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CONTABILIDADE SOCIETÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer o propósito da estrutura conceitual das IFRS. > Identificar os principais conceitos das normas internacionais. > Descrever as características qualitativas das informações contábeis. Introdução Em razão da internacionalização da economia e dos mercados, o conhecimento sobre as informações econômico-financeiras para a tomada de decisões tem se acentuado e se tornado essencial, pois os relatórios contábeis são fontes importantes de informações para orientar decisões e subsidiar previsões dos stakeholders em qualquer parte do mundo. Essa internacionalização motivou a convergência das normas contábeis em âmbito internacional, levando a uma uniformidade no processo de elaboração dos relatórios financeiros para os países convergentes à internacionalização. A estrutura conceitual para a elaboração e divulgação de relatórios finan- ceiros nasceu em 1998 para atender a aspectos de harmonização e internacio- nalização das demonstrações contábeis em alguns países europeus, por meio As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) Andréa Oliveira da Silveira do International Accounting Standards Committee (IASC), que, a partir de abril de 2001, passou a se chamar International Accounting Standards Board (IASB), vigente até hoje. Essas normativas contábeis e financeiras atendiam pela sigla IAS (internacional accounting standards), passando a ter, a partir de 2001, a nomenclatura international financial reporting standards (IFRS), que, em uma tradução livre, significa normas internacionais de relatórios financeiros. No Brasil, a estrutura conceitual para elaboração e divulgação dos relató- rios financeiros foi introduzida e implantada no meio contábil pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) em 2008, o qual adotou a Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro emitida pelo IASB no desenvolvimento dos pronunciamentos téc- nicos. No ano de 2011, o pronunciamento conceitual passou por uma grande revisão e foi aprovado pela Deliberação CVM nº. 675/2011 e pela Resolução CFC nº. 1.374/2011, originando o pronunciamento Estrutura Conceitual para Elabo- ração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro — CPC 00 (R1). Em março de 2018, o IASB promoveu uma revisão no pronunciamento concei- tual básico, realizando diversas modificações. No Brasil, a revisão foi igualmente feita e aprovada em novembro de 2019 e divulgada no mês seguinte, dando origem à segunda revisão, denominada Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro — CPC 00 (R2). O pronunciamento foi aprovado pela Deliberação CVM nº. 835, de 10/12/2019, e pela Resolução CFC nº. 2019/NBC TG EC. Neste capítulo, você entenderá o propósito da estrutura conceitual das IFRS, aprenderá os principais conceitos das normas internacionais e conhecerá as características qualitativas que as informações contábeis devem apresentar. Propósito da estrutura conceitual das IFRS Com o processo de globalização e harmonização das informações contábeis e financeiras, houve a necessidade de criar organismos internacionais que pudessem dar conta desse desafio. No Brasil, por meio da criação do CPC e da Lei nº. 11.638/2007, o processo de convergência contábil às normas internacionais foi acelerado. O CPC é o órgão responsável por emitir as normas nacionais harmonizadas com as normas contábeis internacionais emitidas pelo IASB, as chamadas IFRS. Assim, tem como objetivo: As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)2 […] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre proce- dimentos de contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à cen- tralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2005). Portanto, os pronunciamentos emitidos pelo CFC têm caráter de manual para as mais diferentes práticas contábeis. O processo de internacionalização das normas contábeis trata da adoção de uma linguagem que permita o mesmo entendimento sobre as informa- ções geradas pela contabilidade, independentemente do país em que essas informações forem elaboradas. Para isso, foi criada a estrutura conceitual para relatórios financeiros, a qual, conforme Rios e Marion (2020), tem como finalidade descrever os conceitos e o objetivo do relatório financeiro para fins gerais. O CPC Estrutura Conceitual lista várias de suas finalidades, reproduzidas a seguir (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019, p. 3): (a) auxiliar o desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) para que tenham base em conceitos consistentes; (b) auxiliar os responsáveis pela elaboração (preparadores) dos relatórios financei- ros a desenvolver políticas contábeis consistentes quando nenhum pronunciamento se aplica à determinada transação ou outro evento, ou quando o pronunciamento permite uma escolha de política contábil; e (c) auxiliar todas as partes a entender e interpretar os Pronunciamentos. A estrutura conceitual tem como objetivo auxiliar no cumprimento da missão da IFRS Foundation e do IASB, que é desenvolver pronunciamentos que tragam transparência, prestação de contas (accountability) e eficiência aos mercados financeiros em todo o mundo, atendendo ao interesse público (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Porém, é importante que saiba que a estrutura conceitual não tem função normativa, e sim a de ser um guia. Portanto, nada que esteja contido nessa estrutura conceitual se sobrepõe a nenhum outro pronunciamento ou requisito contido em pronunciamento. As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 3 De acordo com a nova estrutura conceitual, o objetivo da elaboração e da divulgação do relatório financeiro consiste em fornecer informações financei- ras sobre a entidade que está reportando e que estas sejam úteis aos seus usuários, como investidores existentes e potenciais, credores por empréstimos e outros credores, quando da tomada de decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). As decisões mencionadas referem-se às incertezas quanto à geração de fluxos de caixa futuros pela entidade. Assim, esses usuários precisam da informação contábil para que consigam avaliar as perspectivas em termos de entrada de fluxos de caixa futuros para a entidade e de sua avaliação da gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos. Portanto, a estru- tura conceitual contribui para a padronização da elaboração dos relatórios financeiros até que possam chegar aos usuários, os quais utilizarão essas informações para tomadas de decisões. Os relatórios financeiros para fins gerais não fornecem nem podem fornecer todas as informações de que necessitam investidores, credores por emprés- timos e outros credores existentes (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Desse modo, investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, precisam considerar informações pertinentes de outras fontes, por exemplo, condições e expectativas econômicas gerais, eventos políticos e ambiente político e perspectivas do setor e da empresa (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Os usuários primários têm interesses e desejos diferentes e, possivelmente, conflitantes aos dos demais usuários dos relatórios financeiros, como órgãos reguladores, público em geral, administração, etc. Assim, a estrutura conceitual para elaboração e divulgação dos relatórios financeiros busca fornecer um conjunto de informações que atenda às necessidades do maior número de principais usuários (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Ainda, a nova estrutura conceitual estabelece claramente que os relatórios contábil-financeiros não são elaborados para determinaro valor econômico de uma entidade que, em última análise, seria o preço negocial de uma organi- zação, embora possam auxiliar na estimativa desse valor (MÜLLER; CORDEIRO; SCHERER, 2019). Assim, os relatórios se baseiam em estimativas, julgamentos e modelos, e não em descrições e retratos exatos (RIOS; MARION, 2020). As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)4 Outro ponto importante da estrutura conceitual apresenta reside no fato de que todas as transações, independentemente de pagamentos e recebi- mentos, devem ser registradas considerando o regime de competência, o qual possibilita aos usuários avaliarem a capacidade passada e futura na geração de fluxos de caixa líquidos para, consequentemente, tomarem decisões mais assertivas acerca dos negócios (MÜLLER; CORDEIRO; SCHERER, 2019). Os autores ressaltam que o estudo dos fluxos de caixa da entidade permite identificar informações sobre empréstimos e resgates de títulos de dívidas, dividendos e outras distribuições para seus investidores, além da possibilidade de prever problemas de liquidez e solvência. Portanto, no regime de competência, os registros devem ser realizados quando ocorrerem, independentemente do recebimento ou do pagamento, isto é, no momento do surgimento dos fatos geradores. Principais conceitos das normas internacionais Conforme a estrutura conceitual, o objetivo das demonstrações contábeis (relatórios financeiros) consiste em fornecer informações financeiras sobre ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade que reporta, de modo que sejam úteis aos usuários das demonstrações contábeis (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). As demonstrações contábeis são elaboradas para um período específico (período de relatório) e fornecem dados sobre: (a) ativos e passivos — incluindo ativos e passivos não reconhe- cidos — e patrimônio líquido que existiam no final do período de relatório, ou durante o período de relatório; e (b) receitas e despesas para o período de relatório (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Ainda, com a finali- dade de auxiliar os usuários, as demonstrações contábeis também fornecem informações comparativas de, pelo menos, um período de relatório anterior. De acordo com Rios e Marion (2020), a última revisão da estrutura conceitual modifica os critérios de reconhecimento de elementos nas demonstrações contábeis, que antes eram que uma entidade deveria reconhecer um item que atendesse à definição de um elemento se fosse provável que benefícios econômicos fluiriam para a entidade e se o item tivesse um custo ou valor que pudesse ser determinado com segurança. Porém, as definições de ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas foram alteradas. O Quadro 1 apresenta as definições desses elementos das demonstrações contábeis antes e depois da revisão 2 do CPC 00. As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 5 Quadro 1. Definições dos elementos dos relatórios financeiros Antes da revisão Depois da revisão Ativo Recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que benefícios econômicos futuros fluam para a entidade Recurso econômico presente controlado pela entidade como resultado de eventos passados. Recurso econômico é um direito que tem o potencial de produzir benefícios econômicos Passivo Obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos Obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados Patrimônio líquido Interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos Participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus passivos Receitas Aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados à contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais Aumentos nos ativos, ou reduções nos passivos, que resultam em aumentos no patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a contribuições de detentores de direitos sobre o patrimônio Despesas Decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados a distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais Reduções nos ativos, ou aumentos nos passivos, que resultam em reduções no patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a distribuições aos detentores de direitos sobre o patrimônio As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)6 Reconhecimento e desreconhecimento Conforme o CPC 00 (R2), somente itens que atendam às definições de ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas podem ser reconhecidos nos relatórios financeiros (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Alguns critérios, segundo o CPC 00 (R2), precisam ser observados para o reconheci- mento desses elementos nas demonstrações contábeis; veja a seguir. Critério de utilidade da informação: o ativo ou passivo é reconhecido somente se o seu reconhecimento e de quaisquer receitas, despesas ou mutações do patrimônio líquido resultantes fornece aos usuários dos relatórios financeiros informações úteis. Critério do custo: o ativo ou passivo deve ser reconhecido se for provável que os benefícios das informações fornecidas aos usuários das demonstrações contábeis pelo reconhecimento justifiquem os custos de fornecer e utilizar essas informações. Há casos em que os custos do reconhecimento podem superar seus benefícios. Critério da incerteza da mensuração: para que o ativo ou passivo seja reco- nhecido, ele deve ser mensurado confiavelmente. Em muitos casos, essas mensurações devem ser estimadas e, portanto, estão sujeitas à incerteza na mensuração. Se a incerteza for severa, pode ser necessário não reconhecer o item, dando ampla divulgação em nota explicativa ao fato e ao julgamento empregado. A estrutura conceitual também trata do desreconhecimento dos elementos dos relatórios financeiros. Trata-se da retirada em parte ou na totalidade de ativos ou passivos reconhecidos na demonstração contábil. Conforme Rios e Marion (2020), isso ocorre porque esse(s) item(ns) não atende(m) mais à definição de ativo ou de passivo. O CPC 00 (R2), item 5.26, explica que, para o ativo, o desreconhecimento normalmente ocorre quando a entidade perde o controle da totalidade ou de parte do ativo reconhecido, e, para o passivo, quando a entidade não tem mais uma obrigação presente pela totalidade ou parte do passivo reconhecido (COMITÊ DE PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Assim, o desreconhecimento contribui para a representação fidedigna das demonstrações contábeis. As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 7 Embora a palavra “desreconhecimento” possa soar estranha para você, trata-se de uma tradução literal do inglês britânico derecog- nition (RIOS; MARION, 2020). Um exemplo de desreconhecimento é quando reconhecemos na contabilidade da Empresa X uma obrigação com o Fornecedor Y. Na contabilidade da Empresa X, essa obrigação com o Fornecedor Y representa um passivo. Temos, depois, que a Empresa X realiza o pagamento para o For- necedor Y, liquidando o passivo anteriormente reconhecido. Esse passivo que em um momento foi reconhecido agora será desreconhecido. Isso já ocorria do ponto de vista contábil, no entanto não havia um nome para definir esse procedimento. A nova estrutura conceitual definiu essa nomenclatura. Outro exemplo seria ter contabilizado no ativo intangível da empresa o direito de exploração da linha rodoviária entre a cidade Alfa e a cidade Beta pelo período de 10anos. A empresa em questão ganhou a licitação da prefeitura para explorar tal trecho. Após findo esse prazo, a empresa desreconhecerá esse ativo das suas demonstrações contábeis, já que perdeu o controle deste ativo reconhecido, bem como não terá mais os benefícios econômicos gerados em prol da entidade. Os critérios de contabilização das concessões de contratos podem ser verificados na norma de interpretação do CPC01, o ICPC01(R1), disponível na página do Comitê de Pronunciamentos Contábeis na internet. Bases de mensuração A estrutural conceitual também aborda as diversas bases de mensuração dos elementos das demonstrações contábeis. Na última revisão, o IASB am- pliou as orientações sobre mensuração, descrevendo várias bases, a saber: custo histórico; valor atual; valor justo; valor em uso e valor de cumprimento; e custo corrente. O Quadro 2 apresenta as definições apresentadas pelo pronunciamento para cada base de mensuração. As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)8 Quadro 2. Definições das bases de mensuração dos elementos das demons- trações contábeis Bases de mensuração Definição Custo histórico “A mensuração ao custo histórico fornece informações monetárias sobre ativos, passivos e respectivas receitas e despesas, utilizando informações derivadas, pelo menos em parte, do preço da transação ou outro evento que deu origem a eles. Diferentemente do valor atual, o custo histórico não reflete as mudanças nos valores, exceto na medida em que essas mudanças se referirem à redução ao valor recuperável de ativo ou passivo que se torna onerosa” (CPC 00 (R2), item 6.4.) Valor atual “As mensurações ao valor atual fornecem informações monetárias sobre ativos, passivos e respectivas receitas e despesas, utilizando informações atualizadas para refletir condições na data de mensuração. Devido à atualização, os valores atuais de ativos e passivos refletem as mudanças, desde a data de mensuração anterior, em estimativas de fluxos de caixa e outros fatores refletidos nesses valores atuais. Diferentemente do custo histórico, o valor atual de ativo ou passivo não resulta, mesmo em parte, do preço da transação ou outro evento que deu origem ao ativo ou passivo” (CPC 00 (R2), item 6.10.). As bases de mensuração do valor atual incluem: valor justo, custo corrente, valor em uso de ativos e valor de cumprimento de passivos Valor justo “Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de ativo ou que seria pago pela transferência de passivo em transação ordenada entre participantes do mercado na data de mensuração” (CPC 00 (R2), item 6.12.) Custo corrente “O custo corrente de ativo é o custo de ativo equivalente na data de mensuração, compreendendo a contraprestação que seria paga na data de mensuração mais os custos de transação que seriam incorridos nessa data. O custo corrente de passivo é a contraprestação que seria recebida pelo passivo equivalente na data de mensuração menos os custos de transação que seriam incorridos nessa data. Custo corrente, como custo histórico, é o valor de entrada: reflete preços no mercado em que a entidade adquiriria o ativo ou incorreria no passivo. Assim, é diferente do valor justo, valor em uso e valor de cumprimento, que são valores de saída. Contudo, diferentemente de custo histórico, custo corrente reflete condições na data de mensuração” (CPC 00 (R2), item 6.21.) (Continua) As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 9 Bases de mensuração Definição Valor em uso e Valor de cumprimento “Valor em uso é o valor presente dos fluxos de caixa, ou outros