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Presidência da República 
Luiz Inácio Lula da Silva 
 
Ministério da Justiça e Segurança Pública 
Enrique Ricardo Lewnadowski 
 
Secretaria Nacional de Segurança Pública 
 Mario Luiz Sarrubo 
 
Diretoria de Ensino e Pesquisa 
Michele Gonçalves dos Ramos 
 
Coordenação-Geral de Ensino 
Ana Claudia Bernardes Vilarinho de Oliveira 
 
Coordenação Pedagógica 
Joyce Cristine da Silva Carvalho 
 
Coordenação de Ensino a Distância 
Renata Guilhões Barros Santos 
 
Gerente de Curso 
Adriana Aparecida Vizzotto 
 
Conteudistas 
Juliana Teixeira de Souza Martins 
Orlinda Cláudia Rosa de Moraes 
Renata Avelar Giannini 
 
Revisão Técnica 
Denice Santiago Santos do Rosário 
 
Revisão Pedagógica 
Evania Santos Assunção Motta 
 
Revisão Textual 
Bruna Carolina da Silva Pereira 
 
Programação e Edição 
Renato Antunes dos Santos 
Fábio Nevis dos Santos 
 
Design Instrucional 
Marcelo Pinto de Assis 
 
 
 
 
Sumário 
1. APRESENTAÇÃO DO CURSO ...................................................................................................... 5 
2. OBJETIVOS DO CURSO .............................................................................................................. 7 
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 7 
2.2 Objetivos Específicos: .................................................................................................................. 7 
3. ESTRUTURA DO CURSO ............................................................................................................. 8 
4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO ....................................................................................................... 9 
4.1 – Módulo I: Protagonismo de mulheres e enfrentamento da violência ................................ 9 
4.1.1 Apresentação do módulo .................................................................................................... 9 
4.1.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 10 
4.1.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 11 
4.1.3.1 Aula 1 – A evolução dos direitos humanos de mulheres........................................... 12 
Evolução do direito das mulheres e meninas ................................................................... 13 
As conferências internacionais de mulheres .................................................................... 16 
Declarações da Assembleia Geral da ONU ........................................................................ 20 
Interseccionalidade e o marco normativo internacional de proteção dos direitos 
humanos das mulheres ..................................................................................................... 21 
Finalizando ........................................................................................................................ 23 
4.1.3.2 Aula 2 - Principais Conceitos e Definições ................................................................. 23 
Sexo ................................................................................................................................... 25 
Gênero e Papéis Sociais de Gênero .................................................................................. 26 
Identidade De Gênero ....................................................................................................... 31 
Sexualidade ....................................................................................................................... 33 
Orientação Sexual ............................................................................................................. 34 
Atenção para não confundir: ............................................................................................ 35 
Igualdade de Gênero e Feminismo ................................................................................... 38 
Patriarcado e o Conceito de Família ................................................................................. 39 
Interseccionalidade ........................................................................................................... 40 
Finalizando ........................................................................................................................ 42 
4.1.3.3 Aula 3 - Sensibilização à violência baseada em gênero ............................................. 43 
Violência psicológica ou emocional .................................................................................. 44 
Violência física ................................................................................................................... 45 
Violência patrimonial ........................................................................................................ 45 
 Violência sexual ................................................................................................................ 45 
Finalizando ........................................................................................................................ 47 
4.1.3.4 Aula 4 - Participação, liderança e protagonismo de mulheres .................................. 48 
Mulheres contribuem para o protagonismo e a estabilidade .......................................... 48 
A agenda sobre mulheres paz e segurança....................................................................... 49 
Resoluções sobre a agenda mulheres paz e segurança .................................................... 51 
A agenda sobre mulheres, paz e segurança no Mundo, na América Latina e no Brasil ... 51 
Finalizando ........................................................................................................................ 53 
4.2 – Módulo II: Violências, estrutura de governança e políticas baseadas em evidências ....... 53 
4.2.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 54 
4.2.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 54 
4.2.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 55 
4.2.3.1 Aula 1 - O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência contra mulheres e 
meninas no Brasil? ................................................................................................................. 56 
A Violência Doméstica ....................................................................................................... 56 
 
 
Violência Sexual................................................................................................................. 61 
Violência Letal ................................................................................................................... 63 
Fique por Dentro ............................................................................................................... 66 
4.2.3.2 Aula 2 - Dados e Evidências na formulação de políticas públicas ............................. 68 
Dados e evidências. Do que estamos falando? ................................................................. 68 
Que fontes de dados existem? .......................................................................................... 72 
Saúde ................................................................................................................................. 73 
Segurança Pública: ............................................................................................................ 74 
Secretarias Estaduais de Segurança Pública: .................................................................... 74 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ........................................................https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/01/28/sp-e-o-estado-brasileiro-que-mais-registrou-mortes-de-transexuais-em-2021-pelo-3oano-consecutivo-diz-levantamento.ghtml
 
 
35 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Desde muito cedo, somos expostos a diversos tipos de mensagens, muitas vezes 
contraditórias. Na família, em instituições religiosas e até mesmo nas escolas, é comum que 
se apresente uma postura conservadora quanto ao sexo. Já a mídia e os amigos tendem a 
tratar mais abertamente do assunto. Independente da abordagem, há sempre uma 
mensagem e uma expectativa de comportamento sendo transmitida. Isso ocorre porque os 
seres humanos, em geral, não limitam a sua sexualidade à reprodução e somam valores 
morais e comportamentos sociais à prática sexual.21 
Quem gosta mais de fazer sexo: o homem ou a mulher? Os estereótipos 
(heteronormativos) de gênero afirmam que os homens são naturalmente mais inclinados aos 
prazeres do sexo e precisam fazê-lo com mais frequência. Já o estereótipo feminino atribui 
às mulheres o plano secundário, coadjuvante, como se as mulheres preferissem o romance 
e gostassem menos da prática sexual. 
Além disso, se uma mulher tem vários parceiros, é depreciada por ser vulgar ou 
"prostituta". O homem, ao contrário, reforça sua masculinidade e é visto como "garanhão". 
Por essa razão, a mulher costuma mentir o número de parceiros sexuais para preservar sua 
reputação, ao passo que o homem tende a aumentar esse número, para mostrar potência e 
virilidade. Essas ideias legitimam, isto é, autorizam socialmente, que homens tenham 
relações fora do casamento ou se preocupem menos com o prazer feminino na hora do sexo. 
Trata-se de um comportamento nocivo não apenas para a sexualidade da mulher, tolhida de 
sua liberdade sexual, mas também para o homem, visto que o incentivo para que eles 
tenham múltiplas parceiras aumenta os riscos de contração de DSTs e HIV. 
 
Orientação Sexual 
 
A orientação sexual refere-se à atração afetiva e sexual por alguém de algum(ns) 
gênero(s). Ainda não há evidências científicas sólidas sobre como a orientação sexual é 
determinada. A perspectiva mais consensual é a de que seja uma combinação de múltiplos 
fatores sociais, psicológicos e biológicos. Do ponto de vista psicológico, não há como 
escolher ser homossexual, heterossexual, bissexual ou assexual, portanto, não se trata de 
opção sexual. 
 
 
 
21 "Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: Manual de Actividades 
Educativas". Projecto Acquire, EngenderHealth e Promundo, 2008. P. 92. Disponível em: 
https://tinyurl.com/y439ztda. 
https://tinyurl.com/y439ztda
 
 
36 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
As categorias correntes são: 
 
Assexual: pessoa que não se sente atraída por nenhum gênero. 
Bissexual: pessoa que se sente atraída afetiva e sexualmente por pessoas de 
qualquer gênero. 
Homossexual: pessoa que se sente atraída afetiva e sexualmente por pessoas do 
mesmo gênero (gays e lésbicas). 
Heterossexual: pessoa que se atrai afetiva e sexualmente por pessoas de outro 
gênero (homem-mulher). 
 
Atenção para não confundir: 
 
i. Orientação sexual e identidade sexual: a primeira indica se a pessoa se sente 
atraída por homens, mulheres ou ambos, em relação a seu próprio gênero. A segunda 
classifica se a pessoa se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Por exemplo, 
uma pessoa bissexual cisgênera é aquela que se identifica com o gênero designado e se 
interessa por ambos os gêneros. Pode ser o caso de uma pessoa do sexo feminino, que se 
identifica como mulher e sente atração por homens e mulheres. Da mesma forma, uma 
pessoa trans, assim como qualquer outra pessoa, pode ser bissexual, heterossexual ou 
homossexual. Por fim, alguém de sexo biológico masculino que se identifica com o gênero 
feminino (transmulher) e sente atração por homens é uma pessoa heterossexual. 
ii. Orientação sexual e papéis ou expressões de gênero: essa confusão é gerada 
pelos conceitos de feminilidade e masculinidade, trabalhados anteriormente. A atribuição de 
comportamentos específicos para pessoas a partir do seu sexo biológico gera problemas de 
generalização e entendimento da orientação sexual de uma pessoa. Um homem que se 
expressa de maneira tida como mais feminina não necessariamente se sente atraído por 
outros homens. Um homossexual, bem como um heterossexual, pode expressar-se de forma 
muito masculina, feminina, ou nenhum dos dois, sem que isso tenha relação com a sua 
orientação sexual. Esta é determinada pelo desejo que a pessoa sente por outras pessoas 
do mesmo gênero ou de gênero distinto. 
Em resumo: o gênero é como a sociedade reconhece a pessoa; a identidade de 
gênero é como ela se identifica e se sente, e a orientação sexual é por quem ela se sente 
atraída. 
 
 
 
37 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 17: Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: 
Manual de Atividades Educativas. 
 
 
Fonte: PROMUNDO, 2008 
 
 
 
 
 
http://promundo.org.br/recursos/envolvendo-meninos-e-homens-na-transformacao-das-relacoes-de-genero-manual/
 
 
38 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Igualdade de Gênero e Feminismo 
 
As diferenças expressas nos conceitos de gênero e na construção dos papéis de 
gênero têm reflexos na vida real. 
- Apesar das mulheres serem metade da população mundial, representam 70% 
das pessoas que vivem em situação de pobreza no mundo, segundo dados da Organização 
das Nações Unidas (ONU).22 
- A média salarial das mulheres é 24% inferior à dos homens.23 
- Em todas as regiões do mundo, as mulheres trabalham mais que os homens: 
realizam em média duas vezes e meia a quantidade de trabalho doméstico e cuidados não 
remunerados realizados por eles.24 
Como exposto anteriormente, os estereótipos de gênero são desvantajosos para as 
mulheres, na medida em que exageram e reforçam comportamentos depreciativos relativos 
à feminilidade, e celebram características tidas como masculinas. Estas desigualdades 
refletem-se, inclusive, nos papéis e funções desempenhados por homens e mulheres na 
sociedade. Mulheres cuidam dos filhos e da casa e os homens adquirem uma profissão. 
Como consequência, a falta de responsabilidade paterna na criação dos filhos e nos 
cuidados da casa, combinada à falta de creches e à dificuldade de concluir os estudos, reduz 
as possibilidades de inserção laboral de mulheres. Estas acabam trabalhando em atividades 
informais, sem garantias de proteção social ou de estabilidade no trabalho. Desse modo, 
para dar conta dos cuidados da família e do lar, as mulheres se veem impedidas de investir 
em sua formação ou de trabalhar fora de casa, o que reforça a desigualdade. 
Neste contexto, a pobreza e a violência contra mulheres estão relacionadas e se 
reforçam mutuamente. Enquanto a violência contra a mulher afeta a sua capacidade 
produtiva e social, a pobreza gera dependência econômica e a dificuldade de sair de 
relacionamentos violentos. 
Percebe-se que as diferenças de gênero, entre o que é esperado da mulher e do 
homem, geram discriminação e preconceito em relação às mulheres, sendo tratadas de 
forma diferente, negativa e limitante. Por isso, os movimentos de mulheres lutam pela 
igualdade de gênero, para que ambos desfrutem do mesmo status e compartilhem as 
 
22 "LA TRAMPA DEL GÉNERO. MUJERES ,VIOLENCIA Y POBREZA." (tradução livre: A Armadilha do 
Gênero.Mulheres, Violência e Pobreza). ANISTIA INTERNACIONAL. Disponível em: 
https://tinyurl.com/3revn64r. 
23 "EL PROGRESO DE LAS MUJERES EN EL MUNDO 2015-2016" (tradução livre: O Progresso das Mulheres 
no Mundo 2015-2016). ONU MULHERES, 2015, página 11. Disponível em: https://tinyurl.com/3r7d2j97. 
24 Ibid. 
https://tinyurl.com/3revn64r
https://tinyurl.com/3r7d2j97
 
 
39 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
mesmas oportunidades, direitos e liberdade de explorar seu potencial individual. A esse 
movimento social e político, denominamos Feminismo. Em linhas gerais, o feminismo prega 
a igualdade de gênero, a maior participação e a valorização da mulher na sociedade e o fim 
da cultura centrada na ideia de que a vida pública é exclusiva aos homens e a privada, a 
mulheres. 
 
Patriarcado e o Conceito de Família 
 
Ao longo da história, a sociedade passou por diversas configurações sociais. Apesar 
de parecer que sempre foi assim e que o nosso modelo de sociedade é "natural", ele é fruto 
de uma construção política e social. Atualmente, nós vivemos sob o modelo patriarcal, no 
qual o homem exerce o poder nas funções sociais, como autoridade, chefe da família, 
responsável pelo trabalho remunerado e detentor de privilégios. No âmbito da família, isso 
se traduz na autoridade do homem sobre a mulher e os filhos, que, inferiores na hierarquia, 
lhe devem obediência. 
Figura 18: Patriarcado 
Fonte: Medium.com 
 
 
 
https://medium.com/qg-feminista/teorias-do-patriarcado-7314938c59b
 
 
40 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Nesse sistema, a família é a base social a partir da qual se constroem outros setores 
da vida em sociedade. A família patriarcal baseia-se na exploração do homem sobre a 
mulher, que fica excluída das possibilidades de participação ativa e relegada às funções de 
reprodução e cuidados dos filhos e do marido. Ao mesmo tempo, a sexualidade do homem 
é reforçada e estimulada, para exercer sua autoridade sobre a mulher. A esta, cabe obedecer 
aos seus anseios, reduzindo a sua sexualidade à satisfação masculina. O objetivo do sexo 
entre os dois é, portanto, proporcionar prazer ao homem. 
Esse modelo é expressão máxima da sociedade da época da agricultura 
escravocrata e apresenta muitos conflitos diante da modernidade. Com a formação de 
grandes cidades, urbanização, industrialização e os avanços tecnológicos, a mulher25 entra 
no mercado de trabalho, passa a desempenhar funções para fora do ambiente privado (do 
lar), a receber salário e a não se dedicar integralmente aos filhos. Essa transição levantou 
questionamentos sobre o tratamento que os homens lhes davam e reforçou o movimento 
feminista em sua reivindicação por igualdade. 
Outro embate do patriarcalismo nos tempos atuais é em relação à família, pois se 
baseia em famílias heterossexuais, compostas por homem, sua mulher e os filhos do casal, 
e rejeita outras formas possíveis de formação familiar, como casais homossexuais e mães 
solteiras (família monoparental). 
Essas questões demonstram que vivemos sob um modelo em ruínas, que não 
consegue acompanhar o avanço da sociedade. Uma das principais dificuldades é convencer 
os homens a renunciarem aos privilégios: se antes eles tinham o poder e o controle, cada 
vez mais passam a ter que compartilhá-lo, em prol de uma sociedade mais justa e igualitária. 
 
Interseccionalidade 
 
Refere-se às relações de poder intrínsecas geradas por identidades sobrepostas que 
têm sido tradicionalmente marginalizadas ou negadas – raça e etnia, religião, idade, 
ruralidade, pessoas portadoras de deficiência, identidade de gênero, orientação sexual, entre 
outras são alguns exemplos dessas identidades. Uma abordagem interseccional significa 
que existe uma consciência sobre as disparidades de poder entre diferentes identidades, que 
frequentemente se sobrepõem e que ações de superação dessas relações de poder devem 
 
25 Vale ressaltar que o patriarcado é um sistema cujo modelo é branco. Os homens negros exercem também 
superioridade em relação às mulheres e reproduzem valores patriarcais devido a seus privilégios masculinos. 
No entanto, a mulher negra sempre esteve no mercado de trabalho informal, em contraponto à mulher branca, 
que ocupava o espaço privado do lar. Isso não significa que a mulher negra estivesse em posição de igualdade 
em relação ao homem. 
 
 
41 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
levar em consideração cada uma dessas camadas identitárias e os riscos e vulnerabilidades 
intrínsecos a elas. 
No campo da violência contra mulheres, por exemplo, sabemos que mulheres negras 
são mais suscetíveis a estarem em situação de violência acumulada com desigualdade 
salarial (estão na base da pirâmide), a exemplo daquelas chefiam famílias monoparentais e 
as que vivem em classe social menos favorecida, o que faz com que as políticas públicas 
não as protejam e não garantam sua segurança efetiva como se propõem. Além disso, são 
estas mulheres que vivem diversos estigmas sociais atrelados à resistência, à dor, à 
coisificação do corpo e à baixa escolaridade, que as colocam nesse lugar. Desta forma é 
notório que as políticas de enfrentamento a este tipo de violência no Brasil não geraram 
resultados para elas, somente, e de forma acanhada, para mulheres brancas. Reforçado nos 
dados a seguir: 
Segundo a plataforma EVA do Instituto Igarapé26, em 2020, todas as formas de 
violência contra a mulher aumentaram. Na realidade, mulheres têm 3,5 vezes mais chances 
de sofrerem violência que homens. Segundo o DATASUS, em 2020, 3.822 mulheres foram 
assassinadas no Brasil, o que representa um aumento de 10% em comparação ao ano de 
2019. No entanto, mulheres não são afetadas da mesma forma pela violência. Mulheres 
negras permanecem entre as principais vítimas e figuram em 67% dos casos de 
assassinatos, em 2020, sendo 61% pardas e 6% pretas. Mulheres brancas correspondem a 
29,5% dos casos e indígenas, 1%. A taxa de homicídio de mulheres indígenas é 2,3 vezes 
maior que a de mulheres brancas. Entre 2000 e 2020, o assassinato de mulheres indígenas 
aumentou em 7 vezes. Já o assassinato de mulheres negras aumentou 45% e o de mulheres 
brancas diminuiu em 33% no mesmo período. Isso mostra que quaisquer que sejam as 
políticas de enfrentamento da violência contra mulheres, elas não têm o mesmo impacto em 
todas as mulheres e uma abordagem interseccional é necessária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 Acesse: eva.igarape.org.br 
https://eva.igarape.org.br/
 
 
42 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
SAIBA MAIS 
 
Entender o conceito de gênero é fundamental para compreender quais as 
expectativas sociais sobre mulheres na sociedade. Estes papéis têm uma relação intrínseca 
com os riscos e as vulnerabilidades que as mulheres enfrentam. Entender a relação entre 
estes papéis e os riscos a que estão submetidas é fundamental para planejar políticas 
adequadas de enfrentamento da violência contra mulheres. 
Para se aprofundar neste assunto, consulte os seguintes materiais: 
Vídeo da ONU: Mulheres sobre a igualdade de gênero: 
https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-vziRc 
A Diferença entre sexo, gênero e orientação sexual: 
https://tinyurl.com/4wuznb3a 
Vídeo sobre gênero fluido da Revista AzMina: 
https://tinyurl.com/37tm8tnt 
 
Finalizando 
Neste módulo, você aprendeu que: 
● O sexo é biologicamente definido, e normalmente determinado pelo 
nascimento. Pessoas transgênero são aquelas que não se identificamcom o sexo que 
nasceram e fazem uma transição. Já o gênero é socialmente construído: difere e varia de 
acordo com a cultura e com o tempo e influencia os papéis, as responsabilidades e 
oportunidades para homens e mulheres. 
● Entender como o gênero, e por consequência, as expectativas sociais sobre os 
papéis de homens e mulheres, impactam o seu dia a dia e os riscos a que estão submetidos, 
é realizar uma análise de gênero. 
● Incluir uma abordagem interseccional significa entender o impacto que outras 
identidades e marcadores sociais têm na vida das pessoas e implementar iniciativas que 
visem superá-las. 
● A igualdade de gênero se refere a direitos, responsabilidades e oportunidades 
iguais para mulheres e homens, meninas e meninos. Igualdade não significa que mulheres 
e homens serão totalmente iguais, e sim que os direitos, as responsabilidades e as 
https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-vziRc
https://tinyurl.com/4wuznb3a
https://tinyurl.com/37tm8tnt
 
 
43 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
oportunidades de mulheres e homens não dependerão do sexo com o qual a pessoa nasce. 
A igualdade de gênero implica que os interesses, as necessidades e as prioridades de 
mulheres e homens sejam levados em consideração, reconhecendo a diversidade dos 
diversos grupos de mulheres e homens. 
● Já o feminismo é uma corrente de pensamento que visa promover a igualdade 
de gênero. Ela não é contrária aos homens. Ela simplesmente preconiza que homens e 
mulheres devem ter os mesmos direitos. 
 
4.1.3.3 Aula 3 - Sensibilização à violência baseada em gênero 
 
 
 
Na Prática 
 
Observe as frases abaixo e indique quais são formas de agressão a mulheres. 
 
➔ Em um momento de raiva, quebrar um objeto que ela gosta de propósito. 
➔ Cantada! 
➔ Seguir uma mulher bonita na rua para conseguir seu telefone. 
➔ Dar umas bebidas a mais para a mulher para conseguir levá-la para cama. 
➔ Compartilhar nudes (fotos nuas) de mulher no whatsapp. 
➔ Beijar à força. 
➔ Na balada, passar a "mão boba" em uma menina com shorts curto. 
➔ Empurrar a mulher. 
➔ Não deixar que a mulher saia com aqueles amigos que você julga serem má 
influência. 
➔ No meio do sexo, tirar a camisinha sem que ela perceba. 
➔ Transar com uma mulher bêbada demais. 
➔ Manipular a mulher para que ela ache que está louca e você escapar de uma briga. 
➔ Após levar um fora da namorada, contar para todo mundo que ela era uma 
vagabunda. 
➔ Tirar foto por baixo do vestido de uma mulher no transporte público. 
➔ Ameaçar contar um segredo se a mulher não transar com você. 
➔ Elogiar uma mulher que passa na rua. 
 
 
44 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
➔ Xingar a mulher que foi grossa ao te dar um fora. 
➔ Controlar o dinheiro que a mulher pode gastar. 
 
 
Se você considerou que alguma dessas frases não é agressão, pergunte-se porquê. 
Todas elas são diferentes tipos de violência contra mulheres. 
 
Antes de falar em violência contra mulheres, gostaria de apresentar o conceito de 
violência baseada em gênero. Como vimos, o gênero refere-se àquelas ideias sobre o que 
mulheres, homens, meninas, meninos e outros grupos de gênero podem ou não fazer em 
nossa sociedade, que papéis eles podem desempenhar. A partir deste conceito, entende-se 
que violência baseada em gênero são agressões físicas ou simbólicas, cujos motivos sejam 
consequência dos padrões e papéis sociais de gênero, de estereótipos, ou de ideias sobre 
o papel que cada um de nós desempenha. O não cumprimento de uma determinada 
expectativa ligada ao seu papel de gênero - por exemplo, a mulher não fazer o jantar, ou 
homem ser muito "afeminado" - torna-se uma razão para a agressão. Mulheres e o grupo 
LGBTQIA+ são os mais atingidos pela violência de gênero. 
L – Lésbicas 
G – Gays 
B – Bissexuais 
T – Transexuais 
Q – Queer 
I – Intersexuais 
A – Assexuais 
+ - Demais orientações sexuais e identidades de gênero 
 
Como este curso fala especificamente sobre a violência contra mulheres, aqui 
estamos tratando de todo tipo de violência cometida contra mulheres, inclusive mulheres 
trans e meninas. A maioria desta violência ocorre porque elas não cumprem com a 
expectativa de gênero. Nestes casos, a violência é uma forma do homem exercer o seu 
poder. 
No Brasil, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é a principal legislação brasileira 
de combate à violência doméstica contra a mulher e classifica as agressões em cinco 
categorias: violência psicológica, violência moral, violência patrimonial, violência física e 
violência sexual. 
 
 
45 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 Violência psicológica ou emocional 
 Humilhação; deboche público; desvalorização moral; desqualificação intelectual; 
piadas ofensivas por ser mulher; restrição da liberdade de crença e prática religiosa; qualquer 
atitude que gere dano psicológico e diminuição da autoestima; que prejudique o pleno 
desenvolvimento da mulher ou vise degradar ou limitar suas ações e comportamentos. Os 
meios de exercer violência emocional podem ser ameaça, constrangimento, insulto, 
manipulação, vigilância, perseguição, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e 
vir ou qualquer outra forma de afetar a saúde psicológica e o exercício do livre arbítrio. 
Violência física 
 Qualquer ofensa à integridade ou à saúde física da mulher, tal como arremessar 
objetos; sacudir ou segurar a mulher com força; dar empurrões, tapas, socos, chutes, puxões 
de cabelo, mordidas; agredir com armas ou objetivos; queimar; coagir a fazer algo contra sua 
vontade, como ingestão forçada de bebida alcoólica e/ou drogas ou ser forçada a participar 
de atividades degradantes, como realizar fetiches. 
 
Violência moral 
 Qualquer ofensa à reputação ou ao bem-estar psicológico que envolva insultos 
relativos à sua condição de mulher - puta, vadia, louca -; xingamentos por rejeitar investida 
afetiva ou sexual; repassar imagens ou informações de caráter íntimo sem autorização. Os 
casos de violência moral recentes têm sido a pornografia de vingança (revenge porn), que 
é o compartilhamento de fotos nuas (nudes) ou vídeos íntimos na internet, por um dos 
envolvidos, sem autorização da mulher exposta, a fim de causar dano à sua reputação. 
 
 Violência patrimonial 
 Controlar, guardar ou tirar o dinheiro de uma mulher contra a sua vontade; guardar 
documentos pessoais; quebrar ou causar danos propositais a objetos; furtar valores, bens, 
documentos ou instrumentos de trabalho. Qualquer ofensa ao patrimônio da mulher como 
forma de atingi-la. 
 
 Violência sexual 
 Toques ou carícias não desejadas ou não consentidas (ação popularmente conhecida 
e naturalizada como "mão boba"); forçar a prática de atos sexuais, estupro, tentativa de 
estupro, abuso de vítima sob o efeito de álcool e/ou drogas ou sem condições de consentir; 
forçar gravidez ou aborto; impedir o uso de método contraceptivo; retirar a camisinha sem 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
que a parceira perceba ou sem consentimento; beijar à força. A violência sexual, além de 
gerar traumas para a vítima, pode resultar em gravidez indesejada e aumentar o risco de 
contração de DSTs e infecção por HIV. 
Há duas formas de violência psicológica pouco notadas como agressões. O 
comportamento controlador de homens sobre suas esposas, ao não as deixar sair, ao 
impedir ou restringir o contato com suas famílias e amigos, ou ainda investigar seus celulares 
e e-mails.Da mesma forma, fazer a mulher achar que está ficando louca ou que não sabe 
mais o que diz (gaslighting) é uma forma de abuso mental enquadrada como violência 
emocional, através do qual o homem distorce os fatos e manipula situação para fazer a vítima 
duvidar de sua memória ou estabilidade mental. 
A Lei Maria da Penha define ainda como violência doméstica e familiar contra a 
mulher: 
 
Art.5 "(...) qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos 
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por 
vontade expressa; 
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de 
orientação sexual.27 
 
A outra definição legal de violência contra a mulher está no Código Penal brasileiro 
e prevê o feminicídio como modalidade de homicídio qualificado. O feminicídio é o 
assassinato de mulheres pela razão de ser do sexo feminino; e/ou se envolver violência 
doméstica e familiar; e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
A violência contra a mulher costuma ser uma violência baseada no gênero e tem 
embasamento em uma discriminação, uma ideia de como as pessoas devem agir. Na 
perspectiva machista, considera-se que uma mulher que tem múltiplos parceiros é vulgar e, 
portanto, não é digna de respeito. Um homem que concorde com essa ideia e observe tal 
comportamento em sua mulher, filha ou conhecida, tende a reagir negativamente e a 
discriminá-la de alguma forma em seu convívio social, seja não contratando para um serviço, 
ofendendo à sua reputação ou a agredindo física ou sexualmente. Em resumo, a quebra de 
 
27 LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: LEI Nº 11.340/2006. Acesso em 04/06/2017. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
um papel de gênero leva o homem a não identificar aquela mulher como merecedora de 
direitos ou de respeito. 
Para verificar se houve violência de gênero, vale refletir se aquela agressão teria tido 
lugar se invertêssemos os papéis. Se, ao substituirmos a mulher por um homem, a violência 
perder o sentido motivador, significa que foi uma violência contra o gênero feminino, por ser 
mulher. Essa é uma boa estratégia para desnaturalizar comportamentos. 
 
Finalizando 
 
Neste módulo, você aprendeu que: 
 
 
 
 
 
A principal legislação nacional sobre a violência doméstica, no Brasil, é a Lei 
Maria da Penha. Ela também indicou que existem cinco formas de cometer 
violência contra mulheres; 
 
 
 
 
A violência moral refere-se a atos difamatórios sobre uma mulher, atentando-se 
contra sua honra, dignidade e dizendo coisas sobre ela que não são verdades; 
 
 
 
 
A violência psicológica tem como principal foco coibi-la. É quando existem 
xingamentos e ameaças, por exemplo; 
 
 
 
 
A violência patrimonial ocorre quando há o controle sobre os bens dessas 
mulheres, inclusive dinheiro, objetos pessoais, documentos, entre outros; 
 
 
 
 
Já a violência física refere-se à violência que as atinge fisicamente: além do 
impacto emocional, inclui chutes, tapas, pontapés; 
 
 
 
 
A violência sexual refere-se a qualquer ato sexual forçado, carícias não 
consentidas etc.; 
 
 
 
 
Todos os tipos de violência contra mulheres atentam à sua integridade física e 
emocional e devem ser combatidos. Não há um tipo mais grave do que outro e 
todos estão codificados no código penal. 
 
 
1 
2 
4 
5 
5 
6 
3 
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.1.3.4 Aula 4 - Participação, liderança e protagonismo de mulheres 
 
Na Prática 
Vocês sabiam que a presença de mulheres na formulação de políticas e ações de 
enfrentamento da violência contra elas mesmas aumenta em grande medida as chances 
de que estas políticas deem certo? 
Pensem na profissão que cada um de vocês desempenha no sistema de segurança 
pública. As mulheres são a maioria ou a minoria? Por quê? E mais importante, considerando 
tudo que vocês já aprenderam até aqui: como vocês acham que a presença de mulheres 
pode contribuir para que ações voltadas ao enfrentamento da violência tenham medidas 
mais eficazes? 
 
Mulheres contribuem para o protagonismo e a estabilidade 
 
 
É isso mesmo. A presença de mulheres na vida pública do Estado e a forma como 
são tratadas tem uma relação íntima com a prosperidade, a estabilidade e o desenvolvimento 
dos países.28 Por exemplo, o grau em que elas estão envolvidas na política está 
correlacionado, por exemplo, a níveis de corrupção e renda nacional e à probabilidade de 
conflito armado.29 Observa-se, ainda, que países com níveis de crescimento relativamente 
altos e com baixos índices de desigualdade de renda tendem a ter mais mulheres no 
parlamento e maior proporção de mulheres inseridas no mercado de trabalho.30 Além disso, 
identificou-se que a presença de mulheres em órgãos legislativos gera efeitos positivos para 
questões sociais, particularmente, saúde e educação.31 O Banco Mundial estima que a 
eliminação do hiato no acesso à educação entre meninos e meninas aumentaria o PIB 
mundial em cerca de 5,4%32. Além de impulsionar o crescimento econômico, o maior 
investimento na educação de mulheres e meninas também contribui para a redução de 
elevadas taxas de fertilidade e da mortalidade materna e infantil.33 
 
28 Ver: Hudson (2012). Além disso, para acessar o projeto de Woman Stats, de Hudson, ver: 
https://tinyurl.com/449ybjxu. 
29 Ver: https://tinyurl.com/2zae7j6p. 
30 Ver: https://tinyurl.com/bdhea9du. . 
31 Ver:https://tinyurl.com/mtrshju6. 
32 Ver:https://tinyurl.com/yevh8zd3. 
33 Ver: https://tinyurl.com/4krr4hea. 
https://tinyurl.com/449ybjxu
https://tinyurl.com/2zae7j6p
https://tinyurl.com/bdhea9du
https://tinyurl.com/mtrshju6
https://tinyurl.com/yevh8zd3
https://tinyurl.com/4krr4hea
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
E não é só isso, a presença de mulheres em ações relacionadas à paz e à segurança 
também tem um impacto. O trabalho seminal de Laurel Stone comprova que a participação 
de mulheres em processos de paz aumenta sua durabilidade. Stone e outras acadêmicas 
feministas que a seguiram mostraram que isso ocorre justamente porque mulheres acabam 
priorizando questões sociais relacionadas às raízes do conflito e não somente a outras mais 
imediatas relacionadas ao cessar fogo.34 
E o que tudo isso tem a ver com vocês? Eu diria que tudo. Para começar, gostaria 
de contar para vocês sobre uma agenda da ONU, a agenda sobre mulheres, paz e 
segurança, que fala do protagonismo de mulheres em ações da paz e da segurança. 
 
A agenda sobre mulheres paz e segurança 
 
No ano 2000, após pressões de inúmeros grupos feministas, o Conselho de 
Segurança da ONU aprovou a Resolução 1325 que inaugurou esta agenda. Nela, 
reconheceu-se que a guerra gera impactos diferenciados para homens, mulheres, meninos, 
meninas e outras com pessoas de identidades de gênero diferentes. Isso ocorre justamente 
por conta daqueles papéis de gênero e expectativas sociais que conversamos em aulas 
anteriores. Essa resoluçãoreconheceu ainda que é preciso promover a participação de 
mulheres na resolução destas guerras e conflitos, pois elas trazem uma perspectiva única e 
que geralmente é excluída dessas mesas de negociações. 
Esta resolução foi fundamental para que a igualdade de gênero fosse tratada em 
ainda mais um âmbito que ela era geralmente ignorada, o da guerra. Foi a partir daí também, 
que se reconheceu que a violência sexual em contexto de conflito é um crime contra a 
humanidade e ela foi incluída no rol de atribuição do Tribunal Penal Internacional em 2003. 
A violência sexual, no entanto, não é o único tipo de violência cometida contra 
mulheres em contextos de conflitos. Ela é apenas a face mais visível e já foi, 
comprovadamente, utilizada como uma arma de guerra. Grupos rivais utilizam a violência 
sexual como forma de enfraquecer grupos rivais, atacando a sua masculinidade e a 
expectativa do papel de proteção que homens deveriam exercer. Ela ainda é usada como 
tática de genocídio, em especial se combinada à esterilização forçada, ou gravidez forçada, 
como forma de eliminar uma etnia. Enfim, são infelizmente muitas as formas de violência. 
Mas o importante aqui é destacar que ela não surge na guerra e nem é o único tipo de 
violência que afeta mulheres. 
 
34 Stone (2014); Paffenholts (2015a, 2015b, 2015c); O`Reilly et al (2015) 
 
 
50 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Na realidade, a raiz deste e dos outros tipos de violência é justamente a 
desigualdade de gênero e a crença de que mulheres desempenham um status inferior em 
nossas sociedades. Assim, a violência em conflito, é resultado de uma desigualdade que 
existe antes desse conflito e que continua após esse conflito. Qualquer atividade de proteção 
precisa ser combinada com ações relacionadas à promoção da igualdade. Além disso, 
também ficou comprovado que nesse contexto mulheres são as principais vítimas de todos 
os tipos de violência, à exceção da violência letal. Novamente, isto ocorre em função das 
expectativas sociais que existem sobre mulheres. Os novos conflitos têm um impacto 
desproporcional na população civil, e na maioria das vezes, mulheres são relegadas às 
funções de cuidado. 
Ainda que esta agenda reconheça esse impacto desproporcional e específico em 
mulheres, ela também fala do seu potencial de transformação. Afinal, nem todas as mulheres 
ficam confinadas aos cuidados. Diversas mulheres vão para o fronte como combatentes, seja 
de grupos armados, seja como parte das forças de segurança e defesa de Estados. Elas 
participam ativamente da guerra inclusive como combatentes. E não é só isso. Mesmo 
aquelas que ficam para trás em suas comunidades, muitas vezes desempenham um papel 
de mediação com esses grupos, permitindo o acesso de ajuda humanitária, acesso a escolas 
para seus filhos, proteção de hospitais. Há ainda aquelas que estão no suporte às ações de 
combate, fazendo as refeições daqueles que vão para o fronte. Enfim, como podem, ver são 
muitas as funções que mulheres desempenham, sejam no combate, seja no apoio, seja no 
cuidado. Qualquer que seja essa função, ela precisa ser reconhecida, visibilizada e apoiada. 
Para sua referência, após a Resolução 1325, outras dez foram elaboradas pelas 
Nações Unidas. Um resumo delas está no quadro abaixo. Na próxima seção falaremos sobre 
o que essa agenda tem a ver com você. 
 
