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Geografia Econômica
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra.Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
Capitalismo e Espaço Geográfico
5
 · Introdução
 · O que é Capitalismo? 
 · Expansão Geográfica do Capitalismo
 · Analisar os processos históricos e espaciais do capitalismo;
 · Periodizar algumas etapas do processo capitalista.
Esta unidade trata dos principais conceitos e situações inerentes ao processo capitalista e 
sua relação com o espaço geográfico.
Como na unidade anterior, a leitura do texto teórico e o desenvolvimento das atividades são 
fundamentais para o acompanhamento do conteúdo a ser desenvolvido.
Para que os conceitos fiquem claros, é fundamental compreendê-los em sua relação com a 
realidade existente nos diferentes lugares do mundo; ou seja, é fundamental operacionalizá-los 
em situações concretas existentes nos diferentes territórios e lugares do mundo. 
Fique atento às características do capitalismo, a seus principais conceitos, e às situações 
existentes pelo mundo.
Capitalismo e Espaço Geográfico
6
Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Contextualização
O capitalismo tem suas características básicas e alguns conceitos, criados para se 
compreender o processo capitalista têm sido incorporados até nos discursos do senso comum: 
caso de salário, lucro, mercado etc. 
Como apontava Marx, o capitalismo sempre se reinventa, apesar das crises econômicas. 
Nas últimas décadas, por exemplo, houve a incorporação de antigos territórios de países 
socialistas ao capitalismo e um novo campo para investimentos das grandes corporações 
econômicas e, para a flexibilização nas formas de trabalho, com menos regulamentações, o 
que, em geral, favorece a expansão capitalista e pouco ao trabalhador que se vê vulnerável em 
relação à flexibilização das legislações trabalhistas. 
Sobre essa situação, o economista francês François Chesnais comenta:
E a terceira forma, a mais importante historicamente para o 
capital, foi a reincorporação, enquanto elementos plenos do 
sistema capitalista mundial, da União Soviética e seus “satélites”, 
e da China. Só no marco das resultantes destes três processos é 
possível captar a amplitude e a novidade da crise que se inicia. 
Liberalização, mercado mundial, competição... Comecemos por 
nos interrogar sobre o que significou a liberalização e a desregulação 
levadas a cabo à escala mundial, com a incorporação do antigo 
“campo” soviético e a incorporação e a modificação das relações 
de produção na China... O processo de liberalização e desregulação 
significou o desmantelamento dos poucos elementos reguladores 
que se tinham construído no marco internacional ao sair da 
Segunda Guerra Mundial, para entrar num capitalismo totalmente 
desregulamentado. E não só desregulamentado, como também 
um capitalismo que criou realmente o mercado mundial no pleno 
sentido do termo, convertendo em realidade o que era em Marx 
uma intuição ou antecipação. Pode ser útil precisar o conceito de 
mercado mundial e ir talvez mais além da palavra mercado.
(CHESNAIS, 2009, 3). 
As grandes empresas clamam por menos regulamentações trabalhistas ou que atravanquem 
o crescimento econômico. Cada vez mais, há uma concentração de capital em um menor 
número de empresas, formando-se grandes oligopólios mundiais. 
Há também expansão geográfica das grandes corporações a territórios com menos 
regulamentações trabalhistas ou em lugares com mais flexibilidade para a produção, 
circulação e consumo. 
Num cenário de processos econômicos cada vez mais globais, o capitalismo avança. Mas o 
que é capitalismo? 
Leia com atenção o texto da disciplina para compreender melhor esse processo e os 
conceitos usados para entendê-lo.
7
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar de alguns conceitos sobre capitalismo, suas características 
principais e dar ênfase a sua relação com o espaço geográfico. 
O que é Capitalismo? 
Existem diferentes visões sobre o que é capitalismo e suas relações. Para Max Weber, 
há relação entre o capitalismo e a ética protestante, sendo, portanto, um componente 
sociocultural, que é comum também em outras culturas além da europeia, segundo o autor. 
A ânsia pelo lucro é comum em muitos povos, mas foi na Europa Ocidental que levaram 
a cabo a existência do capitalismo, com a lógica de que “o trabalho dignifica o homem” e 
a valorização do trabalho profissional e do acúmulo de riqueza, diferentemente da lógica do 
período medieval, na qual o trabalho era visto como um sacrifício. 
Já para Marx, sobretudo com o conjunto de livros conhecido como “O capital”, relaciona-se 
o capitalismo à economia, como modo de produção de mercadorias. 
Sobre esta segunda concepção, Afrânio Mendes Catani explica:
Por meio de produção entende-se tanto o modo pelo qual os meios 
necessários à produção são apropriados, quanto as relações que 
se estabelecem entre os homens a partir de suas vinculações ao 
processo de produção. Por esta perspectiva, capitalismo significa não 
apenas um sistema de produção de mercadorias, como também um 
determinado sistema no qual a força de trabalho se transforma em 
mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca.
(CATANI, 1995, p. 8).
Há alguns pressupostos básicos do modo de produção capitalista, são eles, principalmente:
 · O primeiro pressuposto é a propriedade privada, já que ,em princípio, a propriedade 
privada é a forma de apropriação particular, mediante compra e venda;
 · Outro aspecto refere-se à forma de trabalho assalariado, ou seja, mediante salário que é 
forma de pagamento feita ao trabalhador;
 · A economia de mercado, a partir da produção, circulação e consumo de mercadorias, 
seguindo-se princípios de oferta e procura;
 · A existência de classes sociais, na qual se opõe, principalmente, duas classes sociais 
principais - a burguesia e o proletariado (trabalhadores-operários);
 · A concentração dos meios de produção, caso da indústria e das grandes empresas de 
serviços e comércios nas mãos da classe dominante;
 · A troca e a obtenção de lucro por meio do processo capitalista, da produção, do comércio 
e da circulação de mercadorias;
 · A divisão social do trabalho, já que cada homem e mulher possuem um papel em relação 
à atividade a ser realizada, sendo cada vez mais complexa e especializada no mundo atual.
