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Doenças víricas138 certain animal diseases. Plum Island animal disease center México – US. Comission for the prevention of fouth-and-mouth disease. 68p. 3. Pellegrin A.O. 1996. Doenças da Reprodução diagnosticadas no Pantanal Matogrossense e Região do Planalto: Resultados Preliminares. Anais. Encontro de Laboratórios de Diagnóstico Veterinário do Cone sul, 1, UFMS, Campo Grande, MS. 68-72. 4. Riet-Correa F., Moojen V., Roehe P.M., Weiblein R. 1996. Viroses confundíveis com febre aftosa: Revisão. Ciência Rural 26: 323-332. ________________ Maedi e Visna são palavras islandesas que significam dispnéia e definhamento, respectivamente, e foram utilizadas por Sigurdsson (10), médico virologista islandês, quando estudou estas duas patologias de desenvolvimento lento e progressivo dos sistemas respiratório e nervoso, que acometeram grande número de ovinos da Islândia. Maedi-Visna foi introduzida naquele país e disseminada em seus rebanhos, após a importação de ovinos da Alemanha, sendo posteriormente erradicada. Maedi já era reconhecida, também, em ovinos dos Estados Unidos da América, porém denominada de pneumonia progressiva dos ovinos (OPP) ou pneumonia progressiva de Montana. Maedi-Visna (MV) é uma enfermidade causada por um Lentivírus, vírus exógeno da família , que possui uma organização genômica complexa. O vírus MV (MVV) possui no seu envelope uma glicoproteína importante, a “gp135”, que induz a formação de anticorpos nos animais infectados. Este vírus possui, também, enzimas como a transcriptase reversa e a integrase, responsáveis pela transcrição do RNA viral em DNA e pela integração PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com Vicente Fernandes Retângulo Vicente Fernandes Retângulo Maedi-visna 139 deste último no genoma da célula hospedeira, facilitando seu escape frente ao sistema imune. O MVV infecta monócitos e macrófagos e relaciona-se antigenicamente com o lentivírus de caprinos, o vírus da artrite-encefalite caprina (CAEV), que se encontra mundialmente difundido e está, também, presente no Brasil. O CAEV e o MVV são denominados, também, de SRLV (“Small Ruminants Lentiviruses”). Estudos de caracterização de isolados brasileiros de MVV têm sido realizados (8,11). Maedi-Visna encontra-se difundida nos rebanhos ovinos de vários países e tem sido motivo de restrições no comércio internacional dessa espécie animal. Em 1977, Cutlip (1) registravam que a OPP, era prevalente em muitas das áreas mais importantes de produção ovina dos Estados Unidos. Watt et al (14), baseando-se nos estudos realizados em rebanho ovino do Reino Unido, onde o MVV foi associado com doenças respiratórias, neurológicas, mastite e claudicação, enfatizaram que a doença alcançaria sua maior prevalência nos próximos anos, facilitada pela difusão lenta do vírus e por apresentar manifestações clínicas de pouca percepção por parte dos criadores. No Brasil, a presença de ovinos infectados pelo MVV foi registrada em 1988 e 1989 no Rio Grande do Sul (2,3), onde 267 amostras de soro ovino, provenientes de 16 municípios do Estado, foram testadas pela técnica de imunodifusão dupla em gel de ágar (AGID), resultando em 10,48% de animais positivos. Nesse trabalho foram testados animais de propriedades com histórico de importação de ovinos de países onde existe MV. Em outra oportunidade, uma pequena amostragem de 18 animais de uma mesma propriedade, em regime semi-extensivo, indicou a presença de MVV em 64% desses ovinos (Laboratório de Virologia, Faculdade de Veterinária UFRGS, 1991. Dados não publicados). Ribeiro (9) encontrou 20 (19%) reagentes em 108 ovinos das raças Texel e Suffolk, oriundos de três cabanhas onde os animais da raça Texel haviam sido, na sua maioria, importados da França e Holanda e os da raça Suffolk dos Estados Unidos e Canadá ou eram descendentes de animais importados desses países. O mesmo autor investigou, também, a presença de anticorpos para o MVV em ovinos da raça Texel em criação extensiva, não encontrando nenhum animal reagente dos 56 soros examinados. O MVV foi isolado de um cordeiro sem sinais clínicos e sem anticorpos para este vírus, no Rio Grande do Sul e, posteriormente, de uma PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com Doenças víricas140 ovelha do Paraná, com 7 anos de idade, que apresentava artrite, perda de peso progressiva, corrimento nasal e mastite (4,5,6). No Chile, Urcelay et al. (13) não encontraram ovinos reagentes à presença de anticorpos para MVV, em amostras de soro coletadas entre o período de junho de 1990 a fevereiro de 1991. Os animais afetados, geralmente, têm idades acima de 3-4 anos. Os ovinos infectam-se, principalmente, pela ingestão de colostro e leite de mães positivas para o MVV. A infecção pode ser adquirida, também, por contato direto prolongado entre animais infectados e suscetíveis, onde os primeiros eliminam vírus juntamente com secreções nasais e aerossóis. Animais com adenomatose pulmonar, freqüentemente, estão infectados, também, pelo MVV. Sugere-se que esse fato deve-se ao grande número de células mononucleares, presentes na adenomatose pulmonar, as quais aumentariam a chance de infecção pelo MVV, pois essas são as células-alvo deste vírus. Ocorrem 4 formas clínicas da doença (respiratória, nervosa, articular e mamite) que apresentam-se juntas ou separadas. Sotomaior e Milczeswki (12) registraram a presença de mastite e artrite em uma fêmea de onde foi isolado o MVV (4,8). Na forma respiratória (Maedi) os ovinos podem apresentar dificuldade respiratória, intolerância ao exercício, emagrecimento crônico