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Conteudista: Prof.ª M.ª Patricia Freitas
Revisão Textual: Esp. Camila Colombo dos Santos
 
Objetivo da Unidade:
Fomentar o debate em torno das expressões literárias na Irlanda, abrangendo
questões sobre o direito à literatura em um espaço-nação historicamente
marcado por embates culturais.
˨ Material Teórico
˨ Material Complementar
˨ Referências
Incursões pela Literatura Irlandesa
Lutas Populares e o Movimento Nacionalista (1891-
1918)
A história da Irlanda é marcada por inúmeros conflitos de ordem geopolítica e movimentos
populares, alguns deles, inclusive, persistem até hoje. Não à toa, sua produção literária encampa
autores mundialmente consagrados por se debruçar sobre temáticas sociais do país e
questionar os limites da representação estética de questões políticas e ideológicas.
De certa forma, a grande cicatriz na história do país, com reverberações em sua literatura,
associa-se ao domínio inglês sobre a região, a ponto de ser possível afirmar que a política
colonialista, cujos rastros podem ser localizados desde o século XII, afetou, de maneira
indelével, a construção identitária dos povos irlandeses.
Antes dividida em cinco reinos, o processo de dominação colonial do país remonta ao reinado de
Henrique II na Inglaterra, primeiro rei inglês a chegar na Irlanda e conquistar cerca de 80% do
território, centralizando seu poder nas regiões de Dublin e Waterford. Sob o pretexto de unificar
a Igreja Católica e apoiado pelo Papa Adriano IV, Henrique II obtém tamanho controle do local a
ponto de nomear seu filho mais novo, John, como Dominus Hiberniae (Senhor da Irlanda). Tal
fato abriu caminho para que a economia irlandesa passasse diretamente às mãos da Coroa
Britânica no momento em que John assumiu o trono inglês após a morte de seu irmão, Richard
I, em 1199. 
Ao longo do tempo, o estabelecimento do poderio inglês na Irlanda mudou a configuração
geográfica, social, cultural e política do país. De acordo com McDowell (1967) e Edwards (2005),
a presença inglesa empurrou a população nativa a áreas periféricas, incidiu diretamente no
aumento das desigualdades sociais, levando a quadros de extrema miséria entre os nativos,
1 / 3
˨ Material Teórico
coibiu manifestações culturais da população local, além de transformar o regime político da
Irlanda, composto por reinos, em mais uma ramificação do império inglês.
Figura 1 – Diversos reinos da Irlanda em 1904
Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Mapa da Irlanda em 1904. A ilustração apresenta fundo azul,
representando os mares que banham o país. Há treze reinos discriminados na
ilustração nas cores marrom, verde-escuro, verde-claro, azul-claro, bege,
laranja e roxo: Wexford, Leinster e Dubh Linn (Leste); Southern Ui Neill e
Breifne (Centro); Oriel, Northern Ui Neill e Ulidia (Norte); Connaught (Oeste);
Waterford, Limerick, Munster e Cork (Sul). Fim da descrição.
Figura 2 – Mapa da Irlanda no ano de 1300, ressaltando a
divisão do território entre os irlandeses e os anglo-
normandos
Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Mapa da Irlanda no ano de 1300, evidenciando a divisão da
região entre territórios irlandeses e territórios normandos com as cores verde e
branca. Segundo a ilustração, parte majoritária do norte e sudoeste da Irlanda
estava sob domínio dos irlandeses, enquanto a região central pertencia quase
exclusivamente aos normandos. Fim da descrição.
Protestos e outras reações populares a esse panorama não tardaram a acontecer, insuflados
sobretudo pelo nacionalismo gaélico, bem como pelo reconhecimento da tradição cultural e
linguística do país. Em meados do século XVII, eclodiu uma importante rebelião da população
nativa contra a medida adotada pela rainha Isabel I e por seu sucessor, Carlos I, de expulsar os
fazendeiros irlandeses de suas terras e substituí-los por colonos escoceses e ingleses. Esse
conflito, que ceifou mais de nove mil vidas, fortaleceu o estabelecimento de laços identitários
que congregavam a população irlandesa e a contrapunha aos ingleses, tendo por base a
distinção religiosa entre católicos (irlandeses) e protestantes (ingleses).
Nesse mesmo século, é formado o Protestant Ascendancy, grupo constituído por uma minoria
irlandesa de senhores de terra e membros do clero protestante, que atuou até o século XIX de
modo a pressionar o Parlamento inglês a tomar medidas mais rígidas de controle religioso e
político contra os nativos da Irlanda, entre elas as chamadas Leis Penais. Com a instauração
dessa série de leis, os católicos – que representavam 90% da população irlandesa da época –
foram proibidos de ingressar no exército, exercer uma profissão formalizada, possuir armas,
ingressar no curso de Medicina ou Direito, escrever ou falar em gaélico, tampouco cantar
canções populares. Ademais, a atuação de bispos da Igreja Católica foi banida e escolas católicas,
fechadas. Em meio a tamanha rede de opressão de todas as ordens, a maioria populacional
católica passou a se concentrar em não mais do que 10% do território do país, em condições de
vida extremamente precárias.
Saiba Mais 
O escritor anglo-irlandês Jonathan Swift deteve-se sobre as condições
lamentáveis de vida dos católicos irlandeses após a instauração das
Leis Penais. Em ensaio publicado anonimamente em 1729, intitulado
Uma simples proposta, o autor comenta sobre a realidade social de
Dublin da época:
- SWIFT, 1929, p. 1, tradução nossa
“Trata-se de algo triste àqueles que caminham nas ruas desta grande cidade ou
viajam por este país ver as ruas, as estradas e as portas dos comércios cheias de
mulheres mendigando, seguidas por três, quatro ou seis crianças, todas
maltrapilhas, interpelando todos que passam por uma esmola. Essas mães, em vez
de trabalharem para viver honestamente, são forçadas a empregar todo seu tempo
em vagar pelas ruas e implorar pelo sustento de seus filhos indefesos que, ao
crescer, poderão se tornar ladrões por falta de trabalho, sair de seu querido país
natal, lutar pelo rei ou vender a si mesmos em Barbados.”