Tais condições básicas do capitalismo serão melhores explicitadas a seguir.
8
Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Alguns conceitos relacionados ao Capitalismo
Como já afirmamos, alguns conceitos e situações básicas são típicos do capitalismo, entre 
eles destacamos: a propriedade privada, a economia de mercado, a mais-valia, o lucro, as 
classes sociais, o valor; a circulação de mercadorias e também interessa ao geógrafo fazer a 
mediação de tais conceitos com o espaço geográfico.
A seguir, vamos aprofundar um pouco mais sobre estas questões.
A. Propriedade Privada
Parte-se do princípio que a propriedade privada é uma premissa básica do capitalismo. Isto 
não significa que não existam outras formas de apropriação da terra e dos imóveis no mundo.
No campo, por exemplo, há coexistência de formas de apropriação da terra capitalista com 
outras, tais como: o arrendamento, a posse, a grilagem etc., em variados tipos de condições, 
sem que necessariamente os que se apropriam da terra sejam donos da propriedade.
Contudo, a partir do avanço do capitalismo no campo, situação esta cada vez mais comum, 
amplia-se os conflitos existentes entre as diversas formas de apropriação e a luta pela terra 
torna-se mais grave, com mortes e conflitos de diferentes tipos. 
No Brasil, por exemplo, era comum, no passado, grandes propriedades terem agregados, 
geralmente famílias, que também viviam nas terras e podiam tê-la como morada e também 
fazer sua roça e tirar sua subsistência. 
Com o empreendimento capitalista no campo, os trabalhadores em geral vêm de fora, 
muitos moram nas periferias urbanas ou até de outras regiões do Brasil e migram paraserem 
trabalhadores temporários. 
Na Amazônia brasileira, por exemplo, há disputas entre diversos atores sociais, entre 
eles: comunidades indígenas, posseiros, grileiros, garimpeiros, arrendatários, empresários do 
agronegócio e de grandes mineradoras. 
 Saiba Mais
Formas de Apropriação da Terra no Campo no Brasil
Em 1850, a Lei de Terras institui a compra e venda de terras no Brasil. Contudo, até o século 
XX, muitas terras no Brasil ainda eram devolutas, ou seja, terras pertencentes a união, estados 
ou municípios sem que houvesse proprietário particular. Muitas dessas terras devolutas foram e 
ainda são apropriadas informalmente pelo processo denominado de “posse”, a partir da qual 
se cria a figura do posseiro. 
Essa forma é bastante comum no Brasil e ocorre em geral em terras não produtivas. De 
qualquer forma, para requerer uma posse formal dependerá da legislação vigente no Brasil 
que poderá ocorrer considerando-se um processo, por exemplo, de reforma agrária e uma 
concessão do uso da terra, conforme norma vigente.
 Já a grilagem é um processo no qual uma pessoa se utiliza de documentação falsa para 
se apropriar de uma determinada terra. O termo foi criado ainda no período imperial, 
quando, ao falsificar os documentos da terra, para que ficassem com aparência de 
documento antigo colocavam grilos com o documento numa caixa. A partir da excreção 
deste inseto, o documento ficava com aspecto amarelado o que lhe dava aparência de 
antigo. Daí passaram a ser chamados de “grileiros”, mesmo atualmente, àqueles que 
falsificam documentação de terras.
Por sua vez, o arrendatário paga um determinado aluguel por terra alheia para poder produzir 
nela, pagando em forma de dinheiro ou mercadoria. Além disso, existem outras tantas formas 
de apropriação da terra no campo no Brasil, entre elas podemos citar: as reservas indígenas, as 
terras destinadas por lei aos quilombolas, as concessões a partir do usucapião especial rural etc.
9
Já na cidade, a compra e venda de terrenos e imóveis tornados mercadorias, fazem com 
que seja dificultado o processo de aquisição e apropriação a parcela de população mais pobre. 
Desse modo, compreender os processos de apropriação da terra nos diferentes lugares 
do mundo é fundamental para a Geografia. 
B. Valor de Uso e de Troca
Dos conceitos usados por Marx, há o de valor de uso e valor de troca. Para Marx, valor é 
fruto do trabalho humano, porque um produto da natureza, caso do petróleo, por exemplo, 
que foi produzido em milhares de anos, tem valor a partir do uso humano.
Alguns povos antigos, como os sumérios, já utilizavam o petróleo, contudo, só no século 
XIX, principalmente nos Estados Unidos, é que ele se torna uma mercadoria importante. 
Assim, o seu valor de uso foi mudando ao longo da história e tornou-se um importante 
produto de valor de troca, ou seja, uma mercadoria. A mercadoria, portanto, é fruto do 
trabalho humano e que tenha valor de troca. 
Usando as ideias de Marx, Leo Huberman assim conceitua valor de uma mercadoria:
Assim, o valor de uma mercadoria é determinado, diz Marx, 
pelo tempo de trabalho social necessário para produzi-la. “Mas 
- retrucará o leitor – isso significa que a mercadoria produzida 
por um trabalhador lento, ineficiente, valeria mais do que a 
mercadoria produzida por um trabalhador mais capaz, mais 
rápido, já que o primeiro levaria mais tempo para completá-la”. 
