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Geografia Econômica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli A Industrialização no Território Brasileiro 5 • Introdução • A Industrialização como um Processo Mundial • Os Processos e Períodos da Industrialização no Território Brasileiro • A Industrialização Brasileira no Atual Período · Analisar os processos de industrialização no território brasileiro. · Evidenciar a industrialização brasileira no atual processo de globalização. Esta unidade trata de temáticas relativas à industrialização no mundo, dando ênfase ao processo que vem ocorrendo no território brasileiro. Para melhor compreensão, é fundamental entender os processos relativos a este tema do ponto de vista social, político, econômico, bem como das técnicas usadas na indústria. É essencial analisar a questão da industrialização na relação da escala global-nacional- regional, pois há eventos globais que interferem nas características da indústria nacional, por exemplo. Assim, é fundamental estabelecer relações entre indústria e outros fatores, entre eles destacamos: as técnicas usadas, os usos de energia, os meios de transportes, as normas e leis, a divisão territorial do trabalho etc. Para sucesso na compreensão das temáticas desta unidade, leia atentamente o texto da disciplina, assista aos vídeos e realize as atividades propostas. Bom estudo! A Industrialização no Território Brasileiro 6 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro Contextualização Leia atentamente o texto a seguir: Espaço e Indústria Com a grande indústria, a maquinaria, o trabalho socializado, coletivo, com o aumento da intensidade do trabalho, a incorporação da população como um todo no processo produtivo – homens, mulheres e crianças – teremos a passagem do homem destro, criativo, virtuoso, ao ser mecânico, degradado moralmente e devastado intelectualmente. Marx afirma que a especialidade vitalícia de manejar uma ferramenta parcial converte-se, com esse processo, na especialidade vitalícia de servir a uma máquina especial. O novo processo de produção e de trabalho vai se utilizar abusivamente da máquina para transformar o operário, desde sua infância, em parte de uma máquina parcial. O filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin é um exemplo de como o homem se torna escravo e apêndice da máquina. A máquina aparece como o elo de transformação, não do modo de produção em outro, mas do homem do processo de trabalho e da mudança do seu papel neste mesmo processo. A máquina, enquanto meio de produção e meio material de existência do capital passa a ser o fundamento material do modo de produção capitalista. A grande indústria, ao revolucionar as relações gerais de produção da sociedade, produz uma nova concepção de trabalho, de vida, de relação entre os seres humanos. Isto é provocado pela mudança das relações entre o capital e o trabalho, pois a maquinaria de meio de trabalho, converte-se, de imediato, em competidor do próprio operário e a habilidade deste desaparece. Não se exige mais que o operário produza algo com uma ferramenta que ele maneje com o movimento de seus músculos. Exige-se, isto sim, que ele utilize uma máquina que ditará um novo ritmo de trabalho. Tal fato é decorrente da mudança dos meios de produção gerada pelo desenvolvimento técnico que levou à mecanização do processo de trabalho e à necessidade de um novo homem para operacionalizar o processo produtivo, agora desenvolvido sobre novas bases. Não será mais o homem que dominará a máquina, mas o contrário. Neste momento, a vida do operário passa a ser determinada pelos ciclos da indústria. Em fases de desenvolvimento da atividade há um aumento da mão-de-obra empregada, em fases de crise e estancamento, liberação de empregados. Isso cria a insegurança e a instabilidade na classe trabalhadora, pois os operários vêem-se constantemente atraídos e repelidos do processo produtivo. A introdução da máquina, que não tem por objetivo aliviar o trabalho do homem e sim baratear as mercadorias, acaba produzindo a intensificação do trabalho, desqualifica-o e transforma o operário em uma parte da máquina. Com isso o trabalho perde seu conteúdo e passa a ser coercivo. Fonte: Texto literal extraído de CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço e indústria. São Paulo: Contexto, 1989, p. 30-31. O texto da geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos discute como o processo de mecanização industrial alterou as formas de trabalho, interferindo nas relações do homem com as empresas, ao mesmo tempo, em que ele próprio também é visto como máquina que, ao adoecer, pode ser substituído. Este é um aspecto do trabalho na indústria, leia o texto da disciplina para melhor compreender como se deu o processo de industrialização no mundo e principalmente no Brasil. Bom estudo a todos! 