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Acreditação em serviços de saúde A complexidade do processo de acreditação hospitalar e suas adaptações na história da saúde brasileira. Prof.ª Michele Alves Garcia Andrade 1. Itens iniciais Propósito A acreditação hospitalar é essencial como medidor da qualidade da assistência prestada, de forma que as mudanças necessárias possam ser realizadas, para atender à demanda em saúde da população. Objetivos Analisar o contexto histórico da acreditação hospitalar e suas adaptações no cenário atual. Identificar os sistemas de acreditação utilizados em uma unidade de saúde. Analisar as normas brasileiras de acreditação hospitalar. Reconhecer a importância do papel do gestor no processo da acreditação hospitalar. Introdução Prestar assistência com qualidade à população tem sido o principal objetivo das unidades de saúde. A necessidade em manter um atendimento seguindo padrões de organização e protocolos que enquadrem as diversas patologias fez com que as entidades de saúde se organizassem, criando parâmetros que mensurassem o serviço de uma forma geral e o atendimento prestado aos pacientes. Dessa forma nasceu a acreditação hospitalar e a avaliação da qualidade no atendimento à população. Atualmente, todos os continentes possuem manuais e órgãos responsáveis por visitar e avaliar as diversas instituições de saúde, utilizando instrumentos preestabelecidos e controle periódico das avaliações realizadas. • • • • Fotografia de Alexander Fleming, responsável pela descoberta da penicilina. Atendimento médico no século passado. 1. Contextualização histórica da acreditação hospitalar O surgimento da acreditação hospitalar O conceito saúde-doença passou por grandes transformações após o advento da vacina e da descoberta da penicilina. A institucionalização de doentes para tratamento iniciou no século passado, sob diversas dicotomias quanto ao tratamento, bem como à necessidade de internação. Em virtude do aumento dessas demandas e da complexidade apresentada por cada paciente, era necessário avaliar a eficácia e eficiência resultantes do atendimento a esse paciente. No contexto dessas mudanças, nasceu o conceito de acreditação hospitalar, que, segundo Souza (2020), trata- se de um processo avaliativo utilizando requisitos predefinidos que visam analisar e certificar a qualidade da assistência prestada. Esse processo sofreu diversas alterações para adaptar-se às necessidades da população e ao advento da tecnologia em saúde, até que finalmente chegasse ao modelo atual. A acreditação hospitalar teve início por volta de 1918, durante a avaliação de 682 hospitais americanos, na qual somente 89 estabelecimentos atendiam aos padrões definidos pelo PPH (Programa de Padronização Hospitalar). Esses padrões foram definidos pelo Colégio Americano de Cirurgiões e estabeleciam os seguintes critérios para um atendimento de qualidade: Corpo médico organizado, cientes do conceito de corpo clínico e orientados quanto ao exercício da profissão intra-hospitalar. Registros dos pacientes com precisão e completos. Recursos diagnósticos e terapêuticos disponíveis para uso, como laboratórios, setor de raios X, entre outros. Embora a presença desses padrões nos serviços fosse importante, percebeu-se que, para manter continuidade no tratamento, deveria se manter equipe de enfermagem 24 horas na unidade, sendo necessário um revezamento entre os enfermeiros, de modo a não sobrecarregar a equipe. Por meio dessas mudanças propostas, houve uma melhoria significativa na assistência prestada, porém a saúde mundial sofreu um grande abalo nos anos 1940, quando o planeta mergulhou numa guerra mundial, e a saúde da população apresentou um declínio resultante da recessão, do envio de profissionais de saúde aos fronts de batalha. Para minimizar essa crise, o comitê do Departamento de Guerra Americano estabeleceu padrões de qualidade que fossem seguidos no período de 1941 a 1942. Esses parâmetros foram os primeiros passos para o nascimento da acreditação hospitalar. Em 1949, foi desenvolvido um novo PPH, mais amplo, porém mais caro em sua manutenção, o que dificultou as ações do Colégio Americano de Cirurgiões (CAC), em virtude do aumento do número de hospitais e da necessidade de mão de obra especializada. Por esse motivo, o CAC realizou parcerias, buscando contornar • • • essa situação. Os associados foram: o Colégio Americano de Clínicos, a Associação Médica Canadense e Associação Médica Americana. De acordo com Feldman, Gatto e Cunha (2005), a maioria dos hospitais americanos atingiu os padrões preconizados pelo CAC nos anos 1960. Por esse motivo, criou-se, nos anos 1970, o Accreditation Manual for Hospital, que traria em seu conteúdo todos os processos e os padrões de qualidade otimizados para assistência. Nesse mesmo período, surgiu a figura importante de Avedis Donabedian, um médico armênio que estabeleceu uma tríade de componentes (tríade de Donabedian) necessários para mensurar a qualidade da assistência: Tríade de Donabedian. De acordo com Joaquim et al. (2019), Donabedian afirmava que, para haver qualidade na assistência prestada, era necessário avaliar de forma contínua a estrutura e os processos envolvidos no atendimento ao paciente, em que, por meio dos resultados obtidos, buscariam implementar melhorias no serviço de saúde. Por esse motivo, Donabedian concluiu que a qualidade da assistência estaria condicionada a fatores como: cultura, influência sociopolítica, fatores históricos e institucionais. Para ele, a qualidade devia ser pautada em sete pilares fundamentais: eficiência, eficácia, efetividade, aceitabilidade, otimização, equidade e legitimidade. Esses padrões de avaliação estabelecidos por Donabedian são utilizados como parâmetros até os dias atuais. Embora a acreditação atual mantenha sua busca por qualidade nos serviços de saúde, observou-se que os hospitais deixaram, em sua maioria, de ser gerenciados como simples casas de saúde, para adotar um perfil empresarial, trazendo consigo todos os problemas envolvidos numa administração desse nível. Em virtude dos hospitais serem um conjunto complexo de departamentos envolvidos na assistência da população, a acreditação não avalia somente a assistência prestada, mas também, o gerenciamento dos recursos disponíveis para este fim. Por esse motivo, a acreditação tornou-se necessária em vários países, inclusive no Brasil, adaptando-a às mudanças decorrentes dos fatores influentes como veremos a seguir. A acreditação hospitalar no Brasil A acreditação hospitalar no Brasil teve seus primórdios na década de 1930, por meio de estudos realizados pelo médico de necropsia Odair Pacheco Pedroso, que buscava melhorar a qualidade da saúde nos hospitais por meio de inquéritos realizados regularmente, utilizando a ficha de sua autoria disponibilizada para uso exclusivo do Ministério da Saúde. Essa ficha continha 9 itens, que incluíam desde o corpo clínico do hospital até os serviços como lavanderia, cozinha, entre outros. Observe abaixo os itens que compunham a ficha de inquérito hospitalar, de acordo com Feldman, Gatto e Cunha (2005, p. 215): 1. Corpo clínico organizado, com obrigatoriedade de médico plantonista residente. 2. Corpo administrativo. 3. Corpo de enfermeiros e auxiliares em número proporcional à capacidade e serviços clínicos do hospital, inclusive plantão. 4. Serviços radiológicos e fisioterápicos. 5. Laboratório clínico. 6. Necrotério com equipamento para necrópsia. 7. Salas de operações com equipamentos suficientes e anexos. 8. Farmácia. 9. Serviços auxiliares (cozinha, lavanderia, desinfecção). Identificamos, na ficha, uma similaridade com os critérios americanos de avaliação definidos pelo PPH, demonstrando a intenção em padronizar a análise da qualidade nos hospitais por todo o mundo. Entretanto, essa forma de avaliação foi alterada em 1951, com a inclusão de novos parâmetros estabelecidos durante o 1º Congresso Nacional de Cirurgiões, realizado em São Paulo, como padrões mínimos para funcionamentoPOSSOLI, G. E. Acreditação hospitalar: gestão de qualidade, mudança organizacional e educação permanente. Curitiba: Inter-saberes, 2017. SOUZA, S. M. L. Acreditação hospitalar. Curitiba: Contentus, 2020. 