Marx previu essa objeção e respondeu assim: “Poderia parecer 
que o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade 
de trabalho empregado em sua produção, o trabalhador mais 
lento ou menos destro, produziria mercadoria mais valiosa, 
devido ao tempo maior que necessitaria para terminar sua 
produção. Isso, porém, seria um erro triste. Utilizei a palavra 
“trabalho social”, e muitos aspectos estão encerrados nessa 
qualificação de social. Ao dizer que o valor de uma mercadoria 
é determinado pela quantidade de trabalho nela cristalizado, 
significamos a quantidade de trabalho necessário à sua produção 
num determinado estado da sociedade, sob certas condições 
sociais médias de produção, com uma determinada intensidade 
social média, e uma habilidade média do trabalhador empregado.
(HUBERMAN, 1985, p. 229).
Quando Marx afirma que o valor de uma mercadoria é definido pela quantidade de trabalho 
socialmente necessário, devemos sempre contextualizar isso no tempo e no espaço. 
Considera-se que são os homens, vivendo hoje sobre a égide do modo de produção capitalista, 
em sociedade, que definem esse valor. Logo, este pode ser alterado ao longo do tempo, bem como 
ser maior ou menor o valor para determinada sociedade ou classes sociais.
Assim, o valor não está contido apenas no produto em si (os materiais usados para a sua 
produção, suas qualidades etc.), mas dependerá de variáveis externas ao produto, entre estas 
destacamos: a dinâmica econômica; a lei da oferta e procura; o marketing e a publicidade, 
que elevam o interesse em relação a certos produtos em detrimento de outros; o uso que se 
faz dele; sua raridade etc.
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Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Há inúmeros atores sociais da propaganda, do marketing e da publicidade que “vendem” 
as mercadorias e ampliam o interesse pelo consumo de mercadorias. Criam um discurso, uma 
psicosfera, com anúncios que aumentam o consumismo. Como diz Milton Santos (2007), tornamo-
nos mais consumidores do que cidadãos. 
Aprofundando o tema
Valor de Uso e de Troca por Marx
A utilidade de uma coisa faz dela um valor-de-uso. Mas essa utilidade não é algo 
aéreo. Determinada pelas propriedades materialmente inerentes à mercadoria, 
só existe através delas. A própria mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., 
é, por isso, um valor-de-uso, um bem. Esse caráter da mercadoria não depende 
da quantidade de trabalho empregado para obter suas qualidades úteis. Ao se 
considerarem valores-de-uso, sempre se pressupõem quantidades definidas, 
como uma dúzia de relógios, um metro de linho, uma tonelada de ferro etc. 
Os valores-de-uso fornecem material para uma disciplina específica, a merceologia. 
O valor-de-uso só se realiza com a utilização ou o consumo. Os valores-de-uso 
constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social dela. 
Na forma de sociedade que vamos estudar, os valores-de-uso são, ao mesmo 
tempo, os veículos materiais do valor-de-troca.
O valor-de-troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores-de-
uso de espécies diferentes, na proporção em que se trocam, relação que muda 
constantemente no tempo e no espaço. Por isso, o valor-de-troca parece algo 
casual e puramente relativo e, portanto, uma contradição em termos, um valor-
de-troca inerente, imanente à mercadoria. Vejamos a coisa mais de perto. 
Qualquer mercadoria se troca por outras, nas mais diversas proporções, por 
exemplo, uma quarta de trigo por x de graxa pó por y de seda ou z de ouro etc. 
Ao invés de um só, o trigo tem, portanto, muitos valores-de-troca. Mas, uma vez 
que cada um dos itens, separadamente – x de graxa ou y de seda ou z de ouro -, é 
o valor-de-troca de uma quarta de trigo, devem x de graxa, y de seda e z de ouro 
como valores-de-troca, ser permutáveis e iguais entre si. Daí se deduz, primeiro: 
o valor-de-troca só pode ser a maneira de expressar-se, a forma de manifestação 
de uma substância que dele se pode distinguir. 
Fonte: Trecho literal extraído de MARX, 2006, p. 58-59.
Para a Geografia interessa também a questão sobre a valorização do espaço. Como 
exemplo, podemos citar o caso de dois imóveis parecidos, considerando-se o processo de 
construção, em dois lugares diferentes, podem ter valor de troca totalmente distinto. 
A localização, a infraestrutura disponível, considerando-se os valores sociais atribuídos, bem 
como as amenidades existentes podem ajudar a valorizar um determinado imóvel. Se uma 
determinada sociedade valoriza estar perto de áreas verdes num momento da história e se o 
imóvel estiver perto desta área verdeserá valorizado. 
Desse modo, como já foi explicitado, o valor não está contido apenas na própria mercadoria 
(imóvel neste caso), mas também em vários fatores externos a ela.
11
C. Classes Sociais e as Formas de Trabalho
Marx também discutiu em suas obras a questão das classes sociais, dando ênfase à forma 
capitalista de exploração da força de trabalho do proletariado (trabalhador, operário) pela burguesia. 
Evidencia que, diferentemente de outros períodos e modos de produção, o produto elaborado 
pelo trabalhador não o torna dono deste.
No período da Idade Média europeia, por exemplo, um artesão, ao produzir uma mesa, 
tornava-se dono dela, podendo usá-la ou trocá-la. Com o capitalismo, a produção em série 
é feita em fábrica e o trabalhador não é mais dono daquilo que produz; esta, portanto, é uma 
diferença essencial da produção capitalista.
Em relação às formas de trabalho, no capitalismo, o trabalhador vende sua força de trabalho, 
considerado por Marx como trabalho vivo, em troca de um salário. 