7 Introdução Nesta unidade, abordaremos o processo de industrialização no território brasileiro, enfatizando alguns períodos desse processo. Iniciaremos com uma breve história da industrialização pelo mundo e, posteriormente, evidenciaremos as condições existentes no Brasil. A Industrialização como um Processo Mundial A Revolução Industrial iniciou-se a partir do século XVIII na Inglaterra, com o uso da máquina a vapor, que permitiu um avanço técnico nas fábricas, tornando possível a produção em série no século XIX e início do século XX, atingindo várias partes do mundo, sobretudo, a Europa e os EUA. Nos primórdios da indústria, a principal fonte de energia usada era a hidráulica (pela força da água), em moinhos de água. Para mover o tear mecânico, por exemplo, era necessária uma força mais constante do que a hidráulica. Estas máquinas já possuíam uma carga de intencionalidade, na medida em que surgiam num contexto ligado diretamente ao seu uso prático. Assim, havia uma carga maior de empirismo (conhecimento prático) aliado à ciência por trás da invenção, ou seja, inventavam algo já pré-determinado, com um uso prático. Com a Revolução Industrial, no final do século XVIII, houve o advento das máquinas a vapor, que permitiram a invenção das ferrovias e dos navios a vapor, os quais revolucionaram o transporte, permitindo que a indústria pudesse localizar-se em locais distintos daqueles onde se situavam suas matérias-primas. Posteriormente, no século XIX, desenvolveram-se tecnologias de comunicação, como o telefone e o telégrafo que, associados ao poder das novas formas de transporte, promoveram uma nova onda de industrialização. A descoberta do petróleo e a generalização do uso da energia elétrica, no fim do século XIX e começo do século XX, completaram este ciclo de transformações. De acordo com Milton Santos (2001), este período, ao qual ele chama de meio técnico- científico, alia conhecimento técnico e científico. Um exemplo de indústria que se desenvolveu em larga escala neste período é a indústria do aço (siderurgia), que passou a produzir matérias- primas, como vergalhões, chapas e vigas de aço para outros tipos de indústria (automobilística, mecânica, aeronáutica, construção civil, entre outras). Como explica a Ana Fani Alessandri Carlos: O desenvolvimento das forças produtivas, decorrente da evolução da ciência e da tecnologia, do emprego maciço de maquinaria, das formas de divisão e articulação do trabalho, da especialidade etc., provoca um aumento do capital constante – aquele gasto em meios de produção, matéria-prima e instalações – da produtividade e com isso uma transformação na composição orgânica do capital. Deste modo, o desenvolvimento das forças produtivas aumenta a produção e a concentração de capital necessário para tocar o processo produtivo. Cresce fisicamente a indústria e aumenta a aglomeração urbana. Esta torna-se mais complexa à medida que o capital se acumula a acelera a transformação dos processos de produção tornando-os cada vez mais articulados, combinados socialmente e executados em escala (CARLOS, 1989, p. 21). 8 Unidade:A Industrialização no Território Brasileiro Ocorre uma maior divisão social do trabalho, pois com o uso das máquinas na produção, a divisão de tarefas no processo produtivo vai se ampliando, gerando no século XX o que ficou conhecido como processo de produção fordista ou fordismo. Saiba Mais O que é Fordismo? Segundo Sonia M. G. Laranjeira*: Hoje, o termo tornou-se a maneira usual de se definirem as características daquilo que muitos consideram constituir-se um modelo tipo de produção, baseado em inovações técnicas e organizacionais que se articulam tendo em vista a produção e o consumo em massa. Nesse sentido, referindo-se ao processo de trabalho propriamente dito, o fordismo caracterizar-se-ia como prática de gestão na qual se observa a radical separação entre concepção e execução, baseando-se esta no trabalho fragmentado e simplificado, com ciclos operatórios muito curtos, requerendo pouco tempo para formação e treinamento dos trabalhadores. O processo de produção fordista fundamenta-se na linha de montagem acoplada à esteira rolante, que evita o deslocamento dos trabalhadores e mantém um fluxo contínuo e progressivo das peças e partes, permitindo a redução dos tempos mortos, e, portanto, da porosidade. O trabalho, nessas condições, torna-se repetitivo, parcelado e monótono, sendo sua velocidade e ritmo estabelecidos independentemente do trabalhador, que o executa através de uma rígida disciplina. O trabalhador perde suas qualificações, as quais são incorporadas à máquina. *LARANJEIRA, Sonia M. G. Fordismo e pós-fordismo, in CATTANI, Antonio David (org.) Trabalho e tecnologia: dicionário crítico. Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: Ed. Universidade, 1997 Fonte: Trecho literal extraído de BOTELHO, Adriano. Do Fordismo à produção flexível: a produção do espaço num contexto de mudança das estratégias de acumulação do capital. São Paulo, Dissertação (Mestrado), FFLCH, Depto. Geografia, USP, 2000, p. 14. Num primeiro momento da industrialização, era fundamental que a matéria-prima estivesse próxima à indústria. Foi o que ocorreu na Inglaterra onde havia minas de carvão e ferro, materiais usados para produzir energia, bem como para fazer ligas metálicas e o aço. Mas com a revolução dos transportes, aos poucos isso deixou de ser um entrave, pois através do uso das ferrovias e dos barcos a vapor houve possibilidade de transportar cada vez mais, e com mais eficiência, as matérias-primas advindas de outros territórios. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve um novo processo de expansão das grandes empresas multinacionais, cada vez mais formadas por grandes corporações oligopolizadas, que começam a transferir parte de suas plantas industriais para os países subdesenvolvidos, caso dos da América Latina. Um novo processo de industrialização ocorre principalmente nos países subdesenvolvidos ou do Terceiro Mundo, alterando a produção destes que tradicionalmente eram apenas fornecedores de produtos primários agrícolas e minerais. 