83p. TERRA, J. D. R.; BERSSANETI, F. T. Acreditação hospitalar e seus impactos nas boas práticas em serviços da saúde. O Mundo da Saúde, São Paulo, n. 41, v.1, p. 11-1, 2017. Acreditação em serviços de saúde 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Contextualização histórica da acreditação hospitalar O surgimento da acreditação hospitalar A acreditação hospitalar no Brasil Comentário Brasil Brasília Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Brasília Brasil Brasília Brasil Conceito de acreditação e seus objetivos Exemplo O que é acreditação hospitalar? Conteúdo interativo Vem que eu te explico! O surgimento da acreditação hospitalar Conteúdo interativo Principais eventos envolvidos na criação da acreditação hospitalar brasileira Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Sistemas de acreditação em serviços de saúde Os sistemas envolvidos no processo de acreditação hospitalar Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA) Entidades envolvidas Estrutura Processos ISO (International Organization for Standardization) ISO 9000:2005 ISO 9001: 2015 ISO 14001: 2015 ISO 13485: 2016 Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) Implantação do NSP numa unidade hospitalar Aspectos administrativos Aspectos técnicos Aspectos relacionados à formação acadêmica Aspectos logísticos Primeiro momento Segundo momento Terceiro momento Quarto momento Quinto momento Sexto momento Órgãos acreditadores dos serviços de saúde brasileiros Organização Nacional de Acreditação Consórcio Brasileiro de Acreditação A relação do núcleo de segurança do paciente com a acreditação hospitalar Conteúdo interativo Vem que eu te explico! International Organization for Standardization Conteúdo interativo Órgãos acreditadores dos serviços de saúde brasileiros Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar Diretrizes da acreditação hospitalar A equipe da acreditação hospitalar Avaliador Avaliador-líder Equipe de avaliadores Primeira tarefa Segunda tarefa Terceira tarefa A execução do processo de acreditação Liderança e administração Serviços profissionais e organização da assistência Serviço de atenção ao paciente Serviços de apoio diagnóstico Serviço de apoio técnico e abastecimento Serviço de apoio administrativo e infraestrutura Ensino e pesquisa Supera Conforme Parcial conforme Não conforme Não se aplica Ética na acreditação hospitalar e certificações hospitalares Normas éticas e legislação aplicada na acreditação Constituição brasileira de 1988 Lei nº 8080, de 1990 ISO 9000:2005 ISO 14000:2015 Principais certificações hospitalares no Brasil Certificado da ONA ISO 9001:2015 O manual de acreditação hospitalar brasileiro Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Diretrizes da acreditação hospitalar Conteúdo interativo A equipe da acreditação hospitalar Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Papel do gestor no processo de acreditação nos serviços de saúde Gestão de qualidade nos serviços hospitalares Ferramentas de controle de qualidade hospitalar Gerenciamento de reuniões Brainstorming (Discussão de ideias) GUT (gravidade, urgência e tendência) Diagrama de Pareto Diagrama de Ishikawa 5 sensos Plano de ação 5W e 2H Ciclo PDCA FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) O papel do gestor no processo de acreditação hospitalar Comentário Resistência da equipe médica Pouco ou nenhum envolvimento da direção Desinteresse gerencial Formação deficitária A educação permanente para a manutenção da qualidade Comentário O uso da educação permanente na manutenção da qualidade de um hospital acreditado Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Ferramentas de controle de qualidade hospitalar Conteúdo interativo O papel do gestor no processo de acreditação hospitalar Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 5. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciasdo centro cirúrgico, estruturação de componentes do prontuário do paciente e definição de normas para a organização hospitalar. Somente na década de 1970 a acreditação começou a tomar forma com os pareceres e normas regidos pelo Ministério da Saúde (MS), regulamentando a avaliação da qualidade e de auditoria dos serviços de saúde. Entretanto, as primeiras experiências brasileiras com acreditação consideradas satisfatórias ocorreram em 1990, no Sul e Sudeste, após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). No mesmo ano, a Organização Pan- americana de Saúde (OPAS) se reuniu com a Federação Latino-Americana de hospitais e o Ministério da Saúde Brasileiro para criar o manual de acreditação hospitalar na América Latina. A acreditação ganhou proporções mais abrangentes, servindo como um termômetro de qualidade para a população e os serviços de saúde, pois, além de avaliar a gestão hospitalar, complementava conceitos como confiabilidade, excelência no atendimento, ética e gestão de serviços adequados. Comentário Por esse motivo, todo hospital acreditado era tido como modelo para as outras unidades e para a população, ofertando um excelente trabalho com selo de qualidade. Buscando padronizar o sistema de acreditação brasileiro, foram realizadas reuniões entre o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP), Associação Paulista de Medicina (APM) e o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (COREN/SP) para organizar o que mais tarde se tornaria o Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA). Esses diversos eventos ocorridos, principalmente nas décadas de 1990 e 2000, contribuíram para que a acreditação hospitalar no Brasil se adequasse às inovações e tecnologias inseridas nos serviços de saúde, proporcionando, dessa forma, uma avaliação completa, uniforme e mensuradora da qualidade na assistência da saúde. Para facilitar a compreensão dos acontecimentos, vejamos os principais eventos que resultaram na atual acreditação hospitalar brasileira: 1990 Brasil Elaboração do Manual de Acreditação para a América Latina. Os responsável por esse evento foram: OPAS, Federação Latino-Americana de Hospitais e Ministério da Saúde 1992 Brasília 1º Seminário Nacional de Acreditação. Apresentação do Manual de Acreditação do OPAS. Foram responsáveis por esses eventos a OPAS e o Ministério da Saúde. 1994 Rio de Janeiro Lançamento do programa de qualidade. Estabelecimento da Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade em Saúde (CNQPS). Para realização dos eventos mencionados, foi necessária a participação do Ministério da Saúde, do Instituto de Medicina da UERJ, bem como do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 1995 Rio Grande do Sul Elaboração de projeto de pesquisa para padronizar os determinantes da qualidade hospitalar. Seus responsáveis foram: Secretaria Estadual de Saúde e Meio Ambiente e SEBRAE/RS. 1997 Rio de Janeiro Extinção do Projeto de Acreditação e Certificação de Qualidade em Saúde (PACQS). Criação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA). Os atos foram possíveis por meio da Fundação Cesgranrio e universidades estaduais do RJ. 1998 Brasília Criação da acreditação hospitalar. Esse ato foi uma colaboração do REFORSUS e do Ministério da Saúde 1999 Brasil Divulgação da acreditação no Brasil. Criação da Organização Nacional de acreditação (ONA). O Ministério da Saúde foi responsável pela realização dos dois atos. 2003 Brasília Publicação do manual de acreditação. Essa publicação foi realizada pelo Ministério da Saúde. 2013 Brasil Criação da Acreditação Hospitalar Brasileira, por meio do Ministério da Saúde. A necessidade em ofertar uma assistência em saúde com qualidade motivou o aprimoramento dos métodos de avaliação e certificação desses serviços, fazendo com que as expectativas e necessidades da população em relação às unidades de atendimento fossem atendidas por meio da acreditação. Adequar os serviços às necessidades da população se tornou um dos focos observados nessa avaliação. Por esse motivo, os gestores de saúde devem compreender a importância da acreditação e da auditoria como forma de garantir a execução de um serviço por excelência. Conceito de acreditação e seus objetivos O termo acreditação é utilizado para designar a realização de um procedimento de análise em alguém ou serviço, quanto à sua confiabilidade, dando-lhe credibilidade perante a comunidade. Esse termo também é utilizado para indicar ferramenta estabelecida para gerar confiança nas organizações que prestam atendimento em saúde. Por esse motivo, o objeto acreditado somente é considerado confiável quando o serviço se propõe a passar por esse processo. De acordo com Souza (2020), trata-se de um método padronizado para avaliar e certificar os serviços de saúde por meio da promoção da qualidade e manutenção de segurança do paciente. A viabilidade da realização desse processo nas instituições públicas ou privadas demonstra haver preocupação quanto à qualidade da assistência prestada pela entidade. Exemplo Uma maternidade pública da zona portuária do Rio de Janeiro passou por um período de avaliação quanto aos serviços oferecidos à comunidade. Todos os serviços e estruturas foram analisados quanto à capacidade e adequação para atender aos pacientes. O gestor apresentou todas as informações referentes ao atendimento e manutenção da instituição. Além disso, foram analisados quanto à implementação dos programas vigentes no SUS incluindo PAISM (Programa de Assistência Integrada à Saúde da Mulher), aleitamento materno, mamãe-canguru e hospital amigo da criança. Diante da conformidade do serviço e adequação encontrados na época, o hospital foi acreditado, tornando-se um serviço de referência para as outras maternidades do estado. De acordo com Possoli (2017, p. 58), “acreditação se refere a um sistema de avaliação e certificação de qualidade que tem um caráter pedagógico e objetiva o contínuo aprimoramento, sem a intenção de fiscalizar ou realizar um controle estatal”. A acreditação hospitalar possui três princípios fundamentais para a realização do seu processo: precisa ser voluntário (feito por escolha da instituição de saúde), reservado (toda informação coletada não será divulgada) e periódico. Além disso, a acreditação busca avaliar também a acessibilidade da população ao serviço, garantia na manutenção do atendimento, a segurança na realização dos procedimentos, desempenho dos funcionários e adequação das instalações físicas e equipamentos para atender à demanda da população. A instituição de saúde passa