benefícios econômicos, que a entidade espera obter do uso de ativo e de sua alienação final. Valor de cumprimento é o valor presente do caixa, ou de outros recursos econômicos, que a entidade espera ser obrigada a transferir para cumprir a obrigação. Esses valores de caixa ou outros recursos econômicos incluem não somente os valores a serem transferidos à contraparte do passivo, mas também os valores que a entidade espera ser obrigada a transferir a outras partes de modo a permitir que ela cumpra a obrigação” (CPC 00 (R2), item 6.17.) Apresentação e divulgação Por fim, a nova revisão da estrutura conceitual inclui um capítulo que trata dos objetivos e princípios da apresentação e da divulgação dos relatórios, conforme a Figura 1. Figura 1. Objetivos e princípios da apresentação e divulgação dos relatórios financeiros. Fonte: Adaptada de Comitê de Procedimentos Contábeis (2019). (Continuação) As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)10 Assim, a comunicação efetiva de informações nas demonstrações contábeis torna essas informações mais relevantes e contribui para uma representação fidedigna de ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade. Ainda, aprimora a compreensibilidade e a comparabilidade das informações nas demonstrações contábeis. Características qualitativas das informações contábeis Para que as informações financeiras sejam úteis, precisam ser relevantes e representar fidedignamente aquilo que pretendem representar. A estrutura conceitual apresenta várias características qualitativas que melhoram a utilidade da informação, separando-as em dois tipos: as fundamentais e as de melhoria. Características qualitativas fundamentais Correspondem à relevância e à representação fidedigna. Para ser considerada relevante, a informação financeira deve ser capaz de fazer diferença nas even- tuais decisões tomadas pelos usuários dos relatórios financeiros. Geralmente, uma informação faz a diferença nas decisões quando tem um valor preditivo ou confirmatório, ou ambos, ou seja, o valor preditivo consiste em utilizar a informação contábil para projetar cenários futuros e, assim, tomar decisões mais precisas. Já o valor confirmatório consiste no fato de a informação servir de feedback em avaliações prévias, permitindo a confirmação ou não de uma avaliação prévia cujos fatos realizaram-se (RIOS; MARION, 2020). A representação fidedigna corresponde à representação justa e verdadeira da situação patrimonial e financeira das entidades (RIOS; MARION, 2020). Con- forme a estrutura conceitual, como os relatórios financeiros representam um fenômeno econômico em palavras e números, a informação financeira deve não apenas representar um fenômeno relevante, mas também representar de maneira fidedigna a essência do fenômeno. Essa representação deve dar mais peso à essência econômica das transações reportadas do que à forma jurídica adotada. Assim, a realidade retratada precisa ter três atributos: ser completa, neutra e livre de erro. Para ser completa, a informação deve conter o necessário para que o usuário compreenda o fenômeno retratado. Para ser neutra, deve estar livre de viés na seleção ou na apresentação, não podendo ser distorcida As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 11 para mais ou para menos. Por fim, o processo utilizado para obtenção da informação reportada deve ser selecionado e aplicado de modo a mitigar a possibilidade de erros. Características qualitativas de melhoria São aquelas que melhoram a utilidade da informação que é relevante e apresentada com fidedignidade: � a comparabilidade; � a capacidade de verificação; � a tempestividade; � a compreensibilidade. Comparabilidade é a característica que possibilita que os usuários iden- tifiquem e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles, isto é, deve permitir aos usuários comparar a posição financeira e o desempenho de uma empresa com informações similares de outras entidades e, também, na mesma entidade, em relação a outros períodos ou datas. A característica da capacidade de verificação ajuda a assegurar aos usu- ários que a informação representa de fato o fenômeno econômico que se propõe representar. Significa que diferentes observadores bem informados e independentes podem chegar a certo consenso quanto às transações que estão sendoreportadas, embora não a um acordo necessariamente completo, de que a representação específica seja uma representação fidedigna da realidade econômica subjacente. A característica da tempestividade indica que a informação financeira, para ser útil e poder influenciar as decisões dos usuários, precisa estar disponível no tempo certo. Quanto mais antiga a