9 Segundo o historiador Eric Hobsbawm: Uma nova divisão internacional do trabalho, portanto, começou a solapar a antiga. A empresa alemã Volkswagen instalou fábricas na Argentina, Brasil (três), Canadá, Equador, Egito, México Peru, África do Sul, Iugoslávia – como sempre, sobretudo após meados da década de 1960. Novas indústrias do Terceiro Mundo abasteciam não apenas os crescentes mercados locais, mas também o mercado mundial. Podiam fazer isso tanto exportando artigos inteiramente produzidos pela indústria local (como têxteis, a maioria dos quais em 1970 tinha emigrado dos velhos países para os “em desenvolvimento”), quanto tornando-se parte de um processo transnacional de manufatura. (HOBSBAWN, 1996, p. 275). Você sabia? Existe uma divisão clássica para as atividades econômicas, em setores, que são os seguintes: Primário: Baseado em atividades agrícolas, de extrativismo (caça, pesca, mineral e vegetal) e pecuária, que fornecem matérias-primas para os outros setores. Secundário: É o setor da indústria, que se utilizando de diversificados tipos de matérias-primas, transforma-os em produtos industrializados. Há várias classificações de indústrias, seguem algumas mais usuais: indústrias de base ou de bens de produção (siderúrgica, petroquímica, química etc..); de bens de consumo duráveis (automobilística, eletrodomésticos, entre outras) e não duráveis (alimentícia etc.); extrativistas (algumas são consideradas indústrias devido ao uso de tecnologias, máquinas e técnicas industriais, caso da exploração de petróleo, ferro etc.); de construção (civil e naval), entre outras. Terciário: Formado por atividades comerciais e de serviços. Em relação aos serviços podemos citar os relativos à saúde, aos transportes, aos de lazer e entretenimento, aos de educação. É importante não confundir setor Terciário com Terceiro Setor, este último refere-se ao setor das organizações não governamentais (ONGs). Contudo, embora não seja incorreto usar tais termos, atualmente fica mais complexo definir os tipos de atividades, conforme esta classificação, pois existem, por exemplo, agroindústrias, indústrias extrativas, tornando tal classificação menos simples do que no passado. Para a realização plena de suas atividades o grande capital produtivo, das grandes empresas, busca se concentrar em alguns lugares, que tenham maior infraestrutura – redes de transportes e de energia, acessibilidade e se possível terreno com isenção fiscal, que lhes permitam auferir o maior lucro possível, ou seja, requerem externalidades positivas para se instalarem. 10 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro A externalidade espacial é algo externo a própria empresa industrial (também pode ser comercial ou de serviços) que acaba interferindo positiva ou negativamente na empresa. Se for positiva, caso da maior acessibilidade proporcionada à empresa, isto irá beneficiá-la. Há uma verdadeira guerra dos lugares (SANTOS, 2006) disputando a chegada de novas plantas industriais e o fator localização e as externalidades positivas serão consideradas pelas empresas. Nestes casos, os aglomerados urbanos, sobretudo situados nas Regiões Metropolitanas podem atrair empresas, pois há concentração de mão-de-obra, infraestrutura (redes técnicas informacionais, de transporte e de energia), mas dependerá também de outros fatores. Há também casos de aglomerações urbanas, que possuem muitas externalidades negativas, segundo o interesse da indústria, tais como: grandes congestionamentos, sindicalismo mais organizado, barulho, poluição do ar, aumento do custo do terreno ou instalações, falta de qualificação da mão-de-obra, fatores que acabam levando-as a se desconcentrarem ou buscarem novos territórios que atendam a suas demandas. Por conta destes fatores, há empresas buscando cidades médias no Brasil, onde, em geral, há mão-de-obra qualificada e menor número de externalidades negativas. Cabe ao Estado, em seus diversos níveis de governança (federal, estadual e municipal) produzir a infraestrutura e se possível diminuir impostos, que se coadunem com os interesses das empresas industriais. Como explica o geógrafo Adriano Botelho: Assim, cabe ao Estado parcela significativa no processo de produção do espaço, na medida em que instala e concentra espacialmente infra-estruturas (valores de uso) necessárias para o processo de acumulação dos capitais: oferece benefícios fiscais para a instalação de novos investimentos privados em certas regiões; ou mesmo investindo diretamente em setores produtivos, através de empresas estatais, beneficiando certas áreas em detrimento de outras. Essa prática pode se dar em todas as escalas, desde a intra-urbana até à global, passando pela regional. Mas uma ressalva deve ser feita: não são todas as firmas e nem todos os cidadãos que se beneficiam de forma ótimas das infra-estruturas oferecidas pelo setor público; seu acesso é diversificado. As grandes empresas transnacionais, hegemônicas,seriam as que maior proveito tirariam desse fundo público, e à proporção as respectivas empresas (BOTELHO, 2000, p. 31). Contudo, Adriano Botelho (2000) distingue o uso do território pelos atores hegemônicos, das grandes empresas, do uso pelas empresas de menor porte, bem como há diferenças nestes usos entre a população em geral e tais empreendimentos industriais, que acabam sendo favorecidos pela maior fluidez, enquanto muitos moradores têm uma mobilidade relativa ao tentar se deslocar pela cidade. No atual processo de flexibilização, que David Harvey (1999) chama de acumulação flexível, há uma mudança significativa em relação à indústria mais antiga e ao processo fordista. Tal processo é denominado por alguns autores de toyotismo, cujo