 
 
 
51 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Resoluções sobre a agenda mulheres paz e segurança 
 
► Resolução 1325 (2000): participação plena e igualitária das mulheres; 
impactos desproporcionais dos conflitos armados sobre mulheres e meninas. 
► Resolução 1820 (2008): uso da violência sexual como tática de guerra 
► Resolução 1888 (2009): disposições para prevenir e combater a violência 
sexual; Representante Especial do Secretário-Geral sobre Violência Sexual em Conflitos 
► Resolução 1889 (2009): indicadores de progresso para Resolução 1325 
(2000); participação plena e igualitária das mulheres; necessidades particulares de 
mulheres e meninas 
► Resolução 1960 (2010): relatórios sobre violência sexual em conflitos 
armados; compromissos específicos e com prazos definidos de combate à violência sexual 
► Resolução 2116 (2013): impunidade e violência sexual 
► Resolução 2122 (2013): implementação 1325; participação da sociedade 
civil; estudo global sobre a 1325. 
► Resolução 2242 (2015): traz temas emergentes, como extremismo violento, 
pandemias, entre outros. 
► Resolução 2467 (2019)): abordagem centrada em sobreviventes para 
prevenir e responder à violência sexual 
► Resolução 2493 (2019): implementação da 1325; mulheres em processos 
de paz; direitos das mulheres; sociedade civil. 
 
A agenda sobre mulheres, paz e segurança no Mundo, na América Latina e no Brasil 
 
Como vocês devem imaginar, uma resolução abordando este tema trouxe de fato 
impactos grandes para o campo da paz e da segurança. O principal deles foi uma abertura 
cada vez maior de posições e carreiras que têm sido tradicionalmente fechadas para 
mulheres, como as forças armadas e as polícias. O pensamento é o seguinte. Se precisamos 
de mais mulheres atuando nestes contextos, inclusive por meio de operações de paz, então 
cada país precisa ter mais mulheres atuando nessas posições no âmbito nacional. E foi isso 
que a ONU pediu. Desde 2005, a ONU tem solicitado aos países para enviar mais mulheres 
uniformizadas e mais mulheres civis para atuar em suas forças de paz, promovendo a paz 
nesses ambientes de guerra. 
Foi nesse contexto que o Brasil elaborou o seu primeiro Plano Nacional de Ação 
sobre a agendas Mulheres, Paz e Segurança, e foi lá que reconheceu que é preciso incluir 
mais mulheres brasileiras nas forças policiais e militares do Brasil, como forma de propiciar 
a oportunidade para que o país efetivamente contribua com estes esforços internacionais. 
Desde então, a participação de mulheres brasileiras policiais e militares nesses esforços 
melhorou muito. Mas será que falar desta agenda no Brasil é possível? Afinal, o Brasil não é 
 
 
52 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
um país em guerra. Ao menos não se fala da concepção tradicional de guerra. E é 
exatamente este o ponto que queria abordar. 
Na América Latina e no Brasil, especificamente, enfrentamos dinâmicas conflitivas, 
a partir da atuação do crime organizado que tem um impacto desproporcional nas 
populações locais, inclusive mulheres e meninas, justamente pelas expectativas sociais de 
que tanto falamos. É por isso que é preciso ter uma atenção especial para este público 
nessas áreas, em que o Estado tem dificuldade de acessar. E a presença de mulheres, 
profissionais da segurança pública para acessá-las, servir como modelo e referência é 
fundamental. A presença de mulheres na segurança pública afetará os tipos de ações 
dedicadas ao enfrentamento da violência contra mulheres, as ações que observam o impacto 
que dinâmicas criminais e conflitivas têm neste grupo e contribuirá para que se tornem mais 
eficazes, aperfeiçoando a eficácia operacional das operações. 
Mulheres são necessárias em todos os níveis. Tanto em um nível estratégico 
pensando nestas políticas, como no nível tático, no terreno, observando o impacto na ponta. 
Elas não são as únicas capazes de desempenhar este trabalho, mas, em razão dos papéis 
sociais a que elas também estiveram sujeitas, tendem a colocar atenção em aspectos que 
os homens prestam menos atenção. Por isso, vamos promover o protagonismo das mulheres 
no enfrentamento da violência e convocar os homens para atentar a estes aspectos também.SAIBA MAIS 
Existe uma enorme gama de materiais que tratam desta agenda no Brasil. Acesse 
por exemplo: 
Renata Giannini et. al. "A agenda sobre mulheres, paz e segurança no contexto 
latino-americano: desafios e oportunidades". Artigo Estratégico Instituto Igarapé (mar/2018. 
Disponível em: https://tinyurl.com/2p8k3kpp. 
Renata A. Giannini. “Promover gênero e construir a paz: a experiência brasileira”. 
Artigo Estratégico Instituto Igarapé, (Set/2014). Disponível: https://tinyurl.com/7k599ent. 
Renata A. Giannini; Denise Hirao. "Identificar desigualdades para planejar uma paz 
duradoura no Brasil". Advocacy Paper. Gender Associations (Dez/2020). Disponível: 
https://tinyurl.com/2972ehex. 
 
 
https://tinyurl.com/2p8k3kpp
https://tinyurl.com/7k599ent
https://tinyurl.com/2972ehex
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Finalizando 
 
Neste módulo aprendemos que: 
⚫ A agenda sobre mulheres, paz e segurança trata do protagonismo de mulheres 
em ações relacionadas à paz e à segurança. Isso porque a presença de mulheres 
promovendo acordos de paz mais duradouros e a forma como os países tratam as suas 
mulheres podem gerar estabilidade e prosperidade; 
⚫ Apesar desta agenda ter sido lançada com foco em guerras tradicionais, as 
novas tendências mostram que há outros desafios complexos que ela pode abordar, como a 
presença do crime organizado e seu impacto em mulheres. Neste contexto, é preciso 
observar o impacto que estas dinâmicas conflitivas têm em mulheres no Brasil; 
⚫ A presença e o protagonismo de mulheres em ações de enfrentamento da 
violência contra mulheres em todos os níveis, do mais estratégico ao tático, contribuirá para 
que suas necessidades sejam devidamente atendidas, colocará mulheres em posição de 
cooperar para buscar soluções de um problema que as afeta e, em suma, terá um impacto 
positivo na eficácia operacional das operações e ações. 
 
 
 
 
54 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2 – Módulo II: Violências, estrutura de governança e 
políticas baseadas em evidências 
Figura 19: Cenário da Violência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Correio Braziliense 
4.2.1 Apresentação do módulo 
 
No primeiro módulo você conheceu os marcos normativos internacionais e a 
evolução histórica dos direitos humanos de mulheres, aprendeu também conceitos 
importantes para começar a entender um pouco mais sobre as violências baseadas em 
gênero, os aspectos legais relacionados a essas violências e a importância do protagonismo 
das mulheres. 
Dando continuidade ao nosso curso, o Módulo II vai trazer o panorama da violência 
de gênero no Brasil e abordar a importância dos dados na construção de políticas de 
proteção e enfrentamento e de que maneira o profissional de segurança pública pode 
contribuir. Além disso, apresentaremos a estrutura de governança para o enfrentamento da 
violência contra as mulheres no país, bem como a importância do trabalho em rede e do 
trabalho dos profissionais do SUSP. 
 
 
 
 
55 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2.2 Objetivos do módulo 
 
Este módulo tem por objetivos: 
 
⚫ Compreender o contexto da violência contra meninas e mulheres no Brasil; 
⚫ Conhecer a estrutura de governança para enfrentamento da violência contra 
mulheres no Brasil; 
⚫ Reconhecer como dados e evidências são importantes para informar as 
políticas públicas; 
⚫ Descrever a importância da produção de dados e registros dos atendimentos 
realizados pelos profissionais do SUSP; 
⚫ Identificar a importância da atuação em rede no enfrentamento das violências 
contra mulheres e meninas 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2.3 Estrutura do módulo 
 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
 
Aula 01. O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência contra 
mulheres e meninas no Brasil? 
1.1. A Violência Doméstica 
1.2. Violência Sexual 
1.3. Violência Letal - Feminicídios e Homicídios Dolosos de Mulheres 
Aula 2. Dados e Evidências na formulação de políticas públicas 
2.1. Dados e evidências. Do que estamos falando? 
2.2. Que fontes de dados existem? 
2.3. A importância dos registros feitos pelos profissionais do SUSP 
 
Aula 3. Governança e a importância do trabalho em rede 
3.1. Estrutura de Governança do Enfrentamento das violências contra as mulheres 
no Brasil 
3.2. O que é trabalho em rede? 
3.3. A(s) rede(s) de proteção 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2.3.1 Aula 1 - O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência 
contra mulheres e meninas no Brasil? 
 
Como vimos no módulo anterior, as violências contra meninas e mulheres se 
constituem como um tipo muito complexo de violência. São inúmeros os tipos, as causas e 
as maneiras de enfrentamento. 
É fundamental que o profissional do SUSP compreenda as especificidades das 
violências de gênero para que possa se preparar adequadamente para enfrentá-las. 
Dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública35 mostraram que em 
2022 todos os tipos de violências contra as mulheres aumentaram em comparação com o 
ano anterior. Cresceram os registros realizados pelas secretarias de segurança pública de 
crimes como: agressões decorrentes de violência doméstica, ameaças, feminicídios, 
homicídios dolosos, tentativas de feminicídio e os estupros. Aumentaram também os 
chamados para o 190, número de emergência das polícias militares, para casos de violência 
doméstica. Em 2022 foram 102 chamados por hora. O olhar analítico para o conjunto 
desses fatores é fundamental para que possamos compreender o cenário e, a partir dos 
dados, sermos capazes de traçar estratégias de enfrentamento. 
As diferentes violências contra a mulher, se não forem interrompidas, podem 
culminar na expressão mais extrema desse tipo de violência, que é o feminicídio. 
Durante essa aula vamos entender um pouco mais sobre o que essas diferentes 
violências significam e o que e quais dados disponíveis nos dizem a respeito. 
A Violência Doméstica 
 
A violência doméstica, como mencionado no módulo anterior, é definida na Lei 
11.340/2006, Lei Maria da Penha, da seguinte forma: 
 
“art. 5º (...) configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe 
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem 
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram 
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.” 
 
35 O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é uma publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e 
está em sua 17ª edição. O Anuário se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública 
estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontesoficiais da Segurança Pública. Disponível 
em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/ 
https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A Lei Maria da Penha deixa bem claro que a violência doméstica e familiar configura-
se como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que tenha como resultados morte, 
sofrimento ou abuso, sejam esses de ordem física, material ou psicológica. 
A definição em Lei é importante porque é ela que vai nortear os trabalhos dos 
profissionais do SUSP desde o registro ou atendimento de uma ocorrência até seu desfecho 
ou encaminhamento. 
Os dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, referente à 2022, mostram 
que todos os indicadores de violência doméstica cresceram em comparação com o ano 
anterior. As secretarias estaduais de segurança pública informaram que houve um aumento 
de 2,9% nos registros de agressões por violência doméstica, 7,2% nos de ameaça e 8,2% 
nos chamados para o 190, o número de emergência das Polícias Militares, resultando em 
102 acionamentos por hora. 
Figura 20: Crescem todos os indicadores de violência doméstica.36 
 
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2023, pg 16 
A violência doméstica quando causada por parceiro íntimo se caracteriza por um 
relacionamento abusivo, onde nem sempre ocorre violência física, mas que costuma ser 
caracterizado por um ciclo específico, no qual há o que chamamos de “escalada da 
violência”. A violência cresce, escala e não diminui. O que pode ocorrer é uma alternância 
entre momentos de tensão e momentos de aparente tranquilidade. São as chamadas fases 
da violência doméstica, que merecem nossa atenção e que podem ser entendidos da 
seguinte maneira: 
 
 
 
36 Números referentes a registros do ano 2022. 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf
 
 
59 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 21: Ciclo da violência. 
 
Fonte: Instituto Maria da Penha (IMP) 
 Quadro 1: Fase 1 - Aumento da Tensão Quadro 2: Fase 2 - Ato de Violência 
AUMENTO DA TENSÃO 
Nesse primeiro momento, o agressor 
mostra-se tenso e irritado por coisas 
insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. 
Ele também humilha a vítima, faz ameaças e 
destrói objetos. 
A mulher tenta acalmar o agressor, fica 
aflita e evita qualquer conduta que possa 
“provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, 
angústia, ansiedade, medo e desilusão são 
apenas algumas. 
Em geral, a vítima tende a negar que isso 
está acontecendo com ela, esconde os fatos das 
demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez 
algo de errado para justificar o comportamento 
violento do agressor ou que “ele teve um dia ruim 
no trabalho”, por exemplo. Essa tensão pode 
durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada 
vez mais, é muito provável que a situação levará 
à Fase 2. 
ATO DE VIOLÊNCIA 
Esta fase corresponde à explosão do 
agressor, ou seja, a falta de controle chega ao 
limite e leva ao ato violento. Aqui, toda a tensão 
acumulada na Fase 1 se materializa em violência 
verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. 
Mesmo tendo consciência de que o 
agressor está fora de controle e tem um poder 
destrutivo grande em relação à sua vida, o 
sentimento da mulher é de paralisia e 
impossibilidade de reação. Aqui, ela sofre de uma 
tensão psicológica severa (insônia, perda de 
peso, fadiga constante, ansiedade) e sente medo, 
ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, 
confusão e dor. 
Nesse momento, ela também pode tomar 
decisões − as mais comuns são: buscar ajuda, 
denunciar, esconder-se na casa de amigos e 
parentes, pedir a separação e até mesmo 
suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento 
do agressor. 
https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html
 
 
60 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Quadro 3: Fase 3 - Arrependimento e comportamento carinhoso 
ARREPENDIMENTO E COMPORTAMENTO CARINHOSO 
Também conhecida como “lua de mel”, esta fase se caracteriza pelo arrependimento do 
agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e 
pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem 
filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que “vai 
mudar”. 
Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as 
mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a 
demonstração de remorso, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência 
entre vítima e agressor. 
Um misto de medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos sentimentos da mulher. Por 
fim, a tensão volta e, com ela, as agressões da Fase 1. 
Fonte: Instituto Maria da Penha (IMP) 
 
Essas fases da violência doméstica constituem um grande desafio para a proteção 
das mulheres que se encontram nessas situações e para a atuação dos profissionais de 
segurança pública. 
Inseridas no contexto da violência, as mulheres costumam sentir medo, culpa e, 
muitas vezes, esperança de que o homem vai mudar e que a violência cessará. Algumas 
vezes as mulheres podem até pedir ajuda, ligar para o 190, por exemplo, mas isso nem 
sempre significa que irão adiante com a denúncia. Podem voltar atrás e depois chamar por 
ajuda e voltar atrás novamente. Por isso, precisamos estar prontas e prontos para acolher 
essas mulheres tantas vezes quantas forem necessárias. 
Em 2021 foram tipificados os crimes de “stalking”, que é a perseguição, e o de 
violência psicológica. Como são crimes de recente tipificação, não conseguimos fazer 
comparações com anos anteriores, mas os dados mostram que os números registrados não 
são desprezíveis, como podemos ver abaixo. Em relação às medidas protetivas de urgência 
concedidas, observamos um aumento de 13,7% em relação ao ano anterior. Mas por que 
essas informações são importantes? 
 
 
 
 
https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html
 
 
61 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 22: 155 casos diários de Stalking. 
 
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2023, pg 16 
 
Mencionamos anteriormente que a violência doméstica possui fases que marcam um 
processo de escalada da violência. Se a violência não for interrompida ela pode culminar na 
morte dessa mulher. Stalking e violência psicológica são, portanto, fatores de risco para o 
feminicídio. Ao olharmos para os números dessas violências, somado ao aumento das 
medidas protetivas concedidas, temos um quadro bastante preocupante que nos revela que 
as violências contra as mulheres vêm crescendo. Por outro lado, isso nos dá a oportunidade 
de intervir e criar projetos e políticas de proteção. 
 
SAIBA MAIS 
Você conhece a história da Maria da Penha? 
Clique aqui para conhecer a mulher que dá o nome a uma das leis mais importantes 
do nosso país para o enfrentamento da violência contra a mulher. 
 
A promotora do Ministério Público de São Paulo, Silvia Chakian, fala no USP Talks, 
sobre os diversos aspectos relacionados à violência contra a mulher. 
 
 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf
https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html
https://www.youtube.com/watch?v=N4lYFc0h36w62 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Violência Sexual 
Conforme vimos no módulo anterior, a violência sexual é entendida como 
“(…) qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação 
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou 
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que 
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.” (LEI 11.340/06). 
 
A descrição acima não é capaz de dar conta da complexidade desse tipo de 
violência, permeada por muita culpa, vergonha e medo. Por conta disso, as violências 
sexuais são as mais subnotificadas e não só aqui no Brasil. Estudo recente divulgado por 
pesquisadores do IPEA indicou que apenas 8,5% dos estupros no Brasil são reportados às 
polícias e 4,2% pelos sistemas de informação da saúde. Assim, segundo a estimativa 
produzida pelos autores, o patamar de casos de estupro no Brasil é da ordem de 822 mil 
casos anuais. 
Dados recentes sobre violência sexual apontam que em 2022 tivemos uma explosão 
nos registros de estupro. Dos 74.930 registros, 18.110 são estupros e 56.820 são estupros 
de vulnerável. 
 
Você sabe o que é estupro de vulnerável? 
 
O art. 217-A do código penal define que: 
 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) 
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
§ 1 o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, 
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática 
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei 
nº 12.015, de 2009) 
Fonte: LEI Nº 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009 
 
Compreender a diferença entre estupro e estupro de vulnerável é fundamental para 
endereçarmos as ações de enfrentamento. Mais importante ainda é compreender onde 
acontecem essas violências, qual o perfil das vítimas e dos agressores. 
Se em nosso imaginário social prevalece a ideia de que esse tipo de violência 
acontece principalmente à noite, quando a mulher é surpreendida por um desconhecido em 
um beco escuro, os dados divulgados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram 
uma realidade bem diferente - por isso a importância dos dados para que conheçamos a 
realidade. Os dados mostram que, em 68,3% dos casos, a violência aconteceu na residência 
da vítima. Mostrou também que 6 em cada 10 vítimas tinham entre 0 e 13 anos. Nessa faixa 
https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/11814
https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/11814
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12015.htm
 
 
63 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
etária, em 86,1% dos casos o agressor era alguém conhecido, sendo um familiar em 64,4% 
das ocorrências. O horário em que ocorreram os estupros e estupros de vulneráveis também 
nos dão pistas importantes: enquanto os estupros acontecem mais à noite e na madrugada, 
os estupros de vulnerável, que tem crianças como principais vítimas, ocorrem 
majoritariamente entre 06h e 18h. 
Figura 23: Horário que ocorreu o estupro de vulnerável. 
 
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, 2023, pg.160 
Portanto, quando nos referimos às violências sexuais, especialmente aos estupros 
e estupros de vulnerável que ocorreram em 2022: 
“(...) estamos falando de um tipo de violência essencialmente intrafamiliar, que acontece em casa, 
durante o dia, e que tem como principais vítimas pessoas vulneráveis. Esses são fatores que tornam o 
enfrentamento a esse tipo de violência sexual extremamente desafiador”. Provavelmente estamos lidando aqui 
com situações de violências de gênero muito arraigadas, imbricadas e naturalizadas nas relações familiares e 
que são, portanto, transmitidas através das gerações. Esse contexto faz com que seja muito difícil para as 
vítimas reconhecerem as violências que sofrem e, quando o fazer, terem muita dificuldade em denunciar ou 
buscar ajuda. Dada a complexidade, as respostas às violências sexuais não são simples e precisam considerar 
as diversas camadas do problema” (FBSP, 2023, pg 160) 
 
https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
SAIBA MAIS 
 
Ouça essa entrevista de Samira Bueno, Diretora Executiva do Fórum Brasileiro de 
Segurança Pública para a Natuza Nery no Podcast “O Assunto”, do G1, comentando a 
Explosão de Estupros no Brasil em 2022. 
 
 
Leia a entrevista da médica e sexóloga forense, Mariana Ferreira, sobre o trabalho 
que realiza atendendo vítimas de violência sexual: 
“Ela atende vítimas de estupro no IML, de bebês de dias a senhora de 80 anos” 
 
Violência Letal 
 
Quando falamos de violência letal contra as mulheres, estamos falando 
principalmente de dois tipos de violência: o feminicídio e o homicídio doloso de mulheres. 
Qual a diferença entre eles? 
Os crimes letais estão definidos no Código Penal, lei brasileira de 1940. No capítulo 
I, dos crimes contra a vida, o art. 121 discorre sobre o “matar alguém”, que abarca o homicídio 
simples, o homicídio qualificado, o homicídio culposo, o infanticídio e o aborto, e dispõe sobre 
a variação da pena a cada um desses atos, considerados crimes. Um homicídio é 
considerado doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 
Em 2015 foi sancionada a Lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do feminicídio, 
que introduz um qualificador na categoria de crimes contra a vida, alterando o Código Penal 
de 1940, e mudando também a categoria dos chamados crimes hediondos, acrescentando 
nessa categoria o feminicídio. Agora, é possível qualificar um homicídio contra uma mulher 
pela condição do sexo feminino. E, considera-se que existem razões de condição do sexo 
feminino quando o crime envolve a violência doméstica e familiar, mas também menosprezo 
ou discriminação à condição de mulher, o caracterizando também como um crime de ódio. 
https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/07/21/violencia-sexual-maioria-das-criancas-sofreu-abuso-entre-segunda-e-sexta-revela-forum-brasileiro-de-seguranca-publica.ghtml
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/09/30/sexologa-criminal-do-iml-ja-atendi-bebe-de-7-dias-a-senhora-de-80-anos.htm
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A alteração da seção dos crimes hediondos (lei nº 8.072/90), que inclui o feminicídio 
na mesma categoria, resultou na necessidade de se formar um Tribunal do Júri (júri popular), 
para julgar os réus de feminicídio. 
 
PARA REFLETIR 
Por que é importante tipificar o assassinato de mulheres? Por que é necessário descortinar 
essa violência enquanto um crime cometido pela condição de gênero, evidenciando quando 
uma mulher é assassinada por ser mulher? 
 
A Lei do Feminicídio é uma conquista para todas as mulheres e a sociedade em 
geral. Poder compreender com mais profundidade as violências que acometem as mulheres 
é fundamental. Como mencionado anteriormente, feminicídios são crimes de ódio e resultado 
de um processo que engloba outros tipos de violências contra as mulheres. Portanto, são 
crimes evitáveis,mas fazem parte de um continuum complexo, que apenas a criminalização 
não vai dar conta de resolver, como aponta a advogada Carmen Hein de Campos, no Dossiê 
Feminicídio elaborado pela Agência Instituto Patrícia Galvão: 
 
“O feminicídio é a ponta do iceberg. Não podemos achar que a criminalização do feminicídio vai dar conta da 
complexidade do tema. Temos que trabalhar para evitar que se chegue ao feminicídio, olhar para baixo do 
iceberg e entender que ali há uma série de violências. E compreender que quando o feminicídio acontece é 
porque diversas outras medidas falharam. Precisamos ter um olhar muito mais cuidadoso e muito mais atento 
para o que falhou.” 
 
A luta de mulheres brasileiras e da América Latina e Caribe contribuiu para que 
avançássemos com a tipificação do feminicídio: 
 
“o movimento legislativo na região tem como objetivo comum identificar as mortes de mulheres no conjunto de 
homicídios que ocorrem em cada país para dimensionar o fenômeno das mortes intencionais de mulheres por 
razões de gênero e tirá-lo da invisibilidade resultante da falta de dados estatísticos. Nesse sentido, nomear as 
mortes violentas de mulheres como femicídio ou feminicídio faz parte das estratégias para sensibilizar as 
instituições e a sociedade sobre sua ocorrência e permanência na sociedade, combater a impunidade penal 
nesses casos, promover os direitos das mulheres e estimular a adoção de políticas de prevenção à violência 
baseada no gênero”. (ONU MULHERES, 2016) 
 
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/como-evitar-mortes-anunciadas/
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/como-evitar-mortes-anunciadas/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Desde a promulgação da Lei, em 2015, os registros de casos de feminicídio por parte 
das autoridades policiais vêm aumentando. É possível dizer que esse aumento é decorrente, 
certamente, de uma melhora nos registros, mas não só. A mudança na lei exigiu dos 
profissionais de segurança pública e sistema de justiça, uma mudança no olhar para as 
mortes violentas de mulheres, desde a investigação, o processo criminal, até o julgamento 
desses crimes. Tornou-se necessária a incorporação da lente de gênero no trabalho desses 
profissionais. Assumir um olhar de gênero nos sistemas de segurança e justiça é um caminho 
sem volta. Cada vez mais a atuação profissional exige a adequação de protocolos e 
procedimentos, algo que será abordado com mais detalhes no Módulo 3. 
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública traz os dados mais recentes sobre a 
violência letal contra as mulheres, apontando um crescimento nos feminicídios, na tentativa 
de feminicídios, mas também nos homicídios femininos, conforme quadro abaixo: 
Figura 24: Crescimento da Violência contra a Mulher. 
 
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023 
 
 A análise mais detalhada dos dados, considerando perfil da vítima, local do 
crime e relação entre autor e vítima, nos mostra que em 2022 morreram mais mulheres 
negras (61,1%) e a maioria em idade reprodutiva, entre 18 e 44 anos (71,9%). Em 83,7% 
dos casos, o autor da violência é alguém conhecido da vítima: principalmente o parceiro 
íntimo (53,6%), o ex-parceiro íntimo (19,4%) e algum familiar (10,7%). Sete em cada dez 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
mulheres foram mortas dentro de casa. Assim como o que vimos em relação à violência 
sexual, os feminicídios ocorrem principalmente no contexto doméstico e familiar. A casa das 
meninas e mulheres é o local onde estão mais vulneráveis às violências. 
Por isso a necessidade de incorporar e aprofundar o olhar de gênero na atuação 
profissional. Compreender o contexto em que essas violências acontecem é muito 
importante e imprescindível se quisermos salvar mulheres de mortes e outras violências. 
SAIBA MAIS 
Uma das consequências mais graves dos feminicídios no Brasil, são os filhos que 
ficam órfãos após essa violência. 
Assista à matéria da TV Brasil sobre os Órfãos do Feminicídio para saber mais. 
No Senado Federal está em tramitação o Projeto de Lei n° 1185, de 2022, que visa 
criar a Política Nacional de Proteção e Atenção Integral aos Órfãos e Órfãs de 
Feminicídios, voltada para a proteção e promoção de atenção multisetorial a crianças e 
adolescentes menores de dezoito anos de idade cujas mães responsáveis legais tenham 
sido vítimas de feminicídio. 
 
Fique por Dentro 
 
Em agosto de 2023, por unanimidade de votos, o STF declarou inconstitucional o 
uso da tese de legítima defesa da honra em crimes de feminicídio ou de agressão contra 
mulheres. O julgamento é resultado da Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) 779, protocolada em janeiro de 2021. 
A tese da legítima defesa da honra nunca esteve prevista em nosso ordenamento 
jurídico, mas era utilizada com frequência em casos de feminicídio e agressões de mulheres, 
como justificativa para o comportamento violento do agressor. A manifestação do STF pela 
inconstitucionalidade dessa tese é fundamental porque reconhece, como bem disse a 
Ministra Rosa Weber, que: 
 
“não há espaço para a restauração dos costumes medievais e desumanos do 
passado pelos quais tantas mulheres foram vítimas da violência e do abuso em defesa 
da ideologia patriarcal fundada no pressuposto da superioridade masculina pela qual 
se legitima a eliminação da vida de mulheres”. 
 
https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhos-da-reportagem/2023/05/orfaos-do-feminicidio
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/153035
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Com isso, o Superior Tribunal Federal afasta de uma vez por todas as possibilidades 
da utilização de argumento que se aproxime da legítima defesa da honra, não somente nos 
Plenários do Júri, mas também nas Varas de Violência Doméstica, Cíveis, Trabalhistas, 
Criminais e de Família. 
SAIBA MAIS 
 STF retoma julgamento sobre validade da legítima defesa da honra 
Acesse o link: 
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/01/stf-retoma-julgamento-sobre-
validade-da-legitima-defesa-da-honra.ghtml 
 
 
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/01/stf-retoma-julgamento-sobre-validade-da-legitima-defesa-da-honra.ghtml
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/01/stf-retoma-julgamento-sobre-validade-da-legitima-defesa-da-honra.ghtml
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2.3.2 Aula 2 - Dados e Evidências na formulação de políticas públicas 
 
Na aula anterior nós aprofundamos aspectos relacionados à violência doméstica, 
violência sexual e violência letal contra mulheres, a partir dos dados mais recentes, 
disponibilizados pelas secretarias estaduais de segurança pública, compilados e analisados 
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 
No entanto, quando falamos de dados e evidências no Brasil, estamos nos referindo 
a um campo bastante complexo e que precisa ainda melhorar muito. Existem diferentes 
fontes de dados e informações que podem (e devem) subsidiar o trabalho de gestores, 
profissionais e pesquisadores da área. Infelizmente, ainda não contamos com um banco de 
dados nacional e nem com um registro unificado, embora já tenhamos instrumento legal para 
tal. 
Na segunda aula do Módulo 2, vamos aprender sobre dados e evidências na 
formulação de políticas públicas, a partir das fontes disponíveis e a importânciados registros 
e informações produzidos pelos profissionais do SUSP. 
 
Dados e evidências. Do que estamos falando? 
 
A primeira aula do módulo apresentou o cenário da violência contra as mulheres a 
partir dos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro 
de Segurança Pública, uma organização da sociedade civil que coleta, compila, padroniza e 
publica estatísticas referentes à violência no país. Esses dados são obtidos via Lei de Acesso 
à Informação (LAI)37, tendo como fonte as bases de dados encaminhadas pelas próprias 
secretarias estaduais de segurança pública e polícias estaduais. São registros de crimes em 
geral e dados sobre a estrutura e financiamento da segurança pública, com o intuito de dar 
transparência a informações importantes para nortear a construção de políticas públicas 
efetivas e garantir a melhoria da Segurança Pública no país. 
Obter dados para a construção de políticas públicas é iniciativa fundamental se 
queremos empreender esforços e recursos de maneira inteligente e responsável. Mas essa 
não é uma tarefa simples. 
Existem diferentes fontes de dados, diferentes maneiras de registrar informações e 
na maioria das vezes os dados disponíveis não são comparáveis. Cada setor faz (ou deveria 
fazer) seu próprio registro, sem que haja uma padronização. Em 2021 foi sancionada a lei 
 
37 LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.527-2011?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.527-2011?OpenDocument
 
 
70 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
14.232, que institui a Política Nacional de Dados e Informações relacionadas à Violência 
contra as Mulheres (PNAINFO)38, que tem como objetivo reunir, organizar, sistematizar e 
disponibilizar dados e informações atinentes a todos os tipos de violência contra as mulheres. 
A Lei prevê ações importantes, que podem fazer toda a diferença no campo do 
enfrentamento das violências que citamos ao longo desse curso. As ações são: 
✓ Integração das bases de dados dos órgãos de atendimento à mulher em 
situação de violência no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; 
✓ Produção e gestão transparente das informações sobre a situação de violência 
contra as mulheres no País; 
✓ Incentivo à participação social por meio da oferta de dados consistentes, 
atualizados e periódicos que possibilitem a avaliação crítica das políticas públicas de 
enfrentamento da violência contra as mulheres. 
Através das ações acima, a PNAINFO pretende: 
✓ Subsidiar a formulação, o planejamento, a implementação, o monitoramento 
e a avaliação das políticas de enfrentamento da violência contra as mulheres; produzir 
informações com disponibilidade, autenticidade, integridade e comparabilidade sobre todos 
os tipos de violência contra as mulheres; 
✓ Manter as informações disponíveis em sistema eletrônico para acesso rápido 
e pleno, ressalvados os dados cuja restrição de publicidade esteja disciplinada pela 
legislação; 
✓ Integrar e subsidiar a implementação e avaliação da Política Nacional de 
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à 
Violência contra as Mulheres; 
✓ Padronizar, integrar e disponibilizar os indicadores das bases de dados dos 
organismos de políticas para as mulheres, dos órgãos da saúde, da assistência social, da 
segurança pública e do sistema de justiça, entre outros, envolvidos no atendimento às 
mulheres em situação de violência; 
✓ Padronizar, integrar e disponibilizar informações sobre políticas públicas de 
enfrentamento da violência contra as mulheres; 
✓ Atender ao disposto nos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, 
no que tange à produção de dados e estatísticas sobre a violência contra as mulheres. 
 
38 PNAINFO 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14232.htm
 
 
71 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Para conseguir alcançar os objetivos propostos, a lei prevê ainda a criação, por parte 
do poder público, do Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra 
as Mulheres que deverá reunir informações e dados sobre os registros administrativos, 
sobre os serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência e 
sobre as políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. Ou seja, um 
mapeamento completo de todos os aspectos necessários para a construção de uma política 
mais eficiente de proteção, onde estarão contidas as seguintes informações: 
✓ local, data, hora da violência, meio utilizado, descrição da agressão e tipo de 
violência; 
✓ perfil da mulher agredida, incluídas informações sobre idade, raça/etnia, 
deficiência, renda, profissão, escolaridade, procedência de área rural ou urbana e relação 
com o agressor; 
✓ características do agressor, incluídas informações sobre idade, raça/etnia, 
deficiência, renda, profissão, escolaridade, procedência de área rural ou urbana e relação 
com a mulher agredida; 
✓ histórico de ocorrências envolvendo violência tanto da agredida quanto do 
agressor; 
✓ ocorrências registradas pelos órgãos policiais; 
✓ inquéritos abertos e encaminhamentos; 
✓ quantidade de medidas protetivas requeridas pelo Ministério Público e pela 
mulher agredida, bem como das concedidas pelo juiz; 
✓ quantidade de processos julgados, prazos de julgamento e sentenças 
proferidas; 
✓ medidas de reeducação e de ressocialização do agressor; 
✓ atendimentos prestados à mulher pelos órgãos de saúde, de assistência social 
e de segurança pública, pelo sistema de justiça e por outros serviços especializados de 
atendimento às mulheres em situação de violência; e 
✓ quantitativo de mortes violentas de mulheres. 
Para a implantação da referida política, está prevista a criação de um comitê formado 
por representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, coordenado por órgão 
do Poder Executivo Federal. As UFs e municípios poderão aderir à Política mediante 
instrumento de cooperação federativa. 
Infelizmente, a Lei ainda não saiu do papel e, para tal, vai precisar superar muitos 
obstáculos, a começar pela integração das bases de dados de todos os órgãos de 
 
 
72 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
atendimento às mulheres em situação de violência. Hoje, por exemplo, os registros de 
atendimento das polícias militares e civis não são integrados e ambos também não se 
conectam com os registros do Judiciário. Na prática, isso significa que, se uma mulher que 
for atendida pela PM, numa chamada de 190 para violência doméstica, e esse chamado não 
resultar em denúncia ou prisão e, num outro dia a mesma mulher for assassinada pelo 
mesmo agressor, em ocorrência dessa vez atendida pela Polícia Civil, para investigar as 
circunstâncias da morte, não há como saber que ela tinha acionado a polícia antes. Mesmo 
que tenha chamado 10 vezes. A menos que se tenha o testemunho de alguém ou a confissão 
do próprio agressor. Os sistemas das duas organizações não conversam. E mais, se uma 
mulher tiver uma medida protetiva em um estado, mudar para outro, o agressor for atrás dela 
e ela for assassinada, é bem provável que não se saiba (ou demore-se a saber) sobre a 
existência dessa medida protetiva. Não são apenas os setores diferentes que não 
conversam, como segurança e justiça. Informações estaduais também não são trocadas 
mesmo quando estamos falando de um mesmo setor, ainda que estejamos nos referindo às 
polícias de um mesmo75 
Sociedade Civil................................................................................................................... 75 
A importância dos registros feitos pelos profissionais do SUSP ....................................... 77 
4.2.3.3 Aula 3 - Governança e a importância do trabalho em rede ...................................... 79 
Estrutura de Governança da proteção de mulheres no Brasil .......................................... 79 
Disque 100 e Ligue 180 ..................................................................................................... 84 
O que é trabalho em rede? ............................................................................................... 84 
A(s) rede(s) de proteção.................................................................................................... 86 
Como Funciona.................................................................................................................. 87 
Finalizando ........................................................................................................................ 89 
4.3 – Módulo III: Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o enfrentamento da 
violência contra mulheres ...................................................................................................... 90 
4.3.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 90 
4.3.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 90 
4.3.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 91 
4.3.3.1 Aula 1 – O papel dos órgãos de segurança pública no enfrentamento da violência 
contra mulheres e meninas. .................................................................................................. 93 
Introdução ......................................................................................................................... 93 
 Violência contra a mulher é um problema de segurança pública ................................... 94 
O enfrentamento da violência contra a mulher como parte da política de segurança 
pública ............................................................................................................................... 97 
Finalizando ...................................................................................................................... 100 
4.3.3.2 Aula 2 - Legislação aplicada na proteção de mulheres e meninas em seus aspectos 
práticos. ............................................................................................................................... 101 
Introdução ....................................................................................................................... 101 
Aspectos Gerais da Legislação e Aplicação Prática ......................................................... 104 
Definindo a Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ........................................ 105 
As Formas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ..................................... 106 
Aspectos Do Atendimento Às Mulheres Em Situação De Violência Doméstica ............. 107 
Mas o que é revitimização? ............................................................................................ 108 
Aspectos do Atendimento às Vítimas de Crimes Sexuais ............................................... 110 
Medidas Protetivas de Urgência ..................................................................................... 115 
Finalizando ...................................................................................................................... 117 
4.3.3.3 Aula 3: Identificando a violência contra mulheres e meninas ................................ 118 
 Introdução ...................................................................................................................... 118 
Principais aspectos da violência contra a mulher ........................................................... 118 
Análise de risco ............................................................................................................... 119 
Dimensões da avaliação de risco .................................................................................... 120 
Fatores de Risco .............................................................................................................. 121 
Fatores de proteção ........................................................................................................ 122 
 
 
Classificação e gestão do risco ........................................................................................ 123 
Gestão de Risco ............................................................................................................... 123 
Plano de Segurança ......................................................................................................... 123 
Formulário Nacional de Avaliação do Risco (FONAR) ..................................................... 124 
Finalizando ...................................................................................................................... 127 
4.3.3.4 Aula 4: Identificando o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota 
crítica” das vítimas de violência. .......................................................................................... 128 
Introdução ....................................................................................................................... 128 
Atuação da segurança pública com perspectiva de rede ............................................... 128 
Rota crítica ...................................................................................................................... 131 
E o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota crítica” das vítimas de 
violência?......................................................................................................................... 131 
Finalizando ...................................................................................................................... 133 
4.3.3.5 Aula 5: A atuação da segurança pública de modo integrado com os diferentes atores 
da rede proteção e enfrentamento. .................................................................................... 134 
Introdução ....................................................................................................................... 134 
Atuação Integrada ........................................................................................................... 134 
 Vantagens de trabalhar de forma integrada .................................................................. 135 
Desafios do trabalho integrado ....................................................................................... 136 
A segurança pública no contexto de integração operacional ......................................... 137 
Finalizando ...................................................................................................................... 140 
4.3.3.6 Aula 6: Serviços especializados no atendimento a mulheres e meninas no âmbito da 
segurança pública. ............................................................................................................... 141 
Introdução ....................................................................................................................... 141 
As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher ................................................ 142 
Atribuições das DEAMs ................................................................................................... 143 
Patrulhas e Rondas Maria da Penha ............................................................................... 146 
Principais características e modelo de atuação: .............................................................estado. Por isso é tão importante a articulação nacional, para que 
essas informações, que são tão valiosas, possam ser compartilhadas no interesse das 
mulheres em situação de violência e na prevenção de violências. 
Não basta, portanto, haver o registro dos 
dados e das informações, eles precisam estar 
disponíveis para que aquele ou aquela, interessadas 
na própria proteção, na pesquisa e estudos sobre um 
determinado aspecto ou, principalmente, no 
desenvolvimento de ações e projetos de 
enfrentamento e proteção possam utilizar, aprofundar 
ou comparar com outras informações disponíveis. 
Uma boa política pública se faz com 
diagnóstico, implementação de ações, monitoramento 
e avaliação. Para se fazer o diagnóstico, ou seja, 
conhecer o problema ou contexto no qual deseja-se 
atuar, são necessários dados e informações. São o 
ponto de partida. Mas se estamos dizendo que nossas informações não estão disponíveis 
ou que são precárias e insuficientes, como é que conseguiremos fazer bons projetos e 
políticas capazes de atender o propósito de proteger meninas e mulheres? 
A política pública baseada em evidências se resume em, de maneira bem objetiva, 
minimizar o uso de intuição ou achismos na formulação de políticas públicas, substituindo-
Figura 25: Diga não à violência 
Fonte: TJ Amapá - Twitter 
https://twitter.com/Tjap_Oficial/status/1278720228726317057
https://twitter.com/Tjap_Oficial/status/1278720228726317057
 
 
73 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
os pelo uso de evidências robustas a respeito do problema em foco, do processo e dos 
métodos de avaliação. Trata-se de estabelecer um processo de decisão baseado em 
informações de alta qualidade, uso de dados e boa capacidade analítica. A construção das 
evidências nas quais as políticas serão baseadas exige a transparência dos métodos, da 
maneira de aplicação, controle e avaliação, de forma a possibilitar a reprodução e confiança 
nos resultados. 
A seguir, vamos apresentar diferentes fontes de informação que vão ajudar na 
construção desse caminho em busca das evidências, tão importantes para as políticas 
públicas. 
 