Figura 3 – Retrato de Jonathan Swift, por Charles Jervas
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Retrato a óleo de Jonathan Swift, por Charles Jervas. Na
obra, o rosto do autor irlandês sobrepõe-se a um fundo escuro. Os cabelos de
Swift são louros, estão repartidos ao meio e com leves ondas que chegam até
seus ombros. O retratado está de perfil, tem olhos escuros e sobrancelhas
grossas e castanhas. Ele traja um lenço branco ao redor do pescoço. Fim da
descrição.
Para Boyce (2004), esse quadro de salutar opressão social produziu um sentimento de
solidariedade entre os católicos, unidos pela política colonial de usurpação de terras,
perseguição política e tentativas sistemáticas de apagamento das tradições linguístico-culturais.
Os movimentos nacionalistas, com isso, passam a ser, a um só tempo, um arcabouço de ideias
contra-hegemônicas e uma prática de resistência ao panorama vigente. Um exemplo disso são
os protestos em defesa do Home Rule (autogoverno) logo após a criação dos Union Acts (Atos de
União) em 1801, quando a Irlanda é anexada ao Reino da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e
País de Gales), formando, assim, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. 
Ainda no século XIX, ocorre a Grande Fome, um dos maiores abalos econômicos e demográficos
na história do país, acarretado pelo alastramento de pragas nas plantações de batatas em áreas
rurais da Irlanda entre 1845-1848. Nesse período, mais de 800 mil irlandeses morreram de
inanição e outras doenças ligadas à desnutrição, além de ter havido uma expressiva emigração
de cerca de 1 milhão de cidadãos. Essa tragédia produziu impacto também na própria
distribuição da economia do país: o Norte, mais industrializado e cuja população era
majoritariamente protestante, sofreu menos abalos; o Sul, por sua vez, dependente da economia
rural e marcado pela centralização de grupos nacionalistas, viu-se tomado pela miséria, pela
fome, pela diáspora, pelas mortes e pelos
protestos de movimentos populares. Os pequenos
proprietários de terra que ainda habitavam o sul do país unem-se ainda mais com vistas a
fortalecer a defesa de um governo irlandês independente e se colocar contra a política colonial
vigente de expropriação de terras, urbanização e supremacia protestante.
Imagem 
Ilustração inglesa Strangling the Monster (Estrangulando o monstro),
veiculada na revista inglesa Punch, em 5 de fevereiro de 1881, com a
Clique no botão para visualizar.
ACESSE
A pesquisadora Jaqueline Arantes (2021, p. 51, 54) chega a afirmar que a Grande Fome marca
finalidade de demonizar e deslegitimar aos leitores da Inglaterra os
movimentos de pequenos proprietários de terra do sul da Irlanda que
pertenciam à organização política Irish National Land League (Liga
Nacional da Irlanda pela Terra).
“O início de um período de resistência e de resgate da identidade do povo irlandês,
presente principalmente nos movimentos literários que vieram a surgir no final do
século XIX […] Inicia-se também nesse período um nacionalismo literário pós-
fome. Com intuito de superar a dicotomia protestante-católica, motivados pelo
sentimento anti-inglês, surgem grupos nacionalistas com a proposta de usar a
literatura e os jornais a seu favor, já que durante os séculos XIX e XX era comum a
leitura de romances vitorianos na Irlanda, por meio dos quais a literatura inglesa
propagava um discurso que funcionava como um mecanismo do colonialismo
cultural.”
https://bit.ly/3kDdUvv
Devido a esse compromisso social com a história e a tradição cultural irlandesas, os escritores
nacionalistas da época são conhecidos pela historiografia literária como parte fundamental
do Irish Literary Revival (Renascimento Literário Irlandês).
A cultura passa a ser vista como uma ramificação da luta pelo direito à autonomia político-
religiosa dos povos irlandeses e aos direitos sociais sobretudo da maioria católica, reprimida
pelo poder institucional. O combate simbólico travado por escritores e meios de comunicação –
o jornal semanal The Nation, Gaelic League (Liga Gaélica), Ibero-Celtic Society (Sociedade Ibero-
Celta), Ossianic Society (Sociedade Ossiânica) e Phoenix Literary Society (Sociedade Literária
Fênix) – ecoa essa perspectiva de ataque frontal aos ditames imperialistas a partir da produção e
da publicação de poemas emulando formas literárias populares, canções e outras manifestações
artísticas, de modo a inaugurar um projeto cultural cuja base seria uma atitude não
contemplativa e insubordinada aos bens culturais ingleses. Segundo Rafael Vieira (2015, p. 55),
esses agrupamentos buscavam “criar no país um sentimento que pudesse ser despertado pelo
povo: o orgulho pela nação”.
Esse orgulho despontou de forma inédita no final do século XIX e início do XX, com a
disseminação de escritos de cunho político em jornais dirigidos por simpatizantes dos
movimentos nacionalistas. Ao todo, entre os anos de 1853 e 1913, existiam exatamente 230
veículos de imprensa impressa que advogavam pelo autogoverno irlandês. O papel fundamental
das artes nesse processo pode ser dimensionado pela sua própria capacidade de colaborar
ativamente com a construção de uma identidade coletiva, ao engendrar, questionar ou reforçar
costumes, linguagens, narrativas, mitos e práticas que, por sua vez, forjam nos indivíduos um
sentido de pertencimento a um determinado tempo histórico e a uma nação. É nessa articulação
entre história, memória e identidade que um grupo de artistas formado por William Butler Yeats,
Lady Gregory, George Moore e Edward Martyn lança o Irish Dramatic Literary Theatre (Teatro
Literário Dramático Irlandês) em 1899, um teatro que ambicionava produzir obras efetivamente
irlandesas, isto é, obras pautadas na recuperação de mitos, sons e linguagem gaélicas, capazes
de operar nos espectadores uma reflexão crítica sobre a história da Irlanda, tão marcada por
autoritarismos, perseguições e apagamentos culturais.
 A pauta desses artistas e sua reivindicação por liberdade nas décadas que se seguem é
desdobrada nas ruas, com consequências fatais inclusive para colegas e amigos de W. B. Yeats.
Entre a segunda-feira e o sábado da Páscoa de 1916, ocorreu um dos eventos mais marcantes do
embate entre irlandeses e ingleses no século XX, eternizado na história do país como Easter
Rising (Levante de Páscoa). Uma insurreição armada composta de membros da Irish Republican
Brotherhood (Irmandade Republicana Irlandesa) ocupa prédios institucionais em Dublin e
proclamam o início de um governo republicano. A revolta é dispersada violentamente pelo
exército britânico e, no mês seguinte, dezesseis líderes do levante são executados. 
Vídeo 
Sunday Bloody Sunday  
A canção Sunday, Bloody Sunday, do grupo irlandês de rock music, U2,
é inspirada em dois eventos da história da Irlanda: no Easter Rising, de
1916, e no conflito sanguinário entre a polícia britânica e os jovens
pacíficos que protestavam a favor dos direitos civis na cidade de Derry,
na Irlanda do Norte, em janeiro de 1972.
Sunday Bloody Sunday (Live From Red Rocks Amphitheatre, Color…
https://www.youtube.com/watch?v=EM4vblG6BVQ
Alguns anos depois, entre 1918 e 1919, o partido nacionalista Sinn Féin (Nós mesmos) vence as
eleições gerais e declara o início do Estado Republicano da Irlanda, com o apoio do Irish
Republican Army (Exército Republicano Irlandês – IRA). Após inúmeros conflitos com o Royal
Constabulary Army (Polícia Real), o Tratado Anglo-Irlandês é assinado em 6 de dezembro de
1921, reconhecendo a independência da parte sul da Irlanda. 
Vídeo 
Ventos da Liberdade 
O filme de 2006 , dirigido pelo cineasta inglês Ken Loach, utiliza um
enredo ficcional a fim de reconstituir alguns eventos da resistência
armada irlandesa à ocupação inglesa nas primeiras décadas do século
XX.
Ventos da Liberdade | Trailer Legendado
https://www.youtube.com/watch?v=dRl1BMBpQD8
Figura 4 – Cartaz do filme The wind that shakes the barley
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Cartaz do filme The wind that shakes the barley. Há algumas
árvores ao fundo. À frente, há o registro de dois homens brancos e jovens em
plano médio. Os dois têm os cabelos curtos e castanhos, olhos claros e vestem
jaquetas. Um deles segura uma espingarda preta. Abaixo de suas imagens, há a
inscrição do título do filme em letras grandes e brancas. No plano inferior, há
outro registro fotográfico, de menor dimensão, em que oito homens caminham
em uma paisagem montanhosa e nublada. Fim da descrição. 
O território norte do país permaneceu sob domínio da Grã-Bretanha, fator que gerou
significativos impactos para a geopolítica europeia na segunda metade do século XX. Os embates
entre paramilitares protestantes, associados ao unionismo do UVF e do UDA, e os católicos do
IRA e INLA engendraram uma guerra civil entre os anos 1960 e 2000, chamada pelos
historiadores de Troubles.
Glossário 
UVF: Ulster Volunteer Force (Força Voluntária de Ulster), grupo paramilitar não
separatista;
UDA: Ulster Defense Association (Associação em Defesa de Ulster), grupo
paramilitar unionista;
IRA: Irish Republican Army (Exército Republicano da Irlanda), grupo paramilitar
socialista e separatista;
INLA: Irish National Liberation Army (Exército de Libertação Nacional da Irlanda),
grupo paramilitar separatista e anticapitalista;
Até os dias atuais, a Irlanda do Norte vive certa instabilidade social entre católicos e protestantes.
As cicatrizes de anos de violência institucional e insurreições populares não deixam de estar
impressas em cada rua, palco, página e canção irlandesas, reverberando toda uma história viva,
pulsante e ainda em processo de construção.
Figura 5 – Registro da repressão policial no conflito
conhecido como Bloody Sunday (Domingo Sangrento) em
que jovens não armados protestavam a favor dos direitos
civis em janeiro de 1972. Catorze pessoas foram mortas,
entre elas sete adolescentes
Fonte: lesenfantsterribles.org
 
#ParaTodosVerem: Registro
fotográfico em preto e branco da repressão policial
ao protesto em Derry, Irlanda do Norte, em 1972. Nele, dezenas de homens
Unionism: vertente política inspirada nos Union Acts de 1801, em defesa da aliança
política e religiosa do Reino Unido com a Irlanda. Seus membros eram
majoritariamente protestantes.
caminham em fila ao lado de um muro branco com as mãos cruzadas atrás da
nuca. À direita, há vários policiais munidos de fuzis. Fim da descrição.
Figura 6 – Registro da marcha ocorrida em 2007 em
memória dos quatorze jovens mortos no conflito com a
polícia britânica em 1972, na cidade de Derry, Irlanda do
Norte
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Registro fotográfico da marcha em homenagem às quatorze
vítimas da ação policial no protesto de Derry. No primeiro plano, há dezenas de
pessoas concentradas na cidade, algumas segurando cartazes verdes. À frente
deles, encontra-se um muro branco, com a seguinte inscrição em letras
pretas: You are now entering Free Derry. À direita, há duas casas geminadas de
cor bege-claro. À direita, encontra-se uma rodovia. Fim da descrição.  
Figura 7 – Registro da capa do Derry Journal de 2022, em
que há uma homenagem aos mortos no conflito ocorrido
em 1972, em Derry, Irlanda do Norte
Fonte: Reprodução
 
#ParaTodosVerem: Foto da capa em preto e branco do Derry Journal de 2022. No
plano superior, há o nome do jornal em letras góticas grandes e na cor preta,
sobre o subtítulo 50th anniversaty commemorative edition, escrito em letras
menores e brancas. Abaixo dele, há uma foto da tragédia de 1972, com dois
homens brancos ao centro. Um deles está caído ao chão, provavelmente ferido
ou morto. Debruçado sobre ele, há outro homem. No plano inferior, sobre um
fundo preto, há a inscrição em letras grandes e brancas, Never forget. Abaixo
dele, a data “30.01.1972”, escrita em letras menores e brancas. Fim da descrição.