A variação do salário nos diversos lugares, leva em conta as legislações vigentes em cada 
país, mas, principalmente a dinâmica econômica espacial entre o maior ou menor exército 
de reserva (força de trabalho que excede à produção, desempregada), bem como o tipo de 
atividade a ser realizada, que pode se valorizar ou não dependendo de uma determinada época 
e do lugar onde se realiza.
Nesse sentido, o mercado também regula o salário por meio da oferta e procura, e esse 
também é um fator importante. Isso faz com que parte da população migre em busca de 
empregos e, muitas vezes, sujeite-se às condições degradantes em outros países ou regiões 
para conseguir um trabalho. 
Há também o processo contrário, no qual as empresas deslocam-se para regiões e territórios 
onde existem menores restrições ao acúmulo de capital. 
Com mecanização da produção, que se deu inicialmente a partir da Revolução Industrial, 
no século XVIII, houve um aumento da produção e também da produtividade. Este processo 
foi se tornando mais agudo na medida em que novas técnicas e equipamentos foram sendo 
criados ao longo dos séculos.
 Importante!
Produção e Produtividade
Quando nos referimos à produção, estamos levando em conta o 
número absoluto, ou seja, um determinado país ou região pode 
produzir uma tonelada de café e, no ano seguinte, aumentar sua 
produção para duas toneladas. Isto significa aumento de produção, 
pois houve um aumento da quantidade absoluta.
Já a produtividade tem relação com o que se produz num determinado 
tempo e espaço. Trata-se, portanto, de um conceito que é relativo. 
Se for produzida a mesma quantidade em menos tempo, estaremos 
aumentando a produtividade sem com que necessariamente, altere-
se a quantidade produzida. O mesmo ocorrerá se mantivermos a 
mesma quantidade de produção numa menor área.
12
Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Para se alcançar aumento de produção e produtividade, atualmente, cada vez mais se investe 
em maquinaria e novos equipamentos. A revolução empreendida a partir do período do meio 
técnico-científico-informacional, sobretudo, pós Segunda Guerra Mundial, levou ao aumento 
de pesquisas na área tecnológica, tais como biotecnologia, química fina, nanotecnologia etc., 
de modo que investiram mais no trabalho morto (máquinas) do que não vivo (no trabalhador).
Além das mudanças nos equipamentos e máquinas (cada vez mais informacionais), há 
também transformações nas formas de trabalho, nas técnicas de gestão do trabalho, cada vez 
mais flexíveis, que ampliam a produtividade das empresas.
Assim, a forma das grandes empresas capitalistas auferirem maiores lucros é buscar 
instalar-se em países ou regiões onde existam menos legislações trabalhistas, normatizações 
ambientais ou que tais normas possam ser burladas. Desse modo, coexistem no mesmo 
processo, formas de trabalho capitalista com outras em situação análoga à escravidão.
Lamentavelmente, tornou-se comum vermos nos noticiários, tanto no Brasil como em outros 
países, geralmente subdesenvolvidos, grandes empresas que se apropriam da força de trabalho, 
colocando-os em situação de trabalho degradante. Algumas dessas empresas, inclusive são 
bastante conhecidas, caso de empresas de vestuário de roupas, acessórios, entre outros.
Desse modo, as empresas aproveitam-se da fragilidade existente em certos países ou regiões do 
mundo, bem como em muitos casos do trabalho de imigrantes ilegais para ampliarem seus lucros.
Matéria Jornalística
Como a Nike está lutando contra o uso de mão-de-bra escrava
Em abril de 2013, o prédio de uma fábrica de roupas em Bangladesh desabou, matando 1.100 
pessoas de uma só vez, no que ficou conhecido como o pior acidente do tipo no país.
Menos de um mês antes, a Nike havia terminado seu contrato com a Lyric Industries, que 
funcionava no país nos mesmos moldes da planta de Rana Plaza: em um prédio antigo, 
abarrotado de funcionários de diversas empresas, sem as menores condições de segurança e 
saúde para os funcionários.
A retirada da Nike do país não foi um golpe de sorte. Alguns meses antes, uma outra fabricante 
de roupas para marcas estrangeiras pegou fogo, matando 112 funcionários. O episódio levou 
a companhia a repensar suas atividades no local.
A Nike é uma das companhias que há mais tempo luta contra a imagem de ser uma 
multinacional conivente com a exploração do trabalho escravo e infantil por parte de seus 
fornecedores.
A fama começou a pegar em 1996, quando a revista Life publicou uma foto em que um 
menino paquistanês costurava bolas de futebol da marca. Desde então, a empresa tem 
tomado medidas para reverter esse quadro.
A Nike divulgou ações como trocar a cola à base de petróleo, extremamente prejudicial 
ao ambiente e aos trabalhadores que lidam com ela, por cola à base de água para os 
solados dos tênis e aumento na fiscalização de suas plantas no exterior.
Em entrevista ao jornal Wall Street Journal, Mark Parker, presidente executivo da 
companhia, afirmou que o modo de fazer negócio da Nike mudou nos últimos 20 anos.
“A ignorância não é uma bênção. É preciso entender todos os problemas sistêmicos que podem 
existir dentro do seu parceiro industrial e resolvê-los”, disse.
Pensando nisso, a Nike criou cargos de fiscalização própria em todas as etapas do 
processo: na fabricação dos produtos, na cadeia de importação de exportação e na 
pesquisa e no desenvolvimento de produtos.
13
Reduziu as chances de os fornecedores aplicarem horas extras aos funcionários e 
diminuiu o número de parceiros, para poder fiscalizá-los melhor. 