e quadros secundários de pneumonia. Na forma neurológica (Visna) os ovinos podem apresentar: incoordenação; andar em círculo; postura anormal da cabeça; nistagmo; paresia gradual posterior, que progride a paralisia; e morte. Apesar da manutenção do apetite há perda progressiva de peso. Esta forma é encontrada com menor freqüência mas era comum nos ovinos da Islândia antes da erradicação da doença. O quadro articular é caracterizado por claudicação e aumento de volume das articulações, principalmente as do carpo e tarso. A artrite pode ser uni ou bilateral. A mamite caracteriza-se pelo endurecimento difuso do úbere e pela presença de pequenos nódulos, só identificados pela cuidadosa palpação; há diminuição da produção de leite. Ao abrir a cavidade torácica não há colapso completo do tecido pulmonar e o pulmão apresenta aumento de peso, podendo alcançar duas a quatro vezes o peso normal, que é em torno de 500g. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com Maedi-visna 141 Podem ser visualizados múltiplos focos de 1-3mm de diâmetro, de coloração acinzentada, que exibem, ao corte, superfície granular e seca. As lesões encontram-se distribuídas em todos os lobos pulmonares. Na forma neurológica não há alteração macroscópica. Na forma articular a artrite não é supurativa; há edema, hiperemia e engrossamento dos tecidos periarticulares. As glândulas mamárias apresentam-se endurecidas. As alterações microscópicas produzidas na infecção por MV caracterizam-se pela infiltração e proliferação de células mononucleares nos diferentes tecidos afetados. Além disto, no pulmão há hipertrofia do tecido conjuntivo e conseqüente engrossamento das paredes alveolares. No sistema nervoso há encefalomielite não supurativa e desmielinização. Nas articulações há hiperplasia, necrose e mineralização da membrana sinovial, além de erosão da superfície articular. Nas glândulas mamárias há hiperplasia folicular e alguma fibrose. O diagnóstico baseia-se nas manifestações clínicas (pneumonia, artrite, mamite ou encefalite) e nos dados epidemiológicos. Deve ser investigado o manejo dos animais, se confinados ou semi-confinados, e se houve introdução de animais oriundos de rebanhos infectados pelo MVV, como, por exemplo, animais importados de países onde há MV. O diagnóstico de infecção pelo MVV sóé confirmado com o auxílio de testes laboratoriais. No diagnóstico laboratorial deve ser levado em consideração que somente um pequeno número de animais infectados pelo MVV desenvolve a doença; entretanto, todos os animais infectados são portadores do vírus, possivelmente por toda a vida, apesar da presença de anticorpos. Portanto, o diagnóstico laboratorial baseia-se na detecção de anticorpos, no isolamento viral ou na detecção de antígenos virais ou de porções correspondentes ao seu genoma. É importante a utilização de testes diagnósticos que contenham como antígeno a glicoproteína de superfície “gp135” do MVV e seu respectivo soro padrão. Os testes mais utilizados são AGID e ELISA. A reação de polimerase em cadeia (PCR) tem sido utilizada em alguns laboratórios de forma mais restrita, pois é, ainda, um teste caro, porém possui alta sensibilidade e especificidade, sendo indicado para animais de valor e para aqueles em que o resultado de outros testes não tenha sido conclusivo. A utilização de testes complementares, nos quais a sensibilidade e especificidade possam ser complementadas PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com Doenças víricas142 objetivando a detecção de um maior número de ovinos infectados é recomendada sempre que possível. Os materiais a serem coletados para diagnóstico laboratorial e que devem ser enviados refrigerados são: 1. soro para AGID e ELISA, ou outro teste como imunofluorescência ou “Western blot”; 2. sangue total com heparina para PCR (a PCR pode ser realizada, também, a partir do leite ou do sêmen); 3. sangue total, assim como leite e, em caso de necropsia, articulações, pulmão, encéfalo e glândula mamária podem ser, também, enviados ao laboratório para o isolamento viral, o que deve ser feito o mais breve possível e sob refrigeração; 4. porções do tecido pulmonar, glândula mamária, encéfalo, medula espinhal e articulações devem ser enviados para histopatologia, obedecendo aos cuidados para uma boa fixação dos tecidos amostrados. A forma respiratória deve ser diferenciada, principalmente, da adenomatose pulmonar. Apesar de haver diferenças nas lesões macroscópicas das duas doenças o diagnóstico diferencial deve ser feito pelo estudo histológico ou pelo isolamento do MVV. A forma nervosa deve ser diferenciada da listeriose, polioencefalomalacia, ataxia enzoótica por carência de cobre e abscessos do sistema nervoso central. No caso de artrites e mastites deve ser realizado o diagnóstico diferencial com agentes bacterianos. Não há tratamento específico para infecção pelo MVV e não há vacina. Recomenda-se o controle da infecção utilizando-se o teste sorológico periódico (uma a duas vezes por ano) nos ovinos acima de 9 meses de idade. O leite ou colostro de fêmeas infectadas com anticorpos para MVV não deve ser fornecido aos cordeiros. Animais positivos devem ser eliminados do rebanho tão breve quanto possível. A separação de rebanhos positivos e negativos, com a eliminação gradativa dos ovinos infectados e o teste periódico dos animais restantes, são medidas eficazes no controle de infecção pelo MVV. Deve ser levado em consideração o fato de que a infecção cruzada entre as espécies ovina e caprina com os SRLV já foi evidenciada experimentalmente (7). 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