O Renascimento Literário Irlandês e a Fundação do
Teatro Literário Irlandês (1899)
O Renascimento Literário na Irlanda compreende um movimento cultural irlandês localizado
pela crítica especializada entre os séculos XIX e XX, quando a maioria dos escritores e artistas
em geral defendia uma postura ética e nacionalista como pilar para uma nova arte, de cor local e
sintonizada com os problemas sociais e políticos enfrentados pela população do país. 
O movimento buscou se distanciar da concepção colonialista de que a Irlanda seria um
desdobramento cultural da Inglaterra e de que restava aos artistas irlandeses somente emular
obras inglesas ou buscar o aperfeiçoamento a partir dos padrões estéticos impostos de fora.
William Butler Yeats (1865-1939), Lady Gregory (1852-1932), George Russel (1867-1935) e
John Synge (1871-1909) encabeçam um projeto de lançar as bases para a construção de uma
arte nacional e autoconsciente de sua função social. O estabelecimento desse grupo de autores
fortaleceu ainda mais o sentido de identidade coletiva e nacional entre os povos irlandeses,
assim como ajudou a disseminar o sentimento de que era urgente se apropriar de uma tradição
cultural local, que dialogava muito mais com as vidas dos cidadãos irlandeses do que a mera
sobreposição mecânica de obras e vertentes estéticas inglesas. A pesquisadora Elisa Abrantes
ressalta que o movimento “era necessário para se estabelecer diferenças entre a Irlanda e a
Inglaterra e justificar a independência daquela em relação a esta, em um momento em que os
modos irlandeses estavam esquecidos e o idioma gaélico praticamente extinto” (2018, p. 60).
As principais obras do Renascimento Literário são Beside the fire, uma coletânea de mitos
folclóricos irlandeses publicada em 1890 por Douglas Hyde; The celtic twilight, um conjunto de
ensaios escritos por W. B. Yeats e lançado em 1893; a adaptação dramatúrgica pela Gaelic League
(Liga Gaélica) e encenação nos palcos de Dublin de The Last Feast of the Fianna, inspirada no
mito de Oisin; e Cathleen Ni Houlihan, peça de teatro escrita por Yeats e Lady Gregory, que trata
dos protestos nacionalistas do fim do século XVIII, encenada em 1902.
Douglas Hyde foi um dos irlandeses mais influentes do século XX. Escritor, político e linguista,
Hyde atuou como mentor de W. B. Yeats e, em 1893, fundou a Gaelic League (Liga Gaélica),
organização social e cultural em prol da promoção da língua gaélica dentro e fora do território
irlandês, cujo trabalho permanece ativo até os dias atuais. Além disso, Hyde foi eleito presidente
da Irlanda em 1938. 
Figura 8 – Retrato de Douglas Hyde
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Retrato em preto e branco de Douglas Hyde. Ele tem cabelos
escuros penteados para trás, sobrancelhas escuras e grossas, olhos claros e um
volumoso bigode escuro. Veste uma camisa branca, com o colarinho levantado,
e um paletó preto.
Mais especificamente no terreno teatral, Yeats e Lady Gregory publicam o texto-manifesto
Manifest for the Literary Theatre (Manifesto pelo Teatro Literário) em 1897, declarando o anseio
do grupo em promover a dramaturgia irlandesa e conectar os enredos das obras ao público do
país. Nas palavras dos artistas, a proposta era:
- GREGORY, 1982, p. 6
“Encenar na primavera de cada ano, em Dublin, algumas peças celtas e irlandesas
escritas de maneira ambiciosa, independente do grau de excelência que possuam.
Será, então, construída uma escola irlandesa e celta de dramaturgia. Esperamos
encontrar na Irlanda uma plateia criativa e legítima, de ouvidos aguçados e crente
de que nosso desejo de levar aos palcos as emoções e reflexões sobre a Irlanda nos
permitirá uma maior liberdade de experimentar materiais não encontrados nos
teatros da Inglaterra, sem os quais nenhum movimento artístico ou literário da
Irlanda terá sucesso.”
Em 1899, a dupla de artistas junta-se a Edward Martyn e funda o Irish Literary Theatre (Teatro
Literário Irlandês), proposta de renovação cênica concretizada a partir da reabertura de um
espaço-chave da cultura irlandesa: o Abbey Theatre, em Dublin. Com quase seiscentos assentos,
o Abbey, em pouco tempo, se consagra como palco da máxima expressão da nova arte dramática
irlandesa, obtendo grande sucesso de público e de crítica. Também conhecido por National
Theatre of Ireland (Teatro Nacional da Irlanda), o Abbey é atualmente subsidiado por verbas
estatais e é considerado um dos maiores patrimônios culturais da Irlanda.
Retrato da entrada do Abbey Theatre em seu endereço atual, na 26 Lower Abbey Street, em
Dublin. No início do século XX, o Abbey abrigou dramaturgos que marcaram, de maneira
indelével, a história do teatro irlandês, como Yeats, Lady Gregory, John Millington Synge e Sean
O’Casey.
Figura 9 – Registro fotográfico da fachada do Abbey
Theatre, em Dublin
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Registro fotográfico da fachada do Abbey Theatre, em
Dublin, Irlanda. Há dois andares com três grandes pilastras entre as faces
externas da construção. A porta principal é de vidro e permite ver parcialmente a
área interna do teatro, bem como alguns de seus frequentadores. Acima, há
quatro janelas de vidro que também fornecem visão da parte interna do edifício.
Entre o térreo e o primeiro piso, em letras grandes com luzes azuis, encontra-se
inscrito o nome do teatro. Fim da descrição.
William Butler Yeats (1865-1939)
Yeats é considerado pela historiografia literária um dos principais nomes da literatura irlandesa
do século XX. A despeito de ter pertencido a uma família protestante com certa influência social
na época, Yeats encontrou, no campo literário, um meio de expressar seu apoio à causa
nacionalista e aos povos nativos da Irlanda, principalmente àqueles perseguidos pelos ditames
da Inglaterra. 
