinar extravasamento de fluidos para o interior dos alvéolos, resultando no edema alveolar, que se manifesta com opacidades alveolares nas regiões basais e peri-hilares, tipicamente com o padrão em asa de morcego ou asa de borboleta. Outro achado que pode ser observado no EAP é o derrame pleural e o acúmulo de líquido das fissuras interlobares. Na radiografia do caso, observamos ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares (setas rosas), cefalização da trama broncovascular (área em verde), espessamento dos septos interlobulares ou linhas B de Kerley (linhas pontilhadas em laranja), opacidades alveolares basais e peri-hilares (área em azul), derrame pleural (área em roxo), além de cardiomegalia (índice cardiotorácico > 0,5, indicado pelas setas cinzas). Este é um caso que ilustra muito bem os achados de edema agudo de pulmão. Gravem essa imagem, galera! 118 Índice Figura 111. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 119 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo masculino, 85 anos, com quadro dispneia súbita. Figura 112. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Opa! Já vimos um caso parecido, hein… Os achados radiográficos desse paciente são semelhantes aos do caso anterior. Vamos lá! Aqui podemos observar o ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares (setas rosas), cefalização da trama broncovascular (área em verde), espessamento dos septos interlobulares ou linhas B de Kerley (linhas pontilhadas em laranja), opacidades peri- hilares bilaterais com aparência de asa de morcego (área em azul), derrame pleural (área em roxo), além de cardiomegalia (índice cardiotorácico > 0,5, indicado pelas setas cinzas). 120 Índice Portanto, trata-se de mais um caso de edema agudo de pulmão! Figura 113. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 121 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo feminino de 35 anos com antecedente de LES apresenta um quadro de hemoptise,dispneia e anemia. Figura 114. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Temos um quadro de hemoptise em paciente jovem com doença autoimune apresentando opacidades pulmonares irregulares e difusas na radiografia. Devemos levantar a bola para hemorragia alveolar. Na hemorragia alveolar, os espaços alveolares estão preenchidos por sangue. Esta condição apresenta diferentes causas, principalmente as doenças autoimunes e vasculites, incluindo o lúpus, granulomatose com poliangeíte, poliangeíte microscópica e síndrome de Goodpasture, mas inclui também outras causas como distúrbio da coagulação, medicamentosa, doenças valvares, infecções, dentre outras. 122 Índice Os pacientes classicamente se apresentam com dispneia, hemoptise e anemia, e podem evoluir com insuficiência respiratória hipoxêmica, já que o preenchimento dos alvéolos por sangue prejudica as trocas gasosas. Os achados típicos da radiografia do tórax são as opacidades pulmonares irregulares e mal definidas, que podem ser difusas e preservar os ápices pulmonares, que em geral, se resolvem em cerca de duas semanas. Essas opacidades são vistas na tomografia como opacidades em vidro fosco. Ao longo do tempo, as opacidades irregulares e indefinidas podem coalescer e evoluir com consolidações. A imagem pode ser confundida com outras desordens, como edema pulmonar ou pneumonia, mas a queda do hematócrito e a história clínica de doença autoimune auxiliam nesta diferenciação. Na imagem do caso, podemos observar as opacidades pulmonares mal definidas bilaterais (setas azuis), preservando os ápices pulmonares (seta rosa). Figura 115. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 123 Índice A seguir, vemos imagens de radiografia e tomografia computadorizada de um mesmo paciente com hemorragia alveolar difusa com antecedente pessoal de LES. A radiografia mostra opacidades pulmonares bilaterais e mal definidas e a tomografia mostra opacidades em vidro fosco bilaterais e difusas. Figura 116. Radiografia do Tórax (PA). Fonte: Specialty Imaging: HRCT of the Lung, 2nd edition, Elsevier 2018. Santiago Martínez-Jiménez, Melissa L. Rosado-de-Christenson and Brett W. Carter. 124 Índice Figura 117. Tomografia Computadorizada do Tórax (plano axial). Fonte: Specialty Imaging: HRCT of the Lung, 2nd edition, Elsevier 2018. Santiago Martínez-Jiménez, Melissa L. Rosado-de-Christenson and Brett W. Carter. 125 Índice CASO CLÍNICO 4 Paciente do sexo masculino, de 32 anos, com quadro de tosse, dispneia aguda e hemoptise. Está oligúrico. Nos exames laboratoriais, constatou-se lesão renal aguda. Figura 118. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Mais uma imagem de hemorragia alveolar! Neste caso, o paciente tem síndrome de Goodpasture, caracterizada pela presença de anticorpos antimembrana basal glomerular, resultando em glomerulonefrite e hemorragia alveolar difusa. A hemorragia alveolar difusa se manifesta na radiografia do tórax como múltiplas opacidades pulmonares bilaterais, algumas coalescentes, principalmente nas regiões peri-hilares, 126 Índice mas podem ser difusas, e se resolvem dentro de alguns dias. A tomografia pode mostrar múltiplas opacidades em vidro fosco ou focos de consolidação. Na imagem do caso, vemos múltiplas opacidades pulmonares difusamente distribuídas (setas azuis), mais exuberantes que as do caso anterior, algumas com aspecto coalescente. Podemos observar, ainda pequeno derrame pleural à direita, com obliteração do seio costofrênico. Figura 119. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 127 Índice CASO CLÍNICO 5 Paciente do sexo masculino, 20 anos, vítima de colisão moto-anteparo, apresenta dispneia e dor torácica à direita e MV diminuido no hemitórax direito. Figura 120. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Galera, um caso clássico de pneumotórax! Então gravem bem esta imagem, pois não podemos deixar passar um caso desse! O pneumotórax é a presença de ar/gás no espaço pleural, localizado entre a pleura parietal e a pleura visceral. O pneumotórax torna o lado acometido mais escuro que o contralateral. A presença de ar 128 Índice no espaço pleural anula a pressão negativa e faz com que o pulmão recue para o seu estado de repouso, colapsado e com dimensões menores. A pleura visceral pode ser caracterizada como uma fina linha branca contornando o pulmão colapsado. As estruturas vasculares podem estar mais proeminentes no lado oposto, pois o colapso do pulmão afetado dificulta a saída de sangue do ventrículo direito, sobrecarregando o pulmão contralateral. O aumento progressivo da coleção de gás/ar no espaço pleural pode resultar no pneumotórax hipertensivo, que se manifesta na radiografia com deslocamento das estruturas do mediastino para o lado oposto, além do rebaixamento do diafragma ipsilateral, aumento dos espaços intercostais e do volume no hemitórax acometido. A ilustração a seguir mostra a anatomia normal no pulmão direito e pneumotórax à esquerda, com acúmulo de ar no espaço pleural (em rosa), localizado entre as pleuras parietal (em verde) e visceral (em amarelo). O pulmão (em azul) no lado acometido fica colapsado no lado acometido. Figura 121. Ilustração da anatomia normal do pulmão direito e pneumotórax à esquerda. Fonte: Acervo Medway. A radiografia do nosso caso mostra um volumoso pneumotórax à direita (área em rosa), com o pulmão direito colapsado (área em azul), além de desvio das estruturas do mediastino para o lado oposto (setas azuis). 129 Índice Figura 122. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 130 Índice Figura 123. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 131 Índice CASO CLÍNICO 6 Paciente do sexo feminino, 66 anos, com quadro de dispneia e dor pleurítica após biópsia percutânea de lesão na mama esquerda. Figura 124. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO O pneumotórax deste caso é mais sutil, mas a história clínica colabora… após um procedimento percutâneo na mama esquerda, a paciente apresenta dispneia e dor pleurítica. Na radiografia, o pneumotórax aparece como uma área menos densa (mais escura) no campo superior do hemitórax esquerdo (área em rosa), além de uma linha branca tênue e fina que representa a pleura visceral (em amarelo), e o pulmão colapsado abaixo dela (área em azul). 132 Índice Figura 125. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. O pneumotórax pode ser facilmente identificado nas radiografias de tórax em PA, pois o ar é menos denso do que as demais estruturas da caixa torácica e sobe. Entretanto, quando o volume de ar é pequeno, essa caracterização pode ser mais difícil. Para isso, podemos usar alguns artifícios, como a radiografia em decúbito lateral com o lado suspeito para cima, fazendo com que o ar suba para a lateral. 133 Índice CASO CLÍNICO 7 Figura 126. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Derrame pleural é o acúmulo de líquido no espaço pleural, um espaço virtual situado entre a pleura parietal e a pleura visceral. Diferentes causas podem resultar no derrame pleural, que podem variar entre desordens pleurais, pulmonares ou extrapulmonares (como congestão sistêmica, por exemplo). Os derrames pleurais podem ser classificados, através do estudo bioquímico, como transudativos e exsudativos. Diferente do derrame transudativo, o exsudativo apresenta altos níveis de proteína e desidrogenase lática (DHL) e pode ser diferenciado do transudato através dos seguintes critérios: razão entre proteínas no líquido pleural e proteínas séricas > 0,5, razão entre o DHL no líquido pleural e DHL sérico > 0,6 e DHL no líquido pleural > 2/3 do limite superior do soro. O derrame transudativo resulta do aumento da pressão hidrostática ou redução da pressão osmótica, e pode ocorrer nos casos de insuficiência cardíaca 134 Índice congestiva, insuficiência hepática ou renal. O derrame exsudativo resulta de doençaspleurais ou do parênquima pulmonar que cursam com aumento da permeabilidade capilar, e pode ocorrer em infecções pulmonares e carcinomatose pleural. O derrame pleural é mais pesado que o pulmão repleto de ar e tende a se acumular nas porções inferiores da caixa torácica devido à gravidade. Em ortostase, o líquido oblitera os seios costofrênicos posteriores e laterais, os tornando mais brancos na imagem. A obliteração dos seios costofrênicos posteriores na incidência em perfil é a manifestação mais inicial dos derrames pleurais na radiografia, a partir de 50 ml de líquido. Os seios costofrênicos posteriores são mais profundos e, portanto, são os primeiros a serem obliterados. A obliteração dos seios costofrênicos laterais na incidência frontal ocorre a partir de 200 ml de líquido pleural. A gravidade pode ser um artifício para auxiliar na detecção do derrame pleural na radiografia. Podemos realizar a incidência em decúbito lateral com raios horizontais posicionando o lado acometido voltado para baixo, e observar a distribuição do líquido livre na cavidade pleural no lado voltado para baixo, entre o pulmão e a pleura parietal. Derrames pleurais mais volumosos são identificados mais facilmente. Devido ao vácuo no espaço pleural, os derrames pleurais volumosos podem formar uma imagem em parábola, conhecida como “sinal do menisco”, caracterizado pela posição mais alta do derrame na porção lateral e mais baixa na porção medial. Para a obliteração da cúpula diafragmática é necessário cerca de 500 ml de líquido pleural. Na ilustração a seguir, vemos o derrame pleural (em laranja) ocupando o espaço pleural (em rosa), localizado entre as pleuras visceral (amarelo) e parietal (verde). Figura 127. Ilustração da anatomia normal do pulmão direito e derrame pleural à esquerda. Fonte: Acervo Medway. 135 Índice Na radiografia do nosso caso, o derrame pleural (em laranja) volumoso no hemitórax direito oblitera a cúpula diafragmática e forma o sinal do menisco (em vermelho). Figura 128. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 136 Índice CASO CLÍNICO 8 Mulher, 40 anos, falta de ar há 6 horas com início súbito, dor torácica ventilatório-dependente e tosse sem expectoração. Figura 129. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO O tromboembolismo pulmonar (TEP) ocorre pela obstrução das artérias pulmonares por êmbolos. A principal causa é a trombose venosa profunda (TVP) de veias proximais dos membros inferiores (a partir das veias poplíteas) e o seus fatores de risco são idade, tabagismo, obesidade, gravidez, câncer, trauma, cirurgia, restrição ao leito, trombofilia, entre outros. A radiografia é pouco sensível e pouco específica para TEP, mas podemos encontrar achados clássicos, como o sinal de Westermark, o sinal de Fleischner e o sinal da corcova de Hampton. O sinal de Westermark hipertransparência no segmento pulmonar acometido devido à 137 Índice hipoperfusão (oligoemia) regional. O sinal de Fleischner representa o aumento do calibre da artéria pulmonar central pela presença de um trombo no seu interior. O sinal da corcova de Hampton corresponde a uma opacidade triangular na região periférica do pulmão que representa uma área de infarto. Na radiografia do caso, vemos o sinal da corcova de Hampton (área em vermelho) no campo pulmonar médio direito e o sinal de Westermark que representa uma área de oligoemia regional (retângulo verde), repare como esta área é mais hipertransparente em relação ao lado normal (retângulo laranja), com a trama vascular preservada. Figura 130. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 138 Índice Figura 131. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 139 Índice CASO CLÍNICO 9 Mulher, 50 anos, com falta de ar súbita e dor torácica. Figura 132. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Mais um caso de TEP! Mas nesta radiografia temos uma área focal de infarto (sinal da corcova de Hampton) no campo pulmonar inferior direito (área em vermelho) e com uma área de opacidade mais tênue adjacente, que pode resultar de isquemia (área em amarelo). Vemos, ainda, uma área mais transparente por oligoemia (sinal de Westermark) no campo pulmonar superior esquerdo (retângulo verde). 140 Índice Figura 133. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 141 Índice Figura 134. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 142 Índice PACIENTE COM DISPNEIA CRÔNICA RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 78 anos, referindo falta de ar com piora progressiva há 6 meses, cansaço e desconforto torácico, relata 2 episódios de desmaio no último mês. Figura 135. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 143 Índice Figura 136. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica caracterizada por sinais e sintomas de sobrecarga de fluidos e/ ou diminuição do débito cardíaco. A IC pode resultar de diferentes causas. No Brasil, as principais etiologias incluem a cardiopatia isquêmica, hipertensão arterial, valvopatias, cardiomiopatia tóxica (ex.: quimioterápicos) e doença de Chagas. Os sintomas são variáveis e podem estar relacionados às câmaras cardíacas acometidas. Sintomas predominantes à esquerda: fadiga, síncope, dispneia, dor no peito. Sintomas predominantes à direita: noctúria, edema de membros inferiores, ascite, hepatomegalia, turgência jugular. 144 Índice Os achados radiográficos da IC são: • A cardiomegalia, caracterizada pelo aumento da silhueta cardíaca e o índice cardiotorácico > 0,5 • O ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares e a cefalização da trama broncovascular (aumento dos vasos sanguíneos nos campos pulmonares superiores, onde deveriam ser mais escassos). Estes achados indicam aumento da pressão venosa pulmonar • O espessamento dos septos interlobulares ou linhas B de Kerley (opacidades lineares periféricas tocando a pleura e orientadas perpendicularmente à sua superfície) e o espessamento dos feixes peribroncovasculares. Estes achados indicam edema intersticial por aumento da pressão hidrostática e extravasamento de fluidos para o interstício pulmonar • O edema alveolar pode ocorrer quando a instalação da IC é súbita e aparece como opacidades alveolares nas regiões basais e peri-hilares, tipicamente com o padrão em asa de morcego ou asa de borboleta Na radiografia do caso, observamos ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares (setas rosas), cefalização da trama broncovascular (área em verde), espessamento da trama peribroncovascular (setas azuis) e cardiomegalia (índice cardiotorácico > 0,5, indicado pelas setas cinzas). 145 Índice Figura 137. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. A imagem da silhueta cardíaca ainda nos dá mais informações: podemos ver que o aumento das dimensões do coração tem um predomínio nas câmaras cardíacas esquerdas. Alguns dos sinais que mostram o aumento do ventrículo esquerdo são: deslocamento da borda cardíaca esquerda para a esquerda, inferior e posteriormente (setas azuis), e o arredondamento do ápice cardíaco (linha tracejada amarela). Achados que revelam o aumento do átrio esquerdo são: a perda da concavidade habitual do apêndice atrial esquerdo (linha tracejada rosa), a dupla sombra na borda direita do coração (linhas tracejadas verdes) e o alargamento do ângulo carinal (em laranja). 146 Índice Figura 138. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 147 Índice Figura 139. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 148 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino, 75 anos, apresentando cansaço e dispneia com piora progressiva. Figura 140. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 149 Índice Figura 141. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Outro caso de insuficiência cardíaca em que a radiografia mostra o ingurgitamento dos pedículos vasculares hilares (setasrosas), cefalização da trama broncovascular (área em verde), espessamento da trama peribroncovascular (setas azuis) e cardiomegalia (índice cardiotorácico > 0,5, indicado pelas setas cinzas). 150 Índice Figura 142. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Porém, neste caso, o aumento das dimensões do coração tem um predomínio nas câmaras cardíacas direitas. Os sinais que mostram o aumento do ventrículo direito são: arredondamento da borda cardíaca esquerda (linha rosa tracejada), ápice cardíaco elevado, preenchimento do espaço retroesternal no perfil (seta roxa). Achados que revelam o aumento do átrio direito são: coração dilatado e globoso e o aumento da convexidade na borda cardíaca inferior direita (linha verde tracejada). 151 Índice Figura 143. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 152 Índice Figura 144. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 153 Índice CASO CLÍNICO 3 Mulher, 75 anos, com quadro de falta de ar crônica, fraqueza, fadiga, edema nos membros inferiores, turgência jugular e hepatomegalia. Figura 145. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A pericardite constritiva é um tipo de pericardite caracterizada pelo espessamento e endurecimento do pericárdio, que pode ser fibroso ou calcificado e acaba por restringir o batimento cardíaco dentro do saco pericárdico, levando a uma disfunção diastólica e potenciais sintomas de falência do coração direito. O quadro clínico inclui dispneia, ortopneia, fadiga, hepatomegalia, ascite, turgência jugular. Pode resultar de diferentes causas: idiopática, lesão pericárdica (pós-cirúrgica ou RT), infecção (tuberculose, viral, bacteriana), sarcoidose, distúrbios metabólicos (uremia), doenças do tecido conjuntivo, neoplasia, dentre outras. O principal achado radiográfico da pericardite constritiva é a presença de espessamento e calcificações grosseiras no pericárdio, porém estes achados são pouco sensíveis, sendo 154 Índice observados em apenas 50% dos casos. Eventualmente podemos observar também sinais de falência cardíaca direita, com congestão pulmonar. Figura 146. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 155 Índice CASO CLÍNICO 4 Mulher, 75 anos, em acompanhamento por insuficiência cardíaca compensada, e cirurgia cardíaca devido insuficiência valvar. Figura 147. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 156 Índice Figura 148. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nesta paciente em acompanhamento por insuficiência cardíaca e antecedente de insuficiência valvar, identificamos sinais de esternotomia com fios metálicos de esternorrafia, além da imagem de uma prótese valvar. As próteses valvares mais comuns são a aórtica e a mitral. As próteses podem ser identificadas e localizadas nas radiografias do tórax, mas a sua visualização depende da quantidade de componente metálico. As valvas mecânicas e biológicas modernas têm pouco ou nenhum componente metálico e, portanto, são mais difíceis de serem identificadas. Localização das valvas cardíacas requer as incidências PA e perfil. Na radiografia PA, traçamos uma linha entre o ângulo cardiofrênico e o apêndice atrial esquerdo (linha tracejada em 157 Índice amarelo): as valvas pulmonar e aórtica ficam situadas acima desta linha, enquanto as valvas mitral e tricúspide se localizam abaixo. Na radiografia em perfil, traçamos uma linha entre o ápice cardíaco e a carina (linha tracejada em roxo): as valvas pulmonar e aórtica se localizam acima desta linha e as valvas mitral e tricúspide abaixo. Figura 149. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 158 Índice Figura 150. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. Na radiografia do caso, a paciente tem uma prótese de valva aórtica (seta rosa) que está localizada acima da linha entre o ângulo cardiofrênico e o apêndice atrial esquerdo (linha amarela) em PA e acima da linha entre o ápice cardíaco e a carina (linha roxa) no perfil. 159 Índice Figura 151. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 160 Índice Figura 152. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 161 Índice CASO CLÍNICO 5 Mulher, 45 anos, em acompanhamento clínico após cirurgia de troca valvar há 5 anos. Figura 153. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 162 Índice Figura 154. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Seguindo o mesmo raciocínio do caso anterior, nesta radiografia, a paciente tem uma prótese de valva mitral (seta laranja), que está localizada abaixo da linha entre o ângulo cardiofrênico e o apêndice atrial esquerdo (linha amarela) em PA e abaixo da linha entre o ápice cardíaco e a carina (linha roxa) no perfil. 163 Índice Figura 155. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 164 Índice Figura 156. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 165 Índice CASO CLÍNICO 6 Mulher, 47 anos, em acompanhamento por esclerose sistêmica, com quadro crônico e progressivo de falta de ar aos esforços, fadiga e um episódio de síncope na última semana. Figura 157. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A hipertensão pulmonar é caracterizada pela pressão arterial pulmonar média ≥ 25 mmHg no repouso ou ≥ 30 mmHg no exercício. Os pacientes podem apresentar dispneia aos esforços com carácter progressivo, fadiga, síncope, dor torácica e palpitações. 166 Índice Os fatores de risco incluem o uso de drogas e toxinas, infecção pelo HIV, hipertensão portal e doença hepática, doença do tecido conjuntivo e esclerodermia. Na radiografia podemos observar ectasia dos vasos pulmonares centrais, com aspecto em poda de árvore, em contraste com o afilamento dos vasos pulmonares periféricos. Outros achados que podem ser encontrados nesses pacientes são a cardiomegalia, com predomínio das câmaras direitas, que pode tocar a parede torácica anterior na incidência em perfil, e a elevação do ápice cardíaco por hipertrofia do ventrículo direito. A paciente do caso com antecedente de esclerose sistêmica apresenta um quadro de dispneia aos esforços e fadiga progressivas e, na radiografia, observamos ectasia dos vasos pulmonares centrais (área em rosa). Além disso, há uma proeminência da silhueta do tronco da artéria pulmonar (tracejado amarelo), que provavelmente está ectasiada devido à hipertensão pulmonar. 167 Índice Figura 158. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 168 Índice CASO CLÍNICO 7 Homem, 80 anos, tabagista de longa data, com quadro de tosse crônica e dispneia. Figura 159. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 169 Índice Figura 160. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) resulta da obstrução irreversível das vias aéreas, mais comum em pacientes mais velhos, causada por exposições prolongadas a partículas e gases nocivos, classicamente associada ao tabagismo. Os pacientes apresentam um quadro crônico de dispneia, tosse e expectoração. Os pacientes com DPOC apresentam uma combinação de bronquite crônica e enfisema. Na radiografia, vemos sinais sugestivos de hiperinsuflação pulmonar caracterizado por aumento da transparência e aumento do volume do parênquima pulmonar (seta verde), 170 Índice aumento da distância entre os arcos costais (seta amarela), além do rebaixamento e retificação das hemicúpulas diafragmáticas (linha pontilhada rosa). Na incidência em perfil, observamos o aumento da área retroesternal (seta azul) e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (seta vermelha). O enfisema pulmonar é mais bem observado no exame de tomografia computadorizada. Figura 161. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 171 Índice Figura 162. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. 172 Índice CASO CLÍNICO 8 Homem, 70 anos apresentando quadro de dispneia e tosse crônicas. Figura 163. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway.DISCUSSÃO A fibrose pulmonar é caracterizada pelo excesso de tecido fibrótico no interstício pulmonar, que pode ser localizada, segmentar, lobar, ou de todo o pulmão. A fibrose pulmonar pode ocorrer em diferentes situações como infecções, pneumoconioses, sarcoidose, após radioterapia, doenças do tecido conjuntivo, dentre outras. Na radiografia podemos observar opacidades reticulares ou reticulonodulares, distorção 173 Índice arquitetural pulmonar, retração hilar e fissura e redução volumétrica do pulmão. Na imagem do caso podemos observar opacidades reticulares e reticulonodulares grosseiras com predomínio nos campos pulmonares médios e inferiores (setas rosas), além de distorção arquitetural e redução volumétrica do pulmão (seta amarela). Figura 164. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 174 Índice CASO CLÍNICO # 9 Homem, 60 anos, com quadro de tosse crônica e dispneia, refere ter trabalhado por muitos anos em fábrica de vidros e cerâmica. Figura 165. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Radiopedia. Disponível em: https://radiopaedia.org/cases/75446/ play?lang=us 175 Índice Figura 166. Tomografia Computadorizada de Tórax (axial). Fonte: Radiopedia. Disponível em: https://radiopaedia. org/cases/75446/play?lang=us 176 Índice Figura 167. Tomografia Computadorizada de Tórax (coronal). Fonte: Radiopedia. Disponível em: https://radiopaedia. org/cases/75446/play?lang=us DISCUSSÃO A silicose é causada pela inalação de partículas contendo sílica (dióxido de silício), associada a atividades de mineração, fabricação de vidros, jateamento de areia, indústria de cerâmica e construção civil. Pode ser associada a outras desordens como artrite reumatoide (síndrome de Caplan), esclerose sistêmica (síndrome de Erasmus), micobacterioses (TB), infecções fúngicas e neoplasias. Existem diferentes formas de apresentação: forma aguda, forma acelera e forma crônica. A forma aguda é menos comum e ocorre em meses ou semanas após uma exposição intensa levando a dispneia intensa, emagrecimento e astenia. Nos achados radiológicos, pela produção de um exsudato alveolar proteináceo, observamos a silicoproteinose, com padrão de “pavimentação em mosaico”, melhor vista na tomografia. A forma acelerada ou rapidamente progressiva ocorre após 5 a 10 anos de exposição e se apresenta radiologicamente com aspecto semelhante à silicose crônica. A forma crônica ou clássica é mais comum, sendo caracterizada pela baixa exposição à sílica ao longo de anos, apresentando sintomas insidiosos e repercussão radiológica somente após 20 anos de doença. A radiografia na forma crônica evidencia micronódulos esparsos, com predomínio inicialmente nos campos superiores depois campos médios. Os micronódulos 177 Índice podem calcificar e podem coalescer formando conglomerados ou “massas de fibrose”, que se forem escadas, nos fazem pensar em silicotuberculose. Também podemos encontrar os clássicos linfonodos calcificados “em casca de ovo”, quando a calcificação é periférica, porém sendo mais fácil de identificá-los na tomografia computadorizada. Nas imagens do caso, observamos micronódulos numerosos (setas rosas), alguns calcificados, com predomínio nos campos pulmonares superiores e médios. Vemos também uma opacidade maior que representa um conglomerado ou massa de fibrose no lobo superior direito (seta verde). A tomografia do mesmo paciente evidencia ainda, linfonodos com calcificação em casca de ovo (setas laranjas). Figura 168. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Adaptado de Radiopedia. Disponível em: https://radiopaedia.org/ cases/75446/play?lang=us 178 Índice Figura 169. Tomografias Computadorizadas de Tórax (axial e coronal). Fonte: Adaptado de Radiopedia. Disponível em: https://radiopaedia.org/cases/75446/play?lang=us https://radiopaedia.org/cases/75446/play?lang=us 179 Índice PACIENTE COM DOR TORÁCICA AGUDA RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Mulher, 50 anos, com dor torácica há 2 horas, acompanhada de dispneia e sudorese. Figura 170. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Na radiografia do caso, vemos o sinal da corcova de Hampton (área em vermelho) no campo pulmonar médio direito, achado clássico de tromboembolismo pulmonar (TEP), que 180 Índice representa uma área de infarto pulmonar. O sinal da corcova de Hampton é caracterizado por uma opacidade triangular ou em cunha, com a base na periferia do pulmão. Outros achados clássicos de TEP são o sinal de Westermark e o sinal de Fleischner. O sinal de Westermark hipertransparência no segmento pulmonar acometido devido à hipoperfusão (oligoemia) regional. O sinal de Fleischner representa o aumento do calibre da artéria pulmonar central pela presença de um trombo no seu interior. Figura 171. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 181 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo masculino, 80 anos, com antecedente de ICC, com quadro de dispneia com piora progressiva e dor torácica aguda com RX solicitado no leito. Figura 172. Radiografia de Tórax (no leito, em AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO O derrame pleural é o acúmulo de líquido no espaço pleural, um espaço situado entre a pleura parietal e a pleura visceral. Na avaliação de alterações pleurais, precisamos entender que o espaço pleural é uma cavidade virtual e que os líquidos, quando se acumulam nesta cavidade, vão sempre ocupar as porções mais inferiores da caixa torácica devido à gravidade. 182 Índice Quando o paciente está de pé ou sentado, o líquido escorre para os seios costofrênicos, os tornando mais brancos na imagem. Os seios costofrênicos posteriores são mais inferiores e, portanto, os primeiros a serem obliterados, a partir de 50 ml de líquido, que pode ser visualizado na radiografia em perfil. A obliteração dos seios costofrênicos laterais na incidência frontal ocorre a partir de 200 ml de líquido pleural. A incidência em decúbito lateral com raios horizontais posicionando o lado acometido voltado para baixo pode auxiliar na detecção de derrames pleurais duvidosos. Nesses casos, o líquido livre escorre na cavidade pleural no lado voltado para baixo, entre o pulmão e a pleura parietal. Mas acontece que nem sempre os pacientes conseguem fazer as incidências indicadas na avaliação do derrame pleural. Muitos pacientes são acamados e suas radiografias precisam ser feitas no leito, na posição em decúbito dorsal. Nestes casos, o líquido escorre para a porção posterior do pulmão, o que pode nos atrapalhar! Na radiografia em AP, os derrames pleurais vão parecer como um pulmão difusamente mais branco, com um gradiente craniocaudal, que vai ficando mais branco nos campos inferiores. Isso acontece porque o líquido vai estar acumulado atrás dos pulmões. E é isso o que acontece no paciente deste caso, com derrame pleural à direita que realizou o exame no leito. Além do velamento do seio costofrênico deste lado, também vemos que o líquido se espalhou posteriormente, deixando o parênquima pulmonar menos transparente, com um gradiente que fica mais branco nas porções inferiores (área em laranja). Comparem com o lado esquerdo. 183 Índice Figura 173. Radiografia de Tórax (no leito, em AP). Fonte: Acervo Medway. 184 Índice CASO CLÍNICO 3 Mulher, 30 anos, com dor torácica súbita ventilatório-dependente e dispneia, refere ter apresentado episódio semelhante há 2 meses; AP: endometriose. Figura 174. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nesta radiografia, temos não só um pneumotórax, como um hidropneumotórax à direita, que nada mais é do que a presença simultânea de pneumotórax (área em rosa) e derrame pleural (área em laranja). Neste caso, temos mais um achado interessante. As alterações pleurais da paciente podem estar relacionadas à endometriose torácica, que representa uma repercussão não muito frequente da endometriose, caracterizada pela presença de tecido endometrial na caixa torácica. O mecanismo é incerto, mas os implantesendometriais pleurais podem levar a 185 Índice episódios recorrentes de pneumotórax espontâneo, que ocorrem próximos ao período menstrual e, neste contexto, é denominado pneumotórax catamenial. No nosso caso, a paciente apresenta pneumotórax e derrame pleural, portanto, um hidropneumotórax. Figura 175. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 186 Índice CASO CLÍNICO 4 Homem, 40 anos, com quadro de dispneia há 3 dias, evoluindo com piora progressiva e dor torácica. Figura 176. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nesta radiografia temos uma silhueta cardíaca de dimensões bastante aumentadas, com índice cardiotorácico aumentado (setas azuis), e este coração globoso adquire um formato bem particular, com aspecto em moringa (contorno pontilhado amarelo). Este é o sinal da moringa, um achado característico de derrame pericárdico. 187 Índice Figura 177. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway e Commons Wikimedia. O derrame pericárdico é o acúmulo anormal de líquido no espaço pericárdico e pode ser apresentar diferentes causas, incluindo causas infecciosas (viral, bacteriano, tuberculose), inflamatórias/autoimunes, cirurgia, trauma, dentre outras. Um saco pericárdico normal contém aproximadamente 30-50 ml de líquido, e para ser visualizado na radiografia, é necessário que o líquido pericárdico apresente um volume de aproximadamente 200 ml. Além do coração em moringa, outros achados radiográficos do derrame pericárdico incluem o aumento da silhueta cardíaca e aumento do índice cardiotorácico de forma progressiva conforme o acúmulo de líquido e o sinal do biscoito Oreo, representado na imagem de radiografia a seguir e na imagem de tomografia correspondente. O sinal do biscoito Oreo é caracterizado na radiografia em perfil por uma linha hipertransparente vertical anteriomente (seta azul), retroesternal, que representa a gordura pericárdica, uma linha hipotransparente intermediária (seta verde), que representa o líquido pericárdico, e posteriormente, uma linha hipertransparente vertical (seta laranja), que representa a gordura epicárdica. Os pacientes podem apresentar também, sinais de edema pulmonar cardiogênico 188 Índice Figura 178. Radiografia (perfil) e Tomografia do tórax (sagital). Fonte: Adaptado de Radiopedia (disponível em: radiopaedia.org/cases/33090). 189 Índice CASO CLÍNICO 5 Homem, 65 anos, hipertenso, diabético e tabagista, com quadro de dor torácica aguda lancinante e sudorese. Figura 179. Radiografia de Tórax (no leito). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO O achado crucial nesta radiografia é o alargamento do mediastino. Em pacientes com dor torácica aguda e alargamento do mediastino, nós temos que pensar em dissecção de aorta! A dissecção aórtica é a delaminação entre as camadas íntima e média da aorta por lesão na íntima. É uma condição que apresenta alta mortalidade e acomete principalmente homens, hipertensos e tabagistas, com pico entre 60-70 anos de idade. O principal sintoma é a dor torácica, descrita como intensa, em pontada ou facada. Na radiografia, o achado clássico da dissecção de aorta é o alargamento do mediastino (seta em laranja). Outros achados que podemos encontrar são o abaulamento e irregularidade 190 Índice do arco aórtico, o deslocamento interno de calcificações ateroscleróticas (> 1 cm da margem aórtica), derrame pleural à esquerda (seta verde) e derrame pericárdico. Figura 180. Radiografia de Tórax (no leito). Fonte: Acervo Medway. 191 Índice CASO CLÍNICO 6 Paciente do sexo masculino, 45 anos, com quadro de pneumonial viral, evolui com dor torácica intensa e centralizada. Figura 181. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Este é um caso que ilustra muito bem o pneumomediastino! O pneumomediastino é a presença de ar/gás no espaço mediastinal, que pode se originar de diferentes estruturas, incluindo: os pulmões, traqueia, brônquios, esôfago e a cavidade peritoneal. Pode resultar de trauma, cirurgia, perfuração esofágica ou traqueobrônquica, manobras respiratórias profundas, asmas, DPOC, dentre muitas outras. Na radiografia, podemos ver a presença de ar (hipertransparente) delineando as estruturas mediastinais: • Pneumopericárdio: ar ao redor do pericárdio • Sinal da artéria tubular: ar ao redor da aorta 192 Índice • Sinal do anel periarterial: ar ao redor da artéria pulmonar • Sinal da dupla parede brônquica: ar ao redor da parede brônquica • Sinal do diagrama contínuo: ar entre o coração e o diafragma - o sinal diafragma contínuo caracteriza a presença de ar acima do diafragma (nos casos de pneumomediastino) e abaixo do diafragma (nos casos de pneumoperitônio) • Sinal de Naclerio V: ar em formato da letra V na junção entre a borda mediastinal inferior esquerda o hemidiafragma medial esquerdo Na imagem do nosso caso, o ar delineando a aorta torácica, ou sinal da artéria tubular, é bem evidente (setas rosas), mas podemos ver outros achados mais sutis, como o pneumopericárdio (seta azul), sinal do diagrama contínuo (setas verdes) e o sinal de Naclerio V (linha pontilhada laranja). Os nomes dos sinais têm pouca importância aqui. O que realmente importa, é detectar a presença de ar delineando as estruturas mediastinais. Figura 182. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 193 Índice CASO CLÍNICO 7 Paciente do sexo feminino, 58 anos, com quadro de dor torácica e abdominal à direita após levar um chute na barriga durante a aula de boxe. Figura 183. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Durante a avaliação radiográfica de pacientes com dor torácica, devemos analisar as estruturas adjacentes incluídas na imagem - muitas vezes eles podem nos dar a resposta! Esta paciente sofreu uma contusão abdominal e refere dor toracoabdominal. A causa da dor torácica está logo abaixo do tórax: na cavidade abdominal. Observamos a presença de ar dentro da cavidade peritoneal, denominado pneumoperitônio. O pneumoperitônio ocorre principalmente por perfuração ou ruptura de uma víscera oca por diferentes motivos, incluindo obstrução intestinal, isquemia, inflamação, infecção, trauma, 194 Índice colonoscopia. Outras causas também podem levar a essa condição, como pós-operatórios, pneumomediastino e pneumotórax. Nas radiografias, podemos observar a presença de ar livre subdiafragmático (setas laranjas), que pode se estender por todo o contorno inferior do diafragma e resultar no sinal do diafragma contínuo. Figura 184. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 195 Índice CASO CLÍNICO 8 Mulher, 80 anos, com dor torácica à direita desde ontem; AP: demência vascular avançada e fibrose pulmonar idiopática. Figura 185. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A radiografia da nossa paciente mostra sinais de fibrose pulmonar, com opacidades reticulares grosseiras nos campos pulmonares médios e inferiores. Mas a causa da dor torácica da paciente é a fratura dos arcos costais à direita (setas verdes). Este caso serve para lembrarmos da importância da avaliação sistemática dos exames de imagem, que inclui as estruturas ósseas. 196 Índice Figura 186. Fratura dos arcos costais. Fonte: Acervo Medway. 197 Índice CASO CLÍNICO 9 Mulher, 66 anos, com quadro de dor torácica, tosse e um episódio de vômito. Figura 187. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A hérnia hiatal é a herniação do conteúdo abdominal para o interior da cavidade torácica através do hiato esofágico do diafragma. Muitos pacientes são assintomáticos, mas podem apresentar sintomas como dor epigástrica ou torácica, plenitude pós-prandial, náuseas e vômitos. A prevalência aumenta com a idade e há uma discreta predileção pelo sexo feminino. A hérnia de hiato pode ser melhor avaliada através da radiografia contrastada, mas a radiografia simples pode mostrar uma opacidade retrocardíaca, como na imagem deste caso (setas verdes). A opacidade retrocardíacapode eventualmente apresentar nível líquido. 198 Índice Figura 188. Opacidade retrocardíaca. Fonte: Acervo Medway. 199 Índice CASO CLÍNICO 1O Mulher, 50 anos, com quadro de dor torácica retroesternal e refere disfagia há anos com piora progressiva e regurgitação. Figura 189. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO A acalásia resulta de uma disfunção no peristaltismo esofágico e ausência de relaxamento do esfíncter esofágico inferior (EEI), com consequente estase alimentar e dilatação do esôfago. A principal causa de acalásia no Brasil é a doença de Chagas (90%). O quadro clínico é de instalação insidiosa e progressiva e inclui sintomas como disfagia, 200 Índice perda de peso e regurgitação alimentar. Os pacientes podem apresentar dor torácica retroesternal e pirose, que estão relacionadas à irritação do esôfago pela estase alimentar. É importante frisar que como o EEI está “fechado”, dificilmente os pacientes vão apresentar refluxo gastroesofágico. A radiografia pode mostrar alargamento do mediastino com duplo contorno das bordas mediastinais, nível hidroaéreo no mediastino, que resulta da estase do conteúdo esofágico, bolha gástrica pequena ou ausente, curvatura traqueal anterior visualizada no perfil e, eventualmente, os pacientes podem apresentar sinais de pneumonia aspirativa. A nossa paciente dor torácica retroesternal e regurgitação apresenta na radiografia um alargamento do mediastino (seta verde) com duplo contorno do mediastino (linhas pontilhadas amarela e laranja) e ausência da bolha gástrica (seta rosa). Figura 190. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 201 Índice A CRIANÇA COM SINTOMAS RESPIRATÓRIOS RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo masculino, 5 anos, vem apresentando tosse, febre e coriza há 3 dias. A mãe procurou o pronto atendimento no primeiro dia de sintomas e a criança foi medicada com antitérmico e soro fisiológico nasal. A mãe retorna com a criança hoje no pronto atendimento dizendo que a criança está prostrada e a febre agora chega a 39oC, acompanhada de calafrios. Diante da piora do quadro clínico, foi solicitada radiografia de tórax. Figura 191. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 202 Índice DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente, podemos identificar uma assimetria na transparência do pulmão com um padrão de aumento da atenuação focal no campo pulmonar superior direito. Neste caso, podemos observar que não houve redução volumétrica do pulmão acometido pela posição da fissura horizontal - não é uma atelectasia - e a lesão não tem bordas bem definidas como se espera no nódulo ou massa. É possível identificar também alguns broncogramas aéreos bem discretos. Portanto, estamos diante de uma consolidação no lobo superior do pulmão direito, marcada na área azul. Figura 192. Consolidação - pneumonia lobar. Fonte: Acervo Medway. Considerando um paciente com tosse e febre, com um quadro respiratório que está piorando, este padrão de imagem com uma consolidação que acomete um único lobo de um pulmão (unifocal) sugere uma PNEUMONIA LOBAR, que é a apresentação por imagem mais característica da pneumonia bacteriana. O Streptococcus pneumoniae é o agente mais comum. 203 Índice Embora os exames radiológicos sejam limitados na determinação do agente etiológico do quadro infeccioso, as consolidações unifocais são bastante específicas para pneumonias bacterianas. Isso significa que, diante de uma consolidação unifocal em uma criança imunocompetente, o agente bacteriano é, de longe, o mais provável! CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo masculino, 2 anos, chega ao pronto atendimento trazido pela avó com febre alta e tosse produtiva há 2 dias. A avó diz que a criança não quer brincar e não aceita a mamadeira. Na triagem observou-se temperatura de 38,8oC, FC = 130 bpm, FR = 30 irpm e SatO2 = 96%. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. Figura 193. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Diante dos achados da radiografia em PA, você solicita uma radiografia em perfil para melhor avaliação. 204 Índice Figura 194. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente, suspeitamos de uma pneumonia bacteriana adquirida na comunidade (PAC), certo? Há mesmo necessidade para uma radiografia? As melhores práticas atuais definem que a radiografia de tórax não é necessária para confirmar o diagnóstico de PAC em crianças com sintomas de infecção do trato respiratório inferior leves e não complicadas ou que estejam bem clinicamente, podendo ser tratadas de forma ambulatorial. A radiografia estaria indicada para pacientes com algum achado que sugira uma maior gravidade do quadro. No nosso caso, a baixa aceitação da alimentação e a prostração são sinais de alerta e a radiografia é sim justificada. Os achados da radiografia podem ser difíceis de identificar à primeira vista, mas a análise 205 Índice sistematizada chamaria atenção para uma assimetria na transparência dos campos inferiores, causada por uma opacidade focal na projeção do coração. São achados vistos na radiografia em incidência frontal que sugerem a possibilidade de alteração retrocardíaca: • Sombra cardíaca heterogênea • Descontinuidade da cúpula pleural Podemos confirmar os achados com a radiografia em perfil que mostra uma opacificação da porção posterior do pulmão, com o famoso sinal da perda do gradiente da coluna que nada mais é do que a perda do aspecto normal da coluna que deveria ir ficando cada vez mais preta quando observada de cima para baixo. Nosso paciente apresenta então uma PNEUMONIA RETROCARDÍACA. Figura 195. Consolidação retrocardíaca. Fonte: Acervo Medway. 206 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo masculino, 7 anos, asmático, chega ao pronto atendimento trazido pelos pais com queixa dispneia e tosse produtiva há 2 dias, com piora há algumas horas. A mãe refere ter aferido temperatura de 37,3oC. Ao exame clínico apresentava taquipneia, sibilos difusos e leve tiragem intercostal. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. Figura 196. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. Diante dos achados da radiografia, você decide ligar para o radiologista de plantão para discutir o caso. Ele sugere complementar com uma radiografia em perfil. 207 Índice Figura 197. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Ao avaliar este paciente percebemos que o quadro clínico nos leva à possibilidade de uma crise de broncoespasmo. A radiografia não seria necessária neste contexto, né? Mas foi realizada então vamos analisar juntos. Você deve ter percebido que na incidência em PA a borda cardíaca direita não está nítida e há um aparente aumento focal da densidade no campo médio/inferior direito. Não conseguimos identificar broncogramas aéreos. Será uma consolidação? Como nosso paciente não tem uma clínica de pneumonia bacteriana, prosseguir com uma radiografia em perfil para entender melhor esta alteração poderá evitar tratamento com antibióticos 208 Índice de forma desnecessária. E, de fato, ajudou! Observamos na radiografia em perfil que a opacidade corresponde a uma ATELECTASIA completa do lobo médio do pulmão direito, que aparece como uma opacidade em faixa com importante perda volumétrica determinando deslocamento inferior da fissura horizontal. Observamos também outros achados na radiografia que sugerem hiperinsuflação que é resultado do broncoespasmo: retificação das cúpulas diafragmáticas, horizontalização das costelas, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. Este caso é bastante difícil e mostra como uma atelectasia do lobo médio é difícil de ser caracterizada adequadamente apenas na incidência frontal, podendo inclusive simular opacidades alveolares e consolidações. O que mais ajuda é a incidência adicional em perfil, mas a ausência de broncograma aéreo no interior da opacidade e o formato em cunha da opacidade ajudam a desconfiar desta imagem. Figura198. Atelectasia do lobo médio. Fonte: Acervo Medway. 209 Índice CASO CLÍNICO 4 Paciente do sexo feminino, 3 anos, é trazia ao pronto atendimento com queixa de tosse produtiva e febre alta há 3 dias, que não cede com antitérmicos. A mãe refere que a criança não está aceitando alimentação e está mais prostrada há 1 dia. Há cerca de 6 meses apresentou sinusite, sendo medicada na época com amoxicilina. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 199. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 210 Índice Figura 200. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de uma criança de 3 anos, com um quadro clínico sugestivo de pneumonia, que apresenta uma imagem bastante interessante na radiografia. Vemos um aumento focal da atenuação do parênquima pulmonar com aspecto de massa. Veja que a lesão é bem definida e arredondada. Assusta, né? Sempre que observamos uma massa pulmonar, pensamos inicialmente em lesões neoplásicas, mas em crianças as neoplasias de pulmão são raras e o quadro clínico é bem sugestivo de uma pneumonia. Neste caso observamos uma apresentação radiológica diferentona das pneumonias lobares 211 Índice em crianças, que chamamos de PNEUMONIA REDONDA. Elas ocorrem em crianças de até mais ou menos 8 anos e têm este aspecto devido a uma imaturidade das vias de circulação colateral do ar (os famosos poros de Kohn e canais de Lambert) nesta faixa etária. Como o processo inflamatório não tem estas vias colaterais para se propagar, ele acaba ficando contido, o que dá este aspecto de massa. As principais dicas diagnósticas são: • A faixa etária: não esperamos pneumonias com formato de massa em pacientes fora desta faixa etária pediátrica, sendo importante progredir a investigação com tomografia • O quadro clínico: estas crianças têm uma apresentação compatível com pneumonia. Na ausência de sintomas de processo inflamatório pulmonar, considere outros diagnósticos • A presença de broncogramas aéreos: os broncogramas podem ser vistos nas pneumonias redondas e não são esperados nas neoplasias Figura 201. Pneumonia redonda. Fonte: Acervo Medway. 212 Índice CASO CLÍNICO 5 Paciente do sexo feminino, 1 ano e 3 meses, é trazida ao pronto atendimento com febre alta há 4 dias, que não cede com antitérmicos evoluindo com prostração intensa. A mãe refere que a criança também apresenta tosse produtiva. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 202. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 213 Índice Figura 203. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de mais uma criança com um quadro clínico suspeito de infecção das vias aéreas inferiores, porém a radiografia mostra achados um pouco diferentes das pneumonias lobares e atelectasias que já estudamos. Observe que neste caso temos um aumento difuso da atenuação pulmonar, com opacidades de padrão alveolar bilateral (veja como tem aspecto algodonoso, como nuvens no céu). Este aspecto de opacidades alveolares multifocais e assimétricas sugere um padrão de BRONCOPNEUMONIA que é uma apresentação radiológica e patológica das infecções pulmonares que se disseminam a partir dos bronquíolos respiratórios, nos alvéolos peribronquiolares. Este padrão de acometimento pulmonar é observado de forma mais comum nas infecções bacterianas por estafilococos, hemófilos e pneumococo. 