Ainda assim, a organização Worker Rights Consortium descobriu que, desde 2006, 
a Nike trabalhou com pelo menos 16 fornecedores que estavam fora dos padrões de 
saúde e segurança exigidos.
Ainda assim, a decisão de fechar a fábrica em Bangladesh é um começo. Com o fim 
da fábrica, as margens de lucro da companhia caíram de 46,4% para 43,6% no ano.
“Nossa decisão de conter nossa presença em Bangladesh é definitivamente produto 
de um entendimento de que há desafios que nós precisamos estar numa posição em 
que tenhamos controle”, afirmou Parker.
Fonte: CARVALHO, Júlia. Como a Nike está lutando contra o uso da mão-de-obra escrava. Revista Exame (online). 22/04/2014. 
http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/como-a-nike-esta-lutando-contra-o-uso-de-mao-de-obra-escrava
Por meio de diferentes técnicas, equipamentos e tecnologia, tal produção pode ser ampliada, 
bem como o aumento da produtividade. O trabalhador, portanto, vai se sujeitando à lei do 
mercado, bem como às legislações vigentes nos diferentes lugares e vende a sua força de 
trabalho em troca de um salário, que varia conforme os lugares.
D. Mais-valia:
Um conceito marxista, usado para explicar a exploração do trabalhador, é a mais-valia. 
Trata-se do trabalho não pago, já que uma das características do processo capitalista, em 
relação ao trabalho, é o fato de que o trabalhador produz uma determinada mercadoria, mas 
o valor de seutrabalho está aquém daquilo que produz.
Conforme explica Paulo Sandroni
Em síntese, o trabalhador vende sua força de trabalho pelo seu valor, mas 
– e aqui está o pulo do gato – o valor que a mesma produz é maior do 
que o valor que contém: a diferença de um valor a mais apropriado pelo 
capitalista gratuitamente, chamado por Marx de mais-valia. A diferença 
entre o valor produzido e o valor da força de trabalho medido em horas de 
trabalho pode, no entanto, variar. Ou melhor, numa jornada de 8 horas, 
nem sempre 4 horas correspondem – como no exemplo que estamos 
examinando – ao tempo de trabalho necessário para que o trabalhador 
crie um valor correspondente ao de sua força de trabalho, sendo as quatro 
horas restantes trabalho excedente ou mais-valia.Nos exemplos utilizados 
por Marx, invariavelmente a jornada de trabalho se divide em duas partes 
iguais, sendo o trabalho necessário da mesma duração que o trabalho 
excedente. No entanto, essa divisão da jornada admite várias outras 
proporções. Além disso, em certas ocasiões o trabalho excedente avança 
no trabalho necessário, isto é, a mais-valia empurra o salário, em outras, 
é este último que penetra no sacrossanto perímetro da mais-valia. Estes 
movimentos dependem das condições políticas, sociais e econômicas 
existente na sociedade e precisam ser examinadas concretamente.
(SANDRONI, 1985, p.57).
Esta mais-valia vai sendo explorada de diversas formas e mais comumente as grandes 
empresas se aproveitam de novas formas de gestão do trabalho que favoreçam esta exploração 
da mais-valia, cujo conceito não pode se confundir com o lucro, que ocorrerá posteriormente, 
com a venda da mercadoria. Desse modo, existem várias características no mundo atual que 
remetem ao modo de produção capitalista e permitem a concentração de capital nas mãos 
de poucas empresas e o domínio de certos atores sociais em detrimento de toda a população. 
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Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Expansão Geográfica do Capitalismo
Na medida em que houve a expansão do capitalismo para diferentes lugares do mundo, as 
formas de existência capitalistas, já citadas, foram se tornando comuns em vários países e as 
formas de vida mais tradicionais foram desaparecendo. Há coexistências de outros modos de 
vida em alguns lugares, mas cada vez mais prevalecem as relações capitalistas. 
Com as revoluções técnicas do final do século XIX, período o qual Milton Santos denominou 
de meio técnico-científico, principalmente com o advento da ferrovia, do uso intensivo do 
petróleo, da energia elétrica, entre outras inovações, houve avanço nas formas urbanas bem 
como na circulação de mercadorias, ampliando as condições para acumulação capitalista.
Tais mudanças técnicas permitiram maior unificação do mundo e, ao mesmo tempo, a expansão 
das formas capitalistas, ou do modo de produção capitalista, como denominou Marx. 
Os transportes mais rápidos e interconectados, as fontes de energia mais diversificadas e as grandes 
aglomerações urbanas possibilitaram maior acumulação de capital para as grandes empresas. 
Como explica o geógrafo David Harvey:
A necessidade de minimizar o processo de circulação 
e o tempo de giro promove aglomeração da produção 
em alguns grandes centros urbanos, que se tornam as 
oficinas da produção capitalista [...] nesse caso, pela 
localização racional das atividades humanas, umas em 
relação às outras, a fim de reduzir, em particular, os 
custos de movimentação dos produtos intermediários. 
No custo de circulação, a capacidade de economizar 
depende da natureza das relações de transportes e, 
nesse caso, parece haver uma tendência dinâmica em 
favor da concentração.
(HARVEY, 2005, p. 52).
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos saíram bastante fortalecidos 
geopoliticamente e também economicamente, tornando-se uma grande potência econômica 
mundial.
O acordo de Bretton Woods, firmado em 1944, nos Estados Unidos, tornou o dólar 
a moeda forte das transações comerciais no pós-guerra. O dólar torna-se a referência das 
trocas comerciais entre países, convertendo-a numa moeda universal, assim como este acordo 
propiciou a criação do sistema financeiro de caráter internacional, com a criação do Fundo 
Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. 