Mesmo tendo obtido sua formação escolar e passado grande parte de sua vida adulta em
Londres, o escritor fomentou uma literatura, sobretudo no campo da poesia e da dramaturgia,
debruçada na cultura popular e local de seu país natal, baseando-se no folclore irlandês: 
“Quando eu comecei a escrever, meus assuntos variavam conforme
as minhas
leituras, preferindo os quaisquer países para os quais o Arcadismo me levava, mas
neste momento estou convencido de que eu nunca devo procurar o cenário de um
poema em qualquer outro lugar além do meu país, e acredito que devo manter essa
convicção até o fim.”
Yeats escreveu poemas, peças, romances e contos, todos ambientados em solo irlandês, além de
publicar críticas de livros e ensaios cuja preocupação de fundo pautava-se na situação política da
Irlanda. Seus poemas foram inicialmente publicados em 1885, no jornal de tendência separatista
Dublin University Review, na mesma época em que o escritor estreitou laços de amizade com o
militante nacionalista e ex-exilado político John O’Leary. De acordo com a correspondência
trocada entre os dois, Leary foi um dos que encorajou Yeats a escrever poemas inspirados em
lendas e baladas do folclore irlandês. Aos olhos da crítica, o relacionamento amoroso de Yeats
com a feminista e ativista política Maud Gonne também parece ter influenciado sua produção
poética. Kathleen Donnelly (2011, p. 1) afirma que, após os protestos nacionalistas de 1875, na
época em que Yeats e Lady Gregory trabalharam juntos no Irish Literary Theatre, “Gregory
incentivou o escritor a participar de debates estéticos, ao passo que Gonne o levou a debater a
política local”. Será a Gonne que Yeats dedicará as peças The Countess Kathleen (1892) e Cathleen
Ni Houlihan (1902).
Maud Gonne é um dos nomes femininos mais importantes na história da luta pela
independência na Irlanda. Nascida na Inglaterra, Gonne identificava-se com a causa irlandesa,
associando sua militância política junto aos nacionalistas com o movimento sufragista. As
campanhas de Gonne a favor do autogoverno irlandês se estenderam à Escócia, à Inglaterra e ao
País de Gales, ganhando grande repercussão. Atualmente, há uma foto em tamanho real de
Gonne na Praça Parnell, em Dublin, em sua homenagem.
- YEATS, 2011, p. 51
Figura 10 – Retrato de Maud Gonne
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Retrato fotográfico em preto e branco de Maud Gonne. Ao
fundo, há uma paisagem nublada. A retratada traja um alto chapéu na cor preta,
um paletó com gola, cinto e saia pretos. Gonne tem os cabelos pretos e presos,
olhos escuros e sua mão esquerda está apoiada na cintura. Fim da descrição.
Cathleen Ni Houlihan, escrita por Yeats e Gregory, é ambientada em um chalé de camponeses,
localizado perto de Killala, na véspera de casamento de Michael Gillane com Delia. Na cena de
abertura, a família do noivo está conversando sobre o dote de Delia, quando Michael entra em
cena e afirma ter agendado a cerimônia para o dia seguinte, entregando a soma do dote para a
família. Logo depois, Cathleen, uma velha mulher misteriosa, aparece à porta para fazer um
chamado às personagens. Ela canta sobre o roubo de seus quatro verdes campos, numa clara
alusão às quatro províncias da Irlanda (Ulster, Munster, Leinster e Connacht), e louva os
patriotas que morreram pela causa nacional. O canto de Cathleen vai além e exorta as
personagens a fazerem o mesmo, isto é, a segui-la a fim de defender as terras da Irlanda e
expulsar os invasores.
A personagem é explícita quanto ao sacrifício necessário dos “verdadeiros filhos de Éire”
(GREGORY; YEATS, 1982, p. 4, tradução nossa) e à urgência de um embate armado: “Eles que
têm rostos corados, serão empalidecidos por causa minha, e por tudo isso, ficarão felizes com a
recompensa” (GREGORY; YEATS, 1982, p. 21, tradução nossa). Após essa entrada lírica de
Cathleen, Delia e a família Gillane assistem, passivos, à partida de Michael, que abandona os
planos de casamento e a vida no campo para seguir a velha mulher misteriosa. Ao saírem de
cena, o filho chega ao chalé e afirma ter visto seu irmão caminhar ao lado de uma jovem moça,
cujo andar se assemelhava ao de uma rainha. A velha mulher havia finalmente se convertido em
líder soberana. 
A caracterização da protagonista pertence à esfera da alegoria: Cathleen se apresenta como
símbolo da Irlanda, tornando-se uma bela rainha a partir do apoio e do sacrifício de jovens
camponeses que, por sua vez, deveriam priorizar o compromisso social e político sobre
quaisquer interesses familiares e/ou amorosos. Essa atmosfera, que pode ser compreendida em
sua dimensão apologética à luta armada, encontra um eco produtivo no poema Easter 1916,
publicado por Yeats em 1921. Ao lidar com os eventos do Levante de Páscoa de 1916, o eu lírico
trabalha com a contradição entre a banalidade de uma vida alienada dos problemas sociais
(“palavras corteses e banais”), o sentimento de luto pela morte dos mártires do Levante (“tudo
mudou, mudou em toda dimensão”) e a esperança que o protesto inspirou nos irlandeses (“uma
terrível beleza nasceu”): 
- YEATS, 1992, 1-16. Tradução de Paulo Vizioli
“Eu encontrei-os no crepúsculo da tarde; 
Vinham, no rosto a animação, 
De escrivaninha ou de balcão, 
Entre as casas cinzas, do século dezoito. 
Passei saudando-os de cabeça, ou bem 
Com palavras corteses e banais; 
Ou demorei-me um pouco e disse 
Coisas corteses e triviais; 
E pensei antes de ir, 
Numa história escarninha ou numa zombaria 
Com que pudesse um companheiro divertir 
No clube, em torno da lareira, 
Mas certo de que eles e eu 
Vivíamos onde se usavam trajes de bufão: 
Tudo mudou, mudou em toda dimensão: 
Uma terrível beleza nasceu.”
A disposição ao combate político, portanto, representaria o início de uma nova identidade
coletiva ao povo irlandês, assim como a luta cultural impulsionada por Yeats e seus colegas. O
sucesso de seu empreendimento na literatura e nos palcos do país contribuiu para que o escritor
ocupasse a cadeira de presidente do Abbey Theatre até 1915. Nesse tempo, Yeats escreveu dez
peças de teatro e outras dezenas de poemas paradigmáticos para a literatura moderna em língua
inglesa.