termo refere- se ao fato de ter sido criado por Eiji Toyota, da empresa japonesa, com um modelo de produção desenvolvido por ele. 11 Este processo foi difundido principalmente a partir dos anos 1970, e suas características principais são: do just in time, com produção de estoques reduzidos (flexibilizando a produção conforme demanda); grande automatização da produção; trabalho em equipe e controle de qualidade total. O modelo industrial “just in time”, que pode ser traduzido como “em cima da hora”, funciona com o aumento da rapidez na decisão do processo desde o fornecimento da matéria- prima, da produção, até a venda, com prazos exíguos. Há uma combinação destes processos de modo que somente a matéria-prima necessária para a fabricação deve ser comprada, ficando com baixos estoques e deve ser produzida em um pequeno prazo. Para que isto funcione rapidamente foi fundamental a revolução técnico-científica-informacional, pós 1950, pois a automatização do processo de produtivo, a agilidade da comercialização e circulação de matérias-primas, com as novas transformações nos meios de transporte e das tecnologias usadas na produção permitiram que esta forma de produção se realizasse plenamente. Sérgio Gertel explica esse processo de transformação que atingiu a indústria, mediante usos de novas formas de energia: Essa é a especial distinção entre o século XIX e XX: a energia fundamental da industrialização é a biomassa – consumo de matérias não-renováveis na produção de movimentos mecânicos; enquanto a energia eletromagnética (transformadora dos próprios movimentos mecânicos na esfera produtiva) é renovável e suscetível de ampliação das suas repercussões. “a energia da biomassa1 (em especial o petróleo e o carvão) constitui o combustível da revolução industrial, mas a energia eletromagnética, que alimenta o transporte mais eficiente da informação, alimenta a revolução da eletrônica que alguns têm chamado a revolução da informação (GERTEL, 1994, p. 191). A revolução técnica pós 1950 intensificou este processo e foi fundamental para a expansão do capitalismo, das grandes empresas industriais, com a cibernética, a robotização, a miniaturização - a nanotecnologia e também com a formação das redes informacionais e objetos cada vez mais sistêmicos e interdependentes. Contudo, é fundamental fazer uma ressalva que nem todas as empresas tornam-se flexíveis e nem em todas desaparecem os modelos de produção fordista, bem como nem todas aderem à revolução tecnológica de ponta. A produção de computadores, softwares e programas informacionais possibilitou às grandes empresas novas formas de produção e de gestão dos negócios. Isso foi possível devido à criação de tecnopolos pelo mundo. O mais famoso tecnopolo é o do Vale do Silício, na Califórnia, mundialmente conhecido - por abrigar pesquisa e produção de empresas que se tornaram globais. É uma região que abriga empresas de tecnologias associadas a eletrônicos e setores de informática e comunicação. Algumas foram criadas na região e/ou estão sediadas no Vale do Silício, entre elas citamos: Google, Facebook, Microsoft, Apple, Yahoo, Hewlett- Packard (HP), entre outras. 1 Observe que o autor usa a concepção de que o petróleo e carvão é biomassa. Em princípio não está errado, pois o carvão, por exemplo, é resto de vegetal, que mineralizado transforma-se em carvão mineral, contudo, a literatura sobre o tema em geral usa biomassa para etanol, metanol, bagaço de cana etc., ou seja, energia produzida a partir do vegetal não mineralizado. 12 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro Aprofundando o Tema O Vale do Silício A ideia do Silicon Valley, originário da Universidade de Stanford, deve-se a Frederick Terman, professor e depois vicer-diretor daquela universidade, interessado em desenvolver a micro-eletrônica na Califórnia. Ele acreditava que, para isso, seria necessário estabelecer fortes relações entre e universidade e as empresas de ramos como a microelerônica, baseada na ciência e na tecnologia [...] O parque encontra-se no sul de São Francisco, entre Palo Alto e São José (Condado de Santa Clara), ocupando uma área de 15 Km de largura por 50 Km de comprimento. Mas esta é apenas uma área da Baía de São Francisco, onde se localiza um número considerável de indústrias de alta tecnologia. O grande salto na produção do parque ocorreu com o advento dos semicondutores e o uso do silício como matéria-prima para a sua fabricação. A isso se somou a concentração de indústrias militares e aeroespaciais na Baía de São Francisco, as quais consumiam, nos anos de 60, 4% da produção total de semicondutores. A partir de 1971, o Parque Tecnológico de Stanford, ou melhor, o Vale de Santa Clara, começou a aparecer na imprensa como o “Vale do Silício”, ao qual se conferiu uma auréola de mito. Isto é, a ele se associou toda uma nova tecnologia de sucesso, responsável pela invenção de objetos inteligentes, espetaculares. “Esse ideal de criação, de Inovação e de dinheiro é inteiramente compatível com a cultura americana dominante. Esta dimensão ideológica não deve ser subestimada, pois ela contribui para um clima de estímulo e de competição, que faz parte da visão tecnopolitana”. Por trás dessa imagem mítica, os dados mais atuais têm indicado uma outra realidade. O mercado de trabalho é composto, por um lado, de pessoal altamente qualificado e, por outro, de uma mão-de-obra pouco qualificada. Neste segundo grupo, dois terços são mulheres e um terço trabalhadores imigrados (hispânicos, asiáticos, na maioria), sendo baixo o nível