Ao mesmo tempo em que essa liderança americana foi se consolidando as empresas de 
grande porte dos setores automobilísticos, indústrias de bens de consumo, entre outras, 
começam a se deslocar para os chamados países subdesenvolvidos.
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 Em síntese
Países Desenvolvidos x Subdesenvolvidos
Estas expressões países “desenvolvido” e “subdesenvolvido” foram utilizadas e 
tornaram-se comuns após a Segunda Guerra Mundial a partir das comparações 
socioeconômicas entre os países, sobretudo com a criação da ONU, que passou 
a lançar estimativas socioeconômicas sobre os países. Aqueles que tinham 
melhores condições socioeconômicas eram chamados de países desenvolvidos e 
os subdesenvolvidos eram os países de economia mais dependente e com piores 
índices socioeconômicos. 
Estes são termos que servem para comparar países, classificá-los, contudo é 
fundamental sempre buscar evidenciar as situações existentes nos territórios 
destes países, sua dinâmica econômica, bem como as desigualdades e diferentes 
usos do território internamente, bem como o papel destes lugares na divisão 
territorial e internacional do trabalho. 
Outra forma de resistência no pós-guerra foi a formação de um bloco de países socialistas. 
Importante lembrar que já no século XIX algumas teorias destacavam a importância da criação 
de um novo modo de produção e existência que se contrapusesse ao capitalismo, em busca de 
uma sociedade menos desigual. 
Embora existam diferentes teorias sobre socialismo, provenientes de autores como Rosa 
Luxemburgo, Marx, Engels, Lênin, entre tantos outros, o fato que a proposição de uma 
sociedade socialista não se deu plenamente, já que o chamado “socialismo utópico” pelos 
marxistas não ocorreu plenamente em países como a antiga União Soviética (URSS) e, por 
isso, acabou denominado como “socialismo real”.
Alguns autores denominaram de economia planificada estes países socialistas, caso da 
antiga União Soviética, a China, a Coréia do Norte e Cuba, onde o Estado intervinha na 
economia, as empresas eram estatais e não havia propriedade privada e mediante planos 
econômicos definiam-se as decisões governamentais. 
Contudo, alguns autores criticam estes regimes políticos e econômicos ditos socialistas, pois 
acabaram por criar uma classe de dirigentes e burocratas tanto quanto no capitalismo, e por 
isso não tornou a sociedade menos desigual. 
Como afirma Cornelius Castoriadis, o poder de alguns cria as “oligarguias no poder” 
(poucos detém o poder) tanto nos países chamados de democráticos quanto nos socialistas. 
Assim comenta o autor:
Aliás, esta política não aparece simplesmente constante em 
seus meios e em seus resultados. Ela está encarnada na camada 
dirigente dessas organizações ou sindicatos; o militante percebe 
rapidamente e às suas próprias custas que esta camada é 
inamovível, que ela sobrevive a todas as derrotas e que se perpetua 
por cooptação. Quer o regime interno da organização seja 
“democrático” como nos reformistas, quer seja ditatorial, como 
nos estalinistas, a massa dos militantes não pode absolutamente 
influir em sua orientação, que é determinada sem apelação por 
uma burocracia cuja estabilidade nunca é questionada; pois 
mesmo quando o núcleo dirigente chega a ser substituído, ele o é 
em proveito de um outro não menos burocrático.
(CASTORIADIS, 1955, p. 5). 
16
Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Portanto, na visão do autor, nem as ditas democracias são de fato democracias, nem o 
socialismo implantado em países como a antiga União Soviética levou a uma maior equidade 
social e política.
Após 1989, parte dos países que formava o Bloco de países socialistas do Leste Europeu 
começa a transformar-se e abrir sua economia para o mercado capitalista.Essa onda capitalista 
chega gradualmente até a China, que embora politicamente seja um país comunista, cria 
condições para a existência de uma economia capitalista, tornando-se o país que mais cresce 
economicamente no começo do século XXI. 
Como comenta François Chesnais:
Durante os últimos 15 anos, e em particular durante a última 
etapa, desenvolveram-se, em determinados pontos do sistema, 
grupos industriais capazes de integrar-se como sócios de pleno 
direito nos oligopólios mundiais. Tanto na Índia como na 
China constituíram-se verdadeiros e fortes grupos econômicos 
capitalistas. E, no plano financeiro, como expressão do rentismo 
e do parasitismo puro, os chamados Fundos Soberanos 
converteram-se em importantes pontos de centralização do 
capital sob a forma de dinheiro, que não são meros satélites dos 
Estados Unidos, têm estratégias e dinâmicas próprias e modificam 
de muitas maneiras as relações geopolíticas dos pontos-chave em 
que a vida do capital se faz e fará.
(CHESNAIS, 2009, p. 3). 
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Dessa forma, novos importantes atores econômicos surgem, caso da China, que tem parte 
de seu território cada vez mais incorporado ao processo capitalista, com grandes corporações 
industriais, integrando-se aos oligopólios mundiais. 
Aprofundando o tema
Crescimento x Desenvolvimento Econômico
Em geral, não se deve usar apenas uma variável ou um só indicador para 
definir uma situação. Por exemplo, definir que uma cidade é pobre verificando 
apenas a média de renda per capita (renda por pessoa). Ou dizer que um país é 
desenvolvido considerando-se apenas o PIB (produção do país) é um equívoco.
Assim, é fundamental observar outras variáveis e elementos espaciais para uma 
definição mais segura, assim como não considerar somente médias. Desse modo, 
por exemplo, definir o que é desenvolvimento não pode passar apenas pelo uso de 
indicadores econômicos, como crescimento econômico. Crescimento econômico 
é uma variável e um indicador, medido a partir do PIB, quanto se compara de um 
período a outro, sempre em dólares que é a moeda internacional de comparação. 