Que fontes de dados existem? 
 
Como mencionado anteriormente, existem diversas fontes de dados que podem 
ajudar àqueles que querem se aprofundar e conhecer mais a respeito das violências que 
afetam as mulheres brasileiras e dos serviços de atendimento e proteção existentes. 
Registros de ocorrências policiais, notificações dos profissionais de saúde, sistematização 
de informações por parte das organizações da sociedade civil, pesquisas acadêmicas e 
pesquisas de vitimização são fontes de informação importantes para compor o cenário e as 
diferentes perspectivas dos contextos de violência. 
As pesquisas de vitimização são importantes porque buscam mapear 
subnotificações, informações de pessoas que foram vítimas de algum crime ou violência e 
que, por qualquer que seja o motivo, não fizeram registro em nenhum órgão oficial. 
Abaixo elencamos algumas fontes de dados existentes que possuem distintas 
origens e finalidades, mas que podem ajudar você que pretende entender melhor sobre as 
diferentes violências que assolam as mulheres diariamente: 
 
 
 
 
74 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Fonte: SINAN 
Saúde 
 
Figura 26: Sistema de Informação de Agravos de Notificação. 
39 
 
SIM - Sistema de informações sobre Mortalidade. 
 
O acesso às informações sobre mortalidade estão disponível nos seguintes endereços e 
formas: 
Para tabulação On-Line: 
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def 
Permite aos usuários tabular os dados por meio de aplicativo de fácil manejo 
chamado Tabnet; 
Para Download dos Micro Dados: 
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0901&item=1&acao=26&pad=3165
5 
Para tabulação de dados: 
Para realização de tabulações é disponibilizado pelo DATASUS a ferramenta TabWin, 
para download da ferramenta acesse: 
http://www.datasus.gov.br/tabwin; 
Painéis: para acesso aos painéis de mortalidade acesse o link: 
https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-de-conteudos/paineis-de-monitoramento/mortalidade/ 
A Secretaria de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde publica e disponibiliza, 
anualmente, o livro "Saúde no Brasil", as edições mais recentes de tais publicações 
estão disponíveis no endereço: 
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/publicacoes-svs 
Fonte: Apresentação - SIM - CGIAE - DAENT - SVS/MS (aids.gov.br) 
 
 
39 Saiba mais em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva_instrutivo_violencia_interpessoal_autoprovocada_2ed.pdf 
 
 SINAN: SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO 
“O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é alimentado pela notificação e 
investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação 
compulsória (Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de Setembro de 2017), mas é facultado a estados 
e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua região. Sua utilização permite a 
realização de diagnóstico da ocorrência de um evento na população, podendo fornecer subsídios para 
explicações causais dos agravos de notificação compulsória, além de vir a indicar riscos aos quais as 
pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a identificação da realidade epidemiológica de 
determinada área geográfica. A notificação individual de violência interpessoal e 
autoprovocada é compulsória nos casos cujas vítimas são crianças, adolescentes, 
mulheres e pessoas idosas. O Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes incluiu 
também os(as) indígenas, as pessoas com deficiência e a população LGBT, 
considerando a maior vulnerabilidade desses grupos. 
Fonte: https://portalsinan.saude.gov.br/ 
 
https://portalsinan.saude.gov.br/
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0901&item=1&acao=26&pad=31655
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0901&item=1&acao=26&pad=31655
http://www.datasus.gov.br/tabwin
https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-de-conteudos/paineis-de-monitoramento/mortalidade/
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/publicacoes-svs
https://svs.aids.gov.br/daent/cgiae/sim/apresentacao/
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva_instrutivo_violencia_interpessoal_autoprovocada_2ed.pdf
 
 
75 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
 
Segurança Pública: 
 
Figura 27: SINESP: Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas. 
 
Fonte: Sinesp 
 
Secretarias Estaduais de Segurança Pública: 
 
Reúnem registros administrativos realizados pelas Secretarias de Segurança 
Pública, seja de ocorrências ou atendimentos realizados pelas polícias civil e militar. Algumas 
secretarias disponibilizam as informações em seus sites institucionais. Alguns estados (e 
municípios) possuem uma publicação periódica com dados específicos sobre violência 
contra a mulher, como o Rio de Janeiro, que tem o “Dossiê Mulher”, elaborado pelo Instituto 
de Segurança Pública e que traz não apenas os dados, mas análises sobre os mesmos, 
numa contribuição importante para a proteção das mulheres no Rio de Janeiro. 
 
 
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-seguranca/seguranca-publica/sinesp-1/o-sinesp-1/o-sinesp
https://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=212
 
 
76 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
 
O IBGE publica aMunic - pesquisa de informações básicas municipais onde a cada 
quatro anos sai o suplemento sobre segurança pública onde é possível encontrar 
informações sobre as delegacias especializadas de atendimento às mulheres em situação 
de violência. 
Sociedade Civil 
 
 Fórum Brasileiro de Segurança Pública: 
 
Anuário Brasileiro de Segurança Pública se baseia em informações fornecidas pelas 
secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre 
outras fontes oficiais da Segurança Pública. A publicação é uma ferramenta importante para 
a promoção da transparência e da prestação de contas na área, contribuindo para a melhoria 
da qualidade dos dados. Além disso, produz conhecimento, incentiva a avaliação de políticas 
públicas e promove o debate de novos temas na agenda do setor. 
https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/ 
Atlas da Violência busca retratar a violência no Brasil principalmente a partir dos dados do 
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos 
de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. https://forumseguranca.org.br/atlas-da-
violencia/ e https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/ 
Pesquisa Visível e Invisível - a Vitimização de Mulheres no Brasil foi realizada pelo 
Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2017, 2019, 2021 e 2023 com o intuito levantar 
informações sobre a percepção da violência contra a mulher e sobre a vitimização sofrida 
segundo os tipos de agressão, o perfil da vítima e as atitudes tomadas frente à violência. 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-
relatorio.pdf 
 
 Instituto Igarapé 
 
A EVA - Evidências sobre Violências e Alternativas para mulheres e meninas, é uma 
plataforma de visualização que reúne conteúdo relevante para informar políticas públicas 
voltadas para a prevenção, redução e eliminação da violência contra mulheres na América 
Latina. A ferramenta mapeia casos de diversos tipos inicialmente em três países: Brasil, 
https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/
https://forumseguranca.org.br/atlas-da-violencia/
https://forumseguranca.org.br/atlas-da-violencia/
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf
https://eva.igarape.org.br/
 
 
77 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Colômbia e México. Os dados, que chegam ao nível municipal, estão detalhados por idade, 
raça e tipo de instrumento utilizado. A plataforma mostra também a evolução dos direitos 
humanos das mulheres e da igualdade de gênero, e explora a implementação de iniciativas 
focadas na violência contra mulheres. 
 
 Instituto Patrícia Galvão 
 
O Dossiê Feminicídio é uma ferramenta de suporte para que interessados de 
diversas áreas: imprensa, academia, terceiro setor, governo, movimentos sociais e 
interessados em geral possam pautar e debater questões fundamentais, cobrar direitos e 
desconstruir discriminações, contribuindo para evitar que mortes anunciadas sigam 
acontecendo sem provocar impacto na opinião pública e nem respostas satisfatórias das 
instituições do Estado. 
No Dossiê estão reunidas diversas pesquisas, dados, documentos e legislações de 
referência. O instituto entrevistou diversas pessoas, entre especialistas, pesquisadores, 
operadores da área do direito, de outras áreas que atendem vítimas, entre outros. O 
resultado foi sistematizado em uma plataforma interativa para acesso via internet, com 
conteúdos organizados para garantir a autonomia de quem acessa o Dossiê, seja para 
consultas específicas ou para saber mais sobre o tema de um modo geral. 
 
 Monitor Da Violência - G1, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Núcleo 
de Estudos da Violência/USP 
 
O Monitor da Violência é uma parceria do FBSP com o G1 e o Núcleo de Estudos da 
Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP). O projeto começou em 2017, quando 
230 jornalistas apuraram e escreveram as histórias de 1.195 pessoas que morreram de forma 
violenta no país. Desde então, o painel monitora mensalmente os homicídios, latrocínios e 
lesões corporais seguidas de morte no país. 
 
 Antra - Associação Nacional de Travestis e Transexuais 
 
Publicam anualmente dossiê com dados sobre os assassinatos da população 
LGBTQIA+: https://antrabrasil.org/assassinatos/ 
 
 
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/
https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/
https://antrabrasil.org/assassinatos/
 
 
78 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 Instituto DataSenado 
 
O Instituto reúne informações e estatísticas oficiais para subsidiar a atuação 
parlamentar do Senado Federal. 
https://www.senado.leg.br/institucional/datasenado/paineis_dados/#/?pesquisa=viol
encia_domestica_familiar 
 
 Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) 
 
Reúne e sistematiza as estatísticas oficiais sobre a violência contra a mulher; 
promove estudos e pesquisas, levantamento de estatísticas e outras informações relevantes, 
que levem em consideração o grau de parentesco, a dependência econômica e a cor ou 
etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, para a sistematização de dados a serem unificados nacionalmente, 
e para a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; em apoio ao trabalho da 
Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal e a Comissão Permanente Mista de 
Combate à Violência contra a Mulher40. Em parceria com o Instituto DataSenado, elaborou o 
Painel Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, uma plataforma interativa para 
visualização, análise e download dos resultados das pesquisas de opinião sobre violência 
contra a mulher. O levantamento é feito a cada dois anos e a série histórica tem início em 
2005. 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv 
 
A importância dos registros feitos pelos profissionais do SUSP 
 
Nós vimos anteriormente como ter dados e evidências qualificadas são importantes 
para a construção de políticas públicas mais eficientes. Por isso, é fundamental que os 
profissionais do SUSP criem ou estimulem a cultura de registro dos atendimentos realizados 
com o maior número de informações possível. De registros os atendimentos de chamados 
no 190 para violência doméstica, no caso das polícias militares, aos boletins de ocorrência 
online ou nas delegacias de polícia, no caso das polícias civis. Quanto mais informações 
disponíveis como raça/etnia, cor, idade, relação entre vítima e autor, melhor. 
 
40 https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/pdfs/resolucao-no-7-de-2016 
https://www.senado.leg.br/institucional/datasenado/paineis_dados/#/?pesquisa=violencia_domestica_familiar
https://www.senado.leg.br/institucional/datasenado/paineis_dados/#/?pesquisa=violencia_domestica_familiar
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/pdfs/resolucao-no-7-de-2016
 
 
79 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Se eu não registro é como se determinado fenômeno não existisse. Ao fazer os 
registros adequadamente, o profissional do SUSP vai conseguir ter clareza sobre de que 
maneira violência contra as mulheres é ou não uma demanda que se apresenta e de que 
forma precisa se preparar para atuar no enfrentamento. 
Os registros feitos devem ser capazes de traduzir o fenômeno que se querobservar/estudar e prevenir, no caso de crime e violência. 
 
SAIBA MAIS 
Veja, na prática, como utilizar dados e evidências em projetos e políticas locais! 
Conheça a experiência do NÚCLEO DE ESTUDO E PESQUISA EM VIOLÊNCIA DE 
GÊNERO E NÚCLEO POLICIAL INVESTIGATIVO DO FEMINICÍDIO – TERESINA (PI) 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=Nqm_cfj08k4
https://www.youtube.com/watch?v=Nqm_cfj08k4
 
 
80 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.2.3.3 Aula 3 - Governança e a importância do trabalho em rede 
Para refletir antes de começa 
 
 Fonte: O que o sol faz com as flores, 2018, p. 213 
 
Estrutura de Governança da proteção de mulheres no Brasil 
 
No primeiro módulo do curso você aprendeu sobre a evolução dos direitos humanos 
das mulheres e os marcos normativos mais importantes para que pudéssemos chegar onde 
estamos. Todos esses aspectos, obviamente, tiveram um impacto decisivo nos rumos e 
aspectos do enfrentamento da violência contra as mulheres no Brasil, especialmente por 
parte do poder público. Como a história nos mostra, o movimento organizado de mulheres 
teve e ainda tem um papel fundamental e indispensável na aprovação de leis, influenciando 
a criação de políticas e denunciando violências. 
A partir, portanto, da atuação desses movimentos sociais no Brasil e no mundo e, à 
medida em que os direitos humanos das mulheres foram sendo conquistados e 
consolidados, conforme abordado no Módulo 1, as políticas para as mulheres foram sendo 
desenhadas pelos governos e, no Brasil, temos alguns marcos importantes que nos ajudam 
Figura 28: Legado 
 
 
81 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
a entender como a estrutura de governança da proteção de mulheres está orientada em 
nosso país, a partir de planos, pactos e legislações federais. 
 
“a criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres pelo Governo Federal, no ano de 
2003, e com a realização de conferências nacionais, cujas diretrizes levaram à formulação dos Planos 
Nacionais de Políticas para as Mulheres. A complexidade e a abrangência do problema da violência contra 
mulheres exigiram do Governo brasileiro alterações significativas na formulação e implementação de suas 
políticas públicas, motivo pelo qual os Planos Nacionais de Política para Mulheres buscaram instituir a 
integração entre diversas agências públicas, níveis governamentais e setores sociais para que a atuação estatal 
ocorresse de forma satisfatória. No período entre 2005 e 2015, foram elaborados pelo Governo Federal três 
Planos Nacionais de Políticas para Mulheres, os quais elencaram o enfrentamento da violência como um dos 
principais eixos de atuação para garantir às mulheres uma vida mais digna. Foram traçadas diversas metas, 
tais como a implementação e o fortalecimento da política nacional de enfrentamento; a garantia de atendimento 
integral, humanizado e de qualidade às mulheres em situação de violência doméstica; a redução dos índices 
criminais; a transversalidade das temáticas de gênero e violência contra mulheres nas mais diversas políticas 
públicas setoriais; a intersetorialidade entre órgãos e atores de diferentes níveis de governo (BRASIL, 2005; 
BRASIL, 2008; BRASIL, 2011).”41 
 
⚫ 2003: Lei no 10.778, de 24 de novembro, que estabelece a Notificação 
Compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida 
em serviços de saúde públicos ou privados. 
⚫ 2003: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – SPM, criada com 
o objetivo de assessorar diretamente a presidência da República nos assuntos relacionados 
às mulheres, buscando promover através de suas ações, a igualdade entre homens e 
mulheres e combater todas as formas de preconceito e discriminação. 
⚫ 2004: Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, construído a partir de 
extensa consulta através de conferências em nível nacional, estadual e municipal: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PNPM.pdf 
⚫ 2006: Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da 
Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
⚫ 2007: Pacto Nacional pelo enfrentamento a violência contra as mulheres, 
que reuniu dez Ministérios sob a coordenação da SPM, além de governos nos níveis 
estaduais e municipais e também organizações sociais de mulheres. 
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/catalogo/lula/pacto-
nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres-2010 
⚫ 2007: II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. 
⚫ 2009: Criação da Procuradoria da Mulher, no âmbito da Câmara dos 
Deputados com o objetivo de zelar pela participação mais efetiva das deputadas nas 
 
41 AVELINO, Victor Pereira; BARBOSA, Ycarim Melgaço. Entraves à implementação da política de 
enfrentamento à violência contra mulheres: um problema de governança pública. Oikos: Família e Sociedade 
em Debate, v. 31, n. 1, p.57-75, 2020. http://dx.doi.org/10.31423/oikos.v31i1.9933 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PNPM.pdf
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/catalogo/lula/pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres-2010
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/catalogo/lula/pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres-2010
http://dx.doi.org/10.31423/oikos.v31i1.9933
 
 
82 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
atividades da Câmara, fiscalizar e acompanhar programas do Executivo, receber denúncias 
de discriminação e violência contra a mulher e cooperar com organismos nacionais e 
internacionais na promoção dos direitos da mulher.42 
⚫ 2010: SPM ganha Status de Ministério 
⚫ 2011: Revisão do Pacto Nacional - incluiu em suas ações o fortalecimento 
das redes de proteção, incremento ao acesso à justiça, garantia da aplicação da Lei Maria 
da Penha em nível nacional, entre outros. https://www.compromissoeatitude.org.br/pacto-
nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-mulheres/ . 
⚫ 2010: Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres 
⚫ 2011: O CNJ determina que os Tribunais de Justiça criem Coordenadorias 
Estaduais das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar -- CEVID, que têm 
por missão melhorar as infraestruturas judiciais, apoiar na formação de magistrados e 
funcionários, criar tribunais de violência doméstica, recolher dados relevantes, tratar queixas 
e corrigir falhas no sistema. Embora o nível de atividade varie de estado para estado, as 
CEVIDs têm sido atores locais críticos no estabelecimento de redes multiagências de apoio 
às vítimas de violência43 
⚫ 2013: A Câmara dos Deputados criou uma Secretaria da Mulher (Secretaria 
da Mulher), dentro da qual estão a Procuradoria da Mulher e a Coordenação dos Direitos da 
Mulher (Coordenadoria da Mulher). Esta última representa a bancada feminina e tem assento 
no colégio das lideranças partidárias com direito à palavra, voto e uso do plenário da casa 
normalmente destinado apenas a uma líder partidária. 
⚫ 2015: III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. 
⚫ 2015: Lei no 13.104, de 9 de março de 2015, que altera o artigo 121 do Código 
Penal para prever o Feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e 
o art. 1o da Lei no 8.072, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. 
⚫ 2016: Diretrizes Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva 
de gênero as mortes violentas de mulheres (feminicídios), doravante 'Diretrizes Nacionais', 
com base no Protocolo Modelo da ONU (Brasil, 2016): importanteincentivo e incremento às 
ações da segurança pública e justiça criminal 
⚫ 2017: CNJ lança sua Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à 
Violência contra as Mulheres 
 
42 Saiba mais em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/secretarias/secretaria-da-
mulher/videos/10-anos-procuradoria-da-mulher 
43 Macaulay, 2021 
https://www.compromissoeatitude.org.br/pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-mulheres/
https://www.compromissoeatitude.org.br/pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-mulheres/
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/secretarias/secretaria-da-mulher/videos/10-anos-procuradoria-da-mulher
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/secretarias/secretaria-da-mulher/videos/10-anos-procuradoria-da-mulher
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
⚫ 2018: DECRETO Nº 9.586, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2018, Institui o 
Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres e o Plano Nacional de Combate à 
Violência Doméstica. 
⚫ 2019: Um Pacto Nacional pela Prevenção da Violência Doméstica foi 
assinado pelos três poderes, com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Supremo 
Tribunal Federal (STF) representando o Judiciário, o Ministro da Justiça, o poder executivo, 
e a bancada feminina, o legislativo nacional. A SPM foi rebaixada por decreto presidencial e 
reabsorvida, junto com o CNDM, em um Ministério da Justiça reestruturado. 
⚫ 2019: Criação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos 
- centraliza as ações na família e não nas mulheres. 
⚫ 2019: o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)44 cria um Cadastro 
nacional de feminicídios e violência doméstica, conforme o estabelecido na Lei Maria da 
Penha, no que se refere à atuação do Ministério Público. No entanto, como a participação e 
adesão dos estados não é obrigatória, nem todos os estados participam e compartilham as 
informações: https://www.cnmp.mp.br/portal/violencia-domestica 
⚫ 2021: Promulgada a Lei 14.232, que institui a Política Nacional de Dados e 
Informações relacionadas à Violência contra as Mulheres (PNAINFO). 
⚫ 2023: É criado o Ministério das Mulheres 
⚫ 2023: Lei 14.550 - Garante a proteção imediata para mulheres que 
denunciam violência doméstica, conferindo maior efetividade à aplicação das medidas 
protetivas de urgência. Ela também estabelece que a causa ou a motivação dos atos de 
violência e a condição do agressor ou da ofendida não excluem a aplicação célere da 
legislação. Confira as principais mudanças: 
1. Determina concessão da medida protetiva de urgência independentemente de 
registro de boletim de ocorrência; 
2. Concede o devido valor à palavra da vítima; 
3. Determina que medidas protetivas não têm prazo; 
 
44 O Conselho Nacional do Ministério Público -- CNMP), criado em 2004, abraçou a causa do enfrentamento 
das violências contra as mulheres. No entanto, apesar de os promotores se orgulharem de sua autonomia 
operacional e profissional, o processo tem sido mais desigual e menos homogêneono sentido de tornarem 
operacionais as práticas de enfrentamento. No topo da pirâmide, o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais 
dos Estados tem uma comissão permanente sobre violência doméstica. Além disso, a maioria das 
procuradorias-gerais estaduais (procuradorias) tem uma unidade de direitos da mulher na capital e algumas 
também têm escritórios regionais. No estado de São Paulo, por exemplo, há o Grupo de Atuação Especial de 
Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID). (Macaulay, 2021) 
 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%209.586-2018?OpenDocument
https://www.cnmp.mp.br/portal/violencia-domestica
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4. Configura toda situação de violência doméstica e familiar contra a mulher como 
violência baseada no gênero45. 
⚫ 2023: Lei 14.541, que garante o funcionamento ininterrupto de Delegacias 
Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), ou seja, durante toda a semana, finais 
de semana e feriados. Não havendo a delegacia especializada em um determinado 
município, a delegacia existente deverá dar prioridade ao atendimento à mulher vítima de 
violência, que deve ser feito por uma agente feminina especializada nessa abordagem. A lei 
prevê ainda assistência psicológica e jurídica a mulheres vítimas de violência. 
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.541-de-3-de-abril-de-2023-474874075 
⚫ 2023: Lei 14.542 garante prioridade para mulheres em situação de 
violência doméstica ou familiar no Sistema Nacional de Emprego (Sine), facilitando a 
inserção no mercado de trabalho, no intuito de promover a autonomia financeira. Há previsão 
de reserva de 10% das vagas ofertadas para intermediação. Conforme a proposição 
legislativa, a possibilidade de as mulheres terem acesso à renda própria contribui para que 
possam se afastar do ambiente de violência permanente em que se encontram, e estimular, 
assim, o ingresso da mulher vítima de violência doméstica no mercado de trabalho: 
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.542-de-3-de-abril-de-2023-474873609 
⚫ 2023: Lei 14.540 instituiu o Programa de Prevenção e Enfrentamento ao 
Assédio Sexual e demais Crimes contra a Dignidade Sexual e à Violência Sexual: tem 
validade no âmbito da administração pública, direta e indireta, federal, estadual, distrital e 
municipal. Entre os objetivos da Lei 14.540 prevenir e enfrentar a prática do assédio sexual 
e demais crimes contra a dignidade sexual e de todas as formas de violência sexual, além 
de capacitar agentes públicos, implementar e disseminar campanhas educativas. O texto 
prevê, adicionalmente, que qualquer pessoa que tiver conhecimento da prática de assédio 
sexual e demais crimes contra a dignidade sexual tem o dever legal de denunciar e de 
colaborar com os procedimentos administrativos internos e externos: 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14540.htm 
A criação das normas é fundamental, pois colocam na agenda do poder público 
temas que são imprescindíveis e inegociáveis. No entanto, apenas as leis não bastam, pois, 
as mesmas precisam de fiscalização, incentivo e acompanhamento em sua aplicação. A lei 
que determina o funcionamento das DEAMs ininterruptamente é importante para jogar luz 
na necessidade do atendimento especializado às mulheres em situação de violência, mas 
 
45 https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2023/abril/lei-determina-protecao-
imediata-a-mulheres-que-denunciam-violencia-domestica-e-familiar 
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.541-de-3-de-abril-de-2023-474874075
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.542-de-3-de-abril-de-2023-474873609
https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n-14.540-de-3-de-abril-de-2023-474873723
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Lei/L14540.htm
https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2023/abril/lei-determina-protecao-imediata-a-mulheres-que-denunciam-violencia-domestica-e-familiar
https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2023/abril/lei-determina-protecao-imediata-a-mulheres-que-denunciam-violencia-domestica-e-familiar
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
será que as polícias civis de todos os estados conseguem colocá-lo em prática? Possuem 
efetivo e equipamentos para tal? Sabemos que o número de delegacias existentes não é 
nem de longe suficiente para atender a demanda. Existem alternativas, como a criada por 
São Paulo, que disponibiliza atendimento por videoconferência realizado por equipe 
especializada, 24h, às mulheresem localidades onde não existem delegacias das mulheres. 
O importante é que os estados se preocupem em capacitar todo o efetivo para que sejam 
capazes de atender mulheres em situação de violência, trabalhem eles em delegacias 
especializadas ou não. 
Por isso, além de conhecer as normas legais, os profissionais do SUSP precisam 
conhecer os serviços disponíveis para atendimento e acolhimento das mulheres, sejam estes 
no âmbito da segurança e da justiça ou de outra área correlata. 
 
Disque 100 e Ligue 18046 
 
O Disque 100 e o Ligue 180 são serviços gratuitos para denúncias de violações de 
direitos humanos e de violência contra a mulher, respectivamente. Qualquer pessoa pode 
fazer uma denúncia pelos serviços, que funcionam 24h por dia, incluindo sábados, domingos 
e feriados. Além de cadastrar e encaminhar os casos aos órgãos competentes, a Ouvidoria 
recebe reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de 
atendimento. 
Figura 29: Disque 100 Ligue 180 
Fonte: Folha do Litoral 
 
46 https://www.gov.br/mdh/pt-br/direitoshumanosparatodos/disque-100-e-ligue-180 
https://folhadolitoral.com.br/coluna-do-guru/internet-disque-100-e-ligue-180-recebem-denuncias-por-aplicativo
https://www.gov.br/mdh/pt-br/direitoshumanosparatodos/disque-100-e-ligue-180
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
O que é trabalho em rede? 
 
O conceito de rede de enfrentamento da violência contra as mulheres se refere a 
uma atuação conjunta e articulada de diferentes setores e segmentos, incluindo instituições 
e serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade, com o objetivo de 
desenvolver estratégias de prevenção, além de políticas de garantia de autonomia, direitos, 
direito à vida, responsabilização dos agressores, entre outras. A rede de enfrentamento 
procura trabalhar em situações de combate, prevenção, assistência e garantia de direitos - 
numa tentativa de dar conta da complexidade do fenômeno da violência contra as mulheres. 
Para isso, uma rede de enfrentamento precisa reunir: 
“agentes governamentais e não-governamentais formuladores, fiscalizadores 
e executores de políticas voltadas para as mulheres (organismos de políticas para as 
mulheres, ONGs feministas, movimento de mulheres, conselhos dos direitos das 
mulheres, outros conselhos de controle social; núcleos de enfrentamento ao tráfico 
de mulheres, etc.); para a responsabilização dos agressores; universidades; órgãos 
federais, estaduais e municipais responsáveis pela garantia de direitos (habitação, 
educação, trabalho, seguridade social, cultura) e serviços especializados e não-
especializados de atendimento às mulheres em situação de violência (que compõem 
a rede de atendimento às mulheres em situação de violência)”47. 
Já o que chamamos de “rede de atendimento” se refere ao conjunto de ações e 
serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança 
pública e da saúde), que tem como objetivo ampliar e melhorar a qualidade do atendimento, 
a identificação e o encaminhamento adequados das mulheres em situação de violência, 
considerando a integralidade e a humanização do atendimento. (Brasil, 2011). 
O Dossiê Feminicídio, do Instituto Patrícia Galvão, nos dá exemplos de iniciativas 
que podem contribuir para a interrupção das violências e que tem como cerne a integração 
de serviços: 
 1) Criação de serviços em todo o território nacional, com investimento financeiro 
adequado; 
 2) Serviços integrados com acolhimento de qualidade e perspectiva de gênero: 
 
47 https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-
violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
 3) Produção de dados e indicadores para elaboração, implementação e monitoramento 
das políticas públicas: 
 
4) Promoção de ações de prevenção à violência e desconstrução das desigualdades 
de gênero, envolvendo educação e mídia. 
A importância da integração e, principalmente, da articulação dos serviços está em 
impedir que as mulheres que precisam de ajuda entrem no que os especialistas chamam de 
“rota crítica” do feminicídio: “Apesar de previsto tanto pela Lei Maria da Penha quanto por 
convenções internacionais ratificadas pelo Brasil, o atendimento integral às mulheres em 
situação de violência ainda é um desafio a superar. Essa lacuna impõe às vítimas a chamada 
‘rota crítica’ – o caminho fragmentado que a mulher percorre buscando o atendimento do 
Estado, arcando com as dificuldades estruturais colocadas, como de transporte, repetindo o 
relato da violência sofrida reiteradas vezes e, ainda, enfrentando muitas vezes a violência 
institucional por parte de profissionais que, pouco sensibilizados, reproduzem discriminações 
contra as mulheres nos serviços de atendimento .”48 
 
A(s) rede(s) de proteção 
 
As redes de proteção, compreendidas entre redes de enfrentamento e de 
atendimento possuem as seguintes características: 
 
48 https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/quais-sao-os-servicos-existentes-e-seus-
limites/ 
 
“A integração e o fluxo dos serviços são fundamentais no atendimento para garantir que, uma vez 
rompida a barreira inicial da denúncia, a mulher seja efetivamente atendida e tenha sua integridade 
preservada.” 
Jacqueline Pitanguy, socióloga, cientista política e Coordenadora da ONG CEPIA – Cidadania, 
Estudo, Pesquisa, Informação e Ação. 
“É importante conhecer a dimensão da violência contra as mulheres para poder enfrentá-la e adotar 
políticas coordenadas nos locais onde estão os maiores índices. Para adotar medidas mais efetivas, 
é preciso ter dados que relacionem, por exemplo, as interseccionalidades de raça e idade com a 
violência de gênero.” 
Valéria Diez Scarance Fernandes, promotora de Justiça e coordenadora-geral da Comissão 
Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Copevid). 
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/quais-sao-os-servicos-existentes-e-seus-limites/
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/quais-sao-os-servicos-existentes-e-seus-limites/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Fonte: Secretaria de Política para as Mulheres, pg. 15. 
 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-
referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres 
 
Conheça um exemplo de trabalho em rede, a Casa da Mulher Brasileira, um 
programa criado pelo governo federal e que reúne diversas frentes de atendimento às 
mulheres em situação de violência. 
A Casa da Mulher Brasileira integra em um mesmo espaço físico serviços 
especializados para os mais diversos tipos de violência contra as mulheres. Ali é possível 
encontrar profissionais dos diversos serviços de atendimento, começando por acolhimento e 
triagem; apoio psicossocial; delegacia; Juizado; Ministério Público, Defensoria Pública; 
promoção de autonomia econômica; cuidado das crianças – brinquedoteca; alojamento de 
passagem e central de transportes. 
Como Funciona 
 
Acolhimento e Triagem: O serviço da equipe de acolhimento e triagemé a porta de 
entrada e onde espera-se que seja criado um laço de confiança com a mulher que procura 
atendimento de maneira a agilizar os encaminhamentos e iniciar os atendimentos prestados 
pelos outros serviços da Casa, ou pelos demais serviços da rede, quando necessário. 
Equipe multidisciplinar: A equipe multidisciplinar presta atendimento psicossocial 
continuado e dá suporte aos demais serviços da Casa. O trabalho dessa equipe tem por 
objetivo principal auxiliar as mulheres a lidarem com o impacto da violência que sofreram, 
num processo de resgate da autoestima, da autonomia e da cidadania. 
Delegacia: Presença de uma unidade da Delegacia Especializada de Atendimento 
à Mulher (Deam), da Polícia Civil para ações de prevenção, proteção e investigação dos 
crimes, sejam os de violência doméstica ou sexual, entre outros. 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Juizado/Vara Especializada: Os juizados/varas especializadas de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher são os órgãos da Justiça responsáveis por processar, 
julgar e executar as causas resultantes de violência doméstica e familiar, conforme previsto 
na Lei Maria da Penha. 
Ministério Público: A Promotoria Especializada do Ministério Público promove a 
ação penal nos crimes de violência contra as mulheres. Além disso, atua na fiscalização dos 
serviços da rede de atendimento. 
Defensoria Pública: É o Núcleo Especializado da Defensoria Pública que orienta as 
mulheres sobre seus direitos, presta assistência jurídica e acompanha todas as etapas do 
processo judicial, de natureza cível ou criminal. 
Promoção de Autonomia Econômica: Podemos considerar esse serviço uma das 
“portas de saída” da situação de violência para as mulheres. Educação financeira, qua-
lificação profissional e inserção no mercado de trabalho podem ajudar as mulheres a 
romperem com os ciclos de violência nos quais estão inseridas. Em situações onde as 
mulheres não tenham condições de sustento próprio e/ou de seus filhos, podem solicitar sua 
inclusão em programas de assistência e de inclusão social dos governos federal, estadual e 
municipal. 
Central de Transportes: A Casa da Mulher Brasileira também proporciona o 
deslocamento de mulheres atendidas na Casa da Mulher Brasileira para os demais serviços 
da Rede de Atendimento: saúde, rede socioassistencial (CRAS e CREAS), medicina legal e 
abrigamento, entre outros. 
Brinquedoteca: Acolhe crianças de 0 a 12 anos de idade, que acompanhem as 
mulheres, enquanto estas aguardam o atendimento. 
Alojamento de Passagem: A casa conta ainda com um espaço de abrigamento 
temporário de até 24h para mulheres em situação de violência, acompanhadas ou não de 
seus filhos e que corram risco iminente de morte. 
Serviços de Saúde: É possível receber também atendimento de saúde nas Casas. 
Nos casos de violência sexual, a contracepção de emergência e a prevenção de doenças 
sexualmente transmissíveis/aids devem ocorrer em até 72h. Além do atendimento de 
urgência, os serviços de saúde também oferecem acompanhamento médico e psicossocial. 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Caso queiram saber mais sobre os serviços de atendimento disponíveis, é possível 
consultar, por exemplo, o Observatório da Mulher contra a Violência, do Senado Federal, 
que disponibiliza informações sobre os serviços especializados de atendimento às mulheres 
em situação de violência em todo o Brasil: 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-
especializados-de-atendimento-a-mulher 
O Mapa do Acolhimento, uma iniciativa da sociedade civil, apresenta um mapa de 
serviços públicos de atendimento às mulheres: 
Disponível em: https://queroseracolhida.mapadoacolhimento.org/ 
Além da possibilidade de disponibilizarem atendimento psicológico e jurídico gratuito. 
Outra iniciativa nesse sentido, também da sociedade civil, é o Justiceiras, projeto do 
Instituto Justiça de Saia que também oferece atendimentos jurídico e psicológico para 
mulheres em situação de violência. 
 