de sindicalização. Fonte: Trecho literal extraído de: TAVARES, Hermes Magalhães. Alta tecnologia e reestruturação do espaço. In: SANTOS, Milton et alii (orgs.). Fim do século e globalização. O novo mapa do mundo. São Paulo: Hucitec, 1994, p. 276. Mas o que seriam os tecnopolos? Georges Benko (2002) explica que o termo deriva dos antigos “polos de desenvolvimento”, cujo termo era mais comum nos anos 1950-1970. Trata- se de um aglomerado de empresas inovadoras, dinâmicas, com o um processo de formação de um polo tecnológico, ou um multipolo. Georges Benko conceitua tecnopolo da seguinte maneira: Operacionalmente, é um agrupamento de organizações de pesquisas e de negócios que se ligam ao desenvolvimento científico, englobando um processo de conjunto, da etapa do laboratório à fabricação e da comercialização do produto. Fisicamente é um conjunto de empresas (majoritariamente pequenas e médias) - escritórios, laboratórios e unidades de fabricação- estruturadas num ambiente de qualidade [...] com universidades e institutos públicos e privados. Assim, o tecnopolo designa um espaço preciso, o ponto singular de um território onde se concentram e irrigam mutuamente as atividades ligadas às novas técnicas, fundadoras, por seu caráter inovador, do seu desenvolvimento futuro BENKO, 2002, p. 154 13 Outro aspecto relevante do atual período do meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2006) tem sido o papel de destaque do sistema financeiro. Num primeiro momento houve fusões do sistema bancário e industrial, pois era comum que os grandes conglomerados empresariais também tivessem associados ao sistema bancário.Seja como for, o sistema bancário hoje também é cada vez mais global e oligopolizado e os empresários da indústria e dos sistemas bancário e financeiro são atores sociais fundamentais no processo de globalização atual. Todas as grandes empresas têm ações na Bolsa de Valores e atuam conforme situação comum do mercado global, tais como: a multilocalização da empresa, geralmente com um centro de comando de gestão de negócios em alguma metrópole de um país desenvolvido; sistema de flexibilização do trabalho e da produção (acumulação flexível); operação na Bolsa de Valores; extração da mais-valia globalizada etc. Os Processos e períodos da Industrialização no Território Brasileiro Podemos periodizar principalmente em três grandes fases a industrialização no Brasil, que não são estanques e sim se complementam num processo dinâmico no território brasileiro, são elas principalmente: a industrialização no governo Vargas (em dois períodos); a industrialização a partir das multinacionais, principalmente com o impulso do Plano de Metas de JK, e, por fim, o período neoliberal, pós anos 1990. Embora já houvesse uma pequena industrialização no Brasil no final do século XIX e início do século XX, circunscrita principalmente ao estado de São Paulo, somente no governo Vargas (1930-1945), em sua primeira gestão federal, foi colocado em pratica um projeto nacionalista que visava a dotar o território brasileiro de infraestrutura (transporte e energia); de criar as instituições públicas, entre elas o Ministério do Trabalho e as leis trabalhistas; e também fomentar a existência da indústria nacional, numa primeira fase de substituição de importações, buscando a soberania nacional. Neste governo houve ênfase na indústria de base ou de bens de produção, caso da siderurgia e da petroquímica, cujos produtos finais servem de base para outras indústrias. Neste período criaram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941, em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro; a Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), em 1942, originalmente em Minas Gerais, e em seu segundo mandato Vargas (1951-1954) criou a Petrobrás, em 1953. A existência das ferrovias em algumas cidades brasileiras facilitou a implantação da indústria. Este foi o caso de São Paulo onde havia o binômio ferrovia-indústria, já que a atividade industrial era instalada próxima as ferrovias, o que facilitava a circulação de matérias-primas e de mercadorias, além do próprio trabalhador. Havia uma relação entre o crescimento da indústria, como motor da urbanização em certos lugares do país, concentrados principalmente na Região Sudeste, nas aglomerações urbanas e no entorno das metrópoles. 14 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro Já após os anos do governo JK (1956-1961), houve o privilegiamento das rodovias, como meio de circulação de mercadorias, bem como a entrada de capital estrangeiro e das multinacionais, num período marcado pela substituição de importações de mercadorias, que antes eram importadas, e agora passariam a ser produzidas no Brasil, sobretudo de bens de consumo duráveis e não duráveis. É importante frisar o papel da indústria automobilística neste período. Algumas empresas chegam ao Brasil e para isso são criados parques industriais, com grandes montadoras, caso da Volkswagen e da Mercedes Benz, ambas multinacionais alemãs, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Figura 1: Planta Industrial da Mercedes Benz – São Bernardo do Campo, 1960 Fonte: blog.hpdopassat.com.b #ParaTodosLerem: fotografia em preto e branco. A foto é aérea, tirada de cima. Na porção superior, identi- fica-se área verde com algumas árvores em uma porção delimitada. Ao centro da fotografia, uma porção retangular delimita uma construção robusta, extensa, tendo um bloco com alguns andares na frente e porções mais baixas ao redor. Ao lado, áreas verdes e uma estrutura de