Se o PIB de um país em 2010 foi de U$ 120 bilhões e em 2011 este PIB foi de 
U$ 180 bilhões houve um crescimento econômico neste país hipotético. 
A China foi o país que cresceu mais em 2013, com um incremento em relação 
ao PIB de 2012 de 7,7%, ou seja, cresceram 7,7%; já o Brasil cresceu 2,3%, 
os EUA 1,9% e na Zona do Euro (países da Comunidade Europeia) houve um 
crescimento negativo (-0,4%), Ou seja, na região dos países do Euro o PIB 
2013 foi menor do que o de 2012, assim como ocorreu também na Itália 
especificamente que deve um decréscimo de -1,9%. Será que por ter crescido 
mais a China pode ser considerada um país desenvolvido? A resposta é não. 
A concepção de desenvolvimento não pode ser analisada ou medida (indicadores 
quantitativos) somente por um indicador ou variável como crescimento econômico. 
Desenvolvimento pressupõe situações de melhorias sociais e econômicas, de 
melhorias no modo de vida, de trabalho, de educação etc., que não se dão apenas 
pelo indicador de crescimento econômico. Assim, desenvolvimento e crescimento 
econômico não são sinônimos.
Outro aspecto fundamental é perceber que internamente, dentro dos países, 
muitas vezes há grandes desigualdades espaciais. Portanto, uma análise 
territorial pormenorizada poderá evidenciar que há regiões ou territórios mais 
desenvolvidos, mesmo nos países subdesenvolvidos.
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Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
O Espaço e o Capitalismo
Para a Geografia, interessa compreender o capitalismo considerando-se sua dinâmica 
espacial. Conforme já apontamos nesta unidade, o capitalismo, por meio dos atores sociais 
hegemônicos, cria um discurso muito forte, dominante, que nossa vida será melhor se o 
capitalismo prosperar, sem muitas regulamentações. 
Contudo, sem intervenção do Estado o capitalismo pode sim alcançar mais lucros a partir 
da exploração dos trabalhadores, em certos lugares. Então, as variáveis como- formas de 
trabalho, salários, produção e produtividade, podem ser analisadas nos diferentes lugares do 
mundo, associando-se as características dos lugares, ou seja, fazendo-se uma análise territorial. 
As grandes empresas multinacionais, buscam nos países subdesenvolvidos, expandir seus 
negócios e ampliar seu mercado consumidor, ao mesmo tempo se livrarem de legislações que 
sejam restritivas aos seus negócios. 
Dessa forma, tais empresas acumulam mais capital (dinheiro, máquinas etc.), expandindo sua 
produção para vários lugares do mundo. São grandes corporações, cujo modelo de negócios 
requer uma competitividade exacerbada para ampliar sua produtividade por meio da técnica.
Como aponta Milton Santos, quando tratamos do conceito de técnica, não estamos nos referindo 
apenas a equipamentos, tecnologias, maquinários etc., mas também às normas técnicas, ou seja, 
normatizações existentes no mundo da política pública e também dos negócios. 
Como afirma o autor (SANTOS, 2006, p. 40): “As técnicas são um conjunto de meios instrumentais 
e sociais, com os quais o homem realiza vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”
Em alguns casos tais normas técnicas dificultam a existência das antigas e pequenas empresas 
locais ou familiares, que não conseguem competir com a padronização e normatização 
existente num mundo cada vez mais global economicamente. 
Essa concentração de recursos financeiros, de tecnologia de ponta e de conhecimento 
técnico-científico (tecnociência), nas mãos de poucas empresas, favorece a formação de 
oligopólios e a concentração do capital e também concentração espacial. 
Essa lógica cria um paradoxo, de um lado há concentração de capital em mãos de poucas 
empresas, formando oligopólios, de outro, há uma desconcentração espacial dessas empresas, 
criando uma multilocalização da produção. Então, concentração e desconcentração fazem 
parte do mesmo processo que interessa às grandes empresas.
Atualmente com as formas de flexibilização da mão-de-obra e das legislações trabalhistas, 
bem como com técnicas de gestão do trabalho, as grandes corporações ampliam a extração 
de mais-valia pelo mundo. Tal situação é o que David Harvey chama de período capitalista da 
“acumulação flexível”, ou do pós-fordismo, que ocorre com:
[...] flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de 
trabalho, dos produtos e padrões de consumo e [...] caracteriza-
se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, 
novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos 
mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação 
comercial, tecnológica e organizacional
(HARVEY, 1992, p.121).
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Por outro lado, atualmente, cada vez mais aparecem atores novos nesse mundo capitalista, e 
estes nem sempre possuem vínculo com o capital produtivo (os donos dos meios de produção, 
caso das indústrias, por exemplo). 
Há também o capital financeiro, que nada produz concretamente e por meio de uma 
série de manobras torna-se extremamente especulativo no mundo atual, causando prejuízos 
enormes a alguns setores da economia, bem como, a algumas regiões e países. 
À medida que ocorre uma crise econômica mundial, alguns países ou regiões do mundo são 
mais afetadas e mobiliza ainda mais o capital financeiro especulativo. 
É comum ouvirmos ou lermos na mídia: “Caiu a Bolsa de Valores de Nova York”, ou 
ainda, “A Bolsa de Valores em São Paulo despencou”. Isso pode ocorrer devido a alguma 
medida política que não interessa ao grande capital ou a uma quebra de safra agrícola devido 
a problemas climáticos, por exemplo. 