ser considerada acreditada quando, após avaliação por entidade competente, receber a certificação por atender aos requisitos predefinidos por comissões da área da saúde, estando apta para realizar suas tarefas com qualidade. Essa distinção entre os serviços de saúde, além de estimular a busca por aprimoramentos, também permite que essa visibilidade da instituição atraia maior demanda de pacientes. Desse modo, é notável que a principal estratégia adotada pela acreditação hospitalar é um foco inovador e integrador no serviço de saúde, permitindo que esse sistema de credibilidade estimule as demais instituições de saúde a obter essa titulação como selo de qualidade. O que é acreditação hospitalar? Você conhece os conceitos mais específicos de acreditação hospitalar? O vídeo a seguir contextualiza esses conceitos com um relato de uma experiência profissional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. O surgimento da acreditação hospitalar Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Principais eventos envolvidos na criação da acreditação hospitalar brasileira Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A acreditação hospitalar no mundo teve seus primórdios nos EUA, por meio da necessidade de regulamentação da funcionalidade dos serviçoshospitalares da época. Por meio do programa de padronização hospitalar (PPH), estabeleceram-se padrões para avaliação da qualidade da assistência. São padrões para avaliação da qualidade da assistência: A Qualidade do fornecimento de alimentos e registro preciso no prontuário do paciente. B Registro preciso no prontuário do paciente e controle de visitas ao paciente. C Corpo médico organizado e acesso a serviços laboratoriais. D Qualidade do fornecimento de alimentos e corpo médico organizado. E Acesso a serviços laboratoriais e controle de visitas ao paciente. A alternativa C está correta. O programa de padronização hospitalar estabeleceu critérios para padronização da assistência hospitalar, sendo eles: corpo médico organizado, registros dos pacientes com precisão e completos e recursos diagnósticos e terapêuticos disponíveis para uso, como laboratórios, setor de raios X, entre outros. Questão 2 Avedis Donabedian era um médico armênio preocupado com a qualidade dos serviços de saúde. Suas observações nos hospitais o fizeram criar a tríade de Donabedian, utilizada até os dias atuais pelos serviços de saúde. Assinale a alternativa que está relacionada a essa tríade, para promover a qualidade. A É necessário adaptação continua. B Não deve ser avaliada continuamente. C Deve ser avaliada continuamente. D Sofre influência de fatores externos. E É indiferente ao processo de acreditação. A alternativa C está correta. De acordo com a tríade de Donabedian, para haver qualidade na assistência, era necessário que estrutura, processo e resultado fossem avaliados de forma contínua. 2. Sistemas de acreditação em serviços de saúde Os sistemas envolvidos no processo de acreditação hospitalar O processo de acreditação hospitalar não possui fins lucrativos, buscando somente analisar a qualidade do serviço prestado pelos hospitais. Para esse processo, foram desenvolvidos sistemas e, por meio deles, incluída a participação de entidades acreditadoras, que, além de fornecer um selo padrão ao serviço em saúde, estimula a implantação de melhorias no atendimento, contribuindo para que mais serviços busquem inovações e fornecimento de assistência qualificada à população. Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA) O Sistema Brasileiro de Acreditação é um aglomerado de componentes, como processos, entidades e estruturas necessárias para realização da acreditação hospitalar. Esse sistema está diretamente subordinado à Organização Nacional de Acreditação (ONA). O SBA se preocupa em proporcionar à população acesso a serviços de saúde com qualidade, o que é obtido por meio da acreditação, sendo seus objetivos: Implementar a acreditação nas entidades de saúde. Coordenar o processo da acreditação. Normatizar a realização do processo por meio de normas e regulamentos. O SBA contribui para que haja uma transformação nas rotinas hospitalares de forma a envolver os profissionais de saúde, garantindo melhorias na qualidade da assistência prestada. Por outro lado, ele busca estimular a execução de práticas seguras por meio de avaliações regulares do serviço, para melhoria progressiva da assistência prestada e atenção humanizada ao paciente. Além disso, a inter-relação entre os componentes do SBA é responsável pela estruturação da acreditação, levando-a ao alcance dos objetivos propostos. Cada componente se subdivide em organizações envolvidas no processo, instrumentos do processo e ações realizadas no processo, conforme vemos a seguir: Entidades envolvidas As entidades do SBA são as instituições que atuarão no processo com o papel de líder (ONA), executores do processo (IACs) responsáveis por avaliar e realizar acreditação das Instituições Prestadoras de Serviços de Saúde (OPSS). Esse componente é a força motora, no qual identificaremos o papel dos trabalhadores envolvidos no processo. Estrutura Na estrutura do SBA, encontramos os fundamentadores da acreditação para execução de todo o processo que são as normas e o manual brasileiro de acreditação. Essas normas, criadas pelo Ministério da Saúde, servem para direcionar as ações a serem executadas na acreditação, cujos eventos direcionarão para o processo avaliativo no qual, de acordo com os dados obtidos, a instituição de saúde será certificada. • • • Processos O processo de acreditação inicia-se pelo diagnóstico organizacional realizado por uma equipe de avaliadores que verificam se a instituição atende aos requisitos para acreditação e o que falta para fazê-lo. Em seguida, a autoavaliação é realizada para identificar lacunas e os pontos fortes da instituição, para que seja elaborado um plano de ação para melhoria do serviço. Após essas sucessivas avaliações, a continuidade segue para acreditação, recertificação e upgrade do processo e manutenção da acreditação por meio do evento sentinela. O SBA é amparado por fundamentos utilizados pela gestão em saúde, sendo importante sua compreensão pelos hospitais acreditados buscando contemplar: a liderança, o foco no paciente e na segurança, a apresentação de uma visão abrangente, a busca por inovação e melhorias contínuas, a responsabilidade socioambiental e a promoção do desenvolvimento das pessoas. Desse modo, o SBA contribui para que haja uma mudança programada nas rotinas hospitalares por meio da análise das competências de cada instituição, evitando focar-se somente nos profissionais. ISO (International Organization for Standardization) O ISO é uma entidade sem fins lucrativos, responsável por criar normas aprovadas, internacionalmente, com a finalidade de padronizar produtos e serviços, entre eles, os serviços de saúde. Essas normas são aplicadas em todo tipo de gestão e organização, independentemente se a instituição é pública ou privada. A padronização por meio do ISO se concentra principalmente nas necessidades apresentadas pela instituição e pela comunidade. As principais normas da ISO aplicáveis na acreditação são: ISO 9000:2005 Utilizado para apoiar a implantação da gestão de qualidade nos serviços, independentemente do tipo ou tamanho da entidade. ISO 9001: 2015 É uma revisão do ISO 9000, sendo a versão mais atual da gestão de qualidade. Com a atualização desta, foi incluída presença de documentos obrigatórios e se destacou monitoramento do desempenho da entidade. ISO 14001: 2015 Está relacionado com gestão ambiental no serviço, sendo ele de saúde ou não, e busca solucionar questões que envolvam poluição do ecossistema, saneamento básico e rede de esgoto, gestão de resíduos de saúde (existem resoluções da ANVISA que abordam especificamente o gerenciamento de resíduos de saúde como RDC 306, de 2004, e CONAMA 358, de 2005). ISO 13485: 2016 Refere-se aos requisitos exigidos para gerenciamento de qualidade na comercialização de dispositivos médicos. As empresas que possuem o certificado deste ISO entregam um material de qualidade para assistência em saúde. A adoção dessas normas internacionais no processo de acreditação hospitalar faz parte de medidas utilizadas para uma padronização universal dos serviços de saúde, bem como da qualificação destes perante a população mundial. Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) O Núcleo de Segurança do Paciente é um sistema criado pelo governo visando promover ações concentradas na segurança do paciente. Esse item faz parte das práticas avaliadas num processo de acreditação hospitalar, o que fez com que o governo federal ampliasse atenção e criasse protocolos aplicáveis nessas situações. A fiscalização desse núcleo é responsabilidade de órgão da vigilância sanitária, devendo este averiguar se houve cumprimento das diretrizes e princípios do programa, que são: Processo contínuo de melhoria do cuidado e da utilização de tecnologias em saúde. Garantir que haja boa prática do funcionamento do serviço de saúde. Disseminar sistematicamente a cultura de segurança do paciente. Integração dos processos e articulação entre os componentes da gestão de risco. O NSP, ao ser implementado numa instituição, deve ser formado por equipemultiprofissional, composta por um médico, um farmacêutico e um enfermeiro preferencialmente, podendo variar de uma unidade a outra. Além dessa composição, outras instâncias presentes na instituição e que estejam relacionadas com a segurança do paciente podem participar como membros desse núcleo, sendo eles: Núcleo de Saúde do Trabalhador; Gerência de Resíduos; Comissão de Biossegurança; Comissão de Padronização de Materiais; Comissão de Proteção Radiológica; Comissão de Mortalidade Materna e Neonatal; Comitê Transfusional; Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, entre outras. (BRASIL, 2016, p. 15) Implantação do NSP numa unidade hospitalar A implantação do NSP numa entidade hospitalar é realizada em 2 etapas: decisão e planejamento, e preparação. Na primeira etapa, a decisão por sua implantação é feita pela direção da entidade, sendo de suma importância para que os objetivos estabelecidos sejam alcançados. Brasil (2016) refere que os gestores da unidade que vai implantar esse núcleo devem estar empenhados em obter melhorias no processo, aumentando a satisfação dos pacientes, bem como promovendo divisão de responsabilidades e competências. O envolvimento da direção da unidade nessa etapa pode ser feito de forma escrita ou verbal, sendo divulgado pelo NSP a todos os componentes da equipe. Nessa segunda etapa, ocorre a descrição detalhada do processo de implantação do NSP no hospital, devendo ser composto pelos seguintes itens essenciais: Aspectos administrativos Diz respeito à nomeação da equipe multiprofissional que comporá o NSP, bem como a indicação do coordenador e do responsável pelo NSP. • • • • Aspectos técnicos Corresponde não só a realização de reuniões regulares, como o envolvimento com os usuários do serviço de saúde e o envolvimento de outros profissionais no serviço como: chefes de clínicas ou serviços, gerentes, profissionais influentes, entre outros. Aspectos relacionados à formação acadêmica Refere-se à formação acadêmica dos membros do NSP. Os profissionais envolvidos com o NSP devem apresentar comprovante de formação nos seguintes cursos: “Qualidade e Segurança do Paciente; Regulamentações sobre Qualidade e Segurança do Paciente; Princípios Básicos em Segurança do Paciente; Tipos de EA Relacionados à Assistência à Saúde; Protocolos de Segurança do Paciente; Indicadores de Segurança do Paciente; Estratégias para a Melhoria da Qualidade e Segurança; Cultura de Segurança; Núcleo de Segurança do Paciente; Plano de Segurança do Paciente; Gestão de Riscos; Sistema de Notificação de Incidentes; Investigação do incidente; Análise de Causa-raiz; Análises dos Modos de Falha (FMEA)” (BRASIL, 2016, p. 17). Aspectos logísticos Corresponde à necessidade da direção do hospital de disponibilizar recursos humanos e material, tal como equipamentos e um local adequado para o funcionamento do núcleo, para propiciar um bom desenvolvimento do NSP. Após a sua implantação no serviço de saúde, o NSP ficará responsável por executar as seguintes atividades: monitorar constantemente os indicadores de segurança do paciente, implementar protocolos quanto à segurança do paciente, desenvolver ações que envolvam a equipe multiprofissional no serviço de saúde, promover a gestão de risco, promover a implementação de mecanismos para avaliar a presença de não conformidades nos procedimentos ou processos realizados na assistência ao paciente, acompanhar e estabelecer barreiras para prevenção de eventos adversos na assistência ao paciente, desenvolver capacitação dos profissionais quanto às medidas de segurança no serviço de saúde. Para entender, vejamos os momentos de um exemplo prático: 1 Primeiro momento Senhor J. P. V., 80 anos, era um paciente acamado, sem interação com o meio e pouca mobilidade no leito, em virtude do seu quadro avançado de Alzheimer. 2 Segundo momento Durante o plantão da enfermeira X, num hospital militar do Rio de Janeiro, um dos técnicos, após realizar o banho no leito, esqueceu de levantar as grades da cama do paciente, o que resultou na queda do mesmo e consequente traumatismo facial. 3 Terceiro momento Diante da situação e instruída quanto aos protocolos do NSP, a enfermeira realizou contato com a emergência, que enviou um médico para avaliar o paciente. 4Quarto momento Após alguns minutos, foi iniciado o protocolo de segurança da unidade, que era, em casos de quedas, encaminhar o paciente para a tomografia, preencher o formulário de notificação de evento adversos, comunicar a supervisora geral de enfermagem e manter o paciente em observação nas 24 horas seguintes. 5 Quinto momento Após 7 dias do ocorrido, a enfermeira X foi convocada pelo NSP para que fossem averiguadas as informações contidas sobre o evento ocorrido. 6 Sexto momento Apurados os fatos, a equipe foi orientada a participar de educação continuada sobre segurança do paciente, e o caso foi contabilizado como evento daquele mês. Órgãos acreditadores dos serviços de saúde brasileiros A acreditação hospitalar no Brasil é realizada por órgãos nacionais e internacionais, cada qual avaliando dentro de sua função e afinidade com determinada área do serviço. A realização regular desse monitoramento pelos órgãos acreditadores se faz necessária mediante a procura da população por serviços de saúde com selo de qualidade e segurança. Os órgãos acreditadores nacionais são entidades sem fins lucrativos, voltadas para realização do processo de acreditação no país. No Brasil, existem 2 entidades responsáveis por fazê-lo: 1 Organização Nacional de Acreditação A ONA é uma entidade criada para certificar os serviços de saúde no Brasil quanto à qualidade da assistência. Também é responsável por definir padrões de gestão inseridos no manual brasileiro de acreditação. 2 Consórcio Brasileiro de Acreditação O CBA é uma entidade criada pelas universidades estaduais do Rio de Janeiro, cuja finalidade é promover qualidade e segurança na assistência prestada por meio do processo educativo e de capacitação, mediante certificação e acreditação especializada e internacional. É a única entidade acreditadora brasileira que possui convênio com a Joint Commission International (Comissão Conjunta Internacional), sendo responsável por emitir o selo Gold Seal of Approval (selo de ouro de aprovação). Quanto aos órgãos internacionais de acreditação que atuam no Brasil, encontramos: O ISO é voltado para qualificação de serviços empresariais, indústrias e entidades de saúde públicas e privadas por meio de padrões utilizados em todo o mundo como ferramenta de mensuração de qualidade. • A Joint Commission International é uma entidade internacional não governamental, atuante há mais de 50 anos, cujo objetivo é padronizar a qualidade no cuidado do paciente e manter a segurança dele. Por esse motivo, o selo emitido por ela é considerado padrão ouro no mundo inteiro, identificando assim, um trabalho por excelência. A International Society for Quality in Health Care é uma entidade acreditadora internacional considerada a mais importante, tendo suas ações voltadas para apoiar e promover melhorias no serviço de saúde por meio da acreditação. Na tabela a seguir, podemos acompanhar um resumo das entidades acreditadoras e suas características: Entidade Objetivo Selo emitido Cobertura ONA Seu foco é a segurança do paciente e promoção de aprimoramento do serviço por meio da evolução do sistema de acreditação Acreditado Acreditado pleno Acreditado por excelência Nacional CBA Busca melhorar a qualidade da assistência continuamente, por meio de acreditação e certificação internacionais Gold Seal of Approval do JCI Nacional International Society for Quality in Health Care Visa à promoção de melhorias na segurança e qualidade na assistência ao paciente iSQua accredited Internacional Joint Commission International (JCI) Promoção de qualidade dos serviços de saúde no mundo Gold Seal of Approval Internacional ISO Fornece padrões de qualidade para assegurar que os serviços de saúde suprirãoas necessidades do paciente Certificados dos ISOs relacionados com os serviços de saúde. Internacional Tabela: Resumo das entidades acreditadoras e suas características. POSSOlI, 2017, p. 80-82. A importância da participação das unidades acreditadoras nesse processo avaliativo deve-se ao fato da busca constante da população por serviços que sejam certificados como excelência, no atendimento em saúde, permitindo, assim, que haja aprimoramento contínuo de técnicas bem como implementação de novas metodologias que propiciem segurança e eficiência na assistência em saúde. A relação do núcleo de segurança do paciente com a acreditação hospitalar Veja, a seguir, o que é o núcleo de segurança do paciente e o motivo deste ser um componente essencial no processo de acreditação hospitalar. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. • • International Organization for Standardization Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Órgãos acreditadores dos serviços de saúde brasileiros Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A realização da acreditação hospitalar deve ser feita de forma voluntária pela unidade que será avaliada. As entidades responsáveis em realizar e certificar a instituição são chamadas de acreditadoras e se dividem em 2 grupos: internacional e nacional. Qual das alternativas abaixo contém um atributo do CBA? A Busca promoção da qualidade da saúde no mundo. B Fornece padrões de qualidade para diversas áreas, inclusive, serviços de saúde. C Busca melhorar a qualidade da assistência por meio de certificações e da acreditação. D Seu foco é a segurança do paciente e aprimoramento do serviço de saúde. E Promove a qualidade nos serviços de saúde no mundo. A alternativa C está correta. O Consórcio Brasileiro de Acreditação é uma entidade cuja finalidade é buscar melhorias na qualidade e segurança na assistência prestada por meio do processo educativo e de capacitação, utilizando, para isso, a certificação e acreditação especializada e internacional. Questão 2 O Núcleo de Segurança do Paciente foi uma iniciativa governamental, visando reduzir o número de eventos adversos resultantes da execução da assistência em saúde. São princípios e diretrizes do Núcleo de Segurança do Paciente: A Normatizar a realização do processo por meio de normas e regulamentos. B Garantir que haja boa prática do funcionamento do serviço de saúde. C Padronizar a qualidade do serviço por meio das necessidades apresentadas pela instituição. D Promover a qualidade por meio de processo educativo e de capacitação. E Garantir uma escala de trabalho padronizada. A alternativa B está correta. A implementação do núcleo de segurança do paciente busca, por meio de um monitoramento e educação continuada, garantir que a assistência prestada ao paciente seja livre de danos à sua saúde. Por esse motivo, o NSP busca garantir que haja boa prática do funcionamento do serviço de saúde. 3. Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar Diretrizes da acreditação hospitalar O processo de acreditação hospitalar teve sua origem por meio da Portaria nº 1970/GM, de 25 de outubro de 2001, quando o então ministro da Saúde José Serra aprovou a implantação desse processo de qualificação hospitalar em conjunto com a aprovação da 3ª edição do Manual Brasileiro de Acreditação, bem como determinou seu uso pela ONA e pelas entidades acreditadoras durante o processo. Além disso, foi delegada à Secretaria de Assistência à Saúde a competência para realizar alterações, quando necessário, no Manual de Acreditação. De acordo com as diretrizes gerais do Manual de Acreditação, para inscrição no processo, os seguintes aspectos são necessários: Haver manifestação de interesse pelo hospital. Coleta de informações pela entidade acreditadora sobre o hospital e elaboração da proposta, encaminhando-a para apreciação do serviço de saúde. Análise da proposta enviada pela entidade acreditadora ao próprio hospital e seleção de quem realizará a avaliação. O acreditador escolhido deve solicitar ao hospital candidato os seguintes documentos: alvará de funcionamento de serviço de saúde, licença sanitária e registro do responsável técnico no Conselho Federal de Medicina (CRM). O hospital também responderá a um questionário preliminar e o enviará ao acreditador junto com os documentos solicitados. A entidade acreditadora encaminhará uma cópia do contrato à ONA e aguardará que o hospital efetue o pagamento da guia para início do processo, correspondendo a 10% do valor total cobrado pela entidade no contrato. Todos os custos referentes à contratação dos acreditadores é responsabilidade do hospital. A equipe da acreditação hospitalar A equipe de acreditação hospitalar se divide em: Avaliador É o profissional que possui as devidas qualificações para avaliar no processo de acreditação, sendo ele capacitado conforme as normas da ONA. Avaliador-líder É definido como o profissional responsável por todas as fases do processo. Equipe de avaliadores Deve ser capaz de gerenciar, ter experiência no assunto e capacidade de tomada de decisão relacionada ao processo de acreditação. Souza (2020) refere que a escolha dos avaliadores deve atender a alguns requisitos, como: cálculo do número de funcionários (inclusive os funcionários terceirizados) e de leitos, tanto na matriz quanto nas filiais, a complexidade das atividades executadas no hospital, número de serviços e unidades de atendimentos assistenciais e os atendimentos fora de sede, devendo incluir o deslocamento de funcionários. Desse modo, é • • • • necessário que haja um cálculo-base para definição do quantitativo de componentes da equipe de avaliadores, conforme na tabela a seguir. Serviços hospitalares Número de leitos Avaliador/Dia*** 1-80 6 81-150 9 151-300 12 301-700 15 ≥ 700 Definição de acordo com orientação da ONA *** Relação entre número de avaliadores e dias necessários para visita Tabela: Definição de número de avaliadores. Souza, 2020, p. 32. De acordo com os dados, a definição do número de componentes na equipe de avaliadores deve ser proporcional ao número de leitos, sendo estes adequados pela ONA, caso esse número ultrapasse os 700 leitos hospitalares. Quanto à composição da equipe de acreditadores, esta deve ser formada por no mínimo 3 profissionais, sendo eles: 1 médico, 1 enfermeiro e 1 administrador. Toda equipe de acreditadores deve possuir um avaliador-líder e, caso seja necessário, poderá incluir na equipe: especialistas, observadores ou outros avaliadores em treinamento. Ao iniciar o processo de acreditação, o hospital comunicará os funcionários sobre a realização da avaliação, definindo os responsáveis que acompanharão a equipe de acreditadores. Além disso, as seguintes tarefas deverão ser executadas antes do processo: Primeira tarefa Providenciar acesso da equipe avaliadora às instalações do hospital e aos documentos solicitados previamente pelos acreditadores. Segunda tarefa Cooperar com os avaliadores para que os objetivos da acreditação sejam alcançados. Terceira tarefa Fazer ampla divulgação sobre a realização da acreditação no hospital. Definidos os acessos ao serviço, as visitas na unidade se iniciam após autorização da ONA. A partir desse momento, a entidade acreditadora terá o prazo de 30 dias, a contar da data do pagamento da guia, para realizar a visita no hospital. Com o fim da avaliação, será elaborado um relatório contendo o resultado da visita, para ser entregue ao hospital. O hospital terá 90 dias para ajustar-se às menores conformidades e, se necessário, ao fim desse prazo, solicitar nova visita dos avaliadores. Os acreditadores terão 30 dias para retornar ao hospital e verificar se houve ajuste das menores conformidades. A execução do processo de acreditação Acoleta e análise dos dados obtidos na acreditação necessitam de instrumentos e metodologia para fazê-lo. Nesse processo, são realizadas visitas, nas quais Souza (2020) refere que acontecem em várias etapas da acreditação, desde o preparatório até a conferência da correção. A ONA classifica essas visitas em: de certificação (de acordo com o número de avaliadores e norma de avaliação), de manutenção ordinária (somente será realizada na presença de no mínimo 2 avaliadores), de manutenção extraordinária (é realizada por no mínimo 2 avaliadores), de revista (o avaliador deverá ser o mesmo da equipe inicial) e de diagnóstico situacional (pode ser realizado por 1 avaliador-líder). A coleta de dados ou de evidências na acreditação utiliza questionários para entrevista, análise documental e observação direta das atividades nas áreas de interesse. Todas as informações serão comprovadas por meio de entrevista com os profissionais do hospital, medições e registros em prontuários ou outro documento. As respostas e sua transcrição num documento devem ser analisadas de forma cautelosa, buscando pontos enfraquecidos no funcionamento do serviço, que serão corrigidos para aprimorar a qualidade da assistência prestada. As metodologias utilizadas no processo são classificadas em seções e subseções, respectivamente. As seções utilizadas apresentam fundamentos que serão utilizados como instrumento de avaliação, sendo elas: Liderança e administração Concentra subseções ligadas à liderança e às funções administrativas e de gestão. Serviços profissionais e organização da assistência Trabalha com a organização de serviços de atendimento direto ao paciente como: exames diagnósticos, entre outros. Serviço de atenção ao paciente Grupamento de unidades e serviços com contato direto com o paciente. Ex.: equipe médica, equipe de fisioterapia etc. Serviços de apoio diagnóstico São os serviços de diagnóstico da unidade hospitalar, como laboratórios, tomografia etc. Serviço de apoio técnico e abastecimento Grupamento de serviços técnicos especializados envolvidos com o abastecimento, estocagem e dispensação de insumos. Serviço de apoio administrativo e infraestrutura Apresenta os processos de apoio ao serviço de saúde, sendo composto por financeiro, segurança da unidade, entre outros. Ensino e pesquisa Visa integrar componentes relacionados à educação e pesquisa, permitindo acesso a treinamento funcional, bem como educação permanente. Além disso, as seções apresentam 3 níveis de complexidade, contendo princípios específicos e validade de certificado variável, conforme veremos na tabela a seguir. Nível Princípios O que contempla? Validade do certificado 1 Segurança Requisitos de segurança e qualidade 2 anos 2 Gestão integrada Evidências de integração entre os processos, acompanhamento e avaliação de resultados, alinhados às estratégias definidas 2 anos 3 Excelência em gestão Gestão em excelência alicerçada em conhecimento e aprendizado para tomada de decisão 5 anos Tabela: Níveis de complexidade da