ruas ou vias, e mais construções. Na porção inferior da fotografia, há um pequeno lago e mais vias de circulação. Fim da descrição. r O primeiro caminhão fabricado no Brasil foi feito, em 1956, pela Mercedes Benz (atual Daimler- Chrysler), na indústria de São Bernardo do Campo, Região Metropolitana de São Paulo (figura 1). Nesta época, era importante aliar mercado consumidor, mão-de-obra qualificada em nível técnico, infraestrutura e sistemas integrados de transporte e bancários, atendendo assim aos interesses destas empresas. Não que hoje isto não seja relevante, mas com a flexibilidade do trabalho e nas formas de gestão da empresa, tais condições atualmente podem ocorrer de maneiras diferentes. O Sudeste que já vinha de um processo de industrialização anterior, foi a região que mais se beneficiou destas novas implantações, atrelado a um processo de urbanização que criou um mercado urbano crescente no país, principalmente no Estado de São Paulo. 15 Foi a época, por exemplo, da chegada da televisão, dos eletrodomésticos, de equipamentos elétricos e eletrônicos, produtos de bens de consumo que foram sendo incorporados pelas famílias brasileiras, principalmente as que viviam nas cidades e passaram a consumir estas mercadorias produzidas no Brasil. O eixo Rio-São Paulo, através da rodovia Dutra, as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte (criadas na década de 1970 pelo governo federal) também vão receber várias indústrias multinacionais, devido à existência de atrativos que interessavam a indústria da época, formando parques industriais, forma de disposição mais comum até os anos 1990, ou dispostas no entorno de eixos rodoviários. A urbanização existente no Sudeste foi bastante impulsionada pelo processo de industrialização, nesta fase devido ao binômio rodovia-indústria. Se no antigo processo a ferrovia teve um papel de destaque, agora a rodovia iria induzir a ocupação urbana, a localização dos polos ou parques industriais e também a circulação de mercadorias. Aumentando, assim, a venda de caminhões, ônibus e automóveis. Com a tentativa de integrar o território brasileiro a Amazônia foi alvo de alguns projetos que ampliaram a atividade industrial. Uma dessas propostas foi a criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), em 1957, com o objetivo de instalar em Manaus, uma zona de produção de produtos beneficiados. Em 1967, foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), cujo Decreto-Lei n. 288 estabelecia incentivos fiscais para empresas que se instalassem na região. A região da Zona Franca de Manaus atraiu empresas nacionais e internacionais principalmente da indústria eletrônica, mas a abertura econômica empreendida principalmente nos anos de 1990, atraindo empresas estrangeiras, dificultou a concorrência em relação às empresas da região, o que requereu uma modernização nas formas de produção das empresas locais. Atualmente há várias empresas de eletroeletrônicos na região, tais como de: tvs, telefonia celular, motocicletas, aparelhos de som, aparelhos de ar condicionado, bicicletas, microcomputadores, aparelhos transmissores/receptores, entre outras, sendo atualmente consumida principalmente no próprio território nacional e com circulação por cabotagem e avião. No terceiro período, pós anos 1990, considerado neoliberal, houve a privatização de várias empresas e instituições públicas, entre elas podemos citar a Companhia do Vale do Rio Doce, conhecida hoje como Vale, que é responsável pela exploração do minério de ferro de Carajás, entre outras atividades. A grande mudança empreendida neste período diz respeito ao fato do Brasil passar a ter uma estabilidade econômica, a partir do Plano Real (1994), criado no governo Itamar Franco (1992-1995), que possibilitou um planejamento a longo prazo das empresas, com a estabilização monetária, fim da hiperinflação etc. A seguir, vamos abordar este último período da industrialização brasileira. 16 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro A Industrialização Brasileira no Atual Período A partir dos anos 1990, oBrasil passou por mudanças que influenciaram nas situações da indústria nacional, ao mesmo tempo, houve transformações no mundo, que sendo cada vez mais global, também interferiram nas condições da indústria no país. Do ponto de vista nacional, tivemos o período da redemocratização, pós-governos militares, numa onda neoliberal, com uma agenda político-econômica de privatizações de empresas - de setores estratégicos de serviços e industriais. Além disso, em 1994, com a implantação do Plano Real e a institucionalização da nova moeda, o Real, e com a estabilização econômica, houve condições de planejamento e novo crescimento econômico do país. Com este novo processo, o país volta a crescer economicamente e também a produção industrial, como se verifica no gráfico 1. A maior exceção negativa foi o ano de 2009, que devido a uma crise mundial iniciada nos EUA, alastrou-se para outros países, o que demonstra a relação de interdependência entre os países neste processo de globalização econômica. Grá� co 1 – Produção Industrial no Brasil – Variação Anual – 1992 - 2013 14 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 1992 -3.7 7.5 7.6 1.8 1.7 3.9 6.6 1.6 2.7 8.3 3.1 2.8 3.1 0.4 1.2 10.5 6 0 -2 -0.7 -7.4 -2.5 2000 2010 2013 Fonte: IBGE Outro fator de interdependência é a relação da indústria com as fontes de energia, tanto das formas de energia em geral (renováveis e não renováveis), quanto especificamente do consumo de energia elétrica, como se verifica no gráfico 2. Na segunda gestão do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, houve interrupções de energia elétrica que afetaram as indústrias e os consumidores em geral, situação que ficou conhecida no Brasil, como “apagão elétrico”. 