214 Índice Portanto, são achados radiológicos sugestivos de broncopneumonia: • Infiltrado alveolar • Bilateral e multifocal • Assimétrico • Não respeita as fissuras • Podem acompanhar infiltrado intersticial (espessamento brônquico), gerando infiltrados retículo-alveolares Figura 204. Broncopneumonia. Fonte: Acervo Medway. CASO CLÍNICO #6 Paciente do sexo masculino, 7 anos, é trazido ao pronto atendimento com quadro de mialgia, prostração e tosse seca que vem piorando há 4 dias, apresentou febre baixa. A mãe refere que a criança também apresenta tosse produtiva. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. 215 Índice Figura 205. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso clínico, estamos atendendo uma criança em idade escolar, apresentando um quadro clínico um pouco diferente dos anteriores: mais arrastado, com mialgia, prostração, tosse seca e febre baixa. Só pela anamnese já esperamos encontrar uma apresentação diferente para este quadro de infecção de vias aéreas inferiores. Devemos esperar uma PNEUMONIA ATÍPICA. Estas pneumonias são assim chamadas por serem causadas por germes atípicos (micoplasma, clamídia e legionela, principalmente), apresentam-se com sintomas atípicos (sintomas constitucionais mais proeminentes, febre baixa, curso mais insidioso, tosse seca arrastada, entre outros) e têm achados radiológicos diferentes das pneumonias 216 Índice bacterianas “típicas” (pneumonia lobar e broncopneumonia). Apesar de serem chamadas atípicas, são extremamente comuns, principalmente nas crianças em faixa etária escolar (6-18 anos). O padrão radiológico das pneumonias atípicas é de uma pneumonia intersticial, isto significa que estes germes atípicos gostam de infectar e inflamar o interstício do pulmão e não os alvéolos como esperamos nas pneumonias bacterianas “típicas”. Com isto, as opacidades alveolares e consolidações que marcam a inflamação alveolar são incomuns! Esperamos observar um espessamento do interstício pulmonar que se manifesta na radiografia como um infiltrado reticular ou reticulogranular difuso, que tende a predominar das regiões peri-hilares. Podemos observar também atelectasias laminares associadas. Figura 206. Pneumonia intersticial (infiltrado reticulogranular). Fonte: Acervo Medway. 217 Índice CASO CLÍNICO 7 Paciente do sexo masculino, 3 anos, é trazida ao pronto atendimento pela segunda vez em 5 dias devido a piora de um quadro respiratório que começou com coriza hialina e dor de cabeça, evoluindo cansaço extremo e tosse seca que vem piorando. Apresentou febre baixa. Durante a avaliação inicial foi constatada SatO2 = 85% e importante desconforto respiratório, sendo indicada IOT. Foi solicitada radiografia de tórax em AP. Figura 207. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de uma criança pré-escolar apresentando um quadro de infecção das vias aéreas inferiores que evoluiu gravemente, com dessaturação. Quando avaliamos a radiografia, podemos tentar encaixar os achados em um dos padrões de acometimento pulmonar que já vimos: pneumonia lobar, broncopneumonia ou pneumonia intersticial. Certamente o padrão que encaixa melhor é a pneumonia intersticial, né? Podemos observar um infiltrado 218 Índice intersticial difuso que predomina nas regiões peri-hilares, onde conseguimos observar até um aspecto mais alveolar e consolidado. Além das pneumonias atípicas, este padrão de pneumonia intersticial também pode ser observado nas PNEUMONIAS VIRAIS, como no caso desta criança que positivou o PCR para influenza. As pneumonias virais são a causa mais comum de pneumonia, sendo geralmente causadas por vírus como influenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus e parainfluenza. Geralmente são pneumonias brandas, autolimitadas, mas podem evoluir com gravidade em pacientes de grupos de risco, como nas crianças. Os principais achados radiológicos são semelhantes às pneumonias atípicas, mas costumamos encontrar opacidades alveolares de forma um pouco mais frequente (varia entre os vírus): • Hiperinsuflação • Infiltrado intersticial • Opacidades peri-hilares alveolares e até consolidações lobares • Difusas e bilaterais 219 Índice Figura 208. Pneumonia intersticial (infiltrado reticulogranular). Fonte: Acervo Medway. 220 Índice CASO CLÍNICO 8 Paciente do sexo masculino, 14 meses, é trazido ao pronto atendimento por cansaço e “chiado no peito”. Há 4 dias vinha apresentando coriza hialina e tosse seca. Ao exame clínico, observou-se taquipneia, sibilância difusae tiragem intercostal e subcostal. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 209. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 221 Índice Figura 210. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO O quadro clínico aqui é clássico de uma BRONQUIOLITE VIRAL, cujo diagnóstico é clínico. A bronquiolite viral é causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR), que tem uma incidência sazonal, predominando do outono à primavera, com pico no inverno. A infecção geralmente é branda e começa com sintomas do trato respiratório superior, similar a um resfriado comum. Depois de alguns dias, a doença passará a afetar os bronquíolos distais em alguns pacientes, com sinais clínicos de taquipneia, sibilância e sinais de esforço respiratório (retração intercostal, subcostal, da fúrcula e uso de musculatura acessória). Pode evoluir com formas graves, com insuficiência respiratória. Os exames de imagem não são necessários para o diagnóstico, mas podem ser solicitados quando há dúvida diagnóstica, na suspeita de coinfecção bacteriana ou em pacientes evoluindo de forma grave. 222 Índice Os achados radiológicos são relacionados à obstrução e inflamação das vias aéreas distais: • Hiperinsuflação • Infiltrado intersticial • Opacidades peri-hilares • Atelectasias Figura 211. Sinais de hiperinsuflação pulmonar - Bronquiolite viral. Fonte: Acervo Medway. 223 Índice CASO CLÍNICO 9 Paciente do sexo masculino, 4 anos, está em tratamento para pneumonia bacteriana há 3 dias, mas continua apresentando picos febris. Hoje começou a se queixar de dor torácica à esquerda. Foi solicitada radiografia de tórax em PA e perfil. Figura 212. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. 224 Índice Figura 213. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente em tratamento de pneumonia bacteriana adquirida na comunidade que não está apresentando melhora e agora começou a apresentar dor torácica à esquerda. Devemos pensar na possibilidade de uma complicação da pneumonia e, neste caso, a imagem está super indicada! Desejamos entender o que está acontecendo que pode justificar a ausência de melhora: será que surgiu um derrame parapneumônico ou a pneumonia evoluiu para um abscesso pulmonar? Ao analisarmos a imagem, é possível observar a consolidação no lobo inferior esquerdo, mas chama atenção que os seios costofrênicos lateral e posterior estão velados, sugerindo a presença de derrame pleural associado. Na radiografia em PA podemos observar o clássico sinal da parábola, que corrobora nosso achado. 225 Índice Já sabemos o motivo do nosso paciente não estar melhorando: um DERRAME PARAPNEUMÔNICO. Eventualmente a própria consolidação pode velar as cúpulas diafragmáticas e os seios costofrênicos, simulando pequenos derrames, mas elas não formam a parábola. Se houver dúvida quanto à presença de pequenos derrames e para uma melhor avaliação de suas características (derrames loculados e complicados) podemos e devemos buscar uma complementação com a ultrassonografia do tórax que é extremamente sensível e muito útil. Figura 214. Derrame parapneumônico. Fonte: Acervo Medway. 226 Índice CASO CLÍNICO 10 Paciente do sexo masculino, 5 anos, esteve no pronto atendimento há 4 dias com quadro de pneumonia adquirida na comunidade, tendo sido medicado com amoxicilina e liberado para casa. A mãe retornou hoje ao pronto atendimento relatando que a criança não apresentou melhora, agora se apresentando francamente séptica. Não recebeu vacinas, pois os pais são contra a administração delas. Foi solicitada radiografia de tórax em PA após estabilização clínica. Figura 215. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente que evoluiu com quadro de sepse após alguns dias de tratamento para uma pneumonia bacteriana. Neste cenário, devemos investigar possíveis complicações desta pneumonia que justifiquem a piora do quadro. Na radiografia deste paciente, podemos observar uma consolidação extensa no lobo superior direito, que inclusive abaula um pouco a fissura horizontal, e que tem um aspecto heterogêneo. Observe que existem áreas mais radioluscentes (com densidade de gás) no 227 Índice meio da consolidação, mas que não são broncogramas por não terem formato bem definido. Este aspecto de consolidação heterogênea, com áreas de gás irregulares no interior, deve levantar a suspeita para uma PNEUMONIA NECROTIZANTE que é uma evolução grave das pneumonias (principalmente bacterianas) na qual ocorre necrose do parênquima pulmonar, causando áreas de cavitação no interior da consolidação, mas que felizmente é rara. Os agentes mais associados às pneumonias necrotizantes são o estafilococo e o pneumococo (este último principalmente em crianças não vacinadas). Além do aspecto de necrose na consolidação, também observamos um derrame pleural parapneumônico como outra complicação da pneumonia bacteriana do nosso paciente. Veja que, na incidência em AP, o derrame pleural escorre por trás do pulmão e não forma mais o aspecto de parábola característico. O derrame aparece como uma opacificação do pulmão com velamento da cúpula diafragmática correspondente. Figura 216. Pneumonia necrotizante e derrame parapneumônico. Fonte: Acervo Medway. 228 Índice CASO CLÍNICO 11 Paciente do sexo feminino, 7 anos, é levada ao pronto atendimento com queixa de febre alta há 2 dias, cansaço e tosse produtiva. A mãe refere que a criança já apresentou pelo menos 6 episódios de pneumonia desde o nascimento e trouxe um laudo da radiografia anterior realizada na ocasião de uma das pneumonias que descrevia consolidação retrocardíaca. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. Figura 217. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nosso paciente apresenta quadros de PNEUMONIA DE REPETIÇÃO. Esta é uma situação clínica na qual a imagem tem um papel bastante importante na tentativa de identificar uma causa. Dentre as principais causas de pneumonia de repetição estão: aspiração crônica; alterações estruturais ou malformações pulmonares; deficiências imunológicas; refluxo gastroesofágico; asma; bronquiectasias; aspiração de corpo estranho etc. Quando avaliamos a radiografia da nossa paciente, observamos uma opacidade triangular retrocardíaca que é homogênea, sem broncogramas aéreos. Este aspecto triangular e de bordas bem definidas deve chamar atenção para uma atelectasia. Se observarmos o laudo da radiografia prévia trazida pela mãe da criança, veremos que havia sido identificada 229 Índice uma opacidade com estas mesmas características, interpretada como uma pneumonia retrocardíaca. O fato é que temos uma imagem persistente no campo inferior do pulmão esquerdo, que não se parece com uma consolidação pneumônica por ser bem definida e homogênea. As principais hipóteses com base nesta imagem seriam: corpo estranho que causou atelectasia do lobo inferior esquerdo ou uma malformação pulmonar como um sequestro pulmonar (que é comumente observado nesta localização). A criança fez uma tomografia e confirmou a hipótese diagnóstica de sequestro pulmonar quando foi identificado que esta porção do parênquima não tinha comunicação com a árvore brônquica e uma artéria anômala supria este tecido. Guarde esta imagem! O sequestro pulmonar é uma malformação pulmonar relativamente comum, sendo muitas vezes confundida com uma pneumonia lobar. A confirmação é com a tomografia computadorizada, mas você pode levantar essa bola! Figura 218. Sequestro pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 230 Índice CASO CLÍNICO 12 Paciente do sexo feminino, 2 anos, é levada ao pronto atendimento com dispneia súbita e cianose que tiveram início cerca de 30 minutos antes de sua chegada, enquanto a criança estava brincando com o primo de montar um LEGO. A criança chegou arresponsiva e foi levada à sala de emergência. Foi solicitada radiografia de tórax em AP. Figura 219. Radiografiade Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um quadro súbito de desconforto respiratório e cianose em uma criança em idade pré-escolar que estava brincando com peças de brinquedo. Só com esta história, deveríamos suspeitar fortemente de ASPIRAÇÃO DE CORPO ESTRANHO. A avaliação por imagem dos corpos estranhos aspirados é bastante importante na tentativa de confirmar esta hipótese e tentar localizar o mesmo para uma eventual intervenção. O grande problema é que a maioria dos corpos estranhos aspirados não são radiopacos (sementes, brinquedos plásticos…) e, não sendo visíveis na radiografia, podem não ser identificados. 