Finalizando 
 
Neste módulo, você aprendeu que: 
 
✓ As violências contra a mulher vêm crescendo nos últimos anos; 
✓ As violências doméstica e a sexual acontecem principalmente nas casas de 
meninas e mulheres, local onde deveriam estar seguras; 
✓ O principal autor dessas violências é alguém conhecido, muitas vezes com 
vínculo familiar; 
✓ São as mulheres negras as mais vulneráveis; 
✓ Existem diferentes fontes de dados, diferentes maneiras de registrar 
informações e na maioria das vezes os dados disponíveis não são comparáveis. Cada setor 
faz (ou deveria fazer) seu próprio registro, sem que haja uma padronização; 
✓ A Lei que cria a PNAINFO - Política Nacional de Dados e Informações 
relacionadas à Violência contra as Mulheres está vigente, mas não saiu do papel; 
✓ Existe uma estrutura de governança e as principais políticas públicas para o 
enfrentamento da violência contra mulheres no Brasil; 
✓ É importante utilizar os dados disponíveis para orientar as suas ações - por isso 
é fundamental saber onde encontrá-los; 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mulher
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mulher
https://justiceiras.org.br/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
✓ É fundamental que os profissionais do SUSP saibam produzir dados e registros 
dos atendimentos que realizam; 
✓ Para o enfrentamento das violências baseadas em gênero, é importante a 
atuação em rede; 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3 – Módulo III: Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o 
enfrentamento da violência contra mulheres 
 
4.3.1 Apresentação do módulo 
 
 
Este módulo abordará os aspectos operacionais e táticos do enfrentamento e 
prevenção das diferentes formas de violência contra mulheres e meninas. Considerando que 
as forças de segurança pública dedicam boa parte de seu trabalho ao atendimento de 
ocorrências relativas ao tema e que nem sempre a unidade ou setor demandado será uma 
unidade ou serviço especializado, faz-se necessário que todos os (as) profissionais do 
SUSP, além do conhecimento sobre a legislação, saibam aplicar os protocolos previstos aos 
casos concretos, sob uma perspectiva de atendimento empático e humanizado às mulheres 
e meninas em situação de violência. 
Para tanto, nesta etapa do curso, além de revisitar a legislação básica e seu emprego 
prático, vamos refletir sobre o lugar da Segurança Pública como uma das principais portas 
de entrada dos casos de violência contra a mulher ao sistema Justiça Criminal, bem como 
refletir sobre a importância da atuação dos órgãos em rede como forma de evitar a 
revitimização e a violência institucional na jornada das vítimas. 
Discutiremos os desafios da atuação nos casos envolvendo profissionais do SUSP 
na condição de vítimas ou autores de violência contra a mulher. E entraremos em contato 
com algumas das boas práticas consolidadas no campo da segurança pública na temática 
do enfrentamentoe prevenção da violência contra a mulher, que vêm se notabilizando pelo 
reconhecimento social, eficiência e bons resultados. 
 
4.3.2 Objetivos do módulo 
 
 
Este módulo tem por objetivos: 
● Compreender o lugar de importância do enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas no campo da segurança pública; 
● Identificar a importância da atuação em rede no enfrentamento da violência 
contra mulheres e meninas; 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
● Conhecer os instrumentos e experiências nacionais voltados para o 
enfrentamento da violência contra mulheres, a exemplo do formulário de risco, as delegacias 
especializadas, patrulha Maria da Penha, entre outros; 
● Conhecer e saber utilizar as principais ferramentas voltadas à avaliação de 
risco de mulheres em situação de violência; 
● Saber identificar os diferentes níveis de prevenção da violência direcionada a 
mulheres e meninas; 
● Conhecer os principais protocolos e diretrizes para atendimento de mulheres e 
meninas em situação de violência; 
● Saber atuar no atendimento de mulheres integrantes de povos originários, 
meninas, idosas e deficientes. 
 
4.3.3 Estrutura do módulo 
 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
 
 
 
 
 
 
Aula 1 - O papel dos órgãos de segurança pública no enfrentamento da 
violência contra mulheres e meninas 
 
 
 
 
 
Aula 2 - Legislação aplicada na proteção de mulheres e meninas em seus 
aspectos práticos 
 
 
 
 
 
Aula 3 - Identificando a violência contra mulheres e meninas 
 
 
Aula 4 - Identificando o papel dos atores da segurança pública na redução 
da “rota crítica” das vítimas de violência 
 
 
 
 
 
 
Aula 5 - A atuação da segurança pública de modo integrado com os 
diferentes atores da rede proteção e enfrentamento 
 
 
 
 
Aula 6 - Serviços especializados no atendimento a mulheres e meninas 
1 
2 
3 
4 
5 
6 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 no âmbito da segurança pública 
 
 
 
 
 
 
Aula 7 - Desafios da atuação quando os autores ou vítimas de violência 
contra a mulher são profissionais de segurança pública. 
 
 
 
 
 
 
Aula 8 - Boas Práticas: Grupos Reflexivos para profissionais de 
segurança autores de violência doméstica e familiar 
 
 
 
 
7 
8 
 
 
95 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.1 Aula 1 – O papel dos órgãos de segurança pública no 
enfrentamento da violência contra mulheres e meninas. 
 
Introdução 
 
Atuar frente aos diferentes tipos de violência e crimes contra mulheres representa 
parte importante do trabalho realizado por profissionais de segurança pública e o tema vem 
ocupando espaço de relevância na agenda das instituições. 
As estatísticas de agressões sexuais, violência doméstica e outras formas de 
violência de gênero denunciadas às forças policiais seguem aumentando. E esse fenômeno 
pode ou não ser devido a um aumento real do número de agressões cometidas, sendo 
possível que, o aumento dos registros seja, em parte, devido à maior conscientização social 
de que esses atos constituem crime. 
Especificamente em relação às chamadas emergenciais, via 190, cabe destacar o 
estudo do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 apontado que, entre os anos de 
2020 e 2021, houve o acionamento cada vez mais frequente das polícias em contextos de 
violência doméstica. 
“O aumento das chamadas de emergência especificamente para situações que envolvem violência 
doméstica é um sinal de que as polícias militares dos estados estão sendo cada vez mais demandadas a 
atuarem nesses casos ou, ao menos, a prestarem um atendimento inicial. O que reforça a importância de não 
apenas os efetivos das unidades especializadas no atendimento às mulheres em situação de violência, mas 
todo o efetivo policial estar sensibilizado e capacitado para atender essas mulheres. Sabendo que as 
complexidades da violência doméstica podem fazer com que uma mulher chame por socorro, desistindo depois 
de ir à frente com a denúncia, e que sinta medo, culpa ou vergonha de pedir ajuda e romper com o ciclo de 
violência no qual está inserida, o atendimento de emergência e adequado acolhimento e encaminhamento se 
tornam extremamente importantes. Um mau atendimento nesse momento pode significar perdermos essa 
mulher para sempre.” (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, 2022, p.7) 
 
Fato é que esse fenômeno impacta diretamente a atuação dos profissionais de 
segurança pública, independente do órgão de atuação, os quais precisam estar preparados 
para atender às vítimas de forma técnica e humanizada, compreendendo a complexidade da 
situação, a multicausalidade desse tipo de violência e o contexto de vulnerabilidade das 
vítimas. 
 
Atenção! 
Não banalizar as situações de violência ou julgar as vítimas é o primeiro passo para 
um bom atendimento. É necessário valorizar a palavra da vítima oferecendo-lhe uma escuta 
 
 
96 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
empática e acolhedora. Muitas mulheres vítimas de violência relatam a dificuldade de serem 
ouvidas pelos profissionais que as atendem. 
 
Na Prática 
 
Antes de prosseguir leia o texto: “Escutatória” de Rubem Alves, clicando no link abaixo: 
Escutatória - Rubem Alves 
 
 Violência contra a mulher é um problema de segurança pública 
 
Embora atualmente possa parecer óbvio que violência contra a mulher é uma 
questão de segurança pública, especialmente porque hoje há mudanças significativas e 
investimentos nessa temática dentro do campo da segurança pública brasileira, nem sempre 
as violências de caráter doméstico ou de gênero, ou seja, as que mais acometem as 
mulheres e meninas, ocuparam lugar de prestígio na agenda da segurança pública. As 
primeiras iniciativas na área da segurança pública voltadas para o atendimento especializado 
de mulheres datam dos anos 1980 e foram desenvolvidas pela Polícia Civil através das 
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. 
A legalidade é um dos princípios que devem orientar a atuação de todo cidadão, em 
especial os agentes públicos. Ainda assim, se torna importante identificar claramente qual o 
papel dos órgãos da segurança pública no enfrentamento da violência contra 
mulheres. A principal referência sobre a finalidade da segurança pública e as atribuições 
das forças de segurança pública é a Constituição Federal em seu artigo 144: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para 
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - 
polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. 
[...] 
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, 
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. 
É quase que indissociável a relação entre segurança pública e repressão criminal, 
não por acaso, de acordo com Rossoni & Herkenhoff (2017: 342), “as primeiras análises da 
segurança pública fazem referência, sobretudo, à ordem pública e à repressão criminal. 
Decerto, ao se preservar a segurança pública, garante-se o valor da convivência pacífica e 
harmoniosa, minimizando-se a violência das relações humanas”. 
https://www.recantodasletras.com.br/mensagens/59914397 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
O artigo 144 estabelece que a segurança pública é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Portanto, a compreensão 
sobre o direito à incolumidade, ou seja, o direito de “estar em segurança”, é o ponto de partida 
para atuação dos órgãos de segurança pública, através de seus agentes, no enfrentamento 
da violência contra mulheres e meninas. 
É igualmente importante considerar que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 
226, § 8°, antes da existência de legislação específica sobre o tema, já destacava o papel 
do Estado na proteção da família contra a violência doméstica: “Art. 226. A família, base da 
sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 8º O Estado assegurará a assistência à 
família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a 
violência no âmbito de suas relações.” 
As missões constitucionais dos órgãos dentro do sistema de segurança ditarão seus 
papéis específicos no trato com essas vítimas. Sendo que ao longo de sua jornada, uma 
mesma vítima de violência poderá passar por atendimentos em distintos órgãos do sistema 
de segurança pública e defesa social. 
É importante compreender a gravidade e o tipo de vitimização que acomete 
especificamente esse grupo vulnerável e que, em grande parte, a violência é praticada por 
pessoas próximas ou do círculo familiar, havendo, portanto, uma significativa probabilidade 
dessa violência se repetir ou se agravar, mesmo após a intervenção de algum órgão de 
segurança pública. Daí a importância da qualidade do primeiro atendimento. 
Segundo Rossoni & Herkenhoff (2017: 343), “prestar o serviço de segurança pública 
significa não apenas tentar impedir ou, pelo menos, punir os atos lesivos, como também 
reduzir suas consequências quando não foi possível preveni-los”. Embora as ações de 
segurança pública tenham em sua essência o caráter preventivo, ou seja, mesmo aquelas 
de caráter repressivo também têm sua parcela de prevenção, fato é que a maioria das 
instituições de segurança pública atuam após a ocorrência do fato. 
Partindo desse pressuposto, é preciso ampliar o olhar do profissional de segurança 
pública, geralmente focado no crime e no criminoso, ou seja, na elucidação do crime, nas 
provas, na prisão do autor, para também incluir a vítima como vértice importante de um 
triângulo onde se localizam: o crime, o autor e a vítima. 
 
 
 
 
 
 
98 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 30: Triângulo do crime 
 
Fonte: Criado por Orlinda Claudia Rosa de Moraes 
Sobre esse aspecto Rossoni & Herkenhoff (2017) destacam o quão recente é a 
atenção e o olhar para a vítima e o quanto esta foi relegada a um papel secundário e 
frequentemente esquecido como parte do fenômeno criminal. 
“Os primeiros estudos sobre a vítima surgiram principalmente com Mendelsohn e Von Henrig. No 
Brasil, somente na década de 1970, essas pesquisas se desenvolveram, sobretudo com a criação da 
Sociedade Brasileira de Vitimologia. Apesar desse progresso, a produção brasileira é, ainda, muito tímida. 
Grande parte das vítimas sobreviventes tende a sofrer algum tipo de trauma, síndrome ou sequela, sem 
despertar, com raras exceções, maior preocupação preventiva e corretiva por parte do poder público, salvo o 
encaminhamento para a rede hospitalar em caso de trauma físico (ferimentos corporais).” ROSSONI & 
HERKENHOFF (2017: 344) 
 Esse olhar especial para as vítimas não deve se restringir às medidas relativas à 
apuração do fato, tais como: coleta de provas, depoimentos ou identificação da autoria, que 
são elementos fundamentais para elucidação de crimes e responsabilização dos autores. 
Deve-se também incluir uma perspectiva de humanização e sensibilidade no atendimento às 
vítimas. 
Torna-se, portanto, necessário aprofundarmos a compreensão acerca do processo 
de vitimização, sendo que Terres (2019), a partir da perspectiva dos estudos criminológicos, 
apresenta o processo de vitimização da seguinte forma: 
A vitimização é o processo de sofrimento dos efeitos de um crime, experimentado em três formas 
distintas: (1) com o sofrimento direto ou indireto dos danos de ordem física, mental, estética, mental e/ou 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
material; (2) com o incremento do sofrimento em decorrência da interferência do próprio Sistema de Justiça 
Criminal e; (3) com o prolongamento do sofrimento em razão do julgamento do comportamento da vítima por 
parte da sociedade. TERRES (2019:51). 
 
Desse modo, identifica-se a existência de uma vitimização primária, secundária e 
terciária, definidas por Antônio Garcia Pablos de Molina. Sendo a vitimização primária, o 
sofrimento ou dano imediatamente causado pelo crime. A vitimização secundária é 
ocasionada pelo sofrimento ocasionado em decorrência da intervenção do Sistema de 
Justiça Criminal e pode ser materializado na dor de reviver os fatos nos depoimentos, na 
realização de exames periciais ou mesmo em ter que encontrar acusado em juízo. Já a 
vitimização terciária se refere ao processo de julgamento social do comportamento da vítima. 
Esses aspectos da vitimização devem ser considerados nos atendimentos realizados 
às vítimas de crimes de qualquer natureza e, especialmente, em relação ao atendimento de 
grupos vulneráveis como mulheres e meninas. 
Ao longo dessa unidade do curso mostraremos, através de exemplos e boas 
práticas, como é possível oferecer um atendimento eficiente, profissional e humanizado às 
mulheres e meninas vítimas de violência. 
 
O enfrentamento da violência contra a mulher como parte da política de segurança 
pública 
 
Preliminarmente é necessário contextualizar política pública, pois muito se fala sobre 
a necessidade de implantação de políticas públicas em distintas áreas de atuação estatal. A 
área de prevenção e enfrentamento à violência contra mulher, assim como em outras áreas, 
tem na multisetorialidade um fator importante a ser considerado, pois as ações demandam 
profunda articulação entre diferentes atores e instituições relacionadas ao problema. 
Segundo Amaral (2008) a função que o Estado desempenha em nossa sociedade 
sofreu inúmeras transformações ao passar do tempo. Sendo que no século XVIII e XIX, seu 
principal objetivo era a segurança interna e a defesa externa em caso de ataque inimigo. 
Com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se 
diversificaram de modo que, atualmente, é comum se afirmar que a função do Estado é 
promover o bem-estar da sociedade. 
Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da sociedade, os 
governos desenvolvem as “Políticas Públicas” que, em linhas gerais, podem ser definidas da 
seguinte forma: “Políticas Públicas são um conjunto de ações e decisões do governo, 
voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade”. 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Embora o enfrentamento da violência contra a mulher faça parte da atuação 
cotidiana dos órgãos de segurança pública, existem instrumentos formais que tornam cada 
vez mais institucionalizada essa atuação, destacando-se nesse contexto a Lei nº 
13.675/2018 e a Lei nº. 11.340/2006. 
A Lei nº 13.675/2018, dentre outras medidas, disciplina a organização e o 
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, bem como cria a Política 
Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), tendoa finalidade de 
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de 
atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança pública 
e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em 
articulação com a sociedade. 
À primeira vista a PNSPDS contempla a temática de forma genérica, considerando 
que dentre seus princípios estão a proteção dos direitos humanos, o respeito aos 
direitos fundamentais e a promoção da cidadania e da dignidade da pessoa humana. 
E também se verifica como uma de suas diretrizes o atendimento prioritário, qualificado 
e humanizado às pessoas em situação de vulnerabilidade. 
Entretanto, a PNSPDS se torna mais enfática ao definir (art. 8, VII) os meios e 
instrumentos para a implementação da PNSPDS, destacando-se o Plano Nacional de 
Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher dentre as ações pertinentes às 
políticas de segurança a serem implementadas em conjunto com os órgãos e instâncias 
estaduais, municipais e do Distrito Federal responsáveis pela rede de prevenção e de 
atendimento das mulheres em situação de violência (incluído pela Lei nº 14.330, de 2022). 
A Lei nº. 11.340 de 07 de agosto de 2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, 
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, traz 
importante sinalização sobre o papel das forças de segurança pública no contexto da política 
pública de proteção às mulheres em situação de violência. 
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por 
meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de 
ações não-governamentais, tendo por diretrizes: 
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com 
as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; 
[...] 
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas 
Delegacias de Atendimento à Mulher; 
[...] 
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de 
Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões 
de gênero e de raça ou etnia; 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2022/Lei/L14330.htm#art1
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 A Lei Maria da Penha fala da integração operacional entre os órgãos do sistema de 
justiça e os órgãos da segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e 
habitação. Essa integração entre os órgãos ou atuação em rede é fundamental para garantir 
o atendimento integral às vítimas de violência, reduzindo a possibilidade de revitimização ou 
violência institucional. 
Percebemos até aqui que os órgãos do sistema de segurança pública integram a 
rede proteção às mulheres em situação de violência e têm seu papel formalmente 
reconhecido nas políticas públicas voltadas à prevenção e enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas. 
A atuação dos profissionais de segurança pública não se restringe às unidades ou setores 
especializados no atendimento a mulheres, pois grande parte das ocorrências se dão no cotidiano, no dia 
a dia dos serviços não especializados, razão pela qual todos devem estar capacitados e sensibilizados 
para o atendimento. 
 
SAIBA MAIS 
Tipos de prevenção: prevenção primária, secundária e terciária. 
 
1 - A prevenção primária tem como objetivo principal o combate aos fatores indutores 
da criminalidade antes que eles incidam sobre o indivíduo. Atua na raiz do delito, 
neutralizando o problema antes que ele apareça. Este tipo de prevenção busca afastar as 
condições responsáveis pelo aumento da criminalidade. Para que essa modalidade de 
prevenção produza os efeitos esperados, é necessário um investimento de longo e médio 
prazo. 
2 - A prevenção secundária consiste em medidas voltadas aos indivíduos 
predispostos a padecer ou protagonizar o problema criminal. Esse tipo de prevenção opera 
a médio e curto prazo e age quando e onde ocorre o crime. Além disso, a prevenção 
secundária procura produzir nos indivíduos um respeito pela norma que os dissuada de violá-
la. 
 3 - A prevenção terciária, por sua vez, refere-se aos indivíduos com passado delituoso 
e busca estimular nova conduta por meio das medidas de punição e ressocialização do 
processo de execução penal visando prevenir a reincidência. 
 
 
 
 
 
 
102 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Na Prática 
 
Reflita sobre os três tipos de prevenção e identifique de que forma eles podem ser aplicados 
ao problema da violência contra mulher. 
 
 
 
Finalizando 
Neste módulo, você aprendeu que: 
 
● A violência contra a mulher é fenômeno impacta diretamente a atuação dos 
profissionais de segurança pública; 
● A escuta e o acolhimento são elementos importantes no atendimento de 
mulheres e meninas vítimas de violência; 
● A violência contra a mulher é um problema de segurança pública. 
● A prevenção da violência contra a mulher faz parte da Política Nacional de 
Segurança Pública e Defesa Social, integrando formalmente a agenda de atuação dos 
órgãos do Sistema de Segurança Pública e Defesa Social. 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.2 Aula 2 - Legislação aplicada na proteção de mulheres e meninas 
em seus aspectos práticos. 
 
Introdução 
 
A legalidade é a base da atuação dos profissionais de segurança pública em um 
estado democrático de direito. Nesse contexto, mais do que o conhecimento da letra da lei, 
espera-se desses profissionais uma atuação prática que reflita, além do entendimento 
jurídico, a compreensão dos fatores históricos e sociais que envolvem um tema tão complexo 
como é a violência contra mulheres e meninas. 
Preliminarmente, cabe relembrar que o Estado Brasileiro é signatário de tratados 
internacionais de Direitos Humanos voltado à proteção dos direitos humanos das mulheres, 
como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher - “Convenção de Belém do Pará (1994) e a Convenção sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação contra a Mulher (ONU 1979). 
Buscando um panorama mais amplo, o quadro a seguir traça uma linha do tempo da 
proteção jurídica das mulheres na legislação brasileira: 
1934 A Constituição de 1934 estabeleceu o direito ao voto feminino, 
ainda que facultativo; 
1962 O Estatuto da Mulher Casada deferiu que a mulher não mais 
precisava da autorização do marido para trabalhar fora, receber herança, 
comprar ou vender imóveis, assinar documentos e até viajar; 
1977 O matrimônio deixou de ser indissolúvel com a Lei do Divórcio; 
1988 A Constituição Federal estabelece a proibição de diferença 
salarial, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de 
sexo, idade, cor ou estado civil, dentre outros direitos – artigo 3º, artigo 5º, 
inciso I, artigo 7º, incisos XVIII, XIX, XX, XV, XXX; 
1990 O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece igualdade de 
condições do pai e da mãe no exercício do pátrio poder; 
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
1995 A Lei nº 9.029 traz a proibição da exigência de atestados de 
gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos 
admissionais ou de permanência da relaçãojurídica de trabalho e dá outras 
providências. Ainda, proibiu a adoção de qualquer prática discriminatória e 
limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua 
manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação 
familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros, 
ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à criança e ao 
adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal; 
1999 A Lei nº 9.799 traz dispositivos sobre a proteção do trabalho da 
mulher - Da Duração, Condições do Trabalho e da Discriminação Contra a 
Mulher – Artigos: 372 a 400 da CLT; 
2001 A Lei nº 10.224 inclui o tipo penal de “Assédio Sexual”, no 
Código Penal Brasileiro; 
2002 A falta de virgindade deixou de ser motivo para anulação do 
casamento; 
2005 O termo “mulher honesta” foi retirado do Código Penal; 
2006 A Lei Maria da Penha é sancionada para coibir e prevenir a 
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 
226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados 
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre 
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; 
e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação 
de violência doméstica e familiar; 
2015 A Lei do Feminicídio torna crime hediondo o assassinato de 
mulheres em decorrência de violência doméstica ou discriminação de 
gênero; 
2015 A Lei nº 13.112 dá às mães o direito de registrar filhos no cartório 
sem a presença do pai; 
2017 A Lei 13.505 acrescenta dispositivos à Lei Maria da Penha dispondo 
sobre o direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar de 
ter atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado, 
preferencialmente, por servidores do sexo feminino. 
2018 A Lei nº 13.718 criminaliza a conduta de importunação sexual e 
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
altera disposições sobre os crimes contra a dignidade sexual; 
2018 A Lei nº 13.641 tipifica o crime de descumprimento de medidas 
protetivas de urgência; 
2018 A Lei nº 13.772 dispõe sobre o registro não autorizado da 
intimidade sexual; 
2019 A Lei nº 13.894 proporciona a prioridade de divórcio para vítimas 
de violência doméstica e prevê a competência dos Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar Contra a Mulher para a ação de divórcio, separação, 
anulação de casamento ou dissolução de união estável nos casos de 
violência; 
2019 A Lei nº 13.827 autoriza a aplicação de medida protetiva de 
urgência pela autoridade policial; 
2019 A Lei nº 13.836 torna obrigatória a informação sobre a condição de 
pessoa com deficiência da mulher vítima de agressão doméstica ou 
familiar; 
2019 A Lei nº 13.871 dispõe sobre a responsabilidade do agressor pelo 
ressarcimento dos custos relacionados aos serviços de saúde prestados 
às vítimas de violência doméstica e familiar; 
2019 A Lei nº 13.880 dispõe sobre a apreensão da arma de fogo sob 
posse de agressor nos casos de violência doméstica; 
2019 A Lei nº 13.882 garante matrícula dos dependentes da mulher 
vítima de violência em instituição de educação básica mais próxima de seu 
domicílio; 
2019 A Lei nº 13.931 dispõe sobre a notificação compulsória dos casos 
de suspeita de violência doméstica contra a mulher; 
2020 A Lei nº 13.984 estabelece a obrigatoriedade referente ao agressor, 
que deve frequentar centros de educação e reabilitação e fazer 
acompanhamento psicossocial; 
2021 A Lei nº 14.132 inclui artigo no Código Penal (CP) para tipificar os 
crimes de perseguição (stalking); 
2021 A Lei nº 14.164 altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional para incluir conteúdo sobre a prevenção à violência contra a 
mulher nos currículos da educação básica, além de instituir a Semana 
Escolar de Combate à violência contra a Mulher, a ser celebrada todos os 
anos no mês de março; 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
2021 A Lei nº 14.149 que institui o Formulário Nacional de Avaliação 
de Risco, com o intuito de prevenir feminicídios; 
2021 Lei nº 14.188 define o programa de cooperação Sinal Vermelho 
contra a Violência Doméstica como uma das medidas de enfrentamento 
da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei nº 11.340, 
de 7 de agosto de 2006 e altera o Código Penal, para modificar a 
modalidade da pena da lesão corporal simples cometida contra a mulher por 
razões da condição do sexo feminino e para criar o tipo penal de violência 
psicológica contra a mulher 
2022 A Lei nº 14.310 altera a Lei Maria da Penha para determinar o 
registro imediato, pela autoridade judicial, das medidas protetivas de 
urgência deferidas em favor da mulher em situação de violência doméstica 
e familiar, ou de seus dependentes. 
2023 A Lei 14.550 altera a Lei Maria da Penha para dispor sobre as 
medidas protetivas de urgência e estabelecer que a causa ou a motivação 
dos atos de violência e a condição do ofensor ou da ofendida não excluem 
a aplicação da Lei. 
 
Esta linha do tempo demonstra o longo caminho na evolução e consolidação dos 
direitos das mulheres, desde a conquista do direito ao voto nos anos 30 do século passado. 
Entretanto, é perceptível a intensificação das mudanças legislativas a partir de 2015 e que 
tais mudanças permanecem em curso, dada a necessidade de adaptação legislativa à 
realidade fática. 
Nesse sentido, não se pretende aqui esgotar o tema legislação, por demais amplo, 
mas sim abordar seus principais aspectos práticos e aguçar a sua curiosidade acadêmica 
em ampliar e manter seu conhecimento atualizado. 
 
Aspectos Gerais da Legislação e Aplicação Prática 
 
É ampla a legislação voltada à proteção das mulheres, especialmente quando 
consideradas as interseccionalidades que perpassam as violências baseadas no gênero 
sofridas por mulheres e meninas, em que fatores como idade, raça ou condição física 
ampliam o grau de vulnerabilidade e risco. 
Todavia, começaremos por uma das leis mais conhecidas no país, a Lei nº 11.340/ 
2006, a Lei Maria da Penha, que é considerada pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Unidas para a Mulher (Unifem) uma das três leis mais avançadas do mundo, entre 90 países 
que têm legislação sobre o tema. Dentre seus principais pontos destaca-se o reconhecimento 
da violência doméstica e familiar como violação de direitos humanos. 
Ela é considerada uma norma de “discriminação positiva” e visa acelerar a igualdade 
de fato entre homens e mulheres. Trata-se de um dispositivo jurídico de natureza processual 
e não material. Segundo Ada Pellegrini, o direito material é conceituado como “o corpo de 
normas que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida (direito 
civil, penal, administrativo etc.)”. Para a mesma autora, o direito processual seria o “complexo 
de normas e princípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da 
jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado”. 
Por fim, o direito processual é o conjunto de normas que regulamentam a forma de 
aplicação do direito material. Os crimes estão definidos no Código Penal e legislações 
extravagantes – direito material, nesse contexto a Lei Maria da Penha – direito processual, 
define o rito. Sendo que, até147 
Principais atividades das Patrulhas Maria da Penha: ..................................................... 149 
Principais estratégias das Patrulhas Maria da Penha: .................................................... 151 
Finalizando ...................................................................................................................... 152 
4.3.3.7 Aula 7: Desafios da atuação quando os autores ou vítimas de violência contra a 
mulher são profissionais de segurança pública. .................................................................. 154 
Introdução ....................................................................................................................... 154 
Prevenção e enfrentamento da violência doméstica nas instituições de segurança 
pública ............................................................................................................................. 155 
4.3.3.8 Aula 8 – Boas Práticas: Grupos Reflexivos para profissionais de segurança autores 
de violência doméstica e familiar ........................................................................................ 160 
Finalizando ...................................................................................................................... 161 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 163 
 
 
 
6 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
 APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
Caras alunas e caros alunos, 
 
As diferentes formas de violência contra mulheres e meninas, em grande parte, estão 
associadas à profunda desigualdade entre homens e mulheres presente em nossa 
sociedade. Essa desigualdade influencia os papéis que homens e mulheres desempenham, 
bem como os riscos a que estão submetidos e as redes de proteção às quais têm acesso. 
Este curso tem como objetivo apresentar os principais conceitos, marcos teóricos e 
normativos das vulnerabilidades que 
mulheres e meninas enfrentam, bem como 
os instrumentos desenvolvidos para a 
ampliação de sua proteção. Também será 
abordada a importância do protagonismo 
de mulheres no enfrentamento de 
diferentes formas de violência e da 
promoção da igualdade de direitos. 
A violência contra mulheres e 
meninas é um grave problema social e 
vem ocupando espaço de relevância e 
visibilidade, com impactos diretos nos 
órgãos de segurança pública. No entanto, 
o enfrentamento desta forma de violência demanda um contínuo conhecimento sobre suas 
dinâmicas e estratégias para sua prevenção e redução por parte dos profissionais que atuam 
nos distintos serviços públicos, destaque feito àqueles que integram os órgãos do sistema 
de segurança pública e justiça criminal. 
A atuação frente aos crimes relacionados à violência contra mulheres e meninas 
corresponde a uma parte significativa do trabalho desempenhado pelos diferentes órgãos de 
segurança pública no Brasil. Por essa razão, independentemente da existência de setores 
especializados no enfrentamento desta forma de violência, como é caso, por exemplo, das 
Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher ou ainda as Patrulhas/Rondas Maria da 
Penha, todos (as) os (as) profissionais de segurança pública devem possuir o conhecimento 
Figura 1: Mulher loira em pé sobre fundo rosa cobrindo 
os olhos com as mãos 
 
Fonte: Imagem de krakenimages.com no Freepik 
 
https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-loira-em-pe-sobre-fundo-rosa-cobrindo-os-olhos-com-as-maos-e-fazendo-gesto-de-parada-com-expressao-triste-e-de-medo-conceito-envergonhado-e-negativo_42264488.htm#query=violência contra a mulher&position=15&from_view=search&track=ais
 
 
7 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
que os (as) capacite a atuar de modo técnico, profissional e humanizado diante de cada 
ocorrência, evitando, sobretudo, uma atuação revitimizante. 
 A ampliação do debate público sobre o tema, as alterações na legislação 
nacional voltada ao enfrentamento da violência contra a mulher, bem como a necessidade 
de padronização dos protocolos de atuação, tornam este um tema de interesse para todos 
os profissionais do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP. Um dos principais 
pressupostos do atendimento a mulheres e meninas em situação de violência é a 
necessidade da intersetorialidade, ou seja, a perspectiva de um trabalho articulado e em 
rede, entre órgãos e serviços das áreas de saúde, segurança pública, justiça, assistência 
social, educação, dentre outras. 
 
Este curso está dividido em três módulos: 
 
 Primeiro Módulo 
Apresenta uma introdução ao tema, destacando os principais conceitos, marcos 
teóricos e normativos sobre o enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, bem 
como sobre a importância do protagonismo das mulheres na prevenção e redução da 
violência. 
 Segundo Módulo 
Aborda a estrutura de governança do enfrentamento desta forma de violência no 
Brasil, bem como a importância do uso de dados e evidências para informar as políticas 
públicas focadas nesta temática. 
 Terceiro módulo 
Trata dos aspectos operacionais, práticos e legais, destacando experiências bem-
sucedidas no enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, como as delegacias 
especializadas, as Patrulhas/Rondas Maria da Penha, entre outros. 
 
Público-alvo: Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública. 
 
 
 
 
8 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 OBJETIVOS DO CURSO 
 
2.1 Objetivo Geral 
 
A ação educacional tem por objetivo capacitar os profissionais do SUSP, a partir de 
uma análise histórica e social de gênero, com a perspectiva de aprimoramento do serviço de 
segurança pública no atendimento às mulheres e meninas vítimas de violência e, também, 
do fortalecimento da participação das mulheres na segurança pública. 
 
2.2 Objetivos Específicos: 
 
Os objetivos específicos do curso visam que os profissionais do sistema de 
segurança pública possam: 
 
⚫ Conhecer os principais conceitos, marcos teóricos e normativos sobre o 
enfrentamento da violência contra mulheres e meninas e a importância do protagonismo de 
mulheres e meninas a partir de uma linguagem fácil e acessível; 
⚫ Conhecer a estrutura de governança e as principais políticas públicas para o 
enfrentamento da violência contra mulheres e meninas no Brasil; 
⚫ Conhecer boas práticas de enfrentamento da violência contra mulheres e 
meninas: experiências desenvolvidas pelos órgãos do Susp; 
⚫ Refletir sobre a violência presente nas sociedades contemporâneas (relações 
de gênero, classe social e etnia); 
⚫ Discutir a importância das mulheres na elaboração e execução das políticas de 
segurança pública; 
⚫ Analisar o papel dos órgãos de segurança pública na rede de proteção às 
mulheres e às meninas, bem como no atendimento aos casos de violência contra as 
mulheres e meninas. 
 
 
 
9 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 3. ESTRUTURA DO CURSO 
 
Este curso possui uma carga horária de 40 horas e compreende os seguintes 
módulos: 
 
• Módulo 1 - Protagonismo de mulheres e enfrentamento da violência 
• Módulo 2 - Violências, Estrutura de governança e políticas baseadas em evidência 
• Módulo 3 - Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o enfrentamento da 
violência contra mulheres 
 
 
10 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violênciaso advento da Lei nº 13.641/2018, a Lei Maria da Penha não 
trazia em seu bojo nenhum tipo penal. 
 
Definindo a Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher 
 
De acordo com a Lei nº 11.304/2006 (Art.5º) configura violência doméstica e familiar 
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que venha causar morte, 
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
Acesse a lei pelo link: LEI Nº 11.340, DE 07 DE AGOSTO DE 2006 
⚫ No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
⚫ No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade 
ou por vontade expressa; 
⚫ Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação; 
⚫ E as relações pessoais enunciadas independem de orientação sexual. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
 
 
108 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Súmula 600 do STJ - Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista 
no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), não se exige a coabitação entre 
autor e vítima. (Súmula 600, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017) 
No caso dos crimes de violência doméstica, não temos um sujeito ativo obrigatório, 
ou seja, não é necessário que seja um homem, mas o sujeito passivo é necessariamente 
uma mulher. 
Sobre o sujeito passivo, é importante ressaltar que em dois julgados recentes, o 
Superior Tribunal Federal (STF) garantiu o direito aos transgêneros e aos transexuais, 
afirmando o direito à igualdade sem discriminações, abrangendo a identidade e a expressão 
de gênero. Trecho da ementa: 
1 - Se o denunciado, companheiro de vítima transexual que se identifica com o gênero feminino, a 
agride com barra de ferro e corta os cabelos dela com faca, além de a injuriar e ameaçar, por ciúmes e 
sentimento de posse, evidenciando a subjugação da figura feminina e violência de gênero, no contexto 
doméstico e de intimidade familiar, a competência para processar e julgar a ação penal pelos supostos crimes 
cometidos é do juizado especializado da mulher“ Acórdão 1671958, 07425997220228070000, Relator: JAIR 
SOARES, Câmara Criminal, data de julgamento: 1°/3/2023, publicado no PJe: 13/3/2023. 
 