acreditação. SOUZA, 2020, p. 31. A organização dessas seções e subseções permite que o avaliador tenha ampla visão sobre o quadro operacional apresentado pelo hospital e, assim, facilite a análise desses dados. A validade do certificado emitido em cada nível demonstra que o processo necessita de revalidação como forma de comprovar a manutenção da qualidade atestada. O avaliador também busca a presença de não conformidades que possam comprometer a acreditação do hospital. Essas não conformidades são classificadas em: menor e maior. A conformidade maior é caracterizada pela ausência ou incapacidade do hospital em atender a requisitos de padronização, conforme a norma vigente (como as normas do ISO, por exemplo), podendo ser resultante de um grande volume de não conformidades menores, como o não cumprimento dos requisitos do sistema de qualidade em saúde. Entretanto, a não conformidade menor é resultante da falta de cumprimento de requisitos do sistema, sendo identificada pela equipe de auditoria. Por esse motivo, a avaliação deve ser clara e objetiva, buscando a melhoria da qualidade da assistência, pontuando-se por meio dos seguintes requisitos: Supera Supera (S), quer dizer que a instituição atende ao requisito avaliado. Conforme Conforme (C) determina que a instituição atende aos requisitos de qualidade e fundamentos de gestão em saúde. Parcial conforme Parcial conforme (PC) aponta que a instituição atende parcialmente aos requisitos de qualidade e fundamentos de gestão em saúde. Não conforme Não conforme (NC) indica que a instituição não atende aos requisitos ou não apresenta evidência. Não se aplica Não se aplica (NA) estabelece que o requisito não se relaciona às características da instituição. Ao término da avaliação e dos ajustes de não conformidades encontradas durante o processo, é divulgado o resultado da acreditação, no qual o gestor toma a decisão, baseando-se no percentual de requisitos atendidos em cada subseção e nível conforme identificados. A finalização do processo ocorrerá após aprovação do relatório final pela entidade acreditadora, com emissão de parecer final e o envio desses documentos à ONA. Caberá ao hospital avaliado um prazo de 45 dias para recorrer quanto ao parecer final. Ética na acreditação hospitalar e certificações hospitalares A realização da acreditação hospitalar deve estar alinhada ao Código de Ética e à Legislação, para que haja respeito mútuo entre os envolvidos na avaliação, resultando numa reciprocidade com a instituição avaliada. Obedecer às leis e ao código de ética garante transparência nas informações obtidas e compartilhadas entre avaliadores e avaliados. Essa coerência ética contribuirá para que haja uma certificação concreta e validada pela ONA. Normas éticas e legislação aplicada na acreditação O processo de acreditação hospitalar precisa obedecer ao código de ética, agindo dentro dos padrões estabelecidos pelas normas e regulamentos, que também deverão ser seguidos pela ONA. Averiguar se o código de ética está sendo obedecido é papel da Comissão de Ética da Organização Nacional de Acreditação (CEONA). Esse código de ética possui uma linguagem simples e acessível à população, assegurando transparência no cumprimento das regras definidas. Além disso, a acreditação se baseia na legislação vigente, como a Constituição brasileira de 1988, a Lei nº 8080, de 1990, para cumprir e fazer valer os direitos e deveres de pacientes e instituição: 1 Constituição brasileira de 1988 O principal ponto da Constituição para os serviços de saúde está ligado ao artigo nº 196, que assegura acesso à saúde como direito de todos e dever do Estado. 2 Lei nº 8080, de 1990 A lei de criação do SUS estabelece parâmetros que garantem acesso da população a atendimento e tratamentos, manutenção desse acompanhamento e atenção livre de privilégios ou distinção entre as pessoas. 3 ISO 9000:2005 Essa norma do ISO se apoia principalmente na implementação de controle da qualidade por meio da padronização nos serviços de saúde garantindo a satisfação do cliente. 4 ISO 14000:2015 A norma 14000 apresenta uma preocupação com gestão ambiental e propõe requisitos para que ela seja realizada nas instituições, auxiliando o prestador de serviço no alcance da excelência. Principais certificações hospitalares no Brasil Conforme mencionamos no módulo anterior sobre certificações, aqui nos aprofundaremos sobre as principais certificações brasileiras e os parâmetros utilizados para obtê-las, sendo as mais perseguidas pelas instituições hospitalares a ONA e o ISO 9001:2005, dada sua relevância nos serviços de saúde. Certificado da ONA A realização do processo de certificação da ONA é baseada nos seguintes indicadores: ênfase na satisfação dos pacientes, ênfase nos recursos humanos, indicadores de atendimento ao paciente e indicadores da administração hospitalar. Na fase de diagnóstico pela ONA, a instituição de saúde passará por 3 planos de avaliação: 1. Segurançada estrutura física 2. Organização dos processos 3. Práticas de excelência em saúde A certificação ocorre quando todos os requisitos de cada nível forem cumpridos. A ONA ainda estabelece os seguintes padrões para certificação do hospital conforme a tabela a seguir. Nível Tipo de acreditação Características Validade do certificado 1 Acreditado A instituição atendeu aos critérios de segurança estabelecidos em todos os níveis de atendimento ao paciente 2 anos Nível Tipo de acreditação Características Validade do certificado 2 Acreditado pleno Atendeu aos critérios de segurança, apresentando fluidez no processo de gestão integrada 2 anos 3 Acreditado por excelência A unidade hospitalar atendeu a todos os níveis de avaliação e apresentou melhoria contínua 3 anos Tabela: Classificação dos selos de acreditação da ONA. POSSOLI, 2017, p. 221. A acreditação realizada pela ONA é a mais requisitada, pois, além de se tratar da maior agência acreditadora do Brasil, sua avaliação é mais abrangente e relevante do que das outras entidades. A presença do selo de qualidade da ONA atesta para população o nível de excelência que o hospital presta por meio da assistência em saúde. ISO 9001:2015 O ISO é a maior referência mundial em padrões de qualidade nos serviços e empresas. Suas normas estabelecem no mundo inteiro um padrão único de excelência na qualidade do produto ofertado à população. O ISO 9000 é voltado para o desempenho da empresa, e os princípios de gestão da qualidade formam a base dessa norma. O ISO 9001 possui 8 princípios utilizados na gestão de qualidade, sendo eles direcionadores na avaliação e manutenção da mesma: Foco no cliente, liderança, envolvimento de pessoas, abordagem do processo, abordagem sistêmica para a gestão, melhoria contínua, abordagem factual para tomada de decisão e benefícios mútuos nas relações com os fornecedores. (POSSOLI, 2017, p. 222-223) Uma diferença notada em relação às outras acreditadoras se refere ao processo de documentação das informações obtidas na avaliação, pois a ISO lança todos os registros como informação documentada, facilitando, assim, a gestão do serviço e a tomada de decisão. O conhecimento dos componentes do manual de acreditação possui caráter obrigatório para avaliadores, acreditadores e gestores de saúde, uma vez que as ações que farão parte do processo avaliativo são baseadas no conteúdo desse material, bem como indicações de parâmetros para controle de qualidade do serviço de saúde. O manual de acreditação hospitalar brasileiro Quais são os principais pontos do manual de acreditação e o que devemos saber sobre os parâmetros de qualidade desse material? Para saber essas respostas, assista ao vídeo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Diretrizes da acreditação hospitalar Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A equipe da acreditação hospitalar Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O hospital de S., em Campo Grande, Rio de Janeiro, solicitou à ONA para realizar o processo de acreditação no hospital que se encontrava organizado para as avaliações. Durante a estruturação da equipe, a ONA deve escolher no mínimo A 5 avaliadores, sendo 3 médicos, 1 enfermeiro e 1 farmacêutico. B 1 avaliador médico. C 3 avaliadores, sendo 1 médico, 1 enfermeiro e 1 administrador. D 2 avaliadores, sendo 1 médico e 1 enfermeiro. E 4 avaliadores, sendo 1 médico, 1 enfermeiro, 1 administrador e 1 nutricionista. A alternativa C está correta. De acordo com as normas de acreditação estabelecidas pelo Ministério da Saúde, a equipe de acreditadores deve ser formada, no mínimo, por 3 profissionais, sendo eles: 1 médico, 1 enfermeiro e 1 administrador. Questão 2 Qual a finalidade do uso da ética e da legislação vigente durante o processo de acreditação hospitalar? A Respeito aos demais profissionais presentes na instituição. B Garantir transparência das informações obtidas, compartilhando-as entre avaliadores e avaliados. C Buscar um ponto de falha para aplicar punição. D Providenciar amplo acesso dos avaliadores às instalações do hospital. E Cooperar com avaliadores para alcançar os objetivos propostos. A alternativa B está correta. A aplicação do código de ética da ONA, bem como da legislação que regulamenta as ações em saúde, é necessária, pois, por meio dela, faz-se cumprir a cordialidade entre os profissionais, garantindo a transparência no compartilhamento das informações entre avaliadores e avaliados. O Grande Templo de Ramsés II, Abu Simbel. 