231 Índice Quando o corpo estranho não é radiopaco, devemos procurar sinais indiretos da aspiração. O principal sinal é a hiperinsuflação por aprisionamento aéreo de um lobo ou de um pulmão. Isto ocorre pois o corpo estranho alojado no brônquio determina um mecanismo de válvula, permitindo que o ar entre nos pulmões, mas não deixando que ele seja expelido. É exatamente isso que vemos na radiografia do nosso paciente. Caso haja dúvida, uma boa alternativa é realizar uma radiografia em expiração, que vai demonstrar que o hemitórax acometido não reduz de tamanho pelo aprisionamento aéreo causado pela obstrução. Como as crianças pequenas não conseguem manter uma expiração espontânea, podemos fazer uma radiografia em decúbito lateral para o lado suspeito, assim o peso da criança vai comprimir este hemitórax simulando uma expiração. Outro achado mais sutil que pode sugerir um corpo estranho aspirado é a interrupção do gás no brônquio. Figura 220. Corpo estranho aspirado. Fonte: Acervo Medway 232 Índice CASO CLÍNICO 13 Paciente do sexo masculino, 3 anos, é trazido pelos pais que acham que ele engoliu uma moeda. Apresenta sialorreia e teve dois episódios de vômitos. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. Figura 221. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de uma criança que provavelmente ENGOLIU UM CORPO ESTRANHO. Frente a uma situação como essa devemos responder a algumas perguntas: • O corpo estranho é radiopaco? • O corpo estranho é perigoso (risco de perfuração, isquemia ou lesão química)? • Onde está o corpo estranho? É alcançável com uma endoscopia? 233 Índice Na suspeita de ingestão de corpo estranho é importante uma avaliação de todo o TGI com radiografias em AP e perfil do pescoço, tórax e abdome. As radiografias podem trazer respostas caso o objeto seja radiopaco. Caso não seja, a melhor opção é aguardar a eliminação nas fezes (corpos estranhos não perigosos) ou realizar uma tomografia. Caso ele seja radiopaco, poderemos identificar suas características: se é pontiagudo ou se é uma bateria ou uma pilha (com risco de lesão química), por exemplo. Também poderemos estimar sua localização (geralmente locais de impactação): faringe ou esôfago proximal, cárdia, piloro etc. Neste caso vemos que o corpo estranho está na topografia do esôfago torácico, mas não corresponde a uma moeda, como os pais acharam, e sim a uma bateria. Sabemos disso porque as baterias apresentam um aspecto de duplo anel ou sinal do halo pelo fato de terem dois polos. A conduta aqui é a retirada endoscópica! Figura 222. Bateria engolida. Fonte: Acervo Medway. 234 Índice CASO CLÍNICO 14 Paciente do sexo masculino, 1 ano, é trazido pelos pais que relatam cansaço extremo para mamar. Há alguns dias teve um resfriado, com coriza e febre baixa, sendo orientado soro fisiológico nasal e antitérmico. Foi solicitada radiografia de tórax em PA na sala de emergência. Figura 223. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: https://www.aliem.com/emrescupeds-em-resident-simulation- curriculum-pediatrics/case-8-myocarditis/. DISCUSSÃO Neste caso clínico observamos um bebê que apresentou pródromos virais e evoluiu com cansaço extremo para mamar. 235 Índice A radiografia mostra um aumento importante da área cardíaca (cardiomegalia). Além disso, observamos sinais de congestão pulmonar com acentuação das marcas broncovasculares e opacidades peri-hilares bilaterais. Diante deste quadro clínico e destes achados de imagem, devemos nos lembrar das MIOCARDITES VIRAIS, uma inflamação do miocárdio por um vírus que pode causar arritmias, dor torácica e disfunção cardíaca que pode culminar em choque cardiogênico em crianças. Em associação, pode haver inflamação do pericárdio com pericardite e derrame pericárdico. Diversos vírus podem causar miocardites virais, mas os mais comumente observados são os adenovírus e os enterovírus (principalmente o coxsackie). Figura 224. Miocardite viral. Fonte: https://www.aliem.com/emrescupeds-em-resident-simulation-curriculum- pediatrics/case-8-myocarditis/ 236 Índice CASO CLÍNICO 15 Paciente do sexo masculino, 2 anos, apresenta um quadro arrastado de febre vespertina, baixo ganho de peso e suores noturnos. Há 2 semanas surgiu uma tosse seca que persiste. Foi solicitada radiografia de tórax em PA. Figura 225. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 237 Índice Figura 226. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um quadro clínico arrastado que lembra bastante uma TUBERCULOSE, certo? Mas dê uma olhada na radiografia. Esperávamos cavidades e opacidades nos ápices, mas não foi isso que encontramos. Nas crianças, especialmente nas menores de 5 anos, não esperamos a apresentação clássica cavitária da tuberculose pós-primária. Nesta faixa etária, sobretudo nas crianças não vacinadas, a tuberculose se apresenta em sua forma primária, com frequência com disseminação hematogênica (com maior gravidade) e geralmente mais sintomática. O diagnóstico confirmatório bacteriológico pode ser bastante difícil e os achados radiológicos 238 Índice e a história epidemiológica (contactantes) são extremamente importantes. Os achados mais observados nas radiografias são: • Consolidações parenquimatosas e opacidades alveolares (80%) • Lesões nodulares (28%) • Linfonodomegalias mediastinais e hilares (72%) No nosso caso, observamos uma consolidação no lobo inferior direito, associada a uma proeminência do hilo pulmonar do mesmo lado, que provavelmente corresponde a linfonodomegalias. Portanto, nas crianças a tuberculose geralmente se apresenta na forma primária. Não espere as clássicas cavidades! Figura 227. Tuberculose primária. Fonte: Acervo Medway. 239 Índice O PACIENTE NA UTI RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 46 anos, em tratamento por lúpus há 22 anos, nefropata crônica. Foi encaminhada à UTI com agudização da insuficiência renal com indicação de diálise. Você fez a passagem de um cateter venoso central e solicitou a radiografia de controle. Figura 228. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente que acaba de passar um CATETER VENOSO CENTRAL. As radiografias de controle após este tipo de procedimento são importantes para atestar o adequado posicionamento do dispositivo invasivo e para descartar possíveis complicações. Os cateteres venosos centrais devem estar verticalmente orientados e devem ter a sua 240 Índice extremidade posicionada na veia cava superior, ao nível da transição com o átrio direito. Cateteres que progridem muito, ficando com extremidades no átrio ou no ventrículo podem causar arritmias e os cateteres que progridem pouco (nas veias braquiocefálicas e jugulares, por exemplo) têm maior risco de tromboses e infecções. As principais complicações associadas à passagem de cateteres centrais são: posicionamento incorreto, dobras dos cateteres, pneumotórax, hematomas mediastinais, tamponamento cardíaco e até perfuração miocárdica. Um ponto importante na avaliação do posicionamento dos cateteres é entender que variações anatômicas e defeitos cardíacos podem causar confusão. Um dos casos mais comuns é o que observamos no nosso paciente. Ele apresenta uma variante anatômica da veia cava superior, coma persistência da veia cava superior à esquerda, que normalmente regride na vida embrionária. A veia cava superior à esquerda ocorre em até 0,5% da população e geralmente acompanha uma veia cava à direita normal, gerando um aspecto de veia cava superior duplicada. Ela tem um trajeto semelhante à veia cava superior normal, mas à esquerda do mediastino. Em 92% dos casos ela drena no seio coronariano e daí para o átrio direito. Figura 229. Variação anatômica - posição de cateteres. Fonte: Acervo Medway. 241 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino, 66 anos, internada na UTI há 8 dias por ter evoluído com quadro de sepse refratária de provável foco urinário. Foi intubada ontem no plantão noturno e evolui com uma intercorrência (pneumotórax à direita que foi drenado). Hoje, na rotina, foi solicitada radiografia do tórax para controle. Figura 230. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO As radiografias de controle após intubação orotraqueal são importantes para avaliar o posicionamento da CÂNULA TRAQUEAL e para identificar possíveis complicações como ocorreu neste caso (pneumotórax já drenado à direita). Espera-se que a cânula traqueal tenha extremidade distal do tubo posicionada no terço médio da traqueia torácica, distando cerca de 5 cm da carina (sendo aceitável entre 3 e 7 cm) nos pacientes adultos. O exame deve ser realizado com a cabeça do paciente em 242 Índice posição neutra, pois a flexão ou extensão do pescoço pode mudar em até 2 cm a posição do tubo, gerando falsas interpretações. Cânulas traqueais muito altas apresentam risco de extubação, ventilação incorreta ou ineficaz e lesão das cordas vocais. Já as cânulas baixas podem causar intubação seletiva levando a atelectasia parcial ou completa do pulmão não canulado e hiperinsuflação do pulmão canulado, que pode causar barotrauma com pneumotórax e pneumomediastino. Outra possibilidade é de intubação esofágica. Quando o tubo traqueal está posicionado erroneamente no esôfago, a radiografia mostrará o tubo lateralmente à coluna aérea normal da traqueia, ou se estendendo inferiormente à carina, muito comumente com distensão gasosa acentuada do estômago. Figura 231. Intubação seletiva à direita. Fonte: Acervo Medway. 243 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo masculino, 68 anos, internado há 21 dias na UTI por DPOC exacerbado. Ontem foi realizada a troca do cateter venoso central por suspeita de infecção. O paciente evoluiu com pneumotórax e PCR. Foi reanimado e o tórax foi drenado imediatamente com sucesso. Durante a noite voltou a apresentar dificuldade ventilatória e surgiu extenso enfisema subcutâneo. Hoje, na rotina, foi solicitada radiografia do tórax para investigação. Figura 232. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de um paciente que realizou drenagem torácica e evoluiu com enfisema subcutâneo. Uma ótima conduta é avaliar por imagem o posicionamento deste DRENO TORÁCICO já que o posicionamento incorreto dele pode justificar uma drenagem ineficaz do pneumotórax. Na avaliação dos drenos torácicos, devemos observar: seu trajeto, onde está sua extremidade, 244 Índice se ele apresenta dobras ou acotovelamentos e se suas fenestrações estão posicionadas corretamente no espaço pleural. O posicionamento correto do dreno vai depender da função esperada para ele: • Se a intenção for drenar um derrame pleural, o dreno deverá ter sua ponta posicionada na base do hemitórax, onde o líquido tende a se acumular • Se a intenção for drenar um pneumotórax, o dreno deverá ter sua ponta posicionada no ápice do hemitórax, onde o ar tende a se acumular Fique atento se a ponta do dreno e todas as fenestras estão posicionadas no espaço pleural, caso contrário, este dreno estará inserido de forma incompleta e o ar ou líquido drenado pode acabar entrando no subcutâneo. Foi o que ocorreu com o nosso paciente. O dreno está mal posicionado, justificando o enfisema subcutâneo. Figura 233. Dreno torácico mal posicionado - fora do espaço pleural. Fonte: Acervo Medway. 245 Índice CASO CLÍNICO 4 Paciente do sexo feminino, 47 anos, internada há 10 dias na UTI por insuficiência respiratória. Está em tratamento para esclerose sistêmica há 21 anos. A enfermeira acabou de passar a sonda digestiva e quer saber se pode iniciar a dieta para a paciente. Figura 234. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nossa paciente acaba de passar por um procedimento de colocação de sonda digestiva e devemos avaliar se a POSIÇÃO DA SONDA está adequada para iniciar a dieta. Esta conduta 246 Índice permite maior segurança já que evita que a dieta seja administrada em local incorreto como na via aérea ou no esôfago do paciente, levando a quadros graves de pneumonite química e/ou aspirativa. O correto posicionamento depende da intenção clínica. As sondas gástricas devem ter extremidade no estômago, abaixo da cárdia e no hipocôndrio esquerdo. As sondas entéricas devem estar posicionadas além do piloro, no duodeno ou no jejuno proximal e, por isso, seu trajeto deve cruzar a linha média para o lado direito da coluna. As sondas podem ter trajetos redundantes, retornando ao esôfago ou ficando enroladas no estômago e eventualmente podem dobrar-se causando obstrução ao fluxo da dieta. No caso da nossa paciente, a sonda se enovelou no estômago e retornou para o esôfago distal, apresentando um posicionamento anômalo. Antes de iniciar a dieta, é preciso reposicionar a sonda. Hérnias hiatais e variações anatômicas como as má-rotações intestinais podem causar confusão na interpretação dos achados. Nestes casos, olhar os exames anteriores pode ajudar e, também, podemos administrar um pouco de contraste iodado pela sonda para tentar entender melhor onde ela está alocada. 247 Índice Figura 235. Sonda digestiva com extremidade no esôfago distal. Fonte: Acervo Medway. 248 Índice CASO CLÍNICO 5 Paciente do sexo masculino, 27 anos, internado na UTI por insuficiência cardíaca refratária devido à cardiopatia congênita. Seu preceptor solicitou a passagem de um balão intra- aórtico. Após o procedimento ele te pergunta se o balão está corretamente posicionado. Figura 236. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso precisamos avaliar o posicionamento do BALÃO INTRA-AÓRTICO (BIA) do nosso paciente. Este dispositivo invasivo tem a função de assistir hemodinamicamente pacientes com choque cardiogênico. Deve ser posicionado na aorta torácica descendente, onde é insuflado com hélio no início 249 Índice da diástole e rapidamente desinsuflado no final da diástole. O problema é que, como muitos outros dispositivos intravasculares, os componentes do cateter BIA são radiotransparentes. Tradicionalmente, apenas um único marcador radiopaco é colocado próximo à ponta do cateter na margem superior do balão, que deve estar localizada distalmente ao arco aórtico, na aorta torácica proximal. O posicionamento nessa região otimiza o funcionamento do balão para suporte cardíaco, reduzindo a pós-carga, e garante que o balão não migre nem cubra os óstios de vasos importantes do arco aórtico como a artéria subclávia esquerda ou vasos abdominais. O marcador deve ficar mais ou menos no nível da janela aortopulmonar, entre uma linha que é traçada 1 cm abaixo do topo do botão aórtico e outra no nível da carina. Usando estes critérios, observamos que o balão do nosso paciente está corretamente posicionado. Figura 237. Balão intra-aórtico bem-posicionado. Fonte: Acervo Medway. 250 Índice CASO CLÍNICO 6 Paciente do sexo masculino, 60 anos, internado na UTI por insuficiência cardíaca. Foi realizada radiografia de tórax de controle no leito. Figura 238. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso clínico observamos que a cúpula diafragmática esquerda e o seio costofrênico esquerdo não estão nítidos quanto à direita. Além disso, o pulmão esquerdo parece mais branco,principalmente no campo pulmonar inferior. Estes achados sugerem derrame pleural. No paciente acamado, o líquido pleural escorre para as porções inferiores do pulmão, formando uma lâmina atrás do parênquima pulmonar. O resultado disso é que não observamos o clássico sinal da parábola na radiografia em AP. Além disso, é necessário um volume muito maior de derrame pleural para que sejamos capazes de observar alguma alteração na radiografia no leito. 251 Índice As principais dicas que sugerem derrame pleural na radiografia em AP são: • Aumento da atenuação do campo pulmonar com um gradiente superoinferior • Obliteração do ângulo costofrênico • Obliteração do ângulo cardiofrênico • Obscurecimento da cúpula diafragmática • Líquido nas fissuras (derrames fissurais) Ainda assim, saiba que atelectasias e consolidações nos lobos inferiores podem simular derrames nos pacientes acamados. Em caso de dúvidas, a ultrassonografia de tórax ou mesmo uma radiografia em decúbito lateral com raios horizontais (Laurell). Figura 239. Derrame pleural à esquerda. Fonte: Acervo Medway. 252 Índice CASO CLÍNICO 7 Paciente do sexo feminino, 57 anos, internada na UTI por insuficiência respiratória. Está em tratamento para câncer de mama à direita. Foi realizada radiografia de tórax no leito. Figura 240. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso nos deparamos com uma situação radiológica bastante desafiadora: o hemitórax branco. Observe que todo o hemitórax direito está velado. Muitas condições podem ser responsáveis pelo velamento de um dos pulmões e o diagnóstico diferencial entre elas pode ser bastante desafiador. Em geral, procuramos dividir os velamentos em dois grupos: com aumento volumétrico do hemitórax e com redução volumétrica do hemitórax. Vamos voltar ao nosso caso, observe que o mediastino está deslocado para a esquerda, mais facilmente observado pela coluna aérea na traqueia. Além disso, os espaços intercostais à direita estão aumentados. 253 Índice Estes achados sugerem que este velamento acompanha um aumento volumétrico deste hemitórax, que geralmente pode ser explicado por um DERRAME PLEURAL VOLUMOSO, mas que também pode ser observado em outras situações como massas pulmonares volumosas e pneumonias muito extensas. Figura 241. Derrame pleural volumoso à direita. Fonte: Acervo Medway. 254 Índice CASO CLÍNICO 8 Paciente do sexo feminino, 67 anos, internado na UTI por complicações decorrentes do início do tratamento de um tumor de pulmão do tipo pequenas células à esquerda. Hoje, apresentou desconforto respiratório agudo. Foi realizada radiografia de tórax no leito. Figura 242. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de mais um caso desafiador de hemitórax branco. Observe que, assim como no caso clínico anterior, todo o hemitórax está velado, agora do lado esquerdo. Como já vimos, muitas condições podem ser responsáveis pelo velamento de um dos pulmões e o diagnóstico diferencial entre elas é amplo. Em geral, procuramos dividir os velamentos em dois grupos: com aumento volumétrico do hemitórax e com redução volumétrica do hemitórax. 255 Índice Quando observamos esta radiografia, vemos que o mediastino está deslocado para a esquerda, do mesmo lado do velamento. Nem conseguimos mais observar a borda cardíaca direita. Além disso, os espaços intercostais à esquerda estão reduzidos. Estes achados sugerem que este velamento acompanha uma redução volumétrica deste hemitórax, que geralmente pode ser explicado por uma ATELECTASIA COMPLETA do pulmão, mas que também pode ser observado em outras situações como pneumectomias, agenesia ou hipoplasia pulmonar e até em sequelas de processos inflamatórios ou infecciosos como a tuberculose. Figura 243. Atelectasia completa do pulmão esquerdo. Fonte: Acervo Medway. 256 Índice CASO CLÍNICO 9 Paciente do sexo masculino, 45 anos, internado na UTI após infarto agudo do miocárdio. Foi realizada radiografia de tórax no leito Figura 244. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de uma radiografia que apresenta achados muito comuns em pacientes no ambiente de terapia intensiva. Nós já estudamos estes achados ao longo do curso. Perceba que temos um infiltrado intersticial difuso, com acentuação das marcas broncovasculares e opacidades peri-hilares bilaterais, além de linhas B de Kerley. Há ainda um derrame fissural à direita, com a fissura horizontal bem delimitada. Se juntarmos estes achados, sugerimos que este paciente apresenta sinais de CONGESTÃO PULMONAR. 257 Índice Devemos ter um cuidado especial na avaliação destes achados nas radiografias em decúbito porque o fato de o paciente estar deitado acaba determinando um aumento já esperado da trama broncovascular nos ápices, o que chamamos de cefalização da trama. Portanto, cuidado para não achar que todos os pacientes estão congestos! Busque outros achados para corroborar sua hipótese como a congestão dos vasos hilares (opacidades peri-hilares bilaterais) e as linhas B de Kerley, que significam edema intersticial. Outra dica é olhar os exames anteriores: se os vasos estão cada vez mais proeminentes, provavelmente o paciente está ficando mais congesto. Figura 245. Congestão pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 258 Índice CASO CLÍNICO 10 Paciente do sexo masculino, 51 anos, internado na UTI por sepse de foco pulmonar. Foi realizada radiografia de tórax no leito. Figura 246. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Vamos voltar aos fundamentos do curso para avaliar esta radiografia. Temos um aumento difuso da atenuação do parênquima pulmonar que é bilateral e muito extenso. Se formos avaliar o padrão deste infiltrado, poderemos defini-lo como um infiltrado pulmonar do tipo alveolar pelo aspecto algodonoso. E este infiltrado alveolar é tão denso e confluente que quase parece uma consolidação de todo o pulmão, inclusive com broncogramas aéreos. Este padrão em pacientes gravemente enfermos deve nos lembrar a SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO, que corresponde a uma forma de lesão pulmonar aguda que pode ser decorrente de um processo pulmonar primário ou secundária a uma condição sistêmica (como uma sepse). 259 Índice A lesão pulmonar severa leva ao preenchimento dos alvéolos pulmonares por líquido inflamatório, o que gera um encharcamento pulmonar de origem não cardiogênica. Na radiografia, observamos um infiltrado pulmonar difuso alveolar ou reticuloalveolar, caracteristicamente bilateral e simétrico. Geralmente o coração tem tamanho normal e não há derrame pleural na SDRA, o que ajuda no diagnóstico diferencial com congestão. Figura 247. Síndrome do desconforto respiratório agudo. Fonte: Acervo Medway. 260 Índice CASO CLÍNICO 11 Paciente do sexo masculino, 32 anos, usuário de drogas injetáveis. Internado na UTI para tratamento de endocardite da valva tricúspide. Apresentou piora respiratória, sendo solicitada radiografia do tórax. Figura 248. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nosso paciente está tratando uma endocardite da valva tricúspide e evoluiu com piora do padrão respiratório. De cara, devemos pensar na possibilidade de ter havido uma EMBOLIA SÉPTICA, que nada mais é que a embolização de partículas infecciosas para o pulmão via circulação arterial pulmonar. Estas partículas podem ter origem em vegetações nas endocardites da valva tricúspide, de infecção de corrente sanguínea ou cateteres vasculares, de doença periodontal, dentre outras. Os achados radiológicos são bastante típicos, apesar de nem sempre serem visíveis nas radiografias quando são mais tênues: 261 Índice • Nódulos e opacidades nodulares periféricos entre 1 e 3 cm • Predomínio nas bases pulmonares • Evoluem com cavitação Os principais diagnósticos diferenciais são a embolia gordurosa e outros processos inflamatórios pulmonares (broncopneumonia, principalmente).Figura 249. Embolia séptica. Fonte: Acervo Medway. 262 Índice CASO CLÍNICO 12 Paciente do sexo feminino, 72 anos, sofreu infarto agudo do miocárdio. Foi transferida para a UTI onde foi realizada a passagem de um cateter venoso central na subclávia esquerda. Radiografia de tórax para controle. Figura 250. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Vamos avaliar uma radiografia de controle após a passagem de um cateter venoso central. Já discutimos anteriormente sobre o posicionamento então não vou me alongar. Este paciente apresenta uma complicação após o procedimento. Veja se algo te chama a atenção nesta radiografia. Você deve ter percebido que o pulmão esquerdo está mais escuro que o pulmão direito. Além disso, a cúpula diafragmática esquerda está indistinta e o seio costofrênico correspondente está muito mais fundo. Parece até que o pulmão esquerdo está querendo ir para a barriga. Este sinal radiológico é chamado sinal do sulco profundo e indica a 263 Índice presença de PNEUMOTÓRAX no paciente no leito. A identificação de pneumotórax nas radiografias em AP é bastante difícil. O gás na pleura se acumula anteriormente e nas bases dos pulmões quando o paciente está deitado, o que dificulta muito a sua identificação. Em caso de dúvidas, uma ultrassonografia de tórax ou mesmo uma radiografia em decúbito lateral com raios horizontais pode ajudar. Figura 251. Pneumotórax à esquerda. Fonte: Acervo Medway. 264 Índice OS PRINCIPAIS ERROS NA AVALIAÇÃO DAS RADIOGRAFIAS DO TÓRAX RAIO-X DE TÓRAX E ABDOME CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino, 18 anos, veio realizar uma radiografia de tórax admissional, assintomático. Figura 252. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 265 Índice Figura 253. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Nossa paciente não apresenta nenhuma alteração pulmonar, mas pode ter chamado a sua atenção um borramento da área cardíaca direita. Não poderia ser uma pneumonia? Estamos diante de uma condição que com frequência causa erros de interpretação nas radiografias do tórax: o PECTUS EXCAVATUM. Veja na radiografia em perfil como o esterno está angulado para o interior do tórax. Esta deformidade congênita da caixa torácica, apesar de na maioria dos casos apresentar apenas problemas estéticos, pode determinar alterações na radiografia que causam confusão: • Borramento da borda cardíaca direita na radiografia em frontal, simulando consolidações 266 Índice • Horizontalização das costelas posteriores e verticalização das costelas anteriores • Deslocamento do coração para a esquerda • Aumento da área cardíaca, simulando cardiomegalias Figura 254. Pectus excavatum. Fonte: Acervo Medway. 267 Índice CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino, 48 anos, veio ao pronto atendimento com queixa de tosse e febre baixa há 2 dias. Está preocupada se está com COVID-19 ou com pneumonia. Foi solicitada radiografia de tórax. Figura 255. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 268 Índice Figura 256. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, a radiografia de tórax tem como intenção procurar um foco pulmonar para a provável infecção do trato respiratório desta paciente. Se não fizermos uma análise sistematizada, poderemos cair em uma pegadinha. Você percebeu que o campo inferior do pulmão esquerdo está mais opacificado? Será que é a pneumonia que estamos buscando? Agora observe o perfil. Onde está esta opacidade? Difícil né? Não observamos a opacidade no perfil porque ela não existe! O lado alterado é o lado direito. Na verdade, esta paciente não tem a mama direita (realizou uma MASTECTOMIA) e a mama esquerda acaba simulando uma opacidade no pulmão esquerdo porque você nota uma assimetria da opacificação do pulmão. 269 Índice Moral da história: alterações das partes moles da parede torácica podem simular alterações pulmonares. Fique atento à ausência de uma mama ou da musculatura peitoral, que podem simular opacidade na base do pulmão contralateral. Figura 257. Mastectomia à direita. Fonte: Acervo Medway. 