As Formas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher 
A Lei Maria da Penha (Art.7º) traz uma visão mais ampla da violência doméstica e 
familiar contra a mulher compreendida além da violência física, mas abrangendo a violência 
sexual, psicológica, moral e patrimonial. 
✓ A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
✓ A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos 
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e 
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, 
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, 
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. 
SAIBA MAIS 
Art. 1º Esta Lei reconhece que a violação da intimidade da mulher configura 
violência doméstica e familiar e criminaliza o registro não autorizado de conteúdo com 
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado. (Redação dada pela 
Lei nº 13.772, de 2018). 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAO_TODAS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1671958
https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAO_TODAS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1671958
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13772.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13772.htm
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Ver também: Lei nº 14.188, de 28 de julho de 2021. Define o Programa de 
Cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de 
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei 
11.340/2006. Cria o artigo 147-B no CP: "Violência psicológica contra a mulher”. 
 
✓ A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, 
ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer 
modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a 
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, 
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e 
reprodutivos; 
✓ A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer suas necessidades; 
✓ A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, 
difamação. 
Calúnia: Art. 138 CP. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como 
crime. 
Difamação: Art. 139 CP. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua 
reputação. 
Injúria: Art. 140 CP. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade, honra pessoal ou o 
decoro. 
Pesquisas e estatísticas oficiais apontam que nos contextos de violência doméstica 
os crimes de lesão corporal dolosa e ameaça representam a maior parte dos registros em 
delegacias, bem como dos acionamentos emergenciais das polícias militares. Portanto, é 
fundamental que os profissionais do SUSP, no atendimento de ocorrências do tipo, saibam 
identificar as diferentes formas de violência e sejam capazes de realizar os procedimentos e 
encaminhamentos adequados à cada situação. 
Aspectos Do Atendimento Às Mulheres Em Situação De Violência Doméstica 
 
A intensidade e demanda do trabalho da segurança pública ou a falta de 
conhecimento podem fazer com que os profissionais, inadvertidamente, adotem condutas 
 
 
110 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violênciacontra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
revitimizantes no atendimento das ocorrências envolvendo crimes contra mulheres e 
meninas. 
Mas o que é revitimização? 
 
A revitimização (ou vitimização secundária) é uma série de atos e questionamentos 
que geram constrangimentos para as mulheres que foram vítimas de violências de gênero. 
Geralmente essa revitimização faz com que a mulher em situação de violência desista da 
denúncia ou de prosseguir com o processo. Além disso, essa prática afeta a imagem da 
vítima a respeito da instituição à qual pertence o agente autor da revitimização. 
O que pode caracterizar, na prática, uma atitude revitimizante? Eis alguns exemplos: 
o emprego de linguagem discriminatória; a realização de perguntas contaminadas por juízo 
de valor ou estereótipos de gênero; permitir que mulher vítima de violência seja exposta à 
parte acusada, principalmente quando esta demonstre medo ou desconforto em sua 
presença. 
Figura 31: As mãos das pessoas apontam para a garota. É uma mulher não confiante. Opinião das pessoas 
e a pressão da sociedade. Vergonha. 
 
Fonte: Plano Vetor Pro 
 
Nesse contexto precisamos compreender, também, o que é “violência institucional”, 
o crime inserido pela Lei nº 14.321/2022 à Lei dos Crimes de Abuso de Autoridade. 
VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL: Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a 
testemunha de crimes violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, 
https://tinyurl.com/4pfkkpta
 
 
111 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
que a leve a reviver, sem estrita necessidade: (I) a situação de violência; ou (II) outras 
situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização. 
Vale lembrar também que o Conselho Nacional de Justiça – CNJ – editou a 
Resolução nº 254/2018, abordando a violência institucional praticada contra a mulheres, 
conceituando-a como a ação ou omissão de qualquer órgão ou agente público que fragilize, 
de qualquer forma, o compromisso de proteção e preservação de direitos das mulheres. 
Destaca-se também que a Lei nº 13.505/2017 acrescentou novos dispositivos à Lei 
Maria da Penha tratando do atendimento policial e pericial especializado prestado à mulher 
em situação de violência doméstica e familiar. Sendo importante observar a perspectiva da 
NÃO REVITIMIZAÇÃO das mulheres atendidas, como se pode observar: 
⚫ O atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por 
servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados; 
⚫ A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de 
testemunha de violência doméstica obedecerá às seguintes diretrizes: 
(I) Salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada 
a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; 
(II) Garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência 
doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou 
suspeitos e pessoas a eles relacionadas; 
(III) Não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo 
fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida 
privada. 
⚫ Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de 
testemunha de delitos será adotado preferencialmente, o seguinte procedimento: 
(I) A inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual 
conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência 
doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; 
(II) Quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado 
em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial. 
 ATENÇÃO: Embora utilizemos de forma recorrente o termo ‘vítima’ é importante 
observar a importância do termo ‘em situação de’ é utilizado no lugar de vítima de violência, 
visto que a condição de vítima pode ser paralisante e reforça a representação da mulher 
como passiva e dependente: “Quando a mulher é referida como estando em situação de 
 
 
112 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
violência, ela está em condição, ou seja, ela acessa um lugar de passagem, pois é um sujeito 
nessa relação. Estar em situação oferece a possibilidade de mudança” (MIRIM, 2005). 
 
Aspectos do Atendimento às Vítimas de Crimes Sexuais 
 
Os dados demonstram que os crimes sexuais figuram entre aqueles com o maior 
percentual de subnotificação. Fatores como medo, vergonha e falta de confiança nas 
instituições contribuem para as vítimas não registrarem. Esse quadro de subregistro é grave, 
pois, além favorecer a impunidade, faz com que a maior parte das vítimas de estupro acabe 
não acessando os procedimentos de saúde previstos nesses casos, aumentando os riscos 
do agravamento de sequelas relacionadas à violência sexual. Não obstante o fato de que 
qualquer pessoa pode ser vítima de crimes de natureza sexual, os dados mostram que 
mulheres e meninas são as vítimas preferenciais. 
A violência sexual produz graves efeitos na saúde física, com o risco de 
contaminação por Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), entre elas, o HIV, até 
gravidez indesejada, agravando o quadro traumático. Além disso, há que se considerar os 
efeitos na saúde mental das vítimas que podem desenvolver quadros de depressão, 
síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios psicossomáticos. 
Um dos grandes desafios no enfrentamento desse tipo de violência é a articulação e 
integração dos serviços de todas as áreas relacionadas tais como: segurança pública, saúde, 
justiça e assistência social, de modo a oferecer um atendimento humanizado e integral. Daí 
a importância dos profissionais do SUSP conhecerem tanto a legislação aplicada, quanto os 
protocolos e encaminhamentos relativos ao atendimento das vítimas de crimes sexuais no 
âmbito dos demais serviços, em especial na área da saúde. 
A Lei nº 12.015/2009, que define os crimes contra a dignidade sexual define o crime 
de estupro da seguinte forma: 
Acesse a lei pelo link: LEI Nº 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009 
ESTUPRO: Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a 
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. 
De acordo com esta redação qualquer pessoa, independente do sexo, pode ser 
sujeito passivo do crime de estupro. A lei também tem o intuito de coibir abuso e exploração 
sexual de crianças e adolescentes, incluindo o tipo penal estupro de vulnerável: 
ESTUPRO DE VULNERÁVEL: Art. 217-A.Ter conjunção carnal ou praticar outro ato 
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12015.htm
 
 
113 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 32 – Estupro de Vulnerável 
Fonte: TJDFT 
 
 
 
§ 1º. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém 
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a 
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
Sobre as diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos 
profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde 
temos como referência o Decreto nº 7.958 de 13 de março de 2013, destacando-se: 
 
DIRETRIZES PARA O ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL 
 
Art. 2º O atendimento às vítimasde violência sexual pelos profissionais de segurança 
pública e da rede de atendimento do SUS observará as seguintes diretrizes: 
I - Acolhimento em serviços de referência; 
II - Atendimento humanizado, observados os princípios do respeito da dignidade da 
pessoa, da não discriminação, do sigilo e da privacidade; 
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/estupro-praticado-contra-menor-entre-18-e-14-anos-x-estupro-contra-menor-de-14-vulneravel
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
III - Disponibilização de espaço de escuta qualificado e privacidade durante o 
atendimento, para propiciar ambiente de confiança e respeito à vítima; 
IV - Informação prévia à vítima, assegurada sua compreensão sobre o que será 
realizado em cada etapa do atendimento e a importância das condutas médicas, 
multiprofissionais e policiais, respeitada sua decisão sobre a realização de qualquer 
procedimento; 
V - Identificação e orientação às vítimas sobre a existência de serviços de referência 
para atendimento às vítimas de violência e de unidades do sistema de garantia de direitos; 
VI - Divulgação de informações sobre a existência de serviços de referência para 
atendimento de vítimas de violência sexual; 
VII - Disponibilização de transporte à vítima de violência sexual até os serviços de 
referência; e 
VIII - Promoção de capacitação de profissionais de segurança pública e da rede de 
atendimento do SUS para atender vítimas de violência sexual de forma humanizada, 
garantindo a idoneidade e o rastreamento dos vestígios coletados. 
 É importante salientar que o atendimento da pessoa em situação de violência sexual 
nos serviços de saúde independe da apresentação do Boletim de Ocorrência (BO) ou 
Registro de Ocorrência (RO), entretanto, cabe às instituições de saúde, conforme a Lei nº 
12.845 de 2013, Art. 3º, III, estimular o registro da ocorrência e os demais trâmites legais 
para encaminhamento aos órgãos de medicina legal, no sentido de diminuir a impunidade 
dos (as) autores (as) de agressão. 
Em 2019 foi publicada a Lei nº 13.931, que trata da notificação compulsória dos 
casos de suspeita de violência contra a mulher pelos profissionais de saúde, que deverão 
registrar no prontuário médico da paciente e comunicar à polícia os casos de violência contra 
a mulher. 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA: 
 
Figura 33: Notificação Compulsória 
Fonte: Blog Concent 
 
Art. 1º: Constituem objeto de notificação compulsória, em todo o território nacional, 
os casos em que houver indícios ou confirmação de violência contra a mulher atendida em 
serviços de saúde públicos e privados. 
§ 4º: Os casos em que houver indícios ou confirmação de violência contra a mulher 
serão obrigatoriamente comunicados à autoridade policial no prazo de 24 (vinte e quatro) 
horas, para as providências cabíveis e para fins estatísticos”. 
 É possível verificar até aqui toda complexidade presente no atendimento às vítimas 
de estupro, sendo que tal complexidade se amplia quando as vítimas são crianças e 
adolescentes. 
CRFB, Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, 
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e 
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Portanto, nesse contexto, é importante considerar que a Constituição Federal 
Brasileira (art. 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) dispõem sobre 
a proteção integral da criança e do adolescente, definindo assim a prioridade absoluta no 
atendimento aos seus direitos como cidadãos brasileiros. 
Tal condição demanda a aplicação da doutrina da proteção integral, que pressupõe 
a efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Trazendo em sua 
essência a proteção e a garantia do pleno desenvolvimento humano, a partir do 
https://blog.concentsistemas.com.br/o-que-e-notificacao-compulsoria/
 
 
116 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
reconhecimento da condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em 
desenvolvimento. 
 
ASSÉDIO SEXUAL E IMPORTUNAÇÃO SEXUAL 
 
Preliminarmente, devemos esclarecer que o entendimento da sociedade brasileira 
sobre o que configura “assédio” não tem o mesmo significado em termos de aplicação da lei. 
Conforme destaca Moraes (2017): 
O que se percebe na recorrência do emprego do termo “assédio” é a tentativa de “dar nome” às 
experiências de desconforto, perseguição, constrangimento ou importunação, normalmente infringidos às 
mulheres, quer seja no espaço do trabalho, nas relações interpessoais ou mesmo no simples ato de circulação 
no espaço público. (MORAES, 2017: p. 04) 
Figura 34: Não é Não 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Sind-Saude MG 
 
Portanto, a depender das circunstâncias, natureza e gravidade do fato, condutas 
inicialmente descritas pelo senso comum como “assédio sexual”, quando analisadas sob os 
aspectos da legislação, podem configurar diferentes crimes ou contravenções penais tais 
como: estupro, estupro de vulnerável, constrangimento ilegal, ato obsceno, violação sexual 
mediante fraude, importunação sexual, assédio sexual dentre outros. 
Embora seja um tipo de violência que, na prática, apresente baixa notificação às 
autoridades e, portanto, alto índice de subnotificação e impunidade, as diferentes 
manifestações de assédio são mais frequentes do que se imagina. 
Pois, de acordo com dados da pesquisa: Visível e Invisível: A Vitimização de 
Mulheres no Brasil - 4ª edição - 2023, no ano de 2022, 46,7% das mulheres brasileiras de 16 
anos ou mais sofreram alguma forma de assédio sexual. As condutas mais frequentemente 
https://sindsaudemg.org.br/assedio-sexual-e-crime-saiba-como-identificar-e-quais-sao-os-seus-direitos/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
citadas foram as cantadas e os comentários desrespeitosos na rua, experimentados por 4 
em cada 10 mulheres. 
O assédio sexual é uma expressão da violência sexual, caracterizada como manifestação sensual ou 
sexual, alheia à vontade da pessoa a quem se dirige. Configuram atos de assédio, abordagens grosseiras e 
comentários obscenos, ofensas e propostas inadequadas que constrangem, humilham, amedrontam, ou seja, 
que não contam com o consentimento da outra parte. (FBSP, 2023: p.37). 
 
Por parte dos profissionais do SUSP, esse fenômeno demanda conhecimento e 
sensibilidade para melhor ouvir, acolher e encaminhar as vítimas desse tipo de crime. Deve-
se reconhecer que o assédio, em suas diferentes manifestações, pode acontecer no âmbito 
da sociedade como um todo e também nas instituições, inclusive nas instituições de 
segurança pública. Este não é um tema fácil de ser abordado e solucionado, contudo, precisa 
ser reconhecido e enfrentado pela sociedade e instituições pois, conforme verificamos, vem 
gerando vítimas invisíveis. 
 
ASSÉDIO SEXUAL: Artigo 216-A. constranger alguém com o intuito de obter 
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior 
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena: 
Detenção de 1 a 2 anos. 
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de18 (dezoito) anos. 
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
Figura 35: Como denunciar o assédio 
Fonte: SindComerciários 
https://sindcomerciariosvarginha.com.br/blog/assedio-sexual-no-trabalho-perguntas-e-respostas/
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
O crime de assédio sexual foi incluído no Código Penal Brasileiro a partir da Lei nº. 
10.224, em maio de 2001. Embora, na legislação brasileira, não haja distinção de gênero 
para aplicação desta lei, nota-se que esse tipo de crime atinge principalmente as mulheres, 
assim como a maioria dos crimes de natureza sexual que têm as mulheres e meninas como 
as principais vítimas. 
 ATENÇÃO 
 
✓ O assédio sexual refere-se a uma situação de desigualdade de poder entre 
vítima e assediador, em que a simples negativa à investida de intensão sexual, em geral não 
é suficiente para cessar a violência. 
✓ Assédio vertical (ascendência hierárquica). Assédio horizontal (entre 
trabalhadores do mesmo nível). 
✓ Assédio sexual, se não constituir crime mais grave, inclui condutas que vão 
desde contato físico até cantadas e comentários de conotação sexual. 
✓ O assédio não deve ser confundido com paquera. No assédio, apenas um dos 
lados tem interesse, trata-se, portanto, de uma ação unilateral. Não há reciprocidade ou 
consentimento. 
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), quaisquer 
insinuações, contatos físicos forçados, propostas ou pedidos impertinentes, entre outros, 
podem ser considerados como assédio sexual, desde que apresentem pelo menos uma das 
seguintes características: 
✓ Ser claramente uma condição para dar ou manter emprego; 
✓ Influir nas promoções ou na carreira do assediado (a); 
✓ Prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar, ou intimidar a vítima. 
 
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL: Artigo 215-A. Praticar contra alguém e sem sua 
anuência ato libidinoso com objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Pena: 
reclusão de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave. 
 
 
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
O crime de importunação sexual foi incluído no Código Penal Brasileiro a partir da 
Lei nº. 13.718, de setembro de 2018. 
A depender da conduta e se não constituir crime mais grave, esse tipo penal se refere 
à prática de ato libidinoso (que tem objetivo de satisfação sexual) na presença de alguém, 
sem sua autorização e sem violência física ou grave ameaça. Exemplos: passar a mão, 
apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros. 
 
 ATENÇÃO 
 
✓ Em caso de existência de prova material, como a ejaculação em alguma peça 
de roupa, esse material deve ser encaminhado à perícia técnica. 
✓ Apenas mulheres podem ser vítimas de importunação sexual? A lei não faz 
distinção de gênero, ou seja, tanto homens quanto mulheres podem ser autores ou vítimas 
desse tipo de crime. 
✓ Qual a diferença entre importunação sexual e estupro? Tanto a importunação 
sexual quanto o estupro dizem respeito crimes contra a dignidade sexual, mas não significam 
a mesma coisa. A principal diferença entre os dois tipos penais é que, na importunação 
sexual, não há violência ou grave ameaça. 
✓ Leitura recomendada: Não é não: saiba o que é importunação sexual e assédio 
sexual, e o que fazer se você for vítima. Disponível em: 
https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/nao-e-nao-saiba-o-que-e-importunacao-
sexual-e-assedio-sexual-e-o-que-fazer-se-voce-for-vitima/ 
 
Medidas Protetivas de Urgência 
 
Medidas protetivas são mecanismos legais de proteção a pessoas que, de alguma 
forma, se encontrem em situação de vulnerabilidade. Por meio dessas medidas busca-se 
garantir os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, como forma de preservar 
a integridade e saúde física, mental e psicológica das vítimas. Portanto, elas têm o objetivo 
de fazer cessar agressões através de dirigentes tipos de restrições, como a proibição de 
contato sob quaisquer meios, afastamento da pessoa agressora do lar, dentre outros. 
https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/nao-e-nao-saiba-o-que-e-importunacao-sexual-e-assedio-sexual-e-o-que-fazer-se-voce-for-vitima/
https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/nao-e-nao-saiba-o-que-e-importunacao-sexual-e-assedio-sexual-e-o-que-fazer-se-voce-for-vitima/
 
 
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das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Medidas protetivas podem ser encontradas e concedidas com fundamento em 
diferentes leis, sendo as principais delas a Lei Maria da Penha, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o Estatuto do Idoso e mais recentemente, a Lei nº 14.344 de maio de 2022 – 
Lei Henry Borel. 
Figura 36: Quebre o Ciclo 
Fonte: TJMT 
 
Nesse sentido é importante que os profissionais do SUSP tenham conhecimento 
sobre o direito de acesso das vítimas às medidas protetivas e as garantias quanto ao 
cumprimento destas por parte dos agressores. 
O descumprimento de medida protetiva de urgência configura crime, como se verifica 
pelo artigo 24-A da Lei Maria da Penha (concluído pela Lei nº 13.641 de 2018) e artigo 25 da 
Lei nº 14.344/22. 
No caso específico da violência doméstica, o deferimento das medidas protetivas de 
urgência se configura em um importante fator de proteção das vítimas, sobretudo contra a 
reincidência de novas agressões, tão comuns nesse tipo de violência. Outro dado que 
aponta para fator de proteção presente nessas medidas é o fato de que maior parte das 
mulheres vítimas de feminicídio não possuíam medidas protetivas ou registros anteriores ao 
fato, razão pela qual é importante orientar as vítimas quanto a esse direito, sobretudo no 
primeiro atendimento. 
Ainda assim, encontramos autores dispostos a descumprir as medidas protetivas, o 
que sinaliza a elevação do risco de feminicídio presente nos casos em que há violação da 
medida por parte do agressor. 
Eis uma das razões pelas quais esse tipo de crime requer especial atenção por 
parte dos profissionais do SUSP, destacando-se que, em regra, a maioria das Patrulhas e 
Rondas Maria da Penha do país atua, prioritariamente, no acompanhamento e fiscalização 
das medidas protetivas deferidas a mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 
https://www.tjmt.jus.br/Noticias/63318
 
 
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SAIBA MAIS 
Assista o vídeo “Imagine…”, que retrata cenas do cotidiano de uma audiência 
tradicional, onde crianças e adolescentes são levadas a falar da situação de violência a que 
foram expostos. https://youtu.be/i9EupNn0Vgo 
A partir do vídeo sugerimos a reflexão sobre o significado do processo judicial para 
uma criança ou adolescente e o quanto é importante o cuidado e atenção para promover 
uma intervenção protetiva e acolhedora em situações que ensejam a escuta da 
criança/adolescente vítima ou testemunha. Sugerimos também ampliar esse olhar reflexivo 
para mulheres vítimas de abusos submetidas reiteradamente a contar e reviver a violência 
sofrida e o quanto de revitimização há nesse processo. E o que é possível fazer para 
evitarmos a revitimização. 
 
Finalizando 
Nesta aula você aprendeu que: 
• Há um percurso histórico na evolução e consolidação dos direitos das mulheres 
no Brasil e que esse processo permanece em curso, através principalmente de mudanças 
nas dinâmicas sociais e na legislação; 
• A violência institucional é uma das formas de revitimização de mulheres e 
meninas em situação de violência; 
• Dentre as diretrizes para atendimentoàs vítimas de crimes sexuais estão: o 
acolhimento e atendimento humanizado, observados os princípios do respeito da dignidade, 
da não discriminação, do sigilo e da privacidade. 
 
 
https://youtu.be/i9EupNn0Vgo
https://youtu.be/i9EupNn0Vgo
 
 
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das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.3 Aula 3: Identificando a violência contra mulheres e meninas 
 
 Introdução 
 
Figura 37: Ciclos de Violência 
Fonte: CNJ 
 
Conforme estamos vendo ao longo deste curso, existem diferentes tipos de violência 
que afetam principalmente o gênero feminino, e que parte dessa violência é reforçada 
através da cultura e dos estereótipos de gênero. 
Portanto, parte importante da prevenção e enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas passa pela identificação e reconhecimento dessa violência em suas 
distintas manifestações, bem como pelo conhecimento e aplicação dos mecanismos 
adequados a cada situação. 
Além disso, é importante dimensionar os riscos associados, pois, nos contextos de 
agravamento da violência contra a mulher, o feminicídio é uma possibilidade. E embora nem 
sempre existam registros oficiais, como Registros ou Boletins de Ocorrência, nos casos de 
feminicídios íntimos, normalmente as testemunhas, familiares ou vizinhos relatam um 
histórico de agressões anteriores. Daí retornamos à importância do primeiro atendimento 
como um fator importante para a quebra do ciclo da violência por parte da vítima. 
https://www.cnj.jus.br/quebre-o-ciclo-aprenda-a-identificar-os-ciclos-de-violencia-contra-a-mulher/
 
 
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Principais aspectos da violência contra a mulher 
 
Devido aos fatores que já abordamos ao longo dos módulos anteriores, a vitimização 
feminina guarda importantes diferenças em relação à população em geral. Nesse sentido, 
assim como qualquer pessoa, as mulheres também estão expostas à criminalidade comum 
e urbana como é o caso dos crimes patrimoniais e contra a pessoa. Porém, além disso, elas 
são as principais vítimas de violências praticadas por parceiros íntimos, familiares e 
conhecidos. 
E, por conta dessa proximidade entre vítima e agressor, os episódios de violência 
tendem a se repetir e esse contexto faz com que durante o atendimento de casos de violência 
doméstica e familiar contra mulheres, muitos profissionais se perguntem por que os 
envolvidos permanecem nessa situação. Questionamentos como: por que esta vítima não 
se separa do agressor? O que leva estas pessoas a continuarem se relacionando? Quantas 
vezes o Estado deverá retornar em determinada residência por causa da violência entre o 
casal? 
Embora sejam compreensíveis tais indagações, é importante que os profissionais 
encarregados do atendimento de ocorrências de violência doméstica e familiar não façam 
julgamento pessoal sobre a vítima e que atuem dentro da técnica e da legalidade. Atendendo 
quantas vezes forem chamados ou quantas vezes a vítima busque o atendimento de um 
órgão do sistema de segurança pública. 
Outro aspecto relevante na contextualização da violência contra a mulher é o tipo de 
local onde ocorrem as violências, em geral, interior das residências, longe do olhar público, 
o que torna a atuação preventiva mais complexa, em especial considerando as modalidades 
de prevenção baseadas na presença e ostensividade do policiamento. 
Portanto, nesse contexto, fatores como tempo de resposta das forças de segurança 
pública nos casos de acionamentos emergenciais, o acolhimento e a correta aplicação da 
lei têm efeitos importantes para reduzir a impunidade e transmitir segurança às vítimas que 
denunciam. 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
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das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Análise de risco 
 
 É fato que nem todos os profissionais do SUSP, no âmbito de suas atribuições, 
aplicam ou utilizam as ferramentas de avaliação de risco, pois estas, normalmente, são 
utilizadas pelos serviços especializados, profissionais do sistema de justiça e equipes 
multidisciplinares. 
Ainda assim, é importante que todos os profissionais do SUSP conheçam essas 
ferramentas e que, sobretudo, saibam que é possível identificar fatores de risco e proteção 
associados aos casos de violência contra mulher, pois este conhecimento poderá ser 
determinante na postura de atendimento de ocorrências de violência doméstica e na correta 
orientação das vítimas. 
 
Dentre os objetivos da avaliação de risco destacam-se: 
 
⚫ Estabelecer estratégias integradas com o Sistema de Justiça e demais atores 
da rede social a fim de proteger, prevenir e evitar a ocorrência de novas situações de 
violência; 
⚫ Estabelecer estratégias de intervenção a fim de que mulheres em situação de 
violência sejam acolhidas e iniciem um processo de compreensão sobre o contexto de 
violência em que estão inseridas. 
 
AVALIAÇÃO DE RISCO: avaliar risco é adotar procedimentos sistematizados para 
identificação da possibilidade de ocorrência de novas violências e dessas serem letais 
(MEDEIROS, 2015). Envolve o registro minucioso de informações relevantes para 
compreensão dos riscos (ACOSTA, 2013). 
É uma ação essencial para o aprimoramento dos atendimentos oferecidos a 
mulheres em situação de violência, com vistas à garantia de sua segurança (MEDEIROS, 
TAVARES & DINIZ, 2015). 
A avaliação de risco não deve substituir outras ações realizadas em casos de 
violência doméstica, tais como registro de boletim de ocorrência policial, concessão de 
medidas protetivas e acolhimento psicossocial (MEDEIROS, 2015). 
 
 
 
 
125 
Segurança Pública e Mulheres: 
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das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A avaliação de risco permite: 
 
⚫ Fundamentar pedidos de medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria 
da Penha, contribuindo para a celeridade de seu deferimento; 
⚫ Orientar a aplicação das medidas de proteção previstas no artigo 11 da Lei 
Maria da Penha; 
⚫ Prevenir o agravamento da violência para vítimas sobreviventes de feminicídios 
e/ou vítimas indiretas; 
⚫ Organizar o encaminhamento e o acompanhamento das mulheres por meio da 
rede de serviços, facilitando a comunicação entre os profissionais com vistas a ampliar a 
proteção para as mulheres. 
 REDE DE ATENDIMENTO: São as instituições ligadas à repressão e prevenção da 
violência doméstica e que se inter-relacionam para maior proteção da mulher em contexto 
de violência doméstica. Exemplos: Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, 
Delegacia de Polícia, Polícia Militar, serviços de saúde, serviços de atendimento psicossocial 
e serviços de assistência social. 
Dimensões da avaliação de risco 
 
Especialmente considerando que a violência contra as mulheres é multicausal, na 
avaliação do risco é importante considerar a existência de diferentes dimensões e que estas 
se inter-relacionam, sendo elas: 
INDIVIDUAL: Aspectos e características dos indivíduos que podem se configurar em 
fatores de maior vulnerabilidade ou proteção. Exemplos: presenciar violência doméstica 
quando criança; sofrer abuso na infância. 
CULTURAL: Aspectos culturais devem ser considerados na avaliação de risco. 
Exemplos: noção de masculinidade ligada à agressão ou dominação; consentimento social 
do castigo físico contra meninas e mulheres; aprovação da violência para resolver conflitos 
cotidianos. 
FAMILIAR: O contexto familiar em que o caso se encontra inserido. Exemplos: 
conflitos conjugais; controle patrimonial por parte do homem; uso de violência como 
resolução dos conflitos familiares. 
SOCIAL: O contexto socialmais amplo também deve ser considerado. Isolamento 
da mulher; desemprego; dificuldade de acesso aos serviços da rede de atendimento. 
 
 
 
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Fatores de Risco 
 
São eventos e características individuais e ambientais que aumentam a 
probabilidade de ocorrerem atos violentos contra as mulheres nas relações domésticas e 
familiares. Eis alguns fatores de risco já identificados pela literatura: 
 
⚫ Estereótipos rígidos de gênero; 
⚫ Separação recente; 
⚫ Ameaça ou tentativa de suicídio; 
⚫ Dependência econômica; 
⚫ Histórico de violência; 
⚫ Escalada na frequência e intensidade da violência; 
⚫ Acesso à arma de fogo; 
⚫ Desemprego; 
⚫ Comportamento de ciúme excessivo e controle sobre vítima; 
⚫ Descumprimento de medidas protetivas; 
⚫ Conflitos relacionados à guarda, visita ou pensão de filhos; 
⚫ Dependência emocional; 
⚫ Ocorrências policiais anteriores/ reincidência; 
⚫ Uso abusivo de álcool e outras drogas; 
⚫ Isolamento social da vítima; 
⚫ Agressões físicas graves, ameaças; 
⚫ Agressões durante a gestação; 
⚫ Transtornos mentais; 
⚫ Vítima ser Pessoa com Deficiência (PcD); 
⚫ Banalização ou negação da violência. 
 
 
 
 
 
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 ATENÇÃO: 
 
O uso de armas nos episódios de violência é apontado pela literatura como um fator 
de risco importante. (Medeiros, 2015). 
Estudos indicam que mulheres ameaçadas ou agredidas com arma têm 20 vezes 
mais probabilidades de serem vítimas de feminicídio. (AMCV et al., 2013) 
A violência durante a gestação está relacionada ao risco de feminicídio (Campbell et 
al., 2003). 
Limitações físicas e psicológicas decorrentes do período gestacional podem 
acentuar a situação de vulnerabilidade da mulher. Identificar episódios de violência durante 
a gravidez é relevante para a avaliação da dinâmica relacional (Medeiros, 2015). 
 
Fatores de proteção 
 
São eventos e características pessoais e ambientais que protegem as mulheres da 
vulnerabilidade a que estão expostas pelos fatores de risco e contribuem para a construção 
de estratégias de enfrentamento e ruptura das situações de violência. Sendo alguns deles: 
⚫ Rede de apoio fortalecida; 
⚫ Adesão ou inserção em acompanhamento pela rede de proteção; 
⚫ Separação ou melhorias no relacionamento; 
⚫ Autonomia da vítima; 
⚫ Interrupção da violência; 
⚫ Auto responsabilização do agressor; 
⚫ Filhos protegidos; 
⚫ Publicização do fato; 
⚫ Articulação da rede de proteção; 
⚫ Deferimento de medidas protetivas adequadas e respeito às medidas 
protetivas; 
⚫ Independência financeira; 
⚫ Estabelecimento de políticas públicas de proteção às vítimas e 
responsabilização dos agressores. 
 
 
 
 
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 ATENÇÃO 
 
AUTONOMIA DAS MULHERES: autonomia é a capacidade de tomar decisões 
próprias, de tornar-se independente de alguém ou de alguma situação. Autonomia significa 
superar a situação de coação, visando à superação em relação à desigualdade de poderes. 
O atendimento policial visa respeitar e promover a tomada de decisão da mulher quanto à 
sua vida e quanto à interrupção do ciclo da violência. (MJSP, 2022). 
 
Classificação e gestão do risco 
 
A gestão do risco deve se configurar em um esforço conjunto de construção de uma 
avaliação estruturada que possa permitir mapear os fatores de risco, reconhecer o perigo 
existente e, por conseguinte, favorecer a adoção das medidas e intervenções capazes de 
minimizar os riscos e contribuir para a proteção da mulher. 
 
Gestão de Risco 
 
É o conjunto de estratégias que visam prevenir o risco de reincidência ou o aumento 
da gravidade da violência. 
Portanto, a correta identificação dos fatores de risco e proteção é fundamental para 
a gestão do risco e, nesse sentido, instrumentos como o Formulário Nacional de Avaliação 
de Risco (FONAR) são essenciais. 
 
Figura 38: FONAR 
Fonte: TJDFT 
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2020/julho/tjdft-conta-com-novo-instrumento-para-avaliar-riscos-de-violencia-contra-mulher
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Plano de Segurança 
 
É o conjunto de estratégias a serem acionadas em situações de risco e que podem 
fazer toda a diferença, em contextos de Violência de Doméstica de Gênero contra a mulher. 
Embora saibamos que existem questões estruturais que tornam os casos de 
violência doméstica parecidos, é importante frisar que cada situação é única e que, portanto, 
há necessidade de elaboração dos Planos Individuais de Segurança e os Planos de 
Segurança em Rede, os quais, sempre que possível, deverão também ser elaborados com 
a colaboração de integrantes de entidades públicas ou privadas, sendo fundamental a 
comunicação entre todos, com o objetivo de diversificar as forças e favorecer o acesso da 
vítima aos recursos de diversos órgãos. 
⚫ Plano de segurança pessoal: Deve ser individualizado e elaborado junto com 
a mulher em situação de violência e poderá incluir desde contatos com organização de 
atendimento a mulheres em situação de violência doméstica; acionamentos números de 
emergência, como da Polícia Militar; Uso de aplicativos de proteção e segurança para 
mulheres; identificar lugares seguros dentro da residência em caso de ataques; identificar 
familiares e vizinhos que possam oferecer suporte; acesso a recursos financeiros; cuidados 
quanto à guarda de documentos; dentre outros. 
⚫ Plano de Segurança em Rede: Trabalho articulado entre os diversos atores 
da rede, envolvendo ações de organizações governamentais e não governamentais 
responsáveis por garantir a proteção e o atendimento a pessoas em situações de violência 
doméstica e familiar. 
 
 ATENÇÃO: 
 
 A avaliação de risco requer uma intervenção integrada entre os serviços da rede de 
atendimento e envolve a elaboração de plano de segurança pessoal e plano de intervenção 
institucional com enfoque na proteção da mulher, dos filhos e de outros familiares envolvidos 
na situação de risco (AMCV et al, 2013; Glass, Eden, Boom & Perrin, 2010 in Medeiros, 
2015). 
 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
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Formulário Nacional de Avaliação do Risco (FONAR) 
 
O Formulário Nacional de Avaliação de Risco (FONAR) é um instrumento criado em 
conjunto pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério 
Público (CNMP) para avaliar de forma técnica os riscos associados a cada caso de violência 
doméstica e familiar, com o objetivo de evitar o agravamento das violências e o feminicídio. 
O FONAR está previsto através da Lei n.º 14.149/21 de maio de 2021 e determina a 
aplicação do questionário às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar 
preferencialmente pela Polícia Civil, pelo Ministério Público ou pelo Poder Judiciário, 
dependendo de onde ocorra o primeiro atendimento dessa mulher, conforme se verifica pelo 
artigo 3 º da citada lei: 
Art. 3º- O Formulário Nacional de Avaliação de Risco será preferencialmente aplicado pela Polícia 
Civil no momento do registro da ocorrência policial, ou, na impossibilidade, pela equipe do Ministério Público 
ou do Poder Judiciário, por ocasião do primeiro atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar. 
Parágrafo único. É facultada a utilização do modelo de Formulário Nacional de Avaliaçãode Risco 
por outras instituições, públicas ou privadas, que atuem na área da prevenção e do enfrentamento da violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 
Note-se que não há impeditivo para que outras instituições, públicas ou privadas, 
atuem na área da prevenção e do enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a 
mulher. Portanto é possível que os profissionais atuantes nas Patrulhas e Rondas Maria da 
Penha, desde que devidamente capacitados, também apliquem o questionário. 
Contudo, é importante que seja evitado que vítima tenha que responder o FONAR 
várias vezes, ou seja, em cada órgão pelo qual venha passar ela precise novamente 
responder ao questionário. A repetição desnecessária de determinado procedimento pode 
ensejar mais sofrimento às vítimas, caracterizando um tipo de revitimização, daí a 
importância da articulação das instituições em rede para que, uma vez respondido o FONAR, 
as informações cheguem às instituições encarregadas do acompanhamento do caso e da 
gestão do risco. 
O Formulário é composto de questões objetivas (Parte I) e subjetivas (Parte II), e 
será aplicado por profissional capacitado, admitindo-se, na sua ausência, o preenchimento 
pela própria vítima, tão somente, quanto às questões objetivas (Parte I) sendo esta dividida 
em quatro blocos: 
 
BLOCO I - SOBRE O HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA 
BLOCO II - SOBRE O (A) AGRESSOR (A) 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
BLOCO III - SOBRE VOCÊ (a vítima) 
BLOCO IV - OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES 
 
As perguntas do questionário permitem avaliar de forma técnica o grau de risco e 
aplicação de medidas necessárias e disponíveis a cada órgão da rede, podendo ser estas 
desde a expedição das medidas protetivas de urgência pelo Judiciário até a indicação e 
condução da vítima para abrigo sigiloso ou casa de passagem - nas localidades onde existam 
- ou mesmo a frequência de visitas à determinada vítima pelos serviços de Patrulhas e 
Rondas Maria da Penha. 
Portanto, o FONAR deve ser compreendido como um importante instrumento para o 
trabalho de toda a rede de proteção e enfrentamento da violência contra mulher, e não como 
mais um procedimento burocrático e formal. O FONAR deve ser utilizado e compreendido 
como elemento de tomada de decisão pelos atores da rede. 
 