17 Observa-se que segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, o consumo de energia elétrica industrial chegou a 43,6% em 2012, o que demonstra a importância do setor energético para a viabilização da indústria no Brasil. Mais recentemente, devido à baixa dos reservatórios de água da represas onde se situam as hidrelétricas no Brasil, houve nova preocupação em relação à diminuição da oferta de energia o que em princípio afetaria as indústrias no Brasil. Grá� co 2 – Consumo de Energia Elétrica por Setores – Brasil (%) 0,4%Transportes Agropecuário Setor Energético Público Comercial Residencial Industrial 4,2% 4,9% 8,0% 15,4% 23,6% 43,6% Fonte: Empresa de Pesquisa Energética - EPE, 2012 Neste período pós 1990, há uma nova fase de urbanização onde as Regiões Metropolitanas da Região Concentrada (Sudeste-Sul) já não crescem tanto como na fase dos anos 1960-1980, e as cidades médias e do Centro-Oeste e da Amazônia são as que mais crescem em termos de população, induzidas por novas dinâmicas econômicas que vêm do campo para a cidade. Assim, a urbanização ocorre também devido ao agronegócio, ou seja, há uma “ruralização da cidade”, expressão usada por Milton Santos (2008) para designar uma urbanização que vem do campo para a cidade, induzida pelo agronegócio e também pelos grandes empreendimentos minerais na Amazônia. Para isso, novas indústrias deslocam-se ou se consolidam no Centro-Oeste e na Amazônia. Empresas relacionadas a insumos agrícolas – alguns produtos da agroindústria e também na Amazônia com a indústria extrativista, caso das grandes corporações nacionais e multinacionais que exploram e produzem a partir da extração de minerais novos subprodutos derivados, por exemplo, da bauxita, do ferro e do estanho. Há também complementaridade entre as regiões. O circuito produtivo da soja é um exemplo, já que o Mato Grosso é o maior produtor de soja do Brasil, porém necessita de insumos produzidos em regiões que fazem parte do primeiro estágio deste processo, como o Paraná e o Rio Grande do Sul. Então, as regiões de produção antiga (Paraná e Rio Grande do Sul), embora percam espaço na produção direta, tendem a manter o arcabouço tecnológico, como a parte de pesquisa e desenvolvimento de produtos, o que as torna até mais importantes, por conta do valor agregado presente em seus produtos. Na parte de tecnologia, os principais polos de pesquisa estão localizados na Região Concentrada, próximo a cidades médias com estrutura universitária voltadas para o agronegócio, como Ribeirão Preto, Piracicaba, Chapecó, Londrina, Maringá, Patos de Minas. A localização depende muito da natureza do produto. Mas ocorre uma rede de relações com locais distantes no território, em função da complementaridade da cadeia de produção, circulação e consumo dos insumos e implementos agrícolas. 18 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro Do ponto de vista mundial, houve alterações nas formas de condução dos processos produtivos globais, caso da acumulação flexível, just in time, multilocalização da planta industrial (não mais em parques industriais como no passado), que implicaram em transformações das novas plantas industriais que foram se instalando no Brasil, principalmente nas indústrias mais modernas. Por outro lado, as Regiões Metropolitanas da Região Concentrada (Sul-Sudeste) passam a abrigar, principalmente em suas metrópoles sede, cada vez mais atividades do setor terciário (serviços e comércio) em detrimento de atividades industriais. Sobre tais mudanças da implantação das plantas industriais novas e das relocalização delas, a geografia Maria Encarnação Sposito explica: Também podemos considerar as mudanças decorrentes da retração da atividade industrial, que resultam do relativo esgotamento das formas fordistas de produção, que orientaram a reestruturação das plantas urbanas e a relocalização das atividades produtivas, muitas vezes distantes das unidades de gestão, gerando centralização industrial, no plano econômico e espacial, e desconcentração espacial, no plano da atividade produtiva. Essas mudanças que remontam às três décadas, também, geram áreas de transição, a partir de diferentes ordens, desde as relativas à produção capitalista do espaço urbano, até às de natureza mais social, quando o poder público se ocupa de promover a refuncionalização dessas áreas para constituir algum mercado de trabalho novo ou uso do solo portador de significado relevante. SPOSITO, 2010, p. 130 Conforme a autora explica, há transformações do antigo sistema fordista para o atual que levaram as empresas a buscarem novos territórios para a implantação de suas indústrias. Se de um lado cada vez mais as grandes corporações industriais são oligopolizadas, ou seja, poucas detêm um determinado segmento de produtos, de outro, há uma desconcentração espacial delas no mundo e também no território brasileiro. Embora o Sudeste ainda concentre a maioria do emprego e do número de empresas industriais do Brasil é certo também que esta região, percentualmente vem perdendo indústria para outras regiões do Brasil, gerando um processo que alguns autores chamam de descentralização industrial e outros de desconcentração industrial. O Sul, por exemplo, recebeu nas últimas décadas novas plantas da indústria automobilística, entre elas destacamos: a Volkswagen e Renault, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba; Volvo em Curitiba; Caterpillar em Campo Largo, no Paraná; BMW em Araguari em Santa Catarina (ANFAVEA, 2015). Há também uma desconcentração interna, na própria Região Sudeste, evidenciado pelo caso paulista, no qual inúmeras empresas deslocaram-se nas últimas décadas da Região Metropolitana de São Paulo, para o interior paulista, em eixos, por exemplo, do Vale do Paraíba e da região de Campinas, onde se concentram cidades médias que abrigam mão- de-obra qualificada, boa infraestrutura de circulação de mercadorias e produtos, centros de formação em Ensino Técnico e Superior, entre outras externalidades que atendem ao interesse destas empresas e são fundamentais para a criação de polos tecnológicos. 