informação, menor será sua utilidade. Por fim, as informações financeiras precisam ser compreensíveis pelos usuários das demonstrações contábeis. A classificação, a caracterização e a apresentação das informações devem ser realizadas com clareza e concisão, tornando-a compreensível. Alguns fenômenos econômicos são naturalmente complexos, mas devem ser reportados, pois sua exclusão distorceria as informações prestadas pela empresa. Assim, espera-se que os relatórios financeiros sejam elaborados de modo a serem compreensíveis a usuários com conhecimento razoável das atividades comerciais e econômicas da empresa, bem como a usuários que revisam e analisam as informações de modo diligente. Mesmo nesses casos, os usuá- As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS)12 rios podem precisar buscar o auxílio de consultor para a compreensão das informações sobre fenômenos econômicos complexos. Essa possibilidade não torna a demonstração contábil incompreensível, e sim apenas demanda um esforço razoável por parte do usuário para a sua adequada compreensão, compatível com a complexidade das atividades da entidade reportada. Portanto, se as informações financeiras devem ser úteis, precisam ser relevantes e representar fidedignamente aquilo que pretendem representar — estes são os pré-requisitos fundamentais para a qualidade das informações. E a utilidade das informações financeiras aumenta se forem comparáveis, verificáveis, tempestivas e compreensíveis. Caso você queira entender outros aspectos abordados pela nova estrutura conceitual aborda, leia o CPC 00 (R2) na íntegra, que está no site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Referências COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC 00 (R2): estru- tura conceitual para relatórios financeiros. Brasília: CPC, 2019. 62 p. Disponível em: http:// www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80. Acesso em: 5 jan. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.055, de 7 de outubro de 2005. Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC e dá outras providências. Brasília: CFC, 2005. 8 p. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Imagens/Res_1055. pdf. Acesso em: 5 jan. 2021. MÜLLER, A; CORDEIRO, C. M. R.; SCHERER, L. Contabilidade avançada e internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 208 p. RIOS, R. P.; MARION, J. C. Contabilidade avançada: de acordo com as normas brasileiras de contabilidade (NBC) e normas internacionais de contabilidade (IFRS). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2020. 440 p. Leituras recomendadas BRASIL. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Brasília: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 5 jan. 2021. As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) 13 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação nº 675, de 13 de dezembro de 2011. Aprova o Pronunciamento Conceitual Básico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, que dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação de Rela- tório Contábil-Financeiro. Rio de Janeiro; São Paulo; Brasília: CVM, 2011. Disponível em: http://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/deliberacoes/anexos/0600/ deli675.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação nº 835, de 10 de dezembro de 2019. Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC. Rio de Janeiro; São Paulo; Brasília: CVM, 201p. Disponível em: http://conteudo.cvm.gov.br/export/ sites/cvm/legislacao/deliberacoes/anexos/0800/deli835.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Interpretação: ICPC 01 (R1) - Contratos de Concessão. CPC, Brasília, 2011. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- -Emitidos/Interpretacoes/Interpretacao?Id=10. Acesso em: 5 jan. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Norma Brasileira de Contabilidade, NBC TG Estrutura Conceitual, de 21 de novembro de 2019. Resolução CFC 2019/NBC TG Estrutura Conceitual, de 21 de novembro de 2019. Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CON- CEITUAL, que dispõe sobre a estrutura conceitual para relatório financeiro. Brasília: CFC, 2019. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTGEC.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução nº 1.374, de 8 de dezembro de 2011. Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para Ela- boração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Brasília: CFC, 2011. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1374.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 880 p. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. 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