SAIBA MAIS 
1 - Recomendamos a leitura e análise do FORNAR através do link: 
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3218 
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3218
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Leia atentamente o estudo de caso a seguir: 
 
Um homem de 56 anos assassinou a ex-mulher com três tiros e depois se matou em 
uma manhã de terça-feira, na zona oeste do Rio de Janeiro. O caso foi registrado como 
feminicídio e seguido de suicídio. 
O autor do crime, analista financeiro, que se separou há poucos meses da esposa, 
uma médica de 46 anos, não aceitava o fim do relacionamento. Ele aguardou a ex-mulher 
sair para o trabalho, por volta das 9 horas da manhã, a encurralou em frente ao condomínio 
onde ela morava e fez quatro disparos contra a mesma. 
Três tiros acertaram a vítima, que foi socorrida ainda com vida e encaminhada pela 
unidade de resgate ao pronto socorro, mas não resistiu. 
O assassino fugiu do local do crime e foi encontrado pela Polícia Militar em sua casa, 
cerca de duas horas depois. Ele se trancou na residência e pediu um psicólogo e um 
advogado ao Grupo de Ações Táticas Especiais do BOPE da PMERJ. Durante as 
negociações, o autor chegou a dizer que iria se entregar, mas atirou contra si mesmo, vindo 
a morrer no local. 
Após o fato, relatos de familiares e vizinhos sobre o caso informam que o casal 
apresentava longo histórico de violências anteriores, porém não registradas. E era de 
conhecimento de amigos e familiares que o autor possuía uma arma de fogo legalmente 
registrada e que se tornava agressivo após uso de álcool. 
 
Na Prática 
 
Com base na leitura desse caso: 
 
a) Quais fatores de risco podem ser identificados nesse contexto? 
b) Que medidas de proteção e encaminhamentos poderiam ser feitos, caso os 
episódios de violência anteriores fossem notificados antes desse desfecho? 
 
 
 
 
 
 
 
 
133 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Finalizando 
 
Nesta aula você aprendeu que: 
 
⚫ Uma parte importante da prevenção e enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas passa pela identificação e reconhecimento dessa violência em suas 
distintas manifestações; 
⚫ Fatores como tempo de resposta das forças de segurança pública nos casos 
de acionamentos emergenciais de crimes contra a mulher, bem como o acolhimento e a 
correta aplicação da lei têm efeitos importantes para reduzir a impunidade e transmitir 
segurança às vítimas que denunciam; 
⚫ É importante compreender a avaliar os riscos associados à violência contra 
mulheres e meninas, que devido a suas características podem se agravar até um feminicídio; 
⚫ O FONAR está previsto através da Lei n.º 14.149/21 de maio de 2021. 
 
 
 
 
134 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.4 Aula 4: Identificando o papel dos atores da segurança pública na 
redução da “rota crítica” das vítimas de violência. 
 
Introdução 
O percurso das mulheres e meninas vítimas de violência pelos diferentes órgãos da 
rede de proteção e enfrentamento da violência contra mulher pode se configurar em processo 
de revitimização, conforme temos visto ao longo deste curso. 
Nesse contexto, a sensibilização dos profissionais do SUSP quanto ao seu papel na 
redução da rota crítica das vítimas de violência torna-se importante elemento na prestação 
do serviço. Entretanto, é preciso inicialmente reforçar os conceitos de rede de atendimento 
e rota crítica, bem como tais conceitos se relacionam com a atuação da segurança pública, 
no atendimento especializado e não especializado. 
Atuação da segurança pública com perspectiva de rede 
 
Figura 39: Segurança Pública 
Fonte: Grancursosonline 
A violência contra as mulheres constitui um fenômeno multidimensional e 
multifacetado, relacionado a uma gama de fatores individuais, relacionais, comunitários e 
socioculturais. Portanto, o enfrentamento desse tipo de violência demanda a atuação de 
todos os setores com perspectiva de rede. O trabalho em rede parte do princípio de que cada 
sujeito ou instituição isoladamente não é capaz de dar conta da atenção integral às 
demandas e necessidades das mulheres em situação de violência. 
https://blog.grancursosonline.com.br/concurso-seguranca-publica/
 
 
135 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Rede é uma malha de múltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem 
que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal ou central, nem representante dos demais. Não há 
um “chefe”, o que há é uma vontade coletiva de realizar determinado objetivo. (WHITAKER, 1993, p. 26). 
Figura 40: Rede de articulação. 
 
Fonte: https://fnq.org.br 
Do latim retis, a palavra rede significa teia, entrelaçamento de fios e nós que formam 
uma espécie de tecido. 
Nesse sentido o conceito de rede de enfrentamento da violência contra as mulheres 
se refere à atuação articulada entre as instituições, serviços governamentais, não-
governamentais e a comunidade, visando o desenvolvimento de estratégias efetivas de 
prevenção e de políticas que garantamo empoderamento das mulheres e seus direitos 
humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em 
situação de violência (Brasília, 2011). 
Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de 
diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da 
saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação 
e ao encaminhamento adequado das mulheres em situação de violência e à integralidade e 
humanização do atendimento (Brasília, 2011). 
 
 
 
 
‘EIXOS ESTRUTURANTES DO ENFRENTAMENTO DA 
https://fnq.org.br/
https://fnq.org.br/
 
 
136 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: 
 
1 - PREVENÇÃO: Ações educativas que disseminem o irrestrito respeito às 
mulheres e meninas; 
 
2 - ASSISTÊNCIA: Fortalecimento da rede de atendimento e capacitação de agentes 
públicos; 
 
3 - RESPONSABILIZAÇÃO / COMBATE: Cumprimento da Lei Maria da Penha e da 
Lei do Feminicídio; 
 
4 - DADOS E INFORMAÇÕES: pesquisa e registros administrativos. 
 
A prevenção da violência contra a mulher também compreende três níveis: a 
prevenção primária, a prevenção secundária e a prevenção terciária: 
 
PREVENÇÃO PRIMÁRIA: busca evitar a ocorrência da violência contra as 
mulheres, em especial por meio de mudanças de atitudes, crenças e comportamentos e de 
ações educativas, como por exemplo: campanhas, ações e programas em escolas e 
universidades, dentre outras. 
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: também denominada de intervenção precoce, refere-
se ao rol de respostas imediatas à violência para lidar com suas consequências a curto prazo 
na vida das mulheres. A prevenção secundária “visa alcançar indivíduos que estão numa 
situação de risco acima da média de sofrerem ou praticarem a violência doméstica, ou de 
uma violência embrionária evoluir para episódios mais graves” (ÁVILA, 2017, p. 97). 
Exemplos: Acolhimento psicossocial em centros de referência, atividades educativas e de 
orientação sobre direitos. 
PREVENÇÃO TERCIÁRIA: refere-se a respostas de longo prazo, após a ocorrência 
da violência contra as mulheres, incluindo iniciativas voltadas para os autores de violência. 
Em casos de violência doméstica, o apoio à vítima e a responsabilização do agressor tem 
por finalidade evitar a reiteração da violência, que usualmente possui um caráter cíclico. 
Exemplos: Acompanhamento de mulheres pelas Rondas e Patrulhas Maria da Penha; gestão 
dos riscos e plano de segurança; ações educativas de responsabilização de autores de 
violência (serviços e programas de responsabilização e educação dos agressores). 
 
 
 
 
 
137 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Rota crítica 
 
De acordo com a Política Nacional de enfrentamento à Violência contra a Mulher 
(2011), a rota crítica “refere-se ao caminho que a mulher percorre na tentativa de encontrar 
uma resposta do Estado e das redes sociais frente à situação de violência. Essa trajetória 
caracteriza-se por idas e vindas, círculos que fazem com que o mesmo caminho seja repetido 
sem resultar em soluções, levando ao desgaste emocional e à revitimização”. 
 Portanto, a necessidade de criação de uma Rede de Atendimento leva em conta a 
rota crítica (OMS/OPAS, 1998) que a mulher em situação de violência percorre. Essa rota 
possui diversas portas de entrada (serviços de emergência na saúde, delegacias, serviços 
da assistência social), que devem trabalhar de forma articulada no sentido de prestar uma 
assistência qualificada, integral e não-revitimizante à mulher em situação de violência. 
 Segundo BARAGATTI (2019), et al., existem os fatores impulsores e os fatores 
inibidores para a mulher buscar ajuda a fim de romper com a violência sofrida. Dentre os 
fatores inibidores estão: a desconfiança das instituições; a disponibilidade limitada dos 
serviços de apoio; e a fragmentação dos atendimentos pela rede de proteção. Como fatores 
impulsores, temos a disponibilidade de atendimento institucional e a existência de mão de 
obra qualificada nos serviços de atendimento. 
 
E o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota crítica” das vítimas 
de violência? 
 
Tendo em vista que os órgãos de segurança pública integram a rede de 
enfrentamento e proteção às mulheres em situação de violência e que a atuação dos 
profissionais do SUSP pode se dar através de serviços especializados e não especializados, 
os atores da segurança pública têm papel importante na jornada das vítimas de violência e 
podem atuar na redução dos efeitos da rota crítica das vítimas de violência. 
A polícia, em razão de sua capilaridade, associada à sua disponibilidade e por ser, 
normalmente, a "primeira resposta" para variados casos e situações na comunidade, 
constitui um ator imprescindível para uma resposta efetiva ao problema da violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 
Para o Escritório de Vítimas de Crime dos Estados Unidos (2001), as três maiores 
necessidades da vítima após o crime ter sido cometido são: 
1. Primeiro lugar: sentir-se segura; 
 
 
138 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
2. Segundo lugar: necessidade de expressar suas emoções; 
3. Em terceiro e último lugar: necessidade de saber o que irá acontecer após ter 
sido vitimizada. 
De uma maneira geral, para as Nações Unidas (2003) e para o Escritório para 
Vítimas de Crime (2001) o rol de respostas das forças de segurança pública aos casos de 
violência doméstica deve incluir: 
✓ Atuação imediata ante um pedido de ajuda; 
✓ Atuação imediata nos casos de reincidência; 
✓ Informação e apoio à vítima durante o processo de intervenção. 
Dentre as premissas para um atendimento humanizado e não-revitimizador podem-
se destacar: 
 
 
 
 
 
Atitude compreensiva, empática e solidária; 
 
 
 
 
 
Validação da situação de “vítima” da mulher, ou seja, de que ela não é responsável 
ou culpada pela violência sofrida; 
 
 
 
 
 
Respeito à liberdade e à autonomia das escolhas e decisões da mulher; 
 
Garantia de privacidade e confidencialidade; 
 
 
 
 
 
 
Garantia da segurança da mulher; 
 
 
 
 
 
 
Escuta sem declarações ou registros que contenham conteúdo baseados em 
preconceitos, pré-julgamentos e discriminações; 
 
 
 
 
 
 
Trabalho intersetorial e em rede. 
 
1 
2 
3 
4 
5 
6 
7 
 
 
139 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Embora tenhamos enfatizado a atuação das polícias, especialmente, no contexto de 
"primeira resposta" é importante destacar que, além de áreas como saúde, Justiça e 
assistência social, outros órgãos do SUSP podem estar na rota trilhada pelas mulheres 
vítimas de violência, podendo estas ser atendidas por Guardas Municipais, Peritos Criminais, 
Bombeiros, dentre outros. 
Razão pela qual conhecer o seu papel na rede de enfrentamento e proteção das 
mulheres em situação de violência, bem como estar sensibilizado quanto ao problema e 
devidamente capacitado pode fazer com que o profissional do SUSP seja um importante ator 
na redução da rota crítica das vítimas. 
 
 SAIBA MAIS 
 
Assista ao vídeo: Rota Crítica – Barreiras Enfrentadas pelas Mulheres na busca por 
Apoio e o Papel da Sociedade. Créditos: Equipe do Núcleo Judiciário da Mulher - 
NJM/TJDFT. https://www.youtube.com/watch?v=_9tnHo5Y1OU 
 
Finalizando 
 
Nesta aula você aprendeu que: 
⚫ O enfrentamento da violência contra a mulher demanda a atuação de todos os 
setorescom perspectiva de rede; 
⚫ O trabalho em rede parte do princípio de que cada sujeito ou instituição 
isoladamente não é capaz de dar conta da atenção integral às demandas e necessidades 
das mulheres em situação de violência; 
⚫ A rota crítica se refere ao caminho que a mulher percorre na tentativa de 
encontrar uma resposta do Estado e das redes sociais frente à situação de violência. Essa 
trajetória caracteriza-se por idas e vindas, círculos que fazem com que o mesmo caminho 
seja repetido sem resultar em soluções, levando ao desgaste emocional e à revitimização. 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=_9tnHo5Y1OU
https://www.youtube.com/watch?v=_9tnHo5Y1OU
 
 
140 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.5 Aula 5: A atuação da segurança pública de modo integrado com 
os diferentes atores da rede proteção e enfrentamento. 
 
Introdução 
 
A lei Maria da Penha prevê a integração operacional entre órgãos que atuam no 
atendimento às mulheres em situação de violência: 
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por 
meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de 
ações não-governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério 
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, 
trabalho e habitação; (BRASIL, 2006) 
 
Portanto, a integração entre os órgãos é um elemento importante na política de 
proteção integral às mulheres e meninas em situação de violência. Nesse sentido, a 
construção de protocolos, fluxos de atendimento e atuação integrada são essenciais para a 
qualidade do atendimento às vítimas e consequente redução das idas e vindas pelos 
serviços. 
Conforme visto até aqui, diversos fatores concorrem para que as mulheres vítimas 
de violência desistam ao longo do processo. E, nesse contexto, os diferentes órgãos 
precisam estar conectados para que os encaminhamentos e procedimentos necessários 
sejam realizados de modo a impactar ao mínimo possível a vítima de violência. 
 
Atuação Integrada 
 
Para falar de atuação integrada entre os órgãos de enfrentamento e combate à 
violência contra mulheres e meninas, é necessário retomar a importância da perspectiva de 
rede. Deve-se considerar que, para atuar de forma integrada, primeiramente, é preciso 
compreender as atribuições de cada serviço e suas limitações. 
A rede precisa ser entendida como uma forma de gestão pública marcada pela 
cooperação e solidariedade, pautada na interdependência. 
 
 
 
 
141 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Pilares do trabalho em rede: 
 
⚫ RECONHECER: que o outro existe e é importante; 
⚫ CONHECER: o que o outro faz; 
⚫ COLABORAR: prestar parceria quando necessário; 
⚫ COOPERAR: compartilhar saberes, ações e poderes; compartilhar objetivos e 
projetos. 
 
Entretanto, Pasinato (2015) destaca que é necessário ultrapassar os limites da 
atuação em microrredes de execução, ou seja, das relações pessoais entre profissionais de 
ponta para encaminhamentos imediatos que, embora de suma importância, têm seus efeitos 
limitados, para então atingir a efetiva institucionalização da atividade política de articulação 
(comunicação), a fim de fornecer sustentabilidade e eficácia da rede. 
Dutra et al (2013) também destaca os da informalidade e pessoalidade na interação 
dos atores da rede de atendimento às mulheres em situação de violência: 
 
A necessidade dos profissionais de compartilhar sua prática acaba se resolvendo de modo informal, 
na rede de relações pessoais, a partir da confiança mútua. Entretanto, essa rede se dissolve quando os atores 
mudam de posição e levam consigo sua rede de contatos e apoios. Não há, assim, um vínculo entre os serviços 
e um fluxo interinstitucional que permita a troca de experiências. 
 
Embora, de fato na prática, as pessoas das instituições se comuniquem, é importante 
que essa comunicação seja institucional, que a rede seja institucional e não apenas pessoal, 
pois a pessoalidade tem como um dos seus efeitos negativos a dependência de indivíduos 
que acabam por se tornar “insubstituíveis”, inviabilizando a continuidade de fluxos, ações 
institucionais e até políticas públicas em caso de eventual substituição desses atores. 
 
 Vantagens de trabalhar de forma integrada 
 
Podemos identificar vários benefícios na atuação integrada, os quais atingem não 
apenas as mulheres em situação de violência, mas geram benefícios também para as 
instituições, como os que se destacam abaixo: 
⚫ Estabelecer vínculos positivos por meio da interação entre instituições e 
pessoas; 
⚫ Refletir, trocar experiências e buscar soluções para problemas comuns; 
⚫ Estimular o exercício da solidariedade e da cidadania; 
⚫ Ampliar as possibilidades de intervenção; 
 
 
142 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
⚫ Promover maior resolutividade dos problemas; 
⚫ Estabelecer e encurtar os fluxos de atendimento; 
⚫ Evitar a revitimização das mulheres. 
 
Desafios do trabalho integrado 
 
Entretanto, trabalhar de forma integrada, embora seja um ideal a ser alcançado pelas 
políticas de proteção às mulheres, ainda assim tem seus desafios e percalços. Dentre os 
quais podemos destacar alguns: 
⚫ Reduzido número de serviços especializados (considerando toda a realidade 
local, urbana e rural); 
⚫ Escassez de recursos financeiros e humanos; 
⚫ Carência de equipe qualificada para o atendimento às mulheres, a fim de evitar 
a revitimização no atendimento (atendimento especializado e não especializado); 
⚫ Desconhecimento sobre o trabalho de outras instituições; 
⚫ Falta de conhecimento dos fluxos de encaminhamentos adequados por parte 
dos serviços não especializados; 
⚫ Pouca integração entre a rede de proteção às mulheres e as outras redes: 
socioassistencial, de saúde, da justiça e segurança que, em algumas regiões, ainda 
trabalham de forma isolada, dificultando a articulação; 
⚫ Pensamento de que “só o meu serviço é que sabe fazer o trabalho direito”. 
 
Algumas estratégias de atuação integrada 
 
Apesar das dificuldades da atuação integrada entre os órgãos, existem estratégias 
que podem ajudar na necessária integração, dentre as quais destacamos algumas: 
✓ Organização do fluxo de atendimento pautado nos marcos legais, em especial 
a Lei Maria da Penha e legislações correlatas; 
✓ Definição dos fluxos de atendimento; 
✓ Identificação das instituições e estabelecimento de uma rede local; 
✓ Ampla divulgação das ações da rede e dos locais de atendimento; 
✓ Realização de fóruns permanentes para troca de informações e 
aprofundamento das relações institucionais. 
 
 
143 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A segurança pública no contexto de integração operacional 
 
Preliminarmente, é importante ressaltar que existem distintas portas de entrada para 
o primeiro atendimento de mulheres em situação de violência à rede de proteção, como é o 
caso da saúde e assistência social. Entretanto, os profissionais de segurança pública, em 
especial os policiais civis, são os primeiros profissionais a terem contato pessoal com as 
mulheres em situação de violência doméstica. Nessa situação, o contato inicial é muito 
importante, podendo ser fundamental para a descrição da queixa e posterior investigação 
criminal. (CARMO SOUZA, ET AL, 2018). 
Entretanto, em se tratando de atendimentosemergenciais podemos ter esse primeiro 
atendimento realizado pela Polícia Militar, Guardas Municipais ou Corpos de Bombeiros a 
depender do tipo de acionamento ou cobertura dos serviços na região do fato, sendo 
importante que estes profissionais tenham conhecimento, ainda que básico, dos fluxos e 
serviços existentes na sua área de atuação. 
Seguem abaixo alguns exemplos de serviços integrantes da rede de atendimento: 
✓ Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de Atendimento à 
Mulher; 
✓ Casas-Abrigo; 
✓ Casas de Acolhimento Provisório; 
✓ Abrigo sigiloso; 
✓ Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher; 
✓ Núcleos ou Postos de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns da 
Polícia Civil e Militar; 
✓ Instituto Médico Legal; 
✓ Defensorias Pública; 
✓ Juizados de Violência Doméstica e Familiar; 
✓ Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180; 
✓ Ouvidorias da Mulher; 
✓ Serviços de Saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual 
e doméstica; 
✓ Patrulha e Ronda Maria da Penha das Polícias Militares e Guardas Municipais; 
✓ Casa da Mulher Brasileira. 
 A integração operacional no âmbito da segurança pública se torna mais presente 
nos serviços especializados como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e 
 
 
144 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Rondas ou Patrulhas Maria da Penha. Nesses serviços a existência de diretrizes, protocolos 
e fluxos preestabelecidos de encaminhamentos fazem com que a interação seja mais efetiva. 
Observe a seguir os modelos de fluxogramas de atendimento às mulheres vítimas 
de violência, publicamente divulgados pela Prefeitura de Uberaba. Estes fluxogramas, 
embora reflitam a situação local em um dado momento, são bons exemplos de como a 
construção e publicização dos protocolos e fluxos de atendimento às mulheres vítimas 
contribuem para a transparência e orientação de todos os interessados e, nesse contexto, 
encontra-se a população e também os agentes públicos, que muitas vezes desconhecem a 
estrutura existente e quais os encaminhamentos possíveis a cada situação de violência 
contra mulheres e meninas. 
Imagem 41: fluxograma de atendimento às mulheres vítimas de violência de segunda à sexta das 8:00h às 
18:00h. 
 
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860 
Este fluxograma apresenta toda a rede de atendimento e os caminhos a partir de 
cada possível porta de entrada da mulher em situação de violência. Nota-se que ele detalha, 
além dos fluxos, os dias e horários de atendimento. 
 
 
 
 
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
 
 
145 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Imagem 42: fluxograma de atendimento às mulheres vítimas de violência de após às 18:00h, finais de 
semana e feriados. 
 
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860 
Este é o fluxograma de atendimento noturno, finais de semana e feriados, esse tipo 
de informação é fundamental para evitar idas e vindas das mulheres em situação de 
violência, sobretudo em situação de emergência, quando a vítima se encontra ainda mais 
fragilizada. 
 
Imagem 43: fluxograma de assistência jurídica às mulheres vítimas de violência doméstica. 
 
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860 
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
 
 
146 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Já este outro fluxograma apresenta os serviços de assistência jurídica disponíveis 
às mulheres vítimas de violência doméstica. Observe que no modelo, a Delegacia de Polícia, 
a Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica (PPVD) e o Centro Integrado da Mulher 
(CIM), podem fazer o encaminhamento para esses serviços, garantindo o acesso das vítimas 
à defesa de seus direitos e acompanhamento jurídico durante o processo. 
 
SAIBA MAIS 
 
Casa da Mulher Brasileira: 
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/politicas-para-
mulheres/arquivo/assuntos/violencia/cmb 
 
E reflita sobre o modo como funciona a Casa da Mulher Brasileira e como a estrutura 
deste serviço público contribui para integração entre os órgãos e onde a segurança pública 
se insere neste espaço. 
 
Finalizando 
Nesta aula você aprendeu que: 
⚫ A integração operacional entre órgãos que atuam no atendimento às 
mulheres em situação de violência é prevista em lei; 
⚫ A atuação integrada entre os órgãos de enfrentamento e combate à violência 
contra mulheres e meninas está diretamente relacionada à atuação em rede; 
⚫ Para atuar de forma integrada, primeiramente, é preciso compreender as 
atribuições de cada serviço e suas limitações; 
⚫ Na atuação integrada entre os diferentes órgãos voltados ao atendimento das 
mulheres em situação de violência, é importante que a comunicação seja institucional, que 
a rede seja institucional e não apenas pessoal. 
 
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/politicas-para-mulheres/arquivo/assuntos/violencia/cmb
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/politicas-para-mulheres/arquivo/assuntos/violencia/cmb
 
 
147 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.6 Aula 6: Serviços especializados no atendimento a mulheres e 
meninas no âmbito da segurança pública. 
 
Introdução 
 
Nesta aula abordaremos os serviços especializados no atendimento às mulheres em 
situação de violência no âmbito da segurança pública, seu histórico e dinâmicas de 
funcionamento. Nesse contexto, vamos conhecer um pouco mais sobre esse tipo de 
especialização e sua importância na jornada das vítimas de violência. 
O que é um serviço especializado? O status de serviços especializados de 
atendimento à mulher se atribui àqueles que atendem exclusivamente a mulheres e que 
possuem expertise no tema da violência contra as mulheres. 
 
Figura 44: CEAM 
Fonte: Prefeitura de Luziânia/GO 
 
No campo da segurança pública, as primeiras iniciativas de atuação policial 
especializada no atendimento à violência contra a mulher no país surgem nas polícias civis 
que, nos anos 1980, criaram as primeiras Delegacias Especializadas de Atendimento à 
Mulher (DEAM) ou Delegacias de Defesa da Mulher (DDM), fazendo de um serviço policial 
a principal política pública no modelo de Patrulha Maria da Penha (Patrulhas, Rondas ou 
Guardiãs Maria da Penha, Patrulhas de Prevenção à Violência Doméstica). Segundo 
Macaulay (2022), as patrulhas policiais de “segunda resposta” constituem uma forma 
inovadora de enfrentamento da violência doméstica. 
O Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro pioneiro na criação desta modalidade de 
policiamento, instalando em 2012, no âmbito da Brigada Militar, a Patrulha Maria da Penha, 
conforme destaca Gerhard (2014), com a finalidade de expandir a atuação da PM nos 
conflitos de gênero, através da especialização de suas atividades junto a mulheres vitimadas 
em âmbito doméstico. 
https://www.luziania.go.gov.br/ceamluziania/
 
 
148 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Dessa forma, com objetivo de comprovar a efetividade das práticas de polícia comunitária, foi criado 
e instalado, no dia 20 de outubro de 2012, pela Polícia Militar, um programa de pleno atendimento às mulheres 
vítimas de violência doméstica,4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO 
 
 
Figura 2: Protagonismo Feminino 
Fonte: Imagem de Ebanx Community 
 
 
4.1 – Módulo I: Protagonismo de mulheres e 
enfrentamento da violência 
 
4.1.1 Apresentação do módulo 
 
Este módulo é uma introdução ao tema, e destaca os principais conceitos, marcos 
teóricos e normativos sobre o enfrentamento da violência contra mulheres e a importância 
do protagonismo de mulheres a partir de uma linguagem fácil e acessível. 
 
 
https://community.ebanx.com/mulheres-tecnologia-transformacao-times/
 
 
11 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.1.2 Objetivos do módulo 
 
Este módulo tem por objetivos: 
 
 
 
 
 
Contribuir para um entendimento sobre a origem e causas da violência contra 
mulheres; 
 
 
 
 
Oferecer ferramentas conceituais para facilitar a identificação e o registro da 
violência contra as mulheres e seus diferentes tipos; 
 
 Apresentar o ciclo da violência e formas de interrompê-lo; 
 
 
 Apresentar a evolução e a importância dos direitos humanos de mulheres; 
 
 
 Apresentar os principais marcos normativos nacionais e internacionais que 
servem de referência para atuação no enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas no Brasil; 
 Apresentar a importância da participação de mulheres e sua relação com um 
ambiente livre de violências. 
 
 
 
 
1 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.1.3 Estrutura do módulo 
 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
 
Aula 1 
Marco normativo internacional: a evolução dos direitos humanos de mulheres 
Aula 2 
Conceitos e Definições 
Aula 3 
Sensibilização à violência baseada em gênero 
Aula 4 
Participação, liderança e protagonismo de mulheres 
 
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.1.3.1 Aula 1 – A evolução dos direitos humanos de mulheres 
 
Na Prática 
Vocês sabem o que são os direitos humanos? Qual a importância deles? Por que eles 
foram pensados? Como eles se relacionam aos direitos humanos de mulheres? 
Gostaria de convidá-los e convidá-las a pensar nessas perguntas. Tire cinco minutos e 
pense um pouco sobre elas. Anote em um papel e ao fim do desta aula vamos comparar 
as respostas. 
 
Agora vamos lá. Quando falamos especificamente dos direitos humanos de 
mulheres, estamos falando daqueles que se ocupam principalmente deste público, inclusive 
de meninas. Ao longo dos anos, foi necessário estabelecer regras sobre como os países 
deveriam tratar as suas mulheres. Isso aconteceu porque nem sempre as mulheres eram 
tratadas com dignidade e respeito. A evolução dos direitos das mulheres acompanhou 
também a evolução dos direitos humanos. Em 1948 foi elaborada a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos. Este marco normativo teve como objetivo principal garantir direitos 
básicos e dignidade a todos e a todas, inclusive aquelas pessoas marginalizadas e 
tradicionalmente excluídas da vida pública do Estado. 
Figura 3: Eleanor Roosevelt - Presidente da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.
 
Fonte: Wikipedia 
https://tinyurl.com/ksfu4p99
 
 
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 Eleanor Roosevelt foi uma figura importante em São Francisco, nos Estados Unidos, local em que a Declaração foi assinada. 
Na foto ela declara este que foi um dos primeiros documentos internacionais que falam sobre como os países devem tratar seus cidadãos 
e cidadãs com dignidade e respeito. 
 
Neste contexto, a presente aula explora a evolução dos direitos humanos das 
mulheres, desde a sua origem a partir da evolução dos direitos humanos e do 
reconhecimento da igualdade de gênero, até os dias atuais. Entender o progresso dos 
direitos humanos significa entender como a desigualdade impõe barreiras para que mulheres 
possam se desenvolver plenamente e contribuir para o desenvolvimento das sociedades em 
que vivem. 
 
Evolução do direito das mulheres e meninas 
 
Para abordar o tema dos direitos das mulheres e das meninas, recomenda-se um 
entendimento sobre o “regime internacional de igualdade de gênero”, o contexto histórico em 
que surgiu, bem como o que ele propõe. O termo regime se refere aos “princípios, normas, 
regras e procedimentos decisórios de determinada área, sobre os quais as expectativas dos 
atores são convergentes”.1 Tais regras e procedimentos podem ser explícitos, como a 
codificação do Direito Internacional na forma de tratados, ou podem ser implícitos ou menos 
vinculantes do ponto de vista formal, a exemplo das conferências internacionais. Estas 
constituem importantes normas e ações, reunidos de maneira tal que conseguem influenciar 
a ação do Estado. O regime de igualdade de gênero, como outros regimes, inclui uma série 
de conferências, tratados, e diversificada rede de organizações, do nível global ao local, 
incluindo organizações governamentais e não governamentais. 
A Carta da ONU é um documento fundador do regime de igualdade de gênero. O 
Preâmbulo da Carta reafirma, especificamente, a “fé nos direitos fundamentais humanos, na 
dignidade e no valor do ser humano, nos direitos iguais dos homens e mulheres e das 
grandes e pequenas nações, e […] na promoção do progresso social e de padrões de vida 
melhores, em um contexto mais amplo de liberdade”. A Carta também enfatiza 
especialmente a não discriminação contra mulheres e meninas, e a promoção da igualdade, 
do equilíbrio e da equidade de gênero nos Capítulos I, III, IX e XII. Porém, alguns dos 
princípios centrais que emergem na Carta, incluindo a igualdade soberana dos Estados, a 
manutenção da paz e da segurança, e a não intervenção nos assuntos internos dos Estados, 
 
1 STEPHEN K., 1982, p. 186. 
 
 
 
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frequentemente operam em oposição direta aos objetivos relacionados a gênero. Na prática, 
estes princípios podem terminar sobrepondo-se aos objetivos relacionados a gênero. 
 
A brasileira Bertha Lutz foi uma das cinco mulheres que participaram oficialmente como 
representantes de governo na Conferência de São Francisco, a qual originou a Organização das 
Nações Unidas, que é a principal organização internacional no âmbito da defesa de direitos. Bertha 
Lutz foi a responsável pela inclusão da igualdade de gênero na Carta deste importante organismo. 
Uma enorme contribuição de uma brasileira para todas as mulheres do mundo. 
 
A igualdade de gênero trata da possibilidade de acesso a 
oportunidades iguais entre homens e mulheres. Sua interpretação 
como uma questão de direitos humanos recebeu sua reafirmação 
institucional dentro da ONU, pelo que se tornou informalmente 
conhecido como a Carta Internacional de Direitos Humanos. 
 
 
Carta Internacional de Direitos Humanos 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 10/12/1948 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento base não jurídico 
que delineia a proteção universal dos direitos humanos básicos, adotada pela Organização 
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, elaborado principalmente pelo jurista 
canadense John Peters Humphrey, contando com a ajuda de várias representantes de 
origens jurídicas e culturais de todas as regiões do planeta. 
 
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 16/12/1966 
O acordo diz que seus membros devem trabalhar para a concessão de direitos econômicos, 
sociaisa Patrulha Maria da Penha, com atendimento e fiscalização através de policiais 
militares capacitados especificamente para essa finalidade, contemplando a adequação de recursos, meios e 
práticas de polícia às necessidades das vítimas e buscando seu envolvimento na solução da violência 
doméstica. (GERHARD, 2014, p.83) 
Desde então, o atendimento especializado para mulheres em situação de violência, 
através da criação de Patrulhas e Rondas Maria da Penha, também vem sendo adotada 
tanto pelas Polícias Militares, quanto pelas Guardas Municipais e Guardas Civis em 
diferentes municípios brasileiros, como por exemplos: a Guarda Civil Metropolitana de São 
Paulo (2014), a Guarda Civil Municipal de Suzano - SP (2014) e a Guarda Municipal de 
Duque de Caxias – RJ (2016). 
 
As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher 
 
A criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher foi a primeira 
experiência de implementação de uma política pública de combate à violência contra as 
mulheres no Brasil, sendo a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) instalada em 
1985, na cidade de São Paulo. 
A Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento 
às Mulheres – DEAM (Brasília, 2010), apresenta o contexto histórico de criação da DEAM e 
sua implementação como uma resposta à demanda social mobilizada pelos movimentos 
feministas e de mulheres por uma ação mais efetiva do Estado em relação à violência contra 
as mulheres. 
A política de criação das DEAMs teve como motivação primária responder à demanda dos 
movimentos feministas e de mulheres por uma ação mais vigorosa por parte do Estado em relação à violência 
contra as mulheres. Os movimentos sociais de mulheres criticavam o descaso e/ou a tolerância com que o 
sistema de justiça criminal lidava com os crimes cometidos contra as mulheres, particularmente os homicídios 
ditos “passionais” e a violência doméstica e sexual. (Brasília, 2010:7) 
 
 Segundo Kopittke (2023), em alguns estados brasileiros as DEAMs investigam todo 
tipo de violações de direitos das mulheres, enquanto em outros, as delegacias especializadas 
focam sua atuação apenas nos crimes da Lei Maria da Penha, como violência doméstica, 
além de casos de crimes contra a dignidade sexual e feminicídio. 
A Lei Maria da Penha, em suas diretrizes de integração de ações entre as esferas 
governamentais, constantes do artigo 8º, inciso IV, destaca a implementação de atendimento 
policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à 
Mulher. 
https://www.tjac.jus.br/wp-content/uploads/2015/05/Norma_tecnica_de_Padronizacao_das_Delegacias_Especializadas_de_Atendimento_a_Mulher.pdf
https://www.tjac.jus.br/wp-content/uploads/2015/05/Norma_tecnica_de_Padronizacao_das_Delegacias_Especializadas_de_Atendimento_a_Mulher.pdf
 
 
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Nesse contexto, o atendimento especializado nas DEAMs demanda profissionais 
habilitados, qualificados e sensibilizados. Sendo que, para esse atendimento, é necessário 
o conhecimento do fenômeno da violência e suas implicações na vida das mulheres. 
As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher compõem a estrutura da 
Polícia Civil, órgão integrante do Sistema de Segurança Pública de cada Estado. Esse 
serviço especializado, além de um importante porta de entrada das mulheres na rede de 
serviços, tem papel fundamental na prevenção e repressão qualificada à violência contra as 
mulheres, desempenhando o papel prático de coibir, prevenir e investigar os crimes de 
violência contra a mulher. 
Atribuições das DEAMs 
 
As atribuições das Delegacias de Polícia Civil - dentre as quais se incluem as DEAMs 
- estabelecidas pela Lei 11.340/2006 estão dispostas no Capítulo III, artigos 10 a 12-C e seus 
incisos. Destacando-se que o artigo 11 da Lei estabelece que as Autoridades Policiais, além 
da realização de todos os procedimentos policiais cabíveis para a elucidação do crime 
(inquérito policial), deverão ainda: 
I - Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao 
Ministério Público e ao Poder Judiciário; 
II - Encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; 
III - Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local 
seguro, quando houver risco de vida; 
IV - Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus 
pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; 
V - Informar à ofendida os direitos a ela conferidos na Lei e os serviços disponíveis, 
inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente 
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de 
união estável. 
Observe que o inciso V trata da necessidade de informação sobre os serviços 
disponíveis e o consequente encaminhamento à rede de serviços de atendimento à mulher 
em situação de violência, o que requer não apenas o conhecimento formal da rede, mas uma 
atuação integrada com os demais órgãos e serviços da rede. 
 