Em 1922, após a guerra pela independência, Yeats é nomeado membro do Senado da Irlanda,
tendo cumprido essa função de figura política por seis anos. Além disso, o escritor foi agraciado
por um Prêmio Nobel de Literatura em 1923. De acordo com o poeta, crítico literário e intelectual
irlandês Seamus Deane (1985), o trabalho de Yeats não pode ser lido de outra forma, senão
como algo revolucionário, posto que utiliza as tradições culturais da Irlanda numa atitude não
complacente com os lugares de poder, seja ele político ou estético. 
Brian Friel e a Representação dos Discursos de Poder no
Palco Irlandês
Brian Friel (1929-2015) foi um dramaturgo, contista e fundador do grupo de teatro irlandês
Field Day Theatre Company. Nasceu na cidade de Knockmoyle, na Irlanda do Norte, mas sua
família se muda para Derry logo que o autor completa 10 anos de idade. Após se graduar na St.
Patrick College, Maynooth, e obter o certificado de licenciatura na St. Joseph’s Training College,
Friel exerce o cargo de professor de Matemática em escolas de Ensino Básico em Derry, função
que abandona no início da década de 1960 a fim de exercer seu ofício de escritor em tempo
integral.
Suas peças de teatro, produções que o consagraram como um dos grandes autores da literatura
contemporânea, examinam de perto as diversas camadas de significação presentes na
identidade nacional irlandesa ao longo da segunda metade do século XX. Lançando mão de
expedientes estéticos já trabalhados por Yeats, como o uso de personagens alegóricas e de uma
forte musicalidade, a dramaturgia de Friel procura escavar criticamente as questões sociais da
Irlanda do Norte verificando como esses assuntos se desdobraram desde o período turbulento
da Independência até a atualidade e como eles atravessam a vida das personagens. Muito mais
do que simples pano de fundo, a política no teatro de Friel é elemento que fundamenta os
princípios de sociabilidade e de classe na Irlanda do Norte, orientando as relações de trabalho,
os laços afetivos e a construção de subjetividades.
Figura 11 – Retrato de Brian Friel
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: Retrato de rosto de Brian Friel. O autor está de frente, tem os
cabelos grisalhos penteados para trás e possui olhos castanhos. Veste uma
camisa azul, gravata de tom escuro e um paletó esverdeado.
 
Não à toa, seu teatro é amplamente reconhecido pela potência de mapear os conflitos associados
à ideia de lar, país natal, pertencimento, identidade coletiva e memória coletiva – assunto que
interessa não só aos irlandeses, mas a todos aqueles preocupados em compreender os modos
pelos quais as configurações geopolíticas e as estruturas de dominação social dimensionam e
restringem nossa visão de mundo. 
Ao todo, Friel escreveu 34 peças de teatro, dentre as quais oito permanecem inéditas em língua
inglesa, seis adaptações de Tchekhov e Turgeniev e uma adaptação de Henrik Ibsen. Catorze de
seus textos autorais se passam na cidade fictícia de Bellybag, forma inglesa da expressão gaélica
“Baile Beag”, cujo significado é “cidadezinha”. Esse artifício composicional revela muito da
potência do autor: entre a Irlanda e a Inglaterra ou entre a língua gaélica e o inglês havia uma
nação-fantasma, de fronteiras indefinidas, com uma história marcada por silenciamentos
impostos pela política colonial, bem como por assassinatos e torturas infligidas pelo Estado.
Friel parece interpelar o espectador a respeito do papel que a Irlanda do Norte representava para
o Reino Unido. Seria ela uma espécie de quintal ou cidadezinha, com uma geografia que já
denuncia sua posição hierárquica dentro do que chamamos de Grã-Bretanha? Mas quais seriam
as fronteiras da Irlanda e a identidade irlandesa após a Independência, quando houve a
separação entre Estado Livre Irlandês e Irlanda do Norte?
Ao se debruçar sobre tais questões, Friel produz uma dramaturgia de tom moderno, composta
por inúmeros solilóquios e monólogos, em que os personagens se movem em direção ao
abismo de suas próprias expectativas de futuro. Chamado de “Tchekhov irlandês”, o autor
explora o isolamento das personagens e a impossibilidade do diálogo e de ação coletiva dentro
uma sociedade fragmentada e socialmente desigual, marcada pela memória do terror
institucional e da submissão compulsória dos povos nativos. 
Nos anos 1980, Friel ganhou uma expressiva notoriedade no campo teatral e político, devido ao
sucesso de sua produção e ao apoio declarado ao Partido Nacionalista. O dramaturgo foi membro
do American Academy of Arts and Letters, do British Royal Society of Literature e da Irish Academy
of Letters. Tal como Yeats, foi nomeado para ocupar uma posição no Senado da Irlanda, em 1987.
Além disso, Dançando em Lúnassa recebeu os prêmios Tony, Laurence Olivier e New York
Drama Circle de melhor peça teatral. 
No Brasil, uma parcela do trabalho de Friel foi traduzida por Domingos Nunez, tradutor literário
e diretor teatral da Cia Ludens. O grupo trouxe, pela primeira vez aos palcos brasileiros, as peças
O fantástico reparador de feridas, Dançando em Lúnassa, Filadélfia, lá vou eu
e Performances – obras que foram recentemente publicadas em português. Um ponto de
convergência na crítica sobre o conjunto da dramaturgia de Friel é que há dois momentos de sua
produção: o primeiro, cujas obras foram escritas entre 1960 e 1990, traz para o primeiro plano a
crise política na Irlanda do Norte; e o segundo, a partir de 1990, focado mais em aprofundar a
caracterização psicológica das personagens. A despeito disso, Domingos Nunez verifica que as
peças do chamado “segundo momento” do trabalho de Friel, ainda que dotadas de uma forte
temática psicológica, “relacionam-se intrinsecamente com a evolução da história política e
social da Irlanda” (NUNEZ, 2013, p. 7).