Logo, não é possível separar a dimensão política da econômica; nem a climática e a 
produção, no caso da produção agrícola, do capital financeiro. Contudo, à medida que um 
determinado lugar não interessa ao capital financeiro, ele desloca-se para outro, gerando 
crises ainda maiores nestes lugares, onde há fuga de capitais. 
Trata-se de uma lógica perversa, que eleva o número de desemprego, a fuga de empresase de capital. Desse modo, há quem ganhe apenas “apostando” na Bolsa de Valores- se um 
país, região ou empresa global vai continuar crescendo economicamente ou não. Vira um 
jogo apenas, enquanto por trás desse processo milhares de pessoas sofrem com o revés da 
economia, com desemprego, entre outros fatores sociais e econômicos. 
Outra condição que permitiu a expansão geográfica das empresas foi a criação de sistema de 
crédito, cada vez mais elaborado e complexo. Sem crédito tanto a produção quanto a circulação e 
comercialização das mercadorias não teriam tanto êxito. Como explica David Harvey:
O sistema de crédito possibilita a expansão geográfica do mercado 
por meio do estabelecimento da continuidade onde antes não 
existe continuidade alguma. A necessidade de anular o espaço 
pelo tempo pode, em parte, ser compensada pelo surgimento de 
um sistema de crédito.
(HARVEY, 2005, p. 51).
Assim como o crédito, a revolução técnica existente após a Segunda Guerra Mundial com 
advento das tecnologias informacionais, da biotecnologia, da robótica, entre outras, mudaram 
significativamente a produção e a circulação das mercadorias, criando redes de comunicação 
e de transportes mais ágeis para a circulação do capital e das mercadorias e tornando as 
paisagens cada vez mais artificiais. 
Sobre isso, Jean Lojkine explica:
[...] o controle do trabalho [...] não pode ser limitado às relações 
entre ‘a fábrica e o cronômetro’, entre operários e chefes ou, 
ainda, entre a fabricação e a concepção, quando a informática 
discute, atualmente, as antigas divisões entre todas as funções da 
empresa (do departamento de estudos aos serviços pós-venda), 
para não mencionar as relações entre empresa que empreita e 
sub-empreiteiras, empresa industrial e empresas de serviços 
(laboratórios de pesquisa, bancos de dados integrados, etc.).
(LOJKINE, 1995, p. 87). 
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Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Isto impacta na geografia das empresas, tanto das indústrias, quanto as atividades comerciais 
e de serviços. Criam possibilidade, por exemplo, que a gestão dos negócios possa ser feita à 
distância, por meio de reuniões por videoconferência, entre outras formas de gestão que mudam.
Esta multilocalização das empresas cria alguns territórios como centros da gestão. Dessa 
forma, uma grande empresa desloca-se para um país subdesenvolvido, mas o centro gestor 
continua existindo numa grande metrópole de um país desenvolvido.
Assim, as novas técnicas – normas e equipamentos vão criando novos arranjos espaciais, 
que devem ser estudados pela Geografia.
Finalizando, nesta unidade apresentamos algumas características do capitalismo e 
sua relação com o espaço geográfico, mostrando como se realizam concretamente nos 
diferentes lugares do mundo.
De um lado, existem características comuns que norteiam o modo de produção capitalista 
(propriedade privada, extração da mais-valia, lucro etc.), de outro, há variações de sua existência 
concreta nos diferentes países e lugares do mundo. 
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Material Complementar
Livros:
Livro do IPEA (este serve para toda a disciplina, aprofundando algumas temáticas sobre 
algumas cidades ou regiões. Para ler mais, além do básico):
PEREIRA, Rafael Henrique Moraes; FURTADO, Bernardo Alves (orgs.). Dinâmica 
urbano-regional: rede urbana e suas interfaces. Brasília: IPEA, 2011. 
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_dinamicaurbano.pdf.
Acesso em 10/09/2014.
Sites:
NASCIMENTO, Cláudia Pinheiro. O processo de urbanização da Amazônia e 
seus mecanismos entre a década de 1930 e 1980. Ateliê Geográfico Goiânia-
GO v. 5, n. 2 agos/2011 p.227-256. 
http://www.revistas.ufg.br/index.php/atelie/article/view/15489/9474. 
Acesso em 11/10/2014. 
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Unidade: Capitalismo e Espaço Geográfico
Referências
CASTORIADIS, Cornelius. Sobre o conteúdo do socialismo. Revista Socialisme ou 
Barbarie, nº 17, jul., 1955. Disponível em http://portalentretextos.com.br/webroot/files/
prt_livrosonline/sobre_o_conteudo_do_socialismo.pdf. Acesso em 20/01/2015. 
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1995. 
CHESNAIS, François. O capitalismo tentou romper seus limites históricos e criou um novo 
1929, ou pior. Tradução Luis Leiria. Revista Argentina Herramienta. Publicado no Portal 
Esquerda Net, 23-01,2009, p. 1-7. Disponível em: Acesso em 20/02/2015. 
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. 
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança 
cultural. São Paulo. Edições Loyola, 1992. 
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 
LOJKINE, Jean. A revolução informacional. São Paulo: Cortez, 1995.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I. Tradução de Regina do Sant’ 
Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
SANDRONI, Paulo. O que é mais-valia? São Paulo; Brasiliense, 1985. 
SANTOS, Milton. As técnicas, o tempo e o espaço geográfico. In: A natureza do espaço: 
técnica e tempo, razão e emoção. Capítulo 1. São Paulo: Edusp, 2006, p. 38-59.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2007. 
SMITH, Neil. Espaço e capital. O espaço como mercadoria. In: Desenvolvimento desigual: 
natureza, capital e a produção do espaço. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1988, p. 127-139.
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Anotações

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