19 Atualmente, ambas as regiões são Regiões Metropolitanas paulistas polarizadas pelascidades de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, onde está instalada a Embraer e da cidade de Campinas, considerada um tecnopolo paulista. Apesar da desconcentração industrial o estado de São Paulo permanece como o principal em relação ao número de estabelecimentos industriais no Brasil e cada vez mais os produtos industrializados tornam-se os mais importantes no total das exportações do Estado. Sobre isso a geógrafa Mónica Arroyo confirma: O peso dos produtos industrializados no total das exportações vem aumentando sistematicamente, chegando a quase 90% em 2011 (53.337.814 US$FOB). Os produtos básicos, pelo contrário, respondem por parcelas cada vez menores das exportações totais, caindo para menos de 8% (4.604.242 US$FOB). Entre os produtos manufaturados destacam-se, em 2011, aviões, automóveis, autopeças, motores, tratores rodoviários, terminais portáteis de telefonia celular, papel e cartão, combustíveis e lubrificantes, sucos de laranja congelados; e os produtos semimanufaturados que mais se exportou, em 2011, foram açúcar de cana em bruto, pastas químicas de madeira, entre outros. ARROYO, 2012, p. 10 Outro fator atrativo para a indústria tem sido a dotação de novas infraestruturas no território brasileiro, demandados pelas grandes empresas, que dependem do sistema de transporte e principalmente do sistema portuário brasileiro. Desde os anos 1990 e também nos anos 2000, os sucessivos governos vêm implementando infraestruturas no território brasileiro, caso das políticas dos “Eixos de Desenvolvimento”, no entorno dos meios de transportes, que buscam agilizar a fluidez do transporte de mercadorias no Brasil e modernizar os portos brasileiros. Entre tais políticas, destacamos a modernização dos portos de Suape, na Região Metropolitana de Recife, e de Pecém, na Região Metropolitana de Fortaleza, que tem atraído inúmeras indústrias para a região, pois se tratam de portos mais modernos, considerando-se as tecnologias usadas no atual período. Além disso, situadas em espaços em que há possibilidade de uso de retroáreas para a implantação de novas plantas industriais e de centros de distribuição destas, diferentemente dos portos mais antigos como o de Santos, cuja urbanização está no entorno do porto dificultando a expansão da área do porto e também de implantação de novas empresas. Há também desconcentração de certas indústrias tradicionais, como as alimentícias e de calçados, em alguns casos para algumas cidades do Nordeste, em busca de mão-de-obra mais barata. Desse modo, tem havido um movimento no território brasileiro de indústrias, tanto de desconcentração quanto de multilocalização das diversas etapas das empresas, evidenciando um processo de divisão territorial do trabalho. Apesar disso, a concentração industrial nas regiões Sudeste e Sul (Região Concentrada) ainda é bastante grande. 20 Unidade: A Industrialização no Território Brasileiro Material Complementar Vídeos: Tanto o trecho do filme de Charles Chaplin de 1936 quanto o documentário da Servidão Moderna de 2009 podem ser encontrados em sites de busca em outros links, além dos citados a seguir: CHARLES CHAPLIN. Tempos Modernos. Filme (1936), 9min30, Cena da Fábrica. https://www.youtube.com/watch?v=KPgxcat-zYo Acesso em 14/04/2015. JEAN FRANÇOIS BRIENT; VICTOR LEÓN FUENTES. Documentário. A servidão moderna. 52min19. Difusão gratuita e aberta, 2009. http://yndaniel.blogspot.com.br/2012/12/a-servidao-moderna-2009-video-completo.html Livros: ARROYO, Mónica. Circuitos espaciais de produção industrial e fluxos internacionais de mercadorias na dinâmica territorial do estado de São Paulo. Campinas, Boletim Campineiro de Geografia, v. 2, n.1, 2012, p. 7-26. http://agbcampinas.com.br/bcg/index.php/boletim-campineiro/article/view/48/2012-1-arroyo Acesso em 14/04/2015. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE INDÚSTRIA (CNI). Mapa estratégico da indústria 2013-2022. Brasília, 2003. http://www.sistemaindustria.org.br/publicacao/mapa_estrategico/index.html Acesso em 14/04/2015. 21 Referências ARROYO, Mónica. Circuitos espaciais de produção industrial e fluxos internacionais de mercadorias na dinâmica territorial do estado de São Paulo. Campinas, Boletim Campineiro de Geografia, v. 2, n.1, 2012, p. 7-26. Disponível em: http://agbcampinas.com.br/bcg/ index.php/boletim-campineiro/article/view/48/2012-1-arroyo. Acesso em 14/04/2015. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTIVOS (ANFAVEA). Anuário da indústria automobilística brasileira 2014. São Paulo: CEDOC, 2015. Disponível em: http://www.virapagina.com.br/anfavea2015/. Acesso em 14/04/2015. BENKO, Georges. 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