Glossário 
Monólogo e solilóquio: alguns teóricos distinguem os dois termos,
ressaltando que o monólogo ocorre quando as falas da personagem
são dirigidas exclusivamente ao público, sem a presença do diálogo
interpessoal. Já o solilóquio também expressa a fala solitária de uma
personagem, mas, em vez de dirigir-se ao público, a personagem fala
consigo mesma, numa espécie de meditação exposta ao público.
É nessa esteira que se move o teatro de Friel, ou seja, reconhecendo a porosidade e as brechas
existentes no limiar entre público e privado, história e subjetividade, memória social e
identidade.
Figura 12 – Pôster da montagem de Faith Healer, de Brian
Friel, no Royal Court Theatre em 1981
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Pôster da montagem de Faith Healer, de Brian Friel,
no Royal Court Theatre, em 1981. No plano superior da imagem, sobre um fundo
marrom, há a inscrição em letras brancas “Royal Court Theatre”. Abaixo dela,
em letras grandes e na cor preta, há os nomes dos atores “Patrick Magee, Helen
Mirren e Stephen Lewis”. Ao centro, há a ilustração de um homem com cabelos
pretos e curtos, sobrancelhas pretas e grossas, olhos castanhos e expressão
séria. O homem veste uma camisa branca, gravata cinza e paletó preto. No plano
inferior, há a inscrição do título da peça em letras grandes e brancas, seguida do
nome do autor em letras menores e brancas. Fim da descrição.
O filme Dancing at Lughnasa, de 1998, é uma adaptação para o cinema da peça homônima de
Brian Friel. O longa-metragem tem a direção de Pat O’Connor e ganhou o Irish Film and
Television Award na categoria de melhor ator, além de ter sido indicado para outras seis
premiações.
Figura 13 – Pôster do filme Dancing at Lughnasa, 1998
Fonte: Wikimedia Commons
  
#ParaTodosVerem: Pôster do filme Dancing at Lughnasa, de 1998. No plano
superior, sobre a imagem de um céu azul com poucas nuvens, há o retrato de
perfil de uma mulher branca, de cabelos loiros e curtos e olhos claros, usando
uma boina preta. À direita, há os nomes dos atores em letras pequenas e
vermelhas. Ao centro, encontra-se o título do filme em letras grandes e
vermelhas. No plano inferior, há uma paisagem campestre ao fundo, com
montes e árvores. Em frente a ela, estão cinco mulheres em círculo, de mãos
dadas. Fim da descrição.
Figura 14 – Registro da encenação de Translations, em
Minsk, em 1980
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Registro da encenação de Translations, em Minsk, em 1980.
Ao fundo, há o cenário da peça, com as construções em pedra de Baile Beag.
Quatro atores mantêm-se ao fundo, vestindo armaduras e de frente ao público.
Em primeiro plano, nove atores posicionam-se lado a lado, de mãos dados, em
posição de agradecimento final. Fim da descrição.
Figura 15 – Registro da estátua construída em homenagem
a Brian Friel (à esquerda) na cidade de Dublin, em 1994
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Registro da estátua de tamanho natural construída em
homenagem a Brian Friel em Dublin, em 1994. Ao fundo, vê-se a janela da
Warrington House e parte de sua fachada. Mais à frente, encontram-se as duas
estátuas de bronze. À direita, há a reprodução do dramaturgo e escritor irlandês
John B. Keane, que está de perfil e com os braços flexionados. À esquerda, há a
estátua de Brian Friel, que tem os braços cruzados. As obras são circundadas por
uma cerca de proteção. Fim da descrição. 
A Poesia de Seamus Heaney: entre Arte e Ética
Seamus Heaney foi poeta, tradutor e dramaturgo irlandês. Filho de um pecuarista e de uma
herdeira da indústria têxtil, Heaney nasceu em Tamniaran, Irlanda do Norte, e desde cedo, teve
contato com a tensão entre o lado rural e o industrial do país. Ele completa seus estudos em
Literatura Inglesa na renomada Queen’s University, em Belfast, onde inicia sua trajetória como
professor conferencista e encontra inspiração para seguir a carreira de escritor. Ao encontrar
uma cópia da obra Lupercal, coletânea de poemas do autor inglês Ted Hughes, Heaney
subitamente “percebe que o objeto da poesia contemporânea era o material de sua própria vida”
(HEANEY, 2007, n. p).
Em 1963, Heaney junta-se ao grupo de poetas de Belfast, liderado por Philip Hobsbaum, e, a
partir daí, suas trajetórias acadêmica e poética despontam. Atuou como professor da
Universidade
da California e de Harvard, nos Estados Unidos; em Carysfort, na cidade de Dublin,
na Irlanda; e em Oxford, na Inglaterra. Seus escritos também são produzidos em escala
expressiva: foram doze volumes de poesia publicados em vida; cinco coletâneas de poemas; duas
peças de teatro; quatro volumes de produções em prosa, entre ensaios e palestras; e oito
traduções literárias.
Em 1995, Seamus Heaney ganha o Prêmio Nobel de Literatura, fato que opera uma grande
mudança na circulação mundial de sua obra. No Brasil, a primeira editora a publicar os poemas
do autor traduzidos em língua portuguesa é a Companhia das Letras, que, em 1998, lança uma
antologia com mais de 150 poemas vertidos para o português por José Antonio Arantes.
Figura 16 – Seamus Heaney, 2009
Fonte: Wikimedia Commons
  
#ParaTodosVerem: Retrato fotográfico de meio plano de Seamus Heaney. O
autor encontra-se sobre um fundo preto, sentado a uma mesa e segurando um
copo de água. Heaney tem os cabelos brancos e curtos, veste uma camisa e
gravata azuis e um paletó cinza. À direita, sobre a mesa, há uma jarra com água.
Fim da descrição.
Em 2003, é inaugurado, na Queen’s University, o Seamus Heaney Centre for Poetry, local que abriga
um arquivo completo da obra de Heaney, incluindo materiais de entrevistas e depoimentos
transmitidos na televisão e no rádio. Também em 2003, o poeta faz uma doação de grande parte
de seu acervo pessoal para a Emory University, que continha várias edições raras de autores
irlandeses como Yeats, Michael Longley, Paul Muldoon e Ciaran Carson.