 
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Cabendo, portanto, relembrar que a política integral e articulada de prevenção e 
assistência à mulher em situação de violência estabelecida pela Lei Maria da Penha requer 
a criação e/ou articulação da rede de serviços de atendimento entre todos os atores 
envolvidos. 
Sabemos que o primeiro contato entre o (a) policial e a mulher em situação de 
violência é muito importante e pode ser determinante para o desenrolar da queixa-crime e/ou 
da investigação criminal. Assim sendo, desde a estrutura física da DEAM até a postura dos 
agentes devem propiciar um atendimento acolhedor, conforme preconiza a Norma Técnica 
de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres. Link: 
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/2338/1/6padronizacao_deams.pdf. 
Imagem 45: 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) - São Paulo 
 
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/ 
 
Embora a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher seja uma das políticas 
públicas no âmbito da segurança mais reconhecidas pela população - fato que se verifica 
através de dados como os da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no 
Brasil ”, do FBSP (2023), mostrando que 14,0% das mulheres que sofreram algum tipo de 
violência denunciou o fato numa DEAM - ainda assim, a maioria dos municípios brasileiros 
não possui o serviço, ficando, portanto, a cargo das Delegacias Distritais (não 
especializadas) o atendimento das ocorrências relacionadas à violência contra a mulher. 
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/2338/1/6padronizacao_deams.pdf
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/2338/1/6padronizacao_deams.pdf
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/2338/1/6padronizacao_deams.pdf
https://agenciabrasil.ebc.com.br/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/
 
 
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Link para a pesquisa Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil: 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-
relatorio.pdf 
Outro levantamento mais recente mostrou que existem apenas 492 delegacias 
especializadas no atendimento à mulher no Brasil e destas, apenas 60 (12,1%) funcionam 
24 horas, embora a lei nº 14.541 de 03 de abril de 2023 disponha sobre a criação e o 
funcionamento ininterrupto de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Link 
para a lei: 
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14541.htm 
Art. 3º As Delegacias Especializadasde Atendimento à Mulher (Deam) têm como finalidade o 
atendimento de todas as mulheres que tenham sido vítimas de violência doméstica e familiar, crimes contra a 
dignidade sexual e feminicídios, e funcionarão ininterruptamente, inclusive em feriados e finais de 
semana. 
§ 1º O atendimento às mulheres nas delegacias será realizado em sala reservada e, 
preferencialmente, por policiais do sexo feminino. 
§ 2º Os policiais encarregados do atendimento a que se refere o § 1º deste artigo deverão receber 
treinamento adequado para permitir o acolhimento das vítimas de maneira eficaz e humanitária. 
§ 3º As Delegacias Especializadas disponibilizarão número de telefone ou outro mensageiro 
eletrônico destinado ao acionamento imediato da polícia em casos de violência contra a mulher. 
Art. 4º Nos Municípios onde não houver Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher 
(Deam), a delegacia existente deverá priorizar o atendimento da mulher vítima de violência por agente 
feminina especializada. (Brasil, 2023) 
 
Nesse sentido, a criação dos Núcleos de Atendimento à Mulher (NUAM) ou Núcleos 
Integrados de Atendimento à Mulher (NIAM) tem sido uma alternativa adotada pela Polícia 
Civil do Rio de Janeiro para, além das DEAMs, oferecer atendimento especializado e 
acolhedor às mulheres em situação de violência nas Delegacias Distritais (não 
especializadas). 
Esses núcleos têm estruturas adaptadas à realidade local, mas, ainda assim, são 
modelados de forma semelhante, buscando atuar de modo integrado com a rede de proteção 
à mulher, mobilizando instituições, estruturas e atores em nível local, objetivando prestar um 
atendimento mais humanizado e eficiente para melhor amparar às mulheres em situação de 
violência, proporcionando-lhes condições para interromper o ciclo de violência. 
Geralmente estes espaços são criados a partir de parcerias entre a Polícia Civil e 
organismos federais, estaduais e municipais de proteção às mulheres, além de outros órgãos 
e entidades integrantes da rede. O serviço conta com policiais especialmente capacitados e 
policiais femininas na composição das equipes, além de terem um ambiente físico 
diferenciado e mais acolhedor. 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14541.htm
 
 
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Há também outras iniciativas de especialização no atendimento às mulheres em 
situação de violência no âmbito das polícias civis, como é o caso dos Núcleos Integrados 
de Atendimento à Mulher (NUIAMs), que são espaços especialmente desenvolvidos com o 
objetivo de oferecer atendimento multidisciplinar às mulheres em situação de violência, 
através de acolhimentos nas áreas de psicologia, direito e serviço social. Para isso, são 
realizadas parcerias com instituições e organizações da sociedade civil, como é o caso dos 
NUIAMs da Polícia Civil do Distrito Federal. 
Imagem 46: NUIAM- Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher – Distrito Federal 
 
Fonte: https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/ 
O Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NUIAM) é uma iniciativa da Polícia 
Civil do DF para enfrentamento à violência contra a mulher, em parceria com os Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (TJDFT), com as Promotorias de Violência 
Doméstica e Familiar Contra a Mulher (MPDFT) e Coordenadoria Executiva de Medidas 
Alternativas (CEMA/MPDFT), bem como com outras instituições governamentais, 
instituições de ensino superior e sociedade civil organizada. Veja mais sobre este NUIAM: 
 https://www.pcdf.df.gov.br/images/conteudo/gci/nuiam/folderV_final_2_1.pdf 
É importante que esses serviços especializados de atendimento às mulheres no 
âmbito da segurança pública sejam incorporados às estruturas organizacionais das 
instituições às quais se vinculam, como forma de garantia da institucionalidade e 
sustentabilidade desses serviços ao longo do tempo, evitando sua descontinuidade. 
 
https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/
https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/
https://www.pcdf.df.gov.br/images/conteudo/gci/nuiam/folderV_final_2_1.pdf
 
 
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Patrulhas e Rondas Maria da Penha 
 
As Patrulhas e Rondas Maria da Penha são serviços especializados no atendimento 
à mulher em situação de violência doméstica e familiar, realizados pelas Polícias Militares e 
Guardas Municipais. E tem como objetivo oferecer acompanhamento preventivo periódico e 
garantir maior proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar que 
possuem medidas protetivas de urgência vigentes, baseadas na Lei 11.340/2006 (Lei Maria 
da Penha). 
As Patrulhas buscam a prevenção da violência e a proteção às vítimas, com 
metodologias que atuam na análise preditiva de ocorrências e fiscalização de medidas 
protetivas de urgência, principalmente as classificadas com alto grau de risco, com o objetivo 
de reduzir os índices de violência e evitar a ocorrência de feminicídio. 
Em regra, o acesso das mulheres em situação de violência às patrulhas acontece 
por encaminhamento do Poder Judiciário, após o deferimento da medida protetiva de 
urgência. Há também alguns desses serviços especializados que prestam atendimento, 
ainda que a mulher não tenha medida protetiva em vigor, a partir de busca ativa e da análise 
de ocorrências policiais. Macaulay (2022) destaca que as práticas operacionais das 
Patrulhas Maria da penha variam ligeiramente, a depender das parcerias institucionais: 
As práticas operacionais das patrulhas do MdP em diferentes estados e municípios variam 
ligeiramente, dependendo da configuração das parcerias institucionais locais. Por exemplo, a avaliação de risco 
e triagem de casos prioritários para encaminhamento ao comando de patrulha do MdP pode ser realizada, 
diversamente, pela polícia de primeira linha, pelo responsável pelo esquadrão receptor da denúncia, pelo chefe 
da esquadra da mulher, pelo Ministério Público, ou pelo tribunal (principalmente se for um Juizado 
Especializado em Violência Doméstica e Familiar), seja pelo juiz isoladamente ou em conjunto com sua equipe 
profissional multidisciplinar. (MACAULAY, 2022:79) 
Ainda não há uma lei federal que regulamente e padronize especificamente esse tipo 
de serviço, embora desde 2017 esteja em tramitação o Projeto de Lei Federal nº 7187/17 
que visa incluir a Patrulha Maria da Penha entre os programas previstos na Lei Maria da 
Penha, tornando-o um programa permanente e presente em todos os estados. 
Portanto, as Patrulhas Maria da Penha das Polícias Militares e Guardas Municipais, 
em regra, são reguladas por normas internas das instituições gestoras, decretos ou leis 
estaduais ou municipais. 
Todavia, em sentido mais amplo, esses serviços especializados têm seu amparo 
legal no Art. 8º da Lei Maria da Penha, que estabelece que a política pública que visa coibir 
a violência doméstica e familiar contra a mulher se dará por meio de um conjunto articulado 
de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
 
 
 
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Principais características e modelo de atuação: 
 
 As Patrulhas e Rondas Maria da Penha possuem modelos de atuação, estruturas e 
características semelhantes, dentre as quais pode-se destacar: 
⚫ Identidade visual específica (viaturas caracterizadas com elementos na cor 
lilás); 
⚫ Profissionais previamente capacitados para o atendimentoàs vítimas de 
violência de gênero; 
⚫ Equipes integradas por policiais/guardas femininas; 
⚫ Atuação em cooperação com órgãos do Sistema Justiça para a fiscalização do 
cumprimento de Medidas Protetivas de Urgência. 
Imagem 47: Braçal utilizado por policiais da Patrulha Maria da PM do Rio de Janeiro. 
 
Fonte: Agência Brasil 
Esse modelo de serviço especializado, pautado prioritariamente no 
acompanhamento e fiscalização de medidas protetivas, se constitui em um serviço de 
prevenção terciária, ou seja, a intervenção do serviço se dá após o fato (unidade de segunda 
resposta). 
 Intervenção de Primeira Resposta: Consiste no atendimento pelo policial 
que toma conhecimento do fato de violência doméstica durante o episódio criminal ou 
após o relato da vítima. 
 
 
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 Intervenção de Segunda Resposta: Consiste no atendimento policial no 
pós-crime, normalmente realizado após a análise dos casos mais graves e das 
reincidências. Costuma ser feito através de contatos com as vítimas e visitas 
domiciliares. 
Cabe destacar que as patrulhas também realizam ações de prevenção primária e 
secundária, tendo como exemplo de ações de prevenção primária a realização de palestras 
e campanhas de conscientização, ao passo que as rondas e patrulhamentos em áreas de 
maior incidência de violência doméstica são exemplos de ações de prevenção secundária. 
Imagem 48 - Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar do Rio Grande do Sul 
 
Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul 
 
Principais atividades das Patrulhas Maria da Penha: 
 
⚫ Fiscalização das medidas protetivas de urgência: As Patrulhas, em geral, 
têm como objetivo fiscalizar o cumprimento de medidas protetivas. Tais ações têm como pré-
requisito, para o acompanhamento, a solicitação/deferimento da medida protetiva de 
urgência e aceitação do serviço por parte da vítima. Nesses casos, o policiamento 
especializado objetiva a fiscalização por meio de visitas, rondas de monitoramento e 
acionamentos de aplicativos para situações emergenciais. 
 
 
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⚫ Busca ativa com base no atendimento de ocorrências de violência 
doméstica: os programas de apoio à mulher vítima de violência doméstica e familiar podem 
realizar a busca ativa com base nos registros de ocorrências com visitas à vítima para 
avaliação dos encaminhamentos necessários, podendo existir ou não a solicitação de 
medida protetiva de urgência. 
⚫ Palestras e campanhas de conscientização: as atividades de palestras e 
campanhas de conscientização fazem parte das ações de prevenção primária realizadas 
pelas patrulhas e visam levar conhecimento sobre a lei de proteção às mulheres em situação 
de violência e as formas de identificar e prevenir a violência contra a mulher. Estas ações 
normalmente realizadas em eventos públicos, escolas e empresas se alinham com os 
propósitos da Lei 11.340/2006. 
Imagem 49 – “Blitz” educativa da Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal de Marabá em parceria com 
o Departamento Municipal de Trânsito: Campanha Brasileira de Laço Branco. 
 
Fonte: Prefeitura Municipal de Marabá 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Você sabe o que é a Campanha do Laço Branco? 
 
Figura 50: Campanha Laço Branco 
Fonte: Sindicato Bancários/CE 
 
O movimento Laço Branco, criado em 1991, reuniu um grupo de homens canadenses 
que repudiavam a violência contra a mulher. Além do símbolo do Laço Branco, eles também 
adotaram como lema jamais cometer um ato violento contra as mulheres e não fechar os 
olhos diante dessa violência. A mobilização originou-se a partir do caso do “Massacre de 
Montreal”, ocorrido em 6 de dezembro de 1989, quando um homem entrou armado em uma 
escola, matando 14 mulheres e ferindo outras dez. 
O dia 6 de dezembro foi instituído no Brasil, pela Lei 11.489/2007, como o Dia 
Nacional da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres e tem como 
objetivo sensibilizar os homens para a eliminação das diversas violências que atingem as 
mulheres. Principais estratégias das Patrulhas Maria da Penha: 
⚫ Acolhimento: refere-se a uma estratégia de apoio à mulher que tem início 
desde a primeira escuta quando se tratar de uma suspeita de violência doméstica e familiar. 
A vítima deve ser atendida por um(a) profissional preparado para realizar uma escuta atenta, 
qualificada, sem comportamentos que intimidem a mulher ou a coloque em situação de 
descrédito; sendo importante colher as informações necessárias para que se inicie a 
construção do plano de segurança com foco na vítima. 
⚫ Visita inicial: a equipe poderá realizar a identificação do local de 
residência/abrigamento, trabalho e outros que sejam indicados pela mulher, visando a sua 
proteção. É viável que a visita seja previamente agendada com a usuária, evitando situações 
de agravamento da violência, caso o agressor ainda esteja residindo com a vítima. 
http://arquivo.bancariosce.org.br/noticias_detalhes.php?cod_secao=1&cod_noticia=22338
 
 
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⚫ Rondas de monitoramento: são patrulhamentos realizados rotineiramente, 
em locais previamente identificados, visando prestar apoio e transmitir maior segurança à 
mulher assistida pelo serviço. 
⚫ Intervenção: é pertinente sempre que a mulher assistida ou terceiro solicitar 
intervenção policial diante de alguma ameaça à sua segurança, por parte do agressor. A 
intervenção também poderá ocorrer sempre que a equipe julgar necessário. 
⚫ Visitas de monitoramento: podem ocorrer por meio de visitas não agendadas, 
que seguem uma previsibilidade mínima, combinada com a vítima assistida. Nessas visitas, 
a equipe realiza contato pessoal, buscando informações sobre o cumprimento da medida 
protetiva por parte do agressor e novos fatos que possam ensejar modificações no 
acompanhamento. 
⚫ Relatórios situacionais: quando há convênio ou termos de cooperação entre 
as instituições, geralmente dentre as atribuições das patrulhas estão a elaboração de 
relatórios situacionais que servem para manter a comunicação das Patrulhas com o 
judiciário, a fim de informar quanto ao andamento da fiscalização das medidas e eventuais 
alterações no quadro de violência. Essa informação pode subsidiar a tomada de decisão 
quanto às medidas protetivas e gestão do risco associado ao caso. 
⚫ Produção de estatísticas: a avaliação e monitoramento das políticas públicas 
dependem da produção de dados. Nesse sentido, os registros dos atendimentos realizados 
pelas patrulhas permitem a análise do alcance, desempenho e produtividade do serviço, 
contribuindo para sua valorização e reconhecimento interno e externo. 
⚫ Intervenção junto aos autores de violência: embora não seja regra, algumas 
patrulhas possuem eixos de atuação direcionados aos autores de violência. Essas 
intervenções podem variar desde contatos com autores para cientificá-los e orientá-los 
acerca das medidas protetivas, até a participação de agentes das patrulhas em grupos 
reflexivos para autores de violência e a realização de palestras para homens. 
Por fim, é importante destacar que há também exemplos de serviços especializados 
em que o escopo do atendimento realizado é mais amplo, incluindo os demais grupos 
vulneráveis. Sendo que a nomenclatura dada ao serviço pode variar de acordo com a 
Unidade da Federação e com o escopo do atendimento, taiscomo o Programa de Prevenção 
Orientado à Violência Doméstica e Familiar - PROVID, Grupo de Apoio às Vítimas de 
Violência-GAVV, Programa Mulher Segura, Serviço de Prevenção à Violência Doméstica 
(SPVD) dentre outros. 
Texto para leitura: Casoteca de Práticas de Enfrentamento à Violência Contra as 
Mulheres: experiências desenvolvidas pelos profissionais de segurança pública e do sistema 
 
 
159 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
de justiça (2018). Sobre as experiências das patrulhas da PM do Maranhão e da GCM de 
Suzano. Link para o texto: Casoteca FBSP | 2018 
 
 SAIBA MAIS 
 
Assista aos vídeos abaixo e identifique as semelhanças e diferenças entre os 
funcionamentos das patrulhas apresentadas. 
https://www.youtube.com/watch?v=km2qQY56PnU 
https://www.youtube.com/watch?v=689OZ8NldzA 
 
Finalizando 
Nesta aula você aprendeu que: 
⚫ O status de serviço serviços especializados de atendimento à mulher se atribui 
àqueles que atendem exclusivamente a mulheres e que possuem expertise no atendimento 
à violência contra a mulher; 
⚫ As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher, criadas a partir dos 
anos 1980, foram as primeiras iniciativas de atuação policial especializada no atendimento à 
violência contra a mulher; 
⚫ O artigo 8º, inciso IV, da Lei Maria da Penha, destaca a implementação de 
atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de 
Atendimento à Mulher; 
⚫ As Patrulhas e Rondas Maria da Penha são serviços especializados no 
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar realizados pelas Polícia 
Militar e Guarda Municipal. 
 
 
 
https://casoteca.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/09/casoteca-2018.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=689OZ8NldzA
 
 
160 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
4.3.3.7 Aula 7: Desafios da atuação quando os autores ou vítimas de 
violência contra a mulher são profissionais de segurança pública. 
 
Introdução 
 
 Nesta aula trataremos da complexidade, riscos e atuação nos casos de violência 
contra a mulher envolvendo profissionais do SUSP na condição de autores ou vítimas. Tema 
sensível e de difícil abordagem, tendo em vista envolver a capacidade das instituições em 
lidarem com a violência doméstica quando esta atinge seu público interno. 
Preliminarmente, cabe destacar a importância de que as instituições de segurança 
pública conheçam a realidade e os índices de ocorrências de violência doméstica e familiar 
envolvendo o público interno de modo a promover uma efetiva construção de diagnóstico e 
mobilização, visando à prevenção e ao enfrentamento desse tipo de violência. 
A partir do que vimos ao longo deste curso, compreendemos que a violência de 
gênero e a violência doméstica e familiar contra a mulher estão presentes na sociedade como 
um todo e, portanto, os profissionais de segurança pública não estão livres de figurarem 
como autores ou vítimas de tais violências. 
E, nesse sentido, a atuação dos profissionais de segurança pública no atendimento 
de ocorrências ou na condução de procedimentos em esfera criminal e administrativa de 
casos envolvendo público interno nessas condições, demanda, além de isenção e 
profissionalismo, a compreensão do grau de risco associado ao contexto. 
Embora não existam estatísticas públicas oficiais sobre os crimes cometidos por 
profissionais de segurança pública no âmbito familiar, alguns estudos realizados apontam 
uma incidência significativa e relevância do problema. 
Considera-se a alta incidência de atos relacionados à violência doméstica praticados por profissionais 
da segurança pública uma questão relevante e que merece constante problematização. Em pesquisa 
desenvolvida por Renata Cardoso (2016), foi realizado um levantamento dos policiais militares do Distrito 
Federal que respondiam a procedimentos administrativos por violência praticada contra os parceiros íntimos. 
De acordo com a pesquisadora, entre os anos de 2012 e 2014 a categoria “violência doméstica” consist ia na 
segunda maior demanda da Seção de Procedimentos Administrativos da PMDF. (SECRETARIA DE 
ESTADO DE JUSTIÇA DE CIDADANIA, 2019, p. 5) 
 Cruz (2023) reconhece que há pouca produção acadêmica sobre violência em 
ambiente doméstico envolvendo profissionais de segurança pública, entretanto identifica que 
o tema aparece de modo subjacente em estudos sobre polícia, como vitimização policial e 
suicídio. 
 No Brasil, existem poucos estudos sobre as violências cometidas no ambiente doméstico 
por profissionais de segurança pública, entretanto, esses temas apareçam de forma tangencial em estudos 
 
 
161 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
sobre polícia. Dayse Miranda (2016) apontou os conflitos conjugais e histórico de violência doméstica como 
fatores de risco presentes nas narrativas de policiais militares que haviam pensado ou tentado suicídio. (CRUZ, 
2023.p.10) 
Portanto, estamos diante de um fenômeno ainda pouco estudado e carente de 
estatísticas públicas oficiais, mas que demanda atenção e cuidado das instituições de 
segurança. Especialmente considerando o papel destas no combate e enfrentamento da 
violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Prevenção e enfrentamento da violência doméstica nas instituições de segurança 
pública 
 
 
Diante da necessidade de conhecimento e dos desafios da atuação dos profissionais 
do SUSP em ocorrências envolvendo profissionais de segurança pública na condição de 
autores ou vítimas de violência doméstica, utilizaremos aqui como referência as Diretrizes 
Nacionais para Atendimento Policial Militar às Mulheres em Situação de Violência Doméstica 
e Familiar – Âmbito Nacional publicado pela SENASP, que dedica um de seus capítulos ao 
atendimento policial em casos de violência doméstica e familiar contra a mulher profissional 
da segurança pública. 
Conforme o próprio documento ressalta, mesmo tendo como público-alvo policiais 
militares, estas diretrizes podem ser referência para todos os profissionais da segurança 
pública que atuam em defesa de mulheres. 
Portanto, de acordo com as Diretrizes Nacionais para Atendimento Policial Militar às 
Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Ministério da Justiça e Segurança 
Pública, 2022) a prevenção e o enfrentamento da violência contra a mulher no âmbito das 
instituições de segurança pública podem se dar a partir de quatro pilares: 
 
(1) Prevenção; 
(2) Atendimento à mulher em situação de violência; 
(3) Iniciativas voltadas para o autor do fato; 
(4) Apuração no âmbito disciplinar. 
 
Estes pilares sinalizam as possibilidades de atuação das instituições de segurança 
pública tanto de modo preventivo, bem como após o fato, garantido acolhimento às vítimas 
e responsabilização dos autores. 
 
 
162 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Entretanto é importante esclarecer que estas diretrizes são linhas gerais de atuação 
e, portanto, as instituições de segurança pública têm suas características e particularidades, 
devendo utilizar as diretrizes com base na autonomia institucional, estrutura organizacional 
e legalidade. 
 
PREVENÇÃO: 
 
Quanto às ações de prevenção da violência doméstica e familiar envolvendo o 
público interno das instituições de segurança pública, dentre outras, podem-se destacar: 
⚫ Sensibilizar e capacitar os profissionais sobre os mecanismos de prevenção da 
violência domésticae familiar; 
⚫ Realizar abordagens educativas e de conscientização sobre o tema da 
violência doméstica e familiar contra a mulher envolvendo profissionais de segurança 
pública, na condição de vítimas ou autores; 
⚫ Promover a qualificação do público interno para o atendimento de ocorrências 
relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher; 
 
ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: 
 
Em relação ao atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, 
é necessário considerar que esta vítima pode ser uma profissional do SUSP, esposa ou ex-
esposa de profissional do SUSP ou possuir outro tipo de vínculo familiar e/ou de afeto com 
profissional do SUSP que configure o fato como violência doméstica. 
Cada uma dessas particularidades demanda atenção, ações e encaminhamentos 
específicos, entretanto, nem sempre as instituições possuem fluxos e protocolos 
previamente estabelecidos, o que tende a dificultar a atuação. 
Contudo, é importante que as vítimas se sintam seguras para relatar e registrar os 
fatos junto aos órgãos de segurança pública, com a certeza de que haverá a devida aplicação 
da lei, afastando a percepção de corporativismo ou negligência na apuração dos fatos e 
eventual responsabilização do autor. 
Sendo assim, em termos práticos, é importante conhecer, além da legislação 
pertinente, as normas e protocolos internos previstos pela instituição para a atuação nos 
casos de violência doméstica e familiar envolvendo público interno como autores ou vítimas.
 Nesse aspecto, tratando-se do atendimento à mulher em situação de violência 
 
 
163 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
doméstica e familiar, pertencente ao Sistema Único de Segurança Pública, tem-se como 
recomendação geral que a instituição de origem da mulher preste apoio amplo e acompanhe 
o caso, principalmente se o agressor também pertencer ao SUSP, for portador de arma de 
fogo ou tiver lotação no mesmo local de trabalho da vítima. 
Em linhas gerais, o atendimento às vítimas de violência doméstica dentro das 
instituições de segurança pública deve preconizar objetivos tais como: 
⚫ Fornecer dados que possibilitem a elaboração de diagnóstico específico 
acerca do índice de vítimas e autores de violência doméstica e familiar dentro de instituições 
de segurança pública; 
⚫ Disponibilizar às vítimas integrantes de instituições da segurança pública 
canais exclusivos de denúncia, devendo ser adotadas as medidas administrativas, bem 
como prestadas as orientações a respeito da necessidade de registro de boletim de 
ocorrência e da realização de representação perante o Ministério Público, para os crimes de 
ação condicionada à representação da vítima; 
⚫ Disponibilizar ambiente para acolhimento e atendimento adequado buscando 
minimizar a exposição da vítima e evitando que ela passe por diversos setores em busca de 
ajuda ou atendimento; 
⚫ Oferecer a possibilidade de acompanhamento da Ronda/Patrulha Maria da 
Penha, nos locais onde exista, podendo tal apoio ser prestado pelo policiamento responsável 
pela área, desde que o efetivo policial esteja qualificado. 
 
Assédio Sexual 
Outro aspecto a ser considerado no enfrentamento da violência contra a mulher no 
âmbito das instituições de segurança pública são os casos envolvendo assédio sexual. 
Embora este seja um tipo penal que não faça distinção de gênero, a maior parte das vítimas 
são mulheres. 
De acordo com Catharine MacKinnon, o assédio sexual é uma forma de 
discriminação sexual, pois a desigualdade entre as atribuições masculinas e femininas 
interfere na construção da realidade pelo ponto de vista do dominante, ou seja, pelo 
masculino, o que faz com que a maioria dos casos de assédio sexual tenham as opressões 
de gênero em seu cerne e, portanto, recaiam sobre mulheres. 
Ademais, é importante atentar-se para o fato de que vários tipos de violências de 
gênero podem se agravar quando se trata de mulheres que compõem grupos minoritários, 
 
 
164 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
sendo esta a condição das mulheres nas instituições de segurança pública. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o assédio sexual é assim 
definido: 
Assédio sexual no ambiente de trabalho é a conduta de natureza sexual, manifestada fisicamente, 
por palavras, gestos ou outros meios, propostas ou impostas a pessoas contra sua vontade, causando-lhe 
constrangimento e violando a sua liberdade sexual. O assédio sexual viola a dignidade da pessoa humana e 
os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra, a igualdade de 
tratamento, o valor social do trabalho e o direito ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro. De cunho 
opressivo e discriminatório constitui violação aos Direitos Humanos. 
INICIATIVAS VOLTADAS PARA O AUTOR DO FATO: 
 
Quando um (a) profissional de segurança pública comete violência de gênero e/ou 
feminicídio, quais os desdobramentos desse fato na vida dele (a)? Quais os impactos desse 
fato na imagem da instituição a qual pertence o (a) agente? Havia sinais ou histórico de 
conflitos conjugais e familiares envolvendo o (a) agente? A instituição à qual pertence o (a) 
agente tinha ciência dos fatos? Houve providências institucionais tomadas? 
 
Figura 51: Agressor 
Fonte: Alesp 
 
Sem prejuízo da avaliação dos aspectos éticos e disciplinares associados a qualquer 
conduta delitiva perpetrada por profissionais de segurança pública, especificamente nos 
casos envolvendo violência de gênero e intrafamiliar, é fundamental considerar os fatores 
psicossociais associados a cada caso concretos, sobretudo, considerando os riscos de 
desfechos trágicos como feminicídio (tentado ou consumado) seguido de suicídio ou 
tentativa associados às ocorrências do tipo. 
https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=403647
 
 
165 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Embora não possa servir de justificativa para a violência doméstica, é possível 
identificar alguns fatores presentes nos conflitos e que funcionam como gatilhos da violência, 
como por exemplo: ciúme, uso abusivo de álcool e/ou drogas ilícitas, problemas de saúde 
mental não tratados, não aceitação do término do relacionamento, disputas por bens, 
disputas pela guardas e visitação de filhos, dentre outros. 
Conforme destacado no início desta aula, não existem estatísticas públicas oficiais 
relativas ao envolvimento de profissionais de segurança em casos de violência doméstica e 
feminicídios, desse modo, boa parte dos estudos sobre o tema são realizados através de 
pesquisas em notícias divulgadas pela mídia. Não traremos aqui casos individuais, mas é 
possível encontrar um número significativo de casos em uma busca simples na internet. 
A pesquisa de Fernanda Novaes Cruz (2023) realizada a partir de levantamento 
jornalístico, analisou 28 casos de mulheres que foram vítimas fatais de seus parceiros 
profissionais de segurança pública durante o ano de 2021 no Brasil, demonstrando os 
seguintes resultados: 
(1) Em metade dos casos analisados após o homicídio o agente cometeu suicídio; (2) a existência de 
vínculo afetivo anterior ou atual entre o agressor e a vítima, (3) a utilização de armas de fogo na maior parte 
das mortes, e (4) parte considerável dos casos traziam menções à episódios ou comportamentos violentos 
prévios. 
 
Nos casos em que o autor (a) de violência doméstica e familiar se trata de profissional 
do SUSP, as diretrizes nacionais para atendimento policial militar às mulheres em situação 
de violência doméstica e familiar sugerem o seguinte:⚫ Realizar o encaminhamento do profissional denunciado pela violência a 
serviços ou grupos de responsabilização e educação e/ou atendimento psicossocial e 
psicológico; 
⚫ Suspender o porte de arma institucional e demandar a entrega de armas em 
posse do autor até que o fato que originou a denúncia seja investigado e que a vítima esteja 
em situação de proteção estatal; 
⚫ Informar ao profissional do SUSP, autor de violência doméstica e familiar contra 
a mulher, acerca das medidas legais que serão adotadas; 
⚫ Criar grupos reflexivos, a exemplo dos existentes em alguns estados, 
estimulando o debate sobre o impacto da violência doméstica e familiar dentro das próprias 
instituições de segurança pública; 
⚫ Por peculiaridades de algumas instituições de segurança pública, as vítimas 
devem ser incentivadas a realizar a denúncia e receber apoio na mudança de local de 
trabalho, de forma que ela possa se distanciar do agressor. 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
APURAÇÃO NO ÂMBITO DISCIPLINAR 
 
Já em relação ao âmbito disciplinar, destaca-se que os princípios de ética devem ser 
observados pelos integrantes das forças de segurança pública. Desse modo, é recomendado 
a instauração de procedimento administrativo para apurar a conduta oportunizando a ampla 
defesa e o contraditório. 
 
4.3.3.8 Aula 8 – Boas Práticas: Grupos Reflexivos para profissionais de 
segurança autores de violência doméstica e familiar 
 
 A Lei nº 13.984/2020 alterou o art. 22 da Lei nº 11.340/2006, Lei Maria da 
Penha, para estabelecer como medidas protetivas de urgência a frequência do agressor a 
centro de educação e de reabilitação e acompanhamento psicossocial. 
 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, 
o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas 
protetivas de urgência, entre outras: 
[..] 
VI - Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e 
VII - Acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo 
de apoio. 
O aprofundamento da discussão sobre a prevenção da violência doméstica e familiar 
contra a mulher perpassa, além das ações voltadas às mulheres em situação de violência, 
um olhar em relação ao autor do fato que não se restrinja à perspectiva da punição, sem com 
isso isentá-lo da necessária responsabilização pelo crime cometido. 
E, nesse contexto, os grupos reflexivos para autores de violência doméstica e familiar 
contra a mulher têm sido uma alternativa exitosa. 
Beiras et al (2022), sugere a criação de Grupos para populações específicas de 
Violência doméstica: 
Recomenda-se também a criação de grupos específicos para trabalhadores da segurança pública, 
como policiais e agentes carcerários, em conexão com políticas de formação em gênero, masculinidades e 
violências contínua e efetiva para esse público. Por um lado, tal população pode se mostrar reticente quanto a 
participar junto a criminosos “comuns” de um grupo, bem como em expor sua intimidade diante desses outros 
homens. 
O relatório do trabalho com grupos de homens autores de violência – (2019), 
denominado: “Grupo Reflexivo com Intervenções Terapêuticas”, para agentes de segurança 
pública do Distrito Federal demonstrou a efetividade deste tipo de ação, pois, na apuração 
de reincidência identificou-se - até o momento de produção do relatório - dois casos 
envolvendo participantes do Grupo Refletir, o que reforça a efetividade da ação. No total, 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22vi
 
 
167 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
passaram pelo grupo 83 (oitenta e três) profissionais da segurança pública, sendo 62 
(sessenta e dois) Policiais Militares, 15 (quinze) Bombeiros Militares, dois Policiais Civis, três 
Policiais Penais e um Agente de Trânsito. 
A realização de grupos reflexivos para agentes de segurança pública se alinha, tanto 
com a previsão legal, quanto com a perspectiva de prevenção da reincidência e respostas 
institucionais para o problema. O Grupo Refletir é uma das estratégias de prevenção 
adotadas pela Rede de Serviços do Distrito Federal: 
O Grupo Reflexivo com Intervenções Terapêuticas foi iniciado com o objetivo de institucionalizar a 
atenção psicossocial e de prevenção à violência doméstica destinada aos profissionais de segurança pública, 
por meio de um espaço de escuta, cuidado e autorresponsabilização pelos atos. O grupo propõe uma reflexão 
acerca do reconhecimento de crenças legitimadoras e perpetuadoras do uso de violência em relações 
domésticas e familiares, levando seus integrantes a despirem-se de valores e crenças que levem a justificativas 
e à negação dos comportamentos abusivos, bem como na ampliação da visão de mundo no que tange 
violência, gênero, masculinidades e direitos. 
LEITURA: Relatório do Trabalho com Grupos de Homens Autores de Violência: 
grupo reflexivo com intervenções terapêuticas, para agentes de Segurança Pública do 
Distrito Federal – 2019. 
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-
mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-
reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-
federal-2019.pdf 
Assista ao vídeo: Quebrando o Silêncio: como os homens se transformam. 
https://www.youtube.com/watch?v=gw09QlQE7J4 
 
SAIBA MAIS! 
Para finalizar esta aula indicamos assistir ao vídeo: 
Documentário "O Silêncio dos Homens" - Trailer: 
https://www.youtube.com/watch?v=UzWyx_TcPmQ 
 
 
 
 
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-federal-2019.pdf
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-federal-2019.pdf
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-federal-2019.pdf
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-federal-2019.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=gw09QlQE7J4
https://www.youtube.com/watch?v=gw09QlQE7J4
https://www.youtube.com/watch?v=gw09QlQE7J4
https://www.youtube.com/watch?v=UzWyx_TcPmQ
 
 
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O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Finalizando 
Nesta aula você aprendeu que: 
⚫ A violência doméstica e familiar e de gênero é um problema presente na 
sociedade e nas instituições de segurança pública; 
⚫ É importante que as instituições de segurança pública conheçam a realidade e 
os índices de ocorrências de violência doméstica e familiar envolvendo o público interno; 
⚫ A prevenção e o enfrentamento da violência contra a mulher no âmbito das 
instituições de segurança pública podem se dar a partir de quatro pilares: prevenção, 
atendimento à mulher em situação de violência, iniciativas voltadas para o autor do fato e 
apuração no âmbito disciplinar; 
A realização de grupos reflexivos específicos para agentesde segurança pública se 
alinha, tanto com a previsão legal, quanto com a perspectiva de prevenção da reincidência 
e respostas institucionais para o problema da violência doméstica envolvendo profissionais 
de segurança pública. 
 
