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Qual é o papel da religiosidade em A 
Hora da Estrela?
A religiosidade em A Hora da Estrela desempenha um papel fundamental na construção da personagem 
de Macabéa, revelando as complexas relações entre fé, esperança e a dura realidade que a cerca. Macabéa, 
apesar de sua pobreza e marginalização, busca refúgio em um cristianismo popular e ingênuo, expresso 
em orações e crenças que a ajudam a lidar com a solidão, a miséria e a sensação de inutilidade. A crença 
em Deus e a promessa de um futuro melhor, ainda que distante, fornecem-lhe uma esperança tênue que a 
sustenta em meio à adversidade. Essa fé é uma constante em sua vida, uma tentativa de Macabéa de 
encontrar sentido na aparente aleatoriedade de sua existência. Para ela, acreditar em um poder divino 
superior é como se agarrar a um fio tênue de sanidade em meio ao caos e à desordem que constituem sua 
vida.
A profundidade da religiosidade de Macabéa não se manifesta apenas em rituais ou práticas formais, mas 
permeia seu entendimento de mundo. Em várias passagens do livro, sua ingenuidade religiosa é revelada 
através de pequenas ações e pensamentos. Ancorada na simplicidade de seu entendimento, sua fé é 
bastante pessoal, quase infantil, mas oferece-lhe o consolo necessário. Através da devoção, ela busca por 
um sentido escondido em sua existência mundana, esperando por uma redenção que pode nunca chegar. 
A fé é, para Macabéa, uma ferramenta de enfrentamento, ajudando-a a navegar pelas adversidades diárias. 
Não é incomum que personagens em situações de vulnerabilidade social, como ela, utilizem a 
religiosidade como um mecanismo de resistência, um modo de encontrar significado e força mental 
diante de situações desesperadoras.
A religiosidade de Macabéa é marcada pela busca por um sentido para sua vida, pelo desejo de se sentir 
amada e compreendida. Ela se apegou ao cristianismo como forma de encontrar consolo e paz em um 
mundo que a ignora e a marginaliza. É como se a fé fosse a única luz que lhe restava na escuridão da sua 
existência, um escudo contra a dor e a desesperança. Através da religiosidade, Macabéa tenta encontrar 
uma justificativa para sua pobreza, acreditando que Deus tem um plano para ela, mesmo que este plano 
seja incompreensível. Esta fé, embora algumas vezes se apresente como um suporte ilusório, é também 
uma janela para a ingenuidade de sua alma e um espelho da resiliência que muitos ostentam em meio à 
privação.
A fé de Macabéa é um tema crucial na obra, pois ela representa não apenas um escape para a dor, mas 
também um reflexo da realidade social brasileira. A religiosidade popular, com suas crenças e práticas 
singulares, é uma marca presente na vida de muitos brasileiros, especialmente aqueles que vivem em 
situação de vulnerabilidade. Lispector retrata essa religiosidade como um mecanismo de sobrevivência, 
uma forma de lidar com a realidade cruel e a falta de oportunidades. No entanto, a fé de Macabéa também 
é permeada por um tom de melancolia, pois a promessa de um futuro melhor nunca se concretiza em sua 
vida. Ao delinear essa faceta da personagem, a autora nos convida a refletir sobre como a fé pode ser uma 
faca de dois gumes: por um lado, oferece alívio e esperança; por outro, pode cimentar a aceitação de um 
destino imutável, fazendo com que as almas mais vulneráveis permaneçam passivas frente à injustiça e à 
miséria.
Assim, a religiosidade, nesse sentido, não representa uma solução para a miséria e o sofrimento, mas sim 
uma forma de suportá-los, de encontrar um significado em meio à dor. É também um testemunho 
pungente da força interna que tantas pessoas precisam reunir para continuar adiante, para não sucumbir 
totalmente ao desespero. Ao final, a história de Macabéa em "A Hora da Estrela" é um lembrete do poder e 
das limitações da fé; uma ilustração profunda de como convicções espirituais podem preencher os espaços 
silenciosos que o mundo secular dificilmente abarca. Essa representação nos força a confrontar as duras 
realidades da desigualdade social e nos leva a questionar a justiça de um mundo onde a esperança se veste 
de resignação e a religiosidade se torna o único farol em meio a um mar de desolação.

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