4. Papel do gestor no processo de acreditação nos serviços de saúde Gestão de qualidade nos serviços hospitalares Em muitos eventos históricos, a qualidade era o alvo dos profissionais que buscavam se destacar dos demais. A busca por padrões de qualidade existe desde o Antigo Egito, onde a excelência na construção dos grandes monumentos, como as pirâmides e do templo de Abu Simbel, era uma forma de chamar a atenção dos deuses e, assim, receber suas bênçãos. Atualmente, o conceito de qualidade está inserido em todos os contextos, inclusive na saúde da população, sendo este o alvo do processo de acreditação hospitalar. O termo gestão de qualidade total (GQT) passou a ser utilizado para identificar um deslocamento do foco no produto para quem oferta o serviço. Nesse momento, o gestor entra em cena por meio do controle e estabelecimento de medidas e protocolos que contribuam para manutenção do controle da qualidade da assistência. Ferramentas de controle de qualidade hospitalar Os efeitos resultantes da gestão de qualidade no processo de acreditação são positivos e geralmente duradouros. Entretanto, algumas instituições optam por não valorizar o mercado concorrente, solicitando a avaliação, que levará à necessidade de mudanças para aprimoramento da qualidade. No entanto, a não inclusão da instituição no processo de acreditação não impede o funcionamento da unidade de saúde, somente a exclui de ser referenciada para usuários ou outras unidades como serviço de saúde padrão. Por esse motivo, o gestor precisa estar atualizado quanto aos conceitos e normas que envolvem a qualidade no serviço hospitalar, devendo utilizar instrumentos que contribuam tanto para resolução de problemas quanto para controle da qualidade, mantendo-a em níveis de excelência. Existem diversas ferramentas que são eficazes no controle da qualidade de serviço, sendo elas um apoio fundamental para o gestor de saúde. As ferramentas utilizadas para manutenção da qualidade são: Gerenciamento de reuniões Trata-se de uma forma organizada, previamente agendada, na qual serão apresentados planejamentos e a metodologia que será utilizada para conduzir aos objetivos propostos. Brainstorming (Discussão de ideias) É uma técnica na qual são lançadas perguntas sobre o problema que se quer solucionar, enumerando- se possíveis causas. Deve ser realizada em grupo e alguém registrará as respostas. GUT (gravidade, urgência e tendência) É uma ferramenta que orienta o gestor para tomada de decisão mais complexa realizando as seguintes perguntas: qual é a gravidade? Qual a urgência da situação? Caso não seja resolvido, qual será a tendência do assunto? Para o gestor obter o GUT, deve realizar a seguinte multiplicação: G x U x T = GUT. No G, classifica-se desde sem gravidade até extremamente grave; U tem respostas desde não tem pressa à necessidade de ação imediata; e T responde desde pode melhorar até vai piorar em breve. Diagrama de Pareto É um gráfico composto por barras verticais que favorece uma visão quantitativa da situação-problema verificando-se quais elementos são mais importantes para fonte de dados. Este gráfico serve para estabelecer uma ordem dos problemas identificados, permitindo assim uma classificação quanto à gravidade e urgência para resoluçãode cada situação encontrada, podendo ser utilizado para estudos posteriores. Diagrama de Ishikawa Ou diagrama de causa-efeito, é um excelente demonstrador da qualidade e exposição de fatores que interferem na qualidade. Ele busca identificar, mapear, explorar e ressaltar os efeitos que interferem na qualidade. São utilizados mais de um diagrama, sendo 1 para cada problema. Esse modelo facilita a tomada de decisão. 5 sensos Ou 5s ‒ este nome é derivado de 5 palavras em japonês: seiri (descarte), seiton (arrumação), seiso (limpeza), seiketsu (saúde) e shitsuke (disciplina). Esta ferramenta permite a redução da margem de erro, favorecendo a padronização de rotinas com o menor gasto de tempo e dinheiro. Plano de ação 5W e 2H É o método ideal para alcançar metas e planejar gastos. Trata-se de um plano de ação composto por questões que definirão as tarefas mais eficazes para alcance de objetivos. As letras utilizadas no nome são de origem inglesa: what? (o que deverá ser feito?), why? (por que deve ser realizado?), who? (quem fará o plano?), where? (onde será utilizado?), when? (quando será feito?), how? (como será realizado?) e how much? (quanto custará esse plano?). Este plano é ideal para evitar desperdícios e manter controle do andamento do plano. Devido à sua complexidade, é acompanhado semanalmente ou quinzenalmente. Nesse caso, o gestor deve manter os planos atualizados, apresentando uma cópia ao supervisor ou gerente. Ciclo PDCA Ou ciclo de Deming ou de Shewhart é um método que estimula melhoria contínua da instituição, pois não se esgota com uma única aplicação, mantendo-se por meio de um ciclo contínuo das fases: plan (planejar), do (fazer), check (checar) e action (ação). Seu objetivo é manutenção de controle contínuo da qualidade na instituição, evitando possíveis falhas e erros decorrentes do trabalho da instituição. Nesse caso, o foco do PDCA é a identificação de erros e a resolução dos mesmos e corrigindo-os por meio de ações padronizadas. Além disso, ele trabalha com normas ISO, certificações e acreditações. Para que haja sucesso no ciclo, é necessário conhecimento do problema e estabelecimento de metas que se deseja alcançar. FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) Trata-se de uma ferramenta de resolução de causa-efeito, cujo objetivo é identificar o erro antes que ocorra. Para utilizá-lo, é necessária a formação de um grupo para tomada de decisão, além de trabalhar com gerenciamento de risco. Esta ferramenta também identifica erros antes que aconteçam. Essas ferramentas serão utilizadas conforme a complexidade do caso e urgência para resolução de problemas. São excelentes no auxílio do gestor para obtenção de qualidade. O papel do gestor no processo de acreditação hospitalar Uma das formas de avaliar a qualidade e correção de erros antes do processo de acreditação é a realização da auditoria interna nos serviços de saúde, onde, para qualificação da gestão da unidade, são utilizadas orientações e recomendações do Ministério da Saúde voltadas para a entidade auditada. Atualmente, algumas instituições preferem a auditoria à acreditação para mensurar sua qualidade em serviço prestado à comunidade. Além disso, a ação de comissões internas da instituição por meio da manutenção de rotinas e constantes atualizações de conhecimentos como, por exemplo, de enfermagem, tem sido de grande ajuda para o processo de acreditação. Souza (2020) refere que, em virtude da alta competitividade do mercado, os prestadores de serviço devem buscar um modelo de gestão concentrado na qualificação da instituição, para que haja a certificação do serviço por entidade acreditadora. Um gestor eficiente procura inovações e métodos que favoreçam o refinamento da qualidade no hospital, sempre atentando para manter o equilíbrio entre gastos com o serviço hospitalar x assistência em saúde. Um dos aspectos positivos na atuação do gestor para acreditação se deve ao fato da necessidade de adoção de programas de qualidade na administração hospitalar, uma vez que a qualidade é resultante da integração de fatores organizacionais para que seja alcançada a excelência no serviço. Uma forma de integrar essas ações é por meio dos princípios de qualidade utilizados pela engenharia em virtude de identificar e descrever aspectos importantes do gerenciamento de qualidade. Por esse motivo, é vital para a instituição de saúde que o gestor utilize mecanismos que o auxiliem a detectar falhas e corrigi-las. Comentário Manter a articulação entre os diversos setores do hospital é imprescindível para o sucesso da instituição no processo de acreditação, sendo o gestor em saúde o principal ator nessa transição de ações e controle. Com o envolvimento dos gestores por meio da implantação de novas metodologias da qualidade, as mudanças no funcionamento do serviço serão notadas, e ele deve buscar fazê-lo por meio de treinamento de pessoal, de orientações e reuniões regulares para implantação dessas medidas. O gestor em saúde enfrenta inúmeros desafios quando o assunto é mudança de rotinas, que, segundo Possoli (2017), estão mais relacionados com os recursos humanos como: Resistência da equipe médica De uma forma geral, a resistência dos médicos está relacionada à desconfiança de que podem perder o controle sobre os procedimentos e de que essas mudanças são mais importantes para a parte administrativa do que para a clínica. Pouco ou nenhum envolvimento da direção Geralmente, a direção se preocupa mais com modismo e o que isso pode gerar para a imagem da instituição do que os resultados em si. Desinteresse gerencial Os gerentes dos diversos departamentos hospitalares podem entender que programas de medidas de qualidade são somente intuitivos, sem oferecer benefícios para a instituição. Formação deficitária Neste caso, a instituição escolhe funcionários sem conhecimento ou experiência para discutir assuntos pertinentes à gestão de qualidade. Tanto os gestores quanto os administradores hospitalares enfrentam