Heaney é, com frequência, categorizado pela crítica especializada como um poeta que
transforma os materiais cotidianos na vida irlandesa em conteúdo de extrema densidade
política, evidenciando uma poética norteada, sobretudo, por princípios éticos. 
Na obra Station Island, dedicada a Brian Friel e publicada em 1984, Heaney centraliza sua
composição poética em torno desse espaço simbólico de Station Island ou, como também
chamado pelos irlandeses, o Purgatório de São Patrício, no condado de Donegal, Irlanda do
Norte. Conhecido pela população local como um lugar de peregrinação de cristãos, esse espaço
protagônico funciona na obra de Heaney a partir de seu caráter metafórico, isto é, ligado ao
próprio fazer poético. Em Station Island, o exercício da escrita coaduna-se à peregrinação, posto
que a poesia também exige sacrifícios por parte do poeta, esperança no porvir e uma fé inelutável
no indivíduo.
Na seção IX do poema, o eu lírico funde-se a Francis Hughes, personagem política da história da
Irlanda. Hughes era membro do Exército Republicano da Irlanda (IRA), havia sido preso por
agitação após participar dos Troubles na Irlanda do Norte e ficou conhecido por impulsionar uma
greve de fome dentro do presídio, a fim de provar que os jovens encarcerados na época dos
protestos eram, na verdade, prisioneiros políticos e que, portanto, a sentença de prisão era
incompatível com o regime democrático supostamente defendido pela Grã-Bretanha.
Figura 17 – Retrato de Francis Hughes
Fonte: Wikimedia Commons
 
#ParaTodosVerem: Retrato fotográfico em preto e branco de Francis Hughes.
Hughes sorri, apoiado sobre uma almofada floral e traja uma camisa branca
estampada. Tem os cabelos escuros e muito curtos, sobrancelhas grossas e
castanhas, olhos escuros e bigode também castanho. Fim da descrição.
Ao ecoar a voz e o sacrifício de Hughes em prol do compromisso político e social com a Irlanda,
o eu lírico constrói um ponto de conflito identitário ao friccionar a função do poeta à militância
política:  
A voz revolucionária de Hughes, expressa nos dois primeiros versos, longe de estar
diametralmente distante do ofício do poeta – aparentemente passivo, obediente e socialmente
alienado (biddable e unforthcoming) –, injeta a dimensão social e ética na escrita literária. Se
Francis Hughes sentiu-se impelido à anulação individual, preferindo a morte por inanição ao
conformismo social, o poeta também precisou reiteradamente ceder sua própria identidade por
meio de uma composição ética, erigida a partir do reconhecimento do poder individual de
- HEANEY, 1984, p. 72
“My brain dried like spread turf, my stomach 
Shrank to a cinder and tightened and cracked 
Often I was dogs on my own track 
Of blood on wet grass that I could have licked. 
Under the prison blanket, an ambush 
(...) 
My softly awash and blanching self-disgust. 
And I cried among night waters, 'I repent 
My unweaned life that kept me competent 
To sleepwalk with connivance and mistrust.’ 
(…) 
I hate how quick I was to know my place 
I hate where I was born, hate everything 
That made me biddable and unforthcoming”
agência política. É assim que a poesia de Seamus Heaney interpela os leitores, como indivíduos
históricos que detêm o poder de transformar a história.
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Livros  
Dançando em Lúnassa 
FRIEL, B. Dançando em Lúnassa. São Paulo: Editora Hedra, 2013.
Poemas 
HEANEY, S. Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
  Vídeo  
Associação Brasileira de Estudos Irlandeses da Universidade
de São Paulo (ABEI)
Clique no botão para conferir o canal indicado.
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˨ Material Complementar
ASSISTA
  Leitura  
History and Myth in Yeats’s ‘Easter 1916’
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
https://www.youtube.com/channel/UCvpyI3DT7zkMy4RaKJGh2wA
https://academic.oup.com/eic/article-abstract/XXI/3/248/501833?redirectedFrom=PDF
ARANTES, J. P. O papel do teatro irlandês na construção de um país independente: um olhar
político e histórico sobre a peça “The Countess Cathleen”, de W. B. Yeats. 2021. Dissertação
(Mestrado em Letras) - Programa de Mestrado em Letras, Universidade Federal de São João del
Rei, São João Del Rei, MG, 2021. Disponível em: . Acesso em: 26/08/2022.
BOYCE, G. Nationalism in Ireland. [S. l.]: Routledge, 2004.
DEANE, S. Celtic revivals: essays in modern irish literature. London: Faber & Faber, 1985.
DONNELLY, K. D. W. B. Yeats and Maud Gonne. SuchFriends Blog, c2022. Disponível em:
. Acesso em: 12/08/2022.
EDWARDS, T. M., “Early Irish law”. In: A new history of Ireland, vol. 1: Prehistoric and early
Ireland, Oxford: Oxford University Press, 2005.
GREGORY, L. Our Irish Theatre: A Chapter in Autobiography. New York: G. Putnam's Sons, 1913.
HEANEY, S. Faces of the week. BBC News, 19/01/2007. 
HEANEY, S. Station Island. London: Faber and Faber, 1984.
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˨ Referências
MCDOWELL, R.B. The Protestant Nation (1775-1800). In: MOODY, T. W.; MARTIN, F. X.
(orgs.). The Course Of Irish History, 1994. Dublin: Mercier Press, 1967.
NUNEZ, D. Apresentação. In: FRIEL, B. Dançando em Lúnassa. São Paulo: Editora Hedra, 2013.
SWIFT, J. A modest proposal. Estados Unidos: Project Gutenberg, 1929. Disponível em:
. Acesso em: 19/08/2022.
VIEIRA, B. R. de L. O folclórico e o político no teatro de Yeats: estética romântica e nacionalismo
em “The Countess Cathleen”. 2015. Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Mestrado
em Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015. Disponível em:
. Acesso em:
19/08/2022.
YEATS, W. B. Collected plays. London: Papermac, 1982.
YEATS, W. B. Fairy and folk tales of the irish peasantry. London: Dover Press, 2011.
YEATS, W. B. Poemas. Org., introd. e trad. de Paulo Vizioli. São Paulo: Schwarcz, 1992.

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