 
 
 
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
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http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/viewFile/444/244 
Beira, Adriano, et al. Grupos reflexivos e responsabilizantes para homens autores de 
violência contra mulheres no Brasil: mapeamento, análise e recomendações. 
Florianópolis: CEJUR, 2021. 
Brasil. Lei n.º 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição 
Federal e adota outras providências. Brasília, 2006. 
Brasil, Lei n.º 11.104, de 11 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância 
qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 
1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. 
Brasil, Lei n.º 13.948, de 03 de agosto de 2020. Altera o art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de 
agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para estabelecer como medidas protetivas de 
urgência frequência do agressor a centro de educação e de reabilitação e 
acompanhamento psicossocial. 
Brasil, Lei Nº 14.149, de 5 de maio de 2021. Institui o Formulário Nacional de Avaliação de 
Risco, a ser aplicado à mulher vítima de violência doméstica e familiar. 
Brasil. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2010). Norma Técnica de Padronização das Delegacias 
Especializadas de Atendimento às Mulheres - Deams Edição Atualizada. Brasília, 
2010. 
Brasil. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Segurança Pública 
(SENASP): Diretrizes nacionais para atendimento policial militar às mulheres em 
situação de violência doméstica e familiar – Âmbito nacional. Secretaria Nacional de 
Segurança Pública (SENASP). Brasília, 2022. 
Brasil. Secretaria de Política para Mulheres. (2014). Guia para criação e implementação de 
organismos governamentais de políticas para as mulheres. Brasília. Disponível em: 
http://www.spm.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/publicacoes/2014/guia-
para-a-criacao-de-opm-dez2014.pdf . 
http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/viewFile/444/244
 
 
170 
Segurança Pública e Mulheres: 
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Brasil (2006) Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340, 7 de Agosto. Disponível em: 
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Gerhard, Nádia. Patrulha Maria Da Penha: O Impacto da Ação da Polícia Militar no 
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Kaur, Rupi. O que o sol faz com as flores; tradução de Ana Guadalupe. São Paulo: Planeta 
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em Gênero e Direito. 1ª Edição. 2017. EMERJ - RJ. Disponível em: 
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Oliveira, Max William Coelho Moreira, MORAES, Orlinda Claudia Rosa de, SIQUEIRA, 
Samya Cotta Brandão. Outros olhares: Investindo na prevenção: a 
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https://forumseguranca.org.br/formacao-de-policiais-para-o-enfrentamento-da-violencia-de-genero/
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https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/genero_e_direito/edicoes/1_2017/pdf/OrlindaClaudiaRosadeMoraes.pdf
 
 
171 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
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Janeiro. 2022. 
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https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2020/12/2020-12-08-AE-51_Violencia-contra-mulheres.pdf
https://igarape.org.br/evidencias-sobre-violencia-contra-mulheres-no-brasil-na-colombia-e-no-mexico/
https://igarape.org.br/evidencias-sobre-violencia-contra-mulheres-no-brasil-na-colombia-e-no-mexico/
https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2018/03/2018-03-30-AE-32_Agenda-MPS-web-Hi.pdf
https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2018/03/2018-03-30-AE-32_Agenda-MPS-web-Hi.pdf
https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2018/03/2018-03-30-AE-30_Genero-Brasil-Colombia.pdf
https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2018/03/2018-03-30-AE-30_Genero-Brasil-Colombia.pdf
https://igarape.org.br/mulheres-forcas-armadas/pt/
https://igarape.org.br/mulheres-forcas-armadas/pt/
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015
 
 
172 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violênciase culturais (DESC) para pessoas físicas, incluindo os direitos de trabalho e o direito 
à saúde, além do direito à educação e a um padrão de vida adequado. 
 
Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos 19/12/1966 
Instrumento por meio do qual os Estados Partes das Nações Unidas que aderirem e 
ratificarem o Pacto assumem o compromisso de respeitar e garantir a todos os indivíduos 
que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos 
reconhecidos no Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, 
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, 
nascimento ou qualquer condição. 
Figura 4: Bertha Lutz 
durante os trabalhos da 
Conferência de São 
Francisco - 1945
. 
Fonte: Câmara dos 
Deputados 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/imagens/exposicoes-historicas-e-artisticas-2016/bertha-lutz-durante-os-trabalhos-da-conferencia-de-sao-francisco-1945/view
https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/imagens/exposicoes-historicas-e-artisticas-2016/bertha-lutz-durante-os-trabalhos-da-conferencia-de-sao-francisco-1945/view
 
 
16 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Protocolo Opcional 22/12/2000 
Protocolo que estabelece mecanismos para notificação e investigação da Convenção sobre 
a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres 
 
Esses documentos fundacionais foram importantes para estabelecer um arcabouço 
legal normativo e componentes substanciais do Direito Internacional. Ainda assim, a sua 
implementação está, com frequência, aquém do ideal. 
Apesar disso, essa declaração e os dois tratados subsequentes adotam uma 
abordagem relativamente estreita sobre o tema. Elas não tratam de questões fundamentais 
para o direito de mulheres e meninas que ocorrem no âmbito privado, local que é, ainda onde 
as principais formas de violência afetam mulheres. Por essa razão, os seus mandatos são 
bastante criticados, e seguiu-se um movimento forte e atuante por parte da sociedade civil 
para que questões no âmbito doméstico também fossem tratadas. Em outras palavras: sim, 
é dever do Estado proteger mulheres e seus direitos no interior de seus lares. 
Era necessário, portanto, um documento de caráter jurídico vinculante e 
especificamente dedicado aos direitos de mulheres e meninas. Então, em 1979 a Assembleia 
Geral da ONU adotou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres (do termo em inglês CEDAW). Trata-se do primeiro 
instrumento internacional de direitos humanos a definir explicitamente todas as formas de 
discriminação contra mulheres como violações fundamentais de direitos humanos. Boa parte 
do texto dessa convenção foi redigida pela Comissão sobre o Status da Mulher (do termo 
em inglês CSW), criada especificamente para promover os direitos de mulheres e defendê-
los. A Comissão reúne-se até hoje, desde a sua criação em 1946, no mês de março, e traz 
uma série de deliberações desde a sua criação sobre como seguir avançando neste âmbito. 
O Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres, que entrou em vigor em 2000, melhorou ainda mais o 
regime de igualdade de gênero, criando procedimentos e mecanismos para que os Estados 
prestem contas perante a Convenção. Ao ratificar o Protocolo Facultativo, um Estado 
reconhece a competência do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher - 
a CEDAW –, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção pelos Estados para receber 
e examinar queixas de indivíduos ou grupos dentro da sua jurisdição. Mais especificamente, 
o Protocolo prevê os dois procedimentos listados abaixo. 
 
1. Procedimento de comunicação: permite que mulheres, de maneira individual, 
ou grupos de mulheres, submetam violações de direitos protegidos pela Convenção ao 
 
 
17 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Comitê. Para serem aceitas pelo Comitê, as comunicações individuais precisam atender a 
uma série de critérios. Um exemplo é o esgotamento de todas as ações cabíveis em âmbito 
nacional. 
2. Segundo procedimento: permite que o Comitê inicie inquéritos sobre as 
situações de violações graves ou sistemáticas de direitos das mulheres. 
Em ambos os casos, para que sejam aceitos, os Estados devem ser partes 
signatárias da Convenção e do Protocolo.2 
 
As conferências internacionais de mulheres 
 
Vimos na seção anterior que os direitos das mulheres avançaram através de três 
instrumentos principais: a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, a inclusão da 
igualdade de gênero no documento fundados da ONU, e a atuação da Comissão sobre o 
Status da Mulher que gerou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres, e uma série de protocolos adicionais. Porém, houve ainda 
uma série de conferências internacionais que também contribuíram para avançar os direitos 
das mulheres, em especial nas esferas econômica e política. 
Entre 1975 e 1995, o regime de igualdade de gênero se consolidou em diversas 
áreas através das quatro conferências globais sobre mulheres, realizadas na Cidade do 
México, em Copenhague, na Dinamarca; em Nairóbi, no Quênia; e em Beijing, na China. 
Essas conferências proporcionaram plataformas para negociações intergovernamentais e 
deram às organizações de mulheres um palco internacional para a proposição de suas 
reivindicações e para o seu trabalho em rede. 
A primeira conferência foi convocada na Cidade do México para coincidir com o Ano 
Internacional da Mulher, em 1975, oficializado para relembrar a comunidade internacional de 
que a discriminação contra mulheres e meninas continuava a ser um problema na maior 
parte do mundo. Esta primeira conferência focou no desenvolvimento de planos de ação para 
atender três principais objetivos: 
(1) a plena igualdade de gênero e a eliminação da discriminação de gênero; 
(2) a integração e participação plena das mulheres nas ações relacionadas ao 
desenvolvimento; 
(3) a contribuição ampliada das mulheres para fortalecer a paz mundial.3 
 
2 ONU MULHERES, 2000. 
3 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1976. 
 
 
18 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Figura 5: 1ª Conferência Mundial sobre Mulher - México (1975): 
“Igualdade, Desenvolvimento e Paz”. 
 
Fonte: ONU 
 
 
Ainda que exista um reconhecimento, embora tímido, sobre o papel de mulheres 
para a paz, esta conferência, juntamente com a Década das Nações Unidas para as 
Mulheres (1976 - 1985), focou seus esforços em promover um diálogo mais amplo e quase 
inédito sobre igualdade de gênero no mundo. Constituiu, efetivamente, um processo de 
aprendizado que envolveu deliberações, negociações, estabelecimento de objetivos, 
identificação de obstáculos e revisão dos avanços. Este processo continuou com a segunda 
conferência mundial para as mulheres, realizada em 1980, em Copenhague. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
19 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 6: 2ª Conferência Mundial sobre a Mulher 
Copenhague (1980): “Educação, Emprego e Saúde”. 
 
Fonte: ONU 
 
Especificamente sobre a atuação no âmbito da paz e segurança, o relatório 
determina que no contexto do fortalecimento da paz e da segurança internacional, 
desarmamento e enfraquecimentode tensões, seja prestada a devida atenção ao avanço de 
mulheres e proteção de mães e crianças (parágrafo 33).4 O enquadramento dos direitos das 
mulheres e da igualdade de gênero passam a ser componentes importantes para a paz e a 
segurança. 
A terceira conferência, em 1985, lançou as Estratégias Prospectivas de Nairóbi para 
o Avanço das Mulheres, com um plano de ação que definiu as ações necessárias em prol da 
igualdade, do desenvolvimento e da paz, até o ano 2000. Esse documento conectou 
claramente a promoção e a manutenção da paz à erradicação da violência contra as 
mulheres em todos os níveis da sociedade. O parágrafo 13, por exemplo, afirma que a 
promoção plena e efetiva dos direitos das mulheres terão maiores chances de serem 
implementados em um contexto de paz e segurança internacional.5 Explica, ainda, que a 
paz refere-se não somente à ausência de guerras, violência e hostilidades em níveis nacional 
e internacional, mas também à valorização da justiça econômica e social, à igualdade e a 
todo o rol de direitos humanos e liberdades fundamentais. 
 
 
 
4 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1980. 
5 DECLARAÇÃO DE BEIJING E A PLATAFORMA DE AÇÃO, 1995. 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
20 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Figura 7: 3ª Conferência Mundial sobre a Mulher - Nairóbi (1985): 
“Estratégias Orientadas ao Futuro, para o Desenvolvimento da Mulher até o Ano 2000”. 
 
Fonte: ONU 
 
O documento também encoraja os Estados-membros a adotar medidas 
constitucionais e jurídicas para eliminar todas as formas de discriminação contra as 
mulheres, bem como moldar as estratégias nacionais para facilitar a participação das 
mulheres em ações dedicadas à paz e ao desenvolvimento. 
A quarta conferência mundial sobre mulheres, realizada em Beijing, em 1995, 
produziu a Declaração de Beijing e a Plataforma de Ação.6 A Declaração cobrou dos 
governos os compromissos de implementar as estratégias acordadas em Nairóbi em 1985 
antes do final do século XX e de mobilizar recursos para a implantação da Plataforma de 
Ação. A Plataforma é o documento mais completo produzido por uma conferência da ONU 
sobre os direitos das mulheres, uma vez que ela incorpora conquistas de conferências e 
tratados anteriores, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a CEDAW e a 
Declaração e Programa de Ação de Viena, que foram preparados na conferência global 
sobre direitos humanos em 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Idem. 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
21 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Figura 8: 1995 – IV Conferência Mundial sobre a Mulher com tema central: 
“Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a Paz”, China. 
 
Fonte: ONU 
 
 
Declarações da Assembleia Geral da ONU 
 
Além dessas conferências globais, dos tratados internacionais e das diversas 
entidades internacionais existentes, cabe destacar também que o regime da igualdade de 
gênero é composto por uma série de Declarações da Assembleia Geral da ONU. Por 
definição, as declarações não são compulsórias, mas têm contribuições importantes no que 
diz respeito ao desenvolvimento da ideia da igualdade de gênero e ao seu impacto na missão 
da ONU de manter a paz e a segurança internacional. 
Em 1966, aprovou-se a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a 
Mulher da Assembleia Geral, que abriu o caminho para a CEDAW. Em 1974, a Assembleia 
Geral aprovou a Declaração sobre a Proteção de Mulheres e Crianças em Emergências e 
Conflitos Armados, que preparou o terreno para o arcabouço de proteção dentro do regime 
de igualdade de gênero. Com a reafirmação da CEDAW e das declarações anteriores, a 
Assembleia Geral adotou a Resolução 3521 (1975), convidando os Estados-membros da 
ONU a ratificarem convenções internacionais e outros instrumentos ligados à proteção dos 
direitos das mulheres. De acordo com essa resolução, ao se beneficiarem dos direitos 
estipulados nos instrumentos internacionais pertinentes, as mulheres devem desempenhar 
um papel igual ao dos homens em todas as esferas da vida, incluindo a promoção da paz e 
o fortalecimento da segurança internacional. 
Finalmente, em 1993, a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
reconheceu a necessidade urgente da aplicação universal dos direitos das mulheres e dos 
princípios a respeito da igualdade, segurança, liberdade, integridade e dignidade de todos 
os seres humanos, e expressou sua preocupação com o fato de que a violência contra as 
mulheres é um obstáculo à conquista da igualdade, do desenvolvimento e da paz. Ela 
apontou que essa violência pode ser praticada por agressores de ambos os sexos, dentro 
da família e do próprio Estado. Essas declarações e resoluções da Assembleia Geral, entre 
outras, são peças centrais na compreensão do desenvolvimento e da trajetória do trabalho 
da ONU na promoção da igualdade de gênero e do empoderamento de mulheres e meninas. 
Mas além dos esforços com enfoque específico nas questões de gênero, outras 
áreas dentro do Sistema ONU passaram por mudanças, criando espaço para que as 
questões de gênero aparecessem em novos contextos, em particular no contexto da paz e 
da segurança internacional. No final da década de 1990, por exemplo, no âmbito das graves 
situações de violência em Ruanda e na ex-Iugoslávia, o Conselho de Segurança realizou 
uma série de reuniões para tratar a questão da responsabilidade para proteger populações 
civis em tempos de guerra. 
Parte dessa mudança de pensamento estava relacionada à evolução do Direito 
Internacional que, pela primeira vez, codificou o estupro e a violência sexual como crimes de 
guerra, crimes contra a humanidade e atos de genocídio. Essa importante categorização 
começou com os Tribunais Penais Internacionais para a ex-Iugoslávia e para Ruanda, 
tornando-se permanente com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, em 1998.7 
Neste, o estupro e a violência sexual são considerados crimes contra a humanidade. Esses 
instrumentos internacionais históricos estão entre os fatores que pressionaram o Conselho 
de Segurança a ampliar o seu entendimento do que constitui uma ameaça à segurança 
internacional, estabelecendo uma jurisdição que vai além de um conflito armado 
internacional, real ou iminente. 
 
Interseccionalidade e o marco normativo internacional de proteção dos direitos 
humanos das mulheres 
 
Apesar do efeito perverso que a violência contra mulheres gera em mulheres 
pertencentes a grupos que foram historicamente marginalizados de políticas públicas 
brasileiras, não há menções específicas à necessidade de incorporar uma abordagem de 
gênero aos principais instrumentos internacionais de proteção de mulheres. De fato, nenhum 
 
7 BRASIL, 2002. 
 
 
23 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
dos documentos supracitados, particularmente a Carta da ONU, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, nem a própria CEDAW trata das perspectivas de mulheres pertencentes 
a identidades que podem gerar vulnerabilidades e riscos extras para elas.8 
No entanto, a participação de mulheres negras nas Conferências internacionais foi 
intensa. Em 1975, com a Declaração do Ano 1975 como o Ano Internacional da Mulher, elas 
compareceram na primeira conferência e apresentaram um documentoque indicava a 
situação de exploração e opressão da mulher negra em diferentes contextos.9 A presença 
delas nas Conferências, apesar de forte, teve seus primeiros resultados na Conferência de 
Direitos Humanos em Viena, em 1993, quando, foi incluído em seu texto oficial menção a 
necessidade de olhar os direitos de mulheres também pela ótica de mulheres não-brancas. 
No Brasil, entre os anos 90 e 2000 houve importantes ações públicas em prol da 
visibilização do racismo estrutural e o papel da ação afirmativa. Neste contexto, mulheres 
negras tiveram um papel fundamental na Constituinte de 1988, inaugurando formulações 
políticas para setores historicamente marginalizados no Brasil. Isto resultou, mais adiante, 
em propostas práticas no âmbito nacional, como a política de cotas em universidades e 
órgãos públicos no Brasil. Assim, em 1994, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em 
Beijing, na China, e em 2001 na III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação 
Racial, a Xenofobia e Formas conexas de Intolerância em Durban, houve uma participação 
e articulação transnacional do movimento feminista negro sem precedentes. Para Beijing, 
mulheres negras enviaram importantes subsídios, como “A mulher negra na década: a busca 
da autonomia.”10 
 
SAIBA MAIS 
A necessidade de estabelecer um regime de proteção das mulheres surgiu em razão da 
marginalização e exclusão das mulheres ao longo dos séculos, o que gerou oportunidades 
desiguais de acesso a direitos, inclusive com relação aos papéis que desempenham na 
sociedade. Por isso, o movimento feminista, muito antes da existência das Nações Unidas, 
luta para o reconhecimento destes direitos, o que só aconteceu após a elaboração de uma 
série de documentos que discutimos aqui brevemente. Para um breve resumo do conteúdo 
desta aula, acesse o vídeo do Politize: "Direito das Mulheres: o que são e como surgiram? - 
Projeto Equidade". Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g 
 
8 Ferreira, Lobo (2023). 
9 Nascimento, 1978. 
10 (RIBEIRO, 2008, p. 991). 
https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g
 
 
24 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Finalizando 
 
Bom, agora que nós terminamos esse módulo, gostaria de convidá-los e convidá-las 
a dar uma olhadinha naquele conteúdo que vocês pensaram na nossa atividade de abertura. 
E então, suas respostas estão mais ou menos de acordo com o que aprenderam nessa 
seção? Para facilitar vou fazer um resumindo aqui embaixo sobre o que aprendemos neste 
módulo: 
A) Mulheres foram tradicionalmente excluídas da vida pública do Estado e por 
essa razão, com frequência têm seus direitos mais básicos violados; 
B) Uma série de marcos internacionais, em especial a Convenção para 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, conformam o regime 
internacional de proteção dos direitos das mulheres. Em outras palavras, eles determinam 
como os Estados devem tratar suas mulheres, garantindo todos os seus direitos e igualdade 
de oportunidades; 
C) Porém, a forma como as mulheres são tratadas no interior de seus lares 
demorou a ser reconhecida como direito. E é neste âmbito o local em que grande parte de 
seus direitos são violados. E é claro que não podemos permitir isso. As conferências 
internacionais, ações do movimento feminista e deliberações da Comissão sobre o status da 
Mulher contribuíram para que se criassem protocolos e plataformas de atuação que corrigem 
esse direito. Agora é nosso dever proteger essas mulheres. 
 
4.1.3.2 Aula 2 - Principais Conceitos e Definições 
 
Profissionais da segurança pública são, em sua maioria, homens. Para mulheres, 
entrar em uma delegacia, ou discar o 190, para registrar uma ocorrência relacionada a 
violência baseada em gênero pode ser um desafio. Isso porque pode ser difícil falar sobre 
este tipo de violência, em especial quando o interlocutor é um homem. 
Por que isso acontece? A violência contra mulheres, seja ela em qualquer uma de 
suas formas, tem origem na profunda desigualdade de gênero em nossa sociedade. As 
relações desiguais entre homens e mulheres geram relações de poder, que podem se 
traduzir, inclusive, na violência sobre o corpo, comportamento e formas de ser de mulheres. 
 
 
25 
Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A maioria dos perpetradores da violência contra mulheres são parceiros e ex-parceiros ou 
membros da família. 
Profissões como aquelas relacionadas à segurança pública remetem à categoria 
construída a partir da imputação de papéis sociais a indivíduos de uma dada organização 
que detém o monopólio da força. De certa forma, estes profissionais são, com frequência, 
vistos como separados do restante da sociedade, e vivem em um sistema de relações, regras 
e comportamentos distintos dos demais indivíduos desta mesma sociedade. Apesar das 
particularidades de cada categoria, a estes profissionais são impostos comportamentos que 
deverão desconstruir sua identidade original e colocar em seu lugar uma nova identidade. 
Os adjetivos que tendem a definir estes profissionais nas sociedades ocidentais são, em 
certa medida, os mesmos que definem os homens, o ser masculino: viril, corajoso, 
audacioso, etc. Ambientes assim podem ser considerados amedrontadores e hostis para 
muitas mulheres, por isso, também pode ser difícil para elas reportar este tipo de violência. 
Mas não só a ida a delegacia que pode ser difícil para mulheres, é comum que a fim 
de evitar o assédio, o constrangimento e outros tipos de agressão, muitas mulheres alteram 
a sua rotina para fazer outro caminho ou mudam a forma de se vestir. De acordo com a ONG 
Think Olga, 99,6% das mulheres brasileiras já sofreram com assédios no espaço público.11 
Considerando o risco constante à violência baseada no gênero e a dificuldade 
enfrentada por muitas mulheres para reportar este tipo de violência, esta aula pretende 
informar os profissionais do sistema de segurança pública sobre alguns conceitos e 
definições básicos, como forma de sensibilizá-los sobre a relação entre os papéis que 
mulheres desempenham na sociedade e os riscos e vulnerabilidades a que estão 
submetidas. 
Observem as fotos desses dois bebês: 
Figura 9: Menina em rosa Figura 10: Menino recém-nascido para dormir 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Public Domain Pictures.net Fonte: Public Domain Pictures.net 
 
11 Ver: Pesquisa Chega de Fiu Fiu - Think Olga. 
https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=11151&picture=menina-em-rosa
https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=59885&picture=menino-recem-nascido-para-dormir
https://thinkolga.com/ferramentas/pesquisa-chega-de-fiu-fiu/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Na Prática 
1. Que presentes você daria para esses bebês? 
2. O que você acha que cada um vai ser quando crescer? 
3. O que vão estudar? 
4. Como vão se vestir? 
5. Aos 15 anos, o que estarão fazendo? 
6. Aos 30 anos, o que estarão fazendo? 
7. E se invertêssemos os presentes desses bebês? 
 
SAIBA MAIS 
Assistir o filme: Inspiring The Future - Redraw The Balance 
Versão em português: Profissão de homem ou de mulher? 
 
Sexo 
 
Na Biologia, sexo é o conjunto de características físicas e orgânicas que permite 
diferenciar o homem e a mulher, conferindo-lhes papéis específicos na reprodução. O sexo 
é, assim, apenas uma classificação do corpo da pessoa: se este apresenta aspectos básicos 
da biologia feminina, trata-se de uma mulher; da mesma forma, se o corpo possui 
características biológicas exclusivas do sexo masculino, trata-se de umhomem. 
No momento do nascimento de um bebê, tudo que sabemos a seu respeito é o sexo. 
Traços de sua personalidade, como temperamento, habilidades, gostos e desejos serão 
revelados ao longo de seu amadurecimento. Isso se deve ao fato de que, biologicamente, 
pertencer ao sexo masculino ou feminino não define o comportamento das pessoas. Ou seja, 
um bebê do sexo masculino não tem maior propensão a gostar de futebol do que um bebê 
do sexo feminino. O que definirá isso é a imersão social da criança. Além de masculino e 
feminino, há uma terceira categoria de sexo chamada intersexo. Refere-se à pessoa cujas 
características físicas/biológicas mesclam aspectos do sexo feminino e do masculino, ou, 
ainda, não apresentam atributos que permitam a classificação em um único sexo. Por 
apresentar variações de cromossomos ou órgãos genitais que estão fora do padrão, são 
designados em uma outra classificação. Englobam hermafroditas, que apresentam tecidos 
https://www.youtube.com/watch?v=qv8VZVP5csA
https://www.youtube.com/watch?v=WQcVenoISA0
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
testiculares e ovulares, e pseudo-hermafroditas, caso de pessoas cujos testículos não 
desceram, pênis demasiado pequeno, clítoris muito grande, vagina ausente ou código 
genético masculino e características físicas femininas e vice-versa. Segundo a Organização 
Mundial da Saúde, estima-se que cerca de 1% da população mundial seja intersexual.12 
 
Gênero e Papéis Sociais de Gênero 
 
O gênero reúne as características físicas, intelectuais e emocionais que se espera 
de homens e mulheres. Refere-se à forma como a pessoa se expressa socialmente. No 
exercício de abertura, apenas com o conhecimento do sexo biológico dos bebês, foram 
expostos projeções e anseios para cada um. Tais projeções são reproduções dos papéis de 
gênero, isto é, do que é esperado deles caso seja uma menina ou um menino. Estas 
projeções também mudam segundo a cultura, a raça, e até mesmo a família de cada um. 
Assim, família, amigos, mídia e sociedade dizem de diversas formas como homens e 
mulheres devem agir, criando padrões de comportamento para cada gênero. 
Essas ideias e expectativas são convenções sociais, padrões geralmente aceitos 
sobre comportamentos e capacidades tipicamente femininas ou masculinas13. Assim, a ideia 
de gênero é um processo social, ligado à cultura, que está menos relacionado à biologia de 
cada um do que às expectativas da sociedade. Os papéis de gênero variam ao longo da 
história e de acordo com a cultura local. Não há uma definição universal do que é ser homem 
ou ser mulher, tampouco há características de masculinidade e feminilidade que abarque a 
todos. 
Logo, ao pensarmos em diferenças "naturais" entre homens e mulheres, devemos 
compreender que não fazem parte da biologia de cada um, mas da forma com que são 
colocados na sociedade. Em outras palavras, é o convívio social que determina as diferenças 
entre os gêneros e não o sexo. Este convívio inicia-se quando somos ainda crianças. 
Meninas não nascem com uma tendência natural a gostar de rosa, tampouco os 
meninos de azul, porém essas cores estão constantemente associadas a seu gênero e, no 
esforço de se encaixar, esses "gostos" são internalizados. Enquanto meninas ganham 
bonecas, lousas, cozinhas de brinquedo, meninos brincam com video-games, carrinhos 
elétricos e legos, esses brinquedos não são apenas entretenimento infantil, mas passam 
uma mensagem e dizem às crianças o que é esperado delas. Mais que isso: os brinquedos 
 
12 "Sou intersexual, não hermafrodita". EL PAÍS. Disponível em: https://tinyurl.com/Sou-intersexual. 
13 "Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: Manual de Actividades 
Educativas". Projecto Acquire, EngenderHealth e Promundo, 2008. P. 95. Disponível em: 
https://tinyurl.com/58ecpa79. 
https://tinyurl.com/Sou-intersexual
https://tinyurl.com/58ecpa79
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
influenciam diretamente no desenvolvimento cognitivo das crianças, na sua capacidade de 
aprender. Ao brincar de ser professora, a menina pratica habilidades diferentes do menino 
que brinca de lego. Enquanto este desenvolve noção espacial, por exemplo, ela pratica a 
comunicação verbal. 
Brinquedos são apenas um exemplo dentre tantos outros das possíveis influências 
que, por vezes, passam despercebidas na educação das crianças e jovens e são tidas como 
naturais, inerentes àquele gênero.14 
Por exemplo, ao pensarmos no futuro profissional de um menino, pensa-se nas mais 
diversas carreiras. Ao mesmo tempo, meninas são vistas como mais preparadas para 
atividades voltadas à pessoas e à relações interpessoais, como profissões de comunicação, 
de cuidados e de ensino (enfermeiras e professoras, por exemplo). As áreas de exatas são 
automaticamente associadas a homens, que seriam, pelo senso comum, biologicamente 
mais aptos a lidar com coisas, máquinas, tecnologia e raciocínio lógico. 
Os papéis de gênero acabam por criar estereótipos do que é agir como homem e 
como mulher. Aqueles que não atuam de acordo com o conjunto dessa "caixa" sofrem com 
o rechaço, a vergonha ou a exclusão social. Assim, os papéis de gênero limitam as 
possibilidades de expressão e ação das pessoas, que se veem pressionadas a seguir um 
modelo. 
 
 
Na Prática 
 
Observe os pictogramas abaixo. Questione a mensagem que querem expressar. Em 
seguida, tente visualizar as características construídas socialmente e o impacto que elas 
podem gerar na vida de mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 Ver também: "Estereótipo de que 'matemática é para garotos' afasta meninas da tecnologia, diz 
pesquisador", disponível em: https://tinyurl.com/5yeksysj. 
https://tinyurl.com/5yeksysj
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 11: Como homens e mulheres se comunicam 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
______________________________________________________________________ 
 
Figura 12: Cultura de gênero em ilustrações, 
 o projeto Man Meets Woman de Yang Liu. 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
 
 
 
 
 
 
https://slate.com/human-interest/2014/08/man-meets-woman-by-yang-liu-uses-pictograms-to-explore-the-differences-between-the-sexes.html
https://pitangadigital.wordpress.com/2014/09/14/cultura-de-genero-em-ilustracoes-o-projeto-man-meets-woman-de-yang-liu/
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
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1. COMUNICAÇÃO VERBAL 
 
 A comunicação verbal é um exemplo de como os papéis de gênero estabelecidos 
podem prejudicar o desenvolvimento individual tanto de homens quanto de mulheres. 
Homens são vistos como diretos, focados, "curtos e grossos" e decididos, mas também são 
pouco incentivados a compartilhar seus sentimentos, o que gera um fluxo de repressão das 
emoções. Já em relação às mulheres, a generalização é de que falam demais, dão muitas 
voltas para passar uma mensagem simples, são sentimentais, choram em demasia e 
apresentam alterações de humor bruscas. 
 
Figura 13: Projeções a respeito do par perfeito por sexo 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
2. VALORIZAÇÃO SOCIAL 
 
 Para os homens, a mulher dos sonhos é aquela que se encaixa dentro do padrão de 
beleza. Para a mulher, o homem dos sonhos é admirado por outras características que não 
só o seu corpo. A mulher aparece como um objeto: se o seu corpo for jovem e corresponder 
ao desejado, não é necessário que ela tenha outra qualidade. Assim, o único interesse que 
os homenstêm nas mulheres reflete que elas são objetos sexuais, não seres pensantes com 
quem compartilham sentimentos ou anseios. 
https://slate.com/human-interest/2014/08/man-meets-woman-by-yang-liu-uses-pictograms-to-explore-the-differences-between-the-sexes.html
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
Figura 14: Estereótipo sobre capacidade de focar e desenvolver múltiplas tarefas 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
 
3. FOCO 
 
 Muitos argumentam que homens não conseguem lidar com mais de um assunto ao 
mesmo tempo, tendo um único foco por vez. A mulher, por outro lado, teria a habilidade de 
fazer várias coisas ao mesmo tempo ("multitasking"). Mas não se trata de uma habilidade 
natural, mas de necessidade, pois enquanto o homem se dedica com atenção a cada uma 
de suas atividades, a mulher fica pelas outras atividades pendentes, como as tarefas da casa 
e dos filhos, além de seu trabalho, se for o caso. 
 
______________________________________________________________________ 
 
 
Esta atividade utilizou algumas representações15 de estereótipos de gênero, sobre 
aspectos da masculinidade e da feminilidade. Vale notar que as imagens evidenciam que o 
papel de gênero da mulher é, em geral, desvantajoso em relação ao do homem. 
 
 
 
15 "Los estereotipos de género, resumidos en veinte esclarecedores pictogramas" (tradução livre: os 
estereótipos de gênero, resumidos em vinte esclarecedores pictogramas). Disponível em: 
https://tinyurl.com/3y9ys5vv. 
 
https://pitangadigital.wordpress.com/2014/09/14/cultura-de-genero-em-ilustracoes-o-projeto-man-meets-woman-de-yang-liu/
https://tinyurl.com/3y9ys5vv
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
 
Abaixo, segue uma representação: 
 
Figura 15: Estereótipos de gênero 
 
Fonte: ONU Mulheres 
Identidade De Gênero 
 
A identidade de gênero é uma classificação pessoal, realizada através da autoidentificação, 
e revela como a pessoa se sente sobre seu sexo. A autoidentificação pode não ser a mesma do sexo 
biológico: uma pessoa do sexo masculino pode se identificar com o gênero feminino e vice-versa.16 
Nesse sentido, há duas classificações usuais: 
Cisgênero 
Comumente chamadas de "cis", são as pessoas que se identificam com o gênero que lhes 
foi atribuído no nascimento. Por exemplo, uma pessoa é do sexo feminino e se identifica como mulher 
(gênero feminino). 
Transgênero 
Denominadas "trans", são pessoas que não se identificam com o gênero, expressões de 
gênero e/ou papéis de gênero que lhes foram atribuídos pelo sexo biológico. É o caso das travestis 
e transexuais. Para ilustrar: apesar de ter nascido do sexo masculino, a pessoa identifica-se, percebe-
se e se sente como mulher. Assim, mulher transgênero é toda pessoa que reivindica o 
reconhecimento social e legal como mulher, também chamada de transmulher. E homem transgênero 
 
16 "ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS". JESUS, Jacqueline 
Gomes de. Brasília, 2012. P. 12. Disponível em: https://tinyurl.com/4denysk7. 
https://twitter.com/ONUMujeresMX/status/1092256428100710402
https://tinyurl.com/4denysk7
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem, também denominada 
transhomem trans-homem.17 
A diferença entre transexuais e travestis está essencialmente na autoidentificação. 
Se a pessoa deseja realizar a transição de gênero, através de tratamentos hormonais e 
cirurgia de redesignação sexual, ela é transexual. Nesse caso, a pessoa gostaria que seu 
corpo tivesse características do seu gênero (de como ela se identifica e se sente), não do 
seu sexo biológico. Por outro lado, as travestis se identificam com o gênero oposto e adotam 
suas expressões - comportamento, vestimentas etc -, mas não necessariamente desejam 
mudar seu corpo. A questão social também tem papel fundamental nessa diferenciação, pois 
muitas pessoas trans gostariam de realizar a transição de gênero, mas são impedidas por 
dificuldades socioeconômicas. Desse modo, a autoidentificação é a melhor classificação, 
visto que é baseada no desejo e no sentimento da pessoa e não em fatores físicos. 
A transfobia é a discriminação que sofrem em função de sua identidade de gênero. 
Por serem diferentes do padrão, pessoas trans sofrem muito preconceito e têm suas vidas 
prejudicadas pela exclusão social e violência. Em geral, uma série de fatores deteriorantes 
acomete a vida das pessoas trans: devido ao bullying e à perseguição nas escolas, 
comunidades e mesmo em casa, dificilmente conseguem concluir sua educação; sem 
instrução formal, não conseguem disputar espaço no mercado de trabalho formal18 e são 
forçadas a viver na marginalidade. As travestis19, em grande parte dos casos, sobrevivem 
trabalhando como prostitutas. 
A marginalização, porém, não é o pior que ocorre às pessoas trans. Elas sofrem 
cotidianamente risco de vida devido à propagação do ódio e à desumanização de suas 
imagens. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo - apenas em 
2021, foram 316 mortes violentas, sendo 285 assassinatos, 26 suicídios, e 5 mortes por 
outras causas. 20 
Um fator importante da sociabilização da pessoa trans é o nome social. Marcada ao 
longo de sua vida pela dificuldade de viver em um corpo que não representa seu gênero, as 
travestis e transexuais preferem ser chamadas pelo nome escolhido por elas, diferente de 
seu nome do registro civil, ainda ligado a seu sexo biológico, com o qual não se identificam. 
 
17 Identificar-se com as expressões de um gênero não é o mesmo que aceitar os papéis de gênero socialmente 
impostos. A pessoa pode se identificar com ser mulher, sem reproduzir os estereótipos. 
18 "ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS". JESUS, Jacqueline 
Gomes de. Brasília, 2012. P. 16. Disponível em: https://tinyurl.com/4denysk7. 
19 Independente de como se identificam, a maioria das travestis preferem o tratamento no feminino. Portanto, 
deve-se chamá-las de AS travestis, não OS travestis. 
20 "Dossiê de mortes e violência contra LGBT+ no Brasil". Disponível em: https://tinyurl.com/yeysa6pr. 
https://tinyurl.com/4denysk7
https://tinyurl.com/yeysa6pr
 
 
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Segurança Pública e Mulheres: 
O Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas ao Protagonismo 
das Mulheres na Prevenção a Redução das Violências 
A utilização do nome social representa respeito e um mínimo esforço de inclusão dessa 
população na sociedade. 
Figura 16: Assassinatos de Travestis e Transexuais 
Fonte: G1 – Globo.com 
 
O motivo para tantas agressões às pessoas trans é o fato delas não corresponderem 
à heteronormatividade, ou aos padrões socialmente construídos que consideram, por 
exemplo, atribuições como a virilidade e a força como superiores. Neste contexto, o homem 
é considerado superior às pessoas do gênero feminino, porém isso não se aplica a qualquer 
homem: cabe apenas ao homem heterossexual que expresse categoricamente sua 
masculinidade. Dessa forma, heteronormatividade descreve regras baseadas na vivência 
heterossexual como obrigatórias a todos e pune socialmente aqueles que desviam dessas 
normas. 
 
Sexualidade 
 
O sexo, como qualquer outro ato social, envolve uma série de questões da nossa 
cultura: a beleza, o romance, o controle, a agressividade, a comunicação etc. Assim, 
inevitavelmente a sexualidade é mais um marcador de diferença entre o gênero feminino e 
o masculino, devido ao que é imposto pelos papéis de gênero atribuídos a homens e 
mulheres e como cada um deve explorar sua liberdade sexual.

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