270 Índice CASO CLÍNICO 3 Paciente do sexo feminino, 68 anos, veio ao pronto atendimento com queixa de dispneia progressiva há 2 dias. Foi solicitada radiografia de tórax Figura 258. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso, muito provavelmente você se incomodou com a área cardíaca. Se formos seguir o protocolo, veremos que o paciente tem um índice cardiotorácico aumentado e até um velamento do seio costofrênico esquerdo. Mas note que a densidade deste componente na periferia do coração é um pouco mais baixa (mais cinza escuro). 271 Índice Esta alteração é uma armadilha das radiografias de tórax. Nosso paciente apresenta uma PROEMINÊNCIA DA GORDURA EPIPERICÁRDICA, que é uma gordura que envolve o coração e simula cardiomegalias e até derrames pleurais, quando ocupa o seio costofrênico. A dica é observar que sua densidade é mais baixa que a do coração, por ser composta de gordura. Figura 259. Proeminência da gordura epipericárdica. Fonte: Acervo Medway. 272 Índice CASO CLÍNICO 4 Paciente do sexo masculino, 88 anos, está internado na UTI por insuficiência renal. Foi solicitada radiografia de tórax de controle após passagem de cateter venoso central na veia jugular interna esquerda. Figura 260. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso estamos avaliando o posicionamento dos cateteres vasculares e avaliando potenciais complicações durante o procedimento. Os dois cateteres vasculares estão relativamente bem posicionados, com as extremidades na transição da veia cava superior e átrio direito. Mas e quanto à presença de complicações? 273 Índice Você percebeu algo de “estranho” no hemitórax direito? Observamos algumas linhas verticais mais escuras, certo? Será que o paciente evoluiu com um pneumotórax? Não é o caso! Estas imagens correspondem a DOBRAS DA PELE e podem simular pneumotórax. São frequentemente observadas em idosos acamados devido à flacidez cutânea ou em bebês. Algumas dicas ajudam na diferenciação entre as dobras cutâneas e o pneumotórax: • Dobras cutâneas são amplas • Dobras cutâneas não seguem o curso esperado para a pleura • Dobras cutâneas se estendem além do hemitórax enquanto a linha pleural no pneumotórax é contida por ele • As marcas broncovasculares são visíveis além da dobra • As dobras cutâneas mudam a aparência nos exames subsequentes 274 Índice Figura 261. Dobras cutâneas. Fonte: Acervo Medway. 275 Índice CASO CLÍNICO 5 Paciente do sexo masculino, 8 meses, foi levado ao pronto-socorro pelos pais com queixa de chieira no peito e tosse produtiva. Realizou radiografia do tórax Figura 262. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso poderíamos ficar confusos com a imagem no campo superior do pulmão direito. Será uma opacidade? Uma pneumonia lobar? Esta “opacidade” corresponde ao TIMO e com frequência nos traz dúvida diagnóstica, principalmente quando a criança apresenta um quadro clínico sugestivo de pneumonia. O timo é um órgão que se localiza no mediastino anterior e é normalmente proeminente nas crianças pequenas, o que simula massas mediastinais e até opacidades pulmonares. Alguns achados sugerem que estamos diante do timo: • O timo normal tem densidade de tecidos moles 276 Índice • Não exerce efeito expansivo • Sinal da vela tímica: aspecto triangular, com bordas bem definidas • Sinal das ondas: por ser um órgão mole, ele se amolda aos espaços intercostais Figura 263. Timo normal. Fonte: Acervo Medway. 277 Índice CASO CLÍNICO 6 Paciente do sexo feminino, 13 meses, foi levado ao pronto-socorro pelos pais com queixa de tosse e febre. Realizou radiografia do tórax. Figura 264. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso clínico estamos avaliando uma criança com um quadro respiratório. Na radiografia,buscaremos uma imagem que possa sugerir uma pneumonia, certo? Bom, acredito que chamou sua atenção uma imagem junto à borda cardíaca direita. Será que é uma consolidação? Algumas coisas falam contra a possibilidade de uma consolidação: as bordas são muito bem definidas e não vemos broncogramas aéreos. Mas como ter certeza? Olhar os exames anteriores é sempre uma boa opção. Veja abaixo uma radiografia anterior do nosso paciente: 278 Índice Figura 265. Exame prévio do paciente. Fonte: Acervo Medway. Perceba que a “opacidade” persiste lá! Isso nos ajuda a pensar que esta alteração deve ser constitucional ou uma variante anatômica do nosso paciente. De fato, nosso paciente tem uma HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA de Bochdalek à direita e um pequeno pedaço do fígado herniou por esta falha diafragmática. Pequenas hérnias diafragmáticas são achados comuns nos exames de imagem e geralmente não causam nenhum sintoma. Porém podem aparecer como opacidades com atenuação de partes moles na radiografia, simulando opacidades e massas. 279 Índice CASO CLÍNICO 7 Paciente do sexo masculino, 32 anos está com queixa de tosse crônica e emagrecimento há 6 meses. Realizou radiografia do tórax. Figura 266. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Diante do quadro clínico do nosso paciente, com tosse crônica e emagrecimento, um diagnóstico deve vir imediatamente à nossa mente: TUBERCULOSE PULMONAR. Quando olhamos a radiografia, a princípio pode ser que nada nos chame a atenção, mas olhe atentamente para o ápice pulmonar esquerdo. Compare com o ápice pulmonar 280 Índice direito e você verá que há uma diferença. Nosso paciente apresenta uma consolidação no ápice esquerdo, fortemente suspeita para tuberculose neste contexto clínico. Este caso ilustra como é importante uma análise sistematizada para evitar que percamos alterações, principalmente em áreas que sabidamente são esquecidas. Os ápices pulmonares são um exemplo de ponto cego nas radiografias do tórax! Figura 267. Tuberculose pulmonar. Fonte: Acervo Medway. 281 Índice CASO CLÍNICO 8 Paciente do sexo feminino, 62 anos, tabagista de longa data, está apresentando tosse diária que vem piorando. Realizou radiografia do tórax. Figura 268. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 282 Índice Figura 269. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Estamos diante de mais um caso desafiador. Esta paciente apresenta um NÓDULO PULMONAR que está bastante escondido por ocupar um ponto cego na radiografia: o espaço retroesternal. Se observarmos o perfil com atenção a este espaço, poderemos observar um pequeno nódulo ovalado que, no contexto de um paciente tabagista de longa data, é bastante suspeito para neoplasia. 283 Índice Quando voltamos na radiografia em frontal, o nódulo está projetado exatamente sobre a primeira junção esternocostal direita. Conclusão: facilmente passaria despercebido! Mais uma vez a avaliação sistemática é muito importante para não esquecermos de avaliar os pontos cegos. Figura 270. Nódulo pulmonar no espaço retroesternal. Fonte: Acervo Medway. 284 Índice CASO CLÍNICO 9 Paciente do sexo feminino, 68 anos, tabagista de longa data, está apresentando dor torácica posterior e à esquerda que vem piorando. Realizou radiografia do tórax. Figura 271. Radiografia de Tórax (PA). Fonte: Acervo Medway. 285 Índice Figura 272. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Neste caso podemos observar, mais uma vez, a importância da radiografia em perfil. Assim como na avaliação do espaço retroesternal, a avaliação do espaço retrocardíaco é muito mais fácil no perfil. Na radiografia em frontal, nada chama muito a atenção, exceto por um duplo contorno na silhueta esquerda do coração. Quando olhamos o perfil, dá até um susto, né? Vemos uma grande MASSA RETROCARDÍACA que é bem nítida, provavelmente neoplásica nesta paciente tabagista de longa data. O espaço retrocardíaco é outro ponto cego clássico nas radiografias de tórax e é preciso olhar com cuidado a área cardíaca em busca de alguma heterogeneidade. Na dúvida, solicite uma radiografia em perfil, principalmente nos pacientes que apresentam alteração de ausculta ou sinais clínicos como dor nas bases pulmonares. 286 Índice Figura 273. Massa retrocardíaca. Fonte: Acervo Medway. 287 Índice CASO CLÍNICO 10 Paciente do sexo masculino, 45 anos, está apresentando dor torácica, febre diária verpertina, sudorese noturna e perda de peso. Realizou radiografia do tórax. Figura 274. Radiografia de Tórax (AP). Fonte: Acervo Medway. 288 Índice Figura 275. Radiografia de Tórax (Perfil). Fonte: Acervo Medway. DISCUSSÃO Este é mais um caso para ilustrar a importância da radiografia em perfil, neste caso, para a avaliação das estruturas ósseas. As estruturas ósseas são áreas que com frequência não dedicamos muito tempo para avaliar. Costumamos olhar direto para os pulmões e para o mediastino. É natural. Neste caso, o perfil ajuda a identificar uma alteração que passa despercebida na radiografia em PA. Temos uma destruição de dois corpos vertebrais torácicos que aparecem fundidos. O disco intervertebral não é mais visível. A alteração acaba determinando uma angulação da coluna, com uma acentuação da cifose torácica. 289 Índice Em um paciente com febre vespertina, sudorese noturna e perda de peso, devemos nos lembrar do MAL DE POTT, que corresponder a espondilodiscite (inflamação da vértebra e do disco intervertebral) pelo bacilo da tuberculose. Figura 276. Espondilodiscite tuberculosa. Fonte: Acervo Medway. 290 Índice REFERÊNCIAS AU-YONG, A.; AU-YONG, I.; BRODERICK, N. On-Call X-Rays Made Easy E-Book. Elsevier Health Sciences, 2010. BERMAN, L.; DE LACEY, G.; MORLEY, S. The chest X-ray: a survival guide. Elsevier Health Sciences, 2012. CHEAH, F.; ENG, P. Interpreting chest x-rays: illustrated with 100 cases. Cambridge University Press, 2005. CLARKE, C.; DUX, A. Chest X-rays for medical students. John Wiley & Sons, 2017. CORNE, J.; KUMARAN, M. Chest X-ray made easy. Elsevier Health Sciences, 2015. CRUNDWELL, N.; JOARDER, R. Chest X-ray in clinical practice. Springer Science & Business Media, 2009. GOODMAN, L. R. Felson’s principles of chest roentgenology, a programmed text. Elsevier Health Sciences, 2014. MISRA, R. R.; PLANNER, A.; UTHAPPA, M. C. AZ of Chest Radiology. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press. 2007. Soft cover, 211 pages, illustrated. 2008. SINGH, H. 101 Chest X-Ray Solutions. JP Medical Ltd., 2013. Índice NOSSA MISSÃO Todos os nossos esforços na Medway são voltados para uma única missão: melhorar a assistência em saúde no Brasil. Por meio de um ensino sólido em Medicina de Emergência e uma excelente preparação para as provas de Residência Médica, acreditamos que nossos alunos se tornarão médicos ainda melhores do que eram antes! Começamos há pouco tempo, mas já alcançamos alguns feitos que nos enchem de orgulho. Em 2019, fizemos o curso presencial de prova prática com maior número de alunos do país, o CRMedway. E em 2020, montamos os primeiros cursos preparatórios de residência médica voltado exclusivamente para as principais bancas de São Paulo: o Extensivo SP e o Intensivo SP! Além disso, desde 2017 contamos com um projeto de Mentoria para nossos alunos, que já contou com mais de 1500 alunos. Índice Nosso curso Intensivo para a primeira fase das provas de residência médica, direcionado exclusivamente para quem vai prestar os processos de São Paulo. Através de uma análise estatística detalhada, vamos te entregar aulas, app de questões e simulados específicos por instituição para fazer você voar nessa reta final! CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS Aqui, você tem diversas opções. É claro, como o próprio nome diz, o foco aqui são as instituições de São Paulo. Primeiro, os extensivos focados nas provas de R1 de acesso à residência médica. 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CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS SOBRE O R3 DE CIRURGIA CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS SOBRE O R3 DE CLÍNICA MÉDICA https://ps.medway.com.br/ https://r3.medway.com.br/clinica-medica/?utm_source=cpc&utm_medium=search&utm_medium=google&utm_source=cpc&utm_term=medway%20r3&utm_campaign=%5BON%5D+%5BVD%5D+%5BSearch%5D+%5BR3+Cl%C3%ADnica+M%C3%A9dica%5D&hsa_acc=3727687182&hsa_cam=16008441345&hsa_grp=133047584295&hsa_ad=578340692534&hsa_src=g&hsa_tgt=kwd-1518265603580&hsa_kw=medway%20r3&hsa_mt=p&hsa_net=adwords&hsa_ver=3&gclid=CjwKCAjwwo-WBhAMEiwAV4dybTEHV9HFwQsYJyiP0COPUm7LC7lk-kceE826IVO6e_WJETrOm1ziABoCv4wQAvD_BwE https://r3.medway.com.br/clinica-medica/?utm_source=cpc&utm_medium=search&utm_medium=google&utm_source=cpc&utm_term=medway%20r3&utm_campaign=%5BON%5D+%5BVD%5D+%5BSearch%5D+%5BR3+Cl%C3%ADnica+M%C3%A9dica%5D&hsa_acc=3727687182&hsa_cam=16008441345&hsa_grp=133047584295&hsa_ad=578340692534&hsa_src=g&hsa_tgt=kwd-1518265603580&hsa_kw=medway%20r3&hsa_mt=p&hsa_net=adwords&hsa_ver=3&gclid=CjwKCAjwwo-WBhAMEiwAV4dybTEHV9HFwQsYJyiP0COPUm7LC7lk-kceE826IVO6e_WJETrOm1ziABoCv4wQAvD_BwE Índice APLICATIVO MEDWAY Com o app da Medway, disponível para desktop, iPhone e Android, você estuda com mais de 30 mil questões de residência médica dos últimos anos, com TUDO em um só lugar: comentários do nosso time de professores, provas das principais instituições de SP, simulados e apostilas! 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