diversos desafios diariamente, nos quais o foco é voltado para a manutenção da qualidade no serviço prestado sem perder o controle dos recursos disponíveis para uso. Por esse motivo, a auditoria é uma ferramenta imprescindível para os atores em saúde, buscando, por meio da análise de dados retrospectivos, otimizar a assistência prestada, preparando, assim, o caminho para o processo de acreditação hospitalar. Uma das formas de avaliação do processo assistencial prestado ao paciente é realizada por meio da análise do prontuário do paciente, buscando registros de toda a evolução de atendimento bem como o faturamento dos gastos realizados durante o atendimento hospitalar. Por esse motivo, muitos hospitais optam por formação de juntas médicas ou comissões que possam avaliar todo o processo assistencial. Por esse ângulo, o gestor deve demonstrar por meio de estudos e resultados em pesquisas a eficiência das mudanças de rotinas que visam aprimorar o serviço e elevar o nível de qualidade da assistência. Desse modo, identifica-se também como papel importante do gestor no processo de acreditação a aplicação de normas, protocolos, rotinas e condutas fundamentadas na legislação, em medidas de segurança, sendo continuadas por meio da educação permanente do hospital, independentemente do porte ou da complexidade do hospital, buscando maximizar resultados de qualidade na prestação do serviço. A educação permanente para a manutenção da qualidade A principal ferramenta utilizada pelos gestores nos hospitais para melhorar a qualidade da assistência é por meio da implementação de educação permanente. A constante atualização de conhecimento dos profissionais por meio de reciclagem de informações os torna capazes de executar as atividades com maior precisão, minimizando os riscos de agravos resultantes da assistência. Além disso, a implantação de um programa de educação permanente no hospital contribui para a manutenção da qualidade em níveis satisfatórios. No entanto, o gestor ainda esbarra na resistência de muitos profissionaisque se recusam a participar dos cursos da educação permanente, em virtude do tempo dispensado para isso ou por não aceitação da metodologia. É visível que lidar com mudanças no ambiente de trabalho gera insegurança e postura defensiva na equipe assistencial. Por esse motivo, a educação permanente se torna uma ferramenta da gestão para diferenciar o serviço das outras instituições de saúde. O desempenho dos funcionários e a adequação às tecnologias e às mudanças epidemiológicas devem ser abordadas constantemente, para que haja conscientização, mudança de posturas e compreensão quanto à importância da qualificação do serviço. Desse modo, a implantação de medidas que desenvolvam ações voltadas para qualificação da assistência prestada tem sido constantemente abordada nas instituições de saúde, principalmente quando o assunto é abordado, relacionando-o às boas práticas assistenciais, se o desenvolvimento de programas de qualidade e consequente acreditação do serviço hospitalar ocorrer. Então, teremos uma mudança significativa, que ocorrerá de forma progressiva, evitando desperdícios de material e tempo na execução das atividades assistenciais. Sendo assim, a atuação do gestor hospitalar nessas adaptações da estrutura do serviço é vital, de modo que sua contribuição para o aprimoramento da gestão busque identificar e contornar a resistência apresentada por alguns funcionários, vencendo essa barreira por meio do diálogo e estímulos motivacionais. Essas medidas de inclusão de funcionários resistentes à mudança na política do hospital têm sido um desafio constante para o gestor em saúde. Geralmente, essa postura está relacionada à falta de conhecimento ou mesmo compreensão da necessidade de manutenção de padrões de qualidade excelentes. Comentário De acordo com Possoli (2017), o uso de instrumentos de manutenção da qualidade, como, por exemplo, a educação permanente, é vantajoso, pois trata-se de uma ferramenta dinâmica, barata e que pode ser direcionada aos diversos setores que compõem o hospital. O desenvolvimento de ações educativas no ambiente hospitalar geralmente é realizado pelo gestor de enfermagem, que busca por meio da educação permanente apresentar conteúdos que sejam abrangentes e envolvam atividade tanto assistencial quanto administrativa e pedagógica. A familiaridade que o enfermeiro apresenta com determinados assuntos, desde a sua formação acadêmica, o torna competente para interagir entre as diversas funções de apoio, sejam por meio de educação em saúde, gerenciamentos ou auditorias. Por esse motivo, o processo de acreditação hospitalar tem seu sucesso fundamentado nas medidas educativas implementadas pelo gestor de enfermagem. A participação direta do enfermeiro na capacitação dos profissionais por meio da educação permanente é uma das atuações mais relevantes para o processo, pois nessa cooperação com a acreditação ele propõe “reorganização das rotinas de trabalho e na busca pela melhoria contínua da instituição” (POSSOLI, 2017, 191). O uso da educação permanente na manutenção da qualidade de um hospital acreditado O vídeo a seguir contextualiza a importância da educação permanente implementada pelo gestor para manutenção da qualidade do hospital creditado. Veja: Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Ferramentas de controle de qualidade hospitalar Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O papel do gestor no processo de acreditação hospitalar Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Durante o processo de acreditação hospitalar, são identificadas não conformidades num hospital pediátrico no Rio de Janeiro. Visando à correção dos erros identificados e implementação de melhorias no serviço, o gestor em saúde pode utilizar a seguinte ferramenta: A Auditoria interna. B Educação permanente. C Utilizar os 5 sensos. D Brainstorming. E Educação contínua. A alternativa B está correta. A mudança de condutas e implementação de rotinas em serviço é realizada por meio da educação permanente com o objetivo de estimular mudança de condutas e aquisição de novos conhecimentos em saúde. Questão 2 Um dos papéis importantes do gestor no processo de acreditação está relacionado ao fato de adotar medidas administrativas voltadas para qualificação do serviço. Qual das alternativas abaixo contém uma forma de o gestor integrar as ações de saúde? A Por meio de implementação de novas rotinas. B Realizando levantamento de dados por meio do diagrama de Pareto. C Implementando princípios de qualidade utilizados pela engenharia. D Solicitando auditoria interna. E Analisando o prontuário do paciente. A alternativa C está correta. Uma das formas eficientes de integração de ações utilizadas pelo gestor é implementar os princípios de qualidade utilizados pela engenharia, pois eles identificam e descrevem aspectos considerados importantes no gerenciamento da qualidade. 5. Conclusão Considerações finais A acreditação hospitalar tem demonstrado ser um eficiente indicador de qualidade do serviço de saúde. Por ser um processo de avaliação complexo, além do tempo, necessita de uma pesquisa minuciosa e comparativa, com os parâmetros estabelecidos pela ONA. Com o mercado competitivo, cada vez mais hospitais têm buscado a certificação quanto à qualidade do serviço prestado. Entretanto, a manutenção da qualidade em níveis de excelência exige do gestor e da instituição mudança de hábitos e implantação de boas práticas de saúde. Com a certificação dos serviços de saúde, o nível de satisfação dos pacientes se elevou, e essa demanda por instituições qualificadas fez com que o processo de certificação se tornasse o selo-padrão dos serviços de saúde. Podcast Para concluir este estudo, o podcast traz um resumo dos principais assuntos abordados no conteúdo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Assista ao vídeo Acreditação hospitalar, no espaço aberto para saúde UFF, no YouTube, e veja como o professor Jorge Luiz Lima e a convidada Dra. Regina Elizabeth Müller (IFF/Fiocruz) abordam o tema. Assista ao webinar Tire suas dúvidas sobre o processo de certificação e acreditação, da SBCBM, disponível no YouTube. Pesquise e leia o artigo A comunicação como estratégia para manutenção da acreditação hospitalar e veja como Elana Maria Ramos Freire e os demais autores abordam a necessidade de uma comunicação eficaz entre os profissionais de saúde durante o processo de acreditação. Referências BRASIL. Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. 3. ed. rev. e atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde – Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasília: Anvisa, 2016. p. 68. BRASÍLIA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Manual de acreditação das organizações prestadoras de serviços hospitalares. 4. ed. Organização Nacional de Acreditação, 2003. 202p. CRUZ, P. G. da.; LOLATO, G. (Coord.) Manual para organizações prestadoras de serviço de saúde – OPSS: roteiro de construção do Manual Brasileiro de Acreditação ONA 2022. Edição especial. Brasília: ONA, 2021. 93 p. il. FELDMAN, L. B.; GATTO, M. A. F.; CUNHA, I. C. K. O. História da evolução da qualidade hospitalar: dos padrões à acreditação. Acta Paul. Enferm, 2005, n.18, v.2, p. 213-219. JOAQUIM, F. L. et al. 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